SUMÁRIO - Uniesp
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SUMÁRIO - Uniesp
SUMÁRIO 05 Apresentação. Teoria da Complexidade nas Organizações Empresariais. Neste ensaio, Maria Rosângela Rosa de Souza destaca a importância da Engenharia de Requisitos no processo de desenvolvimento de sistemas. Apresenta, ainda, os vários tipos de requisitos, formas de levantamento e análise, recursos para validação e revisão. 24 Neste artigo é discutida a linguagem UML e a formação de seu modelo conceitual, a partir de blocos de construção, regras e mecanismos. Por Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza. Neste estudo, Carla Cristina Pasquale trata de Strategic Sourcing, metodologia usada na área de compras estratégicas e suas complexidades. 1 06 38 TEMA SUMÁRIO A questão da ética empresarial é discutida neste artigo, que trata do caso de grandes empresas norte-americanas envolvidas em fraudes nos seus balanços. Aborda, ainda, a ação de auditorias que convalidaram os resultados de balanços falsos, lesando investidores e a sociedade em geral . Por Marcelo G. Gomes. 62 Neste ensaio, Roberto Bassi Ribeiro Soares propõe uma reflexão sobre o papel do Estado no desenvolvimento capitalista, tanto em sua fase caracterizada pelo predomínio da livre concorrência,como na fase em que predominam os monopólios e oligopólios. Aqui, Celso Bergantin aborda o conceito de liderança e suas características. Procura identificar os diferentes fatores que afetam o desempenho dos líderes, estabelecendo comparações entre relações cooperativas e relações competitivas na empresa. 2 56 92 TEMA TEMA ISSN 0103-8338 Revista das Faculdades Integradas Teresa Martin, instituição vinculada à UNIESP. Edição nº 50, julho/dezembro de 2007: Administração Publicação indexada no IBICT, no ULRICH’S International Periodicals Directory e no Latindex. Circulação regular desde 1986. Editor Responsável: Zenaide Bassi Ribeiro Soares – MTb 8607. Conselho Editorial: Prof. Dr. Aclives Burgarelli (Mackenzie), Prof. Dr. Alcides Ribeiro Soares (UNESP - Franca), Prof. André Luís de Oliveira(FATEMA),Prof. Dr. Alysson Mascaro (USP), Prof. Dr. Amador Paes de Almeida(Mackenzie), Profa. Dra. Ana Cláudia Pompeu T. Andreucci (FATEMA e Mackenzie),Prof. Dr. Edvaldo Brito (Universidade Federal da Bahia), Prof. Omar Toledo Damião(FATEMA), Prof. Dr. Orlando Villas Bôas Filho (FATEMA e Mackenzie), Profa. Dra.Regina Toledo Damião (FATEMA e Mackenzie), Roberta Nechar Gorni (Universidadede Coimbra), Profa. Dra. Rosa Maria Valente Fernandes (FATEMA), Profa. Dra.Zenaide Bassi Ribeiro Soares (FATEMA). Capa: Adão Cruz. Ilustrações: André Santos, Joanes Lessa e Mariana Bassi. Revisão: Profas. Carla Cristina Pasquale e Rosemeire Ribeiro dos Santos Editoração Eletrônica: Roberto de Camargo Damiano e Soraia Riche Pedro Bibliotecária: Janaína Mendonça Rodini - CRB - 8/7563. Instituto Educacional do Estado de São Paulo Presidente: Professor Doutor José Fernando Pinto da Costa Faculdades Integradas Teresa Martin Diretora Geral: Profa. Dra. Zenaide Bassi Ribeiro Soares Rua Antonieta Leitão, 129 - Freguesia do Ó São Paulo - SP - CEP 02925-160 www.uniesp.edu.br/tema 3 TEMA Revista TEMA Publicação indexada no IBICT, no ULRICH’S International Periodicals Directory e no Latindex. Circulação regular desde 1986. R.TEMA 4 S.Paulo nº 50 jul./dez. 2007 TEMA P. 100 Apresentação A o aplicar a Teoria da Complexidade às organizações empresariais, Edgar Morin lembra que o que se deve desenvolver é o neoartesanato científico, é a pilotagem das máquinas e não a maquinização do piloto. Isto significa que o detentor desse tipo de conhecimento sabe atuar numa sociedade em movimento, onde as mudanças ocorrem com velocidade espantosa ,exigindo novas competências e habilidades que se desenvolvem a partir da mudança do comportamento autômato para o comportamento autônomo. Somente assim se saberá o que fazer num momento de crise, quando se precisa buscar saídas, inventar estratégias, elaborar soluções novas. As empresas que ainda vivem no passado adotam programas em detrimento de estratégias, o que leva à ações repetitivas, onde tudo é feito automaticamente, sem espaço para a reflexão e a criatividade. Trata-se de um modelo rígido, que exclui a maleabilidade, o que favorece o esclerosamento da ação, a incapacidade de inovar. Por isso nunca é demais lembrar a Teoria da Complexidade formulada por Edgar Morin. Foi o que tentamos fazer ao reunir os trabalhos que aqui estamos publicando. Reflexivos, atuais, questionadores, refletindo a instituição que os abriga. Zenaide Bassi Ribeiro Soares Diretora Geral das Faculdades Integradas Teresa Martin 5 TEMA Autor e Texto Author - Text Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza* A ENGENHARIA DE REQUISITOS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS The Engineering Of Conditions On The Process Of System Development Resumo Este trabalho destaca a importância da Engenharia de Requisitos no processo de desenvolvimento de sistemas. Apresenta os vários tipos de requisitos e formas de levantamento e análise, recursos para validação e revisão destes. Mostra uma maneira de planejar o gerenciamento de requisitos e de mudanças. Abstract This work mentions the importance of the Requirements Engineering in the process of development of systems. It presents the several types, elicitation and analysis forms of the requirements, the resources for validation and revision of these. This document shows a way to plan the management and changes of the requirements. Palavras-Chave Engenharia de Requisitos. Tipos de Requisitos. Gerenciar Requisitos. UML. Estrutura da UML Key Words Requirements Engineering. Types Requirements. Management Requirements. UML. Structure UML *Especialista em Análise de Sistemas pelo IFSP. Especialista em Tecnologia da Informação pelo SENAC. Mestranda em Automação e Controle de Processos pelo IFSP. Professora da Faculdade Renascença. R.TEMA S.Paulo UNIESP nº 50 jul/dez. 2007 P. 6-23 6 Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza A ENGENHARIA DE REQUISITOS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS** The Engineering Of Conditions On The Process Of System Development D entro do processo de desenvolvimento de sistemas, a atividade engenharia de requisitos produz um documento que retrata de forma geral o que o sistema deve fazer. Segundo Sommerville(2003) compreender a natureza dos problemas pode ser muito difícil, especialmente se o sistema for novo. Consequentemente, é difícil estabelecer com exatidão o que o sistema vai fazer. As descrições das funções e das restrições são os requisitos para o sistema; e o processo de descobrir, analisar, documentar e verificar essas funções e restrições é chamado de engenharia de requisitos. Pressman(2006) O processo de desenvolvimento de sistemas, ilustrado na figura 1, engloba atividades como a Engenharia de Requisitos permite criar o documento de requisitos que relaciona as funções e restrições que se aplicam ao sistema a ser construído. A Análise proporciona entender as diretrizes especificadas no documento de requisitos. ** Este ensaio apresenta desdobramento na página 24 e seguintes, no artigo intitulado Uma Visão Estrutural Da Unified Modeling Language-Uml. A bibliografia de ambos está na página 37, desta edição. 7 TEMA O Projeto conduz a uma solução capaz de atender às prescrições do documento produzido na atividade de análise. A Implementação leva a construir a solução definida na atividade projeto. O Teste valida a solução construída na atividade de implementação. Engenharia de Requisitos Análise Projeto Implementação Teste Fig 1 – O processo de desenvolvimento de sistemas. 2. DIFERENCIANDO REQUISITOS Apresentado a seguir a distinção que Sommerville(2003) faz para os diferentes níveis de descrição de requisitos: - Requisitos do usuário são declarações, em linguagem natural e também em diagramas, sobre as funções que o sistema deve fornecer e as restrições sobre as quais deve operar. - Requisitos de sistema estabelecem detalhadamente as funções e as restrições de sistema. Algumas vezes UNIESP 8 chamado de especificação funcional. Esta especificação pode servir como um contrato entre o comprador e o desenvolvedor do sistema. - Especificação de projeto de software é uma descrição abstrata do projeto de software, que é uma base para o projeto e a implementação mais detalhados. Essa especificação acrescenta mais detalhes à especificação de requisitos do sistema. Os requisitos de sistemas são classificados como: - Requisitos funcionais são declarações de funções que o sistema deve fornecer, como o sistema deve reagir a entradas específicas e como dever se comportar em determinadas situações, como, também, o que o sistema não deve fazer. - Requisitos não funcionais são restrições sobre os serviços ou as funções oferecidas pelo sistema. Destacamse restrições de tempo, sobre o processo e padrões. - Requisitos de domínio são os requisitos que se originam do domínio de aplicação do sistema e que refletem características deste domínio. Podem ser requisitos funcionais ou não funcionais. 3. O DOCUMENTO DE REQUISITOS Organizações de grande porte, como o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e o IEEE definiram padrões para os documentos de requisitos. O padrão mais amplamente conhecido é o IEEE/ANSI 830-1993 (IEEE,1993). Esse padrão sugere a seguinte estrutura para os documentos de requisitos: a. Introdução Propósito do documento de requisito Escopo do produto Definições, acrônimos e abreviações Referências 9 TEMA b. c. d. e. Visão geral do restante do documento Descrição Geral Perspectiva do produto Funções do produto Características do usuário Restrições gerais Suposições e dependências Requisitos específicos Apêndices Índice Sommerville(2003) amplia o padrão IEEE, por recomendação de Heninger(1980), incluindo informações sobre a evolução prevista para o sistema. A estrutura ampliada para um documento de requisitos é apresentada a seguir: I. Prefácio - Definir o público a que se destina o documento. Descrever o histórico da versão e sumário. II. Introdução - Descrever a necessidade do sistema, suas funções, a operação a outros sistemas, como o sistema se ajusta aos negócios e aos objetivos estratégicos da organização. III. Glossário - Definir os termos técnicos. IV. Definição de Requisitos do Usuário - Os serviços fornecidos e os requisitos não funcionais. Padrões de produtos e de processos a serem seguidos. Podem ser descritos em linguagem natural, precisam ser compreendidos por pessoas que não são peritos técnicos. V. Arquitetura de Sistemas - Apresentar uma visão geral de alto nível, mostrando a distribuição de funções por meio de módulos de sistemas. Os componentes reutilizados devem ser destacados. VI. Especificação de Requisitos do Sistema - Descrever os requisitos funcionais e não funcionais, como, também, interfaces como outros sistemas. Pode incluir diferentes UNIESP 10 modelos do sistema. VII. Modelos de Sistema - Estabelecer um ou mais modelos, mostrando o relacionamento entre os componentes de sistema e o sistema e seu ambiente. Modelos de objeto, de fluxo de dados e semânticos de dados. Esses modelos são representações gráficas que descrevem o problema a ser resolvido e o sistema a ser desenvolvido. Devido às representações gráficas utilizadas, os modelos são freqüentemente mais compreensíveis do que as descrições detalhadas em linguagem natural dos requisitos de sistema. Eles são também uma importante ponte entre o processo de análise e de projeto. Os modelos podem ser utilizados no processo de análise para desenvolver uma compreensão do sistema existente a ser substituído ou melhorado ou para especificar o sistema requerido. Utilizados a partir de diferentes perspectivas: externa, o contexto ou o ambiente do sistema é modelado; de comportamento, o comportamento do sistema é modelado; estrutural, a arquitetura ou estruturada de dados processados do sistema é modelada. VIII. Evolução de Sistema - Descrever as mudanças previstas, pela evolução de equipamento ou necessidades de usuários. IX. Apêndices - Detalhar informações específicas da aplicação, como hardware e bases de dados. X. Índice - Incluir índices de conteúdo distintos, como alfabético, de diagramas e de funções. 4. ESTUDO DE VIABILIDADE Segundo Sommerville(2003) o processo de engenharia de requisitos de sistema deve começar com um estudo de viabilidade. Um estudo de viabilidade é breve, direcionado e destinado a responder às seguintes questões: O sistema contribui para os objetivos gerais da organização? 11 TEMA O sistema pode ser implantado com a utilização de tecnologia atual dentro das restrições de custo e de prazo? O sistema pode ser integrado com outros sistemas já em operação? O estudo de viabilidade envolve avaliar e coletar informações que responderão o questionário acima. Estas informações podem ser obtidas através de outros questionamentos: Como a organização se comportaria, se o sistema não fosse implantado? Quais são os problemas com os processos atuais e como um novo sistema ajudaria a diminuir esses problemas? Que contribuição direta o sistema trará para os objetivos da empresa? As informações podem ser transferidas para os outros sistemas organizacionais e também podem ser recebidas a partir deles? O sistema requer tecnologia que não tenha sido utilizada anteriormente na organização? O que precisa e o que não precisa ser compatível com sistema? O estudo de viabilidade deve recomendar se o desenvolvimento do sistema deve continuar ou não. Pode propor mudanças no enfoque, no orçamento e no cronograma, além de sugerir outros requisitos de alto nível. 5. LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE REQUISITOS Seguindo os ensinamentos de Sommerville(2003) e Pressman(2006) é nesta etapa de levantamento e análise de requisitos, dentro do processo de engenharia de requisitos, UNIESP 12 que a equipe de desenvolvimento apura as informações, como o domínio da aplicação, que serviços o sistema deve fornecer o desempenho exigido e as restrições de hardware. Stakeholder é o termo utilizado para identificar qualquer pessoa que tenha alguma influência sobre os requisitos do sistema. Em uma organização os stakeholders podem ser as pessoas que venham a ser afetadas, de alguma forma, pelo sistema, os usuários finais, os que desenvolvem o sistema ou fazem manutenção em outros sistemas relacionados, os gerentes de negócios e os especialistas no domínio da aplicação, entre outros. O processo de levantamento e análise de requisitos é difícil, pois os stakeholders determinam o que querem do sistema em termos muito gerais; pedidos em inconformidade com os custos; expressam os requisitos com termos de sua área de atuação; especificam requisitos de forma a aumentar sua influência política na organização; através de novos stakeholders, a importância dos requisitos pode mudar em função do ambiente econômico e de negócios, que é dinâmico. A figura 2 apresenta um modelo para o processo de levantamento e análise de requisitos, onde os analistas devem procurar ter a compreensão do domínio da aplicação; interagir com os stakeholders para a coleta de requisitos e desenvolvendo a compreensão do domínio da aplicação; fazer a classificação dos requisitos em grupos coerentes; procurar a resolução de conflitos criados pelas informações vindas de diferentes stakeholders; elaborar a definição das prioridades interagindo com os stakeholders; determinar se os requisitos são completos e consistentes na verificação de requisitos. A figura 2 será mostrada na página seguinte. 13 TEMA UNIESP 14 Resolução de conflitos Coleta de requisitos Classificação Definição das prioridades Compreensão do domínio Documento de requisitos Figura 2. Um modelo para o processo de levantamento e análise de requisitos Fonte: Sommerville(2003) Entrada do processo Verificação de requisitos Especificação de requisitos Para trabalhar o levantamento e análise de requisitos, é possível usar técnicas como: o levantamento orientado a pontos de vista, os cenários e a etnografia, como também, os métodos de análise estruturada e a prototipação. Não existe uma abordagem perfeita e universalmente aplicável para a análise de requisitos. Normalmente, é preciso utilizar várias dessas abordagens para desenvolver compreensão e análise completas dos requisitos. 5.1. Ponto de Vista A importância da análise orientada a pontos de vista é que ele reconhece a existência de várias perspectivas e oferece um framework para descobrir conflitos nos requisitos propostos por diferentes stakeholders. Um ponto de vista pode ser considerado como: Um fonte ou drenos de dados – Identificar, quais os dados são produzidos ou consumidos e que processamento é realizado. Um framework de representação – Diferentes pessoas devem desenvolver um modelo de relacionamento de entidades, um modelo de máquina de estados, entre outros. Cada abordagem de análise descobre diferentes aspectos sobre o sistema que está sendo analisado. Um receptor de serviços (os pontos de vista são externos) – A análise envolve examinar os serviços recebidos por diferentes pontos de vista, coletando esses serviços e resolvendo conflitos. Exemplo disto são os sistemas interativos que fornecem serviços aos usuários finais. Fonte ou drenos de dados Modelos de Pontos de vista Framework Receptor de serviços 15 TEMA Vantagens desse tipo de ponto de vista: - os pontos de vista são externos ao sistema e, assim, são uma maneira natural de estruturar o processo de levantamento de requisitos. - é relativamente fácil decidir se alguma coisa é um ponto de vista válido. Os pontos de vista devem interagir com o sistema de alguma maneira. - os pontos de vista e os serviços são um meio útil de estruturar os requisitos não funcionais. Cada serviço pode ter requisitos não funcionais associados. Os pontos de vista múltiplos permitem que o mesmo serviço tenha diferentes requisitos não funcionais em diferentes pontos de vista. O método Viewpoint-Oriented Requirements Definition – VORD, foi projetado como um framework orientado a serviços, para o levantamento e a análise de requisitos. Kotonya (1998) Os estágios principais são: 1 identificação do ponto de vista 2 estruturação do ponto de vista 3 documentação do ponto de vista 4 mapeamento de sistema de ponto de vista 1. Envolve descobrir os pontos de vista que utilizam serviços do sistema e identificar os serviços específicos fornecidos para cada ponto de vista. 