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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
CORREÇÃO DA PERMEABILIDADE DE UM SOLO TROPICAL COM
ADIÇÃO DE BENTONITA
Augusto Romanini 1; Celso Todescatto Junior 2; Flavio Alessandro Crispim 3 ; Julio César Beltrame
Benatti4
Resumo – Este trabalho tem como objetivo avaliar o uso do solo do local de implantação do futuro
aterro sanitário de Sinop, MT como material de construção da sua camada impermeabilizante de
base. Para tanto, realizou-se em laboratório a análise do solo puro e com adição de três teores
(2%, 4% e 6%) de bentonita. O estudo foi realizado com amostras compactadas no teor de
umidade ótimo (wot) e 2% acima do teor de umidade ótimo (wot + 2%), utilizando a energia
Proctor Normal. As amostras, após compactadas, foram submetidas à ensaios de permeabilidade
a carga variável em permeâmetros de parede rígida. Verificou-se que o solo puro tem
comportamento de uma argila de baixa plasticidade - CL quanto à permeabilidade. As amostras
compactadas no teor de umidade ótimo apresentaram valores de k na ordem de 4,0E-5 cm/s. A
adição de 2% de bentonita reduziu o valor do k em 5 vezes; com 4%, a redução chegou a 15
vezes; e com 6%, a redução foi semelhante à verificada para o teor de 4%. A permeabilidade
média obtida foi de 1,9 E-6 cm/s. Para as amostras moldadas com teor de umidade acima do
ótimo, a permeabilidade encontrada para o solo puro foi em média 2,0E-6 cm/s. Observou-se que
as amostras moldadas com teores de 2%, 4% e 6% apresentam um valor de k respectivamente
40, 140 e 250 vezes menor em relação à permeabilidade encontrada para as amostras moldadas
no teor de umidade ótimo, tornando perceptível a influência da água de moldagem na
permeabilidade do solo.
Abstract – This work aims to evaluate the use of the soil of the future sanitary landfill of Sinop, MT
as a building material of its layer. For this propose the pure soil and the soil with addition of three
concentrations (2%, 4% and 6%) of bentonite were analyzed. The study was conducted with
samples compacted at optimum moisture content (wot) and 2% above the optimum moisture
content (wot + 2%), using Proctor Normal energy. The samples, after compacted, were analyzed
under permeability tests with variable load in rigid wall permeameter. It was found that the pure soil
behavior is of a low plasticity clay - CL for the permeability. The samples compacted in optimum
moisture content presented k values in the order of 4,0E-5 cm / s. The addition of 2% of bentonite
reduced k value of 5 times; for 4%, the reduction was 15 times; and for 6%, the reduction was
similar to that observed for the 4%. The average permeability obtained was 1.9 E-6 cm/s. For
samples with moisture content above the optimum, the permeability found for the pure soil was
2.0E-6 cm/s. It was observed that the samples molded at levels of 2%, 4% and 6% had a value of
k respectively 40, 140 and 250 times lower than the permeability found for the samples molded at
the optimum moisture content, becoming noticeable influence molding the water permeability.
Palavras-Chave – permeabilidade do solo, aterro sanitário, camada de impermeabilização de
base, bentonita, solos tropicais.
1Graduando em Engenharia Civil, UNEMAT, Sinop, Brasil,[email protected]
2Graduando em Engenharia Civil, UNEMAT, Sinop, Brasil, [email protected]
3Doutor, Professor, UNEMAT, Sinop, Brasil, [email protected]
4 Mestre, Professor, UNEMAT, Sinop, Brasil, [email protected]
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1. INTRODUÇÃO
A geração de Resíduos Sólidos Urbanos - RSU ocorre de forma contínua no Brasil e no
mundo. O resíduo é gerado, coletado, transportado e por fim destinado em um local para seu
armazenamento e/ou tratamento.
