terra indígena zoró

Transcrição

terra indígena zoró
TERRA INDÍGENA ZORÓ
EXECUÇÃO
Associação de Defesa Etnoambiental
APOIO
Ministério do
Meio Ambiente
Projetos Demonstrativos
dos Povos Indígenas
DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO,
ETNOZONEAMENTO E PLANO DE GESTÃO
EM TERRAS INDÍGENAS - VOL. 3
TERRA INDÍGENA ZORÓ
DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO,
ETNOZONEAMENTO E PLANO DE GESTÃO
EM TERRAS INDÍGENAS - VOL. 3
TERRA INDÍGENA ZORÓ
EXECUÇÃO
Associação de Defesa Etnoambiental
APOIO
Ministério do
Meio Ambiente
Projetos Demonstrativos
dos Povos Indígenas
3
4
Acervo APIZ
5
A APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró, criada
1995, vem trabalhando nesses 20 anos na defesa da
integridade física, cultural e territorial do povo Zoró.
Wladir da Cruz Vasques
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DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO
PRESIDENTE
Tiago Kapawandu Zoró
VICE PRESIDENTE
Cesar Awop Zoró
SECRETÁRIO
Marcio Kajanzap Zoró
TESOUREIRO
Isac Kinkin Zoró
CONSELHO FISCAL
Humberto Zoró
Edilson Waratan Zoró
Francisco Sambig Ip Zoró
CONSELHO DAS MULHERES
Irene Ipagawap Zoró
Rute Xisanjut Zoró
Teresa Amburá Zoró
A Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental é
uma OSCIP – Organização Da Sociedade Civil de Interesse Público, sem fins lucrativos, dedicada à luta em
defesa dos direitos dos povos indígenas, à conservação
da natureza e ao uso sustentável da biodiversidade.
Criada em 1992, a Kanindé busca soluções inovadoras
que promovam o desenvolvimento econômico justo e
ambientalmente sustentável.
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das Graças.
CEP 76804-116 – Porto Velho –RO
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COORDENAÇÃO GERAL
Ivanete Bandeira Cardozo
COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA
Eurides de Araújo Oliveira
CONSELHO DELIBERATIVO
Alcilene Paes
Sérgio Cruz
Stéphanie Birrer
Arildo Suruí
CONSELHO FISCAL
Gasodá Suruí
Gleiciane de Souza Pereira
6
CRÉDITOS TÉCNICOS E INSTITUCIONAIS
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Panderewup Zoró - APIZ
Israel Correa do Vale Junior – Kanindé
COORDENAÇÃO DE LOGÍSTICA
Miguel Zan Zoró - APIZ
Marcos Garcia - Kanindé
Leonardo José da Cruz Sousa
ESTUDOS TEMÁTICOS
ETNO-HISTÓRIA E SOCIOECONOMIA
Sérgio Pereira Cruz - Antropólogo
ASPECTOS DO ENTORNO
Adnilson Almeida Silva – Dr. Geografia
ESTUDOS BIOLÓGICOS
Vegetação
Flávia Dinah Rodrigues de Souza - Msc. Eng. Florestal
Osvanda Silva de Moura – Msc. Bióloga
José Ribamar Oliveira - Parataxônomo
Mamíferos de médio e grande porte
Alexsander Santa Rosa Gomes - Biólogo
Paulo Henrique Bonavigo – Biólogo
Aves
Glauko Correa da Silva - Biólogo
Répteis e Anfíbios
Israel Correa do Vale Júnior – Biólogo
Peixes
Ana Paula A. de Melo – Bióloga
MEIO FÍSICO
Marcos Sebastião Ataíde - Geógrafo
Mapas
Meline Machado - Geógrafa
TURISMO
Ederson Lauri Leandro - Turismólogo
Rúbia Elza Martins de Sousa - Turismóloga
Estagiários:
Gaudemir Rodrigues Secco, João Roberto Ferreira Garcia, Lara Rosana Neres Diniz, Lucimeire Elaine Zanettin,
Rodrigo Soares, Sheliane Santos do Nascimento e Tatiana Lemos da Silva.
Pesquisadores Indígenas:
Alexandre Kap Kajap Zoró, Assis Yassani C. Gavião,
Amauri Zoró, Berurandu Zoró, Benamu Zoró, Claudinei
Zoró, Daniel Zoró, Denilson Mazapun Zoró, Edimilson Japarara Zoró, Geraldo Zoró, Hugo Cinta Larga,
Isac Xitapapting Zoró, Isac Zoró, Edimilson Japarara Zoró, João Xuryt Zoró, Luis Kunhaop Zoró, Marciel
Zoró, Marcos Zoró, Marina Awap Zoró, Mauricio Idigatu Zoró, Nailton Xijanwet Zoró, Panin Zoró, Roberto
Carlos Inipep Zoró e Sandro I. Zoró.
ETNOZONEAMENTO E PLANO DE GESTÃO
Pesquisadores indígenas:
Isac Kinkin Zoró, Isac Xitapapting Zoró, Celso Xajyp
Zoró, César Awop Zoró, Marcio Kajanzap Zoró, Marcelo Xipabeanzap Zoró, Valmir Xisamujambá Zoró, Arlindo Pusanxibu Zoró, Carlos Xipipa Zoró, Marcio Xinahu
Zoró, Eduardo Kalin Puj Zoró, Ricardo S Zoró, Carliton
A. Zoró, Joel Zoró, Miguel Zan Zoró, Elias Zoró, Joksley
Zoró, Rute X Zoró, Gisele Zoró, Ernesto Zoró, Crislaine
Zoró, Mariza Zoró, Chico Zoró, Awap Zoró, Kujkyp
Zoró, Lucilene Zoró, Cleidiane Zoró, Cristiane Gavião,
Marcos Zoró, Davi Zoró, José Zoró, Fabio Zoró, Paulo
Zoró, Jair Zoró, Melkon Tiuxuting Zoró, Vanessa Zoró,
Claudineia Zoró, Valdecir Zoró, Renato Zoró, Vicente
Paxurup Zoró, Willian W. Zoró, Fabio Zoró, Caroline
Zoró, Francisco Zoró, Edilson Zoró, Pepuj Zoró, Xiktika
Zoró, Valter Zoró, Franciel Zoró, Débora Zoró, Rogério
Zoró, Lucimar Zoró e Nelson Zoró.
ASSOCIAÇÃO DO POVO INDÍGENA ZORÓ - APIZ
Tiago Kapawandu Zoró – Coordenador Indígena
Sandra Mara Gonçalves – Coordenador Financeiro
ASSOCIAÇÃO DE DEFESA ETNOAMBIENTAL KANINDÉ
Ivaneide Bandeira Cardozo - Coordenadora do Plano
de Gestão, Msc Geografia
Israel Correa do Vale Junior - Coordenador do Etnozoneamento, Biólogo
Thamyres Mesquita Ribeiro - Sistematização de
Relatório Final, Bióloga
Joelma Pinheiro da Silva - Gestora Ambiental
Ederson Lauri Leandro - Msc Geografia
Alexsander Santa Rosa Gomes - Biólogo
Ana Paula A. Melo - Bióloga
Marcos Garcia - Logística
EQUIPE DE CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA - ECAM
Meline Cabral Machado – Especialista em SIG, Msc
Geografia
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI
Lígia Neiva - Moderadora
ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO
Thamyres Mesquita Ribeiro
Israel Correa do Vale Júnior
Ivaneide Bandeira Cardozo
Tiago Kapawandu Zoró
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO
Adriana Zanki Cordenonsi
FOTOGRAFIAS
Acervo APIZ
Acervo Kanindé
Ederson Lauri Leandro
Israel ValeJR
Marcelo Pontes
Sergio Cruz
Proibida a reprodução de partes ou do todo desta
obra sem autorização expressa da Associação do Povo
Indígena Zoró – APIZ e Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé.
7
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
10
1 ETNO-HISTÓRIA E SOCIOECONOMIA
12
1.1Introdução
13
1.2
Breve histórico
14
1.3
População Pangyjej Zoró
14
1.4Localização
15
1.5
Memória viva Pangyjej
16
1.5.1 O contato com os não indígenas e o pós-contato
19
1.6Socioeconomia
1.6.1 Número de Filhos
25
1.6.2 Nº de moradores por residência
25
1.6.3 Ocupação
25
26
1.6.4 Fontes de Proteína Animal
1.6.5 Renda
27
1.6.6 Artesanato
28
1.6.7 Saúde
30
1.6.8 Habitação
31
1.6.9 Educação
32
34
1.6.10 Festas e Rituais
2 ASPECTOS DO ENTORNO
38
2.1Introdução
39
2.2
40
2.3Demografia
40
2.4Religiosidade
42
2.5
Produção agrícola e extrativismo
42
2.6
Indústria e comércio
42
2.7
Serviços urbanos
42
2.8Educação
Perfil socioeconômico
43
3 ESTUDOS BIOLÓGICOS
44
3.1Introdução
45
3.2Vegetação
47
3.3
Mamíferos de médio e grande porte
51
3.3.1 Caça de subsistência
55
8
25
3.4Aves
60
3.5
Répteis e anfíbios
3.6Peixes
68
73
4 MEIO FÍSICO
76
4.1 Introdução
77
4.2
Materiais e métodos
80
4.3Resultados
80
5TURISMO
90
5.1Introdução
91
5.2
Materiais e métodos
93
5.3
Resultados e discussão
93
6ETONOZONEAMENTO
98
6.1 99
6.2Etnozoneamento
100
6.3
Áreas do etnozoneamento
102
6.3.1
102
Introdução
Área de caça e pesca
6.3.2
Área castanhal
104
106
6.3.3
Área de produção
6.3.4
Área sagrada
108
6.3.5
Área de resgate
110
6.3.6
Área de proteção integral
112
6.3.7
Área de recuperação
114
6.3.8
Área cultural
116
7 PLANO DE GESTÃO
118
7.1Apresentação
119
7.2Introdução
120
7.3
Programas temáticos
122
7.3.1
Programa de educação
123
7.3.2
Programa de cultura
124
7.3.3
Programa de recuperação e resgate
125
7.3.4
Programa de saúde
126
7.3.5
Programa de produção
127
7.3.6
Programa meio ambiente
128
7.3.7
Programa de fortalecimento institucional
130
REFERÊNCIAS
132
9
Apresentação
APRESENTAÇÃO
O ano de 2014 destaca um importante marco nas conquistas do povo Pangyjej Zoró, dado ao fato da construção
do PGTA – Plano de Gestão Ambiental e Territorial desenvolvido pela APIZ e a Kanindé, sendo coordenado por
equipes de lideranças e comunidades Pangyjej Zoró.
Além desses, contou-se também com parcerias da FUNAI
- Fundação Nacional do Índio/ CTL – Coordenação Técnica Local de Rondolândia/MT, Conselho Escolar das Escolas
Indígenas Zoró, Escolas Zoró: Estadual e Municipal.
A aplicação das atividades se deu em forma de construção
coletiva, em oficinas, reuniões de sensibilização e divulgação, assembleia geral. Visando motivar uma reflexão em
torno de conhecimentos científicos e culturais relacionados as potencialidades da terra e também seus desafios
de gestão. Ademais, refletir sobre as políticas públicas de
gestão territorial que permeiam os direitos e conquistas dos
povos indígenas, tendo como exemplo a PNGATI – Política
Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas.
Contudo, para além das contribuições na formação na área
de gestão, as ações do PGTA atuou significativamente no
foco do fortalecimento da organização política, resultando na reafirmação da luta para manutenção de suas identidades etno-culturais e suas formas tradicionais de vida,
resguardando sobretudo a integridade física de suas terras.
O envolvimento dos jovens nas atividades oportunizou
diferentes descobertas enquanto participavam das expedições em locais sagrados, identificando limites territoriais,
cabeceiras de rios, territórios tradicionais, com roteiros e
históricos cuidadosamente orientados pelos anciãos, atuantes orgulhosamente nos repasses orais de seus conhecimentos, bem como nas orientações sobre o bem viver
indígena na perspectiva dos Zoró, respaldando com isto a
garantia da sobrevivência das gerações futuras.
10
2014 kawu mi tuj Pangyjej má a kala indjaja ta mene kaj
apere wepea gula terea. Ebu APIZ má Kanindé ej ta gala indjaja ta man ta sep manga ta kabia. Ma’ej má ena te tu pere
ambakata we manga ena tea.
Acervo APIZ
PAMBARE MATUÉ
Gulua tumá berepana ki tukaj tuwebugu ki ana te panza
we manga mene kajá. Tu ma pemaki mi ki jalaj pare mi
kia mene mi tumá tu pere wepea we manga neme kaja.
PNGATI – Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas sande gala indjaja ta mene peturu
tumá tu pere wepea we kajá.
Tu makuba mene kaj tu má tu pere wepea tu kala indjaja
ta mene kaja. Tuma pemaki tamawá mene kaj tu má gulua
tu pere wepea. Tu ta mene kyje sut ka pia mene ka tumena
enate we mangá.
Wujirej jande we maki mãj má amakubá gulua tereá. Pandérej má gyja ta makubá etigia. Zapuj kyj ikini pa mate ki
iandyt ikini pa mene tigi ki gala katap ikini mate ki mawe ej
ikini mate kia ta má tamakubá. Alej jali apygej makubá ki epi
tasa wulunde mãj makubá kia mene ka tamena tama kubá.
APIZ - Associação do Povo indígena Zoró, abril de 2015
11
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
12
Sergio P. Cruz / Kanindé
ETNO-HISTÓRIA E SOCIOECONOMIA
1.1 INTRODUÇÃO
Em poucas oportunidades o pesquisador moderno tem a chance de coletar relatos dos próprios agentes dos momentos históricos do Povo em estudo. Este
é o caso dos Pangyjej Zoró, contatados pela sociedade ocidental majoritária
há pouco mais de trinta e cinco anos, oficialmente em 1977, muitos dos que
participaram do processo de aproximação com os não índios estão presentes e
atuantes na organização social de sua nação.
Neste estudo prestigiamos o fato de que a história nos foi repassada pelos
próprios atores, sem intermediários, sem um hiato temporal/geracional, sem o
risco de um possível ventriloquismo científico, e nos dedicaremos a trancrevê-la
com esse sabor, de que estamos bebendo diretamente da fonte, de pessoas que
vivenciaram e vivenciam os acontecimentos abordados.
Como se trata de uma etnografia que é parte de um diagnóstico sócio-cultural-biológico e territorial, nossa prioridade é detectar a história viva nesta sociedade,
onde os agentes a conhecem e a trasmitem, não cabendo nesse tipo de estudo,
apenas um resgate bibliográfico da história do Povo em questão como forma de
registro, uma vez que a história que nos é cara, é a do cotidiano, das relações
inter-geracionais, nessa transição sócio-cultural pela sobrevivência.
A ciência antropológica reserva ao pesquisador o direito a proteção de seus colaboradores, admitindo a troca de nomes ou mesmo a não citação das fontes,
no entanto, para esta pesquisa utilizamos uma abordagem de crédito coletivo,
a narrativa foi organizada pelo pesquisador a partir das histórias contadas por
Márcio Zoró, Pebuj Zoró, Tivir Kon Zoró, Maxianzap Zoró, Saga Puga Zoró entre outros, sendo que destes, os quatro últimos vivenciaram as rotinas do povo
13
Acervo APIZ
Pangyjej antes, durante e no pós contato. São pessoas chave para pesquisas futuras
mais aprofundadas sobre os saberes locais e pontualmente vamos identificando
nossos interlocutores e a história sistematizada é resultado de uma bricolagem
entre as narrativas e a literatura disponível.
1.2 BREVE HISTÓRICO
Em 1968 os sertanistas Francisco Meirelles e seu filho Apoena Meirelles identificaram as primeiras moradias e o território de ocupação do povo Pangyjej Zoró.
Durante os nove anos seguintes os Pangyjej Zoró tiveram contatos esporádicos e
violentos com trabalhadores da Fazenda Castanhal, à margem esquerda do Rio
Branco. Houve perda de território indígena e mortalidades (não existem registros
oficiais de quantos morreram) e finalmente em 1977 a FUNAI realizou o contato.
Acervo APIZ
Falam a língua Pangyjej do tronco tupi, da família Mondé e possuem uma
população, segundo o censo de 2010, de aproximadamente 677 indivíduos
(IBGE, 2010).
Acervo APIZ
O povo conhecido como Zoró, se autodenominam Pangyjej traduzido por “Nós
comemos carne moqueada” (TRESMANN,1994).
Os Pangyjej Zoró após o contato foram sedentarizados pela FUNAI em aldeias
nos limites de seu território e introduzidos novos costumes impactando a cultura
indígena. O contato e o acesso de missionários evangélicos as aldeias intensificou
os impactos culturais, a ponto de se deixar de praticar os costumes e ritos importantes para a identidade cultural do povo Pangyjej Zoró.
1.3 POPULAÇÃO PANGYJEJ ZORÓ
Segundo dados da DSEI - Distrito Sanitário Especial Indígena de Porto Velho,
através do Levantamento Estado Nutricional do Povo Indígena Pangyjej Zoró do
Distrito de Rondolândia de abril de 2012, a população Pangyjej Zoró é composta
por 621 (seiscentas e vinte e uma) pessoas, sendo que destas, 605 (seiscentas e
cinco) moram distribuídas em 24 aldeias na Terra indigena Zoró e 16 (dezesseis)
moram em Rondolândia.
Durante a validação deste estudo junto a comunidade Pangyjej Zoró, os presentes
rebateram alguns dados e informaram que apenas um membro da etnia, casado
com uma mulher não indígena, reside em Rondolândia.
14
Acervo APIZ
Atualmente, a terra indígena sofre pressão em seu entorno, primeiramente nas
regiões onde fazem divisas com fazendas e serrarias.
Acervo APIZ
Durante o diagnóstico, os problemas com impactos culturais foram identificados,
como: perda de rituais; das caminhadas no mato para conhecer lugares sagrados;
jovens sem saber confeccionar flechas e outros artesanatos, além de muitos não
conhecerem a história de seus ancestrais.
1.4 LOCALIZAÇÃO
Os Pangyjej Zoró, vivem na Terra Indígena Zoró - TIZ,
localizada no noroeste do estado do Mato-Grosso, na
região próxima a fronteira com o estado de Rondônia,
entre os rios Roosevelt (leste) e o rio Branco (oeste).
Possui uma extensão de 355.789,5492 ha. do município de Rondolândia. Foi homologada/regularizada
pelo Decreto nº 265 de 29.10.1991; CRI 31352 em
05.11.87; SPU em 06.11.87. Parte da terra ocupada
pelos Pangyjej Zoró, na época, ficou fora da demarcação e homologação que aconteceu em 1991.
A TIZ faz limites com as Terras Indígenas Sete de
Setembro (do povo Paiter Suruí), a Terra Indígena
Roosevelt e Parque Indígena do Aripuanã (ambas do povo
Cinta Larga), que compõe o Corredor Etnoambiental
Tupi Mondé.
Embora a TIZ se localize no Estado do Mato Grosso,
a mesma está jurisdicionada a Coordenação Regional
de Ji-Paraná (CRJP) no Estado de Rondônia, segundo
informações da CRJP, o motivo é a proximidade com
Rondônia para o atendimento aos indígenas.
AMAZONAS
PARÁ
ACRE
RONDÔNIA
MATO GROSSO
BOLÍVIA
ARIPUANÃ
RONDOLÂNDIA
ZORÓ
SETE DE SETEMBRO
ROOSEVELT
PARQUE
DE
ARIPUANÃ
JUÍNA
CACOAL
ESPIGÃO DO OESTE
VILHENA
15
1.5 MEMÓRIA VIVA PANGYJEJ
“As vezes meu avô contava para mim de onde nosso
povo veio. Dizia que antigamente muitos povos viviam
dentro de uma grande pedra, eram muitos e de diferentes etnias. Não havia saída. Até que um dia os papagaios, desses com o bico bem fino, começaram a cavar
a grande pedra, foram cavando, cavando até que pela
abertura as pessoas pudessem passar e vir para o mundo externo. À medida que os grupos de pessoas iam
saindo, ao passarem pelo furo que o papagaio abriu,
gritavam bem alto o nome do seu povo. Quando nossos
antepassados saíram eles de lá gritaram: - Nós somos
os Pangyjej! E saíram andando pela vasta região que é
o mundo exterior”. (Narrado por Márcio Kajazap Zoró,
então Cacique Geral do povo Pangyjej Zoró).
distâncias. Conseguem também pronunciar nomes em
invocação, através da sonoridade dos mesmos, como
que numa tentativa de falar através do assovio. Esta
comunicação é parte da riqueza imaterial dos Pangyjej
Zoró, um conhecimento que até hoje é transmitido e
praticamente todos do grupo a conhecem, a compreendem e a utilizam. O resultado da pesquisa quantitativa
apontou o uso dessa comunicação assoviada para 97%
dos entrevistados.
Na pesquisa empírica pudemos coletar pelo menos dois
significados distintos para Pangyjej: I) O povo que come
animais sapecados; e II) Filhos do Deus das águas. Durante a validação do estudo surgiu mais um significado
ao qual o coletivo se refere como o mais correto: “Povo
que come gente”.
“Nós saíamos para caçar, imitávamos os sons
dos animais e quando eles se aproximavam nós
os matávamos. Temos sons para mutum, para
jacamim e para muitos outros animais” (Narrado por Tivir Kon Zoró em 06/2012).
“- Antes era nossa realidade morar na mata,
nós vivíamos isolados, não tinhamos contato com os não índios e pouco contato com
as etnias vizinhas. Naquele tempo ficávamos
por volta de dois anos numa aldeia e depois
saíamos pra fazer outras aldeias, agente fugia
pelo meio da mata. Nós tínhamos medo das
outras etnias que vinham nos matar, por isso
saíamos sempre para outro lugar para evitar os
ataques, e se acontecesse de novo a gente saía
novamente. Não era um de cada aldeia que
ficava sozinho, montávamos as aldeias com as
casas um pouco afastadas, fazíamos roça, caçávamos, pescávamos, mas nos uníamos para
fazer as festas”. (Narrado por Saga Puga Zoró
– Ancião em 06/2012).
Os Pangyjej Zoró, talvez por essa característica de viverem à uma equidistância de seus vizinhos, e de realizar
longas caminhadas durante as caçadas, desenvolveram um sofisticado sistema de comunicação à distância através de assovios. Possuem frases feitas codificadas
em sons, algumas são tais como: I) Onde você está?;
II) A comida está pronta, volte para comermos!; III) Venha
até aqui, preciso falar com você! e; IV) Tenho makaloba, venha beber! Estas e muitas outras frases, proporcionam uma comunicação direta e eficaz, uma vez que
o som de um assovio se propaga na floresta à grandes
16
Os assovios evoluíram de forma que os Pangyjej Zoró
alcançaram um alto grau de sofisticação na imitação dos
sons de animais, principalmente dos pássaros e utilizam
desse conhecimnto para otimizar as técnicas de caça.
O cotidiano dos Pangyjej Zoró era tranquilo enquanto se mantinham afastados dos grupos vizinhos, alguns
viajavam grandes distâncias por motivações variadas
como conhecer os melhores locais de caça, visitas à
lugares sagrados, mapeamento da localização de grupos
vizinhos hostis, entre outras.
Os conflitos com os Paiter Surui são os mais citados.
Eram atacados durante a noite pelos guerreiros, eram
noites de terror, mesmo hoje, ao lembrarem, é possível perceber o medo nas expressões faciais dos que nos
contam. As pessoas fugiam para a floresta, as mulheres
levavam as crianças, enquanto os homens tentavam
proteger a aldeia. Ora eram atacados, ora atacavam,
gerando um ciclo de retaliações onde dificifilmente
encontraremos a gênesis destes conflitos, pois os
movimentos se davam pela ação e reação e são datados
de tempos imemoriais.
[...]”Nossa maior preocupação era com os
ataques dos povos vizinhos, principalmente
dos Paiter Surui. Os mais velhos já vinham se
deslocando há muito tempo, desde a região
do rio Aripuanã, fazendo aldeias e roças,
quando entravam em guerra com outros grupos saíam de novo, até que chegamos a este
lugar (referindo-se à aldeia central, a Bubuyrej)
e aqui perto se deu o contato com os não
índios”. (Narrado por Tivir Kon Zoró em 06/2012).
Sergio P. Cruz / Kanindé
Tivir Kon Zoró, ancião
de idade desconhecida,
calculada em setenta
anos ou um pouco mais,
morador da aldeia Bubuyrej.
17
Acervo APIZ
Acervo APIZ
A nação Pangyjej, denominada pela
sociedade envolvente como Zoró, é
falante de idioma do tronco Tupi da
família Mondé, assim como, ao que
se conhece, os Aruá, os Cinta Larga,
os Gavião (Ikolen) e os Paiter (Suruí),
entre outras. O nome Zoró, como em
diversos casos da denominação dos
povos nativos do continente americano, advém de um equívoco histórico.
A versão mais plausível encontrada pelos pesquisadores, refere-se ao
nome como uma definição dada aos
primeiros cientistas, sertanistas e indigenistas, pelos Paiter Surui, - povo historicamente inimigo dos Pangyjej contatada
poucos anos antes. Zoró, a grosso modo, significa “vizinho inimigo ou Cabeça
Seca” para os Paiter, que embora falante, ao que se sabe, do mesmo idioma (tronco e família), existem tantas diferenças entre as línguas que a comunicação entre
os dois grupos étnicos é praticamente impossível.
“Zoró é o nome que ficou da denominação monshoro, utilizada pelos
Suruís (sic), para designar seus vizinhos e inimigos (...). Monshoro é uma
palavra depreciativa que os Suruís não explicam direito o significado.
Com o tempo, foi abreviada para shoro e, por fim, Zoró” (PRAXEDES,
1977, apud DAL POZ, 2009).
Sergio P. Cruz / Kanindé
No entanto, os Pangyjej assumiram o termo Zoró e hoje o utilizam como identidade étnica, sobrenome e também como o nome do seu território. Durante a
validação do estudo houve ampla discussão em torno da autodenominação do
povo, uma vez que o entendimento do coletivo presente é de que Pangyjej é a
denominação de apenas um clã, não do povo que é formado por diversos clãs,
porém não souberam apontar qual seria a nomenclatura correta.
18
“Por volta da década de 1960, os Zoró compunham-se de nove ou
dez grupos locais, distribuídos em quinze ou dezesseis malocas, e
uma população de quase mil pessoas: os Zabeap Wej com três malocas, os Pangyjej Tere com cinco malocas, os Joiki Wej, os Jej Wej, os
Pama-Kangyn Ej, os Maxin Ej, os Ii-Andarej, os Pewej, os Angojej e,
provavelmente, os Kirej, cada um destes com somente uma maloca.”
(BRUNELLI, 1987, apud DAL POZ, 2009).
1.5.1 O CONTATO COM OS NÃO INDÍGENAS E O PÓS CONTATO
A frente de expansão territorial promovida pelos planos governamentais do
Brasil que culminou com a construção da rodovia BR 364 que liga Cuiabá
(Mato-Grosso) à Porto Velho (Rondônia), favoreceu a abertura de enormes áreas
destinadas à formação de fazendas de criação de gado e agricultura. Os Pangyjej
Zoró, em dado momento, se viram ilhados entre essas frentes colonizadoras e
seus inimigos históricos.
Sergio P. Cruz / Kanindé
“Nós andávamos por muitos lugares, naquela época por aqui só
existiam os Surui, os Cinta Larga, os Gavião e nós. Um tempo depois,
encontramos os não índios, eram seringueiros e nós os matamos.
Depois vieram mais seringueiros e garimpeiros, alguns também
matamos e outros apenas afugentamos, até que um dia vimos muitos do outro lado do rio branco, ficamos pensando, será que devemos
matá-los, será que vão nos matar? Depois de pensarmos bem, um dia
gritamos para eles: - Papá, canoa papá! Nos viram e vieram dois no
barco, quando chegaram, ficamos com muito medo, os despímo-los
e vestimos suas roupas. Depois foram embora, um tempo mais tarde
voltaram com mais roupas. Depois os brancos baixaram de helicóptero numa margem do rio Branco e nos viram, depois vieram de avião
novamente, passavam por cima da aldeia,
depois vieram de cavalo, de carroça e de
trator”. (Narrado por Saga Puga Zoró em
06/2012)
Analisando esse trecho, poderemos ter forte tendência a imaginar o quão hostis eram os Pangyjej Zoró,
porém o povo estava em guerra constante pela
sobrevivência, e como já não bastavam seus inimigos
históricos, sofreram grandes perdas também com a
aproximação das frentes colonizadoras, este comportamento não era unilateral.
