simpósio 41 - iv simpósio mundial de estudos de língua portuguesa

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simpósio 41 - iv simpósio mundial de estudos de língua portuguesa
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SIMPÓSIO 41
PORTUGUÊS COMO LÍNGUA NÃO MATERNA PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES AO REDOR DO GLOBO
A Associação Internacional de Linguística do Português (AILP), sediada em Macau até 2013,
dando continuidade a discussões levantadas a partir do III SIMELP, propõe aprofundar reflexões
sobre a “formação de crianças e adolescentes falantes de português como língua não materna
(PLNM) ao redor do globo”, tanto em países em que o português é língua oficial quanto nos que a
tomam como língua estrangeira. Ao focalizar especificamente esses sujeitos no contexto de diversos
continentes, espera-se que os trabalhos situem o português tanto como uma língua internacional,
quanto como uma língua que convive mais ou menos intensamente com outras no espaço
multilingue dos diferentes países/regiões em que se faz presente. Incentivamos que as apresentações
abordem aspectos identitários, políticos, sociais, culturais a partir da análise de objetos empíricos
como a interação em sala de aula, o material didático voltado a esse público, o desenvolvimentos de
(multi)letramentos em PLNM por meio das produções orais e escritas dos discentes e documentos
que explicitam as políticas linguísticas de diferentes espaços.
COORDENAÇÃO
Roberval Teixeira e Silva
Universidade de Macau, AILP
[email protected])
Kleber Aparecido da Silva
Universidade de Brasília/ALAB
[email protected])
Cláudia Hilsdorf Rocha
Universidade de Campinas
[email protected])
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NÓS E OS OUTROS: O PAPEL DAS REPRESENTAÇÕES NO CONTEXTO DA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS
Lucia Maria de Assunção Barbosa – UnB
Inserida nas atividades do Grupo de Pesquisa Língua, Cultura, Representação (CnPq), esta
comunicação pretende discutir o papel das representações na e para formação de professores de
línguas em geral e de português para estrangeiros mais especificamente. Nosso ponto de partida
retoma estudos como os de Zarate (1993) e Castelloti & Moore (2002), nos quais se evidenciam
como as representações de uma língua-cultura interferem no percurso dos agentes envolvidos nesse
processo. Isto se justifica, pois as imagens de si e do outro são aspectos dotados de forças
mobilizadoras das quais muitas vezes se tem pouca consciência. Nessa perspectiva, o material
didático quase sempre vem permeado por elementos exóticos, folclóricos e generalizantes. A sala
de aula tem sido, por sua vez, o espaço privilegiado para se falar sobre a língua. Zarate (1993)
assinala o fato de que as representações sociais não se configuram como um conjunto de
subjetividades distintas, pois elas são produto de um trabalho coletivo, por meio do qual os agentes
sociais constroem as formas de conhecimento da realidade. Nesse sentido, o professor exerce um
papel fundamental, enquanto construtor do espaço entre o parecido e o diferente, o interior e o
exterior, o próximo e o distante. No contexto do ensino-aprendizagem de Português para
Estrangeiros, o campo de estudo das representações mostra-se terreno fértil para (re)pensarmos
como elas têm influenciado nossos olhares, nossos discursos e, principalmente, nossas ações.
MANUAIS ESCOLARES, RELAÇÕES RACIAIS E INTERCULTURALIDADE NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA: ENSINAR
QUAL LÍNGUA, LER QUAL LITERATURA?
Aracy Alves Martins – CEALE/NERA/FAE-UFMG
Miria Gomes Oliveira – CEALE/NERA/FAE-UFMG
Esta proposta de comunicação apresenta a pesquisa em andamento, com apoio do CNPq, “Língua e
Literatura: relações raciais, diversidade sociocultural e interculturalidade em países de língua
portuguesa”, desenvolvida por pesquisadores integrantes do NERA (Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre Relações Raciais e Ações Afirmativas), e do CEALE (Centro de Alfabetização Leitura e
Escrita), ligados ao Curso de Especialização Lato Sensu da FAE/UFMG – LASEB -, para
professores de Rede Municipal de Belo Horizonte, da área de “História da África e Culturas AfroBrasileiras: uma introdução à lei 10.639/03”.
A presente pesquisa trabalha em três eixos de investigação: manuais escolares, literatura para
crianças e jovens (letramento literário, Cf. PAULINO, 1999; COSSON, 2006); documentos oficiais
e midiáticos relacionados às políticas linguísticas de cada nação (OLIVEIRA, 2009). Para isso, são
utilizados pressupostos da análise crítica do discurso (DIJK, 2008) em impressos utilizados no
Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e
Timor Leste.
Nesta apresentação, serão focalizadas as análises de manuais escolares de Português e de História
do Ensino Básico, por traduzirem traços dominantes do sistema cultural de uma sociedade
(Forquin, 1993), quanto aos aspectos interculturais (MAHER & CAVALCANTI, 2007;
HOPENHAY, 2009), quanto aos aspectos dialógicos (BAKHTIN, 2003 ) e, sobretudo, quando aos
aspectos discursivos neles contidos, destacando-se o papel da cultura, da língua e da literatura na
construção da identidade dos sujeitos leitores. O objetivo é discutir os gêneros textuais, verbais e
visuais, escolhidos para compor essas obras, bem como as atividades destinadas aos alunos, no
tocante à história, à literatura, às línguas maternas, às culturas afro-brasileiras, às representações
sobre os negros e às relações étnico-raciais (MUNANGA & GOMES, 2006), tematizando racismo e
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discurso (VAN DIJK, 2008, MARTINS, 2012), ou, ainda, mais especificamente no Brasil,
tematizando a branquidade normativa - centralidade discursiva do branco como norma de
humanidade (SILVA E ROSEMBERG, 2008).
PORTUGUÊS PARA CRIANÇAS ESTRANGEIRAS E (TRANS) FORMAÇÃO CIDADÃ:
MULTILETRAMENTOS, PLURILINGUISMO E TRANSCULTURALIDADE
Kleber Aparecido da SILVA – UnB
Cláudia Hilsdorf Rocha – UNICAMP
Esta comunicação reúne trabalhos voltados ao ensino-aprendizagem de português para crianças
estrangeiras nos anos iniciais da escolarização (Ensino Fundamental I), com vistas à reflexão sobre
as diversas materialidades do processo nesse contexto e com foco na (trans) formação cidadã
(MOITA LOPES & ROJO, 2004). Ao ser (re) conhecida como um dos importantes letramentos para
o engajamento social e discursivo do cidadão no mundo atual, densamente multisemiotizado e
marcado pela pluralidade cultural e identitária (MOITA LOPES, 2005, 2008; ROCHA, 2010), a
língua estrangeira revela-se, ao lado de muitos outros, um elemento central na formação para a
cidadania crítica, também no que diz respeito ao Ensino Fundamental I (ROCHA 2012, 2010;
ROCHA, TONELLI & SILVA, 2010). Nessa perspectiva, são muitos e variados os fatores que
merecem atenção, visando a um ensino de língua estrangiera efetivo, crítico e compatível com as
características da sociedade contemporânea, no que diz respeito ao modo como hoje ocorrem as
relações humanas por meio da linguagem, em suas múltiplas formas ou semioses (HIGGINS, 2009).
Nesse contexto, orientando-se principalmente por uma visão enunciativa de linguagem (BAKHTIN,
2004 [1929]; 2003 [1953]) e sociointeracional de aprendizagem (VYGOTSKY, 1978), o principal
objetivo desta comunicação é discutir estudos voltados a mapeamentos da área, parametrizações,
material didático, interação em sala de aula e avaliação, no que diz respeito à língua estrangeira nos
anos iniciais do EF, na medida que, entre tantos outros, esses temas revelam-se centrais para ações
positivas rumo a um processo educativo mais informado, significativo e emancipatório (SILVA &
TORRES, 2013; SILVA, ROCHA & TONELLI, 2010; FREIRE, 2004).
CONSCIÊNCIA LINGUÍSTICA E COMPETÊNCIA DE ESCRITA DE CRIANÇAS
MOÇAMBICAS DO ENSINO BÁSICO
Francisco Vicente – UEM
A consciência fonológica é referida na literatura sobre o assunto como importante para a
aprendizagem da literacia. Nesta investigação, é avaliada a consciência fonológica e os
desempenhos ortográficos de crianças moçambicanas do ensino básico, falantes do Português como
L2. As suas línguas maternas são do grupo Bantu. Estas línguas, ao contrário do Português, apenas
têm formatos silábicos do tipo Consoante-Vogal, não integrando na sílaba encontros consonantais /
Ataques ramificados (CCV) e Codas (CVC).
Assim, nesta investigação, avalia-se, em L2, o efeito desta propriedade da língua materna dos
sujeitos na segmentação silábica e na grafia de palavras com sílabas complexas, formatos silábicos
inexistentes na sua língua materna. Tal é feito tomando como base estudos sobre a língua materna
que mostram a dificuldade que as crianças têm de manipular sílabas complexas em tarefas de
consciência fonológica e de grafá-las durante o processo da aprendizagem da ortografia.
Relativamente à consciência fonológica, os resultados obtidos nesta pesquisa, recolhidos com o
recurso ao software E-prime, mostraram que, ao contrário dos achados em estudos sobre a língua
materna, o desempenho dos sujeitos na tarefa de segmentação silábica não é afectado pelo formato
silábico do estímulo em causa, mesmo tratando-se de um formato silábico inexiste na língua
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materna. Tal foi notado apenas na segmentação silábica de Ataques, ficando para pesquisa posterior
a avaliação da manipulação de Codas. Como explicações possíveis destes resultados, contrários ao
esperado, pode-se referir que (i) as crianças processam o Ataque ramificado (CCV) como um único
segmento, na sequência de imaturidade fonológica; (ii) dado que as línguas maternas dos sujeitos
avaliados só possuem Ataque não ramificado (CV), há um efeito desta exclusividade do Ataque na
língua materna, o que impede ainda as crianças de processarem as diferenças na L2 entre Ataque
não ramificado (CV) e Ataque ramificado (CCV); (iii) as crianças são bilingues, logo, são mais bem
sucedidas em (algumas) provas de consciência fonológica do que as crianças monolingues.
Os resultados sobre os desempenhos ortográficos dos sujeitos, recolhidos com base num ditado de
imagens, ainda estão a ser analisados, esperando-se que estes fiquem disponíveis para apresentação
na conferência.
PRODUÇÃO TEXTUAL NO ENSINO E NA AVALIAÇÃO DE PLE: PARALELO ENTRE
O LIVRO DIDÁTICO E O EXAME CELPE-BRAS
Rosana Salvini Conrado – USP
Num cenário globalizado, em que a língua portuguesa é vista por muitos como um meio de acesso a
um país em plena expansão econômica, como o Brasil, identifica-se entre as principais necessidades
dos aprendizes de PLE o estabelecimento, num curto período de tempo, de uma comunicação
eficiente que lhes habilite para um intercâmbio cultural e econômico com o país, bem como para a
vivência plena em sua sociedade. Essa nova realidade pode exigir a certificação da proficiência, que
se dá por meio do Exame Celpe-Bras. Considerando-se esse aspecto, é importante avaliar o
processo de preparação dos candidatos ao exame, que pode se dar de diversas formas, individual ou
coletivamente, em cursos presenciais ou à distância, e do qual podem fazer parte materiais diversos,
entre eles os livros didáticos. Este estudo parte da pesquisa exploratória, que se insere no quadro da
Linguística Aplicada, em que se adota como procedimento a análise qualitativa de materiais
impressos, destinados ao ensino e à certificação de proficiência em Português Língua Estrangeira
(PLE). Entre esses materiais estão três livros didáticos (LDs) e seis edições do exame Celpe-Bras.
Ainda que os LDs nem sempre se destinem à preparação para o exame, a escassez de recursos
específicos para esse fim pode levar o professor e os aprendizes/examinandos a escolher os
materiais aqui analisados. A escolha pelo material impresso, inicialmente não analisado no contexto
sala de aula, deve-se à necessidade de um olhar direcionado ao seu conteúdo, com vistas a
identificar as formas de apresentação e abordagem dos textos que o constituem. Como os textos
caracterizam-se como exemplos de representação social, cultural e ideológica privilegiamos a
análise dos que podem ser classificados como autênticos, do ponto de vista da produção original, na
medida em que são amostras da língua em uso, materializadas em exemplares de gêneros
discursivos que circulam socialmente. Em resumo, mostramos o levantamento dos gêneros
discursivos utilizados como recursos didáticos, distinguindo os exemplares autênticos, do ponto de
vista da produção social, dos que foram produzidos pelos próprios autores para fins estritamente
didáticos, aqui chamados de não-autênticos. Recortamos os textos/atividades que conduzem à
leitura e à produção textual com a intenção de analisar a forma como esses textos são apresentados
e que atividades são desenvolvidas a partir deles. Recortamos também os textos e atividades que
orientam, especificamente, à produção textual, a fim de analisar a abordagem, as habilidades
envolvidas e a correspondência existente entre elas e as avaliadas pelo exame. Nesse confronto,
nossa intenção é verificar se as propostas dos LDs podem habilitar os aprendizes a uma proficiência
satisfatória, no que diz respeito à produção de textos escritos, o que pode beneficiar também os
candidatos ao Celpe-Bras. A fim de articular LDs e exame, propomos atividades que visam ao
desenvolvimento da produção escrita de gêneros relacionados a diferentes esferas sociais, por meio
de uma abordagem discursiva, em que se destacam finalidades comunicativas específicas.
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PREPARATÓRIO PARA O CELPE-BRAS: ENSINO DE PLE TOTALMENTE A
DISTÂNCIA
Ana Luíza Gabatteli Vieira – UnB
A popularização da internet e o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação
reformularam as relações entre alunos e professores e a concepção de sala de aula ao diversificar os
espaços de construção do conhecimento. Considerando esse novo paradigma e o aumento
significativo de estrangeiros à procura de comprovar seu conhecimento por meio do exame CelpeBras (Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros), este trabalho visa à
apresentação de um curso preparatório para o Celpe-Bras totalmente a distância. Esta proposta vai
ao encontro da crescente procura por cursos mediados por computador, devido a sua característica
flexível, que se adequa às características individuais dos aprendizes. Para isso, a construção desse
curso será baseada em uma perspectiva pedagógica que busque novas alternativas à simples
digitalização de livros e apostilas para o novo ambiente de aprendizagem e que prepare os
candidatos/aprendizes a serem capazes de utilizar a Língua Portuguesa nos mais diversos contextos
socioculturais brasileiros.
ELABORAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS PARA ENSINO DE PORTUGUÊS COMO
SEGUNDA LÍNGUA PARA OS ÍNDIOS MUNDURUKÚ
Tânia Borges Ferreira – UnB
Nathalia Martins Peres Costa – UnB
O povo Mundurukú residente do Pará apresenta realidades sociolinguísticas diversas, mas mesmo
assim a língua Mundurukú é preservada, sendo a língua materna e, em alguns casos, a única.
Considerados um povo guerreiro, lutam para manter sua autonomia em relação à cultura do nãoíndio. Uma das maneiras reconhecidas por eles de preservar sua cultura e identidade é por meio da
educação, preocupando-se com uma proposta de escola que permita ao seu povo usufruir dos
avanços técnicos e científicos externos sem perder sua identidade. Para concretizar seus ideais, em
2007 foi implantado o Ensino Médio Integrado ao Ensino Profissionalizante em Agroecologia,
Enfermagem e Magistério, que tem como objetivo oferecer um ensino diferenciado e eficiente para
os futuros profissionais que beneficiarão de forma direta a vida na aldeia. O ensino médio é dado
por professores não-índios em Português e que contam com o auxílio de professores indígenas, que
explicam os conteúdos também em Mundurukú. Como as leituras especializadas são feitas em
Português, se faz necessário o ensino dele como língua funcional, porém mantendo-o como segunda
língua. Com o objetivo de contribuir para o ensino do Português como Segunda Língua, surge o
projeto de criação de seis livros didáticos para o ensino de Português dos alunos do ensino médio,
sob a responsabilidade do Prof. Dr. Dioney Moreira Gomes (UnB). A metodologia segue uma
perspectiva linguística e de letramento, de forma que os conteúdos abordados estão focados em
desenvolver as habilidades textuais e discursivas, visando um maior domínio da leitura e da escrita
de seus alunos. Para que esse objetivo seja atingindo, as atividades serão desenvolvidas focando os
gêneros textuais fundamentais às suas necessidades e práticas sociais, abordando os aspectos
gramaticais de forma reflexiva e contrastiva inseridos no uso da língua e realização nos diversos
gêneros. O primeiro volume já foi publicado e trabalhado com os alunos, gerando reflexões para a
elaboração dos demais. O conteúdo a ser abordado integrará o objetivo de promover a leitura e a
escrita com o objetivo de promover as áreas técnicas abordadas no Ensino Médio Integrado
(agrofloresta, enfermagem e magistério). Para tanto, serão usados textos dessas áreas, os quais serão
explorados, assim como os demais textos, tomando como suporte a matriz de referência do Sistema
de Avaliação de Educação Básica (SAEB), do Ministério da Educação. O objetivo de ensinar
Português como Segunda Língua é proporcionar aos índios o direito ao bilinguismo pluralista e
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funcional (cf. GOMES 2009), que se faz necessário em contextos específicos, como, por exemplo,
solucionar problemas de ordem administrativa ou política. Assim, o Português deve atuar como
uma língua funcional, continuando o Mundurukú como língua materna.
O DISCURSO DOS MATERIAIS DIDÁTICOS DE ENSINO DE PLNM PARA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES EM MACAU NA CONSTRUÇÃO DE UM LETRAMENTO
INTERNACIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA
Roberval Teixeira e Silva – UMAC/AILP
Este trabalho é caracterizado principalmente pela voz de um professor, em diálogo com outros
educadores. Primeiramente, eu vou compartilhar a rota que eu fiz na Ásia: esta aventura de
caminhar em diferentes ambientes culturais. Este percurso tornou-se um rico contexto de
aprendizagem, ensino e pesquisa. Nesse trabalho, vou discutir um recorte de dados constituídos
como instrumentos-lugares pedagógicos provenientes de materiais utlizados para o ensino de
Português como língua não-materna (PLNM) para crianças e adolescentes em Macau. Desse
material, vamos discutir a construção da imagem da língua e dos países de língua portuguesa,
considerando que esta língua tem adquirido nesses últimos anos cada vez mais projeção mundial.
Nesse sentido, trabalharemos no contexto do que vamos chamar de letramento internacional do
português. Materiais didáticos são discursos eivados das ideologias, valores, crenças das sociedades
onde são gerados e, assim, para nós, especificamente, apontam os diferentes lugares que são
reservados para as culturas e línguas dos países de língua portuguesa. Observamos que, entre outras
possibilidaes, podem ser o lugar do encontro e do desencontro entre sujeitos, línguas e culturas que
por questões históricas, sociais e econômicas estão em contato em Macau. No processo de formação
de novas gerações de falantes de língua portuguesa, entender esse idioma com a sua dimensão e
projeção no mundo é fundamental não apenas para o apresentar em seu status atual, mas para
debater a dinâmica sociocultural por que passam as sociedades e línguas. Dar oportunidade de
construção dessa visão é criar espaço para a reflexão e elaboração de um olhar mais sofisticado
desses jovens sujeitos para a língua que aprendem. Para analisar esses materiais, vou trabalhar a
partir da perspectiva da Sociolinguística Interacional(TEIXEIRA E SILVA, 2012, 2011, 2009,
2008; GUMPERZ, 2008, 1982, 1991; RIBEIRO E GARCEZ, 2002; SCHIFFRIN, 1994, 1996;
GOFFMAN, 1959, 1967, 1974), um campo interdisciplinar que interrelaciona cultura, discurso e
sociedade em uma proposta de análise do discurso. Lançaremos mão também de conceitos
importantes na discussão dos contatos entre sujeitos, culturas e línguas como o de
(pós)multiculturalismo (MOREIRA, 2002; VERTOVEC, 2010) e o de superdiversidade
(BLOMMAERT & BACKUS, 2011; VERTOVEC, 2007).
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SIMPÓSIO 42
GRAMATICALIZAÇÃO E TEXTO: DESCRIÇÃO E APLICAÇÃO
Este simpósio objetiva reunir trabalhos de pesquisadores interessados em analisar processos de
variação e mudança linguística em textos ou sequências textuais argumentativas. Para isso, partimos
de uma concepção que considera a língua em uso e a gramática como um sistema (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004) sujeito às pressões do uso e às necessidades comunicativas. O texto, verbal
e escrito, é compreendido como instanciador do sistema linguístico e capaz de oferecer pistas
concretas de processos de variação e mudança em curso na língua. Neste simpósio, tais processos
serão vistos a partir dos pressupostos da gramaticalização, compreendida como a mudança pela qual
itens e construções lexicais assumem em certos contextos linguísticos para desempenhar funções
mais gramaticais, ou, quando já gramaticalizadas, continuam a desenvolver novas funções
gramaticais (HOPPER; TRAUGOTT, 2003). Trata-se de um fenômeno que não ocorre com
palavras isoladas, mas envolve toda a construção à sua volta (BYBEE, 2010). Espera-se que os
trabalhos aqui apresentados evidenciem especialmente fenômenos de gramaticalização em textos ou
sequências textuais escritas de base argumentativa. Tais considerações poderão ser abordadas a
partir de duas perspectivas, complementares ou isoladas: a perspectiva descritiva e/ou a aplicada.
COORDENAÇÃO
Madalena Teixeira
Instituto Politécnico de Santarém/Universidade de Lisboa
[email protected]
André Luiz Rauber
Universidade Federal do Mato Grosso
[email protected]
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A MULTIFUNCIONALIDADE DO ITEM “ATÉ” EM BLOGS BAIANOS: UM CASO DE
GRAMATICALIZAÇÃO
Geliane Fonseca Alves – CAPES/UESC
A gramaticalização é um processo de mudança linguística segundo o qual categorias lexicais
passam a funcionar como categorias gramaticais, e/ou categorias gramaticais passam a ser mais
gramaticais; conceito esse assumido por Kurylowiscz, 1975; Heine et alii, 1991; Hopper e Traugott,
1993 (apud CEZARIO, 2012, p. 22) e Martelotta, Votre e Cezario, 1996. Com o intuito de pesquisar
sobre esse tipo de processo na língua portuguesa, elegemos o item “até”, pois, em situações reais de
fala, ele tem assumido funções sintático-semânticas variadas, tais como preposição, função
prototípica com significado +concreto; operador argumentativo e marcador discursivo, com
significado +abstrato, evidenciando, assim, uma escala de abstratização que vai em direção ao
discurso e à argumentatividade. No propósito de constatar essa multifuncionalidade, escolhemos,
como corpus, blogs baianos, por serem textos escritos que trazem em suas estruturas características
da oralidade, pois se tratam de produções que relatam o cotidiano dos blogueiros, seus
pensamentos, desabafos e opiniões sobre temas diversos. Acreditando que a mudança atinge
também a língua escrita, propomos a investigação no sentido de comprovar que a
multifuncionalidade do “até” é decorrente dos usos variados que os falantes fazem deles em suas
práticas comunicativas. Reconhecer e entender as novas funções assumidas por tal item, em
particular, possibilita contribuir com as práticas de análise linguística, que, tradicionalmente, têm
como base as gramáticas normativas, que, por sua vez, não têm a pretensão de dar conta das
amplitudes funcionais das palavras.
GRAMATICALIZAÇÃO: UM ESTUDO DA CONSTRUÇÃO “CHEGAR + (A) + V2”A
PARTIR DO GÊNERO NOTÍCIA
Elizene Sebastiana de Oliveira Nunes – UFMG
Sueli Maria Coelho – UFMG
Motivadas pelo fenômeno dinâmico de variação e mudança das línguas, nosso objetivo, neste
estudo, é investigar construções com o verbo chegar, observando o fenômeno da gramaticalização.
Segundo Cunha (1992), o verbo chegar tem sua origem no verbo latino plicare e significava
“dobrar”, “enrolar”. No processo de evolução semântica, esse verbo parece ter passado a ser
utilizado mais comumente com o significado de vir, ou melhor, com a ideia de deslocamento de um
ponto X a um ponto Y. Entretanto, uma simples e rápida investigação linguística, principalmente na
linguagem em uso e/ou em corpora de referência, nos permite detectar outras acepções para esse
verbo, que tem sido recorrentes no português brasileiro. Partindo dessa constatação, o presente
trabalho, que faz parte de um estudo mais amplo sobre a construção “chegar + (a) + V2)” no
português brasileiro, tem por objetivo investigá-la a fim de identificar seu grau de gramaticalização
e a fim também de identificar a existência de valores modais e/ou aspectuais marcados nessa
construção. Como dito, essa investigação se dará sob a perspectiva do processo de mudança
linguística conhecido por gramaticalização e para medir o grau de gramaticalidade da
perífrase/construção serão utilizados os critérios de auxiliaridade mais recorrentes nos autores que
os abordam, conforme elencados por Fonseca (2010). Entende-se que essa construção é utilizada
para expressar valores que nem o verbo chegar nem o outro verbo (V2) poderiam expressar
sozinhos. Para consecução dos objetivos propostos, utiliza-se como corpus 1.500 dados oriundos do
gênero notícia, coletados a partir da busca pela fórmula “cheg*” no Corpus do Português
(www.corpusdoportugues.org). Os dados referentes ao gênero notícia neste Corpus são todos
datados do século XX. O Corpus do Português foi organizado por Mark Davies e Michael Ferreira,
em 2008, e está disponibilizado online. Após a organização dos dados, serão quantificadas as
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ocorrências do verbo chegar conforme suas diferentes acepções contextuais e serão analisadas
quali-quantitativamente as ocorrências da construção em estudo.
UM ESTUDO DO PORTANTO COMO MARCADOR DE CONCLUSÃO TEXTUAL
Cristina Lopomo Defendi – PG/USP/IFSP
Em minha pesquisa de doutoramento sobre processos de conclusão em textos argumentativos, foi
possível constatar que o elemento marcador de conclusão portanto apresentou uso muito frequente
nos textos analisados. Sua função de marcador de conclusão textual chama atenção tanto nos textos
considerados melhores (33,2%) quanto nos considerados piores (38,6%) no processo seletivo da
Fuvest (Fundação para o Vestibular da Universidade de São Paulo – USP). Também é um uso
frequente, ainda que em menor proporção (18,7%), nas redações escolares que compõem o material
de controle. Essa constatação permitiu considerá-lo o marcador típico de conclusão no texto
dissertativo-argumentativo escolar do PB. Adicione-se a isso o fato de que nem todos os autores,
tais como Neves (2000), consideram-no uma conjunção. Assim, a funcionalidade dessa construção
no contexto em questão revelou necessária uma investigação de seu uso ao longo da história do
português de modo a favorecer o reconhecimento das variações e mudanças pelas quais vem
passando. Para tanto, optou-se pela referendação histórica em um corpus diacrônico amplo e
variado em gêneros, já que não se pode recuar no tempo em busca de materiais similares ao gênero
textual escolhido, a redação de vestibular, um texto que se torna comum a partir da segunda metade
do século XX apenas. Decidimo-nos por um que traz textos literários, documentos históricos e
outros gêneros textuais escritos. Nesta comunicação, serão apresentadas (i) a etimologia da
construção conclusiva instanciada por portanto; (ii) o portanto nos dicionários de língua
portuguesa; (iii) considerações históricas e comportamento do portanto em variedades do português
culturalmente diversas da do Brasil (PB): o português de Portugal (PE) e o de Macau (PM); (iv)
pesquisa diacrônica em corpus de textos literários e documentos históricos e religiosos, tanto do
português brasileiro (PB) quanto do português de Portugal (PE) e (v) aplicação de testes ao portanto
segundo os parâmetros propostos por Lehmann (1985 e 2002), os critérios propostos por Kortmann
(1997) e os testes aplicados por Neves (2002) e Pezatti (2002). Como resultado, constatou-se que o
portanto passa por uma transferência metafórica de conjunção para marcador conclusivo, bem
como uma mudança metonímica de advérbio para conjunção, sendo que isso ocorre no texto
dissertativo-argumentativo. Justamente por esse comportamento com padrões funcionais distintos, o
portanto encontra-se em graus variados de gramaticalização, dependendo do uso que for analisado.
A GRAMATICALIZAÇÃO DE “SENDO QUE” NO PORTUGUÊS DO BRASIL E DE
PORTUGAL
Madalena Dias Teixeira – IP-Santarém/CEAUL
André Luiz Rauber – UFMT/PGS-USP/CAPES
Estudos de gramaticalização, como sugerem Hopper e Traugott (2003), têm demonstrado que
algumas construções copulativas passam a funcionar como conectivos mais gramaticalizados em
alguns contextos linguísticos. Essa é a hipótese que pode ajudar a explicar os usos da construção
SENDO QUE no português do Brasil (PB) e de Portugal (PP). Para comprová-la, partimos de uma
análise diacrônica de textos dos séculos XIII a XX, extraída do Corpus do Português de Davies e
Ferreira (2006) e do corpus histórico organizado por Tarallo (1991). Encontramos registros de
SENDO QUE já no século XVI no PP, introduzindo oração subordinada e com função de conjunção
causal e/ou concessiva, funções estas já identificadas, por exemplo, por Ribeiro (1950 [1890]) e
Simões (2007). A partir do século XX, contudo, observamos que SENDO QUE parece assumir
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também o papel de uma espécie de distribuidor e/ou delimitador da informação apresentada na
oração anterior, desempenhando, assim, uma função partitiva. Verificamos que sequências
argumentativas favorecem o emprego dessa construção, mas ainda não sabemos se é fator
condicionante para sua ocorrência. Assim, neste simpósio, apresentaremos alguns dos resultados de
análises diacrônicas do PB e do PP que pretendem dar conta da hipótese do desenvolvimento de
uma função partitiva com base em SENDO QUE. Para isso, empregamos uma perspectiva
funcionalista, que considera os processos de variação e mudança linguística, via postulados da
gramaticalização (LEHMANN, 2008, 2011; BYBEE, 2010; TRAUGOTT & DASHER, 2005). A
metodologia adotada compreende as análises quantitativa e qualitativa dos dados. O estudo
contrastivo e/ou comparativo das duas variedades do português possibilitar-nos-á uma visão do
percurso semântico e funcional dessa construção ao longo dos últimos séculos e as implicações
linguísticas e cognitivas envolvidas nesse processo.
TUDO O QUE EXISTE, DESDE MARAVILHAS A CATÁSTROFES, É RESULTADO DE
ALGUM TRABALHO, UMA VEZ QUE ELE NÃO SE LIMITA APENAS AO HOMEM, MAS,
SIM, A TODO O UNIVERSO: O PAPEL DA CORRELAÇÃO INOVADORA, UM
EXERCÍCIO COGNITIVO
Marcello Ribeiro – USP-PG/UNINOVE/UNIP
O objetivo desta pesquisa dedica-se ao estudo dos pares correlatos: NÃO...MAS, elementos
linguísticos mobilizados a fim de construir uma argumentação sofisticada com a intenção de
convencer o outro que lê o texto, empregados em redações de vestibulares, momento em que a
pressão pela normatividade é bem grande. Entretanto, escreventes habilidosos se utilizam desse par,
de forma criativa, não rompendo com o processamento cognitivo esperado. Entendemos correlação
como um processo de articulação de cunho funcionalista, partindo do princípio de que existe “uma
relação entre dois pares, em que o primeiro item serve de gatilho para o segundo, que seria
psicológico” (LIMA-HERNANDES E BARROZO, 2010), termos interdependentes, em que “ao
mencionarmos o primeiro termo, somos obrigados a mencionar o segundo” (OITICICA,1952). Ao
expressar aquilo que pensa, o falante alavanca conhecimentos compartilhados, em que o modo de
comunicação pragmático é acionado, mas não sem antes passar pelo revestimento sintático, em que
“possíveis estruturas linguísticas congeladas são ativadas” (GIVÓN, 2011), e provavelmente
adaptadas por meio de uma aprendizagem intencional (TOMASELLO, 2005). O corpus de análise
foi constituído de 700 redações elaboradas por candidatos da FUVEST (Fundação para o Vestibular
de São Paulo), entre os anos de 2004 a 2010. Para essa pesquisa, os princípios funcionallistas de
iconicidade e plano discursivo, auxiliarão na compreensão do comportamento do par correlato
não...mas, em questão.
PROCESSOS COGNITIVOS (METONÍMICOS E METAFÓRICOS) ATRIBUÍDOS À
GRAMATICALIZAÇÃO DA ESTRUTURA ‘FORA+QUE’ EM TEXTOS DE
MODALIDADE ORAL E MIDIÁTICOS.
Lídia Spaziani – USP-PG/UNINOVE/UNIP
Esta pesquisa possui dois focos como seus objetivos: identificar o gatilho social/cultural e
evidenciar o processo de gramaticalização da construção/item FORA+QUE. As constantes
mudanças provenientes da função pragmática da língua nos impulsionam ao estudo de
itens/construções (NOEL, 2007) emergentes na língua oral e recorrente na língua escrita midiática
informal que mencionam os grupos minoritários, tais como o grupo dos ciganos. Para
evidenciarmos o deslizamento gramatical que ocorre na estrutura “fora + que” levamos em
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consideração os processos cognitivos por meio de estágios de mudança e seus mecanismos
metafóricos e metonímicos (GONÇALVES; LIMA-HERNANDES; CASSEB-GALVÃO, 2007).
Esses processos iniciais são acompanhados das motivações de mudança, a saber: reanálise, analogia
e as relações icônicas, como afirma Haiman, 1985 (GONÇALVES; LIMA-HERNANDES;
CASSEB-GALVÃO, 2007:51): um signo complexo representa um conceito também complexo.
Com olhar voltado para o aspecto social e cultural, o “fora+que” é foco de análise por seu
componente semântico, discursivo e gramatical no qual será analisado, pois como afirma Halliday
(1978) é impossível conceber a língua oral ou escrita sem notar seu desenvolvimento ao redor, a
partir e dentro do fato social, ou seja, o funcionamento da língua é efetuado dentro da sociedade.
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SIMPÓSIO 43
DEMONSTRAÇÃO DA IDENTIDADE IDIOMÁTICA DO POVO
(GOIANO) E HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA
A conceituação de norma, inicialmente estabelecida por Eugenio Coseriu, estende-se por uma vasta
discussão diatópica, diastrática, diafásica etc. Cada grupo: família, local de trabalho, cidade, estado,
classe social, grupo intelectual ou profissional, apresenta uma norma linguística especificamente
sua. A configuração nacional desse fator é a existência de diferentes normas num mesmo espaço
territorial. No Brasil, tal como exemplo, têm-se falares (variantes normativas) diferenciados em
cada Unidade Federativa. Assim como, em cada Unidade Federativa, podem ser encontradas muitas
variantes normativas regionais e locais. O tempo se configura no melhor elemento de
institucionalização normativa. O isolamento de um povo causa arcaizamento da língua falada.
Dessa forma é que o português do Brasil é arcaico em relação ao de Portugal; o do Nordeste
Brasileiro é arcaico e conservador em relação ao do Sudeste; a região do Goiás permaneceu, por
muito tempo, praticamente isolada do resto do país; isso num período ainda recente. Para não mais
confundir o falar goiano como parte da variante caipira, para não mais afirmar que o goianos fazem
isso ou aquilo em suas falas como os mineiros o fazem, ou como os paulistas o fazem, ou como os
baianos o fazem. Concebe-se: do modo como toda língua é, pura em si mesma, como unidade de
misturas, também é o falar goiano, com sua identidade idiomática pura, recortada da fala de tantos
homens e mulheres que chegaram em Goiás, vindos de outras falas e de outras línguas. Esse
simpósio tem por objetivo apresentações que reforcem o caráter da individualidade grupal
idiomática, seja baseada em elementos diatópicos, diastráticos ou diafásicos.
COORDENAÇÃO
Sebastião Elias Milani
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Daniel Marra da Silva
Instituto Federal do Tocantins
[email protected]
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DO DICURSO HUMORÍSTICO AO DISCURSO DIDÁTICO
José de Sousa Silva – UFG/UL
À Semiótica interessa o humor enunciado em textos e em imagens. Enquanto objeto semiótico, o
humor caracteriza-se como prática social e como tal, também é uma prática semiótica.
Considerando-se a perspectiva semiótica de abordagem greimasiana, pode-se dizer que o humor
possui um valor modal e outro descritivo. Seu valor modal é descrito como um fazer-rir, ou seja, um
enunciado cujo objeto-valor a ser conjungido ao destinatário é um estado, portanto, fazer-rir
equivale ao fazer-ser. Dito de outra maneira, enquanto desdobramento de uma modalidade factiva, o
fazer-rir caracteriza-se como um fazer operatório que visa modificar o estado de outrem através de
um fazer capaz de conjungir esse outro a um objeto tímico, o rir. Já o seu valor descritivo é
notadamente subjetivo por se tratar de um estado de alma. Porém, ao considerarem-se os sujeitos ao
nível do discurso (sujeito pragmático e sujeito cognitivo) devem-se distinguir o valor de uso do
humor do seu valor de base. Assim sendo, o humor assume o valor de base quando o rir do sujeito
cognitivo é o fim último ao qual se propõe o sujeito pragmático e assume o valor de uso quando o
rir é o instrumento do qual o sujeito pragmático se serve para alcançar outro fim que não apenas o
rir despretensioso do sujeito cognitivo. Se este outro fim for dotar o sujeito cognitivo de uma
competência pode-se falar de uma didática do discurso humorístico, pois não se trata apenas de uma
persuasão, mas do que Greimas chamava de competencialização. Aliás, o interesse de alguns
professores de língua hodiernamente visa essa dotação de competência através do humor. Portanto,
o humorista pode visar o ser (estado de espírito) ou o fazer (ação eventual) de outro sujeito. Para
demonstrar esta tese, recorreu-se a textos nos quais o sujeito do fazer serve-se da variação diatópica
do seu próprio povo (o chamado goianês) como tema autoderisório ao mesmo tempo em que seu
fazer empresta um valor ético a sua variação regional a partir de uma deôntica particular. Ensina o
falar de seu grupo linguístico como se tratasse de uma língua estrangeira, ou mesmo, estranha aos
outros sujeitos fora de sua comunidade de fala, e para tanto assume o estilo de um lexicógrafo para
o desenvolvimento de um programa narrativo de base. Os textos são caracterizados como
humoresques, composições nas quais o senso de humor desponta como divertida, fantasioso e
extravagante em vez de um senso de humor sarcástico, perspicaz e agudo marcado pelo sarcasmo, a
ironia e a réplica.
NORMA LINGUÍSTICA: DE HJELMSLEV A ATUALIDADE DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Jonas Pereira Lima – ITOP
Na perspectiva de reinterpretar os conceitos de língua e fala na teoria glossemática, o dinamarquês
Louis Hjelmslev (1899-1965) desenvolveu três definições: como forma pura independentemente de
suas realizações sociais e de suas manifestações materiais denomina-se esquema. Como forma
material, isto é, atualização do aspecto social da língua, mas independente ainda dos traços
pormenores de sua manifestação é chamado norma. Como um conjunto de hábitos adotados por
uma comunidade linguística determinada e definidos através das manifestações observadas,
constitui o uso. Nessa tricotomia hjelmsleviana, a principal dificuldade encontrada é a compreensão
do conceito de norma em relação aos conceitos de esquema e uso. O conceito de língua
desenvolvida por Ferdinand de Saussure aproxima-se aos de esquema e norma de Hjelmslev. Mas
considera-se a norma como uma construção artificial derivada da realização funcional entre
esquema e uso. Entre as três distinções hjelmsleviana, o conceito de norma foi o mais aceito pelos
linguistas pós-Hjelmslev. Para o linguista romeno Eugenio Coseriu, a norma é um conjunto de
realizações constantes e repetidas, de caráter sócio-cultural: não corresponde ao que se pode dizer,
mas ao que já se disse e tradicionalmente se diz na comunidade idiomática. Para ele, a norma é
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apreendida de forma imediata, conforme o grupo social de que o indivíduo faz parte e a região onde
ele vive. Dentro de um mesmo sistema funcional pode-se identificar várias normas: no discurso
familiar, no discurso popular, no discurso literário, na língua padrão, na lingua vulgar etc. Em
língua portuguesa, o conceito de norma herdado de Hjelmslev, bem como de seu continuador
Coseriu, foi aproveitado por alguns linguistas brasileiros. O gramático Evanildo Bechara aproveitou
tal conceito, na perspectiva de desfazer as ideologias de inferioridade e superioridade linguística.
Bechara foi um dos primeiros linguistas a apresentar a distinção entre norma culta e norma nãoculta no propósito de explicar que as duas distinções são modalidades constituídas do mesmo valor
comunicativo, porém adequadas para uso em diferentes situações discursivas. O linguista brasileiro
Francisco Borba empregou o conceito de norma herdado também de Hjelmslev. Para o linguista há
realizações que são normais embora não pertencentes ao sistema da língua. Uma vibrante fonética,
apesar de não alterar o sistema, pode caracterizar o falar de toda uma região. Nas regiões norte e
nordeste, por exemplo, é comum, quando se fala espontaneamente, não se pronunciar o /r/ final das
infinitivas, mesmo entre pessoas escolarizadas, como em cantar [cantá], vender [vendê], dividir
[dividi] etc. Nessa perspectiva, a língua sendo um conjunto de possibilidades, a norma aparece
como um dado número de realizações dela num momento e lugar. O linguista Marcos Bagno
embasado nas concepções hjelmsleviana de língua como forma pura, conjunto de hábitos e forma
material desenvolve uma abordagem teórica do conceito de norma para discutir o conflituoso
problema da distinção entre norma padrão e norma não-padrão da língua. Assim, o linguista rompe
com as teorias clássicas que considera a norma padrão como única modalidade a ter existência
numa língua e, consequentemente, defende a emancipação da norma não-padrão como modalidade
a possuir estrutura gramatical igual à norma padrão, perfeita para a realização do repertório
comunicativo. Vale, finalmente, ressaltar que a linguística moderna aproveitou, como axioma
hjelmsleviano, apenas o conceito de norma. Mesmo passando por uma série de reformações, a
essência do conceito permanece viva em pesquisas bem atuais da linguística moderna e
contemporânea. A versão atual do conceito de norma tem sido um instrumento decisivo para as
explicações das diferenças linguísticas e no combate ao preconceito linguístico.
ALGUNS CONCEITOS LINGUÍSTICOS DA OBRA DE ÉMILE BENVENISTE EM
LINGUÍSTICA GERAL
Rômulo da Silva Vargas Rodrigues – UFG
Émile Benveniste, linguista de origem síria, naturalizado francês, professor da École Pratique des
Hautes Études, viveu de 1902 a 1976. Dividiu sua atenção ao longo da vida entre três importantes
áreas dos estudos linguísticos, sendo igualmente bem sucedido em todas: gramática comparativa
das línguas indo-europeias; estudos sobre a família de línguas iranianas; e a linguística geral. Em
linguística geral seus estudos recobrem três quartos do século XX. Acontece que esse século foi,
sem sombra de dúvidas, o período da história humana em que mais se produziu conhecimento sobre
a linguagem. A partir da delimitação teórica da língua por Ferdinand de Saussure no início do
referido século, os estudos avançaram intensamente, definindo-se outros objetos e outras ciências da
linguagem além da linguística. Benveniste participou intensamente de todo esse processo. Seus
artigos em linguística geral são publicados de 1939 a 1972. Dessa maneira, seus estudos parecem
compor uma síntese do avanço linguístico do século XX. Neste ensaio se trabalham alguns
conceitos que Benveniste utiliza em sua obra. Após um longo período de intensa produção de
conhecimento nas ciências naturais, sem que se obtivesse o mesmo resultado nas humanidades,
Saussure (1957-1913) provoca o que ficou conhecido como virada linguística. Ao definir
teoricamente o que é língua, o estudioso providencia concomitantemente um método para estudos
da sociedade, do homem em sociedade e dos fatos sociais em geral. Esse método, por sua vez, ficou
conhecido como “estruturalismo”. Seu emprego possibilitou que as humanidades fizessem a troca
do enfoque dedutivo para o enfoque indutivo. Ao invés de colecionar um grande número de indícios
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dos quais se deduziam respostas nem sempre creditáveis, como se trabalhava em linguística
histórica; a partir da delimitação de seu objeto, a língua, a linguística pode se concentrar no objeto,
induzindo dele o conhecimento, sendo que, esse conhecimento poderia ser relativamente facilmente
verificável no próprio objeto. Isso conferia à linguística o tão almejado estatuto de cientificidade.
As humanidades, ao se utilizarem do método estrutural, poderiam ser consideradas científicas
devido à possibilidade de comprovação e de afastamento do pesquisador. E assim foi durante a
primeira metade do século XX. Benveniste começou seus estudos em linguística geral a partir da
obra de Saussure, Cours de linguistique générale, publicada em 1916. Benveniste segue a linha
estruturalista, aprofundando e desenvolvendo conceitos que haviam sido formados por seu
antecessor. Sua obra, contudo, recobre todo o século XX, dando vistas e consubstanciando teorias
linguísticas da língua, da enunciação e do discurso. Pois, Benveniste viveu e, de certa forma,
fomentou a chamada virada discursiva do final do século. Dentre os conceitos aqui trabalhados da
obra de Benveniste estão os de discurso e enunciação, o conceito de sujeito, o conceito de planos
de enunciação, os conceitos de pessoa e não pessoa, o conceito de signo linguístico ampliado, os
conceitos de sentido e significado, o conceito de semiótica, a frase como unidade semântica, e
conceitos de contexto.
LÉXICO RELATIVO ÀS PROFISSÕES DE TROPEIROS E CONDUTORES DE GADO
EM TROPAS E BOIADAS, DE HUGO DE CARVALHO RAMOS
Cristiano Curtis Eliassim – PMEL/UFG-Catalão
É pacífico entre todos os estudiosos da língua a estreita relação existente entre esta e a vida social.
A relação entre os seres humanos e destes com o mundo que o cerca é permeada pelos usos que
fazem da língua, sobretudo nas formas de nomear objetos, ações, sentimentos, sensações. Ao
encontrar uma pessoa, determinado grupo ou até uma comunidade que faça uso da língua, é
possível observar e analisar as expressões e palavras utilizadas nas diferentes atividades. Desta
forma, ao ler a obra Tropas e Boiadas, do escritor goiano Hugo de Carvalho Ramos, foi possível
deparar com inúmeras expressões e palavras utilizadas para se referir ao trabalho com as tropas e
boiadas. Partindo desta identificação, propomos um trabalho de análise do léxico referente às
atividades profissionais na obra acima citada, levantando as palavras e expressões relacionadas aos
cargueiros e às boiadas. Um estudo que se propõe analisar a língua deve considerar que os
contextos socioculturais em que ela ocorre são elementos básicos, e, muitas vezes, determinantes de
suas variações, explicando e justificando fatos que apenas linguisticamente seriam difíceis ou até
impossíveis de serem determinados. No caso específico do léxico, toda a visão de mundo, a
ideologia, os sistemas de valores e as práticas socioculturais das comunidades humanas são nele
refletidas. Selecionamos para tal fim a obra Tropas e Boiadas, de Hugo de Carvalho Ramos, uma
vez que ela propicia a análise de palavras e expressões que recobrem as atividades profissionais dos
tropeiros e boiadeiros. Acreditamos que a obra em questão possibilita uma análise pertinente do
léxico, uma vez que a mesma lida com as tropas e com as boiadas, destacando assim atividades de
trabalho que nos permitem pensar na relação intrínseca entre léxico e cultura. Além disso, é uma
obra salutar dentro da literatura brasileira, e, na perspectiva histórico-cultural muito tem a ser
explorada. Entendemos que a obra de Hugo de Carvalho Ramos muito tem a contribuir para os
estudos lexicais e muito pouco foi feito nesta perspectiva de análise. Analisar o léxico relativo às
atividades profissionais em tal obra oportuniza uma elaboração de um glossário, que se faz muito
pertinente num estudo como este, identificando palavras e expressões específicas das atividades
profissionais e seus respectivos significados num contexto específico. Propomo-nos também a
analisar questões culturais do povo apontadas na obra e a relação destas com a linguagem em uso
nas narrativas, levantar os campos lexicais relativos às atividades profissionais para que se possa
proceder a uma verificação de seus significados específicos no contexto, analisar os campos
lexicais, considerando a recorrência dos itens no corpus, estreitamente relacionada às atividades
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profissionais dos tropeiros e boiadeiros, elaborar um glossário partindo dos campos lexicais
levantados, com a intenção de sistematizar a lexicalização na obra em análise. A elaboração de um
glossário nos permitirá melhor compreender os textos narrados, descrevendo situações distintas de
usos da língua e possibilitando analisá-las de forma mais detalhada, em especial no que se refere ao
léxico relativo às atividades profissionais. Destacamos que tal glossário agrupará os elementos
lexicais que se referem aos cargueiros e às boiadas, que compõe o foco da atividade profissional dos
personagens desta narrativa.
A CONSTRUÇÃO DO ATLAS LINGUÍSTICO DE GOIÁS - A MONONTOGAÇÃO DE
ALGUMAS PALAVRAS NO FALAR GOIANO
Patricia Veronica Moreira – UFG
Primeiramente, o atual projeto ALINGGO (Construção do acervo audiovisual da língua falada em
Goiás e execução do atlas linguístico de Goiás), lotado na Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Goiás, e coordenado pelo professor Dr. Sebastião Elias Milani, tem como objetivo final a
elaboração do Atlas Linguístico. Entretanto, esta meta antecede o seguinte percurso que tem como
principais objetivos: mapear fatos linguísticos fonético-fonológicos; descrever a realidade
linguística de Goiás fornecendo elementos para compreensão desta; identificar mudanças
linguísticas em andamento a partir da fala dos informantes; documentar a fala Goiana através da
aplicação do questionário semântico-lexical e a coleta de narrativas pessoais e locais; entre outros.
Desta forma, esta comunicação pretende fornecer dados linguísticos que demonstrem o
acontecimento da monotongação, processo no qual consiste na supressão de semivogal em ditongos.
Neste caso, tal supressão foi diagnosticada na fala de goianos. A monotongação, segundo Simões
(2006), é um processo contrário à ditongação, ou seja, é uma redução do ditongo que perdeu sua
semivogal, e passa a ter uma vogal simples no lugar. Como constata o autor, este processo pode
ocorrer ou devido a uma variação fonética, ou como marca dialetal. Considerado como um processo
natural na oralidade, buscamos identificar se a monotongação na fala Goiana acontece em ditongos
crescentes e/ou decrescentes. Para tal, selecionamos uma série de entrevistas gravadas, no início de
2012 até meados de dezembro, que incluem homens e mulheres naturais das cidades de Goiás
pesquisadas para o desenvolvimento do projeto, ou que tenham vivido pelo menos 2/3 de suas vidas
nos locais. Além disso, os informantes escolhidos eram de faixa etária e escolaridades diversas,
desde que tivessem acima de 18 anos. Finalmente, após a coleta das entrevistas, fizemos a
transcrição fonográfica e fonética do Inquérito semântico-lexical, elaborando tabelas comparativas,
o que nos possibilitou analisar e perceber este fato linguístico no falar Goiano.
OS CONCEITOS DE LÍNGUA E DERIVA SOB A VISÃO DE EDWARD SAPIR
Raquel Queiroz de Almeida – FL/UFG
Sebastião Elias Milani – FL/UFG
A língua é variável. Dois indivíduos da mesma geração e localidade, que falam precisamente a
mesma língua e frequentam os mesmos círculos sociais, não possuem os mesmos hábitos
linguísticos. Ao investigar minunciosamente a fala de cada um, seriam encontradas inúmeras
diferenças, como na escolha de vocábulos, na estrutura das sentenças, na relativa frequência com
que são usadas certas formas ou combinações de palavras, na pronúncia de certas vogais e
consoantes ou combinações de certas vogais ou combinações de certas vogais ou consoantes.
Assim, em todos esses aspectos, além da rapidez da elocução, a intensidade e a entoação é que
encontramos o que dá vida à língua falada.
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A língua não é apenas uma coisa que cresça no espaço, por assim dizer, uma série de reflexos nos
cérebros individuais de uma mesma e única pintura situada fora do tempo. Ela move-se pelo tempo
num curso que lhe é próprio. Tem uma deriva. Sapir (1971) afirma que ainda que não houvesse
fragmentação das línguas em dialetos, ainda que cada língua persistisse em firme e inflexível
unidade, estaria em constante afastamento de toda forma consignável, desenvolvendo
incessantemente aspectos novos, transformando-se tanto em referência ao seu ponto de partida que
teria de dar na realidade uma nova língua.
A deriva da língua só pode existir a partir das variações individuais que caminhem para
determinada direção. Essa deriva é criada a partir da seleção inconsciente dos que a falam, de
variações individuais que se juntam numa dada direção. Os usos feitos no presente são continuações
de alguns do passado e prefiguram tendências futuras. A língua está em constante deriva, mas nunca
sem rumo, ela tem uma direção definida. O conhecimento da deriva geral de uma língua é
insuficiente para vermos aonde vamos chegar. Temos também de conhecer um pouco a potência e
velocidade relativa das forças componentes da deriva.
O processo de surgimento do dialeto intermediário está relacionado com certos desenvolvimentos
sociais, tais como o advento de uma nação, a formação de literaturas que não se contentam com
uma mera repercussão local, o movimento das populações rurais para as cidades, e todas as outras
tendências destruidoras do intenso localismo que o homem simples sempre considerou natural. Os
dialetos são próprios de grupos sociais estritamente circunscritos, e com homogeneidade tal que
lhes garante um sentimento e propósito comum, necessário para criar uma norma.
A deriva fonética é de caráter mais geral. É óbvio que praticamente não é um movimento no sentido
de determinado grupo de sons, senão no sentido de determinados tipos de articulação. Uma
mudança fonética isolada, ainda que não provoque uma convergência de sons, é em regra ameaça
de subversão para o padrão fonético anterior, porque cria uma desarmonia no agrupamento dos
sons. A espécie de evolução sem prejuízo do padrão, ou com perda mínima para ele, é
provavelmente a tendência mais importante dos sons linguísticos. A convergência e a
“desintegração” fonética contrariam-na até certo ponto, mas de maneira geral tal tendência é o
regulador central inconsciente da marcha e velocidade das mudanças fonéticas.
De maneira geral, portanto, associa-se as principais concordâncias e divergências de forma
linguística, padrão fonético e morfologia, com a deriva autônoma das línguas, sem complicá-la com
os efeitos de uma difusão de caracteres fortuitamente acumulados ora num sentido, ora noutro.
A EXECUÇÃO DO ATLAS LINGUÍSTICO DO TOCANTINS – ALINTO
Daniel Marra – IFTO
O estado do Tocantins oferece uma vasta e variada cultura popular; toda ela pouco conhecida
cientificamente. A integração da região como polo turístico integrante da Amazônia Legal desperta
o interesse para a valorização da forma de se expressar nesse território. A invasão turística, no
entanto, embora positiva economicamente, traz consigo o preconceito relacionado à forma com que
os nativos utilizam a língua. Daí, ser comum perceber os falantes dessa região questionando se a
forma como comunicam linguisticamente é errada e se a forma como os visitantes fazem uso da
língua é mais correta. A atração que exerce as formas de falar prestigiadas, veiculadas pela televisão
e outros veículos de comunicação tendem a modificar o comportamento de resistência cultural
típico. Vê-se a necessidade de posicionar um estudo que, no mínimo, garanta o registro do substrato
linguístico-cultural, em forma descritiva, para as futuras gerações. O desenvolvimento do Atlas
Linguístico do Tocantins nasce desse desejo de ver o capital linguístico dessa região registrado e
revelado como um capital cultural constitutivo da identidade linguística do povo tocantinense.
Desse modo, o projeto do ALINTO tem o ALINGO, cujas pesquisas já se encontram em estágio
avançado, como seu gestador e parceiro nas pesquisas. Embora o estado do Tocantins tenha sido
desmembrado do estado de Goiás a pouco mais de duas décadas, uma análise comparativa das
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identidades linguísticas dos povos dos dois estados poderá mostrar mais diferenças que
semelhanças, dadas as extensões de seus territórios.
ATLAS LINGUÍSTICO DE GOIÁS – ALINGO
Sebastião Elias Milani – UFG/FL
Antes de iniciar o trabalho de elaboração do Atlas Linguístico de Goiás - ALINGO, fez-se uma
preparação do grupo envolvido: aos pesquisadores coube um levantamento bibliográfico minucioso,
dos Atlas da Bahia, da Paraíba, de Sergipe, do Paraná e do Brasil (ALiB), aos alunos
entrevistadores, coube um treinamento sociolinguístico e fonético-fonológico, bem como da história
do Estado. Após um período de assimilação das leituras básicas de treinamento sociolinguístico,
chegou-se na hora de ir a campo. O primeiro trabalho foi fazer um levantamento topográfico da
região a ser estudada, mapeando os espaços habitados, recolhendo informações sobre esses
habitantes. Quando já se sabia o suficiente sobre a região, suas estradas, suas características de
relevo, de pluviosidade, e sobre seus habitantes, seus costumes, manifestações culturais, origens
étnicas, sobrevivência, atividades econômicas e distribuição econômica, estava-se pronto para
começar a fase das entrevistas. A cada faixa etária foram selecionados no máximo seis informantes
para cada município. Idade mínima do informante mais jovem é de 18 anos. Os critérios foram: ter
nascido no município ou nas proximidades, ser filho de pais nascido na região ou que tenha se
mudado para ali jovem; ter ali residido por pelo menos dois terços de sua vida; de formação escolar
variada: de zero ano de escolaridade ao nível superior completo; estar em condições boas de saúde
no aparelho fonador e mental; de ambos os sexos; profissões variadas. O contato com comunicação
de massa foi considerado: Rádio, Televisão e Internet. Também foi considerado o contato com
pessoas de outras localidades, como turistas e viajantes, que podia levar a exclusão do informante
na pesquisa. A partir desse parâmetro, com a ajuda da Polícia Militar, foram encontrados e
entrevistados pela equipe de pesquisadores os informantes que estavam mais próximos desse ideal.
Foram feitos esforços para entrevistar pessoas em todas as faixas etárias e escolaridade, mas isso
não foi possível na maior parte das localidades e nem era necessário, já que a amostragem no
documento Atlas linguístico de Goiás - ALINGO é restrita a três informantes por localidade,
sempre tomando a qualidade das respostas e a qualidade elevada das informações prestadas como
critérios eletivos.
A CULTURA FRONTEIRIÇA DO SUL DE GOIÁS: AS INFLUÊNCIAS RECEBIDAS DO
TRIÂNGULO MINEIRO
Isadora Massad Giani Pinheiro – UFG
As fronteiras geográficas são linhas as quais representam limites político-sociais que foram
definidas a partir defatores socioeconômicos, étnicos, geográficos e culturais, dentro de um
contexto histórico específico de conquistas territoriais, conflitos entre diferentes poderes, etc. O
bombardeio de informações, de tecnologias e a tentativa de se instaurar um padrão não são
suficientes para apagar identidades a fim de implantar uma única, pelo contrário, muitas das vezes a
globalização auxilia na difusão de diferentes fenômenos culturais, de maneira geral, das mais
variadas regiões do mundo. Pode ser que haja uma apropriação cultural amena por certas regiões,
mas o apagamento total de costumes tradicionais é muito difícil, obviamente que desconsiderando o
processo colonizador que, muitas das vezes, tinha a aculturação como objetivo final, facilitando
assim a exploração ou o povoamento de determinado local. É possível observar também que o
limite fronteiriço pode não acompanhar as identidades de determinadas comunidades, ou seja, aqui
começa uma identidade cultural e ela terá fim junto com a fronteira geográfica determinada, seja ela
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municipal, estadual ou federal. Assim como acontece com as fronteiras linguísticas, o que permite a
existência das isoglossas, que são linhas virtuais que limitam formas e expressões linguísticas,
contrastando-se ou assemelhando-se, podendo ser diatópicas, diastráticas ou diafásicas.
(FERREIRA & CARDOSO, 1994) Segundo Guazzelli (2003), as pessoas que vivem nas fronteiras
podem desenvolver uma cultura fronteiriça particular, pois além da cultura de origem, do país, do
estado ou do município que moram, podem adotar certos elementos do “outro”, até mesmo
linguisticamente, no caso, incorporando em seu falar, expressões “estrangeiras”. Com vistas na
imprecisão dos limites linguísticos e culturais, é possível observarmos uma influência, nesses
âmbitos, do triângulo mineiro sobre o sul goiano, uma vez que as regiões possuem bastante contato
entre si, além de terem um passado histórico semelhante em suas respectivas fundações. A pesquisa
a ser desenvolvida a partir desse projeto visa o estudo da identidade cultural e linguística do sul do
Estado de Goiás. Com isso, a identidade de tal região poderá será traçada a partir da observação de
elementos constituintes, próprios de Goiás ou influência do triângulo mineiro, e da origem desses,
através do percurso histórico do desenvolvimento urbano do local, desde os primeiros descendentes
de europeus exploradores de terras, ou pelos bandeirantes exploradores dos recursos naturais, além
de uma pesquisa de campo para uma observação empírica dos fenômenos propostos.
A HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA DO SIGNO NA LÓGICA DE FREGE
Hilda Rodrigues da Costa – UFG
O aparecimento de múltiplas abordagens, de bases diferentes, mas que tornam a linguagem
processo e produto da atividade histórica do homem representam a filosofia de uma determinada
época. Kuhn (1996, apud Moschetti, 2004, p. 46) argumenta que “a emergência de novas teorias é
geralmente precedida por um período de insegurança profissional pronunciada, pois exige a
destruição em larga escala de paradigmas e grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência
normal”. Essa insegurança, na visão do autor, muitas vezes é gerada pelos fracassos da ciência em
produzir os resultados esperados, o que não fora diferente com Friedrich Ludwig Gottlob Frege. A
presente comunicação objetiva traçar o percurso historiográfico linguístico do signo na lógica de
Gottlob Frege, demonstrando por meio dos discursos historiográficos a relevância e a grandeza do
pensamento fregiano, as contribuições para o campo da lógica e da filosofia da linguagem, a
interação e a influência de sua obra em outros campos do saber. Buscaremos por meio da pesquisa
historiográfica conhecer os fatores internos e externos que motivaram seu pensamento e sua busca
pela verdade, bem como sua história social e a influência do contexto vivenciado por Frege no
século XIX. Pois, mesmo sendo considerado um pensador contemporâneo, pouco se sabe sobre a
vida e a dedicação de Friedrich Ludwig Gottlob Frege na busca pela verdade, os pensamentos que
influenciaram seus estudos e delinearam suas investigações, abrindo novos roteiros através das
discussões que desenvolve em torno das noções de verdade, negação, sentença, pensamento,
asserção, etc. Nossa pesquisa será de cunho historiográfico, fundamentada nos discursos científicos
de Kuhn (1996), Frege (1978), Lopes (2010), Biro (1995), Cordeiro (1974), Dorneles (1993),
Fidalgo, (1998), Frege (1967, 1972, 1977), Hénault (2006), Klemke (1968), Pêcheux (1997), Peirce
(1974), Tamba (2006), Thiel (s/d.), Winfried (2008), dentre outros.
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470
SIMPÓSIO 44
LINGUÍSTICA HISTÓRICA E ONOMÁSTICA
O simpósio Linguística Histórica e Onomástica reúne estudos da língua (portuguesa) numa
perspectiva diacrônica, com ênfase nos tipos de mudanças de sons, na mudança gramatical,
semântica e lexical, contextualizando a teoria linguística, sua terminologia e e a análise de dados. O
escopo teórico fornece a base para a compreensão da natureza dessas mudanças, e a terminologia,
com a aplicação de termos necessários para a explicação científica, possibilita perceber os
progressos desses estudos. Nessa perspectiva histórica, os trabalhos versam ainda sobre a função e a
significação dos nomes próprios, mais precisamente dos topônimos e dos antropônimos, seus
aspectosgeográficos e culturais. Os nomes próprios (topônimos e antropônimos, entre outros) são de
importância histórica fundamental para os estudos linguístico-históricos, das relações de grupos
humanos, das intervenções políticas e da lei. O ato cultural de nomear estabelece uma relação social
entre o espaço natural e o utente da língua. No contexto brasileiro, a relação nome (topônimos,
antropônimos eoutros) e sua vinculação de identidade com o espaço, com os grupos humanos e
processos migratórios são atividades de pesquisa que contribuem para os estudos inovadores dos
nomes de lugares, de pessoas e das diversas coisas. Tais considerações também são aplicáveis a
trabalhos voltados para as línguas de sinais.
COORDENAÇÃO
Maria Suelí de Aguiar
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Maria Célia Dias de Castro
Universidade Estadual do Maranhão
[email protected]
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TOPONÍMIA DO POVOAMENTO RURAL: OS CONTINUADORES DO LATIM
QUINTANA E SEUS DERIVADOS
Maria Alice Fernandes – UAlg
Esperança Cardeira – UL
Os topónimos com origem no latim QUINTĀNA e seus diminutivos e derivados têm um interesse
muito particular para a história da língua portuguesa e para a história do povoamento rural.
Relativamente à história da língua, estes topónimos permitem diferenciar domínios linguísticos
ibero-românicos (através da conservação ou síncope do N latino intervocálico, e.g., quintana vs
quintã), fornecer dados para o estabelecimento da cronologia da sua fixação (por meio dos sufixos
diminutivos usados, e.g., quintela vs quintãzinha) e de mudanças linguísticas arcaicas (como a crase
vocálica e a ditongação das vogais nasais finais, e.g., quintãã >quintã >quintão), demarcar áreas
dialetais (através de variantes específicas de zonas ou regiões, e.g., quintã/s ~ quintã/ães; quintã/s ~
quintão/s) e ainda contribuir para o esclarecimento da difusão geográfica do galego-português a sul
do Vale do Vouga e para a identificação da proveniência regional dos colonos. Quanto à história do
povoamento rural, a revisão da sua etimologia e da sua evolução histórica, formal e semântica, no
espaço e no tempo concorre igualmente para a caracterização das formas de ocupação e organização
do território, através da discussão da função sócio-económica e da estrutura das propriedades por
eles denominadas, e para o estabelecimento da sua fixação toponímica e da origem dos povoados
que lhes conservam o nome.
AS REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE CAXIAS DO SUL: UM ESTUDO ONOMÁSTICO
Vitalina Maria Frosi – UCS
Este estudo é parte do Projeto Antroponímia/Toponímia da Região de Colonização Italiana do
nordeste do Rio Grande do Sul (RCI) em execução na Universidade de Caxias do Sul (UCS). A
pesquisa tem como tema os nomes das 4 regiões administrativas em que se divide o município. O
objetivo principal é a descrição etimológica e a análise dos aspectos interdisciplinares envolvidos na
história desses signos onomásticos, originados no contexto bilíngue, cultural e histórico-político da
RCI. A categorização desses nomes próprios segue a taxionomia proposta por Dick (1992),
adaptada à realidade brasileira e seguida, em sentido amplo, pelos estudiosos de toponomástica do
Brasil. Servem de apoio os princípios teóricos de Dauzat, 1946; os estudos de Rossebastiano; Papa,
2005; Caffarelli; Marcato, 2008; Queirazza et al., 2006; Oliveira; Isquerdo, 2001; Seabra, 2007;
Guérios, 1973; Andrade, 2010. A pesquisa é documental, seu desenvolvimento tem caráter
qualitativo e aborda os denominativos oficiais; eventualmente, consideram-se também nomes
populares de atribuição espontânea. A RCI é formada atualmente por 55 municípios, dentre eles
Caxias do Sul detentor de um parque industrial de expressão no estado e no país. É uma cidade
fundada por imigrantes italianos em 1875 e, de acordo com o último recenseamento do IBGE, de
2010, possui uma população de 435.564 habitantes. Procurou-se respostas a questões relacionadas à
importância do estudo dos logradouros do maior centro urbano da RCI e investigou-se a motivação
presente no ato denominativo. O tema foi considerado relevante, em particular, no que diz respeito à
produção de conhecimento novo e à sua socialização na comunidade como um todo. Além disso, os
resultados mostram sua importância na formação dos cidadãos, especificamente, no âmbito da
educação formal, como acréscimo em áreas interdisciplinares.
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NARRATIVAS SOBRE AMARO LEITE: RESGATE DE UMA HISTÓRIA
Maria Geralda de A. Moreira – UEG
Maria Suelí de Aguiar – UFG
O presente estudo objetiva analisar nomes de lugares, especificamente de Amaro Leite, resgatando
a história social contida no nome para compreender a história do lugar e de seu povo. Nesse sentido,
torna-se nosso objetivo também conhecer o processo de criação e “desaparecimento” de Amaro
Leite, cidade fundada por bandeirantes em 1742. De acordo com documentos oficiais e com as
narrativas dos moradores do local, o nome Amaro Leite foi uma homenagem ao seu fundador, o
bandeirante Amaro Leite Moreira, quem empreendeu várias expedições de busca e apreensão de
índios, de exploração e de reconhecimento geográfico pelos sertões de Goiás, fundando numa
dessas viagens tal localidade. Analisaremos, ainda, os processos que envolveram a transferência da
sede do município de Amaro Leite para onde se encontra Mara Rosa. Essa transferência ocorreu em
1963. Esse estudo busca, além disso, compreender os motivos que levaram a essa transferência,
bem como à alteração do topônimo Amaro Leite para Mara Rosa, uma vez que, em 1953, Amaro
Leite foi elevado à condição de município e, em 1958, passou a ter sob sua jurisdição o distrito de
Formoso, o que demonstra a importância e expressividade de Amaro Leite na região. No entanto,
por motivos que pretendemos esclarecer, dez anos depois, ocorre à transferência e a alteração
toponímica. Esse estudo se fez a partir das narrativas orais coletadas junto aos moradores de Amaro
Leite em 1998, 1999 e 2001, de documentos do Arquivo Histórico de Goiás, além de outros acervos
existentes nas cidades de Pilar de Goiás, Uruaçu e Anápolis. Apresentaremos, também, um
levantamento dos topônimos das cidades de Goiás e Tocantins que tenham origem na ação dos
bandeirantes, no mesmo período de surgimento de Amaro Leite, ou seja, o século XVIII. Com isso,
possivelmente, evidencia-se que o uso do nome de bandeirantes para denominar as localidades pelas
quais passavam, ou nas quais encontravam ouro, era algo comum e estava ligado à necessidade
simbólica e efetiva de estabelecer domínio sob uma região que só passou a pertencer efetivamente a
Portugal com o Tratado de Madrid, mas que despertava grande interesse da Coroa Portuguesa. A
reconstrução da história do município de Amaro Leite esbarra em diversos problemas, como a falta
de documentação e a dificuldade de localizar personagens relevantes dessa região, as quais, por
meio de suas histórias de vida, poderiam contribuir para a reconstrução da história dessa localidade.
Nosso estudo é parte do projeto “A linguística e a história de colonização de Goiás”, o qual vem se
desenvolvendo desde 1997. Vale ressaltar que esse projeto se iniciou a partir de outro projeto,
Filologia Bandeirante, coordenado pela Universidade de São Paulo.
TOPONÍMIA PERNAMBUCANA: O PERCURSO DO VALE DO RIO IPOJUCA
Ana Gabriela Braga – UFPE
Sivaldo Correia da Silva – UFPE
As pesquisas toponímicas têm sido de grande relevo na preservação de aspectos da cultura local.
Isto é possível graças ao caráter singular do topônimo por permitir a superposição de camadas da
história ao longo de um continuum denominativo. Os topônimos irão refletir não apenas a imediata
referência do objeto a ser denominado com o seu ambiente, mas a visão de mundo do que é
relevante para o sujeito denominador. Diacronicamente, o topônimo irá passar por processos de
mudança. Segundo Dick (1999), o vocábulo teria sua estrutura alterada por fatores como a distância
do local, tempo de nascimento e a fixação em pontos distintos do foco de origem, ocasionando a
perda do sentido primeiro ou a incorporação de outros traços semióticos. Essas mudanças, embora
por motivações variadas, inclusive decorrem de processos fonológicos que podem tanto ser
recuperados através do conhecimento da forma primeira na língua de origem quanto contribuir para
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a recuperação dessa forma primeira por meio de analogia com estruturas pertencentes à mesma
língua ou família linguística.
Assim, buscaremos neste trabalho traçar, do século XVIII aos dias atuais, os processos motivadores
de topônimos de provável origem indígena ou africana que cortam o Vale do Rio Ipojuca até o
município de Bezerros, investigando também processos fonológicos sofridos por alguns topônimos
no continuum histórico.
A tese de Capistrano de Abreu é de que Duarte Coelho teria como um dos objetivos de seu governo
a exploração do Rio São Francisco, e para isso escolheu a via marítima, sendo o Caminho do
Ipojuca um dos três roteiros de penetração no território pernambucano na segunda metade do século
XVIII. Pretendemos compreender quais fatores linguísticos e culturais estariam em jogo neste
processo de desbravamento e concomitante denominação, buscando traçar os perfis étnicos e
linguísticos dos grupos que habitavam a região e dos exploradores. Pretendemos também analisar
em que medida houve predomínio da toponímia portuguesa em relação à indígena e africana, em
meio à variedade linguística da época.
Classificaremos os topônimos de acordo o modelo proposto por Dick (1990), utilizando como
fontes documentos históricos de roteiros e mapas do século XVIII e cartas atuais do IBGE.
DA ETIMOLOGIA COMPARATIVA DO TOPÔNIMO CEARÁ E RORAIMA
Fabricio Paiva Mota – IFRR/PPGL-UFRR
Eliabe Procópio – UECE/PPGL-UFC
Maria Odileiz Sousa Cruz – PPGL-UFRR
Informações sobre a origem das palavras sempre despertaram interesse não apenas no âmbito
acadêmico, mas também popular. Contudo, nem sempre o que se apresenta como estudo
etimológico foi realizado com base em critérios científicos, principalmente quando se tratam de
palavras oriundas de línguas indígenas, faladas e difundidas durante séculos, já que nem todas
foram documentadas, muito menos estudadas. De modo particular, notamos que a etimologia
relacionada aos topônimos da região Norte e Nordeste é muitas vezes opaca, pois, os registros
foram feitos por viajantes que não dominavam as línguas locais, tendo por consequência a
nomeação de um topônimo arbitrário e unilateral. Para este trabalho, selecionamos dois topônimos,
representantes dessas regiões com a finalidade de apresentar uma definição etimológica para os
topônimos Ceará e Roraima, revisar a literatura referente à etimologia indígena brasileira e
formação lexical da língua portuguesa, mapear, cotejar e analisar definições ou menções do termo
Ceará e Roraima nos corpora analisados, inventariar fontes confiáveis para pesquisa em toponímia
indígena-portuguesa e, finalmente, demonstrar que é possível uma metodologia de pesquisa em
etimologia indígena por meio do método histórico-comparatista. Metodologicamente, esta pesquisa
tem dois vieses, um teórico e outro prático. No primeiro, revisamos as referências bibliográficas
referentes à nossa temática (BRAGANÇA JÚNIOR, 1992; DICK, 1987; NOLL, DIETRICH, 2010;
RAMOS, 1999; VIARO, 2011). Após cada leitura, procedemos com o resenhamento teórico a fim
de selecionarmos embasamento teórico para pesquisa deste perfil. No segundo viés, está o lado
prático de uma pesquisa documental recortada para este trabalho, a saber: fontes bibliográficas que
apresentaram definições a respeito dos termos Ceará e Roraima (livros de história, textos literários,
dicionários/vocabulários etimológicos de língua indígena e portuguesa) e documentais (documentos
históricos oficiais). Após esta etapa, iniciamos a análise a fim de verificar quais critérios utilizados
nas explicações sobre o verbete Ceará e Roraima. Esta pesquisa encontra-se em processo, assim os
dados não possibilitam uma análise aprofundada. Porém, notamos que as fontes bibliográficas
analisadas não possuem nenhuma fundamentação teórica, muito menos uma análise do que é
apresentado como ‘explicação etimológica’. Em alguns textos, encontramos três conceitos
totalmente diferentes para a mesma palavra. Embora estas fontes apresentem etimologias para os
verbetes, não apontam nenhum étimo. E há uma constante repetição de definições. Quanto às
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poucas fontes documentais encontradas, destacamos a dificuldade de encontrarmos textos mais
próximos da época, já que isso facilitaria uma cronologia léxica. Como resultados preliminares,
esperamos incentivar a pesquisa em Linguística Histórica, aplicando pressupostos comparatistas e
etimológicos no sentido de explicar movimentos de formação lexical da língua portuguesa,
advindos das línguas indígenas brasileiras. Além de contribuir com uma metodologia estritamente
linguística para a pesquisa em Etimologia. Academicamente, temos inserido alunos de graduação
em projetos de pesquisa em linguística diacrônica. Socialmente, há a possibilidade de
apresentarmos um conhecimento de interesse geral, afinal, neste trabalho, envolvem-se
conhecimentos linguísticos, históricos, culturais, geográficos, os quais até o presente momento não
ofereceram uma explicação satisfatória para boa parte das palavras de origem indígena incorporadas
ao português.
METONÍMIA E ICONICIDADE NOS NOMES DE ESPÉCIES ANIMAIS NA LIBRAS
Mariângela Estelita Barros – UFG
A onomasiologia é o estudo semântico das denominações (Dubois, 2001). Segundo Naves (2003), a
classe dos nomes comporta a) nomes de espécies, b) termos de massa, c) nomes próprios, d)
expressões indexicais, e) expressões dêiticas e f) descrições definidas. Esse trabalho é uma proposta
de estudo onomasiológico, à luz da linguística cognitiva, sobre os nomes de espécies animais na
Libras (Língua Brasileira de Sinais). Ao considerarmos uma espécie, não nos referimos a um ser em
particular, mas a um grupo de seres que, por suas semelhanças podem ser reunidos sob um mesmo
nome, como “cachorro” ou “boi”, por exemplo. A linguística cognitiva trata a metáfora e a
metonímia não apenas como figuras de linguagem com efeitos poéticos/estéticos. Muito além disso,
essa teoria reconhece-as como “os dois meios mais frequentes de extensão semântica dos itens
lexicais” (SILVA, 1998) e detecta sua presença abundante na linguagem corrente, mesmo em
situações em que o usuário de uma língua não reconhece que está se valendo de uma metáfora, ou
metonímia para se expressar. A metonímia (relevante para esse estudo) realiza-se dentro de um
único domínio cognitivo, destacando alguma propriedade saliente deste domínio para representá-lo,
ou seja, usa um elemento para representar outro. Isso se dá na forma de “parte pelo todo”, objeto
pelo usuário”, “personificação”, “parte da ação pela ação”, “instituição pelos responsáveis” e outros
(ALBRES E XAVIER, 2012). Nos sinais da Libras que designam animais, as propriedades que em
geral são metonimicamente reconhecidas como salientes são os formatos das orelhas e “bocas” de
cada espécie. Esses elementos metonímicos são realizados linguisticamente na Libras por meio da
iconicidade. Na Libras, bem como nas demais línguas sinalizadas, a iconicidade é um recurso
linguístico bastante produtivo, o qual consiste em representar linguisticamente, ou seja, em
conformidade com as regras linguísticas de cada língua de sinais, características visuais salientes
dos seres em questão. Assim, segundo Quadros e Karnopp (2004), “há uma motivação do signo em
relação ao referente”. No caso das línguas sinalizadas, a motivação é visual e sua representação
também é de natureza visual, o que faz com que tais motivações acabem por ficar tão evidentes, tão
explícitas, a ponto de ter rendido a essas línguas, por muito tempo, o equivocado status de mímica.
Línguas orais também representam características visuais de referentes, porém, fazem-no
fonologicamente, o que faz com que sua iconicidade seja mais opaca dos que nas línguas
sinalizadas. Segundo a linguística cognitiva, como exposta por Lakoff e Johnson (1980), a
realização de uma língua se dá principalmente por metáforas e metonímias elaboradas a partir das
experiências físicas, corpóreas dos usuários e sua compreensão plena apenas é possível dentro de
um modelo cognitivo cultural compartilhado. Assim, a transparência da iconicidade insere-se no
sistema linguístico em que está sendo utilizada e só é percebida por usuários que compartilham
conhecimentos e experiências semelhantes. Por exemplo, uma das variações do sinal para “urso”
em Libras, representa metonímica e iconicamente uma orelha redonda. Em comunidades que
convivem com a ferocidade e corpulência desse animal, é bastante provável que suas orelhinhas não
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fossem o elemento mais saliente, escolhido para representá-lo, e talvez fosse considerado mesmo
irrelevante. A arbitrariedade dos signos linguísticos é negada pela linguística cognitiva e a origem
de todos eles está nas experiências corpóreas dos indivíduos com o mundo, nos esquemas
imagéticos e demais modelos cognitivos criados a partir dessas experiências. Nesse trabalho,
faremos um reconhecimento da abundância do uso dos recursos de iconicidade e da metonímia, um
dos modelos cognitivos, na formação dos nomes de espécies animais na Libras.
O JULGO DE PILAR:CONSIDERAÇÕES À LUZ DE UMA MEMÓRIA TOPONÍMICA
Lisa Valéria Vieira Tôrres – UFG
Maria Suelí de Aguiar – UFG
Este artigo apresenta aspectos peculiares da história de Pilar de Goiás, identificados nos
depoimentos coletados durante um trabalho de campo iniciado nessa cidade há três anos. A partir
desta perspectiva o trabalho explora ,por meio da utilização de narrativas orais, a contribuição de
estudos toponímicos que colaboraram para o resgate histórico, identificação e valoração da
memória individual e coletiva. Nesta direção, as investigações foram encaminhadas por gravações
de fala , seguidas de transcrição fonográfica.Os dados continham desde crendices até informações
históricas. Por outro lado,os registros orais apontavam uma relação entre história e memória que
impulsionou a revisão da participação da História Oral como recurso metodológico.
(DEMARTINI,1992;FERRAROTTI,1993;BORELLI,1992). Esta discussão atravessa várias
gerações de historiadores e, atualmente, a maioria dos autores concorda que a memória não pode ser
vista simplesmente como um processo parcial e limitado de lembrar de fatos passados, de
importância secundária para as ciências humanas. Trata-se da construção de referenciais sobre o
passado e o presente de diferentes grupos sociais, ancorados nas tradições e intimamente associados
a mudanças culturais.A partir desta leitura, utiliza-se recortes da Toponímia com o objetivo
principal de entender um pouco da história de Pilar e de lugares pitorescos da cidade, de forma a
atribuir significado aos depoimentos de quatro pilarenses, participantes desta pesquisa. As
perguntas que vieram à tona foram: Poderá o nome de um lugar ser interpretação do imaginário,
construído pela oralidade? Quais os critérios de verdade da comunidade daquela região? Em que se
pautavam? Apesar de os depoimentos, por sua natureza híbrida, serem ordenados por critérios de
verdade, distintos daqueles da racionalidade “hegemônica”(moderna), os que eram contados pelos
moradores de Pilar de Goiás evocavam critérios também utilizados por essa racionalidade.A partir
desta leitura, o posicionamento da Toponímia de procurar pensar na questão do nome, em sua
aplicação ao lugar, poderá contribuir para responder algumas daquelas questões. Estudar a
nomeação das coisas existentes é viajar no tempo e no espaço, porque percebemos que, pelo
processo de nomeação, inserem-se a sabedoria e o conhecimento das gerações que ficaram
cristalizados e eternizados, preservando do esquecimento o instante mágico em que as coisas
passaram a ser conhecidas por tal nome.A Toponímia, como disciplina de investigação, parte do
pressuposto de que nomes de lugares não se estabelecem aleatoriamente ou de maneira
despropositada. Quando são estudados, revelam informações importantes; tanto à lingua em uso no
local pesquisado quanto costumes e valores dos falantes. Nas falas dos pilarenses entrevistados, há
marcas que demonstram acontecimentos históricos, além de influências sofridas por meio do
contato com outros grupos étnicos que lá se instalaram.Como examina Dick (1998), os nomes são
recortes de uma realidade vivenciada. Segundo ela, de uma forma consciente ou não, um indivíduo
ou o próprio grupo assimila-os “numa absorção coletiva dos valores especiais que representam a
mentalidade do tempo histórico ou ethos grupal ( op.cit.1998).Assim, seguindo a proposta de Dick
(1990), o presente estudo traz uma breve análise; como esboço, na tentativa de demonstrar a estreita
relação que se estabelece entre o homem e os topos que designam o espaço que o circunscreve.
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SIGNO E SIGNIFICADO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS:
NÚMEROS SEMÂNTICOS, DESMISTIFICANDO O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM
Anderson Simão Duarte – UFMT
Claudio Alves Benassi – UFMT
A presente pesquisa aborda o ensino da Língua Portuguesa para jovens surdos como segunda língua
sob uma perspectiva interacional, tendo como forma de comunicação dialógica à Língua Brasileira
de Sinais – Libras, sendo esta a língua materna dos surdos por termos a certeza da sua
complexidade abstrata e concreta em que língua sustenta. A grande problemática social na esfera
educacional é a baixa ou inexistência do contato íntimo, logo interacional do surdo com a Língua
Portuguesa - LP, tem-se a crença de que surdo não aprende a Língua Portuguesa, motivo pelo qual o
sujeito em questão não escuta e/ou ainda que o surdo tenha o seu jeito “próprio” de escrever a
Língua Portuguesa. A pesquisa deu-se em uma sala de aula do Instituto de Linguagens da
Universidade Federal de Mato Grosso, no segundo semestre letivo de 2012, período noturno com a
presença de 10 jovens surdos entre 16 a 22 anos, além de uma aluna com 43 anos. Todos oriundos
de escolas públicas de 6º ano do Ensino Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio. Todas as aulas
foram filmadas e ministradas exclusivamente na língua materna dos surdos através de professores
mestrandos e doutorandos em Língua Portuguesa e Língua de Sinais. Público alvo foi trabalhar
somente com jovens e adultos surdos tendo como objetivos o ensino da Língua Portuguesa
excepcionalmente na modalidade escrita e interpretações de textos em LP. Toda a pesquisa filia-se à
luz dos conceitos enunciativo-discursivos do Círculo de Mikhail Bakhtin, sócio-históricos de Levy
Vygotsky dialogando com a teoria da subjetividade de González-Rey dentre outros pesquisadores.
A investigação inicia-se desde a escolha aleatória dos sujeitos nas escolas públicas de ensino
regulares aos exercícios introdutórios com o propósito de diagnosticar na modalidade escrita da
Língua Portuguesa através de textos e desenhos interpretativos. O processo de ensino deu-se
inicialmente com os pronomes retos e verbos regulares nas três conjugações – AR, ER e IR, e nos
três tempos simples – passado, presente e futuro, adjetivos, artigos e preposições, além de aplicação
diária de vocábulos em contextos reais. Cada conteúdo repetia-se inúmeras vezes por inúmeros
métodos didáticos adaptados e reconstruídos em conformidade as necessidades diárias, como
exemplos: lousa imantada com letras móveis, recortes de jornais e revistas, tabela individual de
verbos, objetos concretos para fins de descrições, releituras de gravuras, brincadeiras, atendimentos
individualizados na lousa no decorrer das atividades e dinâmicas entre os próprios alunos e uso dos
números semânticos para a compreensão das estruturas sintáticas da Língua Portuguesa tendo como
referencial linguística a Língua Brasileira de Sinais. Os resultados já coletados são diversos e
merecedores de vários apontamentos, questionamentos, esclarecimentos e acima de tudo a ruptura
de pré-conceitos a respeito do processo de ensino aprendizagem da LP frente à comunidade surda.
Temos resultados de jovens surdos escrevendo frases inteiras dentro das normas estruturais
sintáticas da LP tais como: sujeito, verbo e objeto. Além de compreensão lógica dos textos em
detrimento a afetividade com a língua escrita.
MULTUS E SEUS COGNATOS NAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Gisélia Brito dos Santos – UFG
Maria Suelí de Aguiar – UFG
Este trabalho apresenta uma abordagem histórica da palavra multus, desde a sua origem na língua
latina e sua transformação na passagem para as línguas românicas, português, espanhol, italiano,
catalão, galego e romeno até os usos na atualidade, especificamente, na língua portuguesa. A
investigação baseia-se nos estudos históricos comparativos, nos estudos da história do latim e da
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formação das línguas românicas, apresentados por Bassetto (2001), Ilari (1999), Elia (1970), e na
concepção do método histórico comparativo da Linguística Histórica, apresentada por Crowley
(2003). Realizamos uma retomada da história do latim e da história da constituição das línguas
românicas e uma breve exposição sobre a Linguística Histórica e sobre o método histórico
comparativo. Analisamos os cognatos de multus e algumas particularidades de muito, na oralidade,
na língua portuguesa. O estudo histórico desse vocábulo compreende a análise comparativa de suas
transformações morfológicas e fonético-fonológicas que deram origem aos cognatos muito ~
mucho/muy ~ molto ~ molt ~ moito/moi ~ mult das seis línguas românicas citadas. O estudo
sincrônico compreende a análise morfossintática desses cognatos que são categorizados como
advérbios de quantidade, pronomes indefinidos ou determinantes indefinidos, adjetivos e
substantivos, conforme o contexto oracional em que se encontram. Multus, -a, -um é um adjetivo de
primeira classe na língua latina e forma o advérbio derivado de adjetivo multum; é declinado na
primeira e na segunda declinação e apresenta formas para os três gêneros latinos, masculino,
feminino e neutro. Os cognatos dessa palavra mantiveram forma, significado e função parecida na
maioria das línguas românicas e continuam sendo empregados como adjetivo, advérbio, além de
pronome e de substantivo. A partir dessas observações, apresentamos as transformações
morfológicas e fonológicas ocorridas na formação dos cognatos nas línguas referidas e o estágio
morfológico e sintático destes em algumas línguas românicas. Realizamos este estudo com o intuito
de registrar o que foi conservado e o que mudou nessas palavras, comparando-as com seu étimo
latino, e ainda que semelhanças elas apresentam na forma e no uso entre uma língua e outra.
Apresentamos também, na abordagem sincrônica, uma análise do cognato muito no português do
Brasil, em especial, da comunidade de fala de Fortaleza dos Nogueiras-MA, em que se observam,
na oralidade, algumas variantes desse vocábulo na função de advérbio e de pronome indefinido.
LÍNGUA PORTUGUESA: FUNÇÃO DO ADVÉBIO, NOS SÉCULOS XIX E XX, EM UMA
ABORDAGEM HISTORIOGRÁFICA
Sônia Maria Nogueira – UEMA/CESI-NELLCINE/IP-PUC/SP
Wemylla dos Santos de Jesus – UEMA/CESI-NELLCINE
Essa pesquisa reflete sobre o processo de ensino da Língua Portuguesa, no Brasil, com a descrição e
compreensão dos fenômenos linguísticos, da segunda metade dos séculos XIX e XX. Nessa
perspectiva, embasamos nosso estudo em Historiografia Linguística em Swiggers (2009) e Köener
(1996), especificamente, adotando seus três princípios: o princípio da contextualização trata do
espírito de opinião, uma vez que aborda os aspectos intelectuais, socioeconômicos, políticos e
culturais. Além disso, o princípio de imanência esforça-se em estabelecer um entendimento total
tanto histórico quanto crítico, se necessário filológico, do texto em apreciação e, por fim, o
princípio de adequação faz aproximações modernas do vocabulário técnico do trabalho em estudo.
Recordamos, desse modo, as condições socioeconômicas particulares, os acontecimentos históricos,
as situações políticas e educacionais que têm considerável influência na motivação para se
apresentar a história de uma disciplina. Buscamos, com isso, o aprofundamento de conhecimentos
nos vários campos, o que demanda uma amplitude de estudos que visam a cumprir a tarefa de
descrever, interpretar e explicar o ocorrido sobre a língua. Desse modo, a Historiografia Linguística
torna-se fundamental ao esclarecimento da Língua Portuguesa, uma vez que serviu como base às
informações gramaticais que temos hoje. Leva-se em consideração todo esse percurso histórico, por
isso, não pode ser desprezada pelos pesquisadores da própria língua. Convém ressaltar que, para a
análise, abordamos três aspectos, a saber: a Organização das obras, os Prefácios e a Função do
Advérbio. Buscamos verificar, em especial, o ensino de sintaxe, suas abordagens e concepções
sobre esse assunto, a metodologia aplicada, bem como o interesse dos autores ao produzirem as
obras selecionadas nessa pesquisa. Para tanto, enfocando a organização das partes das obras de
estudos gramaticais, no que tange ao tema linguístico: função do advérbio, procedemos à seleção,
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ordenação, reconstrução e à interpretação do corpus: a obra Syntaxe e construcção da Lingua
Portugueza, de Thomas da Silva Brandão (1888), e a obra Novas Lições de Análise Sintática, de
Adriano da Gama Kury (1984). Constamos que, entre 1888 e 1984, o tratamento dado à função do
advérbio apresentou algumas alterações discutidas nesse trabalho.
ANTROPÔNIMOS DOS GRUPOS INDÍGENAS PÁNO
Maria Suelí de Aguiar – UFG
O presente trabalho analisa os antropônimos pelos quais os grupos Páno são reconhecidos na
literatura, dando atenção, mais especificamente, àqueles antropônimos terminados em -bo, náwa e
huaca. Uma primeira versão deste trabalho foi publicada em inglês com o título Names of the
endins -bo, nawa and huaca, na revista UniverSOS (AGUIAR, 2008, p. 9-70). Oportunamente
revimos nosso texto, aproveitando para aprofundar alguns pontos que nos pareceram pouco claros,
como a expressão nawa, que tanto acontece como [náwa] quanto [nawá], o que implica uma
situação de grande relevância no seu uso. Isso é, demonstra que há uma implicação fonológica na
expressão seguindo o que reza a estrutura acentual das línguas Páno num caso e em outro não. A
análise dos antropônimos dos grupos indígenas Páno visa a apreender os possíveis significados
desses nomes e levantar hipóteses acerca da motivação de cada antropônimo. Ao considerar o
significado e a contextualização que motivaram tais antropônimos, podemos obter elementos para
compreender a pouca aceitação desses nomes por parte de vários grupos Páno. Seguramente, outros
antropônimos de grupos indígenas também não levam tais grupos a se sentirem referenciados
autonomamente e terminam por se sentirem desrespeitados em suas vontades e tradições. A análise
é precedida por uma discussão a respeito do ato de nomear e por uma explicação sobre as
motivações que determinaram, de modo geral, os antropônimos dos grupos Páno. Nesse sentido,
observamos o que há de comum entre os nomes dos grupos Páno, bem como as condições prováveis
em que tais grupos foram nomeados. Enfocamos em nossa análise, como ponto central, as
expressões bo, nawa e huaca, suas variedades, origens e aplicações aos antropônimos de grupos da
família linguística Páno. Essa análise nos leva a considerar também os antropônimos de grupos
Páno que não receberam essas expressões. Antropônimos esses que são classificados em duas
modalidades: os de origem Páno e os de origem não-Páno, estando essa última modalidade
subdivida em antropônimos de origem românica e Tupi. Através do presente trabalho, espera-se ter
contribuído para o esclarecimento sobre os antropônimos dos grupos Páno. Consequentemente,
espera-se, além disso, ter formado uma base mais segura para retomar a questão dos antropônimos
pelos quais os grupos indígenas Páno são identificados, um ponto que tem sido polêmico. Julgamos,
todavia, que essa discussão é quase tão necessária e oportuna como a análise da construção desses
antropônimos. Nossa discussão não visa a promover mudanças nos antropônimos dos grupos
indígenas Páno e nem de outros grupos. O que propomos aqui consiste em apresentar questões de
cunho histórico e linguístico que oportunizem aos estudiosos e aos grupos emitirem opiniões sobre
os antropônimos.
ASPECTOS MORFOLÓGICOS DOS NOMES DE LUGARES MARANHENSES:
INDÍCIOS DA FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA
Maria Célia Dias de Castro – UEMA
Fatores de natureza cultural e linguística desempenham um papel relevante na constituição de que
se revestem variadas construções denominativas e ou designativas de lugares maranhenses
(CASTRO, 2012). Estes fatores evidenciam a existência de motivação entre a forma do topônimo, o
que equivale a seus componentes constitutivos, de modo que o processo designador ou
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denominador está relacionado às estruturas linguísticas e aos sentidos que eles portam, ao
desempenharem seu papel na interação discursiva. Os elementos que compõem a estrutura desses
nomes podem dizer acerca do processo de criação do nome de lugar e da filiação do lugar que
sugere o nome. Esta filiação é trazida para a forma pelos sufixos que representam o termo genérico
“cidade de”. Os sufixos mais conhecidos formadores dessas relações são -lândia (de origem
germânica): Açailândia , Cidelândia, Joselândia, Palmeirândia, Tufilândia, que expressam ‘a
cidade dos açaís’, ‘a cidade de José’, ‘a cidade das palmeiras’, ‘a cidade de Tufi’; -polis (de origem
grega), Davinópolis e Esperantinópolis, que espressam a ‘cidade de Davi’ e a ‘cidade da
esperança’. Há ainda os sufixos latinos que trazem a ideia de pertencimento ao lugar e/ou posse do
lugar, agregada à ideia de abundância, de aglomeração, de coleção: -ado, Lajeado, o lugar que
possui muitas pedras em formato de lajes; -al, em Bacabal, o lugar que possui muitas bacabas;
Cedral, o lugar que possui muitos cedros; Mirinzal, uma ideia de pluralidade de mirim;
Central,além da ideia de pertencimento, agrega valor locativo, o que está ao centro; -ario, -aria, eria, do latim -ariusari(i)>ar, Rosário, em que a acepção de rosas está opaca, no nome próprio;e eira, em Bacabeira, Pedreiras, lugar em que se encontra a bacaba, a pedra. Há os sufixos de origem
Tupi que expressam relações não exatamente de pertencimento, mas de abundância como -tyba> tuba ou -tiba, em Bacurituba (abundância de bacuri); -rana, relações de semelhança, parecido a,
Buritirana. Citamos, ainda, formações compostas como Buriticupu buriti + cupu; Pirapemas pira
+pemba. O sufixo -caba, formador de substantivo, aparece em Bacabal e Bacabeira (ybá-caba, a
fruta oleosa ou gorda), que posteriormente receberam o sufixo português -al e eira,respectivamente, formador de coletivo. Um morfema de origem indígena que está muito
presente nos topônimos é -y ou -u, indicador da existência de água Arara-y > Arari, Ytinga > Itinga,
o qual se manteve como /i/, nos topônimos maranhenses. A análise morfológica, centrada numa
perspectiva linguístico-histórica, com foco para o campo da Onomástica revela relações que
indiciam a origem destes topônimos e o processo histórico-colonial constituidorde cidades do
Estado do Maranhão.
PANORAMA DA DISTRIBUIÇÃO DO DITONGO DECRESCENTE [EY] SEGUIDO DE
SIBILANTES PALATAIS NO PORTUGUÊS BARSILEIRO
Evilázia Ferreira Martins – UFMG
Os glides de ditongos decrescentes variáveis no Português Brasileiro (doravante PB) são segmentos
que podem ser apagados ou inseridos sem alterar a informação lexical transmitida pela palavra.
