RESGATE HISTóRICO - Prefeitura Municipal de Campo Bom

Transcrição

RESGATE HISTóRICO - Prefeitura Municipal de Campo Bom
RESGATE HISTóRICO
Ao completar 52 anos, Campo Bom presta uma homenagem a homens e mulheres que fizeram a diferença na construção de cada etapa da cidade. Por meio
delas homenageia-se também a todos que atuaram anonimamente e continuam se doando a Campo Bom, integrando sua trajetória de conquistas e sucesso.
(www.campobom.rs.gov.br)
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Abelino Abílio Beck – 68 anos
Há uns 40 anos me apelidaram de Teixeirinha, e como eu tive que fazer um registro de artista quando
entrei na rádio, quis registrar Teixeirinha Segundo, mas a
censura federal não deixou, então me perguntaram meu
sobrenome e por isso meu apelido ficou Beckinha, parecido com Teixeirinha. Não sou natural de Campo Bom,
e decidi vir pra cá porque onde nasci não tinha nem estrada e pra sair de lá só de carreta de boi. Um dia resolvi pegar uma sacola com roupa e vim pra Campo Bom,
gostei e fiquei. Naquela época aqui no Imigrante, contava-se nos dedos o número de moradores, acho que não tinha 20. Sou fundador e presidente da associação de moradores que teve na escola Santos Dumont sua primeira sede.
Já fui cobrador de ônibus, tive barbearia, depois comecei a cantar, toquei em baile e num
conjunto que não tinha nem nome. Depois formamos um grupo, tocamos na rádio, tevê e
até no programa Fogo de Chão. Fiquei 18 anos na música e na rádio. Parei quando comprei um ônibus pra começar a minha empresa.” (morador bairro Imigrante)
Adão Elemar de Moraes – 46 anos
Com 12 anos de idade descobri meu talento para rádio. Estava vendo um jogo de futebol num campinho
perto de casa quando peguei uma madeira do chão que fiz
de microfone e comecei a narrar o jogo. Nunca fui narrador
de futebol e nunca essa ideia havia me atraído, até aquele
dia. Meu primeiro trabalho em comunicação foi com meus
irmãos que trabalham com som fazendo aquelas festinhas
de garagem e também serviço de alto falantes. Um dia
fui com eles fazer som num evento, e ao chegar na cidade ouvi uma rádio chamada Repórter e achei aquelas
músicas muito fúnebres. Desci do carro, e sem avisar meus irmãos, fui até a rádio onde pedi pra fazer um teste, fui contratado a partir daquele instante. Já a Rádio Urbana é um projeto que eu criei, é minha filha. Em 1994 enviei ao Ministério das Comunicações o primeiro
pedido para uma rádio em Campo Bom, mesmo sabendo que as dificuldades técnicas eram
muito grandes. Tive uma rádio poste na cidade, até que em 2001 chegou a concessão para
instalarmos a Rádio Urbana em Campo Bom.” (Rádio Urbana 87.5FM)
editorial
Uma justa homenagem
Pelo terceiro ano consecutivo, a Administração Municipal de Campo Bom
realiza o evento Resgate Histórico com
a finalidade de permitir que pormenores
da vida e do desenvolvimento da cidade
sejam resgatados sob a ótica de seus protagonistas. Sabe-se que uma cidade não
se faz sozinha e que em cada canto há
gente que faz diferença em seus bairros,
profissões, entidades e iniciativas. São
essas pessoas que o projeto quer homenagear e que são ‘garimpadas’ perante
indicação de suas próprias comunidades
e pares. Além de ouvir delas ‘sua parte
da história’, o projeto registra em vídeo
as impressões, depoimentos e narrativas de cada um dos participantes, material que passa a integrar o acervo da Biblioteca Municipal, ficando disponível
como fonte de pesquisa. São narrativas
únicas e impressões pitorescas. Na edição de 2011, a exemplo das duas anteriores, há ricas narrativas sobre Campo
Bom de 50, 60 e até 80 anos atrás. Percebe-se, numa leitura geral dos depoimentos, fatos comuns a todos e histórias que
se repetem, mas que em cada família,
empresa, profissão, repercutiu de forma diferente. A dificuldade de atravessar o Rio do Sinos para uma professora,
transformou-se em oportunidade de implantar uma balsa para outro morador. A
pouca infraestrutura nas estradas que dificultava o envio de lenha para olarias,
foi ganha-pão para quem se dedicou ao
ofício do transporte. A crise do calçado
nos anos 90, significou o fim de muitos
negócios para alguns, mas novas oportunidades a outros e certamente um grande
desafio para todos. Ser professor na cidade na década de 40, quando nem energia havia e as escolas eram ‘algumas salas feitas de madeira’, como conta uma
das narrativas, nos permite medir o esforço pessoal pelo sucesso profissional.
E por aí vai.
Mais do que homenagear pessoas que
fizeram e fazem a diferença na vida de
Campo Bom – e em nome delas reconhecer a tantas outras que anonimamente deram sua contribuição para a cidade
– o evento Resgate Histórico é um projeto prazeroso e reconfortante. Hoje, período em que a comodidade da internet
(até sem fio) e as tecnologias digitais facilitam tanto o dia a dia é que se percebe como as relações comunitárias e de
vizinhança foram imprescindíveis para
para construir Campo Bom. Com tanta
tecnologia a nosso dispor, torna-se ainda mais imensurável a contribuição destas pessoas que se dedicaram a fazer diferença. A estes campo-bonenses - de
nascimento ou de coração – nosso singelo reconhecimento.
Sílvia Trovo
Editora
Adriano Mathias Schmitz – 88 anos
Cheguei em Campo Bom em 31 de março de 1955,
para a Escola Rural de Quatro Colônias. Na ocasião
era orientador das escolas rurais de toda região e queria
uma escola para residir, então fui enviado para Campo
Bom que, nesta época, tinha poucos habitantes e não tinha
luz. Com o passar do tempo, consegui junto às lideranças
da cidade que chegasse luz à escola de Quatro Colônias.
Comecei a lecionar em 1960, porque antes disso eu viaja
pelas escolas da região para orientar os professores. Os
alunos naquela época eram muito bons, nos tratávamos
como amigos. Nós brincávamos com eles, jogávamos handebol. Nestes anos todos de magistério, já lecionei sozinho numa escola para 200 alunos, pois as outras professoras pediram
transferência. Para ser um bom professor tem que ter vocação e amor pela profissão, porque
se lida com os pequenos que estão se formando, por isso é preciso muito cuidado. Se eu pudesse voltar no tempo, escolheria ser professor novamente, sem pestanejar.” (professor)
Aládio Sebastião Pedrozo – 73 anos
Vim para Campo Bom a procura de trabalho e o encontrei em dois dias, na época eu tinha 20 anos. Comecei a trabalhar como funileiro, profissão que já exercia antes de vir pra cá. Decidi ser funileiro porque vi um profissional
desta área trabalhando e achei muito bonito, porque naquela época tudo era feito manualmente, e por isso um trabalho
artístico. Não tinha idéia de ser artista, mas da funilaria eu
gostaria de ser. Comecei a trabalhar como aprendiz com 14
anos, e naquela época antes de 5 anos de experiência você
não era considerado profissional, embora mostrasse bom
trabalho, então não recebia salário. Naquele tempo, enquanto um profissional não desse lucro
para a empresa, tinha que trabalhar pagando para aprender. Na época era feito tudo com folha
de aço, porque não existia nada de plástico, fazíamos bacia, banheiras, regador, chuveiros, baldes
e outros utensílios. Nossos produtos eram todos vendidos em Campo Bom.” (funileiro)
Os homenageados de 2010: Adalberto Fett; Ademar Antonio Machado; Ademar Edgar Trein; Aida Maria Corrêa de Aguiar Viana; Alvery Silveira Castro; Arlindo de Castro; Benno Walter Schuck;
Breno Oscar Thoen; Carlos Alberto von Reisswitz; Célia Heidrich; Cesar Augusto Ramos; Claricia
Hermann; Darci Arno Lauck; Débora Kehl Trierweiler; Delmar Teixeira de Moraes; Eduardo Storck;
Eldo Ivo Klein; Elemar Becker; Elio Martin; Flavio Oscar Maurer; Francisco Dias Lopes; Geovane
Delmar Schell; Germano Nicolau Lenhard; Glody Elsa Hilgert; Isolina Constante da Silva; Ithon
Jose Fritzen; Jair Reinheimer; Jefferson Eroni de Oliveira Gonçalves; João Carlos Ternes; Juarez
Rodolfo Dreyer; Liane Bauer; Luis Fernando Trieweiler; Luiz Möller; Marco Aurélio Feltes; Maria
dos Anjos da Costa da Silva; Maria Lenira Dias Lessa; Maria Lory Hack Lauer; Marlise Therezinha Riegel; Nair Ritzel; Paula da Silva Paz; Pedro de Oliveira Amador; Raul Gilberto Blos; Reme
Oscar Blos; Remi Steigleder; Remy Eloy Schmidt; Ria Blos; Roberto Linden; Suely Teresinha da
Silveira Pazin; Telga Bohrer; Wilson Francisco Conceição; Wolfram Nicolau Metzler.