2. Agrupar os pontos de vista relacionados, segundo uma hierarquia. Serviços comuns estão localizados nos níveis mais altos da hierarquia e herdados por pontos de vista de nível inferior. 3. Refinar a descrição dos pontos de vista e serviços identificados. 4. Identificar objetos em um projeto orientado a objetos, utilizando as informações de serviço que estão encapsuladas nos pontos de vista. UNIESP 16 As informações podem ser coletadas em uma primeira etapa através de reuniões de brainstorming com os stakeholders, onde surgem os possíveis pontos de vista. Estes podem ser anotados em um diagrama de bolhas. Controlador de Demanda Máquina de Ar Condicionado Quadro de Iluminação Os pontos de vista recebem e fornecem entradas para serviços. O mesmo serviço pode estar alocado em diversos pontos de vista. As informações podem ser descritas através de formulários, conforme definido abaixo: Modelo de ponto de vista Modelo de serviço Referência: o nome do ponto de Referência: o nome do serviço. vista. Atributos: atributos que fornecem Razão: pela qual o serviço é informações sobre o ponto de vista. fornecido. Eventos: uma referência a um conjunto de cenários de eventos que descreve como o sistema reage a eventos do ponto de vista. Especificação: referência a uma lista de especificações de serviços, que podem ser expressas em diferentes notações. Serviços: uma referência a um Pontos de vista: lista de nomes conjunto de descrições de serviços. de pontos de vista que recebem o serviço. Subpontos de vista: os nomes de Requisitos não funcionais: referência subpontos de vista. a um conjunto de requisitos não funcionais que impõem restrições ao serviço. Provedores: referência a uma lista de objetos de sistema que fornecem o serviço 5.2. Cenários 17 TEMA Os cenários podem ser particularmente úteis para acrescentar detalhes a um esboço da descrição de requisitos. De modo geral podem incluir uma descrição do estado do sistema no início do cenário, do fluxo normal de eventos no cenário, do que pode sair errado e de como lidar com isso; informações sobre outras atividades que possam estar em andamento ao mesmo tempo, e do estado do sistema no final do cenário. Uma abordagem mais estruturada pode ser empregada com os cenários de eventos ou use-cases. Usados para descrever modelos de sistemas orientados a objetos, identifica os agentes envolvidos em uma interação e especifica o tipo de interação. Dentro da Unified Modeling Language - UML definida como uma linguagem para a visualização, especificação, construção e documentação de artefatos de um sistema complexo de software; diagramas de seqüência podem ser utilizados para acrescentar informações a um usecase. Esses diagramas de seqüência mostram os agentes envolvidos na interação, os objetos dentro do sistema com os quais eles interagem e as operações que estão associadas a esses objetos. 5.3. Etnografia Os sistemas são utilizados em um contexto social e organizacional. Satisfazer os requisitos sociais e organizacionais é fundamental para o sucesso do sistema. A etnografia é uma técnica de observação que pode ser utilizada para compreender os requisitos sociais e organizacionais. O valor de etnografia é que ela ajuda a descobrir requisitos de sistemas implícitos, que refletem os processos reais, em vez de os processos formais, em que as pessoas estão envolvidas. Elas compreendem seu próprio trabalho, mas podem não compreender a relação dele com outras atividades na organização. A etnografia é particularmente eficaz na descoberta de dois tipos de requisitos: os derivados da maneira como as pessoas realmente trabalham, em vez da maneira pela UNIESP 18 qual as definições de processo dizem como elas deveriam trabalhar e os derivados da cooperação e conscientização das atividades de outras pessoas. A etnografia pode ser combinada com a prototipação. Informa o desenvolvimento do protótipo, de modo que um número menor de ciclos de refinamento seja necessário. Seu enfoque é no usuário final, portanto, não é uma abordagem completa. 6. VALIDAÇÃO DE REQUISITOS A validação de requisitos é importante porque a ocorrência de erros em um documento de requisitos pode levar a grandes custos relacionados ao retrabalho, quando esses erros são descobertos durante o desenvolvimento ou depois que o sistema estiver em operação. O custo de fazer uma modificação no sistema, resultante de um problema de requisito, é muito maior do que reparar erros de projeto ou de codificação. No documento de requisitos, diferentes tipos de verificação devem ser realizadas: I. De validade – os sistemas têm diversos usuários com necessidades diferentes e qualquer conjunto de requisitos é inevitavelmente uma solução conciliatória da comunidade de usuários. II. De consistência – não devem existir restrições contraditórias ou descrições diferentes para uma mesma função do sistema. III. De completeza – o documento de requisitos deve incluir requisitos que definam todas as funções e restrições exigidas pelo usuário do sistema. IV. De realismo – utilizando o conhecimento da tecnologia existente, os requisitos devem ser verificados, a fim de assegurar que eles realmente podem ser implementados. Essas verificações devem também levar em conta o orçamento e os prazos para o desenvolvimento do sistema. 19 TEMA V. De verificação – para reduzir o potencial de divergências entre cliente e fornecedor, os requisitos do sistema devem ser sempre escritos de modo que possam ser verificados. Isso significa que um conjunto de verificações pode ser projetado para mostrar que o sistema entregue cumpre com esses requisitos. Existe uma série de técnicas de validação de requisitos que podem ser utilizadas em conjunto ou individualmente: a. Revisão de requisitos – os requisitos são analisados sistematicamente. b. Prototipação – experimentar o modelo para verificar se ele atende às suas necessidades. c. Geração de caso de testes – os requisitos deveriam ser testáveis. d. Análise automatizada da consistência – a ferramenta CASE deve construir uma base de dados de requisitos e, então, uma análise de requisitos produz um relatório das inconsistências que foram descobertas. 7. REVISÕES DE REQUISITOS É um processo manual, que envolve cliente e fornecedor, verificação do documento de requisitos com o objetivo de detectar anomalias ou omissões. Em uma revisão formal verificam-se as seguintes facilidades: 1. De verificação – o requisito é passível de ser testado, como foi definido. 2. De compreensão. 3. De rastreamento – avaliar o impacto de uma mudança no restante do sistema. 4. Adaptabilidade – ele pode ser modificado sem que isso provoque mudanças em outros requisitos. 8. GERENCIAMENTO DE REQUISITOS UNIESP 20 Sistemas são geralmente desenvolvidos para lidar com problemas, a compreensão destes está constantemente se modificando, por parte de quem desenvolve os sistemas, essas mudanças refletem nos requisitos. Novos requisitos surgem pelas seguintes razões: - comunidade de usuários diversificada, - os clientes do sistema impõem requisitos em razão de restrições organizacionais e orçamentárias, e esses requisitos podem ser conflitantes com os requisitos dos usuários finais, - a empresa e o ambiente técnico do sistema se modificam, novas legislações e regulamentos. Os requisitos não funcionais são, particularmente, afetados por mudanças na tecnologia de hardware. Ao longo do tempo de desenvolvimento, o ambiente do sistema e os objetivos da empresa certamente deverão ser modificados. Os requisitos devem, portanto, evoluir, a fim de refletir essas mudanças. Requisitos permanentes – são os relativamente estáveis, que derivam da atividade principal da organização e que se relacionam diretamente com o domínio do sistema. Requisitos voláteis – são os que provavelmente vão se modificar durante o desenvolvimento do sistema ou depois que o sistema estiver em operação. Existem alguns tipos: - mutáveis – mudanças no ambiente no qual a organização está operando. - emergentes – surgem a medida que a compreensão do cliente se desenvolve. - conseqüentes – a introdução do sistema de computação pode modificar os processos da organização, criar novos meios de trabalho. 21 TEMA - compatibilidade – dependem de sistemas ou processos de negócios específicos, a medida que eles se modificam, o sistema encomendado pode também ter que evoluir. 8.1. Planejamento do Gerenciamento de Requisitos O planejamento estabelece o nível de detalhes exigido para o gerenciamento de requisitos. Os seguintes aspectos devem ser considerados: 1. Identificação de requisitos – identificado de modo único, para que possa ser feita a referência cruzada, para que possa ser utilizado nas avaliações de facilidade de rastreamento. 2. Processo de gerenciamento de mudanças – atividades que avaliam o impacto e o custo das mudanças. 3. Políticas de facilidade de rastreamento – definem as relações entre os requisitos e entre os requisitos e o projeto de sistema. Devem ser registradas e mantidas. 4. Suporte de ferramentas Case – envolve processar uma grande quantidade de informações sobre os requisitos. A facilidade de rastreamento é uma propriedade geral de uma especificação de requisito, que reflete a facilidade de se encontrar requisitos relacionados. Existem três tipos de informações importantes sobre a facilidade de rastreamento: 1. Da origem – vinculam os requisitos aos stakeholders que os propuseram. 2. De requisitos – vinculam requisitos dependentes. UNIESP 22 3. De projeto – vinculam os requisitos aos módulos de projeto em que esses são implementados. O apoio de ferramenta é necessário para: armazenamento, gerenciamento de mudanças e facilidade de rastreamento. Sistemas pequenos podem utilizar recursos de processadores de texto, planilhas de cálculo e banco de dados de PCs. 8.2. Gerenciamento de mudanças de requisitos Problema identificado Análise do problema Análise e custo e especificação da da mudança mudança Implementação de mudanças Requisitos Revisados A vantagem de utilizar um processo formal para o gerenciamento de mudanças é que todas as propostas de mudanças são tratadas de modo consistente e que as mudanças no documento de requisitos são feitas de maneira controlada. Há três estágios principais neste gerenciamento de mudanças: 1. Análise do problema e especificação da mudança – o processo começa com a identificação de um problema com os requisitos ou, algumas vezes, com uma proposta específica de mudança. 2. Análise de custo de mudança – o efeito da mudança proposta é avaliada, utilizando-se informações sobre a facilidade de rastreamento e o conhecimento geral dos requisitos do sistema. 3. Implementação de mudanças – o documento de requisitos, o projeto e a implementação são modificados. 23 TEMA Autor e Texto Author - Text Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza* UMA VISÃO ESTRUTURAL DA UNIFIED MODELING LANGUAGE - UML A Structural Vision Of The Unified Modeling Language - Uml Resumo Este trabalho apresenta um desenho estrutural da UML que complementa as descrições dos recursos e permite entender a formação do modelo conceitual. Abstract This essay presents a structural design of UML which completes the descriptions of resources and allows to learn the formation of a conceptual modeling. Palavras-Chave UML. Estrutura da UML. Key Words Uml. Structure Of The Uml. **Especialista em Análise de Sistemas pelo IFSP. Especialista em Tecnologia da Informação pelo SENAC. Mestranda em Automação e Controle de Processos pelo IFSP. Professora da Faculdade Renascença. R.TEMA S.Paulo UNIESP nº 50 jul/dez 2007 P. 24-37 24 Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza UMA VISÃO ESTRUTURAL DA UNIFIED MODELING LANGUAGE - UML A Structural Vision Of The Unified Modeling Language - Uml N a literatura a UML era definida como uma linguagem para a visualização, especificação, construção e documentação de artefatos de um sistema complexo de software. Hoje, a escolha da UML explica-se por ser uma linguagem de modelagem que possui recursos que permitem visualizar, especificar, construir e documentar os elementos, de qualquer tipo de sistema, seus relacionamentos e a comunicação com dispositivos externos ao sistema. A figura 1 apresenta um desenho estrutural da UML que auxilia na compreensão do texto abaixo. Aprender a formação do modelo conceitual da UML implica em entender três elementos principais: (a) os blocos de construção, as regras e os mecanismos. Os BLOCOS DE CONSTRUÇÃO (a1) são de três tipos: - itens (b1) são as identificações das abstrações; constituem os blocos de construção básicos orientados a objetos da UML. - relacionamentos (b2) são blocos relacionais básicos de construção, que reúnem os itens (b1). 25 TEMA - diagramas (b3) agrupam coleções de itens. Um diagrama é a apresentação gráfica de um conjunto de elementos, geralmente representados como gráficos e vértices (itens b1) e arcos (relacionamentos b2). Os diagramas são desenhados para permitir a visualização de um sistema sob diferentes perspectivas. Nesse sentido, um diagrama constitui uma projeção de um determinado sistema. As REGRAS (a2) especificam o que deverá ser um modelo bem formado. Os blocos de construção da UML não podem ser simplesmente combinados de uma forma aleatória. A UML dispõe de regras semânticas (b4) para: os nomes que podem ser atribuídos aos itens, relacionamentos e diagramas. -um escopo que determina um significado específico para um nome. -a visibilidade dos nomes permitindo que estes sejam vistos e utilizados. -a integridade de como os itens se relacionam entre si de forma adequada e consistente. -a execução ou simulação de um modelo dinâmico. A seguir será apresentada a figura 1, que mostra um desenho estrutural da UML. UNIESP 26 27 TEMA MECANISMOS (a3) Qualquer construção se torna mais simples e harmoniosa devido à adequação a um padrão de características básicas. O mesmo se aplica a UML, que se torna mais simples pela presença de quatro mecanismos básicos (Cf., BOOCH, RUMBAUGH, JACOBSON, 2000, p.28): especificações, adornos, divisões comuns e mecanismos de extensão (b5). A especificação é capaz de fornecer uma declaração textual da sintaxe e da semântica do respectivo bloco de construção. A notação gráfica da UML permite visualizar um sistema; a especificação determina os detalhes do sistema. Levando em consideração esses dois aspectos, será possível construir modelos de maneira incremental, desenhando diagramas e depois acrescentando uma semântica às especificações do modelo ou diretamente pela criação de uma especificação. Os adornos são itens gráficos ou visuais, adicionados à notação básica de um elemento e empregados para a visualização de detalhes a partir da especificação do elemento. Há divisões comuns na modelagem de sistemas orientados a objetos, como a divisão de classes e objetos, onde uma classe é uma abstração e um objeto é uma manifestação concreta dessa abstração. Outra divisão é entre interface e implementação. Uma interface declara um contrato e a implementação representa uma realização completa desse contrato, responsável pela manutenção fiel da semântica completa da interface. A UML é aberta-fechada, permite ampliar a linguagem de maneira controlada. Os mecanismos de extensibilidade incluem as seguintes características: estereótipos, valores atribuídos e restrições (c7). O vocabulário da UML pode ser ampliado através de um estereótipo, onde novos tipos de blocos de construção são criados a partir dos já existentes. UNIESP 28 As propriedades dos blocos de construção podem ser estendidas através de um valor atribuído, criando novas informações na especificação de um elemento. As semânticas dos blocos de construção podem ser ampliadas por uma restrição, ou seja, modificar as regras já existentes ou acrescentar. ITENS (b1) Itens são recursos que identificam as abstrações. Existem quatro tipos de itens (b1): estruturais, comportamentais, de agrupamentos e anotações. ESTRUTURAIS (c1) São os substantivos, representando elementos conceituais ou físicos, são as partes mais estáticas do modelo. Ao todo são sete: classe, interface, colaborações, casos de uso, classes ativas, componentes e nó (d1). C1.1. CLASSE – são descrições de conjuntos de objetos que compartilham os mesmos atributos, operações, relacionamentos e semântica. As classes implementam uma ou mais interfaces. Nome da Classe SensorTemperatura Atributos setPointTemperatura : Float Operações reset( ) setAlarm(t : Temperatura) valor( ) : Temperatura 29 TEMA O NOME de uma classe pode ser um texto composto por qualquer número de caracteres e determinados sinais de pontuação; exceto alguns sinais, como os dois pontos, utilizados para separar o nome da classe e o nome do pacote que a contém e pode se estender por várias linhas. Os nomes das classes são substantivos ou expressões breves, definidos a partir do vocabulário do sistema cuja modelagem está sendo feita. O primeiro caractere de cada palavra existente no nome deve estar em maiúsculo. Um ATRIBUTO é, portanto, uma abstração do tipo de dados ou estados que os objetos da classe podem abranger. Uma classe pode ter qualquer número de atributos ou nenhum. O nome de um atributo é um substantivo ou expressão que, breve, representa alguma propriedade da classe correspondente. O primeiro caractere de cada palavra existente no nome do atributo deve estar em maiúsculo, exceto a primeira letra. O atributo pode ter a indicação de um valor padrão, por exemplo, setPointTemperatura : Float. Uma OPERAÇÃO é uma abstração de algo que pode ser feito com um objeto e que é compartilhado por todos os objetos dessa classe. Uma classe pode ter qualquer número de operações ou nenhuma. O nome de uma operação é um verbo ou uma locução verbal, representando algum comportamento da classe. A existência de mais atributos ou propriedades pode ser indicada terminando cada lista com reticências (...). Estereótipos são utilizados para indicar grupos, organizando listas extensas de atributos e operações. UNIESP 30 FraudAgent <<constructor>> new ( ) new (p : Policy) <<process>> processo (o : Order) estereótipos … <<query>> isSuspect (o : Order) isFruadulento (o : Order) <<helper>> validateOrder (o : Order) Uma responsabilidade é um contrato ou obrigação de uma determinada classe. Em um nível mais abstrato, atributos e operações são características com as quais as responsabilidades das classes são executadas. Atributos, operações e responsabilidades são características mais comuns para criar as abstrações. Praticamente todas as abstrações criadas são algum tipo de classe. c1.2. INTERFACE - é uma coleção de operações que especificam serviços de uma classe ou componente. Descreve o comportamento externamente visível desse elemento. Poderá representar todo o comportamento de parte de uma classe ou componente. Define um conjunto de especificações operacionais (suas assinaturas), mas nunca um conjunto de implementações de operações. Geralmente é anexada à classe ou ao componente. Raramente aparece sozinha. 