2006 URIZAR, Carlos Alberto

Transcrição

2006 URIZAR, Carlos Alberto
ESCOLA DE SAÚDE PUBLICA - Dr. JORGE DAVID NASSER E
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA - FIOCRUZ
CARLOS ALBERTO URIZAR
UTILIZAÇÃO DO TEATRO COMO MEIO DE ADESÃO
AO TRATAMENTO DOS USUÃRIOS DE ÃLCOOL NO
CAPS ad DE PONTA PORÃ
T ^>( N
CAMPO GRANDE - MS
2006
.
Cl. C
CARLOS ALBERTO URIZAR
UTILIZAÇÃO DO TEATRO COMO MEIO DE ADESÃO
AO TRATAMENTO DOS USUÃRIOS DE ÁLCOOL NO
CAPS ad DE PONTA PORÁ
Monografia apresentada como exigência
para a obtenção do título de especialista
em Saúde Mental da escola de saúde
pública Dr. Jorge David Nasser em
parceria com a escola Nacional de Saúde
Pública — Fiocruz.
Orientador:
Professor
César Duarte Paes.
CAMPO GRANDE - MS
2006
BIBUOnCAaÊMCIAS DA SAÚDE
Vr,Sérgio Moim
Doutor
Paulo
TERMO DE APROVAÇÃO
DEDICATÓRIA
"Dedico ao meu pai Diego Manoel Urizar, que sempre me
incentivou a estudar";
^Dedico a minha mãe Herothildes dos Reis Urizar, que esteve
sempre presente em minha vida";
^^Dedico a minha querida sobrinha Déborah Urizar Pereira,
que também me ajudou na elaboração dessa monografia";
^^Dedico a minha irmã Maria Tereza dos Reis Urizar, que
sempre me incentivou."
AGRADECIMENTOS
Agradeço
ao
meu
Professor
orientador
Doutor
Paulo
César Duarte Paes.
Agradeço
a
Dr. ®
Regina
Maria Gattass Ferreira
Agradeço aos meus amigos e
colegas de trabalho:
Aníbal Maldonado de Nara
Clara Mitsuko Tsuchida
Francisca
Cleide
Cândida
Gomes
Izabel Araújo Rocha
Roberto Tibchirane
Tathyanne Sanches Orlando
Gabriel de Oliveira Bello
SUMARIO
mXRODUÇAO
08
1- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
12
1.1-PSICANÁLISE
12
1.2- A PERSONALIDADE SEGUNDO A TEORIA DA PSICANÁLISE
14
1.3- A PRIMEIRA TEORIA SOBRE A ESTRUTURA DO APARELHO PSÍQUICO:
A TEORIA TOPOGRÁFICA
14
1.4- TEORIA ESTRUTURAL
15
1.5- O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
17
2- OS MITOS,CONTOS DE FADA E CONTOS MARAVILHOSOS
21
2.1- RAÍZES HISTÓRICAS
21
2.2- MITOS,CONTOS DE FADA,FÁBULAS E CONTOS MARAVILHOSOS
22
3- RELAÇÃO ENTRE A PSICANÁLISE, OS MITOS E CONTOS DE
FADA
25
4- PSICOLOGIA ANALÍTICA
34
4.1- RELAÇÃO ENTRE OS MITOS, CONTOS DE FADA E A PSICOLOGIA
ANALÍTICA
36
5- AS TRÊS PLUMAS
39
5.1 INTERPRETAÇÃO DO CONTO. AS TRÊS PLUMAS SEGUNDO A
PSICANÁLISE
41
5.2- INTERPRETAÇÃO DO CONTO: AS TRÊS PLUMAS SEGUNDO AS TEORIAS
DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
42
6- O QUE É ADESÃO AO TRATAMENTO DOS ALCOOLISTAS
42
6.1- HISTÓRIA DO ALCOOLISMO
42
6.2- ADESÃO AO TRATAMENTO
43
7- OFICINA DE TEATRO NO CAPSad DE PONTA PORÃ
45
8- O TEATRO E A ADESÃO AO TRATAMENTO -TEORIA E PRÁTICA
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS
59
BIBLIOGRAFIA
62
RESUMO
Esta monografia é o resultado de uma pesquisa bibliográfica tendo como
objetivo verificar a importância da utilização do teatro como meio de adesão ao
tratamento dos usuários de álcool no CAPS ad de Ponta Porã. Foram utilizados como
roteiro das peças teatrais os mitos, contos de fada e lendas. Como referenciais teóricos
foram utilizadas as teorias de Gari. G. Jung e a psicanálise de Sigmund Freud. Durante o
processo de elaboração da monografia foram narrados mitos, lendas e contos de fada
universais e depois ensaiadas peças teatrais com esses temas. Nesse processo foi dada
ênfase as narrativas, aos ensaios das peças e posteriores discussões em grupo para
verificação do efeito causado nos artistas-alcoolistas, a narrativa dos contos e mitos
dramatizados no palco. Com a ajuda das idéias de Jung e Freud, ficou fácil entender o
efeito desse recurso como um grande incentivo de tratamento tanto dos alcoolistas
quanto dos usuários de substâncias psicoativas.
PALAVRAS CELAVE: Teatro, mitos, lendas, contos de fada. Psicologia analítica.
Psicanálise. Alcoolismo.
8
INTRODUÇÃO
As bebidas alcoólicas, principalmente o vinho e a cerveja são conhecidas em
todas as grandes civilizações da humanidade. Relatos do uso de álcool são encontrados
na Bíblia, e também em textos antigos do Egito, índia. Babilônia e todas as grandes
civilizações do passado.
Alfaro (1993) afirma que o alcoolismo é um velho problema da humanidade
visto que o álcool já existia há mais de dez mil anos, bem como o fenômeno do
alcoolismo.
A alcoologia como área de estudo do alcoolismo tem produzido uma
diversidade de abordagens, teorias e métodos de tratamento. Assim, têm-se destacado
alguns fatores, como:o biológico, enfatizando os aspectos orgânicos e químicos do
beber e do alcoólico; os fatores econômicos, a produção, o desemprego, suas interrelações, os fatores sociais que envolvem a família, o ambiente e a cultura; os fatores
psicológicos, o indivíduo, seu comportamento, a aprendizagem. Porém o problema
toma-se grave na hora do tratamento pois não se sabe qual tratamento
para o
alcoolismo é o mais adequado(ALFARO, 1993, p. 21-22).
A maioria dos usuários de álcool afirma que podem parar de beber quando
quiserem, e isso dificulta ainda mais a adesão ao trateimento dos alcoolistas.
Propomos neste trabalho realizar um estudo sobre a importância de utilização
do teatro como um meio de obter adesão ao tratamento dos alcoolistas.
A dramatização e a expressão corporal utilizadas no teatro são uma forma de
auto-conhecimento e percepção tanto de si mesmo quanto do mundo ao redor. A prática
do teatro neste trabalho permitiu ao "artista" uma convivência entre pessoas com os
mesmos problemas relacionados ao álcool.
Como fundamentação teórica, utilizamos as teorias de Freud e Jung para a
interpretação dos mitos, lendas e contos de fada que foram usados como roteiro das
peças teatrais ensaiadas pelos alcoolistas do CAPS de Ponta Porã.
Bittencourt (1994) evidencia a complexidade no tratamento dos dependentes
de substâncias psicoativas e aponta três perspectivas diferentes;
a)
a clínica psicanalítica
b)
a experiência das instituições
c)
a utilização das esferas artisticas e literárias e aqui entra a utilização do
teatro.
Como roteiro principal neste trabalho, utilizamos o Mito de Dionísio, pois sua
história lembra muito a vida dos alcoolistas.
Os historiadores e os pesquisadores dos mitos atribuem a Dionísio (Baco) a
origem da tragédia grega e do drama satírico.
Dionísio é uma divindade vinculada ao teatro porque suas festas e
representações tem características nitidamente teatrais, onde a máscara é um
instrumento de representação.
Essas representações eram feitas em rituais que tinham como finalidade o
crescimento espiritual, no sentido da liberação e superação da condição humana.
(ALFARO, 1993).
O teatro tendo como roteiro as lendas, os mitos e os contos de fada podem ser
uma forma de tocar a psique dos alcoolistas e dessa forma ser uma fonte de libertação
de sua dependência ao seu objeto de amor que é o álcool.
Dionísio na mitologia grega passou por uma fase de loucura e inconsciência
em sua jornada heróica em busca da libertação que lembra a própria loucura e o delírio
dos alcoolistas. A representação desse mito e de outros como o de Édipo podem lembrálo de sua própria condição, e como no conto de Fada de Branca de Neve, poderá olharse no espelho e ver que não é a pessoa mais bonita do mundo, porém poderá vislumbrar
a possibilidade do "vir a ser" características dos contos e mitos.
Eliade(1989)afirma que o mito conta uma história sagrada, ocorrida no tempo
primordial, o tempo fabuloso do "princípio" e narra as façanhas de heróis e deuses que
na realidade passam pelos mesmos problemas vividos por qualquer ser humano normal.
Ou seja, qualquer um de nós.
Nos mitos e contos de fada percebe-se as estruturas básicas da psique humana
(FRANZ, 2003).
Em lugar de procurar explicações ou usar a psicopatologia para explicar os
sofrimentos e as feridas humanas, pode-se através do teatro, conduzir de forma lúdica e
prazerosa os alcoolistas a percorrerem a jornada heróica dos Deuses em busca de sua
própria alma e da realização pessoal.
Ao lado dos contos e sagas míticas os alcoolistas também representaram cenas
de sua própria vida diária usando as idéias e as práticas do teatro de arena e teatro do
oprimido de Augusto Boal.
10
Boal (1989) apresenta a teoria de um teatro que seja realmente libertador,
liberta tanto o artista quanto o espectador, tomando-os protagonistas e não seres
passivos.
No caso do "bebedor" permite que deixe de lado a passividade de sua
dependência e se tome ator e roteirista de seu próprio "script" de vida, mudando a
história no meio em que vive.
Freud, falando sobre o alcoolismo, percebe uma relação de fidelidade entre o
alcoolista com seu objeto - a bebida, e está sempre facilitando seu encontro com o
mesmo, constituindo-se assim uma relação harmoniosa, um modelo de casamento.
Segundo Jung, citado por Franz (2003), é nos contos de fada onde melhor se
pode estudar a "anatomia comparada da psique". Freud e Jung foram usados como
referencial teórico para a interpretação dos mitos, contos e lendas que foram
representados nas peças teatrais do CAPS de Ponta Fora como uma forma de adesão ao
tratamento dos "alcoolistas-artistas".
Não se sabe ao certo a origem dos Mitos e Contos de Fada, porém é consenso
entre os pesquisadores a idéia de magia e fascínio que eles exercem sobre as pessoas,
em todas as civilizações do presente e do passado.
Nos países Árabes, índia e países do Oriente existem pessoas que têm como
profissão a arte de contar historias.
A influência dessas histórias ancestrais é uma herança inconsciente passada de
geração em geração, a cada pessoa e é concretizada pelos arquétipos que são na verdade
imagens e figuras universais gravada no inconsciente coletivo da humanidade.
Quando alguém narra ou representa no teatro um Mito, uma lenda ou um
Conto de Fadas esse narrador está transmitindo informação tanto à mente consciente do
ouvinte quanto a mente inconsciente. Os arquétipos, que estão gravados no inconsciente
coletivo da humanidade são os mesmos e a pessoa acaba entendendo a linguagem
"mágica" e misteriosa dessas histórias pois nesse momento ela está recebendo
informações de seu inconsciente que está decodificando essas mensagens e enviando-as
ao consciente da pessoa.
Os contos ou mitos quando narrados ou representados no teatro a uma pessoa
são fontes de mensagens que se transformam em energia e que servem para aliviar
tensões, medo, angustia, ansiedade e desfazem os conflitos gerados pelas pulsões
instintivas do ID e as expressões morais do Superego apresentando soluções ao Ego
tanto da criança quanto do adulto.
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o objetivo geral deste trabalho foi fazer uma reflexão sobre a utilização de
lendas, mitos e contos de fada utilizados no drama teatral para atendimento a usuários
de álcool no CAPSad de Ponta Porã e os objetivos específicos foram narrar contos de
fada, lendas e Mitos aos alcoolistas e a seguir realizar ensaios de peças teatrais com
esses temas. Depois de cada narrativa e posterior ensaios os artistas foram convidados a
participar de discussões em grupo para narrar suas experiências. Outro objetivo
especifico proposto foi a verificação da mudança de comportamento dos usuários de
álcool dureinte o ensaio das peças teatrais.
Este trabalho é constituído pela introdução, oito capítulos e considerações
finais. O primeiro capitulo está relacionado à fundamentação teórica da Psicanálise de
Freud.
No segundo capitulo são abordados os Mitos, Contos de Fada e Contos
maravilhosos, suas origens e a difusão em todos os paises e civilizações. No capitulo
três foi feito uma relação entre a Psicanálise os Mitos e Contos de fada. No quarto
capitulo, falamos sobre a Psicologia Analítica, sua fundamentação teórica e também sua
relação entre os mitos e contos de fada. No quinto capitulo foi feito uma interpretação
do conto As Três Plumas segundo a Psicanálise e o mesmo conto As Três Plumas
segundo a Psicologia Analítica. O sexto capitulo está relacionado à adesão ao
tratamento dos alcoolistas, e no sétimo capitulo explicamos as oficinas de teatro no
CAPS de Ponta Porã. No oitavo capitulo fizemos o cruzamento entre a teoria e a pratica
e finalmente apresentamos as considerações finais.
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1- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para entendermos os mitos, as lendas e os contos de fada devemos primeiro
conhecer as bases da teoria de Freud. A seguir estaremos vendo um pouco da
Psicanálise como forma de estrutura da personalidade humana e também a vida e obra
de Sigmund Freud.
1.1-
PSICANÁLISE
Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, nasceu em Freiberg, na Moravia, em
1856 e morreu em Londres em 1939. Formou-se em Medicina na Universidade de
Viena, em 1881, especializando-se em Psiquiatria. Durante algum tempo deu aulas de
Neuropatologia. Depois começou a clinicar, atendendo pessoas com "problemas
nervosos". Quando terminou sua residência medica, ganhou em 1885 uma bolsa de
estudo para estudar com Jean Charcot, psiquiatra francês, que em Paris tratava as
histerias com hipnose.
Retomou em 1886 a Viena e continuou clinicando, usando a sugestão
hipnótica como principal instmmento de trabalho para o tratamento dos pacientes com
distúrbios nervosos.
Para dar continuidade em suas investigações, começou a trabalhar com o
médico Joseph Breuer, em Viena. Breuer tinha uma paciente(Ana O.)que contribuiu de
maneira significativa para as descobertas que o levariam a criação da Psicanálise.
Ana apresentava um conjunto de sintomas que se caracterizavam por distúrbios
somáticos que lhe produziam contratura muscular, inibições e dificuldades de
pensamento.
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1989) os sintomas surgiram quando ela
cuidava do pai, enfermo. Enquanto cuidava do pai, tinha pensamento e desejo de que ele
morresse. Ao reprimir esses desejos eles foram substituídos pelos sintomas.
Em
estado de vigília, Ana O. não percebia a origem de seus sintomas, porem quando era
hipnotizada, relatava sua vivência com seu pai.
Ao recordar as cenas e vivências, com seu pai os sintomas desapareciam. "Isso
ocorria após as sessões de hipnose, segundo Bock, furtado e Teixeira (1989, p. 64)"
13
["...] devido à liberação das reações emotivas associadas aos eventos traumáticos". Esse
método de tratamento foi denominado por Breuer de método catártico.
Quando ocorre uma vivência desagradável ou dolorosa e a liberação de afetos
e emoções relacionados a essa vivência não puderam ser expressados no momento em
que aconteceram, com o método catártico ocorre a liberação das reações emotivas
associadas à esses eventos traumáticos.
Portanto, segundo Breuer método catártico é o tratamento que permite a
liberação de afetos e emoções ligadas a acontecimentos traumáticos que não puderam
ser expressos por ocasião da vivência desagradável ou dolorosa. Quando ocorre a
liberação de afetos, como conseqüência acontece a liberação que leva a eliminação dos
sintomas,(BOCK,FURTADO E TEIXEIRA, 1989).
Freud, no inicio da sua carreira medica, usou a hipnose para entender a história
do paciente e chegar às causas da origem dos sintomas e também como método de
sugestão para os pacientes. Depois passou a usar o método catártico e pouco a pouco foi
mudando a técnica de Breuer, deixando de lado a hipnose, pois nem todos os pacientes
eram hipnotizados.
Primeiramente, passou a usar a técnica de "concentração" usando
a conversação normal e utilizando-se de perguntas para a recordação sistemática. Por
ultimo, deixou de lado as perguntas e a direção da sessão, para confiar apenas na fala
desordenada do paciente.
O passo seguinte foi a descoberta do inconsciente, que o levou à substituição
do método catártico pelo que ele denominou de Psicanálise.
No momento em que Freud deixou de utilizar as perguntas e deu liberdade aos
pacientes para darem livre curso às suas idéias percebeu que em alguns momentos os
pacientes ficavam embaraçados ou envergonhados com idéias ou imagens que surgiam
em suas mentes. Descobriu que uma força psíquica no paciente impedia que um
pensamento se revelasse e se tomasse consciente (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA
1989). Essa força psíquica foi por ele denominada Resistência. Ao processo psíquico
que tem como fim encobrir e fazer desaparecer da consciência uma idéia ou
representação insuportável e dolorosa que é a origem do sintoma, ele deu o nome de
Repressão. Todos estes conteúdos psíquicos estão localizados no inconsciente.
Com estas descobertas ele passou a ter uma melhor compreensão das neuroses
e mais uma vez seu trabalho terapêutico foi modificado, passando então a descobrir as
repressões e suprimi-las através da substituição por um juízo aceitável por parte do
paciente.
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Todas as teorias cientificas ou idéias surgidas em todos os momentos da
história da humanidade são de alguma forma influenciadas pelos aspectos econômicos,
sociais, ambientais e culturais de cada época. Quando Freud descobriu a Psicanálise, a
Europa e o mundo viviam uma fase de grande repressão sexual, influenciadas pelas
idéias puritanas judaico-cristãs.
Baseado nos sintomas histéricos de pacientes, Freud concluiu que o
comportamento humano é orientado pelo impulso sexual, que foi chamado de Libido,
palavra feminina que significa przizer ou desejo.
