fisioterapia em evidência
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fisioterapia em evidência
issn 2178-1672 volume 4, Número 2, julho/dezembro 2013 Revist a FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA Número 2, dezembro 2010 f a c u l d a d e muito além do ensino ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 1 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, p. 2, julho/dezembro 2013 Revista Informações básicas A Revista Fisioterapia em Evidência, ISSN 2178-1672, é uma publicação semestral do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Publicada desde 2010, adota o processo de revisão por especialistas (peer review), sendo cada artigo publicado após a aceitação dos revisores, mantidos no anonimato. Os conceitos e opiniões emitidos nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. A submissão de artigos pressupõe que, com exceção dos resumos ampliados, não tenham sido publicados anteriormente nem submetidos a outra publicação. O título abreviado da revista é Fisioter. Evid., forma que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas. A revista encontra-se gratuitamente disponível no site da Faculdade Dom Bosco. Missão Publicar artigos originais de pesquisa cujo objetivo básico se refere ao campo de atuação profissional da fisioterapia e da reabilitação. Ficha catalográfica Revista Fisioterapia em Evidência/Faculdade Dom Bosco. vol. 4, n. 2 (2013). Curitiba: FDB, 2010 Semestral Sumários em inglês e português ISSN 2178-1672 1. Fisioterapia – Periódicos. I. Faculdade Dom Bosco. CDD 615.82 CDU 615.8 2 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, p. 3, julho/dezembro 2013 Revista Editores responsáveis Silvia Regina Valderramas (doutora) [email protected] Salete do Rocio Cavassin Brandalize (mestre) [email protected] Conselho editorial Anna Raquel Silveira Gomes Universidade Federal do Paraná – Curitiba-PR – Brasil Ariani Cavazzani Szkudlarek (doutora) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Cassio Preis (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil Claudia Chaguri de Oliveira Pellenz (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Cristiane Gonçalves Ribas (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil Cristiane Regina Gruber (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Francisco Ernesto H. Zanardini (mestre) Faculdade Dom Bosco, Uniandrade e Faculdade Espírita – Curitiba-PR – Brasil Gilda Maria Grasse Luck (doutora) Faculdade Dom Bosco e Facel – Curitiba-PR – Brasil Isabel Cristina Bini (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Marcelo Kryczyk (doutor) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Marcia Maria Kulczycki (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Sandra Mara Meireles Adolph (doutora) Universidade Federal de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil Editoração eletrônica Comunicação Dom Bosco - [email protected] INFORMAÇÕES PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS Todo o material a ser publicado deve ser submetido online por meio do site: www.fisioterapia.com.br/revista ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 3 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, p. 4, julho/dezembro 2013 Revista Sumário Editorial............................................................................................. 5 Artigo 1 ............................................................................................. 6 Análise comparativa entre eletroestimulação transvaginal e biofeedback para tratamento da incontinência urinária de esforço Comparative analysis between transvaginal electrical stimulation and biofeedback to treatment of stress urinary incontinence Artigo 2 ........................................................................................... 18 Atividades lúdicas na prevenção de agravos e na promoção da saúde em crianças asmáticas Playful activities on illness’ prevention and health’s promotion in asthmatic children Artigo 3 ........................................................................................... 27 Efeitos do isostretching na força dos músculos do assoalho pélvico The effects of isostretching in the strength of the pelvic floor muscles Artigo 4 ........................................................................................... 38 Confiabilidade intra e interexaminador nas medidas de amplitude de movimento na articulação do joelho com flexímetro e goniômetro universal Intra and reliability measures in range of motion relationship with knee and fleximeter universal goniometer Artigo 5 ........................................................................................... 47 Efeitos dos exercícios de estabilização lombar de core comparado aos exercícios da série de Willians sobre a dor e funcionalidade em adultos jovens com lombalgia crônica: ensaio clínico randomizado Effects of core lumbar stabilization exercises compared with willians exercises series on the pain and function in adults with chronic low back pain: a randomized clinical trial Normas para apresentação de artigos ........................................ 58 4 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, p. 5, julho/dezembro 2013 Revista Editorial “Quando os ventos de mudança sopram, algumas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos”. Erico Verísssimo Caros leitores, B ons ventos sopram a favor da pesquisa na área de Fisioterapia. Afirmamos isso com base no aumento do número de publicações de fisioterapeutas brasileiros em revistas indexadas na base de dados Pubmed nos últimos anos — em 2012, foram 164 artigos publicados, comparados a apenas 7 em 2000. Parece pouco, mas o Pubmed é a maior base de dados em saúde do mundo. Isso incentiva nosso trabalho, porque sabemos que o reconhecimento da Fisioterapia só virá por meio de evidências científicas, demonstradas por meio de pesquisa. Além disso, a participação em congressos e eventos nacionais e internacionais tem sido cada vez mais frequente entre nossos pares. Neste ano, vários professores e acadêmicos do curso de Fisioterapia da FDB participaram de três importantes eventos — Congresso Sul-Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, XXIII Fórum Nacional de Ensino em Fisioterapia da ABENFISIO e Congresso Europeu de Respiratória. Parabenizamos os docentes e acadêmicos que estiveram envolvidos nestes eventos, e os incentivamos a participar, cada vez mais, da produção de evidências e conhecimento. Quanto a nossa revista, está se adequando a algumas solicitações exigidas pela base de dados LATINDEX para obter a indexação. Que os bons ventos sejam bem-vindos. Boa leitura! Profa. Dra. Silvia Valderramas ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 5 Artigo 1 Análise comparativa entre eletroestimulação transvaginal e biofeedback para tratamento da incontinência urinária de esforço Comparative analysis between transvaginal eletrical stimulation and biofeedback to treatment os stress urinay incontinence Raciele Ivandra Guarda Korelo1 Rafaeli Franco Rocha de Lima2 Vanessa Franco Monteiro2 Débora de Fátima Camillo2 Rafaella Costa Beleski Fabris3 Silvia Valderramas4 Fisioterapeuta, docente do curso de Fisioterapia da UFPR. Fisioterapeutas formadas pela Faculdade Evangélica do Paraná. 3 Fisioterapeuta, Faculdade Evangélica do Paraná. 4 Fisioterapeuta, docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco e da Faculdade Evangélica do Paraná. 1 2 RESUMO Introdução: segundo a International Continence Society (ICS), incontinência urinária é uma condição clinicamente demonstrada, na qual a perda involuntária de urina é um problema social ou de higiene. Objetivos: comparar os efeitos da eletroestimulação transvaginal e do biofeedback em mulheres com incontinência urinária de esforço (IUE), bem como seus efeitos sobre o ganho de força muscular e qualidade de vida. Materiais e métodos: estudo do tipo ensaio clínico prospectivo não randomizado, desenvolvido nas Clínicas Integradas da Faculdade Evangélica do Paraná. Foram avaliadas 16 mulheres com IUE, sendo 9 submetidas ao biofeedback (BFB) e 7 à eletroestimulação (EE). Os resultados foram comparados por meio de mensuração da distância anovulvar, avaliação funcional do 6 assoalho pélvico, perineometria e questionários de qualidade de vida ICIQ-SF e King’s Health Questionnaire. Resultados: houve ganho com o protocolo de aplicação, demonstrando que os dois recursos podem ser utilizados em um protocolo de tratamento para IUE. Ganhos estatisticamente significativos foram encontrados no grupo submetido ao BFB nas variáveis distância anovulvar (p = 0,02), contração máxima na perineometria (p = 0,05), 5 domínios do King’s Health Questionnaire e no ICIQ-SF (p = 0,03). Para o grupo submetido à EE, diferenças estatisticamente significantes foram encontradas em dois domínios do King’s Health Questionnaire e no ICIQ-SF (p = 0,01). Na comparação entre os dois grupos houve significância estatística somente na perineometria, na contração rápida máxima (p = 0,00) e na resistência (p = 0,02). Conclusão: todas as variáveis estudadas apresentaram melhora após os dois procedimentos. Entretanto, sugere-se superioridade nos resultados encontrados com a aplicação do BFB, demonstrados na perineometria. Palavras-chave: incontinência urinária de esforço, eletroestimulação transvaginal, biofeedback. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 ABSTRACT Introduction: The International Continence Society (ICS) states that the urinary incontinence (UI) is a clinically proven condition in which the involuntary loss of urine is a social or hygiene problem. Objectives: The main goal of this research is to analyze comparatively the effects of transvaginal electrical stimulation and biofeedback in patients with stress urinary incontinence caused by excess of physical effort, and its effects on the gain of muscle strength and quality of life in women with urinary loss. Materials and methods: non-randomized prospective clinical trial, developed in the Clínicas Integradas da Faculdade Evangélica do Paraná. We analysed 16 women. 