Documento Regulamentar da Competência em Medicina
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Documento Regulamentar da Competência em Medicina
Documento Regulamentar da Competência em Medicina Paliativa 1. Justificação da criação da Competência Com a melhoria das condições socioeconómicas da população e o desenvolvimento da Medicina ao longo do século XX, a longevidade aumentou e as causas de mortalidade alteraram-se profundamente. As principais causas de morte passaram a ser as doenças crónicas, esta passou a ocorrer após um período mais ou menos longo de dependência, e assistimos a uma nova realidade, com um número crescente de doentes com cancro avançado e com outras doenças graves nãooncológicas.1,2 Estes doentes carecem também de cuidados de saúde, embora diferentes na sua natureza e especificidade daqueles que são oferecidos aos doentes com doença aguda. Grande parte do orçamento da Saúde dos países Ocidentais é gasto com os cuidados prestados durante o último ano de vida dos doentes.3,4 Estudos apontam, no entanto, para que os tratamentos prestados aos doentes em fim-de-vida, nas estruturas tradicionais de saúde, essencialmente vocacionadas para o tratamento da doença aguda, não são os adequados quer nos objetivos de intervenção no sofrimento, quer no controlo de sintomas, e mesmo na atenção à família2,5,6. Existe também a evidência de que, de acordo com diferentes contextos assistenciais e com a maior ou menor formação dos médicos em cuidados paliativos, as pessoas com doenças avançadas, irreversíveis e progressivas recebem diferentes tipos de cuidados de saúde, nem sempre adequados às suas reais necessidades7. Na década de sessenta do séc. XX, face ao abandono a que eram votados os doentes com doenças avançadas e prognóstico limitado, surgiu o “Movimento dos Hospices”. A criação, em 1967, do St Christopher’s Hospice, em Sydenham, Londres, por Dame Cicely Saunders, é considerada um marco neste Movimento. No Canadá, Balfour Mount cria em 1975 o primeiro Serviço integrado num hospital terciário, constituído não só por uma unidade de internamento mas também por consulta externa, apoio domiciliário e apoio no luto. É ele também o responsável pela introdução do termo “Cuidados Paliativos”8,9. Aprovado pelo CNE em 08.11.2013 Os Cuidados Paliativos foram definidos pela OMS em 2002 como “uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos doentes e suas famílias que enfrentam problemas associados às doenças graves e/ou avançadas e progressivas, através da prevenção e alívio do sofrimento por identificação precoce, prevenção e tratamento impecáveis da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais”. O seu âmbito não se restringe aos doentes oncológicos e terminais – sendo que um doente paliativo não é necessariamente um doente terminal ou um doente moribundo - mas a todos aqueles que têm doenças avançadas e progressivas, como as doenças neurológicas degenerativas, a SIDA ou as falências de órgão em fase avançada. Com esta definição abre-se a hipótese de estreita colaboração, num modelo de cuidados partilhados e que devem ser oferecidos muito antes da morte (semanas, meses, e por vezes até anos), entre os Cuidados Paliativos e especialidades médicas que seguem estes doentes desde fases mais precoces. 10 Estima-se que cerca de 50% dos novos casos de doença oncológica evoluirá desfavoravelmente ou já foi diagnosticada numa fase avançada. Nos doentes oncológicos em fase avançada de doença, os sintomas presentes - e estes são apenas uma parte do sofrimento que eles experimentam - são múltiplos e numerosos, em função da progressão da doença11. Noutras doenças, como a SIDA, a Insuficiência Renal Crónica, a DPOC e a Insuficiência Cardíaca Congestiva, os sintomas são igualmente muito prevalentes 12. Os Cuidados Paliativos proporcionam uma intervenção estruturada no sofrimento associado à doença avançada com melhor controlo de dor, maior adequação aos objectivos do doente, maior satisfação do cuidador e menores gastos em saúde, traduzindo-se em maior eficiência. 13,14 A implantação dos Cuidados Paliativos é muito variável nos países europeus. Estes cuidados assumem várias tipologias assistenciais, como as Unidades de Internamento, integradas em Hospitais, ou não, as Equipas Intra-Hospitalares de Suporte em Cuidados Paliativos (EIHSCP) sem camas diretamente adstritas, as Equipas de Apoio Domiciliário, as Unidades de Dia e as Clínicas de Ambulatório. 2,3 As necessidades estimam-se em 80-100 camas de internamento em Cuidados Paliativos por milhão de habitantes, uma EIHSCP por cada hospital de agudos com ≥250 camas, uma equipa de cuidados domiciliários por cada 100-150 000 2 habitantes. 15 Apesar do aparecimento recente de múltiplas equipas de Cuidados Paliativos, em Portugal, estamos muito aquém do recomendado para esta área. 16,17 Não existem estruturas credíveis de Cuidados Paliativos sem recursos humanos devidamente qualificados. As Equipas de Cuidados Paliativos têm na sua constituição mais básica pelo menos um médico e um enfermeiro – sendo desejável que tenham mais - com formação obrigatória, avançada e específica, e treino em cuidados paliativos. Aliás, convém sublinhar que a formação é considerada o fator crítico de sucesso na implementação dos serviços de Cuidados Paliativos. Na Recomendação Rec (2003) 24 do Comité de Ministros do Conselho da Europa aos seus Estados Membros é explicitada a necessidade de formação em Cuidados Paliativos em três níveis: básico, intermédio e avançado. Esta mesma recomendação é repetida pela “European Association for Palliative Care” (EAPC) e pela “European School of Oncology” (ESO).3,18,19 Na Resolução 1649 (2009) do Parlamento Europeu é reconhecida a urgente necessidade de uma maior implantação dos Cuidados Paliativos como forma de responder às necessidades atuais daquelas pessoas com doenças terminais, doenças graves ou crónicas avançadas.20 Em Portugal, foi publicada em 2004, como circular normativa do Ministério da Saúde, a primeira versão do Programa Nacional de Cuidados Paliativos, em que desde logo se reconhece a necessidade de os profissionais que trabalham nesta área, nomeadamente os médicos, possuírem formação específica credível para a desempenhar.21 Também no Decreto-Lei de 2006, que cria a Rede Nacional de Cuidados Continuados, essa necessidade é ressaltada e reconhecida, sendo previsível a necessidade crescente de profissionais que sustentem o desenvolvimento da referida Rede, nomeadamente no que concerne aos médicos e aos Cuidados Paliativos. Posteriormente, a mais recente versão do Programa Nacional de Cuidados Paliativos (2010) e o documento com a sua Estratégia de Desenvolvimento, produzido pela UMCCI (2010), voltam a destacar esse mesmo requisito22,23. Ao longo dos anos, os Cuidados Paliativos têm alargado a sua base de evidência científica, e continua a ser sentida a necessidade de promover investigação qualificada e o alargamento dos conhecimentos “baseados na evidência”. 