Fisioterapeutas do Trabalho: O que fazemos

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Fisioterapeutas do Trabalho: O que fazemos
Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 - www.rbft.com.br
Alterações posturais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS.
Análise de Risco Coronariano em funcionários da FATECI - CE
Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico
Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica
Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing
profissional
Atualidades em Legislação do trabalhador
Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA
Qualidade de vida em funcionários de uma empresa do comércio
Matéria: Fisioterapia do Trabalho
Nova especialidade em Prova de Titulação
| EXPEDIENTE
Editor:
José Henrique Alves: CREFITO2 29.121F
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A Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho é um periódico
técnico científico voltado à atualização acadêmica e profissional
nas áreas relacionadas com a saúde do trabalhador, ergonomia e
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Jornalista Responsável:
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Impressão:
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ARTIGOS
Telefone contato: (21) 3392-2838
Análise de Risco Coronariano em funcionários da Faculdade de Tecnologia
Intensiva (FATECI)- CE
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Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de
doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários
da concessionária Tropical Fiat
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Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais
de Morrinho do Sul – RS.
Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença
arterial coronarianaem pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE
Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica
Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing
profissional
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no
Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
Atualidades em Legislação do trabalhador para melhor inserção do
Fisioterapeuta do Trabalho no âmbito empresarial
58
Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de
uma empresa do comércio
64
Fisioterapia do Trabalho. Nova especialidade em Prova de Titulação
AGENDA
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Brasileira de Fisioterapeuta do Trabalho.
Mande um e-mail para:
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Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia
Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento
ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de
cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT
MATÉRIA
Conselho Editorial:
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www.rbft.com.br
Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
| EDITORIAL
Novos Desafios
Quando decidimos fazer uma homenagem aos primeiros fisioterapeutas a serem titulados pela nova metodologia
regulamentada pelo COFFITO para reconhecimento de especialidades, agora a cargo das Associações Profissionais
conveniadas a ele, acabamos mexendo num barril de pólvora prestes a estourar. Esse barril, se trata da quantidade
de artigos propostos por mês/ano, acumulados em diversas categorias, totalizando uma sobra de mais de duzentos
artigos anuais que deixamos de publicar. Artigos importantes, como os que irão ler nessa edição da Revista Brasileira
de fisioterapia do Trabalho - RBFT.
Portanto, resolvemos providenciar a solução: criar revistas!!!
E Essa que vos entrego é a primeira que aliviará nosso bolsão de artigos científicos.
Já somos a maior publicadora particular de artigos científicos de fisioterapia do Brasil. Pretendemos ser do mundo!!!
Comemoremos então essa RBFT - Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho, destinada aos colegas que militam,
como eu, por acaso, junto a centenas de acidentados e adoentados ocupacionais desse país, buscando trazer à eles
mais dignidade e qualidade de vida; essa última de importância máxima, pela qual podemos fazer muito!!!
Nossa Comissão Editorial ainda está em fase de constituição, aguardando vossas brilhantes participações e sugestões
de artigos, entrevistas e colunas, assim como anunciantes, fornecedores de equipamentos, cursos e eventos.
Nessa edição, repetimos algumas matérias da Revista FisioBrasil edição 96, devido à sua extrema importância, geradora de nossa idéia na criação de revistas de nicho. No entanto, como nosso objetivo é publicar, seguem também 10
artigos científicos relacionados a área.
Esperamos que as assinaturas superem as expectativas, a fim de perpetuarmos nossas idéias.
Nos vemos na Edição 97 da FisioBrasil e na Edição 01 da RBTP - Revista Brasileira de Terapia Postural, nossa segunda
revista de nicho.
Aproveitem para nos visitar em nossos sítis: www.rbft.com.br e www.rbtp.com.br !!!
Agora, agradeço à acolhida do pessoal de Sorocaba, da Ergon, e ao pessoal da Interfisio, em particular Drs. Fábio
e Nivalda, que permitiram o nosso lançamento em seu simpósio do Rio de Janeiro. Gostaria de parabenizar à equipe
que ajudou na incansável tarefa de fechamento, suportando nossos maus humores com profissionalismo, criatividade
e brilhantismo, carinho e cooperação. Grande abraço ao Dirley Iglesias, diagramador e arte-finalista, ao Wemerson
Pedroni, jornalista, Semilyana Benete do comercial SP, Dra. Ediléa pela inspiração, meus 3 + 1 filhos pela tolerância,
Dona Ilda pela ajuda, Dudu e Eliane pelos incontáveis cafezinhos e águas.
Por fim, aos meus pais pela criação, carinho e apoio.
Saudações Prevencionistas!!!
Dr. José Henrique F. Alves
Fisioterapeuta do Trabalho
Editor-Chefe RBFT.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
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Alterações posturais e
deformidades vertebrais em
trabalhadores rurais de Morrinho
do Sul – RS.
Autores:
Dieime Cardoso Corrêa - Graduando - Curso de Fisioterapia - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil
Marina Melo - Graduando - Curso de Fisioterapia - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil
Marcelo Baptista Dohnert - ) Doutorando - Professor Adjunto - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil
Tiago Sebastiá Pavão - ) Mestre - Professor Adjunto - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil
Correspondência para:
Marcelo B. DÖHNERT. Rua Ercílio Farias Alves nº37. CEP 95560-000- Torres, RS, Brasil. Telefone: (51)3664-3936/84252918.
E-mail: [email protected]
Resumo
O trabalho rural está diretamente relacionado à
realização de atividades de grande impacto fisiológico,
gerando lesões por esforços repetitivos e distúrbios
osteomusculares. OBJETIVO: avaliar a prevalência
de alterações posturais e deformidades vertebrais
nos trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS.
MÉTODOS: estudo transversal com 33 agricultores
de Morrinho do Sul. Foi aplicado questionário padronizado para avaliar atividade no campo, seguido de
avaliação postural e exame radiológico. RESULTADOS:
foi encontrado alta prevalência de artrose (77,4%),
discopatia degenerativa (71%) e osteofitose (71%),
sendo estas alterações mais freqüente nas mulheres
(59%). Hiperlordose lombar foi encontrado em 34%
dos trabalhadores e escoliose em 33%, sendo destas
3% idiopática. CONCLUSÕES: o trabalho rural nesta
população levou a uma alta prevalência de alterações,
com alto impacto social e funcional.
Palavras chave: Trabalho, Postura, Osteófito, Osteoartrite, Deslocamento do Disco Intervertebral
6
ABSTRACT
Rural work is related directly to activitity of great
physiological impact engendering repetitive effort
lesions and osteomuscular disturbance. OBJECT: the
aim of this study was to assess prevalence of posture
alterations and vertebral deformities in rustic workers
from Morrinhos do Sul-RS. METHODS: transversal
studies with 33 farmers from Morrinhos do Sul. A
standardized questionary was applied to evaluate activity in the field, followed by posture evaluation and
radiographic examination. RESULTS: a high prevalence
of artrosis (77.4%), degenerative diskpathosis (71%)
and osteofitosis (71%); these alterations are more
frequently in women (59%). Back hyperlordosis was
found out in 34% of the workers and escoliosis in 33%;
from these, 3% were idiopathic. CONCLUSIONS: the
rural work in this population led up to a high prevalence of alterations with high social and functional
impact.
Key words: Work, Posture, Osteophyte, Osteoarthritis, Intervertebral Disk Displacement
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Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS.
Introdução
A atividade rural é uma das atividades mais antigas atividades de trabalho. O século XX caracterizou-se por intenso e
contínuo processo de mudanças tecnológicas e organizacionais, acarretando grandes transformações nas formas, nos
processos e nas relações de trabalho1. O impacto da carga
de trabalho e desgaste sobre as condições de saúde-doença
transformaram o trabalhado rural em um determinante que
agrava a saúde e ocasiona conseqüências nocivas com altos
custos médicos, necessidade de reabilitação, perda de dias
de trabalho e um alto preço pago através do sofrimento
humano2.
Tradicionalmente, o tema das condições de vida, trabalho, saúde e doença dos trabalhadores rurais evocam estereótipos entre eles a associação com atividades rudimentares que apresentam um conjunto de riscos ocupacionais
variáveis3.
No decurso da atividade de produção, o sinal de maior
risco ocupacional do trabalho agrícola diz respeito às
posturas inadequadas adotadas durante sua jornada de
trabalho, sendo esta, longa e árdua. Um conjunto de atividades que exigem esforços físicos contínuos decorrente do
envolvimento do corpo do trabalhador, sua ocupação e seu
ambiente de trabalho. Más posturas e inadequadas condições de trabalho expõem os trabalhadores agrícolas à possibilidade do aparecimento de distúrbios osteomusculares
a curto e longo prazo4. O adoecimento da coluna vertebral
é o principal distúrbio que acomete o trabalhador, como
efeito da sobrecarga do trabalho físico pesado5. Estas características desfavoráveis do trabalho agrícola são também
abordadas por Grandjean6, que afirma que a evidência das
doenças ocupacionais nesse ambiente de trabalho é clara,
como também a diminuição da produtividade e o desgaste
do trabalhador.
As cargas laborais presentes nos ambientes e nas condições de trabalho podem gerar desgastes específicos na
saúde do trabalhador. Em outras palavras, nos elementos
constitutivos das cargas laborais de processo de trabalho é
que reside a origem do desgaste e podem significar perda
de capacidades no processo de trabalho7.
Sabe-se que existem fatores intrínsecos relativos à própria natureza do trabalho agrícola, com suas cargas físicas
e riscos de várias espécies no dia a dia do agricultor, o que
põe constantemente em risco sua saúde. Sabe-se também
que algumas atividades de trabalho com o manuseio de
cargas pesadas, com posturas forçadas e outras situações
constrangedoras são cruciais na determinação de patologias específicas relacionadas ao trabalho8.
Bréga et al apontam estatísticas internacionais relatando
que a indústria da agricultura representa uma indústria que
inclui as atividades de maior risco, indicando alta prevalência de distúrbios musculoesqueléticos entre os trabalhadores, pois existem diferentes tipos de atividades a serem
realizadas pelo trabalhador neste setor, sendo que as cargas
ocorrem simultaneamente durante o trabalho.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Considerando a especificidade do funcionamento humano é possível compreender que os desgastes sofridos na
lida do trabalho, ao longo do tempo, podem condicionar
o aparecimento de disfunções corporais, mentais e psicológicas, afetando até mesmo a permanência do agricultor
no meio rural, podendo gerar com isso um impacto social
importante. Os traços deixados pelo trabalho nestes trabalhadores influenciam sua saúde e capacidade funcional,
impregnam sua vida profissional, social e econômica10,11.
Esta questão fica evidente também quando Brandenburg12
mostra a seguinte fala de um agricultor: “agricultor começa
a trabalhar quando amanhece e só pára quando anoitece”,
o que denota uma jornada de trabalho extensa. A saúde é
uma das qualidades básicas que dão valor à vida humana.
É a base para o trabalho produtivo, para a capacidade de
aprender e para crescer intelectualmente, fisicamente e
emocionalmente. Em termos econômicos, saúde e educação formam a pedra angular do capital humano. De outra
forma, a doença reduz a renda da sociedade, a expectativa
de vida dos indivíduos e as perspectivas de crescimento
econômico.
Os problemas posturais na agricultura persistem porque,
apesar das mudanças ocorridas nas operações com maquinários, muito poucas mudanças ocorreram na forma de
executar tarefas pela maioria dos pequenos agricultores, de
modo que o trabalho no campo permanece com as mesmas
exigências das tarefas físicas as quais envolvem posturas
estáticas prolongadas, levantamento e carregamento de
cargas manuais e trabalho manual repetitivo10.
Com relação à exigência física resultante do trabalho,
Grandjean afirma que as múltiplas atividades desenvolvidas pelos trabalhadores rurais distinguem duas formas de
esforço muscular: o trabalho muscular dinâmico (trabalho
rítmico) e o trabalho muscular estático (trabalho postural).
Diariamente, o trabalhador rural realiza bastante trabalho
estático, o que poderá resultar na diminuição de suas forças
e aumento de fadiga. Excessivos esforços estão associados
com o aumento do risco de inflamação nas articulações, inflamação na bainha nas extremidades dos tendões, processos crônicos degenerativos, tipo artrose nas articulações,
doenças do disco intervertebrais e câimbras musculares6.
Persistindo as situações constrangedoras, caracteriza-se
a sobrecarga e o trabalhador não mais consegue atingir os
objetivos determinados, mesmo modificando seu estado
interno ou mudando os seus modos operatórios, advindo
daí um estado patológico, como por exemplo, um quadro
álgico crônico por uma postura forçada por tempo prolongado e ao longo do tempo8.
Por outro lado, não se pode ignorar a capacidade física
que estes agricultores desenvolvem, em termos de força
física e habilidades manuais, o que funciona como uma
proteção contra lesões musculares e tendinosas, pois
um músculo fraco é mais propenso a uma lesão que uma
musculatura fortalecida e a musculatura de um sujeito que
realiza um trabalho onde existe uma carga física tende a ser
mais desenvolvida do que de sujeitos que não desempe-
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Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS.
nhem um trabalho muscular significativo13. Entretanto, há
um limite fisiológico a ser considerado e, no caso dos agricultores, somam-se a isso as posturas corporais extremas
como se abaixar com os joelhos estendidos, o que distende
em demasia o nervo ciático e pode ocasionar dores agudas
na região lombar baixa e nas pernas, situação esta que
pode ser agravada quando essa postura é adotada para o
carregamento de peso13. Contudo, nem todos os agricultores respondem da mesma forma às situações similares de
trabalho. Se para alguns a situação é constrangedora, para
outros parece não ter efeito nocivo. Esta percepção diferenciada da carga de trabalho parece estar ligada à história
de vida do sujeito sem se desvincular das condições de vida
profissional e extraprofissional10.
Desta forma, as alterações posturais têm sido consideradas um sério problema de saúde pública, pois atingem
uma alta incidência da população economicamente ativa,
incapacitando-a temporária ou definitivamente para atividades profissionais14.
A Academia Americana de Ortopedia conceitua postura
como o estado de equilíbrio dos músculos e ossos com
capacidade para proteger as demais estruturas do corpo
humano de traumatismos, seja na posição em pé, sentada
ou deitada. O desequilíbrio muscular, por sua vez, é definido como uma desordem do sistema musculoesquelético.
Os movimentos corporais resultam de cadeias musculares
e, quando há alterações posturais, o organismo se reorganiza em cadeias de compensação procurando uma resposta
adaptativa a esta desarmonia. Desse modo, a repetição
de determinados tipos de atividade com posições e movimentos habituais, o período e a sobrecarga de treinamento
(overtraining/overuse) provocam um processo de adaptação orgânica que resulta em efeitos deletérios para a postura, com alto potencial de desequilíbrio muscular15,16.
Kisner & Colby17 abordam a disfunção postural como
sendo um encurtamento adaptativo dos tecidos moles
por haver fraqueza muscular envolvida. Os desequilíbrios
de força e flexibilidade podem predispor à lesões ou síndromes de uso excessivo, nas quais a causa pode ser por
maus hábitos posturais prolongados, ou em resultado de
contrações e adesões formadas durante a cicatrização dos
tecidos após trauma ou cirurgia.
O desvio postural é um desalinhamento na estrutura
musculoesquelética do indivíduo decorrente a maus hábitos de postura, doenças e exercícios físicos mal aplicados,
sendo que os principais desvios são: aumento da lordose
cervical e lombar, aumento da cifose torácica e escoliose14.
O aumento da lordose lombar e cervical fisiológica,
segundo Magge18, é uma curvatura maior que o normal
na coluna vertebral cervical e lombar. Suas causas são
deformidade postural, frouxidão muscular, mecanismos
compensatórios de ou por outra deformidade.
O aumento da cifose torácica fisiológica indica uma
curvatura posterior excessiva da coluna vertebral, podendo
variar de uma curva longa e arredondada ou angulação aguda posterior, localizada no plano sagital, sendo um desvio
8
evolutivo19.
Já a escoliose é um problema ortopédico, gera um desvio
da coluna vertebral, que pode aparecer nos segmentos
cervical, torácico e lombar. Tendo as mais variadas causas
como congênita, idiopática, neuromuscular, traumas e tumores. Esta pode ser classificada como escoliose funcional,
onde se encontra curvatura lateral com elementos de rotação concomitante, sem alteração morfológica, ou escoliose
estrutural caracteriza-se pelo desvio lateral, com rotação
vertebral e extensão segmentar, sendo uma alteração
morfológica que não se corrige com o paciente variando a
postura19.
Uma das formas de se identificar essas alterações é a
partir da avaliação postural específica que emprega os
seguintes métodos: inspeção postural estática, inspeção
dinâmica e palpação20.
Exame físico específico
A propedêutica física da coluna vertebral deve ser
iniciada em um sentido global, isto é correlacionando
cabeça, coluna, bacia e membros inferiores, para depois
passar à exploração segmentar. A justificativa para isto é
que a interdependência funcional com esses elementos
altera a estática e a dinâmica da coluna vertebral20.
Inspeção postural estática
Os pacientes devem ser examinados descalços e em diferentes posições: de frente, de lado e de costas. Procurase detectar as seguintes alterações:
- Coluna cervical
No segmento cervical observa-se aumento ou retificação da lordose, protusão de C7 e alterações na posição
da cabeça, como inclinações laterais e projeção para
frente21.
- Coluna dorsal
Na região torácica nota-se um aumento ou retificação
da cifose e a presença de escoliose21.
- Coluna lombar
Em relação à região lombar, verifica-se a presença de
hiperlordose, retificação da lordose e escoliose21.
Inspeção dinâmica
Procura avaliar a amplitude dos movimentos da coluna
e pesquisar a presença de dor à movimentação de cada
segmento, verificando suas limitações funcionais. O paciente continua na posição de pé e realiza os movimentos,
separadamente, por região da colunal22.
Palpação
Caracteriza pela compressão da coluna vertebral com a
polpa do polegar direito e o resto da mão espalmada sem
apoiar no tegumento do paciente. Avalia-se a sensibilidawww.rbft.com.br
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Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS.
de dolorosa da região cervical com o paciente sentado,
orientado para relaxar a musculatura do pescoço e da cintura escapular, colocando-se o examinador por detrás do
paciente. A palpação de toda a coluna pode também ser
realizada com o paciente deitado em decúbito ventral21.
Outra forma de diagnóstico de patologias da coluna é a
avaliação por imagem radiográfica, já que apenas uma em
cada três deformidades vertebrais pode ser diagnosticada
clinicamente20. A avaliação por imagem é muito importante, pois serve para confirmar uma suspeita clinica.
Suas vantagens são a disponibilidade imediata de resultado, custo relativamente baixo, fornecimento de uma boa
resolução anatômica e sua principal função e descartar ou
excluir a presença de anormalidades em estruturas19.
Avaliação Radiológica
No diagnóstico por imagem da coluna cervical, as
seguintes anomalias podem ser verificadas: forma das
vértebras, osteófitos, o espaço discal, presença de costela
cervical, alimento fronta,. curvaturas fisiológicas, linhas
vertebrais, acunhamento das vértebras, torção da coluna,
fusão, , deslocamento, sub-luxação das facetas, instabilidades, espondilose, articulações facetarias e forame
intervertebral18.
No raio-X da coluna torácica é possível observar:
acunhamento vertebral, espaços discais, epífise do anel,
coluna em Bambu (espondilite anquilosante), simetria
das costelas, cifose fisiológica, hipófise do anel, nódulos
de Schmorl (indica hérnia de disco), ângulo das costelas
e osteófitos18.
Na incidência lombar observa-se a forma da vértebra,
fratura, espaço discal, coluna em bambu, espinha bífida,
sacralização, lombarização, espondilólise, espondilolistese, lordose lombar fisiológica, acunhamento vertebral,
alinhamento das vértebras e osteofitose 23.
As principais patologias são a osteoartrite, osteofitose,
espondilolistese, hérnia discal e a espondilite anquilosante24-27.
O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de alterações posturais e deformidades vertebrais nos trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS, a fim de se propor
ações futuras de prevenção e reabilitação.
Materiais e métodos
Delineamento
Estudo Transversal com trabalhadores rurais ativos de
Morrinhos do Sul-RS.
Amostra
O estudo foi realizado com os trabalhadores rurais de
Morrinhos do sul no período compreendido entre julho
a outubro de 2009 com 68 trabalhadores rurais ativos,
sendo 34 do sexo masculino e 34 do sexo feminino.
Critérios de Inclusão
- Trabalhadores rurais ativos associados ao Sindicato de
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Trabalhadores Rurais de Morrinhos do Sul;
Critérios de Exclusão
- Produtores rurais aposentados;
- Falecimento;
- Afastamento do trabalho por problemas de saúde;
Aspectos éticos
O estudo teve aprovação junto ao Comitê de Ética e
Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade
Luterana do Brasil com parecer número 2009-190H.
Todos os sujeitos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes de realizarem a avaliação
postural e o exame radiológico.
Os resultados dos exames posturais e radiológicos foram informados exclusivamente ao sujeito avaliado. Para
aqueles sujeitos em que houve a necessidade de uma
abordagem médica ou terapêutica, o mesmo foi encaminhado à rede SUS para acompanhamento.
Coleta dos dados
Os dados do processo de avaliação foram coletados em
dois momentos distintos: aplicação de questionário fechado e a avaliação postural em um momento, e a realização
do exame radiológico solicitado pelo médico diretor geral
do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres-RS
em um segundo momento. Para fins destes exames, o
trabalhador não dependeu de recursos próprios, sendo os
custos de exames subsidiados pela Prefeitura Municipal
de Morrinhos do Sul e de transporte pelos pesquisadores.
Questionário
Os dados de identificação foram coletados e um questionário aplicado a respeito das atividades rurais de cada
trabalhador, conforme modelo aplicado pelo Ministério
da Saúde para doenças ocupacionais relacionadas ao
trabalho27.
Avaliação postural
Os exames de avaliação postural foram realizados pelas
pesquisadoras titulares do estudo através da avaliação
visual e foram realizados nos Salões Paroquiais de cada
localidade da zona rural do município, em uma sala exclusiva e apropriada, ou seja, com iluminação natural e
artificial normais.
Foram avaliados os desnivelamentos da superfície
corporal nos planos frontal (anterior e posterior) e plano
sagital (direita e esquerda), conforme ficha de avaliação
anexa. O exame foi realizado com os homens com calção
e as mulheres com biquíni, maiô ou short.
Avaliação radiológica
Após a realização da entrevista e da avaliação postural,
foi entregue o encaminhamento para a realização do
exame radiológico, contendo a data e horário do exame.
Os sujeitos do estudo foram transportados ao município
vizinho de Torres em transporte próprio dos pesquisadores, realizando o exame junto ao serviço de radiologia do
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Hospital Nossa Senhora dos Navegantes.
Optamos por não realizar os exames radiológicos da
coluna torácica por questão logística e de custos, e também por tratar-se de uma área de menor mobilidade e,
conseqüentemente, de menor agressão.
Foram realizadas as incidências no padrão anteroposterior (AP) e perfil (P) dos níveis cervical e lombar. Foram
analisados pelo radiologista do serviço os seguintes
aspectos ao raio X:
(1)Diminuição do espaço intervertebral e local da alteração;
(2)Aumento ou diminuição do ângulo Lombossacro;
(3)Presença e localização de osteofitose;
(4)Presença e localização de artrose interapofisária;
A maioria dos trabalhadores (54.5%) iniciou a atividade no campo com idade inferior a 10 anos. Os homens
trabalham mais horas (p<0,000) e mais dias por semana
(p<0.001). Os trabalhadores se sentem mais cansados nos
meses de janeiro e fevereiro (52.4%). 93.8% referem adotar em algum momento a postura fixa de tronco durante
a jornada de trabalho. Movimentos de torção de tronco
são relatados em 94% dos trabalhadores. Já a flexão de
tronco é referida por 97% como realizada quase sempre
e sempre. Flexão de cabeça em 93.9%. Deslocamentos
constantes durante a jornada de trabalho são relatados
por 93.9%, havendo uma tendência de que homens se
desloquem mais que as mulheres (p<0.077). O local de
dor predominante foi à região lombar (60.6%).
Resultados
Em decorrência da pandemia de gripe H1N1 que ocorreu durante o período do estudo, gerando um aumento
significativo de solicitações de exames radiológicos junto
ao município sede, foi necessário diminuirmos a nossa
amostra. Com isto, o estudo contou com 33 agricultores,
sendo 16 do sexo masculino e 17 do sexo feminino.
A média de idade foi de 45.42 ± 8.62. 81,8% dos sujeitos
do estudo possuíam mais de 40 anos de idade. Todos os
sujeitos eram de cor branca. 97% tinham apenas o 1° grau
completo ou incompleto.
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Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS.
A avaliação postural no plano frontal mostrou a presença de 36% de escoliose, sendo 3% na forma idiopática.
Na avaliação postural do plano sagital, 34% dos trabalhadores apresentaram aumento da lordose lombar fisiológica, 22% apresentaram aumento da lordose cervical,
12% com aumento da cifose e apenas 6% sem alterações.
Dos 33 sujeitos inicialmente avaliados, 31 sujeitos realizaram a avaliação radiológica, sendo 16 mulheres e 15
homens. Dois sujeitos não realizaram o raio X alegando
problemas particulares que os impediram de se deslocar
ao serviço de radiologia no dia agendado. 71% apresentaram osteófitos, sendo a localização mais comum a
lombar (35%) e as mulheres mais predominantes (59%).
71% apresentaram diminuição do espaço intervertebral,
sendo que o nível mais atingido foi entre L5-S1 (51,6%)
e as mulheres mais predominantes (59,1%). Alterações
degenerativas articulares ocorreram em 77,4 % dos sujeitos, e novamente o nível mais atingido foi L5-S1 (74,2%) e
predomínio nas mulheres (58,3%) (FIGURA III).
Observou-se que os pacientes que apresentaram
aumento da lordose lombar também apresentaram alterações ao raio X. 72,3% dos trabalhadores que apresentaram discopatia degenerativa, 68,1% que apresentaram
osteofitose e 62,5% com artrose interapofisária também
apresentaram aumento da lordose.
Discussão
Os trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS iniciam a atividade na agricultura com pouca idade. 54,5%
destes começaram a trabalhar com menos de 10 anos de
idade. A maioria dos trabalhadores (81,8%) tinha mais de
40 anos. Cockell et al, em seu estudo, descobriram que
70% dos sujeitos iniciaram a trabalhar com menos de 8
anos de idade. 57,8% dos trabalhadores não concluíram
o ensino fundamental. No nosso estudo, 97% dos trabalhadores avaliados tinham apenas o ensino fundamental.
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Budaka et al relataram, em seu estudo, que a faixa etária
média é 51,4 anos para homens e 38,9% para mulheres.
Parece-nos claro que os jovens filhos de agricultores da
região de Morrinhos do Sul-RS não seguem a tendência
de trabalho no campo, optando pela formação acadêmica
universitária ou o trabalho na cidade.
Com relação à jornada de trabalho, estudo realizado
com trabalhadores rurais da Turquia mostrou que a jornada média de trabalho é de 12,8 horas/dia30. Outro estudo
refere que 93,8% trabalham 8 horas diárias e outros 6,52%
acima de 10 horas31. 63,6% dos trabalhadores avaliados
por nós apresentaram uma jornada de trabalho de cinco
a oito horas e 18,2% trabalhavam mais de 8 horas. Este
grande número de horas trabalhadas é, sem dúvida, um
agravante para o desenvolvimento de lesões por esforços
repetitivos.
A dor na coluna vertebral, especialmente na região
lombar, é a principal queixa dos trabalhadores rurais.
Silva et al relataram em seu estudo 4,2% de prevalência
de dor lombar na população geral do município de
Pelotas-RS , sendo maior no sexo feminino e aumentando
com a idade. Outro estudo relata que 80% dos trabalhadores apresentam dor durante a jornada de trabalho,
sendo 65% relacionadas com movimentos específicos,
e 50% com movimentos de flexoextensão da coluna31.
Nos trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS, como
mostrado em nosso estudo, o percentual de dor lombar é
extremamente aumentado (60,6%). A postura em flexão
do tronco e cabeça é relatada por cerca de 93% dos trabalhadores durante a jornada de trabalho.
Na avaliação radiográfica, 71% dos trabalhadores apresentaram osteófitos e discopatia degenerativa. 77,4%
apresentaram alterações degenerativas nas articulações
intervertebrais. Notou-se um predomínio destas alterações nas mulheres (58 a 59%), e o nível predominante
destas alterações foi entre L5 e S1 (74,2%). Também foi
verificada uma tendência destes trabalhadores com alterações degenerativas também apresentarem aumento
da lordose lombar fisiológica, variando de 62,5% a 72,3%.
Estes resultados estão bem acima dos verificados na população geral. Zavanela et al, analisando 342 protocolos
radiológicos de coluna cervical e 504 de coluna lombar em
trabalhadores gerais, encontrou 15,4% de alterações cervicais nas mulheres e 5,7% nos homens. Já para a região
lombar, encontrou 17,9% para as mulheres e 13,7% nos
homens. Outro estudo avaliou 439 pacientes sintomáticos
e não sintomáticos, encontrando osteófitos em 68,6% em
pacientes com idade acima de 40 anos. Estudo realizado
com idosos no de uma aldeia japonesa que trabalha
com pesca e agricultura avaliou radiologicamente 528
trabalhadores, 205 homens e 323 mulheres, encontrando
38,3% de osteoartrite35. Isto corrobora com o nosso
estudo na afirmação de que a faixa etária é proporcional
ao achado de alterações vertebrais ao RX34. Uma das limitações apresentadas pelo nosso estudo
foi o tamanho de amostra reduzido, o que nos dificultou
11
Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS.
numa melhor fundamentação dos resultados. Sugerimos
outros estudos com amostragens maiores para a confirmação destes resultados.
Neste estudo, concluímos que os trabalhadores
rurais de Morrinhos do Sul, apresentam alta prevalência
de alterações posturais e degeneração vertebral, com
uma relação forte com a idade, sexo, posturas e movimentos adotados durante a jornada de trabalho, o que
sugere uma abordagem terapêutica e profilática desta
população específica.
Agradecimentos: A Prefeitura Municipal de Morrinhos
do Sul-RS e Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de
Torres-RS pela colaboração na disponibilização dos exames radiológicos.
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Prevalência dos fatores de risco para
o desenvolvimento da doença arterial
coronariana em pescadores do litoral da
Cidade de Fortaleza - CE
Prevalence of cardiovascular risk factors among fishermens at Fortaleza City
Autores:
Daniel Sobreira Galdino - Fisioterapeuta, graduado pela Faculdade Integrada do Ceará - FIC, aluno do Curso de Especialização em Fisioterapia
Respiratória e Cardiovascular da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. | Sandra Mary Silva Barbosa - Fisioterapeuta, graduada pela Faculdade
Integrada do Ceará - FIC, aluna do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória e Cardiovascular da Universidade de Fortaleza - UNIFOR.
Maria do Socorro Quintino Farias - Fisioterapeuta, Mestra em Ciências Fisiológicas pela Universidade estadual do Ceará - UECE
Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará - FIC. Endereço para correspondência: Maria do socorro Quintino Farias, Rua
Elizeu Uchoa Beco, 600 -Água Fria, tel: (85)99842129 - email: [email protected] Instituição de origem: Universidade de Fortaleza
Resumo
As doenças cardiovasculares representam importante problema de saúde
pública em todo o mundo, visto que, constituem a principal causa de morbimortalidade e desencadeiam altos custos em assistência médica. Muitos
estudos abordam este tema na população em geral, sendo necessário estudar
e estratificar o risco em populações específicas para melhor entendimento
das suas necessidades além de contribuir na identificação e prevenção de
fatores de risco maiores em tais grupos. Este estudo teve como objetivos,
traçar o perfil epidemiológico e identificar fatores de risco em uma amostra de
pescadores na cidade de Fortaleza-CE. Estudo de corte transversal, descritivo
e quantitativo, aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade
de Fortaleza. As variáveis estudadas foram: alimentação, tabagismo, Índice de
Massa Corporal (IMC), colesterol total (CT), lipoproteínas de baixa densidade
(LDL), lipoproteínas de alta densidade (HDL), triglicerídeos (TG), glicemia, níveis
de pressão arterial sistólica (PAS), diastólica (PAD) e diabetes. Os resultados
serão mostrados em media ± erro padrão; o valor de p foi considerado
significativo quando < 0,05. O risco cardiovascular em dez anos foi calculado
pelo score de Framingham. Para análise do perfil lipídico e risco cardiovascular
dividimos a amostra em dois grupos: Grupo I, indivíduos na faixa etária de 2550 anos e Grupo II: 51-65 anos. A amostra foi composta por 18 indivíduos do
sexo masculino com idade média de 50 ± 9 anos cadastrados na Colônia de
Pescadores do Mucuripe. A avaliação demográfica básica mostrou baixo nível
de escolaridade da amostra, sendo n=10 (55%) analfabetos e 45% (n=9) sabiam
ler e escrever; a alimentação básica constituída de peixe com preferência por
preparações fritas. 27,7%(n=5) tabagistas; 16,6%) (n=3) ex-tabagistas e 55,5%
não tabagistas. IMC, 44,4% (n=8) classificados como sobrepeso; 33 3% (n= 6)
obesos; 5,5% (n=1) super-obesidade. 100% (n=18) ativos, mas sem atividade
física regular. O perfil lipídico da amostra não revelou diferença estatística
entre os dois grupos: CT (mg/dl) 194,12 ± 30,79 e 177,00 ± 35,24 (p=0,25);
HDL (mg/dl) 43,12 ± 8,88 e 42,11 ± 14,75 (p=0,74); LDL (mg/dl) 129,17 ±
16,46 e 115,37 ± 32,72 (p=0,24); TG (mg/dl) 108,62 ± 44,36 e 97,22 ± 39,48
(p=0.74); Glicemia 90,62 ± 12,77 e 88,88 ± 11,40 (p=0,63) respectivamente. Os
indivíduos do grupo II apresentam maior risco para doença cardiovascular em
10 anos (p=0,007). 27,7% (n= 5) pescadores apresentaram alteração da PAS ≥
140mm Hg e 66,6% (n=12) com PAD ≥ 90mmHg. Não registramos nenhum caso
de diabetes mellitus. Verificou-se alta prevalência dos fatores de risco para o
desenvolvimento da doença arterial coronariana nos pescadores estudados e
que as condições ambientais e alimentares não contribuem para um estilo de
vida saudável capaz de prevenir os fatores de risco para doença coronariana.
Palavras chave: dislipdemia, coronariopatia.
14
Abtract
Cardiovascular diseases are considered a important problem in public
health around the world. They represent the most frequent cause of mortality
as well the highest costs in medical service. Despite of many reports about
cardiovascular diseases in genetral populations, it`s important to study specific
populations in order to determine risk factors, to understand their necessities
and to work in prevention. The aim of this study, was to study cardiovascular
diseases factors among fishermens, at a specific population in Fortaleza-CE.