9 were submitted to the protocol research of biofeedback and 7 to electrical stimulation. The volunteers subjected to an analysis which included measuring the anus-vulvar distance with and without contraction, functional assessment of the pelvic floor (AFA); interpreted by the scale of Oxford, of contractions of the pelvic floor and application of questionnaires on quality of life: ICIQ-SF and King’s Health Questionnaire. Results: the group of electrical stimulation was 50 years old (± 6.35) and 29.07 (± 4.11) for the biofeedback group. The comparison between the two groups was statistically significant only in terms of perineometry and there was clinical significance in the questionnaire on quality of life and other items considered. Final considerations: there was clinical improvement in muscle strength, perineal awareness and quality of life both in the electrical and in the biofeedback groups. Key words: stress urinary incontinence, transvaginal electrical stimulation, biofeedback. Introdução Segundo a International Continence Society (ICS), a incontinência urinária (IU) é uma condição clinicamente demonstrada, na qual a perda involuntária de urina é um problema social ou de higiene (1). Apresenta baixos índices de mortalidade, porém altos índices de comorbidade, principalmente no que se refere ao aspecto psicossocial do indivíduo acometido (2). Apesar do impacto que essa patologia proporciona, algumas mulheres não procuram ajuda médica. Segundo Guarisi (3), apenas 40% das mulheres de seu estudo procuraram assistência de um médico quando apresentaram os sintomas de IU. A incidência da IU é variável e aumenta com a idade. A partir dos 20 anos, 23% das mulheres possuem distúrbios urinários, já entre 45 a 64 anos a taxa é de 57% (2). De acordo com a ICS (2,4), dentre os distúrbios miccionais de armazenamento estão a incontinência urinária de esforço – IUE (perda relacionada ao aumento da pressão intra-abdominal), incontinência urinária de urgência – IUU (perda relacionada à contração desordenada do detrusor) e incontinência urinária mista – IUM (associação das duas perdas anteriores). Mais de três partos, histerectomia e institucionalização são aspectos relacionados com o aumento da incidência de IUE (4). Outros fatores, como idade avançada, obesidade, cirurgia pélvica, partos vaginais, trabalhos ou exercícios de grande esforço, constipação, tosse crônica ou outra condição capaz de elevar a pressão intra-abdominal, ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 7 Artigo 1 também podem ocasionar IUE (5). Tais fatores alteram a continência urinária, definida como capacidade normal do indivíduo de acumular a urina com controle consciente sobre o tempo e o lugar para urinar (6). Há vários tratamentos com o intuito de restabelecer a função dos músculos e nervos que compõem o assoalho pélvico. Entre as técnicas não cirúrgicas assinalam-se a eletroestimulação, os cones vaginais, os exercícios perineais e o biofeedback (7) . Os primeiros efeitos da estimulação elétrica na musculatura do assoalho pélvico foram descritos por Bors em 1952. Caldwel, onze anos mais tarde, implantou eletrodos cirurgicamente na musculatura periuretral de pacientes com recidiva de IUE. Apesar de eficaz, seu trabalho foi limitado pela complexidade da técnica, tornando-se inviável a aplicação rotineira. Os trabalhos de Fall, da escola sueca, na década de 1970, lançaram as bases da eletroestimulação nas incontinências urinárias. Nessa mesma década, surgiram as primeiras sondas vaginais e anais (4,8) acopladas no circuito externo, para estimulação do assoalho pélvico. A eletroestimulação é utilizada para tratamento de diversos tipos de IU. É possível que a eletroestimulação aumente a pressão intrauretral devido à estimulação direta dos nervos eferentes para musculatura periuretral. Também aumenta o fluxo sanguíneo para músculos da uretra e do assoalho pélvico e melhora a função das fibras musculares (7). Dependendo da frequência e intensidade utilizada no tratamento, a eletroestimulação inibe o detrusor, diminuindo o número de micções e, assim, aumenta a capacidade vesical (9). A estimulação vaginal é mais eficaz que a cutânea e mais confortável para as pacientes 8 que a anal. Por isso, é a mais recomendada forma de aplicação (10). As contraindicações são gravidez, infecções vaginais, diminuição da percepção sensorial da vagina, infecção urinária, arritmia cardíaca e menstruação. A corrente elétrica deve ser ajustada de modo que possa ser sentida, mas não seja desagradável para a paciente; deve ser suficiente para que a contração da musculatura pélvica seja percebida durante a estimulação (10,11). O biofeedback (BFB) surgiu como recurso terapêutico em 1951, sob a influência de Kegel. Foi definido pela ICS como “uma técnica que faz parte do processo fisiológico da paciente, tendo, tanto a paciente quanto o terapeuta, uma resposta através de um estímulo visual, auditivo e/ou tátil” (perineômetro por pressão ou eletromiograma, toque digital ou cones vaginais) (9,12). Com o objetivo de auxiliar na facilitação proprioceptiva das contrações voluntárias do assoalho pélvico, o BFB é aplicado junto a outras técnicas reeducativas, e sugerido como ferramenta para ensinar o paciente a realizar o exercício corretamente, modificando uma resposta inadaptada e proporcionando treinamento cognitivo da musculatura perineal (9). Segundo Aksac et al. (13), o biofeedback é mais eficiente para o fortalecimento da musculatura do que a palpação digital, que também apresenta resultados positivos para o tratamento da IU. Ao comparar as pacientes que se submeteram ao tratamento com o biofeedback e as que não efetuaram nenhum tipo de intervenção além da reposição hormonal, que era efetuada pelas pacientes de todos os grupos, os pesquisadores encontraram ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 resultado favorável ao biofeedback. Tanto o biofeedback quanto a eletroestimulação transvaginal apresentam bons resultados em pesquisas que testam suas eficácias isoladamente, porém, poucos estudos comparativos foram realizados. Portanto, o que justifica esta pesquisa é a necessidade de averiguar qual das técnicas em questão atinge resultados superiores e mais rápidos para o tratamento da incontinência urinária, de forma a contribuir na escolha do recurso a ser adotado por fisioterapeutas no treino da musculatura do assoalho pélvico. A incontinência urinária é uma condição negativa para o bem-estar social, a autoestima e a qualidade de vida feminina. É um problema que acomete mulheres de todas as idades em proporções significativas. Por isso, é necessário pesquisar as formas mais eficientes de tratamento para elas. Sendo assim, o objetivo principal desta pesquisa é analisar comparativamente os efeitos da eletroestimulação transvaginal e do biofeedback em pacientes com incontinência urinária de esforço, bem como seus efeitos sobre o ganho de força muscular e a qualidade de vida de mulheres com perda urinária. Materiais e métodos Realizou-se um estudo do tipo ensaio clínico prospectivo e não randomizado, nas Clínicas Integradas da Faculdade Evangélica do Paraná. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Sociedade Beneficente de Curitiba (protocolo n° 7660/07). As voluntárias, todas pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), foram selecionadas da lista de espera das Clínicas Integradas de Fisioterapia da Faculdade Evangélica do Paraná e encaminhadas pelo Ambulatório de IU do HUEC – Hospital Universitário Evangélico de Curitiba e do SAS (Secretaria de Atenção à Saúde) para o Evangélico Centro Médico, com o diagnóstico clínico de incontinência urinária de esforço. Foram avaliadas 16 mulheres, na faixa etária entre 38 e 63 anos, com diagnóstico clínico confirmado por meio do estudo urodinâmico, sendo 9 submetidas ao protocolo da pesquisa de biofeedback e 7 à eletroestimulação. A idade média das voluntárias do grupo biofeedback foi de 46,3 ± 7,10, e do grupo eletroestimulação, de 50 ± 6,35. As pacientes foram inclusas no estudo após concordar e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 1). Foram excluídas do estudo mulheres que apresentassem prolapso grau III, cirurgia pélvica em um período menor que seis meses, pacientes com marcapasso ou dispositivo contraceptivo (DIU), grávidas, com tumor intrapélvico e/ou corrimento vaginal. As voluntárias foram submetidas aos seguintes procedimentos: mensuração da distância anovulvar com e sem contração, avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) interpretado pela escala de Oxford, avaliação das contrações do assoalho pélvico com o aparelho Perina-Biofeedback da marca QUARK e aplicação dos questionários de qualidade de vida ICIQ-SF (14) e King’s Health Questionnaire (15,16). Previamente, a voluntária foi orientada sobre a musculatura do assoalho pélvico e suas funções relacionadas ao controle miccional (3). O teste de aproximação ou distância anovulvar ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 9 Artigo 1 consiste em observar a distância entre o clitóris e o esfíncter anal antes e durante uma contração, com a voluntária em posição ginecológica. Se a contração for fraca, a aproximação será menor que 2 cm e a paciente será incapaz de produzir qualquer movimento no períneo. Esse exame avalia de forma subjetiva a força de contração do assoalho pélvico da mulher (7). Para realização da AFA, a voluntária foi colocada em posição ginecológica e orientada a contrair os músculos do assoalho pélvico. A graduação da força foi feita de acordo com a Escala de Oxford, citada por Henscher (17). A graduação de força da musculatura profunda do períneo (elevador de ânus) foi feita com os dedos flexionados, e da musculatura superficial (bulboesponjoso), com os dedos estendidos (17, 18). A perineometria foi utilizada para avaliar a força e sustentação dos músculos do assoalho pélvico. Com a voluntária em posição ginecológica, a sonda foi introduzida no canal vaginal e insuflada até a mulher referir leve pressão, então o aparelho foi ligado e ajustado na posição zero. Em seguida, foram realizados os seguintes procedimentos: contração rápida máxima – avalia a capacidade de fechamento do esfíncter (a voluntária deveria contrair a musculatura o máximo que conseguisse por cinco vezes; calculou-se a média entre elas); contração prolongada – demonstra a capacidade de manter as vísceras do assoalho pélvico (a voluntária deveria realizar a contração do assoalho pélvico e mantê-lo contraído pelo máximo de tempo possível A pesquisadora registrou o tempo que a voluntária manteve a contração. O teste era interrompido quando a voluntária não conseguia mais realizar contrações iguais 10 à inicial, em 50% do tempo ou do valor da pressão registrados. Foi registrado o tempo médio de contração); contrações máximas rápidas – avalia a resistência das fibras de contração rápida (a voluntária deveria realizar contrações máximas rápidas por 1 segundo, sendo o teste interrompido quando a voluntária não atingia 50% da força da contração inicial), registrando o número de repetições (7). Ao final, a sonda foi desinsuflada e, em seguida, retirada da voluntária, seguindo-se então os procedimentos para assepsia do material. Após avaliação, as mulheres foram divididas aleatoriamente em dois grupos para o estudo, sendo realizadas 10 aplicações. Os equipamentos para o estudo foram cedidos pela empresa QUARK, sendo previamente calibrados pela própria empresa. A eletroestimulação foi realizada com a voluntária em posição ginecológica. A sonda do aparelho Dualpex 961 URO, marca QUARK, foi introduzida com gel condutor à base de água em toda sua extensão, respeitando o ângulo de 30 graus da vagina a partir do canal vaginal. Os parâmetros utilizados foram corrente bifásica, frequência de 65 