Indicadores para Monitoramento de Programas e Projetos
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Indicadores para Monitoramento de Programas e Projetos
Programa de Desenvolvimento Gerencial Educação continuada Indicadores para Monitoramento de Programas e Projetos Governo do Estado de São Paulo Governador Cláudio Lembo Secretário-Chefe da Casa Civil Rubens Lara Subsecretária de Gestão e Recursos Humanos Evelyn Levy Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap Diretora Executiva Neide S. Hahn Programa de Desenvolvimento Gerencial – Educação Continua Continuada Diretora Técnica Maria de Fátima Infante de Araújo Coordenadora Maria Stela Reis Equipe Técnica Laís Macedo de Oliveira Maria Cristina Costa Pinto Galvão Maria G. Mariantonia Chippari Consultoras Augusta E. E. H. B. do Amaral Rovena Negreiros Assistência de coordenação André de Vasconcelos Apostila Texto Carlos Alberto Monteiro Aguiar Claudia Antico Fernando Assumpção Galvão Kleber Fernandes de Oliveira Paulo de Martino Jannuzzi Preparação e revisão Eloisa Pires e Vera Zangari Editoração eletrônica Julia Y. Kurose Apostila de uso exclusivo da Fundap. Reprodução proibida. Fundap Rua Cristiano Viana, 428 05411-902 São Paulo SP Telefone (011) 3066 5500 www.fundap.sp.gov.br São Paulo, 2006 Sumário Introdução .................................................................................................2 Texto 1: O Planejamento Estratégico e a Necessidade de Instrumentos de Monitoramento ...................................................................3 2: Uso de Indicadores na Gestão Pública .....................................9 Texto 2 3: Indicadores Econômicos e Sociais no Brasil ........................... 14 Texto 3 4: Sistemas de Indicadores, Painéis e Índices de Texto 4 Monitoramento ..................................................................... 26 Texto 5: Aspectos Metodológicos da Construção e Análise de Indicadores ............................................................................ 31 Introdução Um dos principais desafios que se impõe à gestão pública comprometida com resultados é o da produção de indicadores destinados às atividades de diagnóstico, monitoramento e avaliação de programas e projetos. Um sistema regular de informações contribui para o alcance de maior eficiência na alocação de recursos, de eficácia e qualidade dos serviços prestados à população e produz bases sustentáveis para a tomada de decisões. Os indicadores são úteis para todos os gerentes que precisam planejar algum tipo de programa ou projeto, para a execução de ações, para a análise de projetos ou para o gerenciamento da rotina de trabalho. Constituem-se, além disso, em subsídios para as atividades de planejamento público e formulação de políticas sociais, possibilitando o monitoramento das condições de vida e bem-estar da população. A preocupação com a obtenção de indicadores para o acompanhamento de resultados deve estar presente desde a formulação dos objetivos pretendidos, durante a execução dos planos de ação e, ao final, para a avaliação. É necessário, no momento da formulação dos programas, prever a organização de procedimentos de coleta e tratamento de informações específicas e confiáveis em todas as fases do ciclo de sua implementação, que permitam a construção de indicadores de monitoramento desejados. 2 TEXTO 1 O Planejamento Estratégico e a Necessidade de Instrumentos de Monitoramento Objetivo de aprendizagem: Reconhecer a importância do uso de indicadores para o gerenciamento de programas e projetos vinculado aos processos de planejamento, monitoramento e avaliação na gestão pública. O grande desafio que o Estado deve enfrentar para o desempenho de seu papel tem sido definido, pela atual gestão, como sendo o de “processar o atendimento às demandas da sociedade, em contexto de complexidade e crise política e, ao mesmo tempo adequar-se às pressões externas de internacionalização da economia e dos mercados”. Para poder atender às demandas da sociedade, o Estado se estrutura em sistema organizacional, que constitui a administração pública. Um dos principais objetivos que se colocam para o Dirigente é o de aumentar a eficácia da 1 organização pública, o que se obtém apenas pela melhoria de sua gestão . Para que isso seja possível, é fundamental dispor de capacidade e instrumentos que permitam ao ator social identificar as mais relevantes demandas da sociedade (objetivos ou problemas a serem equacionados); a explicação das razões de sua existência (suas causas); a formulação de uma proposta de ação (plano de governo) e sua implementação. Como decorrência, temos que é essencial a produção de informações que alimentem e orientem o processo de tomada de decisão em todas as suas instâncias bem como possibilitem o acompanhamento sistemático das ações desenvolvidas e o resultado produzido pelas mesmas. As Ações Governamentais As ações governamentais são sempre conduzidas por instituições do Estado, orientadas por políticas expressas em legislação e outros documentos; observam regras próprias ditadas pelo direito público e administrativo, são submetidas a determinações do sistema político e financiadas, em sua essência, por recursos púbicos oriundos da arrecadação tributária. 1 O termo gestão é aqui empregado como sendo o desenvolvimento do conjunto de atribuições que compreendem desde a elaboração de um plano de ação até sua implementação. 3 Da mesma forma que ocorre com as ações desenvolvidas pelas organizações voltadas para o mercado, precisam ser eficientes no emprego dos recursos, posto que públicos e escassos por definição. No campo privado, o resultado tem cunho exclusivamente econômicofinanceiro, o que torna os conceitos de eficácia e eficiência quase que coincidentes, facilitando sobremaneira o processo de planejamento, monitoramento, avaliações e controle de suas ações, ao contrário do que ocorre no setor público, no qual, mais que eficientes, as ações precisam ser eficazes, ou seja, impactar a realidade social que se busca transformar, produzindo o resultado almejado. Organizações e Sistemas Organizacionais O Estado atua por intermédio de ações que são desenvolvidas por organizações ou sistemas organizacionais. Muitos arranjos organizacionais são possíveis tendo em vista um objetivo ou objetivos específicos, desde uma célula de trabalho dentro de uma organização maior até arranjos que perpassam várias organizações, constituindo sistemas organizacionais mais estruturados ao estilo das “holdings”, até sistemas menos ou quase nada estruturados, como as “redes” constituídas por diferentes organizações. Para que a gestão e o monitoramento sejam eficazes, é fundamental que os responsáveis pela sua concepção e condução se localizem de forma precisa na estrutura de suas organizações ou sistemas organizacionais. Gestão de Processos X Gestão de Programas/Projetos Quando os produtos e serviços disponibilizados por uma organização (ou sistema organizacional) têm características iguais ou assemelhadas, as atividades e insumos necessários à produção podem ser padronizados, constituindo-se o processo no foco da preocupação do gestor, no norte da estruturação da organização e, portanto, no principal objeto a ser monitorado. Quando, ao contrário, a ênfase recai no desenvolvimento de um produto singular resultante de um esforço temporário, o sistema de monitoramento deve igualmente ser específico, enfatizando indicadores de execução. A maior parcela das organizações privadas situa-se no primeiro caso, o que justifica o desenvolvimento de metodologias de gestão por processos e a importância da gestão da qualidade. A gestão de programas e projetos é sempre mais complexa, visto que os mesmos são sempre fatores que aumentam a turbulência na organização e exigem estruturação e processos de trabalho específicos e igualmente temporários, competindo com a estrutura formal na alocação de seus recursos. Da mesma forma, a singularidade torna extremamente difícil a mensuração da eficiência e eficácia, e inviabiliza a idéia da melhoria contínua do processo. A Gestão por Objetivos 4 Toda organização tem por missão o atingimento de um conjunto de objetivos. A persecução desses objetivos requer recursos de toda ordem – políticos, organizacionais, técnicos, científicos, tecnológicos, econômicos, institucionaislegais, de tempo etc. – que serão dispendidos para o desenvolvimento de processos de trabalho que resultarão na disponibilização de bens ou serviços à sociedade. À relação entre insumos (recursos) e produtos, denomina-se eficiência. Assim, uma gestão será tão mais eficiente quanto menos recursos empregar para a produção de um mesmo “quantum” de bens ou serviços. Esses produtos impactam a realidade e a transformam, provocando uma mudança situacional que contribui para o atingimento da situação almejada. Esse é o resultado da ação empreendida, que se constitui na contra-face dos objetivos. Uma ação é, portanto, mais ou menos eficaz, na exata medida do atingimento dos objetivos ou mudanças situacionais propostas, em função do impacto dos produtos disponibilizados. O Planejamento como Condição Necessária Só é possível monitorar algo que é previamente conhecido e definido. Fundamental para que seja viável o monitoramento da ação governamental, a especificação dos elementos que a compõem, como objetivos, recursos, processos, tempo, produtos e resultados esperados. Essa definição só ocorre como resultado de um processo de reflexão anterior, ou seja, do processo de planejamento. No caso de utilização de metodologia de planejamento por problemas, é fundamental que o problema a ser atacado esteja bem definido, nominado e descrito em todas suas dimensões, e de forma a permitir a aferição de sua magnitude. Os descritores do problema se constituem, portanto, nos indicadores que representam a situação inicial e permitem o monitoramento do problema e a aferição dos resultados alcançados. No caso de fixação de objetivos, é fundamental definir metas para que se possam mensurar os resultados obtidos, a partir da apuração e análise dos indicadores propostos. Da mesma forma, um programa ou projeto deve ser desenhado contendo todos os elementos acima mencionados, de forma a poder ser monitorado durante sua implementação. Funções do Sistema de Monitoramento O monitoramento é essencial para que o governante e o gestor conheçam a evolução da situação que enfrentam e apreciem os resultados de suas ações, de forma a ser possível a tomada de decisões que possam resultar em modificações tempestivas. 5 A estatística tradicional não cumpre essa função adequadamente, por demandar muito tempo entre a ocorrência de um fato, a captura do dado que o comprova, e a disponibilização da informação decorrente. Dessa forma, é preciso monitorar indiretamente a realidade, mediante o uso de indicadores. Características Básicas de um Sistema de Monitoramento No monitoramento, o usuário é muito bem definido, e a informação é destinada a subsidiar decisões relacionadas a uma ação que está em desenvolvimento, e a conhecer e, se possível, mensurar o impacto dessa ação, comparando-o com o esperado ou planejado. A informação é ultra-seletiva, pois se destina a um usuário concreto com interesses específicos. O excesso de informações pode tirar o foco do gestor daquelas questões que são fundamentais. No monitoramento, é crucial que a informação chegue ao gestor em tempo eficaz, pois se destina a possibilitar a tomada de decisões destinadas a corrigir oportunamente uma ação em andamento. Grande parte das informações são perecíveis, portanto têm de ser constantemente atualizadas para não perderem seu valor. A produção pode ser descentralizada, de forma a permitir sua alimentação em tempo eficaz em cada nível de utilização. Um sistema de monitoramento opera com um conjunto de indicadores e sinais que são significativos para um conjunto ou um usuário específico. Essas características tornam mais complexo o desenho e a operacionalização de um bom sistema de monitoramento que parece, em teoria, simples. Técnicas de Formulação de Indicadores A representação de uma variável relevante que preenche os requisitos necessários para constituir-se em ferramenta eficiente e eficaz à gestão pública, seja ela índice ou indicador gráfico ou numérico, requer conhecimentos do objeto a ser monitorado, mas também a utilização de técnicas específicas para sua definição, estruturação, alimentação, apresentação e interpretação. Quando se trabalha com indicadores sociais, fundamentais para a definição das prioridades governamentais (seleção de problemas, ou definição de objetivos) bem como na posterior aferição de resultados, é desejável o conhecimento, mesmo que não aprofundado dos conceitos fundamentais de estatística descritiva, que é objeto de um dos temas desse curso. Categorias de Indicadores de Gestão Todas as etapas que envolvem a ação governamental, a partir de sua concepção até a mudança situacional resultante de seu impacto na realidade, bem como os meios de produção e demais fatores que interferem no processo produtivo, podem ser acompanhadas e monitoradas, incluindo o contexto no qual está sendo ou será desenvolvida. 