Pensamento do Dia Pensamento do Dia

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Pensamento do Dia Pensamento do Dia
Pensamento do Dia
Economistas analisam a Economia, o Brasil
e o mundo,
mundo, na mídia diária 09 a 11 01 2010
------------------------------------------------------------------Veja 09 01 2010
Brasil
Coisa de maluco
Ai, ai... Um decreto do governo defende a censura à imprensa
e ataca o direito de propriedade. Pelo jeito, eles não desistem
DESUMANO - O secretário Paulo Vannuchi, ex-militante de organização terrorista e
artífice do decreto: se não foi com revólver, vai com caneta
Era pior do que parecia - e a aparência já não era nada boa. Em dezembro, o Decreto
dos Direitos Humanos, gestado pelo secretário especial de Direitos Humanos, o exterrorista de esquerda Paulo Vannuchi, provocou uma crise nas Forças Armadas ao
propor a revisão da Lei da Anistia e a punição dos militares que cometeram crime de
tortura durante o regime ditatorial. O surto de revanchismo constrangeu até o presidente
Lula - obrigado a dizer que havia assinado o documento sem lê-lo. A afirmação do
presidente fica tanto mais surpreendente agora, quando se revela a amazônica extensão
do decreto cuja parte mais relevante ainda deve ser votada no Congresso. É
praticamente uma revogação da Constituição Federal na garantia dos direitos
democráticos mais básicos. Ao longo de 73 páginas eivadas de vociferações ideológicas e
ataques ao "neoliberalismo" e ao agronegócio, o documento volta a propor o controle da
imprensa, a prática de referendos e outras práticas de "democracia direta", e a criação
de leis que protegem invasores de terra em detrimento de suas vítimas. Nos três casos,
fica claro que a preocupação com os "direitos humanos" figura no documento muito
menos como propósito do que como pretexto para tentar fazer descer goela abaixo da
sociedade propostas que o governo já tentou impingir-lhe de outras formas, sem
sucesso.
Além de propor punições, que vão de multa à cassação de outorgas, a veículos de
comunicação que publiquem informações consideradas contrárias aos direitos humanos,
o decreto prevê um "acompanhamento editorial" das publicações de modo a elaborar um
ranking de veículos que mais respeitam ou violam os ditos direitos (da forma como eles
são compreendidos pelo governo, evidentemente). Em relação à questão agrária, as
medidas que o Executivo pretende aprovar no Congresso não são menos estarrecedoras:
o governo quer a "priorização" de "audiências públicas" entre fazendeiros e sem-terra
antes que a Justiça conceda liminares no caso de invasões. Se houver mandado de
reintegração de posse, o decreto sugere, candidamente, que o cumprimento da ordem
seja "regulamentado". Como liminares constituem, por definição, medidas urgentes que
se destinam a evitar prejuízos e ordem judicial é para ser cumprida e não
regulamentada, resta evidente que o decreto visa a proteger os invasores e obstruir o
acesso dos fazendeiros à Justiça.
O decreto produzido pelo ex-terrorista de esquerda Vannuchi - com a colaboração dos
ministros Tarso Genro, da Justiça, e Franklin Martins, da Comunicação Social, sempre
eles - não se limita, porém, a lançar ideias sobre como censurar a imprensa, extinguir o
direito à propriedade e emular o sistema chavista de "consultas populares" como forma
de neutralizar os poderes da República. Numa espécie de samba do petista doido, ele
dispõe ainda sobre assuntos que vão do apoio às organizações de catadores de materiais
recicláveis à mudança de nomes de ruas e prédios públicos - aqueles que não estiverem
de acordo com o gosto dos bolcheviques* que ora habitam o Planalto, claro.
Na juventude, o secretário Vannuchi tentou transformar o Brasil em uma ditadura
comunista por meio da guerrilha - ele foi militante da Ação Libertadora Nacional (ALN),
organização terrorista esquerdista. Agora, no crepúsculo da vida, tenta fazê-lo à base de
canetadas. De uma forma e de outra, o ex-terrorista de esquerda Vannuchi entrou para a
história pela porta dos fundos. Seu decreto é como achar que se pode matar inocentes
em nome de uma causa política: coisa de maluco.
*Bolchevique (russo: Большевик, transliteração "bolshevik") é uma palavra da língua russa, e significa
"majoritário". Assim foram chamados os integrantes da facção do Partido Operário Social-Democrata Russo
liderada por Vladimir Lenin.
Ficaram assim no segundo Congresso do POSDR em 1903. A outra facção era conhecida como a dos
Mencheviques, da palavra "minoritário", os quais se opuseram a Lenin quando este propôs que o partido
deveria constituir-se de uma elite revolucionária profissional, que se dedicasse exclusivamente ao ativismo
político, e que seria sustentada por apoiadores e simpatizantes não-membros do partido. Os Mencheviques, por
outro lado, preferiam um partido com grande representação. Os Mencheviques obtiveram o apoio da minoria
dos delegados ao congresso, que se juntaram àquela facção, enquanto que a maior parte do comitê central,
que era a instância máxima de decisão do partido, optou por apoiar as ideias de Lenin.
Os bolcheviques defendiam uma mudança radical de política para seu povo, defendendo uma revolução
socialista armada, caso necessário. Os mencheviques defendiam uma revolução moderada, permitindo primeiro
a democracia e o pleno desenvolvimento do capitalismo para só depois implantar o socialismo.
Pouco depois de os Bolcheviques terem chegado ao poder durante a Revolução Russa de 1917, eles mudaram o
seu nome para o Partido Comunista de Toda a Rússia (Bolcheviques) em 1918 e passaram a ser conhecidos
apenas como Partido Comunista da União Soviética - PCUS após esse ponto.
No entanto, não seria antes de 1952 que esse partido removeria formalmente a palavra Bolchevique do seu
nome.
FONTE: Wikipédia- A enciclopédia livre
------------------------------------------O Estado de S.Paulo 10 01 2009 Editorial
Roteiro para o autoritarismo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em dezembro um roteiro para a
implantação de um regime autoritário, com redução do papel do Congresso,
desqualificação do Poder Judiciário, anulação do direito de propriedade, controle
governamental dos meios de comunicação e sujeição da pesquisa científica e tecnológica
a critérios e limites ideológicos. Tudo isso está embutido no Programa Nacional de
Direitos Humanos (PNDH-3), instituído pelo Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro - o tal
decreto que, acredite quem quiser, o presidente disse que assinou sem ler. O programa,
um calhamaço de 92 páginas, é um assustador arremedo de constituição. Recobre
assuntos tão variados quanto a educação, os serviços de saúde, a Justiça, as condições
de acesso e de preservação da propriedade, as decisões de plantio dos agricultores, a
atividade legislativa, as funções da imprensa e o sentido do desenvolvimento.
A apuração das violências cometidas pelos agentes do regime militar e a revogação da
Lei da Anistia são apenas uma parte desse programa - a mais divulgada, até agora, por
causa da reação dos comandantes militares à redação inicial do decreto. Mas o maior
perigo não está nos detalhes, e sim no objetivo geral dessa manobra articulada no
Palácio do Planalto: a consolidação de um populismo autoritário sustentado na relação
direta entre o chefe do poder e as massas articuladas em sindicatos, comitês e outras
organizações "populares".
Tal como seu colega Hugo Chávez, o presidente Lula propõe a valorização de
instrumentos como "lei de iniciativa popular, referendo, veto popular e plebiscito". É
parte do populismo autoritário a conversão de formas excepcionais de consulta em meios
normais de legislação. Usurpa-se o poder de legislar sem ter de recorrer a um golpe
aberto. Da mesma forma, a multiplicação de "conselhos de direitos humanos", com ação
coordenada "nas três esferas da Federação", reproduz a velha ideia de comitês populares
tão cara às ditaduras.
Consumada a mudança, um juiz não mais poderá simplesmente determinar a
reintegração de posse de um imóvel invadido. O governo propõe "institucionalizar a
utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos,
priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos, com a presença do
Ministério Público, do poder público local, órgãos públicos especializados e Polícia Militar".
Em outras palavras: esqueça-se a Constituição, negue-se ao juiz o poder de garantir a
propriedade e converta-se o invasor em detentor de direitos sobre o imóvel invadido.
Combater essa aberração não interessa apenas a fazendeiros e proprietários. A questão
essencial não é o conflito entre ruralistas e defensores da reforma agrária a qualquer
custo, mas a depreciação da lei e do Judiciário tal como deve operar no Estado de
Direito. Nada ficará fora do controle do assembleísmo. É parte do programa "fomentar o
debate sobre a expansão de plantios de monoculturas que geram impacto no meio
ambiente e na cultura dos povos e comunidades tradicionais, tais como eucalipto, canade-açúcar, soja", etc.
A criançada ficará sujeita, nas escolas, a uma instrução sobre direitos humanos moldada
segundo os interesses do regime e apresentada muito claramente no decreto. O controle
sobre as mentes não poderá dispensar o comando dos meios de comunicação. Se as leis
propostas forem aprovadas, o governo poderá suspender programações e cassar licenças
de rádios e de televisões, quando houver "violações" de direitos humanos. Será criado
um ranking nacional de veículos de comunicação, baseado em seu "comprometimento"
com os direitos humanos. O governo também deverá incentivar a produção de filmes,
vídeos, áudios e similares voltados para a educação sobre direitos humanos e para a
reconstrução "da história recente do autoritarismo no Brasil". Será um autoritarismo
cuidando da história de outro.
As intenções políticas são claras, embora escritas numa linguagem abstrusa. Em todo o
texto há expressões do tipo "fortalecimento dos direitos humanos como instrumento
transversal das políticas públicas e de interação democrática". Essa patacoada deverá
servir de bandeira na campanha da candidata petista à Presidência. Em 2002, esse era o
programa do PT. Para se eleger, o candidato Lula teve de renegá-lo em sua "Carta aos
brasileiros". Mas não renegou, como se vê mais uma vez, o sonho de "mudar tudo isso
que está aí".
-------------------------------------------O Estado de S.Paulo 10 01 2010
Equilibrado delírio?
Pedro S. Malan
"Lula quer uma campanha de comparação entre governos, um duelo com o tucano da
vez. Se o PSDB quiser o mesmo... ganharão os eleitores e a cultura política do País."
Assim escreveu Teresa Cruvinel, sempre muito bem informada sobre assuntos da seara
petista, em coluna de um janeiro de outro ano eleitoral - 2006 -, exatos quatro anos
atrás.
Trago de volta essa lembrança por três razões: primeiro, porque a jornalista ocupa hoje
importante posição no esquema de comunicação oficial do atual governo. Segundo,
porque essa tem sido e, ao que tudo indica, será a linha mestra da campanha do governo
e de sua candidata à Presidência. Terceiro, porque, como escrevi à época, não acredito
que a "cultura política do País" e seus eleitores tenham algo a ganhar - ao contrário com uma obcecada tentativa de concentrar o debate eleitoral de 2010 numa batalha de
marqueteiros e militantes brandindo estatísticas.