31 TEMA Nome do pacote que a contém Networking : : IRouter Nome da interface, precedido pela letra l. c1.3. COLABORAÇÕES – definem interações e são sociedades de regras e outros elementos que funcionam em conjunto para proporcionar a soma de comportamentos cooperativos. Apresentam dimensões estruturais e comportamentais. Uma determinada classe poderá participar de várias colaborações. Representam a implementação de padrões que formam um sistema. c1.4. CASO DE USO - é a descrição de um conjunto de seqüência de ações realizadas pelo sistema que proporciona resultados observáveis de valor para um determinado ator. É utilizado para estruturar o comportamento de itens em um modelo. Realiza-se por uma colaboração. c1.5. CLASSES ATIVAS – são classes que possuem objetos que têm um ou mais processos,.que podem iniciar um controle de atividade. São semelhantes a uma Classe, exceto que seus objetos representam elementos cujo comportamento é concorrente com os outros elementos (atributos e operações), daí o seu caráter ativo. c1.6. COMPONENTES – são as partes físicas e substituíveis de um sistema, que proporciona a realização de um conjunto de interfaces. Em um sistema, encontram-se diferentes tipos de componentes próprios da implantação, como os componentes COM+ OU JAVABEANS. Representam o pacote físico de elementos lógicos diferentes, como classes, interfaces e colaborações. UNIESP 32 c1.7. NÓ – é o elemento físico existente em tempo de execução que representa um recurso computacional. Geralmente, com alguma memória e, freqüentemente, capacidade de processamento. Um conjunto de componentes poderá estar contido em um nó e também poderá migrar de um nó para outro. As classes ativas, componentes e nós, são semelhantes às Classes. Descrevem conjunto de objetos que compartilham os mesmos atributos, operações, relacionamentos e semânticas. São suficientemente diferentes e necessários para a modelagem de certos aspectos de sistemas orientados a objetos. Existem variações desses sete elementos como atores: sinais e utilitários (tipos de classes), processos e threads (tipos de classes ativas), aplicações, documentos, arquivos, bibliotecas, páginas e tabelas (tipos de componentes). COMPORTAMENTAIS (c2) São as partes dinâmicas dos modelos UML. São os verbos de um modelo, representando comportamentos no tempo e no espaço. Costumam estarem conectados, conforme a semântica, a vários elementos estruturais, classes principais, colaborações e objetos. Existem dois tipos básicos: interação e máquina de estado (d2). c2.1. INTERAÇÃO (d2) é um comportamento que abrange um conjunto de mensagens trocadas entre um conjunto de objetos de determinado contexto para a realização de propósitos específicos. O comportamento de uma sociedade de objetos ou de uma operação individual poderá ser especificado por meio de uma interação. Envolve outros elementos, inclusive mensagens, seqüências de ações (comportamentos chamados pelas mensagens) e ligações (conexões entre os objetos). 33 TEMA c2.2. MÁQUINA DE ESTADO (d2) é um comportamento que especifica as seqüências de estados, pelas quais objetos de interações passam durante sua existência em resposta a eventos, bem como suas respostas a esses eventos. Especifica o comportamento de uma classe individual ou de uma colaboração de classes. Abrange outros elementos, incluindo estados, transições ( fluxo de um estado a outro), eventos (itens que ativam uma transição), atividades (respostas às transições). AGRUPAMENTO (c3) São as partes organizacionais dos modelos UML, os blocos em que os modelos podem ser decompostos. Um tipo importante de agrupamento é o mecanismo de propósito geral para a organização de elementos em grupo, denominado pacote. Itens estruturais, comportamentais e outros, podem ser colocados em pacotes. ANOTAÇÕES (c4) São as partes explicativas dos modelos UML; comentários incluídos para descrever, esclarecer, fazer alguma observação sobre qualquer elemento do modelo. Existe um tipo primário de item de anotação chamado Nota, apenas um símbolo para representar restrições e explicações anexadas a um elemento ou a uma coleção de elementos. RELACIONAMENTOS (b2) É a vinculação dos blocos de construção da UML. Esta ligação pode ser de quatro tipos: dependência, associação, generalização e realização. b2.1. DEPENDÊNCIA (c5) – é um relacionamento semântico entre dois Itens, nos quais a alteração de um item independente pode afetar a semântica de outro item dependente. UNIESP 34 b2.2. ASSOCIAÇÃO (c5) - é um relacionamento estrutural que descreve um conjunto de ligações, em que as ligações são conexões entre objetos. Um tipo especial de associação é a agregação, que representa um relacionamento estrutural entre o todo e suas partes. b2.3. GENERALIZAÇÃO (c5) – é um relacionamento de especialização ou generalização, nos quais os objetos dos elementos especializados, os filhos, são substituíveis por objetos do elemento generalizado, os pais. Dessa forma, os filhos compartilham a estrutura e o comportamento dos pais. b2.4. REALIZAÇÃO (c5) – é um relacionamento semântico entre classificadores. Um classificador especifica um contrato que outro classificador garante executar. Os vínculos de realizações serão encontrados em dois lugares: entre Interfaces e as Classes ou Componentes; e entre Casos de Usos e as Colaborações. DIAGRAMAS (b3) b3.1. DIAGRAMA DE CLASSES (c6) – exibe conjunto de classes, interfaces e colaborações, bem como seus relacionamentos. Os diagramas de classes que incluem classes ativas e direcionam a perspectiva do processo estático do sistema. b3.2. DIAGRAMA DE OBJETOS (c6) – exibe conjunto de objetos e seus relacionamentos. Representa retratos estáticos de instâncias de itens encontrados em diagramas de classes. b3.3. DIAGRAMA DE CASO DE USO (c6) – exibe um conjunto de Caso de Uso e Atores (um tipo especial de classe) e seus relacionamentos. São importantes para a organização e a modelagem de comportamentos do sistema. 35 TEMA b3.4. DIAGRAMA DE SEQÜÊNCIA - 5. DIAGRAMA DE COLABORAÇÃO (c6) São tipos de diagramas de interação. Composto de um conjunto de objetos e seus relacionamentos, incluindo as mensagens que podem ser trocados entre eles. No diagrama de Seqüência a ênfase está na ordenação temporal da mensagem. A ênfase do Diagrama de Colaboração está na organização de estrutura dos objetos que enviam e recebem mensagens. Os diagramas de Seqüência e Colaboração são isomórficos, isto é transformam o diagrama de um tipo em outro. b3.6. DIAGRAMA DE GRÁFICO DE ESTADO (c6) – exibe uma máquina de estados, formada por estados, transições, eventos e atividades. É importante para modelagem de comportamentos de uma Interface, Classe ou Colaboração. Também para dar ênfase a comportamentos de um objeto, ordenados por evento. É de grande ajuda para modelagem de sistemas reativos. b3.7. DIAGRAMA DE ATIVIDADE (c6) – é um tipo especial de diagrama de gráfico de estado. Exibe o fluxo de uma atividade para outra no sistema diagrama de atividade. É importante para a modelagem da função de um sistema e dá ênfase ao fluxo de controle entre objetos. b3.8. DIAGRAMA DE COMPONENTE (c6) – exibe as organizações e as dependências existentes em um conjunto de componentes. Está relacionado ao diagrama de classes, pois os componentes são mapeados para uma ou mais classes, interfaces ou colaborações. b3.9. DIAGRAMA DE IMPLANTAÇÃO (c6) – mostra a configuração dos nós de processamento em tempo de execução e os componentes neles existentes. Está UNIESP 36 relacionado ao diagrama de componentes, pois um nó inclui um ou mais componentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho procurou mostrar que a UML possui recursos específicos para analisar a estrutura de um sistema, determinar seu comportamento e modelar a topologia de dispositivos que o executarão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Primeiro Texto) Páginas 6-23 HENINGER, Kathryn L. Specifying Software Requirements for Complex Systems: New Techniques and Their Application. IEEE Transactions on Software Engineering, vol. se-6, no. 1, january 1980. KOTONYA, Gerald; SOMMERVILLE, Ian. Requirements Engineering: Processes and Techniques. Chichester,UK: John Wiley and Sons, 1998. PRESSMAN, Roger S. Engenharia de Software. 6ed., São Paulo: McGraw-Hill, 2006. SOMMERVILLE, Ian. Engenharia de Software. 6ed. São Paulo: Addison Wesley, 2003. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Segundo Texto) Páginas 24-37 BOOCH, Grady; JACOBSON, Ivar; RUMBAUGH, James. The Unified Modeling Languague User Guide. Addison Wesley, 1999. FURLAN, José Davi. Modelagem de Objetos através da UML – the Unified Modeling Language. São Paulo: Makron Books, 1998. LARMAN, Craig. Utilizando UML e Padrões. Porto Alegre: Bookman, 2000. PAGE-JONES, Meilir. Fundamentos do Desenho Orientado a Objeto com UML. Makron Books, 2001. 37 TEMA Autor e Texto Author - Text Carla Cristina Pasquale* STRATEGIC SOURCING - Strategic Sourcing - Methodology of buying Resumo Este artigo trata de Strategic Sourcing, metodologia usada na área de compras e suprimentos. Trata, ainda, dos processos que envolvem compras estratégicas e suas complexidades. Abstract This article deals with Strategic Sourcing, methodology used in the area of buying and supplies. It deals, also, with the processes which involves strategic buying and its complexities. Palavras-Chave Strategic Sourcing. Compras. Modelos de Administração e Gestão de negócios. Key Words Strategic Sourcing. Buying. Models of Administrations. Business Running. * Especialista em Administração de Negócios pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Colaboradora da área de Pesquisa e Extensão das Faculdades Integradas Teresa Martin desde 2005. R.TEMA S.Paulo UNIESP nº 50 jul/dez 2007 P. 38-55 38 Carla Cristina Pasquale STRATEGIC SOURCING Strategic Sourcing - Methodology of buying A ntigamente, até por volta dos anos 1970, as empresas tinham a mentalidade de que quanto mais produzissem, mais venderiam e melhor atenderiam as necessidades de seus clientes. Portanto, produziam mais do que o necessário. Havia empresas que se preocupavam em produzir um único produto em grandes quantidades, e empresas que se preocupavam em oferecer aos seus clientes uma ampla variedade de bens e serviços, a fim de poder atendê-los, quaisquer que fossem suas necessidades. Este modelo segue os princípios apresentados pelo sistema Just in Case, cujo significado pode ser traduzido para em caso de. No entanto, estas empresas começaram a perceber que esse procedimento exigia estoques consideráveis, fazendo com que muitas mercadorias ficassem paradas, o que gerava custos de armazenamento, energia, transporte, segurança, manutenção, terminando com a depreciação dessas mercadorias. A partir destas percepções, as empresas passaram a adotar outras formas de gerenciar sua produção. Passaram a 39 TEMA adotar o conceito Just in Time, que consistia numa forma de organização da produção que obedecia à demanda de seus clientes. A cada nova solicitação dos clientes, produziam-se as mercadorias, de modo a não gerar estoques, minimizando, assim, os custos de produção. A produção passou a ser sincronizada de acordo com a nova necessidade do cliente. De acordo com o Sistema Japonês de Qualidade, Just in time significa na hora certa, só em caso de necessidade, no momento exato. Segundo Katsuaki Watanabe, da Toyota Motor Corporation, a produção deve seguir os seguintes pilares: estoque zero, melhoria contínua e qualidade na fabricação (Sistema Toyota de fabricação)1. A partir destas mudanças, que inicialmente foram implementadas por empresas japonesas que conseguiram não apenas economizar fantásticas quantias, mas, também, proporcionar aos seus produtos e serviços um avançado nível de competitividade, houve uma evolução geral no mercado com relação a tudo que fosse referente à redução de custos e maior qualidade. Os novos modelos de produção, por conseqüência, implicaram em novos modelos de administração e de gestão dos negócios. Em um ambiente em que a única constante é a mudança, as empresas precisam se adaptar para sobreviver e crescer. Diante de um cenário extremamente dinâmico, marcado por incessantes mudanças, que se apresentam nas mais diversas formas, surgiram algumas práticas que buscam uma maior redução de custos, e uma dessas práticas dentro da área de compras é comprar de forma planejada e estratégica. 1 Fonte: www.administradores.com.br UNIESP 40 Strategic Sourcing O Strategic Sourcing é uma metodologia utilizada nas empresas, principalmente nas áreas de compras e de suprimentos, cuja finalidade é contratar serviços de forma planejada e estratégica, respeitando alguns métodos e algumas etapas antes de ir ao mercado. Porém, em primeiro lugar, devemos compreender que uma compra estratégica consiste num processo complexo que envolve toda uma análise e reflexão de potenciais fornecedores de um produto ou serviço, tendo em vista os objetivos específicos. Não necessariamente, deve-se considerar apenas a redução de custos para a seleção de um fornecedor, mas também o ganho qualitativo, a busca constante de oportunidades de melhoria e benefícios. Dentro desta metodologia, é feito um levantamento de todos os produtos ou os serviços contratados pela empresa, estes são mapeados e pela sua similaridade são agrupados em categorias, que levam o nome de família. Alguns exemplos de Família são: a)Família de TI: componentes de tecnologia; b)Família de Marketing: eventos, pesquisa, mídia, comunicação visual, material gráfico; c)Família de Engenharia: manutenção predial, obras, reformas, entre outros serviços pertinentes a esta família. Todos os serviços ou produtos adquiridos pela empresa são identificados através de um levantamento. Feito este levantamento, são diagnosticados seus custos, volume comprado, necessidades, especificações e mercado 41 TEMA fornecedor. “Devemos lembrar que as organizações não se limitam apenas a vender, elas também compram vastas quantidades de matérias primas componentes manufaturados, instalação, equipamentos, suprimentos e serviços.”2 O que são compras organizacionais? De acordo com a definição de Webster e Wind, compra organizacional “(...) é um processo de tomada de decisão pelo qual as organizações estabelecem a necessidade da compra de produtos e serviços, bem como identificam, avaliam e escolhem, entre as marcas e os fornecedores disponíveis, qual a melhor opção.”3 Toda empresa tem uma área de atuação principal, com a qual ela deve focar-se e preocupar-se constantemente por ser sua função estratégica. Por exemplo, um banco tem como negócio principal captar dinheiro do mercado. No entanto, este mesmo banco precisa de outros serviços, como por exemplo, serviços de manutenção de suas agências; serviços de empresas de marketing para que, junto com suas áreas internas, possa viabilizar ações promocionais para seus clientes; serviços de mídia, a fim de fazer suas propagandas e atingir o público alvo; serviços de transporte 2 KOTLER, Philip. Administração de Marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall. 2006. p. 208. 