Devassos por natureza

Transcrição

Devassos por natureza
Jesse Bering
Devassos por natureza
Provocações sobre sexo e a condição humana
Tradução:
Maria Luiza X. de A. Borges
Para JCQ
Sumário
Um convite à impropriedade
PARTE I Uma visão darwiniana do que pende
Por que eles ficam pendurados?
Tão perto e tão longe: a contorcida história da autofelação
Por que o pênis tem esse formato?: versão sem cortes
Não tão depressa… O que há de tão “precoce” na ejaculação precoce?
Ode às muitas virtudes evolutivas do sêmen humano
PARTE II Corpos generosos
O pelo lá de baixo: o que o pelo pubiano humano tem em comum com o pelo dos
gorilas
A história natural do canibalismo
A afecção da pele humana: a acne e o macaco nu
PARTE III Mentes indecorosas
Devassos por natureza: quando um dano cerebral torna pessoas muito, muito
despudoradas
Como o cérebro adquiriu suas nádegas: travessura medieval em neuroanatomia
Zumbis lascivos: sexo, sonambulismo, ereções noturnas… e você
Os seres humanos são especiais e únicos: nós nos masturbamos. E muito
PARTE IV Estranhos companheiros de cama
Sobre pedófilos, hebéfilos e efebófilos: orientação erótica de idade
Amantes de animais: zoófilos levam cientistas a repensar a sexualidade humana
Assexuados entre nós
Brincando com os pés: podofilia para pudicos
A história de um amante da borracha
PARTE V A noite das damas
Ejaculação feminina: uma estrada científica menos explorada
O estranho caso das fag hags: mulheres que gostam de homens que gostam de
homens
O Teatro de Darwin apresenta… O misterioso caso do orgasmo feminino
A megera evoluída: por que as adolescentes são tão cruéis umas com as outras?
PARTE VI A gaia ciência, cada vez mais gay: há algo estranho aqui
Nunca pergunte o caminho a um gay
“Homem solteiro, raivoso, hétero… procura semelhantes”: a homofobia como
desejo reprimido
O modismo do poliamor, o ciúme gay e a evolução de um coração partido
Cientistas bem-dotados vão fundo nas preferências sexuais entre homens gays
Seu filho é um “pré-homossexual”?: a previsão da orientação sexual adulta
PARTE VII Como diz a Bíblia
Bons cristãos (mas só aos domingos)
Os coelhinhos de Deus: a taxa de reprodução dos crentes é esmagadoramente maior
do que a dos não crentes
Criando raízes com minha mãe morta
PARTE VIII Rumo às profundezas: trabalho existencial em laboratório
Ser suicida: matar-se é adaptativo? Depende: suicídio em benefício dos próprios
genes (Parte I)
Ser suicida: como é a sensação de querer se matar (Parte II)
“Cientistas dizem que o livre-arbítrio provavelmente não existe, mas recomendam:
‘Não deixem de acreditar nele!’”
O rato que não parava de rir: alegria e hilaridade no reino animal
Notas
Agradecimentos
Índice remissivo
Um convite à impropriedade
ATÉ ONDE POSSO ME LEMBRAR, sempre fui abertamente curioso com relação a certos assuntos
“impróprios”. Minhas perguntas mais sérias, eu percebia, tendiam a levar os outros a se afastar de
mim bem devagar. Você poderia dizer que eu era um pouco analítico demais para meu próprio bem.
Num dia memorável, perguntei à menina absolutamente horrorizada que se sentava ao meu lado na
sala de aula da sexta série: “Não é esquisito que meu pênis, quando ereto, pareça mais uma
cimitarra do que um punhal? Na certa isso deve significar que sou deformado”, confidenciei,
cochichando em seu ouvido, “já que obviamente, para penetrar uma mulher como você da maneira
apropriada, o pênis deve entrar direto na vagina, não aproximar-se dela num ângulo de 45 graus,
como o meu.” Com o tempo, aprendi a ficar calado. Mas uma mente despudorada raramente
encontra descanso.
