Ruminantes - edição nº4 / 2012

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Ruminantes - edição nº4 / 2012
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Ano 2 - Nº 4 • Eur: 5,00 • Directora: Francisca Gusmão
MERCADO DE GADO
LEICAR E APORMOR
Janeiro | Fevereiro | Março 2012 (Trimestral)
NOVIDADES
DE EQUIPAMENTOS
// ACTUALIDADES // ENTREVISTAS // PRODUÇÃO ANIMAL // ECONOMIA // EQUIPAMENTOS
// FEIRAS // BEM ESTAR ANIMAL // NEGÓCIOS // RUMINARTE // PREÇOS // CONHEÇA A LEI
CONHEÇA A LEI
NOVA RUBRICA
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EDITORIAL
O ADEUS AO LEITE
DAS NOSSAS VACAS
O fim das referidas quotas, como está determinado, certamente virá a representar o fecho de muitas explorações
leiteiras, nomeadamente nas regiões Norte e Centro onde
se concentra grande parte destas empresas (cerca de
6 mil), assim como na a região Sul e Açores, onde se localizam as restantes 4 mil (num total de 10 mil, segundo o último recenseamento de 2009, do INE).
A nova regra assume vertentes altamente preocupantes
no tocante a problemas sociais, económicos e ambientais,
para além de outros. Problemas sociais: pelo avolumar do
desemprego daí resultante, com milhares de famílias envolvidas e um elevado número de empresas e pessoas que
indirectamente intervêm na produção. Problemas económicos: pelo aumento de importações de leite. Problemas ambientais: pelo abandono de terras, tornadas baldios,
transformando consequentemente a beleza das nossas paisagens em algo desprezível para o turismo nacional e estrangeiro, assim como pela entrada em Portugal de leite de
“segunda”, proveniente de outros países, como regra geral
tem acontecido.
Por último, dirigimos um elogio à nossa Ministra Assunção
Cristas, por ser a única a fazer ouvir a sua voz na Europa na
defesa da continuação da atribuição de quotas, depois da
Polónia e da Espanha terem desistido de lutar por tão nobre
causa.
N.G.
[email protected]
F. GUSMÃO
A importância da produção de leite no nosso País, que
se distingue pelo patriotismo demonstrado pelos criadores
nacionais de gado leiteiro que, nos últimos anos, “fazendo
das tripas coração”, mal têm ganho para sobreviver —, está
agora ameaçada por mais uma medida das muitas que a
PAC tem parido durante a sua governação imposta ao longo
dos anos em que dissemos adeus à nossa soberania, a
favor de quem, por egoísta interesse, dita as regras do jogo.
Com efeito, o fim das quotas leiteiras, em nosso desfavor,
ao ser imposto pela nova Política Agrícola Comum, deixando de exigir limites à produção, dá largas aos países do
Norte da União Europeia, os quais, com muito maior dimensão para o efeito, se irão expandir de uma forma tal
que, praticamente vão superar, em condições concorrenciais, os escassos meios de que dispõem os nossos criadores de gado leiteiro.
E o leite produzido em Portugal, que representa anualmente um movimento superior a 2 mil milhões de euros e é
de uma qualidade ímpar face a muito do leite importado,
tanto pelas suas propriedades nutricionais e organoléticas
como pela higiene da sua produção, acaba por ficar condenado pelo novo tipo de mercado a que estamos sujeitos,
quando afinal é um dos raros produtos alimentares em que
somos auto-suficientes. E que, podendo não ser importado,
é dos que têm de ser defendidos “com unhas e dentes”, por
poderem contribuir para a tão almejada redução do défice
orçamental.
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
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ÍNDICE
FICHA TÉCNICA
ACTUALIDADES
EQUIPAMENTOS
Espanha perdeu 23.000 explorações
de gado ovino em cinco anos ..................................6
Produção europeia de carne de ovino e caprino
deverá baixar............................................................6
Gelados feitos com leite de cabra..............................6
Agricultura: Salários sobem 6,7% na UE
e caem 10,7% em Portugal......................................7
Disponibilidade mundial de lã é a mais baixa
em 50 anos .............................................................8
Benefícios do uso de carne de cordeiro.....................8
Licenciamento de explorações pecuárias .................8
Açores produzem bovinos de alta genética .............10
Polpa e casca de laranja na dieta de bovinos .........10
Produção leiteira cresceu nos Açores ......................10
Sobre os limites de células somáticas no leite.........39
BEM-ESTAR ANIMAL
Causas de coxeiras em pequenos ruminantes
e o seu efeito sobre o bem-estar dos pequenos
ruminantes..............................................................54
CONHEÇA A LEI:
Prédios rústicos: ser dono sem o ser.......................64
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Breves comentários e previsões sobre o mercado
de matérias-primas.................................................30
Perspectiva do mercado leiteiro ..............................32
Novidades de equipamento......................................57
Reduzir o tempo e os custos da ordenha ................60
A nova gama New Holland TD5 ...............................63
EDIÇÃO Nº4
JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2012
FEIRAS
DIRECTORA
Calendário de feiras .................................................62
PRODUÇÃO
Francisca Gusmão
| [email protected]
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
Decida agora o que semear em 2012......................12
Forragens na engorda de novilhos...........................20
A influência dos factores não-nutricionais
na produção de leite - A “Prova dos 9” ..................22
Biotina, a vitamina da persistência e
da longevidade .......................................................26
Animais protegidos ...................................................40
Alimentação de cabras em regime intensivo
à base de concentrado e palha..............................42
Identificação de Lesões de Patas ............................44
Compra de vitelos em leilão? ...................................48
Veterinário em campo:
Descargas celulares: Pode a contagem das
células somáticas indicar o estado sanitário
do úbere? ...............................................................50
Necrópsias: Mortes súbitas podem revelar
aspectos importantes? ...........................................52
António Cannas; Ana Vieira; André Preto;
António Marques dos Santos; Carla
Aguiar; Dana J. Tomlinson; Dário
Guerreiro; Eduardo Soares; Ema Roque;
Filipe Soares; Francisco Fernandez;
George Stilwell; Inês Ajuda; J. M.
DeFrain; Jerónimo Pinto; José Campos
Oliveira; Luís Queirós; Luís Veiga;
Mariana Leitão; Michael T. Socha; Paulo
Costa e Sousa; Pedro Torres; Raquel
Cortesão; Ricardo F. Diogo; Ruben
Mendes
AGRADECIMENTOS
João Luís Parreira
FOTO DA CAPA
Herdade do Salvador
PUBLICIDADE
RUMINARTE
Arte no campo ..........................................................67
ENTREVISTAS
Américo Rodrigues, Catarina Gusmão
| [email protected]
DESIGN E PRE-IMPRESSÃO
SEGURANÇA
Mercados e Leilões de gado ....................................14
Robots de ordenha:
Uma nova forma de estar no negócio....................34
Rum nantes
Ana Botelho
Segurança em parques de novilhos.........................66
| [email protected]
ASSINATURAS
João Correia
| [email protected]
IMPRESSÃO
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E.N. nº10 - Km 108,3 - Porto Alto
2135-114 Samora Correia
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Europe
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Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
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ACTUALIDADES
MUNDO
Espanha perdeu 23.000
explorações de gado
ovino em cinco anos
Produção europeia de
carne de ovino e caprino
deverá baixar
A produção líquida de carne de ovino e caprino na União Europeia (UE) deverá baixar
2,4% em 2012, para 847.000 toneladas, e em
2011 deverá situar-se nas 868.000 toneladas
(-0,8% relativamente a 2010), segundo as últimas previsões da Comissão Europeia (CE).
Os dados de Bruxelas indicam que a União
Europeia (UE) importará 245.000 toneladas
de carne de ovino e caprino em 2012, cerca
de 13,9% mais que em 2011, em que as compras comunitárias alcançarão 215.000 toneladas. Quanto às exportações europeias deste
tipo de carne, a Comissão prevê que se situem
em 14.000 toneladas em 2012 e em 16.000 toneladas em 2011.
No referente ao consumo, estima que se situará em 2,1 kg per capita em 2012, cifra similar a 2011 mas inferior aos 2,2 kg
registados em 2010.
6
F. GUSMÃO
Espanha perdeu 23.000 explorações de
ovelhas nos últimos 5 anos, segundo cálculos dos produtores, devido à baixa rentabilidade causada pelo incremento das rações
e de outros factores de produção, bem como
à quebra do consumo de carne.
Assim referiram à agencia de notícias Efe
os responsáveis das organizações agrárias
Asaja, COAG e UPA, e a interprofissional
Interovic. Enquanto isso, a recuperação dos
preços de alguns produtos ovinos e da exportação aliviam a situação dum sector em
contínua reestruturação, em que as explorações que ficam são cada vez mais produtivas e dimensionadas.
A proposta de reforma da PAC, apresentada pela Comissão Europeia a 12 de Outubro, foi abertamente criticada pelas
organizações agrárias espanholas por não
contemplar a especificidade do sector pecuário espanhol que nem sempre tem terras
em condições, para activar as ajudas europeias, que premeiam a dimensão. !
Quanto aos principais destinos do ovino e
caprino comunitário, os dados referem que a
Turquia se mantém à cabeça com 10.455 ton.,
seguida da Jordânia, com 2.893 ton., Hong
Kong, com 2.365 ton. e Vietname, com 2.114
ton. Entre os abastecedores, a Nova Zelândia
figura em destaque como primeiro abastecedor da UE, com 163.214 toneladas, seguida
da Austrália, com 14.115 ton., do Chile, com
4.938 ton. e da Argentina com 4.043 ton. !
Gelados feitos com
leite de cabra
Na província argentina de San Juan abriu
recentemente a primeira fábrica de gelados do
país feitos a partir de leite de cabra. Trata-se
de um projecto piloto público-privado, concebido como uma alternativa de diversificação à produção leiteira caprina da região, em
que a recolha, elaboração e comercialização
do produto estarão a cargo dos mais de 40
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
produtores da zona. Se tiver êxito, poderá vir
a estender-se a todas as zonas do país onde
existam cabras, segundo disse Daniela Gaetano, Coordenadora em San Juan da Lei Caprina.
A utilização do leite de cabra, no Verão,
para a confecção de gelados é uma saída económica interessante, porque nessa época o
rendimento leiteiro é alto, embora a altura em
que se vende mais queijo de cabra seja o Inverno. Assim, consegue-se colmatar pelo
menos uma parte do desequilíbrio que existia
no sector.
Os gelados de leite de cabra vão existir em
todos os sabores com que se fazem os de leite
de vaca, mas serão mais caros em cerca de
20% visto ser mais caro extrair o leite de
cabra e o volume ser inferior, já que cada
cabra produz de 2 a 2,5 litros diários contra os
35 a 40 litros de uma vaca leiteira. Por outro
lado, o leite de cabra possui propriedades que
faltam ao de vaca: um dos mais importantes
é o seu baixo conteúdo em lactose (-10% que
o de vaca), maior concentração de vitaminas
A e D, bem como maior quantidade de minerais como potássio, cobre e manganésio. !
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MUNDO
ACTUALIDADES
Agricultura: Salários sobem 6,7% na UE
e caem 10,7% em Portugal
Os salários dos agricultures europeus subiram uma média de 6,7 por cento em 2011,
com Portugal a contrariar a tendência com
uma descida de 10,7 por cento.
De acordo com dados divulgados pelo gabinete de estatísticas europeu, em Dezembro último as primeiras previsões para o
global dos 27 Estados-membros apontam
para uma elevação salarial de 6,7 por cento
entre 2010 e 2011, inferior aos 12,6 por
cento registados na análise entre 2009 e
2010.
Pior que Portugal só a Bélgica e Malta,
com descidas de 22,5 por cento e 21,2 por
cento na média salarial no sector.
Em 2011, o valor do rendimento agrícola
estimado da UE-27 a preços no produtor
terá tido um aumento de 7,5%, principalmente devido a um aumento nos valores
quer da produção agrícola (8,0%) que da
produção animal (7,8%) em termos reais.
Na produção agrícola, o aumento do valor
é devido a uma subida nos preços (5,4%) e
no volume (2,5%). Os preços estão a subir
para a maioria dos grupos de culturas, excepto nos produtos hortícolas frescos (10,1%), plantas e flores (-1,1%) e azeite
(-0,9%). Os maiores aumentos registaramse para os cereais (18,9%), sementes oleaginosas (18,4%), beterraba (3,6%) e vinho
(2,3%). Os volumes da maioria dos produtos estão a subir, em especial a beterraba
(13,7%), o vinho (4,6%) a batata (4,2%) e
as frutas (3,3%). A queda em volume registou-se apenas no azeite e nas plantas e flores
(ambos -2,2%).
O aumento no valor da produção animal
em 2011 é o resultado de um aumento em
ambos ao nível dos preços ao produtor
(6,7%) e do volume (1,1%). Os preços aumentaram no leite (9,1%), aves (8,7%), bovinos (8,6%), ovinos e caprinos (6,4%) e
suínos (4,3%), e caíram para os ovos (-5,3
%). O volume aumentou para ovinos e caprinos (2,3%), aves (1,9%), bovinos (1,5%)
e produção de leite (1,1%) e decresceu ligeiramente para os ovos (-0,9%).
Os custos de factores de produção na UE27 (consumo intermédio) deverão subir
9,7% em termos reais, principalmente devido a um aumento dos preços (9,1%). O incremento nos preços dos factores de
produção é impulsionado por aumentos nas
rações (16,8%), fertilizantes e correctivos de
solo (14,6%), energia e lubrificantes
(+11,8%), sementes (4,3%) e manutenção
de construções (+3,8%). !
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2011
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ACTUALIDADES
MUNDO
Disponibilidade mundial de lã
é a mais baixa em 50 anos
Benefícios do uso
de carne de cordeiro
As baixas produção e oferta mundial de
lã tem constituído um dos principais pontos positivos de apoio aos preços da lã nos
últimos anos, não se vislumbrando sinais de
que a produção vá recuperar no futuro próximo. De acordo com o mais recente relatório para o mercado global da lã,
publicado pela Sheep Industry News em
Novembro último, as últimas previsões disponíveis dos principais países produtores
sugerem que a produção de lã no mundo
vai sofrer um ligeiríssimo aumento de 0,7
por cento para 1.112 milhões de kg de peso
limpo (ou seja, com remoção de sujidades,
matéria vegetal, gordura, etc.).
Este leve aumento da produção mundial
de lã é principalmente devido ao previsto
aumento da produção na Austrália e também na China, na Comunidade de Estados
Independentes (CIS), na Índia, na África do
Sul, no Reino Unido e no Uruguai. Pelo
contrário, a produção deverá cair na Nova
Zelândia, na Argentina e nos Estados Unidos da América devido a uma quebra dos
efectivos mais baixos de ovelhas combinado com condições sazonais desvantajosas em algumas zonas de cada país.
A carne de cordeiro é, desde há muito
tempo, utilizada na confecção de diferentes
variedades de pratos. Mas muitas pessoas
desprezam o seu consumo por pensarem que
esta carne é rica em gordura, desconhecendo
as suas propriedades para a saúde.
Com efeito, novos estudos mostraram que
a gordura que envolve a carne de cordeiro é
uma gordura insaturada — o ácido palmitoteico, ácido gordo monoinsaturado também
conhecido como ómega 7, conhecido pela
sua acção benéfica na redução do colesterol
e pelas suas propriedades antimicrobianas.
Sendo reconhecida pelo seu elevado valor
nutricional e por ser uma boa fonte de zinco
e ferro, a carne de cordeiro também é rica no
complexo vitamínico B, e especialmente em
vitamina B12 Por se tratar de um alimento
tão rico e multifacetado, não deverá ser excluído das dietas para redução de peso, já que
se trata de uma carne baixa em gordura e com
elevado teor de vitaminas e minerais. Sendo
um alimento tão antigo, o cordeiro tem,
quase como o bacalhau, um sem fim de
modos de ser cozinhado. !
Da mesma forma, os stocks de lã crua realizada em países produtores também estão
em baixa. Isto significa que a disponibilidade
mundial de lã (produção mais stocks) é a
mais baixa em 50 anos ou mais.
Os preços mundiais da fibra de lã têm retrocedido nos últimos meses devido ao aumento das preocupações macro-económicas,
aliado a expectativas de enfraquecimento da
procura de fibras e ao aumento da oferta de
algodão.
A retracção no abastecimento, que resultou no início deste ano em níveis recordes
dos preços do algodão, diminuiu. Prevê-se
que a produção mundial de algodão em
2011/2012 chegue ao nível mais alto desde
2004/2005, enquanto o consumo deverá
crescer apenas moderadamente devido aos
ainda relativamente elevados preços do algodão e à concorrência das fibras sintéticas.
Como resultado, os preços do algodão caíram mais de metade do nível recorde observado em Março último. No entanto, os
preços estabilizaram em níveis bem superiores aos observados em 2009. Os preços das
fibras sintéticas têm igualmente estabilizado
em níveis bem acima dos de 2009. !
N. MARQUES
Licenciamento de
explorações pecuárias
8
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
O Ministério da Agricultura anunciou a
prorrogação para 31 de Março de 2013 dos
prazos para cumprir formalidades junto da
entidade coordenadora, no âmbito do Regime de Exercício da Actividade Pecuária.
Se a actividade pecuária já se encontrar licenciada ou autorizada ao abrigo da legislação em vigor do DL 214/2008 de 10 de
Novembro, o produtor deverá promover a actualização dos registos das explorações, bem
como solicitar a reclassificação das suas actividades pecuárias, com a actualização do
cadastro.
Os titulares de uma actividade pecuária
sem título válido ou actualizado, deverão
apresentar pedido de regularização dessa
mesma actividade.
Mais informações: http://www.gpp.pt !
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ACTUALIDADES
MUNDO
Açores produzem bovinos de alta genética
o que considerou ser uma afirmação da alta
genética regional no panorama nacional e
um recurso que pode ser aproveitado pelos
agricultores açorianos.
É nesse sentido que a legislação vai ser alterada, para permitir incentivos majorados
aos produtores do arquipélago que comprem, na Região, animais para melhoramento genético das suas explorações, apoios
que até agora só existiam para a importação
de alta genética do continente e do estrangeiro.
Nessa ocasião, foi também analisada uma
proposta de distribuição de direitos aleitantes para os produtores de carne da Região,
em que se privilegiam os agricultores que
iniciam a actividade nesta área, nomeadamente os que apresentaram projectos de primeira instalação para a fileira da carne. !
N. MARQUES
O Governo dos Açores vai criar legislação que incentiva a aquisição, por parte dos
agricultores açorianos, de bovinos de alta
genética produzidos na Região, nomeadamente na área das raças para produção de
carne.
Numa reunião com o Núcleo de Criadores de Bovinos de Raças de Carne da Ilha
Terceira, Noé Rodrigues, Secretário Regional da Agricultura e Florestas, referiu que a
iniciativa surge numa altura em que os Açores já produzem animais nados e criados no
arquipélago com alta genética, não só no
sector da produção de leite, mas também,
agora, na fileira da carne.
O governante congratulou-se pela recente
primeira exportação para o Continente de
oito machos da raça Angus, animais reprodutores, (cinco do Faial e três da Terceira),
Produção leiteira
cresceu nos Açores
A produção de leite nos Açores cresceu 1,7 por cento até Outubro, para um
total acumulado de 468 milhões de litros.
O volume de leite entregue para transformação nas fábricas da ilha de S. Miguel, que concentram mais de metade da
produção leiteira açoriana, aumentou nos
primeiros dez meses deste ano de 290
milhões para 298 milhões de litros, face
ao período homólogo de 2010.
Na ilha Terceira, que detém a segunda
maior produção regional, verificou-se também um aumento de leite entregue à indústria, de 117 milhões para 118 milhões.
A produção leiteira açoriana, que representa cerca de 30 por cento da nacional, garante matéria prima à principal
indústria da região que é, também, o
maior exportador do arquipélago.
O Governo Regional abriu em Dezembro passado uma nova operação de
resgate de quota leiteira que poderá determinar que um em cada dez produtores
de leite do arquipélago abandonem a actividade no próximo ano.
A produção de leite na União Europeia
é regulada por um regime de quotas que
estabelece um limite máximo para o volume de leite que cada agricultor pode
entregar à indústria, consistindo a operação de resgate lançada pelo Executivo
açoriano na tomada de quotas individuais
mediante o pagamento de 20 cêntimos
por litro dos direitos respectivos.
Polpa e casca de laranja na dieta de bovinos
Investigadores do Serviço de Investigação Agrária dos EUA (ARS) efectuaram
uma série de estudos para explorar maneiras de reduzir, sem a utilização de antibióticos, os agentes patogénicos alimentares
que se encontram nos intestinos dos bovinos destinados à produção de carne. Estudos prévios haviam mostrado que os
produtos cítricos fornecem ao gado bovino
uma quantidade adequada de fibra e vitaminas, e que os óleos essenciais existentes
nesses produtos proporcionam um efeito
10
antibiótico natural.
Conclusões recentes demonstraram a
viabilidade de utilizar a polpa e a casca de
citrinos como uma fonte de alimento para
estimular a actividade anti-microbiana nos
intestinos do gado bovino bem como a
compatibilidade desta utilização com as
práticas actuais de produção.
Os resultados deste estudo foram publicados este ano em 'Foodborne Pathogens
and Disease'. !
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
Segundo a Federação Agrícola dos
Açores (FAA), a eventual saída de actividade de 300 dos 3.400 activos afectos
ao sector não deverá implicar um abaixamento da produção, podendo, antes,
potenciar o seu aumento.
"O activo do sector tem vindo a baixar,
mas devido ao crescimento das explorações e à qualificação dos produtores temse assistido na região a um aumento da
produção", sublinhou o presidente da
Jorge Rita (FAA), em declarações sobre
o novo resgate. !
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Decida agora
o que semear em 2012
Sessenta por cento dos produtores nacionais de milho grão e silagem
decidem agora o que irão semear nas próximas sementeiras. Baseados em
diversos aspectos, desde a produção de massa verde, à produção de grão
ou à qualidade nutricional da mesma, o agricultor selecciona os híbridos
que, segundo ele, correspondem melhor às suas necessidades.
No entanto, será que o agricultor se foca nas características mais importantes e que definem claramente a qualidade de um híbrido para silagem?
Agora que a Campanha 2011 está terminada, todos
os dados relativamente aos ensaios deste ano estão reunidos para poderem ser fornecidos aos produtores de
silagem. Estão então reunidas as condições para abordar quais os factores que mais devem ser valorizados
quando se seleccionarem os híbridos para a próxima
campanha.
Aquilo que mais frequentemente ouvimos os produtores de silagem referirem são factores como a produção dos híbridos/ha, devendo ser feita a conversão para
o mesmo valor de matéria seca, o conteúdo em amido
da silagem e a digestibilidade da fibra.
Para a comparação da produção deve ser tida em
consideração a densidade de sementeira, a altura de
corte da planta e o teor em amido.
O amido é o principal responsável pela energia
que a silagem fornece aos animais (65% grão, 10%
conteúdos celulares e 25% NDF), e deve por isso ser
o primeiro factor a ter em conta e a pesar no momento
de decidir qual o híbrido a semear.
Mais, a produção de grão tem uma correlação positiva com a M.S. total/ha, o que resulta num aumento
também da produção de leite por hectare.
Produção de grão
(15,5% de humidade)
Relação entre a produção de grão e a produção de silagem,
entre 1997 e 1998 em Winsconsin
O valor de cada 1% de amido é significativo por cada hectare
de Silagem de milho que produz
HÍBRIDO A HÍBRIDO B
Produção Matéria Verde/ha (toneladas)
60
60
% Matéria Seca
35
35
% Amido na silagem de Milho
30
31
Preço Farinha de Milho (€) tonelada
285
CÁLCULOS
Toneladas de Amido/ha
6,3
Toneladas de Amido/ha extra produzidos por Híbrido B
6,51
0,21
VALOR LÍQUIDO DO HÍBRIDO B
Toneladas de Farinha de Milho necessárias para substituir 1% Amido
0,353
Valor (€)/ha (farinha de milho) pelo amido extra do Híbrido B
100 €
A digestibilidade da fibra (NDFD) é, muitas vezes,
sobrevalorizada, no entanto, hoje sabe-se que as diferenças resultam acima de tudo das condições ambientais durante o ciclo vegetativo. O principal desvio na
digestibilidade da fibra dá-se entre anos diferentes, e
não entre híbridos. Dias longos, noites frescas e clima
moderadamente seco promovem as forragens mais digestíveis, já um clima quente e húmido promove forragens de menor qualidade, relativamente à fibra.