Na verdade, o Brasil chega a 2010 mais autoconfiante e respeitado internacionalmente
devido, em larga medida, ao trabalho de décadas e ao talento de milhões de brasileiros,
na agricultura, na pecuária, nas indústrias, nos serviços, no comércio (nacional e
internacional), nas empresas privadas (trabalhadores e empresários) e no serviço público
digno desse nome. O Brasil não chegou até aqui apenas nos últimos sete anos, movido
pela genialidade e pelo tirocínio de uma pessoa, por mais que assim o pretenda o culto
de personalidade e o processo de pré-beatificação ora em curso.
Há muito, mas muito ainda por fazer neste país - o que não significa desconhecer o feito
por várias administrações, inclusive a atual - e é este muito por fazer ainda que deveria
estar no centro do debate público neste ano de 2010, um olhar à frente, e não um olhar
posto no espelho retrovisor, voltado para uma estrada já trilhada, comparando os
"grandes feitos" de um governo que termina com os de seus antecessores, como se
fossem eventos independentes, e não relacionados.
Por exemplo, em artigo publicado domingo passado no Globo e na Folha - Não foi o PT
nem o PSDB, foram os dois -, o jornalista Elio Gaspari, baseado em trabalho do professor
Claudio Salm sobre as Pnads de 1996, 2002 e 2008, chamou a atenção do leitor para o
fato de que os números indicam que, "desde 1996, a linha de melhoria de vida do "andar
de baixo" é contínua, sem inflexão petista". Vozes discordantes surgirão para debater
detalhes, mas o importante é dar eficaz continuidade ao processo.
Assim concluí meu primeiro artigo neste espaço, já lá se vão quase sete anos: "O que é
legítimo e razoável esperar do governo Lula é que possa entregar a seu sucessor um país
melhor do que aquele que recebeu, como fez o governo FHC." Foi com a mesma frase
que abri, nesta mesma página, meu artigo de janeiro de 2006, adicionando: "Continuo
com a mesma visão, agora reforçada por aquilo que espero possam ser lições da crise
que afetou o PT e o governo Lula desde meados de 2005, dentre elas, como notou R. da
Matta: "O abalo da crença de que existem pessoas, partidos e ideologias capazes de
mudar magicamente o Brasil"."
Um belo livro de Eduardo Gianetti contém páginas brilhantes sobre as duas lapidares
inscrições do templo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo" e "Nada em excesso." Sobre as
quais deveriam refletir aqueles que não conseguem impor certos limites à empolgação
consigo mesmos e ao autoelogio, num processo de "inflação de si" e de "deflação do
outro", que em nada contribui, ao contrário, para o desenvolvimento da cultura política
do País. Muito menos para o que deveria ser o importante debate de 2010 sobre os
rumos do Brasil pós-Lula.
Nesse sentido, tem razão, a meu ver, o governador Aécio Neves quando semanas atrás
escreveu que "devemos estar preparados para responder à autoritária armadilha do
confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o País ao meio,
entre bons e maus, entre pobres e ricos, entre nós e eles". A melhor forma de tentar
evitar essa armadilha maniqueísta é, como sugerido pelo governador José Serra,
"através de um bom debate" que permita que "as forças com maior lucidez política"
possam mostrar ao eleitorado a complexidade dos desafios a enfrentar a partir de 2011,
sem desmerecer avanços realizados, mas reconhecendo problemas que não são nada
triviais, em particular nas áreas fiscal, previdenciária, de infraestrutura, educação e meio
ambiente.
Seria, talvez, esperar demais que o debate eleitoral pudesse ir além da luta pelo controle
do aparelho do Estado e que tratasse, também, de duas questões de fundo. A primeira
diz respeito a tema que abordei em meu último artigo: a visão, a meu ver, equivocada,
de que a crise que assolou o mundo desenvolvido desde o final de 2007 - e a forma de
sua superação, via explosão do déficit e da dívida pública nos países ricos (temporária,
porque terá de ser revertida) - teria representado a emergência de uma nova era com a
vitória de um agora hegemônico capitalismo de Estado. A segunda questão de fundo foi
colocada com a clareza habitual por José Murilo de Carvalho em entrevista a este jornal
(6/12). Vale citá-lo: "A construção de uma democracia sem República me parece pouco
viável. República significa coisa pública, virtude cívica... exige predomínio da lei,
igualdade perante a mesma, ausência de privilégios e hierarquias sociais, cidadãos
ativos, governos responsáveis e eficientes... República é incompatível com
patrimonialismo, clientelismo, nepotismo, fisiologismo."
"Pode-se argumentar", continua o autor, "como muitos fazem, que nossa democracia não
precisa de República, que aos trancos e barrancos vamos construindo a inclusão política
e social e que preocupação com honestidade política, bom governo, valores cívicos e
instituições respeitadas é moralismo pequeno-burguês." Mas - como José Murilo - espero
que haja um número crescente de brasileiros que discorde dessa posição. Os eleitores
dirão.
Pedro S. Malan, economista, foi ministro da Fazenda no governo FHC. E-mail:
[email protected]
------------------------------------------O Estado de S.Paulo 10 01 2010
Quatrilho macroeconômico
José Roberto Afonso
Os modelos de consistência macroeconômica eram o que de mais avançado se rodava na
econometria dos anos 1980. Hoje, em qualquer revista ou congresso de economia,
inclusive nacionais, não faltam modelos para os mais diferentes temas, alguns
sofisticados, outros confundindo meios com fins, mas raro é reencontrar algo sobre
consistência macro. O instrumento caiu em desuso com as visões mais amplas e
integradas das diferentes faces da política econômica. A coordenação entre suas
instâncias também parece ter saído de cena (a mídia nem cita mais "equipe econômica").
Parece que a ordem é cada um cuidar do seu quintal, esmerar-se em mantê-lo bem
limpo, pouco importando se à custa de varrer o lixo para o vizinho (quando não para
debaixo do tapete).
Se a crise global, por si só, exigiu um incomum esforço de análise e decisões, o
desembarque dessa excepcional postura exige ainda mais cuidados. É uma ótima
oportunidade para resgatar a ideia de consistência macro. Desmontar gradualmente as
medidas anticrise é bom momento para melhor interconectar políticas e práticas.
É inegável que os juros básicos ainda seguem muito acima dos padrões internacionais,
no entanto, o mercado pressiona por novo aumento de taxa, talvez menos pela (falta de)
perspectiva inflacionária e mais como "prêmio" para não preocupar com metas fiscais
atendidas por contabilidade criativa (já subiu para status de mágica), muito menos com
as projeções de deterioração das contas externas.
O crédito transformou nosso funcional tripé da política econômica numa espécie de
"quatrilho". Foi o principal determinante para o Brasil mergulhar (surpreendentemente)
em sua recessão mais profunda, mas, ao mesmo tempo, em fazê-la a mais curta. Dados
oficiais mostram que, após a crise, o estoque de crédito cresceu muito (7,5 pontos do
PIB de setembro de 2008 até novembro último), puxado basicamente pela maior oferta
por instituições financeiras públicas (responderam por 5,6 daqueles pontos), enquanto
recuava a taxa de investimento nacional (de 20,1% para 17,7% do produto, entre o
terceiro trimestre de 2008 e de 2009).
Os bancos federais precisaram tomar crédito extraordinário (mais 4,6 pontos do PIB no
mesmo período) com o Tesouro Nacional - na prática, ele virou o maior "banco" do País,
pois já acumula créditos de 12,4% do produto (sem contar mais R$ 80 bilhões extras,
que serão concedidos neste ano). Os recursos federais não poderiam sair de resultado
primário, que minguou com a expansão (clarividente) de gastos (com custeio, enquanto
o investimento seguiu patinando), fora o impacto brutal da revalorização cambial (já
perdidos 3,1% do PIB no ano passado, ante 5,5% ganhos no anterior).
Estourada a crise em setembro de 2008, nos catorze meses seguintes o total de papéis
públicos em mercado cresceu 10,6 pontos do PIB (exatamente o mesmo aumento dos
meios de pagamento, no conceito M3). Metade desse incremento fluiu via operações
compromissadas do Banco Central, que rolam em média a cada 40 dias (ante 40 meses
do Tesouro) - aliás, se inexistiam em janeiro de 2002 (quando a mobiliária era de apenas
35% do PIB), já respondem por um quarto do estoque de títulos, que encostou em 60%
do PIB, como nunca antes na história.
Fechamos a década seguindo ao pé da letra o roteiro descrito por Keynes sete décadas
atrás. Quando empresas optam por aplicar a produzir com recursos próprios e os bancos
ficam com medo de emprestar para outros bancos, ambos preferem emprestar cada vez
mais para o governo. O Brasil caiu num arranjo que combinou aumento do crédito
bancário (chegou a 45% do PIB) com incremento muito maior na dívida pública (64% do
PIB, no conceito bruto, usado internacionalmente), enquanto servia a exacerbada
preferência privada por liquidez (ao menos 15% do PIB em operações compromissadas).
Inegavelmente isso serviu para expandir o consumo e a economia de imediato, mas
impõe grandes desafios para o longo prazo. De certo, a solvência da dívida pública está
garantida, mesmo no novo mágico mundo fiscal. Mas já passa a hora de retomarmos os
modelos e as reflexões sobre consistência macroeconômica.
*José Roberto Afonso, economista, é mestre pela UFRJ e doutorando da
Unicamp
--------------------------------O Estado de S.Paulo 10 01 2010
''Lenta expansão é mais provável”
Para economista americano, chances de nova queda recessiva nos EUA em 2010
[br]são de uma em três
Fernando Dantas, RIO
Existe uma chance em três de a economia dos Estados Unidos passar por um "segundo
mergulho" recessivo no segundo semestre, puxado pelo desemprego e pelos preços
deprimidos das residências. A visão é do prestigiado economista americano Barry
Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ele falou ao Estado por
telefone.
Como o sr. vê a economia global em 2010?
Acho que, pelo menos, será melhor do que em 2009. Os Estados Unidos, a Europa e o
Japão estão crescendo de novo vagarosamente. Mas essa não será uma recuperação
normal, e sim bem mais lenta. Uma preocupação crescente, para mim, é com a
possibilidade de um segundo mergulho ("double dip") da economia americana no
segundo semestre de 2010.
Qual a probabilidade de um segundo mergulho?
Para mim, a continuidade de uma lenta expansão é mais provável. Mas o perigo de um
duplo mergulho existe, e acho que devemos nos preocupar com isso. Estimar a
probabilidade está acima da minha capacidade, mas arriscaria dizer que é uma chance de
um em três.
E o que poderia provocar um segundo mergulho?
