Dinâmica Ambiental e Riscos do Mercúrio

Transcrição

Dinâmica Ambiental e Riscos do Mercúrio
AZEVEDO, F.A. Dinâmica ambiental e riscos do mercúrio. TECBAHIA R. Baiana
Tecnol., v. 1, n. 1, p. 32 a 48, 1993.
Dinâmica Ambiental e Riscos do Mercúrio
Fausto Antonio de Azevedo
Farmacêutico-Bioquímico, USP; Mestre
em Análises Toxicológicas, USP;
Especialista em Saúde Pública, USP; exCoordenador de Toxicologia da
CETESB/SP; ex-Professor Titular de
Toxicologia da PUC-Campinas; exGerente Técnico do Centro de Recursos
Ambientais CRA/BA; ex-Gerente de
Vigilância Sanitária da Secretaria da
Saúde - BA; Presidente do CEPED
RESUMO
Após análise das formas naturais de ocorrência do mercúrio, sua dinâmica
ambiental e os mais importantes usos antrópicos do metal, são discutidos os
mecanismos de poluição do meio pelo agente e os riscos tóxicos associados para os
seres vivos, com destaque para populações humanas.
PALAVRAS-CHAVE
Mercúrio; metilmercúrio; risco tóxico.
Ocorrência do metal
O mercúrio ocorre normalmente, em pequenas concentrações, nos vários
compartimentos da natureza: hidrosfera, litosfera, atmosfera e biosfera.
Comparativamente a outros, o metal é um elemento raro, situado em décimo sexto lugar
no conjunto dos elementos conforme sua abundância na terra. No sulfeto de mercúrio
(HgS), freqüentemente como cinábrio vermelho e menos frequentemente como
metacinábrio negro, encontram-se quantidades de mercúrio suficientes para extração
comercial. Em seus minérios ele pode ocorrer em concentrações de até 500 ppb (63). O
cinábrio é o minério de mercúrio mais difundido na natureza. Importantes depósitos
localizam-se em Almaden, na Espanha; Monte Amiatra, na Itália; Idrija, na Iugoslávia,
e, em menores quantidades nos Estados Unidos da América, Canadá, México, Brasil,
Peru, China, Japão, União Soviética, Hungria e Alemanha (37,98). Entre os principais
países produtores de mercúrio destacam-se: Espanha, Itália, Estados Unidos, Japão,
União Soviética e Iugoslávia. Existem minas que há mais de dois mil anos são
exploradas e prosseguem em funcionamento, como a de Almaden, ativa desde 200 a.C.
A lista dos principais minerais que contêm mercúrio é extensa e inclui (41): amálgama
dourada, arquerita, barcenita, bordocita, calomelano, cinábrio, cocinita, coloradoita,
eglestonita, guadalcazarita, hermecita, idrialita, iodergirita, kalgoorlita, kleinita,
kongsbergita, lerbacllita, leviglianita, livingstonita, magnolita, metacinábrio,
montroidita, mosecita, mosquelandsbercita, onofrita, potarita, schwarzita, terlinguaita,
tiemanita, tocornalita. O mercúrio está presente em quantidades traços, na forma
natural, em toda a crosta terrestre, na faixa de 50 a 80 ppb (63). Estima-se que pela
desgaseificação natural da crosta terrestre sejam lançadas no ambiente entre 25 000 e
125 000 toneladas anuais. Pela erosão e pela ação da intempérie devem ser lançadas no
mar cerca de 5 000 toneladas anuais e calcula-se que de 4 000 a 5 000 toneladas de
mercúrio extraído das minas (praticamente metade da produção de anual, de 9 000
toneladas a nível de 1978) se perdem no mar, no solo e na atmosfera (77).
A concentração disponível do mercúrio é afetada por vários fatores, entre eles:
localização geográfica, já que 99% dos minérios de mercúrio que são extraídos situamse em áreas que correspondem às zonas móveis, de deslocamento, da terra; temperatura,
porque o mercúrio é relativamente volátil à temperatura ambiente; e diversas condições
de solo, incluindo o pH (63). O aumento da acidez das águas da chuva, decorrente da
poluição da atmosfera, que se tem registrado em certas partes do mundo pode,
concomitantemente, aumentar a lixiviação dos minérios que contêm mercúrio e outros
metais pesados (63).
Mesmo sendo mais raro do que metais como o urânio e a platina, o mercúrio é mais
disponível pois existe em minérios altamente concentrados, 0 que facilita a extração e o
refinamento (56).
O mercúrio é obtido do cinábrio através de sucessivas etapas. Após trituração e secagem
o minério é aquecido (500°C) na presença de oxigênio (ar). O enxofre se oxida a
dióxido (SO2), restando os vapores de mercúrio metálico que são condensados e
recolhidos (56). O aquecimento pode ser feito com cal, o que implicará na ligação do
enxofre ao cálcio, com liberação dos vapores de mercúrio metálico. O mercúrio quase
sempre é purificado por destilação, embora existam outros métodos.
Ciclo Biogeoquímico
O mercúrio, seja por sua presença natural, seja pela poluição de origem antrópica, é hoje
um elemento altamente ubíquo no ambiente, atingindo os três principais componentes
da ecosfera: atmosfera, hidrosfera e litosfera. Considera-se a existência de dois ciclos de
transporte e distribuição do mercúrio no ambiente: um global (Fig. 1) e outro local. O
ciclo de alcance global compreende a evaporação do mercúrio pela desgaseificação da
crosta terrestre (incluindo áreas de terra e de água como rios e oceanos), a circulação
atmosférica de seus vapores e sua precipitação com as chuvas, retornando às terras e
águas. Estima-se que pela desgaseificação da crosta terrestre de 25 000 a 150 000
toneladas de mercúrio se liberem por ano (41, 75, 77). Embora as fontes antropogênicas
de lançamento de mercúrio no ambiente tenham alcançado de 8 000 a 10 000 toneladas
por ano desde 1973, as fontes naturais são predominantes (44). A concentração de
mercúrio nas atmosferas não poluídas é comumente inferior a 50 ng/m3, com média de
20 ng/m3. As cercanias das minas, fundições e refinarias são, logicamente, áreas de
concentrações mais elevadas. As quantidades de mercúrio nos oceanos são bem grandes
e na sua maior parte a origem é natural, sendo que o incremento de origem natural e
antropogênica ocorrido nos últimos anos não é detectável pelos métodos atuais (74). O
ciclo local é favorecido pelas fontes antropogênicas de emissão do mercúrio e depende
da metilação do mercútio inorganico (77). Uma boa representação do ciclo do mercúrio
influenciado pelas atividades humanas é feita na Figura 2 . Tanto o mercúrio
proveniente das fontes naturais, quanto aquele liberado por fontes antropogênicas, pode
sofrer transformações no meio ambiente (Fig. 2). As formas inorgânicas se transformam
principalmente por reações de óxido-redução. O mercúrio inorgânico bivalente (Hg2+)
é gerado pela oxidação do vapor de mercúrio por processos físico-químicos, em água e
na presença de oxigênio. Esta oxidação é favorecida quando existem substancias
orgânicas no meio (92). O cátion mercúrico também pode se originar do rompimento da
ligação carbono—mercúrico de compostos organomercuriais através de processos
químicos ou biológicos. Assim, os alcoxialquilmercuriais são muito instáveis em
condições ácidas e em solos úmidos com pH de 5. O metoxietilmercúrio, por exemplo,
tem uma meia-vida de 3 dias. Uma vez na água, o mercúrio iônico pode formar grande
quantidade de complexos e de quelantes com o material organico (92), aderindo-se,
assim, às partículas em suspensão ou ao sedimento. Em condições redutoras
apropriadas, ou por intervenção de bactérias em meio anaeróbico (principalmente os do
gênero Pseudomonas sp.), o mercúrio bivalente pode se reduzir a metálico. A formação
do mercúrio inorgânico e a do metálico constituem a etapa chave do ciclo, já qué a
redução da forma iônica à elementar possibilitará a liberação de vapores do mercúrio
pelo processo de desgaseificação da crosta terrestre. A oxidação do vapor de mercúrio
fornecendo o mercúrio iônico é, por seu turno, o passo crítico para a captação do
mercúrio por água doce e por oceanos (92). A citada redução do Hg2+ por bactérias é
catalisada por uma redutase que contém FAD (flavina adenina dinucleotídeo) e um
dissulfeto redox-ativo como cofatores, e significa um mecanismo de "detoxicação" do
ion mercúrico empregado pela célula bacteriana (70).
