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ARTIGO ORIGINAL DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO DE CONSULTA FARMACÊUTICA PARA AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES DIABÉTICOS TIPO 2 Arnaldo Zubioli Doutor em Ciências Farmacêuticas. Departamento de Farmacologia e Terapêutica, Universidade Estadual de Maringá, Brasil Maria Angélica R. C. P. da Silva Doutora em Ciências Biológicas. Departamento de Farmacologia e Terapêutica, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil Raquel S. Tasca Doutora em Saúde Pública. Departamento de Farmácia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil Roberto B. Bazotte Doutor em Ciências. Departamento de Farmacologia e Terapêutica, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil Resumo Objetivos: O propósito deste estudo foi o desenvolvimento e avaliação de um programa de consulta farmacêutica (CF), com o objetivo de promover redução de riscos de complicações crónicas em pacientes diabéticos tipo 2 (PDT2). Métodos: PDT2 em tratamento médico convencional, mas apresentando controle glicémico ineficaz (glicemia de jejum >140 mg/dl e/ou hemoglobina glicada >7), foram selecionados entre os frequentadores da farmácia Ensino ou da farmácia popular da Universidade Estadual de Maringá (Maringá, Paraná, Brasil). A CF avaliou a terapêutica farmacológica e seu acompanhamento através de registro de exames laboratoriais, sinais vitais e antropometria. A CF foi repetida a cada quatro meses durante um ano. A CF inclui estratégias que apresentaram bom desempenho em outros modelos de cuidados farmacêuticos, incluindo o método Dader, método SOAP (Subjective Data, Objective Data, Assessment, and Plan of Care), método PWT (Pharmacist´s Workup of Drug Therapy) e em modelos de cuidados em enfermagem utilizados no Brasil. Resultados: Cinquenta pacientes concluíram o estudo (um ano). Houve redução da glicemia (P <0,0001), hemoglobina glicada (P = 0,0022), colesterol total (P = 0,0072), triacilglicerol (P = 0,0204), pressão arterial sistólica (P <0,0001), pressão arterial diastólica (P <0,0001) e elevação de lipoproteínas de baixa densidade (p = 0,0042). O perfil farmacológico e o esquema de tratamento medicamentoso após o início (mês 0) e final (mês 12) do estudo foram semelhantes. Por esta razão, o aumento da concordância farmacológica e a correção de problemas relacionados a medicamentos contribuíram para melhorar o tratamento da diabetes. Conclusões: o programa de CF desenvolvido neste estudo mostrou-se adequado para promover a redução de fatores de risco de complicações crónicas em PDT2. Palavras-chave: Consulta farmacêutica, cuidado farmacêutico, diabetes mellitus tipo 2, autocuidado, farmácia comunitária. Abstract Objectives: The purposes of this study were the development and evaluation of a pharmaceutical consultation (PC) program to reduce the risks of chronic complications in type 2 diabetic patients (T2DP). Methods: T2DP receiving conventional medical treatment but showing ineffective glicemic control (fasting glycemia > 140 mg/dl and/or glycated hemoglobin > 7) were selected among patients from the Pharmacy School or popular pharmacy of State University of Maringá (Paraná state, Brazil). The PC evaluated drug Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 17 ARTIGO ORIGINAL therapy and its monitoring through the clinical laboratory parameters, vital signs and anthropometry. The PC was repeated every 4 months during 1 year. The PC includes strategies that have been used successfully in other pharmaceutical care models, namely Dader’s method, SOAP’s (Subjective data, Objective data, Assessment, and Plan of care) method, Pharmacist´s Workup of Drug Therapy (PWT) method and models of nurse care used in Brazil. Results: Fifty patients completed the study (1 year). There was a reduction of glycemia (P<0.0001), glycated hemoglobin (P = 0.0022), total cholesterol (P = 0.0072), triacylglycerol (P = 0.0204), systolic blood pressure (P<0.0001), diastolic blood pressure (P<0.0001) and elevation of low density lipoprotein (p = 0.0042). The pharmacological profile and therapeutic schedule of drugs consumption after starting (0 month) and finish (12 months) the study were very similar. For this reason the increased concordance with drug treatment and the pharmacological correction of drug-related problems contributed to improve the medical treatment of diabetes. Conclusions: The PC program developed in this study was suitable to promote reduction of chronic complications risk factors in T2DP. Keywords: Pharmaceutical consultation, pharmaceutical care, type 2 diabetes, self-care, community pharmacy. Introdução 18 Há vários modos de exercer o cuidado farmacêutico com o propósito de melhorar as condições de saúde dos pacientes1-4. No Brasil, o método Dader, originalmente desenvolvido na Espanha, constitui o modelo de cuidados farmacêuticos mais utilizado5-8. Porém, a aplicação do método Dader no Brasil é limitada, em função das diferenças culturais e socioeconómicas entre estes dois países. Por esta razão, a finalidade deste estudo foi desenvolver um instrumento de coleta de dados de farmácia, para o desenvolvimento do processo de farmácia, que permite coletar os dados necessários para o estabelecimento da consulta farmacêutica (CF), e posterior planejamento da assistência, com as metas a serem alcançadas e intervenções a serem realizadas junto dos pacientes, com o propósito de melhorar o tratamento de pacientes diabéticos tipo 2 (PDT2). O instrumento utilizado para os pacientes PDT2 foi adaptado a partir do modelo usado pela enfermagem do Hospital de São Paulo. Considerando que a diabetes mellitus tipo 2 (DM2) se tem tornado epidémica no Brasil9,10, propomo-nos adotá-la como um modelo de doença crónica em que a intervenção do farmacêutico seria capaz de melhorar o resultado do tratamento médico. Neste contexto, a consulta farmacêutica ofereceria informações, aconselhamento e seguimento ao tratamento farmacológico e educação em diabetes direcionada ao estilo de vida e concordância medicamentosa, com o propósito de melhorar não apenas o controle glicémico, mas também reduzir fatores de risco de