SUMÁRIO - Uniesp

Transcrição

SUMÁRIO - Uniesp
SUMÁRIO
05
Apresentação. Teoria da Complexidade
nas Organizações Empresariais.
Neste ensaio, Maria Rosângela Rosa
de Souza destaca a importância da
Engenharia de Requisitos no processo
de desenvolvimento de sistemas. Apresenta, ainda, os vários tipos de
requisitos, formas de levantamento
e análise, recursos para validação e
revisão.
24
Neste artigo é discutida a linguagem UML
e a formação de seu modelo conceitual,
a partir de blocos de construção, regras
e mecanismos. Por Maria Rosângela
Oliveira Machado Rosa de Souza.
Neste estudo, Carla Cristina
Pasquale trata de Strategic
Sourcing, metodologia usada na
área de compras estratégicas e
suas complexidades.
1
06
38
TEMA
SUMÁRIO
A questão da ética empresarial é
discutida neste artigo, que trata do caso
de grandes empresas norte-americanas
envolvidas em fraudes nos seus balanços.
Aborda, ainda, a ação de auditorias que
convalidaram os resultados de balanços
falsos, lesando investidores e a sociedade
em geral . Por Marcelo G. Gomes.
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Neste ensaio, Roberto Bassi Ribeiro
Soares propõe uma reflexão sobre
o papel do Estado no desenvolvimento
capitalista, tanto em sua fase caracterizada
pelo predomínio da livre concorrência,como
na fase em que predominam os monopólios
e oligopólios.
Aqui, Celso Bergantin aborda o conceito
de liderança e suas características.
Procura identificar os diferentes fatores
que afetam o desempenho dos líderes,
estabelecendo comparações entre
relações cooperativas e relações
competitivas na empresa.
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TEMA
TEMA
ISSN 0103-8338
Revista das Faculdades Integradas Teresa Martin, instituição vinculada à
UNIESP. Edição nº 50, julho/dezembro de 2007: Administração
Publicação indexada no IBICT, no ULRICH’S International Periodicals Directory e no Latindex. Circulação regular desde 1986.
Editor Responsável:
Zenaide Bassi Ribeiro Soares – MTb 8607.
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- Franca), Prof. André Luís de Oliveira(FATEMA),Prof. Dr. Alysson Mascaro (USP), Prof.
Dr. Amador Paes de Almeida(Mackenzie), Profa. Dra. Ana Cláudia Pompeu T. Andreucci
(FATEMA e Mackenzie),Prof. Dr. Edvaldo Brito (Universidade Federal da Bahia), Prof.
Omar Toledo Damião(FATEMA), Prof. Dr. Orlando Villas Bôas Filho (FATEMA e Mackenzie), Profa. Dra.Regina Toledo Damião (FATEMA e Mackenzie), Roberta Nechar Gorni
(Universidadede Coimbra), Profa. Dra. Rosa Maria Valente Fernandes (FATEMA), Profa.
Dra.Zenaide Bassi Ribeiro Soares (FATEMA).
Capa:
Adão Cruz.
Ilustrações:
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Revisão:
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Editoração Eletrônica:
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www.uniesp.edu.br/tema
3
TEMA
Revista
TEMA
Publicação indexada no IBICT, no ULRICH’S International Periodicals Directory e no Latindex.
Circulação regular desde 1986.
R.TEMA
4
S.Paulo
nº 50
jul./dez. 2007
TEMA
P. 100
Apresentação
A
o aplicar a Teoria da Complexidade às
organizações empresariais, Edgar Morin
lembra que o que se deve desenvolver é o neoartesanato científico, é a pilotagem das máquinas e não
a maquinização do piloto.
Isto significa que o detentor desse tipo
de conhecimento sabe atuar numa sociedade
em movimento, onde as mudanças ocorrem com
velocidade espantosa ,exigindo novas competências e
habilidades que se desenvolvem a partir da mudança
do comportamento autômato para o comportamento
autônomo.
Somente assim se saberá o que fazer num
momento de crise, quando se precisa buscar saídas,
inventar estratégias, elaborar soluções novas.
As empresas que ainda vivem no passado adotam
programas em detrimento de estratégias, o que leva à
ações repetitivas, onde tudo é feito automaticamente,
sem espaço para a reflexão e a criatividade. Trata-se
de um modelo rígido, que exclui a maleabilidade, o que
favorece o esclerosamento da ação, a incapacidade de
inovar.
Por isso nunca é demais lembrar a Teoria da
Complexidade formulada por Edgar Morin. Foi o que
tentamos fazer ao reunir os trabalhos que aqui estamos
publicando. Reflexivos, atuais, questionadores,
refletindo a instituição que os abriga.
Zenaide Bassi Ribeiro Soares
Diretora Geral das Faculdades Integradas Teresa Martin
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TEMA
Autor e Texto
Author - Text
Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza*
A ENGENHARIA DE REQUISITOS NO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS
The Engineering Of Conditions On The Process Of System Development
Resumo
Este trabalho destaca a importância da Engenharia de Requisitos
no processo de desenvolvimento de sistemas. Apresenta os vários
tipos de requisitos e formas de levantamento e análise, recursos
para validação e revisão destes. Mostra uma maneira de planejar
o gerenciamento de requisitos e de mudanças.
Abstract
This work mentions the importance of the Requirements
Engineering in the process of development of systems. It
presents the several types, elicitation and analysis forms of the
requirements, the resources for validation and revision of these.
This document shows a way to plan the management and changes
of the requirements.
Palavras-Chave
Engenharia de Requisitos. Tipos de Requisitos. Gerenciar
Requisitos. UML. Estrutura da UML
Key Words
Requirements Engineering. Types Requirements. Management
Requirements. UML. Structure UML
*Especialista em Análise de Sistemas pelo IFSP. Especialista em Tecnologia da
Informação pelo SENAC. Mestranda em Automação e Controle de Processos
pelo IFSP. Professora da Faculdade Renascença.
R.TEMA
S.Paulo
UNIESP
nº 50
jul/dez. 2007
P. 6-23
6
Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza
A ENGENHARIA DE REQUISITOS NO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS**
The Engineering Of Conditions On The Process Of System Development
D
entro do processo de desenvolvimento de
sistemas, a atividade engenharia de requisitos
produz um documento que retrata de forma geral
o que o sistema deve fazer. Segundo Sommerville(2003)
compreender a natureza dos problemas pode ser muito
difícil, especialmente se o sistema for novo.
Consequentemente, é difícil estabelecer com exatidão
o que o sistema vai fazer. As descrições das funções e das
restrições são os requisitos para o sistema; e o processo
de descobrir, analisar, documentar e verificar essas funções
e restrições é chamado de engenharia de requisitos.
Pressman(2006)
O processo de desenvolvimento de sistemas,
ilustrado na figura 1, engloba atividades como a Engenharia
de Requisitos permite criar o documento de requisitos
que relaciona as funções e restrições que se aplicam ao
sistema a ser construído. A Análise proporciona entender
as diretrizes especificadas no documento de requisitos.
** Este ensaio apresenta desdobramento na página 24 e seguintes, no artigo
intitulado Uma Visão Estrutural Da Unified Modeling Language-Uml.
A bibliografia de ambos está na página 37, desta edição.
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TEMA
O Projeto conduz a uma solução capaz de atender
às prescrições do documento produzido na atividade de
análise. A Implementação leva a construir a solução definida
na atividade projeto. O Teste valida a solução construída na
atividade de implementação.
Engenharia de
Requisitos
Análise
Projeto
Implementação
Teste
Fig 1 – O processo de desenvolvimento de sistemas.
2. DIFERENCIANDO REQUISITOS
Apresentado a seguir a distinção que Sommerville(2003)
faz para os diferentes níveis de descrição de requisitos:
- Requisitos do usuário são declarações, em linguagem
natural e também em diagramas, sobre as funções que o
sistema deve fornecer e as restrições sobre as quais deve
operar.
- Requisitos de sistema estabelecem detalhadamente
as funções e as restrições de sistema. Algumas vezes
UNIESP
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chamado de especificação funcional. Esta especificação
pode servir como um contrato entre o comprador e o
desenvolvedor do sistema.
- Especificação de projeto de software é uma
descrição abstrata do projeto de software, que é uma base
para o projeto e a implementação mais detalhados. Essa
especificação acrescenta mais detalhes à especificação de
requisitos do sistema.
Os requisitos de sistemas são classificados como:
- Requisitos funcionais são declarações de funções
que o sistema deve fornecer, como o sistema deve reagir
a entradas específicas e como dever se comportar em
determinadas situações, como, também, o que o sistema
não deve fazer.
- Requisitos não funcionais são restrições sobre os
serviços ou as funções oferecidas pelo sistema. Destacamse restrições de tempo, sobre o processo e padrões.
- Requisitos de domínio são os requisitos que se
originam do domínio de aplicação do sistema e que refletem
características deste domínio. Podem ser requisitos
funcionais ou não funcionais.
3. O DOCUMENTO DE REQUISITOS
Organizações de grande porte, como o Departamento
de Defesa dos Estados Unidos e o IEEE definiram padrões
para os documentos de requisitos. O padrão mais
amplamente conhecido é o IEEE/ANSI 830-1993 (IEEE,1993).
Esse padrão sugere a seguinte estrutura para os documentos
de requisitos:
a.
Introdução
Propósito do documento de requisito
Escopo do produto
Definições, acrônimos e abreviações
Referências
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TEMA
b.
c.
d.
e.
Visão geral do restante do documento
Descrição Geral
Perspectiva do produto
Funções do produto
Características do usuário
Restrições gerais
Suposições e dependências
Requisitos específicos
Apêndices
Índice
Sommerville(2003) amplia o padrão IEEE, por recomendação
de Heninger(1980), incluindo informações sobre a evolução
prevista para o sistema. A estrutura ampliada para um
documento de requisitos é apresentada a seguir:
I. Prefácio - Definir o público a que se destina o documento. Descrever o histórico da versão e sumário.
II. Introdução - Descrever a necessidade do sistema, suas
funções, a operação a outros sistemas, como o sistema
se ajusta aos negócios e aos objetivos estratégicos da
organização.
III. Glossário - Definir os termos técnicos.
IV. Definição de Requisitos do Usuário - Os serviços
fornecidos e os requisitos não funcionais. Padrões de
produtos e de processos a serem seguidos. Podem ser
descritos em linguagem natural, precisam ser compreendidos
por pessoas que não são peritos técnicos.
V. Arquitetura de Sistemas - Apresentar uma visão geral de
alto nível, mostrando a distribuição de funções por meio de
módulos de sistemas. Os componentes reutilizados devem
ser destacados.
VI. Especificação de Requisitos do Sistema - Descrever
os requisitos funcionais e não funcionais, como, também,
interfaces como outros sistemas. Pode incluir diferentes
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modelos do sistema.
VII. Modelos de Sistema - Estabelecer um ou mais
modelos, mostrando o relacionamento entre os componentes
de sistema e o sistema e seu ambiente. Modelos de objeto,
de fluxo de dados e semânticos de dados.
Esses modelos são representações gráficas que descrevem
o problema a ser resolvido e o sistema a ser desenvolvido.
Devido às representações gráficas utilizadas, os modelos são
freqüentemente mais compreensíveis do que as descrições
detalhadas em linguagem natural dos requisitos de sistema.
Eles são também uma importante ponte entre o processo
de análise e de projeto. Os modelos podem ser utilizados
no processo de análise para desenvolver uma compreensão
do sistema existente a ser substituído ou melhorado ou
para especificar o sistema requerido. Utilizados a partir de
diferentes perspectivas: externa, o contexto ou o ambiente do
sistema é modelado; de comportamento, o comportamento
do sistema é modelado; estrutural, a arquitetura ou
estruturada de dados processados do sistema é modelada.
VIII. Evolução de Sistema - Descrever as mudanças
previstas, pela evolução de equipamento ou necessidades
de usuários.
IX. Apêndices - Detalhar informações específicas da
aplicação, como hardware e bases de dados.
X. Índice - Incluir índices de conteúdo distintos, como
alfabético, de diagramas e de funções.
4. ESTUDO DE VIABILIDADE
Segundo Sommerville(2003) o processo de engenharia
de requisitos de sistema deve começar com um estudo de
viabilidade. Um estudo de viabilidade é breve, direcionado e
destinado a responder às seguintes questões:
O sistema contribui para os objetivos gerais da
organização?
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TEMA
O sistema pode ser implantado com a utilização de
tecnologia atual dentro das restrições de custo e de prazo?
O sistema pode ser integrado com outros sistemas já
em operação?
O estudo de viabilidade envolve avaliar e coletar
informações que responderão o questionário acima.
Estas informações podem ser obtidas através de outros
questionamentos:
Como a organização se comportaria, se o sistema
não fosse implantado?
Quais são os problemas com os processos atuais e
como um novo sistema ajudaria a diminuir esses problemas?
Que contribuição direta o sistema trará para os
objetivos da empresa?
As informações podem ser transferidas para os outros
sistemas organizacionais e também podem ser recebidas a
partir deles?
O sistema requer tecnologia que não tenha sido
utilizada anteriormente na organização?
O que precisa e o que não precisa ser compatível com
sistema?
O estudo de viabilidade deve recomendar se o
desenvolvimento do sistema deve continuar ou não.
Pode propor mudanças no enfoque, no orçamento e no
cronograma, além de sugerir outros requisitos de alto nível.
5. LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE REQUISITOS
Seguindo os ensinamentos de Sommerville(2003) e
Pressman(2006) é nesta etapa de levantamento e análise de
requisitos, dentro do processo de engenharia de requisitos,
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que a equipe de desenvolvimento apura as informações,
como o domínio da aplicação, que serviços o sistema deve
fornecer o desempenho exigido e as restrições de hardware.
Stakeholder é o termo utilizado para identificar
qualquer pessoa que tenha alguma influência sobre os
requisitos do sistema. Em uma organização os stakeholders
podem ser as pessoas que venham a ser afetadas, de alguma
forma, pelo sistema, os usuários finais, os que desenvolvem
o sistema ou fazem manutenção em outros sistemas
relacionados, os gerentes de negócios e os especialistas
no domínio da aplicação, entre outros.
O processo de levantamento e análise de requisitos
é difícil, pois os stakeholders determinam o que querem do
sistema em termos muito gerais; pedidos em inconformidade
com os custos; expressam os requisitos com termos de
sua área de atuação; especificam requisitos de forma a
aumentar sua influência política na organização; através
de novos stakeholders, a importância dos requisitos pode
mudar em função do ambiente econômico e de negócios,
que é dinâmico.
A figura 2 apresenta um modelo para o processo de
levantamento e análise de requisitos, onde os analistas
devem procurar ter a compreensão do domínio da aplicação;
interagir com os stakeholders para a coleta de requisitos
e desenvolvendo a compreensão do domínio da aplicação;
fazer a classificação dos requisitos em grupos coerentes;
procurar a resolução de conflitos criados pelas informações
vindas de diferentes stakeholders; elaborar a definição das
prioridades interagindo com os stakeholders; determinar se
os requisitos são completos e consistentes na verificação
de requisitos.
A figura 2 será mostrada na página seguinte.
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TEMA
UNIESP
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Resolução de
conflitos
Coleta de
requisitos
Classificação
Definição das
prioridades
Compreensão
do domínio
Documento
de requisitos
Figura 2. Um modelo para o processo de levantamento e análise de requisitos
Fonte: Sommerville(2003)
Entrada do
processo
Verificação de
requisitos
Especificação
de requisitos
Para trabalhar o levantamento e análise de requisitos,
é possível usar técnicas como: o levantamento orientado a
pontos de vista, os cenários e a etnografia, como também,
os métodos de análise estruturada e a prototipação. Não
existe uma abordagem perfeita e universalmente aplicável
para a análise de requisitos. Normalmente, é preciso utilizar
várias dessas abordagens para desenvolver compreensão e
análise completas dos requisitos.
5.1. Ponto de Vista
A importância da análise orientada a pontos de vista
é que ele reconhece a existência de várias perspectivas
e oferece um framework para descobrir conflitos nos
requisitos propostos por diferentes stakeholders.
Um ponto de vista pode ser considerado como:
Um fonte ou drenos de dados – Identificar, quais os
dados são produzidos ou consumidos e que processamento
é realizado.
Um framework de representação – Diferentes pessoas
devem desenvolver um modelo de relacionamento de
entidades, um modelo de máquina de estados, entre outros.
Cada abordagem de análise descobre diferentes aspectos
sobre o sistema que está sendo analisado.
Um receptor de serviços (os pontos de vista são
externos) – A análise envolve examinar os serviços recebidos
por diferentes pontos de vista, coletando esses serviços
e resolvendo conflitos. Exemplo disto são os sistemas
interativos que fornecem serviços aos usuários finais.
Fonte ou drenos
de dados
Modelos de
Pontos de vista
Framework
Receptor de
serviços
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TEMA
Vantagens desse tipo de ponto de vista:
- os pontos de vista são externos ao sistema e,
assim, são uma maneira natural de estruturar o processo
de levantamento de requisitos.
- é relativamente fácil decidir se alguma coisa é um ponto
de vista válido. Os pontos de vista devem interagir com o
sistema de alguma maneira.
- os pontos de vista e os serviços são um meio útil
de estruturar os requisitos não funcionais. Cada serviço
pode ter requisitos não funcionais associados. Os pontos
de vista múltiplos permitem que o mesmo serviço tenha
diferentes requisitos não funcionais em diferentes pontos
de vista.