24 3 Sendo os Cuidados Paliativos necessariamente interdisciplinares, na sua vertente médica correspondem à Medicina Paliativa, que apresenta hoje um corpo de conhecimentos específicos, com atitudes e aptidões bem determinadas e expressas através de documentos com recomendações curriculares para diferentes níveis, nomeadamente o de especialização. O seu campo de trabalho é bem reconhecido: “é o doente com doença avançada e prognóstico limitado, em que a ação é o alivio global do sofrimento e a promoção do conforto e qualidade de vida do doente, família e/ou dos que lhe são significativos”.2 Esta área de atuação da Medicina moderna, que retoma o mandato ancestral de acompanhamento para todo o tipo de doentes, mesmo quando não se curam, representa a resposta eficaz para doentes sem expectativa de cura e em sofrimento, e tem conhecimentos que envolvem não só um saber clínico de controlo da dor e de outros sintomas, como também uma abordagem holística dos problemas sociais, emocionais, espirituais, o apoio à família, apoio no luto, a comunicação adequada e o trabalho em equipa. 2 Existem inúmeras revistas científicas de Cuidados Paliativos com reputação inquestionável, onde se publica investigação robusta e bem estruturada. Há várias sociedades científicas organizadas – a nível nacional existe a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) e a nível internacional destaca-se a European Association for Palliative Care (EAPC). Em Portugal realizam-se desde há anos congressos nacionais de Cuidados Paliativos, com presença regular de centenas de profissionais de saúde e apresentação de resultados da prática e de investigação levada a cabo por equipas nacionais. O último Congresso Europeu de Cuidados Paliativos, realizado em Lisboa, em Maio de 2011, sob os auspícios da APCP e da EAPC, contou com a presença de mais de 2500 delegados. Já desde há alguns anos que em algumas Faculdades de Medicina do país – lamentavelmente não em todas - se lecionam Cuidados Paliativos, quer a um nível pré-graduado, quer pós graduado, a um nível de mestrados. Os Cuidados Paliativos são já reconhecidos como especialidade na Inglaterra e Irlanda, há mais de 15 anos, também mais recentemente na Austrália, e como subespecialidade nos Estados Unidos da América, Nova Zelândia, França, Alemanha, Polónia, Roménia e Eslováquia.2,19 4 Em Portugal, existem Unidades de Cuidados Paliativos, algumas há mais de 15 anos, onde trabalham alguns colegas médicos que, para além da formação realizada em instituições credenciadas e da larga experiência acumulada, realizaram formação específica avançada que confere credibilidade à sua prática. 16 Pensamos que, neste contexto, fica claro que a Medicina Paliativa reúne uma especificidade própria, não ministrada nos curricula de outras especialidades já existentes e é necessária para responder a especificidades do sofrimento associado à situação das pessoas com doença grave, avançada e terminal, e suas famílias. A necessidade de estabelecer a Medicina Paliativa como uma competência advém, por um lado, da necessidade de se garantir a qualidade na formação ao estabelecer um conhecimento estandardizado fundamental para acompanhar estes doentes e suas famílias, e por outro, do reconhecimento da falta de um maior número de profissionais médicos com esta formação. Ao credibilizar esta área médica, pensamos que será também mais plausível prestigiá-la e fixar novos médicos neste tipo de prática assistencial, garantindo ao mesmo tempo um desenvolvimento sustentado desta importante área de cuidados a doentes crónicos. Indubitavelmente, serão os doentes e suas famílias os que mais ganharão com este passo. 2. Histórico Em 18 de Junho de 2010, um grupo de médicos solicitou ao então Bastonário da Ordem dos Médicos, através de carta, a criação da competência de Cuidados Paliativos. Essa pretensão foi aprovada em reunião do Conselho Nacional Executivo de 19 de Outubro de 2010. O mesmo CNE, na sua reunião de 16.09.2011, deliberou reconfirmar a criação da competência em Medicina Paliativa, nomeando depois a Comissão instaladora da mesma, coordenada pela Dr.ª Isabel Galriça Neto, e integrando ainda os colegas António Lourenço Marques, Edna Gonçalves, Hugo Domingos, Madalena Feio e Margarida Damas de Carvalho (tendo esta posteriormente deixado de integrar a comissão). Esta Comissão remeteu uma primeira versão do Documento Regulamentar ao Sr. Bastonário, Exmº Sr. Professor José Manuel Silva, em Julho de 2012. 5 Em 25.07 2013 o Sr. Bastonário remeteu à dita Comissão uma missiva onde solicitava o aprimoramento do documento regulamentar da Competência, atendendo a pareceres de três colégios da especialidade (MGF, Oncologia e Anestesiologia) que também anexava. 3. Definição e âmbito da formação avançada A Medicina Paliativa diferencia-se pelo estudo e abordagem holística dos pacientes com doença grave e/ou progressiva, avançada, para os quais o prognóstico é limitado e o foco principal dos cuidados é a Qualidade de Vida. Esta área de competência específica envolve não só o controlo sintomático, como o apoio global aos indivíduos com doenças graves, incuráveis e progressivas, às quais está associado sofrimento relevante, sendo esse apoio prestado por uma equipa multidisciplinar e extensível às famílias. A intervenção clínica, em equipa multidisciplinar, vai para além do tratamento rigoroso dos sintomas e das manifestações físicas da doença causadoras de sofrimento, estendendo-se ao apoio psicológico, social e espiritual e prolonga-se pelo período do luto. Esta intervenção deve fazer-se precocemente no curso da doença e não apenas nas fases finais da mesma, num modelo de cuidados cooperativos e