Inovao do Produto numa Pequena Mdia Empresa
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Inovao do Produto numa Pequena Mdia Empresa
A inovação do produto aplicada nas Grandes Empresas pode estar presente nas Pequenas e Médias Empresas ________________________________ Anita Maria Nunes Marta Mota Sampaio Cadeira Inovação e Organização Lisboa, 2 de Fevereiro 2010 2 Abstract Purpose – this paper aims to describe a product innovation in a small mediumsized Portuguese enterprise as a contrast to the general definition of product innovation in small medium-sized enterprises. Methodology – the case will be described in contrast with general theories and keeping in mind a questionnaire on product innovation that you may find annexed. Findings – this paper provides information on product innovation in small medium-sized enterprises, in general. In contrast the enterprise here featured was able to innovate despite all theories, haven been chosen one of their products to prove such contrast. Keywords Product Innovation, Small to medium-sized enterprises (SME) Paper type Case study Sumário Objectivo – este artigo propõe como objectivo definir a inovação do produto numa pequena média empresa portuguesa, comparando a sua forma de inovação com as teorias publicadas sobre o assunto. Metodologia – o caso será descrito em contraste com teorias generalistas e tendo em conta um questionário sobre inovação do produto completada pela empresa em estudo que poderá ser visto em anexo. Descobertas – este artigo providencia informação em inovação do produto em pequenas e médias empresas, na generalidade. Em contraste, a empresa aqui descrita foi capaz de inovar através de um modelo diferente do indicado nas teorias, tendo sido escolhido um dos seus produtos para ser aqui definido como prova deste contraste. Palavras - chave Inovação de Produto, Pequenas e Médias empresas (PME) 3 1. Enquadramento histórico do conceito de Inovação Inovação é um termo por si só de definição muito ampla, que ao longo dos tempos foi sendo desenvolvida em diferentes vertentes. Rogers e Shoemaker (1971) definiram inovação enquanto novo material utilizado em determinado processo, uma nova ideia ou uma nova prática. Tendo em conta esta concepção, a inovação pode ser visualizada em diferentes naturezas, que podem ser administrativas e técnicas (Kimbely e Evanisko, 1981), inovação no trabalho organizacional, inovação em produtos e inovação em processos (Whipp e Clark, 1986). Deste modo, consegue-se distinguir a inovação em duas perspectivas: inovação do produto e inovação de processo. Inovação de Produto corresponde à introdução no mercado de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado relativamente às suas características fundamentais, às suas especificações técnicas, ao software ou outros componentes imateriais incorporadas, às utilizações para que foi concebido ou à facilidade de utilização. Inovação de Processo corresponde por sua vez à adopção de métodos de produção novos ou com uma melhoria significativa, assim como a meios novos ou representativos de significativas melhorias no fornecimento de serviços ou na distribuição de produtos. O impacto da inovação no processo terá que ser “visível” na produção, na qualidade (de bens ou serviços) ou nos custos de produção e distribuição. Ambas as perspectivas não têm de ser novas no mercado que a empresa serve, mas tem que ser nova para a empresa, e pode ser desenvolvida tanto pela própria que a apresenta, como em cooperação com outras. Temos assim o conceito de inovação directamente ligado a “novidade” que não tem que ser, necessariamente, uma “originalidade” mas que, no mecanismo da organização, é novo. Zaltman et al (1973) dá conta da inovação como uma ideia, uma prática ou um artefacto material percebido como novo, significante e único, adoptado em determinado processo, área ou mesmo por toda a organização. Foi com o trabalho do economista austríaco Joseph Schumpeter, nos anos 30, que a teoria da inovação começou a ter relevância. Nesse trabalho ele definiu a inovação como “um novo produto, novo processo de produção ou nova forma de organização, uma aquisição ou uma abertura de novos mercados”. Apesar deste trabalho, até perto de 1980, a teoria da inovação foi sempre encarada como marginal, e apenas nos últimos anos passou a ter um carácter 4 multi-disciplinar, sendo utilizada nos mais diversos campos de conhecimento, desde a economia à administração, sociologia, psicologia, entre outros. A visão de Schumpeter foi complementada por outras recentes. Assim