Os aterros sanitários são locais escolhidos para armazenar e tratar de forma segura e
econômica RSU gerado por uma determinada população. Esses empreendimentos são
executados utilizando-se diversos sistemas, que visam minimizar o impacto ambiental na área de
implantação.
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1992) a escolha do local para
a implantação de um aterro sanitário deve considerar fatores sociais, econômicos e técnicos. Os
critérios técnicos estão relacionados ao relevo, à profundidade do lençol freático e às
características geológico-geotécnicas da região.
Para que sejam atendidos os critérios técnicos, os solos utilizados na construção dos
aterros sanitários devem possuir características geotécnicas específicas, dentre as quais a mais
importante é a baixa permeabilidade. Essa condição é necessária para que os poluentes gerados
pela decomposição do RSU não atinjam o lençol freático ou contaminem o solo da região.
Os materiais argilosos tem uso primordial na constituição de camadas impermeabilizantes
de aterros, atendendo na maioria das vezes aos requisitos técnicos e minimizando os custos. Na
ausência de solos argilosos a utilização de aditivos, como a bentonita, é comum, visando atender
às características que possibilitem a utilização como uma barreira impermeabilizante (LEITE,
2001).
Com amplo uso na engenharia e com características como os altos valores de troca
catiônica, elevada superfície especifica, expansividade e plasticidade, a bentonita é aplicada na
engenharia para fornecer estabilidade, no caso de obras de fundações, e capacidade de
impermeabilização para uso em barreiras impermeabilizantes (MORANDINI, 2009). De acordo
com Soares (2012), a adição de bentonita ocorre quando não se atende ao coeficiente de
permeabilidade exigido na camada de impermeabilização dos aterros sanitários. Os solos
arenosos e siltosos podem ser aditivados com bentonita para sua utilização na construção de
barreiras impermeabilizantes.
Em todas as etapas de construção e operação de um aterro sanitário o principal material
utilizado é o solo. Para a construção da camada de impermeabilização de base, o solo
compactado deve apresentar, de acordo com Cetesb (1993), valores de coeficiente de
permeabilidade inferiores a 10-7 cm/s. Diante desta exigência técnica, o material mais utilizado na
construção destas camadas é a argila. Este material, entretanto, é pouco encontrado na região do
município de Sinop, localizado no norte do estado de Mato Grosso.
Neste contexto, visando a utilização do solo local como camada de base do aterro sanitário
do município, avaliou-se a permeabilidade em laboratório do material puro e com adição de três
teores de bentonita (2,0 %; 4,0 % e 6,0 %), em relação ao peso seco do solo.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Preparação e Caracterização das Amostras
O solo utilizado neste trabalho foi coletado na área de implantação do futuro aterro sanitário
de Sinop, MT, situado a cerca de 500 metros do eixo da rodovia MT – 423, nas coordenadas
geográficas 11°45'29.3"S 55°22'31.9"W. A coleta foi feita no segundo semestre do ano de 2014, a
uma profundidade entre 0,60 e 1,00 m. Após a coleta, o material foi levado ao Laboratório de
Engenharia Civil da UNEMAT. O solo foi seco ao ar, peneirado na peneira de 4,8 mm (# 4) e
armazenado em tambores metálicos.
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A bentonita utilizada na realização dos ensaios é do tipo sódica, da marca Brasilminas. Ela é
constituída de uma mistura de bentonitas naturais com a aplicação em obras geoambientais.
Foram preparadas misturas de solo e bentonita com os teores de 0 %, 2 %, 4 % e 6 % de
bentonita em relação à massa seca do solo. As amostras foram denominadas de S00, S02, S04 e
S06, respectivamente e, posteriormente, foram caracterizadas, através dos ensaios de
determinação do limite de liquidez (ABNT, 1984a), determinação do limite de plasticidade (ABNT,
1984b) e análise granulométrica (ABNT, 1984c).
