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Nº 30, volume IX, artigo nº 4, Julho/Setembro 2014
D.O.I: 10.6020/1679-9844/3004
DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO AMBIENTE ESCOLAR:
EXPERIÊNCIAS COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NO
MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES
RACIAL DISCRIMINATION IN THE SCHOOL
ENVIRONMENT: EXPERIENCES WITH STUDENTS OF
SECONDARY SCHOOL IN THE MUNICIPALITY OF
CAMPOS DOS GOYTACAZES
Vanessa de Castro Bersot Pereira1, Bianka Pires André2
¹ Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem - Universidade Estadual do Norte
Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, [email protected]
² Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem - Universidade Estadual do Norte
Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, [email protected]
Resumo - O presente artigo é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica
realizada na cidade de Campos dos Goytacazes, no período de 2010 a
2013, com turmas do ensino médio. Entretanto, esse artigo contará com um
recorte, utilizando a pesquisa realizada na escola particular, no período de
201 a 2012. O objetivo deste artigo, foi analisar o cotidiano escolar dos
estudantes do ensino médio, dando ênfase nas ações discriminatórias que
ocorrem cotidianamente e passam como despercebidas. Para realização
deste artigo, foi necessário uma pesquisa de caráter empírico, isto é,
utilizou-se das observações no cotidiano escolar, anotações no caderno de
campo, aplicação de questionários e entrevistas. A partir da análise deste
estudo, constatou-se que a escola como reflexo da sociedade também é
palco de discriminações, permeadas por supostas brincadeiras e
preconceitos velados.
Palavras-chave: Discriminação Racial; Ambiente Escolar; Desigualdade
Racial; Ensino Médio.
ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional
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Abstract - This article is based on a survey of Scientific Initiation held in the
city of Goytacazes in the period 2010-2013, with high school classes.
However, this article will feature a cutout, using the research conducted in
the private school, in the period 201-2012. Objective of this article was to
analyze the daily school life of high school students, emphasizing the
discriminatory actions that occur daily and are as unrecognized. For
realization of this article, it was necessary for empirical research, ie, we used
the observations in everyday school life, notes in the field notebook,
questionnaires and interviews. From the analysis of this study, it was found
that the school as a reflection of society also plays host to discrimination
permeated by alleged jokes and veiled prejudices.
Keywords: Racial Discrimination; School Environment; Racial Inequality;
Secondary School
1. A Desigualdade Racial no Brasil
Sabe-se que no Brasil há muita desigualdade, seja ela econômica, social e racial.
Apesar de muitos indivíduos negarem o fato de que o negro brasileiro não sofre com
desigualdade racial e sim social, trouxemos aqui alguns indicadores para
compreendermos melhor essa diferença, tendo como subsídio o Relatório Anual das
Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010, com organização de Paixão, Rossetto,
Montovanele e Carvano. Após as análises, os autores encontraram alguns
indicadores dessa diferença, como podemos ver nas tabelas a seguir:
Tabela 1 - Indicadores selecionados sobre as condições socioeconômicas dos grupos de cor ou raça
(brancos, pretos e pardos), Brasil, 2000 e 2007.
Renda média
do trabalho
principal, ago.
2000 (em R$).
Taxa de
analfabetismo
da população
acima de 15
anos de idade,
2000 (em %).
Anos médios de
estudos da
população
acima de 15
anos de idade,
2000 (em anos).
Pessoas
abaixo da
linha de
indigência,
2000 (em
%).
Esperança
de vida ao
nascer,
2000 (em
anos de
vida).
Razão de
mortalidade
por
homicídio,
2007 (por
100 mil
habitantes).
IDH,
2007
Brancos
916,29
8,3
5,5
14,3
74,0
15,5
0,832
Negros
419,92
21,5
4,0
30,3
67,6
27,9
0,717
Pardos
449,12
18,2
3,9
32,7
68,0
32,9
0,723
Total
720,77
12,9
4,8
22,6
71,1
25,4
0,783
Nota 1: esperança de vida ao nascer calculada por Juarez C. Oliveira e Leila Evartti
Nota 2: linha de indigência regionalizada elaborada pelo IPEA
Fonte: Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010
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Estes dados assinalam que, nas classes sociorraciais existentes na
sociedade brasileira, se pode apontar uma parecida posição dos pretos ou dos
pardos entre si. Esta questão é especialmente interessante dentro da discussão
sociológica brasileira que, diversas vezes, apontava para uma melhor posição dos
pardos comparativamente aos pretos, por conta de uma suposta menor intensidade
do preconceito racial.
Além disso, quando se comparam os indicadores de ambos os grupos em
relação aos brancos, percebe-se que as distâncias são bem maiores. Assim, em
2000, a taxa de analfabetismo dos brancos é inferior tanto em relação aos negros,
quanto aos pardos; a renda do trabalho principal dos brancos era mais de 100%
maior que a dos pretos e a dos pardos. A proporção de mortos por homicídios, em
2007, era inferior à dos pretos e à dos pardos. Os brancos estudavam em média um
ano e meio a mais que os pretos e os pardos. Viviam em média seis anos a mais
que os pretos e os pardos. Seu IDH era maior que dos pretos e dos pardos.
Obviamente, a extensão simplesmente estatística do problema não acaba com todas
as outras dimensões do debate político e social. Entretanto, é necessário citar que
por esse motivo os indivíduos que se autodeclararam pretos e os que se
autodeclararam pardos foram incorporados em um mesmo grupo nas próximas
tabelas.
