Fisioterapeutas do Trabalho: O que fazemos
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Fisioterapeutas do Trabalho: O que fazemos
Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 - www.rbft.com.br Alterações posturais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. Análise de Risco Coronariano em funcionários da FATECI - CE Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing profissional Atualidades em Legislação do trabalhador Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA Qualidade de vida em funcionários de uma empresa do comércio Matéria: Fisioterapia do Trabalho Nova especialidade em Prova de Titulação | EXPEDIENTE Editor: José Henrique Alves: CREFITO2 29.121F [email protected] A Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho é um periódico técnico científico voltado à atualização acadêmica e profissional nas áreas relacionadas com a saúde do trabalhador, ergonomia e higiene ocupacional. Jornalista Responsável: Wemerson Pedroni mtb 2486-ES [email protected] Publicidade: Semilyana Benete É dirigida a todos os atores sociais com ela envolvidos: fornecedores de equipamentos, empresas de cursos, clínicas, acadêmicos, profissionais e clientes. [email protected] Atendimento: [email protected] Editoração: Dirley Iglesias (e-vix Comunicação) [email protected] Revisão: | ÍNDICE Wemerson Pedroni revisã[email protected] Impressão: Gráfica Lisboa ARTIGOS Telefone contato: (21) 3392-2838 Análise de Risco Coronariano em funcionários da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI)- CE 06 14 20 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat 24 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronarianaem pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing profissional Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) Atualidades em Legislação do trabalhador para melhor inserção do Fisioterapeuta do Trabalho no âmbito empresarial 58 Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio 64 Fisioterapia do Trabalho. Nova especialidade em Prova de Titulação AGENDA 4 Faça você parte do conselho editorial da Revista Brasileira de Fisioterapeuta do Trabalho. Mande um e-mail para: [email protected] 34 38 42 50 Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT MATÉRIA Conselho Editorial: 38 81 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 | EDITORIAL Novos Desafios Quando decidimos fazer uma homenagem aos primeiros fisioterapeutas a serem titulados pela nova metodologia regulamentada pelo COFFITO para reconhecimento de especialidades, agora a cargo das Associações Profissionais conveniadas a ele, acabamos mexendo num barril de pólvora prestes a estourar. Esse barril, se trata da quantidade de artigos propostos por mês/ano, acumulados em diversas categorias, totalizando uma sobra de mais de duzentos artigos anuais que deixamos de publicar. Artigos importantes, como os que irão ler nessa edição da Revista Brasileira de fisioterapia do Trabalho - RBFT. Portanto, resolvemos providenciar a solução: criar revistas!!! E Essa que vos entrego é a primeira que aliviará nosso bolsão de artigos científicos. Já somos a maior publicadora particular de artigos científicos de fisioterapia do Brasil. Pretendemos ser do mundo!!! Comemoremos então essa RBFT - Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho, destinada aos colegas que militam, como eu, por acaso, junto a centenas de acidentados e adoentados ocupacionais desse país, buscando trazer à eles mais dignidade e qualidade de vida; essa última de importância máxima, pela qual podemos fazer muito!!! Nossa Comissão Editorial ainda está em fase de constituição, aguardando vossas brilhantes participações e sugestões de artigos, entrevistas e colunas, assim como anunciantes, fornecedores de equipamentos, cursos e eventos. Nessa edição, repetimos algumas matérias da Revista FisioBrasil edição 96, devido à sua extrema importância, geradora de nossa idéia na criação de revistas de nicho. No entanto, como nosso objetivo é publicar, seguem também 10 artigos científicos relacionados a área. Esperamos que as assinaturas superem as expectativas, a fim de perpetuarmos nossas idéias. Nos vemos na Edição 97 da FisioBrasil e na Edição 01 da RBTP - Revista Brasileira de Terapia Postural, nossa segunda revista de nicho. Aproveitem para nos visitar em nossos sítis: www.rbft.com.br e www.rbtp.com.br !!! Agora, agradeço à acolhida do pessoal de Sorocaba, da Ergon, e ao pessoal da Interfisio, em particular Drs. Fábio e Nivalda, que permitiram o nosso lançamento em seu simpósio do Rio de Janeiro. Gostaria de parabenizar à equipe que ajudou na incansável tarefa de fechamento, suportando nossos maus humores com profissionalismo, criatividade e brilhantismo, carinho e cooperação. Grande abraço ao Dirley Iglesias, diagramador e arte-finalista, ao Wemerson Pedroni, jornalista, Semilyana Benete do comercial SP, Dra. Ediléa pela inspiração, meus 3 + 1 filhos pela tolerância, Dona Ilda pela ajuda, Dudu e Eliane pelos incontáveis cafezinhos e águas. Por fim, aos meus pais pela criação, carinho e apoio. Saudações Prevencionistas!!! Dr. José Henrique F. Alves Fisioterapeuta do Trabalho Editor-Chefe RBFT. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 5 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. Autores: Dieime Cardoso Corrêa - Graduando - Curso de Fisioterapia - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil Marina Melo - Graduando - Curso de Fisioterapia - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil Marcelo Baptista Dohnert - ) Doutorando - Professor Adjunto - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil Tiago Sebastiá Pavão - ) Mestre - Professor Adjunto - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Torres. Torres-RS - Brasil Correspondência para: Marcelo B. DÖHNERT. Rua Ercílio Farias Alves nº37. CEP 95560-000- Torres, RS, Brasil. Telefone: (51)3664-3936/84252918. E-mail: [email protected] Resumo O trabalho rural está diretamente relacionado à realização de atividades de grande impacto fisiológico, gerando lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares. OBJETIVO: avaliar a prevalência de alterações posturais e deformidades vertebrais nos trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS. MÉTODOS: estudo transversal com 33 agricultores de Morrinho do Sul. Foi aplicado questionário padronizado para avaliar atividade no campo, seguido de avaliação postural e exame radiológico. RESULTADOS: foi encontrado alta prevalência de artrose (77,4%), discopatia degenerativa (71%) e osteofitose (71%), sendo estas alterações mais freqüente nas mulheres (59%). Hiperlordose lombar foi encontrado em 34% dos trabalhadores e escoliose em 33%, sendo destas 3% idiopática. CONCLUSÕES: o trabalho rural nesta população levou a uma alta prevalência de alterações, com alto impacto social e funcional. Palavras chave: Trabalho, Postura, Osteófito, Osteoartrite, Deslocamento do Disco Intervertebral 6 ABSTRACT Rural work is related directly to activitity of great physiological impact engendering repetitive effort lesions and osteomuscular disturbance. OBJECT: the aim of this study was to assess prevalence of posture alterations and vertebral deformities in rustic workers from Morrinhos do Sul-RS. METHODS: transversal studies with 33 farmers from Morrinhos do Sul. A standardized questionary was applied to evaluate activity in the field, followed by posture evaluation and radiographic examination. RESULTS: a high prevalence of artrosis (77.4%), degenerative diskpathosis (71%) and osteofitosis (71%); these alterations are more frequently in women (59%). Back hyperlordosis was found out in 34% of the workers and escoliosis in 33%; from these, 3% were idiopathic. CONCLUSIONS: the rural work in this population led up to a high prevalence of alterations with high social and functional impact. Key words: Work, Posture, Osteophyte, Osteoarthritis, Intervertebral Disk Displacement www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. Introdução A atividade rural é uma das atividades mais antigas atividades de trabalho. O século XX caracterizou-se por intenso e contínuo processo de mudanças tecnológicas e organizacionais, acarretando grandes transformações nas formas, nos processos e nas relações de trabalho1. O impacto da carga de trabalho e desgaste sobre as condições de saúde-doença transformaram o trabalhado rural em um determinante que agrava a saúde e ocasiona conseqüências nocivas com altos custos médicos, necessidade de reabilitação, perda de dias de trabalho e um alto preço pago através do sofrimento humano2. Tradicionalmente, o tema das condições de vida, trabalho, saúde e doença dos trabalhadores rurais evocam estereótipos entre eles a associação com atividades rudimentares que apresentam um conjunto de riscos ocupacionais variáveis3. No decurso da atividade de produção, o sinal de maior risco ocupacional do trabalho agrícola diz respeito às posturas inadequadas adotadas durante sua jornada de trabalho, sendo esta, longa e árdua. Um conjunto de atividades que exigem esforços físicos contínuos decorrente do envolvimento do corpo do trabalhador, sua ocupação e seu ambiente de trabalho. Más posturas e inadequadas condições de trabalho expõem os trabalhadores agrícolas à possibilidade do aparecimento de distúrbios osteomusculares a curto e longo prazo4. O adoecimento da coluna vertebral é o principal distúrbio que acomete o trabalhador, como efeito da sobrecarga do trabalho físico pesado5. Estas características desfavoráveis do trabalho agrícola são também abordadas por Grandjean6, que afirma que a evidência das doenças ocupacionais nesse ambiente de trabalho é clara, como também a diminuição da produtividade e o desgaste do trabalhador. As cargas laborais presentes nos ambientes e nas condições de trabalho podem gerar desgastes específicos na saúde do trabalhador. Em outras palavras, nos elementos constitutivos das cargas laborais de processo de trabalho é que reside a origem do desgaste e podem significar perda de capacidades no processo de trabalho7. Sabe-se que existem fatores intrínsecos relativos à própria natureza do trabalho agrícola, com suas cargas físicas e riscos de várias espécies no dia a dia do agricultor, o que põe constantemente em risco sua saúde. Sabe-se também que algumas atividades de trabalho com o manuseio de cargas pesadas, com posturas forçadas e outras situações constrangedoras são cruciais na determinação de patologias específicas relacionadas ao trabalho8. Bréga et al apontam estatísticas internacionais relatando que a indústria da agricultura representa uma indústria que inclui as atividades de maior risco, indicando alta prevalência de distúrbios musculoesqueléticos entre os trabalhadores, pois existem diferentes tipos de atividades a serem realizadas pelo trabalhador neste setor, sendo que as cargas ocorrem simultaneamente durante o trabalho. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Considerando a especificidade do funcionamento humano é possível compreender que os desgastes sofridos na lida do trabalho, ao longo do tempo, podem condicionar o aparecimento de disfunções corporais, mentais e psicológicas, afetando até mesmo a permanência do agricultor no meio rural, podendo gerar com isso um impacto social importante. Os traços deixados pelo trabalho nestes trabalhadores influenciam sua saúde e capacidade funcional, impregnam sua vida profissional, social e econômica10,11. Esta questão fica evidente também quando Brandenburg12 mostra a seguinte fala de um agricultor: “agricultor começa a trabalhar quando amanhece e só pára quando anoitece”, o que denota uma jornada de trabalho extensa. A saúde é uma das qualidades básicas que dão valor à vida humana. É a base para o trabalho produtivo, para a capacidade de aprender e para crescer intelectualmente, fisicamente e emocionalmente. Em termos econômicos, saúde e educação formam a pedra angular do capital humano. De outra forma, a doença reduz a renda da sociedade, a expectativa de vida dos indivíduos e as perspectivas de crescimento econômico. Os problemas posturais na agricultura persistem porque, apesar das mudanças ocorridas nas operações com maquinários, muito poucas mudanças ocorreram na forma de executar tarefas pela maioria dos pequenos agricultores, de modo que o trabalho no campo permanece com as mesmas exigências das tarefas físicas as quais envolvem posturas estáticas prolongadas, levantamento e carregamento de cargas manuais e trabalho manual repetitivo10. Com relação à exigência física resultante do trabalho, Grandjean afirma que as múltiplas atividades desenvolvidas pelos trabalhadores rurais distinguem duas formas de esforço muscular: o trabalho muscular dinâmico (trabalho rítmico) e o trabalho muscular estático (trabalho postural). Diariamente, o trabalhador rural realiza bastante trabalho estático, o que poderá resultar na diminuição de suas forças e aumento de fadiga. Excessivos esforços estão associados com o aumento do risco de inflamação nas articulações, inflamação na bainha nas extremidades dos tendões, processos crônicos degenerativos, tipo artrose nas articulações, doenças do disco intervertebrais e câimbras musculares6. Persistindo as situações constrangedoras, caracteriza-se a sobrecarga e o trabalhador não mais consegue atingir os objetivos determinados, mesmo modificando seu estado interno ou mudando os seus modos operatórios, advindo daí um estado patológico, como por exemplo, um quadro álgico crônico por uma postura forçada por tempo prolongado e ao longo do tempo8. Por outro lado, não se pode ignorar a capacidade física que estes agricultores desenvolvem, em termos de força física e habilidades manuais, o que funciona como uma proteção contra lesões musculares e tendinosas, pois um músculo fraco é mais propenso a uma lesão que uma musculatura fortalecida e a musculatura de um sujeito que realiza um trabalho onde existe uma carga física tende a ser mais desenvolvida do que de sujeitos que não desempe- 7 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. nhem um trabalho muscular significativo13. Entretanto, há um limite fisiológico a ser considerado e, no caso dos agricultores, somam-se a isso as posturas corporais extremas como se abaixar com os joelhos estendidos, o que distende em demasia o nervo ciático e pode ocasionar dores agudas na região lombar baixa e nas pernas, situação esta que pode ser agravada quando essa postura é adotada para o carregamento de peso13. Contudo, nem todos os agricultores respondem da mesma forma às situações similares de trabalho. Se para alguns a situação é constrangedora, para outros parece não ter efeito nocivo. Esta percepção diferenciada da carga de trabalho parece estar ligada à história de vida do sujeito sem se desvincular das condições de vida profissional e extraprofissional10. Desta forma, as alterações posturais têm sido consideradas um sério problema de saúde pública, pois atingem uma alta incidência da população economicamente ativa, incapacitando-a temporária ou definitivamente para atividades profissionais14. A Academia Americana de Ortopedia conceitua postura como o estado de equilíbrio dos músculos e ossos com capacidade para proteger as demais estruturas do corpo humano de traumatismos, seja na posição em pé, sentada ou deitada. O desequilíbrio muscular, por sua vez, é definido como uma desordem do sistema musculoesquelético. Os movimentos corporais resultam de cadeias musculares e, quando há alterações posturais, o organismo se reorganiza em cadeias de compensação procurando uma resposta adaptativa a esta desarmonia. Desse modo, a repetição de determinados tipos de atividade com posições e movimentos habituais, o período e a sobrecarga de treinamento (overtraining/overuse) provocam um processo de adaptação orgânica que resulta em efeitos deletérios para a postura, com alto potencial de desequilíbrio muscular15,16. Kisner & Colby17 abordam a disfunção postural como sendo um encurtamento adaptativo dos tecidos moles por haver fraqueza muscular envolvida. Os desequilíbrios de força e flexibilidade podem predispor à lesões ou síndromes de uso excessivo, nas quais a causa pode ser por maus hábitos posturais prolongados, ou em resultado de contrações e adesões formadas durante a cicatrização dos tecidos após trauma ou cirurgia. O desvio postural é um desalinhamento na estrutura musculoesquelética do indivíduo decorrente a maus hábitos de postura, doenças e exercícios físicos mal aplicados, sendo que os principais desvios são: aumento da lordose cervical e lombar, aumento da cifose torácica e escoliose14. O aumento da lordose lombar e cervical fisiológica, segundo Magge18, é uma curvatura maior que o normal na coluna vertebral cervical e lombar. Suas causas são deformidade postural, frouxidão muscular, mecanismos compensatórios de ou por outra deformidade. O aumento da cifose torácica fisiológica indica uma curvatura posterior excessiva da coluna vertebral, podendo variar de uma curva longa e arredondada ou angulação aguda posterior, localizada no plano sagital, sendo um desvio 8 evolutivo19. Já a escoliose é um problema ortopédico, gera um desvio da coluna vertebral, que pode aparecer nos segmentos cervical, torácico e lombar. Tendo as mais variadas causas como congênita, idiopática, neuromuscular, traumas e tumores. Esta pode ser classificada como escoliose funcional, onde se encontra curvatura lateral com elementos de rotação concomitante, sem alteração morfológica, ou escoliose estrutural caracteriza-se pelo desvio lateral, com rotação vertebral e extensão segmentar, sendo uma alteração morfológica que não se corrige com o paciente variando a postura19. Uma das formas de se identificar essas alterações é a partir da avaliação postural específica que emprega os seguintes métodos: inspeção postural estática, inspeção dinâmica e palpação20. Exame físico específico A propedêutica física da coluna vertebral deve ser iniciada em um sentido global, isto é correlacionando cabeça, coluna, bacia e membros inferiores, para depois passar à exploração segmentar. A justificativa para isto é que a interdependência funcional com esses elementos altera a estática e a dinâmica da coluna vertebral20. Inspeção postural estática Os pacientes devem ser examinados descalços e em diferentes posições: de frente, de lado e de costas. Procurase detectar as seguintes alterações: - Coluna cervical No segmento cervical observa-se aumento ou retificação da lordose, protusão de C7 e alterações na posição da cabeça, como inclinações laterais e projeção para frente21. - Coluna dorsal Na região torácica nota-se um aumento ou retificação da cifose e a presença de escoliose21. - Coluna lombar Em relação à região lombar, verifica-se a presença de hiperlordose, retificação da lordose e escoliose21. Inspeção dinâmica Procura avaliar a amplitude dos movimentos da coluna e pesquisar a presença de dor à movimentação de cada segmento, verificando suas limitações funcionais. O paciente continua na posição de pé e realiza os movimentos, separadamente, por região da colunal22. Palpação Caracteriza pela compressão da coluna vertebral com a polpa do polegar direito e o resto da mão espalmada sem apoiar no tegumento do paciente. Avalia-se a sensibilidawww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. de dolorosa da região cervical com o paciente sentado, orientado para relaxar a musculatura do pescoço e da cintura escapular, colocando-se o examinador por detrás do paciente. A palpação de toda a coluna pode também ser realizada com o paciente deitado em decúbito ventral21. Outra forma de diagnóstico de patologias da coluna é a avaliação por imagem radiográfica, já que apenas uma em cada três deformidades vertebrais pode ser diagnosticada clinicamente20. A avaliação por imagem é muito importante, pois serve para confirmar uma suspeita clinica. Suas vantagens são a disponibilidade imediata de resultado, custo relativamente baixo, fornecimento de uma boa resolução anatômica e sua principal função e descartar ou excluir a presença de anormalidades em estruturas19. Avaliação Radiológica No diagnóstico por imagem da coluna cervical, as seguintes anomalias podem ser verificadas: forma das vértebras, osteófitos, o espaço discal, presença de costela cervical, alimento fronta,. curvaturas fisiológicas, linhas vertebrais, acunhamento das vértebras, torção da coluna, fusão, , deslocamento, sub-luxação das facetas, instabilidades, espondilose, articulações facetarias e forame intervertebral18. No raio-X da coluna torácica é possível observar: acunhamento vertebral, espaços discais, epífise do anel, coluna em Bambu (espondilite anquilosante), simetria das costelas, cifose fisiológica, hipófise do anel, nódulos de Schmorl (indica hérnia de disco), ângulo das costelas e osteófitos18. Na incidência lombar observa-se a forma da vértebra, fratura, espaço discal, coluna em bambu, espinha bífida, sacralização, lombarização, espondilólise, espondilolistese, lordose lombar fisiológica, acunhamento vertebral, alinhamento das vértebras e osteofitose 23. As principais patologias são a osteoartrite, osteofitose, espondilolistese, hérnia discal e a espondilite anquilosante24-27. O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de alterações posturais e deformidades vertebrais nos trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS, a fim de se propor ações futuras de prevenção e reabilitação. Materiais e métodos Delineamento Estudo Transversal com trabalhadores rurais ativos de Morrinhos do Sul-RS. Amostra O estudo foi realizado com os trabalhadores rurais de Morrinhos do sul no período compreendido entre julho a outubro de 2009 com 68 trabalhadores rurais ativos, sendo 34 do sexo masculino e 34 do sexo feminino. Critérios de Inclusão - Trabalhadores rurais ativos associados ao Sindicato de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Trabalhadores Rurais de Morrinhos do Sul; Critérios de Exclusão - Produtores rurais aposentados; - Falecimento; - Afastamento do trabalho por problemas de saúde; Aspectos éticos O estudo teve aprovação junto ao Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Luterana do Brasil com parecer número 2009-190H. Todos os sujeitos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes de realizarem a avaliação postural e o exame radiológico. Os resultados dos exames posturais e radiológicos foram informados exclusivamente ao sujeito avaliado. Para aqueles sujeitos em que houve a necessidade de uma abordagem médica ou terapêutica, o mesmo foi encaminhado à rede SUS para acompanhamento. Coleta dos dados Os dados do processo de avaliação foram coletados em dois momentos distintos: aplicação de questionário fechado e a avaliação postural em um momento, e a realização do exame radiológico solicitado pelo médico diretor geral do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres-RS em um segundo momento. Para fins destes exames, o trabalhador não dependeu de recursos próprios, sendo os custos de exames subsidiados pela Prefeitura Municipal de Morrinhos do Sul e de transporte pelos pesquisadores. Questionário Os dados de identificação foram coletados e um questionário aplicado a respeito das atividades rurais de cada trabalhador, conforme modelo aplicado pelo Ministério da Saúde para doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho27. Avaliação postural Os exames de avaliação postural foram realizados pelas pesquisadoras titulares do estudo através da avaliação visual e foram realizados nos Salões Paroquiais de cada localidade da zona rural do município, em uma sala exclusiva e apropriada, ou seja, com iluminação natural e artificial normais. Foram avaliados os desnivelamentos da superfície corporal nos planos frontal (anterior e posterior) e plano sagital (direita e esquerda), conforme ficha de avaliação anexa. O exame foi realizado com os homens com calção e as mulheres com biquíni, maiô ou short. Avaliação radiológica Após a realização da entrevista e da avaliação postural, foi entregue o encaminhamento para a realização do exame radiológico, contendo a data e horário do exame. Os sujeitos do estudo foram transportados ao município vizinho de Torres em transporte próprio dos pesquisadores, realizando o exame junto ao serviço de radiologia do 9 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. Hospital Nossa Senhora dos Navegantes. Optamos por não realizar os exames radiológicos da coluna torácica por questão logística e de custos, e também por tratar-se de uma área de menor mobilidade e, conseqüentemente, de menor agressão. Foram realizadas as incidências no padrão anteroposterior (AP) e perfil (P) dos níveis cervical e lombar. Foram analisados pelo radiologista do serviço os seguintes aspectos ao raio X: (1)Diminuição do espaço intervertebral e local da alteração; (2)Aumento ou diminuição do ângulo Lombossacro; (3)Presença e localização de osteofitose; (4)Presença e localização de artrose interapofisária; A maioria dos trabalhadores (54.5%) iniciou a atividade no campo com idade inferior a 10 anos. Os homens trabalham mais horas (p<0,000) e mais dias por semana (p<0.001). Os trabalhadores se sentem mais cansados nos meses de janeiro e fevereiro (52.4%). 93.8% referem adotar em algum momento a postura fixa de tronco durante a jornada de trabalho. Movimentos de torção de tronco são relatados em 94% dos trabalhadores. Já a flexão de tronco é referida por 97% como realizada quase sempre e sempre. Flexão de cabeça em 93.9%. Deslocamentos constantes durante a jornada de trabalho são relatados por 93.9%, havendo uma tendência de que homens se desloquem mais que as mulheres (p<0.077). O local de dor predominante foi à região lombar (60.6%). Resultados Em decorrência da pandemia de gripe H1N1 que ocorreu durante o período do estudo, gerando um aumento significativo de solicitações de exames radiológicos junto ao município sede, foi necessário diminuirmos a nossa amostra. Com isto, o estudo contou com 33 agricultores, sendo 16 do sexo masculino e 17 do sexo feminino. A média de idade foi de 45.42 ± 8.62. 81,8% dos sujeitos do estudo possuíam mais de 40 anos de idade. Todos os sujeitos eram de cor branca. 97% tinham apenas o 1° grau completo ou incompleto. 10 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. A avaliação postural no plano frontal mostrou a presença de 36% de escoliose, sendo 3% na forma idiopática. Na avaliação postural do plano sagital, 34% dos trabalhadores apresentaram aumento da lordose lombar fisiológica, 22% apresentaram aumento da lordose cervical, 12% com aumento da cifose e apenas 6% sem alterações. Dos 33 sujeitos inicialmente avaliados, 31 sujeitos realizaram a avaliação radiológica, sendo 16 mulheres e 15 homens. Dois sujeitos não realizaram o raio X alegando problemas particulares que os impediram de se deslocar ao serviço de radiologia no dia agendado. 71% apresentaram osteófitos, sendo a localização mais comum a lombar (35%) e as mulheres mais predominantes (59%). 71% apresentaram diminuição do espaço intervertebral, sendo que o nível mais atingido foi entre L5-S1 (51,6%) e as mulheres mais predominantes (59,1%). Alterações degenerativas articulares ocorreram em 77,4 % dos sujeitos, e novamente o nível mais atingido foi L5-S1 (74,2%) e predomínio nas mulheres (58,3%) (FIGURA III). Observou-se que os pacientes que apresentaram aumento da lordose lombar também apresentaram alterações ao raio X. 72,3% dos trabalhadores que apresentaram discopatia degenerativa, 68,1% que apresentaram osteofitose e 62,5% com artrose interapofisária também apresentaram aumento da lordose. Discussão Os trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS iniciam a atividade na agricultura com pouca idade. 54,5% destes começaram a trabalhar com menos de 10 anos de idade. A maioria dos trabalhadores (81,8%) tinha mais de 40 anos. Cockell et al, em seu estudo, descobriram que 70% dos sujeitos iniciaram a trabalhar com menos de 8 anos de idade. 57,8% dos trabalhadores não concluíram o ensino fundamental. No nosso estudo, 97% dos trabalhadores avaliados tinham apenas o ensino fundamental. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Budaka et al relataram, em seu estudo, que a faixa etária média é 51,4 anos para homens e 38,9% para mulheres. Parece-nos claro que os jovens filhos de agricultores da região de Morrinhos do Sul-RS não seguem a tendência de trabalho no campo, optando pela formação acadêmica universitária ou o trabalho na cidade. Com relação à jornada de trabalho, estudo realizado com trabalhadores rurais da Turquia mostrou que a jornada média de trabalho é de 12,8 horas/dia30. Outro estudo refere que 93,8% trabalham 8 horas diárias e outros 6,52% acima de 10 horas31. 63,6% dos trabalhadores avaliados por nós apresentaram uma jornada de trabalho de cinco a oito horas e 18,2% trabalhavam mais de 8 horas. Este grande número de horas trabalhadas é, sem dúvida, um agravante para o desenvolvimento de lesões por esforços repetitivos. A dor na coluna vertebral, especialmente na região lombar, é a principal queixa dos trabalhadores rurais. Silva et al relataram em seu estudo 4,2% de prevalência de dor lombar na população geral do município de Pelotas-RS , sendo maior no sexo feminino e aumentando com a idade. Outro estudo relata que 80% dos trabalhadores apresentam dor durante a jornada de trabalho, sendo 65% relacionadas com movimentos específicos, e 50% com movimentos de flexoextensão da coluna31. Nos trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul-RS, como mostrado em nosso estudo, o percentual de dor lombar é extremamente aumentado (60,6%). A postura em flexão do tronco e cabeça é relatada por cerca de 93% dos trabalhadores durante a jornada de trabalho. Na avaliação radiográfica, 71% dos trabalhadores apresentaram osteófitos e discopatia degenerativa. 77,4% apresentaram alterações degenerativas nas articulações intervertebrais. Notou-se um predomínio destas alterações nas mulheres (58 a 59%), e o nível predominante destas alterações foi entre L5 e S1 (74,2%). Também foi verificada uma tendência destes trabalhadores com alterações degenerativas também apresentarem aumento da lordose lombar fisiológica, variando de 62,5% a 72,3%. Estes resultados estão bem acima dos verificados na população geral. Zavanela et al, analisando 342 protocolos radiológicos de coluna cervical e 504 de coluna lombar em trabalhadores gerais, encontrou 15,4% de alterações cervicais nas mulheres e 5,7% nos homens. Já para a região lombar, encontrou 17,9% para as mulheres e 13,7% nos homens. Outro estudo avaliou 439 pacientes sintomáticos e não sintomáticos, encontrando osteófitos em 68,6% em pacientes com idade acima de 40 anos. Estudo realizado com idosos no de uma aldeia japonesa que trabalha com pesca e agricultura avaliou radiologicamente 528 trabalhadores, 205 homens e 323 mulheres, encontrando 38,3% de osteoartrite35. Isto corrobora com o nosso estudo na afirmação de que a faixa etária é proporcional ao achado de alterações vertebrais ao RX34. Uma das limitações apresentadas pelo nosso estudo foi o tamanho de amostra reduzido, o que nos dificultou 11 Alterações posturais e deformidades vertebrais em trabalhadores rurais de Morrinho do Sul – RS. numa melhor fundamentação dos resultados. Sugerimos outros estudos com amostragens maiores para a confirmação destes resultados. Neste estudo, concluímos que os trabalhadores rurais de Morrinhos do Sul, apresentam alta prevalência de alterações posturais e degeneração vertebral, com uma relação forte com a idade, sexo, posturas e movimentos adotados durante a jornada de trabalho, o que sugere uma abordagem terapêutica e profilática desta população específica. Agradecimentos: A Prefeitura Municipal de Morrinhos do Sul-RS e Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres-RS pela colaboração na disponibilização dos exames radiológicos. Paumgartten FJ. Levels of organochlorine pesticides in the blood serum of agricultural workers from Rio de Janeiro State. Caderno de Saúde Pública. 1998; 4(3): 33-39. Brandenburg A. Agricultura familiar: ONGs e desenvolvimento sustentável. Curitiba: Ed. da UFPR, 1999. Ferreira LL. Análise coletiva do trabalho dos cortadores de cana da região de Araraquara, São Paulo. São Paulo: Fundacentro, 1998. 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Prevalence of osteoarthritis, osteoporotic vertebral fractures, and spondylolisthesis among the elderly in a Japanese village. Journal of Orthopaedic Surgery. 2006; 14(1): 9-12 Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana em pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE Prevalence of cardiovascular risk factors among fishermens at Fortaleza City Autores: Daniel Sobreira Galdino - Fisioterapeuta, graduado pela Faculdade Integrada do Ceará - FIC, aluno do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória e Cardiovascular da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. | Sandra Mary Silva Barbosa - Fisioterapeuta, graduada pela Faculdade Integrada do Ceará - FIC, aluna do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória e Cardiovascular da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Maria do Socorro Quintino Farias - Fisioterapeuta, Mestra em Ciências Fisiológicas pela Universidade estadual do Ceará - UECE Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará - FIC. Endereço para correspondência: Maria do socorro Quintino Farias, Rua Elizeu Uchoa Beco, 600 -Água Fria, tel: (85)99842129 - email: [email protected] Instituição de origem: Universidade de Fortaleza Resumo As doenças cardiovasculares representam importante problema de saúde pública em todo o mundo, visto que, constituem a principal causa de morbimortalidade e desencadeiam altos custos em assistência médica. Muitos estudos abordam este tema na população em geral, sendo necessário estudar e estratificar o risco em populações específicas para melhor entendimento das suas necessidades além de contribuir na identificação e prevenção de fatores de risco maiores em tais grupos. Este estudo teve como objetivos, traçar o perfil epidemiológico e identificar fatores de risco em uma amostra de pescadores na cidade de Fortaleza-CE. Estudo de corte transversal, descritivo e quantitativo, aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade de Fortaleza. As variáveis estudadas foram: alimentação, tabagismo, Índice de Massa Corporal (IMC), colesterol total (CT), lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de alta densidade (HDL), triglicerídeos (TG), glicemia, níveis de pressão arterial sistólica (PAS), diastólica (PAD) e diabetes. Os resultados serão mostrados em media ± erro padrão; o valor de p foi considerado significativo quando < 0,05. O risco cardiovascular em dez anos foi calculado pelo score de Framingham. Para análise do perfil lipídico e risco cardiovascular dividimos a amostra em dois grupos: Grupo I, indivíduos na faixa etária de 2550 anos e Grupo II: 51-65 anos. A amostra foi composta por 18 indivíduos do sexo masculino com idade média de 50 ± 9 anos cadastrados na Colônia de Pescadores do Mucuripe. A avaliação demográfica básica mostrou baixo nível de escolaridade da amostra, sendo n=10 (55%) analfabetos e 45% (n=9) sabiam ler e escrever; a alimentação básica constituída de peixe com preferência por preparações fritas. 27,7%(n=5) tabagistas; 16,6%) (n=3) ex-tabagistas e 55,5% não tabagistas. IMC, 44,4% (n=8) classificados como sobrepeso; 33 3% (n= 6) obesos; 5,5% (n=1) super-obesidade. 100% (n=18) ativos, mas sem atividade física regular. O perfil lipídico da amostra não revelou diferença estatística entre os dois grupos: CT (mg/dl) 194,12 ± 30,79 e 177,00 ± 35,24 (p=0,25); HDL (mg/dl) 43,12 ± 8,88 e 42,11 ± 14,75 (p=0,74); LDL (mg/dl) 129,17 ± 16,46 e 115,37 ± 32,72 (p=0,24); TG (mg/dl) 108,62 ± 44,36 e 97,22 ± 39,48 (p=0.74); Glicemia 90,62 ± 12,77 e 88,88 ± 11,40 (p=0,63) respectivamente. Os indivíduos do grupo II apresentam maior risco para doença cardiovascular em 10 anos (p=0,007). 27,7% (n= 5) pescadores apresentaram alteração da PAS ≥ 140mm Hg e 66,6% (n=12) com PAD ≥ 90mmHg. Não registramos nenhum caso de diabetes mellitus. Verificou-se alta prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana nos pescadores estudados e que as condições ambientais e alimentares não contribuem para um estilo de vida saudável capaz de prevenir os fatores de risco para doença coronariana. Palavras chave: dislipdemia, coronariopatia. 