Nos Estados Unidos seriam o alto desemprego e a continuidade dos preços deprimidos
das residências. São dois fatores que vão pesar no consumidor, e o consumo representa
dois terços da economia americana. Os Estados Unidos voltaram a crescer porque as
empresas estão refazendo seus estoques. Mas, se não conseguirem vendê-los, vai haver
uma parada nesse processo e teremos o duplo mergulho. Já na Europa, o problema
principal são as finanças públicas e problemas de confiança. Como no Brasil dos velhos
tempos, as pessoas se preocupam com a Grécia, a Espanha, a Irlanda, e até com a GrãBretanha. São países com situação fiscal ruim, dívida alta e sustentabilidade duvidosa
das finanças públicas.
E os mercados emergentes? O seu bom desempenho pode ser o novo motor da
economia global?
Os mercados emergentes estão muito melhor. O fato de que não mais se movam
necessariamente junto com as economias avançadas é uma boa coisa porque quando o
nosso crescimento diminui, e o de vocês se mantém, isso tem um efeito estabilizador no
mundo como um todo. Mas os Estados Unidos podem exportar para o Brasil num nível
suficiente para manter a atividade da sua economia? Não acho que essa aritmética feche.
Os mercados emergentes simplesmente não são grandes o suficiente para compensar
inteiramente o efeito de uma desaceleração crônica de crescimento nos Estados Unidos,
na Europa e no Japão. Esses países do G-3 ainda são dois terços da economia mundial. E
se dois terços vão mal, muito mal, por um longo tempo, os mercados emergentes serão
afetados. Não há como escapar disso.
Os Estados Unidos ainda podem tentar estimular a sua economia?
Há muita discussão neste momento sobre até que ponto precisamos ter um segundo
estímulo fiscal, porque o setor privado não está gastando e o desemprego ainda está
subindo em vez de cair. Mas não acho que exista qualquer vontade no Congresso ou do
público de fazer um segundo estímulo fiscal. É verdade que alguma coisa será feita. O
governo Obama vai usar o restante do dinheiro do Tarp (Programa de Alívio a Ativos
Problemáticos)em vários programas de gasto público. Mas acho que, de agora em diante,
o estímulo fiscal vai declinar. Os bancos, por sua vez, não estão mais à beira do colapso,
mas também não estão emprestando. Os Estados Unidos podem ter alguma ajuda de um
dólar mais fraco e de mais exportações, mas, como disse antes, eu duvido que isso seja
suficiente para compensar a fraqueza da demanda doméstica.
Por falar nisso, o que o sr. prevê para a trajetória do dólar?
Se eu fosse um astuto operador cambial não seria professor, e estaria fazendo muito
mais dinheiro no mercado financeiro. Na verdade, venho prevendo um dólar
substancialmente mais fraco desde 2003, e continuarei a prever até que acerte. Agora,
falando sério, acho que existem fundamentos sólidos para que o dólar decline ante as
moedas dos países emergentes, em particular. Nós precisamos exportar mais, porque
estaremos poupando mais nos Estados Unidos e temos de vender mais para outras
pessoas o que produzimos. Um dólar fraco é parte disso. Um outro lado dessa moeda é
que estrangeiros não estarão desejosos de financiar déficits em conta corrente dos
Estados Unidos de 6% a 7% do PIB. Com menos dinheiro estrangeiro fluindo para os
mercados financeiros dos Estados Unidos, haverá menos dinheiro em suporte ao dólar.
Mas por que dos emergentes, especificamente?
Quando se pergunta se "o dólar tem de cair" é muito importante especificar contra o quê.
Os Estados Unidos têm esses problemas econômicos sérios e precisa de um ajuste. Mas a
Europa também tem problemas econômicos sérios e o Japão tem uma economia que não
cresce, com uma população cada vez mais idosa e com mais aposentados. Então, o dólar
não é muito atraente, mas o euro e o iene tampouco o são. Isso faz com que restem as
moedas dos mercados emergentes.
Não é arriscado para os mercados emergentes assumir o papel de consumidores
de última instância com moedas valorizadas?
Diferentes mercados emergentes têm situações muito diversas. A China está com um
tremendo superávit em conta corrente, e o consumo chinês é apenas um terço da
economia. Eles claramente deveriam poupar menos e consumir mais e ter um déficit em
conta corrente menor. O Brasil vive um boom de consumo, e não tem superávit em conta
corrente. Vocês têm de ser mais cautelosos e mais prudentes do que a China e do que a
maior parte das economias na Ásia em relação à taxa de crescimento da demanda
doméstica. Acho realmente que o Brasil precisa apertar a sua política econômica porque
há o perigo de que o crescimento do consumo continue a exceder o da produção, levando
ao aumento do déficit em conta corrente, o que pode ser perigoso.
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O Estado de S.Paulo 10 01 2010
''BC terá de atuar para elevar juros''
Para economista, Banco Central terá de enfrentar o desafio de esfriar a economia em
ano eleitoral
Fernando Dantas, RIO
Para Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das
Garças e consultor sênior do Banco Itaú BBA, 2010 deve ser muito favorável ao Brasil,
mas com dois riscos: internamente, de que o Banco Central (BC) relute em subir os juros
para conter a demanda aquecida em ano eleitoral; externamente, que um novo
agravamento da situação global leve a uma parada ou redução abrupta dos fluxos de
capital para o Brasil. Mas ele acha que o câmbio flutuante e as reservas internacionais de
US$ 240 bilhões deixam o Brasil bem preparado para a eventualidade de um ajuste
externo. A seguir, a entrevista:
Como o sr. vê o ano de 2010 para o Brasil?
O cenário básico é muito favorável. Tem uma recuperação vigorosa depois do desastre
que foi o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009. Desde o segundo trimestre de
2009, a economia vem crescendo acentuadamente. Quando se projeta as taxas para a
frente, o pressuposto é que o ritmo em que a economia vem crescendo é insustentável, é
maior do que o ritmo de crescimento da capacidade de produção. Simplificadamente, a
demanda está crescendo mais que a oferta.
Então pode haver aquecimento excessivo?
Dado o ritmo em que a economia está crescendo, e no qual se prevê que continuará a
crescer, vai ser necessário o Banco Central atuar para subir os juros. Essa é a grande
questão no Brasil neste ano: o Banco Central irá aumentar os juros na medida necessária
para esfriar a economia num ano eleitoral? Esse é o maior risco eleitoral, e não o que
fará em 2011 quem for eleito.
Por quê?
Porque, pelo lado dos estímulos fiscais, não há nenhum sinal de apaziguamento. O
estímulo fiscal já está comprado: o orçamento está aprovado do jeito que foi aprovado, e
o Lula ainda quer aprovar a Consolidação da Leis Sociais, que vai codificar e congelar a
possibilidade de se fazer ajuste em diversas áreas das contas públicas, especialmente a
previdenciária. Então, do lado fiscal não vai ter folga nenhuma e, do lado do setor
privado, com os níveis de emprego e com a expansão de crédito que está ocorrendo, a
demanda de bens de consumo vai crescer muito. Os programas de investimento estão
em significativa expansão. É um quadro parecido com aquele até o terceiro trimestre de
2008: a economia crescendo mais que o potencial, o Banco Central aumentando os juros
e o déficit externo também aumentando.
Preocupa o déficit externo?
O Banco Central recentemente reviu a sua estimativa do déficit em conta corrente para
2010 de US$ 29 bilhões para US$ 40 bilhões. No Itaú-Unibanco estamos com US$ 60
bilhões de déficit, mais do que 3% do PIB, e crescendo. Enquanto houver essa pujança
de financiamento externo, com o Brasil na moda, os juros muito baixos lá fora e um
grande apetite por risco, não haverá muito problema no financiamento de um déficit
dessa magnitude. Mas é um déficit alto e crescente. É claro que lá na frente tem pré-sal,
mas isso já é uma questão de prazo mais longo. E, no momento, o déficit do Brasil serve
bem ao mundo.
O sr. poderia explicar melhor?
Ao contrário do Brasil, que tem excesso de demanda sobre oferta, o problema do mundo
é excesso de oferta sobre demanda. Portanto, o fato de ter o Brasil na contramão é uma
coisa boa para o mundo, porque aumenta a demanda mundial. Serve para fechar o
buraco e aumentar o crescimento, porque o mundo perdeu o consumidor americano, e
está em busca, como diz o Ilan Goldfajn (economista-chefe do Itaú-Unibanco), de outro
consumidor de última instância. Obviamente, o Brasil não pode substituir os Estados
Unidos, mesmo porque não emite dólar e não é da mesma dimensão, mas é um dos
países que contribuem para o reequilíbrio global ao ter uma demanda por importações
bastante forte.
Mas o sr. não acha que isso é arriscado para o Brasil?
A contrapartida é que, se o mundo precisa da demanda do Brasil, a questão a se saber é
se está disposto a oferecer o financiamento que o Brasil precisa para exercer essa
demanda. O nosso déficit tem lógica dentro do equilíbrio mundial, mas pode fragilizar a
economia brasileira se, por questões sobre as quais nós não temos nenhum controle,
houver uma súbita reversão dos fluxos financeiros como houve em setembro de 2008, o
que não está descartado. Esse é outro risco. Mas é externo, e não interno. Há ainda uma
série de fragilidades na economia internacional, e reveladas aí nos últimos tempos - o
caso de Dubai, a quebra do banco austríaco, os problemas da Grécia. Certamente, tem
mais coisa debaixo do tapete. Se isso provocar um agravamento da situação econômica
global, a principal implicação para nós deve ser uma desvalorização significativa da
moeda.
O que fazer para evitar esse risco?
A depreciação não é um risco, mas sim a maneira pela qual a economia trata de se safar.
É muito bom que possa haver desvalorização se os fluxos sofrerem uma reversão
abrupta. Com menos financiamento externo, a economia vai ter de se adaptar às
circunstâncias, e a sinalização disso é a desvalorização cambial. Nesse caso, o País teria
de exportar mais e importar menos, provavelmente em condições desfavoráveis lá fora,
o que implica um ajuste interno. Mas, com câmbio flutuante e US$ 240 bilhões em
reservas, temos como acomodar o choque externo caso ele venha. Outro fator
importante é que o nosso financiamento externo seja feito em reais.
Como assim?
Isso mudou muito no Brasil. Quando se fala que déficit em conta corrente da magnitude
que vem se prevendo são financiáveis, as pessoas pensam na crise de 80, quando o
Brasil tinha déficits financiados por empréstimos externos em dólar. Agora, dois terços
do financiamento é em reais, na forma de investimento direto ou em portfólio, isto é,
ações ou títulos domésticos de renda fixa do governo. Apenas um terço é de
empréstimos em dólar tomados por empresas ou pelo governo. Se os recursos estão em
reais, quem perde, em caso de uma depreciação, são os estrangeiros que investiram
aqui, porque eles têm ativos em reais e a contrapartida disso são passivos em dólares ou
outras moedas fortes do país de origem. Mas o problema é deles, e não nosso.