Ainda correspondente à porção fibrosa da planta
temos o NDF e o ADF que são importantes para a formulação de dietas. No entanto, pouco contribuem para
a classificação de um híbrido, visto serem apenas valores indicativos da diluição do amido e dos açúcares.
Produção de silagem (t de m.s/acre)
12
Um híbrido que seja superior na produção de grão
relativamente a outro, em cerca de 350 kg/ha, será também, numa análise nutricional correspondente, superior em 1% no valor de amido. Atendendo ao preço a
que se encontra o grão, a quantidade de farinha de
milho necessária para cobrir essa diferença de produção de grão e energia ascende a 100 euros.
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Impacto das Condições Ambientais no NDFD demonstrado pelo efeito do stress de humidade
nos mesmos híbridos semeados em 2006 (ano húmido) vs. 2007 (ano seco)
Bloco de cor
diferente indi
ca uma localiz
onde o mesm
ação de ensa
o híbrido foi
ios diferente,
semeado em
ambos os an
os
Source: Dann Bolinger, Pioneer Dairy Specialist - Michigan
Actualmente, os valores de digestibilidade do amido começam
a ser requisitados. Ainda assim não é conhecida qualquer Universidade ou Empresa de sementes que faça esta classificação de
forma frequente. O motivo desta ausência de classificação devese, primeiro, ao facto de as diferenças entre digestibilidades de
grãos de vitreosidades distintas nas variedades existentes no mercado serem praticamente inexistentes. Em segundo, as diferenças
de digestibilidades tornam-se ainda mais insignificantes se tratarmos todos os grãos no ponto óptimo de colheita para silagem. Por
fim, o tempo de exposição do grão à fermentação influencia mais
que tudo a digestibilidade do amido e, para iguais tempos de fermentação, são sideradas as possíveis diferenças.
Valor % de MS ou de Nutrientes
Composição e Digestibilidade variam com a MS da Silagem
estamos a lançar para o mercado, devem ser feitos um mínimo de
20 ensaios “side-by-side”.
A comparação destes híbridos deverá ser feita no mesmo estado de maturação e resultantes de sementes com igual tratamento,
semeadas com a mesma população de plantas e cortadas à mesma
altura.
O resultado de apenas um ensaio, por muito interessante que
seja para o dono da parcela em
questão, não tem qualquer significado estatístico devido a
tudo o que vai variar para as
restantes explorações sujeitas a
diferentes tipos de compactação
de solo, fertilização, tipo de
solo, disponibilidade e até mesmo o maneio na lavoura. Rotular
uma variedade por apenas um ensaio seria o mesmo que classificar um touro pela performance de apenas uma das suas filhas.
Por fim, tenha atenção aos concursos de beleza que muitas
vezes se fazem entre variedades. Muitas vezes, nenhum desses
“factores estéticos” contribui para avaliar a real qualidade e consistência de um híbrido.
Matéria seca da silagem %
A digestibilidade do amido é sem dúvida um ponto de enorme
relevância para quem formula, principalmente no que toca à mudança de silos com um longo período de fermentação para aqueles que foram ensilados recentemente. Agora, na pontuação de
híbridos nada influi.
Lembre-se, no momento de classificar os seus híbridos peça
dados adequados. Estudos efectuados por geneticistas revelam
que, para um grau de confiança de cerca de 95% na variedade que
Conte com a Pioneer. Nós estamos sempre por perto.
[email protected]
[email protected]
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13
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ENTREVISTA
Mercados e Leilões de gado
O avanço das leis a favor da saúde e do bem-estar animal, as novas regulamentações
relativas ao ambiente e à segurança, e a exigência crescente de transparência na
compra e na venda, foram introduzindo alterações profundas nos mercados de gado.
Os mercados tradicionais, existentes em muitas localidades de cariz agrícola, deixaram
de poder existir nos moldes primitivos e aqueles que subsistiram tiveram que se
adaptar aos novos tempos.
Para perceber os actuais requisitos para a comercialização dos animais e as vantagens que
os mesmos representam para vendedores e compradores, a Revista Ruminantes entrevistou
os responsáveis de duas entidades de referência neste sector, respectivamente, no Sul e no
Norte do País: António Marques dos Santos, Presidente da APORMOR (Associação de
Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da Região de Montemor-o-Novo) e José
Campos Oliveira, presidente da LEICAR (Associação de Produtores de Leite e Carne),
situada no concelho da Póvoa de Varzim.
“Os agricultores preferem trazer os animais
ao leilão porque há transparência no negócio.
A venda é sempre feita pelo melhor preço.”
António Marques dos Santos, Presidente da APORMOR
Quando é que a Apormor iniciou a actividade?
Comemorámos este ano, em Setembro, 21 anos de
existência e 16 anos da construção do parque de leilões.
No início operávamos com poucos animais num único
pavilhão, cerca de 15 a 20 animais por leilão. Hoje,
temos uma média de 500 animais por leilão.
Qual o raio de acção/influência deste mercado para
compradores e vendedores?
A Apormor é uma associação sem fins lucrativos, dos
seus sócios, embora trabalhe também com não sócios.
Actualmente tem uma influência total ao nível do Alentejo. Em termos de compradores, a abrangência é nacional, recebemos a visita de muita gente do Norte.
Qual o objectivo deste mercado e que vantagens
tem o produtor?
Montemor-o-Novo é um concelho onde predomina a
pecuária e portanto faz todo o sentido que aqui exista
um mercado de gado. Este mercado torna os negócios
14
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
N. MARQUES
Os nossos vizinhos espanhóis marcam presença no
mercado?
De vez em quando, mas apenas como compradores,
essencialmente vitelos que levam para engordar.
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N. MARQUES
ENTREVISTA
muito mais transparentes, concentra compradores e vendedores,
ou seja, sinergias de negócio, com as vantagens que daí resultam.
Outra questão muito importante tem a ver com os pagamentos;
a Apormor desenvolve sistemas que garantem, sem falhas, o pagamento no próprio dia ou no dia seguinte à realização do leilão,
a quem vem cá vender.
Chegará o dia em que o preço dos animais é estabelecido em
função do custo de produção?
Não me parece que chegue o dia em que os agricultores consigam reflectir no preço os verdadeiros custos de produção; na
minha opinião a agricultura nos próximos 10 a 20 anos terá que
ser subsidiada, de outra forma não conseguirá resistir à concorrência externa, nomeadamente da América do Sul.
Qual a periodicidade do leilão e quais as regras para um produtor poder marcar presença no mercado?
Temos leilões todas as terças-feiras, excepto pelas alturas do
Natal, Páscoa e alguns feriados. Qualquer pessoa que queira trazer animais a leilão, quer seja sócio ou não, deverá telefonar para
o secretariado com alguns dias de antecedência; não existe um
número mínimo nem máximo de animais, desde que haja lugar.
Que tipo de animais e volume médio comercializam por mercado?
Em termos médios, leiloamos cerca de 500 animais/semana, ou
seja cerca de 25.000/ano. Há períodos do ano em que se vendem
mais vacas de refugo, como acontece no final do Verão, antes das
primeiras chuvas; outras alturas em que são vitelos, outras são vitelões ou já novilhos…
Quem pode comprar animais no mercado?
Qualquer pessoa, desde que se registe e cumpra os requisitos
estabelecidos pela Apormor. Estamos a ultimar a realização de um
regulamento de leilão para todas as acções de entrada e saída de
animais, vendas, compras, etc. No futuro, qualquer pessoa que
cumpra estas regras, que serão simples para que o leilão seja
aberto ao maior numero de intervenientes, poderá comprar.
Como fazem a gestão dos animais a vender, de forma a garantir aos compradores que vão encontrar o que precisam?
Publicamos semanalmente, no nosso website (Apormor.pt), a
listagem dos animais/lotes/tipo. Esta divulgação é feita à segundafeira, no dia que antecede o leilão, após as 16 horas (quando termina a recepção dos animais que vão a leilão).
Qual o prazo médio de pagamento ao produtor?
O prazo médio é de um dia, dois no máximo. A partir do momento em que o agricultor passa a factura de venda dos seus animais, nós fazemos a transferência bancária. Isto tem uma enorme
vantagem sobre o sistema tradicional, pois os agricultores têm a
garantia total de receber e de forma imediata.
Quais as vantagens do modelo do leilão sobre o do mercado
tradicional?
Acho que as vantagens são inúmeras e bem visíveis, aliás o numero de animais a leilão por semana e por ano reflectem isso
mesmo. Os agricultores preferem trazer os animais ao leilão porque há transparência no negócio. A venda é sempre feita pelo melhor preço, os compradores muitas vezes entusiasmam-se e
atribuem lances sucessivamente superiores. Portanto, acho que as
vantagens são muitas, maior transparência, melhores negócios e
total garantia de pagamento.
Dizem que um mercado só terá sucesso se tiver uma disciplina
muito forte, ou seja, se cumprir horários, tiver compradores com
dinheiro, lotes homogéneos etc.… isto é imprescindível para
atrair bons compradores?
Estou completamente de acordo, aliás é quase uma “batalha”
semanal disciplinar os intervenientes (compradores e vendedores)
no leilão. Temos regras apertadas, até porque somos obrigados
pela DGV a cumprir determinados requisitos sanitários, nomeadamente na identificação dos animais que devem obrigatoriamente apresentar um brinco em cada orelha. É fundamental
conseguirmos disciplinar as pessoas, vendedores e compradores,
para que as coisas possam funcionar melhor, mais rapidamente e
com beneficio para todos.
Que serviços presta o leilão para fidelizar os clientes?
O mais importante, actualmente, é a nossa garantia de pagamento. O seguro de animais, por agora ainda não disponível, está
previsto no projecto do regulamento.
»
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ENTREVISTA
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Quantos empregados tem o leilão?
Cerca de 10 pessoas.
Como divulgam os resultados do leilão?
Depois do leilão, a mesma listagem publicada na véspera do
leilão é novamente publicada no nosso website, já preenchida e
terminada com os dados da rematação. Ou seja, à terça-feira cerca
das 17 horas toda a informação está já disponível no site.
Que tipo de animal pode vir para o mercado?
Que requisitos têm de cumprir relativamente ao transporte e
bem-estar animal?
Relativamente ao transporte, os veículos têm de estar registados
pela DGV e aptos para transportar animais em curto ou longo percurso. Têm também de estar lavados, desinfectados ou desinsectizados. No que diz respeito aos animais, têm de ser provenientes
de explorações que cumpram as exigências sanitárias actuais e
possuir identificação individual adequada. Têm também de estar
em boas condições físicas pois de outra forma podemos impedir
a sua entrada no parque.
Todas estas situações são por nós rastreadas e relatadas em impressos próprios para futura apreciação. Existe um regulamento
sanitário aprovado pela DGV (Direcção Geral de Veterinária) que
cumprimos na integra e no qual nos apoiamos para as tomadas de
decisão. Caso seja necessário denunciar alguma situação de relevante gravidade, fá-lo-emos de imediato às autoridades competentes.
Que perspectivas tem dos leilões para os próximos anos?
Vejo que há espaço para todos os intervenientes, leilões, tradicional, “grandes superfícies”. Relativamente a estas, verificamos
que existem anos em que têm preços razoáveis e compram bastantes animais, e outros em que não compram e o seu preço não é
apelativo e reduzem as suas compras. Portanto eu acho que há espaço para todos, não há nenhuma tendência vincada, temos agricultores que vendem aqui e nas grandes superfícies. !
“O Mercado garante aos compradores que
os animais cumprem todos os requisitos da
legislação em vigor.”
José Campos Oliveira, Presidente da LEICAR
Quando iniciaram a actividade?
O Mercado iniciou a sua actividade em Março de 2002. A ideia
surgiu do facto de, na região Norte, ao contrário do que acontecia
no Sul do país, não existir um espaço no qual fosse possível comercializar animais duma forma legal. O que existia na altura eram
as feiras de gado tradicionais, ao ar livre, e que funcionavam ilegalmente.
Qual é o raio de acção/influência deste mercado para compradores e vendedores? Os nossos vizinhos espanhóis marcam presença no mercado?
Actualmente, podemos considerar que o Mercado de Gado da
Leicar tem um raio de acção e influência que abrange todo o país,
uma vez que recebemos animais não só do Entre Douro e Minho,
mas igualmente de Trás-os-Montes, Beira Litoral, Beira Interior,
Alentejo, Ribatejo etc. Inicialmente, funcionava apenas com compradores nacionais, mas dado o grande crescimento, a partir do
4º/5º ano de funcionamento, matadouros e compradores espanhóis
começaram a vir comprar animais,. Hoje, no Mercado de Gado da
Leicar estão presentes todas as semanas, em média, 8 matadouros
espanhóis, o que representa mais de 70% dos animais comercializados no mercado. A entrada de compradores espanhóis significou
uma subida substancial do preço pago à produção.
Qual o objectivo deste mercado e que vantagens tem para o
produtor?
A grande vantagem do Mercado para o produtor foi contribuir
para o escoamento de animais de refugo e vitelos das explorações
leiteiras. Penso que ainda todos se lembram bem de que, antes da
abertura do Mercado de Gado da Leicar, os produtores quase que
tinham de “pedir por favor” que lhes levassem os animais, recebendo um valor insignificante. Hoje, por mérito do mercado, a realidade é completamente diferente.
Qual a frequência com que se realiza o Mercado e quais as regras para um produtor poder marcar presença no mesmo?
O Mercado realiza-se todas as semanas do ano, às segundas e
terças-feiras. Qualquer produtor pode frequentá-lo ou utilizá-lo
para vender os seus animais, pagando apenas as taxas que estão
afixadas por cada animal.
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ENTREVISTA
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Que tipos de animais comercializam e qual o volume médio de animais por mercado?
Semanalmente, são comercializados, em média, 900
animais, sendo que 70% são animais adultos e 30%
são vitelos. Praticamente todos os animais presentes
no mercado são vendidos.
Quem pode comprar animais no mercado?
Qualquer negociante pode fazê-lo.
Como fazem a gestão dos animais a vender, por
forma a garantir aos compradores que vão encontrar
o que precisam?
O nosso mercado tem um número de animais muito
elevado e isso permite uma grande diversificação de
carcaças, o que possibilita que cada comprador possa
escolher o que quer comprar.
Que serviços presta o mercado para fidelizar os
clientes?
A garantia que este mercado dá aos seus clientes é a
de que tudo fará para ir de encontro aos interesses de
quem vende e de quem compra. Por outro lado, garante
que quem aqui compra tem a certeza de levar animais
que cumprem todos os requisitos da legislação em
vigor.
Quantos empregados tem o mercado?
Sete pessoas a tempo inteiro e quatro a tempo parcial.
Qual é o prazo médio de pagamento ao produtor?
Como se compara com o leilão?
O pagamento é efectuado na hora, no acto da compra, seja no mercado, seja na exploração quando é o
negociante a comprar ao produtor.
Quais são as perspectivas para os próximos anos?
Não são muito animadoras, uma vez que a crise,
quer no sector do leite, quer no sector da carne, se tem
vindo a acentuar nos últimos 2 anos; só no leite, fecharam mais de 1000 explorações…
Quais as vantagens do mercado sobre o leilão?
No meu ponto de vista, não existem vantagens ou
desvantagens em qualquer um dos modelos, apenas diferenças. O que acontece no Sul do país é que existe a
tradição da venda de animais por leilão, ao passo que
no Norte os animais são vendidos pelo sistema de
venda directa. Por isso, para que este mercado tenha
atingido o sucesso que atingiu, foi necessário implementarmos um sistema de funcionamento que fosse ao
encontro da tradição existente na região.
Que tipo de animais pode vir para o mercado? Que
tipo de requisitos têm de cumprir relativamente ao
transporte e bem-estar animal?
Relativamente aos aspectos relacionados com a sanidade, o Mercado tem estatuto “Oficialmente Indemne”, portanto todos os animais que aqui entram
têm de ser provenientes de explorações “Oficialmente
Indemnes” com provas sanitárias realizadas num período não superior a 12 meses à data da entrada. Têm
igualmente de estar de acordo, como acontece neste
momento, com o Edital Nº28, relativo à “Língua
Azul”.
Quanto ao transporte e bem-estar animal, para entrar no mercado, os animais têm de cumprir todos os
pontos do Capítulo 1, Anexo 1, Regulamento (CE)
1/2005, do Conselho de 22 de Dezembro de 2004, relativo à aptidão dos animais para transporte.
Todos os transportadores têm de apresentar a aprovação do veículo e do transportador. !
Dizem que um mercado só tem sucesso se tiver uma
disciplina muito forte, ou seja, se cumprir horários,
tiver compradores com dinheiro, lotes homogéneos
etc.… isto é imprescindível para atrair bons compradores?
Para um Mercado funcionar bem tem, em primeiro
lugar, de implementar regras de funcionamento rigorosas, que defendam o interesse tanto de quem vem
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vender e de quem vem comprar. Em segundo lugar,
tem de existir um controlo muito rigoroso, por parte
dos nossos técnicos responsáveis, relativamente à sanidade, ao bem-estar animal e à aptidão para o transporte.
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Forragens
na engorda de novilhos
Luís Veiga, Engº Zootécnico, REAGRO SA
[email protected]
As engordas tradicionais assumem um sistema clássico
de palha à discrição e farinha. Segundo diferentes
critérios, regra geral vêem-se alimentos concentrados
mais proteicos e mais energéticos nas fases iniciais
para nas fases mais adiantadas diminuir a
concentração.
A palha é muito utilizada servindo quase um propósito de serviços mínimos para o equilíbrio do ecossistema do rúmen. A verdade é que existem alternativas e, mesmo em Portugal, algumas
engordas apostam em forragens tais como silagens, feno-silagens
e fenos para, em determinados momentos do ciclo, contribuírem
para o aporte nutricional total diário. Neste artigo, abordaremos o
aspecto da qualidade, quantidade, maneio alimentar e custos relacionados com a forragem em engordas de bovinos.
Uma célula vegetal tem essencialmente no seu interior proteínas, açúcares simples, lípidos, amidos e pectinas. A parede celular é composta por hidratos de carbono chamados parietais; são
estes: celulose na parte mais exterior, lenhina e hemicelulose.
Quanto mais evolui no seu estado vegetativo, maior é a percentagem de parede e menos conteúdo celular. Existem métodos analíticos que permitem aferir a qualidade de uma forragem, esses
valores são indispensáveis para avaliar a qualidade da mesma;
embora o teor de proteína seja um critério importante, o que verdadeiramente define a qualidade de uma forragem conservada é o
seu teor em parede celular sendo que das três fracções, celulose,
lenhina e hemicelulose (imagem 1) a hemicelulose é a mais digestível seguida da celulose e finalmente da lenhina que é quase
indigerível. No rúmen ocorrem as fermentações bacterianas que
degradam estes hidratos de carbono parietais e os produtos finais
dessa digestão são ácidos gordos voláteis que servem de combustível para os gastos de energia. As análises químicas mais importantes são: F.N.D (fibra neutro detergente) que nos dá a
percentagem da composição total de um feno em celulose, lenhina
e hemicelulose; F.A.D (fibra ácido detergente) que é o resultado
da soma da lenhina com a celulose. Para saber a percentagem de
hemicelulose, que é o hidrato de carbono parietal mais digestível,
devemos subtrair o valor F.A.D pelo resultado de F.N.D. Estas
análises são relativamente acessíveis e podem ajudar a tomar decisões importantes.
Em Portugal é muito difícil encontrar um bom feno (tabela 1),
seja porque as condições climatéricas são por vezes instáveis na
época de corte ou muitas vezes porque a atenção dada à cultura não
é a melhor. O facto é que é muito raro encontrar fenos de qualidade
superior. O mesmo já não é verdade para as raras ocasiões em que
encontramos feno-silagens. Estas são regra geral de boa qualidade
correspondendo ao perfil indicado na Tabela 1. O facto de se optar
por cortar num estado mais precoce da planta faz com que o valor
alimentar seja superior; para além disto, a matéria útil por hectare
é superior pois os desperdícios relacionados com o corte, secagem,
reviramento e enfardamento são substancialmente inferiores. A silagem de milho também é uma possibilidade mas não é fácil encontrar sistemas bem sucedidos que contenham apenas silagem de
milho e concentrado, para além de ser uma matéria-prima que não
Tabela 1
Imagem 1
Célula vegetal com corte da parede celular
Celulose
Lenhina
Hemicelulose
INTERIOR DA CÉLULA
PROTEÍNAS
AÇÚCARES
LÍPIDOS
AMIDOS
PECTINAS
Feno
Feno
Feno
Feno
Palha gramíneas gramíneas gramíneas silagem de
pobre
médio
bom
gramíneas
Energia limpa
UFC*
0.31
0.41
0.65
0.73
Proteína bruta
PB*
3.5
8.5
9
10.5
11
Fibra bruta
FB*
42
33
30
28.5
25
Fibra neutro detergente
FND*
79
66
62
58
45
Fibra ácido detergente
FAD*
51
40
35.6
32
27
MS
88
86
86
86
40%
Matéria seca
* Valores sobre o seco
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
é muito abundante no mercado, tratando-se de uma cultura mais
técnica que uma pastagem.
O Gráfico 1 permite-nos compreender que os animais apresentam
uma eficiência alimentar que é máxima ainda durante a fase inicial
do seu desenvolvimento. A fase mais indicada para utilizar quantidades superiores e tipos diferentes de forragem é na fase inicial do
crescimento (Anderson, 1991). Vários factores afectam a interacção
entre tipos de forragem e desempenhos de crescimento. O conforto
dos animais e o acesso ao alimento é no entanto a primeira limitação. Deve ser sempre adaptada a alimentação segundo a raça, idade
e objectivos de produção específicos. No caso das forragens fermentadas (silagens e feno-silagens), como forma de garantir um
aporte alimentar equilibrado de acordo com o arraçoamento predefinido, a mistura completa (em unifeed p.ex.) é a maneira mais
aconselhável de fornecer a mistura. Uma mistura que utilize fenosilagem, silagem ou feno em mistura completa com o concentrado
deve, para maximizar as performances, ter uma dimensão compreendida entre 4 e 6 cm (Anderson, 1991).
Propomos o exercício teórico de optimizar 2 rações para novilhos em engorda com as características descritas na Tabela 2. Disponibilizando apenas palha como forragem para um cenário e várias
forragens num segundo cenário (Tabela 3), embora se trate de um
exercício teórico no seu todo é possível verificar que um programa
alimentar pode tornar-se mais económico se existir uma oferta de
forragens diversa. Existem dois aspectos apenas que gostaria de sublinhar: o primeiro é que a disponibilização de um feno de alguma
qualidade fez a palha, com os preços considerados, perder o interesse no arraçoamento; em segundo lugar, mesmo com alguma proteína a menos no segundo cenário os ganhos médios diários
limitantes não saem prejudicados. A proteína e energia aportada das
forragens acabou por favorecer os custos globais. !
