Notas petrográficas sobre os calcários da região de

Transcrição

Notas petrográficas sobre os calcários da região de
.J
>
>
",
)
,
N otas petrograficas sobre os calcarios
da regiao de Catumbela-Bocoio, Angola
POR
MARIA HELENA VASCONCELOS DA CUNHA
& MARIA DE LOURDES UBALDO
INTRODUc;AO
o
material estudado faz parte da
coleccao de rochas colhidas pela
Missao Geologica de Angola. guardadas no Museu Mineraloqico e
Geologico da Faculdade de Ciencias
de Lisboa. Esta coleccao engloba
amostras de uma serie de cortes respeitantes ao Iitoral de Angola.
Neste primeiro trabalho empreendemos 0 estudo das rochas que constituem 0 corte «Ca tumbela- Bocoio»,
segundo a desiqnacao de Mouta e
Borges. 0 referido corte. situado entre Benguela e Lobito, um pouco a
norte do rio Catumbela, atravessa 0
Cretacico na direccao SW-NE.
Dele fazem parte uma duzla de amostras de calcarios. unicarnente referenciadas por um numero, de que desconhecemos 0 significado.
estudo litoloq ico do material
pertencente ao corte indicado foi
Ieito, fundamentalmente, em lamina
delqada, tendo sido completado com
as vanalises mineralcqica e morfoscopica decada uma das amostras.
o
Garcf<i de> Orta vel. 6 (n," 3): 511-520, 1958
Na morfoscopia estudaram-se somente os graos de quartzo, elemento
essencial da fraccao detritica.
As descricoes petrograficas sao
apresentadas em conjunto .para as
amostras com caracteristicas semeIhantes.
Na classificacao das rochas sequimos a nomenclatura proposta por
Pettijohn. Para facilidade de consulta
preferimos indicar a classificacao
atribuida a cada amostra no inicio da
sua descrtcao petroqraflca. :
Antes de iniciarmos este estudo,
queremos agradecer ao Prof. Carlos
Teixeira todos os esclarecimentos que
nos prestou, assim como ao Dr. ,Carlos Romariz a valiosa ajuda na' preparacao deste trabalho. ,
"
ESTUDO DA COMPOSIc;AO
MINERAL6GICA- ~
Para cada uma das amostras estudadas foram calculadasas percentagens das Fraccoes carbonatada, arqilosa e 'detritica. '
"
'
511
CUNHA, M.- H el en a V.,
&:
UR ALDO, M.- de Lourdes -
Ca lcdria'! de Catu m bela--B.ocoio
camente, pelo seu va lor mais eleva do,
a da amostra n ." 6.
Quante a Iraccao detritica , os seus
valores sao muito variav eis, es ca lonando-se entre 0.3 70 e 265
A gen eralidade das composicoes
calculadas e indicada s no qua dro I
torna evide nte qu e se trata de calcarios detriticos, levernen te a rqilosos,
Como vere rnos ma is a d ia nte, a
existenc ia dum a Iraccao or qanica notavel leva a considerar as rochas estudadas como calcarenitos.
O btida a Iraccao carbona ta da pelo
ataque com acido cloridrico diluido,
o reslduo foi submetido a tamisaqem ,
sob agua. com 0 crivo de mal ha 37 fJ-.
individualizando-se a ssim uma Iracr,;ao detritica e outra Iina , Iundamenta lmente argilosa.
Os va lores obtldos sao indicados
no qua dro 1.
E bern patente a re lativa uniformid ad e da fraccao ca rbon ata da em todas as amo stras, assim como - a da
Iraccao argilosa; nesta sobressai, uni-
ro.
Q UADR O I
A mos tra .
1 ...............................................
2 ...............................................
3 ...............................................
4 ...............................................
5 ...............................................
6 ...............................................
7 ...............................................
8 ...............................................
9 ...............................................
10 ...............................................
11 ...............................................
12
...............................................
ES TUDO MACROSCOPICO E MICROSCOPICO DAS ROCHA8
Calcarenitos ooliticos - Amostras n ." I. 2 e 3:
A olho nu. as rochas sao de cor
cinzento-clara , compactas e de estrutu ra oo litica , notando-se alguns rninerais detriticos [quartzo, feldspato
e mica preta) e restos orqfmicos .
Ao mlcros copio, confirrna-se a
ex istencia duma estrutura Iundamen512
-I.
Fra ~l o
carbon atada
89,8
74,4
87.3
86,6
91,6
85,3
96,1
97,8
95.2
70.8
95.7
90,7
-t; F ra~Ao
a r&:ilosa
4,2
7.7
4,9
2,9
5.0
13,4
2,5
1.8
3,1
2.6
3,9
2,8
./.
