terra indígena zoró
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TERRA INDÍGENA ZORÓ EXECUÇÃO Associação de Defesa Etnoambiental APOIO Ministério do Meio Ambiente Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO, ETNOZONEAMENTO E PLANO DE GESTÃO EM TERRAS INDÍGENAS - VOL. 3 TERRA INDÍGENA ZORÓ DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO, ETNOZONEAMENTO E PLANO DE GESTÃO EM TERRAS INDÍGENAS - VOL. 3 TERRA INDÍGENA ZORÓ EXECUÇÃO Associação de Defesa Etnoambiental APOIO Ministério do Meio Ambiente Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas 3 4 Acervo APIZ 5 A APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró, criada 1995, vem trabalhando nesses 20 anos na defesa da integridade física, cultural e territorial do povo Zoró. Wladir da Cruz Vasques Rua Guarulhos, 3354, Alto Alegre – Ji Paraná – RO CEP: 76909-604 Telefone: 55 69 34247213 [email protected] DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO PRESIDENTE Tiago Kapawandu Zoró VICE PRESIDENTE Cesar Awop Zoró SECRETÁRIO Marcio Kajanzap Zoró TESOUREIRO Isac Kinkin Zoró CONSELHO FISCAL Humberto Zoró Edilson Waratan Zoró Francisco Sambig Ip Zoró CONSELHO DAS MULHERES Irene Ipagawap Zoró Rute Xisanjut Zoró Teresa Amburá Zoró A Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental é uma OSCIP – Organização Da Sociedade Civil de Interesse Público, sem fins lucrativos, dedicada à luta em defesa dos direitos dos povos indígenas, à conservação da natureza e ao uso sustentável da biodiversidade. Criada em 1992, a Kanindé busca soluções inovadoras que promovam o desenvolvimento econômico justo e ambientalmente sustentável. Rua D. Pedro II, 1892, Sala 07, Bairro Nossa Senhora das Graças. CEP 76804-116 – Porto Velho –RO Fone/fax 55 69 3229-2826 www.kaninde.org.br [email protected] COORDENAÇÃO GERAL Ivanete Bandeira Cardozo COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA Eurides de Araújo Oliveira CONSELHO DELIBERATIVO Alcilene Paes Sérgio Cruz Stéphanie Birrer Arildo Suruí CONSELHO FISCAL Gasodá Suruí Gleiciane de Souza Pereira 6 CRÉDITOS TÉCNICOS E INSTITUCIONAIS COORDENAÇÃO TÉCNICA Panderewup Zoró - APIZ Israel Correa do Vale Junior – Kanindé COORDENAÇÃO DE LOGÍSTICA Miguel Zan Zoró - APIZ Marcos Garcia - Kanindé Leonardo José da Cruz Sousa ESTUDOS TEMÁTICOS ETNO-HISTÓRIA E SOCIOECONOMIA Sérgio Pereira Cruz - Antropólogo ASPECTOS DO ENTORNO Adnilson Almeida Silva – Dr. Geografia ESTUDOS BIOLÓGICOS Vegetação Flávia Dinah Rodrigues de Souza - Msc. Eng. Florestal Osvanda Silva de Moura – Msc. Bióloga José Ribamar Oliveira - Parataxônomo Mamíferos de médio e grande porte Alexsander Santa Rosa Gomes - Biólogo Paulo Henrique Bonavigo – Biólogo Aves Glauko Correa da Silva - Biólogo Répteis e Anfíbios Israel Correa do Vale Júnior – Biólogo Peixes Ana Paula A. de Melo – Bióloga MEIO FÍSICO Marcos Sebastião Ataíde - Geógrafo Mapas Meline Machado - Geógrafa TURISMO Ederson Lauri Leandro - Turismólogo Rúbia Elza Martins de Sousa - Turismóloga Estagiários: Gaudemir Rodrigues Secco, João Roberto Ferreira Garcia, Lara Rosana Neres Diniz, Lucimeire Elaine Zanettin, Rodrigo Soares, Sheliane Santos do Nascimento e Tatiana Lemos da Silva. Pesquisadores Indígenas: Alexandre Kap Kajap Zoró, Assis Yassani C. Gavião, Amauri Zoró, Berurandu Zoró, Benamu Zoró, Claudinei Zoró, Daniel Zoró, Denilson Mazapun Zoró, Edimilson Japarara Zoró, Geraldo Zoró, Hugo Cinta Larga, Isac Xitapapting Zoró, Isac Zoró, Edimilson Japarara Zoró, João Xuryt Zoró, Luis Kunhaop Zoró, Marciel Zoró, Marcos Zoró, Marina Awap Zoró, Mauricio Idigatu Zoró, Nailton Xijanwet Zoró, Panin Zoró, Roberto Carlos Inipep Zoró e Sandro I. Zoró. ETNOZONEAMENTO E PLANO DE GESTÃO Pesquisadores indígenas: Isac Kinkin Zoró, Isac Xitapapting Zoró, Celso Xajyp Zoró, César Awop Zoró, Marcio Kajanzap Zoró, Marcelo Xipabeanzap Zoró, Valmir Xisamujambá Zoró, Arlindo Pusanxibu Zoró, Carlos Xipipa Zoró, Marcio Xinahu Zoró, Eduardo Kalin Puj Zoró, Ricardo S Zoró, Carliton A. Zoró, Joel Zoró, Miguel Zan Zoró, Elias Zoró, Joksley Zoró, Rute X Zoró, Gisele Zoró, Ernesto Zoró, Crislaine Zoró, Mariza Zoró, Chico Zoró, Awap Zoró, Kujkyp Zoró, Lucilene Zoró, Cleidiane Zoró, Cristiane Gavião, Marcos Zoró, Davi Zoró, José Zoró, Fabio Zoró, Paulo Zoró, Jair Zoró, Melkon Tiuxuting Zoró, Vanessa Zoró, Claudineia Zoró, Valdecir Zoró, Renato Zoró, Vicente Paxurup Zoró, Willian W. Zoró, Fabio Zoró, Caroline Zoró, Francisco Zoró, Edilson Zoró, Pepuj Zoró, Xiktika Zoró, Valter Zoró, Franciel Zoró, Débora Zoró, Rogério Zoró, Lucimar Zoró e Nelson Zoró. ASSOCIAÇÃO DO POVO INDÍGENA ZORÓ - APIZ Tiago Kapawandu Zoró – Coordenador Indígena Sandra Mara Gonçalves – Coordenador Financeiro ASSOCIAÇÃO DE DEFESA ETNOAMBIENTAL KANINDÉ Ivaneide Bandeira Cardozo - Coordenadora do Plano de Gestão, Msc Geografia Israel Correa do Vale Junior - Coordenador do Etnozoneamento, Biólogo Thamyres Mesquita Ribeiro - Sistematização de Relatório Final, Bióloga Joelma Pinheiro da Silva - Gestora Ambiental Ederson Lauri Leandro - Msc Geografia Alexsander Santa Rosa Gomes - Biólogo Ana Paula A. Melo - Bióloga Marcos Garcia - Logística EQUIPE DE CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA - ECAM Meline Cabral Machado – Especialista em SIG, Msc Geografia FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI Lígia Neiva - Moderadora ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO Thamyres Mesquita Ribeiro Israel Correa do Vale Júnior Ivaneide Bandeira Cardozo Tiago Kapawandu Zoró PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO Adriana Zanki Cordenonsi FOTOGRAFIAS Acervo APIZ Acervo Kanindé Ederson Lauri Leandro Israel ValeJR Marcelo Pontes Sergio Cruz Proibida a reprodução de partes ou do todo desta obra sem autorização expressa da Associação do Povo Indígena Zoró – APIZ e Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. 7 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 10 1 ETNO-HISTÓRIA E SOCIOECONOMIA 12 1.1Introdução 13 1.2 Breve histórico 14 1.3 População Pangyjej Zoró 14 1.4Localização 15 1.5 Memória viva Pangyjej 16 1.5.1 O contato com os não indígenas e o pós-contato 19 1.6Socioeconomia 1.6.1 Número de Filhos 25 1.6.2 Nº de moradores por residência 25 1.6.3 Ocupação 25 26 1.6.4 Fontes de Proteína Animal 1.6.5 Renda 27 1.6.6 Artesanato 28 1.6.7 Saúde 30 1.6.8 Habitação 31 1.6.9 Educação 32 34 1.6.10 Festas e Rituais 2 ASPECTOS DO ENTORNO 38 2.1Introdução 39 2.2 40 2.3Demografia 40 2.4Religiosidade 42 2.5 Produção agrícola e extrativismo 42 2.6 Indústria e comércio 42 2.7 Serviços urbanos 42 2.8Educação Perfil socioeconômico 43 3 ESTUDOS BIOLÓGICOS 44 3.1Introdução 45 3.2Vegetação 47 3.3 Mamíferos de médio e grande porte 51 3.3.1 Caça de subsistência 55 8 25 3.4Aves 60 3.5 Répteis e anfíbios 3.6Peixes 68 73 4 MEIO FÍSICO 76 4.1 Introdução 77 4.2 Materiais e métodos 80 4.3Resultados 80 5TURISMO 90 5.1Introdução 91 5.2 Materiais e métodos 93 5.3 Resultados e discussão 93 6ETONOZONEAMENTO 98 6.1 99 6.2Etnozoneamento 100 6.3 Áreas do etnozoneamento 102 6.3.1 102 Introdução Área de caça e pesca 6.3.2 Área castanhal 104 106 6.3.3 Área de produção 6.3.4 Área sagrada 108 6.3.5 Área de resgate 110 6.3.6 Área de proteção integral 112 6.3.7 Área de recuperação 114 6.3.8 Área cultural 116 7 PLANO DE GESTÃO 118 7.1Apresentação 119 7.2Introdução 120 7.3 Programas temáticos 122 7.3.1 Programa de educação 123 7.3.2 Programa de cultura 124 7.3.3 Programa de recuperação e resgate 125 7.3.4 Programa de saúde 126 7.3.5 Programa de produção 127 7.3.6 Programa meio ambiente 128 7.3.7 Programa de fortalecimento institucional 130 REFERÊNCIAS 132 9 Apresentação APRESENTAÇÃO O ano de 2014 destaca um importante marco nas conquistas do povo Pangyjej Zoró, dado ao fato da construção do PGTA – Plano de Gestão Ambiental e Territorial desenvolvido pela APIZ e a Kanindé, sendo coordenado por equipes de lideranças e comunidades Pangyjej Zoró. Além desses, contou-se também com parcerias da FUNAI - Fundação Nacional do Índio/ CTL – Coordenação Técnica Local de Rondolândia/MT, Conselho Escolar das Escolas Indígenas Zoró, Escolas Zoró: Estadual e Municipal. A aplicação das atividades se deu em forma de construção coletiva, em oficinas, reuniões de sensibilização e divulgação, assembleia geral. Visando motivar uma reflexão em torno de conhecimentos científicos e culturais relacionados as potencialidades da terra e também seus desafios de gestão. Ademais, refletir sobre as políticas públicas de gestão territorial que permeiam os direitos e conquistas dos povos indígenas, tendo como exemplo a PNGATI – Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas. Contudo, para além das contribuições na formação na área de gestão, as ações do PGTA atuou significativamente no foco do fortalecimento da organização política, resultando na reafirmação da luta para manutenção de suas identidades etno-culturais e suas formas tradicionais de vida, resguardando sobretudo a integridade física de suas terras. O envolvimento dos jovens nas atividades oportunizou diferentes descobertas enquanto participavam das expedições em locais sagrados, identificando limites territoriais, cabeceiras de rios, territórios tradicionais, com roteiros e históricos cuidadosamente orientados pelos anciãos, atuantes orgulhosamente nos repasses orais de seus conhecimentos, bem como nas orientações sobre o bem viver indígena na perspectiva dos Zoró, respaldando com isto a garantia da sobrevivência das gerações futuras. 10 2014 kawu mi tuj Pangyjej má a kala indjaja ta mene kaj apere wepea gula terea. Ebu APIZ má Kanindé ej ta gala indjaja ta man ta sep manga ta kabia. Ma’ej má ena te tu pere ambakata we manga ena tea. Acervo APIZ PAMBARE MATUÉ Gulua tumá berepana ki tukaj tuwebugu ki ana te panza we manga mene kajá. Tu ma pemaki mi ki jalaj pare mi kia mene mi tumá tu pere wepea we manga neme kaja. PNGATI – Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas sande gala indjaja ta mene peturu tumá tu pere wepea we kajá. Tu makuba mene kaj tu má tu pere wepea tu kala indjaja ta mene kaja. Tuma pemaki tamawá mene kaj tu má gulua tu pere wepea. Tu ta mene kyje sut ka pia mene ka tumena enate we mangá. Wujirej jande we maki mãj má amakubá gulua tereá. Pandérej má gyja ta makubá etigia. Zapuj kyj ikini pa mate ki iandyt ikini pa mene tigi ki gala katap ikini mate ki mawe ej ikini mate kia ta má tamakubá. Alej jali apygej makubá ki epi tasa wulunde mãj makubá kia mene ka tamena tama kubá. APIZ - Associação do Povo indígena Zoró, abril de 2015 11 CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1 12 Sergio P. Cruz / Kanindé ETNO-HISTÓRIA E SOCIOECONOMIA 1.1 INTRODUÇÃO Em poucas oportunidades o pesquisador moderno tem a chance de coletar relatos dos próprios agentes dos momentos históricos do Povo em estudo. Este é o caso dos Pangyjej Zoró, contatados pela sociedade ocidental majoritária há pouco mais de trinta e cinco anos, oficialmente em 1977, muitos dos que participaram do processo de aproximação com os não índios estão presentes e atuantes na organização social de sua nação. Neste estudo prestigiamos o fato de que a história nos foi repassada pelos próprios atores, sem intermediários, sem um hiato temporal/geracional, sem o risco de um possível ventriloquismo científico, e nos dedicaremos a trancrevê-la com esse sabor, de que estamos bebendo diretamente da fonte, de pessoas que vivenciaram e vivenciam os acontecimentos abordados. Como se trata de uma etnografia que é parte de um diagnóstico sócio-cultural-biológico e territorial, nossa prioridade é detectar a história viva nesta sociedade, onde os agentes a conhecem e a trasmitem, não cabendo nesse tipo de estudo, apenas um resgate bibliográfico da história do Povo em questão como forma de registro, uma vez que a história que nos é cara, é a do cotidiano, das relações inter-geracionais, nessa transição sócio-cultural pela sobrevivência. A ciência antropológica reserva ao pesquisador o direito a proteção de seus colaboradores, admitindo a troca de nomes ou mesmo a não citação das fontes, no entanto, para esta pesquisa utilizamos uma abordagem de crédito coletivo, a narrativa foi organizada pelo pesquisador a partir das histórias contadas por Márcio Zoró, Pebuj Zoró, Tivir Kon Zoró, Maxianzap Zoró, Saga Puga Zoró entre outros, sendo que destes, os quatro últimos vivenciaram as rotinas do povo 13 Acervo APIZ Pangyjej antes, durante e no pós contato. São pessoas chave para pesquisas futuras mais aprofundadas sobre os saberes locais e pontualmente vamos identificando nossos interlocutores e a história sistematizada é resultado de uma bricolagem entre as narrativas e a literatura disponível. 1.2 BREVE HISTÓRICO Em 1968 os sertanistas Francisco Meirelles e seu filho Apoena Meirelles identificaram as primeiras moradias e o território de ocupação do povo Pangyjej Zoró. Durante os nove anos seguintes os Pangyjej Zoró tiveram contatos esporádicos e violentos com trabalhadores da Fazenda Castanhal, à margem esquerda do Rio Branco. Houve perda de território indígena e mortalidades (não existem registros oficiais de quantos morreram) e finalmente em 1977 a FUNAI realizou o contato. Acervo APIZ Falam a língua Pangyjej do tronco tupi, da família Mondé e possuem uma população, segundo o censo de 2010, de aproximadamente 677 indivíduos (IBGE, 2010). Acervo APIZ O povo conhecido como Zoró, se autodenominam Pangyjej traduzido por “Nós comemos carne moqueada” (TRESMANN,1994). Os Pangyjej Zoró após o contato foram sedentarizados pela FUNAI em aldeias nos limites de seu território e introduzidos novos costumes impactando a cultura indígena. O contato e o acesso de missionários evangélicos as aldeias intensificou os impactos culturais, a ponto de se deixar de praticar os costumes e ritos importantes para a identidade cultural do povo Pangyjej Zoró. 1.3 POPULAÇÃO PANGYJEJ ZORÓ Segundo dados da DSEI - Distrito Sanitário Especial Indígena de Porto Velho, através do Levantamento Estado Nutricional do Povo Indígena Pangyjej Zoró do Distrito de Rondolândia de abril de 2012, a população Pangyjej Zoró é composta por 621 (seiscentas e vinte e uma) pessoas, sendo que destas, 605 (seiscentas e cinco) moram distribuídas em 24 aldeias na Terra indigena Zoró e 16 (dezesseis) moram em Rondolândia. Durante a validação deste estudo junto a comunidade Pangyjej Zoró, os presentes rebateram alguns dados e informaram que apenas um membro da etnia, casado com uma mulher não indígena, reside em Rondolândia. 14 Acervo APIZ Atualmente, a terra indígena sofre pressão em seu entorno, primeiramente nas regiões onde fazem divisas com fazendas e serrarias. Acervo APIZ Durante o diagnóstico, os problemas com impactos culturais foram identificados, como: perda de rituais; das caminhadas no mato para conhecer lugares sagrados; jovens sem saber confeccionar flechas e outros artesanatos, além de muitos não conhecerem a história de seus ancestrais. 1.4 LOCALIZAÇÃO Os Pangyjej Zoró, vivem na Terra Indígena Zoró - TIZ, localizada no noroeste do estado do Mato-Grosso, na região próxima a fronteira com o estado de Rondônia, entre os rios Roosevelt (leste) e o rio Branco (oeste). Possui uma extensão de 355.789,5492 ha. do município de Rondolândia. Foi homologada/regularizada pelo Decreto nº 265 de 29.10.1991; CRI 31352 em 05.11.87; SPU em 06.11.87. Parte da terra ocupada pelos Pangyjej Zoró, na época, ficou fora da demarcação e homologação que aconteceu em 1991. A TIZ faz limites com as Terras Indígenas Sete de Setembro (do povo Paiter Suruí), a Terra Indígena Roosevelt e Parque Indígena do Aripuanã (ambas do povo Cinta Larga), que compõe o Corredor Etnoambiental Tupi Mondé. Embora a TIZ se localize no Estado do Mato Grosso, a mesma está jurisdicionada a Coordenação Regional de Ji-Paraná (CRJP) no Estado de Rondônia, segundo informações da CRJP, o motivo é a proximidade com Rondônia para o atendimento aos indígenas. AMAZONAS PARÁ ACRE RONDÔNIA MATO GROSSO BOLÍVIA ARIPUANÃ RONDOLÂNDIA ZORÓ SETE DE SETEMBRO ROOSEVELT PARQUE DE ARIPUANÃ JUÍNA CACOAL ESPIGÃO DO OESTE VILHENA 15 1.5 MEMÓRIA VIVA PANGYJEJ “As vezes meu avô contava para mim de onde nosso povo veio. Dizia que antigamente muitos povos viviam dentro de uma grande pedra, eram muitos e de diferentes etnias. Não havia saída. Até que um dia os papagaios, desses com o bico bem fino, começaram a cavar a grande pedra, foram cavando, cavando até que pela abertura as pessoas pudessem passar e vir para o mundo externo. À medida que os grupos de pessoas iam saindo, ao passarem pelo furo que o papagaio abriu, gritavam bem alto o nome do seu povo. Quando nossos antepassados saíram eles de lá gritaram: - Nós somos os Pangyjej! E saíram andando pela vasta região que é o mundo exterior”. (Narrado por Márcio Kajazap Zoró, então Cacique Geral do povo Pangyjej Zoró). distâncias. Conseguem também pronunciar nomes em invocação, através da sonoridade dos mesmos, como que numa tentativa de falar através do assovio. Esta comunicação é parte da riqueza imaterial dos Pangyjej Zoró, um conhecimento que até hoje é transmitido e praticamente todos do grupo a conhecem, a compreendem e a utilizam. O resultado da pesquisa quantitativa apontou o uso dessa comunicação assoviada para 97% dos entrevistados. Na pesquisa empírica pudemos coletar pelo menos dois significados distintos para Pangyjej: I) O povo que come animais sapecados; e II) Filhos do Deus das águas. Durante a validação do estudo surgiu mais um significado ao qual o coletivo se refere como o mais correto: “Povo que come gente”. “Nós saíamos para caçar, imitávamos os sons dos animais e quando eles se aproximavam nós os matávamos. Temos sons para mutum, para jacamim e para muitos outros animais” (Narrado por Tivir Kon Zoró em 06/2012). “- Antes era nossa realidade morar na mata, nós vivíamos isolados, não tinhamos contato com os não índios e pouco contato com as etnias vizinhas. Naquele tempo ficávamos por volta de dois anos numa aldeia e depois saíamos pra fazer outras aldeias, agente fugia pelo meio da mata. Nós tínhamos medo das outras etnias que vinham nos matar, por isso saíamos sempre para outro lugar para evitar os ataques, e se acontecesse de novo a gente saía novamente. Não era um de cada aldeia que ficava sozinho, montávamos as aldeias com as casas um pouco afastadas, fazíamos roça, caçávamos, pescávamos, mas nos uníamos para fazer as festas”. (Narrado por Saga Puga Zoró – Ancião em 06/2012). Os Pangyjej Zoró, talvez por essa característica de viverem à uma equidistância de seus vizinhos, e de realizar longas caminhadas durante as caçadas, desenvolveram um sofisticado sistema de comunicação à distância através de assovios. Possuem frases feitas codificadas em sons, algumas são tais como: I) Onde você está?; II) A comida está pronta, volte para comermos!; III) Venha até aqui, preciso falar com você! e; IV) Tenho makaloba, venha beber! Estas e muitas outras frases, proporcionam uma comunicação direta e eficaz, uma vez que o som de um assovio se propaga na floresta à grandes 16 Os assovios evoluíram de forma que os Pangyjej Zoró alcançaram um alto grau de sofisticação na imitação dos sons de animais, principalmente dos pássaros e utilizam desse conhecimnto para otimizar as técnicas de caça. O cotidiano dos Pangyjej Zoró era tranquilo enquanto se mantinham afastados dos grupos vizinhos, alguns viajavam grandes distâncias por motivações variadas como conhecer os melhores locais de caça, visitas à lugares sagrados, mapeamento da localização de grupos vizinhos hostis, entre outras. Os conflitos com os Paiter Surui são os mais citados. Eram atacados durante a noite pelos guerreiros, eram noites de terror, mesmo hoje, ao lembrarem, é possível perceber o medo nas expressões faciais dos que nos contam. As pessoas fugiam para a floresta, as mulheres levavam as crianças, enquanto os homens tentavam proteger a aldeia. Ora eram atacados, ora atacavam, gerando um ciclo de retaliações onde dificifilmente encontraremos a gênesis destes conflitos, pois os movimentos se davam pela ação e reação e são datados de tempos imemoriais. [...]”Nossa maior preocupação era com os ataques dos povos vizinhos, principalmente dos Paiter Surui. Os mais velhos já vinham se deslocando há muito tempo, desde a região do rio Aripuanã, fazendo aldeias e roças, quando entravam em guerra com outros grupos saíam de novo, até que chegamos a este lugar (referindo-se à aldeia central, a Bubuyrej) e aqui perto se deu o contato com os não índios”. (Narrado por Tivir Kon Zoró em 06/2012). Sergio P. Cruz / Kanindé Tivir Kon Zoró, ancião de idade desconhecida, calculada em setenta anos ou um pouco mais, morador da aldeia Bubuyrej. 17 Acervo APIZ Acervo APIZ A nação Pangyjej, denominada pela sociedade envolvente como Zoró, é falante de idioma do tronco Tupi da família Mondé, assim como, ao que se conhece, os Aruá, os Cinta Larga, os Gavião (Ikolen) e os Paiter (Suruí), entre outras. O nome Zoró, como em diversos casos da denominação dos povos nativos do continente americano, advém de um equívoco histórico. A versão mais plausível encontrada pelos pesquisadores, refere-se ao nome como uma definição dada aos primeiros cientistas, sertanistas e indigenistas, pelos Paiter Surui, - povo historicamente inimigo dos Pangyjej contatada poucos anos antes. Zoró, a grosso modo, significa “vizinho inimigo ou Cabeça Seca” para os Paiter, que embora falante, ao que se sabe, do mesmo idioma (tronco e família), existem tantas diferenças entre as línguas que a comunicação entre os dois grupos étnicos é praticamente impossível. “Zoró é o nome que ficou da denominação monshoro, utilizada pelos Suruís (sic), para designar seus vizinhos e inimigos (...). Monshoro é uma palavra depreciativa que os Suruís não explicam direito o significado. Com o tempo, foi abreviada para shoro e, por fim, Zoró” (PRAXEDES, 1977, apud DAL POZ, 2009). Sergio P. Cruz / Kanindé No entanto, os Pangyjej assumiram o termo Zoró e hoje o utilizam como identidade étnica, sobrenome e também como o nome do seu território. Durante a validação do estudo houve ampla discussão em torno da autodenominação do povo, uma vez que o entendimento do coletivo presente é de que Pangyjej é a denominação de apenas um clã, não do povo que é formado por diversos clãs, porém não souberam apontar qual seria a nomenclatura correta. 18 “Por volta da década de 1960, os Zoró compunham-se de nove ou dez grupos locais, distribuídos em quinze ou dezesseis malocas, e uma população de quase mil pessoas: os Zabeap Wej com três malocas, os Pangyjej Tere com cinco malocas, os Joiki Wej, os Jej Wej, os Pama-Kangyn Ej, os Maxin Ej, os Ii-Andarej, os Pewej, os Angojej e, provavelmente, os Kirej, cada um destes com somente uma maloca.” (BRUNELLI, 1987, apud DAL POZ, 2009). 1.5.1 O CONTATO COM OS NÃO INDÍGENAS E O PÓS CONTATO A frente de expansão territorial promovida pelos planos governamentais do Brasil que culminou com a construção da rodovia BR 364 que liga Cuiabá (Mato-Grosso) à Porto Velho (Rondônia), favoreceu a abertura de enormes áreas destinadas à formação de fazendas de criação de gado e agricultura. Os Pangyjej Zoró, em dado momento, se viram ilhados entre essas frentes colonizadoras e seus inimigos históricos. Sergio P. Cruz / Kanindé “Nós andávamos por muitos lugares, naquela época por aqui só existiam os Surui, os Cinta Larga, os Gavião e nós. Um tempo depois, encontramos os não índios, eram seringueiros e nós os matamos. Depois vieram mais seringueiros e garimpeiros, alguns também matamos e outros apenas afugentamos, até que um dia vimos muitos do outro lado do rio branco, ficamos pensando, será que devemos matá-los, será que vão nos matar? Depois de pensarmos bem, um dia gritamos para eles: - Papá, canoa papá! Nos viram e vieram dois no barco, quando chegaram, ficamos com muito medo, os despímo-los e vestimos suas roupas. Depois foram embora, um tempo mais tarde voltaram com mais roupas. Depois os brancos baixaram de helicóptero numa margem do rio Branco e nos viram, depois vieram de avião novamente, passavam por cima da aldeia, depois vieram de cavalo, de carroça e de trator”. (Narrado por Saga Puga Zoró em 06/2012) Analisando esse trecho, poderemos ter forte tendência a imaginar o quão hostis eram os Pangyjej Zoró, porém o povo estava em guerra constante pela sobrevivência, e como já não bastavam seus inimigos históricos, sofreram grandes perdas também com a aproximação das frentes colonizadoras, este comportamento não era unilateral. Sergio P. Cruz / Kanindé “Os grupos locais Zoró, então, remanesciam no triângulo formado pelos rios Roosevelt e Branco, embora incursões de seringueiros, caucheiros e garimpeiros tenham dizimado completamente algumas de suas aldeias. De um acampamento zoró atacado em 1963 sobreviveu apenas uma menina, raptada pelos seringueiros.” (DAL POZ, 2009). Houveram algumas expedições áereas no intuito de localizar os Tupi Mondé, realizados pela Missão Novas Tribos do Brasil - MNTB e pela FUNAI Fundação Nacional do Índio, o então Serviço de Proteção aos Índios (SPI), desde 1967. Porém o contato oficial com os indigenistas da FUNAI só foi possível posteriormente ao contato acidental entre os Pangyjej Zoró e os funcionários da fazenda Castanhal. Neste 19 ínterim, uma parte da população Pangyjej Zoró já havia contraído diversas enfermidades, e estas, já estavam reduzindo significativamente o contingente deste povo. “O pequeno monomotor sobrevoava a maloca pela segunda vez, quando apareceu um grupo de índios para observar a estranha e barulhenta máquina voadora que invadia o seu mundo […]. O objetivo do vôo era dar ao sertanista Apoena Meireles uma visão geral da localização das malocas e uma avaliação do número de índios que vivem na área. Meireles, 28 anos, era responsável pela expedição que tentaria o primeiro contato com esses indígenas, que vivem entre os rios Branco e Roosevelt, no oeste de Mato Grosso, nas proximidades da fronteira com o Território de Rondônia. A região, inteiramente coberta pela floresta amazônica, vem sendo ocupada por fazendeiros, o que obrigou a FUNAI a promover a expedição para contatar e preparar os índios para o convívio com a civilização”. […] (PRAXEDES, 1977, apud DAL POZ, 2009). Após os primeiros contatos amistosos com os trabalhadores da fazenda Castanhal, uma frente de contato da FUNAI, chefiada pelo sertanista Apoena Meireles, em outubro de 1977, montou acampamento às margens do rio Branco com intenção de contatar os Pangyjej Zoró, uma vez que a proximidade desde grupo com a frente colonizadora os colocava numa situação de extremo risco. Sergio P. Cruz / Kanindé “Depois de dias observando o acampamento dos não índios, resolvemos ir falar com eles. Quando chegamos perto dos brancos nós falamos: podem ficar calmos, nós não vamos matar vocês, mas eles não entendiam. Eles também falavam, mas 20 Maxianzap Zoró e Pebuj Zoró, ambos participaram do contato com a equipe da FUNAI. nós também não entendíamos, o pai dele (referindo-se a Pebuj Zoró), mostrou a esposa para os brancos e disse: - Essa é minha esposa, ela está aqui, nós não vamos matar vocês!” Continuávamos sem nos entender, mas foi possível perceber que ninguém queria guerra”. (narrado por Maxianzap Zoró e Pebuj Zoró) “Os Zorós chegaram [no dia 22 de outubro] ao acampamento desarmados, pois haviam deixado suas flechas escondidas na selva para demonstrar que estavam em missão de paz. Quatro índios adultos se aproximaram em primeiro lugar. Depois, quando já estavam inteiramente à vontade, apareceram uma mulher e uma criança, até então escondidas observando o encontro. O contato acontecera depois de dezoito dias de angustiante expectativa, - Eram apenas vinte, embora o número de malocas existentes faça supor uma tribo de aproximadamente 350 indígenas”. (PRAXEDES, 1977). Já acostumado com a presença do outro, Apoena se mostrou surpreso com o comportamento dos Pangyjej Zoró, relata que eles não mexiam em nada no acampamento sem antes pedir permissão. Apoena havia levado consigo possíveis intérpretes para o povo até então autóctone, era um Xavante (Macro Jê), um Cinta Larga (Tupi Mondé), um Paiter Surui (Tupi Mondé) e dois Gavião Ikolen (Tupi Mondé), destes somente o Cinta Larga e os Ikolen obtiveram êxito na comunicação. Conta que os Pangyjej Zoró perguntavam sobre os objetos que haviam no acampamento, “- Queriam saber de tudo, não deram sossego aos intérpretes”, afirma. Malária, gripe, sarampo, tuberculose e uma lista de doenças matou pelo menos a metade do povo Pangyjej Zoró. No diário de campo de Apoena Meireles, o sertanista narra que depois do contato, alguns começaram a adoecer, os mais velhos foram morrendo seguidos por quase metade da população que na época foi estimada em aproximadamente entre 300 e 350 pessoas. Há uma confusão em relação ao número de pessoas que compunham os Pangyjej Zoró, as primeiras estimativas realizadas durante um sobrevôo na região por Meireles em 1972, apontavam para 500 e 800 indivíduos, durante o contato em 1977, Apoena calculou entre 300 e 350. Dados da FUNAI apontam para a vacinação de 400 pessoas no pós contato. Durante a validação do estudo, os Zoró indicaram que este numero era maior, pois haviam várias malocas ao longo da terra, estima-se a existência na época de aproximadamente 11 malocas, calculando a existência de 100 a 150 pessoas residentes em cada maloca podendo o número chegar entre 1100 a 1500 indivíduos. Em 1978 houve mais um ataque dos Paiter Surui contra os Pangyjej Zoró na aldeia Zawã Kej, o que forçou uma fuga em massa para o território dos Ikolen (Igarapé Lurdes). Lá tiveram refúgio, tratamento médico, e também assim se deu a aproximação do povo com os missionários evangélicos da MNTB (DAL POZ, 2009). Permaneceram por poucos meses entre os Ikolen, muitos se converteram à doutrina cristã evangélica, houve casamentos entre membros dos dois povos contrapondo a tradição de casamentos endogâmicos, e aos poucos os Pangyjej Zoró foram retornando à sua terra tradicional. O coletivo da validação dos estudos afirma que mesmo antes do contato com a FUNAI, já havia um relacionamento com o povo Ikolen inclusive com casamentos entre os dois povos. 