12 a 14/06/2010
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Pensamento do Dia Economistas analisam a Economia, o Brasil e o mundo, mundo, na mídia diária 12 a 14 06 2010 ------------------------------------------------------------------Valor Econômico - 14/06/2010 A recuperação americana em xeque Luiz Carlos Mendonça de Barros A crise na zona do euro está lançando dúvidas sobre a recuperação econômica nos Estados Unidos. Como sempre acontece nestes momentos de instabilidade é preciso separar os verdadeiros receios das paranoias criadas por análises mais superficiais. Neste nosso encontro mensal vou tentar fazer esse difícil exercício. Uma primeira observação se impõe: a crise no espaço comum europeu é muito séria e pode contaminar a economia mundial. Estamos diante do primeiro grande teste do arranjo político e econômico que foi construído ao longo de décadas. Problemas que vinham sendo deixados de lado pelo sucesso de duas décadas de funcionamento do Tratado de Maastrich afloraram no meio do desequilíbrio fiscal criado pelo que se convencionou chamar de crise do subprime. O aumento expressivo dos gastos públicos para evitar uma grande depressão econômica levou a um crescimento explosivo do endividamento dos países da zona do euro. E os elos mais fracos - como Grécia e Portugal - romperam-se sob o peso de uma dívida pública vista como insustentável pelos investidores. Foi então que se tornou claro que o arranjo regulatório existente não era suficiente para lidar com esse desequilíbrio. A crise de confiança que se instalou foi agravada pelo verdadeiro bate-cabeças ocorrido entre os principais líderes europeus. Quando finalmente - se chegou a um arranjo de emergência, com a mobilização de cerca de US$ 1 trilhão, o pânico já estava instalado nos mercados financeiros. Em um segundo momento, os investidores perceberam que são os bancos europeus os grandes detentores de títulos emitidos pelos países chamados de Piigs (sigla em inglês para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Com isso a crise ganhou também as cores de uma nova pressão sobre o sistema bancário europeu. As transações interbancárias voltaram ao estágio de dois anos atrás, com o chamado risco de contraparte inibindo o funcionamento normal dos bancos. Mesmo com a volta do Banco Central Europeu (BCE) como financiador de última instância das instituições vistas como frágeis, o sistema bancário perdeu grande parte de sua funcionalidade. Sabemos que toda a recidiva - seja ela na saúde de uma pessoa ou da economia de um país - apresenta mais riscos do que a doença original. É o que está acontecendo na Europa e pode ocorrer nos Estados Unidos se a crise europeia não for estancada. Afinal, o endividamento público nos Estados Unidos também passou dos limites. Quando a crise do subprime contaminou as economias no mundo todo, os governos usaram a receita básica deixada pelo grande Keynes. Os bancos centrais afrouxaram as condições monetárias e os governos realizaram uma expansão fiscal sem precedentes. Até recentemente ela funcionou com grande eficiência e o crescimento econômico voltou em praticamente todos o mundo. Nos Estados Unidos, os números conhecidos apontam para uma expansão da ordem de 3,5% nesta primeira metade do ano. A massa salarial está crescendo a uma taxa superior a 4% ao ano, trazendo certo alento para a atividade econômica. Mesmo o segmento das pequenas e médias empresas, que vinha apresentando um comportamento pífio quando comparado ao das grandes corporações, vem dando sinais de vida novamente. Mas essa recuperação ainda é muito tênue e, como reconheceu o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) recentemente, abaixo das expectativas. Tomando como base as recessões anteriores, o PIB americano deveria estar crescendo a uma taxa duas vezes superior à verificada nesta primeira metade de 2010. O desemprego, de ainda quase 10% da população ativa, é outro sinal evidente dessa fragilidade. Por isso a cautela com que os analistas estão olhando para a maior economia do mundo. Se os efeitos de um agravamento maior da crise europeia cruzarem o Atlântico e interromperem a recuperação nos Estados Unidos a economia mundial pode sofrer um novo baque. Para que isso não ocorra será necessário que a renda do trabalho continue a crescer nos próximos meses a uma taxa próxima à atual. Na sua última aparição pública Ben Bernanke nos informa que o Fed estará atento à crise europeia e que tomará as medidas necessárias para preservar a recuperação da economia. Mas quais serão essas medidas se os juros estão próximos de zero e o déficit fiscal americano atual é de dois dígitos? Uma tentativa de repetir o pacote de estímulos fiscais de 2009 pode detonar uma crise de confiança também nos Estados Unidos. Outra questão que precisa ser acompanhada é o possível aumento do protecionismo nos países mais atingidos por uma eventual retomada da recessão econômica. Um dos mecanismos de compensação nos países europeus que buscam uma redução do déficit público tem sido a desvalorização agressiva do euro. Com isso, países exportadores como a Alemanha, França e Itália podem contrabalançar os efeitos recessivos de gastos públicos menores. Mas o outro lado da desvalorização do euro é a perda de competitividade das exportações americanas. Caso a recuperação americana seja ameaçada, como vai reagir Washington, principalmente com as disputadas eleições de novembro se aproximando? Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretorestrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. ------------------------------- O Estado de S.Paulo - 12/06/2010 Investimento, consumo e importações Antonio C. de Lacerda Uma análise mais detalhada do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) que acaba de ser divulgado pelo IBGE revela aspectos que merecem destaque. O desempenho referente ao 1.º trimestre de 2010 apresentou crescimento de 2,7% comparativamente ao trimestre imediatamente anterior. Se todos os demais trimestres do ano tiverem o mesmo comportamento, isso significa que o desempenho do ano de 2010 seria de 11,2%. Mas isso não vai ocorrer, pelos fatores que enumeraremos a seguir. Da mesma forma, a comparação com o período homólogo do ano anterior, com crescimento de 9%, é ilusória, porque a base estatística é muito baixa e refletiu o maior impacto da crise do subprime. Também é pouco provável que a economia brasileira continue a apresentar o mesmo dinamismo, basicamente porque: o quadro internacional está mudando para pior, em razão dos impactos da crise europeia; os estímulos de redução de impostos sobre bens duráveis já provocam um esfriamento natural do ritmo de crescimento da economia, como já denotam os indicadores mais recentes de comportamento das vendas de automóveis e eletrodomésticos; e a base de comparação dos próximos trimestres será maior, portanto o efeito estatístico também será reduzido. O dado mais revelador do desempenho do 1.º trimestre deste ano está no comportamento dos investimentos. A Formação Bruta de Capital Fixo, que representa o conjunto dos investimentos públicos e privados, cresceu 7,4%, em relação ao trimestre anterior, e impactantes 26%, em relação ao 1.