Tabela 2
Gráfico 1
Indicação para engorda
Peso entrada
250
Kg
Peso vivo final
665
Kg
Peso Carcassa
400
Kg
Rendimento de Carcassa
60
%
Ganhos Médios Diários alvo
1300
gr
Duração engorda
319
dias
Preço entrada do animal
550
€
Preço do Kg de Carcassa
3,6
€
Condições
GMD (IC MS/kg ganho)
Limousine
GMD (kg/dia)
Raça
Efeito da idade sobre a evolução do ganho de
peso médio diário (GMD) e índice de consumo (IC)
em novilhos de raça frísia (Guilhermet et al. 1980)
Peso vivo (kg)
Arraçoamento Único
Ganho de peso vivo
Índice de consumo
Tabela 3
Simulação para 2 cenários de disponibilidade de matérias primas a preços constantes
MATÉRIAS PRIMAS
Palha
Silagem Azevém MS40 PB11
Silagem de Milho MS35 PB6.9 AMD29
Bagaço de Soja 44
Cevada
Sêmea de Trigo
Milho
Feno de Gramíneas pb7.65 ndf57
Núcleo Engordas *
€/Ton**
Disponível
para optimizar
Cenário 1
(kg/animal/dia)
Disponível
para optimizar
Cenário 2
(kg/animal/dia)
80
60
55
300
210
185
205
110
800
sim
não
não
sim
sim
sim
sim
não
sim
duração (dias)
GMD limite (gr)
custo/animal/dia (€)
custo/Kg carcassa (€)
2,7
—
—
1,58
1
0,8
3,6
—
0,38
319
1300
2,11
1,62
sim
sim
sim
sim
sim
sim
sim
sim
sim
duração (dias)
GMD limite (gr)
custo/animal/dia (€)
custo/Kg carcassa (€)
0
5,33
0
0,85
1
0,8
2,85
2,07
0,38
319
1300
2
1,54
custo alimentar total (€)
673
custo alimentar total (€)
638
MS ingerida (kg)
MS ingerida/100 Kg PV
UFC/Kg MS
PDIN
PDIE
PB (%)
Ca (gr)
P (gr)
8,96
1,8
0,91
116
116
16
7,81
3,8
MS ingerida (kg)
MS ingerida/100 Kg PV
UFC/Kg MS
PDIN
PDIE
PB (%)
Ca (gr)
P (gr)
8,96
1,8
0,91
102
100
15,45
8
3,7
*- núcleo composto por gordura by-pass, bicarbonato de
sódio, ureia, cálcio, fósforo e prémix mineral e vitaminico
**- preços teóricos de mercado
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PRODUÇÃO
A influência dos factores
não-nutricionais na produção de leite
A “Prova dos 9”
Pedro Torres, Engº Zootécnico, SAPROGAL, S.A.
[email protected]
Quando me convidaram a escrever um artigo técnico
para esta publicação, além de satisfeito pelo convite,
fiquei algo “desassossegado”.
“Desassossegado” porque, como “todos” os técnicos
de campo, não desenvolvo trabalho científico. Logo,
quando me é solicitado este tipo de participações, e
não sendo pedido apenas artigo de opinião, tenho
sempre de me socorrer de bibliografias, caso contrário
corro o risco de, e apesar de bem-intencionado, poder
transmitir ideias ou informações erradas a quem lê,
pois nem sempre aquilo que pensamos ser correcto na
nossa vida prática se revela uma verdade universal.
Dada a actual conjuntura de crise geral quis escolher um tema
que pudesse, não só conjugar os registos bibliográficos (científicos) com a prática do dia-a-dia, como também pudesse contribuir
para ajudar os produtores de leite (pelo menos alguns) a melhorarem efectivamente a rentabilidade económica das suas explorações.
Como profissional, desempenho funções de assistência técnica
nutricional a explorações de vacas de leite pela Saprogal Portugal,
SA, e no decorrer da minha actividade, quer eu quer os meus colegas, somos muitas vezes confrontados com a incapacidade de
demonstrar aos produtores (clientes ou não) a efectividade real de
algumas medidas, não alimentares, que aconselhamos. Por exemplo, todos achamos ser útil a realização do pedilúvio, mas não é
fácil quantificá-lo economicamente durante uma visita de acompanhamento. E, como resultado prático, temos muitas vezes uma
reacção de desconfiança da outra parte que muitas vezes acaba
por achar que estamos a desculpabilizar a alimentação ou, mais
especificamente, a “ração” que vendemos.
Sendo o principal mercado da Saprogal Portugal o mercado de
vacas de leite, somos uma empresa focada neste sector, e como tal,
os primeiros a reconhecer a importância de uma alimentação correcta e equilibrada como instrumento fundamental para o sucesso
de uma exploração de leite. Por essa razão, na Saprogal investimos nas pessoas, trabalhando com técnicos com formação científica e prática, e na rastreabilidade dos produtos, desde a
matéria-prima ao produto acabado.
22
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
No entanto, o sucesso de uma vacaria não depende única e exclusivamente da assertividade alimentar da mesma. E ainda são
inúmeras as falhas elementares que encontramos em muitas das
nossas explorações. Muitas vezes porque o produtor não consegue
estabelecer, ou até acreditar, que existe uma verdadeira relação
de benefício financeiro entre a realização de algumas tarefas e o
proveito económico gerado pelas mesmas (em termos práticos,
sabemos quantificar economicamente as perdas de uma mamite,
mas temos muita dificuldade em quantificar as diferenças produtivas/económicas entre o “fazer a cama” das vacas uma vez por semana ou uma vez de 15 em 15 dias).
Por esse motivo, escolhi dar a conhecer um trabalho realizado
em Espanha em 2006 e que se intitula: “Associações entre factores não relacionados com a dieta e a produção de leite”,o qual
vem demonstrar e provar a real importância que todos os procedimentos não relacionados com a dieta alimentar têm na produtividade das vacas.
Neste estudo o “principal” factor capaz de influenciar a produção de leite – a dieta alimentar - é completamente excluído e são
estatisticamente quantificados de que maneira “todos” os outros
factores são capazes de condicionar a produção de leite e a rentabilidade económica das explorações. É o único trabalho que conheço a fazer esta abordagem de forma tão ampla e tão prática e
com conclusões tão facilmente interpretáveis.
Ao apresentar este trabalho não pretendo de forma alguma tentar diminuir a importância da alimentação na produtividade das
explorações leiteiras, mas sim demonstrar “cientificamente” que,
todas as medidas realizadas em beneficio da “vaca” se traduzem
em benefício económico para o “dono da vaca”.
Posto isto, passo a descrever resumidamente o ensaio, bem
como algumas das principais conclusões que se tiraram após a
análise dos dados recolhidos:
“Associações entre factores não relacionados
com a dieta e a produção de leite”
Em 2006, no Nordeste de Espanha e durante 8 meses foi oferecida exactamente a mesma dieta de lactação a 47 explorações de
vacas de leite (aproximadamente 3.129 vacas) que partilhavam
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PRODUÇÃO
uma base genética semelhante (genética maioritariamente Canadiana). Existiam inicialmente mais explorações, mas que foram
excluídas do ensaio por fornecerem às vacas forragens ou outros
aditivos para além do TMR (Total Mixed Ration – Unifeed) definido.
O TMR (Tabela 1) era diariamente preparado na “Pirenaica Societat Cooperativa Catalana Limitada” e distribuído uma vez por
dia a cada associado.
A experiência foi efectuada e acompanhada por 9 pessoas que
recolheram uma enorme quantidade de dados sobre os proprietários (nº trabalhadores, horas de trabalho…), sobre os animais (performance reprodutiva, genética…), sobre as instalações (número
de cubículos, limpeza…) e sobre o maneio (frequência de alimentação, nº de ordenhas…). Foram ainda recolhidos dados referentes à qualidade química da água bem como se registaram as
produções de leite atingidas, assim como os seus parâmetros de
qualidade (Tabela 2).
Tabela 2
Resumo das observações efectuadas nas 47
explorações submetidas à mesma dieta de produção
Gestão
Nº de trabalhadores • Idade do(s) proprietário (s) • Horas de trabalho/ dia
• Dias de trabalho/ semana e trabalhador • Investimentos recentes (tractor
novo, sala ordenha…) / Planos futuros (vontade de continuar)
Assistência a vitelos
Número de animais • Alimentação de colostro (nº doses, volume…)
• Tipo e quantidade de leite (gordo, substituição, taxa de diluição…)
• Idade de desmame • Método de desmame (abrupto ou progressivo)
• Disponibilidade de forragem (quando foi oferecida a 1ª vez) • Disponibilidade
de água (quando foi oferecida a 1ª vez) • Taxa de mortalidade • Método de
alojamento (individual vs. grupo)
Assistência a novilhas
Número de animais • Idade na 1ª reprodução • Idade na 1ª parição
• Taxa de mortalidade • Taxa de fertilidade
Assistência a vacas secas
Número de animais • Duração do período seco • Animais por grupo
• Tratamento de mamites (É feito? Como?) • Gestão meticulosa (É efectuada?
Quando?) • Corte dos cascos (com que frequência e quando?)
Assistência a vacas em lactação
Número de animais • Sistema de alojamento • Nº de alojamentos por vaca
• Manutenção dos alojamentos • (frequência de limpeza, aspecto geral)
• Número de bebedouros por vaca • Espaço na manjedoura por animal
• Manutenção do bebedouro • (frequência de lavagem, aspecto geral) • Gestão
das manjedouras (procedimento de limpeza, recusas de alimento, ‘feed pushups’, etc.) • Nº de ordenhas diárias • Tempo de ordenha h/dia • Configurações
da ordenha (nível de vácuo, tipo de sala de ordenha) • Rotina de ordenha
(luvas, toalhas de papel, imersão…) • Taxa de refugo • Razões de refugo
• Taxa de fertilidade • Dias de lactação • Dias de lactação na 1ª reprodução
• Tratamento dos cascos (frequência e quando)
As explorações encontravam-se todas localizadas num raio de
50 Km, a uma altitude média de 800 m acima do nível do mar,
sendo que as temperaturas médias rondavam os 4,6 ºC, 10,9 ºC,
21,4º C e 11,4ºC, respectivamente no Inverno, Primavera, Verão
Tabela 1
Composição em Ingredientes e Nutrientes
do TMR fornecido às 47 explorações
Item
Ingrediente, % de MS
Silagem de milho
Silagem de triticale
Farinha de milho
Farinha de soja
Feno de luzerna
Farinha de cevada
Farinha de glúten de milho
Polpa de beterraba
Sêmea de trigo
Vagem de sementes de soja
Molasso
Farinha de centeio
Feno de festuca-dos-prados
Bicarbonato de sódio
Óleo de palma
Sementes de soja extrudidas
Cloreto de sódio
Prémix minerais-vitaminas
Óxido de magnésio
Ureia
Carbonato de cálcio
Nutriente
Proteína bruta, % de MS
Fibra detergente neutra, % de MS
Hidratos de carbono não-fibrosos, % de MS
Extracto de éter, % de MS
Energia líquida de lactação, Mcal/kg de MS
Composição
26.7
12.9
11.8
10.2
7.2
5.6
5.2
4.5
3.2
3.1
2.5
2.4
2.3
0.8
0.55
0.42
0.33
0.20
0.13
0.13
0.08
16.1
35.8
40.4
3.3
1.62
e Outono. A precipitação anual média rondava os 500 mm. O número médio de vacas por exploração era de 68 (mínimo de 23
vacas e máximo de 232 vacas). A idade média dos proprietários
era de 43,6 anos, trabalhando uma média diária de 8,5 horas diárias durante 6,5 dias da semana. Na altura do ensaio 93,6% dos inquiridos respondeu que pretendia continuar com o negócio no
futuro e 44,7% tinha recentemente realizado investimentos na exploração.
Após a introdução ao ensaio efectuado, passo a expor alguns
dos resultados encontrados. Chamo a atenção para o facto de que
todos os resultados apresentados têm por base a análise estatística dos dados. Dizem respeito aos valores encontrados neste ensaio, pelo que por vezes poderão contrariar outros estudos. São o
resultado das condições encontradas neste estudo e como tal o seu
significado poderá ser algumas vezes relativizado.
RESULTADOS
Apesar da alimentação das vacas em lactação destas 47 explorações ser exactamente igual, a média de produções de leite oscilou entre os 20,6 e os 33,8 Kg/dia, o que perfaz um diferencial de
13,2 Kg de leite entre explorações (1 Kg leite = 0,97 Litros leite)
Que diferenças permitiram tamanha disparidade?
»
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PRODUÇÃO
»
DADOS E SUA INTERPRETAÇÃO
87,2 % dos produtores alojavam as vitelas
individualmente. As vitelas recebiam uma
média de 2,2 doses de colostro com cerca de
2,2 litros cada
- Não foi encontrada qualquer relação entre a quantidade
de colostro administrado e os índices de mortalidade das
vitelas. “Provavelmente o aspecto mais importante é a
combinação entre o intervalo de tempo que medeia entre
o nascimento e a administração do colostro e a quantidade
de colostro administrado” Morin et al., 1997, embora este
aspecto não tenha sido avaliado neste estudo.
- O índice de mortalidade das vitelas apresentou uma tendência
para ser inferior nas explorações que procediam a desmames suaves (1 a 2 semanas) comparando com aquelas em que o faziam
abruptamente (Desmame médio: 80,5 dias).
A duração média do período seco foi de 59,3
dias, sendo que 57,5% dos produtores usavam
uma dieta de pré-parto durante 11,2 dias
- Não foi encontrada neste estudo qualquer relação entre o uso de
dieta de pré-parto e a produção de leite. Pode-se presumir que existem vários sistemas de alimentação de pré-parto funcionais.
- No entanto, as explorações que utilizavam dietas pré-parto
apresentaram taxas de refugo inferiores.
51% das explorações aparavam os cascos
das vacas no período seco
- Não foi encontrada qualquer relação entre esta medida e a produção de leite.
- No entanto foi verificada uma tendência de maior incidência de
problemas de patas nas vacarias que não realizavam esta medida no
período seco quando em comparação com aquelas que o faziam.
Outros estudos (Espejo e Endres, 2007) já tinham demonstrado
que a prevalência de problemas de patas é maior nas vacarias em
que os cascos são aparados em resposta a problemas, quando com-
24
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
paradas com outras vacarias em que os cascos são aparados por
manutenção.
80,9% das explorações faziam pedilúvio
pós-ordenha
- Apesar de estatisticamente pouco significativa, constatou-se
uma maior taxa de refugo por problemas de patas nas explorações
onde não se realizava pedilúvio.
Nas vacas em lactação, apesar da dieta ser
a mesma, a ingestão variou entre 16,2 a 24,8 kg
de MS
- As razões para esta variação são atribuídas ao maneio (factor
“homem”) e às condições de estabulação das vacas.
- Tal como esperado a quantidade de alimento distribuído apresentou uma correlação positiva com a produção de leite.
- Dos parâmetros analisados, apenas o rácio entre o nº de cubículos por animal em lactação se correlacionou positivamente com
a quantidade de alimento consumida vaca/dia.
59,6% das explorações forneciam alimento
suficiente às vacas para garantir “sobras”
- Estas explorações apresentaram tendência em produzir mais
leite (29,1Kg leite/dia) do que aquelas em que não existíam “sobras” (27,5Kg leite/dia) = + 1,6 Kg leite/dia.
- Surpreendentemente não foi encontrada qualquer correlação
entre o nº de “cornadis” e espaço à manjedoura com a performance
animal, incidência de problemas de patas ou indice de refugo. Este
facto poderá ser justificado pelo elevado espaço médio à manjedoura/vaca - 69 cm/animal -, cuja medida é considerada suficiente
para não ser limitadora. Grant e Albrigth (2001) concluiram que a
dimensão minima por vaca à manjedoura, para ser considerada crítica, são 20 cm/cabeça.
Apenas 10,6% das explorações não empurravam
a comida na manjedoura ao longo do dia
- O procedimento de empurrar a comida na manjedoura demonstrou ter um impacto positivo na produção de leite (28,9 Kg
leite/dia Vs 25,0 Kg leite/dia = + 3,9 kg leite/dia).
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PRODUÇÃO
- Não foi encontrada relação estatística entre o nº de vezes que
se empurrava a comida e a produção de leite. Alguns produtores
empurravam a comida até 4X/dia enquanto outros apenas o faziam 1X. Parece que o mais importante é que as vacas tenham
sempre alimento ao seu alcance (Albright, 1993).
85,1% das explorações possuíam as vacas em
cubículos livres (1,1± 0,24 cubículos) - apenas
29% destas explorações possuíam menos de 1
cubículo/vaca
- Foi encontrada uma relação positiva entre o nº de cubículos
por vaca e a produção de leite.
- Foi verificado que, em função do estado de manutenção dos
cubículos, a produção de leite oscilava até 38%. A produção de
leite é tanto maior quanto melhor o grau de manutenção dos cubículos.
- Foi identificada uma relação negativa entre o nº de cubículos/vaca e os índices de refugo.
Grant e Albright (2001) reportam que a sobrelotação aparenta
reduzir a fertilidade, altera comportamentos de repouso e reduz a
actividade ruminal. A sobrelotação tem sido associada ao incremento de problemas de patas (Wierenga e Hopster, 1990) e a redução de tempos de mastigação (Huzzey et al., 2006).
Este ensaio demonstra que a sobrelotação tem um impacto negativo na produção de leite mas a sublotação não trás aumentos de
produtividade. As diferenças de produtividade, quando compararam apenas explorações com um ou mais cubículos/vaca, não
apresentaram variações estatisticamente significativas.
Apenas 19,1% das explorações possuíam
grupos isolados para vacas em pós-parto
(apesar disso era-lhes fornecida a mesma
alimentação)
- Apesar de estatisticamente ser pouco significativo, verificouse uma diferença positiva de 1,6 Kg leite/dia para os animais em
pós-parto confinados em parques próprios.
55% dos produtores usavam luvas
durante a ordenha
- Apesar de contraditório com outros estudos, foi verificada uma
tendência para menor CCS em produtores que usavam luvas
(202,282 cells/ml) face aos que não usavam (266,306 cells/ml).
- Como esperado foi detectada uma correlação negativa entre as
CCS e a produção de leite.
68,1% dos produtores utilizavam toalhas
de papel para limpar/secar os tetos antes de
colocarem as tetinas
- Produtores que usavam toalhas de papel apresentaram tendência para ter menos CCS (202,485 cells/ml) e maior produção
de leite (29,1 Kg/dia) face aos que usavam toalhas de pano
(295,392 cells/ml e 27,2 Kg leite/dia).
CONCLUSÕES
Perante o resultado encontrado - diferencial de 13,2 Kg de leite
entre explorações - e após a observação dos dados, podemos dar
como provado que nem só da alimentação se fazem os resultados
produtivos/económicos de uma exploração leiteira. Mas, acima
de tudo importa reter a mensagem de que existe um benefício económico real na aplicação das boas práticas de trabalho.
Contudo, importa realçar que qualquer um dos factores analisados, só por si, terá um modesto contributo para o resultado final.
É legitimo concluir que é da conjugação, destas e de outras medidas (todos elas dependentes da decisão do produtor), que se cria
o efeito sinérgico que origina as condições óptimas para a produção de leite. Certamente que os produtores com produções de leite
mais elevadas serão aqueles que têm as melhores “camas”, mas
também serão os que fazem profilaxia aos cascos e provavelmente
também serão os que empurram o TMR e provavelmente também
serão os com maiores cuidados a nível de fertilidade…
Tudo o que proporcione maior grau de conforto e saúde às vacas
é naturalmente convertido em leite mais barato. Mais uma vez insisto: tudo o que, na medida do razoável, for feito em benefício do
bem-estar da “vaca” traduz-se em benefício económico para o
“dono da vaca”.
Espero, com a ajuda deste estudo, ter relembrado aos mais esquecidos e demonstrado aos mais incrédulos, que realmente existem ainda (para muitos casos) muitas melhorias que se podem
realizar nas explorações com baixos investimentos e que a médio
prazo se traduziriam com toda a certeza em melhores resultados
económicos. A consciencialização do produtor para o seu papel
nos resultados da sua exploração é uma necessidade, uma vez que
só assim as explorações/empresas conseguem evoluir e, nesta altura tão difícil, fazer face à crise global. !
Saúde… e Leite no Úbere…
Referências:
A. Bach, N. Valls, A. Solans, and T. Torrent. 2008. Associations Between
Nondietary Factors and Dairy Herd Performance. J. Dairy Sci. 91:3259-3267.
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
BIOTINA, a vitamina da
persistência e da longevidade
Carla Aguiar (Directora Técnica da Invivonsa Portugal)
e Equipa Técnica da Invivo NSA
A componente “firme-service” apresenta-se como um
dos pilares fundamentais da Invivonsa Portugal, tendo
como objectivo principal fornecer aos clientes apoio
abrangente ao nível da sua actividade de forma a tirar
dai o melhor resultado técnico e económico. Neste contexto a Invivonsa Portugal está preocupada também na
análise e avaliação criteriosa das propostas dos fornecedores, testando e elegendo a utilização de soluções que
forneçam resultados efectivos e mais-valias ao produtor
quer no aumento da produção quer na rentabilidade.
Neste caso foi avaliada a eficácia da Biotina a vários
níveis, conjugando a pesquisa bibliográfica com testes
ao nível do terreno levados a cabo pela INZO no âmbito
do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Invivo NSA em conjugação com a AGRIAL (Cooperativa Agropecuária parceira da Inzo).
A Biotina, ou vitamina H é, como muitas vitaminas,
um intermediário indispensável no funcionamento das
enzimas. A sua acção é particularmente predominante
nas numerosas reacções do metabolismo energético, ao
nível do fígado e do rúmen.
De facto, a Biotina intervém como cofactor na neoglucogénese hepática e na fermentação dos glícidos no
rúmen. Os seus efeitos positivos são visíveis na produ-
NO FÍGADO
Aumenta a
neoglucogénese
e a utilização do
propionato
BIOTINA
ção leiteira graças a uma melhor persistência e na reprodução e qualidade dos cascos, o que faz da Biotina,
a vitamina da persistência leiteira e da longevidade.
O FÍGADO, CENTRAL ENERGÉTICA
DO RUMINANTE
O fígado é capaz de utilizar todos os nutrientes que
chegam pelo sangue (aminoácidos, ácidos gordos) para
os transformar em glucose, através de uma série de
reacções bioquímicas chamadas neoglucogénese.
A neoglucogénese é muito importante para a produção leiteira visto que duas moléculas de glucose dão origem a uma molécula de lactose. A quantidade de lactose
sintetizada determina o volume de leite que o animal
pode produzir.
BIOTINA E QUALIDADE DOS CASCOS
Historicamente, a Biotina é conhecida pelos seus
efeitos benéficos sobre a qualidade dos cascos, em particular nos cavalos e bovinos.
Inúmeras referências demonstram a sua eficácia na
prevenção de lesões da linha branca, da úlcera do casco
e de dermatites interdigitais que estão na origem de elevadas taxas de refugo.
»
NO RÚMEN:
Aumenta formação
de propionato a
partir dos glucidos
MODO DE ACÇÃO DA BIOTINA
A Biotina favorece a produção de C3
(propionato) ao nível do rúmen, e reforça,
sobretudo, a neoglucogénese ao nível do
fígado. Estas duas principais acções
permitem um aumento da produção de
glucose pelo fígado e melhoram a
produção leiteira.
A Biotina é assim a vitamina da
persistência leiteira.
NO ÚBERE:
Aumenta a
síntese da
lactose
26
BIOTINA
AUMENTO DA
PRODUÇÃO DE LEITE
NOS CASCOS:
Melhora a
qualidade da
córnea e dos
cascos
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
»
Tabela 1
Efeito da suplementação com biotina na melhoria dos problemas de patas
Distl and Schmid (1994)
Úlceras
Erosão
do talão
V
V
Midla and Hoblet (1998)
Lesões linha
branca
Dermatite
digital
Hemorragias
do casco
V
V
V
Campbell et al. (2000)
Voigt et al. (2000)
Fissuras
verticais
V
V
Fitzgerald et al. (2001)
V
Redução significativa das claudicações e tratamentos antibióticos
Hedges et al. (2001)
V
Bergsten et al. (2001)
Twardon et al. 2009
V
Melhoria significativa ao nível da incidência de problemas de cascos
As claudicações possuem incidência económica directa no resultado de uma exploração leiteira
Segundo um estudo realizado pelo INRA/ENV, o
peso económico deste tipo de problemas, representa
6% dos custos veterinários de uma exploração leiteira.
Para além disso, os problemas das patas estão muitas vezes na origem de outros distúrbios: os animais
tendem a ter dificuldades para se movimentarem, diminuem a ingestão, ficando assim mais propensos ao
aparecimento de distúrbios metabólicos como a cetose.