Several clinical parameters were evaluated, such as: feeding habits, abuse of
Smoking, BMI (Body Mass Index), total cholesterol (TC), Low-density lipoprotein
(LDL), High density lipoprotein (HDL), triglycerides (TG), Glicemy, systemic
arterial pressure (SAP), and diabetes. This study was approved by Ethical
committee of University of Fortaleza. Data will be showed by mean ± EPM, p
value <0,005 was considered significant for statistical test. The cardiovascular
risk was rated by Framingham score. For lipid profile and cardiovascular risk by
Framingham score we divided the sample in two groups (group I individuals
25-50 years old and group II 51-65 years old). Our sample consisted of 18 male
individuals registered in Mucuripe Fishermen Villa. Their age average was 50
± 9 years old. Basic socio-demographic data on the population showed and
55% of them (n=10) were illiterate; 45% (n=9) able to read and write. Their
principal diet consisted of fish, specially fried fish. 27,7% (n=5) were smokers;
16,6% (n=3) ex-smokers; and 55,5% of them (n=10) were non-smokers. When
BMI was evaluated, 44,4% (n=8) were classified as overweight; 33,3% (n=6),
obese; 5,5% (n=1), super obese. No one was considered sedentary, although
no one practices physical activity regularly. There was no statistical differences
considering lipid profile between groups, as showed: CT (mg/dl) 194,12 ± 30,79
e 177,00 ± 35,24 (p=0,25); HDL (mg/dl) 43,12 ± 8,88 e 42,11 ± 14,75 (p=0,74);
LDL (mg/dl) 129,17 ± 16,46 e 115,37 ± 32,72 (p=0,24); TG (mg/dl) 108, 62
± 44,36 e 97,22 ± 39,48 (p=0.74); Glicemy 90,62 ± 12,77 e 88,88 ± 11,40
(p=0,63) , respectively. On the other hand, group II individuals had lower clinical
data values when compared to group I. The cardiovascular risk in ten years
analyzed by Framingham score showed high potential risk factor for group
II, with statistical significance (p = 0,007). 27,7% (n= 5) individuals showed
PAS ≥ 140mm Hg and 66,6% (n=12) PAD ≥ 90mmHg. Neither case of diabetis
mellitus was registered. This study showed a high prevalence of risk factors for
development of coronary arterial diseases in Mucuripe’s Fishermen studied.
In addition, the environmental and feedings conditions do not contribute to
a healthy lifestyle.
.
Key words: dyslipidemias, coronary disease.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana em pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE
Introdução
É grande o número de estudos experimentais, epidemiológicos, ensaios clínicos e metanálises que estabelecem claramente a associação entre dislipidemia e aumento do risco
de morte por obstrução das artérias. A Organização Mundial
de Saúde (OMS) já previa que em torno do ano 2000, esta
já seria a principal causa de morte no mundo ocidental. A
aterosclerose é a forma mais comum de doença das artérias
coronarianas (DAC), sendo esta, um distúrbio no qual os
depósitos de gordura acumulam-se na parede das artérias
causando reação inflamatória e obstrução ao fluxo sangüíneo
1,2.
Alguns autores descrevem de um modo geral que os
principais fatores de risco para doença arterial coronariana
são hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, dislipidemia,
obesidade, sedentarismo, Diabetes Mellitus e antecedentes
familiares2. O risco de doença arterial coronariana aumenta
com os níveis elevados do colesterol total ligado à lipoproteína de baixa densidade (LDL). A aterosclerose é uma
doença multifatorial na qual as dislipidemias são fatores de
risco modificáveis em muitos casos1. A diminuição do LDL
em indivíduos sob risco diminui a morbidade e a mortalidade
relacionada à aterosclerose coronariana3,4.
Sabe-se da importância das gorduras para o organismo.
Estas fornecem energia e são importantes na absorção de
vitaminas lipossolúveis, na estrutura da membrana celular,
para síntese hormonal (esteróides) e para isolamento e proteção de órgãos vitais. Do ponto de vista fisiológico e clínico,
os lípides biologicamente mais relevantes são os fosfolípides,
o colesterol, os triglicérides (TG) e os ácidos graxos5.
Os fosfolípides formam a estrutura básica das membranas
celulares. O colesterol é precursor dos hormônios esteróides,
dos ácidos biliares e da vitamina D. Além disso, como constituinte das membranas celulares, o colesterol atua na fluidez
destas e na ativação de enzimas. Os triglicérides são formados a partir de três ácidos graxos ligados a uma molécula de
glicerol e constituem uma das formas de armazenamento
energético mais importante no organismo, depositados nos
tecidos adiposo e muscular 5.
A atenção da comunidade médica refere-se, ao papel das
gorduras no desenvolvimento da aterosclerose6,7. Embora
muitos estudos abordem este tema é necessário estudar e
estratificar o risco em populações específicas, para melhor
entendimento das necessidades destes além de contribuir na
identificação e prevenção de fatores de risco maiores em tais
grupos.
Durante os últimos trinta anos presenciamos declínio, razoável da mortalidade por causas cardiovasculares em países
desenvolvidos, enquanto elevações relativamente rápidas e
substanciais têm ocorrido em países em desenvolvimento,
dentre os quais o Brasil 8.
São poucos os relatos na literatura, em relação ao perfil e a
prevalência da hipercolesterolêmica em população litorânea.
Estudo com uma amostra de 101 pescadores argentinos,
que 71,2% desta, apresentavam hipercolesterolêmica em
resultado de análise bioquímica laboratorial, a obesidade
correspondia a 43,6%. Curiosamente 100% destes pescadores
tinham alimentação em excesso de carnes vermelhas e seus
derivados com ingestão diária9.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
No município de Cotia-SP, a média de fatores de risco foi
significativamente maior nos homens (p<0,01), quando
comparado as mulheres, para faixa etária até 50 anos, entre
50-55 as médias se igualaram para ambos os sexos8. Em
outro estudo, estimaram a prevalência de fatores de risco
cardiovasculares na população adulta em um município Brasileiro. Mostrou que a hipertensão arterial sistêmica, diabetes,
dislipidemia, obesidade, circunferência abdominal alterada e
tabagismo prevaleciam nesta população10.
Este estudo objetiva traçar o perfil epidemiológico e estudar hábitos alimentares e fatores de risco em uma amostra
específica de pescadores na cidade de Fortaleza-CE, a fim de
investigar se esta população alimenta-se do próprio pescado
e se as condições ambientais favorecem ou não a um estilo de
vida mais saudável. Estes resultados e o enfoque epidemiológico poderão contribuir para o desenvolvimento de políticas
de saúde específicas, pois para isto é necessário estratificar
os pacientes em grupos de maior risco e facilitar o desenvolvimento de programas de prevenção primaria ou secundária
para esta população.
Materiais e métodos
Estudo transversal, quantitativo, que avaliou 18 indivíduos
adultos da Colônia de Pescadores Z8 em Fortaleza-CE, todos
participantes de um programa de alfabetização da Prefeitura
na região do Mucuripe. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética em pesquisa da Universidade de Fortaleza- UNIFOR e
seguiu as normas éticas que envolvem a pesquisa com seres
humanos determinadas pela Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde11. Foram incluídos na pesquisa, aqueles
na faixa etária entre 25 à 65 anos, que assinaram o termo de
compromisso livre e esclarecimento (TCLE).
As variáveis estudadas foram: colesterol total, LDL, HDL,
triglicerídeos, glicemia, níveis de pressão arterial sistêmica,
diabetes, IMC e tabagismo. Os participantes foram esclarecidos antecipadamente e solicitados a permanecerem em
jejum antes da coleta do material. Foram considerados dislipidêmicos aqueles em uso atual de medicação hipolipemiante
com objetivo de controle do colesterol, ou com Colesterol
Total (CT) ≥ 240 mg/dl, ou LDL ≥ 160 mg/dl ou HDL < 40 mg/dl.
Sendo considerados diabéticos aqueles com história de Diabetes Mellitus prévio em uso de medicação hipoglicemiante
oral ou de insulina, bem como aqueles que apresentaram
glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl, desde que confirmada por
uma segunda medida de glicemia em jejum. Os participantes
foram classificados como sobrepeso (IMC) entre 25-30 Kg/
m2, obesos quando o (IMC) ≥ 30 kg/m2 e superobeso IMC
de 35-40 Kg/m2. Foram considerados hipertensos aqueles
que apresentaram pressão arterial sistólica igual ou superior
140 mmHg e 90 mmHg para diastólica conforme IV Diretriz
Brasileira de Hipertensão Arterial12 .
A coleta do material para análise laboratorial foi realizada
na própria sede da Colônia de pescadores em horário previamente estabelecido e em seguida encaminhada para o
laboratório do NAMI - Núcleo de Atenção Médica Integrada
da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), acondicionados em
caixa térmica seguindo as normas técnicas e de biosegurança
laboratorial. Os indivíduos foram orientados em relação ao jejum de 12 horas. As amostra de sangue foram coletadas pelo
15
Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana em pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE
mesmo profissional. Utilizou-se um esfingnomanômetro analógico de marca BD para verificação da pressão arterial, sendo
realizadas duas medidas com diferença de 5 minutos entre
as duas aferições. Uma terceira medida foi realizada quando
verificou-se diferença de 10 mmHg entre as duas primeiras.
Para as demais variáveis do estudo foram utilizados balança
portátil e um estadiômetro. Os dados foram tabulados no
software Excel 2007 e analisados utilizando-se a ferramenta
de estatística descritiva e analítica. Os dados estão demonstrados como média ± erro padrão da média e considerou-se
as diferenças significativas quando p < 0,05.
Resultados e discussão
A amostra estudada foi composta por 18 indivíduos, todos
do sexo masculino com idade média de 50.4 ± 9.8 anos, com
baixo nível de escolaridade sendo 55,5% (n=10) composta
por analfabetos, outros 16,6% (n= 3) sabiam ler e escrever. A
alimentação da amostra estudada envolve o consumo predominante de peixe conforme se mostra na tabela 1.
A amostra tem acesso as informações a respeito de prevenção e doenças cardiovasculares por meio de programas de
saúde pública e de projetos acadêmicos. Atualmente a Prefeitura de Fortaleza executa um programa de alfabetização para
a comunidade pesqueira.
A Assembléia Mundial de Saúde (2004) aprovou a Estratégia
Global da Organização Mundial de Saúde para Alimentação,
Atividade Física e Saúde 13. Este documento, recomenda-se
a busca do equilíbrio energético através da variedade do que
se consome (frutas, verduras, carboidratos, proteínas, entre
outros). Deste modo, recomenda a limitação do consumo
de gorduras totais, a substituição de gorduras saturadas por
insaturadas e a buscar ao abandono do consumo de gorduras
trans. As gorduras transsaturadas são artificialmente obtidas
por meio de um processo de hidrogenação das moléculas
insaturadas e portanto prejudiciais porque aumentam o
colesterol ruim. Portanto a amostra estudada necessita de
orientação específica sobre o fator nutricional já que 50%
(n=9) preferem que o preparo do peixe seja através da fritura (tabela 1), eliminando os benefícios do consumo deste
alimento.
A tabela 2 mostra outros fatores de risco relacionados aos
hábitos de vida da amostra. Quanto ao hábito tabagistico, observa-se que a prevalência foi próxima ao da população brasileira em geral, estima-se que cerca de 20,0% dos brasileiros
com mais de 15 anos seja tabagista, com grandes variações no
território nacional, variando de 12,9%, em Aracajú, a 25,2%,
em Porto Alegre10. Nesta amostra específica, encontramos
27,7% (n= 4) de fumantes e de 16,6 (n= 3) de ex-fumantes.
O cigarro duplica o risco na doença arterial coronariana e em
30% delas são atribuídas ao número de cigarros fumados. Os
níveis baixos de colesterol não confere efeito protetor aos
fumantes, segundo estudo com 106.745 homens na Coréia, o
que é apoiado também pelo Estudo Prospectivo da Sociedade
Americana do Câncer14.
Os riscos cardiovasculares associados à obesidade crescem
com o índice de massa corporal (IMC). A avaliação de homens
e mulheres participantes do estudo de Framingham, em um
período de 26 anos, revelou que esta é um fator de risco para
16
a ocorrência de eventos cardiovasculares, especialmente doença coronariana, insuficiência cardíaca e acidente vascular
cerebral, independente da idade, da pressão arterial sistólica,
dos níveis de colesterol, do tabagismo, da intolerância à glicose e presença de hipertrofia ventricular esquerda15
No Brasil a obesidade já é motivo de grande preocupação.
Feferbiam diz “ em quase 30 anos de prática pediátrica,
constato que, sem dúvida, que a criança obesa passou a ser
motivo freqüente de consulta ao pediatra e, muitas vezes,
ao endocrinologista”. Esta afirmação mostra que os futuros
adultos já estão marcados por um problema que poderá
levar o Brasil a enfrentar no futuro próximo problemas ainda
maiores como a síndrome metabólica e as doenças cardiovasculares16.
Constatou-se também nesta pesquisa, que apenas 16,6%
(n=3) indivíduos apresentaram IMC menor do que 25 e curiosamente foi naqueles que se encontravam na faixa etária de
50 a 65 anos (TABELA 2). Quando comparamos o peso desses
pescadores com aqueles que se encontravam na faixa etária
entre 25 e 50 anos não encontramos diferença estatística
significativa entre o IMC dos dois grupos (p=0,65), mostrando
que os indivíduos mais jovens em relação a este fator de risco
não são diferentes. O peso médio foi dos indivíduos na faixa
etária entre 25 e 50 anos foi de 75,37 ± 5,59 Kg, e 76,55 ±
4,91Kg para os mais idosos.
Exercícios, mesmo que em graus moderados, têm efeito
protetor contra a doença arterial coronariana e uma série
de outros benefícios, tais como: elevação do HDL-colesterol,
redução de cifras na hipertensão arterial sistêmica e auxílio
na baixa do peso corporal 17. Nota-se que a amostra não
pode ser considerada sedentária. O trabalho do pescador
exige esforço físico pois não utiliza equipamentos mecânicos e apenas a força física. Somente 5,5% (n=1) da amostra
realiza caminhada, mas isto não pode ser considerado como
exercício físico no sentido de treinamento pois o período que
permanecem no mar é variável comprometendo a regularidade do exercício, sendo a regularidade do treino um dos
princípios do treinamento físico aeróbio e efeitos no sistema
cardiovascular7.
Assim, como o sedentarismo e o tabagismo, a relação entre
hipercolesterolemia e doença cardiovascular, notadamente
coronariana, tornou-se indiscutível a partir de evidências
observacionais e epidemiológicas. Estudos observacionais
mostraram uma curva exponencial, relacionando os níveis
de colesterol ao desenvolvimento de eventos e mortalidade
coronariana18.
O estudo Framingham objetivou identificar fatores e características comuns que contribuem para o desenvolvimento de
doença arterial através do acompanhamento por um longo
período de um grande número de pessoas que ainda não
tinham desenvolvido sinais de doença coronariana, infarto
ou acidente vascular. Com base neste importante estudo, que
vem se atualizando ao longo da terceira geração, é possível
calcular o risco de desenvolver doença coronariana através de
parâmetros, tais como: idade, colesterol total, HDL, pressão
arterial sistólica, tratamento para hipertensão e tabagismo.
Observou-se na amostra estudada que existem alterações
lipídicas para as duas faixas etárias estudadas, sem diferença
estatística entre os dois grupos. Nota-se que o HDL desejáwww.rbft.com.br
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Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana em pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE
vel poderia ser mais elevado para conferir maior proteção.
Somente esta variável encontrava-se alterada, portanto não
se configurando dislipidemia, porém quando analisamos os
outros fatores de risco conjuntamente, encontramos que
44,4% (n=8) dos participantes do estudo apresentam risco
absoluto para doença coronariana entre 10% e 20% em dez
anos pelo Score de Framingham19 (tabela 4).
A estimativa de risco para doença arterial coronariana em
dez anos para a amostra pode ser visto em detalhes na tabela
4. Tanto os mais jovens quanto os mais idosos apresentam
risco para o desenvolvimento de DAC, entretanto os mais idosos apresentam maior risco com diferença estatisticamente
significativa (p=0,007), 33,3% (n=6) pertencems ao grupo II.
Não encontramos nenhum caso de diabetes mellitus neste
estudo.
De acordo com o Ministério da Saúde e IBGE com base
no censo populacional de 1991, a estimativa de hipertensão
arterial na população brasileira adulta foi de 15%20. Neste
estudo, identificamos 27,7% (n= 5) pescadores com alteração
da PAS ≥ 140 mm Hg e 66,6 % (n=12) com PAD ≥ 90mmHg. O
gráfico 1 ilustra os níveis pressóricos aferidos na amostra. A
hipertensão arterial sistêmica é um fator de risco bem estabelecido para a doença cardiovascular e para a insuficiência
cardíaca congestiva. A importância desta associação foi bem
definida nos achados do Estudo Framingham19. Na amostra,
somente dois pescadores declararam-se hipertensos e que já
faziam uso de medicação.
É tão significativa a morbidade por cardiopatia isquêmica
nos Estados Unidos, que somente 5% da população pode
ser considerada de baixo risco para a doença isquêmica,
considerando-se os seguintes fatores: 1) colesterol total
abaixo de 200 mg/dl; 2) pressão arterial sistólica abaixo de
120 e diastólica abaixo de 80mmHg; 3) não fumante; 4) sem
diabetes mellitus ou antecedentes familiares de infarto de
miocárdio 20. Provavelmente esses dados se repetiriam caso
estudássemos as mesmas variáveis com uma amostra maior
desta população.
Conclusão
Verificou-se alta prevalência dos fatores de risco para o
desenvolvimento da doenças arterial coronariana e não de
dislipidemia isoladamente. Ficou evidente através dos dados
obtidos, que os pescadores estudados independentemente
da faixa etária, apresentam alta prevalência de importantes
fatores de risco, tais como: obesidade, sedentarismo e
hipertensão arterial sistêmica, mostrando que sistema de
saúde pública e privada, enfrentará cada vez mais, um maior
número de pacientes com doença cardiovascular.
Em relação ao perfil lipídico da amostra, observa-se que a
análise isolada do colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos
e glicemia, não são estatisticamente diferentes para os dois
grupos
O risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular
em 10 anos calculados pelo score de Framinghram é maior na
faixa etária de 50 a 65 anos (p=0,007) nesta amostra.
Podemos sugerir que as condições ambientais e alimentares não favorecem a um estilo de vida saudável nesta
amostra. Embora com predomínio de peixe na alimentação,
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os pescadores não são beneficiados pelas propriedades nutricionais e protetoras conferida por este alimento. Contudo,
deve-se considerar que os dados que foram registrados, neste
estudo, são de uma pequena amostra. Mesmo assim, esperamos contribuir para o desenvolvimento de outras pesquisas,
envolvendo populações específicas, considerando condições
e situações semelhantes para que se possa direcionar ações
preventivas para a população litorânea.
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TABELA 2: Perfil demográfico da amostra em relação aos
fatores de risco maiores
Fonte: Fortaleza/CE 2009
Fonte: Fortaleza/CE 2009
Tabela 4: Estimativa de risco para doença arterial coronariana em 10 anos segundo score de Framingham
TABELA 3: Perfil lipídico e glicêmico da amostra (n=18)
Fonte: Fortaleza/CE 2009
18
Fonte: Fortaleza/CE 2009
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Análise de Risco Coronariano
em funcionários da
Faculdade de Tecnologia
Intensiva (FATECI)- CE
Autores:
Fábio Augusto Portela - Professor Orientador. Docente da Faculdade de Tecnologia Intensiva-FATECI.
Artenyzia Mendonça de Brito - Autor: Acadêmica do 4º período do curso de fisioterapia da Faculdade de Tecnologia Intensiva- FATECI. Monitora
da disciplina da Anatomia Humana.
20
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Análise de Risco Coronariano em funcionários da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI)- CE
Introdução
O homem moderno vive sob constante pressão devido às
situações de alta competitividade que enfrenta em sua vida laboral, compromisso familiar e exigências da sociedade. Aliado
a isso, outro fato agrava as pressões sobre o homem moderno,
é o atual panorama das doenças cardiovasculares como a
principal causa de morbi-mortalidade mundial (WHO, 2005).
Para minimizar estes fatores, cada vez mais pessoas buscam
promover mudanças em seu estilo de vida, sobretudo, adicionando a prática regular de atividade física em seus novos
hábitos de vida, almejando assim, um bom estado de saúde e
bem-estar (NAHAS et al., 2000).
Entretanto, grande parte dos indivíduos tem errado, visto
que a busca pela prática de exercícios, muitas vezes se dá sem
a orientação de um profissional qualificado. Outro fato agravante é a falta de uma avaliação das condições de saúde prévia
à realização de exercícios físicos, que fornece um panorama
global das possibilidades individuais (MOREIRA et al., 2007b).
A Associação Brasileira de Medicina do Esporte recomenda
que todos os indivíduos, sem distinção de faixa etária, que se
submetam a um programa de atividade física regular, de caráter competitivo ou recreacional, devam realizar uma avaliação
pré-participação (LEITÃO e OLIVEIRA, 2005).
O PAR-Q (sigla de Physical Activity Readiness Questionnaire,
ou Questionário de Prontidão para Atividade Física) tem sido
sugerido como padrão mínimo de avaliação pré-participação.
Tendo como principal objetivo analisar a possibilidade de risco
coronariano e osteoarticular, pois pode identificar, por alguma
resposta positiva, os indivíduos que necessitam de avaliação
médica prévia. Apesar de simples e de fácil aplicação, o PAR-Q
mostra-se bastante útil, evitando que indivíduos portadores
de patologias, especialmente cardiovasculares, sejam colocados em risco durante as atividades físicas.
Esse instrumento é validado e tem por objetivo selecionar
na população a minoria dos indivíduos com alguma contraindicação médica para a prática de exercícios físicos, mesmo
os com intensidades leves, e que devem ser encaminhados ao
médico antes de darem início a um programa de exercícios ou
a adotar estilo de vida mais ativo (SHEPARD, 1984; SHEPARD,
1991; NUNES e BARROS, 2004).
O objetivo deste estudo foi identificar a presença de riscos
em indivíduos que trabalham na Faculdade de Tecnologia
Intensiva (FATECI) e possuem uma vida relativamente ativa, e
sem seguida correlacionar a existência de riscos e os tipos de
riscos com o gênero dos entrevistados.
Metodologia
Pesquisa exploratória, método de analise quantitativo, realizada na FATECI, nos meses de outubro e novembro de 2009.
A população consistiu em 20 funcionários da FATECI, que
possuem idade entre 20 e 40 anos. Não houve caráter de
exclusão.
Utilizou-se como instrumento de teste o Questionário da
Prontidão para a Atividade Física (PAR-Q), composto por sete
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
perguntas objetivas para avaliação do risco coronariano e
osteoarticular.
Os dados coletados foram processados e tabulados graficamente com o auxilio do programa Microsoft Excel 2007,
seguindo-se de uma analise descritiva.
Resultado e discussão
Dos 20 funcionários entrevistados, 10 (50%) são do gênero
feminino e 10(50%) do gênero masculino.
Comprovou-se pela mostragem que 13 (65%) profissionais
entrevistados apresentam pelo menos um fator de risco
coronariano ou osteoarticular; destes 7 (35%) são do gênero
feminino e 6 (30%) do gênero masculino .
Tais achados indicam que as mulheres estariam mais suscetíveis a fatores de riscos associados à existência de distúrbios
coronarianos e/ou osteoarticular. Entretanto, não foram encontrados em literaturas anteriores com tais resultados, sendo
necessário que haja um maior aprofundamento a respeito
desta variável.
Este percentual de indivíduos que apresentam riscos se
configura uma população que exige maiores cuidados ao
realizarem qualquer tipo de atividade física, haja vista que os
fatores de riscos presentes no PAR-Q estão associados à possível existência de doenças coronarianas e osteoarticulares;
sendo que a ênfase maior das questões está na busca de riscos
de coronarianopatias.
Quando questionamos quanto à existência de dor no peito
durante a pratica de exercícios físicos; 4 (20%) dos indivíduos
relataram sentir dores, destes; 2 (10%) são do gênero feminino
e 2(10%) do gênero masculino.
Em relação à dor no peito no último mês verificamos que
dos 20 entrevistados; 2 (10%) apresentaram dores, com predominância do sexo feminino.
Quanto aos indivíduos que não apresentaram nenhum fator
de risco a doenças coronarianas, foi possível observar que o
gênero masculino apresentou menor risco; sendo que 4 (20%)
dos homens não apresentaram nenhum fator, enquanto que
apenas 3 (15%) das mulheres não apresentaram riscos.
Conclusão
Para que se possa planejar qualquer tipo de orientação á
pratica de atividade física ou ao se realizar qualquer tipo de
atividade terapêutica ativa é imprescindível a realização de
uma triagem.
O PAR-Q sendo uma forma de avaliação de pré- participação ao exercício mostra-se um importante instrumento para
determinar o estado de prontidão para exercícios físicos,
tendo ainda grande importância na detecção de complicações
cardiovasculares e/ou ortopédicas.
Os resultados obtidos evidenciam altos índices de indivíduos que apresentam algum tipo de fator de risco coronariano e/
ou osteoarticular; tornando-se nítida a importância da avaliação prévia a realização de qualquer tipo de atividade física ou
terapêutica ativa.
É fundamental que os profissionais da área da saúde e de
áreas envolvidas com o esporte, tenham conhecimento a
21
Análise de Risco Coronariano em funcionários da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI)- CE
respeito da existência do PAR-Q. A importância de tal conhecimento se torna de grande valia não apenas para verificar se o
individuo está apto ou não a pratica de exercícios, tendo ainda
grande utilidade na identificação de possíveis complicações
cardiológicas e/ou ortopédicas, auxiliando no encaminhamento prévio destes indivíduos.
Contudo, faz-se necessário que surjam estudos posteriores,
com objetivo de tornar conhecida a eficácia e a importância
da aplicação do PAR-Q Sugere-se também uma investigação
mais aprofundada nos indivíduos inaptos, para que outros
fatores de impedimento não impliquem durante á pratica de
exercícios físicos ou da terapêutica ativa.
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Ginástica laboral: um
olhar sobre o contexto
fisioterápico na prevenção
de doenças ocupacionais e
melhoria da qualidade de
vida dos funcionários da
concessionária Tropical Fiat
Autores:
Mariana Delgado Carlos Romano - Discente do 8°período da Faculdade Cathedral de Boa Vista /RR
Simone Maria da Silva Espínola - Discente do 8°período da Faculdade Cathedral de Boa Vista /RR
Orientador(a):
Rosana Coeli Vieira Marques Carneiro - Fisioterapeuta, Licenciada em Educação Física, Pós graduada em Educação Especial, Coordenadora de
Fisioterapia no HCSA, Fisioterapeuta do HMINSN em Boa Vista/RR.
Trabalho desenvolvido no curso de Fisioterapia da Faculdade Cathedral de Boa Vista/RR
Correspondência para: Mariana Delgado Romano
Av. do Cupuaçuzeiro, 207 – Bairro Caçari, Boa Vista, RR – CEP: 69307-450
E-mail: [email protected]
Resumo
Atualmente o estresse, entre outros fatores emocionais,
e as doenças ocupacionais são problemas que atingem
profissionais de todas as áreas de atuação, prejudicando o
desempenho, a saúde e a qualidade de vida dos mesmos.
Como método de trabalho utilizado, foi efetuado um estudo de caso objetivando demonstrar a eficiência de um
programa de ginástica laboral na prevenção de doenças
ocupacionais e melhora da qualidade de vida dos mecânicos da Concessionária Tropical Fiat, em Boa Vista – Roraima.
Foram evidenciados resultados altamente positivos, onde
comprovam que a sua prática dentro das organizações é
de suma importância e se traduz numa ferramenta fundamental para proporcionar a qualidade de vida da classe
trabalhadora e conseqüentemente para toda a instituição.
Palavras-chave: Ginástica Laboral, doenças ocupacionais, Fisioterapia preventiva, qualidade de vida.
24
Abstract
Currently stress, among other emotional factors, and
occupational disease are problems that affect professionals of all areas, harming the performance, health and
their own life quality. As working method used, aiming
to demonstrate the efficiency of a program of exercises
in the prevention of occupational illnesses and improvement on the quality of life of the mechanics of Tropical
Fiat Concessionaire, in Boa Vista – Roraima. Highly positive results had been verified, where there is evidence that
its practice within the organization is of substantial importance and conceptualizes itself as a fundamental tool to
provide the labor class quality of life and, therefore, of the
entire companies.
Key words: Labor Gymnastics, occupational disease,
preventive Physiotherapy, Quality of Life.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
Introdução
A prevenção de doenças ocupacionais vem ganhando
espaço nas empresas, considerando a crescente incidência
registrada nos últimos anos. O absenteísmo, os afastamentos temporários do trabalho, e até mesmo o registro de
invalidez permanente dos trabalhadores se reflete diretamente na produtividade, no desempenho, e na preocupação das empresas com o bem estar dos seus colaboradores. Investir em prevenção é o caminho para as empresas
evitarem o desenvolvimento destas doenças, que a cada
dia ganham espaço e novas formas de manifestação.
As condições de trabalho atuais refletem as tensões a
que estão submetidos os indivíduos no seu dia a dia. Desta
forma, aparecem pressões internas que são impostas,
quando estes lutam pela sobrevivência no mercado de
trabalho. A competitividade e as exigências de qualidade
deste mercado, tais como: a eficiência e velocidade na
realização das atividades, são uma constante.
De outra forma, as pressões externas provocadas pelo
mercado, de exigências e de modificações constantes,
implicam em adequação dos sistemas de produção à realidade e flexibilidade de atendimento aos clientes. Portanto,
os indivíduos que trabalham são submetidos a tensões
que, somadas às exigências normais de suas atividades,
podem provocar o surgimento de doenças e /ou queixas
relacionadas ao trabalho.
Reconhecer as situações de trabalho, que possam provocar danos à saúde, desperta o interesse das organizações,
na busca de medidas preventivas de doenças ocupacionais.
As situações de trabalho, nas empresas em geral, que merecem atenção são aquelas nas quais as atividades exigem
movimentos repetitivos, posturas inadequadas, esforços
e situações de trabalho causadoras de estresse e fadiga
(COSTA FILHO, 2001).
A Ginástica Laboral não é uma atividade física recente.
Há relatos deste tipo de atividade desde 1925, na Polônia,
onde é chamada de Ginástica de Pausa e destinada aos
operários. Neste mesmo período pesquisas foram realizadas na Bulgária, Alemanha Oriental e na Holanda. Na
Rússia 150 mil empresas, envolvendo 5 milhões de funcionários praticavam e ainda praticam a Ginástica de Pausa,
adaptada à cada cargo (CAÑETE apud POLITO et. al, 2002).
Apesar de ter surgido na Polônia, Segundo Pereira (2001)
a ginástica laboral realmente se desenvolveu no Japão, a
partir de 1928, com funcionários dos correios que realizavam diariamente a ginástica de pausa, visando o cultivo a
saúde e como forma de lazer.
De acordo com Cañete (1996), após a segunda guerra
mundial, este hábito foi difundido por todo o país e, atualmente, um terço dos trabalhadores japoneses exercita-se
diariamente, tendo obtido como resultados, em 1960,
a diminuição dos acidentes de trabalho, o aumento da
produtividade e a melhoria do bem-estar geral dos trabalhadores.
A grande aceitação e difusão da ginástica laboral no
Japão devem-se à adaptação de um programa da Rádio
Taissô, que consiste em exercícios específicos e rítmicos
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
acompanhados por música própria, sendo realizada pela
manhã diariamente, que é transmitida por pessoas especialmente preparadas, e é praticada nas fábricas, ambientes de trabalho e residências (PEREIRA, 2001).
Segundo a revista do Confef (2004), a prática da ginástica laboral iniciou-se na Alemanha, Suécia e Bélgica no
início da década de 60. Já nos Estados Unidos, tal prática
foi adotada em 1968 (Lima apud Figueiredo e Alvão (2005).
No Brasil, surgem as primeiras manifestações de atividades físicas entre funcionários, em 1901, mas a Ginástica
Laboral teve sua proposta inicial publicada somente em
1973. Algumas empresas começaram a investir em empreendimentos, com opção de lazer e de esporte para os seus
funcionários, como a Fábrica de Tecidos Bangu, a pioneira,
e o Banco do Brasil, com a posterior criação da Associação
Atlética do Banco do Brasil (Revista do Confef, 2004).
Ainda em 1978, em Betin/MG, na fábrica Fiat de Automóveis, iniciou-se o “Programa de Ginástica na Empresa”,
fundamentado nos princípios da Ginástica Laboral.
Investir na qualidade de vida voltada aos funcionários
nas instituições se constitui hoje uma das principais ações
para a prevenção de problemas oriundos do exercício
laboral que, em condições inadequadas, podem ocasionar,
pelo excessivo ritmo de trabalho, grandes males à saúde
dos trabalhadores.
A ginástica laboral em seu contexto geral visa à promoção da saúde e melhoria nas condições dos trabalhadores
frente à tarefa ocupacional a ser exercida, contribui na
prevenção e redução de patologias ocupacionais. Promove
também um melhor relacionamento interpessoal, tem
ação positiva na redução dos acidentes de trabalho, na
diminuição do absenteísmo e conseqüentemente no aumento da produtividade e maior retorno financeiro para a
empresa (OLIVEIRA, 2004).
Cañete (1996) faz o seguinte questionamento:
Quem você acha que, provavelmente produzirá mais e
melhor: um indivíduo cansado, desmotivado, fadigado,
com dores pelo corpo, estressado, deprimido, com baixa
auto-estima e com sua saúde global comprometida ou
aquele indivíduo saudável, equilibrado emocionalmente,
satisfeito, feliz e motivado?
O autor supracitado avalia que investir em qualidade de
vida em saúde é indispensável. A ginástica laboral aparece
neste contexto como um investimento, sem custo elevado. A experiência indica que a aparente perda de tempo
com a pausa não acontece, pelo contrário é necessária
e mostra-se indispensável para o equilíbrio funcional e a
maior produtividade. Trata-se de uma importante forma
de prevenção contra o surgimento de doenças, acidentes
do trabalho e afastamentos temporários ou permanentes
que significam grandes custos para as empresas (CAÑETE,
1996).
O objetivo geral deste estudo foi analisar os benefícios
com relação à saúde e à satisfação dos trabalhadores,
obtidos com a implantação de um programa de Ginástica
Laboral.
25
Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
Doenças ocupacionais
Intencionalmente, nos propusemos a concentrar
algumas idéias que nomeiam a Ginástica Laboral como
promotora da saúde, contribuindo na prevenção das
doenças ocupacionais, e na melhora do desempenho do
trabalhador na execução de suas atividades.
Dentre as doenças ocupacionais, as afecções musculoesqueléticas aparecem nos primeiros lugares das estatísticas
de acidentes ou doenças ocupacionais recebendo assim
a atenção especial do NIOSH (National Institute of Ocupacional and Health), definidas como o segundo objetivo
de prioridade de ação para a década de 90, logo após as
doenças respiratórias relacionadas ao trabalho (MENDES,
1995). Ainda aponta o autor que a entidade considerou
como prioritário, dentro dos distúrbios músculo-esqueléticos estudar as afecções da coluna, principalmente
as lombalgias e as alterações orgânicas relacionadas aos
movimentos repetitivos e as vibrações.
