Inovao do Produto numa Pequena Mdia Empresa

Transcrição

Inovao do Produto numa Pequena Mdia Empresa
A inovação do produto aplicada nas Grandes Empresas pode estar
presente nas Pequenas e Médias Empresas
________________________________
Anita Maria Nunes
Marta Mota Sampaio
Cadeira Inovação e Organização
Lisboa, 2 de Fevereiro 2010
2 Abstract
Purpose – this paper aims to describe a product innovation in a small mediumsized Portuguese enterprise as a contrast to the general definition of product
innovation in small medium-sized enterprises.
Methodology – the case will be described in contrast with general theories and
keeping in mind a questionnaire on product innovation that you may find
annexed.
Findings – this paper provides information on product innovation in small
medium-sized enterprises, in general. In contrast the enterprise here featured was
able to innovate despite all theories, haven been chosen one of their products to
prove such contrast.
Keywords Product Innovation, Small to medium-sized enterprises (SME)
Paper type Case study
Sumário
Objectivo – este artigo propõe como objectivo definir a inovação do produto
numa pequena média empresa portuguesa, comparando a sua forma de inovação
com as teorias publicadas sobre o assunto.
Metodologia – o caso será descrito em contraste com teorias generalistas e tendo
em conta um questionário sobre inovação do produto completada pela empresa
em estudo que poderá ser visto em anexo.
Descobertas – este artigo providencia informação em inovação do produto em
pequenas e médias empresas, na generalidade. Em contraste, a empresa aqui
descrita foi capaz de inovar através de um modelo diferente do indicado nas
teorias, tendo sido escolhido um dos seus produtos para ser aqui definido como
prova deste contraste.
Palavras - chave Inovação de Produto, Pequenas e Médias empresas (PME)
3 1. Enquadramento histórico do conceito de Inovação
Inovação é um termo por si só de definição muito ampla, que ao longo dos tempos foi sendo
desenvolvida em diferentes vertentes.
Rogers e Shoemaker (1971) definiram inovação enquanto novo material utilizado em
determinado processo, uma nova ideia ou uma nova prática. Tendo em conta esta concepção,
a inovação pode ser visualizada em diferentes naturezas, que podem ser administrativas e
técnicas (Kimbely e Evanisko, 1981), inovação no trabalho organizacional, inovação em
produtos e inovação em processos (Whipp e Clark, 1986).
Deste modo, consegue-se distinguir a inovação em duas perspectivas: inovação do produto e
inovação de processo.
Inovação de Produto corresponde à introdução no mercado de um produto (bem ou serviço)
novo ou significativamente melhorado relativamente às suas características fundamentais, às
suas especificações técnicas, ao software ou outros componentes imateriais incorporadas, às
utilizações para que foi concebido ou à facilidade de utilização.
Inovação de Processo corresponde por sua vez à adopção de métodos de produção novos ou
com uma melhoria significativa, assim como a meios novos ou representativos de
significativas melhorias no fornecimento de serviços ou na distribuição de produtos. O
impacto da inovação no processo terá que ser “visível” na produção, na qualidade (de bens ou
serviços) ou nos custos de produção e distribuição.
Ambas as perspectivas não têm de ser novas no mercado que a empresa serve, mas tem que
ser nova para a empresa, e pode ser desenvolvida tanto pela própria que a apresenta, como em
cooperação com outras.
Temos assim o conceito de inovação directamente ligado a “novidade” que não tem que ser,
necessariamente, uma “originalidade” mas que, no mecanismo da organização, é novo.
Zaltman et al (1973) dá conta da inovação como uma ideia, uma prática ou um artefacto
material percebido como novo, significante e único, adoptado em determinado processo, área
ou mesmo por toda a organização.
Foi com o trabalho do economista austríaco Joseph Schumpeter, nos anos 30, que a teoria da
inovação começou a ter relevância. Nesse trabalho ele definiu a inovação como “um novo
produto, novo processo de produção ou nova forma de organização, uma aquisição ou uma
abertura de novos mercados”. Apesar deste trabalho, até perto de 1980, a teoria da inovação
foi sempre encarada como marginal, e apenas nos últimos anos passou a ter um carácter
4 multi-disciplinar, sendo utilizada nos mais diversos campos de conhecimento, desde a
economia à administração, sociologia, psicologia, entre outros.
