nomeio-te monstro: linguagem em the pleasures of

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nomeio-te monstro: linguagem em the pleasures of
NOMEIO-TE MONSTRO: LINGUAGEM EM THE PLEASURES OF EXILE DE
GEORGE LAMMING
Daniele de Sousa Moura Fé (bolsista do PIBIC/CNPq), Sebastião AlvesTeixeira Lopes
(Orientador, Depto de Letras – UFPI)
Introdução
George Lamming (1927-), novelista, poeta e prominente intelectual proveniente da ilha
caribenha de Barbados, escreve sobre o tema da colonização, por várias vezes fazendo uso de
imagens e personagens de A tempestade (1610-1611), como forma de desenvolver seu
raciocínio. O objetivo deste ensaio é investigar como George Lamming apropria-se do drama
shakespeariano A tempestade (1610-1611) em The pleasures of exile (1960), obra constituída
por uma série de ensaios, para refletir sobre a colonização do caribe assim como sobre as
consequências dessa colonização para os povos caribenhos, com especial atenção para a
questão da linguagem.
Já no primeiro ensaio do livro, intitulado “In the beginning” Lamming ressalta o prazer e
paradoxo do exílio de Caliban, que, colonizado pela linguagem de Próspero, se mostra
alienado de sua religião e identidade assim como descaracterizado em seu próprio nome,
recebendo a alcunha geral e depreciativa de canibal. Nesse momento, contudo, não fica claro o
que Lamming considera prazeroso nesse processo, já que ressalta apenas os aspectos
negativos da alienação identitária de Caliban.
No ensaio “A monster, a child, a slave”, Lamming cita e interpreta várias passagens de
A tempestade (1610-1611). Em uma destas passagens, de acordo com Prospero, Caliban não
tinha uma língua, já que o que emitia era considerado apenas grunhidos. Caliban é
considerado um ser sem linguagem. É reduzido a um bruto, um selvagem, logo sem civilização
ou religião, o que justificaria sua escravização ou muito mais!
Na visão de Lamming, parece que o colonizador parte de um ponto privilegiado de ter
reconhecido todos os seus valores culturais e religiosos, enquanto que aqueles do colonizados
são negados, lançando Caliban em um estado de escuridão e bestialidade, do qual seria
resgatado através do processo de colonização, em especial através do presente da linguagem.
Ao analisar a relação entre linguagem e colonização em apropriações de A tempestade (16101611), Sebastião Lopes aponta como Lamming percebe Caliban, através da aquisição da
linguagem, irremediavelmente preso pelo processo de colonização que lhe é imposto. Segundo
Lopes (1994, p. 94), “Lamming further believes that Prospero’s first achievement after teaching
Caliban to use the European language is the banishment of the beast within him”.
Lamming entende que, através da linguagem, Caliban está irremediavelmente preso à
colonização exercida por Próspero, sendo que essa relação de dominação tente a se
perpetuar. O processo de colonização se perpetua no uso da linguagem, já que Caliban,
rejeitado pela sociedade cujos valores agora absorve, é considerado um sujeito de segunda
classe, condenado a perpetuamente servir a Próspero.
Porém percebe-se uma contradição, ainda no ensaio intitulado “In the beginning”,
Lamming afirma que é descendente tanto de Caliban, quanto de Próspero, havendo assim uma
dupla identificação tanto com colonizador como com o colonizado. Lamming nesse momento
aposta no trabalho presentificado de ressignificação da relação colonial e, por consequência,
da relação que os povos caribenhos mantêm com a linguagem do colonizador, apontando
inclusive para um futuro aberto a novas possibilidades. Trata-se de uma posição já não tão
fatalista quanto aquela que percebia o colonizado irremediavelmente emprisionado na
linguagem do colonizador.