Sergio P. Cruz / Kanindé
“Os grupos locais Zoró, então, remanesciam no triângulo formado pelos rios
Roosevelt e Branco, embora incursões de
seringueiros, caucheiros e garimpeiros
tenham dizimado completamente algumas
de suas aldeias. De um acampamento zoró
atacado em 1963 sobreviveu apenas uma
menina, raptada pelos seringueiros.” (DAL
POZ, 2009).
Houveram algumas expedições áereas no intuito
de localizar os Tupi Mondé, realizados pela Missão
Novas Tribos do Brasil - MNTB e pela FUNAI Fundação Nacional do Índio, o então Serviço de Proteção aos Índios (SPI), desde 1967. Porém o contato
oficial com os indigenistas da FUNAI só foi possível
posteriormente ao contato acidental entre os Pangyjej
Zoró e os funcionários da fazenda Castanhal. Neste
19
ínterim, uma parte da população Pangyjej Zoró já havia contraído diversas enfermidades, e estas, já estavam reduzindo significativamente o contingente deste
povo.
“O pequeno monomotor sobrevoava a maloca pela segunda
vez, quando apareceu um grupo de índios para observar a estranha e barulhenta máquina voadora que invadia o seu mundo […]. O objetivo do vôo era dar ao sertanista Apoena
Meireles uma visão geral da localização das malocas e uma avaliação do número de índios que vivem na área. Meireles, 28 anos, era
responsável pela expedição que tentaria o primeiro contato com esses
indígenas, que vivem entre os rios Branco e Roosevelt, no oeste de Mato
Grosso, nas proximidades da fronteira com o Território de Rondônia.
A região, inteiramente coberta pela floresta amazônica, vem sendo ocupada por fazendeiros, o que obrigou a FUNAI a promover a expedição
para contatar e preparar os índios para o convívio com a civilização”.
[…] (PRAXEDES, 1977, apud DAL POZ, 2009).
Após os primeiros contatos amistosos com os trabalhadores da fazenda Castanhal,
uma frente de contato da FUNAI, chefiada pelo sertanista Apoena Meireles, em
outubro de 1977, montou acampamento às margens do rio Branco com intenção
de contatar os Pangyjej Zoró, uma vez que a proximidade desde grupo com a
frente colonizadora os colocava numa situação de extremo risco.
Sergio P. Cruz / Kanindé
“Depois de dias observando o acampamento dos não índios, resolvemos ir falar
com eles. Quando chegamos perto dos brancos nós falamos: podem ficar calmos,
nós não vamos matar vocês, mas eles não entendiam. Eles também falavam, mas
20
Maxianzap Zoró e
Pebuj Zoró, ambos
participaram do
contato com a
equipe da FUNAI.
nós também não entendíamos, o pai dele (referindo-se a Pebuj Zoró), mostrou a
esposa para os brancos e disse: - Essa é minha esposa, ela está aqui, nós não vamos matar vocês!” Continuávamos sem nos entender, mas foi possível perceber
que ninguém queria guerra”. (narrado por Maxianzap Zoró e Pebuj Zoró)
“Os Zorós chegaram [no dia 22 de outubro] ao acampamento desarmados, pois haviam deixado suas flechas escondidas na selva para
demonstrar que estavam em missão de paz. Quatro índios adultos se
aproximaram em primeiro lugar. Depois, quando já estavam inteiramente à vontade, apareceram uma mulher e uma criança, até então
escondidas observando o encontro. O contato acontecera depois de
dezoito dias de angustiante expectativa, - Eram apenas vinte, embora
o número de malocas existentes faça supor uma tribo de aproximadamente 350 indígenas”. (PRAXEDES, 1977).
Já acostumado com a presença do outro, Apoena se mostrou surpreso com o
comportamento dos Pangyjej Zoró, relata que eles não mexiam em nada no
acampamento sem antes pedir permissão. Apoena havia levado consigo possíveis
intérpretes para o povo até então autóctone, era um Xavante (Macro Jê), um
Cinta Larga (Tupi Mondé), um Paiter Surui (Tupi Mondé) e dois Gavião Ikolen (Tupi
Mondé), destes somente o Cinta Larga e os Ikolen obtiveram êxito na comunicação. Conta que os Pangyjej Zoró perguntavam sobre os objetos que haviam no
acampamento, “- Queriam saber de tudo, não deram sossego aos intérpretes”,
afirma.
Malária, gripe, sarampo, tuberculose e uma lista de doenças matou pelo menos
a metade do povo Pangyjej Zoró. No diário de campo de Apoena Meireles, o
sertanista narra que depois do contato, alguns começaram a adoecer, os mais
velhos foram morrendo seguidos por quase metade da população que na época
foi estimada em aproximadamente entre 300 e 350 pessoas.
Há uma confusão em relação ao número de pessoas que compunham os
Pangyjej Zoró, as primeiras estimativas realizadas durante um sobrevôo na região
por Meireles em 1972, apontavam para 500 e 800 indivíduos, durante o contato
em 1977, Apoena calculou entre 300 e 350. Dados da FUNAI apontam para a
vacinação de 400 pessoas no pós contato. Durante a validação do estudo, os Zoró
indicaram que este numero era maior, pois haviam várias malocas ao longo da
terra, estima-se a existência na época de aproximadamente 11 malocas,
calculando a existência de 100 a 150 pessoas residentes em cada maloca podendo o número chegar entre 1100 a 1500 indivíduos.
Em 1978 houve mais um ataque dos Paiter Surui contra os Pangyjej Zoró na aldeia
Zawã Kej, o que forçou uma fuga em massa para o território dos Ikolen (Igarapé Lurdes).
Lá tiveram refúgio, tratamento médico, e também assim se deu a aproximação do
povo com os missionários evangélicos da MNTB (DAL POZ, 2009). Permaneceram
por poucos meses entre os Ikolen, muitos se converteram à doutrina cristã evangélica,
houve casamentos entre membros dos dois povos contrapondo a tradição de casamentos endogâmicos, e aos poucos os Pangyjej Zoró foram retornando à sua terra
tradicional.
O coletivo da validação dos estudos afirma que mesmo antes do contato com a
FUNAI, já havia um relacionamento com o povo Ikolen inclusive com casamentos
entre os dois povos.
21
Sergio P. Cruz / Kanindé
Saga Puga Zoró
De volta ao seu território os Pangyjej Zoró foram forçados por uma política de sedentarização da FUNAI a adquirir novos hábitos. A nova aldeia que pretendia aglomerar
todos os Pangyjej Zoró, era construída com casas de projeto arquitetônico ocidental,
dispostas em ruas paralelas e a organização social passou a ser nuclear, ou seja, cada
família habitava uma casa em separado, contrapondo à forma relacional tradicional
uxolorical onde o genro passava a morar com os pais da esposa numa grande casa
comum.
Também formam condicionados a adotar hábitos tais como trabalhar em roças
durante oito horas diárias pelos cinco dias úteis da semana, limitando aos sábados as
incursões de caça, pesca e de outros afazeres tradicionais, uma vez que os domingos
eram dedicados às práticas espirituais/religiosas aprendidas com a Missão Evangélica
(DAL POZ, 2009).
Em decorrência dessa forma de tratamento e por conta de abusos praticados pelos
funcionários da FUNAI, os Pangyjej Zoró tornaram a morar com os Ikolen. Nesta
ocasião as mulheres, os mais velhos e as crianças estavam com a saúde debilitada
pela desnutrição. Era prática comum dos servidores da FUNAI fornecer alimentação apenas para os que trabalhavam no novo ritmo imposto, e esse grupo era
composto em sua maioria por homens jovens e adultos.
Com o passar do tempo foram retornando ao território de origem e quase metade
do povo passou a morar na aldeia Barreira, a Zawã Kej.
A aproximação com a cultura ocidental e o contato direto com a doutrina cristã
evangélica, de certa forma, inibiu a transmissão inter-geracional das lendas e mitos da nação Pangyjej Zoró. A sua cosmologia foi perdendo forças ao passo que
incorporavam a doutrina cristã. Ainda podemos ouvir algumas histórias caso encontremos algum ancião com paciência de proferí-las, no entanto, não podemos
considerar que esta prática faça parte de suas rotinas. Muitos dos mais jovens
conhecem o mito de criação de seu povo, como o que foi narrado por Marcio
Zoró no início deste capítulo, porém sem muitos detalhes, o mito assume agora
ares de “conto”.
22
Sergio P. Cruz / Kanindé
Márcio Zoró, cacique geral
Tanto o plano de concentração do povo numa só aldeia, como a segunda fuga em
massa para junto dos Ikolen, facilitou a invasão do território por parte de grileiros,
posseiros, madeireiros e outros estranhos. Os Pangyjej Zoró tiveram muito trabalho
para desintrusar sua área, este processo durou alguns anos. Chegaram a perder parte
das terras, para o que é hoje a cidade de Paraíso da Serra. As tentativas de retirada
dos invasores geraram conflitos violentos entre os grupos de interesses, apenas após
conseguirem apoio dos antigos inimigos como os Paiter, Cinta Larga, Arara e Gavião
foi que conseguiram efetivamente desintrusar e retomar a parte do território.
“Quando os invasores foram expulsos em 1990, os Zoró tomaram conta das casas abandonadas e a extração da madeira tornou-se a sua maior
atividade econômica. A metade da população mudou para a aldeia
de Barreira e outras aldeias sugiram. Com a interdição da extração da
madeira em 1993 os Zoró se espalharam no território para reassumir
uma vida mais tradicional”. (DAL POZ, 2009).
“Quero lembrar que nosso povo Zoró, já foi envolvido com a venda ilegal de
madeira, e aos poucos fomos nos conscientizando que isso não era bom para a
comunidade, isso não levava à uma vida longa da comunidade. Durante algum
tempo de reuniões gerais, a comunidade decidiu parar com a venda de madeira
e buscar outras formas de trabalhar, uma forma melhor, sustentável, um trabalho
que não destruísse a floresta. Hoje nós temos a associação do povo Zoró, eu quero parabenizar os diretores da APIZ - Associação Pangyjej do Povo Indígena Zoró,
eles que conseguem os parceiros para nossos projetos, como este trabalho do
diagnóstico, que servirá para nós como instrumento para pensar no futuro de
nossos filhos, da nossa comunidade, porque hoje pensamos em trabalhar de outro
jeito”.
“Nosso medo maior é perder a cultura do povo Zoró, por isso mantemos esse modo
de vida, esse é o futuro que agente está pensando, daqui a pra frente nossos filhos
estarão nascendo e eles vão conhecer nossos costumes e nossas tradições. Hoje o
povo Zoró trabalha com castanha e isso é uma conquista para nós, por que é uma
atividade que todos participam, não só os adultos, mas também os jovens e é uma
23
atividade que fazemos conhecendo nosso território,
nosso espaço, e através desse trabalho a gente consegue
ganhar dinheiro, porque hoje nós conhecemos
dinheiro”. (Márcio Zoró – Então Cacique Geral do Povo
Pangyjej Zoró).
“Nós hoje estamos morando em casa, com roupa de
branco, e isso não era assim, hoje, as doenças como na
época do contato, estão piorando de novo, leschimaniose, malária, tuberculose. Antes não tinha malária, como
ficávamos pouco tempo em cada aldeia, não dava tempo de acumular água empoçada e lixo. Como hoje não
mudamos mais, vivemos no mesmo lugar sempre, tem
água parada, água no cano, tem lixo e as doenças vão
surgindo”. (Saga Puga Zoró)
“Nossas plantações continuam as mesmas, só o arroz e
o feijão entraram na nossa alimentação, também passamos a usar alguns químicos, mas continuamos com
o que sempre plantamos, a caça ainda tem muita, não
compramos comida na rua, nem refrigerante, tomamos
makaloba, as vezes makaloba com mel, as pessoas que
passaram a usar açúcar tiveram diabetes, caries e outros
males”. (Saga Puga Zoró)
“Não podemos acabar com a nossa cultura, temos que
continuar na nossa realidade, nossa agricultura, manter nossa identidade. Não podemos deixar de fazer
nossas pinturas, precisamos manter nossas tradições,
os mais novos não querem mais fazer a tatuagem no
rosto. Antes, aos doze anos se fazia as tatuagens e o
furo no queixo para usar a pena, os novos não fazem
mais porque é muito dolorido, antes faziam quando ainda eram virgens, usavam o urucum junto com
jenipapo para fazer as pinturas, não pode abandonar
os artesa-natos, fazer colar pro marido, as flechas pro
filho, não podem deixar pra trás, ensinar a fazer flecha e
para as mulheres fazer o colar pro marido, fazer a makaloba pro marido, não pode pegar na casa dos outros,
nosso café da manhã é a makaloba. Os jovens tem que
seguir com nossa cultura como nós fazíamos, não podemos abandonar, os homens tem que fazer roça pra as
mulheres poderem fazer a makaloba pra eles, se não
fizer roça, as mulheres vão atrás da roça dos outros e isso
não pode”. (Saga Puga Zoró, entrevista em 06/2012).
A organização social dos Pangyjej Zoró é descentralizada, cada aldeia possui seu cacique, no entanto criaram
a figura do “cacique geral” que, durante a realização
da pesquisa, era atribuída ao jovem Márcio Kajazap
Zoró. Como ele mesmo explica, não é um cargo de
poder e seu papel é de representar o povo Pangyjej
Zoró junto aos outros povos inclusive aos não índios.
Uma de suas atribuições se assemelha muito à função
de um diplomata, ele participa de reuniões fora da
território e tem como uma das obrigações principais
transmitir aos Pangyjej Zoró o que foi decidido nesses encontros. Márcio também era um dos gestores da
APIZ e tem pensamentos brilhantes a respeito do futuro
dos Pangyjej Zoró, manejo sustentável do território e o
resgate das tradições de seu povo compõem suas
maiores ambições.
Sergio P. Cruz / Kanindé
Anciã Pangyjej Zoró que participou do primeiro contato com a equipe da FUNAI.
24
1.6 - SOCIOECONOMIA
1.6.3 OCUPAÇÃO.
A pesquisa quantitativa do panorama sócio-econômico
do povo Pangyjej Zoró, foi elaborada através de questionários com perguntas objetivas e visava atingir as
142 (cento e quarenta e duas) famílias que compõem a
nação. Foram aplicados 107 (cento e sete) questionários
perfazendo um total de 73% do universo pretendido.
Coletar, pescar e caçar estão em primeiro lugar nas ocupações mais citadas pelos entrevistados, seguidos pela
prática da agricultura, artesanato e extração de seringa,
nesta ordem (conforme gráfico 03).
Dos entrevistados, a maioria chefes(as) de família, configurou um quadro onde 74% pertencem ao sexo masculino, 93% são casados e 99% de fé Cristã Evangélica.
1.6.1 NÚMERO DE FILHOS (%).
As famílias sáo numerosas, através do gráfico 01 podemos perceber que 45% das famílias são compostas por
quatro ou mais filhos.
Gráfico 01 - Número de filhos (%)
10,0
12,0
17,0
14,0
16,0
Coletor
86,0
Pescador
85,0
Caçador
70,0
Agricultor
13,0
Artesão
13,0
Seringueiro
2,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
O QUE MAIS COLETAM
8,0
23,0
Gráfico 03 - Principais Ocupações (%)
1
2
3
4
5
6 ou mais
não tem
Gráfico 04 - Produtos florestais não madeireiros mais
coletados (%).
13,0
9,0 1,0
14,0
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
1.6.2 NÚMERO DE MORADORES POR
RESIDÊNCIA.
96,0
frutas/frutos
castanhas
óleos
plantas medicinais
palhas/cipós
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
O QUE MAIS PLANTAM
Além dos filhos, podemos analisar o gráfico 02 como um
indicativo de que a prática tradicional de convivio das
Gráfico 05 - Espécies mais cultivadas.
pessoas de diferentes gerações numa mesma residência
está em evidência, se 23% das famílias possuem seis ou
Abacaxi
mais filhos, quando questionamos sobre quantas pesAlgodão
soas habitam a residência, este número sobe, revelando
Banana
que 31% das residências são habitadas por oito ou mais
Batata
pessoas.
Cana de açúcar
Gráfico 02 - Nº de moradores por residência (%).
13,0
1,0
31,0
13,0
18,0
24,0
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
1
2
3
4
5
8 ou mais
55,0
37,0
89,0
83,0
71,0
Mamão
66,0
Mandioca
47,0
Macaxeira
53,0
Cará
91,0
Pimentas
12,0
Milho
92,2
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
25
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Menina ralando mandioca
Comendo mandioca
5.3.2.1 ÁREA DE ROÇADO
Gráfico 08 - Criação de animais para consumo.
Os roçados são pequenos, construídos em áreas que
variam somente entre um e dois hectares como podemos
observar no gráfico 06, ainda assim, 73% destes são
mantidos por uma coletividade (pelo menos duas famílias) e
15,0
Sim
Não
apenas 24% são de uso individual, ou seja, mantidos por uma
única família (conforme gráfico 07).
85,0
Gráfico 06 - Tamanho dos Roçados em hectares (%).
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
4,0
16,0
01
02
Não possui
Gráfico 09 - Animais mais criados em cativeiro.
Suínos
Animais Silvestres
80,0
Caprinos
Aves
Bovinos
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
Gráfico 07 - Roçados Coletivos.
10 20 30 40 50 60 70
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
3,0
24,0
Sim
Não
Não respondeu
73,0
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
1.6.4 FONTES DE PROTEÍNA ANIMAL
Os que criam animais parea fins de consumo são 85% (con-
forme gráfico 08), entre os mais criados estão os animais
silvestres (conforme gráfico 09). A caça no terrtório Zoró
é abundante e entre os animais mais caçados estão o
porco do mato (Tayassú pecory), mutum e o tatu, seguidos por cutia, paca e anta, conforme o gráfico 10.
26
Gráfico 10 - Animais mais caçados
Anta
96,0
Porco do Mato
99,0
Cutia
98,0
Macaco
95,0
Mutum
99,0
Paca
97,0
Jabuti
87,0
Tatu
99,0
Veado
94,0
Peixes
94,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
1.6.5 - RENDA
Apesar das famílias serem numerosas, resultados da
pesquisa apontam que em 93% delas apenas uma ou
duas pessoas possuem alguma renda mensal (gráfico
11), e esta renda, em 64% dos casos, não alcança mais
que 1 salário mínimo (gráfico 12).
A adesão do povo Pangyjej Zoró a este projeto é alta,
88% dos entrevistados afirmaram participar do mesmo,
como podemos conferir no gráfico 13.
Gráfico 13 - Participação no Projeto de Venda de
Castanha do Brasil (%).
12,0
Gráfico 11- Nº de pessoas que possuem renda mensal, por residência (%)
Sim
Não
4,0 3,0
30,0
63,0
1 pessoa
2 pessoas
3 pessoas
4 pessoas
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
Gráfico 12- Renda (em salário mínimo, %)
88,0
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
No gráfico 14 podemos constatar que a Castanha do
Brasil está realmente se tornando o principal produto
do Povo Pangyjej Zoró, seguido pela farinha de milho,
molho de pimenta, farinha de mandioca, artesanatos e
café em pó, no entanto, salvo pela castanha, a maior
parte da produção é para subsistência (gráfico 15).
8,0
14,0
22,0
56,0
menos de 1 salário
1 salário
2 salários
Não respondeu
Gráfico 14 - Produção - Principais produtos (%).
Castanha
Café em Pó
Molho de Pimenta
Farinha de Milho
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
Os rendimentos são provenientes de planos assistenciais governamentais, da venda de produtos manufaturados, de artesanatos e do projeto coletivo de venda de
castanha do Brasil, que é uma parceria da APIZ - Associação do Povo Indígena Pangyjej Zoró, com apoio do
projeto Pacto das Águas, patrocinado pela Petrobras, que
desde 2003 vem fomentando o comércio de castanha.
É uma alternativa sustentável de geração de renda para
o povo e que possui uma expectativa de que na safra
2011/2012 sejam produzidas mais de 140 toneladas de
Castanha-do-Brasil, que poderá ser comercializada por
até quatro reais o quilo.
Artesanato
Farinha de Mandioca
10 20 30 40 50 60 70
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
Gráfico 15 - Venda da Produção (%).
5,0 1,0
38,0
56,0
Não vende
Maior parte
Metade
Menor parte
Fonte: Sergio P. Cruz / Kanindé 2012.
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Artesanato com penas e transporte da castanha do Brasil.
27
1.6.6 ARTESANATO
O artesano do povo Pangyjej Zoró é de uma sofisticação invejável, a complexidade
das peças elaboradas a partir do tucumã e outras matérias naturais é muito alta.
Colares, brincos, bandoleiras, pulseiras, cocares, anéis, bordunas, conjunto de
arco e flecha, entre outros, são confeccionados por artesãos extremamente hábeis,
a arte impressiona pela sua beleza, delicadeza e acabamento.
No entanto, pôde-se constatar que esta prática está subestimada como fonte de
renda para o povo, em campo, nota-se que a produção de artesanato está mais
associada ao uso pelos próprios Pangyjej Zoró do que para o comércio. Também
foram encontrados poucos artesãos/artesãs em atividade, destes, a maioria eram
mulheres, e reclamam da falta de uma logística para a comercialização.
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
A sede da associação APIZ na cidade de Ji-Paraná em Rondônia, mantém uma loja
permanente onde vende os artesanatos tradicionais, porém a prática incipiente,
ainda não criou meios de tornar atrativa essa atividade (conforme gráfico 16). Nos
demais casos, as artesãs ficam à mercê da comercialização aos visitantes eventuais
e exporádicos da Terra indígena Zoró.
28
Nesta página e na seguinte,
produção de artesanato com
tucumã, penas e outros materiais.
29
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
1.6.7 SAÚDE
Gráfico 19 - Frequência de adoecimento (estimativa
do nº de vezes ao ano).
A maior parte das aldeias possui um sistema de abastecimento de água composto por poços e distribuição
encanada, através de bombas d’água elétricas (gráfico 16). Apesar do baixo índice de preocupação com
o tratamento desta água (gráfico 17), são poucos os
casos de enfermidades provenientes dessa prática
(gráfico 18), todavia, qualquer desarranjo no sistema
que possa eventualmente ocorrer, colocaria em alto
risco maior parte da população.
Gráfico 16 - Origem da água consumida (%).
4,0 1,0
24,0
71,0
1 vez
2 a 5 vezes
6 a 10 vezes
quase nunca
Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012.
Gráfico 20 - A quem recorrem em casos de doença
3,0 3,0
6,0
16,0
10,0
Agente indígena
Enfermeiro
Médico
Outro(s)
poço
rio
água de poço
encanada
94,0
84,0
Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012.
Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012.
Gráfico 17 - Tratamento de água consumida. (%)
8,0 5,0
Gráfico 21 - Aonde encontram atendimento de saúde
3,0 2,0
fervura
filtragem
químico
nenhum
20,0
na própria aldeia
numa aldeia próxima
numa cidade
67,0
Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012.
Gráfico 18 - Principais enfermidades (%).
96,0
Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012.
Os técnicos ficam em uma das aldeias, fazendo visitas
nas demais por 15 dias. A enfermeira visita as aldeias na
época da vacina e visitas de suprevisão dos AIS – Agente
Indígena de Saúde.
Dengue
Malária
Leishmaniose
Esquistossomose
O médico do Programa Mais Médicos começou a
atender recentemente em 2014 se instalando nas
aldeias mais populosas e visitando as demais de acordo
com a necessidade. (fonte: Validação dos estudos em
2014).
Tuberculose
Hepatite A
Catapora
Pneumonia
Tosse
Viroses
Diabetes
Sarampo
Alergias
Gripe
10 20 30 40 50 60
Fonte: Sérgio P. Cruz / Kanindé 2012.
30
1.6.8 HABITAÇÃO
Entendemos por técnicas ocidentais de construção, as habitações feitas de madeira beneficiada e cobertas com telhados de amianto ou telhas de barro industrializadas. As de técnica mista são as que empregam madeira beneficiada juntamente aos materias naturais e por fim as de técnica tradicional são as casas
elaboradas em permacultura, ou seja, as que empregam na obra apenas materiais
naturais e obedecem a arquitetura ancestral. 92% das residências são construídas com técnicas ocidentais, 4% com técnica mista e 4% com técnica tradicional
(conforme gráfico 22).
Gráfico 22 - Modelo das habitaçães (%).
4,0 4,0
tradicional
técnica mista
ocidental
92,0
Fonte: Kanindé 2012.
Modelo de construção com técnica mista.
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Modelo de construção tradicional
Modelo de construção ocidental.
31
1.6.9 EDUCAÇÃO
Sergio P. Cruz / Kanindé
O início do processo de implantação do sistema de educação escolar formal para
o povo Pangyjej Zoró se deu no ano de 1989. A primeira escola foi inaugurada
na aldeia Central / Bobyrej. Os professores eram Pangyjej Zoró, porém o material
ditático utilizado era o mesmo que tinha sido preparado especificamente para os
Ikolen.
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Aldeia escola Zawã Karej inaugurada em 2002
Esta etapa foi mais um desafio para os Pangyjej Zoró, ocorreram diversos conflitos por conta da forma em que a educação fora instituída. Confinar jovens e
crianças em salas de aulas, contrapunha diretamente o modo tradicional que o povo
praticava a transmissão do conhecimento.
“A transmissão de conhecimento ente os Pangyjej se dá no dia a dia, no
trabalho, nas histórias contadas, nos conselhos dados, na produção dos
materiais de uso, nos rituais. Os mais velhos passam para os mais jovens,
os pais para os filhos a sua sabedoria. Os “conselhos” são dados de madrugada, segundo a tradição. Quando os meninos já estão, com mais ou
menos cinco anos são levados para a roça, a caça e a pescaria com seus
pais. Todas as crianças, no colo, são levadas para as colheitas. As meninas, na mesma idade dos meninos, começam a carregar as coisas, lavar as
panelas. O processo de socialização da criança vai se dando no dia a dia
de acordo com o desenvolvimento da mesma. (LACERDA, 2002).
No início, os professores indígenas eram assessorados por professores não indígenas e o relacionamento entre eles por diversas vezes não era muito amistoso.
Os Pangyjej Zoró tentaram algumas vezes fechar as escolas por não concordarem
com os métodos de ensino inter-cultural que lhes fora imposto. Apenas cinco anos
mais tarde, o pastor luterano Ismael Tressmann, a linguista Ruth Montserrat e o
professor Waratã Zoró formularam uma nova proposta ortográfica e um livro de
32
Sergio P. Cruz / Kanindé
Quadro da Escola Pangyjej Zoró
textos com histórias do povo Zoró (Tressmann, 1994; apud Lacerda, 2005). Até
então, haviam apenas duas escolas nas aldeias maiores; em 2005, já eram dez,
além da escola polo Zawã Karej.
Muita negociação, algumas expulsões de professores não índios pelas lideranças
indígenas, reformulações, ressignificações e novos entendimentos acabaram por
dar forma ao atual modelo de ensino entre os Pangyjej Zoró.
“Criou-se uma escola pólo a escola (Zawã Karej) na aldeia Pawanewa,
com o objetivo de dar continuidade à educação intercultural e bilíngue,
seguindo o currículo escolar, que seria de 5ª a 8ª série. Então, os alunos
estudam até a 4ª série nas aldeias e vem para a escola Pólo, onde passam quinze dias consecutivos e outros 15 dias voltam para suas aldeia
conforme o modelo das EFAs- Escolas Família Agrícola.” (LACERDA,
2005)
Há duas aldeias Escola Pólo, uma em cada extremidade do território, juntas,
atendem mais de 120 alunos e possuem infra estrutura de salas de aula, refeitórios, alojamentos, banheiros e etc. Este processo contribuiu para o que vemos hoje
entre os Pangyjej Zoró, um alto grau de escolaridade alcançada (cf. gráfico 23).
“Atualmente são 10 escolas funcionando e a equipe continua o trabalho
de assessoria, incentivo, valorização da cultura e apoio à construção de
seu processo próprio de aprendizagem.” (LACERDA, 2005).
Gráfico 23 - Grau de escolaridade (%)
Analfabeto
Lê e Escreve
Médio completo
Fundamental completo
Especial bilíngue
Fonte: Kanindé 2012.
10 20 30 40 50 60 70 80
33
Acervo APIZ
1.6.10 FESTAS E RITUAIS
Historicamente as festas tradicionais aconteciam na época da colheita do milho,
onde parte da produção era destinada ao feitio da chicha ou makaloba, uma
bebida fermentada de baixo teor alcóolico que era consumida pelos Pangyjej
Zoró.