complicações crónicas da DM2. Deve ser enfatizado que o desenvolvimento de um Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 modelo de CF para PDT2 não pode incluir apenas estratégias que visem oferecer um controle glicémico adequado, uma vez que no Brasil apenas 0,2 por cento dos pacientes alcançam simultaneamente os alvos estabelecidos para os valores de hemoglobina glicada A1c (HbA1c), pressão arterial e perfil lipídico11. O modelo de CF inclui estratégias que são utilizadas com sucesso em outros modelos de cuidados farmacêuticos: método Dader12, método SOAP (Subjective Data, Objective Data, Assessment, and Plan of Care)13, método PWT (Pharmacist´s Workup of Drug Therapy)14-15 e conceitos baseados num modelo de cuidados em enfermagem utilizado no Brasil16. Assim, o propósito deste estudo foi o desenvolvimento de um instrumento de coleta de dados e a sua avaliação como CF, com o objetivo de promover redução de riscos de complicações crónicas em PDT2 e com possibilidade de aplicação em outras doenças crónicas. Métodos Pacientes O estudo foi conduzido na farmácia Ensino e na farmácia popular da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil, que atendem pacientes de diferentes estratos socioeconómicos. A CF ocorreu em ambiente privado, dedicado exclusivamente aos cuidados farmacêuticos. Os critérios de inclusão foram: PDT2 recebendo tratamento médico convencional, apresentando glicemia de jejum ≥140 mg/dL e/ou hemoglobina glicada >7,0 por cento. Os critérios de exclusão foram: gravidez ou risco de gravidez, outros tipos específicos de diabetes e ausência na primeira CF agendada. ARTIGO ORIGINAL Durante a fase de recrutamento dos voluntários (junho de 2009 a dezembro de 2009), 147 pacientes foram convidados aleatoriamente, sendo que 50 foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão. O estudo foi conduzido de acordo com os critérios estabelecidos pela Declaração de Helsínquia e de acordo com as normas do Comité Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (COPEP) da Universidade Estadual de Maringá, que aprovou este estudo através do Parecer COPEP – CAAE 197/2006. Consulta Farmacêutica Antecedendo a primeira CF, os pacientes receberam informações em relação ao dia e hora da próxima consulta, coleta de sangue para exames laboratoriais, etc. Imediatamente após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, a consulta se iniciou com uma entrevista em que se obteve informações em relação ao estilo de vida, histórico médico, características sociodemográficas e perfil farmacoterapêutico. O perfil farmacoterapêutico inclui informações em relação aos medicamentos prescritos e não prescritos, nome comercial, nome genérico, dose, esquema terapêutico e verificação se o medicamento foi incorporado na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME). O esquema terapêutico foi definido como: 1 (após o café da manhã) + 1 (após o almoço) + 1 (após o jantar). Se não houve administração de medicamento, «1» foi substituído por «0». Além disso, se o paciente esqueceu as orientações em relação aos medicamentos, solicitou-se que trouxesse os medicamentos que está a tomar e/ou a prescrição medica para a introdução na consulta. O modelo de consulta farmacêutica encontra-se em anexo. O histórico de cada paciente corresponde à obtenção de dados subjetivos e objetivos (entrevista, exame físico e laboratorial), seguido da interpretação conclusiva dos problemas de saúde (diagnóstico) – controlado (C) e não controlado (NC) – e problemas da terapêutica farmacológica (medicamentos) – necessidade (N), efetividade (E), segurança (S) e concordância (adesão) –, de acordo com conceitos extraídos de Weed (1969), Strand et al (1990) e Dáder et al (2007), e adaptados para este estudo. O método de CF descrito no anexo deste trabalho inclui conceitos: 1) do método de Dader de seguimento farmacoterapêutico – necessidade (N), efetividade (E), segurança (S)17 –, que compreende a oferta do serviço seguido de agendamento da primeira entrevista; 2) método SOAP de seguimento farmacoterapêutico – sistemática de organização e documentação: Formato padronizado – SOAP: dados subjetivos (data de diagnóstico da doença, internamento em hospital ou não, informações/queixas do doente); dados objetivos (sinais vitais, glicemia, HbA1C Col., Tri., medicação dispensada na farmácia); avaliação (PRM, outros problemas de saúde); plano de cuidados farmacêuticos (definição de objetivos, resolução de PRM, informação ao médico)13; 3) método de cuidados farmacêuticos estabelecido por Hepler e Strand15 – conjunto de componentes sequenciais documentadas que ocorrem entre o farmacêutico e o paciente durante a prestação de cuidado farmacêutico: avaliação (assessment), plano de cuidados farmacêuticos (care plan), monitorização – seguimento (follow-up evaluation); 4) modelo de consulta em enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil – instrumento de coleta de dados: organização e roteiro16 modificado e adaptado para cuidados farmacêuticos. A classificação dos problemas relacionados a medicamentos (PRM) foi realizada de acordo com a metodologia do PWT14. O nosso método de CF também inclui estratégias empregadas em um estudo anterior12, que inclui: comunicação «face a face», desenvolvimento de uma relação de confiança farmacêutico-paciente e reforço das mudanças de estilo de vida. Os pacientes receberam a sugestão de trazerem os resultados de exames médicos (exames laboratoriais, eletrocardiograma, eletroencefalograma, exames radiológicos, etc.). Após a primeira entrevista (40-50 minutos) avaliou-se a pressão arterial sistólica (PAS), a pressão arterial diastólica (PAD), a frequência cardíaca, o pulso radial, a frequência respiratória, a temperatura corporal, o índice de massa corpórea (IMC), a circunferência da cintura (homem), a circunferência da cintura (mulher), a cintura/quadril (homem) e a cintura/quadril (mulher). Para estes parâmetros consideraram-se valores normais: <130 mmhg, <80 mmhg, 60-100 batimentos/min., 60-100 batimentos/min., 16-20 respirações/min., <37°C, <25 kg/m², <94 cm, <80 cm, <0,90 e 0,85, respetivamente. Após a primeira CF, os pacientes receberam instruções para realizarem