Com problemas de cascos, as vacas têm mais dificuldade em exprimirem os sinais de cio, afectando negativamente as performances reprodutivas.
Gráfico 1 (Fonte:INRA/ENV em 205 explorações leiteiras em França)
Impacto Económico das diferentes doenças
das vacas leiteiras.
Doenças metabólicas
digestivas
20%
Doenças
associadas parto
15%
Problemas
cascos
6%
1%
Distúrbios da
reprodução
Parasitismo
20%
Mamites/ células
40%
BIOTINA E PRODUÇÃO DE LEITE
Diversos ensaios realizados quer em estações experimentais quer em explorações leiteiras demonstram o
efeito positivo da suplementação com biotina na produção de leite.
O efeito do aporte da Biotina é ainda mais marcado
em animais de alta produção onde o fígado tem um
papel predominante, graças à neoglucogénese, na produção de glucose. Os AGV (Ácidos Gordos Voláteis)
produzidos pelo rúmen não são suficientes para cobrir
as necessidades em energia da vaca. É também o caso
no inicio da lactação quando os AGV produzidos são
limitados pelo volume reduzido do rúmen devido à gestação.
Explorações Leiteiras
Durante o período de inverno a INZO em parceria
com a AGRIAL levou a cabo diversos ensaios com biotina em explorações equipadas com robô de ordenha.
Este equipamento permitiu obter um grande número de
dados de produção, comparando períodos sem biotina,
períodos com biotina e novamente sem biotina.
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Tabela 2 (Fonte: INZO/AGRIAL)
Efeito da suplementação com biotina
na produção de leite
Biotina
(mg/VL/dia)
Nº Vacas
no ensaio
Produção leite
início
ensaio (l)
Efeito
Biotina (l)
20
75
28
+1,5
40
70
28
+1
20
28
30
+1
20
43
25
+2
20
45
25
+3
20
43
27
+3
40
47
25
+2
20
37
31
+0,5
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Gráfico 2 (Fonte: INZO/AGRIAL)
Efeito da suplementação com biotina na produção de leite
Persistência da lactação sem Biotina
litros/dia
Persistência da lactação com Biotina
Sem Biotina
Com Biotina
Sem Biotina
Tabela 3
BIOTINA E REPRODUÇÃO
Estações experimentais
O défice energético é um dos principais factores limitantes da fertilidade. A biotina intervém ao nível do
metabolismo energético influenciando favoravelmente
as performances reprodutivas.
Efeito da suplementação com biotina
na produção de leite
Bonomi et al. (1996)
Midla et al. (1998)
Bergsten et al. (2001)
Fitzgerald et al. 2000)
Hedges et al. (2001)
Zimerly et al. (2001)
Margerison et al. (2002)
Majee et al. (2003)
Enjalbert et al. (2007)*
Biotina
Leite
Ganho leite
(mg/VL/dia) (kg/VL/dia) (kg/VL/dia)
0
33,6
10
35,1
+1,5
0
38,7
20
39,7
+1,0
0
32,7
20
34,6
+1,9
0
18,0
20
19,0
+1,0
0
23,1
20
23,4
+0,3
0
36,9
10
37,8
+0,9
20
39,7
+ 2,8
0
37,2
20
39,2
+2,0
0
37,2
20
38,9
+1,7
0
38,3
20
42,3
+4,0
Gráfico 3
Efeito da suplementação com biotina nos
parâmetros reprodutivos
Controlo
Parto-1º Cio(d)
Biotina
Parto-1º ins.(d)
Parto-IF.(d)
n inseminações 10
*Em multíparas até às 6 semanas de lactação
CONCLUSÃO
Lean et Rabiee, 2011, fizeram a revisão e análise
comparativa de 11 estudos realizados ao longo dos últimos anos, tendo como objectivo avaliar a eficácia da
suplementação de biotina em vacas leiteiras, na produção de leite. Desta meta-análise concluíram que a
Biotina aumentou a produção de leite em 1,29
kg/vaca/dia (intervalo de confiança de 95% - 0,35 a
2,18 kg), tendo sido observada uma tendência positiva
nos teores de proteína e gordura. O efeito da suplementação com biotina na produção de leite foi elevado,
e os efeitos na proteína e gordura, apesar de não significantes, são consistentes com a direcção e magnitude
da resposta na produção de leite.
Analisando os diferentes estudos realizados quer em
estações experimentais quer em explorações leiteiras
conclui-se que um fornecimento de 20 mg de biotina
por vaca e por dia, traduz-se em:
Aumento de produção de 1,5 a 2 kg de leite, em
média, sem modificação na sua composição (TB e
TP)
Efeito positivo na saúde dos cascos
Sem efeito na ingestão de matéria seca
Melhoria das performances reprodutivas !
Bibliografia disponível sob pedido
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ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Breves comentários e previsões
sobre o mercado de matérias-primas
Paulo Costa e Sousa, Engº Agrónomo
Director Comercial da Louis Dreyfus Commodities - Portugal
Nota: Os preços e os cenários previstos para a evolução dos mercados de matériasprimas estão sujeitos a muitos imponderáveis e exprimem apenas opiniões profissionais
à luz do melhor conhecimento num determinado momento. Assim, a Revista Ruminantes
não garante a confirmação e/ou o cumprimento dos preços e previsões feitas sobre os
preços das matérias-primas sujeitas à analise do Observatório dos Mercados, não
constituindo assim ofertas de compra ou de venda.
CEREAIS
Pela primeira vez desde já há algum tempo pudemos
disfrutar de alguma calma no mercado de cereais, entendendo calma não no sentido de uma queda abrupta, mas
sim no de uma estabilização dos preços.
Efectivamente, os preços dos cereais no último mês
terão tido relativamente pouca variação contra o que estamos habituados, movendo-se num relativamente curto
intervalo abaixo de 200 euros.
Além disso, a sua variação tem estado intimamente ligada à flutuação cambial mais do que à sua variação em
dólares nas origens.
O caso do milho, que para Portugal é o cereal de referência uma vez que o seu consumo é cerca de 75% do
total de cereais na alimentação animal, tem tido ultimamente uma fraca volatilidade. A origem principal desta situação está na Ucrânia que segue o seu programa de
exportações com regularidade, e onde não tem havido
nenhum factor particularmente agressivo a esse programa
de modo a provocar alterações substanciais.
Algumas compras não habituais feitas por países asiáticos, que habitualmente se abastecem nos EUA, estabeleceram um suporte aos preços, mas a partir daí não se
observaram grandes alterações uma vez que a esperada
compra de milho por parte da China tarda em aparecer, se
é que irá acontecer.
Se tudo correr ao ritmo actual, iremos ver milho ucraniano no mercado, praticamente até enlaçar com a colheita de trigo no Verão.
Quanto ao trigo tem sofrido alguma solidificação do
preço uma vez que, quer da Ucrânia quer da Rússia, o
chamado trigo forrageiro parece ter desaparecido em virtude de a maior parte do trigo ter qualidade de moagem.
Assim sendo, pensamos que o concurso para importação de trigos de Terceiros países, que se avizinha, dificilmente terá o impacto nos preços que se desejava.
30
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
No caso dos cereais (nas proteínas por maioria de
razão) há que estar atento ao factor cambial, uma vez que
qualquer pressão sobre o euro condiciona negativamente
os preços. Outro sinal a observar será o relatório do departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA),
do próximo dia 12 de Janeiro, que nos informará quer
dos números finais da colheita 2010-2011, bem como dos
primeiros números avançados para a colheita seguinte.
À laia de conclusão, aparte alguma retenção feita pelos
agricultores nas origens, parecem não se vislumbrar muitos sinais particularmente altistas no horizonte dos próximos meses, admitindo que mais tarde ou mais cedo
esses cereais deverão começar a ser soltos para o mercado. A procura no mercado EU continua a ser fraca, devido a toda a situação macro-economica, pelo que a
oferta parece mais do que equilibrar essa procura, que
tarda em se lançar.
PROTEÍNAS
Nas proteínas também não parece haver factores que
façam subir os preços, avizinhando-se boas colheitas na
América do Sul e continuando fraca a procura quer de
bagaços quer de óleos.
No caso particular de Portugal, algum excesso de
oferta de bagaços de girassol e de colza contribuiram para
uma depressão nos preços das proteínas em geral.
Houve ainda uma mudança curiosa no mercado português, com alteração de fabrico de Biodiesel com base em
óleo de soja para óleo de girassol e a consequente diminuição drástica na extracção de óleo de soja por parte de
algumas extractoras portuguesas, o que leva a que a importação de bagaço de soja passe de conjuntural para estrutural, ou seja, que Portugal agora necessite em
absoluto de importar bagaço de soja, uma vez que a actual produção nacional não cobre as necessidades da indústria de alimentação animal. !
030-033-_Layout 1 12/27/11 12:42 PM Page 31
ECONOMIA
»
EVOLUÇÃO DO PREÇO MÉDIO DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS (em Euros/Tonelada)
€/ton
Novilhos de engorda
Meses »
€/ton
€/ton
»Fonte: IACA
Borregos de engorda
Meses »
Vacas leiteiras em produção
€/ton
Ovelhas leiteiras em produção
Meses »
Meses »
EVOLUÇÃO DO PREÇO MÉDIO DE MATÉRIAS-PRIMAS (em Euros/Tonelada)
»Fonte: IACA
€/ton
Bagaço de colza
€/ton
Bagaço de soja
€/ton
Cevada
€/ton
Milho
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
31
030-033-_Layout 1 12/27/11 12:42 PM Page 32
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Perspectiva do mercado leiteiro
Fonte: LTO, SIMA
A produção de leite na UE, Nova Zelândia e Continente americano, de Janeiro a Outubro de 2011,
aumentou entre 0,53% (Austrália) e +18,03% (Uruguai) comparado com o mesmo período de
2010. Na Europa de Leste e nos Países Bálticos não houve aumento devido a custos elevados.
Fonte: Clal.it
mento do preço do milho ajustou-se à projecção das tendências
- Argentina (+14,6), Brasil (+3,32%) e Uruguai (+18%):
bons preços do leite à saída da exploração encorajam a
produção de leite.
UM PANORAMA DA PRODUÇÃO
Oceania
- Nova Zelândia: forte aumento (12,1%) na primeira metade da campanha 2011/12 devido a condições meteorológicas favoráveis e bons preços do leite.
- Austrália: (+0,53%), a campanha iniciou a um ritmo
lento na primeira metade da campanha sobretudo devido
a problemas de crescimento do efectivo.
Europa
- EU-27: (+2,1%) alguns países estão a preparar-se para
2015, altura em que o sistema de quotas será abolido.
- Europa de Leste e Países Bálticos: não existe aumento
da produção por causa dos preços elevados.
- Itália: bom desempenho da produção graças à estabilidade do preço do leite ao nível da exploração.
América
- EUA: (+1.6%) aumento do número de vacas leiteiras e
em geral no rendimento médio das vacas, contudo o au-
PRODUÇÃO DE LEITE NA EUROPA
PRODUÇÃO MUNDIAL DE LEITE
Janeiro a Agosto 2011
UE-27 - Panorama trienal das entregas de leite
Países exportadores
10.500
Argentina
Austrália
Brasil
Chile
Nova Zelândia
Ucrânia
UE-27
EUA
Uruguai
10.000
Países importadores
13.000
12.500
11.500
(e) 6.729 *
5.342 *
(e) 10.471 *
1.141 *
7.562 **
7.698 **
94.127 **
66.941 **
1.085 *
+14,63%
+0,53%
+3,32%
+12,58%
+12,10%
-2,21%
+2,11%
+1,59%
+18,02%
Japão
4.409 **
-4,70%
Rússia
18.974 **
-2,20%
México
+0,01%
(e) estimado — * Milhões de litros — ** Milhares de toneladas
dez
nov
out
set
ago
jul
jun
mai
abr
mar
Entregas
fev
11.000
jan
Tons (‘000)
12.000
± % no mesmo período
do ano anterior
Volumes
2009
2010
2011
Fonte: Cial.it; Ismea.0,3
+4,9
+1,5 +1,6 +1,5
32
+2,7
+4,1 +3,6
+1,6
+3,4
+2,6 +2,7 +2,8
+3,0
+0,8 +0,6
+2,2
-0,3 -0,3
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
ago ‘11
jul ‘11
jun ‘11
mai ‘11
abr ‘11
mar ‘11
fev’ 11
jan’ 11
dez ‘10
nov ‘10
out ‘10
set ‘10
ago ‘10
jul ‘10
jun ‘10
mai ‘10
abr ‘10
mar ‘10
-2,1 -1,4
fev’ 10
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
jan’ 10
Evolução em %
UE-27: +2,38% (Janeiro a Agosto 2011 vs. Janeiro a Agosto 2010)
UE-27: Entregas de leite (± % no mesmo período do ano anterior)
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ECONOMIA
Preço médio do leite em Outubro 2011
(€2.04 mais do que no ano passado)
Dinamarca
Aria Foods
33,65
36,12
Finlândia
Hãmeenlinnan Osuusmeijeri
43,21
45,25
Bongrain CLE (Basse Normandie)
35,64
34,21
36
Lactalis (Pays de la Loire)
34,50
34,08
34
Sodiaal
34,63
34,00
Danone
34,24
34,40
Dairy Crest (Davidstow)
34,60
31,14
Irlanda
Itália
Holanda
First Milk
32,46
28,08
Glanbia
33,91
33,69
Kerry
33,82
33,06
Granarolo (North)
40,42
39,85
DOC Kaas
35,83
37,01
Friesland Campina
37,91
37,02
28,98
31,80
32,50
31,49
35,48
33,44
32
30
28
27,66
26
2009
2010
2011
24
22
jan
Inglaterra
euro/ 100 kg
França
38
dez
33,61
nov
33,08
35,16
out
35,01
Nordmilch
set
Humana Milchunion eG
ago
34,65
jul
34,58
34,87
jun
33,22
Alois Muller
mai
Milcobel
Bélgica
abr
Média
últimos 12
meses (3)
Companhia
O preço médio calculado do leite para as entregas, em Outubro de
2011, é de €35.48 por 100 kg de leite standard. Isto representa um aumento de 6,1% comparativamente com Setembro de 2010 (+ €2.04).
Embora o nível de preço corrente permaneça alto, o aumento de
preços estabilizou. Relativamente a Setembro, o preço médio do leite
em Outubro diminuiu em €0,68.
mar
Preço do leite
(€/100 Kg)
OUTUBRO 2011
Países
Alemanha
Fonte: LTO
fev
PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO (1)
PREÇO MÉDIO DO LEITE - OUTUBRO (2)
Nova Zelândia
Fonterra
E. U. A.
(1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes
empresas leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico.
(2) Média aritmética
(3) Inclui o pagamento suplementar mais recente
» Portugal
LEITE À PRODUÇÃO
Preços Médios Mensais em 2011
Leite Adquirido a Produtores Individuais
Meses
Eur / Kg
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
0.242
0.247
0.246
0.242
0.241
0.237
0.237
0.237
0.254
0.324
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
0.242
0.247
0.246
0.242
0.241
0.237
0.237
0.237
0.254
0.318
Teor médio de
matéria gorda (%)
Fonte: SIMA
Teor proteico (%)
CONTINENTE
4.01
3.96
3.90
3.75
3.70
3.75
3.74
3.79
3.85
3.81
3.16
3.16
3.17
3.14
3.07
3.03
3.02
3.05
3.09
3.22
4.01
3.96
3.90
3.75
3.70
3.75
3.74
3.79
3.85
3.91
3.16
3.16
3.17
3.14
3.07
3.03
3.02
3.05
3.09
3.24
AÇORES
De acordo com o último relatório LTO (Outubro 2011), a produção de leite na UE-27 no período de Janeiro a Agosto de 2011 foi
superior em 2,2% comparativamente com o mesmo período de
2010, atingindo aproximadamente 2 milhões de toneladas.
Os mercados das matérias primas lácteas estão ainda à procura de
uma direcção. Presentemente, existe muita incerteza relativamente aos
níveis dos preços correntes e à direcção futura dos preços. O mercado
é cauteloso no que se refere ao impacto a longo termo que um abrandamento na actividade económica global poderá ter.
O crescimento da produção de leite na Oceânia, bem como na Europa e EUA poderia portanto ser um determinante preponderante nos
preços do leite para o próximo ano. Devido ao enfraquecimento da
procura doméstica na Europa e nos EUA, haverá maior disponibilidade de leite para exportação. E se a procura mundial abrandar como
resultado dum crescimento económico lento no próximo ano, este aumento adicional poderia facilmente pressionar em baixa os preços globais das matérias primas lácteas. De facto, o impacto seria bastante
significativo num mercado lácteo pouco activo.
Os mercados são geralmente condicionados uma vez que os compradores esperam para ver se os preços descem mais, esperando-se que
a situação permaneça sem alterações até ao Natal. Com o aumento sazonal na oferta de leite europeu no Ano Novo, uma recuperação da
procura global será necessária, pelo menos na mesma medida do que
aconteceu no primeiro trimestre de 2011, para evitar uma acumulação
de stocks e o aumento da pressão de baixa nos mercados.
A procura do mercado internacional, principalmente da China e da
Rússia caiu na segunda metade de 2011. Graças a uma procura forte e
constante por parte de outros países chave, como os do Leste asiático,
o mercado conseguiu manter-se estável. Contudo, com a China a reduzir as importações de leite em pó inteiro, existem sinais de que a
Nova Zelândia pode procurar trocar o leite por manteiga e leite em pó
desnatado e poderá aumentar as exportações para a UE. Este facto já
desencadeou a quebra nos preços da manteiga. !
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
33
034-038_Layout 1 12/27/11 4:04 PM Page 34
ENTREVISTA
Robots de ordenha
N. MARQUES
Uma nova forma
de estar no negócio
N. MARQUES
A Vale de Leandro - Agro-Pecuária Lda.é uma exploração familiar gerida em sociedade pelos irmãos Eduardo
e Filipe Soares, por herança de seus pais que já levavam
o negócio da criação de bovinos para produção de leite.
Para além da pecuária, cultivam 40 hectares para rolos de
erva e cerca de 30 hectares para silagem de milho. A
mão-de-obra é familiar, à excepção de época de colheita
do milho em que recorrem a ajuda externa.
N. MARQUES
Em Março de 2010, introduziram 2 robots de ordenha, um
equipamento ainda pouco utilizado no nosso país que, para
além de maior rendimento, permite uma melhoria da qualidade
de vida dos produtores de leite. A Revista Ruminantes entrevistou os irmãos Soares acerca desta aquisição.
Quando introduziu o robot na exploração?
Filipe - Temos dois a trabalhar desde Março de 2010.
Como foi a transição do sistema tradicional para o robot?
Filipe - A transição não foi fácil, houve necessidade de adaptação, quer dos animais quer nossa. Trata-se de uma realidade nova
e completamente diferente que obriga a um maneio distinto daquele a que nós e os animais estávamos habituados. As vacas tiveram dificuldade porque não comiam só ração em nenhum ponto
específico, ou seja, nem em box de alimentação nem na sala de ordenha. O nosso sistema de alimentação era TMR. No sistema de
ordenha robotizado, inicialmente, o grande atractivo para as vacas
irem lá voluntariamente é a ração, até que se habituassem a essa
rotina levou 3 a 4 meses. É muito importante a vacas iniciarem
uma nova lactação com este sistema, para que circulem voluntariamente em pleno.
34
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
Eduardo e Filipe Soares, com o seu pai.
As novilhas também têm problemas de adaptação?
Eduardo - As novilhas requerem uma adaptação ligeira, podemos falar em 15 dias para estarem em pleno. Isto deve-se ao facto
de não termos na nossa exploração um lote de primíparas para o
robot, estas estão misturadas com as vacas adultas, que são sempre vacas dominantes. Assim sendo, as primíparas têm que disputar a entrada no robot; no entanto são estas que melhor se
adaptam e mais ordenha fazem, uma vez que nunca conheceram
outro sistema de ordenha.
034-038_Layout 1 12/27/11 4:04 PM Page 35
ENTREVISTA
denha incompleta ou, eventualmente, de uma mamite; esta informação é de fácil consulta, uma vez que o robot nos dá a informação teto a teto. Consultamos a lista de alarmes das vacas em que
o leite foi desviado automaticamente pelo robot, quer seja por elevado nível de condutividade, quer seja por sangue no leite. Semanalmente, analisamos os desvios de produção e do consumo
de ração. O robot baseia-se em 3 ou 7 dias de média de produção
e em função disso estabelece o desvio com que a vaca está. Se
ocorrer uma quebra, teremos que averiguar a origem de problema
e actuar no sentido da resolução do mesmo. Todos estes dados
consultados estão baseados nas configurações introduzidas por
nós no sistema.
Qual o número médio de ordenhas por dia?
De que depende?
Filipe – Estamos com uma média de 2,9 ordenhas/vaca/dia dos
dois robots. Esta média pode variar em função do número de
vacas que temos por cada robot, quanto mais vacas menos ordenhas, é simples e directo. O número de ordenhas depende também da saúde geral da vaca, da fase de lactação (quanto mais leite
estiver a produzir mais visitas faz ao robot) e também da apetência que a vaca tem pela ração que é distribuída no robot.
Que sistema de tráfego utiliza (livre; guiado; semi-livre; inverso)?
Eduardo - Para as nossas vacas, escolhemos o sistema semi-livre
em que os animais têm livre acesso a água, comida e camas, e apenas tem um parque à entrada do robot com portas anti-retorno. Para
acederem ao robot, têm que entrar para esse parque e a única saída
é pelo robot. Este sistema permite uma total liberdade de escolha
dos animais, contudo garantimos que as vacas atrasadas não ficam
por ordenhar, ou seja as vacas “teimosas” são encaminhadas por nós
até ao parque.
Que dados da exploração são frequentemente analisados?
Eduardo – A consulta dos dados é feita normalmente no computador do robot ou, em particular, directamente no animal, dependendo da situação. Diariamente consultamos, no computador,
as vacas atrasadas, que são aquelas que estão com mais de 12
horas após a última ordenha, que normalmente são as mais velhas
e/ou as que estão em fim de lactação, que representam cerca de
10% do efectivo. Estas vacas têm que ser encaminhadas para o
parque do robot. Também consultamos a lista de vacas com tetos
incompletos, e tentamos perceber a razão, se se trata de uma or-
N. MARQUES
Que recomendações podem fazem a quem planeia adquirir
um robot?
Eduardo - É preciso ter a consciência que um robot é apenas
um meio auxiliar à exploração. Costumamos dizer que, apesar de
não ordenharmos vacas, continuamos a ter vacas a serem ordenhadas. É preciso ter sempre isto em consideração. Depois de
instalado o robot, recomendamos que é sempre necessário dar
tempo aos animais para se adaptarem às novas rotinas, deixá-los
conhecer a máquina durante 2 a 3 semanas, a circularem no robot
apenas a comer ração.
Com que critério é estabelecido o número de ordenhas?
Eduardo – Temos parametrizado para todo o efectivo que a vaca
tem permissão de ordenha 4 horas após ter sido ordenhada pela última vez. Dependendo da fase de lactação, da produção e da permissão do robot, a vaca gere o número de visitas que faz ao robot.
Temos vacas a fazer 4 ou até 5 ordenhas por dia, outras 2.
Como fazem a secagem das vacas?
Filipe – A secagem é feita com 7 meses de gestação. Utilizamos o método de secagem brusca, em que as vacas são separadas
do resto do efectivo que está em produção e colocadas num parque em que a alimentação é apenas palha e água à discrição nos
dois a três dias antecedentes à secagem prevista.
O robot requer uma ração especial? Quem faz a optimização
da ração?