14 Abtract Cardiovascular diseases are considered a important problem in public health around the world. They represent the most frequent cause of mortality as well the highest costs in medical service. Despite of many reports about cardiovascular diseases in genetral populations, it`s important to study specific populations in order to determine risk factors, to understand their necessities and to work in prevention. The aim of this study, was to study cardiovascular diseases factors among fishermens, at a specific population in Fortaleza-CE. Several clinical parameters were evaluated, such as: feeding habits, abuse of Smoking, BMI (Body Mass Index), total cholesterol (TC), Low-density lipoprotein (LDL), High density lipoprotein (HDL), triglycerides (TG), Glicemy, systemic arterial pressure (SAP), and diabetes. This study was approved by Ethical committee of University of Fortaleza. Data will be showed by mean ± EPM, p value <0,005 was considered significant for statistical test. The cardiovascular risk was rated by Framingham score. For lipid profile and cardiovascular risk by Framingham score we divided the sample in two groups (group I individuals 25-50 years old and group II 51-65 years old). Our sample consisted of 18 male individuals registered in Mucuripe Fishermen Villa. Their age average was 50 ± 9 years old. Basic socio-demographic data on the population showed and 55% of them (n=10) were illiterate; 45% (n=9) able to read and write. Their principal diet consisted of fish, specially fried fish. 27,7% (n=5) were smokers; 16,6% (n=3) ex-smokers; and 55,5% of them (n=10) were non-smokers. When BMI was evaluated, 44,4% (n=8) were classified as overweight; 33,3% (n=6), obese; 5,5% (n=1), super obese. No one was considered sedentary, although no one practices physical activity regularly. There was no statistical differences considering lipid profile between groups, as showed: CT (mg/dl) 194,12 ± 30,79 e 177,00 ± 35,24 (p=0,25); HDL (mg/dl) 43,12 ± 8,88 e 42,11 ± 14,75 (p=0,74); LDL (mg/dl) 129,17 ± 16,46 e 115,37 ± 32,72 (p=0,24); TG (mg/dl) 108, 62 ± 44,36 e 97,22 ± 39,48 (p=0.74); Glicemy 90,62 ± 12,77 e 88,88 ± 11,40 (p=0,63) , respectively. On the other hand, group II individuals had lower clinical data values when compared to group I. The cardiovascular risk in ten years analyzed by Framingham score showed high potential risk factor for group II, with statistical significance (p = 0,007). 27,7% (n= 5) individuals showed PAS ≥ 140mm Hg and 66,6% (n=12) PAD ≥ 90mmHg. Neither case of diabetis mellitus was registered. This study showed a high prevalence of risk factors for development of coronary arterial diseases in Mucuripe’s Fishermen studied. In addition, the environmental and feedings conditions do not contribute to a healthy lifestyle. . Key words: dyslipidemias, coronary disease. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana em pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE Introdução É grande o número de estudos experimentais, epidemiológicos, ensaios clínicos e metanálises que estabelecem claramente a associação entre dislipidemia e aumento do risco de morte por obstrução das artérias. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já previa que em torno do ano 2000, esta já seria a principal causa de morte no mundo ocidental. A aterosclerose é a forma mais comum de doença das artérias coronarianas (DAC), sendo esta, um distúrbio no qual os depósitos de gordura acumulam-se na parede das artérias causando reação inflamatória e obstrução ao fluxo sangüíneo 1,2. Alguns autores descrevem de um modo geral que os principais fatores de risco para doença arterial coronariana são hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, dislipidemia, obesidade, sedentarismo, Diabetes Mellitus e antecedentes familiares2. O risco de doença arterial coronariana aumenta com os níveis elevados do colesterol total ligado à lipoproteína de baixa densidade (LDL). A aterosclerose é uma doença multifatorial na qual as dislipidemias são fatores de risco modificáveis em muitos casos1. A diminuição do LDL em indivíduos sob risco diminui a morbidade e a mortalidade relacionada à aterosclerose coronariana3,4. Sabe-se da importância das gorduras para o organismo. Estas fornecem energia e são importantes na absorção de vitaminas lipossolúveis, na estrutura da membrana celular, para síntese hormonal (esteróides) e para isolamento e proteção de órgãos vitais. Do ponto de vista fisiológico e clínico, os lípides biologicamente mais relevantes são os fosfolípides, o colesterol, os triglicérides (TG) e os ácidos graxos5. Os fosfolípides formam a estrutura básica das membranas celulares. O colesterol é precursor dos hormônios esteróides, dos ácidos biliares e da vitamina D. Além disso, como constituinte das membranas celulares, o colesterol atua na fluidez destas e na ativação de enzimas. Os triglicérides são formados a partir de três ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol e constituem uma das formas de armazenamento energético mais importante no organismo, depositados nos tecidos adiposo e muscular 5. A atenção da comunidade médica refere-se, ao papel das gorduras no desenvolvimento da aterosclerose6,7. Embora muitos estudos abordem este tema é necessário estudar e estratificar o risco em populações específicas, para melhor entendimento das necessidades destes além de contribuir na identificação e prevenção de fatores de risco maiores em tais grupos. Durante os últimos trinta anos presenciamos declínio, razoável da mortalidade por causas cardiovasculares em países desenvolvidos, enquanto elevações relativamente rápidas e substanciais têm ocorrido em países em desenvolvimento, dentre os quais o Brasil 8. São poucos os relatos na literatura, em relação ao perfil e a prevalência da hipercolesterolêmica em população litorânea. Estudo com uma amostra de 101 pescadores argentinos, que 71,2% desta, apresentavam hipercolesterolêmica em resultado de análise bioquímica laboratorial, a obesidade correspondia a 43,6%. Curiosamente 100% destes pescadores tinham alimentação em excesso de carnes vermelhas e seus derivados com ingestão diária9. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 No município de Cotia-SP, a média de fatores de risco foi significativamente maior nos homens (p<0,01), quando comparado as mulheres, para faixa etária até 50 anos, entre 50-55 as médias se igualaram para ambos os sexos8. Em outro estudo, estimaram a prevalência de fatores de risco cardiovasculares na população adulta em um município Brasileiro. Mostrou que a hipertensão arterial sistêmica, diabetes, dislipidemia, obesidade, circunferência abdominal alterada e tabagismo prevaleciam nesta população10. Este estudo objetiva traçar o perfil epidemiológico e estudar hábitos alimentares e fatores de risco em uma amostra específica de pescadores na cidade de Fortaleza-CE, a fim de investigar se esta população alimenta-se do próprio pescado e se as condições ambientais favorecem ou não a um estilo de vida mais saudável. Estes resultados e o enfoque epidemiológico poderão contribuir para o desenvolvimento de políticas de saúde específicas, pois para isto é necessário estratificar os pacientes em grupos de maior risco e facilitar o desenvolvimento de programas de prevenção primaria ou secundária para esta população. Materiais e métodos Estudo transversal, quantitativo, que avaliou 18 indivíduos adultos da Colônia de Pescadores Z8 em Fortaleza-CE, todos participantes de um programa de alfabetização da Prefeitura na região do Mucuripe. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade de Fortaleza- UNIFOR e seguiu as normas éticas que envolvem a pesquisa com seres humanos determinadas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde11. Foram incluídos na pesquisa, aqueles na faixa etária entre 25 à 65 anos, que assinaram o termo de compromisso livre e esclarecimento (TCLE). As variáveis estudadas foram: colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos, glicemia, níveis de pressão arterial sistêmica, diabetes, IMC e tabagismo. Os participantes foram esclarecidos antecipadamente e solicitados a permanecerem em jejum antes da coleta do material. Foram considerados dislipidêmicos aqueles em uso atual de medicação hipolipemiante com objetivo de controle do colesterol, ou com Colesterol Total (CT) ≥ 240 mg/dl, ou LDL ≥ 160 mg/dl ou HDL < 40 mg/dl. Sendo considerados diabéticos aqueles com história de Diabetes Mellitus prévio em uso de medicação hipoglicemiante oral ou de insulina, bem como aqueles que apresentaram glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl, desde que confirmada por uma segunda medida de glicemia em jejum. Os participantes foram classificados como sobrepeso (IMC) entre 25-30 Kg/ m2, obesos quando o (IMC) ≥ 30 kg/m2 e superobeso IMC de 35-40 Kg/m2. Foram considerados hipertensos aqueles que apresentaram pressão arterial sistólica igual ou superior 140 mmHg e 90 mmHg para diastólica conforme IV Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial12 . A coleta do material para análise laboratorial foi realizada na própria sede da Colônia de pescadores em horário previamente estabelecido e em seguida encaminhada para o laboratório do NAMI - Núcleo de Atenção Médica Integrada da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), acondicionados em caixa térmica seguindo as normas técnicas e de biosegurança laboratorial. Os indivíduos foram orientados em relação ao jejum de 12 horas. As amostra de sangue foram coletadas pelo 15 Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana em pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE mesmo profissional. Utilizou-se um esfingnomanômetro analógico de marca BD para verificação da pressão arterial, sendo realizadas duas medidas com diferença de 5 minutos entre as duas aferições. Uma terceira medida foi realizada quando verificou-se diferença de 10 mmHg entre as duas primeiras. Para as demais variáveis do estudo foram utilizados balança portátil e um estadiômetro. Os dados foram tabulados no software Excel 2007 e analisados utilizando-se a ferramenta de estatística descritiva e analítica. Os dados estão demonstrados como média ± erro padrão da média e considerou-se as diferenças significativas quando p < 0,05. Resultados e discussão A amostra estudada foi composta por 18 indivíduos, todos do sexo masculino com idade média de 50.4 ± 9.8 anos, com baixo nível de escolaridade sendo 55,5% (n=10) composta por analfabetos, outros 16,6% (n= 3) sabiam ler e escrever. A alimentação da amostra estudada envolve o consumo predominante de peixe conforme se mostra na tabela 1. A amostra tem acesso as informações a respeito de prevenção e doenças cardiovasculares por meio de programas de saúde pública e de projetos acadêmicos. Atualmente a Prefeitura de Fortaleza executa um programa de alfabetização para a comunidade pesqueira. A Assembléia Mundial de Saúde (2004) aprovou a Estratégia Global da Organização Mundial de Saúde para Alimentação, Atividade Física e Saúde 13. Este documento, recomenda-se a busca do equilíbrio energético através da variedade do que se consome (frutas, verduras, carboidratos, proteínas, entre outros). Deste modo, recomenda a limitação do consumo de gorduras totais, a substituição de gorduras saturadas por insaturadas e a buscar ao abandono do consumo de gorduras trans. As gorduras transsaturadas são artificialmente obtidas por meio de um processo de hidrogenação das moléculas insaturadas e portanto prejudiciais porque aumentam o colesterol ruim. Portanto a amostra estudada necessita de orientação específica sobre o fator nutricional já que 50% (n=9) preferem que o preparo do peixe seja através da fritura (tabela 1), eliminando os benefícios do consumo deste alimento. A tabela 2 mostra outros fatores de risco relacionados aos hábitos de vida da amostra. Quanto ao hábito tabagistico, observa-se que a prevalência foi próxima ao da população brasileira em geral, estima-se que cerca de 20,0% dos brasileiros com mais de 15 anos seja tabagista, com grandes variações no território nacional, variando de 12,9%, em Aracajú, a 25,2%, em Porto Alegre10. Nesta amostra específica, encontramos 27,7% (n= 4) de fumantes e de 16,6 (n= 3) de ex-fumantes. O cigarro duplica o risco na doença arterial coronariana e em 30% delas são atribuídas ao número de cigarros fumados. Os níveis baixos de colesterol não confere efeito protetor aos fumantes, segundo estudo com 106.745 homens na Coréia, o que é apoiado também pelo Estudo Prospectivo da Sociedade Americana do Câncer14. Os riscos cardiovasculares associados à obesidade crescem com o índice de massa corporal (IMC). A avaliação de homens e mulheres participantes do estudo de Framingham, em um período de 26 anos, revelou que esta é um fator de risco para 16 a ocorrência de eventos cardiovasculares, especialmente doença coronariana, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral, independente da idade, da pressão arterial sistólica, dos níveis de colesterol, do tabagismo, da intolerância à glicose e presença de hipertrofia ventricular esquerda15 No Brasil a obesidade já é motivo de grande preocupação. Feferbiam diz “ em quase 30 anos de prática pediátrica, constato que, sem dúvida, que a criança obesa passou a ser motivo freqüente de consulta ao pediatra e, muitas vezes, ao endocrinologista”. Esta afirmação mostra que os futuros adultos já estão marcados por um problema que poderá levar o Brasil a enfrentar no futuro próximo problemas ainda maiores como a síndrome metabólica e as doenças cardiovasculares16. Constatou-se também nesta pesquisa, que apenas 16,6% (n=3) indivíduos apresentaram IMC menor do que 25 e curiosamente foi naqueles que se encontravam na faixa etária de 50 a 65 anos (TABELA 2). Quando comparamos o peso desses pescadores com aqueles que se encontravam na faixa etária entre 25 e 50 anos não encontramos diferença estatística significativa entre o IMC dos dois grupos (p=0,65), mostrando que os indivíduos mais jovens em relação a este fator de risco não são diferentes. O peso médio foi dos indivíduos na faixa etária entre 25 e 50 anos foi de 75,37 ± 5,59 Kg, e 76,55 ± 4,91Kg para os mais idosos. Exercícios, mesmo que em graus moderados, têm efeito protetor contra a doença arterial coronariana e uma série de outros benefícios, tais como: elevação do HDL-colesterol, redução de cifras na hipertensão arterial sistêmica e auxílio na baixa do peso corporal 17. Nota-se que a amostra não pode ser considerada sedentária. O trabalho do pescador exige esforço físico pois não utiliza equipamentos mecânicos e apenas a força física. Somente 5,5% (n=1) da amostra realiza caminhada, mas isto não pode ser considerado como exercício físico no sentido de treinamento pois o período que permanecem no mar é variável comprometendo a regularidade do exercício, sendo a regularidade do treino um dos princípios do treinamento físico aeróbio e efeitos no sistema cardiovascular7. Assim, como o sedentarismo e o tabagismo, a relação entre hipercolesterolemia e doença cardiovascular, notadamente coronariana, tornou-se indiscutível a partir de evidências observacionais e epidemiológicas. Estudos observacionais mostraram uma curva exponencial, relacionando os níveis de colesterol ao desenvolvimento de eventos e mortalidade coronariana18. O estudo Framingham objetivou identificar fatores e características comuns que contribuem para o desenvolvimento de doença arterial através do acompanhamento por um longo período de um grande número de pessoas que ainda não tinham desenvolvido sinais de doença coronariana, infarto ou acidente vascular. Com base neste importante estudo, que vem se atualizando ao longo da terceira geração, é possível calcular o risco de desenvolver doença coronariana através de parâmetros, tais como: idade, colesterol total, HDL, pressão arterial sistólica, tratamento para hipertensão e tabagismo. Observou-se na amostra estudada que existem alterações lipídicas para as duas faixas etárias estudadas, sem diferença estatística entre os dois grupos. Nota-se que o HDL desejáwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronariana em pescadores do litoral da Cidade de Fortaleza - CE vel poderia ser mais elevado para conferir maior proteção. Somente esta variável encontrava-se alterada, portanto não se configurando dislipidemia, porém quando analisamos os outros fatores de risco conjuntamente, encontramos que 44,4% (n=8) dos participantes do estudo apresentam risco absoluto para doença coronariana entre 10% e 20% em dez anos pelo Score de Framingham19 (tabela 4). A estimativa de risco para doença arterial coronariana em dez anos para a amostra pode ser visto em detalhes na tabela 4. Tanto os mais jovens quanto os mais idosos apresentam risco para o desenvolvimento de DAC, entretanto os mais idosos apresentam maior risco com diferença estatisticamente significativa (p=0,007), 33,3% (n=6) pertencems ao grupo II. Não encontramos nenhum caso de diabetes mellitus neste estudo. De acordo com o Ministério da Saúde e IBGE com base no censo populacional de 1991, a estimativa de hipertensão arterial na população brasileira adulta foi de 15%20. Neste estudo, identificamos 27,7% (n= 5) pescadores com alteração da PAS ≥ 140 mm Hg e 66,6 % (n=12) com PAD ≥ 90mmHg. O gráfico 1 ilustra os níveis pressóricos aferidos na amostra. A hipertensão arterial sistêmica é um fator de risco bem estabelecido para a doença cardiovascular e para a insuficiência cardíaca congestiva. A importância desta associação foi bem definida nos achados do Estudo Framingham19. Na amostra, somente dois pescadores declararam-se hipertensos e que já faziam uso de medicação. É tão significativa a morbidade por cardiopatia isquêmica nos Estados Unidos, que somente 5% da população pode ser considerada de baixo risco para a doença isquêmica, considerando-se os seguintes fatores: 1) colesterol total abaixo de 200 mg/dl; 2) pressão arterial sistólica abaixo de 120 e diastólica abaixo de 80mmHg; 3) não fumante; 4) sem diabetes mellitus ou antecedentes familiares de infarto de miocárdio 20. Provavelmente esses dados se repetiriam caso estudássemos as mesmas variáveis com uma amostra maior desta população. Conclusão Verificou-se alta prevalência dos fatores de risco para o desenvolvimento da doenças arterial coronariana e não de dislipidemia isoladamente. Ficou evidente através dos dados obtidos, que os pescadores estudados independentemente da faixa etária, apresentam alta prevalência de importantes fatores de risco, tais como: obesidade, sedentarismo e hipertensão arterial sistêmica, mostrando que sistema de saúde pública e privada, enfrentará cada vez mais, um maior número de pacientes com doença cardiovascular. Em relação ao perfil lipídico da amostra, observa-se que a análise isolada do colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos e glicemia, não são estatisticamente diferentes para os dois grupos O risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular em 10 anos calculados pelo score de Framinghram é maior na faixa etária de 50 a 65 anos (p=0,007) nesta amostra. Podemos sugerir que as condições ambientais e alimentares não favorecem a um estilo de vida saudável nesta amostra. Embora com predomínio de peixe na alimentação, www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 os pescadores não são beneficiados pelas propriedades nutricionais e protetoras conferida por este alimento. Contudo, deve-se considerar que os dados que foram registrados, neste estudo, são de uma pequena amostra. Mesmo assim, esperamos contribuir para o desenvolvimento de outras pesquisas, envolvendo populações específicas, considerando condições e situações semelhantes para que se possa direcionar ações preventivas para a população litorânea. Referências Bibliográficas GUS, I. FISCHMANN, A. MEDINA, C. Prevalência dos Fatores de Risco da Doença Arterial Coronariana no Estado do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul: Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ abc/v78n5/9377.pdf>. Acesso em: 18 de abril de 2008. KUSUMOTO, F. M. Fisiopatologia Cardiovascular. São Paulo: Atheneu, 2001. ALTMAN, L. K. et al. 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TABELA 2: Perfil demográfico da amostra em relação aos fatores de risco maiores Fonte: Fortaleza/CE 2009 Fonte: Fortaleza/CE 2009 Tabela 4: Estimativa de risco para doença arterial coronariana em 10 anos segundo score de Framingham TABELA 3: Perfil lipídico e glicêmico da amostra (n=18) Fonte: Fortaleza/CE 2009 18 Fonte: Fortaleza/CE 2009 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Análise de Risco Coronariano em funcionários da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI)- CE Autores: Fábio Augusto Portela - Professor Orientador. Docente da Faculdade de Tecnologia Intensiva-FATECI. Artenyzia Mendonça de Brito - Autor: Acadêmica do 4º período do curso de fisioterapia da Faculdade de Tecnologia Intensiva- FATECI. Monitora da disciplina da Anatomia Humana. 20 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Análise de Risco Coronariano em funcionários da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI)- CE Introdução O homem moderno vive sob constante pressão devido às situações de alta competitividade que enfrenta em sua vida laboral, compromisso familiar e exigências da sociedade. Aliado a isso, outro fato agrava as pressões sobre o homem moderno, é o atual panorama das doenças cardiovasculares como a principal causa de morbi-mortalidade mundial (WHO, 2005). Para minimizar estes fatores, cada vez mais pessoas buscam promover mudanças em seu estilo de vida, sobretudo, adicionando a prática regular de atividade física em seus novos hábitos de vida, almejando assim, um bom estado de saúde e bem-estar (NAHAS et al., 2000). Entretanto, grande parte dos indivíduos tem errado, visto que a busca pela prática de exercícios, muitas vezes se dá sem a orientação de um profissional qualificado. Outro fato agravante é a falta de uma avaliação das condições de saúde prévia à realização de exercícios físicos, que fornece um panorama global das possibilidades individuais (MOREIRA et al., 2007b). A Associação Brasileira de Medicina do Esporte recomenda que todos os indivíduos, sem distinção de faixa etária, que se submetam a um programa de atividade física regular, de caráter competitivo ou recreacional, devam realizar uma avaliação pré-participação (LEITÃO e OLIVEIRA, 2005). O PAR-Q (sigla de Physical Activity Readiness Questionnaire, ou Questionário de Prontidão para Atividade Física) tem sido sugerido como padrão mínimo de avaliação pré-participação. Tendo como principal objetivo analisar a possibilidade de risco coronariano e osteoarticular, pois pode identificar, por alguma resposta positiva, os indivíduos que necessitam de avaliação médica prévia. Apesar de simples e de fácil aplicação, o PAR-Q mostra-se bastante útil, evitando que indivíduos portadores de patologias, especialmente cardiovasculares, sejam colocados em risco durante as atividades físicas. Esse instrumento é validado e tem por objetivo selecionar na população a minoria dos indivíduos com alguma contraindicação médica para a prática de exercícios físicos, mesmo os com intensidades leves, e que devem ser encaminhados ao médico antes de darem início a um programa de exercícios ou a adotar estilo de vida mais ativo (SHEPARD, 1984; SHEPARD, 1991; NUNES e BARROS, 2004). O objetivo deste estudo foi identificar a presença de riscos em indivíduos que trabalham na Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI) e possuem uma vida relativamente ativa, e sem seguida correlacionar a existência de riscos e os tipos de riscos com o gênero dos entrevistados. Metodologia Pesquisa exploratória, método de analise quantitativo, realizada na FATECI, nos meses de outubro e novembro de 2009. A população consistiu em 20 funcionários da FATECI, que possuem idade entre 20 e 40 anos. Não houve caráter de exclusão. Utilizou-se como instrumento de teste o Questionário da Prontidão para a Atividade Física (PAR-Q), composto por sete www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 perguntas objetivas para avaliação do risco coronariano e osteoarticular. Os dados coletados foram processados e tabulados graficamente com o auxilio do programa Microsoft Excel 2007, seguindo-se de uma analise descritiva. Resultado e discussão Dos 20 funcionários entrevistados, 10 (50%) são do gênero feminino e 10(50%) do gênero masculino. Comprovou-se pela mostragem que 13 (65%) profissionais entrevistados apresentam pelo menos um fator de risco coronariano ou osteoarticular; destes 7 (35%) são do gênero feminino e 6 (30%) do gênero masculino . Tais achados indicam que as mulheres estariam mais suscetíveis a fatores de riscos associados à existência de distúrbios coronarianos e/ou osteoarticular. Entretanto, não foram encontrados em literaturas anteriores com tais resultados, sendo necessário que haja um maior aprofundamento a respeito desta variável. Este percentual de indivíduos que apresentam riscos se configura uma população que exige maiores cuidados ao realizarem qualquer tipo de atividade física, haja vista que os fatores de riscos presentes no PAR-Q estão associados à possível existência de doenças coronarianas e osteoarticulares; sendo que a ênfase maior das questões está na busca de riscos de coronarianopatias. Quando questionamos quanto à existência de dor no peito durante a pratica de exercícios físicos; 4 (20%) dos indivíduos relataram sentir dores, destes; 2 (10%) são do gênero feminino e 2(10%) do gênero masculino. Em relação à dor no peito no último mês verificamos que dos 20 entrevistados; 2 (10%) apresentaram dores, com predominância do sexo feminino. Quanto aos indivíduos que não apresentaram nenhum fator de risco a doenças coronarianas, foi possível observar que o gênero masculino apresentou menor risco; sendo que 4 (20%) dos homens não apresentaram nenhum fator, enquanto que apenas 3 (15%) das mulheres não apresentaram riscos. Conclusão Para que se possa planejar qualquer tipo de orientação á pratica de atividade física ou ao se realizar qualquer tipo de atividade terapêutica ativa é imprescindível a realização de uma triagem. O PAR-Q sendo uma forma de avaliação de pré- participação ao exercício mostra-se um importante instrumento para determinar o estado de prontidão para exercícios físicos, tendo ainda grande importância na detecção de complicações cardiovasculares e/ou ortopédicas. Os resultados obtidos evidenciam altos índices de indivíduos que apresentam algum tipo de fator de risco coronariano e/ ou osteoarticular; tornando-se nítida a importância da avaliação prévia a realização de qualquer tipo de atividade física ou terapêutica ativa. É fundamental que os profissionais da área da saúde e de áreas envolvidas com o esporte, tenham conhecimento a 21 Análise de Risco Coronariano em funcionários da Faculdade de Tecnologia Intensiva (FATECI)- CE respeito da existência do PAR-Q. A importância de tal conhecimento se torna de grande valia não apenas para verificar se o individuo está apto ou não a pratica de exercícios, tendo ainda grande utilidade na identificação de possíveis complicações cardiológicas e/ou ortopédicas, auxiliando no encaminhamento prévio destes indivíduos. Contudo, faz-se necessário que surjam estudos posteriores, com objetivo de tornar conhecida a eficácia e a importância da aplicação do PAR-Q Sugere-se também uma investigação mais aprofundada nos indivíduos inaptos, para que outros fatores de impedimento não impliquem durante á pratica de exercícios físicos ou da terapêutica ativa. Referências Bibliográficas O Exercicio: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. Editor Nabil Ghorayeb; co-editor Turíbio Leito de Barros Neto. –São Paulo: Editora Atheneu,2007. Ed.1, p. 253. Thomas S, Reading J, Katch RJ. Revision of the Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q). Can J Sports Sci, 338-45. Leitão, M.B.; Oliveira, M.A.B. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Morte Súbita no Exercício e no Esporte. Rev Bras Med Esporte, v.11, n.1, p.1-8, 2005. MOREIRA, O.C.; OLIVEIRA, C.E.P.; GARCIA, F.L.N.; MAKKAI, L.F.C.; MARINS, J.C.B. 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Trabalho desenvolvido no curso de Fisioterapia da Faculdade Cathedral de Boa Vista/RR Correspondência para: Mariana Delgado Romano Av. do Cupuaçuzeiro, 207 – Bairro Caçari, Boa Vista, RR – CEP: 69307-450 E-mail: [email protected] Resumo Atualmente o estresse, entre outros fatores emocionais, e as doenças ocupacionais são problemas que atingem profissionais de todas as áreas de atuação, prejudicando o desempenho, a saúde e a qualidade de vida dos mesmos. Como método de trabalho utilizado, foi efetuado um estudo de caso objetivando demonstrar a eficiência de um programa de ginástica laboral na prevenção de doenças ocupacionais e melhora da qualidade de vida dos mecânicos da Concessionária Tropical Fiat, em Boa Vista – Roraima. Foram evidenciados resultados altamente positivos, onde comprovam que a sua prática dentro das organizações é de suma importância e se traduz numa ferramenta fundamental para proporcionar a qualidade de vida da classe trabalhadora e conseqüentemente para toda a instituição. Palavras-chave: Ginástica Laboral, doenças ocupacionais, Fisioterapia preventiva, qualidade de vida. 24 Abstract Currently stress, among other emotional factors, and occupational disease are problems that affect professionals of all areas, harming the performance, health and their own life quality. As working method used, aiming to demonstrate the efficiency of a program of exercises in the prevention of occupational illnesses and improvement on the quality of life of the mechanics of Tropical Fiat Concessionaire, in Boa Vista – Roraima. Highly positive results had been verified, where there is evidence that its practice within the organization is of substantial importance and conceptualizes itself as a fundamental tool to provide the labor class quality of life and, therefore, of the entire companies. Key words: Labor Gymnastics, occupational disease, preventive Physiotherapy, Quality of Life. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat Introdução A prevenção de doenças ocupacionais vem ganhando espaço nas empresas, considerando a crescente incidência registrada nos últimos anos. O absenteísmo, os afastamentos temporários do trabalho, e até mesmo o registro de invalidez permanente dos trabalhadores se reflete diretamente na produtividade, no desempenho, e na preocupação das empresas com o bem estar dos seus colaboradores. Investir em prevenção é o caminho para as empresas evitarem o desenvolvimento destas doenças, que a cada dia ganham espaço e novas formas de manifestação. As condições de trabalho atuais refletem as tensões a que estão submetidos os indivíduos no seu dia a dia. Desta forma, aparecem pressões internas que são impostas, quando estes lutam pela sobrevivência no mercado de trabalho. A competitividade e as exigências de qualidade deste mercado, tais como: a eficiência e velocidade na realização das atividades, são uma constante. De outra forma, as pressões externas provocadas pelo mercado, de exigências e de modificações constantes, implicam em adequação dos sistemas de produção à realidade e flexibilidade de atendimento aos clientes. Portanto, os indivíduos que trabalham são submetidos a tensões que, somadas às exigências normais de suas atividades, podem provocar o surgimento de doenças e /ou queixas relacionadas ao trabalho. Reconhecer as situações de trabalho, que possam provocar danos à saúde, desperta o interesse das organizações, na busca de medidas preventivas de doenças ocupacionais. As situações de trabalho, nas empresas em geral, que merecem atenção são aquelas nas quais as atividades exigem movimentos repetitivos, posturas inadequadas, esforços e situações de trabalho causadoras de estresse e fadiga (COSTA FILHO, 2001). A Ginástica Laboral não é uma atividade física recente. Há relatos deste tipo de atividade desde 1925, na Polônia, onde é chamada de Ginástica de Pausa e destinada aos operários. Neste mesmo período pesquisas foram realizadas na Bulgária, Alemanha Oriental e na Holanda. Na Rússia 150 mil empresas, envolvendo 5 milhões de funcionários praticavam e ainda praticam a Ginástica de Pausa, adaptada à cada cargo (CAÑETE apud POLITO et. al, 2002). Apesar de ter surgido na Polônia, Segundo Pereira (2001) a ginástica laboral realmente se desenvolveu no Japão, a partir de 1928, com funcionários dos correios que realizavam diariamente a ginástica de pausa, visando o cultivo a saúde e como forma de lazer. De acordo com Cañete (1996), após a segunda guerra mundial, este hábito foi difundido por todo o país e, atualmente, um terço dos trabalhadores japoneses exercita-se diariamente, tendo obtido como resultados, em 1960, a diminuição dos acidentes de trabalho, o aumento da produtividade e a melhoria do bem-estar geral dos trabalhadores. A grande aceitação e difusão da ginástica laboral no Japão devem-se à adaptação de um programa da Rádio Taissô, que consiste em exercícios específicos e rítmicos www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 acompanhados por música própria, sendo realizada pela manhã diariamente, que é transmitida por pessoas especialmente preparadas, e é praticada nas fábricas, ambientes de trabalho e residências (PEREIRA, 2001). Segundo a revista do Confef (2004), a prática da ginástica laboral iniciou-se na Alemanha, Suécia e Bélgica no início da década de 60. Já nos Estados Unidos, tal prática foi adotada em 1968 (Lima apud Figueiredo e Alvão (2005). No Brasil, surgem as primeiras manifestações de atividades físicas entre funcionários, em 1901, mas a Ginástica Laboral teve sua proposta inicial publicada somente em 1973. Algumas empresas começaram a investir em empreendimentos, com opção de lazer e de esporte para os seus funcionários, como a Fábrica de Tecidos Bangu, a pioneira, e o Banco do Brasil, com a posterior criação da Associação Atlética do Banco do Brasil (Revista do Confef, 2004). Ainda em 1978, em Betin/MG, na fábrica Fiat de Automóveis, iniciou-se o “Programa de Ginástica na Empresa”, fundamentado nos princípios da Ginástica Laboral. Investir na qualidade de vida voltada aos funcionários nas instituições se constitui hoje uma das principais ações para a prevenção de problemas oriundos do exercício laboral que, em condições inadequadas, podem ocasionar, pelo excessivo ritmo de trabalho, grandes males à saúde dos trabalhadores. A ginástica laboral em seu contexto geral visa à promoção da saúde e melhoria nas condições dos trabalhadores frente à tarefa ocupacional a ser exercida, contribui na prevenção e redução de patologias ocupacionais. Promove também um melhor relacionamento interpessoal, tem ação positiva na redução dos acidentes de trabalho, na diminuição do absenteísmo e conseqüentemente no aumento da produtividade e maior retorno financeiro para a empresa (OLIVEIRA, 2004). Cañete (1996) faz o seguinte questionamento: Quem você acha que, provavelmente produzirá mais e melhor: um indivíduo cansado, desmotivado, fadigado, com dores pelo corpo, estressado, deprimido, com baixa auto-estima e com sua saúde global comprometida ou aquele indivíduo saudável, equilibrado emocionalmente, satisfeito, feliz e motivado? O autor supracitado avalia que investir em qualidade de vida em saúde é indispensável. A ginástica laboral aparece neste contexto como um investimento, sem custo elevado. A experiência indica que a aparente perda de tempo com a pausa não acontece, pelo contrário é necessária e mostra-se indispensável para o equilíbrio funcional e a maior produtividade. Trata-se de uma importante forma de prevenção contra o surgimento de doenças, acidentes do trabalho e afastamentos temporários ou permanentes que significam grandes custos para as empresas (CAÑETE, 1996). O objetivo geral deste estudo foi analisar os benefícios com relação à saúde e à satisfação dos trabalhadores, obtidos com a implantação de um programa de Ginástica Laboral. 