Respectivamente, esses processos são rotulados ditongação e monotongação. No primeiro caso, há
formação de uma sequência composta de dois segmentos foneticamente vocálicos por meio da
inserção de um glide à direita do segmento vocálico (‘três’ [tRes] ~ [tReI9s]). No segundo caso, o
glide, segmento menos sonoro, é apagado (‘ouro’ [oU9RU] ~ [oRU]). Devido à natureza variável
destes ditongos, esses processos não estão dispostos de maneira homogênea nos dialetos brasileiros,
podendo, assim, apresentar influências diatópicas e diastráticas (ARAÚJO, 1999). Dentre os
ditongos variáveis existentes no PB, destaca-se o objeto deste estudo: a sequência [eI9] antes de
sibilantes palatais [S, Z]. Neste contexto, esse ditongo pode sofrer o apagamento de seu glide, como,
por exemplo, na palavra ‘peixe’ [peI9SI] ~ [peSI]. Visto isso, o presente trabalho resume-se na
apresentação de um panorama (isto é, uma análise comparativa) e a distribuição geográfica, da
ocorrência desse fenômeno. A necessidade desse panorama fica explícita nas leituras realizadas
sobre o tema. Elas demonstraram que as análises dialetais sobre o fenômeno discordam bastante
entre si, pelo menos, com relação aos contextos linguísticos e extralinguísticos que favorecem sua
aplicação (ver também Araújo (1999)). Além disso, observou-se que essa diversidade ocasiona
problemas para as análises de interface fonético-fonológicas existentes (por exemplo, Bisol (1989,
1994); Martins (2011)) e demonstram a necessidade de se repensar os dados sob esse ponto de vista.
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480
Este estudo é composto por dados que representam as 5 regiões do país e apresentará as tendências
lexicais do fenômeno em cada região, agrupando, deste modo, e, pelo menos parcialmente, os
resultados dos estudos sobre o tema. Seu corpus é composto, principalmente, por pesquisas
fundamentadas pela escola variacionista. Na ausência desses estudos, serão apresentados, dados de
estudos fonológicos para sua complementação. Durante a pesquisa bibliográfica e coleta dos dados,
preteriu-se por teses, na ausência dessas, por dissertações e, por fim, artigos. Enseja-se responder as
seguintes questões: a) Os processos têm ocorrência quantitativa semelhante, nos dialetos, ou eles
são mais presentes em determinadas regiões em detrimento de outras, podendo ser, assim,
considerados marcas particulares dessas regiões? b) Quais são as variáveis que influenciam nesses
processos e como estão distribuídas? c) O que as análises de interface fonético-fonológicas devem
considerar sobre o fenômeno? Este trabalho baseia-se, inicialmente, nas leituras dos trabalhos de:
Farias (2008), Lopes (2002) e Santos e Chaves (2010), representando a região norte; Araújo (1999),
Carvalho (2007) e Machado (2011), representado a região nordeste; Leite, Callou e Moraes (2001) e
Silva (1997), representando a região sudeste; Cristofolini (2011), Haupt (2007, 2011, 2012), Ribeiro
(1990), Toledo (2010, 2011) e Toledo e Monaretto (2010), representando a fala da região sul.
OS NOMES DOS GRUPOS INDÍGENAS E A COLONIALIDADE DO PODER/SABER
Sâmela Ramos da Silva – UFG
Neste trabalho levantaremos uma discussão preliminar sobre os nomes dos grupos indígenas no
Brasil, refletindo sobre a denominação dada aos diferentes grupos porestudiosos e pela sociedade
não-indígena, que acabaram sendo difundidos como osverdadeiros nomes desses grupo. Nossos
pressupostos teóricos estão baseados nasrelações da colonialidade do poder/saber que subalternizou
os grupos indígenas, suasculturas e línguas, assim como a forma como eles foram nomeados, por
issoconsideramos a colonialidade, porque é um processo que se estende e se solidifica até hoje. Essa
situação configura-se como violência epistêmica, ao passo que não sereconhece a autonomia e o
direito de reconhecer seu nome original e subjugá-lo atravésde outro nome, que de alguma forma
discrimina essas pessoas. Dentro dessa perspectivada colonialidade do poder/saber utilizamos os
trabalhos de Aníbal Quijano (2005),Castro-Gomez (2005) e Walter Mignolo (2003). Refletimos
sobre a denominação dadaaos diferentes grupos por estudiosos e pela sociedade não-indígena, que
acabaram sendodifundidos como os verdadeiros nomes desses grupos. Por conta dessa nomeação
exógena, muitos desses nomes não são reconhecidos pelos próprios grupos, e possuem sentido
pejorativo e discriminador. Assim, consideramos importante esse processo derevitalização das
autodenominações, pois possibilita a esses grupos rever os nomespelos quais eles são reconhecidos,
reivindicando a utilização daqueles com as quais elesrealmente se reconhecem. Essa revisitação das
autodenominações pode servir para queos grupos possam refletir também sobre outras questões que
os fizeram serem tratadoscomo inferiores, situação forjada pelo colonizador através da
colonialidade dopoder/saber. No entanto, em outras situações, o grupo já se sente tão próximo da
nomeação exógena que esta passa a ser a sua própria, como se não tivesse existido outra. Nesses
casos, os nomes “antigos” nem chegam a serem lembrados pelas geraçõesatuais, às vezes só na
memória dos anciãos.
CULTURA, MEMÓRIA E TOPONÍMIA: OS NOMES DAS COMUNIDADES
REMANESCENTES DE QUILOMBOLAS DO ESTADO DO TOCANTINS
Karylleila dos Santos Andrade – UFT/PPGL
Todo grupo tem um saber cumulativo de si proveniente da memória, e a culturaé determinada pelo
uso que esse grupo faz de sua própria memória. Conforme Halbwachs (1990), a memória individual
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existe sempre a partir de uma memória coletiva. Nesse sentido, todas as lembranças, como elemento
de uma sociedade, sãoformadas no interior de um grupo. Quando nomeamos pessoas, coisas,
lugares, todos em si carregam as nossas experiências, emoções, guardam e refletem lembranças de
um tempo, uma vida, uma cosmovisão de um grupo ou de um indivíduo. Em particular, o nome e o
significado de lugares são essenciais para a cristalização da identidade de um grupo, pois “reforçam
fortemente as sugestões de identidade ou de estrutura que podem estar latentes na própria forma
física” (LYNCH, 1997, p. 120). Nesse sentido, os topônimos podem traduzir o simbolismo, a
história, a memória, a identidade e as peculiaridades naturais de uma dada comunidade, região, país,
continente. O estudo da toponímia pode traduzir omodus vivendi de um grupo ou responder a
outros interesses. Na geografia, a toponímia pode dar informações relevantes sobre vários aspectos:
relevo, flora, fauna etc. Pode ainda auxiliar na delimitação da separação entre duas zonas
geográficas (por exemplo, entre a zona dos cocais e a caatinga do sertão brasileiro). É considerada
uma fonte de informação para os historiadores (colonização, imigração, história e memória oral,
etc.), antropólogos (identidade, relação homem, cultura e meio social), biólogos (nomes de seres
que compõem determinado bioma), botânicos (nomes de plantas) e outros pesquisadores. A
linguística, particularmente, permite estudar a evolução fonética, a etimologia, os aspectos
morfossintáticos e semântico-lexicais.Na concepção de Sapir, explicar todo o traço da cultura
humana, apenas pela ação do ambiente, parece ser ilusão. O ambiente é sempre consolidado ou
mudado pelas forças sociais, e compreende fatores físicos e sociais. “O ambiente físico só se reflete
na língua na medida em que atuarem sobre ele as forças sociais.” (SAPIR, 1984, p. 46). Para ele, no
caso dos léxicos especializados, não são de fato os aspectos da fauna, elementos topográficos, em si
mesmo, que a língua reflete, mas antes o interesse da nação nesses traços ambientais. Considerando
a formação dos topônimos e observando que a Toponímia e Antroponímia são co-responsáveis pela
preservação dos fatos culturais em determinado espaço-temporal, funcionando com retentoras da
memória de um grupo, Dick (1999) afirma que essas duas disciplinas podem se inscrever no campo
da terminologia e socioterminologia. Como base metodológica, recomendam-se procedimentos
etnográficos que não diferem daqueles da observação do participante. Esta pesquisa consiste em
realizar um estudo dos nomes das comunidades remanescentes de quilombolas do estadodo
Tocantins com foco nos estudos onomásticos e nas práticas culturais e históricas.Como
procedimentos teórico-metodológicos, utilizaremos Dick (2010), Montenegro (2001) e Halbwachs
(1990).
MEMÓRIAS HISTÓRICO-CULTURAIS DO TOPÔNIMO JARAGUÁ
Ester Ferreira – ISEP
Maria Suelí de Aguiar – UFG
Neste trabalho, apresentam-se questões referentes à nomeação da cidade/município deJaraguáGoiás-Brasil. A região onde se localiza o referido município foi povoada noinício do século XVIII,
tendo em vista a descoberta de jazidas de ouro nas margens doRio Pari próximo à atual Serra de
Jaraguá. Quanto aos primeiros habitantes, há algumascontrovérsias entre os historiadores, alguns
assinalam que a região já era povoada pelosíndios Kayapó, em contrapartida outros não reconhecem
vestígios dessa comunidadeindígena ou de qualquer outra no local. Há também controvérsias
quanto aodescobrimento das minas auríferas na região. Os registros históricos atribuem
odescobrimento a negros fugitivos ou negros faiscadores, contudo, os historiadorescontemporâneos
atribuem esse fato ao mineiro português Manoel Tomar. De qualquerforma, os primeiros residentes
dessa região foram os bandeirantes paulistas, atraídospela notícia da abundância em ouro, e os
negros africanos e seus descendentes, queconstituíram a mão de obra utilizada na exploração do
ouro. Inicialmente, a região foinomeada de Arraial do Córrego do Jaraguá, em 1737; em 1833, por
meio do DecretoProvincial nº 08, de 1º de julho de 1833, eleva-se à categoria de vila, sendo
nomeada deVila de Nossa Senhora da Penha de Jaraguá; e, em 25 de julho de 1882, foi elevada
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àcategoria de cidade, desmembrando-se de Pirenópolis, através da Resolução nº 666,
cujadenominação torna-se somente Jaraguá. Segundo informações registradas em Houaiss(2001, p.
1674), a partir da definição de alguns autores, etimologicamente, o topônimojaraguá originou-se do
tupi yara’wa (Nascentes,1964); de acordo com Sampaio ([sd]),jaraguá veio do tupi yara-guá que
significa o vale do dono, a baixa do senhor; econforme Tibiriçá (1989), jaraguá veio do tupi
jaraguá, que é um tipo de planta quecontém fibras têxteis. Vale destacar ainda que esse nome
designa uma espécie de capimque era muito abundante na região, o chamado capim-jaraguá. O
texto do IBGE (2010)e as historiadoras Canesin e Silva (1983) afirmam que a nomeação do lugar
foimotivada pela presença de indígenas denominados Jaguará. No entanto, a maioria dosregistros
históricos sobre Jaraguá assevera que o nome da região foi dado devido à semelhança do local com
uma região no Estado de São Paulo. Partindo-se dopressuposto de que o topônimo registra, acumula
e revela as aquisições e percepçõesculturais, políticas e ideológicas de um determinado povo,
podendo ser testemunha deuma época, este estudo ocupa-se de analisar o contexto histórico e os
aspectos culturaise ideológicos do topônimo Jaraguá, considerando os elementos indígena,
africano,português e paulista (bandeirantes). Do ponto de vista qualitativo, o estudo apresenta
arelevância do topônimo como testemunha de uma realidade histórica, política, ideológica, cultural,
retratando um contexto histórico-social de uma determinada época.
TOPÔNIMOS DE ORIGEM INDÍGENA: O PAPEL DO TUPI NA NOMEAÇÃO DOS
LUGARES GOIANOS
Kênia Mara de Freitas Siqueira – UEG
Uma característica fundamental do signo toponímico que, inclusive, o diferencia dos demais signos
linguísticos, é seu caráter motivado em relação ao referente nomeado e ainda por apresentar uma
particularidade específica de sua função cuja força não é impositiva, mas identitária já que situa o
objeto nomeado no quadro das significações, retirando-o do anonimato. Direciona-se assim, pela
função onomástica: identificar nomes. Considerando que a nomeação reflete aspectos importantes
dos valores sociais, políticos e culturais da memória coletiva local, o objetivo desta pesquisa é fazer
o levantamento dos macrotopônimos (municípios) do Estado de Goiás de origem indígena e
classificá-los de acordo com o sistema taxionômico dividido em dois grupos: topônimos de natureza
físico-natural e de índole antropocultural, e ainda analisá-los sob a ótica ecolinguística no que
concerne à inter-relação língua meio ambiente, pois é possível constatar que se tem uma nova
comunidade no momento em que o agrupamento recebe um nome, normalmente derivado do nome
do T (Território), configura assim uma importante manifestação das relações entre T e L (Língua),
ou melhor, toponímia. A metodologia consiste no levantamento de dados por meio de pesquisa
documental e se atém ao reconhecimento dos remanescentes lexicais na rede toponímica goiana
cuja origem remonta a nomes indígenas, mais especificamente, línguas do tronco tupi em
contraponto com as línguas (Macro) Jê, dos povos que habitavam a então “Província de Goyaz”,
observando assim, a motivação subjacente à escolha dos nomes para designar os lugares goianos.
Nesse sentido, tem-se o intuito de desenvolver uma teoria nos moldes da Ecolinguística que dê
conta da análise ecossitêmica dos topônimos de origem indígena, o que requer um estudo voltado
para as relações constitutivas do Ecossistema Fundamental da Língua, constituído por um povo que
habita um determinado território e a língua, pois o topônimo representa uma projeção aproximativa
do real, em outras palavras, do ambiente.
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ESTUDO TOPONÍMICO DO VALE DO MUCURI
Sônia de Carvalho Caldas Machado – UFMG
A presente pesquisa tem como objetivo o estudo toponímico do Vale do Mucuri, situado no
Nordeste mineiro, uma das últimas regiões da província de Minas Gerais a ser colonizada devido às
dificuldades apresentadas pela região, como as densas matas virgens tropicais da mata Atlântica, e
da presença de índios na região, os temíveis Botocudos. É um estudo que se integra ao Projeto
ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais – coordenado e desenvolvido na
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, pela Profª. Dra. Maria Cândida
Trindade Costa de Seabra e que se caracteriza como o estudo dos nomes de lugares que abrange o
território mineiro. Nossa proposta é demonstrar que por meio da toponímia é possível, além de
recuperar traços da historia social e cultural (grupos étnicos, processos migratórios etc.) de uma
comunidade, podemos também conhecer as características do ambiente físico. Como referencial
teórico-metodológico, adotamos os modelos toponímicos de Dauzat (1926), e Dick (1990a) e Dick
(1990b). A partir da catalogação, classificação, descrição e análise dos nomes de acidentes
geográficos – físicos e humanos – extraídos em mapas municipais estatísticos do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), buscamos levantar remanescentes lexicais na rede toponímica
cuja origem remonta a nomes portugueses, indígenas, africanos, etc., além de classificar os
topônimos encontrados em nosso Corpus, segundo suas categorias taxionômicas que representam os
padrões motivadores dos topônimos no Brasil. Os resultados obtidos em nosso trabalho mostraram
que os povos que habitaram nessa região, assim como os conquistadores deixaram vestígios na
toponímia local, revelando a designação como uma forma de registrar o processo histórico em que a
civilização portuguesa predomina, contudo, com influências étnicas como as de origem indígena. A
pesquisa também revela que a água, importante fator desencadeador do povoamento da região,
continua até hoje a marcar a história deste vale, haja vista o grande número de hidrotopônimos
presente no território analisado, revelando a influência do ambiente designativo. Paralelamente a
hidronímia, em nível semelhante de ocorrências toponímicas temos os nomes próprios individuais –
os antropotopônimos - representados por nomes e apelidos de família, talvez como um indicativo de
posse, o que pode ser justificado pelo processo derivado das expedições humanas encarregadas de
desbravar, explorar e fixar na região.
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SIMPÓSIO 45
DISCUTINDO O PARADOXO DO GÊNERO
O objetivo deste simpósio é dicutir o Paradoxo do Gênero em fenômenos de variação e mudança
linguística, repensado por Labov em termos do Paradoxo da Conformidade (The
ConformityParadox), que culmina com a proposição do Princípio da não-conformidade
(NonconformityPrinciple) para dar conta da liderança de diversas mudanças abaixo da consciência
(changefrombelow) pelas mulheres, não em função do gênero, mas em função de seu
comportamento não conformista (nonconformitybehavior) (Labov, 1990; 2011: 366-367; 516). As
reflexões se encaminham no sentido de avaliar a propossta de Scherre e Yacovenco (2012) de que
há, sim, um papel específico do sexo/gênero nos fenômenos linguísticos variáveis, e de que este
papel pode ser mais amplamente entendido em função da noção de marcação: marcação linguística,
quanto ao critério de distribuição de frequência; marcação sociocultural, na perspectiva do poder e
do controle, nos termos de Givón (1995); e marcação interacional, no sentido de dependência da
relação entre os pares. Para tanto, pretende-se congregar pesquisas que analisam o efeito da variável
sexo/gênero em pesquisas sobre a língua portuguesa, com ênfase nas pesquisas sobre português
brasileiro, com diversas bases de dados em diversas áreas geográficas.
COORDENAÇÃO
Maria Marta Pereira Scherre
Universidade Federal do Espírito Santo/Unievrsidade de Brasília
[email protected]
Lilian Coutinho Yacovenco
Universidade Federal do Esírito Santo
[email protected]
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A ATUAÇÃO DAS MULHERES NA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA COM PRIMEIRA
PESSOA DO PLURAL EM GOIÁS
Shirley E R Mattos – UEG
Apresentamos resultados estatísticos de pesquisa de base variacionista que se prestam à discussão
do Paradoxo de Gênero no que se refere ao comportamento não conformista das mulheres em
situação de mudança from below (abaixo do nível da consciência) nos termos de Labov (1972,
2001). Em Goiás, o uso de verbo no singular com nós configura uma prática linguística identitária,
ligada à cultura de base rural valorizada no estado, mas desafiante ao padrão linguístico majoritário
em vigor nas áreas urbanas do país.
PADRÃO SOCIOLINGUÍSTICO (?) – GÊNERO, MARCAÇÃO SOCIAL E PRONOMES
DE SEGUNDA PESSOA
Leandro Babilônia – UFSC
Objetiva-se com este trabalho discutir a relação entre gênero e formas de tratamento no português
brasileiro (PB), especificamente os pronomes tu e você. Por se partir, comumente, da premissa de
que as mulheres tendem a usar mais as formas dotadas de prestígio social em detrimento daquelas
que não o possui, muitos estudos (sobre os mais diferentes fenômenos) restringem-se apenas à
estratificação dos dados. No que se refere ao objeto supracitado, pode-se afirmar que o problema é
bastante complexo, pois são notórios diversos usos no PB quando se destaca gênero e formas de
tratamento, entre os quais: i) tu usado por adolescentes homens como marca identitária de grupo
(Lucca, 2005; Mota, 2008); ii) uso amplo de tu por homens e mulheres quando em contexto de
solidariedade, contudo, quando em situação oposta, as mulheres permanecem à frente utilizando
mais esse pronome (Martins, 2010); iii) relação entre gênero, formas de tratamento e localidade, em
que Norte, Nordeste e Sul sobressaem-se pelo uso de tu por mulheres e Sudeste e Centro-Oeste,
pelo uso de você (Scherre & Yacovenco, 2011). Assim, pretende-se contribuir com esta questão
pensando, sobretudo, a partir deste ponto: se as mulheres “orientam sua conversação de uma forma
mais solidária, que busca o envolvimento do interlocutor” (Paiva, 2010, p. 35) e sendo o pronome tu
conhecido como o trato solidário, por que se nota essa diversidade de resultados no PB? Com essa
pergunta, busca-se dialogar com o texto de Scherre & Yacovenco (2011), no qual inventariaram
nove pesquisas realizadas sobre este fenômeno nas cinco regiões do Brasil, ampliando o corpus por
elas utilizado, e colaborando para a construção do panorama que elas iniciaram. Para tanto, foi feito
um levantamento dos estudos sobre a concorrência entre tu e você (sobretudo teses e dissertações)
realizados nos últimos anos e que tenham considerado em suas análises o fator gênero. Os
resultados apontam que, para este fenômeno, não é cabível aceitar a categórica asserção feita por
Labov em seus Padrões sociolinguísticos (2008 [1972]), pois muitos outros fatores devem ser
considerados, resultando, assim, na não existência de um padrão.
O EFEITO DA VARIÁVEL ‘SEXO/GÊNERO’ NA EXPRESSÃO DO FUTURO VERBAL
EM LÍNGUA PORTUGUESA
Josane Moreira de Oliveira – UEFS
A expressão do futuro verbal é um fenômeno variável nas línguas naturais. Em português, trabalhos
variacionistas sobre o tema (SANTOS, 1997; GIBBON, 2000; SANTOS, 2000; MALVAR, 2003;
OLIVEIRA, 2006; MALVAR e POPLACK, 2008; SILVA, 2010; TESCH, 2011; OLIVEIRA e
MENON, 2012) apontam uma mudança em curso no sentido de a forma de futuro simples (“farei”)
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ser substituída pela forma perifrástica com ir + infinitivo (“vou fazer”). Considerando que os
fenômenos de variação e mudança estão intrinsecamente associados a fatores internos (linguísticos)
e externos (sociais), esta comunicação tem como objetivo apresentar e discutir os resultados da
variável ‘sexo/gênero’ do informante na expressão do futuro verbal, já que as variáveis
‘sexo/gênero’ e ‘faixa etária’ são de extrema importância quando do estudo de processos de
mudança (ECKERT, 1989; OLIVEIRA E SILVA e PAIVA, 1996;LABOV, 2001). O corpus deste
trabalho é formado de dados dos anos 1970 (elocuções formais e diálogos entre informante e
documentador) e dos anos 1990 (diálogos entre informante e documentador) das cidades de
Salvador e Rio de Janeiro do banco de dados do Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta no
Brasil (Projeto NURC). Seguindo o quadro teórico-metodológico da sociolinguística quantitativa
(LABOV, 1972), os dados foram codificados e submetidos ao Programa GoldVarb (ROBINSON,
LAWRENCE e TAGLIAMONTE, 2001). A análise dos resultados revela, em linhas gerias, que: a)
na década de 1970, o sexo/gênero é uma variável importante na fala mais formal, em que a forma
considerada mais inovadora alcança maior aplicação entre a mulheres; já na fala mais informal, há
uma neutralização das falas masculina e feminina; e b) na década de 1990, a variável dependente já
não é mais sensível ao sexo/gênero do informante. De uma década para outra, o futuro perifrástico é
usado por homens e mulheres de todas as faixas etárias de forma quase indiferente, o que corrobora
a expansão dessa variante no intervalo de tempo considerado. A principal questão a ser respondida
é: no caso do fenômeno em estudo, a variável ‘sexo/gênero’ reflete o paradoxo da conformidade
(conformity paradox) (LABOV, 1990) ou confirma o princípio da não conformidade
(nonconformity principle) (LABOV, 2011)?
UMA ANÁLISE DOS PRONOMES DE SEGUNDA PESSOA EM TEFÉ-AM
Germano Ferreira Martins – UEA
Este trabalho trata da alternância tu/você/senhor na cidade de Tefé-Am descrevendo os fatores
linguísticos e sociais que condicionam a variação nesta comunidade de fala. O estudo toma por base
a Teoria Variação e Mudança Linguística desenvolvida a partir da proposta de Weinreich, Labov e
Herzog (1968). De acordo com essa teoria, a variação é inerente às línguas e nem é aleatória, nem
livre, mas governada por regras. Assim, o uso da língua é condicionado tanto por fatores internos
quanto externos ao sistema linguístico. O conceito de footing, da Sociolinguística Interacional,
também foi utilizado para a análise do pronome você. Os dados foram obtidos basicamente através
de entrevistas tipicamente labovianas, cujo objetivo é captar o vernáculo do falante, i. e., o estilo em
que se presta o mínimo de atenção ao monitoramento da fala. Das 19 entrevistas que compõem
nosso corpus (em algumas entrevistas há mais de um informante), 4 foram feitas sem o
conhecimento prévio do informante. Em cada um desses casos, os informantes foram
posteriormente avisados do propósito da gravação e do direito de se recusarem a participar do
estudo. Todos concordaram e suas entrevistas foram integradas ao corpus para análise. Os 30
informantes (15 homens e 15 mulheres) foram divididos em três faixas etárias (de 7 a 10 anos, de
20 a 35 anos e de mais de 50 anos) com escolaridade nos níveis fundamental e superior. Dos 1213
dados iniciais, que incluem, além das formas plenas tu, você e senhor, as formas cê e os casos de
forma pronominal zero, 865 dados foram analisados com o suporte da ferramenta estatística
conhecida por Varbrul. Não fizeram parte da análise com o Varbrul os dados de pronome zero (347
dados) e 1 dado de senhor. Os resultados indicam que o tu é a forma pronominal mais usada na
variedade tefeense, e que sua concordância com a forma verbal canônica de segunda pessoa é muito
baixa. As mulheres e as crianças (7 a 10 anos) são os maiores usuários de tu. O pronome você é um
pronome mais formal e também tem a função de contato. O pronome senhor faz parte da
comunidade de fala tefeense, mas os resultados indicam que uma possível mudança no sentido senhor _ +tu nas relações assimétricas íntimas pode estar em curso.
486
487
EFEITO DA VARIÁVEL SEXO EM FENÔMENO DE VARIAÇÃO MODO-TEMPORAL:
O USO DO SUBJUNTIVO
Hebe Macedo de Carvalho – UFC
A atuação de fatores linguísticos e sociais sobre fenômenos de variação e mudança linguística
constitui premissa básica dos pressuspostos teórico-metodológicos da Sociolinguística (LABOV,
1972; 1994). Este estudo tem como objetivo apresentar uma análise variacionista do uso do
subjuntivo em orações substantivas introduzidas pela partícula que. O subjuntivo pertence ao
domínio irrealis, exprimindo noções de volição, opinião, avaliação. Nas palavras de Givón (2001),
constitui um subdomínio do irrealis por expressar um julgamento, avaliações em grau de crença e
de obrigação. Investiga-se, neste trabalho, a atuação dos fatores linguísticos: verbo da oração
principal, tempo verbal da oração e da variável social sexo sobre o uso do subjuntivo. A Gramática
Tradicional apresenta o verbo da oração principal como um fator determinante para a seleção do
modo verbal da oração encaixada, esse dado é corroborado por estudos de cunho variacionista
(ROCHA, 1997; CARVALHO; 2007, por exemplo). Esses estudos têm demonstrado que o
verbo/carga semântica da oração principal constitui um fator determinante na seleção dos modos da
oração encaixada: o subjuntivo é altamente frequente em sentenças com verbos matrizes volitivos;
não ocorre em sentenças com verbos matrizes factivos do tipo saber; coocorre com o indicativo em
sentenças com verbos matrizes cognitivos/de opinião, do tipo acreditar, crer, pensar, achar que. O
estudo em tela considerou, para efeito de coleta e análise de dados, sentenças com verbos volitivos,
factivos e de opinião. Foram adotados os procedimentos metodológicos da sociolinguística
laboviana para a delimitação das variáveis sociais. Nesse sentido, o grupo de fatores sexo será
considerado nos moldes da delimitação clássica da Sociolinguística. A amostra de dados de fala é
formada por 24 informantes da cidade de Fortaleza, sendo 12 do sexo masculino e 12 do sexo
feminino, estratificados em 3 faixas etárias (15-25; 26-49; + de 50 anos), com 0-4 anos e 9-11 anos
de escolaridade. Os dados foram submetidos ao Programa GOLDVARB X (SANKOFF,
TAGLIAMONTE,
SMITH,
2005),
disponível
no
link
http://individual.utoronto.ca/tagliamonte/goldvarb.htm, para análise multivariada de fenômenos
linguísticos. Os resultados mostram uma baixa frequência de uso do subjuntivo, estando esses usos
concentrados no conjunto de verbos matrizes altamente favorecedores da forma subjuntiva: do total
de apenas 341 ocorrências de orações subordinadas substantivas, apenas 63, ou seja, 18,5%
ocorreram com o modo subjuntivo na oração encaixada. As mulheres usaram mais a forma
subjuntiva do que os homens, contudo, é importante analisar o efeito da variável sexo em correlação
com o verbo da oração matriz, bem como considerar as restrições linguísticas impostas pelo uso do
subjuntivo e a distribuição da frequência dessa forma por verbo da oração matriz.
A VARIÁVEL SEXO/GÊNERO E O USO DE VOCÊ(S), OCÊ(S) E CÊ(S) NO PARANÁ
Loremi Loregian-Penkal – UNICENTRO/CNPq
O estudo – sincrônico e diacrônico – dos pronomes de segunda pessoa no Português do Brasil (PB)
é necessário para que se possa tentar reconstituir a história e estabelecer a sua distribuição pelo
território nacional. Assim, trazemos à tona parte dos resultados da pesquisa sobre as formas de
realização de você(s) e de suas variantes nas cidades paranaenses que integram o banco de dados
Variação Linguística Urbana na Região Sul – VARSUL. Para tanto, a presente comunicação busca
socializar os resultados da análise empreendida nas cidades de Curitiba, Irati, Londrina e Pato
Branco, Paraná, no tocante à variável sexo/gênero para, assim, tentar revelar tendências sobre o uso
e os papéis sociais da forma pronominal "você" e suas variantes "ocê" e "cê". Para dar conta da
análise, adota-se os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista. A
amostra analisada compreende a análise de 136 informantes; 44 de Curitiba e 44 de Irati,
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488
estratificados de acordo com o sexo/gênero (masculino e feminino); a escolaridade (1 a 4; 5 a 8;
mais de 8 anos de escola) e a idade (12 informantes de 14 a 24 anos; 12 de 25 a 50 anos; 12 de mais
de 50 anos; 08 universitários de cada localidade); 24 informantes de Londrina e 24 de Pato Branco
(12 de 25 a 50 e 12 de mais de 50 anos). Os dados são provenientes do banco de dados do projeto
VARSUL e do banco de dados Variação Linguística de Fala Eslava – VARLINFE. Além da análise
das entrevistas formais, fizemos, também, com o suporte de LABOV (1972; edição de 2008, p. 32),
observações em muitas situações espontâneas: nos ônibus de Curitiba, Irati, Londrina e Pato
Branco; em reuniões de escola; em lanchonetes; em restaurantes e em outros locais públicos nos
quais o som da conversa pública pudesse ser ouvido e anotado (e, eventualmente, gravado). Da
mesma forma como procedeu Labov, não nos valemos dessas anotações para a análise propriamente
dita: elas serviram apenas como “amostras de controle” para se checar as variantes em uso de
você(s). Os dados foram submetidos ao tratamento estatístico do Programa GoldVarb.
PRONOMES DE SEGUNDA PESSOA NA FALA TOCANTINENSE: REFLEXÕES
PRELIMINARES
Cícero da Silva – SEDUC-TO
O presente trabalho objetiva apresentar reflexões, ainda que preliminares, acerca dos pronomes de
segunda pessoa na variedade da fala tocantinense. Levando-se em consideração que o estado do
Tocantins está situado no centro do território brasileiro e possui limites geográficos com 06 (seis)
estados diferentes, sua composição populacional apresenta uma grande miscigenação. A partir do
século XVII ocorre um longo processo de ocupação da região (CAVALCANTE, 1999), iniciado
por bandeirantes oriundos do sudeste do país, os quais vinham à procura de ouro e índios. Outros
ocupantes pioneiros são os religiosos. De origem das regiões norte e nordeste, estes tinham a missão
de “catequizar” os nativos, em especial ao longo dos Rios Tocantins e Araguaia. Além das várias
tribos indígenas que já viviam na região do antigo norte goiano (atual estado do Tocantins), após a
chegada dos bandeirantes e religiosos duas correntes migratórias dominam a ocupação. Uma é de
origem nordestina, formada principalmente por maranhenses criadores de gado e pequenos
agricultores. A outra frente de colonizadores é representada por goianos que se estabeleciam na
região para explorar minerais, as terras e os tributos. De acordo com a área geográfica tocantinense
em que os migrantes fixaram residência, observa-se que a variação parece ser bastante distinta
quanto aos usos dos pronomes de tratamento tu e você (e suas variantesocê, cê). Percebe-se que no
centro-sul do Tocantins – regiãohabitada em sua maioria por descendentes de goianos (inclusive
mineiros) – ouso de você (e ocê/cê) aparentemente é mais recorrente. Já no norte tocantinense e
Bico do Papagaio – região em que a ocupação majotária é de descendentes maranhenses – o uso do
pronome tu parece ser mais frequente que você, embora dificilmente note-se concordância. À luz
dos pressupostos teóricos da sociolinguística quantitativa variacionista(LABOV, 2008) e de estudos
sobre os pronomes de segunda pessoa (SCHERRE, LUCCA, DIAS, ANDRADE & MARTINS,
2009; SCHERRE & YACOVENCO, 2012), a pesquisa considera tanto os aspectos linguísticos
quanto os aspectos sociais dessa variação. Propõe-se investigar a variação sob a ótica dos fatores
sociais, poisé necessário verificar a tendência de uso de tu/você segundo as variáveis gênero/sexo,
idade e escolaridade. Evidentemente, a identidade do falante é outro aspecto importante a ser
considerado. Logo, essas variantes corroboram a necessidade de estudos específicos sobre elas para
conhecer melhor o fenômeno da variação linguística no Tocantins. Mediante tal estudo, pretende-se
contribuir para a constituição do perfil linguístico tocantinense e a descrição do Português
Brasileiro (PB) falado no Tocantins.
488
489
SIMPÓSIO 46
A ABORDAGEM CONSTRUCIONAL NA PESQUISA
FUNCIONALISTA – TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS
Uma das mais recentes e promissoras tendências da pesquisa funcionalista atual, em sua vertente
norte-americana (Bybee, 2010; Traugott e Dasher, 2005), reside na inteface com estudos
cognitivistas sobre construção, na linha de Golberg (1995, 2006), Croft (2001) e Croft e Cruse
(2004). Essa vertente de pesquisa, nomeada de “gramaticalização de construções” (Noël, 2007), tem
se mostrado produtiva nos estudos sobre mudança gramatical, em perspectiva histórica, e na
detecção de clines de gramaticalidade, em perspectiva sincrônica. Um dos propósitos do simpósio é
a discussão, em termos teórico-metodológicos, de como os estudos sobre construção, oriundos do
Cognitivismo, podem ser tomados para dar conta dos processos de gramaticalização, no âmbito do
Funcionalismo, tal como tem demonstrado Traugott (2008; 2012). Este simpósio, assim posto, visa
reunir, apresentar e discutir pesquisas em desenvolvimento voltadas para a referida interface, com a
criação de espaço acadêmico que proporcione condições adequadas à troca e ao intercâmbio entre
funcionalistas envolvidos com a abordagem construcional.
COORDENAÇÃO
Mariângela Rios de Oliveira
Universidade Federal Fluminenese
[email protected]
Ivo da Costa do Rosário
Universidade Federal Fluminense
[email protected]
489
490
LINGUÍSTICA E COGNIÇÃO: A GRAMATICALIZAÇÃO E SUAS MOTIVAÇÕES
COGNITIVAS
Priscilla de Almeida Nogueira – USP
A presente pesquisa tem como objeto o estudo das construções de base aproximativa quase e quase
que e como objetivo principal, analisar o processo de gramaticalização dessas construções a partir
do estudo de motivações intencionais e cognitivas. Em estudo anterior (NOGUEIRA, 2010), ao
considerar a trajetória de mudança operada pelo item meio, a hipótese de que a codificação de
atitudes linguísticas se daria via processo de gramaticalização revelou-se ratificado. Em estudos
posteriormente realizados, com o intuito de se dar continuidade ao trabalho com a gramaticalização,
foi verificado que esse encaminhamento também respaldava os estudos de Mendonza & Baicchi
(2007) e de Margerie (2007) com outras construções. A partir dessas constatações, foi-se
questionado se o mesmo estaria ocorrendo com a construção quase que. Para compor o corpus da
atual pesquisa, analisou-se um conjunto de redações dissertativas de candidatos ao vestibular da
Fuvest referente aos anos de 2004 a 2011. Além da realização de um trabalho de análise dos dados à
luz de princípios funcionalistas, dentre os quais se inclui o princípio de iconicidade, especialmente
em sua subcategoria de quantidade (CUNHA, COSTA, CEZARIO, 2003), foi necessário lidar com
a materialização linguística de processos intencionais e cognitivos, tal como postulado por Givón
(2011), uma vez que entender o processo de deslizamento funcional de uma construção exige
atentar a motivações também extralinguísticas. Tornou-se imprescindível analisar o estatuto
informacional, a ordem e mesmo seu escopo dentro da construção sentencial. Reconheceu-se, ainda,
em que parte da dissertação é empregada a construção inovadora e verificou-se se houve paralelo
em cada ano investigado. Para aprofundamento dos conhecimentos a respeito de cognição,
recorremos a Tomasello (1999, 2008) e Croft (2009).
A CONSTRUÇÃO DE QUANTIFICAÇÃO INDEFINIDA COM DETERMINANTES
POLILEXÊMICOS NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Thais Fernandes Sampaio – UFJF
Tatiane Silva Tavares – UFJF
A FrameNet é um projeto léxicográfico computacional, coordenado por Fillmore e Baker, que
identifica e descreve frames semânticos. A FrameNet Brasil (FN-Br), em parceria com o projeto
supracitado, objetiva construir uma fonte de pesquisa lexical para o Português do Brasil (PB)
baseada em frames e sustentada por evidências de corpus. Uma das frentes de trabalho da FN-Br é a
implementação de um “Constructicon”, que seria, simplificadamente, um repertório de construções
do PB. Este trabalho se desenvolve, portanto, no âmbito da FN-Br, com o objetivo de implementar
o Constructicon do PB. Os dois pilares de fundamentação teórica da pesquisa são a Semântica de
Frames (FILLMORE, 1982) e a Gramática das Construções (GOLDBERG, 1995). A pesquisa
desenvolvida tem por objeto a Construção de Quantificação Indefinida com Determinantes
Polilexêmicos, que pode ser ilustrada por instanciações do tipo: uma enxurrada de críticas, um mar
de problemas, uma floresta de pincéis. A estrutura dessa Construção pode ser assim esquematizada:
um(a) N1 de N2; sendo N1 o elemento quantificador e N2 a entidade quantificada. Estão sendo
analisados dados reais de uso linguístico, seguindo uma tendência contemporânea da Linguística
Cognitiva, qual seja a de adoção de uma Metodologia de Linguística de Corpus. Inclusive, tendo em
vista o macroprojeto ao qual está vinculado, um dos produtos do estudo será um conjunto de
sentenças anotadas que represente os contextos de uso da Construção. Nesse enquadre
metodológico, trabalhamos com o Modelo Baseado no Uso (BYBEE, 1985, 1995 apud CROFT;
CRUSE, 2004). A pesquisa indica que a Construção analisada apresenta alta frequência de tipo.
Focando apenas nos quantificadores indefinidos de grande quantidade, já foram identificados mais
490
491
de dez tipos diferentes (oceano; vendaval; enxurrada; caminhão; montanha; floresta; mar;
porrada; pilha; montão). Em relação à frequência de ocorrência, verificamos uma variação
considerável, de modo que há tipos de alta frequência de ocorrência (mar e porrada) e outros que
apresentam baixa frequência de ocorrência (galáxia; vendaval). Nesta fase da pesquisa,
investigamos as restrições combinatórias da Construção. Resumidamente, buscamos entender
porque algumas combinações de N1 e N2 são licenciadas pela Construção e outras não. (1) Um mar
de dinheiro (2) Um mar de luto (3) Uma montanha de dinheiro (4) *Uma montanha de luto. Nossa
proposta de análise dessas restrições recorre à noção de esquemas imagéticos (JOHNSON,1987),
entendendo que as unidades lexicais que ocorrem nas construções tendem a preservar seus
respectivos esquemas (SWEETSER, 1988). Nessa perspectiva, tais restrições seriam explicadas,
portanto, pela (im)possibilidade de combinação dos esquemas imagéticos subjacentes a N1 e N2.
“EU FIQUEI DE FAZER ISSO”: GRAMATICALIZAÇÃO DE CONSTRUÇÕES
DEÔNTICAS NO PORTUGUÊS
Angélica Rodrigues – UNESP
O objetivo do projeto é analisar as construções do tipo FICAR DE + INFINITIVO, seus valores e
funções, além de sua relação com as construções TER/FALAR/PENSAR DE + INFINITIVO:
(1) Fiquei de fazer a decoração da FESTA de Reveillon lá de casa. Alguém tem idéias?
Essas construções estão associadas à expressão da modalidade deôntica, envolvendo noções
escalares que vão de uma obrigatoriedade máxima (ter de) até uma relativa obrigatoriedade, como
nos casos em que observamos uma obrigação autoimposta (2) e uma obrigação fraca (3 e 4), ambas
associadas a uma circunstância de impedimento do cumprimento do dever/obrigação/vontade. A
circunstância de impedimento se configura de duas maneiras: quando o compromisso assumido ou
autoimposto não foi de fato cumprido, a circunstância de impedimento é apresentada (ainda que em
algumas vezes as razões para a não realização do dever/obrigação/vontade sejam fracas); quando,
por outro lado, o compromisso, autoimposto ou não, refere-se a uma ação projetada para o futuro (1
e 4), a circunstância de impedimento aparece vinculada à realização de uma outra ação, do próprio
agente ou de outros (pedido de ajuda), cuja não realização poderá funcionar como empecilho à
realização do dever/obrigação/vontade.
(2) Há alguns meses atrás vi a receita no programa do Olivier Anquier na qual ele visitou
algumas cidades da Itália. Ele deu a receita e a preparou em um lugar maravilhoso. Fiquei
de fazer e nada.
(3) Já visitei a agencia, fiquei de fazer book, porém não pude fazer na época
(4) fiquei de sair com uns amigos neste sábado e ainda n sei o que eu uso, me ajudem
Para fundamentar nossa pesquisa, estando endossando os pressupostos teóricos da gramática das
construções (GOLDBERG, 1995), com o objetivo principal de organizar, a partir das evidências
empíricas, uma rede construcional das construções em foco. Interessa-nos investigar as motivações
para a emergência dessas construções a partir de dois eixos principais. No eixo da mudança
interconstrucional, em que buscaremos evidências da mudança direcional entre as construções [
ficou combinado X] > [Suj ficar[+ flex] combinado X] > [Suj. ficar[+ flex] de X]. Num outro eixo de
investigação, discutiremos a relação analógica entre as construções ter de, como padrão [+
prototípico] de significados deônticos, e as construções ficar/falar/dizer/pensar de.A pesquisa está
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492
em fase inicial e as ocorrências apresentadas foram coletadas da internet, através do sistema de
busca do Google.
CONTRIBUIÇÕES DA ABORDAGEM CONSTRUCIONAL PARA O ESTUDO
DAGRAMATICALIZAÇÃO DE ORAÇÕES COMPLETIVAS
Gisele Cássia de Sousa – UNESP
Nos estudos sobre gramaticalização de orações completivas, dois processos têm se revelado
principais atuantes na simplificação do complexo oracional completivo, isto é, na redução do
complexo subordinativo, originalmente bi-oracional, a complexo monooracional. Esses processos
são: (i) a dessentencialização da oração completiva, refletida na alteração de sua forma de
expressão, que passa de finita à não-finita (LEHMANN, 1988; GIVÓN, 1990; CEZARIO, 2001,
2004; CARVALHO, 2004); e (ii) a gramaticalização dos predicados matriz de completiva, que em
geral se desenvolvem a marcadores de modalidade e evidencialidade (LEHMANN, 1988;
THOMPSON; MULAC, 1991; GONÇALVES, 2003; CASSEB-GALVÃO, 2001). Uma terceira via
pela qual pode ocorrer a simplificação do complexo oracional completivo, e que escapa a esses dois
processos, também tem sido identificada: a reanálise do complementizador (que, como, se) como
parte do predicado matriz (SOUSA, 2007, 2012), formando com ele um único bloco significativo,
uma “construção” no sentido em que a define Goldberg (1995, 2006). As construções resultantes
dessa gramaticalização, identificadas até o momento, são de diferentes tipos e operam sobre o
significado da oração a que se ligam como indicadoras de atenuação de um ato imperativo (veja se,
vê se), de modalidade epistêmica (quem sabe se), de evidencialidade (diz que), de estado de
indignação do falante (não sei como) e de retomada de tópico discursivo (eu sei que). Como
demonstrado em Sousa (2007, 2012), acompanham esse modo de gramaticalização os mesmos
processos de integração semântica-cognitiva e morfossintática operantes sobre os dois outros modos
de simplificação da sentença completiva. Assim, conforme se pretende discutir no âmbito do
Simpósio, importante contribuição da abordagem construcional revela-se, para esse caso específico,
a partir da identificação que a abordagem permite de ocorrência atípica de gramaticalização do
complexo oracional completivo. Também constitui aspecto positivo da adoção dessa abordagem
para este estudo, assim como para os estudos de gramaticalização em geral, conforme aponta
Diewald (2006), a possibilidade de se descrevem conjuntamente as propriedades formais e
semântico-pragmáticas que acompanham e determinam a gramaticalização, dado o pressuposto nas
abordagens construcionais de que construções são unidades formadas por complexo indissociável
de fatores semânticos, pragmáticos e formais. Outro ponto que se pretende discutir com o trabalho a
ser apresentado é, por fim, em que medida o tipo de gramaticalização enfocado poderia ser tratado
como caso de “construcionalização”, conforme proposta de Traugott (2012), especificamente com
referência à adequação e a possíveis vantagens desse tratamento para o estudo em questão.
A CONSTRUÇÃO SE NÃO ME ENGANO
Taísa Peres de Oliveira – UFMS
Recentemente, muito se tem discutido a respeito do papel das “construções” no entendimento da
gramaticalização. Tendo em vista o conceito de construções de contexto específico, desenvolvido
por Traugott (2003), neste trabalho propõe-se analisar a condicional ‘se não me engano’, a fim de
averiguar se este seria ou não um caso de gramaticalização. Por meio da análise realizada aqui é
possível identificar algumas especificidades na configuração formal e semântica da condicional ‘se
não me engano’. O valor de incerteza que figura nessas orações não parece ser decorrente apenas do
sentido atualizado pela conjunção condicional. A expressão da modalização epistêmica que se
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verifica nesse tipo de construção emerge da relação estabelecida entre os vários elementos que
compõem a condicional ‘se não me engano’ e o contexto gramatical em que essa construção ocorre.
Como consequência desse processo, a condicional ‘se não me engano’ se torna uma estrutura
fechada, o que acarreta uma série de restrições formais que a diferenciam de uma oração
condicional qualquer. Para confirmar o estatuto mais gramaticalizado da construção, a oração ‘se
não me engano’ é analisada, neste trabalho, segundo os parâmetros de gramaticalização de
Lehmann (1995) e de Hopper e Traugott (2005). Além disso, para verificar o grau de
dessentencialização da oração ‘se não me engano’, considera-se a proposta de Lehmann (1988). Por
meio da análise realizada neste trabalho pode-se dizer que a condicional ‘se não me engano’ passa
por um processo de subjetivização, já que se gramaticaliza como expressão das atitudes/crenças do
falante. No entanto, não se trata de um caso clássico de gramaticalização - no sentido de um item
lexical se tornar gramatical - mas sim da gramaticalização de uma construção de contextoespecífico, que se especializa, num determinado contexto, com a função de expressão atitudinal. Os
dados analisados neste trabalho foram coletados no banco de dados do corpus no
<www.corpusdoportugues.org >, que contempla as variedades do português do Brasil e de Portugal,
nas modalidades oral e escrito.
ANÁLISE DOS LOCATIVOS EM TEXTOS OPINATIVOS DO SÉCULO XVIII AO XX
Monique Petin Kale dos Santos – UFF
O presente trabalho tem por objetivo analisar a ordenação e referenciação dos advérbios locativos
(cá, aqui, lá, aí, ali) e seus aglutinados (daqui,daí,dali) em textos opinativos dos séculos XVIII,
XIX e XX, com base nos pressupostos teóricos do funcionalismo norte-americano (Furtado da
Cunha, Oliveira e Martelotta, 2003). Trabalhamos também com o conceito de unidade pré-fabricada
(Erman e Warren, 2000) e o conceito de construção, nos termos de Goldberg (1995). A escolha
desses pronomes deve-se à alta frequência com que os pronomes locativos são encontrados em
relação aos demais membros das classes adverbiais, conforme propõe Givon (2001). Para
interpretação e comparação dos dados, utilizamos como corpora as obras: Reflexão sobre as
Vaidades dos homens, de Matias Aires (Século XVIII); Verdadeiro Método de Estudar, de Luis
António Verney (Século XVIII); Segundo livro de crítica: arte e litteratura portugueza d'hoje :
(livros, quadros e palcos), de Luciano Cordeiro (Século XIX); Críticas, de Machado de Assis
(Século XIX); Formação da Literatura Brasileira (Momentos decisivos) 1º. Volume (1750-1836),
de Antônio Candido (Século XX) we, finalmente, Nó e a Europa: ou as suas razões, de Eduardo
Lourenço (século XX). Ademais, estabelecemos uma relação discursivo-gramatical, a partir do
perfil dos remetentes e destinatários e a influência deste aspecto no uso dos locativos. Observamos
nas obras analisadas a ordenação dos pronomes locativos em relação ao verbo, a polissemia desses
pronomes e o processo de gramaticalização ocorrida nessas sincrônias. Nos resultados parciais de
nossa pesquisa, confirmamos alguns dados de nossas hipóteses. Dessa forma, nas obras pesquisadas
no século XVIII, a grande parte dos advérbios encontra-se em posição pré-verbal, considerada a
posição mais regular em sincronias mais antigas da língua portuguesa (MARTELOTTA, 2006).
Outro aspecto que aponta o alto índice desses locativos deve-se à presença de unidades préfabricadas, tais como: “daqui vem (que)” , “daqui procede”, entre outras. Entretanto, no século
XIX, a ordenação não-marcada, ou prototípica, do advérbio pronominal locativo tende a ser pósverbal, situando-se, imediatamente. após o verbo. No século XX, porém, encontramos a maioria dos
locativos em posição pré-verbal. Esse resultado deve-se ao aumento desses elementos em início de
oração, revelando tanto um aspecto conectivo e⁄ ou um aspecto temporal e confirmando, assim, a
trajetória de gramaticalização dos mesmos. Quanto à referenciação dos advérbios nos séculos
estudados, a grande parte articula elementos de coesão textual, indicando uma sequência expositiva
de fatos ocorridas no texto. Uma pequena parte relaciona-se à espaços físicos virtuais presentes nos
textos, tais como: pensamentos e críticas. Esta última parte refere-se à espaços não concretos e
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mensuráveis. Relacionamos esses resultados ao fato de, nessas obras, haver uma tendência dos
advérbios de abordar assuntos mais abstratos, tal como: o sentimento humano e, em outros casos,
exibir um aspecto conectivo entre um elemento que já foi citado e um novo elemento. Logo, com
base nos dados mostrados, procuramos demonstrar a correlação entre gramaticalização e o gênero
de textual pesquisado. Essa relação gera uma maior frequência de sequências expositivas,
verificando, assim, uma grande ocorrência de espaços virtuais ou mais “abstratos”. Outro aspecto
importante pode ser visto no fato de que as obras de cunho opinativo motivam ainda usos das
unidades pré-fabricadas, como “daqui vem”, em trajetória de gramaticalização.
PADRÕES DE USO DA CONSTRUÇÃO LOCV: GRAMATICALIZAÇÃO E GRAMÁTICA
DE CONSTRUÇÕES
Rossana Alves Rocha – UFF
Investigação dos padrões de uso da construção LocV, em expressões como “lá vai” e “aí está”, e
identificação de possível articulação mais gramatical veiculada por esse esquema construcional. A
pesquisa é de caráter qualitativo, baseando-se em corpora referentes ao século XX e início do XXI,
e fundamenta-se no funcionalismo linguístico, a partir do estudo da gramaticalização - entendido
como processo pelo qual um item gramatical ou, em nosso caso, sequências de itens gramaticais,
tendem a se regularizar e convencionalizar seu sentido - e dos mecanismos de extensão metafórica e
metonímica, nos termos de Bybee (2010), Heine e Kuteva (2007), Traugott e Dasher (2005), entre
outros, e na abordagem cognitiva da Gramática de Construção, mormente, nos termos de Croft
(2001). Levamos em conta, desse modo, mecanismos dominantes de mudança como a metáfora e a
metonímia: esta relacionada às pressões estruturais, numa relação de superfície em que a
contiguidade conceitual reflete associação e indexicalidade, atuando, assim, no nível sintagmático; e
aquela se referindo à transferência de domínios, sendo a consequência, o resultado das relações
metonímicas, atuando no nível paradigmático. Parte-se da hipótese de que as construções LocV, tais
como ai está e lá vai, além de constituírem uma unidade de sentido e forma que articula um tipo de
referência semântico-sintático distinto daquele advindo da soma de seus constituintes, são
resultantes do processo de gramaticalização. Relaciona-se esse processo ao que Traugott e Dasher
(2005) chamam de “inferência sugerida”, já que o emissor lança mão de elementos originalmente
do nível da gramática, como o pronome locativo e o verbo de movimento, para a articulação de
outro sentido, com vistas à adesão e anuência de seu interlocutor. Nessa trajetória ascendente de
gramaticalização, está envolvida a alteração do estatuto categorial dos elementos, atribuindo
funções gramaticais aos materiais lexicais, e, se já gramaticais, funções ainda mais gramaticais em
contextos morfossintáticos e semântico-pragmáticos altamente restritos (TRAUGOTT, 2003:645).
Assumindo que fatores de ordem pragmática e cognitiva interagem para a criação de aí está e lá vai,
analisamos suas propriedades semântico-sintáticas e discursivo-pragmáticas, via modelo top down,
quando o sistema linguístico é afetado descendentemente, promovendo assim o surgimento dessas
expressões e, via bottom up, quando a fixação de seus usos afetam o sistema, ampliando sua
representação. Em vista disso, nos fragmentos destacados na análise, observamos o grau de
integração sintático-semântico, a função exercida em contextos específicos, a possibilidade de
inserção de algum elemento e o tipo de referência feita. Detectam-se, assim, múltiplas funções de
“aí está” e “lá vai”. Quando não foi possível identificar uma função única para as expressões, tais
dados foram chamados de casos imbricados. Objetiva-se, assim, verificar as motivações para a
mudança linguística quais sejam cognitivas, subjetivas, discursivas e/ou pragmáticas; evidenciar os
traços que diferenciam os distintos usos das construções LocV na formação de contextos
específicos e, a partir de questões semânticas e formais, propor um cline de gradiência dessas
microconstruções.
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MARCADORES DISCURSIVOS COMO INSTANCIAÇÕES DA CONSTRUÇÃO VLOC:
FATORES CONTEXTUAIS DE ANÁLISE
Ana Cláudia Machado Teixeira – UFF/CNPq
Este trabalho explora alguns aspectos da formação de marcadores discursivos, tais como: chega aí,
diga aí, escuta aqui, (es)per(a) aí, (es)t(á) aí, olha lá, segura aí, vá lá, vam(os) lá, vê lá e vem cá,
entre outros, como instanciações da construção VLoc. Investiga-se os contextos específicos
motivadores da mudança linguística em curso e os fatores de ordem sintática, fonológica,
morfológica, semântica, pragmática e discursivofuncional envolvidos. Parte-se da hipótese de que
os elementos verbais e locativos são dependentes e tornam-se uma construção, uma unidade de
sentido e forma, nos termos de Croft (2001), classificadas como microconstrução, de acordo com
Traugott (2008). Embasados na fundamentação teórica que alia as perspectivas da gramática de
construções e da gramaticalização nos termos de Croft (2001), Croft e Cruse (2004) por um lado e
de Bybee (2003, 2010, 2011), Furtado da Cunha, Oliveira e Martelotta (2003), Heine e Kuteva
(2007), Traugott (2003, 2008, 2011), Traugott e Dasher (2005) de outro, objetiva-se examinar: i) as
funções que as microconstruções podem assumir de acordo com a situação comunicativa, ii) seus
contextos preferenciais de uso e iii) a influência da estrutura sintático-semântica, pragmática e
discursiva na mudança linguística. Esses marcadores de base construcional têm atuação relevante
no nível pragmático, na negociação ou modalização dos sentidos veiculados, mais frouxo do ponto
de vista sintático e em cláusulas destituídas do frame original. Tal atuação leva em conta pressões
metonímicas advindas dos contextos interacionais em que também atuam estratégias de
(inter)subjetivação, no âmbito das inferências sugeridas (Traugott e Dasher, 2005), agindo como
força coercitiva para que se constituam ao mesmo tempo em que se gramaticalizam. Em (es)tá (a)í,
por exemplo, o verbo passa a articular e encaminhar a posição do falante e, seu locativo, a localizar
sua opinião, como em "E propôs que desencadeasse uma campanha nacional contra saudações
lambuzadas. Taí , gostei da idéia! Alô, vítimas do abuso oscular do Brasil! Façam como eu!" Em vá
lá, o verbo passa a marcar o movimento da intenção do falante em direção a sua opinião expressa na
proposição seguinte e, o locativo, a indicar o nível de concessão que é feita em relação a proposição
anterior, como em: "Um boa questão: que elas continuem públicas, vá lá… Mas por que precisam
ser gratuitas mesmo para quem pode pagar?". Em vamos lá, o verbo passa a marcar o deslocamento
da opinião do falante em relação ao seu interlocutor, uma vez que objetiva convencê-lo e seu
locativo direciona tal intenção, como em: "Os mais românticos tenderiam para a opção pela
namorada – vamos lá, coragem, ouse ser feliz". A análise das ocorrências do corpus foca sequências
tipológicas, nas quais se percebe a atuação de pressões metonímicas em nível stricto. Tais
sequências estão inseridas em artigos de opinião, blogs, entre outros gêneros, em que atuam
pressões metonímicas em nível lato. Em ambos os níveis, essas pressões contribuiriam para a
gramaticalização das construções, na medida em que padrões de uso são rotinizados em contextos
específicos, compondo, assim, um esquema mental acessível aos falantes.
A GRAMATICALIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES MODAIS “TER QUE + V2”, “DEVER
+V2” E “PODER + V2”: UM CASO DE MACRO-CONSTRUÇÃO?
Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda – UFJF
O presente trabalho tem como objetivo analisar a gramaticalização das construções modais “ter que
+V2”, “dever + V2” e “poder + V2” na língua portuguesa, buscando estabelecer se revelariam um
caso demacro-construção, nos termos de Traugott (2008a, 2008b). Assumimos, desse modo, a
perspectiva dagramaticalização de construções, uma vez que consideramos que as construções são
as unidades básicasda língua, instanciadas a partir do pareamento entre forma e sentido, e que a
construção inteira, e nãoapenas o significado lexical de um item, é precursora do sentido gramatical
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(TRAUGOTT, 2003, 2008a,2008b, 2009, 2012). Nesta pesquisa, trabalhamos com a hipótese de
que as construções analisadasenvolveriam a instanciação de meso-construção e de macroconstrução, uma vez que identificamossimilaridades em seus padrões construcionais, o que nos leva
a considerar a existência de um esquemaabstrato para construções com verbos modais, que se
estabeleceria cognitivamente e envolveria omecanismo da analogia. Nesse caso, os resultados
obtidos com a pesquisa nos levam a considerar aemergência de uma extensa rede construcional para
as construções com verbos modais. Com o intuito devalidar o objetivo apontado acima e de
confirmar a hipótese levantada, realizamos uma extensa pesquisapancrônica, que considerou a
distribuição das construções analisadas desde o século XIII até o portuguêscontemporâneo. Os
dados sincrônicos foram coletados em dois corpora: o corpus do projeto “Mineirês: aconstrução de
um dialeto” e o corpus do projeto “PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso da Língua”.Já os
dados diacrônicos foram retirados do corpus do projeto “CIPM – Corpus Informatizado
doPortuguês Medieval” e do corpus do projeto “Tycho Brahe”. Neste trabalho, assumimos que
olevantamento da frequência de uso – tanto na sincronia como na diacronia – permite que sejam, de
fato,mapeados os quatro níveis – construtos, micro-construções, meso-construções e macroconstruções – queenvolvem o processo de gramaticalização (TRAUGOT, 2008a, 2008b) e o
estabelecimento de redesconstrucionais. Assumimos, portanto, que o levantamento de frequência
pode fornecer evidênciasempíricas de que as inovações que emergem no fluxo da interação estão se
padronizando/regularizandona língua como construções formalmente identificáveis e que, nesse
contexto, a consideração de dados denatureza diacrônica pode contribuir substancialmente para a
percepção de que estamos lidando, no casodas construções com verbos modais, com mesoconstruções e, em um nível, mais abstrato e esquemático,com macro-construção.
A GRAMATICALIZAÇÃO DE VERBOS VOLITIVOS NO PORTUGUÊS A PARTIR DA
PERSPECTIVA CONSTRUCIONAL
Nathália Felix de Oliveira – UFJF
Este trabalho visa a investigar, inicialmente, a gramaticalização dos verbos “buscar”,
“esperar”,“procurar” e “tentar” como volitivos na língua portuguesa. Para tanto, opera com as
hipóteses de que essesverbos: (i) teriam passado por um processo de mudança semânticopragmática, desenvolvendo um sentidovolitivo; e (ii) estariam relacionados a uma macroconstrução (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009,2012). O padrão observado nos verbos
“buscar”, “esperar”, “procurar” e “tentar” também poderia serobservado nos verbos “almejar”,
“desejar”, “pretender” e “querer”, os quais possuem a noção de voliçãoem seus usos mais basilares.
Assim sendo, assumimos, nesta pesquisa, a abordagem da gramaticalizaçãode construções
(TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009, 2012), a qual compreende o fenômeno como “amudança
pela qual, em certos contextos linguísticos, os interlocutores usam (partes de) uma construçãocom
uma função gramatical ou designam uma nova função para uma construção já
existente”(TRAUGOTT, 2009, p. 91). Procurando entender o processo de gramaticalização dos
verbos “buscar”,“esperar”, “procurar” e “tentar” bem como as similaridades e diferenças dos
padrões construcionais dessesverbos em relação a “almejar”, “desejar”, “pretender” e “querer”,
observamos os quatro níveis propostospor Traugott (2008a, 2008b), a saber: construtos, microconstruções, meso-construções e macroconstruções.A partir desses níveis, buscamos compreender a
atuação dos mecanismos – a frequência, areanálise e a analogia – que propulsionariam a
gramaticalização (TRAUGOTT, 2011). A fim de cumpriros objetivos estabelecidos acima,
consideramos a distribuição dos verbos “buscar”, “esperar”, “procurar”,“tentar”, “almejar”,
“desejar”, “pretender” e “querer” desde o século XIII até o português contemporâneo.Os dados
diacrônicos foram selecionados do corpus do projeto “CIPM – Corpus Informatizado doPortuguês
Medieval” e do corpus do projeto “Tycho Brahe”. Os dados sincrônicos, por sua vez,
foramcoletados em três corpora distintos: o corpus do projeto “Mineirês: a construção de um
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dialeto”, o corpusdo projeto “PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso da Língua” e o corpus do
projeto NURC/RJ -Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro.
GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO ESPERAR SOB A PERSPECTIVA DA
(INTER)SUBJETIVIZAÇÃO
Nathália Felix de Oliveira – UFJF
O presente trabalho descreve os usos sincrônicos do verbo “esperar” na língua portuguesa,partindo
da hipótese de que os novos usos gramaticalizados revelariam um caminho decrescente
(inter)subjetivização (FINEGAN, 1995; TRAUGOTT, 1995; TRAUGOTT &DASHER 2005;
DAVIDSE, VANDELANOTTE & CUYCKENS, 2010). E que esseprocesso estaria vinculado à
emergência de possíveis padrões construcionais (TRAUGOTT,2003, 2008, 2009). A fim de
comprovar tais hipóteses, realizamos também umlevantamento diacrônico, o qual buscou
comprovar, com maior propriedade, quais usosseriam anteriores e [- (inter)subjetivos]. Os dados
sincrônicos recobrem tanto a modalidadeoral quanto a modalidade escrita da língua. Os dados orais
foram coletados em três corporadistintos, a saber: o corpus do “Projeto Mineirês: a construção de
um dialeto”, o corpus doprojeto “PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso da Língua” e o corpus
do projeto“NURC/RJ - Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro”. Já os
corporasincrônicos escritos foram compostos por textos disponíveis na Internet, retirados de blogse
de revistas de grande circulação nacional (“Revista Veja”, “Revista Isto é”, “RevistaÉpoca”,
“Revista Caras”, “Revista Cláudia” e “Revista Ana Maria”). Os dados diacrônicos,por sua vez,
foram selecionados do corpus do projeto “CIPM – Corpus Informatizado doPortuguês Medieval” –
e do corpus do projeto “Tycho Brahe”. Na análise dos dados,descrevemos pontualmente os
diferentes usos do verbo “esperar”, bem como seus possíveispadrões construcionais. Além disso,
consideramos a distribuição e a frequência de uso doverbo “esperar”, uma vez que assumimos que o
levantamento da frequência pode atuarcomo um subsídio relevante na definição de processos de
gramaticalização (BYBEE,2003). Os resultados apontam que o verbo “esperar”, na língua
portuguesa, partiu daacepção inicial e [- subjetiva] de “aguardar do tempo” e desenvolveu os usos
[+subjetivos]de “volição” e “ter expectativa/contraexpectativa”. Nesse processo, o verbo “esperar”
deixade atualizar a noção aspectual de duratividade, que caracteriza sua acepção inicial.
Atuandocomo volitivo, “esperar” se configura como um verbo modal, passando a projetar o futuroe,
por sua vez, ao manifestar as expectativas (ou não) do falante, passa a indicar suascrenças no campo
da hipótese. O verbo “esperar”, conforme verificamos, também figuraem outras construções, como
a construção “espera aí/peraí”, a qual, dentre as diferentesfunções que pode exercer, se apresenta
como marcador discursivo, revelando um uso [+intersubjetivo] do verbo.
MARCADORES DISCURSIVOS DERIVADOS DOS VERBOS DE PERCEPÇÃOVISUAL
“OLHAR” E “VER”: UMA ANÁLISE A PARTIR DA GRAMATICALIZAÇÃO DE
CONSTRUÇÕES
Lauriê Ferreira Martins – UFJF
O presente trabalho tem como objeto de estudo os marcadores discursivos (doravante, MDs)
derivados dos verbos de percepção visual “olhar” e “ver”, que, em sua configuração construcional,
apresentem a forma imperativa. Tomamos como base os pressupostos teóricos da gramaticalização
de construções (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009, 2010, 2011, 2012; FISCHER, 2011;
GISBORNE & PATTEN; 2011; NOEL, 2007; BYBEE, 2010, 2011). Também partimos de estudos
anteriores a respeito da mudança semântico-pragmática dos verbos de percepção visual “olhar” e
“ver”, desde sua realização como verbos plenos até seu comportamento como MDs, além do
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trabalho pontual de Rost Snichelotto (2004, 2009, 2011), que trata do comportamento dos
marcadores em corpora do projeto VARSUL e em textos de peças teatrais escritos entre os séculos
XIX e XX por escritores catarinenses. Realizamos uma abordagem sincrônica a partir de amostras
do português falado contidas em três corpora distintos: o corpus do “Projeto Mineirês: a construção
de um dialeto”, o corpus do projeto “PEUL – Programa de Estudos sobre o Uso da Língua” e o
corpus do NURC/RJ – Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro”. Os dados
sincrônicos contam, ainda, com uma amostra da modalidade escrita da língua, composta por textos
disponíveis na Internet, retirados de blogs e de revistas de grande circulação nacional, a saber:
“Revista Veja”, “Revista Isto é”, “Revista Época”, “Revista Caras”, “Revista Cláudia” e “Revista
Ana Maria”. Também realizamos uma análise diacrônica a partir de dados levantados no corpus do
projeto “CIPM – Corpus Informatizado do Português Medieval” e no corpus do projeto “Tycho
Brahe”. Neste trabalho, nossos objetivos são descrever os usos sincrônicos dos MDs derivados dos
verbos de percepção visual “olhar” e “ver”, verificar se há regularidade entre as microconstruções,
entender por que a forma imperativa integra a configuração destes MDs e confirmar se é possível
falarmos em macroconstruções entre os MDs analisados (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009).
Nossa análise conta com o levantamento da frequência (VITRAL, 2006; BYBEE, 2003, 2011;
MARTELOTTA, 2009), o qual nos permite definir o processo de gramaticalização dos marcadores
analisados, e com uma análise qualitativa, para a descrição e interpretação dos contextos específicos
de uso de cada um dos tipos de MDs analisados. Os resultados apontam que: (i) o domínio
funcional em que os MDs atuam é o da chamada de atenção do interlocutor; (ii) há uma tendência à
fixação dos MDs derivados de “olhar” e “ver”, em configuração imperativa, na segunda pessoa do
discurso (P2) e no modo indicativo dos verbos; (iii) os MDs derivados do verbo “olhar” tendem a
ocorrer com mais frequência em contextos sintaticamente independentes, enquanto os MDs
derivados do verbo “ver” tendem a ocorrer com mais frequência em contextos sintaticamente
dependentes; (v) MDs derivados do verbo “olhar” estão mais avançados no processo de
gramaticalização, se comparados aos MDs derivados do verbo “ver”.
ROTA DE GRAMATICALIZAÇÃO DO “DAÍ QUE” COMO OPERADOR DE
CONCLUSÃO: CONTEXTOS E PADRÕES DE USO EM PERSPECTIVA FUNCIONAL
Ana Beatriz Arena – UFF
Concluir não só é um processo cognitivo subjacente à elaboração do conhecimento e, como tal,
pertinente à condição humana, como também é uma ação argumentativa, codificada
linguisticamente por meio de diferentes formas. Uma delas é a expressão “daí que”, objeto deste
estudo, para a qual se defende que segue uma trajetória diacrônica de gramaticalização, assumindo
sincronicamente o estatuto de operador argumentativo de conclusão. Seguimos os pressupostos
teóricos do Funcionalismo Linguístico no que diz respeito à gramaticalização de construções, nos
termos principalmente de Traugott (2008) e Bybee (2010), em articulação com a Gramática de
Construções, de perspectiva cognitivista, segundo Croft (2001). Entendem-se construções como
expressões formadas por duas ou mais palavras, constituindo estruturas relativamente fixas. No caso
em estudo, à contração da preposição “de” com o locativo “aí”, soma-se a conjunção subordinativa
integrante “que”, formando um todo sintático-semântico de valor conclusivo. Nossos achados
iniciais indicam que “daí que” é uma inovação linguística bastante recente, remontando
provavelmente ao início do século XX, cujo lócus preferencial de ocorrência são as sequências
argumentativas. A análise diacrônica aponta para instanciações de construções possivelmente
participantes na gênese do operador “daí que”: “de aí se infere que” (século XVII), “Daí se seguirá
que” (século XVIII) – em estruturas linguísticas que Diewald (2006) chama de “contextos
atípicos”; “seguiu-se daí que” (século XVIII), “Concluir daí que” (século XIX) e “Não se infira daí
que” (século XX) – “contextos críticos”, segundo a mesma autora. Em análise sincrônica,
verificamos que “daí que” sofre reanálise, sendo empregado como operador de conclusão,
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apresentando perda de fronteira e de composicionalidade entre seus componentes, pareando forma e
sentido: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não
pode prescindir da continuidade da leitura daquele” (Paulo Freire, 1981). Com este estudo,
objetivamos investigar a ontogênese do operador “daí que”, consultando textos escritos de base
argumentativa dos períodos arcaico, moderno e contemporâneo da língua portuguesa. Por meio do
levantamento das frequências type e token (Bybee, 2003), objetivamos, ainda, verificar a
produtividade da expressão sob investigação e reconhecer padrões de uso determinantes na sua
fixação como operador de conclusão.
OS GRAUS DE GRAMATICALIDADE DE CONSTRUÇÕES COM ADVÉRBIOS
TERMINADOS EM –MENTE COMO PROJEÇÃO DE POSSIBILIDADE: UM ESTUDO
DE CASO
Ana Paula Cristina da Silva – UFJF
O presente trabalho tem como objetivo analisar os graus de gramaticalidade de construções com os
advérbios terminados em –mente que expressem a projeção de uma possibilidade. Para tanto, adotase a perspectiva da gramaticalização de construções (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009,
2012), já que partirmos do princípio de que a gramaticalização não pode ser resumida a uma
mudança do tipo léxico > gramática. Na verdade, a gramaticalização envolveria a mudança
construção > gramática. Assume-se também a gramaticalização como um processo de
(inter)subjetivização (TRAUGOTT, 1995, 2010; TRAUGOTT; DASHER, 2005), uma vez que
consideramos que a emergência de novos padrões construcionais na língua está intimamente
relacionada ao desenvolvimento de expressões gramaticalmente identificáveis que visam a indicar
as crenças e atitudes dos falantes acerca do que dizem. Para o levantamento de dados, utilizamos os
seguintes corpora: o Projeto “Mineirês: a construção de um dialeto”, coordenado pela professora
Jânia Martins Ramos na UFMG, e o corpus do projeto “PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso
da Língua”, coordenado pelos professores Anthony Naro, Claudia Roncarati e Christina Abreu na
UFRJ. Os dados levantados são analisados quantitativa e qualitativamente. Quantitativamente,
entende-se que a verificação da frequência de uso dos padrões construcionais identificados é
relevante para que se atestem os diferentes graus de gramaticalidade (VITRAL, 2006).
Qualitativamente, busca-se descrever os contextos de uso dos advérbios terminados em –mente que
expressem a projeção de uma possibilidade, verificando em que medida o falante desejaria atenuar
uma ameaça potencial à face do interlocutor e, portanto, descomprometer-se com o que diz. Com a
realização deste trabalho, esperamos comprovar que os padrões construcionais em que figuram
advérbios terminados em –mente que expressem a projeção de uma possibilidade seriam
pragmaticamente estabelecidos a partir da expectativa que têm os falantes de qualificar, sob a
perspectiva epistêmica, o conteúdo proposicional com base em seus julgamentos e crenças pessoais.
CONSTRUÇÕES CORRELATAS EM PERSPECTIVA FUNCIONAL
Ivo da Costa do Rosário – UFF
Grande parte dos gramáticos, por influência da NGB, não incluiu em suas obras a correlação, apesar
de esta apresentar especificidades bem particulares em relação aos processos mais canônicos de
estruturação sintática. Segundo Hopper & Traugott (1997), "todas as línguas têm dispositivos para
interligar as cláusulas no que chamamos de períodos complexos". Esses mecanismos de ligação
intersentencial diferem radicalmente de uma língua para outra, desde construções justapostas
razoavelmente independentes até construções retóricas dependentes e complexas. Os autores
propõem a existência de três pontos de aglomeração: a parataxe, a hipotaxe e a subordinação. Esses
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três processos, segundo grande parte dos funcionalistas, expressam um crescendum de integração, e,
certamente, envolvem entre um ponto e outro variadas formas de integração clausal constatadas nas
diversas línguas do mundo. Quanto à correlação, verificamos asserções esparsas na literatura
linguística funcionalista, o que de per si já justificaria um estudo mais aprofundado sobre o assunto.
Castilho (2004), Módolo (1999), Rodrigues (2007), entre outros autores, se debruçam sobre essa
questão, filiando‐se às ideias de Oiticica (1952). Na correlação, segundo esses autores, a cada
elemento gramatical na primeira oração corresponde outro elemento gramatical na segunda, sem o
quê o arranjo sintático seria inaceitável. Sob essa ótica, a definição apresentada, de caráter genérico,
já seria suficiente para contrapor a correlação aos outros dois processos mais clássicos de
estruturação do chamado período composto. Assim, rompendo com a tradição gramatical e ainda
com a força do paradigma formal estruturalista, intentamos analisar a correlação como um processo
distinto dos demais à luz da linguística funcional centrada no uso. Em termos metodológicos, nossa
pesquisa persegue, em um primeiro momento, um viés estritamente teórico. Em um segundo
momento, aplicaremos o instrumental teórico adotado ao corpus, que é formado por textos políticos,
extraídos do site da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. O diálogo a ser travado
entre correlação e gramática das construções permitirá uma tipologização das correlatas aditivas em
micro, meso e macro‐construções (cf. Traugott, 2010). Nossos resultados apontam para um uso
bastante especializado das construções correlatas, inseridas em contextos com alta carga de
argumentatividade, como no seguinte exemplo: Das estatais está sendo exigido não apenas mais
comedimento na fixação dos preços e tarifas como maior transparência nos negócios. Nosso
objetivo, em síntese, é descrever e analisar essas construções, buscando suas especificidades e
peculiaridades.
A PERSPECTIVIZAÇÃO ESPACIAL EM PADRÕES CONSTRUCIONAIS DO
PORTUGUÊS
Mariangela Rios de Oliveira – UFF/CNPq/Faperj
Fundamentados nos pressupostos da chamada linguística funcional centrada no uso, com base em
Bybee (2010) e Traugott (2008; 2012), entre outros, tratamos, nesta apresentação, de como
pronomes locativos, atinentes à perspectivização do espaço, atuam em arranjos mais fixos do
português contemporâneo do Brasil. Estamos interessados no modo pelo qual os usuários se
colocam ou se localizam diante do interlocutor, do conteúdo veiculado e dos demais fatores
envolvidos na interação, no entrincheiramento distintivo de pares como espera aí / espera lá, meu
amigo aqui / um cara lá, vem cá / vem aí, entre outros. Desenvolvemos nossa pesquisa a partir da
compatibilização do paradigma funcionalista e do cognitivista, fundamentos na teoria localista
(BATORÉO, 2000). Estamos interessados em identificar, nos usos assim fixados, as expressões
exemplares (BYBEE, 2010), que servem de base analógica (FISCHER, 2009) para a replicação de
novos tokens. Assim orientados, assumimos a hipótese de que contextos de referência espacial,
articuladores de conteúdo mais físico e concreto, motivam, via basicamente metonímia ou analogia,
usos no nível sintático ou mesmo pragmático‐discursivo. Consideramos ainda que fatores de ordem
textual, como tipo de texto e genero‐discursivo, são relevantes na seleção e frequência dos padrões
investigados, ratificando a forte correlação entre a dimensão gramatical e a discursiva. Dos
pronomes de uso mais frequente no PB, identificamos lá e aí como os sistematicamente recrutados
para a formação de expressões nominais (um garoto lá, uns troços aí) e verbais (vamos lá, diga aí)
mais fixas, em termos de sentido e forma (CROFT; CRUSE, 2004); por consequência, trata‐se dos
mais gramaticalizados também. De outra parte, aqui e ali tendem a funcionar prototipicamente
como advérbios locativos, como representantes mais exemplares da categoria, em contraste com
aqueles. De acordo com a abordagem construcional (GOLDBERG, 1995; 2006), o sentido de uma
expressão não se configura como a mera soma de suas subpartes, por outro lado, tais subpartes são
essenciais para que se instaure o sentido maior, como ratificam nossos resultados.
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SIMPÓSIO 47
LINGUÍSTICA BASEADA NO USO E ENSINO DE PORTUGUÊS
A investigação de fenômenos linguísticos baseada na língua em uso tem revelado motivações
semântico-discursivas e cognitivas neles implicadas (BYBEE, 2010). Pesquisadores assim
orientados reconhecem que fatores de natureza interacional e cognitiva desempenham papel
relevante na configuração estrutural de que se revestem variadas construções linguísticas. Isso
equivale a dizer que há, de algum modo, uma motivação entre forma e função, de sorte que a
codificação linguística de determinadas estruturas tem a ver com as funções que elas desempenham
na interação discursiva e se relaciona diretamente aos propósitos que se quer alcançar (GIVÓN,
2001; FURTADO DA CUNHA et al, 2003). É nesse sentido que se justifica a relevância do estudo
da língua em uso, conforme defendem linguistas de várias tendências teóricas. Pesquisas
desenvolvidas sob essa orientação têm grande contribuição a dar em prol da melhoria da qualidade
do ensino de língua portuguesa ministrado na educação básica, uma vez que esse ensino é
frequentemente alvo de discussão, debates e críticas, sobretudo no que diz respeito ao tratamento da
análise linguística ou, mais especificamente, das chamadas aulas de gramática. Isso porque a
tradição escolar, por muito tempo, limitou o ensino de língua ao ensino de gramática da língua
(BECHARA, 1993). Baseado em compêndios gramaticais mais conservadores, esse ensino, de
caráter prescritivo, privilegiava uma variedade de uso da língua – a norma padrão –, que poucos
usuários dominam e que um número bem menor ainda emprega efetivamente, mesmo em situações
formais. Além disso, o trabalho em sala de aula parece não lograr muito êxito, visto que exames
oficiais de verificação do desempenho de estudantes da educação básica, como o Enem, têm
mostrado um resultado insatisfatório quanto à leitura e à escrita, incluindo-se aí o domínio da norma
padrão (BISPO, 2010). Nesse sentido, o simpósio aqui proposto volta-se à análise linguística numa
perspectiva centrada no uso, com vistas a um trabalho mais produtivo nas aulas de língua materna.
Essa proposta possibilita reunir pesquisas que se apoiam em dados extraídos de situações reais de
interação comunicativa, correlacionando-as ao ensino de língua portuguesa.
COORDENAÇÃO
Maria Angélica Furtado da Cunha
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
[email protected]
Edvaldo Balduino Bispo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
[email protected]
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A ALTERNÂNCIA ENTRE O FUTURO DO PRETÉRITO E O PRETÉRITO
IMPERFEITO DO INDICATIVO: CONTRIBUIÇÕES PARA AS AULAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Fernando Augusto de Lima Oliveira – UNEAL/UFAL/CAPES
Thaise dos Santos Tenório – UFAL
O pretérito imperfeito do indicativo (PII) é definido como um tempo que expressa uma ação
habitual ocorrida em um intervalo de tempo passado, ao passo que o futuro do pretérito (FP) é
caracterizado por noções de hipótese, incerteza ou futuro relativo a um momento passado. Os dados
da pesquisa evidenciaram que as duas formas são recorrentes na língua e que seu uso não é
estigmatizado, uma vez que os falantes se utilizam tanto de uma forma verbal como da outra sem
distinção. Levando em consideração as aulas de Língua Portuguesa (LP), vemos que os assuntos
gramaticais são sempre abordados do ponto de vista tradicional, não levando os alunos a uma
reflexão sobre a funcionalidade da língua. O mesmo problema acontece quando estudamos tal
alternância, já que o conteúdo morfológico 'verbo' não é estudado de forma satisfatória.
Acreditamos que as noções semântico-discursivas de tempo, aspecto e modalidade devam estar
inseridos no estudo verbal. Assumindo a concepção de que a língua é dinâmica e heterogênea,
consideramos o estudo dessa alternância relevante. O presente trabalho foi desenvolvido seguindo
os parâmetros teórico - metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008).
O PERFIL DO PROFESSOR E DA MATÉRIA DE LÍNGUA PORTUGUESA ATRAVÉS
DA PERSPECTIVA DISCENTE
Amanda Cristina Testa Siqueira – UFJF
O presente trabalho faz parte do Macro Projeto Ensino de Língua Portuguesa- da Formação Docente
à Sala de Aula e tem por objetivo principal identificar o motivo do crescente desinteresse dos alunos
com relação à disciplina de Língua Portuguesa nos dias atuais. Essa identificação será realizada a
partir da imagem que esses sujeitos têm a respeito dos professores e da referida matéria, através de
discursos narrativos de 354 alunos de 9º ano do Ensino Fundamental e 2º ano do Ensino Médio de
sete escolas estaduais do município de Juiz de Fora. A escolha da narrativa é pautada nos
pressupostos advindos da sociolinguística (Thornborrow e Coates,2005;Fabrício e
Bastos,2009;Threadgold,2005;Bauman,1986;Coupland,Garrett e Williams,2005). A análise dos
dados se baseia na Linguística Cognitiva e na Antropologia Evolucionista de Tomasello(2003). A
semântica de frames nos termos desenvolvidos por Fillmore(1979,1982) e, em especial, o projeto
lexicográfico FrameNet, fornece a principal categoria analítica – o conceito de frame. Portanto, a
partir dos frames evocados nos textos recolhidos, podemos constatar quais são as atitudes e as
experiências mais marcantes para os alunos na convivência diária do ambiente escolar, a fim de que
possamos entender qual é a visão deles acerca dos professores e da matéria de língua portuguesa. A
análise dos dados ainda está em fase inicial, por isso não obtivemos, ainda, grandes resultados para
serem expostos no presente resumo. A princípio, os alunos demonstram uma preferência por
professores mais competentes, dinâmicos e responsáveis. O estudo tem previsão para acabar em
agosto de 2013.
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A RELAÇÃO ENTRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E A TRANSITIVIDADE
EM TEXTOS DE OPINIÃO DE ESTUDANTES KALUNGA (GO): UMA ABORDAGEM
FUNCIONAL-TIPOLÓGICA
Roberta Rocha Ribeiro – PPGL/UnB
Dioney Moreira Gomes – PPGL/UnB
Este trabalho pretende apresentar parte dos resultados de um projeto de doutoramento ora
desenvolvido na Universidade de Brasília, o qual analisa a transitividade em textos de opinião
escritos em Português Brasileiro (PB). Nosso recorte aqui será composto por três estudantes
kalunga da Licenciatura em Educação do Campo (Universidade de Brasília), bem como de seus
alunos do Ensino Fundamental II de duas escolas quilombolas de Cavalcante-GO sob a égide da
sintaxe funcional-tipológica. O objetivo principal dessa coleta de dados em diferentes níveis de
estudo é verificar se há um continuum entre usos linguísticos do professor em formação e do seu
alunado. Isso pode revelar inter-relações entre transitividade, gêneros textuais, ensino e letramento.
Nesse sentido, cumpre destacar que a sintaxe funcional-tipológica, em geral, apresenta como escopo
teórico-metodológico a verificação dos fenômenos linguísticos a partir da língua em uso, da
interação entre os falantes. Isso favorece, conforme Haspelmath (2007), a construção da tipologia
de uma língua para, enfim, realizar a translinguística com comparações entre diferentes línguas
naturais. Assim, a fim de tecer a tipologia linguística do PB acerca da transitividade, são utilizados
os estudos seminais sobre o fenômeno em tela de Hopper; Thompson (1980) e Givón (2001), que
reconhecem o fenômeno como gradiente e de cunho sintático-semântico-pragmático,
respectivamente. Como os dados de análise são coletados e observados em textos de opinião (artigo,
resenha, editorial, carta argumentativa), a presente pesquisa possui também como suportes teóricos
os trabalhos a respeito de gêneros do discurso de Bakhtin (2000), de tipos ou sequências textuais
(ADAM, 2001; MARCUSCHI, 2005), de letramento (BARTON, 1994; STREET, 1993) e de
Etnografia Sociolinguística (HYMES, 1974). Os textos de opinião possuem características e
funcionalidades próprias, que garantem suas veiculações no mundo. Essas características e
funcionalidades se dão tanto em âmbito sintático, estrutural quanto em âmbito do sentido, do
discurso. Dessa maneira, a relação existente entre transitividade, gêneros, tipos é a de que
mecanismos gramaticais que constituem e organizam a sentença contribuem na formação dos tipos,
dos textos, dos gêneros, dos discursos. Já os processos ligados ao letramento podem ser
visualizados nas estruturas linguísticas, mostrando a língua(gem) a serviço das práticas sociais dos
pesquisados. Gêneros do argumentar e do opinar apresentam exercícios efetivos de cidadania e
geram discussões ampliadas do letramento, não o restringindo às práticas escolares, mas os
associando às referidas práticas, uma vez que o letramento, além de ser visto aqui como um
processo, é orgânico, ecológico, ocorre em instâncias variadas de interação. Por fim, a Etnografia
Sociolinguística entra em cena para mapear/delinear as realidades linguísticas e sociais que
permeiam as vivências dos discentes kalunga em questão. Nessa linha, a transitividade é vista
partindo de estruturas e finalidades diversificadas, da interação social ligadas às práticas
pedagógicas. Tal concepção pretende demonstrar o dinamismo linguístico inerente às línguas
naturais conforme as intenções e situações comunicativas, além de trazer à linguística uma
responsabilidade social.
A ACESSIBILIDADE DAS CONSTRUÇÕES RELATIVAS E A AQUISIÇÃO DA ESCRITA
Gabriela Oliveira – UNESP-São José do Rio Preto
O objetivo deste trabalho é apresentar algumas reflexões preliminares sobre o estudo das orações
relativas (ORs) no processo de aquisição da escrita do português brasileiro, de modo a estabelecer
as restrições à acessibilidade e a fim de confirmar ou não a hipótese de que a aquisição dessa
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504
construção é regida pela Hierarquia de Acessibilidade de Keenan e Comrie (1977). Segundo esses
autores, quanto mais alta a função na hierarquia, mais fácil é o entendimento da relativa e, por isso,
mais acessível à relativização é a categoria gramatical envolvida. Com base numa amostra de
aproximadamente 50 línguas, Keenan e Comrie (1977) observam que a variação existente obedece a
padrões regulares de distribuição tipológica e, assim, propõem a seguinte hierarquia de
acessibilidade das orações relativas: Sujeito > Objeto Direto > Objeto Indireto > Oblíquo >
Genitivo > Objeto de Comparação. A aplicabilidade da hierarquia de Keenan e Comrie (1977)
como hipótese de facilidade de processamento se confirma em evidências obtidas no processo de
aquisição da oralidade; com efeito, Perroni (2001) mostra que a maioria das orações relativas
construídas por crianças entre dois e cinco anos retomam referentes na função de Sujeito e Objeto
Direto, justamente os dois graus superiores da Hierarquia de Acessibilidade. Tendo como suporte
metodológico os dados discutidos por Perroni (2001), este trabalho propõe uma investigação
semelhante de acessibilidade à oração relativa, tendo como ponto de partida a Hierarquia de
Acessibilidade de Keenan e Comrie (1977) e diferindo do trabalho de Perroni (2001) ao focalizar a
aquisição da escrita. Além disso, dois aspectos inovadores em relação aos trabalhos de Perroni
(2001) e de Keenan e Comrie (1977) guiam este trabalho: (i) o enfoque não se limita aos critérios
sintáticos, mas os estende aos semânticos e pragmáticos. (ii) É extremamente relevante para este
trabalho responder se as estratégias copiadoras e cortadoras, na terminologia de Tarallo (1983),
persistem nas primeiras fases de aquisição de escrita como estratégias de aquisição das posições
mais baixas, levando em conta que as construções não-padrão de oração relativa já tenham sido
adquiridas oralmente e que são de mais fácil compreensão que a estratégia padrão. Concordando
com Kenedy (2007) que a relativa-padrão em posições preposicionadas é antinatural, consideramos
como hipótese que essa alternativa é adquirida pela criança apenas em situação de letramento
escolar quando se amplia seu contato com a norma culta; além disso, consideramos como hipótese
que as construções que relativizam as posições mais altas na HA (Sujeito e Objeto), juntamente com
a alternativa copiadora e a cortadora das posições mais baixas (Objeto Indireto, Oblíquo e
Genitivo), devem ser mais prontamente adquiridas, mesmo na situação de letramento formal. Para o
desenvolvimento desta pesquisa, serão utilizados dados do corpus de textos escritos coletados pelo
Grupo de Pesquisa Estudos sobre a Linguagem (GPEL/CNPq), coordenado por Chacon (20012004).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O VALOR ASPETUAL ITERATIVO NO
PORTUGUÊS EUROPEU E EM POLACO
Justyna Wisniewska – UMCS-Polônia
Propomo-nos, no presente estudo, comparar os processos de expressão da iteratividade no
Português Europeu e em Polaco. Partimos do princípio de que a iteratividade é um dos valores
específicos da categoria linguística Aspeto. Esse valor é uma das variantes do valor aspetual
durativo.Se compararmos os meios linguísticos disponíveis nas duas línguas em questão,
verificamos que, enquanto o Polaco exprime obrigatoriamente o valor aspetual iterativo pelos
recursos linguísticos circunscritos à morfologia derivacional, o Português utiliza meios linguísticos
diversificados para atingir o mesmo alvo; trata-se de meios morfológicos, morfossintáticos, lexicais,
construções sintáticas complexas e meios textuais. Assim, os estudiosos não-nativos costumam
encontrar grandes dificuldades na expressão do mesmo valor aspetual em Português que possui a
riqueza de recursos linguísticos para exprimir a iteratividade inerente à forma verbal polaca,
marcada morfologicamente.Com a análise efetuada procura demonstrar-se que o valor aspetual
iterativo encontra, nas línguas em questão, os seus processos de expressão e que estes não
costumam coincidir.
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A CONSTRUÇÃO MEDIAL NO PB: UMA ABORDAGEM FUNCIONAL CENTRADA NO
USO
Nádia Maria Silveira Costa de Melo – UFRN/UERN
Neste trabalho, investigamos um fenômeno linguístico do português do Brasil denominado
construção de estrutura argumental medial, ou apenas, Construção Medial. Nosso objetivo consiste
em analisar a sua constituição interna em termos sintáticos e semânticos, observando as condições
pragmáticas que motivam seu uso no discurso. A construção medial é inteiramente aberta quanto
ao seu preenchimento lexical (como qualquer construção de estrutura argumental), o que revela a
existência de total imprevisibilidade quanto ao seu preenchimento. O material de análise provém
corpora Discurso & Gramática, em suas cinco versões: Natal, Rio Grande, Rio de Janeiro, Niterói e
Juíz de Fora; ainda, de textos que circulam na Web. As amostras analisadas constituem um corpus
com 100 ocorrências de Construção medial da língua em seu uso real, quantidade satisfatória para
cumprir com nossos propósitos. A variedade textual surgiu como uma tentativa de captar a
diversidade dos modos de codificação morfossintática dessa construção. Para este trabalho foram
analisadas 100 ocorrências produzidas por informantes de ambos os gêneros e de variados os níveis
escolares. O suporte teórico adotado é a Linguística Funcional Centrada no Uso (Usage-Based
Linguistic) ou Linguística Cognitivo-Funcional, conforme os postulados de Tomasello (1998),
Martelotta (2008), Bybee (2010) Furtado da Cunha (2011), entre outros. Alguns dos pressupostos
defendidos aqui são: a) a língua é uma atividade sociocultural, que serve a funções comunicativas e
cognitivas. b) a linguagem humana é um sistema simbólico mediador entre a linguagem, o mundo e
a cognição. c) a gramática é um conjunto mutável de rituais linguísticos que está sempre a se
adaptar a pressões comunicativas e cognitivas; logo, resulta da cristalização ou regularização (numa
ótica sincrônica) de estratégias discursivas recorrentes, que decorrem de pressões cognitivas e,
sobretudo, de pressões de uso (FURTADO DA CUNHA, 1996). Os resultados apontam que o uso
da construção medial é produtivo em situações em que o falante não quer omitir ou ignora a autoria
do evento expresso na construção.
SUBJETIVIZAÇÃO E GRAMATICALIZAÇÃO NAS CONSTRUÇÕES VAI VER E VAI
QUE
Maria Aparecida da Silva Andrade – UFRN
A linguagem humana não codifica apenas aquilo que é palpável, visível, objetivo, mas também a
forma como o ser humano percebe o mundo ao seu redor, conforme suas expectativas, crenças e
atitudes. Assim este trabalho visa analisar a interface entre a manifestação da subjetividade e a
codificação morfossintática no emprego das construções vai ver e vai que pelo falante. A
metodologia segue a abordagem qualitativa, procurando-se compreender as motivações que
orientam o falante para o uso das construções linguísticas em estudo na manifestação de crenças e
atitudes. Os dados para composição da análise foram coletados do corpus D&G e de alguns jornais
on line. Este trabalho respalda-se teórica e metodologicamente na Linguística Funcional e na
Linguística Cognitiva, também denominadas Linguística Cognitivo-Funcional, conforme Tomasello
(1998, 2003). Essas duas correntes teóricas compartilham vários pressupostos teóricos e
metodológicos como rejeição à autonomia da sintaxe, a incorporação da semântica e da pragmática
às análises, a não distinção estrita entre léxico e gramática, a relação estreita entre a estrutura das
línguas e o uso que os falantes fazem delas nos contextos reais de comunicação, o entendimento de
que os dados para a análise linguística são enunciados que ocorrem no discurso natural, entre
outros. A gramática é vista como representação cognitiva da experiência dos indivíduos com a
língua; portanto, ela pode ser afetada pelo uso linguístico (FURTADO DA CUNHA; BISPO;
SILVA, 2012). Destacamos da vertente funcionalista o paradigma da gramaticalização na acepção
505
506
de Traugott (1995) para quem esse modelo compreenderia um processo de subjetivação, cujos
significados, baseados nas crenças e atitudes do falante, são resultantes de processos semânticopragmáticos. Assim, a subjetivização é codificada morfossintaticamente por construções
gramaticais que correspondem às crenças e atitudes do falante a respeito da proposição.
Acreditamos que isso ocorra com a construção vai ver quando o falante conjectura um evento a
partir de outro instanciado, fazendo uma suposição a respeito do que diz, bem como a construção
vai que quando empregada para codificar probabilidade acerca do que o falante observa. Espera-se
com este trabalho contribuir para uma reflexão em torno da relação codificação morfossintática e
manifestação da subjetividade considerando-se o contexto em que os enunciados ocorrem
efetivamente.
UMA ANÁLISE DO ASPECTO VERBAL DO PB EM GRAMÁTICAS NORMATIVAS
Thaís Ludmila da Silva Ranieri – UFPE
O presente trabalho pretende fazer uma análise do estudo sobre aspecto verbal em gramáticas
normativas de Língua Portuguesa. Para isso, apresentaremos uma discussão sobre o aspecto verbal
dentro das teorias linguísticas, ao passo que traremos exemplos de diversas línguas, confrontandoos com exemplos do Português Brasileiro. Podemos anunciar, de antemão, que o aspecto verbal em
Português Brasileiro (PB) vem sendo tratado dentro dos estudos gramaticais tradicionais associados
às categorias de tempo e modo, restringindo a discussão ao plano morfológico. Por vezes, o aspecto
nem é apresentado como categoria verbal. No entanto, vários trabalhos desenvolvidos, desde a
década de 60 aqui no Brasil, mostram que tal questão vai além do plano morfológico. Givón (1984)
ressalta que o tempo, o modo e o aspecto são as categorias mais comuns universalmente
encontradas dentro da classe dos verbos. Para Payne (1997, p. 238, tradução nossa), “o aspecto
descreve a forma temporal interna de eventos ou estados”. Em sua visão, o aspecto está associado à
realização e à duração de eventos ou estados dentro de um plano temporal, ainda que para ele um
não seja intrínseco ao outro. O referencial teórico ainda é composto pelas discussões de Castilho
(2010) e Ilari (2008), referente às discussões em Língua Português. Em nosso caso, por assumirmos
uma vertente de base funcionalista que nos leva a ver além da estrutura linguística, trataremos
língua como uma atividade social que se realiza a partir do uso dos falantes de uma determinada
comunidade linguística. Para tanto, acionamos questões de ordem pragmática, cognitiva e social em
nossas práticas rotineiras de uso da língua. Não descartamos a estrutura que sustenta um sistema
linguístico, mas acreditamos que apenas ela não permite a realização de todas as intenções de seus
falantes. Retomamos aqui as palavras de Ilari (2003) para quem as características formais se
associam a características de sentido. Entendemos, portanto, que língua se realiza na interação
social entre seus sujeitos. Em vista disso, confrontaremos tais trabalhos com os estudos
apresentados nas gramáticas normativas de Língua Portuguesa. Confrontaremos, em alguns
momentos, a visão da Gramática Tradicional, representada por algumas gramáticas normativas, com
pesquisas desenvolvidas por linguistas brasileiros que se encontram em gramáticas descritivas. O
corpus é composto por uma coletânea de gramáticas normativas, desenvolvidas por Napoleão
Mendes de Almeida, Rocha Lima, José Carlos Azeredo e Evanildo Bechara. Sabemos que há
inúmeras pesquisas que versam sobre o tema, no entanto priorizaremos aqui, por questões
dimensionais, as discussões mais abrangentes e desenvolvidas por pesquisadores mais conhecidos
dentro dos estudos da Linguística. De modo geral, o trabalho centra-se em estudos de ordem
funcionalista.