º trimestre de 2009! Embora valha a mesma ressalva anterior - da base de comparação muito baixa -, no início do ano anterior o dado do investimento revela que as preocupações com o risco de esgotamento da capacidade de produção precisam ser vistas com mais cautela. Se os investimentos estão ocorrendo em ritmo superior ao da demanda, isso significa que a capacidade de produção da economia vai aumentar. Além disso, como destaquei em artigo anterior (O mito do superaquecimento, 27/5, B2), o risco é que o Banco Central exagere na subida dos juros e isso tenha impacto desnecessário, daqui a cinco ou seis meses, quando a taxa de crescimento da economia brasileira já estará acomodada. Dois outros aspectos chamam a atenção dos dados divulgados: o baixo crescimento do consumo do governo e o crescimento espantoso das importações. Os dados sobre o desempenho do consumo do governo vão frustrar a quem avaliava que o crescimento da economia vinha sendo sustentado por esse fator. O dado do 1.º trimestre deste ano apresenta um crescimento de apenas 0,9%, comparativamente ao trimestre anterior, e de 2%, nada substancial, em relação ao 1.º trimestre de 2009. O desempenho das importações, por outro lado, é preocupante, porque vem crescendo bem acima do nível de atividades. Comparativamente ao 1.º trimestre do ano anterior, enquanto o PIB cresceu 9% e as exportações 14,5%, as importações cresceram 39,5%! Isso denota um forte impacto da valorização do real, o que tem estimulado excessivamente as importações e desestimulado as exportações, em especial dos produtos industrializados, de maior valor agregado. O quadro de descompasso entre o crescimento das importações relativamente ao desempenho médio da economia e das exportações é algo que não é saudável para a sustentabilidade futura. Primeiro, porque impacta negativamente a geração de valor agregado local, substituindo atividades domésticas - o que não é desejável para um país que precisa criar 2 milhões de empregos a cada ano, para absorver os jovens ingressantes no mercado de trabalho. Segundo, porque, pela ótica do balanço de pagamentos, é algo insustentável. O déficit em conta corrente vem crescendo de forma exponencial e cobrará o seu preço logo à frente. É bem melhor agir preventivamente e tomar medidas para corrigir logo essa distorção. ECONOMISTA, É PROFESSOR DOUTOR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-SP E EX-PRESIDENTE DO COFECON -------------------------------Veja - 12/06/2010 A prioridade invertida Maílson da Nóbrega "A opção preferencial pelos idosos não se justifica sequer pelo lado do combate à pobreza, pois 94,7% dos que recebem benefícios previdenciários não são pobres" A sociedade deve optar pelas crianças ou pelos idosos? Resposta óbvia: pelos dois. Os idosos, de qualquer nível social, merecem uma velhice decente, sejam os que se prepararam para a aposentadoria, sejam os que, sem condições de fazê-lo, recebem uma renda mínima do estado. Uma opção não pode se sobrepor à outra. No Brasil, todavia, a opção é pelos idosos. A partir da Constituição de 1988, o Congresso e o Executivo, sob pressão de lobbies ou por irresponsabilidade fiscal, se engajaram numa marcha da insensatez que fez dos aposentados um grupo privilegiado da sociedade. Ainda mais privilegiados, muitos servidores públicos recebem aposentadorias mensais de mais de 20 000 reais, sem terem contribuído para tanto. Um novo passo nessa marcha foi dado pelo Congresso ao aumentar em 7,7% as aposentadorias superiores a um salário mínimo e eliminar o fator previdenciário. Por essas e outras, de 1988 para cá os gastos previdenciários saltaram de 4,5% para 11,2% do PIB. Os do INSS, aí incluídos, subiram de 2,5% para 7,2% do PIB, por conta, sobretudo, dos aumentos reais do salário mínimo, que reajusta dois em cada três de seus benefícios. Entre 1994 e 2010, descontada a inflação, o mínimo cresceu 125% e os gastos previdenciários passaram de 84 bilhões para 248 bilhões de reais. Tornamo-nos um país jovem que gasta nesse campo como nação madura. Com sobrevida pós-aposentadoria semelhante à dos habitantes dos países ricos, os brasileiros se aposentam precocemente por tempo de serviço: as mulheres aos 51 anos e os homens aos 54. Naqueles países, aposenta-se por idade, entre 60 e 67 anos. A Coreia do Sul gasta 1,4% do PIB com previdência. A China, 2,7% do PIB. Sua razão de dependência demográfica - população entre 15 e 64 anos dividida pela de 65 anos e mais - é 12,5 e 10,6, respectivamente. Brasil: 9,1. Calcula-se que nossa razão justificaria gastos previdenciários de no máximo 3,5% do PIB. Há muitos mitos em torno do assunto. Fala-se que o idoso ganha pouco, mas na média se percebe mais na aposentadoria do que no trabalho: 121% do rendimento dos trabalhadores industriais. Nos Estados Unidos, essa relação é de 50%. Na Suécia, é de menos de 70%. Quem se aposentou com mais de um salário mínimo reclama de perdas nos últimos quinze anos. Estaria recebendo um número menor de mínimos. Outro mito. No período, os reajustes superaram a inflação em 25,2%. Fabio Giambiagi tem um exemplo didático: se esse raciocínio valesse para o aluguel de um imóvel em reais, o proprietário diria que recebe hoje um número menor de mínimos, o que não faz sentido. A esquerda propaga outro mito: a ausência de déficit no INSS. Contribuições sociais, que integram a "seguridade social", estariam sendo usadas para pagar juros e outras despesas. Sem a tungada, a Previdência teria superávit. Tese furada. Mudar o lugar do déficit não refresca a situação do Tesouro. Mais um mito: há déficit por causa da sonegação, como se a fiscalização não tivesse melhorado. A opção preferencial pelos idosos não se justifica sequer pelo lado do combate à pobreza, pois 94,7% dos que recebem benefícios previdenciários não são pobres. Enquanto isso, 44% das crianças de até 14 anos são pobres, das quais perto de 20% são extremamente pobres. Per capita, o estado gasta com idosos pobres cerca de trinta vezes o que gasta com crianças pobres. É uma prioridade completamente invertida. Alheio a tudo isso, o Congresso, por certo considerando que crianças não votam, tem agido persistentemente em favor dos idosos. Sua contrarreforma pode acelerar a ruína previdenciária. A menos que acordemos para a gravidade da situação e elejamos líderes transformadores, o problema pode ficar insolúvel até o desastre final. Saiu excelente livro sobre o tema, de Fabio Giambiagi e Paulo Tafner: Demografia, a Ameaça Invisível (Editora Campus/Elsevier). Foi a inspiração desta coluna. A obra inclui manifestação favorável de ministros da Fazenda dos últimos seis governos. O diagnóstico e as ideias de reforma - constantes do livro - têm, pois, o apoio de distintas correntes de opinião. É preciso insistir nas disfunções do sistema previdenciário e na necessidade de reforma, sem a qual o futuro será negro para as próximas gerações. Maílson da Nóbrega é economista -----------------------------Folha de S.Paulo - 12/06/2010 O país pode controlar o deficit externo ROBERTO PADOVANI A economia brasileira pode crescer algo entre 6% e 7% neste ano. Seria uma ótima notícia, se o país pudesse, efetivamente, sustentar esse ritmo. Infelizmente, não pode. Faltam ao país portos, estradas, aeroportos, energia e trabalhadores qualificados. Essa lista, que poderia ser bem mais longa, mostra que a capacidade de investir e ampliar a produção no Brasil é baixa. Estimativas indicam que o crescimento potencial do país gira em torno de 5% ao ano. Se quisermos continuar consumindo mais do que a nossa capacidade de produzir, então há apenas duas saídas: importar ou aumentar os preços. Com a maior abertura comercial do pais e a menor tolerância à inflação, sobra o caminho da importação de bens e serviços. Não por outro motivo, o deficit externo poderá dobrar em um ano, saindo dos cerca de US$ 24 bilhões, em 2009, para algo próximo a US$ 50 bilhões, neste ano. Os números obviamente preocupam. Menos pelo nível do deficit, mas, sobretudo, pelo ritmo de piora. Para o Brasil crescer sem preocupação com contas externas, seria necessário ampliar a capacidade de produção e aumentar