A libido opera nos órgãos sexuais, durante o impulso sexual, porém pode
transferir-se também, segundo nossa personalidade, para objetos, pessoas ou para nosso
próprio corpo. Quando a libido é transferida para um objeto ou pessoas leva o nome de
Libido Objetai e se chama Libido Narcisista quando é transferida para o próprio corpo.
Quando essa libido serve para alimentar atividades intelectuais chama-se Libido
Sublimada.
1.2- A PERSONALIDADE SEGUNDO A TEORIA DA PSICANÁLISE
A personalidade constitui-se num todo, porém para compreendermos esse todo
é necessário que entendamos a teoria Freudiana em cada uma de suas particularidades.
1.3-
A
PRIMEIRA
TEORIA
SOBRE
A
ESTRUTURA
DO
APARELHO
PSÍQUICO: A TEORIA TOPOGRÁFICA
Freud apresentou pela primeira vez a Teoria Topográfica em 1900 no livro A
Interpretação dos Sonhos. Esta foi sua primeira concepção sobre a estrutura e
funcionamento da personalidade.
Segundo a Teoria Topográfica a personalidade é dividida em três sistemas ou
instâncias psiquicas; Inconsciente, Pré-consciente e Consciente.
Esses três sistemas mentais se caracterizam segundo Arlow e Brenner (1973)
por sua relação com a consciência.
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O Consciente é definido como o conjunto dos pensamentos, sensações e
sentimentos que formam as idéias que estão na consciência do individuo. Abrange tudo
o que é consciente num determinado momento.
E importante que a pessoa tenha conhecimento dessas idéias e focalize parte
de sua atenção.
Pré-Consciente são as idéias e pensamentos de fácil acesso e que podem ser
evocadas e serem acessíveis ao consciente a qualquer momento.
Inconsciente são todas as funções mentais que não são percebidas de forma
consciente pelo individuo. Seu acesso à consciência é muito difícil ou impossível às
vezes e requerem enorme quantidade de energia psíquica para que sejam trazidos à
consciência.
Segundo Dewald (1981) se um individuo esta pensando numa canção e souber
o nome, neste momento ela está no seu consciente. Se esse mesmo individuo não estiver
pensando na canção, e alguém perguntar sobre ela, e ele citar o nome da canção, ela
estaria no seu pré-consciente, e através de sua atenção ela foi trazida ao seu consciente.
No entanto, todas as pessoas já passaram pela situação de tentarem lembrar o
nome de uma canção e sentir que ela esta "na ponta da língua" e apesar de gastarem
enorme energia psíquica não conseguem lembrar-se do nome correto. Nesse momento
particular a canção e o seu nome estão no inconsciente.
A quantidade de energia psíquica utilizada em cada processo mental é
chamada de catexia.
1.4- TEORIA ESTRUTURAL
A teoria topográfica foi substituída pela teoria estrutural em 1923, quando
apresentou os conceitos de Id, Ego e Superego.
Com a teoria estrutural Freud dividiu a mente em duas partes. Uma parte foi
chamada de Id e está relacionada com os impulsos instintivos e a outra parte foi
chamada de Ego e é responsável pela manutenção do equilíbrio, opondo-se aos instintos
e exercem a função mediadora entre estes e as exigências do mundo externo.
Segundo Arlow e Brenner (1973). Freud cria na teoria estrutural uma segunda
divisão dentro do próprio Ego, separando aquelas funções que são chamadas de morais,
e que foram chamadas de Superego.
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A partir de então a teoria estrutural divide a mente em três grupos de funções
denominadas Id, Ego e Superego. O Id, o Ego e o Superego formam a estrutura mental e
por isso surgiu o nome de Teoria Estrutural.
O Id é a representação mental dos impulsos instintivos. Segundo Dolto (1980),
o Id é a fonte das pulsões e se constitui numa força libidinal, cega, que a maneira de um
rio deve encontrar um meio de escoar o seu caudal.
Dourado (1965) diz que dinamicamente o Id compõe-se de tendências
instintivas e necessidades físicas excitadas por estímulos externos. Essas necessidades
são independentes do principio da realidade. No Id localizam-se também as pulsões de
vida (Eros) e as de morte (Thanatos). Eros é a pulsão de vida que abrange as pulsões
sexuais e as de auto conservação. Thanatos é a pulsão de morte, que pode ser auto-
destrutiva ou ser dirigida para fora manifestando-se como pulsão agressiva ou
destrutiva.
"Por sua vez, a Pulsão é um estado de tensão, que busca através de um objeto,
a supressão desse estado"(BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 1989, p. 68). Segundo
Greenson (1981) a neurose surge quando ocorre um conflito inconsciente entre um
impulso do Id procurando descarga e uma defesa do ego impedindo à descarga direta do
impulso ou seu acesso a inconsciência.
Segundo Laplanche e Pontalis(1988)O Ego representa no conflito neurótico o
pólo defensivo da personalidade e está numa relação de dependência quanto as
reivindicações do Id bem como quanto aos imperativos do Superego e às exigência da
realidade.
O Ego estabelece o equilíbrio entre as exigências do Id, as exigências da
realidade e as ordens do Superego.O Ego é regido pelo principio da realidade, segundo
Freud. O Ego se desenvolve gradativamente na vida da criança e na fase inicial o
aparelho psíquico funciona no seu todo, como característica do Id. A criança se
preocupa apenas em
descarregar as Catexias de origem
instintiva. Com o
amadurecimento do sistema nervoso o Ego também vai amadurecendo até se tomar apto
a controlar e manter o equilíbrio da personalidade nos diversos conflitos que surgem no
dia a dia de cada pessoa.
A atividade do Ego é consciente (percepção extema, percepção intema,
processos intelectuais) e segue o principio da realidade tendo como característica o
pensamento objetivo, socializado racional e verbal(DOURADO, 1965).
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É o Ego e não o Id ou os instintos que é responsável pela defesa da
personalidade e seu ajustamento com o ambiente e também a solução dos conflitos entre
o individuo e a realidade.
O Superego tem como função julgar criticamente as outras funções mentais
baseado nas exigências e proibições morais. O Superego segue o preceito moral do
certo e errado e tem sua origem na infância onde são introjetados os aspectos éticos e
morais.
A criança em desenvolvimento vai interiorizando as atitudes dos pais no que
diz respeito aos conceitos de certo e errado, desde os seus primeiros dias de vida, porem
é a partir dos conflitos psíquicos durante a fase fálica, que o Superego se forma. Dessa
forma o menino na fase edipiana identifica-se com o pai, que segundo sua fantasia,
ameaça castra-lo e expulsa-lo, pois também ele (menino) deseja substituir e castrar o
pai. Ao internalizar o pai, identiílcando-se com ele, o menino cria defesas contra seus
temores e consegue controla-los.
O Superego segue as exigências sociais e culturais e é ele que faz o Ego sentirse culpado chegando mesmo a causar sensações bastante dolorosas ao individuo.
A adaptação do indivíduo ao meio social depende da relação, entre pais e
filhos. Dependendo do relacionamento familiar em vez de um indivíduo bem adaptado
teremos um futuro criminoso, dependente de álcool ou drogas ou alguém não adaptado
socialmente.
A vida em família é o primeiro estágio da vida social da criança. Com a
formação do Superego( Consciência )é que são introjetados os valores Éticos e
Morais. Se a família foi um exemplo de modelos morais e de boa conduta existe grande
possibilidade de que o filho introjete esses valores.
1.5- O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1989), Freud descobriu que a maioria dos
pensamentos e desejos reprimidos estavam relacionados com conflitos de ordem sexual.
Desde os primeiros anos de vida a criança vive experiências de caráter traumático,
reprimidas e são essas experiências e repressões as causas dos sintomas na fase adulta.
Com essa descoberta Freud colocou a sexualidade no centro da vida psíquica e
formulou a teoria da sexualidade infantil.
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Essas idéias tiveram grande efeito na sociedade puritana da época. A energia
sexual não esta ligada apenas as ílinções reprodutivas ou a obtenção do prazer nas
relações sexuais, porem pode estar localizada em partes do corpo durante o
desenvolvimento da criança desde o seu nascimento até atingir a maturidade com a
sexualidade adulta.
A Libido que é a energia dos instintos sexuais durante o desenvolvimento
humano esta localizada em diversas partes do corpo.
A primeira fase do desenvolvimento da personalidade humana é a Fase Oral.
Nesta fase a libido esta localizada na boca. Esta fase tem inicio quando a criança nasce e
vai até aproximadamente 1 ano de idade, por ocasião do desmame. A sucção desde o
primeiro instante de nascimento é instintivo e ninguém precisa ensinar a criança a
mamar ou seja sugar o seio. Na íàse oral qualquer objeto que a criança tenha a mão ela
o leva a boca, pois o prtizer da sucção é independente da necessidade do alimento.
Nesta fase é também de grande importância a presença da mãe, pois esta é
também objeto de amor da criança. O banho, as caricias, a voz "delicada e suave" o
calor dos braços e do corpo da mãe, tudo é fonte de prazer para o bebe.
O modo como esse pequeno ser se relacionará no futuro com as outras pessoas
dependerá muito da relação que teve com a mãe e os membros da família. Todos os
componentes da constelação familiar são importantes para a formação da criança, porem
é a mãe a figura central, por passar muito tempo com o bebê.
Nessa primeira parte da fase oral a relação do bebê com a mãe é passiva, pois a
criança cresce assimilando os sorrisos, o modo de falar, as imagens, as sensações
provenientes do meio familiar.
Depois vem a dentição e a fase oral se toma mais ativa para o bebê, pois então
ele começa a sentir o desconforto do surgimento da dentição e passa a morder os objetos
e até mesmo o seio da mãe.
Surge aqui um perigo que deve ser tratado com muito cuidado pela mãe, pois a
mordedura é a primeira pulsão agressiva, e dependendo da forma como ela for tratada
pela mãe será também o modo como a criança assimilará a sua relação tanto com a mãe
quanto com outras pessoas.
Se o desmame for iniciado na fase da dentição este pode ser encarado como
uma punição como conseqüência da agressão. Como conseqüência disso, essa criança
terá dificuldade em expressar sua agressividade sem sentir uma necessidade de
autopunição. Em vez de morder o seio da mãe, a criança deve ter ao alcance objetos que
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possam ser chupados e mordidos sem perigo e sem provocar as interdições e repressões
do adulto. Se houver um desmame brusco e a criança ainda não transferiu a sua libido
para outro objeto ela pode ficar fixada numa personalidade oral passiva.
É na fase oral que podem surgir os oradores, os fumadores, os bebedores, os
"bons garfos" e os usuários de substancias psicoativas. Também se pode considerar
como patologia dessa fase, a compulsão pelo comprar.
Isso ocorre porque a criança foi privada subitamente do seio materno e
conservou um núcleo de fixação que entrará em ressonância quando ocorrer uma
fmstração que poderá gerar uma neurose(DOLTO, 1980). Esse núcleo de fixação oral
leva ao auto-erotismo e a perda de interesse pelo exterior, levando o individuo a
concentrar-se em seus "fantasmas" e perturbações emotivas.
A segunda &se do desenvolvimento humano foi por Freud denominado Fase
Anal. Tem inicio aproximadamente quando a criança faz um ano e vai até os 3 ou 4
anos de idade. A zona erógena bucal ainda tem importância, porém pouco a pouco ela
vai sendo substituída para a zona anal. Nesta fase, as relações com as outras pessoas vão
se modificando, pois a criança já sabe falar, andar e esta relativamente independente
com relação à alimentação. O mais importante aqui é a aprendizagem do controle dos
esfincteres.
A criança sente prazer nos cuidados de asseio da mãe após a excreção e
percebe que pode manipular o controle das fezes. Ao perceber esse poder auto-eròtico e
saber que pode dar ou não algo de si próprio surge o prazer sádico, que poderá se
estender por toda a vida como parte de sua personalidade.
Por outro lado, se houver uma retenção das fezes a criança sente uma
satisfação erótica de sedução passiva que pode contribuir para a criação de uma
personalidade masoquista. Segundo Dolto (1980) o interesse pelo manuseio das fezes
pode gerar personalidades que se tomam quando adultos, pintores, escultores,
colecionadores e os que se interessam pelo manuseio do dinheiro.
Também na fase anal podem surgir os futuros adultos possessivos e
mesquinhos, os avarentos, os sádicos, os masoquistas, os rabugentos, os teimosos, os
que sentem prazer em mostrar o seu desalinho, a sujeira, a indisciplina.
Por outro lado se houver um cuidado e um zelo na relação da mãe pelo filho,
principalmente através da demonstração do amor, do carinho, da compreensão, nesta
fase do desenvolvimento, a humanidade terá se beneficiado com a presença de adultos
sóbrios, conscienciosos, trabalhadores e conscientes do seu papel no meio social.
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A seguir o ser humano em desenvolvimento chega a fase Fálica. Nesta fase
surge o despertar do interesse pelo pênis nos meninos e pelo clitóris nas meninas. A
Ubido esta voltada para os órgãos sexuais.
As fases oral e anal são caracterizadas por serem fases pré-genitais. Não estão
ligadas aos órgãos sexuais.
A fase fálica se caracteriza por sua atenção aos genitais e pela curiosidade
sexual, onde as tensões das zonas erógenas são descarregadas através da masturbação.
Esta fase ocorre aproximadamente aos 6 anos de idade porem lá pelos 3 anos de idade a
criança já começa a ter curiosidade em saber como nascem os bebês.
O menino nessa idade percebe que tem um pênis e as meninas não. Nessa fase
pode surgir a angustia primaria de castração que pode chegar ao complexo de castração
gerando um adulto com sentimento de inferioridade, excessivamente tímido e com
tendência passiva.
Se a criança em desenvolvimento foi bem tratada e educada em ambiente
favorável ela sai da fase anterior e entra na fase denominada o Complexo de Édipo.
Entre os 2 e os 5 anos ocorre o Complexo de Edipo e é em tomo dele que ocorre a
estmturação da personalidade do individuo segundo Bock, Furtado e Teixeira (1989)
que afirmam que este é um mecanismo descoberto por Freud, onde a mãe é objeto de
desejo do menino e o pai é o seu rival que impede que o menino tenha o objeto de seu
desejo. Para ter a mãe, ele procura assemelhar-se ao pai, e o tem como modelo de
comportamento, passando a intemalizar as regras e normas sociais representadas pela
figura paterna. Por medo do pai, o filho desiste da mãe e a troca pelos bens do mundo
social e cultural. A partir daí o menino esta apto a participar do mundo social, pois tem
suas regras básicas internalizadas através da identificação com o pai. O mesmo processo
ocorre com as meninas onde o objeto de desejo é o pai.
A fase de latência vai dos 7 aos 13 anos, por volta do inicio da puberdade. Se a
criança foi bem amada orientada por pais adultos e saudáveis, ela provavelmente sairá
do complexo de Edipo de forma madura, assimilando as responsabilidades, deveres e
direitos do mundo social que o cerca.
Lá pelos 9 anos os conflitos vão se acalmando e as faculdades de sublimação
vão progressivamente entrando em jogo. Essas sublimações possuem grande
importância por que nessa época vão surgindo as características sociais do individuo.
A fase genital é a ultima fase do desenvolvimento do ser humano, ocorrendo
durante a puberdade e concluindo aos 17-18 anos.
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Se as fases anteriores foram bem vividas, o individuo se tomara um ser adulto
produtivo com uma sexualidade normal e saudável. Se ocorreu o contrario, e a criança
se fixou em uma determinada fase-oral-anal-fálica, assistiremos a eclosão de uma
personalidade perversa ou uma neurose mais ou menos pronunciada.
2- OS MITOS,CONTOS DE FADA,E CONTOS MARAVILHOSOS.
Antes de falarmos sobre os mitos e contos é importante conhecermos um pouco
da História das origens da mitologia e dos contos.
2.1- RAÍZES HISTÓRICAS
Apesar dos esforços dos pesquisadores não há uma concordância sobre a
origem dos mitos e contos de fada, porem acredita-se que no Egito, na índia, e até
mesmo na Palestina, surgiram os primeiros textos sobre essas narrativas maravilhosas.
Versões desses contos foram escritas em Persa, Árabe, Hebraico e Latim.
Acredita-se que o episódio bíblico de José e a mulher de Putifar, seja a versão
Hebraica do texto original, escrita pelo Escriba Anana, no Egito e intitulada os dois
irmãos. Esse conto foi encontrado na ITÁLIA em um papiro de três mil e duzentos anos
e é considerado o mais antigo texto sobre histórias maravilhosas em todo mundo.
Calila e Dimna é outro texto bastante antigo de origem Indú e foi escrito em
Sânscrito, no século VI. As narrativas de Calila e Dimna são em sua maior parte
fabulas.
Os mitos, contos de fada e contos maravilhosos, desde antes da era cristã eram
narrados como parte de textos religiosos,judaicos, indús, budistas e tinham a finalidade
de transmitir um ensinamento moral, ético, ou uma norma de conduta.
Sendebar ou O livro dos enganos das mulheres, é uma coletânea originaria da
índia escrita em sânscrito pelo filosofo Indú Sendabad. Entre os séculos IX e XIll foram
feitas traduções em árabe, persa, hebraico e grego.
Do árabe foi feita a versão em castelhano no século XIII. Segundo Coelho
(1987), As Mil e Uma Noites são as narrativas maravilhosas mais conhecidas do oriente
e foram escritas no século XV, e traduzidas para o francês por Antoine Galland no ano
de 1704, sete anos após Perrault ter escrito seus contos populares.
22
Nesse período da história da humanidade, começaram a entrar em moda as
fadas de origem CELTA. Junto com os contos de fada de origem céltica, surgem na
idade média as novelas de cavalaria do ciclo arturiano, também originárias do povo
celta.
2.2- MITOS-CONTOS DE FADA-FABULAS E CONTOS MARAVILHOSOS
Houve um tempo, há muito esquecido, em que os homens viviam segundo os
mistérios da magia.
Esse tempo era povoado por castelos, donzelas encantadas e
heróis galantes vestidos em suas reluzentes armaduras, que partiam em busca de
aventuras que culminavam em batalhas épicas contra dragões monstruosos, bruxas
malvadas e animais perigosos, que sucumbiam ante a destreza e coragem do herói
destemido que contava nesses momentos com a ajuda de fadas, animais encantados,
forças da natureza e Deuses benévolos.