Eduardo – O granulado deve ser bastante duro, ter um bom
aroma e paladar de forma a ser apelativo para as vacas. A ração é
especifica para o robot e é desenhada pelos técnicos da NANTA
»
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
35
034-038_Layout 1 12/27/11 4:04 PM Page 36
ENTREVISTA
que é a longevidade das vacas, todos sabemos que para além da produção é o numero de lactações; quantas mais fizer, mais produção
vamos ter. Um dos factores importantes é a protecção dos ligamentos do úbere. E com este sistema, uma vaca de 60 litros dia acaba por
estar sobrecarregada com 30 litros ao fim das 12 horas. Ou seja, não
sabemos exactamente qual vai ser a longevidade duma vaca, mas em
termos teóricos uma vaca vai ter mais uma lactação, o que é significativo para quem quer baixar a taxa de reposição.
N. MARQUES
Com a introdução dos robots, reduziu o número de empregados na exploração?
Eduardo – Como a exploração é familiar, não foi necessário reduzir o número de empregados. O tempo livre das horas de ordenha é
dedicado a outro tipo de serviços, como consulta dos dados do computador, acompanhamento dos animais para detecção de cios, etc.
O maneio apropriado traz tranquilidade ao efectivo.
que são os que dão apoio nutricional à exploração, pois tem que
estar equilibrada com o bolo alimentar do unifeed. A ração do robot
e a ração do unifeed são diferentes, mas complementam-se de forma
a suprir as necessidades das vacas em lactação. Esta optimização resulta de um trabalho de equipa entre nós e os técnicos da NANTA.
A utilização de robot requer um maneio especial?
Filipe – Nós trabalhamos de uma forma diferente daquela que trabalhávamos com o sistema de ordenha tradicional. No sistema tradicional tínhamos um lote de média/alta e um lote de baixa produção
e recém-paridas. Neste momento existem lotes, mas os de produção
são indiferenciados. O robot é que faz a compensação dessas vacas,
em função da produção, com mais ou menos ração. No computador
do robot temos uma tabela de alimentação em função da produção,
quanto mais produção mais ração, claro, até um limite, e também em
função do número de dias de lactação. Relativamente ao método actual, existe uma melhor optimização da ração fornecida a cada vaca.
Resumindo, o robot para além de uma estação de ordenha, funciona
como uma box de alimentação em que cada vaca consome em ração
apenas aquilo que está calculado consoante a sua produção.
Quanto custa, em média, um robot e em quanto tempo se
paga?
Eduardo – O investimento não é baixo, ronda os €125.000 por
robot, para ordenhar 2000 litros por dia ou 70 vacas. Contabilisticamente amortiza-se em 10 anos, mas para além disso devemos considerar que, com a aquisição deste investimento se podem obter
rendimentos acrescidos devidos à dispensa de mão-de-obra (uma vez
que não é preciso de ter uma pessoa especifica para as ordenhas); à
melhoria da saúde animal (havendo menos mamites e menos despesa de farmácia); a um aumento da produção das vacas de alto potencial no pico da lactação.
Filipe – Existe outro factor que é sempre difícil de contabilizar,
Disse que a reposição é cara; compram fora?
Filipe – Fora, compramos apenas sémen. Quando eu disse que a reposição é cara, é porque temos uma taxa de refugo tradicionalmente
alta, não é um caso específico da nossa exploração mas sim de Portugal. Porque são animais que vivem pouco tempo no campo, estão
quase sempre estabulados, em cimento, e são muito explorados com
produções altas. Se virmos as médias do contraste, o número de lactações é de 2,1 a 2,4 que são valores baixos. Se pensarmos que em termos teóricos a primeira lactação é para pagar a recria, fica pouco mais
de uma lactação para tirar rendimento.
Qual é o programa de recria de novilhas de substituição?
Eduardo – O nosso principal objectivo quando inseminamos uma
novilha, é que ela no futuro possa ser uma vaca com bom porte e boa
capacidade de ingestão, para ser uma boa produtora. Para conseguir
isso, consideramos que deverão ser inseminadas pela primeira vez
aos 15 meses, desde que nesta idade tenham estrutura física para tal.
FICHA TÉCNICA DA EXPLORAÇÃO
Raça dos animais
Holstein Frísia
Nº animais
267 cabeças
Nº animais em ordenha
110 vacas
Produção média por vaca
no ano de 2010 a média aos 305
dias foi de 11035 Kg
Qualidade do leite (GB; PB; Contagem células somáticas)
3,8 / 3,26 / 250000
Idade média das vacas
4 anos e 6 meses
Taxa de reposição,
superior ao tradicional?
Em termos teóricos será inferior, na
prática vamos ver.
Quota leiteira
1 405 339 kg
»
36
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
»
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034-038_Layout 1 12/27/11 4:04 PM Page 38
Como funciona o pavilhão da recria:
Filipe – A recria é toda feita na exploração. Face à
dificuldade de vendermos os machos como recém-nascidos, fazemos uma engorda como Vitelão que depois
vendemos a negociantes para fornecerem talhos. As fêmeas fazem os primeiros 5 a 7 dias de colostro em biberão, e depois passam para uma máquina onde fazem
o sistema de aleitamento artificial totalmente automatizado. Neste sistema de aleitamento o desmame é feito
aos 90 dias. A máquina automaticamente, baseada na
idade do animal aumenta e diminui a quantidade de
leite diária. Temos vitelas a beber até 8 litros por dia no
pico do aleitamento. A palha ou feno, ração e água
estão sempre disponíveis. A máquina que utilizamos,
munida de uma chupeta, faz o leite no momento em
que o animal bebe numa boxe, preparando meio litro
de cada vez com uma administração de 2 litros por
toma, ou seja, o animal que bebe 8 litros tem 4 tomas
diárias sendo geridas ao longo do dia. É uma máquina
com muito interesse para uma exploração leiteira, porque aproximamos o sistema alimentar das vitelas que
é utilizado na natureza, uma vez que a vitela bebe
quando quer, a quantidade que quer, ou seja tem um
sistema livre e autónomo.
No final dos 3 meses, as fêmeas passam para um pavilhão, construído no final de 2009 de raiz para recria.
Nesse pavilhão, temos um sistema de boxes de alimentação de ração onde os animais estão identificados
por colar e comem a ração de acordo com aquilo que
indicamos no computador. Os animais estão distribuídos em 5 lotes, agrupados pela idade. Nestes 5 lotes
foi concebido o sistema de cubículos, cornadis, tapetes
e alturas de bebedouros em função da idade dos animais. Trata-se de um pavilhão com 8 mts de pé direito,
paredes laterais com 1,30 mts e rede. A rede tem um
sistema eléctrico que nos permite subir ou descer em
função do clima, conseguindo assim recriar o melhor
ambiente e conforto para os animais.
A alimentação da recria neste pavilhão é feito com
palha, rolos de azevém pré-fenado e 1,5 kg de ração
por dia, em média, por animal.
N. MARQUES
RECRIA DE NOVILHAS
N. MARQUES
»
38
N. MARQUES
ENTREVISTA
Sistema de aleitamento artificial de vitelos.
VACAS SECAS
Filipe – As vacas secas, juntamente com as novilhas
a partir dos 7 meses de gestação estão num só lote,
com uma alimentação de palha e silagem de milho
misturadas em unifeed e ração que é fornecida também numa boxe de alimentação. Cerca de 21 a 15 dias
antes do parto, os animais são colocados num lote de
pré-parto onde têm uma alimentação específica para
este período, mistura do unifeed das vacas em lactação e ração própria para esta fase. !
Vista geral do pavilhão de recria.
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MUNDO
ACTUALIDADES
Sobre os limites de células somáticas no leite
Enquanto na UE o limite máximo de células somáticas no leite é de 400.000 por
ml, nos EUA este situa-se nas 750.000.
Para perceber que percentagem de explorações de vacas de leite dos EUA que
não cumpriam com os standards de células exigidos aos produtores comunitários,
o Serviço de Investigação Agrária dos
EUA. utilizou vários métodos de análise,
assim como dados tanto de vacas convencionais como de vacas da Associação de
Melhorias das Vacas de Leite do EUA
(DHI pelas siglas em inglês).
Os resultados obtidos demonstraram
que 16% dos rebanhos dos EUA não cumpririam o standard de contagem de menos
de 400.000 células (esta percentagem foi
de 7,8% em rebanhos DHI). Em relação
aos seus próprios standards (menos de
750.000 células /ml), a percentagem de incumprimento situou-se em 1% (0,9% no
caso de rebanhos DHI).
O método de frequência segundo o qual
um rebanho não cumpria quando houvesse
incumprimento em 3 de 5 meses consecutivos, foi o que deu resultados mais elevados,
os quais foram inversamente proporcionais
à dimensão do rebanho.
De acordo com este método, não cumpriam o parâmetro de menos de 400.000
cerca de 19,1% dos rebanhos DHI com
menos de 50 vacas. Contudo, o grau de incumprimento foi de 1,1% nos rebanhos
com mais de 1000 vacas.
Os resultados do estudo, que se publicaram no número de Dezembro do Journal of
Dairy Science, recomendam que os produtores da EUA deveriam pôr mais ênfase no
controlo da incidência e prevalência das
mastites sub-clinicas nos seus rebanhos.
O tema dos limites de células somáticas
é muito controverso nos EUA e as opiniões
estão muito divididas. Os que são a favor
do abaixamento do nível alegam que manter um limite tão alto de células poderia trazer repercussões comerciais ao mercado
internacional, já que cada vez mais países
se opõem a que entrem nos seus mercados
produtos lácteos procedentes de leite com
níveis superiores a 400.000 células. Portanto, os limites dos EUA deveriam harmonizar-se com os do resto dos grandes
produtores mundiais de leite.
Pelo contrário, os que se opõem a baixar
o limite alegam que o conteúdo de células
somáticas não é um tema que afecte a segurança sanitária do leite.
No passado mês de Maio, a associação
dos EUA, National Conference on Interstate Milk Shipments (NCIMS), recusou a
proposta de reduzir o limite a 400.000 células por ml a partir de 2014, apresentada
pelo Conselho Nacional das Mastites, com
o apoio da Federação dos Produtores Lácteos. Esta foi a sexta vez em 14 anos, que a
proposta não conseguiu avançar. Em 1991,
a Confence conseguiu reduzir o limite de
1 milhão de células por ml a 750.000 células/ml, limite que começou a aplicar-se em
2003.
O NCIMS é uma organização em que
estão representados produtores de leite, indústria, consumidores, inspectores de explorações e indústrias, investigadores e
legisladores. A sua missão é analisar as propostas que se lhes apresentam por parte de
pessoas ou organizações em relação à segurança do leite. !
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
39
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Animais protegidos
A fase que o sector leiteiro atravessa obriga cada vez mais o produtor de
leite a trabalhar no sentido da maior rentabilidade económica da
exploração. Isto faz-se não só através da procura de técnicas de produção
cada vez mais eficientes e de um maior cuidado na gestão financeira da
exploração, mas também através da valorização do produto vendido, o leite.
Como sabemos o pagamento do leite está ligado a
parâmetros mais relacionados com a alimentação,
como os teores butiroso e proteico, mas também a parâmetros relacionados com a saúde de úbere e a higiene do sistema de ordenha. Qualquer penalização
que advenha de Contagens de Células Somáticas superiores ao estabelecido afecta consideravelmente a
margem de lucro do produtor de leite. Também os indicadores reprodutivos são fundamentais para o sucesso da exploração leiteira, sendo que é fundamental
a persecução de intervalos entre partos mais curtos que
nos permitam maximizar o potencial produtivo da vaca
leiteira.
Estudos que reforçam esta análise da problemática
produtiva do sector leiteiro, apontam como as maiores
causas de refugo das explorações intensivas, em primeiro lugar as mamites, seguidas dos problemas reprodutivos e dos problemas podais.
De modo a ir de encontro a esta problemática a Vitas
Portugal lançou no passado mês de Outubro o VITAPROTEC, um produto desenvolvido especificamente
para fortalecer a capacidade de resistência às agressões
exteriores por parte da vaca leiteira. Este produto baseia-se no fornecimento de alguns oligoelementos, vitaminas e extractos vegetais específicos de modo a
promover a imunidade do animal e a saúde dos cascos.
VITAPROTEC contém elevados níveis de Selénio
e Vitamina E, elementos com reconhecido impacto
protector a nível das células, estimulando a actividade
dos Linfócitos T e que estão correlacionados com a diminuição do número de mamites, metrites e redução
dos níveis de células somáticas no leite.
40
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
Impacto da Vitamina E e do Selénio no poder
bactericida dos linfócitos
Fonte: J.S.HOGAN et al.1990
Com o intuito de fortalecer o impacto protector de
VITAPROTEC, foi desenvolvido um complexo exclusivo de extractos vegetais, o EOMix Protec. Esta
especificidade permite potenciar ainda mais o efeito
antioxidante da Vitamina E e do Selénio.
VITAPROTEC tem na sua composição Zinco sob a
forma quelatada, mais absorvível pelo animal. O Zinco
revela-se de extrema importância para a regeneração
dos tecidos, nomeadamente para o fortalecimento do
esfíncter do teto. É fundamental que após a ordenha o
esfíncter do teto tenha a capacidade de se fechar, impedindo a entrada de microrganismos patogénicos.
Com o intuito de reduzir a ocorrência e a gravidade
de problemas podais, VITAPROTEC foi ainda enriquecido com Biotina, uma vitamina que juntamente
com o Zinco terá uma acção positiva na redução de
problemas podais e da ocorrência de laminites.
A Vitas Portugal continua a defender uma busca permanente de novas e mais adequadas soluções para os
nossos clientes. Para mais informações e esclarecimentos, não hesite em contactar o técnico Vitas mais
próximo de si. !
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PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Alimentação de cabras
em regime intensivo
à base de concentrado e palha
Francisco Fernández, Nutricionista, Dep.Ruminantes Grupo PROVIMI
[email protected]
Actualmente, aos desafios tradicionais de
qualquer exploração pecuária, produzir mais,
melhor e com rentabilidade acrescida,
juntam-se um conjunto de preocupações
ambientais, pressões sociais e restrições
demográficas.
Cabe a cada empresário, na sua exploração,
encontrar o “seu” ponto de equilibrio e traçar
a estratégia mais conveniente para atingir os
objectivos a que se propõe.
Na Provimi, procuramos incessantemente
desenvolver soluções que possam constituir
opções válidas nas decisões dos nossos
produtores.
sempre selectiva e tem uma marcada tendência a recusar alimentos mesmo se as suas necessidades nutricionais não estejam cobertas.
Esta enorme aptidão que tem para seleccionar, permite-lhe transformar uma forragem de qualidade medíocre numa forragem de boa qualidade, sempre e
quando o agricultor tolere rejeições em quantidades
suficientes (30-50%).
No entanto, e ao contrário de quando a cabra está
acostumada a um alimento único e homogéneo, dedica
pouco tempo a explorar o alimento distribuído e consome-o a grande velocidade, muito maior que a de outros ruminantes (Morand-fehr e col. 1991).
Por outro lado, e referindo-nos à digestão da celulose na cabra, a maior degradação da mesma observase nos regimes alimentares em que o alimento
concentrado é pobre em amido (15% MS - matéria
seca) e a menor degradação nos regimes em que o concentrado é rico nos mesmos (50% MS). Isto sugerenos que nas cabras alimentadas com uma ração de tipo
intensivo, o equilíbrio entre glúcidos de lenta e rápida
degradação é um elemento essencial para alcançar uma
eficácia digestiva óptima das substâncias celulósicas.
(Giger Reverdin y col. 1991).
NATUREZA DOS ALIMENTOS E TIPOS
DE RAÇÕES
CARACTERISTICAS DAS CABRAS LEITEIRAS
DE ALTA PRODUÇÃO
O comportamento alimentar das cabras apresenta
uma série de especificidades que há que ter muito em
conta, especialmente nas cabras de alta produção. A
cabra, em geral, passa mais tempo que outros ruminantes a eleger o que vai ingerir quando dispõe de um
só alimento heterogéneo (como o caso de uma ração
unifeed no comedouro). Assim, a partir do momento
em que tem a possibilidade de eleger, a sua escolha é
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Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
Os arraçoamentos de cabras, tal como os de outros
ruminantes, compõem-se de forragens e concentrados.
Por a cabra ser muito sensível à fibrosidade, tal como
expressaram Sauvant y col. (1990), é aconselhável que
os arraçoamentos de cabras de alta produção de leite
apresentem um índice de fibrosidade (tempo de mastigação em minutos por Kg de MS ingerida) superior
a 50, o que corresponde a uma proporção de fibra larga
não moída de entre 30 e 40% da matéria seca ingerida.
Isto, até há algum tempo atrás, caracterizava-se pela
proporção forragem/concentrado, mas este parâmetro
provimi_Layout 1 12/27/11 12:51 PM Page 43
ALIMENTAÇÃO
é impreciso, pois não tem em conta, nem a apresentação física nem o que certos alimentos têm de difícil na
classificação como forragens ou como concentrados,
como é o caso da polpa de beterraba ou os granulados
de luzerna desidratada.
FUNÇÕES E FONTES DE FIBRA
A fibra, como um nutriente, contribui para duas funções principais:
— O preenchimento do rúmen e o estímulo das contracções ruminais.
— A manutenção do pH ruminal através do estimulo da secreção salivar dependente da mastigação e
da ruminação.
Muitos dos subprodutos vulgarmente utilizados na
alimentação são ricos em fibra e podem utilizar-se para
substituir parcialmente as forragens do arraçoamento
(polpa de beterraba, polpa de citrinos, corn gluten feed,
casca de soja,…). No entanto, a fibra não forrageira
não tem a mesma capacidade para estimular a ruminação e a secreção salivar. Assim, desenvolveu-se um índice de valorização da capacidade da fibra não
forrageira como estimulante da secreção salivar, levando ao conceito de FND-e que se define como a capacidade real da fibra para estimular a ruminação. O
valor do FND-e de um alimento depende do tipo, da
forma e do tamanho da fibra que possui (todos os alimentos com excepção das gorduras têm um valor de
FND-e incluidos no concentrado).
ALIMENTAÇÃO DAS CABRAS COM BASE
EM CONCENTRADOS E PALHA
Este sistema é baseado no fornecimento à discrição
de alimento composto granulado mediante diversos
sistemas mecânicos ou tremonhas de acesso voluntario. Que permite uma regulação da ingestão por parte
da cabra, junto com palha de boa qualidade.
A fibra longa provém exclusivamente da palha, o
PRODUÇÃO
que obriga a que esta seja de boa qualidade, isenta de
humidade, fungos, leveduras,… A palha deve estar disponível 24 horas por dia, sendo removida e aproximada dos comedouros 3 vezes por dia, como mínimo.
Os nutrientes necessários para a manutenção e a produção de leite são suportados quase por completo pelo
concentrado, que deve ser posto à livre disposição pelo
menos durante os primeiros meses de lactação para
conseguir alcançar o máximo do potencial genético das
cabras.
Constata-se assim a enorme importância que tem o
concentrado estar bem formulado e equilibrado, para
evitar os dois problemas principais que se podem verificar nas explorações de gado caprino de alta produção: acidose ruminal e diarreias em lactação.
Por outro lado, o referido concentrado inclui todos
os aditivos e correctores vitamínicos e minerais, para
que não seja necessário o fornecimento de nenhum suplemento.
O fornecimento de palha de cereais e de um concentrado com baixo nível de carbo-hidratos não fibrosos à livre disposição evita a enorme capacidade de
selecção que têm as cabras, o perigo do aparecimento
da acidose láctica ruminal ou de diarreias, ocasionadas pelo amido que aparece no intestino.
As quantidades ingeridas pelas cabras no arranque
da lactação dependem de dois parâmetros principais: o
peso vivo e a produção de leite, que está intimamente
ligada à capacidade genética das cabras. Como indicativo, em cabras de 50 Kg de peso vivo, o consumo de
concentrado será cerca de 2 kg, sendo o consumo de
palha de 0,4 Kg por dia.
À medida que a lactação vai avançando, o consumo
voluntário vai baixando, contudo o consumo de palha
mantém-se devido às necessidades em energia serem
menores como consequência da descida da produção
de leite.
O excesso de energia que consome a cabra no ultimo
terço da lactação transforma-se numa recuperação da
condição corporal para a lactação seguinte. !
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
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PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Identificação
de Lesões de Patas
Dana J. Tomlinson, Ph.D., Michael T. Socha, Ph.D.,
e J. M. DeFrain, Ph.D. , Zinpro Corporation
Tradução / Adaptação: Jerónimo Pinto, Eurocereal S.A.
O guia de Identificação de Lesões de Patas,
desenvolvido através de um esforço combinado
entre a Zinpro Corp. e o International
Lameness Committee, representa o primeiro
consenso global para a identificação de lesões
podais, a sua correcta designação e a
implementação dos seus registos. Adoptandose a mesma terminologia, uniformizada em
todo o mundo, será mais fácil e eficaz
identificar e avaliar a prevalência e o impacto
económico das várias lesões podais.
Pontos-chave do poster:
- Fácil de usar: é um guia visual prático e intuitivo
para ajudar a identificar correctamente 14 lesões de
patas em bovinos.
- Aplicação Global: adopta uma identificação uniformizada com uma única letra, reconhecida internacionalmente para cada lesão.
- O contraste leiteiro funciona mais eficazmente com
apenas uma única letra
- A prevalência de lesões pode ser mais rigorosamente
identificada e avaliada, de forma uniforme em todo o
mundo, usando apenas uma letra para cada lesão.
- Referência-Cruzada: permite relacionar cada tipo de
lesão com zona(s) específica(s) em que essa lesão
ocorre, sendo mais eficaz e rigorosa a sua identificação.
- Correcta identificação das lesões ajuda a melhorar a
compreensão da verdadeira causa de cada lesão, permitindo a implementação de planos de correcção que
sejam muito eficazes.
- Terminologia alternativa: “também chamada” designação para ajudar a reconhecer outros nomes alternativos também utilizados para designar as lesões.
- Categorias Distintas: as lesões são classificadas em
infecciosas e não-infecciosas.
- A gestão efectiva e eficaz de lesões podais começa
por identificar qual a categoria (infecciosa ou não-infecciosa) que é mais prevalente em cada caso
- Os planos de acção correctiva/preventiva têm que
ser os ajustados a cada caso.
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Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
LESÕES NÃO-INFECCIOSAS SÃO AS MAIS
PREVALENTES EM PORTUGAL, PELO QUE
PUDEMOS OBSERVAR
Lesões podais não-infecciosas incluem úlceras na
unha, na sola e no calcanhar, lesões de linha branca, hemorragia da sola, sola dupla, sola delgada e fissuras vertical, horizontal e axial. Tal como nas lesões infecciosas,
o desenvolvimento de lesões não-infecciosas é multifactorial. Por exemplo, solas delgadas podem resultar
de excessiva remoção pelo tratador/podologista, de os
animais terem de caminhar longas distâncias em superfícies abrasivas e/ou de superfícies com excessivo declive, em que o desgaste do casco é superior à sua
capacidade de regeneração.