Nas camadas superiores do sedimento, que são biologicamente ativas, o mercúrio
bivalente é, em parte, metilado por bactérias bênticas a metilmercúrio e depois a
dimetilmercúrio (53, 55), elevando-se desta maneira sua capacidade para vencer
membranas biológicas. Nas camadas inferiores do sedimento o mercúrio resta inativo,
sob a forma de sulfeto principalmente. Já o metilmercúrio irá se integrar nas cadeias
tróficas, ou, se as condições de pH forem apropriadas, dará origem ao dimetilmercúrio,
o qual por ser insolúvel e volátil passará à atmosfera, vindo a ser recolhido nas águas
das chuvas. Se estas forem ácidas, o dimetilmercúrio transformar-se-á no metilmercúrio,
retornando ao meio aquático e assim é completado o ciclo (Fig. 3)
Transformação notável que o mercúrio inorgânico pode sofrer, sua alquilação, isto é, a
formação do metil ou do dimetilmercúrio com as interconversões correspondentes, é
etapa de uma importância primordial quando se necessita avaliar a contaminação local
por mercúrio (92). Existem duas vias para a metilação do mercúrio: uma anaeróbica e
outra aeróbica. Na via aeróbica o mercúrio inorgânico é metilado por uma coenzima que
contém um átomo de cobalto, a cobalamina (um análogo de vitamina B12), produzida
por bactérias metanogênicas num ambiente moderadamente redutor (Fig. 4). É provável
que as bactérias que sintetizam metano, pela redução do CO2, produzam
metilcobalamina como um intermediário da síntese (64). Considerando-se esta atividade
poderosa dos anaeróbicos bentônicos, é importante que a poluição por mercúrio seja
controlada e que seja melhorada a qualidade geral dos ambientes aquáticos, os de água
salgada e os de água doce. Quanto menos anaeróbico for o sedimento dos corpos
hídricos, menos bactérias metanogênicas haverá. Nos mares muito poluídos, o processo
de limpeza é demorado. Em mar aberto a situação pode ser outra. A concentração de
mercúrio é aí praticamente constante e se origina da decomposição das rochas. Desde
que o fundo oceânico não seja anaeróbico, não deve nele ocorrer produção importante
de dimetilmercúrio (79). Em condições de anaerobiose é também facilitada a formação
do sulfeto de mercúrio que, por ser insolúvel em meios anaeróbicos, não fica disponível
à metilação. Por outro lado, em meio aeróbico ele reage com o oxigênio formando
sulfatos e sulfitos e Hg2+ solúvel. Na via aeróbica o mercúrio que está unido à
homocisteina é metilado por processos celulares que normalmente formam a metionina
(92). Neste caso o complexo homocisteina-Hg se metila ''por erro" e esta via acontece
em muitas bactérias e microorganismos (Fig. 4). As camadas superiores do sedimento,
bem como as partículas em suspensão, podem oferecer condições aeróbicas e
anaeróbicas, existindo, então, ambas as vias para a metilação. As situações que
favorecerem o crescimento bacteriano produzirão uma maior taxa de metilação do
mercúrio, já que é ampla a capacidade de metilar das bactérias. Compostos de
monometilmercúrio presentes no pescado em decomposição mais o mercúrio inorgânico
do sedimento podem formar o dimetilmercúrio. O pH elevado favorece a metilação,
sendo utilizada a metilcobalalnina para a síntese do dimetilmercúrio; já a formação do
metilmercúrio é facilitada por pH baixo (92). Ao contrário do dimetilmercúrio, que é
muito volátil, deixa as águas e passa para atmosfera, o metil permanece na hidrosfera,
onde se incorpora às cadeias alimentares consoante o modelo clássico: fitoplancton (usa
a energia do sol e os nutrientes da água)—> zooplancton —> predadores. Nos peixes, o
mercúrio se acumula seja a partir da alimentação ingerida já contaminada (cadeia
trófica), seja a partir da água poluída pelo metal que Ihes passa pelas guelras. Quando
morrem as plantas e os animais, o mercúrio é restituído aos sedimentos e tudo se
reinicia. Nos solos e nas águas ocorre uma forte sorção (adsorção e absorção
simultâneas) do mercúrio pelo material húmico, sendo que o metal está normalmente
ligado aos ácidos húmico e fúlvico. Assim, o tipo de solo e seu conteúdo de matéria
orgânica parecem ser muito importantes para a sorção do mercúrio. A chuva ácida pode
causar- uma grande lixiviação do mercúrio absorvido no solo (GO), vindo a pô-lo
disponível nas águas.
Principais usos
O mercúrio encontra um vasto espectro de utilização. Segundo ALMEIDA (2), "há
cerca de 80 tipos diferentes de indústrias que utilizam o mercúrio, no mínimo, de 3 000
maneiras diversas". Na Figura 5 é mostrada a partição entre tais usos. Entre as mais
importantes aplicações do mercúrio metálico destacam-se:
. Produção de aparelhos científicos de precisão, (como termômetros,
esfingomanômetros, barômetros), nos quais se aproveitam as propriedades do mercúrio
de se expandir e contrair pela ação da temperatura e a de sofrer compressão e transmitila a outro ponto.
· Na indústria elétrica: fabricação de lâmpadas a vapor de mercúrio, tubos de raios X,
interruptores de corrente, instrumentos de controle industrial, termostatos automáticos,
medidores, retificadores, baterias secas (5, 39, 56, 98).
· Preparação de amálgamas:
·. em odontologia: mercúrio + liga de prata estanho (PHILIPS, R. W. Skinner's Science
of Dental Materials. 8th. ed. Philadelphia, London, W. B. Saunders Co. 1982. p. 302-16.
In: COX & ELEY, 19); cobre e Zinco também podem ser empregados. O uso do
amálgama para restaurar cáries remonta a 150 anos (American Dental Association, In:
FISHER, 38);
· na fabricação de acumuladores ferro-níguel;
· amálgamas com ouro e prata foram utilizados para fazer douração e prateação
químicas. Hoje empregam-se processos eletroliticos;
·. pela amalgamação com mercúrio separa-se o ouro e a prata de outros materiais. No
caso do garimpo do ouro no Brasil este é um procedimento intensamente utilizado;
·. amálgama de estanho e mercúrio serviu para fabricação de espelhos, o que atualmente
se faz com nitrato de prata.
· Processo de moldagem utilizando mercúrio congelado.
· Confecção de certos tipos de brinquedos.
· Separação do litio 6 na bomba de hidrogênio (56).
· Alguns mecanismos de precisão são colocados em flutuação sobre o mercúrio a fim de
se impedir a transmissão de vibrações (5G).
· Um dos usos mais importantes do mercúrio metálico e que consome a maior parte do
metal produzido (63), constituindo-se numa das mais largas fontes de poluição pelo
agente, é na eletrólise para a preparação de cloro e soda. O mercúrio comparece como
catodo e estima-se que a indústria de cloro—álcali lance no ambiente de 200 a 250g Hg
/ tonelada de cloro-soda fabricada (37). A soda assim produzida
pode se contaminar com mercúrio e transmitir tal contaminação a certos alimentos
preparados industrialmente. Como principais aplicações dos derivados inorgânicos do
mercúrio mencionam-se:
· O calomelano (cloreto mercuroso, mercúrio doce, Hg2CI2) já foi utilizado em
medicina humana como antissifilitico, como diurético e como purgativo. É ainda
empregado como antisséptico em alguns cremes cutâneos. Também foi usado como
fungicida na agricultura.
· O cloreto mercúrico (sublimado corrosivo, Hg2CI2) já serviu de antisséptico externo.
