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Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração em
Ferreira de Castro e José Rodrigues Miguéis
DORA NUNES GAGO
Universidade de Macau
Resumo. Ferreira de Castro (1888‒1974) e José Rodrigues Miguéis (1901–
1980) viveram intensamente a experiência da emigração (no Brasil e nos
Estados Unidos, respectivamente) que transpuseram para a sua obra. Neste
artigo, tomando como corpus central o romance Emigrantes de Ferreira de
Castro e Gente da Terceira Classe de Rodrigues Miguéis, analisaremos, numa
perspectiva comparatista os retratos do “emigrante português”, delineados em
confronto com a realidade estrangeira, com o “Outro”, através da instauração de
um processo de alteridade. Principiaremos por analisar as descrições da viagens
rumo ao “Eldorado”, para depois nos determos na dicotomia entre a unidade e as
diferenças culturais encontradas no “novo mundo” e, por fim, atentaremos no
modo como as conexões existentes entre a pátria de origem e a de acolhimento,
aliadas à possibilidade / impossibilidade de um regresso, poderão contribuir para
a construção de novas identidades. Assim, tentaremos compreender em que
medida estas imagens, construídas a partir de dicotomias como a chegada /
partida, ilusão / desilusão, integração / desintegração, diversidade / unidade
poderão reflectir estereótipos enraizados num imaginário cultural ou assumir
uma dimensão pessoal e original.
Palavras-chave. diáspora, emigração, Literatura Portuguesa, estereótipo,
Rodrigues Miguéis, Ferreira de Castro
Abstract. Ferreira de Castro (1888‒1974) and José Rodrigues Miguéis
(1901‒1980) lived intensely the experience of emigration (the first one in Brazil
and the second in the United States), which they transposed into their works. In
this article, taking as central corpus the novel Emigrantes by Ferreira de Castro
and Gente da Terceira Classe by Rodrigues Miguéis, we analyze, from a comparatist perspective, the representations of the “Portuguese emigrant” informing
their works Emigrantes and Gente da Terceira Classe. First, we will analyze the
descriptions of the voyages to the “Eldorado” and the dichotomy between the
unit and the cultural differences found in the “new world” and, finally, we will
try to understand how the connections between the homeland and the foreign
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country, together with the possibility / impossibility of a return may contribute
to the construction of new identities. Thus, we will attempt to understand how
these images, constructed from dichotomies, such as the arrival / departure,
illusion / delusion, integration / disintegration, diversity / unity, may reflect
some cultural stereotypes rooted in an imaginary dimension or whether they are
the result of a mythical, personal vision of the world.
Keywords. diaspora, emigration, Portuguese Literature, stereotype, Rodrigues
Miguéis, Ferreira de Castro
José Maria Ferreira de Castro (1888‒1974) e José Rodrigues Miguéis
(1901‒1980) viveram e transpuseram, de forma ficcionalizada, para as
suas obras, a experiência da emigração. O primeiro partiu com apenas
doze anos, em 1911, tendo permanecido no Brasil até 1919, onde trabalhou arduamente, durante quatro anos, como seringueiro no seringal
“Paraíso”, no coração da Amazónia. É de salientar que nesse tempo, não
era insólito, jovens de tenra idade, ainda no início da adolescência partirem sozinhos para um país estrangeiro. Além disso, a época em que
Ferreira de Castro emigrou, do ponto de vista histórico, coincide com o
início de uma forte vaga de emigração para o Brasil. Segundo Bernard
Eméry, em 1911, 59 661 portugueses saem do país, e mais de 80% tem
como destino o Brasil (25). Após um ligeiro decréscimo, por altura da
Primeira Guerra Mundial, volta a ascender e, como refere Joel Serrão
(605), de 1920 a 1930, a média emigratória oscila em torno dos 35 000.
Aliás, este país mantém-se como forte destino de emigração até ao início
dos anos sessenta, sendo depois, maioritariamente, preferidos países da
Europa.
José Rodrigues Miguéis partiu para os Estados Unidos em 1935, com
trinta e quatro anos. Naturalizou-se americano em 1944 e voltou a viver
em Portugal, por breves períodos, entre 1946‒1947, 1957 e 1959, e
1963‒1964, tendo permanecido também no Brasil entre 1949 e 1950. Os
seus ideais progressistas e republicanos não se coadunavam com os
princípios do Estado Novo, por conseguinte, a Censura impediu-o de
leccionar, de exercer a advocacia e o jornalismo.
O percurso migratório, definido por Maria Beatriz Rocha-Trindade
como “o conjunto de passos, acções ou situações, dados ou experimentados por um indivíduo migrante, com relevância para o processo em que
se encontra envolvido” (37), pode desembocar em duas vertentes: a
fixação no país de acolhimento (que implica a naturalização, e aquisição
de uma nova “nacionalidade”) ou o regresso à pátria (que sucede em caso
de sucesso pleno ou de insucesso). Nestes dois autores encontramos as
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duas situações, visto que o primeiro regressou (sem êxito económico mas
com as vivências que o converteram num escritor universal) e o segundo
fixou-se nos Estados Unidos.
Além disso, poderemos considerar que Ferreira de Castro foi um
“emigrante”—termo que, segundo Tabori, define o conjunto de pessoas
que sai do país impulsionado por motivos económicos (29)—ao passo
que Rodrigues Miguéis conjugará em si também os “estatutos” de
“expatriado” e “exilado”, tal como refere Eduardo Lourenço em “As
marcas do exílio no discurso de J.R. Miguéis”:
Ausente, o exilado está essencialmente na terra que deixou. Nesse
sentido ninguém tem mais pátria que aquele que a perdeu e a vive como
perdida. É difícil que um expatriado não se sinta também, a seu modo,
um exilado. Mas enquanto apenas expatriado é um homem que largou
amarras, que assume a ausência e se assimila aos poucos a uma nova
pátria. É a história natural de todos os emigrantes do mundo. Dos
nossos, em particular, Rodrigues Miguéis foi ao mesmo tempo exilado
e expatriado, mas não foi uma coisa nem outra sem íntima contradição
e perpétuo dilaceramento. (37‒38)
Contudo o exílio de Miguéis principiou por ser interior, pois no seu
próprio país já ele se sentia (e acabou por sempre se sentir) desintegrado,
estrangeiro e exilado. Nesta senda, como refere Agnieska Gutty, “exile
[…] can also be associated with a purely mental state: a sense of separation, terminal loss and loneliness, caused by political, social or personal
circumstances” (1).
Ambos os autores gravitam de certo modo em torno do NeoRealismo, apesar de não serem considerados inteiramente enquadrados
no cânone neo-realista. Assim, se Ferreira de Castro foi um precursor
desta corrente, Rodrigues Miguéis empreendeu uma espécie de síntese
entre as duas tendências antagónicas: o presencismo e o neo-realismo,
definindo-se a si próprio como um “escritor poliédrico”, tal como
afirmou no posfácio para a segunda edição do romance Páscoa Feliz,
frisando que o seu neo-realismo “onde existe não é dos que se metem
pelos olhos dentro” (177), assumindo a sua posição de fidelidade a si
próprio e independência face aos cânones: “Idêntico a mim mesmo,
poliédrico se querem, aberto a todos os ventos que por mim rocem, mas
apesar de tudo com este ar de família, apto a traduzir o que, à falta de
melhor termo, chamamos a sensibilidade portuguesa”? (177‒178).