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Os núcleos familiares vizinhos se juntavam para as confraternizações. Eram ritos
de agradecimento aos espíritos guardiões das matas, das águas e dos animais.
A partir do processo de evangelização do povo Pangyjej Zoró, os costumes
foram se modificando.
“Tradicionalmente, os Zoró realizavam suas festas no período das
chuvas, por ocasião da colheita do milho. Para as festas principais
(Gojanej, Zaga Puj, Gat Pi e Bebej) os xamãs atendiam solicitações que
recebiam dos espíritos correspondentes. Em geral, cada aldeia realizava apenas uma delas a cada ano, prolongando-a por até três meses.
A festa mais importante era Gojanej, que celebrava a visita do espírito-das-águas: o xamã incorporava o espírito malula (“tatu-canastra”),
a quem os participantes deviam agradar, com presentes (flechas etc.),
servir chicha e beijus de milho. Cada família, também, apresentava
um jacaré vivo no pátio que, depois de abatido no interior da casa,
era servido aos convidados. Na festa Zaga Puj os xamãs invocavam
os espíritos que protegem a caça, a extração de mel e a coleta de
frutas – como retribuição aos espíritos, as famílias expunham, em varais
no entorno da aldeia, os produtos cultivados, como mandioca, cará,
algodão, entre outros. Já na festa Bebej (“porco-queixada”), o
xamã comunicava-se com o dono-dos-porcos, em busca de uma
informação valiosa para os caçadores, a localização dos bandos de
queixadas. Por fim, a festa Gat Pi (“caminho do sol”), que estava
direcionada aos espíritos que habitam o mundo celeste” (LISBOA,
2008, apud DAL POZ, 2009).
Acervo APIZ
Atualmente, as festas não são mais regadas à chicha fermentada, uma vez que
o consumo de bebidas alcóolicas é severamente desaconselhado pela doutrina
cristã evangélica.
As grandes festas acontecem quando os Pangyjej Zoró combinam entre si o local
e a data. No dia escolhido as pessoas das mais diversas aldeias, se juntam para
um culto cristão coletivo, com hinários de louvor traduzidos para a língua nativa.
A festa é organizada com certa antecedência e os participantes chegam ao local
trazendo muita carne de caça e outros alimentos para compartilhar entre os
presentes. O preparo das comidas começa cedo e dura o dia inteiro. A noite,
ao som de guitarra elétrica e cantos amplificados por microfones, tem início o
culto.
A participação da população é massiva, os cânticos e danças podem durar a
noite inteira. Reservam para estas festas todo um final de semana, tempo hábil
para o deslocamento dos moradores das aldeias mais distantes, para a caça e o
preparo dos alimentos que serão consumidos durante os festejos.
34
Pintura corporal com jenipapo e
confeccão de cocares com penas.
Também participam desses eventos, os membros de outras etnias como os
Ikolen, os Cinta Larga, os Paiter e os Arara.
Normalmente estas festas acontecem uma vez por ano, podendo acontecer mais
de uma vez em casos especiais.
Os mais velhos, se caraterizam com pinturas, cocares, bandoleiras, colares e
outros adornos como o arco enfeitado com penugens brancas. Os mais jovens não
demonstram essas preocupações, mas participam ativamente do evento, ajudando na preparação de todas as etapas e os detalhes da festa.
O local do rito se assemelha a um templo convencional, existe um palco de frente
para diversos bancos paralelamente enfileirados. No começo, por volta das 20
horas, todos estavam sentados escutando as pregações dos pastores indígenas,
em dado momento deu-se início aos cânticos rituais e as pessoas acompanhavam
cantando as músicas e batendo palmas ritmadas, até que o cacique Maxianzap
Zoró se levantou e começou a dançar em círculo no espaço que existia entre os
bancos e o palco. Seguiu dançando e convidando as outras pessoas para que
lhe acompanhassem, em minutos estavam praticamente todos envolvidos numa
dança circular e o culto seguiu assim até seu término.
Sergio P. Cruz / Kanindé
Abaixo e nas próximas páginas, imagens de culto evangélico realizado em 17 de junho de 2012, na aldeia Zawa Karej.
35
36
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
37
Sergio P. Cruz / Kanindé
Sergio P. Cruz / Kanindé
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
38
Acervo APIZ
ASPECTOS DO ENTORNO
2.1 INTRODUÇÃO
A TIZ está inserida no município de Rondolândia, situado dentro do bioma
Amazônico, que do ponto de vista político-administrativo é um dos municípios
mais recentes criados naquele Estado e limita-se com os municípios de Juína,
Colniza e Aripuanã (MT) e Cacoal, Ministro Andreazza e Ji-Paraná (RO). A área
territorial do Município é de 12.701,56km², o que corresponde a 0,014% de
Mato Grosso (903.386,10km²). Os dados do Censo do IBGE 2010 afirmam que a
área é um pouco menor, possuindo apenas 12.670,803km².
A sede do Município está localizada nas seguintes coordenadas geográficas:
10°51’25” S e 61°27’23” W, e pertence a microrregião de Juína, as relações
comerciais, financeiras e bancárias ocorrem com frequência com o município de
Ji-Paraná – Rondônia, em razão da proximidade geográfica e mesmo porque um
significativo número de propriedades privadas e negócios são de pessoas que
mantém vínculos diretos com a cidade rondoniense.
39
2.2 PERFIL
SOCIOECONÔMICO
Rondolândia é resultado da nova expansão agropecuária
mato-grossense e consolida-se administrativamente na
segunda metade da década de 90, quando é desmembrada do Município de Aripuanã, sendo que o resultado
dessa expansão atrai migrantes de várias regiões do Brasil, especialmente daqueles que já haviam desbravado
Mato Grosso e Rondônia nos anos 70-90.
Foi criado em 28.01.1998 pela Lei 6.984 e instalado em
01.01.2001, portanto é um dos municípios recém-criados e como tal carece de infraestrutura, o que acarreta
sérios problemas, especialmente aqueles relacionados à
saúde, uma vez que fica situado muito distante da Capital do Estado (1.600 km de Cuiabá) e tem como principais elos - terrestre e sócio-econômico - as cidades de
Ji-Paraná e Cacoal no estado vizinho de Rondônia.
Sua base econômica está focalizada principalmente
no setor primário (agricultura e pecuária) e setor secundário, na indústria madeireira. O setor comercial do
município é composto por pequenas empresas, a maioria de âmbito informal.
2.3 DEMOGRAFIA
Em termos populacionais, o município de Rondolândia apresentava 3.156 pessoas (Estimativa IBGE/2004).
Em 2002, atingiu 3.498 pessoas, e em 2003, elevou-se
para 3.655 habitantes. E no Censo do IBGE (2010) a
população chegou aos 3.604 habitantes, com projeção
estatística para 2011 de 3.638 pessoas.
Em análise comparativa ao ano de 2003 houve uma
redução percentual masculina de 55,07% (2.013) para
52,8% (1.777), enquanto no feminino ocorreu um
incremento passando de 44,93% (1.642) para 47,2%.
A Tabela 3 demonstra como a população situa-se nas
faixas etárias em Rondolândia, sendo que naquele
período 62,01% (1.018 mulheres) entre 10-49 anos
encontram-se em idade fértil e na atualidade é representado por 65,21% (1.110 mulheres).
Pelos dados obtidos constata-se que 73,61% da população habita a área rural, comprovando que o município tem como base de sustentação econômica o setor
primário, assim como a maior da população é formada
por crianças e jovens (0-29 anos), entretanto a faixa
40
TABELA 1- POPULAÇÃO – RONDOLÂNDIA (2010).
Faixa Etária
Total
Urbana
Rural
Masc. Fem.
0 a 4 anos
412
107
305
220
192
5 a 9 anos
397
103
294
218
179
10 a 14 anos
379
125
254
186
193
15 a 19 anos
358
73
285
180
178
20 a 24 anos
355
110
245
173
169
25 a 29 anos
340
92
248
241
167
30 a 39 anos
471
125
346
219
230
40 a 49 anos
392
100
292
140
173
50 a 59 anos
257
67
190
91
117
60 a 69 anos
154
22
132
48
63
27
62
61
41
70 anos ou mais 89
TOTAL
3.604 951
2.653 1.7771.702
Fonte IBGE, Censo Demográfico 2010
entre 30 a 39 anos, individualmente seja a mais expressiva.
Em análise a Tabela 2, é evidenciado que as populações
masculinas e femininas rurais em todas as faixas etárias
são superiores àquelas encontradas na área urbana do
município.
Os dados oficiais de 2010 confirmam que o município
de Rondolândia apresenta uma densidade demográfica muito baixa (0,28 hab/km²), o que indica um “vazio
populacional”, devido a concentração de grandes
latifúndios destinados à bovinocultura e a monocultura,
principalmente por se tratar de uma área geográfica não
consolidada e com baixos indicadores de urbanização.
Com base no Gráfico apresentado, a conclusão
existente é que toda a população (3.604 habitantes) de
TABELA 2 - POPULAÇÃO – FAIXA ETÁRIA E
DISTRIBUIÇÃO – RONDOLÂNDIA (2010).
Faixa Etária
Total Masc.Urb. Masc Rural Fem. Urb. Fem.Rural
0 a 4 anos
412
61
159
46
146
5 a 9 anos
397
63
155
39
140
10 a 14 anos 379
67
119
58
135
15 a 19 anos 358
31
149
42
136
20 a 24 anos 355
62
124
49
120
25 a 29 anos 340
36
137
55
112
30 a 39 anos 471
44
197
81
149
40 a 49 anos 392
67
152
33
140
50 a 59 anos 257
38
102
29
88
60 a 69 anos 154
13
78
9
54
70 anos ou mais 89
11
46
16
26
1.418
457 1.246
TOTAL
3.604493
Fonte IBGE, Censo Demográfico 2010
alguma forma aufere algum tipo de rendimento direto
ou indiretamente, sendo que a composição da renda
per capita municipal se dá com a participação de 927
brancos (25,72%), 100 negros (2,77%), 08 amarelos
(0,22%), 1.635 pardos (45,38%) e 934 indígenas (25,91%).
Se tomarmos por base, os dados relativos aos autônomos, esses indicadores tornam-se mais elevados e neles
se incluem também a população parda, o que de fato
comprova um preconceito em relação à acessibilidade
ao trabalho.
É importante resultar que as referências étnicas quanto
à cor das pessoas são dadas pelo IBGE, que classifica o
negro como preto, no presente trabalho nos referimos
a autodeterminação dessa população. Vemos a questão
étnica baseada no quesito cor como algo complexo e
incompleto, principalmente em se tratando de um país
multiétnico e multicultural como é o caso brasileiro.
A questão pontuada leva-nos a outros indicadores
que podem se relacionar à problemática de acesso ao
mundo do trabalho e da ascensão socioeconômica - principalmente entre os indígenas com elevadas
taxas de não escolarização - como um importante dado
para se entender a dinâmica do município. No caso de
Rondolândia, os dados do IBGE apontam que 20,75%
do total populacional é constituída por aqueles que
não sabem ler ou escrever, considerando-se somente as
pessoas com idade de 15 anos ou mais (Tabela 4).
No cômputo dos maiores rendimentos (03 a 10 SM)
as populações negra e indígena são as que possuem
menor ou nenhum acesso, confirmando o que ocorre
no restante do país, e pelos números apresentados
tem-se um panorama de como se encontra constituído
os grupos étnicos do município.
TABELA 3 - OCUPAÇÃO ÉTNICA
RONDOLÂNDIA (2010)
Ocupação Branco Negro Amarelo Pardo Indígena Total
Carteira
de Trabalho
Assinada
49
10
0
65
45
169
Funcionário
Público
58
16
0
90
10
174
Sem carteira
132
24
5
247
117
525
148
Autônomo
Empregadores 03
Trabalhadores 102
de subsistência
Total
492
11
0
223
06
388
00
0
03
0
06
07
0
131
133
373
68
5
759
311
1635
Fonte IBGE, Censo Demográfico 2010
Em termos de ocupação de trabalho efetivo (Tabela
3) verificam-se pequenas no que se referem algumas,
à acessibilidade ao mercado de trabalho, representado por 30,10% de brancos, 4,16% de negros, 0,30%
de amarelos, 46,42% de pardos, destoando no entanto os indígenas com 19,02% - o que significa afirmar
que entre essa população somente 1/3 desenvolve
atividade com alguma remuneração, mesmo assim
entre os indígenas, 80,38% encontram-se em trabalho
sem carteira ou como trabalhadores de subsistência,
o que representa 27,84% da totalidade populacional inserida nos dois quesitos mencionados. Entre a
população negra constatou-se 45,58% de seu efetivo
encontra-se em condição análoga aos indígenas, o que
corrobora com o descrito no parágrafo anterior.
TABELA 4 - TAXAS ÉTNICAS DE ANALFABETISMO
RONDOLÂNDIA (2010)
Idade
Pessoas%* Branco %** Negro %**Pardo %** Indígena %**
15 anos
ou mais
374 15,40 82
21,9 30 8,03 137 36,63 125 33,42
15 a 24
11 1,50
2 18,18
1 9,10
25 a 39
54 6,70
7 12,96
2 3,71 19 35,18 26 48,15
3 27,27
5 45,45
40 a 59
163 25,10 39 23,93 13 7,98 61 37,42 50 30,67
60 ou
mais
146 57,00 34 23,29 14 9,60 54 36,98 44 30,13
Total
748
164
60
274
250
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (*) Conforme IBGE.
(**) Média observada sobre as faixas etárias
Na análise dos dados acima se constata ainda que a
faixa de 15 anos ou mais, representa um total de 50%
das pessoas que não sabem ler ou escrever, de modo
que coloca em risco o futuro dessa geração. Logo, se faz
urgente a adoção de políticas públicas de educação que
possibilite a esses jovens e adolescentes a ter acesso e
permanência na escola, sob pena de ser cada vez mais
excluído da cidadania.
Uma questão chama atenção sobre a tabela, visto que
entre o índice com menor taxa de analfabetismo ocorra
entre a população negra e fortemente acentuada entre
as populações parda (em todas as faixas etárias) e branca (em três das cinco faixas) superando ao índice geral
apontado no município.
Há de se perguntar: poderá ser que a população negra
não tenha acesso ao trabalho, possivelmente porque
os anos de estudos são menores do que dos pardos e
brancos ou poderá ser uma discriminação que ocorre
na sociedade daquele município?
41
2.4 RELIGIOSIDADE
A religiosidade é expressiva em Rondolândia e exercitada em vários segmentos, sendo o Católico Romano em
número de pessoas, seguido pela Batista, Pentecostal
e Assembleia de Deus. Se considerarmos aquelas de
origem cristã o percentual ultrapassa os 85%. A religiosidade de origem indígena apresenta 109 seguidores.
É necessário, no entanto, qualificar a influência e
existência de várias igrejas, principalmente as de
matiz missionária em Terras Indígenas do município
que tem contribuído para as mudanças dos valores
espirituais, ancestrais e culturais das populações
indígenas, inclusive várias lideranças tornaram-se pregadores. Esse caráter de influência tem produzido
uma série de conflitos internos entre os indígenas que
adquirem novas representações espirituais e cujo estranhamento não é aceito por parte da população, especialmente a mais idosa.
2.5 PRODUÇÃO AGRÍCOLA
E EXTRATIVISMO
Neste item verifica-se que no histórico do município de
2001-2010 a agricultura seja com a lavoura temporária
ou a permanente tem diminuído gradativamente a
área de plantio, inclusive no quantitativo da produção.
A mandioca e o cacau são um dos poucos segmentos
que tem experimentado um aumento ainda que tímido na área, sendo que algumas das culturas tendem a
desaparecer e/ou passar a ter uma pequena representatividade na economia de Rondolândia, motivados pela
forte competição externa.
Em contrapartida, observa-se no período um aumento
considerável da pecuária bovina – ver seção específica
- o que resulta em expansão de áreas com consequente
incremento de desmatamento. Os dados apontam que
a mandioca e o milho (temporárias) e o café (permanente) são as mais expressivas em quantidade produzida, e as demais suprem parte da subsistência alimentar.
No tocante a extração vegetal (2001-2010), a participação do município também é reduzida, sendo a madeira em tora e a lenha as mais representativas tanto em
quantidade quanto para a economia local, ainda que
essa atividade não seja sustentável a longo prazo. Com
a exaustão de espécies madeiráveis nas propriedades
rurais, a atividade possui a tendência de avançar sobre
42
terras indígenas e unidades de conservação, ocasionando uma série de conflitos entre madeireiros e indígenas,
fato esse verificado com bastante frequência na região,
sobretudo na TI Sete de Setembro (Paitery Garah).
Tendo por base o Censo Agropecuário 2006, que o
município dispunha naquele período de 347.342ha de
florestas naturais, podemos afirmar que o uso dos recursos florestais (resinas, cipós, alimentícios, oleaginosos,
entre outros) é irrelevante, possivelmente não se torna
atraente por alguns motivos, tais como:
a) dificuldade de extração, o que implica em mão-deobra não qualificada ou por desconhecimento por parte
da parcela;
b) dificuldade de armazenagem na região;
c) dificuldade e/ou inexistência de mercado.
Desse modo, a extração da madeira torna-se mais
atrativa em vista do retorno do investimento ocorrer a
curto prazo, além do que pela deficiência na fiscalização
pública e a falta de punição a infratores favorece a ações
predatórias, cujas consequências sociais e econômicas futuras podem inviabilizar o segmento com graves
prejuízos à sua população.
2.6 INDÚSTRIA E
COMÉRCIO
A economia do município nos segmentos da indústria e
comércio é incipiente em número de empreendimentos. Os dados obtidos da SEFAZ-MT (2002) apontavam
que Rondolândia possuía 35 indústrias com atividade
de processamento de madeiras, 02 com produção
de gêneros alimentícios e 01 com produção diversa.
Esses dados não apontam o porte destas indústrias, se se
tratam de micros, pequenas, médias ou grandes.
2.7 SERVIÇOS URBANOS
Os serviços oferecidos são extremamente precários, uma vez que o município, conforme apresenta o
Ministério da Saúde não possui rede de esgotos, saneamento básico, incluindo água tratada.
Para os atendimentos básicos de saúde existia um Centro de Saúde (Ministério da Saúde, 2004). Em 2009
(IBGE, Assistência Médica Sanitária 2009; Rio de Janeiro: IBGE, 2010) contava com três estabelecimentos de
saúde pública municipal com atendimento ao SUS e
sem internação, sendo que primeiro deles apresentava atendimento médico ambulatorial, especialização
básica e apoio à diagnose, atendimento odontológico
e emergência e terapia. Os casos mais graves de saúde
são tratados em municípios vizinhos, principalmente os
municípios maiores que possuem uma melhor estrutura
de atendimento.
Em relação ao sistema de telefonia fixa conta com
alguns poucos telefones, sendo que não existem serviços
de telefonia celular. A energia elétrica fornecida pela
CEMAT, conforme dados da própria empresa, em 2002
atendia apenas 71 residências, 01 indústria, 15 comércios e 09 outros não especificados.
estaduais e municipais em 08 escolas de pré-escolar,
10 em ensino fundamental e 02 em ensino médio.
Ressalta-se, porém que tanto as escolas estaduais, quanto as municipais possuem mais do que um nível de ensino, com isso tem-se 12 escolas no município, inclusive
rurais e indígenas.
É necessário destacar que o município não possui o
ensino superior, o que obriga os alunos concluintes do
ensino médio a duas opções:
a) sair do município à procura de outros centros que
possuem maior oferta de ensino em um grau imediatamente superior;
b) interromper o processo educacional e a aquisição de
conhecimento.
O município conta com 01 agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, e para o lazer da população
existe uma quadra desportiva simples pertencente à
Prefeitura de Rondolândia.
2.8 EDUCAÇÃO
Os dados do IBGE apontam que 20,75% do total
populacional é constituída por aqueles que não sabem
ler ou escrever, considerando-se somente as pessoas
com idade de 15 anos ou mais. Na análise desses dados
se constata ainda que essa faixa etária representa um
total de 50% das pessoas que não sabem ler ou escrever,
tal fato coloca em risco o futuro dessa geração. Logo, se
faz urgente a adoção de políticas públicas de educação
que possibilite a esses jovens e adolescentes a ter acesso
e permanência na escola, sob pena de ser cada vez mais
excluído da cidadania.
Rondolândia, segundo informações do MEC (2002)
possuía 02 unidades de ensino atendendo a PréEscola, 01 unidade urbana com ensino fundamental, 09
escolas rurais e 01 escola estadual de ensino médio na
zona urbana. Em 2011, o município possuía um total
de 1.402 pessoas com idade escolar (0-17 anos), o que
corresponde a 29,90% do total populacional. Entretanto, esse número é bem maior, considerando que a
existência de pessoas com idade superior a 17 anos.
No entanto, o número de alunos matriculados são
1.184, com a seguinte distribuição: a) 19 em creche;
b) 138 na pré-escola; c) 405 no ensino fundamental
anos iniciais; d) 354 no ensino fundamental anos finais;
e) 268 no ensino médio (MEC, 2011). Observa-se que
o total de alunos matriculados em 2011 é menor do
que aqueles de 2009 que totalizava de 1.295 alunos
nos níveis pré-escolar, fundamental e médio, com
um efetivo de 93 professores distribuídos nas redes
43
CAPÍTULO 3
Acervo APIZ
CAPÍTULO 3
44
3.1 INTRODUÇÃO
Israel Vale / Kanindé
ESTUDOS BIOLÓGICOS
O bioma amazonia é megadiverso e possui heterogeneidade ambiental, com ecossistemas de florestas de terra firme divididos em toposseqüências distintas (platô,
encosta e baixio), florestas alagadas sazonalmente
(várzea e igapó), campinas, campinaranas e encraves
de savana (NELSON E OLIVEIRA, 2004).
A megadiversidade pode ser exemplificada pela riqueza
de espécies do estrato arbóreo que pode ultrapassar
mais de 300 espécies em um único hectare (OLIVEIRA,
2001). No Brasil esse bioma encontra-se na região norte
do país, somado a parte do estado do Maranhão e Mato
Grosso, a chamada Amazônia Legal.
Além da questão biológica, a diversidade de populações indígenas é a maior do Brasil, segundo dados
do ISA (2010), mais de 80% das etnias reconhecidas
no Brasil estão nessa região. Hoje, 21,6% da Amazônia
legal é protegida por Terras Indígenas, são 406 territórios reconhecidos oficialmente (ISA, 2010).
Com as crescentes taxas de desmatamento é ressaltada a ameaça à integridade cultural desses povos e aos
seus ambientes nativos. No Brasil, as áreas devastadas
estão em sua grande maioria concentradas nos
estados do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins e
Rondônia, além da parte sul do Amazonas.
Uma das estratégias adotadas atualmente por organizações
indígenas e indigenistas é a realização de zoneamentos
45
territoriais para que as diretrizes às futuras estratégias de gerenciamento, reconhecimento e utilização dos recursos naturais aconteçam.
O conhecimento atual a respeito da diversidade biológica é extremamente ínfimo,
vide novas espécies de mamíferos sendo descritas a cada ano para a Amazônia.
Diante do processo acelerado de devastação que nossa floresta Amazônica vem
sofrendo é necessário o desenvolvimento de programas de conservação, monitoramento e uso sustentável de recursos biológicos. Inventariar e monitorar a fauna
e flora de determinadas porções de um ecossistema são os primeiros passos para
gerar, armazenar e utilizar dados para a conservação e uso racional da biodiversidade. Dentre os grupos mais utilizados em estudos nesta área estão os mamíferos
(CULLEN et al., 2003).
Alianças bem estruturadas com comunidades indígenas para conservação e
desenvolvimento são de fundamental importância (ZIMMERMANN et al., 2001;
SCHWARTZMAN & ZIMMERMAN, 2005), considerando que quase um quinto
de toda a Amazônia brasileira está atualmente destinado a reservas e territórios
indígenas.
Os cientistas da conservação estão cada vez mais convencidos de que os territórios indígenas, dado seu tamanho e estado de proteção, serão um fator decisivo
no futuro do ecossistema amazônico (PERES & ZIMMERMAN, 2001; PIMM et
al., 2001; FEARNSIDE, 2003; SCHWARTZMAN & ZIMMERMAN, 2005). Assim,
é importante que o processo de ocupação e utilização dessas áreas seja pautado
num sistema que minimize os impactos ambientais negativos e que busque a
sustentabilidade dos recursos naturais. Para tanto, é imprescindível a realização de
diagnósticos e monitoramentos dos fatores ambientais.
Israel Vale / Kanindé
Área desmatada na Terra Indígena
46
3.2 VEGETAÇÃO
Na área inventariada foi observada alta diversidade, contabilizada por 318
espécies, distribuídas em 136 gêneros e 56 famílias. Dessas, 10 espécies foram
definidas apenas em nível de família e 17 não foram identificadas.
As famílias que apresentaram o maior número de espécies foram: Fabaceae (51); Malvaceae (21); Moraceae (18); Lecythidaceae (15), Sapotaceae (13);
Apocynaceae (14); Burseraceae (11); Euphorbiaceae (12); Annonaceae, Meliaceae,
Lauraceae (10).
A quantidade de espécies encontradas no levantamento realizado na TI Zoró
está dentro da amplitude esperada para a fisionomia: 96 (SILVEIRA, 2001) a 362
(PEREIRA ET AL.,2005) espécies registrada em diferentes localidades da Amazônia
brasileira. Além do número de espécies, os dados florísticos obtidos confirmam
que as famílias botânicas representam um grande número de espécies.
Destaca-se a riqueza de espécies de potencial madeirável como a Amburana
cearensis var. acreana (Cerejeira - Akap) que foi amplamente avistada e que merece
destaque por estar localmente ameaçada de extinção, segundo a listagem oficial
do IBAMA (2008). Outra espécie destacada por sua ampla utilização dos frutos é a
Bertholetia excelsa (Castanheira – Mangap) que também é incluída nessa listagem.
O reconhecimento vegetacional dos indígenas que nos acompanharam, Benamu
e Marina, é elevado, pois não só reconheciam e diferenciavam, como descreviam e nomeavam diversas espécies avistadas, mesmo aquelas que não possuíam
aparentemente alguma forma de uso direto.
O extrativismo florestal é uma das fontes de alimento utilizadas pelos indígenas
da TI Zoró. As árvores frutíferas encontram-se espalhadas ao longo da mata e
a população realiza as coletas muitas vezes quando saem para caçar na floresta. 25 espécies identificadas dão frutos comestíveis (19 árvores e 06 palmeiras).
Podemos destacar as espécies: Theobroma microcarpum (Alabir – Cacauí),
Theobroma sylvestris (Akup – cacau da mata) Bertholletia excelsa (Mamgap castanheira), Endopleura uchi (Ipwap – uxi liso), Spondias lutea (Bixuga - cajá)
como fontes de frutos comestíveis.
Na TI Zoró existem diversas espécies de palmeiras, e são elas: Astrocaryum
aculeatum G.Mey. (Naluj – tucumã) Euterpe precatoria (Bibkap - açaí), Iriartela
setigera (paxiubinha), Oenocarpus bataua (Ujkap – patauá), Orbygnia phalerata
(Pasawa - babaçu) e Socratea exohriza (Pãriã – paxiuba).
O territorio Zoró é reconhecido um elevado potencial de espécies madeireiras existentes, fato constatado pela exploração madeireira (de forma ilegal) que
ocorreu mais intensificadamente no passado, mas que ainda hoje é notada.
Espécies como: cerejeira (Akap), louros, angelins, garapeira (Giniwãwip), entre
outras foram avistadas na floresta remanescente que percorremos.
Na tabela 05 encontram-se registrados os nomes indígenas das espécies com
seus respectivos correlatos segundo sistema de classificação euroamericano e os
eventuais usos concernentes a elas.
Pesquisadores de Vegetação trabalhando
47
TABELA 5 - NOMENCLATURA CIENTÍFICA, INDÍGENA (ZORÓ) E EVENTUAIS USOS DADO PELOS INDÍGENAS
DA TERRA INDÍGENA ZORÓ, RONDOLÂNDIA –MT.
48
Nome científico
Nome indígena
Usos
Amburana acreana (Ducke). A.C. Smith
Akap
madeira
Apuleia leiocarpa
Giniwãwip
madeira
Astrocaryum aculeatum
Naluj
frutos palhas
Bauhinia sp.