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A GRAMÁTICA TEXTUAL NO ENSINO DE PORTUGUÊS
Clemilton Lopes Pinheiro – UFRN
Os estudos que abordam a análise linguística numa perspectiva centrada no uso, com vistas a um
trabalho mais produtivo no ensino de língua portuguesa na educação básica, ficam circunscritos ao
nível morfossintático e desconsideram a gramática da língua no nível textual. No entanto,
defendemos que há fenômenos gramaticais no nível do texto, entendendo-se o texto não como
unidade linguística hierarquicamente mais alta, superior à sentença, mas como entidade do sistema
linguístico, com estruturas determinadas por regras de uma gramática textual. Esses fenômenos
gramaticais verificados no nível do texto são, comumente, negligenciados no ensino. Nesta
comunicação, pretendemos discutir essa questão. Nosso objetivo é focalizar um aspecto da
gramática do texto para mostrar como ele pode ser abordado na sala de aula. A articulação tópica,
maneira como os segmentos tópicos e enunciados se vinculam linguisticamente na materialidade do
texto, é o aspecto da gramática textual focalizado. A perspectiva teórica é a da Gramática TextualInterativa, segundo a qual o texto congrega a atividade discursiva, comportando uma análise
integrada de sua construção e dos fatores enunciativos que lhe dão existência e se mostram na sua
própria constituição.
O PERCURSO GRAMÁTICA < LÉXICO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM ESTUDO
DE CASOS
José Romerito Silva – UFRN
Um dos postulados mais caros à teoria da gramaticalização é o que diz respeito à
unidirecionalidade, ou seja, à trajetória léxico > gramática que as formas linguísticas parecem
seguir na emergência e regularização de padrões gramaticais. Significa dizer que, nesse percurso,
componentes linguísticos passam de palavras substantivas, de conteúdo mais “concreto”, a palavras
ou morfemas funcionais, de conteúdo esvaziado/ mais abstrato, conforme atestam diversos estudos
sobre esse fenômeno, tais como os de Lehmann (1985), Heine et al. (1991), Bybee et al. (1994),
Hopper e Traugott (2003), Martelotta (2010), entre outros. Entretanto, pesquisas como as de Norde
(2011), Diewald (2011), por exemplo, apresentam evidências da possibilidade de inversão desse
percurso, no qual determinadas formas migram da gramática para o léxico. É o que ocorre, por
exemplo, com super ou com extra, os quais, a princípio, eram utilizados apenas como prefixos,
contudo, atualmente, exibem comportamento lexical em alguns contextos, sendo também utilizados
como adjetivos, em função adjuntiva (i.e., modificadores nominais) ou predicativa. Nesse sentido,
este trabalho tem como foco de interesse casos do português brasileiro contemporâneo que parecem
ratificar a ideia de que o movimento contrário gramática < léxico, embora mais raro e
idiossincrático, também é possível. O objetivo é verificar a suposta trajetória inversa ao percurso
unidirecional de itens como esses, procurando identificar motivações funcionais implicadas nesse
fenômeno. O material de análise é proveniente de dados de fala e de escrita, colhidos do Corpus
Discurso e Gramática, em suas variadas seções (Natal, Juiz de Fora, Niterói, Rio de Janeiro e Rio
Grande), do Banco Conversacional, bem como de textos diversos que circulam em jornais, revistas
e sites da internet. Conferem suporte teórico a esta investigação recentes trabalhos sobre
degramaticalização (NORDE, 2011; DIEWALD, 2011), unidirecionalidade (BÖRJARS;
VINCENT, 2011; FISCHER, 2011), lexicalização (BRINTON; TRAUGOTT, 2005; LIGHTFOOT,
2011), entre outros que tratam dessa temática.
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TRANSITIVIDADE: ENSINO REFLEXIVO DE GRAMÁTICA
Maria Angélica Furtado da Cunha – UFRN
Edvaldo Balduino Bispo – UFRN
Esta comunicação aborda as relações entre o significado do verbo e a organização estrutural da
oração, mais especificamente dos verbos tradicionalmente classificados como transitivos diretos, ou
seja, aqueles acompanhados de sujeito e objeto direto. Esta discussão orienta-se por dois objetivos
principais: por um lado, trata das relações entre sintaxe e semântica responsáveis pela codificação
da oração, com base no significado do verbo e nos papéis semânticos dos argumentos que ele
seleciona; por outro lado, apresenta uma proposta de trabalho com interface entre sintaxe e
semântica em sala de aula, no âmbito da educação básica, tomando como exemplo um texto
narrativo. A perspectiva teórica aqui considerada é a da linguística funcional centrada no uso.
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SIMPÓSIO 48
FERRAMENTAS DIGITAIS E RECURSOS DIDÁTICOS
COMPLEMENTARES PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS COMO
LÍNGUA ESTRANGEIRA
Neste simpósio, pretende-se apresentar reflexões e/ou propostas relacionadas às ferramentas digitais
e aos variados recursos complementares que se podem utilizar no ensino de português como língua
estrangeira. O mercado editorial voltado para este contexto de ensino tem crescido bastante nos
últimos anos, com livros didáticos (LDs) mais atuais, tanto no que diz respeito às abordagens
quanto à realidade brasileira. No entanto, apesar de os livros didáticos exercerem relevante papel,
seja como um elemento centralizador ou provocador, como bem sabem aqueles que atuam como
professores, as atividades de ensino requerem materiais complementares de natureza diversa.
Gramáticas pedagógicas, por exemplo, se fazem bastante necessárias, uma vez que o tratamento de
certos aspectos gramaticais em LDs deixa muito a desejar e, mesmo que seja satisfatório, ainda
assim será insuficiente para um aprofundamento da gramática da língua a ser aprendida. Dicionários
de aprendizagem também poderiam auxiliar o aluno em seu processo de compreensão ou produção
de textos, assim como na realização de exercícios. Em suporte digital – em CD ou como página na
internet –, há uma gama de possibilidades que podem ser disponibizadas, como exercícios,
atividades, glossários, textos etc., seja para uso em sala de aula, seja como material que exige um
aprendizado mais autônomo.
Assim, as discussões a serem realizadas neste simpósio certamente contribuirão para o
aprimoramento do trabalho do aluno e do professor e para a divulgação da língua portuguesa.
COORDENAÇÃO
Orlene Lúcia de Saboia Carvalho
Universidade de Brasília
[email protected]
Daniele Marcelle Grannier
Universidade de Brasília
[email protected]
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NÚMEROS SEMÂNTICOS: O RECURSO DIDÁTICO E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO
DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS E DE LIBRAS PARA OUVINTES
Claudio Alves Benassi – UFMT
Anderson Simão Duarte – UFMT
Na atualidade, o assunto inclusão tornou-se “moda’’ recorrente nas instituições de ensino em todos
os níveis educacionais e também não poderia ser diferente nas esferas sociais. A inclusão na sua
forma de lei tem o papel de interação social, com uma perspectiva de intercâmbio entre os
indivíduos diretamente envolvidos no processo sócio-cultural. As políticas públicas têm norteado as
ações de envolvimento dos ditos “sujeitos especiais”, sujeitos estes reconhecedores de seus direitos
sociais e legais junto aos órgãos públicos e privados, vale ressaltar, que fora muito diferente dos
dias atuais. Direitos conquistados com exclusões, lutas e muitas mortes. A educação é a pedra
fundamental da dita inclusão social, figura que representa a aceitação e acomodação entre os
indivíduos na tentativa de mostrar ou tenta mostrar a realidade de acessibilidade. A instituição
educação está passando por um processo árduo, entretanto, necessário para a legitimidade do tão
sonhado e idealizado “direitos iguais para todos”, transformação de um social contemporâneo.
Tenta-se criar modelos, regras e/ou fórmulas para o processo ensino-aprendizagem das crianças,
jovens ou adultos com algum tipo de “deficiência”, sejam elas: auditiva, física, intelectual, visual ou
outras. Os modelos atuais de ensino no processo da escrita da Língua Portuguesa – LP e/ou ensino
da Língua Brasileira de Sinais – Libras aos surdos e não surdos são usados na atualidade de forma
errônea e descontextualizados. Temos como intuito alcançar os pesquisadores, professores e alunos
que estejam engajados no ensino da Libras como L2 aos alunos ouvintes e o ensino de LP como L2
aos alunos surdos. Os Números Semânticos – NS, tem o caráter de preservar a estruturas sintáticas
de ambas as línguas envolvidas no processo na modalidade escrita da LP e na modalidade visualespacial da Língua de Sinais – LS. O objetivo central desta pesquisa é nortear os educadores das
universidades públicas e privadas no ensino de LS para acadêmicos ouvintes nos cursos de
licenciaturas e saúde em conformidade a Lei Nacional 10.436 de 24 de abril de 2002. E também no
ensino de LP para acadêmicos surdos. Dialogamos com alguns conceitos teóricos de Bakhtin e
Levy Vygostiky além de alguns pesquisadores do campo linguagem e da linguística, tais como
Santaella, Bailello Junior, Ronice Quadros, González-Rey, dentre outros. A grande problemática no
processo ensino-aprendizagem da LS para ouvintes e LP para surdos em questão é o baixo índice de
pesquisas e publicações de artigos que trate do assunto, tema este tão emergente em nossas
academias. A pesquisa já resultou em avanços consideráveis de uma nova proposta no ensino de LP
e LS para surdos e ouvintes respectivamente tendo como instrumento didático e metodológico os
NS. Os Números Semânticos tem a característica visual na modalidade escrita, constituindo,
portanto, uma relação visual-espacial estreitando e favorecendo o processo de aprendizagem frente
ao aluno surdo pela afinidade com sua língua materna. E ao mesmo tempo o aluno ouvinte constitui
um aprendizado facilitador em detrimento ao campo visual de LP e LS de forma simultânea.
Portanto, a presente pesquisa pretende contribuir sistematicamente na construção de novos saberes
das línguas envolvidas.
RECEITAS CULINÁRIAS NO ENSINO DE PLE
Orlene Lúcia de Saboia Carvalho – UnB
Daniela Emerich da Cruz – UnB
Os materiais utilizados no ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE) apresentam desafios
constantes, desde sua adequação ao público-alvo até a necessidade de materiais complementares
para suprir possíveis lacunas dos livros didáticos (LDs) adotados em sala de aula. A elaboração de
materiais, sejam LDs ou materiais complementares, deve ter como base os diferentes gêneros, visto
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que estes são formas textuais (escritas ou orais) bastante estáveis, com padrões sociocomunicativos
característicos, histórica e socialmente situados, além de serem essenciais na intermediação das
práticas sociais (MARCUSCHI, 2008). Entre as diversas possibilidades de complementação do
material básico utilizado no ensino de PLE, o gênero textual “receita culinária” não tem sido
devidamente explorado, apesar de ser uma relevante fonte de língua e cultura. O uso da receita
culinária permite múltiplas associações, questionamentos e envolve necessariamente um fator
extremamente importante para o ser humano, a alimentação. Assim, propomos a elaboração de
material complementar com base em tradicionais e culturalmente variadas receitas culinárias
brasileiras. Utilizar a receita culinária com propostas de atividades propicia a discussão e a análise
de vocabulários, estruturas gramaticais, hábitos, tradições culinárias, representações, identidades e
práticas sociais. Trata-se de um gênero textual cuja estrutura e tipo textual são bastante estáveis: as
partes componentes básicas costumam ser Ingredientes e Modo de preparo, com predominância dos
tipos descritivo e injuntivo, e uma certa sistematicidade no uso do modo verbal imperativo
(BAGNO, 2011), que é utilizado tanto pela necessidade de evidenciar as transições de uma etapa
para a outra durante o preparo, quanto pela sua característica tradicionalmente descrita como
comando. A seleção das receitas que comporão o material tem como critério a formação cultural do
Brasil. As heranças dos povos que aqui habitavam e daqueles que para cá imigraram estão presentes
na culinária das várias regiões brasileiras. Para tanto, buscamos historicamente a formação da
culinária brasileira, com o objetivo de encontrar o lugar de cada cultura na nossa alimentação e a
fim também de compreender e evidenciar a diversidade regional. Sendo assim, a nossa seleção de
receitas propõe um quadro do que realmente é o Brasil, indo além dos estereótipos, como feijoada e
caipirinha, e revelando a verdadeira multiculturalidade brasileira.
A POLIDEZ BRASILEIRA E OS FALANTES DE ESPANHOL
Rodrigo Albuquerque – UnB
O presente estudo consiste em evidenciar estratégias de polidez negociadas no curso da interação
entre o professor nativo de língua portuguesa e os estudantes cuja língua materna seja a espanhola.
Para a geração de dados serão utilizadas narrativas orais e escritas, de estudantes do nível
intermediário do Programa de Ensino e Pesquisa em Português para Falantes de Outras Línguas, da
Universidade de Brasília (UnB), com vistas a investigar, por meio de grupo focal, situações de (falta
de) polidez, vivenciadas em suas experiências cotidianas no país. Em consonância com esses dados,
serão usados como suporte básico a Pragmática (BROWN & LEVINSON, 1987; GOFFMAN,
1981; 1972; GRICE, 2006; LAKOFF, 1972 E LEECH, 1983) e a Sociolinguística Interacional
(GUMPERZ, 1982a; 1982b). As pistas de contextualização verbal e não-verbal mantêm estreita
relação com a teoria de polidez, por constituírem práticas interacionais socioconstruídas e
negociadas no curso da interação e basearem-se em convenções socioculturais. A metodologia
qualitativa (descritiva e interpretativa) enquadra-se na pesquisa por permitir a geração e a análise de
dados de maneira natural, a partir dos relatos realizados pelos colaboradores de pesquisa,
favorecendo a construção de estratégias de polidez mais eficazes na busca de interação mais
harmônica entre os interlocutores e aperfeiçoamento das interações com brasileiros em contextos
diversos.
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TRAZENDO O BRASIL PARA A SALA DE AULA DE UMA UNIVERSIDADE
AMERICANA: TECNOLOGIA E ENSINO DE PLE E CULTURA BRASILEIRA
Vivian Flanzer – University of Texas
Os educadores de língua estrangeira concordam que é importante desenvolver a competência
intercultural na língua estrangeira (SCHULZ, 2007). Partindo do princípio de que língua e cultura
estão intrinsicamente relacionadas, desenvolvi um website, ClicaBrasil, para ensinar Português
como língua estrangeira e cultura brasileira para alunos do nível intermediário. ClicaBrasil reúne
vídeos e atividades que desenvolvem simultaneamente a competência intercultural e as habilidades
linguísticas sugeridas por Levy (2009). Minha participação consistirá de uma apresentação do
website (http://www.laits.utexas.edu/clicabrasil) e de uma discussão sobre a experiência de alunos e
professores que o utilizam em uma universidade americana, bem como de diretrizes para o ensino
concomitante de língua e cultura na sala de aula.
SELEÇÃO DAS VARIANTES FONÉTICAS DAS CONSOANTES FRICATIVAS PARA O
DICIONÁRIO SEMIBILÍNGUE DE APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Antônio Augusto Souza Mello – LIP/UnB
Orlene Sabóia – LIP/UnB
Os materiais didáticos de português como língua estrangeira (LE) não têm dado a devida
importância à fonética. No entanto, com apenas alguns conceitos desta disciplina e a familiarização
com alguns símbolos fonéticos, o aprendiz pode praticar e assimilar com maior facilidade a
pronúncia da língua estudada. Essa falha é agravada pelo fato de ainda não haver uma obra
lexicográfica direcionada aos aprendizes, material complementar de grande relevância para a
aprendizagem, em que constariam as transcrições fonéticas das palavras componentes da
nomenclatura. Devido a essas lacunas, estamos desenvolvendo um projeto de elaboração de um
dicionário semibilíngue de aprendizagem do português brasileiro como LE, em que haverá espaço
para a fonética: uma introdução à fonética do português brasileiro, com algumas variações; e, no
corpo da obra, a transcrição fonética dos lemas. Neste trabalho, discutiremos as escolhas das
variantes fonéticas para transcrição com base na seleção das variantes menos marcadas,
considerando as diversas variações dialetais do português do Brasil. Trataremos das consoantes
fricativas alveolares, palatoalveolares e velares, cuja variação é grande no português brasileiro, e a
escolha de determinada variante para transcrição, cujos critérios podem ser o número de falantes ou
facilidades de determinadas línguas com determinadas sequências fonotáticas. A escolha da
fricativa velar desvozeada (“x”) ao invés da vibrante simples em certos contextos se deve à
distribuição mais ampla no Brasil da primeira variante. Mas, quando é a 2ª consoante de uma sílaba
CVC, entre as fricativas alveolar e palato-alveolar optamos pela alveolar por haver maior facilidade
dos falantes de português como segunda língua com esta variante. Apesar de termos de tomar
decisões, na introdução exporemos as variáveis e suas diferentes distribuições geográficas, cujo
principal objetivo é expor as alternativas e deixar que o aprendiz se adapte à variante com que ele
tenha maior facilidade. Por exemplo, um falante de inglês ou espanhol tem grandes problemas em
emitir uma palatoalveolar diante de uma outra consoante, algo que não ocorre com o falante de
alemão.
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GRAMÁTICA PEDAGÓGICA E ATIVIDADES PRÁTICAS COMPLEMENTARES
Daniele Marcelle Grannier – UnB
O ensino de português como língua estrangeira a diferentes públicos requer materiais didáticos,
manuais ou roteiros de cursos que contemplem as especificidades de cada grupo, definidas em
função de sua idade, de seus interesses e principalmente da sua experiência linguística anterior
(língua materna, entre outras). Há questões, entretanto, que são bastante comuns entre os aprendizes
estrangeiros, como por exemplo, a dificuldade em distinguir os usos de tempos verbais como o
futuro e o pretérito do subjuntivo (quiser x quisesse), e podem ser tratadas em materiais
complementares ao material didático básico. Esta comunicação se fundamenta em um levantamento
das dificuldades mais comuns entre os aprendizes estrangeiros estudando português no Brasil, na
análise preliminar dos pontos envolvidos nessas dificuldades e da formulação de explicações
gramaticais simples, baseadas em exemplos de uso, que constituem uma versão leve de uma
gramática pedagógica. Para a proposta didática, foram selecionados dois tipos de dificuldades
gramaticais e, com base nas regras de uso das formas envolvidas, foi elaborada uma amostra de
recurso didático complementar que pode ser usado tanto para atividades em sala de aula como para
atividades extraclasses, em versão digitalizada ou não. Esse material propõe atividades práticas e
segue a diretriz do foco-na-forma de Long (1991), associada a atividades indutivas, no contexto de
uma abordagem interacional (ELLIS, 1999). Serão discutidas as vantagens da utilização desse tipo
de recurso didático que pode ser articulado com diferentes manuais adotados como roteiros básicos
de cursos de português para estrangeiros.
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SIMPÓSIO 49
LÍNGUA, HISTÓRIA E MOVIMENTOS NO DISCURSO
Com base nas formulações de Michel Foucault e de Michel Pêcheux acerca das possibilidades do
dizer, pretende-se, neste simpósio, reunir trabalhos que discutam a relação entre língua e história,
considerando as contradições produzidas nas práticas discursivas contemporâneas, dado o controle
sobre a língua que, como contraefeito, provoca uma intensificação dos discursos, redefinindo as
regras das formações discursivas. A análise dessa relação deverá ser conduzida pela discussão de
Michel Foucault em: As palavras e as coisas para a reflexão sobre as configurações do saber
responsáveis pelo arquivo que fornece as condições do que é dito e da construção dos objetos de
conhecimento; História da sexualidade para estender seus pressupostos a outros temas da
atualidade, com a discussão a respeito das contradições instauradas pela política da língua e da
palavra que produz, no nível discursivo, um fenômeno inverso ao mutismo esperado pela censura; A
arqueologia do saber para subsidiar a análise das regras de formação dos discursos que impõem à
língua certos movimentos e certas condições de existência, com base na discussão sobre enunciado
e formação discursiva. Michel Pêcheux deverá compor a discussão por meio de suas ideias acerca
da relação entre língua e história em A língua inatingível e da heterogeneidade e dispersão dos
lugares enunciativos do sujeito, demonstradas em Discurso: estrutura ou acontecimento. A
proposta deste simpósio centra-se, inicialmente, na hipótese de que o controle dos enunciados
delimita o lugar e o momento em que certos ditos podem ser efetivados, redistribuindo os
enunciadores, redefinindo conceitos e teorias, movendo os sistemas de dispersão das formações
discursivas.
COORDENAÇÃO
Kátia Menezes de Sousa
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Cleudemar Alves Fernandes
Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
Roberto Leiser Baronas
Universidade Federal de São Carlos
[email protected]
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DA LINGUÍSTICA E OUTRAS CONTROVÉRSIAS: IMPLICAÇÕES PARA UMA
ANÁLISE DISCURSIVA DAS RELAÇÕES DE PODER NOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
Josiane dos Santos Lima – UFG/FL
O que é a Linguística? E, por conseguinte, o que faz um linguista? Quantos estudiosos,
autodenominados linguistas, não fizeram tais questões ou, na melhor das hipóteses, já se
encontraram na difícil situação de ter que explicar a um leigo o seu ofício? A Linguística,
definitivamente, não é algo fácil de explicar. O fazer do linguista segue o mesmo caminho. Por
outro lado, torna-se impossível negar que para qualquer lugar que se olhe, no campo dos estudos
linguísticos, só há diferenças! Parece-nos pertinente enxergar na história dos estudos linguístico não
a busca desinteressada da verdade, ou mesmo uma evolução de estudos ou progresso científico.
Admitimos, sim, que há uma via constante de produção do verdadeiro. Por outro lado, como ocorre
de dados enunciados serem possíveis ou serem perpetuados sobre a língua como conceito; a própria
possibilidade de ver em tal esfera algo em torno do qual se possa fazer ciência e, ainda, o que o
suposto “convívio” das várias perspectivas teóricas na Linguística revela sobre este espaço de
produção de saber, de relações de poder e de constituição de sujeitos? De maneira geral, podemos
afirmar que a pesquisa dimensiona a própria constituição da ciência Linguística a partir de um
aporte discursivo. Em outros termos, o trabalho procura, pela Análise do Discurso, explicitar como
se dá a institucionalização de uma ciência da linguagem fundada, supostamente por Ferdinand
Saussure a partir das propostas do Curso de Linguística Geral e os desdobramentos posteriores que
são materializados seja na rivalidade Linguística X Estudos de Gramática Tradicional; na
heterogeneidade em torno das teorias dos fatos linguísticos; diversidade de objeto e, sobretudo, na
produção de subjetividade. Tratamos, aqui, de um discurso de ciência e, não existe, para alguns,
algo mais propício para a produção de verdade. Não há lugar mais “neutro” para dizer ao outro o
que é e o que não é, não apenas no estrito espaço do certo ou errado, mas na própria possibilidade
do que se pode autorizar existir. Pensar o Governo em nossa pesquisa não possuiria a finalidade
última de atestar sua existência no campo proposto. Devemos tomar tal conceito para explicitar nos
estudos científicos da língua uma economia que engendra práticas de subjetivação. Também
devemos ter em mira que as práticas de subjetivação são ainda formas de objetivação, ou seja, das
formas como o sujeito foi objeto de saber e de poder, tanto em relação a si como para os outros,
posto que no quadro geral das Ciências Humanas não conta para o seu desenvolvimento somente os
aspectos puramente epistemológicos. Assim, se queremos entender a constituição da Linguística a
partir de uma analítica do poder, o conceito de Governo parece ser requisitado de alguma forma.
Quando se faz ciência não se produz somente resultados “externos”, mas se produz,
substancialmente, o próprio fazer, se produz o cientista, em nosso âmbito, o linguista.
A LINGUAGEM COMO ELEMENTO REPRESENTACIONAL DO INTINERÁRIO DE
VIDA DOS IDOSOS
Carla Eliana da Silva Tanan – UFBA
A memória contribui para a formação de identidade do sujeito no espaço e no tempo. Esta pesquisa
foi desenvolvida a partir dos relatos de vida dos idosos moradores do Lar dos Velhos localizado no
município de Itaberaba-BA, com o intuito de perceber como os elementos históricos presentes na
memória dos idosos atuam como elemento constitutivo da sua história. Utilizamos como dispositivo
para conhecermos a história de vida dos idosos a literatura de Cordel, por considerarmos que este
possui uma linguagem que se adequa ao seu contexto de vida. A partir das conotações e das
histórias compartilhadas passamos a conhecer a importância das Cantigas de Rezas e de Reis para a
constituição de história de vida desses sujeitos. Após realizar a coleta de dados através de entrevista
e diário de campo, realizamos o estudo e análise dos dados. Para fundamentar esta pesquisa
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utilizamos os teóricos que discutem identidade, memória e linguagem como: Hall (2006), Sigorini
(1998), Hanks (2008) e muitos outros autores. A partir do estudo realizado, percebemos o quanto as
Cantigas de Rezas e de Reis estão presente na memória dos sujeitos, estabelecendo uma relação de
passado e presente com a sua história de vida, pois sempre que se remetem a sua história de vida
apresentam os momentos que viveram e as cantigas que lhes marcaram ao longo de seu itinerário de
vida. Sendo assim, as histórias de vidas estão atreladas as Cantigas de Rezas e de Reis sendo um
dispositivo para constituição e reconstituição de suas histórias como agentes sociais.
FOLHA DE S. PAULO – DOENÇA OU... POLÍTICA?
Anderson da Silva Buzato – CEETEPS/SEE-SP
O presente trabalho pretende analisar, por meio dos estudos discursivos, especificamente teoria da
Análise de Discurso, notícias referentes à doença da então presidenciável Dilma Rousseff. O
trabalho – que foi objeto de obtenção do grau de Especialista em Estudos da Linguagem - está
dividido em duas partes/capítulos, a saber: o primeiro capítulo diz respeito ao aporte teórico
utilizado, ou seja, explanação da teoria e caminhos (método) que orientaram o trabalho. No capítulo
um temos dois subcapítulos; sendo o subcapítulo um dividido em três partes, nas quais discutiremos
as ideias relativas à heterogeneidade - explicando sucintamente a teoria -, a polifonia, a modalização
do discurso por meio de aspas e o ethos. Para explicarmos as ideias referentes a este capítulo,
utilizaremos como base os textos de Maingueneau (1997/2005). Ainda no capítulo um, temos o
subcapítulo dois, no qual faremos a explicação dos métodos de análise e, aqui, vale destacar a
questão da escolha dos textos que servirão de corpus. Ao todo são 19 textos/artigos, que por questão
metodológica optou-se por designar cada um deles de SEQUÊNCIA DISCURSIVA (doravante
SD), as quais foram retiradas dos cadernos “BRASIL” e “CIÊNCIA E SAÚDE”, sendo 17 SDs do
caderno “BRASIL” e 2 do caderno “CIÊNCIA E SAÚDE”. Vale lembrar também, que os textos são
da versão on line do jornal e as notícias foram publicadas entre os dias 25/04 e 28/04/2009. Tais
datas não foram escolhidas aleatoriamente, trata-se do período de quatro dias subsequentes à
divulgação oficial da notícia da doença e período em que se começava a discutir os rumos da
política brasileira, ou seja, a sucessão do então presidente Lula. A segunda parte refere-se à análise
e contextualização. Nesta etapa, temos duas divisões, sendo a primeira responsável por
contextualizar tanto o jornal Folha de S. Paulo quanto Dilma Rousseff, trata-se, todavia, de um
relato histórico para situar o leitor. Já na segunda etapa, temos análise de dados, isto é, a aplicação
da teoria ao corpus. Ao longo da pesquisa buscaremos estudar os múltiplos aspectos que envolvem
a heterogeneidade, para tanto, trataremos de temas já estudados na área da linguística como é o caso
da polifonia. Além da polifonia, estudaremos também os aspectos relacionados à
constituição/construção da imagem. O trabalho terá como corpus as notícias – SDs – do jornal
Folha de S. Paulo em sua versão on line e todas as notícias escolhidas versam sobre o câncer em
Dilma Rousseff e. Com as SDs, iremos investigar quais são as reais intenções das notícias, ou seja,
investigaremos, a partir da análise de dados, se as notícias divulgam o fato, no caso, levando
informação aos cidadãos, ou se há a exploração do problema, neste caso da doença, da ministra para
fins eleitoreiros e se há uma posição formal do jornal em relação à doença na política. Para esta
análise, partiremos do pressuposto que o jornal não é um mero transmissor de informação, mas,
sim, um instrumento que exerce grande poder sobre a sociedade e, de certo modo, as ideias que são
veiculadas por esse meio de comunicação são as ideias dominantes e, muitas vezes, além das ideias
dominantes, os jornais - e principalmente este de que trataremos neste trabalho, dada sua tiragem
diária e seu alcance, tanto em sua versão impressa quanto online – contribuem para disseminar e
construir estereótipos.
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FORMAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM
PUBLICAÇÕES VIRTUAIS DO SITE DA ABED
Roberta Kerr dos Santos – UFF
Segundo Michel Pêcheux, uma das figuras mais importantes da Análise de Discurso de linha
francesa, as formações discursivas representam “na linguagem” as formações ideológicas que lhes
são correspondentes (1988, p.147). A partir desse viés teórico, a presente pesquisa busca analisar os
discursos presentes em arquivos digitais selecionados e divulgados na seção Clipping do site da
Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). Esses dizeres são importantes por
retratarem, em determinados contextos sócio-históricos, diversos momentos em que caminha a
Educação a Distância no cenário nacional, principalmente pelo crescimento que essa modalidade de
ensino vem alcançando, agregando cada vez um maior número de instituições públicas e privadas
nos mais diferentes níveis de ensino. Segundo a ABED, o número de alunos virtuais é de
aproximadamente dois milhões, crescendo cerca de 40% ao ano. Por isso, através das
materialidades linguísticas das publicações virtuais, buscou-se perceber como se constroem os
dizeres e a memória discursiva sobre o tema, assim como identificar se as formações discursivas
sobre a EAD apresentam modificações, nesses últimos anos, considerando as mudanças
comportamentais nas interações multimidiáticas. Afinal, ainda predominam os dizeres que revelam,
no interdiscurso, opiniões de resistência sobre os resultados educacionais da Educação a Distância?
ANALISANDO VERBETES RELACIONADOS A PATOLOGIAS NOS DICIONÁRIOS DE
BLUTEAU E MORAES
Amanda Bastos Amorim de Amorim – UNICAMP
Os primeiros dicionários monolíngues foram editados no século XVIII, um período particularmente
interessante do ponto de vista de quem lida com áreas da saúde. Nesse mesmo período a Medicina
encontra-se no que se pode chamar fase nominalista, que antecede a classificatória hoje
hegemônica (cf. Foucault, O Nascimento da Clínica, 1963). Tomando por base estes fatos
históricos, nossos objetivos são os seguintes: (i) explicitar possíveis eixos parafrásticos a partir da
análise de determinados verbetes do Vocabulário Portuguez e Latino de Bluteau (1712-1728) e do
Diccionario da Lingua Portuguesa de Moraes (1789), considerando os dispositivos teóricos e
analíticos indicado por Nunes (2006) em Dicionários no Brasil: Análise e História do Século XVI
ao XX; (ii) relacionar tais discursos às reflexões sobre a Medicina até o século XIX indicadas por
Foucault em O Nascimento da Clínica (1963), por Coudry em Diário de Narciso – discurso e afasia
(1986) e Novaes-Pinto em Uma contribuição do estudo discursivo para uma análise crítica das
categorias clínicas (1999), contrastando com o que os mesmos autores indicam ter ocorrido com a
instauração da Clínica; (iii) por fim, relacionaremos as reflexões suscitadas pelas análises a questões
pertinentes para a Neurolinguística. A seleção do corpus foi realizada inicialmente a partir de itens
semiológicos analisados por Amorim em A Semiologia das Afasias: Contribuições de uma
abordagem enunciativo-discursiva (2011). Entretanto, muitos dos termos não estão presentes nos
dicionários ou suas definições não mencionam relações com a Afasiologia, o que, por si só,
significa. A partir da ausência dos termos afasia e síndrome e da definição encontrada de cérebro,
tornou-se mais interessante analisar os verbetes relacionados a patologias, de maneira mais geral,
uma vez que este também constitui tema interessante para a área. Dessa forma, foram selecionados
os verbetes cérebro, demência, doença, saúde, loucura, patologia, sinal e sintoma. Assim, espera-se
contribuir para as discussões sobre a constituição da semiologia médica que vem sendo cada vez
mais problematizada pela Neurolinguística de orientações sócio-histórico-culturais.
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DISCURSO LEXICOGRÁFICO: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DA RELAÇÃO
LÍNGUA/ENUNCIADO/HISTÓRIA
Odália Bispo de Souza e Silva – UFG
Conforme Foucault em A Arqueologia do Saber (2008, p. 28), “é preciso estar pronto para acolher
cada momento do discurso em sua irrupção de acontecimento, nessa pontualidade em que aparece e
nessa dispersão temporal que lhe permite ser repetido, sabido, esquecido, transformado [...]”.
Assim, considera-se que há um conjunto de condições que determinam a aparição de certos
enunciados, sua estabilização, seu caráter “de verdade”, surgindo em um dado momento e em uma
sociedade específica, o que caracteriza sua existência paradoxal de acontecimento. Na perspectiva
foucaultiana, tomar o discurso como acontecimento enunciativo é reconhecer que ele não é
independente, nem solitário, nem soberano, podendo se articular com acontecimentos que não são,
necessariamente, de natureza discursiva. Assim, tendo em vista que relações podem ser
determinadas a partir da irrupção do enunciado, emerge a necessidade de determinar as suas
condições de existência, reconhecer seus limites e estabelecer correlações com outros enunciados
aos quais ele eventualmente possa estar vinculado, evidenciando, portanto, que outras formas de
enunciação ele exclui. Visto dessa forma, o discurso está inserido em uma rede que envolve, por um
lado, o quadro das instituições em que é produzido, as quais possuem o poder de delimitá-lo, bem
como os embates históricos e sociais que se cristalizam na sua materialização e, por outro lado, o
espaço que cada discurso configura para si mesmo no interior de uma rede discursiva. O efeito de
sentido provocado por essa teia discursiva é resultante de um embate que se trava na trama da
história de uma sociedade, uma vez que o discurso enunciado constitui-se como o espaço de
confrontos materializados em acontecimentos discursivos. A produção dos sentidos construídos
nesse viés, por sua vez, é decorrente do embate discursivo que se estabelece na teia que mantêm
imbricadas história e sociedade, em uma lógica na qual perpassam as mentalidades de uma época e
as influências que monitoram o pensamento e as formas de dizer daquele que enuncia. Neste
trabalho, propomos uma retomada de alguns postulados da Análise do Discurso de linha francesa,
sobretudo de conceitos foucaultianos tomados por essa vertente linguística, seguida da análise de
verbetes extraídos de dois dicionários, publicados em contextos sócio-históricos distintos, a saber,
Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa (1964) e Novo Aurélio Século XXI (1999).
Partimos do pressuposto de que os enunciados lexicográficos não se constituem como neutros e
estaques, necessitando ser examinados na condição de acontecimento discursivo, isto é, sua
emergência resulta da relação entre elementos de ordem linguística, ideológica e histórica,
determinados pelas condições de (re)produção. Dito de outra forma, compreendemos que o
enunciado lexicográfico contempla a noção de acontecimento discursivo e pressupõe a relação entre
os dizeres que, no entrelaçamento que os caracteriza, promovem rupturas e viabilizam sentidos a
partir das possibilidades enunciativas que os encerra. Assim, pensar o discurso do dicionário é
considerar que ele não pode ser analisado apenas e simplesmente sob seu aspecto linguístico, mas
como inserido em um jogo estratégico em que estão envolvidas as suas condições de produção e
seus efeitos de sentido, que resultam, inclusive, do lugar social ocupado pelo dicionarista em nossa
sociedade. Isto é, aquele que detém as informações “verdadeiras” sobre o significado das palavras
em uma língua. Além disso, tendo em vista que, numa perspectiva foucaultiana, o corpo recebe
novas configurações na sociedade contemporânea, os verbetes saudável e gordo serão analisados,
considerando-se que, em conformidade com seu caráter de enunciado lexicográfico, reflete as
relações de saber/poder e os mecanismos de controle que os engendram.
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O ENUNCIADO “FAMÍLIA” NO CALDAS COUNTRY DE 2012
Aldenir Chagas Alves – GEDIS/CAPES/UFG-CAC-PMEL
Rozely Martins Costa – GEDIS/UFG-CAC-PMEL
Ao selecionar o recorte “família” como objeto de estudo neste trabalho, propomos apresentar
algumas equivocidades inscritas no acontecimento Caldas Country através de enunciados
divulgados pela organização do evento. Em Caldas Novas, sul de Goiás, é realizado o “Caldas
Country Show” considerado pelos realizadores e meios de comunicação como o maior evento de
música sertaneja no Brasil no segmento sertanejo universitário. Com uma população de
aproximadamente 75 mil habitantes e a vinda de mais 200 mil turistas em 2012, a estrutura dos
setores comerciais e órgãos governamentais não são suficientes para atender aos visitantes ou
garantir a segurança a todos. Ocorrências como assassinatos, sexo nas ruas em meio à multidão, uso
abusivo de bebidas alcoólicas, uso de drogas foram divulgados na imprensa nacional. Diante das
consequências desta situação, houve uma reação das igrejas e setores políticos da cidade e, como
resposta, os organizadores do festival divulgaram um panfleto intitulado Carta aberta ao comércio
de Caldas Novas, explicando a importância do evento através de valores em dinheiro que o
comércio e a cidade recebem. Na parte de finalização da carta há a seguinte frase destacada em
letras maiores: “Os jovens turistas de hoje, serão as famílias que nos visitarão amanhã”. Ao
selecionar este enunciado situamos as noções de formação discursiva e enunciado teorizados por
Foucault (2012), observando a organização do campo em que eles aparecem e circulam, verifica-se
que não há aqui uma instância fundadora do enunciado ‘família’ se apresentando, mas correlações e
exclusões. No recorte ‘família’, os pressupostos teóricos de Pêcheux (2012) demostram que durante
o acontecimento inscrito no enunciado há um apagamento, neste caso isso ocorreu devido às
posições ou imposições de opiniões a respeito do evento “Caldas Country Show”. Na busca em
compreender os efeitos do acontecimento através dos diversos enunciados percebemos que, de
acordo com Pêcheux, há um espaço de entremeio que se configura dentro dos espaços estabelecidos
pelos enunciados que são divulgados com exaustão pelos autores do festival. Inscreve-se nesse
panfleto um real com uma regulação das interpretações, feita com uma lógica que repousa como
verdadeira aos comerciantes e também a toda população de Caldas Novas. Nesta enunciação que os
jovens voltarão à cidade, já com família constituída, nos remete a uma homogeneidade da qual nós
nos confortamos, porém, atravessada por equívocos.
LÍNGUA, SOCIEDADE, HISTÓRIA E MEMÓRIA: UMA ANÁLISE DO SUJEITO PAI NA
CONTEMPORANEIDADE
Iraneide Santos Costa – UFBA
Neste trabalho, elegeu-se como precípuos objetivos discutir a constituição da identidade do sujeito
pai na contemporaneidade para que se pudesse, então, se apropriar de sua discursividade; bem como
apurar de que forma a relação saber/poder se instaura. A partir daí, impuseram-se algumas
indagações, tais quais: quais as imagens atribuídas ao sujeito pai pelas discursivizações em torno
deste? Como e quais práticas discursivas se entrelaçam compondo um conjunto de possibilidades de
dizer (do/sobre o pai) e de agir (do/ em relação ao pai), engendrando uma identidade baseada em
critérios arbitrários, que se apresentam com caráter atemporal (FOUCAULT, 1987) e constituem
o(s) sujeito(s) pai? Para respondê-las, nas discussões a que se procedeu, valemo-nos como
embasamento teórico da Análise do Discurso pecheutiana e dos postulados foucaultianos. Quanto
ao corpus, optou-se por trabalhar com textos midiáticos e disponíveis na internet por se entender
que, substituindo o papel desempenhado pelas religiões nas sociedades tradicionais, hoje se percebe
que a legitimação de verdades se dá muito na mídia, a comunicação servindo para legitimar os
discursos, os comportamentos e as ações. É importante salientar que: a) verdade aqui foi tomada
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como “conjunto das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso, e se atribui ao
verdadeiro efeito específico de poder” (FOUCAULT, 1984, p.13), levando-se em conta que “cada
sociedade tem seu regime de verdade”; b) trabalhou-se o conceito de práticas discursivas tal como
preconizado por Foucault (1972, p. 136), ou seja, como “um conjunto de regras anônimas,
históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiriam, em uma dada época e para
uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da
função enunciativa” (FOUCAULT,1972, p.136), explicitando-se especificidades de práticas
discursivas em torno do objeto em análise e seus efeitos de sentidos a partir do entrecruzamento
língua/ sociedade/ história/ memória. Buscou-se, pois, discutir como se instaura a produção do
sujeito pai pelo discurso, como o mesmo entra nessa ordem do discurso, o que o sujeito diz e/ou é
dito sobre ele e o que lhe é permitido dizer e/ou ser dito sobre ele, sua dispersão nos diversos
lugares e as posições que ocupa no discurso.
O CONCEITO DE TRANSGRESSÃO
Wilton Divino da Silva Júnior – UFG
Partindo das reflexões propostas em nossa dissertação A transgressão no Evangelho de Saramago:
um efeito discursivo (2009), procuramos nesta pesquisa através de uma problematização das
práticas transgressoras, ensaiar a conceituação do termo transgressão fundamentado nas
considerações foucaultianas sobre o tema (“Prefácio à Transgressão”, 1963). Afirma Foucault que
“a transgressão é um gesto relativo ao limite” que não apaga a ordem vigente e nem cria uma ordem
paralela ou ainda que não deve, o acontecimento transgressor, ser considerado como negativo,
escandaloso, subversivo ou que objetiva “abalar a solidez dos fundamentos”; essa caracterização
opõem-se ao modo como o senso comum compreende a transgressão, o que nos colocou em seu
encalço, abrindo caminhos para uma série de hipóteses na tentativa de compreender melhor tanto as
múltiplas possibilidades de aplicabilidade do termo (nos referimos aos diversos campos de saber
que a utilizam) quanto a cristalização atual de uma de suas acepções (destruição, ruptura).
Primeiramente, entendemos que a transgressão se produz no âmbito discursivo, pois, ela se efetiva
como acontecimento conjugando linguagem, história e sujeito num constante movimento de
mudança que sempre surge na relação com outros discursos. Como hipótese fundamental,
compreendemos a transgressão como conservadora, na medida em que desejamos problematizar sua
acepção como destruição de princípios estabelecidos, para tanto, afirmamos que a transgressão é um
investimento de sentidos numa mesma ordem discursiva, isto é, uma ampliação nos horizontes dos
sentidos que se contrapõem. Discutir o conceito de transgressão implica uma abordagem do
conceito de verdade, ou melhor, as práticas transgressoras parecem organizar-se a partir da
instauração, legitimação e reconfiguração de jogos de verdade, que pressupõem determinados
saberes e relações de poder. Ainda de modo ensaístico, pensamos que a transgressão pode
materializar-se como carnavalização, como resistência, como subversão e como transvaloração.
Tais afirmações não pretendem de modo algum uma redução do que é a transgressão, outrossim, a
construção de um espaço conceitual, via discursividade, para o termo transgressão, na tentativa de
compreender as operações discursivas que permitem sua existência e sua reconfiguração. Partimos
da dificuldade em apontar claramente práticas transgressoras na contemporaneidade e retomamos
acontecimentos reconhecidamente transgressores na história e sua reformulação como discurso
hegemônico e as novas formas de transgressão desencadeadas. O que nos inquieta é compreender o
que se altera (constituição de objetos, modos de enunciar, teorias e conceitos) e por que se altera (se
é que realmente há uma transformação) neste “gesto relativo ao limite” quando há a incorporação
(nem sempre necessária) da transgressão como discurso hegemônico, e para isso, entendemos como
fundamental problematizar a constituição de seu conceito.
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A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVA E IDENTITÁRIA DE AUSTREGÉSILO CARRANO,
EM CANTO DOS MALDITOS, DE AUSTREGÉSILO CARRANO BUENO
Jaquelinne Alves Fernandes – UEG
O estudo que iremos apresentar nesse momento é o resultado do trabalho desenvolvido no Mestrado
em Linguística, na Universidade Federal de Uberlândia. Tomamos como corpus livro Canto dos
Malditos, de Austegésilo Carrano Bueno. O “Canto dos malditos” é um relato autobiográfico, por
meio do qual Austregésilo Carrano Bueno (1957-2008) constitui-se como sujeito, contando suas
passagens pelos hospícios de Curitiba e Rio de Janeiro. Embora a obra que escolhemos para corpus
de estudo seja classificada como autobiográfica, a abordamos como uma escrita de si, conforme
propõe Foucault (1983), uma vez que acreditamos que por meio da escrita de si Austry constitui-se
como sujeito discursivo, assumindo diferentes posições-sujeito. Nesse sentido, nos propusemos a
analisar a constituição discursiva e identitária desse sujeito, por meio de práticas de subjetivação e
da tomada de uma pluralidade de posições-sujeito – dentre elas, a de sujeito de razão e a posiçãosujeito de desrazão – das quais nos ocupamos para desenvolver a pesquisa em questão. Para tal, nos
apoiamos na Análise do Discurso de linha Francesa, pautados numa perspectiva foucaultiana,
observando os processos de subjetivação e objetivação que levam um adolescente comum a ser
enquadrado na posição-sujeito “louco” e a constituir-se por ela. Desse modo, tratamos da
constituição histórico-discursiva do objeto loucura e de sua emergência no corpus de análise a partir
de superfícies de emergência e de grades de especificação. Abordamos, também, os procedimentos
de controle do discurso que levam um sujeito a inserir-se na posição de louco. Para tanto, tratamos
o manicômio como um espaço heterotópico, no qual discursividades são instauradas. Abordamos
em nossas análises, também, os procedimentos de controle do discurso (disciplinarização, rejeição,
separação etc.) que determinam se um sujeito está ou não autorizado a falar de determinado lugar.
Em Canto dos Malditos, o sujeito discursivo, a partir de suas experiências, compõe uma observação
do coletivo, que resulta em um documento histórico de grande relevância para a compreensão do
ultrapassado sistema manicomial. O relato se constitui como uma crítica à instituição manicomial a
partir do olhar de um ex-interno; que, enquanto lá esteve encerrado, foi desapropriado da cidadania,
teve o corpo detido, interditado e inserido no processo disciplinatório, e mum jogo de relações entre
poderes e saberes. O Canto dos Malditos representou a reação ao micropoder, ao controle, à
padronização de gestos e, sobretudo, de discursos, ou seja, a situações normatizadoras, obviamente
agravadas no domínio do hospício. O relato que tomamos como corpus, construiu uma narrativa em
meio a uma sociedade em que a disciplina era o grande instrumento do poder, composta, segundo
Foucault (2004d) por “métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que
asseguram a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade”.
AUTORIA E MORTE NA ESCRITA HILSTIANA
Jaciane Martins Ferreira – UFU/CAPES
Em nossa pesquisa de doutorado, temos como principal objetivo pensar o sujeito que emerge de
uma seleção de alguns livros da obra de Hilda Hilst e como essa emersão se dá a partir de uma dada
escritura de si, de uma exterioridade criada a partir da temática morte. Foucault (2009a) acredita
que a literatura (ou o discurso literário) muitas vezes não se curva ao que está posto pela
representação e toma forma a partir dela mesma, isso significa que a literatura se situa no
movimento de fazer a linguagem se distanciar dela mesma. Quanto ao sujeito construído em meio a
essa linguagem, o sujeito do exterior, ele está nesse vazio deixado pela linguagem ao enunciar algo,
toma forma e dialoga com outros sujeitos (também de linguagem) constituídos no âmbito desse
espaço literário. Trabalhamos, então, com o livro Estar sendo/Ter sido, Hilst (2006), como livro
central de nossa pesquisa. Esse livro traz a história de um personagem chamado Vittorio, senhor de
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65 anos, cuja idade e experiência o levam a preparar-se para a morte. Vittorio é escritor de peças
teatrais, o livro, escrito em diálogos ininterruptos, gira em torna de questões sobre a morte, sexo e a
escrita literária. Tema esse que aparece em outros livros da mesma autora, como por exemplo, o
livro Cartas de um sedutor (HILST, 2002), cujos personagens principais são dois escritores, o bem
sucedido (Karl) que se entregou aos pedidos do editor e o outro (Stamatius) que decidiu desistir da
vida, virar mendigo por não acreditar que a literatura deva obedecer a uma política mercadológica.
Neste trabalho, pretendemos trabalhar com o princípio de regularidade discursiva, apontado por
Foucault (2008), para olhar como o discurso sobre a morte aparece imbricado com o discurso sobre
sexo e autoria no âmbito da obra hilstiana. Considerando que o nome de autor Hilda Hilst, dentro da
possibilidade oferecida pela escrita literária, tem-se uma função dita vazia porque está sempre
suscetível de desaparecer. O nome da autora se perde dentro desse simulacro criado pelo ser da
linguagem e abre possibilidade de novos sujeitos emergirem. Tais sujeitos, também exercem uma
função autor nessas obras. Para esse trabalho, selecionaremos excertos dos livros Estar sendo/Ter
sido, Hilst (2006a), Cartas de um sedutor (HILST, 2002a) e Contos D’Escárnio/Textos grotescos,
(HILST, 2002b). Como aporte metodológico, faremos uso dos postulados de Foucault sobre o
enunciado, arquivo para, então, buscarmos as regularidades discursivas.
MODA: ESTRUTURA OU ACONTECIMENTO?
Humberto Pires da Paixão – UFG
Embasando nossas reflexões nos postulados teóricos da AD de vertente francesa e pensando a
moda, a partir desse ancoradouro, como fruto de um processo que se dá por meio de práticas
discursivas ocorridas no interior mesmo do meio social, requer que sejam levantados alguns
questionamentos: É possível considerar a moda sob a perspectiva do acontecimento discursivo? Ou
seria um sistema, um todo estruturado? Que desdobramentos haveria para um empreendimento que
a tomasse sob tal enfoque? Como o discurso midiático contribui na/para a irrupção de
acontecimentos no campo da moda? Na tentativa de buscar respostas para tais questões, necessário
se faz, pois, focar sobre a noção de acontecimento e as implicações para a Análise do Discurso.
Dessa forma, o presente trabalho pretende colocar em evidência e analisar o discurso da moda sob a
ótica do acontecimento discursivo. Conceito fundamental para a AD francesa, de base foucaultiana,
o acontecimento relaciona-se com a História e sua emergência delimita os enunciados efetivamente
produzidos numa dada formação discursiva. Tomar a moda como tal significa, pois, tratá-la não
como objeto artístico ou fruto das diferenças sociais, mas, sobretudo, como resultado do
atravessamento de diferentes práticas discursivas determinadas sociohistoricamente fundamentais
no processo de objetivação/subjetivação dos indivíduos. Dessa forma, a moda, entendida aqui como
análoga ou correlativa à noção de vestuário, apesar de no campo prático não se circunscrever apenas
a esse recorte, para que tenha existência, configura-se, num primeiro olhar, como um sistema com
regras e coerções, mas também – e principalmente - com suas falhas, brechas. Adotando, pois, um
ponto de vista discursivo, como aquele advindo das formulações pecheutinanas e transformados
pelas reflexões foucaultianas, poder-se-ia cambiar esta noção de sistema por outra, pensando, assim,
numa ordem de funcionamento do discurso ou, mais precisamente, numa ordem de funcionamento
do discurso convencionalmente chamado de moda.
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DISCURSO E ENUNCIADO NA PUBLICIDADE: O MACHISMO NA BOMBRIL
Lady Daiane Martins Ribeiro – UFG/CAC/GEDIS/FAPEG
Bruno Silva de Oliveira – UFG/CAC/LIMES/FAPEG
Este trabalho tem como propósito analisar os enunciados presentes nas propagandas da Bombril.
Como recorte de análise, optamos por analisar uma propaganda de 1980 e outra de 2011, utilizando
como aparato teórico os pressupostos de Michel Foucault desenvolvidos no livro Arqueologia do
saber (2008) sobre enunciado e discurso. Sob essa perspectiva de estudo, o trabalho basear-se-á nas
noções de discurso e enunciado, de modo a pensarmos sobre esses conceitos em relação às
construções discursivas das propagandas. Na acepção foucaultiana, o discurso é constituído por um
emaranhado de enunciados que possuem uma identidade comum relacionada a determinadas
formações discursivas e, ao serem analisados, são imbricados por conteúdos ideológicos, políticos e
sociais, os quais se inscrevem e/ou materializam em diversos suportes. A noção de enunciado não
se restringe somente a estruturas lexicais e fonéticas, e sim, como uma função que existe a partir
dos signos verbais e não verbais, vinculadas a uma dada posição de sujeito, que o caracteriza como
algo efetivamente produzido, e a partir do qual pode se depreender, pela análise, determinados
efeitos de sentidos. Dessa forma, o que marca o enunciado, enquanto discurso, é a função
enunciativa, pois implica uma posição de sujeito, um campo associado, um já dito, uma
materialidade repetível. Por esse motivo, ele poder ser reutilizado, atualizado e tornar-se outro, pois
nesse deslocamento, muda-se a posição de sujeito, o suporte e materialidade, isto é, sua função
enunciativa que está sendo exercida, função essa ancorada por elementos concretos, num dado
contexto social, logo, a importância do acontecimento na construção e no entendimento dos
enunciados. Nessa perspectiva, o discurso e enunciado são produzidos por um sujeito sóciohistórico que tem as suas ideologias, que ao produzir discursos o faz a partir de um lugar na
sociedade, isto é, em seu discurso sinaliza elementos de um dado contexto histórico-social. Por isso
nas reutilizações dos enunciados, estes sofrem alterações dependendo da materialidade empregada,
pois as mesmas estão localizadas num tempo e espaço específico, ou seja, pode haver dois
enunciados diferentes que remetem a grupos discursivos diversos. Na propaganda da década 80, do
século XX, a Bombril utiliza enunciados que relacionam a praticidade e qualidade de seus produtos
a concepções sobre a mulher como “senhora”. O enunciado “senhora” está colocado nessa
formulação discursiva por dizer de uma época em que “a típica mulher dos anos 80” é estereotipada
como a mulher-mãe, mulher-dona-de-casa, mulher-esposa. A Bombril costuma veicular a imagem
do seu produto diretamente com o seu público alvo, a dona de casa. Percebendo a emancipação da
mulher, a empresa criou em 2011 uma campanha cujo jogo discursivo demonstra um estilo de
mulher semelhante à construção masculina tradicional, de que o homem é um indivíduo autoritário,
chantagista, colocando a mulher em termos de igualdade ao homem. Esses enunciados presentes
nessas duas propagandas demonstram a presença do discurso machista na década de 1980 e sua
atualização em 2011 com a composição de enunciados que exalte a mulher como “evoluída” em
detrimento ao homem como “cachorro”. Com esse pensamento, a hipótese deste estudo é que a
propaganda da Bombril, ao (re)utilizar enunciados estruturalmente diferentes, que parecem até
contraditórios, mantém o discurso machista em torno da mulher, cuja visão é de uma mulher
exclusivamente vinculada as atividades domésticas. Portanto, a partir da análise dos corpora,
propõe-se uma reflexão acerca do discurso machista produzido pela publicidade da Bombril
percebendo que efeitos de sentido esses enunciados produzem sobre as identidades masculinas e
femininas na contemporaneidade.
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CENAS DA ENUNCIAÇÃO E ETHOS NA EXPEDIÇÃO RONCADOR-XINGU: ANÁLISE
DISCURSIVA
Karla Amorim Sancho – UFMT
Esta pesquisa está inserida no campo dos estudos discursivos e tem como objetivo geral fazer uma
análise discursiva da produção literária e midiática relativa à Expedição Roncador-Xingu. Inserida
neste simpósio, pretende discutir a relação entre língua e história, atentando para as contradições
produzidas nas práticas discursivas contemporâneas, que, devido ao controle sobre a língua,
provocam uma redefinição das regras das formações discursivas. Este trabalho à luz da Análise do
Discurso de orientação francesa se debruçará sobre os mais variados textos (manuscritos, impressos,
eletrônicos, fílmicos e digitais) que deram em narrativa os principais acontecimentos da expedição
que os Irmãos Villas-Bôas conduziram pelas entranhas do Brasil a partir de 1944, e que culminaram
com a criação do Parque Nacional do Xingu em 1961. A presente pesquisa ao se inscrever no
mirante teórico-metodológico da Análise do Discurso toma as discusividades (re)produzidas sobre o
acontecimento Expedição Roncador-Xingu numa concepção materialista na qual os efeitos dos
discursos que estão na base da constituição desse evento não se resolvem em um ponto de
integração, mas se engendram a partir de contradições histórico-sociais. Nessa perspectiva, nosso
estudo objetiva investigar por meio das categorias de análise: cena da enunciação, cena genérica,
cena genérica, cenografia e éthos (MAINGUENEAU, 2006), as razões pelas quais as narrativas que
dizem a Expedição produzem majoritariamente imagens eufóricas sobre o papel dos Irmãos VillasBôas à frente da Expedição Roncador-Xingu. Interessa-nos mais especificamente
descrever/interpretar os recursos discursivos mobilizados nas cenas enunciativas que constituem as
narrativas, silenciando a possibilidade de produzir sentidos disfóricos em relação aos Irmãos VillasBôas. Em outros termos, procuraremos descrever/interpretar as estratégias discursivas utilizadas
pelos enunciadores de tais narrativas, destinadas a evacuar qualquer contradição de sentido que não
o eufórico e a mascarar a existência da conflituosa relação entre brancos e índios. A proposta é
contribuir com a discussão neste simpósio, cuja hipótese inicial é a de que o controle dos
enunciados delimita o lugar e o momento em que certos ditos podem ser efetivados, redistribuindo
os enunciadores, redefinindo conceitos e teorias.
AFORIZAÇÃO E HIPERENUNCIAÇÃO EM PROVÉRBIOS QUE TEMATIZAM O
NEGRO: CIRCULAÇÃO DE FÓRMULAS E ESTEREÓTIPOS
Paulo Rogério de Oliveira – PPGEL/UFMT/REUNI
Nosso estudo se constitui numa pesquisa de Mestrado em andamento, desenvolvida no âmbito do
Programa de Mestrado em Estudos de Linguagem, na Linha de Pesquisa: Práticas Textuais e
Discursivas - Múltiplas Abordagens. Nessa pesquisa temos como objetivo descrever/interpretar as
razões pelas quais, mesmo em tempos de “rigoroso politicamente correto” circulam nos mais
variados gêneros e suportes textuais estereótipos sobre os negros. Para dar conta da problemática
eleita, frequentaremos um arquivo de pesquisa constituído pelos mais variados suportes e gênero
textual provérbio (dicionários de provérbios portugueses e brasileiros, textos da mídia em geral) que
tematizam o negro. Mobilizaremos para a nossa análise discursiva os conceitos de citação,
destacabilidade, sobreasseveração, aforização, hiperenunciação e particitação propostos por
Dominique Maingueneau (2006 e 2011), procurando entender como esses provérbios circulam
sócio-historicamente entre nós, evocando e cristalizando alguns tipos de preconceitos e estereótipos
em relação à imagem do negro. Além disso, essa pesquisa tem o propósito de problematizar o(s)
discurso(s) relacionado(s) ao preconceito racial, dominante em nossa sociedade, enraizado no
colonialismo como salienta Van Dijk (2008, p. 14), contribuindo para que brechas, fissuras, sejam
feitas, no fio desse(s) discurso(s), possibilitando para que novos questionamentos irrompam, e
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assim, haja mudanças de olhares e posturas sobre o negro, dentro dessa sociedade que se apresenta
enquanto multiculturalista e multiétnica.
OS ATRAVESSAMENTOS DA MORAL CRISTÃ NO DISCURSO DE AUTOAJUDA
Edilair José dos Santos – GEDIS/PMEL/UFG
Samuel Cavalcante da Silva – GEDIS/PMEL/UFG/FAPEG
O presente trabalho busca analisar os atravessamentos do discurso religioso e da moral cristã na
obra de autoajuda O Monge e o Executivo, de James C. Hunter, com o objetivo de discutir como
este livro utiliza-se de um discurso reconhecido para referendar o que está sendo dito e assim lhe
atribuir autoridade e ganhar legitimidade. Como referencial teórico utilizaremos os pressupostos
foucautianos voltados para as reflexões sobre o discurso, memória e formação discursiva. Em A
Ordem do Discurso, Foucault refere-se ao procedimento interno de funcionamento do discurso, o
comentário, que se caracteriza pela repetição disfarçada, ou seja, os discursos que são sempre
retomados como o discurso religioso. Nesse sentido, há sempre um já dito que funciona em um
dado discurso, pois o enunciado, unidade elementar de análise, possui uma materialidade repetível,
entretanto o acontecimento possibilita a emergência de algo novo (um novo sentido) ao enunciado
produzido, uma vez que este é reatualizado em vista da posição de sujeito, dos sentidos produzidos
e das relações discursivas estabelecidas. Assim como o enunciado caracteriza-se pela sua relação
com a história, ou seja, com o que foi efetivamente produzido, as formações discursivas, também,
são vistas como construções sócio-históricas, considerando a posição do sujeito, o momento
histórico, o espaço e o lugar da enunciação. Ao (re)produzir um enunciado o sujeito aciona uma
memória discursiva (um já dito) que possibilita a atualização, a legitimação ou o apagamento de
determinados discursos. Nesse contexto, buscaremos perceber, na obra escolhida para análise, como
o discurso de autoajuda se constitui por meio de atravessamentos do discurso religioso cristão que,
ao ser (re)produzido aciona um arquivo a partir da memória discursiva, produzindo determinados
efeitos de sentido que lhe conferem legitimidade e valor de verdade. Foucault, em A Arqueologia do
Saber, define arquivo enquanto sistemas que instauram os enunciados como acontecimentos e
coisas (enquanto sua possibilidade e campo de utilização). Na obra analisada, James C. Hunter,
utiliza-se da figura de Jesus Cristo, enquanto líder, para propor ensinamentos sobre liderança,
apresenta, também, exemplos bíblicos sobre a vida de Jesus, fazendo com que o discurso
pronunciado adquira lugar de verdade, uma vez que o discurso religioso se coloca neste lugar.
Sendo assim, James C. Hunter estabelece uma relação de saber, pois é capaz de apresentar verdades
bíblicas aos seus leitores que lhes eram desconhecidas, exercendo assim certa autoridade sobre os
mesmos. Logo, a este trabalho interessa o discurso de autoajuda enquanto um novo acontecimento
que produz novos enunciados atravessados por enunciados consolidados pela ideologia cristã
(arquivo) que permeia toda uma memória social, resultando numa relação de saber/poder sobre o
sujeito leitor.
SINCRETISMO E POSITIVIDADE LINGUÍSTICA
Allice Toledo Lima da Silveira – UFG
Alexandre Costa – UFG
O objetivo desta comunicação é discutir os efeitos da positividade linguística que se constitui no
processo de formação da noção de “sincretismo” no âmbito das ciências humanas brasileiras.
Tomamos como caso exemplar a obra Repensando o sincretismo, do pesquisador brasileiro Sérgio
Ferreti (1995), em sua tentativa de estabilizar a noção como conceito operacional. No escopo da
tensão entre língua e história (PÊCHEUX, 2004) e da relação entre “tema” e “significação”
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(BAKHTIN, 2006), examinamos o sistema de dispersão em que se dá a propagação de seus
enunciados constituintes no entremeio de diferentes campos de exterioridade, seja como formações
discursivas (FOUCAULT, 2008), seja como ordens de discurso (FAIRCLOUGH, 2001).
Reconhecemos na circulação dessas compreensões similares e distintas, convergentes e divergentes,
as possibilidades de constituição dos dispositivos analíticos do discurso, com seus diferentes
escopos e propósitos, mas sempre como equações resultantes da objetivação (estrutura) das
refrações enunciativas (dialogia) por meio da constituição de regularidades resultantes de sistemas
de diferenças e cadeias de inferência (dispersão). Tentaremos demonstrar, no estudo do objeto em
foco, como o aparente oximoro formulado por Foucault – o de um “sistema de dispersão” – é,
propriamente, uma deriva das noções de “sistema” e “dialogia”, tal como as encontramos nas obras
de Ferdinand de Saussure e de Mikhail Bakhtin. Nesse sentido, este estudo afasta-se das explicações
de cunho historiográfico para a formulação dessas categorias de análise e suas dimensões
operacionais, pautando-se pelo esforço “empobrecedor” de sua lexicalização no contexto de sua
aplicação nos estudos das disciplinas de História, Antropologia e Sociologia, da academia brasileira
e de suas pesquisas sobre o fenômeno sincrético das práticas religiosas brasileiras. Essa dupla
demanda descritivo-explicativa, parte do surgimento pejorativo da noção social de sincretismo,
passando por sua afirmação político-ideológica e culminando em sua redução como problema
teórico que fundamenta as condições de possibilidade de estudo rigoroso e sistemático.
DAS PRÁTICAS NÃO-DISCURSIVAS ÀS PRÁTICAS DISCURSIVAS: UMA
TRAJETÓRIA DE COMPREENSÃO
Antônio Fernandes Júnior – UFG/CAC
Carine Fonseca Caetano de Paula – UFG/CAC
Em Á Beira da Falésia (2002), Chartier afirma que na esteira da “reviravolta linguística” em que
parece não haver “realidade fora do discurso”, as noções de discurso, prática e representação,
contemporaneamente, vêm sustentando a reflexão das ciências humanas e sociais. A partir de uma
problematização referente ao entrecruzamento de perspectivas que ocorre no campo dos discursos,
o qual se dá entre a língua e a história, a memória e as práticas culturais, as midiáticas, as sociais e
as institucionais, coloca-se em questão o seguinte: se há práticas fora do discurso, quais relações de
distinção e de imbricamento podem-se estabelecer entre práticas não-discursivas e práticas
discursivas? Em A Arqueologia do Saber, Foucault (2009) elabora a noção de formação discursiva
como um feixe de relações indissociáveis que compreendem regras de formação de objetos, de
conceitos, modalidades enunciativas, de teorias que implicam escolhas temáticas estratégicas, ou
seja, a formação discursiva parece se constituir a partir de um cruzamento de elementos, a priori,
não-discursivos. Enquanto um conjunto de regras anônimas e históricas, as práticas discursivas
parecem ser reguladas por práticas outras, construídas historicamente, nas relações entre fatores
sociais, institucionais, culturais, políticos, econômicos, nas relações entre práticas e regularidades
específicas a campos distintos do saber e do fazer que se configuram como condições de produção
de um certo discurso. No caso deste trabalho, se for atribuído ao livro A Erva do Diabo (1968), de
Carlos Castaneda, antropólogo de formação e escritor, um caráter de acontecimento histórico, um
enunciado inserido nas suas condições de existência, no sentido proposto por Foucault (2009), em
que possibilidades de leituras podem nele estar inscritas, uma possível leitura a se procurar no livroenunciado em questão seria a construção de dois tipos de formações discursivas que estruturam a
obra (a feiticeira e a científica) e as posições de sujeito que delas derivam. Efetua-se o mapeamento
da rede de relações interdiscursivas que se constrói a partir do livro-enunciado, e por meio dele,
propõe-se a reflexão sobre o modo como as práticas discursivas da feitiçaria e da ciência
estabelecem relações tensas, de dispustas, e produzem diferentes tipos de saberes, onde se
configuram distintas posições de sujeitos. Portanto, o objetivo deste trabalho é traçar uma possível
trajetória de compreensão para essas questões e, após percorrê-las, chegar a um lugar em que as
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noções de discurso, enunciado e posições de sujeito sejam acionadas de modo a considerar que
fatores históricos, socioculturais, políticos, teóricos, dentre outros, regulam as práticas discursivas e
condicionam suas formações. Pretende-se, a partir dessas considerações, elaborar uma trajetória
teórico-conceitual que explore e compreenda como ocorre essa implicação mútua entre práticas
não-discursivas e discursivas e, com isso, problematizar essa articulação no campo dos estudos
discursivos, de orientação foucaultiana.
DO DESAFIO PRAZEROSO DE ANALISAR A ESCRITA CONTEMPORÂNEA:
AUTORIA E (DES)CONTINUIDADE HISTÓRICA
Sirlene Cíntia Alferes Lopes – UFU
Tomar como objeto de estudo a escrita de autores da literatura contemporânea torna-se um desafio
prazeroso. Desafio: por ter caráter contemporâneo, muito do que constitui sociohistoricamente e
ideologicamente a escrita da literatura contemporânea também constitui o sujeito que ocupa a
posição de analista ou de leitor dessa escrita; isso pode implicar e, ouso dizer, certamente implica
uma análise ou uma leitura que, por vezes, silencia interpretações que seriam possíveis somente
àquele que se inscreve sociohistoricamente em outro lugar, em outro espaço de acontecimentos
históricos. Nesse sentido, essa análise e essa leitura são um desafio e não um problema, pois a
completude de uma análise ou de uma leitura está inscrita apenas no que é da ordem de um
imaginário. A interpretação não se fecha, o sentido não é único. Prazeroso: estudar algo da literatura
possibilita entrar em contato com diversas temáticas, as quais podem surpreender o leitor e o
analista devido à, por exemplo, tamanha complexidade de relações linguísticas e sociohistóricas,
levando-os para outros lugares (contemporâneos ou não à escrita). Surge a possibilidade de se situar
em um lugar atemporal, em um mo(vi)mento de abrir e fechar relações com espaços de
acontecimentos históricos e fazer relações outras com os enunciados que ali apresentam-se
constituindo um discurso. Daí o motivo de ser prazeroso. Todavia, saliento que o sentido de prazer
aqui tomado não está para a ordem de uma distração. Trata-se de um prazer que promove o desejo
de produzir relações e, inclusive, construir um corpus para análise. É nesse sentido que recorro a
duas produções escritas de Arnaldo Antunes, tomando como base a noção de autor em Foucault,
justamente para separar o sujeito empírico do efeito produzido por meio da escrita pela via do ser de
linguagem. Ou seja, não tratarei aqui do sujeito empírico, mas sim do que emerge enquanto efeito
da escrita pela função autor. Elegi como material para análise, no presente trabalho, a canção
Miséria, escrita em parceria com os Titãs, e o escrito Riquezas são diferenças, com a finalidade de
discutir algumas das possibilidades de construção de sujeitos discursivos, afetados obviamente pela
história nessas duas produções. Para tanto, embasar-me-ei em formulações de Michel Foucault e de
Michel Pêcheux para discutir as questões da autoria e da descontinuidade histórica naquelas
produções escritas.
LEITURA, INTERPRETAÇÃO E ESCRITURA EM ANÁLISE DO DISCURSO PROCESSOS QUE SE ENTRELAÇAM
Ercília Ana Cazarin – UCPel
Escritos de Pêcheux (1981) nos dão suporte para partirmos do pressuposto de que “um trabalho de
leitura conduz a dar lugar ao inconcebível em um duplo gesto: conceber claramente o concebível
para mostrar o inconcebível, isto é, regular um sistema e um intradiscurso e destruir a
homogeneidade imaginária dos mesmos”. Neste texto, propomos compreender: 1. Como a análise
do discurso pode contribuir para as práticas de leitura e de produção textual no âmbito escolar e/ou
acadêmico; 2. Como nós, analistas de discurso, estabelecemos relações com o processo de escritura,
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como atuamos e/ou nos movimentamos em relação ao processo de escritura de nossas análises?
Para nós, analistas de discurso, o entendimento é o de que, para além dos elementos linguísticos, a
leitura e a escritura de um texto são atravessadas pelo imaginário, pela ideologia e pela
historicidade, constitutivas do ler/escrever. Pêcheux (1990) salienta que um discurso deve ser
analisado a partir da rede de memória e do trajeto social em que tem origem, mas que é preciso
considerar a possibilidade de desestruturação-reestruturação dessa rede e desse trajeto. Conforme o
autor, a interpretação é possível porque há o outro nas sociedades e na história. É com esse outro
que se estabelece uma relação de ligação, de identificação ou de transferência que possibilita a
interpretação. É nesse sentido que o interdiscurso funciona como o “lugar do outro” - espaço de
latência de sentidos. Tanto na produção da leitura, quanto no processo de escritura de um texto,
convivem os campos da história, da língua e do inconsciente sem fronteiras fixas, e o papel do
sujeito-leitor ou do sujeito-autor é produzir gestos de interpretação; gestos esses, afetados pela
projeção imaginária que fazem de si, do outro e do “lugar social” em que estão inscritos. Processos
esses concebidos como práticas sociais que mobilizam a memória do dizer e que conduzem o
sujeito-leitor e o sujeito-autor, enquanto sujeitos históricos, a inscreverem-se em uma disputa de
interpretações. E o analista de discurso também não é isento desse processo. Quando atuamos como
analistas, a interpretação dá lugar à compreensão do texto, pois conforme Orlandi (1999), nosso
trabalho é “compreender – e não refletir - o gesto de interpretação do sujeito e expor sobre seus
efeitos de sentido”. É no momento dessa exposição dos efeitos de sentido que, no nosso ponto de
vista, entra a escritura do analista – muito embora a mesma já venha sendo gestada desde a leitura e
compreensão do material que está sendo objeto da análise. O analista “num retorno contínuo do
objeto de análise para a teoria, num movimento constante de descrição e interpretação, tece as
intrincadas relações do discurso, da língua, do sujeito, dos sentidos, articulando ideologia e
inconsciente” (ORLANDI, op. cit.). A autora escreve que o analista “interroga a interpretação,
trabalha sobre ela” (op. cit.). Interroga no sentido de que, para compreender o processo discursivo,
(des)constrói o percurso interpretativo realizado pelo produtor do texto e, concomitantemente,
(re)textualiza. A partir disso, entendemos que se ler já é interpretar e, interpretar também é uma
maneira de ler, da mesma forma, compreender já é um momento de escritura - “compreender
significa explicitar os gestos de interpretação feitos pelo sujeito, gestos inscritos no texto”
(ORLANDI, 2012). Em síntese, as questões sobre as quais estamos nos propondo discutir nos
permitem explicitar o entrelaçamento entre esses processos intrinsicamente ligados entre si – o de
leitura, o de interpretação e o de escritura do texto, quer no cotidiano escolar e/ou acadêmico, quer
nas análises que realizamos.
OPERACIONALIZAÇÃO DO CONCEITO DE DISPOSITIVO NA CONSTRUÇÃO
DISCURSIVA DA IDENTIDADE DO ALUNO HIPERATIVO
Bruno Franceschini – PG/UFU
Este projeto de tese tem por objetivo verificar os processos discursivos que objetivam e subjetivam
o sujeito aluno hiperativo, nos quais são observados os discursos constituintes da identidade desse
sujeito da educação verificando a ocorrência de regularidades discursivas entre o discurso médico e
escolar em suas diferentes modalidades. Nesse sentido, para além do que fora discutido no
mestrado, sentimos a necessidade de compreender os aspectos não-discursivos que contribuem para
a construção da identidade do aluno hiperativo, porque, devido ao tempo limitado para a execução
da pesquisa, não foi possível a realização de observação em escolas, aplicação de questionários e
entrevistas com alunos considerados hiperativos, pais, professores, pedagogos, psicólogos,
psiquiatras e neurologistas, com vistas a observar e descrever como o sujeito da educação governa a
si mesmo e como este é governado pelos outros sujeitos relacionados, bem como esses sujeitos
trabalham a questão do Transtorno por Déficit de Atenção e Hiperatividade. Para tanto, de forma a
cumprir com a proposta, são utilizados preceitos teórico-metodológicos propostos pelo filósofo
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francês Michel Foucault, em especial, o conceito de dispositivo. A justificativa para o trabalho com
esse conceito reside no fato de que, no processo de construção da identidade do aluno hiperativo, o
discurso, considerando o seu aspecto sócio-histórico, movimenta fatores de ordem discursiva e nãodiscursiva, como expõe Veyne (2011, p. 57), “o dispositivo mistura, portanto, vivamente, coisas e
ideias (entre as quais a de verdade), representações, doutrinas, e até mesmo filosofias, com
instituições, práticas sociais, econômicas, etc.”. Nesse sentido, levantamos como hipótese para este
trabalho que os saberes, as instituições, os modos de agir e de pensar dos sujeitos e das instituições
envolvidos com o sujeito aluno hiperativo, sejam tanto da ordem familiar, quanto da saúde ou da
educação, contribuem, em suas práticas cotidianas e com seus discursos, na construção da
identidade do aluno hiperativo. Portanto, com o objetivo de operacionalizar a noção de dispositivo
em consonância com o estudo sobre a construção discursiva da identidade do aluno hiperativo é que
justificamos a mobilização desse conceito e de outros conceitos também arrolados a essa questão,
tais como: discurso, história, verdade, poder, e demais conceitos imanentes a essa discussão.
O GÊNERO EDITORIAL- UM CONTROLE DO DISCURSO
Janete Abreu Holanda – UEG
Este trabalho, com base nas formulações de Michel Foucault acerca das possibilidades do dizer, tem
como objetivo principal verificar como o sujeito escritor, Mino, ao se inscrever no gênero editorial
para falar na função de sujeito-autor, defende a posição assumida, mas não diz o que quer, não é
livre para formular qualquer discurso, pois só pode ser formulado aquele que está submetido aos
limites impostos pelo lugar de onde fala e deve seguir certos ordenamentos. Ou seja, deve seguir
regras discursivas postas pela instituição, pelo gênero discursivo e pelo próprio discurso, que se
auto-controla. Assim, há uma “hierarquia discursiva”, pois esse sujeito-editorialista precisa se
submeter à ordem discursivo-social, à ordem discursiva-institucional e à ordem discursiva do
gênero. Dessa forma, desfaz-se toda e qualquer possibilidade de o sujeito ter total domínio sobre
seu discurso e sobre as escolhas sintáticas e semânticas que faz e ser o centro de todo conhecimento
bem como manifestar-se apto a escolher e dizer verdades da/na história. Para tal análise,
selecionamos editoriais produzidos em época da eleição presidencial de 2010 sobre a candidata
Dilma Rousseff, da revista Carta Capital. Dessa forma, esse suporte analisado, por ter uma linha
editorial diferenciada, traz uma contextualização, dos “acontecimentos políticos”, ou seja, recorta os
fatos e os apresenta do ponto de vista em que “se devem” ser visto, tentando “informar” ao sujeitoleitor as verdades sobre Dilma. Portanto, ao analisarmos os discursos produzidos nos editoriais que
compõem o corpus desta pesquisa, encontramos um sujeito-editorialista afetado e controlado pelo
discurso que ocupa lugares (posições) diferentes ao produzir os seus enunciados. Essa diferença está
no fato de que, “estrategicamente”, esse jornalista-editorialista é, em primeira instância, “cindido”,
pois ele exerce a função, ao mesmo tempo, de jornalista-editorialista e também de jornalista-autor.
Este organiza as vozes discursivas no momento em que produz o texto, e aquele representa uma
instituição.
SABER E BIOPODER NAS PRÁTICAS DISCURSIVAS CONTEMPORÂNEAS: O
CONTROLE SOBRE OS ENUNCIADOS
Cleudemar Alves Fernandes – UFU
Kátia Menezes de Sousa – UFG
Para encerramento do Simpósio “Língua, história e movimentos no discurso”, pretendemos retomar
questões suscitadas pelos trabalhos apresentados e possibilitar reflexões que considerem as
contradições produzidas nas práticas discursivas da atualidade. Discutiremos, em nossa
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apresentação, a relação língua/discurso/história por meio da análise de enunciados divulgados na
mídia impressa, com a finalidade de compreender a inter-relação entre os saberes e as formas de
exercício de poder no (des)(re)aparecimento de certos enunciados e não de outros. Assim,
esperamos ser possível a confirmação da hipótese de que haja determinados saberes que
instrumentalizam o exercício do poder, mais especificamente do biopoder (FOUCAULT, 2001),
que estabelecem o controle de certos enunciados e sustentam as formas de objetivação dos temas da
atualidade e, consequentemente, as técnicas de subjetivação que delineiam, para os indivíduos, as
possibilidades de identificação. O controle, por meio de diversificadas formas de censura, atua no
interior das Formações Discursivas (FOUCAULT, 1995), redefinindo tanto o que é dito quanto a
posição que deve ser ocupada para ser o sujeito desse dito.
NOTAS SOBRE PERFORMATIVOS POLÍTICOS EM POLÍTICA
Roberto Leiser Baronas – UFSCAR/UFMT/CNPq
Em seu texto “Foi propaganda mesmo que você disse?”, Michel Pêcheux (1979) em uma análise
histórica exemplar, chama-nos atenção para o fato de que a propaganda política em geral e, a
governamental em especial, com o advento do capitalismo, desenvolveu diferentes formas de
assujeitamentohistórico dos indivíduos se configurando numa nova maneira de gerir os corpos e as
práticas dos indivíduos. Esse novo tipo de gestão dos indivíduos, sobretudo com o advento dos
modernos meios de comunicação de massa se dá por meio de toda uma política dos performativos,
interpelando os indivíduos a partir de seus próprios narcisismos. Nesse sentido, a política do
performativo potencializada pelos meios de comunicação de massa tem atualmente um papel
decisivo na propaganda política contemporânea, visto que o dito tende a se apresentar como o feito,
silenciando qualquer possibilidade mais efetiva de embate e/ou polêmica, ou nas palavras do
próprio Pêcheux “a política tende a se tornar uma atividade imaginária que se parece ao sonho
acordado”. Nesta comunicação com base nas reflexões de Michel Pêcheux (1979), analisamos
discursivamente um conjunto de propagandas do Governo do Estado do Paraná veiculadas nos
últimos dois anos em diversos meios de comunicação paranaenses. Concentramo-nos mais
especificamente nas relações de sentido instauradas entre os slogans, outras pequenas frases e as
imagens veiculadas nessas campanhas; as instituições que dão a circular tais enunciados e imagens
e os modos de subjetivação que tais performativos políticos (verbais e verbo-visuais) buscam
engendrar nos indivíduos.
A QUESTÃO DA LÍNGUA COMPANHEIRA DOS IMPÉRIOS PORTUGUÊS E MALAIO
NO SUDESTE ASIÁTICO, O CASO DE TIMOR-LESTE
Simone Michelle Silvestre – UNICAMP
Propomo-nos aqui a apresentar e a analisar discursivamente algumas narrativas históricas e políticas
da colonização portuguesa sob uma das ilhas da região da Insulíndia, no Sudeste Asiático, mais
especificamente o caso de Timor-Leste. Interessa-nos alguns possíveis sentidos produzidos pelas
narrativas no tocante às línguas da região, à tensão entre elas e os seus falantes, dando início ao
processo do que se passou a denominar colonização linguística (Mariani, 2004) na Ásia do Sudeste
do século XVI. A narratividade apontada no trabalho faz parte do levantamento inicial nas
produções de historiadores portugueses dos séculos XX e XXI (Luís Filipe F.R.Thomaz e Ivo
Carneiro de Sousa) a respeito da atuação (dominação) da metrópole portuguesa no projeto de
expansão ultramarina no continente asiático, especialmente em Timor-Leste, e alguns dos possíveis
desdobramentos de tais interferências na ilha e alguns territórios no seu entorno. Já para uma análise
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primeira, recorremos a conceitos apontados pela pesquisadora Bethania Mariani (2004) que dialoga
com os fundamentos da Análise de Discurso (Pêcheux e Orlandi), com ideias de Hélène Merlinkajman (2003), especialmente no tocante ao que nomeia ser a “lei histórica da língua companheira
do império” (p.79) e as possíveis contradições e sentidos que tal ideia produz no processo de
constituição das línguas entre povos colonizados e os colonizadores. Já levando-se em conta
algumas ideias de Sylvain Auroux (1992), a projeção e imposição dos vernáculos europeus, com
sua poderosa tecnologia linguística (a escrita) e seus instrumentos linguísticos (gramáticas e
dicionários) nos territórios descobertos e a relação daqueles com as línguas regionais das terras
conquistadas e as de outros impérios, já há mais tempo por lá, e o estado de tensão e conflito que,
desde sempre, marcaram o contato entre as línguas e seus falantes, no caso do atual trabalho, do
século XVI ao XIX. Foi-nos possível apontar que, no caso da colonização linguística de Portugal
em Timor-Leste, a língua portuguesa enquanto “companheira do império” funcionou de modo
bastante diverso em diferentes momentos, ainda que, no século XVI, o português ocupasse a
posição de língua mercantil (com atuação mais externa do que propriamente no interior dos
territórios, espécie de língua global, como é o inglês hoje) em diferentes redutos asiáticos, como
Japão, Macau (China), Goa (Índia), Malaca, Ternate, Ambeno e Java, africanos e americanos (o
caso do Brasil), e contraditório. Entender esse processo e os efeitos produzidos, geralmente, é muito
produtivo, como será apontado nos acontecimentos e na análise realizada, pois, torna-se possível
verificar que o processo de colonização linguística aconteceu em todos os territórios (do mais rico
ao mais pobre, nenhuma nação escapou dele!), mas que a constituição, os modos e os sentidos na
configuração de cada Estado-Nação e colônia são capturados pelas línguas, pelo político (a
ideologia) que interpela os indivíduos em sujeitos (Pêcheux) e as relações de poder entre as classes
envolvidas, seja através das suas tensões, dos seus equívocos e fronteiras, geralmente não muito
bem definidas, uma interpenetrando na outra.
O GÊNERO “MANUAL” COMO FORMA IDEOLÓGICA: CONTRADIÇÕES DAS
POLÍTICAS PUBLICAS EM TORNO DA CIÊNCIA E SABER POPULAR
Carla Macedo Martins – FIOZRUZ
Anakeila de Barros Stauffer – FIOCRUZ
No campo da atenção básica à saúde no Brasil, podemos afirmar que as cartilhas e os manuais
constituem hoje um importante material didático e uma ferramenta de gestão do trabalho. Neste
contexto, destacamos os materiais dirigidos aos agentes comunitários de saúde - profissionais de
educação e promoção à saúde e de prevenção de doenças, que atuam como elo entre serviços de
saúde e comunidade, na Estratégia Saúde da Família. Martins e Stauffer (2012) analisam o discurso
de dois manuais dirigidos aos agentes, identificando as paráfrases como processos de construção de
uma “evidência” de identidade do agente comunitário (“agente comunitário de saúde”/”agente de
promoção da saúde”/”agente de mudanças”); e os pré-construídos em torno de “participação
popular”, “controle social” e “problemas de saúde”. A análise referida indica, assim, em primeiro
lugar, que os manuais cumprem uma função identitária de definir o trabalhador em questão, em um
contexto histórico de emergência de uma (nova) ocupação laboral; e, em segundo lugar, que os
manuais funcionam como espaço de disputa de sentidos em torno de “comunidade” e
“participação”, ou seja, estes materiais também se constituem como espaços de produção identitária
sobre o “ser cidadão”. A análise do movimento discursivo hegemônico presente nos manuais,
portanto, aponta para uma tentativa de circunscrever as ações potencialmente transformadoras dos
agentes e da população aos programas de saúde já instituídos ou a uma visão restrita do Direito (à
saúde), corroborando as formas de participação vigentes e esgotando as funções de agente de saúde
no “vigiar constantemente e de forma responsável” (Brasil, 2009, p.68). A presente comunicação
tem como objetivo dar continuidade à análise destes manuais, considerando-os em termos de
“gênero textual-discursivo” (Bakhtin, 2003). O gênero é tomado aqui como materialidade histórica,
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constituindo-se tanto como estruturas verbais tipificadas, quanto como formas “em movimento”
para a produção de sentido. A análise preliminar destes materiais à luz da noção de gênero indica a
presença de estruturas textuais discursivas específicas (seqüências pergunta-resposta e glossários),
assim como de formas de enunciação que buscam apagar a historicidade do sujeito. Na análise deste
gênero “manual”, almejamos também enfocar a relação entre os chamados “saberes populares” e o
denominado “saber científico”. Nossa hipótese é que os manuais de saúde do campo da atenção
básica tendem a reproduzir dois movimentos contraditórios, porém combinados: apresentam ora
uma perspectiva instrumentalizante dos saberes populares, ora uma perspectiva dos saberes
populares como algo impeditivo ao trabalho do agente. Nesta linha, a legitimidade do discurso
científico que embasa as ações de saúde não é questionada, funcionando, de forma não excludente,
com a referida (suposta) consideração ou até mesmo valorização dos saberes populares. A
comunicação, portanto, ao discutir tais manuais como gênero discursivo, aponta para o
enfrentamento das questões ideológicas que atravessam a produção discursiva no campo da atenção
básica: em primeiro lugar, a de-historicização do saber popular e do discurso científico; em segundo
lugar, o apagamento epistemológico e ontológico do sujeito discursivo e histórico; em terceiro
lugar, o controle da interação verbal e da participação popular pelo Estado e as contradições
oriundas deste processo; e, por fim, a busca de legitimação acritica das políticas de saúde vigentes
junto à população.
ANÁLISE DAS FORMAÇÕES DISCURSIVAS NA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E AS
POSIÇÕES-SUJEITO NA CONCILIAÇÃO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Lúcia Fajardo – UFBA
O tema Mediação de conflitos sob o olhar da Análise de Discurso Pecheutiana nesta pesquisa, se
deve ao fato de tal meio alternativo de disputa ser um forte aliado do Poder Judiciário e da
sociedade, pois, para o Poder Judiciário, a mediação desafoga a justiça comum - a qual é morosa
pelo acúmulo de processos a serem julgados - oferecendo à sociedade decisões mais céleres e de
maior qualidade, uma vez que há a intenção de que os conflitos sejam resolvidos por meio do
diálogo entre as partes, possibilitando um acordo que atenda os interesses de ambas. O objetivo
desse trabalho foi analisar as formações discursivas mostrando o funcionamento dos textos escritos
(discursos), observando sua articulação com as formações ideológicas presentes no contexto das
mediações no Juizado Especial Cível, bem como, analisar as posições-sujeito presentes na interação
negociada entre os sujeitos participantes da conciliação em relação ao seu interlocutor (o mediador
ou a outra parte). Este trabalho se baseia no referencial teórico sobre mediação e nos pressupostos
teórico-metodológicos da Análise de Discurso Pecheutiana, dado que a análise das formações
discursivas dos sujeitos participantes emergirá da contingência da situação de interação na
mediação do Juizado Especial Cível. Também explicitará as relações entre o dito e o não dito, ou
seja, lidará com as relações do interdiscurso. Chegará à formação discursiva (FD) que domina os
discursos na conciliação no Juizado Especial Cível (JEC), bem como identificará a relação dessa
formação discursiva dominante com outras formações discursivas que se entrecruzarem, atingindo
assim, a formação ideológica implícita nos diversos discursos. Para a análise das formações
discursivas será usada gravação em áudio de conciliação no Juizado Especial Cível. Esta gravação
ocorreu em uma base de pesquisa etnográfica. O corpus já está coletado. Foram feitas as notas de
campo por esta pesquisadora. A escolha da gravação da conciliação denominada “Perda do cartão”
se deu por esta, dentre as nove gravações feitas, ser a que contém as três partes: vítima, réu e
mediador, e por ter ao final, chegado a um acordo entre as partes. Levando assim, a uma boa análise
da mediação de conflitos. A conciliação “Perda do cartão” foi gravada por esta pesquisadora, num
Juizado Especial Cível em um dia. A gravação tem a duração de 1: 15 h. Foram oito os participantes
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desta conciliação, sendo eles: (1) A vítima, da qual o cartão foi roubado e foi cobrada por um
banco, uma loja e um posto de gasolina por compras que não fez. (2) Seu esposo. (3) A advogada
do banco. (4) O advogado do posto. (5) A vendedora da loja. (6) A advogada da loja. (7) O
mediador. (8) A advogada do JEC. A transcrição dos dados será de acordo com critérios do NURC.
Essa pesquisa fornece um retorno para a comunidade, no sentido de buscar melhorar a mediação, na
medida em que incentiva a cultura do diálogo e a efetivação da democracia.
PONTOS DE DERIVA: EFEITOS DA LÍNGUA PORTUGUESA, DA ESCOLA/ESCRITA
NA CONSTITUIÇÃO DA RESISTÊNCIA DO POVO XAVANTE
Águeda Aparecida da Cruz Borges – UFMT
A nossa proposta para o Simpósio: LÍNGUA, HISTÓRIA E MOVIMENTOS NO DISCURSO, é
discutir com base nas análises de um corpus heterogêneo o modo como se dão os processos de
naturalização, oficialização, interdição acerca do discurso sobre a língua, em relação ao povo
Xavante, determinantes no processo de identificação/subjetivação desses sujeitos, presentes,
frequentes na cidade de Barra do Garças, MT, Brasil. Contrariando, por exemplo, a imposição da
“educação” jesuítica e salesiana, o contato inevitável, os Xavante, ainda, mantém vigorosa a língua
própria. Fundamentamo-nos na Análise de Discurso Materialista - Pêcheux-França - difundida e
renovada por - Orlandi-Brasil, pela qual compreendemos que a memória discursiva concerne ao que
se inscreve na constituição do sujeito e, assim, sustenta o seu (in)dizível, pois onde se produzir
memória, produz-se linguagem: uma forma de o sujeito se dizer e dizer o mundo. Um fio do
discurso se explica pelo real da língua, onde há lugar para o “impossível”, para o equívoco, para a
elipse, para a falta, enfim, há lugar para a deriva: “tudo não se diz, pois há um impossível próprio da
língua” (Milner, 1987, p. 6). Os autores de La Langue Introuvable (Gadet e Pêcheux, 1984)
trabalham as contradições no jogo do “universal” e do “histórico”. Mostram como se idealiza um
“universal”, funcionando simultaneamente, segundo a figura jurídica do Direito e segundo a figura
biológica da Vida; uma igualdade ideal que cria, pelo mesmo gesto, a desigualdade real. O corpus
se constitui de sequências discursivas da monografia de Uratsé Tsi’õmowê; de conversas com o
Cacique Urebete Aírero, sobre a “Escola Tatu” (Iró’ Órãpe), da imagem/fotografia do prédio da
referida Escola e de uma notícia do jornal online “Olhar Direto” que trata da sua inauguração.
Mostramos nas análises que a língua não será nunca igual, contudo consideramos os efeitos de
sentido da memória, que funciona de modo resistente imprimindo no encontro das línguas com a
escrita, a escola ocidental/diferente, uma possibilidade de esse povo manter a própria língua, a
cultura na dinâmica da vida.
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SIMPÓSIO 50
TRATAMENTO DE ORAÇÕES COMPLEXAS NO PORTUGUÊS
No Brasil, os linguistas de orientação funcionalista vêm, nas últimas décadas, privilegiando a
análise das orações complexas de diversos tipos (DECAT 1993, DIAS 2001, GONÇALVES 2001,
NEVES 2000, PAIVA 1991, BRAGA 2008, a título de exemplo). Usualmente rejeitam a dicotomia
adotada pela abordagem tradicional dos estudos sobre a linguagem, de acordo com a qual as orações
constitutivas de uma oração complexa se vinculam ou por coordenação ou por subordinação, e
endossam um enfoque segundo o qual as orações complexas podem ser distribuídas ao longo de um
continuum conforme o maior ou menor grau de vinculação de seus segmentos constitutivos. Os
mencionados estudiosos tomam como ponto de partida a proposta de Halliday (1985), retomada em
Matthiessen e Thompson (1988) e Hopper e Traugot (1993, 2003), para quem as orações podem se
combinar por parataxe, hipotaxe e encaixamento, processos estes identificáveis pelos traços
dependência e encaixamento. A parataxe se caracteriza pelos traços [-dependência][-encaixamento],
a hipotaxe, pelos traços [+dependência] e [-encaixamento] e a subordinação, pelos traços
[+dependência] [+encaixamento]. Algumas investigações se valem, com frequência, do modelo
desenvolvido por Lehmann (1988) que propõeuma gradiência mais fina no que se refere à
“degradação hierárquica das orações” postas em combinação: orações independentes, orações
adjungidas, díades correlativas, orações mediais e orações governadas. Os trabalhos usualmente
defendem a hipótese de desvinculação entre processo sintático de articulação e tipo de relação
semântica que emerge no período complexo, sustentando que uma relação semântica particular
pode ser sinalizada por processos sintáticos diferenciados. Priorizam a investigação de dados
empíricos reais, rejeitando os exemplos artificiais criados para ilustrar uma hipótese específica.
Inicialmente mais voltados para a dimensão sincrônica, se ampliaram para uma dimensão
diacrônica, buscando-se explicações para a forma de desenvolvimento dos processos de articulação
de orações. Variáveis linguísticas e sociais diversas têm sido contempladas com vistas a dar conta
tanto de aspectos morfossintáticos, semânticos e discursivo-pragmáticos quanto do efeito que as
características dos falantes possam ter sobre a estrutura linguística. Este simpósio, intitulado
“Tratamento das orações complexas no Português”, visa a discutir estudos sobre combinação de
orações sob a perspectiva brevemente esboçada acima e aceitará trabalhos que examinem as orações
complexas em qualquer variedade do português – brasileiro, europeu, africano, asiático e insular.
Serão aceitos trabalhados que incidam sobre qualquer dos processos de vinculação das orações
complexas – parataxe, hipotaxe e subordinação.
COORDENAÇÃO
Maria Luiza Braga
Universidade Federal do Rio de Janeiro
[email protected]
Maria da Conceição Paiva
Universidade Federal do Rio de Janeiro
[email protected]
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A RELAÇÃO DE FINALIDADE EM CONSTRUÇÕES V+INF.
Patrícia Oréfice – UNESP
O objetivo desse trabalho é investigar acerca da atualização da relação de finalidade em construções
como (1). Essas construções representam casos [- prototípicos] de orações de finalidade, as quais,
segundo Dias (2001, p.95), são construídas, no PB, quase que categoricamente a partir da estrutura
para + infinitivo. A justificativa apresentada pela autora para a seleção da preposição para como
introdutora das cláusulas de finalidade está associada ao seu valor semântico de finalidade e meta,
além de para selecionar infinitivo, diferentemente das outras locuções conjuntivas de finalidade (a
fim de que, por exemplo) que selecionam subjuntivo, modo menos produtivo no PB. (1) Miga, tem
dias que eu tô com humor cinza, que eu saio ver vitrines, nao há nada mais medicinal. Torrent
(2009), por sua vez, defende que a ocorrência da preposição “para” seguida de infinitivo “(...)
parece ser decorrência de uma necessidade de maior marcação sintático-semântica das cláusulas de
finalidade em face do desmantelamento do sistema latino fundado nas relações de consecutio
temporum e de complementação” (TORRENT, 2009:131). Segundo Lakoff e Johnson (2002
[1980]) e Lakoff (1987), as cláusulas de finalidade são aquelas que “codificam o movimento no
mundo das intenções. O sujeito e/ou locutor estabelecem um propósito ou finalidade, cuja execução
do objetivo demanda o deslocamento de uma origem a uma meta, com uma trajetória, no mundo das
intenções. Nosso objetivo é, portanto, discutir se é mesmo a construção para+infinitivo responsável
pela marcação da noção de finalidade, como ainda podemos interpretar (1) como uma construção de
finalidade? Nossa hipótese inicial é a de que para, assim como aponta Torrent (2009), apenas
explicita uma relação de finalidade e é fundamental nessa função apenas quando o verbo da oração
principal não perfila nenhum sentido de finalidade. Considerando que as construções finais sem a
preposição para não podem ser elaboradas com todos os verbos, pretendemos investigar quais
verbos permitem o apagamento da preposição. Para tanto, iniciaremos nossa pesquisa buscando
identificar os verbos associados ao frame de finalidade para verificar se seriam esses verbos que
aceitariam a adjunção de uma construção final.