Sundbo (1998) definiu a inovação como sendo um processo que vai desde a inovação de um novo elemento até ao seu desenvolvimento para uso comercial, ou seja a inovação, segundo este autor, deve ser prática ao mesmo tempo que tem valor comercial. Já Edquist (1997) defendeu que as inovações são criações com significado económico e natureza complexa. É graças a esta natureza que tantos autores reflectem sobre este conceito sendo tão difícil homogeneizá-lo, muito embora se encontrem linhas comuns. Entre os autores mais reconhecidos desta temática (os já referidos Sundbo, Schumpeter e Edquist) é consensual que a função mais importante da inovação é aumentar a produção, o emprego e mudar o comportamento de um mercado, com vista a resultar num rápido crescimento económico. Temos assim o conceito de inovação em conexão íntima com o ambiente sócio-económico e com a função social, em si. Freeman (1997), por sua vez, também defendeu que a inovação envolve dois vectores importantes que se complementam: o reconhecimento de uma necessidade e o conhecimento técnico para dar resposta a essa necessidade. Tal como defendida por estes autores, também em artigos mais recentes como de Pitta (2008), Hoonsopon et alt. (2009) e Newman (2009) se defende esta vertente social, como factores essenciais para o sucesso da inovação. Pode-se dizer, então, que a inovação é, antes de tudo, a combinação de conhecimento preexistente e de conhecimento novo, e também um processo de aprendizagem interactiva e empreendedorismo colectivo, pois este processo é tanto mais proveitoso, quanto maiores as relações de proximidade e cooperativismo entre empresas de determinadas áreas, cujo esforço conjunto maximiza o processo de inovação. 2. Revisão literária Inovação do produto é um tema geralmente abordado no domínio das grandes empresas (Pitta, 2008) pelos recursos que normalmente esta inovação implica e que as pequenas e médias empresas (“PME”), na sua maioria, não têm. A inovação do produto para ter sucesso implica decisões testadas, conhecimento de gestão (Pitta, 2008); um estudo prévio sólido; um input constante do consumidor ao longo do processo; vantagem competitiva; uma definição sólida, objectiva e equilibrada antes do 5 desenvolvimento do produto em si; um lançamento bem planeado, com os devidos recursos e executado na perfeição; decisões objectivas e equipas responsáveis, dedicadas de forte liderança com capacidade de interagirem entre elas (Cooper, 1999). Inovação do produto tem vindo a ser desenvolvida em várias perspectivas: tecnológica; consumidor e a combinação entre as duas (Hoonsopon e alt., 2009). O sucesso é garantido aquando a presença da combinação das duas, pois todo o processo implica a capacidade que a empresa tem tanto a nível de recursos (teoria Resource Based View), como na sua capacidade de integrar o input dos seus clientes, que no lançamento deste mesmo produto vão poder validar a vantagem competitiva do mesmo, assim como o seu sucesso no mercado. A inovação do produto ganha assim, também, o estatuto de estratégia (Hoonsopon e alt., 2009). Tendo esta inovação, como também outras, um estatuto de estratégia, assume-se por garantido que toda uma avaliação é necessária para este processo de inovação. Quando se fala aqui numa avaliação, pensa-se numa análise das 5 Forças de Porter, que gera a informação necessária que vai possibilitar uma empresa a avaliar a sua própria inovação. Desta avaliação resultam dois tipos de conclusões: se a inovação tem possibilidade ou não de vingar no mercado e se sim, que tipologia se enquadrará o produto em causa. No produto de inovação radical, um produto que implica um conjunto de características e atributos de performance diferentes que resultam num novo conjunto de benefícios neste produto, na perspectiva do consumidor ou num produto de inovação incremental que têm diferenças mínimas, cujas funcionalidades e benefícios são também mínimos na perspectiva do consumidor (Hoonsopon e alt., 2009). Este estudo prévio é aquilo que vai determinar a estratégia mais adequada tanto no investimento de recursos, sendo eles financeiros ou humanos, como no seu lançamento ao público. Ao contrário daquilo que as teorias prévias defendem, felizmente, foi-nos possível analisar um caso de uma PME, que independentemente das suas características enquanto PME, tem as capacidades que normalmente só encontramos nas grandes empresas e que possibilitam a inovação do produto. Analisaremos a empresa e o seu produto inovador em contraste com a teoria estabelecida. 