Evangelho segundo S. Marcos 13,1-23

Transcrição

Evangelho segundo S. Marcos 13,1-23
Evangelho segundo S. Marcos 13,1-23: Destruição do templo. A catástrofe. – cf.par. Mt
24,1-2; Lc 21,5-24
Evangelho segundo S. Marcos 13,24-32. – cf.par. Mt 24,29-35; Lc 21,25-33
«Mas nesses dias, depois daquela aflição, o Sol vai escurecer-se e a Lua não dará a sua
claridade, as estrelas cairão do céu e as forças que estão no céu serão abaladas. Então, verão o
Filho do Homem vir sobre as nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os seus anjos e
reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, da extremidade da terra à extremidade do céu.»
«Aprendei, pois, a parábola da figueira. Quando já os seus ramos estão tenros e brotam as
folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim, também, quando virdes acontecer estas
coisas, sabei que Ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo: Não passará esta geração
sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não
passarão. Quanto a esse dia ou a essa hora, ninguém os conhece: nem os anjos do Céu, nem o
Filho; só o Pai.»
Santo Efrém (cerca de 306 - 373), diácono na Síria, doutor da Igreja
Comentário do Evangelho ou Diaterraron
"Na hora em que não pensais é que virá o Filho do homem"
Para impedir qualquer pergunta indiscreta acerca do momento da sua segunda vinda, Jesus
declara: "Essa hora, ninguém a conhece, nem sequer o Filho" (Mt 24,36) e, noutro sítio: "Não
vos cabe conhecer os dias e os tempos" (Act 1,7). Ocultou-nos isso para que vigiemos, para
que cada um de nós possa pensar que essa manifestação se produzirá durante a nossa própria
vida. Se o tempo da sua segunda vinda tivesse sido revelado, essa manifestação seria em vão:
as nações e os tempos em que ela se produzisse não a teriam desejado. Ele disse que vem, mas
não precisou qual o momento; desse modo, todas as gerações e todos os séculos têm sede
dEle.
É certo que Ele deu a conhecer os sinais da sua manifestação; mas não disse quando
aconteceria. Na mudança constante em que vivemos, esses sinais já tiveram lugar e passaram
e alguns ainda duram. Com efeito, a sua última manifestação é semelhante à primeira: os
justos e os profetas desejavam-na; pensavam que se realizaria no seu tempo de vida. Também
hoje, cada um dos fiéis de Cristo deseja acolhê-lo durante a sua própria vida, tanto mais que
Jesus não disse claramente o dia em que iria aparecer. Desse modo, ninguém poderá imaginar
que Cristo se submeta a uma lei do tempo ou a uma hora precisa, Ele que domina os números
e o tempo.
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa,
teólogo
O exemplo da figueira
Somente uma vez por ano, este mundo visível manifesta as suas potencialidades escondidas e
revela-se a si mesmo de diversas maneiras. Surgem as flores, desabrocham as árvores de
fruto, a erva e o trigo crescem. Há um impulso e uma explosão repentina dessa vida escondida
que Deus colocou no mundo material. Pois bem, isto é para nós um exemplo do que o mundo
pode fazer sob a ordem de Deus. Um dia, a terra explodirá num mundo novo de luz e glória,
no qual veremos os santos e os anjos. Sem essa experiência das primaveras precedentes, quem
poderia conceber, dois ou três meses antes, que a face da natureza, que parecia morta, viesse a
tornar-se tão esplêndida e variada?...
O mesmo acontece com a primavera eterna que os cristãos aguardam: embora tarde, ela há-de
chegar. Aguardemo-la porque «Ele há-de vir e não tardará» (Heb 10, 37). Assim o dizemos,
cada dia: «Venha a nós o Vosso Reino!» o que significa «Escutai, Senhor… Vós que estais
sobre os Querubins, aparecei… Despertai o Vosso poder e vinde em nosso auxílio». (Sl 79, 3)
Evangelho segundo S. Marcos 13,33-37. – cf.par. Mt 24,36-44; Lc 21,34-36
«Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento. É como um homem
que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade nos seus servos, atribuiu a
cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis
quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar o galo, se de manhãzinha;
não seja que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo a
todos: vigiai!»