O método Viewpoint-Oriented Requirements Definition
– VORD, foi projetado como um framework orientado a
serviços, para o levantamento e a análise de requisitos.
Kotonya (1998) Os estágios principais são:
1
identificação
do ponto de vista
2
estruturação
do ponto de vista
3
documentação
do ponto de vista
4
mapeamento
de sistema de
ponto de vista
1. Envolve descobrir os pontos de vista que utilizam
serviços do sistema e identificar os serviços específicos
fornecidos para cada ponto de vista.
2. Agrupar os pontos de vista relacionados, segundo uma
hierarquia. Serviços comuns estão localizados nos níveis
mais altos da hierarquia e herdados por pontos de vista de
nível inferior.
3. Refinar a descrição dos pontos de vista e serviços
identificados.
4. Identificar objetos em um projeto orientado a
objetos, utilizando as informações de serviço que estão
encapsuladas nos pontos de vista.
UNIESP
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As informações podem ser coletadas em uma
primeira etapa através de reuniões de brainstorming
com os stakeholders, onde surgem os possíveis pontos
de vista. Estes podem ser anotados em um diagrama de
bolhas.
Controlador de
Demanda
Máquina de Ar
Condicionado
Quadro de
Iluminação
Os pontos de vista recebem e fornecem entradas
para serviços. O mesmo serviço pode estar alocado em
diversos pontos de vista.
As informações podem ser descritas através de
formulários, conforme definido abaixo:
Modelo de ponto de vista
Modelo de serviço
Referência: o nome do ponto de Referência: o nome do serviço.
vista.
Atributos: atributos que fornecem Razão: pela qual o serviço é
informações sobre o ponto de vista. fornecido.
Eventos: uma referência a um
conjunto de cenários de eventos que
descreve como o sistema reage a
eventos do ponto de vista.
Especificação: referência a uma lista
de especificações de serviços, que
podem ser expressas em diferentes
notações.
Serviços: uma referência a um Pontos de vista: lista de nomes
conjunto de descrições de serviços. de pontos de vista que recebem o
serviço.
Subpontos de vista: os nomes de Requisitos não funcionais: referência
subpontos de vista.
a um conjunto de requisitos não
funcionais que impõem restrições ao
serviço.
Provedores: referência a uma lista
de objetos de sistema que fornecem
o serviço
5.2. Cenários
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TEMA
Os cenários podem ser particularmente úteis para
acrescentar detalhes a um esboço da descrição de requisitos.
De modo geral podem incluir uma descrição do estado do
sistema no início do cenário, do fluxo normal de eventos no
cenário, do que pode sair errado e de como lidar com isso;
informações sobre outras atividades que possam estar em
andamento ao mesmo tempo, e do estado do sistema no
final do cenário.
Uma abordagem mais estruturada pode ser
empregada com os cenários de eventos ou use-cases.
Usados para descrever modelos de sistemas orientados a
objetos, identifica os agentes envolvidos em uma interação
e especifica o tipo de interação.
Dentro da Unified Modeling Language - UML definida
como uma linguagem para a visualização, especificação,
construção e documentação de artefatos de um sistema
complexo de software; diagramas de seqüência podem
ser utilizados para acrescentar informações a um usecase. Esses diagramas de seqüência mostram os agentes
envolvidos na interação, os objetos dentro do sistema
com os quais eles interagem e as operações que estão
associadas a esses objetos.
5.3. Etnografia
Os sistemas são utilizados em um contexto social
e organizacional. Satisfazer os requisitos sociais e
organizacionais é fundamental para o sucesso do sistema.
A etnografia é uma técnica de observação que pode
ser utilizada para compreender os requisitos sociais e
organizacionais. O valor de etnografia é que ela ajuda a
descobrir requisitos de sistemas implícitos, que refletem os
processos reais, em vez de os processos formais, em que as
pessoas estão envolvidas. Elas compreendem seu próprio
trabalho, mas podem não compreender a relação dele com
outras atividades na organização.
A etnografia é particularmente eficaz na descoberta
de dois tipos de requisitos: os derivados da maneira como
as pessoas realmente trabalham, em vez da maneira pela
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qual as definições de processo dizem como elas deveriam
trabalhar e os derivados da cooperação e conscientização
das atividades de outras pessoas.
A etnografia pode ser combinada com a prototipação.
Informa o desenvolvimento do protótipo, de modo que um
número menor de ciclos de refinamento seja necessário. Seu
enfoque é no usuário final, portanto, não é uma abordagem
completa.
6. VALIDAÇÃO DE REQUISITOS
A validação de requisitos é importante porque a
ocorrência de erros em um documento de requisitos pode
levar a grandes custos relacionados ao retrabalho, quando
esses erros são descobertos durante o desenvolvimento ou
depois que o sistema estiver em operação. O custo de fazer
uma modificação no sistema, resultante de um problema de
requisito, é muito maior do que reparar erros de projeto ou
de codificação.
No documento de requisitos, diferentes tipos de
verificação devem ser realizadas:
I. De validade – os sistemas têm diversos usuários com necessidades diferentes e qualquer conjunto de requisitos é inevitavelmente uma solução conciliatória da
comunidade de usuários.
II. De consistência – não devem existir restrições
contraditórias ou descrições diferentes para uma mesma
função do sistema.
III. De completeza – o documento de requisitos deve
incluir requisitos que definam todas as funções e restrições
exigidas pelo usuário do sistema.
IV. De realismo – utilizando o conhecimento da
tecnologia existente, os requisitos devem ser verificados,
a fim de assegurar que eles realmente podem ser
implementados. Essas verificações devem também levar
em conta o orçamento e os prazos para o desenvolvimento
do sistema.
19
TEMA
V. De verificação – para reduzir o potencial de
divergências entre cliente e fornecedor, os requisitos do
sistema devem ser sempre escritos de modo que possam ser
verificados. Isso significa que um conjunto de verificações
pode ser projetado para mostrar que o sistema entregue
cumpre com esses requisitos.
Existe uma série de técnicas de validação de requisitos que
podem ser utilizadas em conjunto ou individualmente:
a. Revisão de requisitos – os requisitos são analisados
sistematicamente.
b. Prototipação – experimentar o modelo para verificar
se ele atende às suas necessidades.
c. Geração de caso de testes – os requisitos deveriam
ser testáveis.
d. Análise automatizada da consistência – a ferramenta
CASE deve construir uma base de dados de requisitos e,
então, uma análise de requisitos produz um relatório das
inconsistências que foram descobertas.
7. REVISÕES DE REQUISITOS
É um processo manual, que envolve cliente e
fornecedor, verificação do documento de requisitos com o
objetivo de detectar anomalias ou omissões.
Em uma revisão formal verificam-se as seguintes
facilidades:
1. De verificação – o requisito é passível de ser testado, como foi definido.
2. De compreensão.
3. De rastreamento – avaliar o impacto de uma mudança no restante do sistema.
4. Adaptabilidade – ele pode ser modificado sem que isso provoque mudanças em outros requisitos.
8. GERENCIAMENTO DE REQUISITOS
UNIESP
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Sistemas são geralmente desenvolvidos para lidar
com problemas, a compreensão destes está constantemente
se modificando, por parte de quem desenvolve os sistemas,
essas mudanças refletem nos requisitos.
Novos requisitos surgem pelas seguintes razões:
- comunidade de usuários diversificada,
- os clientes do sistema impõem requisitos em razão de restrições organizacionais e orçamentárias, e esses requisitos podem ser conflitantes
com os requisitos dos usuários finais,
- a empresa e o ambiente técnico do sistema se
modificam, novas legislações e regulamentos. Os requisitos
não funcionais são, particularmente, afetados por mudanças
na tecnologia de hardware.
Ao longo do tempo de desenvolvimento, o ambiente
do sistema e os objetivos da empresa certamente deverão
ser modificados. Os requisitos devem, portanto, evoluir, a
fim de refletir essas mudanças.
Requisitos permanentes – são os relativamente
estáveis, que derivam da atividade principal da organização
e que se relacionam diretamente com o domínio do sistema.
Requisitos voláteis – são os que provavelmente vão
se modificar durante o desenvolvimento do sistema ou
depois que o sistema estiver em operação. Existem alguns
tipos:
- mutáveis – mudanças no ambiente no qual a organização está operando.
- emergentes – surgem a medida que a compreensão do cliente se desenvolve.
- conseqüentes – a introdução do sistema de computação pode modificar os processos da organização, criar novos meios de trabalho.
21
TEMA
- compatibilidade – dependem de sistemas ou processos de negócios específicos, a medida que eles se modificam, o sistema encomendado pode também ter que evoluir.
8.1. Planejamento do Gerenciamento de Requisitos
O planejamento estabelece o nível de detalhes exigido
para o gerenciamento de requisitos. Os seguintes aspectos
devem ser considerados:
1. Identificação de requisitos – identificado de modo único, para que possa ser feita a referência cruzada, para que possa ser utilizado nas avaliações de facilidade de rastreamento.
2. Processo de gerenciamento de mudanças – atividades que avaliam o impacto e o custo das mudanças.
3. Políticas de facilidade de rastreamento – definem as relações entre os requisitos e entre os requisitos e o projeto de sistema. Devem ser registradas e mantidas.
4. Suporte de ferramentas Case – envolve processar uma grande quantidade de informações sobre os requisitos.
A facilidade de rastreamento é uma propriedade geral
de uma especificação de requisito, que reflete a facilidade
de se encontrar requisitos relacionados. Existem três
tipos de informações importantes sobre a facilidade de
rastreamento:
1. Da origem – vinculam os requisitos aos stakeholders que os propuseram.
2. De requisitos – vinculam requisitos dependentes.
UNIESP
22
3. De projeto – vinculam os requisitos aos módulos
de projeto em que esses são implementados.
O apoio de ferramenta é necessário para:
armazenamento, gerenciamento de mudanças e facilidade
de rastreamento.
Sistemas pequenos podem utilizar recursos de
processadores de texto, planilhas de cálculo e banco de
dados de PCs.
8.2. Gerenciamento de mudanças de requisitos
Problema
identificado
Análise do problema
Análise e custo
e especificação da
da mudança
mudança
Implementação
de mudanças
Requisitos
Revisados
A vantagem de utilizar um processo formal para o
gerenciamento de mudanças é que todas as propostas
de mudanças são tratadas de modo consistente e que as
mudanças no documento de requisitos são feitas de maneira
controlada. Há três estágios principais neste gerenciamento
de mudanças:
1. Análise do problema e especificação da mudança – o processo começa com a identificação de um problema com os requisitos ou, algumas vezes, com uma proposta específica de mudança.
2. Análise de custo de mudança – o efeito da mudança proposta é avaliada, utilizando-se informações sobre a facilidade de rastreamento e o conhecimento geral dos requisitos do sistema.
3. Implementação de mudanças – o documento de
requisitos, o projeto e a implementação são modificados.
23
TEMA
Autor e Texto
Author - Text
Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza*
UMA VISÃO ESTRUTURAL DA
UNIFIED MODELING LANGUAGE - UML
A Structural Vision Of The Unified Modeling Language - Uml
Resumo
Este trabalho apresenta um desenho estrutural da UML que
complementa as descrições dos recursos e permite entender
a formação do modelo conceitual.
Abstract
This essay presents a structural design of UML which
completes the descriptions of resources and allows to learn
the formation of a conceptual modeling.
Palavras-Chave
UML. Estrutura da UML.
Key Words
Uml. Structure Of The Uml.
**Especialista em Análise de Sistemas pelo IFSP. Especialista em Tecnologia
da Informação pelo SENAC. Mestranda em Automação e Controle de
Processos pelo IFSP. Professora da Faculdade Renascença.
R.TEMA
S.Paulo
UNIESP
nº 50
jul/dez 2007
P. 24-37
24
Maria Rosângela Oliveira Machado Rosa de Souza
UMA VISÃO ESTRUTURAL DA
UNIFIED MODELING LANGUAGE - UML
A Structural Vision Of The Unified Modeling Language - Uml
N
a literatura a UML era definida como uma linguagem
para a visualização, especificação, construção
e documentação de artefatos de um sistema
complexo de software.
Hoje, a escolha da UML explica-se por ser uma
linguagem de modelagem que possui recursos que permitem
visualizar, especificar, construir e documentar os elementos,
de qualquer tipo de sistema, seus relacionamentos e a
comunicação com dispositivos externos ao sistema.
A figura 1 apresenta um desenho estrutural da UML
que auxilia na compreensão do texto abaixo.
Aprender a formação do modelo conceitual da UML
implica em entender três elementos principais:
(a) os
blocos de construção, as regras e os mecanismos.
Os BLOCOS DE CONSTRUÇÃO
(a1) são de três tipos:
- itens (b1) são as identificações das abstrações; constituem os blocos de construção básicos orientados a objetos da UML.
- relacionamentos (b2) são blocos relacionais básicos de construção, que reúnem os itens (b1).
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TEMA
- diagramas (b3) agrupam coleções de itens. Um diagrama é a apresentação gráfica de um conjunto de elementos, geralmente representados como gráficos e vértices (itens b1) e arcos (relacionamentos
b2). Os diagramas são desenhados para permitir a
visualização de um sistema sob diferentes perspectivas.
Nesse sentido, um diagrama constitui uma projeção de um
determinado sistema.
As REGRAS (a2) especificam o que deverá ser um
modelo bem formado. Os blocos de construção da UML
não podem ser simplesmente combinados de uma forma
aleatória. A UML dispõe de regras semânticas (b4) para:
os nomes que podem ser atribuídos aos itens, relacionamentos e diagramas.
-um escopo que determina um significado específico para um nome.
-a visibilidade dos nomes permitindo que estes sejam vistos e utilizados.
-a integridade de como os itens se relacionam entre si de forma adequada e consistente.
-a execução ou simulação de um modelo dinâmico.
A seguir será apresentada a figura 1, que mostra um
desenho estrutural da UML.
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TEMA
MECANISMOS (a3)
Qualquer construção se torna mais simples
e harmoniosa devido à adequação a um padrão de
características básicas. O mesmo se aplica a UML, que se
torna mais simples pela presença de quatro mecanismos
básicos (Cf., BOOCH, RUMBAUGH, JACOBSON, 2000, p.28):
especificações, adornos, divisões comuns e mecanismos
de extensão (b5).
A especificação é capaz de fornecer uma declaração
textual da sintaxe e da semântica do respectivo bloco de
construção. A notação gráfica da UML permite visualizar
um sistema; a especificação determina os detalhes do
sistema. Levando em consideração esses dois aspectos,
será possível construir modelos de maneira incremental,
desenhando diagramas e depois acrescentando uma
semântica às especificações do modelo ou diretamente pela
criação de uma especificação.
Os adornos são itens gráficos ou visuais, adicionados
à notação básica de um elemento e empregados para
a visualização de detalhes a partir da especificação do
elemento.
Há divisões comuns na modelagem de sistemas
orientados a objetos, como a divisão de classes e objetos,
onde uma classe é uma abstração e um objeto é uma
manifestação concreta dessa abstração. Outra divisão é
entre interface e implementação. Uma interface declara
um contrato e a implementação representa uma realização
completa desse contrato, responsável pela manutenção fiel
da semântica completa da interface.
A UML é aberta-fechada, permite ampliar a linguagem
de maneira controlada. Os mecanismos de extensibilidade
incluem as seguintes características: estereótipos, valores
atribuídos e restrições (c7).
O vocabulário da UML pode ser ampliado através de
um estereótipo, onde novos tipos de blocos de construção
são criados a partir dos já existentes.
UNIESP
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As propriedades dos blocos de construção podem
ser estendidas através de um valor atribuído, criando novas
informações na especificação de um elemento.
As semânticas dos blocos de construção podem ser
ampliadas por uma restrição, ou seja, modificar as regras já
existentes ou acrescentar.
ITENS (b1)
Itens são recursos que identificam as abstrações. Existem
quatro tipos de itens (b1): estruturais, comportamentais, de
agrupamentos e anotações.
ESTRUTURAIS (c1)
São os substantivos, representando elementos
conceituais ou físicos, são as partes mais estáticas do
modelo. Ao todo são sete: classe, interface, colaborações,
casos de uso, classes ativas, componentes e nó (d1).
C1.1. CLASSE – são descrições de conjuntos de
objetos que compartilham os mesmos atributos, operações,
relacionamentos e semântica. As classes implementam uma
ou mais interfaces.
Nome da Classe
SensorTemperatura
Atributos
setPointTemperatura : Float
Operações
reset( )
setAlarm(t : Temperatura)
valor( ) : Temperatura
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TEMA
O NOME de uma classe pode ser um texto composto
por qualquer número de caracteres e determinados sinais
de pontuação; exceto alguns sinais, como os dois pontos,
utilizados para separar o nome da classe e o nome do pacote
que a contém e pode se estender por várias linhas. Os nomes das classes são substantivos ou expressões
breves, definidos a partir do vocabulário do sistema cuja
modelagem está sendo feita. O primeiro caractere de cada
palavra existente no nome deve estar em maiúsculo.
Um ATRIBUTO é, portanto, uma abstração do tipo de
dados ou estados que os objetos da classe podem abranger.
Uma classe pode ter qualquer número de atributos ou
nenhum.
O nome de um atributo é um substantivo ou expressão
que, breve, representa alguma propriedade da classe
correspondente.