Mangangap
remédio
Bertholletia excelsa Humb. & Ponpl
Mamgap
madeira, fruto
Bombacopsis macrocalyx
Abuluptapu
Brosimum rubescens Taub
Bujak-ij
madeira, fruto
Capirona decorticans Spruce
Bixagap
madeira
Caryocar sp.
Kusyj
madeira, fruto
Casearia javitensis H.B.K.
Betig
Cassia sp.
Tiber
Cecropia sp.
Apungâp
remédio
Cedrela fissilis Vell.
Kujã
madeira
Ceiba pentandra
Abulyptapua
madeira
Chorisia speciosa
Aborop
madeira
Chrysophyllum sp.
Akabikyp
Copaifera multijuga
Nangawip
madeira, remédio
Couratari longipedicellata W.A.Rodrigues
Wabep
madeira
Dipteryx odorata
Xiber
madeira
Duguetia surinamensis
Zãygan
fruto
Dulatia sp.
Ambusar
Endopleura uchi Huber
Ipwap
Enterolobium sckomburgkii
Kupeteg
Eugenia sp.
Ippitin
fruto
Euterpe precatoria Mart.
Bipkap
fruto, palha
Ficus sp.
Bulikakyp
fruto
Geissospermum argenteum Woodson
Pipem
Guarea guidonia (L.) Sleumer
Dabeappep
Guarea sp.
Japerep
Guatteria olivacea R.E.Fr.
Jabulap
fruto
Hevea brasiliensis Aubl.
Bar
látex
Hymenaea courbaril
Bade
fruto
Hirtela racemosa
Nambegepit
Hymenolobium modestum
Ibugakir
Hymenolobium sp.
Itikunsum apejip
Hymenolobium sp.
Titinim
Inga cayanensis
Gulubug
Irianthera ulei
Nakaptigipwip
Jacaratia sp.
Ibug
Leguminosae 01
Zugup
Leguminosae 02
Makapkãj
Lueheopsis rósea
Basepburyp
Maquira sclerophylla (Ducke) C.C.Berg.
Idigip
Meliaceae
Irsep
Mezilaurus itauba (Meissn.) Taubert. ex. Mez.
Zulup
madeira
Micropholis sp.
Basepiwup
fruto
Moraceae
Abixereq
Myrcia sp.
Basepkupenyg
fruto
madeira
madeira
fruto
fruto
NI
Pauzeregjam
NI
Dagdogkir
NI
Buxi
NI
Badekup
NI
Buliri
NI
Talupep
NI
Murirapé
NI
Burarap
NI
Manlixip
NI
Akabisum
NI
Gulupatiap
NI
Bugbuga
NI
Garapiter
Ocotea parviflora
Najparber
madeira
Oenocarpus bataua Mart.
ujkap
fruto, palha
Olacaceae
Ip pep
madeira
Orbygnia phalerata Mart. Ex Spreng
Pasawa
fruto, palha
Parahancornia fasciculata
Iptulukap
fruto
Peltogyne paniculatum
Ipwup
madeira
Piptadenia sp.
Amipu
madeira
Pouteria caimito (Ruiz & Pav) Radlk.
Zugzug
fruto
Pradosia sp.
Zajgur
Protium decandrum
Kasanem
remédio
Pseudolmedia laevis (Ruiz & Pav) Macbr.
Ipeb
fruto
Quinaceae
Mangãngam
Sapium marmiele Pax
Japtigap
remédio
Sclerolobium férrea
Gusunam
madeira
Simphonea globulifera
Zujkajã
Siparuna guianensis Aubl.
Gerejun
Socratea exohriza Mart H. Wendl.
Pãriã
fruto, palha
Spondias lútea
Bixuga
fruto
Sterculia sp.
Aledjag
Symphonea globulifera
Walawala
Tabebuia incanum
Mengkirkawip
Tachygalia myrmecophyla
Zujbirap
Tetragastris panamensis (Engl) Kuntze
Abi
Theobroma microcarpum
Alabir
fruto
Theobroma sylvestris
Akup
fruto
Thyrsoideum spruceanum Benth.
Atam
Trattinickia rhoifolia Willd.
Aberetyngam
Trichilia cipo (A.Juss.) C. DC.
Bagaxir
unonopsis duckei
Alassopé
Virola multinervia Ducke
Ikarap
Vitex trifolia L.
Itipabikip
Xylopia aromática
Zapabiap
remédio
Xylopia sp.
Pixam
remédio
madeira
49
A espécie mais densa foi Theobroma microcarpum
(cacauí - Alabir), o que ocasionou que apresentasse o
maior índice de valor de importância (IVI), em segundo lugar ficou Orbygnia phalerata (babaçu). No 3º, 4º
e 5º lugar, estão as espécies: Euterpe precatória (açaí),
Trattinickia rhoifolia (breu) e Protium giganteum (breu),
respectivamente.
Guarea guidonea e Orbygnia phalerata foram as
espécies mais freqüentes, ocorrendo em todos os
conglomerados amostrados. Aspidosperma nitidum,
Sapium marmieri, Pseudolmedia laevis, Socratea exohriza e
Brosimum rubescens, Euterpe precatoria, Protium
giganteum e Hymenaea intermedia em quase toda a área.
Babaçu (Orbignya phalerata Mart.) foi a segunda espécie de maior IVI e tem ampla distribuição na área. Essa
possui sementes oleaginosas e comestíveis das quais se
extrai um óleo empregado, sobretudo, na alimentação.
Além, de ser alvo de pesquisas avançadas para a fabricação de biocombustíveis. Do broto, se extrai palmito
de boa qualidade, o fruto, enquanto verde, serve para
defumar a borracha. Quando maduro, a parte externa
é comestível. Das folhas e espatas se fabricam esteiras,
cestos, chapéus, entre outros produtos.
Theobroma microcarpum, Euterpe precatoria, Orbygnia
phalerata, Trattinickia rhoifolia, Socratea exohriza,
Guarea guidonea, Wettinia augusta, Protium giganteum,
Iriartela sp. foram as mais densas. E aquelas mais dominantes, ou seja, as que possuem grandes áreas
basais são: Orbygnia phalerata, Theobroma microcarpum, Trattinickia rhoifolia, Aspidosperma nitidum, Protium
giganteum, Hymeneae intermedia, Maquira sclerophylla,
Sapium marmieri, Pouteria guianensis, Protium decandrum.
Açaí solteiro (Euterpe precatoria Mart.) apresenta
elevada densidade de indivíduos potencialmente produtivos, e, portanto pode ser um recurso alvo a ser
explorado. Da palmeira, tudo se aproveita: frutos
(alimento e artesanato), folhas (coberturas de casas,
trançados), estipe (ripas de telhado), raízes (vermífugo),
palmito (alimento e remédio anti-hemorrágico).
O maior potencial comercial encontra-se no processamento e venda dos frutos.
As localidades percorridas provavelmente apresentam-se como um refúgio para fauna, muito embora florística e fisionomicamente tenham características
de um ambiente alterado pela exploração madeireira.
Tal fato foi atestado pelo estabelecimento e o adensamento de plantas exigentes de maior luminosidade,
dada a abertura de dossel, como as palmeiras, sororocas, e algumas espécies do gênero Vismia, Cecropia e
Apeiba. Além disso, foram avistados grande quantidade de
carreadores novos e antigos.
Breu (Protium spp.) gênero representado por pelo menos
seis espécies na TI Zoró é um recurso destaque no território. Do tronco das árvores se extrai uma resina com
elevado valor agregado. Sua composição é, em grande
parte, de ácidos resinóicos. É industrialmente utilizada
para a fabricação de verniz, velas para iluminação e
repulsivas de insetos. Seu óleo essencial é largamente
empregado na indústria cosmética e de perfumes. Possui propriedades anti-inflamatórias, é utilizada no tratamento das dores reumáticas e musculares, das infecções
das vias respiratórias e picadas de insetos.
A escolha da alocação do ponto de amostragem no
centro da TI, teoricamente nos asseguraria a maior integridade do ambiente nativo, uma vez que as fazendas
e a pressão madeireira estariam mais concentradas nos
limites desse território. Porém o que foi constatado
permite a sugestão de dois cenários: 1) que as áreas
limítrofes do território estejam mais degradadas e o
que foi amostrado seja a localidade mais preservada
da TI, ou 2) a exploração dos recursos, principalmente
madeireiro, com o corte seletivo ocorre de forma
homogênea em toda a área e o ambiente que foi
amostrado reflete a realidade ambiental da maior parte
da TI.
Dada as informações obtidas pelas análises fitossociológicas destacamos duas espécies de palmeiras
(Orbignya phalerata e Euterpe precatoria) e uma
50
arbórea (Protium spp.) como as de maior destaque para
futuras ações que priorizem a coleta com finalidade
comercial. E são elas:
Além dos produtos obtidos por essas espécies mencionadas acima, existe potencialidade de extração com
finalidade comercial do óleo-resina de copaíba, da
castanha-do-brasil e do látex da seringueira. Embora
não tenham aparecido como as espécies mais densas,
frequentes e ou dominantes, a copaíba, a castanheira e
a seringueira são bem representados na localidade.
O extrativismo destinado à comercialização, quando
respaldado pelo planejamento que vise a coleta racional,
é de suma importância para a garantia da sustentação da
atividade, sob o ponto de vista ecológico. Dessa forma, é
fundamental que sejam elaborados planos de uso para as
espécies de interesse com a finalidade da não exaustão
do recurso, bem como pesquisas de demanda de mercado para a destinação certa de eventuais produções.
Alguns animais silvestres, principalmente os mamíferos diurnos, geralmente os de
médio e grande porte, apresentam grande potencial para o desenvolvimento de
atividades sustentáveis tanto em termos ambientais, como sociais e econômicos.
Além disso, é a principal fonte de proteína para diversas populações de algumas regiões, somente sendo trocada pelo peixe em regiões que possuem grandes
corpos d’água.
Israel Vale / Kanindé
3.3MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE
A taxa geral foi de 9,85 avistamentos / 10 quilômetros percorridos, taxa esta considerada alta ao ser comparada com outras localidades amostradas durante a Segunda Aproximação do Zoneamento Socioeconômico Ecológico – ZSEE, realizado no
estado de Rondônia ou em outros levantamentos realizados em Terras Indígenas,
como a T.I. Sete de Setembro, localizada no estado de Rondônia, T.I. Jiahui, localizada no estado Amazonas e T.I. Trombetas/Mapuera, localizada no estado do Pará.
O maior número de avistamentos é da comunidade de primatas da área de estudo,
com 49% dos registros, distribuídos entre 7 espécies (Tabela 6). Este padrão é esperado quando se utiliza a metodologia de transecção linear, pois o avistamento de
animais que apresentam comportamentos menos discretos e/ou vivem em bandos
é sempre maior do que animais silenciosos ou solitários.
Macaco Prego, Sapajus Apella
TABELA 6 - NÚMERO E TAXA DE AVISTAMENTO / 10 QUILÔMETROS PERCORRIDOS DAS ESPÉCIES DE MAMÍFEROS
DE MÉDIO E GRANDE PORTE REGISTRADAS DURANTE OS 142 QUILÔMETROS PERCORRIDOS DURANTE O LEVANTAMENTO REALIZADO NA TERRA INDÍGENA ZORÓ.
Nº de avistamentos
Ordem
Família
Nome Científico
Nome Comum
(taxa por 10km percorridos)
Primates
Atelidae
Ateles chamek
Macaco aranha
3 (0,21)
Alouatta puruensis
Bugio, Gariba
2 (0,14)
Sapajus apella
Macaco prego
25 (1,76)
Saimiri ustus
Mão de ouro
10 (0,70)
Mico sp.
Mico
10 (0,66)
Callicebus bernhardi
Zogue zogue
12 (0,84)
Phitecia irrorata
Macaco velho
7 (0,56)
Mazama americana
Veado vermelho
3 (0,21)
Mazama nemorivaga
Veado roxo
2 (0,14)
Pecari tajacu
Cateto
3 (0,21)
Tayassu pecari
Queixada
8 (0,56)
Dasyprocta fuliginosa
Cutia-preta
35 (2,46)
Dasyprocta variegata
Cutia-marrom
5 (0,35)
Myoprocta pratti
Cutiara
1 (0,07)
Cuniculidae
Cuniculus paca
Paca
1 (0,07)
Sciuridae
Sciurus ignitus
Quatipuru
6 (0,42)
Sciurus spadiceus
Esquilo
2 (0,14)
Puma concolor
Onça parda
2 (0,14)
Panthera onca
Onça pintada
1 (0,07)
Procyonidae
Nasua nasua
Quati
1 (0,07)
Mustelidae
Eira barbara
Irara
Cebidae
Pitheciidae
Artiodactyla
Cervidae
Tayassuidae
Rodentia
Carnivora
Total
Dasyproctidae
Felidae
1 (0,07)
141 (9,85)
51
Israel Vale / Kanindé
O tamanho corpóreo, assim como o uso dos recursos
das espécies avistadas variaram de pequeno porte,
(Mico sp), á primatas de grande porte, como o macaco
aranha (Ateles chamek), os quais usam diferentes tipos
de extratos e recursos florestais. A espécie Sapajus apella
(Macaco-prego) foi dentre o grupo de primatas, a espécie com o maior número de avistamentos, totalizando
25 avistamentos durante as duas etapas do diagnóstico. Isso se deve ao fato dos cebídeos possuirem uma
grande capacidade de adaptação a qualquer ambiente e
geralmente não entram na lista de espécies caçadas
para consumo dos indígenas.
Israel Vale / Kanindé
Os avistamentos para a espécie de mico (Mico sp.) para
a área gerou dúvidas quanto a identificação taxonômica,
sendo necessário o manuseio ou até mesmo coleta de
espécimes para uma identificação mais precisa. Como
os objetivos do trabalho, a princípio, não demonstravam necessidade de uma identificação mais precisa
deste animal, não houve coleta ou outro tipo de captura, ainda assim a equipe não possuía licença para tal.
O segundo grupo com maior número de avistamentos
foi o dos roedores, com 36% dos avistamentos (50 avistamentos) divididos entre 6 espécies (Tabela 1). Onde
a espécie com maior número de avistamentos foi a
Cutia – preta (Dasyprocta fuliginosa) com 35 avistamentos.
Em seguida, aparece os Artiodactyla com 11% dos registros divididos entre 04 espécies, onde o maior número
de avistamentos pertence a Tayassu pecari com um total
de 08 registros.
Israel Vale / Kanindé
Os carnívoros aparecem como a família com o menor
número de registros, com apenas 4% da percentagem
total de avistamentos, onde foram registradas 4 espécies
pela metodologia de transecção linear. Isto é considerado normal, visto a dificuldade de detecção destes
animais. Vale ressaltar os avistamentos de Panthera onca
e Eira barbara, estes animais são extremamente raros
de serem avistados com a metodologia de transectos
lineares.
52
Foram registradas cinco espécies de mamíferos nas
armadilhas fotográficas sendo elas Leopardus pardalis
(Jaguatirica), fotografada na câmera alocada em um
carreador nas proximidades da Aldeia do Luiz, Panthera
onca (Onça Pintada), registrada em outra câmera, sendo
outro carreador mais distante da aldeia, Cuniculus paca
(Paca), Eira barbara (Irara), e Tayassu tajacu (Caititu). Os
registros de felinos são de grande importância para a
área de estudo, por se tratarem de espécie de difícil
detecção. Ambas as espécies de felinos estão listadas
com “Vulneráveis à extinção” pela lista do Ministério do
De cima para baixo: Cutia-marrom (Dasyprocta variegata),
queixada (Tayassu Pecari), Veado Vermelho (Mazama americana)
Meio Ambiente – MMA, de 2008, destacando a área
como importante para as populações de carnívoros.
Hoje o povo Pangyjej Zoró alimenta-se de quase todos
os animais que existem na floresta, porém, nem sempre
foi assim. Antigamente não se comia primatas porque
corria o risco de se contrair malária, mas hoje não existe
mais essa restrição, sendo o macaco mais consumido, o
macaco preto – Ateles mittermeieri, e que inclusive sua
carne deixa o homem mais forte para fazer filho. Outros
animais que os indígenas não consumiam e hoje consomem é a Paca – Cuniculus paca, pois deixava fraco e
barrigudo, e veado vermelho, que deixava tonto os que
comiam sua carne. O que se percebe é que hoje essas
restrições somente são seguidas pelos indígenas mais
velhos, sendo que os mais novos já não respeitam totalmente a cultura. Segundo informações do pesquisador
indígena Panin, os homens que tem filho recém-nascido
não podem comer macaco prego, veado vermelho e
cateto, pois o filho pode ter problemas como ficar
“doido” e chorar muito.
Alguns mamíferos foram citados pelos pesquisadores
indígenas como não consumidos em hipótese alguma
pelo povo Pangyjej Zoró, sendo eles: mucura, morcego, onça, cachorro do mato, capivara, tatu canastra,
ratos, porco espinho, macaco da noite, irara e mão pelada. Segundo os indígenas, não comem estes animais
porque nunca se interessaram em experimentar, não
relacionando com nenhum mito ou crença.
Nome popular
Nome em Tupi-mondé
Zogue-zogue
Mandyr
Mão-de-ouro
Ximgyp
Macaco-prego
Basajkap
Mico
Gupxryr
Macaco-velho
Palapsea
Cuxiú
Basaykap
Macaco-aranha
Alime
Macaco-barrigudo
Allimekur
Onça-pintada
Neku
Onça parda
Nekup
Jaguatirica
Nekukyp
Queixada
Bebe
Cateto
Bebekur
Veado vermelho
Iti
Veado roxo
Itipep
Anta
Wasa
Capivara
Wasabira
Paca
Anza
Cutia
Waki
Tamanduá bandeira
Wasakuli
Tatu canastra
Malula
Tatu quinze quilos
Wazuj
Tatu galinha
Wanzujkaber
Israel Vale / Kanindé
TABELA 7 - NOME DAS ESPÉCIES DE MAMÍFEROS
REGISTRADAS PARA A TERRA INDÍGENA ZORÓ,
SEGUNDO A LÍNGUA TUPI-MONDÉ.
Macaco Aranha (Ateles Chamek)
53
Israel Vale / Kanindé
54
Acima à esquerda, pegada de anta (Tapirus Terrestris)
e à direita, pegada de onça (Panthera onca).
Na imagem central e ao lado,
Macaco Barrigudo (Lagothrix Cana).
Com os caçadores foi possível obter outras histórias e
lendas:
•O espírito do macaco-aranha (Ateles chamek) vira
pajé, assim como o da anta (Tapirus terrestris) e do
queixada (Tayassu pecari).
•Quando há alguma agressão a outra pessoa na aldeia,
os moradores se referem ao espírito destes animais que
se transformaram em pajé.
•Quando o filho de qualquer caçador estiver pequeno não pode matar veado, pois esta criança pode ficar
doente.
•Em épocas de festas, como o natal e ano novo,
todos os caçadores caçam todo o tipo de animal que
puder, com isso realizam um grande banquete para toda a
aldeia, a fim de comemorar as datas.
Levando em consideração a questão da extração de
madeira e de formação de fazenda em uma das extremidades da terra indígena, provavelmente está ocorrendo um adensamento de mamíferos nos locais mais
preservados.
A retirada de madeira da terra indígena leva os madeireiros a permanecerem por muito tempo dentro dos
limites da área, levando ao consumo dos recursos que
são importantes para a sobrevivência dos povos indígenas, que acabam sofrendo com a redução da caça ou
da pesca. A fragmentação pode vir a impedir a recolonização da área por populações que não são caçadas,
além de proporcionar uma menor oferta e uma menor
qualidade de recursos para os animais que se alimentam de frutos e sementes.
3.3.1. Caça de subsistência
Ao todo foram registrados 112 abatimentos, sendo 84
registros de mamíferos e 28 registros de aves. Foram
abatidas 18 espécies, sendo elas: Dasypus novemcinctus,
Ateles chamek, Lagothrix cana, Cebus apella, Cuniculus
paca, Dasyprocta azare, Panthera onca, Nasua nasua,
Tapirus terrestris, Tayassu pecari, Mazama americana,
Pecari tajacu, Psophia viridis Spix, Aramides cajanea,
Pauxi tuberosa, Penelope superciliaris, Aburri cujubi e
´Ara sp.
A espécie mais caçada foi T. pecari (29) com 26% do
total de registros. Dentre o grupo das aves, a espécie
P. tuberosa (15) foi a que obteve um número maior
de registros com 13,4% do total. Das 18 espécies
caçadas, apenas duas de mamíferos (Panthera onca e
Lagothrix cana) e três espécies de aves (P. viridis Spix,
P. superciliaris e A. cajanea) apresentaram apenas um
registro de abatimento.
O valor total da biomassa de carne de caça abatida foi
de 3.004 Kg, sendo que 94,74% desta biomassa foram
de mamíferos e 5,26% de aves. As espécies que mais
contribuíram para esta biomassa foram T. pecari (1.110
kg - 36,95%), P. tajacu (918 kg - 30,55%) e T. terrestris
(442 kg - 14,71%). Já para as aves somente a espécie
Pauxi tuberosa (101 kg - 3,36%) obteve um número
relevante de biomassa. A espécie T. terrestris teve
somente três indivíduos abatidos durante os meses
analisados, porém todos os indivíduos eram fêmeas.
O registro de animais constantes nas listagens de
espécies ameaçadas reforça a importância do uso de
forma sustentável da área, pensando sempre no manejo
dos recursos para diminuição dos impactos. Sabendo
da existência destas espécies de grande valor conservacionista, aumenta ainda mais o destaque da área em um
contexto de proteção de espécies ameaçadas.
Lara Diniz
Lara Diniz
Lara Diniz
Da esquerda para a direita, abatimento de veado (mazama americana),
preparando a carne de paca (cuniculus paca) e abatimento de quati (nasua nasua).
55
TABELA 8 - RIQUEZA, COMPOSIÇÃO, ABUNDÂNCIA E BIOMASSA DE ANIMAIS CAÇADOS NAS ALDEIAS
ESTUDADAS NA TI ZORÓ, MT.
TÁXON
NOME COMUM
ABUNDÂNCIAS
BIOMASSA (Kg)
Absoluta Relativa(%)
Aldeia Aldeia Aldeia
Luiz Central Escola Total
Classe
Ordem
Gênero/Espécie
MAMMALIA
Cingulata
Dasypus novemcinctus
Tatu-galinha
3
2,7
17
6
0
23
Primates
Ateles chamek
Macaco-aranha
3
2,7
40
0
0
40
Lagothrix cana
Macaco-barrigudo
1
0,9
13
0
0
13
Cebus apella
Macaco-prego
4
3,5
13
5
0
18
Cuniculus paca
Paca
4
3,5
39
11
0
50
Dasyprocta azare
Cutia
2
1,8
4
5
0
9
Panthera onca
Onça-pintada
1
0,9
20
0
0
20
Nasua nasua
Rodentia
Carnivora
Quati
2
1,8
8
0
0
8
Perissodactyla Tapirus terrestris
Anta
3
2,7
150
147
145
442
Artiodactyla
Porco
29
26
320
490
300
1110
Mazama americana
Veado- vermelho
4
3,5
195
0
0
195
Pecari tajacu
Cateto
28
25
105
278
535
918
84
75
924
942
980
2846
Psophia viridis Spix
Jacamim
1
0,9
0
3
0
3
Aramides cajanea
Saracura
1
0,9
0
3
0
3
Pauxi tuberosa
Mutum
15
13,4
0
40
61
101
Penelope superciliaris
Jacu
1
0,9
0
0
5
5
Aburri cujubi
Jacutinga
4
3,5
0
7
19
26
Arara - vermelha
6
5,4
0
14
6
20
SUBTOTAL AVES
28
25
0
67
91
158
TOTAL GERAL
112
100%
924
1009
Tayassu pecari
SUBTOTAL MAMMALIA
AVES
Gruiformes
Galliformes
Pistaciformes Ara sp.
Lara Diniz
Abatimento de queixada (tayassu pecari)
1071 3004
Dentre os mamíferos o queixada (T. pecari) obteve maior número de registros de
abatimento seguido de cateto (P. tajacu) com 33,3% do total de animais abatidos. O grupo dos ungulados (animais de casco) representou a maior parte dos
mamíferos caçados, correspondendo a 76,10% dos registros, seguido dos primatas
com 9,6% e os roedores com 7,2%. O grande porte dos ungulados fez com que
estes representassem também uma parcela maior do total de biomassa caçada com
93,63% e restando 6,37% distribuídos entre as outras ordens.
Dentre as aves, o mutum (P. tuberosa) teve maior número de registros de abates
com 53,57%, seguindo da arara (Ara sp.) com 21,43%, e jacutinga (Aburri
cujubi) com 14,29%. No total de abatimentos para o grupo, a ordem galiforme foi
dominante, representando 71,43% (Tabela 2). O mutum (P. tuberosa) também teve
maior percentual de biomassa, representando 63,9% do total, seguindo do jacutinga (Aburri cujubi) com 16,5%, e arara (Ara sp.) com 12,6%.
A atividade de caça foi classificada exclusivamente para a alimentação das famílias.
No total, foram registrados 43 eventos de caça, todas tiveram o aparato de armas
de fogo para os abatimentos, assim como o uso de cachorros em grande parte.
O uso de armadilhas para atração e captura de animais não foram registradas
em nenhuma das tabelas de caça. Somente os homens realizam as caçadas nas
aldeias, e todos os caçadores tiveram a iniciação nesta atividade muito cedo, pois
acompanhavam seus pais em caçadas. Cabem as mulheres a função de tratarem e
prepararem as carnes de caça.
56
64
28
AGOSTO
SETEMBRO
10
10
OUTUBRO
NOVEMBRO
Figura 1- variação no número de abatimento de animais nas três aldeias estudadas entre os
meses de agosto a novembro de 2011.
A frequência de caçadas apresentada pelos caçadores
é de 1 a 2 vezes por semana. Com relação à preferência alimentar dos indígenas as espécies que foram mais
citadas pelos caçadores entrevistados foram: Queixada (T. pecari), Macaco-aranha (Ateles chamek), Paca
(C. paca), Macaco-prego (C. apella), Cateto (P. tajacu),
Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), Veado (M. americana), Macaco-barrigudo (L. cana), Cutia (Dasyprocta
azarae), e Anta (T. terrestris).
Os cachorros são bastante utilizados como auxiliares
nas caçadas, em média há dois cachorros por unidade
doméstica que pratica a caça frequentemente. Fazem
uso também de barreiros naturais, artificiais e esperas
como estratégias de caça. A arma de caça mais utilizada é a espingarda. Em dias de caçadas os entrevistados
chegam ir 12 km distantes de suas aldeias, mas quando
há o uso de veículos chegam a ir 30 km. As caçadas
duram quatro horas, ou até mais tempo se não conseguirem o animal.
Existe uma percepção por parte dos caçadores da
diminuição do recurso de caça em relação há anos
anteriores. Dentre os animais apontados por eles que
tenha sofrido diminuição em quantidade, as espécies de
T. pecari, D. novemcinctus, e principalmente as espécies
de macacos S. apella, L. lagotricha e A. chamek, pois são
animais bastante consumidos.
A criação de animais silvestres é comum nas aldeias da
Terra Indígena Zoró. Os animais de criação são normalmente utilizados para abatimento em festejos realizados
nas aldeias. Existem ainda animais que são criados para
estimação, que normalmente é realizado com espécies
de primatas.
Os índios Pangyjej Zoró realizam manejo das áreas de
caça, mesmo que de forma rudimentar e empírica.
A grande estratégia é a mudança frequente das rotas de caça.
Para os caçadores, manter uma área fixa de caçada prejudica os animais e estes migram para outras áreas. Outra
estratégia utilizada por eles é caçar mais na mata
primária, pois há uma variedade maior no número
de espécies, sendo possível uma caça seletiva. Apesar
destes hábitos, muitos abatimentos também ocorrem
oportunisticamente em locais de trabalho como: roças,
capoeira, e durante as pescarias.
No calendário de caça montado constam os meses em
que as espécies registradas neste estudo são procuradas ou evitadas pelos caçadores. O critério de escolha
dos animais que serão caçados, está na preferência por
indivíduos com alto teor de gordura. Quando o animal
começa a engordar, ou começa a emagrecer, existe um
interesse mediano, sendo que a espécie não é procurada ativamente, entretanto, se por ventura for avistado o
mesmo é abatido; e se o animal estiver gordo, o mesmo
é procurado e preferido nas buscas ativas.
Lara Diniz
Francisco Carvalho
Na esquerda, apresentação do monitoramento de caça nas aldeias e na direita preparo da carne de anta.