25 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat Doenças ocupacionais Intencionalmente, nos propusemos a concentrar algumas idéias que nomeiam a Ginástica Laboral como promotora da saúde, contribuindo na prevenção das doenças ocupacionais, e na melhora do desempenho do trabalhador na execução de suas atividades. Dentre as doenças ocupacionais, as afecções musculoesqueléticas aparecem nos primeiros lugares das estatísticas de acidentes ou doenças ocupacionais recebendo assim a atenção especial do NIOSH (National Institute of Ocupacional and Health), definidas como o segundo objetivo de prioridade de ação para a década de 90, logo após as doenças respiratórias relacionadas ao trabalho (MENDES, 1995). Ainda aponta o autor que a entidade considerou como prioritário, dentro dos distúrbios músculo-esqueléticos estudar as afecções da coluna, principalmente as lombalgias e as alterações orgânicas relacionadas aos movimentos repetitivos e as vibrações. O termo DORT, Distúrbios Osteosmusculares Relacionados ao Trabalho, foi recentemente instituído no Brasil para substituir a sigla LER (Lesões por Esforços Repetitivos). A sigla DORT tem sido vastamente utilizada como rótulo de diagnóstico de diversas condições dolorosas, em indivíduos que desempenham as mais variadas atividades ocupacionais (MARTINS, 2001). De acordo com o mesmo autor, um dos motivos dessa alteração é que a denominação LER abrange apenas a repetitividade dos movimentos e não engloba outras formas de sobrecarga que podem ser prejudiciais ao aparelho locomotor. A DORT abrange além da sobrecarga dinâmica, a sobrecarga estática, utilizando a musculatura isométrica por períodos prolongados para a manutenção da postura, os trabalhos sob temperaturas, luminosidade, umidade e ventilação inadequada e o uso prolongado de instrumentos como vibração excessiva, podem contribuir para o desenvolvimento de patologias relacionadas às atividades ocupacionais. A sigla LER foi utilizada durante vários anos, sendo ainda melhor identificada. Frente a isso, ainda são muitos os autores que utilizam esta denominação, mesmo após a edição da atualização da Norma Técnica de 1997 do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Baseando-se no termo inglês “work-related musculoskeletal disorders”, foi proposta a sigla DORT, ficando desta forma enquadrada na categoria das doenças relacionadas ao trabalho proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (LONGEN, 2003). Tais afecções tornaram-se a mais nova epidemia dos últimos anos, já que a partir da década de 80 passaram a ser a mais freqüente causa de afastamento do trabalho no mundo. De acordo com o Fundacentro (2007), as Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) são as designações que podem levar a ocorrência de afecções de músculos, 26 tendões, sinóvias (revestimento das articulações), nervos, fáscias (envoltório dos músculos) e ligamentos, isoladas ou combinadas, com ou sem degeneração de tecidos. Elas atingem principalmente as regiões apendiculares. Podemos ainda complementar que estas ocorrem, de forma combinada ou não, por esforços repetitivos e abusivos dos grupos musculares e da manutenção da postura inadequada durante a jornada de trabalho. Segundo Smith (1996) há oito fatores de risco que interferem na ocorrência de distúrbios osteomusculares: - A freqüência de movimentos do membro superior (índice de repetições) - A postura das articulações do braço, mão, punho, cotovelo, ombro e do pescoço; - A força necessária para realizar a tarefa; - As vibrações; - As condições do ambiente de trabalho; - As características dentro da organização do trabalho; - As condições psicossociológicas; - Fatores de risco de ordem pessoal (sexo, idade, traumas anteriores, condicionamento físico). Para Polito (2002), são três tipos de fatores que podem causar a DORT conforme a tabela a seguir: TABELA 1 – Fatores de Risco de DORT (POLITO, 2002, P.44) Existem inúmeros trabalhadores com queixas de dores atribuídas à seu trabalho. A patologia é reconhecida pela atual legislação brasileira gerando grande interesse nos meios médicos. O ônus gerado ao governo, às indústrias e aos trabalhadores, levam os meios médicos a realizar estudos e discussões que possam contribuir para uma melhor compreensão dessa patologia já considerada como epidemia na saúde brasileira (NAKACHIMA, 2002). No Brasil, os dados dessas afecções são deficientes, mas a quantidade de diagnósticos de LER/DORT tem dimensões muito altas. Considerando assim que na última década nosso país presenciou uma situação epidêmica com relação à DORT, tornando-se esta patologia a segunda maior causa de afastamento do trabalho no Brasil. Somente nos últimos 5 anos foram abertos 532.434 CATs (Comunicação de Acidente de Trabalho) geradas pelas LER/DORT. A cada 100 trabalhadores da região Sudeste do Brasil, 1 é portador de LER/DORT (AMERICANO, 2001). As LER/DORT atingem, atualmente, trabalhadores de diversas áreas. Especialistas em medicina do trabalho estimam que de 5 a10% dos digitadores são portadores de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat LER/DORT, por exemplo. Na França, este já é o maior motivo de afastamento do trabalho e de comprometimento da produtividade (Barbosa et al., 1997). Um estudo desenvolvido pela Folha de São Paulo (2001) verificou que, dos 310.000 trabalhadores paulistanos diagnosticados pelos médicos, 14% eram portadores de LER/ DORT, sendo 6% dos trabalhadores da cidade de São Paulo, ou seja, 4% da população. Dessa forma, fica evidente que, se entidades que envolvam governo, empresários, médicos, entre outros, não tomarem providências com relação a esse problema, em um futuro próximo, ter-se-á um grande número de pessoas afastadas do trabalho, gerando cifras milionárias em custos com aposentadorias, com tratamentos de problemas, como mostra o GRÁFICO 1. Outro dado alarmante é que, aproximadamente, 75 a 90% dos custos médios nas empresas são devidos aos doentes com lombalgias crônicas, o que também poderá desencadear os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Ksam, 2003). Gráfico 1 - Trabalhadores com diagnóstico de LER/DORT, São Paulo-SP Ginástica laboral na empresa A Ginástica laboral é um programa implantado em empresas, que consiste em pausas com exercícios programados previamente, que levam em consideração as atividades e demandas físicas existentes nos mais diversos setores. Os exercícios são aplicados no próprio ambiente de trabalho durante o expediente. Ela é também conhecida como ginástica de pausa, ginástica do trabalho, compensatória e atividade física na empresa (MASCELANI, 2001). Seguindo a mesma idéia, Martins (2001), define como exercícios efetuados com sessões de cinco, dez ou quinze minutos, tendo como principais objetivos a prevenção das LER/DORT e a diminuição do estresse, através dos exercícios de alongamento e de relaxamento, promovendo bem estar. Na Ginástica Laboral, o alongamento mais utilizado é o estático, já que permite que um grande número de indiwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 víduos seja alongado com segurança, além de ser eficaz quando o fator tempo se mostra crucial. Segundo Knudson, citado por Martins (2001), este tipo de alongamento é caracterizado por uma movimentação vagarosa de um grupo muscular até que seja alcançada uma posição alongada e esta mantida por alguns segundos. Os funcionários devem ser instruídos acerca da forma correta de execução do alongamento, uma vez que este não pode ser brusco e nem provocar contraturas e dores, afinal, são exercícios que têm como objetivo promover prazer por meio do alívio e não da dor. É importante o alinhamento da postura no momento do exercício, assim como, manter a respiração adequada. A inclusão de exercícios respiratórios na Ginástica Laboral favorece ao alívio de tensão, podendo trazer o relaxamento muscular. A educação do ato respiratório e a consciência da respiração nasal, torácica e abdominal auxiliam na adaptação do ritmo respiratório com movimento, o que aumenta a capacidade de rendimento no alongamento, sem dor (LIMA, 2005). O Ritmo excessivo de trabalho, posturas errôneas, esforços físicos, movimentos repetitivos e condições inadequadas dos postos de trabalho causam tensões no corpo. Estes fatores desencadeiam grandes males à saúde e podem ser responsáveis pelo afastamento temporário ou até pela invalidez permanente dos trabalhadores. As tensões ainda podem ocasionar falta de atenção ao trabalho, caminho direto para a baixa produtividade e acidentes profissionais. Conforme Politto e Bergamschi (2002) as atividades de ginástica laboral na empresa são executadas por meio de exercícios que podem apresentar características preparatórias, compensatórias e relaxantes, proporcionando ao indivíduo uma maior harmonia na execução de suas funções em seu ambiente de trabalho, através de atuações participativas, conscientes e integradas, com conseqüente melhora de sua qualidade de vida. Após a ocorrência de fatos prejudiciais à saúde do trabalhador devido à forma incorreta de realização de suas funções, a qualidade de vida passou a ser mais discutida pela busca do ser humano a melhorar sua saúde e assim prevenir futuras doenças. Sabe-se que para ter um equilíbrio na qualidade de vida o homem terá que apresentar harmonia corporal associado ao seu meio profissional, emocional, social, espiritual e fisiológico que se resume aos aspectos psicológico, físico e social (PITANGA apud SOUZA, 2002). Scharcow et al. apud Cañete (1996) entendem que a Ginástica Laboral é também como um espaço onde as pessoas podem exercer exercícios físicos, por livre e espontânea vontade, que vai além do movimento mecânico, mas promove o auto-conhecimento, a auto-estima e um melhor relacionamento consigo mesmo e com as outras pessoas. As diversas modalidades de Ginástica Laboral procuram compensar as estruturas do corpo mais utilizadas durante o trabalho e ativar as que não são requeridas, aquecendo, relaxando e tonificando-as (COSTA FILHO, 2001). As modalidades de Ginástica laboral são classificadas pelo objetivo a que se destinam e também de acordo com 27 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat o horário a serem aplicadas. Há também situações em que as modalidades são aplicadas simultaneamente ou de forma mista (BERTOLINI, 1999, P.28). Observar-se-á neste artigo o enfoque na Ginástica Laboral Preparatória. Targa, apud Cañete (2001), define como ginástica laboral preparatória, ou pré-aplicada, um conjunto de exercícios que prepara o indivíduo conforme suas necessidades de velocidade, de força ou de resistência para o trabalho, aperfeiçoando a coordenação. Pode-se, entretanto, notar que a definição mais adequada para Ginástica Laboral Preparatória são exercícios realizados antes da jornada de trabalho, com objetivo principal de preparar o indivíduo para o início do trabalho, aquecendo os grupos musculares solicitados em suas tarefas, despertando-os para que se sintam mais dispostos (Alves e Vale, 1999; Oliveira, 2006). Este tipo de Ginástica também aumenta a circulação sanguínea melhorando a oxigenação dos músculos. Em um estudo realizado para avaliar o melhor horário para os efeitos positivos em relação à evolução das DORTS, com 208 funcionários de uma empresa, mostrou os diferentes efeitos da aplicação da Ginástica Laboral preparatória e da compensatória. O grupo de funcionários no qual a Ginástica Laboral é realizada no início da jornada de trabalho (preparatória) apresentou uma redução de 73% das dores musculares. Já, o grupo de funcionário em que a ginástica laboral é realizada durante a jornada de trabalho (compensatória), reduziu em 48% as dores musculares. Ainda observou-se que 69% dos funcionários sentem-se mais dispostos para o trabalho, após a implantação da Ginástica Laboral (MACHADO, 2002). Ginástica laboral e seus benefícios Toda empresa está condicionada a aderir os programas de Ginástica Laboral, desde que seja conhecido o sistema de trabalho, atividades e demandas físicas, conhecimento do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais adequados à realidade da organização. Dados como o índice de absenteísmo, afastamentos temporários, queixas de quadro álgico, são importantes para que o planejamento de metas e prioridades esteja focado para as áreas críticas da empresa. Segundo Zilli (2000) muitos são os benefícios alcançados com a implantação da Ginástica Laboral, conforme apresentado a seguir: - Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais - Aumenta a amplitude muscular - Melhora a coordenação motora - Eliminação de toxinas pela melhora da circulação sanguínea - Reduz o sedentarismo - Reduz a fadiga mental e física - Melhora a concentração e agilidade - Prevenção de lesões musculares - Motiva para a mudança de estilo de vida com realização de atividade física regular 28 - Desenvolve a consciência corporal - Melhora o bem estar físico - Melhora a socialização. O aspecto psicossocial da Ginástica laboral é muito importante na implantação do programa. Algumas modalidades de exercícios são programadas com este enfoque. Desta forma, são realizados exercícios em dupla e em grupo, para promover a integração e a socialização entre as pessoas do setor ou da empresa que estão participando do programa. Muitas pessoas despertam para uma maior afetividade no ambiente de trabalho, que é estabelecida a partir do toque. Um aperto de mão, um abraço, um exercício conjugado promove a aproximação de pessoas, que muitas vezes se conhecem a anos e não estabeleceram, no entanto, uma relação mais cordial e afetiva. A fisioterapia e a ginástica laboral na busca de uma melhor qualidade de vida no trabalho A qualidade de vida no trabalho é alcançada na medida em que se avalia o estilo de vida em cada indivíduo, como um todo. Para Nahas (2001) o conceito de qualidade de vida é multifatorial, incluindo parâmetros sócio-ambientais como: moradia, assistência médica, condições de trabalho e remuneração, acesso à educação, opções de lazer, integração com o meio ambiente e segurança. Também relaciona aspectos individuais como a hereditariedade, estilo de vida, hábitos alimentares, controle do estresse, atividade física habitual, não utilização de fumo, álcool e drogas. Silva e Marchi (1997) enfoca a saúde como uma condição essencial para que alguém possa qualificar sua vida como de qualidade. O conceito de saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), inclui um bem estar bio-psicosocial e não apenas a ausência de doenças. A qualidade de vida no trabalho se encontra também nos aspectos relacionados à satisfação e disposição para o serviço. Estes dependem diretamente da realização profissional, relacionamento interpessoal e estado emocional. A qualidade de vida é medida pelo grau de satisfação das pessoas no trabalho (LIMONGI FRANÇA E RODRIGUES, 1996): “Qualidade de vida é, antes de tudo, uma nova atitude diante da necessidade de manter o emprego, ser reconhecido por competência e desenvolver-se”. A Fisioterapia e a Ginástica Laboral formam hoje, um dos pontos primordiais para a correção de inúmeros problemas físicos de causa repetitiva. Instruir nas empresas, aos colaboradores (funcionários), a maneira de se posicionar e sua organização espaço-temporal é de fundamental importância, pois a má postura pode desencadear processos como desvios, síndromes dolorosas, lombalgias assim como as lesões por esforços repetitivos e/ou os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/ DORT). Rotina de trabalho intensa, dores musculares, problemas posturais, tendinites. Estes são alguns dos problemas que mais atingem os trabalhadores em todo mundo, por isso houve uma crescente procura por métodos mais simples e eficazes na reabilitação desses problemas físicos. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat Segundo Baú (2002), dentre as principais vantagens apontadas para os programas de ginástica laboral, podemos citar três abordagens principais: 1) Abordagem fisiológica - Observa-se seu papel nos músculos agonistas e antagonistas solicitados na execução do trabalho, tendo como objetivo: trabalhar os músculos que ficam a maior parte do tempo relaxados e fazer um trabalho de alongamento e relaxamento dos músculos que estão em contração na maior parte do expediente. 2) Abordagem psicológica - As condições físicas mais adequadas para que se realize o trabalho, e a satisfação que a ginástica produz, tais como: melhora do comportamento do trabalhador; melhora da segurança pelo aumento da atenção (correndo menor risco de acidentes e incidentes); facilitação do aprendizado e a transferência de condutas psicomotoras; retardo do ponto de fadiga; favorecimento da adaptação ao trabalho quanto à velocidade, ritmo e coordenação; Diminuição das frustrações, sendo favorável ao desaparecimento ou redução da irritabilidade e a agressividade; redução do absenteísmo no trabalho e, por todos estes fatores há um aumento no rendimento individual e coletivo, auxiliando no aumento da produtividade. 3) Abordagem social - Deve ser aplicada a todos na empresa, sem distinção da profissão, concomitantemente, favorecendo a comunicação, conhecimento e união, tornando-se um fator importante no relacionamento interpessoal, transformando-se mais em um convívio familiar do que empresarial. Isto desinibe os funcionários participantes, promovendo maior integração e tornando a ginástica no trabalho prazerosa. Ainda segundo a mesma autora, existem benefícios localizados da prática da ginástica laboral: • Cérebro: proporciona sensação de bem-estar; melhora da auto-estima; redução de sintomas depressivos e de ansiedade; melhora do humor; diminui a síndrome de fadiga crônica (cansaço e baixo rendimento no trabalho) e melhora da concentração para outras atividades. • Pulmões: melhora da capacidade pulmonar, aumentando o consumo de oxigênio, favorecendo a troca gasosa. • Coração: melhora da performance cardíaca com aumento da resistência aos esforços físicos e ao estresse, reduzindo patologias cardíacas (infarto, angina, arritmias). Enfim aumentando o desempenho e a sobrevida do indivíduo. • Membros inferiores: diminuição de edemas, varizes e o risco de trombose, melhorando o retorno venoso. • Músculos: fortalece, proporcionando o aumento de forma discreta e progressiva a massa muscular e maior flexibilidade, o que proporciona maior alavanca nos esforços. • Ossos: redução do risco de osteoporose e de fratura, com conseqüente aumento da massa óssea. • Vasos sangüíneos: melhora da circulação, com redução de obstruções nas paredes dos vasos e diminuição de problemas circulatórios (arterosclerose, infartos cerebrais, tromboses). A Fisioterapia trabalha com a busca da cura. O seu pilar é trabalhar na restauração de uma condição perdida, ou seja, reabilitar devolvendo a antiga condição, adaptando novas www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 situações, lidando com a doença, curando ou pelo menos minimizando os malefícios da mesma. Além disso, a fisioterapia também tem outro lado, que é a parte da prevenção, sempre discutido em seu contexto, e a Ginástica Laboral entra nesta prevenção. Na fisioterapia preventiva empresarial não se tem apenas um funcionário, mas também um paciente. Os profissionais que trabalham hoje com a esta modalidade fisioterápica dependem em muito da conscientização das pessoas e das mudanças dos hábitos de vida. Materiais e métodos O trabalho desenvolvido foi subdividido em etapas, tendo início a primeira com levantamento bibliográfico de materiais que apresentassem conteúdos relacionados à pesquisa, através de livros, artigos científicos, dissertações e páginas da Internet, que permitem o conhecimento do material relevante, tomando-se por base o que já foi publicado na área, de modo que se possa delinear uma nova abordagem sobre a temática, chegando a conclusões que possam servir de embasamento para pesquisas futuras. A partir da idéia do projeto, foi-se em busca da população e amostra necessárias para a aplicabilidade do estudo, constituindo a segunda etapa do mesmo. O estudo de caso ocorreu na Concessionária Tropical Fiat, do ramo automobilístico, na cidade de Boa Vista – Roraima. A prática da Ginástica laboral teve início no dia 9 de setembro de 2009, com duração de 2 meses, sendo realizada 3 vezes por semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras pela manhã, em um total de 27 aplicações. A amostra do presente estudo foi composta por 30 funcionários do setor da oficina mecânica, sendo todos do gênero masculino e idades entre 20 e 40 anos. O interesse por este grupo de trabalhadores (mecânicos) se deu devido ao fato dos mesmos apresentarem atividades de sobrecarga, incluindo movimentos bruscos e repetitivos, exigindo assim, esforços físicos exacerbados e adesão de posturas inadequadas para a execução das mesmas. Os exercícios eram basicamente de alongamento e relaxamento, seguindo os seguintes critérios: cada movimento realizado tinha uma média de duração de 10 segundos sendo executados de forma bilateral. Durante a realização dos mesmos foram associados exercícios respiratórios, induzidos por comandos verbais. As atividades de ginástica laboral desenvolvidas com o grupo selecionado englobaram alongamentos dos membros superiores, inferiores e tronco, enfatizando os grupos musculares mais utilizados nas atividades diárias. Cada grupo muscular recebeu um tipo de alongamento por dia, onde as regiões da coluna cervical e tóracica-lombar receberam maior ênfase na diversidade dos exercícios, por se tratar de um grupo muscular maior e por receberem maior carga durante a jornada de trabalho. A prática da ginástica laboral era realizada no local de trabalho, no pátio da própria oficina, apresentando início por volta das 08 horas e término as 8:15 hs, ou seja, com duração aproximada de 15 minutos. 29 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat Durante a prática da ginástica laboral procurava-se orientar a maneira correta da execução dos exercícios realizando correções quando necessário, além disso, ressaltando a importância de se manter uma boa postura durante a prática do mesmo. A variável utilizada foi a coleta de dados e informações acerca do tema proposto por meio de fichas de avaliação com questões objetivas e subjetivas, a fim de, verificar o alívio das dores musculares, nível de relacionamento e bem estar, satisfação com relação ao programa e melhora do desempenho do trabalhador. A idéia original da pesquisa de campo foi a implantação do projeto “Saúde e Qualidade de Vida na Empresa” (SQVE), através da Ginástica Laboral Preparatória, sendo realizada antes da jornada de trabalho, visando capacitar o funcionário à pratica individual ou coletiva dos exercícios ensinados. Durante a execução de tais exercícios, utilizamos o recurso da musicoterapia a fim de transmitir ao grupo estímulos sonoros que promovessem motivação e relaxamento na execução dos mesmos. Para auxiliar na estrutura do projeto SQVE, foram utilizados outros recursos, tais como: aparelho de som Aiwa, câmera fotográfica Sony e balões de ar. Os dados foram categorizados e processados eletronicamente, através do software Microsoft-Excel XP 2007. O tratamento estatístico utilizado foi do tipo descritivo, apresentados em forma de quadros e gráficos do tipo colunas, para caracterizar os benefícios da Ginástica laboral frente às doenças ocupacionais e melhora na qualidade de vida. O protocolo do programa SQVE segue conforme o quadro abaixo: Resultados Baseado na revisão bibliográfica e resultados adquiridos no presente estudo, ficou evidenciada a necessidade e a importância de se conhecer melhor a maneira pela qual a implantação de um programa ou sistema de pausas com exercícios devem ser realizados nas organizações. Inicialmente, constatamos através destes questionários que 68% dos funcionários apresentaram dores corporais nas últimas quatro semanas, antes da realização do programa, e que estas vieram a interferir nas atividades sociais, laborais, bem como na saúde física dos mesmos. Verificamos ainda que 93,33% dos trabalhadores participavam ativamente do programa de ginástica laboral, enquanto apenas 6,66% não participavam regularmente. O motivo, na maioria dos casos, foi a antecipação do horário de expediente. Nas questões referentes às dores corporais, pode-se perceber, conforme o gráfico 2, que 88% sentiram alívio das mesmas através do programa SQVE, enquanto12% relataram permanência do quadro álgico nas regiões: coluna, pescoço, joelho, mãos e ombro. De acordo com Nahas (2001), a dor é uma sensação desagradável, que varia desde o desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se expressa através de uma reação orgânica emocional. Muitas vezes o indivíduo tem suas atividades de vida diária limitadas pela presença de dor e incapacidade funcional, afetando a área social, profissional e psíquica. Gráfico 2 – Gráfico das médias do questionário para alívio das dores corporais No que diz respeito à disposição de desenvolverem suas atividades laborais, constatou-se que 96% sentiram-se mais dispostos à desenvolvê-las, ao passo que, 4% não evidenciaram nenhuma alteração (Gráfico 3). 30 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat Gráfico 3 – Gráfico da média das notas da disposição nas atividades laborais. Ao questionarmos acerca da melhoria do relacionamento interpessoal, verificou-se que 88% relataram que essa melhora ocorreu, enquanto 12% não a observaram (Gráfico 4). Gráfico 6 – Gráfico das médias do questionário para a divulgação do programa Por fim, no que diz respeito à continuação da aplicação da ginástica laboral na empresa, constatou-se que todos os trabalhadores foram favoráveis. Já em relação ao número de vezes da aplicação da mesma, verificou-se que 48% dos participantes gostariam que a execução se desse mais de três vezes por semana e 52% que mantivessem os três dias (Gráfico 7). Gráfico 4 – Gráfico da média da melhora no relacionamento interpessoal Da amostra pesquisada 80% afirmaram que o programa SQVE alterou seu estilo de vida e apenas 20% afirmaram não ter alterado (Gráfico 5). Gráfico 7 - Gráfico das médias da quantidade de dias de execução do programa Gráfico 5 – Gráfico das médias do questionário para influência do programa na qualidade de vida De acordo com a coleta de informações (questionário) podemos perceber que 76% haviam ensinado ou conversado com amigos e/ou familiares sobre algum exercício ou conhecimento aprendido durante o programa SQVE, desempenhando a função multiplicadora do projeto. 24% dos participantes afirmaram não ter propagado as técnicas de ginástica laboral (Gráfico 6). www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Discussão A organização do trabalho em muito tem contribuído para amenizar as condições de trabalho, e a prevenção de doenças músculo-esqueléticas. A implantação de pausas durante a jornada de trabalho é uma medida importante permitindo descanso e recuperação muscular do trabalhador durante a jornada de trabalho. A Ginástica Laboral, portanto, vem sendo implantada nas organizações com um sentido mais amplo do que o de prevenir as doenças ocupacionais. Surge como um programa de melhoria da qualidade de vida no trabalho e também como agente motivador para a mudança do estilo de vida das pessoas. As condições de trabalho e a produtividade das empresas são o reflexo do estado de saúde de seus trabalhadores. Logo, a saúde e o trabalho precisam andar juntos. 31 Ginástica laboral: um olhar sobre o contexto fisioterápico na prevenção de doenças ocupacionais e melhoria da qualidade de vida dos funcionários da concessionária Tropical Fiat A ginástica laboral praticada de forma regular proporciona melhorias relevantes dessa valência física, tal fato foi constatado no presente estudo onde houve uma melhoria significante nas dores corporais, relacionamento interpessoal, bem estar físico e mental, disposição para o trabalho. Conclusão Atualmente, em um país como o nosso, infelizmente, as questões relacionadas com a adequação dos ambientes de trabalho ainda estão longe de ser realidade. Existem bons exemplos de empresas e instituições que oferecem a seus colaboradores melhores condições para o trabalho, mas uma grande parte ainda persiste em conduzir seus planejamentos baseados no que os trabalhadores podem produzir, não investindo em melhorias para promover a qualidade de vida de seus funcionários. Pensando nisso, o programa SQVE (Saúde e qualidade de vida na empresa) além de promover os benefícios através da realização dos exercícios visa capacitar os funcionários tornando-os multiplicadores da ginástica laboral. O sedentarismo, má postura e os hábitos inadequados de movimentação e postura de hoje poderão cobrar juros crescentes no futuro. Portanto, investir na implantação de um programa de Ginástica laboral, é de grande valia, considerando os seus benefícios. Há um grande número de trabalhadores portadores de Doenças ocupacionais e os empresários ainda investem pouco em prevenção. A Ginástica Laboral pode ser considerada uma alternativa para o problema, pois é considerado um exercício físico eficaz para evitar a instalação de doenças relacionadas ao trabalho e, assim, melhorar a qualidade de vida do trabalhador. É importante ressaltar que a ginástica, por si só, não terá resultados significativos se não houver uma elaborada política de benefícios sociais, além de estudos ergonômicos, da colaboração dos gerentes, dos técnicos de segurança do trabalho, dos médicos ocupacionais e dos profissionais de recursos humanos, fundamentando a importância do trabalho multidisciplinar. Desta forma, fica evidente a importância da atuação da Fisioterapia no trabalho, com o propósito de melhorar a qualidade de vida do trabalhador, com conseqüente aumento do desempenho, produtividade e principalmente do bem estar. 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Contato: [email protected] Resumo A lombalgia crônica é reconhecida como uma síndrome incapacitante e caracteriza-se por dor que perdura após o terceiro mês a contar do primeiro episódio de dor aguda e pela gradativa instalação da incapacidade. O objetivo do estudo foi identificar a influência da dor na qualidade de vida e verificar as variáveis funcionais que poderão exercer influência em pacientes com dor lombar crônica. A pesquisa foi realizada em um Hospital de Salvador/Ba, sendo avaliados os pacientes que deram entrada no ambulatório, onde foram aplicados os seguintes instrumentos: ficha de avaliação; escala visual analógica; questionário SF-36. A média dos resultados dos domínios do SF-36 foi: capacidade funcional 45,6; aspectos físicos 15,5; dor 42,7; estado geral da saúde 54,7; vitalidade 59,3; aspectos sociais 45,8; aspectos emocionais 11,4; saúde mental 51,5. Não houve correlação significativa entre a variável IMC e as dimensões do SF-36. Ficou evidenciado que os indivíduos com dor lombar crônica apresentam diminuição na sua qualidade de vida. Conclui-se que nos domínios físicos e emocionais da avaliação da qualidade de vida há uma maior associação destas com a dor lombar crônica, porém não estatisticamente significativa. Observou-se também uma maior frequência de dor lombar crônica nos pacientes do sexo feminino, com idade avançada, excesso de peso e que não praticavam atividade física. Palavras-chaves: Dor; Dor lombar crônica; Qualidade de vida. Abstract The chronic low back pain is recognized as a disabling syndrome and is characterized by pain that persists after the third month of the first episode of acute pain and a gradual installation of disability. The study was to identify the influence of pain on quality of life and verify the functional variables that may influence in patients with chronic low back pain. The survey was conducted in a hospital in Salvador, Bahia, evaluated patients who were admitted to the clinic, applying the following instruments: the evaluation form, visual analog scale, SF-36. The results of the domains of the SF-36 were: physical functioning has an average score of 45.6, 15.5 physical aspects, pain 42.7, general health 54.7, 59.3 vitality, social aspects 45.8; emotional 11.4, mental health 51.5. There was no significant correlation between BMI and the variable dimensions of the SF-36. It was evident that individuals with chronic low back pain showed a decrease in their quality of life. It follows that in the areas of physical and emotional assessment of quality of life is greater associations with chronic back pain, but not statistically significant. There was also a higher frequency of chronic low back pain in female patients with advanced age, overweight and physical inactivity. Key-words: Pain, Chronic back pain, quality of life Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica Introdução A Sociedade Internacional para o Estudo da Dor (IASP) definiu que a dor é uma experiência sensitiva emocional desagradável relacionada à lesão tecidual, de cunho subjetivo, envolvendo mecanismos psíquicos, físicos e culturais (Pedroso et al., 2006). Quando a dor se torna exarcebada há um impacto direto na qualidade de vida dos indivíduos (Minayo et al., 2000). A dor lombar geralmente decorre de um conjunto de causas que envolvem fatores sócio-demográficos (idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda mensal), comportamentais (sedentarismo, tabagismo), atividades ocupacionais que vão desde as que envolvem exposição a estímulos vibratórios prolongados, trabalhos braçais pesados, ausências de condições ergonômicas adequadas e padrão postural vicioso, movimentos repetitivos e até insatisfação no trabalho (Tsukimoto et al., 2006). A dor lombar representa 30% das queixas reumáticas e a degeneração discal, especialmente nos últimos discos (L4-L5 e L5-S1) é a principal causa da dor lombar crônica (Cossermelli, 2000). A dor lombar crônica é reconhecida como uma síndrome incapacitante e caracteriza-se por dor que perdura após o terceiro mês a contar do primeiro episódio de dor aguda e pela gradativa instalação da incapacidade. Muitas vezes tem início impreciso com períodos de melhora e piora. Cerca de 80% da população em algum momento da sua vida irá apresentar um episódio de dor lombar que gera um alto custo no tratamento para o sistema de saúde e previdência social, devido ao alto índice de afastamento e incapacidade para o trabalho (Consenso Brasileiro sobre Lombalgias e Lombociatalgias, 2000). Em média 10 milhões de brasileiros ficam incapacitados por causa da dor lombar crônica (Teixeira, 1999). Mais de um terço dos brasileiros afirmam que a dor crônica compromete as atividades habituais e mais de três quartos destes consideram que a dor crônica é limitante para as atividades recreacionais e relações sociais e familiares causando incapacidade física e funcional (Lin et al., 2003). Almeida et al.,2008 relata que a prevalência de dor lombar crônica na população foi de 14,7%, com maior freqüência entre ex-fumantes (19,7%), pessoas com circunferência da cintura acima da normalidade (16,8%) e com escolaridade baixa (17,4%) em relação com as demais categorias. A qualidade de vida no contexto da dor lombar crônica representa o conjunto de condições que possibilitam os indivíduos a desenvolver suas potencialidades para trabalhar, viver, amar, sentir, produzir bens e serviços, permitindo a sua inserção social e realização pessoal. Entretanto a realização pessoal encontra-se prejudicada, e afeta, também, as atividades da vida diária (Tsukimoto et al., 2006; Minayo et al., 2000). A qualidade de vida se refere a valores atribuídos a vida, ponderados pelas deteriorizações funcionais. As percepções e condições sociais são causadas pelas enfermidades, pelos agravos, pelos tratamentos (Minayo et al., 2000) e diretamente influenciada pelo ambiente. A qualidade de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 vida pode ser compreendida como um conjunto de relações sociais, biológicas, culturais, econômicas, religiosas, políticas e ecológicas, que formam um contexto que interage com o ser humano onde, a partir desta interação (ser humano e ambiente), ambos podem ser modificados ou transformados (Rufino Netto, 1994). A dor crônica causa limitações como diminuições da amplitude de movimento e da capacidade funcional, hipotrofia e fraqueza muscular por desuso e alterações de origem psíquica, físicas e culturais (1º Consenso Brasileiro sobre Lombalgias e Lombociatalgias). Diante das incapacidades e das disfunções osteomioarticulares causadas pela dor lombar crônica, faz-se necessário à importância de se aprofundar no fomento de pesquisas voltadas para a promoção da qualidade de vida. Portanto o objetivo deste estudo é identificar a influência da dor na qualidade de vida de pacientes com lombar crônica. Materiais e métodos Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal que foi realizado no período de junho a agosto de 2009 em um ambulatório de fisioterapia em ortopedia e traumatologia de um hospital privado localizado na cidade de Salvador/Ba. Foram incluídos no estudo pacientes com dor lombar com duração de no mínimo 3 meses. Os critérios de exclusão foram pacientes que possuíam outras doenças associadas à dor lombar crônica como as reumáticas e aqueles submetidos a cirurgias da coluna. Para coleta de dados foi realizada a análise de prontuários de pacientes que deram entrada no ambulatório. Logo em seguida foi entregue ao paciente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após assinatura do TCLE, o paciente respondeu os instrumentos que fazem parte da pesquisa como ficha de avaliação, com finalidade de obter as variáveis que caracterizem melhor a população como: idade, sexo, estado civil, peso e altura; a Escala Visual Analógica para analisar o grau de intensidade da dor. Um dos modos de representar a EVA é através de uma linha horizontal ou vertical de 10 cm, onde as extremidades definem o mínimo (sem dor) e máximo (maior dor) da percepção da dor. A marcação da linha é realizada pelo paciente para caracterizar a intensidade da dor e esta é transformada num valor numérico para observações futuras; e o Questionário SF-36 para Qualidade de vida formado por 36 itens, englobados em oito escalas ou domínios: capacidade funcional (dez itens), aspectos físicos (quatro itens), dor (dois itens), estado geral de saúde (cinco itens), vitalidade (quatro itens), aspectos sociais (dois itens), aspectos emocionais (três itens) e saúde mental (cinco itens). Cada um desses componentes possui um escore, cuja pontuação varia de 0 a 100, sendo zero o pior estado de saúde e 100 o melhor estado de saúde. As médias da pontuação dos componentes compõem a pontuação total. Para análise dos dados foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows (versão 13.0). As características demográficas e clínicas dos pa35 Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica cientes foram descritas como freqüências e porcentagens para variáveis categóricas; os dados contínuos foram exibidos como medidas de tendência central e de dispersão. O cálculo do coeficiente de correlação de Pearson foi realizado para investigar associações entre as variáveis contínuas investigadas, a intensidade da dor e a qualidade de vida. O nível de significância estabelecido foi de 5%. Resultados A amostra foi composta por 29 pacientes, sendo 18 do sexo feminino (62.1%) e 11 do sexo masculino (37.9%), a média de idade da amostra foi de 48.7, variando de 24 a 74 anos, média de peso 76.7, média de altura 1,65. A média da variável índice de massa corpórea (IMC) foi de 27,9. Dos pacientes avaliados 23 (79,3%) eram sedentários e 6 (20,7%) praticavam atividade física. Na avaliação da intensidade da dor pela escala visual analógica (EVA) obteve uma média de 5,5 ± 2,02 conforme mostra na Tabela 1. Na avaliação da intensidade dor, pela Escala Visual Analógica de dor (EVA), 5 pacientes (17%) apresentaram dor leve (1 a 3 na EVA), 13 pacientes (45%) referiram dor moderada (4 a 6 na EVA) e 11 pacientes (38%) relataram dor intensa (7 a 10 na EVA). Quanto ao IMC, foi observado que 21 pacientes (72%) estavam acima do peso ideal e foi constado que 8 pacientes (28%) tinham seu peso ideal. Na análise do questionário Short Form Health Survey (SF-36) observou-se que os domínios capacidade funcional obteve uma média de 45,6; aspectos físicos 15,5; dor 42,7; estado geral da saúde 54,7; vitalidade 59,3; aspectos sociais 45,8; aspectos emocionais 11,4; saúde mental 51,5 conforme mostra a Tabela 2. Não houve correlação significativa entre a variável IMC e as dimensões do SF-36. As correlações foram de baixa magnitude para aspecto emocional (r= 0,28) e de pequena correlação para capacidade funcional (r= -0,23); aspectos físicos (r= 0,02); dor (r= 0,05); estado geral de saúde (r= -0,20); vitalidade (r= -0,16); aspectos sociais (r= 0,07); aspecto emocional (r= 0,28); saúde mental (r= 0,13). Quanto à intensidade da dor e as dimensões do SF36, não houve correlação estatística significante. Discussão No presente estudo não foi encontrada associação estatística significativa entre intensidade da dor lombar crônica e a qualidade de vida. No entanto a literatura tem demonstrado que a dor exerce influência significativa na qualidade de vida dos pacientes com dor lombar crônica (HASS et al., 2005; LAURSEN et al., 2005). WALSH e RADCLIFFE et al. (2002). TAKAHASHI et al. (2006) consideram que as pessoas que relatam dor lombar mais intensa apresentam maiores incapacidade e pior qualidade de vida. No trabalho realizado por BINGEFORS e ISACSON et al. (2004) destacou-se que a dor lombar crônica estava significativamente associada a qualidade de vida mais prejudicada. 