O primeiro caractere de cada palavra existente no
nome do atributo deve estar em maiúsculo, exceto a primeira
letra. O atributo pode ter a indicação de um valor padrão,
por exemplo, setPointTemperatura : Float.
Uma OPERAÇÃO é uma abstração de algo que pode
ser feito com um objeto e que é compartilhado por todos os
objetos dessa classe.
Uma classe pode ter qualquer número de operações
ou nenhuma.
O nome de uma operação é um verbo ou uma locução
verbal, representando algum comportamento da classe.
A existência de mais atributos ou propriedades pode
ser indicada terminando cada lista com reticências (...). Estereótipos são utilizados para indicar grupos,
organizando listas extensas de atributos e operações.
UNIESP
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FraudAgent
<<constructor>>
new ( )
new (p : Policy)
<<process>>
processo (o : Order)
estereótipos
…
<<query>>
isSuspect (o : Order)
isFruadulento (o : Order)
<<helper>>
validateOrder (o : Order)
Uma responsabilidade é um contrato ou obrigação
de uma determinada classe. Em um nível mais abstrato,
atributos e operações são características com as quais as
responsabilidades das classes são executadas.
Atributos, operações e responsabilidades são
características mais comuns para criar as abstrações.
Praticamente todas as abstrações criadas são algum tipo
de classe.
c1.2. INTERFACE - é uma coleção de operações que
especificam serviços de uma classe ou componente.
Descreve o comportamento externamente visível desse
elemento. Poderá representar todo o comportamento de
parte de uma classe ou componente. Define um conjunto de
especificações operacionais (suas assinaturas), mas nunca
um conjunto de implementações de operações. Geralmente
é anexada à classe ou ao componente. Raramente aparece
sozinha.
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TEMA
Nome do
pacote
que a
contém
Networking : : IRouter
Nome da
interface,
precedido
pela letra
l.
c1.3. COLABORAÇÕES – definem interações e são
sociedades de regras e outros elementos que funcionam
em conjunto para proporcionar a soma de comportamentos
cooperativos. Apresentam dimensões estruturais e
comportamentais. Uma determinada classe poderá participar
de várias colaborações. Representam a implementação de
padrões que formam um sistema.
c1.4. CASO DE USO - é a descrição de um conjunto de
seqüência de ações realizadas pelo sistema que proporciona
resultados observáveis de valor para um determinado ator.
É utilizado para estruturar o comportamento de itens em um
modelo. Realiza-se por uma colaboração.
c1.5. CLASSES ATIVAS – são classes que possuem
objetos que têm um ou mais processos,.que podem iniciar
um controle de atividade. São semelhantes a uma Classe,
exceto que seus objetos representam elementos cujo
comportamento é concorrente com os outros elementos
(atributos e operações), daí o seu caráter ativo.
c1.6. COMPONENTES – são as partes físicas e
substituíveis de um sistema, que proporciona a realização
de um conjunto de interfaces. Em um sistema, encontram-se
diferentes tipos de componentes próprios da implantação,
como os componentes COM+ OU JAVABEANS. Representam
o pacote físico de elementos lógicos diferentes, como
classes, interfaces e colaborações.
UNIESP
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c1.7. NÓ – é o elemento físico existente em tempo
de execução que representa um recurso computacional.
Geralmente, com alguma memória e, freqüentemente,
capacidade de processamento. Um conjunto de componentes
poderá estar contido em um nó e também poderá migrar de
um nó para outro.
As classes ativas, componentes e nós, são
semelhantes às Classes. Descrevem conjunto de objetos
que compartilham os mesmos atributos, operações,
relacionamentos e semânticas. São suficientemente
diferentes e necessários para a modelagem de certos
aspectos de sistemas orientados a objetos.
Existem variações desses sete elementos como
atores: sinais e utilitários (tipos de classes), processos
e threads (tipos de classes ativas), aplicações,
documentos, arquivos, bibliotecas, páginas e tabelas
(tipos de componentes).
COMPORTAMENTAIS (c2)
São as partes dinâmicas dos modelos UML. São os verbos
de um modelo, representando comportamentos no tempo
e no espaço. Costumam estarem conectados, conforme
a semântica, a vários elementos estruturais, classes
principais, colaborações e objetos. Existem dois tipos
básicos: interação e máquina de estado (d2).
c2.1. INTERAÇÃO (d2) é um comportamento que
abrange um conjunto de mensagens trocadas entre um
conjunto de objetos de determinado contexto para a
realização de propósitos específicos. O comportamento de
uma sociedade de objetos ou de uma operação individual
poderá ser especificado por meio de uma interação. Envolve
outros elementos, inclusive mensagens, seqüências de
ações (comportamentos chamados pelas mensagens) e
ligações (conexões entre os objetos).
33
TEMA
c2.2. MÁQUINA DE ESTADO (d2) é um comportamento
que especifica as seqüências de estados, pelas quais objetos
de interações passam durante sua existência em resposta
a eventos, bem como suas respostas a esses eventos.
Especifica o comportamento de uma classe individual ou
de uma colaboração de classes. Abrange outros elementos,
incluindo estados, transições ( fluxo de um estado a outro),
eventos (itens que ativam uma transição), atividades
(respostas às transições).
AGRUPAMENTO (c3)
São as partes organizacionais dos modelos UML, os
blocos em que os modelos podem ser decompostos.
Um tipo importante de agrupamento é o mecanismo de
propósito geral para a organização de elementos em grupo,
denominado pacote. Itens estruturais, comportamentais e
outros, podem ser colocados em pacotes.
ANOTAÇÕES (c4)
São as partes explicativas dos modelos UML; comentários
incluídos para descrever, esclarecer, fazer alguma
observação sobre qualquer elemento do modelo. Existe um
tipo primário de item de anotação chamado Nota, apenas um
símbolo para representar restrições e explicações anexadas
a um elemento ou a uma coleção de elementos.
RELACIONAMENTOS (b2)
É a vinculação dos blocos de construção da UML. Esta
ligação pode ser de quatro tipos: dependência, associação,
generalização e realização.
b2.1. DEPENDÊNCIA (c5) – é um relacionamento
semântico entre dois Itens, nos quais a alteração de um
item independente pode afetar a semântica de outro item
dependente.
UNIESP
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b2.2. ASSOCIAÇÃO (c5) - é um relacionamento
estrutural que descreve um conjunto de ligações, em
que as ligações são conexões entre objetos. Um tipo
especial de associação é a agregação, que representa um
relacionamento estrutural entre o todo e suas partes.
b2.3. GENERALIZAÇÃO (c5) – é um relacionamento de
especialização ou generalização, nos quais os objetos dos
elementos especializados, os filhos, são substituíveis por
objetos do elemento generalizado, os pais. Dessa forma,
os filhos compartilham a estrutura e o comportamento dos
pais.
b2.4. REALIZAÇÃO (c5) – é um relacionamento
semântico entre classificadores. Um classificador especifica
um contrato que outro classificador garante executar. Os
vínculos de realizações serão encontrados em dois lugares:
entre Interfaces e as Classes ou Componentes; e entre
Casos de Usos e as Colaborações.
DIAGRAMAS (b3)
b3.1. DIAGRAMA DE CLASSES (c6) – exibe conjunto
de classes, interfaces e colaborações, bem como seus
relacionamentos. Os diagramas de classes que incluem
classes ativas e direcionam a perspectiva do processo
estático do sistema.
b3.2. DIAGRAMA DE OBJETOS (c6) – exibe conjunto
de objetos e seus relacionamentos. Representa retratos
estáticos de instâncias de itens encontrados em diagramas
de classes.
b3.3. DIAGRAMA DE CASO DE USO (c6) – exibe um
conjunto de Caso de Uso e Atores (um tipo especial de
classe) e seus relacionamentos. São importantes para a
organização e a modelagem de comportamentos do sistema.
35
TEMA
b3.4. DIAGRAMA DE SEQÜÊNCIA -
5. DIAGRAMA DE COLABORAÇÃO (c6)
São tipos de diagramas de interação. Composto de
um conjunto de objetos e seus relacionamentos, incluindo
as mensagens que podem ser trocados entre eles. No
diagrama de Seqüência a ênfase está na ordenação temporal
da mensagem. A ênfase do Diagrama de Colaboração está na
organização de estrutura dos objetos que enviam e recebem
mensagens. Os diagramas de Seqüência e Colaboração são
isomórficos, isto é transformam o diagrama de um tipo em
outro.
b3.6. DIAGRAMA DE GRÁFICO DE ESTADO (c6) – exibe
uma máquina de estados, formada por estados, transições,
eventos e atividades. É importante para modelagem de
comportamentos de uma Interface, Classe ou Colaboração.
Também para dar ênfase a comportamentos de um objeto,
ordenados por evento. É de grande ajuda para modelagem
de sistemas reativos.
b3.7. DIAGRAMA DE ATIVIDADE (c6) – é um tipo
especial de diagrama de gráfico de estado. Exibe o fluxo de
uma atividade para outra no sistema diagrama de atividade.
É importante para a modelagem da função de um sistema e
dá ênfase ao fluxo de controle entre objetos.
b3.8. DIAGRAMA DE COMPONENTE (c6) – exibe as
organizações e as dependências existentes em um conjunto
de componentes. Está relacionado ao diagrama de classes,
pois os componentes são mapeados para uma ou mais
classes, interfaces ou colaborações.
b3.9. DIAGRAMA DE IMPLANTAÇÃO (c6) – mostra
a configuração dos nós de processamento em tempo
de execução e os componentes neles existentes. Está
UNIESP
36
relacionado ao diagrama de componentes, pois um nó inclui
um ou mais componentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou mostrar que a UML possui
recursos específicos para analisar a estrutura de um sistema,
determinar seu comportamento e modelar a topologia de
dispositivos que o executarão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Primeiro Texto) Páginas 6-23
HENINGER, Kathryn L. Specifying Software Requirements for Complex
Systems: New Techniques and Their Application. IEEE Transactions
on Software Engineering, vol. se-6, no. 1, january 1980.
KOTONYA, Gerald; SOMMERVILLE, Ian. Requirements Engineering:
Processes and Techniques. Chichester,UK: John Wiley and Sons,
1998.
PRESSMAN, Roger S. Engenharia de Software. 6ed., São Paulo:
McGraw-Hill, 2006.
SOMMERVILLE, Ian. Engenharia de Software. 6ed. São Paulo:
Addison Wesley, 2003.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Segundo Texto) Páginas 24-37
BOOCH, Grady; JACOBSON, Ivar; RUMBAUGH, James. The Unified
Modeling Languague User Guide. Addison Wesley, 1999.
FURLAN, José Davi. Modelagem de Objetos através da UML – the
Unified Modeling Language. São Paulo: Makron Books, 1998.
LARMAN, Craig. Utilizando UML e Padrões. Porto Alegre: Bookman,
2000.
PAGE-JONES, Meilir. Fundamentos do Desenho Orientado a Objeto
com UML. Makron Books, 2001.
37
TEMA
Autor e Texto
Author - Text
Carla Cristina Pasquale*
STRATEGIC SOURCING -
Strategic Sourcing - Methodology of buying
Resumo
Este artigo trata de Strategic Sourcing, metodologia usada na
área de compras e suprimentos. Trata, ainda, dos processos
que envolvem compras estratégicas e suas complexidades.
Abstract
This article deals with Strategic Sourcing, methodology used in
the area of buying and supplies. It deals, also, with the processes
which involves strategic buying and its complexities.
Palavras-Chave
Strategic Sourcing. Compras. Modelos de Administração e
Gestão de negócios.
Key Words
Strategic Sourcing. Buying. Models of Administrations. Business
Running.
* Especialista em Administração de Negócios pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Colaboradora da área de Pesquisa e Extensão das Faculdades
Integradas Teresa Martin desde 2005.
R.TEMA
S.Paulo
UNIESP
nº 50
jul/dez 2007
P. 38-55
38
Carla Cristina Pasquale
STRATEGIC SOURCING
Strategic Sourcing - Methodology of buying
A
ntigamente, até por volta dos anos 1970, as
empresas tinham a mentalidade de que quanto
mais produzissem, mais venderiam e melhor
atenderiam as necessidades de seus clientes. Portanto,
produziam mais do que o necessário. Havia empresas que
se preocupavam em produzir um único produto em grandes
quantidades, e empresas que se preocupavam em oferecer
aos seus clientes uma ampla variedade de bens e serviços,
a fim de poder atendê-los, quaisquer que fossem suas
necessidades. Este modelo segue os princípios apresentados pelo
sistema Just in Case, cujo significado pode ser traduzido
para em caso de.
No entanto, estas empresas começaram a perceber
que esse procedimento exigia estoques consideráveis,
fazendo com que muitas mercadorias ficassem paradas, o
que gerava custos de armazenamento, energia, transporte,
segurança, manutenção, terminando com a depreciação
dessas mercadorias.
A partir destas percepções, as empresas passaram a
adotar outras formas de gerenciar sua produção. Passaram a
39
TEMA
adotar o conceito Just in Time, que consistia numa forma de
organização da produção que obedecia à demanda de seus
clientes. A cada nova solicitação dos clientes, produziam-se
as mercadorias, de modo a não gerar estoques, minimizando,
assim, os custos de produção. A produção passou a ser
sincronizada de acordo com a nova necessidade do cliente.
De acordo com o Sistema Japonês de Qualidade, Just
in time significa na hora certa, só em caso de necessidade,
no momento exato.
Segundo Katsuaki Watanabe, da Toyota Motor
Corporation, a produção deve seguir os seguintes pilares:
estoque zero, melhoria contínua e qualidade na fabricação
(Sistema Toyota de fabricação)1.
A partir destas mudanças, que inicialmente foram
implementadas por empresas japonesas que conseguiram
não apenas economizar fantásticas quantias, mas, também,
proporcionar aos seus produtos e serviços um avançado
nível de competitividade, houve uma evolução geral no
mercado com relação a tudo que fosse referente à redução
de custos e maior qualidade.
Os novos modelos de produção, por conseqüência,
implicaram em novos modelos de administração e de gestão
dos negócios. Em um ambiente em que a única constante é a
mudança, as empresas precisam se adaptar para sobreviver
e crescer.
Diante de um cenário extremamente dinâmico,
marcado por incessantes mudanças, que se apresentam
nas mais diversas formas, surgiram algumas práticas
que buscam uma maior redução de custos, e uma dessas
práticas dentro da área de compras é comprar de forma
planejada e estratégica.
1 Fonte: www.administradores.com.br
UNIESP
40
Strategic Sourcing
O Strategic Sourcing é uma metodologia utilizada
nas empresas, principalmente nas áreas de compras e de
suprimentos, cuja finalidade é contratar serviços de forma
planejada e estratégica, respeitando alguns métodos e
algumas etapas antes de ir ao mercado. Porém, em primeiro
lugar, devemos compreender que uma compra estratégica
consiste num processo complexo que envolve toda uma
análise e reflexão de potenciais fornecedores de um produto
ou serviço, tendo em vista os objetivos específicos. Não
necessariamente, deve-se considerar apenas a redução de
custos para a seleção de um fornecedor, mas também o
ganho qualitativo, a busca constante de oportunidades de
melhoria e benefícios.
Dentro desta metodologia, é feito um levantamento de
todos os produtos ou os serviços contratados pela empresa,
estes são mapeados e pela sua similaridade são agrupados
em categorias, que levam o nome de família.
Alguns exemplos de Família são:
a)Família de TI: componentes de tecnologia;
b)Família de Marketing: eventos, pesquisa, mídia, comunicação visual, material gráfico;
c)Família de Engenharia: manutenção predial, obras, reformas, entre outros serviços pertinentes a esta família.
Todos os serviços ou produtos adquiridos pela
empresa são identificados através de um levantamento.
Feito este levantamento, são diagnosticados seus custos,
volume comprado, necessidades, especificações e mercado
41
TEMA
fornecedor.
“Devemos lembrar que as organizações não
se limitam apenas a vender, elas também
compram vastas quantidades de matérias
primas componentes manufaturados, instalação,
equipamentos, suprimentos e serviços.”2
O que são compras organizacionais?
De acordo com a definição de Webster e Wind, compra
organizacional
“(...) é um processo de tomada de decisão pelo
qual as organizações estabelecem a necessidade
da compra de produtos e serviços, bem como
identificam, avaliam e escolhem, entre as marcas
e os fornecedores disponíveis, qual a melhor
opção.”3
Toda empresa tem uma área de atuação principal, com
a qual ela deve focar-se e preocupar-se constantemente por
ser sua função estratégica. Por exemplo, um banco tem
como negócio principal captar dinheiro do mercado. No
entanto, este mesmo banco precisa de outros serviços, como
por exemplo, serviços de manutenção de suas agências;
serviços de empresas de marketing para que, junto com
suas áreas internas, possa viabilizar ações promocionais
para seus clientes; serviços de mídia, a fim de fazer suas
propagandas e atingir o público alvo; serviços de transporte
2 KOTLER, Philip. Administração de Marketing. São Paulo: Pearson
Prentice Hall. 2006. p. 208.
3 Frederick E. Webster Jr e Yoram Wind. Organizational buying behavior.
Upper Saddle River: Prentice Hall. 1972. p. 2.
UNIESP
42
de valores, para transportar os valores para os cofres em
segurança; serviços de agências de pesquisa; serviço de
limpeza; enfim, estes são apenas alguns exemplos.