Ao lado desses castelos, viviam outros heróis, trajando não belas armaduras,
mas sim roupas simples de camponês ou até mesmo farrapos que mal cobriam seus
corpos. Estes heróis também partiam em nobres missões pelo mundo; porém não
montados em imponentes corcéis mas nas asas do vento, de pássaros gigantescos ou até
mesmo em tapetes mágicos que os conduziam por terras estranhas e encantadas;
também estes concluíam suas viagens cobertos de gloria e felicidade ou pereciam no
meio do caminho, encantados por uma bruxa malvada e ali permaneciam até que
alguma princesa os viesse resgatar.
Esse tempo a muito já se foi. Porém as suas estórias quase perdidas durante os
séculos, pouco a pouco estão sendo resgatadas pelas pessoas que guardam na atualidade,
dentro de seus corações, a beleza e a magia dos contos de fada e procuram mostrar aos
viajantes cansados, petrificados e encantados que sucumbem em suas jornadas pela
vida, que existe além da automatização e dos males do dia a dia, um mundo de beleza,
saúde e harmonia e, que pode ser encontrado e resgatado dentro de cada um, através dos
mitos e contos de fada.
São estas pessoas, que na atualidade estão redescobrindo e pesquisando os
mitos e contos de Fada e nos mostram que não são simples histórias para crianças,
contadas por pais ignorantes e supersticiosos, mas sim, mais do que isso, histórias
ancestrais que guardam em seus símbolos, segredos cósmicos e universais que recontam
23
conhecimentos profundos de psicologia, de filosofia, de alquimia, e da religiosidade de
cada homem.
Johnson (1987) diz que apesar de não falarmos mais hoje em dia de fadas,
Graal, Espadas Mágicas, Castelos Encantados e Donzelas em perigo, este é um tema
que exerce dentro de cada um de nós um estranho e misterioso fascínio que nos inebria
e seduz como nas próprias histórias de fadas e mitos.
Que homem, em algum momento de sua vida já não parou e se perguntou
sobre os mistérios de sua própria existênciei, a razão porque vivemos ou o porquê de
todas as coisas? A resposta para cada uma dessas perguntas está dentro do coração de
cada um e pode ser resgatada através dos mitos e contos de fada.
Ao penetrarmos no reino interior existente em cada um de nós, lá
encontraremos novamente um mundo encantado de espadas mágicas, ervas, feitiços e
vinhos inebriantes que nos deixará ébrios de magia e de amor e, ao sairmos desse
mundo interior, para a vida do aqui e agora, resgatados pelos contos de fada,
emergiremos como novos seres, radiantes de alegria, paz interior e harmonia que nos
conduzirá para o mundo da realidade de uma forma madura, segura e confiante que nos
guiará em segurança pelos caminhos da vida.
Estamos vivendo um limiar histórico: em nossos tempos uma nova era está
surgindo. Por um lado temos as ordens racionais e progressistas, representadas pela
ciência acadêmica e materialista e, por outro lado temos a nova lógica mágicocibernética que tenta reencontrar as fontes originais da vida e os segredos da Magia e do
Mistério que dirigiam os destinos da humanidade e que foram responsáveis pelo
surgimento de grandes e belas civilizações, como a dos gregos, fenícios, egípcios e
outros,(COELHO, 1987 ). Esses mistérios estão hoje quase esquecidos e são ignorados
pela ciência tradicional.
Os mitos e os contos de fada falam sobre os destinos humanos e estão sendo
redescobertos hoje em dia por pesquisadores das teorias de Jung, Freud e os atuais
cientistas da psicologia do desenvolvimento e podem ser utilizados como auxílio na
clínica, na educação e no desenvolvimento do ser humano. Os mitos contêm
ensinamentos e normas de vida. Representam a moral primitiva e estão voltadas para a
satisfação das necessidades instintivas do homem.(CARACUCHANSKY, 1988). Essa
moral, esses valores, no entanto continuam atuais, pois os conceitos do bem, e do mal,
do certo e do errado continuam os mesmos na atualidade.
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Os contos de fada e os mitos são conhecidos desde épocas primitivas nas
grandes civilizações da Europa, China, índia, Egito e Áfnca. Franz(1990)a respeito
dos contos de fada diz que eles são a expressão mais pura e mais simples dos processos
psíquicos do inconsciente coletivo. Eles nos fornecem riquíssimo material de consulta
para conhecermos a estrutura da psique humana.
A finalidade dos contos de fada é tomar o homem um ser integral, maduro e
produtivo no meio social, ao mesmo tempo com o sentimento de plenitude e amor a
Deus, a natureza que o cerca e à humanidade.
Segundo Johnson (1987), o mito, mostra uma verdade psicológica importante
que se aplica a toda a humanidade. E pode ser relacionada com os sonhos, que se bem
interpretados, também contém verdades psicológicas. E a partir dessa visão ampla e
desprovida de preconceitos que devemos entender os contos de fada e mitos.
A diferença entre os mitos e contos de fada é que no caso dos mitos o herói
deve escolher entre dois caminhos; do bem ou do mal, ou do prazer ou da virtude e nos
contos de fada nunca há um confronto direto. Os contos de fada forçam a nossa
imaginação, e ao mesmo tempo mostram que o que esta acontecendo é algo comum e
pode acontecer a qualquer pessoa. Nos mitos o final é sempre trágico, e nos contos de
fada o final é sempre feliz. Segundo Bettelheim (1987) nos mitos os acontecimentos são
singulares e não podem acontecer com as pessoas comuns. Os acontecimentos são
grandiosos e inspiram admiração, servindo como modelo moral para cada um de nos.
Eles nos inspiram e transmitem lições de moral, virtude e força, que devemos tomar
como exemplo de vida. As fabulas se caracterizam pela antropomorfização dos animais.
As fabulas contam o que a pessoa deve fazer e são moralistas, despertando
ansiedade e impedindo que as pessoas cometam ações que possam causar danos ou
prejuízos. Os contos maravilhosos se originaram no oriente e dão ênfase a parte
material, sensorial e ética do ser humano.
3- RELAÇÃO ENTRE A PSICANÁLISE,OS MITOS E CONTOS DE FADA
Contar um mito ou conto de fada a uma criança e depois explicar o seu
significado segundo qualquer tipo de teoria ou visão filosófica, ética ou religiosa seria
de certa forma contribuir para que a criança perca o interesse pelo conto.
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Toda criança ao ouvir um conto, pede que ele seja contado inúmeras vezes, e
esse mecanismo serve para que a criança pela dinâmica interna de sua psique, assimile e
passe a entender o significado que pode ser diferente para uma outra criança.
Segundo Bettelheim (1988) os temas dos contos de fada não são fenômenos
neuróticos que possam ser entendidos de forma racional e depois livrar-se deles. A
criança os percebe como maravilhosos por que através deles ela se sente entendida e
apreciada bem no fundo de seus sentimentos, esperanças e ansiedades, sem que isso
tenha que ser analisado de forma racional jâ que ela nem mesmo é capaz disso. Os
contos e mitos enriquecem a vida da criança dando-lhe uma dimensão encantada
exatamente por que ela não sabe absolutamente como as estórias puseram a funcionar
seu encantamento sobre elas. Entretanto para os pais, os educadores, os pesquisadores e
os terapeutas é importante entender o significado dos contos e mitos a luz da
psicanálise.
Outro fator importante a ser entendido é que os contos e mitos devem ser
contados nas suas versões originais, sem cortes ou adaptações para que sejam melhor
assimilado pelas crianças e melhor interpretado pelos pesquisadores.
Algumas pessoas acham que os contos e mitos as vezes são violentos e cruéis e
decidem de forma equivocada omitir essas cenas da mente infantil. Na verdade as
figuras más e os acontecimentos trágicos servem para ensinar a criança a realidade da
vida e através de mecanismos internos da mente da criança contribuem para a formação
de uma personalidade mais forte e saudável.
Bettelheim (1988) sobre esse assunto mostra o caso de uma criança de 5 anos.
Sua mãe ao ouvir sobre a importância dos contos de fada resolveu contar o que ela
considerava como estórias sangrentas e ameaçadoras para seu filho. Depois, ao
conversar com ele, soube que seu filho já tinha fantasias de comer gente ou de pessoas
sendo devoradas. Então ela decidiu contar-lhe João, o gigante matador. Ao ouvir a
estória o menino disse: "não existem coisas como gigantes, existem? Antes que a mãe
respondesse, o que teria "quebrado o encanto" e destruido o valor da estória ele
prosseguiu: "mas há coisas como gente grande, e elas são como gigantes." Com seus
cinco anos de experiência de vida, ele compreendeu a mensagem encorajadora da
estória: embora os adultos pareçam gigantes assustadores, um menino com astúcia pode
vencê-los.
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Os contos de fada com estórias de gigantes ensinam as crianças como derrotar os
gigantes que lhe assustam e ameaçam sua vida. Ao ouvirem esses contos intuitivamente
as crianças entendem que podem vencer os gigantes em sua vida.
Os contos de fada segundo Jung são a expressão mais pura e mais simples dos
processos psíquicos do inconsciente coletivo, e são superiores a qualquer outro material.
Os mitos, lendas ou outros materiais mitológicos atingem as estruturas básicas da psique
humana, através de uma exposição do material cultural, os contos de fada atingem um
material cultural consciente menos especifico.
Segundo Franz (1990), é nos contos de fada que melhor podemos estudar a
anatomia comparada da psique. Comparativamente, o mito esta mais próximo da
consciência enquanto os contos estão mais distantes do nosso mundo coletivo
consciente.
Bettelheim (1987) citando Dickens diz que o escritor mesmo depois de ter se
tomado mundialmente famoso falava sobre a importância dos contos de fada em sua
vida e a influencia que eles exerciam sobre seu gênio criativo.
Na índia, quando uma pessoa esta sofrendo de uma perturbação psíquica e vai se
tratar pela medicina tradicional, o terapeuta lhe conta um conto de fada para que ele
medite sobre seu problema. O terapeuta não lhe dá conselhos e não lhe diz o que fazer,
pois é o paciente que deve visualizar a solução do seu problema. O terapeuta não o
aconselha, pois se o fizesse, a resposta surgiria do medico e não seria uma solução
encontrada pelo próprio paciente.
Nos contos de fada o Ego, segundo a visão psicanalítica, representado pelo herói
da estória deve se adaptar ao sistema psíquico. Nesse caso, o ego (o herói) deve
funcionar respondendo as necessidades básicas instintivas e não, quando resiste a elas.
Franz(1990) cita o exemplo de uma pessoa diante de um touro, quando o touro
corre até a pessoa, ela não necessita consultar o seu Ego, mas sim consultar suas pernas.
Porem, se a pessoa tiver um Ego saudável, enquanto ela corre, vai consultar seu Ego,
para saber onde se esconder e o melhor modo de escapar do perigo. Se por outro lado a
pessoa resolver filosofar e disser para suas pernas; "pare, eu primeiro preciso pensar se
é certo fugir do touro". Nesse caso o Ego bloqueia a necessidade instintiva, tomando-se
autônomo, antiinstintivo e destrutivo, da mesma forma que ocorre nos processos
neuróticos. A neurose pode ser definida como um Ego cuja estmtura não é mais capaz
de se harmonizar com toda a personalidade. Quando o Ego é saudável esta em harmonia
27
com a totalidade da personalidade, essa o reforça deixando afluir a sabedoria inata das
estruturas instintivas básicas.
Nos contos de fada e mitos o herói(Ego)é o responsável pelo retomo a situação
sadia, consciente, restabelecendo o funcionamento normal e sadio de uma situação,
como é o caso do individuo diante do touro.
Bettelheim (1987) diz
que
ao
usarmos
o
método
psicanalítico
para
interpretarmos os contos de fada e mitos percebemos que eles contam estórias que
transmitem mensagens ao Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente e ao mesmo tempo
falam ao Ego da criança encorajando o seu desenvolvimento. Enquanto as estórias vão
sendo contadas elas mostram a criança situações semelhantes as pressões do Id,
mostrando caminhos para satisfaze-las e que estejam ao mesmo tempo de acordo com
requisições do Ego e do Superego.
Os contos falam e transmitem mensagens a psique temto das crianças quanto dos
adultos e no caso dos adultos servem para resgatar e livrar os adultos de seus conflitos
neuróticos dando nova energia ao seu Ego, dotando-o de mais flexibilidade, inocência e
leveza, transformando o Ego do adulto, ou melhor fazendo-o morrer simbolicamente
para de novo renascer como um Ego saudável e capaz de vencer as situações do dia a
dia de cada pessoa.
Ao contrario das estórias infantis modernas, os contos de fada mostram o mal e a
virtude caminhando as vezes lado a lado, já que os dois estão presentes em nossa vida.
O herói dos contos deve decidir qual dos caminhos deve seguir. No final sempre feliz
dos contos o personagem (herói) sempre acaba escolhendo o caminho do bem. Nesses
casos não se trata simplesmente de um conselho para que a criança siga o caminho do
bem mas sim que o herói é mais atraente para a criança, que se identifica com ele em
todas as suas lutas. Por causa desta identificação a criança sofre como o herói suas
próprias provas e conflitos, e triunfa com o herói quando a virtude sai vitoriosa.
Ninguém precisa aconselhar a criança ou orienta-la, pois ela faz essas identificações por
conta própria, e as lutas interiores e exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela
(BETTELHEIM, 1988).
As figuras nos contos de fada, não são ambivalentes. Ou são boas, ou são mas.
No conto de Rapunzel sabemos que a feiticeira trancou-a em uma torre quando ela tinha
doze anos. Usando os conceitos psicanalíticos para entender esse conto, podemos
perceber que esta é uma historia de uma menina na fase de latência, na pré-puberdade e
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de uma mãe ciumenta e controladora que tenta impedir sua independência. O final feliz
se da quando a bruxa malvada morre e Rapunzel se une ao príncipe.
A estória de Rapunzel é a estória de todas as meninas na pré-puberdade que
estão se encaminhando para a adolescência até chegar a fase adulta, onde as relações
sociais e amorosas sejam sadias.
"BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES"
Era inverno e a neve cai do céu. A rainha estava costurando na
janela do Palácio. De repente, ela feriu o dedo com a agulha e três gotas de
sangue pingaram na neve. O vermelho ficou tão bonito sobre o branco que
ela pensou:
"Ali, se eu tivesse uma fiíliinlia, branca como a neve, com os lábios
vermeUios como o sangue, e com os cabelos pretos como a madeira de
ébano desta janelal"
Algum tempo depois, ela teve uma filha, com os cabelos pretos
como o ébano, lábios vermelhos como sangue e pele branca como a neve.
Por isso, ela se chamou Branca de Neve. Mas logo que a menina nasceu à
mãe ficou doente e morreu. Um ano depois, o Rei tomou a se casar.
A Madrasta era bonita, mas era também malvada e não podia
suportar que ninguém fosse mais bonita do que ela. Tinha um espelho
mágico, e quando se olhava em frente dele, se admirando, perguntava:
"Espelho,Espelho meu",
"Qual é a mulher mais linda deste mimdo?"
E o Espelho respondia:
"Minha Rainha, você é a mais linda de todas".
Ela se sentia satisfeita, por que sabia que o Espelho falava a verdade.
Mas Branca de Neve cresceu e foi ficando cada vez mais bonita
muito mais bonita que a Rainha. Um belo dia a Rainha perguntou de novo
ao Espellio:
"Espelho, Espelho meu",
"Qual é a mulher mais linda deste mundo?"
E ele respondeu:
"Minha Rainha, você é muito linda,
Mas branca de Neve é mil vezes mais linda!"
A Rainha, horrorizada, ficou verde de ciúme. E cada vez que via
Branca de Neve sentia mn aperto no coração. Passou a ter ódio da menina.
A inveja cresceu tanto que ela não tinha descanso dia e noite. Até
que resolveu chamar um caçador, e lhe disse:
-Leve esta menina para a floresta, mmca mais quero vê-la. Você tem que
mata-la e me trazer o seu coração como prova.
O caçador obedeceu e levou Branca de Neve para a floresta, mas
quando pegou o machado, ela começou a chorar:
Há,caçador, por favor, não faça isto!
Eu fujo para o mato e não volto mmca mais!
Ela era tão linda que o caçador teve pena.
- Esta bem, então foge, menina. Vai para bem longe, que a Rainha é muito
má.
Sentiu alivio no coração por não ter sido obrigado a matá-la.
Naquele momento passou mn veadinho. Ele o matou, tirou seu coração e o
levou para a Rainha. A Rainha ficou satisfeita e mandou enterrar o coração!
Branca de neve entrou sozinha p>ela floresta, mas com tanto medo
que não sabia o que fazer. Começou a correr sem parar. Então os esquilos e
outros bichinlios foram-Ute mostrando por onde ir.
29
Continuou correndo até que, já quase de noite, viu uma linda
casinha e entrou para descansar. Dentro, tudo era pequeno, mas muito limpo
e armmado. Uma mesinha coberta com toalha branca estava preparada com
sete pratinhos, e perto de cada prato liavia uma colher, um garfo, uma faca e
um copo. Sete caminhas estavam encostadas às paredes, com colchas
também muito brancas.
Como Branca de Neve estava com muita íbme, comeu um pedaço
de pão e um pouco de carne de cada prato, dep>ois bebeu um pouco de água
de cada copo, pois não quis que nenhum deles ilcasse vazio. Então, como
estava muito cansada, deitou-se em uma das camas.
E.xperimentou todas, mas nenhuma servia. Uma era curta demais,
outra comprida de mais...
menos a sétima, que era do seu tamanho exato. Deitou nela, rezou e
adormeceu, pensando que aquela casa devia ser uma casinha de meninos.
Quando anoiteceu, voltaram os donos da casa; Os Sete Anões que
cavavam nas montanhas em busca de ouro. Sempre que eles voltavam,
acendiam as suas lanternas e vinham cantando uma canção:
"Eu vou, eu vou, pra minha
casa eu vou, eu vou, eu vou!"
Assim que entraram, notaram que alguém havia estado ali, pois as
coisas não estavam na ordem como tinham deixado.
O primeiro disse:
- Alguém andou sentando na minha cadeira!
O segundo:
- Alguém andou mexendo no meu prato!
O terceiro:
- Alguém andou comendo do meu pão!
O quarto:
- Alguém andou comendo da minha carne!
O quinto:
- Alguém andou usando o meu garfo!
O se.xto:
- Alguém andou cortando com a minha faca!
O sétimo:
- Alguém andou bebendo no meu copo!
Então, o primeiro foi olhar a sua cama e viu que estava meio desarrumada:
- Alguém andou deitando na minha cama!
Os outros vieram correndo e disseram:
- Na minlia também, na minha também!...
Mas quando o sétimo espiou sua cama, viu Branca de Neve dormindo nela.