Para tal aplicação encontra-se inscrito na Farmacopéia Brasileira, 3a edição, 1977,
páginas 383 a 385. Além dos compostos inorgânicos e orgânicos do mercúrio terem tido
variada aplicação na enantiopatia, o sublimado corrosivo, especificamente, encontra
emprego moderno na homeopatia, que, a partir do enunciado hahnemanniano, "similia
similibus curantur", recomenda-o, em concentração apropriada, para tratamento da
disenteria. Nos dias atuais o cloreto mercúrico é vastamente empregado como
catalisador na indústria química e pode assim, ser parcialmente eliminado nos efluentes
líquidos industriais Por exemplo, o Hg2CI2 é catalisador na síntese de acetaldeido e a
fabricação de uma tonelada do produto libera de 30 a 100g de mercúrio.
· O nitrato de mercúrio, Hg (NO3)2, é fundamental no processo da feltragem e por isso
é empregado há mais de 400 anos na fabricação de chapéus de feltro, constituindo-se
desde sempre em risco ocupacional. Para realizar a feltragem, ou seja, a aglomeração
dos pelos das peles (normalmente de coelhos), os pelos são tratados com uma solução
de nitrato ácido de mercúrio. Em algumas partes esta solução é designada por "secreta",
visto que sua composição não é divulgada, e a operação é conhecida por "secretagem".
Os pelos "secretados" são depois secos, escovados, aparados rentes ao couro e soprados
por corrente de ar. Tais operações podem produzir concentrações excessivas de
mercúrio no ambiente e convém que sejam automatizadas e enclausuradas. O feltro
pode ainda conter quantidades apreciáveis de mercúrio e assim também os trabalhadores
que manipulam o pelo "secretado" nas fábricas de chapéus podem se expor (59).
· O fulminato de mercúrio, Hg(CNO)2, é usado como explosivo iniciador, isto é, para
provocar a detonação de outros explosivos. Encontra, então, larga aplicação na indústria
bélica, entre outras.
· Compostos inorgânicos de mercúrio são utilizados como corantes (HgS) e na produção
de tintas. Por exemplo, o óxido vermelho de mercúrio (HgO) é usado na preparação de
tintas protetoras para cascos de navios. A ação da água do mar sobre pinturas feitas com
estas tintas pode liberar mercúrio, significando risco ambiental. Para os derivados
orgânicos do mercúrio as aplicações que sobressaem são:
· Diuréticos - compostos organomercuriais foram bastante empregados como diuréticos
até metade deste século, quando passaram a ser substituidos por não-mercuriais de
menor
toxicidade. Os dioréticos organomercuriais derivam da fórmula geral R-CH2-CHOYCH2Hg-X, basicamente o mercúrio-isopropanol, evidenciando-se uma cadeia de, pelo
menos, três átomos de carbono, um átomo de mercúrio em uma das extremidades da
cadeia e um grupo hidrófilo separado do mercúrio na outra extremidade (57). Os
substituintes R, Y e X determinam a potência e os efeitos colaterais. O grupamento R
tem maior influência e pode ser aromático, heterociclico ou aliciclico e quase sempre
liga-se ao núcleo propilico por meio de um grupo carbamoilico. O ligante Y é,
freqüentemente, uma metila e X a teofilina, que já por si exibe capacidade diurética,
embora fraca. Os diuréticos organomercuriais são saloréticos, pois inibem a reabsorção
tubular de sódio, cloreto e água. Sua principal aplicação foi no tratamento de distúrbios
cardíacos coogestivos. Entre os que foram mais empregados citam-se: merbaphen (de
nome comercial Novasurol), introduzido antes como antissifilitico e um dos primeiros a
ser usado como diurético; mersalyl (Salyrgan); meralurida (Mercuidrina); mercurofilina
(Mercupurina); clormerodrina (Neoidrina); meretoxilina (Dicurina); mercumatilina
(Cumertilina); mercaptomerina (Tiomerin) (42, 57).
· Antissépticos e bacteriostáticos - entre os organomercuriais usados com estas
finalidades estão o acetato fenilmercúrico; o borato fenilmercúrico; o cloreto
fenilmercúrico; o hidrargafeno; a meraleína sódica; o merbromino; mercocresóis; o
mercurofeno; o nitrato fenilmercúrico (inscrito na Farmacopéia Brasileira, 34 ed., 1977,
p. 626-628, como bacteriostático); o tiomersal (também inscrito na Farmacopéia
Brasileira, p. 769-71, como antisséptico e adjuvante farmacotécnico: conservador).
· Fungicidas e desinfetantes de sementes -muitos compostos organomercuriais são
usados na agricultura como desinfetantes no tratamento de sementes que se destinam ao
plantio. Desta forma combatem-se as enfermidades cujos agentes causadores radicam
no grão, do qual passam para a planta em germinação (1). Os fungicidas arilmercuriais
têm vantagem de permitir controlar sua solubilidade pela inclusão, no anel benzênico,
de substituintes apropriados. Ademais, a ligação Hg-benzeno é estável e o íon R-Hg+
que pode se formar é ainda capaz de reagir com -SH para gerar derivados do tipo RHgS-proteina. No Brasil, o Ministério da Agricultura proibiu o uso de fungicidas
alquilmercuriais (metil e etil).
· O fenilmercúrio é utilizado na indústria do papel e de polpa, sendo esta outra
importante fonte de poluição ambiental por mercúrio. O uso de mercuriais nesse tipo de
indústria tem sido reduzido bastante e na Suécia encontra-se banido desde 1966 (44).
Formas de contaminação do ambiente
Tendo discutido as formas de ocorrência do mercúrio, seus ciclos ambientais e os mais
importantes usos dele feitos, fica fácil agora compreender as principais portas para
contaminação do ambiente e os riscos tóxicos associados. Nesse século, com o rápido
aumento da produção e do uso do mercúrio, ele deixou de representar um risco para o
homem apenas nas minas de onde é obtido e nas indústrias onde é empregado, mas
passou também a ser um risco no lar, na escola, na cidade, no alimento e para a vida
vegetal. Em 1983, a produção mundial de mercúrio foi estimada em 6 948 toneladas
métricas, com 222,6 toneladas provindo da América Latina e Caribe, das quais 221 do
México e 1,6 da República Dominicana (94). Deve-se ter em conta que embora o
mercúrio se recicle no ambiente por repetidas vezes, é o ambiente o seu receptor final.
O mercúrio não se destrói. Ele se mantém permanentemente no ambiente, ainda que
mude suas formas químicas por mecanismos físicos, químicos ou biológicos. O
mercúrio possui duas características que o fazem muito peculiar como agente
contaminante e tóxico para o meio ambiente. São elas sua volatilidade e sua capacidade
de sofrer transformações biológicas. A volatilidade responde, por exemplo, pelas
concentrações atmosféricas elevadas (de 20 a 200ng/m3) encontradas em áreas que
contêm mercúrio no solo em teores de 10 ppm e que são bem superiores às
normalmente registradas (37).
A transformação biológica do mercúrio em compostos de alquilmercúrio de cadeia
curta, processada por bactérias, é a outra característica importante. Este fato
provavelmente explica as altas concentrações de metilmercúrio que se tem verificado
em peixes, posto que nesta forma orgânica o metal se bioconcentra nas cadeias tróficas
até sob um fator de milhares de vezes. Causas meteorológicas e geoquímicas podem
modificar o ciclo natural do mercúrio, elevando suas concentrações normais.
Fenômenos como erupções vulcânicas, ou mudanças nas condições de temperatura e
pressão atmosféricas, podem acarretar a contaminação de componentes da cadeia
alimentar, como os peixes, ou o aumento das concentrações do mercúrio no ar,
determinando, inclusive, riscos à saúde humana. As fontes naturais de mercúrio podem
dar lugar a alguma contaminação local (se é que podemos dizer assim), mas a
contaminação de origem antrópica é maior (98). Entre as importantes fontes de poluição
artificial por mercúrio incluem-se: exploração mineral e refino do metal, fábricas de
cloro-álcali, indústrias de polpa e papel, de plástico e eletrônica, práticas agrícolas,
hospitais e indústrias de medicamentos de mercúrio. Talvez seja da ordem de dez mil
toneladas/ano os rejeitos de mercúrio que a civilização tecnológica lança na biosfera.