Assim, afirma a liberdade e originalidade que lhe permitem ultrapassar
as correntes literárias em voga.
Com efeito, o ponto fulcral da nossa análise é o eco das experiências
migratórias presente em Emigrantes de Ferreira de Castro e Gente da
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Terceira Classe de Miguéis. Neste contexto, atendemos ao facto de não
existir uma transposição “directa” da vida para a literatura. Por
conseguinte, os elementos colhidos através das vivências mesclam-se
com a ficção, num processo de “modelização”, concebida, como referem
Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, “como construção de um modelo
do mundo, representado e estruturado pela mediação de um sistema
semiótico” (228).
A viagem em condições deploráveis rumo ao país de acolhimento é,
pois, o primeiro elemento vivido e posteriormente recriado literariamente
pelos dois escritores.
As viagens rumo ao Eldorado
Tanto em Emigrantes, como em Gente da Terceira Classe são-nos
retratadas as precárias condições de viagem dos emigrantes portugueses
(e não só) que partiam na “terceira classe” dos navios, rumo à tão ansiada
“terra prometida”.
Em Emigrantes, o protagonista, Manuel da Bouça, camponês
analfabeto, com cerca de quarenta e um anos de idade, embarca para o
Brasil no navio “Darro”. O narrador omnisciente revela-nos apriori a
condição daquela gente, espelhada na metáfora do “rebanho”, ao relatar o
momento do embarque:
Por fim, o rebanho lá se foi, atrás dum tripulante que não respondia às
perguntas que lhe faziam e marchava com apressados passos. Desceram
escadas negras, tacteando corrimãos húmidos, tropeçando ao longo de
galerias obscuras, até verem os seus beliches, uns por cima dos outros,
como gavetões de jazigos. (88‒89)
Para além da imagem da pobreza é a da morte que emerge quando se
comparam os beliches aos gavetões dos jazigos. E o retrato do ambiente
vivido nesta parte do navio prossegue:
Toda a terceira classe era negra, negra, viscosa e sufocante […].
Cheirava a tintas e da cozinha exalava-se nauseante fartum de comida.
Por detrás de cada porta vislumbravam-se corpos enrodilhados em
grossos cobertores, em tecidos castanhos e escuros, que enervavam
ainda mais o ambiente […]. (89)
Destaque-se, no excerto supracitado a repetição da cor “negra”, que
no simbolismo ocidental é conotado com o luto, o medo, a morte, o
desespero e aquilo que é nefasto. Para além da referência à cor que
confere visualismo à descrição, e uma vez que o ser humano percepciona
o mundo real através de todos os seus sentidos, o apelo ao olfacto,
através da descrição dos odores, confere ainda maior autenticidade e
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realismo aos factos descritos. Tal como refere Yi Fu Tuan, o odor é um
sentido negligenciado pelo homem moderno, uma vez que o ambiente
ideal exclui necessariamente a existência de odores. No entanto, como
afirma ainda Yi Fu Tuan: “odor has the power to evoke vivid,
emotionally-charged memories of past events and scenes” (10).
Nesta esteira, também José Rodrigues Miguéis relata as condições de
viagem a bordo do Arlanza, no texto intitulado “Gente da Terceira
Classe” (subintitulado “Jornal de bordo-1935” e que confere o título ao
livro). Aqui, reconhecemos facilmente a voz do autor empírico neste
narrador. Com efeito, José Rodrigues Miguéis embarcou no Arlanza a 29
de Junho de 1935, rumo a Inglaterra para tomar o paquete Normandie
com destino a Nova Iorque. Este navio transportava emigrantes de
Buenos Aires a Southampton, na Inglaterra, com escala na Madeira, em
Lisboa, na Corunha e em Cherburgo.
Neste texto, é abordado o regresso do navio da América do Sul (o
percurso é inverso ao que faz Manuel da Bouça), transportando muitos
dos que rumaram ao Eldorado e fracassaram, ou seja os “torna-viagem”,
a casta mais triste como salienta o narrador:
Os que um dia distante partiram num porão, e, corridos anos, voltam à
terra que lhes foi berço, no âmago dum sepulcro flutuante que um
veterinário teria condenado como impróprio para o gado de açougue.
Ao partir, levavam consigo ao menos uma esperança: agora nem isso
lhes resta. Muitos deles, com o sonho, seu único luxo, perderam por lá
a saúde e a força de trabalho, que era toda a sua riqueza. (12)
Novamente verificamos que as imagens são conotadas com a morte
(sepulcro), espelhando a desumanidade das condições vividas naquela
viagem.
Ferreira de Castro revela igualmente o drama dos “torna-viagem” ao
descrever, pela “voz” de um narrador heterodiegético e omnisciente, as
condições de regresso do Brasil de Manuel da Bouça, mais tarde, a bordo
do “Andes”, onde encontra passageiros ainda mais miseráveis do que na
primeira viagem, visto estarem desprovidos de esperança, devido ao naufrágio do sonho do “Eldorado”, sendo vítimas da exclusão social, pois:
Trabalharam tanto que se esqueceram de si próprios; e no dia em que se
lembraram de que existiam, viram-se miseráveis como quando haviam
chegado; mais miseráveis ainda porque já não tinham a ilusão. Estavam
enfermos, sugados, envelhecidos, e só lhes restava implorar da morte
um adiamento. Muitos deles iam repatriados pelos cônsules; outros
tinham somado todas as economias feitas durante os anos de exílio e
com elas adquirido lugar por quinze dias naquela pocilga transatlântica.
(254)
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Por isso, como afirma o autor: “O “Andes” transpunha a barra com o
seu carregamento de carne humana, exausta, quase morta, que a América
devolvia à Europa—homens que dir-se-ia estarem a mais no Mundo e se
arrastavam pelos dois hemisférios como se fossem o refugo de outros
homens” (255).
Neste caso, constatamos que aquele grupo pertence a um contingente
populacional (que, infelizmente, nos nossos dias, continua a existir,
tendendo a aumentar nos mais diversos contextos) de pessoas que, na
sociedade salarial, se assumem como um “peso”, visto que, ao deixarem
de ser explorados, deixam de ser integráveis, correspondendo ao perfil de
seres humanos excluídos pelo sistema.
Pelo contrário, os passageiros do “Darro”, à semelhança de Manuel
da Bouça, ainda rumam ao Eldorado, cheios de esperança e ilusões num
futuro melhor. Por isso, embora a terceira classe desta embarcação fosse
“um curral flutuante onde se comprimia grande rebanho” (91), os emigrantes de várias nacionalidades que nele viajavam, “quase todos
caminhavam cegamente, fascinados pela resplendência transoceânica do
imã; era o mistério, o prestígio do longínquo, a fuga às garras de uma
laboriosa miséria” (92). Para aquela gente, o país de acolhimento
delineia-se como uma terra de promissão: “A América, agitando o úbere
farto, escorrendo oiro, tornara-se a pátria ideal de todos os que não
tinham pão e também dos que queriam mais pão do que tinham” (93).