21 Sergio P. Cruz / Kanindé Saga Puga Zoró De volta ao seu território os Pangyjej Zoró foram forçados por uma política de sedentarização da FUNAI a adquirir novos hábitos. A nova aldeia que pretendia aglomerar todos os Pangyjej Zoró, era construída com casas de projeto arquitetônico ocidental, dispostas em ruas paralelas e a organização social passou a ser nuclear, ou seja, cada família habitava uma casa em separado, contrapondo à forma relacional tradicional uxolorical onde o genro passava a morar com os pais da esposa numa grande casa comum. Também formam condicionados a adotar hábitos tais como trabalhar em roças durante oito horas diárias pelos cinco dias úteis da semana, limitando aos sábados as incursões de caça, pesca e de outros afazeres tradicionais, uma vez que os domingos eram dedicados às práticas espirituais/religiosas aprendidas com a Missão Evangélica (DAL POZ, 2009). Em decorrência dessa forma de tratamento e por conta de abusos praticados pelos funcionários da FUNAI, os Pangyjej Zoró tornaram a morar com os Ikolen. Nesta ocasião as mulheres, os mais velhos e as crianças estavam com a saúde debilitada pela desnutrição. Era prática comum dos servidores da FUNAI fornecer alimentação apenas para os que trabalhavam no novo ritmo imposto, e esse grupo era composto em sua maioria por homens jovens e adultos. Com o passar do tempo foram retornando ao território de origem e quase metade do povo passou a morar na aldeia Barreira, a Zawã Kej. A aproximação com a cultura ocidental e o contato direto com a doutrina cristã evangélica, de certa forma, inibiu a transmissão inter-geracional das lendas e mitos da nação Pangyjej Zoró. A sua cosmologia foi perdendo forças ao passo que incorporavam a doutrina cristã. Ainda podemos ouvir algumas histórias caso encontremos algum ancião com paciência de proferí-las, no entanto, não podemos considerar que esta prática faça parte de suas rotinas. Muitos dos mais jovens conhecem o mito de criação de seu povo, como o que foi narrado por Marcio Zoró no início deste capítulo, porém sem muitos detalhes, o mito assume agora ares de “conto”. 22 Sergio P. Cruz / Kanindé Márcio Zoró, cacique geral Tanto o plano de concentração do povo numa só aldeia, como a segunda fuga em massa para junto dos Ikolen, facilitou a invasão do território por parte de grileiros, posseiros, madeireiros e outros estranhos. Os Pangyjej Zoró tiveram muito trabalho para desintrusar sua área, este processo durou alguns anos. Chegaram a perder parte das terras, para o que é hoje a cidade de Paraíso da Serra. As tentativas de retirada dos invasores geraram conflitos violentos entre os grupos de interesses, apenas após conseguirem apoio dos antigos inimigos como os Paiter, Cinta Larga, Arara e Gavião foi que conseguiram efetivamente desintrusar e retomar a parte do território. “Quando os invasores foram expulsos em 1990, os Zoró tomaram conta das casas abandonadas e a extração da madeira tornou-se a sua maior atividade econômica. A metade da população mudou para a aldeia de Barreira e outras aldeias sugiram. Com a interdição da extração da madeira em 1993 os Zoró se espalharam no território para reassumir uma vida mais tradicional”. (DAL POZ, 2009). “Quero lembrar que nosso povo Zoró, já foi envolvido com a venda ilegal de madeira, e aos poucos fomos nos conscientizando que isso não era bom para a comunidade, isso não levava à uma vida longa da comunidade. Durante algum tempo de reuniões gerais, a comunidade decidiu parar com a venda de madeira e buscar outras formas de trabalhar, uma forma melhor, sustentável, um trabalho que não destruísse a floresta. Hoje nós temos a associação do povo Zoró, eu quero parabenizar os diretores da APIZ - Associação Pangyjej do Povo Indígena Zoró, eles que conseguem os parceiros para nossos projetos, como este trabalho do diagnóstico, que servirá para nós como instrumento para pensar no futuro de nossos filhos, da nossa comunidade, porque hoje pensamos em trabalhar de outro jeito”. “Nosso medo maior é perder a cultura do povo Zoró, por isso mantemos esse modo de vida, esse é o futuro que agente está pensando, daqui a pra frente nossos filhos estarão nascendo e eles vão conhecer nossos costumes e nossas tradições. Hoje o povo Zoró trabalha com castanha e isso é uma conquista para nós, por que é uma atividade que todos participam, não só os adultos, mas também os jovens e é uma 23 atividade que fazemos conhecendo nosso território, nosso espaço, e através desse trabalho a gente consegue ganhar dinheiro, porque hoje nós conhecemos dinheiro”. (Márcio Zoró – Então Cacique Geral do Povo Pangyjej Zoró). “Nós hoje estamos morando em casa, com roupa de branco, e isso não era assim, hoje, as doenças como na época do contato, estão piorando de novo, leschimaniose, malária, tuberculose. Antes não tinha malária, como ficávamos pouco tempo em cada aldeia, não dava tempo de acumular água empoçada e lixo. Como hoje não mudamos mais, vivemos no mesmo lugar sempre, tem água parada, água no cano, tem lixo e as doenças vão surgindo”. (Saga Puga Zoró) “Nossas plantações continuam as mesmas, só o arroz e o feijão entraram na nossa alimentação, também passamos a usar alguns químicos, mas continuamos com o que sempre plantamos, a caça ainda tem muita, não compramos comida na rua, nem refrigerante, tomamos makaloba, as vezes makaloba com mel, as pessoas que passaram a usar açúcar tiveram diabetes, caries e outros males”. (Saga Puga Zoró) “Não podemos acabar com a nossa cultura, temos que continuar na nossa realidade, nossa agricultura, manter nossa identidade. Não podemos deixar de fazer nossas pinturas, precisamos manter nossas tradições, os mais novos não querem mais fazer a tatuagem no rosto. Antes, aos doze anos se fazia as tatuagens e o furo no queixo para usar a pena, os novos não fazem mais porque é muito dolorido, antes faziam quando ainda eram virgens, usavam o urucum junto com jenipapo para fazer as pinturas, não pode abandonar os artesa-natos, fazer colar pro marido, as flechas pro filho, não podem deixar pra trás, ensinar a fazer flecha e para as mulheres fazer o colar pro marido, fazer a makaloba pro marido, não pode pegar na casa dos outros, nosso café da manhã é a makaloba. Os jovens tem que seguir com nossa cultura como nós fazíamos, não podemos abandonar, os homens tem que fazer roça pra as mulheres poderem fazer a makaloba pra eles, se não fizer roça, as mulheres vão atrás da roça dos outros e isso não pode”. (Saga Puga Zoró, entrevista em 06/2012). A organização social dos Pangyjej Zoró é descentralizada, cada aldeia possui seu cacique, no entanto criaram a figura do “cacique geral” que, durante a realização da pesquisa, era atribuída ao jovem Márcio Kajazap Zoró. Como ele mesmo explica, não é um cargo de poder e seu papel é de representar o povo Pangyjej Zoró junto aos outros povos inclusive aos não índios. Uma de suas atribuições se assemelha muito à função de um diplomata, ele participa de reuniões fora da território e tem como uma das obrigações principais transmitir aos Pangyjej Zoró o que foi decidido nesses encontros. Márcio também era um dos gestores da APIZ e tem pensamentos brilhantes a respeito do futuro dos Pangyjej Zoró, manejo sustentável do território e o resgate das tradições de seu povo compõem suas maiores ambições. Sergio P. Cruz / Kanindé Anciã Pangyjej Zoró que participou do primeiro contato com a equipe da FUNAI. 24 1.6 - SOCIOECONOMIA 1.6.3 OCUPAÇÃO. A pesquisa quantitativa do panorama sócio-econômico do povo Pangyjej Zoró, foi elaborada através de questionários com perguntas objetivas e visava atingir as 142 (cento e quarenta e duas) famílias que compõem a nação. Foram aplicados 107 (cento e sete) questionários perfazendo um total de 73% do universo pretendido. Coletar, pescar e caçar estão em primeiro lugar nas ocupações mais citadas pelos entrevistados, seguidos pela prática da agricultura, artesanato e extração de seringa, nesta ordem (conforme gráfico 03). Dos entrevistados, a maioria chefes(as) de família, configurou um quadro onde 74% pertencem ao sexo masculino, 93% são casados e 99% de fé Cristã Evangélica. 1.6.1 NÚMERO DE FILHOS (%). As famílias sáo numerosas, através do gráfico 01 podemos perceber que 45% das famílias são compostas por quatro ou mais filhos. Gráfico 01 - Número de filhos (%) 10,0 12,0 17,0 14,0 16,0 Coletor 86,0 Pescador 85,0 Caçador 70,0 Agricultor 13,0 Artesão 13,0 Seringueiro 2,0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. O QUE MAIS COLETAM 8,0 23,0 Gráfico 03 - Principais Ocupações (%) 1 2 3 4 5 6 ou mais não tem Gráfico 04 - Produtos florestais não madeireiros mais coletados (%). 13,0 9,0 1,0 14,0 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. 1.6.2 NÚMERO DE MORADORES POR RESIDÊNCIA. 96,0 frutas/frutos castanhas óleos plantas medicinais palhas/cipós Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. O QUE MAIS PLANTAM Além dos filhos, podemos analisar o gráfico 02 como um indicativo de que a prática tradicional de convivio das Gráfico 05 - Espécies mais cultivadas. pessoas de diferentes gerações numa mesma residência está em evidência, se 23% das famílias possuem seis ou Abacaxi mais filhos, quando questionamos sobre quantas pesAlgodão soas habitam a residência, este número sobe, revelando Banana que 31% das residências são habitadas por oito ou mais Batata pessoas. Cana de açúcar Gráfico 02 - Nº de moradores por residência (%). 13,0 1,0 31,0 13,0 18,0 24,0 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. 1 2 3 4 5 8 ou mais 55,0 37,0 89,0 83,0 71,0 Mamão 66,0 Mandioca 47,0 Macaxeira 53,0 Cará 91,0 Pimentas 12,0 Milho 92,2 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. 25 Acervo APIZ Acervo APIZ Menina ralando mandioca Comendo mandioca 5.3.2.1 ÁREA DE ROÇADO Gráfico 08 - Criação de animais para consumo. Os roçados são pequenos, construídos em áreas que variam somente entre um e dois hectares como podemos observar no gráfico 06, ainda assim, 73% destes são mantidos por uma coletividade (pelo menos duas famílias) e 15,0 Sim Não apenas 24% são de uso individual, ou seja, mantidos por uma única família (conforme gráfico 07). 85,0 Gráfico 06 - Tamanho dos Roçados em hectares (%). Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. 4,0 16,0 01 02 Não possui Gráfico 09 - Animais mais criados em cativeiro. Suínos Animais Silvestres 80,0 Caprinos Aves Bovinos Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. Gráfico 07 - Roçados Coletivos. 10 20 30 40 50 60 70 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. 3,0 24,0 Sim Não Não respondeu 73,0 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. 1.6.4 FONTES DE PROTEÍNA ANIMAL Os que criam animais parea fins de consumo são 85% (con- forme gráfico 08), entre os mais criados estão os animais silvestres (conforme gráfico 09). A caça no terrtório Zoró é abundante e entre os animais mais caçados estão o porco do mato (Tayassú pecory), mutum e o tatu, seguidos por cutia, paca e anta, conforme o gráfico 10. 26 Gráfico 10 - Animais mais caçados Anta 96,0 Porco do Mato 99,0 Cutia 98,0 Macaco 95,0 Mutum 99,0 Paca 97,0 Jabuti 87,0 Tatu 99,0 Veado 94,0 Peixes 94,0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. 1.6.5 - RENDA Apesar das famílias serem numerosas, resultados da pesquisa apontam que em 93% delas apenas uma ou duas pessoas possuem alguma renda mensal (gráfico 11), e esta renda, em 64% dos casos, não alcança mais que 1 salário mínimo (gráfico 12). A adesão do povo Pangyjej Zoró a este projeto é alta, 88% dos entrevistados afirmaram participar do mesmo, como podemos conferir no gráfico 13. Gráfico 13 - Participação no Projeto de Venda de Castanha do Brasil (%). 12,0 Gráfico 11- Nº de pessoas que possuem renda mensal, por residência (%) Sim Não 4,0 3,0 30,0 63,0 1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4 pessoas Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. Gráfico 12- Renda (em salário mínimo, %) 88,0 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. No gráfico 14 podemos constatar que a Castanha do Brasil está realmente se tornando o principal produto do Povo Pangyjej Zoró, seguido pela farinha de milho, molho de pimenta, farinha de mandioca, artesanatos e café em pó, no entanto, salvo pela castanha, a maior parte da produção é para subsistência (gráfico 15). 8,0 14,0 22,0 56,0 menos de 1 salário 1 salário 2 salários Não respondeu Gráfico 14 - Produção - Principais produtos (%). Castanha Café em Pó Molho de Pimenta Farinha de Milho Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. Os rendimentos são provenientes de planos assistenciais governamentais, da venda de produtos manufaturados, de artesanatos e do projeto coletivo de venda de castanha do Brasil, que é uma parceria da APIZ - Associação do Povo Indígena Pangyjej Zoró, com apoio do projeto Pacto das Águas, patrocinado pela Petrobras, que desde 2003 vem fomentando o comércio de castanha. É uma alternativa sustentável de geração de renda para o povo e que possui uma expectativa de que na safra 2011/2012 sejam produzidas mais de 140 toneladas de Castanha-do-Brasil, que poderá ser comercializada por até quatro reais o quilo. Artesanato Farinha de Mandioca 10 20 30 40 50 60 70 Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. Gráfico 15 - Venda da Produção (%). 5,0 1,0 38,0 56,0 Não vende Maior parte Metade Menor parte Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012. Acervo APIZ Acervo APIZ Artesanato com penas e transporte da castanha do Brasil. 27 1.6.6 ARTESANATO O artesano do povo Pangyjej Zoró é de uma sofisticação invejável, a complexidade das peças elaboradas a partir do tucumã e outras matérias naturais é muito alta. Colares, brincos, bandoleiras, pulseiras, cocares, anéis, bordunas, conjunto de arco e flecha, entre outros, são confeccionados por artesãos extremamente hábeis, a arte impressiona pela sua beleza, delicadeza e acabamento. No entanto, pôde-se constatar que esta prática está subestimada como fonte de renda para o povo, em campo, nota-se que a produção de artesanato está mais associada ao uso pelos próprios Pangyjej Zoró do que para o comércio. Também foram encontrados poucos artesãos/artesãs em atividade, destes, a maioria eram mulheres, e reclamam da falta de uma logística para a comercialização. Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé A sede da associação APIZ na cidade de Ji-Paraná em Rondônia, mantém uma loja permanente onde vende os artesanatos tradicionais, porém a prática incipiente, ainda não criou meios de tornar atrativa essa atividade (conforme gráfico 16). Nos demais casos, as artesãs ficam à mercê da comercialização aos visitantes eventuais e exporádicos da Terra indígena Zoró. 28 Nesta página e na seguinte, produção de artesanato com tucumã, penas e outros materiais. 29 Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé 1.6.7 SAÚDE Gráfico 19 - Frequência de adoecimento (estimativa do nº de vezes ao ano). A maior parte das aldeias possui um sistema de abastecimento de água composto por poços e distribuição encanada, através de bombas d’água elétricas (gráfico 16). Apesar do baixo índice de preocupação com o tratamento desta água (gráfico 17), são poucos os casos de enfermidades provenientes dessa prática (gráfico 18), todavia, qualquer desarranjo no sistema que possa eventualmente ocorrer, colocaria em alto risco maior parte da população. Gráfico 16 - Origem da água consumida (%). 4,0 1,0 24,0 71,0 1 vez 2 a 5 vezes 6 a 10 vezes quase nunca Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012. Gráfico 20 - A quem recorrem em casos de doença 3,0 3,0 6,0 16,0 10,0 Agente indígena Enfermeiro Médico Outro(s) poço rio água de poço encanada 94,0 84,0 Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012. Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012. Gráfico 17 - Tratamento de água consumida. (%) 8,0 5,0 Gráfico 21 - Aonde encontram atendimento de saúde 3,0 2,0 fervura filtragem químico nenhum 20,0 na própria aldeia numa aldeia próxima numa cidade 67,0 Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012. Gráfico 18 - Principais enfermidades (%). 96,0 Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012. Os técnicos ficam em uma das aldeias, fazendo visitas nas demais por 15 dias. A enfermeira visita as aldeias na época da vacina e visitas de suprevisão dos AIS – Agente Indígena de Saúde. Dengue Malária Leishmaniose Esquistossomose O médico do Programa Mais Médicos começou a atender recentemente em 2014 se instalando nas aldeias mais populosas e visitando as demais de acordo com a necessidade. (fonte: Validação dos estudos em 2014). Tuberculose Hepatite A Catapora Pneumonia Tosse Viroses Diabetes Sarampo Alergias Gripe 10 20 30 40 50 60 Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012. 30 1.6.8 HABITAÇÃO Entendemos por técnicas ocidentais de construção, as habitações feitas de madeira beneficiada e cobertas com telhados de amianto ou telhas de barro industrializadas. As de técnica mista são as que empregam madeira beneficiada juntamente aos materias naturais e por fim as de técnica tradicional são as casas elaboradas em permacultura, ou seja, as que empregam na obra apenas materiais naturais e obedecem a arquitetura ancestral. 92% das residências são construídas com técnicas ocidentais, 4% com técnica mista e 4% com técnica tradicional (conforme gráfico 22). Gráfico 22 - Modelo das habitaçães (%). 4,0 4,0 tradicional técnica mista ocidental 92,0 Fonte: Kanindé 2012. Modelo de construção com técnica mista. Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Modelo de construção tradicional Modelo de construção ocidental. 31 1.6.9 EDUCAÇÃO Sergio P. Cruz / Kanindé O início do processo de implantação do sistema de educação escolar formal para o povo Pangyjej Zoró se deu no ano de 1989. A primeira escola foi inaugurada na aldeia Central / Bobyrej. Os professores eram Pangyjej Zoró, porém o material ditático utilizado era o mesmo que tinha sido preparado especificamente para os Ikolen. Acervo APIZ Acervo APIZ Aldeia escola Zawã Karej inaugurada em 2002 Esta etapa foi mais um desafio para os Pangyjej Zoró, ocorreram diversos conflitos por conta da forma em que a educação fora instituída. Confinar jovens e crianças em salas de aulas, contrapunha diretamente o modo tradicional que o povo praticava a transmissão do conhecimento. “A transmissão de conhecimento ente os Pangyjej se dá no dia a dia, no trabalho, nas histórias contadas, nos conselhos dados, na produção dos materiais de uso, nos rituais. Os mais velhos passam para os mais jovens, os pais para os filhos a sua sabedoria. Os “conselhos” são dados de madrugada, segundo a tradição. Quando os meninos já estão, com mais ou menos cinco anos são levados para a roça, a caça e a pescaria com seus pais. Todas as crianças, no colo, são levadas para as colheitas. As meninas, na mesma idade dos meninos, começam a carregar as coisas, lavar as panelas. O processo de socialização da criança vai se dando no dia a dia de acordo com o desenvolvimento da mesma. (LACERDA, 2002). No início, os professores indígenas eram assessorados por professores não indígenas e o relacionamento entre eles por diversas vezes não era muito amistoso. Os Pangyjej Zoró tentaram algumas vezes fechar as escolas por não concordarem com os métodos de ensino inter-cultural que lhes fora imposto. Apenas cinco anos mais tarde, o pastor luterano Ismael Tressmann, a linguista Ruth Montserrat e o professor Waratã Zoró formularam uma nova proposta ortográfica e um livro de 32 Sergio P. Cruz / Kanindé Quadro da Escola Pangyjej Zoró textos com histórias do povo Zoró (Tressmann, 1994; apud Lacerda, 2005). Até então, haviam apenas duas escolas nas aldeias maiores; em 2005, já eram dez, além da escola polo Zawã Karej. Muita negociação, algumas expulsões de professores não índios pelas lideranças indígenas, reformulações, ressignificações e novos entendimentos acabaram por dar forma ao atual modelo de ensino entre os Pangyjej Zoró. “Criou-se uma escola pólo a escola (Zawã Karej) na aldeia Pawanewa, com o objetivo de dar continuidade à educação intercultural e bilíngue, seguindo o currículo escolar, que seria de 5ª a 8ª série. Então, os alunos estudam até a 4ª série nas aldeias e vem para a escola Pólo, onde passam quinze dias consecutivos e outros 15 dias voltam para suas aldeia conforme o modelo das EFAs- Escolas Família Agrícola.” (LACERDA, 2005) Há duas aldeias Escola Pólo, uma em cada extremidade do território, juntas, atendem mais de 120 alunos e possuem infra estrutura de salas de aula, refeitórios, alojamentos, banheiros e etc. Este processo contribuiu para o que vemos hoje entre os Pangyjej Zoró, um alto grau de escolaridade alcançada (cf. gráfico 23). “Atualmente são 10 escolas funcionando e a equipe continua o trabalho de assessoria, incentivo, valorização da cultura e apoio à construção de seu processo próprio de aprendizagem.” (LACERDA, 2005). Gráfico 23 - Grau de escolaridade (%) Analfabeto Lê e Escreve Médio completo Fundamental completo Especial bilíngue Fonte: Kanindé 2012. 10 20 30 40 50 60 70 80 33 Acervo APIZ 1.6.10 FESTAS E RITUAIS Historicamente as festas tradicionais aconteciam na época da colheita do milho, onde parte da produção era destinada ao feitio da chicha ou makaloba, uma bebida fermentada de baixo teor alcóolico que era consumida pelos Pangyjej Zoró. Acervo APIZ Acervo APIZ Os núcleos familiares vizinhos se juntavam para as confraternizações. Eram ritos de agradecimento aos espíritos guardiões das matas, das águas e dos animais. A partir do processo de evangelização do povo Pangyjej Zoró, os costumes foram se modificando. “Tradicionalmente, os Zoró realizavam suas festas no período das chuvas, por ocasião da colheita do milho. Para as festas principais (Gojanej, Zaga Puj, Gat Pi e Bebej) os xamãs atendiam solicitações que recebiam dos espíritos correspondentes. Em geral, cada aldeia realizava apenas uma delas a cada ano, prolongando-a por até três meses. A festa mais importante era Gojanej, que celebrava a visita do espírito-das-águas: o xamã incorporava o espírito malula (“tatu-canastra”), a quem os participantes deviam agradar, com presentes (flechas etc.), servir chicha e beijus de milho. Cada família, também, apresentava um jacaré vivo no pátio que, depois de abatido no interior da casa, era servido aos convidados. Na festa Zaga Puj os xamãs invocavam os espíritos que protegem a caça, a extração de mel e a coleta de frutas – como retribuição aos espíritos, as famílias expunham, em varais no entorno da aldeia, os produtos cultivados, como mandioca, cará, algodão, entre outros. Já na festa Bebej (“porco-queixada”), o xamã comunicava-se com o dono-dos-porcos, em busca de uma informação valiosa para os caçadores, a localização dos bandos de queixadas. Por fim, a festa Gat Pi (“caminho do sol”), que estava direcionada aos espíritos que habitam o mundo celeste” (LISBOA, 2008, apud DAL POZ, 2009). Acervo APIZ Atualmente, as festas não são mais regadas à chicha fermentada, uma vez que o consumo de bebidas alcóolicas é severamente desaconselhado pela doutrina cristã evangélica. As grandes festas acontecem quando os Pangyjej Zoró combinam entre si o local e a data. No dia escolhido as pessoas das mais diversas aldeias, se juntam para um culto cristão coletivo, com hinários de louvor traduzidos para a língua nativa. A festa é organizada com certa antecedência e os participantes chegam ao local trazendo muita carne de caça e outros alimentos para compartilhar entre os presentes. O preparo das comidas começa cedo e dura o dia inteiro. A noite, ao som de guitarra elétrica e cantos amplificados por microfones, tem início o culto. A participação da população é massiva, os cânticos e danças podem durar a noite inteira. Reservam para estas festas todo um final de semana, tempo hábil para o deslocamento dos moradores das aldeias mais distantes, para a caça e o preparo dos alimentos que serão consumidos durante os festejos. 