Tabela 2 - Anos Médios de estudo da população residente por faixas etárias selecionadas,
segundos os grupos de cor ou raça selecionados (brancos e pretos & pardos), Brasil, 2008 (em
anos de estudo)
15+
25+
40+
65+
Brancos
8,3
8,0
7,0
4,6
Pretos & Pardos
6,5
6,0
4,9
2,4
Total
7,4
7,0
6,0
3,7
Nota 1: a população total inclui os indivíduos de cor ou raça amarela, indígena e
ignorada
Fonte: Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010
Os brancos mantiveram os anos de escolaridade superiores a dos pretos &
pardos independente da faixa etária. Ou seja, a superação da média de anos de
estudos, quando analisadas em relação às desigualdades de cor ou raça não foram
igualadas. Assim, a diferença entre a escolaridade média dos brancos e dos pretos
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& pardos foi de 1,9 anos entre as pessoas com 15 anos de idade ou mais. Entre as
pessoas com mais de 25 anos, a diferença foi de 2,0 anos. Entre os que tinham mais
de 40 anos, a diferença foi 2,1. E na faixa de idade dos 65 anos de idade ou mais,
os brancos foi ampliada para 2,2 em 2008. Ou seja, é nítida a lacuna entre brancos
e pretos & pardos quando se refere à escolaridade, pois ainda há diversos fatores
que interferem no acesso à escola, um deles será discutido neste estudo, pois os
alunos que são discriminados, por muitas vezes desistem de estudar por sofrer
constantemente preconceitos. Outra constatação notada neste estudo foi a taxa
bruta de escolaridade no ensino médio. Vejamos na tabela a seguir:
Tabela 3 – Taxa bruta de escolaridade no ensino médio (15 a 17 anos) da população residente,
segundo o grupo de cor ou raça selecionados (brancos e pretos & pardos), Brasil, 1988, 1998,
2008 (em % da população que frequentava o ensino médio dividido pela população entre 15 e
17 anos de idade)
1988
1998
2008
Brancos
49,4
74,0
93,3
Pretos & Pardos
26,7
47,1
79,5
Total
38,6
60,7
85,5
Nota 1: a população total inclui os indivíduos de cor ou raça amarela, indígena e
ignorada
Nota 2: nos anos de 1988 e 1998 não inclui a população residente nas áreas rurais da
região Norte (exceto Tocantins em 1988)
Fonte: Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010
A taxa bruta de escolaridade das pessoas brancas com idade superior a 15
anos era de 49,4 anos em 1988, passando para 93,3 anos vinte anos depois. Entre
os pretos & pardos da mesma faixa etária, naquele mesmo período, a evolução do
indicador foi de 26,7 para 79,5. Comparando-os, a desigualdade entre um e outro,
que era de 22,7% em 1988, caiu para 13,8% de diferença em 2008. É admissível ter
esta diminuição, porém as verdadeiras diferenças não foram suplantadas em termos
das condições de acesso e permanência na escola. Dito de outra forma, os pretos &
pardos, em proporção superior aos brancos, ainda não haviam atingido de maneira
massiva este nível de ensino.
Como podemos ver nas tabelas anteriores, há uma grande diferença entre a
população negra e branca no Brasil em relação à escolaridade. Em seu livro
Desenvolvimento Humano e Relações Raciais, Paixão (2003) debate sobre as
desigualdades sociorraciais no Brasil, tendo como ênfase o estudo IDH de negros e
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brancos, e buscou a compreensão do porquê e qual a lacuna entre as condições de
vida dos negros(as) e brancos(as) do Brasil, com uma visão neoliberal. Neste
momento do período neoliberal, por coincidência ou não, o mito da democracia foi
posto em uso, impulsionado, motivado pelos governantes e elites brasileiras, frente
às necessidades de controle político, ideológico e econômico da população afrodescendente. Também neste período ampliou o abismo das condições sociais entre
negros(as) e brancos(as). E segundo Paixão, "quando a economia cresce, eles
ganham menos, e quando a economia se retrai, eles perdem mais". Ou seja, não há
como contradizer o fato de que existe o mito da democracia racial.
Pela mesma razão Flávia Oliveira (apud CARNEIRO, 2011) apresenta dois
tipos de Brasil, mencionando que a "pobreza tem cor no Brasil", por isso a existência
de dois "Brasis" tendo como base os seguintes fatores:
[...] a desigualdade racial no Brasil é tão intensa que, se o Índice de
desenvolvimento Humano (IDH) do país levasse em conta apenas os dados
da população branca, o país ocuparia a 48ª posição, a mesma da Costa
Rica, no ranking de 174 países elaborado pela Organização das Nações
Unidas (ONU). Isso significa que, se brancos e negros tivessem as mesmas
condições de vida, o país subiria 26 degraus na lista da ONU - hoje, está
em 74ª lugar. Em contrapartida, analisando-se apenas informações sobre
renda, educação e esperança de vida ao nascer dos negros e mestiços, o
IDH nacional despencaria para a 108ª posição, igualando o Brasil à Argélia
no relatório anual da ONU (OLIVEIRA, F. apud CARNEIRO, 2011, p.57).
No Brasil existe a crença de que não há uma desigualdade racial e sim uma
desigualdade social, porém isso é uma desculpa da elite, pois ainda não se tem uma
explicação do porquê existe tantos negros entre os pobres e poucos conseguem ter
uma condição melhor de vida, uma melhor autonomia financeira. O preconceito, a
discriminação, o racismo são tão intensos em diversos níveis sócio-culturais que tem
sido uma grande preocupação para os estudiosos atuais.
Vale ressaltar que estão sendo criadas políticas públicas e educacionais para
que possam gerar uma igualdade de tratamento de diversos sujeitos da sociedade,
porém ainda não é o suficiente. Será preciso uma nova perspectiva, como a
identidade racial, pois os negros brasileiros ainda sofrem por terem a cor negra,
independente da sua classe social. Sendo assim, a escola é um dos ambientes mais
atingidos por essas desigualdades étnicas e sociais. Mesmo que haja um discurso
social de que no Brasil não existe “racismo”, não há “discriminação”, porém as salas
de aula são amostras dessas práticas e os resultados podem ser notados no
rendimento escolar tanto de estudantes pobres quanto de origem negra.
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2. Conceito de Discriminação
Primeiramente será necessário entender o significado de discriminação e por isso
vale a pena rever o conceito de preconceito, já que um está inteiramente interligado
ao outro. Segundo o Dicionário de ciências sociais preconceito é "uma atitude
negativa, desfavorável para com um grupo ou seus componentes individuais"(SILVA,
1987, p.962). Se o preconceito é primeiramente uma atitude, a discriminação faz
referência ao tratamento distinto. Significa um termo que não admite diferentes
ajuntamentos. De acordo com Candau (2003),
[...] discriminação refere-se aos processos de controle social que servem
para manter a distância social entre determinados grupos, através de um
conjunto de práticas, mais ou menos institucionalizadas, que favorecem a
atribuição arbitrária de traços de inferioridade por motivos, em geral,
independentes do comportamento real das pessoas que são objeto da
discriminação (CANDAU, 2003, p. 18).
Já Sant'Ana (2005), conceitua discriminação como "nome que se dá para a
conduta (ação ou omissão) que viola diretos das pessoas com base em critérios
injustificados e injustos, tais como a raça, o sexo, a idade, a opção religiosa e
outros". A discriminação racial, segundo o conceito estabelecido pela ONU (1996
apud SANT'ANA 2005),
[...] significa qualquer distinção exclusão, restrição ou preferências
baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que
tenha como objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo
ou o exercício, em condições de igualdade, os direitos humanos e
liberdades fundamentais no domínio político, social ou cultural, ou em
qualquer outro domínio da vida pública (ONU 1996 apud SANT'ANA, 2005,
p.63).
Entretanto, nas ciências sociais, por exemplo, o termo discriminação era
utilizado tanto positivamente - como o favorecimento a determinados grupos sociais,
como negativamente, em relação aos processos de recusa, rejeição ou
estigmatização (CANDAU, 2003). Porém, hoje em dia, tanto na linguagem comum
como nas Ciências Sociais entende-se por discriminação:
[...] o tratamento desfavorável dado habitualmente a certas categorias de
pessoas e/ou grupos. Refere-se a processos de controle social que servem
para manter a distância social entre determinados grupos, através de um
conjunto de práticas, mais ou menos institucionalizadas, que favorecem em
atribuição arbitrária de traços de inferioridade por motivos, em geral,
independentes do comportamento real das pessoas que são objeto da
discriminação (CANDAU, 2003, p.18).