A visão de Schumpeter foi complementada por outras recentes. Assim Sundbo (1998) definiu
a inovação como sendo um processo que vai desde a inovação de um novo elemento até ao
seu desenvolvimento para uso comercial, ou seja a inovação, segundo este autor, deve ser
prática ao mesmo tempo que tem valor comercial. Já Edquist (1997) defendeu que as
inovações são criações com significado económico e natureza complexa. É graças a esta
natureza que tantos autores reflectem sobre este conceito sendo tão difícil homogeneizá-lo,
muito embora se encontrem linhas comuns.
Entre os autores mais reconhecidos desta temática (os já referidos Sundbo, Schumpeter e
Edquist) é consensual que a função mais importante da inovação é aumentar a produção, o
emprego e mudar o comportamento de um mercado, com vista a resultar num rápido
crescimento económico. Temos assim o conceito de inovação em conexão íntima com o
ambiente sócio-económico e com a função social, em si. Freeman (1997), por sua vez,
também defendeu que a inovação envolve dois vectores importantes que se complementam: o
reconhecimento de uma necessidade e o conhecimento técnico para dar resposta a essa
necessidade. Tal como defendida por estes autores, também em artigos mais recentes como de
Pitta (2008), Hoonsopon et alt. (2009) e Newman (2009) se defende esta vertente social, como
factores essenciais para o sucesso da inovação.
Pode-se dizer, então, que a inovação é, antes de tudo, a combinação de conhecimento
preexistente e de conhecimento novo, e também um processo de aprendizagem interactiva e
empreendedorismo colectivo, pois este processo é tanto mais proveitoso, quanto maiores as
relações de proximidade e cooperativismo entre empresas de determinadas áreas, cujo esforço
conjunto maximiza o processo de inovação.
2. Revisão literária
Inovação do produto é um tema geralmente abordado no domínio das grandes empresas (Pitta,
2008) pelos recursos que normalmente esta inovação implica e que as pequenas e médias
empresas (“PME”), na sua maioria, não têm.
A inovação do produto para ter sucesso implica decisões testadas, conhecimento de gestão
(Pitta, 2008); um estudo prévio sólido; um input constante do consumidor ao longo do
processo; vantagem competitiva; uma definição sólida, objectiva e equilibrada antes do
5 desenvolvimento do produto em si; um lançamento bem planeado, com os devidos recursos e
executado na perfeição; decisões objectivas e equipas responsáveis, dedicadas de forte
liderança com capacidade de interagirem entre elas (Cooper, 1999).
Inovação do produto tem vindo a ser desenvolvida em várias perspectivas: tecnológica;
consumidor e a combinação entre as duas (Hoonsopon e alt., 2009). O sucesso é garantido
aquando a presença da combinação das duas, pois todo o processo implica a capacidade que a
empresa tem tanto a nível de recursos (teoria Resource Based View), como na sua capacidade
de integrar o input dos seus clientes, que no lançamento deste mesmo produto vão poder
validar a vantagem competitiva do mesmo, assim como o seu sucesso no mercado. A
inovação do produto ganha assim, também, o estatuto de estratégia (Hoonsopon e alt., 2009).
Tendo esta inovação, como também outras, um estatuto de estratégia, assume-se por garantido
que toda uma avaliação é necessária para este processo de inovação. Quando se fala aqui
numa avaliação, pensa-se numa análise das 5 Forças de Porter, que gera a informação
necessária que vai possibilitar uma empresa a avaliar a sua própria inovação. Desta avaliação
resultam dois tipos de conclusões: se a inovação tem possibilidade ou não de vingar no
mercado e se sim, que tipologia se enquadrará o produto em causa. No produto de inovação
radical, um produto que implica um conjunto de características e atributos de performance
diferentes que resultam num novo conjunto de benefícios neste produto, na perspectiva do
consumidor ou num produto de inovação incremental que têm diferenças mínimas, cujas
funcionalidades e benefícios são também mínimos na perspectiva do consumidor (Hoonsopon
e alt., 2009). Este estudo prévio é aquilo que vai determinar a estratégia mais adequada tanto
no investimento de recursos, sendo eles financeiros ou humanos, como no seu lançamento ao
público.