Poderíamos citar inúmeros serviços que uma
instituição desse porte necessita para manter sua estrutura.
Porém, imaginem se esta mesma empresa, que tem como
prioridade manter a excelência de seu principal serviço e
dele obter lucros, tivesse que se preocupar com todas
estas outras frentes. Ela certamente não daria conta. Por
isso, ela precisa contratar serviços, ou recursos externos
para que possa ser assessorada, e voltar-se para seu foco
de negócios, onde está todo o seu potencial de lucro. Esta
empresa precisa buscar fontes de fornecimento, empresas
que tenham know-how em determinados negócios,
estabelecer uma relação de confiança e voltar-se para o seu
“core business”.
As unidades de compras existem para realizar
estas contratações, negociarem, buscarem as melhores
alternativas, dentro ou fora de seu país.
Há uma década, o comprador tinha uma função
muito burocratizada, preocupando-se apenas em contratar
o serviço ou produto demandado, sem muita noção
estratégica.
Normalmente, a contratação já era feita por outras
áreas, e o comprador se preocupava somente em arquivar
os contratos. Era uma função operacional apenas.Nos dias
de hoje, esta conotação mudou; o comprador se tornou um
executivo de negócios, bem como a área de compras se
transformou numa unidade de negócios, cujo perfil é apoiar
as demais áreas usuárias em suas demandas de contratação
bem como fazer bons negócios.
Portanto, o Strategic Sourcing é uma metodologia
43
TEMA
que surgiu para agregar valor à compra.
O processo de implantação do Strategic Sourcing traz
diversas vantagens para a empresa, mas sua implementação
pode gerar resistência entre os clientes internos da
organização.
O processo torna-se vantajoso, pois permite
centralizar as compras evitando redundância entre áreas que
estão comprando o mesmo serviço ou produto. Utilizando
a metodologia de Strategic Sourcing, as áreas passam a
trabalhar em sinergia. A área de compras torna-se uma área
focada nas várias contratações da empresa, harmonizando
as especificações, passando a ter uma visão mais ampla
com relação às necessidades globais e aos volumes, que
possibilitam um maior poder de negociação.
Este método possibilita a obtenção de muitos
benefícios; quando aplicado promove um relacionamento
mais estratégico tanto com os usuários quanto com os
fornecedores que passam a participar em condições de
igualdade.
Entretanto, a implementação de um sistema inovador
como é o Strategic Sourcing não é uma tarefa fácil. Em
momentos como este, é comum, em praticamente todas
as áreas e níveis da empresa, identificarmos pontos de
resistência à aplicação dessa nova metodologia.Dessa forma,
sua implantação oferece grandes desafios, primeiramente,
o comprador deve vender seu trabalho, deverá haver um
trabalho de convencimento com as outras áreas.
Muitas vezes, essas áreas entendem que as
contratações já estão incorporadas em suas atividades não
se sentindo seguras em delegar esta tarefa para o comprador.
Outras vezes desconfiam da competência técnica e
comercial do comprador ou já possuem um relacionamento
UNIESP
44
de longa data com o fornecedor existindo favoritismo.
Enfim, normalmente os compradores encontrarão algum
tipo de dificuldade ao tentar implantar a metodologia.
Para minimizar as dificuldades da implantação do
método, as empresas estão capacitando seus profissionais
de compras para que se tornem conhecedores à altura de
seus usuários, de modo que alguns compradores tornem-se
especialistas em algumas categorias.
O Strategic Sourcing é amplamente indicado quando
se trata de compras complexas, de serviços ou produtos
estratégicos, que envolvam alto risco e alto custo. No
entanto, vale ressaltar que as empresas também contratam
produtos e serviços de rotina, tais como material de
escritório e outros produtos de menor custo e risco, para os
quais pode ser feita com uma simples cotação. Neste caso,
o Strategic Sourcing não se aplica.
Existem alguns itens que são padronizados e que são
comprados regularmente, dispensando qualquer análise
estratégica, normalmente o comprador faz três cotações
e efetua a compra pelo menor preço. Por outro lado, para
contratações de alto risco, alto custo, de alto valor agregado,
é indispensável uma análise mais aprofundada, aplica-se
então o Strategic Sourcing.
Quando se trata de uma compra considerada
estratégica, com um nível grande de complexidade, o
comprador passa a gerenciar o projeto de Strategic Sourcing,
com início, meio e fim, e isto não significa necessariamente
que ele precise ser um técnico em gerenciamento de
projetos. Ele tem o objetivo de organizar o trabalho, dividi-lo em
frentes. Para isso ele elabora uma matriz de atividades, para
todo o time multifuncional, que normalmente é composto por
45
TEMA
usuários, técnicos, compradores, decisores e alta diretoria. No entanto, seu foco principal é a contratação estratégica,
mas ele é responsável pela condução do projeto, ele é o
ponto focal e interage com todo o time.
Antes de ir ao mercado, o comprador deverá debruçar
e analisar todos os contratos já existentes, entender os
níveis de serviços contratados, volumes, gastos anuais,
saber quantos fornecedores existem em suas bases, como
estão os acordos atuais. Deve entrevistar os fornecedores
já atuantes, analisar o relacionamento cooperativo,
avaliar como está o desempenho dos mesmos, verificar o
cumprimento de SLA – Service Level Agreement, que significa
nível de serviço acordado e seus respectivos prazos. Além
disso, deverá também analisar possíveis barreiras de saída,
caso a empresa desejar romper o contrato com algum de
seus fornecedores.
Fornecedores, já contratados, normalmente
participam do novo processo, e passam a concorrer com
fornecedores do mercado sem nenhum diferencial ou
privilégio.
Cabe, porém, ressaltar que esta decisão de incluir ou
não fornecedores atuais ficará à critério do time. Haja vista
que o fornecedor que já possui vínculo conhece bem seu
cliente podendo tirar vantagem no processo seletivo.
Outra importante função do comprador é analisar
junto com o time, qual o número ideal de fornecedores. Quanto mais fornecedores, maior o trabalho para administrálos; por outro lado, o ideal é que não haja concentração,
por exemplo, a empresa contrata um único fornecedor, caso
ele deixe de existir, a empresa ficará sem o serviço, ou o
contrário, se o cliente sair e o fornecedor tiver dependência
financeira deste, pode ocorrer uma falência. Embora seja
UNIESP
46
interessante que o fornecedor tenha uma fatia substancial
de seu faturamento com um determinado cliente e tenha
receio de perdê-lo.
A missão do comprador é sempre buscar um plano de
contingência, porém, em alguns momentos, até mesmo por
questões econômicas, o comprador poderá se deparar com
situações em que o fornecedor irá exercer poder sobre seus
clientes por ser o único provedor de um produto diferenciado
ou de um determinado serviço. A esse respeito, segundo
Michal Porter,
“em compras, a meta é encontrar mecanismos
para compensar ou superar estas fontes de poder
dos fornecedores. Em alguns casos este poder
é inerente à economia e está fora do controle
da empresa. Em muitos casos ele pode ser
amenizado pela estratégia”4
O ideal é que o serviço seja distribuído entre alguns
fornecedores, de modo que haja uma pulverização, sem
dependência de nenhuma das partes e que exista uma
contingência. Caso um fornecedor venha apresentar
problemas em sua operação, é totalmente possível que o
serviço seja transferido para um outro que tenha capacidade
para absorver o serviço.
A troca de fornecedor também deve ser analisada,
bem como avaliar quais os impactos, caso seja necessária
a mudança.
Para desbravar o mercado, e encontrar fornecedores,
o comprador precisa estar atualizado sobre o mercado,
através de fontes como internet, portais do segmento,
4 PORTER, Michael E. Estratégia competitiva. Rio de Janeiro: Editora
Campus. 1986. P. 127.
47
TEMA
associações, jornais, redes sociais, através de outras
empresas, agências de pesquisas, recorrendo à áreas de
Inteligência de Mercado; enfim, existem inúmeros recursos
para a obtenção destas informações.
Benchmarking
O Benchmarking é uma prática bastante usada pelas
empresas a fim de buscarem informações relevantes não
somente sobre fornecedores, mas, também, sobre as
melhores práticas.
É uma forma de obter informações sobre os melhores
métodos de trabalho, melhores práticas, buscar referência
sobre mercado fornecedor, e mesmo entender como uma
determinada empresa conquistou a excelência em sua
forma de atuação.
Esta prática é muito comum entre as empresas, é
claro, preservando o sigilo das relações entre clientes
e fornecedores, e diferenciais competitivos. No entanto,
é muito comum que as empresas troquem informações
relacionadas ao desempenho de seus fornecedores,
comentem sobre seus pontos fortes e fracos bem como
sobre seu desempenho.
Para encontrar novos fornecedores e conhecer o
mercado, existem vários sites de pesquisas que podem
trazer informações sobre as empresas, associações, ou
através da busca de referências com o próprio mercado,de
modo que seja possível a elaboração de uma lista de
empresas com as quais seja possível trabalhar.
Com uma relação de empresas em mãos, conhecendo
a dinâmica do setor que estamos procurando, já temos uma
lista de fornecedores potenciais para a prestação do serviço
UNIESP
48
que a empresa necessita.
De posse de informações do mercado, advinda
das pesquisas dentro do segmento específico, somado
a informações macroeconômicas, temos material para
compor uma primeira lista, que tem o nome de lista longa,
ou long-list.
Portanto, o passo seguinte é enviar um convite ao
mercado para identificar quais empresas tem interesse em
participar.
Este documento que é enviado ao mercado chama-se
RFI – Request for Information.
Esta RFI deverá conter um convite ao fornecedor
perguntando sobre seu interesse em participar, perguntas
cadastrais, dados do fornecedor, documentação do
fornecedor, cronograma para solução de dúvidas. Obs.:
o comprador deverá estimar um prazo para responder às
perguntas, e uma data final para a devolução da RFI.
Após as empresas interessadas aceitarem o convite,
responderem à RFI e enviarem sua documentação, deve
ser feito um mapa comparativo para que se tenha uma
análise geral das empresas, considerando seus aspectos
administrativos, fiscais, financeiros e jurídicos. A esta
análise dá-se o nome de Due Dilligence.
Due Dilligence é um verbete financeiro, que não
possui uma tradução específica. No entanto, é uma análise
que envolve uma investigação profunda sobre o potencial
fornecedor. Nesta tarefa, são analisadas as informações
cadastrais do fornecedor, saúde financeira, riscos, scoring,
rating, tendências setoriais e sua reputação no mercado.
Para esta análise, existem ferramentas específicas no
mercado que oferecem subsídios para uma análise de saúde
financeira, como por exemplo os relatórios de empresas de
49
TEMA
informações cadastrais.
Após a análise cadastral, fiscal, jurídica e financeira
da empresa candidata, o comprador escolhe algumas destas
empresas para que sejam, as participantes do processo;ele
obtendo então uma lista menor do que a primeira, trabalhará
com uma short-list, uma lista mais curta.
Feita esta seleção, o comprador definirá junto com
o time multifuncional, quais serão as empresas que farão
parte do processo.
A partir deste ponto, o comprador elabora um
documento colocando sua necessidade, com especificação
técnica, prazos, exigências, enfim, quanto mais clara for
esta requisição, mais subsídios o potencial fornecedor terá
para elaborar sua proposta de fornecimento.
Instrumentos de Apoio ao Comprador,
RFI, RFP e RFQ.
Request For Information (RFI) – Requisição de
Informação é um documento utilizado para solicitar
informações ao mercado, em inglês chama-se Request for
Information, cuja tradução é requisição de informação.
Request For Proposal (RFP) – Requisição de Proposta
Neste documento, a empresa que está interessada
num determinado produto ou serviço explica aos
fornecedores, através de uma especificação técnica,
quais são suas premissas, necessidades técnicas, prazos,
exigências com qualidade, certificações emitidas através
de órgãos certificadores, e todas as informações que sejam
necessárias para a prestação do serviço.
Quanto mais informações os fornecedores tiverem
das empresas solicitantes de seus serviços ou produtos,
UNIESP
50
melhor poderão fazer suas ofertas, poderão mostrar suas
soluções tecnológicas, diferenciais, prazos, certificações,
quais serão seus esforços para atendimento.
Neste momento, tudo dependerá da criatividade de
cada fornecedor em apresentar suas inovações, soluções
para correções de desvio de rota, casos de sucesso com
seus clientes, enfim, toda informação para conquistar seu
futuro cliente é de grande valia.
No entanto, ainda estamos no âmbito das informações
técnicas, de fornecimento, entrega, suporte. Nesta etapa,
o comprador deverá ter critérios para uma outra seleção
que preservará apenas os fornecedores que mais se
aproximarem de suas necessidades.
Partindo então para uma etapa seguinte que será uma
requisição de cotação para que sejam analisados os preços
por item, o fornecedor apresentará sua composição dos
custos.
Request For Quotation (RFQ) – Requisição de Cotação
é o documento final, onde serão apresentados os preços,
item a item, sua composição, impostos, câmbio (se houver).
Todos os fornecedores deverão considerar os mesmos itens
para que as propostas sejam equalizadas posteriormente.
Com todo este material em mãos, o comprador precisa
tomar sua decisão. Para tanto, precisa ter critérios de
avaliação, pois as decisões não são tomadas apenas pelo
melhor preço.
Os critérios de avaliação são decididos em conjunto
com a área solicitante. Esses critérios são estabelecidos
com notas ponderadas, pois o que estamos avaliando
são preços, proposta técnica, e outros itens considerados
importantes como condição de fornecimento.
Devemos ressaltar que em todas as etapas, todos os
51
TEMA
fornecedores deverão participar com isonomia.
As propostas de preço, normalmente são equalizadas
numa planilha de Excel, item a ítem, considerando sua
composição de custo, insumos, mão de obra, margem
de lucro, entre outros. Todos os fornecedores precisam
considerar os mesmos itens.
A análise de preço também é feita em conjunto. É
importante ressaltar que no processo de Strategic Sourcing,
o comprador não decide nada isoladamente, sempre em
conjunto com o time multifuncional.
O item preço é um ítem de extrema relevância, mesmo
porque deve estar dentro de uma margem orçamentária,
no entanto, não deve ser o ponto decisivo, mesmo
porque os preços entre todos os fornecedores deverão
estar compatíveis. Preços muito desproporcionais, muito
elevados ou muito abaixo, devem ser considerados como
ponto de atenção. Fornecedores aventureiros colocam
seus preços muito abaixo apenas com o intuito de atrair e
conquistar o cliente.
No entanto, com o passar de alguns anos, o
fornecedor certamente irá pleitear aumento de seus preços
sob a alegação que está trabalhando sem margens de lucro.
De modo que o cliente tenha que rever sua contratação.
Embora o Strategic Sourcing tenha foco na redução de
custos, esta nem sempre é a decisão mais acertada. A
estratégia é buscar oportunidades que tragam benefícios,
valor agregado, estabelecimento de parcerias de longa
duração, portanto, o ponto decisório não deve limitar-se
apenas aos custos.
Realizar Workshop com os fornecedores com os
potenciais fornecedores é imprescindível.
Um workshop é uma reunião, onde o fornecedor não vai
UNIESP
52
limitar-se a apenas expor suas competências, mas sim
demonstrá-las de um modo prático com alguns exemplos
de caso.
A importância da realização de um workshop é dar
a oportunidade ao potencial fornecedor de apresentar
sua empresa, mostrar seu institucional, sua missão, sua
visão, quem são seus principais clientes, seus casos de
sucesso (também de insucesso, e, principalmente, contar
como corrigiu certos desvios de rota), mostrar qual é seu
posicionamento no mercado, como são suas estratégias
de marketing, custos, suporte, como será o atendimento
ao cliente. Enfim, abre-se uma mesa, para perguntas e
respostas. Neste momento, é formado um comitê avaliador,
que levará em consideração os critérios já estabelecidos.
O comitê é formado por todo o time, compradores,
usuários, decisores, todos que estão envolvidos no
processo de Strategic Sourcing.
O workshop traz bastante visibilidade e possibilita ao
time decisor uma maior percepção de como poderá ser o
relacionamento com o potencial fornecedor.
A visita técnica é uma etapa de extrema relevância,
pois permite verificar in loco toda a operação do cliente.
Neste momento, entra-se em contato com o ambiente real,
em seu pleno funcionamento, permitindo que seja checado
tudo o que foi exposto formalmente através de RFI, RFP e
RFQ.
A visita permite vivenciar, auditar processos, verificar
a estrutura física, avaliar a segurança lógica e física que a
empresa oferece, entre outros itens que normalmente são
confrontados com as informações que estão no papel.
Após cumprir todas as etapas, entender o mercado,
saber quais são as empresas do segmento que se busca,
53
TEMA
entender quais são as empresas líderes de mercado,
conhecer suas competências técnicas, reputação, como
atuam no mercado, seus pontos fortes e fracos, entre
outros critérios de avaliação, é feita a seleção e chega-se
ao fornecedor vencedor, que pode ser um único, ou vários
fornecedores aprovados, esta escolha dependerá do que foi
determinado com o time, portanto são desenhados cenários
de contratação.
Estes cenários têm como objetivo mostrar de forma
analítica todas as conclusões a respeito dos fornecedores
que chegaram à etapa final, ressaltando seus pontos
fortes, fracos, contingência, benefícios de sua contratação,
vantagens e desvantagens.