Expediente
Jornal Resgate Histórico de Campo Bom
Tiragem: 15 mil exemplares
Uma publicação da Prefeitura Municipal de Campo Bom
Jornalista Responsável: Sílvia Trovo
[email protected]
Av. Independência, 800 - Centro (51) 3598-8600 - R. 8609 e 8610
A Prefeitura de Campo Bom agradece a colaboração de todas as pessoas que cederam fotos,
documentos e suas experiências, tornando possível essa publicação.
Os depoimentos aqui contidos são de responsabilidade de seus autores. Permitida reprodução desde que preservada a fonte
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Anete Martins Espíndula – 62 anos
1982 - Darcy
Constante
Cambruzzi
recebe a placa
de distinção
em vendas da
Pepsi
Nasci em Campo Bom, e em 1980 vim morar no bairro Cohab Leste. Minha mãe conta
que desde pequena eu andava com lápis e papel na
mão para ser professora. Inicialmente achei que seria contadora, porque gostava de trabalhar com papéis e parte burocrática. Mas sempre tive vontade de
ser professora. Em março de 1964 meu pai chegou
em casa e disse que no outro dia eu ia começar a trabalhar numa fábrica de calçado. Não acreditei, mas
meu pai me levou lá e comecei a trabalhar no setor
de almoxarifado no dia 1o de abril. Em 1966 fiz concurso para professora e passei
em primeiro lugar, então pude escolher a escola que queria trabalhar. Optei pela
então escola Isolada Santos Dumont, no bairro Imigrante, e comecei a lecionar
em 1967, com 18 anos. Fiquei por cinco anos, depois por oito anos na Borges de
Medeiros. Então ganhamos essa casa aqui na Cohab e fui trabalhar na agora Casa da Criança. Ser professora pra mim foi uma coisa muito boa porque gostava e
fui cada vez mais me aperfeiçoando e tendo mais didática. ” (professora)
Aparício Renner da Silva – 43 Anos
Alice Olívia Dietrich – 80 anos
Sou natural aqui de Campo Bom e na minha infância havia poucas pessoas morando aqui. O Edifício Gerhardt é uma homenagem
ao meu pai, Lodário Gerhardt que por mais de 80 anos morou onde hoje é
o edifício. E foi nessas redondezas do Centro que cresci. No lugar onde hoje moro, antes de construirmos a casa, era tudo plantação. Quando tinha
13 anos comecei a trabalhar na calçados Reichert e fiquei lá por quase 10
anos, saindo para trabalhar em casa, costurando. Depois tivemos por 10
anos um mini mercado chamado RC Dietrich, na esquina da rua onde moramos hoje. Era uma época muito boa, tínhamos bons clientes, mas depois com a chegada de mercados maiores, paramos com o nosso negócio. Meu esposo e eu resolvemos fazer parte der grupos de dança e fundamos um grupo só para baile. Hoje integramos o Recordar é Viver e
o Saber Viver. Sou fundadora do Grupo Oasis, que tem 60 anos e que, no início, se encontrava para chás e
para cantar em casamentos.” (fundadora do grupo Oasis)
Em março de 2010 assumi o comando da Brigada Militar em Campo Bom, uma cidade que me
recebeu muito bem e onde o efetivo trabalha de forma
diferenciada e veste de fato a camisa. Escolhi entrar na
polícia por influência de um primo que ingressou na Brigada e me disse das possibilidades de crescimento dentro desta profissão. Me inscrevi para soldado, me formei, fiz concurso para oficial, passei, fiquei quatro anos
na academia, e em 1996, quando me formei vim como aspirante para Campo Bom. A dificuldade na área
é que cada ocorrência é peculiar, diferente uma da outra. O policial é o juiz no local
do fato e responderá se tomar uma decisão errada, por isso o policial tem que estar
bem preparado. Os policiais de Campo Bom têm vontade de trabalhar, se desdobram
a qualquer hora. De fato eles vestem a farda.” (capitão da Brigada Militar)
Arlete Masiero – 51 anos
Almerindo da Costa – 63 anos
Sou natural de Roca Sales e moro em Campo Bom desde 1975,
quando vim trabalhar em fábrica de calçados. Nos finais de semana, durante cerca de seis meses, trabalhei em táxi. Gostei tanto que
comprei uma placa pra mim. Já faz 30 anos e desde então essa é minha
profissão. Na época em que vim morar pra cá, Campo Bom era uma cidade pequena e jogávamos futebol onde hoje é o bairro Celeste, na época
era só mato de eucaliptos. Aqui na Cohab Sul onde eu moro, era tudo banhado. Campo Bom se desenvolveu muito rápido. Gosto de morar aqui, é
bom. O trânsito de hoje é muito diferente daquela época, que era muito
mais calmo. O primeiro táxi que dirigi foi um Corcel, e o primeiro que comprei foi um Fusca. Naquela época era preciso ter a carteira assinada como taxista, e como trabalhava durante a semana numa empresa,
não podia assinar duas vezes. Resolvi fazer outra carteira e tudo se resolveu até o momento em que comprei meu táxi, quando não precisei mais de carteira assinada. Na época havia poucos táxis, mas logo que
comecei mais placas foram liberadas, pois faltavam táxis em Campo Bom.“ (taxista)
Alósios Edgar Schwarz – 73 anos
Vim para Campo Bom em 1940 quando a cidade estava se desenvolvendo. Nesta época tinham aqui uns dois mil habitantes, um lugar pequeno e que estava evoluindo com o calçado. Trabalhei com esquadrias e depois
fui para o ramo de madeiras. A madeireira começou com seis sócios, cada tinha
uma tarefa: parte administrativa, depósito, entrega e para mim sobrou o transporte de madeira, que era um serviço pesado. A madeira daquela época mudou
em relação a hoje, se usava madeira de pinho, depois cedrinho e madeira de
lei, que agora é proibido o corte. Agora voltou a madeira eucalipto, de reposição, plantadas, que não são de matas virgens. Nossas madeiras foram até
exportadas na década 60 de tão boas que eram. Hoje, exceto a madeira nativa, é mais fácil conseguir esta matéria prima. Eu sempre digo que quem mantém as portas abertas, seja com
comércio ou indústria, é um herói e nossa madeireira completa 51 neste ano.” (madeireira Campo Bom)
Nasci em Campo Bom e nestes anos de vida,
apenas dois estive fora da cidade onde comecei
trabalhando na indústria calçadista, depois em escritório de contabilidade, até que aos 21 anos fiz concurso
público para a Caixa Federal, passei, e assumi no banco
de Campo Bom, onde fiquei por 27 anos. Quando me
aposentei, tinha uma colega já aposentada que trabalhava na Liga, e fui ajudá-la em um trabalho e estou
até hoje. Quem trabalhou a vida toda não quer ficar
parado e precisa se sentir útil. Me encontrei na Liga
que trabalha com prevenção da doença e ajudando aos pacientes que tem câncer. Adoro Campo Bom, nunca pensei em fazer minha vida longe daqui, pois minha turma, amigos e família são daqui. Até já briguei por Campo Bom que é a minha cidade e eu vou
defender o que é meu.” (presidente Liga Feminina de Combate ao Câncer)
Arthur Luiz Leuck – 78 anos
Vim para Campo Bom por acaso, em 1955, para
tentar trabalhar Uma semana depois de ter chegado, como não arranjava emprego, estava na estação
para voltar para Taquara, minha terra natal, quando
um homem apareceu e me ofereceu emprego. Comecei
a trabalhar e logo vim de muda para Campo Bom onde aprendi a ser cortador de couro. Fiquei numa fábrica
por dois anos, e por ter ficado até o fechamento da empresa, os donos mesmo procuraram um novo emprego
pra mim, na Vetter e pouco tempo depois fui trabalhar
no Reichert, quando a empresa não tinha nem 100 funcionários e os homens e as mulheres
ficavam separados na produção, inclusive para bater o ponto. Fiquei no Reichert por 50 anos
e cinco meses. Trabalhei em todos os setores. Cheguei ali, enraizei, e fiquei lá todo esse tempo porque sempre fui bem tratado, gostava de trabalhar, aprendi coisas diferentes e realizei
lá um sonho antigo que tinha: ser motorista.” (funcionário Reichert Calçados)