Os tipo de discriminação nas escolas aparecem desde o currículo formal, que
recusa várias e diversas modos de expressão cultural, atravessando a linguagem
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não verbal, até atingirem, ao nível de conduta e das atitude explícitas, pois quando
mencionamos sobre discriminação racial dentro do ambiente escolar, estamos
dizendo que, de acordo com Sant'Ana (2005), "são práticas discriminatórias,
preconceituosas, que envolvem um universo composto de relações raciais pessoais
entre estudantes, professores, direção da escola [..]" (SANT'ANA, 2005, p.63). De
acordo com Gomes (1995),
A escola é uma instituição onde convivem conflitos e contradições, e a
discriminação racial, existente no contexto social brasileiro, está também
presente nas relações entre educadores e educandos, assim como entre
os/as educadores/as e entre alunos e alunas (GOMES, 1995).
Para Valente (1998), discriminação racial é "atitude ou ação de distinguir,
separar as raças, tendo como base ideias discriminatórias"(VALENTE, 1998, p.86).
A discriminação dá ao dominante a fantasia de que é mais desenvolvido e melhor,
super valorizando a sua cultura, e desvalorizando as demais e aumentando assim
no dominado o anseio de que ele não tem importância. Permite que a sociedade,
segundo Lopes (2005), seja considerada sob duas visões diferentes e contrárias:
o
a do discriminador - que estabelece e se avalia o mais competente, hábil,
o mais erudito, letrado, instruído, o dono do planeta e das seres, que sempre dita as
regras do que lhe convém, que conserva e sustenta sua auto-estima em alta às
custas do outro.
o
a do discriminado, que fica à disposição das determinações do
discriminador, o qual tenta formar a vida do grupo social de acordo com seus
privilégios e interesses; que tem de batalhar intensamente para erguer sua autoestima, que tem de construir sua identidade diante das dificuldades (LOPES, 2005,
p.189).
Quem discrimina ou tem ideias preconceituosas, de acordo com Lopes (1995)
"menospreza ou despreza outras pessoas, grupos sociais, povos ou nações;
desrespeita aquele ou aquilo que considera diferente (LOPES, 2005, p. 190). O
Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010, (PAIXÃO,2010)
define discriminação nos âmbitos social, racial e étnico e descreve como:
[...] uma prática individual e institucional de determinadas pessoas, agindo
em nome pessoal ou à frente de instituições, que, diante de outros
indivíduos portadores de descritivos distintos aos seus em termos
econômicos, culturais ou físicos, [...] os preterirão no acesso às
oportunidades para a aquisição de ativos econômicos e imateriais, bem
como aos direitos individuais ou coletivos" (PAIXÃO, 2010, p.21).
Ainda de acordo com o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil;
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2009-2010, (PAIXÃO,2010), existem 3 planos onde a discriminação está inserida: o
plano econômico, dos direitos sociais, e o plano legal. No plano econômico, por
exemplo, a discriminação age distinguindo os diferentes grupos étnico-raciais,
impedindo a possibilidade de ascensão, e de alcance aos aspectos que favorecem à
mobilidade social ascendente, ou seja, acesso às universidades, possibilidades de
empregos, crédito, aquisição de propriedades, terra, ingresso na educação formal, o
que lhe daria qualificação profissional.
Já no plano dos direitos sociais, a discriminação atua impedindo aos
discriminados, a união junto à justiça para a proteção contra a violência, assim como
criando empecilhos à inserção nos planos educacional, nos sistemas de saúde e na
aquisição de bens públicos nas áreas residenciais. E por último, no plano legal.
Quando alcançam a este nível, as ações discriminatórias contra o discriminado
acabam sendo proclamadas institucionalmente, integrando-se ao corpo das leis da
nação.
Em síntese, o tipo de discriminação que estamos falando é a discriminação
como a exclusão, distinção, desprezo pelo diferente, isto é, tentar impedir que o
discriminado seja ele mesmo, tornar o outro parecido, mas nunca idêntico, e
principalmente privando-o do acesso à escola, trabalho, saúde, e atrapalhando sua
conquista às mesmas possibilidades de toda a sociedade.
3. Metodologia
Com a finalidade de conhecer a realidade escolar de alunos do ensino médio e as
relações
estabelecidas
neste
ambiente,
pesquisamos
diferentes
processos
relacionados com discriminação, aprendizagem e emoção decorrentes das
experiências desses alunos da escola particular, dos seus pares, e seus respectivos
professores. Como já mencionado no início, este trabalho é um recorte de uma
pesquisa de Iniciação Científica, e por causa deste fato será explicitado como a
análise foi realizada e o porquê da escolha desta pesquisa para a realização do meu
trabalho de conclusão de curso.
Para pesquisa de Iniciação Científica foi feito em seu primeiro momento uma
revisão bibliográfica referente ao processo de ensino-aprendizagem do educando,
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com ênfase no papel das emoções nesse processo, articulando os desvios entre
discurso, cultura e realidade. Posteriormente elaboramos uma lista com nome,
endereço e telefone de algumas escolas de Campos dos Goytacazes, solicitando
permissão para realização do trabalho de campo. Duas escolas aceitaram abrigar
nosso projeto de pesquisa, sendo uma particular e outra pública.
Selecionamos então, duas escolas para a realização da pesquisa: a “Escola
Brasília” e a “Escola Lisboa” 1. Começamos então, frequentando a “Escola Brasília”
por algumas semanas nas turmas do 1°, 2° e 3° anos do Ensino Médio, num total de
120 horas. Desde o início a intenção foi de familiarizar-nos com os alunos e com as
características da comunidade que provinham, bem como levantar informações
sobre sua realidade social e suas linguagens frente à discriminação. Para acontecer
mais facilmente a interação, era necessário que nos conhecêssemos mutuamente,
ou seja, que conversássemos mesmo que informalmente nos corredores, na quadra,
nos encontros até mesmo fora da escola. Era interessante que tivéssemos uma
cumplicidade, que eles nos vissem como colegas de sala de aula, que estava ali
para participar, e não como vigias da classe.
Por isso, foi valorizado um contato aproximado com os alunos para então,
elaborarmos como instrumento de pesquisa, um questionário com perguntas sobre
os dados pessoais dos alunos, o que pensam sobre si, sobre a escola, e sobre o
que pensavam para seu futuro, a faculdade que iriam fazer, suas expectativas, e
perguntas relacionadas à discriminação escolar.
Os questionários foram aplicados e recolhidos no mesmo dia com a nossa
supervisão, e principalmente com auxílio da Orientadora Pedagógica que nos
disponibilizou um tempo nos horários dos alunos para tal aplicação. Sempre que
possível anotávamos as situações e as expressões espontâneas dos alunos. Depois
de coletados, os questionários foram analisados.
