o léxico dos adolescentes da cidade de itaberaba-ba

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o léxico dos adolescentes da cidade de itaberaba-ba
Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br
Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 3 • Número 9 • março 2013
Edição Especial • Homenageada
PROFESSORA DOUTORA MARIA LUIZA BRAGA
COMO FALAM OS ADOLESCENTES NA CIDADE DE
ITABERABA-BA
Ludinalva S. do Amor Divino1
[email protected]
Catharine S. da Silva²
[email protected]
RESUMO: Levando-se em consideração as possíveis variações que ocorrem na língua, este trabalho
objetiva detectar a presença desta variação (de gírias e de neologismos) no cotidiano dos adolescentes.
Coletou-se dados de oito conversas informais entre adolescentes do município de Itaberaba-BA, a fim de
identificar basicamente os tipos de lexias utilizadas como respostas aos seguintes campos lexicais: (i) o
cumprimento entre eles; (ii) exprimir que algo deu errado; (iii) designar algo de que gostou muito; e (iv)
se referir aos pais. Os resultados da pesquisa mostram que os adolescentes utilizam lexias variadas como
respostas a cada um dos campos lexicais selecionados.
PALAVRAS- CHAVE: Léxico. Variação. Adolescência.
ABSTRACT: Taking into account the possible variations that occur in the language, this paper aims to
detect the presence of this variation (of slang and neologisms) in teenagers’s everyday life. Data was
collected from eight informal conversations among teenagers in the city of Itaberaba-BA, to identify the
types of lexias basically used as answers to the following lexical fields: (i) greetings among them, (ii)
express that something went wrong, (iii) designate something that really liked, and (iv) refer parents. The
survey results show that teenagers use varied lexias as responses to each of the selected lexical fields.
KEYWORD: Lexicon.Variation. Adolescence.
1. INTRODUÇÃO
A fase de transição da infância para a idade adulta é marcada por inúmeras
mudanças que, por vezes, parecem estar limitados ao corpo e a mente. No entanto, é
fácil conceber que estas transformações inerentes à adolescência reflitam, direta e
1
Mestre em Linguística pela UFBA.
² Graduada em Letras pela Uneb. (Campus XXIII).
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indiretamente, na linguagem. O vocabulário do adolescente ocupa um lugar expressivo
na língua portuguesa e, considerando que essa é uma fase complexa e de duração
prolongada, é importante analisar a influência que seu vocabulário exerce na sociedade,
pois seus termos, além de fazerem parte do linguajar cotidiano, podem interferir na
comunicação. Assim, levando-se em consideração as possíveis variações que a língua
pode operar na sociedade, este trabalho objetiva detectar a presença desta variação (de
gírias e de neologismos)no cotidiano dos adolescentes itaberabenses.
2. HISTÓRICO DA COMUNIDADE
A pesquisa foi realizada em Itaberaba, um município brasileiro do estado da
Bahia, localizado na Chapada Diamantina. De acordo ao último censo, datado de 2004,
possui uma área de 2.366,1 km. Registra-se uma população total de 70.611 habitantes,
destes, 75,53% vivem na zona urbana do município. A quantidade de adolescentes na
faixa etária de 10 a 19 anos no município corresponde a 25,09% da população total, o
que equivale a 15.320 habitantes. A principal atividade econômica da comunidade é a
produção e exportação do abacaxi, no entanto, destaca-se também nas indústrias de
móveis e de calçados.
3. METODOLOGIA
Utilizou-se como corpus para o levantamento lexicográfico desse registro, a
observação de oito conversas informais em que os participantes eram adolescentes com
faixa etária entre 14 e 18 anos. Os informantes são moradores da zona urbana.
Buscou-se identificar basicamente quatro tipos de lexias utilizadas para: (i)o
cumprimento entre eles; (ii) exprimir que algo deu errado; (iii)designar algo de que
gostou muito e (v) se referir aos pais.
A observação foi feita na área urbana, principalmente em locais públicos, como
praças e quadras esportivas, por concentrar um maior número de pessoas de diferentes
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classes sociais e níveis de escolarização. A faixa etária foi o único critério exigido, visto
que a escolaridade e posição social serviram apenas como subsídio para a análise dos
dados.
A observação processou-se do seguinte modo: escolhia-se um grupo com 4 a 5
adolescentes, em seguida, a pesquisadora procurava participar de alguma forma da