Do mesmo modo, o narrador autodiegético do texto de José
Rodrigues Miguéis também descreve criticamente, recorrendo
frequentemente a uma focalização interna, as péssimas condições da
terceira classe, que num espaço temporal de vinte anos não se modificaram. Sintomática da imagem de miséria que a Península Ibérica
deixava transparecer para o exterior é a resposta do criado de bordo, no
momento em que o narrador lhe pergunta aonde poderá ir passear, visto
na terceira classe não haver espaço para nada. Então o criado, iludido
pela sua “fatiota nova”, e julgando-o passageiro da primeira classe,
responde-lhe: “—Oh, o senhor pode passear onde quiser. Isto aqui—
acrescenta com um jeito desdenhoso—é só para espanhóis e para
portugueses” (13). Este facto contribui para intensificar a solidariedade
do narrador para com todos os emigrantes pobres que viajam consigo,
por isso, afirma: “Nunca me senti tão perto de todos eles, tão solidário
com todos, nem tão longe do mundo hostil e estranho lá de cima.” (14).
Enfatiza-se o contraste entre a primeira classe e a terceira. Aliás, anteriormente já tinha aludido a esta oposição ao referir: “É preciso ter
viajado num destes transatlânticos para se fazer uma ideia das fronteiras
que separam os homens e as classes, mesmo dentro duma casca de noz”
(11). Além disso, é sublinhado o antagonismo entre aquela imagem
dominada pela miséria e a grandiosidade do império português: “tão
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certo é que o prestígio e a grandeza dum império refulgem mesmo na
alma do último dos seus lacaios” (14).
A mesma discrepância de “mundos” sentida no navio é salientada
por Ferreira de Castro:
Na primeira classe, ao longo do convés, em cadeiras de lona e de vime,
estendiam-se, indolentemente, corpos de gentes afortunadas—um livro
entre as mãos ou uma «écharpe» tremulando […]. Na terceira,
constituíam-se grupos, homens e mulheres, cabeças pendidas pela
saudade, xailes, rostos de crianças, seios ao léu, numa promiscuidade
cigana. (96)
A descrição feita pelo narrador de Miguéis quase que poderia dar
continuidade ao retrato traçado por Ferreira de Castro, tais são as
semelhanças. Refere, recorrendo, igualmente não só à descrição desagradável dos cheiros, mas também dos ruídos, das sensações auditivas,
tácteis e citando a frase do criado que acentua o miserável estatuto dos
emigrantes portugueses e espanhóis:
Quando o balanço se agrava, ouço gritos e gemidos de crianças e
mulheres. Vindo das cabinas vizinhas, de que me separa um tabique de
metal reticulado, sem rodapé, um líquido suspeito escorre na superfície
escalavrada do chão, e, com ele, espalha-se o cheiro dos vómitos e da
urina. For Spanish and Portuguese People only… (14‒15)
Assim, apesar da descrição sob a óptica do olhar nos permitir a
aquisição de uma perspectiva mais abrangente do mundo que nos rodeia,
o recurso à transposição das sensações auditivas (presente através da
evocação dos gritos das crianças e das mulheres) possibilita-nos uma
relação mais próxima e intensa com o espaço exterior, visto que como
afirma Yi-Fu Tuan: “The sound of rain pelting against leaves, the roll of
thunder, the whistling of wind in tall grass, and the anguished cry excite
us to a degree that visual imagery can seldom match”(8).
Não obstante, uma diferença notória entre as duas representações da
viagem é que, no romance de Ferreira de Castro, os passageiros são
sempre descritos como uma personagem colectiva, uniforme, como se de
um autêntico “rebanho” se tratasse. Neste grupo homogéneo, destacamse dois emigrantes clandestinos, um oriundo de Bilbau e outro português
(Manuel António) que acabam por ser apanhados e condenados a trabalhar na infernal casa das máquinas. Por outro lado, em “Gente da
Terceira Classe”, é concedida atenção mais individualizada a alguns dos
emigrantes que partilham o espaço com o narrador, como é o caso da
mulher madeirense que vai para os Estados Unidos com os três filhos
para se juntar ao marido, de uma turca que enlouqueceu.
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Em suma, as viagens retratadas por Ferreira de Castro e José
Rodrigues Miguéis tecem uma representação “mimética” da realidade
presenciada, produzindo o “efeito de real”, através de unidades narrativas
(localização, caracterização espacial e de personagens) que instauram a
verosimilhança e ancoram a ficção no real, evocando o “mundo”
empírico experienciado. Tal como refere Roland Barthes: “il se produit
en effet de réel, fondement de ce vraisemblable inavoué qui forme
l’esthétique de toutes les oeuvres courantes de la modernité” (89). Além
de verosímeis, são irmanadas pela mesma precariedade, pela desumanidade das condições em que a gente da “terceira classe” se converte
num miserável “rebanho humano”.
No fundo, o Arlanza, o Andes ou o Darro podiam ser o mesmo
navio, tais são as semelhanças dos relatos feitos pelos dois autores, onde
ecoam as suas vivências, quando partiram também rumo a um futuro
melhor. Une-os igualmente a simpatia pelos pobres e pelos desprotegidos
da sorte, com quem profundamente se identificam, numa atitude profundamente humanista, que veremos inclusive espelhada nas representações da diáspora portuguesa que transparecem nas suas obras.
A configuração do imigrante português e a reconstrução de novas
identidades na alteridade
A obra Emigrantes rompe inteiramente com a imagem estereotipada do
“brasileiro” presente na literatura portuguesa, durante o século XIX e
início do século XX. Assim, o emigrante que regressa do Brasil endinheirado é uma personagem típica de obras de Camilo Castelo Branco e
também de Aquilino Ribeiro.
Aliás Eduardo Lourenço, em A Nau de Ícaro, observa que a
Literatura Portuguesa concedeu pouca atenção à figura do emigrante
talvez porque “A emigração empírica de milhões dos nossos concidadãos
nunca foi afectada por uma conotação trágica, nem sequer verdadeiramente dramática, mas antes dolorosa e melancólica, sempre na esperança
do regresso” (47). Ou seja, simbolicamente é quase como se o Português
nunca tivesse emigrado, pois embora disperso pelas sete partidas do
mundo, nunca “deixa” a sua terra, tendo-a sempre como ponto de
referência.
Então, tal como refere Clara Rocha, não só com Emigrantes, mas
também com A Selva, Ferreira de Castro revela o drama do torna-viagem
esmagado pelo seu próprio sonho, fracassado, apresentando-se a
emigração, sob a óptica inovadora de um fenómeno de dimensão europeia. Nesta medida, as duas obras supramencionadas “representam um
momento crucial de viragem na história do emigrante” (170). Estas
personagens profundamente humanas e realistas revelam sobretudo os
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seus fracassos, as suas derrotas, o desenraizamento que implica a divisão
entre a pátria de acolhimento e a de origem.