Hz, largura de pulso de 500 μs; tempo de contração de 8 segundos (sendo 2s de subida, 4s de sustentação e 2s de descida); e 16 segundos de relaxamento (programa 08 do equipamento, sem possibilidade de mudança nos parâmetros) por 30 minutos. A intensidade foi regulada de acordo com a percepção da voluntária na contração máxima tolerável, sem lhe causar dor. Esses parâmetros tiveram por finalidade fortalecer a musculatura fásica. O biofeedback também foi realizado com a voluntária em posição ginecológica. Sob a sonda foi utilizado um preservativo sem lubrificante, e acrescentado gel lubrificante ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 a base de água da marca KY®. O aparelho Perina-Biofeedback pode ser programado para tratamento que consiste em OBJETIVO, em que determinada pressão em cmH2O deve ser alcançada para que se inicie o tempo de contração; WORK, que era de 8 segundos (valor semelhante ao da eletroestimulação para fins comparativos); e tempo de relaxamento (REST), de 16 segundos, por 30 minutos. O objetivo a ser cumprido a cada dia era estipulado com base na primeira contração máxima do mesmo dia, que era de 75%. No final dos 10 atendimentos, realizados duas vezes por semana com duração de 40 minutos cada, a voluntária foi reavaliada com os mesmos itens da avaliação. O tratamento total consistiu de 12 atendimentos somando seis semanas em média — avaliação inicial, intervenção e avaliação final. A avaliação inicial e a final foram feitas pelo mesmo avaliador. Se a queixa da voluntária persistisse ou os resultados da avaliação final não fossem satisfatórios, a mulher era automaticamente encaminhada ao grupo de tratamento fisioterapêutico para incontinência urinária e disfunções sexuais femininas nas Clínicas Integradas da Faculdade Evangélica do Paraná. Análise estatística Para análise e cálculo dos dados, foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 10.0. Os gráficos apresentados foram gerados por esse programa e também pelo Excel. A análise da relação entre as variáveis quantitativas foi realizada por meio do Wilcoxon. O cálculo para as associações entre as variáveis quantitativas e qualitativas dicotômicas foi realizado por meio do teste T de student. O nível de significância foi fixado em p ≤ 0,05. Resultados As 16 voluntárias foram divididas aleatoriamente em dois grupos — 7 (43,8%) integraram o grupo eletroestimulação (EE), e 9 (56,3%), o biofeedback (BFD). A idade média para o grupo da eletroestimulação foi de 50 ± 6,35 anos, sendo o índice de massa corporal (IMC) médio de 26,73 ± 2,63 para a EE e 29,07 ± 4,11 para o BDF. A maior parte da amostra dos dois grupos faz uso de 1 a 3 medicamentos, sendo 57,1% e 66,7% respectivamente. Quanto à escolaridade, as voluntárias dos dois grupos têm, na maioria, o 1º grau completo, sendo 57% (4) das voluntárias da EE e 33% (3) das voluntárias do BDF. A maioria das voluntárias é casada, chegando a 85% para o grupo EE e 66% para o BFD. Das mulheres investigadas, 28% da EE dizem ser tabagistas contra nenhuma voluntária do BDF. Além disso, 42% voluntárias da EE dizem ser sedentárias contra 55% do BDF. A idade média da menarca dessas voluntárias foi semelhante nos dois grupos, sendo de 12,71 ± 1,49 para o grupo EE, e 12,11 ± 1,69 para o BFD. Das 7 voluntárias do grupo EE, 4 (57,1%) estavam na pós-menopausa; das 9 voluntárias do grupo BFD, 3 (33,3%) estavam nessa fase. A maioria das mulheres dos dois grupos teve problemas no parto (uso de fórceps, pré-eclampsia, trabalho de parto muito demorado), sendo 71,42% para o grupo EE e 55,55% para o grupo BFD. Na relação sexual, 2 (28,57%) voluntárias do grupo EE apresentavam perdas urinárias e 1 (11,11%) do BFB tinha episódios de perdas urinárias. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 11 Artigo 1 Quanto às características miccionais, 42,85% das voluntárias do grupo EE e 11,11% das do grupo BFD revelaram a presença de pelo menos um episódio de dor na micção durante a vida; 77,77% das voluntárias do BFD relataram sensação de resíduo na bexiga após a micção contra 57,14% da EE. O jato era do tipo contínuo na maioria das voluntárias dos dois grupos, sendo 71,42% no grupo da EE contra 88,88% do grupo do BFD. A maioria das voluntárias relatou perder uma colher de chá de urina, sendo que no grupo da EE eram em número de 4 e no grupo do BFD, 5 voluntárias. No grupo EE, o uso da musculatura sinergista associada à contração perineal diminuiu em todos os grupos musculares avaliados na pós-intervenção, porém nenhuma voluntária conseguiu isolar a contração perineal na reavaliação. No grupo BFD, a contração isolada esteve presente em 33,3% das mulheres investigadas antes da intervenção, e esse número aumentou para 55,5%. Também houve diminuição do uso da musculatura acessória, exceto da musculatura adutora de coxa, que se manteve em 44,4% das mulheres investigadas. Na palpação para verificação da resistência do centro tendíneo do períneo, de modo geral, houve melhora nos dois grupos. A resistência classificada como boa passou de 0% para 28,60% no grupo EE, enquanto um centro tendíneo sem nenhuma resistência caiu de 14,30% para 0% no mesmo grupo. No grupo BFD, a resistência boa aumentou de 22,20% para 33,30%. Houve melhora nos valores dos dois grupos de intervenção quanto à resposta na avaliação da distância anovulvar, porém foi estatisticamente significante somente para biofeedback (p = 0,02). Na comparação entre os dois grupos obteve-se o valor 12 de p = 0,81, não sendo, portanto, estatisticamente significativo. Na AFA, a maioria das voluntárias do grupo EE concentrou-se na graduação 2 e 3 da Escala de Oxford para musculatura superficial, somando 85,8%, depois da intervenção — 57,1% das voluntárias encontravam-se na graduação 4 dessa mesma escala. Para a musculatura profunda, mais de 70% das voluntárias desse mesmo grupo encontravam-se na graduação 3, sendo que quase 58% dessa mesma amostra foi para a graduação 4 após intervenção. No grupo BFD, a graduação 3 concentrava 44,4% da amostra desse grupo; após intervenção, quase 70% das voluntárias foram para a graduação 4, sendo que uma voluntária encontrava-se na graduação 5. Antes da intervenção, o grupo encontrava-se dividido igualmente na graduação 2, 3 e 4. Após a intervenção, cinco pacientes foram para a graduação 4 e uma paciente para a graduação 5 de força muscular. Comparando-se os grupos eletroestimulação e biofeedback, não houve melhora estatisticamente significativa. O toque da musculatura superficial ficou com p = 0,35, enquanto a musculatura profunda, p = 0,88. A Tabela 1 e as Figuras 1, 2 e 3 mostram que houve melhora em praticamente todos os itens avaliados por meio da perineometria (contração rápida máxima, contração prolongada e resistência), sendo que o grupo da EE não obteve melhora no item resistência. Na comparação entre os dois grupos, houve significância nos resultados obtidos com a contração rápida máxima (p = 0,00) e a resistência (p = 0,02), sugerindo superioridade de efeito com a aplicação do biofeedback. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 Tabela 1: Perineometria Eletroestimulação (n = 7) Biofeedback (n = 9) Pré Pós Pré Pós Contração rápida máxima, cmH2O 9,59 10,81 ± ± 6,46 8,55 20,57 31,11 ± ± 0,00* 13,1116,13 Contração prolongada, seg. 11,26 ± 9,05 17,93 ± 15,32 Resistência, n° de repetições 15,71 9,71 ± ± 17,154,19 13,61 ± 7,07 Fonte: Dados da pesquisa 2008 18,89 ± 9,39 15,56 20,89 ± ± 11,83 11,64 Valor de p 0,22 0,02* *p < 0,05 As dezesseis mulheres submetidas às intervenções obtiveram diminuição dos valores em todos os itens avaliados por meio do King´s Health Questionaire, o que revela melhora na qualidade de vida. Foram estatisticamente significativos para eletroterapia somente os itens impacto da incontinência (p = 0,04) e medidas de gravidade (p = 0,03); e para biofeedback o item percepção geral de saúde (p = 0,02), impacto da incontinência (p = 0,01), limitação das AVD´s (p = 0,02), emoções (p = 0,02), sono (p = 0,03) e medidas de gravidade (p = 0,01). Entretanto, não houve diferença significativa na comparação entre os grupos. Os dados obtidos por meio do questionário ICIQ-SF revelaram melhora significativa na qualidade de vida das pacientes após tratamento com as duas técnicas, eletroterapia (p = 0,03) e biofeedback (p = 0,01), entretanto, sem diferença significativa entre os dois grupos. Quanto ao questionamento referente às ocasiões de perda, a melhora foi mais expressiva para o BFD; entretanto, na comparação entre os dois grupos, não houve diferença significativa. Discussão Um dos principais objetivos do tratamento fisioterapêutico da IUE é o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico, pois a melhora da força e da função dessa musculatura favorece a contração consciente e efetiva durante o aumento da pressão abdominal, evitando-se assim as perdas urinárias. Também colaboram positivamente na melhora do tônus e das transmissões de pressões da uretra, reforçando o mecanismo de continência urinária. No presente estudo, a eletroestimulação e o biofeedback apresentaram resultados positivos não só para o ganho de força muscular, comprovados pela distância anovulvar, AFA e perineometria, mas, sobretudo, para a conscientização na contração dessa musculatura, que pode ser observada por meio de menor uso da musculatura sinergista e da apneia na avaliação. O assoalho pélvico é composto predominantemente por fibras musculares de contração lenta ou tipo I, que são responsáveis pela manutenção do tônus. Os outros 30% são constituídos de fibras de contração rápida e de baixa resistência. Na IUE, as fibras mais acometidas são as de contração rápida. A contração voluntária do assoalho pélvico age mais especificamente nas fibras do tipo II, fazendo com que se hipertrofiem, potencializando a força de contração perineal (19). Segundo Chiarelli apud Capelini (20), a incontinência urinária possui etiologia multifatorial, incluindo anormalidades funcionais e na inervação do assoalho pélvico e das estruturas músculo-conjuntivas. Inúmeros estudos sobre tratamento da incontinência urinária com exercícios de fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico têm sido apresentados desde que Kegel, na década de 1950, atribuiu à hipotonia desses músculos, ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 13 Artigo 1 fator relevante no surgimento da incontinência urinária. A efetividade do treinamento dos músculos do assoalho pélvico já foi demonstrada em diversos estudos, assim como outros têm mostrado que esse treinamento pode ser seguro e eficaz. A IUE resulta da disfunção do mecanismo de fechamento uretral (intrínseco) ou do mecanismo de suporte (extrínseco) ou uma combinação de ambos. A disfunção do mecanismo de fechamento intrínseco pode ser devida à atrofia do corpo esponjoso uretral (exemplo: pós-menopausa) (21,22). O hábito de fumar causa significativo aumento na pressão vesical devido à tosse, bem como componentes do tabaco causam deficiência no estrógeno, o que acelera o processo de menopausa; assim, nas fumantes, a menopausa, que é um fator de risco para a IU, acontece de 1 ano até 1 ano e meio mais cedo (22). Nos dois grupos de intervenção existiam mulheres na pós-menopausa; no grupo submetido à intervenção com eletroestimulação, as voluntárias nessa etapa da vida somavam 57,1% contra 33,3% do grupo biofeedback. As fumantes estavam presentes somente no grupo EE (28,5%). A disfunção do mecanismo de suporte extrínseco pode ser acusada pelo enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico (devido à inatividade ou ao desuso e/ou a danos das fibras nervosas locais) ou ruptura das fibras musculares e tecido conectivo do assoalho pélvico e/ou por danos da fáscia endopélvica (exemplo: durante parto traumático) (21). É sabido que número de partos vaginais elevado, bebês muito grandes, partos traumáticos, inatividade da musculatura perineal (como na inatividade sexual) são fatores que predispõem a mulher à perda urinária. 