Ao contrário daquilo que as teorias prévias defendem, felizmente, foi-nos possível analisar
um caso de uma PME, que independentemente das suas características enquanto PME, tem as
capacidades que normalmente só encontramos nas grandes empresas e que possibilitam a
inovação do produto. Analisaremos a empresa e o seu produto inovador em contraste com a
teoria estabelecida.
6 3. Polisport e a sua história
A Polisport é uma empresa portuguesa, que nasceu no final dos anos 70 quando ainda não
existia nenhum fabricante de peças em plástico para motos em Portugal. Até 1985, concentrou
toda a sua produção no fabrico de acessórios plásticos para motos. Mais tarde, devido à
abertura de mercados novos e à integração de Portugal na União Europeia, a empresa teve a
necessidade de diversificar a sua gama de produtos, iniciando a produção de acessórios
plásticos para bicicleta como guarda-lamas e porta bebés.
Hoje em dia, a Polisport oferece uma gama de produtos completa, tanto no sector das
bicicletas como das motos para off road, exportando para mais de 55 países, para After Market
ou Original Equipment Manufacturer (“OEM”), sendo os países com maior peso a Alemanha,
França, Inglaterra e Itália.
Neste momento é uma empresa moderna, dinâmica que trabalha junto das empresas mais
respeitadas mundialmente em ambas as áreas. Ao longo de mais de 20 anos, o
desenvolvimento de uma parceria próxima com companhias de OEM ajudou-os a adquirir o
know-how necessário para a concepção e o desenvolvimento de peças plásticas inovadoras e
de qualidade que são nitidamente uma prova do seu desempenho na vanguarda das tendências
do mercados das bicicletas e das motos off road.
Na Polisport, a Missão da empresa – “conceber produtos inovadores para as duas rodas,
garantindo desempenho com segurança, diferenciação e lazer” – aponta desde logo para a
sua iniciativa inovadora e o seu interesse de posicionamento estratégico no mercado baseado
neste facto, a Visão acompanha esse objectivo: “Ser líder pela notoriedade da marca
alcançando prestígio pela Inovação, Qualidade dos Plásticos e pela diferenciação dos
nossos produtos”.
Para a empresa existem dois desafios constantes e fundamentais: a Inovação,
através do
lançamento contínuo de novos produtos e da promoção da imagem de marca e o Serviço,
procurando promover a relação com os seus parceiros, que levam a um investimento sério no
desenvolvimento das competências dos seus colaboradores e das suas capacidades
tecnológicas.
Nesta óptica fomentam uma cultura interna que privilegia: o envolvimento de todos, a auto –
exigência, as decisões sustentadas e a abertura à mudança.
7 Isto permite que a Polisport lidere o mercado, mesmo sendo essencialmente uma empresa
exportadora, o mercado português também já representa alguma fatia do negócio, com cerca
de 300 clientes repartidos entre motos e bicicletas, através da notoriedade da marca, da
diferenciação e inovação, sendo imperativo para os seus gestores que os produtos sejam
desenvolvidos num ambiente organizado e funcional que privilegie um processo profundo de
investigação e de desenvolvimento, onde todos trabalham para o mesmo objectivo: o
desenvolvimento dos melhores componentes plásticos no mercado.
Como corolário deste nítido investimento na inovação, em Dezembro de 2009, a Polisport
recebeu, pelas mãos do Senhor Presidente da República, a Menção Honrosa no âmbito do
Prémio PME Inovação da COTEC Portugal. A COTEC Portugal - Associação Empresarial
para a Inovação é uma associação sem fins lucrativos cuja missão é a de promover o aumento
da competitividade das empresas localizadas em Portugal, através do desenvolvimento e
difusão de uma cultura e de uma prática de inovação, bem como do conhecimento residente
no país. O Prémio PME Inovação COTEC-BPI, criado com o apoio do jornal Público,
distingue anualmente uma Pequena ou Média Empresa (PME) que se tenha destacado no
panorama nacional pela sua atitude e actividade inovadoras. Este prémio foi muito importante
para a empresa, representando um fruto do trabalho de toda a equipa, incentivando e
motivando os colaboradores para trabalhos futuros, marcando a entrada da Polisport na Rede
das PME mais inovadoras de Portugal.