Nesta esteira, Eduardo Lourenço justifica a pouca representatividade
da emigração na Literatura Portuguesa com a “ausência de voz” do povo
emigrante, que a converteu numa espécie de “ferida” oculta. Terá então
sido necessário que grandes escritores como Ferreira de Castro, Miguel
Torga, ou Rodrigues Miguéis, entre outros, tivessem emigrado, para que
essa realidade passasse para a Literatura. Afirma, por conseguinte, o
ensaísta supramencionado que, embora Ferreira de Castro tenha captado
o aspecto doloroso do fenómeno migratório:
A tragédia invocável da verdadeira emigração, esta amputação de todo
o nosso ser de uma identidade mais profunda do que a do lar e a do
lugar, estremecimento tanto da alma como do espírito e não somente da
vida sempre aleatória, encontrar-se-á unicamente nos grandes poetas do
‘desenraizamento’—José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena ou Casais
Monteiro. (A Nau 47)
Em Emigrantes (1928), é relatada a odisseia de Manuel da Bouça,
que representa o emigrante português sem instrução, camponês, que
parte para o Brasil na demanda de uma vida digna, de uma situação
económica que lhe permita conseguir um bom dote para a filha e
comprar alguns terrenos. Esta personagem representa muitos emigrantes
portugueses para quem o Brasil se assumia como a Terra Prometida, o
“Eldorado”:
Era um sonho denso, uma ambição profunda que cavava nas almas,
desde a infância à velhice. O oiro do Brasil fazia parte da tradição e
tinha o prestígio de uma lenda entre os espíritos rudes e simples […].
Viam-no erguer-se refulgente, ofuscante em moedas do tamanho do sol,
ao fundir-se na linha do horizonte, precisamente para os lados onde
devia ficar o país maravilhoso. (32)
A chegada à terra estrangeira é marcada pela curiosidade e pela
ansiedade, perante o novo mundo que desponta. São de deslumbramento
as primeiras imagens colhidas: “Era uma surpresa de luz, de cor e de
linhas—um «ah!» que surgia, inevitável, nos espíritos deslumbrados”
(104). Deste modo, para os emigrantes de terceira classe, a primeira
imagem do Brasil surge delineada como uma espécie de terra mágica, de
paraíso encontrado enfim depois de uma longa viagem em condições
desumanas: “A Guanabara revelava-se, agora, jóia escondida em escrínio
multicolor, cenário maravilhoso onde os olhos, depois de fixar o conjunto, se esqueciam em êxtase perante os variegados aspectos” (104).
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A primeira cidade que Manuel da Bouça visita é o Rio de Janeiro.
Este será o seu espaço de iniciação no país de acolhimento. Desembarca
com o companheiro Janardo para visitar a cidade. Inicialmente mostra-se
receoso, teme perder-se, intimidado perante a grandiosidade daquele
lugar. No entanto, Janardo, mais ousado e confiante, assume-se como um
guia nessa primeira descoberta, tranquilizando-o com o argumento de
que todas as cidades são parecidas e que no Porto se sentia como em
casa. Nesta medida, constatamos uma aproximação entre o espaço
estrangeiro e o de origem, uma vez que o Rio acaba por ser considerado
semelhante ao Porto. Ou seja, é a realidade familiar da pátria que emerge
como eixo configurador de observação daquela realidade distinta, como
forma de atenuar as diferenças através duma atitude uniformizadora.
Deste modo, as personagens sentem-se imediatamente fascinadas
pela grandiosidade, vitalidade e animação do Rio de Janeiro, cidade representada simbolicamente como gigantesca metrópole do futuro. A
realidade urbana contrasta com a rural, aquela que era familiar ao
protagonista, causando simultaneamente deslumbramento e estranhamento, perante o pulular da vida, o turbilhão da “densa multidão que
cobria os passeios […] num refluir constante” (108), que revelava “em
ritmo de vida colectiva extravasando-se por todas as fendas da cidade,
surda orquestração de força e de triunfo” (109).
Assim, toda essa vitalidade ultrapassa completamente as expectativas
de Manuel. A cidade estrangeira assume-se como exótica, sedutora,
desconhecida e misteriosa. Ele sente-se simultaneamente deslumbrado,
mas excluído, exilado interior e exteriormente, num espaço de emigração
materializador do “Eldorado”, onde reinam a beleza, o progresso, a
riqueza, as promessas do futuro.
No entanto, após o desembarque em Santos, as formalidades, a
burocracia e a quarentena, inicia-se a “saga” de Manuel da Boiça para
encontrar um emprego remunerado por um salário condigno. Neste
contexto, ele recria a desilusão sentida pelo jovem Ferreira de Castro, ao
procurar a “Casa Samuel” (indicada pelo seu acompanhante) onde esperava encontrar o emprego desejado.
Perante as inúmeras dificuldades e as informações que Cipriano (que
também vive em condições precárias) lhe vai fornecendo, relativamente
aos baixos salários e à exploração de que são vítimas os trabalhadores,
Manuel começa a sentir os seus sonhos a desmoronarem-se.
Cipriano, conterrâneo de Manuel, é outro imigrante português
caracterizado na obra, embora o seu papel seja pouco relevante, assumindo-se como um “guia” na sua trajectória migratória, o primeiro a advertilo de que “aqui, como em todo o Mundo as coisas vão mal. Quase não se
ganha para viver” (123). Cipriano encontra-se desiludido, sente-se
explorado pelo patrão, o sr. Fernandes, mas é generoso e oferece guarida
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ao recém-chegado apesar das condições em que vive: “Enquanto não
arranja a sua vida, pode ficar por aqui. A cama é estreita, mas cabemos
os dois” (127). Mostra o seu arrependimento, desilusão e saudades da
terra natal ao recordar:
—Também eu senhor Manuel, também eu pensei que arrumaria
depressa a vida e afinal… Às vezes ao lembrar-me de quanto me custou
sair da terra e das lágrimas que a minha mãe ainda hoje chora, sinto
vontade de fazer uma asneira nem eu sei o quê! (128)
Em contrapartida, o sr. Fernandes é merceeiro e é o imigrante que
triunfou à custa de sacrifícios e depois passou a explorar os outros, tendo
como único interesse o dinheiro, o lucro. Revela indignação por considerar que Manuel da Bouça tem um nível de exigência demasiado elevado:
—[…] Quando eu vim para cá—sabe?—comecei a ganhar vinte mil
réis por mês. Isto há trinta anos e ninguém se queixava! As coisas aqui
não estão boas, é verdade; mas também os que vêm agora de lá são uns
figurões! Antigamente trabalhava-se de dia e de noite, aos domingos e
dias santos e ninguém discutia os ordenados, como agora. Mesmo
assim, muitos faziam carreira. Hoje…é o que se vê! Eu cheguei a
apanhar pontapés do meu patrão! (130)
No fundo, Fernandes é o protótipo de imigrante que, após ter sido
escravizado, se considera com legitimidade para se “vingar” e reagir do
mesmo modo. O seu carácter não difere do de outros que surgirão
também retratados nos contos de Rodrigues Miguéis. O seu aspecto
físico adequa-se ao seu perfil psicológico, destacando-se “a omnipotência da sua gordura” (130), a contrastar com a magreza de Cipriano,
por exemplo.