3 Frederick E. Webster Jr e Yoram Wind. Organizational buying behavior. Upper Saddle River: Prentice Hall. 1972. p. 2. UNIESP 42 de valores, para transportar os valores para os cofres em segurança; serviços de agências de pesquisa; serviço de limpeza; enfim, estes são apenas alguns exemplos. Poderíamos citar inúmeros serviços que uma instituição desse porte necessita para manter sua estrutura. Porém, imaginem se esta mesma empresa, que tem como prioridade manter a excelência de seu principal serviço e dele obter lucros, tivesse que se preocupar com todas estas outras frentes. Ela certamente não daria conta. Por isso, ela precisa contratar serviços, ou recursos externos para que possa ser assessorada, e voltar-se para seu foco de negócios, onde está todo o seu potencial de lucro. Esta empresa precisa buscar fontes de fornecimento, empresas que tenham know-how em determinados negócios, estabelecer uma relação de confiança e voltar-se para o seu “core business”. As unidades de compras existem para realizar estas contratações, negociarem, buscarem as melhores alternativas, dentro ou fora de seu país. Há uma década, o comprador tinha uma função muito burocratizada, preocupando-se apenas em contratar o serviço ou produto demandado, sem muita noção estratégica. Normalmente, a contratação já era feita por outras áreas, e o comprador se preocupava somente em arquivar os contratos. Era uma função operacional apenas.Nos dias de hoje, esta conotação mudou; o comprador se tornou um executivo de negócios, bem como a área de compras se transformou numa unidade de negócios, cujo perfil é apoiar as demais áreas usuárias em suas demandas de contratação bem como fazer bons negócios. Portanto, o Strategic Sourcing é uma metodologia 43 TEMA que surgiu para agregar valor à compra. O processo de implantação do Strategic Sourcing traz diversas vantagens para a empresa, mas sua implementação pode gerar resistência entre os clientes internos da organização. O processo torna-se vantajoso, pois permite centralizar as compras evitando redundância entre áreas que estão comprando o mesmo serviço ou produto. Utilizando a metodologia de Strategic Sourcing, as áreas passam a trabalhar em sinergia. A área de compras torna-se uma área focada nas várias contratações da empresa, harmonizando as especificações, passando a ter uma visão mais ampla com relação às necessidades globais e aos volumes, que possibilitam um maior poder de negociação. Este método possibilita a obtenção de muitos benefícios; quando aplicado promove um relacionamento mais estratégico tanto com os usuários quanto com os fornecedores que passam a participar em condições de igualdade. Entretanto, a implementação de um sistema inovador como é o Strategic Sourcing não é uma tarefa fácil. Em momentos como este, é comum, em praticamente todas as áreas e níveis da empresa, identificarmos pontos de resistência à aplicação dessa nova metodologia.Dessa forma, sua implantação oferece grandes desafios, primeiramente, o comprador deve vender seu trabalho, deverá haver um trabalho de convencimento com as outras áreas. Muitas vezes, essas áreas entendem que as contratações já estão incorporadas em suas atividades não se sentindo seguras em delegar esta tarefa para o comprador. Outras vezes desconfiam da competência técnica e comercial do comprador ou já possuem um relacionamento UNIESP 44 de longa data com o fornecedor existindo favoritismo. Enfim, normalmente os compradores encontrarão algum tipo de dificuldade ao tentar implantar a metodologia. Para minimizar as dificuldades da implantação do método, as empresas estão capacitando seus profissionais de compras para que se tornem conhecedores à altura de seus usuários, de modo que alguns compradores tornem-se especialistas em algumas categorias. O Strategic Sourcing é amplamente indicado quando se trata de compras complexas, de serviços ou produtos estratégicos, que envolvam alto risco e alto custo. No entanto, vale ressaltar que as empresas também contratam produtos e serviços de rotina, tais como material de escritório e outros produtos de menor custo e risco, para os quais pode ser feita com uma simples cotação. Neste caso, o Strategic Sourcing não se aplica. Existem alguns itens que são padronizados e que são comprados regularmente, dispensando qualquer análise estratégica, normalmente o comprador faz três cotações e efetua a compra pelo menor preço. Por outro lado, para contratações de alto risco, alto custo, de alto valor agregado, é indispensável uma análise mais aprofundada, aplica-se então o Strategic Sourcing. Quando se trata de uma compra considerada estratégica, com um nível grande de complexidade, o comprador passa a gerenciar o projeto de Strategic Sourcing, com início, meio e fim, e isto não significa necessariamente que ele precise ser um técnico em gerenciamento de projetos. Ele tem o objetivo de organizar o trabalho, dividi-lo em frentes. Para isso ele elabora uma matriz de atividades, para todo o time multifuncional, que normalmente é composto por 45 TEMA usuários, técnicos, compradores, decisores e alta diretoria. No entanto, seu foco principal é a contratação estratégica, mas ele é responsável pela condução do projeto, ele é o ponto focal e interage com todo o time. Antes de ir ao mercado, o comprador deverá debruçar e analisar todos os contratos já existentes, entender os níveis de serviços contratados, volumes, gastos anuais, saber quantos fornecedores existem em suas bases, como estão os acordos atuais. Deve entrevistar os fornecedores já atuantes, analisar o relacionamento cooperativo, avaliar como está o desempenho dos mesmos, verificar o cumprimento de SLA – Service Level Agreement, que significa nível de serviço acordado e seus respectivos prazos. Além disso, deverá também analisar possíveis barreiras de saída, caso a empresa desejar romper o contrato com algum de seus fornecedores. Fornecedores, já contratados, normalmente participam do novo processo, e passam a concorrer com fornecedores do mercado sem nenhum diferencial ou privilégio. Cabe, porém, ressaltar que esta decisão de incluir ou não fornecedores atuais ficará à critério do time. Haja vista que o fornecedor que já possui vínculo conhece bem seu cliente podendo tirar vantagem no processo seletivo. Outra importante função do comprador é analisar junto com o time, qual o número ideal de fornecedores. Quanto mais fornecedores, maior o trabalho para administrálos; por outro lado, o ideal é que não haja concentração, por exemplo, a empresa contrata um único fornecedor, caso ele deixe de existir, a empresa ficará sem o serviço, ou o contrário, se o cliente sair e o fornecedor tiver dependência financeira deste, pode ocorrer uma falência. Embora seja UNIESP 46 interessante que o fornecedor tenha uma fatia substancial de seu faturamento com um determinado cliente e tenha receio de perdê-lo. A missão do comprador é sempre buscar um plano de contingência, porém, em alguns momentos, até mesmo por questões econômicas, o comprador poderá se deparar com situações em que o fornecedor irá exercer poder sobre seus clientes por ser o único provedor de um produto diferenciado ou de um determinado serviço. A esse respeito, segundo Michal Porter, “em compras, a meta é encontrar mecanismos para compensar ou superar estas fontes de poder dos fornecedores. Em alguns casos este poder é inerente à economia e está fora do controle da empresa. Em muitos casos ele pode ser amenizado pela estratégia”4 O ideal é que o serviço seja distribuído entre alguns fornecedores, de modo que haja uma pulverização, sem dependência de nenhuma das partes e que exista uma contingência. Caso um fornecedor venha apresentar problemas em sua operação, é totalmente possível que o serviço seja transferido para um outro que tenha capacidade para absorver o serviço. A troca de fornecedor também deve ser analisada, bem como avaliar quais os impactos, caso seja necessária a mudança. Para desbravar o mercado, e encontrar fornecedores, o comprador precisa estar atualizado sobre o mercado, através de fontes como internet, portais do segmento, 4 PORTER, Michael E. Estratégia competitiva. Rio de Janeiro: Editora Campus. 1986. P. 127. 47 TEMA associações, jornais, redes sociais, através de outras empresas, agências de pesquisas, recorrendo à áreas de Inteligência de Mercado; enfim, existem inúmeros recursos para a obtenção destas informações. Benchmarking O Benchmarking é uma prática bastante usada pelas empresas a fim de buscarem informações relevantes não somente sobre fornecedores, mas, também, sobre as melhores práticas. É uma forma de obter informações sobre os melhores métodos de trabalho, melhores práticas, buscar referência sobre mercado fornecedor, e mesmo entender como uma determinada empresa conquistou a excelência em sua forma de atuação. Esta prática é muito comum entre as empresas, é claro, preservando o sigilo das relações entre clientes e fornecedores, e diferenciais competitivos. No entanto, é muito comum que as empresas troquem informações relacionadas ao desempenho de seus fornecedores, comentem sobre seus pontos fortes e fracos bem como sobre seu desempenho. Para encontrar novos fornecedores e conhecer o mercado, existem vários sites de pesquisas que podem trazer informações sobre as empresas, associações, ou através da busca de referências com o próprio mercado,de modo que seja possível a elaboração de uma lista de empresas com as quais seja possível trabalhar. Com uma relação de empresas em mãos, conhecendo a dinâmica do setor que estamos procurando, já temos uma lista de fornecedores potenciais para a prestação do serviço UNIESP 48 que a empresa necessita. De posse de informações do mercado, advinda das pesquisas dentro do segmento específico, somado a informações macroeconômicas, temos material para compor uma primeira lista, que tem o nome de lista longa, ou long-list. Portanto, o passo seguinte é enviar um convite ao mercado para identificar quais empresas tem interesse em participar. Este documento que é enviado ao mercado chama-se RFI – Request for Information. Esta RFI deverá conter um convite ao fornecedor perguntando sobre seu interesse em participar, perguntas cadastrais, dados do fornecedor, documentação do fornecedor, cronograma para solução de dúvidas. Obs.: o comprador deverá estimar um prazo para responder às perguntas, e uma data final para a devolução da RFI. Após as empresas interessadas aceitarem o convite, responderem à RFI e enviarem sua documentação, deve ser feito um mapa comparativo para que se tenha uma análise geral das empresas, considerando seus aspectos administrativos, fiscais, financeiros e jurídicos. A esta análise dá-se o nome de Due Dilligence. Due Dilligence é um verbete financeiro, que não possui uma tradução específica. No entanto, é uma análise que envolve uma investigação profunda sobre o potencial fornecedor. Nesta tarefa, são analisadas as informações cadastrais do fornecedor, saúde financeira, riscos, scoring, rating, tendências setoriais e sua reputação no mercado. Para esta análise, existem ferramentas específicas no mercado que oferecem subsídios para uma análise de saúde financeira, como por exemplo os relatórios de empresas de 49 TEMA informações cadastrais. Após a análise cadastral, fiscal, jurídica e financeira da empresa candidata, o comprador escolhe algumas destas empresas para que sejam, as participantes do processo;ele obtendo então uma lista menor do que a primeira, trabalhará com uma short-list, uma lista mais curta. Feita esta seleção, o comprador definirá junto com o time multifuncional, quais serão as empresas que farão parte do processo. A partir deste ponto, o comprador elabora um documento colocando sua necessidade, com especificação técnica, prazos, exigências, enfim, quanto mais clara for esta requisição, mais subsídios o potencial fornecedor terá para elaborar sua proposta de fornecimento. Instrumentos de Apoio ao Comprador, RFI, RFP e RFQ. Request For Information (RFI) – Requisição de Informação é um documento utilizado para solicitar informações ao mercado, em inglês chama-se Request for Information, cuja tradução é requisição de informação. Request For Proposal (RFP) – Requisição de Proposta Neste documento, a empresa que está interessada num determinado produto ou serviço explica aos fornecedores, através de uma especificação técnica, quais são suas premissas, necessidades técnicas, prazos, exigências com qualidade, certificações emitidas através de órgãos certificadores, e todas as informações que sejam necessárias para a prestação do serviço. Quanto mais informações os fornecedores tiverem das empresas solicitantes de seus serviços ou produtos, UNIESP 50 melhor poderão fazer suas ofertas, poderão mostrar suas soluções tecnológicas, diferenciais, prazos, certificações, quais serão seus esforços para atendimento. Neste momento, tudo dependerá da criatividade de cada fornecedor em apresentar suas inovações, soluções para correções de desvio de rota, casos de sucesso com seus clientes, enfim, toda informação para conquistar seu futuro cliente é de grande valia. No entanto, ainda estamos no âmbito das informações técnicas, de fornecimento, entrega, suporte. Nesta etapa, o comprador deverá ter critérios para uma outra seleção que preservará apenas os fornecedores que mais se aproximarem de suas necessidades. Partindo então para uma etapa seguinte que será uma requisição de cotação para que sejam analisados os preços por item, o fornecedor apresentará sua composição dos custos. Request For Quotation (RFQ) – Requisição de Cotação é o documento final, onde serão apresentados os preços, item a item, sua composição, impostos, câmbio (se houver). Todos os fornecedores deverão considerar os mesmos itens para que as propostas sejam equalizadas posteriormente. Com todo este material em mãos, o comprador precisa tomar sua decisão. Para tanto, precisa ter critérios de avaliação, pois as decisões não são tomadas apenas pelo melhor preço. Os critérios de avaliação são decididos em conjunto com a área solicitante. Esses critérios são estabelecidos com notas ponderadas, pois o que estamos avaliando são preços, proposta técnica, e outros itens considerados importantes como condição de fornecimento. Devemos ressaltar que em todas as etapas, todos os 51 TEMA fornecedores deverão participar com isonomia. As propostas de preço, normalmente são equalizadas numa planilha de Excel, item a ítem, considerando sua composição de custo, insumos, mão de obra, margem de lucro, entre outros. Todos os fornecedores precisam considerar os mesmos itens. A análise de preço também é feita em conjunto. É importante ressaltar que no processo de Strategic Sourcing, o comprador não decide nada isoladamente, sempre em conjunto com o time multifuncional. O item preço é um ítem de extrema relevância, mesmo porque deve estar dentro de uma margem orçamentária, no entanto, não deve ser o ponto decisivo, mesmo porque os preços entre todos os fornecedores deverão estar compatíveis. Preços muito desproporcionais, muito elevados ou muito abaixo, devem ser considerados como ponto de atenção. Fornecedores aventureiros colocam seus preços muito abaixo apenas com o intuito de atrair e conquistar o cliente. No entanto, com o passar de alguns anos, o fornecedor certamente irá pleitear aumento de seus preços sob a alegação que está trabalhando sem margens de lucro. De modo que o cliente tenha que rever sua contratação. Embora o Strategic Sourcing tenha foco na redução de custos, esta nem sempre é a decisão mais acertada. A estratégia é buscar oportunidades que tragam benefícios, valor agregado, estabelecimento de parcerias de longa duração, portanto, o ponto decisório não deve limitar-se apenas aos custos. Realizar Workshop com os fornecedores com os potenciais fornecedores é imprescindível. Um workshop é uma reunião, onde o fornecedor não vai UNIESP 52 limitar-se a apenas expor suas competências, mas sim demonstrá-las de um modo prático com alguns exemplos de caso. A importância da realização de um workshop é dar a oportunidade ao potencial fornecedor de apresentar sua empresa, mostrar seu institucional, sua missão, sua visão, quem são seus principais clientes, seus casos de sucesso (também de insucesso, e, principalmente, contar como corrigiu certos desvios de rota), mostrar qual é seu posicionamento no mercado, como são suas estratégias de marketing, custos, suporte, como será o atendimento ao cliente. Enfim, abre-se uma mesa, para perguntas e respostas. Neste momento, é formado um comitê avaliador, que levará em consideração os critérios já estabelecidos. O comitê é formado por todo o time, compradores, usuários, decisores, todos que estão envolvidos no processo de Strategic Sourcing. O workshop traz bastante visibilidade e possibilita ao time decisor uma maior percepção de como poderá ser o relacionamento com o potencial fornecedor. A visita técnica é uma etapa de extrema relevância, pois permite verificar in loco toda a operação do cliente. Neste momento, entra-se em contato com o ambiente real, em seu pleno funcionamento, permitindo que seja checado tudo o que foi exposto formalmente através de RFI, RFP e RFQ. A visita permite vivenciar, auditar processos, verificar a estrutura física, avaliar a segurança lógica e física que a empresa oferece, entre outros itens que normalmente são confrontados com as informações que estão no papel. Após cumprir todas as etapas, entender o mercado, saber quais são as empresas do segmento que se busca, 53 TEMA entender quais são as empresas líderes de mercado, conhecer suas competências técnicas, reputação, como atuam no mercado, seus pontos fortes e fracos, entre outros critérios de avaliação, é feita a seleção e chega-se ao fornecedor vencedor, que pode ser um único, ou vários fornecedores aprovados, esta escolha dependerá do que foi determinado com o time, portanto são desenhados cenários de contratação. Estes cenários têm como objetivo mostrar de forma analítica todas as conclusões a respeito dos fornecedores que chegaram à etapa final, ressaltando seus pontos fortes, fracos, contingência, benefícios de sua contratação, vantagens e desvantagens. Caso a empresa entenda que precise naquele momento de mais de um fornecedor, ela poderá contratar um ou mais fornecedores. Portanto, terminado o processo, o comprador, junto com o time, faz uma recomendação de contratação para apresentar ao o time decisor. Apresentados os cenários, o time decide pelo fornecedor vencedor. Este recebe um comunicado da empresa mostrando que foi aceito para o fornecimento do produto ou para a prestação do serviço. Fornecedor desclassificado também deverá ser informado sobre sua desclassificação para este processo de seleção, mas que estará nas bases de dados para uma próxima oportunidade, a empresa gentilmente deve agradecer pela sua participação. Finalizadas as etapas do Strategic Sourcing, feita a comunicação para o fornecedor (es) vencedor (es), inicia-se a etapa contratual, onde são estabelecidas as condições de fornecimento, os níveis de serviço, penalidades, multas e UNIESP 54 condições comerciais. Elabora-se um contrato que deve ser assinado de comum acordo entre as partes. A gestão deste contrato é feita por uma equipe especializada que administra tudo o que foi contratado versus o que está sendo entregue pelo fornecedor. Existem profissionais no mercado que são gestores de contratos, são especialistas no gerenciamento de contratos e fornecimento. Esta equipe analisa se os prazos estão sendo cumpridos, caso não sejam, são aplicadas multas e penalidades que podem variar em valores altíssimos bem como a suspensão do serviço por um determinado prazo. Estes contratos são revistos anualmente, são reajustados, e em cada renovação, o usuário do serviço é consultado, é interrogado para informar sobre o desempenho do fornecedor em sua prestação de serviço. Inicia-se então um relacionamento contínuo e de longa duração entre cliente e fornecedor. Bibliografia CARBAUGH, Robert J. Economia internacional. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.2004. CHURCHIL, Gilbert A. e PETER, J. Paul. Marketing – criando valor para os clientes.São Paulo: Saraiva. 2000. KEEGAN, Warren J. e GREEN, Mark C. Princípios de marketing global. São Paulo: Saraiva.2006. 55 KOTLER, Philip e KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall. 2006. PORTER, Michael E. Estratégia competitiva. Rio de Janeiro: Editora Campus. 1986. SLACK,N i g e l , CHAMBERS, Stuart e JOHNSTON, Robert. Administração da produção.São Paulo: Atlas. 2006. TEMA Autor e Texto Author - Text Marcelo G. Gomes* Fraudes, Crises e Ética nas Empresas Frauds, Crises and Ethics in the Establishments Resumo Este artigo trata de ética empresarial e seus objetivos. A discussão percorre problemas ocorridos em empresas de grande porte, que fraudaram balanços, envolvendo o mundo dos negócios em grande escândalo internacional. Abstract This article deals with establishment ethics and its objectives. The discussion goes through problems faced in conglomerates, which forged balances, involving the world, in business of enormous international scandalous. Palavras-Chave Fraudes. Balanços. Auditoria. Ética. Ética Empresarial. Key Words Frauds. Balances. Auditory. Ethics. Establishment Ethics. Mestre em Administração, professor das Faculdades Integradas Teresa Martin. R.TEMA S.Paulo UNIESP nº 50 jul/dez 2007 P. 56-61 56 Marcelo G. Gomes Fraudes, Crises e Ética nas Empresas Frauds, Crises and Ethics in the Establishments N o início dos anos 2000, grave crise desenhou-se nos Estados Unidos, promovida por empresas norte-americanas de grande respeitabilidade que se haviam envolvido em fraudes nos seus balanços. Por haverem prometido lucratividade exagerada aos investidores, acreditando num desempenho espetacular e contínuo da economia americana, ao começarem a perder fôlego passaram a fraudar balanços, procurando fazer a opinião pública acreditar que suas aplicações estavam em alta. Sabendo que os resultados de seus balanços eram falsos, obtiveram de empresas de auditoria a convalidação dos resultados apresentados para manter o ânimo dos investidores, conferindo ares de verdade às fraudes. Integravam o grupo de fraudadores empresas como a Xerox, a Tyco, a Bristol-Meyers, a Squibb, entre outras. A descoberta das fraudes provocou enorme escândalo, expondo a vulnerabilidade da economia norteamericana. Investidores do país e de outras partes do mundo ficaram perplexos, não apenas pela perda de recursos, mas, também, pela crise de confiança que assolou o mundo dos negócios. 57 TEMA O saldo foi espantoso. Em curtíssimo tempo, grandes empresas faliram e investidores perderam fortunas, enquanto várias empresas de consultoria desapareceram, como a Arthur Andersen, mundialmente conhecida. As causas do desastre estão, em última instância, na ausência do cultivo de relações éticas, decorrente do desejo obsessivo de lucro, da obtenção e posse da maior quantidade possível de bens materiais. A própria escala de prestígio social atesta a veracidade dessa assertiva, visto que aos despossuídos de bens a sociedade reserva indiferença, quando não o brinda com desprezo e agressividade. A ética empresarial permeia, ou deveria permear, empresas e organizações em geral, valorizando a conduta ética de seus integrantes, os valores da organização, sendo que estes devem constituir parte de sua cultura. Se um dos objetivos da ética é apontar rumos, construir normas positivas que contribuam para o aperfeiçoamento humano, como se pode entender a possibilidade de sua prática num universo empresarial aético ou anti-ético, já que a gana pelo lucro leva a pisar sobre a própria vida humana? Esforços Pela Ética no Mundo dos Negócios Uma das primeiras preocupações na relação entre a ética e o mundo do trabalho tinha como meta a elevação do trabalhador aos Conselhos de Administração das organizações econômicas nos países de origem alemã, na primeira metade do século XX. O ensino da Ética Empresarial tomou impulso nos Estados Unidos nos anos 60 a 70 do século XX. Raymond Baumhart realizou o primeiro estudo sobre a questão junto a empresários, restringindo o enfoque UNIESP 58 da Ética nos Negócios à conduta ética pessoal e profissional. Era uma atitude importante mas insuficiente para abarcar a complexidade das questões que o tema envolvia. Novas alternativas passaram a ser procuradas, em vários estudos. Em 1999, a revista Newsweek em conjunto com a Organização Harris realizou importante pesquisa querendo saber se as empresas deveriam preocupar-se apenas com seus lucros ou se deveriam ter, também, alguma preocupação social. O resultado da pesquisa apontou a preocupação dos entrevistados com a importância social da empresa e os papéis que, nesse campo, ela deveria cumprir. O resultado dessa pesquisa revelava o anseio popular pela função social da empresa em vez de preocupar-se exclusivamente em maximizar seus lucros, o que entrava em choque com teorias até então bem aceitas, como a de Milton Friedman, que fora professor da Universidade de Chicago, e era considerado o pai do neoliberalismo. Esta teoria ressurgia, com novas configurações, de matrizes muito antigas, de John Locke, passando pela Escola Austríaca, assumindo nos anos 1980 foro de verdade única, propondo a quase total anulação da participação do Estado na economia de um país, bem como no mercado de trabalho, admitindo que toda a base da economia devia ser formada por empresas privadas, com liberdade total às leis de mercado, enfim admitindo que a regulação dos preços deveriam ficar restritas às leis de oferta e procura, combatendo o pagamento de impostos e taxas ao governo sob o pretexto de serem excessivos. Em resumo, pode-se dizer que o neoliberalismo propunha o fim do Estado de Bem Estar Social, a privatização da educação e dos serviços de saúde. A ética do bem estar social passava por uma desvalorização tão forte que a tornava aos olhos leigos da 59 TEMA opinião pública como uma coisa muito antiga, ultrapassada. Mudanças e Problemas Quando o processo de desterritorialização das empresas norte-americanas e européias se acirrou, em virtude de sua expansão econômica, começaram a ser chamadas de multinacionais. Instalavam-se em países de culturas diferentes e passavam a encontrar entraves à aplicação de seus padrões éticos. A fragmentação da produção, alienando o trabalhador de seu trabalho, as diferentes formas de negociar, a adoção de novos modelos de calendário que se chocavam com hábitos religiosos e costumes fortemente arraigados, foram alguns dos problemas enfrentados pelas empresas em decorrência de distintos padrões culturais com que deveriam manter convivência. Por isso, vários códigos de ética foram redigidos e realizados, inúmeros estudos sobre ética empresarial foram feitos, além da concessão de financiamentos para realização de vários congressos internacionais sobre a questão. Essa prática de realizar encontros consagrou-se, mantendo-se ativa até a atualidade. Mas, na avaliação final de pesquisas e congressos, o que acaba transparecendo como aspiração é algo muito além de palestras. Ao que parece, a ética não é mais aceita como discurso, o que se almeja é a ética como prática concreta. Como Fica o Debate? Ideias como as de Milton Friedman já não encontram amparo nos debates, nem na Inglaterra onde as propostas ultraliberais de Margareth Thatcher, de uma sociedade sem UNIESP 60 Estado, acumularam fracassos, desempregos e crescentes manifestações populares de repúdio. Nos Estados Unidos, o desequilíbrio de W. Bush fica evidente, com o crescimento dos democratas, tendo como bandeira questões sociais e éticas, programas de saúde e bem estar social. Redes sociais e organizações não governamentais criaram tribunas incontroláveis pelo sistema midiático tradicional, de onde divulgam informações, estabelecem críticas e convocam protestos. No cotidiano das empresas, surgiram violentas críticas às práticas fraudulentas nas áreas contábeis, com sérias cobranças à honestidade em sua política contábil, visto que a contabilidade fraudulenta levou à grave crise econômica, que afetou os Estados Unidos e outros países, como já foi demonstrado aqui. Ao lado disso, cresce o número de adeptos da doutrina de responsabilidade social que veem na empresa uma co-responsável com o processo de desenvolvimento do pais, criando empregos, pagando corretamente seus impostos e taxas, pagando salários justos, promovendo distribuição de renda. Embora se reconheça a ética como uma reflexão crítica sobre a moralidade, ela deve ser vista como um conjunto de princípios e disposições orientados para a ação. Uma ação transformadora, pois não sendo estática muda com a sociedade que ela própria ajuda a mudar. Bibliografia COUTINHO,Maria Cecilia. Fundamentos de ética empresarial e econômica. São Paulo: Atlas,2001 61 MAXIMIANO,Antonio Cesar. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo : Atlas,2003 TEMA Autor e Texto Author - Text Marcelo G. Gomes* Fraudes, Crises e Ética nas Empresas Frauds, Crises and Ethics in the Establishments Resumo Este artigo trata de ética empresarial e seus objetivos. A discussão percorre problemas ocorridos em empresas de grande porte, que fraudaram balanços, envolvendo o mundo dos negócios em grande escândalo internacional. Abstract This article deals with establishment ethics and its objectives. The discussion goes through problems faced in conglomerates, which forged balances, involving the world, in business of enormous international scandalous. Palavras-Chave Fraudes. Balanços. Auditoria. Ética. Ética Empresarial. Key Words Frauds. Balances. Auditory. Ethics. Establishment Ethics. Mestre em Administração, professor das Faculdades Integradas Teresa Martin. R.TEMA S.Paulo UNIESP nº 50 jul/dez 2007 P. 56-61 56 Marcelo G. Gomes Fraudes, Crises e Ética nas Empresas Frauds, Crises and Ethics in the Establishments N o início dos anos 2000, grave crise desenhou-se nos Estados Unidos, promovida por empresas norte-americanas de grande respeitabilidade que se haviam envolvido em fraudes nos seus balanços. Por haverem prometido lucratividade exagerada aos investidores, acreditando num desempenho espetacular e contínuo da economia americana, ao começarem a perder fôlego passaram a fraudar balanços, procurando fazer a opinião pública acreditar que suas aplicações estavam em alta. Sabendo que os resultados de seus balanços eram falsos, obtiveram de empresas de auditoria a convalidação dos resultados apresentados para manter o ânimo dos investidores, conferindo ares de verdade às fraudes. Integravam o grupo de fraudadores empresas como a Xerox, a Tyco, a Bristol-Meyers, a Squibb, entre outras. A descoberta das fraudes provocou enorme escândalo, expondo a vulnerabilidade da economia norteamericana. Investidores do país e de outras partes do mundo ficaram perplexos, não apenas pela perda de recursos, mas, também, pela crise de confiança que assolou o mundo dos negócios. 57 TEMA O saldo foi espantoso. Em curtíssimo tempo, grandes empresas faliram e investidores perderam fortunas, enquanto várias empresas de consultoria desapareceram, como a Arthur Andersen, mundialmente conhecida. As causas do desastre estão, em última instância, na ausência do cultivo de relações éticas, decorrente do desejo obsessivo de lucro, da obtenção e posse da maior quantidade possível de bens materiais. A própria escala de prestígio social atesta a veracidade dessa assertiva, visto que aos despossuídos de bens a sociedade reserva indiferença, quando não o brinda com desprezo e agressividade. A ética empresarial permeia, ou deveria permear, empresas e organizações em geral, valorizando a conduta ética de seus integrantes, os valores da organização, sendo que estes devem constituir parte de sua cultura. Se um dos objetivos da ética é apontar rumos, construir normas positivas que contribuam para o aperfeiçoamento humano, como se pode entender a possibilidade de sua prática num universo empresarial aético ou anti-ético, já que a gana pelo lucro leva a pisar sobre a própria vida humana? Esforços Pela Ética no Mundo dos Negócios Uma das primeiras preocupações na relação entre a ética e o mundo do trabalho tinha como meta a elevação do trabalhador aos Conselhos de Administração das organizações econômicas nos países de origem alemã, na primeira metade do século XX. O ensino da Ética Empresarial tomou impulso nos Estados Unidos nos anos 60 a 70 do século XX. Raymond Baumhart realizou o primeiro estudo sobre a questão junto a empresários, restringindo o enfoque UNIESP 58 da Ética nos Negócios à conduta ética pessoal e profissional. Era uma atitude importante mas insuficiente para abarcar a complexidade das questões que o tema envolvia. Novas alternativas passaram a ser procuradas, em vários estudos. Em 1999, a revista Newsweek em conjunto com a Organização Harris realizou importante pesquisa querendo saber se as empresas deveriam preocupar-se apenas com seus lucros ou se deveriam ter, também, alguma preocupação social. O resultado da pesquisa apontou a preocupação dos entrevistados com a importância social da empresa e os papéis que, nesse campo, ela deveria cumprir. O resultado dessa pesquisa revelava o anseio popular pela função social da empresa em vez de preocupar-se exclusivamente em maximizar seus lucros, o que entrava em choque com teorias até então bem aceitas, como a de Milton Friedman, que fora professor da Universidade de Chicago, e era considerado o pai do neoliberalismo. Esta teoria ressurgia, com novas configurações, de matrizes muito antigas, de John Locke, passando pela Escola Austríaca, assumindo nos anos 1980 foro de verdade única, propondo a quase total anulação da participação do Estado na economia de um país, bem como no mercado de trabalho, admitindo que toda a base da economia devia ser formada por empresas privadas, com liberdade total às leis de mercado, enfim admitindo que a regulação dos preços deveriam ficar restritas às leis de oferta e procura, combatendo o pagamento de impostos e taxas ao governo sob o pretexto de serem excessivos. Em resumo, pode-se dizer que o neoliberalismo propunha o fim do Estado de Bem Estar Social, a privatização da educação e dos serviços de saúde. A ética do bem estar social passava por uma desvalorização tão forte que a tornava aos olhos leigos da 59 TEMA opinião pública como uma coisa muito antiga, ultrapassada. Mudanças e Problemas Quando o processo de desterritorialização das empresas norte-americanas e européias se acirrou, em virtude de sua expansão econômica, começaram a ser chamadas de multinacionais. Instalavam-se em países de culturas diferentes e passavam a encontrar entraves à aplicação de seus padrões éticos. A fragmentação da produção, alienando o trabalhador de seu trabalho, as diferentes formas de negociar, a adoção de novos modelos de calendário que se chocavam com hábitos religiosos e costumes fortemente arraigados, foram alguns dos problemas enfrentados pelas empresas em decorrência de distintos padrões culturais com que deveriam manter convivência. Por isso, vários códigos de ética foram redigidos e realizados, inúmeros estudos sobre ética empresarial foram feitos, além da concessão de financiamentos para realização de vários congressos internacionais sobre a questão. Essa prática de realizar encontros consagrou-se, mantendo-se ativa até a atualidade. Mas, na avaliação final de pesquisas e congressos, o que acaba transparecendo como aspiração é algo muito além de palestras. Ao que parece, a ética não é mais aceita como discurso, o que se almeja é a ética como prática concreta. Como Fica o Debate? Ideias como as de Milton Friedman já não encontram amparo nos debates, nem na Inglaterra onde as propostas ultraliberais de Margareth Thatcher, de uma sociedade sem UNIESP 60 Estado, acumularam fracassos, desempregos e crescentes manifestações populares de repúdio. Nos Estados Unidos, o desequilíbrio de W. Bush fica evidente, com o crescimento dos democratas, tendo como bandeira questões sociais e éticas, programas de saúde e bem estar social. Redes sociais e organizações não governamentais criaram tribunas incontroláveis pelo sistema midiático tradicional, de onde divulgam informações, estabelecem críticas e convocam protestos. No cotidiano das empresas, surgiram violentas críticas às práticas fraudulentas nas áreas contábeis, com sérias cobranças à honestidade em sua política contábil, visto que a contabilidade fraudulenta levou à grave crise econômica, que afetou os Estados Unidos e outros países, como já foi demonstrado aqui. Ao lado disso, cresce o número de adeptos da doutrina de responsabilidade social que veem na empresa uma co-responsável com o processo de desenvolvimento do pais, criando empregos, pagando corretamente seus impostos e taxas, pagando salários justos, promovendo distribuição de renda. Embora se reconheça a ética como uma reflexão crítica sobre a moralidade, ela deve ser vista como um conjunto de princípios e disposições orientados para a ação. Uma ação transformadora, pois não sendo estática muda com a sociedade que ela própria ajuda a mudar. Bibliografia COUTINHO,Maria Cecilia. Fundamentos de ética empresarial e econômica. São Paulo: Atlas,2001 61 MAXIMIANO,Antonio Cesar. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo : Atlas,2003 TEMA Autor e Texto Author - Text Roberto Bassi Ribeiro Soares* Reflexões Sobre o Papel do Estado no Desenvolvimento Capitalista Reflections about the role of Government in the capitalist development Resumo Este artigo trata de reflexões do autor sobre o papel do Estado no desenvolvimento capitalista, tanto em sua fase caracterizada pelo predomínio da livre concorrência,como na fase em que predominam os monopólios e oligopólios. Abstract This article deals with reflections of the author about the role of Government in the capitalist development, not only in its stage branded by the domain of free competence, but also in its stage which domains monopolies and oligopolies. Palavras-Chave Capitalismo. Estado. Desenvolvimento Capitalista. Monopólios. Oligopólios. Key Words Capitalism. Government. Capitalist Development. Monopolies. Oligopolies. * Mestre em Administração (Marketing) pela PUC - SP. Professor da PUC-SP e Centro Universitário São Camilo. Colaborador junto ao Departamento de Pesquisa e Extensão das Faculdades Integradas Teresa Martin. R.TEMA S.Paulo UNIESP nº 50 jul/dez 2007 P. 62-91 62 Roberto Bassi Ribeiro Soares Reflexões Sobre o Papel do Estado no Desenvolvimento Capitalista Reflections about the role of Government in the capitalist development A o longo do século XX, como exemplos de situações que exigiram atuação extrema por parte dos governos de diversos países ao redor do mundo, podemos mencionar a Primeira Guerra Mundial, a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a grande depressão dos anos 1930, a Segunda Guerra Mundial e os choques do petróleo. Como exemplos dessa intervenção, temos o caso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que, desde 1929, já trabalhava com uma política econômica planejada; a França, cujo Estado encampou parcela considerável das indústrias economicamente estratégicas para o país. Nos Estados Unidos, e em grande parte da Europa, podemos citar programas como o New Deal e o Plano Marshall, cuja finalidade era reverter os impactos nocivos da Grande Depressão e da Segunda Guerra sobre esses países, entre outros programas de intervenção. Historicamente, 63 sobretudo em momentos TEMA de crise, independentemente do regime político, é comum observarmos a participação do Estado, no sentido de criar as bases necessárias para a superação da crise. Nesse sentido, a Teoria Keynesiana1 viria a contribuir significativamente para a compreensão da importância da atuação do Estado, sobretudo em períodos de recessão. Em meio ao avanço do processo de globalização que presenciamos nos dias de hoje, verificamos a intensificação em termos de volume e complexidade das relações comerciais por todo o mundo, bem como a internacionalização da produção e dos investimentos, por meio dos quais, notamos o desenvolvimento do processo de oligopolização da indústria mundial e o aumento da concentração de capital nas mãos das nações centrais, sedes dos grandes grupos multinacionais. No entanto, a conquista de novos mercados fornecedores e consumidores por parte dos grandes grupos oligopolistas e monopolistas conta com o auxílio dos governos de seus países de origem, que, de uma forma ou de outra, pressionam os governos das nações menos desenvolvidas a adotarem uma política econômica que favoreça os interesses de seus grandes grupos empresariais. Também é de grande importância a participação do governo das nações periféricas, que adotam políticas que 1 John Maynard Keynes, analisando os efeitos das crises que abalaram o mundo ao final do século XIX e primeiras décadas do XX, observou que não existiam forças de auto-ajustamento na economia e que por essa razão, era necessária a intervenção do Estado para restabelecer os níveis de demanda efetiva, que em sua interpretação, é a grande responsável pelo ajustamento do volume de produção nacional e emprego. UNIESP 64 privilegiam o capital externo, visando atrair investimentos estrangeiros para seu país. Principalmente após a incorporação das ideias apresentadas pelo Consenso de Washington, o liberalismo econômico, comandado pelas grandes corporações multinacionais, sediadas nas nações centrais, tornou-se o modelo principal de política econômica, orientada por esses países, e imposta às nações menos desenvolvidas. Com os avanços nas relações econômicas internacionais, ainda marcadas por conflitos de interesses comerciais e por políticas protecionistas adotadas por todo o planeta, novamente se discute até que ponto e em que casos a interferência governamental deve ser colocada em prática. A ausência do Estado na regulação das relações econômicas promoveria, de fato, o desenvolvimento econômico das nações envolvidas no comércio internacional, como defendiam as nações mais desenvolvidas, cujos interesses foram tão bem representados no Consenso de Washington? Por que, então, nesses países nota-se a existência de políticas protecionistas? Não obstante a criação da União Européia, com a quebra das barreiras que impediam a circulação de produtos, serviços, máquinas e equipamentos, matériasprimas e até mesmo de mão-de-obra, a Europa convive com focos de instabilidade econômica, que induz trabalhadores a emigrarem rumo a economias mais dinâmicas. Isto é, a proposta de um mercado unificado, mais forte e com melhores perspectivas de crescimento, não foi cumprida. 65 TEMA Diante desse quadro, novamente se discute o papel do Estado na regulação das relações econômicas, através de suas políticas. Nesse sentido, este estudo busca contribuir para a sustentação do debate a respeito da participação do Estado nas relações econômicas de uma nação e sua importância para seu desenvolvimento econômico. Contudo, ao longo deste estudo defenderemos o ponto de vista, segundo o qual, a atuação do Estado é orientada não por pressupostos econômicos, mas por razões políticas, revelando sua subserviência aos interesses do capital privado. Temos como objetivo, portanto, alimentar uma reflexão a respeito da atuação governamental e explicar as razões que determinam sua posição no processo de elaboração e implementação de suas políticas. Aspectos Econômicos da Globalização A internacionalização da produção tem diversas finalidades, e, da mesma forma, revela diferentes resultados, dependendo do grau de desenvolvimento das nações envolvidas nas relações econômicas internacionais. Sob o aspecto da produção, as multinacionais, oriundas de nações desenvolvidas, criam filiais de suas empresas em países mais pobres com o objetivo de beneficiarem-se da ampla oferta de mão-de-obra e do mercado consumidor potencial que esses países oferecem. Exportam tecnologia (já obsoleta em seus países de origem) para os países menos desenvolvidos, geram empregos, UNIESP 66 aquecem a economia, em troca do direito de instalarem suas fábricas nesses países2. Dessa forma, elevam seu grau de competitividade no comércio internacional, bem como sua lucratividade. A força de trabalho utilizada em seu próprio país recebe salários mais elevados, o que, em muitos casos, torna a operação em suas sedes deficitária. Entretanto, os lucros obtidos a partir da exploração da mão-de-obra barata e demais fatores de produção com custo reduzido nos países periféricos, compensam esse custo elevado, gerando altos lucros, que são transferidos às suas matrizes em seus países de origem. Dessa forma, criam-se condições para a formação de capital, utilizando-se, para tanto, de recursos de produção encontrados nos mercados menos desenvolvidos, mas que, transferidos aos países centrais, financiam sua acumulação de capital. Do lado do país subdesenvolvido, importador da tecnologia, este passa a desenvolver sua indústria com maior velocidade, gerando maior número de empregos e aumentando a renda e o PIB per capita. Entretanto, sua indústria nacional não conseguirá competir doméstica ou internacionalmente com a indústria estrangeira, e, no máximo, constituirá indústria complementar à indústria alienígena; quando muito, existirá num segmento de mercado que não desperte o interesse do capital estrangeiro. Outro problema consiste no fato de que esse desenvolvimento aparente dificilmente ocorrerá num ritmo 2 A instrução 113 da SUMOC, instituída em 1955, permitia a entrada de máquinas e equipamentos sem cobertura cambial e sob a forma de investimento direto estrangeiro. 67 TEMA ou grau de eficiência que o retire da posição de submissão ao capital internacional, o qual atua como grande financiador (e explorador) de seu desenvolvimento econômico. Isso acontece, pois as indústrias criadas nas nações periféricas não contam com o mesmo volume de recursos com que contam as multinacionais estrangeiras. Embora o capital seja formado utilizando-se os recursos dos países periféricos, ele passa a ser apropriado e transferido aos países desenvolvidos, sobretudo nos casos em que a demanda interna nos países periféricos não pode ser suprida com mercadorias produzidas nacionalmente, exigindo, consequentemente, importações dessas mercadorias. Há, também, casos em que o nível de poupança interna dos países menos desenvolvidos não é suficiente para financiar os investimentos na produção, exigindo-se, assim, recursos externos, cujo fluxo em geral ocorre mediante empréstimos internacionais, remunerados a elevadas taxas de juros. No que diz respeito aos trabalhadores, o único bem que a classe trabalhadora possui e que pode oferecer ao mercado é sua força de trabalho, que posta a serviço do capital privado, movimenta os meios de produção, gerando o produto de consumo. Pagos os custos dos recursos socialmente necessários à sua produção, recolhidos os tributos e embutido o lucro do capitalista, estabelece-se o preço da mercadoria. A margem de lucro determinará a magnitude da renda do produtor, enquanto que a renda do trabalhador é constituída basicamente por seu salário, este, fortemente pressionado justamente pela ampla oferta de mão-de-obra UNIESP 68 no mercado de trabalho e pela necessidade de redução nos custos de produção. Mas até que ponto o capitalista pode aumentar sua margem de lucro? Em sistemas econômicos onde predomine a ampla concorrência, as condições para que isso aconteça não são muito propícias, mas ao se tratar de mercados onde predominem o oligopólio ou o monopólio, a situação se modifica. Com relação ao lucro, obtido através do funcionamento do processo produtivo, no mercado competitivo, as organizações empresariais são obrigadas a incrementar seus investimentos em aprimoramento do produto (custos) e reduzir seus preços, obtendo, dessa forma, menores margens de lucros. Já em mercados onde a concorrência perdeu espaço para o oligopólio ou para o monopólio, as empresas estabelecem acordos com o intuito de definir não apenas o montante dos investimentos que serão realizados em suas operações, mas também os preços de venda de seus produtos3. Dessa forma, pode-se dizer que o mercado onde há grande competição entre as empresas proporciona melhores condições aos consumidores, disponibilizando-lhes mercadorias de melhor qualidade e melhores preços. Porém, historicamente, observa-se que o livre mercado está presente apenas em mercados que ainda não atingiram um elevado grau de desenvolvimento, enquanto que os oligopólios são justamente a representação do alto grau de 3 Neste caso, é de grande importância a interferência do Estado, por exemplo, através da criação de leis anti-trust, que inibem a cartelização dos mercados. 69 TEMA desenvolvimento do sistema capitalista. Com relação à distribuição da riqueza entre trabalhadores e capitalistas, temos que a maior parcela da riqueza cabe à classe capitalista, proprietária dos meios de produção, que incrementa sua lucratividade a partir da redução de seus custos de produção, sobretudo, dos salários pagos aos trabalhadores. Devido à excessiva oferta de mão-de-obra, os salários são compelidos para baixo, ampliando a lucratividade dos capitalistas e comprimindo o poder de compra, e, consequentemente, a qualidade de vida da classe trabalhadora. Quanto ao seu processo evolutivo, segundo Marx, o capitalismo, assim como os demais modos de produção, é fruto do desenvolvimento das forças produtivas, que tem origem no rompimento de um antigo modelo, mas que deverá evoluir ao seu ponto máximo (de capacidade de formação de capital e exploração da força de trabalho) e passará ao declínio, até que possamos observar a paulatina cristalização de um novo modelo, nesse momento, revolucionário. Vejamos, agora, como o desenvolvimento das forças produtivas pode influenciar as relações econômicas e sociais de uma nação. Em uma economia em que predomine a ampla concorrência, devem existir diversas indústrias produtoras de uma mesma mercadoria, que competem entre si, e que, por razão dessa concorrência e da necessidade de preservarem seus mercados consumidores, atacam seus concorrentes das mais variadas formas e intensidades. UNIESP 70 Inevitavelmente, algumas dessas indústrias não conseguem resistir a tais ataques e são apropriadas pelas mais fortes, reduzindo, aos poucos, a quantidade de empresas de um mesmo ramo no mercado. No longo prazo, apenas um número reduzido de indústrias tende a sobreviver, formando, assim, o oligopólio. Depois de constituído o oligopólio (ou monopólio), e diante do alto custo que envolve a conquista de maior participação de seus produtos e serviços no mercado consumidor, os grandes grupos empresariais passam a expandir-se para nações menos desenvolvidas, que tornamse consumidoras de suas mercadorias e fornecedoras de bens de produção. A penetração em novos mercados exige a fabricação de maior quantidade de mercadorias, e, consequentemente, maior consumo de bens intermediários e insumos para sua fabricação, conferindo à indústria maior economia de escala. . Assim, reduz seus custos e aumenta seu lucro, ou, se houver focos de concorrência a serem combatidos, pode-se transferir a redução de custos aos preços do produto final, conferindo-lhe maior competitividade. Ao penetrarem nos novos mercados, as grandes empresas estrangeiras passam a concorrer com a indústria local, aumentando a competitividade naqueles mercados, e, obviamente, elevando as pressões sobre os trabalhadores, que passam a submeter-se às imposições da nova realidade econômica. Assim, parcela significativa da indústria local acaba por não sobreviver aos ataques da indústria 71 TEMA estrangeira - mais desenvolvida e com maior capacidade de investimento. Com as falências, também caem os níveis de emprego, reduzindo ainda mais os salários, uma vez que a oferta no mercado de trabalho se expande. A indústria estrangeira, então, aproveita-se dessas condições e aumenta sua produção e oferta de produtos no mercado, novamente reduzindo custos e aumentando lucros, contratando essa mão-de-obra cada vez mais barata e submissa. Dessa forma, tais indústrias criam as condições necessárias para que possam, em seguida, marchar para a invasão de um novo mercado, e assim por diante, até transformarem-se em gigantes multinacionais, como as que surgiram a partir de inícios do século XX, nos Estados Unidos e na Europa. De qualquer forma, sob o capitalismo, seja em sua fase de ampla concorrência, seja em sua fase monopolista e oligopolista, as condições mais favoráveis aos trabalhadores são os períodos de prosperidade, quando aumenta a demanda da força de trabalho e, consequentemente, tende a ocorrer incremento real dos salários. Já nos períodos de crise, cai a demanda de força de trabalho e aumenta a concorrência entre os trabalhadores, resultando em queda dos salários reais. Ou seja, mesmo com a internacionalização da indústria local, havendo maior demanda por força de trabalho, haverá ganho em termos de salários reais para os trabalhadores. Contudo, reduz-se a capacidade da nação reverter sua posição de subordinação ao capital estrangeiro, uma vez que a riqueza é internacionalizada. UNIESP 72 O fato é que seja no livre mercado, ou no oligopólio, a classe trabalhadora sempre será obrigada a submeter seus próprios interesses aos do capital privado. Marx previa que conforme o capitalismo se desenvolvesse, faria com que as empresas aumentassem a pressão sobre os trabalhadores, em nome da redução de custos e aumento da competitividade de seus produtos. O aumento gradual das pressões sobre o proletariado, submetendo-o aos interesses do capital privado, aumentaria, consequentemente, a deterioração da qualidade de vida dos trabalhadores, o que poderia levá-los a se rebelar contra a continuidade desse modelo. Isto é, segundo a concepção de Marx, ao passo que o capitalismo se desenvolve, cava sua própria cova4. Teoricamente, se formos seguir o pensamento econômico liberal, sob o aspecto macroeconômico, ao se observarem as mudanças que tal processo provoca no país subdesenvolvido, notar-se-á a transformação de sua estrutura produtiva, de exportadora de bens primários e intermediários, e importadora de produtos manufaturados, para uma economia industrializada, capaz de fabricar produtos de maior valor agregado. A nova estrutura econômica, baseada na atividade industrial, absorveria mão-de-obra ociosa e geraria maior renda agregada, uma vez que elevaria os níveis salariais, ao mesmo tempo em que conferiria aos novos trabalhadores 4 Ver Manifesto do partido comunista. 