os exames laboratoriais. Os pacientes sem plano de saúde foram encaminhados para o laboratório de análises clínicas da Universidade Estadual de Maringá. Para a realização dos exames laboratoriais coletou-se sangue venoso em pacientes em jejum noturno a partir do qual se avaliou a HbA1c, glicose, triacilglicerol, colesterol total, lipoproteína de baixa densidade colesterol (LDL-C) e lipoproteína de alta densidade colesterol (HDL-C). As dosagens bioquímicas foram repetidas a cada quatro meses, após a primeira CF. Os pacientes receberam uma cópia dos resultados dos exames laboratoriais, sinais vitais e parâmetros Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 19 ARTIGO ORIGINAL 20 antropométricos e instruções para apresentá-los ao seu médico. Os valores alvo para HbA1c, glicemia de jejum, triacilglicerol, colesterol total, LDL-C, HDL-C (homens) e HDL-C (mulheres) foram <7,0 por cento, 70-130 mg/ dL, <50 mg/dL, <200 mg/dL, <100 mg/dL, >40 mg/dL e >50 mg/dL, respetivamente. Estes valores basearam-se nos critérios estabelecidos pela Associação Americana de Diabetes18. O IMC e a circunferência da cintura (CC) seguiram as recomendações da Organização Mundial da Saúde19. Os parâmetros objetivos avaliados ao longo de 12 meses em pacientes que receberam consulta farmacêutica no programa foram: HbA1c (hemoglobina glicada A1c), glicemia (mg/dL), CT (colesterol total), HDLC (lipoproteína de alta densidade colesterol), LDLC (lipoproteína de baixa densidade colesterol), TG (triacilglicerol), PAS (pressão arterial sistólica), PAD (pressão arterial diastólica), FC (frequência cardíaca), PR (pulso radial), FR (frequência respiratória), temperatura, peso, altura, IMC (índice de massa corpórea) e CC (circunferência da cintura). A partir dos resultados dos exames laboratoriais, dos dados obtidos na primeira CF e na avaliação inicial dos problemas de saúde (controlado e não controlado) e deteção de PRM, foi possível realizar a primeira intervenção farmacêutica. Para alcançar estes objetivos, os pacientes receberam instruções em relação à dieta, atividade física, uso correto de medicamentos e resolução de PRM. Além disso, os pacientes foram informados sobre os riscos de complicações crónicas como consequência de um inadequado controle da doença. Durante a CF foi oferecida a cada paciente uma visão mais holística de seu tratamento, sendo reforçadas as recomendações do médico (clínico geral, endocrinologista, cardiologista, etc.). As CF foram realizadas zero (primeira CF), quatro, oito e 12 meses após o início do estudo, em que o farmacêutico repetia os procedimentos da primeira CF (excepto com relação às informações não modificáveis obtidas na primeira entrevista). A avaliação dos parâmetros antropométricos e sinais vitais foram repetidas, para verificar a existência de novas situações e a necessidade de novas intervenções. Assim, a partir destas consultas, com duração de 20-30 minutos, e dos resultados dos exames laboratoriais foi possível reformular o plano de cada participante sempre que necessário. A reformulação do tratamento, particularmente modificações na dose(s) e/ou medicamento(s), foi implementada pelo médico. As informações obtidas de cada paciente foram registradas e arquivadas. Estes procedimentos são imRev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 portantes, considerando que a documentação é uma importante ferramenta no processo de reformulação do tratamento20. A avaliação do impacto deste modelo de CF foi realizada através da comparação de cada paciente antes (mês zero) e após o início do tratamento (quatro, oito e 12 meses), ou seja, cada paciente serviu como o seu próprio controle. Análise Estatística A análise estatística foi realizada empregando o programa GraphPad Prisma (versão 6.0). Os resultados foram analisados empregando análise de variância (ANOVA) e os resultados apresentados como média + desvio padrão (DP). O nível de confiança de 95 por cento (p <0,05) foi aceito para todas as comparações. Resultados Cinquenta e cinco pacientes iniciaram o programa e, destes, 50 permaneceram até a conclusão do estudo (50 por cento de homens e 50 por cento de mulheres). A maioria dos pacientes tinha ≥50 anos (90 por cento), ou seja, 58,6 ± 7,8 anos (média + DP), oscilando entre 36 e 75 anos. Sessenta e quatro por cento dos pacientes tinham pelo menos cinco anos de diagnóstico, com o tempo de diagnóstico de 11,2 ± 8,4 anos (média + DP), oscilando entre dois e 38 anos. Em relação aos 50 pacientes que concluíram o programa de CF, 48 por cento possuíam plano privado de saúde e 52 por cento faziam uso do sistema público de saúde. Relativamente às orientações recebidas pelos pacientes em relação aos problemas de saúde e medicamentos, o médico (68 por cento) e o farmacêutico (44 por cento) foram os profissionais mais envolvidos com o paciente (Tabela 1). A Tabela 1 também mostra que 50 por cento dos pacientes não recebiam orientações em relação à utilização de medicamentos no início do estudo. A Tabela 2 mostra as anormalidades e doenças detetadas pelo exame físico, avaliação de sinais vitais e entrevistas. As principais doenças ou anormalidades foram: a) sistema cardiovascular: hipertensão (76 por cento) e taquicardia (48 por cento); b) manchas na pele (22 por cento); c) membros superiores: edema (16 por cento), dor (20 por cento), formigamento (10 por cento), lesões (16 por cento); d) membros inferiores: dor (22 por cento), edema (22 por cento), lesões (18 por cento); e) abdómen: flatulência ou ruídos hidroaéreos (18 por cento), dor (12 por cento); f) olhos: cataratas (12 por cento), visão turva (10 por cento), secreções anormais (8 por cento); g) pés: dor (12 por ARTIGO ORIGINAL Tabela 1 - Pacientes orientados pelos diferentes profissionais da saúde em relação a problemas de saúde ou medicamentos Orientações em relação a problemas de saúde Médico Número de pacientes 34 Orientações em relação a medicamentos Médico Número de pacientes 4 Farmacêutico 0 Farmacêutico Enfermeiro 1 Enfermeiro 0 Nutricionista 4 Nutricionista 0 Recebe pouca orientação 24 Não informou 7 Recebe pouca orientação Não informou 10 1 21 Obs.: Pode existir mais de uma resposta para cada item. Informações