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Astor Willy Blos – 67 anos
Cresci bem no centro da cidade, quando Campo
Bom era uma vila, praticamente toda cidade era
sem paralelepípedo. O tempo foi passando e as pessoas
influentes alterando esse cenário, e nós temos que agradecer as pessoas que contribuíram para o crescimento e a
emancipação, que idealizaram tudo isso. Em 1961 comecei a cursar Técnico Comercial Contábil, hoje o curso não
existe mais e eu fui um dos últimos a ganhar este diploma, terminei o curso em 1965. Quando me formei fui
trabalhar no escritório de contabilidade do meu sogro, que teve o primeiro escritório de contabilidade da cidade. Em 1974 surgiu a empresa Organizações Contábeis Blos Ltda, na Avenida
Brasil, que existe até hoje. Desde a minha formação muitas coisas mudaram na contabilidade, e hoje é gratificante olhar os sistemas que temos disponíveis em comparação àquela época. Quando comecei a trabalhar, fazíamos à mão os diários, as entradas e saídas, o que dava
um trabalho muito grande, só quem passou para saber. A vida a cada dia nos ensina coisas
novas, a gente não pode parar nunca.” (Organizações Contábeis Blos)
Tem cola no pé
Verdadeiras declarações de
amor a Campo Bom estão contidas nos depoimentos que compõem as páginas desta edição do
jornal Resgate Histórico. A exemplo de 2009 e 2010, quando os
homenageados também externaram em seus depoimentos essa
paixão à primeira vista pela cidade, os relatos de 2011 também
são unânimes na forma como nar-
ram o amor imediato por Campo
Bom e a forma como foram ‘fisgados’ pela cidade diferente, onde além de oportunidades de trabalho, encontraram bons amigos,
vizinhança participativa e ‘algo de
mágico’ no ar. É como diz Danilo Benno Saft em seu depoimento (página 5): “É a pegada. Tem
cola no rastro do pé que não me
deixa sair daqui”.
Aurélio Leandro Dall’onder – 36 anos
A nossa igreja existe a 107 anos no Brasil. No ano
de 1936 um grupo de sete famílias fundou a Comunidade da Paz aqui de Campo Bom, uma cidade que
gosto muito. Era pastor em outra comunidade no interior
do estado, mas numa assembléia meu nome foi escolhido
para vir ser pastor da congregação de Campo Bom. Aceitei o chamado e estou há três anos aqui. Meus pais contam que quando eu era criança subia na mesa e fazia de
conta que era pastor. Mas depois, conforme os estudos
foram avançando, um pastor da minha congregação de
origem me incentivou, então no ano de 1992 ingressei no seminário, me formando em 1997
e desde então atuo como pastor na Igreja Luterana que tem como livro base a bíblia sagrada,
de onde tiramos nossa doutrina. Acreditar em Jesus Cristo como salvador nos permite viver
uma vida muito mais feliz. Bom é Campo Bom, bom é sempre onde nós estamos, chamados
e colocados por Deus.” (pastor da igreja Luterana – Comunidade da Paz)
Beti Maria Hoffmann – 66 anos
Vim para Campo Bom, aqui no bairro Operária,
quando fui trabalhar em fábrica de calçados, onde
fiquei por mais de 20 anos e me aposentei. Antes já tinha trabalhado como professora em Taquara, minha cidade natal.
Quando vim para cá, era preciso sair de casa uma hora antes
da hora do trabalho, pois se fazia tudo à pé e quando chovia
tinha barro até os joelhos. Precisava até trocar de sapato depois da caminhada. Foi com esse esforço, com o dinheiro do
nosso trabalho, que conseguimos comprar o terreno e casa
onde moramos. Sou muito envolvida com o bairro. Ajudo
na creche e no colégio costurando capas de coberta e almofadas para as crianças. Quando estou
com elas sento nas cadeirinhas para a hora do lanche e observo muito os pequenos. Já emprestei minha casa para um culto que aconteceu aqui no bairro, para encerramento do ano letivo do
colégio, com amigo secreto e tudo. Mesmo não tendo mais filhos e nem netos na escola, gosto
de conversar com as professoras e a diretora. As vezes os próprios pais não vão em reuniões do
colégio e eu vou. Participo também da gincana de bairros” (moradora bairro Operária)
Bianca Goede Giesch – 32 anos
Em 2005 fui enviada pela minha igreja para assumir o ministério pastoral nesta comunidade. Decidi
ser pastora no final de 1997 porque gosto do contato humano
e tinha uma vivência comunitária muito grande. Em 1998 estudei bacharelado em Teologia, mas a minha mãe conta que
quando eu tinha em torno de seis anos, pegava um casaco
grande dela e brincava com as minhas irmãs de fazer culto.
Quando cheguei a Campo Bom, vim de ônibus juntamente
com meu marido, para uma entrevista inicial, para um culto
de apresentação pra ver se a comunidade iria gostar de mim.
Chegando em frente a nossa igreja, me espantei com o tamanho, com o espaço físico da comunidade. A estética de Campo Bom me chamou muito atenção também, uma cidade limpa e agradável.
Sou a primeira pastora da nossa comunidade Evangélica, foi um rompimento de padrões até
ali, pois fui também a primeira pessoa a sair direto do período de formação acadêmica para o
exercício do ministério, e eu tinha 25 anos. A nossa igreja é a mais antiga de Campo Bom, temos um jornal guardado que traz a data de 03 de fevereiro de 1828, o que significa que neste
ano comemoramos 183 anos na cidade.” (pastora da IECLB em Campo Bom)
Década de 80 - Reunião realizada na sede do clube Oriente, quando Teresinha
de Oliveira estava iniciando como funcionária na Prefeitura de Campo Bom
Braulio Blos – 75 anos
Trabalhei em uma cerâmica, que era de propriedade do meu pai e mais tarde me tornei sócio. Um dia, no antigo bar do cinema, vi gente trabalhando,
consertando refrigeradores e então pensei em quão interessante era aquela atividade. Então em 1959 aprendi e comecei a trabalhar em refrigeração, numa época em
que esta área engatinhava no estado. Já trabalhei também em diferentes ramos
como comércio e de vacas leiteiras. Depois de 16 anos sem estudar, aos 38 anos fui
fazer faculdade, e resolvi cursar educação física e ali me achei. Não tive dificuldade
porque fui atleta e tive facilidade em aprender esportes. Fui da primeira turma que
se formou na Feevale e depois de formado, comecei a lecionar no colégio 25 de
Julho, em Novo Hamburgo, onde permaneci por 14 anos. A única escola em que
dei aula aqui na cidade onde nasci foi a Fernando Ferrari, onde lecionei por 7 anos. O que eu mais gostava
era de preparar equipes, tanto no futebol, quanto no vôlei, handebol e basquete.” (professor)
Celene Iris Adam Thoen – 67 anos
Lembro de Campo Bom quando a Avenida Adriano Dias era só trilho de
trem e não existiam edifícios. Cheguei aqui e fui estudar, fiz o curso de técnico em contabilidade e trabalhei no INPS, onde me tornei conhecida. Em seguida
o Hélio Martin assumiu a Prefeitura e me convidou para trabalhar no departamento de assistência social. Na época éramos três funcionários e tinha uma Kombi que servia de ambulância. Nessa época também não existia postos de saúde do
município, só do Estado. Em 1983 assumiu o novo prefeito que me convidou para
permanecer no cargo, sendo que nesta época o departamento se transformou em
uma secretaria, quando foi construído o primeiro posto de saúde, lá no bairro
Rio Branco. O segundo posto foi no bairro Aurora, quando transformamos um
bar em posto. Fui candidata a vereadora em 1988, e para minha surpresa, me elegi com 434 votos. Na
época eu era bem inocente e ingênua, mas aprendi rápido”. (vereadora de 1989 a 1992)
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Infância para ser criança
Experiências de infância compõem muitos dos relatos contidos nestas páginas e que nos permitem medir a alegria dos então
‘pequenos filhos de Campo Bom’.