6 3. Polisport e a sua história A Polisport é uma empresa portuguesa, que nasceu no final dos anos 70 quando ainda não existia nenhum fabricante de peças em plástico para motos em Portugal. Até 1985, concentrou toda a sua produção no fabrico de acessórios plásticos para motos. Mais tarde, devido à abertura de mercados novos e à integração de Portugal na União Europeia, a empresa teve a necessidade de diversificar a sua gama de produtos, iniciando a produção de acessórios plásticos para bicicleta como guarda-lamas e porta bebés. Hoje em dia, a Polisport oferece uma gama de produtos completa, tanto no sector das bicicletas como das motos para off road, exportando para mais de 55 países, para After Market ou Original Equipment Manufacturer (“OEM”), sendo os países com maior peso a Alemanha, França, Inglaterra e Itália. Neste momento é uma empresa moderna, dinâmica que trabalha junto das empresas mais respeitadas mundialmente em ambas as áreas. Ao longo de mais de 20 anos, o desenvolvimento de uma parceria próxima com companhias de OEM ajudou-os a adquirir o know-how necessário para a concepção e o desenvolvimento de peças plásticas inovadoras e de qualidade que são nitidamente uma prova do seu desempenho na vanguarda das tendências do mercados das bicicletas e das motos off road. Na Polisport, a Missão da empresa – “conceber produtos inovadores para as duas rodas, garantindo desempenho com segurança, diferenciação e lazer” – aponta desde logo para a sua iniciativa inovadora e o seu interesse de posicionamento estratégico no mercado baseado neste facto, a Visão acompanha esse objectivo: “Ser líder pela notoriedade da marca alcançando prestígio pela Inovação, Qualidade dos Plásticos e pela diferenciação dos nossos produtos”. Para a empresa existem dois desafios constantes e fundamentais: a Inovação, através do lançamento contínuo de novos produtos e da promoção da imagem de marca e o Serviço, procurando promover a relação com os seus parceiros, que levam a um investimento sério no desenvolvimento das competências dos seus colaboradores e das suas capacidades tecnológicas. Nesta óptica fomentam uma cultura interna que privilegia: o envolvimento de todos, a auto – exigência, as decisões sustentadas e a abertura à mudança. 7 Isto permite que a Polisport lidere o mercado, mesmo sendo essencialmente uma empresa exportadora, o mercado português também já representa alguma fatia do negócio, com cerca de 300 clientes repartidos entre motos e bicicletas, através da notoriedade da marca, da diferenciação e inovação, sendo imperativo para os seus gestores que os produtos sejam desenvolvidos num ambiente organizado e funcional que privilegie um processo profundo de investigação e de desenvolvimento, onde todos trabalham para o mesmo objectivo: o desenvolvimento dos melhores componentes plásticos no mercado. Como corolário deste nítido investimento na inovação, em Dezembro de 2009, a Polisport recebeu, pelas mãos do Senhor Presidente da República, a Menção Honrosa no âmbito do Prémio PME Inovação da COTEC Portugal. A COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação é uma associação sem fins lucrativos cuja missão é a de promover o aumento da competitividade das empresas localizadas em Portugal, através do desenvolvimento e difusão de uma cultura e de uma prática de inovação, bem como do conhecimento residente no país. O Prémio PME Inovação COTEC-BPI, criado com o apoio do jornal Público, distingue anualmente uma Pequena ou Média Empresa (PME) que se tenha destacado no panorama nacional pela sua atitude e actividade inovadoras. Este prémio foi muito importante para a empresa, representando um fruto do trabalho de toda a equipa, incentivando e motivando os colaboradores para trabalhos futuros, marcando a entrada da Polisport na Rede das PME mais inovadoras de Portugal. 3.1. Investigação e Desenvolvimento Em todas as empresas inovadoras, o centro de Investigação e Desenvolvimento (“I&D”) é frequentemente o centro de tudo, para a Polisport a área de I&D é “o coração que pulsa ao ritmo do esforço para liderar e que bombeia novas ideias, novos materiais, novas ferramentas e novos processos no sistema produtivo”. A minimização do tempo necessário para a implementação de um novo projecto é uma vantagem negocial que a Polisport apresenta aos seus clientes, para isso têm sido preponderantes as novas tecnologias criadas, visto que com elas, conseguiram impulsionar consideravelmente o processo criativo, acelerando a modelação e encurtando os planos de desenvolvimento, tendo um efeito bem visível nos resultados comerciais do negócio. 