73 TEMA maior poder de consumo. É importante compreender que essa mudança ocorre visando à formação de capital por parte dos grandes grupos industriais estrangeiros, que identificam nas economias menos desenvolvidas maiores possibilidades de ganho do que em seus próprios países, onde já não há mais disponibilidade de mão-de-obra barata, além de outros custos de produção mais elevados. Isto é, apesar de haver significativas mudanças na base econômica das nações menos desenvolvidas, mudanças estas capazes de promover melhora significativa nos níveis de emprego e renda, esse deslocamento proporciona vantagens ainda maiores aos grupos estrangeiros e aos seus países de origem, para onde a renda passa a fluir. Sobre os efeitos desse deslocamento, até certo ponto promove a substituição de importações, consequentemente reduzindo a dependência dos mercados fornecedores estrangeiros, entretanto, preserva a hegemonia do capital alienígena sobre o capital nacional, uma vez que este não possui poupança suficiente para realizar os investimentos necessários à ampliação, em termos quantitativos e qualitativos, da indústria nacional. Nesse sentido, torna-se fundamental a presença do Estado na formação e desenvolvimento das forças produtivas nacionais, cuja ação pode manifestar-se de diversas formas, como por meio da concessão de subsídios e isenção de tributos à indústria local, criação de instrumentos de financiamento a essa indústria, ou até mesmo pela criação da própria estrutura produtiva com capital público. UNIESP 74 Na fase de criação de empresas estatais, sobretudo em setores estratégicos como a geração de energia, atividades mineratórias, transportes, comunicações, etc., cuja finalidade é suprir a indústria local dos recursos necessários à sua maior competitividade, tanto no mercado doméstico como no internacional, o discurso da classe capitalista mostra-se favorável ao investimento público, pois não possui recursos (ou mesmo interesse) para realizar tais investimentos. Contudo, ao observar o enorme potencial de lucratividade dessas empresas, principalmente após terem se consolidado no mercado, articula movimentos em que defende sua privatização. A exemplo dessa articulação, no Brasil, a partir dos anos 1990, com o Programa Nacional de Desestatização, criado pelo Presidente Fernando Collor de Mello, ao qual foi dado prosseguimento por seu sucessor Itamar Franco e depois por Fernando Henrique Cardoso, parte importante do patrimônio público nacional foi transferida ao controle privado. Essa política gerou grande manifestação contrária por parte de personalidades ligadas à política, lideranças sindicais, intelectuais e estudantes, mas o debate foi interrompido por parte do governo, que se recusou a realizá-lo, concluindo, então, a privatização de importantes empresas estatais brasileiras. Aqui, cabe uma questão: apesar das manifestações contrárias às privatizações, quais razões levaram o governo a realizá-las? Tais razões são elaboradas com base em teorias econômicas, ou por pressões do capital privado, 75 TEMA principalmente externo? É importante que se faça, duas décadas após a concretização desse processo, uma análise quanto às razões e aos seus efeitos socioeconômicos, mas este estudo não faz parte dos objetivos deste ensaio. Estas são algumas das críticas que nos propomos a fazer quanto ao desenvolvimento do capitalismo e aqui se situa o cerne de nossa crítica: Quais fatores influenciam os governos de nações menos desenvolvidas a adotarem políticas econômicas que privilegiam, no longo prazo, sobretudo o capital privado estrangeiro, em detrimento do desenvolvimento sustentável de suas economias nacionais? Não fosse a forte atuação do Estado, tanto em nações centrais como em periféricas, o capitalismo sobreviveria ao seu próprio desenvolvimento? Partiremos, a partir de agora, para uma análise do papel do Estado como instrumento regulador dos interesses privados e sociais, elaborando, novamente, uma crítica a respeito dessa atuação, orientada, na maioria das vezes, por princípios políticos, e não socioeconômicos. Reflexões Sobre o Papel do Estado A própria história, como vimos, está repleta de períodos de crise, que de tempos em tempos abalam as estruturas que fundamentam as relações econômicas internacionais e o desenvolvimento da economia mundial. Sem exceção, através de suas políticas, o Estado intervém. Embora a classe capitalista, sobretudo de países centrais, em momentos de prosperidade econômica rogue por uma ampliação do livre comércio, em momentos de crise UNIESP 76 clama pelo auxílio governamental. Assim se “socializam as perdas”, uma vez que a ação do Estado é financiada a partir da pulverização dos recursos públicos, utilizados, nesses casos, em prol do apoio aos grandes grupos empresariais, em detrimento do gasto público com fins sociais. As perdas privadas são, dessa forma, distribuídas entre toda a sociedade, que passa a ser sua “principal financiadora”. Logicamente, os maiores prejudicados por essa socialização são aqueles que constituem as camadas menos privilegiadas da sociedade e que são justamente os que mais dependem das políticas públicas para melhorar seu padrão de consumo e bem-estar. Frente a esse cenário, cabe-nos fazer algumas indagações: a intervenção estatal é mesmo necessária? O mercado tem, de fato, a capacidade de se autorregular? Como ocorre a intervenção e por quê? Aqui, é importante dizer que o objetivo deste artigo não é propor uma nova Teoria do Estado, mas sugerir uma reflexão acerca da intervenção do Estado na orientação das relações econômicas e as razões que determinam de que forma ocorrerá a intervenção. De acordo com seus princípios fundamentais, nas sociedades capitalistas as decisões quanto à oferta e distribuição de mercadorias, assim como quanto aos investimentos, seguem aos desígnios dos proprietários dos meios de produção, cujo objetivo principal é promover a formação de capital, por meio da remuneração do capital investido e da mais-valia. Assim, preocupam-se 77 TEMA com a manutenção e preservação de um sistema políticoeconômico que lhes permita dar continuidade a esse processo. Quanto ao pensamento que orienta as relações entre nações capitalistas, o Liberalismo Econômico é seu pilar de sustentação. De acordo com esse princípio, o Estado não deveria interferir nas relações econômicas, uma vez que o mercado possui a capacidade de se autorregular (o laissez faire, laissez passer, da Escola Fisiocrática de Economia Política e a mão invisível, de Adam Smith). Defende, portanto, a autonomia da iniciativa privada quanto às decisões produtivas e sua independência quanto às políticas do Estado. Tal corrente do pensamento econômico tem, desde longa data, importantes defensores. Já no século XIV, na França, Nicolau Orèsme (antigo bispo de Lisieux e conselheiro do Rei Carlos V)5 , escreveu, em 1336, “Breve tratado da primeira função das moedas e das suas causas e espécies”, onde contesta o direito absoluto do Rei de implantar mutações na moeda e em seu valor, o que gerou, a partir de então, bases teóricas para futuras discussões a respeito da relação existente entre moeda e preço, mas também sobre a legitimidade do poder absoluto do Estado (na figura do Rei) de intervir junto a questões econômicas. Não defendia a legitimidade do Rei, mas o direito da sociedade, que sendo a maior usuária da moeda como meio de troca, seria a única legitimamente digna de impor mutações no valor da moeda, o que faria automaticamente, 5 HUGON, Paul. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Atlas, 2009, p. 54. UNIESP 78 de acordo com sua procura pela moeda. Segundo Orèsme, dessa forma o comércio seria capaz de evoluir de maneira mais saudável e com maior vigor. Grosso modo, Adam Smith afirma que por meio da divisão internacional do trabalho e da especialização das atividades produtivas, com o livre mercado as nações poderiam prosperar economicamente. Defendia a liberdade de atuação da iniciativa privada, sem a intervenção do Estado, afirmando que a competitividade entre as organizações promoveria a redução dos níveis de preços e o desenvolvimento das mercadorias em termos de custo de produção e qualidade do produto, fomentando ainda mais a competição. Para ele, o principal aspecto que determinaria a participação de uma nação na divisão internacional do trabalho seria sua disponibilidade de recursos produtivos (disponibilidade de capital, solo fértil, mão-de-obra abundante, clima favorável, etc.), o que chamou de Vantagem Absoluta. De acordo com esse pensamento, a nação que tivesse maior abundância de recursos necessários à produção de uma determinada mercadoria teria maior vantagem absoluta em relação às demais nações que também se dedicassem à produção dessa mesma mercadoria, mas que tivessem acesso a esses recursos em menor quantidade. David Ricardo, na obra “Princípios de Economia Política e Tributação”, publicada em 1817, complementa esse pensamento, apontando que apesar das vantagens absolutas, o que determinaria o grau de competitividade de uma nação no comércio internacional seria sua capacidade 79 TEMA de especialização, o que denominou Vantagem Comparativa. Dessa forma, os países deveriam se dedicar à produção daquilo que fazem melhor, independentemente de sua facilidade de acesso direto aos recursos produtivos. Assim, conseguiriam produzir mais, melhor e com custos inferiores, propiciando, portanto, maior competitividade de suas mercadorias no comércio internacional. É importante observar que tais pensadores viveram numa época em que as o capitalismo ainda atravessava sua fase inicial, onde a competição produziria automaticamente desenvolvimento dos mercados. Contudo, não imaginaram a que nível de complexidade e de volume o comércio internacional chegaria nos dias de hoje, e por mais que compreendessem que o avanço tecnológico pudesse representar um dos motores de propulsão desse comércio, não poderiam imaginar de que forma e em que grau e velocidade aconteceria esse avanço tecnológico. Viveram numa época ainda marcada pela constante e elevada interferência do Estado sobre as questões econômicas, o que combatiam veementemente. Smith e Ricardo já sabiam a respeito do avanço do comércio durante o mercantilismo e de seus benefícios para as nações centrais, e, principalmente, para os empreendedores do comércio internacional, de modo que não poderiam pensar de outra forma além de criticar a intervenção governamental sobre essas questões. Como exemplo da cristalização do Liberalismo em movimentos sociais, pode-se mencionar o caso da Revolução Francesa, que, embora tenha contado com o imprescindível apoio e participação dos trabalhadores rurais e urbanos, foi conduzida e liderada pela burguesia, cujos anseios de maior lucratividade e importância política tinham como maior UNIESP 80 obstáculo o Absolutismo Monárquico, aliado à já decadente classe dos aristocratas, proprietários de terras. Também a própria independência dos Estados Unidos constitui um processo histórico cujos conflitos com o sistema vigente foram influenciados e até mesmo liderados pela burguesia daquela nação, que revoltou-se contra a dominação daquele país pela Inglaterra. Não há como negar que, de fato, à sua época, o pensamento liberal tenha assumido um caráter revolucionário e propiciado o desenvolvimento mais acelerado do comércio internacional, antes preso às amarras do Estado Absolutista, mas esse caráter não persistiu com o desenvolvimento do comércio internacional, caracterizando-se, a partir daí, como um modelo econômico que viria a privilegiar, assim como o sistema anterior, apenas os interesses das classes dominantes. O novo modelo que surge, a partir de então, passa a ser preservado pelas novas camadas sociais dominantes, que passam a concentrar a riqueza, impedindo, inclusive, que surjam e que se desenvolvam novos movimentos que desestabilizem as bases desse novo modelo. Sobre esse tema, Paul Baran afirma: “as aspirações universais de progresso econômico constituem movimentos profundamente subversivos da ordem social e do sistema de domínio internacional. São, por conseguinte, movimentos revolucionários que precisam ser subordinados, bloqueados e, se possível, aniquilados, a fim de que o sistema capitalista seja preservado”6 . 6 BARAN, Paul A. A economia política do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1972, p. 60. 81 TEMA Estabelece-se, então, um movimento por parte das estruturas capitalistas, principalmente oligopolistas, de alienação das necessidades e políticas sociais, devido ao seu anseio de preservar a configuração do modelo vigente que lhes proporciona as condições necessárias à reprodução e concentração do capital em seu poder. Este movimento, por mais estranho que pareça, pois revela-se contra a liberdade individual, ou social, bloqueia o debate acerca da conjuntura socioeconômica, privilegiando o capital privado e afastando qualquer possibilidade de discussão que comprometa o pleno funcionamento do sistema de livre mercado7. Neste momento, a influência do capital privado sobre a atuação governamental assume papel primordial. Pressionado no sentido de defender os interesses privados, o Estado adota um modelo de política econômica que, na melhor das hipóteses, minimiza o descontentamento das classes trabalhadoras. Sua atuação se dá sob a forma de medidas que visem diminuir as pressões causadas pelas falhas de mercado sobre a qualidade de vida das famílias, como, por exemplo, por meio de políticas de auxílio à educação, saúde, moradia, saneamento, etc. Tais medidas, no entanto, apenas diminuem as pressões sobre a sociedade, fazendo com que não se rebelem contra o sistema econômico vigente que privilegia os interesses privados. 7 A mesma liberdade que os liberais defendiam à época de Adam Smith é posta de lado, impossibilitando quaisquer manifestações que fossem de encontro aos interesses do sistema capitalista, principalmente em seus estágios mais avançados. UNIESP 82 Porém, em nenhum momento, significam a ruptura de uma estrutura social em que a renda passaria a se concentrar em maior densidade em suas mãos. Isto é, a atuação do Estado segue um modelo que conserva a hegemonia econômica nas mãos do capital privado e mantém as camadas mais pobres da sociedade imóveis. O Estado a Serviço do Capital Privado Voltemos, novamente, a Marx, que contesta a capacidade do capitalismo sobreviver aos efeitos de sua própria ganância, a qual, se não for moderada, produzirá o inevitável descontentamento das classes trabalhadoras. A demasiada degradação da qualidade de vida dos trabalhadores pode levá-los a se mobilizarem e se organizarem em torno da proposta por um novo modelo econômico, mais condizente com seus interesses. Mas por que, então, as camadas populares ainda permitem que o modelo capitalista sobreviva? Quais são as razões que ainda não levaram os trabalhadores, tão pressionados, a se rebelarem contra o sistema vigente de exploração do trabalho, característico do sistema capitalista e a favor da socialização dos meios de produção? A resposta a essas questões pode estar na atuação do Estado, que através de suas políticas, minimiza problemas sociais e se coloca a serviço do capital privado, pois, reduzindo o descontentamento popular, preserva o pleno funcionamento do sistema capitalista e mantém a riqueza concentrada nas mãos da classe dominante. 83 TEMA Com relação à atuação do Estado em meio às relações econômicas, segundo Octavio Ianni, “Grande parte da atuação estatal, pois, está organizada segundo as determinações implicadas na acumulação capitalista. São a concentração e a centralização do capital que governam parcela dos instrumentos e medidas postos em prática pelo Estado na ordenação e incentivo das atividades econômicas8.” Nossa inclinação é concordar com o ponto de vista de Ianni. O importante, então, passa a ser compreender as razões que levam o Estado a submeter-se ao capital privado. Em primeiro lugar, e talvez esse seja o argumento mais coerente para se compreender o comportamento submisso do governo, é que se ele não se comportar dessa forma não se sustentará no longo prazo, salvo em situações em que a sociedade atingiu um grau mais avançado de organização e mobilização, impondo, geralmente à força (Revolução), mudanças estruturais e políticas, mais adequadas aos seus interesses. Outra razão para que os governantes privilegiem os interesses da burguesia é que, em grande parte, são justamente os membros das elites capitalistas, que, contando com orçamentos milionários, utilizados em campanhas 8 “Grande parte da atuação estatal, pois, está organizada segundo as determinações implicadas na acumulação capitalista. São a concentração e a centralização do capital que governam parcela dos instrumentos e medidas postos em prática pelo Estado na ordenação e incentivo das atividades econômicas.” UNIESP 84 políticas, ocupam os cargos públicos que centralizam a tomada de decisões. Isto é, a máquina estatal passa a ser comandada pelos próprios capitalistas, que colocam a estrutura e as políticas públicas a serviço próprio, em detrimento do interesse público. A atuação do Estado, que está voltada a privilegiar os interesses privados, ocorre na criação de políticas e medidas econômicas que os beneficiem, mas também na própria utilização, ou criação, de uma estrutura produtiva pública, em prol desses interesses. Isto é, a forma com que se caracteriza a ação estatal é determinada por questões políticas, e não econômicas ou sociais. O Estado não existe, ou não atua no sentido de atender às carências de seus cidadãos, ou às necessidades diversas da nação, visando fazê-la se desenvolver econômica, política, cultural e socialmente, mas no sentido de favorecer o capital privado hegemônico em sua economia9. Portanto, o Estado constitui o mais efetivo mecanismo de defesa do capitalismo contra as eventuais pressões sociais. 9 A questão da hegemonia de uma determinada fatia do capital privado sobre as demais é de grande importância para compreendermos as razões que levam às mudanças na orientação das políticas públicas. Sérgio Silva e Renato Perissinotto abordam a questão da hegemonia do Grande Capital Cafeeiro (proprietários, ao final do século XIX e início do XX, das primeiras estradas de ferro, de bancos de financiamento e casas comerciais, entre outros investimentos) sobre a Lavoura (representada pelos fazendeiros, exclusivos produtores de café) e Celso Furtado refere-se à transferência do centro dinâmico da economia, da produção cafeeira para a atividade industrial. Ambos sinalizam uma diferenciação entre os interesses de diferentes subclasses, embora fizessem parte da elite econômica do país, e a política econômica do Estado. 