3.1.
Investigação e Desenvolvimento
Em todas as empresas inovadoras, o centro de Investigação e Desenvolvimento (“I&D”) é
frequentemente o centro de tudo, para a Polisport a área de I&D é “o coração que pulsa ao
ritmo do esforço para liderar e que bombeia novas ideias, novos materiais, novas
ferramentas e novos processos no sistema produtivo”.
A minimização do tempo necessário para a implementação de um novo projecto é uma
vantagem negocial que a Polisport apresenta aos seus clientes, para isso têm sido
preponderantes as novas tecnologias criadas, visto que com elas, conseguiram impulsionar
consideravelmente o processo criativo, acelerando a modelação e encurtando os planos de
desenvolvimento, tendo um efeito bem visível nos resultados comerciais do negócio.
8 As Inovações Tecnológicas mais recentes e reconhecidas da Polisport:
•
O IPD – Inmold Plastic Decals – é uma tecnologia pioneira no ramo de negócio, que
consiste na inserção da película decorativa numa peça plástica durante a injecção
•
O PD+ – Plastic Decor Plus – é uma actualização da inovação anterior, que permite
decorar a totalidade da superfície das peças plásticas, com uma maior protecção e
durabilidade, independentemente da sua complexidade. Esta tecnologia permite a
decoração da peça plástica com gráficos personalizados, criando os mais diversos e
efeitos especiais
3.2.
Polisport e a Inovação do Produto
Como atrás foi referido o departamento de I&D é considerado o centro da Polisport,
procurando constantemente novas ideias, novos materiais, novas ferramentas e novos
processos no sistema produtivo, que permitam lançar no mercado algo de novo que cative a
atenção dos clientes.
Uma das formas de ter acesso a novas ideias, nesta empresa, é o recurso às opiniões de quem
na prática utiliza os seus produtos, e, embora tenham um site online que permite ao
consumidor final dar as suas sugestões, procuram junto dos atletas que patrocinam e
respectivas equipas recolher ideias e opiniões, sendo habitual o patrocínio a pilotos de
Motocross e Enduro (desportos off road) e a equipas que participam nos campeonatos
Nacionais e Mundiais destes desportos, uma vez que é nesse ambiente que se desgasta ao
máximo os produtos e é possível testar a sua performance no limite, bem como por
profissionais que conseguem traduzir aos técnicos da empresa os pontos fortes e fracos do que
foi testado. A Polisport consegue relacionando-se proximamente com os atletas e equipas
patrocinadas, bem como através da sua movimentação pelos ambientes de provas desportivas,
estar no centro do mundo dos acessórios para motos e bicicletas, conseguindo assim a mais valia de ter acesso constante à informação e às movimentações dos concorrentes, o que é
muito importante para a sua orientação quanto às melhores opções de produtos a colocar no
mercado e das necessidades que vão surgindo no mercado e nos consumidores. Neste caso
9 específico, o input do utilizador, representa uma fonte de informação e inspiração, crucial
para a área de I&D poder desenvolver o seu trabalho.
Para além da área de I&D, também têm um contributo muito importante para o sucesso deste
negócio as áreas de produção e marketing. A primeira, por ser flexível e adaptada às
necessidades a que a Inovação constante obriga, sendo isto possível devido ao elevado grau de
conhecimento sobre os processos e os produtos dos operadores. Com este sistema de
produção, a Polisport confere a garantia de satisfazer os pedidos de encomendas em prazos
que vão dos 15 a 45 dias, relativamente a produtos com mais de 20 peças distintas e a
segunda, por ser o canal através do qual é possível passar a informação dos novos produtos
criados, através de lançamentos dirigidos ao público-alvo em eventos específicos, da presença
em feiras internacionais da especialidade e de publicidade na imprensa ligada aos desportos
motorizados e bicicletas, bem como da operacionalização do relacionamento da empresa com
os atletas e equipas patrocinados que, como já referido, dão um importante contributo à
inovação de produto na empresa.