14 O peso do recém-nascido, tanto durante a gravidez quanto no parto vaginal, influenciam o aumento da prevalência de IU. Esse fator pode estar relacionado com o aumento da pressão intra-abdominal, e, consequentemente, com o aumento da pressão intravesical. Além disto, existe o risco de lesão do assoalho pélvico durante o parto vaginal (22). Esses fatores predisponentes foram mais frequentes no grupo EE, sendo que a média de partos normais foi semelhante entre os dois grupos, o peso do maior bebê ficou com média e desvio-padrão de 2970±1342,74 para EE contra 2327,77±1771,14 para biofeedback, cinco voluntárias tiveram problemas no parto, tendo uma usado fórceps. Quanto à vida sexual, 77,7% das mulheres do grupo BFD têm vida sexual ativa, contra apenas 42,85% do grupo da EE. A gravidade da IUE depende não apenas das condições do assoalho pélvico, mas também de postura, respiração, movimento, bem como das condições gerais físicas e psicológicas. Alguns autores sugerem que a reeducação bem-sucedida do assoalho pélvico depende da gravidade da IUE (21). A reeducação pode acontecer por meio do trabalho proprioceptivo dessa musculatura com a consciência da contração, para a paciente aprender a contração adequada. Alguns autores justificam a utilização da eletroestimulação e do biofeedback para essa reeducação (8,11,21). A eletroestimulação enfoca a reabilitação da atividade reflexa pela excitação dos nervos pudendos com a finalidade de criar contração da MAP, portanto, a fisioterapia tem pouco efeito em musculaturas com inervação danificada ou diminuída, além de outras alterações relacionadas à idade e ao tecido conjuntivo. Esses fatores afetam ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 adversamente o resultado ou o benefício potencial das intervenções fisioterápicas (21). Todas as voluntárias que fizeram parte desse estudo possuíam inervação de assoalho pélvico íntegra, que foi avaliada por meio da presença dos reflexos. Curiosamente, o grupo da eletroestimulação, que apresentou inferioridade nos resultados, é um grupo mais velho, indicando comprometimento maior no tecido conjuntivo. Atualmente, a constipação intestinal tem sido estudada como fator que aumenta o risco de IU em mulheres. A constipação crônica afeta a função urológica; o estiramento do reto pode comprimir a bexiga, contribuindo para a retenção urinária, causando infecção do trato urinário e, frequentemente, a força realizada durante a evacuação intestinal pode lesar a musculatura pélvica e, por meio da distensão, traumatizar e causar isquemia muscular (22). É nítido que no grupo submetido à EE, 57,14% da amostra sofre com o problema de constipação intestinal, contra 33,3% do BFB (21,22). Os resultados obtidos com essa pesquisa foram melhores para o grupo biofeedback, pois na comparação entre os dois grupos após intervenção, houve significância estatística no item nunca do questionário ICIQ-SF (p = 0,05), na perineometria com avaliação da resistência/ número de repetições (p = 0,023) e no item que avaliou a contração rápida máxima (p = 0,007) dessa musculatura. O tipo de treinamento escolhido representou melhora importante no que diz respeito apenas às contrações rápidas e à resistência. O protocolo aplicado utilizou parâmetros para o treinamento principalmente das fibras rápidas ou fásicas, tendo em vista que as mulheres selecionadas para o estudo sofriam com incontinência urinária de esforço. Vale ressaltar que as duas técnicas promoveram melhora das pacientes em relação à de perda urinária, apesar de não terem sido estatisticamente significantes, e no quesito qualidade de vida no ICIQ-SF, sendo, portanto, indicadas para o tratamento da IUE feminina. Continuidade ao estudo deve ser dada, tendo em vista o número reduzido da amostra, para a maior fidedignidade dos resultados, eliminando as discrepâncias na amostra em relação à idade e às disfunções fecais associadas, que podem ter induzido os resultados superiores à utilização do BFB. Latthe, Foon e Khan (22), em revisão sistemática para avaliar o tratamento conservador da IUE, publicada em 2008, encontraram apenas 13 artigos com rigor científico, dos quais apenas 2 (15,4%) foram considerados de alta qualidade, 8 (61,5%), de moderada qualidade e 3 (23,1%), de baixa qualidade. A conclusão desses autores foi que os trabalhos sobre tratamento conservador da IUE não são adequados para gerar recomendações absolutas para a prática, pois são metodologicamente fracos ou incapazes de produzir resultados confiáveis. A Sociedade Internacional de Continência recomenda que todas as pesquisas de incontinência urinária tenham pelo menos um instrumento para avaliar a qualidade de vida das voluntárias, antes e após a intervenção. Foi, portanto, utilizado o King´s Healthy Questionarie e o ICIQ-SF, por este avaliar tanto o impacto da incontinência nos diferentes aspectos da qualidade de vida, como os sintomas do trato urinário baixo percebidos pelas pacientes. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 15 Artigo 1 Com o presente estudo, pode-se concluir que tanto a eletroestimulação quanto o biofeedback promovem melhora na qualidade de vida das mulheres, observada pelos dois questionários aplicados, com valores estatisticamente significantes, porém, sem diferenças nos ganhos entre os dois grupos. Tendo em vista os resultados obtidos, sugere-se que as duas intervenções sejam utilizadas no tratamento da IUE feminina. Finalmente, observa-se que os estudos sobre IU ainda são de difícil realização, tendo em vista as dificuldades na seleção da amostra e no rigor metodológico da pesquisa, além da impossibilidade de comparação entre métodos de tratamento diferentes, em virtude da variedade das opções nos parâmetros determinados. Conclusão 4. RUBINSTEIN, I. Clínicas Brasileiras de Urologia: incontinência urinária na mulher. São Paulo: Atheneu, 2001. 5. Bø K. Urinary incontinence, pelvic floor dysfunction, exercise and sport. Sports Medicine [serial online], 2004; 34 (7): 451-64. 6. POLDEN, M.; MANTLE, J. Fisioterapia em Obstetrícia e Ginecologia. In: Continência e incontinência. 2. ed. São Paulo: Santos, 2002. p. 335-86. 7. MORENO, A. L. Fisioterapia em uroginecologia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2009. 8. CHIARAPA, T. R.; CACHO, D. P.; ALVES, A. F. D. Incontinência urinária feminina. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2007. Conclui-se serem necessárias mais pesquisas nessa área da Fisioterapia, para que os profissionais possam escolher o tratamento mais adequado e fidedigno para as pacientes. 9. AKSAC, B.; AKI, S.; KARAN, A.; YALCIN, O.; ISIKOGLU, M.; ESKIYURT, N. Biofeedback and pelvic floor exercises for the rehabilitation of urinary stress incontinence. Gynecology and Obstetric Investigation [serial online], 2003; 56 (1): 23-7. Disponível em: <http://www.proquest.br>. REFERÊNCIAS 10. POTRICK, B. A. Eletroestimulação transvaginal do assoalho pélvico no tratamento 1. GROSSE, D.; SENGLER, J. Reeducação perineal. 1. ed. São Paulo: Manole, 2002. 2. BARROSO, J. C. V.; RAMOS, J. G. L.; FUCHS, F. D. Estimulação elétrica transvaginal no tratamento da incontinência urinária [dissertação de mestrado]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002. 3. GUARISI, T.; PINTO NETO, A. M.; OSIS, M. J.; PEDRO, A. O.; COSTA PAIVA, L. H. S.; FAÚNDES, A. procura de serviço médico por 16 mulheres com incontinência urinária. RBGO [serial online], 2001b; 23(7): 439-43. Disponível em: <http: //www.scielo.br>. da incontinência urinária de esforço: avaliação clínica, urodinâmica e ultrassonografia. [dissertação de mestrado]. São Paulo: Unicamp, 2002. 11. ZANATTA, G. M. L. Incontinência urinária de esforço feminina [trabalho de conclusão de curso]. Cascavel: Unioeste, 2003. 12. SOUZA, C. M. A eficácia dos exercícios cinesioterapêuticos no tratamento da incontinência urinária de esforço [monografia]. Cascavel: Unioeste, 2004. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 13. ETIENNE, M. A.; WAITMAN, M. C. Disfunções sexuais femininas. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2007. 14. RETT, M. T.; SIMÕES, J. A.; HERRMANN, V.; GURGEL, M. S. C.; MORAIS, S. S. Qualidade de vida em mulheres após tratamento da incontinência urinária de esforço com fisioterapia. Rev. Bras. Gineco. Obste., 2007; 29(3): 134-40. 15. FONSECA, E. S. M.; CAMARGO, A. L. M.; CASTRO, R. A.; SANTORI, M., G., F.; FONSECA, M. C. M. LIMA, G. R.; GEARÃO, M. J. B. C. Validação do questionário de qualidade de vida (Kings Health Questionnaire) em mulheres brasileiras com incontinência urinária. Rev. Bras. Gineco. Obste., 2005; 27(5): 235-42. 20. BERGHMANS, B.; BO, K.; BERNARDES, N. et al. 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Fisioterapeuta, docente do curso de Fisioterapia da UFPR. 3 Fisioterapeuta, docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. 4 Fisioterapeuta, docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco e da Faculdade Evangélica do Paraná. 