obtidas na primeira consulta farmacêutica. cento), deformações (4 por cento), formigamentos (4 por cento), edema (4 por cento); h) doenças digestivas: gastrite (14 por cento), refluxo gastroesofágico (8 por cento), constipação (6 por cento), diarreia (6 por cento), úlcera péptica (4 por cento), hemorroidas (4 por cento); i) cálculo renal (16 por cento), falência renal (4 por cento); j) outras anormalidades: sobrepeso ou obesidade (48 por cento), enxaqueca (14 por cento); distúrbios da tiroide (10 por cento), sinusite (6 por cento), labirintite (6 por cento), zumbido (4 por cento). Em relação à qualidade do sono, a maioria dos pacientes (54 por cento) relatou que o sono e o repouso não eram satisfatórios: insónia (2 por cento), uso de medicamentos para dormir (6 por cento), dificuldade em dormir (18 por cento), acorda frequentemente à noite (16 por cento), dorme durante o dia (8 por cento) e sonolência (4 por cento). Em relação à hospitalização, 26 pacientes (52 por cento) foram hospitalizados nos últimos sete anos. Todavia, a maioria das hospitalizações (22 pacientes) não foi relacionada à diabetes. Como a terapêutica farmacológica no início (mês zero) e no final (12 meses) do programa de CF foi muito semelhante, apresentaremos apenas os resultados obtidos no início do estudo. A Tabela 3 apresenta os medicamentos antidiabéticos, anti-hipertensores, hipolipemiantes, antiplaquetários e isentos de prescrição, que corresponderam a 49 (98 por cento), 31 (62 por cento), 11 (22 por cento), oito (16 por cento) e 18 (36 por cento) pacientes, respetivamente. Os antidiabéticos orais foram utilizados por 96 por cento dos pacientes em monoterapia (30 por cento) ou combinados (66 por cento), onde a metformina (isolada ou combinada) foi utilizada por 44 pacientes (88 por cento), seguida da gliclazida (22 por cento), glimepirida (16 por cento), glibenclamida (14 por cento), clorpropamida (2 por cento), vildagliptina (6 por cento), sitagliptina (2 por cento) e rosiglitazona (2 por cento). A metformina esteve presente em todas as terapias em que os medicamentos antidiabéticos foram utilizados combinadamente. Os esquemas terapêuticos de uso de antidiabéticos orais no início do estudo foram: a) metformina: uma vez ao dia (um paciente), duas vezes ao dia (25 pacientes) e três vezes ao dia (18 pacientes); b) gliclazida: uma vez ao dia (nove pacientes) e duas vezes ao dia (dois pacientes); c) glibenclamida: uma vez ao dia (um paciente), duas vezes ao dia (cinco pacientes) e três vezes ao dia (um paciente); d) glimepirida: uma vez ao dia (sete pacientes) e duas vezes ao dia (um paciente); e) clorpropamida: duas vezes ao dia (um paciente); f) vildagliptina: uma vez ao dia (um paciente) e duas vezes ao dia (dois pacientes); g) sitagliptina: duas vezes ao dia (um paciente), h) rosiglitazona: duas vezes ao dia (um paciente). No início do estudo, a insulina (isolada ou combinada) foi utilizada por 18 por cento dos pacientes (Tabela 3), sendo as insulinas NPH, glargina e regular utilizadas por 10 por cento, 6 por cento e 2 por cento dos pacientes, respetivamente. Além disso, observou-se que a insulina foi utilizada isoladamente (um paciente) ou combinada com metformina (quatro pacientes), clorpropamida (um paciente), gliclazida (um paciente), glimepirida (um paciente) e vildagliptina (um paciente). O esquema terapêutico para a insulina após o início do estudo (mês zero) foi: a) NPH: uma vez ao dia (três pacientes), duas vezes ao dia (um paciente); b) regular: duas vezes ao dia (um paciente); b) NPH + regular: uma vez ao dia (um paciente); c) glargina: uma vez ao dia (dois pacientes), duas vezes ao dia (um paciente). A Tabela 4 mostra que houve aumento da concordância de 52 por cento (mês zero) para 80 por cento (12 meses) dos pacientes, enquanto o número de pacientes que se esqueceram de usar a medicação diminuiu de 16 para sete. A Tabela 4 também nos mostra que o número de pacientes que não faziam uso de medicamentos devido a efeitos colaterais se reduziu de 12 para três e que o número de pacientes sem tratamento se reduziu de oito para dois. A Tabela 5 mostra que o número total de PRM (indicação, efetividade, segurança e concordância) diminuiu de 118 para 100. Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 21 ARTIGO ORIGINAL Tabela 2 - Alterações e/ou doenças detetadas a partir do exame físico, avaliação de sinais vitais e entrevistas com os pacientes que completaram o estudo • Cabeça: perda de cabelo (2). • Olhos: catarata (6), visão turva (5), secreção anormal (4), outras alterações (3). • Nariz: alergia (1) – obstrução nasal (1) – rinite (1). • Boca: dentadura (28), perda de dentes (8), cárie (6), gengivite (6), câncer dos lábios (1). • Ouvidos: diminuída acuidade (3), labirintite (3), zumbido (2). • Pescoço: volume anormal da tiroide (4), nódulos da tiroide (3). • Membros superiores: edema (8), dor (10), formigamento (5), lesões (8), outras anormalidades (1). • Abdómen: dor (6), flatulência ou ruídos hidroaéreos (9). • Membros inferiores: edema (11), dor (11), lesões (9), formigamento (2), outras alterações (2). • Pés: dor (6), deformações (2), formigamento (2), edema (2). • Pele: manchas (11), pele seca (2), excesso de cabelo (1), lesões da pele – dermatite, vitiligo, acne, psoríases, infecções, erupções (7). • Eliminação urinária: incontinência urinária (1), dificuldade em urinar (4), outras (1). • Doenças cardiovasculares (DCV): hipertensão (38), taquicardia (24), outras DCV (7). • Doenças renais: cálculo renal (8), falência renal (2). • Doenças endócrinas: sobrepeso ou obesidade (24), distúrbios da tiroide (5). • Doenças hepáticas: esteatose (1). • Doenças pulmonares: pneumonia (1), doença pulmonar obstrutiva crónica (1). • Doenças neurológicas: tumor cerebral (1), enxaqueca (7). • Doenças psiquiátricas: depressão (1). • Doenças digestivas: gastrite (7), refluxo gastroesofágico (4), constipação (3), diarreia (3), úlcera péptica (2), hemorroidas (2). 22 • Doenças hematológicas: anemia (1). • Outras doenças: sinusite (3), candidíase (1). TOTAL: 352 Valores entre parênteses: número de pacientes. Obs.: Pode haver mais de uma resposta para cada item. Informações obtidas na primeira consulta farmacêutica. Tabela 3 - Perfil farmacológico de medicamentos antidiabéticos antes do início e no final do programa de consulta farmacêutica Grupo farmacológico N.