34 Pintura corporal com jenipapo e confeccão de cocares com penas. Também participam desses eventos, os membros de outras etnias como os Ikolen, os Cinta Larga, os Paiter e os Arara. Normalmente estas festas acontecem uma vez por ano, podendo acontecer mais de uma vez em casos especiais. Os mais velhos, se caraterizam com pinturas, cocares, bandoleiras, colares e outros adornos como o arco enfeitado com penugens brancas. Os mais jovens não demonstram essas preocupações, mas participam ativamente do evento, ajudando na preparação de todas as etapas e os detalhes da festa. O local do rito se assemelha a um templo convencional, existe um palco de frente para diversos bancos paralelamente enfileirados. No começo, por volta das 20 horas, todos estavam sentados escutando as pregações dos pastores indígenas, em dado momento deu-se início aos cânticos rituais e as pessoas acompanhavam cantando as músicas e batendo palmas ritmadas, até que o cacique Maxianzap Zoró se levantou e começou a dançar em círculo no espaço que existia entre os bancos e o palco. Seguiu dançando e convidando as outras pessoas para que lhe acompanhassem, em minutos estavam praticamente todos envolvidos numa dança circular e o culto seguiu assim até seu término. Sergio P. Cruz / Kanindé Abaixo e nas próximas páginas, imagens de culto evangélico realizado em 17 de junho de 2012, na aldeia Zawa Karej. 35 36 Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé 37 Sergio P. Cruz / Kanindé Sergio P. Cruz / Kanindé CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 38 Acervo APIZ ASPECTOS DO ENTORNO 2.1 INTRODUÇÃO A TIZ está inserida no município de Rondolândia, situado dentro do bioma Amazônico, que do ponto de vista político-administrativo é um dos municípios mais recentes criados naquele Estado e limita-se com os municípios de Juína, Colniza e Aripuanã (MT) e Cacoal, Ministro Andreazza e Ji-Paraná (RO). A área territorial do Município é de 12.701,56km², o que corresponde a 0,014% de Mato Grosso (903.386,10km²). Os dados do Censo do IBGE 2010 afirmam que a área é um pouco menor, possuindo apenas 12.670,803km². A sede do Município está localizada nas seguintes coordenadas geográficas: 10°51’25” S e 61°27’23” W, e pertence a microrregião de Juína, as relações comerciais, financeiras e bancárias ocorrem com frequência com o município de Ji-Paraná – Rondônia, em razão da proximidade geográfica e mesmo porque um significativo número de propriedades privadas e negócios são de pessoas que mantém vínculos diretos com a cidade rondoniense. 39 2.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO Rondolândia é resultado da nova expansão agropecuária mato-grossense e consolida-se administrativamente na segunda metade da década de 90, quando é desmembrada do Município de Aripuanã, sendo que o resultado dessa expansão atrai migrantes de várias regiões do Brasil, especialmente daqueles que já haviam desbravado Mato Grosso e Rondônia nos anos 70-90. Foi criado em 28.01.1998 pela Lei 6.984 e instalado em 01.01.2001, portanto é um dos municípios recém-criados e como tal carece de infraestrutura, o que acarreta sérios problemas, especialmente aqueles relacionados à saúde, uma vez que fica situado muito distante da Capital do Estado (1.600 km de Cuiabá) e tem como principais elos - terrestre e sócio-econômico - as cidades de Ji-Paraná e Cacoal no estado vizinho de Rondônia. Sua base econômica está focalizada principalmente no setor primário (agricultura e pecuária) e setor secundário, na indústria madeireira. O setor comercial do município é composto por pequenas empresas, a maioria de âmbito informal. 2.3 DEMOGRAFIA Em termos populacionais, o município de Rondolândia apresentava 3.156 pessoas (Estimativa IBGE/2004). Em 2002, atingiu 3.498 pessoas, e em 2003, elevou-se para 3.655 habitantes. E no Censo do IBGE (2010) a população chegou aos 3.604 habitantes, com projeção estatística para 2011 de 3.638 pessoas. Em análise comparativa ao ano de 2003 houve uma redução percentual masculina de 55,07% (2.013) para 52,8% (1.777), enquanto no feminino ocorreu um incremento passando de 44,93% (1.642) para 47,2%. A Tabela 3 demonstra como a população situa-se nas faixas etárias em Rondolândia, sendo que naquele período 62,01% (1.018 mulheres) entre 10-49 anos encontram-se em idade fértil e na atualidade é representado por 65,21% (1.110 mulheres). Pelos dados obtidos constata-se que 73,61% da população habita a área rural, comprovando que o município tem como base de sustentação econômica o setor primário, assim como a maior da população é formada por crianças e jovens (0-29 anos), entretanto a faixa 40 TABELA 1- POPULAÇÃO – RONDOLÂNDIA (2010). Faixa Etária Total Urbana Rural Masc. Fem. 0 a 4 anos 412 107 305 220 192 5 a 9 anos 397 103 294 218 179 10 a 14 anos 379 125 254 186 193 15 a 19 anos 358 73 285 180 178 20 a 24 anos 355 110 245 173 169 25 a 29 anos 340 92 248 241 167 30 a 39 anos 471 125 346 219 230 40 a 49 anos 392 100 292 140 173 50 a 59 anos 257 67 190 91 117 60 a 69 anos 154 22 132 48 63 27 62 61 41 70 anos ou mais 89 TOTAL 3.604 951 2.653 1.7771.702 Fonte IBGE, Censo Demográfico 2010 entre 30 a 39 anos, individualmente seja a mais expressiva. Em análise a Tabela 2, é evidenciado que as populações masculinas e femininas rurais em todas as faixas etárias são superiores àquelas encontradas na área urbana do município. Os dados oficiais de 2010 confirmam que o município de Rondolândia apresenta uma densidade demográfica muito baixa (0,28 hab/km²), o que indica um “vazio populacional”, devido a concentração de grandes latifúndios destinados à bovinocultura e a monocultura, principalmente por se tratar de uma área geográfica não consolidada e com baixos indicadores de urbanização. Com base no Gráfico apresentado, a conclusão existente é que toda a população (3.604 habitantes) de TABELA 2 - POPULAÇÃO – FAIXA ETÁRIA E DISTRIBUIÇÃO – RONDOLÂNDIA (2010). Faixa Etária Total Masc.Urb. Masc Rural Fem. Urb. Fem.Rural 0 a 4 anos 412 61 159 46 146 5 a 9 anos 397 63 155 39 140 10 a 14 anos 379 67 119 58 135 15 a 19 anos 358 31 149 42 136 20 a 24 anos 355 62 124 49 120 25 a 29 anos 340 36 137 55 112 30 a 39 anos 471 44 197 81 149 40 a 49 anos 392 67 152 33 140 50 a 59 anos 257 38 102 29 88 60 a 69 anos 154 13 78 9 54 70 anos ou mais 89 11 46 16 26 1.418 457 1.246 TOTAL 3.604493 Fonte IBGE, Censo Demográfico 2010 alguma forma aufere algum tipo de rendimento direto ou indiretamente, sendo que a composição da renda per capita municipal se dá com a participação de 927 brancos (25,72%), 100 negros (2,77%), 08 amarelos (0,22%), 1.635 pardos (45,38%) e 934 indígenas (25,91%). Se tomarmos por base, os dados relativos aos autônomos, esses indicadores tornam-se mais elevados e neles se incluem também a população parda, o que de fato comprova um preconceito em relação à acessibilidade ao trabalho. É importante resultar que as referências étnicas quanto à cor das pessoas são dadas pelo IBGE, que classifica o negro como preto, no presente trabalho nos referimos a autodeterminação dessa população. Vemos a questão étnica baseada no quesito cor como algo complexo e incompleto, principalmente em se tratando de um país multiétnico e multicultural como é o caso brasileiro. A questão pontuada leva-nos a outros indicadores que podem se relacionar à problemática de acesso ao mundo do trabalho e da ascensão socioeconômica - principalmente entre os indígenas com elevadas taxas de não escolarização - como um importante dado para se entender a dinâmica do município. No caso de Rondolândia, os dados do IBGE apontam que 20,75% do total populacional é constituída por aqueles que não sabem ler ou escrever, considerando-se somente as pessoas com idade de 15 anos ou mais (Tabela 4). No cômputo dos maiores rendimentos (03 a 10 SM) as populações negra e indígena são as que possuem menor ou nenhum acesso, confirmando o que ocorre no restante do país, e pelos números apresentados tem-se um panorama de como se encontra constituído os grupos étnicos do município. TABELA 3 - OCUPAÇÃO ÉTNICA RONDOLÂNDIA (2010) Ocupação Branco Negro Amarelo Pardo Indígena Total Carteira de Trabalho Assinada 49 10 0 65 45 169 Funcionário Público 58 16 0 90 10 174 Sem carteira 132 24 5 247 117 525 148 Autônomo Empregadores 03 Trabalhadores 102 de subsistência Total 492 11 0 223 06 388 00 0 03 0 06 07 0 131 133 373 68 5 759 311 1635 Fonte IBGE, Censo Demográfico 2010 Em termos de ocupação de trabalho efetivo (Tabela 3) verificam-se pequenas no que se referem algumas, à acessibilidade ao mercado de trabalho, representado por 30,10% de brancos, 4,16% de negros, 0,30% de amarelos, 46,42% de pardos, destoando no entanto os indígenas com 19,02% - o que significa afirmar que entre essa população somente 1/3 desenvolve atividade com alguma remuneração, mesmo assim entre os indígenas, 80,38% encontram-se em trabalho sem carteira ou como trabalhadores de subsistência, o que representa 27,84% da totalidade populacional inserida nos dois quesitos mencionados. Entre a população negra constatou-se 45,58% de seu efetivo encontra-se em condição análoga aos indígenas, o que corrobora com o descrito no parágrafo anterior. TABELA 4 - TAXAS ÉTNICAS DE ANALFABETISMO RONDOLÂNDIA (2010) Idade Pessoas%* Branco %** Negro %**Pardo %** Indígena %** 15 anos ou mais 374 15,40 82 21,9 30 8,03 137 36,63 125 33,42 15 a 24 11 1,50 2 18,18 1 9,10 25 a 39 54 6,70 7 12,96 2 3,71 19 35,18 26 48,15 3 27,27 5 45,45 40 a 59 163 25,10 39 23,93 13 7,98 61 37,42 50 30,67 60 ou mais 146 57,00 34 23,29 14 9,60 54 36,98 44 30,13 Total 748 164 60 274 250 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (*) Conforme IBGE. (**) Média observada sobre as faixas etárias Na análise dos dados acima se constata ainda que a faixa de 15 anos ou mais, representa um total de 50% das pessoas que não sabem ler ou escrever, de modo que coloca em risco o futuro dessa geração. Logo, se faz urgente a adoção de políticas públicas de educação que possibilite a esses jovens e adolescentes a ter acesso e permanência na escola, sob pena de ser cada vez mais excluído da cidadania. Uma questão chama atenção sobre a tabela, visto que entre o índice com menor taxa de analfabetismo ocorra entre a população negra e fortemente acentuada entre as populações parda (em todas as faixas etárias) e branca (em três das cinco faixas) superando ao índice geral apontado no município. Há de se perguntar: poderá ser que a população negra não tenha acesso ao trabalho, possivelmente porque os anos de estudos são menores do que dos pardos e brancos ou poderá ser uma discriminação que ocorre na sociedade daquele município? 41 2.4 RELIGIOSIDADE A religiosidade é expressiva em Rondolândia e exercitada em vários segmentos, sendo o Católico Romano em número de pessoas, seguido pela Batista, Pentecostal e Assembleia de Deus. Se considerarmos aquelas de origem cristã o percentual ultrapassa os 85%. A religiosidade de origem indígena apresenta 109 seguidores. É necessário, no entanto, qualificar a influência e existência de várias igrejas, principalmente as de matiz missionária em Terras Indígenas do município que tem contribuído para as mudanças dos valores espirituais, ancestrais e culturais das populações indígenas, inclusive várias lideranças tornaram-se pregadores. Esse caráter de influência tem produzido uma série de conflitos internos entre os indígenas que adquirem novas representações espirituais e cujo estranhamento não é aceito por parte da população, especialmente a mais idosa. 2.5 PRODUÇÃO AGRÍCOLA E EXTRATIVISMO Neste item verifica-se que no histórico do município de 2001-2010 a agricultura seja com a lavoura temporária ou a permanente tem diminuído gradativamente a área de plantio, inclusive no quantitativo da produção. A mandioca e o cacau são um dos poucos segmentos que tem experimentado um aumento ainda que tímido na área, sendo que algumas das culturas tendem a desaparecer e/ou passar a ter uma pequena representatividade na economia de Rondolândia, motivados pela forte competição externa. Em contrapartida, observa-se no período um aumento considerável da pecuária bovina – ver seção específica - o que resulta em expansão de áreas com consequente incremento de desmatamento. Os dados apontam que a mandioca e o milho (temporárias) e o café (permanente) são as mais expressivas em quantidade produzida, e as demais suprem parte da subsistência alimentar. No tocante a extração vegetal (2001-2010), a participação do município também é reduzida, sendo a madeira em tora e a lenha as mais representativas tanto em quantidade quanto para a economia local, ainda que essa atividade não seja sustentável a longo prazo. Com a exaustão de espécies madeiráveis nas propriedades rurais, a atividade possui a tendência de avançar sobre 42 terras indígenas e unidades de conservação, ocasionando uma série de conflitos entre madeireiros e indígenas, fato esse verificado com bastante frequência na região, sobretudo na TI Sete de Setembro (Paitery Garah). Tendo por base o Censo Agropecuário 2006, que o município dispunha naquele período de 347.342ha de florestas naturais, podemos afirmar que o uso dos recursos florestais (resinas, cipós, alimentícios, oleaginosos, entre outros) é irrelevante, possivelmente não se torna atraente por alguns motivos, tais como: a) dificuldade de extração, o que implica em mão-deobra não qualificada ou por desconhecimento por parte da parcela; b) dificuldade de armazenagem na região; c) dificuldade e/ou inexistência de mercado. Desse modo, a extração da madeira torna-se mais atrativa em vista do retorno do investimento ocorrer a curto prazo, além do que pela deficiência na fiscalização pública e a falta de punição a infratores favorece a ações predatórias, cujas consequências sociais e econômicas futuras podem inviabilizar o segmento com graves prejuízos à sua população. 2.6 INDÚSTRIA E COMÉRCIO A economia do município nos segmentos da indústria e comércio é incipiente em número de empreendimentos. Os dados obtidos da SEFAZ-MT (2002) apontavam que Rondolândia possuía 35 indústrias com atividade de processamento de madeiras, 02 com produção de gêneros alimentícios e 01 com produção diversa. Esses dados não apontam o porte destas indústrias, se se tratam de micros, pequenas, médias ou grandes. 2.7 SERVIÇOS URBANOS Os serviços oferecidos são extremamente precários, uma vez que o município, conforme apresenta o Ministério da Saúde não possui rede de esgotos, saneamento básico, incluindo água tratada. Para os atendimentos básicos de saúde existia um Centro de Saúde (Ministério da Saúde, 2004). Em 2009 (IBGE, Assistência Médica Sanitária 2009; Rio de Janeiro: IBGE, 2010) contava com três estabelecimentos de saúde pública municipal com atendimento ao SUS e sem internação, sendo que primeiro deles apresentava atendimento médico ambulatorial, especialização básica e apoio à diagnose, atendimento odontológico e emergência e terapia. Os casos mais graves de saúde são tratados em municípios vizinhos, principalmente os municípios maiores que possuem uma melhor estrutura de atendimento. Em relação ao sistema de telefonia fixa conta com alguns poucos telefones, sendo que não existem serviços de telefonia celular. A energia elétrica fornecida pela CEMAT, conforme dados da própria empresa, em 2002 atendia apenas 71 residências, 01 indústria, 15 comércios e 09 outros não especificados. estaduais e municipais em 08 escolas de pré-escolar, 10 em ensino fundamental e 02 em ensino médio. Ressalta-se, porém que tanto as escolas estaduais, quanto as municipais possuem mais do que um nível de ensino, com isso tem-se 12 escolas no município, inclusive rurais e indígenas. É necessário destacar que o município não possui o ensino superior, o que obriga os alunos concluintes do ensino médio a duas opções: a) sair do município à procura de outros centros que possuem maior oferta de ensino em um grau imediatamente superior; b) interromper o processo educacional e a aquisição de conhecimento. O município conta com 01 agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, e para o lazer da população existe uma quadra desportiva simples pertencente à Prefeitura de Rondolândia. 2.8 EDUCAÇÃO Os dados do IBGE apontam que 20,75% do total populacional é constituída por aqueles que não sabem ler ou escrever, considerando-se somente as pessoas com idade de 15 anos ou mais. Na análise desses dados se constata ainda que essa faixa etária representa um total de 50% das pessoas que não sabem ler ou escrever, tal fato coloca em risco o futuro dessa geração. Logo, se faz urgente a adoção de políticas públicas de educação que possibilite a esses jovens e adolescentes a ter acesso e permanência na escola, sob pena de ser cada vez mais excluído da cidadania. Rondolândia, segundo informações do MEC (2002) possuía 02 unidades de ensino atendendo a PréEscola, 01 unidade urbana com ensino fundamental, 09 escolas rurais e 01 escola estadual de ensino médio na zona urbana. Em 2011, o município possuía um total de 1.402 pessoas com idade escolar (0-17 anos), o que corresponde a 29,90% do total populacional. Entretanto, esse número é bem maior, considerando que a existência de pessoas com idade superior a 17 anos. No entanto, o número de alunos matriculados são 1.184, com a seguinte distribuição: a) 19 em creche; b) 138 na pré-escola; c) 405 no ensino fundamental anos iniciais; d) 354 no ensino fundamental anos finais; e) 268 no ensino médio (MEC, 2011). Observa-se que o total de alunos matriculados em 2011 é menor do que aqueles de 2009 que totalizava de 1.295 alunos nos níveis pré-escolar, fundamental e médio, com um efetivo de 93 professores distribuídos nas redes 43 CAPÍTULO 3 Acervo APIZ CAPÍTULO 3 44 3.1 INTRODUÇÃO Israel Vale / Kanindé ESTUDOS BIOLÓGICOS O bioma amazonia é megadiverso e possui heterogeneidade ambiental, com ecossistemas de florestas de terra firme divididos em toposseqüências distintas (platô, encosta e baixio), florestas alagadas sazonalmente (várzea e igapó), campinas, campinaranas e encraves de savana (NELSON E OLIVEIRA, 2004). A megadiversidade pode ser exemplificada pela riqueza de espécies do estrato arbóreo que pode ultrapassar mais de 300 espécies em um único hectare (OLIVEIRA, 2001). No Brasil esse bioma encontra-se na região norte do país, somado a parte do estado do Maranhão e Mato Grosso, a chamada Amazônia Legal. Além da questão biológica, a diversidade de populações indígenas é a maior do Brasil, segundo dados do ISA (2010), mais de 80% das etnias reconhecidas no Brasil estão nessa região. Hoje, 21,6% da Amazônia legal é protegida por Terras Indígenas, são 406 territórios reconhecidos oficialmente (ISA, 2010). Com as crescentes taxas de desmatamento é ressaltada a ameaça à integridade cultural desses povos e aos seus ambientes nativos. No Brasil, as áreas devastadas estão em sua grande maioria concentradas nos estados do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins e Rondônia, além da parte sul do Amazonas. Uma das estratégias adotadas atualmente por organizações indígenas e indigenistas é a realização de zoneamentos 45 territoriais para que as diretrizes às futuras estratégias de gerenciamento, reconhecimento e utilização dos recursos naturais aconteçam. O conhecimento atual a respeito da diversidade biológica é extremamente ínfimo, vide novas espécies de mamíferos sendo descritas a cada ano para a Amazônia. Diante do processo acelerado de devastação que nossa floresta Amazônica vem sofrendo é necessário o desenvolvimento de programas de conservação, monitoramento e uso sustentável de recursos biológicos. Inventariar e monitorar a fauna e flora de determinadas porções de um ecossistema são os primeiros passos para gerar, armazenar e utilizar dados para a conservação e uso racional da biodiversidade. Dentre os grupos mais utilizados em estudos nesta área estão os mamíferos (CULLEN et al., 2003). Alianças bem estruturadas com comunidades indígenas para conservação e desenvolvimento são de fundamental importância (ZIMMERMANN et al., 2001; SCHWARTZMAN & ZIMMERMAN, 2005), considerando que quase um quinto de toda a Amazônia brasileira está atualmente destinado a reservas e territórios indígenas. Os cientistas da conservação estão cada vez mais convencidos de que os territórios indígenas, dado seu tamanho e estado de proteção, serão um fator decisivo no futuro do ecossistema amazônico (PERES & ZIMMERMAN, 2001; PIMM et al., 2001; FEARNSIDE, 2003; SCHWARTZMAN & ZIMMERMAN, 2005). Assim, é importante que o processo de ocupação e utilização dessas áreas seja pautado num sistema que minimize os impactos ambientais negativos e que busque a sustentabilidade dos recursos naturais. Para tanto, é imprescindível a realização de diagnósticos e monitoramentos dos fatores ambientais. Israel Vale / Kanindé Área desmatada na Terra Indígena 46 3.2 VEGETAÇÃO Na área inventariada foi observada alta diversidade, contabilizada por 318 espécies, distribuídas em 136 gêneros e 56 famílias. Dessas, 10 espécies foram definidas apenas em nível de família e 17 não foram identificadas. As famílias que apresentaram o maior número de espécies foram: Fabaceae (51); Malvaceae (21); Moraceae (18); Lecythidaceae (15), Sapotaceae (13); Apocynaceae (14); Burseraceae (11); Euphorbiaceae (12); Annonaceae, Meliaceae, Lauraceae (10). A quantidade de espécies encontradas no levantamento realizado na TI Zoró está dentro da amplitude esperada para a fisionomia: 96 (SILVEIRA, 2001) a 362 (PEREIRA ET AL.,2005) espécies registrada em diferentes localidades da Amazônia brasileira. Além do número de espécies, os dados florísticos obtidos confirmam que as famílias botânicas representam um grande número de espécies. Destaca-se a riqueza de espécies de potencial madeirável como a Amburana cearensis var. acreana (Cerejeira - Akap) que foi amplamente avistada e que merece destaque por estar localmente ameaçada de extinção, segundo a listagem oficial do IBAMA (2008). Outra espécie destacada por sua ampla utilização dos frutos é a Bertholetia excelsa (Castanheira – Mangap) que também é incluída nessa listagem. O reconhecimento vegetacional dos indígenas que nos acompanharam, Benamu e Marina, é elevado, pois não só reconheciam e diferenciavam, como descreviam e nomeavam diversas espécies avistadas, mesmo aquelas que não possuíam aparentemente alguma forma de uso direto. O extrativismo florestal é uma das fontes de alimento utilizadas pelos indígenas da TI Zoró. As árvores frutíferas encontram-se espalhadas ao longo da mata e a população realiza as coletas muitas vezes quando saem para caçar na floresta. 25 espécies identificadas dão frutos comestíveis (19 árvores e 06 palmeiras). Podemos destacar as espécies: Theobroma microcarpum (Alabir – Cacauí), Theobroma sylvestris (Akup – cacau da mata) Bertholletia excelsa (Mamgap castanheira), Endopleura uchi (Ipwap – uxi liso), Spondias lutea (Bixuga - cajá) como fontes de frutos comestíveis. Na TI Zoró existem diversas espécies de palmeiras, e são elas: Astrocaryum aculeatum G.Mey. (Naluj – tucumã) Euterpe precatoria (Bibkap - açaí), Iriartela setigera (paxiubinha), Oenocarpus bataua (Ujkap – patauá), Orbygnia phalerata (Pasawa - babaçu) e Socratea exohriza (Pãriã – paxiuba). O territorio Zoró é reconhecido um elevado potencial de espécies madeireiras existentes, fato constatado pela exploração madeireira (de forma ilegal) que ocorreu mais intensificadamente no passado, mas que ainda hoje é notada. Espécies como: cerejeira (Akap), louros, angelins, garapeira (Giniwãwip), entre outras foram avistadas na floresta remanescente que percorremos. Na tabela 05 encontram-se registrados os nomes indígenas das espécies com seus respectivos correlatos segundo sistema de classificação euroamericano e os eventuais usos concernentes a elas. Pesquisadores de Vegetação trabalhando 47 TABELA 5 - NOMENCLATURA CIENTÍFICA, INDÍGENA (ZORÓ) E EVENTUAIS USOS DADO PELOS INDÍGENAS DA TERRA INDÍGENA ZORÓ, RONDOLÂNDIA –MT. 48 Nome científico Nome indígena Usos Amburana acreana (Ducke). A.C. Smith Akap madeira Apuleia leiocarpa Giniwãwip madeira Astrocaryum aculeatum Naluj frutos palhas Bauhinia sp. Mangangap remédio Bertholletia excelsa Humb. & Ponpl Mamgap madeira, fruto Bombacopsis macrocalyx Abuluptapu Brosimum rubescens Taub Bujak-ij madeira, fruto Capirona decorticans Spruce Bixagap madeira Caryocar sp. Kusyj madeira, fruto Casearia javitensis H.B.K. Betig Cassia sp. Tiber Cecropia sp. Apungâp remédio Cedrela fissilis Vell. Kujã madeira Ceiba pentandra Abulyptapua madeira Chorisia speciosa Aborop madeira Chrysophyllum sp. Akabikyp Copaifera multijuga Nangawip madeira, remédio Couratari longipedicellata W.A.Rodrigues Wabep madeira Dipteryx odorata Xiber madeira Duguetia surinamensis Zãygan fruto Dulatia sp. Ambusar Endopleura uchi Huber Ipwap Enterolobium sckomburgkii Kupeteg Eugenia sp. Ippitin fruto Euterpe precatoria Mart. Bipkap fruto, palha Ficus sp. Bulikakyp fruto Geissospermum argenteum Woodson Pipem Guarea guidonia (L.) Sleumer Dabeappep Guarea sp. Japerep Guatteria olivacea R.E.Fr. Jabulap fruto Hevea brasiliensis Aubl. Bar látex Hymenaea courbaril Bade fruto Hirtela racemosa Nambegepit Hymenolobium modestum Ibugakir Hymenolobium sp. Itikunsum apejip Hymenolobium sp. Titinim Inga cayanensis Gulubug Irianthera ulei Nakaptigipwip Jacaratia sp. Ibug Leguminosae 01 Zugup Leguminosae 02 Makapkãj Lueheopsis rósea Basepburyp Maquira sclerophylla (Ducke) C.C.Berg. Idigip Meliaceae Irsep Mezilaurus itauba (Meissn.) Taubert. ex. Mez. Zulup madeira Micropholis sp. Basepiwup fruto Moraceae Abixereq Myrcia sp. Basepkupenyg fruto madeira madeira fruto fruto NI Pauzeregjam NI Dagdogkir NI Buxi NI Badekup NI Buliri NI Talupep NI Murirapé NI Burarap NI Manlixip NI Akabisum NI Gulupatiap NI Bugbuga NI Garapiter Ocotea parviflora Najparber madeira Oenocarpus bataua Mart. ujkap fruto, palha Olacaceae Ip pep madeira Orbygnia phalerata Mart. Ex Spreng Pasawa fruto, palha Parahancornia fasciculata Iptulukap fruto Peltogyne paniculatum Ipwup madeira Piptadenia sp. Amipu madeira Pouteria caimito (Ruiz & Pav) Radlk. Zugzug fruto Pradosia sp. Zajgur Protium decandrum Kasanem remédio Pseudolmedia laevis (Ruiz & Pav) Macbr. Ipeb fruto Quinaceae Mangãngam Sapium marmiele Pax Japtigap remédio Sclerolobium férrea Gusunam madeira Simphonea globulifera Zujkajã Siparuna guianensis Aubl. Gerejun Socratea exohriza Mart H. Wendl. Pãriã fruto, palha Spondias lútea Bixuga fruto Sterculia sp. Aledjag Symphonea globulifera Walawala Tabebuia incanum Mengkirkawip Tachygalia myrmecophyla Zujbirap Tetragastris panamensis (Engl) Kuntze Abi Theobroma microcarpum Alabir fruto Theobroma sylvestris Akup fruto Thyrsoideum spruceanum Benth. Atam Trattinickia rhoifolia Willd. Aberetyngam Trichilia cipo (A.Juss.) C. DC. Bagaxir unonopsis duckei Alassopé Virola multinervia Ducke Ikarap Vitex trifolia L. Itipabikip Xylopia aromática Zapabiap remédio Xylopia sp. Pixam remédio madeira 49 A espécie mais densa foi Theobroma microcarpum (cacauí - Alabir), o que ocasionou que apresentasse o maior índice de valor de importância (IVI), em segundo lugar ficou Orbygnia phalerata (babaçu). No 3º, 4º e 5º lugar, estão as espécies: Euterpe precatória (açaí), Trattinickia rhoifolia (breu) e Protium giganteum (breu), respectivamente. Guarea guidonea e Orbygnia phalerata foram as espécies mais freqüentes, ocorrendo em todos os conglomerados amostrados. Aspidosperma nitidum, Sapium marmieri, Pseudolmedia laevis, Socratea exohriza e Brosimum rubescens, Euterpe precatoria, Protium giganteum e Hymenaea intermedia em quase toda a área. Babaçu (Orbignya phalerata Mart.) foi a segunda espécie de maior IVI e tem