Um outro emigrante português que posteriormente encontraremos na
narrativa é Zé do Aido, conterrâneo de Manuel, que se reencontra com
ele na terra natal e cujo fracasso também é notório. Zé partiu para os
Estados Unidos, como emigrante clandestino, foi enganado, viajou, trabalhou e viveu em condições desumanas:
Ah, a América! Havia muito dinheiro, sim senhor, mas era de quem o
tinha […]. Sozinho com o Anacleto, porque com os demais não se
entendia, passara dias e dias sem trabalho e com fome. Topara muitos
portugueses que ganhavam bons dólares, pois aquilo era um grande
país, lá isso era, mas a maioria deles tinha de gastar tudo, porque a vida
era cara e um homem quanto recebia quanto pagava. Ele, por fim,
também arranjara trabalho e lá andara a labutar alguns anos, até que lhe
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viera a doença e o cônsul tivera de o repatriar, porque parecia mesmo
perdidinho de todo. (274–275)
Através do testemunho desta personagem, constatamos que o
fracasso e a exploração da mão-de-obra imigrante e dos desprotegidos da
sorte, não é exclusivo do Brasil, mas ocorre também noutros destinos,
como é o caso dos Estados Unidos. Os motivos do insucesso nunca são
apontados aos países de acolhimento, mas sim ao sistema que permite a
exploração e posterior exclusão social dos mais fracos, assim como à
falta de preparação de quem emigra. Aliás, tal facto é frisado por Ferreira
de Castro no “Pórtico” de Emigrantes:
E seria, portanto, um erro atribuir ao Brasil, país que tanto amamos e é
um dos mais nobres e generosos do Mundo, ou à Argentina, ou à
América do Norte que têm uma organização social idêntica à de quase
todos os outros povos, responsabilidades especiais pela derrota que
alguns emigrantes possam sofrer nas suas ambições, tanto mais que é
verdade não estar preparada para a luta a maioria deles, constituída, em
muitos casos, por nobres seres ignorantes que a Europa exporta
diariamente. O drama é outro e é universal […]. (15)
Ao longo da obra, o percurso de Manuel é acompanhado pelo autor,
na sua luta diária de inadaptação, através da qual vão sendo denunciadas
as desigualdades e injustiças sociais enfrentadas. Nesta sequência, como
já referimos, o “herói” adquire o estatuto de uma personagem colectiva,
visto simbolizar todos os que ousaram romper com a herança dum
passado tecido de privações e miséria para desvendar outros mundos.
Por intermédio do Centro de Colocação, Manuel foi enviado para um
cafezal na Fazenda de Santa Efigénia, perto de Ribeirão Preto, onde a
remuneração era má, as condições de trabalho muito duras. Isto sucedeu,
após terem falhado as suas tentativas para arranjar outro tipo de trabalho.
Verificamos que pouco depois de chegar à terra estrangeira, o protagonista ainda pensou: “não faltava mais nada do que vir ao Brasil para me
agarrar à enxada” (103). Neste caso, segundo Célia Pinho, “o mito da
mobilidade social ascendente está patente no desejo manifestado pelo
emigrante oriundo de meios rurais em passar directamente para o sector
terciário, teoricamente propenso à acumulação de riqueza individual”
(70).
A descrição da vida em Santa Efigénia acentuava a ideia de injustiça
social, pois o proprietário esbanjava dinheiro, enquanto os trabalhadores
eram profundamente explorados, entregues quase a um trabalho escravo.
Na relação com o “outro”, Manuel da Boiça, devido à sua pouca
instrução e ao facto de não saber ler, revela, por vezes, uma certa
incomunicabilidade. Inicialmente, tem dificuldade em perceber o
Dora Nunes Gago / Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração │ 113
português do Brasil, depois, vai na fazenda partilhar a casa com um
italiano com quem só consegue comunicar por linguagem gestual. A
reprodução fiel da linguagem das personagens é constante—“É por mor
da carta” (216); “vossoria” (130)—contribuindo assim para a configuração das identidades e para conferir maior veracidade, autenticidade e
realismo à narrativa, acentuando-lhe igualmente o teor sociológico e
documental.
A evocação da família e da terra natal são frequentes, desencadeadas
por diversos pormenores: o canto familiar de um grilo, a semelhança que
encontra entre a colheita do café e o trabalho da ceifa na sua aldeia
nativa. Assim, a terra natal acaba por ser o eixo configurador, o axis
mundi a partir do qual é vista e apreendida a realidade estrangeira:
“Pouco a pouco, na paisagem tropical sobrepôs-se, para os olhos de
Manuel da Bouça, a paisagem da sua terra—da sua aldeia esquecida num
recanto de Portugal […]. Os cafeeiros iam-se transformando em giestas e
as ‘ruas’ do cafezal em ínvios caminhos […]” (197). Deste modo,
constata-se na personagem a tendência constante para aproximar a realidade estrangeira da do país de origem, numa tentativa de integração, de
aproximação entre os dois “mundos”.
Terminado o trabalho, Manuel parte para S. Paulo para trabalhar
num armazém, alimentando novas esperanças. Lá, conhece os compatriotas Fernandes e António de Pitta, também vítimas de exploração e com
uma existência miserável.
Ao acompanharmos a personagem nesta experiência urbana,
constatamos que o futuro que lhe é oferecido continua a ser mesquinho e
o salário apenas lhe assegura a subsistência. Por conseguinte, completamente desiludido, torna-se agressivo: “A ausência do extraordinário que
ele julgara existir na terra estranha, não sabia bem sob que forma, mas
dando-lhe sempre uma expressão de oiro, tornara-o céptico e azedo”
(213). Neste contexto, tal como refere Margarida Pandeirada, “Não só o
protagonista, mas também as personagens planas que o cercam sofrem
do estigma negativo” (85).
Paralelamente acentua-se a ânsia do regresso, sendo a imagem da
terra natal cada vez mais idealizada: “A aldeia era uma tortura. Tudo nela
constituía motivo de fascinação: as pessoas conhecidas e o desejo que ele
tinha de voltar a vê-las; os grandes rebanhos subindo, lentamente […]”.
Nesta sequência, o regresso simboliza o encontro com o passado, as
pessoas, os lugares, pois a saudade mitifica o espaço de origem. Aliás, a
relação entre a comunidade diaspórica e a sua terra natal é definida,
segundo Kim Buttler, em dois níveis. Num primeiro, a terra natal funciona como “âncora” da identidade da diáspora, tornando-se problemática
a obsessiva ideia do regresso: “it is the existence of the intrinsic to the
diasporan experience, rather than a specific orientation toward physical
return” (205). Deste modo, a construção da identidade é tecida na
114 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies
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representação da terra de origem em detrimento do espaço actual. Neste
caso notamos a obsessão do regresso em Manuel da Bouça, ao contrário
do que sucede com os “heróis” dos contos de Rodrigues Miguéis.