Tabela 1. Concentrações naturais de mercúrio no ambiente
Meio
Concentração
Referência
AR
5ng/m3
37
média de 20ng/m3
39
(0,5 a 50ng/m3)
2
3a9n3/m3
ÁGUA
2 A 6 ppb
37
<1 m g/L(1 ppb)
39
0,05 ppb(de rio)
76
<0,1 m g/l(0,1 ppb)
2
(rios e lagos)
WALDICHUCK,M. Some
biological concerns in metals
pollution. In. VERNBERG, I.
(eds.) Pollution and physiology
of marine organisms. 1974. In:
HUTAGALUNG, (50)
<0,15 ppb (água de mar)
Solos
Rochas
10 a 60 ppb
37
50 a 80 ppb
62
10 a 90 ppb
37
média aproximada de 80 ppb
64
(rochas continentais)
Das fontes artificiais de poluição por mercúrio, as fábricas de cloro-álcali que utilizam
células eletrolíticas à base do metal, são, proporcionalmente, a de maior importância.
Além do mercúrio que normalmente escapa do processo e estará nos efluentes líquidos
destas plantas, já se relatou também a sua presença no ar de exaustão (99) e, em grandes
quantidades, nos resíduos sólidos de tais indústrias (73). Demonstrou-se que o mercúrio
destes resíduos altera o desenvolvimento de algas (73), a base das cadeias alimentares
aquáticas, e é acumulado por uma erva de água, a Azolla, fazendo cair o seu
crescimento. Além de concentrá-lo, a Azolla produz uma perda do mercúrio do meio,
por transformá-lo direta ou indiretamente numa forma volátil (72). O emprego de
combustíveis fósseis pode adicionar grandes quantidades de mercúrio ao ambiente,
principalmente nas atmosferas dos centros urbanos (77). Esta adição atmosférica foi
avaliada em 5 000 toneladas/ano (44). Por isso, é sempre conveniente conhecer o teor de
mercúrio dos combustíveis. Por exemplo, o carvão soviético tem, em média, 0,28 ppm;
alguns petróleos californianos têm entre 1,9 e 21 ppm de mercúrio. Então, seria de bom
alvitre se o petróleo a ser queimado, além de sempre BTE (Baixo Teor de Enxofre) o
fosse também "BTM" - Baixo Teor de Mercúrio... Tal proposição, por questões
econômicas, parece inviável.
A fabricação de cimento e fosfatos contribui para a contaminação do ar por mercúrio
(98). Segundo WREN (102), entre as mais importantes fontes antropogênicas atuais de
liberação atmosférica de mercúrio estão a queima de combustíveis fósseis e as
atividades de mineração e fundição do metal. Recentemente no Japão, pais duramente
traumatizado pela experiência de Minamata, estabeleceu-se um esforço para a pesquisa
e desenvolvimento de baterias secas livres de mercúrio. Isto porque as tão intensamente
utilizadas baterias alcalinas de manganês contêm mercúrio, o qual pode, a partir dai,
contaminar o ambiente depois do descarte dessas baterias e de sua presença no lixo
municipal (5). Quem diria que o aparentemente inofensivo "headphone" (entre outros)
poderia estar contribuindo para a poluição ambiental por mercúrio e seu risco tóxico?
A poluição dos ecossistemas terrestres por mercúrio advém, em maior escala, da
utilização industrial do metal e seus compostos. A contaminação provocada pelo uso
agrícola dos fungicidas mercuriais parece representar de 3 a 5% daquela antes citada,
sendo que o plantio das sementes tratadas com tais produtos acresce ao solo anualmente
cerca de 1 g Hg/hectare (2). Todavia, estas observações valem para um quadro geral
médio da contaminação ambiental pelo mercúrio, pois obviamente que em situações
locais especiais um outro tipo qualquer de fonte pode ser responsável por quase toda a
poluição. Por exemplo, no Brasil certos ecossistemas terrestres e aquáticos são
altamente poluídos pelo mercúrio como resultado de seu uso no garimpo do ouro
apenas. A contaminação de ecossistemas terrestres tem sido apontada hoje por inúmeros
pesquisadores em diferentes pontos do planeta. As primeiras indicações dessa
ocorrência surgiram na Suécia, nos anos 40 e seguintes. Lá, análises de mercúrio em
penas de várias espécies de pássaros de até mais de 100 anos atrás mostraram que seu
conteúdo ficou constante até 1940, quando subitamente passou a se elevar, coincidindo
com a época em que os fungicidas alquilmercuriais foram introduzidos no pais como
desinfetantes de sementes (12, 102). Verificou-se boa correlação entre as taxas de
mercúrio nas penas e o nível trófico ocupado pela espécie do pássaro. Os de regime
granívoro, como faisões e perdizes, mortos em 1960, tinham 6 ppm em média. No
grande-duque (ave noturna) o nível era de 40 ppm; no falcão peregrino, 55 ppm c cm
aves estritamente carnívoras, 60 ppm (12). Sucessivamente o mercúrio foi sendo
detectado em animais de vida silvestre pertencentes a ecossistemas terrestres, não só
aves mas também inúmeros mamíferos. A esse respeito um portentoso estudo de revisão
foi apresentado por Christopher D. Wren, do Instituto de Estudos Ambientais da
Universidade de Toronto, Canadá, cuja consulta se recomenda a todo aquele interessado
na ecotoxicologia do mercúrio. Em seu trabalho, WREN (102) apresenta uma longa
tabela que nos informa sobre as concentrações de mercúrio em distintos tecidos de
várias espécies de mamíferos de vida silvestre (excluindo os marinhos). Quanto a
ecossistemas de água doce, demonstrou-se ter havido um crescimento nas concentrações
de mercúrio na capa de gelo da Groenlândia desde o ano de 1900 até a data atual, 0 qual
se relaciona, provavelmente, com 0 aumento do metal nas águas de chuva devido à
contribuição de fontes antrópicas de poluição (44).
Em diversos países, como Suécia, Canadá, Estados Unidos, as autoridades de saúde já
necessitaram interditar a comercialização de pescados de águas continentais por
conterem elevados teores de mercúrio (mais do que o limite de 0,5 ppm admitido para a
alimentação humana pela OMS). Por exemplo, peixes do Lago Saint-Clair (entre
Michigan, EUA e Ontário, Canadá), o qual está muito contaminado por efluentes
industriais de Detroit, exibem de 0,3 a 5 ppm de mercúrio, em grande parte sob a forma
metilada (64). No Japão, águas do rio Agano, recebendo efluentes industriais
contaminados por mercúrio, não mostravam mais do que 0,1 ppb, enquanto a
concentração do mercúrio passava a 10 ppm no fitoplancton e 40 ppm 1105 peixes, vale
dizer, um coeficiente de concentração de 400 000 para estes últimos. A contaminação
por mercúrio dos peixes de água doce traz como conseqüência um sério
comprometimento dos superpredadores que são as aves ictiófagas e os seres humanos
que se utilizam de regime piscívoro. O mercúrio já foi encontrado em aves ictiófagas do
Lago Saint-Clair, nos músculos e fígado, atingindo neste órgão concentrações de mais
de 100 ppm, dependendo da espécie (28). No Canadá relata-se a poluição já ocorrida em
águas do Rio English-Wabigoom em consequência das descargas dos efluentes de uma
unidade de cloro-álcali instalada pela Reed Paper Ltd. e que despejou, a partir de 1962,
perto de 9 toneladas de mercúrio metálico, o que implicou no aparecimento de altos
níveis do metal nos peixes do rio (16).