conversa, sem que soubessem que a finalidade era para estudos lingüísticos.Tivemos um
total de oito grupos distintos. As conversas eram gravadas em um aparelho de gravador
e as lexias que interessavam eram anotadas posteriormente.
Cada uma das lexias encontradas está, neste trabalho, com os respectivos
significados, tanto para os usuários quanto o sentido dicionarizado, caso haja. Cumpre
destacar que as definições serão retiradas ipsis literis do dicionário Ferreira(2000).
4. NEOLOGIA E GÍRIA
O léxico, como se sabe, não é um sistema estático, ele está em constante
movimento e, nesse processo, ele expande-se, se altera e, por vezes, se contrai. Segundo
(Bakhtin,1990,p.123):
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato
de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato
psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenônemo social da interação
verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação
verbal constitui assim a realidade fundamental da língua.
Um fenômeno que contribui significadamente para essa “vivacidade” léxica é o
neologismo, conceituado por Ieda Maria Alves(1990) como o produto da neologia
(processo de criação lexical).A palavra nova poderá surgir tanto por empréstimos
quanto por processos autóctones, porém em ambos estão presentes novidades relativas
ás diversas áreas.
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Nos neologismos encontramos o verdadeiro retrato da sociedade de uma
determinada época. Neles estão presentes novidades no que diz respeito à economia, à
política, aos esportes, à arte, à tecnologia, à faixa etária, etc.
O neologismo é um fenômeno lingüístico que consiste na criação de uma palavra
ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma antiga palavra; pode ser
um comportamento espontâneo próprio do ser humano ou meramente artificial para fins
pejorativos.
Os neologismos muitas vezes constroem-se com o auxílio dos mecanismos
usuais de produção lexical, como a composição (justaposição, aglutinação, prefixação) e
a derivação, geralmente por sufixação, como os exemplos brasileiros “petismo”(de PT)
e “pefelista”( de PFL).Um exemplo prático, muito usado no Brasil, é o caso do termo
“refri”, onde se faz uso de um neologismo, uma vez que esta palavra é uma criação
relativamente recente.
Acredita-se que as principais lexias encontradas no vocabulário dos adolescentes
correspondam a uma ressignificação dos vocábulos antigos. De acordo as pesquisas
realizadas por Simone Ribeiro (2010) esse fator tende a atenuar o desejo de se autoafirmar, de não se permitir entender por aqueles que não fazem parte do seu grupo e
de,até mesmo, demarcar um limite entre as diferentes ideologias e convicções próprias
da adolescência.
Nelly Carvalho(1984) e Ieda M. Alves(1990) utilizam-se de alguns critérios que
parecem convenientes ao corpus pesquisado. As autoras distinguem basicamente três
tipos de neologismos: neologismos semânticos (vocábulos dicionarizados, porém com
uma significação nova, não dicionarizada); neologismos lexicais(vocábulos que ainda
não foram dicionarizados) e neologismos locucionais(ocorrem quando os componentes
da locução, separadamente, podem ser encontrados no dicionário, mas, juntos adquirem
um novo valor semântico-não dicionarizado.
No decorrer da história, a língua portuguesa vem sofrendo constantes
modificações. Ela é dinâmica e, portanto, renova-se constantemente. Essas
transformações consistem não só na alteração fonética das palavras, mas também na
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introdução ou criação de novas frases e vocábulos, ou ainda na reintegração de palavras
arcaicas do idioma que, na sua grande maioria, possuem novas significações. Os
neologismos podem ser criados da própria língua, ou incorporações de termos
estrangeiros ao idioma, como é o caso do vocábulo inglês brother.
A gíria é uma linguagem de caráter popular, criada e usada por determinados
grupos sociais ou profissionais. São criadas para substituir termos ou conceitos oficiais
(usados tradicionalmente). Elas são próprias de uma determinada época e, muitas vezes,
deixam de existir quando caem em desuso. Muitas gírias são tão utilizadas por grande
parte da população de um país que acabam sendo incorporadas pelo vocabulário oficial,
fazendo parte dos dicionários.
De certa forma, todos os grupos sociais possuem uma certa quantidade de
palavras ou expressões que usam em seu ambiente. Estas são chamadas de gírias de
grupos. Possuem gírias próprias dos estudantes, advogados, jogadores de futebol,