FraccAo
dc tritica
5,9
17,8
7,7
10,4
3.3
1.2
1,3
0.3
1,6
26,5
0.3
6.4
ta lmente oolitica, a que se associa m
num erosos restos orqanicos e uma
fra ccao detritica importante.
O s oolites sao abundantes, forma dos de calcite ; pelo que re speita ao
tamanho e a forma . podem se r circulares, ova is ou a longados. Apresentam estrutura concentrica. radiada
ou concentrico-radiada, observando-se. ainda, formas pseudo-ooliticas,
Quanto ao nucleo , or: formado por
Garcia de Or' a vol. 6 (n ,· 3 ) : 511-520. 1958
CUN HA, M .- H elen a V ., & U BALD O, M .- de Lo urdes -
£ragm entos de quartzo , de Ieldspato,
de epidote , de conchas de moluscos
ou. mais Irequentemente, de calcite.
N estes ultimo s e corrente aparecer
uma coroa media de calcite indi fere ncia da .
Na amostra n ." 2, no entanto, os
oolites apresentam-se mai s homoqeneos quanta as dimens6es. E de
assinalar, tambem, nesta amostra , a
presen ca de urn oolito em qu e 0 nitcleo e de calcite es £ero litica .
Entre os elementos orqanicos, qu e
aparecem em maior a bundancia nas
amostras n." 1 e 3. identificamos
restos de conchas de Foramini£eros
e de Moluscos,
Os Forammiferos, pouco a bund antes , pertencem a £ormas de Rotaliida e e de T extuleriidee.
Os restos de conchas de Moluscos
apresentam-se em pequenos Iraqrnentos em que as camadas sao incompletas e. portanto, a sua identificacao
nao £oi possivel.
Encontram-se , ainda , alguns restos
de Equinodermes (articulos de Crin6id es e espinhos de ou ricos ) e espiculas monax6nicas de Esponqianos
[est as , a pena s , na amostra n ." 1) .
Alguns conjuntos de placas de calcite cri st alina observados na amostra
n ." 3 parecem corresponder, pela sua
forma exterior. a restos de conchas
que sofreram recristali za cfio.
" A Iraccao mineral6gica esta representada, principalmente , por Iraqmentos de quartzo e de £eldspatos.
quartzo apresen ta-se , de maneira gera!, limpido e raramente fracturado, ex cepto na amostra n ." 2, em
o
Garcia de Orta vot. 6 ( n ," 3 ) : 1511-520; 1958
b
Calcdno8 de Catumbela,-B.ocoio
que al gum as seccoes tern aspecto urn
pouco esma ga do.
D e entre os £e1dspatos identif icamos ortoclase, microcl ina e uma plagioclase . Esta, nalgumas secede s,
a pre senta-se maclada segundo a lei
da albite . 0 "a ngulo ma ximo de ex tin~ao . medido na zona sime trica, e da
orde m dos 16' , com indice menor do
que 0 do balsamo, 0 que corresponde
a uma a lbite com 5 70 de moleculas
de a no rtite .
A biotite, em palheta s, por ve zes
com alteracao clorit ica , e tambem irnportante como componente da fr ac~ao mineral 6gica.
Acessonamente , identificamos palhet as de moscovite. pequenos gra os
de epidoto e ox ides de ferro (he ma tite e limonite) . Estes ocorrern, qu er
em pequenas concentracoes granulares, qu er como del gada pelicula impregnando os oolit os .
Finalm ente . ha ainda que mencionar £ragmentos rolados de rochas
sedimentares e de rochas granit6ides .
cimento e muito abundante. fundamentalmente c a lctttco-ar q ilo so ,
criptocristalino, p as s ando nalguns
pontos a microcristalino. Em certas
zonas observa-se notavel crist ali za~ao de calcite, que se apresenta com
as pe cto de mosaico.
o
Calcarenitos e 5:
A mostra s n ." 4
Em amos tra de mao . as rocha s sao
de tonalidade aca sta nha da , coerentes
e de estr utura oolitica . N ot am -s e
£ragmentos d e organismos e abundantes veios de calcite cristalina,
513
CUN HA, M.- H el en a V.,
&
UBA LD O, M.- de Lourdes -
Em lamina del qada , veriflca-se que
a rocha e. Iundamentalm ente, constituida por elementos orq a nicos e por
graos de outras rochas calcarias. a
que se a ssociam elementos detriticos .
O s restos de organismos constam,
essencialmente, de conchas de Gasteropodos e de Lamelibranqutos ,
identiflcadas pelo numero de camadas , nalgumas seccoes,
Os ForaminHeros sao raros, so
tendo sido encontradas formas de
Rotaliidae.
Os Equinodermes estao re prese ntados por restos de Crinoides e por
espinhos de ouricos.
