Jornal

Transcrição

Jornal
2
EXPEDIENTE
Editorial
ASSOCIAÇÃO DOS EX-ALUNOS MSC
N
os dias 27 e 28 de Agosto, teremos
Encontro em Pirassununga. Durante
muitos anos, o programa das atividades
tem sido o mesmo, invariável. Se observarmos bem, a programação do sábado
sempre deixou muito a desejar. Muito
tempo ocioso e, após o almoço no Beira-Rio, sempre ocorreu uma dispersão geral do pessoal que só voltava a se reencontrar à noite para a reunião no salão
nobre. Isso precisa ser revisto. O ideal
seria fazer com que todos permanecessem unidos num mesmo ambiente, o que vem a facilitar o bate-papo, o entrosamento e o prazer do reencontro de amigos e
irmãos. E qual é o melhor lugar para isso? Claro, a própria Escola Apostólica com seu ambiente aconchegante e seu espaço
conhecido por todos que ali viveram na adolescência, brincando, estudando e rezando.
Então, a Diretoria achou por bem modificar essa rotina, abolindo da programação o almoço no Beira-Rio, mas não impedindo, claro, que almocem lá aqueles que o desejarem. Na verdade,
muitos não o freqüentavam por não comerem peixe e outros
preferiam assar uma carninha no Barrocão. Já começava por aí
a dispersão geral.
Decidimos, então, com prévia autorização da direção da
Casa, realizar no seminário o nosso almoço, utilizando as instalações do salão da Comunidade, anexo à capela. Esposas de
nossos colegas e outras mulheres daquela Comunidade já se
prontificaram a assumir a cozinha, o que barateará em muito o
custo daquele almoço comunitário. O resto da tarde daquele
sábado poderá ser preenchido com brincadeiras, jogos de cartas, de xadrez, palestra ou outras. Esse mesmo recinto coberto
e confortável servirá para o lanche de sábado à noite, evitandose o sereno e o frio.
Não percam. Vamos nos reunir mais uma vez.
João Baptista Gomes
Presidente
REDATORES DESTA EDIÇÃO
Raimundo José Santana, O Sombra, Wilmar Daleffe, Walter Figueiredo, Carlindo
Maziviero, Arlindo Giacomelli, Wolf Von Zarnen, Antonio Valmor Junkes, Afonso Peres
da Silva Nogueira, Marco Rossoni Fo, Lupo da Gubbio, Claudio Carlos de Oliveira,
Ézio Américo Munnari, Gino Crês, Alberto José Antonelli e João Costa Pinto.
DESIGNER GRÁFICO Marcelo Silva Calixto (11)3476-9601
INTER EX Julho/2011
Estr. Armando Barbosa de Almeida 1500
Residencial Rancho Grande
Cx Postal 116 - Cep: 07600-000
Mairiporã-SP
Tel: 0xx11-4604-3787
Diretoria e Inter-Ex: [email protected]
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente:
João Baptista Gomes ........(l1)4604-3787
Vice-Pres:
Waldemar Checchinato ....(11)4591-1192
Secretário:
Walter Figueiredo de Sousa .(31)3641-1172
Tesoureiro:
Paulo Barbosa Mendonça (l9)3542-3286
Dir. Espir:
Pe. Benedito Ângelo Cortez ..(11)3228-9988
CONSELHO FISCAL - TITULAR
José Carlos Ferreira..........(l9)3541-0744
José Barbosa Ribeiro........(35)3465-4761
CONSELHO FISCAL - SUPLENTE
Carlos Savieto ..................(l9)3671-2417
Afonso Celso Meireles.....(l1)3384-7582
REGIONAIS
Ibicaré
André Mardula ................(49)522-0840
São Paulo
Marcos de Souza.............(11)3228-5967
Campinas
Jercy Maccari................... (19)3871-4906
Pirassununga
Renato Pavão ................. (19)356l-605l
Bauru
Gino Crês.........................(14)3203-3577
Itapetininga
Sílvio Munhoz Pires ........(15)3272-2145
S. José dos Campos
Natanael Ribeiro de Campos..(l2)3931-4589
Itajubá
José Benedito Filho...........(35)3623-4878
COORDENADORIAS
Bol.Inf. Inter Ex
João Baptista Gomes..........(11)4604-3787
(Cel)9976-1145
DIAGRAMAÇÃO
Marcelo Silva Calixto......(11)3476-9601
CARAVANA
Moacyr Peinado Martin....(11)6421-4460
ATOS RELIGIOSOS
Daniel R Billerbeck Nery...(11)6976-5240
Edgard Parada....................(16)3242-2406
Lásaro A P dos Santos.......(11)3228-9988
3
Julho
02- José Machado ................................ (14) 223-5898
02- Mário Walter Decarli .......................(11) 4654-1351
02- Hernani Os...................................(35) 3622-4596
08- Joaquim Vieira Cortez .....................(35) 3622-1991
10- Oswaldo Muller .............................(19) 3869-1474
11- Gino Crês ..................................... (14) 230-3577
18- Ângelo Zampaulo ...........................(19) 3241-9615
20- Adeval Romano .............................(17) 3464-4425
22- Gerard G. J. Bannwart ....................(15) 3646-9499
26- Alberto Maria da Silva .....................(13) 3227-5096
26- Luiz Gonzaga Rolim ......................... (11) 619-7613
27- Leonel José Gomes de Souza .............. (15) 552-6890
28- Marcos Lelis Pinto ........................... (35) 621-4710
30- Paulo Figueiredo ............................(31) 3577-0225
Agosto
03- José Gaspar da Silva ........................ (35) 622-2591
07- Afonso Peres da S. Nogueira ............... (12) 552-5848
09- Antônio Henriques ..........................(11) 5184-0160
10- José Carlos Barbosa ........................(35) 3645-1151
12- Alberto José Antonelli .....................(13) 3227-8597
13- Benedito Coldibelli .........................(19) 3223-8597
15- Isaac da Silva Brandão .....................(11) 3611-3918
15- Benedito Ângelo Ribeiro.................... (11) 266-9620
15- José Raimundo Soares ...................... (12) 281-1803
18- Vanderlei de Marque .......................(11) 4127-4220
19- Luiz Gonzaga de Almeida .................(31) 3571-1643
26- Walter Figueiredo de Souza...............(31) 3641-1172
26- Manoel Evaristo da Costa .................. (35) 621-1310
Setembro
03- Marcos Mendes Ribeiro ..................... (12) 281-3321
04- Douglas Dias Ferreira ....................... (19) 571-1118
090913151818202323282930-
Manoel Pereira da Costa
Vitor Fernandes Lima ......................(21) 9693-5943
Geraldo Augusto Alkmin .................... (35) 622-3274
Carlos Magno Antunes Pereira ............. (15) 232-1585
José Manoel Lopes Filho.................... (14) 223-3399
José Fábio Correa ..........................(35) 3623-4819
Rosalimbo Augusto Paese..................(19) 3255-6622
Márcio Antônio Nunes ....................... (35) 281-1477
José Camilo da Silva .......................(19) 3828-1221
Marcos de Souza ............................(11) 3313-4551
Rubens de Souza ............................. (19) 561-4462
Geraldo José de Paiva .....................(11) 3735-3014
Outubro
02- Licínio Poersch ..............................(45) 226-6462
04- Luiz Carneloz ...............................(11) 6940-3758
04- José Carlos B. Teixeira ....................(16) 236-6341
05- Benedito Antunes Pereira .................(11) 4655-4215
06- José Benedito Ribeiro .....................(14) 3218-8573
09- Côn. Carlos Menegazzi.....................(14) 3278-1414
09- Edson Marques de Oliveira ................. (15) 271-1022
12- Pedro Tramontina ..........................(11) 4232-5962
12- João Baptista M. Cirineu ................... (15) 271-2347
13- Afonso Bertazi ............................... (19) 524-0494
14- Alderico Miguel Rosin ....................... (19) 582-1021
16- Sérgio Luiz Dall” Acqua ..................... (47) 435-5708
17- Geraldo Luiz Sigrist ........................(19) 3255-1732
20- Benedito Ignácio............................(11) 5531-0031
20- Nilo Jorge F. da Silva.......................(21) 2701-7242
28- Waldemar Chechinato .....................(11) 4591-1192
29- Agostinho Rafael Rodrigues ...............(21) 3468-5567
30-José Tadeu Correa ..........................(35) 3623-4767
Ibicaré - 2011
Da E para D: Alzemiro Basso, Ivo Luiz Pasinato, Sadi Pierdoná, Valdir
Rebelatto, João Baptista Gomes, Valdir Pagnocelli, André Mardula,
Mauro Pavão, Sérgio Dall´Acqua, Moacyr Peinado, José Benedito
Filho, Moacir Dacorégio
INTER EX Julho/2011
4
Palavra do Leitor
Ibicaré - 2011
“Que bom que vocês lembraram-se do
velho aqui, velho eu, não o Papai Noel!
Estou arrumando as malas para Pouso
Alegre, vou sentar praça lá. Completei 47
anos como vigário da paróquia São Sebastião, em Amparo, sou emérito. Tenho que dar lugar
para outro e, como dizem os franceses “Au revoir”.
Sou muito grato aos Missionários do Sagrado Coração”
(a) Pe. Francisco de Paiva Garcia
“Sinceramente, foi para mim um grande prazer receber sua carta, que veio reascender dentre as cinzas
do meu saudoso passado, uma chama daqueles tempos felizes em que estudei na Escola Apostólica de
Pirassununga e, depois, no malfadado noviciado de
Itapetininga, onde fiquei alguns meses. Minha satisfação é maior por sabê-lo vivo a atuante à frente dessa
Associação, à qual quero passar a pertencer daqui pra
frente, pois me sinto um naufrago nos mares da vida.
Explique-me como posso fazer para ser reintegrado a
essa Associação. Estou ilhado na vida, quase à beira
do suicídio, separado da família, morando sozinho,
não tenho contato com ninguém e, então, pertencer
de novo a essa Associação de ex-alunos MSC será a
minha tábua de salvação.”
(a) Elias José Alves
“Dediquei 36 anos de minha vida ao trabalho pastoral. O Diácono não era remunerado. No fim do meu mandato como Diácono, Dom Nelson, nosso bispo, mandou que
as paróquias passassem a pagar um salário por mês para cada diácono. Não tenho participado
dos Encontros dos ex-alunos por não estar sempre
com disposição para viajar. De vez em quando sou
chamado para dar aulas de parapsicologia para o quarto ano de teologia que tem nas paróquias da diocese
de Santo André. Segue um cheque de minha contribuição. Agradecendo pela atenção, desejo que o passeio
a Ibicaré seja com imensa alegria.”
(a) Diácono Pedro Tramontina
INTER EX Julho/2011
“ Sou esposa do finado Arnaldo do
Carmo Cardoso e Silva, ex-aluno do seminário da congregação dos MSC. Recebi sua carta e peço desculpas por não
ter comunicado seu falecimento ocorrido há doze anos. Em 1997, após o último Encontro
em Pirassununga do qual participou, voltou muito
feliz, porém, começou a sentir-se mal com dor no
peito. O médico disse que ele estava enfartando,
mas foi socorrido a tempo. Fez os tratamentos recomendados durante um ano, mas, na madrugada de
12 de setembro de 1998, confortado pelos sacramentos, foi morar junto de Deus e Maria Santíssima.
Esperando sua compreensão, despeço-me desejando ao senhor, sua família e a todos os ex-alunos MSC
as mais copiosas bençãos de Deus”.
(a) Alcioneida Formoso Cardoso e filhos
“Recebi sua carta. Muito feliz pelo seu
abraço fraterno. Você está querendo
restabelecer contato e saber se ainda
tenho interesse de voltar ao convívio.
Sem dúvida! É muito importante reencontrar colegas afastados há muito tempo. Deixo
aqui o meu cordial cumprimento a você e a toda a
sua Diretoria que tanta surpresa e emoções nos proporcionam nos Encontros e nas mensagens contidas
no Inter-Ex, produtos vitais de sobrevivência desse
grupo fraterno de ex-seminaristas MSC. Que Deus
os abençoe. Certa ocasião, a um bom tempo atrás,
disse à minha mulher: o que aconteceu com a Associação e o Inter-Ex? Não o estamos recebendo mais!
Quando o recebíamos, era a leitura número 1. Lia,
relia ... era sempre um relembrar. Havia constantes
relatos de casos, ocorrências e pequenas histórias
de nosso passado. Esse relembrar justifica o quanto
aquele período deixou marcas na alma de cada um
de nós. Caro amigo, foi tamanha a surpresa ao retirar, no meio das correspondências, sua carta a mim
endereçada. E logo do Presidente, solicitando meu
retorno ao convívio dos ex-alunos MSC. Com toda
certeza, é o meu maior desejo retornar, principal-
5
mente agora aposentado e com todo o tempo para
esses eventos. Sua carta para mim foi como uma
ressurreição. Um abraço afetuoso a você e aos colegas que de mim eventualmente pedem presença.
Que Deus lhe dê saúde, força e abençoe seu abnegado trabalho. Sei por experiência o quanto é árduo
ser líder de um grupo tão esparso e heterogêneo.”
(a) Ernesto Schaffrath
“Nossa reunião de ex-padres em Guararema
Estiveram presentes Edmundo Vieira
Cortez e Maria (organizadores desse
evento), Luiz Xavier Peres e Cida, Geraldo José de Paiva e Cristina, Lazinho e Sandra,
João Luiz e Vilma, Vanderlei dos Reis Ribeiro, Afonso
Bertasi, José Alberto Antonelli, João Costa Pinto,
Meire, Silvia com esposo e dois filhos. Presença especial do padre Humberto, representando o provincial, padre Ângelo Cortez.
A reunião se desenvolveu dentro do espírito de
confraternização característica desses nossos Encontros, iniciando-se pela alegria da recepção de
quem chegava por quem já havia chegado. Padre
Humberto trouxe um incremento especial para a
reunião, apresentando álbuns de fotos daqueles antigos tempos que não saem da memória e livros de
atas escritos pelos alunos ao longo dos anos. Os primeiros que chegaram puderam, após um bem sortido café, fazer um passeio por aquelas fotos e por
aquelas histórias, que ficaram expostas até o final
do encontro. A seguir, houve uma reunião com todos
os colegas presentes para ouvir o padre Humberto e
proceder à troca de idéias e vivências, havendo até
um princípio de discussão de temas dogmáticos e
teológicos. Desta vez as mulheres não participaram
desse círculo, achando que seria uma reunião mais
de interesse dos homens. Mas, não deixaram de
exercer a sua função de provedoras, pois além de
prepararem a mesa da refeição com os quitutes trazidos em abundância por todos, ainda agüentaram a
fome por longo tempo, uma vez que a reunião dos
homens não queria findar, tão interessante estava.
Logo após a refeição, o padre Humberto se despediu
para retornar aos seus afazeres e compromissos de
final de semana em Pirassununga. Os demais colegas também, aos poucos, foram se retirando, não
sem antes deixarem o valor acertado com a Congregação pela utilização daquela casa. Todas as ausências foram muito sentidas, mas, em especial, a do
Antonio Brogliatto que passa por recuperação de
uma cirurgia e a quem todos dirigiram suas orações
e votos de total recuperação. Como perspectiva para
o próximo encontro, ficou o convite do padre Humberto para que se realize, ainda este ano, no sítio
São José do Barrocão, dando oportunidade até para
um aprofundamento de temas levantados nesta reunião. Como organizador do evento, foi indicado o
Afonso Bertasi, que aceitou prazerosamente a incumbência.”
(a) Vanderlei dos Reis Ribeiro
“Obrigado pelo último número do
Inter-Ex. Gostei muito da capa, que
me trouxe à lembrança a capela de Pirassununga, onde nos reunimos tantíssimas vezes, onde aprendi a “ajudar
a missa” (com o padre Humberto Capobianco, meu
“anjo da guarda”) e onde fizemos tantas vias-sacras, também reproduzidas na foto. O que me surpreendeu foram os bancos: despojados e duros! Não
me lembrava mais de tanta aspereza. Apreciei muito
a entrevista do Vilmar Daleffe relativa a você; não
imaginava quanta coisa importante você fez na vida!
O Inter-Ex, como sempre traz matérias interessantes, redigidas em geral com correção e brilho. Como
já escrevi uma vez, o ensino do Português nas escolas Apostólicas da Congregação era de excelente
qualidade.
A ilustração fotográfica de “Meu Noviciado” me
despertou muita recordação, sobretudo dos que estavam na Poési, quando entrei em 1947. Abelardo,
Ibicaré - 2011
INTER EX Julho/2011
6
Ibicaré - 2011
Edson Niehues, Vitorino Alexandre Oro,
Ivo Ruiz Pasinato, Valdecir A. Daspasquale, Jerci Maccari,
Fila de trás: Lásaro A. Pereira dos Santos, ?. Daniel R Billerbeck
José Cirino, Pródigo, Henrique Roberto, “Figão”, José
Romão, Laureano e Maia, saudades daquele tempo!
Não me identifiquei, contudo, absolutamente, com a
imagem que o articulista, bom escritor, apresenta do
Pe. Adriano Seelen. Aliás, a foto do Pe. Adriano com
o círculo ao redor da cabeça, já sugeria a direção do
artigo. Obviamente, trata-se, já a partir do título
(Meu noviciado), de uma visão do autor, isto é, de
como ele vivenciou aquele tempo e, em particular, a
figura do mestre de noviços. Como tal, padre Adriano é descrito a partir da subjetividade do autor e,
parece-me, traduz mais o noviço do que o mestre.
Sob essa ótima, nada a reparar.