6 Para cada dimensão a ser acompanhada, temos indicadores específicos que podem ser classificados, grosso modo, em: Indicadores de Recursos, de Processos, de Desenvolvimento, de Programas e Projetos, de Produtos e de Resultados. De sua análise individual ou das relações entre eles teremos indicadores de qualidade, eficiência, eficácia etc. Podem e devem ainda ser monitoradas as principais variantes que impactam o problema de forma intensa, influindo no resultado a ser alcançado. Como um planejador e gestor pode apenas controlar a qualidade de seu plano e de sua implementação, mas não as circunstâncias nas quais ele será desenvolvido, é fundamental que sejam monitorados os posicionamentos dos principais atores ante as ações planejadas, bem como as variáveis de contexto que compõem o cenário. Requisitos Necessários aos Indicadores de Gestão Um indicador de gestão é uma representação numérica de uma variável importante para um nível determinado de responsabilidade. É importante que ele assegure que essa representação seja significativa da variável, que ele seja pertinente para a responsabilidade considerada, que sua quantificação seja confiável e que se possam avaliar os resultados por comparação com uma meta inicial ou um padrão esperado, além da já salientada necessidade de ser atualizado e disponibilizado em tempo eficaz. Centros de Responsabilidade e de Decisão A estrutura de uma organização, tendo em vista a realização de objetivos, representa a forma como as atividades e as responsabilidades são organizadas e o processo decisório é realizado; não importa se se trata de um programa, um projeto, um órgão ou uma instituição. Todo arranjo organizacional encarregado de produzir algo deve ser analisado em função da responsabilidade e do poder de tomar decisões para que se possa estabelecer coerentemente a natureza das informações gerenciais necessárias, bem como sua periodicidade de alimentação e disponibilização. Sistema de Monitoramento por Painéis de Controle A montagem de um sistema de monitoramento passa por desenhar o conjunto de indicadores de desempenho necessário a cada centro de responsabilidade, definir a periodicidade de alimentação, as fontes de informação, as rotinas de alimentação e seus responsáveis. Assim, o acompanhamento de um programa, um projeto etc. pode requerer um conjunto de painéis de controle, com temporalidades diferentes, em função da necessidade específica dos diferentes centros de responsabilidade. É necessário ter muito clara a diferença entre um sistema de monitoramento e um sistema de informações, bem como esclarecer os conceitos de bancos de dados. Deve-se, também, estabelecer a distinção entre monitorar e avaliar. A 7 estruturação e operação de um sistema de monitoramento de programas e projetos será um tema específico do curso. 8 TEXTO 2 O Uso de Indicadores na Gestão Pública Objetivo de aprendizagem: Apresentar conceitos básicos, tipologia e propriedades dos indicadores apropriados a formulação, execução, monitoramento e avaliação de ações, programas e projetos. O uso de indicadores facilita o planejamento, ao apontar para movimentos significativos de variáveis relevantes em programas, projetos ou ações. Torna-se, assim, instrumento fundamental para subsidiar as propostas de intervenção na realidade, visando a um impacto positivo; o monitoramento e a avaliação são necessários à gestão governamental. Para que possam ser avaliados, programas e projetos devem ser desenhados. Para que se possa avaliar determinado programa e, durante a execução, gerenciar seu plano de ação, os objetivos declarados devem ser traduzidos em formas mensuráveis. A partir da comparação entre as medidas obtidas e aquelas esperadas, pode-se ajustar o plano e a estratégia utilizados, tomar medidas preventivas para aumentar a eficiência e a eficácia das ações, estabelecer ou revisar as metas e orientar o processo de avaliação. Sem que haja objetivos e/ou problemas descritos e definidos por indicadores precisos, quantitativa e qualitativamente, não é possível planejar de forma eficaz a intervenção a ser feita e definir o conjunto de iniciativas (programas, projetos e ações) a serem implementados. O uso de indicadores vinculados aos processos de planejamento, monitoramento e avaliação da gestão pública requer critérios consistentes para a escolha adequada das informações em diferentes etapas desses processos. Os indicadores são dotados de propriedades e podem ser classificados de formas distintas, tornando-se fundamental avaliar sua aderência às propriedades desejáveis, como também fazer uma reflexão crítica sobre sua natureza, para entender seu papel em um sistema de indicadores para o gerenciamento de programas e projetos. 1. Propriedades dos Indicadores 2 2 Texto a seguir baseado nos conceitos apresentados em Jannuzzi, 2001 – Indicadores Sociais no Brasil. 9 Um dos critérios fundamentais para a escolha adequada dos indicadores, a serem usados no processo de formulação, execução, monitoramento e avaliação de ações, programas e projetos, é a análise de seus atributos. A aderência dos indicadores a um conjunto de propriedades desejáveis justifica e legitima sua produção e sua utilização. • Relevância: é uma das propriedades fundamentais dos indicadores escolhidos em um sistema de formulação e avaliação de programas. Devem responder à demanda de monitoramento da agenda governamental de prioridades definidas em áreas temáticas centrais (saúde, educação etc.). • Validade: é importante que se disponha de medidas representativas do conceito abstrato que o indicador pretende operacionalizar. • Confiabilidade:: é uma propriedade relacionada à qualidade do levantamento dos Confiabilidade dados empirícos. Medidas confiáveis atribuem maior validade aos indicadores. • Grau de cobertura: deve-se procurar empregar indicadores de boa cobertura territorial ou populacional, que sejam representativos da realidade empírica em análise. Indicadores de cobertura parcial também podem ser úteis, desde que possam produzir conhecimento relevante, válido e confiável sobre dinâmicas específicas. • Sensibilidade:: é importante dispor de medidas capazes de refletir mudanças Sensibilidade relativas às ações previstas nos programas, e que possibilitem avaliar rapidamente os efeitos de determinada intervenção. • Especificidade:: é necessário utilizar medidas que possam refletir alterações Especificidade estritamente ligadas às mudanças relacionadas à dimensão de interesse. • Inteligibilidade igibilidade:: Intel igibilidade recomenda-se que os procedimentos metodológicos e critérios adotados para a construção dos indicadores sejam explicitados de forma clara e objetiva. Esse é um atributo fundamental para garantir transparência no uso programático do indicador. • omunicabilidade:: um bom indicador deve ser facilmente compreendido, para C omunicabilidade que possa ser legitimado tecnicamente e auxilie na implementação de programas. • Factibilidade para obtenção: a obtenção factível do indicador (tempo e custo) é um aspecto crucial para sua construção e seleção para acompanhamento de qualquer programa público. • Periodicidade na atualização: a periodicidade com que o indicador pode ser atualizado é importante para que se possa acompanhar a mudança social, avaliar o efeito de programas implementados e corrigir eventuais distorções de implantação. É fundamental que o indicador seja disponibilizado em tempo eficaz para permitir a tomada de decisões pertinentes. • Desagregabilidade:: Desagregabilidade é importante que os indicadores possuam desagregabilibdade populacional e territorial. Deve ser possível construir indicadores referidos à população-alvo dos programas, a espaços geográficos reduzidos, a grupos sociodemográficos ou a grupos vulneráveis específicos. • Historicidade:: Historicidade é uma característica relacionada à comparabilidade dos indicadores, o que possibilita a inferência de tendências, como também a avaliação dos efeitos de programas implementados. O ideal é que as cifras, em diferentes pontos temporais, sejam compatíveis, do ponto de vista conceitual, e tenham confiabilidade similar. De uma perspectiva aplicada, é raro dispor de indicadores que se constituam com todas essas propriedades. O importante 10 é que sua escolha seja fundamentada em uma avaliação crítica e consistente de suas propriedades, tendo em vista que é fundamental garantir a validade dos indicadores utilizados, a confiabilidade das medidas calculadas e sua transparência metodológica. 2. Tipologia dos Indicadores Há vários sistemas classificatórios para os indicadores, de acordo com sua natureza ou tipo, e que podem ser utilizados como auxílio para o critério de escolha no ciclo de formulação, execução, acompanhamento e avaliação de ações, programas e projetos. Indicadores quantitativos e qualitativos Os indicadores quantitativos referem-se às ocorrências concretas ou entes empíricos da realidade social, construídos a partir das estatísticas públicas disponíveis ou pesquisas de campo. Os indicadores qualitativos correspondem a medidas construídas a partir da avaliação dos indivíduos ou especialistas, com relação a diferentes aspectos da realidade, levantadas em pesquisas de opinião pública ou grupos de discussão. Indicadores simples ou compostos É um critério de diferenciação obtido a partir da quantidade de informação usada para sua definição e de sua complexidade metodológica. Os indicadores simples são construídos a partir de uma estatística específica e referidos a uma dimensão social elegida. Os indicadores compostos, também conhecidos como indicadores sintéticos, são elaborados mediante a aglutinação de dois ou mais indicadores simples, referidos a uma mesma ou diferentes dimensões da realidade. Classificação temática É a classificação mais comum dos indicadores – sua divisão segundo a área temática da realidade social a que se referem. Há, assim, os indicadores de saúde (percentual de crianças nascidas com peso adequado, por ex.), os indicadores educacionais (escolaridade média da população de quinze anos ou mais, por ex.), os indicadores de mercado de trabalho (rendimento médio real do trabalho, por ex.), os indicadores demográficos (taxa de mortalidade, por ex.), os indicadores habitacionais (densidade de moradores por domicílio, por ex.), os indicadores de segurança pública e justiça (roubos a mão armada por cem mil habitantes, por ex.), os indicadores de infra-estrutura urbana (percentual de domicílios com esgotamento sanitário ligado à rede pública, por ex.), os indicadores de renda e desigualdade (nível de pobreza, por ex.). Há classificações temáticas ainda mais agregadas, como Sistemas de Indicadores Sociais, Indicadores Socioeconômicos, de Condições de Vida, de Qualidade de Vida, Ambientais, ou de Desenvolvimento Humano. 