PADRÕES DE ESTRUTURAÇÃO DA RELAÇÃO ADVERBIAL DE PROPÓSITO NO
PORTUGUÊS
Michel Gustavo Fontes – IBILCE/UNESP
O trabalho que aqui se propõe é desenvolvido no âmbito do projeto “Construções subordinadas nas
variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa
em Gramática Funcional (GPGF), sob a coordenação da Profa. Dra. Erotilde Goreti Pezatti, no
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE/UNESP) de São José do Rio Preto. Esse
projeto objetiva fornecer um quadro da subordinação nas variedades lusófonas de forma a
descrever, o mais abrangente possível, o sistema de subordinação nas oito variedades do português.
No tocante à subordinação adverbial, o objeto está em investigar as relações adverbiais nas
variedades lusófonas de forma a determinar as motivações funcionais subjacentes à relação entre as
estruturas morfossintáticas usadas para codificar essas relações e as situações conceituais que elas
expressam. Ao integrar o projeto citado, este trabalho pretende analisar as formas de expressão da
relação adverbial de propósito, tradicionalmente denominada de finalidade, no Português. Segundo
Cristofaro (2003), a relação de propósito articula dois estados de coisas de forma que um deles (o
principal) é realizado com o objetivo de obter a realização do outro (o dependente). Segundo
Wakker (1987, p. 89), as oração de propósito se caracterizam, principalmente, por (i) serem
constituintes opcionais, (ii) expressarem o propósito que a entidade controladora do estado de coisas
da oração principal quer atingir por meio da realização de tal estado de coisas; (iii) ligarem-se ao
estado de coisas da oração principal como um todo, não somente a um único constituinte, como em
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“maravilhoso para se olhar”, e, por fim, (iv) o estado de coisas da oração principal ser controlado.
Partindo dessas considerações, nosso objetivo é o de verificar as propriedades pragmáticas,
semânticas e morfossintáticas envolvidas na estruturação da relação de propósito para, assim,
propor quatro padrões de estruturação para a relação de propósito. Esses quatro padrões, mesmo
sendo distinguidos com base em sua estrutura morfossintática, apresentam diferentes propriedades
semânticas e pragmáticas. A Gramática Discursivo-Funcional (cf. HENGEVELD; MACKENZIE,
2008), enquanto um modelo de gramática organizado hierarquicamente em níveis e camadas,
oferece parâmetros bastante adequados para a proposição desses quatro padrões de estruturação da
relação de propósito, já que tais padrões demonstram, de certa maneira, o alinhamento entre a
operação de codificação, no Nível Morfossintático, e a de formulação, nos Níveis Representacional
e Interpessoal, isto é, esses padrões que aqui propomos evidenciam como a estrutura, no Nível
Morfossintático, é moldada por fatores de ordem semântica, do Nível Representacional, e de ordem
pragmática, do Nível Interpessoal. Para a análise, são utilizadas ocorrências reais de uso extraídas
do corpus oral organizado pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, em parceria com a
Universidade de Toulouse-le-Mirail e a Universidade de Provença-Aix-Marselha. As ocorrências,
por sua vez, são analisadas à luz de alguns fatores, como: 1. Tipo de entidade expressa pelo
constituinte adverbial; 2. Morfema subordinador; 3. Posição na oração matriz; 4. Dependência do
verbo da oração subordinada; 5. Factualidade; 6. Forma do verbo; 7. Codificação dos participantes;
8. Identidade dos sujeitos; e 9. Pressuposição. Espera-se assim fornecer uma descrição mais
adequada a respeito da relação adverbial de propósito, relacionando dados empíricos a bases
teóricas de natureza funcional.
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE: MECANISMOS DE CONEXÃO FRÁSICA E NÍVEL DE
ESCOLARIDADE
Joana Aguiar – CEHUM/Universidade do Minho
Conceição Paiva – UFRJ
Nesta comunicação, focalizamos a correlação entre os mecanismos de expressão da relação de
causalidade e variáveis sociais como sexo, idade e escolaridade do falante. Tendo em consideração
a complexidade da noção de causalidade e a multiplicidade de propostas teóricas que se debruçam
sobre esta noção (HALIDAY & HASAN, 1976; MANN & THOMPSON, 1986; SWEETSER,
1990; SANDERS ET AL., 1992; ASHER & LASCARIDES, 2003), assumimos que as relações de
causalidade operam em domínios distintos e podem ser subdivididas em: causa real, causa
explicativa e causa modificadora do ato de fala, na linha do proposto por Sweetser (2000). Partindo
desta tripartição, discutimos a frequência de ocorrência das relações de causalidade num corpus de
textos expositivo-argumentativo, redigidos por falantes do Português Europeu, estratificados de
acordo com o sexo, grau de escolaridade e faixa etária. Cada estrutura é analisada de acordo com:
tipo de relação causal (SWEETSER, 1990); o tipo de estrutura sintática que veicula a relação de
causalidade (justaposição, coordenação, subordinação); e o elemento de ligação entre as orações. A
partir da análise destas variáveis pretende-se observar de que forma varia a representação sintática
das relações de causalidade e verificar a importância dos fatores sociais na clarificação da variação
observada. Em relação à influência do nível de escolaridade, sabe-se que os mecanismos utilizados
para veicular relações de causalidade ainda estão em desenvolvimento no nono ano (LOPES, 2004).
Como tal, espera-se obter uma maior percentagem de estruturas subordinadas, principalmente
introduzidas por porque, nos falantes mais jovens e com menos escolaridade, uma vez que estas são
apresentadas, em contexto escolar, como prototípicas no estabelecimento da relação de causalidade.
A partir de uma análise estatística que verifica a significância das diferenças observadas entre os
diferentes grupos, são obtidas evidências favoráveis a esta hipótese. Os resultados indicam que os
informantes com menos escolaridade (e mais jovens) apresentam uma maior percentagem de causa
real e, como previsto, maior uso do mecanismo de subordinação, principalmente quando
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estabelecida através de porque. Por outro lado, a justaposição é mais frequente em adultos com
mais anos de escolaridade, que preferem estabelecer as relações de causalidade de uma forma mais
indireta. Outro dado importante é o aumento de relações de causa explicativa nestes falantes,
influenciado não só pelo desenvolvimento de outros mecanismos de conexão, mas também pelo
desenvolvimento de estratégias de argumentação.
A CONEXÃO CAUSAL NO PORTUGUÊS ARCAICO
Fabrício da Silva Amorim – UNESP
Mattos e Silva (1989; 2008), ao descrever a conexão causal no português arcaico, identifica a
existência da “coordenação explicativa”, prototipicamente representada pelas orações introduzidas
por ca, e da “subordinação adverbial causal”, que apresenta como orações prototípicas as que são
introduzidas pelos conectores porque, pois/pois que e que. Embora aponte os usos prototípicos dos
conectores causais no português arcaico, Mattos e Silva reconhece a fluidez semântica e sintática
das orações causais nesse período. Sobretudo em relação às orações introduzidas por ca, assinala a
autora que esses enunciados “estão naquela duvidosa zona limítrofe da coordenação e da
subordinação” (MATTOS e SILVA, 1989, p. 690). Numa visão funcionalista (HALLIDAY, 1985),
poder-se-ia afirmar que a “duvidosa zona limítrofe” a que a autora se refere diz respeito aos casos
de hipotaxe. Assim, à luz do Funcionalismo (HALLIDAY, 1985) e da abordagem da
Gramaticalização (HEINE, 2003; HOPPER; TRAUGOTT, 1993), este trabalho é conduzido a partir
do seguinte problema: como se caracteriza o pareamento “arquitetura sintática/relações de sentido”
(RAIBLE, 2001) das orações causais no português arcaico? Para responder a essa questão, este
estudo busca (i) descrever as relações de sentido codificadas pelas orações causais com base na
proposta dos domínios de causalidade (SWEETSER, 1991), em correlação com os mecanismos de
articulação de orações (HALLIDAY, 1985) e (ii) identificar processos de especialização semântica
(HOPPER, 1991) dos conectores que introduzem essas orações. O corpus da pesquisa é constituído
por nove textos representativos do português arcaico – século XIII ao século XV –, que totalizam
82.685 palavras.
AS ORAÇÕES CONDICIONAIS INTRODUZIDAS PELA LOCUÇÃO CONJUNCIONAL
“NO CASO DE (QUE)” NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Kátia Elaine de Souza Barreto – UFMS/Três Lagoas
Edson Rosa Francisco de Souza – UFMS/Três Lagoas
Em geral, a tradição gramatical distingue apenas dois tipos de períodos compostos: a coordenação e
a subordinação, sendo a primeira caracterizada por uma relação de independência e a segunda
caracterizada por uma relação de dependência (em que as orações possuem um estatuto diferente,
ou seja, uma oração funciona como parte da outra). No entanto, a noção de dependência ora é
tratada na tradição gramatical como uma dependência sintática (formal) ora como uma dependência
semântica (de incompletude significativa), definição esta que tem sido bastante criticada nos
estudos linguísticos (PAIVA, 1991; DECAT, 1993; HOPPER & TRAUGOTT, 1993; NEVES,
2000; CRISTOFARO, 2003; HENGEVELD e MACKENZIE, 2008; BRAGA, 2008;
GONÇALVES, SOUSA & CASSEB-GALVÃO, 2009), sobretudo no que diz respeito aos critérios
utilizados para identificar os tipos de combinação de orações (PAIVA, 1991; DECAT, 1993;
HOPPER & TRAUGOTT, 1993; NEVES, 2000; BRAGA, 2008; GONÇALVES, SOUSA &
CASSEB-GALVÃO, 2009). Para esses autores, os processos de combinação de orações são,
geralmente, divididos em parataxe [-encaixamento, -dependência], hipotaxe [-encaixamento,
+dependência] e subordinação [+encaixamento, +dependência], que, diferentemente da tradição
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gramatical, resultam da combinação de traços sintáticos e semânticos [+/- dependência] e [+/encaixamento]. De posse dessas informações, o objetivo principal do trabalho é analisar, sob a
perspectiva teórica da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD e MACKENZIE, 2008) e
da Gramaticalização (HOPPER e TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 1995; BYBEE, 2003), as
orações condicionais introduzidas pela locução conjuncional “no caso de (que)” no português
brasileiro, tendo em vista os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos atrelados ao uso do
referido conectivo para articular orações. Em termos específicos, a proposta é (i) verificar as
motivações funcionais que regulam a escolha da locução conjuncional “no caso de (que)” para
indicar condicionalidade, considerando-se o fato de que o português brasileiro dispõe de várias
outras conjunções simples e complexas para marcar a relação semântica de condição, (ii) analisar o
processo de gramaticalização porque vem passando a locução conjuncional “no caso de (que)” no
português brasileiro [do nome “caso” à locução conjuncional “no caso de (que)”], em que se
observa um deslocamento funcional do domínio concreto [lexical] para o domínio mais abstrato
[gramatical], com usos que vão, conforme Traugott (1982), desde a esfera proposicional (usos
lexicais) até a esfera expressiva (usos interacionais), passando pela esfera textual (articulação de
orações). Para tanto, utilizaremos como universo de investigação o Corpus do Português (DAVIS e
FERREIRA, 2006), disponível no endereço (www.corpusdoportugues.org), e os seguintes
parâmetros de análise: unidade composicional da oração principal, unidade composicional da
oração subordinada, correferência entre os sujeitos, factualidade, tempo verbal da oração principal,
tempo verbal da oração subordinada, forma verbal da oração subordinada, posição da oração
subordinada e tipo de gênero discursivo.
ORAÇÕES COMPLEXAS DE TEMPO SOB UMA PERSPECTIVA DIACRÔNICA
Maria Luiza Braga – UFRJ/CAPES/CNPq
Maria da Conceição Paiva – UFRJ/CNPq
Neste trabalho, investigamos as orações hipotáticas que sinalizam a relação semântica de tempo e
que são introduzidas por um conector. As orações em pauta são examinadas sincrônica e
diacronicamente com vistas a verificar sua estabilidade/instabilidade sistêmica no PB, ao longo dos
quatro últimos séculos, salientando a forma como uma análise diacrônica pode contribuir para
esclarecer as convergências entre diferentes tipos de oração temporal. O trabalho compreende
quatro partes: na primeira, retomamos criticamente as abordagens funcionalistas para o tratamento
das orações complexas. A seguir, consideramos as subespecificações do espaço semântico recortado
pelas orações de tempo que podem ser, assim, denominadas: superposição, simultaneidade
coextensiva entre os estados-de-coisas expressos pelas orações hipotática e nuclear, anterioridade
do estado-de-coisas expresso pela oração hipotática, posterioridade do estado-de-coisas expresso
pela oração hipotática, anterioridade imediata do estado-de-coisas expresso pela oração hipotática,
contingência e limite temporal. Consideramos, então, sob uma perspectiva diacrônica, os conectores
que se prestam à sinalização destas subespecificações, ressaltando a estabilidade de alguns deles.
Na terceira parte, examinamos, também sob um viés diacrônico, a correferencialidade entre os
sujeitos das orações hipotática e nuclear. Nas conclusões, mostramos que a forma diferenciada
como cada conector subespecifica o continuum temporal culmina numa certa associação com a
propriedade morfossintática correferencialidade entre os sujeitos. Salientamos as particularidades,
no percurso histórico, dos conectores que instanciam simultaneidade/superposição entre dois
estados de coisas e as dos que expressam sequencialidade. As primeiras se caracterizam por maior
regularidade quanto a não-correferencialidade entre sujeitos das orações hipotática e nuclear; as
segundas, por sua vez, oscilam de forma mais evidente entre sujeitos [+ correferencial] e [correferencial] e mantêm esta espepcificcidade no estágio atual do português.
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ORAÇÕES SUBJETIVAS E ALÇAMENTO DE CONSTITUINTES SOB PERSPECTIVA
FUNCIONALISTA
Sebastião Carlos Leite Gonçalves – UNESP/CNPq
A ocorrência, nos limites de uma oração matriz, de constituinte que, semanticamente, pertence à
oração encaixada, mais precisamente de constituinte que é termo argumental do predicado
encaixado, geralmente na forma de infinitivo, identifica fenômeno referido como alçamento (ou
elevação) na literatura linguística tanto de orientação gerativista (RAPOSO, 1992; PERES; MOIA,
1995) quanto de orientação funcionalista (NOONAN, 1985; GIVON, 2001a, b). A diferença entre
essas duas abordagens diz respeito ao modo como cada uma concebe a origem do constituinte
alçado: como resultante de movimentos do constituinte de uma posição hierarquicamente mais
baixa para uma mais alta na sentença, como postulam os gerativistas, ou como resultado de
motivações pragmáticas, semânticas e/ou morfossintáticas que levam os constituintes a assumirem a
posição que ocupam na estrutura da frase, como postulam os funcionalistas, que, apesar de
preservarem o termo que identifica o fenômeno, não concebem o envolvimento de transformação de
uma configuração básica em outra derivada (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008). No âmbito da
linguística brasileira, construções de alçamento sempre constituíram tema de investigação
privilegiado mais de formalistas (KATO; MIOTO, 2000; FERREIRA, 2001; MIOTO; KATO,
2002; MARTINS; NUNES, 2005; HENRIQUES, 2008; dentre outros) do que de funcionalistas
(GORSKI, 2008; MITTMANN, 2006). Diante disso, o presente trabalho, parte de um projeto maior
que investiga orações subjetivas na história do português, tem por objetivo oferecer, sob perspectiva
funcionalista, um quadro tipológico de construções de alçamento presentes no português brasileiro.
A partir de um conjunto de parâmetros morfossintático, semânticos e pragmáticos, e com base em
pesquisa em corpus de língua falada, apresentam-se os dois tipos de alçamentos mais produtivos, de
sujeito a sujeito (ASS) e de objeto a sujeito (AOS), diferenciando-os de simples casos de
topicalização e de deslocamento à esquerda. Os resultados, ainda preliminares, mostram que, na
maioria dos casos, o tipo de alçamento está fortemente correlacionado com fatores semânticos e
pragmáticos, sendo o tipo semântico de predicado matriz (epistêmicos e avaliativos) o fator mais
determinante do tipo de alçamento (ASS e AOS, respectivamente). (Proc.CNPq 305264/2011-7).
SENTENÇAS COMPLETIVAS DO VERBO ACHAR: GRAUS DE VINCULAÇÃO
SINTÁTICA, CONTEXTO MORFOSSINTÁTICO E GRAMATICALIZAÇÃO
Cristina dos Santos Carvalho – UNEB
Para a tradição gramatical, os dois principais processos de combinação de orações são a
coordenação e a subordinação, cuja distinção é estabelecida a partir da noção de (in)dependência
sintática e/ou semântica. Como a dicotomia coordenação/subordinação tem se mostrado insuficiente
para dar conta das sentenças complexas possíveis nas línguas humanas, ela tem sido questionada
por estudos linguísticos de diferentes orientações teóricas. Entre esses, destacam-se os estudos
funcionalistas (de diversas vertentes), que têm proposto a revisitação e, por conseguinte, novas
classificações para orações complexas (HALLIDAY, 1985; MATTHIESSEN e THOMPSON,
1988; LEHMANN, 1988; HOPPER e TRAUGOTT, 1993, dentre outros). Algumas dessas
propostas, como as de Lehmann (1988) e Hopper e Traugott (1993), apresentam uma tipologização
dessas orações a partir de continua que levam em conta níveis de maior ou menor vinculação
sintática entre cláusulas (CARVALHO, 2004b). A título de ilustração, Hopper e Traugott (1993)
consideram os seguintes tipos de sentenças complexas, que podem ser dispostos em um continuum
de gramaticalização: parataxe > hipotaxe > subordinação. Tradicionalmente, o termo subordinação
abarca sentenças complexas com diferentes estatutos semântico-sintáticos, mais especificamente, as
orações substantivas, adjetivas e adverbiais. Na proposta de Hopper e Traugott (1993), as
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construções subordinadas abrangem somente as cláusulas relativas restritivas e as completivas: as
primeiras funcionam como modificadores de um nome da oração matriz; as últimas, como
argumentos externos ou internos da matriz. Independente do tipo de argumento, as completivas têm
se atualizado em padrões configuracionais diversos. Por exemplo, Gonçalves (2001, 2011)
identifica, com base em critérios como grau de finitude da encaixada, correlação modo-temporal,
tipo de modalidade e classe semântica do predicado matriz, padrões de orações subjetivas
exclusivos da fala e da escrita do português brasileiro e comuns a essas duas modalidades. Em
Carvalho (2004a), ao examinar sentenças que constituem argumentos internos de verbos causativos
e perceptivos, demonstrei que essas sentenças se distinguem, representando diferentes níveis de
integração sintática: embora elas estejam alocadas em pontos à direita dos continua de articulação
de orações de Lehmann (1988) e Hopper e Traugott (1993), não se situam exatamente no mesmo
ponto devido à atuação de parâmetros semântico-pragmáticos e formais que não partilham.
Resultados como os supracitados servem como evidências empíricas da afirmação de Givón (1990)
sobre a imbricação entre propriedades sintáticas das completivas e propriedades semânticas do
verbo da matriz no domínio da complementação verbal. Ademais, um mesmo item verbal, enquanto
predicado matriz, pode apresentar distintos usos em construções complexas e tais usos podem se
refletir na codificação estrutural das suas cláusulas encaixadas. Na contramão, aspectos semânticofuncionais da completiva também podem concorrer para a realização de formas distintas de
complementação ou até mesmo para a determinação de valores do predicado matriz (SOUSA,
2011). Neste trabalho, fundamentando-me em postulados funcionalistas, analiso os usos do verbo
achar e de suas completivas instanciados sobretudo no contexto morfossintático de primeira pessoa
do singular. A ênfase a esse contexto se justifica pelo fato de ele ter se mostrado produtivo para a
gramaticalização de achar em sentenças complexas como modalizador de opinião e advérbio de
dúvida (GALVÃO, 1999; FREITAG, 2003); nesse último uso, ocorre uma dessentencialização de
achar (LEHMANN, 1988) e, consequentemente, uma reanálise da construção complexa em
simples. Assim, baseando-me em algumas propriedades linguísticas (presença e tipo de argumento
interno, posição de achar na sentença, ausência/presença de material interveniente,
presença/ausência da conjunção integrante que), verifico os graus de vinculação sintática entre
achar e as suas completivas, relacionando-os aos usos gramaticalizados ou não desse verbo. Para
tanto, utilizo-me de dados da modalidade falada do português brasileiro extraídos do Programa de
Estudos sobre o Português Popular Falado em Salvador (PEPP).
GRAMATICALIZAÇÃO DE PREDICAÇÕES AVALIATIVAS REDUZIDAS
ENCAIXADAS NO VERBO ACHAR
Ana Caroline de Lima Parreira – UNESP/IBILCE
O presente trabalho aborda as predicações reduzidas avaliativas encaixadas no verbo achar, com o
objetivo de discutir o estatuto da predicação encaixada, do ponto de vista da gramaticalização
(HOPPER; TRAUGOTT, 1993; LEHMANN, 1998). São conhecidas e bastante investigadas na
língua portuguesa orações complexas compostas de predicado matriz avaliativo ou modalizador no
qual se encaixam uma oração na forma finita, como em “Acho [que é muito importante você ter o
controle sobre você]”. Interessa-nos, no entanto, a investigação do complexo oracional em que, em
uma predicação avaliativa estruturada pelo verbo achar, encaixa-se uma predicação não verbal
reduzida, estruturada por um predicador adjetival avaliativo sem recurso à cópula, como em “Acho
[essa cadeira confortável / confortável essa cadeira]”, um complexo oracional fortemente integrado
do ponto de vista sintático, semântico e pragmático, quando se contrasta esse tipo de predicação
reduzida a sua contraparte desenvolvida “Acho que [essa cadeira é confortável / é confortável essa
cadeira]. Por meio da presente pesquisa, pretende-se ampliar as descrições disponíveis acerca do
estatuto de orações encaixadas reduzidas, considerando a existência de orações reduzidas sem
cópula um tipo mais dessentencializado do que aqueles tradicionalmente reconhecidos como
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orações infinitivas, hipótese a ser investigada que toma por base a proposta de gramaticalização de
orações, tal como postulada por Lehmann (1988). Os resultados preliminares revelam que esse tipo
de predicação pode apresentar-se sob dois tipos no que respeita a ordem da entidade avaliada em
relação ao predicador avaliativo. No primeiro tipo, considerado o mais frequente em nosso córpus, a
entidade avaliada aparece anteposta ao predicador avaliativo, como se observa na seguinte
ocorrência extraída do Banco de dados Iboruna: “eu acho [um lugar [muito bonito]]” (AC- 035). Já
no segundo tipo, menos frequente, a entidade avaliada está posposta ao predicador avaliativo, como
ocorre em “eu acho [interessante [assim:: a a pesquisa né]” (AC - 044), ocorrência extraída do
banco de dados já mencionado. Outro resultado obtido aponta que em mais de 85% das ocorrências
há o predomínio da primeira pessoa do discurso, o que permite afirmar que esse tipo de construção
é especializado na expressão da avaliação subjetiva do falante (muito bonito, interessante) acerca de
um referente (um lugar, a pesquisa). A ocorrência desse tipo de predicação com outras pessoas do
discurso também se dá, mas sempre da perspectiva do enunciador discursivo, conforme se verifica
em “ele achô(u) [ela [boni::ta]]” (AC - 016), ocorrência na qual o falante relata a avaliação de um
pretendente de sua irmã sobre a aparência física dela. Aspecto importante ainda a ser averiguado diz
respeito ao estatuto sintático da entidade alvo da avaliação, que se encontra nos limites da
predicação reduzida, a qual pode ser interpretada como sujeito do predicado (muito
bonito/interessante) quanto objeto da oração matriz de nível mais alto (acho), dada a possibilidade
de sua pronominalização por meio de forma de acusativo (acho-o muito bonito/acho-a muito
interessante). Esse fato sugere que, na construção considerada nesse estudo, não estão envolvidos
apenas fatores de gramaticalização de orações, mas também fatores desencadeadores do fenômeno
de alçamento de sujeito do predicado encaixado a objeto do predicado matriz (NOONAN, 1985).
A CORRELAÇÃO ENTRE MODO E TEMPO DA ORAÇÃO MATRIZ E DA ORAÇÃO
ENCAIXADA EM PREDICADORES VERBAIS EVIDENCIAIS, EPISTÊMICOS E
DEÔNTICOS
Marize Mattos Dall’Aglio Hattnher – UNESP/CNPq
Segundo Gonçalves (2001), predicadores verbais expressam uma avaliação do falante sobre o
conteúdo da proposição encaixada, ocorrem categoricamente na 3ª. pessoa do singular e geralmente
no presente do indicativo. Por seu turno, as orações subjetivas podem ser finitas ou não-finitas. É
exatamente essa possibilidade de variação que será aqui investigada. Considerando os diferentes
campos semânticos da avaliação expressa pelo predicador, este trabalho investiga: i) a associação
entre o domínio da avaliação (deôntica, epistêmica ou evidencial) e as variações de forma da oração
encaixada; ii) a correlação entre o modo e tempo da oração matriz e da oração encaixada. A
hipótese aqui defendida é a de que quanto mais alto o nível na escala hierárquica das qualificações,
menor será o grau de entrelaçamento entre as orações matriz e encaixada, fato esse expresso pela
correlação não obrigatória de tempo e modo nas construções subordinadas com predicador verbal
epistêmico e pela correlação obrigatória no caso dos predicadores verbais deônticos. Da mesma
forma, a correlação temporal também é afetada pelo tipo de evidencialidade expressa pelo
predicador variando conforme a camada em que se insere o evidencial. Para a análise dos
predicadores verbais evidenciais será considerada a classificação proposta por Hengeveld e
Dall’Aglio-Hattnher (2012), que identificam quatro tipos de evidencialidade alojados em diferentes
camadas: evidencial reportativo, inferencial, dedutivo e de percepção de evento. Para a análise dos
predicadores verbais, será considerada a tipologia das modalidades proposta por Hengeveld (2004),
que identifica as modalidades nas camadas do evento, do episódio e da proposição. Este estudo faz
parte de um projeto de pesquisa mais abrangente, denominado “Construções subordinadas nas
variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa
em Gramática Funcional (GPGF – UNESP/CNPq), que tem por objetivo estudar os três tipos de
subordinação (completivas, adjetivas e adverbiais) nas variedades do português. No âmbito deste
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trabalho, interessam-nos, especialmente, as orações subordinadas encaixadas em predicadores
verbais.
AS CONSTRUÇÕES COMPLETIVAS PREDICATIVAS NAS VARIEDADES
LUSÓFONAS
Cibele Naidhig de Souza Carrascossi – UNESP
Lisângela Aparecida Guiraldelli – UNESP
Examinam-se as construções completivas predicativas, com o objetivo de traçar um perfil do seu
comportamento. O trabalho faz parte de um projeto maior, “Construções subordinadas nas
variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa
em Gramática Funcional da UNESP de São José do Rio Preto. A proposta do projeto é estudar, com
base no modelo teórico da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD e MACKENZIE,
2008), as construções subordinadas substantivas (completivas), adjetivas e adverbiais, nas
variedades lusófonas. O corpus utilizado pelo projeto, denominado Português Oral, contempla
variedades do português europeu, africano e brasileiro. Nesta comunicação, investigam-se
propriedades semânticas, discursivas e formais das completivas predicativas. O que se ressalta ao
exame das ocorrências é a função predominantemente atitudinal dessas estruturas, em que o
conteúdo encaixado, a oração predicativa, é qualificado pelo enunciador, sendo tal avaliação
marcada por um nome (tal como, problema, interessante, verdade, duro, foda, etc), sujeito da
oração principal.
CONSTRUÇÕES RELATIVAS E PROCESSAMENTO COGNITIVO
Roberto Gomes Camacho – UNESP-São José do Rio Preto
Das quatro estratégias reconhecidas por Keenan (1985) e Comrie (1989), o português dispõe da
construção de pronome relativo ou pied-piping, entendida como a variante-padrão, que, nas
posições preposicionadas, alterna com estratégia de retenção pronominal ou variante cortadora e
com a construção de lacuna ou variante cortadora. Em situações mais restritas, em que a posição
relativizada é regida por preposições lexicais simples e complexas, é possível ainda contar com uma
variante de encalhamento de preposição (prepsition stranding). Há, por outro lado, uma relação
dialética entre transparência e opacidade, que se acha ligada, ao Princípio de Economia, em
contraposição ao de Iconicidade (GIVÓN 1980, 1990; HAIMAN 1985), que constituem duas
motivações funcionais em competição (DU BOIS 1985), especialmente reconhecidas pela pesquisa
tipológica (HENGEVELD, 2011). A iconicidade é a tendência para o máximo grau de transparência
entre forma e conteúdo. Tendo o fenômeno da relativização como objeto de estudo e essas
premissas como possíveis hipóteses explicativas, este trabalho pretende discutir em que medida a
seleção entre as diferentes estratégias é motivada por um grau maior ou menor de transparência
entre forma e função, em face da correlação grau de transparência e processamento cognitivo.
Pretende discutir, além disso, se essa correlação permite, além disso, postular que a ordenação entre
as estratégias com base no uso corresponde a uma escala diretamente proporcional de
processamento cognitivo
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RELAÇÕES MULTINUCLEARES NA ARTICULAÇÃO DE ORAÇÕES EM
PORTUGUÊS.
Maria Beatriz Nascimento Decat – UFMG
Este estudo é uma análise da articulação de orações que exibem relações multinucleares (de lista, de
sequência e de contraste). A análise fundamenta-se nos postulados da Teoria da Estrutura Retórica
(Rhetorical Structure Theory - RST), uma teoria funcionalista - desenvolvida por estudiosos da
costa oeste norte-americana, tendo como iniciadores Mann e Thompson (1983) - que procura
descrever a maneira como as orações e outras porções de texto se articula para formar discurso
coerente. Além das relações retóricas de núcleo-satélite, em que uma oração (o satélite) é
subsidiária de outra (o núcleo), essa teoria propõe outro tipo de combinação de orações, combinação
essa que se dá através das relações multinucleares, em que nenhuma oração é subsidiária de outra,
mas todas se articulam num mesmo nível hierárquico, com um mesmo estatuto e com núcleos
distintos. Analisam-se, neste trabalho, os tipos de “proposições relacionais” (proposições implícitas
que surgem das relações entre as porções de texto) que emergem dessas relações multinucleares, a
partir das ocorrências dessas estruturas em um corpus oral lusófono, constituído de entrevistas, e em
um corpus escrito, constituído de ocorrências extraídas de textos de gêneros textuais diversos do
português brasileiro em uso. Os dados do corpus lusófono têm origem em entrevistas coletadas em
diversas comunidades de fala portuguesa, tais como Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Esse corpus oral foi organizado pelo
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, em parceria com a Universidade de Toulouse-leMirail e a Universidade de Provença-Aix-Marselha. Objetiva-se, também, neste estudo, verificar
como as relações retóricas/proposições relacionais são assinaladas em português, ou seja, com ou
sem a presença de conectivos, e que processos, dentre os do sistema tático (parataxe e hipotaxe) e o
de encaixamento (ou integração, caracterizando a subordinação), mais se assemelham à articulação
multinuclear e a propiciam ou coocorrem com essa articulação. O estudo procura apontar, portanto,
para a relação existente entre a estrutura retórica e a articulação de orações, articulação essa que,
segundo Matthiessen e Thompson (1988), reflete a organização do discurso; e, ainda, apontar as
semelhanças e diferenças, nos dados orais e nos escritos, quanto à materialização das relações
retóricas através da articulação de orações, levando-se em conta o contexto do discurso em que as
orações se realizam.
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SIMPÓSIO 51
GÊNEROS E MÍDIAS NA ESCOLA, E O PLANEJAMENTO DAS
PRÁTICAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS LM
Desde a publicação dos PCNs (BRASIL, 1998) tem havido um esforço da educação básica em
efetivar um ensino e aprendizagem de linguagem de forma contextualizada a partir do conceito de
gênero discursivo. A abordagem da linguagem como um fenômeno sócio-histórico resultante da
articulação de aspectos de natureza extralinguística impõe aos professores em formação inicial/
continuada novo foco como ferramenta de ensino: as formas de enunciação produzidas em uma
sociedade. Os documentos oficiais determinam que os estudantes devem, em situações de
aprendizagem, participar de atividades em que as práticas de linguagem sejam mais próximas
possíveis das situações naturais de uso da língua, em diferentes modalidades e suportes. Desse
modo, outras possibilidades didáticas são demandadas dos professores em formação
inicial/continuada, de maneira que os alunos da educação básica possam ser inseridos em práticas
mais significativas de letramento, envolvendo as capacidades de linguagem ao ler/ouvir e
escrever/falar. Entretanto, ainda há dúvidas por parte de professores e demais envolvidos na
educação de como implementar essas práticas, de modo que o “planejamento” (visto como um
conjunto de práticas do trabalho do professor) é um importante objeto de debates dentro dessa
configuração, refletindo-se em questões como: Qual gênero ensinar? Qual conteúdo de linguagem
trabalhar? Como dar conta das necessidades de aprendizagem dos alunos? Interessa a esse simpósio
agrupar trabalhos de pesquisa que focalizem planejamentos realizados pelos professores ou
propostas de planejamento de práticas de ensino de leitura, produção textual e análise linguística,
tendo em conta os conceitos de gênero discursivo e mídia. Serão aceitos relatos informado por
diversas perspectivas teóricas atinentes ao debate sobre ensino e aprendizagem de português LM
(análise crítica de gêneros, dialogismo, interacionismo sociodiscursivo, letramento, práticas de
escrita via web a partir de ferramentas digitais diversas, tais como fórum, MSN, e-mail, wiki, etc.).
COODENAÇÃO
Adair Bonini
Universidade Federal de Santa Catarina
[email protected]
Adair Vieira Gonçalves
Universidade Federal da Grande Dourados
[email protected]
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A CONSTRUÇÃO DO JORNAL COMO MÍDIA ESCOLAR E O PLANEJAMENTO DAS
ATIVIDADES DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA
Adair Bonini – UFSC
O planejamento das atividades de ensino e aprendizagem de linguagem está intimamente
relacionado à orientação teórica adotada pelo/a professor/a. A perspectiva sócio-histórica
encampada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e amplamente presente nas propostas
curriculares estaduais e municipais pressupõe a existência de um aluno que exerce sua prerrogativa
de sujeito histórico e autor e, como tal, que seja participante ativo nas práticas de ensino e
aprendizagem desencadeadas na escola. Em contraposição com o ensino tradicional, nesse caso, o
ensino deixar de ter um conteúdo fixo (programático) para considerar a imersão dos alunos nas
práticas que possibilitarão o desenvolvimento do conhecimento. Nesse cenário, o planejamento das
atividades em classe envolvem inúmeras decisões do/a professor/a no sentido de evitar dois
extremos: o engessamento das práticas dos alunos em atividades que não lhes permitirão exercer o
ato criativo ou o espontaneísmo que não lhes possibilitará ir além da esfera imediata, não ampliando
o conjunto de práticas e saberes. Nas escolas que se orientam pela perspectiva sócio-histórica, o
jornal escolar tem se mostrado uma ferramenta de ensino e aprendizagem essencial não só por
permitir que os alunos realizem práticas efetivas de linguagem, mas também por favorecer a
construção de saberes sobre a presença das mídias em uma sociedade essencialmente semiotizada. É
importante, portanto, que sejam produzidas reflexões acadêmicas sobre o modo como essas
experiências tem ocorrido, em especial sobre o papel que o/a professor/a ocupa em seu
planejamento. Nesta apresentação são analisados dados referentes à implantação de jornais
escolares nas escolas da rede pública municipal da cidade de Florianópolis. Na pesquisa realizada,
precedeu-se a um levantamento das experiências desenvolvidas nessa rede de ensino, coletando-se
jornais e entrevistando-se os/as professores/as que as coordenavam. Das 26 escolas que compõem a
rede, 14 têm ou tiveram projetos de jornais escolares. Desse montante, foram entrevistados apenas
os/as professores/as dos 5 projetos em execução. A análise aqui apresentada focaliza
especificamente os relatos atinentes ao planejamento das atividades de ensino e aprendizagem no
interior de cada projeto, tendo como contraponto os jornais produzidos.
O ENSINO DE LINGUAGEM NA PRÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA COM O JORNAL
ESCOLAR
Vanessa Wendhausen Lima – UNISUL
Este trabalho surgiu da aplicação de uma pesquisa de doutorado que tem por objeto a produção de
jornal escolar com uma turma de correção de fluxo de Ensino Fundamental II, com o intuito de
incentivar a utilização das práticas de letramento discentes (BARTON, HAMILTON, 1998),
apoiado nas bases freireanas para uma educação crítica e libertadora (FREIRE, 1967). É comum ao
trabalho docente o planejamento das aulas, principalmente quando as aulas envolvem a aplicação de
um projeto de letramento (KLEIMAN, 2001). Também é comum ao trabalho docente, que o
planejamento sofra alterações pragmáticas no decorrer da aula, por se deparar com uma série de
acontecimentos (im)prováveis. Porém, em muitas dessas vezes, o professor não está preparado para
a prática de sala de aula, mas não por falta de conhecimento teóricotécnico; e sim, por falta de
conhecimento de uma realidade que difere da dele em muitos aspectos; por se deparar com
situações que fogem totalmente ao seu controle e o impedem de seguir com o planejado. O objetivo
deste trabalho é expor uma série de situações reais ocorridas durante a produção desse jornal escolar
e que podem impedir ou impulsionar o ensino de linguagem. Além de mostrar que, apesar da
realidade escolar, muitas vezes, ser uma completa desconhecida de muitos docentes, ainda assim, é
possível re-planejar e seguir adiante tanto no que se refere ao andamento das aulas quanto ao ensino
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de linguagem. Estruturada como pesquisa participante, os resultados mostram que, muitas vezes, o
conhecimento teórico pode ser insuficiente para dar conta de uma prática tão alheia aos livros e à
academia; mas, ainda assim, é possível trabalhar com a linguagem, incentivando uma prática
educativa crítica e libertadora.
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA: LIMITES DE UM CONCEITO E RELAÇÕES MOVENTES
Adair Vieira Gonçalves – UFGD
Este trabalho será fundamentado nos pressupostos do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), tanto
no seu quadro epistemológico de base, no seu modelo teórico-metodológico de análise de textos, na
sua vertente didática consolidada em uma engenharia movida por instrumentos didáticos e na
concepção de Transposição Didática (TD) de Chevallard (1991). São dois os níveis de TD, segundo
Dolz, Gagnon & Canelas-Trevisi (2009): externa e interna. A externa vai dos objetos do saber,
chamados de “duros” ou localizados fora da instituição escolar para os saberes a ensinar. A interna
diz respeito à passagem dos saberes a ensinar aos objetos ensinados e à criação de dinâmicas para
situações efetivas de ensino. A respeito da TD, Corrêa afirma que “...essa noção contradita a pecha
de aplicadora que tem sido imposta à LA, já que busca dar contornos teóricos à prática didática.
Ora, tal tratamento dos dados linguísticos, baseado na informação que a prática fornece à teoria, já
permite pensar que a LA trabalha com um objeto complexo, constituído no diálogo nunca acabado
entre seus dois modos de abordar a linguagem: como objeto de estudo/de ensino. Por outro lado,
[...] parece manter-se a ideia de separação de dois lugares de reflexão: uma dimensão configurada
num espaço-tempo (o da teoria) que, num momento posterior, deverá ser levada (transposta) a uma
outra configuração espacio/temporal ( a da prática)” (CORRÊA, 2011, p.246). A partir das
considerações anteriores, objetiva-se: a) analisar criticamente o conceito de TD a partir de
Chevallard (1991); e b) analisar algumas relações moventes ocorridas após a construção do modelo
didático por um pesquisador e sua posterior didatização numa turma de 2ª série do Ensino Médio de
uma instituição pública de Dourados/MS.
O GARIMPO TEXTUAL E(M) MÚLTIPLOS LETRAMENTOS CRÍTICOS: AS MÍDIAS
NO E PARA O GESTO FUNDADOR DO TRABALHO DE SELEÇÃO DE TEXTOS PARA
OBJETO DE ENSINO E DE TRABALHO DO PROFESSOR EM SALAS DE AULA DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Fernanda de Castro Batista Coelho – UESB
Ester Maria de Figueiredo Souza – UESB
Cristina Arcuri Eluf – UESB
No esteio de nossas proposições para esta comunicação, está a crença de que a docência seja
ressignificada como um exercício dialógico pensado e analisado no interior de uma teia de saberes,
práticas, métodos e discursos construídos à luz do que reconhecemos hoje como campo de pesquisa
da e para a formação do professor. Um dos modos de se reconceber os saberes e fazeres com a
linguagem em espaços sociodiscursivos e interacionais da formação inicial, tendo em vista gestos
de transposição didática e trabalho com o texto em salas de aula da educação básica requer
considerar e dialogar com outras e diferentes formas de enunciação produzidas em sociedade e(m)
mídias. Daí pensarmos nas escolhas e nas crenças que parametrizam a escolha dos gêneros a serem
objeto de trabalho na escola como uma releitura de gestos profissionais fundadores do trabalho
educacional. Os dados que trazemos configuram investidas metodológicas de trabalho com a
categoria gênero como mediação formativa, daí a proposta do Garimpo textual (COELHO;
SOUZA, 2012) à luz da ótica teórico-conceitual dos multiletramentos críticos (ELUF, 2010) e da
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docência como um exercício de dialogia (COELHO; SOUZA, 2012). O Garimpo textual –
atividade que integra a agenda de trabalho semanal de licenciandos em Letras (bolsistas PIBID,
FAPESB, CNPQ e UESB) e professores em exercício (bolsistas PIBID) da educação básica –
consiste na escolha processual, semanal e individual de textos (vinculados a diferentes semioses e
socialmente reconhecidos como diferentes gêneros discursivos) que se julga adequados e
interessantes para o trabalho em aulas de português e inglês da educação básica. Escolhidos os
textos, que passam a integrar um banco de dados coletivo, eles são catalogados à luz das noções de
intercalação de gêneros tendo em vista a proposição de sequências didáticas para sua exploração
como enunciado em sala de aula. A tematização e sistematização dessas escolhas pelos professores
formadores impactam em gestos de transposição didática, reelaborações no modo como se percebe
o ensino de língua(s) e a noção de texto e, consequentemente, como os sujeitos representam a si
mesmos e(m) seus processos formativos e campos de atuação profissional.
GÊNEROS TEXTUAIS: UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR NO
ENSINO MÉDIO
Maria do Rosário do Nascimento Ribeiro Alves – UnB
Esta comunicação expõe os resultados parciais de uma pesquisa desenvolvida em duas turmas da 3ª
série do Ensino Médio, em uma escola pública do Distrito Federal, durante o ano letivo de 2012,
cujo tema foi “Gêneros textuais: uma prática pedagógica interdisciplinar no Ensino Médio”. Como
se sabe, os Parâmetros Curriculares Nacionais consideram que o ensino da Língua Portuguesa deve
voltar-se para a função social da língua como requisito básico para que o indivíduo ingresse no
mundo letrado e possa construir seu processo de cidadania. E, para isso, é imprescindível aprender
textos de vários gêneros, sobretudo os voltados para o uso público da linguagem. Por outro lado, a
Educação Ambiental objetiva estimular e fortalecer uma consciência crítica sobre a problemática
ambiental e social, desenvolvendo-se de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalidades
de ensino. Para tanto, deve-se buscar alternativas curriculares e metodológicas de capacitação dos
professores. Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa foi analisar o ensino de gêneros textuais
integrando Língua Portuguesa e Educação Ambiental no Ensino Médio, partindo-se da postulação
de que o ensino de gêneros possibilita a integração dessas duas áreas. Como o conceito de gênero
textual pressupõe metodologias mais adequadas ao ensino da escrita, dois dos objetivos específicos
da pesquisa foram identificar e caracterizar os gêneros textuais mais frequentes na Educação
Ambiental que podem ser objetos de ensino nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Médio; e
aplicar uma metodologia que contemple as duas disciplinas. Para alcançar esses objetivos, o
referencial teórico sobre gêneros textuais e ensino partiu de Bakhtin, passando por Dolz, Noverraz,
Schneuwly e Bazerman, com a mediação de Marcuschi, entre outros, considerando-se que o
trabalho com gêneros engloba uma análise do texto e uma descrição da língua e visão da sociedade,
que tenta responder a questões de natureza sociocultural no uso da língua de maneira geral. O
planejamento das ações pedagógicas partiu das noções de que o trabalho com gêneros pressupõe
uma situação de produção, uma circulação efetiva e a possibilidade de trabalharmos com práticas
sociais. Para atender a esses requisitos, buscamos situações de produção reais, quando possível,
com a temática ambiental atual, haja vista a realização da Conferência Rio+20, em 2012, e a
publicação das atividades e produções escritas dos alunos em um blog.
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OS DISCURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO NOS QUADRINHOS DE CALVIN E HOBBES,
MAFALDA E CHICO BENTO
Mayara Barbosa Tavares – UFG
Nesta pesquisa, busca-se analisar os discursos sobre a educação nos quadrinhos de Calvin e Hobbes,
do quadrinista norte-americano Bill Watterson, de Mafalda, do argentino Quino e de Chico Bento,
do quadrinista brasileiro Maurício de Sousa. São analisadas vinte e oito histórias em quadrinhos e
tem-se como fundamentação teórica a Análise do Discurso de orientação francesa, com foco nas
obras de Michel Pêcheux (1990a; 1990b; 1999; 2006; 2009) e as noções de efeito de sentidos e
condições de produção; de Denise Maldidier (2003) e a historização da Análise do Discurso, com
ênfase nas obras de Pêcheux; Eni Orlandi (2003) e as noções de dispositivo teórico e analítico;
Michel Foucault (2004) e as contribuições para o conceito de formação discursiva; Authier-Revuz
(2004), com as conceitualizações para a teoria da AD, com base nas obras de Bakhtin (1997; 2003),
no que se refere à heterogeneidade, à ideologia; dentre outros. Por conseguinte, utilizamos a teoria
das histórias em quadrinhos, com base em Eisner (2001; 2005) e as noções de arte sequencial e
narrativa gráfica; em Ramos (2009a; 2009b); 2010) e as contribuições acerca formato e a linguagem
dos quadrinhos; em Bakhtin (2003) e Maingueneau (2010) com as noções, respectivamente de
gênero e hipergênero; e outros autores. É utilizada, também, como fundamentação teórica, a teoria
acerca da educação, embasada na obra-síntese de Mizukami (1986) e as delimitações das
abordagens de ensino/aprendizado em tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista e
sócio-cultural; e para problematizar os discursos e as formações discursivas materializadas nas
histórias em quadrinhos acerca da educação escolar, tem-se como foco as obras de Paulo Freire
(1987; 1991; 1996; 1997), dentre outros. A pesquisa realizada é qualitativa, com método
interpretativista. É utilizada exclusivamente a metodologia de análise de documentos – histórias em
quadrinhos. A partir das análises dos discursos e, em especial, das formações discursivas, nos
quadrinhos de Calvin e Hobbes, Mafalda e Chico Bento, é perceptível a predominância da
abordagem tradicional de ensino e aprendizado. Há a crítica à educação repressora, embasada na
repetição e na autoridade docente, à educação meramente utilitarista e capitalista, ao planejamento
rígido das aulas que não possibilita a interdisciplinaridade, à metodologia de avaliação, ao
ensino/aprendizado distanciado da realidade dos discentes, ao preconceito linguístico, dentre outros.
Por conseguinte, com base nos discursos e nas formações discursivas materializadas nas histórias
em quadrinhos analisadas, verifica-se a ironização e o questionamento da abordagem tradicional de
ensino, o que ocasiona na aproximação com a acepção sócio-cultural, preconizada por Paulo Freire,
que objetiva auxiliar na formação de sujeitos autônomos, críticos e reflexivos, que interajam e ajam
em benefício do bem estar social, do contexto de inserção. Por isso, frisa a importância da interação
entre professor e aluno, pois a educação escolar necessita das contribuições e interações entre os
docentes, os alunos e a sociedade, para a construção contínua do conhecimento, o que caracteriza a
relação professor-aluno como horizontal e não imposta.
A ARGUMENTAÇÃO NO GÊNERO DEBATE REGRADO: OPINIÕES DE UM SUPOSTO
RACISMO EM CONFRONTO
José Anchieta de Oliveira Bentes – PGGED/UEPA
Alessandro Barbosa Fernandes – UEPA
Tiago Sousa Santos – UEPA
O interesse primário desta comunicação é a identificação dos tipos de argumentos utilizados em
uma simulação de debate regrado de opinião, por parte de alunos do ensino médio de uma escola
pública de ensino médio tecnológico de Belém (PA). O objetivo principal é descrever e analisar os
argumentos que ocorreram, tendo como motivação o episódio de suposto racismo impetrado por
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uma professora universitária para com um vigilante de pele negra. A pesquisa realizada foi
construída utilizando-se de uma metodologia que se aproximou do tipo etnográfico-descritivo da
prática docente, com os seguintes procedimentos: observação participante na escola, construção de
diários de pesquisa; elaboração de uma proposta de sequência didática com o gênero debate regrado
realizado pela professora da turma; gravação do evento e análise dos argumentos, no sentido de
defender a professora ou condenar a sua atitude como racista. Tal análise possui ancoragem nas
concepções que estudam linguagem como objeto de interação e dialogismo. As categorias de
análise foram construídas a partir de argumentos favoráveis e desfavoráveis, utilizando-se do
dialogismo com outros discursos, para aderir ou discordar, com uso de argumentos de autoridade,
de consenso, de provas concretas, de contraposição ou de sustentação de um argumento
anteriormente proferido, com a possibilidade de descaracterização da figura do interlocutor. Os
resultados indicam que ocorreram poucos argumentos de autoridade. Em todo caso, a efetivação do
evento simulado de debate municiou os alunos com argumentos para um posicionamento a respeito
do racismo.
PDG FOTONOVELA DIGITAL - DO PROCESSO DE LEITURA AO TEXTO NA TELA
Renata Garcia Marques – UNISINOS
O presente trabalho visa relatar e refletir sobre a experiência do desenvolvimento de um PROJETO
DIDÁTICO DE GÊNERO (PDG) fotonovela digital, aplicado com alunos do Projeto Seguindo em
Frente. O Seguindo em Frente é composto por alunos em distorção de série e idade (15 a 17 anos,
estudantes de 5ª a 8ª série, da rede municipal de São Leopoldo- RS), alunos multirrepetentes, que
apresentam sérios problemas de escrita. O objetivo do projeto foi desafiá-los, em um projeto que
envolveu a leitura de um livro, à análise e produção de textos de dois gêneros (roteiro de fotonovela
e fotonovela digital). A aplicação desse PDG, com esses alunos, permitiu uma série de análises e
reflexões sobre a importância de trabalhar o gênero, explorando sua estrutura, mas principalmente a
sua função na sociedade. Foi possível também construir conhecimento sobre o ensino da língua
materna e sua vinculação com a prática social, sobre letramento literário e letramento digital para o
aprimoramento e qualificação do processo de leitura e, principalmente, do desenvolvimento da
escrita. Conforme Kersch e Guimarães (2012), o PDG representa uma co-construção de
conhecimento para uma prática social que possa se inscrever em situações significativas, tanto para
o aluno e quanto para o professor. Nesse contexto, a linguagem é vista como forma de interação,
trabalho coletivo e social, historicamente situado e, por tal motivo, o(s) gênero(s) produzidos no
âmbito do PDG caracteriza(m)-se por ter uma finalidade específica, que se realiza nas práticas
sociais existentes de diferentes grupos e comunidades sociais. O trabalho mostrou que é possível
apresentar o desafio de ensinar com gêneros a partir do conceito de PDG. A elaboração de um
projeto que visava explorar a leitura e a escrita, desenvolvendo o letramento digital de alunos que
normalmente são vistos, muitas vezes, como incapazes, mostrou o avanço dos alunos, que se
aprimoraram com entusiasmo, aumentando sua autoestima e reconhecendo seu crescimento no
processo de escrita em uma atitude responsiva e ativa, como propõem Voloshinov e Bakhtin.
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O GÊNERO CURTA METRAGEM NO ENSINO DE LEITURA E ESCRITA: UMA
PROPOSTA DE LETRAMENTO VERBO-ÁUDIO-VISUAL A PARTIR DO CURTA
“XADREZ DAS CORES”
Jean Carlos Dourado de Alcântara – UFMT
Renato Augusto Azevedo – UFMT
Há muito, os filmes (curtas, médias, longas, documentários) vêm sendo frequentemente utilizados
em Sala de aula como apoio pedagógico no ensino de Língua Portuguesa, como forma de ilustrar
conteúdos - estruturas narrativas, tipos de personagens, enredo, etc. E, mais recentemente, seguindo
orientações dos PCNs, para abordar temas de urgência social. Contudo, apresentar um filme apenas
com tais objetivos, pode ser tão ineficaz quanto o uso de alguns livros didáticos. Com intuito de
mudar um pouco esse panorama, a Petrobrás criou, em 2002, o projeto Porta Curta, que, entre
outras idéias, havia também a pretensão de incentivar o uso de filmes brasileiros de curta metragem
como material de apoio pedagógico em salas de aula. Esse projeto culminou na criação da Coleção
Curta na Escola, já são três volumes em DVD, cada um contendo oito curtas-metragens,
cuidadosamente selecionados, com pareceres pedagógicos elaborados por educadores especialistas
de cada área. Este trabalho pretende desenvolver uma proposta de aplicabilidade da Teoria de
Gênero Discursivo na utilização do curta metragem “Xadrez das Cores” como ferramenta no
ensino-aprendizagem de leitura e escrita nas aulas de Língua Portuguesa. Para tanto abordaremos
aspectos relevantes do letramento áudio-visual, bem como as capacidades leitoras exigidas por esse
gênero. Nesta empreita, percorreremos os caminhos dos pressupostos enunciativo-discursivos de
abordagem sócio-histórica do Círculo de Bakhtin, aliados aos fundamentos da Semiótica Social
com fins de compreender a dinâmica da linguagem multissemiótica presente no gênero curta
metragem. Utilizaremos como ponto de partida alguns pareceres pedagógicos fornecidos pelo
projeto da Petrobrás Curta na Escola, os quais propõem sequências didáticas para trabalhar com o
referido Curta em atividades de leitura e escrita, bem como relatos de professores que fizeram uso
desse filme, baseados nesses pareceres. Esta proposição é fruto de uma constatação em nossa
pesquisa de mestrado de que a incidência dos gêneros midiáticos nas propostas de atividades de
ensino de leitura e escrita é pouco representativa. O tratamento didático nas atividades que
envolvem essa dimensão do ensino de Língua não favorece a mobilização de capacidades leitoras
específicas para esses gêneros e pouco contribui para a formação do letramento aúdio-visual dos
alunos. Daí a nossa preocupação em contribuir com o crescimento do uso de gêneros midiáticos em
propostas de atividades envolvendo a leitura e a escrita.
POR UMA FORMAÇÃO CONTINUADA COOPERATIVA EM UM AMBIENTE
VIRTUAL
Vanessa de Oliveira Dagostim Pires – UNISINOS
Pretendo analisar neste trabalho o desenvolvimento dos ambientes virtuais das edições dos cursos
do projeto “Por uma formação continuada cooperativa para o desenvolvimento do processo
educativo de leitura e produção textual escrita no Ensino Fundamental” desenvolvido junto ao PPG
em Linguística Aplicada da Unisinos, com apoio do Programa Observatório da Educação da
CAPES. Ao longo dos três anos do projeto, vários cursos já foram desenvolvidos, sempre contando
com o apoio dos ambientes virtuais de aprendizagem, e promovendo reflexão e construção de
projetos didáticos de gêneros de diversos domínios pelos cursitas (professores de Língua Portuguesa
de uma rede pública de ensino). Os cursos são realizados em parceria com a UNISINOS Virtual,
setor de educação a distância da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e contam com os recursos
disponíveis na Plataforma Moodle, disponibilizado pela universidade, como utilização de imagens,
vídeos, chats, fóruns de opinião, ferramentas de escrita coletiva, pesquisa na internet, criação de
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textos, materiais para leitura, entre outros que foram considerados convenientes para este projeto.
Todas as edições dos cursos são desenvolvidas em conjunto pela equipe que denominamos
“comunidade de indagação”, formada por professoras do curso de pós-graduação, doutorandos,
mestrandos, graduandos e professores de Língua Portuguesa da rede pública de ensino, na tentativa
de consolidação de uma rede de formação continuada cooperativa. As estruturas dos cursos são
construídas com toda a equipe antes do início dos mesmos, e, em reuniões periódicas, discutem-se
os ajustes necessários nos conteúdos e materiais a serem utilizados, à medida que recebemos o
feedback dos professores cursistas e de todos os integrantes do projeto, que participante
conjuntamente do curso. Assim, buscamos perceber as necessidades, progressos e dúvidas dos
professores cursitas. Além do conteúdo, há uma preocupação com as ferramentas a serem utilizadas
nas atividades, pois é visível a heterogeneidade existente em relação ao nível de letramento digital
entre os participantes. Neste trabalho, procuro analisar as provocações em relação ao letramento
digital dos professores, nas atividades do ambiente virtual, ao longo do projeto, e se estas, de
alguma forma, refletiram nos projetos didáticos de gênero de Língua Portuguesa produzidos pelos
cursistas.
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS NO MODO COMO ORIENTADORES DE
TRABALHOS CIENTÍFICOS CONCEBEM A ORIENTAÇÃO
Rute Izabel Simões Conceição – FACALE/UFGD
Rafaela Q. M Valente – FACALE/UFGD
Vinculado à pesquisa “Ensino-aprendizagem da escrita: estudo da didática da reescrita e de seu
impacto na qualidade textual”, em andamento no Curso de LETRAS/FACALE/UFGD, este
trabalho tem por objetivo apresentar os resultados de um estudo comparativo entre dois grupos de
pesquisadores sendo um da Área de Linguística, Letras e Artes (80000002/CNPq) e outro da Área
de Ciências Agrárias (50000004/CNPq). O processo de letramento científico requer grande esforço
intelectual dos pesquisadores em formação (os orientandos), e muita dedicação de professores
pesquisadores com mais experiência em pesquisa que assumem a tarefa de orientar o processo
investigativo e a redação de trabalhos escritos para a divulgação dos resultados, contudo, muito
pouco se sabe a respeito da interação e do processo de idas e vindas, de escritas e de reescritas que
se desenvolve ao longo do período de orientação. A geração de dados deu-se a partir de um
questionário de entrevista com questões estruturadas, utilizado para entrevistar orientadores (de
diferentes Áreas do conhecimento) com experiência na orientação de trabalhos de Iniciação
Científica, Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. A
investigação procurou descobrir em quais aspectos há diferenças ou semelhanças no modo como os
orientadores das duas Áreas comparadas concebem a interação orientador x orientando na prática da
produção de trabalhos científicos escritos.
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SIMPÓSIO 52
COMO OS TEXTOS ANTIGOS PODEM (OU NÃO) FORNECER
SUBSÍDIOS PARA OS ESTUDOS DE POSSÍVEIS MUDANÇAS
LINGUÍSTICAS NO PORTUGUÊS
A proposta deste simpósio é congregar trabalhos de edição de textos em língua portuguesa escrita
no Brasil visando à posterior pesquisa linguística. Com base em edições de textos antigos em língua
portuguesa escrita no Brasil (séc. XVI a XIX) concluídas ou em andamento pretende-se discutir
como os textos antigos podem (ou não) fornecer subsídios para os estudos de possíveis mudanças
linguísticas no português que veio a constituir-se no Brasil. São convidados enfoques que sejam
orientados por uma teoria que define de antemão que dados coletar, como aqueles orientados pelos
dados. Muitos são os pesquisadores que têm se debruçado sobre a árdua tarefa da edição de textos
em língua portuguesa antiga, seja lusitana, seja brasileira, com o intuito de fornecer dados
confiáveis para a pesquisa linguística. Tal renovação foi ainda prolongada pelo advento das
facilidades da internet. Como se sabe, a partir dos anos 1980 o interesse por estudos históricos e
diacrônicos teve novo impulso na linguística brasileira, muito, mas não exclusivamente, como
decorrência dos trabalhos de sociolinguística de William Labov, em que os estudos de mudança
linguística dos vernáculos atuais conduziram a uma consulta a estados pretéritos dessas línguas.
A partir dos meados dos anos 1990, começam a surgir no Brasil softwares, editores de texto, de
início mais utilizados por lexicógrafos, que permitem a busca e a quantificação de dados em
variadas formas. O progresso tecnológico da área da informação, portanto, muito favoreceu os
estudos da linguagem, não só com os processadores de textos, mas também com a Internet, através
da possibilidade de disponibilização de dados linguísticos num volume tal e com tal velocidade
inconcebíveis há 30 anos atrás. Nesse sentido, deve-se relativizar a famosa citação de Labov de que
a linguística histórica é a arte de se fazer o melhor uso de maus dados: os dados pretéritos − e
mesmo os contemporâneos − não são mais “maus dados”, dada a facilidade de seu armazenamento,
busca e processamento que os novos softwares tornam accessíveis.
Dentro desta contextualização geral propõe-se o presente simpósio.
COORDENAÇÃO
Maria Antonieta Amarante de Mendonça Cohen
Universidade Federal de Minas Gerais
[email protected]
Soélis Teixeira do Prado Mendes
Universidade Federal do Pará
[email protected];
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EDIÇÃO E ESTUDO LINGUÍSTICO DE DOCUMENTOS DA BATALHA DE
GUAXENDUBA (1614/1615)
Eliabe Procópio - UECE/PPGL-UFC
Este trabalho é parte do projeto de pesquisa Edição e Estudo Linguístico de Documentos
Portugueses no Arquivo Geral de Indias/Espanha (sécs. XV, XVI, XVII, XIX), o qual congrega
documentos escritos em Língua Portuguesa em colônias portuguesas na América e na Ásia, tendo
com autores lusofalantes ou estrangeiros. Como resultado preliminar, selecionamos a edição e o
estudo linguístico dos textos referentes à Batalha de Guaxenduba (1614), confronto militar
ocorrrido entre militares portugueses/brasileiros e franceses, os quais haviam ocupado a ilha de São
Luis/Maranhão, fundando a França Equinocial. Aqui, analisam-se apenas três textos – um auto de
interrogatório, integrado a uma capitulação (D12/1614), e um roteiro (D14/1615) e um relato de
viagem (D13/1615) – todos eles escritos por lusofalantes, em território brasileiro.
Objetivamos fornecer dados novos e primários para a história da Língua Portuguesa, tornar
conhecidos textos escritos em português e arquivados nos arquivos espanhóis, e descrever o
Português utilizado no Brasil colonial, a partir dos níveis fonético-gráfico, morfossintático,
sintático-semântico e léxico. Na Filologia, executamos os seguintes procedimentos: coleta, seleção
e edição paleográfica, crítico-anotada e fac-similar dos textos. Na Linguística, realizamos descrição
gráfico-fonética, morfossintática, sintático-semântica e lexical; e consulta a corpora de língua
portuguesa. Após análise, verificamos que os três textos estão em escrita humanística e de fácil
leitura, exceto o D12, por seu caráter imediatista, apresenta uma leitura mais difícil. Algo
interessante sobre estes documentos, é que estão acompanhados de suas respectivas traduções ao
espanhol, já que, durante esta época, o Brasil fazia parte da União Peninsular (1580-1640) e havia
ordem do rei Felipe III de Espanha para que se traduzissem todos os documentos do Português para
o Espanhol. Uma peculiaridade do D12 é que se trata de um interrogatório tomado em Língua
Francesa a prisioneiros franceses, transcrito em Português; a escrita denuncia o caráter imediatista
da escrita, pois além de registrar a fala do interrogado, havia de fazê-lo fielmente. Este fato ainda
exemplifica que, na América, havia um contato linguístico lusófono não apenas com línguas
indígenas, mas também europeias. Quantos aos aspectos linguísticos destacamos alguns exemplos, a
saber: variações gráficas (Almazonas/ Amazonas; jra/irá); variações vocálicas próprias do século
(igoais/iguais); variação consonântica, principalmente com as fricativas alveolares e palatais
(registir/resistir; pregidio/presídio); uso do prefixo ‘vizo(rrei)’; utilização da preposição ‘pera’ em
lugar de para; emprego da perífrase ir + infinitivo/gerúndio, marcando o domínio funcional Tempo,
Aspecto e Modalidade (TAM), como futuro perifrástico (yra tomar, jra surguir; vai corremdo); uso
de perífrases modais (hadir recolher; podera ilo comquistando); registro de nomes próprios,
possibilitando estudos biográficos; uso de léxico marinhático e bélico, e inúmeros tupismos
incorporados à Língua Portuguesa (macoripe, Siara), os quais quase sempre vem acompanhados de
explicações etimológicas, já que havia orientação de que sempre quando se grafasse uma palavra
estrangeira, ao lado, entre vírgulas se indicasse o significado (Tatajiba, pau amarelo;
Jeriquoaquoara, buraco das tartarugas). É satisfatório poder apresentar a edição e o estudo
linguístico de textos que retratam um importante momento histórico brasileiro, principalmente por
que tais documentos se encontram em outro país. Do ponto de vista histórico, notamos que estes
textos mencionam localidades costeiras de Fortaleza, cuja data de fundação, 1729, ainda é
polêmica, pois não existem documentos que precisem essa informação. Do ponto de vista
linguístico, vemos que são textos uteis, principalmente para o estudo diacrônico do léxico do
Português brasileiro, além de possibilitar uma aproximação descritiva do falar nordestino do início
do século XVII.
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A ARCAICIDADE DO PORTUGUÊS VERNACULAR FALADO PELOS GURUTUBANOS
Maria do Socorro Vieira Coelho – UNIMONTES/UFMG
A comunicação que aqui se propõe apresenta resultados da nossa pesquisa do estágio pos-doutoral
desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Linguística na Universidade Federal de Minas
Gerais, sob a orientação da Profª. Dra. Maria Antonieta Amarante de Mendonça Cohen, em cuja
pesquisa investiga-se casos de conservadorismos/arcaísmos, ou seja, verifica-se se os traços
‘arcaicos’ encontrados no português brasileiro, registrados no vernáculo falado pelos gurutubanos,
apontam para a hipótese da retenção linguística de aspectos do português europeu ou do português
resultante do convívio com línguas diversas: africanas ou indígenas, a das transformações
linguísticas -variação e mudança- pelas quais a língua passou, em seu processo histórico em nosso
país. Esclarece-se que são as formas linguísticas empregadas pelo povo da comunidade em estudo,
aliadas às questões sociais, históricas, geográficas bem como culturais que os marcam como um
grupo identitário rural e étnico diferente dos demais grupos brasileiros que se encontram em vias de
extinção. Trata-se de uma variante/dialeto que se depara com a concorrência das variantes, a culta e
a popular; são fenômenos linguísticos não mais usados atualmente que sofrem o descaso dos
falantes brasileiros não gurutubanos. Com base no corpus, constituído por dados linguísticos do
português falado pelos gurutubanos, que atestam a sobrevivência de fenômenos considerados pela
literatura como ‘arcaísmos’, e a partir do arcabouço teórico dos conceitos sobre ‘arcaísmos’,
analisa-se junto às fontes escritas a ancianidade de fenômenos linguísticos presentes no português
falado pelos gurutubanos. Intenciona-se, então, demonstrar, dentro dos limites possíveis, a
arcaicidade de traços que marcam o português falado pelos moradores do Vale do Gurutuba. Por
fim, acredita-se que com esta pesquisa forneceremos informações relevantes para o conhecimento
das raízes do português no Brasil, via processos de introdução da Língua Portuguesa falada nos
primeiros séculos, transplantada pelos primeiros colonizadores, descobridores e povoadores, em
substituição as várias línguas nativas, na região norte mineira.
DOCUMENTOS ADAMANTINOS SETECENTISTAS COMO FONTE DE DADOS PARA
ESTUDO DA CONSOLIDAÇÃO DE UMA GRAMÁTICA NACIONAL?
Sueli Maria Coelho – Fale/UFMG/Fapemig
É consensual, até então, nos estudos linguísticos a afirmativa de que no século XIX ocorreram
profundas mudanças sintáticas no português do Brasil, o que atesta ter se dado nesse período a
consolidação de uma gramática nacional. Entretanto, a análise da colocação de clíticos pronominais
em textos escritos na região de Ouro Preto no século XVIII (cf. COELHO e PAULA, 2011) acusou
que, já nesse período, a sintaxe de colocação mineira exibia traços semelhantes ao da sintaxe atual,
tal como a preferência pela próclise e a recusa pela mesóclise. Frente a tal dado, passou-se a cogitar
a hipótese de que a constituição de uma gramática nacional pode ter sua gênese em uma sincronia
anterior ao propalado século XIX, radicando-se, dessa forma, no período setecentista, conjetura que
este trabalho se propôs a investigar. Para tanto, estudou-se o quadro pronominal mineiro, atendo-se
para a segunda pessoa, com o objetivo de verificar se, no século XVIII, já havia ocorrido a
implementação do pronome você, fato apontado na literatura (cf. DUARTE, 1989) como
desestabilizador do sistema de concordância e desencadeador de mudanças sintáticas significativas.
O corpus utilizado é constituído de quatro Estatutos de Irmandades e de oitenta termos de devassa,
documentos adamantinos até então inéditos, escritos no período setecentista e editados por Coelho e
Duchowny (2011). Os dados coletados sinalizam que, nas minas setecentistas, já havia a
concorrência entre as formas seu/sua, empregados, respectivamente, como possessivos de segunda e
de terceira pessoa, atestando o processo de implementação de você.
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PORTUGAL PARADIGMA DE LÍNGUA, LITERATURA E CULTURA NA IMPRENSA
PERIÓDICA LUSO-BRASILEIRA (1900-1920)
Fernanda Suely Muller – USP/FAPESP
Tendo como premissa a pesquisa que desenvolvemos acerca das relações lusobrasileiras
estabelecidas por/através de algumas revistas literárias publicadas tanto no Brasil quanto em
Portugal no início de século XX (1900-1922), neste trabalho pretendemos analisar alguns artigos
publicados especialmente nas revistas O Ocidente (1878-1915), Serões (1901-1911) e Ilustração
Portuguesa (1903-1924). Nesses artigos, pretendemos demonstrar como certa elite intelectual
lusitana, responsável pela publicação dos periódicos mencionados, utilizava essas revistas não só
como instrumento de propaganda de Portugal no Brasil mas também como um veículo de
manutenção de certo “poder simbólico” sobre a intelectualidade brasileira através da “supremacia”
linguística do Português de Portugal (PP). Assim, procuraremos identificar alguns elementos que
comprovem a utilização dessa imprensa como um arsenal de manutenção de uma “hegemonia
imperialista” nas (ex) colônias portuguesas (nomeadamente Brasil, Angola, Moçambique e Macau),
tal como conseguimos comprovar através da análise de outras revistas lusitanas publicadas no
mesmo período em nossa pesquisa de doutoramento. Malgrado os periódicos mencionados fossem
editados em Portugal, seu conteúdo e seu público-alvo eram aqueles direcionados para as “colônias”
e para os falantes de língua portuguesa de além-mar. Nesse sentido, analisar mais
pormenorizadamente o conteúdo desses artigos pode revelar aspectos interessantes do
direcionamento discursivo empregado pela elite cultural lusitana para reforçar e justificar as práticas
“imperialistas” não só em suas “colônias” de fato, mas também através da permanência de certa
hegemonia cultural e linguística, como no caso do Brasil.
A VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL EM MANUSCRITOS DO
SÉCULO XVIII.
Soélis Teixeira do Prado Mendes – UFPA
Este trabalho pretende apresentar dados coletados de minha pesquisa de doutoramento, realizada na
FALE-UFMG, defendida em 2008. A análise de concordância variável não foi o tema central da
tese, mas, como foram transcritos 32 processos-crime, esse fenômeno é recorrente em alguns deles.
Assim, objetiva-se apresentar e analisar dados extraídos de manuscritos do século XVIII relativos à
variação no uso da concordância nominal e verbal; além disso, pretende-se discutir que tal variação
não é um "fenômeno" atual e discutir de que forma documentos pretéritos contribuem para
entendermos o presente de nossa língua.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS DO SÉCULO XVIII
Maria Antonieta Amarante de Mendonça Cohen – Fale/UFMG/CNPq
Dentro do tema deste simpósio que é o de congregar trabalhos de edição de textos em língua
portuguesa escrita no Brasil visando à posterior pesquisa linguística, discutiremos a questão da
variação linguística presente em documentos escritos em português do século XVIII. Neste sentido
apresentaremos a edição politestemunhal que vimos realizando na Fale/UFMG de texto referente
aos caminhos que levavam às minas de ouro, partindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro. A questão
que se coloca é e que se pretende testar é a do valor de uma edição politestemunhal para a pesquisa
linguística. Nossa hipótese é a de que o leque da variação registrado neste tipo de edição deva ser
maior do que a de edições monotestemunhais.
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SIMPÓSIO 53
ESTUDOS TEÓRICOS E DESCRITIVISTAS DE ORIENTAÇÃO
LINGUÍSTICO-COGNITIVA
A linguística cognitiva, desde 1980, quando se estabeleceu como mais um campo de estudos da
linguística, tem servido como referencial teórico para diversos estudos de abordagem funcionalista,
além de contribuir para investigações no campo da tipologia linguística e os universais da
linguagem. A linguística cognitiva concebe que a linguagem não é uma faculdade cognitiva
autônoma, que a gramática é uma conceptualização que se fundamenta em percepções
compartilhadas acerca da realidade objetiva, e que o conhecimento linguístico emerge da língua em
uso. Em vista desses princípios, que de algum modo se cruzam com a abordagem funcional, este
simpósio tem por objetivos: (i) discutir pesquisas que adotam uma abordagem cognitivo-funcional
para a descrição de línguas naturais. Neste escopo, embora o foco recaia principalmente sobre a
análise do Português falado no Brasil, o interesse se estende às variedades da língua portuguesa
falada noutras partes do mundo, bem como a outras línguas brasileiras em contato com o Portugues
local, tais como as línguas indígenas e a Língua Brasileira de Sinais; (ii) explorar os aspectos
teóricos trazidos à luz pelos dados empíricos, tais como a metáfora enquanto mecanismo cognitivo
capaz de conceptualizar as coisas do mundo; a teoria dos espaços mentais; os modelos cognitivos
idealizados; o modelo semântico de interação de forças; sistemas de referência; as relações entre
linguagem, cognição e corporeidade; a gramática de construções; e os aspectos sociocognitivos de
línguas em contato, tais como o português brasileiro, as línguas indígenas e a LIBRAS; e (iii)
apreciar, sob uma perspectiva tipológica, os resultados da pesquisa acerca de mecanismos
cognitivos relacionados ao processamento da linguagem, levantando elementos para uma discussão
sobre os universais da linguagem. Trabalhos com tais temáticas ajudarão a compor um quadro
panorâmico das aplicações da linguística cognitiva relacionadas à língua em uso, às línguas em
contato e à investigação sobre os universais da linguagem.
COORDENAÇÃO
Christiane Cunha de Oliveira
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Leosmar Aparecido da Silva
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
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PADRÃO DE ALINHAMENTO EM NHEENGATU
Aline da CRUZ – UFG
O objetivo deste trabalho é investigar o padrão de alinhamento sintático do Nheengatu (TupiGuarani, subgrupo III). Em virtude de seu uso como língua geral amazônica, o Nheengatu sofreu
mudanças estruturais, que o diferencia do Tupinambá e de outras línguas da família Tupi-Guarani.
Reich (2003), a partir da análise de descrições do Nheengatu do século XIX e do XX, levanta a
hipótese de uma mudança tipológica no padrão de alinhamento do Nheengatu. Para este autor, o
Nheengatu teria deixado de ser um sistema ativo/estativo, como teria sido o Tupinambá, e passado a
se comportar como um sistema nominativo/acusativo. Grosso modo, o Nheengatu teria se
distanciado do padrão de alinhamento observado nas línguas da família Tupi-Guarani e adotado o
padrão de alinhamento do Português Brasileiro, língua com a qual mantém contato duradouro. Com
base em dados recolhidos a partir de trabalho de campo entre falantes do Nheengatu do Alto Rio
Negro, esta análise propõe que esta variedade de língua geral mantém as principais características
de um sistema ativo/estativo, tal como proposto por Klimov (1974): (a) ausência de uma classe de
adjetivos, (b) divisão da classe dos nomes em duas subclasses, (c) divisão dos verbos em ativos e
estativos. O sistema do Nheengatu, porém, inova em relação às demais línguas da família TupiGuarani, por subdividir a classe de verbos estativos em flexionáveis e inflexionáveis. A análise
propõe que as peculiaridades encontradas no sistema ativo/estativo do Nheengatu do Alto Rio
Negro têm resultado em um sistema de alinhamento que diferencia esta língua tanto das línguas
Tupi-Guarani mais conservadoras, quanto do Português Brasileiro.
A GRAMATICALIZAÇÃO DE VERBOS EM PARTÍCULAS NA LÍNGUA GUAJÁ
Marina Maria Silva Magalhães – UNB/IL/LIP
A definição clássica de gramaticalização difundida por Kurylowicz (1965:52) é a de que esse
fenômeno “consiste no aumento da amplitude de um avanço a partir de um morfema lexical para
um morfema gramatical ou de um status menos gramatical para um mais gramatical”. O presente
trabalho propõe discutir a existência de determinadas partículas direcionais, posicionais e aspectuais
da língua indígena Guajá (família Tupí-Guaraní) dentro do quadro teórico proposto para explicar o
processo cognitivo responsável pelo desenvolvimento de auxiliares nas línguas do mundo. As
pesquisas realizadas acerca da origem de expressões gramaticais sugerem que tais expressões
derivam quase sempre de conceitos concretos, e que a morfologia gramatical tende a se desenvolver
a partir de estruturas lexicais, especialmente a partir de categorias como nomes e verbos. Ao
assumir que auxiliares expressam conceitos gramaticais tipicamente relacionados a tempo, aspecto e
modalidade, quase que invariavelmente, podemos afirmar que as expressões linguísticas para tais
conceitos são derivadas de entidades concretas que descrevem tais noções gerais como locação,
movimento, atividade, desejo, postura, relação e posse. Tais noções tendem a ser expressas
linguisticamente por meio de verbos, que são parte de conceitos mais complexos. Muitos autores
têm tratado da descrição da natureza dos verbos utilizados nas línguas como fonte de conceitos
expressos por auxiliares e chegado a conclusões similares segundo as quais os verbos que
normalmente se gramaticalizam são aqueles que codificam conceitos pertencentes aos quatro
domínios seguintes (Kuteva, 1991): o domínio físico (p. ex. ser/estar, ir/vir, ter), o domínio
temporal (ex. fazer, iniciar/tornar-se, terminar, permanecer), o domínio intra-subjetivo (ex. querer),
e o domínio inter-subjetivo (ex. dever, permitir). A questão sobre que tipos de verbos tendem a se
gramaticalizar em auxiliares parece estar relacionada a generalidade dos conceitos expressos por
eles e ao maior escopo de utilização. Uma análise comparativa das partículas direcionais,
posicionais e aspectuais da língua Guajá com verbos plenos desta mesma língua e de línguas
geneticamente relacionadas permite estabelecer o processo dinâmico que as originou,
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principalmente quando interpretadas como resultado de um processo de gramaticalização a partir de
verbos plenos pertencentes aos domínios supracitados.
PRONOME ‘ELES’: UMA ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES IMPESSOAIS DE TERCEIRA
PESSOA NO PB
Elizete Maria de Souza – UFMG
O presente estudo trata das construções impessoais com o pronome ‘eles’, no português brasileiro
não padrão. A primeira observação que fazemos é que as construções impessoais, de modo geral,
não são per se um objeto de estudo homogêneo. Trata-se de um conjunto heterogêneo de
estratégias, em diferentes línguas, para tornar o sujeito impessoal. Nosso foco, porém, são
basicamente as construções que trazem o pronome ‘eles’ impessoal na posição de sujeito, em
sentenças como em (1) “Eles estão descobrindo propriedades incríveis do alecrim” (SOUZA, 2011:
8) e (2) “Es comeu tudo” (CORRÊA, 1998: 51), já que buscamos investigar a conexão da
impessoalização com o fenômeno de preenchimento do sujeito no português brasileiro
contemporâneo. Outra observação importante que fazemos é que o pronome ‘eles’, no PB, pode
apresentar diferentes realizações, isto é, uma única forma do pronome ‘eles’ pode apresentar
diferentes proformas. Essa observação ganha real sentido quando verificamos que o pronome ‘eles’
possui propriedades que licenciam sua ocorrência tanto com referência definida quanto indefinida,
podendo também recuperar DPs de tipos semânticos distintos, ou seja, com referência locativa,
coletiva ou genérica, conforme amplamente documentado por Souza (2007). A autora, entretanto,
não oferece uma análise teórica destas diferentes retomadas de DPs diversos, seja pelo pronome
‘eles’ pleno ou por sua variante reduzida ‘es’, ficando essa lacuna a ser preenchida. Sendo assim, as
perguntas iniciais que formulamos ao propor este estudo são: (i) como o pronome ‘eles’ passou a
ser uma opção de realização de sujeito em construções impessoais; (ii) o processo de mudança
acima referido constitui mais um passo na alteração do PB para uma língua de sujeito nulo parcial?
Para tratar destas questões, Souza (2007) toma como ponto de partida o estudo de Corrêa (1998),
que apresenta evidências de natureza quantitativa e qualitativa de que o pronome ‘eles’ é uma forma
deficiente morfológica e sintaticamente no PB dialetal. No referido trabalho, Corrêa identifica
ocorrências de formas plenas e reduzidas dos pronomes de 3ª. pessoa, chamando a atenção para o
fato de que a redução ‘es’ constitui uma forma variante do pronome ‘eles’ pleno. O autor mostra
que, em geral, tanto uma forma quanto a outra é capaz de retomar um DP singular ou até mesmo um
DP feminino, colocando em evidência o fato de que nem sempre há concordância total de traços de
gênero e de número entre o pronome e o DP correferente. Corrêa, entretanto, não oferece também
uma análise teórica dos dados, o que nos leva a formular uma nova pergunta: (iii) quando o
pronome ‘eles’ busca sua referência em contextos em que há locativo > coletivo > genérico >
indefinido, qual seria a estrutura interna do pronome ‘eles’? Essa pergunta exige de nós uma tomada
de posição. Ou tratamos os pronomes de modo uniforme, ou reconhecemos os pronomes como itens
de estrutura interna variável. É nosso objetivo, portanto, mostrar que o pronome ‘eles’ é um item de
estrutura interna variável, que ocupa a posição de sujeito de construções impessoais, e que tais
construções podem ser descritas tipologicamente, levando em conta a noção de subespecificação de
traços formais, defendida por Carvalho (2008). Em suma, buscaremos responder todas as questões
anteriormente colocadas, a fim de oferecer uma análise das construções impessoais com o pronome
‘eles’ no PB.
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INOVAÇÕES NO SISTEMA FONOLÓGICO DE DÂW RESULTANTES DE
BILINGUISMO EM PORTUGUÊS: UMA ANÁLISE DE ASPECTOS SOCIOCOGNITIVOS
DE LÍNGUAS EM CONTATO
Valteir Martins – UEA
Silvana Andrade Martins – UEA
A língua indígena Dâw é falada por um grupo minoritário composto por cerca de 120 pessoas que
habitam na margem esquerda do rio Negro, confronte à cidade de São Gabriel. Segundo o último
Censo do IBGE, esta localidade possuiu o maior contingente indígena do Brasil, sendo que 95% de
sua população são de origem indígena. São falantes de 22 línguas, de quatro famílias linguísticas,
sendo que 3 delas são cooficiais, juntamente com a língua portuguesa. Neste contexto
multilinguístico e cultural, todos os Dâw falam sua língua étnica como língua materna, além do
Nheengatu, que é falado pelos mais idosos, e da língua portuguesa, que em graus diferentes de
proficiência, é utilizada por todos. Até o início dos anos 90, quem falava o português com razoável
fluência eram sobretudo os homens abaixo de 30 anos. As mulheres, em geral, somente entendiam o
português e falavam apenas algumas palavras e frases simples. A maioria das crianças entendia o
português, mas preferia responder em Dâw. Com o aumento do contato dos Dâw com falantes do
português e, em particular, com a implementação da escola bilíngue da prefeitura de São Gabriel na
comunidade indígena, o conhecimento e a utilização da língua nacional têm crescido entre eles.
Com isso, verifica-se que essa elevação de grau de bilinguismo em português tem provocado
mudanças no sistema fonológico da língua, tendo como entrada os processos de nativização dos
empréstimos mais recentes de palavras do português em Dâw. A partir das estratégias de reparações
fonológicas das palavras oriundas do português para a língua nativa, conforme descritas por S.
Martins e V. Martins (SIMELP, 2011), constata-se que, na integração de empréstimos recentes, tem
ocorrido uma diminuição de graus de nativização na escala de nativização de empréstimos, de
conformidade com o modelo de nativização pré-estabelecido pelos nativos. Algumas estratégias
básicas, como a reparação de sons ilícitos, não estão sendo acionadas. Como exemplo, entre outros,
citam-se os fonemas /f, r/ que não constavam na fonologia Dâw e que passam a ocorrer
restritamente em empréstimos recentes. Assim também a característica monossilábica das palavras
em Dâw, mantida pela preferência de nativizar empréstimos preservando somente a sílaba tônica do
input da língua doadora, já não é tão usual. Essas inovações fonológicas implementadas em Dâw,
tendo como input a adaptação dos empréstimos do português, são analisadas numa abordagem
teórica da tipologia cognitiva. Analisam-se, no âmbito dos estudos das línguas em contato, os
mecanismos sociocognitivos relacionados ao processamento de nativização dos empréstimos,
considerando o aumento do grau de bilinguismo em português, principalmente dos jovens
escolarizados. Concebe-se o modelo de nativização estabelecido pelos nativos como oriundo de
processos em que as entradas da língua estrangeira são adaptadas à língua receptora a partir de
construtos mentais que operam reparações fonológicas para que a palavra estrangeira se torne
familiar aos ouvidos dos nativos. Logo, essas inovações fonológicas apontam para mudanças
subjacentes na representação mental perceptual dos falantes Dâw com maior grau de bilinguismo
em português. Os resultados dessa análise explicitam que operações de reparação estão estocadas na
memória permanente dos Dâw e que se tornam a representação subjacente para um determinado
empréstimo. Elucida-se, portanto, que estruturas fonotáticas subjacentes são empregadas na
adaptação de empréstimos recentes, considerando o aumento do bilinguismo em português, numa
perspectiva sociocognitiva.
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MODALIDADE, ESTRUTURA E LINGUAGEM
Christiane Cunha de Oliveira – UFG
Nos estudos relativos às línguas de sinais, o conceito modalidade refere-se ao modo como uma
dada língua é produzida e percebida, estabelecendo-se desta forma o contraste entre línguas de
modalidade oral-auditiva e línguas de modalidade visogestual. As primeiras caracterizam-se por
serem produzidas através do aparelho fonador e percebidas pelo canal auditivo; as segundas são
produzidas através do uso do corpo – sendo principais articuladores as mãos, os braços e a face – e
percebidas pelo canal visual. Uma questão sobre a qual alguns pesquisadores têm se debruçado diz
respeito aos efeitos que a modalidade poderia ter sobre a estrutura das línguas (MEIER; CORMIER;
QUINTO-POZOS 2002; SANDLER; LILLO-MARTIN 2006). O que se busca, nesse caso, é
compreender até que ponto as categorias lingüísticas coincidem ou não, entre as línguas faladas e as
sinalizadas, e quais as conclusões a que se pode chegar sobre a natureza da linguagem humana, a
partir dessas observações. Um ponto problemático a ser levantado em algumas dessas análises, no
entanto, é a tendência à pressuposição de que as mesmas categorias que se reconhecem nas línguas
orais serão encontradas também nas línguas de sinais. Tal tendência muitas vezes emerge do
próprio modelo teórico adotado para a análise, o qual, por sua vez, é constituído conforme a
concepção que se tem de língua: assim, se o modelo teórico prevê a existência de certa categoria
estrutural em toda e qualquer língua, a interpretação que se atribui à análise empírica acaba sendo
influenciada pela necessidade epistemológica da existência dessa categoria nos dados. Diante disso,
uma nova questão se apresenta: até que ponto é realmente útil uma busca por similaridades ou
diferenças no plano estrutural? Afinal, se olhamos para os dados já pressupondo aquilo que iremos
encontrar, perdemos a oportunidade de enxergar as novidades que os dados poderiam nos revelar. O
presente estudo propõe uma discussão sobre como a concepção que se tem de língua pode
influenciar nos resultados da análise descritiva das línguas e como, no caso das línguas sinalizadas,
uma visão mais ampla de língua – até certo ponto livre das restrições estruturais que caracterizam o
estudo das línguas orais – poderia oferecer vantagens para uma melhor compreensão dos fenômenos
da linguagem.
UNIVERSAIS LINGUÍSTICOS APLICÁVEIS ÀS LÍNGUAS DE SINAIS
Karime Chaibue – UFG/FL
A tipologia linguística tem como objetivos avaliar semelhanças e diferenças encontradas nas línguas
do mundo e buscar os universais linguísticos a partir do exame de dados comparativos entre línguas
genealogicamente não relacionadas, onde se verifica a ocorrência de certa característica comum a
todas as línguas do corpus (Zeshan, 2008). É a partir dessa análise que se propõem os universais da
linguagem, tal como o seguinte postulado proposto por Greenberg (1963): “todas as línguas fazem
distinção entre Nomes e Verbos”, entendido como um universal absoluto — um traço
compartilhado por todas as línguas do mundo. Tais proposições, no entanto, fundamentaram-se num
corpus composto de línguas orais, deixando de lado as línguas de sinais utilizadas pelas
comunidades surdas em nível mundial. Assim, o propósito deste trabalho é discutir até que ponto
este universal se confirma, mediante os dados das línguas de sinais, em particular, os dados da
Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Esta pesquisa apresenta as características de uma pesquisa
qualitativa e do estudo de caso como método de coletas de dados. Analisaremos narrativas livres de
aproximadamente cinco surdos fluentes no uso da LIBRAS. Os vídeos das narrativas em LIBRAS
são produzidas por surdos de diferentes localizações no Brasil, encontrados na internet, em
materiais didáticos ou em outros meios. Os vídeos não possuem legenda ou tradução oral na Língua
Portuguesa, e são de temas variados, tais como educação, religião, histórias pessoais e anedotas.
Um questionário será aplicado aos surdos participantes da pesquisa, com o intuito de obter o perfil
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de cada um, no que diz respeito ao modo de aquisição de língua e à aceitação e postura da família
diante do processo de aprendizagem da LIBRAS. Quadros e Karnopp (2004) apontam o parâmetro
movimento como sendo o diferenciador de Nomes e Verbos, afirmando que os Verbos na LIBRAS
possuem um movimento mais longo e a derivação de Nomes acontece com a repetição e o
encurtamento do movimento. Felipe (2006) acredita que a distinção entre as duas categorias lexicais
acontece simplesmente pelo contexto. Pizzio (2011) discorda sobre a possibilidade de se aplicar o
movimento como diferenciador entre Nomes e Verbos, pois a autora não conseguiu identificar uma
unidade responsável por tal distinção nos sinais em LIBRAS. Em nossas análises dos vídeos de
narrativas livres também não percebemos uma padronização da distinção entre Nomes e Verbos na
LIBRAS, o movimento não foi o fator distintivo. Percebemos que a literatura existente e o corpus
deste trabalho não apresentam um elemento distintivo de Nomes e Verbos na LIBRAS, exceto o
contexto em que o sinal é produzido. Diante disso, acreditamos que nosso trabalho contribuirá para
uma discussão do universal linguístico absoluto apresentado em Whaley (1997, p. 32): "todas as
línguas fazem distinção entre Nomes e Verbos", uma vez que buscaremos uma análise minuciosa de
dados na LIBRAS, proferidos em contextos e desprendidos ao máximo de influências de outras
línguas.
UM OLHAR DA LINGUÍSTICA COGNITIVA SOBRE OS CLASSIFICADORES NAS
LÍNGUAS DE SINAIS
Bruno Gonçalves Carneiro – SESI/ Facdo/ Itpac
Christiane Cunha de Oliveira – UFG
Houve um período recente que linguistas precisavam comprovar, nas línguas de sinais, todas as
teorias aplicadas às línguas orais, numa tentativa de demonstrar que estas eram, de fato, naturais.
Devido ao império do postulado da arbitrariedade/ não motivação do signo linguístico, muitos mitos
e preconceitos foram gerados, rebaixando-as a representações miméticas, encenações e, quando
admitidas como sistemáticas, incapazes de expressar idéias abstratas (TAUB, 2001). Outra grave
consequência foi a atenuação da importância do caráter icônico e do papel desempenhado pelos
gestos na organização desses sistemas (LEITE, 2008; MCCLEARY; VIOTTI, 2011; LIDDELL,
2003), o que provavelmente originou a suposição inicial que toda fonte de significado nas línguas
de sinais provinha de morfemas (LIDDELL, 2003). Segundo Duncan (2003) e Schembri (2003), os
estudos sobre línguas sinalizadas são recentes e a emergência repentina de pesquisas nessa área da
linguística, criou a necessidade urgente de nomear os fenômenos observados. O mais adequado,
naquele momento, foi lançar mão de termos usados na descrição das línguas orais que, de acordo
com os autores, parece ser o caso dos classificadores. Numa visão tradicional e categórica, os
classificadores são sinais polimorfêmicos, estruturas icônicas em que cada aspecto formacional é
um morfema, dentre eles: a configuração de mão, a característica do movimento, ponto inicial e
final do movimento, orientação da palma, disposição do corpo e de parte do corpo do sinalizante.
Cada parâmetro, caracterizaria um grupo de referentes. Considerando a língua um sistema
simbólico atrelado a processos cognitivos gerais e à nossa experiência corporal diária (JONHSON,
1992; LANGACKER, 2008), analisamos três textos, em que identificamos estruturas
tradicionalmente conhecidas como classificadores, que chamamos de representação (DUDIS, 2008).
A partir dos dados imos que, na concepção de eventos, o sinalizante cede seu corpo de forma a
elaborar uma codificação transparente, através do corpo, daquilo que é concebido pelo corpo. As
ações de ver, verificar, correr, remar, lançar e colocar, por exemplo, identificadas nessa pesquisa
como construções representativas (classificadores), refletem as ações que experienciamos na
relação com o mundo. Percebemos os classificadores como uma mimese corporal, o que não
elimina a presença de elementos lexicalizados nessas construções. Com essa integração, a
representação permite explicitar informações pragmáticas sobre o evento concebido (KENDON,
2004). Em relação às línguas sinalizadas, é impossível destituir da análise descritiva os aspectos
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gradientes da posição das mãos, orientação da palma, corpo, cabeça, direção do olhar no espaço de
sinalização e da “encenação” e “mimese” feita pelo sinalizante (DUNCAN, 2003; FELIPE, 1998;
MCCLEARY; VIOTTI, 2011; LIDDELL, 2003a, 2003b; OKRENT, 2002; SCHEMBRI, 2003).
Apesar de não ter sido nosso objetivo distinguir sinais de gestos, sugerimos que a performance do
corpo do sinalizante, durante a representação, é uma fonte importante para a construção de
significado nas línguas de sinais. Gestos são gradientes, não categóricos, fazem parte da linguagem
humana e do processo de produção das línguas naturais. São abundantes e onipresentes, podendo
ser considerado um universal linguístico (DUNCAN, 2003). Certamente, a ação gestual nas línguas
de sinais parece acontecer de forma sistematizada, bem mais articulada e controlada que nas línguas
orais. Resta agora à linguística das línguas sinalizadas desvendar a regularidade do uso da
gestualidade.
AMPLIAÇÃO LEXICAL EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA – ASPECTOS
ICÔNICOS
Ester Fernandes Nunes – SEMED/ Araguaína
Bruno Gonçalves Carneiro – SESI/ Facdo/ Itpac
A língua é um fenômeno que nos permite apreender o mundo, um sistema simbólico atrelado a
processos cognitivos gerais e à nossa experiência corporal diária, pelo qual concebemos e
codificamos os acontecimentos da realidade objetiva. É nesse conjunto de percepções e sensações
mais elementares que realizamos novas concepções e projetamos estruturas imaginativas a fim de
entendermos situações mais elaboradas e abstratas. Assim, o corpo é fundamental na concepção do
mundo (JONHSON, 1992; LANGACKER, 2008). De acordo com Taub (2001), iconicidade não é
uma relação objetiva entre imagem e referente, mas uma relação entre nossos modelos mentais de
imagem e referente, sendo uma característica que tende a se manifestar em todas línguas. De acordo
com Givón (1985), o princípio da iconicidade vai de acordo com a economia de esforço mental,
justamente por contar com uma transparência na representação linguística. Um sistema que consiste
de uma experiência codificada é mais fácil para armazenar, recuperar e ser usado na comunicação.
Para o autor, o processo de abstração necessariamente envolve um aumento da arbitrariedade do
código linguístico, mas não implica na ausência de motivação. Segundo Taub (2001) e Brennan
(2005), vivemos num mundo visual. Ao observarmos o nosso redor, verificamos que estamos
rodeados por contornos, formas, dimensões, e nem sempre essas mesmas entidades contam com um
som associado a elas. Até mesmo as noções mais abstratas remetem à experiência corporal diária.
Logo, há maior número de esquemas de imagem visuais e cinestésicos associados a conceitos, do
que sonoros. Daí a prevalência da relação transparente entre forma e significado nas línguas de
sinais em relação às orais, visto que tais características imagéticas podem ser preservadas pelo
sistema articulatório manual-corporal-espacial das línguas de sinais e dificilmente manifestam-se
num meio de representação acústico. Considerando o papel da iconicidade na organização
linguística das línguas sinalizadas, observamos a presença do caráter icônico em um conjunto de
novos sinais criados por sinalizadores na cidade de Araguaína/TO. A comunidade surda de
Araguaína/TO realizou um trabalho com o intuito de ampliar o conjunto lexical da libras falada na
cidade. As atividades aconteceram por meio de encontros semanais, que incluiu um levantamento
de pontos estratégicos da cidade que ainda não possuíam um sinal em libras. A ideia desses
encontros parte da necessidade urgente, entre os sinalizadores, de ampliação lexical da libras em
Araguaína. Nas reuniões, realizadas em libras, membros do grupo (composto por surdos e ouvintes)
apresentavam propostas a respeito dos possíveis sinais para um local escolhido. O sinal que recebe a
maioria de votos é convencionado e após, passa a ser validade dentro da comunidade surda.
Observamos que uma a estratégia usada para criação de novos sinais foi apresentar característica
físicas do referente, como imagens do local, características do imóvel, disposição da construção ou
o símbolo/logomarca do empreendimento. Notamos também a influência de características do
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referente, ou o input visual concebido pela comunidade surda sobre tais referentes, como um
recurso para a ampliação lexical da libras.