57
70
9
8
60
7
6
40
5
30
4
3
20
2
10
1
0
0
Agosto
Setembro
Outubro
Média Precipitação (mm)
Número de abatimentos
50
Novembro
Figura 2 - comparação o entre o número de abatimentos de animais e precipitação mensal
ANIMAIS CAÇADOS
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
Média de Precipitação Mensal (mm)
13,4
17
9,5
3
0
0,9
0
0
3,5
OUT NOV
8
8,5
DEZ
8
Tayassu pecari (Queixada)
Pecari tejacu (Cateto)
Pauxi tuberosa (Mutum)
Mazama americana (Veado)
Ateles chamek (Macaco-aranha)
Cebus apella (Macaco-prego)
Lagothrix cana (Macaco-barrigudo)
Cuniculus paca (Paca)
Dasyprocta azare (Cutia)
Tapirus terrestris (Anta)
Dasypus novemcinctus (Tatu-galinha)
Ara sp. (Arara)
Penelope superciliaris (Jacu)
Psophia viridis Spix (Jacamim)
Aramides cajanea (Saracura)
Aburri cujubi (Jacutinga)
Figura 3 - calendário de caça das espécies abatidas nas aldeias Zawã harej pangyjej, Bubyrej e Ipe wyrej.
Legenda:*
pouco interesse
médio interesse
grande interesse
*Fonte: caçador Roberto Pugupuj Zoró.
No calendário de caça apresentado, encontram-se somente as espécies animais que são caçadas para consumo. Mesmo que a Arara (Ara sp.) tenha sido registrado nas Tabelas de Caça, por exemplo, não foi possível
58
discrimina-la em nível específico e provavelmente mais
de uma espécie de cada um destes gêneros é explorada
na área, aumentando ainda mais a riqueza de espécies
de animais exploradas.
Figura 4 - área utilizada para atividade de caça nas aldeias Zawã harej pangyjej, Bubyrej e Ipe wyrej.
A atividade de caça tem grande importância na dinâmica de subsistência do Povo
Pangyjej Zoró. A relação cultural deste povo com os animais é bastante estreita, seja para alimentação, para recreação ou nas crenças. Este padrão tem sido
comum nas comunidades indígenas na Amazônia que utilizam grande variedade
de espécies de grandes vertebrados (REDFORD, 1992; SOUSA-MAZUREK et al.,
2000; WELTHEN, 2009; FRAGOSO, 2010;).
Entretanto esta atividade também tem impacto sobre a fauna. No caso do Povo
Pangyjej Zoró, a riqueza de espécies utilizadas está aquém do esperado e do encontrado por outros estudos na região amazônica. Peres e Nascimento (2006)
registraram 35 espécies utilizadas para consumo pelos indígenas Kayapó, no Pará.
Welthen (2009) registrou o consumo de 35 espécies de vertebrados pelos indígenas Wayana e Aparai, também no Pará. Já Souza-Mazurék (2000) registrou 41
espécies consumidas pelos indígenas Waimiri-Atroari, no Amazonas. Todos estes
estudos foram realizados em Terras Indígenas que possuem grande parte de seu
território preservado e estão localizadas em área de baixa pressão antrópica. Ao
contrário à Terra Zoró, se encontra localizada no arco do desmatamento, em uma das
áreas de maior pressão antrópica da Amazônia (FEARNSIDE, 2003; FERREIRA et. al,
2005).
Apesar de o povo Pangyjej Zoró ter percepção de escassez da caça e desenvolver
empiricamente uma estratégia de manejo, como a rotatividade das áreas de caça,
provavelmente a caça de algumas espécies não será sustentável em médio e longo
prazo na região. Desta forma, estudos de médio e longo prazo avaliando padrões
anuais de uso da caça e impactos sobre a fauna são fundamentais para desenvolver
junto com estes indígenas estratégias de manejo mais efetivas para a sustentabilidade da fauna e da atividade de caça.
59
3.4 AVES
Os trabalhos de campo desenvolvidos na Terra Indígena Zoró resultaram
em uma lista preliminar de 101 espécies de aves distribuída em 37 Famílias.
Destas, as mais bem representativas quanto à riqueza de espécies foram:
Thamnophilidae (12 spp); Psittacidae (11 spp); Dendrocolaptidae (08 spp);
Accipitridae, Falconidae e Picidae (todos com 05 spp); Cracidae, Bucconidae,
Ramphastidae, Pipridae, Tityridae e Emberizidae (todos com 03 spp).
Em relação ao status de conservação das espécies registradas, apresenta-se na
Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MACHADO, 2008) e da Lista
Vermelha da International Union for Conservation of Nature - IUCN (BirdLife
International, 2012), a Arara-azul-grande Anodorhynchus hyacinthinus (Latham,
1790). Pelo Brasil, o Status é “Ameaçada” (MMA, IN 03/2003; MACHADO, 2008).
Com sua maior presença em alguns estados brasileiros, no Mato Grosso tem sua
distribuição relativamente restrita ao Pantanal. Por ter grande habilidade para
deslocamentos a grandes distâncias, Anodorhyncus hyacinthinus aqui é reportada
como provável ampliação de sua distribuição para esta região do noroeste do
Mato Grosso, onde um monitoramento nesse local pode ajudar a compreender
esta possível rota de deslocamento ou refúgio.
Stotz et al., (1997) realizaram um exaustivo inventário também na região de
Ji-Paraná, mais precisamente na Cachoeira Nazaré - Rio Machado, sendo esta
região a mais próxima da TIZ, onde produziram a maior lista de espécies de
aves e uma só localidade no Brasil, 459 espécies. Derivado desde inventário,
Clytoctantes atrogularis era nova para a ciência e Sclerurus albigularis era registrada
pela primeira vez no Brasil. Zimmer et al., (1997) realizaram também um exaustivo inventário na região Alta Floresta - MT, produzindo a maior lista de espécies
de aves, tendo um total de 474 espécies, inclusive muitas endêmicas da região,
destacando esta área como um dos sítios mais ricos do Brasil e de toda a Amazônia
oriental.
Ao se comparar à lista atual com o trabalho de Stotz et al. (1997) e Zimmer
et al., (1997), verificamos que a maior parte das espécies registradas na TIZ,
também foram registradas na Cachoeira Nazaré e Alta Floresta. Exceto Micrastur
mintoni espécie recém-descrita por Whittaker (2002), era tratada até então como
M. gilvicollis, morfo-espécie parecida, porém com vocalização diferente que a
substitui ao oeste do rio Madeira e ao norte do rio Amazonas; e o caso do avistamento de Anodorhynchus hyacinthinus, provavelmente advinda de possíveis rotas de
deslocamento do Pantanal; Phlegopsis borbae que é incomum e está associado a
correições de formigas, onde foi relativamente fácil seu registro na TIZ.
Desta forma, existem grandes possibilidades que na área da TIZ, existam cerca de
400 a 500 espécies de aves, se consideramos ambos os trabalhos. Vale ressaltar
que embora a maior parte da avifauna encontrada em Nazaré e Alta Floresta se
fazem presente na TIZ, não indica necessariamente que poderá ser encontrada
em mesma quantidade naquela região. Fatores como integridade dos habitats,
pressão de caça entre outros devem ser levados em conta neste caso. Ressalta-se
também que a retirada intensa de madeira ilegal na região só tende aumentar o
risco de degradação ambiental e consequentemente a dificuldade de registros de
outras espécies mais sensíveis e/ou especialistas.
A avifauna amostrada apresenta vários níveis de endemismos (HAFFER, 1985;
HAFFER, 1990). Das 101 espécies registradas destaca-se: Capito dayi, Pyrrhura
perlata, Lepidothrix nattereri, Phlegopsis borbae e Rhegmatorhina hoffmannsi, são
60
Glauko Corrêa / Kanindé
Glauko Corrêa / Kanindé
Nesta imagem Uirapuru-de-chapéu-branco
(Lepidothrix nattereri) e acima
Saripoca-de-gould (Selenidera gouldii)
61
Israel Vale / Kanindé
Glauko Corrêa / Kanindé
Glauko Corrêa / Kanindé
Nesta imagem Periquito-de-encontro-amarelo
(Brotogeris chiriri). Abaixo à esquerda
Udu-de-coroa-azul (Momotus momota)
e à direita Garça-real (Pilherodius pileatus).
endêmicas da Amazônia (Apêndice 1), das quais (Stotz
et al., 1996), 03 (Pyrrhura perlata, Phlegopsis borbae e
Lepidothrix nattereri), estão restritas à sub-região zoogeográfica Madeira-Tapajós.
A composição e estrutura de uma comunidade de aves
é condicionada pelas características ambientais, sofrendo alterações proporcionais às transformações impostas
ao ambiente. Portanto, o manejo destes hábitats pelo
homem traz consequências diretas e indiretas à avifauna.
As alterações de habitats, provocadas por distúrbios
antrópicos, geralmente induzem a simplificação do
ambiente, mudando as condições microclimáticas,
62
alterando os padrões de disponibilidade de alimento,
locais para reprodução, entre outros efeitos, que invariavelmente resulta no empobrecimento da avifauna.
CREED (2006) ressalta que, o efeito de produção de clareiras através do corte seletivo, apesar de ser uma forma
de intervenção mais tênue, provoca inúmeras alterações
no ambiente explorado do que uma queda natural de
uma árvore, além de processos de queimadas. Além de
reduzir a área basal da floresta e produzir aberturas no
dossel, aumentando a irradiância local e penetração
lateral de luz sub-bosque, o que torna este mais quente,
seco e a vegetação mais densa (CREED, 2006). Estas
mudanças microclimáticas, de estrutura da vegetação
do sub-bosque, como de sua composição, certamente
produzem alterações quali-quantitativa da disponibilidade de recursos às aves. Das espécies de aves registradas na Terra Indígena Zoró, muitas fazem parte da
relação cultural Pangyjej Zoró. Esta relação pode estar
no âmbito da alimentação, ornamentação, assim como
em significados míticos e padrão de pintura corporal.
corporal baseado em aves são da arara e pica-pau,
e também relatado o uso de penas de Wakuj (Pauxi
tuberosa) para ornamentação corporal em danças.
Tendo destaque as exuberantes pinturas corporais,
atendem mais a padrões de mamíferos; serpente e quelônios; peixes; invertebrado; vegetação.
Assim como em muitas regiões amazônicas, representantes das Famílias Tinamidae e Cracidae apresentam
como importantes no quesito alimentar dos Zoró.
Estas aves cinegéticas apresentam-se como grandes fontes de proteínas, além dos mamíferos e peixes, sendo
que nos locais amostrados apresentam ainda populações
consideráveis. Algumas espécies de menor porte de aves
são comidas pelos Pangyjej Zoró como, por exemplo, as
Sporophila sp. (tiziu), sempre caçadas ao entardecer,
com fechas, geralmente pelas crianças.
O uso de penas é devido principalmente à confecção
de flechas. Os Pangyjej Zoró usam flechas específicas
para caça em ambiente terrestre e aquático. Sendo
destaque o uso de penas de araras, mutum, jacu e principalmente gavião. Além disso, observa-se em algumas
aldeias a criação de aves seja como de estimação, alimentação ou para a retirada de penas.
Além disso, de acordo com dados colhidos em campo
com os antigos, não há restrição alimentar nesta etnia,
tendo até relato de consumo de urubu (Mayaku) por
alguns Pangyjej Zoró. Salvo, uma única exceção, até então, do não consumo de beija-flor (Kiryn) antes do contato com a sociedade não-indígena. Relatam que caso
houvesse o consumo dos pais, seu filho iria ficar pequeno, mesmo que ele ainda não houvesse nascido, sendo
que quando esse filho fosse concebido ao mundo, ficaria
com estatura baixa. Um ponto interessante de ser ressaltado é quanto ao fator “restrição alimentar”, onde foram
relatados que devido à grande influência religiosa
dentro da etnia, atualmente os indígenas não tem
restrição alimentar referente às aves.
Em ocasiões especiais de festas dos Pangyjej Zoró é utilizada pintura corporal que imitam animais da floresta,
sendo que especificamente os padrões de pintura
Durante as entrevistas, onde estiveram vários pesquisadores indígenas e não indígenas, João Xuryt Zoró relatou um pouco da história do surgimento dos animais,
segundo os Pangyjej Zoró, especialmente as Aves.
As aves, através das suas vocalizações, apresentam ou
simbolizam sinais/mensagens míticas de variados tipos
de alertas ou mensagens. A seguir, estão apresentadas
algumas destas simbologias, coletadas durante as entrevistas:
• Vocalização de Itky (Tyranneutes stolzomanni) indica a
presença de mel de abelha por perto.
• Vocalização de Adusup (Pulsatrix perspicillata) significa que vai chegar uma visita, com boas notícias.
• Vocalização de Tigkã (Piaya cayana) significa notícia
ruim, por exemplo, que um parente irá ficar doente ou
morrer.
• Vocalização de Akakaj (Ibycter americanus) significa
desconfiança do indígena que haverá uma notícia ruim,
associado à guerra.
Glauko Corrêa / Kanindé
Azulão-da-amazônia (Cyanoloxia rothschildii)
63
Glauko Corrêa / Kanindé
Glauko Corrêa / Kanindé
Nesta imagem Araçari-de-pescoço-vermelho
(Pteroglossus bitorquatus); abaixo Mãe-de-taoca
(Phlegopsis nigromaculata)
64
TABELA 9 - LISTA PRELIMINAR DA AVIFAUNA DA TERRA INDÍGENA ZORÓ, MT.
Legenda do Status (CBRO, 2014): R = residente (evidências de reprodução no país disponíveis); E=espécie endêmica do Brasil.
Legenda do Tipo de registro: A=Auditivo; C=Caça; E=Entrevista; F=Foto; G=Gravação; O=Ocular; R=Rede; V=Vestígios.
Nome português
Tupi-Mondé
(Zoró)
Status
I Etapa
II Etapa
Tipo de
registro
azulona
Watit
R
1
1
A; F; O
inhambu-de-cabeça-vermelha
Abijuwa
R
1
1
A
jacu-de-spix
Tamu
R
1
1
O; F
R
1
1
O; F
1
E; F; V
Táxon
Tinamidae
Tinamus tao
Tinamus major
Cracidae
Penelope jacquacu
Aburria cujubi
Cujubi
Pauxi tuberosa
mutum-cavalo
Wakaj
R
1
1
Odontophoridae
Odontophorus gujanensis
uru-corcovado
R
Odontophorus stellatus
uru-de-topete
R
1
O
1
F; C; O
F
Ardeidae
Pilherodius pileatus
garça-real
Talikywap
R
coró-coró
Kulug kulug
R
1
1
A; O
urubu-de-cabeça-preta
Mayaku
R
1
1
O
caracoleiro
Gateap
R
1
R
1
Threskiornithidae
Mesembrinibis cayennensis
Cathartidae
Coragyps atratus
Accipitridae
Chondrohierax uncinatus
gavião-branco
Pseudastur albicollis
gavião-vaqueiro
Leucopternis kuhli
Buranyt
gavião-pedrês
Buteo nitidus
gavião-real
Harpia harpyja
F
1
A; G
1
F
R
R
F
Ikũlũ tere
R
1
1
V
gavião-de-anta
Zeam
R
1
1
A; O
gralhão
Aka kaj
R
1
1
A; O
acauã
Kadutã
R
1
1
A; G
falcão-críptico
Jkûlym
R
1
R; F
Falconidae
Daptrius ater
Ibycter americanus
Herpetotheres cachinnans
Micrastur mintoni
Falco sparverius
quiriquiri
R
1
O; F
pavãozinho-do-pará
R
1
F
R, E
1
1
A; F; G
R
1
1
F; O
1
F; R
Eurypygidae
Eurypyga helias
Psophiidae
jacamim-de-costas-verdes
Psophia viridis
Tamali
Columbidae
Columbina talpacoti
rolinha-roxa
Geotrygon montana
pariri
Jjú
R
Psittacidae
Anodorhynchus hyacinthinus
Ara ararauna
Ara macao
Ara chloropterus
arara-azul-grande
R
1
A; O
arara-canindé
Kasal kit
R
1
1
A; O
araracanga
Kasal
R
1
1
A; O
arara-vermelha-grande
Kasal
R
1
1
A; O
R
1
1
periquitão-maracanã
Kereg kerega
Aratinga weddellii
periquito-de-cabeça-suja
Garatit
R
1
Pyrrhura perlata
tiriba-de-barriga-vermelha
Kim patanwup
R
1
1
A; O
Brotogeris chiriri
periquito-de-encontro-amarelo
R
1
1
O; F
Pionus menstruus
maitaca-de-cabeça-azul
Sija
R
1
papagaio-moleiro
Awalap
R
1
R
1
Psittacara leucophthalmus
Amazona farinosa
Amazona ochrocephala
papagaio-campeiro
O
A; F; O
O; F
1
A; F; O;
F
65
Tupi-Mondé
(Zoró)
Status
I Etapa
II Etapa
Tipo de
registro
alma-de-gato
Tigkã
R
1
1
A; E; O
anu-preto
Aj gyp
R
1
1
A; O
coruja-da-igreja
Tanlanlym
R
1
1
O
murucututu
Adusup
R
1
1
A; E
mãe-da-lua-gigante
Waperep
R
1
1
A; F
bacurau-ocelado
Bakulyt
R
1
1
A
bacurau
Bakulyt
R
1
1
A; F
Threnetes leucurus
balança-rabo-de-garganta-preta
Kiryn
R
1
F; R
Thalurania furcata
beija-flor-tesoura-verde
Kiryn
R
1
F; R
martim-pescador-da-mata
Jaxanam
R
udu-de-coroa-azul
Urup
R
Táxon
Nome português
Cuculidae
Piaya cayana
Crotophaga ani
Tytonidae
Tyto furcata
Strigidae
Pulsatrix perspicillata
Nyctibiidae
Nyctibius grandis
Caprimulgidae
Nyctiphrynus ocellatus
Hydropsalis albicollis
Trochilidae
Alcedinidae
Chloroceryle inda
1
F; R
1
A; F; R; G
1
O
Momotidae
Momotus momota
1
Bucconidae
Malacoptila rufa
Monasa morphoeus
Chelidoptera tenebrosa
barbudo-de-pescoço-ferrugem Zerebewu wyp
R
chora-chuva-de-cara-branca
R
1
1
A; F; R
urubuzinho
R
1
1
F; O
Bumgúwã
R
1
1
A; F; R; O
tucano-grande-de-papo-branco
Jukãt
R
1
1
A; O
saripoca-de-gould
Awut awuryt
R
1
1
F; R
araçari-de-pescoço-vermelho
Batãjyt
R
1
1
R; F
picapauzinho-avermelhado
Sereptyg
R
1
F; R
Capitonidae
Capito dayi
capitão-de-cinta
Ramphastidae
Ramphastos tucanus
Selenidera gouldii
Pteroglossus bitorquatus
Picidae
Veniliornis affinis
Celeus grammicus
Celeus flavus
picapauzinho-chocolate
pica-pau-amarelo
Serepkit
R
1
R
1
F
A; F; O
Campephilus rubricollis
pica-pau-de-barriga-vermelhaSerep andaruwa
R
Campephilus melanoleucos
pica-pau-de-topete-vermelho
R
1
F
R
1
F; R
1
F; O
Thamnophilidae
Myrmotherula axillaris
Thamnomanes ardesiacus
Thamnomanes caesius
Jii
uirapuru-de-garganta-pretaXupyjyp (Pat paryp)
ipecuá
Xupyjyp
R
1
F; R
R
1
F; R
1
F; R
choca-de-olho-vermelho
R
Thamnophilus murinus
choca-murina
R
Thamnophilus aethiops
choca-lisa
Ag agyt
R
guarda-floresta
Leku nepubé
R
formigueiro-de-cara-preta
Jii
R
1
rendadinho
Wit wit
R
1
1
A; F; R; G
mãe-de-taoca
Xijkyra
R
1
1
A; F; R; G
mãe-de-taoca-dourada
Zat tym
R, E
1
F; R
mãe-de-taoca-papuda
Batã knyt
R, E
1
F; R; G
Thamnophilus schistaceus
Hylophylax naevius
Myrmoborus myotherinus
Willisornis poecilinotus
Phlegopsis nigromaculata
Phlegopsis borbae
Rhegmatorhina hoffmannsi
Scleruridae
66
choquinha-de-flanco-branco
1
1
F; R
1
A; F; R
1
F; R
F; R
Táxon
Nome português
Sclerurus caudacutus
vira-folha-pardo
Sclerurus albigularis
vira-folha-de-garganta-cinza
Tupi-Mondé
(Zoró)
Status
R
Xim Ximj
R
arapaçu-pardo
Serewa
R
arapaçu-da-taoca
Xiptyra (Serewa)
R
arapaçu-de-bico-de-cunha
Xijxiwyt
R
arapaçu-assobiador
Serewa
R
Xiphorhynchus elegans
arapaçu-elegante
Serewa
R
Dendrocolaptes certhia
arapaçu-barrado
Serewa
R
Dendrocolaptes hoffmannsi
arapaçu-marrom
Xiptyra
R, E
Dendrocincla merula
Glyphorynchus spirurus
Xiphorhynchus pardalotus
II Etapa
Tipo de
registro
1
F; R
F; R
1
Xim Ximj
Dendrocolaptidae
Dendrocincla fuliginosa
I Etapa
Xiphocolaptes promeropirhynchus arapaçu-vermelho
Serewa
R
1
F; R
1
1
F; R
1
1
F; R
1
F; R
1
A; R; G
1
F; R
1
F; R; G
1
F; R
1
F; R
1
Furnariidae
Automolus ochrolaemus
barranqueiro-camurça
Jape kãj kãj
R
1
Synallaxis rutilans
joão-teneném-castanho
Jakũwyp
R
1
uirapuruzinho
Jtkyj
R
1
1
A
uirapuru-laranja
Kuruxawyj
R
1
1
F; G; R
uirapuru-de-chapéu-branco
Wijy
R
1
1
F; R
flautim-marrom
Kuruxawyj
R, E
1
1
A; F; R
chorona-cinza
Wala wala kaptyg
R
1
F; R
F; R
Pipridae
Tyranneutes stolzmanni
Pipra fasciicauda
Lepidothrix nattereri
Tityridae
Schiffornis turdina
Laniocera hypopyrra
Tityra cayana
anambé-branco-de-rabo-preto
R
1
1
A; G
1
1
A; G; O
Cotingidae
Lipaugus vociferans
cricrió
Tyja
R
neinei
Gazakyt
R
1
G; O
tesourinha
Weaj kyl
R
1
O
andorinha-doméstica-grande
Xulit
R
1
O
Tyrannidae
Megarynchus pitangua
Tyrannus savana
Hirundinidae
Progne chalybea
Tachycineta albiventer
andorinha-do-rio
R
1
F; O
Turdidae
Turdus fumigatus
sabiá-da-mata
Kuxirup
R
1
1
F; R
Turdus albicollis
sabiá-coleira
Kwit
R
1
1
A; G; R
pipira-preta
---
R
1
F; C
R
1
F; O
1
F; C
F; C
Thraupidae
Tachyphonus rufus
Emberizidae
Ammodramus humeralis
tico-tico-do-campo
1
Volatinia jacarina
tiziu
Titti raman
Sporophila angolensis
curió
Mam julim
R
1
Habia rubica
tiê-do-mato-grosso
Buluxia
R
1
F; R
Cyanoloxia rothschildii
azulão-da-amazônia
Kwuxawyj
R
1
F; R
R
Cardinalidae
TOTAL
73
78
67
Israel Vale / Kanindé
3.5 RÉPTEIS E ANFÍBIOS
Todas as espécies florestais registradas são conhecidas de parte ou de toda a Amazônia, algumas com
distribuição mais ampla (extra Amazônica). Das espécies
de áreas abertas, a grande parte ou tem distribuição
ampla no continente, ou é ligada à diagonal de formações
abertas da América do Sul, especialmente em sua porção
centro-oeste.
A extração de madeira de forma descontrolada tem
uma série de impactos sobre a herpetofauna. Por
exemplo, o efeito da produção de clareiras proporcionada pelo corte de grandes árvores tem afetado os
mecanismos de termorregulação de algumas espécies
de lagartos e serpentes, perda direta do ambiente de
lagartixas e lagartos arborícolas, aumento da temperatura que pode estar prejudicando algumas espécies
de anfíbios anuros através da perda de poças utilizadas para deposição de ovos e girinos por anfíbios, entre
outros (VITT & CALDWELL, 2001).
As perturbações no ambiente mudam a disponibilidade
dos substratos, além de alterar as relações competitivas
entre os organismos, aumento da taxa de predação,
diminuição do potencial reprodutivo, limitações nas
atividades de forrageio, entre outros.
Cobra cipó
Foram registrados 24 espécies de anfíbios e 33 de
répteis. As famílias mais abundantes foram Dipsadidae (em serpentes) com 48%, Sphaerodactylidae (em
lagartos) com 23% e Hylidae (em Anfíbios) com 46% da
amostragem. Em se tratando da Ordem, Squamata se
mostrou mais abundante com 58% da amostra.
A taxa de encontros de serpentes e lagartos variou
muito durante o período. É possível que fatores como
a quantidade de chuvas, umidade, disponibilidade de
presas, interfira diretamente no metabolismo. Com a
ausência de chuvas, a maior parte dos lagartos de hábitos arborícolas tende a procurar o dossel da floresta para
se alimentar e termorregular, dificultando a visualização
e captura. Muitas espécies de anfíbios têm hábitos sazonais estando mais ativos durante uma ou outra estação.
A maioria das espécies amostradas neste estudo é
considerada comum na região. Particularmente,
algumas espécies estão ausentes devido à falta de
incremento de outras metodologias complementares que poderão ser utilizadas em outros momentos.
68
Existe uma forte ligação dos Pangyjej Zoró com a floresta. Foi possível verificar em diversas histórias contada
durante as atividades nas escolas, que a fauna e flora
têm forte ligação e participação nos mitos e crenças
daquele povo indígena. Infelizmente, devido ao pouco
tempo e a falta de informantes, não foi possível conseguir muitas narrativas sobre a relação da herpetofauna
com o Povo Pangyjej Zoró.
Foi verificado que algumas espécies de répteis e anfíbios são usadas como alimento pelos indígenas, como é
o caso de jacarés e algumas espécies de rãs do gênero Leptodactylus (rãs pimenta). Jabutis e tracajás não
são muito apreciados, visto que significam atraso e má
sorte. Cobras cegas significam “mau agouro” ou sinal de
morte na família. Algumas espécies de serpentes aparecem nas histórias antigas. De qualquer forma é preciso
catalogar as histórias deste povo indígena.
É necessário construir uma relação de confiança para daí
as informações começarem a fluir e serem coletadas.
Da mesma forma não foi possível distinguir os critérios utilizados por este povo para classificação das
espécies de reptéis e anfíbios, que sugere um estudo
posterior.
Israel Vale / Kanindé
Israel Vale / Kanindé
Israel Vale / Kanindé
Israel Vale / Kanindé
Começando em cima à esquerda, em sentido horário:
Cobra Veadeira (Corallus hortulanus), Rã (Dendropsophus marmoratus),
Cambô (Phyllomedusa camba), Falsa Coral (Rhynobotrium lentiginosum).
69
TABELA 10 - LISTA DAS ESPÉCIES DA HERPETOFAUNA (AMPHIBIA E REPTILIA) AMOSTRADAS NA TERRA
INDÍGENA ZORÓ, MATO GROSSO, BRASIL.