Metodologia
O trabalho de coleta de referências para a pesquisa foi feito com ajuda de material
fornecido pelo professor-orientador, assim como houve pesquisa bibliográfica via internet, em
especial no portal de periódicos da CAPES. Realizou-se a leitura da bibliografia necessária
para a realização da pesquisa, iniciando pela leitura de A tempestade (1610-1611) de William
Shakespeare, já que em The pleasures of exile (1960) Lamming apropria-se de personagens
e imagens desse drama shakespeariano em seus ensaios. Após a leitura da peça, foram
elaborados fichamentos com as principais observações acerca do tema da linguagem e foram
então discutidas com o professor orientador, que também acrescentou mais observações
acerca do tema. Em seguida passamos para a leitura de The pleasures of exile (1960) de
Lamming, obra que constitui o corpus desta pesquisa. Realizou-se também fichamentos com
as principais reflexões do autor acerca do tema da linguagem, que depois auxiliaram na
redação do ensaio resultante da pesquisa. Por fim, realizou-se o fichamento de ensaios
pertencentes à fortuna crítica acerca de The pleasures of exile (1960), sempre mantendo o foco
na questão da linguagem. Quando necessário, ocorreram encontros presenciais, nos quais
foram discutidas as referências primárias (The tempest (1610-1611) e The pleasures of exile
(1960)), as referências de fortuna crítica e os fichamentos. Nesses encontros, ocorria também a
revisão dos textos escritos, no que diz respeito ao conteúdo, adequação à língua padrão e às
normas da ABNT.
Resultados e Discussão
O presente projeto de pesquisa funcionou como uma introdução aos Estudos PósColoniais. O projeto serviu ainda para aprofundar a discussão acerca de uma, dentre tantas,
apropriações do drama shakespeariano A Tempestade (1610-1611), que vem sendo
sistematicamente revisitada por diversos intelectuais e artistas das Américas. A pesquisa serviu
também para o amadurecimento de uma visão mais crítica sobre o processo de colonização
por que passaram os povos Americanos assim como serviu para aguçar o olhar sobre as
consequências desse processo nas identidades dos povos que habitam o continente. Com a
pesquisa, foi possível ainda adentrar no debate teórico acerca das teorias e literaturas póscoloniais.
Como resultado desta pesquisa produziu-se um ensaio crítico sobre a questão da
linguagem em The pleasures of exile (1960) de George Lamming. Esse ensaio deve ser
agora apresentado em congressos acadêmicos assim como se procurará a publicação do
mesmo. De forma mais geral, a pesquisa serviu ainda como introdução à metodologia da
pesquisa, à escrita de textos acadêmicos e às normatizações da ABNT.
Conclusão
Concluiu-se que em alguns momentos em seus ensaios, Lamming parece confirmar a
imagem que Prospero tem de Caliban, o retratando o colonizado como um ser bestial, que não
era capaz de desenvolver uma linguagem ou cultura própria. Linguagem, neste contexto, tem
um sentido mais amplo do que somente o inglês, implicando todo um sistema de valores que
constroem a identidade. Observou-se que Lamming tem uma visão pessimista sobre o
colonizado que adquire a linguagem do colonizador e, assim, fica preso à linguagem de
Próspero. Lamming vê a linguagem como uma prisão, a qual Caliban está condenado,
irremediavelmente preso ao do colonizador. O colonizado não tem as mesmas perspectivas do
colonizador, ou seja, as realizações do colonizado são bem limitadas em comparação com as
do colonizador. Neste sentido, Caliban está na escuridão, colonizado e excluído pela língua.
Mas também há certos momentos em que Lamming já mostra uma interpretação mais
otimista, quando este afirma que ele é descendente de Prospero e de Caliban, ou seja, se
identifica tanto com o colonizador como com o colonizado. Em outra passagem afirma também
que o inglês não é mais apenas a língua do colonizador, mas também pertence ao povo
caribenho, sendo assim, prevê um futuro onde o colonizado está aberto a novas possibilidades,
já que linguagem não está só na mão do colonizador.
Pode se concluir que Lamming parece ter visões distintas a respeito da linguagem no
decorrer da obra, que são contraditórias. Ora ele considera um futuro mais pessimista, com o
colonizado preso ao do colonizador, ora oferece um futuro aberto a novas possibilidades, com
o futuro não necessariamente nas mãos do colonizador...
Apoio: CNPq, UFPI
Referências
EDWARDS, Nadi. George Lamming's literary nationalism: Language between The Tempest
and the Tonelle. Small Axe: A Caribbean Journal of Criticism, Vol. 11, p. 59-76, mar. 2002.
LAMMING, George. The Pleasures of Exile [1960]. Londres: Allison & Busby Ltd., 1984.
LOPES, Sebastião A. T. ‘The Best of Them that Speak this Speech’: Language and Empire
in William Shakespeare’s The Tempest. Dissertação (Mestrado em Letras), PPGI, CCE,
UFSC, 1996.
SHAKESPEARE, William. The Arden Shakespeare: The tempest [1610-1611]. VAUGHAN,
Alden T. e VAUGHAN, Virginia (Ed.). Londres: Routledge, 1999.
Palavras-chave:
Linguagem, Lamming. A Tempestade.