a produtividade. Ou seja, seria preciso investir mais. Para isso, o governo tem de se ajustar: ampliar os investimentos públicos -gastando menos com a folha de pagamentos e com a máquina pública- e, ao mesmo tempo, estimular os investimentos privados, reduzindo a carga tributária e criando um ambiente regulatório claro e estável. Como isso ainda parece um sonho distante, será que caminhamos novamente para os pesadelos dos deficit externos crescentes? Provavelmente, não. A saída será controlar o ritmo de crescimento. E está aqui o motivo pelo qual dificilmente o resultado em conta corrente será a causa de turbulências: o Brasil construiu, ao longo dos últimos anos, um regime de política econômica sólido. Isso significa que, à medida que o país cresce acima de seu potencial, as políticas fiscais e monetárias são acionadas para moderar o crescimento. Como resultado, a política econômica evita a explosão do deficit em conta corrente. Muito provavelmente -e os sinais já estão sendo dados-, os gastos públicos não aumentarão na mesma proporção da arrecadação, e o Banco Central continuará elevando a taxa de juros, encarecendo o crédito. Finalmente, há uma válvula de escape importante. Caso a piora das contas externas seja contínua e significativa, o câmbio se desvaloriza e ajuda a corrigir o desequilíbrio externo. O Brasil, portanto, tem instrumentos de política capazes de dosar o ritmo de crescimento e, com isso, evitar trajetórias explosivas nas contas externas. Além disso, e não menos importante, o mundo deverá continuar financiando o Brasil, justamente por acreditar que o país adotará políticas responsáveis e evitará crises no balanço de pagamentos. Mas quem garante que haverá um exercício responsável e coordenado de políticas? Não seria tentador reduzir juros a qualquer preço, definir um nível mágico de câmbio e aumentar ainda mais os já elevados gastos públicos? Tentador pode ser, mas não será fácil. O custo para experimentos é muito alto. Por vivermos numa democracia, e pelo fato de a economia ser aberta, mudanças radicais nas regras do jogo geram instabilidade econômica e, como resultado, insatisfação popular. O desconforto político para o governo pode ser alto demais. Provavelmente, não valerá à pena. Se o governo, portanto, não contribui para que a economia cresça sem acumular deficit externos, há, pelo menos, instrumentos para impedir o caos. O descontrole das contas externas não é mais nosso destino inescapável. Temos como nos ajustar. ROBERTO PADOVANI, mestre em economia, é estrategista-chefe do Banco WestLB Brasil. ---------------------------------Estadão Online – 11/06/2010 Lidando com a Chinalemanha Paul Krugman Eis o ponto em que nos encontramos: a China nada fez para mudar sua política de manipulação maciça do yuan e suas exportações aumentam a um ritmo acelerado. Enquanto isso, a Europa embarca com tudo na austeridade fiscal. Angela Merkel diz que os cortes no orçamento tornarão a Alemanha mais competitiva - mas competitiva em relação a quem, exatamente? Sabemos a resposta, não é mesmo? Pois é: todos contam com os Estados Unidos na esperança de que o país se torne o consumidor de último recurso, absorvendo importações graças ao enfraquecimento do euro e à manipulação do yuan. Ah, e apesar de dependerem da demanda norte-americana para compensar os efeitos de suas próprias políticas contraditórias, ambos os países repreendem os EUA e os acusam de irresponsabilidade, por causa de nossos déficits no orçamento e na conta corrente. Isso não vai funcionar – e os Estados Unidos precisam adotar medidas para se proteger. Comecemos com a China. Em abril, disseram-nos para deixar de lado as acusações de manipulação cambial contra o país; os adultos encontrariam alguma solução para o caso chinês. Em que pé se encontra essa proposta, exatamente? É verdade que ameaçar os chineses com tarifas antidumping seria um grande passo e poderia trazer alguns riscos. Mas a opção de cruzar os braços e nada fazer é inaceitável. A recuperação econômica corre grande risco de estagnação – e, se isso ocorrer, as consequências serão muito piores do que uma desavença diplomática. É também importante enviar uma mensagem aos alemães: não deixaremos que eles exportem as consequências de sua obsessão com a austeridade. As coisas não estão funcionando por bem. É hora de endurecer o discurso. -------------------------------- Folha de S.Paulo - 12/06/2010 Forte ritmo pressiona contas externas Raul Velloso Crescimento bom do PIB é o que se sustenta no tempo, e não aquele que acaba de ser divulgado, pois este ocorre na presença de forte excesso de gastos sobre a produção agregada do país. Especialistas no assunto têm estimado que o crescimento sustentável do PIB no Brasil atualmente é da ordem de 4,5% ao ano. Ou seja, metade do que ocorreu no primeiro trimestre de 2010. Seguem-se dois problemas desse tipo de crescimento: pressões inflacionárias e pressões excessivas sobre o deficit corrente do balanço de pagamentos com o exterior. A inflação é pressionada porque, mesmo que fosse possível financiar quaisquer deficit externos causados por importações excessivas, há os bens e serviços de menor grau de comercialização possível com o exterior. Para esses, demanda forte e oferta interna limitada são sinônimos de pressão inflacionária. Inflação alta é a velha chaga econômica brasileira, cujos efeitos maléficos todos conhecem. Quanto mais altos forem os deficit externos, mais difícil é financiá-los lá fora com recursos relativamente estáveis (por exemplo, o investimento direto de multinacionais), aumentando a vulnerabilidade do país a intempéries externas. Isso é especialmente verdadeiro em momentos de crise aguda, como o da atual crise europeia, com efeitos desfavoráveis ainda pouco visíveis para o Brasil. Em consequência, tendem a subir as taxas de câmbio e, em seguida, a inflação. Tem-se, assim, uma nova razão para a inflação subir. Em matéria paga veiculada atualmente, o governo está apregoando, entre outras coisas, que acumulou US$ 239 bilhões de reservas internacionais até o fim de 2009. O que custou muito caro, pois foi financiado com emissão de títulos públicos que giram diariamente no mercado financeiro. Mas isso não reduz a vulnerabilidade externa? Claro que ajuda. É só ver a baixa taxa de risco Brasil que prevalece atualmente, sinalizando boa vontade de parte dos financiadores externos. Só que a maioria das economias desenvolvidas que poderiam concorrer conosco na atração de capitais estão um caos (o que não ficará assim para sempre) e reservas se esgotam (ou seja, o Banco Central fará tudo para não queimá-las rapidamente se o país for pressionado). Em síntese, quanto maior a vulnerabilidade externa, maiores as chances de pressões inflacionárias (e desaquecimento da economia), em face de pressões cambiais associadas a crises externas. O PIB cresceu muito no primeiro trimestre, porque a demanda agregada da economia cresceu muito, tanto a demanda de consumo como a de investimento. O menos doloroso seria o governo reduzir seus gastos para diminuir o crescimento da demanda agregada acima do que é sustentável. Ao contrário, o governo segue com o pé no acelerador dos gastos. Nesses termos, o Banco Central é forçado a subir os juros (como acaba de fazer), para reduzir tanto o consumo privado como, e principalmente, o investimento privado, o que é uma pena. Por quê? Porque compromete a criação de capacidade de produção, algo crucial para aumentar o crescimento potencial da economia. Entra-se num círculo vicioso: os juros sobem para conter a demanda, mas, como é impossível cortar apenas a oriunda do consumo privado, corta-se também o investimento