ampla distribuição na área. Essa possui sementes oleaginosas e comestíveis das quais se extrai um óleo empregado, sobretudo, na alimentação. Além, de ser alvo de pesquisas avançadas para a fabricação de biocombustíveis. Do broto, se extrai palmito de boa qualidade, o fruto, enquanto verde, serve para defumar a borracha. Quando maduro, a parte externa é comestível. Das folhas e espatas se fabricam esteiras, cestos, chapéus, entre outros produtos. Theobroma microcarpum, Euterpe precatoria, Orbygnia phalerata, Trattinickia rhoifolia, Socratea exohriza, Guarea guidonea, Wettinia augusta, Protium giganteum, Iriartela sp. foram as mais densas. E aquelas mais dominantes, ou seja, as que possuem grandes áreas basais são: Orbygnia phalerata, Theobroma microcarpum, Trattinickia rhoifolia, Aspidosperma nitidum, Protium giganteum, Hymeneae intermedia, Maquira sclerophylla, Sapium marmieri, Pouteria guianensis, Protium decandrum. Açaí solteiro (Euterpe precatoria Mart.) apresenta elevada densidade de indivíduos potencialmente produtivos, e, portanto pode ser um recurso alvo a ser explorado. Da palmeira, tudo se aproveita: frutos (alimento e artesanato), folhas (coberturas de casas, trançados), estipe (ripas de telhado), raízes (vermífugo), palmito (alimento e remédio anti-hemorrágico). O maior potencial comercial encontra-se no processamento e venda dos frutos. As localidades percorridas provavelmente apresentam-se como um refúgio para fauna, muito embora florística e fisionomicamente tenham características de um ambiente alterado pela exploração madeireira. Tal fato foi atestado pelo estabelecimento e o adensamento de plantas exigentes de maior luminosidade, dada a abertura de dossel, como as palmeiras, sororocas, e algumas espécies do gênero Vismia, Cecropia e Apeiba. Além disso, foram avistados grande quantidade de carreadores novos e antigos. Breu (Protium spp.) gênero representado por pelo menos seis espécies na TI Zoró é um recurso destaque no território. Do tronco das árvores se extrai uma resina com elevado valor agregado. Sua composição é, em grande parte, de ácidos resinóicos. É industrialmente utilizada para a fabricação de verniz, velas para iluminação e repulsivas de insetos. Seu óleo essencial é largamente empregado na indústria cosmética e de perfumes. Possui propriedades anti-inflamatórias, é utilizada no tratamento das dores reumáticas e musculares, das infecções das vias respiratórias e picadas de insetos. A escolha da alocação do ponto de amostragem no centro da TI, teoricamente nos asseguraria a maior integridade do ambiente nativo, uma vez que as fazendas e a pressão madeireira estariam mais concentradas nos limites desse território. Porém o que foi constatado permite a sugestão de dois cenários: 1) que as áreas limítrofes do território estejam mais degradadas e o que foi amostrado seja a localidade mais preservada da TI, ou 2) a exploração dos recursos, principalmente madeireiro, com o corte seletivo ocorre de forma homogênea em toda a área e o ambiente que foi amostrado reflete a realidade ambiental da maior parte da TI. Dada as informações obtidas pelas análises fitossociológicas destacamos duas espécies de palmeiras (Orbignya phalerata e Euterpe precatoria) e uma 50 arbórea (Protium spp.) como as de maior destaque para futuras ações que priorizem a coleta com finalidade comercial. E são elas: Além dos produtos obtidos por essas espécies mencionadas acima, existe potencialidade de extração com finalidade comercial do óleo-resina de copaíba, da castanha-do-brasil e do látex da seringueira. Embora não tenham aparecido como as espécies mais densas, frequentes e ou dominantes, a copaíba, a castanheira e a seringueira são bem representados na localidade. O extrativismo destinado à comercialização, quando respaldado pelo planejamento que vise a coleta racional, é de suma importância para a garantia da sustentação da atividade, sob o ponto de vista ecológico. Dessa forma, é fundamental que sejam elaborados planos de uso para as espécies de interesse com a finalidade da não exaustão do recurso, bem como pesquisas de demanda de mercado para a destinação certa de eventuais produções. Alguns animais silvestres, principalmente os mamíferos diurnos, geralmente os de médio e grande porte, apresentam grande potencial para o desenvolvimento de atividades sustentáveis tanto em termos ambientais, como sociais e econômicos. Além disso, é a principal fonte de proteína para diversas populações de algumas regiões, somente sendo trocada pelo peixe em regiões que possuem grandes corpos d’água. Israel Vale / Kanindé 3.3MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE A taxa geral foi de 9,85 avistamentos / 10 quilômetros percorridos, taxa esta considerada alta ao ser comparada com outras localidades amostradas durante a Segunda Aproximação do Zoneamento Socioeconômico Ecológico – ZSEE, realizado no estado de Rondônia ou em outros levantamentos realizados em Terras Indígenas, como a T.I. Sete de Setembro, localizada no estado de Rondônia, T.I. Jiahui, localizada no estado Amazonas e T.I. Trombetas/Mapuera, localizada no estado do Pará. O maior número de avistamentos é da comunidade de primatas da área de estudo, com 49% dos registros, distribuídos entre 7 espécies (Tabela 6). Este padrão é esperado quando se utiliza a metodologia de transecção linear, pois o avistamento de animais que apresentam comportamentos menos discretos e/ou vivem em bandos é sempre maior do que animais silenciosos ou solitários. Macaco Prego, Sapajus Apella TABELA 6 - NÚMERO E TAXA DE AVISTAMENTO / 10 QUILÔMETROS PERCORRIDOS DAS ESPÉCIES DE MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE REGISTRADAS DURANTE OS 142 QUILÔMETROS PERCORRIDOS DURANTE O LEVANTAMENTO REALIZADO NA TERRA INDÍGENA ZORÓ. Nº de avistamentos Ordem Família Nome Científico Nome Comum (taxa por 10km percorridos) Primates Atelidae Ateles chamek Macaco aranha 3 (0,21) Alouatta puruensis Bugio, Gariba 2 (0,14) Sapajus apella Macaco prego 25 (1,76) Saimiri ustus Mão de ouro 10 (0,70) Mico sp. Mico 10 (0,66) Callicebus bernhardi Zogue zogue 12 (0,84) Phitecia irrorata Macaco velho 7 (0,56) Mazama americana Veado vermelho 3 (0,21) Mazama nemorivaga Veado roxo 2 (0,14) Pecari tajacu Cateto 3 (0,21) Tayassu pecari Queixada 8 (0,56) Dasyprocta fuliginosa Cutia-preta 35 (2,46) Dasyprocta variegata Cutia-marrom 5 (0,35) Myoprocta pratti Cutiara 1 (0,07) Cuniculidae Cuniculus paca Paca 1 (0,07) Sciuridae Sciurus ignitus Quatipuru 6 (0,42) Sciurus spadiceus Esquilo 2 (0,14) Puma concolor Onça parda 2 (0,14) Panthera onca Onça pintada 1 (0,07) Procyonidae Nasua nasua Quati 1 (0,07) Mustelidae Eira barbara Irara Cebidae Pitheciidae Artiodactyla Cervidae Tayassuidae Rodentia Carnivora Total Dasyproctidae Felidae 1 (0,07) 141 (9,85) 51 Israel Vale / Kanindé O tamanho corpóreo, assim como o uso dos recursos das espécies avistadas variaram de pequeno porte, (Mico sp), á primatas de grande porte, como o macaco aranha (Ateles chamek), os quais usam diferentes tipos de extratos e recursos florestais. A espécie Sapajus apella (Macaco-prego) foi dentre o grupo de primatas, a espécie com o maior número de avistamentos, totalizando 25 avistamentos durante as duas etapas do diagnóstico. Isso se deve ao fato dos cebídeos possuirem uma grande capacidade de adaptação a qualquer ambiente e geralmente não entram na lista de espécies caçadas para consumo dos indígenas. Israel Vale / Kanindé Os avistamentos para a espécie de mico (Mico sp.) para a área gerou dúvidas quanto a identificação taxonômica, sendo necessário o manuseio ou até mesmo coleta de espécimes para uma identificação mais precisa. Como os objetivos do trabalho, a princípio, não demonstravam necessidade de uma identificação mais precisa deste animal, não houve coleta ou outro tipo de captura, ainda assim a equipe não possuía licença para tal. O segundo grupo com maior número de avistamentos foi o dos roedores, com 36% dos avistamentos (50 avistamentos) divididos entre 6 espécies (Tabela 1). Onde a espécie com maior número de avistamentos foi a Cutia – preta (Dasyprocta fuliginosa) com 35 avistamentos. Em seguida, aparece os Artiodactyla com 11% dos registros divididos entre 04 espécies, onde o maior número de avistamentos pertence a Tayassu pecari com um total de 08 registros. Israel Vale / Kanindé Os carnívoros aparecem como a família com o menor número de registros, com apenas 4% da percentagem total de avistamentos, onde foram registradas 4 espécies pela metodologia de transecção linear. Isto é considerado normal, visto a dificuldade de detecção destes animais. Vale ressaltar os avistamentos de Panthera onca e Eira barbara, estes animais são extremamente raros de serem avistados com a metodologia de transectos lineares. 52 Foram registradas cinco espécies de mamíferos nas armadilhas fotográficas sendo elas Leopardus pardalis (Jaguatirica), fotografada na câmera alocada em um carreador nas proximidades da Aldeia do Luiz, Panthera onca (Onça Pintada), registrada em outra câmera, sendo outro carreador mais distante da aldeia, Cuniculus paca (Paca), Eira barbara (Irara), e Tayassu tajacu (Caititu). Os registros de felinos são de grande importância para a área de estudo, por se tratarem de espécie de difícil detecção. Ambas as espécies de felinos estão listadas com “Vulneráveis à extinção” pela lista do Ministério do De cima para baixo: Cutia-marrom (Dasyprocta variegata), queixada (Tayassu Pecari), Veado Vermelho (Mazama americana) Meio Ambiente – MMA, de 2008, destacando a área como importante para as populações de carnívoros. Hoje o povo Pangyjej Zoró alimenta-se de quase todos os animais que existem na floresta, porém, nem sempre foi assim. Antigamente não se comia primatas porque corria o risco de se contrair malária, mas hoje não existe mais essa restrição, sendo o macaco mais consumido, o macaco preto – Ateles mittermeieri, e que inclusive sua carne deixa o homem mais forte para fazer filho. Outros animais que os indígenas não consumiam e hoje consomem é a Paca – Cuniculus paca, pois deixava fraco e barrigudo, e veado vermelho, que deixava tonto os que comiam sua carne. O que se percebe é que hoje essas restrições somente são seguidas pelos indígenas mais velhos, sendo que os mais novos já não respeitam totalmente a cultura. Segundo informações do pesquisador indígena Panin, os homens que tem filho recém-nascido não podem comer macaco prego, veado vermelho e cateto, pois o filho pode ter problemas como ficar “doido” e chorar muito. Alguns mamíferos foram citados pelos pesquisadores indígenas como não consumidos em hipótese alguma pelo povo Pangyjej Zoró, sendo eles: mucura, morcego, onça, cachorro do mato, capivara, tatu canastra, ratos, porco espinho, macaco da noite, irara e mão pelada. Segundo os indígenas, não comem estes animais porque nunca se interessaram em experimentar, não relacionando com nenhum mito ou crença. Nome popular Nome em Tupi-mondé Zogue-zogue Mandyr Mão-de-ouro Ximgyp Macaco-prego Basajkap Mico Gupxryr Macaco-velho Palapsea Cuxiú Basaykap Macaco-aranha Alime Macaco-barrigudo Allimekur Onça-pintada Neku Onça parda Nekup Jaguatirica Nekukyp Queixada Bebe Cateto Bebekur Veado vermelho Iti Veado roxo Itipep Anta Wasa Capivara Wasabira Paca Anza Cutia Waki Tamanduá bandeira Wasakuli Tatu canastra Malula Tatu quinze quilos Wazuj Tatu galinha Wanzujkaber Israel Vale / Kanindé TABELA 7 - NOME DAS ESPÉCIES DE MAMÍFEROS REGISTRADAS PARA A TERRA INDÍGENA ZORÓ, SEGUNDO A LÍNGUA TUPI-MONDÉ. Macaco Aranha (Ateles Chamek) 53 Israel Vale / Kanindé 54 Acima à esquerda, pegada de anta (Tapirus Terrestris) e à direita, pegada de onça (Panthera onca). Na imagem central e ao lado, Macaco Barrigudo (Lagothrix Cana). Com os caçadores foi possível obter outras histórias e lendas: •O espírito do macaco-aranha (Ateles chamek) vira pajé, assim como o da anta (Tapirus terrestris) e do queixada (Tayassu pecari). •Quando há alguma agressão a outra pessoa na aldeia, os moradores se referem ao espírito destes animais que se transformaram em pajé. •Quando o filho de qualquer caçador estiver pequeno não pode matar veado, pois esta criança pode ficar doente. •Em épocas de festas, como o natal e ano novo, todos os caçadores caçam todo o tipo de animal que puder, com isso realizam um grande banquete para toda a aldeia, a fim de comemorar as datas. Levando em consideração a questão da extração de madeira e de formação de fazenda em uma das extremidades da terra indígena, provavelmente está ocorrendo um adensamento de mamíferos nos locais mais preservados. A retirada de madeira da terra indígena leva os madeireiros a permanecerem por muito tempo dentro dos limites da área, levando ao consumo dos recursos que são importantes para a sobrevivência dos povos indígenas, que acabam sofrendo com a redução da caça ou da pesca. A fragmentação pode vir a impedir a recolonização da área por populações que não são caçadas, além de proporcionar uma menor oferta e uma menor qualidade de recursos para os animais que se alimentam de frutos e sementes. 3.3.1. Caça de subsistência Ao todo foram registrados 112 abatimentos, sendo 84 registros de mamíferos e 28 registros de aves. Foram abatidas 18 espécies, sendo elas: Dasypus novemcinctus, Ateles chamek, Lagothrix cana, Cebus apella, Cuniculus paca, Dasyprocta azare, Panthera onca, Nasua nasua, Tapirus terrestris, Tayassu pecari, Mazama americana, Pecari tajacu, Psophia viridis Spix, Aramides cajanea, Pauxi tuberosa, Penelope superciliaris, Aburri cujubi e ´Ara sp. A espécie mais caçada foi T. pecari (29) com 26% do total de registros. Dentre o grupo das aves, a espécie P. tuberosa (15) foi a que obteve um número maior de registros com 13,4% do total. Das 18 espécies caçadas, apenas duas de mamíferos (Panthera onca e Lagothrix cana) e três espécies de aves (P. viridis Spix, P. superciliaris e A. cajanea) apresentaram apenas um registro de abatimento. O valor total da biomassa de carne de caça abatida foi de 3.004 Kg, sendo que 94,74% desta biomassa foram de mamíferos e 5,26% de aves. As espécies que mais contribuíram para esta biomassa foram T. pecari (1.110 kg - 36,95%), P. tajacu (918 kg - 30,55%) e T. terrestris (442 kg - 14,71%). Já para as aves somente a espécie Pauxi tuberosa (101 kg - 3,36%) obteve um número relevante de biomassa. A espécie T. terrestris teve somente três indivíduos abatidos durante os meses analisados, porém todos os indivíduos eram fêmeas. O registro de animais constantes nas listagens de espécies ameaçadas reforça a importância do uso de forma sustentável da área, pensando sempre no manejo dos recursos para diminuição dos impactos. Sabendo da existência destas espécies de grande valor conservacionista, aumenta ainda mais o destaque da área em um contexto de proteção de espécies ameaçadas. Lara Diniz Lara Diniz Lara Diniz Da esquerda para a direita, abatimento de veado (mazama americana), preparando a carne de paca (cuniculus paca) e abatimento de quati (nasua nasua). 55 TABELA 8 - RIQUEZA, COMPOSIÇÃO, ABUNDÂNCIA E BIOMASSA DE ANIMAIS CAÇADOS NAS ALDEIAS ESTUDADAS NA TI ZORÓ, MT. TÁXON NOME COMUM ABUNDÂNCIAS BIOMASSA (Kg) Absoluta Relativa(%) Aldeia Aldeia Aldeia Luiz Central Escola Total Classe Ordem Gênero/Espécie MAMMALIA Cingulata Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 3 2,7 17 6 0 23 Primates Ateles chamek Macaco-aranha 3 2,7 40 0 0 40 Lagothrix cana Macaco-barrigudo 1 0,9 13 0 0 13 Cebus apella Macaco-prego 4 3,5 13 5 0 18 Cuniculus paca Paca 4 3,5 39 11 0 50 Dasyprocta azare Cutia 2 1,8 4 5 0 9 Panthera onca Onça-pintada 1 0,9 20 0 0 20 Nasua nasua Rodentia Carnivora Quati 2 1,8 8 0 0 8 Perissodactyla Tapirus terrestris Anta 3 2,7 150 147 145 442 Artiodactyla Porco 29 26 320 490 300 1110 Mazama americana Veado- vermelho 4 3,5 195 0 0 195 Pecari tajacu Cateto 28 25 105 278 535 918 84 75 924 942 980 2846 Psophia viridis Spix Jacamim 1 0,9 0 3 0 3 Aramides cajanea Saracura 1 0,9 0 3 0 3 Pauxi tuberosa Mutum 15 13,4 0 40 61 101 Penelope superciliaris Jacu 1 0,9 0 0 5 5 Aburri cujubi Jacutinga 4 3,5 0 7 19 26 Arara - vermelha 6 5,4 0 14 6 20 SUBTOTAL AVES 28 25 0 67 91 158 TOTAL GERAL 112 100% 924 1009 Tayassu pecari SUBTOTAL MAMMALIA AVES Gruiformes Galliformes Pistaciformes Ara sp. Lara Diniz Abatimento de queixada (tayassu pecari) 1071 3004 Dentre os mamíferos o queixada (T. pecari) obteve maior número de registros de abatimento seguido de cateto (P. tajacu) com 33,3% do total de animais abatidos. O grupo dos ungulados (animais de casco) representou a maior parte dos mamíferos caçados, correspondendo a 76,10% dos registros, seguido dos primatas com 9,6% e os roedores com 7,2%. O grande porte dos ungulados fez com que estes representassem também uma parcela maior do total de biomassa caçada com 93,63% e restando 6,37% distribuídos entre as outras ordens. Dentre as aves, o mutum (P. tuberosa) teve maior número de registros de abates com 53,57%, seguindo da arara (Ara sp.) com 21,43%, e jacutinga (Aburri cujubi) com 14,29%. No total de abatimentos para o grupo, a ordem galiforme foi dominante, representando 71,43% (Tabela 2). O mutum (P. tuberosa) também teve maior percentual de biomassa, representando 63,9% do total, seguindo do jacutinga (Aburri cujubi) com 16,5%, e arara (Ara sp.) com 12,6%. A atividade de caça foi classificada exclusivamente para a alimentação das famílias. No total, foram registrados 43 eventos de caça, todas tiveram o aparato de armas de fogo para os abatimentos, assim como o uso de cachorros em grande parte. O uso de armadilhas para atração e captura de animais não foram registradas em nenhuma das tabelas de caça. Somente os homens realizam as caçadas nas aldeias, e todos os caçadores tiveram a iniciação nesta atividade muito cedo, pois acompanhavam seus pais em caçadas. Cabem as mulheres a função de tratarem e prepararem as carnes de caça. 56 64 28 AGOSTO SETEMBRO 10 10 OUTUBRO NOVEMBRO Figura 1- variação no número de abatimento de animais nas três aldeias estudadas entre os meses de agosto a novembro de 2011. A frequência de caçadas apresentada pelos caçadores é de 1 a 2 vezes por semana. Com relação à preferência alimentar dos indígenas as espécies que foram mais citadas pelos caçadores entrevistados foram: Queixada (T. pecari), Macaco-aranha (Ateles chamek), Paca (C. paca), Macaco-prego (C. apella), Cateto (P. tajacu), Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), Veado (M. americana), Macaco-barrigudo (L. cana), Cutia (Dasyprocta azarae), e Anta (T. terrestris). Os cachorros são bastante utilizados como auxiliares nas caçadas, em média há dois cachorros por unidade doméstica que pratica a caça frequentemente. Fazem uso também de barreiros naturais, artificiais e esperas como estratégias de caça. A arma de caça mais utilizada é a espingarda. Em dias de caçadas os entrevistados chegam ir 12 km distantes de suas aldeias, mas quando há o uso de veículos chegam a ir 30 km. As caçadas duram quatro horas, ou até mais tempo se não conseguirem o animal. Existe uma percepção por parte dos caçadores da diminuição do recurso de caça em relação há anos anteriores. Dentre os animais apontados por eles que tenha sofrido diminuição em quantidade, as espécies de T. pecari, D. novemcinctus, e principalmente as espécies de macacos S. apella, L. lagotricha e A. chamek, pois são animais bastante consumidos. A criação de animais silvestres é comum nas aldeias da Terra Indígena Zoró. Os animais de criação são normalmente utilizados para abatimento em festejos realizados nas aldeias. Existem ainda animais que são criados para estimação, que normalmente é realizado com espécies de primatas. Os índios Pangyjej Zoró realizam manejo das áreas de caça, mesmo que de forma rudimentar e empírica. A grande estratégia é a mudança frequente das rotas de caça. Para os caçadores, manter uma área fixa de caçada prejudica os animais e estes migram para outras áreas. Outra estratégia utilizada por eles é caçar mais na mata primária, pois há uma variedade maior no número de espécies, sendo possível uma caça seletiva. Apesar destes hábitos, muitos abatimentos também ocorrem oportunisticamente em locais de trabalho como: roças, capoeira, e durante as pescarias. No calendário de caça montado constam os meses em que as espécies registradas neste estudo são procuradas ou evitadas pelos caçadores. O critério de escolha dos animais que serão caçados, está na preferência por indivíduos com alto teor de gordura. Quando o animal começa a engordar, ou começa a emagrecer, existe um interesse mediano, sendo que a espécie não é procurada ativamente, entretanto, se por ventura for avistado o mesmo é abatido; e se o animal estiver gordo, o mesmo é procurado e preferido nas buscas ativas. Lara Diniz Francisco Carvalho Na esquerda, apresentação do monitoramento de caça nas aldeias e na direita preparo da carne de anta. 57 70 9 8 60 7 6 40 5 30 4 3 20 2 10 1 0 0 Agosto Setembro Outubro Média Precipitação (mm) Número de abatimentos 50 Novembro Figura 2 - comparação o entre o número de abatimentos de animais e precipitação mensal ANIMAIS CAÇADOS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Média de Precipitação Mensal (mm) 13,4 17 9,5 3 0 0,9 0 0 3,5 OUT NOV 8 8,5 DEZ 8 Tayassu pecari (Queixada) Pecari tejacu (Cateto) Pauxi tuberosa (Mutum) Mazama americana (Veado) Ateles chamek (Macaco-aranha) Cebus apella (Macaco-prego) Lagothrix cana (Macaco-barrigudo) Cuniculus paca (Paca) Dasyprocta azare (Cutia) Tapirus terrestris (Anta) Dasypus novemcinctus (Tatu-galinha) Ara sp. (Arara) Penelope superciliaris (Jacu) Psophia viridis Spix (Jacamim) Aramides cajanea (Saracura) Aburri cujubi (Jacutinga) Figura 3 - calendário de caça das espécies abatidas nas aldeias Zawã harej pangyjej, Bubyrej e Ipe wyrej. Legenda:* pouco interesse médio interesse grande interesse *Fonte: caçador Roberto Pugupuj Zoró. No calendário de caça apresentado, encontram-se somente as espécies animais que são caçadas para consumo. Mesmo que a Arara (Ara sp.) tenha sido registrado nas Tabelas de Caça, por exemplo, não foi possível 58 discrimina-la em nível específico e provavelmente mais de uma espécie de cada um destes gêneros é explorada na área, aumentando ainda mais a riqueza de espécies de animais exploradas. Figura 4 - área utilizada para atividade de caça nas aldeias Zawã harej pangyjej, Bubyrej e Ipe wyrej. A atividade de caça tem grande importância na dinâmica de subsistência do Povo Pangyjej Zoró. A relação cultural deste povo com os animais é bastante estreita, seja para alimentação, para recreação ou nas crenças. Este padrão tem sido comum nas comunidades indígenas na Amazônia que utilizam grande variedade de espécies de grandes vertebrados (REDFORD, 1992; SOUSA-MAZUREK et al., 2000; WELTHEN, 2009; FRAGOSO, 2010;). Entretanto esta atividade também tem impacto sobre a fauna. No caso do Povo Pangyjej Zoró, a riqueza de espécies utilizadas está aquém do esperado e do encontrado por outros estudos na região amazônica. Peres e Nascimento (2006) registraram 35 espécies utilizadas para consumo pelos indígenas Kayapó, no Pará. Welthen (2009) registrou o consumo de 35 espécies de vertebrados pelos indígenas Wayana e Aparai, também no Pará. Já Souza-Mazurék (2000) registrou 41 espécies consumidas pelos indígenas Waimiri-Atroari, no Amazonas. Todos estes estudos foram realizados em Terras Indígenas que possuem grande parte de seu território preservado e estão localizadas em área de baixa pressão antrópica. Ao contrário à Terra Zoró, se encontra localizada no arco do desmatamento, em uma das áreas de maior pressão antrópica da Amazônia (FEARNSIDE, 2003; FERREIRA et. al, 2005). Apesar de o povo Pangyjej Zoró ter percepção de escassez da caça e desenvolver empiricamente uma estratégia de manejo, como a rotatividade das áreas de caça, provavelmente a caça de algumas espécies não será sustentável em médio e longo prazo na região. Desta forma, estudos de médio e longo prazo avaliando padrões anuais de uso da caça e impactos sobre a fauna são fundamentais para desenvolver junto com estes indígenas estratégias de manejo mais efetivas para a sustentabilidade da fauna e da atividade de caça. 59 3.4 AVES Os trabalhos de campo desenvolvidos na Terra Indígena Zoró resultaram em uma lista preliminar de 101 espécies de aves distribuída em 37 Famílias. Destas, as mais bem representativas quanto à riqueza de espécies foram: Thamnophilidae (12 spp); Psittacidae (11 spp); Dendrocolaptidae (08 spp); Accipitridae, Falconidae e Picidae (todos com 05 spp); Cracidae, Bucconidae, Ramphastidae, Pipridae, Tityridae e Emberizidae (todos com 03 spp). Em relação ao status de conservação das espécies registradas, apresenta-se na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MACHADO, 2008) e da Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature - IUCN (BirdLife International, 2012), a Arara-azul-grande Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790). Pelo Brasil, o Status é “Ameaçada” (MMA, IN 03/2003; MACHADO, 2008). Com sua maior presença em alguns estados brasileiros, no Mato Grosso tem sua distribuição relativamente restrita ao Pantanal. Por ter grande habilidade para deslocamentos a grandes distâncias, Anodorhyncus hyacinthinus aqui é reportada como provável ampliação de sua distribuição para esta região do noroeste do Mato Grosso, onde um monitoramento nesse local pode ajudar a compreender esta possível rota de deslocamento ou refúgio. Stotz et al., (1997) realizaram um exaustivo inventário também na região de Ji-Paraná, mais precisamente na Cachoeira Nazaré - Rio Machado, sendo esta região a mais próxima da TIZ, onde produziram a maior lista de espécies de aves e uma só localidade no Brasil, 459 espécies. Derivado desde inventário, Clytoctantes atrogularis era nova para a ciência e Sclerurus albigularis era registrada pela primeira vez no Brasil. Zimmer et al., (1997) realizaram também um exaustivo inventário na região Alta Floresta - MT, produzindo a maior lista de espécies de aves, tendo um total de 474 espécies, inclusive muitas endêmicas da região, destacando esta área como um dos sítios mais ricos do Brasil e de toda a Amazônia oriental. Ao se comparar à lista atual com o trabalho de Stotz et al. (1997) e Zimmer et al., (1997), verificamos que a maior parte das espécies registradas na TIZ, também foram registradas na Cachoeira Nazaré e Alta Floresta. Exceto Micrastur mintoni espécie recém-descrita por Whittaker (2002), era tratada até então como M. gilvicollis, morfo-espécie parecida, porém com vocalização diferente que a substitui ao oeste do rio Madeira e ao norte do rio Amazonas; e o caso do avistamento de Anodorhynchus hyacinthinus, provavelmente advinda de possíveis rotas de deslocamento do Pantanal; Phlegopsis borbae que é incomum e está associado a correições de formigas, onde foi relativamente fácil seu registro na TIZ. Desta forma, existem grandes possibilidades que na área da TIZ, existam cerca de 400 a 500 espécies de aves, se consideramos ambos os trabalhos. Vale ressaltar que embora a maior parte da avifauna encontrada em Nazaré e Alta Floresta se fazem presente na TIZ, não indica necessariamente que poderá ser encontrada em mesma quantidade naquela região. Fatores como integridade dos habitats, pressão