No que concerne à suposta integração na comunidade, verificamos
que Manuel nunca se adapta inteiramente. Começa a ir a reuniões de
Sindicatos e associações proletárias, mas não por princípios ideológicos,
apenas porque “desde que não podia ser rico, não havia o direito de que
os outros o fossem” (214‒215). É, portanto, uma atitude egocêntrica e
pouco esclarecida que se coaduna com o perfil da personagem e a sua
baixa instrução. Neste ponto, ele chega a participar nas lutas operárias
que começam a desencadear-se em S. Paulo, juntamente com a revolução
de Julho de 1924, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes. Todavia,
verificamos que se envolve nestas batalhas de forma receosa e pouco
esclarecida, visto que teme assumir uma atitude activa, nunca ultrapassando uma posição meramente individualista. É neste cenário que
roubará o anel a um cadáver, com o qual paga a viagem de regresso.
A certa altura, o conhecimento da morte da esposa atenua-lhe a ânsia
de regresso, mas não a aniquila. Então, passados mais de sete anos, ao
partir, tão miserável como chegou, Manuel sente a nostalgia de abandonar o país de acolhimento: “Agora que ia abandoná-la, a terra de exílio
ligava-se-lhe por uma suave melancolia, como por uma saudade que ele
viria a sofrer—uma saudade da terra e de quem nela vivia, de Benvida,
do Fernandes […] e até das horas ruins” (244).
Posteriormente, após mais uma penosa viagem, o regresso ao país
natal não lhe traz a alegria imaginada. Pesam-lhe o fracasso, a vergonha,
o receio que os seus conterrâneos descubram a sua situação económica, a
antevisão das humilhações.
Após a chegada, o protagonista manteve na terra a ilusão de que a
sorte lhe havia sorrido, embora nem sequer pudesse comprar a sepultura
da esposa. Acima de tudo, evidencia o receio de que seja descoberta sua
verdadeira situação económica e tal facto envergonha-o e humilha-o
mais do que a miséria actual, pois os homens sentiam-se diminuídos se
regressavam fracassados e pobres do Brasil. Sente-se desintegrado, inadaptado na sua aldeia, cuja visão lhe acentua a desilusão, não lhe
acendendo no espírito a alegria imaginada. Podemos dizer que a aldeia
nativa que havia ficcionalizado e idealizado, na memória, durante o
exílio, se sobrepunha à real. Por isso, ao reencontrar esse espaço mitificado pela ausência, o desencontro é evidente:
[…] parecia-lhe difícil, impossível quase, adaptar-se de novo à sua vida
de outrora. Sentia algo que não sabia explicar a si próprio, mas que o
divorciava da terra; algo que se intrometera no seu espírito enquanto
estivera longe, fazendo dele um homem diferente do que era antes de ir
para o Brasil. Sentia-se quase um estranho ali e via tudo com olhos de
Dora Nunes Gago / Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração │ 115
quem não vem para ficar, de quem já não é capaz de ficar sem grande
sacrifício. (278)
Deste modo, naufragam todas as esperanças que se haviam enraizado
na representação ficcionalizada da sua terra, visto que a sua “Ítaca”
idealizada não existe. Nesta sequência, o corte com o “cordão umbilical”
do espaço de origem é notório:
A terra já não o prendia; estavam mortas as saudades que a distância
criara e a sua vida de outrora, que evocada ao longe, lhe parecia
fascinante, deixara de se vestir com pompas tentadoras. Surpreendia-se
mesmo da pertinácia com que desejara possuir os campos do Esteves,
agora se, tivesse dinheiro, não seria para comprá-los, mas sim para
gastá-lo noutras coisas, para fazer outra vida—uma vida que lhe sorria,
indefinidamente, sob a magia das cidades. (284)
Emerge nitidamente a reconstrução de uma nova identidade no
protagonista, após o confronto com o país de acolhimento, que lhe
transforma completamente a visão do mundo. Deste modo, nem a filha,
nem o neto (que tem o seu nome) o convencem a ficar e acaba por partir,
rumo a Lisboa e a uma nova vida, já que “haviam-se tornado irreconciliáveis o homem que se adaptara a outra atmosfera e aquelas jeiras
verdes que não encontravam amor no seu coração de repatriado” (288).
Ele sente-se um “outro” estranho ao meio de onde partiu, fruto da sua
evolução através das vivências e da cultura absorvida no país receptor, na
dureza da vida experimentada. Nesta sequência, decidiu partir para a
capital, refúgio urbano onde, no seio do anonimato, poderá ocultar o seu
fracasso, readaptar-se a uma nova vida.
Por seu turno, em Gente da Terceira Classe de Rodrigues Miguéis,
encontramos representações do “emigrante português” nos seguintes
textos: “Gente da Terceira Classe”, “Natal Branco”, “O Cosme de RibaDouro”, e “O Viajante Clandestino”.
Primeiramente, na narrativa “Gente da Terceira Classe”, verificamos
que alguns emigrantes portugueses inquietam o narrador, provocando-lhe
apreensão, desconfiança e um certo sentimento de repúdio, pois “só
falam de terras, divisórias, frutos, foros, rendas e pensões, e discutem
iluminações eléctricas e melhoramentos” (26). Nestas personagens
desagrada-lhe a excessiva ambição, a loquacidade, a arrogância com que
falam das riquezas materiais de Portugal ou da América, desprezando os
valores espirituais. A descrição que delas faz revela-as como seres humanos repelentes e ridículos: “Há um outro do mesmo género, mas em
gordo, baixo e pastoso: enverga um sobretudo imenso de lã de camelo,
que parece herdado de algum nababo” (28).
116 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies
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A nível linguístico, tal como verificámos na obra de Ferreira de
Castro, também aqui são recriadas fielmente as palavras e expressões
utilizadas pelas personagens para conferir maior autenticidade e verosimilhança ao discurso, resultantes de uma fusão linguística entre o
português e o inglês, indiciadora também da fraca instrução: “Também
veio à Pátria comprar terras, e é amante do Pugresso[…] .Quando fala de
dolas e prupiadades parece um cabo de ordens […]. Foi trabalhador […]
mas hoje é bossa, é patrão e contrata (contractor, empreiteiro)” (28). Esta
é uma forma de acentuar a boçalidade e ignorância, condenando o
protótipo do português ganancioso, movido exclusivamente pelos interesses económicos que como refere Miguéis, “chega da América a
arrotar postas de pescada” (27). Novamente, notamos a preocupação em
produzir o “efeito de real”, e neste contexto, será pertinente citar Philippe
Hamon que declara: “L’effet de réel n’est donc, bien souvent, que la
reconnaissance euphorique par le lecteur d’un certain lexique” (148). Por
fim, após as descrições ridicularizantes e a reprodução fiel das suas
conversas, critica estes emigrantes sob a forma de um discurso filosófico
e abstracto:
Quando aprenderão eles que, sem o espírito, sem os princípios, tudo o
mais é Caos? Na sua idolatria das Coisas […] permanecem retrógrados
e de espírito tacanho[…]. Não, o que nestes me ofende e me impregna
desagradavelmente, como uma nódoa de gordura, é a mediocridade
atroz e sem carácter de que eles são parte e espalham em volta de si.