Chamaram os outros que exclamaram admirados:
- Nossa! Que menina mais linda!
Ficaram tão encantados que não a acordaram, deixando que
continuasse dormindo. O sétimo anâozinho donniu no chão.
Quando amanheceu. Branca de neve despertou e ao ver os Sete
Anões ficou amedrontada. Mas eles eram muito bonzinltos e perguntaram
como ela se chamava.
- Branca de Neve — respondeu ela.
- E como veio parar na nossa casa? — perguntaram.
Então, ela contou como a Madrasta tinha querido livrar-se dela. como o
caçador lhe poupara a vida, e como correra o dia inteiro até encontrar a casa.
Qs anões então cochicharam entre si, e o maior disse:
- Você quer tomar conta da nossa casa, cozinliar para nós, amunar as camas,
lavar, costurar, conservar tudo limpo e em ordem?
- Quero, sim - disse Branca de Neve.- Com todo o prazer.
- Então você fica morando com a gente!
De manliã, eles iam para a montanha procurar omo.e iam cantando:
"Eu vou, eu vou"!
Pro meu trabalho agora eu vou, eu vou. eu vou!"
30
De noite voltavam e encontravam o jantar já pronto. A menina ficava
sozinha o dia inteiro. Os anãos sempre recomendavam:
- Cuidado com a Madrasta, ela logo vai saber que você está aqui. Não deixa
ninguém entrar.
A Rainha, pensando que o coração do veado era o de Branca de Neve, e
certa de que era a mais linda das mulheres, chegou em frente do Espelho e
perguntou:
"Espelho,Espelho meu!"
Qual é a mulher mais linda deste mimdo?"
E o Espelho respondeu:
"Rainha, você é muito linda,
Mas Branca de Neve,
Que vive na floresta com os Sete
Anões,
Ainda é mil vezes mais linda."
Ela ficou roxa de raiva, pois sabia que o Espelho não mentia. Assim
ficou sabendo que o caçador a enganara. Branca de Neve estava viva! Então,
pensou:
"Preciso planejar alguma coisa para acabar com esta menina!"
Corno ela também era bruxa, se transformou, e fabricou um
pequeno pente envenenado, desses que as moças usam. Depois, se disfarçou
como uma velliinha bem diferente.
Atravessou as sete colinas, chegou à casa dos Sete Anões, bateu à
porta, gritando:
- Coisas bonitas para vender!
Branca de neve espiou da janela e disse:
- Vai embora, não posso deixar ninguém entrar.
- Ao menos, dá uma olhada — respondeu a velha, mostrando o pente
envenenado.
A menina achou o pente muito bacana e abriu a porta.
Comprou e a velha disse:
- Agora, me deixa fazer um penteado bonito em você.
Sem suspeitar do perigo. Branca de Neve deixou, mas assim que o pente
tocou em seus cabelos, o veneno fez efeito e a menina caiu no chão sem
sentidos.
- Agora, belezoca - disse a malvada - vamos ver quem é que fica como mais
bela.
Felizmente, estava quase na hora dos anões voltarem para casa.
Quando viram Branca de Neve estirada no chão como morta, suspeitaram
logo da Madrasta, e examinaram a menina até encontrar o pentinlto
envenenado. Assim que o retiraram dos cabelos de Branca de Neve, ela
voltou a si e contou o que tinha acontecido. Recomendaram, novamente, que
não abrisse mais a porta para ninguém.
Quando chegou em casa, a Madrasta foi direto para frente do
Espelho e perguntou:
"Espelho, Espelho meu"!
Qual é a muUier mais linda deste mundo?"
E ele respondeu como dc costume:
"Rainha, você é muito linda,
Mas Branca de Neve,
Que vive na floresta com os Sete Anões.
Ainda é mil vezes mais linda."
31
Quando ela ouviu o espelho dizer essas palavras, tremeu de tanta
raiva.
- Branca de Neve tem que morrer — disse ela — nem que isso custe a minha
própria vida.
Em seguida, foi para lun porão secreto, onde tinha um panelão com água
fervendo e onde ninguém entrava a não ser ela. Transformou-se numa bruxa
horrível, e preparou uma maçã envenenada. Por fora, era uma beleza, muito
vermelha e apetitosa, mas quem a comesse teria morte certa. Pronta a maçã,
ela pintou o rosto e vestiu-se como uma mulher qualquer, atravessou as sete
colinas e chegou á casa dos anões.
Bateu na porta. Branca de Neve espiando pela Janela, disse;
- Não posso deixar ninguém entrar. Os Sete Anões proibiram.
- Não tem importância — respondeu a mulher. — Estas maçãs são muito fáceis
de vender. Toma esta de presente, por que você é muito linda.
- Não, pelo amor de Deus, não posso aceitar nada.
- Tem medo que esteja envenenada? — perguntou a mulher.
- Olha, vou cortar a maçã pela metade. Você come a parte mais vermelha e
eu Eco com a outra.
A maçã tinha sido muito bem pintada, mas somente a metade mais
vermelha estava envenenada. Branca de Neve sentiu uma vontade enorme de
comer maça,e quando viu a mulher mordendo a sua metade, não se conteve,
estendeu o braço e apanhou a metade envenenada. Ao dar a primeira
dentada, caiu no chão.
A madrasta olhou para ela com o olhar perverso, soltou luna
gargalhada feroz: HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!,e disse:
- Branca de Neve, lábios vermelhos como sangue, cabelos pretos como o
ébano... Desta vez, os anões não vão conseguir te salvar!
Quando ela chegou em casa e perguntou ao Espelho:
"Espelho,Espelhomeu"!
Qual é a muUier mais linda deste mundo?"
Ele respondeu finalmente:
"Rainlia, você é a mais linda de todas."
Então, finalmente ficou sossegada e não pensou mais no assunto.
Quando os anões chegaram em casa à noitinha, encontraram Branca
de Neve estirada no chão, sem respirar. Estava morta! Procuraram descobiir
algum veneno, desabotoaram o vestido, pentearam os cabelos, esfregaram a
menina com remédios, álcool, água., mas de nada adiantou. Estava mesmo
morta! Vestiram Branca de Neve com o mais lindo vestido, e todos os sete
choraram e velaram o corpo por três dias e três noites.
Prepararam-se para sepulta-la, mas ela parecia tão linda e tão viva e ainda
estava com as faces tão rosadas, que pensaram:
"Não podemos enterra-la na terra escura."
Fabricaram uma uma de vidro, para que ela pudesse ser vista de
todos os lados. Deitaram-na dentro e escreveram nela com letras de ouro
"Branca de Neve, filha de um Rei". Depois colocaram a uma de vidro no
alto da montanha, com lun deles tomando conta. Os passarirthos também
foram se chegando, para chorar Branca de Neve.
Branca de Neve ficou por muito tempo deitada na tuna. e parecia
que estava apenas dormindo.
Um belo dia, um Principe que ptassava pela floresta chegou à casa
dos Sete Anões e pediu para passar ali a noite. No outro dia viu a uma na
montanlia com a encantadora Branca de Neve e leu o que estava escrito em
letras de ouro. Disse aos anões:
- Dei.xem eu ficar com ela. Pago o que quiserem.
Mas eles responderam:
- Não a vendemos nem por todo o ouro deste mimdo.
32
- Nesse caso, peço ela de presente, pois não posso mais viver sem olhar para
Branca de Neve.
Prometo tomar conta dela como o mais precioso dos tesouros.
A seguir, o Príncipe levantou a uma de vidro e deu um beijo
apaixonado na mocinha.
Com o poder mágico daquele beijo. Branca de Neve acordou.
- Olt, meu Deus, onde estou?
O Príncipe, cheio de alegria, respondeu:
- Está comigo.
Contou tudo o que havia acontecido e depois disse
- Eu amo você mais que tudo neste mundo; vem comigo para o Castelo de
meu pai para nos casarmos.
Branca de Neve concordou. Subiu em seu cavalo branco e foi com
o jovem Príncipe para o Castelo.
O casamento foi celebrado com grande pompa. A Madrasta
malvada de Branca de Neve foi convidada, mas sem saber quem era a noiva.
Quando se preparou toda,chegou diante do Espelho e perguntou:
"Espelho, Espelho meu!"
Qual é a mulher mais linda deste mundo?"
O Espelho respondeu:
"Rainha, vós sois muito linda,
Mas a jovem Rainha é mil vezes mais Unda.
Branca de Neve é mil vezes mais linda!
Branca de Neve é mil vezes mais linda!"
A malvada soltou um grito horroroso e quebrou o Espelho que
ficou rindo como lun maluco, e cada caco repetia sem parar
"Branca de Neve é mil vezes mais linda!
Branca de Neve é mil vezes mais linda!
Branca de Neve é mil vezes mais linda!
Branca de Neve é mil vezes mais linda!"
A rainha Madrasta disparou feito uma bruxa maluca para o meio da
fioresta, mas cada galho de arvore, cada pássaro, parecia repetir:
"Branca de Neve é mil vezes mais linda!
Branca de Neve é mil vezes mais linda!"
Então ela fechou os olhos e tapou os ouvidos com as mãos, para
não ouvir mais, e acabou caindo num lamaçal de areia movediça. À medida
que ia afundando e morrendo, os grão de areia repetiam:
"Branca de Neve é mil vezes mais linda!
Branca de Neve é mil vezes mais linda!"
(AGUIAR 1975,P.4 a 46)
Branca de neve também tem o mesmo tema psicanalítico da pré-adolescência,
pois nesta estória ela é traída pela madrasta e é salva por homens. Primeiramente os
anões e depois o príncipe. A madrasta representa a mãe que impede a conquista da
independência de qualquer moça adolescente.
33
Nos contos de fada, o herói normalmente representa o Ego, enquanto que nos
mitos encontramos tramas envolvendo solicitações do Superego em conflito com uma
ação motivada pelo Id, e com os desejos auto-preservadores do Ego.
Nos contos de fada o herói representa o ego que por sua vez representa a
criança ou o adulto. No caso dos mitos, os heróis são deuses e representam o Superego.
Por isso nos mitos encontramos deuses como Zeus, Hermes, Vênus, Hera, ou semideuses como Hercules ou Paris.
Nos contos de fada o herói é uma pessoa comum, um camponês, ou um
príncipe, porem são pessoas parecidas conosco, João e Maria é um conto com
personagens de nome comum que vale para qualquer menino ou menina.
No conto de fada os três porquinhos, temos a estória de três porquinhos. O
mais novo construiu uma cabana de palha de forma bem desajeitada, o irmão do meio
construiu uma cabana de madeira e o irmão mais velho construiu uma casa bem sólida
de tijolos. Os três irmãos mostram a evolução da personalidade dominada pelo Id para a
personalidade influenciada pelo Superego, mas controlada pelo ego. Os três porquinhos
ensinam que não devemos ser preguiçosos e levarmos tudo na brincadeira pois podemos
perecer. O planejamento em nossas vidas pode nos ajudar a enfrentar qualquer
dificuldade representada pelo lobo. Também nessa estória percebemos a necessidade
que toda criança tem de crescer, e que o crescimento é bom e vantajoso já que o irmão
mais velho que é representado pelo terceiro porquinho é o único que construiu uma casa
que resistiu ao lobo.
O menor dos porquinhos e o do meio representam a vida instintiva
representada pelo Id. Eles construíram suas casas, respectivamente de palha e a outra de
madeira, rapidamente para poderem ir brincar o que significa que viviam segundo o
principio do prazer, buscando satisfação imediata de seus instintos. Sem se preocuparem
com o futuro ou com perigos da realidade. O porquinho do meio mostra um pouco mais
de maturidade ao construir sua casa de madeira. Somente o irmão mais velho, o terceiro,
vive segundo o principio da realidade, pois ele é capaz de adiar seu desejo de brincar, e
é capaz de prevenir os problemas futuros e derrotar os problemas representados pelo
lobo feroz.
O lobo feroz representa os perigos da vida em sociedade que devem ser
enfrentados e derrotados através da força do próprio Ego.
34
Na vida de uma pessoa saudável tudo funciona bem enquanto o Id faz o que o
ego lhe manda fazer. O Id são as pressões instintivas, nossa natureza animal enquanto
que nosso ego é o nosso lado racional.
O numero três é comum nos contos de fada e eles normalmente se referem ao
Id, Ego e Superego.
Segundo
manifestações
Caracuchansky (1988) para
os
psicanalistas
os
mitos
são
do inconsciente e representam aquilo que aparece nos sonhos, ou seja
nas fantasias inconscientes de todos os indivíduos desse grande grupo que é a
humanidade.
4 - PSICOLOGIA analítica
Carl Gustav Jung o criador da Psicologia Analítica nasceu em Keswill, Suíça
em 26 de julho de 1875. Foi filho de um pastor protestante e desistiu da carreira
Eclesiástica para estudar Filosofia e Medicina, nas Universidades de Basiléia e Zurique.
Interessou-se pelos transtornos de conduta, e primeiramente seguiu os ensinamentos do
neurologista e psicólogo francês Pierre Janet, no hospital de La Salpêtriere em Paris.
Depois retomou a Zurique e passou a trabalhar com o psiquiatra suisso Eugen Bleuler.
Em 1907 Jung entrou em contato com Freud, tomando-se seu discípulo
predileto e grande amigo.
Jung foi o primeiro presidente da Sociedade Psicanalítica intemacional. Em
1912
publicou
o livro
WANDLUNGEN
UND SYMBOLE DER
LIBEDO
(transformações e símbolos da libido) que marcou o inicio de suas divergências com
Freud, e acabaram afastando-o do movimento Psicanalítico, para seguir o seu próprio e
que o levaram a criação da psicologia analítica.
Jung não concordava com Freud sobre a energia sexual da Libido, pois
segundo ele, essa energia não era sexual e sim uma energia de caráter universal e
conforme essa energia vital se dirige para o interior ou exterior ela forma os dois tipos
psicológicos; A Introversão ou Extroversão.
Jung diz que as sociedades humanas possuem arquétipos comuns a todas elas e
que se expressam por meio dos mitos, das religiões, das artes, dos sonhos e, também da
loucura, e das enfermidades psíquicas. Para o conhecimento do inconsciente coletivo e
§!SII0TI€A aSwCIÃS DA SAÚDS
S>r. Sérgio J^ouca
35
dos sonhos, Jung estudou os símbolos das religiões da índia e da China e também
pesquisou a alquimia.
Jung faleceu em Küsnacht, Suíça, em 06 de Junho de 1961 (BARSA,1999)
A individuação é o conceito central da teoria da Psicologia Analítica. Através
da individuação a pessoa vai se tomando progressivamente o ser almejado por Deus.
Esse crescimento progressivo tem como finalidade tomar o homem uma pessoa plena,
unificada. Obviamente que esse ser almejado por Deus, dificilmente é atingido por todas
as pessoas, porém é esse o objetivo a ser alcançado. Nesse caminhar evolutivo o homem
conta com seu ego. O Ego é o centro da consciência, é a parte consciente de nossa
mente. Através do ego é que temos consciência de quem somos.
Outro conceito importante na Psicologia Analítica é o conceito de Self. O Self
é a personalidade total. É o ser em toda sua potencialidade, que procura ser reconhecido
e manifestado pelo Ego. Toda pessoa possui o seu lado de luz e o seu lado sombra. A
sombra é o lado negro, obscuro e sombrio da personalidade.
Esse lado sombrio e indesejado é de certa forma perigoso para a personalidade,
porém para a pessoa tomar-se plena ela deve aprender a conviver com esse aspecto de
sua personalidade. Quando a pessoa rejeita sua personalidade-sombra ela provoca uma
divisão interior que cria uma hostilidade entre o consciente e o inconsciente.
Aceitar a personalidade-sombra toma-se um processo muito difícil e doloroso,
porém quando feito estabelece a unidade e o equilíbrio psicológico(JOHNSON 1987).
Todo ser humano possui dentro de si uma energia masculina chamada Animus
e uma energia feminina denominada Anima. No homem, a energia extema, para o
contato social é Animus e interiormente utiliza sua Anima. O mesmo acontece com a
mulher manifestando exteriormente sua Anima. Segundo Zacharias (1995), conforme a
energia psíquica é dirigida para o exterior ela é denominada de Extroversão e quando é
dirigida para o interior de si mesmo, para o mundo interno ela é denominada de
Introversão. Essa função é dinâmica e em alguns momentos a pessoa pode estar
localizando sua atenção, ou seja, sua energia psíquica, para o mundo exterior e outras
vezes podem estar intemalizando essa energia, porém sempre há um predomínio na
personalidade da atitude de introversão ou extroversão.
4.1- RELAÇAO ENTRE OS MITOS CONTOS DE FADA E A PSICOLOGIA
ANALÍTICA
36
Alfaro (1993 P.15) diz que "[...] O mito não é um sistema estruturado e
ordenado de símbolos, como o tarô e a cabala. É um encadeamento fluido e dinâmico de
imagens." À medida que os contos são narrados e traduzidos eles são repetidos fazendo
parte do inconsciente coletivo da humanidade.
Na interpretação dos mitos e contos sob o ponto de vista da teoria de C. G.
JUNG devemos em primeiro lugar observar a presença da figura masculina e feminina
como sinal da harmonia entre estes dois elementos. Toda família considerada "normal",
principalmente entre as pessoas dos séculos em que surgiram os contos, na £uropa e
Oriente, deve conter um pai, uma mãe, filhos e filhas.
Devemos também identificar nos contos a presença do SELF, da SOMBRA,
da ANIMA, do ANIMUS,do Ego e da energia Psíquica.
Os contos e mitos mostram a vida dos personagens de forma simbólica, e são
os símbolos que devem ser entendidos nessas estórias. Mais da metade dos contos de
fada existente no mundo, narram estórias com membros de uma Família Real,
geralmente príncipes ou princesas; O Rei geralmente representa o velho que deve ser
renovado e trocado pelo novo(Renovação).
A seguir serão apresentados dois contos, com a interpretação feita por MarieLouise Von Franz.
"A IGREJA SECRETA"
" Um mestre-escola de Etnedal gostava de passar seus dias de folga, suas
férias, sozinlio muna cabana nas montanlias. Uma vez, lá estava ele quando
ouviu sinos de igreja, não havendo nenhuma igreja por perto. Ele estava
admirado quando viu lun grupo de pessoas endomingadas passando pela
frente de sua cabana por um caminlio que ele nunca tinha estado
anteriormente. Ele os seguiu e chegou à pequena igrejinlia de madeira, que
também era nova para ele. Ficou muito impressionado com o sermão do
velho pastor, porém notou que o nome de Jesus Cristo não fora mencionado
e, ainda, que não houve a benção fínal.