partilhados com outras especialidades que podem oferecer intervenções dirigidas à doença. O treino avançado e especializado em Medicina Paliativa pressupõe uma formação médica pós-graduada robusta e uma prática clínica orientada para os aspetos clínicos da Medicina Paliativa. Isto inclui a identificação correta das necessidades associadas ao sofrimento e intervenção nas mesmas, o correto diagnóstico e tratamento dos sintomas (baseado no conhecimento da fisiopatologia relevante), a aplicação de medidas de farmacologia clínica e de medidas não farmacológicas, e o apoio psicossocial aos doentes e seus familiares. Torna-se ainda fundamental que o formando médico conheça os princípios do trabalho em equipa e da prática interdisciplinar, estando ciente da possibilidade de vir a liderar e coordenar equipas e de se articular com outros profissionais de saúde e outros recursos assistenciais. O médico com a competência de Medicina Paliativa é um perito médico e um decisor clínico (conhecendo o significado da doença e dos problemas na perspetiva do doente, e tomando as decisões clinicas mais apropriadas), um comunicador e 6 um colaborador (pelas relações de apoio ao doente e familiares, e pela articulação que estabelece com outros profissionais), um gestor de cuidados (gerindo os seus conhecimentos, os recursos disponíveis, buscando a eficiência), um advogado em saúde (defendendo as soluções para as necessidades dos seus doentes), um professor (ao transmitir a outros os ensinamentos e experiência que detém), ou seja, um profissional completo. O objetivo do treino avançado é que os formandos possam desenvolver-se apoiados nas aptidões cognitivas e práticas adquiridas durante a formação, desejavelmente num ambiente formativo multiprofissional e estimulando uma prática reflexiva. No final do programa de formação avançada em Medicina Paliativa, os formandos deverão ser competentes para trabalhar como consultores na área, desenvolvendo uma prática profissional consistente, responsável e autónoma em Medicina Paliativa. O documento curricular contém os conceitos mais abrangentes, os objetivos de aprendizagem com eles relacionados e os conhecimentos teóricos associados, as perícias clínicas, atitudes e comportamentos requeridos e habitualmente utilizados pelos médicos de Medicina Paliativa. É expectável que todo o ensino e aprendizagem associados ao Currículo de Medicina Paliativa sejam efetuados no contexto da prática diária do médico, integrando os aspetos específicos desta disciplina e adequando-se ao contexto assistencial em que o formando se encontra. 4. 4.1 Critérios para a atribuição da competência Admissão por consenso Esta competência poderá ser atribuída transitoriamente por consenso, após apreciação curricular por um júri a designar, nos primeiros 6 meses após anúncio da sua criação (candidatura até ao dia 29/08/2014), e num dos dois seguintes casos: a) Médicos que demonstrem ter exercido funções de uma forma específica, regular e continuada em Medicina Paliativa, com pelo menos 50% da sua atividade assistencial dedicada a esta valência, durante um período mínimo de 3 anos e 7 com currículo considerado adequado, tendo em atenção pressupostos do ponto 4.3. b) Médicos com formação pós-graduada de nível avançado (nível C - mais de 250 horas) em Cuidados Paliativos, efetuada em instituições académicas idóneas, e cujos conteúdos curriculares incluam os pressupostos do ponto 4.3, e que tenham simultaneamente cumprido um período de trabalho/estágio de pelo menos 12 meses (mínimo 18h semanais ou tempo total não inferior a 800 horas) numa Equipa idónea de Cuidados Paliativos (hospitalar e/ou domiciliária), em que o coordenador médico seja possuidor de formação avançada e experiência credível em Cuidados Paliativos. Os referidos médicos deverão ainda apresentar a seguinte documentação a) Requerimento de admissão dirigido ao Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos (modelo anexo). b) Documento comprovativo da inscrição na Ordem dos Médicos e de como se encontra no pleno gozo dos seus direitos estatutários. c) Curriculum vitae, até ao máximo de três páginas, em que conste: nome, n° de Cédula Profissional, data de nascimento, ano de licenciatura, instituições responsáveis pela formação, local atual de trabalho, concursos e outros elementos biográficos considerados importantes pelo candidato, incluindo ações de formação frequentadas d) Sempre que entendido como necessário, o júri de avaliação pode solicitar o fornecimento de dados específicos ou esclarecimentos adicionais sobre os itens referidos. 4.2 - Os médicos possuidores de um título de especialista reconhecido pela Ordem dos Médicos poderão requerer a atribuição da Competência em Medicina Paliativa desde que possuam um currículo específico, baseado nos pressupostos do ponto 4.3, de que conste, cumulativamente, o seguinte: 4.2.1 – Formação Teórica Frequência com aproveitamento de ações de formação organizadas por entidades idóneas, e específicas, que cumpram com critérios de formação avançada (mínimo de 400 horas de contacto ou 60 ECTS de trabalho global) e de 8 acordo com as bases curriculares sugeridas pela EAPC, que traduzimos e adaptámos, e são apresentadas em anexo no ponto 4.3. 4.2.2 – Formação Prática Equivalente a um mínimo de 18h semanais, durante pelo menos 1 ano, com tempo total não inferior a 800h*, em Equipas de Cuidados Paliativos em que pelo menos um dos médicos possua a Competência em Medicina Paliativa, e desejavelmente realizada nas diferentes vertentes assistenciais dos Cuidados Paliativos (internamento, ESIHCP, apoio domiciliário). * Poderão ser creditadas as horas / ECTS de prática efetuada em contexto de formação académica. 4.2.3 - Publicações/Apresentações Publicação ou apresentação em reunião científica de âmbito nacional ou internacional, de, pelo menos, 3 trabalhos na área dos Cuidados Paliativos como autor principal ou em co-autoria. 