Fazer o novo, de novo

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Fazer o novo, de novo
 Fazer o novo, de novo
Fazer o novo a cada projeto é o que o mercado espera de quem acumulou experiências fazendo arquitetura há anos,
tendo o hábito de sempre surpreender a partir de uma base sólida com projetos inéditos e inabaláveis diante dos
adjetivos superlativos com os quais tentam homenageá-lo ou testá-lo à exaustão. Mas, será que alguém já se
perguntou onde está verdadeiramente “o novo” nos projetos arquitetônicos que vimos por aí nos últimos anos? O
mais apressado diria que poderá ser visto ao folhear as páginas da última edição do “Architecture Now” onde estão
as incontáveis maravilhas que estão sendo erguidas mundo afora, carregadas de ousadias e pretensões, num
enorme desperdício construtivo em nome da forma e um desmensurado desafio a gravidade com tal monta, que cria
a “Arquitetura Halterofilista”. Tudo isso sem falar do abuso desnecessário de materiais sofisticados que só elevam o
custo das obras a cifras impensáveis.
Buscar o “novo, de novo” ou sempre como uma obssessão, como necessidade de distinção está mais próximo da
busca de novo pelo novo, como reconhecimento de sucesso a qualquer custo, sem propósito claro de um objetivo
digno, edificante e significativo para alguém, além de quem o faz.
Buscar o novo traz implícito um "por quê?", "pra quem?", "por qual razão?" Caso contrário não faz sentido. Antes de
tudo, o que é "o novo"? Será aquilo que se diferencia do que já foi feito, visto ou experimentado? Será mesmo novo o
que se destaca apenas pelos materiais usados, novas dimensões e multiplicidade de funções? Não, não mesmo!
Todas essas qualidades poderão estar reunidas e presentes em algo não necessariamente novo. Estamos cansados
de ver repetidos e reelaborados projetos, soluções e propostas, apenas reciclados e mascarados por sofisticações
como as descritas anteriormente que os fazem apenas diferentes, mas "ser diferente não é ser novo!" O novo é
relativo a futuro. Contudo, vivenciamos um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na despensa, como
disse sabiamente o pensador George Carlin.
Fazer o novo requer além da mudança funcional estética e estrutural, como necessidade básica, a mudança,
sobretudo de atitude e postura de quem faz, para que se proceda a inovação na essência daquilo que se pretenda
produzir. É um exercício de futurologia competente e responsável embasada na sedimentação de informações,
muitas observações, estudos, estatísticas e pesquisas acompanhadas de boa dose de intuição criativa.
Quero com esse texto fazer uma provocação aos arquitetos inquietos como eu que buscam "fazer o novo" na sua
essência e não "na fachada", desculpem-me pelo inevitável trocadilho. Pois, pensar o novo é um exercício que em
muitas vezes não aprendemos na escola. Vem de dentro, da busca individual. E na Arquitetura essa é uma condição
indispensável, pois projetamos com os pés no presente e a cabeça no futuro. Então faço um convite para que cada
um mergulhe nas suas entranhas a fim de buscar verdadeiramente "o novo" ao invés de "do novo, de novo". Como
disse o arquiteto Frank Lloyd Wright na década de 40, "o Arquiteto tem que ser um profeta. Um profeta no sentido
literal do termo. Se ele não conseguir enxergar pelo menos dez anos à frente não o chame de Arquiteto."