Depois da cerimônia o mestre-cscola foi convidado a ir à casa do pastor.
Entre a conversa e uma xícara de cliá, a Elha do pastor disse-lhe que,
estando seu pai bastante velho, perguntava-lhe se ele aceitaria ser seu
sucessor quando ele morresse.
O mestre-escola, então, pediu que dessem tempo para pensar no assimto. A
moça respondeu que ela lhe daria um ano inteiro para isso. Tão logo ela
assim falou tudo desapareceu e ele se encontrou novamente no bosque e na
cabana que conhecia. Ficou perplexo e pensativo por alguns dias e, então,
simplesmente, o assunto sumiu de sua cabeça.
No ano seguinte lá estava ele na sua cabana da montanlta, quando notou que
do seu telhado estava vazando água. Subiu com seu machado para conseilálo. De repente, lá de cima, percebeu que alguém se apro.ximava pelo
caminho em frente à cabana. Era a filha do pastor. Vendo-o ela lhe
perguntou se ele aceitaria ser pastor, ao que ele respondeu: "Eu não posso
aceitar isso por Deus e por minha consciência, então preciso recusar". Neste
37
exato momento a moça desapareceu e ele inadvertidamente deixou o
machado cair no seu próprio joelho, tomando-se coxo para o resto de sua
vida."
(Nordísche Marehen,vol.IL Jena Dicderichs,1915, p. 22.)
Citado por Franz(1990,p. 146-165)
A Anima é o elemento feminino que existe em cada homem. Quanto mais
machista ele for mais dificuldade terá em aceitar sua parte feminina. Ao reprimir a
Anima dentro de si, a pessoa provoca uma real auto mutilação psíquica. A figura Anima
nesta estória é a de um demônio pagão, que é percebido pela missa onde não se
pronuncia o nome de Jesus Cristo e pela benção final que não houve.
O mestre-escola subiu no telhado o que indica um distanciamento natural da
terra (a realidade). "Ao perder o contato com a terra o mestre-escola desarmonizou-se
com sua energia psíquica", tomando-se coxo, para o resto de sua vida. O tomeir-se coxo
também é uma simbologia que indica que o herói do conto deixou de ser natural,
harmonizando seu lado masculino e feminino e tomando-se incapaz de andar com
naturalidade(FRANZ, 1990).
Um outro exemplo de dzmo causado pelo modo desastroso de se lidar com a
Anima encontramos no conto;
"A MULHER DO BOSQUE"
"Uma vez
um lenhador viu no bosque uma bela mulher que estava
costurando, quando seu carretei rolou sobre seus pés. Ela pediu que ele
apanhasse e lhe entregasse o carretei e ele assim o fez, embora soubesse que
isso signiãcava submeter-se aos seus encantos. Na noite seguinte, embora
ele tivesse tomado o cuidado de dormir entre seus companlieiros, ela veio e
levou-o cativo. Eles foram para as montanhas onde tudo era calmo e bonito.
Enlâo, ele foi tomado de loucura. Um dia, quando a "muilier-troll" trouxe-
lhe algo para comer,ele reparou que a mulher tinha rabo de vaca; ele deu um
jeito para que ela prendesse sua cauda na fenda de um tronco de árvore- e
escreveu o nome de Cristo na madeira. Ela fugiu num piscar de olhos e seu
rabo ficou no tronco e clc, então, viu que sua comida era simplesmente ração
de vaca.
Tempos depois ele deparou com uma cabana no bosque e lá viu uma mulher
e uma criança, ambas com rabo de vaca. A mulher falou à criança — "Vai e
traga para seu pai um copo de cerveja". O homem ao ouvir isso fiigiu em
disparada, horrorizado. "Ele retomou são e salvo para sua cidadezinha, mas
ficou um pouco esquisito pelo resto de seus dias."
(1B1D, p. 194)
Citado por Franz(1990 p. 166)
Segundo Franz(1990), existe duas formas de um homem se perder, dominado
pelo perigoso feitiço exercido pela Anima, quando seu ego e força de vontade são
fracos. A primeira forma é quando o homem resolve seguir sua Anima, neste caso ele
38
perde o contato humano e volta ao estado selvagem. A segunda forma de perigo ocorre
quando o homem tenta reprimir sua Anima e isto significa uma perda do espírito e da
energia. Nesta história o lenhador fugiu de sua Anima, ficando um pouco esquisito pelo
resto de sua vida.
Geralmente a Anima é representada como um espirito miraculoso, ou um
animal feroz e freqüentemente aparece como horrível e mortal. No caso da mulher, o
modo de lidar com o arquétipo Animus é diferente e mostram que o modo do homem
lidar com sua Anima é diferente do modo como a mulher deve lidar com seu Animus.
O homem segundo Franz(1990) na sociedade primitiva tinha como natural à
função de caçador e guerreiro. Matar era uma característica de seu papel na sociedade,
e, portanto o Animus, sendo masculino, carrega essa função.
Já a mulher, por gerar filhos, está a serviço da vida, portanto a Anima no
homem o liga a vida. É por isso que nos contos a Anima raramente aparece como capaz
de causar a morte já que é o arquétipo da vida para o homem.
O Animus na sua forma negativa retira a mulher da existência e mata a vida
que existe nela. O Animus está ligado a espectros e a própria morte.
Tanto a Anima quanto o Animus possuem um aspecto positivo quanto um
aspecto negativo. No aspecto positivo esses arquétipos contribuem para o crescimento
do ego, integrando-o em todos os aspectos que fazem uma personalidade, fazer emergir
o Self como ideal a ser alcançado.
Os dois contos que são narrados a seguir mostram claramente o efeito
desastroso que o Animus negativo exerce sobre uma mulher.
"A ESPOSA DO ESPIRITO DA MORTE"
"Uma mulher que rejeitava todos os pretendentes aceita o Espirito da Morte
quando ele aparece. Enquanto ele sai para trabalhar, ela vive no castelo. Um
dia, seu irmão vai visitar os jardins do castelo do Espirito da Morte e eles
passeiam juntos. O innão salva sua innã e trazendo-a de volta para a vida.
ela descobre, então, que esteve ausente durante 5.0(K) anos."
(Franzosische Voiksmarcben, p. 141)
Citado por Franz(1990,p. 194)
Uma variação cigana com o mesmo título conta o seguinte;
"Um viajante desconhecido chega a uma cabana afastada, onde vive uma
moça solitária. Ele recebe comida e abrigo por alguns dias e apaixona-se por
ela. Eles se casam e, uma noite, ela sonha que ele estava branco e gelado e
que era o Rei dos Mortos. Ele, então, ó obrigado a deixa-la para cumprir sua
39
missão macabra. Quando, finalmente, ele revela que de fato é o Rei dos
Mortos, ela morre de susto."
Zlgeunermárchen, p. 117
Citado por Franz(1990, p. 194)
O Animus na mulher exerce um efeito desastroso e muitas vezes moital. No
conto A esposa do espirito da Morte a mulher foi salva por seu irmão o que significa
que ela aceitou o Animus primeiramente de forma negativa, levando a vagar como
morta e depois ao receber o seu irmão ou seja harmonizar-se com sua energia interior
foi resgatada e voltou a viver. Na versão cigana a mulher entra em contato com seu
Animus sem estar preparada interiormente e acaba morrendo. Se a mulher aceitar de
forma positiva o seu Animus ela estará integrando e harmonizjmdo suas energias o que
contribuirá para a formação de um ego saudável que por sua vez servirá para o
surgimento do Self.
5. AS TRÊS PLUMAS
Interpretação de um conto dos irmãos Grimn segundo as teorias de Freud e de
C. G. Jung.
"AS TRÊS PLUMAS"
"Era uma vez um rei que tinha três filhos. Dois eram espertos e
inteligentes, mas o terceiro não falava muito c era simplório, por isso
chamavam-no de "Tolo. O rei estava velho e fraco, pensava na proximidade
de sua morte e não sabia qual dos seus filhos devia herdar seu reino. Então,
um dia, o rei disse a seus filhos que eles deveriam sair pelo mundo e aquele
que trouxesse o tapete mais bonito se tomaria rei quando ele morresse. Para
evitar qualquer briga entre eles, o rei os acompanliou até a fiente do castelo,
assoprou três penas no ar e disse "Para a direção que elas voarem, vocês
deverão seguif'. Uma pena foi para o leste, outra para o oeste e a terceira
voou só um pouco para a frente e caiu no chão. Logo, um innão seguiu para
a direita, outro para a esquerda e eles riram do Tolo que tinha que ficar onde
a terceira pena caiu no chão. O Tolo sentou-se no chão e estava muito triste,
quando de repente ele notou que havia um alçapão ao lado da pena. Ele
levantou-se, abrindo-o, encontrou degraus que desciam; ele desceu as
escadas para dentro da terra. Ali, encontrou uma outra porta, onde bateu e de
dentro saiu uma voz que dizia;
- Senhorita-Rãzinha verde e pequenina.
Encolha a perna.
Encolha a perna do cachorrinho.
Encolha para frente e ptara trás.
Vá depressa ver
Quem está a bater.
A porta se abriu; o Tolo viu uma rã enorine e gorda sentadíi com
varias rãzinlias em volta, circimdando-a A Senhora-rã então, pergrmtou-ihe
o que queria ele disse que gostaria de ter o tapete mais fino e mais bonito.
Ela chamou uma rãzinlia e disse:
- Senhorita-Râzinha verde e pequenina
Encolha a pcma.
40
Encolha a perna do cachorrinho,
Encollia para frente e para trás
Vá e a caixa grande me traiás.
A jovem-rã, correndo trouxe a caixa; a senhora-rã abriu-a e tirou de
dentro lun tapete tão lindo e tão delicado, que jamais poderia ter sido tecido
na terra, e deu-o para o Tolo. Ele agradeceu e subiu novamente as escadas.
Os outros dois irmãos pensavam que o irmão mais novo, sendo tão
tonto, nunca seria capaz de encontrar coisa alguma, e assim eles compraram
mantas grosseiras que a primeira pastora que encontraram estava usando.
Juntos chegaram em casa os três irmãos, e quando o rei viu o tapeie tão
lindo do Tolo, disse: 'por direito o reino deverá ser entregue ao maisjovem'.
Mas, acontece que os outros dois irmãos não deixaram o pai em paz,
dizendo ser impossível entregar o reino ao Tolo, pois ele era tão estúpido e
pediram, então, que se fizesse outra prova.
Então o rei disse:'Quem trouxer o anel mais bonito terá o reino'. E
outra vez as três penas foram sopradas. Os irmãos mais velhos foram para
leste e oeste, e para o Tolo a pena caiu em fiente, no chão.
Como da vez anterior, o Tolo desceu ate a sala onde estava a
senhora-rã e disse-lhe que precisava do anel mais bonito. Ela abriu uma
caixa, tirou de lá um anel cheio de pedras preciosas e tão lindo que nenhum
ourives da face da terra seria capaz de fazê-lo. Os outros dois rrmaos nram
ao saber que o Tolo saíra em busca de um anel de ouro, e eles por sua vez
não encontraram dificuldade na tarefa e se contentaram em trazer um anel de
uma velha roda de carroça. Quando o Tolo mostrou seu anel de ouro, o rei
falou que o reino lhe pertencia. Novamente, os dois irmãos não deixaram o
rei em paz,e pediram-Uie que fizesse uma terceira prova. E o rei então disse:
'Quem trouxer a noiva mais bonita terá o reino'. Ele soprou as penas, e os
filhos seguiram as direções das mesmas. O Tolo foi ao encontro da senhorarã, e disse que agora precisava levar a mulher mais bonita para sua casa.
'Ah! disse a rã, a mulher mais bonita não se encontra à mão assim tão fácil,
mas você a terá.' Ela, então, lhe deu uma cenoura com um buraco no meio e
presos a ela seis ratinhos. E o Tolo, muito triste, disse:'O que eu devo fazer
com isso?' A rã respondeu-lhe que ele deveria colocar uma de suas razinhas
dentro da carrocinlia. Ele apanhou, ao acaso, uma das lãzmhas que
circundavam a senhora-rã, e colocou-a na carrocinlia. Mal ela se senta ejá se
transforma numa linda moça; a cenoura numa carruagem e os seis ratos em
cavalos brancos. Ele a beijou e dirigiu a carruagem para o palácio. Os
irmãos comportaram-se da mesma maneira que das vezes anteriores e
voltaram para casa com as duas primeiras camponesas que encontraram.
Quando o rei os viu disse:'O reino será do mais jovem quando eu morrer'.
E, novamente, os dois irmãos começaram a reclamar dizendo que não
deveria ser assim e, então, propuseram que aquele cuja esposa saltasse
através da argola que estava pendurada no teto deveria ganliar o reino. Eles
pensavam que as duas camponesas tivessem mais chances de vencer, pois
eram muito mais fortes que a esposa do Tolo, que era uma moça muito
delicada. O velho rei concordou e as duas camponesas saltaram, mas elas
eram tão desajeitadas que quebraram braços e pernas. Por outro lado, a
mulher do Tolo saltou tão leve quanto um veadinlio atravessando a argola.
E, então, não foi possível mais fazer nenhuma objeção, os irmãos tiveram
que aceitar a perda, e o Tolo ganhou a coroa e reinou com sabedoria por
muitos e muitos anos."
Irmãos Grímn,citado por Franz(1990)
41
5.1- INTERPRETAÇÃO DO CONTO: AS TRÊS PLUMAS SEGUNDO A
PSICANÁLISE
Para a psicanálise o entrar na terra significa para Bettelheim (1988) uma
descida ao inferno, ou seja, um mergulho no inconsciente enquanto seus irmãos andam
sem destino pela superfície. É nesse mergulho do inconsciente que o mais novo
encontrará sua maior força.
Quando o irmão mais novo pede a rã que encontrou no interior da terra para
lhe dar o mais belo tapete, ele retoma a casa de seu pai, que compara os tapetes e vê que
o tapete dos dois outros irmãos eram tecidos grosseiros, pois eles achavam que não era
necessário grandes esforços já que o tolo não conseguiria o melhor tapete. O Rei
compara os tapetes e dá o direito de herdar o reinado ao seu filho mais novo. Os dois
irmãos não aceitam e pedem ao Rei uma segunda chance.
Desta vez o Rei solicita que os irmãos partam em busca do mais lindo anel.
Novamente o Rei sopra as três plumas e novamente as três plumas caem exatamente na
mesma direção. O tolo recebe um lindo anel da rã e os outros dois trazem os pregos do
aro de uma velha carmagem.
Outra vez o Rei diz que o irmão mais novo merecia o trono, e os irmãos mais
velhos voltaram a suplicar ao Rei uma terceira chance.
As três plumas separadas caem para cada um dos irmãos no mesmo local.
Desta vez o Rei solicitou que os irmãos fossem em busca da mais linda mulher.
Os dois irmãos que vagaram pela superfície encontraram apenas coisas
grosseiras, apesar de parecerem espertos, e isso nos mostra a limitação de uma mente
que não está sustentada pelos poderes do inconsciente, tanto do id, como do superego.
Isso nos mostra que o inconsciente é a fonte da arte e da criatividade e que ao
emergirem para a consciência são executadas pelo ego o que indica uma integração da
personalidade.
Quando uma pessoa se isola de seu inconsciente, não cresce e não aprecia a
beleza do mundo.
42
5.2- INTERPRETAÇÃO DO CONTO: AS TRÊS PLUMAS, SEGUNDO AS
TEORIAS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Segundo Franz (1990), este é um conto que mostra uma família sem a
presença do feminino. Nesta história não há mãe e não há irmãs, portanto a ação
principal é a busca do feminino, pois a união do masculino e feminino significa o futuro
do Reino.
O tolo (herói) é ajudado nessa tarefa e durante toda sua jornada pela rã que
representa o feminino que está faltando no Reino. A história termina com um
casamento, que significa a união equilibrada dos princípios masculino e feminino.
Toda a estrutura deste conto mostra uma atitude masculina dominante e a
omissão do elemento feminino e, no desenrolar da trama vemos o elemento feminino
sendo trazido a luz e restaurado.
A rã neste conto representa o elemento feminino. O Rei simboliza o SELF,
que é eterno, mas que precisa ser renovado. O tolo representa ser o restaurador da
situação sadia do Reino.
Quando o tolo transforma a rã numa princesa percebe-se que ele é
simplesmente espontâneo e natural. Ele aceita as coisas como elas são. Enquanto o tolo
é capaz de se curvar e ver o que está no chão, bem diante de seu nariz a maioria das
pessoas não são humildes para se curvar diante da vida.
Após vermos a interpretação do Conto — As três plumas, segundo as teorias da
psicanálise e da Psicologia Analítica e necessário falarmos um pouco sobre as
dificuldades de adesão ao tratamento dos alcoolistas. O próximo capitulo esta
relacionado com a história do alcoolismo, bem como as dificuldades que o alcoolista
enfrenta para aderir ao tratamento.
6- O QUE E ADESAO AO TRATAMENTO DOS ALCOOLISTAS?
A seguir estaremos vendo um pouco da historia do alcoolismo para depois
entrarmos no tema da adesão ao tratamento dos alcoolistas
6.1- HISTÓRIA DO ALCOOLISMO
Os manuscritos antigos mostram que desde os tempos mais remotos, o homem
descobriu as bebidas alcoólicas, principalmente o vinho e a cerveja. Na Bíblia existem
43
relatos de personagens históricas que se embebedaram com vinho, como é o caso de
Noé, que plantou a primeira vinha após o dilúvio. Alguns historiadores dizem que o
vinho foi descoberto por um Rei da Pérsia. Também outros historiadores atribuem a
Dionísio-Baco, a criação do vinho(CAVALHEIRO, 1971).
As bebidas alcoólicas foram produzidas de forma artesanal até o século XVXII.
A partir da revolução industrial iniciada na Europsi, a humanidade começou a produzir
bebidas alcoólicas industrializadas, como o gim, com teor alcoólico ainda maior que o
vinho e a cerveja,
(LARANJEIRA. PINSKY, 1997)
.
É importante lembrar que o álcool na forma de vinho ou cerveja, foi também
uma forma de se ingerir água pura, principalmente durante longas viagens ou nas
marchas de guerra. Era comum em Roma, os soldados receberem vinho como parte do
pagamento do salário.