Também anotávamos as falas e os comportamentos interessantes que
aconteciam na sala de aula em um diário de campo, que foram utilizados,
juntamente com a análise dos questionários. Depois de todo esse processo,
selecionamos alguns alunos e professores do 1°, 2° e 3° anos das duas escolas
para uma entrevista individual, onde as perguntas eram abertas e relacionadas tanto
ao cotidiano escolar dos alunos, quanto dos professores.
1
O nome da escola utilizado neste trabalho é fictício, assim como os nomes dados aos alunos que
serão descritos mais a frente.
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Para a realização deste trabalho de conclusão de curso, fez-se necessário a
escolha de uma dessas vertentes para análise, já que o projeto de Iniciação
Científica era muito amplo. Dessa maneira, durante a realização desta pesquisa,
alguns aspectos do ensino médio do ano escolar de 2011me chamaram a atenção,
como a discriminação que os alunos sofriam dentro do ambiente escolar e a maneira
como interpretavam essa discriminação. Será através desta perspectiva que este
estudo será conduzido.
Os dados utilizados nesta pesquisa de final de curso serão apenas os
relacionados com a “Escola Brasília” E com alunos do 1° e 2° do ano. A turma do 1°
ano/2011 era composta por 36 alunos, 19 meninas, e 17 meninos, de 14 a 17 anos.
A turma do 2° ano/2011 era composta por 42 alunos, 30 meninas, e 12 meninos, de
15 a 18 anos. Ou seja, neste trabalho o universo é de 78 alunos. Sendo que, uma
amostra de somente 18 alunos participou da entrevista (em anexo).
A metodologia utilizada neste trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa,
pois tenta entender os fatos pela visão de DO indivíduo. Neste sentido, contêm
como princípio que nem tudo é contado, quantificado, e que a relação que o sujeito
estabelece como seu ambiente é exclusiva e, assim sendo, demanda um
diagnóstico denso e particularizado. Também consiste em uma pesquisa do tipo
etnográfico, isto é, "um contato direto e prolongado do pesquisador com a situação e
as pessoas ou grupos selecionados" (André, 2008, p. 38).
Dessa maneira, serão utilizados para análise, os questionários, as
observações em sala de aula, as anotações no caderno de campo, a fala dos alunos
através das redes sociais, e principalmente as entrevistas realizadas com os alunos
e professores. Vale ressaltar que nas entrevistas é possível a adequação da questão
frente às colocações do outro, ou seja, em perguntas de um questionário as
respostas são sucintas, e nas entrevistas há a possibilidade de complementação,
como por exemplo, o que não ainda não foi nos respondido no questionário, há a
possibilidade de questionamento e por conseguinte uma resposta melhor explicada.
Além disso, também é possível complementar os dados diretos com os dados
indiretos, isto é, utilizar-se do que foi respondido em um questionário e aprofundar
nas entrevistas as questões que forem julgadas pertinentes.
Neste artigo aborda-se a observação de outro, ou seja, examinamos o
ambiente escolar dos alunos do 1° e 2° ano do Ensino Médio. Pela mesma razão,
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trata-se de uma observação in natura. Seguidamente, também é uma observação
oculta e aberta, isto é, os alunos sabiam que estavam sendo analisados, mas ao
mesmo tempo não sabiam o que estávamos observando, nem a finalidade, já que
para eles éramos somente estagiárias. Além disso, nossa observação era
sistemática, pois tínhamos um plano a seguir, sabíamos exatamente em que
focalizar, mas ao mesmo tempo foi não-sistemática, uma vez que, quando lidamos
com seres humanos e em especial os adolescentes, onde não há um previsibilidade,
existe a necessidade do entrosamento, de cumplicidade e não há como se
desvincular disso, é o caso de conversas não-formais nos corredores, ao redor da
escola, e etc.
4. Resultados e Discussão
Como o objetivo desse artigo é compreender quais os tipos de discriminação são
encontradas na escola, tendo como foco os alunos que sofrem a discriminação
racial, analisaremos o porquê do silêncio dessa discriminação, e porque é levada
como "brincadeira" já que nos parece tão explícita. A análise deste artigo foi feita a
partir da observação do dia-a-dia escolar dos alunos, inclusive fora da sala de aula,
da aplicação dos questionários e a realização das entrevista, onde, o que foi dito,
ouvido e falado foi discutido e confrontado com os nossos questionamentos. A forma
de apresentação dos dados está inspirada no artigo da professora Elielma Ayres
Machado e Luiz Cláudio Barcelos (2001)2.
4.1. A Percepção dos Relacionamentos nos Questionários
Nesta parte da análise serão utilizados o universo de 78 alunos, ou seja, serão
contabilizados todos os questionários do 1º e 2º anos. Ao aplicar os questionários e
analisá-los pudemos perceber que a maioria dos alunos que visivelmente eram
discriminados e
sentiam constrangidos por
terem sofrido
algum tipo de
2
O trabalho "Relações Raciais entre Universitários no Rio de Janeiro" de MACHADO e BARCELOS
teve como objetivo compreender a existência de um tratamento diferenciado entre os brancos e os
negros em toda sociedade e principalmente na universidade particular e utilizaram das percepções
para identificar os fatos ocorridos durante a pesquisa, e entender o porquê da existência de poucos
negros nas universidades e qual seria a medida para aumentar essa presença.
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discriminação, porém ao serem perguntados no questionário se já sofreram algum
tipo de preconceito, marcavam como resposta "Não", é como podemos ver no
Gráfico 1 a seguir, a maioria significativa dos alunos das duas turmas, responderam
negativamente a pergunta:
Com isso, pode-se perceber que há uma negação da maioria dos indivíduos
em relação à discriminação, pois não assumem como tal, e sim aceita-se como um
ato de brincadeira, um ato natural. Por outro lado, apesar de termos notado a
discriminação no ambiente escolar, os alunos levaram em consideração o bom
relacionamento entre os colegas, que de certa maneira realmente acontecia, pois
havia uma amizade entre eles, e um bom entendimento em sala de aula. Dessa
maneira, classificaram, em sua maioria, de "Bom a Excelente" o convívio entre
estudantes, como podemos ver no Gráfico 2 a seguir:
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Nota-se que o relacionamento dos alunos é realmente significativo, pois a
maioria desses estudantes afirma ser de bom a excelente o seu convívio, por outro
lado, deve-se levar em conta que muitos responderam a partir do grupo a que
pertence, e não somente entre todos os alunos da sala de aula, pois durante a
realização dos questionários ouvimos algumas expressões do tipo: "Com quem eu
convivo me dou bem sim, os outros não fazem diferença" (Diana, 1º ano/2011).
Independentemente desse fator de amizade, as respostas foram positivas neste
sentido, somente um número menor diz ser de "Insuficiente a Regular" a convivência
escolar.