Caso a empresa entenda que precise naquele
momento de mais de um fornecedor, ela poderá contratar
um ou mais fornecedores.
Portanto, terminado o processo, o comprador, junto
com o time, faz uma recomendação de contratação para
apresentar ao o time decisor.
Apresentados os cenários, o time decide pelo
fornecedor vencedor. Este recebe um comunicado da
empresa mostrando que foi aceito para o fornecimento do
produto ou para a prestação do serviço.
Fornecedor desclassificado também deverá ser
informado sobre sua desclassificação para este processo
de seleção, mas que estará nas bases de dados para
uma próxima oportunidade, a empresa gentilmente deve
agradecer pela sua participação.
Finalizadas as etapas do Strategic Sourcing, feita a
comunicação para o fornecedor (es) vencedor (es), inicia-se
a etapa contratual, onde são estabelecidas as condições de
fornecimento, os níveis de serviço, penalidades, multas e
UNIESP
54
condições comerciais.
Elabora-se um contrato que deve ser assinado de
comum acordo entre as partes.
A gestão deste contrato é feita por uma equipe
especializada que administra tudo o que foi contratado
versus o que está sendo entregue pelo fornecedor. Existem
profissionais no mercado que são gestores de contratos,
são especialistas no gerenciamento de contratos e
fornecimento.
Esta equipe analisa se os prazos estão sendo
cumpridos, caso não sejam, são aplicadas multas e
penalidades que podem variar em valores altíssimos bem
como a suspensão do serviço por um determinado prazo.
Estes contratos são revistos anualmente, são
reajustados, e em cada renovação, o usuário do serviço é
consultado, é interrogado para informar sobre o desempenho
do fornecedor em sua prestação de serviço.
Inicia-se então um relacionamento contínuo e de longa
duração entre cliente e fornecedor.
Bibliografia
CARBAUGH, Robert J. Economia
internacional. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning.2004.
CHURCHIL, Gilbert A. e PETER,
J. Paul. Marketing – criando
valor para os clientes.São Paulo:
Saraiva. 2000.
KEEGAN, Warren J. e GREEN,
Mark C. Princípios de marketing
global. São Paulo: Saraiva.2006.
55
KOTLER, Philip e KELLER,
Kevin Lane. Administração de
marketing. São Paulo: Pearson
Prentice Hall. 2006.
PORTER, Michael E. Estratégia
competitiva. Rio de Janeiro: Editora
Campus. 1986.
SLACK,N i g e l , CHAMBERS,
Stuart e JOHNSTON, Robert.
Administração da produção.São
Paulo: Atlas. 2006.
TEMA
Autor e Texto
Author - Text
Marcelo G. Gomes*
Fraudes, Crises e Ética nas Empresas
Frauds, Crises and Ethics in the Establishments
Resumo
Este artigo trata de ética empresarial e seus objetivos. A
discussão percorre problemas ocorridos em empresas de
grande porte, que fraudaram balanços, envolvendo o mundo
dos negócios em grande escândalo internacional.
Abstract
This article deals with establishment ethics and its objectives. The
discussion goes through problems faced in conglomerates, which
forged balances, involving the world, in business of enormous
international scandalous.
Palavras-Chave
Fraudes. Balanços. Auditoria. Ética. Ética Empresarial.
Key Words
Frauds. Balances. Auditory. Ethics. Establishment Ethics.
Mestre em Administração, professor das Faculdades Integradas
Teresa Martin.
R.TEMA
S.Paulo
UNIESP
nº 50
jul/dez 2007
P. 56-61
56
Marcelo G. Gomes
Fraudes, Crises e Ética nas Empresas
Frauds, Crises and Ethics in the Establishments
N
o início dos anos 2000, grave crise desenhou-se
nos Estados Unidos, promovida por empresas
norte-americanas de grande respeitabilidade que
se haviam envolvido em fraudes nos seus balanços.
Por haverem prometido lucratividade exagerada aos
investidores, acreditando num desempenho espetacular e
contínuo da economia americana, ao começarem a perder
fôlego passaram a fraudar balanços, procurando fazer a
opinião pública acreditar que suas aplicações estavam em
alta. Sabendo que os resultados de seus balanços eram
falsos, obtiveram de empresas de auditoria a convalidação
dos resultados apresentados para manter o ânimo dos
investidores, conferindo ares de verdade às fraudes.
Integravam o grupo de fraudadores empresas como a
Xerox, a Tyco, a Bristol-Meyers, a Squibb, entre outras.
A descoberta das fraudes provocou enorme
escândalo, expondo a vulnerabilidade da economia norteamericana. Investidores do país e de outras partes do mundo
ficaram perplexos, não apenas pela perda de recursos, mas,
também, pela crise de confiança que assolou o mundo dos
negócios.
57
TEMA
O saldo foi espantoso. Em curtíssimo tempo, grandes
empresas faliram e investidores perderam fortunas,
enquanto várias empresas de consultoria desapareceram,
como a Arthur Andersen, mundialmente conhecida.
As causas do desastre estão, em última instância, na
ausência do cultivo de relações éticas, decorrente do desejo
obsessivo de lucro, da obtenção e posse da maior quantidade
possível de bens materiais. A própria escala de prestígio
social atesta a veracidade dessa assertiva, visto que aos
despossuídos de bens a sociedade reserva indiferença,
quando não o brinda com desprezo e agressividade.
A ética empresarial permeia, ou deveria permear,
empresas e organizações em geral, valorizando a conduta
ética de seus integrantes, os valores da organização, sendo
que estes devem constituir parte de sua cultura. Se um
dos objetivos da ética é apontar rumos, construir normas
positivas que contribuam para o aperfeiçoamento humano,
como se pode entender a possibilidade de sua prática num
universo empresarial aético ou anti-ético, já que a gana pelo
lucro leva a pisar sobre a própria vida humana?
Esforços Pela Ética no
Mundo dos Negócios
Uma das primeiras preocupações na relação entre a
ética e o mundo do trabalho tinha como meta a elevação
do trabalhador aos Conselhos de Administração das
organizações econômicas nos países de origem alemã, na
primeira metade do século XX. O ensino da Ética Empresarial
tomou impulso nos Estados Unidos nos anos 60 a 70 do
século XX. Raymond Baumhart realizou o primeiro estudo
sobre a questão junto a empresários, restringindo o enfoque
UNIESP
58
da Ética nos Negócios à conduta ética pessoal e profissional.
Era uma atitude importante mas insuficiente para abarcar
a complexidade das questões que o tema envolvia. Novas
alternativas passaram a ser procuradas, em vários estudos.
Em 1999, a revista Newsweek em conjunto com a
Organização Harris realizou importante pesquisa querendo
saber se as empresas deveriam preocupar-se apenas com
seus lucros ou se deveriam ter, também, alguma preocupação
social. O resultado da pesquisa apontou a preocupação dos
entrevistados com a importância social da empresa e os
papéis que, nesse campo, ela deveria cumprir.
O resultado dessa pesquisa revelava o anseio popular
pela função social da empresa em vez de preocupar-se
exclusivamente em maximizar seus lucros, o que entrava
em choque com teorias até então bem aceitas, como a de
Milton Friedman, que fora professor da Universidade de
Chicago, e era considerado o pai do neoliberalismo. Esta
teoria ressurgia, com novas configurações, de matrizes
muito antigas, de John Locke, passando pela Escola
Austríaca, assumindo nos anos 1980 foro de verdade
única, propondo a quase total anulação da participação do
Estado na economia de um país, bem como no mercado
de trabalho, admitindo que toda a base da economia devia
ser formada por empresas privadas, com liberdade total
às leis de mercado, enfim admitindo que a regulação dos
preços deveriam ficar restritas às leis de oferta e procura,
combatendo o pagamento de impostos e taxas ao governo
sob o pretexto de serem excessivos. Em resumo, pode-se
dizer que o neoliberalismo propunha o fim do Estado de
Bem Estar Social, a privatização da educação e dos serviços
de saúde. A ética do bem estar social passava por uma
desvalorização tão forte que a tornava aos olhos leigos da
59
TEMA
opinião pública como uma coisa muito antiga, ultrapassada.
Mudanças e Problemas
Quando o processo de desterritorialização das empresas
norte-americanas e européias se acirrou, em virtude de
sua expansão econômica, começaram a ser chamadas
de multinacionais. Instalavam-se em países de culturas
diferentes e passavam a encontrar entraves à aplicação de
seus padrões éticos. A fragmentação da produção, alienando
o trabalhador de seu trabalho, as diferentes formas de
negociar, a adoção de novos modelos de calendário que se
chocavam com hábitos religiosos e costumes fortemente
arraigados, foram alguns dos problemas enfrentados pelas
empresas em decorrência de distintos padrões culturais
com que deveriam manter convivência. Por isso, vários
códigos de ética foram redigidos e realizados, inúmeros
estudos sobre ética empresarial foram feitos, além da
concessão de financiamentos para realização de vários
congressos internacionais sobre a questão. Essa prática
de realizar encontros consagrou-se, mantendo-se ativa
até a atualidade. Mas, na avaliação final de pesquisas e
congressos, o que acaba transparecendo como aspiração
é algo muito além de palestras. Ao que parece, a ética não é
mais aceita como discurso, o que se almeja é a ética como
prática concreta.
Como Fica o Debate?
Ideias como as de Milton Friedman já não encontram
amparo nos debates, nem na Inglaterra onde as propostas
ultraliberais de Margareth Thatcher, de uma sociedade sem
UNIESP
60
Estado, acumularam fracassos, desempregos e crescentes
manifestações populares de repúdio. Nos Estados Unidos,
o desequilíbrio de W. Bush fica evidente, com o crescimento
dos democratas, tendo como bandeira questões sociais e
éticas, programas de saúde e bem estar social.
Redes sociais e organizações não governamentais
criaram tribunas incontroláveis pelo sistema midiático
tradicional, de onde divulgam informações, estabelecem
críticas e convocam protestos.
No cotidiano das empresas, surgiram violentas críticas
às práticas fraudulentas nas áreas contábeis, com sérias
cobranças à honestidade em sua política contábil, visto que
a contabilidade fraudulenta levou à grave crise econômica,
que afetou os Estados Unidos e outros países, como já
foi demonstrado aqui. Ao lado disso, cresce o número
de adeptos da doutrina de responsabilidade social que
veem na empresa uma co-responsável com o processo
de desenvolvimento do pais, criando empregos, pagando
corretamente seus impostos e taxas, pagando salários
justos, promovendo distribuição de renda.
Embora se reconheça a ética como uma reflexão crítica
sobre a moralidade, ela deve ser vista como um conjunto
de princípios e disposições orientados para a ação. Uma
ação transformadora, pois não sendo estática muda com a
sociedade que ela própria ajuda a mudar.
Bibliografia
COUTINHO,Maria Cecilia.
Fundamentos de ética empresarial e
econômica. São Paulo: Atlas,2001
61
MAXIMIANO,Antonio Cesar. Teoria
geral da administração: da revolução
urbana à revolução digital.
São Paulo : Atlas,2003
TEMA
Autor e Texto
Author - Text
Marcelo G. Gomes*
Fraudes, Crises e Ética nas Empresas
Frauds, Crises and Ethics in the Establishments
Resumo
Este artigo trata de ética empresarial e seus objetivos. A
discussão percorre problemas ocorridos em empresas de
grande porte, que fraudaram balanços, envolvendo o mundo
dos negócios em grande escândalo internacional.
Abstract
This article deals with establishment ethics and its objectives. The
discussion goes through problems faced in conglomerates, which
forged balances, involving the world, in business of enormous
international scandalous.
Palavras-Chave
Fraudes. Balanços. Auditoria. Ética. Ética Empresarial.
Key Words
Frauds. Balances. Auditory. Ethics. Establishment Ethics.
Mestre em Administração, professor das Faculdades Integradas
Teresa Martin.
R.TEMA
S.Paulo
UNIESP
nº 50
jul/dez 2007
P. 56-61
56
Marcelo G. Gomes
Fraudes, Crises e Ética nas Empresas
Frauds, Crises and Ethics in the Establishments
N
o início dos anos 2000, grave crise desenhou-se
nos Estados Unidos, promovida por empresas
norte-americanas de grande respeitabilidade que
se haviam envolvido em fraudes nos seus balanços.
Por haverem prometido lucratividade exagerada aos
investidores, acreditando num desempenho espetacular e
contínuo da economia americana, ao começarem a perder
fôlego passaram a fraudar balanços, procurando fazer a
opinião pública acreditar que suas aplicações estavam em
alta. Sabendo que os resultados de seus balanços eram
falsos, obtiveram de empresas de auditoria a convalidação
dos resultados apresentados para manter o ânimo dos
investidores, conferindo ares de verdade às fraudes.
Integravam o grupo de fraudadores empresas como a
Xerox, a Tyco, a Bristol-Meyers, a Squibb, entre outras.
A descoberta das fraudes provocou enorme
escândalo, expondo a vulnerabilidade da economia norteamericana. Investidores do país e de outras partes do mundo
ficaram perplexos, não apenas pela perda de recursos, mas,
também, pela crise de confiança que assolou o mundo dos
negócios.
57
TEMA
O saldo foi espantoso. Em curtíssimo tempo, grandes
empresas faliram e investidores perderam fortunas,
enquanto várias empresas de consultoria desapareceram,
como a Arthur Andersen, mundialmente conhecida.
As causas do desastre estão, em última instância, na
ausência do cultivo de relações éticas, decorrente do desejo
obsessivo de lucro, da obtenção e posse da maior quantidade
possível de bens materiais. A própria escala de prestígio
social atesta a veracidade dessa assertiva, visto que aos
despossuídos de bens a sociedade reserva indiferença,
quando não o brinda com desprezo e agressividade.
A ética empresarial permeia, ou deveria permear,
empresas e organizações em geral, valorizando a conduta
ética de seus integrantes, os valores da organização, sendo
que estes devem constituir parte de sua cultura. Se um
dos objetivos da ética é apontar rumos, construir normas
positivas que contribuam para o aperfeiçoamento humano,
como se pode entender a possibilidade de sua prática num
universo empresarial aético ou anti-ético, já que a gana pelo
lucro leva a pisar sobre a própria vida humana?
Esforços Pela Ética no
Mundo dos Negócios
Uma das primeiras preocupações na relação entre a
ética e o mundo do trabalho tinha como meta a elevação
do trabalhador aos Conselhos de Administração das
organizações econômicas nos países de origem alemã, na
primeira metade do século XX. O ensino da Ética Empresarial
tomou impulso nos Estados Unidos nos anos 60 a 70 do
século XX. Raymond Baumhart realizou o primeiro estudo
sobre a questão junto a empresários, restringindo o enfoque
UNIESP
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da Ética nos Negócios à conduta ética pessoal e profissional.
Era uma atitude importante mas insuficiente para abarcar
a complexidade das questões que o tema envolvia. Novas
alternativas passaram a ser procuradas, em vários estudos.
Em 1999, a revista Newsweek em conjunto com a
Organização Harris realizou importante pesquisa querendo
saber se as empresas deveriam preocupar-se apenas com
seus lucros ou se deveriam ter, também, alguma preocupação
social. O resultado da pesquisa apontou a preocupação dos
entrevistados com a importância social da empresa e os
papéis que, nesse campo, ela deveria cumprir.
O resultado dessa pesquisa revelava o anseio popular
pela função social da empresa em vez de preocupar-se
exclusivamente em maximizar seus lucros, o que entrava
em choque com teorias até então bem aceitas, como a de
Milton Friedman, que fora professor da Universidade de
Chicago, e era considerado o pai do neoliberalismo. Esta
teoria ressurgia, com novas configurações, de matrizes
muito antigas, de John Locke, passando pela Escola
Austríaca, assumindo nos anos 1980 foro de verdade
única, propondo a quase total anulação da participação do
Estado na economia de um país, bem como no mercado
de trabalho, admitindo que toda a base da economia devia
ser formada por empresas privadas, com liberdade total
às leis de mercado, enfim admitindo que a regulação dos
preços deveriam ficar restritas às leis de oferta e procura,
combatendo o pagamento de impostos e taxas ao governo
sob o pretexto de serem excessivos. Em resumo, pode-se
dizer que o neoliberalismo propunha o fim do Estado de
Bem Estar Social, a privatização da educação e dos serviços
de saúde. A ética do bem estar social passava por uma
desvalorização tão forte que a tornava aos olhos leigos da
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TEMA
opinião pública como uma coisa muito antiga, ultrapassada.
Mudanças e Problemas
Quando o processo de desterritorialização das empresas
norte-americanas e européias se acirrou, em virtude de
sua expansão econômica, começaram a ser chamadas
de multinacionais. Instalavam-se em países de culturas
diferentes e passavam a encontrar entraves à aplicação de
seus padrões éticos. A fragmentação da produção, alienando
o trabalhador de seu trabalho, as diferentes formas de
negociar, a adoção de novos modelos de calendário que se
chocavam com hábitos religiosos e costumes fortemente
arraigados, foram alguns dos problemas enfrentados pelas
empresas em decorrência de distintos padrões culturais
com que deveriam manter convivência. Por isso, vários
códigos de ética foram redigidos e realizados, inúmeros
estudos sobre ética empresarial foram feitos, além da
concessão de financiamentos para realização de vários
congressos internacionais sobre a questão. Essa prática
de realizar encontros consagrou-se, mantendo-se ativa
até a atualidade. Mas, na avaliação final de pesquisas e
congressos, o que acaba transparecendo como aspiração
é algo muito além de palestras. Ao que parece, a ética não é
mais aceita como discurso, o que se almeja é a ética como
prática concreta.