A Iraccao oolitica e pouco importante, predominando os pseudo-colitos,
Os minerais detriticos sao. essencialmente. 0 quartzo e os Ieldspatos,
diferindo nas duas amostras estudadas a percentagem e as dimens6es
do s graos. Na am ostra n ." 5 os clastos sao de menor calibre e menos
abundantes.
quartzo mostra, por vez es, extin cao rolante.
O s feldspatos estao representados
pela ortoclas e, por plagioclase e por
raras secedes de microclina.
A plagioclase e. pelas caracteri sticas. uma albite. com 6 70 de mol eculas de anortite (0 a ngulo maximo
de ex tincao , medido na zona sim etrica . e de cerca de 15°. com indice
menor do que 0 do balsam o ) . N em
sempre aparece ma clada e. por vezes,
apresenta -se com ex tincao rolante e
com inclusoes. Nalgumas se ccoe s, a
plagioclase encontra -se em vias de
calcitizacao; noutras mostra-se, por
o
514
CalCdri03 de CatumbelOJ-Bocoio
vezes mesmo , quase completa mente
calcitizada, mantendo no enta nto a
estr utura da macl a da albite.
Observam -se, ainda , alg uma s sec<;oes de pertite, em que a fa se incluente e a ortose e a fa se inclusa a a lbite.
Acessoriamente, encontram-se palhetas de biotite e de moscovite , pequ enos graos de epidote e inclusoes
de ox ide s de ferro (limonite). bern
como restos de rocha s granitoi des e
de qu artzito s.
Um cimento calcitico, sob a forma
criptocristalina ou re cristalizado, conso lida os elementos da rocha .
Calcarenito oolitico margoso Amostra n ." 6 :
Macro s co p tca me nte , a rocha e
a cinzentada , compacta e . quando baIejada , cheira fortemente a barro.
N ao se notam quai squer detritos,
quer orqanicos , quer minerais.
Ao microscopi c . verifica-se que a
rocha e fundamentalmente constitulda por uma pa sta ca lco-a rqilosa, na
qual se d istinguem numerosos oolites
e uma fraccao mineraloqica pouco
abundante. N esta Id e nttfr ca m- s e :
quartzo, Ieldspatos, biotite e moscovite.
As dimensoes reduzidas dos detritos Ieldsp aticos nao permitiram a discrimina cao das d iferentes especies
mineraloqicas dentro deste grupo.
Analoq amente . tambem nao foi
possivel identilicar os diferentes tipos
de oolit es por a su a es trutura se encontrar obscurecida , em resultado
da alta concentracao argilosa da rocha o Num ponto ou noutro , reconheGarcia de Or ta vo l. 6 ( n. o 3) : 511-520, 1958
CUNH A, M .- H el en a V ., & UBALD O, M. - de Lourdes _
ceram-s e, no entanto, algumas estr uturas ooliticas do tipo concentnco.
Chama-se, ai nda , a a tencao pa ra
o facto de na pa sta fundamen tal se
encontra rem a lguns es ferolitos de
calcite. 0 qu e poderia representar a
fase inicial de um processo de cristaIizac;ao do calcario.
Calcarenito oolitico com [osseis
abundantes - Amostra n.· 7:
A olho nu , a rocha apresenta-se
compacta. branco-acastanhada, notando-se uma estrutura oolitica, donde. por vezes, sobressaem restos organicos.
Ao microscopic, confirma-se que
se trata de uma rocha fundamental e
finamente oolitica, em que predorninam os pseudo-oolites, destacando-se, no enta nto, alguns oolites tipicos.
Os restos orqanicos sao muito
abundantes e apres entam-se b em
con servados. Identificamo s Iraqmentos de con chas de Moluscos e. de entre eles. salientamos a lguma s seccoes
de Lamelibranqutos. Por vezes, nalguns cortes . obs ervam-se placas de
calcite cristalina substituindo a es trutura original.
O s Foraminiferos sao em pequeno
mimero e es ta o representados por
formas de Globigerinidae e T extulariidae.
Finalmente , ha que mencionar aind a fra gmentos de C rinoides e espinhos de ouricos . a ssinalados em cortes transversa is e lon qitudina is.
Os minera is detriticos sao pouco
abundantes e de pequenas dim ensoes ,
distinguindo-se quartzo, feldspatos e .
Ga rcia de Or ta vet. 6 ( n .o 3 ) : 511·520, 1958
Calcdrlo8 de CatumbelcvBocoio
acessoriamente, palheta s de biotite e
inclu s6es de oxidos de ferro .
T odos os ele mentos estao cimentados por calc ite . em geral criptocrista lina , mas podendo localmente for mar abundantes pIa gas cristalinas .
Calcarenitos [undamentalmente
ooliticos - A mostras n." 8
e 9:
Em a mostra de mao . as rochas sao
branco-amareladas, urn pouco arqilosas , coerentes e de es tr utura oolitica. N ao se di stinguem minerais, nem
restos de organismos.