S. Pascácio Radberto (? - c. 849), monge beneditino
Comentário sobre o evangelho de Mateus 11, 24 ; PL 120, 799 (trad. Delhougne, Les Pères
commentent, p. 14)
"Tendo cuidado e vigiai: porque não sabeis quando virá o tempo"
É preciso termos sempre em consideração uma dupla vinda de Cristo: uma, quando Ele vier e
nós tivermos de prestar contas de tudo o que tivermos feito; a outra, quotidiana, quando Ele
visita sem cessar a nossa consciência e vem a nós a fim de nos encontar prontos por ocasião
da sua vinda definitiva. Com efeito, para que me serve conhecer o dia do juizo, se estou
consciente de tantos pecados? Saber que o Senhor vem, se Ele não vier primeiro ao meu
coração, se não entrar no meu espírito, se Cristo não viver e não falar em mim? Então sim, é
bom que Cristo venha se, antes que tudo, Ele vive em mim e eu nele. Para mim, é como se a
segunda vinda se tivesse já realizado, uma vez que o desaparecimento do mundo já ocorreu
em mim, porque de certa forma posso dizer: "O mundo está crucificado para mim e eu para o
mundo" (Ga 6,14).
Reflecti também sobre esta palavra de Jesus: "Muitos virão em meu nome" (Mt 24,5). Só o
Anticristo se apodedra deste nome, ainda que isso seja para nos enganar... Em nenhuma
passagem da Escritura encontrareis que o Senhor tenha declarado: "Eu sou Cristo". Porque lhe
bastava mostrar que o era, pelos seus ensinamentos e pelos seus milagres, uma vez que o Pai
agia com Ele. O ensino da sua palavra e o seu poder gritavam: "Eu sou Cristo", com mais
força do que milhares de vozes teriam gritado. Portanto, não sei se podereis achar que Ele o
tenha dito em palavras, mas mostrou-o "cumprindo as obras do Pai" (Jo 5,36) e ministrando
um ensino impregnado de piedade filial. Os falsos messias, que são disso desprovidos, só
podem usar os seus discursos para suportar as suas pretensões enganadoras.
Bento XVI: Advento, tempo de esperança
Meditação por ocasião da oração mariana do Ângelus
CIDADE DO VATICANO, domingo, 27 de novembro de 2005 (ZENIT.org).- Publicamos as
palavras que Bento XVI dirigiu este domingo por ocasião da oração mariana do Ângelus.
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Queridos irmãos e irmãs!
Com este domingo começa o Advento, tempo sumamente sugestivo do ponto de vista
religioso, pois está cheio de esperança, e de espera espiritual: cada vez que a comunidade
cristã se prepara para fazer memória do nascimento do Redentor, experimenta em si um
calafrio de alegria, que se comunica, em certa medida, a toda a sociedade. No Advento, o
povo cristão revive um duplo movimento do espírito: por uma parte, levanta o olhar para a
meta final de sua peregrinação na história, que é o regresso glorioso do Senhor Jesus, por
outra, recordando com emoção seu nascimento em Belém, se agacha ante o Nascimento. A
esperança dos cristãos se dirige ao futuro, mas sempre fica bem arraigada em um
acontecimento do passado. Na plenitude dos tempos, o Filho de Deus nasceu da Virgem
Maria, «nascido de mulher, nascido sob a lei», como escreve o apóstolo Paulo (Gálatas 4,4).
O Evangelho nos convida hoje a permanecer vigilantes em espera da última vinda de Cristo.
«Vigiai!», diz Jesus, «já que não sabeis quando vem o dono da casa» (Marcos 13, 35. 37). A
breve parábola do dono que saiu de viagem e dos servos encarregados de substituir-lhe
manifesta a importância de estar prontos para acolher ao Senhor, quando vier de maneira
imprevista. A comunidade cristã espera com ansiedade sua «manifestação» e o apóstolo
Paulo, ao escrever aos Coríntios, lhes exorta a confiar na fidelidade a Deus e a viver para que
quando regresse lhes encontre «irrepreensíveis» (Cf. 1 Corintios 1, 7-9) no dia do Senhor. Por
este motivo, muito oportunamente, ao início do Advento a liturgia nos põe nos lábios a
invocação do Salmo: «Mostra-nos, Senhor, tua misericórdia, e dá-nos tua salvação» (Salmo
84, 8).