Há, na Polisport, uma preocupação constante na gestão do produto tendo sempre em conta o
mercado e as suas necessidades.
Como complemento, considerou-se pertinente para este artigo elaborar um questionário
diagnóstico sobre o ambiente inovador da empresa em análise. Este questionário tem três
conjuntos de perguntas, cujos resultados reflectem o tipo de inovação, as capacidades de
inovação existentes e a motivação, respectivamente, na Polisport.
Sendo este questionário de respostas múltiplas, cada conjunto apresenta uma maior tendência
para um tipo de inovação, capacidade e motivação, do que para outras. Neste sentido, a
Polisport aposta num tipo de inovação que resulta num produto novo que adopte as melhores
práticas para o seu mercado. De facto, este resultado vem corroborar o foco que a empresa dá
no seu departamento de I&D, assim como no seu processo de investigação e
desenvolvimento.
Ao contrário do conjunto de perguntas anteriores, o segundo conjunto apresenta uma maior
diversificação de resultados, embora todos eles complementares. No que diz respeito às
capacidades de inovação existentes, a Polisport apresenta uma posição na inovação que
reflecte uma série de reacções na indústria e mercado, o que implica um número de
10 capacidades, como forma de gestão destas mesmas inovações. De uma forma mais acentuada,
a Polisport exibe um tipo de inovação que investe num produto novo para o seu mercado, o
que requer uma gestão de risco e uma gestão de investigação e portfolio mais cuidada. Já num
segundo patamar, os resultados reflectem uma inovação de aperfeiçoamentos incrementais
nos produtos e nos serviços, sendo o planeamento, ou seja, a definição do processo a
desenvolver e a transferência de tecnologia, capacidades fundamentais a serem utilizadas para
que a inovação surta os efeitos pretendidos por parte da empresa, um elemento fulcral. Outro
efeito da inovação, mas não menos importante que o anterior, é o efeito de ruptura, de
perturbação que os produtos, neste caso, causam na indústria. Para um efeito de perturbação,
as capacidades de criatividade e processos informais e de “comunidades” são fundamentais
para o valor acrescentado e/ou vantagem competitiva que um produto inovador exige para
criar um devido impacto na indústria e no mercado.
Já numa perspectiva de fecho de análise deste questionário diagnóstico, tal como no tipo de
inovação, também na área de motivação os resultados foram um pouco mais homogéneos.
Numa perspectiva de inovação de aperfeiçoamentos incrementais e de efeitos perturbadores e
de ruptura para com a indústria será necessário apostar em funções bem definidas; ter em
atenção quaisquer deadlines que possam surgir; avaliações que são completas e justas; ênfase
no bom trabalho realizado pela equipa; investir na gestão de recompensas, nomeadamente
recompensar as rebeldias e insucessos honestos, apreciar e validar os talentos existentes na
empresa, assim como as vibrantes comunidades informais que contribuem para a inovação da
Polisport.
11 3.2.1. O Moto Stand
O Moto Stand é um acessório para veículos motorizados de off road, que suporta a moto
quando esta está parada. Todos os utilizadores, profissionais ou amadores, de motos off road
necessitam deste acessório, quer para quando estão no seu tempo de descanso quer quando
estão a limpar e a realizar a manutenção ao veículo.
Habitualmente estes acessórios existem no mercado com diversas formas e feitios mas sempre
fabricados em ferro ou alumínio, com o peso, a dimensão e a pouca maleabilidade que daí
advém. Se tivermos em consideração que habitualmente o desporto off road é praticado longe
das cidades e os desportistas têm que se deslocar de carrinha, para as pistas ou trajectos onde
andam de moto, tendo que armazenar no espaço do veículo as motos e todo o equipamento
necessário como gasolina, ferramentas, líquidos de lubrificação e o vestuário e calçado para o
treino, as limitações atrás referidas representavam um problema de arrumação e transporte.
Ao ter conhecimento desse problema através do feedback dos seus pilotos a Polisport colocou
a sua área de I&D em acção, de forma a tentar conceber um novo produto, baseando-se nas
suas competências técnicas e tecnológicas, que viesse inovar no mercado dos suportes para as
motos e conseguisse responder às necessidades dos praticantes de desporto off road.