Em lam ina del gada . verifica-se que
as ro cha s sao constituidas, na quase
tota lidade, por oolites com estru tura
pouco nitida , 0 que Ihes confere aspecto pseudo-oolitico.
Os fragmentos or qanicos sao raros
e mal con servados; a pena s na amostra n ." 8 foi po ssivel identificar alguns restos de M oluscos e de Crinoides.
Quanto aos minerais det rlticos.
sao de pequeno cal ibre e pouco
a bundantes. Predomina largamente 0
qua rtzo.
Algumas seccoes de fe1dspatos
mostram ex tincao rol ante. N a amostra n ." 9 identificamos uma pla gioclase maclada segundo a lei da albite .
em que 0 an qulo ma ximo de extincao,
da zona simetrica, e da ordem dos
13·. com indice menor do qu e 0 do
balsamo: corresponde , portanto, a
uma albite com 9 70 de moleculas de
anortite. Observa mos ta mbem algumas seccoes de microclina.
A mica e rara: apenas foram reconhecidos alguns fragmentos de biotite.
515
CUNHA . M oO. Helena V., & UBALDO, M .o. de Lourdes -
Os oxidos de ferro aparecem em
inclu soes ou em finissimas peliculas
envolvendo oolites e elementos detrlticos,
cimento e constituido, na sua
maior parte. por calcite crlptocristalina, que nalguns pontos cristalizou,
forman do plagas. Algumas destas parecem corresponder a cortes de conchas que sofreram recristallzacao.
o
Celcerio gresoso com «Lithothamnium» -Amostra n ." 10:
Trata-se de uma rocha esbranquicada e de aspecto gresoso. em que se
distinguem Iacilmente quartzo, feldspato e restos orqanicos.
Ao microscopic, a rocha revelou-se
bastante interessante. em virtude de
center elevada quantidade de detritos minerais, 0 que a individualiza
entre 0 conjunto relativamente homogeneo das amostras do corte estudado.
A esta importante Iraccao mineraloqica associam-se abundantes Iraqmentos de algas calcarias do genero
Lithothamnium, por vezes de dim ensoes apreciaveis, e de conchas de
Moluscos.
Os detritos englobam grande quantidade de quartzo e de Ieldspatos,
alguns fragmentos de rochas granitoides , de rochas quartziticas e de
calcarios detriticos. Acessoriamente,
indicam-se moscovite, biotite e algumas inclusoes de limonite.
o quartzo aparece, por vezes, afectado de extincao rolante , um pouco
fracturado e com inclusoes.
Os feldspatos apresentam-se bastante frescos. em grandes pIagas e
516
Cal cdrios 00 Oa tum bela-Bocoio
frequentemente pertitizados; observam-se raras inclu soes e. num ponto
ou outro, sericitizacao.
Existe ortoclase, por vezes maclada
segundo a lei de Carlsbad. microclina e microclina-pertite em plagas
de grandes dimensoes.
Quanto a plagioclas e. as poucas
secedes macladas segundo a lei da albite. susceptlveis de medicao, revelaram um angulo maximo de ex tincao.
da zona simetrica, de 16'. com indice
menor do que 0 do balsamo, 0 qu e
indica uma albite. Algumas seccoes
nao macl adas , pelas suas caracteristicas opticas, correspondem a esta
mesma plagiocla se.
cimento e constituido por calcite
criptocristalina. passando nalguns
pontos a cristalina.
o
Calcarenitos com restos de Moluscos - Amostras n." II e
12:
A olho nu, as rochas sao de cor
amarelada, compactas, aperceb endo-se numerosos e. por vezes , enormes
fragmentos orqanicos,
Microscopicamente, confirma-se
que as rochas sao Iorrnadas, em grande parte. por restos orqanoqenicos, a
que se associam oolites fragmentados
e mal definidos (mais abundantes na
amostra n ." II) e uma Iraccao mineraloqica POllCO importante,
A fraccao or qan ica es ta representada por fragmentos de conchas de
Moluscos, algumas das quais. pela
estrutura Iasciculada. foram identiftcadas como pertencentes a Lamelibranquios : na amostra n ." 12 estas
G arcia de O r ta vot. 6 (n," 3) : 511·520, 1958
CUNHA, M.- H elena V ., &: UBALUO, M.- de Lourdes _
estruturas atingem grandes dim ensoes, ocupando, por ve zes, mesmo
com pequena ampliacao, todo 0 campo do micro scopic. Al guns destes
fragmentos apresentam nucleos de
sillcificacao constituidos por agregados esferoliticos de quartzo e de calcedonia.
Sao tambem notaveis, pelo seu taman ho, as seccoe s de Lithothamnium .