8 As Inovações Tecnológicas mais recentes e reconhecidas da Polisport: • O IPD – Inmold Plastic Decals – é uma tecnologia pioneira no ramo de negócio, que consiste na inserção da película decorativa numa peça plástica durante a injecção • O PD+ – Plastic Decor Plus – é uma actualização da inovação anterior, que permite decorar a totalidade da superfície das peças plásticas, com uma maior protecção e durabilidade, independentemente da sua complexidade. Esta tecnologia permite a decoração da peça plástica com gráficos personalizados, criando os mais diversos e efeitos especiais 3.2. Polisport e a Inovação do Produto Como atrás foi referido o departamento de I&D é considerado o centro da Polisport, procurando constantemente novas ideias, novos materiais, novas ferramentas e novos processos no sistema produtivo, que permitam lançar no mercado algo de novo que cative a atenção dos clientes. Uma das formas de ter acesso a novas ideias, nesta empresa, é o recurso às opiniões de quem na prática utiliza os seus produtos, e, embora tenham um site online que permite ao consumidor final dar as suas sugestões, procuram junto dos atletas que patrocinam e respectivas equipas recolher ideias e opiniões, sendo habitual o patrocínio a pilotos de Motocross e Enduro (desportos off road) e a equipas que participam nos campeonatos Nacionais e Mundiais destes desportos, uma vez que é nesse ambiente que se desgasta ao máximo os produtos e é possível testar a sua performance no limite, bem como por profissionais que conseguem traduzir aos técnicos da empresa os pontos fortes e fracos do que foi testado. A Polisport consegue relacionando-se proximamente com os atletas e equipas patrocinadas, bem como através da sua movimentação pelos ambientes de provas desportivas, estar no centro do mundo dos acessórios para motos e bicicletas, conseguindo assim a mais valia de ter acesso constante à informação e às movimentações dos concorrentes, o que é muito importante para a sua orientação quanto às melhores opções de produtos a colocar no mercado e das necessidades que vão surgindo no mercado e nos consumidores. Neste caso 9 específico, o input do utilizador, representa uma fonte de informação e inspiração, crucial para a área de I&D poder desenvolver o seu trabalho. Para além da área de I&D, também têm um contributo muito importante para o sucesso deste negócio as áreas de produção e marketing. A primeira, por ser flexível e adaptada às necessidades a que a Inovação constante obriga, sendo isto possível devido ao elevado grau de conhecimento sobre os processos e os produtos dos operadores. Com este sistema de produção, a Polisport confere a garantia de satisfazer os pedidos de encomendas em prazos que vão dos 15 a 45 dias, relativamente a produtos com mais de 20 peças distintas e a segunda, por ser o canal através do qual é possível passar a informação dos novos produtos criados, através de lançamentos dirigidos ao público-alvo em eventos específicos, da presença em feiras internacionais da especialidade e de publicidade na imprensa ligada aos desportos motorizados e bicicletas, bem como da operacionalização do relacionamento da empresa com os atletas e equipas patrocinados que, como já referido, dão um importante contributo à inovação de produto na empresa. Há, na Polisport, uma preocupação constante na gestão do produto tendo sempre em conta o mercado e as suas necessidades. Como complemento, considerou-se pertinente para este artigo elaborar um questionário diagnóstico sobre o ambiente inovador da empresa em análise. Este questionário tem três conjuntos de perguntas, cujos resultados reflectem o tipo de inovação, as capacidades de inovação existentes e a motivação, respectivamente, na Polisport. Sendo este questionário de respostas múltiplas, cada conjunto apresenta uma maior tendência para um tipo de inovação, capacidade e motivação, do que para outras. Neste sentido, a Polisport aposta num tipo de inovação que resulta num produto novo que adopte as melhores práticas para o seu mercado. De facto, este resultado vem corroborar o foco que a empresa dá no seu departamento de I&D, assim como no seu processo de investigação e desenvolvimento. Ao contrário do conjunto de perguntas anteriores, o segundo conjunto apresenta uma maior diversificação de resultados, embora todos eles complementares. No que diz respeito às capacidades de inovação existentes, a Polisport apresenta uma posição na inovação que reflecte uma série de reacções na indústria e mercado, o que implica um número de 10 capacidades, como