METÁFORAS NA LIBRAS
Maria Luísa Mendes – UFG
Esta pesquisa propõe uma investigação sobre o uso de metáforas na Língua Brasileira de Sinais
(Libras) e tem por objetivo principal analisar e descrever como se dá a composição de metáforas
nessa língua. A visão tradicional de que a metáfora é apenas um recurso de estilo, de ornamentos,
foi derrubada principalmente pelas pesquisas de Lakoff & Johnson (1980). Para esses teóricos, o
sistema conceptual que dirige nosso pensamento e também nossas ações é essencialmente
metafórico. Daí a definição de Metáfora Conceptual como uma forma convencional de conceber um
domínio de experiência em termos de outro, e que de modo geral é inconsciente e permeia toda a
organização linguística. Os pressupostos da teoria da Metáfora desenvolvida por George Lakoff e
Mark Johnson, bem como a teoria dos Espaços Mentais formulada em Fauconnier (1994),
constituem a base teórica para a investigação proposta aqui. Faria (2003) oferece uma das primeiras
análises sobre o uso de metáforas na Libras. Contudo, o objetivo daquele estudo é investigar as
expressões metafóricas da Língua Portuguesa que se manifestam também na Libras. Neste
trabalho,por outro lado, propomo-nos a investigar a produção de metáforas na própria língua de
sinais, no intuito de identificar aquelas criações metafóricas que são inerentes à Libras, e não
resultantes do contato com a língua nacional. Especificamente, nosso estudo visa identificar
metáforas conceituais, orientacionais e ontológicas na Libras, a partir de um corpus em que o uso da
língua se contextualiza em situações de interação entre sinalizantes, geralmente surdos, fluentes em
Libras. Procuramos explicitar também os domínios fonte e alvo no processo de construção destas
expressões metafóricas por meio da análise de vídeos coletados da internet, nos quais os usuários de
Libras expressam opiniões acerca de determinados temas ou mesmo produzem falas espontâneas do
dia a dia. A análise dos dados da Libras apóia-se nas teorizações de Taub (2004) e Wilcox (2000)
sobre a manifestação da metáfora na Língua Americana de Sinais (ASL) e revela que as metáforas
orientacionais na Libras coincidem com as da língua portuguesa, uma vez que a composição de
metáforas está intimamente relacionada ao sistema conceptual que é partilhado tanto pelos ouvintes
como pelos surdos brasileiros em geral. Por exemplo, a metáfora orientacional FELIZ É PARA
CIMA fica evidente no sinal ALEGRIA (mãos abertas tocando os ombros de baixo para cima em
movimento circular). Outro exemplo, de metáfora conceitual/estrutural identificada na Libras, é
COMUNICAR É ENVIAR. Ainda outras metáforas são resultantes da corporificação, também
postulada por Lakoff e Johnson. Para os autores, a mente é estruturada com base nas experiências
corporais dos sujeitos. Assim, o sinal ESQUECER é, ao mesmo tempo, metafórico e corporificado.
Esse sinal é articulado passando-se uma das mãos sobre a testa, como se fosse uma borracha que
apaga algo da superfície de uma folha de papel. Finalmente, nota-se também que, assim como na
ASL, a Libras possui sinais que têm iconicidade metonímica e sinais com iconicidade metafórica. A
Iconicidade metonímica está presente quando, ao articular um sinal, toma-se uma característica do
conceito/objeto que é representado de forma icônica, como no sinal “árvore”. Em um sinal icônico
metafórico, o conceito é entendido em termos de outro e, para a sua articulação, um traço desse
conceito é representado de forma icônica. Os sinais “comunicar” e “avisar” são exemplos de
iconicidade metafórica da metáfora – COMUNICAR É ENVIAR.
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A ANTROPONÍMIA TEMBÉ E KA’APOR: UMA ABORDAGEM COGNITIVA DOS
DIFERENTES MODOS DE NOMEAR
Raimunda Benedita Cristina Caldas – UFPA
Tabita Fernandes da Silva – UFPA
O presente trabalho resulta de investigações em andamento sobre a antroponímia de duas línguas do
tronco Tupí: o Tembé e o Ka’apór, pertencentes aos sub-ramos IV e VIII da família Tupí-Guaraní,
respectivamente (RODRIGUES, 1985/1986). O estudo, por um lado, mostra as estratégias adotadas
pelos indivíduos dessas culturas no processo de nomeação de pessoas, bem como as motivações
antroponímicas que governam tal processo. Por outro lado, o estudo também aborda como se dá a
escolha de antropônimos da cultura não indígena adotados por índios dessas duas etnias como uma
espécie de segundo nome ou mesmo como primeiro nome, bem como verifica quais as motivações
dessa segunda antroponímia e se há correspondência entre as motivações que regem a escolha do
nome indígena e a motivação da escolha ou adoção do nome em língua portuguesa. As línguas em
estudo encontram-se em diferentes graus de bilinguismo, o que tornou bastante viável a presente
investigação. Na abordagem feita a respeito dos nomes próprios nas línguas referidas consideramos
aspectos de referenciação relacionados à apresentação metafórica e metonímica no que respeita à
visão de mundo desses falantes no momento de nomear alguém. O estudo enquadra-se no campo da
Onomástica uma vez que trata do referencial individual do nome indígena que passa a ser
antropônimo, mas continua disponível no uso comum para a nomeação de elementos da natureza e
eventos do cotidiano e porque trata, também, dos nomes apreendidos do português na relação de
contato. Vale-se, ainda, da Linguística Cognitiva ao privilegiar aspectos de análise de referência e
de nomeação dentro de uma concepção lingüística que leva em conta o referencial cognitivo desses
usuários frente ao convívio com os modos diferentes de nomear. O suporte teórico para o
tratamento dado ao estudo dos antropônimos segue os estudos semânticos e lexicais, conforme
tratados por Lakoff (1987), Silva (1992), Shopen (1985) e Goossens (1990).
O ESTUDO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: NOVAS METODOLOGIAS EXPERIMENTAIS
Vanessa Cristina de Jesus Pinha – UFMG
Os estudos do médico francês Pierre Paul Broca (1824/1880) e do neurologista alemão Carl
Wernicke (1848/1905) sobre a relação entre lesões no cérebro e a linguagem levaram à descoberta
de áreas específicas no cérebro que se relacionam com a produção e a compreensão da linguagem –
área de Broca e área de Wernicke. Esses achados despertaram o interesse de especialistas de
diversas áreas como linguistas, neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos, entre outros, que, desde
então, investigam as relações entre cérebro e linguagem, com enfoque nas patologias cerebrais.
Entre os distúrbios psicológicos que afetam o aprendizado e o desempenho da linguagem, destacase o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), por apresentar comprometimento
da atenção e da memória, processos mentais indispensáveis para o desenvolvimento das habilidades
linguísticas. O TDAH consiste em uma desordem neurobiológica, de causas genéticas, caracterizada
pelo comportamento desatento, inquieto e/ou impulsivo (DSM-IV-TR, 2002). Inúmeros trabalhos
realizados em diversas áreas associam o TDAH a problemas na área da linguagem, tais como
dificuldade com a fala e/ou atrasos na aquisição da linguagem, distúrbios na leitura e/ou na escrita,
além de prejuízos referentes à competência comunicativa como linguagem receptiva e expressiva e
processamento auditivo (BROWN, 2007; COHEN et al, 2000; LOBO e LIMA, 2007; TANNOCK,
2000, 2005). No campo da linguística, no entanto, há poucos estudos que investigam a relação entre
TDAH e linguagem. Podem ser citados os trabalhos de Albuquerque (2008), que investigou o
processamento da leitura em crianças e adolescentes portadores de TDAH e de Klein (2009), que
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565
pesquisou a compreensão em leitura e a consciência fonológica em crianças com TDAH. Diante da
escassez de pesquisas que investigam o tema em questão, o presente trabalho tem por finalidade
apresentar, discutir e difundir o uso de técnicas da psicolinguística experimental no estudo do
TDAH. Visto que há diversas evidências sobre a associação entre TDAH e problemas com a
linguagem, torna-se de extrema importância a incorporação de contribuições da linguística e da
psicolingüística nos estudos dessa patologia. Entre as diferentes metodologias de investigação da
relação entre língua e cérebro, merecem destaque o rastreamento ocular (Eye tracking) e a
eletroencefalografia (EEG) – técnicas utilizadas no campo da psicolinguística experimental – por
investigarem os processos mentais que ocorrem no cérebro no momento em que o processamento da
linguagem acontece. A técnica de rastreamento ocular consiste na utilização de um aparelho (Eye
tracker) que acompanha e grava os movimentos dos olhos de um indivíduo enquanto ele lê textos
verbais e não-verbais. Tais movimentos fornecem padrões que, após serem mensurados e
analisados, evidenciam como o falante/ouvinte integra e utiliza as informações linguísticas visuais
durante a compreensão da linguagem (RAYNER e LIVERSEDGE, 2004). O EEG, por sua vez,
consiste no registro das correntes elétricas do cérebro com ênfase nas atividades elétricas geradas
logo após a ocorrência de algum evento específico – método de potenciais relacionados a eventos
(ERPs). No caso, o evento seria a leitura ou audição de uma determinada palavra ou sentença
(KUTAS et al., 2006). Pela eficácia e sensibilidade das aferições, a utilização dos procedimentos
metodológicos descritos anteriormente configura uma poderosa ferramenta para o estudo da relação
entre transtornos como o TDAH e a linguagem.
CONVERGÊNCIAS ENTRE O FUNCIONALISMO E A NEUROLINGUÍSTICA DE
ORIENTAÇÃO ENUNCIATIVO-DISCURSIVA
Amanda Bastos Amorim de Amorim – UNICAMP
Segundo Ataliba em “Funcionalismo e gramáticas do português brasileiro” (2010), são possíveis as
seguintes definições de função: “(i) o uso das línguas para um determinado propósito, (ii) as
relações estruturais entre signos, e (iii) os papéis assumidos pelos constituintes numa sentença”.
Adotando primordialmente a primeira definição, buscarei indicar aqui pontos de encontro e
distanciamento entre as bases teóricas do Funcionalismo e da Neurolingüística de orientação
enunciativo-discursiva. Uma aproximação fundamental – e a que torna o Funcionalismo o modelo
mais interessante para discutir questões gramaticais em Neurolinguística - é que ambas se importam
com processos, enquanto as teorias formais estudam produtos. Segundo Vygotsky em A formação
social da mente (1984), é a análise dos processos – em oposição à tradicional análise dos objetos ou
produtos – que permite a compreensão da essência dos fenômenos. Além disso, a contextualização
da comunicação, levando em conta o sujeito, o que ele diz e em quais condições ele diz, são
tratados por Vygotsky (idem) como extracorticais, ou seja, o que está fora do cérebro, mas a ele se
relaciona. O que o autor faz é expandir a própria noção de cérebro para além da visão organicista
praticada na Clínica. Além dessa convergência fundamental, temos: (i) a análise parte dos dados
singulares para generalizações, como fazemos freqüentemente com os estudos de casos; (ii) a
sintaxe é vista como um modelo do processamento verbal – embora o termo processamento venha
sendo abandonado na Neurolingüística de orientação discursiva, pois remete a metáforas
computacionais e concepções – preferimos a utilização do termo funcionamento em seu lugar; (iii)
ambos admitem a natureza flexível das línguas naturais, que tomam a língua como um conjunto de
escolhas, de forma que não haverá uma gramaticalização definitiva, mas processos de gramatização
que buscarão descrever as línguas de acordo com certos paradigmas; (iv) ambos também
pressupõem a não autonomia das estruturas linguísticas, uma vez que as estruturas são vistas como
construtos que buscam escrever os processos subjacentes ao funcionamento da língua. Para além de
tais semelhanças, é importante ressaltar que ambos, de maneiras bastante compatíveis, são
constantemente reformulados e buscam, em outros autores e novos projetos caminhos possíveis
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para a ampliação das teorizações sobre os processos comunicativos, bem como nascem em oposição
às teorias formalistas, conforme Coudry em Diário de Narciso – discurso e afasia (1986).
O ALUNO SURDO NA ESCOLA REGULAR: CONTEXTOS DE ENSINOAPRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
Bruna Crescêncio Neves – UFSC
O reconhecimento da língua de sinais como língua natural do surdo e do acesso da mesma na escola
regular por meio das diretrizes nacionais para a educação especial (resolução CNE/CEB n. 2, de
2001, a lei 10.098/94 - VII, que trata sobre a acessibilidade à língua de sinais), da lei 10.436/02 que
estabeleceu que LIBRAS é o meio legal de comunicação e expressão do surdo e do Decreto 5.626/
têm ocasionado algumas mudanças na educação dos surdos em nosso país. Desse modo, as
instituições de ensino buscam adequar-se às novas diretrizes para atender esses alunos; entretanto, a
realidade encontrada nas escolas difere daquela que seria a ideal. Nesse sentido, o presente artigo
focaliza a análise nas seguintes questões: a) O contexto escolar de ensino-aprendizagem da língua
portuguesa dos alunos surdos nas escolas regulares, nas cidades de Laguna, Tubarão e Garopaba,
todas em Santa Catarina; b) O cotidiano escolar que envolve surdo, professor e intérprete e c) A
aprendizagem da língua portuguesa como segunda língua. Os primeiros resultados desta pesquisa
têm mostrado alunos integrados no ambiente escolar, com professores intérpretes como exige a lei,
mas com relevantes limitações na aprendizagem da língua portuguesa.
LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: POR UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO
ACADÊMICO
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro – UFMG
A população surda brasileira, usuária nativa da Língua de Sinais Brasileira (L1) e usuária
estrangeira da Língua Portuguesa (L2), apenas recentemente tem tido a oportunidade de ingressar
em cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu oferecidos por instituições públicas
brasileiras. A política de cotas do Governo Federal e o advento do curso de Letras/Libras
empreendido pela Universidade Federal de Santa Catarina (e oferecido em 18 polos pelo Brasil)
talvez sejam os principais motivadores desse movimento. A partir daí, vemos surgir uma produção
acadêmica de autoria surda, cunhada na pós-graduação, dotada de especificidades: i) tal produção
costuma ser representante autêntica de um modelo de racionalidade científica emergente, que
relaciona ao fazer acadêmico um fazer militante ou ativista-social (RIBEIRO, 2012); ii) a posição
linguístico-cultural do sujeito surdo frente à produção de discursos acadêmicos em Língua
Portuguesa acaba por gerar uma série de processos discursivos regidos pela tensão sujeito/língua;
iii) tal tensão tem feito crescer nos surdos o desejo de produzir suas dissertações e teses em Língua
Brasileira de Sinais – questão extremamente polêmica; iv) não se têm notícias de cursos de
português para surdos voltados especificamente para o desenvolvimento de habilidades de escrita
acadêmica e, ao mesmo, para o gerenciamento das facetas acadêmica e ativista-social no fio do
discurso. Diante disso, o objetivo deste estudo é discutir a produção acadêmica de autoria surda
com vistas a evidenciar a necessidade de se pensar em cursos de português para este específico fim:
letramento acadêmico para surdos usuários de português como L2. Além da abordagem presencial,
discute-se ainda a pertinência da elaboração de cursos on-line, que maximizam o tempo de contato
do sujeito com atividades de leitura e escrita da Língua Portuguesa. Por fim, serão apresentados os
eixos norteadores de um possível curso de letramento acadêmico para surdos seguido de atividades
preliminares. O que se pretende, pois, é discutir o papel da língua portuguesa na formação de
pesquisadores surdos.
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O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS NO CMAI E CAS GOIÁS
Kelly Francisca da Silva Brito – CAS/CMAI
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma língua gesto-visual e é reconhecida pela Lei nº
10.436/2002 e decreto nº 5.626/2005. O português é a segunda língua (L2) para as comunidades
surdas brasileiras na modalidade escrita. O pouco conhecimento de Língua Portuguesa que a maior
parte dos educandos surdos apresenta, demonstra as dificuldades para escrever e ler. Por não ser o
português sua primeira língua o surdo não terá o desenvolvimento igual aos ouvintes. A legislação
vigente trás em seu aparato legal que o ensino deve ser ofertado desde a educação infantil, com
metodologias especificas e formas de avaliação diferenciadas pautados na educação bilíngue e nas
especificidades dos sujeitos surdos. Educação bilíngue envolve duas línguas no contexto
educacional. Ao optar em oferecer uma educação bilíngue, a instituição está assumindo uma
política linguística em que duas línguas passarão a existir no espaço escolar (SALLES, 2004). O
primeiro contato com um texto escrito por um surdo é, para o ouvinte, desconcertante. Isso decorre
do fato de que o ouvinte, que desconhece a realidade do surdo, supõe que o escritor surdo tenha
como língua única e/ou materna a língua portuguesa. Uma vez lembrado que a percepção sensorial
do surdo é essencialmente visual, tendo ele, portanto, acesso restrito, ou nenhum acesso, a
modalidade oral do português, o ouvinte ainda se surpreende com o fato de que o surdo
escolarizado demonstre domínio tão restrito da língua portuguesa. A educação dos surdos está
vinculada ao bilinguismo, o ensino de segunda língua (L2) está vinculado a sua primeira língua
(L1). Esta comunicação objetiva-se em apresentar, divulgar e mostrar como ocorre o processo de
ensino-aprendizagem do educando surdo em duas instituições públicas e referências em educação
de surdos em Goiás pautas no bilinguismo e os resultados obtidos por esses educandos que tem
atendimentos preparados respeitando a sua singularidade linguística, cultura e identidade surda, fato
que ainda não ocorre em escolas que não trabalham com a perspectiva bilíngue.
LÍNGUA E COGNIÇÃO: A GRAMÁTICA DAS LÍNGUAS COMPORTA O CORPO
Leosmar Aparecido da Silva – UFG
Cognição, comumente conhecida como processo pelo qual se adquire algum tipo de conhecimento,
nas últimas décadas tem sido objeto importante para os estudos da linguagem. Alguns estudiosos a
definem como aquilo que ocorre quando o corpo engaja-se no mundo físico e cultural, devendo,
portanto, ser estudada em termos das interações dinâmicas entre as pessoas e o ambiente. A
hipótese da embodied mind acredita que associações do corpo em ação, principalmente relacionadas
às atividades orais e à cabeça, são fundamentais para se buscar o domínio-fonte de certas estruturas
linguísticas. Para Gibbs (2006), certos movimentos do corpo podem revelar surpresa, desconforto e
também raiva, alegria, tristeza. Essas ações normalmente vêm acompanhadas de um ato de fala
específico. Em vista dessas considerações, esta comunicação tem o propósito de discutir e
problematizar como as experiências corporais, construtoras de esquemas imagéticos que podem ser
projetados metaforicamente, integram o sistema gramatical das línguas. Dados de diferentes línguas
e também do Português Brasileiro serão mostrados como forma de se verificar a presença do corpo
nas construções indicativas de movimento, no sistema adposicional (preposicional e posposicional),
no sistema numérico, no sistema dêitico, nas construções idiomáticas, modais e evidenciais.
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CONSCIÊNCIA METALINGUÍSTICA NA AQUISIÇÃO BILÍNGUE: ESTUDO DE CASO
DE UMA CRIANÇA BILÍNGUE EM ESPANHOL E PORTUGUÊS DO BRASIL AOS
NOVE-DEZ ANOS DE IDADE.
Milla Paiva Di Ferreira, UAb
O presente trabalho tem como principal objetivo apresentar uma visão global do processo de
aquisição bilíngue de uma criança em Espanhol (E) e Português do Brasil (PB). Trata-se de um
estudo de caso em condições desfavoráveis ao bilinguismo infantil até os 9 anos de idade da criança
em observação. Empregando uma abordagem cognitiva, nomeadamente no campo da
psicolinguística (Houwer, 1990, 1995 e 2009; Batoréo, 2000 e 2004; Siguan, 2001; Bialystok,
2001a; Bialystok & Crago, 2007; Bialystok & Craik, 2009), tratamos de investigar o
desenvolvimento da consciência metalinguística de uma criança bilíngue, considerando,
especificamente, as variáveis motivação, afetividade e atitude linguística, amparadas em relevantes
pesquisas efetuadas sobre esta temática (Gardner & Lambert, 1959 e 1972; Lalonde & Gardner,
1984 e 1985; Baker, 1993, 2007 e 2011; Gardner, 2009). Neste sentido, expomos um historial
linguístico conciso da criança até os 10 anos de idade, que se destaca por três etapas marcantes e
decisivas no seu desenvolvimento e crescimento linguísticos no PB - (i) até os 4 ½ anos (1ª etapa),
(ii) dos 4 ½ aos 9 anos (2ª etapa) e (iii) a partir dos 9 anos (3ª etapa, coincidente com o início à
leitura no PB). Apresentamos, igualmente, uma amostra ampla e diversificada constituída por
produções linguísticas orais da criança, provenientes de anotações de campo realizadas até os seus
10 anos e de gravações realizadas entre os 8 e 10 anos de idade. Concluímos que, in casu, os fatores
decisivos para que a criança alcançasse o bilinguismo num ambiente inicialmente desfavorável se
caracterizaram, em essência, (i) pela motivação integrativa da criança, (ii) pela afetividade
(conjunto de vivências, emoções e sentimentos inerentes tanto à criança como à família em geral) e
(iii) pela mudança radical de atitude linguística no ambiente familiar a partir dos 9 anos de idade da
criança, que passou a ser amplamente favorável. Com efeito, pensamos que os três fatores, de forma
conjunta e inter-relacionada, foram, ao mesmo tempo, o alicerce e o motor do bilinguismo da
criança em questão.
“KEEP WALKING, BRAZIL”: METÁFORAS DE UM PAÍS EMERGENTE
Adriano Dias de Andrade – UFPE
Desde o início da última década, através de programas de distribuição de renda, da geração de
emprego e da estabilidade econômica e política, o Brasil tem alcançado lugar de destaque no
cenário mundial. O país apresenta-se hoje como uma potência em ascensão, como um líder entre os
BRICS (grupo que reúne as potências emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Além disso, com a confirmação da realização da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos
Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, tanto o Governo Federal quanto a mídia nacional e
estrangeira têm sido recorrentes ao conceituar o Brasil de maneira entusiasmada e com atributos
positivos. As práticas discursivas que se originam na esfera do governo e da mídia têm assumido a
categorização do país como o despertar de uma nova potência mundial. Tendo em vista que as
metáforas constituem a linguagem e o pensamento humanos e que não há comunicação que se
exima totalmente de metáforas, podemos afirmar que parte significativa desses discursos é gerada
através de metáforas. Partindo dessas premissas, este trabalho investiga a produção de Metáforas
Conceituais que licenciam Expressões Linguísticas Metafóricas nos discursos sobre o Brasil. Nosso
objetivo principal é o de verificar como essas metáforas categorizam o Brasil. Utilizamos como
corpus de análise textos da esfera política e da mídia: (i) Discursos proferidos pela Presidenta da
República do Brasil, Sra. Dilma Rousseff, disponíveis no sítio da Presidência da República na
internet e (ii) a Peça Publicitária “Keep Walking, Brazil – O Gigante Não Está Mais Adormecido”
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da marca de uísques Johnnie Walker, também disponível na internet. Tomamos como aporte teórico
contribuições da Semântica Cognitiva, que trata a metáfora como uma operação cognitivolinguística essencial para nosso entendimento do mundo e, também, a contribuição de estudos
críticos do discurso sobre a questão do contexto enquanto modelo cognitivo. Dentre outros autores,
apoiamo-nos nas pesquisas de Lakoff & Johnson (1980), Lakoff (1987, 1993, 2008) e van Dijk
(2012). Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual fazemos uma análise semântico-cognitiva do
corpus. Utilizamos o método da leitura para o levantamento das metáforas. Esse método é bastante
simples e consiste na leitura atenta do corpus, observando-se as ocorrências que julgamos
metafóricas. Esperamos com os nossos achados demonstrar como os discursos do Governo e da
Mídia têm tratado o Brasil de forma neo-ufanista, termo que cunhamos neste trabalho para nos
referir a uma supervalorização nacional e a um resgate da autoestima brasileira coletiva.
Mostraremos como as metáforas atuam na configuração dos textos investigados e como os
produtores desses discursos conceituam o país através de metáforas.
COMO ESTUDAR AS RELAÇÕES ENTRE A LINGUAGEM E A CULTURA NO
PORTUGUÊS EUROPEU (PE) E NO PORTUGUÊS DO BRASIL (PB)?: FUNDAMENTOS
DA LINGUÍSTICA CULTURAL NO SEIO DA LINGUÍSTICA COGNITIVA
Hanna J. Batoréo – Universidade Aberta de Lisboa
Tal como se vem destacando na literatura linguística das últimas décadas (cf. Faria et al., org.,
1996: 20), as grandes mudanças que têm vindo ultimamente a envolver a Linguística se devem,
sobretudo, à relação, muitas vezes pouco assumida com outras ciências e com as novas tecnologias,
nomeadamente com as Ciências Exactas, as Ciências Sociais e as Ciências Cognitivas. Um destes
encontros interdisciplinares se dá precisamente no caso da Linguística Cultural, quando esta
vertente da Linguística Cognitiva surge claramente assumida nas propostas do fim do século
passado apresentadas por Holland & Quinn 1987, D’Andrade 1987, Anusiewicz 1994, Palmer 1996,
Bernárdez 2000, sendo impulsionada, numa segunda fase, dez anos mais tarde, pelas novas
propostas de Sharifian & Palmer 2007, Janda 2008, Sharifian 2010 e 2011. Todos estes trabalhos
resultam, precisamente, da preocupação em estudar a Linguagem no seu enquadramento cognitivo,
social e cultural, que emerge, sobretudo, do encontro da Linguística com as Ciências Sociais
(Antropologia, Sociologia, Etnografia, entre outras) e as Ciências Cognitivas (Psicologia Cognitiva
e Antropologia Cognitiva), sendo fortemente inspirada pelas Ciência Exactas, sobretudo pelas
Neurociências e a Inteligência Artificial: (Sharifian 2010: 3368) (cf. Batoréo 2000, 2004).
A Linguística Cultural emerge, assim, no seio da Linguística Cognitiva, com particular destaque
para a Semântica Cognitiva de Wierzbicka (1979,1991, 1992, 1996, entre outros), partilhando com
ela o enquadramento teórico-metodológico (cf. Langacker, 1994, p. 31; Palmer, 1996, p. 3;
Sharifian 2011b). Pela Linguística Cultural entendemos, portanto, um ramo da Linguística
Cognitiva que se dedica ao estudo do modo como as línguas naturais, bem como as suas variantes
(como o PE e PB) e os seus dialectos, reflectem e “corporizam” as culturas que veiculam.
Perspectivado deste modo, o nosso entendimento da Linguagem é cognitivo-funcional, social e
culturalmente inserido, conforme defendido globalmente pela Linguística Cognitiva (cf. Silva
2009). Nele, a Linguagem surge como meio de conhecimento em ligação com a experiência
humana do mundo – ou seja, a base pragmática e experiencial da linguagem-no-uso) – sendo
observada e analisada ao nível de línguas particulares usadas em multiplicidade de registos, em
contextos sociais e culturais diferenciados (diferentes níveis e tipos de variação linguística). A
Cultura é pensada, aqui, na dimensão cognitiva das interacções humanas – com grande destaque
para a interacção verbal – , em função dos modelos de percepção, associação e interpretação do
mundo, partilhados pelos intervenientes sociais (dimensão sociolinguística) e guardados na mente
(dimensão psicolinguística). O estudo da rede de ligações e interdependências entre a Linguagem e
a Cultura implica um conceito da Linguagem como um sistema fortemente enraizado na Cultura e
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na vida social, em geral, determinando a comunicação intra e intercultural (i. e., cross-linguistic
studies, na literatura anglossaxónica), bem como o ensino e a aprendizagem das línguas (cf. Silva
2009; Janda 2008: 10-12).
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SIMPÓSIO 54
DESCRIÇÕES FUNCIONALISTAS DO PORTUGUÊS
CONTEMPORÂNEO E SUAS VARIEDADES
De conformidade com Castilho (2010), a língua como substância é um conjunto ordenado de itens
ou classes linguísticas que estabelecem entre si relações e desempenham funções identificáveis
pelos contrastes entre eles. Como sistema, a língua constitui-se num conjunto de unidades
distribuídos em níveis hierárquicos. Numa perspectiva funcional, a colocação dessas unidades no
uso contribui para que elas variem e possam mudar de função frente às necessidades comunicativas
do falante. Diferentes estágios de variação e mudança compõem um continuum no qual determinado
item ou construção assume, consequentemente, multifunções na língua. Em vista disso, este
simpósio tem o objetivo de agregar trabalhos descritivos sobre o Português contemporâneo falado
no Brasil e em outras partes do mundo em que se analisam fenômenos sintáticos como
transitividade, valência, variação na representação do sujeito, objeto anafórico, objeto nulo,
modalidade, evidencialidade, construções de voz, fluidez de categorias como verbos, preposições,
conjunções, pronomes etc. Trabalhos comparativos que envolvem a Língua Portuguesa e suas
variedades ou a Língua Portuguesa e outras línguas também podem ser inscritos no simpósio
proposto.
COORDENAÇÃO
Leosmar Aparecido da Silva
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Elisandra Filetti
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
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USOS EVIDENCIAIS NA FALA GOIANA
Vânia Cristina Casseb Galvão (UFG/CNPQ)
Apresento os resultados do projeto de pesquisa individual (Processo/CNPq 309558/2009-3 / PQ –
2009), vinculado ao Projeto Temático O português contemporâneo falado em Goiás - “Fala
goiana”, que analisou e descreveu o estatuto semântico-sintático e discursivo de evidenciais
derivados do predicado dizer, entre outros, no português contemporâneo falado em Goiás.
Evidenciais são itens lexicais, construções ou operadores gramaticais relativos à fonte do
conhecimento asseverado na proposição. Os postulados teóricos integram a Gramática Discursivofuncional (GDF) (Hengeveld; Mackenzie, 2005, 2006), modelo que dá sequência à Teoria da
Gramática Funcional (GF), proposta por Simon Dik (1989; 1997). Fez-se um cotejo entre a GDF e a
Teoria da Gramaticalização (TG), que busca identificar, descrever e mensurar o grau de
gramaticalidade dos elementos linguísticos, os deslizamentos discursivo-funcionais que usos de
uma mesma forma apresentam na transposição do léxico para a gramática ou, numa visão mais
ampla, para a o discurso (visto como uma unidade interpessoal).Entre os resultados verificados está
o reconhecimento da limitação do modelo da GDF para descrever fenômenos de gramaticalização.
Os usos derivados de dizer realizados na forma [diski], especialmente do tipo, token de narrativa e
indicador de genericidade, por exemplo, ocupam camadas mais altas na organização lingüística,
tomando-se como base o modelo da Gramática Funcional do Discurso, que alocaria esses usos na
camada semântica, representacional. Essa constatação questiona o princípio da unidirecionalidade,
dogma da Teoria Clássica da Gramaticalização, que prevê o desenvolvimento de elementos em
gramaticalização dos usos mais conceituais para mais gramaticais ou mais discursivos,
direcionando-se do nível semântico para o nível pragmático - Interpessoal. Essa mesma
generalização pode ser feita em relação a outros usos derivados de dizer, de função evidencial
lexical, como “Todo mundo diz que”, “Como diz o outro”, “Como diz”, observados na Fala goiana.
Tais constatações reforçam a necessidade de adaptação no modelo da GDF (conforme já adiantado
em Casseb-Galvão, 2011), sugerindo-se a postulação do Nível retórico, superior ao Interpessoal.
OBJETO E SUJEITO: CADA UM COM SEU PRONOME? O DESAPARECIMENTO DO
CLÍTICO ACUSATIVO NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Bianca Fagundes – UNICEUB
Este ensaio traz à tona a noção de “erro” a partir do estudo trazido por Duarte (1989) que expõe
que, no Português do Brasil, os falantes tendem a substituir o Clítico Acusativo por um Pronome
Lexical. Além disso, busca mostrar que a regra imposta pela gramática é débil e não opera com total
eficácia atualmente.
Com este trabalho, pretende-se defender a escrita como uma ferramenta da língua e da
comunicação. Mostrando assim, que o registro escrito deve se aproximar da oralidade dos falantes,
pois não são admissíveis a defasagem e a não representação escrita fiel de uma língua, uma vez que
a proposta da escrita é justamente a representação.
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A FUNCIONALIDADE DAS EXPRESSÕES CRISTALIZADAS FORMADAS COM O
PRONOME SE: UM FENÔMENO EM VIAS DE GRAMATICALIZAÇÃO NO DIALETO
GOIANO
Déborah Magalhães de Barros – UEG
Segundo as normas da Gramática Tradicional, o pronome clítico deve ser empregado em
determinados contextos a fim de expressar a noção de reflexividade da ação do verbo sobre o seu
sujeito sintático. Contudo, observa-se que no português brasileiro, em algumas regiões do Brasil,
está ocorrendo uma alta incidência de não uso do pronome em função reflexiva. No dialeto goiano,
o não uso do pronome nas situações em que a Gramática Tradicional solicita é altamente recorrente,
indicando um processo de mudança acelerado. A partir de pesquisa de Barros (2011) verificou-se
que a regra no dialeto goiano é a não marcação pronominal e os dados mostram fortes indícios de
implementação da regra zero para o pronome em contextos exigidos. Por outro lado, a marca
pronominal aparece em outros contextos altamente marcados, dentre eles estão as “expressões
cristalizadas”. Construções, como “dane-se”, “e vire”, “se manda” e outras, integraram o grupo
classificado como “Expressões Cristalizadas”. As “Expressões Cristalizadas” são construções que
sempre se apresentam com a presença do pronome clítico, e nelas não é possível perceber ou
analisar os seus constituintes (verbo e pronome) de modo isolado. Eles assumem um significado
conjunto na expressão, assinalando um processo de gramaticalização, fato que pode justificar o
favorecimento do uso da expressão na língua falada do dialeto goiano uma vez que ela pode assumir
novos significados discursivos que são produtivos e funcionais para o aspecto interacional. Dessa
forma, esta pesquisa pretende verificar quais os indícios de gramaticalização nessas expressões e
qual a funcionalidade do emprego delas. Os pressupostos teóricos que sustentam este estudo estão
na Teoria de Gramaticalização, especialmente o que consta em Heine, Claudi e Hünnemeyer
(1991), Traugott (1993, 2003), Bybee, Perkins e Pagliuca (1994), Hopper (1991, 1996) e na
Gramática de Construções de Goldberg (1996, 2006), Croft e Cruse (2004) e Croft (2007). O corpus
é constituído de dados do Projeto “O português contemporâneo falado em Goiás - Fala goiana”.
Analisamos trechos de falas de homens e mulheres com até 7 anos de escolaridade
UMA PROPOSTA FUNCIONALISTA PARA OS OBJETOS IMPLICITOS NO
PORTUGUES FALADO EM GOIAS
Elisandra Filetti – UFG
A presente comunicação tem por objetivo discutir os usos de objetos implícitos no português falado
em Goiás sob o arcabouço da Gramática Funcional de Dik (1989, 1997) e da Gramática Discursivo
Funcional, de Hengeveld e Mackenzie (2008). Partindo do princípio de que o uso revela o
funcionamento da gramática de uma língua, sujeito a variações oriundas das necessidades
comunicativas do falante, é que nos propomos a discutir as ocorrências de apagamento de objeto
como fenômeno de intereface dos níveis morfossintático, representacional e interpessoal.
O sistema da língua é dinâmico por natureza e, sendo assim, toda a organização léxico-sintática,
semântico-pragmática se mobiliza para estabelecer estruturas valenciais que venham realizar, por
fim, as intenções comunicativas dos falantes. O trabalho aqui apresentado se desenvolve a partir dos
dados coletados do Português Goiano Falado (Projeto Fala Goiana, 2010) desenvolvido pelo
Grupo de Estudos Funcionalistas – GEF, da Universidade Federal de Goiás/UFG.
Pretendemos discutir como os apagamentos de objeto se realizam num contexto mais amplo que o
de estruturas frasais, de modo a entendermos como falante/ouvinte constroem o sentido de tais
categorias, considerando-se, principalmente, as retomadas referenciais de tais objetos, os
encadeamentos de sentido que permitem a recuperação e interpretação de objetos implícitos no
português brasileiro falado. Em vista disso, torna-se necessário investigar o papel dos objetos
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implícitos, sob uma perspectiva interacional de linguagem, que analise como esses “apagamentos”
tornam produtivos e salientes o fenômeno dos objetos implícitos. Para a análise de tais objetos,
recorremos aos critérios estabelecidos por Dik (1989), Hopper e Thompson (1980; 2001) e García
Velasco e Portero Munõz (2003), entre outros, cujas pesquisas têm buscado elucidar a influência de
aspectos pragmáticos, interacionais na produção e recepção de objetos implícitos nas línguas,
objetivo estendido também ao presente trabalho. É importante salientar que estão envolvidos no
processo de interação funções da linguagem, a fluidez das categorias linguísticas, os papéis
semânticos desempenhados pelas formas gramaticais, a relação tópico-foco, entre outras. Nesse
sentido, considera-se, sobretudo, que o fenômeno de transitividade implica um movimento
gramatical que enreda intencionalidade, natureza verbal, papéis semânticos, bem como condições
pragmáticas e interacionais que recaem sobre toda a estrutura argumental. Essas necessidades, de
cunho pragmático, determinam a moldura de um ato de fala que, segundo Mackenzie e Hengeveld
(2002), constitui a unidade de análise da gramática numa camada superior à da oração,
evidenciando a ocorrência dos fenômenos linguísticos também no nível interpessoal, pragmático.
Compreender como as ocorrências de objetos implícitos são motivadas, discursivamente, assim
como os graus de transitividade, no nível pragmático-discursivo, é uma questão que emoldurará esta
pesquisa, observando, assim, que processos são oriundos do sistema linguístico e quais estratégias
comunicativas interferem na transitividade verbal e no sistema de objetos do Português do Brasil. É
o uso a dimensão responsável por aquilo que o falante faz da língua ao ilustrar, por exemplo, suas
necessidades expressivas como narrar acontecimentos, alterar a transitividade de maneira a refletir
linguisticamente sobre suas experiências no mundo.
O USO DE INTENSIFICADORES E ATENUADORES COMO ESTRATÉGIAS DE
POLIDEZ
Erika Hoth Guerra Sathler – UnB
O objetivo deste trabalho é investigar o uso de intensificadores e atenuadores como estratégias de
polidez. O estudo se baseia em teorias da Pragmática, principalmente na teoria de Polidez
desenvolvida por Brown e Levinson ([1978] 1987), nos princípios pragmáticos propostos por Leech
(1983) e nos estudos de Kerbrat-Oreccioni (2005). Foram analisados eventos festivos com número
reduzido de participantes, realizados em restaurantes ou na casa dos colaboradores.
Metodologicamente, o estudo se vale da tradição etnográfica e utiliza como técnicas de geração de
dados a observação participante e o grupo focal. Os participantes foram selecionados a partir de
contatos pessoais e profissionais da pesquisadora. A análise mostrará que há diferença significativa
em relação ao uso de estratégias de polidez pelas diferentes gerações envolvidas no estudo. Os
resultados deste estudo apontaram que as gerações mais velhas utilizam mais atenuadores e
intensificadores como estratégias de esquiva, enquanto as gerações mais novas não se valem tanto
dessas estratégias. As diferenças podem ser explicadas pelas relações sociais que se estabelecem de
modo diferente em cada geração. Enquanto os contatos sociais nas gerações mais velhas são
marcados pela deferência e pela valorização das faces dos interagentes, nos relacionamentos sociais
entre as gerações mais novas não há tanta preocupação com a manutenção de faces.
A ORDENAÇÃO DE CONSTITUINTES NÃO-HIERÁRQUICOS DO NÍVEL
REPRESENTACIONAL EM PORTUGUÊS
Erotilde Goreti Pezatti – UNESP/SJRP
Sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional (Hengeveld e Mackenzie, 2008), que se
caracteriza por considerar muito seriamente o fato de que os enunciados são produzidos e
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entendidos no contexto, já que a intenção do falante não surge em um vacuum, mas sim em um
multifacetado contexto comunicativo, este estudo tem como objetivo descrever a ordenação de
constituintes da predicação nuclear (Dik, 1997). A Gramática Discursivo-Funcional considera que,
para explicar a linearização de constituintes em português, é necessário considerar três posições
básicas, denominadas PI, para a posição inicial, PM, posição medial e PF para a posição final, e
várias posições relativas derivadas dessas três. As duas posições periféricas (PI e PF) são
psicologicamente salientes, enquanto a posição medial é menos saliente e depende do número de
constituintes que uma oração pode conter. As posições relativas (PI+n, PM+/-n e PF-n) só podem
ser preenchidas quando a posição absoluta já estiver preenchida, como em: PI PI+1 PI+n PM-n
PM-1 PM PM+1 PM+n PF-n PF-1 PF Partimos da hipótese de que a posição PM e suas relativas
são reservadas para os constituintes não hierárquicos – o predicado e seus argumentos –, ficando as
posições PI e PF reservadas para constituintes com funções pragmáticas e para os operadores e
modificadores das diferentes camadas do Nível Interpessoal e do Representacional. Como universo
de pesquisa, tomam-se ocorrências reais de uso, extraídas do corpus oral organizado pelo Centro de
Linguística da Universidade de Lisboa, em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e a
Universidade de Provença-Aix-Marselha, que recebe o nome de “Português oral” e desenvolveu-se
no âmbito do Projeto “Português Falado: Variedades Geográficas e Sociais”, do qual resultou um
corpus de amostragens de variedades do português falado. Os resultados revelam que a posição PM
e suas relativas abrigam a predicação nuclear, com o predicado assumindo sempre a posição
absoluta PM. Os constituintes argumentais são colocados à direita de PM, e só mudam de posição
se houver interferência da dimensão pragmática, como a atribuição de função Tópico (PI) ou Foco
(PF) a um constituinte, ou seja, vai depender do molde de conteúdo escolhido pelo Falante – Tético,
Apresentativo ou Categorial –, na formulação da Expressão Linguística, para o alcance do objetivo
comunicativo. CNPq (Proc. 301210/2009-8); CAPES (Proc. 5784/10-7).
AS MODALIDADES FACTUAL, CONTRAFACTUAL E EVENTUAL COMO
POSSIBILIDADES DE COMPREENSÃO DO MODO SUBJUNTIVO
Graziela Jacques Prestes – UFRGS
Com base, sobretudo, na Teoria do Tempo Relativo e nas modalidades proposicionais factual,
contrafactual e eventual (Neves & Souza, 1999; Neves, 2000), Prestes (2003) encontrou um
determinado padrão para o funcionamento do Pretérito Imperfeito do Subjuntivo (PIS). A partir de
corpus de língua escrita, verificou-se que PIS factuais tendem a ocorrer com eventos que expressam
tempo passado (A novidade fez com que ganhasse corpo a ideia de...), contrafactuais, com eventos
presentes (Não estivéssemos numa crise de liquidez...) e eventuais ou hipotéticos, com eventos
futuros (Talvez os índios achassem até graça se extraterrestres viessem à Terra como amigos...).
Em Prestes (2011 e 2012a), apresentaram-se sugestões sobre como o tema poderia ser trabalhado
em sala de aula. Em Prestes (2012b), com novo corpus, também de língua escrita, verificou-se
novamente que PIS contrafactuais tendem a indicar eventos presentes; porém, dessa vez, valendo-se
da subdivisão das contrafactuais em nômicas e anômicas, conforme Bunge (2010), pôde-se entender
mais nitidamente a organização das contrafactuais que expressam tempo passado ou futuro. As
nômicas são aquelas cuja proposição sugere apenas um não-fato, enquanto as anômicas são aquelas
cuja proposição sugere um não-fato e um fato. Respectivamente, são exemplos (a) “Se não fosse
pelos cartazes lituanos, ninguém diria que era um bar da colônia”, cujo não-fato é “é pelos
cartazes”, e (b) “Se tivesse, porém, de dizer qual deles mais me enternece, escolheria o
primogênito”, cuja proposição sugere tanto o não-fato “não tenho de dizer” quanto o fato “estou
dizendo”. As contrafactuais nômicas com PIS tendem a indicar eventos presentes ou passados,
enquanto as contrafactuais anômicas com PIS tendem e indicar eventos presentes ou futuros. Tais
resultados revelam, significativa e essencialmente, a constituição semântica do PIS pelos elementos
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temporais e modais, o que pode vir a ser um caminho para pesquisas futuras sobre os demais
tempos verbais do modo subjuntivo.
CONSTRUÇÕES INCETIVAS NO PORTUGUÊS EUROPEU
Henrique Barroso – Universidade do Minho
São objetivos desta comunicação: (i) proceder, em primeiro lugar, à identificação e breve
caracterização das formas perifrásticas que focalizam o limite inicial de uma situação, isto é, das
construções de incetivo, tais como (mas há mais) começar a, principiar a, desatar a, deitar a,
largar a, romper a, meter-se a, pôr-se a, ficar a, passar a; (ii) investigar, depois, o seu estatuto de
operadores (aspetuais), ou seja, a sua capacidade de alterar os valores aspetuais básicos dos
predicados. Por exemplo, começar a, que se combina preferencialmente com eventos (processos e
processos culminados) e estados faseáveis, transforma-os, ao atuar como operador, em eventos
pontuais; (iii) perscrutar, por fim, a sua combinatória, tanto morfo-sintática quanto semânticolexical. O corpus, para esta análise, é constituído por material lingüístico autêntico, recolhido
predominantemente na imprensa escrita e em textos literários.
A DIFERENTE FUNÇÃO ARGUMENTATIVA DOS APOSTOS E DAS ORAÇÕES
ADJETIVAS EXPLICATIVAS COMO MAIS UM FATOR A DIFERENCIÁ-LOS
Érica Portas - UERJ
Nara Soares - UERJ
Em primeiro lugar, vamos ver o que defendem os pragmaticistas: “linguistas que se dedicam a
estudar a língua não como sistema autônomo, mas por meio de seu funcionamento em situações
concretas de uso. Sob essa perspectiva, o texto passa a ser visto como o lugar entre sujeitos sociais.”
Este trabalho tem por objetivo analisar a relação, em casos estritos, entre texto e contexto de
estruturas apositivas e de estruturas subordinadas adjetivas explicativas, e, consequentemente, as
funções argumentativas dessas, motivadas pela intenção do autor.
Para tanto, artigos da revista VEJA foram utilizados, nos quais pudemos selecionar cláusulas
apositivas e orações adjetivas explicativas introduzidas por verbos denominados de cópula, a fim de
supor que essa estrutura funcionará como uma função argumentativa diferente da função do termo
aposto.
Destarte, parece-nos que os autores dos corpus estudados, ao fazer uso de estruturas apositivas,
pretendem dar foco ao fundamental; ao passo que, ao fazer uso de orações adjetivas explicativas,
parece-nos pretender dar mais ênfase às informações que essas relacionam por meio das
características semânticas que os verbos de ligação alcançam e do predicador.
O objetivo do escritor diante de seus estímulos determina a escolha de uma ou outra estrutura.
Então, o presente artigo aponta a diferença pragmática, através do reconhecimento de estratégias
argumentativas, de seus usos, constatando, por meio deste trabalho, que além de sintaticamente, o
aposto e a oração subordinada explicativa são, ainda que semanticamente próximos, pela óptica da
pragmática, nesses casos analisados, elementos diferentes.
Logo, observamos que estudos funcionalistas, que apoiam-se na tese de que a função explica a
forma, preocupando-se com a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes
contextos comunicativos em que elas são usadas, generalizam a classificação dessas estruturas, sem
levar esses contextos de que falam em consideração.
Com isso, esperamos propor um novo olhar para esses elementos, de modo a entendê-los sob as
suas diferentes particularidades discursivas e estruturais.
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O SINCRETISMO PRONOMINAL DA 2ª PESSOA DO SINGULAR NO PORTUGUÊS
POPULAR DO INTERIOR DE SÃO PAULO – UMA DISCUSSÃO SOCIOCOGNITIVA DA
LINGUAGEM
Ivanilde da Silva – USP
O presente trabalho tem por objetivo primeiro apresentar o sincretismo pronominal existente no
paradigma da segunda pessoa do singular nas formas tu e você nas funções sintáticas de sujeito,
complementos (átonos e tônicos) e possessivos no Português Popular Falado Interiorano de São
Paulo. Parti do pressuposto funcionalista de que o uso molda a estrutura linguística e que estes
pronomes relacionados à segunda pessoa do singular estariam em variação a depender de fatores
internos e externos à língua como já evidenciados em trabalhos que analisaram a variação entre tu e
você em diversas regiões brasileiras (Cf.: PENKAL, 2004; ARDUIN, 2005; MODESTO, 2006;
LUCCA, 2006; MARTINS, 2010), podendo assim provocar combinações das mais diversas em
funções sintáticas diferentes não descritas pela tradição gramatical (Cf. BECHARA, 2001), mas
evidenciadas também em estudos diacrônicos como os de Lopes (2006), Lopes e Machado (2005),
Rumeu (2008) e Lopes e Cavalcanti (2012) e que atualmente fazem parte do repertório linguístico
dos falantes do Português Brasileiro (PB). Procurarei, sobretudo, observar a maneira pela qual este
sincretismo pronominal se constrói na fala de pessoas com baixa ou nenhuma escolaridade,
mostrando com bases teóricas e metodológicas da Sociolinguística Variacionista (Cf. LABOV,
1972) e teorias cognitivas (modelos baseados no uso) padrões linguísticos em uso. Para isso fatores
linguísticos, sociais e cognitivos serão abordados a partir das teorias e metodologias já
mencionadas, tentando incorporar nos estudos da linguagem de base cognitiva, concebidos como
modelos baseados no uso, a noção quantitativa de análise de dados, o corpus representativo de fala
real e a noção de multivariação de fatores como os estilísticos (ambiente sociocultural). Segundo
Silva (2008), fatores estilísticos como os usos de senhor/senhora, por exemplo, dizem respeito aos
usos sociais desses termos, além disso, trazem também a importante noção abordada por Eckert
(2012) que o falante é um agente estilístico natural, pois o falante ao falar sobre o mundo e no
mundo tem muito o que dizer (sabe muito de tudo que fala) para quem dizer (precisa do outro para
falar/ouvinte/ato colaborativo) e porquê dizer (intenção para atingir o ouvinte), necessitando antes
de tudo de MODELO COGNITIVO, construído, compartilhado e organizado para apreender as
coisas do mundo a partir de experiências humanas associadas ao pensamento e à linguagem,
construindo assim significados em movimento contínuo que são incorporados durante a interação
social, levando esta presente discussão a uma abordagem sociocognitivista da linguagem. Além
disso, enfatiza a importância do contexto rico e dinâmico nos processos de significação social ou na
construção dos sentidos e o aspecto social da cognição humana.
A CONSTRUÇÃO DA IMPERATIVIDADE E A CONFIGURAÇÃO MODAL NO
DISCURSO PUBLICITÁRIO.
Izac Vieira Chaves – PG/UFG
Este trabalho, baseando-se na teoria funcionalista da linguagem, descrita como sendo aquela que
volta a atenção para os aspectos funcionais, situacionais, contextuais e comunicativos no uso da
língua e que concebe a linguagem como instrumento de interação social, apresenta algumas
reflexões a respeito do uso do modo imperativo no discurso da publicidade. A ideia é verificar a
funcionalidade das diferentes formas de realização do uso desse modo, principalmente seu uso de
forma implícita, além dos efeitos de sentido que esses usos provocam. Nossa hipótese é a de que o
modo extrapola as regras e as indicações de ocorrências descritas pela tradição, construindo, assim,
a imperatividade. Parte-se do pressuposto de que no nível interpessoal descrito por Hengeveld
Mackenzie; (2008), como o nível que lida com todos os aspectos formais de uma unidade
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linguística, que refletem o seu papel na interação entre o orador e o destinatário, o uso do
imperativo configura-se como estratégias retóricas, pragmáticas e ilocucionárias, em outras
palavras, trata-se de uma estratégia constituidora da relação falante/ouvinte, no nosso estudo,
especificamente, relação anunciante/potencial comprador. Em termos retóricos, Perelman; Tyteca
(2005) nos dizem que para argumentar, para que haja a adesão do interlocutor, é preciso usar
estratégias argumentativas, para que haja um consentimento desse interlocutor nessa participação
mental. O que o corpus nos mostra é que as formas implícitas de imperativo tem sido recorrentes e
superiormente utilizadas. Perelman; Tyteca (2005) argumentam ainda que os seres desejam que não
lhe ordenem mais, que lhes ponderem que se preocupe com suas reações, que os considere como
membros importantes de uma comunidade. Nesse sentido, o discurso de publicidade se arma de
uma gama de instrumentos, procurando agir discursiva e pragmaticamente no grupo consumidor,
atingindo e prometendo cumprir cada um de seus desejos.
FALA GOIANA: AS CONSTRUÇÕES DE VOZ E A PERSPECTIVIZAÇÃO DAS
REPRESENTAÇÕES DO LOCUTOR
Lennie Aryete Dias Pereira Bertoque – UFMT/PG-UFG
Este trabalho objetiva apresentar as construções de voz, no Português Brasileiro (PB), analisando a
organização e a funcionalidade das construções em dados da fala goiana, considerando os vários
pontos de vista do locutor. Esse trabalho é de cunho funcionalista e, portanto, o fenômeno “voz” é
analisado na inter-relação entre os domínios pragmático, semântico e sintático, com base nos
estudos de Dik (1997 [1989]), de Givón (1990, 1994), de Camacho (2006), de Keenam e Dryer
(2007[1985]), de Bertoque (2010), entre outros. O corpus analisado faz parte do banco de dados do
projeto “Português contemporâneo falado em Goiás – Fala Goiana”, desenvolvido pelo Grupo de
Estudos Funcionalistas da Universidade Federal de Goiás, que tem descrito e estudado a fala do
goiano, numa perspectiva funcionalista da linguagem. No estudo das construções de voz, o que, de
fato, determina a organização linguística é a perspectivização (o ponto de vista que o enunciador
apresenta) para produzir um determinado efeito de sentido (ainda que não seja uma atitude
intencional). Com base nisso, os dados analisados têm mostrado que algumas construções não são
produtivas para que os falantes goianos entrevistados pudessem expressar seus pontos de vista e
isso está relacionado também com as características discursivas que constituem a atividade
interativa dos temas abordados nas entrevistas (família, saúde, morte, política, etc.). Na análise,
consideramos também a noção de figura e fundo. Nos dados analisados, a voz passiva prototípica
teve uma ocorrência pequena e a voz ativa se mostrou mais produtiva para enfatizar a argumentação
do falante. A recorrência da voz ativa se dá com base no princípio da iconicidade, no qual o falante
tende a transferir para a estrutura linguística, aspectos correspondentes ao mundo extralinguístico,
como a ordem dos acontecimentos, o que também permite dar relevo ao tópico, que tende a ser o
próprio entrevistado que fala de si (a construção ativa permite que o entrevistado fale de si, partindo
sempre de si - relação sociocognitivista). Quando o entrevistado precisa expressar um sujeito
sintático afetado (noção de passividade), a construção usada é a média e não a passiva prototípica,
isso é possível por causa dos aspectos semânticos dos verbos. O estudo das construções de voz, na
fala goiana, ajudará a compreender a organização linguística e a perspectivização do falante de PB.
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DESLIZAMENTOS FUNCIONAIS DE VERBOS DE PERCEPÇÃO NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Leosmar Aparecido da Silva – UFG
A perspectiva cognitivo-funcional da linguagem, dentre outras questões, trabalha com a maneira
como o falante apreende, armazena, produz expressões linguísticas e, em diferentes situações,
utiliza-as criativamente. Nessa perspectiva, acredita-se que tais atividades são possíveis porque o
falante toma por base aquilo que está no seu derredor: primeiramente a sua constituição física e
também elementos que compõem a sua cultura. Esta comunicação tem o objetivo de mostrar alguns
resultados de pesquisa em que foram analisados os deslizamentos funcionais dos verbos de
percepção ver, olhar, ouvir, escutar, saborear e provar. Foram utilizados dados de fala do Projeto
Fala Goiana e de outros corpora como o do PEUL, do Grupo Discurso & Gramática, da Internet e
um Corpus Não Sistematizado. A escolha desses verbos está relacionada ao fato de que os sentidos,
principalmente aqueles que se localizam na cabeça/face (visão, audição, paladar) constituem
sistemas de percepção básicos para o ser humano, por isso, é de se esperar que sejam fornecedores
de esquemas e imagens para a formação de conceitos e o desempenho de funções variadas nas
línguas. Como resultado, percebeuse que grande parte dos conceitos abstratos formados pelos
falantes do Português Brasileiro a partir dos verbos anteriormente citados tem origem nos corpos
específicos dos falantes. Verificou-se também que os verbos de percepção assumem tanto a função
de verbos plenos quanto funções gramaticais e discursivas.
ORALIDADE NA LÍNGUA ESCRITA COMO ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO TEXTUAL:
SITUAÇÕES DE USO DO PRONOME PESSOAL DE TRATAMENTO “VOCÊ”
Márcia de Souza Luz-Freitas – UNIFEI
Estudos diacrônicos apresentam análises das transformações mórficas do pronome pessoal de
tratamento você. Estudos sobre referenciação também exploram as mudanças de forma observadas.
Poucos deles, entretanto abordam tais transformações considerando-se as práticas sociais de
linguagem que as propiciaram. Tem-se, como pressuposto, no estudo que gera esta comunicação,
que, para além do campo mórfico e dos processos de referenciação, esse pronome, no português
falado (a análise recai sobre o português do Brasil - PB), é marca discursiva conversacional de forte
apelo dialógico. Pela observação de situações de uso desse pronome em substituição ao que, a
Gramática Normativa caracteriza como indeterminação do sujeito, é possível afirmar que há um
processo de gramaticalização do vocábulo, por meio de recategorização, decorrente dos
mecanismos interacionais da língua falada. Dessa forma, a fundamentação teórica que norteia a
discussão assenta-se em uma perspectiva sociointeracionista, reunindo estudos sobre
gramaticalização e oralidade em textos escritos. Constitui o corpus um artigo de opinião publicado
em jornal de larga projeção no cenário brasileiro. Objetiva-se, principalmente, abordar a ocorrência
do fenômeno da oralidade na língua escrita como estratégia discursiva de personalização em
enunciado aparentemente impessoal, dada a característica peculiar de interlocução instaurada no
texto analisado. Diferentemente de outros gêneros textuais marcados pela presença do oral, a
expectativa em relação ao gênero textual “artigo de opinião” é que este se construa em
conformidade com a norma culta da língua na modalidade escrita. O que se conclui é que, para
atender ao propósito discursivo, o autor do texto usa marcas da oralidade somadas ao conteúdo
explorado para evidenciar sua intenção de negar a competência de um suposto interlocutor que,
ressalta-se, não é o interlocutor esperado como leitor. Assim, pode-se afirmar que aspectos
morfossintáticos e semânticos resultantes das relações do continuum estabelecido entre língua
falada e língua escrita contribuem para a dimensão discursiva de determinadas práticas sociais de
linguagem.
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A MULTIFUNCIONAL IDADE DO ITEM LINGUÍSTICO ONDE NOS TEXTOS
JURÍDICOS: UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA
Tadeu Luciano Siqueira Andrade – UCSAL/UNEB
A Linguagem jurídica tem um caráter peculiar, que constitui um dado de toda e qualquer linguagem
especial. Analisando o emprego do ONDE me petições, denúncias, despachos, sentenças entre
outros textos jurídicos, percebemos uma grande escala dos usos desse item linguístico em tais
textos. Trata-se, portanto, de uma análise à luz da gramática funcional, tendo como ponto de partida
a noção de uma gramática emergente (Hopper) que a considera sempre em processo de criação e
renovação, emergindo das necessitadas discursivas do falante. Sabemos que o uso do ONDE, no
português brasileiro, está cada vez mais se distanciando da norma prescritiva, fato que comprova a
migração desse advérbio para outras categorias gramaticais, passando por um processo de
metaforização e abstratização, conforme verificamos em trabalho de Andrade, (2009), Portela
(2001), Oliveira (1997), Coelho (2000) e outros. Considerando que no latim o item linguístico
ONDE já apresentava várias funções, investigaremos se tais funções nos usos atuais consistem em
uma inovação de formas já existentes ou de um uniformatirismo na perspectiva de Labov, dando-se
por intermédio de retomadas de termos já usados no Direito romano, aplicando-os ao direito atual,
que teve como fonte o direito romano. Este trabalho está dividido em quatro partes: (i) a etimologia
do ONDE no latim e sua mudança para o português (ii) o ONDE nas gramáticas: entre advérbio e
pronome; (iii) funcionalismo linguístico: teoria e métodos; (iv) análise do comportamento funcional
do onde nos textos jurídicos. Este estudo se fundamenta nos estudos de Neves (1999). Martelotta
(2000), Furtado da Cunha (2000) Andrade (2009), Tavares (2008) e adota os pressupostos teóricometodólogicos da linguística funcional.
NUNCA VI NÃO: ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS DE NEGAÇÃO NA REGIÃO OESTE
NA BAHIA.
Zoraide Magalhães Felício – UNEB
Nesta dissertação, analisamos as estratégias discursivas de negação presentes no falar do oeste
baiano, especificamente na cidade de Barreiras. O foco deste trabalho é o estudo do uso do item
nunca que se apresenta com uma semântica ainda fora da pauta das análises linguísticas
contemporâneas. O objetivo é interpretar o processo de mudança semântica que envolve esse item e
também indicar as implicações discursivas desse processo. O quadro teórico foi composto pela
associação de postulados do Funcionalismo Linguístico, quais sejam os princípios funcionalistas
marcação e iconicidade, a gramaticalização e também a semântica argumentativa. Reforçamos que
o foco central e orientador da pesquisa é funcionalista e que a concepção de língua na qual esta se
ancora é aquela que prevê sua manipulação pelo falante. Optar por este foco obrigou-nos à
concatenação de vários aspectos desta teoria, quais sejam: os princípios de identificação do
processo de gramaticalização; princípios subjacentes a esse processo: iconicidade e marcação; e a
gênese cognitiva representada pela metáfora e metonímia aliados à teoria multissistêmica da
linguagem. Para a realização desta pesquisa, foram analisadas quarenta ocorrências coletadas por
meio de observações informais. Após mapear as ocorrências do nunca, observamos as possíveis
funções desse item. Os resultados mostraram a multifuncionalidade semântica do item em estudo.
Concluímos este trabalho mostrando que o item nunca inicia um processo de mudança, uma vez que
migra de uma função gramatical para uma função mais gramatical, ou de um domínio tempo para o
domínio da negação e assume no discurso papéis diferenciados de sua função primária.
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A CORRELAÇÃO ENTRE O CONTEXTO DE ORIGEM E O CONTEXTO DE USO DE
UNIDADES FRASEOLÓGICAS
Maurício Moreira Cardoso – UECE
O presente artigo é uma análise que leva em consideração a relação discursiva entre o
contexto/significado de origem de unidades fraseológicas e o seu uso atual. À primeira vista parece
bastante claro o propósito da aplicação dos conhecimentos até agora obtidos sobre a Fraseologia, no
ensino de língua estrangeira. Mas o que dizer do uso dos conhecimentos que se tem sobre
fraseologia na formação de habilidades de composição textual e na caracterização do estilo no
âmbito da escrita? Neste estudo, procuramos verificar se associação próxima com o
contexto/significado de origem de unidades fraseológicas atualmente usadas gera algum efeito
discursivo que possa ser considerado em relação à aquele uso de unidades fraseológicas semânticocontextualmente vazias da motivação original. No tocante aos procedimentos metodológicos
utilizados no presente trabalho, trabalhamos da seguinte forma. Como primeiro passo fizemos a
seleção das bases teóricas que apoiaram as discussões que queremos fazer acerca das hipóteses
acima mencionadas. Em um segundo momento, pinçamos algumas unidades fraseológicas
constantes em dicionários de fraseologia disponíveis em Língua Portuguesa. Para cada UF (unidade
fraseológica), fizemos uma busca em textos digitais utilizando a ferramenta de busca
www.google.com.br. Coletamos o texto em que há ocorrência de UFs selecionadas. Como terceira
medida, verificamos a origem e a significação da UF para a qual há ocorrência (artigo jornalístico,
textos de um modo geral) e procuramos pistas contextuais que evidenciem, ou não, a ligação da UF
em uso com seu significado e contexto de origem. Como quarto procedimento, discutimos os dados
resultantes – sejam aqueles dados que demonstrem afirmativamente a relação acima mencionada,
sejam aqueles que evidenciem a ausência dessa relação. As bases teóricas que selecionamos
consistem, fundamentalmente, em Hausmann (1990) e Molina (2007). A análise que fizemos aponta
para o fato de que a relação de proximidade semântica – contexto de origem/contexto de uso – gera
possibilidades retórico-discursivas consideráveis em relação ao distanciamento semântico da
referida relação.
O USO DE VOCÊ EM CONTEXTOS DE FORMALIDADE
Juliana Batista do Prado – UnB
Paulo Ricardo Dias Fernandes – UFG
A variação entre as formas pronominais do português do Brasil (PB) tem sido amplamente
discutida. É de conhecimento geral a existência de diversas formas de tratamento entre as pessoas
nos diferentes contextos de conversação e ainda são frequentes as variações entre pronomes de
categorias distintas (pessoal/tratamento) para fazerem referências a uma mesma pessoa do discurso.
Segundo Câmara Jr. (1977), o tratamento é “a forma por que se designa o ouvinte numa
comunicação oral ou escrita”. O presente trabalho analisa o pronome você em um contexto histórico
- desde Vossa Mercê - e formal de interação, a partir de uma sessão em um Tribunal do Júri. Tratase de situação interacional que possui regras relacionadas à hierarquia na interação verbal e,
consequentemente, tem suas situações orais caracterizadas por condições específicas que
configuram tal modelo. A partir da gravação da sessão e análise dos dados, identifica-se na situação
sociodiscursiva os aspectos que motivam a escolha dos interlocutores pela forma você, baseada em
definições de conceitos – como pronome, nível de formalidade, polidez, estilo, variação cultural,
relação interpessoal dos interactantes, entre outros – de autores como Coupland (2007), Bechara
(2009), Cunha e Cintra (2008), Sandig e Selting (1997), Irvine (1978) Loregian-Penkal (2004), Said
Ali (1964), Kerbrat-Orecchioni (2006), Tannen (1997), Gumperz (2007), Goodwin e Duranti
(1992), Van Dijk (2012). Partindo de uma análise dentro da Sociolinguística Interacional que
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abrange vários tópicos presentes nas interações verbais relacionados aos contextos de formalidade,
este trabalho evidencia as razões do uso de você como pronome de tratamento que faz referência à
segunda pessoa do discurso. A pesquisa enquadra-se na perspectiva da Sociolinguística
Interacional, com contribuições da Pragmática e da Análise de Discurso. Seguiu orientação
etnográfica e utilizou também a Análise da Conversação para transcrição de dados.
ESTRUTURAÇÃO E FUNCIONALIDADE DE MANCHETES INTERROGATIVAS DE
CAPAS DA REVISTA VEJA
Neide Domingues da Silva – UFG
Nesta pesquisa, investigaram-se a estruturação e funcionalidade do gênero discursivo Manchete de
Capa da Revista Veja (MCRV), mais especificamente das manchetes constituídas a partir de uma
forma interrogativa. Para isso, recorreu-se à Gramática Funcional, com base, principalmente, em
Dik (1997), Halliday e Matthiessen (2004), Neves (1997, 2000, 2002, 2006, 2010), Borba (1991,
1996) e Perini (2008). A partir do Funcionalismo, a gramática está a serviço de gêneros, os quais
servem às necessidades humanas de interação. Assim, pressupõe-se uma confluência entre fatores
sintáticos, semânticos e pragmáticos na composição de uma MCRV. Consideram-se as
especificidades desse gênero a partir da relevância das informações pragmáticas de um leitor
presumido, que interferem na seleção e ordenação de constituintes pelo redator. O corpus de
pesquisa corresponde a 2233 manchetes de capa publicadas entre 11 de setembro de 1968 e 7 de
setembro de 2011 pela Revista Veja. Foram selecionadas 205 MCRV a partir do uso de formas
interrogativas, dentre elas, como, por que, o que, quem, categorizadas por Dik (1997a, p. 328) como
open forms (formas aberta). As manchetes analisadas foram coletadas em ambiente virtual a partir
das edições da revista digitalizadas e disponibizadas em página específica pela Editora Abril. Do
ponto de vista ilocucionário, verificou-se que, apesar do uso de formas interrogativas, ocorreu a
ilocução declarativa, em que não se usa o ponto de interrogação, em 90% (184/205) das manchetes
analisadas. Essa recorrência sugere que, em MCRV, predomina a força ilocucionária assertiva por
meio da qual se pretende afirmar, asseverar. Verifica-se a funcionalidade dessas formas
interrogativas no “contexto de situação” (HALLDAY, 1978, p.143, apud NEVES, 2010, p.78)
midiática, considerando-se que são usadas por um redator que acumula os papéis discursivos de
perguntante e respondente. Em outras palavras, essas perguntas são pseudoperguntas, pois o redator
não espera uma resposta por parte do leitor. Na verdade, o redator presume uma pergunta do leitor e
a materializa em forma de MCRV. Desse modo, nesta pesquisa, comprova-se que a organização
sintática, semântica, bem como, a instauração de forças ilocucionárias vinculam-se, sobretudo, a
fatores discursivos e cooperam para a produção de sentidos.
MARCADORES DISCURSIVOS DERIVADOS DOS VERBOS “OLHAR” E “VER”
– UMA ASSOCIAÇÃO ENTRE AS ABORDAGENS DA SOCIOLINGUÍSTICA
VARIACIONISTA E DA GRAMATICALIZAÇÃO DE CONSTRUÇÕES
Lauriê Ferreira Martins (UFJF)
O presente trabalho tem como objeto de estudo os marcadores discursivos (doravante, MDs)
derivados dos verbos de percepção visual “olhar” e “ver”, que, em sua configuração construcional,
apresentem a forma imperativa. Dessa forma, nos baseamos nos pressupostos da Sociolinguística
Variacionista (LABOV, 2009 [1972]; WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006 [1968]) e da
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gramaticalização de construções (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009, 2012). Para tanto,
partimos de estudos anteriores de Rost Snichelotto (2004, 2009, 2011) acerca do funcionamento dos
MDs olha e vê em corpora do projeto VARSUL/SC e em textos de peças teatrais escritos entre os
séculos XIX e XX por escritores catarinenses. Com a análise variacionista, objetivamos identificar
o domínio funcional em que os MDs derivados dos verbos “olhar” e “ver” funcionam como
variantes, identificar quais fatores condicionam o uso de uma ou outra variante e, portanto,
descrever e analisar seus contextos de uso. No que tange à gramaticalização, nossos objetivos são
descrever os usos sincrônicos dos MDs derivados dos verbos de percepção visual “olhar” e “ver”,
verificar se há regularidade entre as micro-construções, entender por que a forma imperativa integra
a configuração destes MDs e confirmar se é possível falarmos em macro-construções entre os MDs
analisados. A hipótese é de que os novos MDs, ao serem gramaticalizados na língua, se tornariam
[+ intersubjetivos] (FINEGAN, 1995; TRAUGOTT, 1995, 2010; TRAUGOTT & DASHER, 2005;
CUYCKENS et al., 2010). Acreditamos, ainda, que o processo de (inter)subjetivização estaria
vinculado ao surgimento de possíveis padrões construcionais (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b,
2009, 2012). Ainda, partimos da hipótese de que uma análise quantitativa, pautada nos pressupostos
da Sociolinguística Variacionista, pode contribuir substancialmente para a definição dos padrões
construcionais a partir dos quais se estabelecem os MDs sob análise. Realizamos, portanto, uma
abordagem sincrônica a partir de amostras do português falado contidas em dois corpora distintos:
o corpus do “Projeto Mineirês: a construção de um dialeto” e o corpus do projeto “PEUL –
Programa de Estudos sobre o Uso da Língua”. Os resultados apontam que: (a) o domínio funcional
em que os MDs atuam como variantes é o da chamada de atenção do ouvinte; (b) os MDs derivados
do verbo de percepção visual “olhar” estão em um processo mais avançado de gramaticalização, se
comparados aos MDs derivados do verbo “ver”; (c) há uma tendência à fixação dos marcadores na
segunda pessoa do discurso e no modo indicativo dos verbos; (d) os MDs derivados do verbo
“olhar” tendem a ocorrer com mais frequência em contextos sintaticamente independentes,
enquanto os MDs derivados do verbo “ver” tendem a ocorrer com mais frequência em contextos
sintaticamente dependentes; (e) os contextos de “pausa posterior” são os mais favorecedores da
ocorrência tanto dos marcadores derivados do verbo “olhar” quanto dos derivados do verbo “ver”;
(f) a “forma simples” é o contexto preferencial para a ocorrência dos MDs derivados de “olhar”,
enquanto os MDs derivados de “ver” realizam-se de maneira equilibrada tanto em contexto de
“forma simples” quanto em contexto de “forma composta”; (g) as presenças dos pronomes “tu” e
“você” constituem-se como contextos categóricos para a ocorrência de MDs derivados do verbo
“ver”, enquanto a presença de vocativo favorece, em maior medida, a ocorrência de marcadores
derivados do verbo “olhar”, em comparação aos do verbo “ver”; (h) no Estado do Rio de Janeiro, há
a ocorrência mais frequente dos MDs derivados de “olhar”, enquanto os MDs derivados de “ver”
têm a mesma frequência de uso nos dois Estados analisados.
O MODIFICADOR TEMPORAL DO ESTADO-DE-COISAS: UMA ANÁLISE DO TEMPO
RELATIVO SOB A PERSPECTIVA DA GDF
Ana Paula de Oliveira – UNESP
Este estudo se propõe a investigar, na lusofonia, o modificador temporal, constituído de um
sintagma adverbial ou preposicional, sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional
(Hengeveld & Mackenzie 2006, 2008), um novo modelo de gramática, de orientação funcionalista
Segundo Hengeveld (2008), cada unidade linguística consiste de uma parte obrigatória, o núcleo, e
outra opcional, o modificador, denominado satélites na GF de Simon Dik (1989). Em termos gerais,
modificador é um item lexical que traz informação adicional a algum núcleo, por isso sua retirada
não prejudica a informação essencial. O modificador se distribui nas diversas camadas que
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compõem os níveis Interpessoal e Representacional, postulados pela GDF. Sua posição é
geralmente determinada por relações semânticas de escopo, de acordo com as especificidades de
cada camada, tendo posições fixas, que, contudo, podem ser modificadas por motivações
pragmáticas, semânticas ou estruturais, nos níveis Interpessoal, Representacional ou
Morfossintático, respectivamente. De acordo com Hengeveld & Mackenzie (2008), para designar
categorias temporais, as línguas dispõem de expressões específicas. Algumas dessas expressões têm
como referência o momento da fala, outras estabelecem posições relativas em uma linha do tempo,
enquanto outras se relacionam com um calendário socialmente estabelecido. Algumas expressões
temporais podem ainda identificar um ponto específico na linha do tempo, enquanto outras indicam
um período. O objetivo deste estudo é verificar as propriedades pragmática, semânticas,
morfossintáticas e fonológicas do modificador temporal, constituído de um sintagma (adverbial ou
preposicional), cuja função é localizar temporalmente o estado-de-coisas. Para isso, são utilizadas
ocorrências reais de uso extraídas do corpus “Português oral”, organizado pelo Centro de
Linguística da Universidade de Lisboa, em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e a
Universidade de Provença-Aix-Marselha, o qual contempla amostragens de variedades do
português falado em Portugal, no Brasil, nos países africanos de língua oficial portuguesa e em
Macau. Este trabalho restringir-se-á aos modificadores do Estados-de-Coisas, que marcam o tempo
relativo. Como parâmetros de análise incluem-se: (i) a camada em que se encontram modificador e
núcleo, (ii) a natureza da relação temporal, ou seja, anterioridade, posterioridade ou simultaneidade;
(iii) a preposição que introduz o sintagma preposicional; (iv) a posição ocupada pelo modificador na
oração que modifica; (v) quebra entonacional entre núcleo e modificador, como pausas - breves ou
longas, preenchidas ou não - e mudança na tessitura. Os resultados alcançados até o presente
momento indicam que, quanto à posição, os modificadores situam-se, predominante, antes do verbo
da oração em que estão inseridos. Além disso, grande parte das ocorrências levantadas é introduzida
por preposição, sendo a mais comum dentre elas a preposição “em” - e combinações. Nota-se ainda
a presença grande variação quanto ao tipo de relação expressa, que pode ser anterior, simultâneo ou
posterior, ao contrário do que se têm com as orações, que predominantemente apresentam tempo
simultâneo.
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SIMPÓSIO 55
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA: TÓPICOS DE LINGUÍSTICA TEÓRICA
E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
O presente simpósio tem como principal objetivo reunir pesquisadores preocupados com a
transposição didática e o ensino de Língua Portuguesa, ou seja, de que maneira podem ser
repensados os conhecimentos teóricos advindos de diferentes paradigmas sobre língua e literatura e
a sua relação com o ensino. A necessidade de diálogo mútuo entre teoria e aplicação faz-se presente
a partir das constatações dessa dialética como atividade fundamental para a construção
epistemológica. Embora seja condição sinequa non para a construção do conhecimento, questões
importantes têm sindo negligenciadas nas academias, sinalizando um distanciamento entre teoria e
prática, entre pesquisa e aplicação, entre universidade e escola. Partindo desse pressuposto, a ideia é
trazer essas questões para o âmbito acadêmico e discutir propostas de ensino que viabilizem o
diálogo teoria-prática, buscando entender os entraves, os riscos e as possibilidades de pensar o
conhecimento sobre a língua e a literatura em sala de aula. Essa preocupação também se soma ao
que já vem sendo proposto em documentos oficiais como PCNS e OCEMS. Refletir sobre essas
questões e apresentar as vantagens de propostas de ensino que considerem as contribuições da
Linguística Teórica ao ensino de Língua Portuguesa é a pretensão maior deste simpósio.
COORDENAÇÃO
Mirian Santos de Cerqueira
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Israel Elias Trindade
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
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ESTRATÉGIAS DE PREENCHIMENTO DA POSIÇÃO OBJETO: GRAMÁTICA DA
FALA VERSUS “GRAMÁTICA” DA ESCRITA
Cláudia Roberta Tavares Silva – UFRPE
Telma Moreira Vianna Magalhães – UFAL
Pesquisas linguísticas têm chamado a atenção para as diferenças entre a gramática da fala e a
“gramática” da escrita no Brasil (Kato, 2005; Magalhães, 1999, 2000; Corrêa, 1991; Amorim &
Magalhães, 2007; Costa & Magalhães, 2008). Tarallo (1996, p. 70) observa que “[o] perfil da nossa
gramática brasileira (no sentido da gramática normativa) tem sido ditado pela tradição portuguesa e
só esse fato torna o vácuo entre língua oral e escrita muito mais profundo no Brasil do que em
Portugal”. É fato ainda que a gramática do português brasileiro (PB) vem passando por um processo
de reorganização (Galves, 2001), o que nos leva a discutirmos aspectos da sintaxe dessa gramática
em dados de fala e de escrita, buscando verificar, até que ponto, a “gramática” da escrita distanciase da gramática da fala. Para tanto, centraremos nossa atenção nas estratégias de preenchimento da
posição objeto, em específico, do objeto direto, a saber: sintagma nominal (ex.: Eu já encontrei o
professor.), objeto nulo (ex.: Eu já encontrei ___.), clítico (Eu já o encontrei.) e pronome lexical
(ex.: Eu já encontrei ele.), tomando por base o que estudos realizados sobre a temática têm
verificado, não perdendo de vista as possíveis contribuições desses estudos para o ensino de língua
portuguesa. Durante a análise, será adotado o quadro teórico da gramática gerativa (Chomsky,
1981, 1986 e seguintes), tomando por base as seguintes questões norteadoras apresentadas em
Magalhães (2000): a) o que a criança traz de sua gramática internalizada para a escola?; b) a escola
consegue reverter as inovações apresentadas pela gramática do PB com o processo de mudança? e
c) como os itens gramaticais se desenvolvem durante a escolarização, isto é, eles apresentam as
mesmas restrições encontradas na fala e na intuição do falante adulto? Sobre o uso do clítico
acusativo, tem-se observado que o processo de escolarização exerce um papel na recuperação e
manutenção dos clíticos no PB (cf. Corrêa, 1991; Amorim & Magalhães, 2007): nas séries iniciais,
assim como ocorre na fala, os clíticos acusativos ocorrem de maneira inexpressiva, havendo uma
ascensão de seu uso nas séries finais. Em suma, esperamos promover, através da reflexão teórica, o
aprofundamento do conhecimento da sintaxe do PB no que se refere ao preenchimento da posição
objeto, fundamentando-nos no pressuposto de que essa reflexão é “prévia à acção e dirigida para a
acção.” (Fonseca, 2001, p. 24).
PRODUÇÃO TEXTUAL EM SALA DE AULA: INTERVENÇÃO A PARTIR DE
SITUAÇÃO-PROBLEMA
Israel Elias Trindade – FL/UFG
O trabalho com textos nas aulas de português tem sido um desafio aos educadores da educação
básica. Essa dificuldade foi diagnosticada durante dois anos de observação com alunos do estágio
do português da FL/UFG que, ao ingressarem na prática docente, não se reconheciam como
preparados para o cumprimento dessa tarefa. Nossas observações revelaram ainda que essa
realidade não é diferente das dos demais educadores das escolas-campo, alguns deles, inclusive,
supervisores dos trabalhos desses estagiários. As causas de tal problemática podem ser inúmeras,
mas certamente, as dificuldades de acesso dos educadores às publicações sobre o assunto e os
poucos momentos destinados à formação e à capacitação dos professores na lida com o texto em
sala de aula têm sido as principais para a pouca eficiência dessa prática. O resultado disso é o
fortalecimento da tradição de um trabalho textual descontextualizado e desvinculado dos estudos
gramaticais. Nos últimos dois anos (2011 e 2012), durante as atividades de estágio da FL/UFG,
desenvolvemos um projeto de pesquisa-ação cuja proposta foi a aplicação de estratégias
diversificadas de trabalho com textos em sala de aula de escolas pública da cidade de Goiânia-GO,
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com vistas na constituição de subsídios ao ensino com textos na educação básica. O suporte teórico
que subsidiou a pesquisa-ação foi da análise linguística (Geraldi, 1984). Os dados obtidos da prática
foram analisados pelos alunos de estágio da FL/UFG, sob nossa supervisão. Os resultados do
trabalho, em linhas gerais, confirmam a necessidade de se propor atividades com textos que partem
de situações-problema e apresente propostas concretas de intervenção, pois é uma das formas mais
eficientes de significar/ressignificar a prática textual. A produção do texto, nessa proposta, deve
emergir de uma necessidade pragmática e a gramática, por sua vez, deve cumprir o papel essencial
para que tal objetivo seja atingido. Dessa forma, percebe-se que o exercício do texto é, por natureza,
uma atividade que rompe os limites disciplinares, pois envolve, necessariamente, a aplicação de
conhecimentos diversificados. O papel do professor de português, portanto, é o de colaborar para
que o aluno estabeleça diálogos entre conhecimentos das disciplinas, com o fito de resolução de
situações-problema de seu cotidiano. O presente trabalho, portanto, se constitui na apresentação dos
dados obtidos nessa pesquisa e na discussão dos mesmos, com vistas em contribuir, em linhas
gerais, com sugestões e orientações à prática do texto em sala de aula, em turmas de língua
portuguesa da educação básica.
GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A
PARTIR DE TEXTOS ESCRITOS DE ALUNOS GOIANIENSES
Mirian Santos de Cerqueira – FL/UFG
O presente estudo tem como principais objetivos descrever e analisar alguns fenômenos
encontrados no Português Brasileiro (tais como concordância nominal e verbal, o (des)uso do clítico
se, topicalização, estratégias de relativização, dentre outros), tomando como ponto de partida dados
de escrita encontrados em textos de alunos goianienses. A ideia é tentar compreender se a gramática
dos falantes mencionados aproxima-se da gramática ensinada na escola ou da gramática adquirida
no processo natural de aquisição. Esse estudo segue as propostas de autores como Kato (2005),
Magalhães (2006; 2008) e Silva (2011), uma vez que tais estudos postulam a existência de uma
gramática da fala com propriedades distintas da gramática da escrita. Além disso, o presente estudo
segue a mesma trilha dos trabalhos já mencionados ao lançar mão dos pressupostos teóricos do
Programa de Investigação da Gramática Gerativa (CHOMSKY, 1986 e obras seguintes). Como
metodologia, foram coletados textos escritos argumentativos produzidos por alunos do Curso de
Letras da UFG, campus de Goiânia, Goiás. Os resultados preliminares confirmam a hipótese de
estar havendo um distanciamento entre o conhecimento linguístico que o falante adquiriu no
processo inicial de aquisição de sua língua materna e o conhecimento formal das regras da
modalidade escrita da língua via gramática normativa pelas escolas, levando a confirmar, de algum
modo, os estudos já mencionados, segundo os quais o Português Brasileiro falado não coincide com
aquilo que é ensinado nas escolas brasileiras, razão pela qual os alunos o "interpretam" como uma
segunda língua (cf. KATO, op. cit.). Além disso, os dados ratificam, também, a hipótese de que o
Português Brasileiro tem se distanciado cada vez mais do Português Europeu. A partir dos
resultados do presente estudo, pretendemos refletir sobre estratégias de ensino e aprendizagem de
língua portuguesa nas escolas brasileiras, de modo a repensar as atividades didáticas em torno de
conceitos como sujeito gramatical, tópico, concordância, dentre outros.
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DISCURSOS SOBRE O TEXTO: MATERIALIDADES NO LIVRO DIDÁTICO DE
LÍNGUA PORTUGUESA
Juliene da Silva Barro-Gomes – UFRPE/UAG
A produção acadêmica realizada nas duas ultimas décadas sobre o conceito de texto mostra uma
grande evolução. Do discurso mais estruturalista, que concebia o texto como um nível de análise
maior que a frase, objeto muitas vezes do escrutínio meramente gramatical, passou-se ao conceito
de texto como unidade mínima de comunicação e interação, cujo foco era centrado na perspectiva
das relações entre os elementos do texto e entre estes e fatores de ordem extralinguística, tendo-se
na atualidade conceituações de texto como correlato teórico de manifestações concretas chamadas
gêneros discursivos, texto como hipertexto, superfície material de um conjunto de conexões
realizadas numa memória discursiva, de forma real ou virtual, além da noção muita vezes
incompreendida de texto como discurso. Essas diferentes enunciações, que não resumem todos os
conceitos de texto que circulam atualmente, mostram, ora uma perspectiva mais centrada na ideia
de forma, ora uma perspectiva mais centrada no funcionamento, ora uma perspectiva mista,
evidenciando a confluência ou a convivência de muitas e diversas linhas conceituais. Do contexto
plural e por natureza polemico da teoria, esses conceitos migram, às vezes sem lembranças de seus
paradigmas definidores, para o ambiente aparentemente pacífico e sem polêmica das didáticas
escolares. E aí se verifica a materialização de diferentes discursos sobre o texto. As páginas dos
livros didáticos de língua portuguesa são exemplares privilegiados desta apropriação de conceitos
teóricos da linguística para o contexto de ensino. Neste trabalho, interessa-nos a análise de como
diferentes discursos sobre o texto se materializam nas páginas do livro didático, tornando-o uma
encruzilhada interdiscursiva, de pouca clareza e explicitude para professores e alunos. Longe de
evidenciarem uma adequada transposição didática dos conteúdos da linguística, os livros são, por
vezes, meramente panfletários de novas ideologias que atendem mais à logica do mercado e menos
aos interesses da aprendizagem dos alunos. Faremos a análise de páginas de livros didáticos do
ensino fundamental de diferentes editoras e coleções, buscando explicitar, a partir dos fragmentos
textuais materializados, a diversidade de discursos sobre o conceito de texto e analisar em que
medida esse jogo de vozes e posições, muitas vezes desenraizadas da memória que os sustem,
auxiliam de fato na compreensão do conceito de texto, seus modos de funcionamento, e as
possibilidades didáticas para o ensino de línguas a partir de tal conceito. Tomaremos como autores
de base para nossa análise BARROS (2007), BITTENCOURT (2004), CHOPIN (2004), KOCH
(2007),COSCARELLI (2009) e POSSENTI (2008). Dessa forma, buscaremos colaborar com a
reflexão teórica sobre a transposição didática dos conteúdos de linguística para o contexto de
ensino de língua portuguesa.
AS TEORIAS LINGUÍSTICAS E O VESTIBULAR DA UFG
Erislane Rodrigues Ribeiro – CAC/UFG
Os estudos linguísticos avançaram sobremaneira quando se passaram a definir melhor as teorias e as
metodologias para o estudo de seus objetos. Tais avanços podem ser observados tanto em
publicações como em apresentações de pesquisas em eventos científicos concernentes às variadas
disciplinas da Linguística. Entretanto, não é apenas nos livros especializados e em eventos
científicos que se pode avaliar o desenvolvimento das teorias linguísticas. Os livros didáticos de
Português e certos documentos institucionais, por exemplo, são um rico material cuja análise pode
revelar bastante acerca da história e da repercussão dos estudos linguísticos no Brasil. Deste modo,
o objetivo principal neste trabalho é investigar como algumas das contribuições de diversas
disciplinas da Linguística influenciaram o que tem sido proposto para as provas de Língua
portuguesa do vestibular da UFG ao longo do tempo e por que razões certas tendências teóricas da
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linguística sobressaíram em dados momentos sócio-históricos. Para tal, são analisados, sob a ótica
de pesquisadores tais como Mendonça (2006), Soares (2002) e Gregolin (2007), manuais do
candidato da UFG publicados entre os anos de 1975 e 2011. Adotou-se uma metodologia em que
foram agrupados manuais por períodos sócio-históricos, pois em tais períodos não se observam
mudanças significativas com relação às teorias linguísticas que os subsidiam.
O PAPEL DO PROFESSOR DE LETRAS NA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DOS
SABERES ACADÊMICOS COMO SABERES ESCOLARES
Lezinete Regina Lemes – UFMT
A presente comunicação tem como objetivo apresentar propostas de trabalho realizadas na
disciplina Linguística I no curso de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso. É sabido que
muitos acadêmicos questionam certas teorias e sua aplicação em sala de aula, por não
compreenderem como os saberes acadêmicos são operacionalizados nas aulas de Língua Portuguesa
na Educação Básica. Além disso, os documentos parametrizadores — Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa e as Orientações Curriculares do Ensino Médio — orientam que a
prática do professor deve ser sociossituada, buscando um ensino de língua alicerçado na concepção
de linguagem como interação social. Tais orientações nos levam a refletir sobre o papel do
professor de Letras na difusão das contribuições das teorias linguísticas no ensino-aprendizagem de
língua materna e suas convergências e divergências. Essa prática docente é desafiador, pois o
profissional de Letras precisa saber compreender e aplicar essas teorias no ensino, considerando as
diferentes perspectivas teóricas e seu espaço na esfera acadêmica e escolar. Trata-se de uma prática,
ainda, incipiente no curso de Letras, pois levar os alunos a refletirem sobre os processos de
transposição didática e didatização dos saberes acadêmicos como objetos de ensino de uma forma
prática, é romper com certas posturas teórico-metodológicas presentes no ensino superior.
Considerando esse fato, esta comunicação visa apresentar propostas iniciais em que se busca
estudar o processo de transposição didática e didatização de conceitos advindos da Fonética e
Fonologia em manuais didáticos de Língua Portuguesa do Ensino Médio. Pensou-se em um estudo
direcionado, em que os acadêmicos foram levados, num primeiro momento, a estudarem a base
teórica dessas duas correntes da linguística teórica, para em seguida, analisarem os livros didáticos.
Verificar o tratamento didático dado pelos autores nos livros é permitir que os futuros professores
vejam na prática como as bases teóricas são operacionalizadas, neste caso, os saberes acadêmicos
como saberes escolares e também levá-los a compreenderem os diferentes fenômenos linguísticos a
que tiverem acesso durante sua atuação como professor de língua portuguesa.
MULTIPLICIDADE E COERÊNCIA DE CRITÉRIOS EM RELAÇÃO ÀS CLASSES DE
PALAVRAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Paulo Ricardo Dias Fernandes – UFG
Alcir Horácio da Silva – UFG
O estudo das classes de palavras está presente desde as primeiras séries da vida escolar e continua
sendo o assunto principal, ou dos mais estudados, nas aulas de Português, tanto no ensino
fundamental como no ensino médio. A partir de consultas a programas escolares e a livros
didáticos, nota-se que, muitas vezes, o estudo das classes se restringe a um conhecimento da
nomenclatura apenas. As gramáticas normativas de língua portuguesa trazem uma razoável
quantidade de definições para distinguir as classes gramaticais hoje reconhecidas, poder analisar em
quais pressupostos esses autores se fundamentam ao expor sua definição para determinada classe de
palavras é demonstrar formação e conhecimento alicerçado em pressupostos linguísticos. Quando se
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sabe o porquê de tal definição referente a uma categoria de palavras, reforça-se o pensamento
analítico, comparativo, contestador com relação às demais, para assim melhor reconhecê-las ou
distingui-las. A proposta para estudo consistiu na análise do conhecimento apresentado por alunos
da segunda fase do Ensino Fundamental sobre os diferentes conceitos que podem ser identificados
em cada classe de palavras reconhecidas pela Norma Gramatical Brasileira (NGB), bem como a
multiplicidade de critérios que os levaram à elaboração dessas definições, tal análise foi realizada
através de questionários aplicados a alunos da segunda fase do Ensino Fundamental do município
de Anápolis, interior de Goiás. O linguista Joaquim Mattoso Câmara Junior em sua obra Estrutura
da Língua Portuguesa, publicada pela primeira vez em 1970, material fundamental para a execução
da pesquisa, aponta a utilização de três critérios: semântico, morfológico e funcional, para a
elaboração do conceito de uma classe de palavras; todos os três critérios apontados pelo autor são
bem elucidados e discutidos pelo trabalho, juntamente com uma prévia apresentação de questões
como o conceito de gramática e a organização das classes gramaticais. O que se observou após a
coleta dos dados (definições das classes de palavras apresentadas pelos alunos no questionário)
foram respostas incoerentes, que não contemplavam todos os critérios de classificação propostos
pelo linguista, com grande incidência do critério semântico (baseado no universo biossocial que se
incorpora na língua), casos de critério morfológico (referente às propriedades gramaticais que a
palavra pode apresentar) e escassez de critério morfológico (papel que a palavra desempenha em
uma sentença). Nesse contexto, a pesquisa que não procurou esgotar o tema serve como um suporte
a professores, em especial os de língua portuguesa, visto que toda ciência trabalha com objetos
empíricos ou teóricos e, para tornar o trabalho de investigação mais racional, esses objetos são
agrupados em categorias, classes, tipos, gêneros, espécies etc. Para um leigo, uma pedra é apenas
uma pedra, mas para um geólogo cada pedra é um desafio científico, é um objeto que exige uma
apreensão racional, uma categorização que se fará segundo princípios e critérios estabelecidos pelo
acúmulo de conhecimento de sua área de estudo. O mesmo vale para as categorias gramaticais. É
uma ilusão, muito prejudicial à pedagogia de língua, acreditar que as classes de palavras que
aparecem nos compêndios normativos correspondem a uma verdade nítida e definitiva sobre o
funcionamento da língua. É realmente necessário o domínio pelo professor dos critérios que podem
ser identificados nas classificações de palavras da língua portuguesa a fim de, durante seu exercício
profissional, ressaltar com seus alunos as distinções e semelhanças entre as palavras justificando a
organização delas em determinada classe.
O ENSINO DE CONCEITOS NA LÍNGUA PORTUGUESA: UMA EXPERIÊNCIA COM
PROFESSORES DO II CICLO.
Gilves Furtado de Queiroz – CEFAPRO
Nesta comunicação, pretende-se apresentar os resultados da pesquisa O ensino de conceitos na
Língua portuguesa: uma experiência com professores do II Ciclo que será realizada com os
professores da rede pública estadual de Barra do Garças – MT que atuam no II Ciclo do ensino
fundamental. Trabalhando com a formação continuada dos pedagogos fez com que se levantasse
alguns questionamentos: como o professor trabalha a leitura, a interpretação, a gramática e a
produção textual? Como ensinar os conceitos básicos de Língua Portuguesa se o professor ainda
carece de construí-los? É preciso ensinar esses conceitos nos II Ciclos? O que os professores
entendem por Texto, Discurso e Gêneros Textuais? Como trabalhar com o professor para que
ensine por meio de conceitos? Os professores acreditam que é possível desenvolver a competência
discursiva do estudante a partir da apropriação de conceitos?
O problema de pesquisa que consiste em: A teoria histórico-cultural pode contribuir, na formação
continuada, para que os professores pedagogos que atuam no II ciclo do ensino fundamental da rede
estadual de Barra do Garças se apropriem, de forma teórica, dos conceitos de Texto, Gêneros do
Discurso e Gêneros Textuais? A intenção é realizar um experimento didático, em uma perspectiva
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dialética, em que os professores desenvolverão uma sequência de ações, coletivas e individuais, que
possibilitam a formação de conceitos, ascendendo do pensamento empírico ao pensamento teórico.
A hipótese é que os professores do ensino fundamental carecem de uma formação que garanta o
ensino dos conceitos essenciais da Língua Portuguesa. Talvez essa carência seja devido a uma
formação acadêmica que deixou de contemplar em seus currículos um aprofundamento dos
conceitos, não somente em Língua Portuguesa, mas nas diferentes áreas do conhecimento escolar. A
formação será realizada nas dependências do Centro de Formação e atualização dos profissionais da
educação Básica- CEFAPRO, em um curso de formação continuada de 50 (quarenta) horas, sendo
40 horas presenciais e 10 horas à distância. Os encontros serão semanais, de março a junho de 2013.
O Objetivo geral é compreender se a teoria histórico-cultural contribui para que os professores
pedagogos que atuam no II ciclo do ensino fundamental se apropriem, de forma teórica, dos
conceitos de Texto, Gêneros do Discurso e Gêneros Textuais. E os Objetivos específicos são:
investigar os conhecimentos dos professores em relação aos conceitos de Língua, Texto, Gêneros
do Discurso e Gêneros Textuais; acompanhar o processo de apropriação dos conceitos pelos
professores, de acordo com a organização didática estabelecida; avaliar a construção dos conceitos
pelos professores. Far-se-á uso da metodologia qualitativa e de diferentes procedimentos, tais como:
a observação (por meio da descrição e reflexão), a entrevista semi-estruturada e a análise da
produção dos participantes que permitirão avaliar a organização do ensino e a apropriação dos
conceitos por parte dos pedagogos que atuam no II Ciclo da rede estadual de ensino.