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O Estado de S.Paulo 10 01 2010
É grave. Brasil se acomodou
Alberto Tamer
O Ministério do Desenvolvimento alterou ligeiramente o resultado da balança comercial
de 2009, mas isso não mudou nada. O resultado das exportações é o pior da história,
desde que os dados veem sendo levantados, em 1950. E, a não ser que haja uma séria
mudança de atitude do governo e dos empresários, o superávit comercial agora de US$
25,6 bilhões deve diminuir ainda mais neste ano. Com a economia caminhando para
crescer 5%, haverá mais mercado para ocupar no mercado interno. Ao mesmo tempo,
com a entrada no ritmo atual de investimentos externos, pelo menos até que a economia
internacional se estabilize, dificilmente o real irá se desvalorizar e as importações só
tendem a aumentar.
Muitos leitores, que criticaram o tom da última coluna perguntam: mas até onde é grave
ter um superávit decrescente e até mesmo um déficit na balança comercial?
Infelizmente, mas infelizmente mesmo, essa tem sido a dúvida do governo. Pelo menos,
é o que a sua atitude indica. O que importa é manter o crescimento do consumo interno,
o tudo o mais a gente arruma.
O fato é que, em termos comerciais, a economia brasileira é uma das mais fechadas e
protegidas do mundo. Exporta pouco, importa pouco. Em termos econômicos e
comerciais, a diplomacia brasileira é ainda mais fechada ainda.
Sem acordos bilaterais prometidos por Brasília quando a recessão derrubou o comércio
mundial. Nada. As regras do Mercosul não permitem. Só que o Mercosul, que na verdade
são Brasil e Argentina, não existe mais. Os argentinos estão preferindo a China e não
concordam conosco em negociações comerciais.
Uma camisa de força esgarçada pelas crises que se sucedem no país vizinho. Fomos
iludidos pela União Europeia que há mais de dez anos prometeu um acordo conosco e o
Mercosul. Ouvi isso de diplomatas entusiasmados quando cheguei a Paris, em 1994. Lá
se vão 16 anos! Até agora, nada. Os europeus nunca quiseram nada, só exportar mais
produtos industrializados para nós.
Fizeram o jogo deles, mas precisávamos ter entrado nesse mercado. Quantas alertas
fizemos por meio desta coluna após cada reunião cheia de promessas não cumpridas...
E, por favor, nem me falem de Doha. É a grande farsa comercial da década. E tem gente
importante em Brasília que ainda acredita nela. Só está servindo para manter empregos
na OMC, em Genebra.
Este cenário, mais a crise mundial, mais a apatia do governo e empresários em questão
de comércio exterior, explicam o que está acontecendo.
MAS, ESTÁ TUDO BEM
Brasília diz que tudo anda bem, mesmo com esse comércio exterior anêmico, raquítico,
porque não precisamos de superávits comerciais para cobrir o déficit em contas
correntes. Os investimentos externos param de entrar, preocupar-se, por quê?
Quanto ao estoque de reservas, nem se fala. O colunista do Estado, Celso Ming, com
muita oportunidade, apresenta na sua coluna de quinta-feira um quadro do BC
mostrando que as reservas cambiais no momento se elevam a US$ 239,1 bilhões. Em
2002, eram US$ 49,3 bilhões. No governo atual, aumentara nada menos que 385%.
Mais importante ainda, entramos na recessão com reservas maiores que a dívida externa
total. Não me lembro de ter visto isso nas minhas cinco décadas de jornalismo.
Deu até para o Banco Central socorrer com folga as empresas quando o crédito externo
escasseou. Queimou reservas. Estavam em US$ 180,3 bilhões em 2008, mas
aumentaram nos dois anos seguintes com a política do BC de comprar dólares no
mercado interno, com levantamentos oficiais e privados feitos no exterior.
Guardar dinheiro ou desfazer-se de dólares quando o país estava em crise? Nunca vi isso
em manual de economia algum.
UMA GRANDE CONFUSÃO
Essa situação de folga cambial que oferece certa tranquilidade nas contas externas levou
o governo a acomodar-se nos últimos anos. Está confundindo reservas cambiais com
geração de emprego, produção, crescimento econômico. Elas podem socorrer em
momentos de urgência, sim, como socorreram os bancos e a indústria, mas não podem
ser consideradas como elemento de política econômica sustentável.Foram pouco eficazes
ao apoiar e estimular as exportações, que recuam.
O Brasil está sendo visto hoje como um país seguro, com grandes reservas cambiais,
mas um anão comercial. Anão, sim. Pouco mais de 1% do mercado mundial. Mais grave,
um anão que tende a ficar ainda menor se continuar se transformando principalmente
em exportador de matérias-primas, produtos minerais, commodities agrícolas e, no
futuro, petróleo, que geram mais riquezas onde se consome do que onde são produzidos.
Não mais como exportador de produtos industrializados, de tecnologia avançada, para
países desenvolvidos.
Perdemos mercado nos EUA e na Europa, mas estamos alimentando a China.
A não ser que se rompa com esse clima de acomodação de que reservas cambiais são
investimentos, o resto não importa. O nosso destino é ficar à margem do mercado
mundial.
----------------------------------------O Estado de S.Paulo 10 01 2010
Um notável isopor na paisagem
Gaudêncio Torquato
“Não é de admirar que nem a paisagem desolada das tragédias que assolam o País neste
ciclo de chuvas torrenciais consiga tirar o sossego de Lula, o filho do Brasil, impávido,
com seu isopor na cabeça”
Ao desfilar com um isopor na cabeça, em seu descanso numa praia baiana, o presidente
da República escancara a estética que caracteriza um estilo espalhafatoso e de
acentuada marca populista. A leitura da imagem estampada nas primeiras páginas dos
jornais pode até conotar simplicidade, modéstia, despojamento. Aliás, essa é a
significação pretendida por Sua Excelência, a de pessoa comum, capaz de carregar a
cervejinha e os petiscos para enfrentar o vigoroso sol dos trópicos. Escudado em instinto
apurado, Lula sabe que um isopor sobre a cabeça não desmancha a liturgia que deve
presidir os passos de um mandatário de origem popular. Não cria, por exemplo, a
dissonância que se viu quando o sociólogo Fernando Henrique, em 1994, desengonçado e
de chapéu de couro, montou num cavalo no interior de Pernambuco. Se a popularidade
de Luiz Inácio tem que ver com as locuções improvisadas e exacerbadas, sob o leque de
analogias esportivas e tiradas de humor, o exagero estético das performances abre furos
na régua da credibilidade.
Se os excessos são menosprezados pelo vasto eleitorado que lhe propicia um dos mais
altos índices de aceitação entre os chefes de Estado da República, a explicação se deve
aos pacotes de benesses que o lulismo entrega às classes sociais no contexto de uma
crise internacional da qual o País, pelos potenciais e condições macroeconômicas, tem
tirado vantagens. Erros de governantes costumam ser perdoados quando os acertos
assumem maior relevância. É o que ocorre no nosso meio. Nem por isso, porém, se
podem apagar da planilha administrativa promessas não cumpridas, tarefas não
realizadas, particularmente no campo dos avanços institucionais. Luiz Inácio, que as fez
em profusão, teria condições, por sua origem e história, de comandar o maior processo
de modernização política da História brasileira. Não o fez, menos por convicção e mais
por conveniência. Iguala-se, por isso, aos antecessores. Com essa pontuação se
apresenta o livro do pesquisador inglês Richard Bourne (Lula do Brasil - a história real,
do Nordeste ao Planalto), que expõe as tentativas do presidente de "resgatar seus
compatriotas da pobreza e consolidar a democracia, embora o favoritismo e o
apadrinhamento continuem a desfigurar o cenário político". Só mesmo fanáticos e
radicais empedernidos discordam da conclusão a que chega o autor: o trabalho do exmetalúrgico "como construtor da democracia e de uma sociedade mais justa está
visivelmente incompleto".
Os acertos do governo Lula são muitos, a partir da condução da política econômica e da
implantação de uma extensa rede social, mesmo se sabendo que sobre esta há críticas
no que diz respeito à ausência de programas estruturantes. E onde estão os desacertos?
A resposta comporta, preliminarmente, uma observação sobre mudança nas sociedades
em desenvolvimento. A ciência política ensina que reformas significam mudança de
valores e padrões de comportamento tradicionais, fortes programas de educação,
racionalização de estruturas, organizações funcionais, eficientes critérios de desempenho,
além de distribuição mais equitativa de recursos materiais. Não há como negar que, no
caso brasileiro, este último componente é buscado, até porque a política de distribuição
de renda funciona como eixo central do lulismo. A estrutura social, porém, sem
contrapesos de monta em outras vertentes, desnivela o governo, ao envolvê-lo com os
braços de um populismo demagógico atrelado ao passado. As margens carentes, como
se sabe, dão seu voto a candidatos de direita, identificando-se com o conservadorismo
político. Se a expectativa desse grupamento se resume à esperança de um Estado cada
vez mais gordo e leniente, Lula é a própria síntese do ditado popular "juntar a fome com
a vontade de comer".
A verdade é que tateamos no escuro. Na frente educacional, os tropeços acumulam-se
sob a fumaça de fogueiras continuadas. Não se registram processos racionais de
significação. Ilhas de excelência, como a Embrapa, são raras. O desempenho por mérito
deixa a desejar, eis que a máquina inchada é comandada por quadros partidarizados. De
37 Ministérios, poucos conservam identidade nítida. Anote-se que Lula venceu dois
pleitos envergando a bandeira da mudança, termo que abriu o primeiro discurso de
posse. Na esfera política, pouco se avançou. A tão propalada mãe das reformas é
substantivo que perdeu sentido. Na área tributária, os entes federativos continuam a
disputar as fatias do bolo, com a guerra fiscal no pano de fundo. A Previdência é uma
bomba. Mais cedo ou mais tarde, explodirá. O déficit acumula-se a cada mês. Este ano
deverá ultrapassar a casa dos R$ 40 bilhões. As relações do Poder Executivo com o Poder
Legislativo obedecem a uma agenda de interesses. O presidencialismo de cunho imperial
transforma as Casas Legislativas em Poder tutelado. Sobre ele o governo usa um rolo
compressor. Em troca, libera recursos e distribui cargos. Bourne lembra que "a primeira
presidência de Lula foi obscurecida pela sombra negra do papel oculto do dinheiro na
política".
Para agradar a bolsões de esquerda e movimentos sociais, a partir do MST, Lula distribui
verbas polpudas. Um duto irriga a roça das centrais sindicais. O sindicalismo vive de
eventos. O núcleo dos Direitos Humanos impregna-se de revanchismo. E, assim, os
padrões da política pouco avançam. Já o Judiciário ganhou reforma meia-boca pela
Emenda Constitucional 45. O ministro Joaquim Barbosa tem defendido a reinvenção
desse Poder, que "tem uma parcela de grande responsabilidade pelo aumento das
práticas de corrupção em nosso país". O ministro enumera as mazelas: práticas arcaicas,
interpretações lenientes e muitas vezes cúmplices para com atos de corrupção e,
sobretudo, com sua falta de transparência no processo de tomada de decisões.