privado. Por consequência, reduz-se o crescimento da capacidade de produção e o crescimento do PIB potencial (que hoje só cresce a cerca de 4,5% ao ano), tornando mais difícil o trabalho de conciliar crescimento alto e inflação baixa. RAUL VELLOSO, 64, doutor em economia pela Universidade Yale (EUA), é consultor e especialista em contas públicas. -----------------------------Correio Braziliense - 14/06/2010 Não é hora para exageros Vicente Nunes Será que Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) têm a clareza — melhor, a capacidade — para mudar de vez a história do país? A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), em que a taxa básica de juros (Selic) passou de 9,50% para 10,25% ao ano, ainda está sendo escrita, mas o debate em torno dela é imenso no mercado. O grande ponto das discussões entre os analistas é se o Banco Central dará sinais de diminuição no ritmo do aperto monetário ou se promoverá mais uma elevação de 0,75 ponto percentual em julho. A não ser que o BC queira encerrar mais cedo o processo de aumento da Selic, por meio de altas mais fortes em um número menor de reuniões do Copom, o cenário que se desenha é de arrochos em doses decrescentes — muito provavelmente, de 0,5 ponto no mês que vêm. A razão é uma só: a inflação está perdendo força. Todos os índices que medem o comportamento dos preços ao consumidor perderam fôlego e devem cair ainda mais com uma possível deflação dos alimentos neste mês. Os mais pessimistas, que defendem a manutenção do atual ritmo de elevação dos juros, vão alegar que, quando se olha a inflação com detalhes, os núcleos estão elevadíssimos, apontando para taxas anualizadas entre 6% e 7%, portanto, no teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O mesmo grupo ressalta que há um represamento de repasses do atacado para o varejo, dado o salto de 2,21% registrados pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) na primeira prévia de junho. Esses alarmistas não dizem, porém, que tal resultado do IGP-M captou o reajuste de 75% do minério de ferro, o que contribuiu com dois pontos percentuais para a inflação total. A prevalecer a mesma regra, o índice calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) tenderá a desacelerar nas semanas seguintes, até fechar o mês em 0,81%, nas contas da economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander. Portanto, o susto da prévia do IGP-M decorreu da metodologia de seu cálculo, fato que será corrigido ao longo do tempo. Partindo desse ponto e com a economia dos países mais ricos patinando — o que está empurrando os preços das commodities ladeira abaixo —, parte dos riscos inflacionários que vinham atormentando o BC estão se dissipando. E o horizonte tenderá a se clarear ainda mais se forem confirmados os sinais de desaquecimento da atividade no mercado interno nos próximos trimestres, como alardeiam o governo e o mercado. É com base nesse cenário, inclusive, que vários analistas gabaritados estão apostando em uma ação menos contundente do BC daqui por diante, a começar pela elevação de apenas 0,5 ponto da Selic no mês que vem. Fazenda contra-ataca Dentro do governo, com os números mais recentes da inflação, voltou a ganhar força o movimento comandado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que “o pior da inflação já passou” e que “a atividade está perdendo força devido à retirada dos estímulos fiscais dados no auge da crise”. Com esse discurso, o grupo que se contrapõe ao BC quer estimular o debate sobre um possível exagero nas decisões futuras do Copom. Nas duas últimas reuniões do Comitê, por determinação do presidente Lula, que temia perder apoio político das camadas mais pobres da população ante à disparada da inflação e, sobretudo, dos preços dos alimentos, os argumentos da Fazenda foram escanteados. Mas, agora, com a inflação “voltando a se acomodar” perto dos 5%, como preveem os assessores de Mantega, ficará mais fácil insuflar as discussões em favor de um BC menos rigoroso. Revisões do BC A ata do Copom não será, porém, o único documento avaliado pelo mercado antes da próxima reunião sobre a taxa de juros. No fim deste mês, o BC divulgará mais um relatório trimestral de inflação. Como já avisou o presidente da instituição, Henrique Meirelles, será revisada, para cima, a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, dos atuais 5,8% para cerca de 6,5%. Ao corrigir a defasagem, o BC detalhará a sua visão sobre o ritmo de avanço do país, explicitando os riscos que podem exigir a continuidade do aumento dos juros. O BC não deve, porém, mexer na sua estimativa para a inflação de 2011, que está ligeiramente acima do centro da meta, de 4,5%. O número, que faz parte do cenário de referência, estará impactado pelas duas alta da Selic, totalizando 1,5 ponto — um choque e tanto em economias mais maduras, como a dos Estados Unidos e a da Europa. No relatório de março, ainda escrito pelo então diretor de Política Econômica do banco, Mário Mesquita, o quadro traçado para a inflação era bastante duro. Mostrem a cara Agora, com todos os candidatos à Presidência da República sacramentados pelas convenções partidárias, tomara que eles criem coragem para dizer o que realmente pensam sobre a economia e o que pretendem fazer para manter o crescimento sustentado do país. O que se percebe é um temor em se posicionar sobre temas como câmbio, juros, inflação, infraestrutura e reformas. Mas de nada adiantará tergiversarem sobre tais assuntos. Com a economia bombando, os eleitores vão cobrar um discurso transparente para que haja a garantia de que o Brasil conseguirá superar os gargalos que hoje impedem taxas de crescimento superiores a 5% ao ano por um longo período. Será que Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), os três postulantes ao Palácio do Planalto mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, realmente têm a clareza — melhor, a capacidade — para mudar de vez a história do país? Os próximos quatro meses nos dirão isso. Vicente Nunes é editor de Economia ---------------------------O Globo - 13/06/2010 Homem biombo Míriam Leitão O deputado e ex-ministro Antonio Palocci virou o homem-biombo da candidatura Dilma Rousseff. Ele vai na frente, fala com os empresários e os dirigentes do mercado financeiro. Promete que com ela não será diferente na área econômica. Com a garantia do ex-ministro que foi considerado “um achado” na época da transição para o governo Lula, está crescendo o apoio a Dilma nesse grupo. O enviado especial à elite financeira e econômica repete o discurso que ele aprendeu, e que é música para os ouvidos do empresário e do mercado financeiro. O problema é que o risco Dilma é diferente do que era visto como o risco Lula. A natureza da ameaça agora é fiscal e de fortalecimento do intervencionismo estatista, que já apareceu no segundo mandato. Esse modelo é frontalmente contraditório com a estabilização econômica. Ele não provoca uma ruptura imediata, mas mina a médio e longo prazo o que foi construído durante duas décadas. É um risco implícito. O risco José Serra está mais explícito. Ele deixou no ar os temores de uma intervenção indevida no Banco Central que poderia abalar um dos pilares da política econômica que estabilizou o Brasil derrotando as altas taxas de inflação. Não se sabe o que ele fará com o Banco Central porque ele não explicou direito. Sua reação à questão só levantou mais suspeitas e dúvidas. E elas só acontecem porque Serra tem a imagem de voluntarismo na área da política monetária e cambial construída em declarações e atitudes anteriores. Tem um trabalho a fazer em exorcizar esses fantasmas que só reapareceram