Conheci o padre Adriano Seelen desde seus primeiríssimos tempos de Superior da Escola Apostólica (1947), ao longo dos seis anos que lá passei, e no
Noviciado (1953) quando tanto ele como a minha
turma nos mudamos para Itapetininga. Conheci-o
também anos depois, quando em Cunha, na Vila
Formosa e, finalmente, em São José do Rio Preto. A
imagem que tenho dele difere completamente da
que é oferecida no artigo em pauta. Sem pretender
dizer que o padre Adriano sempre acertou (concordo
que o episódio da expulsão do Paulo Apóstolo foi totalmente além da medida e traumatizou sobretudo
os alunos dos primeiros anos, entre os quais me encontrava) e sem negar a influência indevida exercida
pelo padre Donato, minha experiência com o padre
Adriano, nos seis anos de Pirassununga e no ano do
Noviciado, afina-se muito mais com o testemunho
do padre José Roberto Bertasi, na página 5. Anos
depois do noviciado, encontrei o padre Adriano em
muitas circunstâncias. Lembro-me de que ele estava
muito mais solto do que nos anos de Pirassununga e
Itapetininga. Tinha acontecido o Concílio, tinha havido a experiência da Província com o curso “Christus
Sacerdos, e tinha mudado a maneira de viver as relações humanas. O padre Adriano deixou a distância
em que o víamos quando adolescentes e se tornou
um igual, provavelmente porque também nós crescêramos. Tive com ele conversas profundas e calmas
INTER EX Julho/2011
sobre o sentido da vida, da vida religiosa, dos afetos
humanos, e por aí vai ... Padre Adriano transmitia,
nesses encontros, a tranqüilidade de um homem vivido e de alguém sempre desejoso de entender mais.
Para quem não sabe, seus últimos meses em São
José dó Rio Preto foram acompanhados de perto pela
letra e música de “Pourquoi, Seigneur, as-tu fait la
nuit si longue, si longue pour moi?”, se não me engano do músico jesuíta J Galineau.
Quero, então, deixar registrada minha discordância em relação ao quadro composto pelo articulista
do padre Seelen. E, como última observação desta
Palavra do Leitor, gostaria de obter confirmação de
que o padre Adriano tinha realmente um piano de
cauda no quarto, coisa de que nunca ouvi falar. Sei
que ele, nos últimos anos de vida, dizia que só então
começava a tocar Chopin.”
(a) Geraldo José de Paiva
“Não nos conhecemos pessoalmente, mas o fato de ter pertencido à Congregação dos MSC faz com que o considere um irmão. Apesar dos quase 40
anos que deixei a Congregação, (19581963 Ibicaré e Pirassununga) sinto-me ainda profundamente ligado a ela e acompanho todos os
acontecimentos que posso. Como mudei de endereço e não quero perder o contato com os ex, queira
atualizar os meus dados. Acabei de ler o Inter-Ex de
dezembro e fiquei muito emocionado com os depoimentos e lembranças dos colegas.
Meu novo endereço: Rua Tapajós, 850 E Condomínio do Sol II, Bloco M, Apt° 203, Cep 89812-465
– Chapecó-SC Fone (49)33234993”
(a) José Luiz Zambiasi
“ Foi com grande satisfação mesmo
que recebi a sua carta. Jamais poderei
esquecer a Associação dos ex-alunos
porque, até hoje, considero o melhor
período de minha vida, o tempo q u e
7
fui aluno MSC. Desde quando nasci, estive ligado a
essa Congregação, ou seja, nasci a 1 quilômetro do
sítio dos padres, fui batizado naquela capela e
quando mudamos para a cidade, fomos morar a 50
metros do colégio. Fui coroinha desde os 8 anos na
antiga capela do Rosário e estou toda hora passando em frente ao nosso querido colégio e, ir para
aquela região do sítio, só traz boas recordações da
infância porque foi ali que vivi os primeiros anos de
minha vida. Não sei se você está sabendo, mas a
estrada que leva ao sítio está toda asfaltada, graças
ao bom prefeito que temos atualmente. Continuo
morando no mesmo endereço, trabalhando no mesmo emprego, apesar de ter tempo de sobra para
aposentadoria. Farei todo o possível para estar no
próximo encontro”
(a) Claudio Picolli
“Fiquei muito contente em receber
sua carta querendo saber por que não
tenho comparecido aos encontros, se
mudei de endereço ou se não tenho mais
interesse em pertencer à Associação.
Não mudei de endereço e não sei por
que deixei de receber o Inter-Ex. Não tenho comparecido aos encontros mais por comodismo, mas não
tenho esquecido vocês. Sempre que me encontro
com o Silvio Munhoz ou com o Jorge Ferreira, pergunto como foi o encontro e as pessoas que foram.
Estou até pensando em promover um encontro para
nós aqui de Itapetininga, no meu sítio, mas ainda
estou estudando essa possibilidade e entrarei em
contato com você. Aproveito para mandar o endereço
de mais dois ex-alunos, que são: Olegário Stessuk
Seabra e Afonso Garcia de Carvalho.”
(a) João Paulino Seabra
Há coisas que acontecem e trazem
muitas alegrias e grandes emoções.
Sua carta, além da grande surpresa, foi
uma dessas coisas maravilhosas. Lembro com muito carinho de você, do saudoso Sarmento, de seu irmão Amaro, do Amauri dos
Reis (o soleil), do Gerard Banwart e de muitos outros
cujos nomes vão desaparecendo da tela do meu PC
cerebral (velhice). Quanto ao seu abraço estou recebendo com alegria e emoção. Quanto ao meu retorno, digo-lhe que, há tempos, fiz algumas ligações
para a Igreja das Almas onde, segundo informações
anteriores, a diretoria se reunia. Nunca recebi resposta alguma; creio que as pessoas que me atenderam não comunicaram a vocês. Lembrar de vocês?
Lembro-me todas as noites (mesmo!!!!), quando
rezo no meu manual das novenas de Nossa Senhora
do Sagrado Coração – Lembrai-vos. Recordo quando
nos encontramos no sítio São José do Barrocão, você
dizer que queria ouvir o meu agudo que existe nessa
música (risos).”
(a) Geraldo Alberto Del Nery
“Ao ler o último Inter-Ex, fiquei pasmo com a memória do colega e conterrâneo Adailton Chiaradia: ele consegue
até se lembrar de meu número no seminário (343), coisa de quase sessenta
anos atrás. Não é à toa que ele é o “cara” no xadrez
(a) Raimundo José Santana.
“Com referência ao último Boletim
recebido ontem à tarde e devorado ontem mesmo à noitinha, uma única palavra: PARABÉNS a todos. Parabéns aos
articulistas incluindo a mim que também colaborei e fui aceito. Desta vez passei, mesmo
deixando pêlo na cerca como soia dizer o saudoso
padre Salvador Andreetta. A Redação é exigente,
com o que concordo plenamente. A “tesoura” funciona na hora certa e com imparcialidade. É a regra
do jogo, com que também concordo plenamente.
Fortiter et suaviter, como bem caracterizado foi o
Redator-Chefe. Aproveitando a oportunidade quero
Ibicaré - 2011
INTER EX Julho/2011
8
Ibicaré - 2011
parabenizar novamente a mesma Redação pela capa
daquele Boletim. Maravilhosa a idéia de estampar a
foto interna de nossa antiga e saudosa capela do
seminário. Voltei no tempo depois de abrir o envelope que me trouxe este presente. Magnífica idéia,
louvada iniciativa! Novamente me vi diante daqueles
quadros, reproduções em branco e preto dos originais o pintor holandês Peter gerardt. Entre um quadro e outro uma coluna e capitel e de linhas retas e
forma quadrangular alternada com um arco de estilo
gótico. Revi a mi mesmo diante dos “passos” do
Cristo, cumprindo eu a penitência imposta por meu
confessor. Ou então, nos dias de bonança, implorando ao Mestre a necessária força para carregar o madeiro dos deveres quotidianos sem me revoltar com
a escolha feita. Sabia e aprendi que tuido na vida
tem um preço antecipado, mesmo que negociado. E
quantas vez4es tive que negociar com o Mestre, o
que ainda continuo fazendo. Quantas e quantas Vias
Sacras fizemos em conjunto cantando ao som do
harmonium o tradicional “Oh Jesus Crucificado, meu
senhor é condenado por teus crimes, pecador, por
teus crimes, pecador.” Melodia de uma pureza impar,
palavras tocantes e singelas, lágrimas quentes e regeneradoras.... Sentimentalismo barato?
Voltando, porém, ao que me interessa, a dor
maior é de saber que aqueles saudosos quadros da
Via Sacra da capela interior do seminário desapareceram misteriosamente, como que abduzidos por
extra-seminaristas. Quando voltei a Pira com a nomeação de professor na Escoa Apostólica, a capela
ainda existia, mas não mais funcionando como tal.
Os quadros da Via Sacra ainda estavam lá. Eram reproduções raras, difíceis de serem encontradas aqui
neste país, e que foram trazidas da Holanda pelos
padres da Congregação.. Além do espírito apostólico
desses bravos sacerdotes, quantas outras coisas
materiais eles de lá nos trouxeram. Ainda paira no ar
a grande interrogação: Onde foram parar aqueles
quadros tão preciosos e raros?”
(a) Ézio Américo Munnari
INTER EX Julho/2011
Meu caro Wolf Von Zarnen. Dizem
que quando Villa Lobos foi a Paris pela
primeira vez para uma apresentação
pública de sua obra, ele assim falou a
Vercingetórix e aos demais gauleses:
“Eu não venho aqui para aprender, e sim para ensinar”. Não é que você está dando uma do Villa? (nenhuma alusão ao Pancho Villa) ... Você está me saindo como um outro Paulo Autran; você não está
pedindo aplausos, você está nos exigindo aplausos, e
muito merecidamente, Parabéns, meu caro! Seu artigo, Lobo Sarnento, é de sacudir a gente pelos fundilhos. E, pelo visto, você deve ser também um germanófilo nota onze, como eu. Seu artigo, mesmo antes
de ser publicado, já deu o que falar. O citado padre
Donato foi o gonzo de toda essa estória. Uma “Triste
Tragédia”, apesar de a sua terminar na Queda do
Muro. Tive um famoso quid pro quo com o supra citado dito cujo que terminou felizmente bem. As pessoas mudam com o tempo. Sinal de boa evolução. Ele
também mudou depois que se mudou. E mudou para
melhor. Anos mais tarde fui visitá-lo na Granja W.
Neto. Constatei que ele se tornara uma outra pessoa
e nossa amizade se estreitou mais ainda. Mesmo na
escolha dos temas nós nos assemelhamos. Daí pensarem que nós somos nós. Qualquer senelhança, Redactor Magnus é mera semelhança.”
(a) Manelo Biondo
“No dia 14de abril, quinta-feira, véspera do Encontro em Ibicaré, o Bruno
Neovalt, o Edson Niehues, o Frigo, o
Garbossa, o Ivo Pazzinatto, o Odalécio
Scopel, o Paese, o Rossoni e eu, indo os
casais com suas digníssimas e lindíssimas consortes, reunimo-nos no Restaurante Velho
Madalosso, num ágape comemorativo. É de nossa
intenção repetir o evento todas as quintas-feiras que
vierem anteceder o encontro de Ibicaré. Para engrossar fileiras no próximo encontro, aguardamos
paulistas e mineiros que, em tese, viriam até Curitiba na quinta-feira, e na sexta-feira, no despontar da
9
aurora, logo depois de sorvermos um chimarrão bem
quente e bem amargo, rumaríamos todos para o Sul,
em ruidosa carreta de impor inveja a qualquer político. Estão todos convidados. Quem quiser participar, aguardo contato antecipado para qualquer necessidade (reserva de hotel, por exemplo).
Até que enfim, o Sombra deixou de me aporrinhar.
Somente na última edição (março/11) é que ele largou de meu pé, ou melhor, da minha barbicha, a qual
ele insiste em comparar com a do Rasputim. Nas minhas conjecturas, presumo ter descoberto a identidade dele. Em Ibicaré ele surpreendeu, vestindo-se de
pai-de-santo, enquanto não se cansava de fazer anotações numa caderneta. Se for quem eu suponho ser,
o Sombra não deve se esquecer dos idos de 1969/1970
quando, aqui em Curitiba, mais precisamente na rua
13 de Maio (do número não me lembro), ele e eu, na
qualidade de acadêmicos em penúria, dividíamos um
apertado quarto de pensão. Em pobreza extrema, a
fome e o frio que passamos foram recíprocos. Portanto, senhor Sombra, ao divagar, devagar!
Por fim, agradeço de coração, a presença de todos
em Ibicaré, principalmente a de mineiros e paulistas
que chegaram com os trazeiros quadricularmente
achatados, reproduzindo o molde das poltronas do
ônibus e cujo sacrifício da viagem nós, sulistas, só
podemos compensar com o calor do nosso abraço”
(a) Antonio Valmor Junkes
“Não sei o que houve desta vez, não sei
a razão, só sei que esse Encontro de Ibicaré foi diferenciado dos demais. Tudo
aconteceu de forma semelhante, mas
para mim algo aconteceu. Encerrada a
festança, voltei ao hotel e fui descansar, pois estava
pregado e confesso ter sido tomado por uma profunda
nostalgia que por pouco não me levou ao pranto. Uma
emoção muito grande tomou conta de mim e fiquei sem
vontade de voltar para casa. Arrisco dizer que pode ter
sido a forte emoção de reencontrar vários colegas que
não via há cinqüenta anos. Até agora Ibicaré e toda a
sua paisagem continua encracalada em mim”
(a) Jerci Maccari
“Você, Jerci Maccari, tem razão ao
dizer que este encontro foi diferenciado, realmente, graças ao colega
Dall’Acqua que não mediu esforços para
trazer novos colegas. Nessa tarefa tivemos uma boa ajuda da Internet que,
por sinal, deveremos explorar mais para o próximo
encontro. Pode ficar certo, o encontro foi muito legal
mesmo e, pelos abraços calorosos que recebemos,
sentíamos a emoção dos colegas, o que só não terminou em choradeira porque não fizemos aquela rodada de despedida no final com aquelas canções
saudosistas de nosso tempo. Olha, se isso fizéssemos, com certeza faltariam lenços para tantas lágrimas. O sucesso de nosso encontro, na verdade, deve-se creditar à participação de todos que se
entregaram no evento de corpo e alma, onde foi visível no semblante de cada um a alegria espontânea
que brotava por estarmos juntos naquele momento.
Fato que ficou evidenciado, principalmente naquela
ocasião mais íntima do encontro, foi fazer-se a apresentação dos novos em um local muito especial,
principalmente para os colegas que estudaram em
Ibicaré, ou seja, na capela interna, onde diariamente assistíamos a missa e, também, como foi lembrado por alguém, onde fazíamos nossas confissões diárias ...não sei por quê! Quanto à parte da
gastronomia, temos de dar o atributos ao colega
Ademar Pivetta que, realmente, matou a pau com
sua equipe competente e incansável, preparando
com muito carinho todas as refeições. Pivetta, você
foi dez nesse quesito! Muito obrigado em nome de
toda a diretoria da Regional Sul.”
(a) André Mardula
“Quero endossar os comentários do
Maccari e do Mardula sobre o nosso encontro de Ibicaré. Dessa vez foi tudo
muito especial. Ao chegar a Ibicaré,
juntamente com o lendário Vilmar Daleffe, fomos ao hotel do Seo Dalolmo.
Como já estava lotado, a senhora do hotel falou
que, antes de irmos a outras cidades, como Treze
Tilias, devíamos falar com o Pivetta. Não deu outra.
O Piveta nos fez atravessar a rua e nos ofereceu um
dos muitos quartos de sua vasta residência. Tudo
foi ficando com formas de Ibicaré. Conviver com
pessoas como o Arlindo Giacomelli e os outros expadres foi algo muito bom. Quanta aprendizagem!
Que patrimônio cultural, espiritual e intelectual etário, reunido num só lugar! A dedicação do Pivetta,
Dall’Acqua e Mardula foi marcante e a eles queremos agradecer profundamente.
Tudo isso me fez lembrar muito das sementes do,
por ora ausente, Chico Levandowski, o iniciador desses maravilhosos Encontros.”
(a) Rosalimbo Augusto Paes
Dia 15 de abril, às 8,30 hs, foi dada
a largada de paulistas e mineiros para o
XII encontro de Ibicaré. Houve empate
na corrida. Os motoristas do ônibus
amarelo erraram quatro vezes e os do
ônibus azul, três vezes, sem contar
uma furada de pneu próximo a Ibicaré, em frente à
prefeitura de Treze Tillias. Contratempos outros?
Apenas entre os kms 333 e 360, na subida da serra
do cafezal, uma imensa fila de caminhões obrigou
nosso ônibus a rodar passo a passo por cerca de dez
kms por hora. O mesmo problema mais adiante, na
passagem por Curitiba, onde havia um estreitamento da pista. Resultado: em vez das quinze horas previstas, a viagem durou dezoito horas.
Todo sacrifício tem sua recompensa. Às 3,00 hs
da madrugada, estávamos degustando a tradicional e deliciosa sopa de agnolini que os amáveis e
pacientes anfitriões tinham preparado para nos esperar. Eu que tinha pavor de viajar de ônibus cansei
nadinha, nadinha. Tanto na ida como na volta. Esta
foi tranqüila, durou apenas quinze horas. O que
muito me impressionou na viagem foi o espírito esportivo dos colegas que, serenamente e até com
sorrisos, encararam os transtornos. Os jovens de
mais idade, como o Sebastião Mariano e o Antonio
Henriques deram exemplo de esportividade. O Moacyr Peinado (Pinduca) tudo fez para que ninguém
passasse sede ou fome, servindo salgadinhos e doces a toda hora. O Daniel e a Claudete, com as
orações e bingos, cooperaram para alavancar o espírito jovem embutido nos nossos corpos suados.
Também me impressionou, sobremaneira, o local
aconchegante de Treze Tillias e, mais ainda que o
local, o espírito jovem e alegre de seus habitantes,
onde as moças cruzam com a gente e, com os olhos
nos olhos, dão bom dia ou boa tarde. É um povo
lindo e com pureza de criança. Valeu! Valeu! Muito
obrigado a todos que fizeram isso acontecer.
(a) Edmundo Vieira Cortez
INTER EX Julho/2011
10
O colega Pedro A Grisa
O
s fatos que hoje narro são mais ou menos históricos. Por que mais ou menos? Porque os
comprovantes são minha memória e a do próprio Pedro. Eu o vi pela primeira vez, em julho de 1956, lá no
então novo seminário de Ibicaré. Passei por aquele seminário, nos anos 1950 e 1951. Ainda era um casarão
de madeira bem na barra do rio São Bento. No local
existe hoje uma casa de alvenaria. Do outro lado do
rio, atrás dos samandis, onde hoje há uma oficina e
um posto de gasolina, havia outro casarão de madeira,
onde morava um célebre adversário do padre Bernardo, o velho anticlerical José Schneider. Numa certa noite, o Keis, famoso cachorro do Irmão Pedro, levou um
chumbinho na orelha. Quem será que atirou?