6.2- ADESÃO AO TRATAMENTO
A adesão ao tratamento dos alcoolistas ou usuários de substancias
psicoativas em geral é muito baixa, pois são freqüentes essas pessoas não reconhecerem
a sua dependência.
E comum ouvirmos um alcoolista dizer: "eu não sou bêbado. Eu paro a
hora que eu quiser." Algumas pessoas chegam ao CAPS com encaminhamento judicial,
por terem se envolvido em algum crime ou perdido a guarda dos filhos, e mesmo
sabendo o motivo que os levou ao CAPS, na entrevista inicial dizem que não sabem
porque estão ali e que não têm problemas com bebidas.
O não reconhecimento da dependência alcoólica é um dos primeiros e
talvez o maior motivo da baixa adesão ao tratamento dos alcoolistas, por esse motivo, o
tratamento no CAPS, para alcoolistas deve despertar o interesse e a vontade dessas
pessoas em se tratarem.
Os métodos tradicionais de tratamento, como as psicoterapias em suas
diversas abordagens, não são atrativos, principalmente para uma pessoa já transtornada
pelos efeitos nocivos do álcool ou drogas. Sem a ajuda externa o alcoolista não
consegue livrar-se de sua dependência alcoólica e isso só acontecerá se ele reconhecer
que está doente e necessita de ajuda. Portanto é ele que deve dar o primeiro passo,
reconhecendo sua impotência diante do álcool(PAUPITZ, 1987).
44
Outro motivo que impede a adesão ao tratamento são os sintomas de
abstinência que provocam enorme mal-estar e fazem com que os alcoolistas desistam de
tratar-se.
Os sintomas de abstinência são divididos em três grupos. Segundo
Laranjeira e Pinsky(1997);
A) FÍSICO- Tremores, Náuseas, Vômitos, Sudorese, Cefeléia, Câimbras, Tonturas.
B) AFETIVOS — Irritabilidade, Ansiedade, Fraqueza, Inquietação, Depressão.
C) SENSO PERCEPTIVOS — Pesadelos, Ilusões, Alucinações: Visuais, Auditivas
ou Táteis.
O uso do álcool pode provocar quadro de depressão e ansiedade, nesse caso, a
moderna Psiquiatria e a Psicologia possuem meios avançados de tratamento, porém
quando o indivíduo tem ansiedade e depressão como primeiro sintoma, ele não facilita o
acesso ao tratamento pois a bebida é encarada como uma fonte de alívio de tensão. O
ato de beber, nesse caso, provoca pelo menos nos primeiros estágios da doença, um
aparente bem estar, o que impede que essa pessoa queira aderir ao tratamento. Ela se
acomoda com essa situação e fica com receio de alterar o suposto "equilíbrio" de sua
maneira de viver.
Pauptiz( 1987)afirma que algumas pessoas bebem para obter alívio de suas
tensões psico emocionais e também para se liberarem de um desconforto físico.
A família também pode ser um fator de contribuição para a adesão ao
tratamento. Se o alcoolista perceber que é amado e é apoiado pela família, ele se sentirá
mais impulsionado para solicitar ajuda.
Por último, as condições Sociais do indivíduo podem gerar um estado de
desânimo e conseqüente desinteresse pela vida. A falta de emprego, a solidão, os
constantes e aparentes fracassos no trabalho, ou no campo profissional, podem criar um
estado de incapacidade que desmotive a pessoa alcoolista a desejar a cura. Pouco a
pouco a pessoa vai vivendo uma vida de Suicídio ou Autodestruição. A vida neste caso
já não tem mais atrativos.
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7- OFICINA DE TEATRO NO CAPSad de PONTA PORÃ.
O CAPSad foi criado em Julho de 2002 na fronteira entre Ponta Porã e Pedro
Juan Caballero sendo considerada uma fronteira livre e exemplo de convivência fraterna
entre dois povos. Não existem muros, barreiras ou guardas armados, e os dois povos,
respectivamente brasileiros e paraguaios possuem acesso pleno e liberdade para
circularem livremente entre os dois paises. Também existem nas duas cidades,
comunidades numerosas de japoneses, chineses, coreanos, noites americanos, franceses,
russos, menonitas, árabes, suíços, alemães, africanos e cidadãos de todas as partes do
mundo.
Todos convivem de forma pacifica e se integram ao modo de vida da região.
Nossa fronteira e o seu modo fraterno de convivência e respeito mutuo é citada no
mundo todo como modelo a ser seguido.
Graças a esse fator esta região se constituiu num centro de grande riqueza
cultural e social. Por ser fronteira, também apresentam um lado negativo caracterizado
pelo trafico de drogas, sendo muito fácil o seu acesso. Qualquer pessoa pode comprar
pacotes de Crack, maconha ou cocaína. Por
1,00 (Real), Ponta Porã tem
aproximadamente 70 mil habitantes e Pedro Juan Caballero 80 mil habitantes. Existe
um enorme fluxo de turistas em todas as psirtes do Brasil, bem como europeus, norte
americanos e japoneses vindos de assunção e dirigindo-se para o pantanal no Mato
Grosso do Sul. Apesar do intenso numero de turistas existe um alto índice de
desemprego aliado a um baixo poder aquisitivo da população baixo grau de instrução da
população, baixo grau de instrução e deficiente oferta de alternativas de lazer o que tem
propiciado a indução ao uso de álcool e drogas. São atendidos nos CAPS tanto
brasileiros quanto paraguaios.
Quando um alcoolista ou usuário de substância psicoativa, chega ao CAPS de
Ponta Porã e é convidado para participar do grupo de teatro, a tendência é dizer não,
pois já vem debilitado em seu estado físico e psicológico. Então ele é convidado a
participar apenas como "ouvinte" ou para auxiliar na produção das peças.
As peças ensaiadas e apresentadas antes de Janeiro de 2006, tinham como
roteiro a vida e o cotidiano dos usuários de álcool e drogas.
A ultima peça apresentada foi feita com a participação dos pacientes,
funcionários e jovens do grupo católico de Ponta Porã. Dos trinta pacientes intensivos
que se tratavam no ano de 2005, apenas onze pacientes quiseram participar dos ensaios.
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Durante as oficinas eram realizadas danças, exercícios respiratórios, jogos dramáticos,
porém o envolvimento emocional e o interesse dos artistas não eram satisíàtóríos.
Percebia-se que realizavam os exercícios de forma mecânica, um ou outro se sobressaía.
A apresentação da peça foi feita no 11° Regimento de Cavalaria Mecanizada
de Ponta Porá, e o evento foi organizado por representantes do grupo dejovens da igreja
Católica, contando com o auxílio dos jovens da igreja Batista e da Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias e comunidade.
A apresentação foi um sucesso, inclusive o publico foi tomado por forte
emoção devido á forma franca, porém simples com que os artistas atuaram. O sucesso
da apresentação ocorreu mais pela coragem dos artistas, do que pelo roteiro da peça que
era bastante simples e elaborada pelo próprio grupo de forma amadora.
A partir de Janeiro de 2006 as oficinas foram ensaiadas da mesma forma, com
a diferença dos temas. Os roteiros foram alterados e os temas míticos foram
acrescentados.
Foram narrados os mitos de Dionísio-Baco, Édipo, Eros e Psique, Bela
Adormecida, Branca de Neve e as Três Plumas. A igreja secreta, A estrela. Os três
porquinhos. Narciso, A mulher do bosque, A esposa do espírito da morte e outros.
O que se percebeu foi uma sensível mudança no comportamento dos artistas.
No primeiro e segundo ensaio com a apresentação das narrativas dos contos e mitos, os
participantes ficaram apenas calados, ouvindo como crianças, completamente atentos às
histórias. No terceiro ensaio eles começaram a interagir e quiseram também contar os
contos de sua preferência. Alguns fizeram confusão contando histórias com personagens
trocados, sendo então corrigidos pelos outros e todos começaram a rir. A harmonia e o
interesse cresceram. Colhemos depoimentos espontâneos de membros da comunidade
que relataram que alguns deles contavam com orgulho que faziam parte do grupo de
teatro do CAPS de Ponta Porá.
Durante o ensaio do Conto a Igreja Secreta os atores participaram ativamente
dando opiniões, e acabaram dividindo-se em dois grupos. O primeiro grupo foi formado
pelos que não seguiam uma religião especifica e do outro grupo faziam parte os
evangélicos. Os integrantes do primeiro grupo diziam que a moça era um anjo e que o
pastor poderia ser um demônio. Apesar de não falarem em Jesus Cristo na história isso
não significava que não era de Deus. Um dos integrantes do grupo dos evangélicos saiu
da sala, visivelmente abalado, dizendo que não estava lá para discutir sobre religião.
47
Depois de 15 minutos retomou a sala, e aparentemente estava calmo como se nada
ocorresse, retomando a conversação.
«O MITO DE ÉDBPO"
Os estudiosos da mitologia grega consideram Édipo como o mais
trágico de seus mitos.
Édipo nasceu na cidade de Tebas, filho dos reis Laio e Jocasta.
O oráculo de Tebas prognosticou aos reis que o filho que nasceria
mataria o pai e se casaria com a mâe.
Ciente disso, assim que Édipo nasceu seu pai, o rei Laio, mandou
que o amarrassem em uma arvore no Monte Citeron e lá o abandonassem.
Mas Édipo foi encontrado ainda com vida por um pastor que o
levou para cidade de Corinto, sendo depois adotado pelo rei Políbio. O rei,
então, deu-lhe o nome de Édipo, que significa "o dos pés inchados".
Com o passar do tempo, Édipo já adulto, exigiu do rei Polibio que
lhe dissesse quem eram seus verdadeiros pais. Não obtendo resposta do rei,
ele vai até a cidade de Delfos a fim de consultar o oráculo para dirimir sua
duvida.
Mas o oráculo de Delfos, ao invés de dizer-lhe quem eram seus
verdadeiros pais, ao contrário, predisse que Édipo mataria o pai e se casaria
com a própria mãe.
Desesperado, Édipo volta para Corinto, m^ em seu caminho
encontra um ancião que viajava com algims criados. Edipo desentendeu-se
com esse grupo matando o ancião e seus acompanhantes. Esse ancião era o
rei Laio, seu próprio pai.
Continuando sua viagem, Édipo passa por Tebas e soube que a
cidade estava ameaçada pela Esfinge, um monstro metade leão e metade
mulher. Esse monstro propiuiha um enigma para todos os viajantes e era
devorado quem não conseguisse decifra-lo. O enigma era o seguinte: "que
animal caminha de quatro pés pela manhã, de dois ao meio-dia e de três à
noite?".
Esse enigma também foi formulado pela Esfinge a Édipo e este
respondeu: "é o homem, porque engatinlia na infância, e anda com os dois
pés na idade madiua e se ampara com um bastão na velhice".
Tendo Édipo dado a resposta certa, a Esfinge matou-se. Os tebanos,
então agradecidos, fizeram Édipo rei de Tebas e lhe deram Jocasta por
esposa.
Desta maneira, Édipo desposou a própria mãe, sem saber de seu
parentesco. E dessa união nasceram quatro filhos.
Muitos anos depois, chegou um elemento de Corinto com a triste
noticia da morte do rei Polibio e de sua esposa. Por este elemento, Édipo
soube sua origem.
Horrorizada, Jocasta identificou Édipo como seu legítimo filho,
matando-se com as próprias mãos. Édipo, no auge de seu desespero,
arrancou os seus próprios olhos.
Desiludido e infeliz, passou a andar sem rumo, como um mendigo,
tendo sempre ao seu lado sua filha Antigona.
Durante o ensaio de Édipo todo o grupo mostrou-se mais lento e reflexivo.
Quase não fizeram comentários na hora de discussão em grupo durante as experiências
vividas no ensaio. Um dos integrantes disse: esse ensaio me ensinou muito e me fez
pensar em minha vida. Outro artista-alcooiista disse: senti uma coisa muito grtinde
dentro de mim depois de ouvir esta historia.
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Quando foi ensaiado a peça os 3 porquinhos na hora dos comentários em
grupo, quatro integrantes fizeram analogia com suas vidas e perceberam que se não se
mostrassem fortes e trabalhassem duro acabariam morando na rua, pois perderiam suas
famílias ou seriam expulsos de casa. Outro integrante disse que gostava do teatro, pois
sentia-se relaxado e os contos ajudavam a pensar. Sentia-se feliz em escutar as
narrativas e ensaiar as peças. Mostraram-se entusiasmados e queriam apresentar as
peças nas escolas do Brasil e do Paraguay.
"EROS E PSIQUE"
Apesar de tanta beleza. Psique não era amada, pois todos se
aproximavam dela como se fosse mna das imortais, irremediavelmente só.
sem marido e sem amor. Começou a odiar em si mesma a beleza que
constituía o encantamento de nações inteiras. O pai recorrendo ao Oráculo
de Apoio na expectativa de que a filha obtivesse um marido, recebeu tuna
terrível resposta. Psiquó deveria ser exposta num rochedo escarpado, onde
um temVel monstro se uniria a ela nas núpcias da morte. Psique sem desejar,
tinha despertado a ira de Afrodite, cujos templos e cultos haviam sido
abandonados por todos, que agora adoravam aquela que consideravam a
encamação da deusa da Beleza. Irritada, A&odite pede a Eros, seu filho, que
faça Psique se apaixonar pelo mais horrendo dos homens. Quando vai
cumprir a missão, Eros se apaixona, salva Psiqué da morte no rochedo, levaa para seu palácio paradisíaco e faz dela sua mulher. Porem, o deus só se
junta a ela durante a noite e desaparece antes do amanhecer. Isolada de
todos, Psiqué vive unicamente para os encontros com seu amante noturno.
Suas irmãs, casadas com homens a quem odiavam, descobrem que
Psiqué não havia morrido no rochedo. Apesar dos protestos de Eros, ele
autoriza a vinda das irmãs a seu palácio. Com a inveja típica das mulheres
insatisfeitas, planejam destruir a felicidade de Psiqué assim que descobrem
que ela, apesar de grávida, nunca havia visto o rosto do amante. Conseguem
convencer Psiqué a iluminar-lhe o rosto e depois lhe cortar a cabeça, um
símbolo de castração sublimado. Mas ao fazê-lo, Psiqué descobre que o
homem a quem ama é Eros, o próprio deus do Amor. Loucamente
apaixonada, começa a beijá-lo e, sem querer, derrama em seu ombro o óleo
fervente do candeeiro. Descoberto e ferido, Eros, foge e vai se curar no
palácio da mãe. Desesperada, Psiqué tenta se matar, mas é impedida por
Pan, o velho sábio, que a aconsellia a reconquistar seu amor. Afrodite ao
saber da pai.\ão do filho, não poupa de sua íüria e consegue com Zeus, o
senhor supremo do Olimpo, que Hermes, o mensageiro dos deuses, anuncie
ao mundo que uma de suas escravas havia fugido. Perseguida. Psiqué
resolve se entregar à sogra, que Uic inflige todos os tormentos. Depois disso,
impõe os quatro famosos traballios.
Como primeira tarefa, Afrodite manda trazer diversos tipos de
grãos, faz com eles um monte e ordena a Psiqué que os separe por espécie.
Tarefa para o mesmo dia! A jovem nem tenta pois isso seria impossível.
Uma formiguinha que por ali passava, indignada com a cmeldade da deusa,
convoca um batalhão de formigas que realizam o trabalho.
A segunda tarefa consistia em trazer flocos de lã de ouro dos
carneiros ferozes. Desesperada, Psiqué resolve se jogar nvun rio, mas um
junco humilde lhe ensina como cumprir a ordem. E.xplica que os carneiros
possuem poderes mágicos e destruidores porque, enquanto o calor os
aquece, são possuídos de uma raiva feroz. Ela não deve se apro.ximar deles
durante o dia, mas ao anoitecer pode recolher os flocos de lã presos nos
arbustos.
49
A terceira tarefa era trazer uma jarra cheia com água que
alimentava dois rios infernais. Psiqué não tinha nenhiuna esperança de poder
cumpri-la porque a fonte brotava de um penhasco íngreme e era guardada
por dois terríveis dragões. Enquanto pensa em se matar, surge a águia de
2^us, símbolo espiritual masculino, que realiza a tarefa para ela.
No quarto trabalho, Aírodite dá a Psiqué uma caixinha, ordena-lhe
que desça ao Hades e peça a Perséfone, esposa de Plutão, um p>ouquiiiho de
teleza imortal. É então que Psiqué compreende que esta sendo enviada à
morte. Sobe a uma torre muito alta a lim de se jogar lá de cima. A torre,
porém,e.\plica-lhc como se precaver na longa caminhada pelas trevas.
Uma vez percorrido um bom trecho, encontrará um burriqueiro
coxo, conduzindo um asno igualmente coxo, carregado de lenha, o
burriqueiro vai pedir-Uie que apanlie algumas achas caídas no chão, mas ela
de\'e ignorar o pedido e seguir em frente. Em plena travessia dos rios
infernais, lun velho erguerá do fundo das águas a mão podre e implorará
para que ela o puxe para dentro do barco de Caronte, mas Psiqué não deve
se deixar vencer pela piedade ilícita. No caminho do palácio de Perséfone e
Plutão, umas velhas fiandeiras irão solicitar sua ajuda. Deve prosseguir seu
caminho.
Na mansão de Hades,Perséfone a convidará para sentar e participar
de um lauto jantar. Deverá recusar ambas as gentilezas. Depois de expor o
motivo da viagem e tendo recebido a encomenda de Afiodite, deve voltar
imediatamente, mas em hipótese alguma poderá abrir a caixinha.
Psiqué faz tudo como a torre disse. Na volta, é tomada de grande
ciuiosidade; "Sou mesmo uma tola. Trago comigo a beleza divina e até
agora não peguei um pouquinho para mim, a fim de conquistar o meu
lindíssimo amante. "Assim dizendo, abre a caixinha que não contém
nenliuma beleza imortal e, sim,o sono da morte, que se apodera dela.
Eros já curado do ferimento, morto de saudades da esposa e
adivinhando o que se passava encontra Psiqué, recoloca na caixinha o sono
letárgico e desperta sua Bela Adormecida com o leve toque de uma de suas
flecltas. Repreende-a delicadamente e pede que conclua sua última tareÊi.
Ele fará o resto.
Enquanto Psiqué leva a caixinha à mãe de Eros, este pede ajuda a
Zeus. O senhor do Olímpio ordena a Hermes que convoque todos os deuses
para uma assembléia onde revela seu julgamento: "Eros escolheu uma
donzela e roubou-lhe a viigindade. Que ele a possua, que ela o conserve para
sempre, que ele goze de seu amor e tenha Psiqué em seus braços por toda
eternidade."