porque sempre estiveram de alguma forma relacionados ao candidato do PSDB. A oportunidade de aproveitamento da fraqueza do adversário foi vista pelo exministro Palocci. Ele foi o calmante dado ao mercado e às empresas em 2002. Com o discurso aprendido com economistas estrangeiros ao partido, Palocci na época disse que seriam mantidos as metas de inflação, o câmbio flutuante, os contratos, a autonomia do Banco Central, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a normalidade da relação com credores da dívida interna e externa. Isso era o avesso de um programa de governo que na época propunha intervenção no sistema de preços, auditoria da dívida externa, plebiscito sobre pagamento de dívida, centralização cambial, fim do superávit primário. A nomeação de Palocci para o Ministério da Fazenda, e não de qualquer um dos autores do programa econômico, foi o tranquilizante distribuído ao mercado pelo presidente Lula. A equipe da Fazenda, toda montada com integrantes da máquina ou economistas de fora do PT, foi a segunda dose do calmante. Seu anúncio de elevar o superávit primário, a terceira. A nomeação de Henrique Meirelles encerrou o ciclo do medo de mudança naqueles pilares mais imediatos da estabilidade. Como resultado, as linhas de comércio voltaram, o risco Brasil caiu, o dólar caiu, a inflação foi baixando. Hoje, o mercado e os empresários estão renovando sua confiança diante das garantias dadas por Palocci de que tudo será como antes. Mas os riscos reais são outros. Palocci é o mesmo cuja proposta de déficit zero foi escorraçada pela então ministra-chefe da Casa Civil com a afirmação de que ela era “rudimentar” e que antes era preciso “combinar com os russos”. A proposta não tinha nada de rudimentar, era apenas fazer a boa política de aproveitar a época do boom e de crescimento da arrecadação para conter os gastos e dobrar a aposta fiscal. Isso teria derrubado mais os juros, evitaria a elevação da carga tributária, e criaria um círculo virtuoso. Dilma por tudo o que disse, fez, decidiu é a favor do aumento extravagante do gasto público e tem uma visão da presença do Estado na economia que é muito semelhante à do período militar, cuja política econômica, ela e Lula citam com indisfarçável saudosismo. Isso tem um preço alto como já se viu no passado. Um empresário com conhecimento do assunto garantiu que o final da história de Belo Monte já está escrito: ela custará muito mais do que o orçado — R$ 30 bilhões em vez dos R$ 19 bilhões previstos — e acabará sendo um empreendimento total, inequivocamente, estatal. Hoje, já está claro que os riscos foram estatizados e os lucros serão apropriados em grande parte pelos sócios privados financiados a prazos longos e com juros baixos. Belo Monte é apenas um dos exemplos, existem vários. Ninguém que tenha informação sobre o assunto acha que o trem bala Rio-SP terá o preço que o governo calcula. É uma obra de engenharia de complexidade por trafegar entre o nível do mar e 800 metros, entre vários outros desafios tecnológicos. Seu custo real está sendo calculado como muito mais do que os R$ 36 bilhões. Pode chegar a R$ 50 bilhões, pelo menos com vantagens e retorno não claramente dimensionados. Essa visão de Estado de tocar projetos de impacto, a qualquer custo, iniciando as obras quando ainda não foram dimensionados os custos fiscais da opção, embute um risco enorme de elevação de carga tributária e de abalo das bases do edifício da estabilização tão duramente conquistadas. Hoje não basta ouvir as palavras de garantia de apoio a determinadas políticas, é preciso entender o resultado das opções feitas. Os riscos hoje são mais sutis do que na época do “vou mudar tudo isso que está aí”. Eles não são sequer percebidos em sua totalidade. Ou são, e poucos gostam de admitir. A maioria das empresas brasileiras hoje é sócia do governo ou dependente químico do dinheiro subsidiado do BNDES. Mesmo quem acha que há riscos no cenário Dilma prefere não falar. Por outro lado, o risco Serra também não foi exorcizado. Assim vamos para as eleições. ---------------------------------O Estado de S.Paulo - 13/06/2010 A Alemanha se prepara Celso Ming Na semana passada, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, anunciou um drástico pacote de austeridade fiscal, o mais duro desde a 2.ª Grande Guerra, que vai economizar cerca de US$ 110 bilhões em três anos. Esse passo está sendo criticado dentro e fora da Europa como excesso de ortodoxia, na medida em que são decisões duras que não ajudam a tirar o bloco da recessão e do desemprego. Mas se forem vistas como preparação do Estado alemão para o novo papel de liderança no agora inevitável processo de unificação política, esses rigores ganham sentido e obrigarão outros países a fazer o mesmo. A Grécia é uma economia insignificante. Tem um PIB de US$ 330 bilhões (3% da zona do euro e apenas 21% do brasileiro) e, no entanto, suas lambanças na administração do orçamento e da dívida pública foram suficientes para apontar para a existência de graves fragilidades na segunda mais importante moeda do mundo, o euro. Quando o euro foi criado, em 1999, os economistas alertaram para o fato de que o novo bloco não formava uma área monetária ótima. Ou seja, avisaram que o risco de distorções futuras seria enorme. Os dirigentes não ignoraram as advertências. Foi por levá-las em conta que o Reino Unido preferiu ficar de fora. Mas os demais países aceitaram correr o risco, no pressuposto de que as inconsistências técnicas seriam superadas pela vontade política, que foi, em última análise, a principal força que criou a União Europeia depois de tantos conflitos sangrentos ocorridos nos dois últimos séculos. As principais inconsistências são a falta de unidade fiscal e as enormes diferenças no tratamento dos fatores de produção. Cada país tem a sua estrutura tributária e as suas legislações trabalhista e previdenciária. Mantém políticas diferentes de proteção ao desemprego e tratamentos desiguais em várias outras questões. Ou seja, cada país rege sua economia a seu jeito. No início do euro, as diferenças entre os sócios do bloco não eram tão importantes. Mas, com o tempo, acabaram crescendo. E à medida que a crise global exigiu aumento de despesa com defesas sociais, elas ficaram insuportáveis. Nessas condições, até mesmo a administração única da política monetária (política de juros) pelo Banco Central Europeu (BCE) concorre para ampliar as diferenças. Fonte de recursos A transferência de petróleo na jazida para a Petrobrás é um jeito que a União encontrou de subscrever sua parte no aumento de capital da empresa sem ter dinheiro vivo para isso. Daqui para frente, esse recurso poderia ser empregado pela União para aumentar seu capital em outras estatais. Bastaria que mandasse medir a cubagem de um reservatório e, em seguida, o leiloasse no mercado. Em princípio, o resultado obtido no leilão poderia ser usado para dar cobertura a quaisquer outros objetivos fiscais do governo federal. Vem mais Pelas novas regras, a Petrobrás vai participar em pelo menos 30% de todos os contratos de partilha de exploração do pré-sal. A enormidade da empreitada obrigará a empresa a ampliar seu programa de investimentos. E este vai exigir novos reforços de capital. Isso significa que, uma vez sacramentado o modelo, novas rodadas de capitalização poderão ser realizadas no futuro baseadas na cessão onerosa (transferência de óleo in situ). A solução óbvia é unificação fiscal e unificação da administração econômica. Para isso é preciso unidade política. O primeiro passo seria a adoção de uma constituição única, rejeitada em 2005 por França e Holanda. Para suprir a lacuna saiu o