Feita de atos simples, como o narrado na página 8 por Erni João
Hilgert (que tinha por hábito ouvir
música junto com os pais e vizinhos) ou de gestos que já apontavam um talento (como o do locutor Adão Moraes na página 2, que
brincava de narrar futebol usando
um toco de madeira como microfone), a infância usava de criatividade. Relatos como o da professora Lizane Tomiello (página
10), que brincava de dar aula para os sobrinhos e o de Oscar Fai-
fer (página 11), sobre os desafios
de atravessar o rio em tempos de
cheia e de estiagem, indicam situações cotidianas e felizes como
garante Daniel Schimer (página 5)
ao relatar que teve uma infância
“que só quem cresceu em uma cidade do interior sabe o quão boa
é”. De todos os depoimentos relacionados às crianças que viveram momentos felizes em Campo
Bom, nenhum supera o de Ruy Juarez Corrêa (página 11) que conta ter vivido momentos de ‘peraltices’ quando colocava sabão no
trilho do trem só para ver a derrapagem na subida da lomba. Quem
na infância não aprontou das suas,
que jogue a primeira pedra!
Daniel
Schirmer
(esq) na
década de
50 no antigo
posto que
pertencia à
família
Daniel Schirmer – 56 anos
Minha infância aqui na cidade foi muito
boa. Eu cresci às voltas do posto Schirmer,
com uma infância que só quem cresceu em uma cidade do interior sabe o quão boa é. Comecei a trabalhar com meus pais e tios atendendo no posto de
gasolina, mas quando era criança, brincava com
aviãozinho e acredito que tudo começa com brincadeiras de criança. Tinha um amigo do meu pai
que era engenheiro de vôo da Varig e conversava muito com ele. Isso me deixava curioso sobre
o mundo lá fora. Outra pessoa que não posso esquecer é o Celomar Hoffmeister, piloto do Aeroclube que me convidou pra dar uma volta num Teco-teco. Me apaixonei, voltei para casa e decidi começar o curso, e assim foi meu início, com 18 anos.
Aos 19 anos eu já era piloto comercial. Também fiz curso de piloto agrícola. Prestei
concurso para a Rio Sul Linhas Aéreas e 1988 ingressei nesta empresa como co-piloto, e em seguida fui promovido a comandante. Assim como o primeiro dia, o último dia de vôo a gente nunca esquece. Que Campo Bom continue no rumo que segue deste a sua emancipação, de progresso e conquistas.” (aeronauta)
Danilo Benno Saft – 60 anos
Quando começamos o CTG ele era na escola Tiradentes, e se chamava Grupo Folclórico da Juventude Evangélica. Começamos a participar
de bailes, a nos apresentar pela cidade e região. Em
abril de 1968 decidimos fundar o CTG, que começou em um prédio alugado. Me envolvi com ele até
1972, mas até hoje me sinto em casa quando chego
lá, pois sempre fui apaixonado pelas tradições gaúchas. Nasci em Campo Bom e sempre morei aqui. É a
pegada, tem cola no rastro do pé que não me deixa
sair daqui. Na minha época, íamos nas casas à noite atrás de pessoas para integrar os
grupos mirins e adultos do CTG. Eu ia na casa das pessoas de bicicleta e vestindo uma
bombacha que badalava no vento, e não sentia vergonha de botar o meu traje e correr
por essas ruas. Gostaria neste aniversário da cidade de pedir às crianças que se motivem para levar adiante nossas tradições. (fundador do CTG Campo Verde)
Darcy Constante Cambruzzi – 70 anos
Celestino Fritzen – 59 anos
Campo Bom é uma cidade muito jovem, e tem características bem interessantes, pois é um lugar acolhedor que dá atenção especial à cultura, à educação e que tem escolas bem equipadas e estruturadas, o que é
importante para promover o estudo. A gente visita as escolas - e até rezamos
missa em algumas – e nestas ocasiões me chamou muita atenção o esforço
que a cidade faz para promover a educação. Chama atenção também a integração entre a igreja e o poder público. Me sinto bem acolhido em Campo
Bom, claro que as comunidades e a paróquia são grandes, mas as lideranças são muitos boas, um trabalho muito abençoado. Fui ordenado padre em
dezembro de 1980. (padre Igreja Católica)“
Daltro Viega da Rocha – 57 anos
Vim para Campo Bom em 1978 abrir uma loja chamada Julinha Magazine que encerrou as atividades em 2005. Desde jovem eu já atuava no CDL em Novo Hamburgo e estendi minha participação como associado. Nesta época para se ter informações de serviço de proteção ao crédito, a
empresa tinha que enviar uma funcionária com uma ficha, que vinha correndo buscar informações do cliente. Foi então que 20 associados da CDL se uniram para comprar uma central para fazer linha direta, e assim implantou-se
a primeira linha direta em Campo Bom, isso na década de 80. Assim começou uma participação maior das pessoas que faziam parte do CDL e em 2001
fui convidado a assumir, pela primeira vez, a presidência da CDL. Em 2007
assumi novamente a presidência, indo meu mandato até dezembro deste 2011. Participando da
presidência da CDL temos a oportunidade de colocar ações que seriam impossíveis se estivéssemos sozinhos, sem a proteção de uma entidade. ”(presidente da CDL)
Sou natural de Rolante e sai de lá há 35 anos pra
tentar melhorar a vida vindo para Campo Bom,
no bairro Porto Blos, onde abri um comércio de bebidas
e trabalhei por quase 18 anos. Lembro que quando cheguei aqui encontrei apenas duas ruas, poucas casas e um
colégio que funcionava há pouco tempo. Comecei então a
me envolver com a escola pois queria o melhor para as
crianças. Na primeira reunião no colégio fiquei surpreso
com as condições do prédio, cheio de buracos nas paredes, o que era ruim para as crianças no frio do inverno.
Tomei a decisão de procurar o prefeito que um dia apareceu aqui em casa e me convidou
para a ir a Porto Alegre com ele, pois tinha conseguido dinheiro para arrumar a escola.
Foi assim que conseguimos construir as primeiras salas de aula da escola e garantir mais
conforto para as crianças estudar.” (morador do bairro Porto Blos)
Emílio Lopes De Brito – 89 anos
Sou natural de Rolante e quando cheguei em
Campo Bom vim pra trabalhar na roça e nunca mais arredei o pé daqui. Quando vim morar aqui no
bairro Santa Lúcia não tinha vizinhos, era só mato. Faz
muitos anos que sou envolvido com a comunidade católica do bairro, já fui ministro na igreja e me sinto bem
em poder ajudar as pessoas. Quando tinha pouco serviço na roça, ia até a casas de pessoas doentes aqui no
bairro, ajudar a cuidar de quem precisasse. Na época
que vim morar aqui no bairro, já tinha luz, e as casas
que foram surgindo depois um vizinho ajudava o outro. O que um não sabia fazer o outro sabia, e quase não precisamos pagar alguém pra construir. Tenho muitos amigos aqui
no bairro, bons vizinhos e gosto de Campo Bom porque tem bastante trabalho e acho difícil que tenha lugar melhor que esta cidade.“ (morador bairro Santa Lúcia)
6
Déc. de 60 - Rio dos
Grupo Escolar Genuí
Sinos - Barrinha
no Sampaio de Cam
po Bom
1967 - Escola Isolada Santos Dumont par
ticipa da
Parada da Mocidade em Campo Bom
o
idt Pacheco desfiland
hm
Sc
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professora
Déc. 60 - alunos dade setembro - escola Borges de Medei
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10.11.1964 - Igreja Luterana –
Comunidade da Paz de Campo Bom
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escola Borges de M
8
Erni João Hilgert – 83 anos
Moro em Campo Bom desde 1932, quando
meu pai, que era pedreiro, veio para trabalhar. Naquela época não exista asfalto na cidade e meu
pai alugou uma casa na região central. Ele tinha uma
vitrola e tínhamos um vizinho que era dentista e todo
dia nos visitava para escutar um disco com a música
Gauchinha. Foi assim que comecei a gostar de música, escutava muito em casa porque meu pai comprava
muitos discos, e minha mãe tocava violão e meu pai
flauta. Estudei um pouco de música e hoje toco cítara.