Após a caracterização, realizaram-se ensaios de compactação, conduzidos de acordo com
ABNT (1986), utilizando-se energia Proctor Normal e sem reuso do material.
2.2 Ensaio de Permeabilidade a carga variável
O coeficiente de permeabilidade foi obtido a utilizando o método B proposto por ABNT
(2000). Para realização do ensaio, foram realizadas algumas alterações no equipamento e na
preparação dos corpos de prova. O equipamento utilizado nos ensaios é descrito no item a seguir.
A amostra foi compactada diretamente no cilindro, minimizando caminhos preferências de
percolação.
Para cada amostra ensaiada (S00, S02, S04 e S06) foram compactados 6 corpos de prova
no teor de umidade ótimo e 6 corpos de prova com teor de umidade 2,0 % acima da umidade
ótima, totalizando 48 corpos de prova ensaiados. A compactação foi feita utilizando-se energia
Proctor Normal, e o próprio cilindro do permeâmetro como molde.
A preparação das amostras para o ensaio foi feita em três etapas: A primeira consistia na
homogeneização do solo com a adição de bentonita, em sequencia adicionava-se a quantidade de
água necessária para alcançar o teor de umidade em questão e, por fim, a amostra era
acondicionada em sacos plásticos por um período de 24 horas.
A saturação dos corpos de prova aconteceu por contrapressão (fluxo ascendente), através
de um sistema de torneiras com vazão reduzida. As leituras foram feitas utilizando-se buretas
graduadas de 25 ml.
Cada ensaio de permeabilidade teve duração aproximada de 14 dias, sendo realizadas
duas leituras por dia. O tempo de ensaio foi determinado para avaliar a influencia da hidratação da
bentonita na permeabilidade das amostras. As leituras eram concluídas quando os coeficientes de
permeabilidade de quatro leituras seguidas apresentavam-se relativamente próximos, sem
tendências de crescimento ou decréscimo, conforme prescrito em ABNT (2000).
2.3 Equipamento Construído para a Realização dos Ensaios
O equipamento utilizado foi confeccionado de acordo com ABNT (2000), para o método B e
constitui-se de dois elementos básicos: as bases e o cilindro. As bases foram feitas de acrílico e
com sulcos concêntricos executados em torno mecânico. Os sulcos visam o encaixe do cilindro
nas bases, cuja vedação foi feita utilizando-se o'rings de borracha.
Cada base possui um orifício central, com uma conexão para entrada/saída de água. O
cilindro possui altura de 92 ± 1 mm e diâmetro interno de 100 ±1 mm. Após o encaixe do cilindro,
as bases são fixadas através de quatro tirantes com porcas na base inferior e roscas tipo
borboletas na base superior. A
Figura 1 apresenta as partes que compõem os permeâmetros, construídos para a
realização dos ensaios de permeabilidade.
Ao todo foram confeccionados 10 equipamentos. Foi montada uma bancada com o sistema
de torneiras para efetuar a saturação e as buretas de medição do coeficiente de permeabilidade.
A Figura 2 apresenta a bancada dos permeâmetros.
O coeficiente de permeabilidade foi calculado conforme a Equação 1:
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3
k=
h
aH
ln  1
A∆t
 h2



(Equação 1)
Onde: k é o coeficiente de permeabilidade, expresso em centímetros por segundo;
∆t é dado pela diferença entre os instantes t2 e t1, em segundos;
h1 é a carga hidráulica no instante t1, em centímetros;
h2 é a carga hidráulica no instante t2, em centímetros;
a é a área interna da bureta de vidro, em centímetros quadrados;
H é a altura do corpo de prova, centímetros;
A é a área do corpo de prova, em centímetros quadrados.
De acordo com ABNT (2000), deve-se corrigir o coeficiente para a temperatura de 20ºC,
utilizando-se a Equação 2.
k 20 = R T ⋅ k
(Equação 2)
Onde: k20 é o coeficiente de permeabilidade referido a temperatura de 20ºC, em centímetro
por segundo;
RT é a relação entre a viscosidade da água na temperatura de ensaio e a viscosidade da
água a 20ºC.