Com a aprovação dos imortais, Zeus ordena a Hermes que rapte
Psiqué da terra para o céu. Assim que ela chega, oferece-lhe uma taça de
Ambrósia, a bebida da imortalidade. Depois de um esplêndido banquete, e
sob as bênçãos de Aírodite, Eros e Psiqué se "re-unem" para sempre.
Tiveram uma menina chamada Volúpia, que quer dizer, o prazer, a bemaventurança.
(AMORC CULTURAL,3" trimestre 2004,P.6 a 8.)
A narrativa do Mito, Eros e Psique foi contada numa sexta-feira e voltamos a
nos encontrar na terça-feira. Um dos pacientes comentou sobre Eros e Psique e disse
que ao ouvir a História sua vida mudou, dizendo: "gostei de saber que temos uma luz e
uma sombra. O lado da luz é o lado feminino. Eu me senti muito sensível. Descobri as
lagrimas. Neste sábado eu alcancei a benção da minha mãe. Neste sábado depois da
benção da minha mãe eu mudei a minha vida (o artista neste momento limpa as
50
lágrimas dos olhos). Estou vencendo graças ao teatro e aos contos.Eu não dava valor ao
lado feminino (mais lágrimas nos olhos). Vale a pena continuar os ensaios".
A estrela é uma lenda dos índios norte-americanos. A seguir estaremos
apresentando narrativa da lenda a "Estrela".
"A Estrela"
"Um jovem que vivia na cabana dos solteiros toda noite oiliava para luna
estreia briiliante e suspirava dizendo: "Que pena eu não poder colocá-la na
minha botija e assim poder admirá-la o dia inteiro". Um noite ele acordou de
um sono profundo em que sonhava com a estrela e viu, ao lado de sua cama,
um linda moça de olhos magníficos, com olhar profundo e penetrante. Ela,
então, contou-lhe que era a estrela que o encantara, atraindo-o todas as
noites. Disse, tainbcin que possuía o dom de se tomar pequenina o suficiente
para caber na sua botija, assim eles poderiam ficar semprejuntos.
Eles passaram a noite juntos, mas, de manhã, enquanto ele tentava colocá-la
no seu frasco, os olhos da moça brilliaram como os de um gato selvagem. O
moço entristeceu-se muito e seus temores foram concretizados quando um
dia ela lhe disse que teria de partir. Ele tocou uma arvore com uma varinha
mágica e esta cresceu bem para o alto, até as nuvens. Em seguida a moça
começou a subir para o céu. Contra a sua própria vontade, o moço seguiu-a.
Embora ela suplicasse que ele não fizesse isso, ele lá foi e, bem no alto da
arvore, descobriu uma grande festa com muita dança. Ele ficou estupefato ao
observar esqueletos dançando em círculos e, confuso, zarpou, fugindo. A
moça novamente apareceu e disse-lhe para tomar mn banho de purificação,
mas foi em vão. Quando ele tocou o chão, teve uma dor de cabeça violenta e
logo depois morreu."
(S. Am.Indianlsche Marchen,Cherente, p. 206.)
Citado por Franz(1990) p.166-167
Depois do ensaio todos associaram a estrela com a droga ou álcool. Se a
pessoa fica fascinada pelo álcool ou droga ela vai morrer. Ficará dominada pelo seu
fascínio e deixará de viver e ser feliz. A pessoa que se deixa dominar perde sua vontade
própria e é como se estivisse morta. Às vezes morre de verdade.
Para deixar a droga ou álcool deve se purificar. O teatro é uma forma de
purificação, e o início de uma nova forma de encarar os problemas do mundo
(Transcrição livre dos comentários dos artistas após o ensaio da lenda, A ESTRELA,
NO CAPS ad de Ponta Porã, 2006)
Ainda estamos na fase de narrativa dos contos, com ensaio simples, pois a
finalidade é observar o efeito que a narrativa dos contos produz sobre os artistasalcoolista. Não estamos dando ênfase a apresentação final. Quando realizamos ensaios
de peças com heróis femininos como Branca de Neve e Bela Adormecidei, percebemos
que ouve um maior entusiasmo e participação dos artistas do sexo feminino. O mesmo
aconteceu quando foram narrados contos como os de Dionisio-Baco, com herói
51
masculino, onde houve maior manifestação através de comentários e mesmo de ação
dos artistas do sexo masculino.
8- O TEATRO E A ADESÃO AO TRATAMENTO - TEORIA E PRATICA
A seguir estaremos narrando o mito de BACO o Deus do vinho, que em Roma
era chamado de Dionisio. Esse mito é o que mais se assemelha com a Vida e o
mecanismo psíquico dos alcoolistas, por isso foi usado como referencia . Os mitos e
contos são patrimônios da humanidade, e não se sabe a autoria de muitos deles.
Estaremos usando neste trabalho as versões colhidas da revista Amorc Cultural, n° 6, -
4® Bi 2000 e também a versão de Alfaro (1993), bem como sua relação com o
alcoolismo.
«DIONISIO - BACO"
Tanto na cultura grega como na romana, era comiun cultuar a
existência de vários deuses, entre eles o deus do vinho Dionisio para os
gregos e Baco para os romanos. Desta religião politeísta cultivada na Grécia,
surge a mitologia grega.
A religião grega é tuna mistura rfas mitologias micênica e dórica,
estes seriam os primeiros povos a ocupar a Grécia. As mitologias são
narrativas sobre deuses que surgiram na historia, sempre com o intuito de
e.xplicar tanto a existência humana, quanto os efeitos sobrenaturais.
Na Grécia, Dionisio era o deus do vinho, da alegria, da fertilidade,
da natureza, e da arte de extrair o mel e também foi grande inspirador para
as famosas tragédias gregas. São muitas as historias que circulam sobre a
trajetória do mito. Ele é o único deus que é filho de uma mortal, e como
Apoio outro deus grego, foi concebido com a juventude etema, também era
bruto, violento e inconseqüente, c entre estas características ele trazia
consigo grande benevolência e alegria.
Originalmente, o deus do vinho havia nascido em T^>as, era filho de
Zeus com Sémele, a princesa de Tebas. Zeus era o principal deus do Olimpo
(céu), e Sémele, embora fosse uma princesa, não passava de uma simples
mortal. Dionisio destaca-se por ser o único deus cujos pais não eram ambos
divinos, Zeus era casado com a enciumada "Hera",e foi esta mesma que
acabou infiuenciando a princesa Sémele a se encaminhar para a própria
morte. Zeus havia prometido a Sémele em nome do rio Estige, que realizaria
qualquer pedido feito pela princesa, e ela pediu a Zeus que se mostrasse em
todo seu esplendor, ele sabia que nenhum mortal poderia sobreviver, mas
devido a promessa, ele acabou cumprindo e Sémele morreu fulminada por
rnn raio.
Apesar da desgraça ele conseguiu salvar o filho que Sémele
carregava no ventre, 2^us enxertou-o em sua coxa, tudo com o máximo
cuidado para que ninguém soubesse. Antes do nascimento o grandioso deus
do Olimpo, o escondeu em lugar secreto, longe da fúria da enciiunada Hera.
Ao nascer, Hermes, o mensageiro do deuses, levou Dionisio para os
cuidados das ninfas de Nisa. Com as niníàs, Dionisio aprendeu a arte de
52
extrair meU e todos os segredos do fabrico do vinho. Já adulto viajou por
desconhecidos lugares, e por onde passava, divulgava e ensinava os
processos de cultivo do vinho, e por todo caminho foi aceito como deus.
Numa tarde, quando tuna embarcação de piratas navegava pela
costa da Grécia, Dionisio foi avistado, era um jovem muito belo, com
cabelos ondulados chegando até os ombros, destacando pelo físico com seus
braços fortes.. Os piratas abordaram o deus, e Dionisio se apresentou como
descendente de poderosos reis. Pensando numa riqueza de ouro e diamantes,
os marinheiros saltaram da embarcação e capturaram Dionisio sem maiores
problemas,já no navio tentaram amarrá-lo, tudo em vão, pois as cordas se
soltavam como íiágeis hos de seda, enquanto Dionisio com seus olhos
negros, os encarava, observando todos os movimentos.
De toda a tripulação só o timoneiro compreendeu o qiie se passava,
e avisou todos os outros a bordo, que o então prisioneiro, era um deus. Toda
a tripulação acabou ironizando o fato, mandando o timoneiro se calar,
quando todos estavam atentos com seus deveres, ocorreu a primeira magia, o
convés se inundou de vinho, enormes videiras cresciam rapidamente pelo
mastro e por todo o navio, em pânico os piratas ordenaram ao timoneiro que
libertassem o prisioneiro, mas a ordem veio tarde, pois assim que haviam
terminado de expressá-la, o cativo havia se transformado em um leão com o
olhar terriilco, perante todos. Os marinheiros desesperados se jogaram em
alto mar, e instantaneamente se transformaram em golfinhos, com exceção
do timoneiro. De volta ao normal, Dionisio disse a ele que recobrasse o
ânimo, pois acabava de ser alvo da bondade do ser que era simplesmente um
deus.
Quando passou pela Tiácia, ainda cm direção à Grécia, Dionisio foi
insultado por Licurgo, um soberano da região. Deprimido se refugiou nas
profundezas do mar, e quando regressou puniu-o, aprisionando-c em imia
caverna rochosa, até que a cólera descontrolada desaparecesse por completo,
e assim aprendesse a reconhecer o deus que havia menosprezado. O mesmo
Licurgo acabaria morrendo cego, pouco tempo depois, vitima da fúria de
Zeus.
Durante suas andanças, Dionisio encontrou a princesa de Crcta,
Ariadne. Era umajovem princesa, que sofria pelo abandono de seu marido,
o príncipe ateniense Teseu. Dionisio, acabou enamorando-se pela princesa,
mas Ariadne veio a falecer. O deus das tragédias gregas pegou uma coroa de
ramos que lhe tinha oferecido, e a colocou no céu entre as estrelas.
O deus do vinho também possuía sua honrosa bondade, porém
sabia ser cruel e como levar os homens a se aprofundarem na agonia e
desespero. Por ser um deus, também havia cultos em homenagem a
Dionisio. Para ele, não existiam templos especificos, pois seus cultos, eram
feitos no alto das montanhas. No inicio era feito somente por mulheres, que
possuídas por Dionisio, corriam nuas pela floresta adentro, escondidas nas
mais altas altitudes, soltavam gritos estridentes e nada as detinha,
dilaceravam tudo que viam, inclusive os animais que se deparavam pela
frente. Após o período de insanidade, deitavam-se ao pé das árvores e assim
faziam renascer toda a paz, magia e suavidade, que somente as mais belas
mulheres conseguem possuir. A adoração de Dionisio acontecia sempre cm
volta destes dois ideais tão distintos, a liberdade mais profunda com o êxtase
mais intenso, e também a brutalidade mais selvagem, o deus do vinho
proporcionava tanto um,quanto outro.
Dionisio foi o ultimo deus a entrar no Olimpo, e quando subiu, foi
sobre uma carruagem puxada por panteras negras, e antes de subir ao céu,
desceu até as profundezas das trevas e buscou sua mãe. No Olimpo os
deuses o aceitaram,como se fosse tuna divindade.
As idéias que ficam a respeito do deus através dos mitos, parecem
contraditórias, enquanto ele é o deus da harmonia, também é o deus do
desequilíbrio. Fica fácil compreender estas facetas, por ser ele o deus do
vinho."O vinho tem tanto de bom como de mau, tem a alegria e aquece os
corações, mas o entorpece também." Os gregos gostavam de ver as coisas
53
como elas realmente eram, não iriam fechar os olhos diante das brutalidades
ocorridas durante o culto a Dionísio, somente a alegria e o êxtase não
apagariam a imagem que o ritual tinha. A associação com a violência era
ine\itável, a razão do por que das reações tão dispares, reside na própria
natureza do respectivo deus, ele era simultaneamente o benfeitor, e o
destruidor dos homens.
Mas a relação do vinho com a população passava dos limites
religiosos, a bebida fazia com que se sentissem "bem", capazes de realizar
tudo que antes parecia impossível. Porem toda esta liberdade e confiança
desapareciam naturalmente, ou quando a embriagues passava, ou quando
receüam uma influencia com um poder maior. Estes motivos faziam com
que as pessoas tivessem tuna relação muito forte com o deus das festas
dionisíacas, não se sabe ao certo em qual momento ocorreu, mas Dionísio,
ainda se tomou o deus mais cultuado em toda Grécia, com o ensinamento de
que o homem deveria viver alegre, e morrer com esperança
Este ambíguo deus, o alegre e cruel, também era um sofredor, ele
sofria não devido á dor provocada pelo afastamento de um ente querido, mas
sim, devido às dores que dilaceravam o próprio corpo, ele era a vinha que
sempre tem de ser podada, os ramos eram cortados, ficando apenas o tronco
maior, completamente nu. Dionísio morria com a chegada do inverno,
transformava-se em mn velho cepo rugoso, contudo renascia sempre no
inicio da primavera Era a alegre ressurreição que se comemorava nos
teatros dionisíacos, ele não era apenas um deus sofredor, era também o deus
das tragédias.
Estas idéias possuíam também um outro lado para ser
compreendido, "garantir que a morte não é o fim, "seus"devotos"
acre^tavam que a morte e a ressurreição de Dionísio, era a prova real de que
o espírito vive sempre, mesmo depois do corpo consumido.
(AMORC CULTURAL N®6 - 4"B,- 2000,P.6-7)
O mito de Baco não é uma criação da cultura Grega, antigas tradições e
religiões existentes antes da civilização grega já faziam referencia ao culto de Shiva que
é uma das faces de Baco. Simultaneamente na índia e na Europa, começeiram a surgir os
ritos do culto á Shiva. Aproximadamente no ano 6000 a.C., em Çatak Hoyuk, na
Anatólia começaram a surgir os primeiros símbolos deste Rito: o culto do Touro, do
Falo, a Dança Estática e os Sacrifícios. Na mesma época, no Egito surgiu o culto à
Osíris. Osíris no Egito, Shiva na índia são na verdade, máscaras do Deus Baco que
também é conhecido como Dionísio em Roma. Os Sumérios e os Babilônios também
possuem referencias literárias que falam de Baco, porém somente durante a civilização
Grega em Creta, os ritos em homenagem a Shiva, adquiriram sua versão dionisíaca,
contribuindo para a formação da história religiosa do mundo Ocidental. Creta, portanto
foi o primeiro lugar(no mundo grego)onde surgiram os elementos do culto á Shiva.
Em Creta o Deus Zagreu é considerado semelhante ou mesmo idêntico a Dionísio.
Até mesmo os hebreus participavam de ritos estáticos, o que indica a
influência dos ritos em homenagem a Shiva. Abraão vinha de UR na Suméria e desde
essa época até Davi eles participavam da dança estática. O rei Davi, nos livros do antigo
54
testamento é conhecido por sua dança em homenagem a seu Deus. Os hebreus foram
influenciados pelo ritual Shivaista.
No Egito, Osíris que é uma face de Dionísio, representa os poderes da geração
e do crescimento e também o Deus das árvores e das plantas.
Dionísio é o criador do vinho e podemos dizer que influenciou quase todas as
religiões do mundo antigo. O ritual cristão até hoje usa o vinho como parte de seu ritual.
Dionísio também tinha o poder de transformar água em vinho.
Zeus segundo o mito apaixonou-se pela princesa Sémele, Zeus era casado com
a Deusa Hera e Sémele era uma mortal. Por ciúme Hera disfarçada de ama convenceu
Sémele a pedir a Zeus que se mostrasse em toda sua glória. Ao fazer isso, os raios e
relâmpagos mataram a princesa. Zeus pegou o filho e enxertou-o em sua coxa. Quando
nasceu o filho, Zeus o entregou a Hermes, o mensageiro que levou Dionísio para ser
cuidado pelas Ninfas de Nisa. Hermes era o Deus dos disfarces. Nisa é a montanha feliz,
o lugar perfeito, idealizado pelos gregos. Este é o lugar da infância de Dionísio. Este
lugar é o Paraíso terrestre. Em Nisa, Dionísio descobre o vinho, numa segunda versão,
Dionísio nasceu dos amores de Zeus e Perséfone, que se chamou de Zagreu. Para
protegê-lo Zeus entregou o filho aos cuidados de Apoio e dos Curetes, seres elementais,
que o esconderam nas florestas do Parnaso. Hera descobriu onde estava escondido
Zagreu e pediu aos Titãs que matassem a criança. Os titãs atraíram o pequeno Zagreu,
com brinquedos místicos: ossinhos, pião e espelho. Para não serem reconhecidos, os
Titãs polvilharam a cara com gesso. Os Titãs mataram Zagreu e cozinharam sua came
num caldeirão e depois o devoraram. Antes de morrer, Deméter salvou lhe o coração e
então Sémele a princesa de Tebas, e filha de Cadmo, fundador de Tebas, engoliram-no
engravidando do Segundo Dionísio. Segundo o mito, Sémele desejava a imortalidade e
Dionisio é o portador do desejo de onipotência da mãe.
Hermes (Mercúrio) é o Deus da eloqüência e das mentiras, dos negociantes e
dos ladrões. Também é o Deus dos disfarces. As máscaras, as ocultações e os disfarces
são comuns na história de Dionísio. O alcoolista, assim como Dionísio, também pode
ser aprisionado no espelho e depois devorado pelos seus Titãs. Os brinquedos dos Titãs
referem-se a fase infantil de Dionísio. O alcoolista é uma pessoa que não cresceu, não
amadureceu, ficando preso ao seu narcisismo.
Vejamos a seguir o Mito de Narciso
"NARCISO"
55
Ainda na mitologia grega, vamos encontrar a lenda de Narciso,
filho de dcusrio Cefiso c da ninfa Leiriope.
Tirésías, um adivinho, informou á mãe de Narciso que seu filho
teria muitos anos de vida, se nunca contemplasse sua própria imagem.
Mas, certa vez. Narciso, ao aproximar-se de uma fonte para beber
água, viu sua figura refletida e apaixonou-se por ela, ficando em
contemplação até consumir-se. E, no lugar onde morreu, nasceu uma flor
que ficou conhecida com o seu nome: Narciso.
Freud em seus estudos da líbido foi o primeiro a relacionar o álcool e a
sexualidade. O alcoolista fica fixado em uma fase infantil narcisista, que significa um
retomo a uma fase onde o sujeito ainda não existe como unidade psíquica estruturada e
ainda não se formou o ego.