Como Fica o Debate?
Ideias como as de Milton Friedman já não encontram
amparo nos debates, nem na Inglaterra onde as propostas
ultraliberais de Margareth Thatcher, de uma sociedade sem
UNIESP
60
Estado, acumularam fracassos, desempregos e crescentes
manifestações populares de repúdio. Nos Estados Unidos,
o desequilíbrio de W. Bush fica evidente, com o crescimento
dos democratas, tendo como bandeira questões sociais e
éticas, programas de saúde e bem estar social.
Redes sociais e organizações não governamentais
criaram tribunas incontroláveis pelo sistema midiático
tradicional, de onde divulgam informações, estabelecem
críticas e convocam protestos.
No cotidiano das empresas, surgiram violentas críticas
às práticas fraudulentas nas áreas contábeis, com sérias
cobranças à honestidade em sua política contábil, visto que
a contabilidade fraudulenta levou à grave crise econômica,
que afetou os Estados Unidos e outros países, como já
foi demonstrado aqui. Ao lado disso, cresce o número
de adeptos da doutrina de responsabilidade social que
veem na empresa uma co-responsável com o processo
de desenvolvimento do pais, criando empregos, pagando
corretamente seus impostos e taxas, pagando salários
justos, promovendo distribuição de renda.
Embora se reconheça a ética como uma reflexão crítica
sobre a moralidade, ela deve ser vista como um conjunto
de princípios e disposições orientados para a ação. Uma
ação transformadora, pois não sendo estática muda com a
sociedade que ela própria ajuda a mudar.
Bibliografia
COUTINHO,Maria Cecilia.
Fundamentos de ética empresarial e
econômica. São Paulo: Atlas,2001
61
MAXIMIANO,Antonio Cesar. Teoria
geral da administração: da revolução
urbana à revolução digital.
São Paulo : Atlas,2003
TEMA
Autor e Texto
Author - Text
Roberto Bassi Ribeiro Soares*
Reflexões Sobre o Papel do
Estado no Desenvolvimento Capitalista
Reflections about the role of Government in the
capitalist development
Resumo
Este artigo trata de reflexões do autor sobre o papel do
Estado no desenvolvimento capitalista, tanto em sua fase
caracterizada pelo predomínio da livre concorrência,como
na fase em que predominam os monopólios e oligopólios.
Abstract
This article deals with reflections of the author about the role of
Government in the capitalist development, not only in its stage
branded by the domain of free competence, but also in its stage
which domains monopolies and oligopolies.
Palavras-Chave
Capitalismo. Estado. Desenvolvimento Capitalista. Monopólios.
Oligopólios.
Key Words
Capitalism. Government. Capitalist Development. Monopolies.
Oligopolies.
* Mestre em Administração (Marketing) pela PUC - SP. Professor da PUC-SP
e Centro Universitário São Camilo. Colaborador junto ao Departamento de
Pesquisa e Extensão das Faculdades Integradas Teresa Martin.
R.TEMA
S.Paulo
UNIESP
nº 50
jul/dez 2007
P. 62-91
62
Roberto Bassi Ribeiro Soares
Reflexões Sobre o Papel do
Estado no Desenvolvimento Capitalista
Reflections about the role of Government in the
capitalist development
A
o longo do século XX, como exemplos de situações
que exigiram atuação extrema por parte dos
governos de diversos países ao redor do mundo,
podemos mencionar a Primeira Guerra Mundial, a quebra
da Bolsa de Valores de Nova York, a grande depressão dos
anos 1930, a Segunda Guerra Mundial e os choques do
petróleo.
Como exemplos dessa intervenção, temos o caso da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que,
desde 1929, já trabalhava com uma política econômica
planejada; a França, cujo Estado encampou parcela
considerável das indústrias economicamente estratégicas
para o país. Nos Estados Unidos, e em grande parte da
Europa, podemos citar programas como o New Deal e o
Plano Marshall, cuja finalidade era reverter os impactos
nocivos da Grande Depressão e da Segunda Guerra sobre
esses países, entre outros programas de intervenção.
Historicamente,
63
sobretudo
em
momentos
TEMA
de
crise, independentemente do regime político, é comum
observarmos a participação do Estado, no sentido de criar as
bases necessárias para a superação da crise. Nesse sentido,
a Teoria Keynesiana1 viria a contribuir significativamente
para a compreensão da importância da atuação do Estado,
sobretudo em períodos de recessão.
Em meio ao avanço do processo de globalização
que presenciamos nos dias de hoje, verificamos a
intensificação em termos de volume e complexidade
das relações comerciais por todo o mundo, bem como a
internacionalização da produção e dos investimentos, por
meio dos quais, notamos o desenvolvimento do processo
de oligopolização da indústria mundial e o aumento da
concentração de capital nas mãos das nações centrais,
sedes dos grandes grupos multinacionais.
No entanto, a conquista de novos mercados
fornecedores e consumidores por parte dos grandes
grupos oligopolistas e monopolistas conta com o auxílio
dos governos de seus países de origem, que, de uma forma
ou de outra, pressionam os governos das nações menos
desenvolvidas a adotarem uma política econômica que
favoreça os interesses de seus grandes grupos empresariais.
Também é de grande importância a participação do
governo das nações periféricas, que adotam políticas que
1 John Maynard Keynes, analisando os efeitos das crises que abalaram o
mundo ao final do século XIX e primeiras décadas do XX, observou que não
existiam forças de auto-ajustamento na economia e que por essa razão, era
necessária a intervenção do Estado para restabelecer os níveis de demanda
efetiva, que em sua interpretação, é a grande responsável pelo ajustamento
do volume de produção nacional e emprego.
UNIESP
64
privilegiam o capital externo, visando atrair investimentos
estrangeiros para seu país.
Principalmente após a incorporação das ideias
apresentadas pelo Consenso de Washington, o liberalismo
econômico, comandado pelas grandes corporações
multinacionais, sediadas nas nações centrais, tornou-se o
modelo principal de política econômica, orientada por esses
países, e imposta às nações menos desenvolvidas.
Com os avanços nas relações econômicas
internacionais, ainda marcadas por conflitos de interesses
comerciais e por políticas protecionistas adotadas por todo
o planeta, novamente se discute até que ponto e em que
casos a interferência governamental deve ser colocada em
prática. A ausência do Estado na regulação das relações
econômicas promoveria, de fato, o desenvolvimento
econômico das nações envolvidas no comércio internacional,
como defendiam as nações mais desenvolvidas, cujos
interesses foram tão bem representados no Consenso
de Washington? Por que, então, nesses países nota-se a
existência de políticas protecionistas?
Não obstante a criação da União Européia, com
a quebra das barreiras que impediam a circulação de
produtos, serviços, máquinas e equipamentos, matériasprimas e até mesmo de mão-de-obra, a Europa convive com
focos de instabilidade econômica, que induz trabalhadores
a emigrarem rumo a economias mais dinâmicas. Isto é,
a proposta de um mercado unificado, mais forte e com
melhores perspectivas de crescimento, não foi cumprida.
65
TEMA
Diante desse quadro, novamente se discute o papel do
Estado na regulação das relações econômicas, através de
suas políticas. Nesse sentido, este estudo busca contribuir
para a sustentação do debate a respeito da participação
do Estado nas relações econômicas de uma nação e sua
importância para seu desenvolvimento econômico. Contudo, ao longo deste estudo defenderemos
o ponto de vista, segundo o qual, a atuação do Estado é
orientada não por pressupostos econômicos, mas por razões
políticas, revelando sua subserviência aos interesses do
capital privado. Temos como objetivo, portanto, alimentar
uma reflexão a respeito da atuação governamental e explicar
as razões que determinam sua posição no processo de
elaboração e implementação de suas políticas.
Aspectos Econômicos
da Globalização
A internacionalização da produção tem diversas
finalidades, e, da mesma forma, revela diferentes resultados,
dependendo do grau de desenvolvimento das nações
envolvidas nas relações econômicas internacionais.
Sob o aspecto da produção, as multinacionais,
oriundas de nações desenvolvidas, criam filiais de suas
empresas em países mais pobres com o objetivo de
beneficiarem-se da ampla oferta de mão-de-obra e do
mercado consumidor potencial que esses países oferecem.
Exportam tecnologia (já obsoleta em seus países de origem)
para os países menos desenvolvidos, geram empregos,
UNIESP
66
aquecem a economia, em troca do direito de instalarem suas
fábricas nesses países2. Dessa forma, elevam seu grau de
competitividade no comércio internacional, bem como sua
lucratividade.
A força de trabalho utilizada em seu próprio país
recebe salários mais elevados, o que, em muitos casos,
torna a operação em suas sedes deficitária. Entretanto, os
lucros obtidos a partir da exploração da mão-de-obra
barata e demais fatores de produção com custo reduzido
nos países periféricos, compensam esse custo elevado,
gerando altos lucros, que são transferidos às suas matrizes
em seus países de origem. Dessa forma, criam-se condições
para a formação de capital, utilizando-se, para tanto, de
recursos de produção encontrados nos mercados menos
desenvolvidos, mas que, transferidos aos países centrais,
financiam sua acumulação de capital.
Do lado do país subdesenvolvido, importador da
tecnologia, este passa a desenvolver sua indústria com
maior velocidade, gerando maior número de empregos
e aumentando a renda e o PIB per capita. Entretanto, sua
indústria nacional não conseguirá competir doméstica
ou internacionalmente com a indústria estrangeira, e, no
máximo, constituirá indústria complementar à indústria
alienígena; quando muito, existirá num segmento de mercado
que não desperte o interesse do capital estrangeiro.
Outro problema consiste no fato de que esse
desenvolvimento aparente dificilmente ocorrerá num ritmo
2 A instrução 113 da SUMOC, instituída em 1955, permitia a entrada
de máquinas e equipamentos sem cobertura cambial e sob a forma de
investimento direto estrangeiro.
67
TEMA
ou grau de eficiência que o retire da posição de submissão
ao capital internacional, o qual atua como grande financiador
(e explorador) de seu desenvolvimento econômico. Isso
acontece, pois as indústrias criadas nas nações periféricas
não contam com o mesmo volume de recursos com que
contam as multinacionais estrangeiras.
Embora o capital seja formado utilizando-se os
recursos dos países periféricos, ele passa a ser apropriado
e transferido aos países desenvolvidos, sobretudo nos
casos em que a demanda interna nos países periféricos
não pode ser suprida com mercadorias produzidas
nacionalmente, exigindo, consequentemente, importações
dessas mercadorias. Há, também, casos em que o nível de
poupança interna dos países menos desenvolvidos não é
suficiente para financiar os investimentos na produção,
exigindo-se, assim, recursos externos, cujo fluxo em geral
ocorre mediante empréstimos internacionais, remunerados
a elevadas taxas de juros.
No que diz respeito aos trabalhadores, o único bem
que a classe trabalhadora possui e que pode oferecer ao
mercado é sua força de trabalho, que posta a serviço do
capital privado, movimenta os meios de produção, gerando
o produto de consumo.
Pagos os custos dos recursos socialmente
necessários à sua produção, recolhidos os tributos e
embutido o lucro do capitalista, estabelece-se o preço da
mercadoria. A margem de lucro determinará a magnitude da
renda do produtor, enquanto que a renda do trabalhador é
constituída basicamente por seu salário, este, fortemente
pressionado justamente pela ampla oferta de mão-de-obra
UNIESP
68
no mercado de trabalho e pela necessidade de redução nos
custos de produção.
Mas até que ponto o capitalista pode aumentar
sua margem de lucro? Em sistemas econômicos onde
predomine a ampla concorrência, as condições para que
isso aconteça não são muito propícias, mas ao se tratar de
mercados onde predominem o oligopólio ou o monopólio, a
situação se modifica. Com relação ao lucro, obtido através
do funcionamento do processo produtivo, no mercado
competitivo, as organizações empresariais são obrigadas
a incrementar seus investimentos em aprimoramento do
produto (custos) e reduzir seus preços, obtendo, dessa
forma, menores margens de lucros.
Já em mercados onde a concorrência perdeu espaço
para o oligopólio ou para o monopólio, as empresas
estabelecem acordos com o intuito de definir não apenas
o montante dos investimentos que serão realizados em
suas operações, mas também os preços de venda de seus
produtos3.
Dessa forma, pode-se dizer que o mercado onde há
grande competição entre as empresas proporciona melhores
condições aos consumidores, disponibilizando-lhes
mercadorias de melhor qualidade e melhores preços. Porém, historicamente, observa-se que o livre mercado está
presente apenas em mercados que ainda não atingiram
um elevado grau de desenvolvimento, enquanto que os
oligopólios são justamente a representação do alto grau de
3 Neste caso, é de grande importância a interferência do Estado, por
exemplo, através da criação de leis anti-trust, que inibem a cartelização dos
mercados.
69
TEMA
desenvolvimento do sistema capitalista.
Com relação à distribuição da riqueza entre
trabalhadores e capitalistas, temos que a maior parcela da
riqueza cabe à classe capitalista, proprietária dos meios
de produção, que incrementa sua lucratividade a partir
da redução de seus custos de produção, sobretudo, dos
salários pagos aos trabalhadores.
Devido à excessiva oferta de mão-de-obra, os salários
são compelidos para baixo, ampliando a lucratividade
dos capitalistas e comprimindo o poder de compra,
e, consequentemente, a qualidade de vida da classe
trabalhadora.
Quanto ao seu processo evolutivo, segundo Marx, o
capitalismo, assim como os demais modos de produção, é
fruto do desenvolvimento das forças produtivas, que tem
origem no rompimento de um antigo modelo, mas que deverá
evoluir ao seu ponto máximo (de capacidade de formação
de capital e exploração da força de trabalho) e passará ao
declínio, até que possamos observar a paulatina cristalização
de um novo modelo, nesse momento, revolucionário.
Vejamos, agora, como o desenvolvimento das forças
produtivas pode influenciar as relações econômicas e
sociais de uma nação.
Em uma economia em que predomine a ampla
concorrência, devem existir diversas indústrias produtoras
de uma mesma mercadoria, que competem entre si, e
que, por razão dessa concorrência e da necessidade de
preservarem seus mercados consumidores, atacam seus
concorrentes das mais variadas formas e intensidades.
UNIESP
70
Inevitavelmente, algumas dessas indústrias não
conseguem resistir a tais ataques e são apropriadas
pelas mais fortes, reduzindo, aos poucos, a quantidade
de empresas de um mesmo ramo no mercado. No longo
prazo, apenas um número reduzido de indústrias tende a
sobreviver, formando, assim, o oligopólio.
Depois de constituído o oligopólio (ou monopólio),
e diante do alto custo que envolve a conquista de maior
participação de seus produtos e serviços no mercado
consumidor, os grandes grupos empresariais passam a
expandir-se para nações menos desenvolvidas, que tornamse consumidoras de suas mercadorias e fornecedoras de
bens de produção.
A penetração em novos mercados exige a fabricação
de maior quantidade de mercadorias, e, consequentemente,
maior consumo de bens intermediários e insumos para
sua fabricação, conferindo à indústria maior economia de
escala. .
Assim, reduz seus custos e aumenta seu lucro, ou, se
houver focos de concorrência a serem combatidos, pode-se
transferir a redução de custos aos preços do produto final,
conferindo-lhe maior competitividade.
Ao penetrarem nos novos mercados, as grandes
empresas estrangeiras passam a concorrer com a indústria
local, aumentando a competitividade naqueles mercados, e,
obviamente, elevando as pressões sobre os trabalhadores,
que passam a submeter-se às imposições da nova realidade
econômica. Assim, parcela significativa da indústria
local acaba por não sobreviver aos ataques da indústria
71
TEMA
estrangeira - mais desenvolvida e com maior capacidade de
investimento.
Com as falências, também caem os níveis de emprego,
reduzindo ainda mais os salários, uma vez que a oferta no
mercado de trabalho se expande. A indústria estrangeira,
então, aproveita-se dessas condições e aumenta sua
produção e oferta de produtos no mercado, novamente
reduzindo custos e aumentando lucros, contratando essa
mão-de-obra cada vez mais barata e submissa.
Dessa forma, tais indústrias criam as condições
necessárias para que possam, em seguida, marchar para
a invasão de um novo mercado, e assim por diante, até
transformarem-se em gigantes multinacionais, como as
que surgiram a partir de inícios do século XX, nos Estados
Unidos e na Europa.
De qualquer forma, sob o capitalismo, seja em sua
fase de ampla concorrência, seja em sua fase monopolista e
oligopolista, as condições mais favoráveis aos trabalhadores
são os períodos de prosperidade, quando aumenta a
demanda da força de trabalho e, consequentemente, tende
a ocorrer incremento real dos salários. Já nos períodos
de crise, cai a demanda de força de trabalho e aumenta a
concorrência entre os trabalhadores, resultando em queda
dos salários reais. Ou seja, mesmo com a internacionalização
da indústria local, havendo maior demanda por força de
trabalho, haverá ganho em termos de salários reais para os
trabalhadores.
Contudo, reduz-se a capacidade da nação reverter
sua posição de subordinação ao capital estrangeiro, uma
vez que a riqueza é internacionalizada.