Poderíamos dizer que o Advento é o tempo no qual os cristãos têm que despertar a esperança
de poder, com a ajuda de Deus, renovar o mundo. Neste sentido, quero recordar também hoje
a constituição do Concílio Vaticano II, «Gaudium et spes» sobre a Igreja no mundo
contemporâneo: é um texto profundamente impregnado de esperança cristã. Refiro-me
particularmente ao número 39, intitulado: «Terra nova e céu novo». Nela se pode ler. «Deus
ensina-nos que prepara uma nova habitação e uma nova terra, na qual reina a justiça (Cf. 2
Corintios 5,2;2Pedro 3, 13)... A expectativa da nova terra não deve, porém, enfraquecer, mas
antes ativar a solicitude em ordem a desenvolver esta terra». Os bons frutos de nosso esforço
voltaremos a encontrar, de fato, quando Cristo entregar ao Pai seu reino eterno e universal.
Que Maria santíssima, Virgem do Advento, nos permita viver este tempo de graça vigiando e
comprometidos na espera do Senhor.
[Tradução realizada por Zenit]
ZP05112702
A Palavra de Deus nos desperta, constata pregador do Papa – Mc 13,33-37
ROMA, sexta-feira, 25 de novembro de 2005 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do
padre Raniero Cantalamessa OFM Cap --pregador da Casa Pontifícia-- ao Evangelho do
próximo domingo, I do Advento (Mc 13, 33-37).
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I de Advento (ano B)
Marcos (13, 33-37)
Naquele tempo Jesus disse a seus discípulos: «Velai, já que não sabeis quando vem o dono da
casa, se ao entardecer, ou à meia-noite, ou ao cantar do galo, ou de madrugada. Não seja
que chegue de improviso e vos encontre dormindo. O que a vós digo, a todos digo: Velai!».
A vida é um sonho!
Este modo de falar de Jesus subentende uma visão bem precisa do mundo: o tempo presente é
como uma longa noite; a vida que levamos se parece com um sonho; a atividade frenética que
nela desenvolvemos é, na realidade, um sonhar. Um escritor espanhol do século XVII,
Calderón de la Barca, escreveu um famoso drama sobre o tema: «A vida é sonho».
Do sonho nossa vida reflete sobretudo a brevidade. O sonho ocorre fora do tempo. No sonho
as coisas não duram como na realidade. Situações que requereriam dias e semanas, no sonho
sucedem em poucos minutos. É uma imagem de nossa vida: chegados à velhice, vê-se atrás e
se tem a impressão de que tudo não foi mais que um sopro.
Outra característica do sonho é a irrealidade ou a frivolidade. Pode-se sonhar que está em um
banquete e come e bebe até a saciedade; desperta-se e se volta a ter fome. Um pobre, uma
noite, sonha que se fez rico: exulta no sonho, até despreza seu próprio pai, fingindo não
reconhecê-lo, mas se desperta e se encontra novamente pobre como era antes! Assim sucede
também quando se sai do sonho desta vida. Foi-se aqui ricaço, mas eis aqui que morre e se vê
exatamente na situação daquele pobre que se desperta após ter sonhado que era rico. O que
fica de toda sua riqueza se não a empregou bem? As mãos vazias.
Há uma característica do sonho que não se aplica à vida, a ausência de responsabilidade.
Podes ter matado ou roubado em sonhos; despertas-te e não há rastro de culpa; teu certificado
de antecedentes penais está sem mancha. Não é assim na vida; bem sabemos. O que se faz na
vida deixa marca, e que marca! Está escrito de fato que «Deus dará a cada qual segundo suas
obras» (Romanos 2, 6).
No plano físico, há substâncias que «induzem» e ajudam a conciliar o sonho; chamam-se
soníferos e são bem conhecidos por uma geração como a nossa, enferma de insônia. Também
no plano moral existe um terrível sonífero. Chama-se hábito. O hábito é como um vampiro. O
vampiro --ao menos segundo quanto se crê-- ataca as pessoas que dormem e, enquanto lhes
chupa o sangue, por sua vez lhes injeta uma substância soporífera que faz experimentar ainda
mais doce o dormir, de modo que o desafortunado funde-se cada vez mais no sonho, e o
vampiro lhe pode chupar todo o sangue que quiser. Também o hábito no vício adormece a
consciência, pelo que se já não sente nem sequer remorsos; crê estar muito bem e não percebe
que está morrendo espiritualmente.