Fui para Pirassununga em 1952. Cinco anos depois, tivemos as primeiras férias junto à nossa família. Dia 27 de junho de 1956, partimos, Dom Ricardo
Paglia (que ainda não era Dom), Lauro Müller e eu.
Na última hora, deram-nos um carona de cujo nome
não me lembro, que voltaria para casa. Partimos de
Pirassununga às 5,00 hs da manhã no trem da Paulista, chegando a São Paulo ao meio dia. Não me
lembro se algum padre nos acompanhou na viagem
ou se algum outro nos esperava na estação da Luz.
Perambulamos até as l7,oo hs, quando embarcamos
no direto São Paulo-Porto Alegre, pela Sorocabana e
, lá pelas 22,oo hs, passamos por Itapetininga e chegamos a Itararé às 4,00 hs. Acordei com as batidas
dos vagões, engate e desengate. Eu estava dormindo na cabine-dormitório. Dom Ricardo Paglia apenas
cochilou no banco duro, dando sua cama ao carona
que nos acompanhava. Parados uma hora, de pé na
ponta do vagão, fiquei acompanhando o patinar do
trem nos trilhos ao dar partida. Havia geado. Chegamos a Ponta Grossa à 15,oo hs. Lembro-me que a
gente via essa cidade ora a direita, ora a esquerda,
depois na frente, depois atrás, tantas eram as curvas
da ferrovia. À 1,00 h da madrugada chegamos a
União da Vitória e Porto União, cidades na fronteira
de Paraná e Santa Catarina, separadas pelo rio Iguaçu. Passamos por Caçador às 7,00 hs. Nessa segunda noite, troquei com o Ricardo. Ele foi dormir na
cama e eu fiquei no banco duro. Ali tudo era branco
de geada. Nós, os passageiros, ficávamos de pé,
mãos nos bolsos, pernas meio abertas para facilitar
o equilíbrio em razão do balançar do trem e dando
pulinhos para esquentar. Haja frio! Sempre pela
margem esquerda do Rio do Peixe, às vezes tínhamos a impressão de que iríamos despencar para
dentro das águas geladas, tão altos eram os paredões de pedra à direita. Mas, tocamos viagem com a
alta velocidade de 25 a 30 kms por hora.
Finalmente, com um longo e estridente apito do
trem, chegamos à futura capital do araticum, carinhoso título que, anos mais tarde, cumprimentando um
ibicarense, em aula na Faculdade de Joaçaba, eu lhe
disse: “Parabéns, você é da Capital do Araticum; não
se preocupe, eu também sou”. Parece que esse elogio
INTER EX Julho/2011
Arlindo Giacomelli (1950-1971)
pegou! O Lauro e eu desembarcamos e o carona também. O Ricardo foi até Joaçaba, onde tomaria um ônibus (na época se dizia “linha”) para Ponte Serrada.
Estavam nos esperando o irmão e a irmã do Lauro,
meu pai, dois irmãos meus e o padre Tiago que eu já
conhecia de Pirassununga. Em casa, meu pai disse
para minha mãe: “Eu nem o reconheci!”. Eu saira de
casa aos doze anos e retornava com dezessete, no
tamanho de hoje, tirando um pouco de barriga.
Na semana seguinte fui ao seminário (prédio novo)
visitar os padres e também o meu irmão Itelvino. Foi
quando conheci o Pedro Grisa, colega da mesma turma do mano. Ambos prosseguiram estudando juntos
até o ano de 1967, quando deixaram a Teologia. Essa
eu conto mais tarde. Passei a noite lá no seminário,
assisti a uma apresentação dos meninos e fui ao recreio dos padres a convite do padre Bernardo. Na manhã seguinte, ninguém me chamou. Acordei assustado, vesti-me rapidamente e desci. Todos estavam
indo para o café no refeitório. Sentei em frente ao
padre Bernardo que, logo após a oração, me disse:”
Quando fui bater na porta do seu quarto, o silêncio
me fez lembrar do que eu mais gostava em minhas
férias na Holanda, isto é, que ninguém me chamasse,
nem que fosse para rezar missa”. Como o Pedro Grisa
e meu irmão Itelvino eram amigos inseparáveis, eu
pude ter com ele bastante contato.
Pedro Grisa, hoje, tem setenta anos, está totalmente cego e é um dos mais importantes parapsicólogos do Brasil. O que é Parapsicologia? “É a ciência
que estuda os fenômenos paranormais” (Grisa,
2009, p-r 3) O que são fenômenos paranormais?
“São fatos, fenômenos considerados além do normal, por serem extraordinários, maravilhosos ou assustadores. Exemplo: visões, aparições, casas mal
assombradas, possessões, clarividência, precognições, etc” (Grisa, 2006, p-23-24)
É autor de inúmeros livros sobre o assunto:
Interrogação vital (poesias)- Edipappi, Florianópolis, 2008 – 2ª, Edição
A cura pela imposição das mãos (coautoria de Frei Hugolino, falecido
em abril de 2011. -Edipappi, Florianópolis, 2009, 17ª. edição
Liberte seu poder extra – Edipappi – Florianópolis-2007 – 14ª. edição
O jogo e a estrutura das personalidades - Edipappi, 2006 – 7ª. edição
O poder da fé e a paranormalidade – Edepppi – Flor – 2002 – 7ª. edição
Paranormalidade em potencial mental – Edipappi 2007 –6a. edição
Compreendendo a homosexualidade – Edipappi-Flor 2007 – La. edição
Eu sou paranormal – Edipappi – 2009 – Edipappi – Florianópolis
O Pedro Grisa disse-me hoje: “Pelo fato de eu ter sido
seminarista, sou o parapsicólogo mais solicitado para
dar atendimento a padres e religiosos no sul do país.”
NOTA: Os livros dele são vendidos somente na
Edipappi (Instituto de Parapsicologia e Potencial
Psíquico) – Rua Felipe Schimidt, 303, 15° andar, s1
1512, Centro Forianópolis. Fone: 48-3222.1819.
Ministra cursos de formação de Parapsicólogo Social e Clínico em Florianópolis SC, Curitiba Pr, Londrina Pr, Volta Redonda RJ e Itapemirim ES.
WWW.ipappi.com.br
11
Entrevista
O Sombra
Ex de Ibicaré
• Maziviero: seu brasão “Per áspera ad Astra” também
existiu por aqui. Gostei da interpretação.
• Lupo: “É claro que o leite teria que derramar! Ninguém
conseguiria desligar o fogo até que se terminasse a leitura de
texto tão longo!”
• Wolf: Esse tal de padre, temido como ave de rapina, não
pousou por estas bandas. Ainda bem!
• Encontro de Ibicaré: O mais careca= Valdir Pagnoncelli; O mais caubói= Edson Niehues; O mais curador= Vilmar Daleffe; O melhor barbicha= Maccari. Ganhou do Junkes
por 2 mm; O mais intelectual=Ernesto Shafrath; O mais
veterano=Sebastião Mariano; O mais pop star=Ivo Pazinato.
• Walter Figueiredo: A ponte que você quer construir
para congregar novos e antigos, não vai chegar a Ibicaré, porque os mais “novos” daqui já são todos sessentões.
• Ibicaré/2011: Os mais hermanos= Pierdoná x Pierdoná; A voz mais bonita= Cachoeira; O Mais alegre=Dacoregio;
O mais prestativo= Pivetta; O mais churrasqueiro= Arlindo
Botegga; As mais charmosas= Sras Paese e Mardula.
• Giacomelli: Quem estava esperando uma “catilinária” do
padre Vermim, ficou decepcionado. Aquele é que é pai!
• Raimundo Santana: Tal como o Lupo da Gubbio, você
gosta de encompridar a história, mas, curioso para saber como
o padre ia explicar o “caso” de José com a mulher de Putifar,
fui obrigado a ler até o fim. O padre foi liso como sabonete!
• Ibicaré/2011: O mais dançarino=ex-padre Alberto Antonelli; A melhor família= Pivetta; O mais calouro= Alfredo
Martins; Os melhores da festa= as cozinheiras; O melhor
enólogo= Paese; O mais líder= Gomes; Os melhores organizadores= Dall’Acqua, Mardula e Pivetta.
• Manelo Biondo: Sei que você é meu fã, por isso fico à
vontade pra lhe dar um conselho: procure uma editora (Saraiva, FTD e outras) que tenha paciência para publicar seus infindáveis e maçantes artigos. Deixe o espaço do Inter-Ex livre
para outros!
• Ibicaré/2011: Ah! Que leitoas a pururuca! Ainda estou
lambendo os beiços!
Ibicaré - 2011
Vilmar Daleffe (58-66)
C
omo sempre, faço minha entrevista em
forma de narrativa, após receber pela Internet as respostas às perguntas formuladas.
Moacir Cristaldo Dacoregio nasceu
em Grão-Pará- SC, em 1949, segundo filho
de uma família humilde. Seu pai, ex-combatente da segunda guerra mundial, era
motorista de caminhão. Pelo fato de não
haver escola em sua cidade e porque a família era muito pobre e, principalmente,
porque a mãe sonhava com a possibilidade
de ter um filho padre, Moacir foi encaminhado ao seminário de Ibicaré. Ali, pelo
menos, poderia estudar, sem maiores despesas. Isso aconteceu no ano de 1961 e lá
permaneceu até 1963. Nesse mesmo seminário já se encontrava seu irmão mais velho, o Rozevelte.
Perguntado por que saiu do seminário,
mencionou três razões para explicar isso.
Mudança de sua família para Foripa, onde
poderia estudar de graça; falta de maior
convivência com seu irmão em classe bem
superior e, acredita ele, por ter tirado nota
4 em Latim (?), além da afirmação do padre de que ele não tinha vocação.
Devido àquela nota 4 em Latim, a escola pública de Floripa não aceitou sua matrícula da 3ª série. Optou, então, por uma
escola industrial para estudar Engenharia
Elétrica, cujo curso terminou em 1973. Já
em 1974, conseguiu emprego na TELESC,
empresa de telecomunicações de Santa
Catarina. Alguns meses após, foi mandado
para Munique para um curso de aperfeiçoamento, retornando como gerente de comunicações. Paralelamente a esse trabalho, foi professor no Curso Tecnológico da
UFSC, o que lhe possibilitou fazer mestrado e doutorado. Em 1978, passou a gerente do Laboratório de Comunicações da
ELETROSUL, onde permaneceu até 1999,
quando se aposentou.
Casou-se em 1974 com Mara e o casal
teve três filhos: Alexandra (filósofa), Kristiane (in memoriam) e Frederica (engenheira civil). Três netos: Gabriel, Bianca e
Emanuele, que aparecem na foto.
INTER EX Julho/2011
12
IBICARÉ NOS ABRAÇOU
Da E para D: Ivo Luiz Pasinato, Ângelo
Garbosa Neto, Alfredo Martins Aguiar, Erci
Frigo, Valdir Pagnocelli, Valdecir A Dalpasquale e Vilmar Daleffe
A
diretoria da Regional Sul emitiu Boletim Especial Pós Encontro/2011, do qual transcrevemos
os seguintes tópicos:
A alegria da presença
de novos colegas
Foi um encontro sensacional Novamente um número significativo de participantes com a presença de
vários colegas do Sul que participaram pela primeira
vez, e isto é sempre uma grande alegria! Foram 65
ex-seminaristas e 55 acompanhantes, num total de
120 participantes. E o melhor foram os depoimentos
dos colegas novos e antigos, todos unânimes, afirmar
que o encontro deste ano foi muito especial. E cada
um dos encontros tem sido especial ... cada colega
que vem pela primeira vez traz sua vibração, seu entusiasmo, acrescenta e enriquece a todos. Por isso o
desafio de trazer cada vez mais colegas. Ficamos todos felizes com as presenças. Esperamos que os que
compareceram em 2011 não só voltem em todos os
seguintes, como estimulem outros colegas a vir ou
voltar, eis que alguns que já vieram, deixaram de participar, e outros, já localizados e convidados, ainda
não vieram...que venham sempre!
Lista dos participantes
em ordem alfabética
Adelar Ponsoni, Ademar Pivetta, Alberto José Antonelli, Alfredo Martins Aguiar, Alzemiro Basso, André Mardula, Ângelo Garbossa Neto, Antonio Henriques, Antonio Valmor Junkes, Arlindo Giacomelli,
Benedito Ignácio, Bonifácio Eufrozino Barbosa, Bruno Vilibaldo Neuvalt, Carlos Savietto, Claudio Magnabosco, Daniel Billerbec Nery, Daniel Canale, Edo
INTER EX Julho/2011
Galdino Kirsten, Edson Niehues, Edmundo Vieira Cortez, Erci Frigo, Ernesto Leinhardt da Costa, Ernesto
Schaffrath, Helias Dezen, Hélio Ampolini, Ivo Luiz
Bortolazzi, Ivo Luiz Pasinato, Ivo Manfé, Jair Ribeiro,
Jerci Maccari, João Baptista Gomes, José Barbosa Ribeiro, José Benedito Ribeiro (I), José Benedito Ribeiro
(II), José Benedito Ribeiro Campos, José Carlos Ferreira, José Murad, José Raimundo de Sousa, Junes
Giachin, Lásaro A,P, Santos, Licínio Poersch, Luiz Carlos Cachoeira, Luiz Pelisson, Luiz Zagonel, Marco Rossoni, Mauro Pavão, Moacir Cristaldo Dacoreggio, Moacir Lobo, Moacir Peinado Martin, Nelson Pierdoná,
Nivaldo Bordignon, Osvaldo Renó Campos, Paulo Barbosa Mendonça, Rozalimbo Augusto Paese, Sadi Pierdoná, Sebastião MariaNO Franco de Carvalho ,Sérgio
Luiz Dall’Acqua, SérgioJosé Sredo, Valdecir Antoninho
Dalpasquale, Valdir Luiz Pagnoncelli, Valdir Rebelato,
Vanderlei dos Reis Ribeiro, Vilmar Daleffe, Vitorino
Alexandre Oro, Ealdemar Chechinatto.
13
Ibicaré - 2011
Missa de Ramos
Novamente participamos da procissão e da missa
com ativa participação nas leituras e, neste ano, com
a belíssima participação do Grupo Harmonia que,
trazido e com a participação do Marcos Rossoni, cantou a três vozes, o que emocionou a todos. Por concessão generosa do Padre Oficiante, o sermão foi
proferido pelo Arlindo Giacomelli e, ao final da missa, o Sérgio Dall’Acqua dirigiu à comunidade de Ibicaré um pronunciamento no qual, além de agradecer
a acolhida, revelou a significância dos encontros de
ex-seminaristas em .Ibicaré.
ria Regional, mas de cada um dos ex-seminaristas.
Um contato pessoal, um telefonema, um e-mail, o
oferecimento de carona têm, muitas vezes, um poder de convencimento maior que o envio de um impresso. Então, vamos trabalhar juntos para que nossos encontros sejam cada vez mais empolgantes.
Temos relação completa dos endereços conhecidos
que pode ser solicitada ao Sérgio Luiz Dall’Acqua,
Diretor de Divulgação, através do e-mail: [email protected].
Destaque
Sem deixar de enaltecer o pessoal de São Paulo e
Minas Gerais, temos especial alegria quando colegas
do Sul comparecem pela primeira vez. Assim, saudamos aqueles que vieram pela primeira vez, esperando
que não faltem aos futuros. São os seguintes: Alfredo
Martins Aguiar, de Porto Alegre; Nelson Pierdoná, de
Pato Branco-PR; Sadi Pierdoná, de Ipoméia-SC; Moacir Lobo, de Pato Branco-PR, Junes Giachin, de Chapecó-SC e Ivo Luiz Pasinato, de Curibiba-PR.
Leitões a pururuca
Gastronomia
A alimentação, como sempre, foi um dos destaques do encontro, recebendo rasgados elogios de todos. A equipe contratada pelo Pivetta, mais uma vez,
deu show de qualidade e eficiência. Parabéns a todos.
Show de dança tirolesa
Pela segunda vez, o Grupo de Danças Típicas de
Treze Tillias abrilhantou o sábado à noite de forma
esplendorosa. Dentre as várias danças apresentadas, destaque especial para a Dança dos Sinos, um
espetáculo a parte.
Agradecimento e estímulo
Agradecemos penhoradamente a todos os que
participaram. Alguns enfrentando centenas de quilômetros e muitas horas de viajem, tudo para se fazerem presentes. Essas demonstrações de afeto pelo
grupo e entusiasmo pelo evento nos animam a continuar organizando esses encontros, procurando fazê-los sempre atrativos e estimulantes. Como diziam
os cartazes: vocês são a razão de ser e o objetivo
destes encontros. Perderiam o sentido se houvesse
desestímulo. O ideal de trazê-los não é só da Direto-
Show de danças tirolesas
Grupo de danças
INTER EX Julho/2011
14
Quarenta anos depois - VI
Antonio Valmor Junkes (1958-1964)
Ibicaré - 2011
D
esta vez, em Ibicaré, nossa reunião aconteceu
na antiga capela. Ao adentrar-me pelo recinto, e
ao olhar para o chão, verifiquei que os tacos do piso
colocados ali em 1959 eram ainda os mesmos, assim
como ainda é a mesma a infelicidade, o desespero, a
vergonha e a ignomínia que, por causa desses malfadados tacos, eu vivi numa certa melancólica noite
da minha infanto-adolescência.
Nos dias que se seguiram ao encontro, de volta aos
meus afazeres, vinha eu amargando, mudo e quedo,
essa lastimosa lembrança. No escritório, em casa,
nos fóruns, por onde quer que eu andasse, a umbrosa cena daquele triste espetáculo, desencavado das
mais recônditas reminiscências, me acompanhava,
importunando-me o espírito, afligindo-me com vergastas certeiras e doridas o ego sempre cuidoso do
aspecto. Parecia-me que estava vivenciando aquele
mesmo desgosto profundo, revivendo aquela mesma
mágoa infinda, ressentindo aquela mesma decepção
sofrida, enfim, não conseguia desvencilhar-me daquela desdita. Vai daí, lembrei-me de que o mesmo
tema já fora tratado por mim em alguma ocasião
qualquer. Então, afastei da minha frente alguns processos em que trabalhava e decidi reler alguns dos
escritos esparsos que mantenho guardados com a
intenção de, qualquer dia destes, se me sobrarem
tempo e vida, editar o livro que prometi aos meus filhos escrever, e encontrei a narrativa dessa tragédia
ocorrida pelos idos do início dos anos sessenta.