UNIESP
72
O fato é que seja no livre mercado, ou no oligopólio, a
classe trabalhadora sempre será obrigada a submeter seus
próprios interesses aos do capital privado.
Marx previa que conforme o capitalismo se
desenvolvesse, faria com que as empresas aumentassem
a pressão sobre os trabalhadores, em nome da redução de
custos e aumento da competitividade de seus produtos.
O aumento gradual das pressões sobre o proletariado,
submetendo-o aos interesses do capital privado, aumentaria,
consequentemente, a deterioração da qualidade de vida dos
trabalhadores, o que poderia levá-los a se rebelar contra a
continuidade desse modelo. Isto é, segundo a concepção
de Marx, ao passo que o capitalismo se desenvolve, cava
sua própria cova4.
Teoricamente, se formos seguir o pensamento
econômico liberal, sob o aspecto macroeconômico, ao se
observarem as mudanças que tal processo provoca no
país subdesenvolvido, notar-se-á a transformação de sua
estrutura produtiva, de exportadora de bens primários e
intermediários, e importadora de produtos manufaturados,
para uma economia industrializada, capaz de fabricar
produtos de maior valor agregado.
A nova estrutura econômica, baseada na atividade
industrial, absorveria mão-de-obra ociosa e geraria maior
renda agregada, uma vez que elevaria os níveis salariais, ao
mesmo tempo em que conferiria aos novos trabalhadores
4 Ver Manifesto do partido comunista.
73
TEMA
maior poder de consumo.
É importante compreender que essa mudança ocorre
visando à formação de capital por parte dos grandes
grupos industriais estrangeiros, que identificam nas
economias menos desenvolvidas maiores possibilidades
de ganho do que em seus próprios países, onde já não
há mais disponibilidade de mão-de-obra barata, além de
outros custos de produção mais elevados. Isto é, apesar
de haver significativas mudanças na base econômica das
nações menos desenvolvidas, mudanças estas capazes
de promover melhora significativa nos níveis de emprego
e renda, esse deslocamento proporciona vantagens ainda
maiores aos grupos estrangeiros e aos seus países de
origem, para onde a renda passa a fluir.
Sobre os efeitos desse deslocamento, até certo ponto
promove a substituição de importações, consequentemente
reduzindo a dependência dos mercados fornecedores
estrangeiros, entretanto, preserva a hegemonia do capital
alienígena sobre o capital nacional, uma vez que este não
possui poupança suficiente para realizar os investimentos
necessários à ampliação, em termos quantitativos e
qualitativos, da indústria nacional.
Nesse sentido, torna-se fundamental a presença do
Estado na formação e desenvolvimento das forças produtivas
nacionais, cuja ação pode manifestar-se de diversas formas,
como por meio da concessão de subsídios e isenção
de tributos à indústria local, criação de instrumentos de
financiamento a essa indústria, ou até mesmo pela criação
da própria estrutura produtiva com capital público.
UNIESP
74
Na fase de criação de empresas estatais, sobretudo
em setores estratégicos como a geração de energia,
atividades mineratórias, transportes, comunicações, etc.,
cuja finalidade é suprir a indústria local dos recursos
necessários à sua maior competitividade, tanto no mercado
doméstico como no internacional, o discurso da classe
capitalista mostra-se favorável ao investimento público, pois
não possui recursos (ou mesmo interesse) para realizar tais
investimentos. Contudo, ao observar o enorme potencial de
lucratividade dessas empresas, principalmente após terem
se consolidado no mercado, articula movimentos em que
defende sua privatização.
A exemplo dessa articulação, no Brasil, a partir dos
anos 1990, com o Programa Nacional de Desestatização,
criado pelo Presidente Fernando Collor de Mello, ao qual
foi dado prosseguimento por seu sucessor Itamar Franco
e depois por Fernando Henrique Cardoso, parte importante
do patrimônio público nacional foi transferida ao controle
privado.
Essa política gerou grande manifestação contrária
por parte de personalidades ligadas à política, lideranças
sindicais, intelectuais e estudantes, mas o debate foi
interrompido por parte do governo, que se recusou a
realizá-lo, concluindo, então, a privatização de importantes
empresas estatais brasileiras.
Aqui, cabe uma questão: apesar das manifestações
contrárias às privatizações, quais razões levaram o governo
a realizá-las? Tais razões são elaboradas com base em
teorias econômicas, ou por pressões do capital privado,
75
TEMA
principalmente externo? É importante que se faça, duas
décadas após a concretização desse processo, uma análise
quanto às razões e aos seus efeitos socioeconômicos, mas
este estudo não faz parte dos objetivos deste ensaio.
Estas são algumas das críticas que nos propomos
a fazer quanto ao desenvolvimento do capitalismo e aqui
se situa o cerne de nossa crítica: Quais fatores influenciam
os governos de nações menos desenvolvidas a adotarem
políticas econômicas que privilegiam, no longo prazo,
sobretudo o capital privado estrangeiro, em detrimento
do desenvolvimento sustentável de suas economias
nacionais? Não fosse a forte atuação do Estado, tanto
em nações centrais como em periféricas, o capitalismo
sobreviveria ao seu próprio desenvolvimento?
Partiremos, a partir de agora, para uma análise do
papel do Estado como instrumento regulador dos interesses
privados e sociais, elaborando, novamente, uma crítica a
respeito dessa atuação, orientada, na maioria das vezes,
por princípios políticos, e não socioeconômicos.
Reflexões Sobre o Papel do Estado
A própria história, como vimos, está repleta de períodos
de crise, que de tempos em tempos abalam as estruturas
que fundamentam as relações econômicas internacionais
e o desenvolvimento da economia mundial. Sem exceção,
através de suas políticas, o Estado intervém. Embora a classe capitalista, sobretudo de países
centrais, em momentos de prosperidade econômica rogue
por uma ampliação do livre comércio, em momentos de crise
UNIESP
76
clama pelo auxílio governamental. Assim se “socializam as
perdas”, uma vez que a ação do Estado é financiada a partir
da pulverização dos recursos públicos, utilizados, nesses
casos, em prol do apoio aos grandes grupos empresariais,
em detrimento do gasto público com fins sociais. As
perdas privadas são, dessa forma, distribuídas entre toda a
sociedade, que passa a ser sua “principal financiadora”.
Logicamente, os maiores prejudicados por essa
socialização são aqueles que constituem as camadas
menos privilegiadas da sociedade e que são justamente os
que mais dependem das políticas públicas para melhorar
seu padrão de consumo e bem-estar.
Frente a esse cenário, cabe-nos fazer algumas
indagações: a intervenção estatal é mesmo necessária? O mercado tem, de fato, a capacidade de se autorregular? Como ocorre a intervenção e por quê?
Aqui, é importante dizer que o objetivo deste artigo
não é propor uma nova Teoria do Estado, mas sugerir uma
reflexão acerca da intervenção do Estado na orientação das
relações econômicas e as razões que determinam de que
forma ocorrerá a intervenção.
De acordo com seus princípios fundamentais, nas
sociedades capitalistas as decisões quanto à oferta e
distribuição de mercadorias, assim como quanto aos
investimentos, seguem aos desígnios dos proprietários
dos meios de produção, cujo objetivo principal é promover
a formação de capital, por meio da remuneração do
capital investido e da mais-valia. Assim, preocupam-se
77
TEMA
com a manutenção e preservação de um sistema políticoeconômico que lhes permita dar continuidade a esse
processo.
Quanto ao pensamento que orienta as relações entre
nações capitalistas, o Liberalismo Econômico é seu pilar de
sustentação. De acordo com esse princípio, o Estado não
deveria interferir nas relações econômicas, uma vez que o
mercado possui a capacidade de se autorregular (o laissez
faire, laissez passer, da Escola Fisiocrática de Economia
Política e a mão invisível, de Adam Smith). Defende, portanto,
a autonomia da iniciativa privada quanto às decisões
produtivas e sua independência quanto às políticas do
Estado.
Tal corrente do pensamento econômico tem, desde
longa data, importantes defensores. Já no século XIV,
na França, Nicolau Orèsme (antigo bispo de Lisieux e
conselheiro do Rei Carlos V)5 , escreveu, em 1336, “Breve
tratado da primeira função das moedas e das suas causas
e espécies”, onde contesta o direito absoluto do Rei de
implantar mutações na moeda e em seu valor, o que gerou,
a partir de então, bases teóricas para futuras discussões
a respeito da relação existente entre moeda e preço, mas
também sobre a legitimidade do poder absoluto do Estado
(na figura do Rei) de intervir junto a questões econômicas.
Não defendia a legitimidade do Rei, mas o direito
da sociedade, que sendo a maior usuária da moeda como
meio de troca, seria a única legitimamente digna de impor
mutações no valor da moeda, o que faria automaticamente,
5 HUGON, Paul. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Atlas, 2009,
p. 54.
UNIESP
78
de acordo com sua procura pela moeda. Segundo Orèsme,
dessa forma o comércio seria capaz de evoluir de maneira
mais saudável e com maior vigor.
Grosso modo, Adam Smith afirma que por meio da
divisão internacional do trabalho e da especialização das
atividades produtivas, com o livre mercado as nações
poderiam prosperar economicamente. Defendia a liberdade
de atuação da iniciativa privada, sem a intervenção
do Estado, afirmando que a competitividade entre as
organizações promoveria a redução dos níveis de preços e
o desenvolvimento das mercadorias em termos de custo de
produção e qualidade do produto, fomentando ainda mais a
competição.
Para ele, o principal aspecto que determinaria a
participação de uma nação na divisão internacional do
trabalho seria sua disponibilidade de recursos produtivos
(disponibilidade de capital, solo fértil, mão-de-obra
abundante, clima favorável, etc.), o que chamou de Vantagem
Absoluta. De acordo com esse pensamento, a nação que tivesse
maior abundância de recursos necessários à produção de
uma determinada mercadoria teria maior vantagem absoluta
em relação às demais nações que também se dedicassem
à produção dessa mesma mercadoria, mas que tivessem
acesso a esses recursos em menor quantidade.
David Ricardo, na obra “Princípios de Economia
Política e Tributação”, publicada em 1817, complementa
esse pensamento, apontando que apesar das vantagens
absolutas, o que determinaria o grau de competitividade de
uma nação no comércio internacional seria sua capacidade
79
TEMA
de especialização, o que denominou Vantagem Comparativa.
Dessa forma, os países deveriam se dedicar à
produção daquilo que fazem melhor, independentemente
de sua facilidade de acesso direto aos recursos produtivos.
Assim, conseguiriam produzir mais, melhor e com custos
inferiores, propiciando, portanto, maior competitividade de
suas mercadorias no comércio internacional.
É importante observar que tais pensadores viveram
numa época em que as o capitalismo ainda atravessava sua
fase inicial, onde a competição produziria automaticamente
desenvolvimento dos mercados. Contudo, não imaginaram
a que nível de complexidade e de volume o comércio
internacional chegaria nos dias de hoje, e por mais que
compreendessem que o avanço tecnológico pudesse
representar um dos motores de propulsão desse comércio,
não poderiam imaginar de que forma e em que grau e
velocidade aconteceria esse avanço tecnológico. Viveram
numa época ainda marcada pela constante e elevada
interferência do Estado sobre as questões econômicas, o
que combatiam veementemente. Smith e Ricardo já sabiam a
respeito do avanço do comércio durante o mercantilismo e de
seus benefícios para as nações centrais, e, principalmente,
para os empreendedores do comércio internacional, de
modo que não poderiam pensar de outra forma além de
criticar a intervenção governamental sobre essas questões.
Como exemplo da cristalização do Liberalismo em
movimentos sociais, pode-se mencionar o caso da Revolução
Francesa, que, embora tenha contado com o imprescindível
apoio e participação dos trabalhadores rurais e urbanos, foi
conduzida e liderada pela burguesia, cujos anseios de maior
lucratividade e importância política tinham como maior
UNIESP
80
obstáculo o Absolutismo Monárquico, aliado à já decadente
classe dos aristocratas, proprietários de terras. Também
a própria independência dos Estados Unidos constitui um
processo histórico cujos conflitos com o sistema vigente
foram influenciados e até mesmo liderados pela burguesia
daquela nação, que revoltou-se contra a dominação daquele
país pela Inglaterra.
Não há como negar que, de fato, à sua época, o
pensamento liberal tenha assumido um caráter revolucionário
e propiciado o desenvolvimento mais acelerado do comércio
internacional, antes preso às amarras do Estado Absolutista,
mas esse caráter não persistiu com o desenvolvimento
do comércio internacional, caracterizando-se, a partir
daí, como um modelo econômico que viria a privilegiar,
assim como o sistema anterior, apenas os interesses das
classes dominantes. O novo modelo que surge, a partir
de então, passa a ser preservado pelas novas camadas
sociais dominantes, que passam a concentrar a riqueza,
impedindo, inclusive, que surjam e que se desenvolvam
novos movimentos que desestabilizem as bases desse
novo modelo.
Sobre esse tema, Paul Baran afirma:
“as aspirações universais de progresso econômico
constituem
movimentos
profundamente
subversivos da ordem social e do sistema de
domínio internacional. São, por conseguinte,
movimentos revolucionários que precisam
ser subordinados, bloqueados e, se possível,
aniquilados, a fim de que o sistema capitalista
seja preservado”6 .
6 BARAN, Paul A. A economia política do desenvolvimento. Rio
de Janeiro: Zahar Editores. 1972, p. 60.
81
TEMA
Estabelece-se, então, um movimento por parte das
estruturas capitalistas, principalmente oligopolistas, de
alienação das necessidades e políticas sociais, devido
ao seu anseio de preservar a configuração do modelo
vigente que lhes proporciona as condições necessárias à
reprodução e concentração do capital em seu poder.
Este movimento, por mais estranho que pareça, pois
revela-se contra a liberdade individual, ou social, bloqueia o
debate acerca da conjuntura socioeconômica, privilegiando
o capital privado e afastando qualquer possibilidade de
discussão que comprometa o pleno funcionamento do
sistema de livre mercado7.
Neste momento, a influência do capital privado
sobre a atuação governamental assume papel primordial.
Pressionado no sentido de defender os interesses privados,
o Estado adota um modelo de política econômica que, na
melhor das hipóteses, minimiza o descontentamento das
classes trabalhadoras.
Sua atuação se dá sob a forma de medidas que visem
diminuir as pressões causadas pelas falhas de mercado
sobre a qualidade de vida das famílias, como, por exemplo,
por meio de políticas de auxílio à educação, saúde, moradia,
saneamento, etc. Tais medidas, no entanto, apenas diminuem
as pressões sobre a sociedade, fazendo com que não se
rebelem contra o sistema econômico vigente que privilegia
os interesses privados. 7 A mesma liberdade que os liberais defendiam à época de
Adam Smith é posta de lado, impossibilitando quaisquer
manifestações que fossem de encontro aos interesses do
sistema capitalista, principalmente em seus estágios mais
avançados.
UNIESP
82
Porém, em nenhum momento, significam a ruptura
de uma estrutura social em que a renda passaria a se
concentrar em maior densidade em suas mãos. Isto é,
a atuação do Estado segue um modelo que conserva a
hegemonia econômica nas mãos do capital privado e
mantém as camadas mais pobres da sociedade imóveis.
O Estado a Serviço do
Capital Privado
Voltemos, novamente, a Marx, que contesta a
capacidade do capitalismo sobreviver aos efeitos de sua
própria ganância, a qual, se não for moderada, produzirá o
inevitável descontentamento das classes trabalhadoras.
A demasiada degradação da qualidade de vida
dos trabalhadores pode levá-los a se mobilizarem e se
organizarem em torno da proposta por um novo modelo
econômico, mais condizente com seus interesses. Mas
por que, então, as camadas populares ainda permitem que
o modelo capitalista sobreviva? Quais são as razões que
ainda não levaram os trabalhadores, tão pressionados, a
se rebelarem contra o sistema vigente de exploração do
trabalho, característico do sistema capitalista e a favor da
socialização dos meios de produção?
A resposta a essas questões pode estar na atuação do
Estado, que através de suas políticas, minimiza problemas
sociais e se coloca a serviço do capital privado, pois,
reduzindo o descontentamento popular, preserva o pleno
funcionamento do sistema capitalista e mantém a riqueza
concentrada nas mãos da classe dominante.
83
TEMA
Com relação à atuação do Estado em meio às relações
econômicas, segundo Octavio Ianni,
“Grande parte da atuação estatal, pois, está
organizada segundo as determinações implicadas
na acumulação capitalista. São a concentração e
a centralização do capital que governam parcela
dos instrumentos e medidas postos em prática pelo
Estado na ordenação e incentivo das atividades
econômicas8.”
Nossa inclinação é concordar com o ponto de vista
de Ianni.
O importante, então, passa a ser compreender as
razões que levam o Estado a submeter-se ao capital privado.
Em primeiro lugar, e talvez esse seja o argumento mais
coerente para se compreender o comportamento submisso
do governo, é que se ele não se comportar dessa forma não
se sustentará no longo prazo, salvo em situações em que a
sociedade atingiu um grau mais avançado de organização
e mobilização, impondo, geralmente à força (Revolução),
mudanças estruturais e políticas, mais adequadas aos seus
interesses.