A única salvação, quando este «vampiro» te pegou, é que chegue algo de improviso para
despertar-te do sono. Isto é o que se determina a fazer conosco a palavra de Deus com esses
gritos de despertar que nos faz ouvir tão freqüentemente no Advento: «Velai!». Concluímos
com uma palavra de Jesus que nos abre o coração à confiança e à esperança: «Felizes os
servos que o senhor ao vir encontre despertos; eu vos asseguro que se cingirá, os fará pôr-se à
mesa e indo de um a outro lhes servirá» (Lc 12, 37).
[Traduzido por Zenit]
ZP05112501
Advento: «Dize-me o que esperas e te direi quem és!»
Meditação do Pe. Thomas Rosica
TORONTO, sexta-feira, 28 de novembro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos uma reflexão
sobre o Advento do Pe. Thomas Rosica, C.S.B., professor em várias universidades canadenses
de Sagrada Escritura.
O Pe. Rosica, diretor do canal de televisão canadense Salt and Light e membro do Conselho
Geral da Congregação São Basilio, é conhecido pelos leitores da Zenit pelas crônicas que
escreveu durante o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra, em outubro passado, na qual foi portavoz para a língua inglesa.
O Pe. Rosica foi o encarregado da organização das Jornadas Mundiais da Juventude que
aconteceram em Toronto em julho de 2002, com a participação do Papa João Paulo II.
***
Leituras: Isaías 63, 16-17.19; Salmo 80(79); I Coríntios 1,3-9
Evangelho segundo São Marcos (13, 33-37)
Recordar as maravilhas de Deus na história
A Igreja entra neste fim de semana no tempo litúrgico do Advento. Os cristãos proclamam
que o Messias veio realmente e que o Reino de Deus está ao nosso alcance. O Advento não
muda Deus. O Advento aprofunda em nosso desejo e em nossa espera de que Deus realize o
que os profetas anunciaram. Rezamos para que Deus ceda à nossa necessidade de ver e sentir
a promessa de salvação aqui e agora.
Durante este tempo de desejo e de espera no Senhor, somos convidados a rezar e a aprofundar
na Palavra de Deus, mas estamos chamados antes de tudo a converter-nos em reflexo da luz
de Cristo, que na realidade é o próprio Cristo. De qualquer forma, todos sabemos como é
difícil refletir a luz de Cristo, especialmente quando perdemos nossas esperanças, quando nos
acostumamos a uma vida sem luz e já não esperamos mais que mediocridade e o vazio. O
Advento nos recorda que temos de estar prontos para encontrar o Senhor em todos os
momentos da nossa vida. Como um despertador acorda seu proprietário, o Advento desperta
os cristãos que correm o risco de dormir na vida diária.
O que esperamos da vida, ou quem esperamos? Por quais presentes ou virtudes rezamos neste
ano? Desejamos reconciliar-nos em nossas relações sociais? Em meio às nossas escuridões,
nossas tristezas e segredos, que sentido desejamos encontrar? Como queremos viver as
promessas de nosso Batismo? Que qualidades de Jesus buscaremos para nossas próprias vidas
neste Advento? Com freqüência, as coisas, as qualidades, os presentes ou as pessoas que
buscamos e desejamos dizem muito sobre quem somos realmente. Dize-me o que esperas e te
direi quem és!
O Advento é um período para abrir os olhos, voltar a centrar-se, prestar atenção, tomar
consciência da presença de Deus no mundo e em nossas vidas.
Neste primeiro domingo do Advento, na primeira leitura do profeta Isaías, o Todo-Poderoso
volta a dar esperança ao coração e à alma de Israel; modela Israel como o faz o oleiro com a
cerâmica.
Na segunda leitura, em sua carta à comunidade amada de Corinto, Paulo diz que espera com
impaciência «o dia do Senhor», no qual o Senhor Jesus se revelará a nós para salvar aqueles a
quem chamou.