Apesar de haver um ótimo convívio entre esses alunos, muitas vezes
notávamos expressões discriminatórias desses sujeitos relacionadas ao racismo, por
isso ao confeccionarmos os questionários optamos por colocar perguntas pautadas
às cores de pele dos educandos. Primeiramente perguntamos a opinião do aluno
sobre sua cor e em seguida, perguntamos sua cor de acordo com os critérios do
IBGE. A ideia das duas perguntas foi para que não houvesse uma influência das
opções que o IBGE determina, mas sim que houvesse livre escolha. Tivemos vários
tipos de resposta, como por exemplo: "cor de jambo", "cor única", "da cor do
pecado", entretanto alguns ainda se mantiveram presos às cores determinadas pelo
senso comum. Vejamos no gráfico a seguir:
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É importante ressaltar que não temos como objetivo localizar qual a exata cor
desses alunos, muito menos tentar diminuir as distâncias entre as diversas
categorizações, pelo contrário, encontrar essas diferenças. No Gráfico 3 pudemos
notar que a maioria se autoclassificou como branca e em seguida como morena.
Como se sabe, a palavra 'moreno' é intensamente arraigada na sociedade brasileira,
é um momento em que se tenta fugir de uma realidade onde a discriminação
prevalece, e assim procurar identificar-se com aquele grupo economicamente e
socialmente dominante, no nosso caso o branco-europeu. Uma participante da
pesquisa feita por Ferreira (2002), em seu depoimento, disse que não se nasce com
uma cor, torna-se daquela cor, por isso o negro brasileiro que não tem uma visão
otimista do ser afrobrasileiro, não quer tornar-se negro, isto é, passa-se a se ver
como moreno, e as pessoas os vêem desta maneira, pois parece ser politicamente
correto tratar o afro-descendente como 'moreno'.
Em consequência dessa discussão, teve-se a necessidade de comparação
entre os resultados adquiridos empregando os critérios de cor do IBGE. Vale
ressaltar como declarado por Maggie (apud LIMA, OLIVEIRA, LINS, 2009, p.22),
"Raça não existe. Esse é um critério que não deve estar nas políticas públicas,
porque vai dividir artificialmente o país entre brancos e negros". Porém em nossa
sociedade, em pleno século XXI ainda emprega-se essa divisão de "cores de pele",
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pois como afirma Ferreira, "o processo de classificar, obsessão da civilização
ocidental, constituiu-se nos atos de incluir o semelhante num padrão considerado
desejável e correto, excluindo o diferente" (FERREIRA, 2002, p. 73).
No Gráfico 3, como foi possível ver a maioria se autodefiniu branca, e em
segundo lugar morena, por outro lado, quando os indagamos com uma pergunta
fechada, "de acordo com os critérios do IBGE", a maioria continuou a se
autodeclarar branca, entretando o segunda esoclha deu lugar a cor parda. Vale
lembrar que, segundo a suspeita de Telles (2003), "o termo pardo, utilizado nos
censos brasileiros, pode estar incluindo também indígenas aculturados ou pessoas
com ascendência predominantemente indígena" (TELLES, 2003, p.347). Como
pode-se observar a continuação, como o aumento do número de alunos declarados
"pardos" por exemplo.
Para os adolescentes se encaixar em algum pertencimento racial era
embaraçoso. Muitos marcaram a questão sobre sua cor, refizeram, apagaram,
corrigiram, mudaram mais de uma vez de ideia, de opinião, até chegarem a um
consenso pessoal. Alguns jovens percebidos como negros, olhavam para a própria
pele e diziam que sua cor era negra, porém em sua certidão era branca, como é o
caso do Rodrigo (1º ano/2011) que se autodeclarou negro na pergunta aberta,
entretanto na pergunta fechada disse: "Na minha certidão tá branco, minha mãe
disse que eu nasci branco, mas como pode?". De acordo com Carvalho, este tipo de
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questionamento é o " peso do olhar do outro na constituição de uma identidade"
(CARVALHO, 2005, p.81).
Em geral, apenas educandos que se autoclassificaram como pardos ou pretos
foram objeto de comentários, dúvidas, explicitação de critérios e mudanças de
opinião. A discussão explícita sobre a definição da cor evidenciou nas salas de aula
um tumulto, enquanto aos que se autoclassificaram como brancos ocorreram mais
instantânea e silenciosamente.
4.2. A Percepção das Falas observadas em Sala de Aula
Segundo Oliveira (1994) existe diferentes preconceitos inseridos na escola,
especificamente o de gênero, raça e classe social. Porém, isso não quer dizer que
não existam outros indivíduos que sofram com a discriminação, como os indígenas,
os portadores de deficiência, os advindos de algumas regiões do Brasil, os que
habitam em comunidades ou favelas, assim como os que apresentam doenças
contagiosas, e etc. Durante a nossa presença em sala de aula pudemos observar
várias falas e expressões discriminatórias explícitas, seja ela racial ou não.
Para ilustrarmos essas situações neste próximo momento usaremos ora as
falas dos alunos, seguindo as expressões que utilizaram para discriminar, ora as
situações causadas ou sofridas por eles. Por isso foram destacadas algumas falas
ouvidas em sala de aula:
o
"Por que você fala tanto?" Perguntaram a Tiffane. Então Sandy
respondeu: "Porque ela é preta."
De acordo com Nogueira e Cavalleiro, "a população negra não só é vítima do
racismo num plano, o de sofrer suas consequências, mas também em outro, como
reprodutora dele" (Nogueira, 1998; Cavalleiro, 2001 apud LIMA, 2006, p. 168). É
como podemos observar na próxima situação, onde Tiffane que também é negra,
ofende Tito, para sentir-se inserida em seu grupo:
o
Tiffane, que também é negra, disse para Tito: "Você é preto, não tem
vergonha na cara".
o
"Que foi tizil? Você tá de blusa?" Tiffane. Se referindo ao Tito que estava
com a blusa preta.
Estas três falas foram ditas no mesmo dia. A primeira ocorreu quando uma
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das alunas questiona Tiffane por ela falar demais, e fazem corresponder a sua cor
ao fato de ser falante. Já na segunda fala, Tito ao mexer na cadeira da colega, foi
agredido verbalmente pela mesma. É interessante advertir que Tiffane também é
negra, ainda que um pouco mais clara, mas sempre que podia humilhava seu colega
com uma postura de “superioridade”, pois ao mesmo tempo em que sofria
discriminação, aproveitava dessa 'arma' para afetar Tito, já que ele se posicionava
como inferior a ela.
Segundo Chauí (1997), é importante ressaltar que muitas vezes o preconceito
torna-se uma arma de dominação, onde o dominado a deseja interiormente, pois ela
se tornou a única forma para que ele seja enxergado em seu meio, ou por outras
palavras, como a expressão usada por Foucault "deixar viver ou deixar morrer" que
entende o racismo como poder soberano, que para o autor "o racismo é
indispensável como condição para poder tirar a vida de alguém, para poder tirar a
vida dos outros" (FOUCAULT, 2002, p.36). É o caso da ação imperante utilizada
pela aluna Tiffane para sentir-se "superior" ao Tito, onde utilizava-se do racismo e
preconceito como dominação do outro, que por sua vez não respondia às ofensas e
se "assumia" como "dominado" e Tiffane para ser notada em seu meio.