Também canto. Entrei no coral quando minha mãe era regente do coral da igreja evangélica
e da igreja católica, e ela também cantava, era contralto, a segunda voz. Meu irmão e eu já
gravamos um CD com músicas populares e natalinas. Hoje canto no coral de Bom Princípio e
a música me traz muita alegria, acho que todas as pessoas que cantam ou tocam instrumentos são felizes, eu sou apaixonado pela música, toca no meu coração.” (músico)
Evanir Eloisa Martini – 53 anos
Cheguei em Campo Bom com cinco anos,
quando meu pai, que era sapateiro, foi convidado para trabalhar numa fábrica calçadista da cidade. Anos mais tarde, eu já conhecia o Joelci, meu esposo, quando surgiu a oportunidade dele adquirir o Jornal
O Fato, e ele me convidou para trabalhar no jornal, porque eu era de Campo Bom e conhecida da cidade. Estamos há 33 anos fazendo o jornal, e neste período já
passamos por vários ciclos e temos que estar atentos às
mudanças. As novas tecnologias estão aí, a evolução,
mas o jornal é algo palpável, que deixa registrado, e no que depender de mim não terminará. Um povo tem que ter sua história registrada, eu as vezes pego os jornais de tempos
atrás e me surpreendo com as mudanças. Nós que fizemos jornal temos que somar na comunidade, porque o meio de comunicação tem que ser responsável pelo que faz, temos que
respeitar as pessoas, sem expô-las. Temos compromisso com a verdade, tendo a consciência
de que estamos fazendo a coisa certa.” (jornal O Fato)
Terra de oportunidades
A leitura atenta dos relatos permite uma constatação: Campo Bom
é uma terra de oportunidades. Foi
atrás dela que grande parte dos moradores veio. Além de empregos
no setor calçadista, em franca expansão, muito filhos adotados por
Campo Bom, enxergaram na cidade alternativas de encontrarem uma
profissão. Uns vieram para trabalhar na roça, outros para produzir
calçados, há quem veio para lecionar, para pregar a palavra de Deus
e os que se dedicaram a garantir a
segurança dos demais. Assim a cidade foi se formando, num ciclo de
chegadas e novas demandas. Dentre tantas, há quem quase perdeu a
oportunidade de ficar, mas encontrou o futuro quando partia na estação do trem. “Estava na estação para voltar para Taquara quando um
homem apareceu e me ofereceu emprego. Comecei a trabalhar e logo
vim de muda para Campo Bom”,
conta o sapateiro Arthur Luiz Leuck (pag 3), funcionário por mais de
50 anos da empresa Reichert.
Década de
60 - Rio do
Sinos em
Campo Bom
Flávio Selonir De Lima – 63 anos
Meu envolvimento com a música sertaneja começou na adolescência, quando gostava muito de
acompanhar os programas de rádio. Meu pai tinha um
rádio à bateria e a gente sentava a noite pra tomar chimarrão e curtir os programas sertanejos. Depois comecei a me interessar mais e surgiu a Rádio Cinderela em
Campo Bom. Fui um dos primeiros comunicadores, isso em 1978, e fiquei na rádio até a década de 90. Meus
ídolos da música sertaneja sempre foram, e são até hoje, Milionário e José Rico. Mas tive o prazer de ter no
meu programa duplas como Rony e Robson, Abel e Caim, e depois fui conhecendo outros artistas de renome, e tive cada vez mais vontade de dar continuidade ao meu trabalho. A música sertaneja, que a gente chama de sertaneja mesmo, é aquela de viola e violão, que falava
da caboclinha, da carreta de boi. Depois veio um sertanejo um pouco ‘americanizado’, que
as vezes as frases não rimavam. Depois surgiram outras duplas que fizeram sucesso, que eu
respeito, mas que pra mim passam longe do sertanejo de raiz.” (radialista)
Idor Breno Saft – 57 anos
Moro desde 1978 no bairro 25 de julho onde construí minha vida e família. Aos poucos a gente foi se engajando na comunidade. Quando
minha filha foi para o colégio, entrei no Círculo de
Pais e Mestres (CPM) e depois, ajudando na Associação de Moradores do bairro. Quando viemos morar
aqui, não tínhamos água, luz e era só um campo.
Fazíamos a missa na área coberta no colégio que eu
também ajudei a construir pelo CPM. Aquele antigo pavilhão de madeira do colégio 25 de Julho foi
construído com madeira doada que nós íamos buscar, cortar, descascar e até carregar
num caminhão cedido pela Prefeitura. Assim construímos aquele pavilhão, com mutirões. Em 1991 surgiu a vontade de termos uma capela, e começamos a pedir doações
para construção. Não tínhamos terreno, não tínhamos nada. Chamamos um empresário da cidade que nos doou um terreno e fomos pedir tijolos nas olarias e cimento entre os moradores. Hoje vejo aquela capela ali construída, o tamanho que ela tem hoje
e lembro de tudo isso com muito orgulho.” (morador do bairro 25 de Julho)
Ismar Reichert – 63 anos
Na minha adolescência comecei a jogar no clube 15 de novembro, meu
time do coração. Na época além do 15, havia ainda o Oriente e o Riograndense, mas todo o menino que gostava de jogar futebol tinha o desejo
de ir para o 15. Jogava na posição de centro médio, que hoje é chamado de
volante. A primeira oportunidade que o 15 teve de ganhar um título em casa, no seu campo, perdeu. Foi um momento marcante e triste, mas de muito
aprendizado. Encerrei minha carreira em 1977, e tive a felicidade de receber
nestes anos de carreira o prêmio Belfort Duarte, dedicado a todo atleta que
durante 10 anos e no mínimo 200 jogos não tenha sido expulso. O 15 sempre se caracterizou por ser uma equipe bastante disciplinada, tanto é que
não fui o único que recebeu este título. Desde menino também tive gosto pela odontologia
e por isso cursei essa faculdade. Gosto de ser dentista porque esta profissão me faz ser útil
para as pessoas, me sinto realizado.” (ex-jogador do 15 de novembro)
Jair Hugo Steigleder – 57 anos
Estou em Campo Bom desde quando tinha dois anos, data em que meu
pai começou a trabalhar na farmácia, que se chamava Mercúrio na época e era do meu avô. Em 1974 fui para faculdade cursar engenharia mecânica
e meu pai me fez uma proposta para eu trabalhar na farmácia e aceitei o desafio. Em 1976 comprei a primeira propriedade da farmácia, o terreno onde
hoje fica a sede localizada na Avenida Brasil. Depois abrimos outras casas e a
empresa começou a crescer. Hoje nossa empresa é bem estruturada, organizada e tenho excelentes profissionais trabalhando comigo. A farmácia existe há
55 anos, mas trata-se de um ramo muito dinâmico e que exige muito conhecimento. Ser um bom administrador e ter humildade, dedicação, e uma boa
relação com os fornecedores e clientes também é fundamental.” (farmácia Campo Bom)
9
João Batista Roveda – 85 anos
Vim para Campo Bom em 1951 e trabalhei
durante dois meses como servente de pedreiro lá no bairro Santa Lúcia. Naquele tempo não
existiam máquinas para fazer o cimento, era tudo feito à mão, em caixas de madeiras. Fazia essa massa de
cimento para dois pedreiros e ainda sentava tijolos.
Foi quando aprendi a ser pedreiro. O primeiro cordão (meio fio), na frente da Câmara de Vereadores
de Campo Bom fui eu que fiz. Conheci Campo Bom
quando ainda era brejo e tudo que tenho é devido
ao meu trabalho nesta cidade que gosto muito e onde quero ficar para sempre, eu e
minha família. Inclusive faz 23 anos que comprei quatro gavetas no cemitério daqui;
fui um dos primeiros a comprar. Desejo que Campo Bom esteja cada vez melhor, porque aqui é sempre bom”. (pedreiro)
José Carlos Breda – 57 anos
Déc. 90 Colocação
da Pedra
Fundamental
para construção
da sede da
Associação de
Moradores do
bairro Porto
Blos
1960 - Primeira
sede da
Farmácia
Campo Bom,
localizada na
Rua Voluntários
da Pátria
João Ademar De Quadros – 53 anos
Estou em Campo Bom desde 1984, sou natural de São Francisco de
Paula. Já andei por tantas cidades e acho que vir para Campo Bom
foi uma vontade de Deus, em busca de uma vida melhor. Acho que todo colono tinha essa vontade, porque a vida na colônia era muito difícil, e as pessoas da cidade chegavam lá com a pele bonita, sempre bem vestidas, e esse foi
o motivo que me trouxe pra cá. Comecei trabalhando em fábrica de calçado,
depois fábrica de vidro. Fui jogador e treinador de futebol durante um tempo e fiquei envolvido com este esporte por quatro anos, e depois a vida foi
me levando mais para o lado da igreja, e nesta época fui catequista e fundamos dois grupos de jovens, entre eles o Jovens Unidos Semeando Amor. Fui
conselheiro tutelar por dois mandatos, uma função que ameniza, mas não resolve os problemas.