No Evangelho do primeiro domingo do Advento, Marcos descreve o porteiro da casa que vela
em espera do regresso inesperado de seu senhor. Trata-se de uma imagem do que temos de
fazer durante todo o ano, mas especialmente durante o período do Advento.
Nosso Batismo nos faz participar da missão real e messiânica de Jesus. Cada pessoa que
participa desta missão participa também das responsabilidades régias, em particular, no
cuidado dos afligidos e dos feridos. O Advento oferece a maravilhosa oportunidade de
realizar as promessas e o compromisso do nosso Batismo.
O cardeal Joseph Ratzinger escreveu que «o objetivo do ano litúrgico consiste em recordar
sem cessar a memória de sua grande história, despertar a memória do coração para poder
discernir o sinal da esperança. Esta é a bela tarefa do Advento: despertar em nós as
lembranças da bondade, abrindo deste modo as portas da esperança».
Neste tempo do Advento, permitam-me apresentar-lhes algumas sugestões. Acabem com uma
briga. Façam a paz. Procurem um amigo esquecido. Eliminem a suspeita e substituam-na pela
confiança. Escrevam uma carta de amor.
Compartilhem um tesouro. Respondam com doçura, ainda que desejassem dar uma resposta
ríspida. Motivem um jovem a ter confiança nele mesmo. Mantenham uma promessa.
Encontrem tempo, dêem-se tempo. Não guardem rancor. Perdoem o inimigo. Celebrem o
sacramento da reconciliação. Escutem mais os outros. Peçam perdão quando se equivocam.
Sejam gentis, ainda que não tenham feito nada errado! procurem compreender. Não sejam
invejosos. Pensem antes no outro.
Riam um pouco. Riam um pouco mais. Ganhem a confiança dos outros. Oponham-se à
maldade. Sejam agradecidos. Vão à Igreja. Fiquem na igreja mais do que o tempo
acostumado. Alegrem o coração de uma criança. Contemplem a beleza e a maravilha da terra.
Expressem seu amor. Voltem a expressá-lo. Expressem-no mais forte. Expressem-no
serenamente.
Alegrem-se, porque o Senhor está próximo!
S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla,
doutor da Igreja
Homilia sobre o Salmo 49
As duas vindas de Cristo
A quando da sua primeira vinda, Deus veio sem qualquer brilho, desconhecido da maioria,
prolongando durante longos anos o mistério da sua vida oculta. Quando desceu da montanha
da Transfiguração, Jesus pediu aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era
Cristo. Vinha então, como um pastor, à procura da sua ovelha perdida e, para tomar conta
desse animal rebelde, era-lhe necessário permanecer escondido. Tal como um médico que
tenta não assustar o seu doente na primeira consulta, também o Salvador evita dar-se a
conhecer logo no início da sua missão: só o faz insensivelmente e pouco a pouco.
O profeta tinha predito esta vinda sem brilho nestes termos: "Descerá como a chuva sobre um
velo e como a água que corre gota a gota sobre a terra" (Sl 71,6). Ele não rasgou o
firmamento para vir sobre as núvens, mas veio em silêncio, no seio de uma Virgem, ao longo
de nove meses. Nasceu num presépio, como filho de um humilde operário... Anda por aqui e
por ali, como um homem normal; as suas vestes são simples, a sua mesa ainda mais frugal.
Caminha sem parar, a ponto de ficar cansado.
Mas não será assim a segunda vinda. Virá com tanto brilho que nem terá de anunciar a sua
chegada: "Como o relâmpago que parte do Ocidente e aparece no Oriente, assim será a vinda
do Filho do homem" (Mt 24,27) Será o tempo do julgamento e da sentença pronunciada.
Então, o Senhor não aparecerá como um médico mas como um juiz. O profeta Daniel viu o
seu trono, o rio que derrama as suas águas junto do tribunal e aquele aparelho todo em fogo, o
carro e as rodas (7,9-10)... David, o rei-profeta, só fala de esplendor, de brilho, de fogo
irradiando por todos os lados: "Um fogo caminhará diante dele e à sua volta rugirá violenta
tempestade" (Sl 49,3). Todas estas comparações têm por objecto fazer-nos captar a soberania
de Deus, a luz irradiante que o rodeia e a sua natureza inacessível.

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