4.3 – Objetivos Curriculares (adaptados das recomendações da EAPC) Programa Curricular (resumo) 1. Introdução aos Cuidados Paliativos 1.1 História, filosofia e definições 1.2 Qualidades pessoais e atributos dos médicos de Medicina Paliativa 1.3 Comunicação entre serviços 2. Cuidados Físicos e Tratamento 2.1 Gestão da doença progressiva e com prognóstico reservado 2.2 Processos específicos de doença 2.3 Princípios gerais do controlo sintomático 2.4 Avaliação e tratamento da Dor 2.5 Avaliação e tratamento de outros sintomas e problemas clínicos 2.6 Emergências em Cuidados Paliativos 2.7 Procedimentos Práticos / Competências 2.8 Farmacologia e terapêutica 2.9 Reabilitação 9 2.10 Cuidados ao doente nos últimos dias de vida (agonia) e à sua família 3. Cuidados e intervenções psicossociais 3.1 Relações sociais e familiares 3.2 Comunicação com doentes e famílias 3.3 Respostas psicológicas nas doenças graves, que ameaçam a vida, e na perda 3.4 Atitudes e reações dos médicos e de outros profissionais 3.5 Luto 3.6 Aspetos financeiros no doente e família 4. Cultura, Linguagem, Religião e Espiritualidade 4.1 Cultura e etnicidade 4.2 Religião e espiritualidade 5. Ética 5.1 Ética Teórica 5.2 Ética aplicada à prática clínica em Cuidados Paliativos 6. Enquadramento jurídico 6.1 Morte 6.2 Terapêutica 6.3 Relação médico /doente 7. Trabalho de equipa 8. Formação (aprendizagem e ensino) 8.1 Aprendizagem 8.2 Ensino 9. Investigação 10. Gestão 10.1 Recursos humanos 10.1.1 Recrutamento 10.1.2 Desenvolvimento do pessoal 10.2 Competências de liderança 10.3 Competências de gestão 10.4 Gestão da informação 10.5 Sistemas de cuidados de saúde relacionados com os cuidados paliativos 10.6 Auditorias 10 Programa Curricular Detalhado 1. Introdução aos Cuidados Paliativos 1.1 História, filosofia e definições História dos Cuidados Paliativos Definição de: Cuidados paliativos; Medicina Paliativa; cuidados de conforto (“supportive care”); “hospice”; unidade especializada de cuidados paliativos; unidades de longa duração Natureza evolutiva dos cuidados paliativos ao longo da progressão da doença, incluindo a integração com o tratamento ativo (cuidados partilhados) e o significado dos pontos de transição ao longo da doença Readaptação e reabilitação Expectativas e perceções sociais na doença progressiva e avançada, e na morte Conceitos diferentes sobre o que constitui a qualidade de vida (incluindo a sua medição) e sobre uma boa morte Desenvolvimento e estado da Arte dos Cuidados Paliativos num contexto internacional 1.2 Qualidades pessoais e atributos dos médicos de Medicina Paliativa Os requisitos para uma boa prática médica incluem: o Empatia, respeito e preocupação pelos doentes e suas famílias o Autoconfiança apropriada, temperada por autoavaliação crítica e reconhecimento das limitações próprias O desenvolvimento aprofundado dos seguintes aspetos de boa prática médica, particularmente pertinentes para o exercício de cuidados paliativos: o Trabalho em Equipa o Avaliação e balanço dos benefícios e contras dos tratamentos a utilizar (frequentemente de contornos subtis) o Cooperação com outras equipas multiprofissionais o Juízo crítico acerca de quando agir prontamente o Autoconsciência para observar as estratégias próprias de coping e estilo de gestão / liderança o Capacidades de ensino flexível e efetivo 11 o Prática reflexiva o Respeito por valores e práticas sociais e religiosas diferentes das do próprio o Consciência das restrições e diferentes formas de trabalhar em ambientes diferentes o 1.3 Comunicar de forma efetiva e apropriada Comunicação entre serviços Reconhecimento da necessidade duma comunicação clara e atempada entre os diferentes prestadores de cuidados de saúde, de forma a permitir uma continuidade dos cuidados para o doente entre as diferentes instituições, nomeadamente, domicílio/unidades de cuidados paliativos/hospital/unidades de crónicos Cuidados partilhados com outras equipas multiprofissionais, em que os Cuidados Paliativos especializados assumem um papel de liderança ou um papel de suporte, tanto no hospital como nas outras instituições 2. Cuidados Físicos e Tratamento 2.1 Gestão da doença grave, progressiva e com prognóstico reservado Avaliação inicial – história detalhada e exame objetivo; avaliação do impacto da situação no doente e família Complexidade da formulação de prognósticos Consideração duma larga gama de opções de manejo/tratamento das doenças Juízo crítico dos benefícios e malefícios das investigações, tratamentos e da não-intervenção Admitir a necessidade de e ter competências na reavaliação e revisão clínica Antecipação e prevenção dos problemas expectáveis (ver item 2.6) Reconhecimento dos pontos de transição durante a evolução da doença Reconhecimento do processo de morrer e do fim de vida Gestão de crise Cuidados partilhados com outras especialidades – benefícios, dificuldades, facilitação Reconhecimento das limitações do conhecimento e experiência individuais 12 2.2 Processos específicos de doença Os princípios da terapêutica oncológica, incluindo quimio e radioterapia paliativa A apresentação, vias de metastização e terapêutica atual de todas as neoplasias malignas mais frequentes A apresentação, evolução usual e terapêutica atual de outras doenças graves, incuráveis e progressivas tratadas no âmbito dos Cuidados Paliativos 2.3 Princípios gerais do controlo sintomático Sintomas como uma experiência física, psicológica, social e espiritual Importância da anamnese e exame objetivo apropriado no controlo sintomático – incluindo a utilização das tecnologias de diagnóstico modernas, como RMN, PET scan, procedimentos invasivos, etc. Necessidade de correto diagnóstico da fisiopatologia dum sintoma (seja devido a doenças concomitantes e respetivo tratamento, seja por etiologias relacionadas com o cancro ou outra doença causal) O leque de opções terapêuticas – tratamentos dirigidos à doença e tratamentos para controlo sintomático (cirurgia paliativa, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia, terapia hormonal, outros fármacos, fisioterapia, intervenções psicológicas, terapias complementares) Escolha adequada entre tratamento ou não-tratamento, considerando prós e contras de todas as opções Controlo dos efeitos adversos do tratamento Necessidade da reavaliação regular da resposta sintomática Métodos de avaliação da resposta sintomática Controlo de sintomas intratáveis – reconhecimento e oferta de suporte emocional para doentes, cuidadores, equipas multiprofissionais e para o próprio médico 2.4 Referenciação a outras Equipas, quando necessário Avaliação e Tratamento da Dor A Dor como experiência física, psicológica, social e espiritual Fisiologia da Dor História clínica, exame objetivo e outros exames