Na a mostra n." I I notam-se ainda
fragmentos de Crinoides,
Mmeraloqicamente. os constituintes essencia is sao quartzo e fedspatos , a que se a ssociam as duas micas.
predominando a negra. e a lguma s
concen tracoes de minerais de ferro .
Os feld spatos encontra m-se por
vezes pertitizados e com inclusoes,
Id entihcaram-se raras seccoes de
ortose.
Calcdri08 eta Catumbela-Bocof.o
A plagioclase tern sinal optico posi tivo e outras caracteri sticas qu e nos
leva ram a considera-la como albite ;
a s seccoes macladas sao raras.
D e maneira geral. a percentagem
de elemen tos detriticos e pequena .
E de a ssinalar ainda a presenca de
abundantes clastos de outras rochas
calc arias.
O s elementos encontram-se ligados
po r cimento identico ao das am os tras
a nteriores.
ESTUDO MORFOSC6PICO
DOS GR AOS DE QUARTZO
Neste es tudo seguimos 0 metodo
de C aill eu x. com as modificacoes que
lhe foram introduzidas por Berthois.
A pequ ena quantidade e as reduzi-
QUADRO
n
P ereen ta ge m do s g r.los
NU
EL
Nl1me ros das a mostr as
Di llme tro d os g rl os e m miUm etr os
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
....................................
....................................
...... ....... .. .... ... ........ ..... .
... ............... ............ ......
...... .. ..... .. .... .. ... .. .. .. ... .. .
....................................
....................................
....................................
.. ... .. ... ... ... .... .. ... .... .. ... ..
....................................
....................................
.... ... ...... ... ............... .....
> 0,42
0,420, 177
23,3
-
22
21,4
17,2
17,2
-
-
28,1
-
-
32,9
-
I
17,5
Garcia de Drta vo l. 6 (n," 3 ) : 511·520, 1958
I
0, 117-
0,074-
0,074
0.037
17,2
16,1
13,4
9,1
8,1
-
7,5
-
11,7
11,9
9,8
8,2
I
10,6
11,8
5,8
8,3
6,5
9,1
5,3
9,1
6,6
7,4
7,3
5,7
DUmetro de s grl os em milhnetros
< 0,42
0,420,177
0.1770,0 14
0.0740,037
76,6
-
77,9
78,5
82,7
82,7
82,7
83,8
86.5
90,8
91,8
89,3
88,1
94,1
91,6
93,4
90,8
94,6
90,8
93,3
92,5
92,6
94,2
-
67,0
-
71,8
-
-
82,4
-
92,4
88,2
88 ,0
90,1
91,7
511
, '
CUNHA, Mo- H el e na V .,
&;
U B A LDO, M .- de Lourde s -
das dimens6es dos graos existentes
nas amostras leva rarn-nos a utilizar
uma serie de peneiros d iferentes da
que e indica da por este ultimo autor.
Os detritos d e quartzo das rochas
de Catumbela-Bocoio incluem unicamente graos dos tipos nao boleado
(NU) e boleado brilhante (EL) .
como se pode verificar pela analise
do quadro II. onde vern e xpressos
os resultados.
Em todas as amostras predominam
os graos nao boleados (NU) . verihcando-se que a percentagem e tanto
mais elevada quanto menor for 0
diametro dos graos . Este predominio
seria devido. segundo Cailleux , ao
facto de os graos serem de pequena
massa e portanto estarem sujeitos a
choques pouco intensos.
A ausencia de graos redondos
bacos (RM) exclui a hipotese de
transporte eolico, Por outro lado,
as percentagens dos graos boleados
brilhantes (de diametros compreendidos entre 0.42 e 0.177 mm) levam-nos a admitir que eles sofreram uma
ac<;ao marinha , pois, segundo Cailleux, 0 desgaste pelo mar e extremamente provavel, se 20 a 30 '70 dos
graos de diametro 0.3 mm pertencem
ao tipo boleado brilhante.
CONCLUSoES GERAIS
Das de scricoes feitas conclui-se
que os calcarios que comp6em 0 corte
d e Catumbela-Bocoio sao. do ponto
d e vista da sua composicao, notavelmente uniformes.
D e facto. como ja indicamos , a
percentagem da fraccao carbonatada
518
aalcdrio8 de Ca t um bela-B ocoio
e. em todas as amostras, muito elevada, chegando a atingir 97 '70 . Como
e obvio, es ta Irac cao en globa carbonato c rqanico, detritico e de precipitacao, numa percentagem relativa ,
variavel de grupo para grupo de
a mostra s. N alguns casos, como vimos . predominava fundamentalmente
a Iraccao orqanica (amostras n .·· II
e 12 ). en quanto noutros ela se encontrava praticamente ausente (amostras n." 6. 8 e 9 )1. In versam ente , a
Iraccao carbonatada detritica, composta por oolitos e fra gmentos de rochas calcarias, constitui, neste ultimo
caso, a quase totalidade das rochas.