1 2 RESUMO Introdução: não está claro na literatura se a prática de exercícios físicos associados à educação do paciente asmático e seus cuidadores é eficaz no tratamento da asma. Objetivos: analisar os efeitos dos exercícios fisioterapêuticos associados à educação dos pacientes e cuidadores sobre as medidas mais adequadas a serem tomadas durante crises e, principalmente, como evitá-las por meio do controle ambiental e de outros cuidados sobre a frequência cardíaca, frequência respiratória, pico de fluxo expiratório e mobilidade torácica. Material e métodos: o estudo foi desenvolvido em uma Unidade Municipal de Saúde de Curitiba. Participaram 10 crianças com diagnóstico clínico de asma e seus respectivos responsáveis. As crianças foram submetidas a um programa de exercícios físicos e respiratórios durante três meses, composto por aquecimento, exercícios respiratórios associados a brincadeiras, exercícios aeróbicos e alongamento. A educação em saúde foi 18 desenvolvida por meio de aulas interativas e reprodução gráfica de materiais de apoio. Resultados: após o tratamento, os resultados demonstraram melhora significante nos pacientes para todas as variáveis avaliadas: frequência cardíaca (87,0 ± 9,94 vs 76,8 ± 9,0, p < 0,01) e frequência respiratória (19,6 ± 4,40 vs 15,6 ± 3,50, p = 0,03), pico de fluxo expiratório (219,5 ± 74,10 vs 255,6 ± 68,42, p < 0,01) e mobilidade torácica axilar (4,8 ± 1,55 vs 8,0 ± 4,22, p = 0,01), xifoidiana (4,0 ± 2,21 vs 7,0 ± 2,2, p < 0,01) e abdominal (1,0 ± 3,80 e 9,0 ± 3,43, p < 0,01). Conclusão: exercícios físicos associados a um plano educativo proporcionaram melhora da frequência cardíaca e respiratória, pico de fluxo expiratório e mobilidade torácica, bem como parecem contribuir para agregar informações pertinentes à prevenção de agravos e à promoção de saúde das crianças asmáticas. Palavras-chave: asma, exercício físico, educação, fisioterapia. ABSTRACT Introduction: it is not clear in the literature whether the practice of physical activity associated with educating asthmatic patients and their caregivers are effective in the treatment of asthma. Objectives: to analyze the effects of physiotherapy exercises associated with ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 educating patients and caregivers on the most appropriate measures to be taken during crises , and especially how to prevent them through environmental control and other care on heart rate, respiratory rate, peak expiratory flow and thoracic mobility. Material and methods: the study was conducted in a Unit of Health of Curitiba. A total of 10 children diagnosed with asthma and their guardians. The children underwent a program of physical and breathing exercises for three months, comprising: heating, breathing exercises associated with pranks, cardio and stretching. Health education was developed through interactive lessons and graphic reproduction of materials. Results: after treatment, the results showed significant improvement for all variables: heart rate (87.0 ± 9.94 vs 76.8 ± 9.0, p < 0.01) and respiratory rate (19.6 ± 4.40 vs 15.6 ± 3.50, p = 0.03), peak expiratory flow (219.5 ± 74.10 vs 255.6 ± 68.42 , p < 0.01) and thoracic mobility axillary (4.8 ± 8.0 vs 1.55 ± 4.22 , p = 0.01), xifoidiana (4.0 ± 7.0 vs 2.21 ± 2.2 , p < 0.01), abdominal (1.0 ± 3.80 and 9.0 ± 3.43 , p < 0.01). Conclusion: exercise associated with an educational plan improved the heart rate, respiratory rate, peak expiratory flow and thoracic mobility, and seems to contribute to aggregate information relevant to the prevention of diseases and promotion of health of asthmatic children. Keywords: asthma, exercise, education, physiotherapy. Introdução No âmbito da saúde pública, a asma é um problema encontrado em todo o mundo, acometendo pessoas de todas as idades, de diferentes níveis culturais e sociais. É uma doença crônica das vias aéreas, caracterizada por obstrução reversível, inflamação e hiper-reatividade a diferentes estímulos (aeroalérgenos), apresentando-se com graus variados de gravidade e frequência de sintomas.9,22 Por meio do International Study of Asthma and Allergies in Childrens (ISAAC), verificou-se no Brasil a prevalência de asma diagnosticada entre 4,7% e 20,7% em crianças de 6 a 7 anos e entre 4,8% e 21,9% em adolescentes de 13 a 14 anos.2, 7,25 Na abordagem atual do tratamento da asma, a educação sobre a doença apresenta papel fundamental. Quando as mães de crianças asmáticas são educadas para o controle da doença dos filhos, elas usam adequadamente a terapêutica medicamentosa prescrita, são capazes de identificar o momento adequado de procurar o serviço de urgência e executam apropriadamente as medidas de controle ambiental.3,4,13 A educação do paciente asmático e seus cuidadores, portanto, é um dos pilares do tratamento da asma, conforme preconizado pelo Global Initiative for Asthma (GINA). Os programas de educação são baseados nas orientações recomendadas nos consensos e devem ser aplicados associados ao atendimento médico, sendo adaptados às características socioeconômico-culturais da população-alvo.9,12 Os principais níveis de educação englobam os profissionais ligados à saúde, que devem realizar um diagnóstico correto e precoce, aumentar a adesão à terapêutica e atualizar a aplicação dos consensos. Em relação aos asmáticos, faz-se necessário a informação oral ou escrita, voltada a melhorar a percepção dos ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 19 Artigo 2 sintomas, reduzir o número de hospitalizações, visitas ao pronto-socorro e o absenteísmo.14 As metas do programa de educação em asma devem explicar a cronicidade da doença e o reconhecimento dos sintomas, auxiliar na identificação dos fatores agravantes e orientar como evitá-los, além de receitar medicamentos apropriados e com técnica adequada.21,23,24 Os programas podem ser aplicados a indivíduos ou grupos. Quando estruturados a longo prazo, no mínimo seis meses, mais frequentemente 12 meses ou mais, demonstram melhores resultados. Geralmente, apresentam bons resultados, se especificamente criados para a classe a que se destinam. Pacientes asmáticos requerem acompanhamento regular após o início da terapia a intervalos programados, dependendo da gravidade da patologia.20,22,25 Em Belo Horizonte, no Programa de Atenção à Criança Asmática, todas as crianças com diagnóstico de asma e seus cuidadores participam de quatro encontros organizados pela fisioterapia e pela enfermagem. Durante esses encontros, as mães recebem orientações sobre a doença e os procedimentos a serem adotados durante e fora da crise. São discutidos, com os participantes, temas como manobras de higiene brônquica e das vias 20 três pontos igualmente importantes: eliminação dos fatores desencadeantes e agravantes (controle ambiental); realização de exercícios físicos e respiratórios (conforme protocolo); farmacoterapia.9 São necessários estudos que a abordem a asma brônquica em função de ela ser a doença de maior incidência na infância, considerando que sua prevalência está aumentando juntamente à morbidade, e que a atuação fisioterapêutica, tanto na promoção como na prevenção, reduz o número de crises, diminui o número de internações de crianças portadoras e, ainda, orienta cuidadores e crianças sobre assuntos pertinentes a essa doença. 3,4,7 A asma é a quarta principal causa de hospitalização (1996) pelo Sistema Único de Saúde, correspondendo a cerca de 350.000 internações em todo o país, a custo aproximado de 76 milhões de reais. O tratamento a curto prazo (já que na literatura encontram-se apenas tratamentos com duração superior a seis meses) e sem custos elevados para o Governo traduz a grande importância dese estudo no cenário da saúde coletiva.7,11,15 aéreas superiores, posturas de drenagem, manuseio e limpeza do nebulizador, consumo de medicamentos e condutas a serem adotadas por mães e crianças para manter a tranquilidade e facilitar a tomada de decisões durante as crises.2 Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar o efeito de exercícios físicos e respiratórios e da educação dos pais ou cuidadores sobre a frequência cardíaca e respiratória, o pico de fluxo expiratório e a mobilidade torácica, e orientar responsáveis e pacientes sobre as medidas mais adequadas a serem tomadas durante as crises e, principalmente, como evitá-las por meio do controle ambiental e de outros cuidados. Em Curitiba, existe o Programa Crescendo Com Saúde9, responsável pela Atenção à Material e métodos Saúde da Criança com Infecções e Alergias Respiratórias. O programa preconiza, para o sucesso do tratamento da asma, o enfoque em O estudo foi desenvolvido na Unidade Municipal de Saúde Nossa Senhora Aparecida, pertencente ao Distrito Sanitário Bairro Novo, ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 da cirtometria torácica, colocando-se uma fita métrica sobre a caixa torácica do paciente em decúbito dorsal nas regiões axilar, xifoide e basal (cada medida foi obtida após ser solicitado ao paciente que realizasse uma expiração máxima seguida de uma inspiração máxima e outra expiração máxima; essa medida foi realizada três vezes e foi considerada a média dos dois valores).18 Curitiba, Paraná, e na Faculdade Evangélica do Paraná, após aprovação do projeto pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, e pela citada faculdade. Foram selecionadas para o estudo crianças de ambos os gêneros, com idade entre 5 a 12 anos e diagnóstico clínico de asma, cadastradas, que realizassem acompanhamento clínico com o médico da US, não estivessem em período de crise, apresentassem disponibilidade de horário para frequentar o grupo de atividades e função cognitiva preservada. Além disso, as crianças deveriam ter um responsável/cuidador alfabetizado, maior de 18 anos, com o qual convivessem diariamente, que pudesse realizar as modificações necessárias na residência da criança, de acordo com as recomendações em relação às orientações de controle ambiental, e que assinasse o termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídas do estudo crianças com outra doença que interferisse em sua função cognitiva ou que não estivessem acompanhadas de um responsável. As crianças foram submetidas a uma avaliação fisioterapêutica que consistia em anamnese (incluindo avaliação da gravidade, sinais e sintomas, bem como número de crises e internamento, segundo o Consenso Brasileiro de Asma22 e exame físico). Em seguida, foram realizados os seguintes procedimentos: • Frequência cardíaca e respiratória – aferidas diretamente na criança. • Pico de fluxo expiratório – aferido por meio do aparelho Assess® da RESPIRONICS®. • Mobilidade torácica – avaliada por meio As crianças foram submetidas a um programa de exercícios físicos, com frequência de duas vezes por semana, com duração de 1 hora e 30 minutos, durante um período de três meses. O programa de exercícios físicos foi dividido em quatro fases:17,19,20,21 • Aquecimento: 5 minutos de duração, em solo plano, composto por alongamento estático da musculatura componente dos segmentos corporais pescoço, tronco e membros inferiores, seguido de exercícios que trabalhassem a musculatura componente dos segmentos corporais mencionados; • Exercícios lúdicos e respiratórios2,9: 20 minutos de duração, composto por exercícios respiratórios desenvolvidos por meio de brincadeiras, baseando-se nos padrões ventilatórios pré-estabelecidos por Cuello8 e Azeredo1, no intuito de restabelecer a capacidade pulmonar satisfatória. As atividades compreendiam, basicamente, uma inspiração nasal até a capacidade pulmonar média, seguida de uma expiração prolongada oral (freno labial) até o volume de reserva residual. Os padrões ventilatórios foram trabalhados com variações e alternadamente entre ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 21 Artigo 2 cada estilo de brincadeira, utilizando-se dos seguintes objetos: balão, barquinho de papel, cata-vento, língua de sogra, canudinho