36 Foi encontrada uma maior prevalência de dor lombar no sexo feminino corroborando com os achados da literatura. De acordo com o estudo realizado por Silva et al.(2004) em 3.182 indivíduos com dor lombar crônica foi constatada relação estatística significativa entre o sexo feminino e a dor lombar crônica. Além disso, Silva et al. (2004) destacam que as mulheres apresentam características anatômicas (menor estatura, menor densidade óssea, menor massa muscular, articulações mais delicadas e menos adaptadas ao esforço físico pesado, maior índice de gordura) que podem contribuir para o desenvolvimento da dor lombar crônica. Evidenciou-se maior freqüência de dor lombar crônica nos pacientes com idade avançada. De acordo com Papageorgiou et al. (1995) a faixa de idade de elevado risco para a dor lombar crônica foi entre 50 e 59 anos. Deyo (1998) destaca que o maior risco nesta faixa etária pode estar relacionado aos processos degenerativos avançados, trazendo como conseqüência a deterioração das estruturas ósteomusculares. A maioria dos indivíduos nesta faixa encontra-se, apesar de próximos da aposentadoria, ainda trabalhando, o que não ocorre para a maioria dos sujeitos acima desta faixa de idade. A obesidade foi observada em 21/29 pacientes, e de acordo com o estudo de DEYO e BASS (1989) com 10.404 sujeitos, este é um fator de risco que contribuiu fortemente para o aparecimento de dor lombar. Este dado pode contribuir para a geração e perpetuação das dores nas costas, dificultando o seu tratamento. Isso ocorre devido à sobrecarga exercida pelo excesso de peso sobre as articulações da coluna vertebral. Silva et al (2004) refere que a prevalência de dor lombar crônica aumenta linearmente com o aumento do índice de massa corpórea. Embora estudos apontem para a importância da prática da atividade física como um fator de proteção contra o aparecimento de incapacidade e melhoria da qualidade de vida (MELLO et al., 2006; CURL, 2000; ROLIM e FORTI, 2004; ANTUNES et al., 2005; HILLSDON et al., 2005), apenas (28%) dos pacientes exerciam qualquer atividade física. Conclusão A dor lombar crônica esteve associada aos domínios físicos e emocionais da avaliação da qualidade de vida, porém sem significância estatística. Observou-se também uma maior freqüência de dor lombar crônica nos pacientes do sexo feminino, com idade avançada, excesso de peso e que não praticavam atividade física regular. Tendo em vista o panorama da dor lombar crônica na atualidade e sua influência sobre a qualidade de vida dos indivíduos, tornam-se necessárias a adoção de medidas preventivas e promotoras da saúde no âmbito da saúde pública, assim como maiores estudos que avaliem a associação entre qualidade de vida e dor crônica tendo em vista que grande parte desta evolui para limitação e incapacidade para o trabalho e atividades sociais. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Qualidade de vida em pacientes com dor lombar crônica Referências bibliográficas ALMEIDA, Isabela Costa Guerra Barreto, SA, Katia Nunes, SILVA, Marlene et al. Prevalência de dor lombar crônica na população da cidade de Salvador. Rev. bras. ortop., Mar. 2008, vol.43, no.3, p.96-102. ISSN 01023616. ANTUNES, H. K. M.; STELLA, S. G.; SANTOS, R. F.; BUENO, O. F. A.; MELLO, M. T. Depression, anxiety and quality of life scores in seniors after an endurance exercise program. Rev Bras Psiquiatr, 27 (4): 266-71, 2005. 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Conceptual framework and item selection. Med Care 30: 473-83, 1992. 37 Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing profissional Autores: Zenewton A. S. Gama & Pedro J. Saturno - Universidad de Murcia – Espanha Autor para correspondência: Zenewton A. S. Gama E-mail: [email protected] Endereço: Dep. Ciencias Sociosanitarias, Facultad de Medicina, Universidad de Murcia. 30100 ESPINARDO – MURCIA - SPAIN “Quando a mente se expande para dar espaço a uma idéia nova nunca recupera sua dimensão original” A importância de corresponder às necessidades e expectativas da população tem desafiado os fisioterapeutas a definir, avaliar e controlar a qualidade dos seus serviços. No entanto, sem pretender ser exaustivos, existem três grandes dificuldades que impedem que as atividades de avaliação e melhoria contínua da qualidade ocupem o lugar que lhe corresponde na prática diária dos serviços de fisioterapia em geral: (i) os aspectos conceituais sobre o que realmente é a qualidade assis- 38 tencial; (ii) a compreensão e aplicabilidade na prática da metodologia adequada; e (iii) a aceitação e o exercício das responsabilidades sobre o tema por parte de todos os implicados. Compreender e superar estes obstáculos pode trazer uma série de benefícios para os fisioterapeutas, para os usuários dos seus serviços e para a própria imagem da fisioterapia como profissão sanitária efetiva. Com o objetivo de colaborar na superação deste desafio, destacaremos neste artigo a importância da gestão da qualidade e a primeira das barreiras, a saber, o real conceito do que consiste a qualidade assistencial. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing profissional Importância da qualidade assistencial Atualmente, o interesse crescente pela qualidade é destacado em todos os setores, inclusive no setor da saúde. Um interesse que afeta, ademais, a todos os implicados: pacientes ou população receptora dos serviços, gestores e profissionais da saúde. A população está mais bem informada, exigindo e reclamando cada vez mais sobre a qualidade dos serviços. Os gestores se perguntam: Com que se gasta o dinheiro? Os serviços são necessários e úteis? Têm boa ou má qualidade? Além disso, muitos deles sabem, ou escutaram dizer, que fazer as coisas bem custa menos que fazer mal. Além do mais, os fisioterapeutas têm uma preocupação intrínseca, comum aos profissionais da saúde, mesmo que seja somente por questões éticas, de corresponder à confiança que os pacientes depositam neles; para cumprir o compromisso científico relacionado às práticas das ciências da saúde; e para manter a competência profissional. Nos últimos anos a qualidade assistencial tem ocupado editoriais e séries de artigos especiais nas revistas médicas de maior prestígio e difusão na comunidade médico-científica, como o New England Journal of Medicine (série de artigos especiais publicados em 1996 y 1997), British Medical Journal (1995) e JAMA (1997), culminando com a contundência dos relatórios publicados pelo Instituto de Medicina dos Estados Unidos1,2,3. Em um grau menor que na medicina e na enfermagem, já se começa a perceber a importância deste tema para a fisioterapia. A revista americana Physical Therapy4, a australiana Australian Journal of Physiotherapy5 e a britânica Physiotherapy6 têm dedicado, na última década, vários artigos que ressaltam a importância de avaliar e melhorar a qualidade dos serviços de fisioterapia. Por outro lado, apesar das conquistas de espaço e autonomia da fisioterapia brasileira, somente se encontrou um artigo sobre qualidade assistencial nas revistas brasileiras de fisioterapia7. É provável, inclusive, que o presente artigo seja o primeiro texto especificamente sobre gestão da qualidade na fisioterapia entre todas as revistas destinadas a fisioterapeutas no Brasil (revisão realizada em novembro de 2008 em Scielo, Lilacs e páginas de internet de revistas de fisioterapia no Brasil). Neste sentido, esperamos que fosse um instrumento útil para despertar o interesse e sensibilizar nossos colegas sobre esta importante causa. Por toda a relevância da qualidade dos serviços de saúde e pelos prováveis benefícios que pode trazer a valorização dos fisioterapeutas como classe profissional, estes profissionais devem ser os primeiros a hastear e defender a bandeira da qualidade. Assim, é provável que consigamos consolidar nosso espaço no serviço público e privado, além de outras áreas que, por diversos motivos, entram em www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 conflito ideológico com outros profissionais. Aspectos conceituais A qualidade é sem sombra de dúvidas multidimensional. Como consequência, é muito fácil cair em conceitos enviesados para uma ou outra dimensão; principalmente porque, segundo o papel desempenhado nos serviços de saúde, existe a tendência de maximizar alguns dos aspectos, às vezes, por simples ignorância ou até por desprezo a outras dimensões. Por exemplo, dos muitos esquemas que existem para descrever as diversas dimensões ou aspectos da qualidade, um dos mais simples e objetivos é o que propõe três dimensões: qualidade técnico-científica (também chamada de competência profissional); acessibilidade (em referencia às barreiras físicas, organizativas, culturais etc., que possam existir na obtenção da assistência necessária); e satisfação. É notória uma tendência do pessoal sanitário a minimizar a importância da acessibilidade e (mais ainda) a satisfação do paciente. É tão grande o viés tecnicista que, às vezes, se chega a argumentar incompatibilidades entre estas dimensões. Obviamente a assistência clínica não é de qualidade se não se faz o correto ao ponto de vista técnico-científico, mas tampouco é se não trata o paciente de forma humana, chegando a maltratar como pessoa, sem conseguir que entenda, coopere e esteja satisfeito com a atenção recebida. Uma assistência sanitária é de qualidade se consegue pontuar alto em todas as suas dimensões. Os provedores de serviços devem preocupar-se com a boa atuação em todas as dimensões, e supostamente, procurar melhorar naquela dimensão que está deficiente. Enquanto não se entenda e assuma este conceito integral do que é uma assistência de qualidade, não estamos em condições de geri-la adequadamente. Enfocando estas dimensões, é possível medir a qualidade dos serviços de fisioterapia mediante indicadores de estrutura, processo e resultado5, ou seja: Estrutura se refere a tudo o que temos para a provisão do serviço, isto é, recursos físicos, equipamento, financiamento, pessoal (número e qualificação), e a forma em que estes estão organizados. Processo é tudo o que o provedor faz para o usuário, e também o que o usuário faz como consequência das atividades dos provedores. Os processos utilizam a estrutura de uma determinada maneira; é o que se faz. Resultado é o que se consegue com os processos, ou seja, o que incide na função física, satisfação e no nível de saúde em sentido mais amplo, dos serviços oferecidos. Resultado é o que acontece ao executar os processos. Em fisioterapia, os resultados podem estar relacionados principalmente com: 39 Gestão na qualidade da fisioterapia: Importância, conceito e marketing profissional (i) Resultados clínico-fisiológicos: sinais e sintomas, como dor, parâmetros de análises clínicos, exames complementares, complicações, mortalidade, etc. (ii) Resultados funcionais: aqueles que repercutem na capacidade funcional do paciente, tais como: amplitude de movimento, marcha, força, relacionados com atividades da vida diária (trabalho, sono, grau de independência etc.), e qualidade de vida em geral. (iii)Satisfação. Os três tipos de indicadores (estrutura, processo e resultado) são complementares entre si, por exemplo, uma clínica bonita e cheia de aparelhos novos e de última geração (boa estrutura) pode ter um processo assistencial deficiente. Por outro lado, sem estrutura, o fisioterapeuta pode estar limitado, incapaz de prestar a melhor atenção disponível ao seu paciente. Ambas as situações podem implicar em resultados ruins. A título de exemplo, a tabela 1 mostra alguns aspectos desejáveis em um serviço de fisioterapia, embora infelizmente, amiúde não estão presentes em muitos de nossos serviços, sejam públicos ou privados. de atividade. Conclui-se, então, que a fisioterapia brasileira deve aproveitar suas conquistas de espaço e autonomia para consolidar-se, começando de uma vez a desenvolver atividades de avaliação e melhoria contínua da qualidade em busca da excelência. Mas como? Um editorial do New England Journal of Medicine perguntava: Somos capazes de praticar a melhoria da qualidade assistencial que estamos pregando?8 Para responder a esta pergunta, o próximo artigo desta série abordará os outros obstáculos para a implantação deste tipo de atividades: os aspectos metodológicos, incluindo os diferentes enfoques dos programas de gestão da qualidade e a definição de a quem corresponde a responsabilidade de efetuar a melhoria dos serviços de fisioterapia. Referências bibliográficas Chassin M. The urgent need to improve health care quality. Washington, National Academy Press. 1999 IOM. To err is human: Building a safer Health System. Washington, National Academy Press. 2000. Gestão da qualidade e marketing profissional Como vimos anteriormente, um programa de gestão da qualidade tem o objetivo de tornar a fisioterapia acessível a toda população e implantar na prática as evidências científicas para satisfazer as expectativas e necessidades dos nossos clientes. Porém, também é possível que a médio prazo melhore as condições laborais dos fisioterapeutas, mediante uma espécie de marketing da própria profissão. Segundo a American Marketing Association (AMA), uma definição resumida de marketing pode ser: “Um conjunto de processos que envolvem a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado”. Quando se investe na gestão e melhoria da qualidade para satisfazer nossos clientes, damos início a um círculo virtuoso na direção do reconhecimento profissional, que beneficia ao profissional implicado, ao centro onde trabalha e à própria fisioterapia como profissão (Figura 1). Isto pode ser considerado uma espécie de marketing da própria fisioterapia. Por todas essas vantagens, controlar e melhorar a qualidade da fisioterapia é entrar no caminho que conduz à excelência profissional e que está intrinsecamente relacionado com o compromisso ético assumido pelos profissionais da saúde. A gestão da qualidade é benéfica para todos: gestores de centros de fisioterapia, pacientes e clínicos. Portanto, não existem desculpas para não implantar este tipo 40 IOM. Crossing the quality chasm: a new health system for the 21st century. Washington, National Academy Press. 2001. Mikhail C, Korner-Bitensky N, Rossignol M, Dumas J. P hysical Therapists’ Use of Interventions With High Evidence of Effectiveness in the Management of a Hypothetical Typical Patient With Acute Low Back Pain. Phys Ther, 85:11, pp. 1151-1167. 2005. Grimmer K, Beard M, Bell A, Chipchse L, Edwards E, Fulton I, et al. On the constructs of quality of physiotherapy. Aust J physiother, 46, pp. 3-7. 2000. 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Aline Hansen de Souza - Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí. Franciele Pavanello- Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí. Universidade do Vale do Itajaí E-mail: [email protected] Endereço: Rua João Bauer, 208 Apto. 301 Bl.B Cep: 88310-300 Bairro: Centro Cidade: Itajaí (SC) Resumo A pesquisa foi realizada com 62 acadêmicos através de entrevista, análise do mobiliário e observação das atividades no Laboratório de Anatomia. Os resultados da entrevista mostraram que 67,74% da população era composta de mulheres e a idade média da amostra foi de 19 anos. 72,58% dos alunos sentem incômodo com o odor exalado pelo formol. 57,63% refere dor na execução dos trabalhos no Laboratório. 1,78% da amostra relata suas atividades no Laboratório como estressantes. A carga estática é presente para 72,13% dos acadêmicos. A permanência prolongada de tempo sentado é referida por 94,83% da população. A análise do mobiliário permitiu-nos constatar riscos ergonômicos, como: bancadas inadequadas para trabalho em pé e sentado, além de condições ambientais impróprias causando desconforto aos alunos. Na observação percebemos que o mobiliário é inadequado sendo adotadas posturas incorretas pelos indivíduos. A pesquisa sugere mudanças no Laboratório a fim de dar mais conforto aos acadêmicos. Palavras-chaves: Ergonomia. Análise ergonômica. Lombalgia. 42 Abstract: The research was carried through with 62 academics through interview, analysis of the furniture and comment of the activities in the Laboratory of Anatomy. The results of the interview had shown that 67.74% of the population were composed of women and the average age of the sample was of 19 years. 72.58% of the pupils feel bother with the odor exhaled for formol. 57.63% relate pain in the execution of the works in the Laboratory. 1.78% of the sample tell its activities in the Laboratory as stressing. The static load is present for 72,13% of the academics. The drawn out permanence of seated time is related by 94,83% of the population. The analysis of the furniture allow-in evidencing ergonomic risks to them, as: inadequate group of bencheses for work in seated foot and, beyond improper ambient conditions causing discomfort to the pupils. In the comment we perceive that the furniture is inadequate being adopted incorrect positions for the individuals. The research suggests changes in the Laboratory in order to give more comfort to the academics. Key-word: Ergonomics. Ergonomic analysis. Low back pain. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) Introdução A grande competitividade do mercado impôs a “otimização” do trabalho como forma de sucesso para pessoas e organizações, e para aprimorar estas relações homemmáquina, surge de forma sistematizada na década de 40 a ergonomia (RIO et al, 2001). Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO (2005), a ergonomia é definida oficialmente pela Associação Internacional de Ergonomia como “uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos, a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema”. Durante a execução de uma tarefa o corpo humano interage com os elementos de um sistema de trabalho (máquinas e ferramentas) e por isso está sujeito aos fatores ambientais presentes nos locais de trabalho. Tais fatores ou influências são na maioria das vezes maléficos e recebem a denominação de cargas. Estas cargas obedecem à totalidade das influências impostas pelo ambiente de trabalho sendo: influências físicas, químicas, biológicas, organizacionais, sociais, psicoemocionais e econômicas. Estes fatores ambientais ou cargas exercem efeitos diferenciados sobre cada pessoa (RIO et al., 2001). Mediante tais considerações, esta pesquisa busca realizar a análise ergonômica do Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). O trabalho foi realizado com 62 alunos, sendo os dados coletados em outubro e novembro de 2006 através de uma entrevista, uma análise do mobiliário e uma observação dos acadêmicos no momento em que realizavam suas atividades de trabalho/aula no Laboratório. Os objetivos traçados foram: analisar o ambiente e as condições de trabalho às quais estão expostos os alunos nesse laboratório, a partir da percepção destes e sob aspecto ergonômico; apontar os principais riscos ergonômicos envolvidos nas atividades trabalho/aula no laboratório de anatomia; traçar diretrizes para construção de um plano de ação preventiva a partir dos riscos detectados, pois se percebe a solicitação física e postural exigida dos usuários durante as atividades de trabalho e estudo neste local. Referencial teórico Coluna vertebral Da base do crânio ao sacro, a coluna vertebral é constituída por trinta e três peças denominadas vértebras e estas estão divididas em sete cervicais, doze torácicas, cinco lombares, cinco sacrais e quatro coccígeas (KAPANDJI, 2000). A coluna vertebral constitui o eixo principal do corpo, pois dá a característica ereta ao ser humano. De acordo com Kapandji (2000) a coluna vertebral deve conciliar a rigidez com a flexibilidade. A rigidez garante a sustentação do corpo possibilitando a posição ortostática e a www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 flexibilidade permite a sua mobilidade (COUTO, 1995a). Segundo Deliberato (2002), as funções da coluna vertebral se caracterizam: 1) proteger a medula espinhal contida no canal vertebral; 2) fornecer movimentos as diversas partes do tronco; 3) servir de ponto de fixação de músculos; 4) possibilitar a fixação e a mobilidade da cabeça; e 5) suportar uma grande parte do peso do corpo, transmitindo-o aos ossos do quadril. Como visto anteriormente, a coluna vertebral é a estrutura que garante a mobilidade do tronco, através dos movimentos de flexão, extensão, inclinação para a direita e para a esquerda e rotações para ambos os lados (COUTO,1995a; KAPANDJI,2000). As relações então existentes entre duas vértebras são estabelecidas por meio do disco intervertebral e por ligamentos (KAPANDJI, 2000; RIO et al, 2001). O disco intervertebral tem a função de absorver impactos e proporcionar mobilidade às vértebras adjacentes (DELIBERATO, 2002). Por ser a coluna vertebral a estrutura responsável pelo amortecimento de cargas, ela se apresenta como sendo uma das mais freqüentes causas de afastamento do trabalho levando ao comprometimento da qualidade de vida de um grande número de pessoas (BAÚ, 2002). -Lombalgias: Couto (1995a) define lombalgia simplesmente como dor na região lombar que, devido à complexidade das estruturas ali existentes não é fácil precisar exatamente qual ou quais estruturas são causadoras da algia lombar. Dentre os fatores mais comuns que contribuem para o surgimento das lombalgias pode-se citar a insuficiência muscular, traumas e microtraumas, posição ortostática por tempo prolongado, envelhecimento, estresse psíquico, manuseio incorreto de cargas, manutenção de posturas incorretas (RIO et al, 2001; COUTO, 1995a). Mediante a estes e outros inúmeros fatores as lombalgias podem ser classificadas em diferentes tipos: de origem músculo-ligamentar; de origem no sistema de mobilidade e estabilidade da coluna; de origem no disco intervertebral e de origens psíquicas (COUTO, 1995a). As lombalgias ainda podem ser relacionadas pela frequência em que ocorrem sendo em primeiro lugar por torção da coluna lombar, distensão músculo-ligamentar, fadiga e, por último, protusão discal do núcleo pulposo, este sendo considerado um dos fatores mais graves (COUTO, 1995a). As algias conseqüentes de fadiga são muito comuns e podem surgir quando o indivíduo trabalha muito inclinado a frente, quando ele deve atingir as mãos no chão sem poder agachar-se, quando a pessoa esta de pé e deve abaixar-se para atingir seu objetivo ou para carregar pesos, quando o indivíduo trabalha em mesa excessivamente alta. (COUTO, 1995a). A fadiga muscular é caracterizada como a diminuição do desempenho do músculo após trabalho prolongado, nesta situação a altura de levantamento de pesos diminui e a contração e o relaxamento ocorrem mais 43 Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) lentamente. Esse quadro acarreta dor uma vez que o músculo que está sempre contraído não tem o momento de relaxamento necessário para restaurar suas energias, assim vão acumulando-se resíduos metabólicos, pois o aporte sanguíneo também fica comprometido e o tecido sofre um desequilíbrio metabólico formando ácido lático e dióxido de carbono que tornam o músculo mais ácido (KROEMER et al, 2005). Um estudo realizado por Souza et alli (2005) mostra a incidência de lombalgia entre os acadêmicos do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Luterano de Palmas / Universidade Luterana do Brasil (CEULP/ULBRA). Dos 102 acadêmicos da amostra da pesquisa, 58% eram afetados pela patologia, sendo os dois maiores responsáveis por essa alta incidência a postura incorreta adotada pelos acadêmicos e o mobiliário fora dos padrões ergonômicos utilizado por eles. A fisioterapia é muito importante na realização de trabalhos relacionados à saúde do trabalhador, por estar envolvida e obter o conhecimento dos princípios da biomecânica ocupacional, patologias do trabalho e ergonomia (BAÚ, 2002). Membros superiores Couto (2002) compara os membros superiores a uma ferramenta universal, sendo estruturas polivalentes, entretanto frágeis considerando-os um arranjo biomecânico de alta complexidade que pode realizar movimentos de altíssima precisão que até hoje não puderam ser encenados por sistemas mecânicos de última geração. Desde a evolução do homem para a postura bípede, o membro superior obteve um grande grau de liberdade para movimento. Entre o tronco e a mão há algumas articulações bastante móveis e um eficiente sistema de alavancas. Esse conjunto permite à mão realizar suas tarefas com precisão, força e delicadeza em qualquer espaço que esteja a seu alcance (PALASTANGA et alli, 2000). Smith et alli (1997) dividem os membros superiores em: complexo do ombro, cotovelo e antebraço, punho e mão. Régis Filho et alli (2005) complementam detalhando, ainda, a ligação dos membros superiores ao tronco através da cintura escapular constituída pelas escápulas e clavículas, de forma que estas últimas estão, ainda, articuladas com o manúbrio do esterno através de suas porções mais mediais. - Patologias relacionadas aos membros superiores: Nos últimos quinze anos pudemos perceber uma explosão epidêmica das lesões de membros superiores por sobrecarga funcional, mais comumente chamadas de L.E.R. (Lesões por Esforços Repetitivos) / D.O.R.T. (Distúrbios Osteomioarticulares Relacionados ao Trabalho). Com a evolução de muitas formas de trabalho e desenvolvimento de tarefas e atividades que não exijam tanto do sistema músculo-esquelético e em especial a força muscular, o trabalho nos dias atuais é com frequência executado com maior velocidade, regularidade e concentração em determinado segmento. Esse conjunto causa microtrauma cumulativo que enfraquece as estru44 turas e degenera os tecidos adjacentes (COUTO, 1998; SAKATA et al, 2003). Sakata (2001) define a L.E.R. como uma alteração músculo-esquelética por uso repetido ou manutenção de uma postura incorreta, sendo reversível quando diagnosticada precocemente e podendo tornar-se crônica de forma grave e irreversível. As estruturas mais atingidas pelas L.E.R./D.O.R.T. são tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos tendo todas estas estruturas funções de extrema importância como transmitir cargas, transformar energia para realização de movimentos, transmitir impulsos elétricos e estabilizar articulações. Como a L.E.R./D.O.R.T., geralmente, acomete uma ou mais dessas estruturas toda a função de membros superiores fica comprometida (COUTO,1998). Ergonomia A ergonomia é conceituada pela Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) em 1998, como: “a disciplina científica que trata da compreensão das interações entre o homem a outros elementos de um sistema, e a área de conhecimento que aplica teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que visam o bem estar humano e o desempenho dos sistemas”. No presente estudo a ênfase foi dada à ergonomia física que enfoca a interação do homem com seu ambiente de trabalho. - Posturas de trabalho: A postura pode ser considerada como elemento principal da atividade do homem. Ela não é só um meio para realizar uma atividade, mas também um meio de expressão e comunicação, é depende dos elementos externos (tarefa a realizar e condições para ser realizada), e também dos elementos internos (estado geral do indivíduo; estado físico, mental e emocional; sua experiência e suas características antropométricas) (MORAES et al, 1998). - Postura sentada: Para Kroemer et al, (2005), ao mesmo tempo em que essa postura tira o peso das pernas, estabiliza a postura superiormente, reduz o consumo de energia e a demanda da circulação, ela causa flacidez dos músculos abdominais, o encurvamento da coluna vertebral (gerando um desfavorecimento para os órgãos digestivos e respiratórios), fadiga dos músculos das costas e gera uma sobrecarga nos discos intervertebrais, levando a vários problemas como as lombalgias. Para a redução dessas desvantagens e para que uma postura sentada “ideal” seja adquirida, deve-se analisar o tipo de trabalho que é desenvolvido nesta posição e impor certas exigências (RIO et al, 2001). Na atividade de ler e escrever, Kroemer et al., (2005) relatam que o tronco inclinado para frente com os braços apoiados sobre a mesa torna-se uma postura cansativa. A medida mínima da altura da mesa, segundo Kroemer et al., (2005), é a soma da distância do chão à parte superior do joelho, com indivíduo sentado formando 90o nas articulações do quadril, joelho e tornozelo, da espeswww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) sura do tampo da mesa e de mais 19 cm que é altura de conforto para a movimentação das pernas. Para Couto (1995a), estas mesas ainda deveriam ser de bordas anteriores arredondadas e tampos com alturas reguláveis (assim se tornaria adaptável para qualquer indivíduo). Iida (1990), Dul et al, (1995) e Kroemer et al, (2005) afirmam que no caso do assento, este deveria ter bordo anterior arredondado, apresentar altura da base e encosto reguláveis em movimentos contínuos e suaves, encosto que permita inclinação da coluna para trás, inclinação de 105o a 110o em relação à base, para que as nádegas não deslizem para frente, juntamente com um estofamento pouco espesso e que não se deforme com o peso do corpo sobre uma base rígida, para ajudar na distribuição da pressão que o corpo realiza estabilidade do mesmo, na redução da fadiga e desconforto e no aumento do relaxamento. Para Kroemer et al, (2005) as medidas ideais para a cadeira são: a distância do chão à parte inferior do joelho (fossa poplítea) com o indivíduo sentado formando um ângulo reto nas articulações do quadril, joelho e tornozelo,o que corresponde à altura ideal do assento e a superfície deste deve ter 40 a 45 cm de largura e 38 a 42 cm de profundidade. - Postura semi-sentada: Rio et al, (2001) relatam que em algumas situações tem sido proposta a postura semi-sentada. Entretanto, essa postura não deve ser a única durante toda uma jornada de trabalho, mas pode ser uma alternativa a ser utilizada em certos períodos. -Execução de atividades em pé: Trabalhos que exijam certa frequência de deslocamentos da área de trabalho ou necessidade de aplicação de força é recomendada, segundo Dul et al (1995), a posição em pé para a execução da tarefa. Nascimento et al (2000) relatam que se a área de trabalho é muito alta, os ombros geralmente permanecem elevados gerando contrações musculares dolorosas em nível de escápulas e coluna vertebral. Já, o contrário, se a área é muito baixa, a coluna vertebral acaba se sobrecarregando pelo excesso de curvatura do tronco, causando dores nessa região. Então para que nenhuma postura incorreta seja adotada, Kroemer et al, (2005) descrevem a altura necessária de uma bancada para o trabalho de pé: quando o trabalho é delicado, é desejável apoio para os cotovelos, aliviando a carga estática, e a altura ideal da bancada é de 5 a 10 cm abaixo da altura do cotovelo (distância do chão à parte inferior do cotovelo em ângulo reto com o braço na vertical); na necessidade do uso de ferramentas ou qualquer outro tipo de materiais no trabalho manual, a altura adequada é de 10 a 15 cm abaixo do cotovelo, quando há emprego de força o ideal é que a bancada seja mais baixa, sua altura deve ficar entre 15 a 40 cm da altura do cotovelo. Os autores ainda afirmam que deve ser evitada a elevação das mãos e cotovelos acima do www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 nível dos ombros, se esta postura for inevitável, deve ser mantida por pouco tempo e há a necessidade de descanso. Caso não seja possível o ajuste das bancadas como descrito anteriormente, Kroemer et al, (2005) relatam que a altura dessas deve ser determinada de acordo com as mensurações das pessoas altas, pois as baixas compensam a altura com o uso de plataformas sob os pés. - Trabalho estático: O trabalho muscular estático, segundo Iida (1990) corresponde àquele que exige contração prolongada dos músculos, com o intuito de manter uma posição. Neste tipo de trabalho, a musculatura não altera seu comprimento e é mantido em um estado de alta tensão, produzindo força durante todo o período de esforço, porém, nenhum trabalho é externamente visível sendo que, internamente, há diminuição da irrigação sanguínea que é inversamente proporcional à quantidade de força exercida (KROEMER et al, 2005). As situações de esforços estáticos mais comuns, segundo Couto (1995a) são: trabalhar com o tronco fora do eixo natural, sustentar cargas com os braços, sustentar o peso do corpo somente com uma das pernas, braços estendidos acima do nível dos ombros ou abduzidos sustentados por longo período, manusear cargas pesadas, trabalhar sentado sem apoio para as costas, trabalhar sem apoio para os antebraços tendo que sustentá-los e trabalhar na posição ortostática, parado. -Condições ambientais: A Norma Regulamentadora sobre Ergonomia – NR17 preceitua condições especiais de conforto térmico, visual, acústico, e vibratório para o trabalho em locais de solicitação intelectual e atenção constante, tais como: laboratórios, escritórios, ou análise de projetos (COUTO, 1995a). É sabido que a maioria dos laboratórios de anatomia faz uso do formol como forma de conservação de cadáveres. O nome químico é formaldeído a 37%, um líquido claro e combustível (INCA,2007). Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA (2007), 4 instituições internacionais de pesquisa comprovaram o potencial carcinogênico do formaldeído, conhecido popularmente como formol: a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer em 1995, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, a Associação de Saúde e Segurança Ocupacional dos EUA e o Programa Nacional de Toxicologia dos EUA. O instituto informa ainda que o formol é tóxico quando ingerido, inalado e quando entra em contato com a pele, sendo que em concentrações de 20 ppm (partes por milhão) no ar causa irritação imediata dos olhos. A partir de 0,8 ppm de formol no ambiente já é possível sentir o cheiro forte característico do produto (INCA,2007). Informações sobre risco e segurança quanto ao uso do formol devem constar em placas de segurança visíveis (TOXICLIN®CONSULTORIA E SERVIÇOS MÉDICOS, 2002). 45 Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) Metodologia A presente pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí. A população alvo foi de 62 alunos, de ambos os sexos, 32 do primeiro período do curso de Fisioterapia e 30 do segundo período do Curso de Odontologia, com carga horária de 8 horas/aula cada. Essa amostra foi intencional, visto que esses estão entre os cursos com maior carga horária nessa disciplina da área da saúde na Universidade. Os recursos utilizados para a coleta dos dados foram: 1º) Aplicação de questionário aos alunos para caracterização da população e sua percepção quanto aos fatores ocupacionais, ambientais, ergonômicos e biomecânicos envolvidos durante as atividades de trabalho/aula no Laboratório de Anatomia. 2º) Análise do mobiliário de trabalho/estudo com mensurações simples utilizando fita métrica a fim de quantificar certos elementos da situação de trabalho e suas possíveis repercussões sobre os trabalhadores. 3º) A observação da atividade de trabalho/aula foi realizada, a fim de descrever a atividade de trabalho/aula, os meios utilizados, as principais dificuldades constadas e posturas de trabalho/aula assumidas pelo estudante. Resultados e discussão - Entrevista Foi possível caracterizar a população estudada através da entrevista. A maioria era do sexo feminino (67,74%), com idade média de 19 anos, altura média de 168,21cm e peso médio de 61,14cm. Para realizar suas atividades da maneira adequada e com segurança no Laboratório os acadêmicos fazem uso de certos instrumentos como ilustrado pelo gráfico abaixo. Para prevenção de acidentes de trabalho, neste caso também considerado o estudo, sabe-se que a utilização de Equipamento de Proteção Individual – EPI é de grande importância na prevenção de riscos biológicos e químicos envolvidos no “trabalho” dos acadêmicos. Considera-se EPI, todo dispositivo de uso individual utilizado pelo trabalhador, neste caso o estudante, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. No caso de permanência em Laboratório de Anatomia, alguns EPIs são de uso obrigatório como 46 jalecos com mangas compridas, luvas, máscaras, óculos e sapatos fechados (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – NR-6). Quanto aos sintomas devido à exposição prolongada dos acadêmicos ao formol, 53,66% dos indivíduos relataram ardência nos olhos e/ou nariz como repercussão do odor; dor de cabeça em 14,63% dos alunos; náuseas e dor de cabeça somam 7,32% das queixas dos acadêmicos; desconforto de origem músculo-esquelética de um modo geral em 4,88%, sintomas de rinite em 4,88% dos casos; ardência nos olhos e garganta para 4,88% dos acadêmicos; náuseas apenas em 4,88%; tontura, ardência nos olhos juntamente com náusea afeta 2,44% e mal-estar em 2,44% dos acadêmicos. Conforme o Ministério do Trabalho e Emprego (1995 apud TOXICLIN®CONSULTORIA E SERVIÇOS MÉDICOS, 2002), o limite de exposição ocupacional seria de 1,6 ppm (partes por milhão). Os sintomas mais comuns no caso de inalação são fortes dores de cabeça, tosse, falta de ar, vertigem, dificuldade para respirar, edema pulmonar, irritação do trato respiratório. Essas situações são bastante comuns nos laboratórios de anatomia que têm apontado níveis entre 0,07 e 2,94 ppm (partes por milhão) sendo que com 0,8 ppm o indivíduo começa a sentir o cheiro forte, de 1 a 2 ppm há irritação leve, de 2 a 3 ppm os olhos ficam irritados juntamente com nariz e garganta, de 4 a 5 ppm há um aumento da irritação de membranas mucosas, lacrimejação e podem ocorrer náuseas, de 10 a 20 ppm há lacrimejação abundante, severa sensação de queimação e tosse, de 50 a 100ppm danos severos no trato respiratório em 5 a 10 minutos de exposição (INCA, 2007). Quanto ao estresse, 38,71% dos acadêmicos afirmam estarem estressados; 54,84% negam estresse e 6,45% sente-se sob estresse apenas em alguns momentos. Rio et al (2001) caracterizam o estresse como um conjunto de respostas que o organismo humano pode ter diante de estímulos e o corpo percebe esses estímulos como pressões que o levam a adaptações acarretando um meio adequado de reação a fim de preservar nossa integridade, equilíbrio e vida. Por outro lado, esses mecanismos tornam o organismo tenso e num estado de constante alerta, principalmente o estresse agudo, que dura pouco tempo (minutos, horas ou poucos dias), mas que já altera a homeostase do organismo levando a um aumento da pressão arterial, da freqüência cardíaca, da concentração de glicose e adrenalina no sangue tornado as ondas cerebrais mais rápidas e irregulares gerando contrações musculares que caracterizam a reação de lutar ou fugir. Quanto aos movimentos realizados, 72,13% referem aplicação de carga estática principalmente envolvendo coluna vertebral, cintura escapular e membros superiores. Segundo Kroemer et al, (2005), durante um grande esforço estático, a irrigação sanguínea no músculo fica insuficiente obrigando o músculo a trabalhar em www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) sistema anaeróbio, formando ácido lático, que não é removido, acumulando-se e causando a fadiga precoce. Por outro lado, no esforço dinâmico o músculo recebe grande aporte sanguíneo, com a chegada de nutrientes enquanto os resíduos são removidos, e se realizado com um ritmo adequado, é suportado por um longo período sem fadiga. Somente 31,15% dos acadêmicos referem ter que realizar força durante a execução de movimentos durante o estudo. Dul et al (1995) relatam que os movimentos que exigem força podem causar tensões mecânicas localizadas que com o tempo acabam causando dores e exigindo muita energia sobrecarregando os músculos. Os movimentos mais executados durante o período de estudo no laboratório são ler e escrever para 50% dos acadêmicos, utilização das mãos e braços durante o estudo para 38%, movimentos mais executados com as pernas em 4% dos casos, mesmo resultado para movimentos com as mãos e coluna vertebral, 2% para atividades em pé e sentado e para os últimos 2 % o mais executado é sentar e escrever. Quanto à presença de dor durante a realização do movimento, os resultados estão expressos no gráfico a seguir. Couto (1995b) menciona que em trabalhos que utilizam os membros superiores, a tensão excessiva pode aumentar a incidência de LER e traumas cumulativos (pelo esforço estático). Isto porque, quando tensos, os músculos têm seu suprimento sanguíneo comprometido e acúmulo de ácido lático em seu interior, o qual é um potente irritante das terminações nervosas de dor. A postura envolvida durante a maior parte do período de estudo, relatada pelos acadêmicos foi sentada (94,83%). Somente 3,45% dizem alternar posturas de pé e sentada durante as atividades e 1,72% referiu ficar a maior parte do tempo de pé. Klein (2006) descreve que a posição sentada é a posição que gera maior pressão nos discos intervertebrais e a flexão de tronco sem apoio é a que mais favorece esse aumento. É importante ressaltar que a rotação e inclinação do tronco criam maior estresse nesse disco. A manutenção de vícios posturais pode levar a alterações das curvaturas naturais da coluna vertebral gerando grande desconforto. Comprovando então o resultado da nossa amostra, a qual relata que o segmento corporal www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 mais afetado, de acordo com 83,93% dos alunos, foi a coluna vertebral, e 16,07% relatam a coluna juntamente com os membros superiores. -Análise do mobiliário O mobiliário considerado adequado deve permitir ao indivíduo a regulagem de acordo com as medidas antropométricas do mesmo, deixando livre, também, a alternância de posturas, pois não existe postura fixa que proporcione conforto (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2002). Kroemer et al, (2005) concluem que para uma análise ergonômica, as mensurações antropométricas e a análise da atividade são essenciais de forma a proporcionar conforto e evitar posturas viciosas. Na posição de trabalho/estudo em pé, a distância cotovelo-solo teve média 108cm (p= 5,44cm). Já o acadêmico sentado com 90º de flexão da articulação coxofemoral, 90º de flexão de joelho e a articulação do tornozelo também a 90º, foi possível mensurar a distância do joelho (base patelar-solo) com os pés apoiados no chão, sendo a média encontrada de 57cm e desvio padrão de 3,35cm e, ainda, foi possível a mensuração, também, da distância do joelho (fossa poplítea)-solo com os pés apoiados no chão onde obtivemos uma média de 45cm e desvio padrão de 3,31cm. Segundo Rio e Pires (2001) essas medidas são de grande utilidade para determinar a altura adequada da cadeira a ser utilizada no trabalho. Essas medidas são essenciais para que se determine a altura das bancadas e a altura das cadeiras. No caso de trabalho delicado, é desejável apoio para os cotovelos, aliviando a carga estática, e a altura ideal da bancada é de 5 a 10 cm abaixo da altura do cotovelo (distância do chão à parte inferior do cotovelo em ângulo reto com o braço na vertical); na necessidade do uso de ferramentas ou qualquer outro tipo de materiais no trabalho manual, a altura adequada é de 10 a 15 cm abaixo do cotovelo; quando há emprego de força o ideal é que a bancada seja mais baixa, sua altura deve ficar entre 15 a 40 cm da altura do cotovelo (KROEMER et al, 2005). Para trabalho sentado, a medida mínima da altura da mesa, segundo Kroemer et al., (2005), é a soma da distância do chão à parte superior do joelho, com indivíduo sentado formando 90o nas articulações do quadril, joelho e tornozelo, da espessura do tampo da mesa e de 19cm que é altura de conforto para a movimentação das pernas. A distância do cotovelo ao dedo médio de cada indivíduo da amostra utilizada para esta pesquisa ficou, em média, 44cm com desvio padrão de 2,77cm. Essa distância foi medida com o acadêmico de pé, ombro em posição neutra, cotovelo fletido a 90 º e a mão alinhada com o antebraço que permaneceu pronado durante a mensuração. A distância do ombro ao dedo médio foi de 71cm com o desvio padrão de 3,64cm. Para a mensuração o acadêmico ficava em posição ortostática com o ombro em flexão de 90º, cotovelo estendido e a mão alinhada 47 Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) com o antebraço que permanecia pronado durante o procedimento de medida. O espaço que as mãos e braços necessitam para alcance e movimentação é importante para a organização das tarefas do local de trabalho. Para tanto, são realizadas as mensurações da distância do ombro à ponta do dedo médio e da distância do cotovelo à ponta do dedo médio, conforme descrito no parágrafo anterior. Estas duas medidas correspondem, respectivamente, aos raios dos semicírculos formados pelo giro dos membros superiores ao nível do ombro (área de alcance máximo) e aos raios dos semicírculos formados pelos giros dos antebraços na horizontal enquanto os braços permanecem na vertical (área de alcance ótimo) (KROEMER et al, 2005; COUTO, 1995a). Quanto às bancadas utilizadas pelos alunos obtivemos uma média de 91cm de altura por 191cm de largura e 70cm de profundidade. A altura da base do tampo da mesa até o apoio para os pés foi de 58cm de altura. As mesas apresentavam quinas vivas, não tinham as bordas anteriores arredondadas e o espaço para as pernas era insuficiente. As alturas de bancada ideais para o Laboratório de Anatomia da UNIVALI no caso de trabalhos delicados seria entre 98cm e 103cm e para trabalhos com uso de ferramentas ou outros tipos de materiais manuais seria entre 93 e 98, sendo esses os tipos de atividades mais realizadas pelos usuários do laboratório. A média das medidas das banquetas utilizadas pelos acadêmicos ficou: 63,5cm de altura por 27,25cm de largura por 28,5cm de profundidade. A altura das cadeiras não é regulável, o bordo anterior é levemente arredondado, não há apoio para lombar, nem para os antebraços, sendo que o espaço para acomodar as nádegas é reduzido. O material que constitui as cadeiras é madeira, sendo rígido e desconfortável para os usuários do Laboratório. No caso de realização de trabalho sentado no Laboratório de Anatomia da UNIVALI a medida ideal da mesa para trabalho seria 79,65cm. - Observação Foi através da observação que pudemos constatar a origem da dor lombar nos acadêmicos. Observando os estudantes de Odontologia percebemos o manuseio de cargas pesadas e, também, o manuseio de cargas que, embora não sejam pesadas, estão em posições biomecanicamente desfavoráveis. Conforme Couto (1995a), o esforço excessivo da musculatura paravertebral para erguer ou manusear uma carga muito pesada com o tronco fletido e/ou rodado, quando realizado por pessoas sedentárias e/ou que não possuem plena aptidão física para tal, pode acarretar dor lombar por distensão músculo-ligamentar. Tanto observando os acadêmicos de Odontologia quanto os de Fisioterapia, contatamos a manutenção da postura incorreta durante boa parte do tempo (inclusive sentado), sendo o trabalho realizado com o tronco encurvado a frente, a presença de curvatura do tronco 48 para que as mãos alcançassem o objeto de estudo a ser manuseado e essa mesma curvatura do corpo para deslocar cargas. Toda vez que o indivíduo sai da sua postura natural de equilíbrio e inclina seu tronco a frente ou para os lados de forma excessiva, a musculatura paravertebral atua de forma constante para tentar evitar o desequilíbrio causado pela alteração da postura causando dor e por fadiga (COUTO, 1995a). A fadiga da musculatura paravertebral aparece quando o indivíduo trabalha sentado encurvado excessivamente para frente. Essa inclinação pode ser causada por ausência de apoio dorsal, por impossibilidade de aproximar o tronco da mesa para realização da atividade, quando não é possível apoiar os cotovelos e/ou as mãos adequadamente, quando a pessoa deve trabalhar de pé ou sentada com uma mesa muito alta ou, ainda, sentada e com o assento da cadeira muito baixo (COUTO,1995a). Os alunos do Curso de Odontologia manuseiam carga com tronco fletido e com o tronco em flexão lateral ou em rotação. No ambiente de trabalho, o que mais causa protusão intradiscal do núcleo pulposo são os movimentos de pega ou manuseio de carga fletindo o tronco sem dobrar os joelhos. Nesta situação o núcleo pulposo é empurrado para trás podendo atingir o nervo sinovertebral gerando lombalgia intensa. Ao fim da análise da observação constatamos que o principal fator causador de lombalgia tanto nos acadêmicos de Fisioterapia quanto nos de Odontologia é de origem músculo-ligamentar por fadiga (principalmente paravertebral), pois a má postura de tronco e membros é evidente em todos os acadêmicos. Conclusão Foi realizada a análise ergonômica do Laboratório de Anatomia da UNIVALI de forma que foram estudados o ambiente e as condições de trabalho aos quais estão expostos os alunos no Laboratório. Coletamos a percepção dos acadêmicos e todo o aspecto ergonômico do ambiente, foi possível apontar os principais riscos ergonômicos envolvidos nas atividades trabalho/aula no laboratório de anatomia e traçar diretrizes para construção de um plano de ação preventiva a partir dos riscos encontrados. Os principais riscos ergonômicos envolvidos nas atividades de trabalho/aula encontrados no Laboratório de Anatomia são: horas contínuas de trabalho sem pausas; não uso de certos equipamentos de proteção individual como máscaras e óculos; exposição prolongada do acadêmico ao formol em altas concentrações; trabalho/estudo sob estresse; trabalho estático de membros superiores e cintura escapular; movimentos que exigem forca associados a má postura; movimentos repetitivos; posição sentada prolongada em mobiliário inadequado (mesas altas pra trabalho sentado e baixas para o trabalho em pé); manuseio de cargas pesadas; www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Análise Ergonômica do Ambiente e das Condições de Trabalho/Aula no Laboratório de Anatomia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) manuseio de cargas com o tronco fletido e/ou inclinado; manuseio/pega de cargas em posição biomecanicamente desfavorável; postura incorreta do tronco por tempo prolongado. Um plano de ação preventiva poderá ser construído partindo do levantamento dos riscos apresentados nessa pesquisa, da adequação do mobiliário e da conscientização dos acadêmicos e dos profissionais que trabalham no laboratório de anatomia através de orientações e supervisão adequada. É indiscutível a necessidade de novas pesquisas explorando aspectos importantes como os ambientais e que não foram aprofundados neste estudo. Acreditamos que todo o empenho e dedicação realizados até então repercutam em mudanças práticas tendo como base esta e outras pesquisas voltada à melhora das condições de trabalho/estudo dos acadêmicos. Referências bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA (ABERGO). O que é ergonomia. Recife: 2005. disponível em: <http:// www.abergo.org.br/oqueeergonomia.htm>. Acesso em: 18 set. 2007. BAÚ, L. M. S. Fisioterapia do Trabalho. Curitiba: Clã do Silva, 2002. COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho em 18 Lições. Belo Horizonte: Ergo, 2002. 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Os objetivos do estudo foram descrever os aspectos legais sobre a Fisioterapia do Trabalho; dissertar sobre os conceitos legais nas relações de trabalho; relacionando-as com a Fisioterapia do Trabalho, utilizando-as como argumento para inclusão no mercado de trabalho. Esse artigo configura-se como pesquisa bibliográfica, com caráter de estudo documental, metodologia descritiva. Dados publicados no ano de 2008 sobre acidentes de trabalho demonstram que atitudes preventivas devem ser adotadas: 503.890 acidentes de trabalho na população empregada, sendo 2.717 fatais somando quatro acidentes por minuto e 10 óbitos por dia útil. Conclui-se que o Fisioterapeuta precisa se atualizar quanto à legislação trabalhista, bem como à legislação que regulamenta a sua profissão, pois são aspectos fundamentais para o sucesso do seu trabalho. This study present relevant data about work physioterapy and the current work legislation, doing a relation between both. The purposes of the study were to describe the fundamental theories considering the legal aspects of the work physiotherapy; to discourse its legal concepts on the work relations; and to connect the atualization of the work legislation with the work physiotherapy, by using it as argument to get into the labor market. Published data in 2008 about work accidents shows that preventive actions should be taken: 503890 work accidents in the employed population, with 2717 fatal accidents adding 4 accidents per minute and 10 deaths per day in 2006. This article configures itself as bibliographic research, with character of documentary study, descriptive methodology. It is concluded that the physical therapist needs to update on the labor laws and the laws that govern their profession, because these are crucial aspects to reach success in their career. Palavras-chave: legislação trabalhista; saúde do trabalhador; fisioterapia do trabalho; LER/DORT. Key-words: work legislation; worker healthy; work physioterapy; RCT/OWRD. 50 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Atualidades em Legislação do trabalhador para melhor inserção do Fisioterapeuta do Trabalho no âmbito empresarial Introdução Sabe-se que o trabalho na atualidade tem grande importância na vida das pessoas. Por ser o meio utilizado para alcançar a realização, a satisfação pessoal e a sobrevivência, acaba, por muitas vezes, levando o ser humano à exaustão. Sob o ponto de vista de Assunção (2003), saúde vai além da ausência de doenças, envolvendo também os aspectos econômicos, sociais e psicológicos. Na tentativa de suprir o que não é dado pela estrutura técnico-organizacional do próprio ambiente de trabalho, o ser humano mobiliza o corpo inteiro e a inteligência para enfrentar essas barreiras, configurando-se como um fator de risco determinante na construção e na desconstrução da saúde. A preocupação entre a relação saúde e trabalho surgiu a partir da Revolução Industrial, quando mulheres e crianças eram expostas a situações incompatíveis com a vida, em ambientes extremamente desfavoráveis à saúde, além de jornadas extras (PETENON, 2008). De acordo com Foucault apud Petenon (2008), a atual compreensão dessa relação conta com a contribuição de segmentos diversos, tais como: psicologia social, do trabalho e organizacional; sociologia do trabalho; medicina do trabalho; engenharia de segurança; epidemiologia e ergonomia. As novas formas de organização do trabalho apresentam importantes conseqüências à saúde e à capacidade laborativa dos trabalhadores, sendo algumas delas, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), lesões por esforços repetitivos (LER), esgotamento profissional, patologias cardiovasculares, etc. (PEREIRA, 2006). Salim (2003), afirma que as doenças relacionadas ao trabalho assumem caráter de epidemia, sendo algumas patologias de terapia difícil, que se renovam com a simples retomada de movimentos repetitivos, gerando uma incapacidade para a vida, e não apenas no ambiente ocupacional. De acordo com Petenon (2008) as condições de trabalho estão associadas às cargas físicas, mecânicas e químicas do posto de trabalho, resultando em desgaste, envelhecimento precoce, perda de tempo de vida útil e morte prematura dos trabalhadores. As doenças ocupacionais vêm sendo registradas na literatura desde 1717, quando Rammazini descreveu, pela primeira vez, um caso de LER ao correlacionar a doença com a ocupação das pessoas, sendo chamada de doença dos escribas e balconistas que, pelas posturas críticas, associadas aos movimentos das mãos sempre na mesma direção, e à tensão mental para não cometerem erros de cálculos nos livros, acabava por desenvolver fadiga da mão e do braço e, posteriormente, na paralisia do membro (BAÚ, 2002). Para essa mesma autora, essas patologias foram potencializadas no período da Primeira Revolução Industrial, caracterizada pelo uso da máquina do processo produtivo. Já no período da Segunda Revolução Industrial, as principais características foram a introdução de novas formas de organização do trabalho, tais como, Taylorismo e Fordismo. O primeiro criou um método na tentativa de acabar com o tempo morto e aumentar a produtividade, chamado de “Organização Científica do Trabalho”. O segundo introduziu a organização www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 do trabalho através das linhas de montagem, tão comuns nos dias de hoje. A história da LER também foi descrita em 1922, na literatura médica, pela presença de câimbras em operárias da linha têxtil. Diversos autores citados por Gravina (2002) descrevem os primeiros casos de doenças ocupacionais no mundo: no Japão, ocorreram em 1958 através da Occupational Cervichobrachial Disorder; na Austrália, a doença teve seu conceito definido com o nome Repetitive Strain Injuries, em 1970; nos Estados Unidos surgiu como o conceito de Cumulative Trauma Disorders citando a síndrome do túnel do carpo e tendinites como exemplos típicos. De acordo com a Instrução Normativa do Instituto Nacional de Seguro Social (2003), sobre as atualizações clínicas das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT), essas síndromes “são caracterizadas pela ocorrência de vários sintomas, concomitantes ou não, tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, mas podendo acometer membros inferiores. Freqüentemente são causa de incapacidade laborativa temporária ou permanente, sendo resultado da combinação da sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de tempo para sua recuperação. Essa sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados grupos musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado, particularmente quando essas posições exigem esforço ou resistência das estruturas músculo-esqueléticas contra a gravidade. A necessidade de concentração e atenção do trabalhador para realizar suas atividades e a tensão imposta pela organização do trabalho, são fatores que interferem de forma significativa para a ocorrência das LER/DORT.” Klering et al (2006), em seu estudo relatou que o Instituto de Medicina dos Estados Unidos considerou a dor crônica como um problema de saúde pública, sendo a dor lombar um problema de alto custo médico e social no país, e causa de perda de 1400 dias de trabalho para cada mil habitantes por ano; na Europa, é a mais freqüente causa de limitação em pessoas com menos de 45 anos e a segunda causa mais freqüente de consulta médica. Na Holanda, são registrados 10.000 casos novos a cada ano, de pacientes incapacitados para o trabalho pela dor. No Brasil, em estudo realizado com pacientes com dor crônica, verificou-se que 94,9% apresentavam comprometimento da atividade profissional. As doenças ocupacionais bem como os acidentes relacionam-se intimamente com a legislação, segundo Pereira (2006). Para esse autor, no mesmo sentido em que se apresentam os agravos à saúde do trabalhador, encontram-se a relação entre o adoecimento e o trabalho. Essa relação reflete-se nas modificações legais, introduzidas nos anos noventa, do século passado. Souza et al (2008) afirma que a contribuição das DORT’s para o total dos afastamentos por problemas de saúde geral e ocupacional pode servir de contribuição para adoção de medidas de prevenção nas empresas. Portanto, o fisiotera51 peuta deve fazer valer esses argumentos, com seriedade, nunca esquecendo o principal objetivo da fisioterapia do trabalho: a prevenção e manutenção da saúde do trabalhador. Os objetivos do estudo foram descrever os embasamentos teóricos considerando os aspectos legais sobre a Fisioterapia do Trabalho; dissertar sobre os conceitos legais nas relações de trabalho; e relacionar as atualizações na legislação do trabalho e previdenciária com a Fisioterapia do Trabalho, utilizando-as como argumento para inclusão no mercado de trabalho. Método Este estudo caracteriza-se por uma pesquisa bibliográfica, com caráter de estudo documental e metodologia descritiva. O levantamento dos dados foi através da leitura de artigos sobre a relação entre saúde e doença, gestão em ergonomia, doenças ocupacionais, qualidade de vida no trabalho, publicações do Diário Oficial da União e artigos científicos sobre as questões previdenciárias e trabalhistas, entre outros. Para esse levantamento, utilizou-se sites de pesquisa científica, alguns livros recentes, bem como em páginas oficiais do governo e da fisioterapia, tais como Ministério do Trabalho e Emprego, Previdência Social e Conselho Federal de Fisioterapia. Após o aprofundamento, os dados foram relacionados entre si, para o desenvolvimento do artigo científico. Resultados Foram analisadas 27 bibliografias, dentre artigos e livros, nas diversas áreas relacionadas com o tema. Com as leituras, buscou-se compreender melhor as leis que regem as relações trabalhistas, as leis que regem a Fisioterapia, bem como a Fisioterapia do Trabalho, fazendo uma ligação entre as mesmas. Aspectos Teóricos e Legais sobre a Fisioterapia A formação de um profissional Fisioterapeuta é essencialmente direcionada para a área da saúde, com teoria e práticas de técnicas fisioterápicas. Por esse motivo, muitas vezes, bloqueia seu perfil empreendedor por não ter conhecimento dos embasamentos legais que permeiam a profissão, bem como o mercado de trabalho. O fisioterapeuta do trabalho deve inteirar-se de todo o conhecimento possível, utilizando-se desses argumentos, facilitando a sua inserção nesse meio. O interesse para este estudo surgiu a partir da necessidade do Fisioterapeuta do Trabalho apresentar bons argumentos para aceitação de seus serviços na área ocupacional. Sabe-se da dificuldade de inclusão no mercado de trabalho em todos os setores, mesmo para os concorrentes que apresentem nível superior. No entanto, quanto maior for o aperfeiçoamento e a busca pelo conhecimento, aliado à boa comunicação e segurança no desenvolvimento de suas atividades, apresenta-se uma grande tendência da aceitação desses profissionais. Nesse escopo, deve-se 52 aprofundar os embasamentos legais e teóricos, na intenção de desenvolver o perfil empreendedor e negociador dos profissionais Fisioterapeutas. Em contrapartida, há a necessidade das empresas em buscar profissionais capacitados para auxiliar na solução de problemas relacionados às doenças ocupacionais, taxas de absenteísmo, treinamento e seleção de funcionários, e amparo perante a legislação. O Decreto Lei Nº 938, de 13 de outubro de 1969, define o Fisioterapeuta como o profissional da área da saúde, responsável pela execução de métodos e técnicas fisioterapêuticas, na finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente (BRASIL, 1969). De acordo com a Resolução Nº 8 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), de 20 de fevereiro de 1978, que aprova as normas para habilitação ao exercício das profissões de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, prescrever, ministrar e supervisionar terapia física, que objetive preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgão, sistema ou função do corpo humano constituem atos privativos do fisioterapeuta (COFFITO, 1978). E ainda, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), define o fisioterapeuta como Cinesiólogo Fisioterapeuta e descreve que este profissional atende pacientes e clientes para prevenção, habilitação e reabilitação, realiza diagnóstico específico, desenvolvendo programas de prevenção, promoção de saúde e qualidade de vida (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2002). Esses dados são relevantes, pois, em um estudo apresentado por Nascimento e colaboradores (2006), o resgate da história da Fisioterapia é buscar sua organização enquanto categoria profissional, além do desenvolvimento de sua identidade enquanto profissão. A Fisioterapia do Trabalho é uma especialidade que surgiu a partir do crescimento das organizações e complexidade das tarefas, abordando aspectos da ergonomia, biomecânica, exercícios laborais e recursos terapêuticos na recuperação de queixas ou desconforto físicos, sob um enfoque multidisciplinar, com o propósito de melhorar a qualidade de vida e desempenho do trabalhador. No Brasil, teve seu início em 1979 como forma de solução para os altos índices de acidentes de trabalho. Em 1968, o Centro de Reabilitação Profissional (CRP) do Rio de Janeiro ganha o Prêmio Internacional de melhor Centro de Referência para reabilitação do trabalhador do mundo (BAÚ, 2002). A partir da grande demanda de Fisioterapeutas atuando em empresas e/ou organizações detentoras de postos de trabalho, intervindo preventivamente e/ou terapeuticamente de forma importante para a redução dos índices de doenças ocupacionais, e considerando que o Fisioterapeuta é qualificado e legalmente habilitado para contribuir com suas ações para a prevenção, promoção e restauração da saúde do trabalhador, surgiu em 2003, a Resolução 259 do COFFITO sobre a Fisioterapia do Trabalho (COFFITO, 2003). Uma das ferramentas utilizadas pelo Fisioterapeuta para a prevenção desses distúrbios, ou até mesmo na intenção de recuperar a saúde é a Ergonomia. Derivada do grego ergon (trabalho) e nomos (leis) é definida, de acordo com Baú (2002), como a aplicação de um conjunto de conhecimentos www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 sobre o homem no ambiente ocupacional, com a intenção de melhor adaptar o trabalho às condições humanas. É uma disciplina científica que trata da compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, bem como na aplicação de métodos, teorias e dados apropriados para melhorar o bem estar humano e, sobretudo a performance dos sistemas (SCOTT apud BAÚ, 2002). Nesse contexto, o termo Qualidade de Vida no Trabalho tem sido muito utilizado como um estudo de indicadores para mensurar elementos relacionados à atividade ocupacional, na busca de novas formas de gerenciar o trabalho e investir no potencial humano, podendo trazer informações de fatores que interferem diretamente na satisfação e motivação tanto pessoal, quanto coletiva (PIZZOLI, 2005). Em janeiro de 2009, o Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) elaborou e publicou no CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) as áreas de atividades da fisioterapia do trabalho: prestar consultoria; avaliar condições ergonômicas; avaliar qualidade de vida no trabalho; estabelecer nexo de causa cinesiológica funcional ergonômica; participar da elaboração de programas de qualidade de vida; adequar as condições de trabalho às habilidades do trabalhador, o ambiente, o posto e o fluxo de trabalho; aplicar ginástica laboral; ensinar e corrigir o modo operatório laboral; implementar cultura ergonômica; elaborar e avaliar processos seletivos; emitir laudos de nexo de causa laboral, entre outros (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO, 2009). Aspectos sobre Legislação Trabalhista e acidentes de trabalho O artigo 19 da lei no. 8.213/91 dispõe que, acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11 dessa lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que causa a morte, a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991). Santana e colaboradores (2006) apresentam em seu estudo dados sobre acidentes de trabalho no mundo, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho: são cerca de 270 milhões de acidentes e cerca de dois milhões de mortes por ano em todo o mundo. Nos Estados Unidos, os custos totais para as doenças e acidentes de trabalho foram maiores do que os relacionados com a Aids ou a Doença de Alzheimer e comparáveis aos resultados dos cânceres (LEIGH ET AL APUD SANTANA, 2006). Os dados sobre acidentes de trabalho no ano de 2006, no Brasil, por intermédio da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) de acordo com Oliveira (2008), foram de 503.890 acidentes de trabalho na população empregada, sendo 2.717 fatais, representando quatro acidentes por minuto e 10 óbitos por dia útil. E ainda, ao final de 2006 há uma necessidade de financiamento da ordem de R$ 4,62 bilhões, projetados para R$ 7,1 bilhões em 2010, se nada for feito, crescendo a uma velocidade de R$ 1,0 bilhão a cada 20 meses, ou seja, R$ 50 milhões por mês ou 1,67 milhões por dia. Nesse contexto, diante www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 da legislação vigente, se uma empresa de um determinado segmento econômico investe na melhoria do ambiente de trabalho, eliminando ou reduzindo os riscos existentes, essa empresa pagará a mesma alíquota daquelas que não fazem nenhum tipo de investimento. Os benefícios concedidos em razão do grau de incidência laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho e a aposentadoria especial são financiados com as alíquotas de 1, 2 ou 3% incidentes sobre a remuneração paga pela empresa aos seus empregados, conforme o ramo da atividade, independentemente da qualidade de seu ambiente de trabalho. Por esse motivo, o Conselho Nacional de Previdência Social lançou mão da Resolução Nº 1.269/06 que dispõe sobre o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) e Fator Acidentário Previdenciário (FAP) como medida de flexibilização (redução ou majoração) das alíquotas, podendo essa, flutuar entre a metade e o dobro, de acordo com os índices de freqüência, gravidade e custo dos acidentes de trabalho. Ou seja, empresas que investirem em prevenção de acidentes de trabalho poderão receber até 50% de redução dessa alíquota ou, em dimensão oposta, se onerarem até 100% (CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2006). De acordo com Oliveira (2008), o que realmente importa é o quão desequilibrado e suscetível a produzir agravos à saúde está o ambiente de trabalho em suas dimensões e interfaces sociais e econômicas, e não apenas o desequilíbrio fisiológico, orgânico, funcional ou psíquico do ser humano trabalhador segundo a patogênese, fisiopatologia e semiologia médica ao realizar um diagnóstico CID (Classificação Internacional de Doenças). O Conselho Nacional de Previdência Social (2006) alega que a questão da sonegação da Comunicação de Acidente de Trabalho é um assunto complexo e demarcado por aspectos políticos, econômicos e sociais, para o qual nenhuma única explicação é suficiente. Algumas das principais causas são: como o acidente/doença ocupacional é considerado socialmente derrogatório, evitase que o dado apareça nas estatísticas oficiais; para que não se possa reconhecer a estabilidade no emprego a partir do retorno do trabalhador; para se ter liberdade de demitir o funcionário a qualquer momento; para não se reconhecer a presença de agente nocivo causador da doença do trabalho ou profissional e, para não se recolher a contribuição específica correspondente ao custeio da aposentadoria especial para os trabalhadores expostos aos mesmos agentes, entre outros. Na busca de um novo elemento que pudesse embasar outra metodologia, identificou-se que, em cada processo de solicitação de benefício junto à Previdência Social, existe um dado requerido obrigatoriamente, que é o registro do diagnóstico (CID-10) do problema de saúde que motivou a solicitação. Esse diagnóstico, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é padronizado e codificado, recebendo o nome de Classificação Internacional de Doenças (CID). Acredita-se que o diagnóstico pelo CID-10 seja menos sujeito à sonegação e independe do poder do empregador sobre a informação dos dados. E não padece dos vícios da CAT, uma vez que independe da comunicação da empresa. Nesse caso, denomina-se Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) a relação entre a Classificação Nacional 53 de Atividade Econômica (CNAE) e agrupamento CID-10 para a concessão de benefícios (CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2006). Ou seja, as medidas de prevenção devem atingir toda a empresa, e não o indivíduo somente. Para isso, a reflexão que deve ser feita a partir da nova legislação é: o ambiente de trabalho é adoecedor? As Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), relativas à segurança e medicina do trabalho devem ser observadas pelas empresas privadas e públicas, pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), obrigatoriamente. Dentre as 33 Normas Regulamentadoras e seus anexos, destaca-se a NR 4 que dispõe sobre os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT); a NR 6 que dispõe sobre a necessidade do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s); e a NR 17 que dispõe sobre Ergonomia. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO, 1983). Por todos os argumentos já citados, percebe-se a importância do Fisioterapeuta do Trabalho inteirar-se legalmente, recuperando a sua identidade profissional, utilizando-se desses conhecimentos para a busca de um mercado pouco conhecido, pois, nesse escopo, viceja amplas e diversificadas possibilidades de trabalho. Discussão Os índices sobre acidentes e doenças de trabalho provocam enorme impacto social, econômico e sobre a saúde pública no Brasil. Dados do Ministério da Previdência Social, do ano de 2006, registraram 26.645 casos de doenças relacionadas ao trabalho, e parte desses acidentes e doenças tiveram como conseqüência o afastamento das atividades de 440.124 trabalhadores devido à incapacidade temporária, sendo 8.383 por incapacidade permanente. A dimensão dessas cifras mostra a urgência na adoção de políticas públicas voltadas à prevenção e proteção contra os riscos relacionados às atividades laborais (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2006). A melhoria da qualidade e da saúde tem sido tema de crescente importância, pois impacta direta e indiretamente na produtividade das pessoas. Tão importante quanto promover a qualidade de vida das comunidades são as práticas desenvolvidas pelas empresas, pois é onde o ser humano desenvolve parte significativa de sua vida: o trabalho (FERNANDES E GUTIERRES APUD OLIVEIRA E LIMONGI-FRANÇA, 2005). Qualidade de Vida no Trabalho, de acordo com Albuquerque e Limongi-França, citados por Oliveira et al (2005) é definido como “um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais dentro e fora do ambiente de trabalho, visando propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a realização do trabalho”. Nesse mesmo estudo, quando questionados sobre a importância de um Programa de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), na visão dos administradores, 96,3% dos 54 participantes afirmaram acreditar que toda empresa deve ter um programa de QVT; e ainda, quando questionados sobre a interferência positiva na produtividade, 93,2% dos participantes responderam “sim”. Pastore (1998) citado em um documento que apresenta os fundamentos de uma Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (2004), afirma que, para cada real gasto com o pagamento de benefícios previdenciários, a sociedade paga quatro reais, incluindo gastos com saúde, horas de trabalho perdidas, reabilitação profissional, custos administrativos etc, gerando um custo total para o país de aproximadamente 33 bilhões de reais por ano. Renner (2006) afirma que é impossível que um trabalhador produza bem e com qualidade apresentando quadro de dor e desconforto, tornando-se imprescindível para o bem-estar dos próprios trabalhadores e sobrevivência da empresa, eliminar a dor do trabalho. A ergonomia é uma das melhores ferramentas para o afastamento do quadro álgico, pois atua na causa do problema. Nesse mesmo estudo, através de uma gestão continuada de ações de ergonomia, com a participação dos trabalhadores e da mais alta diretoria, o resultado obtido foi a incidência de nenhum caso de LER/DORT. Todas essas pesquisas apresentadas, relacionados com os altos índices de acidentes e doenças do trabalho no país, gerando estrondosos custos para o governo, além de perda de inúmeros dias de trabalho nos leva a pensar que a real solução é a prevenção. Gross citado por Baú (2002) relata que o custo do levantamento e diagnóstico ergonômico é de 5% do custo do desenvolvimento das soluções, ou seja, é muito mais barato investir em prevenção do que arcar com os custos da não intervenção preventiva. De acordo com Chafin (2001), para cada U$ 1,00 investido em programas de atividade física e lazer na empresa, ocorre uma economia de U$ 4,00 em despesas de saúde. Muniz e Teixeira (2008), afirmam que aos profissionais do século XXI, são requeridas habilidades que vão muito além do saber técnico específico de sua área de atuação. Para o novo profissional ser bem-sucedido, o mercado de trabalho exige domínio de outros saberes não-específicos, tais como línguas estrangeiras, conhecimento de microinformática e fundamentos de administração. Essas informações vêm de encontro às anteriormente descritas, pois o fisioterapeuta precisa, além de se especializar, buscar conhecimento em diversas áreas para poder se estabelecer no mercado, como empreendedor. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que 56% das empresas fecham as portas até o 3º ano de vida. Entre as principais razões, destacam-se a falta de preparação do empreendedor para gerenciar com eficiência a sua empresa e insuficiência de capital, além de dificuldades pessoais do candidato a empresário (MUNIZ E TEIXEIRA, 2008). Conclusão Por todas as bibliografias já citadas, relacionadas à fisioterapia do trabalho e à legislação previdenciária, deve-se www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 fazer uma reflexão sobre a necessidade de informação na atualidade. A relação entre adoecimento e o trabalho é íntima, e deve ser profundamente conhecida pelo fisioterapeuta do trabalho, para poder melhor negociar seus serviços, com conhecimento de causa e embasamento teórico. Diante da nova legislação, as empresas certamente necessitam de amparo para a solução dos problemas como absenteísmo, afastamentos, acidentes de trabalho, de forma a se beneficiarem e diminuírem as despesas com seus funcionários doentes. Vale lembrar que são muitas informações disponíveis em relação ao tema, e por isso a importância de uma leitura aprofundada para haver a compreensão das leis. É importante que o profissional que está entrando no mercado de trabalho conheça as leis que regem a sua profissão, e quais atividades são pertinentes à sua classe. Já em relação às leis trabalhistas, o fisioterapeuta deve conhecer profundamente a legislação que incentiva à prevenção da saúde dos funcionários, para poder embasar o seu trabalho. A soma desses argumentos certamente irá projetar o profissional ao sucesso. Sugere-se, a partir desse estudo, um aprofundamento da relação custo x benefício dos serviços prestados em saúde do trabalhador. rapeuta Ocupacional. Diário Oficial da União, 1978. Disponível em http://www.coffito.org.br/publicacoes/pub_view. asp?cod=935&psecao=9. [Acessado em 17 de outubro de 2008]. Brasília, 1978. COFFITO: Resolução Nº 259 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) de 18 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a Fisioterapia do Trabalho e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2004. Disponível em http://www.coffito.org.br/publicacoes/pub_view. asp?cod=1341&psecao=9. [Acessado em 5 de novembro de 2008]. Brasília, 2004. CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL: Resolução Nº 1.269, de 15 de fevereiro de 2006. Dispõe sobre o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) e Fator Acidentário Previdenciário (FAP). Diário Oficial da União, 2006. 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Pós-Graduação Lato Sensu Fisioterapia Fisioterapia Cardiorrespiratória Fisioterapia Dermato Funcional Fisiologia do Exercício – Prescrição do Exercício Fisioterapia em Gerontologia Fisioterapia Neuro Funcional Fisioterapia Pediátrica Fisioterapia Pneumo Funcional Fisioterapia Reabilitação Musculoesquelética e Desportiva Fisioterapia Traumato Ortopédica Fisioterapia Integrada à Saúde da Mulher Fisioterapia Manipulativa Métodos Pilates - Prescrição do Exercício Físico e Saúde Programa Saúde da Família Saúde do Trabalhador Uroginecologia Neurociências Ergonomia Dermato Funcional e Saúde da Mulher Gestão de Atendimento e Carreira Profissional Pilates e Exercício com Bola Terapia Manipulativa Saúde Massagem e Alongamento Reabilitação Traumatologia São Paulo (11) 2714-5656 Rio de Janeiro (21) 2484-3336 Bahia (71) 3264-0958 / (71) 3264-1093 Todos os Estados 0300 10 10 10 1 Outros Estados 0800 772 0149 Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT Autores: Leonardo Esteves Natal - Fisioterapeuta, Especialista em Ergonomia pela UFRJ/COPPE, Especialista em Anatomia Humana pela UNESA, Professor do curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Diretor de Fisioterapia do CSVA, Coordenador do Núcleo de Ergonomia Veiga de Almeida (NEVA) e Fisioterapeuta do Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI). Antonio Teixeira Carvalho Filho - Cirurgião-Dentista, Doutorando em Administração pela Universidad Nacional de Rosario / Argentina; Mestre em Administração pela UNESA; Professor do MBA de Gestão em Saúde pela FGV e Mestrado em Odontologia / Fonoaudiologia pela UVA; DiretorGeral do Centro de Saúde da Universidade Veiga de Almeida. Autor Correspondente: Leonardo Esteves Natal Centro de Saúde Veiga de Almeida -Praça da Bandeira, 149 - Maracanã - Rio de Janeiro/RJ - CEP 20271-020 Contato: (21) 2502-3238 (ramal 221), e-mail: [email protected] Data da última atualização: 23/11/2009 Resumo Devido a alta incidência de Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Ocupacionais Relacionadas ao Trabalho (LER/DORT) na prática clínica de cirurgiões-dentistas (CD) com pouco tempo de atividade, novas estratégias devem ser desenvolvidas para combater os agravos que esta proporciona. Este estudo tem como objetivo avaliar a aplicação de forma experimental, do Protocolo de Cinesioterapia Laboral (PELLENA), precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de 23 CD egressos da Universidade Veiga de Almeida. Um questionário auto-aplicável foi utilizado antes e após sessenta dias do presente estudo, para avaliar o perfil dos pesquisados (características biopsicossociais), a eficácia ou não da aplicação do treinamento ergonômico direcionado e do PELLENA. Os resultados obtidos em relação à aplicação experimental do PELLENA foram bastante animadores: 95% dos pesquisados instituiu como rotinas diárias os treinamentos propostos, reforçando a importância em se aplicar uma sequência de atividades laborativas antes, durante e após cada atendimento, visando a profilaxia das LER/DORT. Palavras-chave: Protocolo PELLENA, treinamento ergonômico, cirurgião-dentista, profilaxia de LER/DORT. 58 Abstract Due to high incidence of LER/DORT (Lesions for Efforts Repetitive/Diseases Occupational Related to the Work) in practice surgeon-dentists’ clinic (CD) with little time of activity, new strategies should be developed to combat the offences that this provides. This study has as objective evaluates the application in an experimental way, of protocol of exercises you work (PELLENA), preceded by a specific ergonomic training returned the practice clinical dentistry of 23 CD exits the University Veiga de Almeida. A solemnity-applicable questionnaire was used before and after sixty days of the present study, to evaluate the profile of those researched (characteristics biopsychosocial), the effectiveness or not of the application of the addressed ergonomic training and of PELLENA. The results obtained in relation to the experimental application of PELLENA were quite exciting; 95% of those researched instituted as daily routines the proposed trainings, reinforcing the importance before in applying a sequence of activities you work, during and after each service, seeking the prophylaxis of LER/DORT. Key-Words: PELLENA Protocol, training ergonomic, surgeon-dentist training, prophylaxis of ler/dort, www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT Introdução A ergonomia na odontologia surgiu a partir de estudos da racionalização do trabalho, visando sua simplificação, a prevenção da fadiga e o maior conforto para a equipe de trabalho. Há poucos anos atrás, a International Standarts Organization (ISO), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), e a Federation Dentaire Internacionale (FDI), homologaram normas e diretrizes oficiais para tal. Hoje temos catalogados os conceitos ergonômicos aprovados por aqueles órgãos (SAQUY & PECORA, 1994). A Odontologia, por características inerentes ao seu exercício, é uma atividade que expõe seus praticantes, mesmo com pouco tempo de profissão, a Lesões por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER / DORT) (NOGUEIRA, 1983). Tal fato é acentuado pelo maior nível de especialização profissional, tendo em vista que a execução de uma única tarefa (repetitidas vezes) é recorrente na prática clínica de cirurgiões-dentistas (CD) (BARROS, 1991). Neste contexto é necessário que tais profissionais ao iniciarem suas práticas clínicas tenham à sua disposição um protocolo de exercícios laborais específico para ser aplicado antes, durante e após os atendimentos dos pacientes, visando a profilaxia das LER/DORTs. A maximização da eficiência e da assimilação de um protocolo pode ser alcançada aplicando-se primeiramente, um treinamento ergonômico direcionado, baseado no princípio metodológico de Zachrisson-Forssell (1969). Esta autora desenvolveu um programa para populações específicas, composto por aulas teóricas e práticas, cujo enfoque é preventivo e curativo. Ele expõe potencialidades e riscos inerentes às atividades do cotidiano de pacientes com queixas dolorosas na coluna vertebral. Sendo assim, o uso de tais procedimentos aplicados à prática de cirurgiões-dentistas fornece conhecimentos indispensáveis para o resguardo das estruturas osteomioarticulares, bastante acometidas devido à repetitividade (FILHO & LOPES, 1997), o que assegura mais eficácia e produtividade, ao mesmo tempo em que reduz a fadiga e o custo (PORTO, 1994). O presente estudo tem como objetivo a aplicação experimental do Protocolo de Exercícios Laborais (PELLENA) na prática clínica dos CD egressos do curso de Odontologia da Universidade Veiga de Almeida (UVA), visando à profilaxia das LER/DORTs, através da conscientização de novas práticas ergonômicas. Material e Métodos Este estudo foi realizado no período de maio a agosto de 2008, no Centro de Saúde Veiga de Almeida (CVSA) localizado na Praça da Bandeira, nº149- bairro Maracanã, Rio de Janeiro /RJ-Brasil. Foram selecionados de forma aleatória, 23 indivíduos, de ambos os sexos, egressos da Odontologia da Universidade Veiga de Almeida, que aceitaram participar livre e esclarecidamente do estudo, depois de garantido o sigilo e direitos de desistência, www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 seguindo-se assim, os preceitos éticos de pesquisas que envolvem serem humanos, com a aprovação do comitê de ética e pesquisa do CSVA. Um questionário auto-aplicável foi utilizado antes e após sessenta dias do presente estudo, para avaliar o perfil dos pesquisados (características biopsicossociais), a eficácia ou não da aplicação do treinamento ergonômico direcionado e do PELLENA. Antes de testar a aplicabilidade experimental do PELLENA, desenvolveu-se um treinamento ergonômico específico, objetivando maior assimilação das práticas que serão desenvolvidas aos pesquisados, buscando um maior conhecimento sobre suas potencialidades e riscos inerentes às suas atividades operacionais, baseado no princípio metodológico denominado “Back School”, adotado pela fisioterapeuta sueca Mariane ZachrissonForssell em 1969, no Hospital de Dandeyd em Estocolmo. Este princípio consiste na realização de um treinamento postural para a prevenção e tratamento de pacientes com dor lombar crônica, composto de informações teórico-educativas ministradas através de quatro aulas expositivas, sendo a última destinada à prática do conhecimento teórico adquirido (CARDIA, 2001). Desta forma, a aplicação experimental do PELLENA foi precedida pela realização de um treinamento ergonômico dividido em duas etapas interdependentes: Primeira etapa: inicialmente os indivíduos receberam três aulas teóricas expositivas semanais através de equipamentos áudios-visuais (Data-Show), com duração de duas horas cada, totalizando seis horas. Os assuntos abordados incluíram conceitos provenientes das principais disciplinas da Ergonomia que podem ser aplicados aos CD, tais como: fisiologia do trabalho, biomecânica ocupacional, LER/DORT (prevenção, fatores de risco, principais patologias por segmento corporal, tratamentos mais procurados), ergonomia aplicada ao dia-a-dia (ao uso de computadores, importância do sono e suas variabilidades, posição sentada, transporte e manuseio de cargas, dentre outros), além das principais soluções ergonômicas na racionalização do trabalho destes profissionais. Em seguida, os indivíduos receberam orientações práticas e específicas acerca do PELLENA. Ao término desta fase, todos os indivíduos receberam uma cópia de um manual impresso com o resumo de todo o protocolo desenvolvido nesta pesquisa. Segunda etapa: uma semana após o término da primeira fase, os indivíduos foram submetidos a três aulas práticas em consultórios odontológicos próprios do CSVA (dentro das especificações da FDI), com duração de duas horas cada, totalizando seis horas. Nestas aulas os indivíduos puderam iniciar, na prática, todas as orientações recebidas nas aulas teóricas precedentes. Dentre elas, a aplicação prática do PELLENA para a profilaxia das LER/ DORT em ambiente real de trabalho. Tendo como justificativa um melhor aprendizado, os pesquisados revezavam entre paciente e profissional, não havendo a necessidade de pacientes reais, em consoante com Lima (2007). Ao término do treinamento ergonômico específico, o PELLENA foi aplicado em todos os pesquisados. Este 59 Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT protocolo busca instituir uma rotina de exercícios específicos, para que os CD realizem diariamente, antes, durante e após cada atendimento, prevenindo assim o aparecimento das LER/DORT. Os exercícios que fazem parte deste escopo foram cuidadosamente planejados de acordo tempo operatório, por movimentos em que estes não estão executando procedimentos técnicos inerentes a sua atividade profissional: movimentos diretos reversíveis (estes podem ser delegados a pessoal auxiliar, como por exemplo, a aplicação de flúor), indiretos (todos feitos fora da boca do paciente), e inevitáveis (tempo de espera de uma anestesia, a presa de um material de moldagem dentre outros). Ainda segundo Barros (1991), o somatório destes movimentos gera 88% de tempo improdutivo de um CD. O PELLENA é dividido em quatro fases: Primeira Fase: onze exercícios específicos preparatórios realizados antes do primeiro atendimento, visando a máxima capacidade física de trabalho através de aquecimentos e alongamentos em tronco e membros. Segunda Fase: oito exercícios específicos realizados durante cada atendimento (movimentos inevitáveis), como cada ação do paciente em cuspir na cuspideira. Enquadrase em uma modalidade de exercício-recuperação, ou seja, os músculos envolvidos recebem o restabelecimento do suprimento sanguíneo, através de alongamentos nas direções contrárias utilizadas pelos CD na prática odontológica, o que impossibilita o aparecimento da fadiga precoce (FOX, 1983; GRANDJEAN, 2005). Terceira Fase: seis exercícios específicos que podem ser realizados entre cada atendimento, durante o período em que o profissional aguarda seu próximo paciente. Quarta fase: três exercícios específicos domiciliares, importantes para a manutenção adequada da coluna vertebral, utilizados em tratamentos preventivos e terapêuticos nas desordens da coluna (MCKENZIE, 2006; TRIBASTONE, 2001). A ginástica laboral voltada para a Odontologia se mostrou um tema praticamente desconhecido pelos profissionais estudados: 83% nunca haviam escutado falar de tal prática. Da mesma forma, a importância da biomecânica da coluna vertebral para a profilaxia de doenças ocupacionais se mostrou outro tema pouco conhecido: 95% nunca haviam tido explicações sobre o tema. Porém, 79% dos indivíduos sabiam da importância da Ergonomia para a Odontologia. Sobre a importância da prevenção das LER/ DORT, 60% afirmaram desconhecer o que era ou qual era o seu papel. Avaliação da eficiência do treinamento ergonômico direcionado e do PELLENA – No início da pesquisa, a maioria dos entrevistados (74%) não apresentava dificuldades de adaptação em seu consultório, e aqueles que possuíam alguma queixa (26%) apontaram o mocho como o principal desencadeante (72%). Após 30 dias de aplicação do treinamento e do PELLENA não houve qualquer relato dos indivíduos em relação às dificuldades de adaptação em suas práticas odontológicas. Questionados sobre as variações de altura do mocho (Opção A: menor que 90°; Opção B: 90°; Opção C: maior que 90°), 95% consideraram a opção B e 5% a opção A. É importante ressaltar que neste momento, a opção ideal não foi escolhida (opção C). Após a aplicação do projeto, todos os indivíduos amostrados responderam que o posicionamento ideal no mocho seria maior que 90°. Mais da metade dos pesquisados (57%) considerava sua postura inadequada para a atividade profissional. Porém, após praticar as atividades aqui propostas, apenas 10% manteve esta opinião. Sobre a questão das pausas, no início da pesquisa 95% dos entrevistados afirmaram desconhecer o conceito ou como utilizá-lo em seu dia-a-dia. Este quadro foi totalmente alterado após a realização do projeto. Todos os entrevistados passaram a praticá-las no seu dia-a-dia (Figura 1). Resultados Perfil dos entrevistados – dos 23 entrevistados, 83% eram mulheres e 17% homens. A idade média dos indivíduos era de 25 anos. De acordo com o Índice de Massa Corporal -McArdle; (IMC referência: 18,5-24,9) ficou constatado que todos se encontravam dentro do seu peso ideal (IMC homens=24,8 e IMC mulheres=21,2). Para os pesquisados a atividade física regular reduz o estresse no ambiente de trabalho. No entanto, um contraste foi observado entre os gêneros. Enquanto 100% dos indivíduos do sexo masculino afirmaram praticar atividades físicas regulares, apenas 43% das mulheres a fazem. Quanto ao uso de medicamentos analgésicos, 73% responderam não fazer uso de tais drogas. Dentre os 27% que responderam fazer uso de medicamentos analgésicos, 70% o fazia frequentemente e 30% esporadicamente. Quanto à prática clínica da visão indireta, 88% dos indivíduos não a utilizam. Inferidos sobre o número de tentativas para aplicação da anestesia troncular na prática clínica, apenas 40% obteve êxito na primeira tentativa. 60 Figura 1: Resultado da avaliação do conceito de pausa e sua utilização durante a prática clínica de CD Antes da realização do treinamento e do PELLENA, 90% dos estudados acreditavam que as LER/DORT nos dentistas estavam associadas à postura, e apenas 10% www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT acreditavam que elas eram determinadas por fatores organizacionais e cognitivos. A compreensão deste problema foi alterada, pois, após participar desta pesquisa, apenas 20% dos indivíduos continuou acreditando que as LER/DORT nos dentistas estavam associadas à postura e não a fatores organizacionais e cognitivos (Figura 2). Figura 2: Resultado da avaliação da origem das LER/DORT segundo a opinião dos CD entrevistados Dores no corpo decorrentes da prática clínica foram apontadas por 80% dos pesquisados. Os principais problemas percebidos foram: dores na região lombar, nos membros superiores, e na coluna cervical. Após a aplicação protocolo, a percepção de dores em quaisquer regiões do corpo decorrente desta atividade sofreu uma redução de 10%, tendência observada principalmente para aos membros superiores e coluna cervical. Quanto à intensidade da dor, 52% mencionaram leve desconforto, 40% dor branda e apenas 8% classificaram a dor como horrível. Após o projeto, nenhum indivíduo relatou dor horrível, a maior parte (58%) afirmou sentir uma dor branda. No que diz respeito ao momento do dia de trabalho em que esse desconforto era percebido, 72% e 28% afirmaram sentir dores no meio e ao término da jornada de trabalho, respectivamente. Depois de participar da pesquisa, foi quantificada maior incidência de dores ao fim da jornada (Figura 3). Figura 3: Resultado da avaliação sobre o período do dia em que os CD percebem a dor Apenas 40% dos entrevistados informaram dormir entre 6 e 8 horas por noite, quantidade adequada para descanso. Após a aplicação do protocolo, essa proporção aumentou para 70%. Após a pesquisa experimental 100% dos indivíduos afirmaram que seus sintomas e dores diminuíram. Questionados sobre a eficiência da prática do PELLENA para a prevenção das LER/ DORT, 83% afirmavam que as atividades propostas não seriam úteis. Porém, após 30 dias foi verificado que 95% dos pesquiwww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 sados adotaram o PELLENA em suas rotinas diárias, justificando a importância em adotar um treinamento padronizado ergonômico a CD. Discussão Os dados deste estudo foram coletados a partir de uma amostra de CR (egressos) da Universidade Veiga de Almeida, em consultórios dentários apropriados, localizados no Centro de Saúde Veiga de Almeida (CSVA), na cidade do Rio de janeiro, e assim podem não representar a realidade da população de CD. Entretanto, esta pesquisa contribui para a compreensão da importância na aplicação de programas de exercícios laborais preventivos, precedidos por um treinamento ergonômico específico direcionado à prática clínica odontológica. Em relação ao perfil dos entrevistados, os resultados de distribuição por gênero, não seguem os obtidos por estudos epidemiológicos com um grande número de entrevistados, como é o caso de GARCIA (2006), que avaliou 1.272 CD, com média de 16 anos de atividade, desde a graduação, identificando que a proporção dos sexos é similar à mesma proporção na população de CD em atividade. Todos os entrevistados afirmaram que a prática de atividades físicas é importante para a minimização do estresse físico e mental. Este resultado está de acordo com os achados por Mondini et al. de 98,88%. Porém, um número significativo dos pesquisados no presente estudo do sexo feminino, embora concordassem com a premissa supracitada, não praticavam nenhuma atividade física. Como as mulheres possuem maior prevalência de LER/DORT (Grandjean, 2005 & Regis Filho, 1997), é indubitável que recebam treinamento diferenciado, justificando a relevância e eficácia desta pesquisa. Os resultados colhidos acerca do uso de medicamentos analgésicos, a prática de visão indireta e do número de tentativas realizadas para a aplicação de uma anestesia troncular são preocupantes, indicando a presença de estresse ocupacional precoce na prática clínica diária dos egressos. Grandjean (2005), alerta para o fato de o estresse ser um dos principais causadores das LER/DORT. O CD com menos tempo de profissão torna-se mais suscetível a erros, tornando-se um profissional isolado (MONDINI, 1998). Segundo Olavo (1999), apenas 1% dos egressos continua mantendo vínculo com sua faculdade e entidades de classe. Estas relações são extremamente importantes para o aperfeiçoamento e troca de experiências, o que é vital para um CD novato obter segurança e maturidade profissional. Os dados obtidos sobre a falta de informações relacionadas à ergonomia e suas disciplinas aplicadas à prática clínica (LER/DORT, dentre outros) confirmam os achados de Barros (1991), identificando deficiências na estrutura curricular dos cursos de odontologia no Brasil, onde apenas 5% desta é preenchida por conceitos da ergonomia e suas práticas, se comparado aos 95% referente à formação específica do CD. Tendo em vista o propósito desta pesquisa em minimizar o estresse ocupacional através de ações preventivas e corretivas, os resultados finais apresentados após a aplicação do PELLENA foram animadores, interferindo positivamente no processo de aprendizado, através da aquisição de novas práticas. No tocante a discussão dos resultados sobre a eficiência do treinamento ergonômico direcionado e do PELLENA, ratifica-se a grande importância da relação do posicionamento do CD no mocho, para que este possa trabalhar suas oito horas diárias, sem a presença de dores na coluna vertebral. Os resultados do presente estudo confirmam o desconhecimento sobre a posição 61 Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT ideal no mocho do profissional durante os atendimentos. Segundo Saquy e Pecota (1996), é indispensável que o CD sente-se de forma que os pés estejam totalmente apoiados no chão, com a coluna ereta, apoiada no encosto do mocho. Estudos feitos por Thorton (1980), na NASA, identificam os ângulos articulares do corpo, onde ocorre a menor pressão na coluna vertebral. No que tange a articulação do quadril (referência na posição sentada), a menor pressão ocorre com esta a 117º, ou seja, o profissional deve permanecer com a linha do quadril acima dos joelhos (altura maior que 90º). Desta forma, as pressões na coluna vertebral serão reduzidas abruptamente (NOGUEIRA, 1983). Segundo Kapandji (2001), a curvaturas vertebrais fisiológicas permanecerão inalteradas e as pressões serão mais bem distribuídas pelo corpo, embora alguns autores afirmem que as coxas dos CD estejam aproximadamente paralelas ao chão, formando ângulo reto (90º) com as pernas (MARQUART, 1980; BARROS, 1991; PORTO, 1994; SAQUY & PÉCORA, 1996). Sendo assim, o profissional poderá trabalhar de forma correta, com sua postura adequada, o que consequentemente, prorrogará o início dos sintomas dolorosos somente para o término da jornada, conforme dados obtidos após a pesquisa. De acordo com os resultados, a minoria possuía conhecimentos a respeito das pausas de trabalho e suas aplicações práticas. Após o projeto verificou-se a correta aplicação do PELLENA nas pausas (intervalos), ou nos movimentos indiretos e inevitáveis que correspondem, de acordo com Barros (1991), a 88% do tempo operatório improdutivo de um CD (realizados fora da boca do paciente ou procedimentos elegíveis a auxiliares odontológicos). Da mesma forma, se alinha ao estudo randomizado realizado por Rundkrantz Moritz (1990), onde foi concluído que 48% dos CD que realizavam pausas entre os atendimentos, não sofriam com sintomas cervicobraquiais, ao contrário daqueles que não realizavam, 52%. Através da pesquisa foi observada a maior adaptação destes em relação ao quadro doloroso. Mesmo com pouco tempo de aplicação diária do PELLENA, por parte dos pesquisados, estes apontaram redução predominante significativa na classificação da dor para um nível mais leve (desconfortante), do que anteriormente ao projeto (branda e horrível). Segundo Silveira (1997), os problemas relacionados com a coluna vertebral são a segunda causa de afastamento de trabalhadores operacionais, perdendo somente para dores de cabeça. Cerca de 80% da população adulta tem probabilidade de ter problemas relacionados à coluna. O início das queixas dolorosas na prática clínica apontadas por eles, inicialmente maior, no meio da jornada de trabalho (72%), sofreu uma forte queda (26%), logo, o aparecimento dos sintomas só foi relatado predominantemente (74%) ao término da jornada, embora, após a pesquisa experimental, não fora relatado qualquer sintomatologia. Isto explica a importância das pausas para evitar a fadiga precoce e, consequentemente, a incidência de LER/DORT. Durante a atividade profissional de um CD, sua musculatura adota principalmente uma contração estática, o que restringe o fluxo sanguíneo necessário por insuficiência