Não é de admirar que nem a paisagem desolada das tragédias que assolam o País neste
ciclo de chuvas torrenciais consiga tirar o sossego de Lula, o filho do Brasil, impávido,
com seu isopor na cabeça.
Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político
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Despesas secretas da Presidência crescem 39%
O Globo - 11/01/2010
Os gastos secretos dos cartões corporativos — que incluem a Presidência, a Polícia
Federal (PF) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — tiveram aumento de 52%,
entre 2008 e 2009. Em 2008, os três órgãos gastaram R$ 17,8 milhões e, em 2009, essa
soma pulou para R$ 27,1 milhões. O aumento nos gastos da Presidência foi de 38,9%:
passou de R$ 4,8 milhões em 2008 para R$ 6,7 milhões ano passado. No total, em 2009
os cartões corporativos consumiram R$ 64,5 milhões, contra R$ 55,2 milhões no ano
anterior.
Os cartões foram adotados em 2001, no governo do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, e se intensificaram a partir de 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva tomou posse em seu primeiro mandato. O objetivo era dar transparência aos gastos
do governo com pequenas despesas. Em 2008, uma Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) foi instalada para apurar eventuais desvios no uso, mas, ao final,
acabou em pizza.
No caso das três instituições, despesas são mantidas em sigilo por questões de
segurança da Presidência e pela natureza das atividades da PF e da Abin. Revelar gastos
dos dois órgãos poderia expor investigações e identificar agentes.
PF lidera despesas secretas com cartão
A Polícia Federal foi o órgão governamental que mais aumentou suas despesas secretas
com cartões. Enquanto em 2008 a instituição utilizou R$ 6,3 milhões de forma sigilosa,
no ano passado houve um acréscimo da ordem de 114%, atingindo o montante de R$
13,5 milhões. A assessoria da Polícia Federal informou que os gastos foram majorados
por conta do aumento de operações realizadas. Em 2009, segundo a entidade, foram 282
ações, contra 227 no ano anterior.
A Polícia Federal vem aumentando, e muito, seus gastos secretos. O Portal da
Transparência, do governo federal, informa que, em 2003, primeiro ano do governo Lula,
a Polícia Federal gastou R$ 258 mil com cartões.
Desde então, as cifras foram subindo, com exceção de 2004, quando as despesas foram
de apenas R$ 50 mil. Em 2005, elas somaram R$ 229 mil; em 2006, R$ 578 mil; em
2007, R$ 735 mil; e em 2008, R$ 6,3 milhões (um aumento de 1.844% entre 2007 e
2009).
Outro fator que contribuiu para o aumento das despesas, segundo a assessoria da Polícia
Federal, foi a abertura de postos de adidos nas embaixadas brasileiras. Um dos
beneficiados com esses novos postos foi o exdiretorgeral da Polícia Federal e da Abin,
Paulo Lacerda. Em 2009, ele foi nomeado adido policial em Portugal, após incidentes
durante as investigações da Operação Satiagraha, quando grampos telefônicos captaram,
entre outras coisas, conversas entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Abin tem o aumento mais discreto
A Abin praticamente não alterou seu orçamento secreto entre 2008 e 2009: o acréscimo
foi de apenas 1,02% — de R$ 6,5 milhões para R$ 6,7 milhões. A maior despesa da
agência ocorreu em 2007. Na ocasião, foram gastos R$ 11,5 milhões, quase o dobro do
despendido no ano anterior, quando foram destinados R$ 5,5 milhões nessa rubrica.
A assessoria da Abin informou que o aumento ocorreu por conta dos Jogos
Panamericanos, realizados naquele ano, no Rio. A assessoria também informou que a
Agência geralmente não gasta tudo que está discriminado no Orçamento. Já a assessoria
de imprensa da Presidência informou que a responsável pela contabilidade dessas
despesas é a Casa Civil. O GLOBO telefonou duas vezes para a assessoria da ministra
Dilma Rousseff, mas ninguém retornou a ligação.
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Caixas-pretas
Celso Ming - O Estado de S.Paulo - 11/01/2010
A autonomia dos bancos centrais está sob ataque em todo o mundo e uma revisão das
funções dos bancos centrais parece inevitável. No entanto, até agora não se inventou
sistema melhor para executar a política monetária (política de juros).
Ontem, esta Coluna apontou de onde e por que vem tanto tiro. Hoje, a proposta é
identificar um pouco melhor o problema.
Os críticos não se conformam com tanta concentração de poder nas mãos dos dirigentes
dos bancos centrais que nem sequer são eleitos para seus cargos. Se o mandato de um
chefe de Estado emana do voto popular, por que a administração do principal patrimônio
da sociedade, a moeda, fica a cargo de um punhado de burocratas que agem de acordo
com o que lhes dá na telha, estão sempre cheios de razão e quase nunca dão satisfação
do que aprontam.
A independência (ou autonomia) do banco central se baseia em dois pressupostos. O
primeiro é o de que nada é mais destrutivo para a vida econômica e social do que a
inflação. Por isso, tem de ser combatida implacavelmente. A longo prazo, não há
incompatibilidade entre combate feroz à inflação e defesa do emprego e da renda. Ao
contrário, é a falta de estabilidade monetária que destrói o setor produtivo e o emprego.
O segundo pressuposto é o de que não se pode deixar as impressoras de moeda nas
mãos dos políticos. É botar o bode para tomar conta do milharal. Os políticos precisam
do voto e voto se obtém gastando verbas públicas. Quando faltam verbas públicas, como
tantas vezes acontece, não há político que resista à tentação de soltar dinheiro à
vontade.
Segue-se que, na condição de cão de guarda da moeda, o banco central tem de ficar
longe dos políticos e deve usar seus dentes (política monetária) sempre que farejar
inflação.
No sistema de metas de inflação, o banco central obtém do governo o patamar tolerado
(no Brasil, é hoje de 4,5% ao ano) e usa a política de juros para empurrar a inflação para
dentro dessa meta. Se a inflação ameaça escapar para cima do estabelecido, tem de
reduzir o volume de dinheiro na economia (aumentar os juros); se a inflação está sob
controle e tende a resvalar para baixo do planejado, o banco central injeta mais dinheiro
na economia (baixa os juros).
A ideia é que essas medidas tecnocráticas sejam sempre explicadas e delas se prestem
contas à sociedade. E, no entanto, (esta é uma das queixas mais comuns) os bancos
centrais se portam como confrarias secretas que operam caixas-pretas a que ninguém
tem acesso. Em parte, não há como não ser caixa-preta. Os bancos centrais são os
fiscais e supervisores de instituições sujeitas a rigoroso sigilo bancário e os próprios
bancos centrais são bancos. Não há como abrir tudo aos distintos interessados.
Em todo o caso, nesta crise, ficou claro que os bancos centrais não deram conta do
recado. Deixaram que os bancos produzissem todo tipo de lambança. Uma das razões
pelas quais as bolhas apareceram e estouraram foi a excessiva generosidade da política
monetária exercida pelo maior banco central do mundo, o Federal Reserve (Fed, banco
central americano).
Não há saída, é preciso repensar tudo. Mas, paradoxalmente, todos os projetos de mais
regulação e mais controle conduzem a soluções que preveem mais poder para os bancos
centrais.
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Gestão explica resultados na bolsa em duas
décadas
Valor Econômico - 11/01/2010
Elas foram feitas para durar. Veteranas da bolsa de valores, sobreviveram ao confisco do
governo Collor, à abertura de mercado, às crises do México, da Ásia e da Rússia e
chegaram ao fim dos anos 2000 com uma valorização mais que robusta.
Uma carteira com os papéis de empresas como Gerdau, Itaú Unibanco, Vale e Petrobras
trazida desde os turbulentos anos 90 até agora seria hoje uma garantia de aposentadoria
milionária. Mas talvez nem o investidor mais ousado imaginaria que no topo da lista
estariam empresas completamente fora do radar.
A produtora de chapas de aço de Gravataí (RS), Panatlântica, e a fabricante de peças
para máquinas agrícolas, Metalúrgica Timboense, de Timbó (SC), valorizaram 148.355%
e 49.791% no período, em valores corrigidos pela inflação, números espantosos para
qualquer investimento. São papéis de pouca liquidez, algo que afugenta muitos gestores
de carteiras, mas não se trata dos famosos "micos", empresas quebradas que continuam
subindo e descendo desenfreadamente na bolsa. As duas têm uma história consistente
de receita e lucro crescentes, o que é garantia de pagamento de dividendos todo fim de
período.
No entanto, mesmo a valorização acima de 40.000% para uma "blue chip" como a
siderúrgica Gerdau é sem parâmetros -o Índice Bovespa subiu 5.097% no mesmo
período. Nos Estados Unidos, ressalvando-se que se trata de um mercado muito mais
maduro, a campeã é a Dell, com 1.490%. Entre as empresas da América Latina, com
base nos dados da consultoria Economática, não há nada que se compare com a
valorização das companhias brasileiras.
As duas últimas décadas contam a história do renascimento do mercado de capitais
brasileiro, um mercado muito mais consistente do que a desastrada experiência na época
do "milagre econômico", nos anos 70. A retomada das aberturas de capital a partir de
2004 provavelmente não seria possível sem a estabilização da economia na década
anterior, que livrou a gestão das empresas das garras da inflação.
Será difícil uma repetição de saltos como esses nos preços das ações nos próximos anos.
É como se tivesse havido uma apreciação acelerada nas duas últimas décadas para
trazê-las ao patamar de seus pares do mundo desenvolvido. Criar valor agora passa a
ser uma questão mais milimétrica.
O processo de crescimento econômico brasileiro nos últimos anos, aliado a uma boa
gestão, explica o desempenho de boa parte das vencedoras ao longo destas últimas duas
décadas, acredita o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino. "As
histórias individuais das companhias são sempre importantes, mas certos eventos
macroeconômicos são determinantes para o futuro delas", afirma.
É o caso de gigantes como Petrobras e Vale, que fazem parte do ranking das mais
valorizadas. As ações da Petrobras despontaram principalmente após 1999, quando os
combustíveis passaram a ser reajustados, para que a tradicional conta-petróleo pudesse
contar positivamente no superávit primário de 3,25% que o Brasil tinha se comprometido
em fazer junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Só para se ter ideia do impacto
de tal medida para a Petrobras, suas ações ordinárias (ON, com voto) subiram 411,5%
em 1999, corrigido pela inflação. "É inegável que a gestão da companhia melhorou ao
longo dos anos, mas a medida macroeconômica na conta-petróleo foi mais importante do
que qualquer governança", explica.
Para a Vale, o crescimento da China e, consequentemente, o expressivo aumento do
minério de ferro foram decisivos para a valorização dos papéis, principalmente a partir de
2000. O preço do minério subiu de US$ 20 por tonelada para US$ 80 em alguns anos. No
caso da mineradora, a privatização em 1997 foi um divisor de águas na gestão.
