Abr 2008 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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Abr 2008 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
2 abr-mai/08 Quem vai ser o Ponteiro? O ARCO JORNAL é o veículo informativo da ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS – ARCO Av. 7 de Setembro, 1159 Caixa Postal 145 CEP 96400-901 – Bagé (RS) Telefone: 53 3242.8422 Fax: 53 3242.9522 e-mail: [email protected] home page: www.arcoovinos.com.br DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Paulo Afonso Schwab 1° Vice-presidente: Teófilo Pereira Garcia de Garcia 2° Vice-presidente: Suetônio Vilar Campos 1° Secretário: Wilson José Mateo Dornelles 2° Secretário: Antônio Gilberto da Costa Tesoureiro: Paulo Sérgio Soares CONSELHO FISCAL Titulares Araquen Pedro Dutra Telles Matheus José Schmidt Filho Renato Gutterres da Silva Suplentes Arnaldo dos Santos Vieira Filho Claudino Loro Pérsio Ailton Tosi Superintendente do R.G.O. Francisco José Perelló Medeiros Superintendente Substituto do R.G.O. Edemundo Ferreira Gressler Gerente de Provas Zootécnicas Araquen Pedro Dutra Telles Supervisor Administrativo Paulo Sérgio Soares Gerente Administrativo Bismar Azevedo Soares ARCO JORNAL Coordenação Geral Agropress Agência de Comunicação Edição Eduardo Fehn Teixeira e Horst Knak Agência Ciranda Jornalista responsável Nelson Moreira - Reg. Prof. 5566/03 Diagramação Nicolau Balaszow Fotografia Banco de Imagens ARCO e Divulgação Departamento Comercial Daniela da Silva Manfron e Gianna Corrêa Soccol [email protected] Fone: 51 3231.6210 / 51 8116.9782 A ARCO não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados. Reprodução autorizada, desde que citada a fonte. Colaborações, sugestões, informações, críticas: [email protected] P or vários estados que ando, em várias reuniões que já estive ou exposições que participo um assunto é recorrente entre os criadores. E é um tema que aparece com uma solicitação junto. Criadores de todos os cantos do Brasil estão sempre falando - às vezes em tom de reclamação, às vezes de indignação - que está faltado organizar a cadeia produtiva da ovinocultura, seja no setor de carne, seja no de lã, ou pele. Dizem que estão faltando projetos que levem, por exemplo, a carne ovina à mesa do consumidor em maior quantidade ou mesmo em valores mais adequados à realidade do bolso da maioria dos brasileiros. E, novamente, neste momento, me pedem para que a ARCO tome uma atitude para organizar este processo. Já dissemos em momentos anteriores que a ARCO tem projetos e os está executando, em nível nacional. É o caso do Carne de Qualidade, realizado em parceria com o Senar/RS, o Sebrae e a nossa entidade. Um projeto-piloto que reúne todos os componentes da cadeia, colocando a carne em estabelecimentos comerciais de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Mas quero aproveitar este tema para lançar bem mais uma reflexão e uma proposição do que um olhar crítico. Tenho lido em diversas publicações especializadas ou mesmo em jornais diários, notícias sobre produtores ou empresários que criam projetos de produção de ovinos com o objetivo de atender ao mercado de consumo deste produto. Fico feliz com isto porque são exemplos de pessoas que tomaram a atitude e enfrentaram todas as adversidades para conquistarem um espaço neste mercado. E, de certa forma, eles acabam aumentando o interesse de outros pela ovinocultura. E quando junto as solicitações dos criadores com estes exemplos, uma idéia me ocorre de pronto. Tenho me reunido com as associações estaduais de criadores, nossas afiliadas, para tratarmos de assuntos diversos. E nestes fóruns são recorrentes as Leitor Linhas de crédito Gostaria, se possível, o telefone do Sr. Cristiano Costalunga Gotuzzo que está na matéria da pg 4, intitulada “Linhas de crédito para a ovinocultura”. Estou interessado em fazer um projeto e gostaria de alguns esclarecimentos. Gabriel Brasil Cardoso gabrielbrasilcardoso@hotmail. com Caro Gabriel Muito obrigado pela consulta. Espero que tenha gostado da edição de fevereiro/março do ARCO JORNAL. Você pode encontrar a fonte desta notícia, Cristiano Costalunga Gotuzzo, pelos fones: 53-3257.2925 e 9973.7724 ou email cgotuzzo@ yahoo.com.br Editorial solicitações destas entidades por ações que possam trazer mais para perto delas, os criadores dos seus estados e seus associados, a fim de que participem mais das atividades que elas propõem. Pois é aí que vem minha proposição. Creio que as associações estaduais, podem e devem exercer um papel bem mais pró-ativo, com proposições e ações que tragam para si o interesse dos criadores e resultem em novos sócios. Creio que se a ARCO está realizando projetos em nível nacional, com o objetivo de movimentar a cadeia produtiva da ovinocultura, os representantes estaduais poderiam fazer o mesmo, em nível local, buscando recursos e realizando concretamente projetos que tragam benefícios a todos os criadores de ovinos. Quem sabe tomem para si, a tarefa de serem os ponteiros para desencadearem uma reação de todos no sentido de organizar grupos de produtores em projetos de produção de carne, lã, pele e outros produtos? Porque se em minhas conversas vejo que os criadores estão clamando para que alguém os guie por um caminho, quem melhor para fazer isto do que as associações e staduais, que vivem a realidade local e conhecem os representantes governamentais que podem auxiliar a concretizar o projeto? Creio e vejo desta forma. Os ovinocultores estão maduros, sedentos por terem alguém que os oriente ou os ajude a se organizarem em um projeto. As associações são seus representantes nos Estados. Porque não juntar uma vontade com a outra e, unidos, realizarem um trabalho cujo fruto, todos vão usufruir? E este é o momento. Nunca a ovinocultura esteve tão em destaque como agora. E precisamos aproveitar o momento para crescermos enquanto atividade econômica. Precisamos aumentar o rebanho e projetar, como objetivo, que o brasileiro consuma, pelo menos uma vez por semana, a carne que produzimos. Pois isto movimenta a todo o setor e muitos vão ganhar com isto. E quem pode começar tudo isto? As associações estaduais de criadores. E então, quem vai ser o ponteiro? Paulo Schwab - Presidente da ARCO 3 abr-mai/08 Entrevista C A ovinocultura vista pelo Nordeste omo que confirmando a existência da lenda da Fênix, o pássaro que renasce das cinzas, a ovinocultura do Norte e do Nordeste brasileiro passa por um momento vigoroso, de “renascimento”, de pujança. Investimentos em rebanhos, em projetos de construção da cadeia produtiva para a comercialização da carne e dos produtos ovinos, melhoramento genético em alta. Para fazer uma reflexão sobre a ovinocultura do País e do Nordeste, o Arco Jornal convidou Suetônio Vilar Campos, vice-presidente da entidade, para um dedo de prosa. Sue como é chamado carinhosamente é Engenheiro Agrônomo, produtor rural em Taperoá, cidade a 250 km de João Pessoa, aonde cria ovinos Santa Inês e Rabo Largo e bovinos Simental. É um apaixonado pela ovinocultura e vai completar, em 2008, 50 anos de seleção na raça Santa Inês. Arco Jornal – Qual a importância da Ovinocultura no País hoje? Suetônio Campos – A ovinocultura vem crescendo como um todo, em todas as raças de corte, no Brasil inteiro, confirmando a grande vocação agropecuária do nosso País. AJ – E no nordeste? Suetônio Campos – No nordeste as raças deslanadas que ciclam o ano todo, são o carro chefe do desenvolvimento, nos últimos vinte anos. A raça Santa Inês que tem resistido heroicamente, aos mais loucos cruzamentos de falsos selecionadores que só atrapa- lham, uma vez que a pecuária de pequenos ruminantes é a principal atividade produtiva do nosso semi-árido. AJ – Quais os principais planos que podem ser desenvolvidos para o crescimento desta atividade no Brasil? Suetônio Campos – O Ministério da Agricultura acena com planos que possam povoar o norte do Brasil com ovinos. Seguindo os passos do Zebu que é o grande desbravador da região amazônica. Acredito piamente no potencial do meu País e na força de vontade dos nossos criadores. Falta apenas um plano de crédito rural decente Suetônio: Devemos nos defender das mestiçagens transitórias e compatível com a ovinocultura, a exemplo do que vi na Austrália e nos Estado Unidos (Texas). AJ – Qual a contribuição das raças deslanadas para este objetivo? Suetônio Campos – Uma contribuição essencial, seja pela qualidade de sua carne magra e enxuta, pela sua prolificidade, rusticidade, adaptação aos mais difíceis ambientes e, principalmente, a qualidade das suas peles. AJ – Qual é a sua visão sobre a função da ARCO para a ovinocultura? Suetônio Campos – A principal função seria a racionalização dos padrões raciais para o registro formal dos animais, incluindo parâmetros com técnicas novas que regula o serviço cartorial do registro genealógico. O regulamento Suetônio e sua "Hebe Camargo" - ventre tem 16 anos em produção desse importante serviço deveria criar condições a serem atendidas, convertendo-o num impulso para o melhoramento funcional das deslanadas, de forma efetiva. É o caso de criar peso mínimo por idade e categoria e, principalmente, peso máximo, eliminando assim, aberrações que destroem a genética essencial das deslanadas, patrimônio do Brasil e, mais ainda, da floresta seca do Nordeste, onde vivem 25 milhões de brasileiros. AJ – Qual seria o papel dos criadores para ajudarem a ovinocultura a crescer? Suetônio Campos – Conscientizarem-se que a ovinocultura das deslanadas é uma atividade econômica básica do semi-árido, libertadora da pobreza nordestina e defender-se das distorções que exposições e juízes praticam. Desorientan- Criador mostra seu rebanho da raça Santa Inês do com mestiçagens de efeito transitório e caricaturado, a realidade econômica e política da pecuária nordestina. AJ – Qual a importância das Câmaras setoriais de ovinos para a atividade? Suetônio Campos – Na sua dimensão política são fundamentais para o fomento e a produção em bases sólidas da pecuária ovina do Nordeste e de todo o País. AJ – Faça as suas considerações finais. Suetônio Campos – Finalmente me sinto a vontade, como técnico e selecionador pioneiro de ovelhas Santa Inês, para dizer da experiência de uma vida inteira, driblando equívocos e reservando o companheirismo dos que se envolvem com esse importante setor da produção possível nesse meu mundo do sertão seco do Nordeste. ● 4 fev-mar/08 História Por Nicolau Balaszow “Quando um grupo de criadores proclamou a idéia da fundação da ARCO, em 1942, certamente não imaginava que a semente então lançada iria se transformar na árvore produtiva de hoje, proporcionando a colheita de tão abundantes frutos. Longo e árduo foi o caminho percorrido. Depois de uma fase inicial difícil, conseguiu a sua verdadeira estruturação em 1944, realizando, no ano seguinte, a primeira exposição de ovinos controlados”. A ssim começa o editorial deste mês no site oficial da ARCO, e o texto quer relembrar a passagem dos 66 anos de existência da entidade, comemorados no último dia 18 de janeiro de 2008. Ela foi idealizada pelo engenheiro agrônomo Geraldo Velloso Nunes Vieira (hoje com 97 anos, vivendo em Porto Alegre), na época chefe do Serviço de Ovinotécnica da Secretaria da Agricultura do estado do Rio Grande do Sul. Entusiasta da ovinocultura, o agrônomo organizara em 1939 a 1ª Exposição Estadual de Lãs, na cidade de Uruguaiana. Ali, através de suas idéias inovadoras e pela persistência doutrinária junto aos criadores, nascia a exploração racional e econômica da ovelha. Passaram-se ainda três anos para a oficialização da Associação. A sede se estabeleceu na cidade de Santana do Livramento para, posteriormente, em 1944, ser transferida para o município de Bagé onde criou raízes. A sua localização, inicialmente, se deu onde hoje está instalada a Câmara de Vereadores do município. Coube a João Farinha assumir a direção da primeira gestão, tendo como presidente de honra Ataliba Figueiredo Paz, secretário de Indústria e Comércio do RS. Passados dois anos, a tarefa de solidificar a entidade esteve nas mãos do engenheiro agrônomo José Alves Nunes Vieira, entre os anos de 1944 e 1950. “A ARCO é Brasil”, diz o superintendente de Registros Genealógicos de Ovinos, engenheiro agrônomo Francisco Perelló (82), quando se referia ao grau de importância que a atual Associação Brasileira de Criadores de Ovinos alcançou desde a sua fundação. Ele explica que a sigla (antiga Associação Rio-Grandense de Criadores de Ovelhas) foi man- ARCO - Desde 1942 transformando a ovinocultura Sede da ARCO em Bagé, RS tida porque nos mercados da Austrália, África do Sul e Nova Zelândia, em especial, a marca já era uma referência largamente difundida. A sua nacionalização aconteceu em 1975 na gestão do veterinário Amilcar da Rosa Bittencourt. A história da Associação também pode ser contada através de números e, na atualidade, estes mostram 3.922 associados regulares, um plantel estimado de 14 milhões de cabeças com 26 raças oficiais espalhadas por todo o país. “E mais, enfatiza Perelló, nos últimos dez anos vimos o crescimento da ARCO em mais de 600%, pois passamos de 10 mil certificados de registro para cerca de 70 mil ao ano”. Também informa que a entidade dispõe de 21 representações nos estados da federação, sendo que outros dois, no Amazonas e Roraima estão em vias de formalizarem a sua adesão. Abnegados e teimosos, os criadores protagonizaram através da Associação, a partir da década de 60, um salto quantitativo e qualitativo nos rebanhos graças à criação do Registro Genealógico Brasileiro (RGB). Além desta providência, Perelló dá relevância a atuação do veterinário Geraldo Nunes Vieira: na época, ele iniciou um grupo de profissionais que passariam a atuar como Inspetores Técnicos (IT). “O sucesso do último encontro de IT na cidade de Avaré em São Paulo, comprovou mais uma vez o importante papel exercido por Nunes Vieira. Sendo que, no presente, a ARCO conta com 123 profissio- nais espalhados em todo o território nacional”, destaca. Já para o veterinário João Manoel Vieira “a entidade