Nas restantes amostras as duas Irac<;6es encontram-se bern representadas.
A Iraccao argilosa e. de maneira
ge ral. reduzida, com excepcao da
amostra n." 6. em que atinge 13 '70 .
Quante a fraccao detritica, apresenta -se relativamente un iforme em
todas as amostras. Sao notaveis a
eleva da percentagem e as grandes
dimensoes dos elem entos detriticos
da amostra n ." 10.
D e maneira constante, encontra-se
quartzo, ortose, microclina, uma plagioclase sodica. do tipo da albite.
biotite e moscovite. Os minerais indicados sao constituintes essencia is do
granito e. portanto, teremos que ir
procurar a sua origem a formacoes
deste genero.
As rochas eru ptivas graniticas
existem relativamente proximo do
corte estuda do. Estao nessas condi<;6es 0 granito da zona de influencia
do caminho de ferro de Benguela e
o gra nito de Quibala, assim desiqnados por Montenegro de Andrade.
Garcia de Or ta vol. 6 ( n .o 3) : 511-520, 1958
CUN HA, M.- H el e na V ., & U BA LDO, M,· de Lourde s -
Segundo este a utor, 0 primeiro corresponde a um granito com biotite.
epidoto e ma gnetite. em que os Ieldspa tos sa o a lbite e microcl ina. 0 qra nito de Quibala , que se es tende ate
o rio Catumbe la, difere do anterio r
pela presen<;a de cr istais de es fena
e pela plagioclas e. um pouco . ma is
calcica (oligoclase) .
A origem da Fraccao d et rit ica sillcatada das rochas do corte C atumbela-Bocoio deve procurar-se, portanto. nas forma coes que acabamos
de referir, ou noutras de tipo afim
exi stentes nas proximidades.
Como se d epreende do exame
morfosc6pico dos graos de quartzo,
o transporte do material que constitu i a Iraccao mineral6gica das rochas
estudadas teria sido pequeno e, alem
disso, ter-se-ia Ieito, em grande parte. em meio marinho.
facto de na maioria das amostras os graos nao boleados serem de
diminutas dimensoes poderia tarnbem
sugerir que 0 seu transporte tivesse
sido longo. No entanto, a pre sence
de graos ma iores do mesmo tipo nao
boleado e em elevada percentagem
vem confirmar a s conclusoes atras
referidas.
o
o
Calcdno8 de Ca tum bela-Bocoio
tirar a lg umas conclusoes do ponto de
vista paleoqeoqrafico,
Tra ta-se, sem duvida , de ro chas na
sua maioria formadas a pequen a pro fundid ade e em iiguas movimentadas
por forte ondulacao ou po r correntes
marinhas intensas. A ssim 0 provam,
por um lado, a presenca de organismos de pequen a profundidade, ou
mesmo litora is, como as a lgas do genero Lithothemnium, e . por outro
lado, a grande abundancia de oolite s
observados em muitas das amostras
es tudadas.
material silica tado muito abundante em algumas arnostras , quer isolado , qu er constituindo nucleos de
oolites, suqere, como jii ind icamos, a
proximidade de um litoral com formacoes graniticas.
A e xistencia de dois conjuntos. um
de tendenci a nltidamente margosa e
outro em que os detritos mineral ogicos sao excepciona lmente abundantes, leva-nos a a dmitir variacoes de
profundidade.
A ssim, a regiao de C atumbela- Bocoio corresponderia, pelo menos
em parte. a plataforma continental
dos mares cretacicos de Angola.
o
*
es tudo dos calcarios da reglao
de Catumbela-Bocolo permite, ainda ,
Centro de E studos de Geologia Pura e Apll·
eada da F a cu Idade de ClEmc ias de Li sb oa
( Fundac;io do Instltuto de Al ta Cultural .
RESUME
Dans ce travail on etudie quelques
calcarenites du Cretace de I'Angola sur
la coupe de Catumbela-Bocoio, entre
Bengu ela et Lobito.
Les carbona te s detritiques comprennent des oolithes a structures varlees,
Garcia do Orla vol. 6 (n.o 3) : 511-520, 1958
des restes d'organismes t els que des
mollusques. crinoidea, et des fragments
de roches calcaires.
La fraction min eralogique est consti tuee essentiellement de quartz, orthose,
microcline, albite et biotit e.
519
CUNHA, M.- Helena V ., & UBALDO, M .- de Lourde s -
Morphoscopiquement, les · grains de
quartz appartiennent aux types NU et
EL, indiquan t que leur ' transport a H e
partiellement effect ue en moyen marin.