Figura 1. Partes do permeâmetro: 1. Cilindro; 2. Oring; 3. Tirantes; 4. Arruelas; 5. Roscas e Borboletas;
6. Entrada (niple); 7. Bases de Acrílico
Figura 2. Bancada com os permeâmetros
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
3.1 Caracterizações geotécnicas das misturas
As características geotécnicas obtidas nos ensaios realizados são apresentadas na Tabela
1 e a Figura 3 apresenta as curvas granulométricas das amostras, obtidas do ensaio de
peneiramento.
A amostra S00 (solo puro) é uma argila de baixa plasticidade com presença de areia,
classificada como A-7-6 de acordo com AASHTO-TRB, e CL, de acordo com o sistema de
classificação UCS. A adição de bentonita não alterou a classificação AASHTO-TRB do solo,
entretanto houve uma elevação nos valores de LL, mas com pouca variação do IP. Tal fato
ocasionou alterações na classificação SUCS em apenas uma das amostras (S06).
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4
Tabela 1. Caracterização Geotécnica das misturas
Amostra
S00
S02
S04
S06
AG(%)
10
9
8
10
AM(%)
3
4
3
2
AF(%)
18
17
17
14
S+A(%)*
69
70
72
74
LL(%)
42
45
49
52
IP(%)
17
19
23
24
SUCS
CL
CL
CL
CH
TRB
A-7-6
A-7-6
A-7-6
A-7-6
Nota: * Classificação segundo a ABNT (1995): AG - areia grossa (0,60 ≤ ϕ < 2,00 mm), AM - areia média (0,20 ≤ ϕ < 0,60 mm),AF areia fina (0,06 ≤ ϕ < 0,20 mm) e S+A - silte + argila (ϕ ≤ 0,074 mm). LL – Limite de Liquidez, IP – Índice de Plasticidade.
As amostras S02 e S04 mantiveram a classificação como CL, enquanto a mistura S06
apresentou a classificação como CH, podendo ser denominada como uma argila de alta
plasticidade com areia. O comportamento geotécnico das misturas de solo bentonita foi
semelhante aos verificados por Lukiantchuki (2007) e Morandini (2009).
100
15,0
90
14,5
Peso Especifico Seco (kN/m³)
Porcentagem que passa(%)
A Figura 4 apresenta as curvas de compactação para cada uma das amostras estudadas.
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0,01
0,1
Diâmetros das Particulas (mm)
S00
S02
S04
1
S06
Figura 3. Curvas granulométricas das misturas.
14,0
13,5
13,0
12,5
12,0
11,5
11,0
10,5
10,0
15
17
S00
19
S02
21
23
25
27
Teor de umidade (%)
S04
S06
29
31
33
35
Curva de Saturação - Ys 26,50
Figura 4. Curvas de Compactação para as amostras.
Observa-se, da Figura 4, um crescimento do peso especifico seco, da amostra S00 até a
amostra S06. O teor de umidade apresentou pequena variação para as amostras, chegando a
aproximadamente 2,0 % de aumento entre as amostras S00 e S04.
Os ensaios de permeabilidade foram conduzidos entre os meses de dezembro de 2014 e
fevereiro de 2015. O tempo de saturação foi diferente para cada amostra. Para o solo puro (S00) o
tempo foi da ordem de 24 horas; para as amostras S02 e S04, o tempo de saturação variou entre
34 e 48 horas, enquanto que para o solo com 6% de bentonita, a saturação ocorreu em um
período de tempo entre 48 e 60 horas. O tempo de saturação está diretamente relacionado à
permeabilidade do solo, assim, já na etapa inicial do ensaio, foi possível verificar, de forma
qualitativa, a influência da adição de bentonita na permeabilidade do solo. As Tabelas 2 e 3
apresentam os valores médios dos resultados obtidos para as duas condições de compactação.