À medida que, muito devagar, adquiri algumas habilidades sociais extremamente necessárias,
vi-me gravitando cada vez mais para o mundo da ciência, um mundo em que nada era sagrado,
nenhuma questão absurda demais ou proibida (pelo menos para efeito de discussão, se não
necessariamente forragem ética para o laboratório), e no qual descobri outras almas de
conformação semelhante, que não me olhavam como se eu tivesse três cabeças quando eu
perguntava, por exemplo, se pessoas que preferiam ser passivas num intercurso anal poderiam ter
uma anatomia anal-genital interna diferente daquelas a quem isso parecia intensamente
desagradável. Aliás, ainda não sei a resposta para essa questão.
Por falar nisso, eu provavelmente deveria acrescentar (já que isso ficará bastante óbvio por
meu foco desproporcional na genitália masculina) que havia algo muito importante para mim a que
não pude dar plena expressão em meus primeiros anos e que sem dúvida moldou minha visão do
mundo. Eu era gay. Na verdade, muito, muito gay. Confirmei essa verdade irrefutável mediante
numerosos experimentos em minha adolescência, inclusive apalpadelas e beijos em “namoradas”
inadvertidas, que, apesar de suas aparências lindas e personalidades maravilhosas, eram tão
excitantes para mim quanto uma fatia de presunto perfumada com reluzentes dentes brancos. Não
era apenas o nervosismo dos virgens, posso lhe assegurar, mas as meninas pareciam tornar meu
pênis catatônico, ao passo que mesmo de longe os garotos o faziam erguer-se naquele esquisito
ângulo de 45 graus que mencionei antes.
Permita-me começar, portanto, fazendo uma revelação completa: minha perspectiva é a de um
cientista psicológico gay, ateu, com uma queda por teorias evolucionárias. Ainda assim, embora eu
certamente não tente esconder minhas próprias convicções pessoais, sou uma pessoa apolítica. A
única coisa que lhe peço é que tente suspender seu julgamento até ter lido pelo menos um punhado
de ensaios. Apenas recline-se, desabotoe as calças e fique bem confortável consigo mesmo.
Relaxe, talvez com um copo de Chardonnay. E pense. Espero tornar esta última parte fácil para
você. Quero que goste de aprender sobre seu pênis impetuosamente ejaculante, sua vulva gotejante,
e seus próprios medos, preconceitos, fetiches e desejos. Apesar de nossas diferenças, e elas são
por certo muitas neste mundo, há algo que todos nós temos em comum: somos humanos.
Não estou interessado no sensacionalismo pelo sensacionalismo, mas muitas das questões que
mais me atraem são, por definição, bastante sensacionais. Se você as examinar com atenção
suficiente, contudo, notará quantas vezes os tópicos mais excitantes são capazes de suscitar
questões filosóficas mais profundas e trazer outras muito mais substanciais à superfície. Por
exemplo, ao ler sobre zoófilos, você poderá se ver, como eu me vi, questionando suas próprias
repulsas sexuais moralistas impensadas; um olhar para a evolução do pelo pubiano ou da acne
revela, de maneira inesperada, nossas estreitas relações genéticas com outros símios; fantasias de
masturbação revelam o que nos torna únicos no reino animal; e fetichistas de pés revelam como as
coisas que nos excitam como adultos são permanentemente calibradas por experiências infantis
muitas vezes inocentes.
Antes de mais nada, tento ser um bom cientista, quer esteja investigando a ejaculação feminina,
o nascimento inesperado de pelo pubiano em bebês de seis meses ou a psicologia de mulheres
encantadas por homens gay. Como muitos destes ensaios foram publicados originalmente em
minhas colunas nas revistas Scientific American e Slate, e portanto examinam apenas as dimensões
mais interessantes de determinado tópico, certamente não sou capaz de cobrir todos os aspectos e
pontos de vista contrários que envolvem cada questão. Entretanto, encorajo você a continuar lendo
sobre os assuntos que deixarem um gosto de quero mais na sua boca, e para isso incluí notas finais
para ajudá-lo a seguir adiante.