Há muito tempo, pois, ipsis litteris, escrevi assim:
“ Na oração da noite, na capela, quando era rezado o
‘Lembrai-vos’, a alguém, escolhido a dedo, era dada
a súpera honra de acender as velas no altar. Usavase, para tanto, uma ripa comprida, cuja ponta era
bifurcada, tendo, de um lado, um pavio que acendia a vela lá nas alturas, e do outro, um cone, feito de couro cru, que apagava a vela(aliás, lembreime, em tempo hábil, de que quem tinha os buracos
do nariz, há os que preferem chamar de narinas,
exageradamente escancarados, era inevitavelmente
agraciado com o epíteto de ‘nariz de apagá vela’).
INTER EX Julho/2011
Para cumprir esse sacrossanto ritual, havia um rigoroso e respeitadíssimo rodízio, dada a importância
do momento, em que toda a comunidade se achava
presente, com os alunos nos genuflexórios da frente, cabeças baixas, mãos postas em piedosa atitude
de oração, sem ousar levantar os olhos nem mesmo
para apreciar o solitário adejo de algum pernilongo
por ali em perigoso letal extravio. Qualquer postura,
desde que julgada inadequada pelos olhos miúdos
do Diretor ou por qualquer um dos padres e irmãos
mais atentos ao comportamento dos alunos do que
com a devoção, poderia resultar na abstinência da
refeição seguinte. Foi então que, numa saudosa mas
desventurada noite daquelas, chegados que foram o
meu dia e a minha vez tão ansiosamente aguardados, dirigi-me com aquele andar estudado, orgulhosamente empertigado, mas respeitosamente devoto,
ao altar, acendi, com sucesso total, a vela do lado
esquerdo, e quando fui passar para o lado direito, ao
ajoelhar-me com a indispensável e necessária incomum galhardia perante o sacrário, escorreguei e caí
de chapa, bem em frente ao altar. Quando o joelho
direito ia encostar no solo , o pé esquerdo, que deveria sustentar a manobra, escorregou, devido às
surradas botinas que eu usava, e que tinham as solas tão desgastadas que as cabeças largas e chatas,
mas já salientes, das tachinhas, em contato com a
cera profusa dos tacos de madeira do piso da capela,
fizeram-me testavilhar inapelavelmente e estatelar
grotescamente num decúbito ridiculamente cômico.
Levantei-me, lépido, solerte, para, aparentemente,
dar continuidade ao rito e acender a vela do lado
direito do altar, mas do pavio, antes mantenedor
da ígnea flama sagrada, subia, sem pressa, apenas
uma fumacinha azul encaracolada, submetendo-me
à humilhante tarefa de voltar para o lado esquerdo,
atear novo fogo no pavio e daí, então, com o máximo
cuidado que a experiência acabara de me ensinar,
acender a vela do lado direito quando já, dilutas naquela celestial atmosfera de preces, se balbuciavam
as últimas invocações da oração da noite, que su-
15
Ibicaré - 2011
biam, fervorosas, em busca do infinito desconhecido.
Da eminência do seu pedestal, enquanto a Virgem
meneava a cabeça, incrédula com tanto tumulto, do
colo dela um Menino me fitava, ora enternecidamente, compassivo com tamanho infortúnio, ora com um
sorriso tão desfaçado, travesso e maroto que parecia
querer saltar lá de cima e participar do ruidoso entrevero. Naturalmente tímido, enrubesci-me de tal
sorte que as minhas orelhas se confundiam com a
chama da vela acesa. Quisera tornar-me invisível,
sair dali, sumir por uns tempos. A queda foi dolorida. Doeram-me, e muito, os joelhos, os cotovelos,
e até o queixo que, não entendo como, bati não sei
onde, obrigando-me a conviver com a tumidez de
um hematoma arroxeado durante vários dias. Mas
essa dor de há muito não sinto. O que eu nunca es-
queci foi o ressoo das risotas mal abafadas dos colegas e, quiçá, dos padres e irmãos, também, que,
em vez de estarem se divertindo às custas do meu
fracasso, deveriam estar abstraídos na reza. Esses
risos sufocados à surdina espicaçaram-me a alma,
infelicitaram-me para todo o sempre, e machucaram
tanto que até hoje eu ouço, vagos, indistintos, confusos, baralhados na penumbra prazível e delicada
da saudade, aqueles risos em murmúrios, ásperos,
funestos, aziagos, que perduram magoando na inexorabilidade dos tempos, quais flechas envenenadas a trespassar-me as lembranças daquela noite
sinistra e malfazeja. Doeram-me apenas os joelhos
naquela noite infeliz. Doem-me na alma, hoje ainda,
aqueles risos mastigados e aqueles velados motejos, mais de cinquenta anos depois!...”
Ibicaré - 2011
INTER EX Julho/2011
16
Sobre o direito de não ler
Marco Rossoni F° (1961/1967)
H
á algum tempo, li um artigo intitulado “A Dor de
Não Saber o Bastante”, ou algo parecido. Tratava
ele do turbilhão de informações que nos cercam e nos
massacram diariamente, e da impossibilidade de tratarmos e processarmos todas elas. Então, a dificuldade
que se coloca hoje é, antes de mais nada, a nossa capacidade de separar o que nos interessa do que pode ser
deixado de lado. Ou, então, a clássica distribuição trina:
o necessário, o útil e o supérfluo. O que é essencial,
indispensável, e que precisamos reter; o que poderá
ser-nos útil, mas pode esperar; e o que, mesmo sendo
agradável, pode ser dispensado sem maiores prejuízos.
Então, em nosso tempo, é preciso escolher o que
ler. Não só o necessário e o útil, mas também algum
supérfluo. Este principalmente por que nos dá prazer. E nós precisamos sentir prazer, até para nos dar
coragem e alimentar a nossa dedicação ao essencial.
Entre as leituras prazerosas para nós, ex-alunos
MSC, está o Boletim Informativo da Associação, que
chegou ao seu glorioso número 116 em março próximo passado, graças aos esforços de muitos redatores
e, essencialmente, à dedicação do incansável coordenador, João Baptista Gomes, ora acumulando a presidência da associação. Mas, mesmo neste Boletim,
também temos o direito de escolher o que ler, e não
devemos perder tempo com o que não nos agrada.
Em defesa dessa escolha do leitor, invoco o DIREITO DE NÃO LER, o primeiro mandamento do decálogo dos Direitos do Leitor, tão bem colocados e
analisados pelo pedagogo e romancista francês Daniel Pennac, em seu livro “Como um Romance”, publicado como volume 722 da Coleção L&PM Pocket,
em 2008. O leitor decide que não vai ler, e pronto.
Respeitando esse direito de todo leitor, recomendo àquelas pessoas que não gostaram do meu último artigo, e que, por engano, chegaram até aqui,
que parem de ler este, e que sigam procurando os
assuntos que lhes agradam, nas outras páginas deste boletim, que acolhe artigos para todos os gostos e
de todas as turmas de ex-alunos. Busquem apenas
o que lhes agrada ou que conseguem compreender
ou que lhe falem ao coração. Não percam tempo
com coisas desagradáveis. Nesse sentido, lembro
que a maioria dos escritores e leitores do Boletim
já passou da metade da vida, e que não tem mais
tempo a perder com assuntos que não lhe são prazerosos, tais como discussões para salvar o mundo,
assembléias intermináveis, reuniões para marcar
outras reuniões, e leituras que não deleitam.
E aqui, invoco o meu DIREITO DE ESCREVER.
Meus artigos não ofendem nem melindram ninguém.
São escritos com base nas minhas memórias e com a
intenção de avivar outras recordações de colegas que
leram. De acordar a saudade daquela leitura, de despertar o desejo de reler, de buscar aquele livro nas bibliotecas ou nos sebos, como tenho feito. De recriar,
nos vetustos leitores de cãs rarefeitas, a vontade de
reviver alguns momentos agradáveis da adolescência, quando ainda imperava a imaginação aventuresca. E são escritos identificados com meu nome. Não
preciso me esconder sob pseudônimo ou anonimato.
Até porque anônimo, segundo Houaiss, da etimologia
INTER EX Julho/2011
grega, entre outros significados, tem o de “abominável” que, por sua vez, na etimologia latina, inicia com
“que inspira aversão”. Desnecessário prosseguir.
Confesso que fiquei um pouco chateado. Por isso,
resolvi conversar com colegas de turma, que tiveram à disposição os mesmos livros que eu na biblioteca, para saber qual a sua (deles) impressão. Além
das lembranças das noites de leitura da adolescência, nas salas de aulas e de estudos em Ibicaré e
em Pira, e de livros dos quais já não se lembravam,
recordaram também as noites de infância, quando
ouviam as histórias narradas por suas mães, à luz
dos mesmos candeeiros de querosene.
Aí fiquei me perguntando: será que essas outras
pessoas, no tempo de seminário, não liam nos seus
horários de leitura de lazer? Não “perdiam tempo”
com essas coisas de criança? Como a opção para
esses horários eram apenas a leitura ou o estudo,
deviam ser pessoas muito estudiosas, operosas e
industriosas, que aproveitavam todo o seu precioso
tempo disponível para mergulhar nos livros didáticos
e aprofundar seus conhecimentos das ciências humanas, indiferentes ao prazer lúdico da leitura. Além
disso, quando colegas insistiram para que eu também colaborasse com o Boletim da Associação com
minhas recordações, entendi que fossem lembranças
do tempo de seminário e suas conseqüências para a
vida. E como o mundo dos livros foi uma importantíssima descoberta para mim, considerei relevante este
assunto para objeto inicial de meus escritos.
E lembro ainda, citando o autor predileto para
esta redação, o professor Daniel Pennac, que entre
os direitos do leitor não está o de criticar o escritor.
Não que o leitor não possa ter opinião sobre o que
leu. Deve ter, sim. Mas o leitor que não gostou, não
deve ter entendido o autor. Não conseguiu entrar no
seu pensamento. Mas outros conseguem. E a leitura, como todos sabem, é uma simbiose entre o autor
e o leitor. Nesse momento de interação, não há mais
ninguém entre eles. É um momento só deles, egoisticamente excluindo tudo e todos que não sejam o
pensamento e a imaginação do leitor, em consonância com o pensamento e a imaginação do autor.
Não entendeu? Não gostou? Não tem problema.
Não se acanhe. Deixe de lado e vá para outros artigos e assuntos. E eu vou voltar a escrever sobre as
minhas recordações livrescas do tempo do seminário. Mas isso no próximo Boletim. Para este, basta o
que está acima. Até o próximo.
17
Tristes tragédias II
Wolf Von Zarnen (49-54)
N
ada de confidências em meu tempo de
seminário. Cada qual mantinha mudez
de túmulo. Nada se dizia. Nada se comentava.
Guardava-se para si tudo quanto se pensava.
Abrir-se sem reservas só com o confessor.
Até mesmo com o Padre Superior persistiam
certos retraimentos. Éramos como ilhas perdidas no meio a oceano repleto de ilhas remotas.
Não me lembro, pois, da menor referência
ao terror
que o padre Donato disseminava por toda parte. Nem antes de sua partida,
nem depois dela. Nem precisava. Mais eloquente que as palavras, ele vinha estampado
na fisionomia de cada um.
Voltei à Escola Apostólica doze anos após
minha saída. Não encontrei ninguém de mi-
nha classe. O mais próximo era o Altran com
quem tivera ótimo relacionamento por quatro
anos. Vinham, a seguir, o Cardoso e o Sarmento bem anteriores a mim. Conversei longamente com o Altran. As primeiras confidências
só agora permitidas. Fez inúmeras referências
sobre o assunto em pauta. Falou sobre os episódios sucedidos com o Paulo Apóstolo, Flávio
Migliáccio e Cardoso. Lembrei-me que o padre
Adão havia lido em classe um belíssimo conto
intitulado “O menino e as rosas”, escrito pelo
Flávio em idade tão precoce.
Contou-me o Cardoso o que lhe acontecera. Horrorizei-me com a injustiça de que tinha sido vítima. Informaram-nos, nessa ocasião, que o padre Donato tinha sido removido
em virtude de forte pressão dos escolásticos
sobre o Provincial.
O que era motivo de comentários nessas
reuniões de agosto extravasou para as páginas do Boletim Informativo. O primeiro de
que se tem notícia, salvo engano, foi o do Alberto Maria da Silva em “O meu amigo João
Cardoso”, a que se seguiram o do João Baptista Gomes em “A profecia do padre Léo”
e, finalmente, o do Ézio Américo Monari, em
“Triste Expulsão”. Todos textos bem produzidos que espelham com cabal fidelidade a
rotina daqueles tempos. Vale a pena uma ou
outra transcrição:
“Concluí que eu não era bem visto pelo
padre Donato que vivia pegando no meu pé.
Não era, pois, seu protegido. Veladamente,
era uma perseguição”. (Alberto Maria).
“Foi esse o pequeno problema. Agora vem
o grande: o padre Donato! Quem o conheceu
sabe. A grande maioria dos alunos “convidados” a voltarem para casa deve essa iniciativa a ele. Nesse assunto, ele sempre mandou
mais que o padre Superior.” (João Baptista
Gomes)
“Teve que ouvir de pé durante longo tempo a sua sentença de morte. Essa cena me
marcou profunda e amargamente. Fiquei sabendo posteriormente que toda essa situação
fora criada pelo padre Donato. Ele era simplesmente temido e usava de sua autoridade
professoral e sacerdotal, fazendo da batina
uma farda de polícia a que todos amedrontava, excetuando alguns que ousaram peitá-lo,
mas pagando um alto preço.” (Ézio Monari)
Numa das reuniões a que compareci, ao
chegar ao seminário, soube que ele estaria
presente. À tarde, depois da deliciosa peixada,
deu-se o primeiro encontro. Não quis revê-lo,
embora nunca lhe tivesse conservado raiva,
rancor ou mágoa. No sermão da missa vespertina, em infeliz analogia, veio a primeira
alfinetada. Escusado reproduzi-la. Continuava
o mesmo. Em nada mudara. Difícil despir-se
de hábitos há tanto tempo arraigados. Previsível que, na reunião da noite, adviriam novas
farpas contra os desistentes, “les défroqués”.
Para mim bastava. A confraternização perdera
a graça. Cantando o saudoso “Lembrai-vos” a
plenos pulmões, ganhei a rua sem despedida
alguma. Entrei no carro e dirigi-me à casa de
um colega de turma.
Algum tempo depois, rumamos para um
lugar já de mim conhecido, o “Ponto Chic”,
onde “ la jeunesse dorée” costumava reunirse nas noites de sábado. Entre uma cerveja e
outra, um petisco e outro, o papo descontraído rolou noite a dentro. Choveram reminiscências de pessoas e fatos. Fomos os últimos
a deixar o local.
Anhanguera quase deserta, envolta no clarão do luar. Momento propício para a meditação e devaneios. Já próximo ao meu destino, o céu iluminou-se de borrões vermelhos
e dourados. Arrebol na natureza....Arrebol na
minha alma.... Para trás ficaram as lembranças de tristes tragédias.
INTER EX Julho/2011
18
Pe. Adriano Van Iersel,
meu avô
N
ão é exagero: ele foi o
avô que não tive.
Vovô
Pedro
(pai de mamãe),
homem alto, forte, pesadão, formal, imponência
de um Czar Russo, catolicíssimo,
separou-se
de
minha avó, logo
nos primeiros anos de casamento, deixando-a com
três filhos pequenos para criar. Viveu sozinho a
vida toda. Sua presença, nas poucas vezes em que
visitava os filhos e netos, não era agradável: sempre ocasionava briga na família. Eu, sempre que
possível, fugia dele como o diabo da cruz, pois
morria de medo daquele homenzarrão. Em minha
cabeça de criança, uma das coisas que se gravaram dessas poucas visitas foi o seu sestro estranho
e, ao mesmo tempo, engraçado de sempre (fosse
qual fosse o assunto) começar as frases com a expressão “Pois é... com efeito...”. Ficou sendo para
mim o “Vô Pois é... com efeito...”. Nada mais.
Já Vovô Adolfo (pai de papai)... não! Não me
metia medo. Diferente do outro, este era de estatura mediana, magro, rosto arredondado, óculos
de grau forte, jornalzinho embaixo do braço, cara
de sacristão, mas, com uma mitra e um báculo,
levaria jeito de Cardeal. Chegou a estudar com os
padres salesianos no Colégio São Joaquim, em Lorena-SP. Também catolicíssimo, todo Concílio de
Trento. Era homem de pouca conversa, mas tinha
lá suas filosofias e seu vernizinho de cultura, o que,
às vezes, até lhe propiciava arengar um pouquinho
sobre a “Súmula” de Santo Tomás com algum ouvinte mais paciencioso. Homem de fé e de filhos,
muitos filhos. Ficou viúvo com uma dúzia deles,
pequenos, uma escadinha. Casou-se novamente.
Como (acho eu agora) a tabelinha anticoncepcional
do método Ogino-Knauss não funcionara bem no
primeiro casamento, ele resolveu testá-la no segundo e ... o resultado não foi menos auspicioso:
teve mais treze filhos com a segunda esposa, o
que comprova que nem sempre quem é bom na
cultura o possa ser também no cálculo e no tino
comercial e administrativo, já que, ao morrer, havia deixado hipotecado o seu único e precioso bem:
um pequeno sítio em que morava em Pedralva
(MG). Sobrou para a viúva uma imensa prole e um
tremendo “miserê”. E aquele dito popular “onde
come um, comem dois”, para a minha avó paterna,
se, antes de seu casamento, era um verdadeiro
“truísmo”, depois da morte de meu avô, passou a
ser uma terrível balela. Não sei como ele arranjava
tempo para suas leituras com vinte e cinco filhos
berrando-lhe no ouvido o dia todo.