º (%) de pacientes (mês zero) N.º (%) de pacientes (12 meses) Antidiabéticos orais 15 (30%) 19 (38%) Associação de antidiabéticos orais 25 (50%) 20 (40%) Antidiabéticos orais + insulina 8 (16%) 7 (14%) Insulina 1 (2%) 3 (6%) Não faz uso de antidiabéticos 1 (2%) 2 (4%) Anti-hipertensores 31 (62%) 32 (64%) Hipolipemiantes 11 (22%) 13 (26%) Antiplaquetários 8 (16%) 8 (16%) 18 (36%) 20 (40%) Medicamentos isentos de prescrição Obs.: Pode haver mais de uma resposta para cada item. Informações obtidas na primeira consulta farmacêutica. Como mostrado na Tabela 6, após um ano de acompanhamento, observou-se a redução (P <0,0001) não apenas da glicemia, mas também da HbA1c (P = 0,0022), colesterol total (P <0,0072), HDL-C Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 Tabela 4 - Concordância farmacológica antes do início e após o término do estudo Mês zero 12 meses Concordância 26 (52%) 40 (80%) Ausência de concordância 24 (48%) 20 (40%) Esquece de usar os medicamentos 16 (32%) 7 (14%) Não usa os medicamentos devido aos efeitos colaterais 12 (24%) 3 (6%) 8 (16%) 2 (4%) Sem tratamento Obs.: Pode haver mais de uma resposta para cada item. (P <0,0042), triacilglicerol (P <0,0204), PAS (P <0,0001), PAD (P <0,0001). Por outro lado, IMC, CC e temperatura corporal (resultados não apresentados) permaneceram inalterados. Discussão O papel dos cuidados farmacêuticos na saúde do PDT2 encontra-se bem estabelecido21,22. Porém, no ARTIGO ORIGINAL população vive em condições socioeconómicas muito diferentes. Portanto, é impossível se construir um modelo de cuidados farmacêuticos que possua a mesma aplicação em todo o país, atendendo às necessidades das mais de 80 mil farmácias comunitárias12. Por esta razão, nosso modelo de CF incorpora não apenas conceitos de uma série de modelos de cuidados farmacêuticos bem estabelecidos, incluindo o método de Dader17, SOAP13 e PWT16, mas também os principais aspetos de um modelo de cuidados em enfermagem16 modificado e adaptado à prática farmacêutica. Nosso modelo de CF inclui ainda os seguintes aspetos: comunicação baseada em encontros «face a face», desenvolvimento de uma relação de confiança farmacêutico-paciente e reforço das mudanças de estilo de vida12. Os resultados da condensação dos melhores aspetos destes métodos, em termos de aplicação no Brasil, resultaram no modelo de CF descrito neste estudo (em anexo). Os resultados obtidos sugerem que Tabela 5 - Problemas relacionados a medicamentos antes do início e após o término do estudo 12 meses Mês zero Indicação Necessita de terapia adicional 24 20 7 6 Terapia medicamentosa inadequada 23 19 Doses inadequadas 11 10 Reação adversa a medicamentos 25 22 4 4 Não necessita de terapia adicional Efetividade Interações farmacológicas Concordância Não concordância Total 24 20 118 100 Obs.: Pode haver mais de uma resposta para cada item. Tabela 6 – Perfis de pacientes diabéticos tipo 2 que apresentaram valores anormais nas avaliações realizadas Parâmetros N Mês 0 Mês 4 GLY 50 183,4±7,3 164,8±7,4 HbA1c 35 9,6±0,3 8,8±0,33 17 220,0±5,6 213,1±6,9 23 35,6±1,4 38,57±1,7 TC HDL-C LDL-C TG 33 130,4±4,7 129,5±6,4 24 209,1±15,5 213,3±18,8 Mês 12 Mês 8 Valores de P # Valores de P § Valores de P * 158,7±7,2 143,9±5,5 0,0769 0,0182 <0,0001* 8,5±0,3 8,15±0,3 0,1082 0,0288 0,0022* 208,9±5,9 196,3±6,1 0,4428 0,1837 0,0072 39,35±1,3 41,57±1,4 0,1829 0,0539 0,0042* 128,2±4,4 118,1±4,9 0,9185 0,7395 0,0743 192,6±22,4 161,0±12,7 0,8622 0,5475 0,0204 PAS 37 157,0±3,2 133,4±3,4 130,7±2,2 126,6±1,3 <0,0001* <0,0001* <0,0001* PAD 41 107,6±2,7 93,7±2,7 89,9±2,0 85,73±1,2 0,0004* <0,0001* <0,0001* 104,8±7,1 99,0±6,2 0,3692 0,2110 0,0379 105,7±8,0 99,4±6,8 0,3664 0,2040 0,0361 18,2±0,61 18,1±0,6 0,0047* 0,0004* 0,0002* 30,7±0,7 30,5±0,7 0,7827 0,7411 0,5611 HR 8 115,0±3,2 108,3±6,5 RP 7 117,4±3,5 109,1±8,0 RF 20 21,6±0,63 19,3±0,44 IMC > 25 34 31,1±0,65 30,8±0,7 IMC > 30 CC 20 33,6±0,63 33,4±0,72 33,3±0,7 33,1±0,7 0,8315 0,7662 0,6108 50 0,99±0,008 0,99±0,008 0,98±0,008 0,98±0,008 0,8129 0,8683 0,3723 GLY (glicemia – mg/dL), HbA1c (hemoglobina glicada A1c – %), CT (colesterol total – mg/dL), HDL-C (lipoproteína de alta densidade colesterol – mg dL), LDL-C (lipoproteína de baixa densidade colesterol – mg/dL), TG (triacilglicerol – mg/dL), PAS (pressão arterial sistólica – mmHg), PAD (pressão arterial diastólica – mmHg), HR (frequência cardíaca – batimentos/min.), RP (pulso radial – batimentos/min.), RF (frequência respiratória – respirações/min.), IMC (índice de massa corpórea – kg/m²), CC (circunferência da cintura – cm). Os dados estão representados como média ± desvio padrão. *Valores de P estatisticamente significantes, obtidos pela comparação de valores antes e após o início do programa: antes vs. 4 meses (P#), antes vs. 8 meses (P§) e antes vs. 12 meses (P*). N = número de pacientes que apresentaram valores anormais no início do programa. Brasil ainda não existe um modelo de cuidados farmacêuticos aplicável à nossa realidade. Outro importante aspeto a ser considerado é o fato de que o Brasil é um país de dimensões continentais cuja a oferta de educação em diabetes e o reforço das mudanças de estilo de vida ajudam a aperfeiçoar o controle metabólico e impedem o desencadeamento de complicações crónicas. Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 23 ARTIGO ORIGINAL 24 A principal limitação de nosso modelo de CF é o tempo despendido (40-50 minutos) para obter todas as informações solicitadas na primeira consulta. De outro lado, a possibilidade de disponibilizar estas informações a outros profissionais de saúde, particularmente ao médico, poderia representar um importante instrumento para obter informações clínicas relevantes que dificilmente seriam obtidas em uma consulta médica regular. De acordo com esta afirmação, foi possível identificar, nos 50 pacientes que concluíram o estudo, mais de 350 anormalidades e/ou doenças (Tabela 3), o que representa cerca de sete informações clínicas por paciente. Além disso, foi detetado um grande número de medicamentos prescritos e não prescritos utilizados concomitantemente aos antidiabéticos (por ordem alfabética): ácido acetilsalicílico, alendronato, aminofilina, amoxilina, alprazolam, amitriptilina, amlodipina, atenolol, bezafibrato, bromazepam, budesodina, butilescopolamina, carbamazepina, ciclobenzaprina, clonazepam, cloxazolan, captopril, celoxibe, cilostazol, clortalidona, clopidogrel, condroitina, diclofenaco, diltiazem, dimenidrato, domperidona, enalapril, eplerenona, espironolactona, ácido fólico, formoterol, hidroclorotiazida, indapamida, fenitoina, sulfato ferroso, furosemida, ginkgo biloba, lorazepam, levofloxacina, losartan, meloxicam, metildopa, naproxeno, nitrofurantoina, nitroglicerina, nifedipina, omeprazol, paroxetina, pentoxifilina, predinisolona, propranolol, ramipril, rosuvastatina, sibutramina, sidenafil, simvastatina, valsartana, tiroxina, ziprasidona. O sucesso do programa de CF em promover a redução de risco de complicações crónicas em PDT2 encontra--se resumido na Tabela 6. Resultados similares foram obtidos quando separámos os pacientes nas categorias: homens (n = 25) e mulheres (n = 25), ou ainda otimistas (n = 29) e não otimistas (n = 21) (resultados não apresentados). A melhora da glicemia de jejum, HbA1c, triacilglicerol, colesterol total, HDL-C, PAS e PAD mostram a importância de acompanharmos não apenas a glicemia, mas também a pressão arterial e perfil lipídico para obter uma redução dos riscos cardiovasculares, a principal causa de morte por doença cardiovascular em PDT223-28. Sendo importante enfatizar que, no Brasil, apenas 0,2 por cento dos PDT2 alcançam simultaneamente os alvos estabelecidos para glicemia, lipidemia e pressão arterial11. De acordo com os resultados anteriormente descritos no «United Kingdom Prospective Diabetes Study» (UKPDS), ficou comprovada a importância do controle glicémico na redução do risco de complicaRev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 ções na DM2, demonstrando que uma redução de 1 por cento na HbA1c corresponde a 21 por cento de redução no risco de morte relacionada à diabetes26. Assim, considerando que neste estudo a HbA1c se reduziu em 1,45 por cento, podemos concluir que um programa de CF, em complemento ao tratamento médico, representa uma abordagem adequada aos cuidados com o PDT2. Esta opinião é reforçada pela Associação Médica Mundial, que propõe que médicos e farmacêuticos tenham responsabilidades complementares em atingir os objetivos necessários para se obter uma ótima terapia29. De acordo com esta proposição, Huisman et al30 demonstraram que a educação é efetiva na promoção de modificações nos valores de HbA1c em PDT2, enquanto Villa et al31 observaram que pacientes que receberam orientações em relação à doença controlam melhor a dislipidemia relativamente aos que não recebem instruções. Alterações no estilo de vida contribuem certamente para estas melhoras. Por exemplo, no início do estudo apenas 15 pacientes (30 por cento) faziam atividade física regular. Porém, devido ao constante reforço de indicações de mudanças de estilo de vida fornecidas pelo farmacêutico, este número elevou-se para 32 pacientes (64 por cento). O aumento da atividade física é benéfico, mesmo que não ocorra perda de peso, uma vez que reduzem a resistência à insulina, propiciando melhor controle glicémico e reduzindo o risco cardiovascular32. Mudanças no estilo de vida também incluem a introdução de orientações nutricionais. Neste sentido, no início do estudo apenas 14 por cento (sete pacientes) estavam engajados em processos de orientação nutricional. Porém, o contínuo processo de orientação nutricional fornecida pelo farmacêutico fez com que este percentual se elevasse para 76 por cento (38 pacientes). De acordo com estes resultados, a Associação Americana de Diabetes33 enfatiza a importância das mudanças nos hábitos alimentares, permitindo um melhor controle glicémico e redução de fatores de risco cardiovasculares. De outro lado, o IMC e o CC permaneceram inalterados após um ano de seguimento (Tabela 5). Por esta razão, futuros estudos precisam de incluir novas estratégias que auxiliem na perda de peso, baseada no facto de que uma redução de 5 para 10 por cento do peso corporal representa uma significativa redução da mortalidade relacionada com a diabetes34. Os resultados deste estudo também demonstraram que o processo individualizado de educação do paciente diabético pelo farmacêutico pode contribuir para melhorar a concordância (Tabela 4) e reduzir PRM (Tabela 6). ARTIGO ORIGINAL Deve ser enfatizado que as reduções de risco de complicações crónicas descritas anteriormente foram alcançadas sem significativas mudanças no esquema farmacológico de cada paciente (Tabela 3). Conclusão O programa de CF desenvolvido neste estudo apresentou algumas limitações metodológicas: potencial viés de seleção dos pacientes, possibilidade de mudança de comportamento dos pacientes pelo fato de estarem a ser estudados35, limitado número de pacientes, etc. Porém, a despeito destas limitações metodológicas, podemos concluir que o programa de CF desenvolvido neste estudo é adequado em termos de aplicação, e pode ser usado não apenas em farmácias comunitárias como poderia também ser adaptado às demandas do sistema publico de saúde e/ou outras doenças crónicas. O objetivo fundamental da farmácia comunitária é a dispensa ativa de medicamentos. A possibilidade de prestar cuidado farmacêutico a cada paciente é um desafio para melhorar a qualidade da assistência profissional. No Brasil, o farmacêutico encontra-se sobrecarregado com responsabilidades administrativas, ficando com pouco tempo para dedicar ao cuidado farmacêutico36. Portanto, o nosso desafio é a implantação no nosso país de uma nova farmácia comunitária na qual o farmacêutico deverá atuar como um prestador de serviços à saúde, contribuindo para a prevenção de doenças e a promoção da saúde. Referências Bibliográficas 1. Angonesi D, Sevalho G. Pharmaceutical care: conceptual and critical basis to a Brazilian model. Cien Saude Colet. 2010;15:36033614. Disponível em www.scielo.br/pdf/csc/v15s3/v15s3a35.pdf [acedido em 14 de julho de 2011]. 2. Fornos JA, Andrés NF, Andrés JC, Guerra MM, Egea B. 