vive um momento espetacular”, e não esquece de citar a figura do ex-ministro da Agricultura Cirne Lima, no início dos anos 70, quando convocou a primeira Jornada de Ovinocultura no nordeste. “Esta ação foi decisiva não só para a expansão da ARCO e de sua representatividade, mas como para toda a comunidade de criadores”, enfatiza. Presidente da Associação na gestão de 84 a 86, João Vieira assistiu aos primeiros passos dos estudos da Fisiopatologia da Reprodução em ovelhas e chefiou os trabalhos de inseminação no Brasil e conseqüente seleção das raças que conhecemos hoje. O engenheiro agrônomo Ricardo Wagner Saraiva Vieira (73), testemunhou aquilo que considera como decisivo para que a entidade ganhasse status nacional; “a inclusão do nordeste no roteiro da criação de ovinos foi estimulada pelo então ministro da agricultura”. Daí, no final dos anos 60 e início dos 70, Vieira, diretor técnico, fora designado para realizar o primeiro estudo de viabilidade das raças ovinas da região. “Visitamos os estados do Ceará, Bahia, Piauí e Goiás, e constatamos a possibilidade de unificar diversas raças ali existentes. Tempos depois obtivemos a homologa- ção das raças Bergamacia, Rabo Largo, Somális, Morada Nova e Santa Inês, entre outras, que participaram oficialmente da primeira exposição de ovinos na cidade de Uaua, na Bahia em 1971”. A propósito, a raça Santa Inês tem este nome devido a sugestão do agrônomo Ricardo Vieira. Ele também guarda até hoje ofício emitido em 1976 pela Associação dos Criadores de Ovelhas do Estado do Ceará (Acocece), onde estão documentadas as ações decisivas descritas anteriormente. Presidente da ARCO entre 1962 e 64, o engenheiro agrônomo, José Cypriano Nunes Vieira (81), continua acompanhando os passos da entidade e, em seu depoimento fez questão de referir-se ao trabalho desempenhado pelo atual gestão, “eles assumiram a entidade num momento bastante delicado e, ainda assim, conseguiram resgatar a saúde financeira e mantiveram os princípios originais que sempre nortearam a Associação”. Cypriano também presenciou a diversos acontecimentos e os valorizou de tal modo que hoje podemos ler os seus relatos no livro: “Fastos da História Gaúcha”, editado em 1998 pela Urcamp de Bagé. As suas lembranças permitem dimensionar com profundidade o valor de inúmeros personagens que produziram, no final das contas, um rico material literário e transformaram a cara da ovinocultura brasileira. ● Geraldo Nunes Vieira - pioneiro e visionário Em 1939, quando ocupava o cargo de chefe do Serviço de Ovinotecnia da Secretaria da Agricultura do RS, o engenheiro agrônomo Geraldo Velloso Nunes Vieira aproveitou a 1ª Exposição Estadual de Lãs, em Uruguaiana, para convencer e estimular um expressivo contingente de pecuaristas quanto à necessidade da criação de uma entidade oficial para a organização da ovinocultura. Nascia daí a atual Associação Brasileira de Criadores de Ovelhas (ARCO). Considerado um verdadeiro símbolo da agropecuária brasileira, Geraldo, muito próximo de completar 98 anos de vida, é natural de Pelotas, onde nasceu em 22 de outubro de 1910. Formou-se e passou a dedicarse, como técnico, a um trabalho de pioneirismos, próprios dos grandes visionários. Assim, também é dele a idéia de ofere- Geraldo é grande incentivador da ovinocultura nacional cer anualmente um certificado de qualidade da lã produzida a cada criador cadastrado regularmente junto à ARCO. Ele foi ainda mais generoso quando organizou, em 1959, a primeira Exposição Nacional de Animais, em Porto Alegre, da qual se originou a Expointer. Dono de um currículo sem igual, Geraldo ocupou mais de 15 cargos em funções públicas, 48 participações no magistério (Professor Emérito da UFRGS em 1982), 27 homenagens recebidas, igual número de atuações em atividades associativas, 45 cursos ministrados no Brasil e no exterior, quase uma centena de artigos e trabalhos sobre agropecuária publicados em revistas e jornais. “Leitor contumaz, ele sempre teve o hábito de colecionar frases”, explica a sua esposa Teresinha. Dentre tantas que poderiam ser escolhidas, talvez, a que mereça maior destaque seja aquela que ele escolheu figurar na introdução do seu livro, Agropecuária – Verdades que Resistem ao Tempo, da editora AGE de 1995. “Para que não sejas esquecido tão logo morras, escreve coisas que merecem ser lidas ou então, faze coisas a respeito das quais se escrevam”. Esta citação é de Benjamim Franklin e, ao que se sabe, tanto os escritos como as ações mostram o homem empenhado em favorecer a ciência através de sua sabedoria e à sociedade pelo seu exemplo. Obrigado Geraldo! ● 5 abr-mai/08 Notícias do brete Expocrato vai reunir o melhor do Nordeste De 13 a 20 de julho, Expocrato deve passar mais de mil animais em pista, buscando título de melhor exposição do Nordeste Ela é considerada atualmente a primeira Exposição em termos de relevância, na pecuária cearense, e pretende se tornar a número um entre todas, no que se refere à importância econômica. Para tanto o parque de Exposições já está passando por importantes reformas a fim de melhorar as dependências e ampliar a capacidade de recepção de animais. Marcada para os dias 13 a 20 de julho a Expocrato, realizada na cidade de Crato, sul do Ceará está esperando um volume de inscrições maior que o ano passado. Segundo o presidente do Francisco Leitão de Moura comitê Gestor do evento, Francisco Leitão de Moura, a razão para esta expectativa está no fato de que a Expocrato vai sediar a IIª Exposição Nacional de Morada Nova, a Vª Nacional de Caprinos da Raça Anglonubiana e a Iª Nacional de Ovinos da Raça Somalis, além de diversos leilões e julgamentos de outras raças ovi- nas, caprinas, bovinas de corte e leite e eqüinas. “Devemos passar de mil animais em pista, imagino”, salienta Leitão. Para a Exposição, conforme os organizadores comparecem criadores do Ceará e de diversos estados vizinhos, movimentando o parque ao longo dos 10 dias, em julgamentos e leilões que serão transmitidos por canal de TV. O presidente do Comitê diz que estão negociando com as raças Santa Inês e Bôer para que a Exposição seja ranqueada, valendo pontos para o campeonato nacional. Dentro do parque há demonstrações de fenação, produção artesanal de cachaça e rapadura, o modelo de uma propriedade familiar e barracas de artesanato. “Estamos investindo forte para nos tornarmos a melhor exposição agropecuária do Nordeste”, finaliza. ● Exposição Berro chega à 5ª edição Uma das mais famosas feiras regionais de ovinos e caprinos do Nordeste, O Berro, foi criada por Francisco Cunha, professor da Universidade Regional do Cariri, URCA, para reunir o setor e dar um foco de relevância nas raças nativas do sertão – Morada Nova, Cariri, Somalis Brasileira, Santa Inês entre outras. Segundo Cunha a idéia deste evento era tirar a ovinocaprinocultura da marginalidade econômica e mostrar o quanto o nordeste depende dela. “Reunimos a Secretaria de Agricultura do Governo Estadual, a entidades de criadores da região, a Universidade, o Sebrae e além dos julgamentos e leilões, criamos atividades paralelas que mostrassem possibilidades de exploração do negócio ovinocaprinocultura”, lembra o idealizador. Normalmente o Berro é realizado na primeira semana de maio, mas com o crescimento da Expocrato, os organizadores resolveram transferi-la para o segundo semestre. “Ainda não temos a data, mas vamos fazer um grande esforço para mantê-la com a relevância que merece”, assegura Cunha. ● 6 abr-mai/08 Reportagem Fotos: Kátia Marcon/Emater-RS Por Luciana Radicione Se na década de 1990 a superoferta mundial derrubou os preços pagos pela lã no mercado brasileiro – o que acabou por gerar uma crise interna e um direcionamento da produção para a carne -, agora o cenário é outro: o mundo tem fome de lã. Para conquistar mercado, porém, alguns entraves precisam ser solucionados, entre eles a baixa produtividade e a qualidade do produto. E Lã - Muito espaço para crescer mbalado pelo novo cenário que se estabeleceu para a atividade, caracterizado especialmente pelo grande número de países compradores e pela escassez mundial do produto, o Rio Grande do Sul retomou há pouco menos de dez anos o interesse e voltou a intensificar a criação de raças laneiras. No passado o desestímulo gerado pela crise mundial – caracterizada pelos altos estoques australianos, pela entrada dos sintéticos no mercado e pelo colapso da antiga União Soviética - levou o Rio Grande do Sul a reduzir drasticamente sua população ovina: passou de 12 milhões de cabeças para pouco mais de 3 milhões de animais nos dias de hoje. Na carona, a produção de lã caiu de mais de 35 milhões de quilos para aproximadamente 10 milhões de quilos de lã bruta nos últimos três anos. Apesar do rebanho reduzido, o Estado, que concentra mais de 90% da produção nacional de lã, vem mantendo a disposição em manter a criação voltada para a lã. Se por uma questão de conjuntura o produto virou artigo raro no mundo, os criadores brasileiros precisam saber aproveitar melhor esse momento, mesmo que os preços atuais não estejam tão remuneradores em função do dólar, já que a lã é considerada uma commodity e tem seus preços atrelados à moeda norte-americana. Desde a derrocada do dólar, no ano passado, o preço ao produtor acumula uma queda da ordem de 50%. O cenário, segundo o presidente da Cooperativa Tejupá, de São Gabriel, Carlos Cleber Dias Leal, não deve se modificar no curto prazo, por isso os produtores precisam investir mais na qualidade para obter melhores preços e se diferenciar. Ele lembra que em 2002, com o dólar a R$ 3,80, houve uma grande mobilização pela produção laneira. Hoje, em vez de receber em média R$ 7,00 pelo quilo da lã, o produtor ganha cerca de R$ 3,80 pelo mesmo produto, com a mesma qualidade. Na avaliação do supervisor administrativo da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos (Arco), Paulo Sérgio Soares, o momento para a ovinocultura é bom para aqueles produtores que investem no rebanho, independentemente da raça utilizada. “Tem produtor que tira 3 quilos de lã de uma ovelha. Mas também há os que conseguem retirar 6 quilos de um animal da mesma raça e de uma mesma região”, exemplifica, mensurando o diferencial de produtividade obtido por quem trabalha com melhoramento. A enxurrada de fibras sintéticas no mercado não é considerada um entrave ao aumen- RS é o maior produtor de lã ovina do País to da produção, pois o público consumidor não é o mesmo. “A concorrência com os sintéticos sempre existiu e vai continuar. Temos é que buscar um produto diferenciado para ganhar mercado e aumentar a rentabilidade”, afirma o presidente da Federação das Cooperativas de Lã no Brasil (Fecolã), Álvaro Lima da Silva. “No mundo todo a lã representa menos de 3% do total de fibras consumidas. No entanto, ela possui nichos específicos e garantidos, mais voltada às camadas da população com maior poder aquisitivo”, ressalta o diretor da Divisão Tops de Lã da Paramount Têxteis, Claudio Bortolini. De acordo com ele, o produtor deve focar na qualidade, pois há grandes países consumidores na Europa e a China se apresenta hoje como uma potência a ser explorada. Atualmente o Brasil oferta menos de 1% da lã consumida no mundo. “Se cada chinês resolver comprar um par de meias de lã, faltará lã no mundo”, exemplifica o presidente da Tejupá, Carlos Cleber Dias Leal. De acordo com ele, o produtor brasileiro deve pensar à frente, ter perseverança, já que a ovinocultura como um todo tende a crescer. “Os esto- ques mundiais estão baixos e a hora é de aproveitar este cenário investindo em um produto natural que tem consumo garantido”, ressalta o dirigente da Tejupá, cooperativa que reúne 4 mil associados em 80 municípios do Rio Grande do Sul. Para o presidente da Fecolã, o trabalho no Brasil deve começar com o aumento da oferta de matéria-prima mais fina, a mais exigida pelos países compradores e a que melhor remunera. A diferença, explica, é sentida no bolso. Enquanto o produtor recebe cerca de US$ 2,00 pelo quilo de lãs cruzas, consideradas mais grossas e provenientes de Corriedale - raça que povoa 70% das propriedades gaúchas, a lã das raças Merino Australiano e Ideal remuneram de US$ 3,30 a US$ 3,50 pelo quilo. “É grande a procura por lãs finas em todo o mundo, fato que deve ser percebido pelo mercado interno”, afirma o dirigente. Segundo ele, o Brasil tem capacidade para expandir a oferta de lã entre 30% a 40%, mas para isso são necessários programas que resultem em maior produtividade, qualidade e, principalmente, mais entusiasmo. » 7 abr-mai/08 Reportagem Procura por lãs finas e superfinas cresce no mercado internacional O campeões, com genética superior, que são utilizados pelos produtores cooperados. A iniciativa já possibilitou a aquisição de mais de 10 exemplares das raças Merino, Corriedale e Ideal, com uma cobertura superior a 10 mil ovelhas em diversas propriedades gaúchas. Dentro desse mesmo projeto ainda é feito o sorteio de um carneiro por ano entre os cooperados de baixa renda. “No primeiro ano do projeto foram beneficiados 20 criadores, no segundo, 40, e no terceiro 50 criadores gaúchos utilizaram genética de ponta propiciada pelo programa”, conta o diretor da Paramount, Claudio Bortolini. Outra meta em vista é desenvolver um programa de estímulo à produção de lãs finas. Para isso, estão em processo de importação do Uruguai mais dois carneiros para que a genética seja disseminada entre os criadores. O trabalho contará com o acompanhamento e assistência técnica. O objetivo é fazer com que haja um crescimento da oferta de matériaprima em médio prazo, a fim Foto: Kátia Marcon/Emater-RS de atender a demanda da indústria. No caso da Paramount, que beneficia cerca de 600 toneladas de lã por ano, a produção interna não atende nem 10% do consumo da tecelagem, atualmente com unidades em Esteio, Uruguaiana, Bagé, no Rio Grande do Sul, e em Santa Isabel, no interior paulista. Com o programa a expectativa é de alcançar um aumento de até 20% da produção de lãs finas no País em um RS produziu 100 ton de lã super fina prazo de quatro anos. Há quatro anos