Já na terceira fala, Tiffane faz alusão ao tom de pele de Tito à sua blusa de
cor preta. E Tito, por sua vez sentiu-se ofendido, pois calava-se e já não mais fazia
brincadeiras como antes, sentia-se debilitado emocionalmente, pois era um menino
que não conseguia manter-se quieto e de um momento ao outro calava-se, por isso,
como exemplifica Almeida (1999) "tanto o excesso de movimento quanto a sua
'ausência podem revelar a presença de uma determinada emoção" (ALMEIDA, 1999,
p.91). Franco (2009) reafirma dizendo:
A autoestima é, então vista enquanto uma valoração que o sujeito faz do
que ele é, sendo construída nas relações que mantém com o mundo. Desta
forma, a autoestima não é natural, dada, ou inata ao homem. Ela é algo
tênue, que surge das diferentes formas pelas quais significamos as
situações vividas ao longo da vida, ou seja, se prevalecentemente de modo
positivo e negativo (FRANCO, 2009, p.326).
É evidente que o indivíduo que sofre com o preconceito e a discriminação
sente-se inferior, tem baixa auto-estima, e em muitas vezes, por ser discriminado
continuadamente no ambiente escolar, principalmente porque, aos alunos negros
ainda são poucas as referências sociais de pessoas negras bem sucedidas na
sociedade fora do meio artístico, importantes para a sociedade, pessoas a quem
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eles pudessem se espelhar. E a evasão escolar, por exemplo, pode ser apontada
como consequência de experiências discriminatórias. Nesse sentido, Ferreira (2002)
afirma que:
As pessoas submetidas à discriminação tendem a apresentar auto-conceito
pobre, baixa auto-estima, auto-realização pobre, ansiedade e depressão. O
indivíduo, tem a sensação de não se 'encaixar' realmente em nenhum
grupo, pois internaliza os valores 'brancos' e é desqualificado por ser negro,
de tal forma que passa a desvalorizar-se como pessoa. Para Souza (1983),
o negro vive uma dramática insatisfação, independente de seus êxitos, pois
nunca alcançará o ideal de ego branco (FERREIRA, 2002, p.76).
Tito, apesar de ter sofrido essas discriminações, em seu questionário
respondeu que nunca havia sido discriminado, para ele, não passava de uma
brincadeira. E estas associações de racismo com “brincadeiras”, acabam se
transformando em um ato naturalizado, impedindo que o preconceito seja realmente
combatido (CANDAU, 2003).
4.3. A Percepção do Cotidiano Escolar nas Entrevistas
Para se aprofundar no estudo e entender as experiências do alunado, foram
realizadas entrevistas individuais e semi-estruturadas, nas quais foram escolhidos
18 alunos da Escola Brasília pertencente ao 1°ano/2011 e 2ºano/2011.
A seleção dos alunos teve como principal critério suas experiências e
comportamentos em sala de aula, inclusive aqueles que eram discriminados e
principalmente aqueles que responderam negativamente no questionário, além dos
que eram mais comunicativos, e aos que responderam de forma criativa os
questionários. As entrevistas foram norteadas a encontrar modos de pensar,
maneira como situavam-se, como se sentiam, como olhavam ao seu redor, se
situavam e etc.
Uma das perguntas está relacionada sobre o tratamento que os alunos
entrevistados dão às pessoas que são diferentes, tanto na cor, na classe social,
quanto nas diferenças físicas. Quando perguntados sobre como eles se lidam com
essas diferenças, tivemos algumas respostas como:
o
"Pra mim todo mundo é diferente, ninguém é igual. Então pra mim, ser
diferente é normal" (Kelly, 2º ano/2011).
o
"Trato todos iguais, não vejo nenhuma diferença" Liana. "Tendo paciência
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né" (Carolina, 2º/2011).
o
"Principalmente com respeito, todo mundo tem suas qualidades e
defeitos" (Léo, 1º/2011).
Outro questionamento feito foi a compreensão dos alunos, tanto sobre a todos
os tipos de discriminação, como sobre a discriminação racial. A próxima questão foi
para entender o que os alunos pensavam sobre o termo discriminação, de modo
inclusivo a discriminação racial, foi, de um modo geral, complicado para os alunos
definir este termo. Algumas declarações como julgar, ofender, esnobar, excluir, não
aceitar e alguns adjetivos como errado, ridículo e até irracional foram muito
utilizadas pelos entrevistados para definir este conceito. É o caso de um dos
entrevistados que deu a seguinte resposta quando perguntamos "o que é
discriminação pra você": "Acho que todo tipo de preconceito pode tornar
discriminação, todos temos algum tipo de preconceito, mas muitos não conseguem
lidar com esse e acabam descontando em outros e o excluindo" (Léo, 1º ano/2011).
E
quando
nos
referimos
a
discriminação
racial,
ele
nos
respondeu
surpreendentemente o seguinte: "Eu acredito que seja um problema psicológico,
chega a ser uma coisa mais séria" (Léo, 1º ano/2011). Ao pedir uma explicação, ele
nos disse: "Chega a ser um pensamento irracional de que um outro ser humano seja
inferior a você por causa da cor, ou pelo local onde mora, condições financeiras"
(Léo, 1º ano/2011).
A próxima resposta foi de uma aluna que levou em consideração que o ato de
discriminar não nasce com a pessoa, adquire-se, ao ser perguntada o que entendia
sobre discriminação: "Quando a gente julga alguma coisa e não se abre pra
aprender com aquilo"(Carolina). E ao ser questionada o que pensava sobre a racial,
respondeu: "Eu acho que não nasce do nada, acho que é uma coisa que a gente
traz desde pequena, com a criação ou com o que recebe da mídia, às vezes a gente
cria alguma barreira com algum tipo racial negro, asiático, eu acho isso muito
errado" (Carolina). A aluna Kelly ao definir discriminação descreveu: "Não aceitar a
diferença do outro, você não aceitar a pessoa, e eu acho isso errado, porque todo
mundo tem o direito e deve ser diferente, tudo igual também é chato" (Kelly).
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4.4. Silêncio da Discriminação
“Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é muito
pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de
igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro” (José Saramago).
A análise que fizemos a partir das experiências do alunado do ensino médio em seu
cotidiano escolar, nos aponta para a existência de 2 grandes problemáticas sociais:
O silêncio da discriminação e a discriminação como brincadeira, por isso nosso
artigo consiste tentar evidenciar essa visão apoiado em dois pilares.