Existem também exemplos de boa gestão na veia. Gerdau é um deles. Simino lembra da
época em que era analista e no banco em que trabalhava costumava-se dar três notas
para as empresas: no aspecto financeiro, no operacional e no comercial. "Era muito difícil
encontrar uma companhia que tivesse nota boa nas três áreas, e a Gerdau conseguia."
No grupo das perdedoras existe um denominador comum: a abertura comercial no início
da década de 90, que dizimou o setor têxtil, por exemplo. Não é à toa que Teka,
Tecelagem São José, Botucatu Têxtil, Schlosser e Tecelagem Blumenau estão entre as
maiores desvalorizações. A abertura comercial também prejudicou o setor de autopeças.
A pergunta que todo investidor deve estar se fazendo agora é quais serão as ganhadoras
dos próximos 20 anos. Simino acredita que nomes como Petrobras, Vale, Gerdau e Itaú
Unibanco continuarão na lista. Já entre as debutantes, ele arrisca que estejam empresas
do setor imobiliário, cujo crescimento parece estar apenas no começo.
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Com perspectivas positivas, Brasil impulsiona
crescimento na AL
Brasil Econômico - 11/01/2010
Um conjunto de fatores deve fazer com que 2010 seja um ano inédito para a economia
brasileira, com a atividade em alta em quase todos os setores do mercado interno,
inflação controlada, juros baixos para os padrões nacionais e índices de desemprego em
queda. Aproveitando-se deste cenário favorável, o Brasil vai crescer neste ano cerca de
6% e impulsionará o desenvolvimento na América Latina, que terá uma expansão média
em torno de 5%.
As previsões foram feitas por economistas de países emergentes,que estarão reunidos a
partir de hoje na Fundação Getúlio Vargas (FGV) para discutiras perspectivas da América
Latina no mundo pós-crise. Organizado em parceria com a Fapespe a Ordem dos
Economistas do Brasil, o Laporde - Latin America Advanced Programe on Rethinking
Macro and Development Economics - o evento terá a participação de Jomo K.S,
economista da secretaria geral de desenvolvimento econômico das Nações Unidas, Jose
Antonio Ocampo, professor da Universidade de Columbia, Jan Kregel, professor da
Universidade do Missouri e Gabriel Palma e Ha-Joo Chang, ambos professores de
Cambridge.
“As perspectivas para a América Latina, em 2010, são em geral positivas. Até porque a
região depende muito dos preços das commodities, que já se recuperaram nos últimos
meses”, afirma um dos organizadores do evento, o economista e professor da FGV, Paulo
Gala. Segundo ele, a única exceção na região ficará por contado México, onde o
crescimento do PIB não irá ultrapassara faixa de 2%. “Isso porque os mexicanos ainda
têm seus negócios muito atrelados ao mercado norte-americano, que ainda permanecerá
em baixa em2010”, acrescenta.
Em meio a tanta euforia,Gala alerta para os riscos de um câmbio valorizado impedir os
mercados latino-americanos de diversificar a produção industrial.“Trata-se do maior
desafio para os líderes da região. Veja ocaso do Brasil, que começa a dar certo e atrai
recursos estrangeiros.Isso aprecia o câmbio e detona as indústrias. É o paradoxo do
sucesso”, avalia.
Mesmo assim, a situação no momento não preocupa. Mas o sinal amarelo já acendeu
para2011, quando Gala calcula que o déficit em conta corrente pode atingir 5% do
Produto Interno Bruto (PIB). “No curto prazo, temos dinheiro entrando, com
financiamento farto. Não vai ter crise cambial. Agora, no médioprazo isso pode voltar,
principalmente se a economia mundial entrar em colapso”, diz.
Com a falta de dólar no mercado,o câmbio voltaria a se depreciar,pressionando a
inflação.Segundo o economista, o Brasil não sentiu tanto os efeitos da crise global
justamente porque tem uma situação externa favorável, com cinco anos seguidos de
superávit em conta corrente entre 2003 e 2007. Em relação ao comércio exterior, os
problemas devem começar jáem2010. Gala acredita que a balança comercial vai encerrar
o ano com déficit de US$ 5 bilhões. O resultado seria fruto da demanda externa baixa.
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Chávez desvaloriza moeda em 50%
O Estado de S.Paulo - 09/01/2010
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem uma importante reforma
financeira que desvalorizou o bolívar forte, a moeda do país, e estabeleceu tipos de
câmbio distintos para setores considerados prioritários - como alimentação, habitação,
saúde e educação - e não prioritários.
O bolívar forte estava em 2,15 por dólar no câmbio oficial desde 2005. Para negócios que
envolvam o setor prioritário, a cotação passou para 2,60 por dólar. Para itens não
essenciais - como automóveis, tabaco, bebidas, telecomunicações, produtos químicos,
petroquímicos e eletrônicos -, o bolívar será cotado a 4,30, uma desvalorização de 50%.
O câmbio na Venezuela é controlado pelo governo. O país adotou o sistema de câmbio
fixo em 2003. Em janeiro de 2008, foram cortados três zeros da antiga moeda, o bolívar.
Esta é a quarta desvalorização em sete anos.
Apesar de proibido e punido com pena de prisão e perda dos valores envolvidos, o
câmbio paralelo chegou a pagar 7 bolívares fortes por dólar, aumentando os preços e a
inflação no país. A simples divulgação da cotação da moeda no câmbio paralelo é
considerada crime. Chávez disse que o Banco Central e o governo intervirão no mercado
paralelo para evitar a especulação, mas não deu detalhes da estratégia. Chávez afirmou
que o controle do câmbio chegou para ficar, pois "os dólares são para o povo e não para
comprar carros e uísque".
O presidente informou que as novas taxas entrarão em vigor imediatamente e ressaltou
que as as medidas buscam "dar novo impulso à economia produtiva, conter as
importações que não são estritamente necessárias e estimular a política de exportação".
Após quase cinco anos de crescimento contínuo, a economia venezuelana enfrentou um
forte retrocesso no ano passado ao registrar uma queda de 2,9% com relação a 2008.
Interceptação Aérea
Chávez afirmou ontem ter ordenado que caças F-16 interceptassem um avião de guerra
dos EUA que teria violado o espaço aéreo da Venezuela na quarta-feira. Ele disse, em
reunião com seus ministros, que a aeronave P-3 Orion, procedente de Curaçau,
possessão holandesa no Caribe, entrou no espaço aéreo venezuelano em duas ocasiões.
Segundo ele, o avião entrou ao meio-dia e permaneceu no espaço aéreo da Venezuela
por cerca de 15 minutos, apesar da pressão dos caças venezuelanos, depois voltou às
13h37 e permaneceu por mais 19 minutos. "Estão fazendo uma provocação. São aviões
de guerra", declarou Chávez. Ele acusa os EUA de estar preparando um ataque contra a
Venezuela usando países da região.
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O Globo - 11/01/2010
China ultrapassa a Alemanha e se torna o maior
exportador do mundo
A China deixou a Alemanha para trás em 2009 no posto de maior exportador do mundo,
com um total vendido ao exterior de US$ 1,2 trilhão, informou ontem o governo chinês.
A associação de exportadores alemã estima que as vendas externas do país tenham
atingido US$ 1,17 trilhão no ano passado. O novo status da China é simbólico, mas
chama a atenção para sua presença cada vez mais forte no setor industrial e como
comprador de petróleo, minério de ferro e outras commodities, aumentando seu poder
na economia global. O país já era o maior mercado mundial de automóveis e o maior
fabricante de aço.
Em 2007, a China já passara Alemanha como a terceira maior economia. A expectativa é
que este ano o país avance ao segundo lugar, atualmente ocupado pelo Japão, perdendo
apenas para os Estados Unidos. As reservas internacionais chinesas estão hoje acima de
US$ 2 trilhões e a economia cresceu 8,9% no terceiro trimestre de 2009. Para o ano, o
governo prevê expansão de 8,3%.
O fato de destronar a Alemanha, por muito tempo líder mundial em exportações, reflete
a capacidade da indústria chinesa, conhecida por seus baixos preços, de manter as
exportações em alta enquanto outros países amargavam a forte queda na demanda
mundial.
Também pesou o pacote de estímulo contra a crise global, de 4 trilhões de yuans (US$
585 bilhões).
- Se a China cresce, puxa a economia global, e isso também beneficia a Alemanha,
voltada para exportações - afirmou, no mês passado, o economista da Câmara Alemã de
Comércio, Volker Treier.
Mas os EUA reclamam que parte do sucesso das exportações chinesas se deve ao câmbio
controlado - está congelado desde 2008 - e a subsídios governamentais, que garante aos
exportadores vantagens sobre seus concorrentes.
Os EUA criaram tarifas antidumping para importações de produtos siderúrgicos chineses
e outros setores, enquanto a União Europeia limitou as compras de sapatos produzidos
no país asiático.
Pequim promete lutar contra bolha no setor imobiliário A China também afirmou ontem
que não deixará que o investimento especulativo estrangeiro afete o mercado imobiliário,
onde se teme o surgimento de uma bolha. O Conselho Estatal (o gabinete do governo
chinês) disse que entidades como o Banco Central e a Comissão Reguladora Bancária da
China precisam “melhorar a supervisão de empréstimos e investimentos estrangeiros
para evitar fluxos ilegais de capital ao mercado imobiliário”.
Em 2009, cerca de um sexto dos 10 bilhões de yuans (US$ 1,5 bilhão) em novos
empréstimos foram para o setor imobiliário.
O governo também pediu que autoridades locais aumentem a oferta de imóveis.
China: Importação recorde de petróleo em
dezembro
Jornal do Commercio - Rio de Janeiro - 11/01/2010
A China importou mais de 5 milhões de barris diários de petróleo em dezembro, um nível
recorde que sinaliza o avanço do país no processo de recuperação econômica. Também
representa um impulso das refinarias estatais para que haja reservas suficientes de
combustível antes do feriado local do Festival de Primavera.
O salto das importações ocorreu durante um mês em que os preços de referência do
Petróleo Intermediário do Texas (WTI, na sigla em inglês) atingiram seu menor patamar
em dois meses, a US$ 68,59 o barril, em 14 de dezembro. Muitos analistas preveem que
os preços do WTI fiquem, em média, acima de US$ 80 o barril no primeiro trimestre de
2010. Assim, a China teria decidido importar mais petróleo agora, em vez de esperar e
ter de pagar mais caro.
Dados preliminares da Administração Geral Alfandegária mostraram ontem que a China
importou 21,26 milhões de toneladas de petróleo em dezembro, o equivalente a 5,03
milhões de barris por dia. Esses números são superiores às maiores importações até
então, registradas em julho, quando o país comprou 19,63 milhões de toneladas de
petróleo.