Estes trabalhos demonstram que a contaminação de cadeias alimentares de água doce
por mercúrio e metilmercúrio, a partir do lançamento do metal nas formas orgânica ou
inorgânica como resultado de atividades econômicas e de sua alquilação por bactérias, é
perfeitamente possível, não sendo um processo exclusivo de águas marinhas. Esta
observação é bastante pertinente pelo fato de ter havido entre nós quem insinuasse que a
metilação não ocorreria em lagos e rios. Aliás, a tal respeito, é bom que se transcreva o
seguinte trecho de uma publicação da Organização Mundial da Saúde: "... Tem-se
encontrado concentrações elevadas de mercúrio em peixes de água doce de zonas
presumivelmente contaminadas por mercúrio e esses peixes não são aptos para o
consumo." (78). Nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, o crescimento
constante das atividades econômicas e industriais tem feito aumentar, também o uso do
mercúrio e seus compostos e, por extensão, a contaminação do ambiente. Exemplo
preocupante desta situação é o emprego intenso do mercúrio metálico no garimpo do
ouro em vários Estados do Brasil (6, 33,58, 65). Em publicação recente referimos vários
artigos de autores nacionais enfocando a preocupação com os riscos do mercúrio em
ambientes brasileiros (9). Em Mato Grosso, no ano de 1986, foram produzidas 40
toneladas de ouro (número, aliás, bastante superior ao das estatísticas oficiais), para o
que se utilizaram algumas outras de mercúrio, uso esse que pode ter implicado em
contaminação de bacias hidrográficas da região amazônica (Peixoto de Azevedo, Alta
Floresta) e do Pantanal (Poconé) (Informações obtidas no desenvolvimento de projeto
especifico, suportado pela FlNEP, SEMA e Governo do Mato Grosso, no qual
participamos.) Em matéria publicada pela revista Super-Interessante ("Mergulho na
Água", outubro de 1990, p. 57 ) informava-se que "para cada 450g de ouro extraídos
dos rios da Amazônia, o dobro é despejado em mercúrio. Calcula-se que 100 toneladas
anuais desse metal envenenam a Bacia Amazônica." Na revista Visão, em artigo
enfocando a situação dos índios ianomanis (08 de agosto de 1990, p. 37), destacava-se
que pesquisadores japoneses haviam colhido, em 1989, amostras de cabelos de índios
de diferentes comunidades e os resultados das análises mostraram-se acima do limite
proposto pela Organização Mundial da Saúde, sugerindo associação de tal dado com o
uso do metal no garimpo do ouro da região. Em Goiás suspeita-se da contaminação da
bacia do rio Crixás-Açu, tributário do Araguaia, que já teria recebido algumas toneladas
de mercúrio metálico (conforme matéria publicada no Jornal CREA, Goiás, de
agosto/setembro de 1985, n° 4, p. 4-5). Problemas de poluição por mercúrio no garimpo
do ouro têm sido apontados também nos Estados de Rondônia, Pará, Rio de Janeiro e
Bahia. Denúncias recentes foram veiculadas, envolvendo Cananéia, em São Paulo,
numa área da Mata Atlântica (jornal A Tarde, Salvador, de 22/08/1988, caderno 2, p.
11), e o Rio Tapajós (Ciência Hoje Informe, no 148, de 10-16/09/1988, p. 3). Em sua
sessão ordinária de 16 de julho de 1988, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONAMA, reunido em Brasília, preocupado com a questão, aprovou resolução que
proíbe o uso do mercúrio metálico no garimpo do ouro em todo território nacional (Rev.
Bras. Tecnol., v.19, n. 8, p. 4, ago.1988. "Veto ao Mercúrio"). No Estado de São Paulo,
trabalho realizado nos anos de 1978 e 1979, e publicado em 1983 (13) demonstrou a
presença de mercúrio em águas do rio Moji-Guaçu em níveis superiores aos fixados
para preservação da vida aquática. As espécies de peixes carnívoros estudados exibiram
valores médios de mercúrio total na musculatura acima de 0,5 ppm (limite máximo para
consumo humano). O mercúrio provinha dos lançamentos, principalmente, de uma
indústria de papel e de vários curtumes. No concernente às águas marinhas, um dos
mais famosos e tristes episódios de poluição por atividade antrópica foi, sem dúvida, o
da rasa Bala de Minamata, no Japão. Nesse caso, a maior indústria de plásticos do pais
(a Chisso Química, da cidade de Minamata, Prefeitura de Kumameto, ilha de Kyushu)
aumentou a fabricação de seu principal produto, o cloreto de vinila, na qual eram
empregados sais de mercúrio catalisadores: cloreto mercúrico (G3), sulfato mercúrico
(79). O mercúrio era lançado nas águas da Baía como resíduo presente nos efluentes
industriais. A fábrica operava de maneira muito ineficiente e estimou-se que tenha
lançado ao mar 600 toneladas de mercúrio (79). Cita-se que aqueles efluentes
continham, ainda, óxido de mercúrio e metilmercúrio (27, 37, 44). Essa poluição das
águas da Baia de Minamata resultou, pela ação de bactérias metanogênicas, em pesada
contaminação por metilmercúrio dos moluscos e peixes locais. Os moluscos da baia de
Minamata exibiram concentrações de mercúrio de 11 a 40 ppm. Esses animais têm, nas
condições naturais, grande capacidade de acumulação de metais. Mexilhões do estuário
do rio Tamisa, por exemplo, já mostraram até 0,65 ppm de mercúrio e ostras do mesmo
local, 0,2 ppm. No episódio de Minamata a concentração de metilmercúrio (como Hg)
nas águas do mar não excedia a 0,1 ppb. Contudo, em alguns peixes acharam-se níveis
de até 50 ppm, tendo havido, portanto, uma concentração de 5 x 105 vezes. O grau de
bioacumulação costuma ser medido pelo fator de concentração (FC) que é dado por: m
g Hg/g de órgão ou organismo (peso úmido) dividido por m g Hg/g água. Em bacalhau
do Mar do Norte encontraram-se 0,175 ppm de mercúrio, em média. Peixes da mesma
espécie pescados no Báltico Meridional tinham mais do que 1,3 ppm. Em contraste, o
bacalhau capturado em zona não poluída, como a costa este da Groenlândia, mostrava
0,019 ppm de mercúrio (49). HUTAGALUNG (50) chamou a atenção para a
contaminação por mercúrio de águas de rio, de mar e organismos marinhos no estuário
do rio Angke, em Jacarta, capital da Indonésia, na Ilha de Java. Além de peixes e
moluscos também mamíferos marinhos habitantes de regiões contaminadas podem
possuir elevadas concentrações de mercúrio, como as focas cinzas que vivem na
Escócia e já exibiram de 10 a 50 ppm do metal no fígado, chegando mesmo a 720 ppm
em animais velhos, Até aqui relacionamos casos de poluição de águas estuarinas e
marinhas apenas na Ásia e Europa. Não nos ilidamos pensando estar preservados de tal
agonia. Em verdade, a contaminação de águas costeiras tem sido hoje denunciada em
todos os continentes e caracteriza-se como problema global. Para nos irmanarmos aos
demais nesse calvário, HARADA et al. (48), por exemplo, apontaram a contaminação
do Golfo Triste, na Venezuela. E o Brasil? Vem a seguir... Casos de poluição de
ecossistemas marinhos por mercúrio, como decorrência de atividades industriais, têm
sido registrados também em nosso Pais. No litoral do Estado da Bahia encontra-se a
Bala de Todos os Santos (BTS), com uma superfície em torno de 800km2 e
naturalmente separada em duas vertentes: a leste, com maior concentração de atividades
humanas, e a oeste mais preservada, sendo ocupada principalmente por fazendas de
aquicultura. A importância da BTS está bastante relacionada à localização da cidade de
Salvador, numa de suas extremidades. O desenvolvimento sócio-econômico desta
cidade influi decisivamente nos usos que são feitos da Baia, determinando o tipo e a
quantidade de poluição que Ihe atinge. Assim, a Enseada dos Tainheiros, uma subregião da BTS na cidade de Salvador, recebeu, durante bom tempo, os efluentes
líquidos da Companhia Química do Recôncavo - CQR, uma fábrica de cloro-soda pelo
processo da célula de mercúrio, que iniciou seu funcionamento em 1967. Estudo
divulgado em 1975 mostrou contaminação da fauna bentônica por mercúrio (35,5 ppm,