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Identificação 1.1 Nome: __________________________________ 1.2 Data da entrevista: ___ /___ /___ 1.3 Género: Masculino ( ) - Feminino ( ) 1.4 Data do nascimento ___ /___ /___ 1.5 Status Maritais: casado(a) ( ), solteiro(a) ( ), Divorciado(a) ( ), viúvo(a) ( ), Outros: _________ 1.7 Local de nascimento: ______________________________ 1.8 Telefone residencial/celular: _________________________ 1.9. Local de trabalho: _______________________________________________________ Endereço – trabalho: ________________________________________________ Telefone – trabalho - ___________________ 1.10. Médico (s) responsável: ________________________________________________________ Endereço: ___________________________________________________________________ Telefone: ___________________________________________________________________ 2. Educação: analfabeto ( ) – 1º ou 2 º grau completo ( ) – Graduado ( ) – Pós graduado ( ). 3. Profissão: actual ou anterior (aposentado): _____________________________________________ A profissão trás risco à saúde do paciente ou compromete a terapia medicamentosa? ____________________________________________________ ______________________________ 27 4. Família: Número e idade dos filhos: __________________________________________________ O paciente vive com os filhos ou com outro parente? _______________________________________ O paciente possui algum parente diabético: Quem? ___________________________________________ 5. Interacções sociais: Normal ( ) – Não faz amizades facilmente ( ) – Prefere estar só ( ) – Não se adapta facilmente a novas situações ou lugares ( ). 6. Condições de moradia: área urbana ( ) – área rural ( ) – Apartamento ( ) – com saneamento básico: Sim ( ) – Não ( ). 7. Habilidade de tomar Decisões: toma decisões com facilidade ( ) – dificuldade para tomar decisões ( ) – procura com frequência ajuda de amigos ou família ( ) – Não esta capacitado a tomar decisões ( ). 8. Crenças espirituais: possui crenças espirituais ( ) – não possui crenças espirituais – procura apoio espiritual em momentos de dificuldades ( ). 9. Suporte financeiro do tratamento: atendimento médico particular ( ) – seguro de saúde ( ) – serviço público de saúde ( ) – Recebe apoio financeiro da família ( ). 10. Principal fonte de orientação em relação à doença: Médico ( ) - Farmacêutico ( ) Enfermeiro ( ) – membros da família ( ) – não recebe orientação significativa ( ) – prefere não falar sobre este assunto ( ). 11. Auto cuidado: totalmente independente ( ) – necessita de ajuda para o auto cuidado ( ) – totalmente dependente ( ). 12. Visão do tratamento: é optimista em relação ao tratamento ( ) – não é optimista em relação ao tratamento ( ) – desencorajado ( ) – não aceita o problema ( ) – ignora o problema ( ). 13. Hospitalização e cirurgia: a). Você já foi internado em um hospital? b) Quando isto ocorreu? c) Porque foi hospitalizado? d) Que tipo de tratamento recebeu? e) Você foi submetido a uma cirurgia? f) Que tipo de cirurgia? 14. Factores de risco: sobrepeso ( ( ): _____________ ) – tabagismo ( ) – alcoolismo ( ) – drogas ilegais ( ) – Outros fatores Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 ARTIGO ORIGINAL 15. Estilo de vida Banho: todo dia ( ) – a cada dois dias ( ) – uma vez por semana ( ) – uma vez por mês ( ). Escovar os dentes: todo dia ( ) – a cada dois dias ( ) – uma vez por semana ( ) – uma vez por mês ( ). Actividades recreacionais: viagens ( ) – TV ( ) – leitura ( ) – Outras actividades ( ). Quais? _________ Actividade física (exercícios): Não ( ). Sim ( ). Qual(is)? Quantas vezes por semana? Actividade física (no trabalho): trabalha de pé ( ) – trabalha sentado ( ) – caminha ( ). 16. Sono: a que horas você costuma dormir? A que horas você costuma acordar? Quanto tempo você dorme por noite? Você tem insónia? Tem dificuldade em iniciar o sono? Você acorda com frequência durante a noite? Você se sente sonolento? Você dorme durante o dia? Você ronca muito? Você tem algum outro problema com o sono? ___________________________ 17. Refeições: Segue alguma dieta especial? Qual dieta? Quantas refeições você faz por dia? Com que frequência você come: frutas ( ) – vegetais crus ( ) – vegetais cozidos ( ) – carne vermelha ( ) – frango ( ) – peixe ( ) – suco de laranja ( ) – café ( ) – chá ( ) – leite ( ) – adoçantes ( ) – vitaminas e suplementos ( ) – suplementos minerais ( ). 18. Doenças do sistema digestivo: Normal ( ) – úlcera péptica ( ) – gastrite ( ) – doença do refluxo gastro esofágico ( ) – colite ulcerativa ( ) – náusea ( ) – vomita ( ) – hemorróidas ( ) – outras anormalidades ( ). Qual(is)? ________________________________________ 19. Eliminação fecal: Normal ( ) – dor ou outra dificuldade na defecação ( ) – urgência fecal ( ) – incontinência fecal ( ) – Constipação ( ) – Diarreia ( ). Quantas vezes defeca por dia? _________________ 28 20. Ingestão de líquidos: quanto ingere diariamente?________ água ( ) – refrigerantes ( ) – cerveja ( ) – Outros: _________ 21. Doenças renais: cálculo renal ( ), insuficiência renal ( ) - hemodiálise ( ) – Outras doenças renais ( ). Qual (is)? ________________ _____________________________________ 22. Eliminação urinária: qual a frequência diária? ________ Normal ( ) – polaquiúria ( ) - noctúria ( ) – urgência urinária ( ) – incontinência urinária ( ) – redução do fluxo urinário ( ) – dificuldade em urinar ( ). 23. Doenças cardiovasculares: normal ( ) – hipertensão ( ) – angina ( ) – taquicardia ( ) – bradicardia ( ) – Arritmia ( ) – insuficiência cardíaca congestiva ( ) – histórico de enfarto - Outras anormalidades ( ). Qual (is)? ________________ _________________________________ 24. Doenças pulmonares: – dispneia ( ) – asma ( ) – pneumonia ( ) – bronquite ( ) – doença pulmonar obstrutiva crónica ( ) – outras anormalidades ( ). Qual (is)? _________ 25. Doença hepática: ausência ( ) – esteatose ( ) – esteatohepatite ( ) – hepatite ( ) – cirrose ( ) – outras anormalidades ( ) – Qual (is)? __________________________________________ 25. Doenças hematológicas: ausência ( ) – anemia ( ) – coagulação anormal ( ) – leucocitose ou leucopenia ( ) – Outras anormalidades ( ) – Qual (is)? ____________________________ 26. Doenças neurológicas: ausência ( ) – choque hemorrágico ou isquêmico ( ) – cefaleia ( ) – enxaqueca ( ) – convulsões ( ) – perda da memória ( ) – tonturas ( ) – sonolência ( ) – síncope ( ) - outras anormalidades ( ) – Qual (is)? 