Factores que podem aumentar a incidência
de lesões não-infecciosas:
1. Ausência, pouca frequência e/ou incorrecção no aparamento das patas (Raven, 1989; Shearer et al.,
2005);
2. Mais de 3 horas por dia passadas de pé no parque de
espera da sala de ordenha e/ou demasiado tempo fechado no cornadis da manjedoura (Nordlund et al.,
2004);
3. Cubículos mal concebidos, incluindo incorrecto dimensionamento e insuficiente amortecimento e conforto (Anderson, 2005, Cook, 2005);
4. Insuficiente tempo deitado por limitações no acesso
aos cubículos, sobrelotação, demasiado tempo passado fora do estábulo, estabulação mal concebida
(Cook et al., 2004);
»
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Não Infecciosas
IDENTIFICAÇÃO DE
Lesões de Patas BOVINOS
LESÃO DA LINHA BRANCA (W)
ÚLCERA DA SOLA (U)
HEMORRAGIA DA SOLA (H)
ÚLCERA DA PONTA (T)
UNHA SACA-ROLHAS (C)
Também designada como:
separação da linha branca
Zonas afectadas: 1, 2, 3
Também designada como:
Pododermatite circunscrita
Zona afectada: 4
Também designada como:
Hematomas na sola
Zona afectada: 4, 5, 6
Também designada como:
necrose digital /apicalis necrótica
Zona afectada: 1
Zona afectada: 7
• em
casos ligeiros ocorre separação
na união entre a sola e a parede
• em casos graves forma-se
abcessos geralmente na união entre
o talão, a sola e a parede (zona 3)
• ferida
em carne viva (erosão) na
união entre a sola e o talão na face
interna da unha posterior externa
• costuma ocorrer em ambas as
unhas externas
• coloração
vermelha ou azul de
ligeira a intensa
• não confundir com a coloração
escura natural
• coloração
rápido e irregular com
curvatura
• deslocamento da sola para dentro e
para trás
• causa dificuldade em caminhar
FISSURA / GRETA HORIZONTAL (G)
FISSURA / GRETA VERTICAL (V)
FISSURA AXIAL (X)
HIPERPLASIA INTERDIGITAL (K)
SOLA DELGADA (Z)
Também designada como:
fissura ungular transversal
Zonas afectadas: 7, 8
Também designada como:
fissura ungular longitudinal
Zonas afectadas: 7, 8
Também designada como:
fissura axial da parede
Zonas afectadas: 11, 12
Também designada como:
fibroma / crescimento interdigital
Zona afectada: 0
Zonas afectadas: 4, 5
• fissura,
• separação
• sulco
• crescimento
Sintomas habituais:
Sintomas habituais:
greta e até rotura da parede
da unha, paralela à linha do pêlo
• por stress nutricional / metabólico
Sintomas habituais:
Sintomas habituais:
vertical na face frontal
ou lateral da unha
• ocorre sobretudo nas unhas
dianteiras externas
• é a causa mais frequente de dor e
coxeira
Sintomas habituais:
Sintomas habituais:
profundo na superfície
interna da unha, paralelo à parede
frontal
• sangramento pode indiciar
presença de lesão
• coxeira ligeira a severa
Sintomas habituais:
• crescimento
Sintomas habituais:
negra, sanguinolenta
e/ou ruptura da linha branca na
ponta da unha
• causada por rotação do osso pedal
dentro da unha, pressionando até
abaixo da sola, ou adelgaçamento
da mesma
Sintomas habituais:
• sola
delgada e flexível quando
pressionada
• insuficiente comprimento do dedo,
por desgaste excessivo ou corte
exagerado
• o comprimento mínimo da unha é
7.5 cm (não aplicável a animais
com PV < 400 kg)
Sintomas habituais:
rápido da pele e/ou do
tecido entre as unhas, formando
uma massa firme
• possível infecção secundária com
lesão severa
Infecciosas
Zonas da unha
3
EROSÃO DO TALÃO (E)
DERMATITE INTERDIGITAL (I)
FLEMON INTERDIGITAL (F)
Zona afectada: 6
Também designada como:
foot rot
Zonas afectadas: 0, 10
Também designada como:
necrobacilose interdigital
Zona afectada: 9
• crescimento
• instabilidade
• destruição
• inflamação
Sintomas habituais:
• erosão severa do talão em depressões
irregulares em forma de “v”
da unha devido a
perda ou dano do tecido córneo,
provocando desequilíbrio na
distribuição do peso
• aumento da dor, com agravamento
da erosão
Sintomas habituais:
da pele, com exsudado
entre as unhas
• contusão do corion e ulceração
EUROCEREAL, S.A. | Estrada da Avessada, 2665-290 Malveira
Tel. 219 668 650 | Fax. 219 668 651 | E-mail: [email protected]
9
4
3
7
homogénea por toda a
unha, incluindo os dedos
acessórios
• separação dos dedos
• a infecção produz muito mau cheiro
• provavelmente os animais têm febre
8
VISTA ABAXIAL (EXTERNA)
5
5
2
1
11
12
VISTA AXIAL (INTERNA)
Abreviaturas das lesões
Sintomas habituais:
Este guia foi desenvolvido conjuntamente por Zinpro Performance Minerals e The International Lameness Committee
Fotos de: R. Acuña, C.Bergsten, S. Berry, K. Burgi, L. DeVecchis, A. Gonzalez, P. Greenough, J. Kofler, J. Malmo, R. Pijl, J. Shearer, F. Sutton
6
0
1
Também designada como:
Doença de Mortellaro
Zonas afectadas: 9, 10
circular, como verruga,
vermelho-vivo ou negro, sobre o
talão
• dificuldades em andar e coxeiras
4
2
DERMATITE DIGITAL (D)
Sintomas habituais:
10
6
C = unha saca-rolhas
D = dermatite digital
E = erosão do talão
F = flemon interdigital
G = fissura horizontal
H = hemorragia da sola
I = dermatite interdigital
K = hiperplasia interdigital
T = úlcera da ponta
U = úlcera da sola
V = fissura vertical
W = lesão da linha branca
X = fissura axial
Z = sola delgada
PERFORMANCE MINERALS ®
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PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
»
5. Factores nutricionais, tais como excesso de energia
rapidamente fermentiscível no rúmen, falta de fibra
efectiva, excesso de proteina, mistura unifeed pouco
homogénea, períodos de alimentação irregulares e
inadequada nutrição mineral (Nocek, 1997; Nocek et
al., 2000; Cook et al., 2004);
6. Acesso limitado à alimentação por sobrelotação /
competição ou por insuficiente espaço de manjedoura
(Cook et al., 2004);
7. Problemas metabólicos pós-parto, tais como hipocalcémia (Nocek, 2002; Tomlinson et al., 2004);
8. Pisos que provocam excessivo desgaste dos cascos,
tais como declives superiores a 2%, becos com mais
de 1.5% de inclinação, pisos incorrectamente riscados, buracos no piso e pavimentos de grelha em mau
estado (Cook, 2005; Kloosterman, 2005);
9. Stress de calor, provocando abaixamento do pH do
rúmen e levando os animais a passar mais tempo levantados (Cook et al., 2004; Shearer, 2005);
10. Transição abrupta de vaca seca para lactação, tanto
em termos nutricionais, como de ambiente (Cook,
2005).
Sendo múltiplas as causas de lesões não-infecciosas,
identificar correctamente a lesão, bem como registar a
zona em que a lesão ocorre, ajuda a determinar a(s)
sua(s) causa(s). Por exemplo, úlceras na unha (zona 5)
ocorrem mais frequentemente em animais com solas
finas, enquanto úlceras no centro da sola (zona 4) são
indicativas de excessivo tempo de pé.
As lesões de patas nos bovinos são caras para os produtores, pois reduzem as performances. A efectiva redução de lesões podais só pode ser completamente
conseguida se os produtores implementarem um programa para ver a extensão e a gravidade das lesões em
todo o efectivo.
Locomotion Scoring (pontuação da locomoção) é um
excelente meio para atingir este objectivo. Contudo,
todas as vacas afectadas por problemas de patas deverão
ser examinadas por um tratador qualificado e deve(m)
ser identificada(s) a(s) causa(s) dos problemas detectados. Na maioria das situações, é mesmo necessário examinar as patas, pois mais de 90% das lesões que causam
desconforto ocorrem nas patas. Todas as lesões detectadas deverão ser registadas, bem como os tratamentos
correctivos e preventivos, consoante se trate de lesões
infecciosas ou não-infecciosas. A eficácia de todas as
medidas tomadas deverá ser continuamente monitorizada com a avaliação “locomotion scoring” e/ou o programa FirstStep. !
Para mais informações, consulte www.zinpro.com e/ou www.eurocereal.pt
46
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
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PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Compra de vitelos em leilão?
André Pires Preto, Médico Veterinário,
Serviços Técnicos MSD Saúde Animal
[email protected]
s
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e
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s
A
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c
e
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Dens
id
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al
i
Na maioria das situações relacionadas com a
compra de animais, o engordador procura as
seguintes características: origens distintas;
genética heterogénea – trazendo-lhe potenciais
produtivos variáveis; estatutos sanitários
distintos – não relativamente a doenças de
controlo oficial, mas sim doenças que afectam
a saúde produtiva dos animais (síndrome
Transporte
respiratória bovina, etc.); e níveis de
preparação para a engorda variáveis:
procedimentos de desmame diferentes, sendo a
situação mais corrente o desmame seguido de
transporte; animais não acostumados a
alimentos concentrados, excepto em algumas
e
am
m
explorações (ex.: comedouros selectivos).
s
De
O seu trabalho é gerir o risco, quer na selecção
e compra destes animais, quer na entrada à
engorda.
Como é possível ver no fluxograma de acontecimentos, a sequência de eventos que ocorrem na vida do vitelo
não o favorecem absolutamente em nada.
A questão da compra em leilão acrescenta um risco
temporal ao negócio. Por exemplo, no leilão de Montemor-o-Novo, o procedimento normal consiste em entradas à 2º-feira e saídas entre 3ª-feira e 4ª-feira. Logo,
está-se a aumentar o perfil de risco, em comparação com
a situação em que os animais que são comprados directamente na exploração de vacas.
Num parque de leilões/feiras de gado, a mistura de vá-
Desmame
Transporte
Compra
Mu
de a dança
mbi
ente
rias origens durante o tempo que estão nas instalações
promove o contacto entre animais e a circulação de agentes infecciosos, potencialmente causadores de pneumonias, ao que acresce o facto de os animais estarem em
stress devido a todas as mudanças a que foram sujeitos,
tais como: desmame, densidade animal; mistura de animais; mudança de ambiente; transporte.
Estamos frente a uma situação de risco sanitário. No
entanto, este pode ser colmatado com o uso de boas práticas, em duas fases, quer na exploração de origem, quer
na de destino.
Transporte
Ajuntamento
de gado
Leilão
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Mistura
de animais
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
Mistura de aimais
Mudanças
alimentares
Recepção
Repouso
Processamento
• Identificação
• Desparasitação
• Vacinação
• Metafilaxia
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SAÚDE ANIMAL
1. NA CHEGADA DOS ANIMAIS À ENGORDA,
O ENGORDADOR DEVE FAZER USO DAS
BOAS PRÁTICAS DE MANEIO, TAIS COMO:
• DIA DA CHEGADA (DIA 0):
Recepção dos animais:
- Correcta identificação dos animais e bons registos de
origens – que posteriormente podem ser trabalhados estatisticamente, de modo a associar performances e problemas sanitários.
- Alimentação ajustada aos animais a receber.
Início de medidas sanitárias:
- Utilização de desparasitantes adequados, atenção
para uso de fasciolicidas, caso os animais provenham
de zonas de fasciolose;
- Utilização racional de antibióticos, com uma avaliação correcta do risco, através de critérios como a temperatura, o uso metafilático (“preventivo”) de
antibióticos pode justificar-se. Principalmente em animais que provêem de leilões/feiras de gado, pois já poderão estar na fase de incubação da síndrome
respiratória – a chamada febre dos transportes. As características do antibiótico a seleccionar, nomeadamente
rapidez de actuação, vão ser condicionadas pela necessidade de tratamento de alguns animais com sinais de
doença (foto abaixo).
Fotografia tirada a um animal no interior do parque
de leilões. (AP)
Programa vacinal:
Um programa vacinal deve ser iniciado após o repouso dos animais, de modo a que estes tenham capacidade de resposta imunitária (estima-se um repouso
mínimo de 12h).
Devemos escolher um esquema adequado à exploração e — não esquecer, cumprir as indicações das vacinas (dose, rappel, via de administração).
Avaliação de performances:
Somente com uma boa identificação, é possível associar performances sanitárias e produtivas a origens dos
animais. Podendo servir como forma de selecção de origens menos problemáticas (menos animais doentes/
mortos) e mais produtivas (maiores ganhos médios diários e menos dias de engorda).
PRODUÇÃO
2. EM RELAÇÃO AO PRODUTOR DE VACAS,
ESTE PODE TENTAR VALORIZAR OS SEUS
VITELOS AO FORNECER VÁRIAS
CARACTERÍSTICAS PRETENDIDAS PELOS
ENGORDADORES:
Altas performances – elevando o potencial genético
da sua vacada base.
Sanidade – usando um programa profilático ajustado
na sua exploração, e prevenção de grandes excretores,
como vitelos permanentemente infectados de BVD (denominados de PIs).
Práticas de maneio dos animais ajustadas como:
- Desmame dos vitelos pré-transporte, embora condicione o uso de alimentos compostos, aumenta a performance produtiva e sanitária dos animais, como pode ser
visto na tabela abaixo.
Tabela 1
Impacto do número de dias de desmame antes de entrar numa
engorda, na performance sanitária. (dados TRR 2010, relativos a
3 anos de estudo, aproximadamente 600 000 animais)
Dias de desmamados
< 14
15-21
22-30
31-45
> 45
Percentagem de tratamentos
efectuados na engorda
27%
30%
25%
23%
9%
3. EM RELAÇÃO AOS LEILÕES, DE MODO A
LIGAREM OS DOIS ELOS DA CADEIA,
PODEM EVOLUIR POSITIVAMENTE, NO
SENTIDO DE ADICIONAR VALOR À CADEIA,
PODENDO CERTIFICAR AS MELHORES
EXPLORAÇÕES PARA COMPRA DE ANIMAIS.
Existem iniciativas quer a nível dos EUA (VAC45),
quer a nível europeu, nomeadamente França, com a iniciativa Broutard Max, que atríbuem um prémio ao animal, caso este cumpra uma série de requisitos sanitários,
nomeadamente plano de vacinação pré-venda, sendo
que a consequência prática procurada pelos engordadores, a redução de morbilidade e mortalidade dos vitelos
na engorda.
Em conclusão, a compra de animais em leilão possui
riscos; no entanto, esse aumento de riscos não é necessariamente mau, pois caso sujeitemos os animais a um
correcto maneio animal, sanitário e nutricional, os resultados irão aparecer. Além de que a evolução natural
da fileira bovina, é trabalhar com o máximo de profissionalismo, sendo expectáveis melhores resultados no
futuro. !
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PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Descargas celulares
Pode a contagem das células
somáticas indicar o estado
sanitário do úbere?
Entrevista pela Revista Ruminantes
Ema Roque, Médica Veterinária com actividade na
[email protected]
Ema Roque, licenciada em Medicina Veterinária na Universidade de Évora em 2008,
iniciou a sua vida profissional prestando serviços veterinários na área da profilaxia,
clínica médica e cirúrgica em bovinos de aptidão leiteira na Associação de Jovens
Agricultores Micaelenses (S. Miguel - Açores), onde também participou de um projecto
em Qualidade do leite. Actualmente é consultora na ConsulPec – Medicina da
Produção (na área da Qualidade do leite) na região sul do país.
50
Qual a origem das descargas células somáticas?
As células somáticas não são mais do que uma contagem de células presentes no leite. Essas células são
constituídas por células epiteliais (células de revestimento do úbere) e glóbulos brancos (células de defesa
do organismo). As células epiteliais libertam-se do tecido de revestimento do úbere diariamente. Os glóbulos brancos entram no leite como parte de uma reacção
inflamatória, que pode ocorrer devido a infecção ou
traumatismo. São os glóbulos brancos que constituem
a maior percentagem da contagem de células somáticas, especialmente quando essa contagem é elevada. A
contagem de células somáticas é medida em milhares
de células por mililitro.
fornece um valor numérico de células somáticas, mas
permite saber se esse valor é baixo ou elevado. Na prática, se o resultado for negativo, ou seja, se não houver
gelificação o nível de células é baixo. Quanto maior
for a positividade no teste (pode-se classificar em 1, 2
e 3 consoante maior ou menor grau de gelificação),
maior será a contagem de células somáticas associada
a esse quarto. Há grandes vantagens na utilização deste
teste: é bastante barato, pode ser realizado durante a
ordenha, os resultados são imediatos e dá uma indicação do grau de infecção de cada quarto individualmente. No entanto, a reacção positiva só ocorre a
valores superiores a 400.000 células/ml.
Como detectar a presença de células somáticas no
leite?
Existem vários métodos que permitem ter uma noção
do nível de células somáticas no leite. Podem dividir-se
em qualitativos e quantitativos. Os quantitativos recorrem a equipamentos próprios (por exemplo, Fotossomatic e DeLaval Cell Counter) e reportam o número de
células por mililitro. O contraste leiteiro usa métodos
quantitativos e é uma forma de termos acesso à contagem de células somáticas de cada animal.
Os qualitativos permitem ter apenas uma ideia da
contagem de células somáticas.
O mais conhecido é o Teste Californiano de Mastites (ou TCM). Este é um método simples, em que se
mistura com o leite um reagente, e cujo resultado é um
maior ou menor grau de gelificação. Este método não
Que consequências traz um nível elevado de células
somáticas, do ponto de vista económico e de saúde
animal?
Do ponto de vista económico são vários os impactos
de uma contagem de células somáticas elevada. O aumento de células somáticas implica uma diminuição
na produção, pois uma vaca com um úbere infectado
não consegue produzir a quantidade de leite para a qual
está preparada. Existem vários estudos que relacionam
o aumento de células somáticas com a quebra da produção. Um exemplo de um estudo canadiano demonstrou que a produção de leite diminui em 2,5% por cada
aumento de 100.000 células/ml. Também as indústrias
de recolha de leite penalizam os valores acima de certa
referência (por exemplo 400.000 células/ml), sendo
essa penalização de acordo com cada fábrica de reco-
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SAÚDE ANIMAL
PRODUÇÃO
lha. As perdas associadas às quebras de produção e o risco de uma
penalização no preço do leite, causam um tremendo impacto económico negativo na exploração.
Do ponto de vista da saúde animal, uma contagem de células
elevada indica-nos que os úberes de uma exploração não estão
saudáveis. Quanto maior for o número de vacas afectadas, maior
será também o risco de novas infecções. Deve funcionar como
um sinal de alerta para o produtor tentar descobrir a razão para
ter valores elevados.
Que recomendações profiláticas pode dar aos produtores?
Para manter um valor de contagem de células somáticas baixo
é fundamental ter em conta algumas acções a adoptar na exploração. Existem 10 pontos que uma exploração deve ter em conta
para evitar problemas (de acordo com uma organização internacional):
1. Definição de objectivos para a saúde do úbere;
2. Manutenção de ambiente limpo, seco e confortável;
3. Rotina de ordenha apropriada;
4. Correcta manutenção e utilização do equipamento de ordenha;
5. Correcta manutenção de registos;
6. Maneio apropriado das mastites clínicas durante a lactação;
7. Maneio apropriado das vacas secas;
8. Manutenção da biossegurança em relação a agentes contagiosos e refugo de vacas cronicamente infectadas;
9. Monitorização regular do estado de saúde do úbere;
10. Revisão periódica do plano de controlo das mastites.
Como fazer baixar a Contagem Células Somáticas numa exploração afectada?
A identificação do problema terá sempre que ser o primeiro
passo. A forma mais eficaz para detectar os problemas passará pela
implementação de um programa de qualidade do leite. Ajudar as
explorações leiteiras a melhorar ou manter a qualidade do leite produzido, assim como promover a saúde do úbere dos animais, o aumento da produção e a melhor gestão do efectivo são os objectivos
de um programa de qualidade do leite. É fundamental que o maneio seja adequado, quer do ponto de vista nutricional, quer na manutenção dos parques. A rotina de ordenha, assim como a sala e a
máquina de ordenha devem ser revistas para identificar pontos que
possam ser responsáveis pela subida de células somáticas. Um
ponto essencial para o bom funcionamento da exploração em relação à qualidade do leite é criar bons registos de mastites. Com
bons registos é mais fácil fazer um bom controlo mensal e desta
forma ajudar na gestão do efectivo. Os programas de qualidade do
leite permitem ir monitorizando mensalmente a exploração para
que qualquer alteração seja logo detectada e corrigida a tempo de
evitar problemas com consequências mais graves.
É recomendável o uso de antibióticos? Em que circunstâncias?
O uso de antibióticos deve ser sempre moderado e bem dirigido
a situações concretas. O produtor tem sempre que conhecer muito
bem quais são os principais agentes causadores de mastite na sua
exploração e, com o seu médico veterinário, estabelecer quais os
protocolos a adoptar. Para obter taxas de cura mais elevadas é fundamental que a detecção da mastite seja o mais precoce possível
para que a eficácia do tratamento seja máxima.
Um outro factor a ter em conta será se a situação é adequada ao
uso de antibióticos. Mastites não responsivas podem estar asso-
ciadas a agentes que não curam com antibióticos (leveduras, Prototheca spp) ou até situações crónicas em que a taxa de cura é demasiado baixa (Staphylococcus aureus, Streptococcus uberis).
Sempre que o produtor tiver alguma dúvida deve aconselhar-se
com o seu médico veterinário. O uso de antibiogramas deve ser
equacionado mas a sua interpretação deve ser feita com algum
cuidado. A informação mais valiosa de um antibiograma é saber
quais são os antibióticos aos quais os agentes causadores de mastites são resistentes.
Qual a consequência do uso indiscriminado de antibióticos e
sua associação com resistências e consequente quebra económica da exploração?
O uso indiscriminado de antibióticos tem consequências muito
graves. O risco de criarmos resistências tem um impacto negativo, quer na saúde pública, quer economicamente na exploração.
As situações de resistência aos antibióticos fazem com que a resposta das vacas ao tratamento seja nula, ou seja, a exploração
gasta dinheiro no tratamento mas sem sucesso na cura dos animais. Além do gasto que já teve em antibiótico a tentar tratar um
animal, tem que somar também a perda de leite, a consequente
perda do quarto afectado ou mesmo do animal e o risco de nova
infecção para os outros animais.
Para evitar estas situações deve ser bem definida qual a duração
do tratamento e esta deve ser sempre respeitada, assim como os
protocolos escolhidos. Se estes não forem respeitados podem
levar a situações de resistências. Não é aconselhável trocar com
frequência o tipo de antibiótico num mesmo tratamento, pois podemos estar a desenvolver situações de resistência na exploração
e criar situações de mastites crónicas. !
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PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
NECRÓPSIAS
Mortes súbitas podem revelar
aspectos importantes?
Dário Guerreiro, Médico Veterinário
[email protected]
Por vezes ocorrem mortes de animais, em várias fases de produção, de uma forma mais ou menos súbita (aguda ou hiperaguda)
e que ficam sem explicação. Pensamos: “Já não vale a pena chamar o veterinário…”. Ora este pensamento é muito questionável,
pois na maioria dos casos estas ocorrências acabam por repetir-se
e só ao fim de várias mortes é que nos preocupamos em diagnosticar a sua causa… e aí as perdas já são avultadas.
Morte súbita ou aguda é uma situação muito frequente na clínica de campo. A sua origem está habitualmente associada a patologias assintomáticas ou de evolução aguda ou hiperaguda. Por
vezes é apenas fruto de negligência do tratador em observar comportamentos anormais do animal, acabando este por morrer. Noutros casos, estão envolvidas causas infecciosas (bactérias, vírus,
hemoprotozoários, e outros), mal formações congénitas (cardíacas, do sistema nervoso central, etc.), carências vitamínicas ou de
micro-elementos (como o selénio, cobre), intoxicações (alimentos
Vitelo de 1 mês de idade
morto devido a uma grave
infestação de Toxocara
vitulorum
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alterados, micotoxinas). Em todo o caso é fulcral identificar a sua
causa para assim ser feita uma boa abordagem terapêutica ao restante efectivo e prevenir maiores perdas económicas.
É sempre importante o produtor juntamente com o seu Médico
Veterinário assistente não deixarem nenhuma morte por explicar,
pois essa baixa no efectivo pode ser “a ponta do iceberg” e quanto
mais depressa diagnosticarmos a sua causa, mais rapidamente a
corrigimos minimizando as perdas económicas.
Na procura de uma justificação para a morte súbita de um animal é essencial concentrarmo-nos na anamnese não só do animal
em questão mas de todo o efectivo e também fazer uma observação da exploração e do maneio que nela se pratica. Uma boa
anamnese permite-nos saber o estado higio-sanitário dos animais,
encontrar situações semelhantes ocorridas no passado e detectar
patologias concomitantes. Nem sempre o diagnóstico clínico é suficiente, especialmente nestes casos em que a morte ocorre precocemente. Nos mesmos é fundamental recorrermos à técnica de
Vaca morta devido a
endocardite
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SAÚDE ANIMAL
PRODUÇÃO
Leptospirose em bovinos de extensivo, em que é possivel ver a hematuria (urina com sangue).