Meu pai gostava muito de tocar violão e eu sou cantador de Terno de Reis, desde quando a gente
morava na roça. Onde posso levo alegria e vida para as pessoas” (morador bairro Celeste)
João Alfredo Strottmann – 58 anos
Meu pai foi o primeiro presidente do esporte Primavera e como acompanhava ele nos jogos, acabei querendo ser goleiro e com 16 anos comecei a jogar. Defendi também o 15 de Novembro, o Catléia e recebi proposta para
jogar no Novo Hamburgo, mas não aceitei por receio de ir sozinho, depois me
arrependi. Minha família sempre me apoiou pra seguir carreira, mas além do
jogo tinha o trabalho na fábrica, por isso joguei até os 26 anos. O campeonato
mais disputado que participei foi do Sesi, quando jogava pelo Catléia. As torcidas das fábricas participavam e isso me deixava nervoso, pois tinha um monte
de gente olhando. O futebol nunca atrapalhou meu trabalho na fábrica, mesmo
quando tinha que fazer hora extra aos sábados, me organizava, jogava, descansava e ia trabalhar. Em todos os times que joguei fiz amigos. Até hoje, quando vejo uma turma
jogando futebol me dá vontade de jogar, mas agora já não dá mais.” (ex-goleiro)
Fiz concurso para o poder judiciário e como
me classifiquei em primeiro lugar, pude escolher a cidade onde trabalhar e optei por Campo Bom,
isso em 1983. Comecei trabalhando no fórum antigo.
Em 1988 fui escrivão eleitoral e no ano seguinte recebi
o convite do então prefeito para ser secretário da Fazenda. Foi um período da minha vida dos mais gratificantes, pelas transformações que ocorreram na cidade e na gestão pública. Na administração seguinte
fui também secretário da Fazenda, de Planejamento, de Indústria e Comércio. Esta última criada em 1995, sendo eu o primeiro secretário
da pasta. Naquela época enfrentamos um problema que vinha afetando todo o Vale dos
Sinos, e Campo Bom novamente foi pioneira criando esta secretaria e políticas de diversificação do parque econômico industrial da cidade. Sou um técnico que se tornou político.
Foi uma honra ter sido vice-prefeito de Campo Bom. Guardo isso como uma das melhores coisas da minha vida.” (vice-prefeito de 2001 a 2004)
José de Carvalho – 59 anos
Nasci em Campo Bom que está bem diferente da época em que eu era pequeno, quando
não havia empresas, metalúrgicas e os colégios eram
poucos e formados por algumas salas de aula de madeiras. Sempre trabalhei com caminhão, e logo que
comecei a trabalhar puxava lenha, com carreta de
boi, lá para a fábrica dos Vetter. Nesta época íamos
para o centro da cidade por volta das 7 da manhã
e esperávamos um frete chegar, eu tinha 25 anos e
levava fretes em Campo Bom e cidades vizinhas. A
ideia de ser caminhoneiro surgiu porque eu puxava muita lenha para as olarias, e nessa
época usávamos carreta de boi. Chovendo, no frio e nós ali trabalhando. E foi pensando em melhorar um pouco de vida, que eu comecei no caminhão. Não lembro de quem
eu comprei meu primeiro caminhão, mas lembro que era velho. Com o crescimento da
cidade o trabalho melhorou e pude ir trocando de caminhão.” (caminhoneiro)
José Volmar Trescastro – 60 anos
Meu apelido Zé Castro surgiu quando comecei a trabalhar na rádio Progresso, juntamente com o caboclão Murici e com o peão sertanejo Nelsinho. Fazíamos o programa Viola Sempre
Viva, e por eu ter um nome muito extenso, ficou Zé
Castro. Vim para Campo Bom em janeiro de 1968,
juntamente com minha irmã e pais, pois tínhamos
amigos aqui. Viemos trabalhar. Eu era do interior,
da colônia, e me marcou muito chegar aqui e ver o
número de pessoas que trabalhavam nas fábricas
e quantidade de bicicletas na cidade. Depois que fiz carteira de habilitação, na época
só se fazia com 21 anos, fui para a estrada. Viajei muitos anos com entregas e conheço
boa parte do RS, Santa Catarina e Paraná. Nesta época Campo Bom era praticamente
dormitório para mim. E através disso veio o gosto pela música sertaneja, de tanto ouvir
rádio nas madrugadas. Foi assim que cheguei no rádio, aí para trabalhar, há 22 anos.
Pra quem quer ser radialista um conselho: vá em frente sem perder a humildade e o
respeito pelo semelhante.” (morador do bairro Genuíno Sampaio)
10
Kall de França – 44 anos
Minha primeira experiência no rádio foi em
maio de 1984, quando vim pra Campo Bom trabalhar na Rádio Cinderela, mas desde pequeno manifestava
essa vontade ouvindo com meu pai os programas sertanejos na rádio. Ingressei na rádio como DJ. Trabalhei na central técnica e depois surgiu a vontade de trabalhar diante
do microfone. São 27 anos nesta trajetória e com uma grata satisfação de ter iniciado meu trabalho em rádio aqui
em Campo Bom. Uma história que não canso de contar é
quando, numa transmissão de carnaval, fiquei apreensivo quando puxei o fio do microfone para uma entrevista e vi que estava enrolado nos
pés de um policial militar. Quando ele se aproximou, passou um monte de coisa pela
minha cabeça, mas ele até me ajudou. A Cinderela surgiu em janeiro de 1978 e sempre inovou procurando acompanhar o progresso e desenvolvimento da cidade. A rádio
tem 33 anos e nesta trajetória busca acompanhar tudo que acontece em Campo Bom e
municípios vizinhos pois somos uma rádio comunitária.”(Rádio Cinderela)
Lizane Isabel Tomiello – 52 anos
Desde sempre quis ser professora. Brincava disso,
dava aula para meus sete sobrinhos e tem uma
sobrinha minha, a mais velha, que foi alfabetizada nessas
brincadeiras. Quando terminei o primeiro grau, meu pai
não permitiu que fosse a Sapiranga estudar magistério,
e em Campo Bom ainda não tinha o curso. Em 1986 não
existia concurso público e fui trabalhar como secretária na
escola Presidente Vargas e como naquela época as secretárias substituíam os professores quando estes faltavam,
me sentia realizada. Um dia a direção da escola viu minha dedicação e me ajudou a organizar meu horário de trabalho para poder estudar
magistério que eu queria muito. No curso fiz muitas amizades e assim que deu fiz concurso, passei e fui chamada para a escola Presidente Vargas. Em dez anos eu realizei
tudo que eu queria, fiz o magistério, adicionais em alfabetização e pedagogia em supervisão escolar. Trabalhei na supervisão e na direção de escola, mas pedi pra voltar
pra sala de aula que é onde me realizo.“ (professora)
Maria de Lurdes da Silva – 55 anos
Vim para Campo Bom trabalhar quando tinha 18
anos. Meu pai vendeu tudo que ele tinha lá em Minas do Butiá e quando chegou aqui na Paulista, trazendo
a mudança, o caminhão não subiu a lomba porque chovia
muito. Era muito barro, sendo que no caminhão estava tudo o que tínhamos: a casa desmanchada, porcos, galinhas,