Tratado de Lisboa (de 2009), cujos termos são notoriamente insatisfatórios. Uma marcha à ré à soberania dos Estados e às moedas nacionais, às vezes evocada, parece impraticável. Imagine-se o tamanho da desvalorização da dracma, do escudo, da peseta, da lira e do franco, se Grécia, Portugal, Espanha, Itália e França fossem obrigados a restabelecer suas antigas moedas. O desastre seria ainda maior. Uma nova estratégia de unificação política terá de ser adotada. Os países mais fortes do bloco acabarão por impor sua hegemonia na formação do que poderá ser o novo sistema federativo europeu. Mais forte é o país mais competitivo e mais competitivo é o mais ajustado economicamente. Esse é o preparo físico que a Alemanha busca adquirir agora. ----------------------------Correio Braziliense - 12/06/2010 Decolagem autorizada Antonio Machado Lula sinaliza que solução para caos dos aeroportos terá a ajuda de empresas e capitais privados Foi de jeito acanhado, sem a fanfarra que acompanha as decisões do governo, que o presidente Lula assinou esta semana decreto que libera a construção e operação em regime de concessão do primeiro aeroporto privado do país. Fica em Natal, Rio Grande do Norte. O anúncio foi discreto, sugerindo irrelevância e decisão isolada, mas equivale à abertura dos portos durante o período colonial. De modo ainda mais discreto, “fontes” não identificadas vazaram à imprensa que Lula aguarda do ministro da Defesa, Nelson Jobim, os elementos técnicos para instruir a decisão de aprovar a concessão de um novo aeroporto em São Paulo, quiçá a ampliação de Guarulhos. A cidade já conta com área próxima à região metropolitana para um aeroporto privado, com projeto da Camargo Corrêa, e do plano para o terceiro terminal e terceira pista no de Guarulhos — o maior em tráfego do país e totalmente saturado, situação que se repete nos aeroportos de Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, e por aí vai. Abriu-se uma janela para a entrada de capitais privados numa das atividades de infraestrutura mais críticas para o desenvolvimento, e, ao mesmo tempo, mais deterioradas e inseguras para todos os que dela dependem, devido ao tráfego crescente de passageiros e carga não acompanhado de investimentos em ampliação e logística. O sinal é que, depois das eleições, quando a palavra privatização recuperar o seu sentido original, perdendo a conotação maldita que PT e Lula lhe atribuem no contexto do embate político com o PSDB, a porta será aberta aos capitais privados. Não será sem tempo. Desde 2005, o único aumento significativo de capacidade de tráfego em um aeroporto ocorreu com o pequeno e esgotado Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Dos 15 principais aeroportos, nove operam acima de sua capacidade, segundo dados da Infraero, a empresa estatal que cuida da administração aeroportuária, e da Anac, Agência Nacional de Aviação Civil, o órgão que regula as empresas e a logística. Em meio à burocracia, também se acomoda a Aeronáutica, responsável pelo controle do tráfego aéreo, e até os últimos grandes acidentes no país — com um Boeing da Gol, em setembro de 2006, e um Airbus da TAM, em julho de 2007 —, envolvida no pandemônio criado pelos controladores de vôo por razões salariais, de hierarquia, excesso de trabalho e receios quanto à desmilitarização da atividade. Problemas complexos demais para um governo enredado em muito mais prioridades do que é capaz de processar. Com boa parte do dinheiro dos investimentos comprometida em grandes projetos. Distraído pelo debate entre mais ou menos Estado na infraestrutura. E confundido pelo lobby sindical da Infraero, contrário a qualquer solução que diminua a influência da estatal. É esse nó que começa a desatar. Alertas desprezados O que será da Infraero levará ainda algum tempo para resolver. O certo é que já não se tratam com desprezo alertas como os da FAB, que, em 2004, preveniu o governo sobre o colapso da infraestrutura aeroportuária pela falta de investimentos. Em 2006, uma auditoria do Tribunal de Contas da União concluiu que “falta de planejamento e insuficiência de recursos são as principais causas dos atrasos e cancelamentos de vôos”. De lá para cá, a demanda de passageiros deu um salto de 80%. E os aeroportos? Continuaram do mesmo tamanho. Solução burra da Anac Para encobrir esse quadro caótico, a Anac veio com um arremedo de solução: reduziu o número de vôos nos aeroportos mais afogados. Na prática, tolheu as pessoas em seu direito de ir e vir do jeito que quiserem — e cada vez é mais de avião que se quer, graças ao aumento da renda e do emprego, a popularização e as facilidades do crédito e o crescimento da frota das empresas. É medida capenga, para não dizer burra, cortar vôos para desafogar aeroportos. Não dá mais, como relata um empresário do setor, para Lula achar que o problema seria menor, porque poucas pessoas usariam avião. Capacidade esgotada A capacidade máxima nos 15 maiores aeroportos é de 9,5 milhões de passageiros/mês. Equivale a 5% da população. Mas a demanda deverá crescer muito mais com a expansão da economia, a ascensão da nova classe média e os eventos da Copa em 2014 e das Olimpíadas em 2016. Na média, os aeroportos operam a 36% acima da capacidade, sem que a Infraero dê conta da situação. A projeção para 2014, de expandir a capacidade em mais 5 milhões de passageiros/mês a um custo de R$ 6 bilhões, envelheceu. É preciso mais. O governo já reconhece que a solução é a parceria com o setor privado. Agora vai. Espera-se. Dilma amplia a visão O problema aéreo não é só de respeito do governo com o conforto e a segurança dos passageiros. Virou questão econômica. Sem que seja superado o atraso dos transportes, em que a miséria dos aeroportos faz companhia à de portos, ferrovias e rodovias, o país vai parar, como sai da tomada quando falta energia, hoje, um risco mitigado. Falta de financiamento é o menor dos problemas. Regulação adequada resolve a situação, se houver clareza sobre a limitação do Estado. A então ministra Dilma Rousseff, por bom tempo, viveu dividida entre a sua visão do Estado dirigista e o pragmatismo de resultados do presidente. A campanha está a lhe mostrar que há mais cores entre o branco e o preto das ideologias, como o exercício do poder mostrou a Lula. A têndencia é que muitos impasses comecem a se desfazer. ------------------------------O Globo - 12/06/2010 Terra sem lei Míriam Leitão Em dez anos, os desmatadores destruíram no Brasil 260 mil hectares na Mata Atlântica, ou 2,6 mil km2, o equivalente a duas cidades do Rio; e 176 mil km2 na Amazônia, área maior que toda a Inglaterra. Em sete anos, foram 85 mil km2 de cerrado; 4,3 mil km2, no Pantanal; e 16,5 mil km2, na caatinga. E o que o Congresso está discutindo não é como parar o crime, mas como perdoar os criminosos Esse é o principal ponto que torna o projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoBSP) um equívoco. Ele leva o Brasil na direção oposta do que se deve ir. Em cada ponto, a proposta acelera na contramão. O que os poderes da República poderiam estar considerando é: dado que o atual Código não impediu essa destruição toda, o que fazer para que as leis possam ser cumpridas? Os rios brasileiros estão assoreados, muitos já morreram, os rios que cortam o interior do país viraram latas de lixo e esgoto. As histórias são tão frequentes e antigas que nem cabe repetir aqui. A discussão urgente é como proteger os rios, aumentar o saneamento básico, limpar as correntes de água, garantir que a faixa de mata ciliar seja recomposta. Mas o que a proposta de novo Código Florestal estabelece é como reduzir a proteção aos rios, diminuindo o tamanho das Áreas