para a avaliação da Dor Instrumentos de avaliação da Dor – clínicos e de investigação 13 Diferentes tipos de Dor – nociceptiva, neuropática, irruptiva Síndromes dolorosas mais comuns e reconhecidos Tratamento Farmacológico da Dor – escada analgésica da OMS e utilização apropriada de fármacos adjuvantes Indicações e benefícios relativos dos diferentes opioides Indicações para a apropriada utilização da rotação de opioides Controlo dos efeitos secundários dos tratamentos farmacológicos Avaliação dos prós e contras dos tratamentos, incluindo radioterapia e quimioterapia Tratamentos não farmacológicos – TENS (Estimulação Elétrica Transcutânea), Acupunctura, Fisioterapia Bloqueio de nervos mais comuns e outros procedimentos neurocirúrgicos Princípios da administração de analgésicos por via espinal Apoio e intervenções psicológicas no controlo da Dor Referenciação apropriada para e cuidados partilhados com unidades de tratamento da Dor 2.5 Avaliação e Tratamento de outros sintomas e problemas clínicos Boca seca e mucosite Náuseas e vómitos Disfagia e alterações da deglutição Obstipação/Impactação fecal Diarreia Tenesmo Ascite Obstrução Intestinal Icterícia Prurido Dispneia Tosse Soluços Obstrução das vias aéreas Derrame pleural e pericárdico Hemoptise Espasmo da bexiga 14 Obstruções urinárias Problemas sexuais Linfedema Fístulas Deiscência de feridas Lesões hemorrágicas/ulcerativas Odores Úlceras de pressão Fraturas patológicas Anorexia, caquexia Astenia, adinamia Alterações hidro-electrolíticas como hipercalcémia, hiponatrémia, hipomagnesémia Síndromes Paraneoplásicos, incluindo secreção inapropriada de HAD Neuropatias Pressão intracraniana aumentada Depressão e outras alterações do humor Ansiedade e medo Insónia Estados confusionais / Delirium Alucinações Toxicodependência pré-existente Nutrição e hidratação Sintomas induzidos pelos tratamentos – radioterapia, quimioterapia, imunoterapia, associados a utilização de fármacos 2.6 Sintomas que ocorrem nos últimos dias de vida Emergências em Cuidados Paliativos Dor e sofrimento extremos Obstrução da veia cava superior Hipercalcémia Compressão medular Tamponamento cardíaco Fraturas patológicas Delirium / agitação terminal 15 Paragem cardiopulmonar Hemorragia massiva Crise Epilética Anafilaxia Estados confusionais agudos O doente violento Ideação suicida aguda Sobredosagem Síndrome de abstinência alcoólica e de drogas Hipoglicémia Crises de distonia aguda, oculogíricas e serotonérgicas Síndroma maligno associado ao uso dos neuroléticos Retenção urinária aguda Pneumotórax Tromboembolismo pulmonar Estridor Broncospasmo Insuficiência cardíaca congestiva aguda Insuficiência renal aguda Complicações previsíveis de intervenções terapêuticas ou de outros procedimentos, incluindo suporte avançado de vida (se tal for apropriado no contexto clínico) 2.7 Procedimentos Práticos / Competências Anamnese e Exame Objetivo dos doentes com doença avançada Manuseamento das complicações com: o estomas o traqueostomia o PEG (Gastrostomia Endoscópica Percutânea) o Sondas nasogástricas o Ventilação não invasiva Toracocentese Paracentese Seringas infusoras Câmaras para nebulização 16 Manuseamento de catéteres epidurais/intratecais e perfusões contínuas (utilizando guidelines locais) 2.8 Farmacologia e terapêutica Princípios gerais da farmacodinâmica e farmacocinética Farmacogenética Necessidade de ajuste de dose nos doentes frágeis, idosos e crianças Necessidade de ajuste de dose nos casos de metabolismo alterado, progressão de doença, insuficiência de órgão e últimos dias de vida O papel das farmácias hospitalares e comunitárias Formulários terapêuticos em Cuidados Paliativos Gestão dum orçamento de farmácia: aspetos de custos versus benefícios Prescrição - aspetos legais relacionados com a prescrição de fármacos de prescrição controlada Utilização de fármacos segundo uma lógica individual de cada doente Utilização de fármacos para além das licenças do respetivo produto Utilização de fármacos em ensaios clínicos Problemas da polifarmácia Ajudar doentes e cuidadores a compreender indicações e a gerir medicação Relatar reações farmacológicas adversas ao Infarmed Recomendações, guidelines e protocolos – redação, implementação e utilização Adesão e não-adesão aos tratamentos – razões para não-adesão e formas de aumentar adesão Princípios da homeopatia, incluindo indicações e potenciais efeitos secundários Princípios das terapias complementares, incluindo indicações e possíveis complicações Relativamente aos fármacos mais frequentes utilizados na medicina paliativa ou usualmente tomados por doentes que recorrem aos cuidados paliativos, conhecer: Vias de administração Absorção, metabolismo, excreção Semi-vida, frequência habitual de administração Efeitos adversos e seu controlo 17 Utilização de fármacos em seringas infusoras, estabilidade e miscibilidade dos mesmos Interações com outros fármacos Possibilidade de tolerância, dependência, adição e síndromes de abstinência Disponibilidade de fármacos na comunidade 2.9 Reabilitação Treino físico – incluindo fisioterapia, etc. Princípios da reabilitação relacionada com as doenças associadas a dependência gradual e progressiva Conceito de manutenção de função através do exercício e terapias Reconhecimento da mudança de objetivos ao longo da evolução de uma doença Lidar com os conflitos do paciente/família decorrentes de expectativas irrealistas Equipamentos disponíveis para reabilitação Competências específicas de outros profissionais de saúde, por exemplo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional 2.10 Serviços de apoio disponíveis no domicílio Cuidados ao doente nos últimos dias de vida (agonia) e à sua família Reconhecimento da fase da agonia Avaliação inicial do moribundo Prestar cuidados a doentes moribundos e às suas famílias Avaliação da medicação requerida Reconhecimento de quando suspender ou não iniciar investigações e tratamentos adicionais Gestão dos sintomas na fase de agonia Cuidados psicológicos à família Conhecimento das práticas culturais e religiosas mais relevantes que se relacionam com a prática médica, a morte e o luto Compreensão dos dilemas éticos na fase de agonia Compreensão das medidas farmacológicas nos doentes agónicos, incluindo o uso de uma seringa infusora 18 Compreensão do papel dos fluxogramas e protocolos de