Então, por favor, junte-se a mim na impropriedade. Não aceitemos a escola de vida segundo a
qual sobre certas coisas é melhor não falar. Como isso deve ser enfadonho. Convido-o a me
acompanhar numa viagem de descoberta científica. Sinta-se livre para entrar e sair de sua leitura ou
ler os ensaios fora da ordem. Eles são todos independentes. Mas olhe onde pisa: o terreno é
escorregadio. E note que, embora o tom em geral seja leve, nem tudo será divertido. Alguns dos
ensaios que incluí nesta antologia tendem de fato a nos fazer refletir muito seriamente – eles
incluem um exame realmente detalhado da maneira de pensar de um suicida. Escrevi esse texto
específico em resposta à alarmante onda de suicídios de adolescentes gays nos últimos anos. Foi
um artigo que lamentavelmente calou fundo em muitos leitores, alguns dos quais compartilharam
corajosamente suas histórias pessoais comigo depois de topar com ele por acaso.
Há oito seções neste volume, cada uma representando um tema geral ou área de assuntos e
examinando uma amostra das estarrecedoras esquisitices da simples condição humana. A primeira
dessas seções, “Uma visão darwiniana do que pende”, inclui tudo que você não sabia que sempre
quis saber sobre a anatomia reprodutiva masculina. Na Parte II (“Corpos generosos”),
examinaremos como podemos ser destinados pela Mãe Natureza a consumir a carne uns dos outros,
por que somos o único símio que sofre de acne e muitas outras coisas pouco sabidas sobre partes
do corpo aparentemente banais. Em seguida, na Parte III (“Mentes indecorosas”), vamos explorar
um pouco de neurociência realmente suja, empurrando nosso senso comum para alguns cantos
desconfortáveis nesse processo. Isso nos prepara para a Parte IV (“Estranhos companheiros de
cama”), em que faremos um exame crítico, não condenatório, de alguns dos mais intrigantes
fetiches, parafilias e distúrbios sexuais, explorando as origens de seu desenvolvimento, teorias e
debates relacionados a diagnósticos clínicos. Se você pensa que fazer sexo com animais é
inerentemente errado, ou que a sexualidade começa na adolescência, com a primeira descarga de
hormônios, talvez esta seção o leve a uma inesperada mudança de ideia.
Em “A noite das damas” (Parte V), voltaremos nossa atenção especificamente para as mentes e
corpos das mulheres. Observe apenas que sou um homem gay considerando essas mentes e corpos,
portanto tenho uma visão um pouco diferente da maioria. Por falar nisso – e não sei bem o que
Nietzsche teria a dizer sobre o conteúdo da seção seguinte –, na Parte VI (“A gaia ciência, cada vez
mais gay: há algo estranho aqui”) vamos então focalizar alguns dos mais recentes e mais
provocantes estudos sobre a homossexualidade. Na parte VII (“Como diz a Bíblia”), examinaremos
como a religião origina-se de nossa psicologia evolutiva e como nossas práticas usuais de
sepultamento não estão fazendo nenhum favor a nós mesmos ou ao planeta. Por fim, na última seção
do livro, “Rumo às profundezas: trabalho existencial em laboratório”, investigaremos algumas
questões densas e consternadoras sobre suicídio, o sentido da vida e a evolução da alegria e da
felicidade.
Animado? Espero que sim. Então, para começar em grande estilo, lanço a pergunta: por que
cargas-d’água os testículos ficam pendurados daquela maneira – e por que dói tanto levar um
pontapé ali?
PARTE I
Uma visão darwiniana do que pende
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