a Paramount, Qualidade exige cuidados em parceria com o Governo da porteira para dentro do Estado, Emater, Embrapa Um dos aspectos que vem e cooperativas Tejupá, de São contribuindo para reduzir os Gabriel, e Mauá, de Jaguarão, preços pagos ao produtor é a vem desenvolvendo um projequalidade do produto. Proceto de melhoramento genético dimentos inadequados durante do rebanho. O programa fia esquila e o acondicionamennancia a compra de carneiros to da lã acabam prejudicando mercado internacional, dessa vez, não se apresenta como um inimigo da atividade. Bortolini não acredita em redução da demanda, já que o cenário internacional não sinaliza com quadro de superoferta nos próximos anos. Ele sugere que o produtor aproveite este momento favorável para aumentar a oferta e melhorar a qualidade do produto colocado no mercado. “Nos últimos cinco anos houve um crescimento do mercado de lãs superfinas. Nossa expectativa é de que o mercado interno aumente a produção que hoje está em cerca de 100 toneladas de lãs finas”, afirma. Algumas iniciativas conjuntas começam a dar o retorno há tanto tempo esperado pela ovinocultura voltada à lã. Se é importante melhorar a qualidade para culminar em preços mais atrativos ao produtor, é necessário também fomentar a criação nas pequenas propriedades, onde está concentrada a maior parte do rebanho laneiro. Empresa faz parceria com produtores para qualificar rebanho o processo de rastreamento do produto nas indústrias. “Além de maior capacitação durante a esquila, é fundamental o uso de embalagens adequadas para acondicionar a lã”, salienta Bortolini, acescentando que a empresa conta com mais de 7 mil fornecedores no País. Segundo ele, a grande maioria dos produtores brasileiros ainda utiliza embalagens de polipropileno e juta, em vez das de polietileno, que se diferencia por não contaminar a lã. “A contaminação por fibras sintéticas é um problema grave que precisa ser combatido’, salientou. No Uruguai, cerca de Mercado internacional é francamente comprador e busca lás finas e superfinas, já beneficiadas 95% dos produtores utilizam corretamente bolsas de filme de plástico. Um dos motivos da diferença na remuneração entre brasileiros e uruguaios, que pode chegar a 10%, reside justamente neste aspecto. O presidente da Cooperativa Tejupá lembra que erros nessas duas fases do processo produtivo são responsáveis pela formação de um preço médio inferior para o setor. “Neste caso o justo paga pelo pecador”, diz Leal. Para fugir dos prejuízos, o dirigente recomenda a entrega do produto já classificado, uma forma de beneficiar e diferenciar quem investe mais na ativi- dade. Estima-se que 50% da lã comercializada no Brasil, além de não-classificada, é acondicionada em bolsas de juta e polipropileno. “O custo entre um material e outro é o mesmo. “O maior custo ainda é a resistência”, declara Leal. Na área de atuação do escritório municipal da Emater em São Gabriel, a situação não difere do resto do Estado. Lá, segundo o veterinário Luiz Ignácio Jacques, além da necessidade de se trabalhar em cima do rebanho Corriedale para conseguir uma lã mais fina, a assistência técnica tenta há alguns anos reverter o uso das bolsas acondicionadoras feitas com material inadequado. “A adoção da bolsa de polietileno é muito lenta, pois os criadores são muito resistentes a mudanças”, explica. Ele acredita que só mesmo com a renovação de criadores e a contratação de mais pessoal qualificado pela Emater para atuar junto às propriedades possa reverter esse quadro. “Para trabalhar com ovinos é preciso perfil e muita dedicação”, ressalta o técnico. ● Jornalista 8 abr-mai/08 Reportagem especial Viagem ao centro do Nordeste Foram mais de mil quilômetros pelo sertão nordestino adentro, visitando criadores em três estados, em uma jornada que buscou fazer uma radiografia da região Por Nelson Moreira A Praça do Meio do Mundo fica no entroncamento da BR 230 – a Transamazônica – e a BR 412, no município de Pocinhos, a 150 km de João Pessoa, e não é apenas uma referência irônica de um historiador, restaurador e paleontólogo autodidata paraibano, o “Dr” Lélis. É a demarcação física de que o viajante está no centro do sertão, região também conhecida como Cariri. Na Paraíba ele está localizado no sul do Estado e é formado por 29 cidades, dentre as quais, destacam-se Sumé, Monteiro, Taperoá, Serra Branca e Cabaceiras, abrigando uma população de mais de 160 mil pessoas. Seu clima é tipicamente semi-árido, caracterizado pela baixa ocorrência de chuvas e por uma quantidade de luz solar superior a 2 mil e 800 horas anuais. Geograficamente o Cariri está dividido em Oriental e Ocidental. O nome vem da tribo dos Kariris que habitavam a região e significa silencioso. Eles viviam no sul do Ceará, onde ficam as cidades de Crato, Juazeiro do Norte (terra de Padre Cícero) e Barbalha. Em tempos de verão, como a população chama, pode fazer seca de até nove meses, quando tudo corre bem. Na época de chuvas, que começam em Janeiro, Fevereiro ou até mesmo Março, dependendo do ano, a natureza mostra toda a sua exuberância, em diversos tons de verdes e os rios transbordam, transformando-se em atração turística. Para o lado de Pernambuco, o centro des- Fotos: Nelson Moreira Vista geral do Vale do Araripe ta região é Sertânia. É neste ambiente que vive o homem nordestino, gente que tem a arte de sobreviver com a falta de água, ou com as enchentes. Que tem na ovinocultura uma das bases da produção de alimento, com raças já adaptadas a estas condições. A Paraíba tem, segundo o secretário do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca, Francisco de Assis Quintans, 86% de sua área geográfica inserida no semi-árido com pouquíssimas chances de irrigaFoto: Divulgação Os contrastes do sertão: no inverno seca, no verão a fartura ção. Esta situação forçou aos que trabalham na terra a procurarem alternativas de produção. A primeira vocação foi a pecuária, com rebanhos adaptados às condições climáticas e de vegetação. Por isto a criação de ovinos tornou-se uma das atividades principais do Estado. Conforme Quintans, o rebanho paraibano tem hoje 411 mil cabeças, e ele acredita que 80% sejam da raça Santa Inês. O restante é composto pelas raças Morada Nova, Somalis Brasileira, Cariri, Rabo Largo e um biotipo chamado Cara Curta, que está em estudo para ser elevada à condição de raça. Quintans, que também é criador de Santa Inês, afirma que o seu Governo está muito empenhado na melhoria genética destas raças, propondo programas de trocas e suporte na selecão. Da mesma forma que procurou dar apoio à agricultura familiar para que ampliassem o nível zootécnico de seus rebanhos. Por outro lado também buscou organizar a cadeia produtiva através da construção de um frigorífico no município de Monteiro, com ins- peção SIF, coordenado por um consórcio entre produtores, Governo e prefeituras. “Para dar um destino a todo este rebanho que criamos”, afirma. Mas a maior preocupação de Quintans, neste momento, é conquistar a condição de zona livre de aftosa com vacinação. Por não ter atingido o índice de 90% de vacinação no rebanho, é considerado como zona desconhecida de risco de aftosa, o que impede a circulação de seus animais para os estados vizinhos. “Vamos investir forte na questão de fiscalização sanitária, inclusive com apoio de recursos internacionais”, comenta o Secretário. O recém-empossado presidente da Associação Paraibana de Criadores de Caprinos e Ovinos, Apacco, Luiz Gonzaga Tagino de Moura, acredita que a Paraíba tem excelentes condições de ser um expoente na ovinocultura. Precisa apenas trabalhar mais na união dos produtores em torno de uma cadeia produtiva que melhore o valor dos produtos ovinos ao criador. “A demanda por carne ovina é bem maior que a oferta. Se nos concentrarmos no melhoramento genético e também no aumento dos rebanhos comerciais, a atividade vai ganhar seu destaque na economia paraibana”, sentencia. O Cariri Cearense - O Santuário de Padim Padi Ciço (Padre Cícero) está no alto da encosta da Serra do Araripe, voltada para a cidade na qual ele tanto tempo viveu e dedicou seu trabalho religioso. Abençoa a cidade de Juazeiro do Norte, mas emana seus bons fluidos para os municípios de Barbalha e de Crato, cidade em que ele nasceu. Em tempos de romaria ao santo padre, padroeiro dos pobres do Nordeste e por eles considerado um milagreiro, a região recebe mais de 600 mil pessoas. Do alto da serra se avista o vale do Araripe, o chamado Cariri Cearense, mas que possui um regime de águas e clima diferenciado dos demais. Tem rios perenes que nascem na serra ou foram perenizados através de programas de Governos federais ou estaduais. Às vezes se tornam subterrâneos. Conta o povo destas terras para todos que quiserem ouvir, e quem contou ao repórter foi Francisco Cunha, professor da URCA, Universidade Regional do Cariri, que um dia, Padre Cícero chamou Floro Bartolomeu, médico e braço político do Padre e disse: “O Cariri tem que Berrar!”. Cunha afirma que ele e os criadores de ovinos tomaram para si, esta frase e crêem que precisam lutar pela atividade, para que se torne uma importante fonte de renda para a região. O presidente da ACCOA, Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Biorregião do Araripe, Ricardo Técio, um corretor de imóveis que entrou na criação de ovi- » 9 abr-mai/08 Reportagem especial nos em 2001, concorda com o professor e diz que a ovinocultura precisa crescer na região. Ele calcula que atualmente devem existir cerca de 1,5 a 2 mil criadores, trabalhando um rebanho ao redor de 230 mil cabeças. Em termos de incentivo já acertou com a Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará, a assinatura de convênios para repasse de recursos para a realização de dois cursos de capacitação de mão de obra para a pequena propriedade e de tratamento de verminoses. Pretende ainda fazer um sobre produção de alimentos (fenação). “O microclima que temos aqui favorece muito o desenvolvimento desta atividade e eu creio que ela vai crescer bastante ainda, principalmente quando se tem o Governo Estadual por perto”, ressalta. Francisco Leitão Moura é o governo por perto. Promotor de Justiça, professor de Direito na URCA e presidente do Grupo Gestor da ExpoCrato, é criador de ovinos na cidade de Tauá, região central dos Inhamuns, uma das mais secas do Ceará. Também é vice-presidente do Clube do Berro, entidade que reúne criadores de ovinos e caprinos em O Nordeste é uma região cheia de contrastes, alternando fortes secas e épocas de abundância. Neste cenário, a ovinocultura encontrou seu espaço e garante o sustento de muitas famílias Fotos: Nelson Moreira O Nordeste tem os seus contrastes: ao lado exposição de alta genética e acima feira de animais comerciais Fortaleza. Além de tudo isto, tem uma relação familiar com o Governador Cid Gomes. Esta força política tem levado à região do Cariri muitos recursos e projetos. Mas Leitão, como é conhecido, prefere citar os de abrangência estadual, que vão favorecer os criadores de todo o Ceará. “Criamos um programa que já está sendo executado e vai absorver cerca de R$ 2,4 milhões para fazermos um levantamento em todo o estado, em cada propriedade, sobre o que está sendo produzido em termos de agricultura e pecuária. Aí poderemos saber com certeza qual o tamanho do nosso rebanho ovino”, afirma. Leitão disse ainda que é uma ação conjunta do Departamento de Defesa Sanitária e da EmaterCE. Com estes dados ele acredita que o Governo do Ceará poderá agir mais seguramente em outros programas para o setor. O Promotor lembrou ainda que em Tauá, em um outro programa, pequenos produtores receberam um carnei- ro e 10 fêmeas. Hoje a cidade é grande fornecedora de cordeiros para abate. “E temos ainda, em parceria com o Ministério da Agricultura, um trabalho de produção integrada entre frutas e hortaliças com a ovinocultura, cujos resultados têm sido satisfatórios”, conclui. ● 10 abr-mai/08 Reportagem especial Ovinocultura é o suporte do nordestino E Fotos: Nelson Moreira Manoelito segura um cordeiro do biotipo cara curta le diz que existem três tipos de seres humanos sobre os quais ele desistiu de tentar salvá-los ensinando-os alguma coisa e, por isto, afirma categoricamente que já os colocou nos primeiros lugares para a fila do inferno. Os agrônomos, os veterinários e os zootecnistas. Mas valeu-lhe uma praga de ter justamente casado, pela segunda vez, com uma zootecnista. Para esta ele diz que reserva os últimos lugares. Formado engenheiro sanitarista, tem uma inteligência e conhecimento muito apurados. Fez muita pesquisa por conta própria, leu muitos livros e tem a certeza que as raças deslanadas são o suporte para o povo nordestino poder sobreviver nas condições de clima que existe no sertão onde o regime médio de chuvas é de 580 mm ao ano.. Manoel Dantas Vilar Filho, ou simplesmente Monoelito Vilar, é um homem de 71 anos, cinco filhos e 5.440 mil hectares para cuidar. Investe em bovinos Guzerá e Sindi, ovinos Santa Inês, Cariri, Morada Nova o biotipo chamado Cara Curta e um filho cria Somális. Além disto, tem uma produção de cabras leiteiras e um laticínio cujos produtos – leite, yogurte e queijo – são vendidos em Campina Grande. Sua casa, típica de fazenda, com varanda grande, tem ao lado a casa do primo famoso, o escritor Ariano Suassuna. A Fazenda Carnaúba com 940 ha, fica em cima da Chapada da Borborema, no município de Taperoá. Foi fundada em 1782 e está nas mãos da quarta geração. É uma sociedade por cotas, algo diferente no meio rural nordestino. A Carnaúba é reconhecida como a Fazenda berço do nascimento da raça Cariri. Manoelito conta que nasceu de um animal segregado de outros cruzamentos (mutação genética dominante) e foi homologada em 1998 pelo Ministério da Agricultura. É neste ponto que ele briga com o técnico da ARCO, Marconi Sales. Segundo o técnico a Cariri tem origem na raça Barriga Negra, ou Black Berry. Manoelito contesta veemente, mostrando livros de pesquisadores. O fato é que a raça Cariri é genuinamente brasileira, e conforme diz o criador tem alta prolificidade, partos duplos e