cuidados na melhoria dos cuidados aos moribundos Sedação paliativa – indicações e contraindicações 3. Cuidados e intervenções psicossociais 3.1 As relações sociais e familiares Valorização do doente na relação com a sua família, com o trabalho e as circunstâncias sociais Impacto da doença nas relações interpessoais Impacto da doença na imagem do corpo, na sexualidade e no desempenho Construção e utilização de genogramas Avaliação da resposta à doença e expectativas entre os membros da família Quando e como realizar as conferências familiares Formas de integrar as necessidades dos parceiros e das famílias na prestação de cuidados paliativos, tanto em ambiente hospitalar, como em ambiente domiciliário Prestação de cuidados paliativos aos sem-abrigo e aos presos Compreensão dos conceitos de ressonância, guiões familiares, homeostase nas famílias e do impacto da doença e das perdas no sistema familiar Consciência das transferências e contratransferências nas relações profissionais com os doentes e familiares 3.2 Comunicação com os doentes e familiares Habilidades em escutar com empatia e falar de forma aberta: o sobre as preocupações nos domínios físico, psicológico, social e espiritual o sobre o conhecimento da doença e do seu prognóstico Barreiras comuns à comunicação tanto para os doentes como para os profissionais Gestão da transmissão de más notícias, de perguntas difíceis e da informação, dada com sensibilidade e de forma apropriada, de acordo com os desejos e as necessidades do indivíduo Facilitação da tomada de decisões e promoção da autonomia do doente Reconhecimento e gestão de conflitos entre a confidencialidade e a necessidade de compartilhar as informações com outros 19 Problemas/limitações comuns de comunicação: dificuldades de expressão, surdez e dificuldades de aprendizagem (ver também secção 4) Teorias e fundamentos baseados na evidência da prática da comunicação Conhecimento e prática de uma variedade de estruturas e de estilos de realizar consultas 3.3 Avaliação crítica das competências pessoais de realizar consulta Respostas psicológicas nas doenças graves, que ameaçam a vida, e na perda Reconhecimento das diferentes respostas e emoções expressas pelo doente e por outras pessoas, incluindo medo, culpa, raiva, tristeza e desespero O impacto psicológico da dor e dos sintomas de difícil controlo As respostas às incertezas e perdas nas diferentes fases da doença A doença em pessoas com demência ou problemas psicológicos ou psiquiátricos pré-existentes Identificação de respostas psicológicas como uma fonte de problemas adicionais para a família do doente e como formas potenciais de dificultar os objetivos dos cuidados Lidar com: o a raiva e as emoções fortes o a perturbação ansiosa o a transferência o o conluio e a conspiração de silêncio o a negação As respostas e as necessidades das crianças (incluindo os irmãos) em diferentes estágios de desenvolvimento As respostas e as necessidades de crianças e adultos com dificuldades de aprendizagem A distinção entre tristeza e depressão clínica O conhecimento e a aplicação de intervenções terapêuticas, incluindo: o o aconselhamento o a terapia comportamental o a terapia cognitiva o as atividades de grupo/grupos auto ajuda 20 Papel do relaxamento / hipnoterapia, observação de imagens e visualização, terapias criativas O papel e a disponibilidade dos serviços especializados de apoio psicológico e psiquiátricos e as indicações para a referenciação Lidar com indivíduos violentos e potencialmente suicidas; aplicação de tratamentos compulsivos 3.4 Atitudes e reações de médicos e outros profissionais Consciencialização dos valores pessoais e sistemas de crenças, e como estes influenciam os julgamentos e comportamentos dos profissionais Consciencialização das suas próprias habilidades e limitações e do efeito das dificuldades ou perdas pessoais Capacidade para pedir ajuda aos outros quando necessário As fontes potenciais de conflito na relação médico-doente e como lidar com estes, incluindo: o o sobre-envolvimento o a identificação pessoal o os sentimentos negativos e o choque de personalidade o os pedidos que não podem ser satisfeitos Reconhecimento e gestão do impacto emocional e psicológico dos cuidados paliativos em si mesmo, na equipe e nos outros colegas Ser um colega de apoio a outros membros da equipa Reconhecimento dos indivíduos que estão a ter dificuldades, e consciência de quando e como agir, se isso afeta negativamente os cuidados ao doente Reconhecimento das vias de apoio que podem ser oferecidas aos profissionais Avaliação da segurança pessoal e dos membros da equipe quando realizam visitas na comunidade 3.5 Luto Teorias sobre o luto, incluindo o processo de luto, a adaptação à perda e o modelo social de luto Dor e luto em crianças Reconhecimento do efeito de múltiplas perdas sobre o indivíduo Preparação de cuidadores de crianças para o luto 21 Suporte do indivíduo ou da família em situação aguda de luto Antecipação e identificação de luto anormal e complicado em adultos Conhecimento sobre o luto, sobre o sistema de suporte e organização de serviços de apoio Identificação do suporte apropriado no luto para um indivíduo ou família O impacto epidemiológico do luto Fatores de risco para ocorrência de luto patológico 3.6 Aspetos financeiros no doente e família Avaliação financeira do individuo e família Acesso a benefícios, subsídios e prémios disponíveis para os doentes e familiares O papel do assistente social e / ou do gabinete de apoio social 4. Cultura, linguagem, religião e espiritualidade 4.1 Cultura e etnicidade Reconhecimento das influências culturais sobre o significado da doença para o doente e família Reconhecimento e integração das diferenças de crença e prática, por forma a garantir uma avaliação minuciosa das necessidades e cuidados aceitáveis Uso e apoio de intérpretes no caso de dificuldades de comunicação Consciencialização sobre as crenças e os comportamentos pessoais e a importância de não os impor aos outros Capacidade para reconhecer e lidar com conflitos de crenças e valores dentro da equipa 4.2 Religião e espiritualidade Capacidade para distinguir as diferenças entre a espiritualidade de um indivíduo e as suas necessidades religiosas Capacidade para detetar, de forma apropriada e integrada no processo de avaliação, as preocupações