REFLEXÕES SOBRE FORMAÇÃO DOCENTE: OS LETRAMENTOS DO PROFESSOR
Renata Silva Siqueira – UFMT
Objetiva-se com este trabalho, realizar uma reflexão sobre as questões que cercam o ensino de
língua materna, focando o nosso olhar a quem consideramos um personagem importante nesse
percurso, o professor. A formação docente é cada vez mais criticada, tanto inicial quanto
continuada, com um viés de reprovação e de fracasso no que concerne à relação teoria e práticas
pedagógicas. Desde o advento dos PCN (1998) e até antes (Geraldi, 1984; Soares, 1986), estudiosos
observam que se requer uma mudança paradigmática no ensino de língua materna que possibilitaria
estratégicas renovadas de leitura e produção textual, considerando o importante envolvimento
interacional de ensino-aprendizagem em que o aluno e o educador estão inseridos. Nesse contexto,
identificamos que a relação de leitura/escrita está além da decodificação e que é necessário um
aperfeiçoamento na prática de leitura/escrita do professor, é preciso um olhar mais amplo, para os
letramentos desse sujeito em formação e este, por sua vez, mediante as situações concretas de
enunciados em diferentes cenários no seu cotidiano, precisa exercitar a criticidade e autonomia na
negociação de sentido de suas leituras. Não podemos também deixar de observar que o professor,
formador de opiniões ou pelo menos um dos sujeitos que deveria ser facilitador desse processo da
mudança para o aluno, também sofre com suas dificuldades e limitações, como leitor e escritor
proficiente. No nosso projeto de pesquisa, analisaremos os resultados de uma oficina de formação
continuada para professores da rede pública, cujo objetivo primordial é auxiliá-los nesse trajeto do
‘‘repensar’’ suas vivências de leitura/escrita, de contextualizar sua prática no ambiente escolar.
Assim, buscaremos identificar - O que foi relevante no processo de formação continuada? Quais
limitações e possibilidades em relação à leitura e escrita foram observadas/descritas? O que da
formação continuada, através de um processo de reflexão, está sendo colocado em prática, no dia a
dia da sala de aula? Quais ações transformadoras da prática escolar apontam para o protagonismo
do professor? Diante das respostas, podemos imaginar que mudanças não seriam possíveis se o
professor não gostasse efetivamente do que faz, e que o comprometimento dele mesmo com o
outro, o aluno, são tão fundamentais quanto os conhecimentos teóricos. Enfim, para a realização
deste trabalho nossos alicerces teóricos se inscrevem nos estudos bakhtinianos sobre a linguagem e
na teoria sócio- histórica de aprendizagem de Vygotsky. Essa investigação está inserida no projeto
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de pesquisa “Relendo Bakhtin: contribuições do Círculo de Bakhtin para uma análise dialógica de
discursos produzidos em diferentes esferas da atividade humana”, desenvolvida pelo Grupo de
pesquisa RELENDO BAKHTIN (REBAK), do Programa de Pós-graduação em Estudos de
Linguagem, da Universidade Federal de Mato Grosso.
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES, TEORIA E PRÁTICA
Maria Rosalina Alves Arantes – SEDUC/MT
Marilza Jiacomini Rubinho Vaz – SEFAPRO/SEDUC
Este artigo objetiva em trazer reflexões sobre a formação continuada de professores, vinculada ao
Programa da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, no ano de 2012, na cidade de
Pontes e Lacerda, Mato Grosso. Desse modo faremos uma descrição da estruturação do projeto de
formação continuada e de como ocorreu na prática, uma reflexão histórica sobre o Programa e da
fundamentação teórica da formação continuada, da sequência didática proposta nas oficinas para o
desenvolvimento da leitura e escrita e algumas considerações. A formação continuada de
professores é de grande importância para educação, uma vez que no mundo globalizado
vivenciamos constantes mudanças e a sociedade contemporânea exige a quebra de paradigmas do
ensino e aprendizagem. Nesse contexto, a referida formação continuada, visou mediar, fomentar e
fortalecer por meio de reflexões teóricas e práticas o trabalho de leitura e escrita do professor de
língua portuguesa, não estamos aqui defendendo a adoção da sequência didática proposta pelos
cadernos do professor do Programa Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, mas,
sim, propomos refletir as possibilidades de uso da mesma, na busca da melhoria da aprendizagem
significativa no trabalho com a leitura e produção textual.
OBSERVATÓRIO DE EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES E
PRÁTICAS CULTURALMENTE SENSÍVEIS NO ENSINO EM CONTEXTO DE
FRONTEIRA
Maria Elena Pires Santos – UNIOESTE
Mariangela Garcia Lunardelli – UNIOESTE
O objetivo desta comunicação é apresentar alguns resultados das atividades desenvolvidas pelos
participantes do Projeto Observatório de Educação – Núcleo de Pesquisa/Extensão: Formação
Continuada em Leitura, Escrita e Oralidade – financiado pela CAPES/INEP e desenvolvido em
parceria entre o Mestrado Interdisciplinar em Sociedade, Cultura e Fronteiras e o Curso de Letras,
ambos da UNIOESTE – campus de Foz do Iguaçu, o Núcleo Regional de Educação de Foz do
Iguaçu/SEED e o Colégio Estadual Ipê Roxo. A finalidade desse projeto é a constituição de um
Núcleo de Pesquisa/Extensão que fomente cursos de formação continuada em leitura, escrita e
oralidade para professores dos ensinos Fundamental e Médio das escolas públicas e que fomente
também a pesquisa e a formação de pesquisadores em nível de graduação e pós-graduação,
principalmente em cenários plurilíngues/pluriculturais de fronteira, como se caracteriza a região
oeste do Paraná. Dando suporte ao desenvolvimento do projeto, são centrais os conceitos de
linguagem, leitura, escrita e gêneros do discurso. Para atingir aos objetivos do projeto, são propostas
atividades, em uma perspectiva interdisciplinar, que visam contribuir para a formação inicial e a
formação continuada do professor aliada à pesquisa, entendendo o conhecimento não como um fato
pronto e acabado, mas como um processo em permanente construção, o que preconiza, conforme
propõem Kleiman (2001) e Magalhães (2004), a formação de um professor reflexivo, no sentido de
adquirir uma maior consciência crítica de seus valores, pensamentos e práticas. Será apresentado
aqui, em especial, o Projeto Memória, desenvolvido com a participação de toda a equipe do
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Observatório, da comunidade escolar do Colégio Estadual Ipê Roxo e moradores do bairro Cidade
Nova, onde se localiza o referido colégio, na cidade de Foz do Iguaçu. Atenta-se aqui para dois
aspectos relevantes do Projeto Memória: as ações multi e interdisciplinares e os trabalhos com os
gêneros discursivos, propostas ancoradas em uma concepção de linguagem dialógica, concreta e
assinada, em que leitura e escrita são vistas como práticas sociais específicas. Desestabilizando
velhas certezas e abrindo brechas para o rompimento com o status quo vigente, buscam-se
alternativas para tecer um eterno devir, um constante deslocamento dos resultados da educação no
sentido que todos nós almejamos em nosso país.
DISCUTINDO NOÇÕES DE LÍNGUA PARA SUBSIDIAR A COMPREENSÃO DE
PRÁTICAS DISCURSIVAS
Maria Bernadete Fernandes de Oliveira – UFRN
Os estudos da Linguagem, em sua grande maioria, desenvolveram-se a partir de postulados
advindos da Lógica, em uma visão leibniziana que conferia ao signo linguístico um modo de
funcionamento semelhante ao signo matemático. A chamada “virada linguística”, representada
principalmente nos escritos de Wittgenstein e posteriormente no âmbito da Pragmática de filiação
austiniana, discorda dessa concepção de signo questionando o primado da função representativa da
linguagem e de seu valor como verdade universal. A Linguística Aplicada, área específica de
produção de conhecimentos no campo dos estudos da linguagem situada e em uso, considera que os
processos de globalização, o reconhecimento (tardio) do fenômeno da diversidade cultural, as novas
tecnologias e os processos de construção identitária, entre outros, surgidos no bojo de uma
modernidade fluida (BAUMAN, 1998), sugerem repensar a noção clássica de língua, como
condição de acesso às verdades contingentes presentes nas práticas discursivas, em circulação em
dadas esferas das atividades humanas. Nessa comunicação, nosso objetivo é defender a necessidade
de uma ressignificação da noção hegemônica de língua, presente nos estudos clássicos da
linguagem, ancorada em princípios presentes nos Estudos Culturais e no Círculo de Bakhtin.
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Willie Macedo de Almeida – PPGMEL/UFMS
Raimunda Madalena Araújo Maeda – PPGMEL/UFMS
Nesta comunicação, propomos um diálogo entre as concepções que norteiam o ensino de língua
portuguesa e as práticas de sala de aula observadas durante o desenvolvimento da nossa pesquisa
intitulada “Competência discursiva e reflexão gramatical no ensino de língua portuguesa: um
diálogo entre os Parâmetros e as variáveis”. Para isso, apresentamos como o nosso trabalho foi
desenvolvido e quais foram os resultados alcançados. Desde a elaboração do projeto, partimos da
hipótese de uma incoerência verificada na relação entre os métodos de ensino de língua materna
perpetuados pelas práticas pedagógicas nas escolas e a proposta estabelecida nos Parâmetros
Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Ao longo da pesquisa, avaliamos a validade dos
processos didáticos relativos ao ensino da língua portuguesa na educação básica – do nono ano do
ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio, por meio da pesquisa qualitativa, na qual
analisamos os procedimentos metodológicos e os pressupostos teóricos utilizados pelos professores;
as aulas em si; e as produções escritas dos alunos. A análise dos dados coletados partiu da revisão
das propostas curriculares e da (re)aplicação das concepções teóricas que os embasaram. Nesse
ínterim, demos destaque aos conceitos de competência discursiva e reflexão gramatical, citados no
texto dos PCN. Paralelamente, o conhecimento teórico foi testado e aplicado através do estudo de
campo nas escolas públicas estaduais do município de Miranda, Mato Grosso do Sul. Para
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promover o diálogo a que nos propusemos inicialmente, valemo-nos da análise de pequenos trechos
das seis entrevistas realizadas com os professores colaboradores e de dados resultantes da
observação das aulas e dos planejamentos. Acreditamos que os princípios estabelecidos nos
permitem avaliar a natureza da relação entre a teoria que fundamenta os PCN e as variáveis
observadas na prática. Esperamos, a partir da nossa pesquisa, estimular os educadores a refletir
sobre os parâmetros que eles seguem, de forma adequada e coerente com o desenvolvimento de
seus alunos.
REFLEXOS COGNITIVOS À LUZ DA LEITURA
Diva Conceição Ribeiro – UTFPR/CESUPI
Este trabalho prende-se a estudos ligados à área da leitura e da interpretação de textos mediante o
contexto e suas implicações históricas em suas diferentes diretrizes. Tem como objetivo geral levar
o leitor a praticar competências específicas para ler textos com propriedade, estabelecer ligações
com a historicidade e revelar aspectos singulares residentes nos diferentes contextos acerca da
história da evolução humana, registrada por meio da escrita e revelada nos diferentes discursos, seja
no modo escrito, seja no modo verbal. A metodologia para desempenhar esta ocupação intelectual
compreende alguns percursos a serem seguidos. Estes se ramificam em outras pegadas e estas, por
sua vez, espraiam-se na decodificação de termos relacionados entre si e na relação com o contexto.
Entendemos por contextos as diferentes esferas nas quais os fatos ocorreram e continuam (ou não) a
influenciar ou a sofrerem a influência do entendimento humano para apresentarem diferentes
consistências e colorações de acordo com o cognitivo empírico armazenado na biblioteca interior do
sujeito que põe em prática o ato de ler. Essas práticas de leitura encontram ecos na vida do leitor,
são formadas e tornam-se fortalecidas de acordo com suas múltiplas leituras acerca do universo
pessoal, conforme conceitos estabelecidos pela célula social na qual o leitor desponta como sujeito
pensante e, a partir de outras reflexões, este reconstrói os paradigmas herdados e passa a agir por
conta de sua competência reflexiva. Evidentemente, a sua própria língua passa a ser definida por
suas escolhas e esta passa a categorizá-lo, socialmente. Temos, assim, uma das muitas formas de o
sujeito poder exercer a cidadania dentro de características democráticas, já que este ator e portador
de suas realidades, dispõe de opções para selecionar e agir, conforme construção própria cujos
reflexos, certamente, serão sentidos no meio social e no mundo. Estas atividades encontram
respaldo em importantes teóricos sobre o assunto, dentre os quais apontamos Marcos Bagno(2000),
Marcuschi(2001), Geraldi(2005), Possenti(1996), Koch(2005), Vincent Jouve(2002),
Orlandi(2008). Para dar formas pedagógicas aos nossos pensamentos recorremos a Hoffman(on
line) e Vasconcelos(on line), dentre outros pedagogos que sediam nossas atividades em torno do se
seja a leitura em trânsito, de interpretação de textos e de sua função sobre o sujeito enquanto ser e
estar no mundo. Esperamos que, mediante conhecimentos valiosos e aquisições de práticas docentes
diferentes, possamos contribuir, ainda que minimamente, com ações didático-pedagógicas mais
firmes no ensino de ler e decodificar textos de acordo com os diferentes contextos nos quais foram
produzidos e possam preparar outros contextos mais amadurecidos em virtude de essa clareza
ganhar dinamicidade na compreensão dos modelos estabelecidos e necessários, antes a uma
determinada coletividade, e, no trânsito do percurso humano evolutivo, passaram a acomodar outros
perfis em consequência de novos e diferentes acontecimentos, segundo o mundo no qual o leitor
vive e estabelece suas relações com os seus pares e com suas práticas de leitura. É importante
ressaltar a importância dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) no direcionamento dos
pilares a serem desenvolvidos com exercícios efetivos e referentes ao ensino da leitura e da
interpretação de textos.
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A IMPORTÂNCIA DO SUPERVISOR NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DE PORTUGUÊS NO PIBID - PROGRAMA INSTITUCIONAL DE
INICIAÇÃO À DOCÊNCIA
Élia Martins da Silva – PIBID/USP
Este trabalho trata da importância do PIBID para a formação continuada do professor supervisor no
processo de formação de professores de iniciação à docência de Língua Portuguesa, iniciado em
agosto de 2011, na EE Bibliotecária Terezine Arantes Ferraz. A função do professor supervisor
neste novo contexto é mediar, interagir e subsidiar o trabalho de profissionais comprometidos em
buscar uma educação de qualidade, ou seja, fazer a inter-relação entre o novo e o velho. Segundo as
diretrizes do PIBID, a função do supervisor na U.E será de orientar, contribuir, facilitar, analisar,
promover, propiciar as ações, modos, relações dos professores em formação inicial, fazendo a tríade
ESCOLA-CAPES–UNIVERSIDADE. Faz-se necessário, também, realizar ações que proporcionem
aos professores em formação inicial momentos de reflexão sobre o ensino de língua portuguesa na
complexidade contemporânea, considerando-se as relações oralidade - escrita, pesquisa – docência,
além do uso de recursos tecnológicos, a inovação em práticas pedagógicas e o trabalho com
projetos. No mundo atual, cada vez mais globalizado, acredita-se de modo geral que seja
extremamente importante saber usufruir, com sucesso, de uma didática eficaz. Segundo Góes
(1997), é lição sabida que o novo não se constrói só e nem surge por passe de mágica. O novo nasce
do arcaico, mas não repete o arcaico. O novo cria outros paradigmas, mas preservam dos arcaicos,
valores e práticas indispensáveis à construção da ponte para o futuro. A transição do velho para o
novo é um processo. Esta concepção de processo histórico é uma norma que é visível até mesmo
nos tensos momentos de ruptura. Embora a formação inicial de professores tenha recentemente
ocupado a agenda de investigação de pesquisadores brasileiros (G Gimenes, 20002 e 2003; Vieira
Abrahão, 2004; Gil, 2003), a prática de ensino ainda sofre limitações em virtude de arranjos
institucionais que favorecem o desenvolvimento de uma práxis crítico–reflexiva. Portanto, esta
comunicação tem por objetivo mostrar as atividades parcialmente desenvolvidas para sensibilizar os
futuros docentes para a profissão. Outra finalidade com o projeto é propiciar aos professores que
estão na prática docente à reflexão num ambiente em que professores da universidade e futuros
professores participem da elaboração de material educacional, de cursos de formação, palestras
acadêmicas etc.; busca-se, assim, promover melhorias para a prática docente em aulas de Língua
Portuguesa. Além disso, serão discutidas, também, ações positivas e negativas que tem surgido até o
momento com o desenvolvimento do projeto de formação.
DOCÊNCIA, REFLEXÃO E CRÍTICA: (RE)CONSTRUINDO UM MODELO DE
FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA PARA PROFESSORES DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Francieli Matzenbacher Pinton – UFFS
Este trabalho tem por objetivo refletir criticamente sobre a formação inicial e continuada de
professores de língua portuguesa em um contexto situado de ação docente. O quadro teórico e
metodológico adotado pelo grupo concebe a linguagem como prática social com vistas à
(re)construção das práticas de letramento no contexto escolar (SOARES, 2006; ROJO, 2009;
MOTTA-ROTH, 2006; SHON, 1992; 2000; ALARCÃO, 2003). A metodologia de trabalho adotada
pelo grupo enfoca a ação-reflexão-ação da prática docente, a partir de atividades de intervenção
didática voltadas para o Grupo de Estudos de Educadores de Língua Portuguesa (GEELP). O grupo
é constituído por 24 professores de língua portuguesa em formação inicial e continuada que se
encontram mensalmente para dialogar sobre os conhecimentos teóricos e metodológicos que
norteiam o ensino de língua materna na escola de Ensino Fundamental II, com o objetivo de
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identificar novas possibilidades de ação. Como resultado preliminar, constata-se que a abordagem
utilizada nos encontros, baseada na reflexão da realidade escolar e docente, na (re)construção
teórica e metodológica e na ação pedagógica de sala aula, aliada à reflexão crítica de cada um
desses momentos, contribuiu para que os participantes (re)construíssem seus objetos de ensino, fato
comprovado na análise documental dos dados obtidos com o grupo.
ENSINO DA PONTUAÇÃO: PRESCRIÇÕES E PROPOSTAS EM DUAS COLEÇÕES
DIDÁTICAS DE ENSINO FUNDAMENTAL
Anderson Cristiano da Silva – LAEL/PUC-SP
Este trabalho trata-se de parte da nossa tese em andamento que tem por objetivo analisar as
prescrições e propostas sobre o ensino da pontuação (parte teórica e exercícios) nos volumes do 6º
ao 9º ano de duas coleções didáticas: Português: uma proposta para o letramento, de Magda Soares,
e também a coleção Português: linguagens de William Roberto Cereja e Thereza Cochar
Magalhães. A motivação dessa pesquisa surgiu da preocupação que temos sobre como os sinais de
pontuação são abordados nos livros didáticos do Ensino Fundamental (Anos Finais) utilizados nas
escolas públicas. Com efeito, as pessoas geralmente percebem as nuanças de entoações na fala,
conseguindo distinguir os efeitos de sentido a partir das pausas na oralidade, no entanto, isso deixa
de ocorrer na transposição para a escrita, uma vez que ao longo do processo de aprendizagem sobre
os sinais de pontuação, percebem-se falhas no ensino desse conteúdo. Este trabalho justifica-se,
portanto, pela necessidade de refletirmos a respeito do assunto com vistas ao aprimoramento das
práticas de ensino, revelando-se uma forma de questionar as propostas de ensino em uso,
permitindo também novos olhares sobre o conteúdo da pontuação, cujos resultados possam
contribuir para expansão do assunto no campo dos Estudos da Linguagem. Assim sendo, temos
como principal questão de pesquisa a seguinte pergunta: As propostas de ensino sobre a pontuação
encontradas em nas coleções de livros didáticos distribuídas nas escolas públicas por meio do
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) conseguem suprir as lacunas que a perspectiva
normativo-prescritiva não consegue abarcar? Para responder a essa pergunta, nossa hipótese é a de
que abordagens de ensino baseadas unicamente na perspectiva prescritivo-normativa não dão conta
de sanar tal deficiência. Para alicerçar nossa investigação, a pesquisa terá como arcabouço teórico
as contribuições da Análise Dialógica do Discurso (ADD), tendo como aporte os principais
conceitos-chave desenvolvidos por Bakhtin e os demais membros do Círculo. Da perspectiva
metodológica, seguiremos o seguinte percurso: (a) analisar as duas coleções didáticas elencadas a
partir das características que cada uma apresenta sobre as propostas de ensino da pontuação; (b)
levantar a tradição prescritivo-normativa sobre os sinais de pontuação em gramáticas normativas
contemporâneas, tendo como critério uma visão sincrônica contrastiva, ademais, também faremos
uma busca diacrônica na gramática normativa vislumbrando estabelecer parâmetros críticos para
análise do nosso corpus. Alguns resultados preliminares apontam para um número ainda reduzido
de exercícios em comparação a outros assuntos gramaticais, além disso, percebe-se que há proposta
de ensino que enfatiza apenas atividades orais, deixando de explorar exercícios escritos sobre o
emprego da pontuação.
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JOGOS DIDÁTICOS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O DOMÍNIO DAS REGRAS
ORTOGRÁFICAS
Telma Maria Tafarelo Moreno – UFGD
Mariel Costa Ferreira da Motta – UFGD
Rute Izabel Simões Conceição UFGD
Neste trabalho apresentamos os resultados de uma pesquisa-ação desenvolvida em uma escola
pública de Dourados-MS, cujo objetivo principal foi investigar as dificuldades ortográficas
diagnosticadas na escrita de alunos numa sala de 6º ano do Ensino Fundamental com intuito de
contribuir para a recuperação dos problemas, por meio de atividades prioritariamente planejadas e
aplicadas em forma de jogos didáticos, durante dois meses. Fundamentados em Wittgenstein
(1970), a respeito da analogia entre a noção de linguagem e a noção de jogo, e em Lemle (1990), a
respeito dos fundamentos linguísticos para o diagnóstico e a classificação dos problemas
ortográficos. As dificuldades diagnosticadas foram agrupadas em três ordens de acordo com a
proposição de Lemle: a) falhas de 1ª ordem (aquelas provenientes da primeira fase de aquisição da
escrita, quando a criança troca letras ou deixa de escrevê-las); b) falhas de 2ª ordem (aquelas
decorrentes da transcrição da fala, em que ocorre a tendência a escrever conforme se ouve ou se
fala) e c) falhas de 3ª ordem (aquelas decorrentes da concorrência que as letras tem entre si pelo
valor sonoro). Feita a análise comparativa dos dados obtidos no início e após dois meses de trabalho
constatou-se que o nível de aprendizado/compreensão das regras trabalhadas foi positivo, com
percentual geral de 70% de aquisição por parte dos sujeitos.
O DOMÍNIO ORTOGRÁFICO NA ESCRITA DOS ALUNOS DE ENSINO SUPERIOR
Darlene da Silva Pereira – ESBAM
A ortografia tem assumido um lugar de destaque entre as pesquisas atuais na área de linguagem,
devido ser a mais básica das condições para se escrever corretamente, qualidade tão exigida para
aqueles que vivem em uma sociedade letrada, a qual prioriza o domínio da norma culta como forma
de comunicação oficial entre todos os seus usuários. Nesta perspectiva, este artigo realizou uma
análise sobre o domínio ortográfico na escrita de 164 acadêmicos de primeiro período de graduação
de duas faculdades da cidade de Manaus, sendo uma pública e a outra particular. Subsidiado
teoricamente nos trabalhos realizados por Zorzi (1998; 2003), Morais (2000; 2003), Cagliari (2008),
Guimarães (2005), Kato (2004) e outros autores pesquisados, os quais analisam os processos de
aprendizado da ortografia, as dificuldades vivenciadas pelos usuários no momento da escrita e a
teoria da classificação dos desvios ortográficos. A pesquisa ocorreu no segundo semestre de 2010
com alunos provenientes da zona urbana de Manaus com média de idade entre 24 e 26 anos. Para
tanto, a pesquisa envolveu a utilização de duas atividades primordiais para a coleta de dados, um
questionário e um teste de observação ortográfica nos moldes de um ditado de palavras isoladas. No
que se refere aos resultados dos questionários oportunizaram avaliar o perfil do aluno ingressante no
curso superior e suas expectativas. Tais expectativas são de um melhor aprimoramento da escrita
durante o período na universidade. Por último, a análise do teste de observação ortográfica revelou
que as mesmas categorias de desvios ortográficos são compartilhadas pelos dois grupos estudados,
mas em posições diferentes. Além disso, os sujeitos da faculdade particular apresentam um número
maior de desvios ortográficos identificados em sua escrita, são exatamente 300 desvios a mais do
que o encontrado no grupo da faculdade pública. Destaca-se que o resultado do ditado de palavras
demonstrou que as principais dúvidas ortográficas dos alunos são decorrentes da não
correspondência entre o número de grafemas e o de fonemas, presentes na língua escrita
(representação múltipla) e também quanto à acentuação das palavras (acentos gráficos). Estes dados
que podem direcionar os estudos de Língua Portuguesa nas disciplinas dos cursos de graduação
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frequentados pelos sujeitos da pesquisa, com a finalidade de auxiliá-los na superação de suas
dificuldades.
OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA: MARCAS DA PRÁTICA DOCENTE
Ernandes Araujo Nascimento – UFMT
Esta comunicação tem como base um recorte do Projeto MARCAS DA PRÁTICA DOCENTE
EM TEXTOS DE ALUNOS PARTICIPANTES DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA
PORTUGUESA (UFMT/MESTRADO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS) e objetiva, identificar
as marcas da atuação docente (positivas ou negativas) no ensino de escrita da Língua materna,
presentes em textos de alunos participantes desse programa do Governo Federal em sua etapa
municipal nas escolas de Barra do Garças-MT. Iremos analisar textos escritos por esses alunos nos
gêneros artigo de opinião e crônica que tem como tema “O lugar onde vivo”. Nossa proposta é
identificar nos textos produzidos, marcas da compreensão ou não de professores e alunos, relativos
às orientações estabelecidas pela olimpíada conforme estabelece o manual do professor, tendo como
referencial a proposta de sequência didática e os critérios avaliativos fornecidos pelo programa para
o ensino dos gêneros propostos. Nossa pesquisa está embasada na teoria do gênero do discurso a
partir da leitura de Bakhtin e nos estudos dos gêneros orais e escritos na escola, elaborados por
Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz, que nos explicam questões básicas e fundamentais do que são
os gêneros e qual a melhor forma de organizar o trabalho com eles ao longo do currículo. Em nossa
investigação iremos adotar o método qualitativo, a partir da análise dos textos de alunos vencedores
da etapa escolar, enviados a comissão julgadora municipal. Com o intuito de identificarmos o
planejamento realizado pelo professor, elaboramos questionários que foram respondidos pelos
professores dos alunos produtores dos textos e confrontamos com o resultado da análise. Utilizamos
como referencial teórico, obras de diferentes autores que fazem abordagem sobre a produção
textual, como também os cadernos do professor, ofertado pelo Programa Olimpíada de Língua
Portuguesa escrevendo o futuro, ancorado na proposta de sequência didática elaboradas por
Schneuwly e Dolz. Como professor formador dos profissionais das Escolas Municipais e Estaduais,
pertencentes ao polo do CEFAPRO de Barra do Garças – MT, desejamos que haja a compreensão
sobre o potencial pedagógico da Metodologia de Sequência Didática no ensino da Língua e
esperamos que por meio da utilização dessa metodologia, esses professores aprimorem os seus
conhecimentos acerca dos pressupostos teóricos que embasam as práticas de leitura e de escrita,
pois o trabalho com sequência didática permite criar situações com contextos que possibilitam
reproduzir em grandes linhas e no detalhe a situação concreta de produção textual, incluindo sua
circulação, ou seja, com atenção para o processo de relação entre produtores e receptores.
A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM TEXTOS DE OPINIÃO DE ALUNOS DO 9º ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL SOB A LUZ DA TEORIA DOS TOPOI
Ana Paula Martins Alves – UFC
Mônica de Souza Serafim –UFC
Segundo a Teoria da Argumentação na Língua (TAL), defendida por Oswald Ducrot, a
argumentação encontra-se marcada nas escolhas linguísticas, em que os encadeamentos
argumentativos possíveis no discurso não estão ligados apenas às informações que elas veiculam,
mas à estrutura linguística dos enunciados, de forma que os sentidos dos enunciados indicam a
direção da continuação do diálogo, orientando o interlocutor a certo tipo de conclusão. Nesse ponto
do vista, a Teoria dos Topoi, segunda fase da TAL, analisa as expressões argumentativas que,
fundamentadas em princípios gerais (topos), justificam certa conclusão. Para a TAL, o topos se
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599
constitui como crenças gerais aceitas pela sociedade, ou ainda, princípios gerais que fundamentam
os raciocínios que permitem o acesso a uma conclusão, sem precisar estar expressamente ditos.
Destarte, sob o ponto de vista da Teoria dos Topoi, a presente pesquisa teve como escopo investigar
a construção do sentido em textos de opinião de estudantes do 9º ano do ensino fundamental de uma
escola pública do município de Fortaleza. Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa do tipo
explicativa, de base interpretativa e de caráter descritivo. Os dados foram coletados no 1º semestre
de 2012 num contexto de estudo sobre produção textual e contou com a participação de 50 alunos.
Após a exibição do vídeo “Vida Maria” e debate sobre questões levantadas a partir da percepção
dos alunos, estes produziram um artigo de opinião. A análise dos dados pautou-se nos pressupostos
teóricos ducrotianos da Teoria da Argumentação na Língua (TAL), focando-se especificamente na
segunda fase, a da Teoria dos Topoi. Nesse contexto, buscamos identificar nas produções dos
alunos o(s) ponto(s) de vista(s), o(s) enunciador(es), assumidos pelo locutor, bem como analisar os
argumentos utilizados pelos produtores dos textos, a partir da noções de escala argumentativa e
classe argumentativa postuladas por Ducrot.
O USO DE GÊNEROS EMERGENTES NA ESCOLA:
UMA REFLEXÃO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS
Rosilda Maria Araújo Silva dos Santos – UE
Cláudia Graziano Paes de Barros – UFMT
Os recursos tecnológicos tem se tornado fundamentais no cotidiano do usuário da Língua
Portuguesa e a necessidade disto está criando um novo momento histórico para a humanidade. Em
cada esfera há gêneros diferentes que estão sendo utilizados e que não podem passar despercebidos
pela escola, porque são gêneros emergentes, que como disse Marcuschi (2010, p.16) há “discursos
eletrônicos” que podem servir de análise de efeito na linguagem e no papel desta linguagem nas
tecnologias. Este artigo tem como tema Os gêneros emergentes na escola e pretende discutir sobre a
ótica de professores de escolas públicas quanto ao uso destes gêneros em sala de aula. A ideia parte
da hipótese inicial de que apesar de haver investimento tecnológico nas escolas, o ensino da Língua
Materna ainda sinaliza lacunas quanto à potencialização de gêneros. Neste sentido, a pesquisa está
alicerçada teoricamente em Bakhtin ([1979], 2003), Schneuwly e Dolz (2004) e Bazerman (2006)
ao tratarem sobre gêneros discursivos, Marcuschi (2010) e Xavier (2011) ao falarem sobre gêneros
emergentes, Meurer (2005) ao propor enriquecimento no cenário de debates sobre os gêneros
oportunizando reflexões sobre a metodologia de ensino da Língua, Geraldi (1997) e Elias (2011)
quando discorrem sobre o ensino da Língua Portuguesa. A metodologia adotada para desenvolver
este estudo foi por meio de entrevista com doze professores e vinte alunos de Ensino Médio de três
escolas públicas da cidade de Escada-PE, além de se observar algumas aulas para estabelecer
comparação entre as respostas apresentadas pelos entrevistados com a prática do cotidiano. Enfim,
este artigo pode potencializar os gêneros emergentes em sala de aula, ampliando a visão de
profissionais da educação quanto à imprescindibilidade do uso destes recursos didáticos nos dias
atuais, já que as inovações tecnológicas podem atingir o processo de ensino e aprendizagem
aproximando os alunos e professores desta conjuntura histórica, política e social que é a era da
tecnologia, além de possibilitar reflexões sobre práticas educativas.
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PROJETO DIDÁTICO DE GÊNERO CARTA DE RECLAMAÇÃO: UMA PROPOSTA DE
AÇÃO SOCIAL
Andreza Mara Formento – SMED NH/UNISINOS
O projeto “Por uma formação continuada cooperativa para o desenvolvimento do processo
educativo de leitura e produção textual escrita no Ensino Fundamental”, coordenado pela Profa.
Dra. Ana Maria Guimarães e apoiado pelo Programa Observatório de Educação da CAPES, surgiu
da necessidade de fazer interagir o saber acadêmico sobre ensino da língua materna e o saber
prático de professores da Educação Básica. Os professores, bolsistas do Projeto, desenvolveram um
programa de leituras e discussões de conceitos que fundamentaram as demais etapas da pesquisa.
Ao final da primeira etapa, o grupo de professores bolsistas foi desafiado a planejar um projeto
didático de gênero (PDG) a partir de uma temática observada pelo professor em sala de aula e de
um gênero de texto por ele escolhido. Os projetos serviram de base para novas discussões sobre a
didática de gêneros, propostas de escrita, leitura e formas de avaliação. A ideia é desenvolver o
ensino de língua materna com base em gêneros, mas amparado em práticas sociais dos próprios
alunos e embasar o trabalho docente através da fundamentação teórica da sua criação. No projeto a
ser apresentado, a temática social escolhida foi a questão dos problemas de trânsito em frente à
escola. O gênero textual escolhido para trabalhar neste projeto é a carta de reclamação, que faz parte
do domínio do argumentar. Na área de Língua Portuguesa, foram trabalhadas questões da estrutura
do gênero e gramaticais, a partir da análise das produções iniciais dos alunos. Assim, após a
verificação das reais necessidades dos aprendizes, foram organizadas oficinas para produzir, passo a
passo, a estrutura do gênero proposto: posicionamentos, argumentos, destinatário, remetente;
valorizando a autocorreção. O PDG proposto vai além das aulas de produção textual, pois, a partir
do tema problemas de trânsito, propõe-se um projeto interdisciplinar, buscando parcerias entre
diversas áreas. A disciplina de Arte trabalhou o assunto apresentando a história do grafite, como
forma de manifestação artística em espaços públicos, conhecendo e aplicando termos e técnicas
desta arte, estudando alguns artistas que retratam a realidade através da grafitagem. Os alunos
participaram da aplicação de grafite no muro da escola a partir do tema e observando a diferença
existente entre a pichação. Em Ciências, foram desenvolvidos conteúdos sobre a atmosfera, os gases
que compõem e os problemas que afetam: poluição, efeito estufa, aquecimento global, destruição da
camada de ozônio. Na disciplina de Matemática, abordaram a leitura de gráficos sobre a
composição do ar, histórias matemáticas envolvendo os problemas ambientais causados pela
poluição dos automóveis. Estudaram as multas de trânsito e cálculos relacionados à sua pontuação.
Em História e Geografia, analisaram os impactos sobre a vinda do trem a cidade de Novo
Hamburgo e ao bairro da escola. Observaram questões sociais sobre o trânsito, tais como a questão
da poluição, a evolução dos meios de transporte e o uso da matéria prima para desenvolvê-los. A
professora de inglês trabalhou com vocabulário relacionado ao trânsito questionando sobre a
opinião dos alunos com relação ao tema
para evoluir para regras de trânsito e questões de cidadania e meio ambiente, propôs paralelamente
a leitura de notícias relacionadas ao trânsito e nas quais o mesmo vocabulário foi trabalhado em
inglês e português. Findo o estudo sobre os problemas de trânsito na rua da escola, utilizamos
alguns dados para embasar a carta de reclamação que foi enviada ao órgão municipal competente
com a intenção de utilizar o trabalho dos alunos para transformar sua realidade social.
UMA REFLEXAO BAKHTINIANA SOBRE GENEROS DISCURSIVOS
Renata Silva Siqueira – UFMT
Neste presente trabalho pretendemos reconhecer os direcionamentos teóricos e metodológicos
propostos pelos PCNS para realização das atividades docentes de Língua Portuguesa do Ensino
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Fundamental. Utilizaremos o livro didático (LD): Língua Portuguesa – Linguagem e textos do
Ensino Fundamental, adotado por inúmeras escolas do estado de Mato Grosso, para observações
quanto as atividades/propostas de produção textual e considerar a página de “apresentação“ do livro
em que o autor pronuncia o seguinte enunciando -–“Os textos deste livro falam de você, De seu
estar na vida, De seus sonhos, De seus prazeres, De seus medos, Falam de muitas coisas que o
cercam: da natureza, do seu dia-a-dia, da sua casa e de seu pais”,“A linguagem, concretizada em
páginas deste livro, nos gêneros textuais verbais e não–verbais, ‘e o meio que pode oferecer a você
um caminho para entender a tudo isso e a si mesmo”, nesse inicio o autor esclarece o seu ponto de
vista e em qual fundamentação teoria está inscrito. Almejamos identificar se o livro abordado
consegue de fato atender aos pressupostos na teoria bakhtiniana sobre gêneros discursivos e sua
concepção de linguagem, com base nos PCNs. O LD em questão oferece diversificadas atividades
que propõem a interdisciplinaridade de produção oral e escrita, trazendo ao aluno prática das suas
habilidades de leitura e espaço em que exercitará situações reais de interação com os mais diversos
enunciados possíveis. No livro é trabalhado em cada unidade um gênero diferente, de maneira
contextualizada e favorecendo a maioria das competências defendida pelos Parâmetros
Curriculares. As atividades de produção textual estão na maioria das vezes condizentes com o
gênero abordado na unidade, sendo oferecido ao decorrer das páginas, subsídios para que o aluno
produza seu texto. Para a realização deste trabalho nossos alicerces teóricos se inscrevem nos
estudos bakhtinianos sobre a linguagem e na teoria sócio- histórica de aprendizagem de Vygotsky.
EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA- A VOZ DISCENTE SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Luciene Fernandes Loures – UFJF
O presente trabalho Educação linguística- a voz discente sobre o ensino de Língua Portuguesa
vincula-se ao Projeto “ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA DA FORMAÇÃO DOCENTE À
SALA DE AULA”, inscrito na linha de Pesquisa Linguística e Ensino de Língua do PPG
Linguística - UFJF. O principal objetivo deste estudo é traçar o perfil dos alunos de Língua
Portuguesa, ou seja, observar como esses estudantes caracterizam a si mesmos, assim como a seus
colegas, buscando, ainda, compreender quais são suas experiências mais marcantes (positivas e
negativas). Para tanto, possui como objeto investigativo os discursos discentes sobre as experiências
vividas durante as aulas de Língua Portuguesa. O cenário escolhido corresponde a 20% das 31
escolas da rede estadual de ensino que possuem ensino fundamental e médio do município de Juiz
de Fora. Este percentual nos levou a sete colégios com diferentes graus de risco social e de
desempenho de acordo com as avaliações governamentais. Os estudantes pesquisados pertencem ao
nono ano de ensino fundamental e ao segundo do ensino médio, resultando num total de 364 alunos.
Para esta pesquisa, foram utilizados apenas os discursos em primeira pessoa. Desse modo, foram
excluídos os segmentos referentes aos professores, à matéria e à escola, resultando, assim, em 126
alunos. O instrumento aplicado contem uma parte fechada (que busca traçar o perfil sócio
econômico do aluno) e outra aberta. A parte aberta foi composta por apenas um enunciado, que deu
ao discente a possibilidade de escrever uma narrativa sobre sua história como aluno de português,
relatando suas vivências mais marcantes. A utilização da narrativa se deu devido ao fato deste tipo
textual possibilitar ao aluno a escolha do que vai falar, do que ele considera mais relevante.
Portanto, este trabalho não pretende demonstrar a realidade das salas de aula de Português, mas sim
a realidade que os alunos desejam passar. Nosso escopo teórico baseia-se da Linguística Cognitiva
(LAKOFF, 1987; LAKOFF e JOHNSON, 1999, 2002; FILLMORE, 1982), em especial da
Semântica de Frames ((FILLMORE, 1979, 1982 e 2006) e, ainda, utiliza-se do projeto de anotação
lexicográfica FrameNet (www.framenet.icsi.berkeley.edu). A utilização dos frames têm se mostrado
uma ferramenta muito importante para a análise do discurso dos discentes. O número elevado de
ocorrências de frames como o frame de dificuldade, por exemplo, demonstra a perpetuação de
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determinados mitos associados à língua, assim como um não reconhecimento na disciplina
ensinada. Para compor nossa teoria e a fim de promover uma análise mais ampla e apurada, temos,
ainda, a Linguística Aplicada, Sociologia, Psicologia Social, Educação e a Antropologia
Evolucionista,o que nos possibilita um olhar multidisciplinar sob nosso objeto de pesquisa.
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO SUL DO MATO GROSSO:
NOVAS PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO
MÉDIO?
Agameton Ramsés Justino – UFMT/CUR
Uma vez que os documentos oficiais do ensino básico brasileiro redefiniram o paradigma do ensino
de língua portuguesa a partir de 1998 - com os PCN, os PCNEM (2000) e depois com o OCEM
(2006), são consideráveis os avanços nas concepções dos objetivos do ensino de língua e dos
fundamentos epistemológicos e metodológicos advindos de então. Até aquele momento, as
pesquisas vinham demonstrando a urgente necessidade de novos caminhos para o ensino. Possenti,
Franchi, Neves, Geraldi, Perini, para citar alguns dos principais autores na área, demonstravam que
a Língua Portuguesa era uma disciplina com objetivos equivocados, metodologia ineficiente e
resultados bastante insatisfatórios, do ponto de vista do desenvolvimento dos alunos em suas
competências gramaticais, textuais e comunicativas. Hoje, são significativos os avanços nas
propostas de se trabalhar o ensino da língua em torno da concepção de gêneros, tal como
preconizam, por exemplo, Rojo (2006) e Antunes (2008). E, embora muitos professores do ensino
básico já demonstrem alguma familiaridade com noções do ensino de língua fundamentadas nesses
novos paradigmas, ainda é preciso observar melhor se a estes professores estão sendo oportunizadas
condições de aprimoramento para o trabalho em sala de aula. Sendo assim, o presente trabalho
investiga se o modelo atual de formação continuada tem oferecido aos professores de Língua
Portuguesa subsídios teórico-metodológicos para uma abordagem sócio-interacionista do ensino no
nível médio. Estudamos especificamente os cursos oferecidos pelo CEFAPRO (Centro de Formação
Continuada de Professores, vinculado à Secretaria Estadual da Educação do Mato Grosso), de
Rondonópolis-MT, aos professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio dos 14 municípios da
região sul de Mato Grosso. Ao estudarmos a formação promovida por este órgão aos professores da
região no ano de 2012, verificamos a oferta de apenas um curso, sendo este voltado para a
preparação para as Olimpíadas da Língua Portuguesa, promovidas em todo Ensino Médio brasileiro
anualmente pelo MEC. O principal objetivo desse curso foi melhorar o desempenho das escolas da
região nas Olimpíadas. Para isso, os formadores utilizaram-se de bibliografia atualizada na
elaboração do seu material de apoio, a fim de preparar os professores de Língua Portuguesa ao
ensino de produção textual, de acordo com os gêneros propostos pelo MEC. Entretanto, nos
perguntamos em que medida os professores têm recebido uma formação que lhes garanta uma
ressignificação das suas próprias concepções de linguagem, do ensino de língua e de gramática. A
análise do material oferecido aos professores pelo CEFAPRO mostra avanços, como a orientação
do aprimoramento da produção textual a partir de sequencias didáticas, conforme os modelos de
Dolz e Schneuwly (2004). Todavia, é incipiente uma formação efetiva que promova a renovação
das práticas em sala de aula de língua portuguesa, uma vez que a interação com os gêneros ainda
ocorre de forma artificial e o ensino de gramática neste contexto apenas reproduz os modelos
prescritivistas tradicionais.
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A LEITURA LITERÁRIA E SUAS POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DO SUJEITOLEITOR
Renato de Oliveira Dering – UFG/CAJ
A leitura literária em ambiente de sala de aula é um fator imprescindível no ensino de uma Língua.
Portanto, é eficaz a percepção de que a leitura uma das principais responsáveis pelo vínculo entre
sujeito e sua representação, seja essa social, histórica ou cultural. Tomando como perspectiva os
apontamentos de Umberto Eco (2011), em Sobre a literatura, podemos verificar que a literatura é
fundamental para a formação da Língua e sua evolução, pois além de criar identidade, ela institui
comunidade entre esses sujeitos. Não apenas, Eco ainda ressalva que a prática da leitura remete a
um exercício com a nossa Língua individual. Não obstante e corroborando, Wolfgang Iser (1999),
em O ato da leitura, levanta a proposição de que o lugar vazio do texto é que permite a esse leitor
se construir e participar dos acontecimentos que o envolvem e perfazem, e, desse modo, agindo
sobre os mesmos. Por assim ser, esse sujeito se constitui e também constrói esse meio, em uma
relação dialógica. Observando esses apontamentos, é importante defender a ideia de que o Professor
de Língua deve ser um dos responsáveis por aproximar seu aluno (sujeito-leitor) da prática de
leitura, uma vez que a Língua não se dissocia de sua cultura, e que a literatura é uma prática que
emerge dessa. Deste modo, entre os gêneros literários, o conto se torna um texto de melhor manejo
em sala de aula, observando, principalmente, sua extensão e suas articulações no que tange sua
literariedade. Por assim entendermos essa relação, o presente estudo objetiva contribuir para uma
análise reflexiva acerca dos contos brasileiros em sua relação com a formação desse sujeito-leitor e
da sociedade que o tange. Para tanto, articularemos a teoria e crítica literária a respeito da contística,
em intersecção aos aspectos socioeducativos e as leis que regem o ensino de literatura no ensino
básico e superior.
O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE LEITORA NAS HISTÓRIAS VIDA DE ALUNOS E
ALUNAS DO PRONERA, BAHIA
Antonilde Santos Almeida – UNEB
Este artigo apresenta a contextualização da pesquisa, o problema e objetivos da investigação para
análise do processo de formação leitora na historia de leitura dos alunos/alunas do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA na Regional de Itaberaba, verificando se as
leituras realizadas contribuíram e contribuem para a constituição de ser e de viver assentados. Além
de mostrar um pouco dos antecedentes teóricos nos âmbitos nacional e internacional sobre a
educação do campo, os aspectos teóricos sobre leitura, algumas histórias de vida dos assentados e a
importância que eles dão à formação leitora. A parte metodológica deste estudo percorreu a história
de vida dos sujeitos, as técnicas, e os instrumentos como entrevista semi-estruturada (oral e escrita),
roteiro com tópico- guia (temas específicos): historias de leitura construídas, roteiro com tópico
guia, questionário e o inventário de leitura: cadastro de dados, investigação (práticas de leitura),
reconhecimento (dificuldades, potencialidades, suportes textuais e espaços possibilitadores de
leitura). Para a análise dos dados, foram vistas algumas falas de atores sociais que fazem parte de
movimentos sociais do campo e luta pela terra: Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados e
Acampados e Quilombolas - CETA, Fundação de Apoio à Agricultura Familiar do Semiárido da
Bahia – FATRES e Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Bahia - FETAG. A
análise foi baseada na fundamentação teórica construída a partir de Costa (2000), Freire (2001),
Hall (2006), Kleiman (1989), Santos (2000), Souza e Cordeiro (2007). Como considerações finais,
foram percebidas nas respostas para as questões que houve o alcance de um dos objetivos principais
para responder a seguinte pergunta de investigação: como se configura o processo formação leitora
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na história de vida dos alunos e as alunas do curso de magistério PRONERA/Itaberaba, assentados e
assentadas, em movimentos sociais do campo.
DIMENSÕES E HABILIDADES LINGUÍSTICAS A PARTIR DE UMA SEQUÊNCIA
DIDÁTICA NOS DIFERENTES GÊNEROS.
Maria Goreti Barichello Cerqueira – UFG
Esta comunicação, com base na teoria funcionalista da linguagem difundida por Halliday e Dick
desenvolvida aqui no Brasil por Maria Helena de Moura Neves, tem o propósito de apresentar a
relação entre estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas
são usadas, bem como refletir a respeito da necessidade de se compreender a organização discursiva
de determinados gêneros, considerando o contexto de situação e o contexto de cultura, como tipo de
organização simbólica dos significados ideacionais e interacionais em textos coerentes e relevantes
operacionalizados na função textual. Com base na teoria de linguagem originada no dialogismo
bakhtiniano, desenvolverei uma proposta teórico-metodológica de análise funcional dos gêneros,
baseada nas metafunções (a ideacional, a interpessoal e a textual) do sistema linguístico que prevê o
reconhecimento de diferentes dimensões linguístico-discursivas que podem auxiliar na
operacionalização do ensino baseado na noção de gêneros o que, consequentemente, também, pode
contemplar a demanda pelo desenvolvimento de competências diversas. No presente trabalho, farei
um recorte do projeto de pesquisa que será desenvolvido, com objetivo de divulgar o estudo
analítico das dimensões e habilidades linguísticas em um texto de humor (tira, piada, história em
quadrinhos, lances divertidos de uma crônica, ou até mesmo em uma conversa informal) que podem
ser exploradas, a partir do enfoque nos fenômenos de linguagem específicos que compõem a
metafunção discursiva, partindo do pressuposto de que a língua se constitui como evento de
interação e como expressão de conteúdo, a partir de diferentes dimensões da atividade interativa
visíveis nos gêneros discursivos. Portanto, a ideia é provocar a sensibilidade do aluno para o
fenômeno linguístico, a partir de experiência singular com o texto, haja vista se o ideal que a aula de
língua Portuguesa favoreça ao aluno a possibilidade de agir refletidamente, de enfrentar desafios, de
discutir questões, de perceber a funcionalidade das escolhas linguísticas promovidas nos textos.
Assim, diante do exposto, precisamos que os estudos mais recentes da teoria linguística – estudos
baseado em gêneros, que privilegiam o reconhecimento de diferentes dimensões linguísticodiscursivas para o desenvolvimento de competências diversas – cheguem, de fato, aos programas de
ensino das salas de aula.
GÊNERO TEXTUAL: ESTRATÉGIA INTERATIVA NO ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA.
Expedito Wellington Chaves Costa – IFCE
A linguagem é, hoje, reconhecida como instrumento de interação social, empregado pelos sujeitos
humanos com o objetivo primordial de transmitir informações diversas entre interlocutores e
contextos reais. Por isso, as regras do sistema linguístico devem ser usadas como meios aos
objetivos da interação verbal e da aprendizagem da língua materna. Nesse sentido, os gêneros
textuais se apresentam como uma forma de comunicação capaz de realizar objetivos específicos em
situações sociais particulares, o que, no ensino de Língua Portuguesa, garante a relação entre a
aprendizagem e os contextos comunicativos do cotidiano dos alunos e dos professores, uma vez que
cada gênero supre pelo menos uma necessidade comunicativa oral ou escrita. Além disso, ao usar os
gêneros textuais nas aulas, os professores podem explorar todos os aspectos (como forma, função,
estilo e conteúdo), para ensinar estrutura e uso dos fenômenos linguísticos, para aquisição e
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605
desenvolvimento de competência comunicativa. Por sua vez, os alunos se tornarão usuários mais
competentes da língua natural na proporção em que produzem e fazem circular discursos coerentes
com a circunstância de comunicação e com o perfil do interlocutor. Os discursos são considerados
aqui enquanto unidades de sentido, capazes de mobilizar locutor e interlocutor no processo de
transmissão e compreensão de mensagens variadas. A propósito disso, o objetivo deste artigo é
apresentar o potencial dos gêneros textuais no ensino de Língua Portuguesa e algumas estratégias de
como utilizá-los para o aprimoramento das competências linguísticas e comunicativas dos
estudantes, independente do nível em que se encontrem. A seleção dos gêneros a serem usados é
facilitada pela ocorrência deles em diversos portadores, entre os quais o jornal impresso é um dos
mais profícuos. Conclui-se que a necessidade e a diversidade da comunicação contemporânea
exigem contato permanente dos estudantes com a diversidade de discursos e gêneros textuais, para
garantir-lhes desenvolvimento de competência comunicativa e aprendizagem real das funções da
língua materna.
EXPERIÊNCIAS DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA COM LEITURA E
ESCRITA NA PERSPECTIVA BAKHTINIANA
Lucimeire da Silva Furlaneto – UFMT/MeEL
RESUMO: Este trabalho consiste num projeto de dissertação que enfoca o letramento do professor
de língua materna. Desde o advento dos PCN, nos anos 90, o ensino de língua materna (língua
portuguesa, em nosso caso), vem sofrendo diversas modificações, tanto nos aspectos teóricos
quanto metodológicos. Isso tem reverberado sobre as práticas do professor, e inúmeros esforços das
políticas públicas, como cursos de formação continuada, como GESTAR II, Eterno Aprendiz, têm
contribuído para este processo. Entretanto, verificamos, apesar de todos os esforços, que as práticas
do professor ainda estão alicerçadas em abordagens transmissivas e as considerações e concepções
sobre a língua ainda são bastante tradicionais. A que se deve esta ausência de mudança nas práticas
em sala de aula de língua portuguesa? Assim, preocupados com o ensino básico, principalmente
com os anos de ensino fundamental, lançamos a hipótese de que as dificuldades encontradas com o
professor residem, ainda, em suas próprias dificuldades individuais no trato com a leitura e a escrita,
ou seja, naquilo que podemos chamar de “letramentos do professor”, para bem exercício de sua
profissão. Para gerarmos dados, buscaremos, portanto, observar um projeto de Formação
Continuada a ser realizado pela UFMT, a ser oferecido a professores da Rede Municipal de Cuiabá,
no segundo semestre de 2012: “LETRAMENTOS DO PROFESSOR: VIVÊNCIAS DE LEITURA
E ESCRITA EM LÍNGUA MATERNA”, através do Grupo de Pesquisa “Relendo Bakhtin”
(REBAK), subgrupo REBAK FORMAÇÃO, dentro do projeto de pesquisa “Relendo Bakhtin:
contribuições do Círculo de Bakhtin para uma análise dialógica de discursos produzidos em
diferentes esferas da atividade humana”, inscrito no Programa de Pós-graduação em Estudos de
Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso (MeEL). O curso será presencial e a distância,
e tem como carro-chefe a vivência em leitura e escrita com foco na melhoria do letramento do
professor. As questões de pesquisa a serem investigadas são: 1) Como os professores, no curso de
formação, lidam com as atividades de leitura e escrita, propostas pelo material do curso? 2) Quais
os resultados do processo formativo, em termos das práticas efetivas em sala de aula? Para tanto,
utilizaremos de observação participante, entrevistas, análise de textos produzidos pelos professores,
e de respostas de exercícios, bem como da correspondência (emails) utilizados pelos professores e
os formadores durante o processo. A pesquisa, ainda inicial, é de cunho enunciativo-discursivo, nas
perspectivas bakhtinianas e vygotskyana.
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PERSPECTIVAS E ABORDAGENS NO ENSINO DE LITERATURA: O GÊNERO
DRAMA EM SALA DE AULA
Rodrigo Damacena Alves – UFG/NELIM
Renato de Oliveira Dering – UFG/CAJ
O ensino de literatura requer certo cuidado didático, para que não recaia em análises voltadas ao
estudo de gramática normativa ou no simples ato de ler e entender o que o autor disse quis dizer.
Quando se aborda questões de gêneros literários, principalmente, o zelo deve ser ainda maior, e o
ensino mais cauteloso. Esse cuidado recai, também, na preocupação de não tornar a aula de
literatura algo decorativo e de mera repetição, isto é, não fazer com que a disciplina fique chata e
desinteressante para o aluno e fuja das funções da própria literatura. Isto, pois, é relevante no que
tange o ensino de literatura, porque pode afastar o aluno do hábito da leitura e, consequentemente,
da literatura e do ensino, em uma abordagem mais ampla. Assim, o presente estudo aborda outras
possibilidades nos processos de ensino-aprendizagem de literatura, através do estudo do gênero e da
leitura literária. Deste modo, nossa proposta vai contra a prática de ensino recorrente em grande
parte das escolas, que consiste em repassar ao aluno fórmulas e maneiras de decorar datas, estilos,
nomes de autores e obras, ensinando, portanto, apenas história da literatura. A história da literatura
precisa ser veiculada ao viés crítico e teórico, abordando aspectos literários e extraliterários. Para
levantar tais pressupostos para essa perspectiva de ensino, Uma noite em cinco atos, do escritor
contemporâneo Alberto Martins, foi a obra utilizada nesta pesquisa. Busca-se, com esse diálogo
entre obra e leitor, mostrar que a literatura não é um método decorativo, nem simplesmente voltado
à leitura do texto por ele mesmo, mas mostrar as potencialidades da literatura em suas
possibilidades Por essa verificação, também se pretende adentrar a questões de letramento literário,
ampliando, assim, a capacidade de compreensão e aprendizado dos alunos. Visa-se, então, à
formação desses sujeitos-leitores, entendendo que é nas atividades de linguagem que esse sujeitoleitor (aluno) se constitui, bem como em suas diversas relações com o meio, com outros sujeitos e
com a arte que suscita deles: a literatura.
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SIMPÓSIO 56
RECURSOS ELETRÓNICOS, MULTILETRAMENTOS E ENSINO DE
PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (PLE)
O Português é atualmente a sexta língua mais falada no mundo e, perante os progressos dos países
lusófonos no cenário internacional, está cada dia mais explícita sua importância em vários
contextos. O ensino de PLE - Português como Língua Estrangeira - depende de materiais didáticos
atualizados que façam parte do processo ensino-aprendizagem. Mesmo que haja um grande
desenvolvimento na publicação de manuais de PLE destinados aos aprendentes, continuamos a
sentir grande falta de referências tanto para aulas como para pesquisas a respeito do ensino de PLE
no contexto dos multiletramentos e das tecnologias digitais. De modo tradicional, tem-se ainda
acesso a materiais nas bibliotecas, os quais, de certa maneira, não servem para satisfazer
completamente as exigências do novo perfil de geração de aprendizes de PLE, por diversos
motivos. Os aprendentes jovens têm preferência por materiais atualizados e, de preferência, com
acesso a novas tecnologias, mobilidade e midiaseletrónicas. Com o avanço de novas tecnologias
nota-se cada vez mais a utilização de recursos eletrónicos para as aulas ou como materiais de
referência para pesquisas. No entanto, perante uma imensa variedade de materiais eletrónicosa que
se tem acesso na internet, é natural formular diversos questionamentos: serão confiáveis todos os
materiais eletrónicosa que temos acesso? Que tipo de materiais eletrónicos se usa com mais
frequência? Qual é a estratégia que se usa na selecção dos materiais electrónicos? Como é que se
faz a adaptação dos materiais para serem utilizados nas aulas? O que é que os aprendentes acham
dosmateriais eletrónicos escolhidos pelo professor? Como devem ser os livros didáticos se pensados
no contexto do mundo digital? Por que os multiletramentos na escola, especialmente o letramento
digital, tornam-se importantes para o ensino de PLE? Esperamos que tais questionamentos possam
promover discussões entre os participantes de diversos países com o objetivo de trocar experiências
exitosas de uso de recursos tecnológicos visando promover o ensino de PLE no contexto dos
multiletramentos e da cultura digital.
COORDENAÇÃO
Acir Mário Karwoski
Universidade Federal do Triângulo Mineiro
[email protected]; [email protected]
Zhang Weiqi
Universidade de Estudos Internacionais de Shanghai
[email protected]
[email protected]
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QUE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO USAR NO ENSINO DE
PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA?
Luiza Ujvari Pabst – UFRGS
Considerando o grande crescimento econômico do Brasil e a atração de olhares para o país, que
hoje se configura como uma economia emergente, cheia de potenciais e oportunidades, e a
consequente expansão do ensino de português como língua estrangeira (PLE) no mundo, é
necessário pensar de forma mais criteriosa sobre o ensino de português que é oferecido para
estrangeiros no Brasil. Assim, várias questões ainda sem resposta surgem constantemente para os
professores brasileiros de PLE, como a questão da variação linguística, ponto central nas mais
diversas discussões sobre o ensino de línguas e, é claro, também central nas discussões sobre o
ensino de português brasileiro (PB). Sendo assim, após discorrer brevemente sobre a constituição e
a formação do PB e sobre a definição de norma culta no Brasil, analiso dois livros didáticos de PLE
(Novo Avenida Brasil, 2010, e Muito Prazer, 2008) e duas gramáticas de PB (PERINI, 2010 e
BAGNO, 2012) em três pontos gramaticais considerados polêmicos para o ensino (a concordância
nominal, o uso dos pronomes demonstrativos esse x este e o uso e a colocação dos pronomes
oblíquos), tentando buscar uma resposta para a pergunta que intitula este trabalho: “que gramática
do português brasileiro usar no ensino de português como língua estrangeira?”. Neste trabalho,
entende-se o conceito de “gramática” de duas formas: “gramática” como “norma gramatical” e
“gramática” como “compêndio gramatical”. Assim, busca-se uma definição de norma culta do PB,
considerando especialmente o ensino de português para estrangeiros (PPE), bem como um livro
didático e um compêndio gramatical que se mostrem adequados para auxiliar o professor de
PLE/PPE no seu trabalho. Para isso, analisam-se os quatro livros acima citados, que foram
escolhidos de acordo com dois critérios gerais: publicação recente e relevância. No caso dos livros
didáticos, foi escolhido um livro bastante conhecido e outro não muito popular, possibilitando a
discussão de uma obra bastante utilizada e de outra pouco conhecida. Os compêndios gramaticais
foram escolhidos pelos mesmos critérios gerais e pelo fato de ambos descreverem o PB (norma
falada no Brasil).
MULTILETRAMENTOS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA
COM ALUNOS SURDOS
Alessandra Gomes da Silva – INES
A presente comunicação tem como objetivos descrever e refletir acerca de atividades propostas para
o ensino de literatura e língua portuguesa escrita como segunda língua, no contexto de educação de
surdos, no Instituto Nacional de Educação de Surdos. Nele, pretendemos, então, buscar
compreender como se desenvolve a construção das habilidades de leitura e escrita desses alunos,
por meio do uso de diferentes tecnologias, aliadas ao seu processo de letramento, tendo como base
um trabalho com textos de diferentes gêneros e suportes. Nesse sentido, consideramos que
letramento é, citando Kleiman (1995:18/19), “um conjunto de práticas sociais, que usam a escrita,
como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”.
Por conseguinte, acredita-se que o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita deva
favorecer tanto uma leitura crítica dos textos, como da própria sociedade em questão. Atualmente,
percebe-se ainda que o conceito de letramento envolve o domínio de diversas linguagens que
caracterizam nossa sociedade multissemiótica. Ao abordar a questão desses múltiplos letramentos,
Rojo (2009) questiona as práticas utilizadas pela escola que já não contemplam a multiplicidade de
códigos envolvidos nos textos atuais. Considera-se, assim, que com o uso das novas tecnologias,
houve uma diversificação dos gêneros textuais. Tais linguagens, contudo, não se limitam ao uso da
imagem ou ao uso da palavra, mas funcionam na imbricação de tais códigos que implicam em
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formas diferenciadas de apropriação da mensagem. Por conseguinte, esperamos que a escola torne
nossos alunos eficientes nos mais variados usos de linguagem, incluindo a literária. No tocante mais
especificamente à educação de surdos, com a publicação da lei de Libras, (Língua Brasileira de
Sinais, 2002)1, legitima-se o direito de o surdo ter acesso a uma língua que seria sua língua natural,
como 1° língua, ponto de partida para qualquer outra aprendizagem. Tal aceitação acarretará numa
experiência de bilinguismo, calcada na compreensão da surdez enquanto diferença (Skliar, 1998),
reconhecendo seu direito ao aprendizado da língua de sinais e a língua portuguesa, em sua
modalidade escrita, como 2° língua, aproximando-o do ensino de língua portuguesa para
estrangeiros, ainda que para o surdo a aprendizagem do português escrito não seja uma opção, uma
vez que dele é exigido, nesta modalidade, como qualquer outro falante nativo. Baseado em Salles
(et al.,2004), analisamos também a possibilidade de algumas características da língua de sinais
possam interferir no processo de aprendizado desses alunos. Cita-se, como exemplo, a questão da
LIBRAS ser uma língua com estruturas linguísticas simultâneas e não lineares, na qual há
superposição de categorias gramaticais, enquanto o português é uma língua linear. Nesse contexto,
tendo como base os estudos de Fernandes (2006:6), consideramos a necessidade de que os surdos
“mergulhem no mundo da leitura e da escrita por processos visuais de significação que têm a
língua de sinais seu principal elemento fundador”. Aliás, compreende-se, portanto, que as
ferramentas oriundas dos recursos digitais possibilitam uma maior visibilidade da Libras e podem
potencializar a aprendizagem do português. Tal aprendizado deverá ter um caráter instrumental,
voltado para o uso em práticas sociais, nas se quais se façam necessárias as habilidades de leitura e
escrita. Assim, sabemos que são muitos os desafios para a inserção dos nossos alunos no universo
da cultura letrada. Buscamos, com trabalhos como esse, discutir como o uso das novas tecnologias
em sala de aula pode permitir outras formas de ensinar e aprender, contribuindo para um maior
domínio da língua portuguesa escrita, bem como para a formação de alunos capazes de produzir
análises mais refinadas e criativas de leitura, tornando-os ainda mais críticos, além de possibilitar
uma ampliação de seu repertório cultural.
USO DE RECURSOS ELETRÓNICOS NO ENSINO DE PLE
Zhang Weiqi – Universidade de Estudos Internacionais de Shanghai (SISU)
Há mais de 50 anos que começou o ensino de Português na República Popular da China e limita-se,
sobretudo, nas Universidades enquanto estas não se regularizavam a admissão de estudantes.
Comparando com o ensino de outras línguas estrangeiras no território chinês, o ensino da Língua
Portuguesa não possui uma grande relevância. Assim, é natural a carência de todas as condições
relacionadas ao ensino e à aprendizagem de Português, inclusive os materiais didácticos para
concretizar o nosso trabalho. Hoje em dia, mesmo que haja grandes desenvolvimentos no ensino de
Língua Portuguesa, bem como esforços na publicação de manuais de PLE destinados aos
aprendentes, continuamos a sentir uma grande falta tanto para as aulas, como para as pesquisas.
Porém, o avanço tecnológico, especialmente a Internet, fornece-nos possibilidades de
aproveitamento de recursos electrónicos para as aulas, superando a barreira geográfica entre os
principais países de Língua Portuguesa e a China. Ao mesmo tempo, como professores, para
atender as exigências de aprendizagem dos nossos alunos, nós devemos formular estratégias de
utilização dentro de uma vasta quantidade de recursos electrónicos disponível na Internet, bem
como prestar assistência ou orientação aos nossos alunos na hora de usarem tais recursos. Nesta
comunicação, gostaríamos de atribuir ênfase ao desenvolvimento apropriado e ao uso adequado de
recursos electrónicos para o ensino de PLE na China, particularmente do aproveitamento de bancos
de dados comerciais, de recursos electrónicos de consulta, de recursos multimédia, entre os outros,
contribuindo, desta maneira, para a sistematização de recursos electrónicos aplicáveis ao ensino,
assim como para a melhoria das condições ligadas ao ensino e aprendizagem de Português.
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POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS: UM METODOLOGIA PARA PRODUÇÃO E USO DE
CONTEÚDOS E EXERCÍCIOS EM SMARTPHONES
Lafayette Batista Melo – IFPB
Este trabalho descreve uma metodologia de produção de conteúdos e exercícios para smartphones.
É feita uma descrição dos apps e websites móveis bem como de suas vantagens para usos gerais na
educação. São mostradas as características necessárias a bons apps e websites móveis, detalhando o
que deve ter: nos layouts e telas específicas dos smartphones e outros dispositivos, na tela de
abertura, nas permissões de uso, na usabilidade, na funcionalidade, no uso online e offline, quanto à
simplicidade e ao desempenho e em relação à definição de padrões. Em seguida, são detalhados os
cuidados que devem ser levados em consideração para a construção dos websites móveis
educacionais e apps com finalidades pedagógicas: dispositivos usados por alunos e professores
(compatibilidades), verificação dos recursos comuns e não comuns para alunos e professores,
verificação da apresentação correta do conteúdo, identificação de recursos ou componentes
necessários para o app ou website mobile educacional, tela / página introdutória do assunto a ser
tratado, tabela de conteúdos, tutoriais, quizzes, questionários e surveys, formulários e formatos de
entrada específicos. Posteriormente, são analisadas ferramentas de construção sem necessidade de
programação, considerando as características de bons programas na educação móvel, conforme os
recursos tecnológicos que dispõem, mas também de acordo com o que podem fornecer para um
usuário leigo em programação. É feita uma descrição delas, procurando-se balancear as
necessidades dos professores com o que os construtores rápidos podem fazer, comprometendo o
mínimo possível as boas características desejáveis em programas na educação móvel. As
ferramentas construtoras descritas são essas: Holly Cow, DroidGenerator, SkyBuilder, TapCrowd,
AppsGeyser, BuzzTouch, AppsBar, WizardApp, Appsbuilder, Onbile, Mimplt, Andromo, HAC,
AppInventor, Mobile Roadie, Appacelerator, Mobione, Lianja, Learncast, APPMK, App Maker for
Android, Mobile Test eThe App Builder. A partir da escolha de uma das ferramentas, são mostrados
o passo a passo da metodologia de construção e aplicação em nove atividades: 1) pesquisa de
material gratuito para utilização, 2) construção do design conforme a necessidade da disciplina, 3)
criação, distribuição e publicação de conteúdo para os alunos, 4) verificação do progresso dos
alunos, 5) disponibilidade de conteúdo no formato de imagens, vídeo, áudio e documentos para o
assunto tratado, 6) verificação de respostas dos alunos e comentário dos professores, 7) formatos
prontos de quizzes, questionários e surveys, 8) criação de turmas e grupos e 9) integração com
blogs, redes sociais e ambientes virtuais de aprendizagem. Para validar a metodologia, é construído
um aplicativo para a disciplina de “Fundamentos de EaD” de um curso de Letras a Distância cuja
experimentação é realizada com os tutores em formação. São analisados os usos conforme as das
boas diretrizes de apps e websites móveis e é aplicado um questionário de satisfação com os tutores.
Pôde-se verificar um alto grau de satisfação com os tutores, que pretendem também disponibilizar
novas versões do material para os alunos do curso.
LIVROS DIDÁTICOS DIGITAIS (LDD) PROTÓTIPOS PARA ENSINO DE LÍNGUAS
Acir Mário Karwoski – UFTM/LABELFE/UFTM
O cenário com as inovações tecnológicas aponta para a iminente implantação de livros didáticos
digitais (LDD) nas escolas em substituição ao livro didático impresso. A mídia traz noticias de que
muitas escolas da rede privada substituem gradativamente o livro didático impresso por dispositivos
móveis tais como tablets. Assim, não será possível apenas transferir para o formato digital em pdf
(portable document format) o teor do livro impresso. É preciso que o livro didático digital
configure-se como uma ferramenta interativa de ensino. Nossa comunicação tem como objetivo
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apresentar protótipos visando à implementação de atividades de ensino de língua portuguesa no
contexto dos multiletramentos e da cultura digital. Nos livros didáticos digitais há necessidade de
atenção para a congruência das múltiplas semioses dos gêneros de textos (palavras, imagens, sons,
cores, movimentos) bem como possibilidades de interação (verbal falada e escrita) entre
professores, estudantes, comunidade. desafio de desenvolver em sala de aula experiências e
protótipos didáticos inovadores no ensino de língua portuguesa visando ao letramento crítico. O
Brasil precisa de professores críticos, ousados, inovadores e motivados que topem o desafio de
repensar a divisão canônica disciplinar das escolas – que comprovou não ser atrativa aos estudantes
da atual geração - para implantar uma cultura de práticas de leitura e escrita voltada à formação
crítica dos estudantes, capazes de criar novos sentidos numa sociedade hipermultimodal em
constante transformação. Faz-se possível implantar nas escolas, por meio dos livros didáticos
digitais, a pedagogia dos multiletramentos. Na multiplicidade de linguagens, mídias e tecnologias,
dominar novas ferramentas tais como áudio, vídeo, tratamento da imagem, edição e diagramação
requer novas práticas de leitura, escrita e análise crítica; são necessários novos e multiletramentos.
Os multiletramentos funcionam, pautando-se em algumas características importantes: a) são
interativos (colaborativos); b) fraturam e transgridem as relações de poder estabelecidas; e c) são
híbridos, fronteiriços, mestiços (de linguagens, modos, mídias e culturas), conforme Rojo (2012).
Nos protótipos de livros didáticos digitais torna-se possível vivenciar os multiletramentos no ensino
de línguas.
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SIMPÓSIO 57
SISTEMATIZAÇÃO LINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS
O contato entre os povos, as misturas das línguas e a modificação dos sistemas linguísticos, assim
como a emergência de sistemas linguísticos novos, a partir das línguas em contato, são fenômenos
naturais e comuns em qualquer lugar e em qualquer época. Todavia, diferentes situações de contato
imprimem características e ritmos específicos aos processos de definição dos novos sistemas
linguísticos. A expansão portuguesa, com ocupação territorial sumária, levou à intensa difusão da
língua portuguesa, acarretando uma ocupação linguística de territórios situados nos quatro
continentes. Nesse contexo, o contato entre os povos promoveu a interação entre as línguas desses
povos. O resultado dessa interação linguística foi uma profunda modificação da língua portuguesa e
o surgimento de diferentes sistemas linguísticos, todos ancorados na língua portuguesa. Esses novos
sistemas linguísticos vêm se firmando ao longo do tempo, apresentando instabilidades sistêmicas,
tais como as variações de múltiplas ordens, as mudanças em progresso, dentre outras. Diante disso,
pretendemos reunir pesquisadores interessados em discurtir os processos de sistematização do
português, situado nos distintos territórios, onde essa língua é usada, seja como idioma oficial seja
como idioma extra-oficial. As discussões podem-se apoiar em qualquer um dos domínios de análise
da linguagem, abordando o tema de forma comparativa ou interna, sob as perspectivas descritiva ou
tipológica – diacrônica e sincrônica. Enfim, esperamos, com este tema, discutir resultados de
pesquisas que versem sobre a formação e sistematização de novas línguas, a partir do português, em
decorrência do processo das conquistas ultramarinas.
COORDENAÇÃO
Tânia Ferreira Rezende
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Roland Schmidt-Riese
Katholische UniversitätEichstätt-Ingolstadt
[email protected]
Mathias Arden
Katholische UniversitätEichstätt-Ingolstadt
mathias.arden@ku- eichstaett.de
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O PORTUGUÊS COMO LÍNGUA PLURICÊNTRICA: O CASO DE ÁFRICA
Benjamin Meisnitzer – Munique
A expansão ultramarina nos séculos XV e XVI levaram a Língua Portuguesa a quatro continentes.
Nas regiões que na Filologia Românica de tradição germânica são designadas de „romania nova“, o
Português tomou rumos distintos na sua evolução motivado por contatos linguísticos locais e um
contato de grau variado com o Português europeu com as suas inovações e mudanças lingüísticas ao
longo dos tempos. Partindo do postulado do Português como língua pluricêntrica, com uma norma
na Europa e uma no Brasil (pelo menos!) (cf. Pöll 2001, Arden 2010), a presente comunicação
pretende refletir a complexidade da realidade do Português em África, que não pode de todo ser
entendida como uma realidade homogênea conforme sugere o termo por vezes utilizado na
literatura. Procurar-se-á explicar a diversidade e o caráter multifacetado do Português em África
recorrendo a aspectos de contato linguístico, a cenários de aquisição de linguagem, ao papel dos
mídia e a aspetos sociolinguísticos, determinantes na implementação de uma norma endógena fora
dos centros normativos europeus decisivos na altura da expansão, no caso da presente comunicação,
para o Português. Partindo da necessidade de coadunar a percepção dos falantes e a sua valorização
da própria língua com aspetos estruturais internos da mesma para se poder falar de pluricentrismo
no sentido do termo cunhado por Clyne (1992 e 2004) e Oesterreicher (2001), procuraremos aclarar
o impacto que os divergentes cenários de contato e aquisição e as diferentes realidades lingüísticas
nos PALOP têm no(s) diassistema(s) do Português, conduzindo nalguns casos à emersão de novas
normas standard, a par das normas do PE e do PB, situação até à data apenas abordada
marginalmente nalguns estudos pontuais (cf. Endruschat 1997 e 2008, Gonçalves 1996 e 2005).
‘OS CARA CONFIA EM MIM’: VARIAÇÃO MORFOSSINTÁTICA, ESTILO E (SOCIO)INDEXICALIDADE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Mathias Arden – Universidade Católica de Eichstätt-Ingolstadt, Alemanha
Ultimamente, novos rumos no âmbito da sociolinguística têm lançado um olhar privilegiado sobre o
comportamento estilístico do falante individual conforme suas intenções sociais (Agha 2003, Reich
2009, Cutillas-Espinosa & Hernández-Campoy 2012). Enquanto na linguística de variedades
(Coseriu 1988, Koch/Oesterreicher 2007) os estilos linguísticos são subcategorizados como
pertencendo à dimensão diafásica do diassistema, que define a marcação de formas linguísticas a
partir da situação comunicativa na qual os falantes as utilizam (p.e. estilo familiar vs.
formal/elevado), a sociolinguística atual encara estilos numa perspectiva holística focalizando
aspectos socio-psicológicos da interação e seus participantes. De um ponto de vista diacrônico, a
relevância de tal visão para a variação interna do (dias)sistema reside no fato de uma forma
linguística originalmente considerada como regional ou social se poder tornar um marcador
estilístico, num processo de reindexicalização (Eckert 2008, Auer 2012). Sincronicamente, a análise
estilística que compreende a escolha de formas linguísticas no discurso como uma manifestação de
símbolos sociais e como ato intencional revela fatos interessantes para a competência linguística ao
nível pragmático. A contribuição pretende lançar um olhar diferenciado sobre o uso estilístico de
três variáveis morfossintáticas no português brasileiro, a variação tu/você, a concordância de
número em sintagmas nominais, e a concordância verbal na 3ª pess. do plural. A comparação leva
em conta resultados de estudos que se baseiam em parâmetros (socio-)estilísticos tradicionais, isto
é, o nível de formalidade da situação comunicativa (Paredes Silva 2003, Lopes et al. 2009), e dados
de estudos que mostram a relevância da orientação socio-cultural do falante na escolha estilística
das variantes. Neste âmbito, serão apresentados dados oriundos de entrevistas com cantores de rap
paulistas (Bentes 2009), como também de diálogos de novelas da Globo. As falas de gêneros
populares veiculadas pela mídia são de especial interesse, visto que tornam nitidamente visível o
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processo de meta-reflexão lingüística conhecido por ‘estilização’ (stylization, vj. Coupland 2007),
no qual variantes linguísticas são instrumentalizadas, segundo as convenções do gênero, para a
projeção de personae, refletindo atitudes individuais e ideologias, e sinalizando a pertença a um
determinado grupo social.
CONTATOS E DESACATOS: OS LÍNGUAS NA FRONTEIRA ENTRE SOCIEDADE
COLONIZADORA E INDÍGENAS (1740 A 1889) - GOIÁS.
Thiago Cancelier Dias – UFG
O texto versa sobre a existência de um cargo ou função de poder destinado a indígenas que são
conhecidos pela designação de línguas nos documentos históricos por possuírem a capacidade de se
comunicarem em língua materna e português. Esses faziam a interlocução entre a sociedade
colonizadora e as comunidades indígenas nos descimentos e aldeamentos realizados pelos
colonizadores no intuito de liberar as terras e angariar mão de obra indígena nos séculos XVIII e
XIX. Tem-se a hipótese que os aldeamentos eram os espaços próprios para a formação dessas
pessoas em Goiás, e que as possibilidades de atuação, a maneira como eram representados, e o
processo formativo no qual estavam envoltos se alterou com o processo histórico de expansão da
fronteira colonialista e consolidação do Estado Nacional. A pesquisa é elaborada a partir de
preceitos da microhistória social, e parte do jogo de escalas de analise para investigar os diferentes
contextos que permearam a trajetórias de vidas de pessoas com experiências de vida emblemáticas
para a compreensão histórica. Entende-se que os interpretes militares, ou línguas, assumiam
importância singular pela dificuldade de compreensão e diálogo entre os colonizadores e os
indígenas falantes de línguas do tronco macro-jê. Estudam-se as formas de agencia e o processo
formativo desses indígenas a partir da investigação sobre o aldeamento de Mossâmedes (17811832) e do Colégio de Línguas Princesa Imperial Dona Isabel (1870-1889). O aldeamento é
inquirido a partir do estudo da agencia de duas indígenas, uma era a karajá cuja atuação é descrita
na carta enviada pelo alferes José Pinto da Fonseca sobre a bandeira entre os karajá da ilha do
Bananal (1798) ao general de Goyases. Enquanto a outra língua é a kayapó Damiana da Cunha que
foi a responsável pelo descimento de indígenas e pela manutenção do aldeamento por vários anos.
Com a consolidação do Estado brasileiro e com a elaboração de novas leis quanto aos indígenas,
colégios passaram a ser fundados nos aldeamentos, na maioria conduzidos por missionários
capuchinhos, com a especificidade de formar, também, línguas. Momento que é indagado no texto à
existência do Colégio de Línguas Princesa Imperial Dona Isabel.
ESCOLAS QUE CONTAM HISTÓRIAS: O PROCESSO DE NOMEAÇÃO NAS CIDADES
DE GOIÁS
Henrique Silva Fernandes – UFG
Lorena Araújo de Oliveira Borges – UFG/CAPES
Tânia Ferreira Rezende Santos – UFG
O principal objetivo desse artigo é discutir de que forma os nomes das escolas estaduais de Aruanã,
Pirenópolis e Cidade de Goiás contribuem para a constituição da identidade histórica dessas
cidades. A história de uma determinada região pode ser contada tanto a partir dos fatos e
acontecimentos que marcaram aquele local, quanto pelo estudo das impressões deixadas na
memória da população. Nesse último caso, uma investigação que tem ganhado cada vez mais
destaque é a análise dos topônimos. Tal investigação é realizada pela toponímia que, de acordo com
a perspectiva de Dick (1990), é o estudo dos enunciados lingüísticos formados por um universo
transparente significante que reflete aspectos culturais de um núcleo humano existente ou pré614
615
existente. Nesse sentido, os nomes dos lugares se constituem enquanto memória lexical de um
determinado lugar, que pode ser mapeada a partir da investigação das motivações que levaram
àquelas designações. Para alcançarmos esse objetivo, realizamos o levantamento dos nomes das
escolas estaduais dos municípios em questão no banco de dados da Secretaria de Estado da
Educação e adotamos a metodologia que Dick (1996) propôs para a pesquisa antroponímica, que
implica (i) a quantificação dos nomes e das taxonomias, analisando a maior ou menor freqüência de
classes ou itens lexicais; e (ii) o estudo dos nomes a partir de um enfoque etnolingüístico.
UMA REFLEXÃO SOBRE O SISTEMA DOS PRONOMES EM CRIOULO DE GUINÉBISSAU
Rogério Vicente Ferreira – UFMS
O presente trabalho abordará a questão pronominal do falar crioulo (forma de escrita atual, adotada
pelo Ministério da Educação) de Guiné-Bissau (KGB). O crioulo, apesar de não ser considerada
pelo governo atual como língua oficial, é a mais falada por todo território guineense. Fora da
capital, a população utiliza somente a fala crioulo, além da língua tribal (Balanta, Mandjinga,
Manjaco, Papel, Bijagol, Felupe, entre outras). Há um escasso número de trabalhos linguíticos em
Guiné-Bissau, tanto com as línguas maternas quanto o falar português e o crioulo. No caso da
língua portuguesa a população daquele país a utiliza basicamente para comércio, apesar do governo
“forçar” seu ensino nas escolas, o que tem acarretado um grande problema na alfabetização. Hildo
(1996) afirma que a situação lingüística de Guiné-Bissau é muito semelhante a da Papua-NovaGuiné. Ele constata, a partir de dados de Ferraro (1991), que 75% da população é falante de crioulo.
No entanto, para o governo atual, o estudo dessa língua não é prioridade, nem há interesse no seu
uso na escola, apesar de ser o meio de comunicação de toda a população. (1996, p.70). Tendo isso
em vista, há muito que ser investigado nesta língua, pois são poucos os trabalhos que descrevem
aspectos linguísticos do crioulo de Guiné-Bissau. Assim, nos propomos realizar uma breve reflexão
do sistema pronominal, tendo como suporte teórico pressupostos do funcionalistas. Quanto aos
dados estes foram coletados através de livretos, da bíblia em crioulo, de livros de histórias infantis e
de dados coletados in loco.
Schachter (1984) aponta que “todas as línguas do mundo fazem distinção entre classes abertas e
classes fechadas quando se referem às partes do discurso.” Como parte das classes abertas os
nomes, verbos, adjetivos e advérbios, e das classes fechadas os pronomes, adjuntos nominais,
adjuntos verbais, conjunções e outras categorias. Para Bhat (2004: 02) os pronomes podem ser
divididos em dois tipos: (i) os pessoais e (ii) e aqueles remanescentes de outros pronomes,
dependendo da sua função na língua (demonstrativo, interrogativo, etc), para isso o autor coloca que
é importante fazer uma distinção básica entre pronomes pessoais e pro-formas. Os pronomes
pessoais são geralmente associados a marcas de caso (benefactivo, experenciador, etc); as proformas, por outro lado, são geralmente usados como: identificador de participantes em um evento,
podem funcionar como marcadores de referência, ou como marca de escopo de uma sentença.
Diante disso, nosso objetivo, inicialmente, é trabalhar com os pronomes em crioulo, primeiramente
por meio de um trabalho comparativo, ou seja, notar com os pronomes das outras línguas krioulas
de base portuguesa se formaram e como se comportam. Com isso, comparar como os pronomes em
KGB é formado e quais as influências das línguas de GB nesse processo. Em um primeiro momento
de nossa análise dividimos em pronomes pessoais, demonstrativos, possessivos e interrogativos. A
relação com a forma pronominal do português é clara quanto os demonstrativos e interrogativos, no
entanto, os pessoais e possessivos, são originários de outras línguas, que buscaremos compreender
no decorrer de nossa análise. Assim, este trabalho é um início a uma descrição e reflexão sobre a
situação desta língua dentro da crioulística.
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CONSTRUÇÃO DE FOCO NA POSIÇÃO DE SUJEITO NO CRIOULO DE SÃO
NICOLAU: COMPARAÇÃO COM PB, PE E LAs
Maria de Lurdes Zanoli – USP
O crioulo de São Nicolau (CSN) é um dos nove dialetos do crioulo caboverdiano, inserido no grupo
de Barlavento, região que abrange também as ilhas de Boa Vista, Sal, São Vicente e Santo Antão
(Quint, 2000: 9).
Neste trabalho apresenta-se um estudo preliminar sobre a categoria sintático-discursiva foco na
posição de sujeito em CSN, fazendo uma sucinta comparação com a focalização do sujeito no
português brasileiro (PB) e em línguas africanas (LA).
Para tal, assumimos a definição de foco de Zubizarreta (1997: 1) em que “[...] foco é definido em
termos da noção discursiva de pressuposição: o foco é a parte não pressuposta da sentença”.
Corroboramos ainda a proposta da autora (op.cit) de que
a interpretação de um constituinte focalizado deve ser representada por meio de duas asserções (A)
no nível da Forma Lógica (LF): A1, A2, chamadas de estrutura de asserção por Zubizarreta.
A categoria foco aponta para uma interface discursiva com praticamente todas as áreas da
gramática: interface fonologia/discurso por meio da entonação; interface morfossintaxe/discurso.
Em português, por exemplo, a entonação é uma marcação imprescindível para se assinalar o foco
como nos mostra Fernandes (2007), apontando para as diferenças entre o PB e PE:
(1) Sentença Neutra em PB
(2) Sentença Neutra em PE
(3) Sentença com Foco Prosódico no PB
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(4) Sentença com Foco Prosódico no PE
Estudiosos sobre o foco na posição de sujeito no PE e no PB - Kato & Raposo (1996) entre outros apontam que, no PE, o sujeito focalizado ocorre posposto ao verbo (ordem VS) diferentemente do
que se atesta no PB.
Em PB o sujeito pode ser focalizado como foco de informação, foco contrastivo ou exaustivo. Em
línguas africanas, estudos em aghen levaram os estudiosos como Watters (1979) a reconhecerem a
existência do foco polar e polar contra-assertivo.
No tocante ao foco no caboverdiano Quint (2010) ressalta que são vários os constituintes que
podem ser movidos para a posição de foco: o sujeito, um complemento direto, um complemento
preposicional.
A sentença com foco contrastivo em (5b) foi conseguida com a seguinte sentença em (5a):
(5) a. Anton na Saninklau ta falód ma jent mdjer ta papia d’más, é dvera?
“Então, em São Nicolau se diz que as mulheres falam demias, não é verdade?”
b. Mtira, ôm é k’ta papia d’más
é
k'
Mtira ôm
Mentir home
COP
COM
a
m
Mentira, homem é que fala demais.
617
ta
HAB
papia
falar
d'más
demais
618
Para o estudo da focalização do sujeito no crioulo de São Nicolau, partimos da hipótese inicial de
que, em CCV, ateste-se a marcação dos tipos de foco ‘assertivo’ e ‘contrastivo’, como se dá em
português e em línguas africanas do oeste da África. Na figura acima, obtida a partir do programa
praat é possível observar uma elevação da curva entoacional formando um pico entoacional que
corresponde ao elemento ôm “homem” na posição de sujeito da sentença, logo o constituinte
focalizado.
Logo, o propósito desse trabalho é buscar semelhanças e/ou diferenças entre PB, PE, LÃS e CSN
no tocante a focalização de sujeito nessas línguas.
A ELEVAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS ÁTONAS FINAIS NO PORTUGUÊS FALADO
POR DESCENDENTES DE IMIGRANTES POLONESES EM VISTA ALEGRE DO
PRATA – RS
Ivanete Mileski – PUCRS
Neste trabalho são apresentados os principais resultados de uma pesquisa de mestrado sobre a
elevação das vogais médias átonas finais no português falado por descendentes de imigrantes
poloneses na cidade gaúcha de Vista Alegre do Prata. A partir dos pressupostos
teóricometodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]), foram realizadas
24 entrevistas de experiência pessoal com falantes representativos da comunidade. Pautados nos
estudos de Schmitt (1987), Vieira (1994, 2002, 2010), Roveda (1998), Carniato (2000), Mallmann
(2001) e Machry da Silva (2009), todos sobre elevação das vogais médias postônicas na fala do Sul
do Brasil, foram controladas variáveis linguísticas e extralinguísticas. A análise estatística dos
dados foi realizada com o programa Rbrul (JOHNSON, 2009). Foram encontrados 12.521 contextos
para aplicação da regra com a vogal /o/, e 5.980 contextos para a vogal /e/; como se esperava
inicialmente, o uso de elevação das vogais médias átonas finais é modesto na comunidade, com o
alçamento de /o/ mais freqüente que o de /e/. Mostraram ter papel na elevação de /o/ átono final os
variáveis linguísticas Tipo de Sílaba, Contexto Precedente, Contexto Vocálico da Sílaba Tônica,
Contexto Seguinte, Localização da Vogal Átona na Palavra, e as variáveis sociais Faixa Etária,
Ocupação Profissional e Escolaridade. Na elevação de /e/ átono final, a análise estatística apontou
como relevantes as variáveis linguísticas Classe Gramatical, Contexto Precedente, Localização da
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Vogal Átona na Palavra, Contexto Vocálico da Sílaba Tônica, e as variáveis sociais Escolaridade e
Sexo.
NA MARGEM DO FUTURO – A MODULAÇÃO DO PRÓXIMATIVO NO PORTUGUÊS
Sarah Bürk – Katholische UniversitätEichstätt-Ingolstadt
Os seres humanos são seres temporais. A faculdade da memória junto com a faculdade de poder
gerar expetativas e probabilidades perante o futuro lhes dá a impressão de se encontrar em um
perpétuo fluxo do tempo. Porém, o passado e o futuro se distinguem, e isso de maneira
fundamental, em sua respectiva natureza fenomenológica. Enquanto que o passado existe em forma
de memórias individuais e episódicas, o futuro é uma massa amorfa, imprevisível e em constante
mutação. O futuro surge do presente e muda com ele. Embora, perante ele, devido a sua
indeterminação empírica, não se podem avançar certezas absolutas, estamos constantemente
obrigados a formular projetos e expectativas, seja na nossa concepção individual como pessoa, seja
na interação com os outros. Surgindo o futuro do presente, são as condições dele – tanto das pessoas
que nele agem, suas intenções e estados atuais, como das disposições materiais e atmosféricas que o
definem – que nos deixam tirar conclusões respeitante à presumida proximidade dos eventos
esperados no futuro. Quanto mais fatores indicarem no momento presente para a realização de um
tal evento, tão mais certo nos parece que ele se realize e tão mais perto se apresenta o momento da
realização dele. Resulta de esta constante discrepância entre o criar expetativas e a concretização
das mesmas um estado de suspense. Nós em função de falantes e criadores do discurso podemos
tomar em consideração esses parâmetros de certeza e proximidade na codificação do futuro,
simplesmente descrevendo as impressões do presente ou seguindo nossas intenções comunicativas.
Na mesma, podemos muito bem ignorá-los quando se mostra prescindível especificá-los. Assim
resulta que podemos superar essa fase de suspense e de indeterminação fenomenológica deixando
começar eventos, em princípio localizados no futuro, já no momento da fala ou, pelo contrário,
encenar essa fase mediante estruturas linguísticas que intencionam precisamente fazê-la visível. Na
tipologia esse conceito se chama ‘próximativo’. O próximativo enfoca a fase de um evento que se
situa na margem inicial do mesmo e que lhe atribui a qualidade de ‘estar ao ponto de acontecer’.
Essa contribuição pretende, por tanto, analizar quais as realizações do próximativo que desenvolveu
o português, tanto na sua expressão brasileira como europeia, e quais as diferenças entre elas. A
contribuição pretende abordar o tema partindo de um enquadramento mais global do subconceito do
próximativo no conceito maior do futuro para desembocar em uma exposição mais específica da
respetiva actualização do conceito do próximativo no português.
SISTEMATIZAÇÕES NO USO DAS FORMAS DE TRATAMENTO. UMA ABORDAGEM
HISTÓRICA DO PB
Roland Schmidt-Riese – Katholische UniversitätEichstätt-Ingolstadt
Os sistemas de tratamento das línguas europeias passaram por um profundo processo de
reestruturação, quando as sociedades europeias passaram da Idade Média para a Idade Moderna. Os
sistemas ancestrais que distinguiam simplesmente entre uma forma de respeito (vos) e outra de
intimidade (tu) ficaram ampliadas mediante o uso de outros pronomes (ele) ou de sintagmas
nominais (vossa mercê) que mesmo integrando possessivos de segunda pessoa levaram a obscurecer
o limite entre essa (precisamente a pessoa da alocução) e a terceira pessoa (de referência extrasituacional). O obscurecimento foi o modo de operar das formas inovadoras de respeito máximo.
Enquanto que o português europeu se mostra relativamente conservador com respeito a outras
línguas europeas, considerando as mudanças ocorridas desde a Primeira Idade Moderna, o PB
procede a reestruturar esse sistema em função de necessidades sociais bem diferentes. A
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contribuição vai procurar determinar o grau de sistematização das formas de tratamento no PB,
levando em conta os paradigmas pronominais, a aceitabilidade variável das antigas formas da
segunda pessoa nesses vários paradigmas, efeitos semânticos e pragmáticos que possam estar
relacionados com o uso de umas e outras formas, a variação regional do PB.
ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DA ALTERNÂNCIA DOS PRONOMES TU E VOCÊ NO
RECÔNCAVO BAIANO
Ludinalva Santos do Amor Divino - UNEB
O estudo trata da variação das formas tu/você em Santo Antônio de Jesus – Ba. Objetivamos
identificar os fatores lingüísticos e sociais que determinam a seleção de uma ou de outra forma. O
estudo foi realizado dentro dos pressupostos da sociolingüística variacionista descritos por
Weinreich, Labov e Herzog (1968). São analisadas amostras de fala de pessoas de três faixas
etárias, de 15 a 35 anos; de 36 a 55 anos e acima de 55 anos, dos sexos feminino e masculino, com
escolaridade de nível superior; nível fundamental e semi-analfabetos.Os corpora foram constituídos
por: a) um questionário pré-elaborado com 22 questões de caráter objetivo e subjetivo aplicados
com 18 informantes, o que denominamos de gravação não secreta; b)dez conversas informais sem
controle dos fatores sociais: idade, sexo e escolaridade, obtidas de forma secreta, envolvendo de três
a seis participantes. A análise dos dados resultante da aplicação do questionário demonstra que o
pronome você (79%) tem a preferência dos falantes santoantonienses uma vez que, o mesmo
corresponde ao triplo de uso do tu (21%). Buscamos também analisar outros fatores de cunho
lingüístico: monitoramento; tipo de relação: íntima e não íntima; correlação dos pronomes pessoais
com pronomes possessivos; relação de poder e referenciação direta e referenciação indireta.
A CONCORDÂNCIA NOMINAL DE GÊNERO NA LÍNGUA FALADA DE RIO DE
CONTAS-BAHIA
Evani Pereira Rodrigues – UEFS
Norma Lúcia Fernandes de Almeida – UEFS
Este trabalho tem como tema a análise variacionista da concordância nominal de gênero em
sintagmas nominais a partir dos corpora de Língua falada das comunidades rurais de Bananal-Barra
dos Negros, localizadas no município de Rio de Contas, Chapada Diamantina, Bahia. O estudo tem
como objetivo identificar os fatores extralinguísticos que interferem no uso da concordância
nominal de gênero no SN. A análise sobre concordância nominal nos sintagmas em estudo baseouse na relação língua e sociedade com a adoção da metodologia sociolinguística quantitativa
laboviana (SANKOFF, 1988). A partir dos dados numéricos, foi feita uma abordagem qualitativa,
pois foram discutidas questões que envolveram aspectos lingüísticos e extralinguísticos. Os corpora
analisados constituem-se de entrevistas com homens e mulheres de diferentes faixas etárias e níveis
de escolaridade. Essas entrevistas foram feitas através da configuração DID, ou seja, Diálogo entre
informante e documentador. Inicialmente, destacamos a ocorrência de uso da concordância nominal
de gênero em sintagmas nominais presentes na amostra (a variável dependente), seguida pela
identificação do conjunto de elementos linguísticos e extralinguísticos que favoreceram ou não o
uso da concordância em análise. Dentre os elementos linguísticos foram analisados a posição
sintática do SN; constituição sintagmática do SN; constituição morfológica do nome núcleo do SN;
caracterização semântica do nome núcleo do SN. Já os fatores extralinguísticos destacamos: o
sexo/gênero; faixa-etária; o nível de escolaridade; a língua nativa; o informante e a comunidade.
Para obtenção dos resultados estatísticos desta pesquisa, utilizou-se o programa computacional
Goldvarb, que selecionou os grupos de fatores mais significativos e calculou os pesos relativos dos
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fatores em relação à variável dependente e sua frequência de uso de acordo às variáveis lingüísticas
e extralingüísticas. Os resultados nos levam a afirmar que não há variação significativa nas
amostras analisadas.