médicos, policiais, vendedores, entre outros.
Sabemos que a gíria dá um novo significado as formas já existentes ou que
tenham sido alteradas nesse sistema lingüístico comum. O objetivo da gíria é não se
fazer entender por quem não pertence a um determinado grupo. Logo, ela pretende
manter a identidade e a consciência de um determinado grupo social.
Muitas gírias são criadas pelos jovens e adolescentes, em função da necessidade
de buscar palavras e conceitos novos e a criação de termos e expressões pode servir ao
desejo de não se fazer entender por estranhos ao grupo, mas a esse objetivo pode-se
acrescentar a natural necessidade de auto-afirmação desse mesmo grupo.
5. IDENTIDADE ADOLESCENTE
É na adolescência que o sujeito está se percebendo como integrante de um
mundo social e necessita do outro para construir sua identidade, de uma referência
externa e também precisa se sentir aceito socialmente.
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Considerar a fase da adolescência como o período mais conturbado no
desenvolvimento humano, especialmente na construção da identidade, é de senso
comum, o que se dá pelo fato de ser este um momento de transição para o indivíduo, o
qual deixa de ser criança, sem ser ainda totalmente adulto, pois não atingiu o grau de
maturidade que é esperado socialmente.
Para Erikson e Erikson (1998), a construção da identidade adolescente é um
processo que advém da observação e da releitura de identificações anteriores, o que
significa dizer que o adolescente não busca a cópia de um modelo de conduta, mas
tenciona modificar, questionar, acrescentar e reconstruir tal modelo de acordo com sua
visão, e assim se constituir como sujeito.
É na adolescência que o sujeito está se percebendo como integrante de um
mundo social e necessita do outro para construir sua identidade, de uma referência
externa, além de ser este o período em que se acentua a busca por aceitação social.
Para obter tal aceitação, o adolescente seguirá os seus pares, compartilhando com
eles diversas afinidades, como vestimentas, formas de se expressar e atitudes, dentre
outros aspectos. Por conseguinte, a variedade linguística por ele utilizada é também
parte de sua identidade, assim sendo, a particularidades regionais ou dialetais que
perpassam sua fala devem ser respeitadas, a fim de que sua identidade também o seja, o
que é corroborado pelos PCNs (1998) quando relatam que
é preciso considerar o fato de que os adolescentes desenvolvem um tipo de
comportamento e um conjunto de valores que atuam como forma de
identidade, tanto no que diz respeito ao lugar que ocupam na sociedade e nas
relações que estabelecem com o mundo adulto quanto no que se refere a sua
inclusão no interior de grupos específicos de convivência. Esse processo,
naturalmente, tem repercussão no tipo de linguagem por eles usada, com a
incorporação e criação de modismos, vocabulário específico, formas de
expressão etc. São exemplos típicos as falas das tribos, grupos de
adolescentes formados em função de uma atividade (surfistas, skatistas,
funkeiros etc.). (Brasil, 1998, p. 46)
Percebe-se, portanto, que o adolescente, como já observado, é vulnerável a
qualquer tipo de influência no decorrer das etapas de sua formação e, como a língua
também se mostra como um instrumento para balizar sua identidade, cada fase
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ultrapassada será representada por formas diferenciadas de usar a língua, formas que,
por vezes, poderão, inclusive, ser divergentes. Ou seja, ele poderá, em dado momento,
utilizar determinada gíria, uma formação frasal, uma escolha lexical que, em outra
instância, por influência de um novo grupo, uma nova rede de contatos, não mais lhe
será interessante, o que não significa falta de personalidade, mas sim, característica de
um período de mudanças, que sofre interferência externa ao sujeito.
6. ANÁLISE DOS DADOS
De todas as lexias observadas e utilizadas nos mais diversos contextos do
cotidiano do adolescente, foram selecionadas apenas aquelas que se enquadravam nos
seguintes campos lexicais:
(i) cumprimento usado entre eles;
(ii) expressão usada para designar algo de que gostaram muito;
(iii) expressão usada para se referir aos pais;
(v) expressão usada para exprimir que algo deu errado.
6.1 CUMPRIMENTO USADO ENTRE ELES
Todas as seis lexias encontradas neste campo lexical possuem uma mesma
significação: saudação entre membros de um mesmo grupo ou conhecidos; porém, cada
um é utilizado em um contexto específico.