Assim surgiu o Moto Stand Polisport, através de técnicas e tecnologias já utilizadas na
produção de outros produtos e recorrendo ao polipropileno, que é um tipo de plástico que
12 pode ser moldado usando apenas aquecimento e que tem como principais propriedades o
baixo custo de produção, a elevada resistência química e a solventes, a fácil moldagem e
coloração bem como a alta resistência a quebras e ao impacto, foi possível chegar a um
suporte para motos com características como a leveza, a estrutura encartável e a resistência –
tem possibilidade de suportar até 350 kg de peso. Neste processo de concepção e
desenvolvimento do produto, a Polisport apenas se valeu de parceiros na área de injecção do
polipropileno para poder produzir em quantidade suficiente, tendo o sector de I & D,
realizado toda a operação de inovação.
Estas características permitiram colocar no mercado um produto de dimensões muito
inferiores aos produtos concorrentes, de fácil transporte e arrumação, mantendo a totalidade
das funções a que se destina, e especialmente a um preço até inferior ao dos concorrentes.
Mesmo com o produto base criado e correspondendo a uma solução para as necessidades dos
utilizadores a Polisport, aplicou também a sua longa experiência de trabalho com acessórios
para motos para colocar mais características diferenciadoras neste produto: uma plataforma
superior com borracha injectada que não permite o deslize da moto, um furo de drenagem que
permite retirar óleo da moto quando ela está sobre o Moto Stand sem danificar o mesmo, e
uma atenção especial relativamente aos painéis laterais do produto que dão a possibilidade de
escrever neles com um marcador, servindo para anotar horários, tempos por volta nos treinos,
assinalar tempos de paragem para o piloto, etc., sendo uma superfície fácil de limpar com um
pouco de líquido de limpeza de motos.
Também foi dada especial atenção às cores em que o produto se encontra disponível,
especialmente para ir de encontro às cores das marcas de motos mais comuns (Azul –
Yamaha; Amarelo – Suzuki; Verde – Kawasaki; Laranja – KTM) para que as equipas e os
pilotos não tenham dificuldade em enquadrar o produto na sua própria imagem constitucional.
Apesar de ainda não ter dados disponíveis, acerca da quota de mercado alcançada, uma vez
que, o produto foi lançado há menos de um ano, a Polisport sente que teve uma enorme
adesão dos clientes ao seu produto, que se viu reflectida nas suas vendas, sentimento este
corroborado pelo feedback positivo tanto dos pilotos como das próprias revistas da
13 especialidade que apontam as vantagens atrás indicadas a nível de funcionalidade em
variadíssimos artigos.
A este facto, também não será alheio o investimento em Marketing do produto por parte da
Polisport que para além de ter escolhido a prova de Campeonato Mundial de Motocross,
realizada em Portugal (Águeda), em 2009, para fazer o lançamento mundial do Moto Stand –
aliando o clima de proximidade com os consumidores, que cultiva, com o facto de ser uma
empresa portuguesa e optar por lançar o produto no seu País de origem, investiu bastante em
publicidade em revistas da especialidade, bem como na sua presença em diversas feiras da
especialidade realizadas um pouco por todo o mundo, dando destaque a este novo e inovador
produto nos stands da marca, fazendo uma promoção sistemática em todos os eventos em que
participam e incentivando todos os pilotos e equipas que patrocinam a o usarem em
competição.
É de referir ainda, que o Moto Stand se encontra em processo de patenteamento, querendo a
Polisport o reconhecimento da total inovação que o produto representa no mercado de forma a
reforçar a vantagem competitiva que este detém comparativamente com outros produtos
substitutos existentes no mercado, uma vez que não existem quaisquer produtos semelhantes.
14 4. Conclusões
A inovação do produto, assim como a inovação nas suas diversas vertentes, ganhou cada vez
mais um papel importante no desenvolvimento e sobrevivência das várias indústrias e
mercados. No entanto, a inovação do produto é um tema normalmente estudado no âmbito das
grandes empresas, por se achar que todos os elementos que a inovação de um produto requer
para se concretizar e surtir o efeito desejado, nomeadamente a aceitação por parte do
mercado, apenas se encontram nesse tipo de empresas.