Il s' agit saris dilute de roches form ees
pour la plupart a' petite profondeur et
Cal cdri08 de CatumbelarBocoio
en des eaux agitees ; ceci est t emoigne
par l'existence de Lithothamnium et de
nombreux oolithes . D'autre pa rt, la presence de mat eri el silicate indique la proximits d'un littoral a formations graniti ques.
ABSTRACT
In this paper some calcare nites from
the Cre taceous of Angola are studied,
formi ng the t raverse Cat umbela-Bocoio,
betwee n Benguela and Lobito.
The det ritic ca rbo nated portion consists of ooliths wit h varied st ructure, of
r emnants of organisms such as Molluscs, Cri noids, and .fragm ents of calcareous rocks.
The min eralogical portion is essent ially formed of quartz; orthose , micr ocline, albite and biotite.
Morphoscopically t he grains of qua rtz
belong to the types NU and E L, pointing t o their t ransport having been pa rtly
made in 'a marine medium.
We ar e dealing, undoubt edly , with
r ocks form ed for t he most part at little
depth and in troubled wa ters, which is
pro ved by the existence of Lithothamnium and numerous ' ooliths. On the
other hand, the presence of silica t ed
material shows the nearness of a shore
wit h granitic form at ions.
BIBLIOGRAFIA
BERT HOIS. L . : 1950 - Ctlntribution d la conna issance lithologique de l'archip el d u Cap V er t . «E s tudos, Ensaios e Documentos », vo l. 7,
p . 194. Junt. de Inv. do U ltramar.
CAILLE UX , A .: 1942 - «Le s "ac ti ons e olien ne a
pertglactatrea e n E urope ». Me m . 80 c. Geol . de
France, n . ser., -t om o XXI, f as cs. 1-2, Mem.
n- 46, pp. 1-76.
.
- - 1943 - «D is ti nc ti on ' des s ab le s marin s et
fluviatiles». Bu ll . Soc. Geol . d e France, 5&ser.,
tomo XI ll, rases. 4-5-6; pp. 125-138.
CAYEUX, L . : 1931 - In troduc tion d l'etude petrographique des ro c hes se dimen t aires. Atlas.
«Me moires pour se rv ir a I'ex pltcattcn de la
ca rte geologique detal llee de la France».
Pari s.
" 1935 - L es ro che s se dimen taires de Fran.
ce o Rocbee oorbo na teee, Paris.
MONTENEGRO DE ' AND R ADE , M ,: 1953 Roctuxs Gra n suo ae d e Ango la . Coimbra .
MOUTA; V ., & BORGES, A.: 1926 , - «Sur Ie
. cr etace du . littoral de I'Angola (d istrict s deBenguela . et de Mo ssamedes) ». B oletim da
A uenciarGeral das Col~nias, vel. 2, n.s 141p p . 30-50 ; n.s 15, pp . 100-116.
PETTIJOHN, F. J.: 1957 - Se dimentary roc k s.
New Yo rk. "
ROGERS, A. F ., & K E R R , P , F.: 1942 - anuca l mineralo gy. New York.
WAHLSTROM, E . E . :. 1955 - P etrogra phic min eralo gy . New York.
'
-
,'
520
Gar cia de Orta vo l. 8 (n.s 3) : 511-520, 195&
--C I '~lI A, :\1. H e le n a V ., & UIlALDO, M ." d e L ou r d es _
d~ C atu,m Vc[ a -B oco i o
5
Fi g . 1 -
C nlc(irio8
A mo s tra n ." 2. Oottt os m ostrando dt r ere ntes t ipos de estr u tura s.
A o cent ro c a di r ei ta , graos de e p id o te. Sem a nal. 106 x .
Fi g. 2 - Amostra n ." 3. F oram in if e ra da fa m ilia T extulariida e, det ri t o de
r ocha calcar ia , al gun s oott to s e f r a g m entos m in era is envot vi do s POl' cim e n to
de calc it e c r ip t oc r is ta lina . N ic. c r uz. 106 x .
GU1"l" in (!.J Ortc v ol. 6 (n .v 3 ) : 511-520, 1958
E STAMPA I
a
C UNIlA , M .- H e lena V ., & U BA l.II O, M .ft de Lourd es d e Catttmbela -Bocoio
C aZcft1"i08
ES TA M PA II
Fig. 3
A mo s tra n ." 4. Crtstal d e a lbite com gemtnacgo lame lar a rect a do
de ext tn qao rolante ; a dt r etta, resto de c oncha de mol u sc o e oo ltto c o m
n u cleo d e e p id ot o. N ic . cruz. 106 x ,
F ig . 4 - Amostra n.v 4. D e t r it os d e roches cal cer tas e d e m rnerats en volvtdos POl' cimento de calcite em plagas. No qu ad r a nte s u pe r io r d irei to , u m
corte tran sve r sal dum espi n ho de ourtco. N ic . cruz. 27 x .