Pivete
Dicionário: “sm. Brás. RJ SP Gír.Menino ladrão e\ ou que trabalha para
ladrões.”
Comunidade: usada para pessoas mais novas (tanto do grupo quanto de
outras “tribos”) ou recentemente integradas ao grupo.
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Obs.: predomina no vocabulário dos homens.

Brother
É uma palavra de origem inglesa que , no dicionário desta língua,
significa irmão.
Comunidade: usada para as pessoas mais próximas, aquelas que eles mais
se identificam no grupo.
Obs.: presente no vocabulário tanto de homens quanto de mulheres.

Sacaninha
Palavra não dicionarizada.
Comunidade: usada, principalmente quando reencontram pessoas que não
vêem há algum tempo ou é direcionada a quem tem alguma novidade já esperada pelo
grupo.
Obs.: predomina no vocabulário dos homens.

Mano
Dicionário: “sm.Fam. 1.Irmão(I). 2.Amigo cordial.
Comunidade: usada com a segunda significação encontrada no dicionário.
É relevante destacar que a pronúncia também interfere na significação:
quando a última sílaba é mais demorada denota o prazer em rever o outro.
Obs.:o gênero feminino também é utilizado e possui a mesma
significação.

Bicho
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Dicionário:”sm.1.Qualquer dos animais terrestres. 2.Pessoa muito feia
e\ou intratável. 3.Bras. Pop. Zool. Broca. 4. Brás. O jogo do bicho
Comunidade: usado geralmente em tom de cobrança.
Obs.: não se admite o gênero feminino,uma vez que, como tal, adquire
uma outra significação que não a desejada.

Cara
Dicionário: “sf. 1.V. rosto(1). 2.Semblante, fisionomia. 3. Aspecto, ar.
4.Ousadia, coragem.
Comunidade: usado para pessoas que, embora estejam no mesmo grupo,
não se tenha muita aproximação.
6.2 EXPRESSÃO USADA PARA DEMONSTRAR ALGO DE QUE GOSTARAM
MUITO
As lexias, abaixo apresentadas, não diferem quanto a significação – todas
indicam contentamento.

Massa
Dicionário: “sf.1.Quantidade apreciável de matéria sólida ou pastosa, em
geral de forma indefinida. 2. Quantidade relativamente grande dum fluido.
3.Aglomerado de elementos(em geral, da mesma natureza) que formam um conjunto.
Comunidade: visto que o sentido já fora explicitado anteriormente, cabe
destacar apenas que a palavra ganhou uma significação inteiramente nova, diferindo das
apresentadas no dicionário.
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
Irado
Dicionário: “adj. V. iracundo”
Comunidade: usado pelos adolescentes com um sentido inteiramente
novo.

Filé
Dicionário: “sm. 1.Nome comum a certo músculo das reses.2. Bras.Bife.”
Comunidade: a lexia filé adquire um sentido ainda não dicionarizado.

Bacana
Dicionário: “adj. 2g. Brás. Gír. Palavra que exprime inúmeras idéias
apreciativas, equivalendo a bom, excelente, belo, etc., tudo no superlativo, aplicável a
pessoa e coisas.
Comunidade: correspondente ao sentido que aparece no dicionário.

Decente
Dicionário: “adj2g. 1. Honrado, honesto. 2. Digno, adequado. 3. Que tem
bons modos.”
Comunidade: pode-se observar a criatividade da mente do adolescente
adaptando um novo sentido à palavra.
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6.3 EXPRESSÃO USADA PARA SE REFERIR AOS PAIS
As quatro lexias encontradas neste item equivalem a uma substituição dos
lexemas pai e mãe, que ocorre, na maior parte das vezes, apenas em conversas com
amigos.

Coroa
Dicionário: “sf. 1. Ornato circular com que se cinge a cabeça. 2. O poder
da dignidade real; a realeza. 3. Tonsura. 4. V. cume(1). 5.Anat.Porção de dente situada
acima da linha formada pela gengiva.6. Brás. Gír.Pessoa madura ou idosa.
Comunidade: empregada com sentido equivalente ao último apresentado
no dicionário.

