metro desapropria sto amaro 2
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metro desapropria sto amaro 2
CIDADES/METRÓPOLE CIDADES/METRÓPOLE C3 C3 DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO TRANSPORTES Para urbanistas, vale o ‘sacrifício’ Procura por áreas perto do metrô só aumenta; a uma distância média das estações, verticalização é inevitável EVELSON DE FREITAS/AE Metrô paga 80% à vista, mas maioria contesta valor PONTO ONDE VAI FICAR A FUTURA ESTAÇÃO CAMPO BELO – Num raio de 200 metros, a tendência é de criar e valorizar comércios e serviços de apoio, como farmácias e padarias FUTURA LINHA 5-LILÁS ÁREAS QUE SERÃO DESAPROPRIADAS Avenida Lavandisca Rua Leandro Dupré MOEMA IBIRAPUERA ANA ROSA SERVIDOR VILA MARIANA CHÁCARA KLABIN SANTA CRUZ Av. Santo Amaro Rua Tenente Gomes Ribeiro Rua Machado Bitencourt Rua Leonardo Nunes Rua Cotovia SANTA CRUZ Av. dos Eucalipitos Rua Jacira arques da Cruz Av. Prof. Vicente Ra o Rua Irineu Marinho IBIRAPUERA ue or oq úni .R iJ Av tron Pe Av. Adolfo Pinheiro sé M rof. Jo aP Ru Av. Santo Amaro BROOKLIN-CAMPO BELO Rua Andrea Pau linetti ALTO DA BOA VISTA Rua Pedro de Toledo Av. Ibirapuera Rua Loefgreen INFOGRÁFICO/AE ano que vem”, diz a dona de casa Marly Bonfim, de 62 anos, que vai trocar uma casa na Rua Visconde de Guaratiba por um apartamento no mesmo bairro. “Valorização” e “barulho”, entretanto,nãosãoasúnicaspalavras que normalmente acompanham as obras de expansão. Para especialistas em mercado imobiliário, os trens do metropolitanonão só melhoram a mobilidade como também trazem uma mudança do tecido urbano e da própria percepção dos moradores em relação à cidade. O exemplo vem de Nova York, Londres, Berlim e de qualquer outra cidade com uma rede de transportepúblicominimamente digno: quanto mais as pessoas andam pelas ruas – saindo de uma estação de metrô, andando até o trabalho, voltando para casa –, melhor elas cuidam da cidade e forçam a prefeitura a preservar os passeios e a estrutura dos bairros. “Pode ser que o metrô não traga nenhuma valorização para Campo Belo, Moema ou Alto da Boa Vista. Haverá é aumento de qualidade de vida”, diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). “É só lembrar do exemplo da Avenida Paulista, onde não se valorizaram mais os empreendi- de arquitetura antiga em meio aos novos prédios envidraçados e neoclássicos do Brooklin. Com portãozinho de madeira de meio metro, a casa resistiu a todos os progressos e mudanças na região, mas terá agora de ceder lugar para o avanço da Linha 5. “Já tem tanto ônibus aqui perto e eu pego sempre a linha até o centro; é rapidinha. O metrô vai acabar com o sossego de todo mundo”, acredita a aposentada, que mora com o mentos. Valorizou um pouco naAlamedaSantos,noentorno, mas a Paulista em si não valorizou. E Moema deve ser amesmacoisa.Paraocomércio sim, com o fluxo maior de pessoas, deve-se ter uma boa valorização:podedobrar, triplicar.Eoquemudarealmente é o urbanismo do bairro e a qualidade de vida da capital.” ● DIEGO ZANCHETTA e RODRIGO BRANCATELLI VALÉRIA GONÇALVEZ/AE–16/9/2009 ‘Sossego’acabou,afirmaaposentada A LINHA 1 AZUL VILA CLEMENTINO Sobrado de 50 anos cederá lugar a trens aposentada Aparecida da Fonseca, a dona Cida, de 84 anos, chegou à zona sul quando a Avenida Santo Amaro ainda era de terra. Ao longo das últimas cinco décadas, vieram o asfalto, o comércio, o shopping, os corredores de ônibus, o hipermercado. Mas o sobrado de dona Cida se manteve intacto e se tornou um daqueles exemplos clássicos PARAÍSO LINHA 2 VERDE Rua Domingos de Morais ADOLFO PINHEIRO ALTO DA BOA VISTA BROOKLINCAMPO BELO Rua Pedro de Toledo PARQUE DO IBIRAPUERA ÁGUA ESPRAIADA 1 LARGO 13 BORBA GATO Alameda Iraé Rua Borges Lagoa Avenida Dívino Salvador ho Marin Av. Jo rnali Rua Assís Bras il Rua Eds on Av. Santo Amaro SANTO AMARO VILA CLEMENTINO Av. Ibirapuera sta Ro berto Rua Flórid a n Rua Mic higa Av. Santo Amaro Rua Gabriel D´Annunzio Rua Arizo na MOEMA Rua do Otonis ÁGUA ESPRAIADA I Rua Ba rtolom eu Feio ÁGUA ESPRAIADA II 51 Mas,afinal,compensa suportar o barulho de obras por três anos, para ter o metrô ao lado de casa? “Vale muito a pena. O problemadoscongestionamentos só tende a aumentar em São Pauloe ometrôse apresentacomo a grande solução. Daqui a dezanos, o desejode morar perto de uma estação vai ser ainda maior e quem estiver já perto vai ver o quanto compensou, lá atrás, suportar as obras. É um pequeno sacrifício diante dos inúmeros benefícios”, avalia Cândido Malta Campos Filho, de 72 anos, um dos autores da propostaderevisãodoPlanoDiretor. Para o urbanista, haverá um maior adensamento residencial na zona sul, principalmente nos quarteirões que ficarão a cerca de 600 metros das futuras 11 estações. “No raio de 200metros,maispertodasestações, a tendência é existir um