espirituais Questões de espiritualidade relacionadas com doenças graves, que põem a vida em risco, e o papel da assistência espiritual Reconhecimento da importância da esperança e da capacidade de promover a esperança em cuidados paliativos 22 Capacidade de reconhecer e responder à angústia espiritual, incluindo o encaminhamento para outros profissionais/elementos Conhecer os sistemas pastorais de diferentes grupos religiosos e trabalhar com os seus representantes dentro da equipe multidisciplinar Conhecer as práticas culturais e religiosas mais relevantes que se relacionam com a prática médica, a morte e o luto 5. Ética 5.1 Ética teórica História da Ética Médica dando ênfase à evolução filosófica e códigos de prática/conduta Análise crítica das abordagens teóricas atuais à ética médica, incluindo os quatro princípios da ética principialista (beneficência, não-maleficência, justiça e respeito pela autonomia) 5.2 Ética aplicada à prática clínica dos cuidados paliativos Reconhecimento das questões éticas decorrentes da prática clínica diária e do trabalho em equipa Consentimento informado Dar informação Confidencialidade Competência para tomada de decisões específicas Indivíduos não-autónomos ou incompetentes Juízos no melhor interesse do doente Tratamento apropriado e futilidade diagnóstica/terapêutica Conflitos de interesses entre doentes e familiares Responsabilidade das decisões (de médicos, doentes e equipas) Afetação de recursos (incluindo o próprio médico) Abstenção ou suspensão de tratamentos (incluindo hidratação/não- hidratação) Eutanásia Suicídio medicamente assistido Princípio do duplo efeito Decisões sobre reanimação cardio-respiratória Investigação/Ensaios clínicos 23 6. Enquadramento jurídico Conhecimento da legislação sobre os cuidados médicos em fim de vida, incluindo as questões sobre eutanásia e o suicídio medicamente assistido Conhecimento das “linhas orientadoras”/”guidelines” elaboradas pela EAPC e organizações nacionais de cuidados paliativos 6.1 Morte Procedimentos para certificação do óbito, incluindo a sua definição e processos para confirmação da morte cerebral Regulamentos sobre cremação Procedimentos a ter face aos familiares após o óbito O papel do agente funerário Procedimentos no “post-mortem” 6.2 Terapêutica Definições de tratamento Direito a recusa de tratamento por parte dos doentes Aspetos legais da prescrição de opioides Responsabilidades do médico prescritor/ farmacêutico/ enfermeiro Armazenamento de fármacos controlados Uso de fármacos não-licenciados Suspensão/ abstenção de tratamento em doentes competentes e incompetentes Obrigações de tratar e “não tratar” Linhas orientadoras da reanimação/”Guidelines” de reanimação 6.3 Relação médico/doente Consentimento Doentes autónomos/parcialmente autónomos/ não-autónomos Capacidade/competência Procuração /poder de representação Registo clínico e acesso do doente a este Confidencialidade e seus limites Agressão / maus tratos físicos / homicídio aplicados à Medicina 24 Assistência aos menores (crianças) Planificação antecipada de cuidados Testamento e diretivas antecipadas de vontade 7. Trabalho de Equipa Experiência de trabalho em pelo menos dois serviços de cuidados paliativos Capacidade de trabalhar em equipa multiprofissional Teorias do trabalho em equipa (psicológicas, psicodinâmicas, de gestão) Posicionamento do próprio em relação a estes diferentes modelos teóricos do trabalho em equipa Papel e responsabilidade dos médicos nas equipas multidisciplinares Competências e contributos dos outros membros da equipa multidisciplinar Natureza dos papéis nas equipas: alguma sobreposição, outros profissionalmente distintos, com limites pouco claros O papel dos voluntários nos serviços de cuidados paliativos Dinâmicas de grupo em situações diferentes e ao longo do tempo Formas de apoio/suporte da equipa Estratégias que facilitam o funcionamento das equipas e as que o dificultam A inevitabilidade de conflito numa equipa e estratégias para a sua resolução/manejo Combinação de competências numa equipa, especialmente face à entrada de novos membros Presidência/direção das reuniões de equipa Como equilibrar as necessidades de diferentes equipas, concorrentes/sobrepostas a que o mesmo médico possa pertencer em diferentes momentos Aplicação alargada do trabalho em equipa de modo a que inclua todos os profissionais e organizações envolvidos no cuidado de um doente, como enfermeiras especialistas, organizações legais ou de voluntários O impacto nos doentes e cuidadores do número de profissionais que possam estar envolvidos nos cuidados 8. Formação (aprendizagem e ensino) 8.1 Aprendizagem 25 Princípios da formação contínua e de adultos, estilo pessoal de aprendizagem e prática reflexiva Papéis e responsabilidades do formando e do formador Papel da supervisão, tutoria, contratos de aprendizagem, avaliação da crítica e feedback, aprendizagem experiencial. Planear objetivos, métodos e metas de aprendizagem Conceito de desenvolvimento profissional contínuo Medicina baseada na evidência, incluindo o recurso a bases de dados eletrónicas e da web Análise crítica da literatura, incluindo investigação qualitativa e quantitativa Aplicação da evidência nos cuidados ao doente 8.2 Ensino Contextos de formação (grande / pequeno grupo, pré /pós-graduada, médica / não médica, multi-profissional). Métodos e formas de ensino, incluindo palestras, aprendizagem baseada na resolução de problemas, role play e ensino à cabeceira do doente Seleção, preparação e apresentação de materiais de ensino. Técnicas de apresentação Métodos de avaliação, incluindo exame clínico objetivo estruturado, observação de casos, perguntas de desenvolvimento, relatórios de projetos e estudos de caso. 9. Investigação Bases científicas da medicina e suas limitações/especificidades na área dos cuidados paliativos Temas e tendências da investigação em medicina paliativa e disciplinas afins, como por exemplo, oncologia, medicina da dor e reabilitação Dimensões éticas e legais da investigação, incluindo normas como a Declaração de Helsínquia e diretrizes para a industria farmacêutica Ética da investigação, métodos de conceção de estudos no contexto específico dos Cuidados Paliativos Conhecimento do método de investigação. o Formulação de questões originais de investigação 26 o Desenvolvimento