cachorro, tudo. Daí meu pai fez uma barraca e ficou nela com minha mãe e um dos meu irmãos, enquanto eu e
meus outros irmãos ficamos numa pensão. Depois meu pai
fez negócio aqui no bairro, comprou uma casa e viemos
morar aqui também. Sempre foi maravilhoso morar na Paulista. Na época que viemos para cá a maior dificuldade era ir ao trabalho, pois não tinham ônibus como agora. Tínhamos
que ir a pé, sair bem cedo de casa. Depois chegaram as bicicletas, daí íamos com elas para o
Centro. Nesta época, nos finais de semana a gente saia para fazer piquenique e jogar bola
na rua. Comecei a trabalhar na Escola Dom Pedro II quando uma funcionária estava doente. Fiquei na escola por quase 28 anos.” (moradora do bairro Paulista)
Marlene Seolino Kasper – 64 anos
Meu marido, Ademar João Kasper adotou Campo
Bom como terra dele e foi muito feliz porque aqui
é muito bom de se viver. Viemos para cá em 1968, e Campo
Bom era uma cidade muito pequena, bem simples mas acolhedora, todos ajudando a todos. Trabalhei como professora
primária e depois de nove anos e meio de trabalho precisei
sair para ajudar meu marido que tinha comércio. Ele era
alfaiate e sempre trabalhou com isto. A Magazine Nápoles
foi fundada em outubro de 1968, depois fundamos a Confecção Alex. Trouxemos pessoas de outros municípios para
trabalhar nos dois chalés que construímos. Naquela época vendíamos à crediário anotando
numa ficha o nome do cliente e as fábricas grandes deixavam cobrar seus funcionários lá
no departamento pessoal. Enviávamos uma lista com os nomes e eles descontavam direto
do pagamento. Sempre estivemos atentos à evolução, gostamos do que fazemos e tenho a
impressão que o talento que Deus dá é o que nos faz estar há tantos anos neste ramo. Viver
em comunidade é fundamental e eu gosto de viver assim.” (Magazine Nápoles)
1969 - Alunos da
Escola isolada
Santos Dumont
Mauri Spengler – 56 anos
Iniciei o Jornal A Gazeta com um grupo de amigos, vontade que surgiu
quando trabalhávamos em uma empresa calçadista e fazíamos para
os funcionários a revista chamada Verde e Amarelo e nos empolgamos com a
ideia. Já existia outro jornal na cidade e começamos a fazer um trabalho que
nos empolgou, e que levou mais ou menos dois anos pra sair do papel. O começo foi muito difícil, virávamos a noite trabalhando, eu tinha na época dois
filhos pequenos, um bom emprego e larguei este trabalho para me aventurar em um novo ramo. Mas a aceitação na cidade foi muito boa e em 2011 o
jornal completa 25 anos. Temos hoje mais de 1530 edições impressas, todas
devidamente encadernadas o que significa que temos uma história pra contar, fazemos parte e temos documentada nas páginas do jornal quase a metade da história de Campo
Bom. Gosto demais do que faço e estamos comprometidos com a nossa comunidade, papel efetivo da
imprensa interiorana de fazer a diferença e publicar o que os outras não publicam da nossa cidade,
” (jornal A Gazeta)
por isso nosso slogan é
Nestor Ferreira Machado – 60 anos
Em 1971 vim para Campo Bom para trabalhar em fábrica de calçados, onde fiquei durante 5 anos. Depois passei por outras empresas de calçados até
que em 1983 comecei no táxi onde estou até hoje. Me dei bem nessa profissão e tudo
que tenho eu agradeço ao meu trabalho. Quando comecei no táxi, era muito bom,
tinham menos carros e menos táxis. Hoje está disputado, mas como sou antigo na
praça, conquistei muitos clientes. No começo, trabalhava em finais de semana e à
noite, mas agora só durante o dia, a não ser para conhecidos, pois já fui assaltado
à noite. Tenho por hábito não puxar conversa com os passageiros, mas se eles começam a conversar eu falo, se não vou quieto, mas sempre procurando atender
bem. Hoje trabalho mais com pessoas idosas que chegam a me ligar num dia para agendar corrida para o outro. Me considero filho de Campo Bom, é uma cidade ótima.“ (taxista)
Olegário Trott – 60 anos
Sou natural de Campo Bom onde optei em ficar para desenvolver
minha atividade profissional e onde já tinha amigos e família. Fui
o primeiro engenheiro de Campo Bom. Tive intenção de me especializar na
área, mas não pude por falta de tempo e excesso de trabalho. Nossa empresa
completa 35 anos em 2011 e já contabiliza mais de dois milhões de metros
quadrados de construções, isso é muita obra. O foco maior foi em nosso estado, mas tivemos também obras fora. Minha primeira casa foi também minha primeira obra e já troquei de casa 22 vezes, pois prefiro fazer uma nova
que reformar.Como durante muito tempo fui o único engenheiro de Campo
Bom, era muito solicitado, então nesta época eu não tinha final de semana
ou noite livre. Tinha que estar sempre à disposição e esse espírito de luta, trabalho e desprendimento
nos colocou na posição que estamos hoje. Muitas obras construídas em Campo Bom nestes 35 anos da
nossa empresa, tiveram a participação efetiva na construtora Modelo.” (construtora Modelo)
Orvalina Cipriano da Cruz – 76 anos
Nasci na região que era chamada de Rua dos Gringos e com 10 anos comecei a trabalhar como doméstica. De lá pra cá nunca parei e hoje trabalho com reciclagem. Em 1961 vim para o Rio Branco, e chegando aqui só encontrei matos, vacas, bois e cavalos. As primeiras mudanças, as que começaram
a deixar o bairro bonito, foram quando cortaram os matos. Depois chegaram os
vizinhos, construindo as casas. Nesta época Campo Bom não tinha luz nem água
e aqui no bairro era só barro. À noite não se enxergava nada, era muito escuro,
mas mesmo assim não tinha medo, pois naquela época não tinha assaltos. Trabalhei também em curtumes e aqui no Rancho da Amizade trabalhei na cozinha. Desde pequena jogo bilboquê, um brinquedo de madeira e já fui rainha
nas Olimpíadas de Campo Bom. No bairro me dou bem como todo mundo, fui a primeira moradora, e
pra mim é uma alegria ver as mudanças no bairro.” (moradora do bairro Rio Branco)
11
Oscar Carlos Faifer – 52 anos
Nasci em Campo Bom, no bairro Porto Blos. Meu pai tinha comércio, criação de animais, serralheria, e desde os 8 anos já ajudava meu pai nos
afazeres dos negócios dele. Nesta época Campo Bom tinha duas ruas, a Avenida
Brasil e a Presidente Vargas, e para sair do Porto Blos e ir para a Barrinha, não
tínhamos a ponte que temos hoje. Daí atravessava por balsa, e em época de estiagem, para não pagar travessia, o pessoal atravessava o rio à pé, de carroça
ou de carreta. Depois de um mês do nascimento do meu segundo filho, o Carlos, é que foi diagnosticado a síndrome dele que me levou a procurar a Apae.