de plástico, passarinho musical, bolinha de sabão e apito; • Exercícios físicos: 20 minutos de duração, composto por exercícios de resistência aeróbica realizados num circuito composto por quatro estações (pular corda, pular amarelinha, correr em zigue-zague e realizar cambalhotas), com duração de 5 minutos cada; • Alongamento: 10 a 15 minutos de duração, compostos por alongamento estático da musculatura componente dos segmentos corporais pescoço, tronco e membros inferiores. A intervenção educativa consistia de uma conversa de 5 a 10 minutos sobre acontecimentos relacionados à patologia na semana. Os participantes receberam várias informações e materiais de apoio (reprodução gráfica do material do Programa Crescendo Com Saúde9, da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, e folhetos/livretos desenvolvidos pelos fisioterapeutas da rede), para melhor fixar o tema abordado. O trabalho com os pais/responsáveis incluiu aulas expositivas e interativas de caráter multiprofissional e com material de apoio, uma vez por semana (10 aulas), por cerca de 30 minutos, abordando os seguintes temas: o que é asma (fisioterapeuta); medicação (médico); crise (fisioterapeuta); controle ambiental (enfermeira); limpeza da casa (enfermeira); atividade física (fisioterapeuta); alimentação (nutricionista); cuidados com a criança (psicóloga); terapias alternativas (fisioterapeuta); complicações (fisioterapeuta). As crianças foram reavaliadas ao término 22 do programa para obtenção de dados comparativos e tabulação dos mesmos. Análise estatística A análise dos dados foi realizada por meio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) software, versão 16.0 para Windows. Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk para verificar a distribuição dos dados para as variáveis contínuas. A análise descritiva das variáveis avaliadas foi realizada por meio da média e do desvio-padrão. Analisaram-se as diferenças entre grupos por meio do teste t pareado e do teste de Wilcoxon, a depender do tipo de variável e da distribuição dos dados. O nível de significância estatística adotado foi de p < 0,05. Resultados Participaram do estudo 10 pacientes, sendo 7 (70%) do sexo masculino e 3 (30%) do sexo feminino. As características demográficas, antropométricas e clínicas estão demonstradas na Tabela 1. Tabela 1: Características demográficas, antropométricas e clínicas da amostra. Variáveis (n = 10) Idade, anos (média ± DP) Peso, kg (média ± DP) Altura, cm (média ± DP) IMC, kg/m2 (média ± DP) Gravidade da doença, n (%) Intermitente Persistente leve Persistente moderada Persistente grave Uso de broncodilatador n (%) Uso de corticoide sistêmico n (%) Uso de corticoide inalatório n(%) Presença de sintomas, n (%) Dispneia Tosse Sibilância 8,2 ± 2,44 31,09 ± 11,13 133,9 ± 15,48 18,33 ± 6,70 IMC – índice de massa corporal. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 5 (50) 1 (10) 2 (20) 2 (20) 4 (40) 6 (60) 3 (30) 10 (100) 10 (100) 10 (100) Artigo 2 Após três meses de intervenção, as crianças apresentaram redução significante da frequência cardíaca (87,0 ± 9,94 vs 76,8 ± 9,0, p < 0,01) e frequência respiratória (19,6 ± 4,40 vs 15,6 ± 3,50, p=0,03), Figura 1 e Figura 2, respectivamente. Média Frequência cardíaca ± Desvio-padrão Figura 3: Pico de fluxo expiratório (PFE) nos momentos pré e pós-tratamento. Média ± Desvio-padrão Houve ganho de mobilidade torácica axilar (4,8 ± 1,55 vs 8,0 ± 4,22, p = 0,01), xifoidiana (4,0 ± 2,21 vs 7,0 ± 2,2, p < 0,01) e abdominal (1,0 ± 3,80 e 9,0 ± 3,43, p < 0,01), Figura 4. Frequência cardíaca Figura 1: Frequência cardíaca nos momentos pré e pós-tratamento. Média ± Desvio-padrão Média ± Desvio-padrão Figura 4: Mobilidade torácica (axilar, xifoidiana e abdominal) nos momentos pré e pós-tratamento. Figura 2: Frequência respiratória nos momentos pré e pós-tratamento. Discussão Com relação ao pico de fluxo expiratório, observou-se melhora significante após o tratamento (219,5 ± 74,10 vs 255,6 ± 68,42, p < 0,01), Figura 3. A asma brônquica é considerada a principal doença crônica da infância, apresentando-se com alta prevalência. Muitos fatores estão sendo apontados como responsáveis por essa tendência, entre eles, maior capacitação para realização dos diagnósticos, detecção de ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 23 Artigo 2 novos gens para asma, exposições frequentes a grandes níveis de alérgenos, desmame precoce, contato com poluentes do ar, infecções virais e parasitoses intestinais.14,19,23 É de suma importância que os fisioterapeutas, assim como outros profissionais da saúde, estejam preparados para suprir a demanda de pacientes por meio de um serviço especializado no cuidado à criança portadora de asma, considerando suas maiores carências. 2,18,23 Segundo Paulin16, a asma é uma doença inflamatória primária das vias aéreas, caracterizada pelo aumento da hiper-reatividade brônquica e pela obstrução do fluxo aéreo secundário à inflamação. O asmático possui certa dificuldade na realização de atividades físicas devido ao comprometimento das vias aéreas e da redução do pico de fluxo expiratório, o que ocasiona dispneia, tosse, sibilância e “aperto no peito” ao realizar exercícios de maior intensidade.17 Pela dificuldade de realizar um ciclo respiratório completo, o tórax sofre, progressivamente, alterações em sua arquitetura normal, enquanto o abdome diminui a função e a sustentação das vísceras e do próprio tórax.17 A postura então se modifica e outras funções exercidas pelos músculos respiratórios perdem qualidade. Diante de uma situação de esforço respiratório, o diafragma não consegue desempenhar suas funções com eficácia e o sistema nervoso central recruta a ajuda dos acessórios, modificando assim o padrão respiratório do paciente.1 Em portadores de asma a respiração torna-se do tipo apical, e não toracoabdominal, com redução do trabalho diafragmático.25 No presente estudo foi observado, ao final das intervenções, aumento significativo na 24 mobilidade torácica, sendo que a região inferior da caixa torácica apresentou maior variação. Entretanto, não é possível uma explanação mais detalhada sobre os resultados obtidos na análise da mobilidade torácica, além do trabalho respiratório desenvolvido por meio dos padrões respiratórios e do alongamento ativo da musculatura respiratória.1,8,9 Neste estudo também foi observada transferência do padrão apical para o diafragmático, em concordância com Irwin33, que considera que o paciente cuja musculatura respiratória tem características mecânicas normais relaxa a musculatura acessória da respiração, restaurando a eficiência da mesma. Segundo Paulin17, pode ser observado aumento da mobilidade torácica mais acentuada em região torácica inferior, sugerindo melhora da excursão diafragmática. Outra explicação para essa alteração do padrão ventilatório consiste nas diferenças existentes entre cada tipo de exercício realizado. É possível conseguir tal resultado usufruindo da prática de padrões respiratórios que favoreçam a dinâmica diafragmática.1,8 O uso do peak flow para avaliar o pico de fluxo expiratório (PFE) torna-se imprescindível para mensurar o quanto os procedimentos desenvolvidos foram eficazes no intuito de aproximar os valores reduzidos das crianças ao predito para cada uma, em que 50% dos pacientes submetidos à intervenção alcançaram o valor predito do PFE ao término do período, e os outros 50% aumentaram, significativamente, os valores de PFE, atingindo números próximos aos preditos. Os resultados do presente estudo apontam melhora significativa nos valores de PFE após as intervenções, resultados que corraboram com outros estudos ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 que utilizaram esse parâmetro de avaliação. Outro ponto de observação foi o alcance de valores estatisticamente significantes nas mudanças ocorridas na variação da frequência cardíaca (FC) e da frequência respiratória (FR), apontando uma possível melhora do condicionamento cardiorrespiratório das crianças asmáticas.1,19 A referência à sintomatologia específica da asma1, inicialmente apresentada por 10 (100%) dos pacientes, sofreu redução de 7 (70%) após o término da intervenção. Esse resultado se contrapõe ao indicado por Yamamuda apud Tenroller21, justificando que de 80% a 90% das crianças portadoras de asma são acometidas por broncoespasmo induzido pelo exercício durante as atividades físicas. Conclusão Os resultados deste estudo demonstraram que a prática de exercícios físicos melhorou a frequência cardíaca, frequência respiratória, o Pico de Fluxo Expiratório e a mobilidade torácica, assim como um plano educativo simultâneo ao tratamento fisioterapêutico parece contribuir para agregar informações pertinentes à prevenção de agravos e à promoção de saúde das crianças asmáticas, tendo em vista o aprendizado e a satisfação dos cuidadores ao se defrontarem com informações extremamente pertinentes ao acompanhamento domiciliar dessas crianças. REFERÊNCIAS 1. AZEREDO, C. A. C. Fisioterapia respiratória moderna. 4. ed. São Paulo: Manole, 2002. 2. BARROS, F. B. M. O fisioterapeuta na saúde da população. Atuação transformadora. Fisiobrasil, 2002. 3. BETTENCOURT, A. R. et al. Educação de pacientes com asma: atuação do enfermeiro. J. Pneumologia, 2002; 28 (4). 4. BORBA, R. I. H.; SARTI, C. A. A asma infantil e o mundo social e familiar da criança. Rev. 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LASMAR, L et al. Fatores de risco para hospitalização de crianças e adolescentes asmáticos. Rev. Saúde Pública, 2002, v. 36, n. 4. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 25 Artigo 2 12. LÓPEZ, C. A. Identificación de lãs necesidades de aprendizaje de la enfermedad asmáticas em familiares de pacientes pediátricos. Rev. Chil. de Med., 2005, 52 (1): 18-24. 13. MELO, R. M. B.; LIMA, L. S.; SARINHO, E. S. C. Associação entre controle ambiental domiciliar e exacerbação da asma em crianças e adolescentes do município de Camaragibe, Pernambuco. J. Pneumologia, 2005; 31 (1): 5-12. 14. MENDES, L. S.; GARCIA, T. G.; PEREIRA, L. C.; TOZADO, C. Estudo dos sintomas e do comportamento de uma criança asmática submetida a um programa de educação e tratamento fisioterapêutico. Medicina de reabilitação, 2005; 24 (3): 63-67. 15. OLIVEIRA, M. A. et al. 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Contato: [email protected] 4 Fisioterapeuta, docente da Faculdade Dom Bosco. 