(29‒30)
Esta aversão pela riqueza e mediocridade contrasta com a profunda
simpatia revelada pelo povo humilde e pobre, como é o caso da mãe
madeirense já referida anteriormente, da velhota que vem de Montalegre
para se juntar à filha na América ou do pescador da Figueira, entre
outros.
Nos outros contos os imigrantes portugueses que vivem nos Estados
Unidos são retratados de forma bastante positiva. É o caso de Cosme do
Riba-Douro, que parte para a América, ainda menor, para escapar a
dureza do trabalho dos barcos-rabelo do Douro e que é delineado em
toda a sua humanidade, através de um discurso pessoal e valorativo:
Longe de mim querer dizer que o Cosme fosse perfeito, um santo: era
apenas homem, um ser comum, genuíno, sincero, um idealista exaltado,
às vezes rude. Podia-se dizer dele o que ele dizia da América: tinha do
bom e do mau e para aproveitar o lado bom dos homens, não é assim,
há que aceitá-los provisoriamente como são, com todos os seus defeitos
e virtudes, na esperança de vir a melhorá-los. Pouco a pouco, em
encontros e conversas casuais, e por assim dizer, fui completando o
Dora Nunes Gago / Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração │ 117
retrato deste lutador. Era impulsivo e de génio esquentado. O amor da
Justiça chegava a cegá-lo. Mas até nos gestos mais arrebatados ele
revelava um fundo generoso. (85)
Deste modo, o narrador revela-nos as qualidades e defeitos da
personagem, valorizando as primeiras (lutador, justo), que lhe valeram,
na óptica dos compatriotas, para quem o dinheiro é a meta suprema, a
atribuição do “rótulo” de “radical”. Contrariamente ao ambiente vivido
em Portugal, sob o domínio da ditadura do Estado Novo, na América,
Cosme encontra a liberdade da democracia, “Duma sociedade organizada
para o homem e não contra ele” (81‒82). Então, faz os possíveis e
impossíveis, recorrendo mesmo a ilegalidades, para se conseguir
naturalizar americano:
Tinha de facto um problema, e sério. Sem deixar de estremecer a terra
onde nascera, metera-se-lhe em cabeça naturalizar-se americano. Ou
porque lho houvessem aconselhado, ou porque lhe desagradasse a
condição precária de simples residente sem direitos políticos, não sei.
Desejava sentir-se «igual», parte de alguma coisa maior do que ele
próprio […]. Mas só quem já trabalhou e viveu entre imigrantes poderá
compreendê-lo. (88)
Segundo Maria Saraiva de Jesus, o desejo de ser como os outros
poderia aplicar-se à generalidade da obra de José Rodrigues Miguéis, “na
tentativa de inserção social das suas personagens e no discurso
ideológico dos seus narradores” (235).
Os valores norteadores da conduta de vida de Cosme não são os
materiais, mas sim os espirituais e humanistas, reflectindo a ideologia de
solidariedade, humanismo e menosprezo dos valores materiais preconizadas por José Rodrigues Miguéis. Por conseguinte, ele critica aqueles
cujo objectivo é acumular dólares (com o intuito de evoluírem de explorados para exploradores), converte-se em activista político e dinamizador
de clubes de imigrantes. Tal como refere Margarida Barahona, Cosme,
“definido por traços de actividade, solidariedade e consciência social,
representa o ideal de acção no colectivo nunca totalmente atingido pelo
narrador de Miguéis (sempre bloqueado pelas contradições do pequenoburguês)” (28).
Nesta senda, este narrador homodiegético desempenha a função de
testemunha e simultaneamente dum discípulo que desvenda, através de
Cosme, os valores, costumes e princípios que regem o proletariado
americano—“sem o saber, decerto, o Cosme estava-me a abrir os olhos
para muita coisa que até então eu não tinha compreendido. Não basta ter
princípios e convicções: é preciso viver na realidade dos homens para
saber como eles funcionam …” (81).
118 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies
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Por fim, após Pearl Harbour e a entrada dos Estados Unidos na
Segunda Grande Guerra Mundial, Cosme torna-se voluntário, sendo o
seu processo de deportação arquivado temporariamente, o que lhe dá a
esperança da naturalização: “A América da liberdade acabaria por aceitar
este crente, este amigo fiel, e o Cosme estava feliz para além do que as
palavras possam exprimir” (94). No entanto, ironicamente, ele acaba por
falecer em combate no Norte de África.
Por seu turno, “O Viajante clandestino” é outro conto que tem como
protagonista um emigrante, supostamente português, atendendo ao nome
(“Seu Tomé”), à forma de tratamento (“vossemecê”) e a outras expressões populares do português europeu que utiliza no seu diálogo com o
marinheiro que lhe ordena que desça. Esta personagem viajou clandestinamente a bordo de um navio de carga proveniente da África e dos
trópicos e é descoberto na chegada a Baltimore. Isto porque “sonhava
com a América havia muitos anos. Vinha em busca dela como, quatrocentos anos antes, e mais, os seus antepassados (isto é um modo de falar)
tinham andado na demanda da Terra Firme, do El Dorado e do Xipango”
(43). No fundo, as referências históricas surgem para legitimar, em certa
medida, a atitude desta personagem.
Neste caso, todas as informações acerca do passageiro são
imprecisas e vagas, o que contribui para enfatizar a verosimilhança da
ideia de clandestinidade. Após a viagem em péssimas condições, o passageiro é forçado a uma descida perigosa pela amarra e depois a fugir para
salvar a vida. O pânico revelado por ele contrasta com os festejos natalícios, pois este evento ocorre na véspera de Natal. Os perigos da experiência vivida são sublinhados pelo narrador ao referir que para cumprir
o sonho de chegar a “Terra Prometida” “tomara o caminho mais curto,
que é quase sempre o mais arriscado: a clandestinidade” (43).
Outras imagens dos emigrantes portugueses são bastante positivas,
como sucede com a família retratada no conto “Natal Branco”. Nele o
narrador homodiegético, conotado com o autor empírico, assume o seu
papel de constante observador da vida quotidiana, de “relator” dos factos
reais—princípio que norteia grandemente a sua obra e onde desvendamos a sua preocupação com o realismo, a autenticidade e a veracidade,
assumindo a literatura um valor testemunhal. Por conseguinte, afirma:
“Nunca perco o ensejo de ver como vive a nossa gente cá por estas
bandas” (53). Note-se também a pertinência da expressa “nossa gente”
que indicia uma integração plena na comunidade portuguesa.