em média, em moluscos; 25 ppm, em média, em crustáceos) (87). Ao longo da margem
sul da Enseada dos Tainheiros fica a área dos Alagados, uma grande aglomeração
humana, com mais de 100 mil habitantes vivendo em precárias condições de
saneamento e saúde, ocupando casas construídas sobre aterros ou palafitas. Esta
população tem na pesca e na mariscagem local uma das principais bases - se não a única
por vezes - de sua dieta (matéria interessante foi publicado no jomal A Tarde, de
Salvador, de 30/10/1933, p. 2, sobre a prática da mariscada nas praias da região
denominada cidade baixa (Bonfim e Plataforma, periferia de Salvador). Com os pés na
lama as pessoas capturam moluscos como o "papa-fumo" e "rala-coco", e mariscos
como o siri. Eis o breve e dramático relato de uma mulher de 53 anos, viúva, mãe de
oito filhos: "não posso perder uma lua, porque os meninos morrem de fome. Pego três
mamões, que peço por aí e cozinho com o marisco misturado a um bocadinho de dendê
e os temperos, que não são muitos, porque o dinheiro não dá. "). Por isto passou a se
constituir em população de risco de intoxicação por mercúrio. Em 1976 alertou-se para
um possível inicio da exposição humana, com medidas de mercúrio no cabelo da
população local na faixa de 0,5 a 17 ppm (36). Diante deste quadro e sob a pressão da
comunidade local e de áreas do Governo do Estado, a empresa transferiu-se para outra
região, com menor risco de contaminação ambiental. Contudo o mercúrio lançado na
Enseada dos Tainheiros lá se mantém em níveis bem superiores aos verificados em
outras sub-regiões da BTS, conforme informam relatórios publicados em 1984, 1985 e
1986 pelo Centro de Recursos Ambientais -BA (20, 21, 22). Por exemplo, para o ano de
1985, nos quatro pontos de coleta da Enseada, as médias anuais de mercúrio nos
sedimentos (amostras semestrais) variaram de 0,57m g/g a 1,25 m g/g (base seca),
enquanto que nas outras cinco sub-regiões da BTS pesquisadas (28 pontos de coleta) a
variação foi de <0,05 m g/g a 0,54m g/g Contaminação ambiental por mercúrio, como
decorrência das atividades de indústria de cloro e soda, ocorreu também em
Pernambuco, tendo sido atingido o rio Botafogo pelos efluentes líquidos da Companhia
Igarassu. A poluição se estendeu até o estuário e o canal de Santa Cruz, com a fauna
aquática (ostras e peixes) alcançando expressiva porcentagem de contaminação (15, 31).
Em outro caso detectado, constatou-se a poluição das águas da Baia de São Vicente, no
litoral do Estado de São Paulo, por mercúrio. As água desta Baia estão sob o impacto do
lançamento dos efluentes do grande pólo industrial de Cubatão. Em amostras de água de
três diferentes pontos registraram-se as médias de 2,14; 1,80 e 1,66 m g Hg/L, com
amplitude de variação de 0,01 a 10 m g Hg/L. Cerca de 90% dos peixes analisados
mostraram concentrações de mercúrio nos músculos perto de 50 m g/kg.
Aproximadamente 10% dos peixes tinham níveis de 170 a 860m g/kg, sendo os maiores
valores encontrados nas espécies Mugil liza e M. curema (34, 35).
Também peixes do litoral gaúcho têm apresentado contaminação (81) . Muito do
mercúrio descartado no ambiente pelas atividades antrópicas está-se incorporando,
certamente, aos ciclos geoquímicos e às cadeias tróficas, aumentando suas
concentrações nos ecossistemas e passando a representar um perigo para os vegetais, os
animais e o próprio homem, o qual, contudo, parece que tem ignorado tal situação.
Portanto, faz-se necessário conhecermos o nível de risco a que estamos expostos para,
então, vigiarmos todas as atividades emissoras de mercúrio no ambiente. O crescimento
econômico precisa ser feito de forma controlada, sem por em risco a existência do
planeta. Além disso, não se deve esquecer que o homem pertence a níveis tróficos
superiores e pode ser um dos organismos mais afetados na contaminação das cadeias
alimentares pelo mercúrio. Um aspecto muito importante, que deve ser sempre
considerado, é o da contaminação de alimentos por mercúrio. Além da contaminação
dos alimentos de origem aquática (água doce e água salgada) como peixes e mariscos,
motivada pela poluição ambiental a partir de atividades industriais e extrativas, outros
tipos de alimentos como cereais, legumes e seus derivados têm sido contaminados pelo
uso direto de praguicidas mercuriais, sobretudo fungicidas organomercuriais. Assim é
que, como se exporá adiante, há vários registros da fabricação de pães, no estrangeiro, a
partir de sementes contaminadas. No Brasil, nos anos de 1966 e 1967, em trabalho feito
em São Paulo, detectou-se a elevada porcentagem de contaminação por resíduos de
mercúrio, devido ao emprego de um fungicida metoxietilmercúrico (licenciado no pais
para tratamento de sementes), de tomates (14%), outros vegetais (13%) e massas de
tomate (57%), em concentrações variando de 0,05 a 0,30 mg/kg. Uma grande campanha
educativa através de jornais, rádio e televisão foi logo encetada para alertar os
produtores e a população em geral sobre os riscos da ingestão dos alimentos
contaminados por mercúrio (3). O uso de fungicidas mercuriais no tratamento de grãos,
sementes que irão se destinar ao plantio, parece fundamentar a presença do
metilmercúrio nas cadeias alimentares terrestres, conforme fazem pensar os resultados
das análises de JERNELÕV (54). A contaminação de seres humanos por fungicidas
organomercuriais pode se dar não somente pelo consumo direto de produtos
inadvertidamente feitos a partir das sementes tratadas, mas também pela ingestão de
animais que foram alimentados com estas sementes e assim se contaminaram. Até aqui
temos escrito sobre a contaminação por mercúrio de grandes ambientes abertos (ar
atmosférico, ecossistemas terrestres, ecossistemas aquáticos). Não se deve perder de
vista, todavia, que nosso aparentemente protegido e inexpugnável lar também pode ser
alvo de contaminação por mercúrio, de alto risco até. É incrível o número de atividades
ou eventos que implicam na contaminação doméstica por mercúrio: uso de certas tintas,
processamento de ouro por amadores, extração do mercúrio de certos tipos de baterias,
quebra de brinquedos ou de instrumentos que o contêm, etc. Quebrar termômetros, por
exemplo, pode ser um prejuízo muito mais acentuado do que a perda de alguns tostões...
Concentrações tão altas quanto 3 000 m g/m, de vapores de mercúrio metálico podem
sobrevir de seu derrame num ambiente, dependendo das condições de ventilação (23).
Especiais cuidados devem ser tomados por aqueles que eventualmente venham a ocupar
como moradia um imóvel que tenha antes servido para consultório odontológico, para
laboratório, para joalheria, etc., pois o ambiente interno pode estar apresentando altos
níveis de mercúrio. Ainda recentemente foi publicado um artigo relatando o caso de um
menino de 18 meses que desenvolveu intoxicação mercurial característica a partir de
exposição num ambiente doméstico contaminado: 10-12 m g Hg/m3 em seu quarto (23).
Preocupa-nos em demasia o fato de certos brinquedos (alguns dos quais temos
recolhido) utilizarem o mercúrio liquido. É um convite à desgraça... Os pais ou
responsáveis precisam estar atentos e... responsáveis! Noutro relato (69) descreve-se o
caso de uma família de quatro pessoas (pai - 41 anos, mãe -38 anos, filha - 14 anos,
filho - 10 anos), que cerca de dois meses após a quebra e derrame, no interior da casa,
de um frasco com aproximadamente 250 ml de mercúrio, passou a demonstrar sinais
claros de intoxicação em três de seus membros (um com acrodinia; um com eretismo;
um com sindrome nefrótica) e a exibir em todos níveis elevados de mercúrio no sangue
e urina. Cuidados médicos foram necessários para sua recuperação e uma
descontaminação da casa se levou a cabo, com perda de mobl1ia e carpetes.