O termo DORT, Distúrbios Osteosmusculares Relacionados ao Trabalho, foi recentemente instituído no Brasil para
substituir a sigla LER (Lesões por Esforços Repetitivos). A
sigla DORT tem sido vastamente utilizada como rótulo de
diagnóstico de diversas condições dolorosas, em indivíduos que desempenham as mais variadas atividades ocupacionais (MARTINS, 2001).
De acordo com o mesmo autor, um dos motivos dessa
alteração é que a denominação LER abrange apenas a repetitividade dos movimentos e não engloba outras formas
de sobrecarga que podem ser prejudiciais ao aparelho
locomotor. A DORT abrange além da sobrecarga dinâmica,
a sobrecarga estática, utilizando a musculatura isométrica
por períodos prolongados para a manutenção da postura,
os trabalhos sob temperaturas, luminosidade, umidade e
ventilação inadequada e o uso prolongado de instrumentos como vibração excessiva, podem contribuir para o
desenvolvimento de patologias relacionadas às atividades
ocupacionais.
A sigla LER foi utilizada durante vários anos, sendo ainda
melhor identificada. Frente a isso, ainda são muitos os
autores que utilizam esta denominação, mesmo após a
edição da atualização da Norma Técnica de 1997 do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Baseando-se no
termo inglês “work-related musculoskeletal disorders”, foi
proposta a sigla DORT, ficando desta forma enquadrada na
categoria das doenças relacionadas ao trabalho proposta
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (LONGEN,
2003).
Tais afecções tornaram-se a mais nova epidemia dos
últimos anos, já que a partir da década de 80 passaram a
ser a mais freqüente causa de afastamento do trabalho no
mundo.
De acordo com o Fundacentro (2007), as Lesões por
Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho (DORT) são as designações
que podem levar a ocorrência de afecções de músculos,
26
tendões, sinóvias (revestimento das articulações), nervos,
fáscias (envoltório dos músculos) e ligamentos, isoladas
ou combinadas, com ou sem degeneração de tecidos. Elas
atingem principalmente as regiões apendiculares. Podemos ainda complementar que estas ocorrem, de forma
combinada ou não, por esforços repetitivos e abusivos dos
grupos musculares e da manutenção da postura inadequada durante a jornada de trabalho.
Segundo Smith (1996) há oito fatores de risco
que interferem na ocorrência de distúrbios osteomusculares:
- A freqüência de movimentos do membro superior
(índice de repetições)
- A postura das articulações do braço, mão, punho, cotovelo, ombro e do pescoço;
- A força necessária para realizar a tarefa;
- As vibrações;
- As condições do ambiente de trabalho;
- As características dentro da organização do trabalho;
- As condições psicossociológicas;
- Fatores de risco de ordem pessoal (sexo, idade, traumas anteriores, condicionamento físico).
Para Polito (2002), são três tipos de fatores que
podem causar a DORT conforme a tabela a seguir:
TABELA 1 – Fatores de Risco de DORT (POLITO, 2002, P.44)
Existem inúmeros trabalhadores com queixas de dores
atribuídas à seu trabalho. A patologia é reconhecida pela
atual legislação brasileira gerando grande interesse nos
meios médicos. O ônus gerado ao governo, às indústrias
e aos trabalhadores, levam os meios médicos a realizar
estudos e discussões que possam contribuir para uma
melhor compreensão dessa patologia já considerada como
epidemia na saúde brasileira (NAKACHIMA, 2002).
No Brasil, os dados dessas afecções são deficientes, mas
a quantidade de diagnósticos de LER/DORT tem dimensões
muito altas. Considerando assim que na última década
nosso país presenciou uma situação epidêmica com relação à DORT, tornando-se esta patologia a segunda maior
causa de afastamento do trabalho no Brasil. Somente nos
últimos 5 anos foram abertos 532.434 CATs (Comunicação
de Acidente de Trabalho) geradas pelas LER/DORT. A cada
100 trabalhadores da região Sudeste do Brasil, 1 é portador
de LER/DORT (AMERICANO, 2001).
As LER/DORT atingem, atualmente, trabalhadores de
diversas áreas. Especialistas em medicina do trabalho estimam que de 5 a10% dos digitadores são portadores de
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Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
LER/DORT, por exemplo. Na França, este já é o maior motivo de afastamento do trabalho e de comprometimento da
produtividade (Barbosa et al., 1997).
Um estudo desenvolvido pela Folha de São Paulo (2001)
verificou que, dos 310.000 trabalhadores paulistanos diagnosticados pelos médicos, 14% eram portadores de LER/
DORT, sendo 6% dos trabalhadores da cidade de São Paulo,
ou seja, 4% da população. Dessa forma, fica evidente que,
se entidades que envolvam governo, empresários, médicos, entre outros, não tomarem providências com relação a
esse problema, em um futuro próximo, ter-se-á um grande
número de pessoas afastadas do trabalho, gerando cifras
milionárias em custos com aposentadorias, com tratamentos de problemas, como mostra o GRÁFICO 1.
Outro dado alarmante é que, aproximadamente, 75
a 90% dos custos médios nas empresas são devidos aos
doentes com lombalgias crônicas, o que também poderá
desencadear os distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho (Ksam, 2003).
Gráfico 1 - Trabalhadores com diagnóstico de LER/DORT,
São Paulo-SP
Ginástica laboral na empresa
A Ginástica laboral é um programa implantado em empresas, que consiste em pausas com exercícios programados previamente, que levam em consideração as atividades
e demandas físicas existentes nos mais diversos setores. Os
exercícios são aplicados no próprio ambiente de trabalho
durante o expediente. Ela é também conhecida como ginástica de pausa, ginástica do trabalho, compensatória e
atividade física na empresa (MASCELANI, 2001).
Seguindo a mesma idéia, Martins (2001), define como
exercícios efetuados com sessões de cinco, dez ou quinze
minutos, tendo como principais objetivos a prevenção das
LER/DORT e a diminuição do estresse, através dos exercícios de alongamento e de relaxamento, promovendo bem
estar.
Na Ginástica Laboral, o alongamento mais utilizado é o
estático, já que permite que um grande número de indiwww.rbft.com.br
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víduos seja alongado com segurança, além de ser eficaz
quando o fator tempo se mostra crucial. Segundo Knudson,
citado por Martins (2001), este tipo de alongamento é caracterizado por uma movimentação vagarosa de um grupo
muscular até que seja alcançada uma posição alongada e
esta mantida por alguns segundos.
Os funcionários devem ser instruídos acerca da forma
correta de execução do alongamento, uma vez que este não
pode ser brusco e nem provocar contraturas e dores, afinal,
são exercícios que têm como objetivo promover prazer por
meio do alívio e não da dor. É importante o alinhamento da
postura no momento do exercício, assim como, manter a
respiração adequada.
A inclusão de exercícios respiratórios na Ginástica Laboral
favorece ao alívio de tensão, podendo trazer o relaxamento
muscular. A educação do ato respiratório e a consciência da
respiração nasal, torácica e abdominal auxiliam na adaptação do ritmo respiratório com movimento, o que aumenta
a capacidade de rendimento no alongamento, sem dor
(LIMA, 2005).
O Ritmo excessivo de trabalho, posturas errôneas, esforços físicos, movimentos repetitivos e condições inadequadas dos postos de trabalho causam tensões no corpo. Estes
fatores desencadeiam grandes males à saúde e podem ser
responsáveis pelo afastamento temporário ou até pela
invalidez permanente dos trabalhadores. As tensões ainda
podem ocasionar falta de atenção ao trabalho, caminho
direto para a baixa produtividade e acidentes profissionais.
Conforme Politto e Bergamschi (2002) as atividades de
ginástica laboral na empresa são executadas por meio de
exercícios que podem apresentar características preparatórias, compensatórias e relaxantes, proporcionando
ao indivíduo uma maior harmonia na execução de suas
funções em seu ambiente de trabalho, através de atuações
participativas, conscientes e integradas, com conseqüente
melhora de sua qualidade de vida.
Após a ocorrência de fatos prejudiciais à saúde do trabalhador devido à forma incorreta de realização de suas
funções, a qualidade de vida passou a ser mais discutida
pela busca do ser humano a melhorar sua saúde e assim
prevenir futuras doenças. Sabe-se que para ter um equilíbrio na qualidade de vida o homem terá que apresentar
harmonia corporal associado ao seu meio profissional,
emocional, social, espiritual e fisiológico que se resume aos
aspectos psicológico, físico e social (PITANGA apud SOUZA,
2002).
Scharcow et al. apud Cañete (1996) entendem que a
Ginástica Laboral é também como um espaço onde as
pessoas podem exercer exercícios físicos, por livre e espontânea vontade, que vai além do movimento mecânico, mas
promove o auto-conhecimento, a auto-estima e um melhor
relacionamento consigo mesmo e com as outras pessoas.
As diversas modalidades de Ginástica Laboral procuram
compensar as estruturas do corpo mais utilizadas durante
o trabalho e ativar as que não são requeridas, aquecendo,
relaxando e tonificando-as (COSTA FILHO, 2001).
As modalidades de Ginástica laboral são classificadas
pelo objetivo a que se destinam e também de acordo com
27
Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
o horário a serem aplicadas. Há também situações em
que as modalidades são aplicadas simultaneamente ou de
forma mista (BERTOLINI, 1999, P.28). Observar-se-á neste
artigo o enfoque na Ginástica Laboral Preparatória.
Targa, apud Cañete (2001), define como ginástica laboral
preparatória, ou pré-aplicada, um conjunto de exercícios
que prepara o indivíduo conforme suas necessidades de
velocidade, de força ou de resistência para o trabalho,
aperfeiçoando a coordenação.
Pode-se, entretanto, notar que a definição mais adequada para Ginástica Laboral Preparatória são exercícios
realizados antes da jornada de trabalho, com objetivo
principal de preparar o indivíduo para o início do trabalho,
aquecendo os grupos musculares solicitados em suas tarefas, despertando-os para que se sintam mais dispostos
(Alves e Vale, 1999; Oliveira, 2006). Este tipo de Ginástica
também aumenta a circulação sanguínea melhorando a
oxigenação dos músculos.
Em um estudo realizado para avaliar o melhor horário
para os efeitos positivos em relação à evolução das
DORTS, com 208 funcionários de uma empresa, mostrou
os diferentes efeitos da aplicação da Ginástica Laboral preparatória e da compensatória. O grupo de funcionários no
qual a Ginástica Laboral é realizada no início da jornada de
trabalho (preparatória) apresentou uma redução de 73%
das dores musculares. Já, o grupo de funcionário em que a
ginástica laboral é realizada durante a jornada de trabalho
(compensatória), reduziu em 48% as dores musculares.
Ainda observou-se que 69% dos funcionários sentem-se
mais dispostos para o trabalho, após a implantação da
Ginástica Laboral (MACHADO, 2002).
Ginástica laboral e seus benefícios
Toda empresa está condicionada a aderir os programas
de Ginástica Laboral, desde que seja conhecido o sistema
de trabalho, atividades e demandas físicas, conhecimento
do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais
adequados à realidade da organização.
Dados como o índice de absenteísmo, afastamentos
temporários, queixas de quadro álgico, são importantes
para que o planejamento de metas e prioridades esteja
focado para as áreas críticas da empresa.
Segundo Zilli (2000) muitos são os benefícios alcançados
com a implantação da Ginástica Laboral, conforme apresentado a seguir:
- Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais
- Aumenta a amplitude muscular
- Melhora a coordenação motora
- Eliminação de toxinas pela melhora da circulação sanguínea
- Reduz o sedentarismo
- Reduz a fadiga mental e física
- Melhora a concentração e agilidade
- Prevenção de lesões musculares
- Motiva para a mudança de estilo de vida com realização
de atividade física regular
28
- Desenvolve a consciência corporal
- Melhora o bem estar físico
- Melhora a socialização.
O aspecto psicossocial da Ginástica laboral é muito
importante na implantação do programa. Algumas modalidades de exercícios são programadas com este enfoque.
Desta forma, são realizados exercícios em dupla e em
grupo, para promover a integração e a socialização entre
as pessoas do setor ou da empresa que estão participando
do programa. Muitas pessoas despertam para uma maior
afetividade no ambiente de trabalho, que é estabelecida a
partir do toque. Um aperto de mão, um abraço, um exercício conjugado promove a aproximação de pessoas, que
muitas vezes se conhecem a anos e não estabeleceram, no
entanto, uma relação mais cordial e afetiva.
A fisioterapia e a ginástica laboral na busca de uma
melhor qualidade de vida no trabalho
A qualidade de vida no trabalho é alcançada na medida
em que se avalia o estilo de vida em cada indivíduo, como
um todo.
Para Nahas (2001) o conceito de qualidade de vida
é multifatorial, incluindo parâmetros sócio-ambientais
como: moradia, assistência médica, condições de trabalho
e remuneração, acesso à educação, opções de lazer, integração com o meio ambiente e segurança. Também relaciona aspectos individuais como a hereditariedade, estilo de
vida, hábitos alimentares, controle do estresse, atividade
física habitual, não utilização de fumo, álcool e drogas.
Silva e Marchi (1997) enfoca a saúde como uma condição
essencial para que alguém possa qualificar sua vida como
de qualidade. O conceito de saúde, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), inclui um bem estar bio-psicosocial e não apenas a ausência de doenças.
A qualidade de vida no trabalho se encontra também
nos aspectos relacionados à satisfação e disposição para o
serviço. Estes dependem diretamente da realização profissional, relacionamento interpessoal e estado emocional.
A qualidade de vida é medida pelo grau de satisfação
das pessoas no trabalho (LIMONGI FRANÇA E RODRIGUES,
1996): “Qualidade de vida é, antes de tudo, uma nova
atitude diante da necessidade de manter o emprego, ser
reconhecido por competência e desenvolver-se”.
A Fisioterapia e a Ginástica Laboral formam hoje, um dos
pontos primordiais para a correção de inúmeros problemas
físicos de causa repetitiva. Instruir nas empresas, aos colaboradores (funcionários), a maneira de se posicionar e sua
organização espaço-temporal é de fundamental importância, pois a má postura pode desencadear processos como
desvios, síndromes dolorosas, lombalgias assim como as
lesões por esforços repetitivos e/ou os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/ DORT).
Rotina de trabalho intensa, dores musculares, problemas
posturais, tendinites. Estes são alguns dos problemas que
mais atingem os trabalhadores em todo mundo, por isso
houve uma crescente procura por métodos mais simples e
eficazes na reabilitação desses problemas físicos.
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Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
Segundo Baú (2002), dentre as principais vantagens
apontadas para os programas de ginástica laboral, podemos citar três abordagens principais:
1) Abordagem fisiológica - Observa-se seu papel nos
músculos agonistas e antagonistas solicitados na execução
do trabalho, tendo como objetivo: trabalhar os músculos
que ficam a maior parte do tempo relaxados e fazer um
trabalho de alongamento e relaxamento dos músculos que
estão em contração na maior parte do expediente.
2) Abordagem psicológica - As condições físicas mais
adequadas para que se realize o trabalho, e a satisfação que
a ginástica produz, tais como: melhora do comportamento
do trabalhador; melhora da segurança pelo aumento da
atenção (correndo menor risco de acidentes e incidentes);
facilitação do aprendizado e a transferência de condutas
psicomotoras; retardo do ponto de fadiga; favorecimento
da adaptação ao trabalho quanto à velocidade, ritmo e
coordenação; Diminuição das frustrações, sendo favorável
ao desaparecimento ou redução da irritabilidade e a agressividade; redução do absenteísmo no trabalho e, por todos
estes fatores há um aumento no rendimento individual e
coletivo, auxiliando no aumento da produtividade.
3) Abordagem social - Deve ser aplicada a todos na
empresa, sem distinção da profissão, concomitantemente, favorecendo a comunicação, conhecimento e união,
tornando-se um fator importante no relacionamento
interpessoal, transformando-se mais em um convívio
familiar do que empresarial. Isto desinibe os funcionários
participantes, promovendo maior integração e tornando a
ginástica no trabalho prazerosa.
Ainda segundo a mesma autora, existem benefícios localizados da prática da ginástica laboral:
• Cérebro: proporciona sensação de bem-estar; melhora da auto-estima; redução de sintomas depressivos e
de ansiedade; melhora do humor; diminui a síndrome de
fadiga crônica (cansaço e baixo rendimento no trabalho) e
melhora da concentração para outras atividades.
• Pulmões: melhora da capacidade pulmonar, aumentando o consumo de oxigênio, favorecendo a troca gasosa.
• Coração: melhora da performance cardíaca com
aumento da resistência aos esforços físicos e ao estresse,
reduzindo patologias cardíacas (infarto, angina, arritmias).
Enfim aumentando o desempenho e a sobrevida do indivíduo.
• Membros inferiores: diminuição de edemas, varizes e
o risco de trombose, melhorando o retorno venoso.
• Músculos: fortalece, proporcionando o aumento de
forma discreta e progressiva a massa muscular e maior flexibilidade, o que proporciona maior alavanca nos esforços.
• Ossos: redução do risco de osteoporose e de fratura,
com conseqüente aumento da massa óssea.
• Vasos sangüíneos: melhora da circulação, com redução de obstruções nas paredes dos vasos e diminuição de
problemas circulatórios (arterosclerose, infartos cerebrais,
tromboses).
A Fisioterapia trabalha com a busca da cura. O seu pilar é
trabalhar na restauração de uma condição perdida, ou seja,
reabilitar devolvendo a antiga condição, adaptando novas
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situações, lidando com a doença, curando ou pelo menos
minimizando os malefícios da mesma.
Além disso, a fisioterapia também tem outro lado, que é
a parte da prevenção, sempre discutido em seu contexto, e
a Ginástica Laboral entra nesta prevenção. Na fisioterapia
preventiva empresarial não se tem apenas um funcionário,
mas também um paciente.
Os profissionais que trabalham hoje com a esta modalidade fisioterápica dependem em muito da conscientização
das pessoas e das mudanças dos hábitos de vida.
Materiais e métodos
O trabalho desenvolvido foi subdividido em etapas,
tendo início a primeira com levantamento bibliográfico de
materiais que apresentassem conteúdos relacionados à
pesquisa, através de livros, artigos científicos, dissertações
e páginas da Internet, que permitem o conhecimento do
material relevante, tomando-se por base o que já foi publicado na área, de modo que se possa delinear uma nova
abordagem sobre a temática, chegando a conclusões que
possam servir de embasamento para pesquisas futuras.
A partir da idéia do projeto, foi-se em busca da população e amostra necessárias para a aplicabilidade do estudo,
constituindo a segunda etapa do mesmo.
O estudo de caso ocorreu na Concessionária Tropical Fiat,
do ramo automobilístico, na cidade de Boa Vista – Roraima.
A prática da Ginástica laboral teve início no dia 9 de setembro de 2009, com duração de 2 meses, sendo realizada
3 vezes por semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras
pela manhã, em um total de 27 aplicações.
A amostra do presente estudo foi composta por 30
funcionários do setor da oficina mecânica, sendo todos do
gênero masculino e idades entre 20 e 40 anos. O interesse
por este grupo de trabalhadores (mecânicos) se deu devido
ao fato dos mesmos apresentarem atividades de sobrecarga, incluindo movimentos bruscos e repetitivos, exigindo
assim, esforços físicos exacerbados e adesão de posturas
inadequadas para a execução das mesmas.
Os exercícios eram basicamente de alongamento e relaxamento, seguindo os seguintes critérios: cada movimento
realizado tinha uma média de duração de 10 segundos
sendo executados de forma bilateral. Durante a realização
dos mesmos foram associados exercícios respiratórios,
induzidos por comandos verbais.
As atividades de ginástica laboral desenvolvidas com o
grupo selecionado englobaram alongamentos dos membros superiores, inferiores e tronco, enfatizando os grupos
musculares mais utilizados nas atividades diárias.
Cada grupo muscular recebeu um tipo de alongamento
por dia, onde as regiões da coluna cervical e tóracica-lombar receberam maior ênfase na diversidade dos exercícios,
por se tratar de um grupo muscular maior e por receberem
maior carga durante a jornada de trabalho.
A prática da ginástica laboral era realizada no local de
trabalho, no pátio da própria oficina, apresentando início
por volta das 08 horas e término as 8:15 hs, ou seja, com
duração aproximada de 15 minutos.
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Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
Durante a prática da ginástica laboral procurava-se orientar a maneira correta da execução dos exercícios realizando
correções quando necessário, além disso, ressaltando a importância de se manter uma boa postura durante a prática
do mesmo.
A variável utilizada foi a coleta de dados e informações
acerca do tema proposto por meio de fichas de avaliação
com questões objetivas e subjetivas, a fim de, verificar o
alívio das dores musculares, nível de relacionamento e
bem estar, satisfação com relação ao programa e melhora
do desempenho do trabalhador.
A idéia original da pesquisa de campo foi a implantação do projeto “Saúde e Qualidade de Vida na Empresa”
(SQVE), através da Ginástica Laboral Preparatória, sendo
realizada antes da jornada de trabalho, visando capacitar
o funcionário à pratica individual ou coletiva dos exercícios
ensinados.
Durante a execução de tais exercícios, utilizamos o recurso da musicoterapia a fim de transmitir ao grupo estímulos
sonoros que promovessem motivação e relaxamento na
execução dos mesmos.
Para auxiliar na estrutura do projeto SQVE, foram utilizados outros recursos, tais como: aparelho de som Aiwa,
câmera fotográfica Sony e balões de ar.
Os dados foram categorizados e processados eletronicamente, através do software Microsoft-Excel XP 2007.
O tratamento estatístico utilizado foi do tipo descritivo,
apresentados em forma de quadros e gráficos do tipo colunas, para caracterizar os benefícios da Ginástica laboral
frente às doenças ocupacionais e melhora na qualidade de
vida.
O protocolo do programa SQVE segue conforme o quadro abaixo:
Resultados
Baseado na revisão bibliográfica e resultados adquiridos
no presente estudo, ficou evidenciada a necessidade e a
importância de se conhecer melhor a maneira pela qual a
implantação de um programa ou sistema de pausas com
exercícios devem ser realizados nas organizações.
Inicialmente, constatamos através destes questionários
que 68% dos funcionários apresentaram dores corporais
nas últimas quatro semanas, antes da realização do programa, e que estas vieram a interferir nas atividades sociais,
laborais, bem como na saúde física dos mesmos.
Verificamos ainda que 93,33% dos trabalhadores participavam ativamente do programa de ginástica laboral,
enquanto apenas 6,66% não participavam regularmente. O
motivo, na maioria dos casos, foi a antecipação do horário
de expediente.
Nas questões referentes às dores corporais, pode-se
perceber, conforme o gráfico 2, que 88% sentiram alívio
das mesmas através do programa SQVE, enquanto12% relataram permanência do quadro álgico nas regiões: coluna,
pescoço, joelho, mãos e ombro.
De acordo com Nahas (2001), a dor é uma sensação
desagradável, que varia desde o desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se expressa através de uma reação
orgânica emocional.
Muitas vezes o indivíduo tem suas atividades de vida
diária limitadas pela presença de dor e incapacidade funcional, afetando a área social, profissional e psíquica.
Gráfico 2 – Gráfico das médias do questionário para alívio
das dores corporais
No que diz respeito à disposição de desenvolverem suas
atividades laborais, constatou-se que 96% sentiram-se
mais dispostos à desenvolvê-las, ao passo que, 4% não
evidenciaram nenhuma alteração (Gráfico 3).
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Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
Gráfico 3 – Gráfico da média das notas da disposição nas
atividades laborais.
Ao questionarmos acerca da melhoria do relacionamento interpessoal, verificou-se que 88% relataram que
essa melhora ocorreu, enquanto 12% não a observaram
(Gráfico 4).
Gráfico 6 – Gráfico das médias do questionário para a
divulgação do programa
Por fim, no que diz respeito à continuação da aplicação
da ginástica laboral na empresa, constatou-se que todos
os trabalhadores foram favoráveis. Já em relação ao número de vezes da aplicação da mesma, verificou-se que
48% dos participantes gostariam que a execução se desse
mais de três vezes por semana e 52% que mantivessem os
três dias (Gráfico 7).
Gráfico 4 – Gráfico da média da melhora no relacionamento interpessoal
Da amostra pesquisada 80% afirmaram que o programa
SQVE alterou seu estilo de vida e apenas 20% afirmaram
não ter alterado (Gráfico 5).
Gráfico 7 - Gráfico das médias da quantidade de dias
de execução do programa
Gráfico 5 – Gráfico das médias do questionário para influência do programa na qualidade de vida
De acordo com a coleta de informações (questionário)
podemos perceber que 76% haviam ensinado ou conversado com amigos e/ou familiares sobre algum exercício
ou conhecimento aprendido durante o programa SQVE,
desempenhando a função multiplicadora do projeto. 24%
dos participantes afirmaram não ter propagado as técnicas de ginástica laboral (Gráfico 6).
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Discussão
A organização do trabalho em muito tem contribuído
para amenizar as condições de trabalho, e a prevenção
de doenças músculo-esqueléticas. A implantação de
pausas durante a jornada de trabalho é uma medida importante permitindo descanso e recuperação muscular
do trabalhador durante a jornada de trabalho.
A Ginástica Laboral, portanto, vem sendo implantada
nas organizações com um sentido mais amplo do que o
de prevenir as doenças ocupacionais. Surge como um
programa de melhoria da qualidade de vida no trabalho
e também como agente motivador para a mudança do
estilo de vida das pessoas.
As condições de trabalho e a produtividade das empresas são o reflexo do estado de saúde de seus trabalhadores. Logo, a saúde e o trabalho precisam andar juntos.
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Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat
A ginástica laboral praticada de forma regular proporciona melhorias relevantes dessa valência física, tal fato
foi constatado no presente estudo onde houve uma melhoria significante nas dores corporais, relacionamento
interpessoal, bem estar físico e mental, disposição para
o trabalho.
Conclusão
Atualmente, em um país como o nosso, infelizmente,
as questões relacionadas com a adequação dos ambientes de trabalho ainda estão longe de ser realidade.
Existem bons exemplos de empresas e instituições que
oferecem a seus colaboradores melhores condições para
o trabalho, mas uma grande parte ainda persiste em
conduzir seus planejamentos baseados no que os trabalhadores podem produzir, não investindo em melhorias
para promover a qualidade de vida de seus funcionários.
Pensando nisso, o programa SQVE (Saúde e qualidade
de vida na empresa) além de promover os benefícios
através da realização dos exercícios visa capacitar os
funcionários tornando-os multiplicadores da ginástica
laboral.
O sedentarismo, má postura e os hábitos inadequados
de movimentação e postura de hoje poderão cobrar
juros crescentes no futuro. Portanto, investir na implantação de um programa de Ginástica laboral, é de grande
valia, considerando os seus benefícios.
Há um grande número de trabalhadores portadores de
Doenças ocupacionais e os empresários ainda investem
pouco em prevenção. A Ginástica Laboral pode ser considerada uma alternativa para o problema, pois é considerado um exercício físico eficaz para evitar a instalação
de doenças relacionadas ao trabalho e, assim, melhorar
a qualidade de vida do trabalhador.
É importante ressaltar que a ginástica, por si só, não
terá resultados significativos se não houver uma elaborada política de benefícios sociais, além de estudos
ergonômicos, da colaboração dos gerentes, dos técnicos
de segurança do trabalho, dos médicos ocupacionais e
dos profissionais de recursos humanos, fundamentando
a importância do trabalho multidisciplinar.
Desta forma, fica evidente a importância da atuação
da Fisioterapia no trabalho, com o propósito de melhorar
a qualidade de vida do trabalhador, com conseqüente
aumento do desempenho, produtividade e principalmente do bem estar.
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33
Qualidade de vida em
pacientes com dor lombar
crônica
Autores:
Elson Luiz Amaral e Silvana Maria Santos Pataro.
Contato:
[email protected]
Resumo
A lombalgia crônica é reconhecida como uma síndrome
incapacitante e caracteriza-se por dor que perdura após o
terceiro mês a contar do primeiro episódio de dor aguda
e pela gradativa instalação da incapacidade. O objetivo do
estudo foi identificar a influência da dor na qualidade de
vida e verificar as variáveis funcionais que poderão exercer
influência em pacientes com dor lombar crônica. A pesquisa foi realizada em um Hospital de Salvador/Ba, sendo
avaliados os pacientes que deram entrada no ambulatório,
onde foram aplicados os seguintes instrumentos: ficha de
avaliação; escala visual analógica; questionário SF-36. A
média dos resultados dos domínios do SF-36 foi: capacidade funcional 45,6; aspectos físicos 15,5; dor 42,7; estado
geral da saúde 54,7; vitalidade 59,3; aspectos sociais 45,8;
aspectos emocionais 11,4; saúde mental 51,5. Não houve
correlação significativa entre a variável IMC e as dimensões
do SF-36. Ficou evidenciado que os indivíduos com dor
lombar crônica apresentam diminuição na sua qualidade
de vida. Conclui-se que nos domínios físicos e emocionais
da avaliação da qualidade de vida há uma maior associação
destas com a dor lombar crônica, porém não estatisticamente significativa. Observou-se também uma maior
frequência de dor lombar crônica nos pacientes do sexo
feminino, com idade avançada, excesso de peso e que não
praticavam atividade física.
Palavras-chaves: Dor; Dor lombar crônica; Qualidade
de vida.
Abstract
The chronic low back pain is recognized as a disabling
syndrome and is characterized by pain that persists
after the third month of the first episode of acute pain
and a gradual installation of disability. The study was to
identify the influence of pain on quality of life and verify
the functional variables that may influence in patients
with chronic low back pain. The survey was conducted
in a hospital in Salvador, Bahia, evaluated patients who
were admitted to the clinic, applying the following
instruments: the evaluation form, visual analog scale,
SF-36. The results of the domains of the SF-36 were:
physical functioning has an average score of 45.6, 15.5
physical aspects, pain 42.7, general health 54.7, 59.3
vitality, social aspects 45.8; emotional 11.4, mental health 51.5. There was no significant correlation between
BMI and the variable dimensions of the SF-36. It was
evident that individuals with chronic low back pain
showed a decrease in their quality of life. It follows that
in the areas of physical and emotional assessment of
quality of life is greater associations with chronic back
pain, but not statistically significant. There was also a
higher frequency of chronic low back pain in female
patients with advanced age, overweight and physical
inactivity.
Key-words: Pain, Chronic back pain, quality of life
Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica
Introdução
A Sociedade Internacional para o Estudo da Dor (IASP)
definiu que a dor é uma experiência sensitiva emocional
desagradável relacionada à lesão tecidual, de cunho subjetivo, envolvendo mecanismos psíquicos, físicos e culturais
(Pedroso et al., 2006). Quando a dor se torna exarcebada
há um impacto direto na qualidade de vida dos indivíduos
(Minayo et al., 2000).
A dor lombar geralmente decorre de um conjunto de
causas que envolvem fatores sócio-demográficos (idade,
sexo, estado civil, escolaridade, renda mensal), comportamentais (sedentarismo, tabagismo), atividades ocupacionais que vão desde as que envolvem exposição a estímulos vibratórios prolongados, trabalhos braçais pesados,
ausências de condições ergonômicas adequadas e padrão
postural vicioso, movimentos repetitivos e até insatisfação no trabalho (Tsukimoto et al., 2006). A dor lombar
representa 30% das queixas reumáticas e a degeneração
discal, especialmente nos últimos discos (L4-L5 e L5-S1) é a
principal causa da dor lombar crônica (Cossermelli, 2000).
A dor lombar crônica é reconhecida como uma síndrome
incapacitante e caracteriza-se por dor que perdura após o
terceiro mês a contar do primeiro episódio de dor aguda
e pela gradativa instalação da incapacidade. Muitas vezes
tem início impreciso com períodos de melhora e piora.
Cerca de 80% da população em algum momento da sua
vida irá apresentar um episódio de dor lombar que gera
um alto custo no tratamento para o sistema de saúde e
previdência social, devido ao alto índice de afastamento
e incapacidade para o trabalho (Consenso Brasileiro sobre
Lombalgias e Lombociatalgias, 2000). Em média 10 milhões de brasileiros ficam incapacitados por causa da dor
lombar crônica (Teixeira, 1999).
Mais de um terço dos brasileiros afirmam que a dor
crônica compromete as atividades habituais e mais de três
quartos destes consideram que a dor crônica é limitante
para as atividades recreacionais e relações sociais e familiares causando incapacidade física e funcional (Lin et
al., 2003). Almeida et al.,2008 relata que a prevalência
de dor lombar crônica na população foi de 14,7%, com
maior freqüência entre ex-fumantes (19,7%), pessoas com
circunferência da cintura acima da normalidade (16,8%) e
com escolaridade baixa (17,4%) em relação com as demais
categorias.
A qualidade de vida no contexto da dor lombar crônica
representa o conjunto de condições que possibilitam
os indivíduos a desenvolver suas potencialidades para
trabalhar, viver, amar, sentir, produzir bens e serviços,
permitindo a sua inserção social e realização pessoal.
Entretanto a realização pessoal encontra-se prejudicada, e
afeta, também, as atividades da vida diária (Tsukimoto et
al., 2006; Minayo et al., 2000).
A qualidade de vida se refere a valores atribuídos a vida,
ponderados pelas deteriorizações funcionais. As percepções e condições sociais são causadas pelas enfermidades,
pelos agravos, pelos tratamentos (Minayo et al., 2000) e
diretamente influenciada pelo ambiente. A qualidade de
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vida pode ser compreendida como um conjunto de relações sociais, biológicas, culturais, econômicas, religiosas,
políticas e ecológicas, que formam um contexto que interage com o ser humano onde, a partir desta interação (ser
humano e ambiente), ambos podem ser modificados ou
transformados (Rufino Netto, 1994).
A dor crônica causa limitações como diminuições da
amplitude de movimento e da capacidade funcional, hipotrofia e fraqueza muscular por desuso e alterações de
origem psíquica, físicas e culturais (1º Consenso Brasileiro
sobre Lombalgias e Lombociatalgias). Diante das incapacidades e das disfunções osteomioarticulares causadas
pela dor lombar crônica, faz-se necessário à importância
de se aprofundar no fomento de pesquisas voltadas para a
promoção da qualidade de vida.
Portanto o objetivo deste estudo é identificar a influência da dor na qualidade de vida de pacientes com lombar
crônica.
Materiais e métodos
Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal
que foi realizado no período de junho a agosto de 2009
em um ambulatório de fisioterapia em ortopedia e traumatologia de um hospital privado localizado na cidade de
Salvador/Ba. Foram incluídos no estudo pacientes com dor
lombar com duração de no mínimo 3 meses. Os critérios
de exclusão foram pacientes que possuíam outras doenças
associadas à dor lombar crônica como as reumáticas e
aqueles submetidos a cirurgias da coluna.