Desse prolífico e falido avô tenho poucas, mas
INTER EX Março/2011
Julho/2011
Raimundo José Santana (1954-1961)
boas lembranças... Ele poderia ter sido o avô dos
meus sonhos, mas vi-o raríssimas vezes; tinha lá
também muitas manias, além de ter muitos filhos,
claro! Uma delas é que era um germanófilo de carteirinha. Na 2ª. Grande Guerra, muito a contragosto, aceitou a ida de um filho, como pracinha, à Itália, para lutar contra a Alemanha de Hitler. Ele,
getulista roxo, chegara ao cúmulo de defender a
Alemanha e o nazismo, em intermináveis e homéricas discussões com o nosso querido Pe. José Willing
(MSC), quando se encontravam nas missas lá em
Wenceslau Brás. E todos sabem: Pe. José Willing era
alemão. Paradoxalmente, temos aqui um belo quadro: o Padre alemão defendendo Churchill e os aliados, e Vovô Adolfo, descendente de português, defendendo o “Führer”, seu xará nazista.
Visto, então, que, concreta e efetivamente, não
tive avô, resolvi adotar como tal o bom e velho Padre Adriano. E isso aconteceu logo no meu primeiro
dia de seminário, pois já, nesse primeiro dia, cheguei sendo um problema para os padres: eles não
sabiam o que fazer comigo, pois, como eu estudara
num paiol de milho lá na roça, não tinha nenhum
documento que comprovasse minha escolaridade.
Num ir e vir de Anás-a-Caifás, Pe. Mário Pennock,
o diretor, me mandou ao Pe. Adriano pedindo-lhe
uma sugestão. Este me devolveu àquele, sugerindo que eu passasse um mês na sala da Professora
Dona Lurdinha Coelho (5º. ano primário, antiga
admissão ao ginásio), onde seriam testados meus
conhecimentos. Um mês depois, Dona Lurdinha me
devolveu ao Pe. Adriano, sugerindo-lhe que eu poderia entrar na la.série ginasial. Este não se fez de
rogado; imediatamente, como já ia mesmo para a
primeira série aplicar uma prova de Francês, me levou junto para fazer a prova também. Nem é preciso dizer o fiasco por que passei. Eu, que não entendia patavina de língua alguma, tive que traduzir dez
frases para o Português. Errei tudo. Havia coisas na
prova que eu traduzia mais ou menos assim:
“Le lion est le roi des animaux” = o leão e o rei
desanimaram.
“La mère du maire est tombée dans la mer” = a
mãe.......(deixei o resto em branco porque achei
que estavam xingando a mãe).
“Le garçon a mis un joli collier de perles autour
du cou de Madame Perrette” = ...............(Deixei
em branco também porque achei que era uma pegadinha com palavrão).
Enfim, um grande fiasco! No começo da noite,
Pe. Adriano me chamou e me mostrou a prova toda
riscada em vermelho:
- E aí, menino? Então você não conhece o Francês?
- Padre, o único Francês que eu conheço é um
cara que é plantador de batatas lá pros lados da
Ponte de Santo Antônio.
- Não, não! Refiro-me ao Francês castiço, ao
Francês de Lamartine, ao Francês de Molière!
- Padre, me desculpe, se ele é castiço eu não
19
sei; sei que ele é sozinho, solteirão e esquisitão; o
pessoal até comenta, lá na roça, que ele não é
muito chegado em mulher não, que ele, com aquela boininha azul-marinho, até leva jeito de “ventilado” e, além do mais, é “fugido” de guerra e que
ele toma “Martini” sim, mas o de que ele gosta
mesmo é de cachaça!
O Pe. Adriano, a essa altura, ameaçou um sorriso, franziu o sobrolho e, coçando ora o queixo, ora
aquela enorme barriga octogenária, me disse:
- Menino, a partir de amanhã, você terá uma
hora de aula aqui no meu quarto. Acho que, em
quinze dias, você já estará pronto para poder
acompanhar a turma do ginásio.
A partir daí, definitivamente eu o adotei como
avô. E não deu outra: ele estava certo. Quinze dias
depois, realmente, eu já estava integrado na 1ª.
Série do Ginásio. Durante sete anos ele não foi outra coisa para mim: foi meu avô e acumulava as
funções de Superior, Ecônomo, Confessor, Enfermeiro e Professor de Inglês, Francês e Matemática.
Foi meu avô! Um rechonchudo e octogenário avô!
Sempre disponível! Um pé-de-boi no trabalho, disciplinado como um soldado prussiano e humilde
como um S. Francisco. Homem de ação, do trabalho duro. Seco, sem pieguices, sem dons artísticos,
“gostava de carregar o piano”, como ele mesmo
costumava dizer. Talvez eu esteja errado, mas, na
época, nos momentos de oração coletiva, sua presença nunca me inspirou aquela unção religiosa típica de beatos em êxtase. Ele nunca foi um beato.
Pelo contrário, ali no Ofício Divino, de sua figura
discreta e racional emanava a fortaleza de um homem sério, honesto e confiável, cuja objetividade e
disciplina eu admirava tanto. Ele era o exemplo a
seguir. Nada de muita chorumela! “Age quod agis”,
como diziam os jesuítas (Faze bem feito o que deve
ser feito). E pronto! Pelo exemplo e pelos ensinamentos foi, talvez, o padre que mais me influenciou na vida. Suas frases latinas, repetidas à exaustão, até hoje me martelam os ouvidos:
“Aquila non capit muscas” (A águia não apanha
moscas)/
“Ex ungue leonem” (Pelas unhas se conhece o
leão)/
“Non scholae sed vitae discimus” (Não aprendemos para a escola mas para a vida)
“Fabricando fit faber” (E´ batendo o ferro que
se torna ferreiro)/
Apesar do acúmulo de serviço, sempre era o
primeiro padre a entregar as provas e as tarefas
corrigidas. Com aquele seu tradicional gorrinho
de forma quadrangular, aquela sua batina preta,
surrada, salpicada de giz e de caspa, aquelas
suas botinas pretas rangedoras, aproveitava
qualquer tempo livre para, pelo pátio e pelos
corredores, rezar o breviário. Certa vez, manifestei-lhe a vontade de decorar em Francês e
Inglês todas as orações do dia-a-dia: Pai-Nosso,
Ave-Maria, Credo, Salve-Rainha etc. Não é que
ele teve a pachorra de copiar, em meus cadernos de exercícios, com aquela sua mão pesada e
letra calcada, todas as orações solicitadas? Não
lhe seria mais fácil me emprestar os livros para
que eu mesmo as copiasse? Isso era ou não era
coisa de avô?
E o dia em que o João Lourenço, lá de Delfim
Moreira, me deu uma cama-de-gato numa partida
de futebol e eu, ao cair de mau jeito, acabei quebrando o braço esquerdo? Que fez o Pe. Adriano ao
ver-me carregado pelos colegas? Eu uivava de dor,
com o antebraço solto em forma de “S”. Ele, pouco
ortodoxo, muito frio e prático, puxando-me pela
mão esquerda, endireitou-me o braço numa tipóia
improvisada, me fez beber dois copos de vinho tinto
e pediu que me levassem para a cama, assegurando a todos que, no dia seguinte, estaria tudo bem.
Uma ova! Passei uma noite de cão de tanta dor! Só
no outro dia cedo é que o Sr. Luís (o “factótum” do
IPN) me levou de charrete até ao Dr. Cavi, no centro da cidade, para o engessamento. Ao me ver, mais
tarde, com o braço engessado, o bom velhinho ironizou: “Não disse que hoje estaria tudo bem? Pergite
animo, milites, per aspera ad astra!” (=Coragem,
soldados, pelos caminhos difíceis podemos chegar
aos astros!) A tal da praticidade dele tinha esses lances curiosos. Dona Benedita, a cozinheira, certa feita, reclamou que estava faltando lenha na cozinha.
Não é que o Pe. Adriano, com toda aquela sua gordura e idade avançada, vai para o pátio e, de machado em punho, converte em achas e gravetos alguns
mourões secos espalhados ali nas imediações?
Essa sua humildade e disposição para o trabalho
me encantavam. Por isso, um dia, quando soube
que ele estava doente, acamado, não acreditei.
Corri ao seu quarto para lhe oferecer meus préstimos e qual não foi minha surpresa ao abrir a
porta?Ele estava chorando. Fiquei pasmo e desmontado, completamente sem ação. Confesso que,
até hoje, essa cena me é bastante viva. Nunca vi
meus avós biológicos chorarem. No entanto, vi esse
meu avô adotivo em prantos; ele, que para mim,
era a “Lei e os Profetas” e encarnava a segurança
de uma torre de marfim, estava ali em prantos! Por
quê? É uma pergunta para a qual, até hoje, não
encontrei resposta. Será que ele teria tido um pesadelo e teria acordado quando entrei porta adentro?
Teria reconhecido, então, a mentira das visões que
o tinham apavorado e, agora, acordado, (quem
sabe num choro de alegria) estaria dando graças a
Deus que permitia que a vida fosse menos cruel
que os sonhos? Ou seria já um prematuro medo da
morte? Morte distante de sua pátria, de seus familiares? (Se é que os tinha ainda vivos lá na Holanda). Ou, quem sabe, o peso da solidão, numa noite
escura de dúvidas, de torpor na sua vida religiosa?
Não sei... Sêneca costumava dizer que “os que sofrem têm um desejo terrível de chorar”. Mas que
sofrimento foi esse? Não sei...
Sei que, na figura desse Padre, encontrei a encarnação verdadeiramente santa da caridade ativa,
um ar dinâmico, positivo, indiferente e brusco de
cirurgião apressado, uma fisionomia, talvez, em
que não se pudesse ler nenhuma comiseração, nenhum enternecimento diante da dor humana e que,
no entanto, era, usando uma expressão de Proust,
“ a fisionomia sem doçura, a fisionomia antipática e
sublime da verdadeira bondade”.
INTER EX Julho/2011
20
As sessões
Literomusicais
Finados
Alberto José Antonelli
(1945/1949)
Cláudio Carlos de Oliveira - 1959-1965
H
N
ossos educadores, no seminário, tinham
grande interesse em nos oferecer formação cultural sólida. Formação essa concretizada
pelas muitas horas de aula e estudo das línguas
clássicas, Latim e Grego, e também das línguas
modernas, Português, Francês e Inglês. Havia,
além disso, o cultivo das artes da Música, tanto a instrumental, como a coral, lideradas pelo
polivalente Padre Gusmão, e do Teatro, tendo à
frente o dedicado Padre José Maria.
Essas atividades culturais e educativas revestiam-se de caráter solene, quando todos
nós éramos convidados a descer até o Salão
Nobre para assistirmos a uma Sessão literomusical, preparada pelos padres e alguns alunos. Era a oportunidade que tínhamos de ouvir
música clássica ao piano, tocada, algumas vezes, a quatro mãos, pelas duplas ainda lembradas por nós, Padre Gusmão e João Costa
Pinto ou Padre Gusmão e Laudenir Godoy Pavão. Ao lado da música, reservavam-se momentos para a arte da declamação de textos
da Literatura Latina, como as Catilinárias e,
por que não, da Literatura Brasileira, como o
Navio Negreiro, de Castro Alves.
Contrapondo um pouco ao espírito clássico
da sessão, esporadicamente, eram lembrados,
com certa comicidade, momentos ou fatos pitorescos do cotidiano recluso do seminário, com a
apresentação de um Jornal Falado pelos irreverentes Benedito Carneiro e colega, ambos vindos de Itajubá. As peças teatrais, por serem de
duração mais longa, geralmente, eram exibidas
em outras noites reservadas exclusivamente a
elas. Nessas oportunidades, ocupavam a platéia, os alunos, muito raramente familiares dos
alunos, os padres e irmãos, na maioria, importados da Holanda, que, fumando seus inseparáveis charutos ou cachimbos, inundavam o ambiente com fumaça leve e odor característico.
Esses eventos culturais, ao lado de outros
como a Academia Pio XI, longas horas de leitura
obrigatória e momentos de leitura livre, ouvindo
os clássicos na sala de música, criaram em nós
o gosto pela cultura e humanizaram nosso caráter, aguçando-o para apreciar o belo e o bem,
como acreditavam os gregos, na antiguidade.
INTER EX Julho/2011
á anos recebemos em casa o Inter-Ex, sempre agradável e freqüentemente renovado. Leio todas as páginas procurando entender as entrelinhas e os subentendidos que são freqüentes e não menos interessantes.
Parabéns aos redatores, louvor aos articulistas. Alguns dos
nossos amigos, que têm muita capacidade, nunca escreveram. Quantos fatos interessantes de suas experiências
poderiam contar! Por que não imitar estes milhões de internautas do Twitter, Orkut, Facebook, que separam um
pouco de tempo para comunicar-se com conhecidos? Já
outros escrevem sempre e, às vezes, até se estendem.
Provavelmente alguns alunos, assíduos leitores de Boileau,
me incluirão neste número: touché! excusez-moi: valeu
a intenção. Desta vez, tentarei passar para o papel lembranças que guardo do dia de Finados em Pirassununga.
Histórias de colégio, mas que oferecem oportunidade, “a
propos”, para lembrar fatos curiosos vistos, vividos, sofridos. Falhas na memória são certas. Tentarei minimizá-las.
Foi nos anos pré-concílio quando havia demasiados dias
santos, e mais outros ainda, que o povo do interior guardava religiosamente. A Festa de Todos os Santos, por exemplo, era um dia santo de guarda (não é mais). Significava
para nós a obrigação de assistirmos duas missas. A primeira, rezada às sete na capela interna quando cantávamos cantos avulsos. A outra acontecia às nove horas. Todo
mundo subia ao coro da capela do Rosário para uma missa
cantada em canto chão ou na forma polifônica. Ah! Saudosos Mestres Orestes Ravanello e Dom Lorenzo Perosi! Até
os nomes destes compositores italianos são melodiosos.
Em geral os rapazes não achavam ruim, mesmo porque
no resto do dia haveria feriado e talvez até algum passeio
à tarde, andando pela cidade ou pelos campos ao redor.
A novidade desta vez foi o aviso que ouvimos: ‘amanhã
iremos ao cemitério cantar na missa que o Superior celebrará. Então: ensaio hoje às duas e meia no salão nobre.”
Nosso maestro, Pe. Mário Pennock estava viajando. Outro
professor, Pe. Henrique Alofs, que lecionava francês e também tocava um pouco de piano, em ocasiões como esta, é
ele quem dirigia o coro do seminário. Curiosidade: sendo
este religioso um entusiasta da música clássica, dizia que,
para perceber “les nuances”, se fazia necessário ouvir a
música bem alto. E agia exatamente assim na sala de recreio dos padres em Itajubá (IPN), quando colocava seus
discos preferidos. Nossos colegas que conversavam ou
jogavam baralho ficavam incomodados com o volume do
som. Compreensivos, no entanto, nada lhe diziam. Olhavam com bom humor o Alofs em êxtase, olhos cerrados,
mímica no rosto, gesticulando levemente ao compasso de
um Mozart ou Chopin.
Eu estava cursando a primeira série, chamada “Sexta”.
Com doze anos, qualquer novidade me era bem vinda. O
vigário da paróquia, Cônego Francisco Cruz, alegando doença, havia pedido que um padre da Raia o substituísse
na missa de defunto marcada para as nove horas. Anos
depois, percebi, chateado, como “doenças” são excelente
21
desculpa para algum dos meus superiores, religioso,
pároco, ou Bispo, se omitir de uma obrigação mais
cansativa, e pedir que eu o substituisse. Nesta tarde, às duas horas, no refeitório, comemos biscoito
e mais alguma fruta, saímos para o recreio e logo
fomos chamados para o ensaio de canto. Maiores e
menores juntos, distribuíram-se folhas impressas
em stencil, com aquela tinta nojenta que nos sujava as mãos. Em números e letras (sistema antigo
usado pelo seminário), podíamos ver escrito o canto a duas vozes: ’Cor dulce, cor amabile”. Era uma
canção difícil, já ensaiada em outras ocasiões, mas
nunca executada. Pe Henrique comentou que precisávamos fazer bonito diante do povo e principiou o
ensaio. Uma tentativa, mais tentativas, as vozes não
se engrenavam. O maestro insistia e começou a ficar
nervoso. Tentamos de vários modos e não funcionava. Conhecíamos muitos outros cantos de missa, mas
este nunca tinha dado certo. Pe. Alofs perdeu a calma
conosco e repetiu bravo algumas vezes: “vamos, se
esforcem! Vocês não prestam atenção!”. No fim, cansado, irritado, olhos fuzilando, mandou-nos embora.
Assim que subimos ao pátio, o Irmão Francisco apareceu. Ia acompanhar os menores para um passeio
até a cidade, quando ofereceu-nos sorvete que fomos
tomar no Ponto Chic. Várias vezes estivemos neste
restaurante, situado na esquina em baixo do jardim
central, para comer ou beber alguma coisa. Talvez por
causa do nome, ou pela localização, este restaurante
tinha fama de ser “the point”, um local preferido pelos jovens da cidade. Também nossos rapazes, quando
podiam em dias de visita, ou aqueles que estavam na
Retórica e tinham mais oportunidades de sair, para lá
se dirigiam. Inaugurado em 1939, isto é, cinco anos
antes deste fato, o estabelecimento, com dificuldades
financeiras, passou por meia dúzia de proprietários diferentes, cada um fazendo melhorias, mas conservan-
do o nome tradicional. Até que chegou o dono atual,
mais hábil em administrar, e que finalmente conseguiu
se manter lá há já algumas dezenas de anos. Quando
posso, ainda hoje aí vou consumir alguma coisa. Duas
décadas mais tarde, nos anos em que fui professor
no Instituto Padre Nicolau, pudemos conviver com um
Pe. Henrique Alofs diferente: colega gentil, um tanto
quanto desequilibrado (inclusive porque sofria de labirintite), interessado em tudo, calmo, com alguns laivos
de revolucionário. Mas às vezes percebia-se que por
baixo das cinzas adormecidas, jaziam as velhas brasas que conhecêramos como criança. Teve vida longa:
faleceu em 1987, com 79 anos. Foi de férias à Holanda e não mais retornou. Passou os últimos vinte anos
ajudando em paróquias, ensinando português aos que
vinham ao Brasil, fazendo viagens, lendo e escrevendo, sempre curioso, querendo participar da comunidade. Em homenagem, hoje fazemos uma despedida
na linguagem da sua querida Rotterdam: “Hallo, mijn
vrienden, goede middag!”