Verifica-se, das Tabelas 2 e 3, que a variação de teor de umidade e de grau de compactação
obtidos para as amostras foi coerente, chegando-se ao valor máximo de variação do teor de
umidade de 0,38 % e do grau de compactação de 4,0 %, em relação às condições estabelecidas.
É possível verificar também que há uma relação direta entre os valores de índice de vazios
(e) e de coeficiente de permeabilidade médio. Esse resultado era esperado, uma vez que a
permeabilidade é a grandeza que exprime a facilidade que a água tem em fluir por entre os vazios
do solo. Desta forma, quanto maiores os vazios, com mais facilidade a água percola, e maior é o
coeficiente de permeabilidade do material.
O índice de vazios diminui com o aumento do teor de bentonita, o que indica um
preenchimento dos vazios do material granular do solo pelas partículas de argila. Assim, a
estrutura do solo compactado, formada por material granular e finos, fica mais densa, uma vez
que estes finos preenchem os vazios formados entre os grãos maiores do solo. Isso se verifica
quando se observam os valores de peso específico seco, que aumentam com o aumento do teor
de bentonita.
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5
Tabela 2.Condições e resultados de ensaio de permeabilidade para solo compactado no teor
de umidade ótimo.
Amostra
S00
S02
S04
S06
wmold
24,17
26,19
24,88
23,96
wot - wmold
-0,13
-0,32
-0,32
-0,24
γd(kN/m³)
14,58
14,91
14,85
15,06
GC(%)
e
Sr
k(cm/s)
102
0,819 81,54 4,0E-05
104
0,779 90,91 9,3E-06
102
0,790 85,48 2,6E-06
103
0,766 84,91 1,9E-06
Nota: wot – teor de umidade ótimo; wmold – teor de umidade de moldagem; γd – Peso especifico seco máximo; GC – grau de
compactação; e – índice de vazios; Sr – grau de saturação; k – coeficiente de permeabilidade.
Tabela 3.Condições e resultados de ensaio de permeabilidade para solo compactado no
teor de umidade ótimo + 2%.
Amostra
S00
S02
S04
S06
wmold
26,35
28,59
27,61
26,58
wot - wmold
-2,05
-2,09
-2,41
-2,38
γd(kN/m³)
13,81
13,83
14,00
14,05
GC(%)
e
Sr
k(cm/s)
101
0,919 77,51 2,0E-06
101
0,919 84,21 1,0E-06
100
0,897 83,31 2,8E-07
100
0,892 80,76 1,6E-07
Nota: wot – teor de umidade ótimo; wmold – teor de umidade de moldagem; γd – Peso especifico seco máximo; GC – grau de
compactação; e – índice de vazios; Sr – grau de saturação; k – coeficiente de permeabilidade.
1,0E-04
4,0E-05
9,3E-06
1,0E-05
2,6E-06
2,0E-06
1,9E-06
1,0E-06
1,0E-06
2,8E-07
1,6E-07
1,0E-07
1,0E-08
0
2
4
Teor de Bentonita (%)
k aceitável
6
8
k - Teor de umidade ótimo
k - Teor de umidade ótimo + 2%
Figura 5. Coeficientes médios de permeabilidade – I
Coeficiente de Permeabilidade ( cm/s)
Coeficiente de Permeabilidade ( cm/s)
Para um estudo mais aprofundado do coeficiente de permeabilidade, fez-se uma análise dos
resultados de duas formas: utilizando para o cálculo da média todos os resultados obtidos (6
corpos de prova) e utilizando os resultados excluindo-se o maior e o menor valor (média entre 4
corpos de prova). As Figuras 5 e 6 apresentam os gráficos de variação de coeficiente de
permeabilidade em função do teor de bentonita, utilizando-se a média entre 6 e entre 4 corpos de
prova, respectivamente. A estratégia de se utilizar 4 corpos de prova visa eliminar os valores
extremos encontrados.