A ALTERNÂNCIA DOS PRONOMES TU E VOCÊ NO FALAR POPULAR DE
FORTALEZA: UMA PERSPECTIVA VARIACIONISTA
Tatiane de Araújo Almeida Studart Guimarães – UECE/FUNCAP
Aluiza Alves de Araújo – UECE
Este trabalho aborda a alternância dos pronomes tu e você no português falado em Fortaleza, com o
intuito de contribuir para o ensino de língua materna e de língua estrangeira, além de conhecer
melhor o sistema pronominal do português brasileiro. Os alicerces teóricos que sustentam esta
pesquisa pertencem à teoria variacionista, que tem como concepção a de que a variação e a
mudança são inerentes à língua, que é vista como sendo motivada tanto por fatores linguísticos
quanto por fatores extralinguísticos. No português brasileiro falado, observam-se diversos
fenômenos variáveis, entre eles, um bastante frequente, a alternância do uso das formas de
tratamentos tu e você. Sobre este fenômeno, vários estudos, sob a perspectiva variacionista, vêm
sendo realizados nas mais diversas regiões do Brasil. Em Fortaleza, apesar de haver estudos sobre o
uso dos pronomes, ainda não houve estudos de cunho variacionista e que tenha, para análise dos
dados, um suporte de ferramenta estatística. Para desenvolvermos esse trabalho, temos uma amostra
constituída por 36 inquéritos do tipo D2 (Diálogo entre dois Informantes), extraídos do banco de
dados NORPOFOR (Norma Oral do Português Popular de Fortaleza), realizado no período de
agosto de 2003 a julho de 2006. O perfil dos informantes que constituem este corpus é o seguinte:
todos são nascidos em Fortaleza ou vieram morar nesta cidade com, no máximo, cinco anos de
idade; possuem pais cearenses; nunca se ausentaram de Fortaleza por um período superior a dois
anos consecutivos; mantém residência fixa na capital cearense. Estes critérios servem para tentar
reduzir a influência de outras regiões. Os participantes foram selecionados em função do gênero
(masculino e feminino), da faixa etária (I: 15 a 25 anos; II: 26 a 49 anos; e III: a partir dos 50 anos),
escolaridade (A: 0 a 4 anos; B: 5 a 8 anos; e C: 9 a 11 anos) e tipo de registro (Diálogo entre
Informante e Documentador: DID; Diálogo entre dois Documentadores: D2; e Elocução Formal:
EF). Quanto ao último critério, selecionamos o D2, por ser o estilo de fala menos monitorado e, por
isso, o mais propício ao estudo dos pronomes. Pretendemos verificar qual pronome (tu ou você) é
mais frequente e quais fatores sociais, dentre os analisados, mais influenciam a ocorrência desses
pronomes no falar popular do fortalezense. Como esse trabalho está em andamento, os resultados
ainda estão inconclusos.
MORFEMA ZERO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: CONCEITOS E PRINCÍPIOS DE
ANÁLISE
Carolina Gonçalves Gonzalez – UNB
Edite Consuêlo da Silva Santos – UNB
Letícia da Cunha Silva – UNB
Magnolia de Souza Lira – UNB
Maria Felícia Romeiro Mota Silva– UNB
O morfema zero é um fenômeno linguístico comum que ocorre em casos de flexão, mas mesmo
assim não é discutido pela gramática tradicional e é ainda pouco explorado na área da Linguística.
Segundo Silva e Koch (1999, p.23), essa categoria “resulta da ausência de marca para expressar
determinada categoria gramatical”; a sua função é cumprida pelo vazio (representado por Ø) que é
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considerado significativo pelo sistema da língua. Assim, postula-se morfema zero quando há
ausência do morfe, que só pode ser percebido em contraste com outros. O que se avalia desta
questão é que o silêncio também traz muitas informações, uma vez que o significado resulta de um
significante zero. O vazio (ausência de configuração fonemática) que representa uma realidade
morfêmica será considerado morfema zero se, e somente se, for sistemático, inerente à classe
gramatical que está em análise e nos casos de flexão. Sem a formação de pares opositivos para
análise de elementos gramaticais não se poderia cogitar esses conceitos. No Português Brasileiro,
são frequentes os casos de morfema zero em flexão verbal (modo-tempo e número-pessoa) e em
flexão nominal (número e gênero). O propósito deste artigo é apresentar conceitos que caracterizem
o morfema zero no Português Brasileiro, bem como os postulados teóricos que sustentam estes
conceitos. Serão os dados do referido sistema linguístico que servirão de exemplo para ilustrar as
correntes teóricas apresentadas nesta pesquisa. Para tanto, buscou-se realizar uma revisão de
literatura com base nas análises de Câmara Jr. (2009, 2011); Lopes (2008); Mel’čuk (2001); Silva e
Koch (1999); Zanotto (1986) e outros. Essa temática pertence à área da Morfologia definida por
Aronoff & Fudeman (2005, p. 01-02) como um “sistema mental envolvido na formação de palavras
ou com o ramo da Linguística que lida com palavras, a sua estrutura interna, e como são formadas”.
E é por esse caminho que enveredaram as análises desta pesquisa.
IDENTIDADE LINGUÍSTICA EM ZONA DE MIGRAÇÃO NA AMAZÔNIA
Emanuel da Silva Fontel – UFPA
Regina Célia Fernandes Cruz – UFPA
O presente trabalho examina aspectos identitários, presentes em narrativas de caráter pessoal de
falantes que migraram para a região da Amazônia paraense, em virtude de projetos econômicos ali
implantados. As narrativas compõem o “corpus” de um projeto de pesquisa intitulado Vozes da
Amazônia, que investiga uma série de aspectos do contato interdialetal em zona de migração da
Amazônia paraense. Tal projeto está vinculado oficialmente à Faculdade de Letras do Instituto de
Letras e Comunicação da Universidade Federal do Pará. As perspectivas teóricas que embasaram a
análise dos dados compreendem a Sociolinguística Variacionista de Willian Labov, Os Estudos da
Identidade Cultural, segundo Stuart Hall em consórcio com a Análise de Discurso de Linha
Francesa.
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SIMPÓSIO 58
POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E PRÁTICAS DE ENSINO DE
PORTUGUÊS EM CONTEXTOS INTERCULTURAIS
Neste simpósio, pretendemos reunir pesquisadores e professores de português que desenvolvem
estudos e reflexões sobre a prática de ensino de português, em contextos de interculturalidade, no
âmbito da lusofonia. No século XXI, vivemos um momento de, que pode ser denominado
genericamente de Paradigma das Políticas de Diversidade. Em todas as esferas sociodiscursivas, a
diversidade é reconhecida, valorizada e exaltada. Apesar disso, as línguas minorizadas continuam
desaparecendo e as comunidades minorizadas continuam relegadas à margem dos direitos humanos
mínimos e inalienáveis. As políticas linguísticas e de letramento, com suas práticas de ensino
ancoradas na interculturalidade e na sustentabilidade linguística e cultural, por meio da educação
escolar bilíngue, não têm conseguido evitar o deslocamento e a morte das línguas e das cultuas que
se encontram em contato com línguas majoritárias em contextos de construção hegemônica de
sociedades integradas economicamente. Nesse sentido, nosso objetivo, no momento, é refletir sobre
as práticas de ensino de Português como L1, L2, L3 ou LE. Para tanto, intentamos reunir
porfessores e pesquisadores preocupados com o ensino de português em contextos interculturais,
como os estudos sobre os usos e as práticas de ensino de português em territórios lusófonos
resultantes de processos de colonização, em territórios fora da lusofonia, como LE, e em
comunidades minorizadas, como as indígenas, as quilombolas e as remanescentes dos processos de
imigração ocorridos no final do século XIX e início do século XX, nas américas.
COORDENAÇÃO
Maria Gorete Neto
Universidade Federal de Minas Gerais
[email protected]
Tânia Ferreira Rezende
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
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PORTUGUÊS-ACADÊMICO E INDÍGENAS: PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUAS NA
UNIVERSIDADE
Maria Gorete Neto – UFMG
O objetivo deste artigo é discutir o processo de apropriação do português-acadêmico por
universitários indígenas. As reflexões, em andamento, são frutos de minha trajetória como
professora de língua portuguesa para indígenas, função esta que tem me desafiado desde 1999
quando comecei a dar aulas de português como segunda língua, no ensino fundamental da escola do
povo Tapirapé, no Mato Grosso. Posteriormente, minha prática concentrou-se no Ensino Médio
Tapirapé e, atualmente, tenho atuado no curso de Licenciatura Intercultural para Educadores
Indígenas da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, que atende distintas
etnias como Xacriabá, Pataxó, Pankararu, Guarani e Tupiniquim. Embora minha prática docente
tenha se dado nos três níveis de ensino distintos citados e que cada um destes tenha características
próprias, permanecem alguns questionamentos em relação ao processo de ensinoaprendizagem da
língua portuguesa para indígenas que parecem independer de a educação escolar ocorrer dentro dos
territórios indígenas ou na universidade. Inicialmente deve ser dito que o ensino de português para
indígenas guarda algumas especificidades. Em primeiro lugar, a língua portuguesa é para o índio a
língua do colonizador e, assim sendo, traz o ranço da violência do contato e do silenciamento das
línguas indígenas. Em segundo lugar, aprender o português pode significar para o índio poder lutar
pelos seus direitos. O português configura-se assim numa língua instrumento, arma, ferramenta,
quase um mal necessário. Por fim, a língua portuguesa traz um referencial cultural – a saber, o
ocidental capitalista – completamente diverso do referencial cultural e cosmológico dos povos
indígenas. Estas diferenças é que tornam o processo de ensino-aprendizagem do português para
indígenas extremamente complexo e desafiante uma vez que perguntas como: “Quais
metodologias? Quais materiais? Que tipo de avaliação/como avaliar?”, dentre outras, não podem ser
respondidas apressadamente. É possível afirmar que o ensino de português para populações
indígenas pode vir a ser mais efetivo caso parta de uma perspectiva intercultural (vide
BRASIL/RCNEI, 1998), ou seja, o ensino que tenha como pressuposto que o ambiente escolar é
espaço de manifestação e negociação de conflitos inter-étnicos e também espaço para a criação de
novas formas de convívio e reflexões sobre as alteridades em jogo – a saber, indígenas e nãoindígenas. Por outro lado, a especificidade das cosmologias indígenas não permite ao professor
utilizar planejamentos ou materiais de português elaborados para culturas ocidentais. É preciso
ressaltar também que mesmo o material didático pensado para determinado povo indígena não
necessariamente servirá a outro povo, devido às diferenças culturais e linguísticas existentes entre
os indígenas. Esta diversidade exige que cada escola indígena tenha seu próprio projeto pedagógico,
com currículo específico que considere a cultura do povo envolvido e, por conseguinte, materiais
didáticos que reflitam a realidade sociolinguística de cada povo. No caso dos cursos de licenciatura
indígena, como lidar com a diversidade de povos que aí adentram? Como organizar projetos
coletivos de ensino? Como pensar no ensino de português que prepare os universitários indígenas
para leitura e produção de textos acadêmicos sem que o português-indígena seja desconsiderado?
Esperando contribuir nessa discussão, este artigo faz uma reflexão sobre o ensino de língua
portuguesa para falantes indígenas e busca traçar algumas implicações para a formação de
professores-índios. A análise focaliza textos escritos por alunos Tapirapé do Ensino Fundamental e
por universitários indígenas e indica existir uma premência pela apropriação do
portuguêsacadêmico pelos povos analisados, impulsionada pela exigência do mesmo pela academia.
Por outro lado, o português-indígena tem características linguísticas próprias e constitui-se em
importante construtor/veiculador das identidades indígenas devendo, assim, ser considerado na
universidade. Desta forma, urge um debate acerca desta tensão bem como uma problematização das
metodologias de ensino de línguas para povos indígenas.
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PEC-G, PRÁTICAS DE LETRAMENTO ACADÊMICO, IDENTIDADES E
INTERCULTURALIDADE
Cloris Porto Torquato – UEPG
Neste trabalho, analiso algumas práticas de letramento acadêmico desenvolvidas por estudantes
africanos do Programa Estudante Convênio – Graduação (PEC-G) no âmbito do Projeto de
Extensão “Letramento Acadêmico”, sob minha coordenação, na Universidade Estadual de Ponta
Grossa, com vistas a refletir sobre a constituição das identidades desses estudantes no contexto
acadêmico, que se configura como um contexto intercultural. Este trabalho – parte de uma pesquisa
mais ampla sobre políticas linguísticas, políticas de letramentos e de identidades – mobiliza
fundamentalmente os conceitos de signo, gênero do discurso, dialogismo e exotopia do arcabouço
teóricometodológico do Círculo de Bakhtin (VOLOCHINOV/ BAKHTIN, 1986; BAKHTIN, 2003)
e os conceitos de hibridismo e identidade, dos estudos de Homi Bhabha (1998), relacionando este
último ao conceito de identidade, dos estudos de Stuart Hall (2001; 2003). A esta fundamentação
teórico-metodológica, associo estudos sobre interculturalidade (JANZEN, 1998; 2005) –
observando o diálogo intercultural que se constrói nas práticas discursivas letradas acadêmicas
(configuradas especialmente nos gêneros: relatos escritos, apresentações orais subsidiadas por texto
escrito, resumos, cartazes) – e conflito linguístico (HAMEL, 1989; 2008). Nessas práticas, são
constituídas as identidades culturais, linguísticas, étnicas e raciais daqueles estudantes no contexto
acadêmico acima referido. No diálogo intercultural dos estudantes africanos de diferentes
nacionalidades com estudantes universitários brasileiros, professores da rede pública brasileiros e
professores universitários brasileiros são postos em questão diferenças linguísticas, diferenças e
preconceitos culturais, preconceitos raciais, estereótipos e as expectativas desses sujeitos. Neste
sentido, entendo que o PEC-G configura um importante processo de re-constituição identitária dos
sujeitos envolvidos e um produtivo e conflituoso diálogo intercultural, de modo que é necessário
investigar as práticas discursivas e identitárias que o constituem e os mecanismos de interação e
reconstituição de identidades nele engendrados. Além disto, considerando as diferenças linguísticas,
entendo que o PEC-G configura também políticas linguísticas, uma vez que implica a difusão da
língua portuguesa em países não lusófonos, a realização do CELPEBras por parte de estudantes
provenientes de países em que a língua portuguesa não é oficial e a configuração de encontros de
variedades distintas da língua portuguesa (no caso de estudantes provenientes de países lusófonos) e
de diferentes línguas no contexto acadêmico e social mais amplo. Esses encontros linguísticos são
frequentemente marcados por conflitos linguísticos (bem como pelas respostas dos sujeitos a estes
conflitos) e identitários.
ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA, EM UMA PERSPECTIVA
HISTÓRICO-SÓCIO-CULTURAL.
Nathalia Pereira de Oliveira Sousa – UFG
Tânia Ferreira Rezende Santos – UFG
Esta pesquisa tem o propósito de investigar, em uma escola de ensino fundamental da rede
municipal de ensino de Goiânia, se o tratamento da variação linguística em sala de aula e as
concepções de variação linguística, de linguagem e de ensino de língua portuguesa, presentes nas
práticas pedagógicas dos professores, refletem as orientações dos Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa para o ensino fundamental. A hipótese é a de que os resultados
inoperantes de inúmeras políticas públicas destinadas a promover uma melhoria na Educação no
Brasil podem ser reflexo da forma como a gramática da língua é ensinada, revelando um
distanciamento entre o ideal linguístico e aquele praticado socialmente pelo aluno; e que as
dificuldades encontradas na produção, oral ou escrita, da língua portuguesa e do atual fracasso
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escolar, no que diz respeito ao ensino-aprendizagem de LP, podem estar relacionadas ao ensino de
língua pautado em uma concepção uniformista e padronizadora, tanto de linguagem quanto de
ensino de línguas. O objetivo aqui é investigar se o tratamento da variação linguística em sala de
aula e as concepções refletidas nas práticas pedagógicas dos professores estão de acordo com as
orientações dos PCN de língua portuguesa para o ensino fundamental que prima o raciocínio e a
reflexão em detrimento do reconhecimento cristalizado da língua e daquilo que é certo ou errado
nela. Nessa perspectiva, um raciocínio reflexivo do funcionamento da língua portuguesa, no ensino
fundamental, deveria estar pautado no entendimento da língua como um fenômeno que sofre
influência sócio-cultural e que se constitui no decorrer da história. Desse modo, temos o príncipio
de que o ensino de gramática do português quando pautado no conhecimento de sua formação
histórica e com reflexão do seu papel na sistematização das normas consideradas padrão ou nãopadrão/populares pode elucidar e dar sentido à maioria das regras incompreensíveis da língua
portuguesa, dispensando os exercícios mecanicistas e a memorização. Para tanto, dentre o
referencial teórico, temos Britto (1997), Deline (In: Fiorin, 2007), Marcuschi (2003), Silva (1997).
EDUCAÇÃO LÍNGUÍSTICA: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO PROJETO
ESCREVENDO O FUTURO
Paula Barreto Silva – PPGCEL/UESB
Ester Maria de Figueiredo Souza – PPGCEL/UESB
Este trabalho integra a pesquisa Políticas de Ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio em
desenvolvimento no Mestrado em Letras: Cultura, Educação e Linguagens, cujo foco é o programa
Escrevendo o Futuro, uma das ações do Ministério da Educação no Brasil. O programa em foco,
atualmente denominado Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP), é analisado com base no seu
manual com o intuito de extrair e indiciar as concepções de ensino de língua para todo o território
nacional. Como programa, a OLP promove, em todo o país, concursos bienais de textos produzidos
por alunos da rede pública e consiste numa proposta para o ensino da produção de gêneros textuais
por meio de sequencias didáticas especificas para cada ano escolar. A homogeneidade da orientação
do manual pode ser um elemento que indicia concepções hegemônicas para espelhar o padrão de
ensino de língua nacional. A partir dessa hipótese, a pesquisa os critérios de avaliação para os
gêneros da esfera escolar descritos nos Cadernos e o reconhecimento da organização discursiva do
gênero, como gênero privilegiado para a apropriação da estrutura e da discursividade da língua.
Resultados parciais do estudo desse estudo apontam que as práticas didáticas espelham diretrizes
curriculares modalizadas em concepções de ensino de língua e que a educação linguística formal
não deve se restringir ao ensino de uma única norma linguística, mas priorizar o aprendizado das
“normas de comportamento linguístico” que regem a vida dos diferentes grupos sociais.
AS ATITUDES SOCIOLINGUÍSTICAS DE PROFESSORES INDÍGENAS TAPUIAS.
Frederiko Luz Silva – UFG
O presente trabalho é parte do projeto de pesquisa Ensino e Aprendizagem de Língua Portuguesa,
em uma perspectiva sócio-histórico-cultural, e foi feito na perspectiva da Sociolinguística
Educacional, sob a orientação da pesquisa etnográfica. Trata-se de estudo de caso com professores
inseridos em um contexto de diversidade invisibilizada, onde grupos dominantes tentam apagar
traços socioculturais de grupos minoritários. São professores da escola Indígena do Carretão,
localizada no município de Rubiataba/GO, terra onde vive o povo indígena da etnia Tapuia.
Objetivamos com a pesquisa mensurar quais as atitudes sociolinguísticas desses professores em
relação às variedades do português realizadas no contexto escolar. Notamos uma atitude geral de
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promoção da variedade do português falado na terra indígena como a língua desse povo, o
Português Tapuia. Hipotetizamos que esta atitude tem relação direta com a crença de que um povo
para ser considerado indígena deve ter uma língua indígena, tal hipótese nos levou a distinguir, no
trabalho, atitude de crença. Essa situação nos fez perceber a construção de uma comunidade de
participação que tem sido instaurada através da escola por meio dos professores. A comunidade de
participação que está sendo implantada tem como objetivo maior, solidificar a identidade do povo
em questão, como povo indígena. Observamos que a escola tornou-se o lugar de trabalho para a
comunidade de participação do povo Tapuia. São professores indígenas que por meio de suas
atitudes sociolinguísticas estão liderando um movimento que busca resgatar os traços socioculturais
desse povo de constituição tão particular, e encontraram na língua a principal possibilidade de terem
sua identidade indígena bem marcada e assim terem os seus direitos respeitados e garantidos. Esses
são resultados parciais de pesquisa em andamento que investiga a formação e a atitude
sociolinguística de professores de Português da Educação Básica.
O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA E A QUESTÃO ETNICORRACIAL:
APONTAMENTOS PARA REFLEXÃO
Vanda Lucia Praxedes – NERA/FAE-UEMG
Santuza Amorim – NERA/FAE-UEMG
Neste texto, apresentam-se análises de livros didáticos, relativas à pesquisa em andamento, “Língua
e Literatura: relações raciais, diversidade sociocultural e interculturalidade em países de língua
portuguesa”, desenvolvida por pesquisadores integrantes do NERA (Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre Relações Raciais e Ações Afirmativas) e do CEALE (Centro de Alfabetização Leitura e
Escrita), ligados ao Curso de Especialização Lato Sensu da FAE/UFMG – LASEB -, para
professores de Rede Municipal de Belo Horizonte, da área de “História da África e Culturas AfroBrasileiras: uma introdução à lei 10.639/03”.
As análises já realizadas sobre materiais didáticos que circulam nas escolas brasileiras (Rosemberg,
2003; Silva, 1995) revelaram uma característica marcante desse material, ou seja, sua omissão em
revelar e representar a diversidade etnicorracial, tal qual acontece no contexto da sociedade
brasileira: os alunos se defrontam cotidianamente com materiais impregnados de elementos, tanto
do ponto de vista imagético, como de conteúdo, que reforçam e acirram comportamentos próximos
da discriminação e do preconceito racial. Pode-se dizer que tal fenômeno ainda se orienta e é
decorrente da existência da falsa democracia racial (MUNANGA, 1999), que impera fortemente no
ideário político e religioso da nação.
Historicamente, as relações raciais no Brasil sempre foram perpassadas pela ideologia do
branqueamento, o que fez com que os grupos afrodescendentes fossem impedidos de se perceberem
e de se reconhecerem como negros, apropriando-se de seus traços físicos e culturais. A falta de
expressão e construção de uma identidade própria resulta (MUNANGA, 1999), de uma
expropriação, dominação e conversão de suas características e marcas identitárias “em símbolos
nacionais pelas elites dirigentes”. Em suma, há uma negação de suas raízes e da tradição africana,
como referência para a constituição da identidade e, em muitos casos, uma condução a associar-se a
grupo de pessoas brancas, em que não se observa oposição aos estereótipos e estigmas veiculados e
seus efeitos sobre os mesmos.
Tal constatação e a implantação do PNLD - Programa Nacional do Livro Didático - fizeram com
que esse material começasse a ser analisado de maneira mais crítica e com base em alguns critérios,
visto que, conforme as orientações desse programa, estariam desautorizadas de circular nas escolas
obras em que os preconceitos de classe, gênero, etnia e outros estivessem presentes.
Considerando o exposto, não resta dúvida de que a atenção destinada a esse material se prende a sua
importância como instrumento que pode impedir a alienação dos sujeitos que dependem dele para
se informar e educar. Embora presente e definidor de currículos escolares, no que diz respeito à
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história do continente africano e de seu povo, esta se faz ausente. Encontra-se uma abordagem que
trata de reforçar o que circula na mídia em relação a esse continente, isto é, uma imagem reduzida e
quase sempre associada à situação de miséria, doenças, atraso e subdesenvolvimento, contribuindo,
dessa maneira para acirrar preconceitos, discriminação e desigualdades sociais que advêm dessas
situações.
Serão analisados livros didáticos de Português e de História, aprovados pelo PNLD, tendo como
pano de fundo a análise da questão etnicorracial. O objetivo dessa análise é observar como
determinados livros, aprovados para distribuição nas escolas públicas do país, abordam os aspectos
concernentes às questões etnicorraciais e em que medida procuram incorporar as recomendações da
Lei 10.639/03, das Diretrizes e do PNLD, no sentido de romper com estereótipos e o racismo
detectados nas pesquisas. Para essa análise, utilizaremos as ilustrações e o modo como o texto e as
atividades propostas no livro tratam os aspectos etnicorraciais.
A ASCENSÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA ENTRE OS MAKU- DÂW: UMA ANÁLISE
SOCIOLINGUÍSTICA DA INTER-RELAÇÃO LÍNGUA ÉTNICA, NHEENGATU E
PORTUGUÊS COM ENFOQUE NAS PRÁTICAS DE ENSINO BILÍNGUE
Silvana Andrade Martins – UEA
Valteir Martins – UEA
Este estudo apresenta uma análise sociolinguística da situação de multilinguísmo dos Dâw, nos
últimos 50 anos. Evidencia-se a ascensão da língua portuguesa, ao lado da preservação da língua
étnica, e do desaparecimento da língua de contato interétnico, o Nheengatu. Os Dâw constituem um
povo minoritário, que convive em uma das áreas mais multilíngues do mundo, que é a região do
Alto Rio Negro, onde se localiza o município de São Gabriel da Cachoeira. Nesse perímetro
municipal, são faladas 22 línguas indígenas, de quatro troncos linguísticos: Tupi-Guarani, Tukano
Oriental, Maku e Arawak, além da língua portuguesa, sendo que três delas são cooficiais: Tukano
(da família Tukano), Nheengatu (tupi-guarani) e Baniwa (Arawak). Essa relação entre as línguas é
balizada por relações sociais interétnicas. Nesse contexto sociolinguístico, o Dâw, juntamente com
as demais línguas dos povos Maku, ocupa a base da pirâmide de prestígio linguístico e
sociocultural. Além da língua materna, eles falam Nheengatu e português, em diferentes graus de
proficiência, que variam dependendo da faixa etária, gênero, escolaridade e intensidade de contatos
interétnicos. Contudo, constata-se que a inter-relação dessas línguas no quadro de multilinguismo
dos Dâw tem se reconfigurado nos últimos 50 anos. Está sendo redesenhada por mudanças
socioculturais, resultadas da trajetória de contato dos Dâw com indígenas e não-indígenas,
alavancadas sobretudo pelo ensino da língua portuguesa na escola bilíngue da comunidade
indígena. Os Dâw estão deixando de ser trilíngues e tornando-se bilíngues em português,
eliminando o uso do Nheengatu, no contato interétnico. Por contra, há uma ascensão da língua
portuguesa. Verifica-se que o português está em vias de suplantar o uso do Nheengatu como língua
de contato intertribal. Também, gradativamente, a língua nacional deixa de ser falada somente em
situações de contato com os não-Dâw e passa a ser empregada em algumas situações formais de
enunciação que ocorrem no contexto tribal, como na escola e em cerimônias religiosas. Observa-se
que os Dâw, nessas interlocuções, alternam suas falas entre língua nativa e o português
aleatoriamente, ou ainda inserem frases inteiras do português no discurso Dâw. Também se
evidencia um aumento de empréstimos do português que são integrados à língua indígena sem
serem adaptados ao sistema fonológico e morfológico nativo, o que implica variações e possíveis
mudanças nesse sistema linguístico. Verifica-se que embora seja Dâw a primeira língua aprendida
pelas crianças, a proficiência em português aumenta entre a população abaixo de 35 anos, sobretudo
entre os escolarizados, que já preferem estudar o português que Dâw, na escola. No entanto,
registram-se algumas iniciativas do professor de Dâw para motivar os alunos no estudo da língua
étnica. Portanto, diante dessa situação sociolinguística vivenciada pelos Dâw, analisam-se os fatores
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socioculturais que estão contribuindo para reformatar o perfil linguístico dos Dâw e verificam-se
como essas mudanças estão operando na formação de sua identidade étnica, tendo como enfoque
uma análise das práticas de ensino da língua portuguesa e de Dâw, no contexto da escola bilíngue
desta etnia.
POLÍTICAS SOCIOLINGÚISTICAS PARA O FORTALECIMENTO DA DIVERSIDADE,
DA PESQUISA E DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NAS ESCOLAS INDÍGENAS
DE PERNAMBUCO
Cinthya Torres Melo – UFPE/NEI/CAA
Este trabalho apresenta perspectivas sociolinguísticas para o fortalecimento da pesquisa linguística
e do ensino de língua portuguesa (LP) nas escolas indígenas junto aos 6 eixos temáticos da
Educação Indígena de Pernambuco (Terra, Identidade, História, Organização, Interculturalidade e
Bilinguísmo ) que corroboram para o reconhecimento e o respeito da diversidade. Nesta
perspectiva, o ensino de LP nas escolas indígenas possui particularidades que necessitam ser
discutidas nos cursos de graduação em letras. A proposta metodológica aqui é de caráter qualitativo
e as bases teóricas tomam por referência o Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura
Intercultural Indígena da UFPE/CAA, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Indígena, as avaliações dos estudantes indígenas e a experiência como docente no Curso
Intercultural e na Coordenação Pedagógica. Entende-se, assim, que há especificidades no ensino de
LP, nas escolas indígenas, que precisam ser incluídas no currículo de graduação em letras e nas
pesquisas científicas da área.
BILINGUISMO INDÍGENA: O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA (LÍNGUA
ESTRANGEIRA OU SEGUNDA LÍNGUA?) NAS ESCOLAS DAS ALDEIAS APINAYÉ
SÃO JOSÉ E MARIAZINHA
Severina Alves de Almeida – SISSI/UnB
Nessa comunicação apresentamos os resultados de uma pesquisa com os Apinayé, indígenas
falantes da língua Apinayé, pertencente ao Tronco Linguístico Macro Jê e à Família Linguística Jê,
residentes no norte do estado do Tocantins na região do Bico do Papagaio. Os objetivos foram
estudar o Bilinguismo no contexto indígena e investigar como se dá o ensino da língua portuguesa
nas escolas Mãtyk e Tekator das aldeias São José e Mariazinha. Igualmente, buscamos identificar
como os professores entendem a incidência da língua portuguesa, se como língua estrangeira (LE)
ou segunda língua, considerando a situação de contato, sendo que a língua Apinayé (L1) é a língua
falada pelas comunidades nas relações intragrupo e o português (L2) nas interações intergrupo, isto
é, com os não indígenas. Além disso, pesquisamos a situação sociolinguística dos indígenas, com o
intuito de identificar a facilidade linguística em relação às línguas Apinayé e Portuguesa. A
pesquisa, de teor interdisciplinar, agregou aspectos qualitativos e quantitativos, tendo como base os
estudos de Günther (2006) e Vasconcelos (2009). O estudo se apresentou também como uma
etnografia participante a partir das teorias de Ezpeleta & Rockwell (1989); Erickson (1984) e Beaud
& Weber (2007). Os dados foram gerados qualitativa e quantitativamente e coletados a partir de
observações, entrevistas e questionários. O corpus investigado é composto de entrevistas realizadas
com lideranças, professores e estudantes Apinayé, diários e notas de campo. Para análise dos
conceitos de Bilinguismo: Grosjean (1999); Hamers & Blanc (2000); Butler & Hakuta (2004). Para
Educação Indígena e Intercultural Cabral (1987); Lopes da Silva (2000; 2001); Maher (1994; 2005;
2006); Grupioni (2001; 2003; 2006); sobre os Apinayé, Nimuendaju (1983); Da Matta (1976);
Albuquerque (1999; 2007) e Almeida (2011). Acerca das línguas indígenas, Rodrigues (1988; 2002;
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2011) e Cabral (2002; 2009; 2010; 2011); sobre diversidade linguística e o ensino de português,
Matos (2004) e Maher (2010). O estudo revelou que os Apinayé são Bilíngues
(Apinayé/Português), e que apesar do uso e função da Língua Portuguesa ter atingido diferentes
domínios sociais das aldeias, eles estão conseguindo preservar traços de sua identidade cultural e
linguística. Todavia, identificamos um “Deslocamento Sociolinguístico”, fenômeno recorrente
quando, em situação de Bilinguismo, a língua dominante, paulatinamente, ocupa os domínios da
língua indígena. Tal ocorrência foi constatada quando os Apinayé afirmaram usar a língua
portuguesa durante os eventos culturais e no âmbito familiar. Embora na aldeia São José a
porcentagem de pessoas que fazem uso das duas Línguas nas cerimônias da Tribo (10%) sejam
menor do que se constata na Mariazinha (27%), é importante salientar que este é um domínio social
onde a penetração de outra língua, que não a materna, é motivo de apreensão, pois põe em cheque a
identidade linguística da comunidade. No tocante ao ensino da língua portuguesa, as aulas são
ministradas por professores não indígenas e os professores indígenas, assim como as lideranças e
estudantes, veem a língua portuguesa como uma língua estrangeira. No que tange ao papel da escola
e sua relação com o Bilinguismo, ficou claro que esse importante domínio social das aldeias
favorece dois tipos de Bilinguismo. O primeiro é um “Bilinguismo Aditivo”, praticado nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, por meio de um material de apoio pedagógico Bilíngue, onde a
Língua Materna é valorizada e serve como preparo para a criança ter um primeiro contato com a
Língua Portuguesa nas formas oral e escrita. O segundo é um “Bilinguismo Subtrativo”,
evidenciado pelas práticas pedagógicas dos professores nos anos finais do Ensino Fundamental e no
Ensino Médio, que usam material didático exclusivamente na Língua Portuguesa.
RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA OFICIAL E LÍNGUA MATERNA NA ESCOLA: COMO SE
ENSINA E SE APRENDE EM PORTUGUÊS NUMA ESCOLA RURAL AFRICANA, EM
CABINDA/ANGOLA
Silvestre Filipe Gomes – FAE/UFMG
Angola é um país com uma diversidade linguística: mais de uma dezena de línguas autóctones
compõe o mosaico sociolinguístico do país. O português surge como a língua oficial e veicular,
considerado pela maioria da população como língua segunda e estranha, entretanto, necessária para
o exercício do poder e da cidadania plena.
Este artigo é fruto de um estudo que procurou compreender como decorre o processo de ensino e
aprendizagem da língua portuguesa numa aldeia cujas crianças falam, desde o seio familiar, uma
língua local (Ifiote) diferente à da escola (o Português), numa escola primária localizada numa
aldeia da província de Cabinda/Angola. O estudo foi desenvolvido com base nos seguintes
objetivos: geral – Investigar o processo metodológico de e de aprendizagem numa escola rural
africana, onde a principal língua de comunicação é o Ifiote; objetivos específicos: 1) descrever o
perfil cultural e linguístico dos alunos e do(a) professor(a); 2) analisar a interação, criada na sala de
aula e no recinto escolar, entre o Português e o Ifiote; 3) Analisar os materiais didáticos na sala de
aula para o ensino e aprendizagem. A pesquisa, de abordagem etnográfica, foi realizada numa
aldeia afastada da zona urbana, tendo como a característica principal o uso frequente da língua
Ifiote, falada na província de Cabinda, com os alunos duma turma, a eleger, da 1ª classe. Para a
aquisição dos dados, levar-se-á a cabo uma observação participativa, assistindo às aulas, todos dias
lectivos, na turma da 1ª classe (1ª ano); foram dirigidas algumas entrevistas semiestruturadas,
combinadas com entrevistas profundas ao(à) professor(a) daquela classe; também foram
acompanhados certos eventos marcantes da vida da aldeia, como cultos religiosos e sessões de
resolução de problemas que diziam respeito à vida do povo. Com a devida autorização, tanto as
aulas como alguns eventos da comunidade foram filmados e anotados num diário de campo.
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SIMPÓSIO 59
REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA
DO PORTUGUÊS
A Associação Internacional de Linguística do Português (AILP), sediada em Macau até 2013,
propõe um grupo de discussão para aprofundar reflexões sobre “a presença da língua portuguesa na
Ásia”, focando a pesquisa, o ensino e a difusão. Nesse momento de pós/neo-colonialismos,
superdiversidade e (pós)multiculturalismo, o Português vai assumindo diferentes papéis no
dinamismo econômico, sociolinguístico, cultural, educacional e histórico no contexto da Ásia e na
relação da Ásia com o mundo que fala Português. Esperamos receber colaborações que situem a
língua nesse contexto, levando em consideração a diversidade entre sujeitos, povos e governos que,
inevitavelmente, estão e estarão em contato e que, por isso, precisam interagir no plano político,
sociocultural, educacional e acadêmico.
COORDENAÇÃO
Roberval Teixeira e Silva
Universidade de Macau / AILP
[email protected]
Ana Nunes
Universidade de Macau / AILP
[email protected]
Mário Pinharanda Nunes
Universidade de Macau / AILP
[email protected]
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SIMPÓSIO 60
O POEMA NARRATIVO E O CONTO NO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE,
PRODUÇÃO E APROXIMAÇÃO ENTRE PAÍSES DE LÍNGUA
PORTUGUESA
A história oficial do Brasil nasce em estreita relação com Portugal e com vários países africanos. A
literatura transfigurou, por intermédio de vários gêneros, essa experiência de gradativa
transformação dos “países colonizados e colonizador” em “países de língua portuguesa”. Essa
experiência histórica de transformação pode e deve ser transmitida às novas gerações,
especialmente na escola, por intermédio de análise e produção de textos literários. Ainda que leitura
e produção de texto componham partes integrantes de uma mesma habilidade, e leitores vorazes
apresentem, frequentemente, facilidade de expor suas ideias e emoções por intermédio do texto
escrito; no entanto, em se tratando de textos literários, constatamos uma situação paradoxal. O
aluno de Ensino Básico entra em contato com a Literatura – clássica ou popular –muito antes de
ingressar na escola; amplia seu repertório, nos bancos escolares, com leitura e análise de diversos
gêneros; porém tudo isso não reverte em produções de qualidade. No Brasil, estudos recentes têm
apontado como uma das razões os manuais didáticos, que usam geralmente adaptações de
composições clássicas ou fragmentos de obras consagradas. Essa seleção não permite muitas vezes
que o aluno, mesmo ao chegar ao curso médio, domine bem o gênero analisado, tampouco aprenda
como elaborar um texto com início, meio e fim coerentes. Portanto, defendemos a adoção de textos
literários integrais, em sala de aula, oriundos de países diversos, análise com vistas à produção, e
incorporação de ensaios de autores consagrados. Para orientar a prática cotidiana, recorremos a
Dolz, Noverraz e Schnewly, certos de que suas experiências podem ser de muita ajuda ao professor.
Outros estudos críticos que permitam diálogos teóricos e/ou pedagógicos relevantes poderão ser
acolhidos também. Todos com o objetivo de revelar facetas novas tanto para a esfera da recepção
quanto para a da produção do leitor adolescente de obras de literatura de língua portuguesa.
COORDENAÇÃO
Raul de Souza Püschel
Instituto Federal de Educação de São Paulo
[email protected]
Suely Corvacho
Instituto Federal de Educação de São Paulo
[email protected]
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“NAVIO NEGREIRO”: COMO ESTUDAR SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE UM POEMA
NARRATIVO
Raul de Souza Püschel – IFSP
Neste trabalho, metodologicamente com base nas concepções de Dolz, Noverraz e Schnewly (2004)
de oferecer um caminho para que seja assimilado certo gênero textual, será estudado “Navio
negreiro”, de Castro Alves, como um exemplo de poesia narrativa a ser investigado. Esta
investigação está decomposta em uma apresentação da situação, uma produção inicial, seis módulos
e uma produção final. Na apresentação da situação, o aluno é colocado em contato com tal gênero
textual e é levado a inferir o que é um poema narrativo, a partir de sua experiência prévia e não
sistemática de contato com tal texto. A produção inicial, tanto uma de natureza oral quanto outra de
natureza escrita, acontecerá em torno de 13 de maio para que haja articulação entre a proposta de
poesia narrativa e a questão da discriminação racial do negro no Brasil. No módulo 1, é feito um
primeiro contato com “Navio negreiro”, criam-se contextos favoráveis para que sejam apresentadas
informações sobre o Romantismo e o autor, além disso são explicadas referências e termos mais
complexos. No 2, há primeiramente o comentário dos alunos acerca da obra e depois uma análise
mais detida do docente. No módulo 3, os discentes são exortados a ler estudiosos, formando desta
maneira uma espécie de fortuna crítica do texto do poeta dos escravos. No 4, aspectos
extraliterários, em conexão ou não com o literário, serão trabalhados pelo docente e por seus alunos,
para ilustrar, entre outros casos, o emprego da vírgula de caráter expressivo e da sinonímia, tanto no
poema de Castro Alves quanto na produção inicial dos alunos. Também outras questões de natureza
linguística que surgirem serão aqui exploradas. No 5, serão levados em conta aspectos da teoria
literária, como a versificação e a intertextualidade, entre outras, que servirem aqui como elementos
de iluminação também, não só da obra do poeta baiano quanto da dos alunos. No módulo 6, o
gênero poema narrativo é colocado em confronto com gêneros textuais fronteiriços (oração, hino,
por exemplo) e também é aprofundada a discussão sobre as marcas e tipicidades do que vem a ser
um poema narrativo. Durante a produção final, será proposto um leque de situações que auxiliam o
educando a criar o seu poema narrativo, almejando a que domine plenamente esta espécie de
produção. Às propostas levadas pelo professor serão agregadas aquelas que os alunos apresentem e
sejam pertinentes para a produção textual. Observa-se, então, que o trabalho ora apresentado dará
espaço, em cada módulo, para que necessidades reais dos alunos, que tenham aparecido nas
interações em sala de aula, sejam contempladas e reorientem tais propostas.
POR QUE LER OS CLÁSSICOS?
Darcilia Marindir P. Simões – UERJ/CNPq/SELEPROT
Eleone Ferraz de Assis – UEG/FAPERJ/SELEPROT
Para que um sujeito desenvolva seu vocabulário, não pode ficar restrito ao seu grupo imediato. É
preciso transitar por grupos diferentes com vista a adquirir novas experiências e, por conseguinte,
aumentar seu vocabulário. O conhecimento linguístico de um falante ultrapassa o inventário de
signos com os quais se expressa cotidianamente (vocabulário ativo). No repertório de um falante,
também há em latência um vocabulário passivo que é constituído dos signos que ele absorve da fala
de outrem (rádio, televisão, cinema, conversas etc.). No entanto, se o falante não entrar em contato
com falas distintas da sua, sua experiência de vida, que é traduzida pela língua, esta restará
reduzida, mínima. Logo, é preciso fazer algo no sentido de promover o enriquecimento verbal dos
estudantes. Em consequência, ampliarão seu universo de experiência e expandirão seu repertório
(idioleto produtivo – o que resulta da prática linguageira do sujeito; e idioleto receptivo – que é
proveniente da linguagem absorvida de outros falantes). Por isso, é tão relevante o estudo da língua
a partir da leitura e compreensão de textos.
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Como se tem a pesquisa e o ensino como balizas de produção, busca-se, com a investigação da
iconicidade lexical em contos de Eça de Queiroz, produzir modelo de análise que não só discuta e
classifique o vocabulário dos textos-córpus, mas também estimule a leitura dos clássicos, uma vez
que a riqueza lexical dos textos eleitos transborda da instrução linguística para outras áreas de
interesse como a literatura, a história, a política, a religião etc.
Nossa hipótese: a leitura dos clássicos pode deflagrar o desenvolvimento do repertório e do cabedal
cultural dos estudantes. Por meio da leitura orientada é possível desenvolver a competência
discursivo-textual dos alunos.
Nesta comunicação, mostraremos que mapeamento lexical é uma estratégia de análise que busca
operar com marcas sensíveis (sonoras, no texto oral; gráficas, no texto escrito). Essa preocupação se
deve à necessidade de orientação da leitura, em especial no que tange à apuração das isotopias
plausíveis para interpretação de um texto. Pela iconicidade (SIMÕES, 2009), busca-se no texto
pistas que orientem a produção de sentido, a identificação das isotopias possíveis para a
interpretação. Em meio ao material léxico, podemos levantar palavras-chave que se repetem na
superfície textual e que se vão enlaçando, fazendo com que algumas funcionem como nós — as
âncoras textuais —, que representam as encruzilhadas onde as isotopias (ou recortes temáticos) se
encontram e se sobrepõem em um mesmo signo. Para Simões (2008), iconicidade é uma qualidade
com potencial semântico-discursivo emergente da estruturação textual o qual conduz o leitor
durante a leitura. Essa mostra se faz mais significativa no texto clássico que, por princípio, abriga
mais de uma isotopia, por ser polissêmico por essência.
“SINHÁ”, MÚSICA DE CHICO BUARQUE E JOÃO BOSCO, E AS SEQUÊNCIAS
DIDÁTICAS
Suely Corvacho – IFSP
Dentre os vários tipos de poemas narrativos, a música conquista mais facilmente o jovem aluno do
Ensino Médio do que outras expressões. Nesta comunicação, tratamos como a música de Chico
Buarque e João Bosco,”Sinhá”, pode ser apresentada no primeiro momento da sequência didática
proposta por Dolz, Noverraz e Schnewly, ou seja, a fase na qual é exposto um problema de
comunicação e os conteúdos a ele relacionados, neste caso a elaboração de uma música para um
Festival interno sobre a contribuição africana para formação da identidade nacional. “Sinhá”
começa in media res com a fala de um escravo procurando convencer o senhor de engenho de que
não deve ser penalizado. Acusado de ter visto Sinhá banhar-se no açude, o escravo mostra a
injustiça do ato, contrastando sua inocência à crueldade dos castigos que o aguardam: ser levado ao
tronco, ficar aleijado, talhar o corpo, furar os olhos. No final do poema, a voz do escravo é
substituída pelo eu-lírico, que se apresenta como poeta e descendente das duas linhagens: do cruel
senhor de engenho e do escravo. Essa revelação, contida numa arquitetura da história dentro da
história, obriga a releitura de todo o poema, abrindo espaço para uma série de reflexões, inclusive
dos traços da contemporaneidade na Literatura. O poema que em seu corpo se autodenomina “conto
de um cantor” enseja o trabalho em diversas direções: a reflexão sobre a escolha e complexidade do
gênero literário e musical; a sequência narrativa; a construção poética com os jogos aliterantes e
paronomásicos, como em "o conto de um cantor", o jogo entre radical e derivada (nome/renome),
entre outros; as escolhas de construções morfossintáticas marcadas pelo estrado sociocultural de seu
falante, como em “Para que que vosmincê”; e recuperação da polêmica histórica em torno da
relação do senhor de engenho e os escravos no Brasil.
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DE REPENTE, SURGIU UMA CRIATURA...: UMA EXPERIÊNCIA COM O GÊNERO DE
TEXTO NARRATIVA DE HORROR NO OITAVO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Chislene Moreira Cardoso – UERR
Ana Maria Mattos Guimarães – UNISINOS
O Interacionismo Sociodiscursivo, doravante ISD, apresenta a idéia de que a apropriação dos
gêneros textuais é fundamental no processo de inserção do indivíduo em uma prática social, ou seja,
o domínio dos gêneros é necessário para que o usuário de uma língua participe, de forma ativa, na
comunidade verbal na qual esteja inserido. O gênero de texto é trabalhado no processo de aquisição
da língua materna por meio de uma sequência didática (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004). O objetivo
geral desta pesquisa foi propor a aplicação de uma sequência didática por meio do gênero textual
narrativa de horror em uma turma do oitavo ano do ensino fundamental de uma escola particular e
uma escola pública. Utilizou-se a pesquisa qualitativa a fim de interpretar os dados. Realizou-se
também a pesquisa exploratória, com o propósito de famialiarizar o pesquisador com o seu objeto
de estudo. Além disso, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, para proporcionar uma base teórica, e a
pesquisa de campo para coletar os dados para posterior análise. Os dados foram coletados por meio
de questionários e das produções textuais iniciais e finais aplicadas aos alunos durante o
desenvolvimento dos módulos da sequência didática por meio do gênero textual narrativa de horror
nas duas turmas de oitavo ano de uma escola particular e uma escola pública. A comparação entre
as produções iniciais e finais mostrou um avanço qualitativo de aspectos considerados essenciais ao
gênero em questão: conteúdo temático, seqüência narrativa, personagens e narrador. Os resultados
da análise das produções dos alunos revelam transformações importantes em suas capacidades de
linguagem. A maioria dos alunos viu-se capaz de mobilizar o conteúdo temático compatível com o
gênero e de organizá-lo de maneira adequada, em função das diferentes fases de uma seqüência
narrativa, encadeando as ações das personagens no quadro do horror, elemento essencial para o
gênero desenvolvido. É evidente que a aplicação da sequência didática em um curto espaço de
tempo não é suficiente para que os alunos apreendam toda a riquezade um gênero complexo. O
trabalho com a seqüência didática deve ser contínuo. Assim, por exemplo, seria extremamente
importante continuar, nas turmas aqui enfocadas, o trabalho com outros gêneros de texto.
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SIMPÓSIO 61
GÊNEROS DA ORDEM DO NARRAR E DO RELATAR – A QUESTÃO
DO ENSINO
A proposta deste simpósio representa, inicialmente, a busca de espaço para um diálogo produtivo de
pesquisadores das universidades federais de Uberlândia, de Goiás, de Mato Grosso, dos institutos
Federal de São Paulo e Politécnico de Santarém, além dos pesquisadores da Universidade de São
Paulo sobre os gêneros de discurso da ordem do narrar e do relatar e as formas de abordagem
didática desses gêneros, que, conforme Schneuwly (1994), do ponto de vista da construção dos
discursos e da construção da linguagem pela criança, os gêneros do discurso constituem “megainstrumentos” de ensino e, como tais, considerados como uma unidade organizadora de currículos e
de progressões no ensino fundamental. A despeito de o projeto ter nascido, no bojo do Projeto A
LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO, como afiliado ao I Simpósio Mundial de Estudos de
Língua Portuguesa e como uma proposta emanada da vontade manifesta desses grupos listados, o
simpósio configurar-se-á como um espaço de recepção de todos os interessados em expor suas
pesquisas sobre o tema ou simplesmente participar na condição de ouvinte das discussões. Aceitarse-ão trabalhos descritivos que convirjam para os propósitos iniciais deste simpósio. Uma agenda de
trabalhos, no entanto, foi imaginada para os dias de encontros: o momento do status quo do projeto,
o reforço dos pressupostos teóricos assumidos pelas equipes e os resultados de pesquisas
desenvolvidas. Desse modo, uma tarefa inicial prevê o relato pelos coordenadores regionais do
andamento do projeto, se possível já resumindo os resultados porventura alcançados. É esperado
que as equipes regionais sinalizem as tarefas previstas para o ano seguinte. Outro tópico relevante
da agenda diz respeito à apresentação das linhas mestras primariamente apresentadas em
Uberlândia, as quais foram sendo refinadas com o andamento dos trabalhos. Assim, é esperado que
se encontre durante as discussões o método que consolidará os resultados de ambas as vertentes
priorizadas desde o início da pesquisa. Espera-se ainda que os pesquisadores participantes possam
relatar, sobretudo, as agruras e dificuldades enfrentadas ao lidar com o gênero discursivo escolhido
para descrição, em especial na associação dos aspectos discursivo-pragmáticos com os gramaticais.
Em suma, trata-se de um espaço para que pesquisadores brasileiros e internacionais reflitam sobre
formas e métodos de descrição do objeto referido com vistas a identificar o caminho para se
elaborar a transposição didática.
COORDENAÇÃO
Maura Alves de Freitas
Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
Eliana Dias
Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
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PRÁTICAS DE LEITURA E PRODUÇÃO DE GÊNEROS: A ORDEM DO NARRAR E DO
RELATAR
Maura Alves de Freitas Rocha – UFU
Este Grupo Temático tem como objetivo discutir práticas escolares de leitura e produção de gêneros
do relatar e do narrar, a partir da proposta teórica do interacionismo sociodiscursivo
(BRONCKART, 1999, 2004, 2005), aliada à proposta de Schneuwly e Dolz (1999), com o intuito
de discutir questões como: qual a finalidade de se fazer a distinção entre gêneros do relatar e do
narrar?; que textos propor para o ensino da leitura e da escrita?; como sistematizar tais gêneros nas
séries do ensino fundamental e ensino médio? Será adotada a proposta de Agrupamento de gêneros
de Dolz e Schneuwly (2004) e, para responder as questões acima, adotaremos como ponto de
partida a ideia de que as sequências discursivas (narrativas, descritivas, argumentativas, explicativas
e dialogais) concorrem para compor tipos linguísticos variados, conforme Adam (1993). Ressalte-se
ainda que Schneuwly e Dolz (1999) consideram que, “quanto mais precisa a definição das
dimensões ensináveis de um gênero, mais ela facilitará a apropriação deste como instrumento e
possibilitará o desenvolvimento de capacidades de linguagem diversas que a ele estão associadas”
(id, p. 15). Nesta perspectiva, procuraremos desenvolver uma proposta de trabalho com os gêneros
do narrar e do relatar que contemplem as sequências didáticas, na linha de Bronckar (1999), que
considera que um texto organiza-se de acordo com uma arquitetura interna, o “folhado textual”, que
se organiza em 3 camadas superpostas, mas interativas: a infraestrutura do texto, os mecanismos de
textualização e os mecanismos enunciativos, em suma: os mecanismos que constituirão os objetos
de aprendizagem de alunos.
ENSINO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS NA ESCOLA: SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DO
PORTAL DO PROFESSOR
Eliana Dias – ILEEL/UFU
Na última década, a grande mudança ocorrida nas aulas de Língua Portuguesa (LP) foi a chegada
dos gêneros discursivos. Uma das causas dessa mudança se relaciona ao constante uso das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) que redimensionaram as práticas de letramento
e, por conseguinte, o trabalho com os gêneros discursivos. Porém, o que está ocorrendo na
atualidade é uma pequena confusão dos professores no modo de ensinar e trabalhar com esses
gêneros. A presente comunicação foca a questão do ensino dos gêneros discursivos e apresenta uma
análise de aulas com propostas de sequências didáticas sobre gêneros do narrar e do relatar
publicadas no portal do professor. As sequências didáticas são um conjunto de atividades ligadas
entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa por etapa e devem envolver atividades de
aprendizagem e avaliação. Entende-se que não é qualquer sequência didática que favorece o
desenvolvimento da autonomia entre os estudantes, indispensável à formação para a cidadania.
Aquelas, por exemplo, que enfatizam a recepção de conteúdos e sua reprodução mecânica não dá
aos educandos a possibilidade de autoria na produção de conhecimentos. Acredita-se que a
problematização da realidade, o levantamento de hipóteses, a análise e interpretação de dados na
escola devem ser ações estimuladas entre os estudantes. Conclui-se que muitas sugestões de aulas
de LP publicadas no Portal do professor adotam uma postura tradicional e equivocada, o que pode
ser comprovado nas análises feitas das propostas do referido Portal.
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O ESTILO NO ROMANCE MACUNAÍMA: ASPECTOS DA ORDEM DO NARRAR
Fernanda Mussalim – UFU
Bakhtin, em Os gêneros do discurso, afirma que os diversos campos da atividade humana estão
ligados ao uso da linguagem e que o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados
concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. O
enunciado – ato singular, irrepetível, concretamente situado que emerge de uma atitude ativamente
responsiva, isto é, de uma atitude valorativa em relação a um determinado estado-de-coisas – reflete
as condições específicas e as finalidades do campo que lhe possibilitou o surgimento, não somente
por seu conteúdo temático, mas também pelo estilo da linguagem (seleção de recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais da língua) e por sua construção composicional. Em outras palavras, há
um vínculo orgânico entre o enunciado e as condições específicas e finalidades dos campos de
atividade humana, de modo que cada campo elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, denominados de gêneros do discurso. Neste simpósio, que aborda questões
relacionadas aos gêneros de discurso e à ordem do narrar, irei tratar da manifestação do estilo (uma
das instâncias constitutivas dos gêneros de discurso) em um gênero literário constituído
predominantemente por sequências textuais narrativas. Mais especificamente, tratarei da
manifestação de traços estilísticos em sequências narrativas do romance Macunaíma: o herói sem
nenhum caráter de Mário de Andrade, considerando a relação entre a inscrição, o posicionamento
do escritor no campo literário brasileiro do início do século XX e a constituição do estilo.
Inicialmente, tratarei do conceito de “campo” de três perspectivas teóricas – da de Mikhail Bakhtin,
de Pierre Bourdieu e de Dominique Maingueneau; em seguida, farei considerações sobre a relação
entre o posicionamento do escritor no campo literário e a constituição do estilo. Posteriormente,
apresentarei, em linhas gerais, o projeto estético dos primeiros modernistas brasileiros e, por fim,
procederei à análise de um trecho narrativo do romance Macunaíma.
GÊNEROS DA ORDEM DO NARRAR E DO RELATAR: UMA ANÁLISE DOS
TRABALHOS PUBLICADOS NOS CADERNOS DE RESUMO E ANAIS DO I E II SIELP
Maria Aparecida Resende Ottoni – UFU
A proposta desta comunicação está vinculada ao projeto de pesquisa interinstitucional “O Ensino da
Língua Portuguesa no Brasil e em Portugal: bases epistemológicas, objetivos e conteúdos”, o qual
integra um projeto maior “O ensino de língua portuguesa no mundo”, que congrega pesquisadores
do Brasil e de Portugal. Fruto desse projeto interinstitucional, já foram realizados, dentre outras
atividades, o I e II Simpósio Internacional de Ensino de Língua Portuguesa (SIELP), o qual reuniu
investigadores de várias partes do mundo interessados no ensino de Língua Portuguesa como língua
materna e como língua estrangeira. Considerando que os trabalhos apresentados nesses dois eventos
refletem muito do que se tem produzido acerca do ensino de Língua Portuguesa e considerando
ainda um dos focos atuais do projeto – os gêneros da ordem do narrar e do relatar -, objetivo
apresentar resultados parciais de uma pesquisa sobre o que tem sido produzido sobre esses gêneros,
as bases teóricas e resultados dessas produções. Para isso, tomo como material de análise os textos
que compõem os cadernos de resumos e anais do I e do II SIELP. Tendo em vista a proposta de
agrupamento de gêneros de Dolz & Schneuwly (1996) e a proposta dos PCN (BRASIL, 1997, 1998,
1999) de se tomar os gêneros de discurso como objeto de ensino, algumas questões norteiam a
investigação, tais como: a) quais gêneros de cada agrupamento estão incluídos em trabalhos
submetidos aos dois eventos?; b) qual é o objetivo e a base teórica desses estudos?; c) o gênero é
tomado como objeto de ensino e sua abordagem leva em conta suas especificidades?; d) quais os
resultados, limitações e potencialidades dessas pesquisas? Na análise, foi possível observar um
número muito reduzido de produções sobre os gêneros das ordens do narrar e do relatar e de
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referência a essas ordens. Da primeira ordem, há trabalhos relativos aos gêneros conto, fábula e
lenda e, da segunda ordem, aos gêneros notícia, reportagem e crônica. Contudo, a maioria deles não
focaliza o gênero em si e suas especificidades e não joga luz a como os gêneros podem ser tomados
como objetos de ensino.
O GÊNERO “CONTO” NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Jorge França de Farias Jr. – UFRPE
Este trabalho pretende abordar o gênero “conto” e sua importância para o incentivo à leitura e
produção textual, em aulas de língua portuguesa. No geral, “o conto é, pois, uma narrativa unívoca,
univalente: constitui uma unidade dramática, uma célula dramática, visto gravitar ao redor de um só
conflito, um só drama, uma só ação.” (Moisés, 2012). Tudo no conto tende à objetividade: os
diálogos das personagens, a linguagem utilizada e o número de sucessos. Traços que contribuem na
utilização desse tipo de texto na sala de aula, prendendo a atenção do aluno e viabilizando a leitura
e produção escrita no espaço de tempo escolar. Num primeiro momento de execução para a
realização do trabalho, aqui, proposto, fez-se indispensável um levantamento programático das
atividades fundamentadas no conteúdo visto nas aulas de língua portuguesa. Também foi
imprescindível observar a metodologia utilizada pelo professor dentro da sala de aula em questão,
pois é em harmonia com o método desse profissional que se baseou a forma como a pesquisa se
desenvolveu. Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados, preferencialmente, contos de
autores modernos e contemporâneos, produzidos no século XX e XXI. Além da leitura dos contos
em si, os alunos também participaram dos seguintes objetivos específicos da pesquisa: i) acesso às
elucidações que tratam do conto enquanto gênero, com as suas características, a maneira como é
organizado e os seus objetivos, a fim de melhor situá-los no ambiente do texto e alcançar uma mais
profunda interpretação do que foi lido; e, ii) participação em oficinas que possibilitaram à produção
de contos, onde eles puderam retratar acontecimentos corriqueiros, dando-lhes a oportunidade de
desenvolver uma produção literária que foi partilhada em sala de aula. Por fim, espera-se que as
atividades aplicadas tenham servido para demonstrar que o ambiente escolar é imprescindível para
o incentivo à leitura.
GÊNERO CRÔNICA: UM OLHAR ENUNCIATIVO SOB AS NARRATIVAS ESCOLARES
Selma Zago da Silva Borges – UFU
Ao considerar a língua em uso, este estudo parte da posição benvenistiana de que: “ [...] antes de
servir para comunicar; a língua serve para viver” (BENVENISTE, p.222, [1966] 2006). Buscamos
compreender as noções de enunciação – que vai além de uma suposta ideia propagada à teoria de
Benveniste: a de configurá-la a um quadro teórico meramente comunicacionista – e de
subjetividade na língua e na linguagem, a partir da análise de narrativas escolares. O material de
análise constituir-se-á de crônicas, cujos textos foram selecionados à categoria de finalistas e, em
consequência, integram uma coleção referente à Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa –
Escrevendo o Futuro, ano 2012, terceira edição. Tal olimpíada é uma realização do Ministério da
Educação e de algumas parcerias e tem o foco no ensino de língua, a fim de colaborar para a
melhoria do ensino da leitura e da escrita, com a participação de alunos matriculados na rede
pública. A olimpíada adota o tema “O lugar onde vivo”. Assim, para escrever os textos, conforme o
regulamento proposto, cabe ao aluno, além de atender ao gênero textual, discriminado de acordo
com as categorias eleitas (poema, memórias literárias, crônica, artigo de opinião), resgatar histórias,
estreitar os vínculos com a comunidade e aprofundar o conhecimento com a realidade. Sendo assim,
em se tratando deste estudo, para a realização da análise, far-se-á o contraponto dos textos com a
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proposta discursivizada em um livro didático sobre o ensino do gênero crônica. Hipotetizamos que,
apesar de o aluno atender a diferentes demandas sócio-institucionais – professor; comissões
julgadoras (escolar, municipal, estadual e regional) – para a produção textual, poderá ocorrer um
deslize do aluno em relação aos limites da produção desse gênero, conforme assevera o protótipo
endereçado ao gênero, e as discursividades no livro didático. De nossa perspectiva teórica, esse
deslize se configura como um indício da assunção do aluno a uma enunciação subjetiva que, de
certo modo, resulta de seu manejo da língua, e manejar a língua em um ato de escrita é produzir o
diferente.
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SIMPÓSIO 62
REUNIÃO DE TRABALHO DO PROJETO “HISTÓRIA DO
PORTUGUÊS BRASILEIRO” - (PHPB) – “O ADJETIVO”
A entidade surgiu na Universidade de São Paulo (USP), em 1995, inicialmente como Projeto de
História do Português Paulista (PHPP), objetivando identificar o percurso histórico do português
paulista, que representa o primeiro momento de inserção da língua portuguesa no Brasil (São
Vicente, 1532), e que, atualmente, tem como foco a história do português brasileiro. O PHPB
congrega mais de 200 pesquisadores, divididos em 13 coordenações regionais, que, por sua vez, são
divididos em subgrupos, de acordo com a temática de investigação. No âmbito do Simpósio 62 do
IV SIMELP, estará reunida parte do subgrupo que estuda o Adjetivo, inserida no capítulo sobre a
“Mudança sintática sob a perspectiva funcionalista”, cujos trabalhos compõem o Vol. III Tomo 2 – Editores: Ataliba T. de Castilho (USP) e Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ). A
reunião consiste na discussão da primeira versão do capítulo “O Adjetivo”, que tem como
autores José Romerito Silva (UFRN), Maria Célia Lima-Hernandes (USP), Mariângela Rios de
Oliveira (UFF), Nilza Barroso Dias (UFF), Vânia Cristina Casseb-Galvão (UFG) e seus auxiliares
de pesquisa.
COORDENAÇÃO
Maria Célia Lima-Hernandes
Universidade de SãoPaulo
[email protected]
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SIMPÓSIO 63
PORTUGUÊS L2 PARA FINS ESPECÍFICOS – DA TEORIA À
PRÁTICA
Na presente era da globalização, o mercado linguístico dita cada vez mais as regras da
representatividade mundial de determinados idiomas – como é o caso de português. Por outro lado,
os mercados que solicitam essas línguas, diversificam-se e especificam de forma crescente e
pertinente os domínios para os quais as necessitam. Nesse sentido, temos observado o incremento
significativo da procura de aprendizagem de línguas para fins específicos – tanto a nível da
aprendizagem de língua estrangeira como de língua segunda e mesmo materna.
O presente simpósio pretende discutir questões relacionadas com conteúdos e materiais didácticos,
orientações programáticas e metodológicas à luz de abordagens de ensino das línguas que possam
responder de uma forma mais ou menos eficaz às necessidades de qualquer àrea de especialidade,
como sejam a aprendizagem de língua através dos conteúdos e também através de tarefas.
A discussão que este simpósio pretende desenvolver poderá centrar-se: (i) na descrição e (ou)
avaliação de progamas, materiais, estratégias de ensino de língua para fins específicos; (ii) modelos
de avaliação; (iii) o papel das novas tecnologias no ensino do português para fins específicos; (iv) o
papel da linguística de corpus no âmbito do ensino de português para fins específicos; (v) modelos e
formatos de avaliação de necessidades; (vi) modelos de formação de professores de língua para fins
específicos; (vii) desenvolvimento de capacidades; (viii) análise e descrição de linguagem técnica
na perspectiva da linguística aplicada ao ensino do português para fins específicos; (ix) análise do
discurso técnico.
COORDENAÇÃO
Custódio Martins
Universidade de Macau
[email protected]
Mário Pinharanda Nunes
Universidade de Macau
[email protected]
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LÍNGUA E NEGÓCIOS: PORTUGUÊS PARA FINS ESPECÍFICOS
Natália M. Tosatti – UFMG
Augusto da Silva Costa – UFMG
O Português como LE/L2 tem ganhado espaço no cenário mundial. Atentos a essa crescente
demanda, o mercado editorial tem lançado livros voltados para o ensino de PLE/L2, hoje são várias
as obras que estão à disposição de aprendizes e docentes. Porém, há ainda uma lacuna nesse
mercado. São poucos os recursos didáticos que se dedicam ao ensino de Português para Fins
Específicos. Como professores da área e atendendo a uma demanda de profissionais estrangeiros
que precisam aprender o português no contexto de negócios, muitas vezes, temos a necessidade de
criar um material que atenda a esse público. Neste trabalho, apresentaremos uma proposta de
atividade que tem como foco o estudante que precisa dominar o português no meio corporativo.
Partindo do princípio de que aprender uma língua é também aprender comportamento e cultura,
procuramos na elaboração desse material integrar esses três aspectos, considerando também o
desenvolvimento do aprendiz nas habilidades de compreensão e produção oral e escrita, nesse
contexto em que ele atua.
COLOCAÇÕES TERMINOLÓGICAS E ENSINO DA LÍNGUA MÉDICA
Teresa Lino – CLUNL
Yocelyn Correia – CLUNL
Madalena Contente – CLUNL
Propomo-nos apresentar o fenómeno linguístico das colocações terminológicas na língua
especialidade da Medicina. O estudo das colocações não são apenas importantes para o trabalho do
terminólogo e do tradutor, são igualmente de uma enorme relevância no ensino-aprendizagem de
uma língua para fins específicos, muito em especial numa óptica de língua estrangeira. Este tipo de
combinatórias, em discurso especializado, não tem uma correspondência directa de uma para outra
língua; tal facto pode dificultar a transmissão do conhecimento e da comunicação especializada. As
colocações colocam grandes desafios quer a nível linguístico quer ao nível da passagem de um para
outro sistema conceptual. Todavia, a análise linguística destas unidades contribui para uma
identificação e descrição mais precisa dos diferentes tipos de colocações. A nossa investigação tem
como ponto de partida um corpus textual especializado do domínio da Medicina constituído com
critérios rigorosos. Os softwares de tratamento semi-automático permitem-nos a obtenção de dados
quantitativos, a extracção de termos e de coocorrentes, a elaboração de concordâncias e de
contextos. Partindo dos coocorrentes frequentes, tentaremos identificar colocações terminológicas e
efectuar uma sistemática com o objectivo do ensino-aprendizagem da língua médica para fins
específicos.
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA MODALIDADE ESCRITA COMO SEGUNDA
LÍNGUA PARA SURDOS: UM ESTUDO ENUNCIATIVO-DISCURSIVO
Sebastiana Almeida Souza – UFMT/MeEL
Simone de Jesus Padilha – UFMT/MeEL
Este estudo pretende discutir o processo de ensino de segunda língua para surdos, promovendo
estratégias que permitam a aquisição e desenvolvimento da Língua de Sinais, como primeira língua
e, paralelamente, da Língua Portuguesa em sua modalidade escrita. Consideramos, no contexto da
Educação Inclusiva, as possíveis lacunas intervenientes no processo de aquisição de L2 para surdos,
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decorrentes da apropriação de um sistema de escrita que envolve a representação de uma língua
oralizada. Especificamente, no que concerne ao processo de ensino-aprendizagem, percebe-se,
através da convivência com os alunos, desde a educação infantil até o final do processo de
escolarização, problemas coesivos na produção textual, o que tem ocasionado no professor
dificuldades na efetivação de uma metodologia na perspectiva da educação bilíngue, por isso
acreditamos ser imprescindível que o professor de Língua Portuguesa conheça com profundidade a
Língua de Sinais, bem como a estruturação de sinais e tradução para que possa ofertar um ensino de
qualidade. Isso nos traz algumas reflexões acerca da linguagem escrita do aluno surdo, no que se
refere às questões linguístico-discursivas da língua portuguesa, bem como de que forma o surdo
articula o seu texto, já que o mesmo interage no plano visual-gestual, mas precisa integrar-se no
mundo da linguagem escrita. Desse modo, buscaremos oportunizar o apontamento dos aspectos
coesivos em textos de alunos surdos, observando como são construídas as relações de sentido por
intermédio da escrita. Para tanto, buscaremos nos ancorar teoricamente nos conceitos bakhtinianos
de dialogismo, interação, alteridade e exotopia, entre outros, e também nos basearemos na teoria
sócio-histórica da aprendizagem de Vygotsky. Essa investigação está inserida no Projeto de
Pesquisa “Relendo Bakhtin: contribuições do Círculo de Bakhtin para uma análise dialógica de
discursos produzidos em diferentes esferas da atividade humana”, desenvolvida pelo Grupo de
pesquisa RELENDO BAKHTIN (REBAK), do Programa de Pós-graduação em Estudos de
Linguagem, da Universidade Federal de Mato Grosso.
PROPOSIÇÃO DE UM PROGRAMA DE ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA
REFERENTES À SEÇÃO DE INTRODUÇÃO DO RESUMO EXPANDIDO PARA
APRENDIZES DO ENSINO MÉDIO NUMA ABORDAGEM DE GÊNERO
SOCIORRETÓRICA
Rita Rodrigues de Souza – IFG/UNESP/SJRP
Com a inserção de discentes do Ensino Médio Integrado no Programa de Bolsa de Iniciação
Científica para o Ensino Médio – PIBIC-EM –, oferecido pela Rede Federal de Educação em
parceria com o CNPq, surge uma nova demanda para os docentes que atuam na Rede: a orientação
de pesquisa científica e outras demandas decorrentes dessa orientação, como, por exemplo, a escrita
de textos acadêmicos. Em função disso, neste trabalho, objetivamos mostrar e discutir um possível
programa de atividades leitura e escrita que visem à conscientização dos aprendizes em relação aos
elementos retóricos presentes na seção de introdução do resumo expandido, caracterizando o
ensino-aprendizagem de língua portuguesa com um fim específico no contexto de ensino de língua
materna, resumidamente, com a finalidade de desenvolvimento da habilidade de compreensão e
escrita de texto acadêmico. A escolha desse tipo de resumo se justifica porque em muitos
Seminários de Iniciação Científica, de apresentação dos resultados de projetos de pesquisa de
PIBIC-EM, solicita-se que o discente produza um resumo expandido para apresentação em forma
de pôster e/ou comunicação oral. A produção textual da introdução, subsidiada pelo aporte teórico
do estudo de gênero numa abordagem sociorretórica, pode contribuir com os jovens pesquisadores
de IC-EM para a construção de conhecimentos significativos em relação à prática social de
elaboração de Resumo Expandido, e salvo adaptações a escrita do Relatório de Pesquisa. A escolha
da introdução se deu, primeiramente, pelo fato de que há fundamentação teórica consistente em
relação à análise de gênero sociorretórica, tendo como expoente fundador o linguista Swales (1990)
e o estudioso Bhatia (1993). E há estudos substantivos no Brasil sobre a introdução, como por
exemplo, Aranha (1996, 2004) e Zinani e Santos (2007) que podem subsidiar a proposta em questão
em questão. Além da importância da aprendizagem desse gênero como um dos fatores principais de
condução ao êxito de determinado propósito. No atinente à abordagem sociorretórica, verifica-se
que tem como objetivo a análise de gêneros textuais, tomando-os como ações sociais de modo que
eles materializem uma classe de eventos; compartilhem propósitos comunicativos; possuam traços
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específicos prototípicos; apresentem lógica inata; e determinem usos linguísticos específicos de
acordo com a comunidade discursiva a qual estão relacionados (PEREIRA; RODRIGUES, 2009).
As atividades de conscientização retórica, que serão propostas, visam a proporcionar ao discente
momento para que ele possa refletir e atuar por meio da linguagem e perceber os movimentos
linguísticos e discursivos (SWALES, 1990) que podem ser selecionados para a construção do texto,
no caso, a introdução. Para alcançar tal fim, o programa de atividades contemplará desde a
identificação dos passos e movimentos retóricos conforme propõe Swales (1990) à organização
retórica de introduções de modo reflexivo contemplando a leitura e a escrita. Enfim, este trabalho
pretende contribuir com as discussões deste simpósio no que se propõe no item (i) a descrição e
(ou) avaliação de programas, materiais, estratégias de ensino de língua para fins específicos. Por
isso, as considerações acerca da leitura e produção de texto acadêmico, presentes neste trabalho,
considerarão o conceito de gênero como ação social de acordo com Miller (1984, 1994), Bhatia
(1993) Swales e Feak (2001), Swales (2004,[1990]2006), Bazerman (2006), e também,
considerações sobre análise textos discutidas em Antunes (2010).
ENSINO DO PORTUGUÊS PARA FINS ESPECÍFICOS EM DIREITO – ANÁLISE DE
NECESSIDADES
Mário Pinharanda Nunes – UMAC
Desde a década de 80 do sec. XX, aproximadamente, e em consequência da afirmacão do Português
como língua internacional, determinados contextos de procura da aprendizagem de PLE começaram
a exigir que os profissionais desta área passassem a elaborar programas e abordagens próprias,
ainda que partindo da maior parte dos casos com base na já vasta experiência de inglês no domínio
do ensino de inglês para fins específicos (EIFE), que teve o seu início nos anos 70 (Marquesi,
2007). Foi ainda na década de 80, que na reflexão acerca do ensino de inglês se começou a defender
a importância do EIFE constituir uma abordagem própria – a par das existentes para o ensino de
daquele idioma para fins gerais (EIFG) (Hutchinson & Waters, 1987). Nesse sentido, o campo de
EIFE, e de outras línguas, passou de uma fase em que se ocupou primordialmente com questões
ligadas aos aspetos linguísticos da língua para uma em que se coloca maior ênfase no
desenvolvimento de capacidades comunicativas, e em que o processo de ensino/aprendizagem está
centrada nas necessidades específicas que levam o aprendente a querer atingir um determinado
domínio da língua. A análise das necessidades do conhecimento e uso da língua em aquisição tornase um elemento central na elaboração de programas e de materiais dos cursos deenino de línguas
para fins específicos (Yin et. al 2011).
Em Macau, o EPFE da área jurídica remonta a meados da década de 1990 quando é criada uma
licenciatura em Direito em Língua chinesa na Universidade de Macau, com o objetivo de formar
jurístas locais bilingues (em chinês e português) para a Região Adminsitrativa Especial de Macau
que seria fundada a 20 de Dezembro de 1999. A referida licenciatura inclui entre os componentes
no seu currículo o EPFE. Com já cerca de 16 anos de existência, o EPFE na Licenciatura de Direito
em chinês da Universidade de Macau evoluiu de uma fase em que era ensinado a partir de
programas e conteúdos muito próximos dos das abordagens empregues para o EPFG, para uma fase
mais recente em que tem vindo a ser feita uma refexão e experimentação por parte de alguns
docentes envolvidos nesta cadeira no sentido de aproximar o processo de ensino/aprendizagem do
português das reais necessidades dos seus alunos.
O presente trabalho procura apurar a avaliação que os aprendentes de PFE na Licenciatura em
Direito em língua chinesa fazem da sua aprendizagem desta língua, face às suas necessidades e
desejos, enquanto alunos de português, e às falhas que o EPLE evidencia, na opinião dos mesmos.
Os dados foram recolhidos por meio de um inquérito e de depoimentos em forma de entrevistas
junto a ex-alunos (atuais juristas em exercício) de diferentes anos de formatura e a atuais alunos, i.e.
ainda em formação. A natureza diacrónica da constituição do corpus de dados permitiu estabelecer
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comparações entre as opiniões dos aprendentes dos respetivos modelos de ensino ao longo da
existência desta Licenciatura. A presente pesquisa insere-se numa avaliação mais alargada do EPFE
na Licenciatura em Direito na Universidade de Macau.
O DOMÍNIO DA LINGUAGEM JURÍDICA – CRENÇAS E ATITUDES
Custódio Martins – UMAC
O campo de investigação da Linguística Aplicada (LA), influenciado pelas correntes de
investigação em contextos de língua estrangeira, de língua segunda e também de contextos
bilingues, tem vindo a caracterizar-se nas últimas décadas por um grande eclectismo em termos
metodológicos e teóricos (Dörnyei, 2009:241-242). Compreender o papel das diferenças
individuais, como sejam a motivação ou as atitudes, pode fornecer dados importantes para a
definição e caracterização dos processos de aprendizagem de uma língua, mas também para o seu
desenvolvimento.
O domínio da linguagem jurídica pode colocar alguns desafios tanto a falantes nativos como a
falantes de língua segunda ou a falantes bilingues, não só pela sua especificidade em termos
lexicais, através do frequente recurso a cultismos, por exemplo, mas também em termos sintácticosemânticos.
O tratamento científico do ensino/aprendizagem para fins específicos para o português não está
substancialmente desenvolvido. Nessa medida, o presente trabalho investiga o papel que tanto
crenças como atitudes podem ter no processo conducente à apropriação e domínio da linguagem
jurídica, independentemente da área de sub-especialização, por falantes nativos de português,
falantes bilingues (português/chinês; português/crioulos de base lexical portuguesa) e falantes de
português como segunda língua que frequentam a Licenciatura em Direito em Língua Portuguesa na
Universidade de Macau. Através de entrevistas e de um questionário aberto pretendemos identificar
e caracterizar a função das crenças e atitudes (e outras eventuais variáveis sociolinguísticas) de cada
grupo de falantes relativamente ao seu posicionamento face ao processo de apropriação e domínio
da linguagem jurídica, sabendo que, para tal, o domínio mais ou menos sólido das várias
componentes da gramática é imprescindível.
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SIMPÓSIO 64
RELAÇÕES ENTRE O SUJEITO E A LÍNGUA: OS MÚLTIPLOS
SENTIDOS
O objetivo desse grupo é apresentar trabalhos que investigam como ocorre, por meio da relação
entre palavra e sentido,a formação de leitores. Fundamentamos nossa pesquisa nas teorias de
sentido da língua, indo da semântica ao discurso. Consideramos significativo criar relações entre o
campo teórico desenvolvido nos espaços acadêmicos e as práticas escolares e não escolares que se
referem ao processo de ler como construção de sentidos a partir da materialidade da língua em
realização textual. Outras categorias de estudos da linguagem, como signo, enunciado, formação
discursiva, interação, gênero, discurso e interdiscurso contribuirão para a analisar
epistemologicamente essas práticas de leitura pesquisadas. A metodologia será operacionalizada por
esses dois fundamentos: os dados (corpus) das práticas de leitura; a análise e a interpretação dos
dados pelos fundamentos acima referidos. Esperamos como resultados a reflexão sobre as práticas
de leitura e propostas de leitura que qualifiquem a relação do sujeito com a palavra da sua língua.
COORDENAÇÃO
Agostinho Potenciano de Souza
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Luana Alves Luterman
Universidade Estadual de Goiás
[email protected]
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PROJETO GOIÁS: PEDAGOGIA DE PROJETOS E LITERATURA GOIANA NA
FORMAÇÃO DE LEITORES
Heliandro Rosa de Jesus – PG/UFG
Uma das questões que mais me incomoda como professor da rede pública estadual de Goiás é a
falta de conhecimento, por parte dos alunos, das questões históricas, geográficas, artísticas e
culturais do nosso estado. Como professor de Língua Portuguesa sempre me incomodou, também, a
falta de obras de literatura goiana no currículo escolar já que essa literatura tem uma produção
bastante interessante e está bem mais próxima da realidade dos nossos alunos do que a literatura
clássica nacional. Com isso, decidi desenvolver um projeto de trabalho intitulado Projeto Goiás,
desenvolvido com os alunos de uma turma de terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública
estadual da periferia de Goiânia, no qual busquei o incentivo à leitura utilizando a leitura de contos,
poesias e crônicas de autores goianos, tais como os já considerados clássicos como Cora Coralina,
Bernardo Elis e José J. Veiga e outros mais atuais, como Miguel Jorge, Lêda Selma, José Mendonça
Teles e Brasigóis Felício. Busquei também, com o projeto relacionar questões culturais do nosso
estado com as leituras feitas, seguindo assim as ideias de Hernández (2000) que defende que
devemos abandonar os modelos tradicionalistas de educação, pois estes estão abalizados pela velha
racionalidade que se baseia em uma visão simplista e memorista que não tem nenhuma relação com
a sociedade moderna na qual nos inserimos. Esse mesmo autor defende, ainda, que temos que
buscar uma nova racionalidade, o que significa transformar radicalmente a maneira de pensar
herdada do passado, seu memorismo normativo, sua reprodução simples e substituir tudo isso pela
cooperação, pelo sentido de responsabilidade, pela capacidade de relacionar umas coisas e
fenômenos com outros e assim descobrir em todo momento o que é novo. No entanto o que
percebemos é que essa mudança de postura no ensino e aprendizagem ainda é algo longe do ideal,
pois, observamos com Antunes (2003) que a pesar das propostas inovadoras da linguística histórica,
da sociolinguística e da análise do discurso as aulas de português, em grande parte, continuam
seguindo propostas pedagógicas nas quais as regras gramaticais continuam ocupando o centro das
aulas e são trabalhadas de forma descontextualizadas em frases soltas e longe do seu significado
real. Além disso, esta mesma autora, referindo-se à leitura e à produção de texto, nos indica que,
mesmo com a aparição da proposta de se trabalhar os diversos gêneros textuais buscando a relação
com o seu uso real e contextualizado, continua-se a trabalhar a leitura e, consequentemente, a
literatura, como simples pretexto para o ensino das estruturas gramaticais e tudo isso com pouca
reflexão por parte dos alunos e professores sobre o que está sendo feito e estudado (ANTUNES,
2003). Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo relatar os resultados de uma pesquisa
desenvolvida em sala de aula sobre a relação entre a formação de leitores e a pedagogia de projetos,
proposta educativa que busca novas formas de ensinar dirigidas à realidade dos alunos, fazendo
com que estes aprendam de forma autônoma e sejam sujeitos da sua própria aprendizagem.
MEMÓRIA DISCURSIVA SOBRE LEITURA NO ENSINO MÉDIO
Mary Rodrigues Vale Guimarães – GEDIS/UFG-CAC-PMEL
Grenissa Bonvino Stafuzza – GEDIS/UFG-CAC-PMEL
O presente estudo orienta-se nos pressupostos da Análise do Discurso Francesa (ADF) traz como
tema a análise da memória discursiva (Pêcheux, 1999) sobre a prática de leitura de alunos cursando
o ensino médio em uma escola estadual da cidade de Campo Alegre de Goiás-GO. Pêcheux e Fuchs
(1993) observam que a memória discursiva faz com que toda formação discursiva faça circular
formulações já enunciadas. Nesse sentido, a memória discursiva sobre a leitura no ensino médio diz
respeito, em um primeiro momento, à recorrência de enunciados nos dizeres dos alunos, sujeitos da
pesquisa, que enunciam a historicidade desse processo. Logo, é a memória discursiva quem separa e
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elege, a partir dos enunciados dos alunos, os elementos de uma determinada historicidade do
processo da leitura, ou seja, aquilo que deve ser excluído e o que pode emergir e ser realizado num
outro contexto, produzindo, assim, determinados efeitos de sentidos. A construção do corpus da
pesquisa deu-se em campo quando, em contato com os alunos, sujeitos da pesquisa, propomos o
trabalho aos alunos a partir do livro didático adotado pela escola Português-Linguagens, de Willian
Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães (2005), que traz no capítulo 10 “Procedimentos de
leitura”, uma atividade com o título “Ler é só começar?”. A partir do trabalho com essa atividade,
propomos dois temas para que os alunos pudessem desenvolver suas produções textuais: i) Como
foi o início de sua experiência de leitura e ii) Como se sentiu a partir do momento em que passou a
ter autonomia para ler o que quisesse. As produções textuais, produtos dessa atividade de redação
escolar constituiuse, portanto, no corpus de pesquisa, uma vez que levantamos questões sobre o
sujeitoleitor que enuncia, observando em sua produção como enuncia a memória discursiva.
Pretendemos refletir inicialmente como emerge os dizeres provenientes de uma memória discursiva
sobre o processo de leitura, observando de que modo os alunos constituem-se leitores e quais
sentidos sobre a prática de leitura (o papel da escola, dos amigos, da família etc.) podem emergir de
suas produções, pontuando, assim, as memórias de leitura na formação do sujeito-leitor.
PRÁTICAS DE LEITURA RELACIONANDO LÍNGUA, TEXTO E DISCURSO
Agostinho Potenciano de Souza – UFG/FL
Luana Alves Luterman – UEG/UnU
Para contribuir na formação para a leitura, incluímos estudos teóricos básicos, na formação de
professores de Língua Portuguesa, a respeito do processo de leitura e o exercício deles em práticas
de leitura conduzidas com alunos de ensino básico. O ato de ler coloca em jogo as intenções de
sentido de três lugares: o autor, o texto, o leitor (ECO: 1986). No embate dessas forças, que ora
determinam limites, ora abrem-se para a liberdade interpretativa, gradativamente, o leitor levanta
hipóteses de sentidos, relacionando língua, texto e discurso – categorias que sustentam a atividade
de consciência do ato de ler. Nessa interação complexa, entra em cena a formação do leitor ativo
nos processos de interpretação e compreensão dos enunciados, para os quais confluem as questões
sócio-históricas, a formação discursiva, a questão da subjetividade e do interdiscurso (ORLANDI:
1998). O modo de realizar essa pesquisa inicia-se com a formação de um grupo de estagiários de
Licenciatura em Língua Portuguesa que estuda as bases teóricas da leitura, seja em relação às
condições de sua produção no meio social, seja no embate entre leitor e texto. A seguir, o grupo de
licenciandos assume um projeto de leitura em alguma série do ensino fundamental ou médio,
executando com eles práticas de leitura em gêneros diversos, colhendo dados que indicam as
dificuldades, as hipóteses de leitura, a utilização das bases teóricas, os avanços nas competências
em relação a essa atividade. O grupo acompanha a ação com discussões críticas a respeito da
metodologia que está conduzindo, retomando o campo teórico e repensando a prática vivenciada
com seus alunos. O resultado é o amadurecimento do futuro professor como leitor e a confiança na
relação entre o campo teórico e as práticas produtivas de leitura. Como efeito consequente,
constatamos a melhora das condições de formação de adolescentes e jovens leitores, que aprendem
a relacionar a palavra da sua língua e a construção de sentidos num processo de leitura como
construção de sentidos.
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PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA DE ALUNOS DO 9º ANO DE UMA ESCOLA
PÚBLICA: UM TRABALHO COM CRÔNICAS
Rosangela do Nascimento Costa – UFG
O presente trabalho busca analisar as práticas de leitura e escrita de alunos do 9º ano de uma escola
pública. A pesquisa aborda noções de gêneros discursivos, texto, textualidade, práticas de leitura e
escrita. O objetivo principal da pesquisa é verificar como os alunos reagem à leitura do gênero
crônica, baseado nos conhecimentos prévios dos mesmos, para posteriormente trabalhar o gênero
com todas as suas especificidades. O trabalho em sala se baseou nas orientações dos PCNs sobre o
trabalho com os gêneros textuais/discursivos. Analisar-se-á também a escrita dos educandos após
algumas aulas desenvolvidas pela pesquisadora, nas quais serão desenvolvidas atividades
relacionadas ao referido tema. Foram necessárias 10 aulas em uma mesma sala objetivando o
entrosamento com os alunos e também para que o trabalho obtivesse melhor êxito. O trabalho se
baseia em pressupostos teóricos ancorados em Bakhtin, Chartier, Manguel, Koch, Costa Val,
Marcuschi, dentre outros que se julgar necessário. O corpus a ser analisado consta das crônicas lidas
em sala e dos textos produzidos pelos alunos. A pesquisa é de campo com participação e
intervenção da pesquisadora, que a partir do trabalho em sala e da produção dos alunos, buscou
verificar como se processa a constituição do sujeito por meio da leitura e da escrita. Outro fator
importante também analisado foi a maneira como os estudantes fazem uso da escrita e como
inferem em textos lidos e excertos de apoio à produção textual. Nesse sentido, após todo um
trabalho desenvolvido foram propostas algumas produções do gênero com textos de apoio e tema já
previsto. Dessa forma, a pesquisa se justifica pelo fato de tanto leitura quanto escrita estarem
presentes em toda a vida escolar dos discentes e ser fator fundamental para que o mesmo obtenha
sucesso na vida acadêmica e social.
POR UMA VIDA MELHOR: DA PRODUÇÃO DE SENTIDO À FORMAÇÃO DE
LEITORES
Bruna Gracieli de Souza – UFMS
Compartilhando o pensamento de Mikhail Bakthin que considera a leitura um processo abrangente
e complexo de compreensão e intelecção do mundo que parte de uma característica fundamental e
singular ao homem: a sua capacidade simbólica de interagir com o outro pela expressão da palavra;
e admitindo que desde o nascimento, o homem utiliza a linguagem para ler o mundo e que, como
leitores em potencial, busca-se contato com diversas formas de leitura, o presente trabalho, visa a
apresentar resultados parciais do projeto de pesquisa em desenvolvimento no Programa de PósGraduação Mestrado em Estudos de Linguagens, cuja abordagem trata da discussão instituída
acerca de algumas afirmações feitas quando o livro didático Por uma Vida Melhor foi distribuído
pelo MEC aos estudantes da EJA – Educação de Jovens e Adultos. Propomos a análise de quatro
textos sincréticos divulgados, em 2011, na revista semanal de maior circulação no país, a VEJA.
Considerando-se a semiótica como uma teoria da significação, cuja preocupação, segundo o
linguista lituano Algirdas Julien Greimas, a princípio, será explicitar, de maneira conceitual, as
condições da apreensão e da produção do sentido, sob a forma de um percurso gerativo, que vai do
mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto; pretendemos interpretar os componentes
sintáticos e semânticos empregados no discurso e os efeitos de sentido fabricados pelos mecanismos
escolhidos, com o propósito de examinar se as escolhas realizadas com o intuito de garantir o efeito
de veracidade às críticas, corroboram para a divulgação de um suposto ponto de vista da própria
Revista VEJA acerca do fragmento de um dos textos correspondentes ao ensino de Língua
Portuguesa, publicado no livro didático Por uma Vida Melhor. Dessa forma, as reflexões
apresentadas pretendem, ainda, mostrar até que ponto a utilização de diferentes formas de
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linguagem colaboram com a formação do leitor, estimulando o pensamento crítico, o
desenvolvimento dos sentidos e da capacidade cognitiva que compõem sua bagagem cultural.
DISCURSIVIDADE A PARTIR DA POLÊMICA DO LIVRO DIDÁTICO “POR UMA
VIDA MELHOR”: UM PROJETO DE LEITURA
Dinaura Batista – UFMT/MeEL
Este trabalho tem como mote a recente polêmica, iniciada em maio de 2011, acerca do livro
didático “Por uma Vida Melhor”, distribuído pelo MEC para turmas de Educação de Jovens e
Adultos em todo o Brasil. Vários artigos circularam na mídia sobre o tema, e diferentes visões sobre
a questão da língua e sobre o ensino-aprendizado da língua materna foram tratadas. A leitura desses
textos ainda revelou um diálogo bastante intenso, em que, na visão bakhtiniana, um texto
“respondia ao outro”, um texto era “contrarresposta” do outro, numa cadeia dialógica ininterrupta.
Atraídos pelo ocorrido, surgiu a ideia de um projeto de leitura que tomasse tal material como base,
enfocando a discursividade nessas práticas sociais da escrita, tendo ainda o inflamado conteúdo
como tema. Assim, esta pesquisa será de cunho documental e bibliográfico, e propositiva, gerando
dados por meio de análise de textos que circularam à época, e propondo, a partir daí, um projeto de
leitura para Capacitação de Professora de Língua Materna, com objetivos específicos: 1) foco na
discursividade; 2) discussão sobre concepções de língua/linguagem e as questões do ensino da
língua materna em nosso país. As questões de pesquisa para as quais buscamos respostas a partir da
investigação são: 1) como os textos que circularam na mídia, a respeito do livro referido didático,
dialogam entre si? 2) como estruturar um projeto de leitura com base na teoria sócio-histórica
bakhtiniana, visando à discursividade? Este trabalho está inserido no projeto de pesquisa “Relendo
Bakhtin: contribuições do Círculo de Bakhtin para uma análise dialógica de discursos produzidos
em diferentes esferas da atividade humana”, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa RELENDO
BAKHTIN (REBAK), do PPGEL/MeEL/UFMT.
QUARENTA PROJETOS BRASILIENSES NO APODERAMENTO DA CIDADANIA, POR
MEIO DO FOMENTO À LEITURA
Dinorá Couto Cançado – BBDN/UFMG
O tema leitura, de grande relevância na busca pela qualidade em educação e cultura, é foco deste
estudo que relata resultados colhidos em pesquisa que buscou respostas para a maneira como as
ações acontecem em projetos de fomento à leitura, no Distrito Federal (DF). Trata-se de projetos
desenvolvidos em escolas, bibliotecas e os de iniciativas da sociedade civil. Em todas essas
iniciativas, tanto os que estão à frente dos projetos, bem como os participantes que usufruem das
atividades, são beneficiários e vivenciam aspectos de cidadania, presentes neles. Há muito de
ousadia e criatividade na prática de dinamização, voltada para a literatura no DF. São muitos
projetos que têm como objetivo fomentar o hábito de ler. A máxima a ser considerada ao enfocar
esse tema é a de que o indivíduo que lê e que desenvolve sua criticidade é um cidadão participativo,
está à frente de outros, torna-se mais bem informado e mais sábio no que se refere a seus direitos e
deveres. Portanto, é aquele que caminha em busca da cidadania plena. A percepção da necessidade
de se fazer pesquisa sobre o tema deu lugar à concretude da ação, resultando em uma monografia
intitulada Leitura, Cidadania e Transformação Social, conclusão de curso de especialização, parte
do Programa de Conselheiros Nacionais, na UFMG. Pela diversidade das ações e muitas sem
reconhecimento, surgiu a necessidade da criação de Fórum para congraçamento das pessoas e
conhecimento dos projetos, com o nome: Fórum “Brasília, capital das leituras”, que se tornou um
encontro especial de celebração entre atores sociais multiplicadores de leituras, responsáveis por 40
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ações já mapeadas no DF. A pesquisa citada refere-se a três edições do Fórum e tem como foco:
quais projetos foram divulgados; o desempenho dos mesmos; o perfil dos executores e dos
participantes; o acolhimento aos projetos; os resultados de cada Fórum; o alcance das ações
desenvolvidas e a verdade sobre o apoderamento do hábito de ler. A pretensão de saber sobre os
resultados colhidos nos projetos pesquisados, com base na aplicabilidade deles, ocasionou a
elaboração e aplicação de questionário com perguntas voltadas à busca por respostas embasadoras
sobre estes Projetos serem, ou não, instrumentos que permitem, efetivamente, que os beneficiários
sejam levados à aquisição da consciência de que lendo são mais capazes de fazer análises das
situações, de serem mais justos, críticos e donos do seu próprio destino. Nem as bibliotecas
públicas, nem as escolares estão aparelhadas, suficientemente, para atender a todas as necessidades
dos cidadãos no DF. Por isso, as iniciativas que democratizam o livro e a leitura revestem-se de
importância, destacando-se, umas sete, na Biblioteca Braille Dorina Nowill. As questões propostas
mostram isso, comprovando que a cidadania é vivenciada e que a leitura é uma ação que está
presente na vida dos entrevistados. As principais descobertas nos projetos, dos mais simples aos
mais abrangentes são: igualdade de oportunidades para todos, inclusão social, solidariedade,
criticidade e compreensão leitora, democratização do livro e leitura, ludicidade, inclusão cultural,
parceria entre estado e sociedade civil. O caminho percorrido, até aqui, por todos esses projetos
sociais evidencia que serão colhidos frutos que disseminarão sementes e beneficiarão mais e mais
envolvidos. Também é latente a certeza que há muito mais a ser feito. Depende de cada um que se
empenha e que só faz a diferença por ter se apoderado da leitura e da consciência de que é cidadão
todo indivíduo que sabe ser responsável por si e pelo próximo.
LEITURA E ESCRITA DE RIBEIRINHOS DA AMAZÔNIA ACREANA
Nagila Maria Silva Oliveira – UFAC
Elisabete Carvalho de Melo – UFAC
Historicamente, os discursos sobre a região amazônica têm sido embasados por teorias
etnocêntricas e nacionalistas. Nos últimos anos, pesquisadores da região se debruçam sobre tais
discursos, na tentativa de mudá-los, e inserir as experiências cotidianas que até então foram/são
silenciadas, pela historiografia oficial. Pensando nessa realidade e na necessidade de dar vozes,
com eco, às culturas amazônica-acreanas, há tempos, marcadas por estereótipos que remetem a uma
inferioridade civilizatória, apresentamos como proposta de pesquisa para o Mestrado em Letras:
Linguagem e Identidade, da Universidade Federal do Acre, um estudo sobre a escrita de ribeirinhos
do Rio Juruá, da cidade de Cruzeiro do Sul-AC, com o intuito de contribuir com a história da leitura
e escrita acreana, a partir de representações de práticas leitoras daquelas comunidades. A pesquisa
encontra-se em andamento e, nesta comunicação, apresentaremos uma pequena amostra dos dados
coletados e alguns apontamentos referentes ao uso da leitura e escrita pelos ribeirinhos do Rio
Juruá. O objeto de estudo será, portanto, textos produzidos por esses sujeitos e veiculados através
do rádio - chamado por eles por telégrafos orais. Apresentaremos, ainda, algumas reflexões sobre o
uso da escrita e de outros aspectos da cultura daqueles sujeitos, que, por viverem geograficamente
isolados e privados da energia elétrica, na maioria das vezes, quando se encontram nos centros
urbanos, para manter contato com familiares das colocações ribeirinhas, têm na escrita desse
“telégrafos”, seu único meio de comunicação. Serão utilizados os estudos de Bakhtin (1992) sobre
linguagem e gêneros textuais; Bagno (2007), Marcuschi (2001) e Ong (2011), sobre fala, oralidade
e escrita. Nessa perspectiva, objetivamos apresentar elementos teóricos que evidenciem a
apropriação/realização da escrita por esses ribeirinhos, bem como o uso social atribuído à leitura e
escrita, por essas comunidades, na tentativa de valorizar a escrita popular e compreender como esta
se dá no contexto de quem vive na floresta amazônica acriana.