"O tempo passa..." - IPN 1962 - Rio Sapucaí
INTER EX Julho/2011
22
A Capela do Sítio
Afonso Peres da Silva Nogueira
O
lhos sonolentos. bocejos... “Introibo ad altare Dei.” “ Ad Deum qui laetificat juventutem
meam.” Era o início da Santa Missa. Lá fora, as rolinhas arrulhavam, os sanhaços cantavam e o bem-tevi fazia fofocas. A mente sonolenta estava lá. Lá, com
os pássaros nas mangueiras. Ali dentro da Capela, as
coisas se passavam maquinal mente. A Santa Missa
se desenrolava com muito pouco ou nenhuma unção.
Assim se passavam minhas férias no sítio São
José do Barrocão. A gente era muito moço. Jovem...
Queria ser padre. Estudava para ser padre. Vivia ex-
Ibicaré - 2011
INTER EX Julho/2011
teriormente como padre, mas o coração ainda estava no mundo, imbuído das coisas do mundo. Ano
após ano. Férias após férias. A Retórica... Férias em
casa. Noviciado. Votos e Filosofia. Fim... Após um
ano e meio na Filosofia, houve um ponto final e muitos anos se passaram até 2001.
Voltei ao Sítio São José do Barrocão. Voltei à capela! Não ouvi mais a saudação latina, mas também
não ouvi, ou melhor, não quis mais ouvir as rolinhas,
os sanhaços e os bem-te-vis. Olhos cansados, corpo
fragilizado. Undécima hora... “Vinde à minha Vinha!”
Era o Cristo que passava uma vez mais na minha vida
com sua imensa Misericórdia. Olhos fixos no Altar. As
palavras penetrando fundo em meu coração. Olho a
cruz. Olho o Cristo e os versos do Sebastião Mariano
vêm-me à mente, embargam-me a voz: “Seu abraço
na Cruz esboçado, mas sustado por cravos renhidos,
quer o Mestre por nós completado em amplexo aos
irmãos desvalidos.”
Continuo olhando a cruz sobre o altar. Quanta serenidade! Que postura! Somente um Deus. Deus que
carrega sobre si os nossos pecados, Deus que pede
perdão por nós ao Pai: “Não sabem o que fazem.”
Deus que entrega sua própria mãe para ser também
a NOSSA MÃE. Deus que exclama: Tudo está consumado, em Tuas Mãos entrego Meu Espírito... Deus
que tem certeza da RESSURREIÇÃO.
A dor no peito é grande. Grande a emoção ao receber na Eucaristia o Cristo vitorioso, o Cristo ressuscitado. O Final da Missa. Todos saem. Vamos preparar-nos para o churrasco. Todos querem ver o boi no
rolete... Quieto, aconchegando o Cristo recém-recebido, vou até o carro. Uma idéia! A máquina fotográfica. Tiro uma foto daquele altar. Outra da cruz. Essa
será a maior lembrança, a única verdadeira que vou
guardar daquele 55º Encontro dos Ex-alunos M S C.
Tudo: viagem, gastos, cansaço... Tudo ganhou sentido. Sentido profundo ao pé daquele Altar, daquela
cruz, daquele Cristo, naquela Celebração incruenta
da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.
Obrigado, Mestre! Obrigado, por me teres contratado ainda uma vez, na undécima hora. Nesta última
hora, a mais difícil. Difícil, quando as forças já se
estão indo. Agora sei por que a todos pagaste igualmente com o mesmo valor.
23
Divagando
Divagando
Cada batina é uma história
Gino Crês (1948-1953)
Gino Crês(1948/1953)
Foto
oto histórica
histó ca - 1956
19 6 escolasticado
A
cada edição que circula o nosso
Inter-ex, confirma-se a condição
de ser autêntico álbum da família MSC,
pois as suas vinte e tantas páginas não
apenas divulgam fotos que nos velhos
tempos movimentaram a nossa vida
de ex-alunos, como também trazem
recordações e mostram para os mais
novos, como era a nossa vida e os religiosos batinados nos vários seminários
pelos quais passamos.
Assim, dentro do espírito de “recordar
é viver”, temos contado com a indispensável colaboração do nosso incansável
e competente presidente Gomes e de
muitos abnegados colaboradores.
Já há algum tempo, recebemos do
ex-aluno bauruense, Sérgio Riehl, uma
importante colaboração, uma fotografia
mostrando um grupo de batinados (bispo, padres, irmãos, escolásticos, noviços, frater, ex-alunos) em São Paulo, na
porta de entrada do Escolasticado, num
longínquo mês de março de 1956, prestando uma homenagem ao Padre Antônio Van Ess por ocasião de sua volta de
umas férias na Holanda e de sua nomeação como Diretor Espiritual do Seminário de Pirassununga.
Temos certeza de que muitos colegas, ao verem esta foto, viverão intensamente, um passado repleto de emoção e saudade, pois cada batinado traz
uma história, uma feliz lembrança.
Relação (números e nomes) dos retratados
33. Pe. Durval Chechinato (desb.)
1. Pe. Luís Gardinal (+)
34. Pe. Tomás Beckman(dioc.)
2. Pe. Humberto Capobianco
35. Afonso Peres (n.o.)
3. Pe. Paulo Castro (desb.)
36. Pe. Geraldo H.Van Rooijen +
4. Pe. Lázaro Sabino (+)
37. Pe. Leo Leenders (+)
5. Lourenço Costa (n.o.)
38. Pe. Agenor Possa
6. Geraldo Magela(n.o.) +
39. Antônio Carlos Ribeiro (dioc.)
7. Pe. César Augusto Machado (+) 40. Pe. Graciano Van Westeinde (+)
8. Pe. Amadeu Gusmão (+)
41. Pe. Adriano Van Iersel +
9. Pe. Francisco Jansen
42. Irmão João V. de Borne (+)
10. Dom Pedro Paulo Koop (+ bispo) 43. Pe. Afonso Bertazzi (desb.)
44. Pe. Afonso Ribsamen +
11. Pe. Francisco Paiva(dioc.)
45. Ir. João Ter Horst +
12. Pe. Luiz Niewwnhuis (+)
46. Irmão Estêvão Peters (+)
13. Pe. Geraldo Paiva (desb.)
47. Pe. Laureano M. da Cunha (+)
14. Pe. Agenor Cardim (+)
48. Pe. Bernardo Ditters (+)
15. Geraldo Lima Silva (dioc.)
49. Pe. Ângelo Cardillo d´Ângelo (+)
16. Hélcio de Mello (n.o.)
50. Frater João Bannwart (+) (n.o.)
17. Pe. Cornélio Van Gils (+)
51. Pe. Nélson Sigrist (+)
52. Pe. Huberto Van t’ Westeinde (+)
18. Vicente Brunetta (+)
53. Pe. Almir Silva (+)
19. Francisco Honório (n.o.)
20. Pe. João Batista van de Berg 54. Pe. Luís Xavier (desb.)
55. Pe. José Willing +
21. Pe. Ézio Monari (desb.)
56. Antônio Beckman (n.o.)
22. Pe. Pedro Verdurmen +
57. Mauro Pasquarelli (frei trapista)
23. Pe. Leonardo Hendriks (+)
58. Pe. Alberto José Antonelli (desb.)
24. Pe. Teodoro Hebinck (+)
59. Pe. Henrique Roberto
60. Pe. Jerônimo Vermin (+)
25. Pe. Antônio Vermin (+)
61. Irmão Henrique Forgeron (+)
26. Pe. Irineu Benneman (+)
62. Pe. Aloísio Pereira Pinto (+)
27. Nivaldo Bortoliero (n.o.)
63. Pe. Francisco Van de Vater +
28. Pe. Lamberto Prins (+)
64. Benedito Jones Filho (n.o.)
29. Pe. Cornélio Van De Made (+) 65. Pe. Benedito Tarcísio De Lima
30. Pe. Luís Figueiredo (+)
66. ?
31. Pe. Albino Diniz (desb.)
67. Pe. Salvador Andreetta (+)
32. Pe. Xavier Geurts (+)
68. Pe.José A. dos Santos (desb.) +
OBS.: Pe. (ordenado padre)
Desb. (deixou a batina, desligou-se da Congregação)
(n.o.) Não-ordenado - ? Sem Referências
+ (falecido) ? (sem referências)
INTER EX Julho/2011
24
Embromation
Carlindo Maziviero (60/71)
D
esde o nascimento, estamos em constante busca da felicidade e a música representa uma importante fonte de estímulos e equilíbrio para o
ser humano. Ela nos torna mais sensíveis,
disciplinados, reflexivos e motivados
para a vida. Está em todas as culturas e a musicalidade representa
uma vantagem evolutiva presente
apenas no gênero humano. A música une as pessoas. Em nossa
formação no seminário, ela tinha
capital importância, mas eu nunca
lhe dei muito valor.
Sempre fui um aluno, digamos,
beirando o razoável. Tirava boas notas, passava quase sempre por média,
porém, na aula de música, era desinteressado. Estudava o suficiente para passar
de ano, mas não aprendia de verdade. Bastava alcançar as notas que me aprovariam para, instantaneamente, tudo o que havia sido decorado evaporar da
minha cabeça. Não tenho orgulho nenhum em contar
isso, e me arrependo bastante de não ter prestado
atenção pra valer nas aulas do padre Gusmão e de
não tocar nenhum instrumento. Mas foi assim. E só
fui me dar conta do prejuízo, quando vieram os filhos.
Projetei neles, minhas frustrações.
Admito que estudei mas não aprendi nada, apesar de ter uma memória mediana e uma capacidade
de compreensão que não era das piores. Acho lastimável o que me restou em termos de conhecimento
musical. Apesar dos esforços dos professores, a matéria me parecia inútil. No coral, a minha participação era apenas numérica. Além de desafinado, eu
não tinha ritmo. Eu não era o único desprovido desses dotes musicais, tanto que formávamos outro coral denominado “Bossa Nova”, cujo dirigente era Irmão Adriano. Ele, após muitos esforços, conseguiu
do Padre Superior autorização para irmos jogar futebol ou nadar na lagoa do Rosin, nesse horário. Creio
que se o “Bossa Nova” fosse um conjunto de percussão, com certeza bateríamos fora do bumbo (os
mais habilidosos ). Tornamo-nos, contudo, bons ouvintes nas missas solenes e admiradores dos pianistas que se exibiam nas festas.
O seminário nos oferecia, além da formação acadêmica, esporte e lazer, oportunidade para desenvolvimento de outros dons artísticos, como teatro
(vide Flavio Migliaccio), música e pintura (Ézio Munnari) Valorizo e admiro os colegas que desenvolveram seus dotes musicais seja para deleite pessoal,
para animar reuniões ou que fizeram disso um meio
de subsistência.
Freud, porém, vem em meu auxilio para desvendar essa apatia em relação ao estudo da música.
Havia um piano no porão, embaixo de minha sala de
INTER EX Julho/2011
estudos, no qual os iniciantes martelavam as primeiras notas. Segundo a interpretação freudiana, aquela repetição sistemática e enfadonha dos exercícios foi a causa da minha aversão ao
monstro sonoro. O som estridente daquela besta de madeira tirava-me a
concentração das batalhas de Cesar,
nas traduções de latim, ou das
aventuras de Ulisses, nas tarefas
de grego. Estava ai a causa do meu
trauma.
Encontrada a causa e justificado
meu desdém pela música, restame uma preocupação. A ciência afirma que a música e os ritmos são primordiais na evolução humana e
nenhum outro animal será capaz de executá-los. Será que eu...
LARGO AL FACTOTUM
Lupo da Gubbio
“Haverá de permanecer a lembrança de sua voz,
de seu sorriso, de sua imagem, do seu jeito de ser”.
Com esta frase simples, singela e comovedora, nosso
caro articulista, Carlindo Maziviero, encerra o seu belo
texto sobre o Irmão Forgeron, no Inter-Ex de número 115, novembro de 2010. Belo texto mesmo. Muito
bem escrito, cativante. Com poucos traços o articulista
retratou o saudoso Irmão Henrique Bowman, o famoso e inesquecível Irmão Forgeron. Nascido na Holanda
em 1910, veio para as nossas bandas lá pelo ano de
1937, em junho. Sua primeira nomeação foi exatamente para Pira. Fez inúmeras paradas em outros portos
da Província Brasileira. Mas a maior parte de sua vida,
somando todos os anos, passou em Pira, seu primeiro
amor em terras brasilis. E lá está ainda com os restos
de sua matéria naquele singelo cemitério em a nossa
Chácara, estabelecendo–se aí definitivamente no dia 10
de junho de 1979. Mas sua pessoa anda por toda parte, onde haja um ex-aluno MSC, pois está no coração
de todos nós. Foi um homem simples, o que o tornou
grande demais. Cativou a todos com aquele seu “jeitão”
holandês, franco, decidido, risonho e prestativo. A mim
se ligou por uma simpatia especial. Quando já formado,
fui nomeado professor na saudosa E. Apostólica. Lá estava ele ainda. Não o mesmo. Melhorado, aperfeiçoado.
Apesar de brincalhão, sempre tratava a todos e a mim
em especial com um respeito mais especial. Seu rosto
de criança grande se iluminou sobremaneira naquele
dia em que lhe presenteei com uma pequena obra de
minha lavra. Levou-a para a Holanda. Fiquei, porém,
decepcionado quando em 2006, ao visitar o Reiksmuseum de Amsterdam fiquei sabendo que a mesma tinha
sido substituída pela Ronda Noturna de Rembrandt. A
família Bowman a havia readquirido depois de um longo
e dispendioso processo na Corte de Haia.
O Irmão Forgeron gaguejava. A causa desse seu
tique, segundo me confidenciou o saudoso Pe. Mário
Pennock, foi o fato repetitivo de o mesmo Irmão Forgeron arremedar certas pessoas (confrades) gagas
de nascença. De fato, o hábito faz o monge.
Se eu tivesse um pouco das prendas domésticas de
nosso querido amigo Alberto Antonelli, que magistralmente sabe domesticar as teclas do piano e o preenchimento correto com “bolotinhas pretas” (no dizer do
igualmente saudoso Pe. Aloísio) as folhas pautadas, eu
faria numa fúria mozarteana uma paródia do Barbeiro
25
de Sevilha, usando “Rossoni” como pseudônimo, homenageando assim nosso exímio colega historiador.
“La ran la le ra, la ran la la…/ Largo al factotum
della città! / Presto a bottega (não Ivo Bottega)/Che
l’alba è già... / Pronto a far tutto, / la notte, il giorno,
/ sempre d’intorno / in giro sta.
Qua la parruca, / presto la barba,/qua la sanguigna, / presto Il biglietto.
Ehi, Forgeron; son qua! / Bowman qua, Forgeron
là, / Forgeron su, Bowman giù ./ Pronto,prontíssimo
/ Ah, bravo Forgeron, / Bravo, bravissimo. / Son il
factotum della comunità / A te la fortuna non mancherà. / Son il fratello della comunità / E tutta la mia
carità / A tutti l’offrirà...”
Mesmo nas férias, a rotina das práticas piedosas
nunca fora abolida ou interrompida. Uma parte dos
alunos estava de férias no Sítio do Barrocão. A outra
parte permanecia no seminário, aguardando o revezamento. Era o Tempo da Epifania no calendário litúrgico. As orações antes e depois das grandes refeições
seguiam o espírito do ano eclesiástico. A comunidade
estava reduzida pela metade, e mesmo assim nos reuníamos para as refeições em comum. Padres e professores, Irmãos e alunos (os Maiores) se mesclavam ao
redor das mesas, quebrando desta forma aquele rigor
disciplinar do ano letivo. Tudo era festa.
Em um desses dias de férias todos nós nos congregamos para o almoço costumeiro. O Irmão Forgeron costumava sentar-se ao meu lado, pois o nosso bate-papo
comum nos unia. Ao iniciar as orações ante prandium a
praxis litúrgica devia ser mantida. Isto quer dizer que as
orações costumeiras (todas em latim) eram adaptadas
ao momento litúrgico, saindo da bitola comum dos dias
comuns. Claro que nem todos sabiam de cor as respostas latinas, agora diferentes, mas assim mesmo a máquina engrenava meio aos solavancos.
O Pe. Superior iniciou solenemente as preces ante
prandium: Reges Thasii et insularum ex Oriente venerunt, alleluia, alleluia, ao que todos nós respondíamos:
Et adoraverunt Eum, alleluia, alleluia. Era óbvio que os
Irmãos Leigos não estudavam latim. Consequentemente não tinham obrigação alguma de saber responder
em latim. Mas mesmo assim, esses abnegados Irmãos
se esforçavam para decorar o que podiam.
Ao meu lado o Irmão Forgeron mantinha-se ereto como sempre. De acordo com um costume seu,
costumava cruzar as mãos sobre a barriga, na altura da faixa abdominal da batina e, com os dedos
entrelaçados. rodava os polegares em torno de um
eixo invisível. Era um hábito seu, tipicamente seu.
E enquanto todos nós respondíamos àquela festiva
prece da Epifania, ele naquele seu vozeirão plutônico
e subterrâneo e muito sério rezava: “E eu também
estive lá, aleluia, aleluia.” Repetia isso todas as vezes
ao meu lado a fim de me tirar do sério.
Saudoso Irmão Forgeron, a sua pessoa nos marcou. E muito. O seu espírito de “disponibilidade” aí
está nos acenando em meio a tanto egocentrismo
globalizado. O seu cântico de guerra foram as palavras do evangelho: “O Filho do Homem veio para
servir e não para ser servido”.
Sinto que o meu amigo e gurú Sombra já está me
fuzilando com seu olhar escuro, das profundezas do
abismo. Ultrapassei os limites gráficos estabelecidos,
e a paciência do Paese também. Desta vez nem ele
vai me tolerar. Mas prometo me corrigir para o futuro. Igualmente, vou diminuir o tamanho da letra, para
caber dentro dos limites estabelecidos. É certo que ler
dá azia, segundo um grande estadista nosso.