de caça entre outros devem ser levados em conta neste caso. Ressalta-se também que a retirada intensa de madeira ilegal na região só tende aumentar o risco de degradação ambiental e consequentemente a dificuldade de registros de outras espécies mais sensíveis e/ou especialistas. A avifauna amostrada apresenta vários níveis de endemismos (HAFFER, 1985; HAFFER, 1990). Das 101 espécies registradas destaca-se: Capito dayi, Pyrrhura perlata, Lepidothrix nattereri, Phlegopsis borbae e Rhegmatorhina hoffmannsi, são 60 Glauko Corrêa / Kanindé Glauko Corrêa / Kanindé Nesta imagem Uirapuru-de-chapéu-branco (Lepidothrix nattereri) e acima Saripoca-de-gould (Selenidera gouldii) 61 Israel Vale / Kanindé Glauko Corrêa / Kanindé Glauko Corrêa / Kanindé Nesta imagem Periquito-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri). Abaixo à esquerda Udu-de-coroa-azul (Momotus momota) e à direita Garça-real (Pilherodius pileatus). endêmicas da Amazônia (Apêndice 1), das quais (Stotz et al., 1996), 03 (Pyrrhura perlata, Phlegopsis borbae e Lepidothrix nattereri), estão restritas à sub-região zoogeográfica Madeira-Tapajós. A composição e estrutura de uma comunidade de aves é condicionada pelas características ambientais, sofrendo alterações proporcionais às transformações impostas ao ambiente. Portanto, o manejo destes hábitats pelo homem traz consequências diretas e indiretas à avifauna. As alterações de habitats, provocadas por distúrbios antrópicos, geralmente induzem a simplificação do ambiente, mudando as condições microclimáticas, 62 alterando os padrões de disponibilidade de alimento, locais para reprodução, entre outros efeitos, que invariavelmente resulta no empobrecimento da avifauna. CREED (2006) ressalta que, o efeito de produção de clareiras através do corte seletivo, apesar de ser uma forma de intervenção mais tênue, provoca inúmeras alterações no ambiente explorado do que uma queda natural de uma árvore, além de processos de queimadas. Além de reduzir a área basal da floresta e produzir aberturas no dossel, aumentando a irradiância local e penetração lateral de luz sub-bosque, o que torna este mais quente, seco e a vegetação mais densa (CREED, 2006). Estas mudanças microclimáticas, de estrutura da vegetação do sub-bosque, como de sua composição, certamente produzem alterações quali-quantitativa da disponibilidade de recursos às aves. Das espécies de aves registradas na Terra Indígena Zoró, muitas fazem parte da relação cultural Pangyjej Zoró. Esta relação pode estar no âmbito da alimentação, ornamentação, assim como em significados míticos e padrão de pintura corporal. corporal baseado em aves são da arara e pica-pau, e também relatado o uso de penas de Wakuj (Pauxi tuberosa) para ornamentação corporal em danças. Tendo destaque as exuberantes pinturas corporais, atendem mais a padrões de mamíferos; serpente e quelônios; peixes; invertebrado; vegetação. Assim como em muitas regiões amazônicas, representantes das Famílias Tinamidae e Cracidae apresentam como importantes no quesito alimentar dos Zoró. Estas aves cinegéticas apresentam-se como grandes fontes de proteínas, além dos mamíferos e peixes, sendo que nos locais amostrados apresentam ainda populações consideráveis. Algumas espécies de menor porte de aves são comidas pelos Pangyjej Zoró como, por exemplo, as Sporophila sp. (tiziu), sempre caçadas ao entardecer, com fechas, geralmente pelas crianças. O uso de penas é devido principalmente à confecção de flechas. Os Pangyjej Zoró usam flechas específicas para caça em ambiente terrestre e aquático. Sendo destaque o uso de penas de araras, mutum, jacu e principalmente gavião. Além disso, observa-se em algumas aldeias a criação de aves seja como de estimação, alimentação ou para a retirada de penas. Além disso, de acordo com dados colhidos em campo com os antigos, não há restrição alimentar nesta etnia, tendo até relato de consumo de urubu (Mayaku) por alguns Pangyjej Zoró. Salvo, uma única exceção, até então, do não consumo de beija-flor (Kiryn) antes do contato com a sociedade não-indígena. Relatam que caso houvesse o consumo dos pais, seu filho iria ficar pequeno, mesmo que ele ainda não houvesse nascido, sendo que quando esse filho fosse concebido ao mundo, ficaria com estatura baixa. Um ponto interessante de ser ressaltado é quanto ao fator “restrição alimentar”, onde foram relatados que devido à grande influência religiosa dentro da etnia, atualmente os indígenas não tem restrição alimentar referente às aves. Em ocasiões especiais de festas dos Pangyjej Zoró é utilizada pintura corporal que imitam animais da floresta, sendo que especificamente os padrões de pintura Durante as entrevistas, onde estiveram vários pesquisadores indígenas e não indígenas, João Xuryt Zoró relatou um pouco da história do surgimento dos animais, segundo os Pangyjej Zoró, especialmente as Aves. As aves, através das suas vocalizações, apresentam ou simbolizam sinais/mensagens míticas de variados tipos de alertas ou mensagens. A seguir, estão apresentadas algumas destas simbologias, coletadas durante as entrevistas: • Vocalização de Itky (Tyranneutes stolzomanni) indica a presença de mel de abelha por perto. • Vocalização de Adusup (Pulsatrix perspicillata) significa que vai chegar uma visita, com boas notícias. • Vocalização de Tigkã (Piaya cayana) significa notícia ruim, por exemplo, que um parente irá ficar doente ou morrer. • Vocalização de Akakaj (Ibycter americanus) significa desconfiança do indígena que haverá uma notícia ruim, associado à guerra. Glauko Corrêa / Kanindé Azulão-da-amazônia (Cyanoloxia rothschildii) 63 Glauko Corrêa / Kanindé Glauko Corrêa / Kanindé Nesta imagem Araçari-de-pescoço-vermelho (Pteroglossus bitorquatus); abaixo Mãe-de-taoca (Phlegopsis nigromaculata) 64 TABELA 9 - LISTA PRELIMINAR DA AVIFAUNA DA TERRA INDÍGENA ZORÓ, MT. Legenda do Status (CBRO, 2014): R = residente (evidências de reprodução no país disponíveis); E=espécie endêmica do Brasil. Legenda do Tipo de registro: A=Auditivo; C=Caça; E=Entrevista; F=Foto; G=Gravação; O=Ocular; R=Rede; V=Vestígios. Nome português Tupi-Mondé (Zoró) Status I Etapa II Etapa Tipo de registro azulona Watit R 1 1 A; F; O inhambu-de-cabeça-vermelha Abijuwa R 1 1 A jacu-de-spix Tamu R 1 1 O; F R 1 1 O; F 1 E; F; V Táxon Tinamidae Tinamus tao Tinamus major Cracidae Penelope jacquacu Aburria cujubi Cujubi Pauxi tuberosa mutum-cavalo Wakaj R 1 1 Odontophoridae Odontophorus gujanensis uru-corcovado R Odontophorus stellatus uru-de-topete R 1 O 1 F; C; O F Ardeidae Pilherodius pileatus garça-real Talikywap R coró-coró Kulug kulug R 1 1 A; O urubu-de-cabeça-preta Mayaku R 1 1 O caracoleiro Gateap R 1 R 1 Threskiornithidae Mesembrinibis cayennensis Cathartidae Coragyps atratus Accipitridae Chondrohierax uncinatus gavião-branco Pseudastur albicollis gavião-vaqueiro Leucopternis kuhli Buranyt gavião-pedrês Buteo nitidus gavião-real Harpia harpyja F 1 A; G 1 F R R F Ikũlũ tere R 1 1 V gavião-de-anta Zeam R 1 1 A; O gralhão Aka kaj R 1 1 A; O acauã Kadutã R 1 1 A; G falcão-críptico Jkûlym R 1 R; F Falconidae Daptrius ater Ibycter americanus Herpetotheres cachinnans Micrastur mintoni Falco sparverius quiriquiri R 1 O; F pavãozinho-do-pará R 1 F R, E 1 1 A; F; G R 1 1 F; O 1 F; R Eurypygidae Eurypyga helias Psophiidae jacamim-de-costas-verdes Psophia viridis Tamali Columbidae Columbina talpacoti rolinha-roxa Geotrygon montana pariri Jjú R Psittacidae Anodorhynchus hyacinthinus Ara ararauna Ara macao Ara chloropterus arara-azul-grande R 1 A; O arara-canindé Kasal kit R 1 1 A; O araracanga Kasal R 1 1 A; O arara-vermelha-grande Kasal R 1 1 A; O R 1 1 periquitão-maracanã Kereg kerega Aratinga weddellii periquito-de-cabeça-suja Garatit R 1 Pyrrhura perlata tiriba-de-barriga-vermelha Kim patanwup R 1 1 A; O Brotogeris chiriri periquito-de-encontro-amarelo R 1 1 O; F Pionus menstruus maitaca-de-cabeça-azul Sija R 1 papagaio-moleiro Awalap R 1 R 1 Psittacara leucophthalmus Amazona farinosa Amazona ochrocephala papagaio-campeiro O A; F; O O; F 1 A; F; O; F 65 Tupi-Mondé (Zoró) Status I Etapa II Etapa Tipo de registro alma-de-gato Tigkã R 1 1 A; E; O anu-preto Aj gyp R 1 1 A; O coruja-da-igreja Tanlanlym R 1 1 O murucututu Adusup R 1 1 A; E mãe-da-lua-gigante Waperep R 1 1 A; F bacurau-ocelado Bakulyt R 1 1 A bacurau Bakulyt R 1 1 A; F Threnetes leucurus balança-rabo-de-garganta-preta Kiryn R 1 F; R Thalurania furcata beija-flor-tesoura-verde Kiryn R 1 F; R martim-pescador-da-mata Jaxanam R udu-de-coroa-azul Urup R Táxon Nome português Cuculidae Piaya cayana Crotophaga ani Tytonidae Tyto furcata Strigidae Pulsatrix perspicillata Nyctibiidae Nyctibius grandis Caprimulgidae Nyctiphrynus ocellatus Hydropsalis albicollis Trochilidae Alcedinidae Chloroceryle inda 1 F; R 1 A; F; R; G 1 O Momotidae Momotus momota 1 Bucconidae Malacoptila rufa Monasa morphoeus Chelidoptera tenebrosa barbudo-de-pescoço-ferrugem Zerebewu wyp R chora-chuva-de-cara-branca R 1 1 A; F; R urubuzinho R 1 1 F; O Bumgúwã R 1 1 A; F; R; O tucano-grande-de-papo-branco Jukãt R 1 1 A; O saripoca-de-gould Awut awuryt R 1 1 F; R araçari-de-pescoço-vermelho Batãjyt R 1 1 R; F picapauzinho-avermelhado Sereptyg R 1 F; R Capitonidae Capito dayi capitão-de-cinta Ramphastidae Ramphastos tucanus Selenidera gouldii Pteroglossus bitorquatus Picidae Veniliornis affinis Celeus grammicus Celeus flavus picapauzinho-chocolate pica-pau-amarelo Serepkit R 1 R 1 F A; F; O Campephilus rubricollis pica-pau-de-barriga-vermelhaSerep andaruwa R Campephilus melanoleucos pica-pau-de-topete-vermelho R 1 F R 1 F; R 1 F; O Thamnophilidae Myrmotherula axillaris Thamnomanes ardesiacus Thamnomanes caesius Jii uirapuru-de-garganta-pretaXupyjyp (Pat paryp) ipecuá Xupyjyp R 1 F; R R 1 F; R 1 F; R choca-de-olho-vermelho R Thamnophilus murinus choca-murina R Thamnophilus aethiops choca-lisa Ag agyt R guarda-floresta Leku nepubé R formigueiro-de-cara-preta Jii R 1 rendadinho Wit wit R 1 1 A; F; R; G mãe-de-taoca Xijkyra R 1 1 A; F; R; G mãe-de-taoca-dourada Zat tym R, E 1 F; R mãe-de-taoca-papuda Batã knyt R, E 1 F; R; G Thamnophilus schistaceus Hylophylax naevius Myrmoborus myotherinus Willisornis poecilinotus Phlegopsis nigromaculata Phlegopsis borbae Rhegmatorhina hoffmannsi Scleruridae 66 choquinha-de-flanco-branco 1 1 F; R 1 A; F; R 1 F; R F; R Táxon Nome português Sclerurus caudacutus vira-folha-pardo Sclerurus albigularis vira-folha-de-garganta-cinza Tupi-Mondé (Zoró) Status R Xim Ximj R arapaçu-pardo Serewa R arapaçu-da-taoca Xiptyra (Serewa) R arapaçu-de-bico-de-cunha Xijxiwyt R arapaçu-assobiador Serewa R Xiphorhynchus elegans arapaçu-elegante Serewa R Dendrocolaptes certhia arapaçu-barrado Serewa R Dendrocolaptes hoffmannsi arapaçu-marrom Xiptyra R, E Dendrocincla merula Glyphorynchus spirurus Xiphorhynchus pardalotus II Etapa Tipo de registro 1 F; R F; R 1 Xim Ximj Dendrocolaptidae Dendrocincla fuliginosa I Etapa Xiphocolaptes promeropirhynchus arapaçu-vermelho Serewa R 1 F; R 1 1 F; R 1 1 F; R 1 F; R 1 A; R; G 1 F; R 1 F; R; G 1 F; R 1 F; R 1 Furnariidae Automolus ochrolaemus barranqueiro-camurça Jape kãj kãj R 1 Synallaxis rutilans joão-teneném-castanho Jakũwyp R 1 uirapuruzinho Jtkyj R 1 1 A uirapuru-laranja Kuruxawyj R 1 1 F; G; R uirapuru-de-chapéu-branco Wijy R 1 1 F; R flautim-marrom Kuruxawyj R, E 1 1 A; F; R chorona-cinza Wala wala kaptyg R 1 F; R F; R Pipridae Tyranneutes stolzmanni Pipra fasciicauda Lepidothrix nattereri Tityridae Schiffornis turdina Laniocera hypopyrra Tityra cayana anambé-branco-de-rabo-preto R 1 1 A; G 1 1 A; G; O Cotingidae Lipaugus vociferans cricrió Tyja R neinei Gazakyt R 1 G; O tesourinha Weaj kyl R 1 O andorinha-doméstica-grande Xulit R 1 O Tyrannidae Megarynchus pitangua Tyrannus savana Hirundinidae Progne chalybea Tachycineta albiventer andorinha-do-rio R 1 F; O Turdidae Turdus fumigatus sabiá-da-mata Kuxirup R 1 1 F; R Turdus albicollis sabiá-coleira Kwit R 1 1 A; G; R pipira-preta --- R 1 F; C R 1 F; O 1 F; C F; C Thraupidae Tachyphonus rufus Emberizidae Ammodramus humeralis tico-tico-do-campo 1 Volatinia jacarina tiziu Titti raman Sporophila angolensis curió Mam julim R 1 Habia rubica tiê-do-mato-grosso Buluxia R 1 F; R Cyanoloxia rothschildii azulão-da-amazônia Kwuxawyj R 1 F; R R Cardinalidae TOTAL 73 78 67 Israel Vale / Kanindé 3.5 RÉPTEIS E ANFÍBIOS Todas as espécies florestais registradas são conhecidas de parte ou de toda a Amazônia, algumas com distribuição mais ampla (extra Amazônica). Das espécies de áreas abertas, a grande parte ou tem distribuição ampla no continente, ou é ligada à diagonal de formações abertas da América do Sul, especialmente em sua porção centro-oeste. A extração de madeira de forma descontrolada tem uma série de impactos sobre a herpetofauna. Por exemplo, o efeito da produção de clareiras proporcionada pelo corte de grandes árvores tem afetado os mecanismos de termorregulação de algumas espécies de lagartos e serpentes, perda direta do ambiente de lagartixas e lagartos arborícolas, aumento da temperatura que pode estar prejudicando algumas espécies de anfíbios anuros através da perda de poças utilizadas para deposição de ovos e girinos por anfíbios, entre outros (VITT & CALDWELL, 2001). As perturbações no ambiente mudam a disponibilidade dos substratos, além de alterar as relações competitivas entre os organismos, aumento da taxa de predação, diminuição do potencial reprodutivo, limitações nas atividades de forrageio, entre outros. Cobra cipó Foram registrados 24 espécies de anfíbios e 33 de répteis. As famílias mais abundantes foram Dipsadidae (em serpentes) com 48%, Sphaerodactylidae (em lagartos) com 23% e Hylidae (em Anfíbios) com 46% da amostragem. Em se tratando da Ordem, Squamata se mostrou mais abundante com 58% da amostra. A taxa de encontros de serpentes e lagartos variou muito durante o período. É possível que fatores como a quantidade de chuvas, umidade, disponibilidade de presas, interfira diretamente no metabolismo. Com a ausência de chuvas, a maior parte dos lagartos de hábitos arborícolas tende a procurar o dossel da floresta para se alimentar e termorregular, dificultando a visualização e captura. Muitas espécies de anfíbios têm hábitos sazonais estando mais ativos durante uma ou outra estação. A maioria das espécies amostradas neste estudo é considerada comum na região. Particularmente, algumas espécies estão ausentes devido à falta de incremento de outras metodologias complementares que poderão ser utilizadas em outros momentos. 68 Existe uma forte ligação dos Pangyjej Zoró com a floresta. Foi possível verificar em diversas histórias contada durante as atividades nas escolas, que a fauna e flora têm forte ligação e participação nos mitos e crenças daquele povo indígena. Infelizmente, devido ao pouco tempo e a falta de informantes, não foi possível conseguir muitas narrativas sobre a relação da herpetofauna com o Povo Pangyjej Zoró. Foi verificado que algumas espécies de répteis e anfíbios são usadas como alimento pelos indígenas, como é o caso de jacarés e algumas espécies de rãs do gênero Leptodactylus (rãs pimenta). Jabutis e tracajás não são muito apreciados, visto que significam atraso e má sorte. Cobras cegas significam “mau agouro” ou sinal de morte na família. Algumas espécies de serpentes aparecem nas histórias antigas. De qualquer forma é preciso catalogar as histórias deste povo indígena. É necessário construir uma relação de confiança para daí as informações começarem a fluir e serem coletadas. Da mesma forma não foi possível distinguir os critérios utilizados por este povo para classificação das espécies de reptéis e anfíbios, que sugere um estudo posterior. Israel Vale / Kanindé Israel Vale / Kanindé Israel Vale / Kanindé Israel Vale / Kanindé Começando em cima à esquerda, em sentido horário: Cobra Veadeira (Corallus hortulanus), Rã (Dendropsophus marmoratus), Cambô (Phyllomedusa camba), Falsa Coral (Rhynobotrium lentiginosum). 69 TABELA 10 - LISTA DAS ESPÉCIES DA HERPETOFAUNA (AMPHIBIA E REPTILIA) AMOSTRADAS NA TERRA INDÍGENA ZORÓ, MATO GROSSO, BRASIL. Ordem Família Espécie Nome Popular Nome Tupi-Mondé Anura Bufonidae Rhinella margaritifera (Laurenti, 1768) Sapo folha Waj Rhinella marina (Linnaeus, 1758) Sapo cururu Waj Rhaebo guttatus (Schneider, 1799) Sapo cururu Waj Aromobatidae Allobates gr. Marchesianus (Melin, 1941) - Hylidae Hypsiboas boans (Linnaeus, 1758)) Rã canoeira Aj Aj Hypsiboas lanciformis (Cope, 1871) - Aj Aj Dendropsophus leucophyllatus (Beireis, 1783) Guag Dendropsophus marmoratus (Laurenti, 1768) Guag Osteocephalus taurinus (Steindachner, 1862) Rã Rã macaco Galam xidyg Phyllomedusa vaillanti Rã macaco Galam xidyg Cambô Galam xidyg (Boulenger, 1882) Phyllomedusa camba (De la Riva, 2000 “1999”) Galam xidyg Phyllomedusa tarsius (Cope, 1868) Leptodactylidae Scinax ruber (Laurenti, 1768) Gia Trachycephalus resinifictrix (Goeldi, 1907) Gia Leptodactylus andreae (Müller, 1923) Rã Beap Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) Rã Beap Leptodactylus mystaceus (Spix, 1824) Rã Beap Leptodactylus pentadactylus (Linneaus, 1758) Rã pimenta Beap Beap Leptodactylus petersii (Steindachner, 1864) Leptodactylus rhodomystax (Boulenger, 1884” 1883”) Rã Odontophrynidae Proceratophrys concavitympanum (Giaretta, Bernarde & Kokubum, 2000) Pipidae Pipa pipa (Linnaeus, 1758) Sapo pipa Beap Waj Craugastoridae Pristimantis fenestratus (Steindachner, 1864) Rã Squamata Gekkonidae Hemidactylus mabouia (Morreau de Jonnès, 1818) Gia, lagartixa (Lagartos) Dactyloidae Dactyloa punctatus (Daudin, 1802) Calango Norops fuscoauratus (D’Orbigny, 1837) Calango Geru Dactyloa transversalis (Duméril, 1851) Calango Gap pirigiwa Tropiduridae Plica umbra (Linnaeus, 1758) Abraça pau Sphaerodactylidae Chatogekko amazonicus (Andersson, 1916) Calango Keg Keg Gonatodes hasemani (Griffin, 1917) Calango Geru xiri niwã Gonatodes humeralis (Guichenot, 1855) Calango Geru Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758) Calango Geru Calango Gerua Teiidae Gymnophthalmidae Arthrosaura reticulata (O’Shaughnessy, 1881) Squamata Keg Keg Gap Cercosaura eigenmanni (Griffin, 1917) Calango Mabuyidae Copeoglossum nigropunctatum (Spix, 1825) Calango Boidae Corallus hortulanus (Linnaeus, 1758) Cobra veadeira Boa constrictor (Linnaeus, 1758) Jibóia Chironius multiventris (Schmidt & Walker, 1943) Cobra cipó Tulit Pseustes poecilonotus (Peters, 1867) Limpa pasto Baj Pseustes sulphureus (Wagler, 1824) Papa ovo Baj Rhinobothryum lentiginosum (Scopoli, 1785) Falsa coral Helicops leopardinus (Schlegel, 1837) Jararaca d’água Erythrolamprus typhlus (Linnaeus, 1758) Cobra verde Siphlophis compressus (Daudin, 1803) Falsa coral Imantodes cenchoa (Linnaeus, 1758) Cobra cipó Leptodeira annulata (Linnaeus, 1758) Dormideira (Serpentes) Colubridae Dipsadidae Erythrolamprus reginae (Linnaeus, 1758) 70 Sug sug Phyllomedusa tomopterna (Cope, 1868) Wajbit pú Baj puj Baryn Ordem Família Espécie Nome Popular Squamata Dipsadidae Dipsas catesbyi (Sentzen, 1796) Dormideira Xenopholis scalaris (Wucherer, 1861) Falsa coral Philodryas argentea (Daudin, 1803) Cipó Pseudoboa coronata (Schneider, 1801) Falsa coral Bothrops atrox (Linnaeus, 1758) Jararaca Bothrops bilineatus bilineatus (Wied, 1821) Cobra papagaio Viperidae Lachesis muta (Linnaeus, 1766) Surucucu pico de jaca Platemys platycephala (Schneider, 1792) Tartaruga Testunididae Chelonoidis denticulata (Linnaeus, 1766) Jabuti Amua Alligatoridae Paleosuchus trigonatus (Scheneider, 1801) Jacaretinga Wawu Baj kirip Amu suna Israel Vale / Kanindé Crocodylia Baj kut Chelidae Israel Vale / Kanindé Testudines Baj kirip nan Israel Vale / Kanindé (serpentes) Nome Tupi-Mondé Na foto acima, Cobra Cipó (Imantodes cenchoa). Abaixo à esquerda, Jararaca (Bothrops atrox) e à direita Tartaruga (Platemys platicephala). 71 Israel Vale / Kanindé Procerathophys concavitympanum 72 Israel Vale / Kanindé 3.6 PEIXES Foram registradas 16 famílias em 44 espécies amostradas. Em termos numéricos as ordens Characiformes e Siluriformes foram as mais representativas, com respectivamente 48% e 40% das espécies amostradas seguida de Perciformes com 10%. Durante os trabalhos de campo foram amostrados cursos d’água com diferentes características tanto estruturais (fundo, profundidade, margem, sombreamento, etc...), de localização e possivelmente de química da água (pH, principalmente). Apesar do número de variáveis citadas acima ser relativamente extenso e das mesmas afetarem a ictiofauna de modo bastante diverso, as áreas de entorno da Terra indígena abrigam uma riqueza de espécies de peixes bastante significativa. Entretanto, por essas áreas estarem submetidas a diferentes graus de pressão antrópica, o seu valor para conservação tende a diminuir a médio longo prazo. Essa situação é evidente para o rio Roosevelt e o Rio Branco. A relação do componente ictiofauna com a comunidade indígena se resume na realização da atividade de pesca para consumo, dentre os indígenas participantes da pesquisa na condição de auxiliares, os mesmos foram questionados quanto ao uso do pescado e a relação cultural (restrição alimentar ou uso para rituais), porém aos resultados obtidos não houve nenhuma ocorrência de não consumo do pescado ou sua utilização para qualquer rito ou crença. Durante a realização dos trabalhos de campo foram detectados problemas acentuados para a manutenção da integridade da ictiofauna como um todo. Atividades antrópicas desenvolvidas em algumas drenagens possuem grande potencial para alteração dos ambientes aquáticos circundantes. No período da pesquisa foi identificada a acentuada prática da pesca pelos indígenas, utilizando técnicas que podem ser consideradas não degradantes a fauna íctica, apetrechos tais como flecha, anzol de galho e rede de espera foram identificados durante a prática da pesca pelos indígenas. Porém além dos indígenas pescadores outros vestígios também foram identificados durante o 73 período de coleta, restos de rede de arrasto e principalmente relatos dos próprios indígenas sobre a prática da pesca por não indígenas o que de fato pode ser um agravo à diversidade e abundância da fauna íctica na região, pois além da pesca desordenada há também a atividade de degradação associada, caracterizada como a deposição de material inorgânico nos rios e mata ciliar. Israel Vale / Kanindé Israel Vale / Kanindé Israel Vale / Kanindé Um outro agrave a integridade da fauna pôde ser caracterizado pela degradação existente na mata ciliar da margem esquerda e direita, do Rio Branco e Rio Roosevelt, respectivamente. A presença de área de pastagem e formação de fazendas para criação de gado na área de entorno da TI, podem ao logo prazo ser um agravo à saúde dos rios em questão. Percebe-se a pouca quantidade de árvores frutíferas na margem para auxílio na alimentação dos peixes, provocando em decorrência o afastamento da população de peixes para locais de maior aporte para a alimentação. De cima para baixo: Piranha, Tucunaré (Cichla ocellaris) e Pescada (Plagiocium squamosisimus). 74 TABELA 11 - CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DAS AMOSTRAS CAPTURADAS DO DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO DA TERRA INDÍGENA ZORÓ. Ordem Família Espécie Nome Popular Characiformes Ctenoluciidae Boulengerella ocellata Bicuda Prochilodontidae Prochilodus nigricans Curimata Serrasalmidae Serrasalmus rhombeus Piranha Jjêj Catoprion mento Piranha Jjêj Myleus pacu Pacu Bulip kabe Myleus sp. Pacu Bulip kabe Mylossoma sp. Pacu Bulip kabe Serrasalmus humeralis Piranha Charax gibosus Cachorrinha Triportheus elongatus Sardinha Hydrolicus scomberiodes Peixe cachorro Astyanax sp. Lambari Zabe Astyanax bimaculatus Lambari do rabo amarelo Zabe Hydrolicus pectoralis Peixe cachorro Hoplias malabaricus Traíra Chalceus erythurus Rabo de fogo Brycon cephalus Matrinxã Shizodon fasciatus Piau Ixawu Leporinus piau Piau Ixawu Leporinus striatus Piau Ixawu Leporinus lacustris Piau de aquário Ixawu Ixawu Characidae Anostomidae Siluriformes Nome Tupi-Mondé Bixãj Bulupsuwa Jjêj Jêj kapit Jêj kapit Jêj kapit Zabekit Leporinus maculatus Piau Auchenipteridae Auchenipterus sp. Cangati Ageneiosidae Ageneiosus sp. Mandubé Trycomicteridae Plectrochilus machadoi Candiru Pimelodidae Pimelodus sp. Mandi Yjyj Leiarius marmoratus Jandiá Bulip tadyga Pseudoplatystoma fasciatum Pintado Kulere Buliptig Buliptig Builpakabit Megalonema sp. Perciformes Rajiformes Hemisorubim platyrhynchos Jiripoca Callichthyidae Callichthys callichthys Tamoatá Electrophoridae Electrophorus eletricus Poraquê, peixe elétrico Callichtydae Callichthys sp. Loricaridae Hypostomus sp. 1 Cascudo tigre Hypostomus sp. 2 Cascudo espinho Hypostomus sp. 3 Cascudo Hypostomus sp. 4 Cascudo Hemiancistrus medians Cascudo chocolate Hemiancistrus spilomma Cascudo pintado Scianidae Plagiocium squamosisimus Pescada Cichlidae Geophagus sp. Cará Crenicichla sveni Peixe sabão Cichla ocellaris Tucunaré Potamotrygon hystrix Arraia Potamotrygonidae Xigyjã 75 ± rap éC ur ra # 0 l a M an gu eir a Ig ar ap é do Pic apa u Iga 60°50'0"W tan ha l 10°20'0"S as éC Iga # 0 Imbepu axurej pé C am po da eia Iga ra pé d r aA Igarapé Bra an gu e iGus r tavo ço Sul do a Igarap é au ap ar Pi ca rg 10°30'0"S pé ra B .N pé C .do Ig a ra po da l ar Azu ap é # 0Rio Azul Iga M an Az gu ul ei ra é do Pic apa u Ig am o Sul do Bubyrej Igarapé Urumuará do ão apé Ig a é Braç # 0 Co -p do Igar # 0 ra pé do Gusta # 0 ns o nco eio naã do M Rio Bran co Zoro Igarap l ha Duabiyrej # 0Anguj tapua as uva ia ta M ar ro Futu Igarapé Canaã Fa Igarapé zendinh # 0Mand a Igar apé S an Grande Grande 10°40'0"S éC ra p Iga om Igarapé Cat Igarapé apé Igar pé B Duabiyrej é Ca # 0 tan l Igara co ha # 0 Igarapé Santa Sílvia n Bra Rio Branco B ra vo # 0Pandjirawa Rio tan # 0 10°20'0"S ar ap Ig apé as ia Dua Ipewyrej A fo # 0Gala andjurej Igar éC re 60°30'0"W M rá a ur r ra 60°40'0"W ra Va Imbepu axurej rap aA 10°10'0"S ra C pé e ld # 0 Zawa Karej# 0 Igarapé Urumua 60°50'0"W Iga Iga éd Grande 61°0'0"W Ig a Pawanewã Ig ±± 0"W Iga p ra Igarapé CAPÍTULO 4 60°40'0"W Rio Branco 61°0'0"W rap 0"W # 0Pawanewã Zawa Karej# 0 # 0 Marco é do Igarap Me io rg ão ig oC an o a Mari éC Igara rap n Bra ana # 0 éd io rap Me Iga o ãd co Maluj kyrej os Z oró Mandarap árej s # 0 # 0 Xipitut # 0Guwapuxurej il br Iga é rap do Ci ga no # 0 Abesewap Se r ra Az A o rd ue Es q Br aç o Igarap é Ig ra p ar ap é Iga éC ana oM ãd eio na ós Z or u Fort os 1:400.000 Rio ha éd nin rap r tu Fo Rio # 0Zawã kej Iga 76 de Webaj karej Aster GDEM (m) Sete de Setembro 0 - 50 50 - 100 100 - 150 150 - 200 200 - 250 Q e rz 60°50'0"W da Modelo Digital de Elevação Aldeias # 0 io to ua ul a Mari I karej # 0 61°0'0"W 10°50'0"S Iga Rio pé C anaã do M eio # 0 Ip Syrej 0Abesewap # Projeção: South American - SAD69 # 0 Ribeirão da Buritirana éd Iga Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró Elaboração: Meline Machado Crea: DF - 18360/D Créditos: APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró Fundação Nacional do Índio - Funai Igarapé Instituto Brasileiro de Geografia Canaã e Estatística - IBGE Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro no M exica Agência Nacional de Águas - ANA Igarapé Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa R egenda 10°40'0"S # 00 # 0 Bat an # 0Pandjirawa Palia