28. Doenças psiquiátricas: depressão () – psicose ( ) – mania ( ) – outras anormalidades ( ) – Qual (is)? ____________________________ _____________________________________ 29. Endocrinopatias: hipotireoidismo ( ) – hipertireoidismo ( ) – outras endocrinopatias ( ) – Qual (is)? ____________________________ _______________ 30. Outras doenças/sintomas: dor ( ) – fatiga ( ) – fraqueza ( ) – outra(s) doença(s) ( ). Qual (is)? _________________________________ _______________________________ Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 ARTIGO ORIGINAL 31. Exane físico para identificar os principais problemas de saúde Cabeça: Normal ( ) – caspa ( ) – lesões no couro cabeludo ( ( ). Qual (is)? ____________________________________________________________ ) – queda de cabelo ( ) – outras anormalidades Olhos: Normal ( ) – catarata ( ) – visão turva ( ) – secreção anormal ( ) – Outras anormalidades ( ). Qual (is)? ______________________ ___________________________ Nariz: normal () – alergia ( ) – obstrução nasal ( ) – Epistaxe ( ) – rinites ( ) – Outras anormalidades ( ). Qual (is)? ________________ __________________________________ Boca: normal ( ) – cáries ( ) – gengivite ( ) – perda de dentes ( ) – dentadura ( ) - outras anormalidades ( ). Qual (is)? ______________ ____________________________________ Ouvidos: Normal ( ) – acuidade diminuída ( ) – zumbido ( ) – processo inflamatório e/ou infeccioso – labirintite ( ). – outras anormalidades ( ). Qual (is)? ___________________________ Pescoço: normal ( ) – nódulos na tiróide ( ) – tiróide com volume aumentado – Outras anormalidades ( ). Qual (is)? ________________ ____________________________________________________ Membros superiores: normal ( ) – pariria ou plegia ( ) – lesões ( ) – dor ( ) – Formigamento ( ) – Outras injurias ( ). Qual (is)? ___ ____________________________________________________ Abdómen: Normal ( ) – Dor ( ) – Flatulência ( ) – Outras anormalidades ( ). Qual (is)? ______________________________________________ ___________________ Membros inferiores: normal ( ) – paresia ou plegia ( ) – lesões ( ) – dor ( ) – formigamento ( ) – edema ( ) perda da sensibilidade ( ) – outras injurias ( ). Qual (is)?____________________________________ Pés: normal ( ) – perda da sensibilidade ( ) – dor ( ) – formigamento ( ) – Lesões ( ) – úlceras ( ) – calos ( ) – deformações ( ) – edema ( ) – amputação ( ) – outras anormalidades ( ) Qual (is)? _____________________________________________ ________________ Pele: normal ( ) – manchas ( ) – lesões: dermatite, vitiligo, psoríase, acne, infecções, erupção ( ) – pele seca ( ) – excesso de pelo ( ) – edema ( ) – reacções alérgicas ( ) – eczema ( ) – lesões ( ) – rash cutâneo ( ) – palidez ( ) – Outras anormalidades ( ). Qual (is)? _________________ 32. Perfil farmacológico: a) Quais são os medicamentos que você esta utilizando para tratar o diabetes? Se você não se lembra, por favor, traga na próxima consulta: _________________________________________________________ b) Quais são os medicamentos que você esta utilizando para tratar outras doenças? Se você não se lembra, por favor, traga na próxima consulta: ________________________________________________ c) Quais são os medicamentos isentos de prescrição médica que você esta utilizando. Se você não se lembra, por favor, traga na próxima consulta:________________________________________________ d) Você tem utilizado outros métodos alternativos para tratar a diabetes. Qual (is): _________________ _____________________________________________________________________________________ e) Você tem apresentado reacções alérgicas a medicamentos? Qual (is) medicamentos? ____________________ f) Quem administra os medicamentos: você ou outra pessoa? Quem? _____________________________ Observação: inclua aqui: nome comercial, nome genérico, forma farmacêutica, dose e tempo de tratamento. 33. Reacção adversa ao(s) medicamento (s): você apresentou algum sintoma indicando reacção adversa ao(s) medicamento(s). Se “sim”: antes de iniciar o tratamento ( ) – após iniciar o tratamento ( ). O que você sente? Quando? Qual medicamento (s)? Em que dose (s)? ___________________________ ____________________________________________________________________ Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186 29 ARTIGO ORIGINAL 34. Interacções medicamentosas: você apresentou algum sintoma indicando interacções medicamentosas. Se “sim”: antes de iniciar o tratamento ( ) – após iniciar o tratamento ( ). O que você sente? Quando? Qual medicamento (s)? Em que dose (s)? _________________ __________________________________ ____________________________________________________________________ 35. Concordância ao uso do medicamento: sim ( ). não ( ). Se não. Porque? Quando? Qual medicamento (s)? Em que dose (s)? ____ ___________________________________________________ 36. Problemas relacionados a medicamentos (PRMs): sim ( ). não ( ). Se sim: Qual (is)? _______________________ a) Classificação: Necessidade ( ) – Efectividade ( ) – Segurança ( ). b) Causa: não houve concordância em relação à farmacoterapia ( ) – Interacções medicamentosas ( ) – reacções adversas ao medicamento ( ). 37. Opinião do farmacêutico em relação a aparência do paciente: boa (B) ou ruim (R): roupas ( ( ) – unhas ( ) – higiene oral ( ) – cuidados com o corpo ( ). ) – cabelo 38. Questões finais: existe mais alguma informação que você gostaria de nos relatar? Se “sim”: qual(is): ______________________________ _______ 39. Opinião do farmacêutico em relação ao problema de saúde do paciente: controlado (C) ou não controlado (NC). Se NC: Qual (is)? Que intervenções seriam apropriadas? ________________________ _____________________________________________________________________________ 40. Farmacêutico responsável pela entrevista: _______________________________________ 30 Rev Port Farmacoter | 2012;4:173-186