INTER EX Julho/2011
26
Ser Mineiro
N
ós, oriundos das Minas Gerais, sempre fomos
gozados principalmente pelos paulistas, que
nos tinham (ou ainda tem?) como “compradores de
bondes”. Mal sabem os “gozadores” o que seja ser
mineiro. Por mais que tentem nos conhecer mais,
a essência do mineiro mostra suas características e
peculiaridades.
No texto em sequência, um dos nossos conceituados escritores, formado na clã dos dominicanos, nos
apresenta algumas facetas do “mineiro”, que somente quem passou ou vive ao pé ou nos altos de nossas
montanhas pode entender. Vai aí a reflexão.
Ser Mineiro
“Como todo mineiro é um pouco filósofo, há um
mistério sobre o qual venho há anos especulando: “o
que é ser mineiro?”
Das reflexões e inflexões que extraí sobre a mineirice, muitas delas colhidas em filosóficas inscrições de rótulos de cachaça e quinquilharias de beira
de estrada, eis as conclusões prévias e provisórias,
sujeitas a chuvas e trovoadas, a que cheguei:
Ser mineiro é dormir no chão para não cair da
cama; usar sapatos de borracha para não dar esmola a cego; sorrir sem mostrar os dentes; tomar café
ralo para esconder dinheiro grosso. É desconfiar até
dos próprios pensamentos e não dar adeus para evitar abrir a mão.
Mineiro pede emprestado para disfarçar a fartura.
Se é rico, compra carro do ano e manda pôr meia
sola em sapato usado. Mineiro vive pobre para morrer rico. Mineiro não é contra nem a favor; antes,
pelo contrário. Mineiro fala de desgraça, doença e
morte, e vive como quem se julga eterno. Chega
na estação antes de colocarem os trilhos, para não
INTER EX Julho/2011
Walter Figueiredo (51-62)
perder o trem. Relógio de mineiro é enfeite. Pontual
para chegar, o mineiro nunca tem hora para sair. A
diferença entre o suíço e o mineiro é que o primeiro
chega na hora. O mineiro chega antes.
O bom mineiro não laça boi com embirra; não dá
rasteira em pé de vento; não pisa no escuro; não anda
no molhado; não estica conversa com estranhos; só
acredita em fumaça quando vê fogo; pede no açougue lombinho francês; só arrisca quando tem certeza
e não troca um pássaro na mão por dois voando.
Mineiro fala de política como se só ele entendesse do assunto; finge que acredita nas autoridades e
conspira contra o governo; faz oposição sem granjear inimigos; gera filhos para virar compadre de político; foge da luz do sol por desconfiar da própria
sombra; vive entre montanhas e sonha com o mar;
viaja mundo para comer, do outro lado do planeta,
um tutu de feijão com couve picada.
Ser mineiro é venerar o passado como relíquia
e falar do futuro como utopia; curtir saudades na
aguardente e paixão em serenatas; dormir com um
olho fechado e outro aberto; acender vela à santa e,
por via das dúvidas, não conjurar o diabo. Ser mineiro é fazer a pergunta já sabendo a resposta. É ter
orgulho de ser humilde. É bancar a raposa e ainda
insistir em tomar conta do galinheiro.
Mineiro fica em cima do muro, não por imparcialidade, mas para poder ver melhor os dois lados. Cabeça-dura, o mineiro tem o coração mole. Acredita
mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias.
Mineiro é isso, sô! Come as sílabas para não morrer pela boca. Fala manso para quebrar as resistências do interlocutor. Sonega letras para economizar
palavras. De vossa mercê, passa para vossemecê,
27
vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora
muito, usará só o acento circunflexo!
Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro entende, como aquele sujeito que, à beira do fogão
de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a
água, o aprendiz indagou: “Pó pô pó?” E o outro respondeu: “Pó pô, pô”. Ser mineiro é saber criar bois,
filhos e versos. É ir ao teatro, não para ver, mas para
ser visto. É freqüentar igreja para fingir piedade; rir
antes de contar a piada e chorar com a desgraça
alheia. Mineiro adora sala de visitas encerada e trancada, na esperança do deretorno do rei.
Avarento, não lê o jornal de uma só vez para não
gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguinte para poder ter notícias. Mineiro não lê, passa os
olhos. Não fala ao telefone, dá recado. Praia de mineiro é barzinho, restaurante, balcão de armazém e
cerca de curral. Ali a língua rola solta na conversa
mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo
é que o momento é terno. Ser mineiro é ajoelhar na
igreja para ver melhor as pernas da viúva, freqüentar batizados para pedir votos e ir a casamentos para
exibir roupa nova. Mineiro vai a enterro para conferir
quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos parentes do falecido, mas fica horas na fila de cumprimentos para marcar presença. Leva lenço no bolso
para o caso de ter de enxugar as lágrimas da família.
Não manda flores porque desconfia que a flora não
cumpre o trato e embolsa a grana.
Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar
afeto. É proferir definições sem se definir. É contar casos sem falar de si próprio. Mineiro é feito pedra preciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem.
Mineiro é capaz de falar horas seguidas sem dizer nada.
Esconde o jogo para ganhar a partida. Cumprimenta
com mão mole para escapar do aperto e acredita que
a fruta do vizinho é sempre mais gostosa. Mineiro age
com a esperteza das serpentes, mas se veste com a
simplicidade das pombas, e encobre suas contradições
com o manto fictício da cordialidade. Mineiro é como
angu, só fica no ponto quando se mexe com ele. Desconfiado, retira o dinheiro do banco, conta e torna a
depositar. Ser mineiro é fazer cara feia e rir com o coração; andar com guarda-chuva para disfarçar a bengala; fumar cigarro de palha para espantar mosquitos;
mascar fumo para amaciar a dentadura. Mineiro sabe
quantas pernas tem a cobra; escova os dentes do alho;
teme rasteira de pé de mesa; toma café ralo para enxergar o fundo da caneca e, por via das dúvidas, põe
água e alpiste para o cuco. Ser mineiro é fingir que não
sabe o que bem se conhece. Mineiro que não reza não
se preza. Religioso, na crendice mineira há lugar para
todos: o Cujo e a mula-sem-cabeça; assombrações e
fantasmas; duendes e extraterrestres.
Pacífico, mineiro dá um boi para não entrar na briga e a boiada para continuar de fora. Mas, se pisam
no calo do mineiro, ele conjura, te esconjura, jurado
e juramentado no sangue de Tiradentes.
“Minas Gerais é muitas”, como disse Guimarães
Rosa. É fogão de lenha e comida preparada na panela de pedra sabão; é turmalina e esmeralda; é tropa
de burro e rios indolentes chorando a caminho do
mar; é sino de igreja e tropeiros mourejando gado
sob a tarde incendiada pelo hálito da noite. Minas
é Mantiqueira e serrado, é Aleijadinho e Amílcar de
Castro, é Drummond e Milton Nascimento, é pão de
queijo e broa de fubá. Minas é uma mulher de ancas
firmes e seios fartos, sensual nas curvas, dócil no
trato, barroca no estilo e envolta em brocados, ostentando camafeus. Minas é saborosamente mágica.
Mineiro sai de Minas, mas Minas não sai da gente.
Fica uma dor forte, funda, farta e fértil, tão imponderável como o amor místico, onde o coração lateja
embevecido por inefável paixão.
Ave Minas! Batizada Gerais, és uma terra muito
singular.”
(a) Frei Beto – da Congregação dos Dominicanos
Reunião de Ex-Alunos em Guararema
V
ários ex-alunos MSC das turmas de 1980/90/2000
, que iniciaram no IPN de Itajubá, têm se reunido no sítio dos MSC em Guararema, nos últimos
três anos. Essa louvável iniciativa deve-se ao Sandro
Martins ([email protected]) da turma de 1986. Fez
filosofia em São Paulo e noviciado em Pirassununga.
No primeiro Encontro conseguiu reunir seis ex e já
no último de 2010, o número subiu para dezoito. Eis
alguns dos que lá estiveram em 2010: Waldir Sabóia,
Emílio Souza, Paulo Expedito, Marcílio, Ivandro, Nilson, Emerson Afonso, Ivonil Parraz, Luiz Carlos da
Costa, Tiago da Fonseca, e o novo ex-MSC Mauro
Souza. O Sandro informa que se esforçará para levar
seu grupo a Pirassununga, no final de agosto.
Também em Bauru, sob a liderança do Gino Crês
vêm ocorrendo Encontros há muitos anos, sempre
no mês de dezembro e temos notícia que também o
Nilo Jorge F da Cruz, lá de Búzios-RJ, pretende começar a reunir o pessoal oriundo do Estado do Rio.
Considerando que todos nós, novos ou antigos,
bebemos da mesma fonte e “relembrando que um
dia já fomos companheiros de um sonho comum,
proclamemos bem alto que somos um por todos
e todos por um”, como diz o refrão do hino dos
ex-alunos. Vamos reunir forças e prestigiar os encontros onde quer que aconteçam, porque somos
todos ex-alunos MSC e carregamos no peito aquele mesmo carisma da Congregação que, de braços
abertos, acolheu todos nós.
Solidários, seremos união. Separados uns dos
outros, seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.
INTER EX Julho/2011
28
Notícias da Província
de São Paulo
João Costa Pinto (1953-1966)
INTRODUÇÃO
Sob o título “Para início de conversa”, o Superior Provincial, Pe.
Cortez, falou do Capítulo Provincial, da obediência, tema do próximo
Capítulo Geral, que vai-se realizar na Espanha, em setembro próximo.
Obediência era o estandarte do beato Papa João XXIII, o qual, como
bispo, escolhera o dístico “Obediência e Paz”. E sobre João XXIII,
ele acrescenta: “Esse homem atingiu o cimo da obediência aceitando
até mesmo mandar.”
Em suas despedida como Provincial, o Pe. Cortez saúda o Pe. Manoel Ferreira dos Santos Jr., seu sucessor, em cujas mãos, diz ele, a
Província continuará caminhando com vigor e esperança. Com humildade, fala que errou muito e pede perdão a cada confrade e companheiro. Ele se dá conta, nos seis anos de mandato, da beleza que
existe no seio da comunidade e diz da riqueza escondida no coração
de cada confrade. Afirma ter aprendido com todos os confrades, especialmente os doentes e aqueles que partilharam suas dores, esperanças e angústias. Nunca se sentiu só, sempre teve ajuda, compreensão
e apoio de todos. É testemunha de que N. Sra. do Sagrado Coração
tudo faz na Congregação e que, ela e São José não faltaram em nenhum momento, mesmo nas causas aparentemente impossíveis. Finalizando, agradece o apoio da Administração Geral, do Pe. Mark
Mcdonald. Agradece aos irmãos de outros grupos MSC no Brasil,
aos conselheiros, formadores e membros de cada Comissão, a todos
os religiosos, formandos, funcionários e colaboradores leigos.
O Sacramento da ordem
O Sacramento da Ordem (“sacerdos in aeternum
secundum ordinem Melchisedech”)
Dois grandes acontecimentos enriqueceram a Província de São Paulo e a Congregação, ambos em virtu-
de do Sacramento da Ordem: a ordenação presbiteral
do diácono Mauro Fernando Ferreira e a sagração
episcopal do Pe. Agenor José Girardi, MSC.
I - Como anunciado no Boletim anterior, o diácono Mauro Fernando Ferreira receberia em breve o
Sacramento da Ordem. Foi o que aconteceu em 29
de janeiro, na cidade de Palmeirândia-MA. Pela imINTER EX Julho/2011
29
Um sacerdote de prata
O Pe. Ivo Trevisol, celebrou em janeiro seus 25
anos de sacerdócio em Ibicaré-SC, numa grande festa
em família e na celebração eucarística, junto com os
confrades e o povo da cidade. Ele trabalha em PariCachoeira-AM. “Padre Ivo, siga sendo esse homem que fala
de Deus, esse pastor que cuida desses prediletos do Pai, os pobres. Que sua presença junto aos povos indígenas seja sempre
sinal de esperança de dias melhores para este povo tão esquecido.
Bendito seja Deus pela sua vida! foram palavras do Pe.
Cortez, Superior provincial.
posição das mãos do nosso querido Dom Ricardo
P. Paglia, mais um diácono foi elevado ao presbiterato. Estavam presentes os padres Superior Provincial, Ribamar Frazão, pároco local, e outros padres
da Província de São Paulo e de outras paróquias da
diocese de Pinheiro, entre os quais o Pe. Luís Risso
e o Pe. Bento Dominici, este último pároco de Palmeirândia por dez anos. Foi grande a participação
dos familiares e dos amigos das cidades de outros
Estados onde o ordenando residiu durante sua formação e no exercício do diaconato. O Pe. Mauro
logo iniciou seu ministério como vigário paroquial
em Santa Helena.
II - No dia 25 de março, em Francisco BeltrãoPR, o Pe. Agenor José Girardi, nomeado pelo papa
Bento XVI bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto
Alegre, em solene celebração eucarística na catedral
Nossa Sra. da Glória, recebeu sua sagração episcopal, presentes milhares de fiéis de várias regiões do
país, numerosos bispos e arcebispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e autoridades, além
do Superior Provincial, Pe. Cortez, Dom Fernando
Panico, bispo sagrante, e Dom Ricardo P. Paglia.
O novo bispo, o terceiro dos MSC no Brasil, escolheu “Ametur Cor Jesu” como lema do seu episcopado e inseriu em seu brasão episcopal, entre outros
símbolos, uma cruz vermelha lembrando o sangue
dos mártires, um rio, fonte perene de espiritualidade
e o Coração de Jesus, motivação de seu ministério
pastoral. Iniciou seu pronunciamento já como bispo
com a invocação Amado seja por toda a parte o Sagrado
Coração de Jesus. Agradeceu a Deus por suas duas famílias, aquela em que nasceu e a família MSC, que
escolheu em sua vocação sacerdotal e missionária.
Agradeceu ainda a presença carinhosa dos Leigos
MSC. (N.R - Sobre a cidade de Francisco Beltrão,
ler NR 2)
Posses
Em virtude das Nomeações e Transferências-2011: o Pe. Jênisson Lásaro assumiu a
paróquia de Sto. Antonio de Itaitinga; o Pe.
Abimael F. do Nascimento está atuando
em Itapetininga e, em
Itajubá, o Pe. José Roberto Bertasi exerce sua nova
missão na Matriz da Soledade e ajudando no Santuário
N. Sra. da Agonia; em Santa Helena-MA o neossacerdote Pe. Mauro Fernando Ferreira assumiu como
vigário paroquial, na companhia do Pe. Domingos
Higino; em Piranguçu já
estão atuando o Pe. Nelson
Ribeiro de Andrade, como
administrador paroquial, e
o Pe. Rosário Martins de
Azevedo, como vigário.; em
Itajubá na comunidade de
Vila Vicentina, Igreja N. Sra.
Aparecida, está o Pe. Benedito Tarcísio de Lima,
que também colabora na paróquia da Soledade. O Pe.
Giberto Gonçalves navegou
rio acima até Pari-CachoeiraAM, terras de fronteira, onde
serve ao Reino de Deus. O Pe.
Ludovico Laaber está partindo definitivamente para sua
terra natal, Salzburgo, Áustria.,
após fecundo ministério e longo período de colaboração e apoio à Missão no Brasil
e à Província de São Paulo. Completará em 29 de setembro seus 50 anos de vida religiosa. O jovem Carlos Eduardo dos Santos continua em São
Gabriel da Cachoeira-MA, onde
está fazendo o Pré-Noviciado,
no qual é acompanhado pelos
MSC do Amazonas.
INTER EX Julho/2011
30
Escola em Pastoral
no dia 7 de maio pelo Pe. Lucemir Alves Ribeiro,
membro do Conselho Provincial de Colégios, Missa
de Ação de Graças pelas mães dos alunos, sob a coordenação do Fr. Michel dos Santos e do Fr. Fernando Clemente. Vozes infanto-juvenis do coral do
Externado realçaram a solenidade.
Aspirantado e Postulantado
Entre os Colégios da Congregação existe hoje mais
unidade, graças à união de forças e ao compartilhamento de necessidades, angústias e desafios. Sendo
escolas confessionais, o espírito de Missão evangelizadora se faz presente por meio da educação. Trata-se de tarefa exigente. Uma boa oportunidade de
evangelizar é ensinar os princípios cristãos aos alunos,
principalmente no Externato N. Senhora do Sagrado
Coração, no Colégio Chevalier e no Colégio John Kennedy-Unidades I e II. O lema é “Evangelizar educando e
Educar evangelizando”. Houve um Retiro-Encontro no
dias 13 e 14 de janeiro, em Guararema, com a presença de diversos professores, coordenadores e diretores
das escolas MSC, com vistas à construção de uma escola mais cristã, evangelizadora e em sintonia com os
tempos atuais. Em sequência, ainda em janeiro, com
início no dia 24, na Capela do Rosário, foi promovida
uma Semana de Planejamento do Colégio John Kennedy, com presença maciça de diretores, professores
e funcionários das Unidades de Pirassununga e Porto
Ferreira. Foi ministrada Aula Inaugural sobre a educação da juventude, à luz dos documentos da Igreja,
que realçam a importância desse ministério, pelo qual
se pode manifestar o carisma MSC. É essa a proposta
para as escolas MSC: “Educar Corações Novos para
um Mundo Novo”.
Acontecimento importante para o Externato N.
Sra. do Sagrado Coração e o Colégio Chevalier foi
uma Semana Pedagógica, presentes o teologante Fr.
Michel dos Santos, o Pe. Lucemir Alves Ribeiro
e a Assessoria Alabama. Foram criadas as Comissões
de Pastoral da Educação, compostas de membros do
corpo docente e de pais de alunos. Oportuno registrar
que estudantes dessas escolas tiveram boa aprovação
na FUVEST e em outras universidades de renome.
Na linha da Pastoral da Educação, no Externato N.