1 Resumo Introdução: o presente estudo tem caráter controlado, randomizado, do tipo experimental, realizado na Faculdade Dom Bosco – Sede Mercês, situada em Curitiba/PR. Objetivo: verificar se a realização de exercícios baseados no método isostretching associada à contração perineal influencia no aumento da força dos músculos do assoalho pélvico. Métodos: foram avaliadas 25 mulheres, com média de idade de 23,4 anos, divididas em dois grupos: experimental n = (15), que realizou exercícios de isostretching com contração perineal; e controle n = (10), que não realizou os exercícios. As participantes foram submetidas à avaliação ginecológica funcional do assoalho pélvico, com a utilização do toque bidigital e perineometria, que avaliam contração rápida, prolongada e de resistência, e responderam à anamnese ginecológica. Após a avaliação, as integrantes do grupo experimental foram submetidas a um programa de exercícios utilizando posturas do método isostretching. As pacientes realizaram cada exercício três vezes, mantendo a contração perineal durante o tempo de expiração, durante 10 dias não consecutivos, três vezes por semana, com duração de trinta minutos. Por fim, foram reavaliados os dois grupos. As mulheres que não atingiram os valores de referência 2,1 a 2,9 mmHg para a contração prolongada – quesito em que o maior número de mulheres não conseguiru atingir o valor normal – foram encaminhadas para um subgrupo de mulheres que apresentavam fraqueza muscular. Resultados: os exercícios realizados influenciam a musculatura do assoalho pélvico, visto que na avaliação da perineometria, no item contração prolongada, houve diferença significativa indicando melhora para as pacientes que apresentavam fraqueza muscular. Conclusão: os resultados demonstraram aumento significativo da força muscular intragrupo para o grupo intervenção, e diminuição para o grupo controle. Sugere-se que os exercícios realizados utilizando-se o método isostretching associados à contração perineal podem promover um aumento da força da musculatura do assoalho pélvico. Palavras-chave: assoalho pélvico, avaliação perineal, fortalecimento do assoalho pélvico, isostretching. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 27 Artigo 3 ABSTRACT Introduction: the fortification of musculature of floor pelvic provides the reinforcement of resistance urethral and improvement of elements of lift of agencies pelvic, very important for avoid dysfunctions as the incontinence urinary and the prolapse of agencies pelvic. The method isostretching it is form of exercise that promotes the fortification through of stretching, together with the awareness corporal and control respiratory, associate to contraction perineal that can contribute for the fortification of musculature of pelvic floor. Aim: to determine if the perineal contraction associated with the method called “isostretching” will strength the pelvic floor muscles. Methods: we evaluated 25 women, mean age 23,4 years, divided into two experimental groups n = (15). The experimental group performed isostretching exercises with perineal contraction and the control group n = (10) did not do the exercises. The participants were submitted to gynecologic evaluation tests which were: functional assessment of pelvic floor and perineometry. They assess rapid contraction, prolonged end of resistance and also responded the gynecological anamnesis. After the evaluation the members of the experimental group were submitted to application of a program of exercises using postures of method isostretching, where each exercise was accomplished by three repetitions, maintaining the perineal contraction during the time of expiration. They occurred by 10 days not consecutive, three times per week with duration of twenty minutes. By the end the two groups were revalued. Results: the exercises performed influence the musculature of pelvic floor, cause that in 28 evaluation of perineometry on item prolonged contraction there was significant difference indicating improvement for the patients that had muscle weakness. Conclusion: the results demonstrated an significant increase of muscle strength intragroup for the intervention group and a decrease for the group control. It is suggested that the exercises perfomed using the method isostretching associated, to perineal contraction can promote an increase of force of musculature of pelvic floor. Key-words: pelvic floor, perineal review, strengthening pelvic floor, isostretching. Introdução Segundo Castro et al. (2010), a função normal do assoalho pélvico se dá por um sistema composto por músculos, tecido conjuntivo (que é mais vulnerável a lesões) e componentes neurais. A reabilitação do assoalho pélvico foca o fortalecimento dessas estruturas, para que todos trabalhem sinergicamente como um sistema dinâmico. Para que essas funções sejam realizadas de forma eficaz, é necessário que haja conscientização dessa musculatura para sua contração. Segundo Oliveira e Garcia (2011), os exercícios de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico proporcionam o reforço da resistência uretral e melhora dos elementos de sustentação dos órgãos pélvicos, muito importantes para evitar disfunções como a incontinência urinária e o prolapso de órgãos pélvicos. Além disso, a mulher também adquire o conhecimento e domínio de suas estruturas corporais, utilizando-as de forma automática e funcional, mantendo-as saudáveis. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 O método isostretching baseia-se em exercícios posturais, alongamentos e contrações isométricas, que irão tonificar a musculatura, aumentar a mobilidade articular e melhorar o funcionamento do corpo, modificando o esquema corporal. Isso irá proporcionar uma melhora da postura, equilíbrio, qualidade de vida e também do autoconhecimento do corpo e do gesto, resultando em uma menor sobrecarga das estruturas, diminuindo a ocorrência de lesões e aumentos desnecessários da pressão intra-abdominal, protegendo a musculatura do assoalho pélvico (SANGLARD et al., 2007). Com base nos dados expostos, a realização do presente estudo é proposta com o objetivo de avaliar os efeitos da aplicação de um programa de exercícios baseados nos princípios do método isostretching, visando a aumentar a força dos músculos do assoalho pélvico. Objetivos Objetivo geral Avaliar os efeitos dos exercícios terapêuticos baseados no método isostretching associados à contração perineal, na força dos músculos do assoalho pélvico em mulheres na faixa etária de 18 a 35 anos. Objetivos específicos - Avaliar a funcionalidade da musculatura do assoalho pélvico por meio da perineometria e do toque bidigital. - Aplicar um programa de exercícios baseados nos princípios do método isostretching. - Reavaliar a musculatura do assoalho pélvico por meio dos mesmos itens da avaliação para verificar o possível ganho de força dessa musculatura nas participantes da pesquisa. Metodologia Amostra Participaram deste estudo mulheres voluntárias com vida sexual ativa, com idade entre 18 e 35 anos, acadêmicas do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco, em Curitiba. Critérios de inclusão e exclusão Critérios de inclusão foram mulheres na faixa etária de 18 a 35 anos de idade; mulheres com vida sexual ativa; estudantes do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco; sujeitos que concordassem com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o assinassem. Foram excluídas da pesquisa mulheres gestantes; portadoras de doenças neurológicas, diabetes, hipertensão arterial, infecção urinária, incontinência urinária, prolapso genital; que realizaram cirurgia ginecológica prévia; praticantes de atividade física. Procedimentos e avaliações Após aprovação do Comitê de Ética em pesquisa da Faculdade Dom Bosco, deu-se início ao processo de seleção dos sujeitos. A convocação para a pesquisa foi realizada via oral e por editais nas salas de aula e laboratórios nas dependências da instituição. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em dois grupos: experimental n = (15) e controle n = (10). Ambos foram submetidos aos procedimentos de avaliação, entretanto, somente o grupo experimental foi submetido à aplicação do programa de exercícios. A ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 29 Artigo 3 avaliação foi realizada antes e ao término da aplicação dos exercícios. Avaliação funcional do assoalho pélvico Segundo Moreno (2009), a avaliação funcional do assoalho pélvico proporciona a noção da capacidade de contração da musculatura pélvica, permitindo a adequação do planejamento terapêutico de acordo com a funcionalidade de cada paciente, tendo maiores chances de sucesso terapêutico. O desenvolvimento dessa avaliação torna-se imprescindível, uma vez que fornece parâmetros para uma conduta terapêutica adequada e personalizada a cada paciente. Foi realizado o toque bidigital, que segundo Carrara, Duarte e Philbert (1996) é feito após calçar luva de borracha de tamanho apropriado e lubrificá-la com vaselina. Os dois dedos que tocam devem estar em extensão, e o quarto e quinto dedo devem estar fletidos sobre os metacarpos e o polegar em adução de 90º. A introdução dos dedos foi feita após afastamento dos lábios genitais, deprimindo-se a fúrcula com o bordo cubital dos mesmos, até que alcancçasse a cavidade vaginal. Foi utilizado também o aparelho de biofeedback (perina), que segundo Gomes et al. (2009) é um eletromiógrafo de pressão que registra os potenciais de ação das contrações dos MAP por meio de uma sonda vaginal inflável que traduz sua intensidade por sinais visuais. Essa sonda, revestida por um preservativo, foi introduzida no canal vaginal e insuflada até que a paciente sentisse um leve desconforto e percebesse o envolvimento de toda a superfície do probe (GOMES et al., 2009). Após, solicitou-se ao sujeito realizar contrações da musculatura do assoalho pélvico, conforme protocolo descrito a seguir: 30 1. Inicialmente, foi solicitada a realização de cinco contrações normais e leves, sendo aqui anotados os valores observados no visor do aparelho e alcançados pelos sujeitos da pesquisa. 2. Após, foi solicitada a realização de cinco contrações rápidas e máximas, sendo aqui anotados os valores observados no visor do aparelho e alcançados pelos sujeitos da pesquisa. 