O SUPRAMENTAL

O Supramental
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O SUPRAMENTAL
Compilação de textos1 de Sri Aurobindo
Definição de Supramental
Sri Aurobindo ensinou (1949/1950) que o Supramental é uma
realidade eterna do Ser divino e da Natureza divina. Já existe no seu
plano e sempre existiu; não necessita de ser criado, nem de emergir,
nem de evoluir a partir de uma “involução” na matéria.
Segundo Sri Aurobindo, a evolução é o fruto duma ”involução”,
como a árvore está involuída, contida, na semente. Se o Espírito não
estivesse já contido na Matéria jamais poderia emergir da Matéria,
porque nada pode surgir do nada. Assim a vida está involuída na
matéria, o mental está involuído na vida e o supramental no mental
e assim no próprio coração da Matéria.
O Supramental é o plano de existência para lá do mental, da vida e
da matéria. Assim como o mental, a vida e a matéria se
manifestaram na Terra, assim também, seguindo o curso inevitável
das coisas, o Supramental se manifestará neste mundo da matéria.
Essencialmente, o Supramental é uma Consciência – de – Verdade,
uma consciência livre da Ignorância que é a base da nossa existência
natural ou evolutiva actual, na qual nos esforçamos por alcançar o
conhecimento de nós mesmos e o do mundo, para alcançar a
consciência verdadeira e o verdadeiro objectivo da nossa existência.
Porque o Supramental é uma consciência – de – verdade, nele o
conhecimento é inato e também nele é espontâneo o poder da
verdadeira existência. Porque a sua própria natureza é o
conhecimento, não necessita de adquirir conhecimento, possui-o de
pleno direito; não vai da ignorância para um saber imperfeito, mas
da verdade para uma verdade maior, de uma percepção exacta para
uma percepção mais profunda, de intuição em intuição, da
Iluminação para a luminosidade total e sem limites.
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Compilação com ordenação dos textos escolhida pelo tradutor. Ver páginas 84, 86, 90 a 92 e
123 a 133 do livro La manifestation supramentale sur la Terre – Sri Aurobindo Ashram,
Pondichéry, 2012, ISBN 978-81-7058-251-9
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Dificuldades em entender o conceito de Supramental no
estado actual do nosso conhecimento
Nós não olhamos de frente a verdade total do mundo tal como ele é e
não chegamos à conclusão correcta sobre o que o mundo deve ser e
não pode deixar de o ser. É manifesto que o mundo foi fundado na
Matéria, mas a ascensão da Matéria para o Espírito deverá ser o seu
objectivo e a justificação da sua existência. Mas em vez de
considerarmos o Espírito como algo que tudo inclui e é a essência
secreta do nosso ser, escolhemos o conceito de que o Espírito é algo
que nos olha lá das suas alturas e nos atrai, desviando-nos do resto
da nossa existência. Assim concluímos que o nosso ser cósmico e
individual é uma grande ilusão e que dele escapar é a nossa única
possibilidade de salvação. Concebemos a Terra como um mundo de
ignorância e sofrimento, de provas, pelo que a nossa única salvação
será fugir para o céu, visto que não há nenhuma possibilidade de nos
tornarmos divinos cá em baixo.
Mas se o Supramental existir, se descer e se tornar no princípio
governante, tudo o que agora parece impossível para o mental tornase não só possível mas também inevitável.
Porque
podemos
concluir
necessariamente existe
que
o
Supramental
Até agora o mental tem sido considerado como o árbitro absoluto,
como o sistema de referência de todos os conhecimentos. Mas ele é
incapaz de chegar ao conhecimento certo e absoluto: deve duvidar
de tudo, tudo testar e, ao mesmo tempo, tudo conseguir, mas sem
qualquer garantia nem do seu saber nem do que conseguiu.
Incidentalmente, isto confirma para qualquer universo inteligível a
necessidade de um principio como o Supramental, ou Consciência de - Verdade, sem o qual não haverá qualquer saída tanto para a
vida como para o conhecimento, pois a inexistência de tal principio
torna a Consciência incapaz de descobrir o seu significado completo
e de se realizar integralmente, pelo que redundará num absurdo,
num fiasco.
Tornar-se consciente da sua própria verdade e de toda a verdade é o
objectivo da existência de qualquer universo inteligível, mas não
poderá aí chegar enquanto tender para o conhecimento na
ignorância e através da ignorância. Deve desenvolver, ou atingir, um
poder que lhe é próprio, cuja natureza é o conhecer, ver e controlar
as coisas espontânea e naturalmente. Isto é o que chamamos de
Supramental, que uma vez admitido torna tudo o mais inteligível.