Sra. do Sagrado Coração, Vila Formosa, foi celebrada
INTER EX Julho/2011
Em São Luís-MA, em solene celebração eucarística
concelebrada, foram comemorados no dia 2 de fevereiro 64 anos de vida religiosa consagrada do Pe. João
Crisóstomo, 23 do Pe. Maristelo, 6 anos do Pe. Francisco Tarcísio e 5 do Pe. Mauro Fernando Ferreira,
recentemente ordenado. O Aspirantado conta com os
estudantes: Luís (Fortaleza) e Wallace (Rio de Janeiro), enquanto que o Postulantado está com 4 seminaristas: Camilo (Santa Helena-MA,) Elinaldo (Itaitinga-CE), Eduardo (São Tomé-RN) e Alex (Fortaleza)
Propedêutico 2011 - Pirassununga
Estão no Propedêutico os seminaristas: Renan
Jonas Pereira (19 anos) de Piranguçu-MG, cursando
o 2º. Colegial; Elivelton Vinicius Ribeiro, 16, de
Delfim Moreira-MG e Douglas Roberto Fortes, 17,
de Delfim Moreira-MG, ambos cursando o 3º. Colegial; Diego Manoel de Sousa, 19, de São Bernardo-
31
SP e Bruno Danilo Fernandes, 21 anos, de Pirassununga, ambos fazendo cursinho. Todos estudam no
Colégio John Kennedy.
Postulantado São José
Em Campinas-SP, os seis jovens postulantes, sob a
orientação do Pe. Lucemir Alves Ribeiro e na companhia do Pe. Francisco Janssen, já estão cursando
filosofia. São eles: Patrick, Lucas, Maycon e José
Marcos, de Minas Gerais, Paulo e Fernando de São
Paulo e Sandro de Pernambuco.
Teologado MSC - Vila Formosa - SP
sença do sacerdote que lhes traz a Santa Eucaristia.
Há muito trabalho na sede da missão com 5 comunidades: catequese, formação de lideranças e ensino
de liturgia. A casa paroquial próxima à matriz está em
reforma. O Pe. Domingos arregaça as mangas para
o que se faz necessário, inclusive para melhorar a aparência da igreja. Ele conta agora com a ajuda do novo
sacerdote Pe. Mauro Fernando Ferreira, como seu
vigário paroquial. É grande a confiança dos fiéis no
trabalho dos padres.
Pe. Alfredo Niedemeier - 17 anos de Ceará
O Pe. Alfredo fala de
São oito os teologantes: Fernando Clemente
sua missão e seu futuro no
Santos e Rodrigo Aparecido Domingues (ItapetiCeará. Há 17 anos comeninga), Girley de Oliveira Reis (Teófilo Otoni-MG),
çou seu trabalho pastoral
Otacílio Barreto F. Jr. (Fortaleza), Michel dos Sanprocurando criar comunitos (Campinas), Ailton Rodrigues Damasceno
dades e fazê-las crescer a
(Floriano-PI), Jackson Douglas Furtado (Pinheiroponto de terem um dia
MA) e José Saraiva Jr. (Floriano-PI). O Reitor do
um padre da própria terra a elas dedicado. No comeTeologado é o Pe. Joaquim dos Santos Filho.
ço as comunidades eram muitas e pequenas, espalhadas ao longo da BR-116, tendo entre si pouco contaSanta Helena, uma terra em Missão
to, e em alguns casos até rivalidades. Atualmente já
No relato do postulante são três as paróquias: Itaitinga, Alto Alegre e Pedras,
Camilo Leônidas Sousa que já contam com a assistência de padres brasileiros.
(Filosofia, São Luís), é in- Até aqui, um grande passo. E para o futuro, ele pretende ir acompanhando três Institutos de terapia para
formado que o município
drogados. Em dois deles, “Volta Israel, Shalom!” e
situado no norte mara“Volta do Filho Pródigo”, são tratados doentes que
nhense, distando 402 km viviam na rua e tinham assistência da Pastoral dos
da capital São Luís, tem Sem-Teto, na pessoa da Irmã Vicentina, 82 anos. Ela,
cerca de 39 mil habitantes. ao longo desse trabalho, descobriu que a maioria dos
Há cerca de um ano os desabrigados era de dependentes químicos. Com
MSC retornaram a essas muito trabalho foi fundado um Instituto que dá abriterras. Lá está o pároco Pe. Domingos Higino, que go e tratamento a essas pessoas. Lá trabalha o Pe. Alatende 49 comunidades, 5 na sede e as outras espalha- fredo com uma colega do curso de psicologia da Unidas pela zona rural, algumas com acesso só de barco, versidade de Fortaleza-Unifor, sendo ambos apoiados
onde são feitas celebrações em capelas simples, de e acompanhados por uma psicóloga. Esse instituto e
taipa ou de tijolos, algumas mato a dentro. Há casas o sítio, onde ficam os assistidos, são mantidos por vohumildes de pessoas com alegria no rosto pela pre- luntários conscientes e generosos, pois o povo de rua
INTER EX Julho/2011
32
sozinho sequer tem condições de sobreviver. Ele
continuará colaborando na Pastoral dos Sem-Teto e
na assistência aos caminhoneiros. Continua empolgado com seus estudos de psicologia na Unifor. Tem
esperanças na possível abertura de um Curso de PósGraduação em Dependência Química, para poder desenvolver um trabalho mais efetivo e oficialmente
reconhecido. (Nota da Redação - Todo o trabalho e a
dedicação do Pe. Alfredo e da Irmã Vicentina merecem nossa admiração)
Plantão Médico
origem antiquíssima. Diz o Catecismo da Igreja que
os ministérios devem ser exercidos em espírito de
serviço fraterno e dedicação à Igreja, em nome do
Senhor”. Em síntese, o Acólito tem como função o
serviço do altar e o auxílio ao sacerdote e ao diácono.
Está intimamente ligado à Eucaristia, enquanto que o
Leitor tem o encargo de proferir as leituras da Sagrada Escritura, exceto o Evangelho. Pode propor as intenções para a oração universal e, faltando o salmista,
proferir o salmo entre as leituras.
Visita do Padre Geral
O Pe. Francisco Janssen, com 98 anos, lúcido, vai
executando seus trabalhos diários. É o deão do Postulantado São José em Campinas. O Pe. Romeo Bortolotto segue em frente, recuperando-se de forma extraordinária, com bom humor e como bom companheiro
dos confrades. O Pe. Victorio de Almeida: há tempos
foi acometido do vírus da varicela, doença danada, que
permanece dormente, apesar de aparentemente debelada do organismo. Esconde-se no interior de alguns
gânglios do sistema nervoso, especialmente o semilunar, da base do crânio ou nos que ficam próximos
à medula espinal, podendo, ainda, ocorrer em outros
gânglios. Apesar de dores constantes, o Pe. Victorio
segue animado. O Pe. José Maria Pinto: continua
sua luta destemida, com humor refinado e inteligente.
Lembramos que ele enfrentou em 2008 nova e delicada cirurgia e passou por radioterapia. O Pe. Manoel
F. dos Santos Jr. fez pequena cirurgia no joelho e já
está em forma. (N.R. - Em plena forma, tomou posse
como novo Superior Provincial).
Ordens Menores
Março passado, dia 17, os professos José Saraiva
Júnior e Jackson Douglas Furtado foram investidos das ordens menores do Leitorado e do Acolitato, em celebração eucarística presidida pelo Pe. Provincial, na Casa de Teologia. Esses ministérios têm
INTER EX Julho/2011
O Superior Geral, Pe. Mark
Mcdonald, veio ao Brasil para
acompanhar os relevantes
eventos da Província que tiveram início em maio de 2011,
como a eleição do novo Superior Provincial, Pe. Manoel
Ferreira dos Santos Jr., e a
solene celebração eucarística,
na matriz de Nossa Sra. da Soledade, em Itajubá, do Jubileu dos 100 Anos da chegada dos MSC ao Brasil.
Os MSC voltam a Pouso Alegre,
100 anos depois
No Encontro de Pirassununga, ano passado, o Superior Provincial, Pe. Cortez, adiantou como seria
a comemoração dos 100 anos de presença MSC no
Brasil. No dia 20 de maio, numerosa comitiva dos
MSC foi até a cidade de Pouso Alegre-MG, aonde haviam chegado, em 1922, os dois primeiros MSC, Pes.
Adriano van Iersel e Ludovico Kauling, vindos da
Holanda. Todos participaram de momentos de oração, junto com o arcebispo da Arquidiocese de Pouso
Alegre, Dom Ricardo P. Chaves Pinto, O.Praem,
que salientou a importância dos religiosos na expansão da religião pelo mundo, da devoção a Nossa Sra.
do Sagrado Coração e realçou o espírito missioná-
33
de Deus. A terceira é de amor, amor a Deus e aos
irmãos. A visão do calvário mostra o quanto “fomos
amados”. Encerra dizendo: “Nós somos missionários
desse amor, que deve ser o sentimento de quem se
coloca diante da cruz e diante de Deus.” (N.R.-Texto
bastante resumido)
O Padre Geral e o Teologado
rio da Congregação. Expressou agradecimento, em
nome de todo o clero, pelos serviços prestados pela
Congregação, em especial na Paróquia Nossa Sra. da
Soledade, em Itajubá e em outras comunidades da
diocese, “onde se vê um grande esforço e dedicação”.
Disse que uma congregação “nunca deve fugir do seu carisma, pois este é sua segurança e a faz adaptar-se a qualquer
época da Igreja.”
Os teologantes receberam a visita do Pe. Geral. Na
celebração eucarística, ele discorreu sobre o cerne da
vocação MSC, ressaltando a importância da Encarnação que trouxe ao mundo a presença de Deus, devendo os missionários, por sua vez, fazerem-se presentes
no meio do povo, testemunhando o amor de Deus.
Os seminaristas tomaram o café da manhã com o Pe.
Mark e puderam com ele conversar e desfrutar do seu
bom-humor.
Outros Eventos da Província
Missa do Jubileu Centenário em Itajubá
A comitiva retornou de Pouso Alegre a Itajubá e
seguiu para a Matriz da Soledade Na celebração eucarística do Jubileu, presidida pelo Superior Geral estavam presentes mais de uma centena de MSC, seminaristas, Irmãs FDNSSC e o grande povo de Deus. Na
homilía, o Pe. Mark Mcdonald salientou a presença
de Maria ao pé da cruz, onde o corpo de Cristo já
sem vida é atingido por uma lança. Do Seu lado jorram sangue e água. Do Coração transpassado, o Pe.
Chevalier vê surgir um “mundo novo”. Nasce aí uma
visão especial do Cristo, fonte da vocação e da missão da Congregação. Na celebração dos 100 anos de
presença MSC no Brasil, junto com Maria, a primeira
atitude é de gratidão e ação de graças pelos dons recebidos. A segunda é de obediência, pois como Jesus
e Maria, os missionários vieram para fazer a vontade
I - Foi realizada em maio último, na quarta semana da Páscoa, a Assembléia Nacional. A celebração
eucarística concelebrada pelos bispos MSC, Dom
Fernando Panico, Dom Ricardo Paglia e Dom
Agenor Girardi, com homilia proferida por Dom
Fernando, que ressaltou os ícones do Bom Pastor e
do Bom Samaritano, fonte do carisma missionário da
Congregação. Comentou também o diálogo de Jesus
com a samaritana. “O Bom Pastor nos espera à beira
do poço de Jacó, desejando permanecer conosco para
que possamos beber água viva da fonte do seu Coração e saciar nossa sede e a sede do mundo”.
II - Realizou-se o Capítulo Provincial de 2011, que
tratou de forma ampla da vida espiritual e fraterna,
da Pastoral Vocacional, da Formação de novos missionários e da Missão em novos campos, ou novos
“areópagos” no mundo moderno, como a educação,
a pastoral da Justiça, Paz e Integridade da CriaçãoJIPC, o mundo digital, a comunicação e a missão “ad
gentes”.
INTER EX Julho/2011
34
Maria, Mãe Peregrina: o envio em Missão
Sinos badalando, seis da manhã, 29 de maio, começou no Santuário de N. Sra. do Sagrado Coração, Vila Formosa, um cântico de louvor e ação
de graças a Nossa Senhora. Seria um dia diferente
na Casa da Mãe. Muitos romeiros, até enfermos e
crianças, vieram de longe trazendo suas súplicas,
agradecimentos e a alegria de voltarem ao Santuário, local sagrado de encontro com Deus e Sua
Mãe santíssima. No Externato N. Sra. do Sagrado
Coração, foi prestada belíssima homenagem a N.
Senhora, com apresentação do coral dos alunos.
Eram mais de 250 crianças caminhando em procissão. A Santa Missa foi presidida por Dom Edmar
Perón, bispo auxiliar da Região-Belém. A coroa-
2a. Festa de N. Sra. do Sagrado
Coração em São Luís
A comunidade MSC de São Luís, com a participação de muitos fiéis e especialmente de 50 voluntários
que trabalharam incansavelmente com os seminaristas Eduardo, Alex, Wallace, Gilvan, Luís, Camilo
e Elinaldo, celebrou com entusiasmo a festa de Nossa Senhora, precedida de novena de 20 a 29 de maio.
A celebração eucarística de encerramento foi presidida pelo Pe. João Crisóstomo Neto, na presença das
várias comunidades de São Luís, onde atuam os MSC.
(N.R. - Relato do Pe. Francisco Tarcísio.
INTER EX Julho/2011
ção de Nossa Senhora, na presença de inúmeras
crianças, feita pelo Provincial, Pe. Cortez, foi momento de oração e emoção. Nas palavras do Reitor
do Santuário, Pe. Air J. de Mendonça: “Maria é
luz, é graça, é aquela que conduz à Luz que é o
próprio Cristo.” (Nota da Redação-Este é um resumo do relato do Fr. Rodrigo Domingues. Com
surpresa e alegria encontrei antes da Santa Missa
os Ex-Alunos Renato Pavão e José Maria Martarelli, que haviam acompanhado a procissão).
Novo Superior Provincial
Em clima de oração e após
reflexões do Pe. José Roberto
Bertasi ressaltando o valor da
liderança, a dimensão do serviço e as funções de governo, os
capitulares se dirigiram à Capela
para a benção do Santíssimo Sacramento. Em seguida, com velas acesas, seguiram para a Sala
do Capítulo, onde, observados
os requisitos previstos nas Constituições da Congregação para a eleição do superior provincial, procederam à
votação, em silêncio e oração. Já em primeiro escrutínio,
com 21 eleitores, foi eleito o Pe. Manoel Ferreira dos
Santos Júnior. Sua posse se deu no dia 17 de junho
durante celebração eucarística no Santuário das Almas.
35
Paróquia São José - Campinas
Dia 3 de junho a paróquia celebrou os 90 anos
de sua fundação que teve lugar em 1º. de junho de
1921, erigida por decreto do bispo diocesano e desmembrada do Curato da Catedral de Campinas. O
cônego João Alexandre Loschi, Cura da Catedral, deu
posse ao encarregado da paróquia, Pe. Adriano van
Iersel, que havia deixado em 1915 a cidade de Pouso
Alegre-MG. Sua instalação confunde-se com a história da Vila Industrial. O trabalho pastoral se estende
atualmente às Comunidades São Roque, onde fica o
Colégio Júlio Chevalier, sob a direção dos MSC, e São
Vicente, ambas na Vila Industrial. Até 2010, começando com o Pe. Adriano van Iersel, a paróquia foi
conduzida por 29 párocos, 17 deles holandeses.
Viracopos - atual aeroporto
Notas da Redação
NR 1 - A fonte principal desta coluna do Inter-Ex foram as Comunicações 611 (fev.jan) e 612 (mar-abr.mai) da
Província de São Paulo, com relatos do Pe. Provincial e
outros religiosos. Ao transcrever matérias veiculadas, meu
objetivo é transmitir as notícias da Província. Inevitável
às vezes reproduzir parcialmente algum texto. Recebi diversos esclarecimentos do Lasinho. Com espaço gráfico
reduzido, procuro repassar resumidamente as principais
notícias. Sobre a sagração de Dom Agenor Girardi, utilisei parte do texto de Doris Machado dos Santos, coordenadora Nacional dos Leigos MSC) e fiz ajustes.
NR 2 – Chamado de Coração do Sudoeste, o município de Francisco Beltrão, hoje com população caminhando para 80.000 habitantes, começou como "Vila
Marrecas". Sua transformação em cidade foi rápida.
Em menos de cinco anos do início do povoado, a vila
era elevada à condição de sede do município em 14 de
novembro de 1951. O povoado começou a se formar
em 1947. Nesse ano lá se instalou a Colônia Agrícola
Nacional General Osório-Cango, criada por Getúlio
Vargas. Júlio Assis Cavalheiro e Luiz Antônio Faedo, proprietários da maior parte das terras da margem direita do rio, mandaram traçar o primeiro mapa
da futura cidade e em 1947 ambos começaram a vender
lotes. O povoado foi crescendo rapidamente. O nome
da cidade foi escolhido em homenagem ao engenheiro Francisco Beltrão. A Colônia assentava famílias de
agricultores, dando-lhes terras, ferramentas, sementes,
orientação técnica, educação e assistência médica, o que
muito contribuiu para o seu desenvolvimento. O distrito de Francisco Beltrão, existente desde 1945, foi transformado em município em 1951. O desenvolvimento
aumentou impulsionado pela agricultura e extração de
madeira, mas ficou travado por disputas de terras entre
posseiros e companhias colonizadoras. Tais disputas resultaram na histórica Revolta dos Posseiros, que abrangeu quase todo o Sudoeste e teve seu ponto culminante
em Francisco Beltrão, sede das companhias de terras
Citla e Comercial. Em 10.10.57, milhares de posseiros
tomaram conta da cidade e no dia seguinte expulsaram
as companhias e todos os seus funcionários. Devido
aos conflitos de terras, a cidade recebeu uma unidade
do Exército, que lá permaneceu, em razão da posição
estratégica do município, a 100 km da fronteira com a
Argentina. (Fonte: Google e Wikipedia) Os MSC estão
presentes na cidade desde 1966, no Seminário São José
(1966) e na Paróquia São José, onde o agora bispo Dom
Agenor Girardi era o Superior local.
INTER EX Julho/2011
36
INTER EX Julho/2011

Documentos relacionados

Março de 2014 - Ex

Março de 2014 - Ex COORDENADORIAS Boletim Informativo Inter-Ex João Costa Pinto....Res. (11)2341-2759 Cel.(11)96493-4520

Leia mais

Veja a Programação na última página deste

Veja a Programação na última página deste INTER-EX, uns de estilo clássico, outros modernos, uns saudosistas, outros mais críticos, alguns conservando ainda a fé ingênua daqueles tempos, outros mais secularizados, uns que acreditam e têm v...

Leia mais