de Proteção Permanente (APP). O Brasil tem tido assustadores problemas de deslizamento de encostas nas cidades, nas estradas. Elas servem como um alerta sobre o cuidado com o uso de terrenos muito íngremes. A lei de 1965 cria limites ao uso de terrenos com 45 graus de inclinação e protege o topo dos morros. O novo Código reduz a proteção dessas áreas frágeis. Imaginemos dois proprietários rurais na Amazônia, no Cerrado ou na Mata Atlântica, ou qualquer outro bioma brasileiro, como o nosso belo e frágil Pantanal. Um preservou a reserva legal guardando o percentual da propriedade estabelecido por lei, respeitou as APPs e não contou essas áreas nas reservas legais. Se já entrou na propriedade com uma área desmatada maior do que o permitido, replantou espécies da região. O outro desmatou com correntão, incendiou parte da floresta, fez corte raso ou qualquer uma dessas formas primitivas e predatórias de ocupar a terra. O segundo terá as seguintes vantagens: pode continuar usando as áreas “consolidadas” sem pagamento de multa, tem 30 anos para recompor a reserva legal de forma voluntária, pode usar espécies exóticas, pode replantar em outro local, pode fazer lobby junto ao governo estadual para reduzir a área a ser protegida. Pode continuar explorando o topo dos morros, reduzir a área de proteção aos rios e contar a APP como parte da reserva legal. Como se vê, será compensado, anistiado, incentivado. E quanto ao primeiro? Ao que cumpriu a lei? Ora, esse deve procurar o primeiro espelho, olhar para seu próprio rosto e dizer: “Cumpri a lei, fui um otário!” No século XXI, diante de tantos exemplos dos riscos da degradação ambiental, o que o Brasil deveria estar fazendo? Discutindo seriamente como aumentar a proteção ao meio ambiente. Mesmo os que não acreditam nas mudanças climáticas sabem que o meio ambiente é essencial para a qualidade de vida. Em vez de uma discussão serena e atualizada, o relator do projeto de mudança do Código Florestal, deputado Aldo Rebelo, nos propõe uma sequência delirante de explicações persecutórias. O mundo estaria conspirando contra o desenvolvimento brasileiro através de malévolas organizações infiltradas no país, impondo aos cidadãos nacionais convicções exóticas sobre a necessidade de evitar o desmatamento e inventando evidências científicas de que o clima está mudando. Até quem tenha muito boa vontade com este tipo de raciocínio alienista precisa saber como explicar algumas contradições: muitas das ONGs são genuinamente brasileiras, o maior beneficiário de um meio ambiente sadio e protegido é o próprio brasileiro, o clima está de fato mudando perigosamente, os países desenvolvidos estão impondo para si mesmos metas de redução de emissões maiores do que as que o Brasil espontaneamente se dispôs a cumprir. O Brasil é uma potência agropecuária. Os números crescentes de produção, produtividade e exportação derrubam a tese de que o Código Florestal está impedindo essa atividade econômica no país. Há pouca chance de que continuemos avançando em mercados mais competitivos se a decisão for permitir mais desmatamento, tornar mais frouxas as regras, controles e limites. É bem provável que ocorra o oposto: que esse passe a ser o principal argumento para imposição de barreiras contra o produto brasileiro, seja ele produzido de forma sustentável ou não. O principal problema do Código não é ser excessivamente rigoroso. Se fosse, o Brasil não teria as estatísticas que tem. É que as leis não têm sido respeitadas. Mudar a lei para que o Código seja cumprido é tão inútil e perigoso quanto tentar reduzir a incidência de febre nos pacientes com infecção, estabelecendo que febre é apenas de 39 graus para cima. O racional a fazer com a febre é tratar a infecção; o melhor a fazer com nosso persistente desmatamento é impor o respeito à lei e ao patrimônio público; e não suavizar o Código, anistiar quem não a cumpriu e postergar seu cumprimento. Em Minas, há um desmatador profissional que tira a mata dele e dos vizinhos, pequenos proprietários, a quem paga alguns trocados. De tanto ser denunciado e multado, ele já aprendeu o truque. Agora, ele mesmo se denuncia, paga a multa e assim legaliza seu ato. É o crime que tem que ser combatido, deputados e senadores, e não a lei. ------------------------------O Estado de S.Paulo - 12/06/2010 O mercado de TVs e a Copa Celso Ming Mesmo devendo confiança, a seleção do Dunga parece ter conseguido convencer muito brasileiro a comprar uma TV nova para ver os jogos da Copa do Mundo que começou ontem. Os cálculos da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) mostram que, mesmo sem contar com redução de imposto, fator que favoreceu outros segmentos, quase 7 milhões de famílias adquiriram um aparelho zero bala nesse primeiro semestre do ano. Em ano de Copa, o cronograma das compras do consumidor fica trocado em relação ao que ocorre em outros anos. "Normalmente as vendas do nosso setor se concentram 60% no segundo semestre e 40% no primeiro. Com a Copa, a relação se inverte: 60% no primeiro semestre e 40% no segundo", explica o presidente da Eletros, Lourival Kiçula. Para o ano, a entidade projeta vendas de 11,5 milhões de unidades, crescimento de 20% em relação a 2009 e uma queda de aproximadamente 10% se comparada com as vendas da última Copa, em 2006, antes do mergulho da economia mundial na crise financeira. Mas a Copa não é o único fator que empurrou o consumidor para as lojas. Apesar da crise lá fora, a economia aqui dentro está aquecida, o emprego está melhorando, o crédito ficou mais fácil e o comércio está oferecendo melhores condições de financiamento. Algumas redes de varejo vêm parcelando a compra em até 30 vezes. Ou seja, o consumidor que aceita essas condições ainda estará pagando seu aparelho de TV quando começarem as eliminatórias para 2014. Os lançamentos de novas tecnologias são outro chamariz. É forte a disposição de trocar o velho aparelho de tubo por modelos mais avançados, com tela de plasma, imagem em alta definição, LCD, LED e até tecnologia 3D. As vendas de TVs da nova geração ultrapassaram em março a dos modelos convencionais. E, como aponta Kiçula, este deve ser o primeiro ano em que o volume vendido das TVs fininhas irá superar o de TVs mais gordinhas. No ano passado, a fatia das TVs planas foi de 45% e a de TVs de tubo, 55%. A nova tecnologia tem lá seu custo. Quanto mais avançado o aparelho, mais caro ele é. Mas, ainda assim, a boa notícia de que nos dá conta a repórter do Estado Márcia De Chiara é a de que, desde a Copa de 2006, os preços dos televisores de última geração caíram mais de 70%. Não há uma única explicação para isso. Começa com a valorização do real (queda da cotação do dólar de quase 20%), que baixou os preços dos componentes importados. Mas também têm de ser levados em consideração a evolução tecnológica, montagem de muitas linhas aqui no Brasil e aumento de escala de produção. Daqui para frente somente mais um fator - o bom desempenho da seleção brasileira pode influenciar as vendas não só de TVs, como também de produtos ligados ao futebol (camisas, bandeiras), além de cerveja, fogos de artifício e, até mesmo, pipoca e amendoim. Baseado no que aconteceu nas Copas anteriores, o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, entende que "o entusiasmo por consumir produtos ligados à Copa crescerá à medida que a seleção for ganhando as partidas, especialmente se chegar à final." / COLABOROU ISADORA PERON ------------------------------Valor Econômico - 14/06/2010 Mercado futuro comanda o câmbio Eduardo Campos O mercado discute se a esperada capitalização da Petrobras e a nova oferta de ações do Banco do Brasil terão