No mito. Narciso foi preso pelo espelho, na vida do alcoolista, ele fica preso
ao álcool, pois é este o objeto de seu amor narcisista e é uma espécie de fonte onde ele
busca encontrar sua imagem. A imagem que ele busca no álcool- espelho é uma imagem
idealizada e é isso que dificulta o tratamento, pois a imagem desejada(ideal ), não é
encontrada no tratamento. Ovídio, citado por Alfaro( 1993 )diz que Narciso ao
desprezar o amor da Ninfa Eco foi castigado por uma forma inaudita de loucura,
concebendo um amor por si mesmo. Ao amar sua imagem no espelho - água, ele
buscará esse amor e jamais será satisfeito. É a procura de um objeto inexistente, um
outro inatingível.
O termo Narciso (NARKISSOS) etmologicamente, NARKE em Grego
significa, entorpecimento, torpor. Da mesma forma a flor Narciso era considerada como
estupefaciente. NARKE dá origem a palavra narcótico. O mito de Narciso simboliza no
ser humano a interrupção do crescimento psicológico e consequentemente a morte
psicológica. Narciso era filho de Leiriope Ninfa das fontes. É por isso que ele
procurava, no espelho da fonte, o olhar perdido em que fixou sua libido. O álcool é a
fonte onde o alcoolista procura recuperar sua imagem perdida(ALFARO, 1993 ).
Dionísio na infância foi entregue aos cuidados de Mercúrio o Deus dos
disfarces, das mentiras e dos ladrões, o tratamento do alcoolista visa desmascarar as
negações, os desejos ocultos e suas racionalizações.
Quando Dionísio na infância em Nisa descobre o vinho ele visita a índia, o
Egito e países da Europa e Oriente levando o conhecimento de como fabricar o vinho a
quase todos os países conhecidos. É por isso que ele é conhecido como o Deus que vem
de fora o estrangeiro.
56
O alcoolista tal qual Dionísio é também uma pessoa escondida atrás de sua
máscara que impede que ele seja reconhecido. É sempre um estranho, um outro,
desconhecido, até mesmo por si próprio.
Em Nisa, quando Dionísio descobre o vinho ele é possuído pela mania que em
Grego significa loucura. Segundo o mito, é Hera que enlouquece Dionísio assim como
fez com Hércules.
Na verdade, o que Hera faz é empurrar Hércules a realizar os 12 trabalhos,
Édipo A DECIFRAR A ESFINGE E Dionísio a errar pelo mundo. Isso faz com que o
Herói conquiste o Egito, Etiópia, Líbia, Síria, índia. Pérsia, Arábia, Bactria e Ásia. Em
todos esses lugares conquistou o povo ensinando o cultivo da uva e a produção do
vinho. Dionísio entra em delírio e vagando pelo mundo chega à Frígia, á casa de Cibele,
a mãe dos Deuses também conhecida como grande mãe e mãe de Zeus, seu pai. Cibele
era também conhecida pelo nome de Réia, e esconde seu neto em seu Altar. Réia
purifica e cura o neto pondo fim a sua loucura.
Ao ser curado de sua mania recebe de Réia sua vestimenta, Stolê. Ao receber a
nova vestimenta, Dionísio está purificado e sai do estado de impureza em que se
encontrava durante a Mania.
Dionísio nunca foi feliz no amor. Quando Ariadne foi abandonada por Teseu,
depois de escapar do labirinto, Afrodite prometeu-lhe um novo amor. Quando Dionísio
chega à ilha, conhece Ariadne e por ela se apaixona e casa. Os dois ficam juntos até que
Ariadne envelhece e morre. O casal tem quatro filhos; Enopião, Toante, Estáfilo e
Prepareto.
A perda e a decepção sentimental são comuns entre os alcoolistas. Dionísio
tem dificuldade de relacionamento com os outros, pois só ama a si próprio e Narciso é
outra de suas máscaras o que também mais uma vez demonstra a personalidade
Narcisista dos alcoolistas. É por isso que o alcoolista afirma que é infeliz no amor por
causa de uma mulher, que está no mundo exterior, e nunca dirá que é por causa do
álcool. Ele está neste momentojogando e deslocando seu objeto Libidinal.
Existe também no alcoolismo um homossexualismo não reconhecido tanto no
caso dos homens quanto no das mulheres, e também um grande ciúme. Quando o
alcoolista bebe, ele libera sua afetividade e se toma de certa forma "pegajosa",
abraçando e até beijando os companheiros do mesmo sexo. Quase todos os "bêbados"
costumam falar quase tocando o rosto de quem está próximo. Quando sóbrio ele se
57
mostra ciumento, pois é uma forma de dizer que é sua mulher que ama outro homem e
não ele.
Em Quios, Lesbos, Tenedos e Éfeso praticava-se um ritual com canibalismo e
mesmo em Atenas durante algum tempo foi mantido um ritual onde se matavam vítimas
que eram mantidas em cativeiro para serem usadas em caso de calamidades
A oralidade do alcoolista tem a ver com esses Rituais Canibais em Honra a
Dionísio.
Dionísio sempre se lembrava de sua mãe e antes de subir ao Olimpo, vai até o
mundo dos mortos, reinado por Hades e sua esposa Perséfone. Não diz nada a Hades,
pois prefere falar com Perséfone, e através de presentes e palavras doces traz Sémele de
volta do inferno e a leva para o Olimpo, dando-lhe o nome de Tione, para enganar Hera.
Pela força do vinho adquire o direito de viver no Olimpo como um Deus.
A lembrança de sua mãe, e a descida ao inferno, onde prefere falar com
Perséfone que é também Demeter sua mãe, e a recusa em falar com Hades lembra no
alcoolista o complexo de Édipo.
O alcoolista assim como Dionísio não cresce, mostrando-se sempre imaturo,
um eterno jovem. O alcoolista mostra uma forma de amar imatura e ao mesmo tempo
uma ambivalência sexual.
Dionísio é também considerado o responsável pela tragédia Grega e o drama
Satírico. Isso ocorreu por que suas festas tem características teatrais, e um dos seus
elementos principais é a máscara.
Segundo Alfaro(1993 ), no culto a Dionísio também se recitava o Ditirambo
que é um poema lírico em homenagem ao Deus do vinho. Para apresentação do poema,
os fiéis formam um circulo onde cantam e dançam acompanhados por músicos que
tocam flautas, tamborins e Castanholas que provocam nos participantes a mania.
Por sua vez o drama Satírico consistia em danças mímicas e rituais em honra à
Dionísio. A tragédia é uma evolução do Ditirambo e a etmologia de Tragoidia(
Tragédia )seria tragos( Bode )e Odé( canto ). O canto do bode. Bode que era
sacrificado nos rituais.
No teatro e na vida real o alcoolista é na verdade um herói em sua luta solitária
e dramática contra o álcool. Para que o alcoolista se liberte do espelho ele deve
vivenciar o seu próprio drama através do teatro. No teatro ele deve perceber o jogo por
ele mesmo criado e representado.
58
O primeiro e talvez o mais importante drama a ser representado deve ser o de
Édipo para que através da vivência do Herói ele se perceba como um ser ainda
inacabado em suas estruturas psíquicas e sinta a necessidade de integrar as figuras
masculinas e femininas representadas por Sémele, Reia e seu pai, Zeus.
Depois da representação do drama de Édipo é importante reviver no teatro o
drama de Narciso, pois conseguir a maturidade significa, romper com a vida Narcisista
e infantil criando um Ego forte e capaz de lidar bem com a realidade sem se deixar
sucumbir pelos instintos representados pelo Id ou o sofrimento e desconforto
provocados pelo Superego.
A criança gosta de brincar e quando se interessa por um jogo ela o repete
muitas e muitas vezes a ponto de cansar os adultos envolvidos nesse ato lúdico.
Da mesma forma o alcoolista repete indefinidamente o ato de beber como um
jogo e acredita que pode parar a hora que desejar. Esse jogar adulto é uma forma de
retomar osjogos prazerosos da infância.
No teatro estaremos percebendo a máscara e ojogo e é importante mostrar isso
ao artista para que ele descubra qual é realmente a sua face( personalidade )sem a
máscara e ao mesmo, ele deve entender que em sua vida está sempre jogando como
criança. O tirar a máscara e parar de jogar pode ser o principio da integração e o
renascimento de sua vida, agora não mais um ser imaturo como Narciso, ou tomado
pela mania como Dionísio mas sim um ser integral capaz de se integrar a sociedade de
forma produtiva.
59
CONSroERAÇÕES FDÍAIS
Através das teorias de Freud e Jung, percebemos a importância dos mitos e
contos expressados no palco através da dramatização que não são nada mais, nada
menos que roteiro de vida dos alcoolistas.
A relação de amor entre o sujeito e a bebida é indissolúvel enquanto esse
sujeito não perceber no espelho (simbólico) essa paixão patológica e desejar de forma
consciente romper esse vínculo doentio. Ao representar no teatro mitos como o de
Dionisio na trajetória de sua doença (loucura) até o seu tratamento e cura os artistas
reviveram seus próprios problemas e se preocuparam com sua recuperação.
Por ser o bebedor e a bebida, um modelo de união amorosa, foi necessário
romper esses vínculos através da vivência dos jogos dramáticos e narrativas, onde foram
representados os mitos e contos de fada, tendo como marco teórico as idéias de Freud e
Jung.
Os CAPS como serviços de saúde mental são recentes, levando-se em conta a
trajetória humana, e por isso não apresentam uma forma única de atendimento de
alcoolismo o que nos estimulou a criação de novos campos de pesquisa e novas formas
de abordagem desse tema.
Temos consciência de não estarmos produzindo uma novidade ou nova teoria
de tratamento, visto que o teatro é tão antigo quanto o próprio alcoolismo, e é o mais
antigo jogo humano, sendo utilizado pelas antigas civilizações como representações de
atos de guerra ou feitos heróicos, representações da religiosidade através da simbologia
dos rituais, porem tivemos a pretensão de ampliar e sistematizar os conhecimentos já
existentes sobre o assunto, realizando ensaios e peças teatrais que falaram sobre o
cotidiano da vida dos alcoolistas no CAPS e também representando e ensaiando peças
teatrais com temas míticos.
Como foi dito anteriormente, a trindade; mitos, teatro e alcoolismo, são tão
velhos como a própria humanidade, porém a novidade está no uso dos mitos como
roteiro de peças teatrais, e as narrativas de histórias míticas exatamente como faziam os
narradores de histórias até o principio do século XX, tal qual Sherazade nos contos das
Mil e uma Noites.
60
Buscou-se a oportunidade de verificar na prática a importância do teatro, a
utilização das teorias de Freud e Jung e os mitos e contos para o tratamento de um dos
maiores males da história humana: o alcoolismo.
Por ser o teatro uma forma de relação lúdica e que estimula a amizade, o
companheirismo, novas relações sociais, a auto-valorização e a reflexão e por outro
lado, os mitos e contos exercerem uma influencia na psique humana, acreditamos que o
resultado desse trabalho foi positivo, pois de Janeiro de 2006 até maio do mesmo ano,
100% dos alcoolistas que participaram de forma continua no grupo de teatro e demais
atividades do CAPS estão pelo menos há dois meses sem beber, alguns, inclusive já
recebendo "alta" do tratamento dos CAPS o que nos leva a acreditar na importância do
teatro como meio de adesão ao tratamento dos alcoolistas.
Dos dez sujeitos alvo da pesquisa que iniciaram os ensaios de teatro, dois
desistiram, ficando apenas oito para responderem o questionário. Na pergunta de
número três do questionário: "Como você define a influência do teatro durante os
ensaios aqui no CAPS?" Seis pessoas responderam que se sentem ótimos e dois
responderam que se sentem bem.
Já na pergunta de número quatro: "Depois que você ouviu a narrativa dos
contos, lendas e mitos, durante os ensaios como você se sentiu?" quatro responderam
que se sentiram ótimos e quatro responderam que se sentiram bem.
O resultado acima apresentado representa um estímulo para continuar com os
ensaios de teatro com temas míticos e segundo as palavras dos entrevistados vale a pena
continuar.
O teatro não é uma terapia mas sim um recurso para o tratamento dos alcoolistas
e o grupo que participou dos ensaios de maneira geral sentiu-se fortificado.
A maior parte das pessoas que fazem algum tipo de tratamento no CAPS de
Ponta Porã, pouco sabem sobre sua própria vida e os motivos que as levam ao uso da
droga ou do álcool. Nesse sentido o teatro com temas míticos auxilia as pessoas em sua
jornada pela vida e desperta nelas a vontade de se conhecerem. Quando a vontade é
acrescentada pelo Ego á consciência e se transforma em vontade consciente a pessoa
começa a adquirir controle sobre a sua própria vida. Nesse momento a pessoa deixa de
ser um andarilho sem destino, para tomar-se uma pessoa responsável sobre os próprios
atos e começa dirigir os seus próprios passos de forma consciente seguindo um objetivo
que a leve a plenitude de seu Self.
Sérgio ^Ãrauca
61
O importante é que após o mergulho no inconsciente surgem as transformações
que libertam o"ouvinte" das historias míticas.
Cada conto ou mito narrado representa um drama que movimenta o psiquismo e
cria uma ponte entre o inconsciente e consciente, liberando idéias, emoções ou
sentimentos desarmonizados, estabelecendo um novo equilíbrio interior que faz surgir
uma pessoa com uma psique mais saudável e harmoniosa.
62
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65
ANEXOS
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Comitê de Ética em Pesquisa /CEP/UFMS
Carta cie Jlprovaçã
y? minha assinatura neste documento, atesta que
o protocoCó n" 693 do
(pesquisador Curibs JlCSerto iJnzar intitulado "O teatro como forma de adesão ao
tratamento dos Usuários de áScooCno CA<PS a" e o seu Termo de Consentimento Livre e
(EscCarecido, foram revisados por este comitê e aprovados em reunião Ordinária no dia 3
de ahriC de 2006, encontrando-se de acordo com as resoCuções normativas do Ministério
da Saúde.
/VWjsJs-,
(prof 0(dair(PimenteCMartins
C.oordefiqdorjdo Comitê^/Etica em Pesquisa da U<FMS
Campo Çrande, 4 de aõriCde 2006.
Comitd de Ética da Universidade Federal de Mato Grosso do Sui
htlD://vwn«.DroDD.ufms.br/bioellca/cep/
[email protected]
fone 0XX67 345-7187
66
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PARA PESQUISA NO CAPS ad -Ponta Porã-MS
Prezado(a) ATnigo(a)
Estamos convidando você para participeir de uma pesquisa intitulada: Utilização
do Teatro como Meio de Adesão ao Tratamento dos Usuários de Álcool no CAPS ad de
Ponta Porã.
Por ser um trabalho voluntário, você tem o direito de não participar ou de sair do
estudo a qualquer momento, caso julgue isso necessário, sem que isso represente
qualquer prejuízo para o prosseguimento de seu atendimento no CAPS, bem como
prejuízo de qualquer tipo para ambas as partes.
Esclarecemos que nenhuma informação pessoal dos voluntários será divulgada
durante a, nem em fiinção da, pesquisa. E será garantida a preservação do anonimato
dos participantes. Podendo, apenas, ocorrer a exibição das imagens obtidas durante a
pesquisa para a avaliação da pesquisa, caso assine o termo de consentimento.
Importante acrescentar que a participação consistirá de respostas a questionários,
ensaios teatrais e uma apresentação final, no interesse de pesquisar a influência do teatro
no tratamento dos usuários de álcool, lembrando que através de sua participação, você
estará contribuindo para que novos métodos de tratamento sejam acrescentados ao
Centro de Atenção Psicossocial(CAPS).
Os ensaios e a apresentação, por ocorrerem junto a outras pessoas, podem resultar
em desconforto pela exposição, mas você terá a disponibilidade de escolher o quanto irá
participar.
Caso você julgue necessário, novas informações ou orientações poderão ser
obtidas através do pesquisador Carlos Urizar no telefone (67) 3431-8423, no
período matutino das 8 horas às 12 horas e também está a sua disposição o telefone
do Comitê de Ética de Pesquisa(CEP):(67)3345-7187.
Abaixo, está um termo de consentimento e compromisso para o uso de sua
imagem tanto na apresentação da peça teatral quanto na avaliação da pesquisa, através
de fotos, filmagens e gravações de voz e seu comprometimento em participar desta
pesquisa.
Eu,
do R.G. n°
, portador
, consinto na captação e, caso necessário,
exibição de minha imagem, bem como, comprometo-me a participar de ensaios teatrais
e apresentações das peças que fazem parte do Projeto de Pesquisa que tem como título:
Utilização do Teatro como Meio de Adesão ao Tratamento de Usuários de Álcool no
CAPS ad de Ponta Porã-MS.
Ponta Porã-MS,
Participante ou responsável.
Nome:
Assinatura:
^de
^de 20
.
CAPS ad PONTA PORÃ-MS
Prezado(a) Amigo(a)
Você está recebendo um questionário de 5 questões que visam a coleta de
informações sobre os motivos que o levaram a vir ao CAPS e também sobre a
influência de teatro, dos mitos e contos de fada sobre sua vida. Não precisa
identificar-se, e os dados coletados serão mantidos com o devido sigilo.
Este questionário faz parte do projeto de pesquisa, da qual você estará
participando, e tem como finalidade a verificação da importância do teatro com
temas míticos (contos de fada, lendas e mitos) como instrumento de terapia
ocupacional para usuários de álcool no CAPS ad de Ponta Porã.
Preencha seus dados pessoais e a seguir responda marcando com X a
resposta que mais corresponde a sua realidade.
Idade:
Sexo:
Escolaridade:
Cidade onde nasceu:
Estado Civil:
Profissão;
-
1-Renda familiar
( )abaixo de 300,00
()de 300,00 a 500,00
( )500,00 a 1.000,00
( )acima de 1.000,00
Explique:
2- Você já participou de algum grupo de teatro?
( )poucas vezes
( )multas vezes
( )nunca
Explique
3- Como você define a influência do teatro durante os ensaios aqui no CAPS?
( )ótimo
( )bom
( )regular
( )péssimo
Explique;
4- Depois que você ouviu a narrativa dos contos, lendas e mitos, durante os ensaios,
como você sentiu?
)ótimo
)bom
)regular
)péssimo
)não exerceu nenhuma influência em mim
Explique:
5- Os contos e mitos desenvolvidos durante o teatro influenciaram sua relação com
o uso de álcool e outras substancias psicoativas.
( ) SIM
( ) NÃO
Explique:

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