de oxigênio, deprimindo o grau de eficiência muscular. Este fato acelera o aparecimento da fadiga pelo acúmulo de ácido lático no sangue. (GRANDJEAN,2006; FOX, 1982). Uma importante mudança de conceito foi evidenciada nesta pesquisa, onde a maioria dos CD, que inicialmente acreditava que as LER/DORT estava associada somente a postura, posteriormente a aplicação do PELLENA entendeu que os principais motivos são causados por fatores organizacionais e cognitivos, este último gerado pelo estresse ocupacional presente na rotina 62 dos CD egressos. A ideia de que a postura inadequada é a principal responsável pela alta incidência de LER/DORT foi desmistificada pelo presente estudo, tornando-a consequência e não mais a causa. Diversos estudos enfatizam princípios da racionalização e otimização de procedimentos na prática odontológica, como por exemplo, limitando ao máximo os deslocamentos desnecessários durante a execução de uma determinada tarefa, evitando assim o aparecimento precoce das LER/DORT. (MARQUART, 1980; SAQUY & PÉCORA, 1994; PORTO, 1994). Porto et al. (1994) em trabalho de comparação de um tratamento endodôntico realizado por um profissional sozinho e com auxiliar, onde todas as etapas foram acompanhadas e computadas (cronometradas), chegou aos seguintes dados conclusivos; o CD ganha 1/5 de tempo (20,43%) trabalhando com auxiliar e delegando funções, o que, sem dúvida, é altamente lucrativo, pois ele paga o auxiliar e ainda lucra sobre seu trabalho, com o valor do tempo economizado. Para Cooper (1987), fatores psicossociais ligados a organização do trabalho e psicológicos individuais podem estar presentes e imersos entre condições especiais de exposição. Neste caso, relacionadas às exigências do processo de trabalho dos CD. Estes fatores são apontados como indicadores de estresse, o que reforça a ideia da odontologia como uma profissão física e mentalmente estressante, sem contar com sua associação com problemas músculo-esqueléticos. O baixo índice (40%) de horas dormidas de forma adequada pelos pesquisados (6 a 8 horas), levanta um grande perigo para as atividades clínicas, visto que, um sono ruim prejudica o raciocínio, além de déficit de atenção. Igualmente, tomografias computadorizadas do cérebro de jovens privados de sono mostram redução do metabolismo nas regiões frontais (responsáveis pela capacidade de planejar e de executar tarefas) e no cerebelo, responsável pela coordenação motora (DUAILIBI, 2003; GRADJEAN, 2005). Os resultados bastante animadores durante a verificação do aprendizado constatou 95% de aprovação, com práticas diárias do protocolo experimental PELLENA (entregue impresso a cada indivíduo ao final da pesquisa), convergem na mesma direção que outros estudos sobre a ginástica laboral aplicada a estes profissionais. Em sua tese de mestrado pela UFSC, em 2003, o fisioterapeuta Alexandre Crespo elaborou um programa de ginástica laboral, que foi testado em 37 dentistas. Os resultados deste estudo reforçam a importância de atuar na capacitação dos CD para prevenir as LER/DORT, melhorando sua capacidade física operacional e organizacional. Conclusão A metodologia empregada no presente estudo mostrou-se confiável, exequível e adequada para testar a hipótese de trabalho. Embora com uma pequena amostra da realidade, permitiu à aquisição de um significativo volume de informações, possibilitando conhecer alternativas de ações ergonômicas que podem ser aplicadas ora no domicílio, ora no consultório odontológico, reduzindo, portanto, o alto índice de LER/DORT em CD. O modelo proposto em realizar um treinamento aplicado de práticas ergonômicas, com aulas teóricas e práticas pré-determinadas, mostrou-se eficiente, haja vista que os resultados demonstraram um aprendizado sólido dos pesquisados. Observa-se que há muito vem sendo estudada a condição diária do trabalhador odontológico no que tange aos aspectos ergonômicos. Os resultados obtidos em relação à aplicação experimental do PELLENA foram bastante animadores, visando conscientizar, através de www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Avaliação da aplicação experimental de Protocolo de Cinesioterapia Laboral denominado PELLENA precedido por um treinamento ergonômico específico voltado a prática clínica odontológica de cirurgiões-dentistas egressos na profilaxia das LER/DORT treinamentos diários, os CD sobre as necessidades de instituir uma sequência de cinesioterapia laboral antes, durante e após cada atendimento, na profilaxia das LER/DORT, mostrou-se eficaz. Embora necessite aplicá-lo através de novos estudos randomizados com uma amostragem mais significativa para obter dados fidedignos a realidade da população destes profissionais. Normalmente, exigi-se do CD egresso, que seja feito um trabalho maciço de conscientização do paciente, quanto aos bons resultados de um comportamento preventivo. Diante desta perspectiva, há que se pensar na formação de um profissional com um caráter preventivo sim, mas não apenas para o seu paciente. É preciso fazer com que o futuro profissional acredite na necessidade de buscar para si, comportamentos que venham lhe conferir um trabalho agradável e o menos estressante possível. Esta pesquisa identifica problemas relacionados à formação dos CD. Devemos melhorar a grade curricular do curso, incluindo disciplinas teóricas – práticas de ergonomia para serem aplicadas ao dia-a-dia dos profissionais, aprofundando temas inerentes a qualquer aprendizado na área da saúde do trabalhador, que é a fisiologia do trabalho. Entender o porquê de cada atitude, cada ação em prol de melhorias da classe odontológica. Por fim, sugere-se que novas pesquisas devam ser realizadas para aprofundar o assunto, objetivando atender a todas as necessidades biopsicossociais do CD. Musculoskeletal symptoms of dentists assessed by a multidisciplinary approach. 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Drª, Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade da Alta Paulista – FAP – Tupã/SP Luciana Soares Seixas - Fisioterapeuta, Residente PSF – FAMEMA, Marília, SP Sebastião Marcos Ribeiro de Carvalho - Prof. Assist. Dr., Docente Faculdade de Filosofia e Ciências, Campus de Marília,UNESP – Marília/SP Trabalho desenvolvido no curso de Fisioterapia da FAP, Faculdade da Alta Paulista, Tupã/SP. Correspondência para: Juliana Bassalobre Carvalho Borges, Rua Venâncio de Souza, 422. CEP: 17514-072, Bairro Aeroporto, Marília, SP. Telefone: 14- 3433-7286. E-mail: [email protected] uu: Sebastião Marcos Ribeiro de Carvalho, Rua Mecenas Pinto Bueno, 1080, JM Isabel, Marília, SP; Telefones: 14-3433-4714 / 8155-6228; e-mail: [email protected] Resumo FUNDAMENTO: O ambiente de trabalho é afetado por hábitos de vida inadequados que podem causar alterações na qualidade de vida (QV) dos funcionários. OBJETIVOS: Avaliar a qualidade de vida e os fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio. Relacionar qualidade de vida com as variáveis de risco cardiovascular, gênero e setor de trabalho. MÉTODOS: Foram avaliados 41 funcionários (30 feminino e 11 masculino) com idade entre 18 e 54 anos (média 27,4 ± 8,9 anos). Utilizado protocolo com: dados pessoais, antecedentes pessoais, exame físico (antropometria) e questionário WHOQOL-bref para avaliar a QV. Foi realizada análise estatística pelo teste qui-quadrado e correlação de Sperman, significância de 5%. RESULTADOS: Encontrou-se 31(75,6%) sedentários; 16 (39,0%) excesso de peso; 2(4,9%) tabagistas; 9(22,0%) consumo alcoólico e 25(61,0%) antecedentes familiares. Verificouse 13(31,7%) com sobrepeso/risco baixo e 3(7,3%) obesos/ risco moderado. A melhor pontuação no WHOQOL-bref foi no domínio físico (72,9), a pior no meio ambiente (61,3) e escore médio de 69,5 para QV total. Os funcionários do gênero masculino apresentaram valores maiores para todos os domínios, porém essa associação teve resultado não significante. Correlação positiva entre os domínios: físico e psicológico com: meio ambiente e QV total. CONCLUSÕES: Os funcionários apresentam importantes fatores de risco cardiovascular como sedentarismo, antecedentes familiares, excesso de peso e consumo alcoólico. A QV dos funcionários é considerada pela percepção de saúde como satisfatória, a melhor QV é no domínio físico e a pior no meio ambiente. Sugere-se à empresa medidas para mudança nos fatores de risco cardiovasculares detectados. Palavras-chave: Ambiente de trabalho, Qualidade de vida, Índice de massa corporal, Fatores de Risco. 64 Abstract BACKGROUND: The workplace is affected by poor lifestyle habits that can cause alterations in the quality of life (QOL) of the employees. OBJECTIVE: To evaluate the quality of life and the cardiovascular risk factors in employees of a business. Relate the quality of life with the variables of cardiovascular risk, gender and work sector. METHOD: 41 employees were evaluated (30 females and 11 males) aging between 18 and 54 years (mean 27.4 ± 8.9 years). A protocol was used with: personal data, personal background, physical examination (anthropometry) and the WHOQOL-bref questionnaire to evaluate the QOL. Statistical analysis was completed by the Chi-squared test and Sperman’s rank correlation, with a significance of 5%. RESULTS: We found 31(75.6%) sedentary; 16(39.0%) excess weight; 2(4.9%) smokers; 9(22.0%) alcohol consumers and 25(61.0%) family history. We also found 13(31.7%) overweight/low risk and 3(7.3%) obese/moderate risk. The best score on the WHOQOL-bref was on physical health (72.9), and the worst on environment (61.3) and mean score of 69.5 for total QOL. Male employees presented greater scores on all domains, but this association had a non-significant result. There was positive correlation between the physical and psychological domains with the environment and total QOL. CONCLUSION: The employees presented important cardiovascular risk factors like sedentary lifestyle, family history, excess weight and alcohol consumption. The employee’s QOL is considered satisfactory in the perception of health; the best QOL being in the physical domain and the worst in the environment. Change measures are suggested to the company for the cardiovascular risk factors detected. Key words: Working environment, Quality of life, Body mass index, Risk Factors. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio Introdução No decorrer da história, a preocupação com doenças e suas complicações no ambiente de trabalho mudou. Anteriormente, a preocupação era somente com o grau de exposição ocupacional desencadeando os perigos com relação à saúde; atualmente, porém, a preocupação é também com doenças crônicas não transmissíveis, sendo o ambiente de trabalho um local em potencial para estudos das causas e intervenções dessas doenças. As intervenções incidem como ponto principal a modificação de comportamentos, como dieta e exercícios1. Relacionando os riscos cardiovasculares com as condições de trabalho, atualmente pode-se perceber que a grande competitividade, jornadas prolongadas de serviço, tarefas repetitivas e pressão por produtividade, ocasionam alterações na saúde do trabalhador e altas despesas com assistência médica e pagamentos de seguros 2. Qualidade de vida (QV) foi definida pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Sendo que, a QV, pode ser influenciada por diferentes fatores, tais como condições e satisfação no trabalho, salários, relações familiares, estado de saúde, lazer, prazer e até mesmo a espiritualidade3,4. A satisfação no trabalho é um dos pilares fundamentais na construção do conceito de QV, devido o trabalho ocupar grande parte da vida, estabelecer relações e dimensionar diferentes possibilidades que emergem da sua maior ou menor valorização social. A QV reflete também, o grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e para a própria estética existencial de indivíduos e coletividades 4. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a Qualidade de Vida e os fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio. Relacionar qualidade de vida com as variáveis de risco cardiovascular, gênero e setor de trabalho. Métodos O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), protocolo nº. 155/08 em 28/04/2008. Os participantes do estudo foram esclarecidos de todos os procedimentos e assinaram o Temo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi realizado um estudo do tipo transversal, quantitativo e descritivo em uma empresa do comércio da cidade de Marília, estado de São Paulo. O período de coleta de dados foi o mês de Janeiro de 2008. Participaram do estudo funcionários acima de 18 anos completos, de ambos os gêneros, que concordaram em participar por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos os funcionários que estavam em período de férias ou de licença durante a realização do estudo, os que não assinaram o consentimento livre e esclarecido ou o prewww.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 encheram de forma incorreta e os que não se interessaram em participar. A população para estudo foi uma equipe de funcionários pertencentes a todos os setores de uma empresa do comércio. Todos os funcionários foram informados e convidados a participar. Verificou-se total de 47 funcionários na empresa, desses, foram excluídos seis que estavam em período de férias, folga ou de licença durante a realização do estudo e os que não se interessaram em participar. A amostra final foi composta de 41 funcionários, 30 do gênero feminino e 11 do gênero masculino, com idade entre 18 e 54 anos (média de 27,4 ± DP=8,9 anos). Os funcionários foram submetidos a uma avaliação que constava dados pessoais, sinais vitais, antecedentes pessoais, exame físico (antropometria) e questionário de qualidade de vida. Foi definido como sedentário todo funcionário que informou não participar de nenhum tipo de atividade física; ou participar de atividade física por um período menor que 20 minutos por dia e com freqüência menor do que três vezes por semana 5. O exame físico incluiu as medidas antropométricas de peso, estatura, circunferência da cintura e circunferência do quadril 6. Para a verificação de peso foi utilizada uma balança analógica com precisão de 100g, com o indivíduo em posição ortostática, pés descalços no centro da balança, trajando roupas leves. Para a medida da altura, utilizou a régua da balança em centímetros 7. As medidas de circunferência da cintura (menor circunferência entre o gradil costal e a cicatriz umbilical, em centímetros) e circunferência do quadril (maior circunferência da região glútea, em centímetros), foram realizadas com uma fita métrica inelástica 6. A partir dos valores obtidos com as medidas de estatura e peso corporal calculou-se o índice de massa corpórea (IMC) de acordo com a seguinte relação: peso corporal (kg) /estatura2 (cm). Classificando os indivíduos abaixo do peso < 20; peso normal 20 a 24,9; sobrepeso 25 a 29,9; obeso 30 a 39,9 e severamente obeso ≥ 40 8, 9. A classificação do risco cardiovascular (RCV) foi realizada segundo a “American Heart Association”, que determina uma correlação entre o risco de doença cardiovascular e o aumento do IMC, os funcionários foram classificados em cinco categorias. Para classificação do IMC como normal, RCV é muito baixo; para IMC sobrepeso o RCV é baixo; para IMC obeso o RCV é moderado e para IMC severamente obeso, RCV alto8. A relação W/h foi realizada em indivíduos obesos, através da divisão da circunferência da cintura pela circunferência do quadril. Classificando o indivíduo em obesidade ginóide ou periférica e obesidade andróide ou central 6,8. Para avaliar a qualidade de vida foi utilizado o questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref. Cada funcionário foi orientado e respondeu em casa o questionário, depois foi feita a somatória dos pontos segundo orientação do questionário 3. O WHOQOL-bref é uma versão abreviada composta pelas 65 Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio 26 questões que obtiveram os melhores desempenhos psicométricos extraídos do WHOQOL-100, é composto por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Fornece um perfil da qualidade de vida obtido através dos escores dos quatro domínios, onde quanto mais alto os escores, melhor é a qualidade de vida3. Nesse questionário as duas primeiras questões são gerais e examinadas separadamente: onde a primeira questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua qualidade de vida e a segunda questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua saúde. Cada uma das 24 questões restantes do questionário, possui uma pontuação que varia de 1 a 5 3. Para o cálculo manual de cada domínio há uma equação que resulta em um escore bruto. O escore bruto é então convertido em um escore transformado, utilizando-se uma tabela de referência. O método de transformação converte os escores brutos em uma escala de 4 a 20, comparável com o WHOQOL-100, e em uma escala de 0 a 100 10. Os escores dos domínios podem ser agrupados e então revelar um escore único para a qualidade de vida4. Foi realizada análise estatística, pelo teste qui-quadrado e correlação de Spearman, com nível de significância de 5%. Resultados Na Tabela 1 estão apresentadas as características gerais dos funcionários. Observou-se maior frequência do gênero feminino com 30 (73,2%) e de funcionários solteiros com 28 (68,3%). A faixa etária de 18 a 27 anos corresponde a maior parte da amostra, 29 (70,7%) indivíduos. Encontrou-se 31 (75,6%) de sedentarismo, 2 (4,9%) de tabagismo, 9 (22,0%) de consumo alcoólico e 25 (61,0%) de antecedentes familiares. Na Tabela 2 encontra-se o resumo dos valores de média, desvio padrão, mínimo e máximo para as variáveis: idade, peso, altura, IMC, circunferência abdominal e circunferência quadril; segundo o gênero e na amostra total. Os funcionários do gênero masculino apresentaram valores médios maiores do que o feminino para todas variáveis, exceto na idade. De acordo com o IMC e o RCV, observa-se 13 (31,7%) funcionários com sobrepeso e risco baixo; 3 (7,3%) com obesidade e risco moderado; totalizando 16 (39,0%) com excesso de peso. Nenhum funcionário foi classificado em severamente obeso (risco alto). Utilizando-se a classificação para obesidade segundo a relação W/h, dos três pacientes obesos, dois são classificados como obesidade ginóide e um como andróide. Na classificação do IMC segundo o gênero, encontrou-se para o gênero feminino indivíduos normais com 14 (46,7%), seguida de sobrepeso com nove (30,0%) e o menor índice de obeso, um ( 3,3%) indivíduo. No gênero masculino a prevalência foi de indivíduos com sobrepeso 4 (36,4%) e normal 4 (36,4%), tendo 2 (18,2%) de obesos. Nenhum funcionário foi classificado como severamente obeso. Na associação entre gênero e classificação do IMC obteve-se resultado não significante (p=0,37). Na associação entre gênero e consumo de álcool, houve associação significante (p<0,05), com prevalência de sete (77,8%) indivíduos etilistas no gênero masculino e, dois 66 (22,2%) em relação ao feminino. Nas Tabelas 3 e 4 estão apresentados os resultados referentes às duas questões gerais do questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref, que tratam da percepção que o indivíduo tem de sua qualidade de vida e de sua saúde. A Tabela 3 apresenta os resultados referentes à primeira questão; “avaliação da percepção subjetiva do indivíduo sobre a sua qualidade de vida geral”. Observa-se que dos 41 respondentes, 23 (56,1%) funcionários avaliaram como boa e sete (17,1%) como muito boa, totalizando 30(73,2%) indivíduos com a percepção de satisfeitos com a sua qualidade de vida. Na Tabela 4 estão apresentados os resultados da segunda questão; “avaliação da percepção do indivíduo sobre sua saúde”. Observa-se que dos 41 funcionários, 16 (39,0%) estavam satisfeitos com a sua saúde e nove (21,9%) muito satisfeitos, totalizando 25 (60,9%) indivíduos com a percepção de satisfeitos coma sua saúde. Os resultados dos escores dos domínios do questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref, na amostra total. As dimensões encontradas no questionário poderiam variar a pontuação de 0 a 100, sendo que quanto menor a pontuação, pior a qualidade de vida. A melhor qualidade de vida foi no domínio físico (72,9) e a pior no domínio meio ambiente (61,3). Na qualidade de vida total obteve-se o escore médio de 69,5. Na Tabela 5 estão apresentados os resultados dos domínios do questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref segundo o gênero. Os funcionários do gênero masculino apresentaram valores maiores do que o feminino para todos os domínios, porém essa associação teve resultado não significante nessa amostra. Na associação entre qualidade de vida e setor de trabalho obteve-se resultado não significante nessa amostra. Na Tabela 6 estão apresentadas as correlações entre os domínios do questionário de Qualidade de Vida (WHOQOLbref). Foi observada correlação positiva entre os domínios físico e psicológico com os domínios: meio ambiente e qualidade de vida total; e entre si. Pode-se concluir que quanto maior o escore do domínio físico e psicológico, maior a qualidade de vida dos domínios: meio ambiente e da qualidade de vida total. Foi observada correlação positiva entre o domínio social e a qualidade de vida total. Pode-se concluir que quanto maior o escore do domínio social melhor a qualidade de vida total dos indivíduos estudados. Discussão No presente estudo, o meio escolhido para a investigação da qualidade de vida foi o setor do comércio. Isso ocorreu por ser o local onde os funcionários passam, cerca de 65% de seu tempo de vida, influenciando consideravelmente, os hábitos de cada um 9. A média de idade da população estudada foi de 27 anos, constituindo assim uma amostra de adultos jovens. Não obstante, por se tratar de uma população nova em relação www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio à idade, os funcionários apresentam importantes fatores de risco: 75,6% de sedentarismo; 61,0% de antecedentes familiares; 39,0% de excesso de peso; 22,0% de consumo alcoólico e 4,9% de tabagismo. Acredita-se que esses resultados podem ser preocupantes, pois grande parte dos avaliados se constituem de adultos jovens, os quais podem não ter manifestado as conseqüências fisiológicas destes fatores de risco, porém futuramente podem sofrer em decorrência desses fatores. Observou-se que mais da metade, 75,6% dos funcionários eram sedentários, dados estes semelhantes aos encontrados na literatura. Matos et al. (2004) em um levantamento realizado entre os funcionários da Petrobrás, verificaram uma prevalência de sedentarismo em 67,3% da amostra. Sendo que no estado de São Paulo, o sedentarismo atinge 69% da população 1. A prevalência de consumo alcoólico foi de 22 % (9 indivíduos), sendo 77,8% homens e 22,2%) mulheres, dados semelhantes foram encontrados por Sabry, Sampaio e Silva (1999), em um estudo sobre etilismo em funcionários da Universidade estadual do Ceará, onde houve a diferença de consumo alcoólico em 61,7% em homens e 38,3% em mulheres 11. Em relação aos antecedentes familiares, 61% tinham familiares com algum tipo de doença cardiovascular. Dados semelhantes foram encontrados por Gus et al (2002) em um inquérito populacional realizado no Estado do Rio Grande do Sul, em que a prevalência de antecedentes familiares correspondeu a 57,3% da população investigada 12. Os resultados deste estudo indicaram ainda uma elevada prevalência de funcionários acima do peso. Foram diagnosticados 31,7 % com sobrepeso e 7,3% com obesidade, assim sendo, um total de 39% da população avaliada se encontra acima do peso. Esses números são próximos ao observado pelo IBGE (2004), que detectou para toda a população adulta brasileira uma prevalência de 40,6% e 11,3% de sobrepeso e obesidade, respectivamente 13. Ao analisar os dados antropométricos de acordo com o gênero, houve uma diferença entre os homens e mulheres para o sobrepeso e obesidade, com valores superiores encontrados entre o gênero masculino, diferindo do que se tem encontrado na literatura. A Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997) atribuiu ao gênero feminino uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade em relação ao gênero masculino. Porém, no presente estudo, a associação entre gênero e classificação de IMC obteve-se resultado não significante 10. Em relação a qualidade de vida, a primeira questão do questionário WHOQOL-bref, avaliou a percepção subjetiva do indivíduo sobre sua qualidade de vida geral, os resultados encontrados, evidenciaram que a maioria dos funcionários (56,1%) consideram sua QV boa. Concordando com um estudo realizado em uma amostra de funcionários de um hospital no Paraná, onde encontrou-se 62,5% de funcionários que consideravam sua QV como boa 4. Na segunda questão sobre a percepção do indivíduo sobre sua saúde, observou-se que a maioria (39%) encontra-se satisfeitos. Dados semelhantes foram encontrados em um www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 estudo que aplicou o questionário em uma amostra de 250 indivíduos, onde 38% consideraram estar satisfeitos com sua saúde 3. Como os funcionários estudados têm uma percepção satisfatória de sua QV, acredita-se que estes trabalhadores também estão satisfeitos com o seu trabalho, pois, segundo Martins (2002), a satisfação no trabalho é um elemento fundamental na determinação da QV 3. A análise da QV neste estudo evidenciou escores altos para os domínios físico, psicológico e relações sociais, indicando uma boa qualidade de vida. Já o Domínio Meio Ambiente apresentou escores mais baixos (61,3), concordando com Martins (2002), onde encontrou escore semelhante para o domínio Meio Ambiente (55,8). Como este domínio avalia a relação com o meio ambiente, atribui-se os baixos escores pela sua relação com questões como segurança, lazer, moradia, transporte, serviços de saúde, salário, ambiente físico. Essas questões são consideradas componentes fundamentais sobre o qual se pode edificar uma vida com qualidade, porém são questões que não dependem somente do trabalhador para serem solucionadas3, 4. O declínio dos escores da QV no domínio meio ambiente torna mais forte a necessidade de programas que promovam a saúde dos funcionários nesse aspecto, pois quando os funcionários são treinados, se sentem valorizados também profissionalmente. No presente estudo foi observado resultado não significante entre QV e gênero, porém, os funcionários do gênero masculino apresentaram valores maiores que o feminino. Os resultados encontrados mostraram escores altos indicando que os funcionários que participaram do estudo possuem um bom nível de QV. Estando de acordo com os dados preconizados pela OMS de que o perfil da QV é definido pelos escores obtidos do questionário WHOQOL-bref, sendo que quanto mais alto o escore, melhor a QV do indivíduo. Conclusão Mediante os dados obtidos, o estudo realizado permite considerar: Os funcionários apresentam importantes fatores de risco cardiovascular: 75,6% de sedentarismo; 61% de antecedentes familiares; 39% de excesso de peso; 22% de consumo alcoólico e 4,9% de tabagismo. O nível de qualidade de vida dos funcionários é considerado pela percepção de saúde como satisfatório com percepção de qualidade de vida boa. Os escores dos domínios de QV foram semelhantes, a melhor qualidade de vida é no domínio Físico e a menor no Meio Ambiente. Os maiores valores ocorrem no gênero masculino, porém a QV não apresenta relação com o gênero e o setor de trabalho nessa amostra. Sugere-se à empresa medidas para mudança nos fatores de risco cardiovasculares detectados, por meio de palestras, atividades educacionais, orientação nutricional e desenvolvimento de programas objetivando hábitos alimentares saudáveis e prática regular de atividade física, proporcionando atenção à saúde dos trabalhadores. 67 Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio Referências bibliográficas MATOS, M. F. D; SILVA, N. A. S; PIMENTA, A. J. M; CUNHA, A. J. L. A. Prevalência dos Fatores de Risco para Doença Cardiovascular em Funcionários do Centro de Pesquisas da Petrobrás. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 82, n. 1. maio, 2004. MEIRA, L. F. Capacidade para o trabalho, fatores de risco para as doenças cardiovasculares e condições laborativas de trabalhadores de uma indústria metal-mecânica de Curitiba/ PR. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica). Curso de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Disponível em <http://www.pgmec.ufpr.br/ dissertacoes_032.pdf> Acesso em: 22 jan. 2008. SABRY, M. O. D; SAMPAIO, H. A. C; SILVA, M.G.C. Tabagismo e etilismo em funcionários da universidade estadual do Ceará. Jornal de Pneumologia. Fortaleza, v. 25, n. 6, p. 313-320. Setembro, 1999. GUS, M. ; MOREIRA, L. B.; PIMENTEL, M.; GLEISENER M. A. M.; MORAES R. S.; FUCHS F. D. Associação entre diferentes indicadores de obesidade e prevalência de hipertensão arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 70, n. 2. fev, 1998. IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2002-2003: análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil. Brasília: DF, 2004. Tabela 1- Características gerais dos funcionários FLECK, M. P. A. l; LOUZADA, S; XAVIER, M.; CHACHAMOVICH, E; VIEIRA, G; SANTOS L; et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação de qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Rev. Saúde Pública, v. 34, n. 2, 2000.Disponível em <http://www.scielosp.org/scielo. php?script=sci_arttex&pid=S00389102000000200012 > Acesso em: 11 fev. 2008. MARTINS, M. M; Qualidade de vida e capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem no trabalho em turnos. 2002. Dissertação. (Mestrado em Engenharia de Produção) – Curso de Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em <http://www. nucidh.ufsc.br/teses/dissertacao_marilu.pdf> Acesso em: 22 fev. 2008. IRWIN, S; TECKLIN, J. S. Fisioterapia Cardiopulmonar. 3ª edição. São paulo: Manole, 2003. REGENGA, M.M. Fisioterapia em Cardiologia: da UTI à reabilitação. São Paulo: Roca, 2000. BORGES, J. B. C.; DOIRADO, F. G.; SEIXAS, L. S.; CARVALHO, S. M. R.; GARCIA, A. P. U. Avaliação do índice de massa corpórea e risco cardiovascular em uma escola particular na cidade de Tupã, SP. FisioBrasil. Serra, Ano 12, n. 94, p.06-10. Abril, 2009. POWERS, S.K.; HOWLEY, E.T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3. ed. São Paulo: Manole, 2000, p. 97. Tabela 2 – Resumo dos valores: média, desvio-padrão (DP), valor mínimo e máximo para as variáveis: idade, peso, altura, IMC , Circunferência Abdominal e Circunferência Quadril; segundo o gênero e na amostra total LEON, A. S. Bases científicas para as medidas de prevenção das doenças cardiovasculares hipertensiva e aterosclerótica. In: POLLOCK, M.; SCHMIDT, D.H. Doença Cardíaca e Reabilitação. 3.ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Preventing and managing the global epidemic of obesity. Geneva, 1997. Report of the World Health Organization Consultation of Obesity. 68 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Qualidade de vida e fatores de risco cardiovascular em funcionários de uma empresa do comércio Tabela 3- Resultados das respostas sobre a percepção da qualidade de vida - questão 1 do questionário WHOQOLbref Tabela 5 – Resumo dos valores: média, desvio-padrão, valor mínimo e máximo, segundo o gênero das dimensões do WHOQOL-bref Tabela 6 – Correlações entre os domínios do Questionário WHOQOL-bref e qualidade de vida total Tabela 4 - Resultados das respostas sobre a percepção da Saúde - questão 2 do questionário WHOQOL-bref | MATÉRIA Fisioterapia do Trabalho Nova especialidade em Prova de Titulação: Por: Henrique Alves, Izalvina Oliveira e Wemerson Pedroni Colaboradores: ABERGO, ABRAFIT, Adonis Kaizer, Allison Klein, Claudinei Chamorro Pelegrina Júnior, CTS Informática, Ediléa P. Suethi, EMGSystem, Illanna Piovaneli, InfraRedMed, Luciana Barretto Lima, Márcio Marçal, Marcos Brioschi, Marcos Domaneschi, NRWORK, Rafael Petersen, Revista Proteção. A terceirização da economia, a automação, e a informatização promovem o deslocamento do perfil de mortalidade causada pelo trabalho. Há diminuição das doenças profissionais clássicas e valorização das doenças cardiovasculares (hipertensão arterial e doenças coronarianas), distúrbios mentais, estresse e câncer. Este processo social ocorreu em épocas diferentes no mundo, e no Brasil, foi decisivo para a mudança do enfoque estabelecido na nova Constituição Federal de 1988. Mais recentemente, a denominação “saúde do trabalhador” aparece na Lei Orgânica de Saúde (Lei 8080/90) que conceitua e estabelece as competências do SUS (Sistema Único de Saúde) neste campo. Assim, no que diz respeito à Saúde do trabalhador no Brasil, apresentamse as seguintes características: • Epidemias de intoxicação e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT); • Crescente reflexão sobre o processo saúde x doença; • Novas práticas sindicais de saúde (circulação de informação e reformulação de CIPA). Todos estes fatores contribuíram para que a Fisioterapia saísse do terceiro nível de prevenção (reabilitação), passando para o segundo (tratamento das doenças) e mais recentemente para o primeiro (prevenção propriamente dita). Para tanto, o Fisioterapeuta deve dispor de todos os recursos necessários para a promoção da saúde. Isto permite identificar não apenas os fatores ligados à patologia e à fisiopatologia, mas também os que agravam ou provocam distúrbios ou lesões nos trabalhadores. Conforme o exposto, observa-se o crescimento das patologias em geral e principalmente as ligadas a atividades laborais e que são, em sua grande maioria, elegíveis para tratamento Fisioterapêutico, direta ou indiretamente. É mister, portanto, que o Fisioterapeuta ocupe seu lugar no que se refere à Saúde dos trabalhadores. A História: 1968 - O CRP (Centro de Reabilitação Profissional) do Rio de Janeiro ganha o Prêmio Internacional de melhor Centro de Referência para reabilitação do trabalhador no mundo (Drs. Ismar Emanuel D’Oliveira Bastos; Vilma Costa Souza; Ione Moézia de Lima, Vera Stocler, Nadja Ferreira e Pedro Salles Filho); Décadas de 80 e 90 - Existem atuações de Fisioterapeutas em São Paulo, Rio de Janeiro , Minas e Paraná: Wanderson Oliveira - Xerox; Luís Guilherme Barbosa - Petrobrás; Nivalda Marques do Nascimento - Petrobrás e IBM; Erimilson Roberto Pereira - Polícia Civil do RJ; Henrique Alves - BB, Arquimedes Augusto Penha - Votorantim Metais e Grupo Gerdau, Luis Ferreira Monteiro Neto - Programa de GL e AET - Alpina TermoPlastico S/A, Rosemeire Marangoni - Mercedes; Lucy Mara Baú - Telepar e Caixa Econômica Federal; Jacinta Renner - Setor Calçadista - RS; Helenice G. Coury - Faber Castell. Primeira publicação na área: “Estudo Descritivo da Postura Sentada em Indivíduos Realizando Atividades Didáticas”, pela Fisioterapeuta Prof. Dra. Helenice Gil Cury, primeira Coordenadora do Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia (Prevenção em Lesões Musculoesqueléticas e Ergonomia) UFSCAR - 1986; 1998 - Fundação da ANAFIT - Associação Nacional de Fisioterapia do Trabalho (Pres. Cláudia Nammour Rossi); 1999 - I ENAFIT - Encontro Nacional de Fisioterapeutas do Trabalho - SP, organizado pela ANAFIT. 70 2000 - I EFITERJ - Encontro de Fisioterapia do Trabalho do Estado do Rio de Janeiro (que deveria ser o II ENAFIT), Coordenado pelo Prof. Henrique Alves; 2000 - Primeira turma de Fisioterapia do Trabalho no IPA-RS; 2002 - I FISIOTRAB em Curitiba/PR - Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho; 2002 - Fundação da SOBRAFIT - Sociedade Brasileira de Fisioterapia do Trabalho (Pres. Lucy Mara Baú, de 2002-2004 e Henrique Alves de 2004-2006) 2002 - Segunda turma de Fisioterapia do Trabalho no CBESPR (sendo a primeira com aprovação pelo COFFITO - Portaria 34 de 10/01/2002), sob a coordenação da Profa. Lucy Mara Baú; 2003 - II FISIOTRAB em Curitiba/PR - Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho; 2003 - Terceira turma de Fisioterapia do Trabalho no Centro Universitário Salesiano de Lins/SP, sob a coordenação do Prof. Eduardo Ferro dos Santos; 2003 - Resolução COFFITO n.