triplos, habilidade materna qualidade de pele superior às outras des- lanadas, velocidade no ganho de peso e excelente qualidade de carne. “Quando dá a seca braba ele é como um cabrito, sobe aonde for necessário para comer as ramas mais altas das árvores”, comenta Manoelito. Sobre a raça Morada Nova ele diz que ela é predominante no sertão do Ceará, de onde se originou. Seu nome foi dado por Otávio Domingues, considerado o pai da zootecnia brasileira. Conforme Manoelito, existem três tipos de Morada, a vermelha, a preta e o branco ou avermelhado. “São animais que morrem pouco e em nível de sertão não tem animal com melhor rendimento de carcaça que ela”, salienta. Para enfrentar a seca ou o inverno, como chamam, ele procurou um tipo de pasto que suportasse este período e trouxe da Austrália; o capim bufel. “Com ele faço o feno e também é o único que resiste à seca”, explica. Para Manoelito a pecuária é a forma do nordestino sobreviver e sair da agricultura de subsistência. “É a região mais populosa do país e a que mais precisa de soluções e apoios de governos para diminuir a fome e o sofrimento”, afirma o criador. ● Raça Santa Inês explode no mercado Em apenas quatro leilões de elite realizados durante a Exposição Paraíba Agronegócios, em João Pessoa, no final de março deste ano, a raça Santa Inês arrecadou mais de R$ 1,5 milhão com a venda de pelo menos 150 animais. Isto se deve ao momento de grande valorização que esta raça está vivendo, principalmente porque está sendo comercializada para o sudeste brasileiro que resolveu investir forte no mercado de alta genética ovina. Para o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Santa Inês, ABSI, o veterinário Álvaro Borba, dono da fazenda Monte Alegre, em Campina Grande, PB, este mercado de genética cresceu numa velocidade muito grande, e demonstra que tem espaço para evoluir ainda mais. Borba diz que este movimento de investidores também está chegando ao rebanho comercial, “não através dos valores, mas via aumento de criadores que se interessam em produzir carne com a raça Santa Inês”, salienta. O criador afirma que o rebanho que possui algum grau de sangue da raça deve girar em torno de 7 milhões de cabeças. Diz ainda que por ser um animal com alta fertilidade, larga faixa de adaptação ao clima brasileiro e características semelhantes ao Zebu, a Santa Inês tem uma perspectiva muito grande, principalmente para cruzamentos industriais com o objetivo de produzir carne. “É uma carne de sabor suave, light por natureza e muito valorizada na gastronomia. Então eu vejo que também em nível de mercado consumidor, temos um grande potencial e é, por isto, que a raça esta se expandindo para várias regi- ões do País”, afirma com certo orgulho. Certa Polêmica – O novo padrão morfológico da Santa Inês que está aparecendo e prevalecendo nas pistas de julgamento em praticamente todo o País, está causando polêmica. Um número expressivo de criadores se mostra indignado com o tamanho dos animais muito mais alto que os padrões anteriores - e com o peso que eles estão atingindo – mais de 100 kg. As palavras de Antonio Soares, da Fazenda Riacho do Açude, em Boa Vista, Paraíba são a síntese do que a maioria disse nas conversas entre criadores. Para ele os animais que estão em pista fogem muito do padrão racial original da Santa Inês. “É um animal que só vive se tiver ração, porque se for largado a campo, nas condições da seca, não sei se resiste”, diz com ar de indignação. Outros criadores que pediram anonimato desconfiam que este novo perfil da raça tenha a ver com cruzamentos que foram feitos com outras raças, chegando a citar a Suffolk como exemplo. O presidente da ABSI concorda que a raça cresceu e aumentou seu tamanho, mas não acredita que isto vá atrapalhar seu desempenho produtivo nos rebanhos de alta genética e comerciais. Suetônio Vilar Campos, de Taperoá, PB, diz que ao longo dos seus 50 anos de criação já viu estas “ondas de modernidade” acontecerem em várias raças, “e como toda onda, meu filho, passa, ficando só o que é verdadeiro”, afirma com um sorriso largo no rosto. ● Borba: Santa Inês é o Zebu das ovelhas 11 Uma realidade no presente com um grande futuro abr-mai/08 Reportagem especial Fotos: Nelson Moreira É crença de todos que lidam com ovinos no nordeste que a atividade tem grande futuro. Alguns dizem que a ovinocultura já está vivendo o momento importante porque começa a ser reconhecida e incentivada, através de diversos programas governamentais. O inspetor técnico da Arco na Paraíba, um dos mais antigos no quadro da associação, Marconi Dias Sales, é um dos primeiros a afirmar isto. Para ele, as raças nativas têm grande produtividade e podem, como já estão, servir como base de cruzamento industrial para o aumento da oferta de carne no mercado. O secretário da Agricultura da Paraíba, Assis Quintans, acredita neste potencial. Apenas ressalta que é preciso criar Bráulio aposta na ovinocultura criadas enfrentam este problema, possuem uma qualidade invejável para outras regiões, principalmente o sul do Brasil. Elas ficam prenhas, pelo menos duas vezes ao ano e no período de dois anos têm duas parições. “As vezes com partos duplos”, assinala Marconi. Outro fato significativo é que mesmo com toda a adversidade, o índice de mortalidade médio dos rebanhos é de 2%. “Geralmente por uma fatalidade ou um predador”, explica o técnico acrescentando que a necessidade de comida e de fazer renda faz do criador um sujeito zeloso dos animais que possui. “Já ouvi estórias de famílias em que as meninas eram responsáveis por dois ou até três cordeiros guaxos (sem a mãe)”, comenta Marconi. Quintans: ovinocultura é grande opção do Nordeste soluções alimentares para evitar o problema da “sanfona”. “Quando vem o inverno nossos ovinos emagrecem muito e no verão retomam o peso certo. Não conseguimos mantêlos num estado corporal médio que seja produtivo o ano todo”, ressalta. Se as raças que por lá são O criador Bráulio Japiassu, da Fazenda Veneza do Juá, do município de Sumé, no Cariri Oriental, a cerca de 300 km de João Pessoa, é um entusiasta da ovinocultura. Por isto concorda com Marconi e aposta na atividade. Produtor de animais com alto grau de genética, trabalha com as raças Santa Inês (50 matrizes e 2 carneiros) e Dorper (13 matrizes). Começou em 1974, assumindo a propriedade da família de 290 hectares. Tem mais uma pequena área de 18 hectares na localidade de Malhada da Pedra e arrendou outra área também na região. Ele diz que optou pelo mercado de alta genética porque dá um retorno financeiro melhor. Em geral vende uma borrega Santa Inês pelo preço médio de R$ 1,5 mil, “já a Dorper tá valendo uns R$ 4 mil e macho que não fica pro rebanho eu vendo tudo”, afirma. Em seu sistema de produção diz que permite uma fêmea falhar mais de uma vez até porque, quando ficam prenhas a produtividade é bastante alta. “Aqui quase não se perde cordeiros”, assinala. Este ano pretende adotar a técnica de ultrasom a fim de confirmar as prenhezes com mais antecedência. O desmame é entre 70 a 90 dias e logo coloca em suplementação. Nos períodos de seca utiliza a Palma com a Algaroba. “Eu dou o complemento para poder manter o peso neste período brabo do sertão”, comenta o criador. Para ele o Governo deveria ter um programa de incentivo para a ovinocultura, a fim de promover e sustentar o crescimento da atividade. “Eu vejo que a criação de ovinos está crescendo, inclusive com a entrada de pequenos produtores e todo este movimento, precisa de um suporte do Governo, seja em que nível for, porque ela é uma atividade que traz renda e mantém o homem no campo”, conclui de maneira inflamada. Vaqueiro por muitos anos, Luiz Vilar é considerado pelo técnico da ARCO, Marconi Sales, um dos melhores selecionadores da raça Santa Inês em Taperoá, porque conserva em seu rebanho linhagens do carneiro 71 e agora do 683, do seu criatório e que vêm de animais que foram a base de formação da raça. Por esta razão a Estân- Luiz Vilar investe em Santa Inês cia Dolly – uma das principais responsáveis pela expansão da raça no sudeste do Brasil - lhe ofereceu uma parceria para vender no mercado paulista. Com isto tem conseguido bons preços por seus animais. Dono do sítio Jundiá, de 80 hectares, possui 130 animais PO. Para enfrentar a seca diz que dá ração comprada, mas está na raça justamente porque ela é rústica, adaptada a estas condições e muito resistente. Luiz diz que seu grande professor foi Manoel Vilar, com quem trabalhou por 12 anos. Foi seu patrão e outros parentes que tem na região, além de Marconi, que lhe ajudaram a montar o rebanho. Assim realizou um sonho antigo. “Fui economizando todo o dinheiro possível para comprar as terras e os animais. Comecei com 40 ovelhas base. Hoje trabalho na minha propriedade ajudado pelo filho Evandro”, afirma, acrescentando que ele é um dos nove que teve. A grande Marconi: mortalidade é de 2% maioria, conforme Luiz está no Rio de Janeiro ou em São Paulo, tentando a sorte e fugindo da seca. Em seu sistema de produção programa a primeira parição para maio, no período pós seca e a segunda em novembro/ dezembro. Para esta parição ele precisa sempre se preparar na parte de alimentação pois é o momento em que ainda há seca. Sobre a parceria com a Dolly ele diz que está sendo muito positiva pois está ajudando a divulgar sua criação. “Vai ajudar a me manter na atividade e a investir na preparação e melhoramento da genética, que é o que importa para quem trabalha neste mercado”, diz o criador, acrescentando que pelo que está vendo no mercado e pela televisão, a ovinocultura está passando por um momento muito bom e deve crescer bastante. “Espero que sim, porque é o meu negócio, né, e eu preciso que todo mundo ganhe para eu ganhar também”, finaliza. ● 12 abr-mai/08 Reportagem especial Dois técnicos porretas!!! Marconi Dias Sales Francisco Fernandes Ferreira Ele não tem este título nem a certidão que comprove, mas é considerado o pai da raça ovina Cariri. E leva este mérito por realizar pesquisas e levantamentos de documentação para encaminhar o processo de reconhecimento e abertura do registro genealógico da raça junto ao Ministério da Agricultura. Marconi Dias Sales é paraibano nascido e criado em fazenda. Saiu para os estudos no Recife e se formou Engenheiro Agrônomo. Não conta em detalhes, mas esteve envolvido em política estudantil, contra o governo da época. E por esta razão, quando terminou a faculdade, não conseguiu assumir cargos no governo. Isto o levou a aceitar um trabalho em uma empresa no Rio Grande do Sul. Demorou um certo tempo até retornar à Paraíba, aonde vive até hoje. Já fez viagens ao exterior, já foi jurado de exposições e há mais de 30 anos é inspetor técnico da ARCO. Marconi é um profundo conhecedor da ovinocultura nordestina. Sabe das mazelas da criação e conhece quase todos os cantos do seu Cariri. Tem uma certa queda pela raça Rabo Largo. Cria Santa Inês e acredita que a atividade tem enorme potencial de crescimento enquanto atividade. Segundo seus cálculos hoje ele atende a uns 10 criadores, dentro da Paraíba, no Crato CE e em Pernambuco. “É um rebanho de mil animais registrados”, ressalta. É incansável e, pelo visto, não vai parar de trabalhar tão cedo. Morando a mais de 400 km distante de Marconi, mais certamente no Crato, sul do Ceará. Francisco Fernandes Ferreira, mais conhecido como Fernando, é o Inspetor Técnico da ARCO na região sul deste estado. Produtor rural, agrônomo, cria Santa Inês, Morada Nova, Somalis Brasileira, Cariri, num rebanho com 900 cabeças. Como técnico atende a 16 criadores com média de 300 animais por criatório, distribuídos em 28 municípios. Segundo ele a ovinocultura é atividade que faz parte do sertão porque está no hábito alimentar da população. “Toda a carne produzida é consumida na região”, ressalta. Como agrônomo desenvolveu uma pesquisa com o Feno Mata Pasto, uma forrageira leguminosa dos campos abertos e das pastagens nativas do Ceará. Enquanto verde é desprezado para consumo animal pela baixa palatabilidade e sabor amargo. “Mas sob a forma de feno, constitui um alimento rico em nutrientes para todos os ruminantes”, assegura. ● Luiz do Berro é o sertão Luiz e seu uniforme padrão O sotaque carregado, o chapéu de vaqueiro nordestino e o colete de guerra são sua marca registrada. Onde quer que esteja conhece todo mundo. Em uma exposição, por exemplo, é difícil ficar 5 minutos em uma conversa sem ele cumprimentar meia dúzia de pessoas que passam perto. E todos querem sua atenção. É um relações públicas nato. José Alberto Britto Mendez não vai ser conhecido se não for chamado de Luiz do Berro. E tem este nome porque há alguns anos trabalha na revista O Berro. Acompanhado de sua mulher Dona Novinha, viaja por todo o sertão, mas gosta mesmo é de voltar para sua casa, em Sertânia, Pernambuco. Veterinário, é um defensor forte da ovinocaprinocultura como importante atividade econômica para o Nordeste e, por isto, quando passamos em sua casa, para tomar um café, mostrou mais uma vez sua indignação com os rumos que algumas raças estão tomando. Mas se resignou. Sabe que estas ondas passam. Enquanto saíamos para continuar a viagem, terminava a revisão do seu carro para uma próxima jornada. Ele não pára nunca... ● L Apacco tem nova diretoria uiz Gonzaga Tagino de Moura é o novo presidente da Associação Paraibana de Criadores de Caprinos e Ovinos (Apacco), cargo que assumiu no dia 4 de abril. Na composição da diretoria ficaram: Vice-presidente: Mario Antonio Borba, 2º Vice-presidente: João Luiz Borges Filho; 1º Tesoureiro: João Clímaco Nóbrega; 1º Secretário: Aralto Bomfim Alves. Luiz é Juiz de Direito aposentado e criador de Santa Inês e Dorper em ovinos, além de criador de Cavalo Crioulo, na região de Curumatau, no município de Cacimba de Dentro, Paraíba. Entre seus projetos estão a aproximação com os pequenos produtores, visando descobrir neles o potencial genético que possuem em seus rebanhos e propor trocas desta genética. Ele também pretende estabelecer um ranking entre as exposições estaduais para as raças, promover o encontro dos inspetores técnicos para troca