Risco tóxico
A toxicidade do mercúrio tem sido objeto de permanente discussão (7, 8). A exposição
ambiental ao mercúrio da população em geral é estimada em, aproximadamente, l m
g/dia pelo ar; até 2, m g/dia pela água e 20 m g/dia através dos alimentos, podendo,
nesse caso, atingir até 75m g/dia, conforme a quantidade de peixes da dieta (44).
Também a toxicidade do metal para organismos terrestres (animais e plantas), para
organismos aquáticos e para microorganismos tem sido cada vez mais evidenciada
(101). Com relação aos riscos da exposição ocupacional, um comitê de especialistas
distinguiu duas principais classes de compostos mercuriais: orgânicos e inorgânicos. Os
últimos incluem a forma metálica, os sais de mercúrio I e II e aqueles complexos nos
quais o mercúrio II está reversivelmente unido a ligantes tissulares como grupos tióis de
proteinas. Os compostos nos quais o mercúrio figura diretamente unido ao carbono por
meio de ligação covalente foram classificados como orgânicos (61). Esta distinção é de
valor limitado porque as propriedade tóxicas do vapor de mercúrio elementar
distinguem-se daquelas dos sais inorgânicos e, ademais, os alquilmercuriais de cadeia
curta diferem, notavelmente, dos outros compostos também enquadrados na definição
de orgânicos (77). Sob o ponto de vista de risco à saúde humana, as mais importantes
formas do mercúrio são: os vapores de mercúrio elementar e os alquilmercuriais de
cadeia curta (77), nos quais o mercúrio pode estar ligado a um átomo de carbono de um
grupo metila, etila ou propila. Na verdade, de acordo com as diferentes toxicidades,
propriedades físico-químicas e riscos de dano à saúde humana e do ambiente,
representando outro risco de exposição, é a que se verifica em algumas comunidades de
negros, nos países desenvolvidos e nos de terceiro mundo, onde cremes para
despigmentação que possuem sais inorgânicos de mercúrio são aplicados (30).
Prosseguindo neste rosário de usos exóticos e de grande risco tóxico, que bem dão a
dimensão da estupidez a que a humanidade ainda está sujeita, conta-se aquele já feito
por boxeadores latino-americanos que se auto-administraram intravenosamente
mercúrio metálico supostamente para estimular seus socos (14). E o risco tóxico parece
estar em toda parte, mesmo nas situações mais inusitadas. Por exemplo, ALTERMAN
et al. (4) examinando 207 crianças que tiveram contato com acetato de fenilmercúrio
por intermédio de fraldas contaminadas, encontraram em 56% delas, ao exame
radiográfico de ossos , linhas de detenção de crescimento. Um outro fator de risco que
tem sido destacado por alguns especialistas é o apresentado pela restauração dentária
com amálgama de mercúrio, já que esta via pode significar um importante aporte de
mercúrio inorgânico ao organismo, comparável às quantidades que ingressam por
intermédio dos alimentos e da água. O amálgama convencional é preparado pela mistura
de mercúrio com uma liga prata-estanho, o que produz uma massa plástica de rápida
fixação na cavidade dentária (PHILIPS, R. W. Skinnerts Science of Dental materials.
8th ecl. Philadelpllia, London, W.B. Sannders Co., 1982. p. 302-16 In.: COX &
ELEY,19). O amálgama pode, eventualmente, ficar incrustado nos tecidos moles da
boca, seja sob a forma de fragmentos sólidos, seja como finas partículas - o mais
comum - resultantes do uso do motor de alta rotação na restauração. COX & ELEY
(19), implantando subcutaneamente amálgama dentário em cobaias, observaram
elevação dos níveis de mercúrio no sangue, bile, rins, fígado, baço e pulmões; as
maiores concentrações sendo notadas no tecido renal, sem contudo haver lesão tubular.
Uma pequena porcentagem de pessoas parece experimentar reação alérgica ao mercúrio,
caracterizada normalmente por dermatite ou erupções cutâneas (Americal1 Dental
Association, In: FISI IER, 38). Esta hipersensibilidade ao mercúrio é do chamado tipo
IV ou seja, intermediada celularmente e tardia (62) e já determinou a remoção de
amálgamas dentários de pacientes dela portadores (29). Por conta dessa remota mas
existente possibilidade, a ADA (American Dental Association) recomenda que os
dentistas mantenham uma história médica completa de cada paciente e se ele mostrar
possuir tal alergia, o dentista deve escolher algum outro material restaurador que não o
amálgama. Existe mesmo no mercado norte-americano um "kit" (merc-kit) para
detecção de pessoas hipersensíveis ao mercúrio, sugerido para ser usado pelos dentistas
antes da aplicação do amálgama, mas que não encontra plena aceitação da ADA (62).
Uma excelente revisão sobre o risco potencial para a saúde decorrente do uso do
mercúrio em odontologia foi apresentada por ENWONWU (30). Nela o autor conclui
que ainda faltam melhores provas de uma relação causal entre a liberação de vapor de
mercúrio de restaurações dentárias e quaisquer problemas de saúde humana. Os
compostos de mercúrio que têm provocado o maior número de intoxicações, em
diferentes populações, são o metil e o etilmercúrio. Em virtude do consumo de pescados
e mariscos contaminados por metilmercúrio, ou de pão preparado com sementes tratadas
com fungicidas mercuriais (principalmente metil e etilderivados) muitos episódios de
intoxicações coletivas já aconteceram. Assim, de 1953 a 1956 surgiram numerosos
casos de "uma doença neurológica incomum" numa comunidade de pescadores situada
na localidade denominada de Baia de Minamata, em área litorânea do mar de
Yatsushiro, no Japão (66). Essas ocorrências, conforme se apurou posteriormente ao seu
início, foram causadas pela ingestão de peixes e mariscos contaminados por
metilmercúrio, que bactérias das águas da baía produziram a partir do mercúrio contido
nos efluentes líquidos de uma indústria química, a principal da região, e que eram
lançados diretamente nas águas. O metilmercúrio gerado era rapidamente captado pelas
algas do plancton e, então, se biomagnificava na cadeia alimentar. Fato semelhante
aconteceu, em 1965, também no Japão, desta vez envolvendo águas doces, do rio
Agano, em Niigata, no norte do país. Esses dois episódios deixaram um saldo negativo
de muitas intoxicações. Para Minamata, os dados variam segundo as fontes.
Registraram-se 111 ou 121 intoxicações (64,66), com dezenas de mortes: 43 ou 46 (27,
64, 66) e vários casos de invalidez e de crianças que nasceram portadoras de deficiência
física e mental (19, conforme MANAHAN, G4).
Uma quantificação bastante crivel é a de que no fim de 1983 existiam 1 612 casos
confirmados da doença de Minamata na Prefeitura de Kumamoto, incluindo 527 mortes
(91). Até 1984 haviam sido oficialmente documentados 2 578 casos de doença, com 656
mortes (90). A primeira morte aconteceu em 1954, com um pico de incidência em 1956.
Após 1972 o número de mortes tornou a aumentar rapidamente, com um segundo pico
de incidência em 1976 (90). O episódio de Minamata foi tão importante na história da
saúde pública no Japão que ensejou a criação, na cidade de Minamata, do Instituto
Nacional para a Doença de Minamata. Em 1969, a companhia responsável pela poluição
foi obrigada pela justiça a pagar indenização a 138 pessoas afetadas pela doença.
A concentração de mercúrio total no pescado da Baía de Minamata, no momento da
epidemia, era de 11 mg/kg, base úmida, e naquele do rio Agano era de 10 mg/kg (47,
77) e foi calculado que a ingestão diária de mercúrio pela população exposta de
Minamata foi de 5 a 100 m g/kg, por períodos de meses até anos (51). O pescado é uma
das mais importantes vias de transferência de metilmercúrio do ambiente para o homem.