comércioeserviçosdeapoio,como pizzarias, farmácias, padarias,oque tambémserábemvalorizado. Já a uns seis quarteirões de distância, a ocupação deverá ser residencial, com uma tendência inevitável à verticalização”, acrescenta. Na região da Chácara Klabin, onde moradores conviveram por dois anos com obras, antes da inauguração da Estação Santos-Imigrantes, a tese do urbanista é reforçada. “A Ricardo Jafet é sempre parada. Há mais de dez anos, era horrível chegar aqui. O Metrô transformou o bairro, que era uma verdadeira chácara, em grife. Todo mundo quer vir morar aqui”, diz Ancelmo Vicente de Jesus, de 70 anos, há meio século na região. “O duro das obras é o movimento de caminhões o dia inteiro, até de domingo, e à noite.Tambémtemmuitobarulho logo cedinho, até em sábado. Mas, depois que ficou pronta (a estação), três pessoas já tentaramcomprar meuapartamento, que só será entregue no PRÉDIO, NÃO – ‘Quero outro sobrado, perto e parecido’, diz dona Cida irmão mais novo e um filho, ambos deficientes. Ela já recebeu a carta, informando da desapropriação. “Se for sair, quero dinheiro para comprar outro sobrado, aqui perto e parecido. Não quero morar em apartamento”, completa. No bairro ao lado, no Jardim das Acácias, onde também haverá desapropriações, moradores que não foram noti- ficados pelo Metrô querem alugar o imóvel até o fim das obras. “Isso até a estação ficar pronta. Aí volto com o imóvel valorizado. Melhor do que acordar todo dia com uma grua na janela”, diz a advogada Virgínia Freitas Leitão, de 52 anos, moradora em um sobrado com 14 cômodos. Ela, o marido e a filha adolescente pretendem mudar para um apartamento em Santo Amaro até o segundo semestre de 2011. “Uma amiga minha que mora no Butantã disse que ficou um ano acordando com barulho de britadeira. Eu não vou passar por isso.” ● Diego Zanchetta SÃO PAULO Aindenização aos desapropriados pelo Metrô é definida com base num laudo produzido por um perito, escalado pela Vara da Fazenda da região onde foi feitaa notificação. Para a elaboração do laudo, o perito avalia o imóvel e atribui valor com base nos negócios atuais praticados no bairro, conforme tabela da Comissão de Apoio aos Juízes da Fazenda (Cajufa). Esse valor parte ainda das normas de mercado da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Se todos concordarem com a avaliação, o Metrô deposita ao expropriado a quantia estabelecida pelo expert e permite que ele possa sacar 80% do valor na hora. Mas, segundo o Metrô, na maioria dos casos os proprietários reivindicam uma revisão novalor do imóvel desapropriado. Hoje, há cerca de 130 ações que passam por processo judicial para revisão do valor de desapropriação. “Todas essas ações foram ajuizadas pelo Metrô e se encontram na região de extensão da Linha 5-Lilás”, informou a companhia, por meio de nota oficial. Após a entrada do pedido de revisão, ação que cabe ao próprio Metrô, o perito judicial elaborará um laudo definitivo, no qual assistentes técnicos das partes envolvidas se manifestarão. Depois é fixada pelo juiz uma audiência de instrução, conciliação e julgamento, quando então se definirá a sentença que determinará o que será pago. Em seguida o imóvel é incorporado ao patrimônio da companhia. As desapropriações na zona sul, em bairros como Campo Belo e Moema, devem ser concluídas no primeiro semestre de 2010, segundo previsão do diretor de Assuntos Corporativos do Metrô, Sérgio Corrêa Brasil. Sobre moradores que não foram notificados e temem danos nos imóveis por causa das obras, como rachaduras, o diretor disse que engenheiros “fizeram e refizeram” inúmeros estudos sobre quem deveria ficar ou sair. “Vamos monitorar essas casas próximas das obras diariamente. Se eu falasse que não haverá nenhuma rachadura durante a expansão, estaria mentindo. Mas estamos atentos para fazer as eventuais correções nesses imóveis.” INFORMAÇÕES Depois que as estações estiverem prontas, os locais desapropriados que viraram canteiros de obras serão transformados “em locais de utilidade pública, comoparques e praças”, segundo o Metrô. A companhia criou telefones (3371-7577, 33717579 e 3371-7581) e um e-mail (relacoespublicas@metrosp. com.br) para tirar dúvidas sobre as desapropriações. A localização dos terrenos desapropriados também está disponível no site da companhia. “Queremos estar com todas as frentes de obras já em operação em 2010. Mas os moradores notificados podem ficar tranquilos: ninguém vai expulsar as pessoas das casas. Teremos uma negociação tranquila e que será boa para todas as partes”, afirma o diretor do Metrô. Ao todo, a companhia deve gastar R$ 340 milhões com as desapropriações da Linha 5. Já para a expansão da Linha 2-Verde, na zona leste, serão desapropriados apenas 12 imóveis, dos quais apenas 3 são residenciais. ● D.Z.