As importações de petróleo da China cresceram neste ano à medida que refinarias novas
e ampliadas começaram a funcionar nas províncias de Fujian e Guangdong, no sul do
país. A demanda por combustíveis permaneceu forte, diante do pacote de estímulo de 4
trilhões de yuans (US$ 585,5 bilhões) para recuperação da economia.
Em 2009, as importações de petróleo da China subiram 13,9% para 203,79 milhões de
toneladas, ou 4,09 milhões de barris por dia, o que consolida o país como segundo maior
importador mundial de petróleo no ano. A China ficou atrás apenas dos Estados Unidos e
superou o Japão. No ano anterior, a China importou em média 3,6 milhões de barris por
dia, enquanto o Japão respondeu por 4,15 milhões.
Minério. Sobre importações e exportações dos setores de siderurgia e mineração do país,
a instituição informou que a China importou 62,16 milhões de toneladas de minério de
ferro em dezembro do ano passado, 80% mais do que em igual mês de 2008 e o
segundo maior volume já registrado pelo país.
As importações de minério cresceram 22% em dezembro, em comparação com
novembro. Em 2009, a China importou 627,78 milhões de toneladas de minério de ferro,
alta de 41,6% ante 2008. A China é o maior importador de minério de ferro do mundo e
obtém a maior parte de seu abastecimento do Brasil, Austrália e Índia.
As exportações da China cresceram 17,7% em dezembro, mais do que se esperava, e
deram fim a um ciclo de 13 meses de contração. Apesar da melhor demanda externa, o
superávit comercial do país no ano passado teve a primeira queda em seis anos. As
expectativas eram de que as exportações da China tivessem um ganho de 5%, segundo
pesquisa da agência Dow Jones.
Imóveis. O governo chinês prometeu ontem não deixar que investimentos especulativos
estrangeiros afetem seu mercado imobiliário. A decisão vai servir como diretriz para
autoridades locais e ministérios, incluindo o Banco do Povo da China e a Comissão
Regulatória de Bancos da China, traçarem medidas detalhadas.
---------------------------------------------Valor Econômico - 11/01/2010
Estresse hídrico já afeta 700 milhões de
pessoas em 43 países, diz estudo
A água será, segundo alguns estudos, o principal espelho das mudanças climáticas, com
impactos que se sobrepõem em diferentes áreas. O cenário delineado por um trabalho da
Teri (The Energy and Resources Institute) com a Universidade de Yale, mostra que a
vida, e também os negócios, ficarão cada vez mais difíceis.
O estudo foi mostrado na CoP-15, a Conferência das Partes sobre o Clima, realizada em
dezembro, em Copenhague.
Hoje, 700 milhões de pessoas vivem em situação de estresse hídrico em 43 países.
Dentro de 20 anos, quase metade da população mundial deve estar nessa condição de
escassez, com uma disponibilidade per capita de água inferior a 1,7 mil metros cúbicos
anuais. Mas antes disso, em 2025, algumas regiões da África enfrentarão quadros ainda
mais drásticos, com disponibilidade inferior a 1 mil metros cúbicos por pessoa ao ano,
segundo o estudo realizado pela Teri, que tem como diretor-geral o economista indiano
Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC), criado há 21 anos pela ONU para fornecer visão científica sobre alterações
climáticas, seus impactos e consequências econômicas.
O trabalho, realizado com o apoio da Coca-Cola, mostra a complexidade da gestão de
recursos hídricos cuja distribuição espacial, ou mesmo sazonal, é às vezes mais
problemática que a escassez. Quase dois terços da população mundial reside em áreas
que recebem apenas 25% do total de chuvas. Na outra ponta, a Bacia Amazônica, com
10 milhões de pessoas, responde por aproximadamente 20% do escoamento. Por isso,
as estimativas, geralmente feitas em base regional ou nacional, com índices per capita,
não refletem problemas como a desigualdade de acesso. Também deixam de lado
questões como a absoluta falta de recursos econômicos para levar água disponível à
população, um tipo de escassez comum na África subsaariana.
O cenário hídrico para o futuro - que embute um conjunto grande de incertezas - requer
abordagem multilateral e multissetorial para garantir a gestão adequada, com eficiência
no uso e redução de desperdícios. A indústria, que segundo o trabalho não chega a ser
responsável por 10% da extração de água mundial, pode contribuir de forma
significativa. Entre as estratégias e práticas sugeridas para o mundo corporativo estão a
aferição de "pegadas" de água e de carbono ao longo da cadeia, integração das questões
climáticas e hídricas às estratégias e negócios e realização de parcerias para conservação
de recursos. As iniciativas incluem ainda adoção de tecnologias para zerar as descargas
de água, reciclagem e reuso.
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Verão do Sudeste pode ser o mais chuvoso
da década
Valor Econômico - 11/01/2010
O ano de 2009 foi o quarto mais chuvoso nos últimos 30 anos em São Paulo e o verão de
2009 e 2010 deve ser um dos mais chuvosos da década na Região Sudeste. Em apenas
38 dias desde 1º de dezembro já choveu o que costuma chover nos dois meses
completos na capital paulista. Na região de Angra dos Reis (RJ), onde deslizamentos
deixaram mais de 50 vítimas, as precipitações do período superam o volume dos últimos
dez anos, e em mais de duas vezes o que choveu no ano passado.
Segundo especialistas, o aumento no volume de chuvas está relacionado a aspectos
locais, como o crescimento da mancha urbana e o consequente aquecimento do ar na
região. Uma tendência global de aquecimento tem impactos pouco significativos nas
precipitações, diz Augusto José Pereira Filho, professor do Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP). "A diminuição das áreas vegetadas faz com
que o solo absorva menos calor, o ar fica mais quente e há mais chuva", diz Pereira
Filho.
Por conta dessas condições, acompanhamento realizado pelo IAG mostra que, nos
últimos 70 anos (de 1936 a 2005), houve uma alta de 2,1 C da temperatura do ar na
região metropolitana de São Paulo, e um aumento de 335 milímetros (mm) do volume de
chuvas.
Outras alterações verificadas são sobre a precipitação média diária, que aumentou
significativamente no período chuvoso, tornando as chuvas de verão mais intensas na
região. O estudo atribui esse aumento aos efeitos de ilha de calor e da circulação de
brisa marítima.
A mudança no clima e no regime de chuvas não é perceptível se for olhada anualmente,
pois em alguns anos chove mais e em outros, menos. Neste verão está chovendo muito.
O período mais chuvoso dos últimos 30 anos foi o de 1983, com uma precipitação
acumulada de 2.236 mm.
Com um volume total de 1.883,6 mm, além de 1.983, 2009 ficou atrás apenas de 1991 e
1996. Dessa forma, é possível perceber que anos muito chuvosos são alternados por
outros mais secos, com o aumento do volume de chuvas verificado apenas num longo
período.
Além dessa tendência de aumento das chuvas nas áreas urbanizadas, o país está desde o
meio do ano passado sob influência do fenômeno climático El Niño, um aumento anormal
da temperatura das águas do Oceano Pacífico que muda padrões de transporte de
umidade e o regime de chuvas. No Norte e Nordeste, chove menos. No Sul e Sudeste,
chove mais. Os último período em que houve El Niño foi de 2006 para 2007, com menos
efeito sobre aumento das chuvas, porém, do que agora.
Soma-se neste verão um fluxo de umidade vindo da região amazônica maior do que o
normalmente observado e cujas causas ainda em análise pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe). Também é observada uma alta da temperatura do Oceano
Atlântico.
"A previsão é de mais chuvas até março. Se continuar chovendo desse jeito, este verão
vai se enquadrar entre os mais chuvosos da história", diz Lincoln Muniz Alves,
meteorologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe.
As chuvas estão muito concentradas nos primeiros dias deste verão. Já choveu de 60% a
80% acima da média histórica (1961 a 1990) na capital de São Paulo, considerando a
média histórica de 180,3 mm em dezembro e 238,3 mm em janeiro.
No período anterior - verão de 2008/2009 - choveu de 20% a 40% abaixo da média. Em
2007/2008, porém, choveu 40% a 60% acima da média, o que mostra que não existe
uma tendência de aumento de chuva ano a ano. "Não há perigo do ano que vem ser pior,
não há essa lógica", diz Alves.
Na região de Angra dos Reis, o volume de chuvas acumulado do dia 1º de dezembro de
2009 até o dia 6 de janeiro chega a 405,81 mm, diante de 218 mm no mesmo período
anterior e 171 mm no de 2007/2008. Segundo Pereira Filho, do IAG, o perigo para as
encostas de morros, mais do que a força da chuva, é a sua duração. "A duração é pior
que a intensidade, porque vai encharcando o solo até ele ceder", diz o professor.
A Região Sul também está vivendo um dos seus verões mais chuvosos. Desde o período
de dezembro de 2002 a fevereiro de 2003 não eram verificadas chuvas acima da média
histórica no Estado do Rio Grande do Sul. Em São Paulo, o último verão com chuvas
acima da média foi o de 2006/2007, com precipitações mais concentradas na Região
Oeste, porém.
--------------------------Folha de S.Paulo - 11/01/2010
Crédito imobiliário avança e flerta com
derivativo no país
O mercado imobiliário brasileiro, um dos mais atrasados do mundo em termos de crédito,
se prepara para dar o seu maior salto a partir deste ano. A aposta é repetir o sucesso
das empresas brasileiras que abriram capital e buscar recursos para o financiamento da
compra de imóveis no mercado de capitais, incluindo o uso de derivativos, como ocorre
nas principais economias do mundo.
Para atrair o dinheiro dos fundos de pensão e de investimento, os empréstimos têm de
passar pelo processo de "empacotamento", chamado de securitização, em que são
convertidos em título com liquidez no mercado. Nele, uma dívida de 30 anos vira um
papel com preço, variando de acordo com um "rating" (nota) dado por agência de risco,
oferta e demanda.
Essa "engenharia", que usa derivativos [contratos que "derivam" de outro ativo; no caso,
de crédito] foi amadurecida nos EUA, onde papéis de alto risco levaram à crise das
hipotecas de segunda linha ("subprime").
Para os fundos de investimento, os papéis imobiliários podem se tornar opções de baixo
risco de crédito -a inadimplência gira em 2,5%- com ganho superior ao dos títulos do
governo. Até há pouco tempo, não havia mercado para esses papéis devido ao baixo
retorno. Já os fundos de pensão têm interesse em papéis com vencimento daqui 20 anos,
quando pagarão mais aposentadorias.
"Todas as condições estão dadas para esse mercado decolar. E sem os excessos vistos
nos EUA", disse Fernando Brasileiro, presidente da Cibrasec, maior securitizadora do
país.
Flexibilizar a poupança
O caminho de acesso ao mercado de capitais passa pela flexibilização das regras da
poupança, principal fonte de recursos do setor, que poderia ser melhor aproveitada se os
bancos não tivessem de esperar até a última prestação do imóvel para retirá-lo do
balanço.
Hoje, os bancos precisam manter em carteira empréstimos imobiliários correspondentes
a 65% da captação da poupança, sob pena de o montante não utilizado ficar retido como
compulsório sem remuneração no Banco Central.