de experiência e trabalhar para que a ARCO tenha maior proximidade com a Apacco, principalmente em projetos de conexão da cadeia produtiva. “Quero também promover uma série de cursos em todo o estado para aperfeiçoar o nível técnico de quem lida com a ovinocultura”, finaliza. A composição completa da nova diretoria é a seguinte: Presidente: Luiz Gonzaga Tagino de Moura; 1º vice- presidente: Mário Antonio Pereira Borba; 2º vice-presidente: João Luis Borges Filho; 1º Tesoureiro: João Clímaco Nóbrega Marinho; 2º Tesoureiro: Gilvam Pereira de Moraes; 1º Secretário: Aralto Bomfim Alves; 2º Secretário: Paulo Siqueira de Moraes. Conselho Consultivo: Suetônio Vilar Campos, Pompeu Gouveia Borba, Ricardo Vilar Wanderley Nóbrega, Churchill Cavalcante César, Raimundo Tadeu Farias Couto. Conselho Fiscal: Aderaldo Matias de Oliveira, Raimundo Queiroga Neto, Perón Ribeiro Japiassú. ● Fotos: Nelson Moreira Mário Borba (e) vice-presidente e Luiz Tagino (d) presidente Cordeiro de Negócio É meio da manhã. Genevaldo ou Maria do Socorro chega na frente da farmácia e amarra um borrego – que havia trocado por serviço, no dia anterior - na primeira árvore ou poste que encontra. Entra, cumprimenta a todos e indo ao balcão, entrega a lista pro farmacêutico, recebe a mercadoria e sai. Antes, passa no caixa e diz pro dono da farmácia que o borrego está ali fora como pagamento da compra feita. O sujeito nem sai para ver o animal. Genevaldo ou Maria do Socorro vai embora com seus remédios. No chegar do meio dia, Seu Virgulino (talvez uma referência a Lampião) vai almoçar. Desata o borrego e caminha com ele até o armazém do Zé. Amarra o animal no toquinho que tem na frente. Faz as compras e deixa o borrego pro Zé que decidiu fazer um churrasco na noite prá família e uns amigos. Quando dá uma folga no ar- Venda de ovinos movimenta vários negócios no Nordeste mazém, pega o borrego e leva até o açougue. Amarra o bicho na porta do estabelecimento de Valdevino, compra as carnes que queria e deixa o borrego no armazém. Na manhã seguinte, o borrego está pendurado em várias partes, à venda prá quem quiser ou precisar de uma boa carne de carneiro. Maria Antônia é a primeira freguesa do dia. Compra um pernil prá fazer um assado no domingo. E assim o ciclo do borrego está fechado. Mesmo parecendo uma estória, com personagens diversos ela é uma realidade quase que diária em dezenas de cidades do interior do nordeste e, talvez, quem sabe, em outras regiões brasileiras. Não se usa dinheiro, mas vários negócios foram realizados ao longo do dia, por conta da ovinocultura. Mostra assim a importância, mesmo que num ato tão pequeno, desta atividade para aquela região e para todo o País. ● 13 fev-mar/08 Reportagem O Criadores montam projetos com carne ovina movimento com o mercado de carne ovina está crescendo. O interesse por consumo também. Embora não haja produção suficiente para abastecer todos os mercados, sempre é possível atender a um pequeno círculo de consumidores. Motivados por esta perspectiva, projetos de abate e colocação deste produto no mercado começam a surgir em todo o Brasil. Às vezes são iniciativas conjuntas, cooperativadas; outras, de um só criador. O positivo neste processo é que aumenta cada vez mais a vontade de criar uma cadeia produtiva que leve a carne da produção à mesa do consumidor. Um exemplo vem da propriedade rural localizada a 200 km de Cuiabá, no MT, que está se tornando referência para a ovinocultura do Estado. É a Fazenda São Jorge, em Porto Estrela, do casal Fernando e Rejane Redivo Waltrick Branco, que iniciou, há três anos, um projeto de criação e, agora, fechou o círculo da atividade, com a implantação de um abatedouro no local. O frigorífico está processando 50 cordeiros/dia, transformados em cortes especiais e outros itens diferenciados. Com inspeção estadual, coloca sua produção em supermercados, açougues e restaurantes de Cuiabá. Em Goiás, no município de Jussara, Alexandre Marchesi, da Fazenda Pau Brasil, está com 2 mil matrizes em produção e comprando mais animais, para executar o seu projeto de colocação no mercado regional, da carne Cava Cordeiro. Conforme o produtor, o objetivo é ter 7 mil matrizes em produção própria e mais 3 mil com parceiros. “O abate de 500 animais/mês é terceirizado e agora estamos mantendo contato com as lojas de carne e supermercados da região para colocar o nosso produto”, salienta. Produtores mineiros também vislumbram o potencial de mercado da carne ovina. Por esta razão fundaram a Procordeiro – Cooperativa Mineira de Produtores de Cordeiro. Segundo Pedro Nobre de Lima, dois anos após ter sido fundada, a cooperativa conseguiu iniciar suas atividades comerciais e desde então, tem crescido constantemente, comercializando animais destinados ao abate, se responsabilizando por todas as fases fora das porteiras. A Procordeiro é uma cooperativa de âmbito estadual, sendo que a maior parte dos cooperados tem suas propriedades na região central do Estado. Desde sua fundação, a cooperativa abate cordeiros Severino vai atender toda a sua região com carne ovina exclusivamente de seus cooperados - com plantéis de 10 a 12 mil matrizes. Caso o crescimento verificado nas vendas não possa ser suprido integralmente, a cooperativa pode adquirir animais de terceiros, desde que atendam aos mesmos padrões de qualidade. “Nosso segredo está na visão de construir uma cooperativa qcapaz de dar suporte ao processo produtivo e desenvolvimento da ovinocultura empresarial, como importante atividade econômica do agronegócio mineiro”, diz Nobre de Lima. Segundo ele a cooperativa presta assistência técnica e transferência de tecnologia aos produtores. Alexandre Marchesi O criador diz que o produtor, com este suporte que ganha, pode se dedicar exclusivamente à fase de produção, sabendo que estão sendo providenciados a programação do abatedouro para o abate, o transporte solidário, o abate em si, a execução dos cortes, a embalagem a vácuo e a venda da produção e subprodutos estão sendo feitos por sua própria empresa, sem que ele tenha de se preocupar com isso. Além do mais, ele pode ter a garantia de que recebe os melhores preços do mercado pela sua produção, sem sofrer as oscilações de remuneração relativas a oferta e procura. Alta gastronomia Por gostar de degustar vinhos consumindo carne de cordeiro, o economista Robson Leite, diretor do Grupo Savana resolveu fazer uma pesquisa com 180 chefs de cozinha de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O objetivo era identificar o que estes experts da culinária desejavam da carne de cordeiro. As respostas sempre o levavam para produtos de fora do País. A partir dessas informações, Leite começou a criar cordeiros, cruzar animais e descobriu que os ovinos da raça Santa Inês, originária do Nordeste brasileiro, quando criados em sistema de confinamento, apresentavam as mesmas características desejadas pelos chefs e um diferencial: uma carne mais magra, sem a gordura habitual dos ovinos lanados. Há dois anos, criou a Savana, que comercializa a carne de cordeiro para restaurantes de alta gastronomia, como Fasano, na cidade de São Paulo. Hoje, a Savana tem uma demanda maior do que produtos para ofertar. Ao todo, a empresa possui 14 integrados, que fornecem para a empresa, o que dá uma média de 2 mil abates por mês. Mas ela está em busca de mais parceiros. Como a ovinocultura é uma cadeia que só agora começa a se estruturar no Sudeste, o que prevalece são os pequenos cria- dores, o que dificulta a logística. No entanto, a Savana está como parceira do Sebrae, em um projeto que une a Associação Paulista dos Criadores de Ovinos e a Câmara Setorial da Ovinocultura e tem por meta aumentar para 6 milhões o número de matrizes de ovinos no Brasil. Por isso irá financiar parte dos projetos de construção de apriscos e confinamentos coletivos. “Isso nos ajuda na questão do transporte e na parte da uniformização do rebanho”, relata Leite. Severino Gonçalves Duarte adora a ovinocultura e por isso cria há 20 anos. Mas também vê que ela é um grande negócio quando se trabalha o mercado de carne. Por esta razão está investindo em um confinamento que tem cerca de 800 a mil animais, colocados em pastagem irrigada e depois em ração. Na maioria são animais cruzados, meio sangue entre Dorper com a Santa Inês ou Morada Nova ou outra raça nordestina. Na sua propriedade, o Haras Betânia, em Juazeiro do Norte, Ceará, pretende construir um abatedouro para 2,4 mil animais /ano e abastecer o seu Estado e também os vizinhos, como Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Atualmente ele está ofertando cerca de 120 toneladas/ano somente para os mercados da sua cidade. Para chegar ao objetivo que traçou já tem cerca de 3 mil matrizes em produção e está fazendo parcerias com outros criadores. “A ovinocultura dá retorno e agora fazendo todo o processo, ou seja, criando, abatendo e colocando no mercado, creio que vou ganhar ainda mais”, avalia. Vontade de fazer Se por um lado há produtores e investidores fazendo os projetos acontecerem, por outro ainda existem muitos criadores que possuem o desejo de “fazer algo”, mas não se entusiasmam ou não acham parceria para concretizar o sonho. É o caso de Bruno Soares, criador em São João do Cariri, na Paraíba. Ex-consultor do Sebrae, diz que a ovinocultura em seu Estado precisa formar grupos que trabalhem a cadeia produtiva, que formem um abate e coloquem a carne no mercado. Mas não encontra parceiros que se juntem a esta idéia. Outro que também manifestou a vontade de juntar um grupo de produtores foi Francisco Fernandes Ferreira, da cidade do Crato, Ceará. Ele diz que o potencial de consumo de carne ovina na sua região, principalmente na época das romarias a Padre Cícero, garantiria bons lucros para uma iniciativa deste porte. “Mas como montar o projeto e organizar o grupo?” pergunta ele. O presidente da ARCO, Paulo Schwab responde dizendo que uma das figuras que poderiam ser os facilitadores ou organizadores deste tipo de projeto seriam as associações estaduais de criadores. Para ele, assim como a ARCO busca formatar projetos que levem à organização da cadeia produtiva em nível nacional, as afiliadas regionais poderiam atuar em nível estadual e, com isto, conquistar a atenção dos criadores pelas ações que estariam fazendo em prol da ovinocultura. “O fruto está caindo de maduro, é só dar o primeiro passo”, aponta Schwab, acrescentando que o programa Carne de Qualidade, feito em parceria com o Sebrae, é um caminho para todos estes que querem iniciar um processo de produção da carne ovina. “Eles têm todo o ferramental. É só ir buscar, arregaçar as mangas e trabalhar, porque o mercado já provou que está muito disponível para consumir este produto”, finaliza o dirigente. ● Robson Leite 14 abr-mai/08 Reportagem Por Eduardo Fehn Teixeira Border Collie: Eficiência e economia no manejo do rebanho Eficiência e economia sempre foram as palavras-chave que impulsionam e tornam viável qualquer exploração pecuária. Assim, ser ou não eficiente vai determinar o sucesso ou fracasso, tanto do criador de ovinos, como de qualquer criação pecuária em moldes empresariais. Eficiência na seleção genética pelo constante melhoramento do rebanho; eficiência alimentar com o fornecimento de nutrientes adequados, de qualidade mas de bom preço; eficiência sanitária, sobretudo na prevenção de doenças, e eficiência no manejo. Sim, porque ao lidar com os animais com eficiência, mas com baixo custo, o resultado será um estresse mínimo para os animais e rendimento máximo na atividade. E m todo o mundo o manejo correto e eficiente dos animais têm sido cada vez mais uma preocupação fundamental na exploração pecuária, com o mesmo nível de importância da genética, da sanidade e da alimentação, instalações, entre outros itens”, enfatiza o produtor de ovinos Alexandre Zilken de Figueiredo, criador da raça de cães pastores Border Collie, em São Lourenço do Sul (RS), onde toca o seu Canil Torena (www. caniltorena.com). Alexandre também é integrante da diretoria da Associação Gaúcha de Criadores de Border Collie, membro da Comissão Técnica de Provas de Pastoreio da entidade e juiz de provas de pastoreio no Brasil. Segundo ele, nos países de ovinocultura desenvolvida, como Austrália, Nova Zelândia, EUA, Canadá, Inglaterra e África do Sul, os criadores não dispensam três coisas para o apropriado manejo dos animais: mão-de-obra especializada, boas instalações e um item pouco conhecido no Brasil: os cães de trabalho treinados, pastores, como os da raça Border Collie. “Não são cães comuns. São cachorros de raças especializadas de trabalho com animais a campo e em mangueiras e adequadamente adestrados”, argumenta Alexandre. É mesmo incrível, senão incompreensível – comenta o criador - que no Brasil, como de resto na maior parte da América Latina, esses fantásticos cães de trabalho são menosprezados e todo o seu potencial Fotos: divulgação De longe o cão fixa o olhar... ...mais próximo ele contém o rebanho simplesmente não é utilizado pelos produtores. Entre as razões do não uso dos cães de pastoreio, ele destaca: não há tradição de treinar cães e os animais usados no Brasil não têm aptidão genética para o trabalho eficiente nem são adestrados minimamente para executar estas tarefas. “O uso de cães errados acaba criando a falsa idéia de que Mil ovelhas manejadas sem cerca Pode-se dizer que Arthur Baumgartner é um pecuarista realmente diferenciado no Brasil. Proprietário da Fazenda Sabiá, em Guaimbe (localidade que fica entre Marília e Lins), em São Paulo, ele é produtor comercial de ovinos e de gado Nelore. Só que além de empregados, ele conta em seu estabelecimento com a valiosa ajuda de trabalho a campo de nada menos que seis cães pastores treinados da raça Border Collie. “Conheci esses cães e o que eles são capazes de fazer em trabalho de campo na Suíça, nos anos 90, e fiquei realmente admirado. Então, trouxe uma cadela da Suíça e mais dois cães dos Estados Unidos. E foi assim que tudo começou ...”, recorda o criador paulista. Baumgartner maneja e alimenta mil ovelhas por 45 dias em palhada e depois em