forma de gestão destas mesmas inovações. De uma forma mais acentuada, a Polisport exibe um tipo de inovação que investe num produto novo para o seu mercado, o que requer uma gestão de risco e uma gestão de investigação e portfolio mais cuidada. Já num segundo patamar, os resultados reflectem uma inovação de aperfeiçoamentos incrementais nos produtos e nos serviços, sendo o planeamento, ou seja, a definição do processo a desenvolver e a transferência de tecnologia, capacidades fundamentais a serem utilizadas para que a inovação surta os efeitos pretendidos por parte da empresa, um elemento fulcral. Outro efeito da inovação, mas não menos importante que o anterior, é o efeito de ruptura, de perturbação que os produtos, neste caso, causam na indústria. Para um efeito de perturbação, as capacidades de criatividade e processos informais e de “comunidades” são fundamentais para o valor acrescentado e/ou vantagem competitiva que um produto inovador exige para criar um devido impacto na indústria e no mercado. Já numa perspectiva de fecho de análise deste questionário diagnóstico, tal como no tipo de inovação, também na área de motivação os resultados foram um pouco mais homogéneos. Numa perspectiva de inovação de aperfeiçoamentos incrementais e de efeitos perturbadores e de ruptura para com a indústria será necessário apostar em funções bem definidas; ter em atenção quaisquer deadlines que possam surgir; avaliações que são completas e justas; ênfase no bom trabalho realizado pela equipa; investir na gestão de recompensas, nomeadamente recompensar as rebeldias e insucessos honestos, apreciar e validar os talentos existentes na empresa, assim como as vibrantes comunidades informais que contribuem para a inovação da Polisport. 11 3.2.1. O Moto Stand O Moto Stand é um acessório para veículos motorizados de off road, que suporta a moto quando esta está parada. Todos os utilizadores, profissionais ou amadores, de motos off road necessitam deste acessório, quer para quando estão no seu tempo de descanso quer quando estão a limpar e a realizar a manutenção ao veículo. Habitualmente estes acessórios existem no mercado com diversas formas e feitios mas sempre fabricados em ferro ou alumínio, com o peso, a dimensão e a pouca maleabilidade que daí advém. Se tivermos em consideração que habitualmente o desporto off road é praticado longe das cidades e os desportistas têm que se deslocar de carrinha, para as pistas ou trajectos onde andam de moto, tendo que armazenar no espaço do veículo as motos e todo o equipamento necessário como gasolina, ferramentas, líquidos de lubrificação e o vestuário e calçado para o treino, as limitações atrás referidas representavam um problema de arrumação e transporte. Ao ter conhecimento desse problema através do feedback dos seus pilotos a Polisport colocou a sua área de I&D em acção, de forma a tentar conceber um novo produto, baseando-se nas suas competências técnicas e tecnológicas, que viesse inovar no mercado dos suportes para as motos e conseguisse responder às necessidades dos praticantes de desporto off road. Assim surgiu o Moto Stand Polisport, através de técnicas e tecnologias já utilizadas na produção de outros produtos e recorrendo ao polipropileno, que é um tipo de plástico que 12 pode ser moldado usando apenas aquecimento e que tem como principais propriedades o baixo custo de produção, a elevada resistência química e a solventes, a fácil moldagem e coloração bem como a alta resistência a quebras e ao impacto, foi possível chegar a um suporte para motos com características como a leveza, a estrutura encartável e a resistência – tem possibilidade de suportar até 350 kg de peso. Neste processo de concepção e desenvolvimento do produto, a Polisport apenas se valeu de parceiros na área de injecção do polipropileno para poder produzir em quantidade suficiente, tendo o sector de I & D, realizado toda a operação de inovação. Estas características permitiram colocar no mercado um produto de dimensões muito inferiores aos produtos concorrentes, de fácil transporte e arrumação, mantendo a totalidade das funções a que se destina, e especialmente a um preço até inferior ao dos concorrentes. Mesmo com o produto base criado e correspondendo a uma solução para as necessidades dos utilizadores a Polisport, aplicou também a sua longa experiência de trabalho com acessórios para motos para colocar mais características diferenciadoras neste produto: uma plataforma superior com borracha injectada que não permite o deslize da moto, um furo de drenagem que permite retirar óleo