85 TEMA Também é de grande importância compreender a questão da fidelidade da atuação governamental com as origens do capital privado. Melhor dizendo, é importante compreender que o Estado se submete às determinações do capital hegemônico privado, independentemente de sua origem, ou melhor, a ação estatal se adequa aos interesses da classe hegemônica, sendo ela nacional ou estrangeira. O que determina a subserviência do Estado ao capital privado é a capacidade deste de reproduzir-se e concentrar a renda nas mãos de seus proprietários. Se, de um lado, nos casos de nações em desenvolvimento é comum observarmos a preponderância do capital privado alienígena sobre o doméstico, de outro, nas nações centrais, nota-se a preponderância de seu capital nacional sobre os estrangeiros, demonstrando o controle global do capital privado multinacional com origem em nações desenvolvidas, sobre as estruturas produtivas, em geral, e também sobre as políticas governamentais. A Intervenção Estatal A intervenção estatal pode assumir diferentes funções, tais como assegurar maior equilíbrio na alocação de recursos produtivos, melhor distribuição da renda e da riqueza, promover a estabilização econômica ou preservar as bases de sustentação do sistema capitalista, e é justamente essa variedade e abrangência de suas funções que demonstra a necessidade e a importância da atuação governamental em uma nação. O que determinará suas prioridades será seu UNIESP 86 comprometimento político. Ou privilegiará a sociedade como um todo, e nesse sentido buscará promover principalmente o desenvolvimento econômico da nação, ou trabalhará em prol dos interesses das classes dominantes, em detrimento das demais. O problema está em reconhecer, de fato, as reais prioridades de cada governo, pois seu discurso, não necessariamente condiz com suas ações. Comumente, utilizam a própria atividade de “fazer política”, como fator limitador de suas ações. Ao não realizarem uma ou outra medida, normalmente transferem a responsabilidade por não ter conseguido aprová-la, às bases oposicionistas, ou simplesmente à falta de recursos. Realmente, o “fazer política”, nem sempre torna possível que um governo consiga aprovar todos os seus projetos, porém, uma vez que em sua maioria, o poder público é dominado pelas classes dominantes (que nem sempre representam um único setor da economia do país), podemos dizer que um projeto rejeitado o foi por ir contra os interesses de uma classe dominante específica.Isto é, em meio à classe dominante, notamos a existência de uma classe hegemônica, cujos interesses geralmente sobrepõem-se aos interesses das demais fatias da sociedade. É importante observarmos a forma com que se manifesta a hegemonia de uma estrutura sobre as demais. Há a esfera nacional e a internacional, mas, grosso modo, a subordinação, ou a hegemonia, se dá de acordo com a importância de cada tipo de capital para a economia da esfera que analisamos. 87 TEMA Na esfera nacional, independentemente do grau de desenvolvimento de uma nação no comércio internacional, podemos observar que diferentes atividades produtivas são mais privilegiadas do que as outras. Há casos em que a atividade agrária recebe mais privilégios que a industrial, e vice-versa. Mesmo entre a indústria, pode haver um setor industrial que seja mais privilegiado que os demais. Claramente, a importância econômica de cada setor da economia se manifestará em sua influência sobre as decisões do governo. Na esfera internacional, o capital oriundo de nações mais desenvolvidas geralmente exercerá maiores pressões do que o capital nacional de nações menos desenvolvidas, acarretando privilégios mais significativos a esse capital mais poderoso. Assim, vai-se construindo a desigualdade social, não apenas entre as camadas da sociedade de uma nação, mas entre países que participam do comércio internacional. E o Estado, imbuído do interesse de preservarse no controle político e econômico da nação, seduz-se pelas vantagens de se aliar ao capital hegemônico e a ele se submete, concedendo-lhe os maiores privilégios. Também é importante que analisemos a atuação dos Estados nacionais, quanto às relações internacionais. Governos de países desenvolvidos exercem grande pressão sobre governos de nações em desenvolvimento, a fim de garantir o cumprimento de suas principais funções econômicas e sociais, em favor de sua população, em detrimento do bem estar da população dos países menos desenvolvidos. Com sua política de favorecimento à sua UNIESP 88 própria indústria, cria as condições necessárias para que essa se expanda e penetre física ou comercialmente em mercados menos desenvolvidos, apoderando-se das vantagens de uma economia fornecedora de mão-de-obra e outros fatores de produção baratos, e transferindo para seus países de origem o lucro auferido nesses mercados. Nos países em desenvolvimento, o governo se alia ao capital que mais lhe favoreça, seja ele nacional ou estrangeiro, haja vista que o capital privado estrangeiro, principalmente com origem nos países desenvolvidos, exerce maior pressão que o nacional, e em geral, este conquista o governo como seu aliado. É uma relação simbiótica, onde o capital privado e o governo se ajudam mutuamente, sobretudo preservando a estrutura política e o sistema econômico vigente que os beneficiam. Para que esse sistema se rompa, é preciso que haja uma quebra nos paradigmas ideológicos da sociedade, cuja manifestação poderá ser pacífica (através do voto, por exemplo), ou por meio da força (movimentos revolucionários). No tocante ao rompimento dos paradigmas ideológicos da sociedade, o Estado põe-se contra a essa possibilidade. Por meio do gasto público, que financia as políticas sociais (educação, saúde, saneamento, etc.), minimiza o descontentamento da sociedade, principalmente de suas parcelas mais carentes da população, conseguindo, a partir dessas medidas, preservar a manutenção e o pleno desenvolvimento do sistema político-econômico vigente. Também há as externalidades, (por exemplo, guerras), 89 TEMA que fogem dos interesses e planejamento. Seus efeitos são devastadores, mas, invariavelmente, são resultados de ações de governos que privilegiam os interesses do capital privado. No sentido de equilibrar as forças entre capitalistas e trabalhadores, de modo a forçar o Estado a adotar políticas mais orientadas ao atendimento das necessidades gerais, mas sem romper o sistema econômico, é preciso maior engajamento da sociedade quanto às questões que fazem parte do cotidiano dos parlamentares. A sociedade deve expor suas necessidades, informarse quanto às propostas dos candidatos a ocupar os cargos públicos eletivos e cobrar a adoção das medidas que apresentaram em seus programas de governo, mas que, em grande parte dos casos, são esquecidas. Somente assim será possível criar mecanismos capazes de distribuir a riqueza de maneira mais justa, promovendo, não somente o crescimento econômico, onde apenas os capitalistas se beneficiam, mas também o desenvolvimento econômico da nação, onde o estado de bem estar assume papel importante. Bibliografia BARAN, Paul A. A economia política do desenvolvimento. Rio de Janeiro:Zahar Editores. 1972. DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar. 1980. HEILBRONER,Robert. História do pensamento econômico. São UNIESP Paulo: Nova Cultural, 1996. HUGON, Paul. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Atlas. 2003. IANNI, Octávio. Estado e capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. KEYNES, John Maynard. Teoria 90 geral do emprego, do juro e do dinheiro. Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983. LIST, Georg Friedrich. Sistema nacional de economia política. Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural. 1983. MARX, Karl. O capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 1998. ________Manifesto do Partido Comunista (1848). Porto Alegre: LP&M Editores, 2001. 91 RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1982. SMITH, Adam. A riqueza das nações. Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983. SOARES, Alcides Ribeiro. Formação histórica e papel do setor estatal da economia brasileira, 19301989. São Paulo: Lume, 1991. TAVARES,Maria da Conceição. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. TEMA Autor e Texto Author - Text Celso Bergantin* MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS: DESAFIANDO AS LIDERANÇAS ORGANIZATIONAL CHANGES: LEADERSHIP CHALLENGE Resumo O trabalho aborda o conceito de liderança e suas características. Procura identificar e perceber as diversas mudanças que afetam o desempenho dos lideres. Mostra que o trabalho em equipe deve prevalecer, estabelecendo facilidades cooperativas mais que relações competitivas. Abstract This paper approach the concept of leadership and its characteristics. Seek identifies and perceive the several charges that affect the performance of leaders. Shows the fact that teamwork must prevail, with the establishment facilities cooperative rather than competitive relations. Palavras-Chave Conhecimento. lideranca. Mudancas .Previsão. Tecnologia. Ciclo Vida. Key Words Knowledge. Leadership. Changes. Forecast. Technology. Life Cycle. Trabalho realizado pelo aluno Celso Bergantin, do curso de Administração das Faculdades Teresa Martin, sob orientação do professor Paulo Ribeiro. R.TEMA S.Paulo UNIESP nº 50 jul/dez 2007 P. 92-99 92 MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS: DESAFIANDO AS LIDERANÇAS ORGANIZATIONAL CHANGES: LEADERSHIP CHALLENGE V ivemos num mundo de constantes e substanciais mudanças. Todos os segmentos, com maior ou menor intensidade, alteram princípios e dogmas antes indiscutíveis. A capacidade de gerar e veicular informações segue um ritmo exponencial. A perfeita percepção de que valores intangíveis, como o conhecimento, são os ativos mais importantes das organizações torna-se imperativa. A administração do conhecimento, revelado como forma de obtenção, laboração e disseminação, deverá estar presente e disponível a todos os colaboradores da organização. A gestão do conhecimento será o divisor entre as instituições competentes e aquelas que relegam a um plano menor seus maiores ativos. O mundo move-se em direção a cooperação, componente fundamental no processo tecnológico; nitidamente é crescentes o número de esforços conjuntos em pesquisa e desenvolvimento nos setores de negócios, universidades e aboratórios governamentais. Esses aspectos implicam a necessidade de o gerente/líder deter um grande portifólio de posturas e comportamentos, apresentando características flexíveis e 93 TEMA pró-ativas como administrador de interfaces interpessoais, técnicas e organizacionais. O líder do futuro deterá características de facilitador, incentivador, negociador e orientador, com viés participativo e transporte adequado à situação. Histórico O estudo da liderança constitui um dos mais amplos e complexos temas de estudo da sociedade. Sua interferência atinge diretamente os diversos campos político - sociais existentes. Desta forma, é legitimo o imenso número de trabalhos associados, a tema. Em épocas remotas relatadas na Bíblia já constam registros de inúmeros lideres e de suas batalhas; também os filósofos gregos já se preocupavam em caracterizar as diferenças existentes nos lideres. Inicialmente, a ênfase dos trabalhos estava na direção de identificar e isolar os atributos dos lideres, destacando virtudes em sua atuação e, através destas, conceber uma perfeita definição dos padrões de liderança. Posteriormente, alguns estudiosos dirigiram seus trabalhos, considerando a importância dos liderados, atentando ao fato que diferentes grupos podem ter percepções díspares do mesmo indivíduo. Isto deferiu postulados que informavam a necessidade de o líder deter um conhecimento amplo do seu grupo e focar as ações em objetivos plausíveis e alinhados com seus comandados. Em trabalhos recentes, o aperfeiçoamento e o refinamento teórico sobre o tema são claros, apresentado modelos interessantes de liderança situação e liderança transacional, liderança transformacional, dentre outras. UNIESP 94 Ambiente de Mudanças O final do século XX, instituiu um novo paradoxo em relação a variável tempo, cimentado no aspecto que a velocidade da mudança é célere, e que existe a determinação de melhor aproveitamento do fator tempo. Drucler (1995) afirma que estamos na era das decontinuidades, em que são poucas as possibilidades do amanhã acontecer como hoje. O ritmo como as coisas diferenciam-se é impressionante. Com o advento da tecnologia e de informações, o ritmo das informações segue crescimentos de ordem exponencial. No campo organizacional a concorrência ganhou um novo perfil chamado inovação. O líder agrega às suas atribuições uma nova realidade: O PAPEL DE GESTOR DE MUDANÇAS. Caberá a ele desenvolver estruturas flexíveis que possam acompanhar os caminhos delineados pelos novos tempos. Conhecimento Adentramos no aspecto que seguramente diferenciará as organizações vitoriosas dos simples componentes do mercado. O conhecimento é seguramente o ativo mais importante e valioso das organizações Stewart (1998). Na medida que a informação é abundante e distribuída em todas as direções, serão bem sucedidos aqueles que captarem o sumo da sua importância e o utilizarem de forma competente. Davenport e Prusak (1998) afirmam que o conhecimento pode ser estratificado em etapas diferentes: 95 TEMA a geração, laboração e a disseminação. Estas etapas, todavia, merecerão um ótimo gerenciamento, recebendo uma perspicaz atenção e possuindo mecanismos que possibilitem concluir cada etapa completamente. Edvinson e Malone (1998) demonstraram, através da metáfora de uma árvore, dois aspectos importantes do conhecimento, comparando-o as raízes da mesma: a dificuldade de visualização instantânea e sua efetiva atuação como elemento gerador e renovador de todas as outras funções na empresa. Na medida que acentua-se a importância da inovação nos diversos segmentos sócios - econômicos, proporcionalmente o conhecimento como elemento gerador das inovações merece ser realçado e destacado. Senge (1994) enfatiza o aspecto das organizações se preparem para atuarem voltadas para o aprendizado (Learning Organizacional), aplicando conceitos que possibilitam transmitir o conhecimento e utilizá-lo efetivamente. Modelos de Liderança Conjuntamente as diversas e constantes alterações no ambiente em que atuam, sobrepõe-se uma nova perspectiva e realidade aos lideres: a obrigatoriamente do sincronismo com os aspectos situacionais e contigenciais. Os detentores de posições de comando não podem acomodar-se em deter e aplicar ações dogmáticas e pragmáticas, sem a necessária flexibilidade, essencial nos dias atuais. Os lideres deverão dispor de recursos, de ações adequadas a situação e ao grupo focado, eles devem ser conhecedores das características do grupo e dos diversos UNIESP 96 componentes do ambiente que envolve a situação. Também é importante conciliar modelo de atuações diferenciado, porém conciliáveis. Yakl Apud Coda (1998) explica que o modelo de atuação de liderança transacional, obteve grande exposição nas décadas passadas, quando o grande aspecto propulsor das organizações estava centrado nas relações de trocas dos componentes do processo, que dispunham de uma melhoria de performance verificável. Atualmente, o modelo de maior ressonância aborda a característica transformacional dos lideres, fazendo frente às diversas mudanças a serem enfrentadas e no poder de persuasão perante o grupo para enfrentar o novo. Todavia, o ideal é conciliar os modelos e aplicá-Ios no momento necessário. Previsão Os lideres sempre caracterizaram-se por possuir uma grande capacidade de visão futura e exercer um grande poder de persuasão no grupo, sobrepondo sua percepção de mundo e conquistando seguidores. A construção de cenários nas organizações é primordial para alcançar bons resultados facilitando a consecução de um planejamento estratégico coerente, integrado, fazendo uso dos recursos disponíveis. Para o êxito do empreedimento são necessárias várias pessoas conduzindo esse processo, na gestão da organização. 97 TEMA Conclusão Em razão dos diversos desafios que habitam o ambiente empresarial na atualidade e da grande amplitude de abrangência desses desafios nos diversos campos da administração, faz-se necessária uma gestão orientada para ações transformadoras. Assim, o estudo de lideranças em um processo de mudanças torna-se extremamente necessário e oportuno. Neste trabalho procuramos abordar tópicos que interferem no desempenho empresarial, levando em consideração a perfeita gestão de liderança transformadora e essencial, para que a instituição possa alcançar uma posição de destaque no cenário competitivo atual. Os novos desafios poderão ser superados com comprometimentos pró-ativos e lastreados em conhecimento. A ciência ajuda a técnica na boa gestão empresarial em difíceis momentos de mudança. Referências Bibliográficas ANGELONI, Maria T. (COORO). Organizações do Conhecimento. Infra estrutura pessoal e tecnologia. São Paulo, Saraiva,2002. TOPPING, Peter A. Uderança e gestão. Tradução de afonso celso da cunha serra, Rio de Janeiro, Campus,2002. OUCK, Jeanie O. O monstro da mudança nas empresas, as forças ocultas que interfere nas transformações organizacionais. Rio de Janeiro, Campus, 2001. BENNIS, Warren. Liderança e gestão de pessoas. São Paulo,Publifolha, 2002. CHIAVENATO, Idalberto. 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