Este diagnóstico foi confirmado laboratorialmente pela presença de leptospiras no globo ocular.
necrópsia, do grego necros = morto, opsis = observar (vulgarmente chamada autópsia, termo utilizado em medicina humana)
do cadáver do ou dos animais mortos.
Esta técnica é lamentavelmente, muitas vezes negligenciada,
mostrando-se no entanto muito útil no diagnóstico ou confirmação da causa de morte, mas também na observação de patologias
primárias assintomáticas que associadas a outras patologias culminam na morte súbita do animal. Esta técnica deve ser feita o
mais precocemente possível de forma a que a degradação normal
do cadáver (autólise) não mascare ou inviabilize o posterior diagnóstico pós-morte. Assim durante o verão deve ser efectuada até
12 horas após a morte do animal. No inverno este intervalo de
tempo pode estender-se até às 48 horas. A execução da necrópsia
possibilita fazer muitos diagnósticos ou confirmar suspeitas, visto
que podem ser detectadas lesões que são específicas e características de certas patologias (isto é patognomónicas) chegando-se
assim a um diagnóstico definitivo. Por outro lado, caso ainda subsistam dúvidas após a execução deste procedimento, podemos recolher amostras de vários órgãos e tecidos para posterior análise
laboratorial, sendo as mais comuns as análises histopatológicas,
microbiológicas (bacteriológicas ou virulógicas) e toxicológicas.
Assim é fundamental uma boa coordenação entre o produtor e
o seu médico veterinário assistente para que a execução de necrópsias seja uma prática de rotina sempre que ocorre mortalidade
sem uma explicação inequívoca.
Deve reservar-se o local afastado da abegoaria e outras instalações que alberguem o efectivo. Assim, o mais comum é efectuarse a necrópsia num local afastado, destinado à recolha de
cadáveres por parte dos serviços competentes. Deste modo asseguramos que, no caso de doenças infecto-contagiosas, o microorganismo envolvido não se propague facilmente para os restante
animais. Por outro lado, o vestuário e restante material utilizado
não deve ser utilizado na exploração sem que antes seja devidamente lavado e desinfectado.
A execução deste tipo de exame requer a presença de um ou vários médicos veterinários e obedece a uma metodologia concreta
e precisa de modo que os procedimentos que constituem a técnica
da necrópsia sejam correctamente aplicados. Uma má técnica
pode impossibilitar a obtenção do tão esperado diagnóstico ou até
inviabilizar a recolha e envio de material para o laboratório, tornando assim inconclusivo todo o processo de diagnóstico. Assim
deve se efectuada sempre a necrópsia completa e não apenas aos
aparelhos ou sistemas que suspeitamos que estejam afectados. As
surpresas são bastante frequentes! É o que sucede por exemplo
em Feedlot, em que se suspeitarmos de patologia respiratória e só
efectuarmos a necrópsia ao aparelho respiratório, podemos encontrar lesões pulmonares. No entanto muitas vezes a causa dessas lesões são tromboembolismo devido a ruminites ou a abcessos
hepáticos e este diagnósticos só é possível se fizermos a necrópsia completa a toda a cavidade abdominal e não apenas ao tórax.
Como já referi anteriormente, no caso de morte súbita é fundamental recorrer à necrópsia do ou dos cadáveres dos animais vitimados.
De entre as causas mais comuns de morte súbita podemos destacar as de origem infecciosa: é o caso de Clostridiose, Leptospirose, Carbúnculo Hemático, Enterotoxémias. São também muito
frequentes intoxicações por químicos (adubos, pesticidas) ou por
plantas infestantes das pastagens (escalracho – sorghum halepenses, entre muitas outras).
Podemos ainda referir patologias de origem cardio-vascular:
como o enfarte do miocárdio, miocardite séptica, trombose da veia
cava caudal; patologias digestivas: úlcera perfurante no abomaso
ou noutro segmento do tubo digestivo, reticulopericardite traumática; e patologias metabólicas das quais se destacam as carências nutricionais.
Quando estamos perante morte de animais muito jovens há uma
grande probabilidade de ser uma patologia congénita (atresia ani,
estenose pilórica ou intestinal, etc.). Mas poderá ter outras causas
parasitárias, infecciosas, metabólicas, para citar apenas algumas.
Por vezes o não uso desta técnica deve-se ao receio de contactar com zoonoses por parte do médico veterinário e também ao
facto de poder ser fonte de contágio para os outros animais.
Assim, uma forma de contornar este problema será o medico veterinário proteger-se sempre com o uso de luvas e efectuar a necrópsia num local isolado da exploração, longe dos outros
animais, como já referi anteriormente.
Em suma, apesar de muitas vezes nos depararmos com casos de
mortes aparentemente inexplicáveis, devemos sempre que possível
procurar a verdadeira causa e neste caso, esta técnica pode tornarse muito útil para conseguir um diagnóstico mais fidedigno. !
Referências Bibliográficas:
DIVERS TH, PEEK SF. Rebhum`s Disease of Dairy Catle.
2ªEd. Missouri: Saunders. 2008
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BEM ESTAR ANIMAL
Causas de coxeiras
em pequenos ruminantes e o seu efeito sobre
o bem-estar dos pequenos ruminantes
Ana Vieira, Inês Ajuda, George Stilwell , AWIN – Animal Welfare Indicators
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa
[email protected]
Neste segundo artigo resultante da colaboração da
equipa do AWIN com a Revista Ruminantes decidimos
abordar o tema das coxeiras ou claudicações em
pequenos ruminantes. Escolhemos este tema uma vez
que as claudicações e o sobrecrescimento das unhas,
assim como as lesões no úbere e tetos e lesões na pele e
prurido, têm vindo a ser identificadas nas explorações
de pequenos ruminantes como as principais falhas de
bem-estar animal (BEA) (Eze, 2002; Anzuino et al.,
2010).
No seguimento daquilo que foi discutido no artigo anterior, lembramos que as claudicações incluem-se numa das 5 Liberdades definidas pelo Farm Animal Welfare Council, nomeadamente naquela
que refere que os animais devem estar livres de dor, ferimentos e
doença e devem-lhes ser garantidas condições de prevenção de
doenças, diagnóstico rápido e tratamentos adequados (FAWC,
2011).
Mais uma vez, gostaríamos de deixar o desafio aos leitores para
que nos sugiram temas que gostariam de ver discutidos. Estamos
empenhados em criar um espaço de discussão e esclarecimento de
dúvidas que contribua para uma cada vez maior profissionalização
do sector de produção de pequenos ruminantes.
AS CLAUDICAÇÕES: UMA QUESTÃO EMERGENTE
OU UM PROBLEMA DE SEMPRE?
A produção de pequenos ruminantes tem vindo a tornar-se cada
vez mais intensiva com recurso ao confinamento dos animais em regime permanente, sujeito a densidades elevadas. O facto de os animais terem cada vez menos acesso ao ambiente exterior reduz o
desgaste das unhas que a maior actividade e exercício garantia, ficando os animais dependentes de boas práticas de maneio para fazer
face ao sobrecrescimento das mesmas. Outro factor importante a
ter em consideração na produção intensiva é que nestes animais,
devido à sua dieta com um elevado nível de energia e proteína, as
unhas tendem a crescer mais rapidamente (Reilly et al., 2002).
De facto, a presença de animais com diferentes níveis de claudicação tem vindo a tornar-se cada vez mais frequente e neste momento estamos perante a situação de, em algumas explorações, isto
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Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
ser considerado como uma vicissitude normal da produção, à qual
os produtores apenas dedicam uma atenção esporádica (Eze, 2002).
Neste momento não é possível apresentar um valor médio para a
prevalência de animais com claudicação nas explorações nacionais.
Por estudos realizados noutros países sabemos, no entanto, que este
é um problema transversal a diferentes explorações; embora também exista o registo de explorações nas quais este problema praticamente não se coloca (Anzuino et al., 2010). Os valores de
prevalência apontados nos diferentes estudos oscilam bastante: Eze
(2002) no estudo realizado na Nigéria refere um valor médio de
15%, Mazurek et al. (2007) numa exploração experimental observaram no seu estudo valores indicativos de 12,5% e Christodoulopoulos (2009) referiu para a Grécia o valor de 24%. Por outro lado,
Hill et al. (1997) encontraram no seu estudo no Reino Unido uma
prevalência média de 9,1%, com uma das explorações do estudo a
apresentar valores de 23,4%. É importante referir que uma vez que
ainda não foram desenvolvidos sistemas de avaliação da claudicação eficazes, estes valores podem, na realidade, ser muito superiores, uma vez que podemos estar apenas a considerar os animais
classificados como mais graves.
Devido à grande divergência dos valores apresentados, ao facto
de alguns casos poderem passar despercebidos e à possibilidade de
existirem explorações em que o problema tem um impacto muito
importante sobre o bem-estar e produção, os responsáveis das explorações e os seus médicos veterinários devem ficar cada vez mais
atentos a esta problemática.
MAS QUAIS SÃO OS SINAIS DE ALARME?
Por definição, as claudicações são andamentos e posturas atípicos caracterizados por afecção de um membro, ou mais, que perde
a capacidade de suportar o peso corporal, e que está de uma maneira
geral associado a dor no sistema músculo-esquelético (Radostitis
et al., 2007). A claudicação pode ainda ser considerada um comportamento compensatório para fazer face à dor que os animais sentem (Bahr, 2008).
Existem, no entanto, outros sinais aos quais de deve dedicar atenção. Particularmente, a presença nas explorações de animais que se
movimentem de joelhos ou que estejam muito tempo de joelhos;
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BEM ESTAR ANIMAL
Mazurek et al. (2007) demonstrou uma correlação significativa
entre as restrições de movimentos e o nível de claudicação. Outros
sinais podem ser animais com dificuldades em movimentos transitórios (levantar e deitar), articulações aumentadas em volume (inflamadas), animais com posturas desviantes quando se encontram
em pé ou animais que permanecem muito tempo deitados (Reilly et
al., 2002; Radostitis et al., 2007).
A claudicação é assim um sinal e não uma doença em si, já que,
com muito poucas excepções, a coxeira resulta de uma tentativa de
reduzir ou evitar a dor resultante do apoio de um ou vários membros. Existem diferentes etiologias, genéticas, físicas por traumatismo e infecciosas, que podem estar na origem destes processos
(Smith et al., 2009; Gelasakis et al., 2011).
A maior parte das claudicações em pequenos ruminantes está associada a patologia da extremidade distal dos membros. Embora
este seja um facto sobre o qual nos falta muita informação, diversos estudos têm vindo a referir que o sobrecrescimento das unhas é
a patologia podal mais comum (Reilly et al., 2002). É importante referir que uma porção importante destas claudicações pode ser atribuída a questões ambientais, nutricionais e anatómicas, sendo que
a grande maioria pode ser prevenida através de boas práticas de maneio e de um programa adequado de corte funcional das unhas
(Reilly et al., 2002).
AS CONDIÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS QUE CONTRIBUEM
PARA O APARECIMENTO DESTAS AFECÇÕES SÃO:
(adaptado de Radostitis et al., 2007)
1. lesões provocadas por pavimento dos parques
2. redução do desgaste por piso pouco abrasivo e falta de exercício.
3. camas persistentemente húmidas e com poucas condições de higiene
4. falhas em termos nutricionais
5. falta de um programa regular de corte funcional das unhas.
As unhas dos pequenos ruminantes apresentam menos problemas em ambientes secos (Reilly et al., 2002) (Fig.1). Assim, a incidência deste tipo de afecções aumenta quando a humidade
ambiental aumenta e as camas dos animais ficam permanentemente
molhadas.
Em ovinos a afecção podal mais comum é de origem infecciosa
– a peeira (Fig. 2) (Reilly et al., 2002). Caracteriza-se por casos
mais ou menos severos de claudicação sendo que a sua prevalência
aumenta em ambientes húmidos e quentes. É provocada por uma
associação de agentes (Dichelobacter (Bacteroides) nodosus e Fusobacterium necrophorum) e caracteriza-se por lesões visíveis na
junção da pele com o estojo córneo da unha, necrose mais ou menos
profunda e cheiro pútrido (Radostitis et al., 2007). Por ser uma afecção altamente contagiosa recomendam-se boas práticas de maneio
das camas, utilização de pedilúvios que promovam um uma desinfecção, um endurecimento e um fortalecimento das unhas e a utilização de um programa vacinal adequado (apenas quando a
incidência de peeira no rebanho é muito elevada e as restantes medidas de prevenção não parecem ser suficientes).
Nas cabras mantidas em regime intensivo, as afecções mais
comum parecem ser as lesões provocadas por um crescimento excessivo da unha (Fig.3). Num estudo realizado no Reino Unido
91,2% das cabras leiteiras em regime intensivo apresentavam sobrecrescimento das unhas (Hill et al., 1997). O sobrecrescimento e
as claudicações consequentes, são indicadores importante de fraco
bem-estar animal e de mau maneio em explorações intensivas de
leite.
OUTRAS CAUSAS DE CLAUDICAÇÕES EM PEQUENOS
RUMINANTES SÃO:
- infecciosas – certos vírus e bactérias podem provocar artrites,
sendo consideradas mais importantes aquelas causadas pelo vírus da
Artrite-encefalite caprina (CAEV) e por Mycoplasmas (Agaláxia
Contagiosa). Geralmente as claudicações fazem parte de uma quadro clínico que pode incluir mastites, pneumonias,
- Doenças neurológicas e defeitos anatómicos são responsáveis
por casos esporádicos.
- Traumas – por agressões entre animais, acidentes ou até devido
a injecções de substâncias oleosas (oxitetraciclina) nos músculos
dos membros posteriores.
- Causas metabólicas e nutricionais – edema das extremidades
que surge nos casos de Toxémia de Gestação ou casos de carência
em certos minerais (e.g. zinco, selénio).
O QUE FAZER PARA PREVENIR?
Relativamente a boas práticas é de referir a importância de manter as camas secas e, quando tal for possível, dar acesso aos animais a um parque de exercício que tenha superfície que possa
provocar algum desgaste nas unhas. Uma outra possibilidade é colocar os comedouros e bebedouros sob uma superfície que provoque algum desgaste das unhas. Nas cabras uma outra situação que
tem tido alguns resultados é construir ou empilhar material que
possa provocar este desgaste (por exemplo, blocos de cimento) para
as cabras escalarem e brincarem (Reilly et al., 2002).
Uma vez que estas sugestões são muitas vezes difíceis de cumprir na rotina diária das explorações, será sempre importante ter em
prática um bom e regular programa de corte funcional das unhas.
Não existe uma frequência certa para este controlo, uma vez que
este é muito dependente das condições da própria exploração, no
entanto, podemos referir como mínimo um corte de unhas semestral dos animais em regime intensivo.
As claudicações são um exemplo em que a garantia do bem-estar
animal apenas pode ser alcançada através da aplicação de práticas
de produção adequadas, que tenham em conta não só a espécie animal em si, mas também os sistemas de produção, as condições climáticas, o alojamento e as metodologias de maneio e de
alimentação.
O IMPACTO ECONÓMICO DAS CLAUDICAÇÕES
Para além de constituírem um problema em termos de BEA, as
claudicações constituem ainda um problema económico importante
para as explorações.
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BEM ESTAR ANIMAL
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Fig. 2 - Ovelha com caso severo de peeira.
Fig. 1 - Unhas em boas condições de um animal que não
apresentava quaisquer sinais de claudicação.
Fig. 3 - Cabra que apresenta deformação severa das
unhas.
Vimos no artigo anterior da Revista Ruminantes que animais em que está garantido o bem-estar são mais saudáveis
(Horgan & Gavinelli, 2006), e consequentemente mais produtivos, tanto em
termos de quantidade como de qualidade.
No caso particular das claudicações, as
perdas económicas devem-se ao facto que
animais que estejam em dor (Fig.4) e tenham dificuldade em se movimentar, acabam por não se alimentarem adequada
mente o que conduz a quedas de produtividade (Radostitis et al., 2007). A performance reprodutiva, de machos e fêmeas,
é também diminuída e a taxa de refugo
aumenta consideravelmente (Eze, 2002;
Radostitis et al., 2007).
Estudos realizados em cabras demonstram uma relação directa entre a existência de afecções debilitantes, como
claudicações por sobrecrescimento das
unhas, ou a existência de doenças que
afectem a saúde do úbere, e uma redução
significativa de produção de leite, assim
como da sua qualidade (Jackson & Hackett, 2007; Mazurek et al., 2007; Christodoulopoulos, 2009; Anzuino et al., 2010).
O PROJECTO ANIMAL WELFARE
INDICATORS (AWIN) E AS
CLAUDICAÇÕES
Fig. 4 - Cabra que apresenta uma postura que denuncia
desconforto e dor perante condição de claudicação.
56
As claudicações, pelo peso que apresentam a nível das nossas explorações
foram consideradas como um objectivo de
estudo do projecto AWIN. E consequentemente, as claudicações vão ser consideradas como indicador de BEA na maneira
em que afectam a “liberdade dor, ferimentos e doença”, no critério de BEA de
ausência de ferimentos e doenças.
Quando iniciámos o estudo deste indi-
Ruminantes • Janeiro | Fevereiro | Março • 2012
cador fomos confrontados com uma
grande ausência de informação a este
nível em pequenos ruminantes, nomeadamente a falta de um sistema de avaliação
eficaz e fiável dos animais com claudicação. A grande maioria dos sistemas em
uso (Hill et al., 1997; Anzuino et at., 2010)
apenas é clara para os casos mais graves,
não permitindo uma detecção precoce dos
animais afectados. Desta forma, um dos
nossos grandes objectivos passará pelo
desenvolvimento de uma escala de avaliação contínua de claudicação que permita a todos os interessados a
classificação dos animais segundo o grau
de severidade de claudicação. Pretendemos também no AWIN desenvolver conteúdos de formação e informação sobre o
tema de forma a divulgarmos de uma
forma eficaz os achados do nosso trabalho. Pretendemos ainda avaliar qual a prevalência desta afecção nas nossas
explorações, fornecendo a cada produtor
uma ferramenta para, de uma forma rápida e eficaz, avaliar este problema (autoavaliação).
Um resultado preliminar dos nossos estudos é que a melhor forma de avaliar os
animais com claudicação será à saída da
ordenha. Além de se conseguir uma melhor visibilidade, o facto de nos parques
os animais andarem sob superfícies mais
moles pode diminuir o grau de dor e assim
a manifestação de claudicação; ao mesmo
tempo que oculta determinadas condições, como o sobrecrescimento das unhas.
De facto, em alguns estudos verificou-se
que para as mesmas explorações e animais, a prevalência de animais identificados com claudicação era superior quando
estas eram avaliadas à saída da ordenha,
relativamente à classificação dos animais
nos parques (Anzuino et al. 2010)
Pretendemos depois relacionar este conhecimento com o conceito de dor, percebendo se a dor é uma vertente importante
na patogénese das claudicações, de que
forma esta se encontra associada aos diferentes níveis da escala que desenvolvemos e se a analgesia deverá ser consi
derada como parte essencial do tratamento das claudicações facilitando a recuperação do animal. !
Referências bibliográficas:
Não foram incluídas por uma questão de espaço
editorial, mas os autores disponiblizam bastando
enviar um email para: [email protected]
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EQUIPAMENTOS
Novidades de equipamento
ENFARDADEIRA DE FARDOS CILÍNDRICOS EMBALADORA “ULTIMA” NON-STOP
Bernard KRONE GmbH Maschinenfabrik
FENDT CARGO PROFI
CARREGADOR FRONTAL AUTOMATIZADO
COM MECANISMO DE PESAGEM
AGCO GmbH Fendt
A gama de funções do carregador frontal é claramente aumentada com a ajuda adicional de tecnologia de sensores, permitindo
novas funções. Duas posições finais para os braços e o implemento podem ser pré-selecionadas automaticamente (função de
memória), limitando assim a gama de operações. Os resultados
obtidos por um sistema integrado de pesagem com sensor de inclinação são documentados. Também possui uma função de vibração, amortecimento dependente da velocidade e amortecimento
da posição final. A operação pelo utilizador é totalmente integrada
no terminal do tractor.
A produção de fardos cilíndricos é uma operação de colheita
exigente, tendo por objectivo a obtenção de um fardo bem formado e compactado, atado e embalado uniformemente. Nos modernos sistemas de embalamento conseguem-se elevados
rendimentos, mas existem paragens para o atamento e embalamento dos fardos. Esta inovação Non-Stop permite que as operações de compactação, atamento e embalamento do fardo decorram
de forma contínua. O comando inteligente duma câmara com função de enfardamento preliminar possibilita uma operação automática. A automatização alivia o trabalho do operador. A
velocidade de deslocação do tractor é adaptada à carga de trabalho da enfardadeira. A produtividade da máquina pode ser aumentada até 50%, o que incrementa a capacidade de utilização da
máquina. Conseguem-se maiores rendimentos de trabalho a par
com menores custos.
MEDIÇÃO DE CONSTITUINTES PARA COLHEITAS
JOHN DEERE HarvestLab e JOHN DEERE Vertrieb
A erva e o milho estabeleceram-se como uma matéria-prima
para explorações pecuárias e instalações de biogás. Os critérios de
facturação até agora utilizados, baseados no rendimento e na matéria seca não são suficientes para se determinar um valor de pagamento que encoraje a produção de qualidade. A tecnologia
NIRS e as curvas de calibragem calculadas com rigor permitem
determinar, online, durante a colheita, diversos parâmetros como
sejam o açúcar, o amido, a proteína, a fibra (ADF, NDF) e as cinzas, mas também a humidade. Estes dados fornecem informação
para uma comercialização em função de critérios de qualidade,
bem como indicações relativas à técnica de produção. Permite
ainda melhorar os processos de ensilagem e de fermentação.
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EQUIPAMENTOS
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“SMART KEY” CHAVE ELECTRÓNICA INTELIGENTE
NEW HOLLAND Agriculture Equipment Spa
A chave convencional foi dotada de um chip-RFID que
só permite que o condutor utilize as máquinas para as
quais tem permissão. Desta forma, não só os requisitos
específicos do seguro (imobilizador) podem ser satisfeitos, como também podem ser atribuídas autorizações específicas para cada utilizador. Assim, cada
condutor precisará apenas de uma chave para
todas as máquinas, uma chave que pode ser
usada mesmo em máquinas que não possuam tecnologia RFID. O veículo assume
automaticamente as configurações do
condutor específico, armazenadas na
chave, e regista a identidade do motorista na documentação de trabalho.
BARREIRA DE CONDUÇÃO DE ANIMAIS FILOBOVIN 30
Naudot SAS - Mazeron
O sistema Filobovin 30 é constituído por um rolo de filme de
plástico opaco, com a largura de 1,80 m e 50 m de comprimento.
O rolo é munido de um suporte de rolagem adaptado para montagem no engate de 3 pontos dos tractores. Graças a este sistema,
um só interveniente pode, de uma forma económica, fácil e rápida,
montar uma barreira para canalizar ou limitar a passagem do gado.
AUTO-PESAGEM DOS ANIMAIS
France Bovins Croissance
Um passadiço de pesagem para ser colocada em local “obrigatório” de passagem do gado (manjedoura, ponto de água…).
Os animais são reconhecidos pela sua marca de identificação
e pesados no referido passadiço.
Todos os pesos são permanentemente registados e os valores
aberrantes são eliminados.
Os riscos para o operador, habitualmente ligados à pesagem,
são evitados, assim como é eliminado o stress dos animais.