rebrota de amendoim. “E fazemos isto sem ter cercas. Todo o manejo é realizado pelos cães, que á noite conduzem os ovinos para potreiros formados com telas/redes elétricas móveis”, conta o criador. “Depois que se conhece os cães da raça Border Collie e que se vê o trabalho que eles fazem com o rebanho, a gente fica realmente maravilhado e nunca mais produz sem eles. Ao natural, esses cães fazem com que o rebanho fique mais ligado ao criador. Tudo sem violências ou estresse, o que se traduz em maiores lucros na atividade”, sentencia. ● cães mais atrapalham do que ajudam no manejo”, desabafa. É comum os pecuaristas valorizarem seus cavalos de trabalho, de boa genética e bem domados. Mas não reconhecem as vantagens de ter bons cães de trabalho treinados. “Um bom cão pode, sem exagero, fazer serviços que nem três homens bem montados conseguem. Na maior parte das lides de campo, um cão bem treinado será sempre mais rápido e eficaz que o melhor peão montado em cavalo preparado”, exemplifica Alexandre. Para o criador, essa realidade brasileira vai se reverter, com toda certeza. É só uma questão de tempo. A introdução de cães de trabalho treinados se dará à medida que os pecuaristas perceberem que é muito mais econômico e eficiente ter um só peão trabalhando com cães treinados, de modo eficiente e sem estresse para os animais, do que um grupo de homens aos gritos e correrias num trabalho desgastante para todos”, sintetiza. “Na nova Zelândia e Austrá- lia é comum um único fazendeiro cuidar de 10 mil ovinos contando apenas com auxilio de cães. E na Inglaterra há muitos ovinocultores com mais de 70 anos que conseguem manejar rebanhos em zonas montanhosas e sem cercas, apenas comandando cães de pastoreio. Assim como nos Estados Unidos, é corriqueiro que cowboys manejem a pé milhares de cabeças de gado em confinamentos com auxilio de cães de trabalho”, conta o criador de Border Collie. Nestes países – destaca estes cães são tão valorizados que as provas de pastoreio são grandes acontecimentos, como nossas exposições de animais, que duram vários dias e reúnem milhares de pessoas, principalmente fazendeiros. De onde vem a eficiência do cão pastor Por não possuírem fala, os animais desenvolveram uma linguagem de gestos e posturas muito rica e eficiente, compreensível por outras espécies. “Entre o cão e ovino ou bovino existe uma relação de caçador e presa, onde é usada uma linguagem que ambos entendem muito bem. E nesse “diálogo” há um respeito mútuo que facilita o trabalho e reduz o estresse dos animais”, relata Figueiredo, para quem o modo como o cão se posiciona e a maneira como ele olha a sua presa, informam a ela a sua intenção, a sua vontade. “Tanto o bovino como o ovino percebem essas sutilezas e respondem também com gestos (recuando, parando, caminhando, etc.). E o cão é capaz de perceber a intenção dos animais do rebanho e se antecipar a ele antes mesmo dele tentar alguma fuga. Isso faz que os animais conduzidos desistam de se rebelar contra a condução, pois vêm frustradas quaisquer tentativas de escape, acabando por se deixarem submeter ao comando do cão”, ensina o criador. Figueiredo cita outras qualidades do cão, tais como a velocidade de deslocamento, a capacidade de mudar de direção e a coragem e precisão » 15 abr-mai/08 Fotos: divulgação Os Britânicos devem muito aos seus cães. Pinturas do século IX mostram que eles não dispensavam cães treinados. Na foto, fazendeiros participam orgulhosos de provas de pastoreio em 1961 (fotos de Border Collie Museum).. para cercar e punir os animais rebeldes, quando se faz necessário. “Essas características do cão aumentam a sua vantagem sobre um peão, mesmo que bem montado. E por serem pequenos e leves, os cães podem trabalhar em vegetações e terrenos que impedem o trabalho a cavalo, como matos e zonas de muitas pedras”, argumenta. Os sons e os cheiros Os cães de trabalho possuem os sentidos da audição e principalmente do olfato muito mais apurados que os do homem, permitido o trabalho à noite ou em vegetação fechada, onde a visão é dificultada. “Esses cães são capazes de atravessar rios e alagados a nado pra trazer animais de volta ao rebanho”, informa o criador. Os cães pastores treinados se encaixam perfeitamente nos preceitos que englobam o bemestar animal. Assim, rebanhos trabalhados corretamente com cães bem treinados são sempre mais tranqüilos, menos ariscos ao homem e mais produtivos que aqueles tratados com gritos, relhaços, guizos, choques ou cães descontrolados que latem e mordem desordenadamente. “Ao trabalhar com mais eficiência o cão se torna útil também por causar menor estresse ao rebanho, e menos estresse no manejo dos animais resulta em menor perda de peso”, lembra Alexandre Figueiredo, apontando enormes vantagens aos criadores que usam cães no trabalho. Conforme ele, estudos realizados por universidades americanas demonstraram que um manejo sob estresse intenso, como banho carrapaticida, pode determinar a perda de até 8 quilos por ovino. Mas essa perda pode ser bastante reduzida com uso de cães treinados. O baixo estresse é conseguido com um trabalho ágil, silencioso (cães de raças de trabalho não latem!), eficiente, sem movimentações desnecessárias e sem impor terror aos animais. De onde veio o cão pastor? As raças de cães pastores foram desenvolvidas exclusivamente para o trabalho. Desde a pré-história, em sua luta pela vida, o homem tem seleciona- O treinamento de cães pastores não é difícil nem complicado. Não é coisa de circo nem de quem tenha superconhecimentos, segredos ou técnicas complexas. Pelo contrário. O fato do cão de trabalho possuir grande inteligência, treinabilidade e forte instinto de pastoreio, faz com que qualquer pessoa que tenha algum conhecimento possa treiná-lo com bons resultados. do cães para ajudá-lo em suas atividades pastoris. O cão foi o primeiro animal a ser domesticado, há cerca de 15 mil anos. Inicialmente ele era um companheiro de caçadas, mas logo passou a auxiliar o homem a recolher animais selvagens para domesticar. “Na Grã-Bretanha ter um cão pastor eficiente sempre foi questão de sobre- vivência econômica. E desde a antiguidade os britânicos vivem pastoreando em zonas de montanhas íngremes, pedregosas e sem cercas, o que torna o trabalho a cavalo impossível e a movimentação a pé inútil”, ilustra Figueiredo. Perder parte do rebanho significava a perda de suprimento de carne e lã, ameaçando a manutenção das Uma máquina de trabalho que reduz custos com caprinos valentes e teimosos”, define o criador. A importância de uma boa genética Eficiente, de baixo custo e amiga de seu dono Pinturas antigas já mostravam o uso do cão no pastoreio famílias. “Por essa necessidade surgiu, há centenas de anos, na fronteira (border) da Escócia com a Inglaterra, o Border Collie, companheiro inseparável dos pecuaristas britânicos e, atualmente, dos homens do campo do mundo todo. Desta raça derivaram quase todas as modernas raças de trabalho”, enfatiza. ● » Alexandre Figueiredo alerta que o cão de pastoreio não deve ser encarado apenas como um animal de estimação. Para o criador, ele é amigo como um cão, mas também é uma verdadeira máquina de trabalho, que representa mais eficiência com menor custo”. Ele enfatiza que os cães pastores não são cães de “show” ou de apresentação em rodeios, nem mesmo apenas um animal para provas. “Estes cães são essencialmente obstinados cães de trabalho. Eles nasceram para trabalhar, e é do que eles gostam, seja com rápidas e sensíveis ovelhas, seja com o gado mais rebelde e arisco ou A satisfação de trabalhar com esses incríveis cães pastores não pode ser alcançada pulando etapas ou pegando atalhos. Tudo começa necessariamente com um cão de origem comprovada. “Esse filhote deve ser criado adequadamente e, finalmente, receber um bom treinamento. Só assim se terá nas mãos todo o potencial desta surpreendente e insuperável raça de trabalho”, alerta Figueiredo. Segundo ele, no Brasil já há criadores honestos e criteriosos (infelizmente poucos ainda) que têm importado cães de trabalho de consagrados criatórios da Inglaterra, da Europa continental e dos Estados Unidos. Aqui eles são experimentados criteriosamente antes de serem acasalados com outros cães, também selecionados. Suas proles, então, são testadas nas fazendas e nas pistas de provas (desde o ano 2000, há no Brasil campeonatos regionais e nacionais de pastoreio), com muito rigorismo, procurando produzir cães confiáveis, de ótimo desempenho e de genética superior e estável, capazes de trabalhar com perfeição nas condições brasileiras, com nosso tipo em nossas propriedades. ● 16 abr-mai/08 Fotos: divulgação Como e onde surgiu essa raça extraordinária? Raça existe há mais de 200 anos M uitas vezes se lê ou se escuta que a raça Border Collie tem 150, 200, 300 anos de seleção. Mas conforme o criador Alexandre Zilken de Figueiredo, a origem dessas informações e os motivos que levam a estas conclusões são sempre omitidos ou obscuros. “Será possível que há 200 anos, em um determinado dia, um inglês, morador na fronteira com a Escócia, decidiu fazer uma raça de cães pastores com determinadas características e começou a selecioná-la?”, questiona. “Lógico que não aconteceu desta maneira”, responde. Criador de Border Collie e cordeiros da raça Texel em sua Estância Adalgisa, Alexandre Figueiredo observa que a seleção de canídeos com aptidões de pastoreiro existe muito antes do homem ter contato com esses animais, possivelmente há milhões de anos. Falando sobre as origens e o início da formação da raça, o criador diz que a seleção natural se encarregou, durante milhares de anos, de preservar e reproduzir os genes para essas atividades em populações de lobos, raposas, coiotes, chacais, etc. Quando finalmente o homem se associou a esses animais, no início da domesticação, essas características já existiam e talvez por percebê-las o homem avaliou vantagens em ter canídeos para ajudá-lo em suas caçadas. “Desde então há uma seleção artificial empírica buscando preservar os cães mais amigáveis, menos agressivos, mais colaboradores, mais treináveis, mais “inteligentes”, conta Figueiredo. As evidências sobre a época e o modo de domesticação - como ossos e ferramentas encontrados à volta dos antigos acampamentos e cavernas, desenhos e entalhes nas paredes de cavernas, ou ornamentos - são incompletos. Mas não há dúvida que o homem já tinha domesticado o cão no período paleolítico. “Sabe-se, por exemplo, que os aborígines paleolíticos foram para a Austrália levando consigo o cão”, assinala. ajudavam a cuidar de rebanhos. É óbvio que os cães agressivos, que dispersavam rebanhos ou que não obedeciam a seu dono, já eram também eliminados, num processo seletivo. “Possivelmente iniciando a seleção do cão pastor, assim como de quase todas as outras raças de cães”, aponta. As raças de cães pastores modernas têm hoje quase a mesma função para o homem que já tinham os primeiros canídeos domesticados, ou seja, de juntar (e não de dispersar) rebanhos e conduzi-los a um local onde podiam ser abatidos ou aprisionados. “Algumas espécies de lobos caçam deste modo. Lobos de hierarquia inferior arrebanham 1570. Muitos crêem que o nome “collie” possa derivar de uma palavra gaélica que significava útil. Outros autores afirmam que “collie” vem da palavra “colley”, uma raça de ovelhas. Outra pista é a existência da palavra “coolie” em inglês, que quer dizer trabalhador. Mas qualquer que seja a hipótese verdadeira, o certo é que há muito tempo “Collie” designava o cão preto (como eram quase todos) e útil que servia aos pastores daquela região do globo. “Durante séculos esses cães pastores trabalharam com seus donos cuidando de rebanhos sob chuva, neve e mormaços, em terras íngremes e pedregosas, sem nenhum reconhecimento, fora o de seus próprios donos”, As raças de cães pastores modernas caçam de modo semelhante aos lobos, que conduzem instintivamente os rebanhos para o líder da matilha que, no caso do Border Collie, é o ser humano Mas se os registros arqueológicos mostram os restos de cães domésticos com aproximadamente 14 mil anos, análises genéticas que consideram a divergência do DNA mitocondrial entre cães, lobos, coiotes e outros canídeos, sugerem que a domesticação do cão tenha ocorrido há 100 mil anos. Alexandre Figueiredo garante que o Border Collie ainda carrega hoje traços físicos e comportamentais de seus antepassados, os lobos. No período neolítico – diz o criador – quando o homem polia pedras e construía cabanas, quase todas as raças modernas já estavam domesticadas. E muito provavelmente os cães já Border tem origem na Escócia lotes de herbívoros e os conduzem a um ponto onde o lobo alfa, descansado, está à espera para abater uma presa que servirá de alimento à matilha. O homem faz hoje o papel desse lobo alfa, para quem o Border Collie, como seus ancestrais, conduz o rebanho. E não é por acaso que os cães pastores mantém, além das características comportamentais, muito da aparência física dos seus antepassados lobos. A criação da raça O Border Collie é originário da região fronteiriça entre a Escócia e a Inglaterra. Mas a raça é muito mais antiga, com referências literárias e pictóricas que datam de, pelo menos, diz Figueiredo, informando que foi em Bala, no País de Gales, a 9 de Outubro de 1873, o início dos primeiros concursos de pastoreio, quando pela primeira vez foi mostrada esta raça aos olhos do público. “O encantamento foi inevitável. E a popularidade da raça como grande ferramenta de trabalho foi crescendo rapidamente, acompanhando o desenvolvimento da indústria da lã e mais tarde da carne ovina”, argumenta. Por volta de 1800, os cães Border Collie tinham se tornado ajudantes invariavelmente presentes nas fazendas inglesas. Em 1906, alguns pastores que se preocupavam com a preservação da raça fundaram a Interna- cional Sheep Dog Society (ISDS) por encontrarem-se insatisfeitos com o Kennel Club. O descontentamento vinha do fato desta entidade se preocupar mais com o aspecto exterior dos cães do que com as sua funcionalidade. A ISDS é hoje responsável pelo Stud Book que registra os cães