Em especial destacam-se as grandes espécies carnívoras como o tubarão, o peixe
espada, o atum, a arraia, que por serem do topo de cadeia alimentar, apresentam
naturalmente concentrações elevadas de mercúrio. No Canadá tem-se também descrito
níveis elevados de metilmercúrio na população indígena (16), com significativa
associação entre anormalidades neurológicas em adultos e nível de exposição através da
ingestão de peixes contaminados (67), e algum comprometimento neurológico,
inclusive de crianças que sofreram exposição pré-natal (68). Inúmeros casos de
intoxicações, às vezes com características epidêmicas, atribuídos à contaminação de
produtos alimentícios outros além de peixes e animais aquáticos também já se
registraram. Eles se deveram ao uso de fungicidas mercuriais empregados no tratamento
de sementes que se destinavam ao plantio, portanto não aptas para o consumo humano,
mas que inadvertidamente foram transformadas em alimentos. Assim, a partir dos anos
50, ocorreram, em distintas partes do mundo, episódios de intoxicação coletiva por
mercúrio, entre os maiores já registrados, como resultado da ingestão de sementes de
trigo e outros cereais tratados com praguicidas organomercuriais. Dos mais conhecidos
destacam-se os do Iraque. Nesse pais, em 1955 os mercuriais orgânicos passaram a ser
usados como desinfetantes de sementes e já no período 1955-59 ocorreram 200 casos de
intoxicações. Um surto mais claramente definido foi verificado em 1960, acarretando
cerca de 1000 internações hospitalares (24). Esses episódios foram causados pela
sulfonanilida do etilmercúrio-p-tolueno (52). No período de dezembro de 1971 a março
de 1972 (inverno) uma ocorrência muito grave de intoxicações por organomercuriais, na
verdade uma epidemia, voltou a castigar o Iraque. Desta feita houve admissão hospitalar
de 6 530 casos, dos quais 459 chegaram ao óbito (10,93). Aqui o agente tóxico
responsável por tão nefasto evento foi o metilmercúrio contido no fungicida, mais uma
vez o mecanismo das intoxicações foi o consumo de pão feito de grãos (trigo e cevada)
tratados com o fungicida. O período de latência de até 60 dias entre o inicio da
exposição e o surgimento dos sintomas foi, provavelmente, o principal fator
contribuinte para a dimensão da epidemia. Não se verificaram diferenças quanto à idade
ou ao sexo na população atingida (93). Previamente ao grande episódio de 1971/73 no
Iraque, outros países também amargaram situações semelhantes, como Guatemala
(ORDONEZ,J. V. et al. Bol. of. Sanit. Panam., 60: 510,1966. Citados em OMS, 77) e
Paquistão (HAO, I. M. Br. Med.J., 5335: 1579,1963. Citados em OMS, 77).
Posteriormente houve um episódio em Gana (26). Todos esses fatos levaram a
Organização Mundial da Saúde a promover, em Bagdad, de 9 a 13 de setembro de 1974,
uma "Conferência sobre as Intoxicações devidas ao Tratamento de Sementes por
Compostos Alquilmercuriais", cujos anais foram publicados pela OMS (77, 100),
contendo excelentes trabalhos sobre os aspectos epidemiológicos, clínicos, de
tratamento e laboratoriais, relativos à intoxicação por alquilmercuriais, e de leitura
recomendável para os que se interessam pelo assunto. Um excelente sumário sobre os
mais importantes achados e conclusões daquela conferência é encontrado em
SKERFVING & COPPLESTONE (86).
Populações de alto risco de intoxicação por mercúrio
Consideram-se como tal aquelas com maiores probabilidades de se exporem a níveis
perigosos de mercúrio ou aquelas sob condições biológicas ou patológicas que podem
exacerbar os efeitos de intoxicação. Entre elas citam-se (39):
· trabalhadores expostos ocupacionalmente ao mercúrio;
· populações gerais vizinhas a fontes de poluição por mercúrio (minas, indústrias);
· populações de regiões com contaminação por mercúrio. Em situações onde ocorra tal
contaminação, principalmente das águas, todos os habitantes locais que se alimentam da
fauna regional têm risco significativo de desenvolver intoxicação crônica;
· pessoas que se alimentam preferencialmente de pescados e outros produtos aquáticos;
· pessoas que usam prolongadamente medicamentos mercuriais;
· doentes neurológicos (SNC), doentes renais crônicos, doentes broncopulmonares
crônicos;
· gestantes e crianças pequenas. O risco de intoxicação por mercúrio pode aumentar
muito pela sobreposição de algumas dessas condições. Na Tabela 2 são apresentadas as
doses letais do mercúrio e de alguns de seus compostos para o ser humano e animais de
laboratório. Na Tabela 3, 3 níveis tissulares de mercúrio em animais de vida silvestre,
ou em animais de uso incomum em laboratório, que morreram intoxicados por
metilmercúrio são transcritos de informação análoga prestada por WREN (102).
Tabela 2. Toxicidade do mercúrio e seus compostos para o ser humano e animais de laboratório
Substância
Animal
via
Dose ou concentração tóxica
tipo
valor
Referência
Mercúrio
camundongo
intraperitonial
DL50
400mg/kg/14 dias 39
intermitente
Cloreto mercúrico rato/intraperitonial DL50
63mg/kg
39
(H9CI2)
homem/oral
dose letal no
0,3 a 0,4g
32
homem/adulto
adulto normal
<0,4g
88
quantidade que
pode ser fatal
1g
40
Dimetilmercúrio
camundongos/oral DL50
57mg/kg
39
(Hg(CH3)2)
rato/oral
40mg/kg
39
DL50
Tabela 3.
Níveis tissulares médios de mercúrio em animais mortos de intoxicação por metilmercúrio
Espécie
gato
gato
Tecido
Concentração
Média Final
(m g Hg/g)
Condições
fígado
39 0
2 3* Experimentais
rim
31,0
1 4 Alimentação de
músculo
27,0
1,3 dieta de peixe
cérebro
18,0
0,62 contendo 6,0~9
hemácias
55,0
MeHg**/g.
plasma
0,7
fígado
40,2
0,50 Experimentais.
rim
21,6
0 35 Administração de
córtex cerebral
10 4
0 07 cápsulas de cioreto
cerebelo
12,3
0,04 de metilmercúrio
músculo
15,0
0,66 equivalente a
coração
8,9
0,12 0,25 mg/kg/dia.
gato
furão
visão
pulmão
10,8
0,13
ciático
2,0
0,11
fígado
67,1
Vivendo em reserva
rim
13,4
indígena em Ontário.
cérebro
16,4
pelos
392,0
figado
53,7
1,8 Experimentais.
rim
69,0
2,7 Alimentação de
músculo
34 2
0,9 dieta contendo
cérebro
26,7
0,4 5-7m g MeHg/g.
fígado
55,6
0,28 Experimentais.
rim
37 7
0,68 Alimentação de
músculo
25 2
0,05 dieta contendo
baço
24,8
0,24 5,0~9 MeHg/g.
cérebro
19,9
0 22
1,2
1,13
pelo
visão
fígado
24,3
0,45 Experimentais.
rim
23,1
0,75 Alimentação de
músculo
16 0
0,20 dietas contendo
cérebro
11,9
0 10 1,1 15,0 m g
pêlo
1,5
0,90 cioreto de metilmercúrio/g.
visão
fígado
58,2
Naturais.
rim
31,9
Encontrado
músculo
15,2
agonizante.
lontra
lontra
cérebro
13 4
pêlo
34,9
fígado
39.0
rim
33,0
músculo
16,0
cérebro
18,0
fígado
96,0
Naturais.
rim
58,0
Encontrada morta.
músculo
36,0
pele e pelo
47,0
baço
41,0
cérebro
30,0
1,8 Experimentais.
2,1 Alimentação de dietas
contendo 2-8 m g
0,9
MeHg/g.
10,38
Fonte: WREN (102) * controle ** metilmercúrio
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Environmental dynamics and toxic risks of
mercury
ABSTRACT
This review article leads with envirormental aspects
of occurrence and behavior of mercury, it's major
human uses and the associated risks for human
health and the environment.
KEY WORDS
Mercury; methylmercury; toxicology.

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