Outra razão para que os governantes privilegiem
os interesses da burguesia é que, em grande parte, são
justamente os membros das elites capitalistas, que, contando
com orçamentos milionários, utilizados em campanhas
8 “Grande parte da atuação estatal, pois, está organizada segundo
as determinações implicadas na acumulação capitalista. São a
concentração e a centralização do capital que governam parcela
dos instrumentos e medidas postos em prática pelo Estado na
ordenação e incentivo das atividades econômicas.” UNIESP
84
políticas, ocupam os cargos públicos que centralizam a
tomada de decisões.
Isto é, a máquina estatal passa a ser comandada pelos
próprios capitalistas, que colocam a estrutura e as políticas
públicas a serviço próprio, em detrimento do interesse
público. A atuação do Estado, que está voltada a privilegiar
os interesses privados, ocorre na criação de políticas e
medidas econômicas que os beneficiem, mas também na
própria utilização, ou criação, de uma estrutura produtiva
pública, em prol desses interesses. Isto é, a forma com que
se caracteriza a ação estatal é determinada por questões
políticas, e não econômicas ou sociais.
O Estado não existe, ou não atua no sentido de atender
às carências de seus cidadãos, ou às necessidades diversas
da nação, visando fazê-la se desenvolver econômica,
política, cultural e socialmente, mas no sentido de favorecer
o capital privado hegemônico em sua economia9.
Portanto, o Estado constitui o mais efetivo mecanismo
de defesa do capitalismo contra as eventuais pressões
sociais.
9 A questão da hegemonia de uma determinada fatia do capital privado
sobre as demais é de grande importância para compreendermos as razões
que levam às mudanças na orientação das políticas públicas. Sérgio Silva
e Renato Perissinotto abordam a questão da hegemonia do Grande Capital
Cafeeiro (proprietários, ao final do século XIX e início do XX, das primeiras
estradas de ferro, de bancos de financiamento e casas comerciais, entre
outros investimentos) sobre a Lavoura (representada pelos fazendeiros,
exclusivos produtores de café) e Celso Furtado refere-se à transferência do
centro dinâmico da economia, da produção cafeeira para a atividade industrial. Ambos sinalizam uma diferenciação entre os interesses de diferentes
subclasses, embora fizessem parte da elite econômica do país, e a política
econômica do Estado.
85
TEMA
Também é de grande importância compreender a
questão da fidelidade da atuação governamental com as
origens do capital privado. Melhor dizendo, é importante
compreender que o Estado se submete às determinações
do capital hegemônico privado, independentemente de sua
origem, ou melhor, a ação estatal se adequa aos interesses
da classe hegemônica, sendo ela nacional ou estrangeira.
O que determina a subserviência do Estado ao
capital privado é a capacidade deste de reproduzir-se e
concentrar a renda nas mãos de seus proprietários. Se,
de um lado, nos casos de nações em desenvolvimento é
comum observarmos a preponderância do capital privado
alienígena sobre o doméstico, de outro, nas nações
centrais, nota-se a preponderância de seu capital nacional
sobre os estrangeiros, demonstrando o controle global
do capital privado multinacional com origem em nações
desenvolvidas, sobre as estruturas produtivas, em geral, e
também sobre as políticas governamentais.
A Intervenção Estatal
A intervenção estatal pode assumir diferentes
funções, tais como assegurar maior equilíbrio na alocação
de recursos produtivos, melhor distribuição da renda e da
riqueza, promover a estabilização econômica ou preservar
as bases de sustentação do sistema capitalista, e é
justamente essa variedade e abrangência de suas funções
que demonstra a necessidade e a importância da atuação
governamental em uma nação.
O que determinará suas prioridades será seu
UNIESP
86
comprometimento político. Ou privilegiará a sociedade como
um todo, e nesse sentido buscará promover principalmente
o desenvolvimento econômico da nação, ou trabalhará em
prol dos interesses das classes dominantes, em detrimento
das demais.
O problema está em reconhecer, de fato, as reais
prioridades de cada governo, pois seu discurso, não
necessariamente condiz com suas ações. Comumente,
utilizam a própria atividade de “fazer política”, como fator
limitador de suas ações. Ao não realizarem uma ou outra
medida, normalmente transferem a responsabilidade por
não ter conseguido aprová-la, às bases oposicionistas, ou
simplesmente à falta de recursos.
Realmente, o “fazer política”, nem sempre torna
possível que um governo consiga aprovar todos os seus
projetos, porém, uma vez que em sua maioria, o poder
público é dominado pelas classes dominantes (que nem
sempre representam um único setor da economia do país),
podemos dizer que um projeto rejeitado o foi por ir contra
os interesses de uma classe dominante específica.Isto é, em
meio à classe dominante, notamos a existência de uma classe
hegemônica, cujos interesses geralmente sobrepõem-se
aos interesses das demais fatias da sociedade.
É importante observarmos a forma com que se
manifesta a hegemonia de uma estrutura sobre as demais. Há a esfera nacional e a internacional, mas, grosso
modo, a subordinação, ou a hegemonia, se dá de acordo
com a importância de cada tipo de capital para a economia
da esfera que analisamos.
87
TEMA
Na esfera nacional, independentemente do grau de
desenvolvimento de uma nação no comércio internacional,
podemos observar que diferentes atividades produtivas são
mais privilegiadas do que as outras.
Há casos em que a atividade agrária recebe mais
privilégios que a industrial, e vice-versa. Mesmo entre a
indústria, pode haver um setor industrial que seja mais
privilegiado que os demais. Claramente, a importância
econômica de cada setor da economia se manifestará em
sua influência sobre as decisões do governo.
Na esfera internacional, o capital oriundo de nações
mais desenvolvidas geralmente exercerá maiores pressões
do que o capital nacional de nações menos desenvolvidas,
acarretando privilégios mais significativos a esse capital
mais poderoso. Assim, vai-se construindo a desigualdade
social, não apenas entre as camadas da sociedade de
uma nação, mas entre países que participam do comércio
internacional. E o Estado, imbuído do interesse de preservarse no controle político e econômico da nação, seduz-se
pelas vantagens de se aliar ao capital hegemônico e a ele se
submete, concedendo-lhe os maiores privilégios.
Também é importante que analisemos a atuação
dos Estados nacionais, quanto às relações internacionais.
Governos de países desenvolvidos exercem grande
pressão sobre governos de nações em desenvolvimento, a
fim de garantir o cumprimento de suas principais funções
econômicas e sociais, em favor de sua população, em
detrimento do bem estar da população dos países menos
desenvolvidos. Com sua política de favorecimento à sua
UNIESP
88
própria indústria, cria as condições necessárias para
que essa se expanda e penetre física ou comercialmente
em mercados menos desenvolvidos, apoderando-se das
vantagens de uma economia fornecedora de mão-de-obra
e outros fatores de produção baratos, e transferindo para
seus países de origem o lucro auferido nesses mercados.
Nos países em desenvolvimento, o governo se
alia ao capital que mais lhe favoreça, seja ele nacional ou
estrangeiro, haja vista que o capital privado estrangeiro,
principalmente com origem nos países desenvolvidos,
exerce maior pressão que o nacional, e em geral, este
conquista o governo como seu aliado.
É uma relação simbiótica, onde o capital privado e o
governo se ajudam mutuamente, sobretudo preservando
a estrutura política e o sistema econômico vigente que os
beneficiam. Para que esse sistema se rompa, é preciso
que haja uma quebra nos paradigmas ideológicos da
sociedade, cuja manifestação poderá ser pacífica (através
do voto, por exemplo), ou por meio da força (movimentos
revolucionários).
No tocante ao rompimento dos paradigmas
ideológicos da sociedade, o Estado põe-se contra a essa
possibilidade. Por meio do gasto público, que financia as
políticas sociais (educação, saúde, saneamento, etc.),
minimiza o descontentamento da sociedade, principalmente
de suas parcelas mais carentes da população, conseguindo,
a partir dessas medidas, preservar a manutenção e o pleno
desenvolvimento do sistema político-econômico vigente.
Também há as externalidades, (por exemplo, guerras),
89
TEMA
que fogem dos interesses e planejamento. Seus efeitos são
devastadores, mas, invariavelmente, são resultados de
ações de governos que privilegiam os interesses do capital
privado.
No sentido de equilibrar as forças entre capitalistas e
trabalhadores, de modo a forçar o Estado a adotar políticas
mais orientadas ao atendimento das necessidades gerais,
mas sem romper o sistema econômico, é preciso maior
engajamento da sociedade quanto às questões que fazem
parte do cotidiano dos parlamentares.
A sociedade deve expor suas necessidades, informarse quanto às propostas dos candidatos a ocupar os cargos
públicos eletivos e cobrar a adoção das medidas que
apresentaram em seus programas de governo, mas que, em
grande parte dos casos, são esquecidas. Somente assim
será possível criar mecanismos capazes de distribuir a
riqueza de maneira mais justa, promovendo, não somente
o crescimento econômico, onde apenas os capitalistas se
beneficiam, mas também o desenvolvimento econômico da
nação, onde o estado de bem estar assume papel importante.
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TEMA
Autor e Texto
Author - Text
Celso Bergantin*
MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS:
DESAFIANDO AS LIDERANÇAS
ORGANIZATIONAL CHANGES: LEADERSHIP CHALLENGE
Resumo
O trabalho aborda o conceito de liderança e suas
características. Procura identificar e perceber as diversas
mudanças que afetam o desempenho dos lideres. Mostra
que o trabalho em equipe deve prevalecer, estabelecendo
facilidades cooperativas mais que relações competitivas.
Abstract
This paper approach the concept of leadership and its characteristics.
Seek identifies and perceive the several charges that affect the
performance of leaders. Shows the fact that teamwork must prevail,
with the establishment facilities cooperative rather than competitive
relations.
Palavras-Chave
Conhecimento. lideranca. Mudancas .Previsão. Tecnologia.
Ciclo Vida.
Key Words
Knowledge. Leadership. Changes. Forecast. Technology.
Life Cycle.
Trabalho realizado pelo aluno Celso Bergantin, do curso de Administração das
Faculdades Teresa Martin, sob orientação do professor Paulo Ribeiro.
R.TEMA
S.Paulo
UNIESP
nº 50
jul/dez 2007 P. 92-99
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MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS:
DESAFIANDO AS LIDERANÇAS
ORGANIZATIONAL CHANGES: LEADERSHIP CHALLENGE
V
ivemos num mundo de constantes e substanciais
mudanças. Todos os segmentos, com maior ou
menor intensidade, alteram princípios e dogmas
antes indiscutíveis.
A capacidade de gerar e veicular informações
segue um ritmo exponencial. A perfeita percepção de que
valores intangíveis, como o conhecimento, são os ativos
mais importantes das organizações torna-se imperativa. A
administração do conhecimento, revelado como forma de
obtenção, laboração e disseminação, deverá estar presente
e disponível a todos os colaboradores da organização.
A gestão do conhecimento será o divisor entre as
instituições competentes e aquelas que relegam a um plano
menor seus maiores ativos. O mundo move-se em direção
a cooperação, componente fundamental no processo
tecnológico; nitidamente é crescentes o número de esforços
conjuntos em pesquisa e desenvolvimento nos setores de
negócios, universidades e aboratórios governamentais.
Esses aspectos implicam a necessidade de o
gerente/líder deter um grande portifólio de posturas e
comportamentos, apresentando características flexíveis e
93
TEMA
pró-ativas como administrador de interfaces interpessoais,
técnicas e organizacionais. O líder do futuro deterá
características de facilitador, incentivador, negociador e
orientador, com viés participativo e transporte adequado à
situação.
Histórico
O estudo da liderança constitui um dos mais amplos e
complexos temas de estudo da sociedade. Sua interferência
atinge diretamente os diversos campos político - sociais
existentes. Desta forma, é legitimo o imenso número de
trabalhos associados, a tema. Em épocas remotas relatadas
na Bíblia já constam registros de inúmeros lideres e de suas
batalhas; também os filósofos gregos já se preocupavam
em caracterizar as diferenças existentes nos lideres.
Inicialmente, a ênfase dos trabalhos estava na
direção de identificar e isolar os atributos dos lideres,
destacando virtudes em sua atuação e, através destas,
conceber uma perfeita definição dos padrões de liderança. Posteriormente, alguns estudiosos dirigiram seus trabalhos,
considerando a importância dos liderados, atentando ao fato
que diferentes grupos podem ter percepções díspares do
mesmo indivíduo. Isto deferiu postulados que informavam
a necessidade de o líder deter um conhecimento amplo
do seu grupo e focar as ações em objetivos plausíveis e
alinhados com seus comandados.
Em trabalhos recentes, o aperfeiçoamento e o
refinamento teórico sobre o tema são claros, apresentado
modelos interessantes de liderança situação e liderança
transacional, liderança transformacional, dentre outras.
UNIESP
94
Ambiente de Mudanças
O final do século XX, instituiu um novo paradoxo
em relação a variável tempo, cimentado no aspecto que a
velocidade da mudança é célere, e que existe a determinação
de melhor aproveitamento do fator tempo.
Drucler (1995) afirma que estamos na era das
decontinuidades, em que são poucas as possibilidades
do amanhã acontecer como hoje. O ritmo como as coisas
diferenciam-se é impressionante. Com o advento da
tecnologia e de informações, o ritmo das informações
segue crescimentos de ordem exponencial. No campo
organizacional a concorrência ganhou um novo perfil
chamado inovação.
O líder agrega às suas atribuições uma nova realidade:
O PAPEL DE GESTOR DE MUDANÇAS. Caberá a ele
desenvolver estruturas flexíveis que possam acompanhar
os caminhos delineados pelos novos tempos.
Conhecimento
Adentramos no aspecto que seguramente diferenciará
as organizações vitoriosas dos simples componentes do
mercado.
O conhecimento é seguramente o ativo mais
importante e valioso das organizações Stewart (1998). Na
medida que a informação é abundante e distribuída em todas
as direções, serão bem sucedidos aqueles que captarem o
sumo da sua importância e o utilizarem de forma
competente. Davenport e Prusak (1998) afirmam que o
conhecimento pode ser estratificado em etapas diferentes:
95
TEMA
a geração, laboração e a disseminação. Estas etapas,
todavia, merecerão um ótimo gerenciamento, recebendo
uma perspicaz atenção e possuindo mecanismos que
possibilitem concluir cada etapa completamente.
Edvinson e Malone (1998) demonstraram, através
da metáfora de uma árvore, dois aspectos importantes
do conhecimento, comparando-o as raízes da mesma:
a dificuldade de visualização instantânea e sua efetiva
atuação como elemento gerador e renovador de todas as
outras funções na empresa. Na medida que acentua-se a
importância da inovação nos diversos segmentos sócios
- econômicos, proporcionalmente o conhecimento como
elemento gerador das inovações merece ser realçado e
destacado.
Senge (1994) enfatiza o aspecto das organizações se
preparem para atuarem voltadas para o aprendizado (Learning
Organizacional), aplicando conceitos que possibilitam
transmitir o conhecimento e utilizá-lo efetivamente.
Modelos de Liderança
Conjuntamente as diversas e constantes alterações no
ambiente em que atuam, sobrepõe-se uma nova perspectiva
e realidade aos lideres: a obrigatoriamente do sincronismo
com os aspectos situacionais e contigenciais.
Os detentores de posições de comando não podem
acomodar-se em deter e aplicar ações dogmáticas e
pragmáticas, sem a necessária flexibilidade, essencial nos
dias atuais.
Os lideres deverão dispor de recursos, de ações
adequadas a situação e ao grupo focado, eles devem ser
conhecedores das características do grupo e dos diversos
UNIESP
96
componentes do ambiente que envolve a situação. Também
é importante conciliar modelo de atuações diferenciado,
porém conciliáveis.
Yakl Apud Coda (1998) explica que o modelo de
atuação de liderança transacional, obteve grande exposição
nas décadas passadas, quando o grande aspecto propulsor
das organizações estava centrado nas relações de trocas
dos componentes do processo, que dispunham de uma
melhoria de performance verificável.
Atualmente, o modelo de maior ressonância aborda a
característica transformacional dos lideres, fazendo frente
às diversas mudanças a serem enfrentadas e no poder de
persuasão perante o grupo para enfrentar o novo. Todavia,
o ideal é conciliar os modelos e aplicá-Ios no momento
necessário.
Previsão
Os lideres sempre caracterizaram-se por possuir uma
grande capacidade de visão futura e exercer um grande
poder de persuasão no grupo, sobrepondo sua percepção
de mundo e conquistando seguidores.
A construção de cenários nas organizações é
primordial para alcançar bons resultados facilitando a
consecução de um planejamento estratégico coerente,
integrado, fazendo uso dos recursos disponíveis.
Para o êxito do empreedimento são necessárias
várias pessoas conduzindo esse processo, na gestão da
organização.
97
TEMA
Conclusão
Em razão dos diversos desafios que habitam o
ambiente empresarial na atualidade e da grande amplitude
de abrangência desses desafios nos diversos campos da
administração, faz-se necessária uma gestão orientada
para ações transformadoras. Assim, o estudo de lideranças
em um processo de mudanças torna-se extremamente
necessário e oportuno.
Neste trabalho procuramos abordar tópicos que
interferem no desempenho empresarial, levando em
consideração a perfeita gestão de liderança transformadora
e essencial, para que a instituição possa alcançar uma
posição de destaque no cenário competitivo atual.
Os novos desafios poderão ser superados
com comprometimentos pró-ativos e lastreados
em
conhecimento. A ciência ajuda a técnica na boa gestão
empresarial em difíceis momentos de mudança.
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99
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