Com um pequeno ajuste na regra, as instituições financeiras poderiam utilizar os 65% da
poupança, e ainda ficar livres para ""empacotar" o empréstimo e vendê-lo no mercado.
A proposta tem apoio do governo e do Banco Central. A Folha apurou no BC que a única
objeção é que os bancos "reciclem" recursos baratos da poupança e usem o dinheiro para
empréstimos de retorno maior, ou seja, que não destinem ao crédito imobiliário.
Entidades do setor defendem que os bancos cumpram os 65% de direcionamento
somente pela originação do empréstimo. Dessa forma, o banco "recicla" o dinheiro da
poupança, embolsa o lucro total da operação antes do vencimento, e obtém dinheiro
novamente para fazer outro empréstimo utilizando o mesmo volume de recursos.
"O Sistema Financeiro da Habitação incentiva os bancos a não fazerem novas concessões
para manter o estoque de crédito. Precisamos reoxigenar esse processo", diz o advogado
Alexandre Assolini, presidente da comissão criada pela BM&F Bovespa para estudar como
destravar o crédito imobiliário.
"Estamos falando em colocar uma rodinha no crédito imobiliário. Enxergamos 2010 como
o ano em que a gente vai ter um novo sistema de financiamento, com a conjugação dos
mercados imobiliário e financeiro", disse Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP
(sindicato do setor em São Paulo).
A flexibilização da poupança tem potencial para alavancar o crédito imobiliário, que não
passa de 2,7% do PIB, atrás de México (9%), Chile (17%) e EUA (65%), entre outros.
Segundo especialistas, o atraso do Brasil no crédito imobiliário é uma das últimas
heranças do período inflacionário. Só não aconteceu ainda porque o país tinha juros
altos, que impediam financiamentos longos -em seis anos, uma dívida duplica com juro
anual de 12%.
O Brasil é também um dos países com menor participação do mercado de capitais no
financiamento imobiliário. Segundo a consultoria Accenture, só 2,3% do crédito
imobiliário veio do mercado; nos EUA, chega a 63%, e, no México, a 8%.
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IGP-DI recua 1,43% em 2009, primeira
deflação em 65 anos
Folha de S.Paulo - 09/01/2010
A crise econômica fez com que os preços medidos pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna) registrassem, em 2009, deflação de 1,43%, primeira variação
negativa desde 1944, quando o índice começou a ser calculado pela Fundação Getulio
Vargas.
As principais influências para a queda, no atacado, vieram de produtos cotados no
mercado internacional.
O coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, diz que, em 2010,
haverá retorno de taxas positivas. "Com a crise, houve um esfriamento das atividades e
queda nos preços. Para 2010, não devemos ter nada parecido com 2008 ou 2009. Os
preços retornam ao terreno positivo, mas sem voltar à trajetória explosiva de 2008",
afirmou Quadros.
O IGP-DI é um dos indexadores das telecomunicações. Também corrige a dívida dos
Estados com a União.
Os preços no atacado tiveram retração de 4,08% em 2009. Eles compõem 60% do IGPDI. O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) fechou 2009 com variação positiva de
3,95%.
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Momento de alta do juro deve ser foco de atenção
Maria Cristina Frias, Mercado Aberto - Folha de S.Paulo - 11/01/2010
Entre os principais pontos em que se deve prestar atenção na economia neste ano, Ilan
Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do Banco Central, destaca o
momento da provável subida de juros pelo Banco Central.
"É importante acompanhar quando será, se no começo, no meio ou no fim do ano", diz
Goldfajn. "Acreditamos que o BC começará a subir os juros já na reunião de março, para
resolver o problema de sobreaquecimento na raiz."
Para Goldfajn, "parece que será necessário elevar a taxa para algo em torno de 11,5%".
O aquecimento da economia é outra preocupação.
Haverá mais empregos, produto e renda. A economia encontrará gargalos ainda neste
ano, alguns deles já são conhecidos, como infraestrutura e mão de obra qualificada,
afirma Goldfajn. "Acho que não faltará nenhum produto, haverá pressões de custo
crescente com impacto sobre os preços a partir do segundo semestre deste ano", diz o
economista.
Goldfajn destaca ainda as contas externas.
"Terão deficit considerável. É bom acompanhar o saldo em conta-corrente", afirma.
O economista diz estimar deficit em conta corrente de 3% do PIB, em razão de um
rápido crescimento das importações.
"Após um 2009 piorado, [em relação às contas do governo], haverá controle mínimo nos
gastos em 2010?", pergunta-se.
Haverá algum ajuste fiscal em 2011, para aliviar a pressão sobre os juros e câmbio (e o
deficit em conta corrente), afirma acreditar Goldfajn. "Mas a capacidade de ajuste futuro
depende do que ocorrer neste ano e seria muito útil alguma contenção mínima", conclui.
Pilha de Livros
"Li no fim de ano "Um enigma chamado Brasil: 29 intérpretes e um país" (editora
Companhia das Letras) dos organizadores Lilia Schwarcz e André Botelho. Simplesmente
excepcional. Imperdível. Quem não ler os vários magníficos artigos, ficará para sempre
sem entender o Brasil. Minha pilha de cabeceira inclui: "Estive em Lisboa e lembrei de
você", do Luiz Ruffato (editora Companhia das Letras), e "A cidade ilhada", de Milton
Hatoum, também, por coincidência, da Companhia das Letras. Alterno os dois e me
deleito lendo-os em fragmentos diários", afirma Barros.
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Elas conseguiram
Miriam Leitão - O Globo - 10/01/2010
Nos próximos meses, as mulheres americanas atravessarão uma fronteira e passarão a
ser a maioria das pessoas empregadas no mercado de trabalho. Hoje, são 49,9%. A
revista “Economist” pegou o dado como assunto da sua primeira reportagem de capa do
ano. Segundo a revista, essa foi a maior revolução que aconteceu nos tempos atuais. A
transformação não está completa.
No Brasil, as mulheres são 44% do mercado de trabalho, mas há muito tempo são
maioria nos cursos universitários, e 59,9% tem 11 anos ou mais de estudo. Apesar disso,
ganham 71% do que os homens ganham e têm mais dificuldade de ascensão nas
empresas. O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas, Ence, do IBGE, dá números impressionantes sobre o Brasil: — Nos últimos
40 anos, 40 milhões de mulheres entraram na População Economicamente Ativa do
Brasil.
Uma Argentina. De 2000 a 2007, entraram na força de trabalho nove milhões de homens
e 12 milhões de mulheres. Na faixa de trabalhadores com mais de 11 anos de estudo,
elas já são maioria.
Em 1966, 40% das mulheres que terminaram faculdade nos Estados Unidos tinham
optado pela área de educação e apenas 2% se formaram em administração e negócios.
Agora, são 12% em educação e 50% em administração e negócios. Mesmo assim, só 2%
dos cargos de principal executivo das 500 maiores empresas americanas da Fortune são
ocupados por mulheres. Na Inglaterra, são 5%.
A revista celebra o avanço da mulher no mercado de trabalho com frases assim: “Milhões
de cérebros passaram a ser usados de forma mais produtiva.” E sustenta que países que
resistem a esta tendência — não apenas os países árabes, mas Japão e Itália, por
exemplo — “vão pagar um alto preço na forma de talentos desperdiçados e cidadãos
frustrados.” O Goldman Sachs acha que incluir mais mulheres no mercado de trabalho
pode puxar o PIB da Itália em mais 21%, do Japão, em mais 16%.
Os dados são espantosos.
Na União Europeia, as mulheres ocuparam seis milhões dos oito milhões de empregos
criados desde 2000. Nos Estados Unidos, três em cada quatro demitidos na atual
recessão eram homens. Em 2011, haverá 2,6 milhões de mulheres a mais do que
homens entre os estudantes das universidades americanas.
Sempre haverá explicação do tipo: há mais emprego para mulheres porque elas recebem
menos. Mas o fenômeno é mais complexo do que isso e qualquer tentativa de explicação
com uma única causa ficará incompleta.
Há influência do movimento feminista, a pílula, a maior escolaridade, as transformações
econômicas, as mudanças culturais, a vontade da mulher. Uma das explicações da
revista para essa absorção de mulheres no mercado de trabalho é o crescimento do setor
de serviços, que emprega mais mulheres, e também a demanda por habilidades mentais
— nas quais há igualdade entre os sexos — maior do que a demanda por força física.
Chamadas para o mercado de trabalho na falta de homens, durante a Segunda Guerra
Mundial, as mulheres nunca mais voltaram para casa. Na época, o cartaz da propaganda
americana era uma mulher de uniforme — Rosie, a operária — com o braço levantado
como sinal de força e a frase “We can do it” (Nós podemos fazer). A revista usa o mesmo
cartaz e põe o título: “We did it” (Nós conseguimos).
Os dados derrubam os mitos que certas reportagens no Brasil sustentam de que as
mulheres estariam fazendo o caminho de volta para casa, ou que passaram a valorizar
mais o antigo papel da mulher. Estatisticamente não há sinal de fenômeno assim. Todas
essas reportagens cometem um erro elementar do jornalismo que é confundir casos
particulares com tendência.
Erro de pauta e apuração.
O grande problema, disse a “Economist”, é a falta de políticas públicas e privadas que
solucionem o dilema entre maternidade e vida profissional. Algumas dessas políticas
seriam “simples, sutis e baratas, como a de ampliação do horário escolar ou a adaptação
das empresas às possibilidades do trabalho executado em casa”.
Na verdade, é preciso caminhar um pouco mais na discussão sobre a visão cultural de
que é da mulher a obrigação primordial de cuidar da criança. É o que acha a demógrafa
Ana Amélia Camarano, do Ipea. Excetuando-se a gestação, parto e amamentação, tudo o
mais pode e deve ser executado de forma compartilhada, no mundo de hoje, entre mãe
e pai. Países escandinavos passaram a oferecer uma etapa da licença a quem cuida da
criança, não necessariamente à mãe.
Alguns programas de incentivo ao aumento da fecundidade nos países europeus, como
Itália, por exemplo, que enfrentam redução da população, não deram certo porque só
previam incentivos às mulheres e não davam o direito à escolha do casal. Conclusão: não
adianta dar dinheiro para as mulheres ficarem em casa para que elas tenham mais filhos,
porque nem todas querem isso. O desejo por realização profissional mobiliza a maioria.
O esforço tem que ser para conciliar maternidade e vida profissional.
A revista inglesa acha que é preciso agora lidar com os efeitos da revolução que já
ocorreu. Um deles é o fato de que crianças se ressentem da ausência de ambos os pais.
Isso será resolvido de forma mais contemporânea, dentro da nova mentalidade de que o
cuidado da criança é dever — e direito — tanto do pai, quanto da mãe; e que lidar com a
nova situação é uma responsabilidade das políticas públicas e das empresas.
As mulheres vieram para ficar.
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