de ideias através da leitura e recurso a peritos locais e supervisão adequada da investigação o Aplicação de modelos de estudo adequados, tais como ensaios clínicos randomizados, técnicas qualitativas, estudos uni e multicêntricos. o Utilização adequada e limitações dos estudos-piloto o Análise estatística planeada, adequada à questão de investigação o Elaboração supervisionada de protocolos o Fontes de financiamento e de escrita supervisionada de pedidos de subvenção o Informação para o doente e consentimento informado o Segurança do doente e medidas a tomar se surgirem efeitos adversos o Pedido de autorização para investigação à comissão de ética o Capacidade de trabalho em grupos de investigação colaborativos o Análise de dados o Apresentação dos resultados de investigação num formato relevante, por exemplo, escrever uma revisão crítica, escrever um artigo científico original para um jornal com revisores, apresentação de um póster ou comunicação oral numa reunião científica 10. Gestão 10.1 Recursos Humanos 10.1.1 Recrutamento Escrever uma descrição da sua atividade profissional, incluindo aspetos de especificação pessoal Competências de escuta e entrevista Escrever uma carta de referência 10.1.2 Desenvolvimento do pessoal Competências de mentor Avaliação Avaliação de formandos / internos 10.2 Competências de liderança 27 Motivar e liderar uma equipa Estilos de gestão Estabelecimento de metas Consciencialização da necessidade de ajuda e orientação Dirigir e delegar 10.3 Competências de gestão Gestão do tempo Trabalhar com um secretário Planear, executar e avaliar mudanças 10.4 Gestão da informação Colheita de dados do doente Proteção de dados, incluindo direitos de acesso à informação pelos doentes Utilização da informática médica e conhecimento do papel da telemedicina 10.5 Sistemas de cuidados de saúde relacionados com os cuidados paliativos Avaliação e acreditação de Serviços de cuidados paliativos Avaliação de resultados e indicadores de produção 10.6 Auditoria Auditoria clínica, organizacional e multiprofissional Colheita de dados da atividade Conhecer padrões de referência (standards) relacionados com a prática dos cuidados paliativos Métodos de auditoria da estrutura, processo e resultados aplicados aos cuidados paliativos 28 5 Bibliografia 1- WHO Regional Office for Europe. The Solid facts: Palliative Care. Ed: Davies E, Higginson I. Copenhaga 2004. 2- Martin-Moreno JM, Harris M, Gorgojo L, et al Palliative Care in the European Union, Brussels: European Parliament, Policy Department Economic and Scientific Policy (PE 404.899) May 2008, Acedido em: http://www.europarl.europa.eu/activities/commitees/studies/download.do?file=21412 3- Conselho da Europa, Recommendation Rec (2003) 24 of the Committee of Ministers to member states on the organization of palliative care, 2003. Acedido em: www.coe.int/t/dg3/health/Source/Rec(2003)24_en.pdf 4- Lubitz JD, Riley GF. Trends in Medicare payments in the last year of life. N Eng J Med (1993) 328:1092-1096 5- Toscani F, Giulio PD, Brunnelli C et al on behalf of the End-of-Life Observatory Group: How People Die in Hospital General Wards: A Descriptive Study. 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White paper on standards and norms for Hospice and palliative care in Europe: part 2 Recommendations from the European Association for Palliative Care, EJPC, (2010) 17:1; 22-33 29 16- Marques AL, Gonçalves E, Salazar H et al O desenvolvimento dos cuidados paliativos em Portugal, Patient Care (2009) Outubro: 32-38 17- Capelas MLV Cuidados Paliativos: Uma Proposta para Portugal, Cadernos de Saúde (2009) 2;1:51-57 18- Ahmedzai SH, Costa A, Blengini C et al on behalf of the International working group convened by the European School of Oncology A new international framework for palliative care EJC (2004) 40: 2192-2200 19- Elsner F, Centeno C, De Conno F et al Recomendaciones de la Asociación Europea de Cuidados Paliativos (EAPC) para el desarrollo de la Especialidade n Medicina Paliativa. Informe del Grupo de Trabajo de la EAPC para la Formación Médica. Med Pal (Madrid) (2010)17:2; 103-117 20- Parliamentary Assembly, Resolution 1649 (2009)1 Palliative Care: a model for innovative health and social policies. Acedido em : http://assembly.coe.int/documents/adoptedtext/ta09/eres1649.htm 21- Direção Geral de Saúde Programa Nacional de Cuidados Paliativos. 2004 22 - Programa Nacional de Cuidados Paliativos (2010). Acedido em: http://www.minsaude.pt/NR/rdonlyres/0C255EF1-E3AB-46CF-B79CE9A210F60F6D/0/ProgramaNacionalCuidadosPaliativos.pdf 23 - Estratégia para o Desenvolvimento do Programa Nacional de Cuidados Paliativos, UMCCI. 2010 24 - Higginson I. Evidence based palliative care. There is some evidence and there needs to be more. BMJ (1999) 329: 462-46 25 – Palliative Medicine Advanced Training Curricula – The Royal Australasian College of Physicians; 2010 Isabel Galriça Neto (coordenação) António Lourenço Marques Edna Gonçalves Hugo Domingos Madalena Feio Setembro 2013 30 Modelo de Requerimento Admissão por consenso em Medicina Paliativa (Prazo de candidatura: 29/08/2014) Ao Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos [NOME], médico com a cédula profissional n.º [CÉDULA], residente em [MORADA], vem requerer a V. Exas. a admissão por consenso à competência em Medicina Paliativa, ao abrigo dos critérios de admissão em vigor, que me foram entregues. [LOCAL], [DATA] Pede deferimento, Assinatura ______________________________ Telefone _____________________ Email _________________________________ CHECK-LIST a) Requerimento de admissão dirigido ao Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos. b) Documento comprovativo da inscrição na Ordem dos Médicos e de como se encontra no pleno gozo dos seus direitos estatutários. c) Curriculum vitae, até ao máximo de três páginas, em que conste: nome, n° de Cédula Profissional, data de nascimento, ano de licenciatura, instituições responsáveis pela formação, local atual de trabalho, concursos e outros elementos biográficos considerados importantes pelo candidato, incluindo ações de formação frequentadas (um exemplar em papel e dez em suporte digital) d) Sempre que entendido como necessário, o júri de avaliação pode solicitar o fornecimento de dados específicos ou esclarecimentos adicionais sobre os itens referidos. 31