Para coleta de dados foi realizada a análise de prontuários de pacientes que deram entrada no ambulatório. Logo
em seguida foi entregue ao paciente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após assinatura do TCLE,
o paciente respondeu os instrumentos que fazem parte da
pesquisa como ficha de avaliação, com finalidade de obter
as variáveis que caracterizem melhor a população como:
idade, sexo, estado civil, peso e altura; a Escala Visual Analógica para analisar o grau de intensidade da dor. Um dos
modos de representar a EVA é através de uma linha horizontal ou vertical de 10 cm, onde as extremidades definem
o mínimo (sem dor) e máximo (maior dor) da percepção da
dor. A marcação da linha é realizada pelo paciente para caracterizar a intensidade da dor e esta é transformada num
valor numérico para observações futuras; e o Questionário
SF-36 para Qualidade de vida formado por 36 itens, englobados em oito escalas ou domínios: capacidade funcional
(dez itens), aspectos físicos (quatro itens), dor (dois itens),
estado geral de saúde (cinco itens), vitalidade (quatro
itens), aspectos sociais (dois itens), aspectos emocionais
(três itens) e saúde mental (cinco itens). Cada um desses
componentes possui um escore, cuja pontuação varia de 0
a 100, sendo zero o pior estado de saúde e 100 o melhor
estado de saúde. As médias da pontuação dos componentes compõem a pontuação total.
Para análise dos dados foi utilizado o software Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows (versão
13.0). As características demográficas e clínicas dos pa35
Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica
cientes foram descritas como freqüências e porcentagens
para variáveis categóricas; os dados contínuos foram exibidos como medidas de tendência central e de dispersão.
O cálculo do coeficiente de correlação de Pearson foi
realizado para investigar associações entre as variáveis
contínuas investigadas, a intensidade da dor e a qualidade
de vida. O nível de significância estabelecido foi de 5%.
Resultados
A amostra foi composta por 29 pacientes, sendo 18 do
sexo feminino (62.1%) e 11 do sexo masculino (37.9%), a
média de idade da amostra foi de 48.7, variando de 24 a
74 anos, média de peso 76.7, média de altura 1,65. A média da variável índice de massa corpórea (IMC) foi de 27,9.
Dos pacientes avaliados 23 (79,3%) eram sedentários e 6
(20,7%) praticavam atividade física. Na avaliação da intensidade da dor pela escala visual analógica (EVA) obteve
uma média de 5,5 ± 2,02 conforme mostra na Tabela 1.
Na avaliação da intensidade dor, pela Escala Visual
Analógica de dor (EVA), 5 pacientes (17%) apresentaram
dor leve (1 a 3 na EVA), 13 pacientes (45%) referiram dor
moderada (4 a 6 na EVA) e 11 pacientes (38%) relataram
dor intensa (7 a 10 na EVA).
Quanto ao IMC, foi observado que 21 pacientes (72%)
estavam acima do peso ideal e foi constado que 8 pacientes (28%) tinham seu peso ideal.
Na análise do questionário Short Form Health Survey
(SF-36) observou-se que os domínios capacidade funcional obteve uma média de 45,6; aspectos físicos 15,5; dor
42,7; estado geral da saúde 54,7; vitalidade 59,3; aspectos sociais 45,8; aspectos emocionais 11,4; saúde mental
51,5 conforme mostra a Tabela 2.
Não houve correlação significativa entre a variável
IMC e as dimensões do SF-36. As correlações foram de
baixa magnitude para aspecto emocional (r= 0,28) e de
pequena correlação para capacidade funcional (r= -0,23);
aspectos físicos (r= 0,02); dor (r= 0,05); estado geral de
saúde (r= -0,20); vitalidade (r= -0,16); aspectos sociais
(r= 0,07); aspecto emocional (r= 0,28); saúde mental (r=
0,13). Quanto à intensidade da dor e as dimensões do SF36, não houve correlação estatística significante.
Discussão
No presente estudo não foi encontrada associação
estatística significativa entre intensidade da dor lombar
crônica e a qualidade de vida. No entanto a literatura tem
demonstrado que a dor exerce influência significativa na
qualidade de vida dos pacientes com dor lombar crônica (HASS et al., 2005; LAURSEN et al., 2005). WALSH e
RADCLIFFE et al. (2002). TAKAHASHI et al. (2006) consideram que as pessoas que relatam dor lombar mais intensa
apresentam maiores incapacidade e pior qualidade de
vida. No trabalho realizado por BINGEFORS e ISACSON et
al. (2004) destacou-se que a dor lombar crônica estava
significativamente associada a qualidade de vida mais
prejudicada.
36
Foi encontrada uma maior prevalência de dor lombar
no sexo feminino corroborando com os achados da literatura. De acordo com o estudo realizado por Silva et
al.(2004) em 3.182 indivíduos com dor lombar crônica foi
constatada relação estatística significativa entre o sexo
feminino e a dor lombar crônica. Além disso, Silva et al.
(2004) destacam que as mulheres apresentam características anatômicas (menor estatura, menor densidade óssea, menor massa muscular, articulações mais delicadas
e menos adaptadas ao esforço físico pesado, maior índice
de gordura) que podem contribuir para o desenvolvimento da dor lombar crônica.
Evidenciou-se maior freqüência de dor lombar crônica
nos pacientes com idade avançada. De acordo com Papageorgiou et al. (1995) a faixa de idade de elevado risco
para a dor lombar crônica foi entre 50 e 59 anos. Deyo
(1998) destaca que o maior risco nesta faixa etária pode
estar relacionado aos processos degenerativos avançados,
trazendo como conseqüência a deterioração das estruturas ósteomusculares. A maioria dos indivíduos nesta faixa
encontra-se, apesar de próximos da aposentadoria, ainda
trabalhando, o que não ocorre para a maioria dos sujeitos
acima desta faixa de idade.
A obesidade foi observada em 21/29 pacientes, e de
acordo com o estudo de DEYO e BASS (1989) com 10.404
sujeitos, este é um fator de risco que contribuiu fortemente para o aparecimento de dor lombar. Este dado pode
contribuir para a geração e perpetuação das dores nas
costas, dificultando o seu tratamento. Isso ocorre devido
à sobrecarga exercida pelo excesso de peso sobre as articulações da coluna vertebral. Silva et al (2004) refere que
a prevalência de dor lombar crônica aumenta linearmente
com o aumento do índice de massa corpórea.
Embora estudos apontem para a importância da prática
da atividade física como um fator de proteção contra o
aparecimento de incapacidade e melhoria da qualidade
de vida (MELLO et al., 2006; CURL, 2000; ROLIM e FORTI, 2004; ANTUNES et al., 2005; HILLSDON et al., 2005),
apenas (28%) dos pacientes exerciam qualquer atividade
física.
Conclusão
A dor lombar crônica esteve associada aos domínios
físicos e emocionais da avaliação da qualidade de vida,
porém sem significância estatística. Observou-se também
uma maior freqüência de dor lombar crônica nos pacientes do sexo feminino, com idade avançada, excesso de
peso e que não praticavam atividade física regular.
Tendo em vista o panorama da dor lombar crônica na
atualidade e sua influência sobre a qualidade de vida dos
indivíduos, tornam-se necessárias a adoção de medidas
preventivas e promotoras da saúde no âmbito da saúde
pública, assim como maiores estudos que avaliem a
associação entre qualidade de vida e dor crônica tendo
em vista que grande parte desta evolui para limitação e
incapacidade para o trabalho e atividades sociais.
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Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica
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37
Gestão na qualidade da
fisioterapia: Importância,
conceito e marketing
profissional
Autores:
Zenewton A. S. Gama & Pedro J. Saturno - Universidad de Murcia – Espanha
Autor para correspondência:
Zenewton A. S. Gama
E-mail: [email protected]
Endereço: Dep. Ciencias Sociosanitarias, Facultad de Medicina, Universidad de Murcia. 30100 ESPINARDO – MURCIA - SPAIN
“Quando a mente se expande para dar espaço a uma
idéia nova nunca recupera sua dimensão original”
A importância de corresponder às necessidades e
expectativas da população tem desafiado os fisioterapeutas a definir, avaliar e controlar a qualidade dos seus
serviços. No entanto, sem pretender ser exaustivos,
existem três grandes dificuldades que impedem que as
atividades de avaliação e melhoria contínua da qualidade ocupem o lugar que lhe corresponde na prática diária
dos serviços de fisioterapia em geral: (i) os aspectos
conceituais sobre o que realmente é a qualidade assis-
38
tencial; (ii) a compreensão e aplicabilidade na prática da
metodologia adequada; e (iii) a aceitação e o exercício
das responsabilidades sobre o tema por parte de todos
os implicados. Compreender e superar estes obstáculos
pode trazer uma série de benefícios para os fisioterapeutas, para os usuários dos seus serviços e para a própria
imagem da fisioterapia como profissão sanitária efetiva.
Com o objetivo de colaborar na superação deste desafio,
destacaremos neste artigo a importância da gestão da
qualidade e a primeira das barreiras, a saber, o real conceito do que consiste a qualidade assistencial.
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Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing profissional
Importância da qualidade assistencial
Atualmente, o interesse crescente pela qualidade
é destacado em todos os setores, inclusive no setor
da saúde. Um interesse que afeta, ademais, a todos
os implicados: pacientes ou população receptora
dos serviços, gestores e profissionais da saúde. A
população está mais bem informada, exigindo e reclamando cada vez mais sobre a qualidade dos serviços. Os gestores se perguntam: Com que se gasta
o dinheiro? Os serviços são necessários e úteis?
Têm boa ou má qualidade? Além disso, muitos deles sabem, ou escutaram dizer, que fazer as coisas
bem custa menos que fazer mal. Além do mais, os
fisioterapeutas têm uma preocupação intrínseca,
comum aos profissionais da saúde, mesmo que
seja somente por questões éticas, de corresponder
à confiança que os pacientes depositam neles; para
cumprir o compromisso científico relacionado às
práticas das ciências da saúde; e para manter a
competência profissional.
Nos últimos anos a qualidade assistencial tem
ocupado editoriais e séries de artigos especiais nas
revistas médicas de maior prestígio e difusão na comunidade médico-científica, como o New England
Journal of Medicine (série de artigos especiais publicados em 1996 y 1997), British Medical Journal
(1995) e JAMA (1997), culminando com a contundência dos relatórios publicados pelo Instituto de
Medicina dos Estados Unidos1,2,3. Em um grau
menor que na medicina e na enfermagem, já se começa a perceber a importância deste tema para a
fisioterapia. A revista americana Physical Therapy4,
a australiana Australian Journal of Physiotherapy5 e
a britânica Physiotherapy6 têm dedicado, na última
década, vários artigos que ressaltam a importância
de avaliar e melhorar a qualidade dos serviços de
fisioterapia. Por outro lado, apesar das conquistas
de espaço e autonomia da fisioterapia brasileira,
somente se encontrou um artigo sobre qualidade
assistencial nas revistas brasileiras de fisioterapia7.
É provável, inclusive, que o presente artigo seja o
primeiro texto especificamente sobre gestão da
qualidade na fisioterapia entre todas as revistas
destinadas a fisioterapeutas no Brasil (revisão realizada em novembro de 2008 em Scielo, Lilacs e
páginas de internet de revistas de fisioterapia no
Brasil). Neste sentido, esperamos que fosse um
instrumento útil para despertar o interesse e sensibilizar nossos colegas sobre esta importante causa.
Por toda a relevância da qualidade dos serviços
de saúde e pelos prováveis benefícios que pode
trazer a valorização dos fisioterapeutas como classe profissional, estes profissionais devem ser os
primeiros a hastear e defender a bandeira da qualidade. Assim, é provável que consigamos consolidar
nosso espaço no serviço público e privado, além de
outras áreas que, por diversos motivos, entram em
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
conflito ideológico com outros profissionais.
Aspectos conceituais
A qualidade é sem sombra de dúvidas multidimensional. Como consequência, é muito fácil
cair em conceitos enviesados para uma ou outra
dimensão; principalmente porque, segundo o papel desempenhado nos serviços de saúde, existe
a tendência de maximizar alguns dos aspectos, às
vezes, por simples ignorância ou até por desprezo
a outras dimensões. Por exemplo, dos muitos
esquemas que existem para descrever as diversas
dimensões ou aspectos da qualidade, um dos mais
simples e objetivos é o que propõe três dimensões:
qualidade técnico-científica (também chamada de
competência profissional); acessibilidade (em referencia às barreiras físicas, organizativas, culturais
etc., que possam existir na obtenção da assistência
necessária); e satisfação. É notória uma tendência
do pessoal sanitário a minimizar a importância da
acessibilidade e (mais ainda) a satisfação do paciente. É tão grande o viés tecnicista que, às vezes,
se chega a argumentar incompatibilidades entre
estas dimensões. Obviamente a assistência clínica
não é de qualidade se não se faz o correto ao ponto
de vista técnico-científico, mas tampouco é se não
trata o paciente de forma humana, chegando a maltratar como pessoa, sem conseguir que entenda,
coopere e esteja satisfeito com a atenção recebida.
Uma assistência sanitária é de qualidade se consegue pontuar alto em todas as suas dimensões. Os
provedores de serviços devem preocupar-se com
a boa atuação em todas as dimensões, e supostamente, procurar melhorar naquela dimensão que
está deficiente. Enquanto não se entenda e assuma
este conceito integral do que é uma assistência de
qualidade, não estamos em condições de geri-la
adequadamente.
Enfocando estas dimensões, é possível medir a
qualidade dos serviços de fisioterapia mediante
indicadores de estrutura, processo e resultado5,
ou seja:
Estrutura se refere a tudo o que temos para a
provisão do serviço, isto é, recursos físicos, equipamento, financiamento, pessoal (número e qualificação), e a forma em que estes estão organizados.
Processo é tudo o que o provedor faz para o usuário, e também o que o usuário faz como consequência das atividades dos provedores. Os processos
utilizam a estrutura de uma determinada maneira;
é o que se faz.
Resultado é o que se consegue com os processos,
ou seja, o que incide na função física, satisfação
e no nível de saúde em sentido mais amplo, dos
serviços oferecidos. Resultado é o que acontece ao
executar os processos. Em fisioterapia, os resultados podem estar relacionados principalmente com:
39
Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing profissional
(i) Resultados clínico-fisiológicos: sinais e sintomas, como dor, parâmetros de análises clínicos,
exames complementares, complicações, mortalidade, etc.
(ii) Resultados funcionais: aqueles que repercutem na capacidade funcional do paciente, tais
como: amplitude de movimento, marcha, força, relacionados com atividades da vida diária (trabalho,
sono, grau de independência etc.), e qualidade de
vida em geral.
(iii)Satisfação.
Os três tipos de indicadores (estrutura, processo
e resultado) são complementares entre si, por
exemplo, uma clínica bonita e cheia de aparelhos
novos e de última geração (boa estrutura) pode ter
um processo assistencial deficiente. Por outro lado,
sem estrutura, o fisioterapeuta pode estar limitado,
incapaz de prestar a melhor atenção disponível ao
seu paciente. Ambas as situações podem implicar
em resultados ruins.
A título de exemplo, a tabela 1 mostra alguns
aspectos desejáveis em um serviço de fisioterapia,
embora infelizmente, amiúde não estão presentes
em muitos de nossos serviços, sejam públicos ou
privados.
de atividade. Conclui-se, então, que a fisioterapia
brasileira deve aproveitar suas conquistas de espaço e autonomia para consolidar-se, começando
de uma vez a desenvolver atividades de avaliação
e melhoria contínua da qualidade em busca da
excelência.
Mas como? Um editorial do New England Journal
of Medicine perguntava: Somos capazes de praticar
a melhoria da qualidade assistencial que estamos
pregando?8 Para responder a esta pergunta, o próximo artigo desta série abordará os outros obstáculos para a implantação deste tipo de atividades:
os aspectos metodológicos, incluindo os diferentes
enfoques dos programas de gestão da qualidade
e a definição de a quem corresponde a responsabilidade de efetuar a melhoria dos serviços de
fisioterapia.
Referências bibliográficas
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care quality. Washington, National Academy Press.
1999
IOM. To err is human: Building a safer Health System. Washington, National Academy Press. 2000.
Gestão da qualidade e marketing profissional
Como vimos anteriormente, um programa de
gestão da qualidade tem o objetivo de tornar a
fisioterapia acessível a toda população e implantar
na prática as evidências científicas para satisfazer
as expectativas e necessidades dos nossos clientes.
Porém, também é possível que a médio prazo
melhore as condições laborais dos fisioterapeutas,
mediante uma espécie de marketing da própria
profissão. Segundo a American Marketing Association (AMA), uma definição resumida de marketing
pode ser: “Um conjunto de processos que envolvem a entrega de valor para os clientes, bem como
a administração do relacionamento com eles, de
modo que beneficie a organização e seu público
interessado”. Quando se investe na gestão e melhoria da qualidade para satisfazer nossos clientes,
damos início a um círculo virtuoso na direção do
reconhecimento profissional, que beneficia ao
profissional implicado, ao centro onde trabalha e à
própria fisioterapia como profissão (Figura 1). Isto
pode ser considerado uma espécie de marketing da
própria fisioterapia.
Por todas essas vantagens, controlar e melhorar
a qualidade da fisioterapia é entrar no caminho que
conduz à excelência profissional e que está intrinsecamente relacionado com o compromisso ético
assumido pelos profissionais da saúde. A gestão da
qualidade é benéfica para todos: gestores de centros de fisioterapia, pacientes e clínicos. Portanto,
não existem desculpas para não implantar este tipo
40
IOM. Crossing the quality chasm: a new health
system for the 21st century. Washington, National
Academy Press. 2001.
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348, 2681. 2003.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Análise Ergonômica do
Ambiente e das Condições
de Trabalho/Aula no
Laboratório de Anatomia
da Universidade do Vale do
Itajaí (SC)
Autores:
Luciana de Oliveira Gonçalves - Fisioterapeuta. Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí. Mestre em Engenharia de
Produção.
Aline Hansen de Souza - Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí.
Franciele Pavanello- Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí.
Universidade do Vale do Itajaí
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua João Bauer, 208 Apto. 301 Bl.B
Cep: 88310-300 Bairro: Centro Cidade: Itajaí (SC)
Resumo
A pesquisa foi realizada com 62 acadêmicos através de
entrevista, análise do mobiliário e observação das atividades no Laboratório de Anatomia. Os resultados da entrevista mostraram que 67,74% da população era composta
de mulheres e a idade média da amostra foi de 19 anos.
72,58% dos alunos sentem incômodo com o odor exalado
pelo formol. 57,63% refere dor na execução dos trabalhos
no Laboratório. 1,78% da amostra relata suas atividades
no Laboratório como estressantes. A carga estática é
presente para 72,13% dos acadêmicos. A permanência
prolongada de tempo sentado é referida por 94,83% da
população. A análise do mobiliário permitiu-nos constatar
riscos ergonômicos, como: bancadas inadequadas para
trabalho em pé e sentado, além de condições ambientais
impróprias causando desconforto aos alunos. Na observação percebemos que o mobiliário é inadequado sendo
adotadas posturas incorretas pelos indivíduos. A pesquisa
sugere mudanças no Laboratório a fim de dar mais conforto aos acadêmicos.
Palavras-chaves: Ergonomia. Análise ergonômica. Lombalgia.
42
Abstract:
The research was carried through with 62 academics
through interview, analysis of the furniture and comment
of the activities in the Laboratory of Anatomy. The results
of the interview had shown that 67.74% of the population
were composed of women and the average age of the
sample was of 19 years. 72.58% of the pupils feel bother
with the odor exhaled for formol. 57.63% relate pain in
the execution of the works in the Laboratory. 1.78% of
the sample tell its activities in the Laboratory as stressing.
The static load is present for 72,13% of the academics.
The drawn out permanence of seated time is related by
94,83% of the population. The analysis of the furniture
allow-in evidencing ergonomic risks to them, as: inadequate group of bencheses for work in seated foot and,
beyond improper ambient conditions causing discomfort
to the pupils. In the comment we perceive that the furniture is inadequate being adopted incorrect positions for
the individuals. The research suggests changes in the Laboratory in order to give more comfort to the academics.
Key-word: Ergonomics. Ergonomic analysis. Low back
pain.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
Introdução
A grande competitividade do mercado impôs a “otimização” do trabalho como forma de sucesso para pessoas
e organizações, e para aprimorar estas relações homemmáquina, surge de forma sistematizada na década de 40
a ergonomia (RIO et al, 2001).
Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia –
ABERGO (2005), a ergonomia é definida oficialmente
pela Associação Internacional de Ergonomia como “uma
disciplina científica relacionada ao entendimento das
interações entre os seres humanos e outros elementos
ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados
e métodos a projetos, a fim de otimizar o bem-estar
humano e o desempenho global do sistema”.
Durante a execução de uma tarefa o corpo humano
interage com os elementos de um sistema de trabalho
(máquinas e ferramentas) e por isso está sujeito aos
fatores ambientais presentes nos locais de trabalho.
Tais fatores ou influências são na maioria das vezes
maléficos e recebem a denominação de cargas. Estas
cargas obedecem à totalidade das influências impostas
pelo ambiente de trabalho sendo: influências físicas,
químicas, biológicas, organizacionais, sociais, psicoemocionais e econômicas. Estes fatores ambientais ou cargas
exercem efeitos diferenciados sobre cada pessoa (RIO et
al., 2001).
Mediante tais considerações, esta pesquisa busca realizar a análise ergonômica do Laboratório de Anatomia da
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). O trabalho foi
realizado com 62 alunos, sendo os dados coletados em
outubro e novembro de 2006 através de uma entrevista,
uma análise do mobiliário e uma observação dos acadêmicos no momento em que realizavam suas atividades
de trabalho/aula no Laboratório. Os objetivos traçados
foram: analisar o ambiente e as condições de trabalho
às quais estão expostos os alunos nesse laboratório, a
partir da percepção destes e sob aspecto ergonômico;
apontar os principais riscos ergonômicos envolvidos nas
atividades trabalho/aula no laboratório de anatomia;
traçar diretrizes para construção de um plano de ação
preventiva a partir dos riscos detectados, pois se percebe a solicitação física e postural exigida dos usuários
durante as atividades de trabalho e estudo neste local.
Referencial teórico
Coluna vertebral
Da base do crânio ao sacro, a coluna vertebral é constituída por trinta e três peças denominadas vértebras e
estas estão divididas em sete cervicais, doze torácicas,
cinco lombares, cinco sacrais e quatro coccígeas (KAPANDJI, 2000).
A coluna vertebral constitui o eixo principal do corpo,
pois dá a característica ereta ao ser humano. De acordo
com Kapandji (2000) a coluna vertebral deve conciliar a
rigidez com a flexibilidade. A rigidez garante a sustentação do corpo possibilitando a posição ortostática e a
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flexibilidade permite a sua mobilidade (COUTO, 1995a).
Segundo Deliberato (2002), as funções da coluna
vertebral se caracterizam: 1) proteger a medula espinhal
contida no canal vertebral; 2) fornecer movimentos as
diversas partes do tronco; 3) servir de ponto de fixação
de músculos; 4) possibilitar a fixação e a mobilidade
da cabeça; e 5) suportar uma grande parte do peso do
corpo, transmitindo-o aos ossos do quadril.
Como visto anteriormente, a coluna vertebral é a
estrutura que garante a mobilidade do tronco, através
dos movimentos de flexão, extensão, inclinação para a
direita e para a esquerda e rotações para ambos os lados
(COUTO,1995a; KAPANDJI,2000).
As relações então existentes entre duas vértebras são
estabelecidas por meio do disco intervertebral e por
ligamentos (KAPANDJI, 2000; RIO et al, 2001). O disco
intervertebral tem a função de absorver impactos e
proporcionar mobilidade às vértebras adjacentes (DELIBERATO, 2002).
Por ser a coluna vertebral a estrutura responsável
pelo amortecimento de cargas, ela se apresenta como
sendo uma das mais freqüentes causas de afastamento
do trabalho levando ao comprometimento da qualidade
de vida de um grande número de pessoas (BAÚ, 2002).
-Lombalgias:
Couto (1995a) define lombalgia simplesmente como
dor na região lombar que, devido à complexidade das
estruturas ali existentes não é fácil precisar exatamente
qual ou quais estruturas são causadoras da algia lombar.
Dentre os fatores mais comuns que contribuem para o
surgimento das lombalgias pode-se citar a insuficiência
muscular, traumas e microtraumas, posição ortostática
por tempo prolongado, envelhecimento, estresse psíquico, manuseio incorreto de cargas, manutenção de
posturas incorretas (RIO et al, 2001; COUTO, 1995a).
Mediante a estes e outros inúmeros fatores as lombalgias podem ser classificadas em diferentes tipos: de
origem músculo-ligamentar; de origem no sistema de
mobilidade e estabilidade da coluna; de origem no disco
intervertebral e de origens psíquicas (COUTO, 1995a).
As lombalgias ainda podem ser relacionadas pela frequência em que ocorrem sendo em primeiro lugar por
torção da coluna lombar, distensão músculo-ligamentar,
fadiga e, por último, protusão discal do núcleo pulposo,
este sendo considerado um dos fatores mais graves
(COUTO, 1995a).
As algias conseqüentes de fadiga são muito comuns
e podem surgir quando o indivíduo trabalha muito
inclinado a frente, quando ele deve atingir as mãos no
chão sem poder agachar-se, quando a pessoa esta de
pé e deve abaixar-se para atingir seu objetivo ou para
carregar pesos, quando o indivíduo trabalha em mesa
excessivamente alta. (COUTO, 1995a).
A fadiga muscular é caracterizada como a diminuição
do desempenho do músculo após trabalho prolongado, nesta situação a altura de levantamento de pesos
diminui e a contração e o relaxamento ocorrem mais
43
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
lentamente. Esse quadro acarreta dor uma vez que o
músculo que está sempre contraído não tem o momento
de relaxamento necessário para restaurar suas energias,
assim vão acumulando-se resíduos metabólicos, pois o
aporte sanguíneo também fica comprometido e o tecido
sofre um desequilíbrio metabólico formando ácido lático
e dióxido de carbono que tornam o músculo mais ácido
(KROEMER et al, 2005).
Um estudo realizado por Souza et alli (2005) mostra a
incidência de lombalgia entre os acadêmicos do Curso de
Fisioterapia do Centro Universitário Luterano de Palmas /
Universidade Luterana do Brasil (CEULP/ULBRA). Dos 102
acadêmicos da amostra da pesquisa, 58% eram afetados
pela patologia, sendo os dois maiores responsáveis por
essa alta incidência a postura incorreta adotada pelos
acadêmicos e o mobiliário fora dos padrões ergonômicos
utilizado por eles.
A fisioterapia é muito importante na realização de
trabalhos relacionados à saúde do trabalhador, por
estar envolvida e obter o conhecimento dos princípios
da biomecânica ocupacional, patologias do trabalho e
ergonomia (BAÚ, 2002).
Membros superiores
Couto (2002) compara os membros superiores a uma
ferramenta universal, sendo estruturas polivalentes,
entretanto frágeis considerando-os um arranjo biomecânico de alta complexidade que pode realizar movimentos
de altíssima precisão que até hoje não puderam ser encenados por sistemas mecânicos de última geração.
Desde a evolução do homem para a postura bípede,
o membro superior obteve um grande grau de liberdade
para movimento. Entre o tronco e a mão há algumas articulações bastante móveis e um eficiente sistema de alavancas. Esse conjunto permite à mão realizar suas tarefas
com precisão, força e delicadeza em qualquer espaço que
esteja a seu alcance (PALASTANGA et alli, 2000).
Smith et alli (1997) dividem os membros superiores
em: complexo do ombro, cotovelo e antebraço, punho e
mão. Régis Filho et alli (2005) complementam detalhando, ainda, a ligação dos membros superiores ao tronco
através da cintura escapular constituída pelas escápulas
e clavículas, de forma que estas últimas estão, ainda,
articuladas com o manúbrio do esterno através de suas
porções mais mediais.
- Patologias relacionadas aos membros superiores:
Nos últimos quinze anos pudemos perceber uma
explosão epidêmica das lesões de membros superiores
por sobrecarga funcional, mais comumente chamadas
de L.E.R. (Lesões por Esforços Repetitivos) / D.O.R.T.
(Distúrbios Osteomioarticulares Relacionados ao Trabalho). Com a evolução de muitas formas de trabalho e
desenvolvimento de tarefas e atividades que não exijam
tanto do sistema músculo-esquelético e em especial a
força muscular, o trabalho nos dias atuais é com frequência executado com maior velocidade, regularidade e
concentração em determinado segmento. Esse conjunto
causa microtrauma cumulativo que enfraquece as estru44
turas e degenera os tecidos adjacentes (COUTO, 1998;
SAKATA et al, 2003).
Sakata (2001) define a L.E.R. como uma alteração
músculo-esquelética por uso repetido ou manutenção
de uma postura incorreta, sendo reversível quando diagnosticada precocemente e podendo tornar-se crônica de
forma grave e irreversível.
As estruturas mais atingidas pelas L.E.R./D.O.R.T. são
tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos
tendo todas estas estruturas funções de extrema importância como transmitir cargas, transformar energia para
realização de movimentos, transmitir impulsos elétricos
e estabilizar articulações. Como a L.E.R./D.O.R.T., geralmente, acomete uma ou mais dessas estruturas toda
a função de membros superiores fica comprometida
(COUTO,1998).
Ergonomia
A ergonomia é conceituada pela Associação Brasileira
de Ergonomia (ABERGO) em 1998, como: “a disciplina
científica que trata da compreensão das interações entre
o homem a outros elementos de um sistema, e a área
de conhecimento que aplica teorias, princípios, dados e
métodos, a projetos que visam o bem estar humano e o
desempenho dos sistemas”. No presente estudo a ênfase
foi dada à ergonomia física que enfoca a interação do
homem com seu ambiente de trabalho.
- Posturas de trabalho:
A postura pode ser considerada como elemento principal da atividade do homem. Ela não é só um meio para
realizar uma atividade, mas também um meio de expressão e comunicação, é depende dos elementos externos
(tarefa a realizar e condições para ser realizada), e também dos elementos internos (estado geral do indivíduo;
estado físico, mental e emocional; sua experiência e suas
características antropométricas) (MORAES et al, 1998).
- Postura sentada:
Para Kroemer et al, (2005), ao mesmo tempo em
que essa postura tira o peso das pernas, estabiliza a
postura superiormente, reduz o consumo de energia e a
demanda da circulação, ela causa flacidez dos músculos
abdominais, o encurvamento da coluna vertebral (gerando um desfavorecimento para os órgãos digestivos e
respiratórios), fadiga dos músculos das costas e gera uma
sobrecarga nos discos intervertebrais, levando a vários
problemas como as lombalgias.
Para a redução dessas desvantagens e para que uma
postura sentada
“ideal” seja adquirida, deve-se analisar o tipo de
trabalho que é desenvolvido nesta posição e impor
certas exigências (RIO et al, 2001). Na atividade de ler
e escrever, Kroemer et al., (2005) relatam que o tronco
inclinado para frente com os braços apoiados sobre a
mesa torna-se uma postura cansativa.
A medida mínima da altura da mesa, segundo Kroemer
et al., (2005), é a soma da distância do chão à parte superior do joelho, com indivíduo sentado formando 90o
nas articulações do quadril, joelho e tornozelo, da espeswww.rbft.com.br
Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
sura do tampo da mesa e de mais 19 cm que é altura de
conforto para a movimentação das pernas. Para Couto
(1995a), estas mesas ainda deveriam ser de bordas anteriores arredondadas e tampos com alturas reguláveis
(assim se tornaria adaptável para qualquer indivíduo).
Iida (1990), Dul et al, (1995) e Kroemer et al, (2005)
afirmam que no caso do assento, este deveria ter bordo anterior arredondado, apresentar altura da base e
encosto reguláveis em movimentos contínuos e suaves,
encosto que permita inclinação da coluna para trás, inclinação de 105o a 110o em relação à base, para que as
nádegas não deslizem para frente, juntamente com um
estofamento pouco espesso e que não se deforme com
o peso do corpo sobre uma base rígida, para ajudar na
distribuição da pressão que o corpo realiza estabilidade
do mesmo, na redução da fadiga e desconforto e no
aumento do relaxamento.
Para Kroemer et al, (2005) as medidas ideais para a
cadeira são: a distância do chão à parte inferior do joelho (fossa poplítea) com o indivíduo sentado formando
um ângulo reto nas articulações do quadril, joelho e
tornozelo,o que corresponde à altura ideal do assento e
a superfície deste deve ter 40 a 45 cm de largura e 38 a
42 cm de profundidade.
- Postura semi-sentada:
Rio et al, (2001) relatam que em algumas situações
tem sido proposta a postura semi-sentada. Entretanto,
essa postura não deve ser a única durante toda uma
jornada de trabalho, mas pode ser uma alternativa a ser
utilizada em certos períodos.
-Execução de atividades em pé:
Trabalhos que exijam certa frequência de deslocamentos da área de trabalho ou necessidade de aplicação de
força é recomendada, segundo Dul et al (1995), a posição
em pé para a execução da tarefa.
Nascimento et al (2000) relatam que se a área de trabalho é muito alta, os ombros geralmente permanecem
elevados gerando contrações musculares dolorosas em
nível de escápulas e coluna vertebral. Já, o contrário, se a
área é muito baixa, a coluna vertebral acaba se sobrecarregando pelo excesso de curvatura do tronco, causando
dores nessa região.
Então para que nenhuma postura incorreta seja adotada, Kroemer et al, (2005) descrevem a altura necessária
de uma bancada para o trabalho de pé: quando o trabalho é delicado, é desejável apoio para os cotovelos,
aliviando a carga estática, e a altura ideal da bancada é
de 5 a 10 cm abaixo da altura do cotovelo (distância do
chão à parte inferior do cotovelo em ângulo reto com o
braço na vertical); na necessidade do uso de ferramentas
ou qualquer outro tipo de materiais no trabalho manual,
a altura adequada é de 10 a 15 cm abaixo do cotovelo,
quando há emprego de força o ideal é que a bancada
seja mais baixa, sua altura deve ficar entre 15 a 40 cm da
altura do cotovelo. Os autores ainda afirmam que deve
ser evitada a elevação das mãos e cotovelos acima do
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nível dos ombros, se esta postura for inevitável, deve
ser mantida por pouco tempo e há a necessidade de
descanso.
Caso não seja possível o ajuste das bancadas como
descrito anteriormente, Kroemer et al, (2005) relatam
que a altura dessas deve ser determinada de acordo com
as mensurações das pessoas altas, pois as baixas compensam a altura com o uso de plataformas sob os pés.
- Trabalho estático:
O trabalho muscular estático, segundo Iida (1990)
corresponde àquele que exige contração prolongada dos
músculos, com o intuito de manter uma posição.
Neste tipo de trabalho, a musculatura não altera seu
comprimento e é mantido em um estado de alta tensão,
produzindo força durante todo o período de esforço,
porém, nenhum trabalho é externamente visível sendo
que, internamente, há diminuição da irrigação sanguínea
que é inversamente proporcional à quantidade de força
exercida (KROEMER et al, 2005).
As situações de esforços estáticos mais comuns, segundo Couto (1995a) são: trabalhar com o tronco fora do
eixo natural, sustentar cargas com os braços, sustentar
o peso do corpo somente com uma das pernas, braços
estendidos acima do nível dos ombros ou abduzidos sustentados por longo período, manusear cargas pesadas,
trabalhar sentado sem apoio para as costas, trabalhar
sem apoio para os antebraços tendo que sustentá-los e
trabalhar na posição ortostática, parado.
-Condições ambientais:
A Norma Regulamentadora sobre Ergonomia – NR17
preceitua condições especiais de conforto térmico, visual, acústico, e vibratório para o trabalho em locais de
solicitação intelectual e atenção constante, tais como:
laboratórios, escritórios, ou análise de projetos (COUTO,
1995a).