Ordem
Família
Espécie
Nome Popular Nome Tupi-Mondé
Anura
Bufonidae
Rhinella margaritifera (Laurenti, 1768)
Sapo folha
Waj
Rhinella marina (Linnaeus, 1758)
Sapo cururu
Waj
Rhaebo guttatus (Schneider, 1799)
Sapo cururu
Waj
Aromobatidae
Allobates gr. Marchesianus (Melin, 1941)
-
Hylidae
Hypsiboas boans (Linnaeus, 1758))
Rã canoeira
Aj Aj
Hypsiboas lanciformis (Cope, 1871)
-
Aj Aj
Dendropsophus leucophyllatus (Beireis, 1783)
Guag
Dendropsophus marmoratus (Laurenti, 1768)
Guag
Osteocephalus taurinus (Steindachner, 1862)
Rã
Rã macaco
Galam xidyg
Phyllomedusa vaillanti
Rã macaco
Galam xidyg
Cambô
Galam xidyg
(Boulenger, 1882)
Phyllomedusa camba (De la Riva, 2000 “1999”)
Galam xidyg
Phyllomedusa tarsius (Cope, 1868)
Leptodactylidae
Scinax ruber (Laurenti, 1768)
Gia
Trachycephalus resinifictrix (Goeldi, 1907)
Gia
Leptodactylus andreae (Müller, 1923)
Rã
Beap
Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799)
Rã
Beap
Leptodactylus mystaceus (Spix, 1824)
Rã
Beap
Leptodactylus pentadactylus (Linneaus, 1758)
Rã pimenta
Beap
Beap
Leptodactylus petersii (Steindachner, 1864)
Leptodactylus rhodomystax (Boulenger, 1884” 1883”)
Rã
Odontophrynidae
Proceratophrys concavitympanum (Giaretta, Bernarde & Kokubum, 2000)
Pipidae
Pipa pipa (Linnaeus, 1758)
Sapo pipa
Beap
Waj
Craugastoridae
Pristimantis fenestratus (Steindachner, 1864)
Rã
Squamata
Gekkonidae
Hemidactylus mabouia (Morreau de Jonnès, 1818)
Gia, lagartixa
(Lagartos)
Dactyloidae
Dactyloa punctatus (Daudin, 1802)
Calango
Norops fuscoauratus (D’Orbigny, 1837)
Calango
Geru
Dactyloa transversalis (Duméril, 1851)
Calango
Gap pirigiwa
Tropiduridae
Plica umbra (Linnaeus, 1758)
Abraça pau
Sphaerodactylidae
Chatogekko amazonicus (Andersson, 1916)
Calango
Keg Keg
Gonatodes hasemani (Griffin, 1917)
Calango
Geru xiri niwã
Gonatodes humeralis (Guichenot, 1855)
Calango
Geru
Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758)
Calango
Geru
Calango
Gerua
Teiidae
Gymnophthalmidae Arthrosaura reticulata (O’Shaughnessy, 1881)
Squamata
Keg Keg
Gap
Cercosaura eigenmanni (Griffin, 1917)
Calango
Mabuyidae
Copeoglossum nigropunctatum (Spix, 1825)
Calango
Boidae
Corallus hortulanus (Linnaeus, 1758)
Cobra veadeira
Boa constrictor (Linnaeus, 1758)
Jibóia
Chironius multiventris (Schmidt & Walker, 1943)
Cobra cipó
Tulit
Pseustes poecilonotus (Peters, 1867)
Limpa pasto
Baj
Pseustes sulphureus (Wagler, 1824)
Papa ovo
Baj
Rhinobothryum lentiginosum (Scopoli, 1785)
Falsa coral
Helicops leopardinus (Schlegel, 1837)
Jararaca d’água
Erythrolamprus typhlus (Linnaeus, 1758)
Cobra verde
Siphlophis compressus (Daudin, 1803)
Falsa coral
Imantodes cenchoa (Linnaeus, 1758)
Cobra cipó
Leptodeira annulata (Linnaeus, 1758)
Dormideira
(Serpentes)
Colubridae
Dipsadidae
Erythrolamprus reginae (Linnaeus, 1758)
70
Sug sug
Phyllomedusa tomopterna (Cope, 1868)
Wajbit pú
Baj puj
Baryn
Ordem
Família
Espécie
Nome Popular
Squamata
Dipsadidae
Dipsas catesbyi (Sentzen, 1796)
Dormideira
Xenopholis scalaris (Wucherer, 1861)
Falsa coral
Philodryas argentea (Daudin, 1803)
Cipó
Pseudoboa coronata (Schneider, 1801)
Falsa coral
Bothrops atrox (Linnaeus, 1758)
Jararaca
Bothrops bilineatus bilineatus (Wied, 1821)
Cobra papagaio
Viperidae
Lachesis muta (Linnaeus, 1766)
Surucucu pico de jaca
Platemys platycephala (Schneider, 1792)
Tartaruga
Testunididae
Chelonoidis denticulata (Linnaeus, 1766)
Jabuti
Amua
Alligatoridae
Paleosuchus trigonatus (Scheneider, 1801)
Jacaretinga
Wawu
Baj kirip
Amu suna
Israel Vale / Kanindé
Crocodylia
Baj kut
Chelidae
Israel Vale / Kanindé
Testudines
Baj kirip nan
Israel Vale / Kanindé
(serpentes)
Nome Tupi-Mondé
Na foto acima, Cobra Cipó (Imantodes cenchoa).
Abaixo à esquerda, Jararaca (Bothrops atrox)
e à direita Tartaruga (Platemys platicephala).
71
Israel Vale / Kanindé
Procerathophys concavitympanum
72
Israel Vale / Kanindé
3.6 PEIXES
Foram registradas 16 famílias em 44 espécies amostradas. Em termos numéricos as ordens Characiformes e
Siluriformes foram as mais representativas, com respectivamente 48% e 40% das espécies amostradas seguida
de Perciformes com 10%.
Durante os trabalhos de campo foram amostrados cursos d’água com diferentes características tanto estruturais (fundo, profundidade, margem, sombreamento, etc...), de localização e possivelmente de química
da água (pH, principalmente). Apesar do número de
variáveis citadas acima ser relativamente extenso e das
mesmas afetarem a ictiofauna de modo bastante diverso, as áreas de entorno da Terra indígena abrigam uma
riqueza de espécies de peixes bastante significativa.
Entretanto, por essas áreas estarem submetidas a diferentes graus de pressão antrópica, o seu valor para conservação tende a diminuir a médio longo prazo. Essa
situação é evidente para o rio Roosevelt e o Rio Branco.
A relação do componente ictiofauna com a comunidade indígena se resume na realização da atividade de
pesca para consumo, dentre os indígenas participantes
da pesquisa na condição de auxiliares, os mesmos
foram questionados quanto ao uso do pescado e
a relação cultural (restrição alimentar ou uso para
rituais), porém aos resultados obtidos não houve
nenhuma ocorrência de não consumo do pescado ou
sua utilização para qualquer rito ou crença.
Durante a realização dos trabalhos de campo foram
detectados problemas acentuados para a manutenção
da integridade da ictiofauna como um todo. Atividades antrópicas desenvolvidas em algumas drenagens
possuem grande potencial para alteração dos ambientes
aquáticos circundantes.
No período da pesquisa foi identificada a acentuada
prática da pesca pelos indígenas, utilizando técnicas que
podem ser consideradas não degradantes a fauna íctica,
apetrechos tais como flecha, anzol de galho e rede de
espera foram identificados durante a prática da pesca
pelos indígenas. Porém além dos indígenas pescadores
outros vestígios também foram identificados durante o
73
período de coleta, restos de rede de arrasto e principalmente relatos dos próprios indígenas sobre a prática
da pesca por não indígenas o que de fato pode ser um
agravo à diversidade e abundância da fauna íctica na
região, pois além da pesca desordenada há também a
atividade de degradação associada, caracterizada como
a deposição de material inorgânico nos rios e mata ciliar.
Israel Vale / Kanindé
Israel Vale / Kanindé
Israel Vale / Kanindé
Um outro agrave a integridade da fauna pôde ser
caracterizado pela degradação existente na mata
ciliar da margem esquerda e direita, do Rio Branco e
Rio Roosevelt, respectivamente. A presença de área de
pastagem e formação de fazendas para criação de gado
na área de entorno da TI, podem ao logo prazo ser um
agravo à saúde dos rios em questão. Percebe-se a pouca
quantidade de árvores frutíferas na margem para auxílio
na alimentação dos peixes, provocando em decorrência
o afastamento da população de peixes para locais de
maior aporte para a alimentação.
De cima para baixo:
Piranha, Tucunaré (Cichla ocellaris) e
Pescada (Plagiocium squamosisimus).
74
TABELA 11 - CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DAS AMOSTRAS CAPTURADAS DO DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO DA TERRA INDÍGENA ZORÓ.
Ordem
Família
Espécie
Nome Popular
Characiformes
Ctenoluciidae
Boulengerella ocellata
Bicuda
Prochilodontidae
Prochilodus nigricans
Curimata
Serrasalmidae
Serrasalmus rhombeus
Piranha
Jjêj
Catoprion mento
Piranha
Jjêj
Myleus pacu
Pacu
Bulip kabe
Myleus sp.
Pacu
Bulip kabe
Mylossoma sp.
Pacu
Bulip kabe
Serrasalmus humeralis
Piranha
Charax gibosus
Cachorrinha
Triportheus elongatus
Sardinha
Hydrolicus scomberiodes
Peixe cachorro
Astyanax sp.
Lambari
Zabe
Astyanax bimaculatus
Lambari do rabo amarelo
Zabe
Hydrolicus pectoralis
Peixe cachorro
Hoplias malabaricus
Traíra
Chalceus erythurus
Rabo de fogo
Brycon cephalus
Matrinxã
Shizodon fasciatus
Piau
Ixawu
Leporinus piau
Piau
Ixawu
Leporinus striatus
Piau
Ixawu
Leporinus lacustris
Piau de aquário
Ixawu
Ixawu
Characidae
Anostomidae
Siluriformes
Nome Tupi-Mondé
Bixãj
Bulupsuwa
Jjêj
Jêj kapit
Jêj kapit
Jêj kapit
Zabekit
Leporinus maculatus
Piau
Auchenipteridae
Auchenipterus sp.
Cangati
Ageneiosidae
Ageneiosus sp.
Mandubé
Trycomicteridae
Plectrochilus machadoi
Candiru
Pimelodidae
Pimelodus sp.
Mandi
Yjyj
Leiarius marmoratus
Jandiá
Bulip tadyga
Pseudoplatystoma fasciatum
Pintado
Kulere
Buliptig
Buliptig
Builpakabit
Megalonema sp.
Perciformes
Rajiformes
Hemisorubim platyrhynchos
Jiripoca
Callichthyidae
Callichthys callichthys
Tamoatá
Electrophoridae
Electrophorus eletricus
Poraquê, peixe elétrico
Callichtydae
Callichthys sp.
Loricaridae
Hypostomus sp. 1
Cascudo tigre
Hypostomus sp. 2
Cascudo espinho
Hypostomus sp. 3
Cascudo
Hypostomus sp. 4
Cascudo
Hemiancistrus medians
Cascudo chocolate
Hemiancistrus spilomma
Cascudo pintado
Scianidae
Plagiocium squamosisimus
Pescada
Cichlidae
Geophagus sp.
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Peixe sabão
Cichla ocellaris
Tucunaré
Potamotrygon hystrix
Arraia
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CAPÍTULO 4
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Projeção: South American - SAD69
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Diagnóstico Etnoambiental Terra
Indígena Zoró
Elaboração: Meline Machado
Crea: DF - 18360/D
Créditos:
APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró
Fundação Nacional do Índio - Funai
Igarapé
Instituto Brasileiro de Geografia
Canaã e Estatística - IBGE
Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro
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Agência Nacional de Águas - ANA Igarapé
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa
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11°0'0"S
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Pedologia
Tipo de solo
Terra Indígena
Argilossolo Vermelho
Rios de margem dupla
Argilossolo Vermelho-Amarelo
Rios de margem simples
Latossolo Vermelho-Amarelo
Neossolo Litólico
Rio
10°30'0"S
10°50'0"S
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Terra Indígena
Rios de margem dupla
Rios de margem simples
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Área da Terra Indígena:
Mandarap
árej 357.000 ha
Aproximadamente
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Xipitut
61°10'0"W
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60°30'0"W
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11°10'0"S
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Palia xij 0
O Diagnóstico dos componentes do Meio Físico tem importância decisiva por
ser neste meio que todos os demais se assentam. O seu conhecimento permite
às comunidades do local diagnosticado, neste caso a comunidade Pangyjej Zoró,
compreender melhor as relações entre os fatores bióticos e abióticos, e também
sua própria relação com o meio em que vivem.
Os fatores, solo, clima, relevo, hidrografia, e outros componentes do meio físico, associados aos demais diagnósticos irão permitir as comunidades uma visão
integrada da terra indígena, tanto em seu ambiente interno como externo, então
através desta visão integrada é possível antecipar situações, (propícias ou não),
prever consequências e ações necessárias diante do novo arranjo, servindo de
importante instrumento para o adequado manejo dos recursos.
djurej
Parque do Aripuana
Zarup wej
4.1 INTRODUÇÃO
10°30'0"S
Igara
10°50'0"S
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0Maluj kyrej
10°40'0"S
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Situação Geográfica
61°10'0"W
10°10'0"S
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Municípios
Rios de margem simples
Aripuanã
Terra Indígena
Cacoal
Aldeias
Espigão d'Oeste
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10°50'0"S
Rios de margem dupla
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55°0'0"W
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Projeção: South American - SAD69
78
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Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró
Elaboração: Meline Machado
Crea: DF - 18360/D
Créditos:
APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró
Fundação Nacional do Índio - Funai
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro
Agência Nacional de Águas - ANA
11°0'0"S
Área da Terra Indígena:
Aproximadamente 357.000 ha
Cacoal
61°10'0"W
ha
60°50'0"W
60°40'0"W
60°30'0"W
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10°30'0"S
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Ribeirão Cuxiú
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10°50'0"S
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Parque do Aripuana
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61°0'0"W
60°50'0"W
60°40'0"W
60°30'0"W
79
4.2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para diagnosticar o Meio físico, foi utilizada a metodologia de Levantamentos, do
tipo reconhecimento, executado para fins de avaliação qualitativa e semiquantitativa, visando à estimativa do potencial de uso, (com enfoque para o uso agrícola).
Para complementação desta pesquisa também se utilizou dos métodos:
• Coleta de amostras;
• Levantamento de dados;
• Entrevistas;
• Documentação visual;
Os trabalhos foram levados a efeito através dos procedimentos e métodos a seguir
descritos. A equipe de pesquisadores visitou todas as aldeias da Terra Indígena
Zoró, sempre com autorização das lideranças locais e/ou moradores. Chegando
ao local a equipe informava aos presentes sobre a natureza dos trabalhos que
estavam sendo realizados, bem como sobre a finalidade, objetivos e forma de
coleta de dados.
Os moradores informavam sobre a localização das roças e outros locais de interesse, os quais eram visitados. Tomando como exemplo as roças foram colhidas informações sobre as espécies ali cultivadas, a produtividade obtida, e os
responsáveis pela produção. Em pontos aleatórios espacialmente distribuídos
dentro de cada roça foram efetuados cinco furos, com aproximadamente 20 cm
de profundidade, por 10 cm de largura, dos quais foram colhidas amostras de
solo. As amostras foram depositadas em um balde plástico, no qual foram homogeneizadas, acomodadas em embalagem plástica fechada tipo “zip” e posteriormente identificadas. Com o receptor GPS, foram colhidas coordenadas do local
visitado.
Foram localizados sítios arqueológicos (sítios cerâmicos e sítios líticos), dos quais
foram também obtidas informações geográficas e documentação fotográfica.
Localizou-se afloramentos de material pétreo, possível de cominuição para posterior utilização na construção civil local.
Observou-se a presença de grande quantidade de “seixo rolado” material que
pode ser extraído para utilização imediata na construção civil.
Foi registrada a localização geográfica destes sítios para, em caso de utilização,
facilitar o planejamento da logística de exploração.
4.3 Resultados
Foram registradas todas as ocorrências de relevância para o Diagnóstico do Meio
Físico, as quais foram sintetizadas e ordenadas em formato compatível com banco
de dados para posterior geração de geoinformação, relatórios, mapas temáticos,
que irão servir de base para elaboração do diagnóstico propriamente dito e o consequente estabelecimento de cenários e prognósticos, baseados nas potencialidades
e limitações, informações necessárias para o planejamento e a tomada de decisão.
A tabela 12 mostra as aldeias visitadas e sua localização geográfica.
80
TABELA 12 – LOCALIZAÇÃO DAS ALDEIAS
Nome da Aldeia
Liderança
Aldeia do Zan
Miguel Zan Zoró
Aldeia Escola
Coordenada Sul
Coordenada Oeste
100 48’ 21,2”
600 43’ 31,6”
10 39 33
600 43’ 18,3”
0
’
”
100 42’ 17,9”
600 34’ 44”
10 44 13,9
600 37’ 14”
Aldeia Zawan
100 57’ 31,6”
600 53’ 52,3”
Aldeia Webajkarej
100 54’ 45,1”
600 51’ 02”
”
10 53 28,8
600 48’ 41,2”
Aldeia Agua Boa
100 44’ 05,8”
600 44’ 17,5”
Aldeia Serrinha
”
10 35 57,1
600 42’ 34,1”
Aldeia Seringal
100 33’ 52,1”
600 42’ 07,8”
Aldeia Santa Cruz
Aldeia Ipsyrej
Juarez
Aldeia Guwapuxurej
0
José
0
0
’
’
’
”
Aldeia Tamalisyr
Raimundo
100 29’ 07,0”
600 41’ 40,2”
Aldeia Pandarawej
Zé Carlos
”
10 40 09,6
600 46’ 34,1”
Aldeia Pandyrawa
100 34’ 03,1”
600 49’ 09,7”
Aldeia Caneco
”
10 19 31,4
600 44’ 22,2”
0
0
’
’
Aldeia do Chiquinho
Chiquinho
100 12’ 51,8”
600 53’ 24,7”
Aldeia do Manoel
Manoel
100 39’ 04,3”
610 07’ 40,6”
A seguinte tabela (tabela 13) mostra as roças visitadas, e as culturas ali produzidas.
TABELA 13 – ROÇAS
Ocorrência
Aldeia próxima
Amostra nº
Culturas
Roça I
Aldeia do Zan
Amostra 01
Mandioca,. Batata doce, Algodão, Amendoim
Roça II
Aldeia do Zan
Amostra 02
Cará, Mandioca, Arroz, Cana, Banana
Roça II
Aldeia do Zan
Amostra 03
Cará, Mandioca, Melancia, Cana, Abacaxi
Roça I
Aldeia Escola
Amostra 04
Cará, Mandioca, Milho, Cana, Batata doce, Banana, Amendoim
Roça II
Aldeia Escola
Amostra 05
Mamão, Mandioca, Milho, Cana, Melancia, Banana, Amendoim
Roça III
Aldeia Escola
Amostra 06
Mandioca, Cará, Abacaxi
Roça IV
Aldeia Escola
Amostra 07
Mandioca, Milho, Cará, Melancia, Batata doce, Amendoim
Roça I
Aldeia Santa Cruz
Amostra 08
Cará, Mandioca, Milho, Cana, Melancia
Roça II
Aldeia Santa Cruz
Amostra 09
Mandioca
Roça I
Aldeia Ipsyrej
Amostra 10
Mandioca
Roça I
Aldeia Zawan
Amostra 11
Cará, Mandioca, Milho, Banana, Mamão
Roça II
Aldeia Zawan
Amostra 12
Mandioca, Cará, Milho
Roça III
Aldeia Zawan
Amostra 13
Mandioca, Cará, Feijão, Café
Roça III
Aldeia Zawan
Amostra 14
Pretende plantar arroz e milho
Roça IV
Aldeia Zawan
Amostra 15
Milho, Feijão, Banana, Mandioca, Cará
Roça I
Aldeia Ikarej
Amostra 16
Cará, Mandioca, Milho, Banana, Batata
Roça I
Aldeia Webajkarej
Amostra 17
Mandioca, Cará, Milho, Amendoim, Cuia, Café
Roça I
Aldeia Guwapuxurej
Amostra 18
Banana, Mandioca, Cará, Milho, Amendoim, Batata, Cana
Roça II
Aldeia Guwapuxurej
Amostra 19
Abacaxi, Mandioca, Cará, Milho, Batata
Roça
Casa Verde (não é aldeia)
Amostra 20
Mandioca
Roça I
Aldeia Água Boa
Amostra 21
Mandioca, Banana, Cará
Roça I
Aldeia Serrinha
Amostra 22
Mandioca, Banana, Cará, Café, Milho, Batata, Cana
Roça II
Aldeia Serrinha
Amostra 23
Mandioca, Banana, Cará, Batata
Roça I
Aldeia Seringal
Amostra 24
Mandioca, Banana, Algodão, Mamão, Milho, Cará
Roça I
Aldeia Tamalisyr
Amostra 25
Mandioca, Banana, Pupunha, Batata, Milho, Cará
Roça I
Aldeia Pandarawej
Amostra 26
Mandioca, Cará
Roça I
Aldeia Pandyrawa
Amostra 27
Mandioca, Cará, Milho, Batata, Banana
81
Ocorrência
Aldeia próxima
Amostra nº
Culturas
Roça I
Aldeia do Luis
Amostra 28
Mandioca,. Batata doce, Milho
Roça II
Aldeia do Luis
Amostra 29
Mandioca, Batata doce, Cará
Roça III
Aldeia do Luis
Amostra 30
Mandioca, Mamão, Banana, Cará
Roça I
Aldeia Central
Amostra 31
Mandioca, Cará, Milho
Roça II
Aldeia Central
Amostra 32
Mandioca, Cará, Milho, Amendoim
Roça III
Aldeia Central
Amostra 33
Mandioca, Cará, Milho, Banana, Arroz, Mamão
Roça I
Aldeia Escola II
Amostra 34
Mandioca, Cará, Milho
Roça II
Aldeia Escola II
Amostra 35
Mandioca, Cará, Banana, Milho
Roça I
Aldeia Nova
Amostra 36
Banana, Mandioca, Cará
Roça I
Aldeia Caneco
Amostra 37
Batata, Mandioca, Cará
Roça I
Aldeia do Chiquinho
Amostra 38
Batata, Mandioca, Banana, Milho, Abacaxi, Algodão, Cará
Roça I
Aldeia do Manoel
Amostra 39
Abacaxi, Mandioca, Cará, Milho, Batata
As áreas de pastagens e outras áreas desmatadas são mais que suficientes para
o plantio tradicional, e também para experiências com outros tipos de cultura e
reflorestamento.
A atividade pecuária, também remanescente e “herdada” dos antigos posseiros,
desde que bem orientada e socializada pode trazer benefícios.
A quantidade de estradas que cortam a TI e sua distribuição são satisfatórias, e
com pequenos ajustes tem potencial suficiente para dar suporte ao uso e a ocupação ordenada do solo. Areia, pedra argila, seixo e outros insumos existentes
são alternativas que podem amenizar o alto custo do material de construção, que
devido à distância média de transporte tem seu custo elevado. O sistema de cultivo tradicional de roças tem função satisfatória, e as análises de fertilidade irão
apontar as deficiências e potencialidades do solo e qual a forma de manejo mais
adequado.
82
A próxima tabela (tabela 14) contém a identificação das amostras e os valores da análise laboratorial.
TABELA 14 - AMOSTRAS DE SOLO, VALORES DAS ANÁLISES.
83
Mapa de Geologia
60°50'0"W
60°40'0"W
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10°10'0"S
61°0'0"W
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10°10'0"S
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Igarapé Tirot
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10°50'0"S
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6.800
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Metros
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Área da Terra Indígena:
Aproximadamente 357.000 ha
Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró
Elaboração: Meline Machado
Crea: DF - 18360/D
Créditos:
APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró
Fundação Nacional do Índio - Funai
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro
Agência Nacional de Águas - ANA
Serviço Geológico do Brasil - CPRM
84
Igarap
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11°10'0"S
Parque do Aripuana
Projeção: South American - SAD69
61°10'0"W
Igarapé Serra Azul
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11°0'0"S
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Ribeirão da Buritirana
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Rio
11°0'0"S
Rio Branco
Geologia
Aldeias
Unidades Litoestratigráficas
Terra Indígena
Complexo Jamari
Rios de margem dupla
Complexo Nova Monte Verde
Rios de margem simples
Formação Roosevelt
Grupo Beneficente
ha
Suíte Intrusiva Serra da Providência
nin
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10°50'0"S
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61°0'0"W
60°50'0"W
60°40'0"W
60°30'0"W
Mapa de Solos
60°50'0"W
60°40'0"W
Iga
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C
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60°30'0"W
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Igarapé Bra
Iga
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Igarap
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Sul do
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10°10'0"S
61°0'0"W
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10°10'0"S
61°10'0"W
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Duabiyrej
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Área da Terra Indígena:
Aproximadamente 357.000 ha
Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró
Elaboração: Meline Machado
Crea: DF - 18360/D
Créditos:
APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró
Fundação Nacional do Índio - Funai
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro
Agência Nacional de Águas - ANA
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa
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Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró
Elaboração: Meline Machado
Crea: DF - 18360/D
Créditos:
APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró
Fundação Nacional do Índio - Funai
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro
Agência Nacional de Águas - ANA
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Parque do Aripuana
Projeção: South American - SAD69
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Área da Terra Indígena:
Aproximadamente 357.000 ha
Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró
Elaboração: Meline Machado
Crea: DF - 18360/D
Créditos:
APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró
Fundação Nacional do Índio - Funai
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro
Agência Nacional de Águas - ANA
11°10'0"S
Parque do Aripuana
Projeção: South American - SAD69
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Área da Terra Indígena:
Aproximadamente 357.000 ha
Diagnóstico Etnoambiental Terra Indígena Zoró
Elaboração: Meline Machado
Crea: DF - 18360/D
Créditos:
APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró
Fundação Nacional do Índio - Funai
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Diretoria de Serviço Geográfico- DSG Exército Brasileiro
Agência Nacional de Águas - ANA
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
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Parque do Aripuana
Projeção: South American - SAD69
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89
Acervo APIZ
Éderson Lauri Leandro / Kanindé
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 5
90
TURISMO
Trabalho artesanal de
confecção de cestas
com palha de buriti.
5.1 INTRODUÇÃO
Na busca por compreender a situação das áreas protegidas, incluindo, territórios indígenas, as comunidades, bem como os planejadores das atividades turísticas, vêem
no ecoturismo uma alternativa para permitir diretrizes relacionadas a preservação
e conservação, tanto de ambientes naturais, quanto socioculturais, além de tentar
orientar o comportamento mais adequado para comunidades autóctones e turistas.
As comunidades indígenas possuem particularidades geográficas, visto que vivem
em um habitat com abundância de água e floresta, apresentando um modo de vida
totalmente peculiar com expressões culturais próprias.
A cultura indígena possui uma intrínseca relação com a natureza, de forma que
estes respeitam grandemente todo o ambiente natural que os cerca, sendo este
meio visto por estes indivíduos como a essência da vida e liberdade. O contato
íntimo destas comunidades com o meio ambiente natural é expresso simbolicamente em sua cultura.
O indígena possui um “mundo” diferenciado, em que a cultura é o marco simbólico
de sua existência e resistência ao longo dos tempos. Na sua relação com a natureza
surge um modo de vida próprio, pautado na mais absoluta simplicidade, bem como
na solidariedade entre todos na comunidade.
O ecoturismo é um segmento de turismo que está intimamente ligado à questão
cultural, histórica e ambiental, de forma que para que seja desenvolvido é necessário
que haja uma relação racional do turista com a natureza e com a comunidade
receptora, de forma que esses devem respeitosamente estabelecer um vínculo
sustentável com os atrativos – culturais, ambientais, sociais – ali encontrados.
91
Acervo APIZ
Como já mencionado nesta tela, as comunidades indígenas possuem um modo
de viver diferenciado, de forma que são considerados por alguns como verdadeiros guardiões da região Amazônica, graça aos seus valores culturais, bem como
à sua economia de subsistência, que ainda conserva as riquezas naturais, no que
tange a fauna e flora e a toda diversidade ecológica da qual a Amazônia é tão rica
(BENCHIMOL, 2001). Toda esta conservação e/ou preservação - em alguns locais
- se deve ao amor e ao respeito da figura do indígena para com a natureza de
uma forma geral.
Acervo APIZ
Sendo assim, quando se trata do desenvolvimento da atividade turística em
Terras Indígenas e, tem-se ciência da estreita relação do indígena com as questões
culturais e ambientais de uma forma geral, logo nota-se que o segmento de
turismo mais apropriado para ser desenvolvido nestes territórios é o ecoturismo.
O ecoturismo é o segmento que mais possui relação com o turismo desenvolvido
próximo as áreas indígenas, pois é realizado em áreas naturais, tendo a cultura e a
natureza como principais atrativos, além de visar à sustentabilidade.
Como muito bem colocado por Faria (2005), para que o ecoturismo se desenvolva
de forma racional em comunidades indígenas faz-se necessário o planejamento
participativo, em que haja a integração e convergência com os anseios da comunidade autóctone. Desta forma, o planejamento junto à comunidade envolvida
deve ser imperativo para que assim, ocorra o desenvolvimento racional da atividade turística.
O envolvimento da comunidade no processo de planejamento do turismo é de
suma importância, devendo esta participar de forma ativa de todas as fases do
planejamento. É indispensável que as comunidades sejam ouvidas acerca do
entendimento, das expectativas, bem como das potencialidades que seu território
possui para que o turismo seja desenvolvido.