Nesta segunda parte discutiremos entre outros aspectos, sobre o mito em que
há uma democracia racial no Brasil, onde todos os brasileiros dizem que tratam
igualmente o seu diferente, o que de fato é uma inverdade, pois a sociedade não
admite que haja em si o preconceito, entretanto já viram, ouviram algum tipo de
discriminação,
ou
seja,
a
discriminação
vem
de
alguns
sujeitos
ainda
indeterminados. Deste modo, temos aqui no Brasil um lugar produtivo para a
construção do racismo silencioso, como Ferreira (2002) titula: racismo à brasileira,
isto é, "visão negativa do afro-descendente e um discurso contrário que tenta negála". (FERREIRA, 2002, p.75)
Acredita-se que existe um país onde reina a paz social, em que todo e
qualquer ser humano é enxergado da maneira em que é, mas que na verdade este
preconceito está escondido tanto com piadas, brincadeiras, formas de agir entre
outros aspectos. Assim como destacado por Bento, este "silêncio e cegueira
permitem não prestar contas, não compensar, não indenizar os negros" (BENTO,
2002), pois preferem-se não falar sobre o assunto, dando como desculpa que
discutir sobre esse assunto pode então aflorar no indivíduo o preconceito.
Seguidamente serão discutidos esses dois fatores.
Não caçamos pretos, no meio da rua, a pauladas, como nos Estados
Unidos. Mas fazemos o que talvez seja pior. A vida do preto brasileiro é
toda tecida de humilhações. Nós tratamos com uma cordialidade que é o
disfarce pusilânime de um desprezo que fermenta em nós, dia e noite
(Nelson Rodrigues apud FERREIRA, 2002, p.70).
No Brasil acredita-se numa democracia racial, onde todos somos iguais, e o
preconceito não existe, a população assume como mito, uma crença que está longe
de ser tornar realidade. Em função disso o preconceito tornar-se difícil de ser
combatido já que é coberto, velado, esconde-se por detrás da sociedade, assim não
há como combater algo que "não existe". Sabe-se da existência da discriminação, do
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preconceito, do racismo, mas não se quer pensar a respeito (CANDAU, 2003).
Como afirma Ferreira (2002) "O preconceito é sistematicamente considerado atributo
do outro" (FERREIRA, 2002, p.70), pois assume sua existências, mas não a admite.
É o que ocorre com o grupo em análise, em resposta a questão do questionário
"Você se considera uma pessoa racista ou preconceituosa" obteve-se a seguinte
resposta:
Como se pode observar, considera-se o preconceito como um problema do
outro, algo da sociedade, sem um sujeito definido ou assumido. Não somente na
escola em destaque, mas em todo o Brasil o preconceito não é declaradamente
afirmado, impedindo e/ou bloqueando a preparação de leis que favoreçam sua
reversão, ou seja, o problema é disfarçado. A psicóloga norte-americana Tatum
(1992), alega que "os brancos negam inicialmente qualquer preconceito pessoal,
tendendo a posteriormente reconhecer o impacto do racismo sobre a vida dos
negros, mas evitando reconhecer o impacto sobre as suas próprias vidas" (TATUM,
1992 apud BENTO, 2002, p.40). Pois o branco não percebe que ao discriminar se
coloca em vantagem ao negro, tendo como privilégio, como dominância. Entretanto
o silêncio não pode extinguir o que aconteceu no passado, mas pode deixá-lo
adormecido,
Sabe-se que há uma dificuldade para que seja trabalhada a questão racial
dentro da escola, e até mesmo na sociedade, pois reconhece-se que existe o
racismo e o preconceito, porém é sempre ancorado no outro, poucos consideram
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seus comportamentos discriminatórios ou racistas. O branco "não vê, não sabe, não
conhece, não convive" (BENTO, 2002, p.39), mas sabe da sua existência.
Por isso, o modo mais habitual de se lidar com o preconceito é o silênciá-lo,
pois vivemos o mito da democracia racial, onde acredita-se que não existe
preconceito, nem discriminação, todos somos iguais e com isso o preconceito tornase ainda mais velado, mas difícil de combatê-lo. "O mito da democracia racial é uma
forma brasileiríssima, bastante eficaz, de controle social" (SANTOS, 1994, p.45).
Utiliza-se deste paradigma para exarcerbar que a sociedade vive em um momento
onde todo mundo se respeita, onde há um bom relacionamento mútuo perante todos
os indivíduos da sociedade, isso ocorre porque ainda está muito forte esse conceito
de que todo mundo é igual, mas devemos desmestificar essa ideia, pois todos nós
somos diferentes, e assim como o branco tem direito de conhecer sua cultura, os
negros também tem.
Toda a população está relacionada a questão racial, pois não é necessário
somente amparar e dar forças aos indivíduos negros para que se identifiquem com
sua cultura, mas também as pessoas brancas para que analisem novamente suas
atitudes. Não se ensina a discriminar, mas da forma em que o negro é tratado com
falsa cordialidade, as piadas, brincadeiras de mal gosto e até gestos, são fatores
que interferem nessa ação do preconceito.
Há uma outra maneira de silenciar a discriminação, o fato de não comentar
sobre a mesma, pois é como se estivessem, procurando algo que não existe, ou
seja, dessa maneira estaria aumentando ainda mais o preconceito, e deixando-o
quieto, em silêncio ninguém iria se preocupar com as atitudes discriminatória. Como
apontado por Gomes (1995):
[...] as relações raciais estão postas em nossas escolas, mas há medo e
recusa em discuti-las, seja por considerá-la um assunto não relevante (em
primeiro lugar vem a discussão sobre a classe social, ou seja, o negro é
discriminado porque é pobre), seja por medo de enfrentar a diversidade: se
somos iguais, para que insistirmos em pontuar diferenças? (GOMES, 1995).
Alguns estudos ponderam a “ação” do silêncio escolar como uma maneira de
sustentação das diferenças. Todavia, este silêncio não é a falta de discurso, mas um
fala em que o que não é dito recebe significados ambíguos ou então se se coloca a
favor de apenas uma das partes da relação racial. Em nossa pesquisa encontramos
situações em que o adolescente inserido no deparou-se com situações de
discriminação na qual o silêncio veio diretamente dos professores, pois quando em
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diversas vezes os alunos negros eram discriminados, os docentes não reagiam.
Este silêncio não é exclusivamente o não-discurso, mas uma fala que ora
tornar mínima a ação do jovem branco, ora tenta amortecer o impacto sobre o jovem
negro e, em muitos casos, não admite, nem desaprova a discriminação que o outro
compreende e sofre. Sobre esse comportamento de educadores (as) em sala de
aula, é comum o silêncio perante a ações discriminatórios de adolescentes brancos
contra negros, ou o apoiando o adolescente negro, mas não pune, nem alerta o
adolescente branco da ação discriminatória feita. Conclui-se que nesses momentos
é que a discriminação é notada como uma visão dos discriminados, ditos como “é
coisa de negros”, desviando, portanto, a culpabilidade da escola de gerar igualdade
de tratamento, de oportunidades. E a escola ao silenciar mostra inferioridade,
desrespeito e desprezo contra o negro.