º 259, de 18 de dezembro de 2003, com redação sugerida pela SOBRAFIT; 2004 - Congresso Internacional de Fisioterapia do Trabalho (SOBRAFIT) e I CONFIT - Congresso Internacional de Fisioterapeutas do Trabalho (ANAFIT) durante o qual houve a proposta de unificação das entidades por parte do Prof. Henrique Alves, que lá esteve para este propósito, como presidente da SOBRAFIT; www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 2005 - I SENAFIT - Seminário Nacional de Fisioterapia do Trabalho, durante o PrevenSul, em Curitiba, onde foram tratados os parâmetros da unificação; 2005 - Parecer Consultivo do COFFITO reconhecendo o termo Ginástica Laboral como genérico da Cinesioterapia Laboral, garantindo assim o exercício do fisioterapeuta; 2006 - III FISIOTRAB, durante o PrevenSul, em Curitiba; 2006 - Criação da ABRAFIT - Associação Brasileira de Fisioterapia do Trabalho; 2006 - Participação da ABRAFIT no ABERGO - Curitiba-PR; 2006 - Participação da ABRAFIT no II Fórum Nacional de Políticas Profissionais da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional - COFFITO-DF; 2007 - I Seminário de Fisioterapia do Trabalho da ABRAFIT - UNICAPITAL-SP; 2007 - Resolução CREFITO-2 Nº 22/2007 - Dispõe sobre a interpretação do disposto no artigo 1º e incisos da Resolução Coffito 259/2003; 2008 - IV FISIOTRAB reúne mais de 500 fisioterapeutas em Curitiba; 2008 - I Seminário Carioca de Fisioterapia do Trabalho da Interfisio reúne mais de 300 fisioterapeutas no Rio de Janeiro; 2008 - Resolução COFFITO 351 reconhece a especialidade em Fisioterapia do Trabalho; 2008 - Falecimento do nobre colega Dr. Erimilson Roberto Pereira; 2008 - Categoria Fisioterapia do Trabalho incluída no 2° Prêmio TOP FISIO - O Oscar da Fisioterapia Brasileira (Revista FisioBrasil) - A vencedora foi a Dra. Claudia Ollay, de SP, após desempate com a Dra. Luciana Barretto Lima, de SE (www. topfisio.com.br). 2009 - Ministro do Trabalho assinou a aprovação da descrição do MTE - 2236-60. Este é o número de classificação da fisioterapia do trabalho na CBO; 2009 - II Seminário Carioca de Fisioterapia do Trabalho da Interfisio (RJ), em abril; 2009 - Formação de Grupos Regionais de Fisioterapeutas do Trabalho, com destaque para o grupo de Ribeirão Preto, que, sob coordenação dos colegas Drs Rafael Petersen, Daniela Balsadi, Fernanda Braga e Cássia Cavalcanti, já realizaram dois encontros, com a presença de representantes da ABRAFIT, os nobres colegas Drs Arquimedes Penha e Marcos Domaneschi (respectivamente diretor administrativo e vicepresidente); 2009 - Realizado de 26 a 28 de agosto o Congresso da ABRAFIT, dentro da EXPO Proteção, onde 42 fisioterapeutas foram titulados por remissão de títulos, alem da aplicação de prova a outros que não se enquadravam nas exigências da remissão (tempo de exercício); 2009 - Fórum da ABERGO, hospedado no evento de Fisioterapia do Trabalho da ABRAFIT; 2009 - Assinatura do Convênio ABRAFIT - COFFITO, para reconhecimento de títulos de especialista em Fisioterapia do Trabalho; 2010 - 3º Seminário Carioca de Fisioterapia do Trabalho da Interfisio - Coordenação Drs Fabio Fajardo e Nivalda Marques; 2010 - No dia 20 de março é lançada oficialmente a RBFT - Revista Brasileira de Fisioterapia do Trabalho, dentro do evento da Interfisio; 2010 - Ocorrerá em julho o primeiro Congresso Online de Fisioterapia do Trabalho - COBRAFIT e, em setembro o primeiro Congresso Online de Ergonomia - CONERGO O que faz o Fisioterapeuta do Trabalho? Acorde Baú (2002), “Fisioterapia do trabalho é uma especialidade da fisioterapia que atua na prevenção, resgate e manutenção da saúde do trabalhador, abordando os aspectos da ergonomia, biomecânica, exercícios laborais, ou cinesioterapia laboral, ou fisioterapia laboral, ou ergoterapia; e a recuperação de queixas ou desconfortos físicos, sob o enfoque multiprofissional e interdisciplinar, com o propósito de melhorar a qualidade de vida do trabalhado, evitando a manifestação de queixas musculoesqueléticas de origem ocupacional ou por atividades de vida diária, com consequente aumento do bem estar, desempenho e produtividade.” Segundo Alves (2009), “É o profissional fisioterapeuta, reconhecido por seu conselho profissional, responsável pelo diagnóstico de alterações orgânicas musculoesqueléticas, viscerais, pneumo, dermato e neurofuncionais relacionadas ao trabalho. Cabe a ele evidenciar as causas físicas, psíquicas, cognitivas, organizacionais e viscerais oriundas de ambientes, sistemas de trabalho, métodos, tarefas e ocupações que desrespeitem as características psicofisiológicas de resposta, gerando assim adoecimento e consequente diminuição cinesiológica funcional. Consecutivamente, deve recomendar medidas de controle de engenharia, administrativas e pessoais, além do tratamento especializado, reinserção profissional e capacitação de pessoas com deficiência (PCDs) www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 para o trabalho”. Nas palavras do Dr. Alison Alfred Klein, presidente da Associação Brasileira de Fisioterapia do Trabalho – ABRAFIT, “O fisioterapeuta do trabalho é aquele profissional que atua vinculado a empresas visando a saúde do trabalhador, é o profissional que resolve as questões de ergonomia, implanta programa de ginástica laboral, assessora a empresa e os trabalhadores em questões judiciais de DORT, realiza pericias técnicas em ergonomia e DORT em tribunais, desenvolve programas de prevenção e qualidade de vida, além de atuar em ambulatórios e clinicas voltadas a saúde do trabalhador.” Representatividade: Responde por esses profissionais, segundo convênio firmado com o COFFITO, a ABRAFIT, que nos esclarece as perspectivas para o seu primeiro congresso: Um processo de mais de cinco anos, tempo em que se consolidou a representação associativa da fisioterapia do trabalho brasileira. Neste evento, além da importante parceria com a ABERGO, que realizará seu fórum de certificação, teremos a inédita prova de títulos de Fisioterapeuta do Trabalho, quando enfim descortinaremos ao mercado o fisioterapeuta do trabalho, o profissional e toda a sua vasta área de atuação. 71 Sobre o Exame de Titulação: Quais os critérios para obtenção do título de fisioterapeuta do trabalho? Existem basicamente duas situações: a primeira trata dos profissionais com mais de 5 anos de atuação na fisioterapia do trabalho, que devem encaminhar comprovação desta experiência e conquistar, por merecimento, o titulo. A segunda trata daqueles que têm mais de 2 anos e possuem uma pós-graduação na área. Estes deverão se submeter a uma prova para conquistar o titulo. Ambos os casos tem mais peculiaridades, que devem ser esclarecidas no edital constante no site da entidade. Relação com a ABERGO: Presentes na Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO, e hospedando seu fórum de certificação em 2009, juntamente ao ABRAFIT 2009, fisioterapeutas do trabalho têm influenciado em muito as tendências do mercado de trabalho em ergonomia ocupacional no Brasil. No entanto, segundo a Resolução COFFITO 259/03, cabe a este profissional elaborar e assinar a Análise Ergonômica do Trabalho, sem necessidade de deliberação de qualquer outra entidade. Assim, algumas determinações do processo de certificação do ergonomista profissional brasileiro, definidas pela ABERGO, confrontam-se com o que é legal- gonomistas. Estabelecida há quase meia década, a iniciativa tem a coordenação da Abergo como instituição e será uma das prioridades da equipe recém instalada. “O essencial para a manutenção e ampliação deste sistema de certificação, é a credibilidade que o mesmo venha a manter posteriormente”, reforça José Orlando. Segundo o ergonomista, a proposta de ação da Abergo foi construída em cima da pluralidade de sugestões da equipe diretiva, que reúne profissionais de todo país. “Procuramos reunir um mente permitido aos fisioterapeutas do trabalho. Resta à ABERGO a revisão do referido processo. No entanto, o ar de cordialidade e a presença de fisioterapeutas como conselheiros de ambas as associações têm garantido sucesso nas futuras negociações. Presença de destaque seja dada aos Drs. Márcio Marçal e Cláudia Mazzoni, que, através de convênio com a ABERGO, têm sediado palestras da mesma na FUMEC - Fundação Mineira de Educação e Cultura, onde se reúnem diversos fisioterapeutas mineiros, demonstrando um futuro promissor na parceria, com solução positiva dos impasses. Inovação, construção e ação. Estas são as palavras de ordem da nova diretoria (gestão 2009-2011) da Abergo (Associação Brasileira de Ergonomia), empossada no dia 2 de fevereiro de 2009, ano em que a Ergonomia mundial completa 60 anos de criação oficial (12 de julho). Tendo o engenheiro de produção e ergonomista José Orlando Gomes como presidente, a entidade quer construir uma gestão mais coletiva, procurando dar continuidade a muitas das políticas iniciadas anteriormente, como o processo de certificação dos ergonomistas e dos cursos de formação de er- grupo eclético, vindo de diversos segmentos de trabalho, pois acreditamos que a Ergonomia está presente em todos os aspectos da sociedade”, afirma. Além de José Orlando, a “nova cara” da entidade reúne os prevencionistas Cláudia Mont’Alvão (RJ),Paulo Victor de Carvalho (RJ), Paulo Antonio Barros Oliveira (RS), José Carlos Plácido da Silva (SP), Lia Buarque Macedo Guimarães (RS), Márcio Alves Marçal (MG), Vilma Maria Villarouco Santos (PE), Francisco Soares Másculo (PB) e Maria do Rocio Marinho Bukzec (PR). A 72 www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 direção deseja ampliar a discussão em torno da Ergonomia, buscando dar maior visibilidade e valorização ao segmento no Brasil, além de propor um trabalho coletivo com instituições, governo e sociedade. “A redução dos acidentes de trabalho passa automaticamente pela atuação ergonômica. Por isso, precisamos garantir a formação destes profissionais, pois o lugar do ergonomista também é na elaboração de projetos preventivos”. Grupos Regionais de Fisioterapeutas do Trabalho: Como não poderia deixar de acontecer, em função do crescimento das necessidades prevencionistas das empresas, que acabaram demandando uma organização associativa voluntária, começaram a surgir grupos independentes de fisioterapeutas do trabalho, que, embora seja desejo da ABRAFIT, em mesa redonda própria do evento de agosto, normatizar grupos regionais com delegados, acreditemos ser importante sua livre organização, embora desejável a filiação, a fim de que não exista vínculo nem aproveitamento político das regionais. Destaque nesse sentido seja dado aos Drs. Rafael de Souza Petersen, Gustavo Bonugli, Daneila Balsadi, Cássia Cavalcanti e Fernanda Braga, que organizaram o primeiro (dia 27 de março de 2009) e o segundo (dia 4 de julho de 2009) encontros da Região de Ribeirão Preto (SP), com a presença de palestrantes ilustres, como as Dras. Sarah Tarcísia Rebelo Ferreira, Francine Leite, Roberta Carreira Moreira, Helenice Gil Coury, Michele Alem, Isabel Walsh, além dos representantes da ABRAFIT, Drs. Arquimedes Penha e Marcos Domaneschi. Nova conquista a CBO: A estrutura básica da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) foi elaborada em 1977, resultado do convênio firmado entre o Brasil e a Organização das Nações Unidas - ONU, por intermédio da Organização Internacional do Trabalho - OIT, no Projeto de Planejamento de Recursos Humanos (Projeto BRA/70/550), tendo como base a Classificação Internacional Uniforme de Ocupações - CIUO de 1968. Coube a responsabilidade de elaboração e atualização da CBO ao MTE, com base legal nas Portarias nº 3.654, de 24.11.1977 e nº 1.334, de 21.12.1994. É referência obrigatória dos registros administrativos que informam os diversos programas da política de trabalho do País. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 São atribuições do Fisioterapeuta do Trabalho, sob código de família ocupacional 2236-60(FB): • Prestar consultoria • Avaliar condições ergonômicas • Avaliar qualidade de vida no trabalho • Estabelecer nexo de causa cinesiologica-funcional ergonômica • Preparar programas de atividades físicas funcionais • Participar na elaboração de programas de qualidade de vida • Adequar condições de trabalho às habilidades do trabalhador 73 • Adequar fluxo de trabalho • Adequar ambiente de trabalho • Adequar posto de trabalho • Promover melhora de performance morfofuncional • Aplicar ginástica laboral • Ensinar modo operatório laboral • Corrigir modo operatório laboral • Implementar cultura ergonômica • Emitir laudos de nexo de causa laboral Aplicam técnicas fisioterapêuticas para prevenção, readaptação e recuperação de pacientes e clientes. Atendem e avaliam as condições funcionais de pacientes e clientes utilizando protocolos e procedimentos específicos da fisioterapia e suas especialidades. Atuam na área de educação em saúde através de palestras, distribuição de materiais educativos e orientações para melhor qualidade de vida. Desenvolvem e implementam programas de prevenção em saúde geral e do trabalho. Gerenciam serviços de saúde orientando e supervisionando recursos humanos. Exercem atividades técnico-científicas através da realização de pesquisas, trabalhos específicos, organização e participação em eventos científicos. No diagnóstico: 1 Coletar dados dos clientes e pacientes (anamnese) 2 Solicitar exames complementares 3 Interpretar exames complementares 4 Estabelecer prognóstico 5 Prescrever terapêutica 6 Estabelecer nexo de causa cinesiológica funcional ergonômica 7 Estabelecer nexo de causa cinesiológica funcional energética 8 Estabelecer nexo de causa cinesiológica funcional visceral 9 Estabelecer nexo de causa cardiológico e vascular 10 Estabelecer nexo de causa traumo-ortopédico 11 Estabelecer nexo de causa respiratória 12 Estabelecer nexo de causa neuro-funcional 13 Estabelecer nexo de causa dermatofuncional 14 Estabelecer nexo de causa quiropráxico 15 Estabelecer nexo de causa osteopático 16 Estabelecer nexo de causa acupuntural 17 Encaminhar clientes e pacientes a outros profissionais Nas intervenções: 1 Interpretar indicadores epidemiológicos e índices de acidentes e incidentes 2 Implementar ações de conscientização, correção e concepção 3 Analisar fluxo de trabalho 4 Prestar assessoria 5 Adequar condições de trabalho às habilidades do trabalhador 6 Adequar fluxo de trabalho 7 Adequar ambiente de trabalho 8 Adequar posto de trabalho 9 Programar pausas compensatórias 10 Organizar rodízios de tarefas 11 Promover melhora de performance morfofuncional 12 Reintegrar trabalhador ao trabalho 13 Aplicar ginástica laboral 14 Reavaliar estratégias de intervenção Legislação específica: Resolução COFFITO 80/87: Artigo 1º. É competência do FISIOTERAPEUTA, elaborar o diagnóstico fisioterapêutico compreendido como avaliação físico-funcional (nunca clínica nem admissional - grifo nosso), sendo esta, um processo pelo qual, através de metodologias e técnicas fisioterapêuticas, são analisados e estudados os desvios físico-funcionais intercorrentes, na sua estrutura e no seu funcionamento, com a finalidade de detectar e parametrar as alterações apresentadas, considerados os desvios dos graus de normalidade para os de anormalidade; prescrever, baseado no constatado na avaliação físico-funcional as técnicas próprias da Fisioterapia, qualificando-as e quantificando-as; dar ordenação ao processo terapêutico baseando-se nas técnicas fisioterapêuticas indicadas; induzir o processo terapêutico no paciente; dar altas nos serviços de Fisioterapia, utilizando o critério de reavaliações sucessivas que demonstrem não haver alterações que indiquem necessidade de continuidade destas práticas terapêuticas. Resolução 259/03: Art. 1º - São atribuições do Fisioterapeuta que presta assistência à saúde do trabalhador, independentemente do local em que atue: I – Promover ações profissionais, de alcance individual e/ ou coletivo, preventivas a intercorrência de processos cinesiopatológicos; II – Prescrever a prática de procedimentos cinesiológicos compensatórios as atividades laborais e do cotidiano, sempre que diagnosticar sua necessidade; III – Identificar, avaliar e observar os fatores ambientais que 74 possam constituir risco à saúde funcional do trabalhador, em qualquer fase do processo produtivo, alertando a empresa sobre sua existência e possíveis conseqüências; IV – Realizar a análise biomecânica da atividade produtiva do trabalhador, considerando as diferentes exigências das tarefas nos seus esforços estáticos e dinâmicos, avaliando os seguintes aspectos: a) No Esforço Dinâmico - frequência, duração, amplitude e torque (força) exigido; b) No Esforço Estático – postura exigida, estimativa de duração da atividade específica e sua freqüência; V – Realizar, interpretar e elaborar laudos de exames biofotogramétricos, quando indicados para fins diagnósticos; VI – Analisar e qualificar as demandas observadas através de estudos ergonômicos aplicados, para assegurar a melhor interação entre o trabalhador e a sua atividade, considerando a capacidade humana e suas limitações, fundamentado na observação das condições biomecânicas, fisiológicas e cinesiológicas funcionais; VII – Elaborar relatório de análise ergonômica, estabelecer nexo causal para os distúrbios cinesiológicos funcionais e construir parecer técnico especializado em ergonomia; Art. 2º - O Fisioterapeuta no âmbito da sua atividade profissional está qualificado e habilitado para prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria especializada; Resolução 336/07: Dispõe sobre Especializações Profissionais da Fisioterapia e sobre registros profissionais de Títulos de Especialidade: Considerando a necessidade de reconhecimento e registro www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 para conferir efeitos legais a certificados, diplomas, títulos de especialidades profissionais e títulos acadêmicos outorgados a Fisioterapeutas; ...Artigo 8º - É vedada ao fisioterapeuta ou para as pessoas jurídicas por eles constituídas e assim registradas perante o Sistema COFFITO/CREFITO, a divulgação de possuírem ou exercitarem especialidade ou área de atuação não reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Artigo 9º - O fisioterapeuta só pode declarar vinculação com especialidade profissional ou área de atuação quando for possuidor do título ou certificado a ele correspondente, emitido pela respectiva associação conveniada e devidamente registrado pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. ...TÍTULO V - O REGISTRO DE TÍTULOS DE ESPECIALIDADE E DE CERTIFICADOS DE CONCLUSÃO DE CURSOS DE PÓSGRADUAÇÃO ...Artigo 12º – Para efeitos cadastrais de estatística e regis- tro profissional, certificados de conclusão de cursos de pósgraduação serão registrados pelo COFFITO com a classificação dos certificados de conclusão de pós-graduação outorgado por curso de doutorado, mestrado ou especialização realizado em ambientes de trabalho qualificados, credenciados por instituições de ensino superior, autorizadas pelo Ministério da Educação, que emita títulos, certificados ou diplomas em conformidade com o disposto na Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Resolução 351/08: Dispõe sobre o Reconhecimento da Fisioterapia do Trabalho como Especialidade do profissional Fisioterapeuta e dá outras providências. Art. 1º - Reconhecer a Especialidade de Fisioterapia do Trabalho como própria do profissional Fisioterapeuta. Art. 2º - São competências e habilidades desta especialidade as já descritas na resolução 259, de 18 de dezembro de 2003. Polêmicas da atuação em Ginástica Laboral: Segue texto encaminhado pela então SOBRAFIT ao COFFITO, em 2004: “Prezados Senhores, A/C Presidência do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional Conforme instrução por telefone, venho ao Conselho Federal formalizar o profundo descontentamento com a tentativa de monopolização de mercado impingida pela resolução CONFEF 073/2004, que, embora seja dirigida a profissionais de educação física, tem gerado constrangimento a colegas fisioterapeutas em diversos Estados da União, representados ou não pela SOBRAFIT. A Resolução tem sido enviada a empresas diversas e até mesmo sendo impressa e entregue em setores de RH de empresas que possuem fisioterapeutas executando programas de cinesioterapia laboral, popularmente conhecidos como “ginástica laboral”, a fim de manipular opiniões dos que desconhecem a legislação. O que ocorre é a demissão ou substituição do serviço por outro de educadores físicos. Concordo que somos amparados pela Resolução 259 desse COFFITO, que em tempo recorde atendeu a nossas expectativas, definindo a atuação do fisioterapeuta do trabalho em cinesioterapia laboral, mas a Resolução do CONFEF é uma espécie de retaliação à 259 nossa, com o artifício de citar, agora sim, o termo Ginástica Laboral. O referido termo não constava da então Resolução CONFEF 046/2002, que a denominava “exercícios compensatórios à atividade laboral”. Aproveito para esclarecer que o termo ginástica tem sua definição científica manipulada por esses profissionais, que deixam de lado seu aspecto mais abrangente, no qual definem até mesmo as ginásticas fisioterápicas, conforme a seguir: (veja o sublinhado) “A denominação Ginástica, inicialmente utilizada como referência à todo tipo de atividade física sistematizada, www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 cujos conteúdos variavam desde as atividades necessárias à sobrevivência, aos jogos, ao atletismo, às lutas, à preparação de soldados, adquiriu a partir de 1800 com o surgimento das escolas e movimentos ginásticos acima descritos, uma conotação mais ligada à prática do exercício físico. De acordo com Soares (1994: 64), a partir desta época, a Ginástica passou a desempenhar importantes funções na sociedade industrial, “apresentando-se como capaz de corrigir vícios posturais oriundos das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando assim, as suas vinculações com a medicina e, desse modo, conquistando status. Em Busca de um Conceito de Ginástica: Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra Ginástica vem do grego Gymnastiké e significa a “Arte ou ato de exercitar o corpo para fortificá-lo e dar-lhe agilidade. O conjunto de exercícios corporais sistematizados, para este fim, realizados no solo ou com auxílio de aparelhos e aplicados com objetivos educativos, competitivos, terapêuticos, etc.”. Na Encyclopedia Britannica, a Ginástica é definida como “a system of physical exercices practised either to promote physical development or a sport”. De acordo com a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a Ginástica é caracterizada como: ... “uma forma ou modalidade de educação física, isto é, uma maneira de formar fisicamente o corpo humano, sendo as restantes, além dela, os jogos e os desportos. A definição científica diz-nos que a ginástica é a exercitação metódica dos órgãos no seu conjunto (relacionada ao movimento e à atitude), por intermédio de exercícios corporais, de “forma” precisamente determinada e ordenados sistematicamente, de modo a solicitar não só todas as partes do corpo, como as grandes funções orgânicas vitais e sistemas anatômicos, nomeadamente: o respiratório, o cárdio-circulatório, o de nutrição (assimilação e desassimilação), o nervoso, os ór75 gãos de secreção interna, etc. “ Os conceitos acima citados, entre outros, demonstram uma visão limitada da Ginástica, onde o aspecto relativo à formação física é ressaltado em detrimento dos demais. Devido à grande abrangência da Ginástica, o estabelecimento de um conceito único para ela, restringiria a compreensão deste imenso universo que a caracteriza como um dos conteúdos da Educação Física. Esta modalidade no decorrer dos tempos tem sido direcionada para objetivos diversificados, ampliando cada vez mais as possibilidades de sua utilização, portanto, a fim de facilitar o seu entendimento, são apresentados a seguir 5 grandes grupos que englobam os seus principais campos de atuação. Os Campos de Atuação da Ginástica: 1. Ginásticas de Condicionamento Físico: englobam todas as modalidades que tem por objetivo a aquisição ou a manutenção da condição física do indivíduo normal e/ou do atleta. 2. Ginásticas de Competição: reúnem todas as modalidades competitivas. 3. Ginásticas Fisioterápicas: responsáveis pela utilização do exercício físico na prevenção ou tratamento de doenças. 4. Ginásticas de Conscientização Corporal: reúnem as Novas propostas de abordagem do corpo, também conhecidas por Técnicas alternativas ou Ginásticas Suaves (Souza, 1992), e que foram introduzidas no Brasil a partir da década de 70, tendo como pioneira a Anti-Ginástica. A grande maioria destes trabalhos tiveram origem na busca da solução de problemas físicos e posturais. 5. Ginásticas de Demonstração: é representante deste grupo a Ginástica Geral, cuja principal característica é a nãocompetitividade, tendo como função principal a interação social, isto é, a formação integral do indivíduo nos seus aspectos: motor, cognitivo, afetivo e social”. Portanto, fica esclarecido que o conceito tem sido manipulado, na intenção de reserva de mercado, gerando preju- ízos a nossa classe profissional e, sobretudo ao trabalhador brasileiro. Vejam ainda na Resolução CONFEF 46/2002 (http://www. confef.org.br/) “Art. 1º - O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais -, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo.” Além de criar celeuma quanto ao termo especialista, definição clássica de lato sensu, o artigo cita a reabilitação(!) e a ergonomia, disciplinas não constantes da grade curricular aprovada para aquela profissão, nem mesmo na CBO. Portanto, esperando orientações desse estimado Conselho, aguardamos, Presidente interino da Sociedade Brasileira de Fisioterapia do Trabalho Atualmente, além de sermos a única categoria profissional com esta atribuição constante na CBO 2236-60 - FB, contamos com diversos Pareceres Normativos do COFFITO e de alguns CREFITOS. Fisioterapia e a NR4: Muitos questionam o motivo de fisioterapeutas não figurarem nos SESMT das empresas, no entanto, um relato histórico deve ser feito: Em 1996, a CTPP, responsável pela revisão e criação de Normas Regulamentadoras, convidou a classe para defender seus interesses junto à saúde do trabalhador. Àquela época, dois representantes defenderam a importância de fisioterapeutas realizarem diagnóstico CLÍNICO, o que foi interpretado como conflito de interesses junto a médicos do trabalho. A partir de 1998, a NR4 entrou em uma série de reformas, estando obscuro seu futuro e, obviamente a participação de fisioterapeutas, até que sejam definidos os novos parâmetros 76 do SESMT. “Portanto, se queremos um dia figurar entre os membros do SESMT, precisamos nos capacitar e especializar, preservando a cordialidade do diálogo com as classes profissionais presentes no atual SESMT, demonstrando nunca haver nem ter havido conflito de atuações. Fica o alerta importantíssimo aos que já figuram como agregados aos SESMTs, para que NUNCA chamem ou nomeiem seus diagnósticos fisioterapêuticos de “admissionais”, já que a NR7, em seu item 7.4.1 alínea a, atribui o nome “exames admissionais” a uma conduta exclusivamente médica, ficando a ele a decisão de considerar o trabalhador apto ou inapto ao exercício profissional, mesmo que para isso tenha solicitado informações complementares ao fisioterapeuta, para amparar sua decisão. Como membros de uma equipe prevencionista, não devemos nos sentir diminuídos por isso, mas colaboradores de um processo de decisão e proteção, numa atuação eticamente correta”, afirma Alves. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Destaques: - Fisioterapia do Trabalho vai para o IEA da China: No entanto, como forma de criar opinião pública em torno da necessidade de fisioterapeutas na NR4, temos a satisfação de comunicar que fisioterapeutas do trabalho, mais especificamente o Dr. Adonis Kaizer, teve seu artigo aprovado como único no Congresso mundial da International Ergonomics Association (IEA 2009), na China. Parabenizamos o colega e sua patrocinadora, que através de convênio com a NR Work, possibilitou a viagem do fisioterapeuta. A COCAMAR tem ao longo dos últimos 5 anos investido no Programa de Reabilitação Ocupacional, tanto no âmbito preventivo como corretivo, onde conseguiu comprovar que a atividade do Fisioterapeuta do Trabalho contribuiu para a redução em aproximadamente 30% do tempo de afastamento dos colaboradores por disfunções cinético-funcionais, e como consequência na redução gradativa na incidência de doenças profissionais. - Dois Fisioterapeutas entre os quinze jurados do Prêmio Proteção Brasil 2009: São Paulo/SP - Foi realizado na manhã desta quarta-feira, 10, o encontro do juri do Prêmio Proteção Brasil 2009. A quinta edição da premiação, que também serve para disseminar a informação prevencionista, irá reconhecer o trabalho desenvolvido por empresas e profissionais em prol da Saúde e Segurança do Trabalhador, por meio da avaliação dos cases desenvolvidos. A reunião foi realizada no Bourbon São Paulo Business Hotel e teve a participação dos 15 jurados envolvidos na seleção dos cases: Armando Campos, Antônio Pereira, Antônio Tadeu da Costa, Cesar Ken Mori, Cosmo Palasio, Guglielmo Taralli, Henrique Alves, Jorge da Rocha Gomes, Jorge Coletto, Leonídio Franciso Ribeiro, Mário Fantazzini, Osny Camargo, Rene Mendes, Sebastião Ferreira da Silva e Wilson Silva. Ferramental Complementar: Diversas são as ferramentas utilizadas pelo fisioterapeuta do trabalho, desde máquinas fotográficas a dinamômetros, inclinômetros, acelerômetros e softwares específicos para evidenciaELETROMIOGRAFIA é uma ferramenta de avaliação do sistema músculo-esquelético que permite verificar os potenciais elétricos gerados durante a ação muscular (Basmajian, De Luca; 1985). Através destes dados são utilizados algoritmos matemáticos que quando aplicados ao sinal eletromiográfico, podem identificar fadiga muscular, intensidade da atividade muscular, tempo de ativação muscular e recrutamento muscular (Basmajian, De Luca; 1985, Farina, Merletti, 2000). Assim aspectos relevantes no dia-a-dia de uma empresa, como a repetição de movimentos que podem ser fontes de absenteísmo, devido à fadiga muscular podem ser calculados utilizando a eletromiografia (Flodgren et al., 2007). Outros dados podem ser analisados, como se um funcionário apresenta controle motor suficiente para realizar uma determinada tarefa ocupacional, pois www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 ção das ações musculares, movimentos, força, relatórios, etc. Técnicas avançadas, como a eletromiografia e a termografia têm sido surpreendentes coadjuvantes. se este indivíduo não possui o controle do movimento adequado para realizar uma tarefa motora específica e a realiza, a chance te desencadear uma disfunção ou então lesão aumenta significativamente (Richardson, Jull; 1995). 77 IMAGEM INFRAVERMELHA Novo método diagnóstico. Também conhecido por: Termografia, Teletermografia ou Termometria cutânea Infravermelho: luz invisível emitida pelo nosso corpo A radiação infravermelha emitida pelo nosso corpo é simétrica entre os lados direito e esquerdo. A assimetria indica doença. O exame mensura diferenças de temperatura menor que 0,1o C. Nossas mãos não conseguem diferenciar temperaturas menores que 2o C entre duas regiões. SOFTWARES FisiMetrix é um software específico para Fisioterapia, que tem por objetivo facilitar o cotidiano do terapeuta disponibilizando a Avaliação Postural-Ortopédica através de imagens fotográficas, utilizando medidas e ângulos e auxiliando no acompanhamento fisioterapêutico do cliente. O produto emite laudos de exames físicos (diagramas da dor, dermátomos, perimetria, amplitude de movimento....), dicas e orientações posturais, e permite que um CD-ROM ou DVD seja gravado (pelo próprio software na clínica onde está instalado), individualizado para cada cliente, com vídeos dos exercícios para o mesmo praticar em casa. CTS Informática. Onde Estudar: Diversas IES oferecem o curso de especialização em fisioterapia do trabalho, em diversos Estados, a saber: No decorrer dos 9 anos de existência do curso, o CBES* já organizou 20 Simpósios Científicos para os graduandos em Fisioterapia do Trabalho, capacitou 572 fisioterapeutas oriundos de 16 Estados brasileiros (RN, PA, SE, BA, MG, ES, DF, RJ, AM, MT, MS, GO, SP, PR, SC e RS), e tem mais 237 em andamento. Referências bibliográficas: BASMAJIAN, J.V.; DE LUCA, C.J.; Muscles Alive. First edition. Baltimore: Williams and Wilkins, 1985. BAÚ, LUCY MARA SILVA. Fisioterapia do Trabalho. Curitiba: Clã dos Silva, 2002. COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. FARINA, D.; MERLETTI, R. Comparison of algorithms for estimation of EMG variables during voluntary isometric contractions. Journal of Electromyography and Kinesiology. n.10, 2000, p.337-349. FLODGREN, G.; HEIDEN, M.; LYSKOV, E.; CRENSHAW, A.G. Characterization of laboratory model of computer 78 mouse use – Applications for studying risk factors for musculoskeletal disorders. Applied Ergonomics. n.38, 2007, p.213-218. MTE – Ministério do Trabalho e Emprego; Richardson, C.; Jull, G. Muscle control – pain control. What exercises would you prescribe? Manual Therapy. n. 1, 1995, p.2-10. www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 Cursos Cursos Método CNRossi Método CNRossi CBES – Pós Graduação em Fisioterapia do Trabalho CBES – Pós Graduação em Fisioterapia do Trabalho SEFIT–Simpósio Simpósio de Ergonomia e Qualidade de Vida SEFIT–Simpósio Simpósio de Ergonomia e Qualidade de Vida CBF – Introdução à Ergonomia CBF – Introdução à Ergonomia OCLUSIVO OCLUSIVO EPB – Escola de Postura Brasil EPB – Escola de Postura Brasil FIRVAL – AET FIRVAL – AET CEFISA – Ginástica Laboral CEFISA – Ginástica Laboral POSTURAR – Pós Graduação em Ergonomia POSTURAR – Pós Graduação em Ergonomia INSPIRAR INSPIRAR Termografia Termografia Fisimetrix Fisimetrix Fisiometer Fisiometer MAAF MAAF– –2626a a3030dedejulho julho ABACO ABACOAcupuntura Acupuntura Auriculoterapia Auriculoterapia– –Método MétodoHuang HuangLiLiChun Chun––Início InícioAbril Abril2010 2010 Valéria Figueiredo Valéria Figueiredo Educação EducaçãoSomática Somática– –144 144horas horas––Débora DéboraBolsanello Bolsanello Cruzeiro CruzeirododoSul Sul– –Pós PósGraduação Graduação Ginástica GinásticaHolística Holística– –Patrícia PatríciaLacombe Lacombe Gama Filho – Pós Graduação Gama Filho – Pós Graduaçãoem emErgonomia Ergonomia Interfisio Traba Interfisio– –Pós PósGraduação GraduaçãoFisioterapia Fisioterapiado doTrabalho Traba eeErgonomia Trabalho Ergonomia INAESP INAESP– –Ergonomia Ergonomiae ePerícia Perícia FISIOTRAB FISIOTRAB– –Consultoria Consultoriae eCursos Cursos IBRAFIT Ergodesign,Perícia Perícia IBRAFIT– –Ergonomia ErgonomiaOcupacional, Ocupacional,NR17, NR17,Ergodesign, Local e data Local e data São Paulo - SP São Paulo - SP Diversos Diversos PREVENSUL - RS PREVENSUL - RS São Paulo São Paulo São Paulo - SP São Paulo - SP Diversos Diversos São José dos Campos-SP São José dos Campos-SP Araraquara - SP Araraquara - SP São Paulo - SP São Paulo - SP Araraquara - SP Araraquara - SP Curitiba PR Curitiba - PR Maringá PR Maringá -- PR Rio de Janeiro RJ Rio de Janeiro - RJ São Paulo SP São Paulo - SP Rio RJ Rio de de Janeiro Janeiro -- RJ Rio RJ Rio de de Janeiro Janeiro -- RJ Diversos Diversos Rio RJ Rio de de Janeiro Janeiro -- RJ SP SP Campinas SP Campinas -- SP Rio de Janeiro RJ Rio de Janeiro - RJ RJ PE RJ ee PE SP SP Curitiba PR Curitiba - PR RJ/ RJ/ ES/BA/SE/PE/GO/PR/SP/MG ES/BA/SE/PE/GO/PR/SP/MG AGENDA AGENDAIBRAFIT IBRAFIT 2010 2010 -1 Contato Contato (11) 3645-0223 (11) 3645-0223 (41) 3544-6670 (41) 3544-6670 (51) 2131.0400 (51) 2131.0400 (21) 2549-5318 (21) 2549-5318 (11) 5549-3207 (11) 5549-3207 (21) 2415-6768 (21) 2415-6768 (12) 3943-2921 (12) 3943-2921 (16) 3333-1003 (16) 3333-1003 (11) 2351-2442 (11) 2351-2442 (16) 3333-1003 (16) 3333-1003 (41) 3362-0623 3362-0623 (41) (46) 3225 32254340 4340 (46) ----------------------------------------------(11) 3021-6858 3021-6858 (11) (21) 2533-1320 2533-1320 (21) (21) 3495-4045 3495-4045 (21) 0800 4007008 0800 4007008 (21) 2236-1047 2236-1047 (21) (11) 2107-5498 2107-5498 (11) (19) 3255-5332 3255-5332 (19) (21) 2484-3336 (21) 2484-3336 ------------------------------------------------(12) 3029-7080 3029-7080 (12) (41) 3026-2602 (41) 3026-2602 (21) 3392-2838 3392-2838 (21) www.rbft.com.br Ano 01 - Edição nº 01 - Março de 2010 81