A inovação do produto implica a introdução de um produto novo ou significativamente
melhorado, o que só é possível quando uma empresa inclui uma equipa capaz e
necessariamente apoiada pela própria empresa, para que possa combinar a tecnologia e as
necessidades do consumidor, numa perspectiva de desenvolver um produto inovador para a
respectiva indústria e mercado. Tal processo requer recursos, que usualmente as pequenas e
médias empresas não têm, nem recursos humanos, nem tecnológicos, nem financeiros.
Contudo, todas as regras têm excepções e este artigo apresenta uma delas. Uma pequena
média empresa portuguesa que tem vindo a reforçar a sua missão, objectivo e visão enquanto
empresa.
A Polisport é exemplo de que uma pequena média empresa consegue ter uma equipa de
investigação e desenvolvimento capaz de criar produtos inovadores, sendo eles incrementais e
maioritariamente radicais. A inovação do produto passou a ser uma estratégia da Polisport,
onde as necessidades do consumidor final são fundamentais.
A Polisport é uma empresa moderna e dinâmica, de referência que corrobora a nossa
afirmação de partida: a inovação do produto das Grandes Empresas pode estar presente nas
Pequenas e Médias Empresas.
15 Bibliografia
-
R. COOPER, From experience: the invisible success factors in product innovation, Journal of
Product Innovation Management, vol. 16 No.2, pp.115-33, 1999
-
DANUPOL HOONSOPON and GUNTALEE RUENROM, The empirical study of the Impact
of Product Innovation Factors on the Performance of New Products: Radical and Incremental
Product Innovation, The Business Review, Cambridge, vol. 12, Num. 2, Summer 2009
-
DENNIS A. PITTA, Product Innovation and management in a small enterprise, Journal of
Product & Brand Management 17/6 (2008) 416-419
-
ERIC VON HIPPEL, Democratizing Innovation, 1ª Edição, MIT Pr, 2005;
-
HENRY CHESBROUGH, Open Innovation: The New Imperative for creating and Profiting
from Technology, 1ª Edição, HBS Pr, 2003;
-
JERRY L. NEWMAN, Building a creative high-performance R&D culture, SeptemberOctober 2009, Industrial Research Institute, Inc.
-
KJELL NORDSTROM and JONAS RIDERSTRALE, Karaoke Capitalism: Management for
Mankind, 1ª Edição, Ft Pr, 2004;
-
PETER F. DRUCKER, Inovação e Espírito Empreendedor, 1ª Edição, Pioneira, 2003;
-
GARY HAMEL com BILL BREEN, O Futuro da Gestão, 2ªEdição, HBS Pr, Actual Editora
(em Portugal), 2008;
-
PAUL KRUGMAN, O Regresso da Economia de Depressão e a Crise Actual, 1ª Edição,
Editorial Presença, 2009;
-
PETER SKARZYNSKY and ROWAN GIBSON, Innovation To The Core: A Blueprint For
Transforming The Way Your Company Innovates, 1ª Edição, 2008;
-
THE HARVARD BUSINESS REVIEW, O Valor da Inovação, 1ª Edição, Diversos, 2004;
-
CHRIS FREEMAN and LUC SOETE, The Economics of Industrial Innovation, 3ª Edição,
Pinter Editors, 1997;
-
CHARLES EDQUIST and Others, Innovation and Employment: Process Versus Product
Innovation, 2ª Edição, Edgar Elgar Publishing, Ltd., 2001;
-
UWE CANTNER, JEAN-LUC GOFFARD AND OTHERS, Scumpeterian Perspectives on
Innovation, Competition and Growth, 1ª Edição, Springer Eds., 2009
-
UWE SPIEKERMANN, Tweentieth-Century Product Innovation in the German Food
Industry, Business History Review, Summer 2009, 83,2, ABI/INFORM Research, pg 291
-
Colaboração de Hugo Reis, Director do Departamento de Marketing da Polisport
-
www.polisport.com
16 Anexo