11 Processo Indicadores Insumo, P rocesso e Resultado É um tipo de classificação bastante relevante para a utilização no ciclo de formulação, execução, monitoramento e avaliação de ações, programas e projetos públicos, uma vez que traz uma diferenciação quanto à natureza operacional da medida a ser utilizada. Os indicadores-insumo correspondem à qualificação e à mensuração do conjunto de recursos (humanos, materiais, institucionais, econômico-financeiros, científicos, tecnológicos etc.) necessários à implementação das iniciativas que compõem um plano, e sua efetiva utilização no processo de produção. Os indicadores-resultado buscam dimensionar o impacto dos produtos e serviços na realidade social, estando, portanto, relacionados aos objetivos finais dos programas públicos. Visam a mensurar o efeito das políticas sociais, ou seja, seu resultado. Os indicadores-processo são indicadores intermediários, que traduzem o esforço operacional de alocação e organização dos recursos para obtenção de bens e serviços (produtos) a serem disponibilizados. Indicadores para avaliação de eficiência, eficácia e efetividade Esse tipo de classificação também possui especial interesse nos processos de planejamento, acompanhamento e avaliação dos programas públicos. Os indicadores utilizados para a avaliação da eficiência propõem-se a mensurar a relação insumo-produto; quanto menos recursos forem utilizados para a produção de bens e serviços, com características, qualidade e em quantidade equivalentes, maior será a eficiência apurada. Esse tipo de indicador está relacionado à dimensão da produtividade – medem a proporção de recursos consumidos em relação às saídas dos serviços. Os indicadores usados para avaliar a eficácia têm por objetivo mensurar a relação entre o produto disponibilizado e o resultado alcançado; em que medida a disponibilização dos bens e serviços para a sociedade provoca a mudança almejada e possibilita o alcance dos objetivos. Esses indicadores estão ligados à dimensão da qualidade – focam a relação entre a satisfação do cliente e as características dos serviços. E os indicadores destinados à avaliação da efetividade social buscam mensurar os efeitos/impactos dos programas públicos para a sociedade. Indicadores no ciclo de formulação e avaliação de programas O ciclo de formulação, execução, acompanhamento e avaliação de programas públicos pode ser considerado nas etapas de Diagnóstico, Formulação, Implementação e Avaliação. Cada uma dessas etapas envolve o uso de um conjunto de indicadores de diferentes naturezas e propriedades, em função das necessidades intrínsecas das atividades aí envolvidas. Os indicadores constituemse em insumos básicos e indispensáveis em todas as fases desse processo, trazendo elementos e subsídios distintos. Cada fase requer o emprego de 12 indicadores específicos, ou seja, cada aspecto deve ser avaliado por meio de indicadores adequados. Na etapa de elaboração do Diagnóstico, são necessários indicadores de boa confiabilidade, validade e desagregabilidade, que cubram as diversas temáticas da realidade social. Esses indicadores viabilizam a caracterização empírica do contexto socioeconômico e espacial, e evidenciam a gravidade dos problemas, carências e demandas. É preciso construir um retrato amplo e detalhado sobre a situação social vivenciada pela população, para orientar a definição das questões prioritárias a atender, os formatos dos programas a implementar, as estratégias e ações a desenvolver. Constitui-se no ponto a partir do qual se poderá avaliar se o programa está provocando as mudanças e os objetivos previstos. Na etapa de Formulação (e também seleção de programas), pode-se atuar com um conjunto mais reduzido de indicadores, selecionados a partir dos objetivos norteadores definidos como prioritários pela agenda político-social vigente. Os indicadores do tipo insumo traduzem em termos quantitativos a magnitude dos recursos exigidos pelos diferentes programas sugeridos. Na etapa de Implementação e execução dos programas, são necessários indicadores de monitoramento, que devem possuir, principalmente, sensibilidade, especificidade e periodicidade. Os indicadores de processo permitem monitorar a alocação operacional de recursos humanos, físicos e financeiros planejados. Em geral, as informações produzidas pelas agências estatísticas não são suficientemente específicas para os propósitos de monitoramento de programas. A principal característica de um indicador de monitoramento reside na sua disponibilização em tempo eficaz para permitir a tomada de decisão gerencial. Na Avaliação dos programas implementados, indicadores de diferentes tipos podem ser usados para medir a eficiência, eficácia e efetividade social das soluções sugeridas. O acompanhamento de programas e projetos requer a estruturação de um sistema de indicadores que, além de específicos, sensíveis e periódicos, permitam monitorar sua implementação na lógica do ciclo de formulação, execução e avaliação. São necessários indicadores que permitam monitorar o dispêndio realizado por algum tipo de unidade operacional prestadora de serviços ou subprojeto; o uso dos recursos humanos, financeiros e físicos; a geração de produtos e a percepção dos efeitos sociais mais amplos dos programas. Monitoramento e avaliação de programas são termos cunhados para designar procedimentos de acompanhamento, focados na análise da eficiência, eficácia e efetividade desses programas. São processos analíticos organicamente articulados, sucedendo-se no tempo, com o propósito de subsidiar o gestor público com informações acerca dos recursos empregados, especificações e quantidade dos produtos, do ritmo e forma de implementação dos programas (indicadores de monitoramento) e dos resultados e efeitos almejados (indicadores de avaliação). 13 TEXTO 3 Indicadores Econômicos e Sociais no Brasil Objetivo de aprendizagem: Identificar as principais fontes de dados sociais e econômicas do Sistema Estatístico Brasileiro e as disponíveis no Estado de São Paulo; e os principais indicadores sociais e econômicos para acompanhamento da conjuntura socioeconômica do Estado. 1. Fontes de dados e indicadores sociais e econômicos O conjunto de pesquisas e fontes de dados para produção de indicadores sociais e econômicos compõe o que se denomina Sistema Estatístico Nacional (SEN). Comparativamente a outros da América Latina e Ásia, o SEN brasileiro é reputado como relativamente abrangente e confiável. Em grandes linhas, esse sistema subdivide-se em Subsistema de Estatísticas Sociais (SES) e Subsistema de Estatísticas Econômicas (SEE), cada qual com suas pesquisas, registros e fontes de dados. 1.1. Subsistema de Estatísticas Sociais (SES) As duas principais pesquisas do SES brasileiro são o Censo Demográfico – realizado geralmente de 10 em 10 anos, desde 1940 – e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) – levantada anualmente já há mais de três décadas. Além do Censo Demográfico e da PNAD, o IBGE tem realizado, de forma mais regular, procurando atender à demanda por informações municipais mais periódicas, a Pesquisa Nacional de Assistência Médico-Sanitária (AMS), a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) e a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB). Além de atualizar o quantitativo populacional do país, Estados e municípios, o Censo Demográfico constitui-se em uma fonte muito rica de indicadores de diagnóstico da realidade social, pelo escopo temático, desagregabilidade territorial e populacional e comparabilidade inter-regional. Tal fato decorre do uso de um questionário adicional mais detalhado, aplicado em uma amostra dos domicílios particulares, além do questionário básico empregado de forma exaustiva pelo território. No Censo 2000, foram levantados na amostra do censo mais de 70 quesitos de informação, cobrindo características domiciliares, infra-estrutura urbana, características demográficas e educacionais dos indivíduos, inserção da mão-de-obra, rendimentos, acesso a alguns programas públicos etc. Os 14 indicadores dessas dimensões analíticas podem ser computados para diversos grupos sociodemográficos (por sexo, raça/cor, estratos de renda etc.) e escalas territoriais que chegam ao nível de agregações de bairros de municípios (áreas de ponderação). As informações levantadas através do questionário básico permitem computar indicadores até mesmo do setor censitário (conjunto de cerca de 200 a 300 domicílios na zona urbana, para os quesitos levantados no questionário básico, aplicados em todos os domicílios do país). Através de um software de fácil manipulação – Estatcart – pode-se extrair do Censo 2000 estatísticas, indicadores sociais e cartogramas referentes a diferentes temas, em diferentes níveis geográficos: estados, municípios, áreas de ponderação e setores censitários, como ilustrado através da Figura 1. Podem-se elaborar diagnósticos bastante específicos em escopo – como a da População ocupada em Ciências e Artes em municípios paulistas – ou em termos geográficos – bolsões de domicílios sem acesso à rede de água em Macapá. Através do uso de áreas de ponderação, pode-se conseguir garantir especificidade temática de informações levantadas no questionário da amostra do Censo com boa desagregabilidade territorial, como ilustra o cartograma de Pessoas com algum tipo de deficiência em Campinas. Figura 1: Cartogramas de Indicadores Sociais extraídos do Estatcart com Censo 2000 Domicílios particulares sem banheiro Brasil 2000 Profissionais de Ciências e Artes Estado de São Paulo 2000 Pessoas com algum tipo de deficiência d e clarada Ponde Campinas SP 2000 (Área de Pond e ração) Domicílios sem acesso à rede de a bastecim. água Macapá AP 2000 (Setor Censitário) 15 A PNAD procura atualizar as informações levantadas pelo Censo Demográfico ao nível do país, unidades da Federação e principais regiões metropolitanas. Como a amostra é muito menor que a usada por ocasião do censo – por questões de custo e agilidade na coleta – a pesquisa não comporta o uso de seus dados na escala municipal. De qualquer forma, a PNAD é um levantamento fundamental para atualizar os indicadores sociais do país e dos Estados, além de se prestar à coleta de informações mais específicas, de interesse dos ministérios e outros agentes, através de questionários suplementares anexados ao principal. Anualmente, seus resultados compõem a Sinopse de Indicadores Sociais para o país, assim como o Brasil em Dados, publicações fundamentais para acompanhamento da conjuntura social brasileira. A AMS corresponde a um censo de estabelecimentos de saúde no país, identificando volume e qualificação de pessoal, equipamentos e outros recursos disponibilizados para atendimento médico-sanitário da população. Com isso, pode-se ter uma idéia mais clara e precisa do nível e diversidade da oferta de serviços de saúde pelo país, através da construção de indicadores de esforços de políticas na área de saúde. A MUNIC contempla, anualmente, o levantamento de um conjunto amplo de informações junto às prefeituras dos mais de 5 mil municípios brasileiros. Nessa pesquisa, levantam-se dados sobre a estrutura administrativa, nível de participação e formas de controle social (existência de conselhos municipais), existência de legislação e instrumentos de planejamento municipal (como a institucionalização do Plano de Governo, Plano Plurianual de Investimentos, Plano Diretor, Lei de Parcelamento do Solo, dentre outros), a disponibilidade de recursos para promoção da justiça e segurança (existência da delegacia de mulheres, juizados de pequenas causas etc.), além da existência de equipamentos específicos de comércio, serviços da indústria cultural e lazer, como bibliotecas públicas, livrarias, jornais locais, ginásios de esporte. Essa pesquisa permite, pois, construir indicadores que possibilitam retratar o grau de participação e controle popular da ação pública, que permitam caracterizar o estágio de desenvolvimento institucional das atividades de planejamento e gestão municipal pelo país. A PNSB veio a complementar esse quadro informacional sobre os municípios brasileiros com a coleta de dados sobre Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário, Limpeza Urbana e Sistema de Drenagem Urbana. Pode-se, assim, dispor de outros indicadores mais informativos sobre a estrutura e qualidade dos serviços 16 de infra-estrutura urbana, que não se limitam a apontar o grau de cobertura populacional atendida. Com os dados levantados nessa pesquisa, é possível construir indicadores de volume de água ofertada per capita, do tipo de tratamento e volume da água distribuída à população, de volume e destino do esgoto e lixo coletado, dentre outros aspectos. Há também esforços louváveis de várias instituições públicas, além do IBGE, em disponibilizar informações de seus cadastros e registros de forma mais periódica, fato que se deve à necessidade não só de monitoramento da ação governamental, mas também de facilidades que as novas tecnologias de informação e comunicações têm proporcionado. Os órgãos estaduais de estatística, o Ministério da Saúde, da Educação, do Trabalho, do Desenvolvimento Social, da Previdência Social, das Cidades, a Secretaria do Tesouro Nacional disponibilizam, pela Internet, informações bastante específicas – em escopo temático e escala territorial – a partir de seus registros e sistemas de controle internos, que podem ser úteis para construir indicadores de monitoramento de programas (Quadro 1). Quadro 1: Algumas das fontes oficiais para atualização periódica de IIn ndicadores Fonte Sítio Conteúdo IBGE www.ibge.gov.br Estatísticas sociais e econômicas diversas, em diferentes níveis de atualização e desagregação territorial, acessíveis nas publicações, no @Cidades, Sidra e BME. Órgãos estaduais de estatística www.anipes.org.br Pelo sítio da Associação Nacional das Instituições de Planejamento, Pesquisa e Estatística podem-se acessar os órgãos estaduais e as informações dos mesmos. Ministério da Saúde www.datasus.gov.br Estatísticas de mortalidade por causas Atendimentos no SUS Registro de Vacinações Ministério da Educação www.inep.gov.br Estatísticas educacionais Docentes e equipamentos Avaliação de desempenho educacional Ministério do Trabalho www.tem.gov.br Estatísticas mensais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Relação Anual das Informações Sociais Ministério do Desenvolvimento Social www.mds.gov.br Indicadores de Pobreza e Indigência Acesso aos Programas de Transferência de Renda Ministério da Previdência Social www.mpas.gov.br Benefícios e Auxílios concedidos Contribuintes Acidentes de Trabalho Ministério das