xij # Ibug andjurej # 0 # 0 Du and 13.600 Metros Roosevelt Igarapé Serra Azul aã do M eio é Can Igarap 11°0'0"S 6.800 io Zarup wej 1:400.000 Bepem wëj na # 0Zawã kej una Fort 3.400 Webaj karej é Tirote a # 0 Guwapuxurej Rio 0 inh # 0 Igarap Rio Branco co # 0 n rtu Fo # 0 Igarap guela é da Pin # 0 Maluj ky 11°0'0"S Co n Bra # 0 Anguj tapua I karej Pedologia Tipo de solo Terra Indígena Argilossolo Vermelho Rios de margem dupla Argilossolo Vermelho-Amarelo Rios de margem simples Latossolo Vermelho-Amarelo Neossolo Litólico Rio 10°30'0"S 10°50'0"S do Canaã Bepem wëj # rap Terra Indígena Rios de margem dupla Rios de margem simples oL áz 0 Tamal # 0 # 0 Área da Terra Indígena: Mandarap árej 357.000 ha Aproximadamente tu For Rio éd Xipitut 61°10'0"W # 0 o ãd pé Rio pé C s ra Igarapé Zoro Igara rap aro # 0Bat andjurej 0 Ipewyrej Sete# de Setembro Du andjurej # 0 Legenda Pandjirawa # 0 Aldeias Igarapé Santa Sílvia a atuv Z oró teio a Ig # 0 Gala andjurej # 0Anguj tapua # 0 atuva os ão pé C ana éd rg Igarapé Tiro Co Igara Iga una Fort Rio Igarapé Santa Sílvia Zoro # 0Tamali synej # 0 Ipewyrej # 0 Bubyrej # 0 Rio Azul # 0Gala andjurej ul éC do rap é ul rio rap ap Iga ar # 0 Bubyrej # 0 Rio Azul regó é do G Iga Ig # 0Pawanewã Zawa Karej# 0 Igarap A fo ns o apé Igar Futu B om ro 60°30'0"W # 0abiyrej Gustavo aço Sul do Igarap é Igarapé Br B raço Iga Af on Igarapé so io egór do Gr teio Igarapé Tiro # 0Tamali synej Iga # 0Bat andjurej Igara pé B om rap éd oL á za ro ro Futu 10°20'0"S # 0Du andjurej Zarup wej # 0# 0 Cigano no Palia xij 10°40'0"S pé do pé M exica Igara darap árej MEIO FÍSICO 10°30'0"S do Marco pé Gus ta vo é do ra ndinha Igarap Iga Sul do ze rapé Fa 10°20'0"S do 10°10'0"S pé Igarapé Urumuar dinha Igara # 0 Ibug andjurej Igarap é F azen # 0Ip Syrej # 0Abesewap Marc o Igarap regó é do G rio de A il br li synej io t ua ze or Iga rap éd oL áz aro Roosevelt ndjurej Igarap 11°0'0"S Igarapé Serra Azul Ig ar ap é Br aç o Es q ue rd o da Se r ra Az ul R Q guela é da Pin 60°40'0"W 60°30'0"W # 0 Ibug andjurej p é M exi 11°10'0"S # 0# Palia xij 0 O Diagnóstico dos componentes do Meio Físico tem importância decisiva por ser neste meio que todos os demais se assentam. O seu conhecimento permite às comunidades do local diagnosticado, neste caso a comunidade Pangyjej Zoró, compreender melhor as relações entre os fatores bióticos e abióticos, e também sua própria relação com o meio em que vivem. Os fatores, solo, clima, relevo, hidrografia, e outros componentes do meio físico, associados aos demais diagnósticos irão permitir as comunidades uma visão integrada da terra indígena, tanto em seu ambiente interno como externo, então através desta visão integrada é possível antecipar situações, (propícias ou não), prever consequências e ações necessárias diante do novo arranjo, servindo de importante instrumento para o adequado manejo dos recursos. djurej Parque do Aripuana Zarup wej 4.1 INTRODUÇÃO 10°30'0"S Igara 10°50'0"S pé do # 0Maluj kyrej 10°40'0"S a # 0 Ip Syrej cano yrej S 77 Situação Geográfica 61°10'0"W 10°10'0"S ± Igara Igar ap é da pé da Abelh Ser ra 10°20'0"S RORAIMA AMAZONAS 5°0'0"S Ig Rondolândia ara pé Ca s Igarapé do Corgão PARÁ Brasil Iga rap éB .N .do Rio Azu 10°0'0"S 10°30'0"S l # 0 ACRE Igara ul pé Az RONDÔNIA # 0 Ig MATO GROSSO Peru Iga rap éS a nta ara pé da ata M Igarapé Branco Sílv ia Bolívia Sant aM ar co Rio Igarapé Legenda Municípios Rios de margem simples Aripuanã Terra Indígena Cacoal Aldeias Espigão d'Oeste Juína Rondolândia Igarapé São Gabriel 10°50'0"S Rios de margem dupla # 0 Bran tuva apé é Ca São Gab Igarap N orte 55°0'0"W Igar 60°0'0"W riel do 65°0'0"W ia 10°40'0"S 15°0'0"S Aldeia do Ma # 0 Vilhena 0 5 10 1:275,000 20 Sete de Sete 30 Km Projeção: South American - SAD69 78 unin Fort é Volta Grande Rio Igarap Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró Elaboração: Meline Machado Crea: DF - 18360/D Créditos: APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró Fundação Nacional do Índio - Funai Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro Agência Nacional de Águas - ANA 11°0'0"S Área da Terra Indígena: Aproximadamente 357.000 ha Cacoal 61°10'0"W ha 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W Igarap do Lu po 61°0'0"W u Furad o Ig ara pé ha é Pa rtalez a Igarapé Bandeir a Branca é Pra Cam inha apé Igar po Igar da Man guei Igara pé da apé Areia do Igarapé Braço Sul do Gustavo G us tavo ra apé Ig Cur ara pé ral do de rap éU ru mu ará # 0 Vara -p ica Iga Chiquinho Ig ara au pé do P Bra ns o nco Aripuanã Igarap Caneco é Bom Fut uro # 0 Igar ap éB raço Dire ito do Rio Bra nc o Rio A fo 10°20'0"S Igar 10°10'0"S pé Fo Igarap Igara Igarapé Grande B ra al apé nh Igar s ta ço Igarapé Fazendinha Sul Igarapé Fazendinha do Igarapé góri do Gre o Igarap é do Marco # 0 # 0 io ro Futu Igarapé Tirote Bom Aldeia EscolaAldeia Nova # 0 Tamalisyr Igar apé # 0 da Fum aç a Iga Tiro te io Ipewyrej pé do Lá za ro Igar apé B ra ço Dire ito do # 0 ra 10°30'0"S Aldeia Central Azul Seringal Pandyrawa # 0 # 0 Ribeirão Cuxiú Serrinha # 0 Zoró apé Cana ã do M eio Igarapé Canaã Igar anoel Aldeia Escola # 0 Igarap # 0 # 0 ano é do Cig 10°40'0"S Pandarawej Santa Cruz Iga ra pé do # 0 sZ oró Flor Rio ado do Pr s Água Boa Ipsyrej # 0 Igar # 0 apé Can aã do o M ei Igarap é Mexica no Paraiso da Serra 10°50'0"S # 0 Casa VerdeCasa Verde 0 # 0# Xipitut Rio Fortuna # 0 Ykaarej # 0 embro Guwapuxurej # 0 Webajkarej # 0 Roosevelt Zawan akwe Azul de Abril Igar apé da Ping uela Aripuana Igarap tuna Rio For Juína Igarapé da Espigão do Oeste ara é Capiv 11°0'0"S Igarapé Serra orze Rio Quat # 0 Serra Parque do Aripuana Vilhena 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 79 4.2 MATERIAIS E MÉTODOS Para diagnosticar o Meio físico, foi utilizada a metodologia de Levantamentos, do tipo reconhecimento, executado para fins de avaliação qualitativa e semiquantitativa, visando à estimativa do potencial de uso, (com enfoque para o uso agrícola). Para complementação desta pesquisa também se utilizou dos métodos: • Coleta de amostras; • Levantamento de dados; • Entrevistas; • Documentação visual; Os trabalhos foram levados a efeito através dos procedimentos e métodos a seguir descritos. A equipe de pesquisadores visitou todas as aldeias da Terra Indígena Zoró, sempre com autorização das lideranças locais e/ou moradores. Chegando ao local a equipe informava aos presentes sobre a natureza dos trabalhos que estavam sendo realizados, bem como sobre a finalidade, objetivos e forma de coleta de dados. Os moradores informavam sobre a localização das roças e outros locais de interesse, os quais eram visitados. Tomando como exemplo as roças foram colhidas informações sobre as espécies ali cultivadas, a produtividade obtida, e os responsáveis pela produção. Em pontos aleatórios espacialmente distribuídos dentro de cada roça foram efetuados cinco furos, com aproximadamente 20 cm de profundidade, por 10 cm de largura, dos quais foram colhidas amostras de solo. As amostras foram depositadas em um balde plástico, no qual foram homogeneizadas, acomodadas em embalagem plástica fechada tipo “zip” e posteriormente identificadas. Com o receptor GPS, foram colhidas coordenadas do local visitado. Foram localizados sítios arqueológicos (sítios cerâmicos e sítios líticos), dos quais foram também obtidas informações geográficas e documentação fotográfica. Localizou-se afloramentos de material pétreo, possível de cominuição para posterior utilização na construção civil local. Observou-se a presença de grande quantidade de “seixo rolado” material que pode ser extraído para utilização imediata na construção civil. Foi registrada a localização geográfica destes sítios para, em caso de utilização, facilitar o planejamento da logística de exploração. 4.3 Resultados Foram registradas todas as ocorrências de relevância para o Diagnóstico do Meio Físico, as quais foram sintetizadas e ordenadas em formato compatível com banco de dados para posterior geração de geoinformação, relatórios, mapas temáticos, que irão servir de base para elaboração do diagnóstico propriamente dito e o consequente estabelecimento de cenários e prognósticos, baseados nas potencialidades e limitações, informações necessárias para o planejamento e a tomada de decisão. A tabela 12 mostra as aldeias visitadas e sua localização geográfica. 80 TABELA 12 – LOCALIZAÇÃO DAS ALDEIAS Nome da Aldeia Liderança Aldeia do Zan Miguel Zan Zoró Aldeia Escola Coordenada Sul Coordenada Oeste 100 48’ 21,2” 600 43’ 31,6” 10 39 33 600 43’ 18,3” 0 ’ ” 100 42’ 17,9” 600 34’ 44” 10 44 13,9 600 37’ 14” Aldeia Zawan 100 57’ 31,6” 600 53’ 52,3” Aldeia Webajkarej 100 54’ 45,1” 600 51’ 02” ” 10 53 28,8 600 48’ 41,2” Aldeia Agua Boa 100 44’ 05,8” 600 44’ 17,5” Aldeia Serrinha ” 10 35 57,1 600 42’ 34,1” Aldeia Seringal 100 33’ 52,1” 600 42’ 07,8” Aldeia Santa Cruz Aldeia Ipsyrej Juarez Aldeia Guwapuxurej 0 José 0 0 ’ ’ ’ ” Aldeia Tamalisyr Raimundo 100 29’ 07,0” 600 41’ 40,2” Aldeia Pandarawej Zé Carlos ” 10 40 09,6 600 46’ 34,1” Aldeia Pandyrawa 100 34’ 03,1” 600 49’ 09,7” Aldeia Caneco ” 10 19 31,4 600 44’ 22,2” 0 0 ’ ’ Aldeia do Chiquinho Chiquinho 100 12’ 51,8” 600 53’ 24,7” Aldeia do Manoel Manoel 100 39’ 04,3” 610 07’ 40,6” A seguinte tabela (tabela 13) mostra as roças visitadas, e as culturas ali produzidas. TABELA 13 – ROÇAS Ocorrência Aldeia próxima Amostra nº Culturas Roça I Aldeia do Zan Amostra 01 Mandioca,. Batata doce, Algodão, Amendoim Roça II Aldeia do Zan Amostra 02 Cará, Mandioca, Arroz, Cana, Banana Roça II Aldeia do Zan Amostra 03 Cará, Mandioca, Melancia, Cana, Abacaxi Roça I Aldeia Escola Amostra 04 Cará, Mandioca, Milho, Cana, Batata doce, Banana, Amendoim Roça II Aldeia Escola Amostra 05 Mamão, Mandioca, Milho, Cana, Melancia, Banana, Amendoim Roça III Aldeia Escola Amostra 06 Mandioca, Cará, Abacaxi Roça IV Aldeia Escola Amostra 07 Mandioca, Milho, Cará, Melancia, Batata doce, Amendoim Roça I Aldeia Santa Cruz Amostra 08 Cará, Mandioca, Milho, Cana, Melancia Roça II Aldeia Santa Cruz Amostra 09 Mandioca Roça I Aldeia Ipsyrej Amostra 10 Mandioca Roça I Aldeia Zawan Amostra 11 Cará, Mandioca, Milho, Banana, Mamão Roça II Aldeia Zawan Amostra 12 Mandioca, Cará, Milho Roça III Aldeia Zawan Amostra 13 Mandioca, Cará, Feijão, Café Roça III Aldeia Zawan Amostra 14 Pretende plantar arroz e milho Roça IV Aldeia Zawan Amostra 15 Milho, Feijão, Banana, Mandioca, Cará Roça I Aldeia Ikarej Amostra 16 Cará, Mandioca, Milho, Banana, Batata Roça I Aldeia Webajkarej Amostra 17 Mandioca, Cará, Milho, Amendoim, Cuia, Café Roça I Aldeia Guwapuxurej Amostra 18 Banana, Mandioca, Cará, Milho, Amendoim, Batata, Cana Roça II Aldeia Guwapuxurej Amostra 19 Abacaxi, Mandioca, Cará, Milho, Batata Roça Casa Verde (não é aldeia) Amostra 20 Mandioca Roça I Aldeia Água Boa Amostra 21 Mandioca, Banana, Cará Roça I Aldeia Serrinha Amostra 22 Mandioca, Banana, Cará, Café, Milho, Batata, Cana Roça II Aldeia Serrinha Amostra 23 Mandioca, Banana, Cará, Batata Roça I Aldeia Seringal Amostra 24 Mandioca, Banana, Algodão, Mamão, Milho, Cará Roça I Aldeia Tamalisyr Amostra 25 Mandioca, Banana, Pupunha, Batata, Milho, Cará Roça I Aldeia Pandarawej Amostra 26 Mandioca, Cará Roça I Aldeia Pandyrawa Amostra 27 Mandioca, Cará, Milho, Batata, Banana 81 Ocorrência Aldeia próxima Amostra nº Culturas Roça I Aldeia do Luis Amostra 28 Mandioca,. Batata doce, Milho Roça II Aldeia do Luis Amostra 29 Mandioca, Batata doce, Cará Roça III Aldeia do Luis Amostra 30 Mandioca, Mamão, Banana, Cará Roça I Aldeia Central Amostra 31 Mandioca, Cará, Milho Roça II Aldeia Central Amostra 32 Mandioca, Cará, Milho, Amendoim Roça III Aldeia Central Amostra 33 Mandioca, Cará, Milho, Banana, Arroz, Mamão Roça I Aldeia Escola II Amostra 34 Mandioca, Cará, Milho Roça II Aldeia Escola II Amostra 35 Mandioca, Cará, Banana, Milho Roça I Aldeia Nova Amostra 36 Banana, Mandioca, Cará Roça I Aldeia Caneco Amostra 37 Batata, Mandioca, Cará Roça I Aldeia do Chiquinho Amostra 38 Batata, Mandioca, Banana, Milho, Abacaxi, Algodão, Cará Roça I Aldeia do Manoel Amostra 39 Abacaxi, Mandioca, Cará, Milho, Batata As áreas de pastagens e outras áreas desmatadas são mais que suficientes para o plantio tradicional, e também para experiências com outros tipos de cultura e reflorestamento. A atividade pecuária, também remanescente e “herdada” dos antigos posseiros, desde que bem orientada e socializada pode trazer benefícios. A quantidade de estradas que cortam a TI e sua distribuição são satisfatórias, e com pequenos ajustes tem potencial suficiente para dar suporte ao uso e a ocupação ordenada do solo. Areia, pedra argila, seixo e outros insumos existentes são alternativas que podem amenizar o alto custo do material de construção, que devido à distância média de transporte tem seu custo elevado. O sistema de cultivo tradicional de roças tem função satisfatória, e as análises de fertilidade irão apontar as deficiências e potencialidades do solo e qual a forma de manejo mais adequado. 82 A próxima tabela (tabela 14) contém a identificação das amostras e os valores da análise laboratorial. TABELA 14 - AMOSTRAS DE SOLO, VALORES DAS ANÁLISES. 83 Mapa de Geologia 60°50'0"W 60°40'0"W Iga pé da rr Se C ld # 0 Imbepu axurej ara eV ar ap é C am po da 60°30'0"W ia Igarapé Bra Iga M an gu eir a ra pé do A fo Gus tavo ço Sul do Igarap é Braço Sul do Gusta vo ns o Ig ar ap é do Pic apa u a Iga é rap ur ra p A re Igarapé Urumuará ra Ig ra a éd 10°10'0"S 61°0'0"W ± Iga 10°10'0"S 61°10'0"W apé Futu ro Rio Branco # 0 Duabiyrej Iga rap Igarapé éC as tan ha l 10°20'0"S B om 10°20'0"S Igar Grande Igarap # 0Pawanewã # 0 o Zawa Karej ndinha egóri é do Gr o Ig Igara pé do Marc Igarap é Faze ap é do rg ão Iga eio B .N 10°30'0"S Igarapé Tirot Co apé Igar # 0 rap éd .do Azul ar ap é apé B ra ul ro Ipewyrej # 0Pandjirawa # 0Bat andjurej # 0Du andjurej nco Igarapé Santa Sílvia naã do M eio Zoro Igarapé Canaã pé Ca Rio Zarup wej Igara nc Bra # 0 Anguj tapua # 0# 0 o 10°40'0"S za # 0 Az # 0Gala andjurej Igar oL á Cat uva # 0Mandarap árej Igarap é do Cigano Palia xij ta M ar ia Ig é arap 10°40'0"S Ig 10°30'0"S ar Tamali synej # 0 Bubyrej # 0Rio Azul Ibug andjurej Igar apé S an # 0 # 0Ip Syrej # 0Abesewap Iga Igarap é Me xicano rap éC ana o ãd os Z oró 10°50'0"S s # 0Bepem wëj 6.800 13.600 Metros ul Az ra Se r rd ue Es q o Br é ap Área da Terra Indígena: Aproximadamente 357.000 ha Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró Elaboração: Meline Machado Crea: DF - 18360/D Créditos: APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró Fundação Nacional do Índio - Funai Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro Agência Nacional de Águas - ANA Serviço Geológico do Brasil - CPRM 84 Igarap guela é da Pin 11°10'0"S Parque do Aripuana Projeção: South American - SAD69 61°10'0"W Igarapé Serra Azul ar Roosevelt 11°0'0"S 1:400.000 # 0Zawã kej Ribeirão da Buritirana 3.400 il br una Fort 0 F A aç Sete de Setembro Rio # 0 de Webaj karej Rio 11°0'0"S Rio Branco Geologia Aldeias Unidades Litoestratigráficas Terra Indígena Complexo Jamari Rios de margem dupla Complexo Nova Monte Verde Rios de margem simples Formação Roosevelt Grupo Beneficente ha Suíte Intrusiva Serra da Providência nin u ort ze or da # 0 R t ua o I karej Legenda # 0 # 0 # 0 Guwapuxurej Xipitut una Fort Q Ig Rio io 10°50'0"S éd io rap Me Iga # 0Maluj kyrej 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W Mapa de Solos 60°50'0"W 60°40'0"W Iga # 0 ar ap é C am po da 60°30'0"W ia Igarapé Bra Iga M an gu eir a ra pé do A fo Gus tavo ço Sul do Igarap é Braço Sul do Gusta vo ns o Ig ar ap é do a Imbepu axurej ra p A re Igarapé Urumuará rr Se Va au da C de -p pé Iga é rap l ur ra Pic a ra Ig ra a éd 10°10'0"S 61°0'0"W ± Iga 10°10'0"S 61°10'0"W apé Futu ro Rio Branco # 0 Duabiyrej Iga rap Igarapé éC as tan ha l 10°20'0"S B om 10°20'0"S Igar Grande Igarap # 0Pawanewã # 0 o Zawa Karej ndinha egóri é do Gr o Ig Igara pé do Marc Igarap é Faze ap ar do rg ão Azul ul # 0Gala andjurej Igar apé B ra # 0Pandjirawa ro # 0Bat andjurej # 0Du andjurej nco Igarapé Santa Sílvia naã do M eio Zoro Igarapé Canaã pé Ca Rio Zarup wej Igara nc Bra # 0Anguj tapua # 0# 0 o 10°40'0"S za # 0 Az Cat apé uva # 0Mandarap árej é do Cigano Palia xij apé ta M ar M ex ia Igar Igarap 10°40'0"S é oL á o ap éd ican ar rap Ipewyrej .do Ig Iga eio B .N 10°30'0"S Igarapé Tirot Co apé Igar # 0Tamali synej 10°30'0"S é # 0Bubyrej # 0Rio Azul Igar apé Igar S an # 0 Ibug andjurej # 0Ip Syrej # 0Abesewap Iga rap éC ana oM ãd éd eio rap os Z oró 10°50'0"S s Bepem wëj # 0 a 6.800 13.600 Metros Área da Terra Indígena: Aproximadamente 357.000 ha Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró Elaboração: Meline Machado Crea: DF - 18360/D Créditos: APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró Fundação Nacional do Índio - Funai Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro Agência Nacional de Águas - ANA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa ul Az ra Se r da ue Es q o aç Br é ap ar Roosevelt guela é da Pin Parque do Aripuana 11°10'0"S Projeção: South American - SAD69 61°10'0"W Igarap una Fort 3.400 1:400.000 11°0'0"S inh # 0Zawã kej Argilossolo Vermelho-Amarelo Latossolo Vermelho-Amarelo Neossolo Litólico Rio 0 n rtu Fo il br Webaj karej Tipo de solo Sete de Setembro Argilossolo Vermelho Rio A Igarapé Serra Azul Rio Branco 11°0'0"S Pedologia Aldeias Terra Indígena Rios de margem dupla Rios de margem simples de Ribeirão da Buritirana # 0 ze or o Legenda R t ua rd # 0 # 0 I karej # 0 Guwapuxurej # 0 Xipitut una Fort Q Ig Rio io 10°50'0"S Iga # 0Maluj kyrej 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 85 Modelo Digital de Elevação 60°50'0"W 60°40'0"W Iga po da re 60°30'0"W ia Igarapé Bra Iga M an gu eir a ra pé do A fo Gus tavo ço Sul do Igarap é Braço Sul do Gusta vo ns o Ig ar ap é do a am aA Igarapé Urumuará C u rr Se é pa da ap a- pé # 0 ar Pic ra Imbepu axurej Ig ra d pé 10°10'0"S 61°0'0"W ± Iga 10°10'0"S 61°10'0"W apé Futu ro Rio Branco # 0 Duabiyrej Iga rap Gra Igarapé éC as tan ha l 10°20'0"S B om 10°20'0"S Igar nde Igarap o # 0Pawanewã Zawa Karej# 0 ndinha egóri é do Gr o Ig Igara pé do Marc Igarap é Faze ap ar do rg ão Azul é apé B ra ul oL á za ro # 0Bat andjurej # 0 Pandjirawa nco Igarapé Santa Sílvia # 0 Du andjurej naã do M eio Zoro Igarapé Canaã Zarup wej pé Ca Rio Igara nc Bra # 0Anguj tapua # 0 o 10°40'0"S éd # 0 Ipewyrej Az # 0Gala andjurej Igar rap apé Igar Cat uva 0 Palia xij # Ibug andjurej # 0 apé S an ta M ar ia Mandarap árej Igar Iga rap éd ig oC an 10°40'0"S 10°30'0"S .do ap Iga eio B .N ar Igarapé Tirot Co apé Igar Ig # 0Tamali synej 10°30'0"S é # 0 Bubyrej # 0 Rio Azul # 0 o # 0 Ip Syrej 0Abesewap # Iga Igarap ano é Mexic rap éC ana o ãd os Z oró 10°50'0"S s # 0 13.600 Metros Área da Terra Indígena: Aproximadamente 357.000 ha Az rd ue Es q o aç Br ap Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró Elaboração: Meline Machado Crea: DF - 18360/D Créditos: APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró Fundação Nacional do Índio - Funai Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro Agência Nacional de Águas - ANA ASTER GDEM 86 11°0'0"S Igarapé Serra Azul guela é da Pin 11°10'0"S Parque do Aripuana Projeção: South American - SAD69 61°10'0"W Igarap Ribeirão da Buritirana 1:400.000 6.800 Roosevelt una Fort 3.400 # 0Zawã kej Rio 11°0'0"S Rio Branco 0 n rtu Fo é Sete de Setembro o Webaj karej Aster GDEM (m) Terra Indígena 0 - 50 Rios de margem dupla 50 - 100 Rios de margem simples 100 - 150 150 - 200 200 - 250 a inh Rio # 0 Q ar Aldeias io Ig # 0 il br ra # 0 Modelo Digital de Elevação A Se r I karej Legenda de da una Fort ze or # 0 Xipitut Guwapuxurej # 0 R Rio t ua ul éd Bepem wëj 10°50'0"S # 0 io rap Me Iga Maluj kyrej 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W Mapa de Hidrografia 60°50'0"W 60°40'0"W Iga pé da rr Se p r ra ld # 0 ara eV Imbepu axurej ap é C am po da A re 60°30'0"W ia Igarapé Bra Iga M an gu eir a ra pé do A fo Gus tavo ço Sul do Igarap é Braço Sul do Gusta vo ns o Ig ar ap é do Pic a- pa u a ra Iga u éC ar da Igarapé Urumuará ra Ig ra pé 10°10'0"S 61°0'0"W ± Iga 10°10'0"S 61°10'0"W apé Futu ro Rio Branco # 0 Duabiyrej Iga rap Igarapé éC as tan ha l 10°20'0"S B om 10°20'0"S Igar Grande Igarap # 0Pawanewã # 0 o Zawa Karej ndinha egóri é do Gr o Ig Igara pé do Marc Igarap é Faze ap ar do rg ão Iga eio B .N 10°30'0"S apé Igarapé Tirot Co Igar # 0Tamali synej rap éd .do ap é apé B ra ul ro # 0Bat andjurej # 0 Pandjirawa # 0 Du andjurej nco Igarapé Santa Sílvia naã do M eio Zoro Igarapé Canaã pé Ca Rio Zarup wej Igara nc Bra # 0Anguj tapua # 0# 0 o 10°40'0"S za # 0Ipewyrej Az # 0Gala andjurej Igar oL á ap uva # 0 Mandarap árej Igarap é do Cigano Palia xij ta M ar ia Igar é Cat 10°40'0"S ar Azul Ig 10°30'0"S é # 0 Bubyrej # 0Rio Azul Ibug andjurej Igar apé S an # 0 # 0 Ip Syrej # 0Abesewap Iga é Me Igarap xicano rap éC ana o ãd os Z oró 10°50'0"S s # 0Bepem wëj I karej ze or de A il br o da Se r ra Az # 0 Webaj karej 13.600 Metros Área da Terra Indígena: Aproximadamente 357.000 ha Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró Elaboração: Meline Machado Crea: DF - 18360/D Créditos: APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró Fundação Nacional do Índio - Funai Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro Agência Nacional de Águas - ANA 11°10'0"S Parque do Aripuana Projeção: South American - SAD69 61°10'0"W guela é da Pin Ribeirão da Buritirana 6.800 Igarap una Fort 11°0'0"S Rio 1:400.000 3.400 Roosevelt 11°0'0"S # 0Zawã kej Terra Indígena Rios de margem dupla ha nin rtu Fo RiosRio de margem simples 0 ar ap é Br aç o Sete de Setembro Aldeias Igarapé Serra Azul Rio Branco # 0 Ig Legenda Es q ue # 0 R t ua ul # 0 # 0Guwapuxurej Xipitut una Fort Q rd Rio io 10°50'0"S éd io rap Me Iga # 0Maluj kyrej 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 87 Mapa de Localização das Aldeias 60°50'0"W 60°40'0"W Iga é C po da re 60°30'0"W ia Igarapé Bra Iga M an gu eir a ra pé do A fo Gus tavo ço Sul do Igarap é Braço Sul do Gusta vo ns o Ig ar ap é do a am aA Igarapé Urumuará ap u rr Se # 0 Imbepu axurej ara eV pa da é ld a- pé Ig p ara r ra Cu ar Pic ra Ig ra d pé 10°10'0"S 61°0'0"W ± Iga 10°10'0"S 61°10'0"W apé Futu ro Rio Branco # 0 Duabiyrej Iga rap Igarapé éC as tan ha l 10°20'0"S B om 10°20'0"S Igar Grande Igarap o # 0Pawanewã Zawa Karej# 0 ndinha egóri é do Gr o Ig Igara pé do Marc Igarap é Faze ap ar do Co ão Azul é # 0 Ipewyrej Az ul # 0Gala andjurej Igar apé B ra Igarapé Santa Sílvia eio naã do M Igarapé Igara nc Bra # 0 Anguj tapua 10°40'0"S ro # 0 0 Palia xij # # 0 apé S an ta M ar ia uva za Zarup wej Mandarap árej o Cat Canaã pé Ca Rio Ig é arap oL á 0 Bat andjurej # 0Pandjirawa # # 0 Du andjurej nco Zoro éd io ap rap é Tirote 10°30'0"S .do Igarap B .N ar Iga 10°40'0"S rg apé Igar Ig # 0Tamali synej 10°30'0"S é # 0 Bubyrej # 0 Rio Azul Igar Iga rap éd ig oC an # 0 Ibug andjurej o # 0 Ip Syrej 0 Abesewap # Iga Igarap ano é Mexic rap ana oM ãd os Z oró RGB Red: Band_1 Green: Band_2 Blue: Band_3 Az ul ra Se r da do er Es qu é Br aç o Q # 0Zawã kej Roosevelt 13.600 Metros Área da Terra Indígena: Aproximadamente 357.000 ha Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró Elaboração: Meline Machado Crea: DF - 18360/D Créditos: APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró Fundação Nacional do Índio - Funai Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro Agência Nacional de Águas - ANA Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE 88 guela é da Pin 11°10'0"S Parque do Aripuana Projeção: South American - SAD69 61°10'0"W Igarap Ribeirão da Buritirana 6.800 io una Fort 1:400.000 3.400 il br ap Sete de Setembro Imagem Resourcesat 1 LISS3 - 07/07/2013 Terra Indígena Rios de margem dupla Rios de margem simples ha nin rtu Fo Estrada Rio 0 A ar Aldeias una Fort Rio 11°0'0"S Rio Branco # 0 de Ig Legenda ze or Xipitut# 0 I karej # 0Guwapuxurej # 0 # 0Webaj karej R Rio t ua 11°0'0"S 10°50'0"S s # 0 Igarapé Serra Azul éd eio rap Bepem wëj 10°50'0"S éC Iga # 0 Maluj kyrej 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 89 Acervo APIZ Éderson Lauri Leandro / Kanindé CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 5 90 TURISMO Trabalho artesanal de confecção de cestas com palha de buriti. 5.1 INTRODUÇÃO Na busca por compreender a situação das áreas protegidas, incluindo, territórios indígenas, as comunidades, bem como os planejadores das atividades turísticas, vêem no ecoturismo uma alternativa para permitir diretrizes relacionadas a preservação e conservação, tanto de ambientes naturais, quanto socioculturais, além de tentar orientar o comportamento mais adequado para comunidades autóctones e turistas. As comunidades indígenas possuem particularidades geográficas, visto que vivem em um habitat com abundância de água e floresta, apresentando um modo de vida totalmente peculiar com expressões culturais próprias. A cultura indígena possui uma intrínseca relação com a natureza, de forma que estes respeitam grandemente todo o ambiente natural que os cerca, sendo este meio visto por estes indivíduos como a essência da vida e liberdade. O contato íntimo destas comunidades com o meio ambiente natural é expresso simbolicamente em sua cultura. O indígena possui um “mundo” diferenciado, em que a cultura é o marco simbólico de sua existência e resistência ao longo dos tempos. Na sua relação com a natureza surge um modo de vida próprio, pautado na mais absoluta simplicidade, bem como na solidariedade entre todos na comunidade. O ecoturismo é um segmento de turismo que está intimamente ligado à questão cultural, histórica e ambiental, de forma que para que seja desenvolvido é necessário que haja uma relação racional do turista com a natureza e com a comunidade receptora, de forma que esses devem respeitosamente estabelecer um vínculo sustentável com os atrativos – culturais, ambientais, sociais – ali encontrados. 