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O ENSINO DE LÍNGUA ESCRITA NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
E A FORMAÇÃO DE LEITORES
Alcicléia Souza Valente – UFAC
Elisabete Carvalho de Melo – UFAC
Nos últimos anos, os debates sobre práticas de leitura têm se intensificado, visando à compreensão
das atuais necessidades de formação de leitores, consideradas as transformações sociais decorrentes
da consolidação de uma sociedade letrada. Esta comunicação apresenta uma análise dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa - PCN, dando ênfase, principalmente, às práticas
pedagógicas de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, no que diz respeito à proposta
curricular do ensino de língua escrita, bem como os subsídios teóricos e metodológicos para este
segmento em que se trabalha a aquisição da alfabetização e desenvolvimento da leitura e escrita.
Neste sentido, subentendemos que os PCN de Língua Portuguesa são uma referência para a
transformação de objetivos, conteúdos e didática do ensino da língua materna, diferente de uma
coleção de regras, as quais os professores devem ou não cumprir. De acordo com as indicações dos
PCN de Língua Portuguesa, a linguagem verbal, atividade discursiva que é, tem como resultado a
produção de textos orais e escritos. Para conduzir o aluno ao domínio da linguagem escrita, o
professor deve atuar como o mediador entre a criança e o seu objeto de conhecimento, orientando-a
na leitura e escrita de diferentes tipos de textos em variados gêneros discursivos. Nessa perspectiva,
o documento norteador do ensino de Língua Portuguesa tem como objetivo orientar o professor a
executar seu trabalho, partilhando dos objetivos educacionais de fazer com que as crianças
dominem os conhecimentos escolares sobre a língua materna. Nesse sentido, a presente
comunicação visa apresentar dados de uma pesquisa em andamento, do Mestrado em Letras,
Linguagem e Identidade da Universidade Federal do Acre, que tem como objetivo, analisar os
Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa na abordagem sóciointeracionista proposta por
Kleiman, no que se refere à formação de leitores na perspectiva do letramento. A análise realizada
considera os últimos estudos de Kleiman (1996; 2005) sobre alfabetização e letramento e formação
de professores, bem como os estudos sobre concepções e práticas de alfabetização e letramento de
Soares (1999) e Tfouni (1992; 1994; 1995; 2010) que tem fomentado discussões sobre os termos
alfabetização e letramento, escrita e leitura, apreendidos na formação inicial e continuada de
professores. A contribuição desta análise consiste em uma possibilidade de compreender os
impactos dos PCNs para a formação de professores leitores, consequentemente alunos leitores.
O LETRAMENTO DE ADULTOS SOB A PERSPECTIVA DA ABORDAGEM
MULTIMODAL DA MÍDIA E SUAS INFLUÊNCIAS
Elda Alves Oliveira Ivo – UnB
Nos usos da linguagem no contexto social e escolar surgem novas exigências e habilidades para
lidar com as múltiplas linguagens, nos diferentes grupos sociais. Nesse contexto, são investigadas
novas perspectivas para o texto, sob a ótica da Análise de Discurso Crítica (ADC), do Letramento e
da Multimodalidade, pois nenhum entendimento efetivo dos efeitos sociais do texto é possível se
não analisarmos como são esses efeitos quando as pessoas falam ou escrevem. Aqui são analisados
os textos produzidos pelos alunos no contexto de letramento na empresa e a relação com os
diferentes textos divulgados pela mídia acerca da empresa e sua atividade ligada à exploração de
minério. É importante destacar que a permanência da empresa na cidade é motivo de grande
polêmica tanto na comunidade local quanto fora dela, devido a questões referentes ao impacto
ambiental e constantes acusações de poluição dos recursos naturais da cidade e da região. Os
funcionários/alunos estão sempre envolvidos em polêmicas sobre as atividades das empresas em
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que trabalham e são questionados, às vezes de forma veemente, por parte da população em geral,
sobre os riscos alegados acerca do impacto destas atividades para o meio ambiente e sobre a
repercussão do assunto na mídia.
O objetivo do presente trabalho é estudar, com base em reportagens publicadas na mídia, em
relação às atividades da empresa, se tal abordagem influencia a produção textual do aluno e se
contribui para a construção crítica do discurso deste aluno, sob o marco teórico do Letramento em
Street (1984, 1995 e 2001), Barton (1994), Barton, Hamilton & Ivanic (1994, 2000), Heath (1983),
Vieira (2003); Kleiman (2003) e outros, da Análise de Discurso Crítica em Fairclough (1989, 1992,
2001, 2003, 2006), Chouliaraki e Fairclough (1999) e da Multimodalidade em Kress e van Leeuwen
(1996, 2001). Busca-se refletir sobre as contribuições de uma abordagem multimodal e no repensar
acerca do modelo de Letramento e das práticas habituais da produção textual, dos significados
utilizados para estabelecer e sustentar as relações de interação e a contribuição desse arcabouço
teórico para o entendimento do letramento.
A base metodológica escolhida é a abordagem qualitativa em Denzin (2009), Flick (2004) e Bauer e
Gaskell (2003), pois o surgimento e a diversificação dos contextos e das perspectivas sociais
exigem uma nova postura crítica, conceitual e metodológica para lidar com os assuntos de pesquisa,
pela sua própria natureza científica.
Diante do corpus analisado verifica-se que o campo teórico do Letramento, da ADC e da
Multimodalidade têm muito a contribuir, pois língua(gem) e imagem não desempenham o mesmo
papel e esta já se encarrega de certas funções anteriormente desempenhadas pela linguagem. As
duas modalidades não estão meramente co-existindo, há uma forte interação e, no presente trabalho,
já são evidentes os efeitos reais sobre a linguagem na modalidade escrita.
Há muito para refletir e para discutir acerca do entrelaçamento do Letramento, da Multimodalidade
e da ADC diante da relevância temática, pois são ferramentas capazes de potencializar os sujeitos
para essa leitura do mundo em todas as formas de representação, em qualquer contexto e para que o
discurso seja considerado para além dessa estrutura social.
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA ESTRUTURA SAUSSURIANA NO DISCURSO
PSICANALÍTICO LACANIANO: LINGUAGEM E PSICANÁLISE
Rita de Cássia Gemino da Silva – FAMA
Com a chegada do século XXI, podemos perceber uma convergência mais ampla entre as ciências e
a procura de novos paradigmas que possam dar conta de um postulado científico mais complexo e,
consequentemente, mais investigativo, a fim de desmistificar os padrões científicos do passado.
Hoje, situar um estudo tendo como arcabouço a ciência e somente a ciência, de que é objeto o tema
pretendido, nos faz desviar de um objetivo mais amplo, exigido pela nova metodologia de ensino, a
inter-relação entre as ideias centrais que formam o discurso humano. Sendo assim, procurou-se
caracterizar como a Linguística, enquanto ciência revela meandros para a formação de novas
teorias, inclusive aquelas que abarcam o comportamento do pensamento humano, como a
Psicanálise. Desta maneira, este estudo tem como principal objetivo referendar a importância da
Teoria do Signo, do linguista Ferdinand de Saussure, na sistematização do discurso psicanalítico de
Jacques Lacan. Expondo uma linha de tempo sobre a formação da Linguística, o texto caminha por
entre as questões colocadas por Protágoras, Platão e Aristóteles, chegando ao que hoje conhecemos
como a ciência da linguagem. Estabelecendo um contraponto com a Psicanálise de Freud e os
preceitos de Jacques Lacan, foi elaborado um esquema axiomático no qual são demonstradas as
inter-relações dos dois psicanalistas e a formação do pensamento lacaniano centrado no arcabouço
teórico de Saussure. Fazendo uma interpretação da Teoria do Espelho, de Lacan, é referendada a
imbricação da Linguagem e seus signos com as Teorias Linguísticas da Psicanálise. O estudo
poderia abranger não somente a Psicanálise de Lacan, como também outras ciências, que, no final
do século XX, se debruçaram sobre a Linguística. Mas a escolha de Jacques Lacan vem
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acompanhar uma série de intenções, entre elas ressaltar a estrutura da linguagem e sua interligação
com a estrutura do pensamento e a utilização das ideias saussurianas na formação de Lacan, que
resgata os pacientes, discernindo o problema existente utilizando a linguagem do signo. Entre tantas
contribuições de Lacan, talvez a maior tenha sido, tanto para psicanálise como para toda ciência
humana, o duplo movimento de um retorno às descobertas originárias de Freud e de um recurso às
ciências da linguagem, que permitem articular a ciência do inconsciente. Nas descobertas recentes
da antropologia estrutural e da linguística é que a teoria lacaniana se fundamenta, deixando também
contribuições para as mesmas. O que Lacan vai destacar na teoria psicanalítica é a importância do
dizer e do calar numa dialética em que a verdade fica além do discurso infinitamente travado entre
poltrona e divã, da relação significativa da linguagem, colhendo os efeitos do significante. Na
realidade, Lacan propõe fecundar a psicanálise com a análise estrutural saussuriana dos signos,
retornando os textos originais de Freud, numa releitura, na qual imbricam duas ciências e seus
respectivos objetos de estudo, com suas diferenciadas metodologias; nesse caso a Psicanálise e a
Linguística.
LEITURA, GÊNERO, RETEXTUALIZAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL NO ENSINO
MÉDIO: AS CONTRIBUIÇÕES DE (TEXTOS ANTIGOS) PEDAGOGIA RETÓRICA NA
FORMAÇÃO DE LEITORES E ESCRITORES COMPETENTES.
Veralúcia Cogo – UFMG
O presente trabalho é parte de uma investigação que apresenta e retoma aspectos centrais de (textos
antigos) da Pedagogia Retórica, tendo como foco principal a ‘ensinagem’ da leitura e a produção
textual no processo aprendizagem de alunos, em especial, do Ensino Médio. Esta pesquisa foi
realizada em duas etapas. A primeira aconteceu em sala de aula (Metodologia da Língua
Portuguesa) com alunos do Ensino Médio profissionalizante do Curso Normal, que estavam
formando para trabalharem nas séries iniciais do Ensino Infantil. Foi realizado um mapeamento das
práticas de ‘letramento’ desenvolvidas nessas turmas, focalizando aulas de leitura (em vários
gêneros) e produção textual. Na segunda etapa, analisou-se o discurso produzido nestas práticas à
luz da teoria bakhtiniana. Todavia, o objetivo maior foi extrair dos (textos antigos) Pedagogia
Retórica princípios norteadores para a formação de leitores e escritores competentes. Sobre o corpus
teórico foram considerados os trabalhos que discutem estratégias de leitura e produção textual em
sala de aula: Koch (2006), Silva (1993) e muitos outros, da pedagogia Retórica: D’Angelo (1980),
Fiandra (2002), Mosca (2001), Reboul (2004), Amarante (2007), até mesmo do mais
contemporâneo Perelman, e, ainda autores que investigam sobre gêneros, produção textual e
retextualização: Marcusch (2000/2007) e Costa Val (2004) dentre outros. Os resultados da pesquisa
reafirmam a importância de investir na formação de professores para atuarem na formação de
leitores e escritores desde as séries iniciais.
HISTÓRIA DO ENSINO DO PORTUGUÊS: MATERIAIS DIDÁTICOS E PEDAGÓGICOS
DE LÍNGUA PORTUGUESA E A DIFUSÃO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO
MODERNO DE 1900 A 1930
Márcia Regina Takeuchi – PUC-SP
Este trabalho deriva de uma parte de minha pesquisa de doutorado, que se dedica a estudar as
origens da constituição da disciplina de ciências na escola estadual paulista. Antes do surgimento
mesmo da ciência como disciplina escolar, os conteúdos atinentes ao campo que hoje entendemos
como sendo de ciências vinham permeando as outras disciplinas em formação ou já constituídas –
entre elas a língua portuguesa, ou “língua pátria”. Contrariamente a história, geografia, educação
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moral e civismo, religião, que no final do século XIX figuravam com conteúdos próprios, com
práticas prescritas e materiais didáticos dedicados ao ensino, os conteúdos hoje chamados de
“ciências” freqüentavam campos de outras disciplinas, dando legitimidade e reforçando a noção de
modernidade científica e de escola moderna. Veiculados dessa maneira, esses conhecimentos
ajudaram a compor os saberes escolares que se atomizavam, num processo analisado, entre outros,
por André Chervel e Bruno Belhoste e caracterizado como a crise das humanidades e a
disciplinarização dos campos de conhecimento, a passagem do ensino das humanidades clássicas
para o ensino científico. É de se notar, por exemplo, que entre as práticas docentes prescritas para o
ensino da leitura, há uma recorrente preocupação de se inserirem temas relacionados à higiene e à
saúde ou a plantas e animais úteis ou nocivos aos interesses humanos. Para este trabalho, usarei
como fonte de pesquisa Anuários do Ensino do Estado de São Paulo, revistas pedagógicas e livros
de leitura.
UM OLHAR DISCURSIVO PARA A POLISSEMIA NA LINGUAGEM REFORMULADA
Hélder Sousa Santos – UFU
Sob a óptica da Análise de discurso de linha francesa (AD), nosso trabalho re-examina o tópico da
polissemia na/da linguagem reformulada. Polissemia que, em nosso caso específico, é resultante da
tarefa de, em concurso de vestibular, alunos vestibulandos “formularem” paráfrases de enunciados
de um texto motivador (TM) — consoante injunção a eles requerida — em redações escritas para
avaliação da instância vestibular. No tocante a essas paráfrases, cabe ressaltar que, em vista de
nossa análise construída para elas no mestrado, há incidências subjetivas afetando a avaliação que
corretores de redação de vestibular ali realizaram. Esses corretores, a fim de localizar gestos de
paráfrases de enunciados do TM na redação do vestibulando, tendem a olhar (apenas) para os
“mesmos” sentidos que os tocam em correções de redação que efetivam. Isso, certamente, se dá
porque mecanismos constitutivos do próprio imaginário de objetividade do processo seletivo do
vestibular, por exemplo, os comandos de correção de redações e as exigências impostas ao
candidato à vaga à universidade durante momento de realização desse exame, não contam com
critérios pré-estabelecidos para, também, avaliar sentidos da ordem do diferente na escrita do
vestibulando. No entanto, esse modo de avaliar a paráfrase no vestibular não funciona assim em sua
conjeturada objetividade. Ocorrem ali (em sua forma de avaliação) discrepâncias de sentidos, posto
que aquilo que um corretor de redação localiza como sendo uma produção parafrástica para
enunciados do TM, outro corretor, diferentemente, nada disso garante, localizando, nesse segundo
caso, o sentido diferente — o contrário, com certeza, acontece! Sendo assim, o sentido reconhecido
como "discrepante" (a polissemia) na avaliação de paráfrases escritas para o vestibular representa
para nós uma “porta de entrada” para perscrutarmos fatos linguísticos implicados aos processos de
constituição da linguagem que é (re)feita a partir de gestos de (re)formulação do dizer do outro;
fatos esses que, em sua maioria, relacionam-se à noção cunhada pela AD francesa de “memória
discursiva”.
A QUESTÃO DA ARQUITETÔNICA NO PROJETO ENUNCIATIVO DA
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO SÉCULO XIX
Urbano Cavalcante Filho – USP
Nesta exposição, propomo-nos a apresentar nossa proposta de investigação constante do projeto de
doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa da USP. Nosso
trabalho se volta ao estudo da questão da arquitetônica da Divulgação Científica (DC) na segunda
metade do século XIX. Objetivamos analisar a arquitetônica da DC, materializada no projeto
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enunciativo-discursivo das Conferências Populares da Glória do Rio de Janeiro. Tais conferências,
corpus deste trabalho, representa uma das mais significativas atividades de divulgação dos saberes
científicos da história brasileira, cuja meta era divulgar um conhecimento científico entre a camada
letrada da cidade do Rio de Janeiro. Apoiados nas reflexões advindas da teoria dialógica da
linguagem do Círculo de Bakhtin, e considerando o fato de que, para o Círculo, o enunciado é
encarado como produto da interação verbal, determinado tanto por uma situação material concreta
como pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma dada
comunidade linguística numa dimensão histórica, social e cultural, discutiremos e analisaremos as
relações dialógicas interdiscursivas e interativas e as estratégias e mecanismos discursivos presentes
no projeto enunciativo-ideológico no discurso da esfera da DC. Sob a luz da teoria do Círculo,
pretendemos mobilizar os conceitos de esfera, gênero discursivo, dialogismo, enunciado, sujeito e
autoria, todos eles perpassados pela dimensão do ato ético/responsivo do divulgador nessa esfera de
atividade (DC), pois é nessa conjectura dialógica que o sujeito age ético-axiologicamente no
processo interacional, na realidade histórico-social. Destacamos a importância da contribuição do
Círculo para este trabalho, pelo fato de, ao pensarmos a respeito da natureza da enunciação e dos
gêneros do discurso, observamos como as condições de produção condicionam e são condicionadas
pelos aspectos enunciativos, a partir do pressuposto bakhtiniano de que a classificação das formas
de enunciação apoiam-se na classificação das formas de comunicação verbal, determinadas pelas
relações de produção e pela estrutura sociopolítica.
AVENIDA BRASIL: FENÔMENO TELEVISIVO, FENÔMENO NAS REDES SOCIAIS NO
BRASIL E EM PORTUGAL
Tiago de Souza Lima Gomes – Universidade do Minho - Portugal
Renata Kelly Arruda – UNICAMP
Esse trabalho propõe uma reflexão acerca das diversas manifestações via web, mais precisamente
nas redes sociais Twitter e Facebook, oriundas da exibição da telenovela intitulada Avenida Brasil
no Brasil e em Portugal no ano de 2012. Produzida e exibida pela Rede Globo, emissora de maior
audiência no Brasil, a novela estreou em 26 de março de 2012 no horário de 21hs, horário nobre da
emissora, e desenrolou-se em 179 episódios tendo seu último capítulo exibido no dia 19 de outubro
de 2012. Em Portugal, a telenovela teve sua estréia em 24 de setembro de 2012 através do canal
Sociedade Independente de Informação (SIC) e até o presente momento, encontra-se em exibição
no horário de 23hs. Alcançando bons números de audiência e superando os números da telenovela
antecessora, Avenida Brasil ainda foi responsável por inúmeras manifestações nas redes sociais,
durante o período de sua exibição. Seus bordões viraram moda, o desenrolar da trama foi
comentado em tempo real, diariamente por milhões de telespectadores nas redes sociais, cenas
marcantes se transformavam em GIF animado em questões de minutos e um trecho da música tema
se tornou uma espécie de grito de guerra das redes sociais. Nesse trabalho abordaremos como as
emoções causadas, o envolvimento gerado pelo enredo, as trocas de informações e opiniões através
da Internet foram, um autêntico fenômeno de relação entre duas mídias, e gerou consequências que
certamente poderão refletir não somente no processo de criação deste gênero televisivo, mas na
forma como algumas classes sociais encaram este produto de mídia. Refletiremos o produto cultural
telenovela, sua história de sucesso no cenário televisivo brasileiro e todo o preconceito sofrido pelo
gênero. Diante de uma sociedade que sabidamente enxerga a telenovela como produto menor,
alienante e produto para classes menos abastadas, deparar-se com uma produção que conseguiu ao
longo dos meses, agregar consumidores de vários níveis socioeconômicos e que, em seus perfis de
redes de relacionamento se assumiram como telespectadores, configurar-se como o prenuncio de
um novo arranjo para as relações entre mídias. O sucesso da novela pode ser medido e
acompanhado em tempo real, aprovações e desaprovações foram e são expostas e discutidas pelos
telespectadores ainda durante a exibição do capítulo. No caso dessa investigação, também
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apresentaremos os fatores que entendemos como primordiais ao sucesso alcançado pela telenovela
na televisão e nas redes sociais, as impressões de seus telespectadores quanto a seus diferenciais
com relação a outros folhetins e os jargões, imagens e discussões que movimentaram e
movimentam as redes durante sua exibição no Brasil e atualmente em Portugal.
HUMOR E SEMÂNTICA NAS RELAÇÕES DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA:
UMA ANÁLISE LINGUÍSTICA DA PROGRAMAÇÃO DE ENTRETENIMENTO DA
TELEVISÃO BRASILEIRA
Everaldo dos Santos Almeida – FAMA
Análise do discurso humorístico televisivo brasileiro, implicâncias e relações linguístico-históricoculturais dos falantes em decorrência da concepção sociológica da linguagem a partir dos bordões
veiculados pela programação de entretenimento. Estudo cultural e semiótico do humor na televisão
capaz de atingir e influenciar a configuração da Língua Portuguesa a partir da ressemantização da
linguagem tendo os bordões como instrumento de uso. Relação dialógica entre a linguagem
humorística televisiva (o outro) e o sujeito (telespectador) na (re)construção dos sentidos
linguísticos a partir da interação verbal, por meio da qual surgem novas formas de dizer e de
significar, tendo a língua como produto midiático. A televisão passa a negociar a linguagem,
fazendo-o com que o resultado seja mais que uma palavra. Objetiva mapear descritivamente como
os novos bordões se inscrevem e influenciam a fala de adolescentes e jovens adultos. A
investigação é ancorada na Teoria da Recepção de Stuart Hall e seu postulado sobre texto e
significação, na interação verbal de Mikhail Bakhtin, em Michel Pêcheux e seus estudos do campo
da língua e da sociedade apreendida pela história e ideologia, em William Labov e sua reflexão
sobre os processos sociais nas estruturas linguísticas, em Melvin DeFleur e Sandra Ball-Rokeach e
sua contribuição acerca da influência das comunicações sobre os indivíduos, a sociedade e a cultura,
e na Teoria dos atos de fala de Austin e Searle. Pesquisa qualitativa não intervencionista baseada
em dois eixos intitulados Seleção, escolha dos bordões, e Análise de Conteúdo, categorias
simbólicas dos bordões e suas relações com a sociedade, cultura e a linguagem. Os signos culturais
são dotados de sentidos, tornando-se parte da unidade da consciência verbal e coletivamente
constituída, sendo a linguagem a representante dos aspectos transformacionais da sociedade. Propõe
uma nova abordagem acerca do entendimento dos estudos da linguagem e suas metodologias de
ensino em contextos pós-modernos.
MOVIMENTAÇÕES URBANAS: LEITURAS E LEITORES DO JORNAL SUPER
NOTÍCIA
Renata Kelly de Arruda – Unicamp
Lilian Lopes Martin da Silva – Unicamp
Um cenário peculiar nos é apresentado junto a movimentação diária das ruas de Belo
Horizonte/MG: a convivência entre pressa matutina, congestionamentos, buzinas e leitura, atividade
essa comumente imaginada como ação que requer isolamento, silêncio e concentração, a leitura
integra o cenário matutino e coletivo da cidade. Esse panorama nos instiga a questionar discursos já
implícitos, como o de que “brasileiro lê pouco” ou a supervalorização de alguns determinados
“tipos” de leitura em detrimento de outros. Quem seriam esses leitores? Onde eles estão? Quais são
seus hábitos? Quais são os usos dados a essa leitura? Localizar esse leitor, identificar as formas de
recepção e detectar as possíveis interações existentes a partir da leitura do jornal Super Notícia são
os principais objetivos dessa pesquisa. Nos baseamos na crença de que os modos de existência
atuais e suas práticas cotidianas também são geradoras de saberes uma vez que se relacionam com
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vivências, interações sociais, escrita, fala, leitura e formas de se pensar o mundo. Nossa
metodologia se embasará em observação não participante dos leitores do jornal pelas ruas da
cidade, registro fotográfico e entrevista estruturada com uma amostra de sujeitos leitores a ser
definida pós observação. Desejamos conhecer as formas de obtenção do impresso pelos sujeitos;
suas maneiras de ler; motivações para leitura; as apropriações que fazem desse material; como o
tornam parte integrante do seu dia a dia; as sociabilidades que vivenciam e que foram por ele
produzidas; os percursos de leitura realizados e outros aspectos ligados ao pólo da recepção deste
impresso. Uma exploração do jornal, em sua textualidade e materialidade, tendo em vista a
identificação das estratégias dos produtores de notícias e reportagens, como aquelas dos editores,
para através delas buscar responder a essas questões, nos coloca na direção de levantar
representações do leitor pressuposto (inscrito nessas estratégias) que estão a guiar autores e editores.
No caso dessa investigação, nossa opção por uma aproximação dos leitores de ‘carne e osso’, que,
interagem com o Super Noticia e, de fato e concretamente o manipulam e significam, praticando a
leitura. Não são sujeitos abstratos, mas situados, no espaço e tempo; na vida urbana; do ponto de
vista econômico e social; mas sobretudo do ponto de vista cultural e pertencentes a uma dada
comunidade de leitores, que partilha protocolos de leitura, que se explicam na comunidade a que
pertencem.
POSSIBILIDADES DE LEITURA DA VELHICE NO LONGA-METRAGEM “AS
BICICLETAS DE BELLEVILLE”
Flávia Motta de Paula Galvão – PPGEL/UFU/CAPES
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa que está sendo desenvolvida com o objetivo de
problematizar e analisar a representação de idoso em dois longas-metragens, a saber: As Bicicletas
de Belleville (2003) e Up Altas Aventuras (2009). Importante destacar que essa pesquisa está
vinculada à participação no Grupo de Pesquisa e Estudos em Linguagem e Subjetividade (GELS),
alocado no Instituto de Letras e Linguística, da Universidade Federal de Uberlândia (ILEEL/UFU).
Nessa pesquisa, propomo-nos a realizar uma análise discursiva que permita compreender e
explicitar as relações de sentidos predominantes na constituição das representações de idoso nos
longas-metragens, o que configura, para nosso trabalho, a produção de uma análise sobre uma
questão social específica calcada no estudo da linguagem. Para esta apresentação, centramo-nos na
análise do filme As Bicicletas de Belleville, a partir de pressupostos teóricos da Análise de Discurso
(AD) de linha francesa, mais especificamente, nos estudos de Michel Pêcheux (1969; 1975; 1983).
A Análise de Discurso possibilita ao pesquisador, na condução da pesquisa nesse campo teórico e
metodológico, construir uma visão articulada do objeto investigado e sua relação com os aspectos
socioculturais, políticos e econômicos. Nesse sentido, buscamos analisar de que modo a velhice é
significada no filme e os efeitos de sentido que dela podem circular socialmente, na produção de
efeitos-leitores. Parece-nos que, no filme As bicicletas de Belleville, a velhice é significada de modo
a produzir certo movimento na representação de idoso, alçando-a ao inusitado, ao cômico. Esse
parece ser o aspecto que permite ao idoso ocupar o lugar de personagem protagonista e heroína no
referido filme. O alçamento ao cômico funciona porque subjaz a ele um estereótipo de idoso cujo
aspecto marcante é a fragilidade e a debilidade de sua potencialidade física, o que pode promover o
riso. O idoso também é, em certo sentido, o índice de uma crítica direcionada ao valor que,
aparentemente, os norte-americanos teriam da velhice.
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CONCEITOS E PROPOSTAS DE IMANOL ARRIAGA EM UMA PRÁTICA DOCENTE E
DISCENTE BRASILEIRA
Sérgio Roberto Vaz Ferreira – FaE/UFMG
Celia Abicalil Belmiro – FaE/UFMG
Maria Lúcia Castanheira – FaE/UFMG
O presente trabalho expõe a investigação em curso sobre o uso da linguagem verbal na leitura de
imagens de obras de arte por alunos do ensino fundamental, seus referentes culturais e locais a
partir das concepções do educador basco Imanol Aguirre Arriaga. Discute-se a leitura de imagens
como uma forma de evidenciação e inserção da criança no mundo da cultura, de apoderamento da
cultura e de desenvolvimento da linguagem. A prática proposta pelo autor tem o objetivo de
proporcionar o reconhecimento pelo próprio aluno das referências do seu contexto em sua fala e no
olhar que ele lança sobre a imagem. Com isto, pretende-se que as obras de arte sejam capazes de
entranhar-se em cada biografia, integrando-se sua experiência vital, contribuindo para a criação de
“si mesmo”. Para Arriaga a reciprocidade entre narrativa das experiências artísticas e formação do
sujeito em Arte parte da alegação de que o ensino-aprendizagem como instrumento de análise da
realidade constitui uma ferramenta muito útil em um primeiro momento da formação estética. No
entanto, seu interesse e alcance resultam muito limitados se permanecem no âmbito formal,
unicamente como objeto artístico, e não avançam da metáfora da linguagem artística à narrativa –
entendida por Arriaga como interpretação oral da obra a partir das experiências pessoais com o que
o próprio sujeito possa definir como arte. É prerrogativa o trabalho de leitura de obras artísticas
através das narrativas da experiência estética com as obras, seu estudo e contextualização e a
produção plástica (desenho) pelos alunos envolvidos. Nesse processo de estudo da imagem,
segundo Arriaga, são prioritárias as dimensões representativa e comunicacional (linguística), às que
podemos acrescentar outras, como a lúdica, a estética e a cognitiva. Como procedimento
metodológico de pesquisa, são propostas oficinas de ensino-aprendizagem em Arte como um
momento que integre questões referentes à criação ou à produção artística do educando, ao mesmo
tempo em que são abordadas a interpretação da produção artística geral e a experiência estética,
como define Arriaga. Essas oficinas se constituem de um grupo de quatorze alunos de turmas de 2º
ciclo do Ensino Fundamental (entre 8 e 9 anos) e um aluno graduando e duração de 1 hora e 40
minutos, uma vez por semana e durante 8 semanas, no horário da aula de artes das crianças. É
importante que esses alunos pertençam à comunidade que abriga a escola e que representem o
contexto da comunidade, simulando, assim, um ambiente profícuo para a intervenção e análise dos
materiais. As atividades têm seu planejamento baseado nas proposições de Arriaga, buscando
traduzi-las em uma prática que envolva os elementos constitutivos de sua teoria. O material de
apoio se constitui por um conjunto de obras de arte, seja através de slides, seja de peças originais.
Os instrumentos utilizados para o registro constam da produção plástica das crianças e dos
documentos audiovisuais das atividades. Finalmente, deve-se ressaltar que a presença do aluno
graduando como condutor das oficinas sob acompanhamento e orientação do pesquisador. A opção
por trabalhar com um graduando do 5º ou 6º período do curso de graduação em Educação Artística
da Escola Guignard – UEMG - se justifica pelo fato de estar em estágio curricular, momento em
que ele se confronta com seu campo de trabalho. Também se justifica pela familiaridade do
pesquisador que propõe esta investigação com o currículo da graduação, como professor da Escola
Guignard e formador de professores para o ensino de Arte. Esta apresentação propõe realizar um
recorte dos eventos nas oficinas e analisar aspectos da interação entre os participantes de um grupo
de alunos e o professor estagiário, considerando o discurso em uso, a produção narrativa e plástica
dos alunos.
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EFEITOS CAUSAIS DOS TEXTOS PUBLICITÁRIOS ECOLÓGICOS
Neiva Maria Machado Soares – UnB/UEA
Este estudo, amparado na teoria de Norman Fairclough (2003, 2006), via Análise do Discurso
Crítica (ADC), sustenta que os textos, como elementos dos eventos sociais têm efeitos causais, isto
é, produzem mudanças que podem ser no conhecimento, nas crenças, nas atitudes ou nos valores,
resultando em efeitos em longo prazo. Para o autor, a exposição prolongada a propagandas pode
moldar a identidade de pessoas como consumidoras. Os textos também podem iniciar guerras,
contribuir com mudanças na educação, mudar relações industriais e muito mais. Seus efeitos
incluem mudanças no mundo material, como nos modelos urbanos, ou na arquitetura e no design de
tipos específicos de prédios. Em síntese, textos podem ter efeitos causais e mudar as pessoas
(crenças, atitudes e etc), as ações, as relações sociais e o mundo material (FAIRCLOUGH, 2003,
p.8). Quanto a esses efeitos causais, o linguista explica que não é uma simples causalidade
mecânica, ou seja, não ocorrem mudanças automáticas no comportamento ou no conhecimento de
uma pessoa pelo simples acesso à informação em um texto. Pensando sob esta ótica, tomando como
objeto de análise propagandas de produtos considerados ecológicos, investigo como essa
publicidade, por um lado, pode auxiliar em construir um novo tipo de consumidor que possua uma
atitude mais sustentável; por outro, pode ser utilizada pelas empresas para criar uma imagem de que
suas práticas são adequadas às questões sustentáveis. A análise tem revelado que as práticas
empresariais de produção e de consumo adotam atitudes mais verdes, mas que o espírito do
capitalismo suplanta o ecológico. Logo as corporações abraçam o discurso verde/ sustentável,
inclusive nas formas multimodais que concretizam o evento discursivo, porém muito ainda
necessita ser feito para que o discurso sustentável deixe de se constituir em apenas uma nova
retórica. É comum percebermos hoje que a maioria das empresas afirma que é sustentável. Logo,
isso está visível no seu discurso, mudando o estilo de como a informação é disponibilizada. Porém,
também, pode ser perceptível quando “força” a inserção desse discurso, apenas para cumprir
exigências, sem se preocupar com fatores sociais e ambientais que de fato congregam o todo do
discurso realmente sustentável.
UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA E ESCRITA SUBSIDIADA PELAS OFICINAS DA
OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA EDIÇÃO 2012
Núbia Régia de Almeida – UFT/PG/SEDUCTO
Tânia Maria de Oliveira Rosa – UFT/PG/SEDUCTO
Com a primeira edição realizada em 2008 e 2009 a Olímpiada de Língua Portuguesa “Escrevendo o
Futuro” é fruto de uma parceria entre o Ministério da Educação, a Fundação Itaú Social e o Centro
de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). A Olimpíada objetiva
buscar a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem de leitura e escrita dos alunos da rede
pública brasileira. Para isso, desenvolve ações de formação de professores no intuito de ampliar o
conhecimento teórico do docente em relação aos gêneros textuais contemplados no projeto e
fornecer subsidio e apoio à comissão julgadora quanto aos critérios de avaliação de textos. A
olimpíada ocorre em duas etapas. Nos anos pares são realizadas as ações de formação de
professores e alunos; o concurso e a premiação. Nos anos ímpares os parceiros oportunizam aos
docentes participarem de atividades complementares presencial e a distância visando aprimorar sua
formação, fazem análise e publicação dos textos semifinalistas e das boas práticas dos professores.
O presente artigo tem como objetivo mostrar o resultado de uma pesquisa sobre a contribuição da
Olimpíada de Língua Portuguesa, edição 2012, na prática de leitura e produção escrita desenvolvida
com os alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual José Alves de Assis em
Araguaína, Tocantins. Estudos mostram que o trabalho de leitura e produção escrita na escola é um
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tema que vem sendo discutido pelos professores com embasamento em teóricos a fim de
compreender quais as dificuldades que limitam o desenvolvimento das habilidades de leitura e
escrita escolar. Haja vista que compreender um texto é, em certa medida, produzir um outro texto
em resposta ao texto lido (ROJO e JURADO). A pesquisa tratase de um estudo de caso documental
com base em análise comparativa das práticas pedagógicas de leitura e escrita de uma professora de
Língua Portuguesa participante da edição 2012. Para obtenção dos resultados foram analisados os
registros das etapas da Olimpíada: sequências didáticas (planos de aula), depoimentos da docente,
memorial das oficinas realizadas; produção preliminar dos textos dos alunos conforme proposta do
programa em comparação a produção final das redações. Verificou-se por meio da pesquisa que a
participação da professora na formação continuada disponibilizada no portal
escrevendo.cenpec.org.br contribuiu no aprimoramento das metodologias e práticas pedagógicas
para desenvolver a leitura e o processo de escrita dos estudantes; maior qualidade dos textos
produzidos pelos educandos. Possibilitou também fazer um diagnóstico das condições de leitura e
escrita desenvolvidas na escola antes da participação dos docentes e discentes na Olimpíada de
Língua Portuguesa assim como das metodologias diversificadas utilizadas no processo para motivar
os alunos à desenvolver as habil dades de leitura e escrita.
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SIMPÓSIO 65
INVESTIGAÇÕES SOBRE LEITURA: DIÁLOGOS EM CIRCULAÇÃO
NA RODA DOS PESQUISADORES DA ALB
O debate sobre o ato de ler e sobre práticas de leitura tem atravessado pesquisas e intervenções de
diversos atores sociais em vários âmbitos no Brasil, entre eles: professores pesquisadores da
Educação Básica, professores universitários, pesquisadores, bibliotecários, pessoas atuando em
ONGs e diferentes instituições em vários estados do país. A Roda dos Pesquisadores da Associação
de Leitura do Brasil é um espaço virtual que agrega esses grupos, oportunizando a interação à
distância entre essas investigações e ações sobre leitura espalhadas por todo o país, de modo que as
especificidades de cada atuação ou estudo possam ser postas em diálogo entre si. Este simpósio tem
o intuito de problematizar e de aproximar reflexões em torno da leitura que têm sido foco de
debates entre os pesquisadores participantes da Roda de Pesquisadores da ALB. São vários os
enfoques e as discussões sobre o ato de ler que têm permeado esse espaço virtual, entre eles:
levantamentos sobre os rumos das pesquisas em leitura no Brasil; investigações sobre memórias e
histórias de leituras; reflexões a partir de experiências de práticas de ensino da leitura presentes nas
pesquisas acadêmicas e nas ações escolares e não-escolares; relações entre a leitura e a biblioteca;
contrastes e confluências entre a leitura em voz alta e a leitura silenciosa; relações entre o ato da
leitura e diversas manifestações artísticas. No simpósio “Investigações sobre Leitura: diálogos em
circulação na Roda dos Pesquisadores da ALB”,pretende-se reforçar esse espaço coletivo de
interlocução de forma a fazer girar os saberes na produção de sentidos sobre o ato de ler.
COORDENAÇÃO
Eliana Kefalás Oliveira
Universidade Federal de Alagoas/ALB
[email protected]
Norma Sandra de A. Ferreira
Universidade Estadual de Campinas/ALB
[email protected]
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UMA PASTA COM MANUSCRITOS DE JOÃO KOPKE
Norma Sandra de Almeida Ferreira – UNICAMP
João Köpke (1852-1926), bacharel em Direito, dedicou grande parte de sua vida ao magistério, quer
como professor, diretor de institutos educacionais criados por ele, conferencista, ou como autor de
cartilhas e livros de leitura para as escolas. Sua participação intelectual no campo da educação, no
final do século XIX e início do XX, tem merecido um conjunto de estudos (Carvalho, 1998;
Mortatti, 2000; Panizzolo, 2006; Santos, 2013, entre outros). A maioria das pesquisas sobre João
Köpke tem se voltado para sua produção impressa, publicada, em grande parte, pela livraria e
editora Francisco Alves (Série Rangel Pestana). Os trabalhos sobre esses livros pouco se
interessaram para tomá-la pelo uso estético-literário da linguagem em que ela foi produzida, pouco
se interessaram em compreender esse gênero literatura didática não pelo que diz (conteúdo
moralista, patriótico, religioso etc.), mas também pelo modo como ele se configura do ponto de
vista estilístico, composicional, e, em sua materialidade. Priorizam uma análise dos conteúdos
formativos ligados ao contexto da Nova República, dos métodos de alfabetização, do processo
analítico na aquisição da leitura. Neste artigo, apresentamos um material, provavelmente não
publicado, que faz parte do acervo pessoal da família Köpke e cedido ao grupo de pesquisa
ALLE/FE/Unicamp, do qual faço parte. Trata-se de uma Pasta, cujo interior traz quatro documentos
manuscritos, em letra cursiva ou datilografados: Versos para pequeninos; O pássaro dourado; O
casamento de Panurgo; Evangelina. O material é composto de poemas, narrativas, uma peça de
teatro, acompanhadas de ilustrações e imagens recortadas e coladas, além de várias anotações e
revisões a lápis nas laterais dos textos. É objetivo deste texto, descrever esse material, focando
principalmente, no poema Evangelina, tradução de João Köpke e inspirado no épico de Henry
Longfellow. Também indagar sobre suas condições de produção através das pistas deixadas sobre a
representação que a obra possa ter no cenário entre séculos, sobre leitores previstos para esse
material e ainda sobre estratégias de escrita de seu autor. Com este trabalho pretendemos apresentar
uma imagem de Köpke como um escritor que modula a linguagem buscando procedimentos para
uma melhor compreensão do texto pelo seu leitor e para aquilo que pretende dizer.
A PRESENÇA DO CORPO EM EXPERIÊNCIAS DE LEITURA LITERÁRIA
Eliana Kefalás Oliveira – UFAL/ALB
O presente trabalho tem o propósito de refletir sobre a formação do leitor literário a partir de
experiências de leitura em movimento e em voz alta desenvolvidas juntamente com um grupo de
professores de escolas públicas e privadas do estado de Alagoas. Procura-se pensar de que forma a
leitura pode ser experienciada sensorialmente, levando-se em conta a escuta do corpo no ato da
leitura, priorizando o contato com o texto literário (FREDERICO, OSAKABE, 2004; BRASIL,
2006), em contraste com uma concepção informativa do ensino de literatura (RANGEL, 2005;
PINHEIRO, 2006). Compreende-se, nessa perspectiva, o ato de ler como um ato performático
(ZUMTHOR, 2000), no qual o leitor, quando atravessado pelo texto literário, abre-se para o que
esse texto pode provocar e reverberar nele, de forma que a materialidade das palavras e seus jogos
de sentido possam ser percebidos não somente analiticamente, mas também sensorialmente pelo
leitor. A escuta do corpo, a percepção da presença corporal (VIANNA, 2005; MILLER, 2007) no
momento da leitura podem, de certa forma, abrir a experiência da leitura para uma dimensão
performática, o que permite que o texto, ao ser lido, possa ser também dançado, seja em
movimentos e mobilizações internas ao leitor, seja em vocalizações poéticas (ZUMTHOR, 2005),
ou ainda em movimentos do corpo que se deixam levar pelo que o texto suscita naquele que lê. Esse
desafio de experienciar a leitura levando em conta a escuta do corpo tem sido enfrentado por
professoras e professores da rede pública de ensino em Alagoas através do curso de extensão
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"Leitura e expressão corporal", no qual se tem refletido coletivamente sobre possibilidades e
entraves no trabalho com o texto literário na formação do leitor. Diante da experimentação da
leitura em voz alta e em performance, algumas questões se tornam presentes: o que se passa quando
se escuta o corpo na leitura literária? O que faz com que um mesmo texto seja recebido e
performatizado de formas distintas por diferentes leitores ou por um mesmo leitor em diferentes
momentos de experimentação do texto? A leitura em voz alta e em movimento pode ser uma via
para a compreensão analítica do texto? Que possíveis relações se estabelecem entre literatura e artes
corporais no ato da leitura performática?
ASSOCIAÇÃO DE LEITURA DO BRASIL (ALB): MEMÓRIAS
Lilian Lopes Martin da Silva – UNICAMP
Luciane Moreira de Oliveira – PUCCAMP
A ALB (Associação de Leitura do Brasil) nasceu no início dos anos 80, no interior da luta pela
redemocratização do país. Desde então vem significando no cenário nacional um importante
instrumento de garantia do direito à palavra de segmentos sociais e civis, especialmente no que diz
respeito aos esforços do país na conquista da escrita para toda a população. Além disso, movimenta,
desde sua fundação, a reflexão sobre a leitura, em vários de seus aspectos. Ao longo de seus 30 anos
(completados nesse ano de 2012 cujo início de celebração ocorreu durante o 18.º COLE, em julho)
acumulou um considerável conjunto de documentos escritos, iconográficos, fílmicos que registram
seu cotidiano administrativo, de pesquisa, realização de eventos, publicações, relações com
instituições e outras entidades, etc. Esse acúmulo pode ser dividido em grupos ou fundos vários, que
venham a ter suas fontes reunidas, organizadas e disponibilizadas para pesquisa, vez que em sua
materialidade e discurso, esses materiais expressam visões, relevâncias, pontos de vista, olhares,
possibilidades, etc. e podem ser tomados como 'fontes primárias' para a construção de uma memória
da leitura no país. Desse universo fazem parte os materiais referentes aos Congressos de Leitura do
Brasil, surgidos ainda em 1978 (4 anos antes da fundação da entidade) e atualmente em sua 18ª
edição. Esta pesquisa volta-se à construção de um arquivo (físico e digital) relativo aos materiais
produzidos no âmbito dos Congressos de Leitura do Brasil desde a sua origem em 1978. Oferece-se
como campo de uma experiência prática, em que se articulam ações concretas de construção de
acervo documental da entidade e reflexão sobre a importância, significado e alcance dessa ação na
contemporaneidade. Inserese no contexto das iniciativas que buscam afirmar a importância da
constituição de arquivos para a construção de memórias; apóiam-se na necessidade de afirmação do
caráter público e não elitizado que viabiliza o acesso às fontes; se pauta na atual revitalização dos
estudos de memória. Ao longo de sua existência, os congressos geraram uma miríade de materiais
que foram se acumulando de forma dispersa na sede da ALB e, muitas vezes, se misturando aos
materiais gerados pela entidade como um todo. Esse conjunto contém: projetos de evento;
solicitações para financiamento; orçamentos; correspondências; relatórios técnicos; fotos, fitas em
áudio, fitas em VHS, DVDs folhetos de divulgação, programas acadêmicos, culturais, cartazes,
materiais de identificação dos congressistas e dos organizadores, camisetas, etc. Este material se
encontra guardado, acumulado. Nossa tentativa nesse momento não é descrever tais documentos,
nem proceder a um meticuloso inventário histórico, conforme orientações técnicas e rigorosas da
pesquisa arquivística ou histórica. Pensamos que, uma vez localizados, reunidos, separados do
restante do material da entidade, relacionados e catalogados, eles poderão ser utilizados para outras
investigações, sendo trabalhados na direção de sua descrição para composição de um arquivo, como
também em sua leitura, interpretação e organização de novas publicações da própria entidade. Essa
apresentação narra em maiores detalhes esse conjunto de ações, bem como apresenta o pensamento
que as sustenta e como um primeiro resultado, a descrição dos conteúdos existentes nos registros
sonoros referentes aos três primeiros Congressos de Leitura do Brasil (1978, 1979 e 1981).
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A LEITURA NA ESCOLA PÚBLICA: PERCEPÇÕES DISCENTES
Maria Helena da Rocha Besnosik – UEFS
Rita de Cássia Brêda Mascarenhas Lima – UEFS
Heloisa Barretto Borges – UEFS
Este trabalho é parte da pesquisa “Leitores da escola pública: um estudo de caso no Colégio
Estadual de Feira de Santana”, iniciada em 2008, com financiamento da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e foi concluída em junho de 2012. Esta pesquisa está
vinculada ao Núcleo de Leitura Multimeios da Universidade Estadual de Feira de Santana que
desde 1992, vem realizando trabalhos de pesquisa e extensão, tendo os Círculos de Leitura como
sua metodologia basilar. A investigação surgiu da necessidade de fortalecimento e sistematização
das histórias de leitura dos leitores considerados comuns e, consequentemente, com pouca
visibilidade nas pesquisas oficiais. O objetivo principal foi traçar o perfil do leitor da escola pública
envolvendo professores e estudantes. A escolha do campo da pesquisa deu-se pelo envolvimento
dos pesquisadores do Núcleo com a referida escola a partir de outro projeto de intervenção,
intitulado “Tecendo Leituras (2006) com foco na formação do leitor em parceria com a Secretaria
de Educação do Estado da Bahia. No processo de coleta de dados, foram realizados Círculos de
Leitura, entrevistas com professoras e estudantes, questionários e grupo focal. Apresentamos neste
texto resultados dessa pesquisa focalizando os grupos focais realizados com os estudantes. A
utilização desse instrumento de coleta possibilitou a construção de uma riqueza de material, pois os
estudantes falaram de forma muito espontânea do lugar da leitura nas suas vidas, das suas
preferências, dos modos de ler e da diversidade de leituras. A análise dos dados coletados nos
grupos aponta uma relação dos jovens com a leitura marcadamente influenciada pela família ou pela
escola, demonstrando que cada leitor constrói a sua história como sujeito historicamente situado. A
leitura neste estudo é concebida como prática sociocultural que acontece dentro e fora da escola,
conforme postula Chartier (1999, 2001, 2004). À medida que aprofundávamos a análise,
observávamos que vários perfis de leitores se delineavam tomando como referência as necessidades
e escolhas profissionais e/ou pessoais.
CÍRCULOS DE LEITURA EM ESPAÇOS NÃO-FORMAIS: TECENDO CIDADANIA NOS
ENCONTROS COM AS LEITURAS LITERÁRIAS
Rita de Cassia Brêda Mascarenhas Lima – UEFS
Carla Luzia Carneiro Borges – UEFS
Sonia Moreira Coutinho – UEFS
O projeto de pesquisa e extensão “Círculos de Leitura: uma tecnologia para além do espaço
escolar”, é um projeto apoiado pela FAPESB, fruto de uma ação pioneira de fomento à articulação
pesquisa e extensão. O Núcleo de Leitura Multimeios da Universidade Estadual de Feira de
Santana, ao qual este projeto está vinculado, vem desenvolvendo desde a sua fundação, que data de
1992, a metodologia dos Círculos de Leitura como uma tecnologia que pode contribuir para a
formação de leitores e para o exercício crítico dos sujeitos envolvidos. Os Círculos de Leitura
enquadram-se na modalidade de um procedimento simples, de baixo custo, que pode ser reaplicado
em diversos grupos e que causam um impacto pessoal e social, à medida que amplia o acesso à
leitura, seja do sujeito alfabetizado ou não, nos diversos espaços e eventos de letramento. O objetivo
geral deste projeto é implantar, como tecnologia social, os círculos de leitura em quatro
comunidades rurais e na sede do município de Antônio Cardoso-BA, com mulheres beneficiárias do
leite do Programa Bolsa Família do Governo Federal. Além disso, visa-se conhecer suas histórias e
práticas cotidianas de leitura e compreender seus modos de vida na perspectiva do efetivo exercício
da cidadania, por meio da construção coletiva de estratégias de enfrentamento das demandas
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educacionais e sociais. O projeto originou-se do desejo de conhecer e ressignificar as práticas de
leitura vinculadas às tradições orais, antes tão utilizadas nas comunidades rurais e, atualmente, em
declínio. A vivência das práticas de leitura com textos literários em espaços não-formais, mais
especificamente, com mulheres da zona rural, advém da compreensão que “todos lemos a nós e ao
mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos” como afirma Manguel (1997,
p.20). Desse modo, partilhar leituras e formar leitores no sentido pleno do termo, ou seja, alguém
que faz da leitura uma possibilidade de desvelamento da realidade e de si mesmo, é um desejo e
uma meta do projeto. Portanto, pretendemos como impacto acadêmico a implantação dos Círculos
de Leitura como Tecnologias sociais, bem como consolidar a articulação pesquisa/extensão e como
impacto social, pretende-se a reinserção dessas mulheres nas práticas socioculturais de leitura e o
reconhecimento da sua autonomia na perspectiva da emancipação do sujeito. Por meio das leituras
literárias muitas histórias de vida, práticas cotidianas e vivências socioculturais são compartilhadas
e refletidas, assim, novos horizontes e possíveis intervenções começam a ser vislumbradas a partir
do reconhecimento do seu lugar social. O processo de rememoração das suas práticas de leitura
cotidianas e a ampliação do acervo literário por meio dos círculos de leitura objetivam o
empoderamento e a análise crítica das mulheres sobre suas condições de vida e de cidadania.
Considerando que o presente projeto encontra-se em andamento, é possível afirmar o quanto tem
sido significativa a prática da leitura compartilhada e o envolvimento das mulheres na análise e
reflexão do texto lido pelo leitor guia, assim como do clima de confiança que já conseguimos
estabelecer entre as mulheres e as pesquisadoras.
ENCONTROS E DESENCONTROS ENTRE PAIS E SEUS FILHOS EM DOIS LIVROS
FRANCESES DE LITERATURA INFANTIL
Adriana Pastorello Buim Arena – UFU
Dagoberto Buim Arena – UNESP
O trabalho analisa dois livros franceses destinados, aparentemente por seu formato físico, a
crianças, mas, pelo tema é destinado a pais. As obras efendem o ponto de vista de que, nos anos
correntes, os gestos culturais criados para ler literatura infantil devem fazer parte da cultura de
relações entre adultos e crianças. Ensinar a ler literatura infantil e ler com e para as crianças pelos
livros a elas destinados é um ato que as insere em um mundo humano estendido ao mundo da
cultura e da palavra do Outro. Antes de analisar os livros, o trabalho refaz um breve percurso sobre
o conceito de infância com Ariès e Leontiev, destaca o papel do outro bakhtiniano na constituição
do sujeito e aponta a relevância dos apontamentos vigostkianos sobre o envolvimento da criança por
um universo cultural expandido. Como ensinar seus pais a gostar de livros para crianças, de Alain
Serres e Bruno Heitz e O que é um bom livro? de Emmanuel Parmentier, são duas obras
provocativas. O primeiro traz o pressuposto de que os pais devem aprender a ler os livros que
compram para os filhos, ou que os filhos tomam por empréstimo das bibliotecas escolares, das
públicas ou da biblioteca do melhor amigo. No segundo, o personagem principal, com uma
pergunta – o que seria um bom livro para presentear o pai - percorre o caminho entre sua casa e a
livraria, lançando a pergunta em direção a adultos, de seu pequeno mundo, ou de fora dele, na mais
direta exposição do dialogismo bakhtiniano em que o Outro, adulto, se sente acuado dentro de seu
limitado universo cultural com a questão perturbadora: “o que é um bom livro?” Os dois livros, ao
mesmo tempo em que cumprem sua função literária, também apresentam a discussão que os
estudiosos da infância e da literatura infantil a si mesmo se põem: qual seria a melhor maneira de
proporcionar o encontro da criança com a leitura? Que escolhas fazer no grande mercado de
literatura em crescimento? Em vez de artigos acadêmicos, os dois livros parecem indicar as
respostas possíveis, mas inconclusas, em cuja origem está a própria natureza inacabada da formação
e da cultura humanas.
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FEIRA DO LIVRO: UMA AÇÃO INTERINSTITUCIONAL A FAVOR DA FORMAÇÃO
DA COMUNIDADE LEITORA
Eliana Carlota Mota Marques Lima – SEDUC
Geisa Silva de Oliveira Nobre – DIREC
Rosana Fernandes Falcão – SEDUC
Para atender às atuais demandas sociais, a sociedade contemporânea, traz consigo o desafio de
promover transformações nos seus diversos setores. No setor educacional, ao repensar a função
social e política da escola, torna-se imprescindível inserir o aluno nas diversas linguagens. A leitura
permite acesso aos conhecimentos acumulados pela comunidade, uma herança cultural que, por
razões econômicas e sociais, é negada a uma expressiva maioria de brasileiros. Ultrapassando os
muros da escola foi criado o Projeto Feira do Livro – Festival Literário e Cultural de Feira de
Santana, uma ação de incentivo a formação da comunidade leitora, fruto de esforços conjuntos
empreendidos por vários órgãos e instituições desse município (Universidade Estadual de Feira de
Santana – UEFS; Arquidiocese de Feira de Santana; Secretaria Municipal da Educação de Feira de
Santana; Secretaria Estadual de Educação através da DIREC 02 e Serviço Social do Comércio SESC). Transcendendo o universo escolar a Feira do Livro de Feira de Santana vem se constituindo
em uma ação sociocultural participativa, que visa potencializar a formação do leitor de todas as
idades, alargando fronteiras, fertilizando o encontro para além das palavras e mobilizando a
comunidade feirense para a importância da leitura como elemento facilitador da compreensão do
mundo e da participação de cada ser na construção coletiva da cidadania. Este evento se ancora na
compreensão de que o conhecimento construído pelo povo em seu universo cultural se traduz em
diferentes leituras de mundo, logo, o aprendizado da leitura se dá via processo ininterrupto de
interação, no qual o individual e o coletivo se complementam no cenário social, marcado por
diversidades econômicas, sociais e culturais, ultrapassando o tempo e o espaço e abrangendo as
diferentes linguagens. Linguagens que se expressam através da exposição, venda e distribuição de
livros e periódicos, cordel, poesia, contação de histórias, teatro, filmes, dentre outras. O presente
trabalho pretende socializar as ações de fomento à formação de leitores de todas as idades, bem
como publicizar o seu processo de criação e execução coletiva nas cinco edições da Feira de Livros,
bem como os resultados alcançados, visto que percebe-se mudanças significativas da 1ª para a 5ª
quanto ao número de títulos comercializados e ao fluxo de pessoas, o que demonstra a ampliação do
evento e a grande contribuição deste para a instauração de práticas de leitura na comunidade, na
busca constante por uma sociedade comprometida com a inclusão social.
FLEURY E O DISCURSO SOBRE O ENSINO DE LEITURA NAS ESCOLAS PÚBLICAS,
ENTRE 1922 A 1936
Ilsa do Carmo Vieira Goulart – UNICAMP
Este trabalho tem por objetivo apresentar alguns dos resultados obtidos na pesquisa de doutorado,
ainda em andamento, a partir dos estudos desenvolvidos sobre uma série graduada de livros de
leitura, Meninice, de autoria do Professor sorocabano Luiz Gonzaga de Camargo Fleury (18911969). Neste texto pretende-se compreender qual concepção a respeito do ensino da leitura estaria
abalizada nos discursos de Fleury, publicados em diferentes periódicos, entre o período de 1922 a
1936. Para tanto, os estudos apoiam-se na perspectiva da História Cultural, que proporciona à
pesquisa um direcionamento do olhar investigativo para representações de leitura presente nos
objetos selecionados para a análise: os artigos publicados pelo autor na Revista Nacional (1922),
Revista Educação (1928, 1930, 1936) e no Jornal O Estado de São Paulo (1929). O conceito de
representação, que se torna uma ideia determinante da nova história cultural, permite vincular as
posições e as relações sociais com a maneira como os indivíduos ou grupos se percebem,
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mutuamente, e percebem aquilo que os envolvem. Chartier (2009) mostra que as representações não
ocupam um status entre ser, ou não, imagens verdadeiras ou falsas de uma realidade externa, mas
possuem uma força própria que conduz à crença de uma realidade externa a partir daquilo que
acredita que é. A representação pode ser vista como uma produção que rompe com a sociedade e se
incorpora no indivíduo. Neste sentido, esta pesquisa parte da premissa de que os textos podem
trazer marcas na estruturação da linguagem de um discurso escrito, de representações de leitura, que
aparecem voltados para a formação dos professores em relação ao ensino da leitura e da escrita. A
preocupação do Prof. Fleury com educação manifesta-se em vários de seus escritos, a partir de uma
inquietação com as questões metodológicas que envolviam o ensino, direcionadas para a utilização
de um método que auxiliasse de modo mais eficaz o desenvolvimento da leitura nas escolas
públicas paulistas. Em 1922, ao escrever o artigo O ensino da leitura (methodo analytico),
publicado na Revista Nacional, na secção “Educação e Instrucção”, Fleury além de esclarecer o que
significava o méthodo analytico, ele também apresentou modos de aplicação do método analítico no
ensino da leitura, denominada leitura analytica, a partir de uso de textos e seus respectivos
procedimentos. A questão metodológica é retomado por Fleury, no artigo publicado em 1928,
intitulado As denominações “methodo analytico” e “methodo synthetico” em Pedagogia, na
Revista Educação, em que o autor procura esclarecer as constantes dúvidas e confusões de
nomenclaturas dos posicionamentos metodológicos utilizados pelos professores. Ao escrever Sobre
o ensino da leitura, publicado em 1930, pela Revista Educação, Fleury comentou que sua
experiência de dezenove anos atuando como professor, diretor de grupo escolar e como inspetor de
ensino, proporcionou-lhe algumas aprendizagens e observações, uma delas consistia na ideia de que
uso do método analítico pelo professor, proporcionava uma alfabetização mais rápida e segura.
Anos mais tarde, no artigo Suggestões para aulas de leitura, publicado em 1936, pela Revista
Educação, Fleury traria para seu discurso o problema que muitos professores enfrentavam em
relação à linguagem escrita presente nos livros de leitura. Com isso o discurso de Fleury, a respeito
do ensino da leitura, parecia refletir sobre as influências da nova proposta teórica metodológica do
movimento da Escola Ativa, que foi ganhando um espaço de discussão entre os educadores da
época. O movimento de aulas mais participativas defendia que a atividade pedagógica deveria ser
motivada por uma finalidade e por um desejo de sentido, ou seja, todo o conteúdo a ser ensinado
precisaria partir de um interesse, ou responder a uma necessidade da criança. A partir de uso de
textos e seus respectivos procedimentos. A questão metodológica é retomado por Fleury, no artigo
publicado em 1928, intitulado As denominações “methodo analytico” e “methodo synthetico” em
Pedagogia, na Revista Educação, em que o autor procura esclarecer as constantes dúvidas e
confusões de nomenclaturas dos posicionamentos metodológicos utilizados pelos professores. Ao
escrever Sobre o ensino da leitura, publicado em 1930, pela Revista Educação, Fleury comentou
que sua experiência de dezenove anos atuando como professor, diretor de grupo escolar e como
inspetor de ensino, proporcionou-lhe algumas aprendizagens e observações, uma delas consistia na
ideia de que uso do método analítico pelo professor, proporcionava uma alfabetização mais rápida e
segura. Anos mais tarde, no artigo Suggestões para aulas de leitura, publicado em 1936, pela
Revista Educação, Fleury traria para seu discurso o problema que muitos professores enfrentavam
em relação à linguagem escrita presente nos livros de leitura. Com isso o discurso de Fleury, a
respeito do ensino da leitura, parecia refletir sobre as influências da nova proposta teórica
metodológica do movimento da Escola Ativa, que foi ganhando um espaço de discussão entre os
educadores da época. O movimento de aulas mais participativas defendia que a atividade
pedagógica deveria ser motivada por uma finalidade e por um desejo de sentido, ou seja, todo o
conteúdo a ser ensinado precisaria partir de um interesse, ou responder a uma necessidade da
criança.
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O ENSINO DA LEITURA EM UMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA: ELABORAÇÕES
ACERCA DO PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DO LEITOR AUTÔNOMO
Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto – UNIMEP
Rita de Cássia Cristofoleti – UNICAMP
Este artigo tematiza as mediações de uma professora formadora no processo de formação do leitor
na disciplina Fundamentos Teórico-metodológicos de Língua Portuguesa de um curso de Pedagogia
noturno, em uma instituição privada, localizada no interior do estado de São Paulo. O curso atendia,
predominantemente, estudantes locais, mulheres em sua maioria absoluta, que trabalhavam o dia
todo em atividades ligadas ao setor de prestação de serviços e eram estimuladas a prosseguir os
estudos por razões diversas, entre as quais, a possibilidade de mudança de profissão. Em contatos
iniciais constatou-se que essas estudantes chegaram ao ensino superior arcando com os custos de
sua formação, dividindo-se entre a jornada diária de oito horas de trabalho e o curso noturno.
Dotadas de recursos materiais e culturais variáveis, sendo algumas oriundas de famílias pouco
letradas, encontravam-se algumas (poucas) que já atuavam como professoras. Nas relações de
ensino vividas com elas, encontramo-nos em situações nas quais as alunas pareciam compreender
de modo limitado aquilo que liam, visto que ao fazer referências a livros, a notícias e comentários
lidos em jornal, indiciavam-nos que liam pouco, o que era confirmado em suas réplicas aos nossos
comentários. Muitas delas reconheciam a televisão como sua principal fonte de informações,
contavam que não estavam habituadas a ler livros e que se desencorajavam diante de textos longos e
difíceis que compunham o material do curso, penalizando sua participação nas aulas e a
compreensão que elaboravam daquilo que lhes estava sendo proposto. Tendo em vista que grande
parte das alunas pretendia assumir a docência no Ensino Fundamental a preocupação recaiu sobre o
fato de que quando se tornassem professoras, essas alunas, pouco afeitas à leitura, futuramente
seriam as mediadoras na formação dos jovens leitores das séries iniciais. Essas preocupações
levaram-nos a indagar acerca de como aproximá-las da leitura, uma vez que as relações que os
sujeitos estabelecem com o ato de ler, em diferentes situações, porque são constitutivas, repercutem
nas práticas que poderão assumir. Posto isto, dentre diversas atividades desenvolvidas durante um
semestre letivo, tais como 1. atividades orais de interlocução acerca da elaboração do conceito de
letramento a partir da leitura de um texto literário; 2. uma atividade em grupo sobre a qual foi
discutido, ainda oralmente – tendo em vista um trabalho escrito –, o conceito de letramento a partir
de um texto teórico-didático; 3. a produção de um texto individual focalizando o conceito de
letramento a partir do cotejamento entre os textos teórico-didáticos e os textos literários lidos e 4. a
realização da leitura por lexias, mediada pelo professor, escolhemos, como recorte para este artigo,
tecer uma reflexão acerca do papel da leitura por lexias no desenvolvimento da autonomia leitora
pelos alunos. Assumimos como referencial teórico a perspectiva enunciativo-discursiva de Bakhtin,
por compreender que essa abordagem possibilita a compreensão da interação verbal instaurada pela
leitura, em suas condições concretas de produção. Para tal, as aulas foram audiogravadas e
transcritas bem como foram realizadas anotações em diário de campo. A aproximação do universo
dos estudos da linguagem para a compreensão da singularidade das experiências nas condições
históricas comuns da existência definiu o modo de olhar para as relações dos sujeitos com a leitura,
neste sentido, metodologicamente, trabalhamos com a análise das interlocuções produzidas na sala
de aula a partir da leitura e nas situações de leitura buscando indicadores dos sentidos em circulação
durante o processo. Os dados evidenciam a dimensão intersubjetiva do processo de leitura vivido
pelas alunas. Destacamos a tese de que aprender a cotejar textos possibilita a formação do leitor
autônomo, que vai se constituindo pela mediação, transformando-o ao longo de experiências
compartilhadas nas práticas culturais em que se inserem.
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CRIAÇÃO E FABRICAÇÃO DE LIVROS DE LITERATURA INFANTIL: UM OLHAR
PARA O LIVRO ILUSTRADO
Andréa Rodrigues Dalcin – UNICAMP
Este trabalho tem como propósito conhecer o processo de criação e produção de livros de literatura
infantil, pela visão do autor e ilustrador Odilon Moraes. O corpus é constituído por três obras
publicadas pela Editora Cosac Naify, escritas e ilustradas pelo referido autor: “A Princesinha
Medrosa” (2ª edição, 2008), “Pedro e Lua” (2004) e “O Presente” (2010). A pesquisa se volta para
as singularidades dos modos de criação e produção, a partir da análise das representações e
concepções de criança, leitor, literatura e arte que concebem um determinado jogo circunscrito no
polo da produção, por este autor e esta editora. Para tanto, levantamos as seguintes interrogações:
no caso da literatura infantil, como as representações do leitor infantil são sugeridas no momento da
criação das obras pelos autores? Como é o jogo, no polo da produção, quando pensamos neste autor
e nesta editora? Quais relações podem ser estabelecidas entre o leitor e o livro ilustrado? Essas
relações são pensadas no processo de criação e produção do livro? Para buscarmos respostas,
tomamos como fontes documentais entrevistas com o autor, com Isabel Lopes Coelho, editora do
catálogo de literatura infantojuvenil da Cosac Naify, e com Maria Carolina Sampaio de Araújo,
designer. Nessa direção, o trabalho tem seu procedimento metodológico ancorado nas entrevistas
realizadas, nas análises dos livros selecionados e em buscas realizadas em bancos de pesquisa sobre
teses e dissertações a respeito do tema “literatura infantil”. Contribuições teóricas advindas da
História Cultural (Chartier, 1990 e 2001) nos mostram que ao tomarmos os sujeitos envolvidos
nesses processos como fontes e objetos de nossa investigação adentramos no campo das
representações próprias de um tempo ou de um espaço. Ao pensarmos com a liberdade (sempre
condicionada) de cada sujeito, Certeau (2007) nos oferece contribuições sobre os modos de
pesquisar, bem como um aprofundamento nas discussões acerca das estratégias de quem detém o
poder (a editora). Em Ginzburg (1989, 2006), teremos contribuições para o estudo de um caso
particular (um autor, uma editora), que pode ser representativo de um determinado tempo histórico.
Com Norbert Elias (2001), teremos contribuições trazidas pela Sociologia ao estudarmos não um
autor e uma editora em particular, mas a função deste autor e desta editora não na ação de fabricar
um livro, mas na constituição de uma rede ou um jogo no qual eles estão inscritos. Já Scott e
Nikolajeva (2011), Hunt (2010) e Linden (2011) trazem contribuições ao panorama atual da
literatura infantil. Arroyo (1988), Coelho (2010), Lajolo e Zilberman (2007) situam esta pesquisa no
tempo e espaço, a partir de um panorama histórico.
PARA LER COM PRAZER? A RECEPÇÃO DO PROJETO “CONTRIBUIÇÕES PARA A
LEITURA LITERÁRIA DE EDUCADORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL”
Carlanne Santos Carneiro – FAE/ UFMG
Esta proposta de trabalho objetiva avaliar a recepção do Projeto “Contribuições para a leitura
literária de educadores dos anos iniciais do ensino fundamental”, por parte dos professores da rede
municipal de Belo Horizonte e região metropolitana, com o intuito de verificar a contribuição do
Projeto na sua formação como sujeitos-leitores literários. Este Projeto vem sendo desenvolvido
desde 2007 por uma equipe de professores e alunos de Pós- Graduação que atuam no campo da
formação de leitores, sob Coordenação da Profa. Graça Paulino, na FAE-UFMG, e destaca-se por
buscar promover uma leitura para esses educadores desvinculada de seus afazeres profissionais,
mesmo reconhecendo o quanto eles podem ser importantes como mediadores de leitura para seus
alunos. O grupo que desenvolve o Projeto parte da concepção de que, no Brasil, apesar de existirem
muitas políticas públicas de distribuição de livros (como o PNLD e o PNBE), não se verifica uma
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política de fomento da formação de professores leitores de literatura. Somado a isso, de acordo com
BATISTA (1998), PAULINO (2010) e SILVA (2009), tem-se, de forma geral, um baixo índice de
leitura literária quando se trata de professores, os quais realizam leituras na maioria das vezes
relacionadas ao âmbito escolar, ou seja, não possuem o hábito de ler por prazer ou por crescimento
individual. Assim, se eles não têm acesso a textos literários de qualidade, lendo apenas literatura
infanto-juvenil e outros tipos de leitura para fins profissionais e não para a sua própria vida cultural,
não têm facilidade de se apresentarem como modelos de leitores para seus alunos, o que constitui
um dos agravantes do baixo nível de motivação para a inserção destes no mundo da escrita, seja ela
literária ou não. Tendo em vista os aspectos mencionados, o Projeto “Contribuições para a leitura
literária de educadores dos nos iniciais do Ensino Fundamental” reapresenta alguns textos clássicos
de autores de literatura brasileira. A partir de um site de domínio público que o Governo Federal
abriu aos cidadãos para que estes possam capturar livremente textos da literatura brasileira, cujos
autores faleceram há mais de 70 anos, a equipe faz uma busca, escolhe e reapresenta alguns desses
textos. O grupo produz livros de pequeno tamanho, pouco extensos, acessíveis do ponto de vista da
linguagem e da temática. As versões dos livros publicadas em épocas passadas passam a compor
publicações novas, as quais são distribuídas gratuitamente aos educadores de crianças, oferecendo a
eles mais uma possibilidade de acesso a obras de qualidade literária. Portanto, o trabalho em
andamento pretende averiguar, primeiramente, se o objetivo do Projeto está sendo alcançado, ou
seja, se tem contribuído para a formação literária do professor. Para isso, algumas perguntas
precisam der feitas, como: os livros têm sido lidos? Se não, por quê? O que tem sido mais
valorizado nos livros (as partes escritas pela equipe ou os textos literários)? As estratégias editorias
utilizadas nos livros são relevantes? Houve diferença de recepção do livro de poesia com relação
aos outros, de contos? Qual? Qual foi o livro preferido? O professor que recebeu o livro passou a ler
mais após esta experiência? O gosto pela leitura literária passou por alguma transformação após a
leitura destes livros? Neste sentido, será feita uma investigação, por meio de questionários e
entrevistas, a fim de verificar como tem sido a recepção dos volumes publicados, uma vez que se
torna necessária a avaliação do Projeto, para que a ação sociocultural e educativa proporcionada por
ele tenha um caráter de continuidade, até que, ao final dos trabalhos, possa ser assegurada a
validade da produção desenvolvida junto à comunidade.
LITERATURA INFANTIL NA “REVISTA DE ENSINO” DA ASSOCIAÇÃO
BENEFICENTE DO PROFESSORADO PÚBLICO DE SÃO PAULO (ABRIL DE 1902 A
FEVEREIRO DE 1904)
Maria das Dores Soares Maziero – UNICAMP
Este estudo está ligado a pesquisa de Doutorado, em andamento, sobre a “Biblioteca Infantil
Melhoramentos”, coleção para a infância idealizada pelo educador paulista Prof. Arnaldo de
Oliveira Barreto, e que foi publicada a partir de 1915 pela Weiszflog Irmãos – estabelecimento
gráfico que se tornaria, posteriormente, a Editora Melhoramentos. Antes disso, porém, o professor
Arnaldo Barreto já havia construído uma sólida carreira como professor, inspetor de ensino e autor
de obras didáticas, tendo sido no período de abril de 1902 a fevereiro de 1904, o primeiro Redatorchefe da Revista de Ensino, órgão de defesa dos interesses do professorado paulista. Dentre as
seções fixas mantidas pelo periódico, havia uma denominada “Literatura Infantil”, a qual publicava
textos em prosa e em verso, escritos por nomes posteriormente reconhecidos como pertencentes ao
universo desse tipo de literatura - caso de Zalina Rolim, mas também por autores de livros e
cartilhas escolares, como Romão Puiggari, Theodoro de Moraes e pelo próprio Arnaldo Barreto,
entre outros, além de hinos escolares e textos traduzidos. O objetivo do presente artigo é fazer um
levantamento de todos os textos e autores que foram publicados na seção “Literatura Infantil” da
Revista de Ensino durante o período em que Arnaldo Barreto foi seu Redator-chefe, procurando
situar esta produção no contexto maior de publicações de obras para a infância brasileira, contexto
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este mapeado por diferentes obras e estudos sobre literatura infantil no Brasil. A fonte para o
presente estudo são onze exemplares da Revista de Ensino publicados durante o período recortado,
os quais fazem parte de acervo constituído para a pesquisa de doutorado. Espera-se, com tal análise,
lançar luz sobre o conceito de literatura infantil assumido pela Revista de Ensino - e por extensão
por setores envolvidos com as questões de ensino que mobilizavam professores, inspetores e
dirigentes de ensino, lembrando que a Revista de Ensino, até 1904, foi publicada pela Typographia
do “Diário Official”. Não se pode perder de vista, também, o fato de que este periódico tinha entre
seus objetivos a instrumentalização dos professores para o trabalho docente, o que remeteria a um
uso prescritivo e utilitário dos textos publicados em todas as seções, inclusive aqueles classificados
como “Literatura Infantil”. Para os estudos e análises ligados à história da literatura para crianças no
Brasil será utilizado o arcabouço teórico trazido por autores que se dedicaram a este campo,
especialmente L. Arroyo, M. Lajolo e R. Zilberman. Para orientar as questões relacionadas à
Revista da Educação e à leitura na perspectiva da história da educação, o estudo recorrerá a autores
como M. R. L. Mortatti e D. B. Catani (2003), entre outros.
JOSÉ JORGE LETRIA: UM CONTADOR DE HISTÓRIAS
Iris Filomena Mendes de Oliveira – UNICAMP
Esta comunicação pretende apresentar um estudo sobre a obra “Avô, conta outra vez”, (2010)
escrito por José Jorge Letria e ilustrado por André Letria - pai e filho, ambos portugueses e autores
desta obra que celebra a amorosa e deliciosa relação familiar existente entre duas gerações distantes
no tempo, mas selada pela ternura da infância.
A temática da criança sendo embalada e acalentada por histórias também está presente em outras
obras, em conjunto como “Versos para os pais lerem aos filhos em noite de luar” (2010) e “Versos
de fazer ó-ó” (1999). Os diversos trabalhos em parceria entre pai e filho evidenciam uma expressiva
articulação entre o texto escrito e as ilustrações, com a criação de uma obra singular e harmoniosa
em toda sua materialidade. Este tipo de produção vem recebendo diversas premiações e indicações,
tanto no Brasil quanto em Portugal, é designado neste país como álbum ilustrado e será apresentado
nesta comunicação.
A escolha desta obra deve-se ao fato de este escritor ser atualmente um dos mais premiados de
Portugal; e também por José Letria e André Letria configurarem-se entre os escritores e ilustradores
portugueses com maior quantidade de obras à venda no Brasil, segundo levantamento realizado, em
dissertação de mestrado na FE/Unicamp, por Oliveira (2013) sobre a presença de obras de escritores
e ilustradores portugueses no mercado livreiro brasileiro. A obra em questão foi selecionada pelo
Plano Nacional de Leitura de seu país de origem e, no Brasil, foi premiada pela Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil na categoria “Literatura em Língua Portuguesa” (2011). Também foi
selecionada para o programa Minha Biblioteca 2011/SP, no Kit de literatura de Belo Horizonte/ MG
e pela Secretaria Municipal de Educação SME/ RJ.
Neste estudo, algumas das contribuições teóricas a respeito do álbum ilustrado são oriundas dos
trabalhos de Rodrigues (2009), Maia (2002), Ramos (2005), Silva (2003, 2005). As reflexões acerca
do trabalho literário e poético das obras de José Jorge Letria são de Pires (2004), Silva (2003),
Nogueira (2012), entre outros.
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AS TECITURAS DA FORMAÇÃO LEITORA DO PROFESSOR: A EXPERIÊNCIA DO
GRUPO DE ESTUDO E VIVÊNCIA SOBRE FORMAÇÃO LEITORA DA EDUCAÇÃO
MUNICIPAL DE FEIRA DE SANTANA
Rosana Fernandes Falcão – SEDUC
Eliana Carlota Mota Marques Lima – SEDUC
Estamos vivendo em uma sociedade que exige cada vez mais respostas inovadoras a complexidade
da contemporaneidade. Na definição da educação que atenda às demandas do século XXI, marcado
pela inovação tecnológica e social, a formação de leitores proficientes torna-se imprescindível por
carregar consigo uma força transformadora necessária para a construção de uma sociedade
comprometida com a superação das diferenças sociais. A escola atribui-se a função de desenvolver
a cultura do escrito, ou seja, investir na formação dos seus alunos de forma que esses sejam
membros plenos da comunidade leitora e escritora. Trata-se, portanto de uma tarefa difícil que exige
a promoção de reestruturações na cultura, na prática pedagógica e nas políticas vivenciadas em
escolas, de modo que estas lancem mão da leitura e da escrita enquanto instrumentos poderosos na
interpretação e transformação do mundo em que vivem. Concebendo a leitura enquanto prática
social e cultural e não apenas como uma atividade cognitiva, o que não pode ser assegurado apenas
em formações pontuais, foi criado, em 2012, o Grupo de Estudo e Vivência em Formação Leitora,
com o objetivo de implementar um trabalho de leitura na rede pública municipal que favoreça a
formação de leitores proficientes. São 20 professores de escolas do ensino fundamental da
Educação Municipal de Feira de Santana que reúnem-se mensalmente para pesquisar, estudar e
trocar experiências sobre a formação pessoal e as práticas de leitura desenvolvidas na escola, bem
como promover eventos de leitura envolvendo as escolas da rede. O presente artigo pretende
socializar a trajetória do Grupo de Estudo e Vivência em Formação Leitora, durante o ano de 2012,
e da proposta de implementação das ações deste grupo, em 2013, na expectativa de desenvolver um
processo de escolarização da leitura comprometido com o desafio de promover mudanças na
sociedade, incorporando práticas pedagógicas democráticas, realizando um trabalho de leitura
direcionado ao desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia do homem.
SELEÇÕES DO READER’S DIGEST : “IDENTIDADES LEITORAS” EM REVISTA
Sandra Monteiro Lemos – PPGEdu/UFRGS/CNPq
Muito se tem discutido, teorizado e falado sobre “leitura”, seus benefícios, seus objetos, suas
propostas, seus usos, ou mesmo sobre a quantidade, variedade e qualidade da leitura. Entretanto,
outras tantas abordagens sobre tal temática são possíveis de serem feitas, como por exemplo,
investigar artefatos culturais – em especial as revistas, e sua relação com a leitura que os leitores
fazem dela. A partir do referencial teórico dos Estudos Culturais, articulados aos estudos sobre
leitura, é que se propõe este trabalho, recorte de uma pesquisa mais ampla, que se utiliza da
entrevista de doze leitores da revista de origem editorial norte-americana Seleções do Reader’s
Digest, como objeto empírico. Tais leitores foram selecionados por se considerarem em algum
período da sua vida leitores assíduos da referida publicação. O estudo investiga a leitura enquanto
experiência cotidiana, compreendendo experiência cotidiana de leitura como aquela que se efetua
com regularidade, estando imersa nas suas várias dimensões e implicada no social, no cultural, no
político e no econômico. Os dados coletados através da transcrição das entrevistas dessa pesquisa
possibilitaram sua circunscrição em histórias pessoais, que ajustadas à sua dimensão singular são
reconhecidas como histórias de leitura (CHARTIER, 1999). A análise de tais dados permitiu
mapear algumas das relações que podem ser feitas entre comportamentos, situações, ambientes e
materiais de leitura que envolveram seu processo de formação como sujeito leitor, permitindo
categorizar algumas das identidades leitoras, que puderam assim ser nomeadas: leitor iniciado,
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leitor “apaixonado”, leitor que transforma seu horizonte, leitor encantado e crítico, leitor “pouco
leitor” e leitor feliz. Tais categorias auxiliaram a problematizar as questões de hábito de leitura,
modelos de leitor e sobre o ensino da leitura. As análises conduziram a entendimentos sobre o
deslocadamento de certas práticas de leitura para outra dimensão. Agora, não mais, a do universo da
“alta cultura” como nos estudos de Fraisse et alii (1997), mas sim para o universo da cultura de
massa que adentrou nas dimensões do social. Através das análises desse estudo e a abertura que este
propõe a outras discussões, evidencia-se que a mulher leitora passa a ter uma presença
predominante em muitos dos cenários possíveis de serem compostos, seja no lar, no trabalho, na
maternidade, dentre outros tantos. Pois é ela quem assume o topo na lista dos leitores que leem com
maior frequencia. Outro deslocamento pode estar representado nos materiais que podem estar
compondo as bibliotecas familiares. Nos cenários apresentados pelos depoentes, possuir uma
biblioteca, mesmo que seja com revistas encadernadas, parece aliar-se a boas práticas de leitura com
hábitos diários, que buscam sempre entendimento e atualização. Tais aspectos podem ser tomados
como tradutores de algumas das possíveis materialidades de representação de leitura na
contemporaneidade.
DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: MEMÓRIAS DE LEITURA E SUAS
REVERBERAÇÕES NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Filomena Elaine P. Assolini – FFCLRP-USP
Apresentamos um recorte de uma ampla pesquisa que investigou as relações que docentes do ensino
superior, das áreas de licenciatura em Pedagogia e Letras, estabeleceram com a leitura, durante o
curso de graduação. Buscamos compreender as ressonâncias e ecos dessas relações para as suas
práticas pedagógicas escolares. Nosso referencial teórico-metodológico é constituído pela Análise
de Discurso de matriz francesa (pecheuxtiana), pelas contribuições de Chartier e seus seguidores,
bem como por estudos das Ciências da Educação, particularmente os que se detém na formação
profissional docente. Nosso corpus foi constituído por entrevistas orais, realizadas com oitenta e
três professores de nove diferentes universidades públicas brasileiras, sendo três estaduais e seis
federais. Essas universidades estão distribuídas em sete diferentes estados da federação. Através de
um roteiro de perguntas abertas, buscamos acionar a memória discursiva desses sujeitos-professores
concernente às suas relações com a leitura. Além disso, de um total de oitenta e três professores
entrevistados coletamos cinqüenta e quatro depoimentos escritos, a respeito de seus fazeres
pedagógicos, nos cursos de licenciatura. Observações de aulas ministradas por dez docentes,
oriundos de universidades do estado de São Paulo-Brasil compõem também o nosso corpus. A
partir desse “amplo espaço discursivo” (Maingueneau, 1997), constituído pelas entrevistas,
depoimentos e observações de aulas realizamos alguns recortes, entendidos aqui a partir da
perspectiva discursiva, ou seja, com fragmentos correlacionados de linguagem e situação (Orlandi,
1987). Selecionamos para análise algumas “sequências discursivas de referência”, S. D. R (
Courtine, 1981). Os resultados das análises discursivas mostram que: 1º) Sujeitos-professores cujas
relações com a leitura durante a graduação foram marcadas por vínculos e sentimentos positivos
com essa prática cultural empenham-se em oferecer condições favoráveis de produção para que os
estudantes pelos quais são responsáveis possam também vivenciar situações agradáveis, prazerosas
e produtivas, no processo de ensino-aprendizagem; 2º) Sujeitos-professores cujas relações negativas
com a leitura puderam ser ressignificadas no curso de graduação proporcionam condições de
produção instigantes para os alunos, incitando-os também à leitura de textos literários, além dos de
natureza científico-acadêmica; 3º) Sujeitosprofessores cujas memórias discursivas de leitura são
constituídas por vestígios que evocam sentidos, emoções e sentimentos negativos tendem a
desenvolver uma prática pedagógica escolar na qual predomina o processo parafrástico de
linguagem, o que não contribui para que o sujeito-estudante ocupe a posição de intérpretehistoricizado, condição essencial para a instauração da função-autor. Entendemos que os cursos de
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formação inicial, particularmente os de licenciatura, responsáveis pela formação de professores,
devem se preocupar em lhes oferecer espaços discursivos nos quais possam expressar a sua
subjetividade e “falar de si” (Foucault, 1969), o que pode contribuir para que os futuros
profissionais da educação possam “saber de si mesmo”, fator imprescindível para uma docência
responsável. Nessa perspectiva, nossos trabalhos com os ateliês e oficinas de leitura, nos quais o
futuro educador encontra oportunidades para vivenciar experiências com diferentes gêneros
discursivos e, também, com os discursos lúdico e polêmico tem-se mostrado alternativas exequíveis
para a sua constituição como sujeito-educador, capaz de ler e de interpretar para além das
evidências,inclusive a si mesmo.
REPRESENTAÇÃO PICTÓRICA DA MULHER LEITORA
Simone Cléa dos Santos Miyoshi – SME-Santo André
O recorte abarca a representação visual de leitores no Brasil entre o final do século XIX e o início
do XX, em especial voltado à representação pictórica da mulher leitora. Para essa apresentação
focaremos as obras de pintores brasileiros como José Ferraz de Almeida Júnior, Oscar Pereira da
Silva e Henrique Bernardelli e outros. Embora alguns pesquisadores as tenham estudado na
literatura de ficção, em especial nos romances brasileiros, este trabalho propõe ampliar o
entendimento de um imaginário que inclua a representação visual, nomeadamente na pintura. É
possível perceber através da representação pictórica da mulher leitora uma idealização, ao mesmo
tempo em que os preceitos artísticos demandavam uma representação realista (ou naturalista) do
mundo. Nesse sentido, quais seriam as diferenças e equivalências entre a figuração da mulher
leitora e a mulher “real” naquela época? Quais seriam as relações entre a representação pictórica da
mulher leitora e as práticas da mulher “real” com relação à leitura e, de forma mais ampla, com a
educação? Por fim, esta comunicação visa compartilhar pesquisa em estágio inicial acerca das
representações e imagens de leitores, tendo como disciplinas de abordagem, sobretudo, a história da
educação, a história cultural e a história da arte, bem como questões envolvendo gênero e
diversidade etária. No intuito de ampliar o nosso conhecimento sobre o papel dessas imagens em
relação à história da educação, buscando em particular entender os lugares da mulher nessa relação
e como as práticas de leitura poderiam interferir na sua constituição enquanto sujeito.
MOVIMENTAÇÕES URBANAS: LEITURAS E LEITORES DO JORNAL SUPER
NOTÍCIA
Renata Kelly de Arruda – UNICAMP
Lilian Lopes Martin da Silva – UNICAMP
Um cenário peculiar nos é apresentado junto a movimentação diária das ruas de Belo
Horizonte/MG: a convivência entre pressa matutina, congestionamentos, buzinas e leitura, atividade
essa comumente imaginada como ação que requer isolamento, silêncio e concentração, a leitura
integra o cenário matutino e coletivo da cidade. Esse panorama nos instiga a questionar discursos já
implícitos, como o de que “brasileiro lê pouco” ou a supervalorização de alguns determinados
“tipos” de leitura em detrimento de outros. Quem seriam esses leitores? Onde eles estão? Quais são
seus hábitos? Quais são os usos dados a essa leitura? Localizar esse leitor, identificar as formas de
recepção e detectar as possíveis interações existentes a partir da leitura do jornal Super Notícia são
os principais objetivos dessa pesquisa. Nos baseamos na crença de que os modos de existência
atuais e suas práticas cotidianas também são geradoras de saberes uma vez que se relacionam com
vivências, interações sociais, escrita, fala, leitura e formas de se pensar o mundo.
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Nossa metodologia se embasará em observação não participante dos leitores do jornal pelas ruas da
cidade, registro fotográfico e entrevista estruturada com uma amostra de sujeitos leitores a ser
definida pós observação. Desejamos conhecer as formas de obtenção do impresso pelos sujeitos;
suas maneiras de ler; motivações para leitura; as apropriações que fazem desse material; como o
tornam parte integrante do seu dia a dia; as sociabilidades que vivenciam e que foram por ele
produzidas; os percursos de leitura realizados e outros aspectos ligados ao pólo da recepção deste
impresso. Uma exploração do jornal, em sua textualidade e materialidade, tendo em vista a
identificação das estratégias dos produtores de notícias e reportagens, como aquelas dos editores,
para através delas buscar responder a essas questões, nos coloca na direção de levantar
representações do leitor pressuposto (inscrito nessas estratégias) que estão a guiar autores e editores.
No caso dessa investigação, nossa opção por uma aproximação dos leitores de ‘carne e osso’, que,
interagem com o Super Noticia e, de fato e concretamente o manipulam e significam, praticando a
leitura. Não são sujeitos abstratos, mas situados, no espaço e tempo; na vida urbana; do ponto de
vista econômico e social; mas sobretudo do ponto de vista cultural e pertencentes a uma dada
comunidade de leitores, que partilha protocolos de leitura, que se explicam na comunidade a que
pertencem.
REFLEXÕES SOBRE A VERBO-VISUALIDADE EM UMA COLEÇÃO DIDÁTICA DE
LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL
Elizangela Patrícia Moreira da Costa – LAEL/PUC/SP
O presente trabalho insere-se no âmbito da Linguística Aplicada e objetiva apresentar e discutir
resultados parciais da nossa pesquisa, em andamento, em nível de doutorado. Para tanto, observouse a inserção de gêneros verbo-visuais e o trabalho desenvolvido no processo de ensinoaprendizagem dos conceitos/conteúdos articulados para os anos a que se destinam da coleção Para
viver juntos: português (Edições SM) indicada pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
2011, para o triênio 2011 a 2013 e selecionada a partir da escolha de professores de Língua
Portuguesa de das escolas públicas de Cuiabá-MT. Para análise dos dados recorremos aos principais
conceitos do Círculo de Bakhtin, tais como Gêneros de discurso, compreensão ativa e relações
dialógicas, e nas contribuições teóricas sobre a verbo-visualidade de Beth Brait (2009; 2012). Da
perspectiva metodológica, trata-se de uma pesquisa de análise documental, de abordagem
qualitativa e dialógica. Neste recorte, tratamos dos dados quantitativos referentes à inserção de
diferentes gêneros discursivos verbo-visuais nos volumes destinados aos últimos anos do Ensino
Fundamental (6º ao 9º anos) e a sua abordagem didática em um dos volumes da coleção
supracitada. Os resultados parciais dessa amostra apontaram para uma escassez de gêneros verbovisuais, especialmente, nas seções de leitura e sua abordagem revelou o enfoque na materialidade
verbal em detrimento da materialidade visual. Pretende-se que os resultados parciais da pesquisa
provoquem reflexões acerca do lugar da verbo-visualidade em livros didáticos de Língua
Portuguesa e da necessidade de um ensino-aprendizagem de leitura que leve em consideração a
verbo-visualidade como um traço constitutivo da linguagem e, portanto, como dimensões
indissolúveis nos processos de leitura.
LEITURAS, BRICOLAGENS E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS: A CAMINHADA
INTERPRETATIVA DO LEITOR PARA A PRODUÇÃO DE TEXTOS.
Mariana Bortolazzo – UNICAMP
Por meio da análise de produções escritas de crianças em fases de alfabetização em resposta a uma
questão de avaliação, buscamos, neste artigo, compreender os elementos – textuais, discursivos,
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interpretativos – que os alunos mobilizam para compor seus textos, realizar seu projeto de escrita e
se fazer compreender em uma situação de avaliação. Mais precisamente, os textos analisados
partiram de uma proposta de produção escrita no gênero carta opinativa em uma avaliação
institucional da cidade de Campinas-SP. Recorremos a uma compreensão enunciativa da linguagem
(BAKHTIN, 2010) que nos auxilia a compreender os textos dos alunos como forma de trabalho
sempre ativo com a linguagem, seja na forma escrita ou oral, que oferece condições para
construções de sentidos individuais e configurados por cada campo da atividade humana e pelas
determinadas condições de produção. Assim, recorremos a Geraldi (1997) que sugere que a
“caminhada interpretativa do leitor”, seja refeita pelos professores e pesquisadores que se
empenham em compreender a produção de textos de escolares. Dessa forma, tentamos identificar os
indícios (GINZBURG, 2001) que revelem a atividade de escritura como “resposta” (BAKHTIN,
2010) às leituras realizadas, às experiências e práticas compartilhadas. As análises sugerem um
empenho dos alunos para recolher de seu repertório, as leituras, as lembranças, o significativo e
fazem recortes para o processo de “bricolagem” durante a “usinagem” do texto (CERTEAU, 2012).
Em outras palavras, entendemos que as crianças, ainda que apresentem algumas dificuldades no
trabalho com a linguagem escrita, utilizam aquilo que já foi vivenciado, lido, aprendido e
compartilhado em diferentes momentos e espaços juntamente com sua capacidade inventiva e
criativa para produzir textos em uma resposta de questão de avaliação. Essas práticas de leitura e
escrita, sempre novas e inventivas – porque únicas e singulares – se identificadas e valorizadas,
podem oferecer aos professores e pesquisadores, elementos que possibilitem uma compreensão
mais sensível e significativa do processo de aprendizagem das crianças do ensino fundamental.
Neste artigo, buscaremos apontar exemplos dessa atividade dinâmica entre leitura e escrita que
contribuem para a construção de sentidos nas produções textuais de crianças em fases de
alfabetização.
EXPERIÊNCIAS DE LEITURA DE CRIANÇAS EM DIFERENTES CONTEXTOS
Andrea Del Larovere – UFG/CAC /PPGEDUC
Selma Martines Peres – UFG/CAC /PPGEDUC
Ao pensar na temática leitura, geralmente, associa-se à instituição escolar o seu papel formador.
Sem dúvida alguma esta tem função central nesta formação, principalmente quando tomamos a
sistemática da aquisição da habilidade de decodificação do código escrito e, atualmente, a
concepção de letramento numa sociedade letrada. Contudo, outros contextos que não o escolar
podem formar e/ou contribuir com a formação do leitor, principalmente se tomarmos como
referência fatores como desejo e necessidade, que podem potencializar o leitor a buscar diferentes
materiais de leitura em contextos e suportes variados. (MARTINS, 2003). Nesse sentido, as
experiências de leitura do sujeito podem ocorrer em diferentes instâncias e com intensidades
distintas, segundo as relações sócio-históricoculturais estabelecidas entre leitor e mundo. O texto
desta comunicação apresenta resultados parciais de uma pesquisa que parte da inquietação em
conhecer as experiências leitoras de quatro crianças, que cursam o quinto ano do ensino
fundamental de uma escola da rede municipal de ensino da cidade de Catalão - GO, tanto em
contexto escolar, quanto extraescolar. O objetivo da investigação é conhecer e analisar as
experiências de leitura narradas por essas crianças. Assim, para investigar as experiências da leitura,
eixo principal desta pesquisa, nos apoiamos na metodologia do estudo de caso do tipo etnográfico,
que como nos lembra André (2005), esse tipo de estudo tem o foco de interesse na descrição da
cultura, abrangendo práticas, hábitos, linguagens, significados, crenças e valores, de um processo
educativo. O aporte teórico baseia-se nos conceitos de experiência, a partir de Larrosa, Dewey e
Benjamin, e de leitura a partir das obras de Chartier, Paulo Freire, Magda Soares, Marisa Lajolo,
Fischer, Márcia Abreu, Batista e Galvão, Bresson, Kleiman, Yunes, entre outros. Adentrar esse
campo conceitual não é tarefa fácil. Estes campos são, por sua constituição, complexos e de difícil
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definição. Nesse sentido, neste texto traçamos alguns discussões acerca da leitura, enquanto
experiência, e sua interlocução com a formação de leitores nos diferentes contextos. Observa-se
assim, que tratar da experiência de leitura pressupõe a inter-relação vivenciada pelo sujeito a partir
de suas referências individuais, sociais ou históricas.
LEITURA INTERATIVA EM SALA DE AULA – DISCUTINDO POSSIBILIDADES E
LIMITES
Rosa Maria Hessel Silveira – UFRGS
Letícia Fonseca Richthofen de Freitas – UFPEL
O trabalho articula-se a uma pesquisa em andamento, com apoio CNPq, intitulada “Literatura
infantil: um estudo sobre leituras de obras selecionadas com leitores de anos iniciais”, cujo objetivo
maior é o de analisar a recepção, por grupos de alunos de anos iniciais de escola pública do Rio
Grande do Sul, de um conjunto de obras de gêneros e temas diversos, escolhidas da listagem do
PNBE-2012 para anos iniciais do ensino fundamental, examinando eventuais diferenças de
receptividade, interesse e obstáculos de leitura. A partir da realização de sequências de encontros
com sete títulos diferentes do acervo, em turmas de escolas também diversas, a análise das sessões
filmadas, dos trabalhos produzidos e das anotações de diário do campo dos pesquisadores propiciou
o levantamento de alguns tópicos a serem discutidos e analisados, em confronto com outras
pesquisas do campo da leitura e da literatura infantil. Como tópicos de interesse para discussão,
situamos: 1. as possibilidades de enriquecimento da leitura compartilhada, quando feita de forma
interativa em sala de aula, desde que com uma mediação adequada pelo/a professor/a; 2. a
importância de uma leitura multissemiótica de livros de literatura infantil, considerando a
importância da imagem em tais obras e a possibilidade de o professor ser um mediador que leve o
aluno a desenvolver sua competência em apreciar e aprofundar as relações entre texto e imagem; 3.
a importância de se propiciar uma articulação entre o universo ficcional construído pelo livro com
as experiências pessoais, culturais e sociais das crianças, e 4. a possibilidade e a fecundidade de
instrumentalizar o pequeno aluno para atentar e manipular elementos do objeto livro: autor,
ilustrador, tradutor, contracapa, edição e outros elementos paratextuais (biografias, dedicatórias)
etc., não com um intuito formal, conteudístico, mas como veículos de informações que podem
enriquecer a própria leitura do texto principal. Tais tópicos não são apresentados como conclusões
acabadas, mas como itens a serem discutidos, numa dimensão de aperfeiçoamento de práticas que
propiciem uma leitura mais significativa de obras de literatura por crianças de escolas públicas, às
quais são distribuídos acervos com tais livros. Alguns limites e dificuldades a eles associados
também serão colocados na Roda, como questões de manutenção de interesse e organização do
espaço de sala de aula, (im)possibilidade de exemplares de um mesmo título para todos os alunos e
necessidade de um planejamento detalhado (incluindo a análise prévia do texto imagético) para a
realização de tais sessões.
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