Cidades www.cidades.gov.br Indicadores urbanos e saneamento Déficit habitacional Secretaria do Tesouro Nacional www.stn.fazenda.gov.br Transferências de recursos Execução orçamentária Receitas e Despesas municipais 17 Algumas instituições têm procurado desenvolver medidas-síntese da realidade social, de forma a apreender o comportamento “médio” ou situação “típica” da mesma em termos do Desenvolvimento Humano, Qualidade de Vida, Vulnerabilidade Social etc. Como mostrado no Quadro 2, tem havido muitas propostas de indicadores sintéticos no Brasil, com maior ou menor grau de sofisticação metodológica, elaborados por pesquisadores de universidades, órgãos públicos e centros de pesquisa, motivadas, por um lado, pela necessidade de atender as demandas de informação para formular políticas e tomar decisões nas esferas públicas; e, por outro, pelo sucesso do IDH e seu impacto nesses últimos 15 anos na disseminação da cultura de uso de indicadores junto aos círculos políticos. Em que pese sua disseminação, o uso e a aplicabilidade desses indicadores sintéticos como instrumentos de avaliação da efetividade social das políticas públicas ou como instrumentos de alocação prioritária do gasto social estão sujeitos a questionamentos de natureza substantiva e metodológica. O uso dos mesmos como instrumento analítico requer conhecimento da metodologia de sua construção – aliás, o que se aplica a qualquer indicador. Quadro 2: Alguns dos indicadores sintéticos propostos no Brasil Instituição promotora proposto Índice pro posto Fundação João Pinheiro MG IDH-M: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal ICV: Índice de Condições de Vida Municipal Fundação CIDE RJ IQM: Índice de Qualidade Municipal - verde IQM: Índice de Qualidade Municipal - carências IQM: Índice de Qualidade Municipal - necessidades habitacionais IQM: Índice de Qualidade Municipal - sustentabilidade fiscal Fundação SEADE – SP IPRS: Índice Paulista de Responsabilidade Social IVJ: Índice de Vulnerabilidade Juvenil IPVS: Índice Paulista de Vulnerabilidade Social Fundação Economia e Estatística RS ISMA: Índice Social Municipal Ampliado Sup. Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SEI BA IDS: Índice de Desenvolvimento Social IDE: Índice de Desenvolvimento Econômico Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/PUC-Minas MG IQVU: Índice de Qualidade de Vida Urbana IVS: Índice de Vulnerabilidade Social INEP/Cedeplar/NEPO IMDE: Indicador Municipal de Desenvolvimento Educacional 1.2. Subsistema de Estatísticas Econômicas Dentre o conjunto de instituições que produzem, compilam, analisam e disseminam as estatísticas econômicas – isto é, dentre as instituições que compõem o Subsistema de Estatísticas Econômicas –, o IBGE tem um papel central, seja como coordenador desse Sistema, seja como produtor de informações. Tais funções foram assumidas ao longo do século passado, através da transferência das responsabilidades de compilação de registros administrativos dos Ministérios (em especial da Agricultura), a partir de sua fundação e pela atribuição de elaborar os Censos Agropecuários e Econômicos a partir dos anos 18 1920. Esses Censos constituíram-se, por bom tempo, nas principais fontes de dados econômicos disponibilizados pela instituição, pela cobertura espacial e escopo investigativo. A partir dos anos 1960 e décadas seguintes, o IBGE veio a implantar uma série de pesquisas econômicas conjunturais, reestruturadas nos anos 90, de forma a constituir um Sistema (Quadro 3) sob a égide integradora e estruturadora das Contas Nacionais. Ao longo do período, ampliaram-se não apenas as áreas de coleta das pesquisas, como também as áreas de divulgação das estatísticas. Em função de restrições orçamentárias e complexidade operacional, os Censos Econômicos deixaram de ser realizados depois do último levantamento de 1985, sendo substituídos pela conjugação das pesquisas amostrais e o cadastramento contínuo de empresas no país – Cadastro Central de Empresas, o qual é continuamente atualizado a partir das informações aportadas pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), pelo Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e as pesquisas amostrais do IBGE, permitindo que anualmente se possa produzir estatísticas e indicadores econômicos acerca de pessoal ocupado, remunerações, surgimento e fechamento de empresas, com razoável nível de detalhamento territorial e setorial. O Sistema de Contas Nacionais é o Sistema Síntese das Estatísticas Econômicas de um país, e tem como função básica a mensuração da produção econômica nacional ao longo do ano, desagregada por atividade econômica e setor institucional, e sua contrapartida em termos de fatores de produção utilizados como capital, mão-de-obra etc. O PIB, produzido no âmbito desse sistema, é o indicador mais abrangente da produção e crescimento econômico, cobrindo os bens e serviços finais produzidos na esfera pública e privada, no país e suas regiões. São divulgados através de relatórios trimestrais – estimativas conjunturais – e relatórios consolidados anuais, que se diferenciam pela precisão, escopo e desagregação setorial e geográfica das estatísticas econômicas. O acompanhamento da evolução dos preços de produtos e serviços ofertados na economia brasileira é a função do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SINPC) e do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices de Preços da Construção Civil (SINAPI). O SINPC permite o acompanhamento dos bens e serviços consumidos pelas famílias, segundo a pauta de consumo levantada nas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF), realizadas até então nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, Brasília e município de Goiânia. Além dessas pesquisas, o IBGE realiza diversos outros levantamentos junto a estabelecimentos agropecuários, industriais, comerciais, prestadores de serviços, com periodicidades diversas (mensais, trimestrais, semestrais e anuais), e diferentes planos de divulgação territorial (Brasil, UFs e regiões). Quadro 3: Estatísticas Econômicas do IBGE Sistema temático/pesquisa Escopo temático/pesqui sa Sistema de Contas Nacionais Mensuração da produção econômica, discriminada por setor de atividade e por fator de produção Cadastro Central de Empresas Registro de Pessoal Ocupado, Salários, Fundação e fechamento de empresas, Constituição Jurídica Sistema Nacional de Índice de Comportamento da variação dos preços de produtos e 19 Preços ao Consumidor serviços consumidos pelas famílias conforme renda: INPC - 1 a 8 sm IPCA – 1 a 40 sm IPCA-E 1 a 40 sm (ref. 15o dia do mês corrente p/ 15o anterior) Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Const. Civil Levantamento de preços de materiais e salários pagos na construção civil, saneamento e infra-estrutura Agropecuária Censo Agropecuário; Produção Agrícola Municipal; Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura; Pesquisa Pecuária Municipal; Pesquisa de Estoques; Pesquisa do Leite; Pesquisa do Couro; Pesquisa de Abate de Animais; Produção de Ovos de Galinha; Levantamento Sistemático da Produção Agrícola Indústria Pesquisa Industrial Anual – Empresa; Pesquisa Industrial Anual – Produto; Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física; Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salários; Pesquisa Anual da Indústria da Construção Civil Comércio e Serviços Pesquisa Anual dos Serviços; Pesquisa Anual do Comércio; Pesquisa Mensal do Comércio Além do IBGE, há outras instituições produtoras de estatísticas econômicas primárias como os Ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Trabalho, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco Central, Fundação Getúlio Vargas; as Confederações Patronais (como CNI, FIESP, FECOMÉRCIO); Associações e Sindicatos Patronais (como ANFAVEA, Sindipeças, ELETROS, ABPO); os grupos editoriais especializados (como Gazeta Mercantil, EXAME, Valor); o Sebrae, além de empresas de pesquisa, como IBOPE e NIELSEN. Quadro 4: Principais Produtores de Informação Econômica Instituição Produtos informacionais Endereço Eletrônico ACNielsen Retail Highlights www.acnielsen.com.br BACEN Boletim do Banco Central do Brasil Relatório de Inflação www.bacen.gov.br BNDES Sinopse Econômica www.bndes.gov.br CNI Indicadores Industriais www.cni.org.br FGV Conjuntura econômica www.fgv.br FIPE/USP Boletim de informações da FIPE www.fea.usp.br FUNDAP Indicadores DIESP www.fundap.sp.gov.br FIESP Levantamento de Conjuntura Nível de Emprego www.fiesp.org.br IBGE Lista de Indicadores Conjunturais e Boletins de Contas Nacionais Trimestrais, Pesquisa Mensal de emprego, Pesquisa Mensal do Comércio, Pesquisa Industrial Mensal, Índice Nacional de Preços ao Consumidor www.ibge.gov.br Inst.Economia UNICAMP Política econômica em foco www.ie.unicamp.br Inst.Economia Economia & Conjuntura www.ie.ufrj.gov.br 20 UFRJ IEDI Carta do IEDI – Inst. Estudos para o desenvolvimento industrial www.iedi.org.br IPEA Boletim de Conjuntura www.ipea.gov.br Ministério da Fazenda Dívida Pública Mobiliária Federal Interna e Mercado Aberto www.fazenda.gov.br Ministério do Trabalho Análise mensal do mercado de trabalho formal Sebrae-SP Indicadores Sebrae-SP www.sebraesp.com.br Instituto de Economia Agrícola Informações Econômicas www.iea.sp.gov.br Confederação Nacional do Comércio Evolução da Conjuntura Econômica www.cnc.com.br www.mtb.gov.br Juntamente com as informações do IBGE, os dados coletados por essas instituições são usados para monitoramento conjuntural da economia brasileira por diversas instituições, que as divulgam de forma analisada em Boletins de Conjuntura (Quadro 4). Esses boletins são documentos de importante leitura para se manter atualizado com relação à evolução recente da economia e das perspectivas da mesma para os próximos meses, na medida em que trazem as interpretações de técnicos especializados quanto a um conjunto amplo de indicadores de diferentes fontes, de diferentes dimensões do sistema econômico, com nível maior ou menor de antecedência/conseqüência de fatores macroeconômicos nacionais e internacionais, expressos sob forma de números, índices, taxas, variações mensais ou taxas dessazonalizadas. 1.3.. A produção de indicadores s sociais 1.3 ociais e econômicos no SEADE As instituições de estatística e secretarias de planejamentos nos estados também produzem, compilam e disseminam dados e indicadores sociais e econômicos. Com base em pesquisas primárias, em pesquisas do IBGE, em registros administrativos das Secretarias e órgãos governamentais, levantamentos em cartórios e outros estabelecimentos, essas instituições produzem trabalhos analíticos, boletins conjunturais e bases de dados (disponíveis em CD-ROM’s e Internet) com informações acerca da população, panorama social e conjuntura da economia regional. Assim, de forma complementar às pesquisas do IBGE, é possível dispor de alguns indicadores sociais e econômicos mais específicos para municípios e regiões. Dentre essas instituições destaca-se a Fundação Sistema Estadual de Análise de dados – Seade – pelo fato de desenvolver pesquisas primárias para levantamento de dados socioeconômicos, além de dispor de um conjunto amplo de produtos informacionais que abordam questões relacionadas à dinâmica demográfica, social e econômica paulista. No Sistema de Estatísticas Sociais e Econômicas do Seade destacam-se a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), a Pesquisa de Condições de Vida (PCV), a Pesquisa Municipal Unificada (PMU), o Sistema de Estatísticas Vitais (VIT), o Sistema de Informações dos Municípios Paulistas (IMP), a Pesquisa de Atividade Econômica Paulista (PAEP), o Guia de 21 Investimentos e Geração de Empregos e a Pesquisa de Conjuntura da Pequena e Média Empresa (PECOMPE). A PED foi implantada pelo Seade, em 1985, na Região Metropolitana de São Paulo, e depois levada a outras regiões – Região Metropolitana de Salvador, de Belo Horizonte, de Porto Alegre, de Recife e Distrito Federal –, constituindo uma rica base de séries históricas de indicadores de mercado de trabalho metropolitano no país, já que levanta mensalmente estatísticas do trabalho, permitindo avaliar os efeitos da conjuntura econômica sobre o nível de desemprego e rendimentos. Os conceitos de atividade, trabalho e desocupação, o protocolo de coleta e o desenho do plano amostral são diferentes dos empregados na PME do IBGE, levando à computação de indicadores que, em geral, em termos de nível, são diferentes; mas, em termos de tendência no tempo, são semelhantes. A PCV, tal como a PNAD do IBGE, é uma pesquisa de natureza multitemática, levantando informações que podem ser usados para construção de indicadores de diferentes dimensões da realidade social (habitação, trabalho, educação, saúde, acesso a programas sociais, rendimentos e pobreza). A PMU coleta informações sobre a capacidade