4.5. A Discriminação como Brincadeira
Para evidenciar a associação de alguns participantes do ato discriminatório com
brincadeira, foram selecionadas algumas perguntas, tendo como aspectos a
discriminação. Na primeira pergunta sobre discriminação a maioria dos alunos
respondeu que nunca sofreram nenhum tipo de discriminação, porém alguns alunos
ficaram confusos em suas repostas. Alguns afirmaram que as discriminações foram
apenas brincadeiras, apesar de assegurarem que as situações os magoavam, como
podemos ver nos exemplos a seguir:
Já se sentiu discriminado alguma vez? "Não, nenhuma vez".. Nem na
escola? "Ahhh eles falam assim, pro povo da risada". Como foi a situação?
"Brincando". Mas como assim, conte-me mais. "Ahh eles falam assim:
Negão! Eu dou risada, chamo de branquelo, risos" (Elano, 2º ano/2011).
Sendo vista desta maneira, a discriminação tratada no cotidiano como natural,
o preconceito visto como sutil, disfarçado acaba por se tornar natural, mas que
muitas vezes magoa, vejamos neste próximo exemplo:
Você já se sentiu discriminada? "Racial não, mas só por causa do meu
tamanho". Como foi a situação? "Não pô, é coisa básica, mas, é coisa boba,
mas todo mundo me chama assim de baixinha, essas coisas assim e na
hora, é doideira, porque na hora eu falo assim: Ah, é brincando. Mas eu
odeio ser chamada de baixa, sério mesmo". E na escola já aconteceu?
"Não, só de brincadeira mesmo" (Luna, 2º ano/2011).
Outra forma de negar que já tenha sofrido discriminação foi utilizada como a
expressão: "Não ligo não", ou então "levei na esportiva", "é brincadeira mesmo" e
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etc., como solução para não enfrentar o preconceito, já que se tornou tão natural, é
"melhor" aceitá-la e conviver com ele.
Você já se sentiu discriminado? "Acho que não". Nenhuma vez? Nem na
escola? "Mas de brincadeira assim, mas discriminação mesmo, acho que
não". Como foi essa brincadeira? "Ah brincadeira, o povo... Assim pela
minha cor, mas isso daí... Pra dizer que foi uma coisa no sério mesmo,
não". Mas te afetou de alguma maneira? "Não, levei na esportiva mesmo,
na brincadeira" (Rodrigo, 1º ano/2011).
Ferreira (2002) reforça essa questão de como a discriminação surge, muitas
vezes, de piadas, frases ditas educadamente, pois "no caso do afro-descendente,
este processo torna-se dramático, pois é veiculado e, muitas vezes, encoberto por
'frases educadas', alimentando o mito [...]. Tal visão conserva o problema, pois este
deixa de ser enfrentando em função da ideia dele não existir" (FERREIRA, 2002,
p.72). No Brasil, as pessoas vítimas de discriminação são tratadas com cordialidade,
de forma sutil, e como muitos discriminados acreditam, é vista também como
brincadeira, são tratamentos com civilidade, de forma tolerante, o que não quer dizer
que seja tratado com igualdade. Há aqueles que admitem que, quando o ato
discriminatório está relacionado aos amigos, á aqueles em que se matém um vínculo
de amizade, este preconceito é visto como brincadeira, aqueles que não fazem parte
do seu meio social, eles se importam e recebem como ofensa. Como é o caso do
aluno a seguir:
Você já se sentiu discriminada? "Não". Nem na escola? "Não, sempre levei
na brincadeira". Mas como é essa brincadeira? "Ah, chamar de magrela,
essas coisas". Mas você não gosta? "Nunca me importei não, a pessoa que
eu não tenho intimidade eu me importo, mas outras pessoas não" (Liana, 2º
ano/2011).
Vejamos outro exemplo a seguir:
Você já se sentiu discriminada? "Acho que isso mais entre nossos amigos
assim, às vezes quando a gente é novo a gente não sabe lidar muito bem
com algumas coisas, aí algumas brincadeirinhas a gente não leva muito
bem". Mas como foi a situação? "Acho que tudo nasce das brincadeirinhas,
quando a gente zoa com o outro assim, mas eu nunca sofri alguma coisa
que me atingisse, como o bullying, eu nunca sofri. Eu não to lembrando"
(Carolina, 2º ano/2011).
A discriminação pode ter seu estilo negativo suavizado, quando no está
inserido em contexto de uma relação de maior afetividade e intimidade entre as
pessoas envolvidas. Nas ocasiões de maior amizade, a aparição de alguns
preconceitos poderia ser consentida, apesar de permanecer sendo percebida como
discriminatória. Ser chamado de forma bastante pejorativo em “tom de brincadeira”,
por exemplo, é algo que pode ser aceito por todos, até mesmo por aquele que é a
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mira do preconceito em questão e que rejeita ações discriminatórias.
5. Conclusão
É evidente que este tema estará sempre aberto para investigações, este estudo está
longe de proporcionar conclusões, há ainda muito que refletir e lutar sobre este
assunto. Esta pesquisa é apenas uma iniciativa para que haja outras questões em
debate, seria um ponto de partida para outras reflexões que provavelmente irão
aparecer.
Pudemos observar que a escola, como reflexo da sociedade, também é palco
de preconceitos impregnados, porém escondidos, por detrás das brincadeiras, e
assim, em vez de um local de mudança de atitude discriminatórias, de
reversibilidade deste problema, acaba incitando os estereótipos sociais. Assim
sendo, a resposta para o conflito das relações raciais dentro do espaço escolar pode
ser encontrada, principalmente, na essência das mesmas escolas.
Por isso é necessário estarmos atento às ações discriminatórias, mesmo que
em tons de brincadeiras e piadas, pois é assim que o preconceito e o racismo se
propagam, impedindo o seu fim.
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Sobre os autores
Vanessa de Castro Bersot Pereira - Mestranda no curso de Pós-Graduação em
Cognição e Linguagem, pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional
Páginas 86 de 197
Ribeiro - UENF. Pós-Graduanda no curso de Pós-Graduação em Literatura,
Memória Cultural e Sociedade, pelo Instituto Federal Fluminense - IFF. Graduada
em Licenciatura plena em Pedagogia, pela Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro - UENF (2012). Monitora das disciplinas: Política
Educacional; Organização da Educação Brasileira; Estrutura e Funcionamento do
Ensino (2009); Bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq (2009- 2012).
Bianka Pires André - Doutora em Educação pela Universidade de Barcelona,
Master em Comunicação e Educação pela Universidade Autonoma de Barcelona,
Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalhou em
Barcelona como pesquisadora vínculada ao Consejo Superior de Investigaciones
Científicas (CSIC). Experiência na área de Educação atuando principalmente nos
seguintes temas: inclusão social, integração escolar, minoria étnica, racismo e
imigração brasileira. Atualmente Professora Associada da Universidade Estadual do
Norte Fluminense, CCH, Laboratório de Estudo da Educação e Linguagem (LEEL),
Professora do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem (UENF), e
pesquisadora colaboradora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios
(NIEM/UFRJ) e do Grupo de Pesquisa em Educação, Migração e Infância
(EMIGRA/UAB).
ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional
Páginas 87 de 197