de trabalho e que organiza as provas de pastoreio (sheepdog trails). Em 1918, James Reid, secretário da ISDS, acrescentou pela primeira vez a palavra “Border” a raça que então era conhecida apenas como “collie”, fixando assim o nome Border Collie, “collie da fronteira”. Mas que características eram as selecionadas pelos pastores ingleses que criavam e dependiam do Border Collie? Quais cães eram apreciados e reproduzidos? Segundo Figueiredo, primeiramente era fundamental que o cão tivesse o instinto de arrebanhar os animais sem nunca dispersálos ou afugentá-los, e trazê-los ao seu dono. Depois era preciso que o cão fosse capaz, física e mentalmente, de fazer isto de modo eficiente e seguro. Para tal exigia-se um cão calmo e equilibrado, mas que tivesse resistência, velocidade e agilidade superior às das ovelhas. Resistência e obstinação Sobretudo na Grã-Bretanha, berço da maioria das raças bovinas e ovinas, ter um cão pastor eficiente era questão de sobrevivência. Isto se explica pelo fato de aqueles fazendeiros viverem pastoreando em zonas montanhosas, totalmente abertas e íngremes, que tornava o trabalho a cavalo impossível e a movimentação a pé inútil para o controle dos animais. “Esses cães quase sempre trabalhavam em condições severas e desgastantes. Dominar por muitas horas seguidas, rebanhos ariscos, velozes e rebeldes, em montanhas íngremes, com pedras ásperas, frio intenso, chuva... Muitas vezes sem ver o dono nem receber deste qualquer orientação, exigia uma obstinação e uma tenacidade incomuns. E foi justamente a partir dessa necessidade fundamental que o pastor daquela região e acabou por criar o Border Collie, reconhecido como o melhor cão pastor do mundo. ● Jornalista 17 abr-mai/08 Reportagem Garanta o nascimento de cordeiros saudáveis Por Eduardo Fehn Teixeira E steja onde estiver, de Norte a Sul do Brasil, é agora a hora de o criador adotar as providências para que não haja mortalidade de cordeiros na próxima temporada de nascimentos, que em média ocorre no início da próxima Primavera, ou a partir dos meses de julho e agosto. Agora, portanto, é o momento adequado a que o produtor forme as pastagens que vão dar sustentação nutricional às fêmeas cobertas para a produção de cordeiros deste ano. Sim, simplesmente porque a principal causa da mortalidade de cordeiros que historicamente ocorre na ovinocultura, é conseqüência direta da falta de nutrição adequada das borregas e ovelhasmães. E principalmente as borregas de primeira cria devem ser apoiadas e cuidadas com esmero, pois somando sua inexperiência com uma condição física debilitada, vamos ter como resultado a morte do cordeiro (ou dos cordeiros) nascidos. Só no Rio Grande do Sul, segundo o próprio presidente da Arco, Paulo Afonso Schwab, a taxa de mortalidade de cordeiros chega a alarmantes 40%. E segundo ele, essa mortalidade ou déficit de nascimentos de cordeiros não é um privilégio dos gaúchos, mas ocorre, em índices variáveis, em todas as regiões produtoras do Brasil. “A redução destes índices preocupantes de mortalidade de cordeiros não representa investimentos pesados, mas sim cuidados com o manejo dos rebanhos, onde os destaques precisam ser dados pelo criador basicamente nas áreas de sanidade e de nutrição das fêmeas e dos rebanhos de modo geral”, sintetiza o dirigente. Para ele, na atualidade o produtor conta com uma série de avanços técnicos que, através dessas práticas, ele é capaz de adequar principalmente as épocas ideais para o encarneiramento e, por conseqüência, as épocas mais propícias para os nascimentos dos cordeiros”, examina Paulo Schwab. Conforme a veterinária Sônia Desimon, assistente técnica estadual em pecuária da Emater/RS, em linhas gerais o criador precisa estar constantemente preocupado com a saúde de seu rebanho, adotando todos os procedimentos (vacinações, vermifugação, etc.), Preparar as fêmeas é fundamental porque animais saudáveis são menos suscetíveis a contrair doenças. Mas a técnica adverte que quando o produtor observar que o úbere da borrega ou da ovelha prenha está começando a ficar mais dilatado (começa a amojar, a descer o leite), isto significa que o nascimento do cordeiro vai acontecer dentro de 10 a 15 dias. Principalmente neste momento o criador precisa colocar essas fêmeas prenhas em uma boa pastagem. “Isto vai proporcionar o estado nutricional ideal para que a fêmea traga à vida seus filhos de forma saudável”, diz a veterinária. Sônia observa que os filhos de fêmeas saudáveis e bem nutridas já nascem fortes, com bom tamanho e levantam rápido, caminham e evitam a morte tanto por chuva e frio como pela ação de predadores. “E a fêmea, bem nutrida e saudável, está apta a amamentar de forma correta os seus filhos, possibilitando um fortalecimento e o crescimento mais rápido da cordeirada”, assinala. Ela diz inclusive que com as ovelhas e os cordeiros fortalecidos, os predadores também se retraem, porque suas vítimas preferidas são aquelas que enfrentam debilidade física. Outra prática apontada pela veterinária como eficaz é esquila pré-parto, feita normalmente de um mês a até 60 dias antes da parição. “Mas essa esquila tem que ser feita com muito cuidado para não prejudicar a gestação. E principalmente em regiões frias e/ou com muita chuva, a ovelha precisa ser protegida, normalmente com o uso de uma capa”, aponta. Mas a técnica também recomenda que o produtor prepare locais adequados à parição de suas borregas e ovelhas. Um lugar escolhido e incrementado para ser uma verdadeira maternidade. “Esses potreiros, principalmente nas regiões mais ao Sul do Brasil, onde o frio e chuva são intensos, precisam ser locais ideais, com abrigos e proteções contra as intempéries, como por exemplo a plantação de cortinas contra Segundo ele, em sua região a mortalidade dos cordeiros fica na média de 10% nos rebanhos de produção e a metade deste índice nas cabanhas produtoras de reprodutores repassadores de genética. “Aqui não temos o frio como o principal inimigo dos cordeiros, mas enfrentamos outros problemas como os de ordem sanitária”, identifica o veterinário. “Estamos tendo muitos abortos e fica difícil identificar com precisão o que está provocando isto”, revela. Joselito cita algumas práticas como básicas a serem executadas pelo produtor: proteger os animais do vento, chuva e frio; fazer o cordeiro mamar (se já não tiver feito isso) antes de passadas duas horas do nascimento; o cordeiro deve ficar no pasto, com sua mãe, até 15 dias após o nascimento e a partir de 15 dias o criador deve controlar a eimeriose, um protozoário que causa diarréia e pode levar o cordeiro á morte. A ovinocultura, assim como qualquer outra atividade econômica, precisa de muita organiza- Cordeiros bem nutridos vivem mais o vento feitas com o plantio de cercas-vivas”, recomenda a dra. Sônia Desimon. Já o veterinário Joselito Araújo Barbosa atribui a acentuada taxa de mortalidade de cordeiros que ocorre na região do Brasil Sul ao frio intenso que ocorre nesta parte do País. “Sem a ajuda do produtor, a mãe e principalmente o seu cordeiro ficam expostos à sua própria sorte”, diz o Barbosa, que é técnico da ARCO na Bahia, baseado em Feira de Santana, na região central daquele estado. ção e controle, para que a receita possa não só ser positiva, mas a mais elevada possível. É o que diz o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, RS, Carlos José Hoff de Souza. Para ele, quando se fala em reduzir a taxa de mortalidade de cordeiros, tudo precisa começar pela prevenção. “O produtor tem que programar os acasalamentos, para que os nascimentos possam ocorrer na melhor época do ano em termos de clima”, aponta. Conforme o especialista, saben- do quando as ovelhas vão parir, o criador deve se preocupar em manter os animais com sanidade e boa condição corporal. “E um mês antes da parição, as ovelhas precisam ser vacinadas, para que o seu colostro esteja rico em anticorpos, especialmente para o combate à clostridiose”, recomenda o pesquisador. “Já vi cordeiros nascerem na neve, na Patagônia. O cordeiro caiu na neve e em seguida levantou e foi mamar. Saiu de 40 graus positivos no útero da ovelha e caiu num solo com neve com cinco graus negativos. Mas teve forças para cumprir seus instintos ...”, contou o técnico em zootecnia Vitor Ferraz, um gaúcho que já trabalhou em vários pontos do Brasil, no Uruguai, andou pelo mundo e atualmente é um dos responsáveis pelo plantel de ovinos Dorper da VPJ Pecuária, em Jaguariúna, SP. Segundo Ferraz, o cordeiro agiu assim porque sua mãe estava com uma excelente condição corporal, o que fez com que o cordeiro nascesse forte, saudável. Vitor Ferraz concorda com as observações dos demais técnicos. Mas ele chama a atenção dos criadores para um aspecto que considera de suma importância: fazer a seleção das fêmeas pela habilidade materna. “Se a ovelha, bem nutrida, cuida bem de seu cordeiro, fica no plantel para produzir mais. Mas se não é boa mãe, deve ser eliminada, para não transmitir à sua descendência essa característica negativa”, assinala. Para o técnico, a habilidade materna é avaliada pelo criador a partir da condição do cordeiro desmamado. “Ele precisa nesta fase de sua vida estar bonito e saudável, o que mostra que teve uma boa mãe”, diz. O especialista em ovinocultura e prática de campo alerta também que é mais importante manter um rebanho num nível nutricional médio do que superalimentar as fêmeas no último terço da gestação. “Agindo assim o criador vai evitar a distocia no parto – quando o cordeiro é muito grande, sacrificando a ovelha no nascimento. Essa é uma das principais causas do abandono da cria pela ovelha mãe, que passa a se preocupar mais com seu próprio sofrimento do que em cuidar de seu cordeiro”, explica Vitor Ferraz. ● Jornalista 18 abr-mai/08 Artigo Suplementação mineral de borregas na recria favorece acabamento e funções reprodutivas Por Maria Angela Machado Fernandes* I niciada logo após o desmame, a recria é a fase do sistema de produção da criação ovina em que definese a destinação dos animais, ou mais diretamente, se vão ser acabados para o abate ou preparados para entrar em reprodução. O sucesso desta fase, cujo objetivo é necessariamente melhorar a condição corporal dos ovinos, está calcado basicamente na alimentação de qualidade. Em diversos sistemas de produção de ovinos, a alimentação exerce influencia sobre a produção, o melhoramento, a saúde e o rendimento econômico dos animais, manifestando seus reflexos especialmente sobre o ganho de peso, a produção do leite, no trabalho muscular e na acumulação de gordura. Para isso, a dieta deve ser baseada em volumoso, sejam forragens verdes ou conservadas (feno e silagem), ressaltando que estes alimentos devem ser de boa qualidade nutritiva. No entanto, a suplementação mineral é uma prática indispensável em especial a indivíduos jovens em fase de crescimento, pois funciona como um importante complemento alimentar. A correta suplementação da dieta favorece funções vitais como desenvolvimento ósseo e muscular, digestão, respiração, circulação, sistema locomotor, entre outros. É indispensável utilizar suplementos minerais específicos para ovinos, nunca sal branco ou suplementos para bovinos. A idéia de suplementação mineral adequada, até recentemente difundida e aceita pela maioria dos especialistas, era aquela em que os ovinos recebiam uma mistura mineral “completa” 365 dias por ano, sem considerações quanto ao tipo de dieta, época do ano, categoria animal e natureza Notícias do brete Hampshire Down faz Exposição Nacional A ABCOHD (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Hampshire Down) decidiu realizar entre os dia 28 de maio e 1º de junho, junto à Fenasul, a V Exposição Nacional de Ovinos Hampshire. Conforme o presidente da entidade, Wilson Barbosa, a expectativa é reunir animais e criadores de vários estados. Confira a programação do evento – 28/5 (quarta-feira): Das 6h às 22h - Chegada dos animais. – 29/5 (quinta-feira): A partir das 9h - Julgamento de Admissão. – 30/5 (sexta-feira): A partir das 9h - Julgamento de Classificação – 31/5 (sábado): 10h Palestra; 11h - Reunião da ABCOHD; - 16h Leilão Hampshire Down (animais premiados, a galpão e a campo) – 1º/6 (domingo): A partir das 18h - saída dos animais. Promoção e Realização: ABCOHD (Associação Brasileira de Criadores Ovinos Hampshire Down) Informações pelos telefones 51 3259.5522 / Liane e 51 9982.3533 / Wilson Barbosa, ou pelo e-mail: [email protected] ● Parque de Taperoá Rebanho mal nutrido tem problemas na reprodução e nível de desempenho. Este conceito de suplementação parte da premissa de que cada animal consome da mistura mineral à sua disposição, a quantidade aproximadamente necessária para atender às suas demandas metabólicas, o que pressupõe uma sabedoria nutricional instintiva por parte do animal. Hoje, sabe-se que o consumo de determinado suplemento é muito mais uma função de sua palatabilidade do que de sua capacidade em satisfazer demandas nutricionais específicas. Dessa forma, é importante ministrar suplementos minerais por meio da ingestão forçada, preparando uma mistura que contenha todos os macro e micro elementos necessários junto ao concentrado. É preciso atentar para a ingestão excessiva de certos minerais, que pode ser prejudicial á saúde causando distúrbios nutricionais. Um rebanho ovino mal nutrido além de apresentar queda na sua produção terá, problemas de ordem reprodutiva e sanitária. Atenção à suplementação de fêmeas em final de gestação, em lactação e animais em crescimento, pois são as épocas da vida em que há maior probabilidade de aparecimento de deficiências minerais. Atenção também deve ser dada á forma de fornecimento dos suplementos minerais. Um experimento conduzido na Universidade Federal do Paraná, com borregas em fase de crescimento alimentadas sob dieta de confinamento avaliou o desenvolvimento de dois grupos com base em diferentes formulações de suplementos minerais. Foi observado que animais que receberam suplementação mineral adequada em mistura na dieta e à vontade no cocho de suplementação apresentaram os melhores resultados de