organizacional, administrativa e financeira das prefeituras, além de aspectos específicos de programas públicos lá desenvolvidos. As VIT constituem um rico acervo de informações sobre os eventos vitais (nascimentos, óbitos, casamentos etc.) no Estado, permitindo a construção de vários indicadores relevantes e periódicos no campo da Saúde Pública (taxa de mortalidade infantil, por causas etc.). O IMP reúne um conjunto amplo de indicadores sociais e econômicos para a totalidade dos municípios paulistas, muitos deles em séries históricas de décadas. Nele se podem obter indicadores anualmente atualizados pelas estatísticas e registros das diversas secretarias de Estado, concessionárias públicas e outras instituições. Quadro 5: Principais Pesquisas do Seade Sistema/ Pes Pesquisa Escopo Pesquisa de Emprego e Desemprego Estatística do mercado de trabalho como pessoal ocupado, taxa de dês emprego e nível de rendimento médio Pesquisa de Condições de Vida Educação, acesso a Saúde, Habitação, Trabalho, Rendimentos, Acesso a Programas Sociais, Pobreza Desagregação geográfiica geográf Região Metr. S. Paulo Região do ABC Em outros estados: DF, RMs de Salvador, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre Região Metropolitana de São Paulo Interior do Estado Periodicidade Di vulgação Mensal, com resultados em até 30 dias do mês de referência 1990: Só RMSP 1994 1998 Algumas regiões Pesquisa de Gestão Pública Municipal, Municipal Unificada Instrumentos de planejamento Municípios 1992 1995 1997 Estrutura organizacional 1999 2003 Estatísticas Vitais Estatísticas derivadas do Registro Civil como taxas de mortalidade infantil, por 22 Estado Regiões (diversas agregações) Municípios Atualização anual causas etc. agregações) Municípios Informações dos Municípios Paulistas Indicadores municipais multitemáticos, provenientes de Registros de Secretarias, Concessionárias, etc. Estado Pesquisa de Atividade Econômica Paulista Receita, Valor adicionado, pessoal ocupado, inovação tecnológica, tecnologia de informação, automação e gestão administrativa Guia de Investimentos e Oferta de Empregos Pesquisa de Conjuntura da Pequena e Média Empresa (com SEBRAE) Atualização anual Regiões (diversas agregações) Municípios Estado Qüinqüenal Interior 1o lev. Ref. 1996 Grandes Regiões do interior 2o lev. Ref. 2001 Investimentos anunciados por empresas, por setor de atividade, origem do capital e tipo de investimento Regiões Administrativas do Estado e Municípios Mensal, com resultados em até 30 dias do mês de referência Faturamento, pessoal ocupado, gasto com salários das pequenas e médias empresas Região Metropolitana de São Paulo Mensal, com resultados em até 30 dias do mês de referência Interior do Estado A PAEP traz informações acerca da receita, pessoal ocupado, política de recursos humanos, tecnologia de informação e dados acerca das mudanças dos processos de gestão, automação, produção e inovação tecnológica nas empresas sediadas no estado, para os anos de referência de 1996 e 2001, com possibilidade de desagregação por grandes regiões no Estado. A PECOMPE, já citada anteriormente, é realizada através de convênio com o Sebrae levantando mensalmente dados sobre faturamento, pessoal ocupado e gastos com salários em uma amostra de pequenas e médias empresas, permitindo a desagregação de resultados por setor (Indústria, Comércio e serviços) para a Região Metropolitana de São Paulo e interior do Estado. O Guia de Investimentos permite o monitoramento das tendências do investimento produtivo no Estado de São Paulo, organizados em tabelas que discriminam, para as diversas regiões e municípios do Estado, os investimentos anunciados segundo origem do capital (país sede da empresa), tipo de investimento (implantação, ampliação, modernização) e setor de atividade. Além dessas pesquisas, a Fundação SEADE tem também produzido diversos Indicadores Sociais Sintéticos, para auxiliar na formulação e tomada de decisão quanto à alocação dos recursos públicos e priorização das políticas sociais como o IPRS – Índice Paulista de Responsabilidade Social –; o IVJ – Índice de Vulnerabilidade Juvenil; e o IPVS – Índice Paulista de Vulnerabilidade Social. Cada índice foi desenvolvido para atender uma perspectiva diferente de orientação em políticas públicas, empregando diferentes variáveis e referidos a unidades territoriais também específicas. 23 Quadro 6: Principais Índices Sociais do Seade Índi Índ i ce Objetivo Fontes de da dos Unidade territorii al territor Municípios Aspectos metodológicos Tipologia construída através da aplicação da análise fatorial e de agrupamentos Riqueza Consumo residencial de energia elétrica Consumo de energia elétrica na agricultura, no comércio e nos serviços Remuneração média dos empregados com carteira assinada Valor adicionado fiscal per capita Longevidade Taxa de mortalidade infantil Taxa de mortalidade perinatal Taxa de mortalidade de 15 a 39 Taxa de mortalidade de 60 anos e mais Escolaridade % de jovens de 15 a 17 anos com ensino fundamental % de jovens de 15 a 17 anos com pelo menos quatro anos de estudo % de jovens de 18 a 19 anos com ensino médio % de crianças de 5 a 6 anos que freqüentam pré-escola IPRS Indicador qualitativo (tipologia), desenvolvido para atender demanda da Assembléia Legislativa de São Paulo, para identificar o estágio de desenvolvimento social dos 645 municípios paulistas, segundo nível de riqueza, longevidade e escolaridade Diversos registros administrativos disponíveis no SEADE, compilados das informações provenientes de Secretarias Estaduais e outros órgãos IVJ Instrumento auxiliar na escolha de áreas de intervenção de programas na área da Sec. Est. Cultura, para identificar distritos da cidade de São Paulo com maiores níveis de vulnerabilidade de jovens Censo Demográfico 2000 e Sistema de Estatísticas Vitais Distritos da cidade de São Paulo Índice construído através de análise fatorial, com base nas variáveis: Taxa anual de crescimento populacional entre 1991 e 2000; Percentual de jovens, de 15 a 19 Anos, no total da população do distrito; Taxa de mortalidade por homicídio da população masculina de 15 a 19 anos; Percentual de mães adolescentes, de 14 a 17 Anos, no total de nascidos vivos; Valor do rendimento nominal médio mensal, dos responsáveis por domicílios particulares permanentes; Percentual de jovens de 15 a 17 anos que não freqüentam IPVS identificar áreas intramunicipais com grande concentração de famílias pobres. Instrumento auxiliar na focalização de programas de transferência de renda Censo Demográfico 2000 Setor Censitário 2000 (agrupamento contíguo de aproximadame nte 300 domicílios, independentem ente do porte populacional do município onde se localizam) Índice construído através de análise fatorial, com base nas variáveis: Anos médios de estudo do responsável pelo domicílio; % de responsáveis pelo domicílio com ensino fundamental completo; % de responsáveis com renda até 3 salários mínimos; Rendimento nominal médio do responsável pelo domicílio; % de responsáveis pelo domicílio alfabetizados; Idade média do responsável pelo domicílio; % de responsáveis com idade até 29 anos; % de pessoas com até 4 anos 24 no total de residentes 25 TEXTO 4 Painéis de Monitoramento e Avaliação de Programas e Projetos Objetivo de aprendizagem: Apresentar Avaliação o conceito como de ferramenta Painel de essencial Monitoramento para apoio e ao gerenciamento de programas e projetos. A construção de painéis de monitoramento e avaliação constitui-se num dos elementos fundamentais para o gerenciamento de programas e projetos. Um painel bem elaborado, atualizado e bem utilizado pode propiciar um significativo ganho de qualidade e eficiência gerenciais. É um instrumento que auxilia o gestor a selecionar, organizar e administrar as informações relevantes para a tomada de decisões estratégicas ou operacionais. Serão apresentadas, aqui, orientações básicas e dicas para a construção e utilização de painéis de monitoramento e avaliação de programas e projetos. 1. A utilização de indicadores na gestão de programas Princípio da finalidade ou da eficácia A aplicação da racionalidade gerencial na gestão pública tem origem na administração por objetivos (Peter Drucker) e busca construir uma “lógica de resultados” a par da “lógica de meios”, tão característica da gestão das burocracias públicas. Nos últimos tempos, a administração pública é cada vez mais confrontada com a extensão da natureza de suas atividades, com a redução relativa de seus meios, ao mesmo tempo em que é mais cobrada na sua eficácia. Resulta daí a maior busca de experiências, visando a introduzir o gerenciamento por objetivos, seja no âmbito da gestão das instituições públicas, seja no âmbito da gestão de projetos específicos. William Edwards Deming (1900-1993), conhecido como o “profeta da qualidade” e “filósofo do gerenciamento”, um dos nomes mais influentes no renascimento econômico do Japão, proferiu a célebre frase: “Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, não há sucesso no que não se gerencia”. Ao destacar as palavras-chave – entender, definir, medir, gerenciar e sucesso – pode-se depreender que o sucesso tem início no entendimento da situação; assa pela definição da trajetória e seus indicadores; exige a medição ou aferição da situação em cada momento, para que se possa tomar decisões acertadas e, assim, chegar ao resultado esperado. Percebe-se, desse modo, que os indicadores e sua aferição (medição) têm lugar de destaque no processo gerencial de sucesso. Indicadores e o ciclo de gestão pública A gestão de programas está inserida no contexto de formulação, execução, acompanhamento e avaliação, que compõem o ciclo da gestão pública; envolve diversas fases, assim como o uso de diferentes tipos de indicadores. 26 Os indicadores utilizados na fase de análise da situação ou diagnóstico são de natureza distinta daqueles referentes à fase de execução e avaliação dos resultados, como já mencionado em capítulo anterior. É importante destacar que o painel de monitoramento e avaliação de programas aplica-se melhor às duas últimas fases. a) Diagnóstico ou análise da situação atual Esta fase envolve a análise de indicadores sociais relacionados à temáticas diversas, que possam orientar a identificação de problemas e demandas prioritários. O que se pretende é diagnosticar, comparar, classificar e analisar tendências, por meio de indicadores já existentes. b) Formulação ou concepção do programa A partir do diagnóstico realizado, são estabelecidos os objetivos do programa, seu público-alvo e/ou tema, suas diretrizes e ações (projetos e atividades operacionais) e a previsão dos recursos necessários. Nesta fase, é importante que haja a definição dos indicadores de monitoramento e avaliação, com a concepção dos quatro grupos de indicadores essenciais para a gestão de programas: insumos, projetos, atividades e resultados. Desse modo, os objetivos podem ser traduzidos em indicadores e metas; a natureza dos produtos finais deve ser especificada, assim como um cronograma com a previsão orçamentária (investimento) no âmbito dos projetos; os produtos estratégicos, os indicadores e metas de processo devem ser definidos, bem como o custeio estimado para a etapa das atividades. c) Gerenciamento da execução Nesta fase, o painel de monitoramento e acompanhamento das atividades ganha vida, com a verificação da pertinência dos indicadores e das metas definidas na fase anterior. A comparação entre os valores aferidos e as metas estabelecidas irá oferecer ao gestor, e demais interessados, um quadro para avaliação do andamento da execução. Uma boa concepção e um bom planejamento não são suficientes para garantir resultados. É necessária uma boa execução da estratégia adotada e, neste momento, os indicadores, se bem concebidos, são a base para a tomada de decisão segura e bem fundamentada. d) Avaliação dos resultados A avaliação deve estar integrada à rotina do gerenciamento, trazendo maior garantia de eficácia, uma vez que produz um senso de compromisso e alinhamento da equipe com os resultados esperados. A avaliação permanente desloca naturalmente o foco para o cliente da ação e não para a ação em si, propiciando o ajuste das estratégias e conseqüente correção de rota durante a execução e a produção de melhores resultados. 