É sabido que a maioria dos laboratórios de anatomia
faz uso do formol como forma de conservação de cadáveres. O nome químico é formaldeído a 37%, um líquido
claro e combustível (INCA,2007).
Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA (2007),
4 instituições internacionais de pesquisa comprovaram
o potencial carcinogênico do formaldeído, conhecido
popularmente como formol: a Agência Internacional de
Pesquisa em Câncer em 1995, a Agência de Proteção
Ambiental dos EUA, a Associação de Saúde e Segurança
Ocupacional dos EUA e o Programa Nacional de Toxicologia dos EUA. O instituto informa ainda que o formol
é tóxico quando ingerido, inalado e quando entra em
contato com a pele, sendo que em concentrações de 20
ppm (partes por milhão) no ar causa irritação imediata
dos olhos. A partir de 0,8 ppm de formol no ambiente já
é possível sentir o cheiro forte característico do produto
(INCA,2007).
Informações sobre risco e segurança quanto ao uso do
formol devem constar em placas de segurança visíveis
(TOXICLIN®CONSULTORIA E SERVIÇOS MÉDICOS, 2002).
45
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
Metodologia
A presente pesquisa foi desenvolvida no Laboratório
de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí. A população alvo foi de 62 alunos, de ambos os sexos, 32 do
primeiro período do curso de Fisioterapia e 30 do segundo período do Curso de Odontologia, com carga horária
de 8 horas/aula cada. Essa amostra foi intencional, visto
que esses estão entre os cursos com maior carga horária
nessa disciplina da área da saúde na Universidade.
Os recursos utilizados para a coleta dos dados foram:
1º) Aplicação de questionário aos alunos para caracterização da população e sua percepção quanto aos fatores
ocupacionais, ambientais, ergonômicos e biomecânicos
envolvidos durante as atividades de trabalho/aula no
Laboratório de Anatomia.
2º) Análise do mobiliário de trabalho/estudo com
mensurações simples utilizando fita métrica a fim de
quantificar certos elementos da situação de trabalho e
suas possíveis repercussões sobre os trabalhadores.
3º) A observação da atividade de trabalho/aula foi realizada, a fim de descrever a atividade de trabalho/aula,
os meios utilizados, as principais dificuldades constadas
e posturas de trabalho/aula assumidas pelo estudante.
Resultados e discussão
- Entrevista
Foi possível caracterizar a população estudada através
da entrevista. A maioria era do sexo feminino (67,74%),
com idade média de 19 anos, altura média de 168,21cm
e peso médio de 61,14cm.
Para realizar suas atividades da maneira adequada
e com segurança no Laboratório os acadêmicos fazem
uso de certos instrumentos como ilustrado pelo gráfico
abaixo.
Para prevenção de acidentes de trabalho, neste caso
também considerado o estudo, sabe-se que a utilização
de Equipamento de Proteção Individual – EPI é de grande
importância na prevenção de riscos biológicos e químicos
envolvidos no “trabalho” dos acadêmicos. Considera-se
EPI, todo dispositivo de uso individual utilizado pelo trabalhador, neste caso o estudante, destinado à proteção
de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde
no trabalho. No caso de permanência em Laboratório
de Anatomia, alguns EPIs são de uso obrigatório como
46
jalecos com mangas compridas, luvas, máscaras, óculos
e sapatos fechados (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – NR-6).
Quanto aos sintomas devido à exposição prolongada
dos acadêmicos ao formol, 53,66% dos indivíduos relataram ardência nos olhos e/ou nariz como repercussão
do odor; dor de cabeça em 14,63% dos alunos; náuseas
e dor de cabeça somam 7,32% das queixas dos acadêmicos; desconforto de origem músculo-esquelética de
um modo geral em 4,88%, sintomas de rinite em 4,88%
dos casos; ardência nos olhos e garganta para 4,88%
dos acadêmicos; náuseas apenas em 4,88%; tontura,
ardência nos olhos juntamente com náusea afeta 2,44%
e mal-estar em 2,44% dos acadêmicos.
Conforme o Ministério do Trabalho e Emprego (1995
apud TOXICLIN®CONSULTORIA E SERVIÇOS MÉDICOS,
2002), o limite de exposição ocupacional seria de 1,6
ppm (partes por milhão).
Os sintomas mais comuns no caso de inalação são
fortes dores de cabeça, tosse, falta de ar, vertigem,
dificuldade para respirar, edema pulmonar, irritação do
trato respiratório. Essas situações são bastante comuns
nos laboratórios de anatomia que têm apontado níveis
entre 0,07 e 2,94 ppm (partes por milhão) sendo que
com 0,8 ppm o indivíduo começa a sentir o cheiro forte,
de 1 a 2 ppm há irritação leve, de 2 a 3 ppm os olhos
ficam irritados juntamente com nariz e garganta, de
4 a 5 ppm há um aumento da irritação de membranas
mucosas, lacrimejação e podem ocorrer náuseas, de 10
a 20 ppm há lacrimejação abundante, severa sensação
de queimação e tosse, de 50 a 100ppm danos severos no
trato respiratório em 5 a 10 minutos de exposição (INCA,
2007).
Quanto ao estresse, 38,71% dos acadêmicos afirmam
estarem estressados; 54,84% negam estresse e 6,45%
sente-se sob estresse apenas em alguns momentos.
Rio et al (2001) caracterizam o estresse como um conjunto de respostas que o organismo humano pode ter
diante de estímulos e o corpo percebe esses estímulos
como pressões que o levam a adaptações acarretando
um meio adequado de reação a fim de preservar nossa
integridade, equilíbrio e vida. Por outro lado, esses mecanismos tornam o organismo tenso e num estado de
constante alerta, principalmente o estresse agudo, que
dura pouco tempo (minutos, horas ou poucos dias), mas
que já altera a homeostase do organismo levando a um
aumento da pressão arterial, da freqüência cardíaca, da
concentração de glicose e adrenalina no sangue tornado
as ondas cerebrais mais rápidas e irregulares gerando
contrações musculares que caracterizam a reação de
lutar ou fugir.
Quanto aos movimentos realizados, 72,13% referem
aplicação de carga estática principalmente envolvendo
coluna vertebral, cintura escapular e membros superiores.
Segundo Kroemer et al, (2005), durante um grande
esforço estático, a irrigação sanguínea no músculo
fica insuficiente obrigando o músculo a trabalhar em
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
sistema anaeróbio, formando ácido lático, que não é
removido, acumulando-se e causando a fadiga precoce.
Por outro lado, no esforço dinâmico o músculo recebe
grande aporte sanguíneo, com a chegada de nutrientes
enquanto os resíduos são removidos, e se realizado com
um ritmo adequado, é suportado por um longo período
sem fadiga.
Somente 31,15% dos acadêmicos referem ter que realizar força durante a execução de movimentos durante o
estudo. Dul et al (1995) relatam que os movimentos que
exigem força podem causar tensões mecânicas localizadas que com o tempo acabam causando dores e exigindo
muita energia sobrecarregando os músculos.
Os movimentos mais executados durante o período
de estudo no laboratório são ler e escrever para 50%
dos acadêmicos, utilização das mãos e braços durante
o estudo para 38%, movimentos mais executados com
as pernas em 4% dos casos, mesmo resultado para
movimentos com as mãos e coluna vertebral, 2% para
atividades em pé e sentado e para os últimos 2 % o mais
executado é sentar e escrever.
Quanto à presença de dor durante a realização do
movimento, os resultados estão expressos no gráfico a
seguir.
Couto (1995b) menciona que em trabalhos que utilizam os membros superiores, a tensão excessiva pode
aumentar a incidência de LER e traumas cumulativos
(pelo esforço estático). Isto porque, quando tensos, os
músculos têm seu suprimento sanguíneo comprometido
e acúmulo de ácido lático em seu interior, o qual é um
potente irritante das terminações nervosas de dor.
A postura envolvida durante a maior parte do período de estudo, relatada pelos acadêmicos foi sentada
(94,83%). Somente 3,45% dizem alternar posturas de pé
e sentada durante as atividades e 1,72% referiu ficar a
maior parte do tempo de pé.
Klein (2006) descreve que a posição sentada é a posição que gera maior pressão nos discos intervertebrais
e a flexão de tronco sem apoio é a que mais favorece
esse aumento. É importante ressaltar que a rotação e
inclinação do tronco criam maior estresse nesse disco. A
manutenção de vícios posturais pode levar a alterações
das curvaturas naturais da coluna vertebral gerando
grande desconforto. Comprovando então o resultado da
nossa amostra, a qual relata que o segmento corporal
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mais afetado, de acordo com 83,93% dos alunos, foi a
coluna vertebral, e 16,07% relatam a coluna juntamente
com os membros superiores.
-Análise do mobiliário
O mobiliário considerado adequado deve permitir
ao indivíduo a regulagem de acordo com as medidas
antropométricas do mesmo, deixando livre, também,
a alternância de posturas, pois não existe postura fixa
que proporcione conforto (MINISTÉRIO DO TRABALHO E
EMPREGO, 2002).
Kroemer et al, (2005) concluem que para uma análise
ergonômica, as mensurações antropométricas e a análise da atividade são essenciais de forma a proporcionar
conforto e evitar posturas viciosas.
Na posição de trabalho/estudo em pé, a distância
cotovelo-solo teve média 108cm (p= 5,44cm). Já o acadêmico sentado com 90º de flexão da articulação coxofemoral, 90º de flexão de joelho e a articulação do tornozelo também a 90º, foi possível mensurar a distância do
joelho (base patelar-solo) com os pés apoiados no chão,
sendo a média encontrada de 57cm e desvio padrão de
3,35cm e, ainda, foi possível a mensuração, também,
da distância do joelho (fossa poplítea)-solo com os pés
apoiados no chão onde obtivemos uma média de 45cm
e desvio padrão de 3,31cm. Segundo Rio e Pires (2001)
essas medidas são de grande utilidade para determinar
a altura adequada da cadeira a ser utilizada no trabalho.
Essas medidas são essenciais para que se determine a
altura das bancadas e a altura das cadeiras. No caso de
trabalho delicado, é desejável apoio para os cotovelos,
aliviando a carga estática, e a altura ideal da bancada é
de 5 a 10 cm abaixo da altura do cotovelo (distância do
chão à parte inferior do cotovelo em ângulo reto com o
braço na vertical); na necessidade do uso de ferramentas
ou qualquer outro tipo de materiais no trabalho manual,
a altura adequada é de 10 a 15 cm abaixo do cotovelo;
quando há emprego de força o ideal é que a bancada
seja mais baixa, sua altura deve ficar entre 15 a 40 cm da
altura do cotovelo (KROEMER et al, 2005).
Para trabalho sentado, a medida mínima da altura
da mesa, segundo Kroemer et al., (2005), é a soma da
distância do chão à parte superior do joelho, com indivíduo sentado formando 90o nas articulações do quadril,
joelho e tornozelo, da espessura do tampo da mesa e de
19cm que é altura de conforto para a movimentação das
pernas.
A distância do cotovelo ao dedo médio de cada indivíduo da amostra utilizada para esta pesquisa ficou,
em média, 44cm com desvio padrão de 2,77cm. Essa
distância foi medida com o acadêmico de pé, ombro em
posição neutra, cotovelo fletido a 90 º e a mão alinhada
com o antebraço que permaneceu pronado durante a
mensuração.
A distância do ombro ao dedo médio foi de 71cm
com o desvio padrão de 3,64cm. Para a mensuração o
acadêmico ficava em posição ortostática com o ombro
em flexão de 90º, cotovelo estendido e a mão alinhada
47
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
com o antebraço que permanecia pronado durante o
procedimento de medida.
O espaço que as mãos e braços necessitam para alcance e movimentação é importante para a organização das
tarefas do local de trabalho. Para tanto, são realizadas
as mensurações da distância do ombro à ponta do dedo
médio e da distância do cotovelo à ponta do dedo médio,
conforme descrito no parágrafo anterior. Estas duas medidas correspondem, respectivamente, aos raios dos semicírculos formados pelo giro dos membros superiores
ao nível do ombro (área de alcance máximo) e aos raios
dos semicírculos formados pelos giros dos antebraços na
horizontal enquanto os braços permanecem na vertical
(área de alcance ótimo) (KROEMER et al, 2005; COUTO,
1995a).
Quanto às bancadas utilizadas pelos alunos obtivemos
uma média de 91cm de altura por 191cm de largura e
70cm de profundidade. A altura da base do tampo da
mesa até o apoio para os pés foi de 58cm de altura. As
mesas apresentavam quinas vivas, não tinham as bordas
anteriores arredondadas e o espaço para as pernas era
insuficiente. As alturas de bancada ideais para o Laboratório de Anatomia da UNIVALI no caso de trabalhos delicados seria entre 98cm e 103cm e para trabalhos com
uso de ferramentas ou outros tipos de materiais manuais
seria entre 93 e 98, sendo esses os tipos de atividades
mais realizadas pelos usuários do laboratório.
A média das medidas das banquetas utilizadas pelos
acadêmicos ficou: 63,5cm de altura por 27,25cm de
largura por 28,5cm de profundidade. A altura das cadeiras não é regulável, o bordo anterior é levemente
arredondado, não há apoio para lombar, nem para os
antebraços, sendo que o espaço para acomodar as nádegas é reduzido. O material que constitui as cadeiras é
madeira, sendo rígido e desconfortável para os usuários
do Laboratório.
No caso de realização de trabalho sentado no Laboratório de Anatomia da UNIVALI a medida ideal da mesa
para trabalho seria 79,65cm.
- Observação
Foi através da observação que pudemos constatar a
origem da dor lombar nos acadêmicos.
Observando os estudantes de Odontologia percebemos o manuseio de cargas pesadas e, também, o manuseio de cargas que, embora não sejam pesadas, estão em
posições biomecanicamente desfavoráveis.
Conforme Couto (1995a), o esforço excessivo da musculatura paravertebral para erguer ou manusear uma
carga muito pesada com o tronco fletido e/ou rodado,
quando realizado por pessoas sedentárias e/ou que não
possuem plena aptidão física para tal, pode acarretar dor
lombar por distensão músculo-ligamentar.
Tanto observando os acadêmicos de Odontologia
quanto os de Fisioterapia, contatamos a manutenção da
postura incorreta durante boa parte do tempo (inclusive sentado), sendo o trabalho realizado com o tronco
encurvado a frente, a presença de curvatura do tronco
48
para que as mãos alcançassem o objeto de estudo a
ser manuseado e essa mesma curvatura do corpo para
deslocar cargas.
Toda vez que o indivíduo sai da sua postura natural de
equilíbrio e inclina seu tronco a frente ou para os lados
de forma excessiva, a musculatura paravertebral atua
de forma constante para tentar evitar o desequilíbrio
causado pela alteração da postura causando dor e por
fadiga (COUTO, 1995a).
A fadiga da musculatura paravertebral aparece quando
o indivíduo trabalha sentado encurvado excessivamente
para frente. Essa inclinação pode ser causada por ausência de apoio dorsal, por impossibilidade de aproximar
o tronco da mesa para realização da atividade, quando
não é possível apoiar os cotovelos e/ou as mãos adequadamente, quando a pessoa deve trabalhar de pé ou
sentada com uma mesa muito alta ou, ainda, sentada e
com o assento da cadeira muito baixo (COUTO,1995a).
Os alunos do Curso de Odontologia manuseiam carga
com tronco fletido e com o tronco em flexão lateral ou
em rotação.
No ambiente de trabalho, o que mais causa protusão
intradiscal do núcleo pulposo são os movimentos de
pega ou manuseio de carga fletindo o tronco sem dobrar
os joelhos. Nesta situação o núcleo pulposo é empurrado
para trás podendo atingir o nervo sinovertebral gerando
lombalgia intensa.
Ao fim da análise da observação constatamos que o
principal fator causador de lombalgia tanto nos acadêmicos de Fisioterapia quanto nos de Odontologia é de
origem músculo-ligamentar por fadiga (principalmente
paravertebral), pois a má postura de tronco e membros
é evidente em todos os acadêmicos.
Conclusão
Foi realizada a análise ergonômica do Laboratório de
Anatomia da UNIVALI de forma que foram estudados
o ambiente e as condições de trabalho aos quais estão
expostos os alunos no Laboratório. Coletamos a percepção dos acadêmicos e todo o aspecto ergonômico
do ambiente, foi possível apontar os principais riscos
ergonômicos envolvidos nas atividades trabalho/aula no
laboratório de anatomia e traçar diretrizes para construção de um plano de ação preventiva a partir dos riscos
encontrados.
Os principais riscos ergonômicos envolvidos nas atividades de trabalho/aula encontrados no Laboratório
de Anatomia são: horas contínuas de trabalho sem
pausas; não uso de certos equipamentos de proteção
individual como máscaras e óculos; exposição prolongada do acadêmico ao formol em altas concentrações;
trabalho/estudo sob estresse; trabalho estático de
membros superiores e cintura escapular; movimentos
que exigem forca associados a má postura; movimentos
repetitivos; posição sentada prolongada em mobiliário
inadequado (mesas altas pra trabalho sentado e baixas
para o trabalho em pé); manuseio de cargas pesadas;
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC)
manuseio de cargas com o tronco fletido e/ou inclinado;
manuseio/pega de cargas em posição biomecanicamente desfavorável; postura incorreta do tronco por tempo
prolongado.
Um plano de ação preventiva poderá ser construído
partindo do levantamento dos riscos apresentados
nessa pesquisa, da adequação do mobiliário e da
conscientização dos acadêmicos e dos profissionais
que trabalham no laboratório de anatomia através de
orientações e supervisão adequada.
É indiscutível a necessidade de novas pesquisas explorando aspectos importantes como os ambientais e que
não foram aprofundados neste estudo. Acreditamos
que todo o empenho e dedicação realizados até então
repercutam em mudanças práticas tendo como base
esta e outras pesquisas voltada à melhora das condições
de trabalho/estudo dos acadêmicos.
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31/08/2007.
49
Atualidades em Legislação
do trabalhador para melhor
inserção do Fisioterapeuta
do Trabalho no âmbito
empresarial
Autores:
Kleinowski, Airton - Fisioterapeuta do Trabalho, Mestre em Engenharia Biomédica PUCRS, Professor da Graduação de Fisioterapia do Centro
Universitário Feevale.
Stürmer, Carla - Fisioterapeuta, Pós-graduanda em Fisioterapia do Trabalho
Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação em Fisioterapia do Trabalho – CBES – Porto Alegre/RS
Centro Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES
12
E-mail: [email protected]
Resumo
Abstract
Este estudo apresenta dados sobre a Fisioterapia do
Trabalho e as atualidades na legislação previdenciária,
fazendo uma relação entre as mesmas. Os objetivos do
estudo foram descrever os aspectos legais sobre a Fisioterapia do Trabalho; dissertar sobre os conceitos legais nas
relações de trabalho; relacionando-as com a Fisioterapia
do Trabalho, utilizando-as como argumento para inclusão
no mercado de trabalho. Esse artigo configura-se como
pesquisa bibliográfica, com caráter de estudo documental, metodologia descritiva. Dados publicados no ano de
2008 sobre acidentes de trabalho demonstram que atitudes preventivas devem ser adotadas: 503.890 acidentes
de trabalho na população empregada, sendo 2.717 fatais
somando quatro acidentes por minuto e 10 óbitos por dia
útil. Conclui-se que o Fisioterapeuta precisa se atualizar
quanto à legislação trabalhista, bem como à legislação
que regulamenta a sua profissão, pois são aspectos fundamentais para o sucesso do seu trabalho.
This study present relevant data about work physioterapy and the current work legislation, doing a relation
between both. The purposes of the study were to describe the fundamental theories considering the legal aspects
of the work physiotherapy; to discourse its legal concepts
on the work relations; and to connect the atualization of
the work legislation with the work physiotherapy, by using
it as argument to get into the labor market. Published
data in 2008 about work accidents shows that preventive
actions should be taken: 503890 work accidents in the
employed population, with 2717 fatal accidents adding 4
accidents per minute and 10 deaths per day in 2006. This
article configures itself as bibliographic research, with
character of documentary study, descriptive methodology. It is concluded that the physical therapist needs to
update on the labor laws and the laws that govern their
profession, because these are crucial aspects to reach
success in their career.
Palavras-chave: legislação trabalhista; saúde do trabalhador; fisioterapia do trabalho; LER/DORT.
Key-words: work legislation; worker healthy; work physioterapy; RCT/OWRD.
50
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Atualidades em Legislação do trabalhador para melhor inserção do Fisioterapeuta do Trabalho no âmbito empresarial
Introdução
Sabe-se que o trabalho na atualidade tem grande importância na vida das pessoas. Por ser o meio utilizado para
alcançar a realização, a satisfação pessoal e a sobrevivência,
acaba, por muitas vezes, levando o ser humano à exaustão.
Sob o ponto de vista de Assunção (2003), saúde vai além
da ausência de doenças, envolvendo também os aspectos
econômicos, sociais e psicológicos. Na tentativa de suprir
o que não é dado pela estrutura técnico-organizacional do
próprio ambiente de trabalho, o ser humano mobiliza o
corpo inteiro e a inteligência para enfrentar essas barreiras,
configurando-se como um fator de risco determinante na
construção e na desconstrução da saúde.
A preocupação entre a relação saúde e trabalho surgiu a
partir da Revolução Industrial, quando mulheres e crianças
eram expostas a situações incompatíveis com a vida, em
ambientes extremamente desfavoráveis à saúde, além de
jornadas extras (PETENON, 2008). De acordo com Foucault
apud Petenon (2008), a atual compreensão dessa relação
conta com a contribuição de segmentos diversos, tais como:
psicologia social, do trabalho e organizacional; sociologia do
trabalho; medicina do trabalho; engenharia de segurança;
epidemiologia e ergonomia.
As novas formas de organização do trabalho apresentam
importantes conseqüências à saúde e à capacidade laborativa dos trabalhadores, sendo algumas delas, distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), lesões
por esforços repetitivos (LER), esgotamento profissional,
patologias cardiovasculares, etc. (PEREIRA, 2006). Salim
(2003), afirma que as doenças relacionadas ao trabalho
assumem caráter de epidemia, sendo algumas patologias
de terapia difícil, que se renovam com a simples retomada
de movimentos repetitivos, gerando uma incapacidade
para a vida, e não apenas no ambiente ocupacional. De
acordo com Petenon (2008) as condições de trabalho estão
associadas às cargas físicas, mecânicas e químicas do posto
de trabalho, resultando em desgaste, envelhecimento precoce, perda de tempo de vida útil e morte prematura dos
trabalhadores.
As doenças ocupacionais vêm sendo registradas na
literatura desde 1717, quando Rammazini descreveu, pela
primeira vez, um caso de LER ao correlacionar a doença com
a ocupação das pessoas, sendo chamada de doença dos escribas e balconistas que, pelas posturas críticas, associadas
aos movimentos das mãos sempre na mesma direção, e à
tensão mental para não cometerem erros de cálculos nos
livros, acabava por desenvolver fadiga da mão e do braço e,
posteriormente, na paralisia do membro (BAÚ, 2002). Para
essa mesma autora, essas patologias foram potencializadas
no período da Primeira Revolução Industrial, caracterizada
pelo uso da máquina do processo produtivo. Já no período
da Segunda Revolução Industrial, as principais características foram a introdução de novas formas de organização
do trabalho, tais como, Taylorismo e Fordismo. O primeiro
criou um método na tentativa de acabar com o tempo morto e aumentar a produtividade, chamado de “Organização
Científica do Trabalho”. O segundo introduziu a organização
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do trabalho através das linhas de montagem, tão comuns
nos dias de hoje. A história da LER também foi descrita em
1922, na literatura médica, pela presença de câimbras em
operárias da linha têxtil.
Diversos autores citados por Gravina (2002) descrevem
os primeiros casos de doenças ocupacionais no mundo:
no Japão, ocorreram em 1958 através da Occupational
Cervichobrachial Disorder; na Austrália, a doença teve seu
conceito definido com o nome Repetitive Strain Injuries,
em 1970; nos Estados Unidos surgiu como o conceito de
Cumulative Trauma Disorders citando a síndrome do túnel
do carpo e tendinites como exemplos típicos.
De acordo com a Instrução Normativa do Instituto
Nacional de Seguro Social (2003), sobre as atualizações
clínicas das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Doenças
Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT), essas
síndromes “são caracterizadas pela ocorrência de vários
sintomas, concomitantes ou não, tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga de aparecimento insidioso,
geralmente nos membros superiores, mas podendo acometer membros inferiores. Freqüentemente são causa de
incapacidade laborativa temporária ou permanente, sendo
resultado da combinação da sobrecarga das estruturas
anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de tempo
para sua recuperação. Essa sobrecarga pode ocorrer seja
pela utilização excessiva de determinados grupos musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de
esforço localizado, seja pela permanência de segmentos do
corpo em determinadas posições por tempo prolongado,
particularmente quando essas posições exigem esforço
ou resistência das estruturas músculo-esqueléticas contra
a gravidade. A necessidade de concentração e atenção do
trabalhador para realizar suas atividades e a tensão imposta
pela organização do trabalho, são fatores que interferem de
forma significativa para a ocorrência das LER/DORT.”
Klering et al (2006), em seu estudo relatou que o Instituto
de Medicina dos Estados Unidos considerou a dor crônica
como um problema de saúde pública, sendo a dor lombar
um problema de alto custo médico e social no país, e causa
de perda de 1400 dias de trabalho para cada mil habitantes
por ano; na Europa, é a mais freqüente causa de limitação
em pessoas com menos de 45 anos e a segunda causa mais
freqüente de consulta médica. Na Holanda, são registrados
10.000 casos novos a cada ano, de pacientes incapacitados
para o trabalho pela dor. No Brasil, em estudo realizado com
pacientes com dor crônica, verificou-se que 94,9% apresentavam comprometimento da atividade profissional.
As doenças ocupacionais bem como os acidentes relacionam-se intimamente com a legislação, segundo Pereira
(2006). Para esse autor, no mesmo sentido em que se apresentam os agravos à saúde do trabalhador, encontram-se
a relação entre o adoecimento e o trabalho. Essa relação
reflete-se nas modificações legais, introduzidas nos anos
noventa, do século passado.
Souza et al (2008) afirma que a contribuição das DORT’s
para o total dos afastamentos por problemas de saúde geral
e ocupacional pode servir de contribuição para adoção de
medidas de prevenção nas empresas. Portanto, o fisiotera51
peuta deve fazer valer esses argumentos, com seriedade,
nunca esquecendo o principal objetivo da fisioterapia do
trabalho: a prevenção e manutenção da saúde do trabalhador.
Os objetivos do estudo foram descrever os embasamentos teóricos considerando os aspectos legais sobre a
Fisioterapia do Trabalho; dissertar sobre os conceitos legais
nas relações de trabalho; e relacionar as atualizações na
legislação do trabalho e previdenciária com a Fisioterapia
do Trabalho, utilizando-as como argumento para inclusão
no mercado de trabalho.
Método
Este estudo caracteriza-se por uma pesquisa bibliográfica, com caráter de estudo documental e metodologia
descritiva. O levantamento dos dados foi através da leitura
de artigos sobre a relação entre saúde e doença, gestão em
ergonomia, doenças ocupacionais, qualidade de vida no
trabalho, publicações do Diário Oficial da União e artigos
científicos sobre as questões previdenciárias e trabalhistas,
entre outros. Para esse levantamento, utilizou-se sites de
pesquisa científica, alguns livros recentes, bem como em
páginas oficiais do governo e da fisioterapia, tais como
Ministério do Trabalho e Emprego, Previdência Social e Conselho Federal de Fisioterapia. Após o aprofundamento, os
dados foram relacionados entre si, para o desenvolvimento
do artigo científico.
Resultados
Foram analisadas 27 bibliografias, dentre artigos e livros,
nas diversas áreas relacionadas com o tema. Com as leituras, buscou-se compreender melhor as leis que regem as
relações trabalhistas, as leis que regem a Fisioterapia, bem
como a Fisioterapia do Trabalho, fazendo uma ligação entre
as mesmas.
Aspectos Teóricos e Legais sobre a Fisioterapia
A formação de um profissional Fisioterapeuta é essencialmente direcionada para a área da saúde, com teoria e
práticas de técnicas fisioterápicas. Por esse motivo, muitas
vezes, bloqueia seu perfil empreendedor por não ter conhecimento dos embasamentos legais que permeiam a profissão, bem como o mercado de trabalho. O fisioterapeuta do
trabalho deve inteirar-se de todo o conhecimento possível,
utilizando-se desses argumentos, facilitando a sua inserção
nesse meio. O interesse para este estudo surgiu a partir da
necessidade do Fisioterapeuta do Trabalho apresentar bons
argumentos para aceitação de seus serviços na área ocupacional. Sabe-se da dificuldade de inclusão no mercado de
trabalho em todos os setores, mesmo para os concorrentes
que apresentem nível superior. No entanto, quanto maior
for o aperfeiçoamento e a busca pelo conhecimento, aliado à boa comunicação e segurança no desenvolvimento
de suas atividades, apresenta-se uma grande tendência
da aceitação desses profissionais. Nesse escopo, deve-se
52
aprofundar os embasamentos legais e teóricos, na intenção
de desenvolver o perfil empreendedor e negociador dos
profissionais Fisioterapeutas. Em contrapartida, há a necessidade das empresas em buscar profissionais capacitados
para auxiliar na solução de problemas relacionados às
doenças ocupacionais, taxas de absenteísmo, treinamento
e seleção de funcionários, e amparo perante a legislação.
O Decreto Lei Nº 938, de 13 de outubro de 1969, define
o Fisioterapeuta como o profissional da área da saúde, responsável pela execução de métodos e técnicas fisioterapêuticas, na finalidade de restaurar, desenvolver e conservar
a capacidade física do paciente (BRASIL, 1969). De acordo
com a Resolução Nº 8 do Conselho Federal de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (COFFITO), de 20 de fevereiro de 1978,
que aprova as normas para habilitação ao exercício das
profissões de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, prescrever, ministrar e supervisionar terapia física, que objetive
preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade
de órgão, sistema ou função do corpo humano constituem
atos privativos do fisioterapeuta (COFFITO, 1978). E ainda,
a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE), define o fisioterapeuta como
Cinesiólogo Fisioterapeuta e descreve que este profissional
atende pacientes e clientes para prevenção, habilitação e
reabilitação, realiza diagnóstico específico, desenvolvendo
programas de prevenção, promoção de saúde e qualidade
de vida (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2002).
Esses dados são relevantes, pois, em um estudo apresentado por Nascimento e colaboradores (2006), o resgate da
história da Fisioterapia é buscar sua organização enquanto
categoria profissional, além do desenvolvimento de sua
identidade enquanto profissão.
A Fisioterapia do Trabalho é uma especialidade que
surgiu a partir do crescimento das organizações e complexidade das tarefas, abordando aspectos da ergonomia,
biomecânica, exercícios laborais e recursos terapêuticos
na recuperação de queixas ou desconforto físicos, sob um
enfoque multidisciplinar, com o propósito de melhorar a
qualidade de vida e desempenho do trabalhador. No Brasil,
teve seu início em 1979 como forma de solução para os
altos índices de acidentes de trabalho. Em 1968, o Centro
de Reabilitação Profissional (CRP) do Rio de Janeiro ganha
o Prêmio Internacional de melhor Centro de Referência
para reabilitação do trabalhador do mundo (BAÚ, 2002).
A partir da grande demanda de Fisioterapeutas atuando
em empresas e/ou organizações detentoras de postos de
trabalho, intervindo preventivamente e/ou terapeuticamente de forma importante para a redução dos índices de
doenças ocupacionais, e considerando que o Fisioterapeuta
é qualificado e legalmente habilitado para contribuir com
suas ações para a prevenção, promoção e restauração da
saúde do trabalhador, surgiu em 2003, a Resolução 259 do
COFFITO sobre a Fisioterapia do Trabalho (COFFITO, 2003).
Uma das ferramentas utilizadas pelo Fisioterapeuta para
a prevenção desses distúrbios, ou até mesmo na intenção
de recuperar a saúde é a Ergonomia. Derivada do grego ergon (trabalho) e nomos (leis) é definida, de acordo com Baú
(2002), como a aplicação de um conjunto de conhecimentos
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sobre o homem no ambiente ocupacional, com a intenção
de melhor adaptar o trabalho às condições humanas. É uma
disciplina científica que trata da compreensão fundamental
das interações entre os seres humanos e outros elementos
de um sistema, bem como na aplicação de métodos, teorias
e dados apropriados para melhorar o bem estar humano
e, sobretudo a performance dos sistemas (SCOTT apud
BAÚ, 2002). Nesse contexto, o termo Qualidade de Vida
no Trabalho tem sido muito utilizado como um estudo de
indicadores para mensurar elementos relacionados à atividade ocupacional, na busca de novas formas de gerenciar
o trabalho e investir no potencial humano, podendo trazer
informações de fatores que interferem diretamente na
satisfação e motivação tanto pessoal, quanto coletiva (PIZZOLI, 2005).
Em janeiro de 2009, o Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) elaborou e publicou no CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) as áreas de atividades da fisioterapia do
trabalho: prestar consultoria; avaliar condições ergonômicas; avaliar qualidade de vida no trabalho; estabelecer nexo
de causa cinesiológica funcional ergonômica; participar da
elaboração de programas de qualidade de vida; adequar
as condições de trabalho às habilidades do trabalhador, o
ambiente, o posto e o fluxo de trabalho; aplicar ginástica
laboral; ensinar e corrigir o modo operatório laboral; implementar cultura ergonômica; elaborar e avaliar processos
seletivos; emitir laudos de nexo de causa laboral, entre
outros (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO, 2009).
Aspectos sobre Legislação Trabalhista e acidentes de
trabalho
O artigo 19 da lei no. 8.213/91 dispõe que, acidente de
trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço
da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do artigo 11 dessa lei, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que causa a morte,
a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991).
Santana e colaboradores (2006) apresentam em seu estudo dados sobre acidentes de trabalho no mundo, de acordo
com a Organização Internacional do Trabalho: são cerca
de 270 milhões de acidentes e cerca de dois milhões de
mortes por ano em todo o mundo. Nos Estados Unidos, os
custos totais para as doenças e acidentes de trabalho foram
maiores do que os relacionados com a Aids ou a Doença de
Alzheimer e comparáveis aos resultados dos cânceres (LEIGH ET AL APUD SANTANA, 2006). Os dados sobre acidentes
de trabalho no ano de 2006, no Brasil, por intermédio da
Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) de acordo com
Oliveira (2008), foram de 503.890 acidentes de trabalho na
população empregada, sendo 2.717 fatais, representando
quatro acidentes por minuto e 10 óbitos por dia útil. E ainda, ao final de 2006 há uma necessidade de financiamento
da ordem de R$ 4,62 bilhões, projetados para R$ 7,1 bilhões
em 2010, se nada for feito, crescendo a uma velocidade
de R$ 1,0 bilhão a cada 20 meses, ou seja, R$ 50 milhões
por mês ou 1,67 milhões por dia. Nesse contexto, diante
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da legislação vigente, se uma empresa de um determinado
segmento econômico investe na melhoria do ambiente de
trabalho, eliminando ou reduzindo os riscos existentes, essa
empresa pagará a mesma alíquota daquelas que não fazem
nenhum tipo de investimento. Os benefícios concedidos
em razão do grau de incidência laborativa decorrente dos
riscos ambientais do trabalho e a aposentadoria especial
são financiados com as alíquotas de 1, 2 ou 3% incidentes
sobre a remuneração paga pela empresa aos seus empregados, conforme o ramo da atividade, independentemente
da qualidade de seu ambiente de trabalho. Por esse motivo,
o Conselho Nacional de Previdência Social lançou mão da
Resolução Nº 1.269/06 que dispõe sobre o Nexo Técnico
Epidemiológico Previdenciário (NTEP) e Fator Acidentário
Previdenciário (FAP) como medida de flexibilização (redução ou majoração) das alíquotas, podendo essa, flutuar
entre a metade e o dobro, de acordo com os índices de
freqüência, gravidade e custo dos acidentes de trabalho. Ou
seja, empresas que investirem em prevenção de acidentes
de trabalho poderão receber até 50% de redução dessa
alíquota ou, em dimensão oposta, se onerarem até 100%
(CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2006).