Ga rcia d e O r ta vol. 6 (n.s 3 ) : 511·520, 1958
C t.:N II A, M .& H e len a V., & U Il A I.D O, M." d e Lourd e s -
Ca[C(iri os
E S T A M P A II I
de C a ltw l b cla -B o r.oi o
Fig. 5 - Amostra n ." 5. Res to d e crtn o tde ( c a n to s u p erio r esque r do ) e u m
corte de co n c h a s ob ress at n d o duma rnassa de ca lc it e c riptocristalina onde
se notam a lguns oottto s . A d ireita , calcite em pl a ga s . Nic . cr u z. 27 x .
Fig. 6 - A m os tra 0 .° 5. Resto de co nc ha de Motusco e a lg u n s oo lttos mal
defini d os . Sem a nal. 27 x .
G a rcia d e Orta vet . 6 ( n ." 3 ) : 5 11 ~520, 1958
_ .I
C UNHA, M ." Hel ena V .,
&
U U A L D O,
M ." d e Lourd es _
Calcriri08
d o Ca t n mbcla-Bocoi o
ESTA l\I P A I V
Fig . 7 - Amostr a n. " 6. Asp ecto gera l d e u m a textu ra f un da m en t a lmente
oo li tica . Oolttos m a l d efi nidos ou d esprovtdos d e estrutura. Sem anal. 106 x ,
F ig. 8 -
Amostra n ." 7. Corte de uma conc h a de Lam elibr anqu io numa
massa fu nd a m en t a lm en t e ooli ti ca . Sem a n a l. 17 x .
Garcia d e Ort.a vo l. 6 (n .v 3); 511-520, 1958
CUl\'IIA, M. " H e le n a V ., &. U II A LIl O, M .a d e Lo u r d es -
Ctl lc (l r i os
d e C utu mbcla- B oc oi o
F ig. 9 -
A m ost r a n ." 8. Ca lcar e n it o com t e x t u ra t u nda m e n t al m e n t e oo li t ic a . S e m a na l. 27 x .
Fi g . 10 - A mostra n ." 10. Macroel emen to d etr -itico de m tcroctt na-p erttt e :
e m ci ma, a dt rett a . p a r t e d e urn f r a g m ento de L ith o th a mni um .
Nic . c ruz. 27 x .
G arC;(t d e O r t a v o l. 6 ( n ." 3) : 511·5 20, 1958
E STA l\I P A
v
CUNII A, 1\1.1l H el ena V .,
&
U HALDO, M. B
d e Lo u rde s -
Ca lc a rio8
E ST AMP A VI
fin Ca t ton IJcl a -B o c oi o
Fig. 11 _
•
A mos tra n ." 10. F r a g me nto de Lit h o tJutnt n iunt . N ic. c ruz . 27 x .
Fig . 12 _ A m ostra n ." 10. E lemen t o d e rocha gra n iti ca com e n or me s plagas
de q uartzo a t ectadas de ext tn cao r-ola n t e . Ni c. c r uz . 27 x .
G a rci (t d e O rta vo l. 6 {n .v 3 ) : 511-520, 1958
...
ClI N HA. M o- H e lena V ., & U BAL I>O. M .- de Lourdes -
C a l eriri os
EST A 11PA VII
d e C a tll m lJCl a· Bo('U10
F ig . 13 - Amoslra n." 10. E lemento ro lado de urna roche q uar ta it tc a :
a d ire ita c last os de mi croclina e de a lb ite pertiti za d a . N ic . c r u z. 27 x .
Amos t ra no" 11. Fra gmentos d e r o chas catc a r ta s nurna pasta ool iti ea com cim e n t o d e calci te c r ipt oc r is ta li na . Scm a na l. 27 x.
Fig . 14 -
Ga r c ia d e Orta v o t. 6 (n o" 3 ) : 511-520, 1958
CliX II,\ .
dr ~
:\I. ~
H ele na V.,
&
V ltA l, D O, M. R
de Lou rd es -
Cu ieti/ioN
ESTAM PA V I n
C a t u m bela - B o c o i o
F ig. 15 - Arn ost ra n ." 12. I nicio de s flic tf lcaqa o de uma concha ca lca r ia de
OE es f er6 1it os d e quar-tzc c ca lc ed6n ia sobress a tnd o d a m a s se, ca lciti ca . Ni c. c r u z. 27 x .
L a m ettb ran q u !o. N otem-se
Fig . 16 - Amostra n ." 16. Ou tro ponto da mesma concha em qu e a s tltctrtcaca o e mais complet a . Destaca -s e 0 tam a nho n ot a vel d O B agrega dos esfe r otit tcos . Ni c. c r uz . 27 x .
Gal'cia d e Ort u: vo l. 6 (n ." 3 ) ; 511-520, 1958

Documentos relacionados