2. Gerenciamento e o “Sistema de Pilotagem” O sistema de pilotagem é um instrumento a serviço do gerenciamento e se constitui numa ferramenta fundamental de ajuda para a tomada de decisões. Geralmente, é constituído de duas categorias: o “painel de controle” e os “diários de bordo”. Painel de Controle: é um suporte informativo (documento em papel ou em sistema informatizado), que contém e apresenta informações de síntese, sob a forma de indicadores, e permitem ao gerente conhecer a situação global em tempo útil para tomar decisões de percurso. Diários de bordo: são conteúdos informativos mais específicos sobre os objetivos e os resultados esperados, sobre a natureza do empreendimento e das ocorrências ao longo da gestão. Incluem também os painéis de controle das autoridades subordinadas. Podem conter sínteses de estudos, relatórios, situações de orçamento e finanças, estatísticas etc. A simbologia dessas duas figuras remete à experiência de conduzir uma aeronave ou uma embarcação onde é necessário ter informações a tempo de tomar decisões de percurso, tendo em vista chegar a um objetivo determinado. Essas informações devem ser encontradas nos diários de bordo, que devem conter dados e informações, previamente armazenados, do planejamento de viagem e das ocorrências ao longo do percurso, ou no painel de controle, que deve estar constituído de informações necessárias para acompanhar e avaliar a rota e as condições de navegação. Essa simbologia nos permite perceber a natureza das ferramentas propostas, mas não deve confundir-nos quanto às diferenças de complexidade entre a gestão de programas governamentais e a tarefa de dirigir equipamentos que permitem controle quase completo das variáveis técnicas envolvidas. 27 3. Sistema de pilotagem x Sistema de informações O sistema de pilotagem diferencia-se de um sistema de informações. Os sistemas de informações captam, em geral, um conjunto de informações acerca de uma atividade ou um propósito e costumam ser o mais abrangente possível. Suas informações têm caráter perene e são armazenadas ao longo do tempo para permitir análises as mais diversas e de diferentes interesses e propósitos. São exemplos de sistemas de informações, no âmbito de organizações públicas, o sistema de informações educacionais, o sistema de informações em saúde pública, o sistema de informações de segurança pública, o sistema de cadastro de veículos automotores etc. Por outro lado, o sistema de pilotagem configura-se como um sistema de informações específico, aplicado à gestão de determinado empreendimento, seja ele uma organização, um programa ou um projeto determinado. Suas informações têm relevância temporal, perdendo seu sentido fora do tempo útil da informação. É um sistema voltado para informar o dirigente acerca de aspectos importantes do desempenho da organização ou do programa ao longo da gestão. Assim, é um sistema que se aproveita dos sistemas de informações, mas atende às necessidades específicas da gestão do empreendimento. Assim, para cada empreendimento deve ser construído um sistema de pilotagem específico, em função das necessidades de acompanhamento, avaliação e tomada de decisões gerenciais próprias ao empreendimento e visando aos resultados esperados. Nesse sentido, é fundamental ter muito claro os principais aspectos constitutivos da organização ou projeto que dão o sentido e a direção à gestão, bem como explicitam os resultados almejados. São eles que devem orientar a formulação do sistema de pilotagem. Esses aspectos são em geral tratados no âmbito do planejamento estratégico e são identificados na missão, na visão de futuro, nas diretrizes estratégicas, nas funções ou missões das áreas constitutivas da organização ou projeto, nas atividades ou produtos decorrentes das operações, projetos ou ações governamentais. Esse conjunto de aspectos faz parte do que chamamos no início deste texto de “lógica de resultados”, pois o foco são os objetivos. Adotamos o conceito de objetivo como sendo “um resultado mensurável a ser atingido pelo responsável de uma unidade de trabalho em um dado prazo”. 4. Nível de informação e nível de decisão Para tomar decisões gerenciais, seja de correção de percurso ou de desempenho em um empreendimento, são necessárias diferentes informações e a tomada de decisão deve ser feita em níveis distintos de responsabilidade na estrutura de comando do empreendimento. Assim, os diferentes gestores de uma mesma organização ou projeto terão responsabilidades diferentes e precisarão de informações mais detalhadas ou mais sintéticas, conforme as necessidades das decisões a serem tomadas. Quanto ao nível de informação, um gestor específico fará uso sistemático e periódico do seu “painel de controle”, com os indicadores de síntese e sinais de alerta para acompanhar e avaliar de modo rápido seu empreendimento. Sempre que precisar de uma informação mais completa e abrangente, deverá fazer uso do seu “diário de bordo”, que deve conter relatórios da organização, estudos e estatísticas sobre o empreendimento, os painéis de controle dos subordinados etc. Se necessitar de um nível mais abrangente de informação, fará uso dos sistemas de informações existentes na organização ou fora dela. Quanto ao nível de decisão, o sistema de pilotagem deve variar em função do nível de responsabilidade do gestor no empreendimento. Conteúdos diferentes e adequados às necessidades de cada nível devem compor os instrumentos do sistema de pilotagem. 28 5. Composição do painel de controle Considerando que um painel de controle deve focar o gerenciamento do programa, seus componentes básicos devem ser: 1) Indicadores de insumos ou recursos: previsão versus utilização dos recursos, especialmente os financeiros (tanto de investimento quanto de custeio); 2) Indicadores de andamento do projeto: previsão versus execução dos “produtos” da fase de estruturação do programa (infra-estrutura física, tecnológica, metodológica e demais recursos); 3) Indicadores de operação ou atividade: previsão versus realização das atividades operacionais de rotina, destacando os principais “produtos” e “processos” correspondentes; e 4) Indicadores de resultado: metas versus resultados alcançados. Com um painel atualizado, o gerente do programa poderá acompanhar a execução (indicadores dos grupos 2 e 3); avaliar a eficiência, comparando a execução com o consumo dos recursos; e verificar a eficácia, comparando os indicadores de resultado (grupo 4) com os de insumos (grupo 1). Painel de Bordo do Programa Operação Estruturação E vo lu ç ã o Sociedade População Alvo Beneficiários ou usuários Situação objeto da intervenção A va n ç o fís ic o Indicadores Sociais Situaç Situação Atual Situaç Situação Desejada Benefício Concedido 10 0% 9 0% 8 0% 7 0% 6 0% 5 0% 4 0% 3 0% 2 0% 1 0% 0% Sociedade 10 0 80 60 % 40 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 1 12 1 3 1 4 15 1 6 1 7 18 1 9 20 0 1 2 3 4 5 Me s es P revis to 6 7 8 9 10 11 12 Meses Real iz ado Avanço Financeiro P revisto Realizado Custo operacional 29 Projetos Atividades Indicadores de execução Indicadores de atividades (projeto) rotineiras (processo) População Alvo Beneficiários ou usuários Resultado Esperado Indicadores de resultado Indicadores de Impacto Modelo referencial para a construção do Painel de Controle para o monitoramento de um Programa 6. Dicas para construção do painel de controle A construção do painel de controle deve ser o mais simples possível para que não se torne um obstáculo. Seu desenvolvimento deve ser encarado como um processo de aprendizagem em que a experiência vai enriquecendo a capacidade de melhorar o conjunto das informações e sua utilização. A seguir, são apresentadas algumas dicas para sua construção: • Não se fixe demais em modelos: não existe um modelo ideal. Seu painel de controle deve “grudar” na realidade e nas prioridades de seu programa; • Busque um formato que seja suficientemente comunicativo a todos interessados Normalmente, a representação gráfica do previsto versus o realizado oferece boa aceitação e rápida assimilação para a maioria dos envolvidos na gestão; • Não exagere nos detalhes. Não acumule em seus painéis de controle um excesso de informações que podem ser facilmente encontradas em outros lugares. O painel de controle do programa não deve substituir o sistema de informação das organizações ao qual programa esteja vinculado; • Utilize poucos e bons indicadores. O excesso de informação produz desinformação. Valem mais alguns indicadores confiáveis do que muitos indicadores incertos; • Envolva a equipe na formulação, formatação e manutenção do painel. Ele é um instrumento gerencial coletivo e seus colaboradores devem aderir à sua concepção para contribuir na sua alimentação e utilização; • Reserve um campo para observações. Sempre surgem situações inesperadas e/ou a necessidade de noticiar um acontecimento importante, seja o alcance de uma meta parcial ou um ponto de controle do projeto, por exemplo. • Reproduza periodicamente as informações do painel em um relatório pré-formatado para distribuir aos interessados no acompanhamento do programa, seja para a prestação de contas, seja como instrumento de motivação para os colaboradores internos ou externos. 30 TEXTO 5 Aspectos Metodológicos da Construção e Análise de Indicadores Objetivo de aprendizagem: Introduzir os conceitos da estatística descritiva para a construção de Indicadores. A rápida difusão de procedimentos estatísticos, impulsionada pela incorporação de computadores à maior parte das atividades profissionais, exige do gestor público o desenvolvimento de habilidades tanto na área da Informática quanto na de Análise Estatística. A Análise Quantitativa, por sua vez, só pode ser realizada de forma confiável, mediante o domínio de um conjunto de conceitos estatísticos básicos. Os equívocos analíticos provocados pela inobservância de um quadro conceitual podem ser ainda agravados se essas estatísticas forem calculadas sem o conhecimento de suas aplicabilidades e limitações. Não raro, pode-se chegar a conclusões equivocadas justamente pelo uso aleatório de algumas medidas estatísticas. Ao conhecimento necessário para o uso da Estatística e mediante o refinamento analítico obtido com o constante exercício metodológico, pode-se lançar mão de ferramentas capazes de abreviar o trabalho de análise requerido em quase todas as etapas da Gestão Pública. 1. Conceitos básicos O trabalho de análise estatística aplicada à gestão e ao monitoramento de projetos deve-se iniciar com a seleção criteriosa das variáveis a serem utilizadas. O gestor precisa ter clareza de que, embora essa definição seja aparentemente trivial, as variáveis diferem entre si quanto à sua natureza. O Quadro 1 sistematiza essa tipologia. Quadro 1 – Tipos de Variáveis Nominal Qualitativa Ordinal Variável Dicotômica Discreta Quantitativa 31 Contínua As variáveis qualitativas são aquelas que, como o próprio nome sugere, exprimem uma qualidade. Essa qualidade de interesse pode ser de caráter ordinal, onde seus atributos apresentem determinada hierarquia interna, como, por exemplo, o nível de instrução e o estado civil. Se os atributos da variável qualitativa não constituem essa hierarquia interna, afirma-se tratar de uma variável nominal, de que são exemplos as variáveis Sexo e Lugar de Nascimento. Por outro lado, as variáveis podem expressar números, sendo, portanto, denominadas variáveis quantitativas. Se as variáveis resultam de um processo de medição, assumindo valores decimais, são denominadas variáveis contínuas. Entretanto, se resultam de contagem, assumindo valores inteiros, são definidas como variáveis quantitativas discretas. Nos procedimentos amostrais, que incluam alguma modelagem estatística, é comum quantificar algumas variáveis qualitativas. Pode-se, por exemplo, criar uma escala de valores, onde a gradação entre “pouco=1”, “médio=2” e “muito=3” possa ser utilizada para medir o grau de aceitação de uma ação governamental por parte de determinada população. Pode-se, ainda, atribuir um valor “1” ao atributo de interesse e “0” aos demais atributos. Esse último procedimento utiliza variáveis binárias ou dicotômicas. Estabelecido esse quadro conceitual sobre os tipos de variáveis, trata-se agora da forma adequada de representação tabular e gráfica dessas informações. Observe nas tabelas 1 e 2 que o grau de instrução dos 36 empregados possui apresentação tabular distinta da verificada nos salários. Essa última variável, devido ao diferentes valores que assume, foi agrupada em classes de salários. No que se refere à representação gráfica, note que o grau de instrução pode ser representado pelo gráfico de setores (pizza), enquanto os salários são representados por barras justapostas, visto tratar-se de variáveis contínuas. Tabela 2 Freqüência e porcentagens dos 36 empregados da seção de orçamentos da Cia. MB, por faixa de salário Tabela 1 Freqüência e porcentagens dos 36 empregados da seção de orçamentos da Cia. MB, segundo grau de instrução Grau de Instrução Freqüência (ni) Proporção (fi) Porcentagem (fi)*100 Fundadmental 12 0,33 33,33 Médio 18 0,50 50,00 Superior 6 0,17 16,67 Total 36 1,00 100,00 Faixa de salário 4,00 8,00 8,00 12,00 12,00 16,00 16,00 20,00 20,00 24,00 Total Fonte: Bussab & Morettin, p. 12, 2002 Freqüência (ni) 10 12 8 5 1 36 Proporção (fi) Porcentagem (fi)*100 0,28 27,78 0,33 33,33 0,22 22,22 0,14 13,89 0,03 2,78 1 100 Fonte: Bussab & Morettin, p. 