desempenho. Os animais que não receberam suplementação mineral apresentaram desempenho inferior. A ração com 2,0% de suplemento mineral atendeu melhor às exigências orgânicas das borregas em crescimento, se comparada à concentração inicial de 1,5%. Assim, conclui-se que é importante observar que a suplementação mineral precisa se feita de forma diferenciada, sempre com o objetivo de atender as necessidades de cada rebanho. Neste processo, é importante levar em conta a racionalidade econômica do investimento na suplementação, avaliando a todo momento os benefícios da técnica no ganho de peso dos animais. ● * Médica veterinária e colaboradora da Tortuga Cia Zootécnica Agrária. É diferente de todos os parques de exposições que existem no país. Seus idealizadores dizem inclusive que é o único feito todo ele em pedras. E realmente impressiona o visitante. Desde o portal de entrada, as baias, e o cercado da pista de julgamento, tudo é feito em pedra, montada como muralhas. Ali foi construída uma estrutura para palestras, cursos e uma sala de ordenha para caprinos, hoje usada para bovinos. “Quando acontecem as feiras junta um povo que dá alegria de ver”, diz o técnico da ARCO, Marconi Sales. ● Caroatá completa 10 anos O Rebanho Caroatá, com sede em Gravatá, Pernambuco, e em Baixa Grande, na Bahia, completa 10 anos de alta seleção genética de caprinos Boer e ovinos Santa Inês e Dorper. A criação do pecuarista Luiz Felipe Brennand, iniciada a partir da importação de embriões da África do Sul e animais campeões dos Estados Unidos, desenvolveu-se a partir do uso das mais modernas técnicas de reprodução animal e hoje é referência nacional na criação das raças. A qualidade é evidenciada nas pistas: na Expo- sição Nacional de Santa Inês de 2007 levou sete prêmios, entre eles o de Melhor Criador Nacional para Luiz Felipe Brennand. O rebanho também atua fortemente na promoção de leilões, sendo um dos que mais promove esse tipo de evento, com 14 realizados em 2007. Há sete anos criadores de todo o Brasil participam dos leilões Caroatá, Pompeu Borba e Três Ases e Um Curinga, realizados anualmente nas cidades de Gravatá-PE, RecifePE, João Pessoa-PB e SalvadorBA. ● Texel realiza 1ª Expo Nacional Evento conta com julgamentos e um remate coordenado pela Brastexel, a associação dos criadores da raça. A Associação Brasileira de Criadores de Texel, com sede na capital gaúcha Porto Alegre, confirmou a realização da 1ª Exposição Nacional da raça. O evento faz parte da agenda da Fenasul 2008, mostra com forte presença de gado leiteiro, eqüinos e máquinas, que acontece em Esteio, RS, entre os dias 28 de maio e 1º de junho. Além dos julgamentos, a previsão é realizar um leilão com oferta de animais de várias categorias e idades. Maiores Informações com a Brastexel, fones: Telefone / Fax (51) 3211.0930 / 3211.0820 ou pelo Endereço Av. Borges de Medeiros, 541 - 5°andar Casa Rural – Centro Porto Alegre / RS - CEP 90000-000. ● 19 abr-mai/08 Notícias do brete Paraíba Agronegócios movimenta R$ 5 milhões em venda de animais Na raça Santa Inês, forte disputa nas filas de julgamento Considerado o maior evento do setor rural do Estado o “Paraíba Agronegócios 2008” realizado entre 23 e 30 de março no Parque de Exposições Henrique Vieira de Melo, em João Pessoa (PB), fecha o balanço com vendas de R$ 5 milhões em animais. De acordo com o presidente da Faepa, Mário Borba, o evento pode ser considerado um sucesso também pela estrutura, público e entrosamento que proporcionou entre os produtores rurais. “Se não foi a maior, com certeza foi a melhor realizada nos últimos anos. Conseguimos trazer mais de 2 mil animais, contemplando praticamente todas as raças do Estado e do Nordeste”. O setor de ovinos e caprinos foi um dos mais completos no Paraíba Agronegócios 2008, reunindo mais de 1.300 animais das diferentes raças, de Paraíba, Ceará, Alagoas e Pernambuco. Segundo o gerente da Apacco, Marcelo Torquato, mais de 200 baias foram contratadas por 130 criadores. Os julgamentos abriram a temporada do ranking nacional de Santa Inês e Dorper. De acordo com o então presidente da Apacco, Aralto Alves, a exposição de João Pessoa é conhecida como uma das melhores do país para o setor de ovinos de caprinos. “Nosso Estado conta com um rebanho de alta linhagem e o Paraíba Agronegócios consegue reunir os melhores criadores de toda região nordeste”, disse Aralto. ● Resultado dos Leilões: Os 4 leilões movimentaram um total de R$ 2.578.184,00. Confira aqui os detalhes e médias de cada evento: Baby Paraíba - Santa Inês macho/fêmea e embriões, e Dorper fêmea - total 26 animais e 9 embriões - total - R$ 169 mil; Paraíba Show Matrizes e reprodutores de ovinos: Dorper, Santa Inês P3, Santa Inês PO – número de animais 68 - total, 712 mil - média por cabeça: R$ 12 mil; 1º Leilão Santa Inês Paraíba - animais PO, Prov III, e Prov II, machos e fêmeas - Número de animais: 56 - total R$ 499,6 mil - média por animal: R$ 9,25 mil; Destaques: Bandidinho 355 - Santa Inês PO/Macho - cota de 10% vendida por R$ 10 mil e Cantinho Joana 1328Santa Inês PO/fêmea - cota de 50% vendida por R$ 32 mil; 7º Leilão Pompeu Borba - Santa Inês macho / fêmea PO e Prov III - Bôer PO e Dorper. Número de animais: 68 - total em vendas R$ 1,19 milhão - média por animal: 17,6 mil. Um comércio muito popular A regra principal é a negociação direta entre vendedor e comprador. Enquanto a negociação está acontecendo entre um e outro, ninguém interfere nem acrescenta outra proposta. Se o negócio não acontecer, aí sim outro proponente vai conversar com o vendedor. Não existe um leiloeiro ou local específico de venda como se conhece em outros estados. Assim é o funcionamento da comercialização de ovinos, nas dezenas de feiras de animais que acontecem nos estados nordestinos, ao longo da Feiras vendem 2 mil ovinos por encontro semana. E não há determinação de quantos animais levar para vender, tanto pode ser um quanto duzentos. Muitos são levados a pé, outros de carroça ou ainda de caminhão. A feira de Campina Grande, na Paraíba, acontece sempre às quartas-feiras e os feirantes chegam por volta das 6h para pegar o melhor lugar de venda. Por volta de 10h ela está quase terminada. Segundo o comerciante de animais, Arnaldo Cândido, toda a semana são vendidos cerca de 2 mil ovinos, pela mé- dia de R$ 80. Na época da seca os preços baixam em torno de 10%. O criador Bruno Soares de São João do Cariri, é criador de animais PO e comercial e fornecedor de Arnaldo. Ele diz que a feira é o movimento de compra e venda mais democrático que existe. “É um mercado paralelo, que se auto regula em termos de preço e sempre dá certo”, afirma. Coréia – O sistema de compra e venda é igual ao das feiras de animais. A diferença é que acontece nos bretes durante as Exposições oficiais de ovinos que acontecem nos municípios do Nordeste. Também é diferente entre um e outro local, o nível zootécnico dos bichos. A Coréia é o apelido do local em que ficam os animais que não estão nas baias. Em geral são bretes avulsos colocados sob uma lona. Ali, durante a Exposição os interessados nos produtos vão fazendo seus negócios, diretamente com o dono do animal. ● Feinco 2008 fatura R$ 10 milhões Raça White Dorper - uma das atrações da Feinco 2008 Com acréscimo de vendas de 145% sobre a edição do ano passado, a Feinco 2008 – realizada entre 11 e 15 de março, tornou-se um dos maiores eventos da ovinocaprinocultura da América Latina. Em 13 leilões, as vendas alcançaram os R$ 10,4 milhões, superando em 145% a marca registrada no ano anterior, de R$ 4,2 milhões. “Sem dúvida alguma, nesta edição, nos tornamos referência mundial. Mais de 20 mil visitantes conferiram novidades tecnológicas e animais apresentados por 150 expositores, que levaram ao Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo um total de 3.896 animais de 20 diferentes raças ovinas e caprinas. A consagrada Cozinha Interativa Feinco / Savana, recebeu neste ano 890 visitantes e 132 chefs, um crescimento de quase 100% em relação à edição passada. Do total de chefs participantes, 28 eram da América Latina, 8 da Europa e 96 da Federazione Italiana Cuochi - Delegazione Brasile (Delegação Brasileira da Federação Italiana de Chefes-FIC). Além deste espaço gastronômico, uma das atrações da feira foi o Lounge Bahia, local criado para homenagear o Estado baiano, detentor do maior rebanho da raça Santa Inês do País. Além do III Congresso Internacional Feinco, voltado para mercado e gestão, a programação da feira contou ainda com palestras e cursos gratuitos, focados em manejo e preservação ambiental. Entre os temas, destaque para a construção de cercas, casqueamento e cães de guarda de rebanho, além de palestras sobre reflorestamento e recuperação de matas ciliares. O Sebrae-SP, em parceria com o Agrocentro e a Associação Paulista dos Criadores de Ovinos (Aspaco), promoveu o encontro “Relacionamentos & Negócios”, que buscou colocar em um mesmo espaço produtores rurais - de confinamentos coletivos e individuais – e representantes de abatedouros e frigoríficos. Segundo o coordenador da Feinco, Décio Ribeiro dos Santos, “há carência de produtos no mercado. A demanda de carne ovina, por exemplo, é bem maior do que a oferta. São mais de 30 mil toneladas de déficit, compensadas pelas importações. Isso mostra o potencial que tem este mercado. Se somente o consumo interno fosse suprido, toda a cadeia produtiva ganharia com isso, desde os criadores até a indústria”. ● 20 abr-mai/08 Novidade ARCO lança dois novos documentos Homenagem C om o objetivo de dar segurança nos negócios entre os criadores, o setor de Registro Genealógico criou dois instrumentos que visam dar maior agilidade na comercialização e transferência de produtos entre comprador e vendedor com relação à ARCO. O primeiro é um certificado de registro provisório para produtos PO e PCOC. Ele serve para que vendedor e comprador tenham garantias de que o produto comercializado encontra-se apto para posterior confirmação junto ao Registro da ARCO. Este documento vai agilizar prováveis vendas entre criadores de estados diferentes. O Certificado de Registro deve sempre ser solicitado pelo vendedor. Já o segundo documento, que é a Autorização de Uso por Comodato, procura dar maior agilidade nos procedimentos de empréstimos de fêmeas para reprodução utilizados nos criatórios. Ele servirá também para o comprador na regularização dos procedimentos quando das notificações de coberturas e nascimentos. Estes documentos estão disponíveis no site da ARCO - www.arcoovinos.com.br mas devem ser enviados obrigatoriamente para o setor de Registros com todos os dados preenchidos e devidamente assinados. Maiores informações com o Serviço de Registro Genealógico da ARCO. ● Lemos (à direita): sempre presente às exposições Ovinocultura perde grande criador Facsímile do formulário a ser preenchido e enviado ao setor de Registros da ARCO Câmara Setorial define ações para 2008 A inclusão da cadeia produtiva no Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) foi defendida pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos na primeira reunião do ano, realizada dia 15 de abril, em Brasília. As principais ações para o setor de caprinos e ovinos em 2008 foram definidas no encontro. O coordenador do PNCRC, Leandro Feijó, acredita que a inclusão do setor no plano é necessária em função do crescimento mercado nacional e internacional para caprinos e ovinos. Ele recomendou o engajamento da cadeia produtiva por considerar o PNCRC um requisito para a venda no mercado externo. “Sem a ajuda do setor produtivo, esse programa não pode dar certo”, afirmou. O Plano Nacional de Sanidade de Caprinos e Ovinos (PNSCO), previsto para entrar em vigor ainda este ano, também foi discutido na reunião. Entre as propostas do plano estão o credenciamento de laboratórios, desenvolvimento de programas sanitários específicos, cadastro de estabelecimentos e treinamento para veterinários. A agenda estratégica para 2008 do setor prevê a implementação do Programa Nacional de Sanidade dos Caprinos e Ovinos. Deverá entrar em vigor também o Programa Nacional de Melhoramento Genético e ações de pesquisa e desenvolvimento, visando tecnologias para a produção de carne, leite, pele e lã de qualidade. Dentro da proposta de tornar o setor mais competitivo, figuram ações para um estudo do complexo do agronegócio da caprinovinocultura no País, a adequação e a equalização dos impostos estaduais e federais e no âmbito do Mercosul e a criação de um programa nacional de capacitação contínua para técnicos, produtores e trabalhadores rurais da cadeia produtiva. ● Pecuarista, proprietário da Estância e Cabanha Vista Alegre, no município de Pedras Altas, o advogado José Antônio de Azeredo Lemos faleceu dia 5 de março de 2008, as 65 anos, após enfrentar séria enfermidade. Nascido em Porto Alegre, em 10 de dezembro de 1942, filho de Floriano Kruel de Lemos e Elza Azeredo Lemos, ao longo da vida dirigiu entidades e participou ativamente da vida rural, desde que, em 1972, junto com o pai, iniciou a criação de ovinos da raça Corriedale fundando a Cabanha Vista Alegre. O plantel da Vista Alegre foi formado inicialmente com a importação de ventres do Uruguai e Argentina, respectivamente dos criatórios de Caorsi, Mosca e Crossato, além de fêmeas das principais cabanhas gaúchas. José Antônio Lemos sempre incorporou ao plantel carneiros destacados de sangues nacionais e neozelandezes, como, recentemente, um exemplar Clifton. Na profissão de advogado, estabeleceu-se com banca própria, sendo assessor jurídico de empresas e entidades, como Associações Rurais, Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) e a ARCO. Além de criar ovinos Corriedale, Lemos também possuía plantel Polled Hereford, Cavalos Crioulos e Pônei Brasileiro. Ocupou, entre outros, os cargos de secretário da Associação Nacional de Criadores – Herd Book Collares, foi presidente da ABCCC de 1975 a 1977 e da Associação Brasileira de Criadores de Corriedale, de 2000 a 2004. Foi casado com a pecuarista e também presidente da ABCCC, Elisabeth Amaral Lemos por 38 anos.