Vei\veio
Embora não apareçam nos dicionários, correspondem a variações de
velho(forma dicionarizada)

Velho
Dicionário:”adj. 1.Muito idoso. 2. Antigo(3). 3.Gasto pelo uso. 4.
Experimentado, veterano. 5. que há muito exerce uma profissão ou tem certa qualidade.
6. Desusado, obsoleto. Sm. 7. Homem idoso. 8.Fam. pai.
Comunidade: utilizado com os dois últimos sentidos encontrados no
dicionário.
Obs.:quando utilizam a palavra velho para se dirigir diretamente ao genitor, na
maioria das vezes,é significando pai.
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6.4 EXPRESSÃO USADA PARA EXPRIMIR QUE ALGO DEU ERRADO
A maior parte das lexias encontradas neste campo lexical é correspondente ao
pretérito perfeito de verbos dicionarizados, porém, no contexto em que são empregados,
adquirem significações novas e, portanto,não dicionarizadas.

Furou
É uma lexia que não consta no dicionário, mas deriva do verbo furar, que
é uma forma dicionarizada.

Sujou
Forma derivada do verbo sujar.

Barriou
Palavra não dicionarizada.

Entrou água
Separadamente cada uma das palavras ou são dicionarizadas ou possuem
um correpondente no dicionário.
Entrou deriva do verbo entrar.
Água: “sf.1. Quim. Líquido incolor, inodoro, insípido, essencial à vida. 2.
A parte líquida do globo terrestre. 3. Chuva(1) 4. Cada uma das superfícies planas que
formam um telhado.
No entanto, a espressão junta forma um lexema não dicionarizado e,
portanto, com um novo sentido.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados coletados permitem que se tenha apenas uma visualização geral do
Léxico dos adolescentes de Itaberaba.Visto que cada uma das lexias encontradas não é
própria de um grupo em partícula; todas faziam parte do vocabulário dos membros dos
oito grupos observados, mesmo entre os adolescentes de posição social elevada.
As lexias e a análise das mesmas, apresentadas acima, nos permitem ratificar que
o léxico de uma língua é um processo de contínua reelaboração e perpetuação. E não
seria audacioso dizer que esse processo em desenvolvimento resulta da mente criativa
dos falantes, responsável por criar e conservar o vocábulo dessa língua. Essa
criatividade é acentuada quando o falante é um adolescente, capaz de acelerar o ritmo
de criação e ampliação dos significados de determinadas palavras.
O vocabulário do adolescente ocupa, na Língua Portuguesa, um lugar expressivo.
Essa formação e ressignificação de vocábulos compõem um novo tipo de linguagem,
uma linguagem que tem muito de originalidade e riqueza.
REFERÊNCIAS
ALVES, Ieda Maria. Neologismo. São Paulo: Ática, 1990.
BIDERMAN,Maria T. Camargo. A Categorização Léxica. In: Teoria Lingüística:
teoria lexical e lingüística computacional. São Paulo:Martins Fontes,2001.
BIDERMAN,Maria T. Camargo. A Expansão do Léxico, Neologismo. In: Teoria
Lingüística: teoria lexical e lingüística computacional. São Paulo:Martins
Fontes,2001.p.203-213.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental.
Brasília: MEC/SEF, 1998.
CARVALHO, Nelly. O que é neologismo?. São Paulo: Parisiense, 1984.
CDL.Produção de abacaxi.Disponível em: <http:\\www. edlitaberaba.com.br>.Acesso
em 18 de fev. de 2010.
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ERIKSON, Erik; ERIKSON, J. M. O ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1998
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio da Língua
Portuguesa. 4ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
FIEB. Guia industrial do estado da Bahia.
\\www.fieb.org.br>.Acesso em 18 de fev. de 2010.
Disponível
em:
<http:
RIBEIRO,Simone Nejaim.Um estudo sobre o vocabulário das revistas destinadas a
adolescentes. Disponível em:<http\\www.filologia.org.br>.Acesso em 18 de fev. de
2010.
UPB. Densidade demográfica.Disponível em: <http: \\www.upb.org.br>.Acesso em 18
de fev. de 2010.
Recebido Para Publicação em 28 de fevereiro de 2013.
Aprovado Para Publicação em 13 de março de 2013.
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