De acordo com Oliveira (2008), o que realmente importa
é o quão desequilibrado e suscetível a produzir agravos à
saúde está o ambiente de trabalho em suas dimensões e interfaces sociais e econômicas, e não apenas o desequilíbrio
fisiológico, orgânico, funcional ou psíquico do ser humano
trabalhador segundo a patogênese, fisiopatologia e semiologia médica ao realizar um diagnóstico CID (Classificação
Internacional de Doenças). O Conselho Nacional de Previdência Social (2006) alega que a questão da sonegação da
Comunicação de Acidente de Trabalho é um assunto complexo e demarcado por aspectos políticos, econômicos e
sociais, para o qual nenhuma única explicação é suficiente.
Algumas das principais causas são: como o acidente/doença
ocupacional é considerado socialmente derrogatório, evitase que o dado apareça nas estatísticas oficiais; para que não
se possa reconhecer a estabilidade no emprego a partir do
retorno do trabalhador; para se ter liberdade de demitir o
funcionário a qualquer momento; para não se reconhecer a
presença de agente nocivo causador da doença do trabalho
ou profissional e, para não se recolher a contribuição específica correspondente ao custeio da aposentadoria especial
para os trabalhadores expostos aos mesmos agentes, entre
outros. Na busca de um novo elemento que pudesse embasar outra metodologia, identificou-se que, em cada processo
de solicitação de benefício junto à Previdência Social, existe
um dado requerido obrigatoriamente, que é o registro do
diagnóstico (CID-10) do problema de saúde que motivou a
solicitação. Esse diagnóstico, de acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), é padronizado e codificado, recebendo o nome de Classificação Internacional de Doenças
(CID). Acredita-se que o diagnóstico pelo CID-10 seja menos
sujeito à sonegação e independe do poder do empregador
sobre a informação dos dados. E não padece dos vícios da
CAT, uma vez que independe da comunicação da empresa.
Nesse caso, denomina-se Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) a relação entre a Classificação Nacional
53
de Atividade Econômica (CNAE) e agrupamento CID-10 para
a concessão de benefícios (CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2006). Ou seja, as medidas de prevenção
devem atingir toda a empresa, e não o indivíduo somente.
Para isso, a reflexão que deve ser feita a partir da nova legislação é: o ambiente de trabalho é adoecedor?
As Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), relativas à segurança e medicina
do trabalho devem ser observadas pelas empresas privadas
e públicas, pelos órgãos públicos da administração direta e
indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e
Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), obrigatoriamente. Dentre
as 33 Normas Regulamentadoras e seus anexos, destaca-se
a NR 4 que dispõe sobre os Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
(SESMT); a NR 6 que dispõe sobre a necessidade do uso de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s); e a NR 17 que
dispõe sobre Ergonomia. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO
EMPREGO, 1983).
Por todos os argumentos já citados, percebe-se a importância do Fisioterapeuta do Trabalho inteirar-se legalmente,
recuperando a sua identidade profissional, utilizando-se
desses conhecimentos para a busca de um mercado pouco
conhecido, pois, nesse escopo, viceja amplas e diversificadas possibilidades de trabalho.
Discussão
Os índices sobre acidentes e doenças de trabalho
provocam enorme impacto social, econômico e sobre a
saúde pública no Brasil. Dados do Ministério da Previdência Social, do ano de 2006, registraram 26.645 casos de
doenças relacionadas ao trabalho, e parte desses acidentes
e doenças tiveram como conseqüência o afastamento das
atividades de 440.124 trabalhadores devido à incapacidade
temporária, sendo 8.383 por incapacidade permanente.
A dimensão dessas cifras mostra a urgência na adoção de
políticas públicas voltadas à prevenção e proteção contra os
riscos relacionados às atividades laborais (MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2006).
A melhoria da qualidade e da saúde tem sido tema de
crescente importância, pois impacta direta e indiretamente
na produtividade das pessoas. Tão importante quanto promover a qualidade de vida das comunidades são as práticas
desenvolvidas pelas empresas, pois é onde o ser humano
desenvolve parte significativa de sua vida: o trabalho (FERNANDES E GUTIERRES APUD OLIVEIRA E LIMONGI-FRANÇA,
2005). Qualidade de Vida no Trabalho, de acordo com Albuquerque e Limongi-França, citados por Oliveira et al (2005) é
definido como “um conjunto de ações de uma empresa que
envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais dentro e fora do
ambiente de trabalho, visando propiciar condições plenas
de desenvolvimento humano para e durante a realização
do trabalho”. Nesse mesmo estudo, quando questionados
sobre a importância de um Programa de Qualidade de Vida
no Trabalho (QVT), na visão dos administradores, 96,3% dos
54
participantes afirmaram acreditar que toda empresa deve
ter um programa de QVT; e ainda, quando questionados
sobre a interferência positiva na produtividade, 93,2% dos
participantes responderam “sim”.
Pastore (1998) citado em um documento que apresenta
os fundamentos de uma Política Nacional de Segurança e
Saúde do Trabalhador (2004), afirma que, para cada real
gasto com o pagamento de benefícios previdenciários, a
sociedade paga quatro reais, incluindo gastos com saúde,
horas de trabalho perdidas, reabilitação profissional, custos
administrativos etc, gerando um custo total para o país de
aproximadamente 33 bilhões de reais por ano.
Renner (2006) afirma que é impossível que um trabalhador produza bem e com qualidade apresentando quadro
de dor e desconforto, tornando-se imprescindível para o
bem-estar dos próprios trabalhadores e sobrevivência da
empresa, eliminar a dor do trabalho. A ergonomia é uma
das melhores ferramentas para o afastamento do quadro
álgico, pois atua na causa do problema. Nesse mesmo
estudo, através de uma gestão continuada de ações de
ergonomia, com a participação dos trabalhadores e da mais
alta diretoria, o resultado obtido foi a incidência de nenhum
caso de LER/DORT.
Todas essas pesquisas apresentadas, relacionados com os
altos índices de acidentes e doenças do trabalho no país,
gerando estrondosos custos para o governo, além de perda
de inúmeros dias de trabalho nos leva a pensar que a real
solução é a prevenção. Gross citado por Baú (2002) relata
que o custo do levantamento e diagnóstico ergonômico é
de 5% do custo do desenvolvimento das soluções, ou seja, é
muito mais barato investir em prevenção do que arcar com
os custos da não intervenção preventiva. De acordo com
Chafin (2001), para cada U$ 1,00 investido em programas
de atividade física e lazer na empresa, ocorre uma economia de U$ 4,00 em despesas de saúde.
Muniz e Teixeira (2008), afirmam que aos profissionais do
século XXI, são requeridas habilidades que vão muito além
do saber técnico específico de sua área de atuação. Para o
novo profissional ser bem-sucedido, o mercado de trabalho
exige domínio de outros saberes não-específicos, tais como
línguas estrangeiras, conhecimento de microinformática e
fundamentos de administração. Essas informações vêm de
encontro às anteriormente descritas, pois o fisioterapeuta
precisa, além de se especializar, buscar conhecimento em
diversas áreas para poder se estabelecer no mercado, como
empreendedor.
Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae) mostram que 56% das empresas fecham
as portas até o 3º ano de vida. Entre as principais razões,
destacam-se a falta de preparação do empreendedor para
gerenciar com eficiência a sua empresa e insuficiência de
capital, além de dificuldades pessoais do candidato a empresário (MUNIZ E TEIXEIRA, 2008).
Conclusão
Por todas as bibliografias já citadas, relacionadas à fisioterapia do trabalho e à legislação previdenciária, deve-se
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fazer uma reflexão sobre a necessidade de informação na
atualidade. A relação entre adoecimento e o trabalho é
íntima, e deve ser profundamente conhecida pelo fisioterapeuta do trabalho, para poder melhor negociar seus
serviços, com conhecimento de causa e embasamento
teórico. Diante da nova legislação, as empresas certamente
necessitam de amparo para a solução dos problemas como
absenteísmo, afastamentos, acidentes de trabalho, de forma a se beneficiarem e diminuírem as despesas com seus
funcionários doentes.
Vale lembrar que são muitas informações disponíveis em
relação ao tema, e por isso a importância de uma leitura
aprofundada para haver a compreensão das leis. É importante que o profissional que está entrando no mercado de
trabalho conheça as leis que regem a sua profissão, e quais
atividades são pertinentes à sua classe. Já em relação às
leis trabalhistas, o fisioterapeuta deve conhecer profundamente a legislação que incentiva à prevenção da saúde dos
funcionários, para poder embasar o seu trabalho. A soma
desses argumentos certamente irá projetar o profissional
ao sucesso. Sugere-se, a partir desse estudo, um aprofundamento da relação custo x benefício dos serviços prestados
em saúde do trabalhador.
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Fisiologia do Exercício – Prescrição do Exercício
Fisioterapia em Gerontologia
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Traumatologia
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Rio de Janeiro (21) 2484-3336
Bahia (71) 3264-0958 / (71) 3264-1093
Todos os Estados 0300 10 10 10 1
Outros Estados 0800 772 0149
Avaliação da aplicação experimental
de Protocolo de Cinesioterapia Laboral
denominado PELLENA precedido por
um treinamento ergonômico específico
voltado a prática clínica odontológica de
cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia
das LER/DORT
Autores:
Leonardo Esteves Natal - Fisioterapeuta, Especialista em Ergonomia pela UFRJ/COPPE, Especialista em Anatomia Humana pela UNESA, Professor
do curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Diretor de Fisioterapia do CSVA, Coordenador do Núcleo de Ergonomia Veiga de
Almeida (NEVA) e Fisioterapeuta do Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI).
Antonio Teixeira Carvalho Filho - Cirurgião-Dentista, Doutorando em Administração pela Universidad Nacional de Rosario / Argentina; Mestre em
Administração pela UNESA; Professor do MBA de Gestão em Saúde pela FGV e Mestrado em Odontologia / Fonoaudiologia pela UVA; DiretorGeral do Centro de Saúde da Universidade Veiga de Almeida.
Autor Correspondente: Leonardo Esteves Natal Centro de Saúde Veiga de Almeida -Praça da Bandeira, 149 - Maracanã - Rio de Janeiro/RJ - CEP 20271-020
Contato: (21) 2502-3238 (ramal 221), e-mail: [email protected]
Data da última atualização: 23/11/2009
Resumo
Devido a alta incidência de Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Ocupacionais Relacionadas ao Trabalho
(LER/DORT) na prática clínica de cirurgiões-dentistas
(CD) com pouco tempo de atividade, novas estratégias
devem ser desenvolvidas para combater os agravos que
esta proporciona. Este estudo tem como objetivo avaliar
a aplicação de forma experimental, do Protocolo de
Cinesioterapia Laboral (PELLENA), precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica
odontológica de 23 CD egressos da Universidade Veiga de
Almeida. Um questionário auto-aplicável foi utilizado antes e após sessenta dias do presente estudo, para avaliar o
perfil dos pesquisados (características biopsicossociais), a
eficácia ou não da aplicação do treinamento ergonômico
direcionado e do PELLENA. Os resultados obtidos em
relação à aplicação experimental do PELLENA foram bastante animadores: 95% dos pesquisados instituiu como
rotinas diárias os treinamentos propostos, reforçando a
importância em se aplicar uma sequência de atividades
laborativas antes, durante e após cada atendimento,
visando a profilaxia das LER/DORT.
Palavras-chave: Protocolo PELLENA, treinamento ergonômico, cirurgião-dentista, profilaxia de LER/DORT.
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Abstract
Due to high incidence of LER/DORT (Lesions for Efforts
Repetitive/Diseases Occupational Related to the Work)
in practice surgeon-dentists’ clinic (CD) with little time of
activity, new strategies should be developed to combat
the offences that this provides. This study has as objective evaluates the application in an experimental way, of
protocol of exercises you work (PELLENA), preceded by a
specific ergonomic training returned the practice clinical
dentistry of 23 CD exits the University Veiga de Almeida. A
solemnity-applicable questionnaire was used before and
after sixty days of the present study, to evaluate the profile
of those researched (characteristics biopsychosocial), the
effectiveness or not of the application of the addressed
ergonomic training and of PELLENA. The results obtained
in relation to the experimental application of PELLENA
were quite exciting; 95% of those researched instituted
as daily routines the proposed trainings, reinforcing the
importance before in applying a sequence of activities
you work, during and after each service, seeking the prophylaxis of LER/DORT.
Key-Words: PELLENA Protocol, training ergonomic,
surgeon-dentist training, prophylaxis of ler/dort,
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT
Introdução
A ergonomia na odontologia surgiu a partir de estudos
da racionalização do trabalho, visando sua simplificação, a
prevenção da fadiga e o maior conforto para a equipe de
trabalho. Há poucos anos atrás, a International Standarts
Organization (ISO), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), e a Federation Dentaire Internacionale (FDI),
homologaram normas e diretrizes oficiais para tal. Hoje
temos catalogados os conceitos ergonômicos aprovados
por aqueles órgãos (SAQUY & PECORA, 1994).
A Odontologia, por características inerentes ao seu
exercício, é uma atividade que expõe seus praticantes,
mesmo com pouco tempo de profissão, a Lesões por
Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER / DORT) (NOGUEIRA, 1983).
Tal fato é acentuado pelo maior nível de especialização
profissional, tendo em vista que a execução de uma única
tarefa (repetitidas vezes) é recorrente na prática clínica
de cirurgiões-dentistas (CD) (BARROS, 1991). Neste contexto é necessário que tais profissionais ao iniciarem suas
práticas clínicas tenham à sua disposição um protocolo
de exercícios laborais específico para ser aplicado antes,
durante e após os atendimentos dos pacientes, visando a
profilaxia das LER/DORTs.
A maximização da eficiência e da assimilação de um
protocolo pode ser alcançada aplicando-se primeiramente, um treinamento ergonômico direcionado, baseado
no princípio metodológico de Zachrisson-Forssell (1969).
Esta autora desenvolveu um programa para populações
específicas, composto por aulas teóricas e práticas, cujo
enfoque é preventivo e curativo. Ele expõe potencialidades e riscos inerentes às atividades do cotidiano de
pacientes com queixas dolorosas na coluna vertebral.
Sendo assim, o uso de tais procedimentos aplicados à
prática de cirurgiões-dentistas fornece conhecimentos
indispensáveis para o resguardo das estruturas osteomioarticulares, bastante acometidas devido à repetitividade
(FILHO & LOPES, 1997), o que assegura mais eficácia e
produtividade, ao mesmo tempo em que reduz a fadiga e
o custo (PORTO, 1994).
O presente estudo tem como objetivo a aplicação experimental do Protocolo de Exercícios Laborais (PELLENA) na
prática clínica dos CD egressos do curso de Odontologia
da Universidade Veiga de Almeida (UVA), visando à profilaxia das LER/DORTs, através da conscientização de novas
práticas ergonômicas.
Material e Métodos
Este estudo foi realizado no período de maio a agosto
de 2008, no Centro de Saúde Veiga de Almeida (CVSA)
localizado na Praça da Bandeira, nº149- bairro Maracanã,
Rio de Janeiro /RJ-Brasil. Foram selecionados de forma
aleatória, 23 indivíduos, de ambos os sexos, egressos
da Odontologia da Universidade Veiga de Almeida, que
aceitaram participar livre e esclarecidamente do estudo,
depois de garantido o sigilo e direitos de desistência,
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seguindo-se assim, os preceitos éticos de pesquisas que
envolvem serem humanos, com a aprovação do comitê de
ética e pesquisa do CSVA. Um questionário auto-aplicável
foi utilizado antes e após sessenta dias do presente estudo, para avaliar o perfil dos pesquisados (características
biopsicossociais), a eficácia ou não da aplicação do treinamento ergonômico direcionado e do PELLENA.
Antes de testar a aplicabilidade experimental do
PELLENA, desenvolveu-se um treinamento ergonômico
específico, objetivando maior assimilação das práticas
que serão desenvolvidas aos pesquisados, buscando
um maior conhecimento sobre suas potencialidades e
riscos inerentes às suas atividades operacionais, baseado
no princípio metodológico denominado “Back School”,
adotado pela fisioterapeuta sueca Mariane ZachrissonForssell em 1969, no Hospital de Dandeyd em Estocolmo.
Este princípio consiste na realização de um treinamento
postural para a prevenção e tratamento de pacientes
com dor lombar crônica, composto de informações
teórico-educativas ministradas através de quatro aulas
expositivas, sendo a última destinada à prática do conhecimento teórico adquirido (CARDIA, 2001). Desta forma,
a aplicação experimental do PELLENA foi precedida pela
realização de um treinamento ergonômico dividido em
duas etapas interdependentes:
Primeira etapa: inicialmente os indivíduos receberam
três aulas teóricas expositivas semanais através de equipamentos áudios-visuais (Data-Show), com duração de
duas horas cada, totalizando seis horas. Os assuntos abordados incluíram conceitos provenientes das principais
disciplinas da Ergonomia que podem ser aplicados aos
CD, tais como: fisiologia do trabalho, biomecânica ocupacional, LER/DORT (prevenção, fatores de risco, principais
patologias por segmento corporal, tratamentos mais
procurados), ergonomia aplicada ao dia-a-dia (ao uso de
computadores, importância do sono e suas variabilidades, posição sentada, transporte e manuseio de cargas,
dentre outros), além das principais soluções ergonômicas
na racionalização do trabalho destes profissionais. Em
seguida, os indivíduos receberam orientações práticas e
específicas acerca do PELLENA. Ao término desta fase,
todos os indivíduos receberam uma cópia de um manual
impresso com o resumo de todo o protocolo desenvolvido
nesta pesquisa.
Segunda etapa: uma semana após o término da primeira fase, os indivíduos foram submetidos a três aulas
práticas em consultórios odontológicos próprios do CSVA
(dentro das especificações da FDI), com duração de duas
horas cada, totalizando seis horas. Nestas aulas os indivíduos puderam iniciar, na prática, todas as orientações
recebidas nas aulas teóricas precedentes. Dentre elas, a
aplicação prática do PELLENA para a profilaxia das LER/
DORT em ambiente real de trabalho. Tendo como justificativa um melhor aprendizado, os pesquisados revezavam
entre paciente e profissional, não havendo a necessidade
de pacientes reais, em consoante com Lima (2007).
Ao término do treinamento ergonômico específico,
o PELLENA foi aplicado em todos os pesquisados. Este
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Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT
protocolo busca instituir uma rotina de exercícios específicos, para que os CD realizem diariamente, antes,
durante e após cada atendimento, prevenindo assim o
aparecimento das LER/DORT. Os exercícios que fazem
parte deste escopo foram cuidadosamente planejados de
acordo tempo operatório, por movimentos em que estes
não estão executando procedimentos técnicos inerentes
a sua atividade profissional: movimentos diretos reversíveis (estes podem ser delegados a pessoal auxiliar, como
por exemplo, a aplicação de flúor), indiretos (todos feitos
fora da boca do paciente), e inevitáveis (tempo de espera
de uma anestesia, a presa de um material de moldagem
dentre outros). Ainda segundo Barros (1991), o somatório
destes movimentos gera 88% de tempo improdutivo de
um CD. O PELLENA é dividido em quatro fases:
Primeira Fase: onze exercícios específicos preparatórios
realizados antes do primeiro atendimento, visando a
máxima capacidade física de trabalho através de aquecimentos e alongamentos em tronco e membros.
Segunda Fase: oito exercícios específicos realizados durante cada atendimento (movimentos inevitáveis), como
cada ação do paciente em cuspir na cuspideira. Enquadrase em uma modalidade de exercício-recuperação, ou seja,
os músculos envolvidos recebem o restabelecimento do
suprimento sanguíneo, através de alongamentos nas direções contrárias utilizadas pelos CD na prática odontológica, o que impossibilita o aparecimento da fadiga precoce
(FOX, 1983; GRANDJEAN, 2005).
Terceira Fase: seis exercícios específicos que podem ser
realizados entre cada atendimento, durante o período em
que o profissional aguarda seu próximo paciente.
Quarta fase: três exercícios específicos domiciliares,
importantes para a manutenção adequada da coluna
vertebral, utilizados em tratamentos preventivos e terapêuticos nas desordens da coluna (MCKENZIE, 2006;
TRIBASTONE, 2001).
A ginástica laboral voltada para a Odontologia se mostrou um tema praticamente desconhecido pelos profissionais estudados: 83% nunca haviam escutado falar de tal
prática. Da mesma forma, a importância da biomecânica
da coluna vertebral para a profilaxia de doenças ocupacionais se mostrou outro tema pouco conhecido: 95% nunca
haviam tido explicações sobre o tema. Porém, 79% dos
indivíduos sabiam da importância da Ergonomia para a
Odontologia. Sobre a importância da prevenção das LER/
DORT, 60% afirmaram desconhecer o que era ou qual era
o seu papel.
Avaliação da eficiência do treinamento ergonômico direcionado e do PELLENA – No início da pesquisa, a maioria
dos entrevistados (74%) não apresentava dificuldades de
adaptação em seu consultório, e aqueles que possuíam
alguma queixa (26%) apontaram o mocho como o principal desencadeante (72%). Após 30 dias de aplicação do
treinamento e do PELLENA não houve qualquer relato dos
indivíduos em relação às dificuldades de adaptação em
suas práticas odontológicas.
Questionados sobre as variações de altura do mocho
(Opção A: menor que 90°; Opção B: 90°; Opção C: maior
que 90°), 95% consideraram a opção B e 5% a opção A. É
importante ressaltar que neste momento, a opção ideal
não foi escolhida (opção C). Após a aplicação do projeto,
todos os indivíduos amostrados responderam que o posicionamento ideal no mocho seria maior que 90°.
Mais da metade dos pesquisados (57%) considerava sua
postura inadequada para a atividade profissional. Porém,
após praticar as atividades aqui propostas, apenas 10%
manteve esta opinião.
Sobre a questão das pausas, no início da pesquisa 95%
dos entrevistados afirmaram desconhecer o conceito
ou como utilizá-lo em seu dia-a-dia. Este quadro foi
totalmente alterado após a realização do projeto. Todos
os entrevistados passaram a praticá-las no seu dia-a-dia
(Figura 1).
Resultados
Perfil dos entrevistados – dos 23 entrevistados, 83%
eram mulheres e 17% homens. A idade média dos indivíduos era de 25 anos. De acordo com o Índice de Massa
Corporal -McArdle; (IMC referência: 18,5-24,9) ficou
constatado que todos se encontravam dentro do seu peso
ideal (IMC homens=24,8 e IMC mulheres=21,2). Para os
pesquisados a atividade física regular reduz o estresse no
ambiente de trabalho. No entanto, um contraste foi observado entre os gêneros. Enquanto 100% dos indivíduos
do sexo masculino afirmaram praticar atividades físicas
regulares, apenas 43% das mulheres a fazem. Quanto
ao uso de medicamentos analgésicos, 73% responderam
não fazer uso de tais drogas. Dentre os 27% que responderam fazer uso de medicamentos analgésicos, 70% o
fazia frequentemente e 30% esporadicamente. Quanto à
prática clínica da visão indireta, 88% dos indivíduos não
a utilizam. Inferidos sobre o número de tentativas para
aplicação da anestesia troncular na prática clínica, apenas
40% obteve êxito na primeira tentativa.
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Figura 1: Resultado da avaliação do conceito de pausa e
sua utilização durante a prática clínica de CD
Antes da realização do treinamento e do PELLENA,
90% dos estudados acreditavam que as LER/DORT nos
dentistas estavam associadas à postura, e apenas 10%
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Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT
acreditavam que elas eram determinadas por fatores
organizacionais e cognitivos. A compreensão deste problema foi alterada, pois, após participar desta pesquisa,
apenas 20% dos indivíduos continuou acreditando que as
LER/DORT nos dentistas estavam associadas à postura e
não a fatores organizacionais e cognitivos (Figura 2).
Figura 2: Resultado da avaliação da origem das LER/DORT
segundo a opinião dos CD entrevistados
Dores no corpo decorrentes da prática clínica foram apontadas por 80% dos pesquisados. Os principais problemas
percebidos foram: dores na região lombar, nos membros
superiores, e na coluna cervical. Após a aplicação protocolo,
a percepção de dores em quaisquer regiões do corpo decorrente desta atividade sofreu uma redução de 10%, tendência
observada principalmente para aos membros superiores
e coluna cervical. Quanto à intensidade da dor, 52% mencionaram leve desconforto, 40% dor branda e apenas 8%
classificaram a dor como horrível. Após o projeto, nenhum
indivíduo relatou dor horrível, a maior parte (58%) afirmou
sentir uma dor branda. No que diz respeito ao momento do
dia de trabalho em que esse desconforto era percebido, 72%
e 28% afirmaram sentir dores no meio e ao término da jornada de trabalho, respectivamente. Depois de participar da
pesquisa, foi quantificada maior incidência de dores ao fim
da jornada (Figura 3).
Figura 3: Resultado da avaliação sobre o período do dia
em que os CD percebem a dor
Apenas 40% dos entrevistados informaram dormir entre 6 e
8 horas por noite, quantidade adequada para descanso. Após
a aplicação do protocolo, essa proporção aumentou para 70%.
Após a pesquisa experimental 100% dos indivíduos afirmaram
que seus sintomas e dores diminuíram. Questionados sobre
a eficiência da prática do PELLENA para a prevenção das LER/
DORT, 83% afirmavam que as atividades propostas não seriam
úteis. Porém, após 30 dias foi verificado que 95% dos pesquiwww.rbft.com.br
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sados adotaram o PELLENA em suas rotinas diárias, justificando
a importância em adotar um treinamento padronizado ergonômico a CD.
Discussão
Os dados deste estudo foram coletados a partir de uma
amostra de CR (egressos) da Universidade Veiga de Almeida,
em consultórios dentários apropriados, localizados no Centro
de Saúde Veiga de Almeida (CSVA), na cidade do Rio de janeiro,
e assim podem não representar a realidade da população de
CD. Entretanto, esta pesquisa contribui para a compreensão da
importância na aplicação de programas de exercícios laborais
preventivos, precedidos por um treinamento ergonômico específico direcionado à prática clínica odontológica.
Em relação ao perfil dos entrevistados, os resultados de
distribuição por gênero, não seguem os obtidos por estudos epidemiológicos com um grande número de entrevistados, como é
o caso de GARCIA (2006), que avaliou 1.272 CD, com média de
16 anos de atividade, desde a graduação, identificando que a
proporção dos sexos é similar à mesma proporção na população
de CD em atividade.
Todos os entrevistados afirmaram que a prática de atividades físicas é importante para a minimização do estresse físico
e mental. Este resultado está de acordo com os achados por
Mondini et al. de 98,88%. Porém, um número significativo dos
pesquisados no presente estudo do sexo feminino, embora
concordassem com a premissa supracitada, não praticavam
nenhuma atividade física. Como as mulheres possuem maior
prevalência de LER/DORT (Grandjean, 2005 & Regis Filho, 1997),
é indubitável que recebam treinamento diferenciado, justificando a relevância e eficácia desta pesquisa. Os resultados colhidos
acerca do uso de medicamentos analgésicos, a prática de visão
indireta e do número de tentativas realizadas para a aplicação de
uma anestesia troncular são preocupantes, indicando a presença de estresse ocupacional precoce na prática clínica diária dos
egressos. Grandjean (2005), alerta para o fato de o estresse ser
um dos principais causadores das LER/DORT.
O CD com menos tempo de profissão torna-se mais suscetível
a erros, tornando-se um profissional isolado (MONDINI, 1998).
Segundo Olavo (1999), apenas 1% dos egressos continua mantendo vínculo com sua faculdade e entidades de classe. Estas
relações são extremamente importantes para o aperfeiçoamento e troca de experiências, o que é vital para um CD novato obter
segurança e maturidade profissional. Os dados obtidos sobre a
falta de informações relacionadas à ergonomia e suas disciplinas
aplicadas à prática clínica (LER/DORT, dentre outros) confirmam
os achados de Barros (1991), identificando deficiências na estrutura curricular dos cursos de odontologia no Brasil, onde apenas
5% desta é preenchida por conceitos da ergonomia e suas práticas, se comparado aos 95% referente à formação específica do
CD. Tendo em vista o propósito desta pesquisa em minimizar o
estresse ocupacional através de ações preventivas e corretivas,
os resultados finais apresentados após a aplicação do PELLENA
foram animadores, interferindo positivamente no processo de
aprendizado, através da aquisição de novas práticas.
No tocante a discussão dos resultados sobre a eficiência do
treinamento ergonômico direcionado e do PELLENA, ratifica-se
a grande importância da relação do posicionamento do CD no
mocho, para que este possa trabalhar suas oito horas diárias,
sem a presença de dores na coluna vertebral. Os resultados do
presente estudo confirmam o desconhecimento sobre a posição
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Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT
ideal no mocho do profissional durante os atendimentos. Segundo Saquy e Pecota (1996), é indispensável que o CD sente-se de
forma que os pés estejam totalmente apoiados no chão, com a
coluna ereta, apoiada no encosto do mocho. Estudos feitos por
Thorton (1980), na NASA, identificam os ângulos articulares do
corpo, onde ocorre a menor pressão na coluna vertebral. No que
tange a articulação do quadril (referência na posição sentada), a
menor pressão ocorre com esta a 117º, ou seja, o profissional
deve permanecer com a linha do quadril acima dos joelhos
(altura maior que 90º). Desta forma, as pressões na coluna
vertebral serão reduzidas abruptamente (NOGUEIRA, 1983).
Segundo Kapandji (2001), a curvaturas vertebrais fisiológicas
permanecerão inalteradas e as pressões serão mais bem distribuídas pelo corpo, embora alguns autores afirmem que as coxas
dos CD estejam aproximadamente paralelas ao chão, formando
ângulo reto (90º) com as pernas (MARQUART, 1980; BARROS,
1991; PORTO, 1994; SAQUY & PÉCORA, 1996). Sendo assim, o
profissional poderá trabalhar de forma correta, com sua postura
adequada, o que consequentemente, prorrogará o início dos sintomas dolorosos somente para o término da jornada, conforme
dados obtidos após a pesquisa.
De acordo com os resultados, a minoria possuía conhecimentos a respeito das pausas de trabalho e suas aplicações práticas.
Após o projeto verificou-se a correta aplicação do PELLENA nas
pausas (intervalos), ou nos movimentos indiretos e inevitáveis
que correspondem, de acordo com Barros (1991), a 88% do
tempo operatório improdutivo de um CD (realizados fora da
boca do paciente ou procedimentos elegíveis a auxiliares odontológicos). Da mesma forma, se alinha ao estudo randomizado
realizado por Rundkrantz Moritz (1990), onde foi concluído que
48% dos CD que realizavam pausas entre os atendimentos, não
sofriam com sintomas cervicobraquiais, ao contrário daqueles
que não realizavam, 52%. Através da pesquisa foi observada
a maior adaptação destes em relação ao quadro doloroso.
Mesmo com pouco tempo de aplicação diária do PELLENA, por
parte dos pesquisados, estes apontaram redução predominante
significativa na classificação da dor para um nível mais leve
(desconfortante), do que anteriormente ao projeto (branda e
horrível). Segundo Silveira (1997), os problemas relacionados
com a coluna vertebral são a segunda causa de afastamento de
trabalhadores operacionais, perdendo somente para dores de
cabeça. Cerca de 80% da população adulta tem probabilidade
de ter problemas relacionados à coluna. O início das queixas
dolorosas na prática clínica apontadas por eles, inicialmente
maior, no meio da jornada de trabalho (72%), sofreu uma forte
queda (26%), logo, o aparecimento dos sintomas só foi relatado
predominantemente (74%) ao término da jornada, embora,
após a pesquisa experimental, não fora relatado qualquer sintomatologia. Isto explica a importância das pausas para evitar a
fadiga precoce e, consequentemente, a incidência de LER/DORT.
Durante a atividade profissional de um CD, sua musculatura
adota principalmente uma contração estática, o que restringe
o fluxo sanguíneo necessário por insuficiência de oxigênio,
deprimindo o grau de eficiência muscular. Este fato acelera o
aparecimento da fadiga pelo acúmulo de ácido lático no sangue.
(GRANDJEAN,2006; FOX, 1982).
Uma importante mudança de conceito foi evidenciada nesta
pesquisa, onde a maioria dos CD, que inicialmente acreditava
que as LER/DORT estava associada somente a postura, posteriormente a aplicação do PELLENA entendeu que os principais
motivos são causados por fatores organizacionais e cognitivos,
este último gerado pelo estresse ocupacional presente na rotina
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dos CD egressos. A ideia de que a postura inadequada é a principal responsável pela alta incidência de LER/DORT foi desmistificada pelo presente estudo, tornando-a consequência e não mais
a causa. Diversos estudos enfatizam princípios da racionalização
e otimização de procedimentos na prática odontológica, como
por exemplo, limitando ao máximo os deslocamentos desnecessários durante a execução de uma determinada tarefa, evitando
assim o aparecimento precoce das LER/DORT. (MARQUART,
1980; SAQUY & PÉCORA, 1994; PORTO, 1994).
Porto et al. (1994) em trabalho de comparação de um tratamento endodôntico realizado por um profissional sozinho e com
auxiliar, onde todas as etapas foram acompanhadas e computadas (cronometradas), chegou aos seguintes dados conclusivos; o
CD ganha 1/5 de tempo (20,43%) trabalhando com auxiliar e delegando funções, o que, sem dúvida, é altamente lucrativo, pois
ele paga o auxiliar e ainda lucra sobre seu trabalho, com o valor
do tempo economizado. Para Cooper (1987), fatores psicossociais ligados a organização do trabalho e psicológicos individuais
podem estar presentes e imersos entre condições especiais de
exposição. Neste caso, relacionadas às exigências do processo
de trabalho dos CD. Estes fatores são apontados como indicadores de estresse, o que reforça a ideia da odontologia como uma
profissão física e mentalmente estressante, sem contar com sua
associação com problemas músculo-esqueléticos.