Acervo APIZ
As ações voltadas para a gestão do turismo também devem contar imperativamente com a participação funcional das comunidades indígenas, de forma que
deverá caber a elas gerir tanto as divisas financeiras geradas pelo turismo, quanto
às atividades que se relacionem direta ou indiretamente ao turismo.
Algo bastante mencionado nos estudos realizados sobre o desenvolvimento do
turismo em Terras Indígenas, refere-se à geração de renda complementar às
comunidades, visto que atualmente estas se encontram diante de novas necessidades, devendo assim, a renda ser acrescidas para que essas sejam supridas. Estas
novas necessidades citadas foram resultadas pelo surgimento de cidades próximas
às Terras Indígenas, fato que culminou na ocidentalização dos costumes, criando
necessidades “normais” de consumo (YÁZIGI, 2007).
É também neste sentido de complementação de renda que o turismo vem para
trazer impactos positivos às comunidades indígenas, de forma a preencher as
lacunas geradas pelas necessidades impostas na atualidade, ocasionando a melhora na qualidade de vida destas populações.
Tendo em vista, todas essas perspectivas e avançando ainda mais nas possibilidades conceituais e metodológicas adequadas para construções norteadoras,
observamos no conceito de “ecoturismo indígena” definido por Faria (2007), o
ecoturismo promovido dentro dos limites das terras indígenas através do planejamento/gestão participativa e comunitária, respeitando os valores sociais, culturais
92
Sequência de fotos mostrando a
preparação de peixe para assar
Acervo APIZ
e ambientais dos diferentes povos envolvidos em que a comunidade é a principal
beneficiada, sendo o de maior relevância e proximidade com as realidades e
necessidades das comunidades inseridas ou em inserção de atividades relacionadas ao turismo em terras indígenas.
Tomando por base a necessidade de autonomia dessas comunidades indígenas,
os benefícios dos métodos de pesquisa participante-ação e ultrapassando as
definições básicas de ecoturismo, o ecoturismo indígena, coloca em primeiro
plano, as comunidades, tornando-se por esse motivo, um aliado nas reivindicações do movimento indígena.
5.2 MATERIAIS E MÉTODOS
Foi utilizada a pesquisa bibliográfica, visando dar o embase teórico necessário ao
trabalho e foram realizadas entrevistas informais para assim, buscar informações
complementares sobre a localidade, bem como sobre a comunidade pesquisada.
Por fim, foi feita a tabulação e sistematização dos dados obtidos por meio da
aplicação dos questionários.
Acervo APIZ
No decorrer da pesquisa foram aplicados questionários com perguntas abertas,
fechadas e mistas, junto à comunidade indígena da TI Zoró.
A colaboração dos pesquisadores indígenas contribuiu significativamente para estabelecer a relação de confiança e aperfeiçoar a margem de segurança dos dados.
5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Se considerarmos os dados populacionais, de 625 indígenas e que para cada
casal, a faixa de filhos é de aproximadamente 3, podemos afirmar que a consulta
atingiu ¼ dos indígenas considerados ativos nas tomadas de decisão. Além desse
aspecto, é interessante destacar que em determinado momento, o resultante
dos questionários eram extremamente próximos, fato que também asseguram a
margem de credibilidade dos dados.
Acervo APIZ
O estudo trás como objetivo uma analise das percepções, aceitação, e expectativas da comunidade indígena Pangyjej Zoró relacionas a possível implementação
de atividades relacionadas ao turismo em seu território. A pesquisa faz parte do
conjunto de estudos solicitados pelos coletivos indígenas dessa TI e está inserido
na metodologia de Diagnósticos Etnoambientais Participativos de Terras Indígenas.
Com relação às percepções quanto as possíveis alterações nos aspectos sócio-culturais, indagamos, se existirão tais modificações e quais são identificáveis pelos
indígenas com o possível desenvolvimento do turismo, assim, 48% expressaram não perceber a possibilidade de mudanças, 8% disseram não saber e 44%
entendem que as mudanças acontecerão. Essas mudanças, na compreensão indígena, são voltadas para aspectos positivos, relacionados a divulgação da cultura,
geração de renda e melhorias na qualidade de vida.
Na opinião dos indígenas essas seriam as alterações num cenário de
Confecção de flechas.
93
desenvolvimento de atividades turísticas: “Assim somos
vistos como pessoas porque muitas das vezes não somos
reconhecidos; Porque assim os brancos vão reconhecer
a realidade nossa; Melhoraria a visão sobre a realidade
da vida do nosso povo; Porque assim somos reconhecidos por não indígenas; Ajuda na questão do povo ser
reconhecido dentro da sua realidade de viver; O turismo seria uma renda para a comunidade; Saber as coisas
que o turista conta com a comunidade para melhorar a
realidade do povo; A comunidade precisa ter recurso
para todas as aldeias; Convivências com as pessoas.
Conheceríamos mais pessoas e seus costumes e elas
conheceriam nossos costumes também; A comunidade
acompanha com o turismo dentro da nossa região;
Ensinar muitas coisas e aprender a mudar muito e a
ter direito a muitas coisas nas aldeias; A comunidade
precisa ter recurso para comunidade e compartilhar
com eles; Mudaria no dia-a-dia, porque os indígenas
ficariam preocupados em receber os turistas; Para trazer
dinheiro para dar pra comunidade; Mudaria as danças;
Para mudar a realidade da comunidade e trazer mais
recursos para ela; Mudaria a questão socioeconômica; Mudaria porque teríamos que cuidar dos turistas;
Mudaria na estrutura da comunidade, pois as casas dos
visitantes deveriam ser construídas; Aumentaria mais
o conhecimento da cultura do nosso Povo Pangyjej e
mostraria suas terras para o Brasil.”
A este exemplo, são destacados como locais proibidos
os seguintes: cemitérios; algumas aldeias; lugares de
plantas medicinais; lugares sagrados – Vista da Taquara;
áreas de mineração. Esse percentual, se comparado
com outras TI é extremamente elevado, normalmente
essa conscientização sobre restrição dos espaços, só é
desenvolvida ao longo das oficinas.
Observando as respostas relacionadas as alterações
locais podemos corroborar com Faria (2005) quando destaca que o fato do turismo não fazer parte do
cotidiano das comunidades indígenas dificulta o
entendimento dos impactos positivos e negativos que
porventura possam advir do desenvolvimento dessa
atividade. Somente as pessoas que direta ou indiretamente possuem ligação com esta atividade têm clareza
quanto aos possíveis impactos gerados pelo turismo.
Os utensílios e artesanatos produzidos na Terra Indígena
Zoró, são: colares; brincos; redes; cocares; arcos; pulseiras; anéis; gargantilhas; bandoleiras; flechas; cestos;
paneiro; pilão; panelas de barro; esteira.
Nessa compreensão, apenas 22% dos entrevistados,
acreditam que o turismo traria algum tipo de impactos negativos caso fosse implementado na terra indígena Zoró. São impactos relacionados nessa perspectiva
“Maus costumes; desorganização da Comunidade; drogas; impactos à natureza; e lixo na comunidade”. Esses
impactos, segundo eles, só aconteceriam caso: “Pode
acarretar se não houver planejamento; dependendo da
aplicação dos recursos nas aldeias; se chegar e impor
regras”.
Outro dado importante de ser citado é o cuidado dos
indígenas quanto aos possíveis locais a serem visitados
pelos turistas, 38% dos indígenas afirmam que nem
todos os locais da TI podem ser acessados pelo turismo.
94
Nessa amplitude de questões, abordamos ainda, os potenciais atrativos relacionados à belezas cênicas e culturais. Foram destacados pelos indígenas os seguintes
lugares: aldeias antigas; rio Consuelo na área do Povo
Pangyjej Zoró; aldeia Anguy Tapuã - tem muitos peixes e
animais; serras onde são observadas rochas e florestas;
montanha em forma de torre - na área da fazenda
existem cachoeiras; aldeias que ficam localizadas nas
beiras dos rios; aldeia Escola; cachoeira do rio Branco;
rio Branco; rio Roosevelt; montanha perto da Aldeia
Escola – 3 km; aldeia do Chiquinho (praia) - não tem
ponte, de forma que o turista terá que atravessar de
barco; rio Canaã.
Para observação de animais, são destacados os seguintes locais: aldeia Ipewurej; rio Canaã; rio Consuelo;
Barreiro; aldeia Ibupeaxurej; perto da Aldeia Buburej
– barreiro perto da aldeia Escola – Roça; em lugares
distantes, onde é difícil a presença da caça.
Entre os alimentos são destacados: milho, mandioca,
cará, banana, amendoim, batata doce, batata, mamão,
cana, chica, farinha, fuluchua (sopa de peixe), makaloba, beiju, mandaga (massa de batata doce assada),
carne de caça, peixe assado na palha, sopa de milho,
sopa da banana, carne com castanha assada na palha.
Para uma primeira aproximação, esses dados são
norteadores e necessariamente servirão de base para
as construções participativas referentes ao turismo,
aumentando significativamente o olhar indígena sobre
seu conhecimento atual referente ao tema e sua necessidade de compreensão.
Por fim, quando perguntamos aos entrevistados “Se
você pudesse opinar ou interferir no desenvolvimento
do turismo em sua comunidade, o que faria?” chegamos aos seguintes resultados: estimularia o turismo
46%; proibiria o turismo na região 32%; não sei 14%;
não faria nada 8%. Foi acrescentada ainda por alguns
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Nesta foto barco em atividade de pesca.
Abaixo crianças brincam na aldeia num final
de tarde; indígena trabalhando no tear; maloca
com panela no fogo e macaxeira sendo servida.
95
entrevistados a necessidade de reuniões da comunidade para definição do tema e também em fases posteriores a importância de gestão de recurso de forma
participativa, caso ocorra a atividade.
Observando os dados obtidos e fazendo uma correlação
entre percepção, propensão e potencialidades, podemos discorrer as seguintes considerações: inicialmente,
a comunidade deve definir de forma participativa, com
base nas informações do Diagnóstico, se o tema turismo é de interesse para a Terra Indígena Zoró, fato que,
segundo dados, não está perfeitamente definido;
aproveitar os espaços de discussão para aumentar o
conhecimento sobre turismo/ecoturismo indígena;
estabelecer um intercâmbio de informações com outras
etnias que já estão avançadas no processo participativo
de ecoturismo indígena; optar por planejamentos e
tomadas de decisões participativas, inserindo cada
vez mais indígenas na construção de um modelo
adequado às necessidades e potencialidades locais.
Caso a comunidade decida por desenvolver atividades
de turismo, é necessário elaborar um Plano de Ecoturismo alicerçado no Diagnóstico Etnoambiental Participativo da TI Zoró.
Para aumentar a autonomia e compreensão das reais
dimensões e implicações do turismo - que certamente
estão além de melhorias – e embasar essas comunidades para futuros processos decisórios, é indispensável
à realização de oficinas de capacitação, onde poderão
ser apresentadas e discutidas as melhores alternativas
para a implementação de atividades turísticas, evitando
assim que essas comunidades padeçam por tomadas de
decisões equivocadas.
Buscar parceria com as terras/associações indígenas
próximas para a construção de um destino mais sólido e com capacidade de concorrer com outras regiões.
Como exemplo tem-se a Terra Indígena Sete de Setembro que já passou por etapas de diagnóstico e concluiu
em 2012 seu Plano de Ecoturismo Indígena.
96
97
Sergio P. Cruz / Kanindé
Éderson Lauri Leandro / Kanindé
CAPÍTULO 6
98
ETNOZONEAMENTO
6.1 INTRODUÇÃO
O etnozoneamento é um instrumento de planejamento para a elaboração do
plano de gestão da terra indígena. O principal produto deste instrumento é um
mapa com a delimitação de zonas, onde se definem o uso dos recursos naturais, a
proteção, valorização da cultura e as formas de uso dentro do território indígena.
No etnozoneamento há a valorização do conhecimento indígena, cultura, de suas
organizações e ajuda a planejar o uso dos recursos naturais e o desenvolvimento
econômico do território (SANTOS, 2005).
A decisão de realizar o planejamento da terra indígena foi tomada a partir de
2004 quando os Zoró tomaram conhecimento do etnozomento realizado pelos
povos Paiter Surui, na Terra Indígena Sete de Setembro. Estes buscaram apoio junto a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e a FUNAI (Fundação Nacional
do Índio) para sua realização. Como estas entidades não disponham de recursos
financeiros, os Pangyjej Zoró decidiram que buscariam junto a outras instituições.
A APIZ (Associação do Povo Indígena Zoró) buscou apoio junto ao MMA (Ministério
do Meio Ambiente), via PDPI (Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas), que
apoiou financeiramente a elaboração do Diagnóstico Etnoambiental, Etnozoneamento e Plano de Gestão da Terra Indígena Zoró. Eles contaram ainda com o
apoio da Kanindé, ECAM (Equipe de Conservação da Amazônia) e da FUNAI.
99
Israel Vale / Kanindé
6.2 ETNOZONEAMENTO
A decisão de realizar o etnozoneamento trouxe a
reflexão sobre a necessidade de conhecer o território,
integrando a ciência indígena e a ciências dos não
indígenas. O que levou os indígenas a decidirem pela
elaboração do Diagnóstico Etnoambiental Participativo
da Terra Indígena Zoró (KANINDÉ, 2010).
O diagnóstico etnoambiental participativo foi realizado
em 2012 e 2013, envolvendo todas as aldeias, com a
participação de indígenas em todos os levantamentos
de campo. Com o diagnóstico pronto se passou para a
fase seguinte que foi a elaboração do etnozoneamento.
O Etnozoneamento envolveu uma reflexão sobre
os problemas levantados durante o diagnóstico e a
busca de soluções, para tanto, os indígenas elaboraram
o mapa do etnozoneamento, onde eles zonearam seu
território, planejando a forma de uso de cada área.
O Diagnóstico Etnoambiental Participativo foi utilizado
100
como base, já que este traz um conjunto de pesquisas
que caracterizam a TI e recomenda atividades para o
ponto que necessita de atenção.
Esse estudo contou com uma equipe especializada
em cada área, dentro da temática étnica, geográfica,
biológica e potencial turístico. Logo, após as pesquisa de campo e bibliográficas, foram apresentados os
resultados na oficina de Validação do diagnóstico. Nela,
o Povo Pangyjej Zoró pôde avaliar os resultados, aproválos e, na sequencia, elaborar o mapa de etnozoneamento.
O mapa produzido na oficina foi encaminhado a um
especialista que o reproduziu, na íntegra, em forma
digital.
A oficina para Validação do Diagnóstico Etnoambiental Participativo e de Etnozoneamento foi realizada na
aldeia-escola ZaruipWej. Divididos em grupos por área,
eles se reuniram para delimitar a zona dentro de um
mapa em branco e traçar os objetivos, indicadores,
Éderson Lauri Leandro / Kanindé
resultados esperados, atividades e normas. Após o momento em grupo, foram feitas as apresentações para a
plenária aprovar as propostas e elaborar um único mapa
com as zonas definidas. Em meio às apresentações
eles decidiram juntos que em vez da palavra zona
utilizariam áreas, já que para os participantes a palavra
área era de fácil entendimento para os mais velhos.
Indígena Zoró.
Durante a oficina, foi pensada e planejada a área de
turismo. No entanto, após inúmeros questionamentos
de vários indígenas, decidiram que, apesar de existir
o interesse na implementação de projetos de turismo
na terra indígena, não será inclusa essa temática. Isso
porque precisam ampliar essas discussões a um maior
número de indígenas e em outro momento.
Foram criadas oito áreas que estão representadas no
Mapa de Etnozoneamento da Terra Indígena Zoró.
Outra decisão tomada pela comunidade é de que
criariam poucas áreas, utilizariam linguagem simples,
facilitando o acesso a todos aos dados do etnozoneamento, e contribuindo para a reflexão na elaboração do
Plano de Gestão.
Para cada área foram definidos os objetivos, gerais e
específicos, resultados esperados, indicadores, normas e atividades. Estas áreas seriam implementadas
pelo Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra
101
6.3 ÁREAS DO ETNOZONEAMENTO
6.3.1. Área de caça e pesca
Objetivo Geral
>Área destinada para uso de caça e pesca.
Objetivo Específico
>Garantir a alimentação nas aldeias.
Resultado Esperado
>Ter alimento suficiente para o sustento da comunidade.
Indicadores
>Quantidade de animais consumidos;
>Animais retornando a área.
Norma geral
>Será permitida a caça e pesca por não-indígena somente
para consumo próprio e com autorização da liderança
da comunidade.
Xylyi xij
Imbepu axurej
Mandjup xij
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
Ixikura xi
Du'yp wej
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Ibe andyrej
Atividades
>Caçar e pescar;
>Fazer o monitoramento da caça e pesca.
Kasalawej
Ikat sunej
Duabiyrej
Duabiyrej
Gat kangym wej
Betem wej
Panjij xapxi
Bade sagyrej
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
Zap ara ej
Zawa Karej
Bade sagyrej
Wawu sunum wëj
Busap tag salia
Bubyrej
Bat anduxi
Tamali synej
Rio Azul
Ipewyrej
Gala andyurej
Gala andjurej
Bat andjurej
Pandjirawa
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
Zarup wej
Mandarap árej
Palia xij
Zat kut xi
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
102
103
Israel Vale / Kanindé
Israel Vale / Kanindé
Shelliane Nascimento / Kanindé
6.3.2. Área Castanhal
Objetivo Geral
>Ter uma área destinada para conservação dos castanhais.
Objetivos Específicos
>Garantir a conservação das castanheiras;
>Garantir a conservação de espécies vinculadas as
castanheiras;
>Garantir geração de renda.
Resultados Esperados
>Venda da castanha;
>Venda da castanha beneficiada;
>Aumento da geração de renda das famílias.
Indicadores
>Quantidade de quilos de castanhas vendidas;
>Valor agregado ao produto;
>Aumento de área explorada.
Imbepu axurej
Mandjup xij
Norma geral
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
>Será permitida a coleta de castanha por outra
etnia somente com autorização da liderança
da comunidade.
Xylyi xij
Ixikura xi
Du'yp wej
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Ibe andyrej
Kasalawej
Ikat sunej
Duabiyrej
Betem wej
Panjij xapxi
Bade sagyrej
Atividades
>Limpeza das estradas dos castanhais;
>Coletar castanhas;
>Fazer trilhas para acesso aos castanhais;
>Definir as regiões dos castanhais por família;
>Elaborar o plano de uso das castanheiras;
>Elaborar o plano de negócios das castanheiras.
Duabiyrej
Gat kangym wej
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
Zap ara ej
Zawa Karej
Bade sagyrej
Wawu sunum wëj
Busap tag salia
Bubyrej
Bat anduxi
Tamali synej
Rio Azul
Ipewyrej
Gala andyurej
Gala andjurej
Bat andjurej
Pandjirawa
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
Zarup wej
Mandarap árej
Palia xij
Zat kut xi
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
104
105
Acervo APIZ
Acervo APIZ
6.3.3. Área de Produção
Objetivo Geral
Manter as roças tradicionais
Objetivos Específicos
>Aumentar as roças para gerar excedentes;
>Comercializar o excedente.
Resultados Esperados
>Aumentar a geração de renda familiar;
>Melhorar a qualidade da alimentação;
>Melhoria das práticas de cultivo.
Indicadores
>Quantidade de roças produzindo.
Norma geral para a terra indígena
Apenas os indígenas moradores na TIZ poderão fazer
as roças.
>Assistência técnica para as roças;
>Apoio a produção;
>Comercialização da produção;
>Aquisição de implementos agrícolas.
Imbepu axurej
Mandjup xij
Atividades
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
Xylyi xij
Ixikura xi
Du'yp wej
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Ibe andyrej
Kasalawej
Ikat sunej
Duabiyrej
Duabiyrej
Gat kangym wej
Betem wej
Panjij xapxi
Bade sagyrej
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
Zap ara ej
Zawa Karej
Bade sagyrej
Wawu sunum wëj
Busap tag salia
Bubyrej
Bat anduxi
Tamali synej
Rio Azul
Ipewyrej
Gala andyurej
Gala andjurej
Bat andjurej
Pandjirawa
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
Zarup wej
Mandarap árej
Palia xij
Zat kut xi
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
106
107
Acervo APIZ
Israel Vale / Kanindé
6.3.4. Área Sagrada
Objetivo Geral
>Proteger as áreas sagradas.
Objetivos Específicos
>Orientar e mostrar aos jovens as áreas sagradas;
>Preservar as áreas sagradas.
Resultados Esperados
>Os jovens conhecendo a sua historia;
>Respeito aos antepassados.
Indicadores
>Os jovens transmitindo os valores culturais;
>A história sendo contada na escola;
>O registro da história e cultura em materiais didáticos.
Norma geral para a terra indígena
>Os pais deverão ensinar seus filhos sobre a cultura e historia
do Povo Pangyjej Zoró.
±
Atividades
Imbepu axurej
Mandjup xij
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
Xylyi xij
Ixikura xi
Du'yp wej
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Map
Pov
10°20'0"S
Ibe andyrej
Kasalawej
Duabiyrej
ECA
Duabiyrej
Este
Gat kangym wej
Pan
e Fu
Etno
Ikat sunej
Betem wej
Bas
SC.
Panjij xapxi
Bade sagyrej
- Ex
Órb
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
Ass
Zap ara ej
Ivan
Isra
Tha
Joe
Ede
Mar
Zawa Karej
Bade sagyrej
Busap tag salia
Wawu sunum wëj
Equ
Mel
Ass
Bubyrej
10°30'0"S
>Incluir no currículo escolar as histórias e
a cultura do Povo Pangyjej Zoró;
>Responsabilizar orientadores indígenas
a conhecer e transmitir a história do
Povo Pangyjej Zoró aos alunos;
>O conhecimento dos mais velhos
ser repassado aos orientadores indígenas.
TERRA INDÍGENA ZORÓ
Bat anduxi
Tiag
Jun
Eliz
Ade
Tamali synej
Rio Azul
Ipewyrej
Ivan
Isra
Geo
Tiag
Gala andyurej
10°0'0"N
Gala andjurej
Bat andjurej
Pandjirawa
xxxxxxxxxxxxx Zoró
0°0'0"
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
10°0'0"S
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
20°0'0"S
10°40'0"S
Zarup wej
Mandarap árej
30°0'0"S
Palia xij
Zat kut xi
Aripuanã
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
10°50'0"S
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
11°0'0"S
Aripuanã
Parque do Aripuanã
61°10'0"W
108
61°0'0"W
60°50'0"W
60°40'0"W
60°30'0"W
109
Acervo APIZ
Acervo APIZ
6.3.5. Área de Resgate
Objetivo Geral
>Ampliar os limites da TI.
Objetivo Específico
>Ampliar os limites no lado Oeste da TI, que ficaram fora da
demarcação.
Resultado Esperado
>Anexar a área reivindicada a TI.
Indicador
>Decreto de ampliação da área publicado no Diário Oficial.
Norma geral para a terra indígena
>Juntar parcerias para defender a ampliação dos limites da
TI.
Atividades
>APIZ enviar documento a FUNAI solicitando como está
a situação do processo de ampliação dos limites da TI;
>Formalizar parcerias;
>Entrar em contato com Ministério Público para
verificar como está a situação do processo de
ampliação dos limites da TI;
>Realizar reuniões com as instituições
responsáveis pelo processo.
Imbepu axurej
Mandjup xij
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
Xylyi xij
Ixikura xi
Du'yp wej
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Ibe andyrej
Kasalawej
Ikat sunej
Duabiyrej
Duabiyrej
Gat kangym wej
Betem wej
Panjij xapxi
Bade sagyrej
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
Zap ara ej
Zawa Karej
Bade sagyrej
Wawu sunum wëj
Busap tag salia
Bubyrej
Bat anduxi
Tamali synej
Rio Azul
Ipewyrej
Gala andyurej
Gala andjurej
Bat andjurej
Pandjirawa
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
Zarup wej
Mandarap árej
Palia xij
Zat kut xi
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
110
111
Israel Vale / Kanindé
Israel Vale / Kanindé
6.3.6 Área de Proteção Integral
Objetivo Geral
>Proteger os animais e a floresta.
Objetivo Específico
>Garantir a preservação das espécies da fauna e flora.
Resultado Esperado
>Aumento da quantidade caça e pesca.
Indicadores
>Manutenção das espécies de fauna e flora.
Norma geral para a terra indígena
>Não é permitido fazer uso dos recursos naturais dessa área.
Atividades
>Realizar atividade de proteção;
>Realizar o monitoramento da fauna e flora.
TERRA INDÍGENA ZORÓ
±
Imbepu axurej
Mandjup xij
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
Xylyi xij
Ixikura xi
Du'yp wej
DIA
ET
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Mapa elaborado
Povo Indígena Z
10°20'0"S
Ibe andyrej
Kasalawej
Duabiyrej
ECAM - Equipe
Duabiyrej
Este trabalho fo
Gat kangym wej
Pangyjej, com
e Fundação Go
Etnoambiental K
Ikat sunej
Betem wej
Base Cartográfi
SC.20-Z-B-V na
Panjij xapxi
Bade sagyrej
- Exército Brasil
Órbita/Ponto 31
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
EQU
Associação de
Zap ara ej
Ivaneide Bande
Israel Correa do
Thamyres Mesq
Joelma Pinheiro
Ederson Lauri L
Marcos Garcia
Zawa Karej
Bade sagyrej
Busap tag salia
Wawu sunum wëj
Equipe de Con
Meline Cabral M
Associação do
10°30'0"S
Bubyrej
Bat anduxi
Tiago Zoró - Pre
Junior Cinta Lar
Elizabete Cinta
Ademir Cinta La
Tamali synej
Rio Azul
Respo
Ipewyrej
Ivaneide Bande
Israel Correa do
Geog. Meline C
Tiago Zoró
Gala andyurej
10°0'0"N
Gala andjurej
Bat andjurej
Pandjirawa
xxxxxxxxxxxxx Zoró
0°0'0"
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
10°0'0"S
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
20°0'0"S
10°40'0"S
Zarup wej
Mandarap árej
30°0'0"S
Palia xij
Zat kut xi
Aripuanã
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
10°50'0"S
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
11°0'0"S
Aripuanã
Parque do Aripuanã
61°10'0"W
112
61°0'0"W
60°50'0"W
60°40'0"W
60°30'0"W
80°0'0"W
113
Glauko Correa / Kanindé
Acervo APIZ
6.3.7. Área de recuperação
Objetivo Geral
>Recuperar a área atingida pelo fogo.
Objetivo Específico
>Reflorestar a área com espécies nativas.
Resultado Esperado
>Recuperação da área degradada.
Indicadores
>Quantidade de mudas plantadas;
>Número de hectares de área recuperada;
>Avistamento de espécies de animais.
Norma geral para a terra indígena
Proibido fazer queimada e plantar espécies exóticas.
Atividades
TERRA INDÍGENA ZORÓ
±
Imbepu axurej
Mandjup xij
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
Xylyi xij
Ixikura xi
Du'yp wej
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Mapa
Povo I
Ibe andyrej
10°20'0"S
>Comprar semente para recuperar a área;
>Plantar castanheiras no local;
>Fazer proteção da área;
>Instalar placas informativas;
>Fazer trabalho de conscientização ambiental;
>Fazer aceiro no entorno das roças.
Kasalawej
Duabiyrej
ECAM
Duabiyrej
Este tr
Gat kangym wej
Pangy
e Fund
Etnoam
Ikat sunej
Betem wej
Base C
SC.20
Panjij xapxi
Bade sagyrej
- Exérc
Órbita/
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
Assoc
Zap ara ej
Ivaneid
Israel C
Thamy
Joelma
Ederso
Marco
Zawa Karej
Bade sagyrej
Busap tag salia
Wawu sunum wëj
Equip
Meline
Assoc
10°30'0"S
Bubyrej
Bat anduxi
Tiago Z
Junior
Elizabe
Ademi
Tamali synej
Rio Azul
Ipewyrej
Ivaneid
Israel C
Geog.