impacto sobre a taxa de câmbio. Afinal, são algumas dezenas de bilhões de dólares que podem vir ao país. No entanto, o mercado de câmbio aqui no Brasil tem suas próprias regras e uma delas, segundo explica o sócio da Global Financial Advisor, Miguel Dauod, é não obedecer à lei da oferta e procura. "Falar que é o fluxo que determina a formação de preço é conversa. Quem manda no dólar é o mercado de derivativos", diz o especialista. Para embasar sua teoria, Daoud lança mão de alguns números. O primeiro é que o Banco Central vem, sistematicamente, comprando mais dólares do que o fluxo líquido de moeda no país. Então, se fosse válida a lógica de oferta e demanda, era para o dólar ter se valorizado nos últimos anos, o que não aconteceu. Um exemplo, de 2004 a maio de 2010 as reservas internacionais do Banco Central subiram em quase US$ 200 bilhões, enquanto o preço do dólar caiu de R$ 2,65, para R$ 1,85. "Quanto mais compra dólar, mais dólar vem ao mercado", avalia. Outra teoria que cai por terra é a de que os juros altos explicam valorização da moeda. Em 2004, a Selic era 17,75% e o dólar saía a R$ 2,65. A taxa veio recuando a 10,25%, e o dólar ronda de R$ 1,80. Vale lembrar que tanto a Selic quanto o câmbio já estiveram mais baixo, recentemente. Daoud também aponta para a disparidade de volumes no mercado à vista e futuro. No ano, até maio, o BC comprou no mercado à vista US$ 12,14 bilhões com leilões de pronto. Nesse mesmo período, o mercado futuro de dólar girou mais de US$ 1,9 trilhão. O que Daoud quer mostra com esse números é que as atuações do BC têm volume irrisório sobre a força do mercado futuro. Segundo Daoud, o que faz os investidores trabalharem no mercado futuro é a certeza de que o governo não vai permitir uma desvalorização do real, pelo simples fato do câmbio ser instrumento de controle da inflação. Se temos uma demanda que cresce a 12% e uma oferta que avança a 6%, diz o especialista, esse diferencial é suprido pelo mercado externo. Portanto, um dólar mais caro resultaria em explosão da inflação. "Estamos permitindo um ataque especulativo ao real em troca de uma estabilidade de preço. Só que isso coloca em risco o futuro da economia", diz Daoud. O ponto nocivo dessa estratégia de estabilidade, diz o especialista, é a destruição da competitividade da economia. Daoud aponta que em 2001 o Brasil tinha uma pauta de 800 produtos manufaturados que vendia aos Estados Unidos. Hoje, essa lista caiu a 200. A solução desse "nó", segundo o especialista, passa pela conscientização do governo de que o câmbio é apenas um sintoma da doença estrutural do país. Para Daoud, falta um projeto macroeconômico para cortar gastos e elevar o investimento. Com isso, a oferta doméstica cresce e cai a necessidade de importação. "Quando isso ocorrer, se consegue evitar, então, a especulação no mercado futuro." A saída dessa armadilha também passa por impedir que a especulação no mercado de derivativos continue promovendo a perda de valor relativo na moeda. Segundo Daoud, para o Banco Central tirar poder dos especuladores ele tem que ir para o campo de batalha com a mesma arma do especulados, ou seja, a autoridade monetária teria de ter instrumentos para atuar nesse mercado. A sugestão do especialista seria adotar uma contrapartida às vendas. O investidor poderia vender a moeda no futuro, mas com uma garantia de recompra de parte desses dólares. "Esse mecanismo anula o ganho de arbitragem. E, com isso, não há influência de derivativos no mercado à vista. Assim, a moeda não perde valor relativo." Outra ressalva a essa estratégia é que, embora a aquisição de reservas tenha sim sua importância já provada e comprovada, ela também tem um custo elevado, pelo simples fato de que o BC emite reais a uma taxa muito superior a que consegue rentabilizar os dólares tirados do mercado. Eduardo Campos é repórter ----------------------------------- ECONOMIA & OUTRAS NOTÍCIAS Folha de S.Paulo - 13/06/2010 Total de pobres deve se reduzir à metade até 2014 Mantida a tendência de crescimento médio do governo Lula, o número de miseráveis, de 29,9 milhões atualmente, ruma para 14,5 milhões - 8% da população - em 2014, informa. Total de pobres deve cair à metade no Brasil até 2014 Ritmo de redução da pobreza se acelera por conta de mais emprego formal Número de miseráveis, de 29,9 milhões hoje, ruma rapidamente para cerca de 14,5 milhões, ou 8% da população FERNANDO CANZIAN DE SÃO PAULO Mantida a tendência de crescimento médio da economia no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil cortará à metade o número de pessoas pobres até 2014. O total deve cair de 29,9 milhões para cerca de 14,5 milhões, o equivalente a menos de 8% da população. Nos anos Lula, até a crise de 2009, o número de pobres (pessoas com renda familiar per capita mensal de até R$ 137,00) caiu 43%, de 50 milhões para 29,9 milhões. Hoje, a velocidade da queda do número de pobres é ainda maior, de cerca de 10% ao ano, segundo cálculos do economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-Rio. "Estamos entrando em um processo de redução da desigualdade mais forte que no período de 2003 a 2008. O rápido crescimento no início do ano só reforça essa tendência", afirma Neri. O economista diz que a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) mostrou crescimento médio de 5,3% ao ano per capita real (além da inflação) no Brasil entre 2003 e 2008. Outros especialistas ouvidos pela Folha concordam com essas previsões, consideradas realistas ante a tendência dos últimos anos. Consideram também viável o país manter um ritmo de crescimento até maior do que a média dos últimos anos. A previsão de crescimento para 2010, por exemplo, já varia de 6,5% a 7,5%. SALÁRIO MÍNIMO A diminuição do número de pobres e a ascensão de 31,9 milhões de brasileiros às classes ABC entre 2003 e 2008 estiveram relacionadas, principalmente, ao aumento do emprego formal e da renda do trabalho, à política de valorização do salário mínimo e aos programas sociais, como o Bolsa Família. Para Lena Lavinas, especialista no assunto no Instituto de Economia da UFRJ, a pobreza no Brasil cai especialmente por conta da criação de vagas formais no mercado de trabalho. "Cerca de 90% dos novos empregos formais nos últimos anos pagam até três salários mínimos (R$ 1.530,00). Isso favorece diretamente os mais vulneráveis", diz Lena. Além de criar quase 13 milhões de empregos formais (de 28,7 milhões para 41,5 milhões), o governo Lula patrocinou um aumento real (acima da inflação) de 53,6% para o valor do salário mínimo. Com isso, o piso básico no país voltou em 2010 próximo ao nível de 1986 -depois de atingir um fosso logo após o governo Collor (1990-92). PODER DE COMPRA Por conta dessa recuperação, os R$ 510 do mínimo de hoje (cerca de US$ 280) compram 2,2 cestas básicas, ante 1,4 no início do governo Lula. Nessa comparação, é o maior poder de compra desde 1979. Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), afirma que a recuperação do salário mínimo "foi o grande "programa social" de Lula". "Pois ele tem impacto direto sobre o crescimento da renda familiar." A construção civil é exemplar dentro dessa tendência. Os salários no setor, que emprega mão de obra pouco escolarizada, aumentaram 19,5% acima da inflação no governo Lula. Já o emprego formal saltou de 1,5 milhão de vagas para 2,5 milhões. "As contratações devem crescer ainda mais por conta dos investimentos para diminuir o deficit habitacional, na infraestrutura e nos relacionados a Copa e Olimpíadas, que mal começaram", diz Ana Maria Castelo coordenadora de Projetos da Construção da FGV-SP.
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