Enquanto as coisas acontecem na vida dos outros, a gente acaba não se envolvendo, mas quando acontece com a gente é diferente. A Apae tem um papel
importante na formação dele em relação a quem é hoje, muito independente. A gente acaba se apaixonando pela Apae depois que se sabe o trabalho sério de uma instituição como esta”. (APAE)
Paulo Saenger (Bilú) – 59 anos
Em 1969 fui trabalhar numa empresa calçadista e nesta época em
Campo Bom existia um time chamado Santos Futebol Clube. Quando recebi meu primeiro pagamento fui para o centro da cidade e encontrei
com o então presidente deste time e me convidei para jogar. Sabia que eles
precisam de jogadores e foi assim que comecei a participar do futebol. Estava com 16 anos e já comecei tarde, jogava como ponta direita, não tinha
habilidade nenhuma, mas corria bastante. Depois me machuquei e fiquei
dois meses afastado do futebol. Quando já estava recuperado, fui olhar
um jogo do Santos no campo do 15, e ao chegar lá o meu time estava sem
goleiro. Eu louco pra jogar pedi pra ser o goleiro e daquele momento em
diante nunca mais saí daquela posição. Em 1969 comecei a treinar também no juniores do clube 15 de
novembro e joguei durante um tempo nos dois times, no Santos que foi o time que me revelou, e no
15, onde fiquei até 1989. Pelo Santos só disputei amistosos e pelo 15 tive a felicidade de ficar oito vezes campeão estadual e uma vez campeão Sul Brasileiro de amador. Naquela época se jogava futebol
por amor a camiseta, não se recebia salário para vestir a camisa do time.” (ex-goleiro)
Pedro Dos Santos Dutra – 54 anos
A igreja Assembléia de Deus está completando em 2011, 100 anos no
Brasil, e destes, estamos 73 anos em Campo Bom onde cheguei por meio
de uma convenção de pastores da Assembléia de Deus no RS onde fui convidado
para pastorear. Sou natural de Três de Maio e desde 1979 me dedico aos trabalhos
da igreja e, exclusivamente ao pastorado, deste 1983. Pelo tempo que estou em
Campo Bom, desde 1997, já me considero de campo-bonense e estou muito realizado e me sinto honrado por testemunhar o progresso fantástico deste município. Desejo que as pessoas sintam-se cada vez mais felizes por fazerem parte da
história dos 52 anos de Campo Bom.” (pastor da igreja Assembléia de Deus)
Ruy Juarez Corrêa – 53 anos
Sou do tempo em que havia trem em Campo Bom, o bonde que eu e
minha mãe íamos para Novo Hamburgo e que em algumas ocasiões
eu fazia peraltices. Enchia os trilhos do trem de sabão na subida do morro
só para ver ele patinar. Nasci nesta bela cidade e gostaria de ter sido várias
coisas, e não fui. Queria ter sido guarda florestal, marinheiro e policial. Aos
18 anos fui ser taxista, profissão em que me achei, porque nela se vive um
pouco de tudo. Já tentei largar a profissão, fazer outras coisas, mas voltei
para o táxi, que é o que gosto de fazer e onde vou ficar até o fim. Aqui tu
conversa com todo mundo, tem liberdade, anda por vários lugares. Tem
corridas que são tão boas que se pudesse, não cobraria o passageiro, porque a conversa é tão boa, o cliente deixa a gente de bom astral. É por isso que gosto. Só vou parar de
dirigir quando não puder mais entrar em um carro, e se eu só não puder mais trocar de marcha, compro um carro hidramático.” (taxista)
Silvio Reichert – 61 anos
Nasci em um casarão amarelo que mais parecia uma vagão de trem,
bem no centro de Campo Bom. Durante todos meus anos de vida, só
estive fora da cidade por dois anos, depois nunca mais sai daqui, onde formei
minha família. Trabalhei em fábricas de calçados, e um dia, quando tinha 19
anos, passei na Rua Voluntários da Pátria e vi uma placa escrito: `vende-se
esta sapataria’, falei com meu sogro que topou uma sociedade. A sapataria
custou mil cruzeiros e meu sogro vendeu uma vaca para poder entrar de sócio
comigo. Trabalhamos um ano juntos, mas depois ele preferiu sair do negócio.
Segui sozinho e depois comprei uma outra sapataria que tinha na cidade. Estou no negócio deste 1969 e agora trabalho com o meu filho. Me aposentei em
1994 mas não consigo parar de trabalhar porque aqui todo dia é uma novidade. O melhor da profissão
é ter o prazer de consertar e ver as pessoas felizes pelo trabalho que eu realizei.” (sapateiro)
Teresinha de Jesus T. de Oliveira – 75 anos
Estou em Campo Bom desde 1969, quando meu
marido Ari Serpa veio para fazer a hidráulica da
cidade. Depois de passar por outros bairros, fomos morar em frente à capela mortuária, em 1973. Fui a primeira pessoa a trabalhar na capela e lá fiquei por 15
anos até me aposentar. Durante este período fiz de tudo: recebia o cadáver, abria a capela, cobrava, acertava na Prefeitura e limpava a capela. Muitas vezes funerárias de fora deixavam lá indigentes. Uma vez o
IML foi lá para exumar um corpo que tinha suspeita
de que não fosse morte natural, e eu participei deste desenterro. Nada é coincidência, tudo é providência, mas antes de trabalhar na capela, tinha medo de ir em velório à noite.
Mas se Deus me colocou naquela função, foi para aprender e eu fui me acostumando que
a morte faz parte da natureza.” (moradora do bairro Metzler)
Valter Foerster – 69 anos
Minha lembrança mais remota de Campo
Bom é da Avenida Andradas, quando tinha só
um trilho de carreta que dava acesso a uma empresa de
caminhões. Tive a infelicidade de perder meu pai muito
cedo e como estava fora para um período de estudos,
voltei para assumir uma parte da olaria que meu pai era
sócio e que foi fundada por meu bisavó há mais de cem
anos. Esta empresa existe até hoje. Fiquei na empresa de
1963 até 1974 e neste período fui fazer o curso de arquitetura. Como tinha a olaria, convivia muito com obras
e por isso a escolha pela profissão foi natural, e se não estou enganado, fui o primeiro arquiteto formado de Campo Bom. Tenho projetos de hotel em várias cidades, até no Chuí.
Quando comecei na área, a tecnologia que existia era um papel vegetal, onde tínhamos
que desenhar e depois passar caneta nanquim, e a evolução foi enorme a partir de 1990
com a chegada da computação. Em 1992 me foi solicitado um projeto arrojado para Campo Bom, anos depois esta a obra saiu do papel e está aí, é o CEI.“ (arquiteto)
Vania Olívia Schmidt Pacheco – 69 anos
Sou natural de Campo Bom, e cresci numa cidade que era muito discreta, com poucas casas e poucos moradores. Desde criança meu sonho era
ser professora. Em casa eu não tinha companhia pra
brincar então brincava sozinha de professora, e com
18 anos fiz concurso para a área e passei. Fui chamada para lecionar em Campo Bom, quando já era município. Minha primeira vaga foi em Santa Maria do
Butiá, numa escola que ficava ao lado das olarias.
Para chegar até lá, tinha que atravessar o Rio dos
Sinos de barco ou balsa. Por isso quando tinha enchente não era possível chegar até a
escola. Quando as águas baixavam, o então prefeito Adriano Dias colocava seu carro à
disposição, um Jipe, e seu motorista, Alfredo Cafuncho, para nos levar até a escola. Eu
e uma colega professora lecionávamos cinco turmas na mesma sala. Boas lembranças
tenho daquele tempo quando os alunos eram crianças muito queridas e vinham nos
encontrar na metade do caminho. Em 1962 fui lecionar na escola Borges de Medeiros,
e em 1977 assumi a direção, onde fiquei por oito anos.” (professora)
Vera Maria Freitas – 57 anos
Faz 27 anos que moro aqui no bairro. Quando
cheguei aqui não tinha posto de saúde, e como
sempre gostei de ajudar as pessoas, os vizinhos vinham
me pedir pra aplicar injeção, ajudar quando tinha criança doente, levar no médico. Sempre que me pedem um
favor eu ajudo, não tem hora, inclusive na madrugada.
Hoje eu ganho por alguns dos trabalhos que eu faço, mas
muito trabalhei sem ganhar, porque gosto do que faço.
Meu marido faz parte da Pastoral da Criança e eu sempre ajudei. Uma história que me marcou foi com uma
criança de uma vizinha, que fui ajudar a socorrer, mas a criança não resistiu e morreu. Nesta
época a gente não tinha nem luz em casa, eu tinha meus dois filhos mais velhos pequenos.
Deixei os dois sozinhos em casa para socorrer esta criança que morreu no meu colo, e isto
me dá força para cada vez mais querer ajudar. Muitas vezes deixo de estar com a minha
família para cuidar de doentes. Mesmo que não precisasse trabalhar, eu faria essas ações.
Campo Bom pra mim é tudo de bom e quando eu vou pra outras cidades, visitar parentes, chegando lá já me dá vontade de voltar.” (moradora bairro Aurora)
RESGATE HISTÓRICO
Beckinha Show
06.02.1977 - Banda
1947 - Sr. e Sra. Katze erg
- doadores dos sin
Igreja Luterana – Comunb
nidade da Paz de CampoosBoda
m
Déc. 70 Time Júnior
do E.C. 15 de
Novembro
27.06.1970 - Grupo Folclórico da Juventude Evangélica
num baile no clube Oriente
(www.campobom.rs.gov.br)
05.04.70 - 1ª apresentação do Grupo
Folclórico da Juventude Evangélica
ano
e seus alunos do 1ºBom
l
fe
of
St
lly
Sa
ra
so
1955 - Profes
s de Campo
da Escola Tirandente
09.12.78 - 15
de Novembro
conquista
o Tetra
Campeonato
Estadual de
Amador - na
Sociedade
Concórdia
Déc. 60 - Coral da Igreja Lu
terana –
Comunidade da Paz de Ca
mpo Bom

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