O ponto de partida desta narrativa é o convite para, em companhia da
esposa, ir jantar a casa de um transmontano casado com uma portoriquenha, onde se encontram outros convidados. Apesar de o anfitrião ter
referido que era “casa de pobres”, a descrição da casa e do ambiente lá
vivido revela um nível económico desafogado, um espaço, onde reina
Dora Nunes Gago / Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração │ 119
uma paz e harmonia familiar verdadeiramente exemplares. Tony é
caracterizado do seguinte modo:
Ele é um lavador de janelas, window-washer, mas sabe onde tem o
nariz: conhece as leis e as organizações, direitos e deveres. Lê os
jornais, é membro de sociedades, e está sempre ao corrente do que vai
por esse mundo. É um português «integrado». Trabalha das oito às
quatro, todos os dias menos ao domingo, e não falta apesar disso, a uma
reunião, a uma festa de solidariedade. Fala um inglês superior ao
comum […]. Emigrou aos vinte e um, e tem hoje trinta e seis. É um
coração generoso que os excessos e escrúpulos de consciência
fatigaram talvez cedo demais. (57‒58)
Em contraste com a arrogância e ignorância dos imigrantes
endinheirados descritos anteriormente, e por outro lado também
divergindo de Manuel da Bouça, Tony é retratado como um cidadão
exemplar, perfeitamente integrado na sua comunidade e país de acolhimento. Posteriormente, quando são referidos os perigos da sua profissão,
este tranquiliza o narrador, aludindo às dificuldades económicas vividas
em Portugal e ao facto de ter aprendido a lidar com o perigo. Tal como
afirma Nancy Baden:
By referring to the dangers of his occupation, the reader becomes aware
of the sacrifice necessary for the immigrant to climb the ladder of
success. Kerr points to the greater social problem alluded to in the story
as Miguéis mentions the depression, pollution, traffic accidents, and
states, ‘Natal Branco’ depicts a world which was not all that merry on
the snowy Christmas. (122)
Em suma, à semelhança de Ferreira de Castro, também Rodrigues
Miguéis não escamoteia as dificuldades vividas pelos emigrantes,
valorizando também, nas suas representações a gente humilde, simples e
trabalhadora. Estas personagens, que na sua maioria, recorrendo à
terminologia utilizada por Carlos Reis e A. M. Lopes no Dicionário de
Narratologia podemos considerar “planas” (314), estáticas e sem
evolução psicológica assinalável, são representativas do ponto de vista
social, assumindo-se como diferentes “rostos” da diáspora portuguesa.
Neste contexto, importa salientar que elas são sempre configuradas
através de um discurso de teor realista, que as torna verosímeis,
assegurando-lhe coerência e “legibilidade”. Tal como referiu Philippe
Hamon em “Un discours contraint”: “Au niveau des personnages, le
discours realiste, toujours à la recherche de la transparence et de la
circulation des savoirs, s’efforcera de faire tendre vers zero la distorsion
entre l’être et le paraître des objets ou des personnages […]” (156).
120 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies
Vol. 1 (2012)
Notamos, no entanto, que na obra de Rodrigues Miguéis se evidencia
uma configuração mais positiva dos imigrantes relativamente à integração na comunidade de acolhimento, que é sempre fruto de muito trabalho
e abnegação.
A título de conclusão, importa frisar novamente que ambos os
escritores se forjaram no seio das inúmeras vicissitudes e obstáculos inerentes à vivência diaspórica. Nesta esteira, como mencionou Laplatine:
“C’est seulement en effet de l’expérience de la découverte sensorielle de
l’alterité à travers d’une relation humaine qui nous permet de ne plus
identifier notre province de l’humanité à l’humanité et corrélativement
de ne plus rejeter le présumé sauvage hors de nous-même” (13).
Assim, porque se enraíza nas vivências reais e numa abertura
intercultural perante o “outro”, a representação literária (com maior ou
menor grau de ficcionalização e recorrendo a diferentes tipos de focalização) das vivências destes escritores no Brasil e nos Estados Unidos
contribuíram para uma distinta imagem do “emigrante português”,
distante do estereótipo enraizado no imaginário literário e social em
voga, na Literatura Portuguesa, sobretudo desde o século XIX. O que
encontramos nestas obras não é o “brasileiro” nem o “americano” tornaviagem bem sucedido, enriquecido, mas sim o ser humano tantas vezes
fracassado, humilhado e cilindrado pelos mecanismos da sociedade, ou
nela integrado com o custo de muitos sacrifícios. Por isso, estas imagens
veiculadas, estes “retratos” da emigração são originais, enraizados numa
espécie de mitologia pessoal, porque traçados, escritos com a tinta da
realidade e das vivências, possibilitadoras da construção dum sujeito
intercultural.
Além da completa dimensão dos vários perfis da emigração, estes
dois autores revelam-nos e ensinam-nos o modo como as identidades se
redesenham, evoluem no seio da alteridade, no âmago de uma realidade
estrangeira distinta, por vezes, impossibilitadora do retorno ao local de
origem, que segundo Maria Beatriz Rocha-Trindade fecha o “ciclo
migratório”. É que, como verificámos, o regresso, tantas vezes impossível, quando ocorre, encontra-se impregnado de riscos, já que o país que
se encontra nunca é o mesmo que se deixou. Esta ideia, aliás, definiu-a
magistralmente no poema “Noutros lugares”, Jorge de Sena, escritor
exilado, cujo regresso também lhe foi impossível: “[…] É que os lugares
acabam/ou ainda antes de serem destruídos, as pessoas somem, /e não
mais voltam onde parecia/que elas ou outras voltariam sempre/por toda a
eternidade. Mas não voltam/ desviadas por razões ou por razão
nenhuma” (111).
Com efeito, Ferreira de Castro e Rodrigues Miguéis, irmanados pelo
mesmo humanismo profundamente universal, enraizado nas vivências
diaspóricas noutros mundos e culturas, romperam com a imagem estereotipada do “emigrante português”, conferindo-lhe uma inovadora, humana
Dora Nunes Gago / Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração │ 121
e realista dimensão literária—é que o conhecimento da nossa identidade
(pessoal e nacional) só é possível no âmago da alteridade, quando nos
inteiramos de que, na verdade, somos apenas mais um “outro” entre
tantos “outros”.
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Dora Nunes Gago é Professora Auxiliar de Literatura na Universidade de
Macau (China), colaboradora do Instituto de Estudos Modernistas, do Centre for
English Translation and Anglo-Portuguese Studies (Universidade Nova de
Lisboa) e do Centro de Línguas e Culturas (Universidade de Aveiro). Doutorada
em Línguas e Literaturas Românicas Comparadas, leccionou na Universidade da
República Oriental do Uruguai (Montevideu), foi bolseira de investigação pósdoutoramento da FCT, na Universidade de Aveiro e “visiting scholar” na
Universidade de Massachussetts Amherst (Estados Unidos). Publicou, entre
outros livros, Imagens do estrangeiro no Diário de Miguel Torga, Fundação
Calouste Gulbenkian/FCT, 2008 e tem diversos ensaios publicados em livros e
revistas internacionais de arbitragem científica.