91 Acervo APIZ Como já mencionado nesta tela, as comunidades indígenas possuem um modo de viver diferenciado, de forma que são considerados por alguns como verdadeiros guardiões da região Amazônica, graça aos seus valores culturais, bem como à sua economia de subsistência, que ainda conserva as riquezas naturais, no que tange a fauna e flora e a toda diversidade ecológica da qual a Amazônia é tão rica (BENCHIMOL, 2001). Toda esta conservação e/ou preservação - em alguns locais - se deve ao amor e ao respeito da figura do indígena para com a natureza de uma forma geral. Acervo APIZ Sendo assim, quando se trata do desenvolvimento da atividade turística em Terras Indígenas e, tem-se ciência da estreita relação do indígena com as questões culturais e ambientais de uma forma geral, logo nota-se que o segmento de turismo mais apropriado para ser desenvolvido nestes territórios é o ecoturismo. O ecoturismo é o segmento que mais possui relação com o turismo desenvolvido próximo as áreas indígenas, pois é realizado em áreas naturais, tendo a cultura e a natureza como principais atrativos, além de visar à sustentabilidade. Como muito bem colocado por Faria (2005), para que o ecoturismo se desenvolva de forma racional em comunidades indígenas faz-se necessário o planejamento participativo, em que haja a integração e convergência com os anseios da comunidade autóctone. Desta forma, o planejamento junto à comunidade envolvida deve ser imperativo para que assim, ocorra o desenvolvimento racional da atividade turística. O envolvimento da comunidade no processo de planejamento do turismo é de suma importância, devendo esta participar de forma ativa de todas as fases do planejamento. É indispensável que as comunidades sejam ouvidas acerca do entendimento, das expectativas, bem como das potencialidades que seu território possui para que o turismo seja desenvolvido. Acervo APIZ As ações voltadas para a gestão do turismo também devem contar imperativamente com a participação funcional das comunidades indígenas, de forma que deverá caber a elas gerir tanto as divisas financeiras geradas pelo turismo, quanto às atividades que se relacionem direta ou indiretamente ao turismo. Algo bastante mencionado nos estudos realizados sobre o desenvolvimento do turismo em Terras Indígenas, refere-se à geração de renda complementar às comunidades, visto que atualmente estas se encontram diante de novas necessidades, devendo assim, a renda ser acrescidas para que essas sejam supridas. Estas novas necessidades citadas foram resultadas pelo surgimento de cidades próximas às Terras Indígenas, fato que culminou na ocidentalização dos costumes, criando necessidades “normais” de consumo (YÁZIGI, 2007). É também neste sentido de complementação de renda que o turismo vem para trazer impactos positivos às comunidades indígenas, de forma a preencher as lacunas geradas pelas necessidades impostas na atualidade, ocasionando a melhora na qualidade de vida destas populações. Tendo em vista, todas essas perspectivas e avançando ainda mais nas possibilidades conceituais e metodológicas adequadas para construções norteadoras, observamos no conceito de “ecoturismo indígena” definido por Faria (2007), o ecoturismo promovido dentro dos limites das terras indígenas através do planejamento/gestão participativa e comunitária, respeitando os valores sociais, culturais 92 Sequência de fotos mostrando a preparação de peixe para assar Acervo APIZ e ambientais dos diferentes povos envolvidos em que a comunidade é a principal beneficiada, sendo o de maior relevância e proximidade com as realidades e necessidades das comunidades inseridas ou em inserção de atividades relacionadas ao turismo em terras indígenas. Tomando por base a necessidade de autonomia dessas comunidades indígenas, os benefícios dos métodos de pesquisa participante-ação e ultrapassando as definições básicas de ecoturismo, o ecoturismo indígena, coloca em primeiro plano, as comunidades, tornando-se por esse motivo, um aliado nas reivindicações do movimento indígena. 5.2 MATERIAIS E MÉTODOS Foi utilizada a pesquisa bibliográfica, visando dar o embase teórico necessário ao trabalho e foram realizadas entrevistas informais para assim, buscar informações complementares sobre a localidade, bem como sobre a comunidade pesquisada. Por fim, foi feita a tabulação e sistematização dos dados obtidos por meio da aplicação dos questionários. Acervo APIZ No decorrer da pesquisa foram aplicados questionários com perguntas abertas, fechadas e mistas, junto à comunidade indígena da TI Zoró. A colaboração dos pesquisadores indígenas contribuiu significativamente para estabelecer a relação de confiança e aperfeiçoar a margem de segurança dos dados. 5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Se considerarmos os dados populacionais, de 625 indígenas e que para cada casal, a faixa de filhos é de aproximadamente 3, podemos afirmar que a consulta atingiu ¼ dos indígenas considerados ativos nas tomadas de decisão. Além desse aspecto, é interessante destacar que em determinado momento, o resultante dos questionários eram extremamente próximos, fato que também asseguram a margem de credibilidade dos dados. Acervo APIZ O estudo trás como objetivo uma analise das percepções, aceitação, e expectativas da comunidade indígena Pangyjej Zoró relacionas a possível implementação de atividades relacionadas ao turismo em seu território. A pesquisa faz parte do conjunto de estudos solicitados pelos coletivos indígenas dessa TI e está inserido na metodologia de Diagnósticos Etnoambientais Participativos de Terras Indígenas. Com relação às percepções quanto as possíveis alterações nos aspectos sócio-culturais, indagamos, se existirão tais modificações e quais são identificáveis pelos indígenas com o possível desenvolvimento do turismo, assim, 48% expressaram não perceber a possibilidade de mudanças, 8% disseram não saber e 44% entendem que as mudanças acontecerão. Essas mudanças, na compreensão indígena, são voltadas para aspectos positivos, relacionados a divulgação da cultura, geração de renda e melhorias na qualidade de vida. Na opinião dos indígenas essas seriam as alterações num cenário de Confecção de flechas. 93 desenvolvimento de atividades turísticas: “Assim somos vistos como pessoas porque muitas das vezes não somos reconhecidos; Porque assim os brancos vão reconhecer a realidade nossa; Melhoraria a visão sobre a realidade da vida do nosso povo; Porque assim somos reconhecidos por não indígenas; Ajuda na questão do povo ser reconhecido dentro da sua realidade de viver; O turismo seria uma renda para a comunidade; Saber as coisas que o turista conta com a comunidade para melhorar a realidade do povo; A comunidade precisa ter recurso para todas as aldeias; Convivências com as pessoas. Conheceríamos mais pessoas e seus costumes e elas conheceriam nossos costumes também; A comunidade acompanha com o turismo dentro da nossa região; Ensinar muitas coisas e aprender a mudar muito e a ter direito a muitas coisas nas aldeias; A comunidade precisa ter recurso para comunidade e compartilhar com eles; Mudaria no dia-a-dia, porque os indígenas ficariam preocupados em receber os turistas; Para trazer dinheiro para dar pra comunidade; Mudaria as danças; Para mudar a realidade da comunidade e trazer mais recursos para ela; Mudaria a questão socioeconômica; Mudaria porque teríamos que cuidar dos turistas; Mudaria na estrutura da comunidade, pois as casas dos visitantes deveriam ser construídas; Aumentaria mais o conhecimento da cultura do nosso Povo Pangyjej e mostraria suas terras para o Brasil.” A este exemplo, são destacados como locais proibidos os seguintes: cemitérios; algumas aldeias; lugares de plantas medicinais; lugares sagrados – Vista da Taquara; áreas de mineração. Esse percentual, se comparado com outras TI é extremamente elevado, normalmente essa conscientização sobre restrição dos espaços, só é desenvolvida ao longo das oficinas. Observando as respostas relacionadas as alterações locais podemos corroborar com Faria (2005) quando destaca que o fato do turismo não fazer parte do cotidiano das comunidades indígenas dificulta o entendimento dos impactos positivos e negativos que porventura possam advir do desenvolvimento dessa atividade. Somente as pessoas que direta ou indiretamente possuem ligação com esta atividade têm clareza quanto aos possíveis impactos gerados pelo turismo. Os utensílios e artesanatos produzidos na Terra Indígena Zoró, são: colares; brincos; redes; cocares; arcos; pulseiras; anéis; gargantilhas; bandoleiras; flechas; cestos; paneiro; pilão; panelas de barro; esteira. Nessa compreensão, apenas 22% dos entrevistados, acreditam que o turismo traria algum tipo de impactos negativos caso fosse implementado na terra indígena Zoró. São impactos relacionados nessa perspectiva “Maus costumes; desorganização da Comunidade; drogas; impactos à natureza; e lixo na comunidade”. Esses impactos, segundo eles, só aconteceriam caso: “Pode acarretar se não houver planejamento; dependendo da aplicação dos recursos nas aldeias; se chegar e impor regras”. Outro dado importante de ser citado é o cuidado dos indígenas quanto aos possíveis locais a serem visitados pelos turistas, 38% dos indígenas afirmam que nem todos os locais da TI podem ser acessados pelo turismo. 94 Nessa amplitude de questões, abordamos ainda, os potenciais atrativos relacionados à belezas cênicas e culturais. Foram destacados pelos indígenas os seguintes lugares: aldeias antigas; rio Consuelo na área do Povo Pangyjej Zoró; aldeia Anguy Tapuã - tem muitos peixes e animais; serras onde são observadas rochas e florestas; montanha em forma de torre - na área da fazenda existem cachoeiras; aldeias que ficam localizadas nas beiras dos rios; aldeia Escola; cachoeira do rio Branco; rio Branco; rio Roosevelt; montanha perto da Aldeia Escola – 3 km; aldeia do Chiquinho (praia) - não tem ponte, de forma que o turista terá que atravessar de barco; rio Canaã. Para observação de animais, são destacados os seguintes locais: aldeia Ipewurej; rio Canaã; rio Consuelo; Barreiro; aldeia Ibupeaxurej; perto da Aldeia Buburej – barreiro perto da aldeia Escola – Roça; em lugares distantes, onde é difícil a presença da caça. Entre os alimentos são destacados: milho, mandioca, cará, banana, amendoim, batata doce, batata, mamão, cana, chica, farinha, fuluchua (sopa de peixe), makaloba, beiju, mandaga (massa de batata doce assada), carne de caça, peixe assado na palha, sopa de milho, sopa da banana, carne com castanha assada na palha. Para uma primeira aproximação, esses dados são norteadores e necessariamente servirão de base para as construções participativas referentes ao turismo, aumentando significativamente o olhar indígena sobre seu conhecimento atual referente ao tema e sua necessidade de compreensão. Por fim, quando perguntamos aos entrevistados “Se você pudesse opinar ou interferir no desenvolvimento do turismo em sua comunidade, o que faria?” chegamos aos seguintes resultados: estimularia o turismo 46%; proibiria o turismo na região 32%; não sei 14%; não faria nada 8%. Foi acrescentada ainda por alguns Acervo APIZ Acervo APIZ Acervo APIZ Acervo APIZ Acervo APIZ Nesta foto barco em atividade de pesca. Abaixo crianças brincam na aldeia num final de tarde; indígena trabalhando no tear; maloca com panela no fogo e macaxeira sendo servida. 95 entrevistados a necessidade de reuniões da comunidade para definição do tema e também em fases posteriores a importância de gestão de recurso de forma participativa, caso ocorra a atividade. Observando os dados obtidos e fazendo uma correlação entre percepção, propensão e potencialidades, podemos discorrer as seguintes considerações: inicialmente, a comunidade deve definir de forma participativa, com base nas informações do Diagnóstico, se o tema turismo é de interesse para a Terra Indígena Zoró, fato que, segundo dados, não está perfeitamente definido; aproveitar os espaços de discussão para aumentar o conhecimento sobre turismo/ecoturismo indígena; estabelecer um intercâmbio de informações com outras etnias que já estão avançadas no processo participativo de ecoturismo indígena; optar por planejamentos e tomadas de decisões participativas, inserindo cada vez mais indígenas na construção de um modelo adequado às necessidades e potencialidades locais. Caso a comunidade decida por desenvolver atividades de turismo, é necessário elaborar um Plano de Ecoturismo alicerçado no Diagnóstico Etnoambiental Participativo da TI Zoró. Para aumentar a autonomia e compreensão das reais dimensões e implicações do turismo - que certamente estão além de melhorias – e embasar essas comunidades para futuros processos decisórios, é indispensável à realização de oficinas de capacitação, onde poderão ser apresentadas e discutidas as melhores alternativas para a implementação de atividades turísticas, evitando assim que essas comunidades padeçam por tomadas de decisões equivocadas. Buscar parceria com as terras/associações indígenas próximas para a construção de um destino mais sólido e com capacidade de concorrer com outras regiões. Como exemplo tem-se a Terra Indígena Sete de Setembro que já passou por etapas de diagnóstico e concluiu em 2012 seu Plano de Ecoturismo Indígena. 96 97 Sergio P. Cruz / Kanindé Éderson Lauri Leandro / Kanindé CAPÍTULO 6 98 ETNOZONEAMENTO 6.1 INTRODUÇÃO O etnozoneamento é um instrumento de planejamento para a elaboração do plano de gestão da terra indígena. O principal produto deste instrumento é um mapa com a delimitação de zonas, onde se definem o uso dos recursos naturais, a proteção, valorização da cultura e as formas de uso dentro do território indígena. No etnozoneamento há a valorização do conhecimento indígena, cultura, de suas organizações e ajuda a planejar o uso dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico do território (SANTOS, 2005). A decisão de realizar o planejamento da terra indígena foi tomada a partir de 2004 quando os Zoró tomaram conhecimento do etnozomento realizado pelos povos Paiter Surui, na Terra Indígena Sete de Setembro. Estes buscaram apoio junto a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) para sua realização. Como estas entidades não disponham de recursos financeiros, os Pangyjej Zoró decidiram que buscariam junto a outras instituições. A APIZ (Associação do Povo Indígena Zoró) buscou apoio junto ao MMA (Ministério do Meio Ambiente), via PDPI (Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas), que apoiou financeiramente a elaboração do Diagnóstico Etnoambiental, Etnozoneamento e Plano de Gestão da Terra Indígena Zoró. Eles contaram ainda com o apoio da Kanindé, ECAM (Equipe de Conservação da Amazônia) e da FUNAI. 99 Israel Vale / Kanindé 6.2 ETNOZONEAMENTO A decisão de realizar o etnozoneamento trouxe a reflexão sobre a necessidade de conhecer o território, integrando a ciência indígena e a ciências dos não indígenas. O que levou os indígenas a decidirem pela elaboração do Diagnóstico Etnoambiental Participativo da Terra Indígena Zoró (KANINDÉ, 2010). O diagnóstico etnoambiental participativo foi realizado em 2012 e 2013, envolvendo todas as aldeias, com a participação de indígenas em todos os levantamentos de campo. Com o diagnóstico pronto se passou para a fase seguinte que foi a elaboração do etnozoneamento. O Etnozoneamento envolveu uma reflexão sobre os problemas levantados durante o diagnóstico e a busca de soluções, para tanto, os indígenas elaboraram o mapa do etnozoneamento, onde eles zonearam seu território, planejando a forma de uso de cada área. O Diagnóstico Etnoambiental Participativo foi utilizado 100 como base, já que este traz um conjunto de pesquisas que caracterizam a TI e recomenda atividades para o ponto que necessita de atenção. Esse estudo contou com uma equipe especializada em cada área, dentro da temática étnica, geográfica, biológica e potencial turístico. Logo, após as pesquisa de campo e bibliográficas, foram apresentados os resultados na oficina de Validação do diagnóstico. Nela, o Povo Pangyjej Zoró pôde avaliar os resultados, aproválos e, na sequencia, elaborar o mapa de etnozoneamento. O mapa produzido na oficina foi encaminhado a um especialista que o reproduziu, na íntegra, em forma digital. A oficina para Validação do Diagnóstico Etnoambiental Participativo e de Etnozoneamento foi realizada na aldeia-escola ZaruipWej. Divididos em grupos por área, eles se reuniram para delimitar a zona dentro de um mapa em branco e traçar os objetivos, indicadores, Éderson Lauri Leandro / Kanindé resultados esperados, atividades e normas. Após o momento em grupo, foram feitas as apresentações para a plenária aprovar as propostas e elaborar um único mapa com as zonas definidas. Em meio às apresentações eles decidiram juntos que em vez da palavra zona utilizariam áreas, já que para os participantes a palavra área era de fácil entendimento para os mais velhos. Indígena Zoró. Durante a oficina, foi pensada e planejada a área de turismo. No entanto, após inúmeros questionamentos de vários indígenas, decidiram que, apesar de existir o interesse na implementação de projetos de turismo na terra indígena, não será inclusa essa temática. Isso porque precisam ampliar essas discussões a um maior número de indígenas e em outro momento. Foram criadas oito áreas que estão representadas no Mapa de Etnozoneamento da Terra Indígena Zoró. Outra decisão tomada pela comunidade é de que criariam poucas áreas, utilizariam linguagem simples, facilitando o acesso a todos aos dados do etnozoneamento, e contribuindo para a reflexão na elaboração do Plano de Gestão. Para cada área foram definidos os objetivos, gerais e específicos, resultados esperados, indicadores, normas e atividades. Estas áreas seriam implementadas pelo Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra 101 6.3 ÁREAS DO ETNOZONEAMENTO 6.3.1. Área de caça e pesca Objetivo Geral >Área destinada para uso de caça e pesca. Objetivo Específico >Garantir a alimentação nas aldeias. Resultado Esperado >Ter alimento suficiente para o sustento da comunidade. Indicadores >Quantidade de animais consumidos; >Animais retornando a área. Norma geral >Será permitida a caça e pesca por não-indígena somente para consumo próprio e com autorização da liderança da comunidade. Xylyi xij Imbepu axurej Mandjup xij Zam zam kyrej Ikulu segyrej Ixikura xi Du'yp wej Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Ibe andyrej Atividades >Caçar e pescar; >Fazer o monitoramento da caça e pesca. Kasalawej Ikat sunej Duabiyrej Duabiyrej Gat kangym wej Betem wej Panjij xapxi Bade sagyrej Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej Zap ara ej Zawa Karej Bade sagyrej Wawu sunum wëj Busap tag salia Bubyrej Bat anduxi Tamali synej Rio Azul Ipewyrej Gala andyurej Gala andjurej Bat andjurej Pandjirawa Ikabe kawa Du andjurej Zoró Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua Zarup wej Mandarap árej Palia xij Zat kut xi Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 102 103 Israel Vale / Kanindé Israel Vale / Kanindé Shelliane Nascimento / Kanindé 6.3.2. Área Castanhal Objetivo Geral >Ter uma área destinada para conservação dos castanhais. Objetivos Específicos >Garantir a conservação das castanheiras; >Garantir a conservação de espécies vinculadas as castanheiras; >Garantir geração de renda. Resultados Esperados >Venda da castanha; >Venda da castanha beneficiada; >Aumento da geração de renda das famílias. Indicadores >Quantidade de quilos de castanhas vendidas; >Valor agregado ao produto; >Aumento de área explorada. Imbepu axurej Mandjup xij Norma geral Zam zam kyrej Ikulu segyrej >Será permitida a coleta de castanha por outra etnia somente com autorização da liderança da comunidade. Xylyi xij Ixikura xi Du'yp wej Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Ibe andyrej Kasalawej Ikat sunej Duabiyrej Betem wej Panjij xapxi Bade sagyrej Atividades >Limpeza das estradas dos castanhais; >Coletar castanhas; >Fazer trilhas para acesso aos castanhais; >Definir as regiões dos castanhais por família; >Elaborar o plano de uso das castanheiras; >Elaborar o plano de negócios das castanheiras. Duabiyrej Gat kangym wej Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej Zap ara ej Zawa Karej Bade sagyrej Wawu sunum wëj Busap tag salia Bubyrej Bat anduxi Tamali synej Rio Azul Ipewyrej Gala andyurej Gala andjurej Bat andjurej Pandjirawa Ikabe kawa Du andjurej Zoró Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua Zarup wej Mandarap árej Palia xij Zat kut xi Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 104 105 Acervo APIZ Acervo APIZ 6.3.3. Área de Produção Objetivo Geral Manter as roças tradicionais Objetivos Específicos >Aumentar as roças para gerar excedentes; >Comercializar o excedente. Resultados Esperados >Aumentar a geração de renda familiar; >Melhorar a qualidade da alimentação; >Melhoria das práticas de cultivo. Indicadores >Quantidade de roças produzindo. Norma geral para a terra indígena Apenas os indígenas moradores na TIZ poderão fazer as roças. >Assistência técnica para as roças; >Apoio a produção; >Comercialização da produção; >Aquisição de implementos agrícolas. Imbepu axurej Mandjup xij Atividades Zam zam kyrej Ikulu segyrej Xylyi xij Ixikura xi Du'yp wej Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Ibe andyrej Kasalawej Ikat sunej Duabiyrej Duabiyrej Gat kangym wej Betem wej Panjij xapxi Bade sagyrej Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej Zap ara ej Zawa Karej Bade sagyrej Wawu sunum wëj Busap tag salia Bubyrej Bat anduxi Tamali synej Rio Azul Ipewyrej Gala andyurej Gala andjurej Bat andjurej Pandjirawa Ikabe kawa Du andjurej Zoró Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua Zarup wej Mandarap árej Palia xij Zat kut xi Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 106 107 Acervo APIZ Israel Vale / Kanindé 6.3.4. Área Sagrada Objetivo Geral >Proteger as áreas sagradas. Objetivos Específicos >Orientar e mostrar aos jovens as áreas sagradas; >Preservar as áreas sagradas. Resultados Esperados >Os jovens conhecendo a sua historia; >Respeito aos antepassados. Indicadores >Os jovens transmitindo os valores culturais; >A história sendo contada na escola; >O registro da história e cultura em materiais didáticos. Norma geral para a terra indígena >Os pais deverão ensinar seus filhos sobre a cultura e historia do Povo Pangyjej Zoró. ± Atividades Imbepu axurej Mandjup xij Zam zam kyrej Ikulu segyrej Xylyi xij Ixikura xi Du'yp wej Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Map Pov 10°20'0"S Ibe andyrej Kasalawej Duabiyrej ECA Duabiyrej Este Gat kangym wej Pan e Fu Etno Ikat sunej Betem wej Bas SC. Panjij xapxi Bade sagyrej - Ex Órb Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej Ass Zap ara ej Ivan Isra Tha Joe Ede Mar Zawa Karej Bade sagyrej Busap tag salia Wawu sunum wëj Equ Mel Ass Bubyrej 10°30'0"S >Incluir no currículo escolar as histórias e a cultura do Povo Pangyjej Zoró; >Responsabilizar orientadores indígenas a conhecer e transmitir a história do Povo Pangyjej Zoró aos alunos; >O conhecimento dos mais velhos ser repassado aos orientadores indígenas. TERRA INDÍGENA ZORÓ Bat anduxi Tiag Jun Eliz Ade Tamali synej Rio Azul Ipewyrej Ivan Isra Geo Tiag Gala andyurej 10°0'0"N Gala andjurej Bat andjurej Pandjirawa xxxxxxxxxxxxx Zoró 0°0'0" Ikabe kawa Du andjurej Zoró 10°0'0"S Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua 20°0'0"S 10°40'0"S Zarup wej Mandarap árej 30°0'0"S Palia xij Zat kut xi Aripuanã Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej 10°50'0"S Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 11°0'0"S Aripuanã Parque do Aripuanã 61°10'0"W 108 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 109 Acervo APIZ Acervo APIZ 6.3.5. Área de Resgate Objetivo Geral >Ampliar os limites da TI. Objetivo Específico >Ampliar os limites no lado Oeste da TI, que ficaram fora da demarcação. Resultado Esperado >Anexar a área reivindicada a TI. Indicador >Decreto de ampliação da área publicado no Diário Oficial. Norma geral para a terra indígena >Juntar parcerias para defender a ampliação dos limites da TI. Atividades >APIZ enviar documento a FUNAI solicitando como está a situação do processo de ampliação dos limites da TI; >Formalizar parcerias; >Entrar em contato com Ministério Público para verificar como está a situação do processo de ampliação dos limites da TI; >Realizar reuniões com as instituições responsáveis pelo processo. Imbepu axurej Mandjup xij Zam zam kyrej Ikulu segyrej Xylyi xij Ixikura xi Du'yp wej Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Ibe andyrej Kasalawej Ikat sunej Duabiyrej Duabiyrej Gat kangym wej Betem wej Panjij xapxi Bade sagyrej Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej Zap ara ej Zawa Karej Bade sagyrej Wawu sunum wëj Busap tag salia Bubyrej Bat anduxi Tamali synej Rio Azul Ipewyrej Gala andyurej Gala andjurej Bat andjurej Pandjirawa Ikabe kawa Du andjurej Zoró Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua Zarup wej Mandarap árej Palia xij Zat kut xi Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 110 111 Israel Vale / Kanindé Israel Vale / Kanindé 6.3.6 Área de Proteção Integral Objetivo Geral >Proteger os animais e a floresta. Objetivo Específico >Garantir a preservação das espécies da fauna e flora. Resultado Esperado >Aumento da quantidade caça e pesca. Indicadores >Manutenção das espécies de fauna e flora. Norma geral para a terra indígena >Não é permitido fazer uso dos recursos naturais dessa área. Atividades >Realizar atividade de proteção; >Realizar o monitoramento da fauna e flora. TERRA INDÍGENA ZORÓ ± Imbepu axurej Mandjup xij Zam zam kyrej Ikulu segyrej Xylyi xij Ixikura xi Du'yp wej DIA ET Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Mapa elaborado Povo Indígena Z 10°20'0"S Ibe andyrej Kasalawej Duabiyrej ECAM - Equipe Duabiyrej Este trabalho fo Gat kangym wej Pangyjej, com e Fundação Go Etnoambiental K Ikat sunej Betem wej Base Cartográfi SC.20-Z-B-V na Panjij xapxi Bade sagyrej - Exército Brasil Órbita/Ponto 31 Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej EQU Associação de Zap ara ej Ivaneide Bande Israel Correa do Thamyres Mesq Joelma Pinheiro Ederson Lauri L Marcos Garcia Zawa Karej Bade sagyrej Busap tag salia Wawu sunum wëj Equipe de Con Meline Cabral M Associação do 10°30'0"S Bubyrej Bat anduxi Tiago Zoró - Pre Junior Cinta Lar Elizabete Cinta Ademir Cinta La Tamali synej Rio Azul Respo Ipewyrej Ivaneide Bande Israel Correa do Geog. Meline C Tiago Zoró Gala andyurej 10°0'0"N Gala andjurej Bat andjurej Pandjirawa xxxxxxxxxxxxx Zoró 0°0'0" Ikabe kawa Du andjurej Zoró 10°0'0"S Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua 20°0'0"S 10°40'0"S Zarup wej Mandarap árej 30°0'0"S Palia xij Zat kut xi Aripuanã Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej 10°50'0"S Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 11°0'0"S Aripuanã Parque do Aripuanã 61°10'0"W 112 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 80°0'0"W 113 Glauko Correa / Kanindé Acervo APIZ 6.3.7. Área de recuperação Objetivo Geral >Recuperar a área atingida pelo fogo. Objetivo Específico >Reflorestar a área com espécies nativas. Resultado Esperado >Recuperação da área degradada. Indicadores >Quantidade de mudas plantadas; >Número de hectares de área recuperada; >Avistamento de espécies de animais. Norma geral para a terra indígena Proibido fazer queimada e plantar espécies exóticas. Atividades TERRA INDÍGENA ZORÓ ± Imbepu axurej Mandjup xij Zam zam kyrej Ikulu segyrej Xylyi xij Ixikura xi Du'yp wej Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Mapa Povo I Ibe andyrej 10°20'0"S >Comprar semente para recuperar a área; >Plantar castanheiras no local; >Fazer proteção da área; >Instalar placas informativas; >Fazer trabalho de conscientização ambiental; >Fazer aceiro no entorno das roças. Kasalawej Duabiyrej ECAM Duabiyrej Este tr Gat kangym wej Pangy e Fund Etnoam Ikat sunej Betem wej Base C SC.20 Panjij xapxi Bade sagyrej - Exérc Órbita/ Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej Assoc Zap ara ej Ivaneid Israel C Thamy Joelma Ederso Marco Zawa Karej Bade sagyrej Busap tag salia Wawu sunum wëj Equip Meline Assoc 10°30'0"S Bubyrej Bat anduxi Tiago Z Junior Elizabe Ademi Tamali synej Rio Azul Ipewyrej Ivaneid Israel C Geog. Tiago Gala andyurej 10°0'0"N Gala andjurej Bat andjurej Pandjirawa xxxxxxxxxxxxx Zoró 0°0'0" Ikabe kawa Du andjurej Zoró 10°0'0"S Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua 20°0'0"S 10°40'0"S Zarup wej Mandarap árej 30°0'0"S Palia xij Zat kut xi Aripuanã Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej 10°50'0"S Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 11°0'0"S Aripuanã 114 Parque do Aripuanã 61°10'0"W 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 80 115 Israel Vale / Kanindé Glauko Correa / Kanindé 6.3.8. Área Cultural >Fazer multirão para roçado; >Fazer tratos culturais dos roçados(limpeza); >Fazer moradias tradicionais; >Fazer remédio tradicional; >Fazer o remédio tradicional para ser um bom caçador; >Ensinar as mulheres novas a tomarem remédios tradicionais para não ficar grávida cedo, para ter uma boa gravidez, e um bom parto; >Ensinar como fazer parto tradicional; >Ensinar as jovens a fazer o artesanato de cerâmica, brincos, pulseiras, colares, rede, fiar algodão, coletar as sementes certas para o artesanato, >Ensinar os jovens a fazer cocar, arco e flecha, a caçar, fazer roça, maloca, a respeitar os próximos e companheiros desde pequenos; >Ensinar os jovens a respeitar os mais velhos, em especial pai e mãe, tios, tias, irmãos e irmãs; >Ensinar os genros a respeitar os sogros; >Ensinar os sogros a respeitar os genros; >Ensinar aos jovens as danças e as musicas culturais; >Ensinar os jovens a fazerem pintura corporal; >Ensinar as jovens a fazerem a comida tradicional. TERRA INDÍGENA ZORÓ Objetivo Geral >Fortalecer e manter a cultura do Povo Pangyjej Zoró; Objetivos Específicos >Manter a língua materna; >Comer alimentação tradicional; >Usar pintura corporal; >Fazer o artesanato; >Ensinar a confeccionar as artes Zoró; >Ensinar aos jovens as histórias, os hábitos e costumes do Povo Pangyjej Zoró; >Publicar livros na língua materna; >Manter a medicina tradicional. Resultado Esperado >Cultura fortalecida. Indicadores >Os jovens sabendo contar as histórias e sabendo fazer artes Zoró; >Quantidade de livros publicados com as histórias Zoró; >Livro sendo utilizado na escola como material didático; >Zoró falando a língua materna em todos os lugares; >Jovens confeccionando artesanato; >Jovens cantando e dançando tradicionalmente; >Zoró com pintura corporal tradicional. ± Imbepu axurej Mandjup xij Zam zam kyrej Ikulu segyrej Xylyi xij Ixikura xi Du'yp wej Dupitinynej Ixaweja Ixia puxurej Mapa e Povo In 10°20'0"S Ibe andyrej Kasalawej Duabiyrej ECAM Duabiyrej Este tra Gat kangym wej Pangyj e Fund Etnoam Ikat sunej Betem wej Base C SC.20- Panjij xapxi Bade sagyrej - Exérc Órbita/ Pawanewã Webaj anzap wej Gat kangyp wej Assoc Zap ara ej Ivaneid Israel C Thamy Joelma Ederso Marcos Zawa Karej Bade sagyrej Norma geral para a terra indígena Equipe Meline Assoc Bubyrej 10°30'0"S >A cultura será ensinada nas escolas e nas casas, pelos mais velhos e professores indígenas. Busap tag salia Wawu sunum wëj Bat anduxi Tiago Z Junior Elizabe Ademir Tamali synej Rio Azul Ipewyrej Ivaneid Israel C Geog. Tiago Gala andyurej Bat andjurej Pandjirawa Atividades 10°0'0"N Gala andjurej xxxxxxxxxxxxx Zoró 0°0'0" Ikabe kawa Du andjurej Zoró >Coletar as histórias e publicar; >Fazer oficinas com os jovens tendo os mais idosos como professores, para ensinar a cultura; >Professores ensinando sobre a cultura nas escolas e utilizando o material produzido durante o Etnozoneamento; >Realizar apresentações culturais danças e cantos (cantos antigos dos animais); >Fazer alimentação tradicional (makaloba, beiju, mandaga, mankiã, mangabeá, entre outras); >Pescaria tradicional junto com os jovens; 10°0'0"S Bat peaxij Guj wenawej Anguj tapua 20°0'0"S 10°40'0"S Zarup wej Mandarap árej 30°0'0"S Palia xij Zat kut xi Aripuanã Ibug andjurej Abesewap Ip Syrej 10°50'0"S Maluj kyrej Bepem wëj Xipitut I karej Guwapuxurej Webaj karej Zawã kej 11°0'0"S Aripuanã Parque do Aripuanã 61°10'0"W 116 61°0'0"W 60°50'0"W 60°40'0"W 60°30'0"W 80° 117 Acervo APIZ Acervo APIZ Acervo APIZ CAPÍTULO 7 118 PLANO DE GESTÃO 7.1 APRESENTAÇÃO O presente documento é o resultado das Oficinas Participativas realizadas na TIZ, para a elaboração do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena Zoró – PGTATIZ. Neste documento utilizaremos a autodenominação Pangyjej, que é como o povo indígena se autodenomina, sempre que nos referimos ao povo Zoró. O PGTATIZ é um instrumento de planejamento pensado e elaborado de forma coletiva pelo povo Pangyjej, que busca valorizar a cultura material e imaterial. Este visa o desenvolvimento econômico sustentável, a recuperação de áreas degradadas pela ação ilegal de madeireiros na terra indígena, a conservação dos recursos naturais e a implementação do etnozoneamento da terra indígena Zoró. É importante salientar que o PGTATIZ interage com os Planos de Gestão das Terras Indígenas Sete de Setembro (do povo Paiter Surui) e a Roosevelt (do povo Cinta Larga), contribuindo para a conservação e o desenvolvimento sustentável do Corredor Etnoambiental Tupi Mondé. No documento estão ações voltadas para a proteção do território, o fortalecimento institucional da APIZ, a educação, saúde, cultura e economia Pangyjej. O PGTATIZ é um produção coletiva do povo com a assessoria da APIZ e Kanindé, acompanhamento técnico do CTL (Coordenação Técnica Local) de Ji-Paraná da FUNAI e apoio financeiro do PDPI - Ministério do Meio Ambiente, Gordon and Betty Moore Foundation e Amigos da Terra da Suécia. O PGTATIZ é um documento dinâmico e que será avaliado a cada cinco anos, para que se possa saber o quanto se alcançou e se é necessário ajustes. 119 7.2. INTRODUÇÃO O Plano de Gestão da Terra Indígena Zoró - PGTATIZ foi criado a partir de reuniões e oficinas realizados pelos indígenas com a assessoria técnica da APIZ – Associação do Povo Indígena Zoró e da Kanindé Associação de Defesa e acompanhamento técnico do CTL- Coordenador Técnico Local da Coordenação Regional -Ji-Paraná da FUNAI – Fundação Nacional do Índio. O Diagnóstico Etnoambiental e o Etnozoneamento foram suporte técnico para a tomada de decisão das comunidades durante as Oficinas de elaboração do PGTIZ. O PGTATIZ é uma ferramenta de gestão socioambiental do território indígena, que tem como princípios: >Autonomia do povo Pangyjej; >Participação da comunidade em sua implementação; >Valorização da cultura; >Repartição de benefícios e liberdade no uso dos recursos naturais. A implementação do PGTATIZ envolve os órgãos públicos responsáveis pelas ações na terra indígena, a APIZ e a comunidade. No que concerne a sua execução a associação indígena e a comunidade buscarão apoio junto as organizações públicas e privadas, nos casos onde necessitem de recursos externos. A responsabilidade de implementar o PGTATIZ é do povo indígena, da APIZ e dos órgãos públicos que tem o papel institucional de atender as políticas públicas direcionadas aos povos Pangyjej. Por decisão da comunidade este plano deverá ter sua implementação avaliada a cada cinco anos, com duração prevista para vinte anos. A cada ano deverão ocorrer encontros para monitorar o quanto se avançou, quais as dificuldades e os ajustes necessários. Nestes encontros de monitoramento, se buscará envolver todos aqueles que têm algum envolvimento com a comunidade e os responsáveis pela execução do PGTATIZ. 120 121 7.3. PROGRAMAS TEMÁTICOS Thamyres Mesquita / Kanindé Thamyres Mesquita / Kanindé Os Pangyjej definiram sete programas temáticos: Educação, cultura, recuperação e resgate, saúde, produção e meio ambiente, que devem ser implementados na terra indígena. 122 7.3.1. Programa Educação Foi decido pelos participantes na Oficina de Elaboração do Plano de Gestão, que o Programa de Educação deveria atender ao Projeto Politico Pedagógico, que é parte integrante deste PGTATIZ, e que os recursos para sua execução deveriam ser dos Governos Federal, Estadual e Municipal. Quanto a atividades como de capacitação se buscaria apoio entre entidades não governamentais, priorizando as seguintes atividades: INFRAESTRUTURA >As construções das escolas são de responsabilidade dos Governos Municipais, Estadual e Federal, devendo a APIZ fazer gestão junto a estes para que as construam e equipem. >Construção de dois prédios para atender a educação sendo: Um na Zarup Wej e outro na Zawã Karej; >Criação e construção de uma Escola Polo municipal na linha do Pacarana no interior da TI; >Mobiliários para as escolas; >Reformas das escolas municipais (enquanto não constroem as polos); FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO Segundo os indígenas, estes têm muita dificuldade em fazer a gestão administrativa e financeira da APIZ e de atividades que envolvam prestação de contas e negociação de produtos. Visando melhorar sua atuação, estes propuseram que houvesse cursos de formação e capacitação para gestores da Associação e membros da comunidade que vendem produtos nos mercados locais. Foram priorizadas as seguintes capacitações: >Planejamento e prestação de contas dos programas educacionais; >Formação continuada através do Centro de Formação de Professores – CEFAPRO; >Realizar as oficinas pedagógicas no mínimo semestralmente para os professores das escolas municipais; >Criar vagas/bolsas de estudo e de estagio em nível superior em diferentes áreas; >Abrir diálogo com as universidades para garantia de vagas e/ou abertura de cursos intercultural em nível superior para áreas de gestão ambiental e territorial, engenharia florestal, enfermagem, medicina e áreas afins; Foi proposto ainda: >Garantir a acessibilidade dos alunos e profissionais da educação as escolas; >Firmar com a comunidade e lideranças o compromisso com a frequência escolar regular dos alunos a escola; >Promover a emancipação da escola Zawã Karej, que atualmente funciona como anexo da Zarup Wej; 123 7.3.2 Programa de Cultura Durante o diagnóstico Etnoambiental os indígenas identificaram problemas como a falta de conhecimento por parte dos mais jovens de ritos que são considerados sagrados, ocasionado pelo envolvimento com as missões evangélicas que atuam na terra indígena. Outro problema observado foi que estes jovens na sua maioria não sabem confeccionar arco e flecha, cestarias, cerâmicas e outros adornos corporais, e que muitos não sabem o significado das pinturas corporais, das danças, da comida tradicional, o que levou os participantes a proporem um Programa de Cultura. O Programa de Cultura tem como objetivo valorizar a cultura do povo Pangyjej, e tem como meta implementar o etnozoneamento em especial as Áreas de Argila, Resgate e Sagrada. Thamyres Mesquita / Kanindé Durante as oficinas os Pangyjej propuseram as seguintes atividades: >Elaboração de um programa de formadores e orientadores da cultura, onde se buscará resgatar rituais e costumes que deixaram de ser praticados pelos Pangyjej, e que deverão ser ensinados nas escolas; >Criação de categorias no âmbito do serviço público para que os indígenas anciões pudessem ser contratados como consultores indígenas para atuarem como orientadores da cultura nas aldeias; >A realização de diferentes BEKÃ para ensinar os jovens a confeccionar artesanato, instrumentos musicais, a construir casas tradicionais, Wawit Tirie, registrar atividades de caça e pesca, aprender cantos, danças, e realizar expedições a lugares desconhecidos pelos jovens na terra indígena e valorizar os anciões; >Reforma, ampliação e compra de equipamentos do Centro de Promoção Cultural e Proteção Territorial da TIZ. >Cultura Pangyjej sendo divulgada pela APIZ e parceiros. 124 124 7.3.3 Programa de Recuperação e Resgate A demarcação da terra indígena Zoró, deixou de fora áreas importantes para o povo indígena, são áreas que hoje são fazendas que fazem limites com o território e são utilizadas pelos pecuaristas, madeireiros e grileiros para invadir a terra, roubar e degradar os recursos naturais. Este programa visa implementar atividades definidas no Etnozoneamento na Área de Recuperação e resgatar o território que ficou fora da demarcação é uma das metas deste programa, também visa recuperar áreas degradadas no interior da terra indígena. Os Pangyjej decidiram que a ampliação do território deveria ocorrer na área florestada e que o órgão indigenista FUNAI tem a responsabilidade de buscar a demarcação e ampliação da terra indígena. Foram definidas as seguintes atividades a serem desenvolvidas na terra indígena: Para a Área de Recuperação: >Desenvolver um projeto de reflorestamento com espécies nativas nas áreas degradadas; >Reflorestamento das áreas impactadas, próximo as aldeias; >Instalar Quintais Agroflorestais em pelo menos duas aldeias na TIZ. Ivaneide Bandeira / Kanindé Para a Área de Regaste: >A APIZ Solicitar a FUNAI a ampliação da terra indígena, para incluir a área que ficou fora da demarcação; >APIZ fazer o acompanhamento do processo junto a FUNAI, solicitando providências. 125 7.3.4 Programa de Saúde O Programa de Saúde do Povo Pangyjej, será desenvolvido em todas as aldeias, buscando valorizar o conhecimento indígena. Este não tem o objetivo de substituir o que é atribuição governamental no atendimento a saúde, mas busca preparar os Pangyjej para atender os indígenas diretamente nas aldeias. Os indígenas durante as oficinas decidiram que haveria um investimento para formar os Pangyjej em técnica de enfermagem e medicina, para que os indígenas formados pudessem atuar como profissionais nas aldeias e nos postinhos de saúde. Para alcançar os objetivos propostos foram priorizadas as seguintes atividades: FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO Thamyres Mesquita / Kanindé >Formar e capacitar indígenas como profissionais de enfermagem, médicos e equipamentos necessários; >Realizar cursos para agentes de saúde indígenas e de AISAN – Pangyjej; >Infraestrutura para atendimento nas aldeias >Implantar saneamento básico com estrutura adequada em todas as aldeias; >Adquirir equipamentos e materiais para os Agente Indígena de Saneamento AISAN; >Construir um mini-hospital na TI Zoró; >Veículos de emergência dentro da TI, com indígenas contratados para conduzir; >Barco e motor de popa nas aldeias próxima dos rios; >Construção de posto de saúde em todas as aldeias; >Compra de radio amador para as aldeias. >Atendimento a saúde >Melhorar atendimento da SESAI; >Atendimento específico a saúde da mulher e dos homens nas aldeias; >Contratar mais profissionais para atuar nas aldeias e na cidade; >Contratação de faxineiras para limpeza para os postos de saúde e equipamento. 126 126 Ivaneide Bandeira / Kanindé 7.3.5 Programa de Produção Um dos grandes desafios identificados durante o diagnóstico e o etnozoneamento foi sobre a geração de renda sem danos aos recursos naturais. Isso porque alguns indígenas têm envolvimento com a retirada ilegal da madeira, com a justificativa de que precisam de recursos financeiros. Isso se associa ao fato de que, depois do contato, eles adquiriram novos hábitos, trazendo como conseqüência a necessidade de obtenção de bens de consumo. Depois de várias reflexões, eles decidiram criar o Programa de Produção, para buscar soluções aos problemas diagnosticados. As atividades econômicas desenvolvidas na terra indígena são pecuária, agricultura, artesanato, extrativismo e retirada de madeira que ocorre de forma ilegal. A agricultura é usada para subsistência da comunidade, que produz amendoim, banana, milho, mandioca, cará, batata doce, feijão entre outros produtos. São os coletores de castanha do Brasil, que vendem para a APIZ. Os recursos advindos da venda da castanha contribuem para melhorar a renda familiar. A pecuária é desenvolvida em 17 aldeias, e possui aproximadamente 644 cabeças de gado (IDESAM, 2014). Outras fontes de renda são os empregos junto aos órgãos governamentais como professores, merendeiros, agentes indígenas sanitários, agentes indígenas de saúde e os benefícios de bolsa família e aposentadorias. A TIZ sofre diversas ameaças, como destacamento, estradas, planos de manejos e serrarias no entorno da terra indígena, que facilitam a invasão de madeireiros e o roubo de madeira. O Programa de Produção busca garantir a sustentabilidade alimentar da comunidade, a geração de renda e o fortalecimento da agricultura indígena, este será implantando na Área de Produção, de Extração Não Madeireira e de Plano de Manejo, Área de Castanhal definidas no Etnozoneamento. A Área de Turismo foi decidido pela comunidade que primeiro seria necessário realizar visitas à outras terras indígenas onde a atividade estivesse sendo implantada, para que pudessem decidi sobre o desenvolvimento desta ação nas aldeias. Para alcançar os objetivos propostos foram definidas seguintes ações e atividades: >Construir um Plano de Negócios >Aumentar a produção sustentável na TIZ com produtos etnicamente diferenciados no mercado. >Aumentar a geração de renda das famílias melhorando as condições de vida nas aldeias; >Ampliar e melhorar a qualidade da produção de banana, café, milho, arroz, feijão, laranja, mandioca e outros produtos; >Fortalecer e resgatar valores e práticas tradicionais; >Construir um mercado na sede da APIZ para expor e comercializar os produtos que vierem das aldeias; >Implementar a cadeia produtiva da castanha 127 (mesa de secagem, barracões, balança, escoamento, garantia de mercado e preço justo, capacitação em agro extrativismo; >Construir barracões para armazenar a produção; >Criação de selos, embalagens, calendários, agendas produzidas com a marca Pangyjej; >Implantar o Plano de Manejo Florestal na terra indígena Zoró, cuja gestão será da comunidade com a parceria da APIZ, na área definida no etnozoneamento com o apoio de parceiros caso seja necessário; >Agregar valor aos produtos Pangyjej; >Melhorar o transporte da castanha na aldeia; >A castanha tem que ser pesada na aldeia na frente do produtor, antes de levar para a cidade, assim garantindo que o produtor tenha segurança diante da venda; >Devera ser construído um local para expor os produtos do Pangyjej a venda; >Melhorar a venda de óleo de copaíba e garantir o preço bom; >A APIZ buscará o apoio dos órgãos governamentais, que apoiam a produção, para que possa atendê-los na assistência técnica e no desenvolvimento das cadeias produtivas. Buscará ainda, junto as empresas privadas e organizações não governamentais apoio para o desenvolvimento do Programa de Produção. Um dos maiores problemas identificados é a extração ilegal de madeira, invasão de caçadores e pescadores, que provocam danos ambientais, aliciamento de liderança e invasão da TIZ. Buscando solucionar o problema e fazer a defesa de seu território os indígenas propuseram a criação do Programa de Meio Ambiente. O Programa de Meio Ambiente tem dois subprogramas, sendo um de caça e pesca e um de vigilância ambiental que visam implementar ações voltadas para a defesa do território indígena e implementar as Áreas de Caça e Pesca e de Proteção Integral, definidas no Etnozoneamento. SUBPROGRAMA DE CAÇA E PESCA O Subprograma de Caça e Pesca será implementado na Área de caça e pesca, definida no etnozoneamento, este tem como objetivo a proteção da fauna da Terra Indígena Zoró, e garantir que as futuras gerações tenha em seu território animais que são importantes para sua alimentação e conservação da floresta. Com o subprograma os Pangyjej os mais velhos buscam garantir o repasse de seus conhecimentos aos jovens, para que estes pratiquem o manejo da caça e a pesca tradicional. Para o desenvolvimento do Programa foram definidas as seguintes atividades: >Fazer controle da caça e pesca; >Capacitação em controle de caça e pesca, envolvendo trabalhos de biomonitoramento; 128 Ivaneide Bandeira / Kanindé 7.3.6 Programa Meio Ambiente SUBPROGRAMA DE VIGILÂNCIA AMBIENTAL A proteção do território indígena foi pensada na busca de resolver os problemas de roubo de madeira e invasão de caçadores e pescadores que adentram a terra indígena, provocando danos ambientais e culturais ao povo Pangyjej. Os Pangyjej definiram como objetivo do subprograma a proteção e o monitoramento, a criação de departamentos de vigilância na APIZ e a instalação de posto fiscal devidamente equipado com viaturas, rádios amador, gps, barcos, câmaras digitais, coletes a provas de bala e motor de popas. Os Pangyjej não pretendem substituir a FUNAI, deste modo, definiram que só fariam a vigilância, deixando para o órgão indigenista a responsabilidade de fiscalizar o território, orientando para quando necessário sejam acionados o IBAMA, SEDAM, Polícia Ambiental, FUNAI, SEMA/MT e o povos Pangyjej, para operações conjuntas. Para implementar o programa foram definidas as seguintes atividades: >Criar departamento de vigilância da TI Zoro com a estrutura de sede na APIZ e parceria da FUNAI, IBAMA, SEDAM e postos fiscais em local estratégico; >Estruturar com equipamentos necessários para os agentes ambientais Pangyjej com a certificação; >Garantir contratação permanente de agentes ambientais indígenas pelo órgão do governo federal; >Revitalizar a forma de fiscalização tradicional do povo Pangyjej; >As ações de vigilância deverão esta integrada com outras atividades desenvolvidas nas aldeias, como a caça, a pesca, a coleta de frutos no mato, além das atividades de vigilância desenvolvidas pelos agentes ambientais indígenas; >Os agentes ambientais indígenas deverão fazer um calendário de atividades de proteção do território; >A APIZ deve investir em capacitação destes agentes e em buscar dar condições para que estes possam atuar; >A fiscalização é de responsabilidade exclusiva da FUNAI, porém se recomenda que haja operações conjuntas, devendo o órgão Indigenista coordenar as operações; >A APIZ junto com a comunidade e a FUNAI devem desenvolver um Plano de Proteção da Terra Indígena Zoró. Thamyres Mesquita / Kanindé >Desenvolver projeto para criar os animais silvestres; >Capacitação em criação e manejo de animais silvestres em cativeiro; >Fazer proteção ambiental nas áreas onde os invasores entram para roubar madeira; >Proibir os não índios de caçar mesmo que seja na companhia de lideranças indígenas; >Os anciões ensinando nas aldeias os jovens a caçar e pescar na forma tradicional. 129 7.3.7 Programa de Fortalecimento Institucional Garantir que o Plano de Gestão seja realmente implementado foi uma das preocupações dos participantes das oficinas. Assim, eles definiram que seria criado um Programa de Fortalecimento Institucional, que tem como objetivo fazer o PGTATIZ funcionar e cumprir com seus objetivos. Propuseram um arranjo de gestão onde os gestores teriam seus papéis definidos. ARRANJO INSTITUCIONAL FUNAI a) FUNAI – Fundação Nacional do Índio A FUNAI via Coordenação Regional de Ji-Paraná é responsável por garantir que os Órgãos Públicos assegurem os direitos indígenas e contribuam com a implementação do PGTATIZ, em especial na proteção física e territorial do povo Pangyjej. Os coordenadores técnicos locais – CTL devem atuar em parceria com a APIZ e a comunidade. Buscará o consenso nas tomadas de decisões, tendo o cuidado de ouvir os lideres homens e mulheres mais velhos das aldeias. A FUNAI deverá garantir que nas reuniões do Comitê Gestor este busque cumprir o que esta no PGTATIZ, devendo a mesma garantir que os participantes conheçam o Plano. Ao elaborar o orçamento do órgão para atuar junto aos Pangyjej, a FUNAI deve utilizar o PGTATIZ, garantindo assim, o compromisso com a implementação do Plano e principalmente cumprindo o que esta na PNGATI – 130 b) APIZ – Associação do Povo Indigena Zoró A APIZ tem a responsabilidade de promover a articulação e comunicação com a comunidade e com os órgãos governamentais, buscando apoio para o desenvolvimento de projetos que contribuam para a implementação do PGTATIZ. A APIZ sempre ouvirá a comunidade antes de tomar suas decisões. A APIZ será responsável pela gestão de recursos que sejam destinados a implementar o Plano de Gestão, com exceção de orçamentos que são de órgãos públicos, obedecendo ao que diz a legislação brasileira. Para que a APIZ consiga cumprir com seu papel, necessitará de apoio financeiro para: COMUNIDADE APIZ Politica Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas. >Contratar equipe técnica para atividades administrativo-financeiras, elaboração de projetos e coordenadores indígenas; >Desenvolver as ações de articulação e mobilização junto à comunidade e órgãos de governo; >Acompanhar as políticas públicas, fazer reuniões, encontros e assembléias; >Aquisição e manutenção de veículos e barcos para deslocamentos da equipe para desenvolver suas atividades; >Fornecer ajuda de custo para indígenas poderem participar de reuniões, intercâmbios e eventos fora da terra indígena, que tratem exclusivamente de implementação do PGTATIZ e acompanhamento de políticas públicas; >Formação de lideranças em gestão administrativa financeira; >Apoiar e promover encontros do Corredor Tupi Mondé; >Equipar a APIZ com equipamentos de informática e móveis; >Reformar a sede da APIZ; >Garantir a manutenção da sede; >Desenvolver a comunicação e divulgação das atividades da APIZ e do PGTATIZ. c) COMUNIDADE A comunidade tem o papel de promover a implementação do PGTATIZ, sendo esta quem tem o poder de deliberar sobre as ações que serão executadas e a responsabilidade de zelar pelo cumprimento do que foi definido pelos indígenas durante a elaboração do Plano e do Etnozoneamento. AVALIAÇÃO DO PLANO A implementação do PGTATIZ possui um ciclo de gestão que é fundamental para o sucesso das ações propostas nos programas definidos pela comunidade, o que envolve desde o diagnóstico etnoambiental, etnozoneamento, monitoramento e a avaliação da TIZ, para que se possa ao longo de sua execução, promover reflexões, ajustes e modificações. Processo da Gestão IMPLEMENTAÇÃO ETNOZONEAMENTO DIAGNÓSTICO MONITORAMENTO AVALIAÇÃO Os Pangyjej definiram que realizariam o monitoramento e a avaliação do Plano, tendo como referência as ações definidas em cada programa. Desta maneira, decidiram que realizariam, uma vez por ano, uma oficina com a participação de representantes de todas as aldeias para verificar o grau de execução e a necessidade de se fazer ajustes. A avaliação se dará a cada cinco anos, em uma oficina com a participação de lideranças e membros das aldeias, órgãos governamentais e entidades da sociedade civil organizada que tenham atuação na terra indígena. A avaliação deve observar os indicadores definidos no etnozoneamento e as atividades propostas no Plano de Gestão para alcançar os objetivos e resultados propostos. Os resultados da avaliação deverão ser adotados para melhorar a implementação do Plano de Gestão e deverão ser divulgados nas comunidades para que todos possam participar e contribuir com sua execução. 131 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENCHIMOL, S. 2001. Zênite ecológico e Nadir econômico-social. Análise e propostas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Manaus: Valer, 2001. BIRDLIFE INTERNATIONAL. 2012. Anodorhynchus hyacinthinus. In: IUCN 2012. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2012.2. <www.iucnredlist.org>. Downloaded on 18 October 2012. BRASIL. Censo Demográfico 2010 in http://www.ibge.gov.br. ______. MEC. INEP/SATI, 2002. ______. MS in http://www.www.saude.gov.br BRUNELLI, G. 1987 Migrations, guerres et identitès: faits ethno-historiques zoró. Anthropologie et sociètès, 11 (3): 149-172. CREED, J. 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