1,0E-04
3,9E-05
1,0E-05
8,5E-06
2,5E-06
1,9E-06
1,7E-06
1,0E-06
6,2E-07
2,3E-07
1,0E-07
8,0E-08
1,0E-08
0
2
4
6
Teor de Bentonita (%)
k aceitável
k - Teor de umidade ótimo
k - Teor de umidade ótimo + 2%
8
Figura 6. Coeficientes médios de permeabilidade –
II
Observa-se que as Figuras 5 e 6 têm comportamento semelhante quanto à variação do
coeficiente de permeabilidade. Em uma analise primária, é possível observar a influência da
adição de bentonita no solo e também a influência do teor de umidade de moldagem sobre o
coeficiente de permeabilidade. Lambe e Whitman (1969 apud Lukiantchuki, 2007) afirmam que
esta redução do coeficiente de permeabilidade no ramo úmido em solo argilosos é decorrente do
arranjo paralelo das partículas que dificultam o fluxo na amostra. Avaliando os valores obtidos
para a amostra S00 (umidade ótima), o valor do coeficiente de permeabilidade obtido foi de 4,0 E5 cm/s. A mesma mistura, compactada no ponto de teor de umidade ótimo + 2%, teve seu
coeficiente de permeabilidade médio de 2,0 E-6 cm/s, sendo observada uma redução de 20 vezes
no coeficiente.
A redução observada para as amostras S02, S04 e S06, moldadas no teor de umidade
ótimo, foi de 5, 15 e 20 vezes, respectivamente, em relação ao valor do coeficiente de
permeabilidade da amostra S00, no mesmo teor de umidade.
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6
A moldagem de corpos de prova no teor de umidade ótimo + 2% proporcionou uma redução
da permeabilidade para as misturas S02, S04 e S06 quando comparada aos valores obtidos para
o teor de umidade ótimo. A redução foi de cerca de 40 vezes na amostra S02, 143 vezes na
amostra S04 e 256 vezes na amostra S06.
É possível verificar que apenas uma das amostras atende ao critério técnico de coeficiente
de permeabilidade estabelecido por Cetesb (1993): a amostra S06, quando são utilizados no
cálculo da permeabilidade os valores descontando-se os limites e a compactação é feita acima da
umidade ótima. Desta forma, verifica-se que para se utilizar o solo da região do futuro aterro
sanitário de Sinop, MT como material de base, será necessário utilizar um teor de bentonita de
6,0% e a compactação deverá ser feita acima da umidade ótima. A viabilidade econômica desta
solução deverá ser verificada, comparando-se os custos com o custo do transporte de material
argiloso de jazidas próximas e com o custo da utilização de geossintético do tipo GCL, por
exemplo.
Outra análise feita a partir dos ensaios foi referente ao tempo de estabilização do coeficiente
de permeabilidade. As Figuras 7, 8, 9 e 10 apresentam curvas de variação do coeficiente de
permeabilidade com o tempo, considerando-se o tempo inicial como o final da saturação do corpo
de prova, para as amostras S00 (Wot), S00 (Wot + 2%), S02 (Wot), S02 (Wot + 2%),
respectivamente.