O baixo índice (40%) de horas dormidas de forma adequada
pelos pesquisados (6 a 8 horas), levanta um grande perigo para
as atividades clínicas, visto que, um sono ruim prejudica o raciocínio, além de déficit de atenção. Igualmente, tomografias computadorizadas do cérebro de jovens privados de sono mostram
redução do metabolismo nas regiões frontais (responsáveis pela
capacidade de planejar e de executar tarefas) e no cerebelo, responsável pela coordenação motora (DUAILIBI, 2003; GRADJEAN,
2005).
Os resultados bastante animadores durante a verificação do
aprendizado constatou 95% de aprovação, com práticas diárias
do protocolo experimental PELLENA (entregue impresso a cada
indivíduo ao final da pesquisa), convergem na mesma direção
que outros estudos sobre a ginástica laboral aplicada a estes
profissionais. Em sua tese de mestrado pela UFSC, em 2003,
o fisioterapeuta Alexandre Crespo elaborou um programa de
ginástica laboral, que foi testado em 37 dentistas. Os resultados
deste estudo reforçam a importância de atuar na capacitação
dos CD para prevenir as LER/DORT, melhorando sua capacidade
física operacional e organizacional.
Conclusão
A metodologia empregada no presente estudo mostrou-se
confiável, exequível e adequada para testar a hipótese de trabalho. Embora com uma pequena amostra da realidade, permitiu
à aquisição de um significativo volume de informações, possibilitando conhecer alternativas de ações ergonômicas que podem
ser aplicadas ora no domicílio, ora no consultório odontológico,
reduzindo, portanto, o alto índice de LER/DORT em CD. O modelo proposto em realizar um treinamento aplicado de práticas
ergonômicas, com aulas teóricas e práticas pré-determinadas,
mostrou-se eficiente, haja vista que os resultados demonstraram um aprendizado sólido dos pesquisados. Observa-se que
há muito vem sendo estudada a condição diária do trabalhador
odontológico no que tange aos aspectos ergonômicos. Os resultados obtidos em relação à aplicação experimental do PELLENA
foram bastante animadores, visando conscientizar, através de
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Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT
treinamentos diários, os CD sobre as necessidades de instituir
uma sequência de cinesioterapia laboral antes, durante e após
cada atendimento, na profilaxia das LER/DORT, mostrou-se
eficaz. Embora necessite aplicá-lo através de novos estudos randomizados com uma amostragem mais significativa para obter
dados fidedignos a realidade da população destes profissionais.
Normalmente, exigi-se do CD egresso, que seja feito um trabalho maciço de conscientização do paciente, quanto aos bons
resultados de um comportamento preventivo. Diante desta
perspectiva, há que se pensar na formação de um profissional
com um caráter preventivo sim, mas não apenas para o seu paciente. É preciso fazer com que o futuro profissional acredite na
necessidade de buscar para si, comportamentos que venham lhe
conferir um trabalho agradável e o menos estressante possível.
Esta pesquisa identifica problemas relacionados à formação
dos CD. Devemos melhorar a grade curricular do curso, incluindo
disciplinas teóricas – práticas de ergonomia para serem aplicadas
ao dia-a-dia dos profissionais, aprofundando temas inerentes
a qualquer aprendizado na área da saúde do trabalhador, que
é a fisiologia do trabalho. Entender o porquê de cada atitude,
cada ação em prol de melhorias da classe odontológica. Por fim,
sugere-se que novas pesquisas devam ser realizadas para aprofundar o assunto, objetivando atender a todas as necessidades
biopsicossociais do CD.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
63
Qualidade de vida e fatores
de risco cardiovascular em
funcionários de uma empresa do
comércio
Quality of life and cardiovascular risk factors in employees of a business
Autores:
Juliana Bassalobre de Carvalho Borges - Profa. Drª, Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade da Alta Paulista – FAP – Tupã/SP
Luciana Soares Seixas - Fisioterapeuta, Residente PSF – FAMEMA, Marília, SP
Sebastião Marcos Ribeiro de Carvalho - Prof. Assist. Dr., Docente Faculdade de Filosofia e Ciências, Campus de Marília,UNESP – Marília/SP
Trabalho desenvolvido no curso de Fisioterapia da FAP, Faculdade da Alta Paulista, Tupã/SP.
Correspondência para: Juliana Bassalobre Carvalho Borges, Rua Venâncio de Souza, 422. CEP: 17514-072, Bairro Aeroporto, Marília, SP.
Telefone: 14- 3433-7286. E-mail: [email protected] uu: Sebastião Marcos Ribeiro de Carvalho, Rua Mecenas Pinto Bueno, 1080, JM Isabel,
Marília, SP; Telefones: 14-3433-4714 / 8155-6228; e-mail: [email protected]
Resumo
FUNDAMENTO: O ambiente de trabalho é afetado por
hábitos de vida inadequados que podem causar alterações na
qualidade de vida (QV) dos funcionários.
OBJETIVOS: Avaliar a qualidade de vida e os fatores de risco
cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio.
Relacionar qualidade de vida com as variáveis de risco cardiovascular, gênero e setor de trabalho.
MÉTODOS: Foram avaliados 41 funcionários (30 feminino
e 11 masculino) com idade entre 18 e 54 anos (média 27,4
± 8,9 anos). Utilizado protocolo com: dados pessoais, antecedentes pessoais, exame físico (antropometria) e questionário WHOQOL-bref para avaliar a QV. Foi realizada análise
estatística pelo teste qui-quadrado e correlação de Sperman,
significância de 5%.
RESULTADOS: Encontrou-se 31(75,6%) sedentários; 16
(39,0%) excesso de peso; 2(4,9%) tabagistas; 9(22,0%) consumo alcoólico e 25(61,0%) antecedentes familiares. Verificouse 13(31,7%) com sobrepeso/risco baixo e 3(7,3%) obesos/
risco moderado. A melhor pontuação no WHOQOL-bref foi no
domínio físico (72,9), a pior no meio ambiente (61,3) e escore
médio de 69,5 para QV total. Os funcionários do gênero masculino apresentaram valores maiores para todos os domínios,
porém essa associação teve resultado não significante. Correlação positiva entre os domínios: físico e psicológico com:
meio ambiente e QV total.
CONCLUSÕES: Os funcionários apresentam importantes
fatores de risco cardiovascular como sedentarismo, antecedentes familiares, excesso de peso e consumo alcoólico. A QV
dos funcionários é considerada pela percepção de saúde como
satisfatória, a melhor QV é no domínio físico e a pior no meio
ambiente. Sugere-se à empresa medidas para mudança nos
fatores de risco cardiovasculares detectados.
Palavras-chave: Ambiente de trabalho, Qualidade de vida,
Índice de massa corporal, Fatores de Risco.
64
Abstract
BACKGROUND: The workplace is affected by poor lifestyle
habits that can cause alterations in the quality of life (QOL) of
the employees.
OBJECTIVE: To evaluate the quality of life and the cardiovascular risk factors in employees of a business. Relate the
quality of life with the variables of cardiovascular risk, gender
and work sector.
METHOD: 41 employees were evaluated (30 females and
11 males) aging between 18 and 54 years (mean 27.4 ± 8.9
years). A protocol was used with: personal data, personal
background, physical examination (anthropometry) and the
WHOQOL-bref questionnaire to evaluate the QOL. Statistical
analysis was completed by the Chi-squared test and Sperman’s
rank correlation, with a significance of 5%.
RESULTS: We found 31(75.6%) sedentary; 16(39.0%) excess
weight; 2(4.9%) smokers; 9(22.0%) alcohol consumers and
25(61.0%) family history. We also found 13(31.7%) overweight/low risk and 3(7.3%) obese/moderate risk. The best score
on the WHOQOL-bref was on physical health (72.9), and the
worst on environment (61.3) and mean score of 69.5 for total
QOL. Male employees presented greater scores on all domains, but this association had a non-significant result. There
was positive correlation between the physical and psychological domains with the environment and total QOL.
CONCLUSION: The employees presented important cardiovascular risk factors like sedentary lifestyle, family history,
excess weight and alcohol consumption. The employee’s QOL
is considered satisfactory in the perception of health; the best
QOL being in the physical domain and the worst in the environment. Change measures are suggested to the company for
the cardiovascular risk factors detected.
Key words: Working environment, Quality of life, Body mass
index, Risk Factors.
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio
Introdução
No decorrer da história, a preocupação com doenças e
suas complicações no ambiente de trabalho mudou. Anteriormente, a preocupação era somente com o grau de exposição ocupacional desencadeando os perigos com relação
à saúde; atualmente, porém, a preocupação é também com
doenças crônicas não transmissíveis, sendo o ambiente de
trabalho um local em potencial para estudos das causas e
intervenções dessas doenças. As intervenções incidem como
ponto principal a modificação de comportamentos, como
dieta e exercícios1.
Relacionando os riscos cardiovasculares com as condições
de trabalho, atualmente pode-se perceber que a grande
competitividade, jornadas prolongadas de serviço, tarefas repetitivas e pressão por produtividade, ocasionam alterações
na saúde do trabalhador e altas despesas com assistência
médica e pagamentos de seguros 2.
Qualidade de vida (QV) foi definida pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS como “a percepção do indivíduo de sua
posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores
nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Sendo que, a QV, pode ser
influenciada por diferentes fatores, tais como condições e
satisfação no trabalho, salários, relações familiares, estado
de saúde, lazer, prazer e até mesmo a espiritualidade3,4.
A satisfação no trabalho é um dos pilares fundamentais
na construção do conceito de QV, devido o trabalho ocupar
grande parte da vida, estabelecer relações e dimensionar
diferentes possibilidades que emergem da sua maior ou
menor valorização social. A QV reflete também, o grau de
satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e para a própria estética existencial de indivíduos e
coletividades 4.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a Qualidade de Vida e os fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio. Relacionar qualidade
de vida com as variáveis de risco cardiovascular, gênero e
setor de trabalho.
Métodos
O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética e
pesquisa da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA),
protocolo nº. 155/08 em 28/04/2008. Os participantes do
estudo foram esclarecidos de todos os procedimentos e
assinaram o Temo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foi realizado um estudo do tipo transversal, quantitativo e
descritivo em uma empresa do comércio da cidade de Marília, estado de São Paulo. O período de coleta de dados foi o
mês de Janeiro de 2008.
Participaram do estudo funcionários acima de 18 anos
completos, de ambos os gêneros, que concordaram em
participar por meio do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Foram excluídos os funcionários que estavam em período
de férias ou de licença durante a realização do estudo, os que
não assinaram o consentimento livre e esclarecido ou o prewww.rbft.com.br
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encheram de forma incorreta e os que não se interessaram
em participar.
A população para estudo foi uma equipe de funcionários
pertencentes a todos os setores de uma empresa do comércio. Todos os funcionários foram informados e convidados a
participar. Verificou-se total de 47 funcionários na empresa,
desses, foram excluídos seis que estavam em período de
férias, folga ou de licença durante a realização do estudo e os
que não se interessaram em participar.
A amostra final foi composta de 41 funcionários, 30 do
gênero feminino e 11 do gênero masculino, com idade entre
18 e 54 anos (média de 27,4 ± DP=8,9 anos).
Os funcionários foram submetidos a uma avaliação que
constava dados pessoais, sinais vitais, antecedentes pessoais,
exame físico (antropometria) e questionário de qualidade de
vida.
Foi definido como sedentário todo funcionário que informou não participar de nenhum tipo de atividade física; ou
participar de atividade física por um período menor que 20
minutos por dia e com freqüência menor do que três vezes
por semana 5.
O exame físico incluiu as medidas antropométricas de
peso, estatura, circunferência da cintura e circunferência do
quadril 6.
Para a verificação de peso foi utilizada uma balança analógica com precisão de 100g, com o indivíduo em posição
ortostática, pés descalços no centro da balança, trajando
roupas leves. Para a medida da altura, utilizou a régua da
balança em centímetros 7.
As medidas de circunferência da cintura (menor circunferência entre o gradil costal e a cicatriz umbilical, em centímetros) e circunferência do quadril (maior circunferência da
região glútea, em centímetros), foram realizadas com uma
fita métrica inelástica 6.
A partir dos valores obtidos com as medidas de estatura e
peso corporal calculou-se o índice de massa corpórea (IMC)
de acordo com a seguinte relação: peso corporal (kg) /estatura2 (cm). Classificando os indivíduos abaixo do peso < 20;
peso normal 20 a 24,9; sobrepeso 25 a 29,9; obeso 30 a 39,9
e severamente obeso ≥ 40 8, 9.
A classificação do risco cardiovascular (RCV) foi realizada
segundo a “American Heart Association”, que determina
uma correlação entre o risco de doença cardiovascular e o
aumento do IMC, os funcionários foram classificados em
cinco categorias. Para classificação do IMC como normal, RCV
é muito baixo; para IMC sobrepeso o RCV é baixo; para IMC
obeso o RCV é moderado e para IMC severamente obeso,
RCV alto8.
A relação W/h foi realizada em indivíduos obesos, através
da divisão da circunferência da cintura pela circunferência do
quadril. Classificando o indivíduo em obesidade ginóide ou
periférica e obesidade andróide ou central 6,8.
Para avaliar a qualidade de vida foi utilizado o questionário
de qualidade de vida WHOQOL-bref. Cada funcionário foi
orientado e respondeu em casa o questionário, depois foi
feita a somatória dos pontos segundo orientação do questionário 3.
O WHOQOL-bref é uma versão abreviada composta pelas
65
Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio
26 questões que obtiveram os melhores desempenhos
psicométricos extraídos do WHOQOL-100, é composto por
quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio
ambiente. Fornece um perfil da qualidade de vida obtido
através dos escores dos quatro domínios, onde quanto mais
alto os escores, melhor é a qualidade de vida3.
Nesse questionário as duas primeiras questões são gerais
e examinadas separadamente: onde a primeira questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua qualidade de vida e a
segunda questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua
saúde. Cada uma das 24 questões restantes do questionário,
possui uma pontuação que varia de 1 a 5 3.
Para o cálculo manual de cada domínio há uma equação
que resulta em um escore bruto. O escore bruto é então
convertido em um escore transformado, utilizando-se uma
tabela de referência. O método de transformação converte
os escores brutos em uma escala de 4 a 20, comparável com
o WHOQOL-100, e em uma escala de 0 a 100 10. Os escores
dos domínios podem ser agrupados e então revelar um escore único para a qualidade de vida4.
Foi realizada análise estatística, pelo teste qui-quadrado e
correlação de Spearman, com nível de significância de 5%.
Resultados
Na Tabela 1 estão apresentadas as características gerais
dos funcionários. Observou-se maior frequência do gênero
feminino com 30 (73,2%) e de funcionários solteiros com 28
(68,3%). A faixa etária de 18 a 27 anos corresponde a maior
parte da amostra, 29 (70,7%) indivíduos. Encontrou-se 31
(75,6%) de sedentarismo, 2 (4,9%) de tabagismo, 9 (22,0%) de
consumo alcoólico e 25 (61,0%) de antecedentes familiares.
Na Tabela 2 encontra-se o resumo dos valores de média,
desvio padrão, mínimo e máximo para as variáveis: idade,
peso, altura, IMC, circunferência abdominal e circunferência
quadril; segundo o gênero e na amostra total. Os funcionários
do gênero masculino apresentaram valores médios maiores
do que o feminino para todas variáveis, exceto na idade.
De acordo com o IMC e o RCV, observa-se 13 (31,7%)
funcionários com sobrepeso e risco baixo; 3 (7,3%) com
obesidade e risco moderado; totalizando 16 (39,0%) com
excesso de peso. Nenhum funcionário foi classificado em
severamente obeso (risco alto). Utilizando-se a classificação
para obesidade segundo a relação W/h, dos três pacientes
obesos, dois são classificados como obesidade ginóide e um
como andróide.
Na classificação do IMC segundo o gênero, encontrou-se
para o gênero feminino indivíduos normais com 14 (46,7%),
seguida de sobrepeso com nove (30,0%) e o menor índice de
obeso, um ( 3,3%) indivíduo. No gênero masculino a prevalência foi de indivíduos com sobrepeso 4 (36,4%) e normal
4 (36,4%), tendo 2 (18,2%) de obesos. Nenhum funcionário
foi classificado como severamente obeso. Na associação
entre gênero e classificação do IMC obteve-se resultado não
significante (p=0,37).
Na associação entre gênero e consumo de álcool, houve
associação significante (p<0,05), com prevalência de sete
(77,8%) indivíduos etilistas no gênero masculino e, dois
66
(22,2%) em relação ao feminino.
Nas Tabelas 3 e 4 estão apresentados os resultados referentes às duas questões gerais do questionário de qualidade
de vida WHOQOL-bref, que tratam da percepção que o indivíduo tem de sua qualidade de vida e de sua saúde.
A Tabela 3 apresenta os resultados referentes à primeira
questão; “avaliação da percepção subjetiva do indivíduo
sobre a sua qualidade de vida geral”. Observa-se que dos 41
respondentes, 23 (56,1%) funcionários avaliaram como boa
e sete (17,1%) como muito boa, totalizando 30(73,2%) indivíduos com a percepção de satisfeitos com a sua qualidade
de vida.
Na Tabela 4 estão apresentados os resultados da segunda
questão; “avaliação da percepção do indivíduo sobre sua
saúde”. Observa-se que dos 41 funcionários, 16 (39,0%)
estavam satisfeitos com a sua saúde e nove (21,9%) muito
satisfeitos, totalizando 25 (60,9%) indivíduos com a percepção de satisfeitos coma sua saúde.
Os resultados dos escores dos domínios do questionário
de qualidade de vida WHOQOL-bref, na amostra total. As
dimensões encontradas no questionário poderiam variar a
pontuação de 0 a 100, sendo que quanto menor a pontuação, pior a qualidade de vida. A melhor qualidade de vida foi
no domínio físico (72,9) e a pior no domínio meio ambiente
(61,3). Na qualidade de vida total obteve-se o escore médio
de 69,5.
Na Tabela 5 estão apresentados os resultados dos domínios do questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref
segundo o gênero. Os funcionários do gênero masculino
apresentaram valores maiores do que o feminino para todos
os domínios, porém essa associação teve resultado não significante nessa amostra.
Na associação entre qualidade de vida e setor de trabalho
obteve-se resultado não significante nessa amostra.
Na Tabela 6 estão apresentadas as correlações entre os
domínios do questionário de Qualidade de Vida (WHOQOLbref).
Foi observada correlação positiva entre os domínios físico
e psicológico com os domínios: meio ambiente e qualidade
de vida total; e entre si. Pode-se concluir que quanto maior
o escore do domínio físico e psicológico, maior a qualidade
de vida dos domínios: meio ambiente e da qualidade de vida
total.
Foi observada correlação positiva entre o domínio social e
a qualidade de vida total. Pode-se concluir que quanto maior
o escore do domínio social melhor a qualidade de vida total
dos indivíduos estudados.
Discussão
No presente estudo, o meio escolhido para a investigação
da qualidade de vida foi o setor do comércio. Isso ocorreu
por ser o local onde os funcionários passam, cerca de 65%
de seu tempo de vida, influenciando consideravelmente, os
hábitos de cada um 9.
A média de idade da população estudada foi de 27 anos,
constituindo assim uma amostra de adultos jovens. Não
obstante, por se tratar de uma população nova em relação
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Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio
à idade, os funcionários apresentam importantes fatores
de risco: 75,6% de sedentarismo; 61,0% de antecedentes
familiares; 39,0% de excesso de peso; 22,0% de consumo
alcoólico e 4,9% de tabagismo.
Acredita-se que esses resultados podem ser preocupantes,
pois grande parte dos avaliados se constituem de adultos
jovens, os quais podem não ter manifestado as conseqüências fisiológicas destes fatores de risco, porém futuramente
podem sofrer em decorrência desses fatores.
Observou-se que mais da metade, 75,6% dos funcionários
eram sedentários, dados estes semelhantes aos encontrados
na literatura. Matos et al. (2004) em um levantamento realizado entre os funcionários da Petrobrás, verificaram uma
prevalência de sedentarismo em 67,3% da amostra. Sendo
que no estado de São Paulo, o sedentarismo atinge 69% da
população 1.
A prevalência de consumo alcoólico foi de 22 % (9 indivíduos), sendo 77,8% homens e 22,2%) mulheres, dados
semelhantes foram encontrados por Sabry, Sampaio e Silva
(1999), em um estudo sobre etilismo em funcionários da
Universidade estadual do Ceará, onde houve a diferença
de consumo alcoólico em 61,7% em homens e 38,3% em
mulheres 11.
Em relação aos antecedentes familiares, 61% tinham
familiares com algum tipo de doença cardiovascular. Dados
semelhantes foram encontrados por Gus et al (2002) em um
inquérito populacional realizado no Estado do Rio Grande do
Sul, em que a prevalência de antecedentes familiares correspondeu a 57,3% da população investigada 12.
Os resultados deste estudo indicaram ainda uma elevada
prevalência de funcionários acima do peso. Foram diagnosticados 31,7 % com sobrepeso e 7,3% com obesidade, assim
sendo, um total de 39% da população avaliada se encontra
acima do peso. Esses números são próximos ao observado
pelo IBGE (2004), que detectou para toda a população adulta
brasileira uma prevalência de 40,6% e 11,3% de sobrepeso e
obesidade, respectivamente 13.
Ao analisar os dados antropométricos de acordo com o
gênero, houve uma diferença entre os homens e mulheres
para o sobrepeso e obesidade, com valores superiores encontrados entre o gênero masculino, diferindo do que se tem
encontrado na literatura. A Organização Mundial da Saúde
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997) atribuiu ao gênero
feminino uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade
em relação ao gênero masculino. Porém, no presente estudo,
a associação entre gênero e classificação de IMC obteve-se
resultado não significante 10.
Em relação a qualidade de vida, a primeira questão do
questionário WHOQOL-bref, avaliou a percepção subjetiva
do indivíduo sobre sua qualidade de vida geral, os resultados
encontrados, evidenciaram que a maioria dos funcionários
(56,1%) consideram sua QV boa. Concordando com um estudo realizado em uma amostra de funcionários de um hospital
no Paraná, onde encontrou-se 62,5% de funcionários que
consideravam sua QV como boa 4.
Na segunda questão sobre a percepção do indivíduo sobre
sua saúde, observou-se que a maioria (39%) encontra-se
satisfeitos. Dados semelhantes foram encontrados em um
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estudo que aplicou o questionário em uma amostra de 250
indivíduos, onde 38% consideraram estar satisfeitos com sua
saúde 3.
Como os funcionários estudados têm uma percepção
satisfatória de sua QV, acredita-se que estes trabalhadores
também estão satisfeitos com o seu trabalho, pois, segundo
Martins (2002), a satisfação no trabalho é um elemento fundamental na determinação da QV 3.
A análise da QV neste estudo evidenciou escores altos para
os domínios físico, psicológico e relações sociais, indicando
uma boa qualidade de vida. Já o Domínio Meio Ambiente
apresentou escores mais baixos (61,3), concordando com
Martins (2002), onde encontrou escore semelhante para o
domínio Meio Ambiente (55,8). Como este domínio avalia a
relação com o meio ambiente, atribui-se os baixos escores
pela sua relação com questões como segurança, lazer, moradia, transporte, serviços de saúde, salário, ambiente físico.
Essas questões são consideradas componentes fundamentais sobre o qual se pode edificar uma vida com qualidade,
porém são questões que não dependem somente do trabalhador para serem solucionadas3, 4.
O declínio dos escores da QV no domínio meio ambiente
torna mais forte a necessidade de programas que promovam
a saúde dos funcionários nesse aspecto, pois quando os
funcionários são treinados, se sentem valorizados também
profissionalmente.
No presente estudo foi observado resultado não significante entre QV e gênero, porém, os funcionários do gênero
masculino apresentaram valores maiores que o feminino.
Os resultados encontrados mostraram escores altos
indicando que os funcionários que participaram do estudo
possuem um bom nível de QV. Estando de acordo com os dados preconizados pela OMS de que o perfil da QV é definido
pelos escores obtidos do questionário WHOQOL-bref, sendo
que quanto mais alto o escore, melhor a QV do indivíduo.
Conclusão
Mediante os dados obtidos, o estudo realizado permite
considerar:
Os funcionários apresentam importantes fatores de risco
cardiovascular: 75,6% de sedentarismo; 61% de antecedentes familiares; 39% de excesso de peso; 22% de consumo
alcoólico e 4,9% de tabagismo.
O nível de qualidade de vida dos funcionários é considerado pela percepção de saúde como satisfatório com percepção de qualidade de vida boa.
Os escores dos domínios de QV foram semelhantes, a
melhor qualidade de vida é no domínio Físico e a menor
no Meio Ambiente. Os maiores valores ocorrem no gênero
masculino, porém a QV não apresenta relação com o gênero
e o setor de trabalho nessa amostra.
Sugere-se à empresa medidas para mudança nos fatores
de risco cardiovasculares detectados, por meio de palestras,
atividades educacionais, orientação nutricional e desenvolvimento de programas objetivando hábitos alimentares saudáveis e prática regular de atividade física, proporcionando
atenção à saúde dos trabalhadores.
67
Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio
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turnos. 2002. Dissertação. (Mestrado em Engenharia de
Produção) – Curso de Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em <http://www.
nucidh.ufsc.br/teses/dissertacao_marilu.pdf> Acesso em: 22
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IRWIN, S; TECKLIN, J. S. Fisioterapia Cardiopulmonar. 3ª
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BORGES, J. B. C.; DOIRADO, F. G.; SEIXAS, L. S.; CARVALHO,
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POWERS, S.K.; HOWLEY, E.T. Fisiologia do exercício: teoria e
aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3. ed. São
Paulo: Manole, 2000, p. 97.
Tabela 2 – Resumo dos valores: média, desvio-padrão
(DP), valor mínimo e máximo para as variáveis: idade, peso,
altura, IMC , Circunferência Abdominal e Circunferência
Quadril; segundo o gênero e na amostra total
LEON, A. S. Bases científicas para as medidas de prevenção
das doenças cardiovasculares hipertensiva e aterosclerótica.
In: POLLOCK, M.; SCHMIDT, D.H. Doença Cardíaca e Reabilitação. 3.ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2003.
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the global epidemic of obesity. Geneva, 1997. Report of the
World Health Organization Consultation of Obesity.
68
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio
Tabela 3- Resultados das respostas sobre a percepção da
qualidade de vida - questão 1 do questionário WHOQOLbref
Tabela 5 – Resumo dos valores: média, desvio-padrão,
valor mínimo e máximo, segundo o gênero das dimensões
do WHOQOL-bref
Tabela 6 – Correlações entre os domínios do Questionário
WHOQOL-bref e qualidade de vida total
Tabela 4 - Resultados das respostas sobre a percepção da
Saúde - questão 2 do questionário WHOQOL-bref
| MATÉRIA
Fisioterapia do Trabalho
Nova especialidade em Prova de Titulação:
Por: Henrique Alves, Izalvina Oliveira e Wemerson Pedroni
Colaboradores: ABERGO, ABRAFIT, Adonis Kaizer, Allison Klein, Claudinei Chamorro Pelegrina Júnior, CTS Informática, Ediléa P. Suethi, EMGSystem, Illanna Piovaneli, InfraRedMed, Luciana Barretto Lima, Márcio Marçal,
Marcos Brioschi, Marcos Domaneschi, NRWORK, Rafael Petersen, Revista Proteção.
A terceirização da economia, a automação, e a informatização promovem o deslocamento do perfil de mortalidade
causada pelo trabalho. Há diminuição das doenças profissionais clássicas e valorização das doenças cardiovasculares
(hipertensão arterial e doenças coronarianas), distúrbios
mentais, estresse e câncer. Este processo social ocorreu em
épocas diferentes no mundo, e no Brasil, foi decisivo para
a mudança do enfoque estabelecido na nova Constituição
Federal de 1988. Mais recentemente, a denominação “saúde do trabalhador” aparece na Lei Orgânica de Saúde (Lei
8080/90) que conceitua e estabelece as competências do
SUS (Sistema Único de Saúde) neste campo. Assim, no que
diz respeito à Saúde do trabalhador no Brasil, apresentamse as seguintes características:
• Epidemias de intoxicação e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT);
• Crescente reflexão sobre o processo saúde x doença;
• Novas práticas sindicais de saúde (circulação de informação e reformulação de CIPA).
Todos estes fatores contribuíram para que a Fisioterapia
saísse do terceiro nível de prevenção (reabilitação), passando para o segundo (tratamento das doenças) e mais
recentemente para o primeiro (prevenção propriamente
dita). Para tanto, o Fisioterapeuta deve dispor de todos os
recursos necessários para a promoção da saúde. Isto permite identificar não apenas os fatores ligados à patologia e à
fisiopatologia, mas também os que agravam ou provocam
distúrbios ou lesões nos trabalhadores. Conforme o exposto, observa-se o crescimento das patologias em geral e
principalmente as ligadas a atividades laborais e que são,
em sua grande maioria, elegíveis para tratamento Fisioterapêutico, direta ou indiretamente. É mister, portanto, que
o Fisioterapeuta ocupe seu lugar no que se refere à Saúde
dos trabalhadores.
A História:
1968 - O CRP (Centro de Reabilitação Profissional) do Rio
de Janeiro ganha o Prêmio Internacional de melhor Centro de
Referência para reabilitação do trabalhador no mundo (Drs.
Ismar Emanuel D’Oliveira Bastos; Vilma Costa Souza; Ione
Moézia de Lima, Vera Stocler, Nadja Ferreira e Pedro Salles
Filho);
Décadas de 80 e 90 - Existem atuações de Fisioterapeutas
em São Paulo, Rio de Janeiro , Minas e Paraná: Wanderson
Oliveira - Xerox; Luís Guilherme Barbosa - Petrobrás; Nivalda
Marques do Nascimento - Petrobrás e IBM; Erimilson Roberto
Pereira - Polícia Civil do RJ; Henrique Alves - BB, Arquimedes
Augusto Penha - Votorantim Metais e Grupo Gerdau, Luis
Ferreira Monteiro Neto - Programa de GL e AET - Alpina
TermoPlastico S/A, Rosemeire Marangoni - Mercedes; Lucy
Mara Baú - Telepar e Caixa Econômica Federal; Jacinta Renner - Setor Calçadista - RS; Helenice G. Coury - Faber Castell.
Primeira publicação na área: “Estudo Descritivo da Postura Sentada em Indivíduos Realizando Atividades Didáticas”,
pela Fisioterapeuta Prof. Dra. Helenice Gil Cury, primeira
Coordenadora do Programa de Mestrado e Doutorado em
Fisioterapia (Prevenção em Lesões Musculoesqueléticas e
Ergonomia) UFSCAR - 1986;
1998 - Fundação da ANAFIT - Associação Nacional de Fisioterapia do Trabalho (Pres. Cláudia Nammour Rossi);
1999 - I ENAFIT - Encontro Nacional de Fisioterapeutas do
Trabalho - SP, organizado pela ANAFIT.
70
2000 - I EFITERJ - Encontro de Fisioterapia do Trabalho
do Estado do Rio de Janeiro (que deveria ser o II ENAFIT),
Coordenado pelo Prof. Henrique Alves;
2000 - Primeira turma de Fisioterapia do Trabalho no IPA-RS;
2002 - I FISIOTRAB em Curitiba/PR - Congresso Brasileiro
de Fisioterapia do Trabalho;
2002 - Fundação da SOBRAFIT - Sociedade Brasileira de
Fisioterapia do Trabalho (Pres. Lucy Mara Baú, de 2002-2004
e Henrique Alves de 2004-2006)
2002 - Segunda turma de Fisioterapia do Trabalho no CBESPR (sendo a primeira com aprovação pelo COFFITO - Portaria
34 de 10/01/2002), sob a coordenação da Profa. Lucy Mara
Baú;
2003 - II FISIOTRAB em Curitiba/PR - Congresso Brasileiro
de Fisioterapia do Trabalho;
2003 - Terceira turma de Fisioterapia do Trabalho no Centro Universitário Salesiano de Lins/SP, sob a coordenação do
Prof. Eduardo Ferro dos Santos;
2003 - Resolução COFFITO n.º 259, de 18 de dezembro de
2003, com redação sugerida pela SOBRAFIT;
2004 - Congresso Internacional de Fisioterapia do Trabalho
(SOBRAFIT) e I CONFIT - Congresso Internacional de Fisioterapeutas do Trabalho (ANAFIT) durante o qual houve a proposta de unificação das entidades por parte do Prof. Henrique
Alves, que lá esteve para este propósito, como presidente da
SOBRAFIT;
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Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010
2005 - I SENAFIT - Seminário Nacional de Fisioterapia do
Trabalho, durante o PrevenSul, em Curitiba, onde foram
tratados os parâmetros da unificação;
2005 - Parecer Consultivo do COFFITO reconhecendo o
termo Ginástica Laboral como genérico da Cinesioterapia
Laboral, garantindo assim o exercício do fisioterapeuta;
2006 - III FISIOTRAB, durante o PrevenSul, em Curitiba;
2006 - Criação da ABRAFIT - Associação Brasileira de Fisioterapia do Trabalho;
2006 - Participação da ABRAFIT no ABERGO - Curitiba-PR;
2006 - Participação da ABRAFIT no II Fórum Nacional de
Políticas Profissionais da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional - COFFITO-DF;
2007 - I Seminário de Fisioterapia do Trabalho da ABRAFIT
- UNICAPITAL-SP;
2007 - Resolução CREFITO-2 Nº 22/2007 - Dispõe sobre a
interpretação do disposto no artigo 1º e incisos da Resolução
Coffito 259/2003;
2008 - IV FISIOTRAB reúne mais de 500 fisioterapeutas em
Curitiba;
2008 - I Seminário Carioca de Fisioterapia do Trabalho da
Interfisio reúne mais de 300 fisioterapeutas no Rio de Janeiro;
2008 - Resolução COFFITO 351 reconhece a especialidade
em Fisioterapia do Trabalho;
2008 - Falecimento do nobre colega Dr. Erimilson Roberto
Pereira;
2008 - Categoria Fisioterapia do Trabalho incluída no 2°
Prêmio TOP FISIO - O Oscar da Fisioterapia Brasileira (Revista
FisioBrasil) - A vencedora foi a Dra. Claudia Ollay, de SP, após
desempate com a Dra. Luciana Barretto Lima, de SE (www.
topfisio.com.br).
2009 - Ministro do Trabalho assinou a aprovação da descrição do MTE - 2236-60. Este é o número de classificação da
fisioterapia do trabalho na CBO;
2009 - II Seminário Carioca de Fisioterapia do Trabalho da
Interfisio (RJ), em abril;
2009 - Formação de Grupos Regionais de Fisioterapeutas
do Trabalho, com destaque para o grupo de Ribeirão Preto,
que, sob coordenação dos colegas Drs Rafael Petersen,
Daniela Balsadi, Fernanda Braga e Cássia Cavalcanti, já realizaram dois encontros, com a presença de representantes da
ABRAFIT, os nobres colegas Drs Arquimedes Penha e Marcos
Domaneschi (respectivamente diretor administrativo e vicepresidente);
2009 - Realizado de 26 a 28 de agosto o Congresso da
ABRAFIT, dentro da EXPO Proteção, onde 42 fisioterapeutas
foram titulados por remissão de títulos, alem da aplicação de
prova a outros que não se enquadravam nas exigências da
remissão (tempo de exercício);
2009 - Fórum da ABERGO, hospedado no evento de Fisioterapia do Trabalho da ABRAFIT;
2009 - Assinatura do Convênio ABRAFIT - COFFITO, para
reconhecimento de títulos de especialista em Fisioterapia do
Trabalho;
2010 - 3º Seminário Carioca de Fisioterapia do Trabalho da
Interfisio - Coordenação Drs Fabio Fajardo e Nivalda Marques;
2010 - No dia 20 de março é lançada oficialmente a RBFT
- Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho, dentro do
evento da Interfisio;
2010 - Ocorrerá em julho o primeiro Congresso Online de
Fisioterapia do Trabalho - COBRAFIT e, em setembro o primeiro Congresso Online de Ergonomia - CONERGO
O que faz o Fisioterapeuta do Trabalho?
