Diana está tão arrependida! “Quem dera poder voltar atrás… Como

Transcrição

Diana está tão arrependida! “Quem dera poder voltar atrás… Como
TEMPO JOVEM
Em família
outra vez
Diana está tão arrependida! “Quem dera poder voltar atrás…
Como vou dizer isto à mãe e ao pai? Acho que não tenho
coragem...”. Mas teve. E decidiu fazer uma visita lá a casa
D
iana tem 15 anos. É a
filha mais velha e sempre ajudou a cuidar dos
seus quatro irmãos. Nem
sempre era fácil estar tão
próximo do pai e da mãe – parece
que se confundiam os papéis. Por
um lado era bom ter poder sobre
os irmãos, ser a confidente da mãe
texto Teresa Carvalho foto Ana Paula
e até do pai. Confiavam nela. Até
conhecia as mágoas de ambos, que
tantas vezes lhe tiraram o sono.
Diana abraçava esta responsabilidade. Nunca os poderia decepcionar.
Contudo, às vezes sentia uma “invejinha” dos irmãos por poderem rir,
brincar, fazer partidas à-vontade,
livres das responsabilidades de filha
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Edição LIII | Dezembro de 2007
mais velha. Mas, o que era mais
difícil, era quando faziam queixinhas
dela aos pais por ter feito isto ou
dito aquilo. Não só não a defendiam,
mas até lhe ralhavam à frente dos
miúdos, como se fosse uma garota
qualquer. Nestes momentos, parecia
que não tinha ninguém para estar
do seu lado e fazer justiça. Sentia-se
Não vai ser
tão sozinha. Ninguém para ouvi-la,
ninguém para consolá-la. Sentia uma
saudade tão grande do tempo em que
era apenas “a menina” e não tinha
de ser “mãe” de ninguém… Mas não
era sempre assim. Diana mostrava ser
uma jovenzinha segura de si, capaz
de derrubar qualquer dificuldade.
Aos 14 anos Diana sentira-se ficar
diferente. Era como se, à medida que
ia crescendo, lhe apetecesse ser mais
criança. Seria devido aos novos colegas de turma? Eram mesmo engraçados e davam-se direito a fazer tudo.
Aquilo, sim! Era vida a valer. E por
sorte até “engraçaram” com Diana e
convidavam-na a participar naquelas
“partidas corajosas” de faltar às aulas,
e mandar umas “bocas” com piada
aos professores. Os professores não
gostavam nada, mas os colegas achavam o máximo.
No final do ano lectivo, Diana não
passou de ano. Foi um choque para
os pais, mas para a Diana valeu pelos
amigos. Foi dos anos mais divertidos
da sua vida. Valeu bem os raspanetes da família. Em casa, as coisas
complicaram-se. Os pais não a deixavam sair com os amigos. De castigo, aumentaram as tarefas. A culpa
era dos irmãos, “aqueles miúdos que
nunca mais crescem para deixar os
outros em paz!”.
Devagarinho, começou a sentir uma
revolta a crescer, a invadir aquilo que
dizia, que fazia e até a dar um sentido
novo àquilo que ouvia. Decidiu que
tinha direito a fazer o que lhe apetecia,
isto é, a não fazer nada. Quis deixar de
ser “ a mais velha” que faz tudo, é responsável por tudo, é culpada de tudo, e
não tem nada em troca.
Um dia, Diana exagerou um bocadinho
mais. Cansada de não saber mais que lhe
dizer, a mãe deu-lhe uma valente bofetada. Diana teve um choque. Isto era o
cumular do desrespeito e da ingratidão.
Com as lágrimas a quererem explodir,
sai de casa apressada, garantindo: “Vou
de vez para a casa da avó”.
Zangada, a mãe ainda teve tempo de
dizer: “Se é isso que queres, vai! Fica
preciso falar,
mas talvez
o consigam:
Diana gostaria
de ouvir quanto
é importante
para cada um.
E quanto lhe
agradecem…
e desculpam!
E que a saibam
escutar – no que
diz, no que faz,
nos silêncios
do seu crescer
em reboliço
lá!”. E Diana foi. Haveriam de arrepender-se! Nunca mais iria regressar!
Mas, no dia seguinte, nem queria acreditar! Tinha saudades dos gritinhos dos
irmãos, da confusão na hora do acordar,
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da bagunçada ao deitar, até dos raspanetes dos pais... Nem lhe apetecia “ser
livre” como tanto desejara.
- Quem me dera ter coragem de pedir
para voltar para casa! Melhor, quem
me dera que os meus pais viessem
buscar-me! Quem me dera que eles
sentissem a minha falta!”
Era tanto o aperto dentro de si que
decidiu fazer uma visita lá a casa,
bem na hora em que estavam todos.
Que saudades! Como eles, todos, a
preenchem por dentro!
Diana deambulou pela casa, devagarinho, à espera que acontecesse o
milagre. E aconteceu:
– Diana, é mesmo isto que queres?,
perguntou a mãe, com aparente indiferença.
– Eu estou bem. Mas se calhar era
melhor eu vir para ajudar a levar o
Tomás para a creche.
– Se quiseres…
– Então é melhor. Venho amanhã.
O tremor das vozes revelava todo o
amor presente. O milagre acontecera.
Apetecia bailar.
Diana regressa. Ninguém se abraçou.
As lágrimas soltaram-se. Só o Tomás
saltou, correndo a aninhar-se no seu
colo, de bracitos entrelaçados à volta
do pescoço. Diana sabia estar a ser
abraçada pelo mundo inteiro, por
cada um, neste abraço apertado ao
Tomás. Descobriu o tamanho da sua
família dentro de si.
Os pais e os irmãos sentiram o lugar
da Diana e o vazio da sua ausência.
Não vai ser preciso falar, mas talvez
o consigam. Gostaria de ouvir quanto ela é importante para cada um. E
quanto lhe agradecem… e desculpam.
E que a saibam escutar no que diz, no
que faz, nos silêncios do seu crescer
em reboliço. Talvez os pais consigam
falar-lhe da sua angústia de poder
perdê-la, e do seu desejo e esforços
para a ver saudável e feliz.
Por causa deste amor que circula,
os vazios foram preenchidos e as
distâncias encurtadas, cabendo todos
dentro de uma mesma casa, onde
pulsa o amor.