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O DESENSILADOR DISTRIBUIDOR
DE FORRAGEM ALTOR 5070 M
KUHN
A oferta da Kuhn no que respeita a desensiladores distribuidores de forragem fica enriquecida com a chegada do modelo Altor
5070 M.
Esta máquina de 5 m3 é polivalente. A cinemática do braço/gancho permite o acompanhamento da forragem até muito próximo
do separador de fardos. O elevador utiliza, assim, toda a capacidade útil da máquina sem accionar o tapete. A capacidade de levantamento de 2.20 toneladas permite carregar rapidamente a
silagem de erva. As dimensões interiores do depósito da Altor
5070 M permitem aceitar fardos redondos com qualquer diâmetro e fardos cúbicos até 2,70 metros. O separador de fardos é accionado pelo dispositivo patenteado Polydrive®. A transmissão
por correia permite usufruir da potência da turbina beneficiando
da embraiagem hidráulica para maior flexibilidade de funcionamento. Torna-se possível a distribuição de fibras longas como o
feno ou a silagem pré-seca.
De origem, o Altor 5070 M está equipado com uma manga de
fardos regulável hidraulicamente para a distribuição da silagem.
Esta acompanha o fluxo do produto até ao depósito separando-o
do soprador, conseguindo assim um cordão limpo e regular.
“O conceito de distribuição da palha em chuveiro permite distribuir a quantidade certa de palha de modo homogéneo por toda
a zona de camas. A distância de distribuição da palha é de 18 metros à direita e de 13 metros à esquerda, com a opção Kit boca de
descarga a 300 graus.”
O Altor 5070 M está preparado para aceitar uma tremonha mis-
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EQUIPAMENTOS
turadora de 575 litros. Verdadeira misturadora com o seu sem-fim
agitador de movimento invertido (Mix Control System), os minerais e concentrados são pré-misturados antes de serem injectados na turbina. O Altor 5070 M pode aceitar o dispositivo de
pesagem
A empresa Barão & Barão ordenha aproximadamente 400 animais, 3 vezes ao dia numa sala de ordenha com 24 pontos que já
tem mais de uma década. O seu efectivo bovino conta com cerca
de 900 animais de raça Holstein Frisian, com uma produção média
de 11000 litros de leite, em 305 dias.
DIVERSEY INSTALA SISTEMA AUTOMÁTICO DE
DESINFECÇÃO DOS TETOS E LAVAGEM DAS TETINAS
NA VACARIA BARÃO & BARÃO
Em Dezembro de 2011, a Diversey Portugal, instalou na sala
de ordenha da vacaria Barão & Barão o sistema ADF (Automatic
Disinfection and Flushing). Este sistema que se adapta a qualquer
tipo e marca de sala de ordenha, permite automaticamente e na
tetina sem o envolvimento do ordenhador, desinfectar os tetos dos
animais e automaticamente entre cada animal desinfectar as tetinas para que se encontrem higienizadas aquando da colocação no
animal seguinte.
Segundo o Sr. António Barão, os principais motivos para ter escolhido a instalação deste sistema na sua vacaria foi deixar de depender do factor humano na desinfecção após a ordenha
adicionado ao facto de desinfectar as tetinas entre cada animal.
No entanto, após o sistema estar a funcionar, detectou ainda uma
satisfação geral dos colaboradores porque não só as tetinas são
mais leves e fáceis de colocar como deixou de ser necessário
"apertar" o copo de cada vez que se aplicava o produto desinfectante da pós-ordenha nos tetos dos animais.
A Diversey Portugal S.A. é uma empresa fornecedora de soluções de higiene com um grande historial em Portugal na higiene
das explorações leiteiras através da marca Deosan.
Mais informações contacte: [email protected] !
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EQUIPAMENTOS
SALA DE ORDENHA
Reduzir o tempo
e os custos da ordenha
Ruben Mendes, Diversey Portugal, S.A.
[email protected]
Um novo sistema automático de desinfecção
dos tetos e de lavagem das tetinas pode
economizar tempo na sala de ordenha, sem
comprometer a qualidade da rotina de
ordenha.
Assim atestam os resultados dum estudo de tempose-movimentos realizado pela ADF Milking Ltd. em conjunto com o Dairy Group*, numa série de vacarias no
Reino Unido que testaram um novo sistema de desinfecção do úbere pós-ordenha — o sistema ADF. Este
sistema desinfecta automaticamente os tetos enquanto
as tetinas ainda estão colocadas, assim como as tetinas,
imediatamente após a ordenha. A desinfecção do úbere
após a ordenha é, comprovadamente, de extrema importância na prevenção de novos casos de mamites subclínicas (Lam et al., 1996).
Na maioria das vacarias, o trabalho é intenso e o
tempo precioso mas simplificar a rotina da ordenha pode
resultar em custos acrescidos. No entanto, já existe uma
ferramenta à disposição dos produtores que promete
economizar uma quantidade considerável de tempo na
sala de ordenha sem comprometer a qualidade e a eficiência do processo.
Trata-se do ADF, um sistema automático de imersão
e lavagem dos úberes, que tem tido grande sucesso entre
os produtores do Reino Unido desde o seu lançamento
no Dairy Event em 2005. E não apenas devido aos resultados sobre a saúde do úbere e os benefícios na qualidade do leite. Como refere James Duke, da ADF,
"Estamos a receber um grande “feed back” por parte dos
utilizadores que referem que o tempo que este sistema
permite poupar, contribui para um ambiente mais descontraído na sala de ordenha, beneficiando as vacas e o
operador".
NO MOMENTO EXACTO
"O sistema ADF automatiza as operações que têm que
ser feitas em cada ordenha, no momento certo.”
Os resultados do estudo de tempos-e-movimentos
efectuado mostram que o ADF permite economizar
mais tempo do aquele especificamente atribuído à acção
da imersão e lavagem dos úberes. "A redução do tempo
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total da ordenha foi maior que a soma do tempo directamente associado à imersão e lavagem dos úberes",
afirmou o especialista em tecnologia de ordenha Ian
Ohnstad, que liderou o estudo do Dairy Group. "Se, por
exemplo, em cada ordenha se demorar 30 minutos no
total para desinfectar todos os tetos e lavar as tetinas manualmente, automatizando o processo poder-se-ia esperar reduzir o tempo de ordenha em 30 minutos. No
entanto, em todas as explorações que estudámos verificou-se uma maior redução do tempo de ordenha." (ver
tabela abaixo).
Exploração A
Exploração B
Exploração C
Exploração D
Exploração E
minutos
25
45
15
17
62
"O sistema ADF consegue mais do que uma economia de tempo, porque permite que o trabalhador se concentre nas vacas, e se concentre nas operações que têm
que ser feitas em determinado momento", acrescentou
James Duke.
PREPARAÇÃO DO ÚBERE
"A preparação do úbere, por exemplo, é mais oportuna se for feita logo após a vaca ter entrado na sala de
ordenha. Nas salas de ordenha equipadas com o ADF, o
operador não se distrai com as vacas que precisam de
ser desinfectadas antes de deixarem a sala de ordenha ,
uma vez que essa operação já está executada. Em média,
três horas de ordenha são reduzidas para duas. "
O estudo, realizado em cinco explorações, revelou
que o tempo de entrada das vacas foi reduzido pela metade: "As vacas são “conduzidas” no seu trajecto para a
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EQUIPAMENTO
EQUIPAMENTOS
SALA DE ORDENHA
sala de ordenha e, a partir
daí, o resto da rotina de
ordenha é muito mais eficiente e certamente
menos stressante. O operador não está dividido
entre duas actividades o
tempo todo."
O processo de imersão
dos tetos também é mais
"eficiente" — há menos
perdas, uma vez que o
produto é colocado exactamente onde é necessário, na quantidade e na altura certas.
"Esta é uma daquelas situações em que uma máquina
é realmente melhor do que um operador humano, e também menos dispendiosa uma vez que o ADF consegue
reduzir este valor para valores a rondar os 0,06€/vaca
ordenhada e isto contando com produto desinfectante
dos tetos, produto desinfectante das tetinas e as tetinas
em si trocadas a cada 2000 a 2500 ordenhas", acrescentou Duke. E quanto maior for a sala de ordenha, mais visível é o efeito da instalação do sistema ADF na redução
do tempo de ordenha. Nas ordenhas rotativas, este sistema é particularmente útil — e em muitos casos permite dispensar uma segunda pessoa a ordenhar.
"Este sistema permite que sejam instaladas salas de
ordenha maiores e com mais vacas de leite, evitando
problemas relacionados com a necessidade de pessoal
extra e outros custos associados."
Ian Ohnstad concorda: "É improvável que um operário que leve a cabo uma operação completa de ordenha,
seja capaz de utilizar eficazmente 18 pontos de ordenha.
"Existem poucas dúvidas de que a automatização da
imersão e lavagem dos úberes pode aumentar este valor,
mas actualmente não se sabe exactamente em quanto.
James Duke menciona igualmente que, como em
qualquer sistema automatizado, os produtores devem revisionar o ADF regularmente para garantir a sua eficácia na imersão e lavagem dos tetos.
"Como em qualquer máquina ou equipamento automático, há uma tendência para carregar no botão e esquecer. Aos operadores cabe a responsabilidade de
verificar se o ADF, como qualquer outra peça de equipamento na sala, está a funcionar correctamente. Portanto, devem verificar regularmente os úberes das vacas
que foram imersos. O ADF é uma ferramenta de valor
inestimável — para poupar tempo, dinheiro e a saúde
do úbere mas, como qualquer máquina, deve ser cuidadosamente monitorizada", acrescenta.
ORDENHA SEM STRESS
Cliff Longlands ordenhou 113 rebanhos leiteiros diferentes — cerca de 34 mil vacas — no Reino Unido e
na França durante os últimos sete anos. É um vaqueiro
experiente e um grande fã do sistema ADF.
"Já ordenhei três rebanhos no Reino Unido com o sistema automático de imersão — todos com efectivos relativamente grandes, com 280, 1.000 e 320 vacas,
respectivamente — e realmente economiza-se muito
tempo."
Actualmente, Longlands trabalha com o sistema ADF
numa vacaria com 280 vacas de leite, na localidade de
Sevenoaks, numa sala de ordenha 24:24. “Não conseguiria levar a cabo este trabalho sem este sistema.
Deixa-nos muito tempo extra para fazer outras coisas
na sala de ordenha que são tão vitais para uma boa gestão do rebanho como a ordenha”, referiu.
Para além do mais, a atmosfera na sala de ordenha é
muito mais calma para as vacas e permite realizar um
trabalho mais eficaz e limpo”. !
Dairy Group*: empresa privada de consultoria do sector lácteo.
CONTROLOS REGULARES
O sistema é muito simples, uma vez que, de forma automática
e em apenas 20 segundos, passa pelas seguintes etapas:
Fim da ordenha
- começa o processo
O preventivo aplica-se
no teto
O teto está tratado
e protegido
Começa o processo
de limpeza
O sistema está preparado
para o animal seguinte
No fim da ordenha, o
vácuo desliga-se e o
preventivo é injectado
por um pulverizador na
parte terminal da tetina.
O produto aplica-se
com precisão em volta
de todo o teto sendo
aplicado quando a
tetina é puxada pelo
retirador automático.
Segundos depois de
terminar a ordenha e
assim que as tetinas são
removidas, os tetos
estão protegidos.
Cada tetina é lavada e
desinfectada com
impulsos alternados de
solução e ar
comprimido.
As tetinas estão limpas,
desinfectadas e
preparadas para a vaca
seguinte.
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FEIRAS
NÃO DEIXE DE VISITAR...
25 A 28 DE JANEIRO
14 A 18 DE FEVEREIRO
8 A 10 DE MARÇO
25 FEV. A 4 MARÇO
22 A 25 DE MARÇO
25 a 28 de Janeiro
AGROEXPO
D. Benito, Espanha
As empresas e profissionais mais
importantes do sector agro-pecuário, tanto de Espanha como
de Portugal, reunem-se na
AGROEXPO 2012, que decorrerá
de 25 a 28 de Janeiro.
A edição de 2011 contou com
mais de 410 as empresas expositoras e mais de 60.000 visitantes.
www.feval.com
14 a 18 Fevereiro
FIMA
Saragoça, Espanha
A próxima edição da Feira Internacional de Máquinas Agrícolas,
FIMA, uma ferramenta fundamental para o comércio no sector, deverá novamente atrair milhares de
visitantes - na última edição teve
mais de 190.000 visitantes de 50
países em busca da melhor
tecnologia. A FIMA é também o
ponto de encontro, debate e reflexão em torno do sector primário.
www.feriazaragoza.es
8 e 10 de Março
GANDAGRO
Silleda, Pontevedra, Espanha
A GandAgro 2012 pretende ser
consolidada nesta segunda edição como uma plataforma de negociação e apresentação dos
mais recentes desenvolvimentos
destinados à produção agrícola.
A primeira edição deste certame,
realizado de 4 a 6 de Março de
2010, reuniu 220 expositores de
12 países e 11.478 visitantes.
www.semanaverde.es/gandagro
SIA — Salão Internacional
da Agricultura
25 Fevereiro a 4 de Março
Paris, França
Com 1.142 expositores e 4.667
animais em exposição, em 2011,
a feira é uma verdadeira janela
aberta para a agricultura em toda
a sua diversidade. Expoem-se os
mais belos exemplares em representação de 360 raças, a gastronomia tipica de França as
culturas forrageiras e serviços
para a pecuária.
www.salon-agriculture.com
AGRO
22 a 25 de Março
Braga, Portugal
A AGRO vai continuar a apoiar as
fileiras mais representativas do
sector agrário, quer através da
aposta no reforço de divulgação do
certame com o consequente aumento do número de visitantes/
compradores quer ainda no contributo para a qualificação dos profissionais agrícolas. Integra tam
bém o principal concurso pecuário
do país das Raças Autóctones.
www.peb.pt
máquinas usadas
COMPRA E VENDA
www.abolsamia.pt
Encontre o equipamento que procura através
do site www.abolsamia.pt/ads-ocasion.php
Mais de 2500 máquinas,
de pesquisa fácil e intuitiva.
Também pode vender aqui as suas
máquinas usadas: www.abolsamia.pt/ads.php
62
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EQUIPAMENTOS
A nova gama
New Holland TD5
A New Holland melhorou e expandiu a gama
de tractores TD5 com vista a proporcionar às
explorações leiteiras e pecuárias um tractor fiável,
a um nível de preço muito competitivo. A série
alargada apresenta agora seis modelos: o TD5.65,
o TD5.75, o TD5.85 e o TD5.95, bem como os dois
novos modelos topo de gama TD5.105 e TD5.115,
que proporcionam entre 65 e 113 cv.
Segundo Pierre Lahutte, Director de Gestão de Produtos Tractores, “A gama TD5 foi cuidadosamente desenvolvida para satisfazer as exigências deste segmento extremamente competitivo
com requisitos específicos. Elementos muito apreciados, como as
transmissões mecânicas e a manutenção simplificada, foram associados a uma nova cabina e PowerShuttle hidráulico montado
na coluna, que é único neste segmento, com vista a oferecer uma
variante moderna num tradicional favorito.”
Destaques:
- nova cabina VisionView™: conforto do operador e ergonomia líderes na indústria, numa solução moderna e elegante;
- motores mecânicos robustos e eficientes: até 113 cv para a máxima produtividade e eficiência;
- PowerShuttle hidráulico mais avançado do segmento: ideal para
aplicações de carregador;
- opção de ROPS com total conformidade FOPS: segurança excepcional do operador;
- compatibilidade com pneus R38 para optimização da produtividade e redução da compactação do solo.
A cabina, totalmente nova, assegura um excelente conforto e
controlo intuitivo de todas as funções principais do tractor. O design centrado no operador proporciona melhoramentos ergonómicos significativos: todos os controlos principais, incluindo o
acelerador de mão e as alavancas de controlo das válvulas hidráulicas remotas foram reposicionados na consola do lado di-
reito, a fim de minimizar a torção e rotação por parte do operador.
Adicionalmente, o painel de grande visibilidade, opcional, permite desfrutar de uma área envidraçada total de 5.034 m2, ideal
para trabalhos com carregador, proporcionando uma excelente visibilidade ao longo de todo o ciclo de elevação. As seis luzes de
trabalho incorporadas na secção traseira do tejadilho, elimina a
necessidade de remoção durante os trabalhos em zonas de folhagem suspensa ou em telheiros baixos, permitindo trabalhar em
áreas pouco iluminadas.
Ideal para aplicações de carregador
O TD5 oferece PowerShuttle hidráulico opcional montado na
coluna, para mudanças de direcção em movimento, sem necessidade de utilizar o pedal da embraiagem. Os modelos TD5.85 a
TD5.115 beneficiam de mudanças de direcção suaves, perfeitas
para aplicações intensivas com carregadores em explorações leiteiras e pecuárias, durante o empilhamento de fardos ou a alimentação do gado.
Modelo
TD5.65
TD5.75
TD5.85
TD5.95
TD5.105
TD5.115
Potência máxima (cv)
65
72
82
95
106
113
Binário máximo (Nm)
261
295
328
390
425
445
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CONHEÇA A LEI
Prédios rústicos:
ser dono sem o ser
Ricardo F. Diogo, Advogado
www.fladvoga.com
É possível alguém tornar-se proprietário de um prédio rústico sem
nunca o ter comprado nem o ter recebido por doação ou por herança?
Sim. Basta que tenha a posse do terreno (que o use como se fosse seu dono), de forma pública
(conhecida de todos) e pacífica (sem coacção física nem psicológica), durante um determinado
período de tempo. A resposta está na figura da «usucapião», prevista na Lei e que pode ser invocada
por quem utiliza o terreno e se comporta como se de um verdadeiro proprietário se tratasse.
Um caso típico é o de alguém que, não sendo proprietário, utiliza permanentemente o imóvel para habitação
ou para semeadura e que o faz de forma pública, à vista
de todos e sem que ninguém se oponha.
Como a posse pode transmitir-se por via hereditária, é
frequente os prédios rústicos encontrarem-se inscritos
nos Serviços de Finanças mas não no Registo Predial. É
o que acontece quando os herdeiros declaram à Administração Tributária terem recebido um terreno por herança mas não o registam a seu favor na Conservatória
do registo Predial.
Também não são raras as situações em que os contratos de compra e venda são celebrados por documento
particular ou verbalmente, apesar de a lei exigir a celebração de uma escritura pública ou de um documento
particular autenticado.
Pode também suceder que os proprietários tenham
abandonado o prédio e que alguém o tenha ocupado, habitando-o ou cultivando-o durante vários anos como se
fosse seu.
Ora, por regra, para se registar a aquisição de um terreno é necessário exibir perante as entidades competentes o contrato de compra e venda ou qualquer outro título
que justifique a aquisição (uma escritura de doação, uma
escritura de partilha etc…). Não dispondo de tal documento, o dono do imóvel não poderá registá-lo como seu.
Foi a pensar nestas e noutras dificuldades que o legis-
lador português previu a figura usucapião. Esta forma de
aquisição da propriedade permite o seu registo, mesmo
que não tenha sido celebrado um contrato válido e desde
que alguém se comporte de forma pública e pacífica
como verdadeiro proprietário do prédio.
A protecção que a Lei concede a quem tem a posse de
um imóvel mesmo sem ser proprietário chega ao ponto
do possuidor poder intentar uma acção em Tribunal contra quem puser em causa a sua possibilidade de o utilizar,
podendo, por exemplo, agir contra quem alterar os marcos ou o impedir de cultivar o terreno.
As circunstâncias de a posse ser ou não titulada (isto
é, de ter sido ou não fundada em algum contrato, ainda
que inválido) ou de boa má-fé (isto é, sem ou com a
consciência de se violar direitos de outrem) não prejudicam a possibilidade do possuidor adquirir o prédio por
usucapião. Mas são aspectos relevantes para a contagem
dos prazos.
Se o possuidor dispuser de um título de aquisição (um
contrato, ainda que inválido) e o registar, poderá registar
a aquisição do imóvel por usucapião ao fim de 10 anos,
se estiver de boa fé, ou passados 15, se estiver de má fé.
Se não registar o título de aquisição mas apenas a sua
mera posse, o possuidor poderá registar a aquisição do
imóvel a seu favor ao fim de 5 anos a contar do registo
da posse, se estiver de boa fé, ou ao fim de 10, se estiver
de má fé.
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CONHEÇA A LEI
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Pode ainda acontecer que quem tem a posse de um terreno não tenha qualquer título nem nunca tenha registado a sua mera posse. Nesse caso, se estiver de boa-fé,
a usucapião dá-se após 15 anos a contar da data em que
tomou posse do bem, e após 20, no caso da má-fé.
O registo da mera posse pode ser requerido desde que
esta se inicia. Já o registo da aquisição da propriedade
com fundamento na usucapião só pode ser requerido
quando se encontrem decorridos os prazos acima referidos e os demais requisitos acima indicados bem como
se encontrem cumpridas as obrigações fiscais.
Por aqui se vê que a Lei considera que, decorridos
aqueles prazos, quem efectivamente utiliza o bem como
sendo seu é quem deve ser considerado seu proprietário.
Mas, para isso, a usucapião tem de ser invocada. A
forma mais comum o fazer inicia-se com uma escritura
de justificação notarial.
Nessa escritura, o interessado declara os factos e as razões que justificam a aquisição do direito de propriedade
fundada usucapião. As declarações do interessado devem
ser confirmadas por três testemunhas, que poderão incorrer na prática de um crime de falsas declarações perante oficial público se confirmarem informações falsas.
Posteriormente, o notário notificará o proprietário que
se encontre inscrito no registo, ou mandará publicar edi-
tais destinados aos seus herdeiros, para que se pronunciem sobre o pedido apresentado pelo possuidor. O notário promove também a publicação de um extracto da
escritura de justificação no jornal mais lido na localidade
para que, no prazo de 30 dias, algum interessado venha
impugnar a escritura pela qual se pretende adquirir o prédio por usucapião.
Caso a escritura não seja impugnada nesse prazo, o
adquirente deverá preencher e entregar no Serviço de Finanças do local no qual se encontra o imóvel um modelo
para liquidação do Imposto do Selo no qual declare que
adquiriu o prédio.
Uma vez pago o Imposto do Selo devido pela aquisição, o interessado poderá requerer à Conservatória do
Registo Predial a inscrição do imóvel a seu favor. Tal pedido deverá ser instruído com a escritura de justificação
notarial e com um comprovativo do cumprimento das
obrigações fiscais.
Deve esclarecer-se que a posse pode ser perdida se outrem a adquirir por mais de um ano. Por este motivo é
conveniente que os possuidores manifestem periodicamente, de forma pública e pacífica, a sua posse. Caso
contrário, poderá correr-se o risco de a Lei nunca reconhecer o seu ao seu dono. !
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SEGURANÇA
Estudos no Colorado (E.U.A.)
durante 10 anos (1997 a 2006)
dizem que a falta de experiência é
um dos factores que leva a mais
acidentes. Trabalhadores com 5
meses de experiância têm duas vezes
mais acidentes que os outros.
Coices; portões e vedações são as
causas mais comuns.
Mãos e pulsos são as zonas de
lesões mais frequentes.
SEGURANÇA
EM PARQUES DE
NOVILHOS
FOTOS: N. MARQUES
Procedimentos de segurança – Pontos de prevenção:
Encaminhe calmamente o gado, não
corra, não grite, nem faça os animais
correr. Habitue o gado a ser conduzido
por pessoas a pé ou montadas.
“Área de risco” (zona de acção do
animal – coices,etc), não entre nesta
área quando o gado se está a mover
para onde quer. Apenas quando os
quer fazer andar.
Cuidado com os animais que estão
sozinhos. Normalmente são animais que
estão ansiosos por se juntar aos outros e
portanto têm reacções inesperadas.
Mantenha o equipamento em bom
estado. Trincos gastos nas mangas são
fonte de acidentes. As portas devem
oscilar livremente e com trincos que
sejam fáceis de trancar e destrancar.
Zona de manuseamento do gado
devem ter chão anti-deslizante,
principalmente nas zonas de maior
tráfego, como as mangas, balanças,
baias e rampa de carga. Os animais
entram em pânico quando escorregam.
Rampa de carga, não encha a manga
de acesso à rampa de carga.
Elimine fontes de distração, como
casacos pendurados em cancelas,
correntes penduradas, veículos em
movimento, reflexos em pisos
molhados, ventoinhas, etc.
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Fotografia: António Cannas | Modelo: M.L.
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RUMINarte
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