TEMA DESENVOLVIDO: REDAÇÃO 5 CARTA ABERTA – A

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TEMA DESENVOLVIDO: REDAÇÃO 5 CARTA ABERTA – A
TEMA DESENVOLVIDO: REDAÇÃO 5
CARTA ABERTA – A INDÚSTRIA E O IMAGINÁRIO DO CORPO E
DA BELEZA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Carta Aberta à Sociedade Brasileira
Prof. Joel Della Pasqua
Senhores Cidadãos Brasileiros:
Quando se trata de questões sociais, muitos são os assuntos que poderiam ser
elencados como fundamentais para um debate dentro da sociedade deste país. O que
venho tratar, por considerar importante, é sobre os aspectos do imaginário da beleza e
de sua indústria de produtos e também midiática na sociedade brasileira.
Sou um estudante de Ciências Humanas e, portanto, aquilo que diz respeito aos
seres humanos e suas organizações sociais e culturais fazem parte do meu rol, não
apenas de estudos acadêmicos, mas também de interesses pessoais. O que me fez
decidir escrever esta carta aberta a toda população é a preocupação que sinto,
amplamente, ao ver as pessoas cada vez mais dirigindo suas vidas norteadas por valores
que implicam em um culto ao corpo e à beleza desvinculado de um aparato sociocultural
que faça de tal busca um meio e não simplesmente uma finalidade. Fazer da beleza física
um meio para se ter segurança e autoestima é um mecanismo válido para uma
existência social. Fazer do culto ao corpo uma finalidade acima de qualquer coisa será
engendrar no cotidiano social pessoas com predisposições ao hedonismo e ao
narcisismo em níveis que poderão chegar a extemos doentios.
A beleza, caros cidadãos, é algo que, ao longo da história da humanidade, foi
almejado e venerado. Podemos citar os gregos da Antiguidade Clássica como um cabal
exemplo disso. Em sua cultura helenística, valorizaram o humano em todas as suas
formas de grandeza, entre essas, a beleza física. Forjaram esculturas e histórias
mitológicas dando viés a exaltação da beleza do homem e da mulher gregos. Em uma
dessas narrativas, Frineia, linda aluna e modelo do escultor Praxíteles, após ser acusada
do assassinato de seu mestre, obteve o perdão do Estado após se mostrar nua em uma
exibição de sua perfeita beleza física. Não creio, e imagino que você não creia também,
leitor, que nos tempos atuais uma Frineia obteria o perdão do Estado, em relação a um
crime, pelo fato de ser vertiginosamente bela, mas certamente obteria da sociedade,
pela sua beleza, um lugar que lhe renderia vantagens que, sem tal atributo físico, não
lhe seria concedido.
Na busca insana pela beleza e pelas vantagens sociais a ela concedida, todo um
elenco de obrigações cotidianas é imposto pelos veículos midiáticos. Malhar, não ter
barriga, perder peso, tornear os músculos, não ter rugas, dentre outras fórmulas para a
felicidade são inseridas dentro da vida das pessoas como se fossem mantras. Mantras
indispensáveis para uma aceitação social. Neste tipo de sociedade, alguns capitais são
exigidos para a plena realização de um indivíduo, como o capital financeiro, o capital
cultural e, parece que agora ganha força incontrolável, também um capital estético.
Nessa última forma de capital, o “ser belo” vira moeda de troca para obtenção de afeto,
de honrarias, de inserção nos diversos ambientes da sociedade, incluindo o profissional.
Como um capital em expansão, todo um mercado de produtos, mídias e serviços se
forma para solidificar tal imaginário, sendo que, ao nível mercadológico, não existem
questões pessoais. Existem apenas bons negócios, doa a quem doer.
Aqueles que se virem fora dos padrões preestabelecidos de beleza, também
serão excluídos socialmente. O que define, ou pelo menos deveria definir, um ser
humano não é sua capacidade em ser belo, mas sua capacidade de existir dentro de
princípios de ética e alteridade para com todo o corpo social. Como estudante de
humanidades não canso de sonhar, tantas vezes de modo utópico, com outros valores,
como bondade e tolerância, guiando as ações sociais. E vocês, cidadãos brasileiros, a
quem me dirijo, estou certo de que também tem predisposição para ver a beleza como
um meio pessoal para uma autoestima, mas não como finalidade máxima de existência
social. Nossa cultura ocidental começou com os gregos, mas não precisa terminar com
a exaltação dos mesmos valores de onde tudo começou.
Atenciosamente,
J.D.P.