13, 2002 Figura 1 - Gráfico em setores para o grau de instrução Figura 2 - Histograma das faixas salariais Superior 17% 14 12 Fundadmental 33% 10 8 6 4 2 Médio 50% 0 4,00 32 a 8,00 8,00 a 12,00 12,00 a 16,00 16,00 a 20,00 20,00 a 24,00 A definição das variáveis, a serem utilizadas no trabalho de monitoramento ou avaliação de ações e projetos, constitui a parte inicial do tratamento estatístico. Nos estágios que se seguem a esse, é usual o emprego de algumas medidas como Razão, Proporção, Taxa e Índice. Ocorre que, em alguns casos, nota-se certa confusão entre os seus conceitos, fato que pode dificultar o entendimento acerca do que se deseja mensurar. Define-se Razão como a relação, comumente por cem (%) ou por mil (‰), entre dois valores que pertencem a populações diferentes. Por exemplo, o total de alunos do sexo masculino e o total do sexo feminino, consumo de energia elétrica por hora etc. A forma matemática que exprime essa relação é a seguinte: Rz = XA * 100 XB ou Rz = XA * 1000 XB (1) Se esses valores ou grandezas pertencem a uma mesma população, sendo o numerador parte do denominador, a relação calculada é proporcional e sua forma é a seguinte: Pr op = Xa * 100 XA ou Pr op = Xa * 1000 XA (2) Para medir a intensidade de uma variação no tempo, crescimento ou decrescimento, utilizamos as taxas. Em outras palavras, o emprego de taxas só se justifica quando existe uma dimensão temporal envolvida, ou seja, pelo menos dois pontos no tempo (T0 e T1). ∆ T 0,T 1 = tempo X T1 X − 1 * 100 ou ∆ T 0,T 1 = tempo T 1 − 1 * 1000 XT0 XT0 (3) As definições acima permitem compreender que, em muitos casos, calcula-se de uma forma e dá-se o nome de outra. Isso acontece, por exemplo, com a medida de analfabetismo. Quando se divide o total de analfabetos pela população de um país, tem-se a proporção de analfabetos e não a taxa de analfabetismo. Essa última seria, portanto, o total de analfabetos no tempo T1 em relação ao total no T0, conforme equação 3, acima. Pode-se argumentar, contudo, que o termo “proporção de analfabetos” não possui a mesma facilidade de entendimento por parte do grande público, daí a preferência pela “taxa”. Mediante um impasse desse tipo, aconselha-se a utilização do termo “índice”, dada sua maior flexibilidade conceitual, ou seja, podese utilizar o termo “índice de analfabetismo” de forma a facilitar o entendimento mais amplo, sem prejuízo ao quadro conceitual aqui tratado. O cálculo de taxas, razões, proporções e índices auxiliam sobremaneira as análises quantitativas, mas são medidas, de certo modo, pouco refinadas. Tomando como exemplo o analfabetismo, não se pode conhecer através dessas medidas a idade média das pessoas caracterizadas como analfabetos, nem em que idade ou grupo etário essa condição é mais intensa. Assim, sempre que for 33 necessário um conjunto de medidas mais refinadas, de forma a resumir determinada característica de uma população ou de parte dela, recorre-se à Estatística Descritiva. 2. Análise Estatística: descrevendo os números 2.1 – Medidas de Tendência Central A Análise Descritiva de um conjunto de dados permite que o gestor público faça uma primeira aproximação de algumas características de interesse a partir da base de dados estudada. O cálculo de medidas-resumo, como o valor médio, dominante e mediano, fornece ao técnico informações sobre a tendência de esses dados se concentrarem ou não no centro da distribuição. O valor médio de uma distribuição deve ser calculado de acordo com a natureza da variável em estudo. Se os números representam grandezas aritméticas gerais, usa-se a média aritmética (4); no entanto, se se trata de taxas, a medida adequada é a média geométrica (5). Média a) Médi a aritmética: define-se como a razão entre a soma dos termos e o total de termos, podendo essa relação ser ponderada. n n ∑ xi _ x= _ ou i =1 n x= ∑x i * fi (4) i =1 n ∑f i =1 i Como exemplo, observe o cálculo da média para os dados da tabela a seguir. Tabela 2 Freqüência e porcentagens dos 36 empregados da seção de orçamentos da Cia. MB, por faixa de salário Faixa de salário 4,00 8,00 8,00 12,00 12,00 16,00 16,00 20,00 20,00 24,00 Total Freqüência (fi ) 10 12 8 5 1 36 xi x i*f i 6 10 12 14 16 60 120 96 70 16 362 Fonte: Bussab & Morettin, p. 13, 2002 n _ x= ∑ xi * f i i =1 = _ x= 362 = 10,05 36 n ∑f i =1 i b) Média geométrica: é a raiz n-ésima do produto dos “n” termos diferentes de zero e positivos, simples ou ponderados. 34 _ x g = n xi * ... * x n ou _ f x g = n xi i * ... * x n (5) fn Exemplo b1: Cálculo da média geométrica qüinqüenal das taxas de crescimento do PIB brasileiro entre 1980 e 2000. Tabela 4 - Taxas decrescimento do PIB, 19802000 Períodos % ∆ 1980−85 3,8 ∆ 1985−90 4,2 ∆ 1990−95 4,2 ∆ 1995−00 3,1 Tabela 3 - Taxas decrescimento do PIB, 19802000 Períodos % ∆ 1980−85 3,8 ∆ 1985−90 4,2 ∆ 1990−95 2,1 ∆ 1995−00 3,1 _ _ x g = 4 3,8 * 4, 2 2 * 3,1 = 3,8 x g = 4 3,8 * ... * 3,1 = 3,19 As estatísticas acima calculam um valor que em média represente o conjunto de dados estudados. Portanto, será tanto melhor quanto mais homogêneas forem tais informações. No entanto, em alguns casos, pode-se notar que há determinados valores, de maior ou menor magnitude, que se distanciam dos demais. Nessas circunstâncias, onde existam valores extremos, a utilização da média pode não ser adequada na medida em que esses valores extremos (outliers) possam distorcer a estatística. Em seu lugar, utiliza-se a moda ou a mediana como estatísticas. oda:: é o valor mais freqüente ou dominante verificado em uma distribuição. c) Moda Admita, a título de exemplo, os seguintes dados X={1,2,3,3,4}. É fácil observar que o valor 3 é o de maior freqüência (2 vezes). Quando se trata de números simples, é possível que não exista moda, ou seja, que cada número da distribuição apareça apenas uma vez. Nesse caso, a distribuição é denominada amodal. Pode-se ainda calcular essa estatística para os dados agrupados em classe, sendo esse procedimento mais complexo que o anterior. Aqui utilizaremos o método de King para calcular essa estatística, conforme abaixo: Mo = l + f _ post *h f _ ant + f _ post Onde, l é o limite inferior da classe modal; f_post é a freqüência simples posterior da classe modal; f_ant é a freqüência simples anterior da classe modal; 35 (6) h é a amplitude da classe modal. Exemplo c1: Cálculo da moda dos dados contidos na Tabela 2 a seguir. Tabela 2 Freqüência e porcentagens dos 36 empregados da seção de orçamentos da Cia. MB, por faixa de salário Faixa de salário 4,00 8,00 12,00 Classe Modal 8,00 12,00 16,00 16,00 20,00 20,00 24,00 Total Mo = 8 + Freqüência (ni) 10 12 8 5 1 36 8 * 4 = 9,8 8 + 10 Fonte: Bussab & Morettin, p. 13, 2002 Ou seja, o salário dominante da empresa é R$9,8SM. ediana:: é a terceira medida de tendência central e divide a distribuição d) Mediana ordenada de dados em duas partes iguais, 50% abaixo e 50% acima dela. Seu cálculo também é relativamente simples. A título de exemplo, admita a distribuição com cinco elementos, X1={1,3,4,5,9}. Logo, o valor 4 e que ocupa a terceira posição, é o que divide o conjunto de dados ordenados de forma crescente em duas partes iguais. Já na distribuição com seis elementos, X2={1,3,4,5,7,9}, o elemento mediano está entre os números 4 e 5, ou seja está entre o terceiro e o quarto valores. Em síntese, quando se tratar de uma distribuição com número de observações ímpar, a mediana ocupará a posição Me = 5 +1 = 3, 2 n +1 , 2 que, no primeiro caso, é indicando que a mediana é 4. Quando o número de observações for par, a mediana é obtida através da média simples entre os elementos n 2 e o seguinte. No exemplo com X2={1,3,4,5,7,9}, a mediana é obtida calculando a média entre o terceiro e o quarto elementos ( 4+5 = 4,5. 2 O cálculo da mediana para dados agrupados em classes exige um trabalho maior que o apresentado acima. Utilizando as informações da Tabela 2 a seguir, calcula-se a mediana seguindo os passos abaixo: 1º - Construção da Freqüência Acumulada Abaixo de (Fac_abaixo); 2º - Cálculo do elemento de ordem independentemente do total de observações; 3º - Identificação da classe mediana; 4º - Cálculo do valor mediano, através de: 36 ou elemento mediano E Me = n , 2 Me = l + E Me − Fac _ acum _ abaixo *h f Me (7) No exemplo, temos que construída a freqüência acumulada abaixo de (Fac_abaixo – 1° passo), obtemos: E Me = 2º passo – O elemento mediano está na: 36 = 18 0 posição 2 3º passo – A classe mediana será aquela que contiver o 18º elemento, ou seja, a que tiver a freq_abaixo maior ou igual a 18. Essa classe é de 8 a 12 SM. 4º passo – O valor mediano estará, portanto, entre 8 e 12 SM, sendo estimado conforme a equação 7. Tabela 2 Freqüência e porcentagens dos 36 empregados da seção de orçamentos da Cia. MB, por faixa de salário Me Faixa de salário 4,00 8,00 8,00 12,00 12,00 16,00 16,00 20,00 20,00 24,00 Total Freqüência (ni) 10 12 8 5 1 36 Fac_abaixo 10 22 30 35 36 Me = 8 + 18 − 10 * 4 = 10,7 SM 12 Fonte: Bussab & Morettin, p. 13, 2002 Dos cálculos acima, tem-se que metade dos funcionários da empresa ganha até 10,7 SM. Feitos esses cálculos, pode-se agora analisar a distribuição de salários dessa empresa. Essas estatísticas indicam que: i) o salário médio é de 10,05 SM; ii) o salário mediano é de 10,7 SM; iii) o salário dominante é de 9,8 SM. Note que o salário dominante (9,8 SM), sendo inferior à média (10,05 SM), indica a existência de importante número de empregados com baixo salário relativo. Por outro lado, o valor assumido pelo salário mediano (10,7), superior às outras estatísticas, sugere a existência de funcionários com elevados salários. 2.2 – Medidas de dispersão A análise descritiva deve também considerar o grau de heterogeneidade desse conjunto de dados. Conforme visto anteriormente, pode-se utilizar esse conceito para decidir sobre que medida de tendência central é a mais indicada para resumir um conjunto de dados. 37 Desvioa) Desvio -padrão: a quantificação dessa heterogeneidade ou a dispersão de um conjunto de dados é obtida calculando-se o desvio-padrão. Define-se desviopadrão como a média quadrática dos resíduos centrados, padronizada pela raiz quadrada. A lógica desse cálculo consiste em dimensionar a distância ao quadrado de cada ponto em relação à média dos pontos. A seguir, formaliza-se o desviopadrão: 2 _ x x − * fi ∑ i i =1 n n dp = (8) A Tabela 2 apresenta a coluna construída com o denominador da equação 8. O somatório desse denominador é divido pelo total de observações e obtida a raiz quadrada. Faixa de salário 4,00 8,00 8,00 12,00 12,00 16,00 16,00 20,00 20,00 24,00 Total Freqüência (fi) 10 12 8 5 1 36 dp = 2 xi xi*f i (xi-x) *f i 6 10 12 14 16 60 120 96 70 16 362 164,475 0,037 30,247 77,793 35,336 307,889 = 2 _ x − x * fi ∑ i i =1 = n n Tabela 2 Freqüência e porcentagens dos 36 empregados da seção de orçamentos da Cia. MB, por faixa de salário 307,889 = 2,92 36 Fonte: Bussab & Morettin, p. 13, 2002 Observando que o desvio-padrão é de 2,92 SM, pode-se ainda construir uma medida relativa de concentração, utilizada principalmente na comparação da variabilidade entre duas populações. Trata-se do Coeficiente de Variação. b) Coeficiente de Variação: mede a variabilidade de um conjunto de dados, em termos percentuais. Essa estatística é obtida dividindo o desvio-padrão pela respectiva média vezes 100, conforme abaixo: CV = dp _ (9) * 100 x Para os dados da Tabela 2, temos que o coeficiente de variação é: CV = 2,92 * 100 = 29,05% , 10,05 ou seja, os dados acima variabilidade de 29% da média. 3. Inferência Estatística: Compreendendo o todo por meio das partes 38 apresentam uma 3.1 Conceitos básicos de inferência estatística As técnicas de amostragem ou levantamentos amostrais são procedimentos estatísticos utilizados para se produzir conhecimento sobre instantâneos da realidade ou sobre características de uma população. Sendo esse conhecimento obtido por meio do estudo de parte da população ou universo, define-se que amostrar significa selecionar uma parte desse universo, a partir da qual se pode analisar ou inferir sobre determinadas características da população. Definições importantes: População ou Universo é o conjunto de todos os elementos. Amostra é parte representativa da população. Amostra é uma parte do universo. Unidade Amostral representa o elemento ou elementos disponíveis para análise no processo amostral. Censo é uma pesquisa em que todos os elementos que formam a população são entrevistados. Pesquisa Amostral analisa a parte da população selecionada na amostra. O censo e a amostra diferem essencialmente quanto à dimensão da pesquisa, ou seja, enquanto a primeira estuda a população, a segunda é aplicada em parte dela. Essa distinção implica saber em que circunstância deve-se optar por uma outra modalidade. Em situações em que a população seja pequena ou os dados populacionais estiverem disponíveis, deve-se optar pelo censo. Exceto em tais circunstâncias, deve-se optar pelas pesquisas amostrais, principalmente devido à sua potencialidade em promover excelentes resultados – desde que observados os aspectos metodológicos – com menores custo e tempo. Em termos gerais, parte fundamental do trabalho empregado em um processo amostral baseia-se em dois pressupostos gerais. O primeiro diz respeito à capacidade de uma parte (amostra) conter informações que sejam suficientemente representativas do todo (universo). Em segundo lugar, admite-se que os possíveis erros nessa representação sejam minimizados pela combinação entre a sobrestimação e subestimação da característica de interesse. Formalmente, uma amostra deve apresentar três características: i) precisão: diz respeito à distância entre a verdadeira informação (desconhecida) na população e a que foi estimada por meio da amostra. A medida dessa precisão é o erro padrão; ii) eficiência: é uma medida relativa obtida da comparação entre os diversos tipos de amostra no sentido de utilizar aquele que produza os melhores resultados, tanto em termos quantitativos quanto de economia de tempo de recursos; iii) correção ou ausência de viés: está relacionada com a capacidade de o condutor da pesquisa evitar possíveis vieses ou erros sistemáticos, de forma a evitar super ou subestimativas. 