da moto quando ela está sobre o Moto Stand sem danificar o mesmo, e uma atenção especial relativamente aos painéis laterais do produto que dão a possibilidade de escrever neles com um marcador, servindo para anotar horários, tempos por volta nos treinos, assinalar tempos de paragem para o piloto, etc., sendo uma superfície fácil de limpar com um pouco de líquido de limpeza de motos. Também foi dada especial atenção às cores em que o produto se encontra disponível, especialmente para ir de encontro às cores das marcas de motos mais comuns (Azul – Yamaha; Amarelo – Suzuki; Verde – Kawasaki; Laranja – KTM) para que as equipas e os pilotos não tenham dificuldade em enquadrar o produto na sua própria imagem constitucional. Apesar de ainda não ter dados disponíveis, acerca da quota de mercado alcançada, uma vez que, o produto foi lançado há menos de um ano, a Polisport sente que teve uma enorme adesão dos clientes ao seu produto, que se viu reflectida nas suas vendas, sentimento este corroborado pelo feedback positivo tanto dos pilotos como das próprias revistas da 13 especialidade que apontam as vantagens atrás indicadas a nível de funcionalidade em variadíssimos artigos. A este facto, também não será alheio o investimento em Marketing do produto por parte da Polisport que para além de ter escolhido a prova de Campeonato Mundial de Motocross, realizada em Portugal (Águeda), em 2009, para fazer o lançamento mundial do Moto Stand – aliando o clima de proximidade com os consumidores, que cultiva, com o facto de ser uma empresa portuguesa e optar por lançar o produto no seu País de origem, investiu bastante em publicidade em revistas da especialidade, bem como na sua presença em diversas feiras da especialidade realizadas um pouco por todo o mundo, dando destaque a este novo e inovador produto nos stands da marca, fazendo uma promoção sistemática em todos os eventos em que participam e incentivando todos os pilotos e equipas que patrocinam a o usarem em competição. É de referir ainda, que o Moto Stand se encontra em processo de patenteamento, querendo a Polisport o reconhecimento da total inovação que o produto representa no mercado de forma a reforçar a vantagem competitiva que este detém comparativamente com outros produtos substitutos existentes no mercado, uma vez que não existem quaisquer produtos semelhantes. 14 4. Conclusões A inovação do produto, assim como a inovação nas suas diversas vertentes, ganhou cada vez mais um papel importante no desenvolvimento e sobrevivência das várias indústrias e mercados. No entanto, a inovação do produto é um tema normalmente estudado no âmbito das grandes empresas, por se achar que todos os elementos que a inovação de um produto requer para se concretizar e surtir o efeito desejado, nomeadamente a aceitação por parte do mercado, apenas se encontram nesse tipo de empresas. A inovação do produto implica a introdução de um produto novo ou significativamente melhorado, o que só é possível quando uma empresa inclui uma equipa capaz e necessariamente apoiada pela própria empresa, para que possa combinar a tecnologia e as necessidades do consumidor, numa perspectiva de desenvolver um produto inovador para a respectiva indústria e mercado. Tal processo requer recursos, que usualmente as pequenas e médias empresas não têm, nem recursos humanos, nem tecnológicos, nem financeiros. Contudo, todas as regras têm excepções e este artigo apresenta uma delas. Uma pequena média empresa portuguesa que tem vindo a reforçar a sua missão, objectivo e visão enquanto empresa. A Polisport é exemplo de que uma pequena média empresa consegue ter uma equipa de investigação e desenvolvimento capaz de criar produtos inovadores, sendo eles incrementais e maioritariamente radicais. A inovação do produto passou a ser uma estratégia da Polisport, onde as necessidades do consumidor final são fundamentais. A Polisport é uma empresa moderna e dinâmica, de referência que corrobora a nossa afirmação de partida: a inovação do produto das Grandes Empresas pode estar presente nas Pequenas e Médias Empresas. 15 Bibliografia - R. COOPER, From experience: the invisible success factors in product innovation, Journal of Product Innovation Management, vol. 16 No.2, pp.115-33, 1999 - DANUPOL HOONSOPON and GUNTALEE RUENROM, The empirical study of the Impact of Product Innovation Factors on the Performance of New Products: Radical and Incremental Product Innovation, The Business Review, Cambridge, vol. 12, Num. 2, Summer 2009 - DENNIS A. 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