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Outras informações sobre o Supramental
O conhecimento supramental, a consciência – de – verdade
supramental é una e total. Mesmo quando impõe um certo limite ao
conhecimento, ou parece se manifestar parcialmente, ela o faz
voluntariamente. A limitação não provém de ignorância, não é uma
negação do conhecimento, porque a verdade inexpressa já lá está na
sua totalidade, implicitamente.
As contradições não existem: tudo que parecem opostos para o
nosso mental, já trazem em si mesmos a sua relação justa e o seu
acordo reconciliador – se é que alguma reconciliação é necessária,
pois a harmonia perfeita reina entre os aparentes opostos.
O mental tende a opor o pessoal e o impessoal, como se foram
contraditórios, mas o Supramental vê e percebe experiencialmente
que são poderes complementares da única Realidade, que se
completam, se fundem um no outro e são inseparáveis, sendo eles
mesmos a única Realidade.
No Supramental o finito não interrompe, não limita o infinito, não se
sente contrário ao infinito, pelo contrário, sente a sua própria
infinitude. O relativo e o temporal não são contrários da eternidade,
mas sim uma relação exacta entre os seus aspectos, um
funcionamento inato, um aspecto imperecível do Eterno. Ali o tempo
é simplesmente o Eterno na sua extensão, e o Eterno pode ser
sentido no momentâneo. Assim o Divino está presente no
Supramental e não necessitamos de nos impormos qualquer teoria
de ilusão, ou Maya, para justificar o seu modo de ser. Não é
necessário fugir da vida para que o Divino se encontre a si mesmo,
ou descubra sua própria realidade, pois sempre a possuiu. A vida
divina não pode ser uma contradição do Divino nem da suprema
realidade: ela faz parte dessa realidade, é um aspecto dela, uma
expressão da realidade e nada mais poderia ser. No plano
supramental nós possuímos o Divino inteiramente na vida, e quando
o Supramental descer na Terra trará com ele o Divino e tornará
possível a sua plena posse aqui mesmo.
A manifestação do Supramental na Terra
Mas, mesmo que admitamos que o Supramental é uma realidade,
não podemos estar certos da sua chegada, nem do seu reinado e
todos os esforços para que tal aconteça podem não ter sucesso. Não
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basta que o Supramental lá esteja efectivamente, acima de nós, nem
que a sua descida seja uma possibilidade ou uma intenção futura da
Natureza. Não poderemos estar certos de que essa descida é uma
realidade enquanto ela não for um facto objectivo para o nosso ser
terrestre.
Assim, o universo se nos revelará na sua unidade e totalidade, como
a manifestação de um Ser único, no qual a Natureza é o poder de
manifestação e a evolução é o processo pelo qual ele se revela
gradualmente aqui em baixo na matéria.
O Supramental assumirá o seu lugar natural no âmago desta
revelação. Deixará de ser objecto de dúvidas e discussão para uma
inteligência desorientada pela complexidade do mundo, pois
aparecerá como a consequência inevitável da própria natureza do
mental, da vida e da matéria, como o culminar do seu sentido, do
seu princípio inerente, das suas tendências inatas, como a
indispensável perfeição da sua imperfeição, como o culminar da
existência, da consciência e da felicidade divinas a que ele conduz,
última consequência do nascimento das coisas e objectivo supremo
da manifestação que aqui vemos na vida.
Pode ser que a emergência completa do Supramental aconteça por
uma descida na consciência terrestre, uma rápida tomada de posse
dos poderes terrestres e o revelar das formas de criação de uma raça
e de uma vida supramental. Mas não foi assim que a Natureza
procedeu na sua evolução na Terra, pelo que é provável que o
Supramental também siga o seu ciclo evolutivo. Este processo não
será certamente análogo ao que a Terra conheceu até agora, mas
uma vez iniciado tudo se manifestará perfeitamente e todos os
elementos da Natureza tenderão necessariamente para uma maior
luminosidade, na maior perfeição possível. Assim, também a
humanidade tenderá para uma realização que ultrapassará
infinitamente os nossos actuais sonhos de perfeição. Um mental de
luz substituirá a confusão e a aflição actuais da ignorância terrestre.
Mesmo a vida da humanidade será iluminada, governada e
harmonizada pelo princípio luminoso, o próprio corpo se tornará um
instrumento muito menos impotente e obscuro, menos animal e
capaz de uma perfeição nova e integral.
Lisboa, Novembro de 2013
Manuel Alfaia
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