39 Tratando especificamente dos tipos de amostragem, são classificadas em dois grupos: • não-probabilísticas: são aquelas em que a seleção dos elementos da amostra é influenciada pela preferência ou julgamento do pesquisador. Assim, não se conhece a probabilidade de um elemento fazer parte da amostra, da mesma forma que não permite conclusões acerca da população. As principais modalidades de amostragens não-probabilísticas são: a) amostras por conveniência: são aquelas selecionadas de acordo com a conveniência explícita da pesquisa. Esse procedimento, apesar de pouco confiável, é utilizado com fins exploratórios, em que o objetivo principal seja obter informações pontuais sobre dado assunto, como, por exemplo, a aceitação do sabor de determinado produto, muito realizada em supermercados; b) amostras intencionais: são aquelas onde os casos a serem analisados são escolhidos por apresentarem determinada característica de interesse da pesquisa. Seria o caso, por exemplo, de selecionar dentre os fumantes aqueles que apresentem problemas respiratórios crônicos. Também nessa modalidade de pesquisa não se pode fazer qualquer consideração sobre essa característica no universo. c) amostra por cotas: deriva da amostra intencional e o pesquisador busca reproduzir a mesma composição do universo. Um dos aspectos desse procedimento, além da impossibilidade de inferência, é justamente a necessidade de conhecimento prévio sobre a composição da população, informação que em alguns casos pode estar indisponível. • amostragem probabilística: consiste no procedimento amostral em que todos os elementos da população têm probabilidade conhecida de pertencer à amostra. Se a probabilidade de pertencimento à amostra é a mesma para cada elemento da população, tem-se um caso particular de amostragem, denominada “probabilística simples”, que será tratado a seguir. Vale, contudo, formalizar os principais estágios de um levantamento amostral. levantamentos 3.2 Principais fases dos levanta mentos amostrais A inferência estatística, parte complementar e posterior à coleta de dados, é o procedimento sobre o qual são derivadas conclusões sobre a população ou universo com base nas informações amostrais e envolve duas partes essenciais: o teste de hipótese e a estimação. A estimação é o cálculo obtido na amostra que estatisticamente mais se aproxima da característica de interesse manifestada pela população. Por exemplo, quando uma pesquisa eleitoral afirma, a partir de uma amostra de 2 mil pessoas, que o candidato A possui 58% das intenções de voto, estima-se que esse percentual deva ser o mesmo manifestado pela população do município pesquisado. O procedimento do teste de hipótese constitui-se, na verdade, em um teste estatístico em que o resultado obtido leva o pesquisador a aceitar ou rejeitar a hipótese de nulidade. 40 Nesse sentido, as fases de uma pesquisa amostral podem ser estruturadas da seguinte forma: 1ª fase: Construções conceituais i) Formulação do problema: expressa algo de interesse que é objeto do estudo da pesquisa. Construção do quadro conceitual; ii) Definição precisa das variáveis e seus conceitos. Essas duas fases marcam a passagem do enfoque abstrato para a representação concreta e observável do objeto da pesquisa. Planejamento 2ª fase: Plane jamento e amostra Nessa fase da pesquisa, duas atividades são de igual importância para o andamento do estudo: i) a formulação do plano de coleta, em que será definido o tipo de estudo (descritivo ou analítico), as variáveis a serem observadas, os fatores a serem controlados e os grupos populacionais a serem separados para comparação; ii) o desenho amostral ou plano amostral, que contém a definição do tipo de amostragem (sistemática, casual simples, estratificada, por conglomerados) e dimensionamento da amostra. Nesse momento, também são realizados estudos-pilotos para detectar e corrigir alguns problemas estruturais ou mesmo calcular inicialmente algumas estatísticas. 3ª fase: Operações A coleta de dados é seguida pelo processamento, pelas análises dos dados e, finalmente, pela interpretação dos resultados. 4. Aspectos Metodológicos da Construção e Análise de Indicadores O conteúdo quantitativo abordado até agora serve de base para duas principais tarefas – monitoramento e gestão de projetos. As técnicas de estatística descritiva permitem conhecer determinadas características de um conjunto de dados, tenham eles caráter censitário, amostral probabilístico ou não-probabilístico. No transcorrer das atividades de acompanhamento e gestão de projetos, as duas ferramentas aqui tratadas – a estatística descritiva e as técnicas de amostragem – podem ser combinadas de forma a permitir ao gestor visualizar o comportamento da variável em estudo. Tal procedimento consiste em utilizar os dados estatísticos para construção de gráficos de controle de processos. Na literatura especializada em controle de qualidade são encontradas diversas metodologias de monitoramento de processos dos mais variados tipos. As que serão apresentadas a seguir denominamse Gráfico de Controle de Amplitude (R) e Controle da Média (X-barra) e são utilizadas conjuntamente para monitorar a variabilidade respectivamente. 41 e a média do processo, Aritmé X4.1. Gráficos de Controle para a Amplitude (R) e para a Média Aritm ética X barra Os gráficos R e X-barra para monitoramento de processos indicam se, ao longo de determinado período, o processo está sob controle, ou seja, se a variabilidade observada no transcurso do acompanhamento ocorre dentro de um intervalo aceitável. Uma vez que o processo esteja em controle, passa-se à avaliação da média. O estabelecimento desses intervalos para o gráfico de controle R implica o cálculo de um limite superior (LCS) e outro inferior (LCI), sendo dado conforme as equações abaixo: _ _ LCI = R − 3 R d3 d2 _ e _ LCS = R + 3 R d3 d2 (10) onde, _ R = amplitude média de cada subgrupo amostral; d3= relação empírica entre o desvio padrão e o desvio padrão da amplitude para tamanhos de amostra diferentes; d2= relação empírica entre o desvio padrão e a amplitude para tamanhos de amostra diferentes. Os valores d3 e d2 estão tabelados segundo o tamanho da amostra de cada subgrupo (Ver anexo). Exemplo de construção do Gráfico para Controle de Amplitude (R) Admita a situação em que você foi designado para acompanhar o desempenho do atendimento de emergência de um pronto-socorro da capital depois da implantação de uma nova rotina. Esse acompanhamento foi feito durante vinte dias consecutivos, a partir de uma amostra aleatória de quatro casos de emergência. O tempo desde a chegada do paciente à emergência até sua instalação na unidade de tratamento foi medida em minutos, conforme apresenta a Tabela 3, a seguir. Para construir o Gráfico para Controle de Amplitude deve-se calcular a amplitude do tempo de atendimento (tempo máximo – tempo mínimo), conforme ilustram as colunas A, B e C. 42 Tabela 3 - Tem po de atendimento por paciente Pacientes e Atendim ento Minutos Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 1 7,2 5,6 5,5 4,4 9,7 8,3 4,7 8,8 5,7 1,7 2,6 4,6 4,9 7,1 7,1 6,7 5,5 4,9 7,2 6,1 2 8,4 8,7 7,3 8,0 4,6 8,9 6,6 5,5 4,7 4,0 3,9 2,7 6,2 6,3 5,8 6,9 6,3 5,1 8,0 3,4 3 7,9 3,3 3,2 5,4 4,8 9,1 5,3 8,4 4,1 3,0 5,2 6,3 7,8 8,2 6,9 7,0 3,2 3,2 4,1 7,2 4 Tem p_Min (A) Temp_Max(B) 4,9 4,9 8,4 4,2 3,3 8,7 6,0 3,2 7,3 7,4 4,4 8,0 5,8 4,6 9,7 6,2 6,2 9,1 5,8 4,7 6,6 6,9 5,5 8,8 4,6 4,1 5,7 5,2 1,7 5,2 4,8 2,6 5,2 3,4 2,7 6,3 8,0 4,9 8,0 5,5 5,5 8,2 7,0 5,8 7,1 9,4 6,7 9,4 4,9 3,2 6,3 7,6 3,2 7,6 5,9 4,1 8,0 5,9 3,4 7,2 R_médio Am plitude (R) (C=B-A) 3,5 5,4 4,1 3,6 5,1 2,9 1,9 3,3 1,6 3,5 2,6 3,6 3,1 2,7 1,3 2,7 3,1 4,4 3,9 3,8 3,3 _ R Calculada a amplitude (coluna C), obtém-se a média das amplitudes, (R_médio)= 3,3, cuja informação é utilizada no cálculo dos limites inferior e superior, conforme segue. LCI = 3,3 − 3 * 3,3 0,88 = 3,3 − 4,23 ≅ −0,93 2,059 LCI = 3,3 + 3 * 3,3 0,88 = 3,39 + 4,23 ≅ 7,62 2,059 e Logo, os limites dentro dos quais a variação de atendimento será julgada e controlada são definidos por -0,93, representado por 0 e 7,62 minutos. Em seguida, constrói-se um gráfico para representar o comportamento dos atendimentos realizados nos vinte dias considerados. Note que o Gráfico E1 indica a inexistência de pontos situados fora dos limites de controle. Isso indica que o processo apresentou variabilidade dentro do aceitável, principalmente tratando-se de cuidados médicos, em que o tempo representa uma variável de grande relevância. Vale ressaltar que se esse resultado indicasse de perda de controle (pontos fora dos limites), seria inviável a construção do Gráfico de Controle para a Média. 43 Gráfico E1 - Amplitude dos Tempos de Atendimento 9,0 8,0 7,0 Minutos 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 Amplitude de atendimento Amplitude Média Limite Superior Limite Inferior 1,0 0,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Dias Para construir o Gráfico de Controle da Média, é necessário calcular a média global (X-duas barras), que no caso em questão é a média da média dos atendimentos. As equações para estimar os limites são dadas a seguir: − − LCI = X − 3 − − − R LCS = X + 3 e d2 * n − R d2 * n (11) Onde “n” é o tamanho da amostra, que nesse caso é de quatro atendimentos. Tabela 4 - Tempo de atendimento por paciente Pacientes e Atendimento Minutos Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 1 2 3 4 7,2 8,4 7,9 4,9 5,6 8,7 3,3 4,2 5,5 7,3 3,2 6,0 4,4 8,0 5,4 7,4 9,7 4,6 4,8 5,8 8,3 8,9 9,1 6,2 4,7 6,6 5,3 5,8 8,8 5,5 8,4 6,9 5,7 4,7 4,1 4,6 1,7 4,0 3,0 5,2 2,6 3,9 5,2 4,8 4,6 2,7 6,3 3,4 4,9 6,2 7,8 8,0 7,1 6,3 8,2 5,5 7,1 5,8 6,9 7,0 6,7 6,9 7,0 9,4 5,5 6,3 3,2 4,9 4,9 5,1 3,2 7,6 7,2 8,0 4,1 5,9 6,1 3,4 7,2 5,9 Média global Média 7,1 5,5 5,5 6,3 6,2 8,1 5,6 7,4 4,8 3,5 4,1 4,3 6,7 6,8 6,7 7,5 5,0 5,2 6,3 5,7 5,9 Calculada a média global (5,9), podem ser estabelecidos os limites da média, conforme abaixo: 44 LCI = 5,9 − 3 LCS = 5,9 + 3 3,3 2,326 * 4 3,3 2,326 * 4 = 5,9 − 2,1 = 3,8 e = 5,9 + 2,1 = 8 O Gráfico E2 ilustra o comportamento do tempo médio de atendimento nos vinte estudados. Observa-se inicialmente que dois pontos ultrapassam os limites de controle, indicando possíveis problemas de fluxo. Importa salientar que, além dessa perspectiva de monitoramento, os gráficos de controle permitem que sejam observadas algumas tendências, como a que ocorre entre o 5º e o 16º dias. Observe que entre os cinco primeiros dias o comportamento do tempo médio de atendimento assume uma tendência de diminuição, aumentando, então, a partir desse dia. Gráfico E2 - Controle do Tempo Médio de Atendimento 9,0 8,0 7,0 Minutos 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 Tempo Médio de Atendimento Média Global 1,0 Limite Superior Limite Inferior 0,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Dias 45 12 13 14 15 16 17 18 19 20 A n e x o 1 - F a t o r e s p a r a o s G r á f ic o s d e C o n t r o le N ú m e ro d e o b s e rva ç õ e s d2 d3 n a a m o s tra 2 1 ,1 2 8 0 ,8 5 3 3 1 ,6 9 3 0 ,8 8 8 4 2 ,0 5 9 0 ,8 8 0 5 2 ,3 2 6 0 ,8 6 4 6 2 ,5 3 4 0 ,8 4 8 7 2 ,7 0 4 0 ,8 3 3 8 2 ,8 4 7 0 ,8 2 0 9 2 ,9 7 0 0 ,8 0 8 10 3 ,0 7 8 0 ,7 9 7 11 3 ,1 7 3 0 ,7 8 7 12 3 ,2 5 8 0 ,7 7 8 13 3 ,3 3 6 0 ,7 7 0 14 3 ,4 0 7 0 ,7 6 3 15 3 ,4 7 2 0 ,7 5 6 16 3 ,5 3 2 0 ,7 5 0 17 3 ,5 8 8 0 ,7 4 4 18 3 ,6 4 0 0 ,7 3 9 19 3 ,6 8 9 0 ,7 3 3 20 3 ,7 3 5 0 ,7 2 9 21 3 ,7 7 8 0 ,7 2 4 22 3 ,8 1 9 0 ,7 2 0 23 3 ,8 5 8 0 ,7 1 6 24 3 ,8 9 5 0 ,7 1 2 25 3 ,9 3 1 0 ,7 0 8 R e p r o d u z id o d e L e v in e , 2 0 0 0 46