Acorde Baú (2002), “Fisioterapia do trabalho é uma especialidade da fisioterapia que atua na prevenção, resgate
e manutenção da saúde do trabalhador, abordando os
aspectos da ergonomia, biomecânica, exercícios laborais, ou
cinesioterapia laboral, ou fisioterapia laboral, ou ergoterapia;
e a recuperação de queixas ou desconfortos físicos, sob o enfoque multiprofissional e interdisciplinar, com o propósito de
melhorar a qualidade de vida do trabalhado, evitando a manifestação de queixas musculoesqueléticas de origem ocupacional ou por atividades de vida diária, com consequente
aumento do bem estar, desempenho e produtividade.”
Segundo Alves (2009), “É o profissional fisioterapeuta,
reconhecido por seu conselho profissional, responsável pelo
diagnóstico de alterações orgânicas musculoesqueléticas,
viscerais, pneumo, dermato e neurofuncionais relacionadas
ao trabalho. Cabe a ele evidenciar as causas físicas, psíquicas,
cognitivas, organizacionais e viscerais oriundas de ambientes, sistemas de trabalho, métodos, tarefas e ocupações que
desrespeitem as características psicofisiológicas de resposta,
gerando assim adoecimento e consequente diminuição
cinesiológica funcional. Consecutivamente, deve recomendar medidas de controle de engenharia, administrativas
e pessoais, além do tratamento especializado, reinserção
profissional e capacitação de pessoas com deficiência (PCDs)
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para o trabalho”.
Nas palavras do Dr. Alison Alfred Klein, presidente da
Associação Brasileira de Fisioterapia do Trabalho – ABRAFIT,
“O fisioterapeuta do trabalho é aquele profissional que atua
vinculado a empresas visando a saúde do trabalhador, é o
profissional que resolve as questões de ergonomia, implanta
programa de ginástica laboral, assessora a empresa e os
trabalhadores em questões judiciais de DORT, realiza pericias
técnicas em ergonomia e DORT em tribunais, desenvolve
programas de prevenção e qualidade de vida, além de atuar
em ambulatórios e clinicas voltadas a saúde do trabalhador.”
Representatividade:
Responde por esses profissionais, segundo convênio
firmado com o COFFITO, a ABRAFIT, que nos esclarece as
perspectivas para o seu primeiro congresso:
Um processo de mais de cinco anos, tempo em que se
consolidou a representação associativa da fisioterapia
do trabalho brasileira. Neste evento, além da importante
parceria com a ABERGO, que realizará seu fórum de certificação, teremos a inédita prova de títulos de Fisioterapeuta
do Trabalho, quando enfim descortinaremos ao mercado o
fisioterapeuta do trabalho, o profissional e toda a sua vasta
área de atuação.
71
Sobre o Exame de Titulação:
Quais os critérios para obtenção do título de fisioterapeuta do trabalho?
Existem basicamente duas situações: a primeira
trata dos profissionais com mais de 5 anos de atuação
na fisioterapia do trabalho, que devem encaminhar
comprovação desta experiência e conquistar, por merecimento, o titulo. A segunda trata daqueles que têm
mais de 2 anos e possuem uma pós-graduação na área.
Estes deverão se submeter a uma prova para conquistar
o titulo. Ambos os casos tem mais peculiaridades, que
devem ser esclarecidas no edital constante no site da
entidade.
Relação com a ABERGO:
Presentes na Associação Brasileira de Ergonomia –
ABERGO, e hospedando seu fórum de certificação em
2009, juntamente ao ABRAFIT 2009, fisioterapeutas do
trabalho têm influenciado em muito as tendências do
mercado de trabalho em ergonomia ocupacional no Brasil.
No entanto, segundo a Resolução COFFITO 259/03, cabe a
este profissional elaborar e assinar a Análise Ergonômica
do Trabalho, sem necessidade de deliberação de qualquer
outra entidade. Assim, algumas determinações do processo de certificação do ergonomista profissional brasileiro,
definidas pela ABERGO, confrontam-se com o que é legal-
gonomistas. Estabelecida há quase meia
década, a iniciativa tem a coordenação
da Abergo como instituição e será uma
das prioridades da equipe recém instalada. “O essencial para a manutenção e
ampliação deste sistema de certificação,
é a credibilidade que o mesmo venha a
manter posteriormente”, reforça José Orlando. Segundo o
ergonomista, a proposta de ação da Abergo foi construída
em cima da pluralidade de sugestões da equipe diretiva, que
reúne profissionais de todo país. “Procuramos reunir um
mente permitido aos fisioterapeutas do trabalho. Resta à
ABERGO a revisão do referido processo.
No entanto, o ar de cordialidade e a presença de fisioterapeutas como conselheiros de ambas as associações têm
garantido sucesso nas futuras negociações.
Presença de destaque seja dada aos Drs. Márcio Marçal e
Cláudia Mazzoni, que, através de convênio com a ABERGO,
têm sediado palestras da mesma na FUMEC - Fundação
Mineira de Educação e Cultura, onde se reúnem diversos
fisioterapeutas mineiros, demonstrando um futuro promissor na parceria, com solução positiva dos impasses.
Inovação, construção e ação. Estas são as palavras de
ordem da nova diretoria (gestão 2009-2011) da Abergo
(Associação Brasileira de Ergonomia), empossada no dia
2 de fevereiro de 2009, ano em que a Ergonomia mundial
completa 60 anos de criação oficial (12 de julho). Tendo o
engenheiro de produção e ergonomista José Orlando Gomes
como presidente, a entidade quer construir uma gestão
mais coletiva, procurando dar continuidade a muitas das
políticas iniciadas anteriormente, como o processo de certificação dos ergonomistas e dos cursos de formação de er-
grupo eclético, vindo de diversos segmentos de trabalho,
pois acreditamos que a Ergonomia está presente em todos
os aspectos da sociedade”, afirma. Além de José Orlando, a
“nova cara” da entidade reúne os prevencionistas Cláudia
Mont’Alvão (RJ),Paulo Victor de Carvalho (RJ), Paulo Antonio Barros Oliveira (RS), José Carlos Plácido da Silva (SP),
Lia Buarque Macedo Guimarães (RS), Márcio Alves Marçal
(MG), Vilma Maria Villarouco Santos (PE), Francisco Soares Másculo (PB) e Maria do Rocio Marinho Bukzec (PR). A
72
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direção deseja ampliar a discussão em torno da Ergonomia,
buscando dar maior visibilidade e valorização ao segmento
no Brasil, além de propor um trabalho coletivo com instituições, governo e sociedade. “A redução dos acidentes de
trabalho passa automaticamente pela atuação ergonômica.
Por isso, precisamos garantir a formação destes profissionais, pois o lugar do ergonomista também é na elaboração
de projetos preventivos”.
Grupos Regionais de Fisioterapeutas do Trabalho:
Como não poderia deixar de acontecer, em função do
crescimento das necessidades prevencionistas das empresas,
que acabaram demandando uma organização associativa
voluntária, começaram a surgir grupos independentes de fisioterapeutas do trabalho, que, embora seja desejo da ABRAFIT,
em mesa redonda própria do evento de agosto, normatizar
grupos regionais com delegados, acreditemos ser importante
sua livre organização, embora desejável a filiação, a fim de que
não exista vínculo nem aproveitamento político das regionais.
Destaque nesse sentido seja dado aos Drs. Rafael de Souza
Petersen, Gustavo Bonugli, Daneila Balsadi, Cássia Cavalcanti e
Fernanda Braga, que organizaram o primeiro (dia 27 de março
de 2009) e o segundo (dia 4 de julho de 2009) encontros da
Região de Ribeirão Preto (SP), com a presença de palestrantes
ilustres, como as Dras. Sarah Tarcísia Rebelo Ferreira, Francine
Leite, Roberta Carreira Moreira, Helenice Gil Coury, Michele
Alem, Isabel Walsh, além dos representantes da ABRAFIT, Drs.
Arquimedes Penha e Marcos Domaneschi.
Nova conquista a CBO:
A estrutura básica da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) foi elaborada em 1977, resultado do convênio
firmado entre o Brasil e a Organização das Nações Unidas
- ONU, por intermédio da Organização Internacional do Trabalho - OIT, no Projeto de Planejamento de Recursos Humanos (Projeto BRA/70/550), tendo como base a Classificação
Internacional Uniforme de Ocupações - CIUO de 1968.
Coube a responsabilidade de elaboração e atualização
da CBO ao MTE, com base legal nas Portarias nº 3.654,
de 24.11.1977 e nº 1.334, de 21.12.1994. É referência
obrigatória dos registros administrativos que informam os
diversos programas da política de trabalho do País.
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São atribuições do Fisioterapeuta do Trabalho, sob
código de família ocupacional 2236-60(FB):
• Prestar consultoria
• Avaliar condições ergonômicas
• Avaliar qualidade de vida no trabalho
• Estabelecer nexo de causa cinesiologica-funcional
ergonômica
• Preparar programas de atividades físicas funcionais
• Participar na elaboração de programas de qualidade
de vida
• Adequar condições de trabalho às habilidades do
trabalhador
73
• Adequar fluxo de trabalho
• Adequar ambiente de trabalho
• Adequar posto de trabalho
• Promover melhora de performance morfofuncional
• Aplicar ginástica laboral
• Ensinar modo operatório laboral
• Corrigir modo operatório laboral
• Implementar cultura ergonômica
• Emitir laudos de nexo de causa laboral
Aplicam técnicas fisioterapêuticas para prevenção,
readaptação e recuperação de pacientes e clientes.
Atendem e avaliam as condições funcionais de pacientes
e clientes utilizando protocolos e procedimentos específicos da fisioterapia e suas especialidades. Atuam na área
de educação em saúde através de palestras, distribuição
de materiais educativos e orientações para melhor qualidade de vida. Desenvolvem e implementam programas
de prevenção em saúde geral e do trabalho. Gerenciam
serviços de saúde orientando e supervisionando recursos
humanos. Exercem atividades técnico-científicas através
da realização de pesquisas, trabalhos específicos, organização e participação em eventos científicos.
No diagnóstico: 1 Coletar dados dos clientes e pacientes (anamnese) 2 Solicitar exames complementares 3
Interpretar exames complementares 4 Estabelecer prognóstico 5 Prescrever terapêutica 6 Estabelecer nexo de
causa cinesiológica funcional ergonômica 7 Estabelecer
nexo de causa cinesiológica funcional energética 8 Estabelecer nexo de causa cinesiológica funcional visceral 9
Estabelecer nexo de causa cardiológico e vascular 10 Estabelecer nexo de causa traumo-ortopédico 11 Estabelecer
nexo de causa respiratória 12 Estabelecer nexo de causa
neuro-funcional 13 Estabelecer nexo de causa dermatofuncional 14 Estabelecer nexo de causa quiropráxico 15
Estabelecer nexo de causa osteopático 16 Estabelecer
nexo de causa acupuntural 17 Encaminhar clientes e pacientes a outros profissionais
Nas intervenções: 1 Interpretar indicadores epidemiológicos e índices de acidentes e incidentes 2 Implementar
ações de conscientização, correção e concepção 3 Analisar
fluxo de trabalho 4 Prestar assessoria 5 Adequar condições
de trabalho às habilidades do trabalhador 6 Adequar fluxo
de trabalho 7 Adequar ambiente de trabalho 8 Adequar
posto de trabalho 9 Programar pausas compensatórias
10 Organizar rodízios de tarefas 11 Promover melhora de
performance morfofuncional 12 Reintegrar trabalhador
ao trabalho 13 Aplicar ginástica laboral 14 Reavaliar estratégias de intervenção
Legislação específica:
Resolução COFFITO 80/87:
Artigo 1º. É competência do FISIOTERAPEUTA, elaborar o
diagnóstico fisioterapêutico compreendido como avaliação
físico-funcional (nunca clínica nem admissional - grifo nosso),
sendo esta, um processo pelo qual, através de metodologias e
técnicas fisioterapêuticas, são analisados e estudados os desvios físico-funcionais intercorrentes, na sua estrutura e no seu
funcionamento, com a finalidade de detectar e parametrar as
alterações apresentadas, considerados os desvios dos graus
de normalidade para os de anormalidade; prescrever, baseado
no constatado na avaliação físico-funcional as técnicas próprias da Fisioterapia, qualificando-as e quantificando-as; dar
ordenação ao processo terapêutico baseando-se nas técnicas
fisioterapêuticas indicadas; induzir o processo terapêutico no
paciente; dar altas nos serviços de Fisioterapia, utilizando o
critério de reavaliações sucessivas que demonstrem não haver
alterações que indiquem necessidade de continuidade destas
práticas terapêuticas.
Resolução 259/03:
Art. 1º - São atribuições do Fisioterapeuta que presta assistência à saúde do trabalhador, independentemente do local
em que atue:
I – Promover ações profissionais, de alcance individual e/
ou coletivo, preventivas a intercorrência de processos cinesiopatológicos;
II – Prescrever a prática de procedimentos cinesiológicos
compensatórios as atividades laborais e do cotidiano, sempre
que diagnosticar sua necessidade;
III – Identificar, avaliar e observar os fatores ambientais que
74
possam constituir risco à saúde funcional do trabalhador, em
qualquer fase do processo produtivo, alertando a empresa
sobre sua existência e possíveis conseqüências;
IV – Realizar a análise biomecânica da atividade produtiva
do trabalhador, considerando as diferentes exigências das
tarefas nos seus esforços estáticos e dinâmicos, avaliando os
seguintes aspectos:
a) No Esforço Dinâmico - frequência, duração, amplitude e
torque (força) exigido;
b) No Esforço Estático – postura exigida, estimativa de duração da atividade específica e sua freqüência;
V – Realizar, interpretar e elaborar laudos de exames biofotogramétricos, quando indicados para fins diagnósticos;
VI – Analisar e qualificar as demandas observadas através
de estudos ergonômicos aplicados, para assegurar a melhor
interação entre o trabalhador e a sua atividade, considerando
a capacidade humana e suas limitações, fundamentado na
observação das condições biomecânicas, fisiológicas e cinesiológicas funcionais;
VII – Elaborar relatório de análise ergonômica, estabelecer
nexo causal para os distúrbios cinesiológicos funcionais e
construir parecer técnico especializado em ergonomia;
Art. 2º - O Fisioterapeuta no âmbito da sua atividade profissional está qualificado e habilitado para prestar serviços de
auditoria, consultoria e assessoria especializada;
Resolução 336/07:
Dispõe sobre Especializações Profissionais da Fisioterapia e
sobre registros profissionais de Títulos de Especialidade:
Considerando a necessidade de reconhecimento e registro
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para conferir efeitos legais a certificados, diplomas, títulos de
especialidades profissionais e títulos acadêmicos outorgados
a Fisioterapeutas;
...Artigo 8º - É vedada ao fisioterapeuta ou para as pessoas
jurídicas por eles constituídas e assim registradas perante o
Sistema COFFITO/CREFITO, a divulgação de possuírem ou exercitarem especialidade ou área de atuação não reconhecida
pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
Artigo 9º - O fisioterapeuta só pode declarar vinculação
com especialidade profissional ou área de atuação quando
for possuidor do título ou certificado a ele correspondente,
emitido pela respectiva associação conveniada e devidamente
registrado pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional.
...TÍTULO V - O REGISTRO DE TÍTULOS DE ESPECIALIDADE
E DE CERTIFICADOS DE CONCLUSÃO DE CURSOS DE PÓSGRADUAÇÃO
...Artigo 12º – Para efeitos cadastrais de estatística e regis-
tro profissional, certificados de conclusão de cursos de pósgraduação serão registrados pelo COFFITO com a classificação
dos certificados de conclusão de pós-graduação outorgado
por curso de doutorado, mestrado ou especialização realizado
em ambientes de trabalho qualificados, credenciados por
instituições de ensino superior, autorizadas pelo Ministério
da Educação, que emita títulos, certificados ou diplomas em
conformidade com o disposto na Lei 9.394, de 20 de dezembro
de 1996.
Resolução 351/08:
Dispõe sobre o Reconhecimento da Fisioterapia do Trabalho
como Especialidade do profissional Fisioterapeuta e dá outras
providências.
Art. 1º - Reconhecer a Especialidade de Fisioterapia do
Trabalho como própria do profissional Fisioterapeuta.
Art. 2º - São competências e habilidades desta especialidade as já descritas na resolução 259, de 18 de dezembro de
2003.
Polêmicas da atuação em Ginástica Laboral:
Segue texto encaminhado pela então SOBRAFIT ao COFFITO, em 2004:
“Prezados Senhores,
A/C Presidência do Conselho Federal de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional
Conforme instrução por telefone, venho ao Conselho
Federal formalizar o profundo descontentamento com a
tentativa de monopolização de mercado impingida pela
resolução CONFEF 073/2004, que, embora seja dirigida a
profissionais de educação física, tem gerado constrangimento a colegas fisioterapeutas em diversos Estados da União,
representados ou não pela SOBRAFIT. A Resolução tem sido
enviada a empresas diversas e até mesmo sendo impressa e
entregue em setores de RH de empresas que possuem fisioterapeutas executando programas de cinesioterapia laboral,
popularmente conhecidos como “ginástica laboral”, a fim
de manipular opiniões dos que desconhecem a legislação.
O que ocorre é a demissão ou substituição do serviço por
outro de educadores físicos.
Concordo que somos amparados pela Resolução 259
desse COFFITO, que em tempo recorde atendeu a nossas expectativas, definindo a atuação do fisioterapeuta do trabalho em cinesioterapia laboral, mas a Resolução do CONFEF
é uma espécie de retaliação à 259 nossa, com o artifício de
citar, agora sim, o termo Ginástica Laboral.
O referido termo não constava da então Resolução CONFEF 046/2002, que a denominava “exercícios compensatórios à atividade laboral”.
Aproveito para esclarecer que o termo ginástica tem sua
definição científica manipulada por esses profissionais,
que deixam de lado seu aspecto mais abrangente, no qual
definem até mesmo as ginásticas fisioterápicas, conforme a
seguir: (veja o sublinhado)
“A denominação Ginástica, inicialmente utilizada como
referência à todo tipo de atividade física sistematizada,
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cujos conteúdos variavam desde as atividades necessárias à
sobrevivência, aos jogos, ao atletismo, às lutas, à preparação
de soldados, adquiriu a partir de 1800 com o surgimento das
escolas e movimentos ginásticos acima descritos, uma conotação mais ligada à prática do exercício físico. De acordo com
Soares (1994: 64), a partir desta época, a Ginástica passou a
desempenhar importantes funções na sociedade industrial,
“apresentando-se como capaz de corrigir vícios posturais
oriundos das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando
assim, as suas vinculações com a medicina e, desse modo,
conquistando status.
Em Busca de um Conceito de Ginástica:
Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,
a palavra Ginástica vem do grego Gymnastiké e significa a
“Arte ou ato de exercitar o corpo para fortificá-lo e dar-lhe
agilidade. O conjunto de exercícios corporais sistematizados,
para este fim, realizados no solo ou com auxílio de aparelhos e aplicados com objetivos educativos, competitivos,
terapêuticos, etc.”. Na Encyclopedia Britannica, a Ginástica
é definida como “a system of physical exercices practised
either to promote physical development or a sport”. De
acordo com a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a
Ginástica é caracterizada como:
... “uma forma ou modalidade de educação física, isto é,
uma maneira de formar fisicamente o corpo humano, sendo
as restantes, além dela, os jogos e os desportos. A definição
científica diz-nos que a ginástica é a exercitação metódica
dos órgãos no seu conjunto (relacionada ao movimento e à
atitude), por intermédio de exercícios corporais, de “forma”
precisamente determinada e ordenados sistematicamente,
de modo a solicitar não só todas as partes do corpo, como
as grandes funções orgânicas vitais e sistemas anatômicos,
nomeadamente: o respiratório, o cárdio-circulatório, o de
nutrição (assimilação e desassimilação), o nervoso, os ór75
gãos de secreção interna, etc. “
Os conceitos acima citados, entre outros, demonstram
uma visão limitada da Ginástica, onde o aspecto relativo à
formação física é ressaltado em detrimento dos demais. Devido à grande abrangência da Ginástica, o estabelecimento
de um conceito único para ela, restringiria a compreensão
deste imenso universo que a caracteriza como um dos conteúdos da Educação Física. Esta modalidade no decorrer dos
tempos tem sido direcionada para objetivos diversificados,
ampliando cada vez mais as possibilidades de sua utilização,
portanto, a fim de facilitar o seu entendimento, são apresentados a seguir 5 grandes grupos que englobam os seus
principais campos de atuação.
Os Campos de Atuação da Ginástica:
1. Ginásticas de Condicionamento Físico: englobam todas as modalidades que tem por objetivo a aquisição ou a
manutenção da condição física do indivíduo normal e/ou do
atleta.
2. Ginásticas de Competição: reúnem todas as modalidades competitivas.
3. Ginásticas Fisioterápicas: responsáveis pela utilização
do exercício físico na prevenção ou tratamento de doenças.
4. Ginásticas de Conscientização Corporal: reúnem as Novas propostas de abordagem do corpo, também conhecidas
por Técnicas alternativas ou Ginásticas Suaves (Souza, 1992),
e que foram introduzidas no Brasil a partir da década de 70,
tendo como pioneira a Anti-Ginástica. A grande maioria
destes trabalhos tiveram origem na busca da solução de
problemas físicos e posturais.
5. Ginásticas de Demonstração: é representante deste
grupo a Ginástica Geral, cuja principal característica é a nãocompetitividade, tendo como função principal a interação
social, isto é, a formação integral do indivíduo nos seus
aspectos: motor, cognitivo, afetivo e social”.
Portanto, fica esclarecido que o conceito tem sido manipulado, na intenção de reserva de mercado, gerando preju-
ízos a nossa classe profissional e, sobretudo ao trabalhador
brasileiro.
Vejam ainda na Resolução CONFEF 46/2002 (http://www.
confef.org.br/)
“Art. 1º - O Profissional de Educação Física é especialista
em atividades físicas, nas suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira,
artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e
acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação,
ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas
corporais -, tendo como propósito prestar serviços que
favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde,
contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento
de níveis adequados de desempenho e condicionamento
fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução
do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças,
de acidentes, de problemas posturais, da compensação de
distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução
da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a
preservação do meio ambiente, observados os preceitos de
responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no
atendimento individual e coletivo.”
Além de criar celeuma quanto ao termo especialista, definição clássica de lato sensu, o artigo cita a reabilitação(!) e
a ergonomia, disciplinas não constantes da grade curricular
aprovada para aquela profissão, nem mesmo na CBO.
Portanto, esperando orientações desse estimado Conselho, aguardamos,
Presidente interino da Sociedade Brasileira de Fisioterapia
do Trabalho
Atualmente, além de sermos a única categoria profissional com esta atribuição constante na CBO 2236-60 - FB,
contamos com diversos Pareceres Normativos do COFFITO e
de alguns CREFITOS.
Fisioterapia e a NR4:
Muitos questionam o motivo de
fisioterapeutas não
figurarem nos SESMT das empresas,
no entanto, um relato histórico deve
ser feito: Em 1996,
a CTPP, responsável
pela revisão e criação de Normas Regulamentadoras,
convidou a classe para defender seus interesses junto à
saúde do trabalhador. Àquela época, dois representantes
defenderam a importância de fisioterapeutas realizarem
diagnóstico CLÍNICO, o que foi interpretado como conflito
de interesses junto a médicos do trabalho. A partir de
1998, a NR4 entrou em uma série de reformas, estando
obscuro seu futuro e, obviamente a participação de fisioterapeutas, até que sejam definidos os novos parâmetros
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do SESMT. “Portanto, se queremos um dia figurar entre os
membros do SESMT, precisamos nos capacitar e especializar, preservando a cordialidade do diálogo com as classes
profissionais presentes no atual SESMT, demonstrando
nunca haver nem ter havido conflito de atuações. Fica o
alerta importantíssimo aos que já figuram como agregados
aos SESMTs, para que NUNCA chamem ou nomeiem seus
diagnósticos fisioterapêuticos de “admissionais”, já que a
NR7, em seu item 7.4.1 alínea a, atribui o nome “exames
admissionais” a uma conduta exclusivamente médica,
ficando a ele a decisão de considerar o trabalhador apto
ou inapto ao exercício profissional, mesmo que para
isso tenha solicitado informações complementares ao
fisioterapeuta, para amparar sua decisão. Como membros
de uma equipe prevencionista, não devemos nos sentir
diminuídos por isso, mas colaboradores de um processo
de decisão e proteção, numa atuação eticamente correta”,
afirma Alves.
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Destaques:
- Fisioterapia do Trabalho vai para o IEA da China:
No entanto, como forma de criar opinião pública em
torno da necessidade de fisioterapeutas na NR4, temos a
satisfação de comunicar que fisioterapeutas do trabalho,
mais especificamente o Dr. Adonis Kaizer, teve seu artigo
aprovado como único no Congresso mundial da International Ergonomics Association (IEA 2009), na China.
Parabenizamos o colega e sua patrocinadora, que através de convênio com a NR Work, possibilitou a viagem do
fisioterapeuta. A COCAMAR tem ao longo dos últimos 5
anos investido no Programa de Reabilitação Ocupacional,
tanto no âmbito preventivo como corretivo, onde conseguiu
comprovar que a atividade do Fisioterapeuta do Trabalho
contribuiu para a redução em aproximadamente 30% do
tempo de afastamento dos colaboradores por disfunções
cinético-funcionais, e como consequência na redução gradativa na incidência de doenças profissionais.
- Dois Fisioterapeutas entre os quinze jurados do Prêmio Proteção Brasil 2009:
São Paulo/SP - Foi realizado na manhã desta quarta-feira,
10, o encontro do juri do Prêmio Proteção Brasil 2009. A
quinta edição da premiação, que também serve para
disseminar a informação prevencionista, irá reconhecer o
trabalho desenvolvido por empresas e profissionais em prol
da Saúde e Segurança do Trabalhador, por meio da avaliação
dos cases desenvolvidos. A reunião foi realizada no Bourbon
São Paulo Business Hotel e teve a participação dos 15 jurados envolvidos na seleção dos cases: Armando Campos,
Antônio Pereira, Antônio Tadeu da Costa, Cesar Ken Mori,
Cosmo Palasio, Guglielmo Taralli, Henrique Alves, Jorge
da Rocha Gomes, Jorge Coletto, Leonídio Franciso Ribeiro,
Mário Fantazzini, Osny Camargo, Rene Mendes, Sebastião
Ferreira da Silva e Wilson Silva.
Ferramental Complementar:
Diversas são as ferramentas utilizadas pelo fisioterapeuta do
trabalho, desde máquinas fotográficas a dinamômetros, inclinômetros, acelerômetros e softwares específicos para evidenciaELETROMIOGRAFIA é uma ferramenta de avaliação
do sistema músculo-esquelético que permite verificar
os potenciais elétricos gerados durante a ação muscular
(Basmajian, De Luca; 1985).
Através destes dados são utilizados algoritmos matemáticos que quando aplicados ao sinal eletromiográfico,
podem identificar fadiga muscular, intensidade da
atividade muscular, tempo de ativação muscular e recrutamento muscular (Basmajian, De Luca; 1985, Farina,
Merletti, 2000).
Assim aspectos relevantes no dia-a-dia de uma empresa, como a repetição de movimentos que podem ser
fontes de absenteísmo, devido à fadiga muscular podem
ser calculados utilizando a eletromiografia (Flodgren et
al., 2007). Outros dados podem ser analisados, como
se um funcionário apresenta controle motor suficiente
para realizar uma determinada tarefa ocupacional, pois
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ção das ações musculares, movimentos, força, relatórios, etc.
Técnicas avançadas, como a eletromiografia e a termografia
têm sido surpreendentes coadjuvantes.
se este indivíduo não possui o controle do movimento
adequado para realizar uma tarefa motora específica e
a realiza, a chance te desencadear uma disfunção ou
então lesão aumenta significativamente (Richardson,
Jull; 1995).
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IMAGEM INFRAVERMELHA
Novo método diagnóstico.
Também conhecido por: Termografia, Teletermografia
ou Termometria cutânea
Infravermelho: luz invisível emitida pelo nosso corpo
A radiação infravermelha emitida pelo nosso corpo é
simétrica entre os lados direito e esquerdo.
A assimetria indica doença.
O exame mensura diferenças de temperatura menor
que 0,1o C. Nossas mãos não conseguem diferenciar
temperaturas menores que 2o C entre duas regiões.
SOFTWARES
FisiMetrix é um software específico para Fisioterapia,
que tem por objetivo facilitar o cotidiano do terapeuta
disponibilizando a Avaliação Postural-Ortopédica através
de imagens fotográficas, utilizando medidas e ângulos
e auxiliando no acompanhamento fisioterapêutico do
cliente.
O produto emite laudos de exames físicos (diagramas
da dor, dermátomos, perimetria, amplitude de movimento....), dicas e orientações posturais, e permite que
um CD-ROM ou DVD seja gravado (pelo próprio software
na clínica onde está instalado), individualizado para cada
cliente, com vídeos dos exercícios para o mesmo praticar
em casa. CTS Informática.
Onde Estudar:
Diversas IES oferecem o curso de especialização em
fisioterapia do trabalho, em diversos Estados, a saber:
No decorrer dos 9 anos de existência do curso, o
CBES* já organizou 20 Simpósios Científicos para os
graduandos em Fisioterapia do Trabalho, capacitou 572
fisioterapeutas oriundos de 16 Estados brasileiros (RN,
PA, SE, BA, MG, ES, DF, RJ, AM, MT, MS, GO, SP, PR, SC e
RS), e tem mais 237 em andamento.
Referências bibliográficas:
BASMAJIAN, J.V.; DE LUCA, C.J.; Muscles Alive. First
edition. Baltimore: Williams and Wilkins, 1985.
BAÚ, LUCY MARA SILVA. Fisioterapia do Trabalho. Curitiba: Clã dos Silva, 2002.
COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional.
FARINA, D.; MERLETTI, R. Comparison of algorithms for
estimation of EMG variables during voluntary isometric
contractions. Journal of Electromyography and Kinesiology. n.10, 2000, p.337-349.
FLODGREN, G.; HEIDEN, M.; LYSKOV, E.; CRENSHAW,
A.G. Characterization of laboratory model of computer
78
mouse use – Applications for studying risk factors for
musculoskeletal disorders. Applied Ergonomics. n.38,
2007, p.213-218.
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego;
Richardson, C.; Jull, G. Muscle control – pain control.
What exercises would you prescribe? Manual Therapy. n.
1, 1995, p.2-10.
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Cursos
Cursos
Método CNRossi
Método CNRossi
CBES – Pós Graduação em Fisioterapia do Trabalho
CBES – Pós Graduação em Fisioterapia do Trabalho
SEFIT–Simpósio
Simpósio de Ergonomia e Qualidade de Vida
SEFIT–Simpósio
Simpósio de Ergonomia e Qualidade de Vida
CBF – Introdução à Ergonomia
CBF – Introdução à Ergonomia
OCLUSIVO
OCLUSIVO
EPB – Escola de Postura Brasil
EPB – Escola de Postura Brasil
FIRVAL – AET
FIRVAL – AET
CEFISA – Ginástica Laboral
CEFISA – Ginástica Laboral
POSTURAR – Pós Graduação em Ergonomia
POSTURAR – Pós Graduação em Ergonomia
INSPIRAR
INSPIRAR
Termografia
Termografia
Fisimetrix
Fisimetrix
Fisiometer
Fisiometer
MAAF
MAAF– –2626a a3030dedejulho
julho
ABACO
ABACOAcupuntura
Acupuntura
Auriculoterapia
Auriculoterapia– –Método
MétodoHuang
HuangLiLiChun
Chun––Início
InícioAbril
Abril2010
2010
Valéria
Figueiredo
Valéria Figueiredo
Educação
EducaçãoSomática
Somática– –144
144horas
horas––Débora
DéboraBolsanello
Bolsanello
Cruzeiro
CruzeirododoSul
Sul– –Pós
PósGraduação
Graduação
Ginástica
GinásticaHolística
Holística– –Patrícia
PatríciaLacombe
Lacombe
Gama
Filho
–
Pós
Graduação
Gama Filho – Pós Graduaçãoem
emErgonomia
Ergonomia
Interfisio
Traba
Interfisio– –Pós
PósGraduação
GraduaçãoFisioterapia
Fisioterapiado
doTrabalho
Traba eeErgonomia
Trabalho
Ergonomia
INAESP
INAESP– –Ergonomia
Ergonomiae ePerícia
Perícia
FISIOTRAB
FISIOTRAB– –Consultoria
Consultoriae eCursos
Cursos
IBRAFIT
Ergodesign,Perícia
Perícia
IBRAFIT– –Ergonomia
ErgonomiaOcupacional,
Ocupacional,NR17,
NR17,Ergodesign,
Local e data
Local e data
São Paulo - SP
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Diversos
Diversos
PREVENSUL - RS
PREVENSUL - RS
São Paulo
São Paulo
São Paulo - SP
São Paulo - SP
Diversos
Diversos
São José dos Campos-SP
São José dos Campos-SP
Araraquara - SP
Araraquara - SP
São Paulo - SP
São Paulo - SP
Araraquara
- SP
Araraquara - SP
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Curitiba
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Curitiba - PR
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RJ/ ES/BA/SE/PE/GO/PR/SP/MG
ES/BA/SE/PE/GO/PR/SP/MG
AGENDA
AGENDAIBRAFIT
IBRAFIT 2010
2010 -1
Contato
Contato
(11) 3645-0223
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(41) 3544-6670
(41) 3544-6670
(51) 2131.0400
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(21) 2549-5318
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(11) 5549-3207
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(21) 2415-6768
(21) 2415-6768
(12) 3943-2921
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(16) 3333-1003
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(11) 2351-2442
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(16) 3333-1003
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(41) 3362-0623
3362-0623
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(46) 3225
32254340
4340
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----------------------------------------------(11) 3021-6858
3021-6858
(11)
(21) 2533-1320
2533-1320
(21)
(21) 3495-4045
3495-4045
(21)
0800
4007008
0800 4007008
(21) 2236-1047
2236-1047
(21)
(11) 2107-5498
2107-5498
(11)
(19) 3255-5332
3255-5332
(19)
(21)
2484-3336
(21) 2484-3336
------------------------------------------------(12) 3029-7080
3029-7080
(12)
(41)
3026-2602
(41) 3026-2602
(21) 3392-2838
3392-2838
(21)
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