1,0E-04
Amostra 01
Amostra 02
Amostra 03
Amostra 04
Amostra 05
Amostra 06
1,0E-04
Coeficiente de Permeabilidade ( cm/s)
Coeficiente de Permeabilidade ( cm/s)
1,0E-03
1,0E-05
1,0E-06
0
2
4
6
8
Tempo ( Dias)
10
1,0E-06
0
2
4
6
8
Tempo ( Dias)
10
12
Figura 8. Variação de k em função do tempo de
hidratação, para a amostra S00 (Wot+2%)
1,0E-04
1,0E-04
Amostra 01
Amostra 02
Amostra 03
Amostra 04
Amostra 05
Amostra 06
1,0E-05
Coeficiente de Permeabilidade ( cm/s)
Coeficiente de Permeabilidade ( cm/s)
1,0E-05
1,0E-07
12
Figura 7. Variação de k em função do tempo de
hidratação, para a amostra S00 (Wot)
Amosta 01
Amosta 05
Amosta 02
Amosta 03
Amosta 04
Amosta 06
1,0E-06
1,0E-07
Amostra 01
Amostra 02
Amostra 03
Amostra 04
Amostra 05
Amostra 06
1,0E-05
1,0E-06
1,0E-07
0
2
4
6
8
Tempo ( Dias)
10
12
Figura 9. Variação de k em função do tempo de
hidratação, para a amostra S02 (Wot).
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0
2
4
6
8
Tempo ( Dias)
10
12
Figura 10. Variação de k em função do tempo de
hidratação, para a amostra S02 (Wot+2%).
7
Verifica-se, a partir da Figura 7, que a estabilização do valor de coeficiente de
permeabilidade ocorre rapidamente, em um período de aproximadamente 2 dias. Isso é verificado
para os corpos de prova moldados no teor de umidade ótimo e no teor de umidade acima do ótimo
(Figura 8). Um comportamento diferente é observado para as amostras com adição de bentonita.
Nestes casos, o tempo de estabilização é consideravelmente superior, conforme as Figuras 9 e
10, onde se verifica que a estabilização ocorre aproximadamente 4 dias após a saturação. O
mesmo comportamento foi observado para as demais amostras, sendo tanto maior o tempo de
estabilização quanto maior o teor de bentonita utilizado na amostra. Isso indica que a
permeabilidade diminui em função do aumento da hidratação da bentonita, e consequente
expansão. A bentonita é constituída basicamente pelo argilomineral montmorrilonita, cuja estrutura
molecular absorve água quando ela está disponível no meio. Essa expansão deve contribuir para
o fechamento de parte dos vazios do material compactado, reduzindo assim a sua
permeabilidade.
4.
CONCLUSÕES
A adição de bentonita no solo estudado apresentou-se como uma alternativa efetiva para a
redução da sua permeabilidade, tanto nas misturas compactadas no teor de umidade ótimo
quanto naquelas compactadas no teor umidade 2% acima do ótimo. As amostras avaliadas em
termos de análise granulométrica, limite de liquidez e índice de plasticidade apresentaram valores
satisfatórios para utilização em aterros sanitários, mesmo que não tenham atingido o valor de
coeficiente permeabilidade necessário, que somente foi atingido para o solo com adição de 6,0%
de bentonita.
O aumento da umidade de compactação, assim como o acréscimo no teor de bentonita,
contribuíram para a redução do coeficiente de permeabilidade do solo.
O solo com adição de 6,0 % de bentonita e compactado acima do teor de umidade ótimo,
apresenta-se como uma alternativa tecnicamente viável para a construção de camada
impermeabilizante de base para o futuro aterro sanitário de Sinop, MT. Esta alternativa deve ser
comparada com outras, como a utilização de material argiloso oriundo de jazidas próximas ou a
utilização de geocomposto GCL, para se verificar se é a solução economicamente vantajosa.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradece ao PROBIC e à Pró-reitoria de Pesquisa e PósGraduação pelo apoio na execução da pesquisa, assim como à UNEMAT e ao Curso de
Engenharia Civil – Campus de Sinop.
REFERÊNCIAS
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do limite de liquidez. Rio de Janeiro, RJ, 1984 a. 6 p.
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______ NBR 7182: Solo - ensaio de compactação. Rio de Janeiro, RJ, 1986. 10 p.
______ NBR 8419: Apresentação de projetos de aterros de resíduos sólidos urbanos. Rio de
Janeiro, RJ, 1992. 7 p.
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