Tiago
Gala andyurej
10°0'0"N
Gala andjurej
Bat andjurej
Pandjirawa
xxxxxxxxxxxxx Zoró
0°0'0"
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
10°0'0"S
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
20°0'0"S
10°40'0"S
Zarup wej
Mandarap árej
30°0'0"S
Palia xij
Zat kut xi
Aripuanã
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
10°50'0"S
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
11°0'0"S
Aripuanã
114
Parque do Aripuanã
61°10'0"W
61°0'0"W
60°50'0"W
60°40'0"W
60°30'0"W
80
115
Israel Vale / Kanindé
Glauko Correa / Kanindé
6.3.8. Área Cultural
>Fazer multirão para roçado;
>Fazer tratos culturais dos roçados(limpeza);
>Fazer moradias tradicionais;
>Fazer remédio tradicional;
>Fazer o remédio tradicional para ser um bom caçador;
>Ensinar as mulheres novas a tomarem remédios tradicionais
para não ficar grávida cedo, para ter uma boa gravidez, e um
bom parto;
>Ensinar como fazer parto tradicional;
>Ensinar as jovens a fazer o artesanato de cerâmica, brincos,
pulseiras, colares, rede, fiar algodão, coletar as sementes certas para o artesanato,
>Ensinar os jovens a fazer cocar, arco e flecha, a caçar, fazer
roça, maloca, a respeitar os próximos e companheiros desde
pequenos;
>Ensinar os jovens a respeitar os mais velhos, em especial pai
e mãe, tios, tias, irmãos e irmãs;
>Ensinar os genros a respeitar os sogros;
>Ensinar os sogros a respeitar os genros;
>Ensinar aos jovens as danças e as musicas culturais;
>Ensinar os jovens a fazerem pintura corporal;
>Ensinar as jovens
a fazerem a comida tradicional.
TERRA INDÍGENA ZORÓ
Objetivo Geral
>Fortalecer e manter a cultura do Povo Pangyjej Zoró;
Objetivos Específicos
>Manter a língua materna;
>Comer alimentação tradicional;
>Usar pintura corporal;
>Fazer o artesanato;
>Ensinar a confeccionar as artes Zoró;
>Ensinar aos jovens as histórias, os hábitos e costumes do
Povo Pangyjej Zoró;
>Publicar livros na língua materna;
>Manter a medicina tradicional.
Resultado Esperado
>Cultura fortalecida.
Indicadores
>Os jovens sabendo contar as histórias e sabendo fazer artes
Zoró;
>Quantidade de livros publicados com as histórias Zoró;
>Livro sendo utilizado na escola como material didático;
>Zoró falando a língua materna em todos os lugares;
>Jovens confeccionando artesanato;
>Jovens cantando e dançando tradicionalmente;
>Zoró com pintura corporal tradicional.
±
Imbepu axurej
Mandjup xij
Zam zam kyrej
Ikulu segyrej
Xylyi xij
Ixikura xi
Du'yp wej
Dupitinynej
Ixaweja
Ixia puxurej
Mapa e
Povo In
10°20'0"S
Ibe andyrej
Kasalawej
Duabiyrej
ECAM
Duabiyrej
Este tra
Gat kangym wej
Pangyj
e Fund
Etnoam
Ikat sunej
Betem wej
Base C
SC.20-
Panjij xapxi
Bade sagyrej
- Exérc
Órbita/
Pawanewã
Webaj anzap wej
Gat kangyp wej
Assoc
Zap ara ej
Ivaneid
Israel C
Thamy
Joelma
Ederso
Marcos
Zawa Karej
Bade sagyrej
Norma geral para a terra indígena
Equipe
Meline
Assoc
Bubyrej
10°30'0"S
>A cultura será ensinada nas escolas e nas casas,
pelos mais velhos e professores indígenas.
Busap tag salia
Wawu sunum wëj
Bat anduxi
Tiago Z
Junior
Elizabe
Ademir
Tamali synej
Rio Azul
Ipewyrej
Ivaneid
Israel C
Geog.
Tiago
Gala andyurej
Bat andjurej
Pandjirawa
Atividades
10°0'0"N
Gala andjurej
xxxxxxxxxxxxx Zoró
0°0'0"
Ikabe kawa
Du andjurej
Zoró
>Coletar as histórias e publicar;
>Fazer oficinas com os jovens tendo os mais idosos
como professores, para ensinar a cultura;
>Professores ensinando sobre a cultura nas escolas e utilizando o material produzido durante o Etnozoneamento;
>Realizar apresentações culturais danças e cantos (cantos antigos dos animais);
>Fazer alimentação tradicional (makaloba, beiju, mandaga,
mankiã, mangabeá, entre outras);
>Pescaria tradicional junto com os jovens;
10°0'0"S
Bat peaxij
Guj wenawej
Anguj tapua
20°0'0"S
10°40'0"S
Zarup wej
Mandarap árej
30°0'0"S
Palia xij
Zat kut xi
Aripuanã
Ibug andjurej
Abesewap
Ip Syrej
10°50'0"S
Maluj kyrej
Bepem wëj
Xipitut
I karej
Guwapuxurej
Webaj karej
Zawã kej
11°0'0"S
Aripuanã
Parque do Aripuanã
61°10'0"W
116
61°0'0"W
60°50'0"W
60°40'0"W
60°30'0"W
80°
117
Acervo APIZ
Acervo APIZ
Acervo APIZ
CAPÍTULO 7
118
PLANO DE GESTÃO
7.1 APRESENTAÇÃO
O presente documento é o resultado das Oficinas Participativas realizadas na TIZ,
para a elaboração do Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena
Zoró – PGTATIZ.
Neste documento utilizaremos a autodenominação Pangyjej, que é como o povo
indígena se autodenomina, sempre que nos referimos ao povo Zoró.
O PGTATIZ é um instrumento de planejamento pensado e elaborado de forma
coletiva pelo povo Pangyjej, que busca valorizar a cultura material e imaterial. Este
visa o desenvolvimento econômico sustentável, a recuperação de áreas degradadas pela ação ilegal de madeireiros na terra indígena, a conservação dos recursos
naturais e a implementação do etnozoneamento da terra indígena Zoró.
É importante salientar que o PGTATIZ interage com os Planos de Gestão das Terras
Indígenas Sete de Setembro (do povo Paiter Surui) e a Roosevelt (do povo Cinta Larga), contribuindo para a conservação e o desenvolvimento sustentável do
Corredor Etnoambiental Tupi Mondé.
No documento estão ações voltadas para a proteção do território, o fortalecimento institucional da APIZ, a educação, saúde, cultura e economia Pangyjej.
O PGTATIZ é um produção coletiva do povo com a assessoria da APIZ e Kanindé,
acompanhamento técnico do CTL (Coordenação Técnica Local) de Ji-Paraná da
FUNAI e apoio financeiro do PDPI - Ministério do Meio Ambiente, Gordon and
Betty Moore Foundation e Amigos da Terra da Suécia.
O PGTATIZ é um documento dinâmico e que será avaliado a cada cinco anos,
para que se possa saber o quanto se alcançou e se é necessário ajustes.
119
7.2. INTRODUÇÃO
O Plano de Gestão da Terra Indígena Zoró - PGTATIZ foi criado a partir de reuniões e oficinas realizados pelos indígenas com a assessoria técnica da APIZ – Associação do Povo Indígena Zoró e da Kanindé Associação de Defesa e acompanhamento técnico do CTL- Coordenador Técnico Local da Coordenação Regional
-Ji-Paraná da FUNAI – Fundação Nacional do Índio.
O Diagnóstico Etnoambiental e o Etnozoneamento foram suporte técnico para
a tomada de decisão das comunidades durante as Oficinas de elaboração do
PGTIZ.
O PGTATIZ é uma ferramenta de gestão socioambiental do território indígena,
que tem como princípios:
>Autonomia do povo Pangyjej;
>Participação da comunidade em sua implementação;
>Valorização da cultura;
>Repartição de benefícios e liberdade no uso dos recursos naturais.
A implementação do PGTATIZ envolve os órgãos públicos responsáveis pelas
ações na terra indígena, a APIZ e a comunidade. No que concerne a sua execução
a associação indígena e a comunidade buscarão apoio junto as organizações públicas e privadas, nos casos onde necessitem de recursos externos.
A responsabilidade de implementar o PGTATIZ é do povo indígena, da APIZ e
dos órgãos públicos que tem o papel institucional de atender as políticas públicas
direcionadas aos povos Pangyjej.
Por decisão da comunidade este plano deverá ter sua implementação avaliada
a cada cinco anos, com duração prevista para vinte anos. A cada ano deverão
ocorrer encontros para monitorar o quanto se avançou, quais as dificuldades e os
ajustes necessários.
Nestes encontros de monitoramento, se buscará envolver todos aqueles que têm
algum envolvimento com a comunidade e os responsáveis pela execução do
PGTATIZ.
120
121
7.3. PROGRAMAS TEMÁTICOS
Thamyres Mesquita / Kanindé
Thamyres Mesquita / Kanindé
Os Pangyjej definiram sete programas temáticos: Educação, cultura, recuperação
e resgate, saúde, produção e meio ambiente, que devem ser implementados na
terra indígena.
122
7.3.1. Programa Educação
Foi decido pelos participantes na Oficina de Elaboração
do Plano de Gestão, que o Programa de Educação
deveria atender ao Projeto Politico Pedagógico, que é
parte integrante deste PGTATIZ, e que os recursos para
sua execução deveriam ser dos Governos Federal,
Estadual e Municipal. Quanto a atividades como de
capacitação se buscaria apoio entre entidades não governamentais, priorizando as seguintes atividades:
INFRAESTRUTURA
>As construções das escolas são de responsabilidade
dos Governos Municipais, Estadual e Federal, devendo a
APIZ fazer gestão junto a estes para que as construam e
equipem.
>Construção de dois prédios para atender a educação
sendo: Um na Zarup Wej e outro na Zawã Karej;
>Criação e construção de uma Escola Polo municipal na
linha do Pacarana no interior da TI;
>Mobiliários para as escolas;
>Reformas das escolas municipais (enquanto não
constroem as polos);
FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO
Segundo os indígenas, estes têm muita dificuldade em
fazer a gestão administrativa e financeira da APIZ e de
atividades que envolvam prestação de contas e negociação
de produtos. Visando melhorar sua atuação, estes propuseram que houvesse cursos de formação e capacitação
para gestores da Associação e membros da comunidade
que vendem produtos nos mercados locais. Foram priorizadas as seguintes capacitações:
>Planejamento e prestação de contas dos programas
educacionais;
>Formação continuada através do Centro de Formação
de Professores – CEFAPRO;
>Realizar as oficinas pedagógicas no mínimo semestralmente para os professores das escolas municipais;
>Criar vagas/bolsas de estudo e de estagio em nível superior em diferentes áreas;
>Abrir diálogo com as universidades para garantia de vagas e/ou abertura de cursos intercultural em nível superior para áreas de gestão ambiental e territorial, engenharia
florestal, enfermagem, medicina e áreas afins;
Foi proposto ainda:
>Garantir a acessibilidade dos alunos e profissionais da
educação as escolas;
>Firmar com a comunidade e lideranças o compromisso
com a frequência escolar regular dos alunos a escola;
>Promover a emancipação da escola Zawã Karej, que
atualmente funciona como anexo da Zarup Wej;
123
7.3.2 Programa de Cultura
Durante o diagnóstico Etnoambiental os indígenas identificaram problemas como
a falta de conhecimento por parte dos mais jovens de ritos que são considerados
sagrados, ocasionado pelo envolvimento com as missões evangélicas que atuam
na terra indígena. Outro problema observado foi que estes jovens na sua maioria
não sabem confeccionar arco e flecha, cestarias, cerâmicas e outros adornos corporais, e que muitos não sabem o significado das pinturas corporais, das danças,
da comida tradicional, o que levou os participantes a proporem um Programa de
Cultura.
O Programa de Cultura tem como objetivo valorizar a cultura do povo Pangyjej, e
tem como meta implementar o etnozoneamento em especial as Áreas de Argila,
Resgate e Sagrada.
Thamyres Mesquita / Kanindé
Durante as oficinas os Pangyjej propuseram as seguintes atividades:
>Elaboração de um programa de formadores e orientadores da cultura, onde se
buscará resgatar rituais e costumes que deixaram de ser praticados pelos Pangyjej,
e que deverão ser ensinados nas escolas;
>Criação de categorias no âmbito do serviço público para que os indígenas
anciões pudessem ser contratados como consultores indígenas para atuarem como
orientadores da cultura nas aldeias;
>A realização de diferentes BEKÃ para ensinar os jovens a confeccionar artesanato, instrumentos musicais, a construir casas tradicionais, Wawit Tirie, registrar
atividades de caça e pesca, aprender cantos, danças, e realizar expedições a
lugares desconhecidos pelos jovens na terra indígena e valorizar os anciões;
>Reforma, ampliação e compra de equipamentos do Centro de Promoção
Cultural e Proteção Territorial da TIZ.
>Cultura Pangyjej sendo divulgada pela APIZ e parceiros.
124
124
7.3.3 Programa de Recuperação e Resgate
A demarcação da terra indígena Zoró, deixou de fora áreas importantes para o
povo indígena, são áreas que hoje são fazendas que fazem limites com o território
e são utilizadas pelos pecuaristas, madeireiros e grileiros para invadir a terra, roubar e degradar os recursos naturais.
Este programa visa implementar atividades definidas no Etnozoneamento na Área
de Recuperação e resgatar o território que ficou fora da demarcação é uma das
metas deste programa, também visa recuperar áreas degradadas no interior da
terra indígena.
Os Pangyjej decidiram que a ampliação do território deveria ocorrer na área
florestada e que o órgão indigenista FUNAI tem a responsabilidade de buscar a
demarcação e ampliação da terra indígena.
Foram definidas as seguintes atividades a serem desenvolvidas na terra indígena:
Para a Área de Recuperação:
>Desenvolver um projeto de reflorestamento com espécies nativas nas áreas
degradadas;
>Reflorestamento das áreas impactadas, próximo as aldeias;
>Instalar Quintais Agroflorestais em pelo menos duas aldeias na TIZ.
Ivaneide Bandeira / Kanindé
Para a Área de Regaste:
>A APIZ Solicitar a FUNAI a ampliação da terra indígena, para incluir a área que
ficou fora da demarcação;
>APIZ fazer o acompanhamento do processo junto a FUNAI, solicitando
providências.
125
7.3.4 Programa de Saúde
O Programa de Saúde do Povo Pangyjej, será desenvolvido em todas as aldeias,
buscando valorizar o conhecimento indígena. Este não tem o objetivo de substituir o que é atribuição governamental no atendimento a saúde, mas busca preparar
os Pangyjej para atender os indígenas diretamente nas aldeias.
Os indígenas durante as oficinas decidiram que haveria um investimento para
formar os Pangyjej em técnica de enfermagem e medicina, para que os indígenas
formados pudessem atuar como profissionais nas aldeias e nos postinhos de saúde.
Para alcançar os objetivos propostos foram priorizadas as seguintes atividades:
FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO
Thamyres Mesquita / Kanindé
>Formar e capacitar indígenas como profissionais de enfermagem, médicos e
equipamentos necessários;
>Realizar cursos para agentes de saúde indígenas e de AISAN – Pangyjej;
>Infraestrutura para atendimento nas aldeias
>Implantar saneamento básico com estrutura adequada em todas as aldeias;
>Adquirir equipamentos e materiais para os Agente Indígena de Saneamento AISAN;
>Construir um mini-hospital na TI Zoró;
>Veículos de emergência dentro da TI, com indígenas contratados para conduzir;
>Barco e motor de popa nas aldeias próxima dos rios;
>Construção de posto de saúde em todas as aldeias;
>Compra de radio amador para as aldeias.
>Atendimento a saúde
>Melhorar atendimento da SESAI;
>Atendimento específico a saúde da mulher e dos homens nas aldeias;
>Contratar mais profissionais para atuar nas aldeias e na cidade;
>Contratação de faxineiras para limpeza para os postos de saúde e equipamento.
126
126
Ivaneide Bandeira / Kanindé
7.3.5 Programa de Produção
Um dos grandes desafios identificados durante o
diagnóstico e o etnozoneamento foi sobre a geração de
renda sem danos aos recursos naturais. Isso porque
alguns indígenas têm envolvimento com a retirada
ilegal da madeira, com a justificativa de que precisam de recursos financeiros. Isso se associa ao fato de
que, depois do contato, eles adquiriram novos hábitos,
trazendo como conseqüência a necessidade de
obtenção de bens de consumo. Depois de várias
reflexões, eles decidiram criar o Programa de Produção,
para buscar soluções aos problemas diagnosticados.
As atividades econômicas desenvolvidas na terra indígena são pecuária, agricultura, artesanato, extrativismo
e retirada de madeira que ocorre de forma ilegal. A
agricultura é usada para subsistência da comunidade,
que produz amendoim, banana, milho, mandioca, cará,
batata doce, feijão entre outros produtos.
São os coletores de castanha do Brasil, que vendem
para a APIZ. Os recursos advindos da venda da castanha
contribuem para melhorar a renda familiar.
A pecuária é desenvolvida em 17 aldeias, e possui aproximadamente 644 cabeças de gado (IDESAM, 2014).
Outras fontes de renda são os empregos junto aos
órgãos governamentais como professores, merendeiros,
agentes indígenas sanitários, agentes indígenas de saúde
e os benefícios de bolsa família e aposentadorias.
A TIZ sofre diversas ameaças, como destacamento,
estradas, planos de manejos e serrarias no entorno da
terra indígena, que facilitam a invasão de madeireiros e
o roubo de madeira.
O Programa de Produção busca garantir a sustentabilidade alimentar da comunidade, a geração de renda
e o fortalecimento da agricultura indígena, este será
implantando na Área de Produção, de Extração Não
Madeireira e de Plano de Manejo, Área de Castanhal
definidas no Etnozoneamento.
A Área de Turismo foi decidido pela comunidade que
primeiro seria necessário realizar visitas à outras terras
indígenas onde a atividade estivesse sendo implantada,
para que pudessem decidi sobre o desenvolvimento
desta ação nas aldeias.
Para alcançar os objetivos propostos foram definidas
seguintes ações e atividades:
>Construir um Plano de Negócios
>Aumentar a produção sustentável na TIZ com produtos etnicamente diferenciados no mercado.
>Aumentar a geração de renda das famílias melhorando as condições de vida nas aldeias;
>Ampliar e melhorar a qualidade da produção de banana, café, milho, arroz, feijão, laranja, mandioca e
outros produtos;
>Fortalecer e resgatar valores e práticas tradicionais;
>Construir um mercado na sede da APIZ para expor e
comercializar os produtos que vierem das aldeias;
>Implementar a cadeia produtiva da castanha
127
(mesa de secagem, barracões, balança, escoamento, garantia de mercado e preço
justo, capacitação em agro extrativismo;
>Construir barracões para armazenar a produção;
>Criação de selos, embalagens, calendários, agendas produzidas com a marca
Pangyjej;
>Implantar o Plano de Manejo Florestal na terra indígena Zoró, cuja gestão será
da comunidade com a parceria da APIZ, na área definida no etnozoneamento
com o apoio de parceiros caso seja necessário;
>Agregar valor aos produtos Pangyjej;
>Melhorar o transporte da castanha na aldeia;
>A castanha tem que ser pesada na aldeia na frente do produtor, antes de levar
para a cidade, assim garantindo que o produtor tenha segurança diante da venda;
>Devera ser construído um local para expor os produtos do Pangyjej a venda;
>Melhorar a venda de óleo de copaíba e garantir o preço bom;
>A APIZ buscará o apoio dos órgãos governamentais, que apoiam a produção,
para que possa atendê-los na assistência técnica e no desenvolvimento das cadeias produtivas. Buscará ainda, junto as empresas privadas e organizações não
governamentais apoio para o desenvolvimento do Programa de Produção.
Um dos maiores problemas identificados é a extração
ilegal de madeira, invasão de caçadores e pescadores, que provocam danos ambientais, aliciamento
de liderança e invasão da TIZ. Buscando solucionar
o problema e fazer a defesa de seu território os indígenas propuseram a criação do Programa de Meio
Ambiente.
O Programa de Meio Ambiente tem dois subprogramas, sendo um de caça e pesca e um de vigilância
ambiental que visam implementar ações voltadas
para a defesa do território indígena e implementar as
Áreas de Caça e Pesca e de Proteção Integral, definidas no Etnozoneamento.
SUBPROGRAMA DE CAÇA E PESCA
O Subprograma de Caça e Pesca será implementado na Área de caça e pesca,
definida no etnozoneamento, este tem como objetivo a proteção da fauna da
Terra Indígena Zoró, e garantir que as futuras gerações tenha em seu território
animais que são importantes para sua alimentação e conservação da floresta.
Com o subprograma os Pangyjej os mais velhos buscam garantir o repasse de seus
conhecimentos aos jovens, para que estes pratiquem o manejo da caça e a pesca
tradicional.
Para o desenvolvimento do Programa foram definidas as seguintes atividades:
>Fazer controle da caça e pesca;
>Capacitação em controle de caça e pesca, envolvendo trabalhos de biomonitoramento;
128
Ivaneide Bandeira / Kanindé
7.3.6 Programa Meio Ambiente
SUBPROGRAMA DE VIGILÂNCIA AMBIENTAL
A proteção do território indígena foi pensada na
busca de resolver os problemas de roubo de madeira e
invasão de caçadores e pescadores que adentram a
terra indígena, provocando danos ambientais e culturais
ao povo Pangyjej.
Os Pangyjej definiram como objetivo do subprograma a
proteção e o monitoramento, a criação de departamentos de vigilância na APIZ e a instalação de posto fiscal
devidamente equipado com viaturas, rádios amador,
gps, barcos, câmaras digitais, coletes a provas de bala e
motor de popas.
Os Pangyjej não pretendem substituir a FUNAI, deste
modo, definiram que só fariam a vigilância, deixando
para o órgão indigenista a responsabilidade de fiscalizar
o território, orientando para quando necessário sejam
acionados o IBAMA, SEDAM, Polícia Ambiental, FUNAI,
SEMA/MT e o povos Pangyjej, para operações conjuntas.
Para implementar o programa foram definidas as seguintes atividades:
>Criar departamento de vigilância da TI Zoro com a
estrutura de sede na APIZ e parceria da FUNAI, IBAMA,
SEDAM e postos fiscais em local estratégico;
>Estruturar com equipamentos necessários para os
agentes ambientais Pangyjej com a certificação;
>Garantir contratação permanente de agentes ambientais indígenas pelo órgão do governo federal;
>Revitalizar a forma de fiscalização tradicional do povo
Pangyjej;
>As ações de vigilância deverão esta integrada com
outras atividades desenvolvidas nas aldeias, como a
caça, a pesca, a coleta de frutos no mato, além das
atividades de vigilância desenvolvidas pelos agentes
ambientais indígenas;
>Os agentes ambientais indígenas deverão fazer um
calendário de atividades de proteção do território;
>A APIZ deve investir em capacitação destes agentes e
em buscar dar condições para que estes possam atuar;
>A fiscalização é de responsabilidade exclusiva da
FUNAI, porém se recomenda que haja operações
conjuntas, devendo o órgão Indigenista coordenar as
operações;
>A APIZ junto com a comunidade e a FUNAI devem
desenvolver um Plano de Proteção da Terra Indígena
Zoró.
Thamyres Mesquita / Kanindé
>Desenvolver projeto para criar os animais silvestres;
>Capacitação em criação e manejo de animais silvestres em cativeiro;
>Fazer proteção ambiental nas áreas onde os invasores
entram para roubar madeira;
>Proibir os não índios de caçar mesmo que seja na
companhia de lideranças indígenas;
>Os anciões ensinando nas aldeias os jovens a caçar e
pescar na forma tradicional.
129
7.3.7 Programa de Fortalecimento
Institucional
Garantir que o Plano de Gestão seja realmente implementado foi uma das preocupações dos participantes
das oficinas. Assim, eles definiram que seria criado um
Programa de Fortalecimento Institucional, que tem
como objetivo fazer o PGTATIZ funcionar e cumprir
com seus objetivos.
Propuseram um arranjo de gestão onde os gestores teriam seus papéis definidos.
ARRANJO INSTITUCIONAL
FUNAI
a) FUNAI – Fundação Nacional do Índio
A FUNAI via Coordenação Regional de Ji-Paraná é
responsável por garantir que os Órgãos Públicos assegurem os direitos indígenas e contribuam com a implementação do PGTATIZ, em especial na proteção física
e territorial do povo Pangyjej.
Os coordenadores técnicos locais – CTL devem atuar
em parceria com a APIZ e a comunidade. Buscará o
consenso nas tomadas de decisões, tendo o cuidado de
ouvir os lideres homens e mulheres mais velhos das aldeias.
A FUNAI deverá garantir que nas reuniões do Comitê
Gestor este busque cumprir o que esta no PGTATIZ, devendo a mesma garantir que os participantes conheçam
o Plano.
Ao elaborar o orçamento do órgão para atuar junto aos
Pangyjej, a FUNAI deve utilizar o PGTATIZ, garantindo
assim, o compromisso com a implementação do Plano
e principalmente cumprindo o que esta na PNGATI –
130
b) APIZ – Associação do Povo Indigena Zoró
A APIZ tem a responsabilidade de promover a articulação e comunicação com a comunidade e com os
órgãos governamentais, buscando apoio para o desenvolvimento de projetos que contribuam para a implementação do PGTATIZ. A APIZ sempre ouvirá a comunidade antes de tomar suas decisões.
A APIZ será responsável pela gestão de recursos que sejam destinados a implementar o Plano de Gestão, com
exceção de orçamentos que são de órgãos públicos,
obedecendo ao que diz a legislação brasileira.
Para que a APIZ consiga cumprir com seu papel, necessitará de apoio financeiro para:
COMUNIDADE
APIZ
Politica Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas.
>Contratar equipe técnica para atividades administrativo-financeiras, elaboração de projetos e coordenadores
indígenas;
>Desenvolver as ações de articulação e mobilização
junto à comunidade e órgãos de governo;
>Acompanhar as políticas públicas, fazer reuniões, encontros e assembléias;
>Aquisição e manutenção de veículos e barcos para
deslocamentos da equipe para desenvolver suas atividades;
>Fornecer ajuda de custo para indígenas poderem participar de reuniões, intercâmbios e eventos fora da terra
indígena, que tratem exclusivamente de implementação
do PGTATIZ e acompanhamento de políticas públicas;
>Formação de lideranças em gestão administrativa financeira;
>Apoiar e promover encontros do Corredor Tupi
Mondé;
>Equipar a APIZ com equipamentos de informática e
móveis;
>Reformar a sede da APIZ;
>Garantir a manutenção da sede;
>Desenvolver a comunicação e divulgação das atividades da APIZ e do PGTATIZ.
c) COMUNIDADE
A comunidade tem o papel de promover a implementação do PGTATIZ, sendo esta quem tem o poder
de deliberar sobre as ações que serão executadas e a
responsabilidade de zelar pelo cumprimento do que foi
definido pelos indígenas durante a elaboração do Plano
e do Etnozoneamento.
AVALIAÇÃO DO PLANO
A implementação do PGTATIZ possui um ciclo de gestão
que é fundamental para o sucesso das ações propostas
nos programas definidos pela comunidade, o que envolve desde o diagnóstico etnoambiental, etnozoneamento, monitoramento e a avaliação da TIZ, para que
se possa ao longo de sua execução, promover reflexões,
ajustes e modificações.
Processo da Gestão
IMPLEMENTAÇÃO
ETNOZONEAMENTO
DIAGNÓSTICO
MONITORAMENTO
AVALIAÇÃO
Os Pangyjej definiram que realizariam o monitoramento e
a avaliação do Plano, tendo como referência as ações definidas em cada programa. Desta maneira, decidiram que
realizariam, uma vez por ano, uma oficina com a participação de representantes de todas as aldeias para
verificar o grau de execução e a necessidade de se fazer
ajustes.
A avaliação se dará a cada cinco anos, em uma oficina com a participação de lideranças e membros das
aldeias, órgãos governamentais e entidades da sociedade civil organizada que tenham atuação na terra indígena. A avaliação deve observar os indicadores definidos no etnozoneamento e as atividades propostas no
Plano de Gestão para alcançar os objetivos e resultados
propostos.
Os resultados da avaliação deverão ser adotados para
melhorar a implementação do Plano de Gestão e
deverão ser divulgados nas comunidades para que
todos possam participar e contribuir com sua execução.
131
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TERRA INDÍGENA ZORÓ
EXECUÇÃO
Associação de Defesa Etnoambiental
APOIO
Ministério do
Meio Ambiente
Projetos Demonstrativos
dos Povos Indígenas
DIAGNÓSTICO ETNOAMBIENTAL PARTICIPATIVO,
ETNOZONEAMENTO E PLANO DE GESTÃO
EM TERRAS INDÍGENAS - VOL. 3
TERRA INDÍGENA ZORÓ