3. Finalmente, foram solicitadas cinco contrações prolongadas (realizar contração máxima e sustentada, sendo anotado o tempo de manutenção até que fosse atingido 50% do valor inicial de pressão). Após as avaliações serem realizadas, as mulheres que não atingiram os valores de referência para fraqueza da musculatura do assoalho pélvico baseados na escala fácil do aparelho perina, que vão de 2,1 a 2,9 mmHg para a contração prolongada – em que foi encontrada a maioria das mulheres que não atingiram os valores de referência — foram encaminhadas para um subgrupo onde só permaneciam mulheres que apresentavam fraqueza muscular. Oito mulheres continuaram a fazer parte do grupo experimental, realizando o mesmo tratamento que esse grupo, somente se diferenciando na realização da estatística. Após, foram aplicados os exercícios baseados no método isostretching nas participantes do grupo experimental e subgrupo. As participantes foram submetidas ao programa de tratamento durante 10 dias, 3 vezes por semana. Foram 10 exercícios que se repetiam 3 vezes. O tempo de manutenção da postura era regido pela expiração profunda e prolongada por cerca de 6 segundos. Após cada expiração, ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 relaxou-se simplesmente a tensão, sendo que a pausa entre um exercício e outro foi a preparação para a postura realizada no exercício seguinte. Cada sessão teve duração de aproximadamente trinta minutos (REDONDO, 2001). Os exercícios foram realizados por 10 dias não consecutivos para verificar se haveria resultados notáveis com o mínimo de sessões disponíveis. O subgrupo realizou os testes para justificar o objetivo da pesquisa, esclarecendo que mulheres jovens e saudáveis também podem ter fraqueza da musculatura do assoalho pélvico, o que ficou comprovado nos resultados finais. Durante todas as posturas, foi executada a expiração, e nesse momento ocorreu a contração perineal, sendo mantida até o final da expiração. O terapeuta deu o comando verbal para que a paciente tivesse a percepção de como realizar a contração perineal. Após, as pacientes foram reavaliadas com os mesmos itens da avaliação. Resultados Foram avaliadas 25 mulheres, sendo 15 selecionadas para o grupo experimental, e as outras 10 participantes para o grupo controle. Os resultados obtidos em relação às características antropométricas e clínicas da amostra estão demonstrados na Tabela 1. Tabela 1: Características antropométricas e clínicas da amostra (n = 25) Características Intervenção Controle P valor Idade, anos (média DP) 22,6 ± 2,5 24,6 ± 2,1 0,06 IMC, m/kg (média DP) 23,7 ± 2,9 22,1 ± 4 0,29 7,47 3,30 0,32 2 Dispareunia (n, %) Resultados da perina Os resultados demonstraram que ocorreu diferença significativa entre as variáveis obtidas na avaliação e reavaliação para o grupo experimental, sendo p < 0,05 (Tabela 2). Tabela 2: Variáveis para o grupo experimental (n = 15). Experimental Variáveis Pré Pós p-valor Contração normal (mediana, mín.-máx.) 2,00 1,10 2,90 2,10 1,10 2,90 0,00 Contração rápida (mediana, mín.-máx.) 2,00 0,50 2,90 2,00 0,50 2,90 0,02 Contração máxima sustentada (mediana, mín.-máx) 1,80 0,50 2,90 1,80 0,80 2,90 0,00 Fonte: Elaboração própria (2012). Os resultados não demonstraram diferença significativa entre as variáveis obtidas na avaliação e reavaliação para o grupo controle. Apenas a variável contração máxima sustentada teve o p < 0,02, sendo insignificante comparado aos outros resultados (Tabela 3). Tabela 3: Variáveis para o grupo controle (n = 10). Controle Variáveis Pré Pós p-valor Contração normal (mediana, mín.-máx.) 1,80 1,10 2,90 1,80 1,10 2,90 1,00 Contração rápida (mediana, mín.-máx.) 1,80 1,30 2,80 1,80 1,30 2,80 0,32 Contração máxima sustentada (mediana, mín.-máx.) 1,40 0,60 2,80 1,10 2,00 2,80 0,02 Fonte: Elaboração própria (2012). Fonte: Elaboração própria (2012). ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 31 Artigo 3 Resultados das variáveis para a avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) Comparação entre os grupos experimental e controle Em relação às variáveis para a avaliação funcional do assoalho pélvico, os resultados demonstraram que não ocorreu diferença significativa entre as variáveis obtidas na avaliação e reavaliação para o grupo experimental, sendo o p = > 0,05 (Tabela 4). Os resultados demonstraram que não houve diferença significativa entre os grupos experimental e controle para as variáveis avaliadas, sendo o p > 0,05. Em relação à variável contração máxima sustentada, houve diferença significativa entre os grupos, sendo o p valor = 0,05 (Tabela 6). Tabela 4: Variáveis da AFA para o grupo experimental (n = 15). Tabela 6: Comparação entre os grupos experimental e controle (n = 25). Experimental Variáveis Pré Pós p-valor Musculatura superficial (mediana, mín.-máx.) 4,00 2,00 4,00 4,00 3,00 4,00 0,41 Musculatura profunda (mediana, mín.-máx.) 4,00 3,00 4,00 4,00 3,00 4,00 1,00 Fonte: Elaboração própria (2012) Em relação ao grupo controle para AFA, os resultados demonstraram que não ocorreu diferença significativa entre as variáveis obtidas na avaliação e reavaliação para o grupo controle, sendo o p = > 0,05 (Tabela 5). Variáveis Experimental Controle p-valor Pré Pós Pré Pós Contração normal (mediana, mín.-máx.) 2,00 1,10 2,90 2,10 1,10 2,90 1,80 1,10 2,90 1,80 1,10 2,90 0,53 Contração rápida (mediana, mín.-máx.) 2,00 0,50 2,90 2,00 0,50 2,90 1,80 1,30 2,80 1,80 1,30 2,80 0,64 Contração máxima sustentada (mediana, mín.-máx) 1,80 0,50 2,90 1,80 0,80 2,90 1,40 0,60 2,80 1,10 2,00 2,80 0,05 Musculatura superficial (mediana, mín.-máx.) 4,00 2,00 4,00 4,00 3,00 4,00 4,00 2,00 4,00 4,00 2,00 4,00 0,89 Musculatura profunda (mediana, mín.-máx.) 4,00 3,00 4,00 4,00 3,00 4,00 4,00 0,00 4,00 4,00 3,00 4,00 1,00 Fonte: Elaboração própria (2012). Tabela 5: Variáveis da AFA para o grupo controle (n = 10). Controle Variáveis Pré Pós p-valor Musculatura superficial (mediana, mín.-máx.) 4,00 2,00 4,00 4,00 2,00 4,00 0,41 Musculatura profunda (mediana, mín.-máx.) 4,00 0,00 4,00 4,00 3,00 4,00 1,00 Fonte: Elaboração própria (2012). 32 Comparação intragrupo e entre os grupos experimental e controle para a variável contração máxima sustentada A comparação intragrupo e entre os grupos em relação às pacientes que apresentaram fraqueza muscular determinada pela contração máxima sustentada < 2,2, os resultados demonstraram aumento significante da força muscular intragrupo para o grupo experimental [de 1,1 (0,8-1,9) para 1,5 (0,8-2,2), p = 0,00] e uma diminuição para o grupo controle [de 1,4 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 (0,6-1,8) para 1,1 (0-1,7), p = 0,03]. A análise intergrupos mostrou melhora significante para o grupo experimental, p = 0,04. (Tabela 7). Tabela 7: Comparação intragrupo e entre os grupos experimental e controle para a variável contração máxima sustentada. Intervenção Variáveis Contração máxima sustentada Controle Pré Pós p-valor Pré Pós p-valor p-valor 1,80 0,50 2,90 1,80 0,80 2,90 0,00 1,40 0,60 2,80 1,10 2,00 2,80 0,02 0,05 Fonte: Elaboração própria (2012). Discussão Pinheiro (2009) cita que em 1948 um ginecologista californiano descobriu a importância da musculatura do assoalho pélvico nas incontinências e nos prolapsos, atingindo, em suas pacientes, um índice de 70% de cura. O treinamento dos músculos do assoalho pélvico ajuda as pacientes a desenvolver percepção e controle desses músculos sem a utilização de musculaturas vizinhas. O comando verbal do fisioterapeuta as ajuda nessa conscientização. Castro et al. (2008) complementam que o sucesso das técnicas de fisioterapia depende do grau de motivação da mulher. No presente estudo, as participantes demonstraram formar um grupo homogêneo quanto à faixa etária, sendo que a idade média das participantes foi de 23,4 anos, com idades variando entre 18 e 35 anos. A análise intergrupos mostrou melhora significativa para o grupo intervenção. O aumento da força dos músculos do assoalho pélvico foi observado na pesquisa elaborada por Korelo et al. (2011), que era composta por 21 voluntárias, nulíparas e sexualmente ativas, que realizaram, com orientação de um fisioterapeuta, uma contração perineal simultânea à contração abdominal, sem orientação de contração perineal. Pôde ser observado também o aumento significativo da força muscular do assoalho pélvico no trabalho de Sousa et al. (2011), que submeteram 22 mulheres à anamnese, avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA), quantificação da contração por meio da palpação bidigital e perineômetro, além da avaliação da qualidade de vida por meio do King’s Health Questionnaire (KHQ). As avaliações foram realizadas antes e após a intervenção. O protocolo adotado foi composto por exercícios de conscientização e a série de Kegel. De acordo com os resultados obtidos, a cinesioterapia causou aumento significativo na força de contração da musculatura pélvica. No estudo de Beutennmuller et al. (2011), que avaliaram o efeito dos exercícios perineais associados ou não à eletroterapia em mulheres com incontinência urinária de esforço (IUE), quanto à contração dos músculos do assoalho pélvico (MAP), foi observado, por meio da avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) e do perineômetro, que os resultados apontam melhora da contração dos MAP nas participantes, assim como notado em nossa pesquisa. A participante foi orientada a realizar a contração voluntária da MAP simultaneamente ao estímulo elétrico, com sonda intracavitária, indicado altas frequências – 50 Hz, corrente de tensão média nula alternada ou bifásica, largura de pulso de 0,2 a 0,5 ms e tempo de repouso 2x o tempo de passagem da corrente on:off 6:12 seg, intensidade tolerada pela ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 33 Artigo 3 paciente, com duração de 20 minutos. Como já citado por Redondo (2001), o isostretching enfatiza a manutenção de uma postura biomecanicamente correta durante a execução dos exercícios, associada ao trabalho respiratório. Utilizando-se essa técnica aliada à contração perineal, o grupo experimental foi orientado a realizar os exercícios, enquanto o grupo controle somente realizou a avaliação e reavaliação. Num dos exercícios aplicados (exercício 4) em decúbito dorsal, com uma bola entre os joelhos, a paciente realizou uma pressão constante. Segundo Silva, Santos e Borges (2005), o simples fato de pressionar uma bola entre os joelhos acarreta no recrutamento maior de fibras musculares. Os exercícios dessa pesquisa foram realizados com as pacientes em decúbito dorsal, sentadas, com exceção de um, realizado em pé. Os autores Rett et al. (2005) explicam, em seu estudo, que em decúbito dorsal e sentado a contração das fibras fásicas e tônicas são significativamente superiores à posição ortostática. Em nosso estudo, a maioria dos exercícios foram realizados nessas posições, supostamente por isso observamos o maior recrutamento das fibras e, assim, o fortalecimento da musculatura trabalhada. Segundo Tribastone (2001), os exercícios realizados a longo prazo oferecem benefícios notáveis, sendo de suma importância que os atendimentos sejam realizados em um período maior, pois pelo curto prazo estabelecido, não houve melhora satisfatória no grupo intervenção, somente no subgrupo. Os indivíduos observaram que sentiam bastante dificuldade na conscientização perineal, o que 34 é enfatizado por Pinheiro et al. (2012), que explicam que, na prática cotidiana, de 30 a 50% das mulheres, mesmo jovens, são incapazes de contrair seus músculos perineais quando isso lhes é solicitado. Além disso, o número de atendimentos utilizados foi pequeno para avaliar se a aplicação de quantidade mínima de atendimentos seria suficiente para fortalecer a musculatura do assoalho pélvico. O objetivo inicial da pesquisa foi verificar o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico por meio da aplicação dos exercícios baseados no método isostretching, para que o estudo tivesse significância. A aplicação prática da pesquisa limitou-se um pouco devido à pouca disponibilidade das participantes, o que dificultou minimamente o processo do trabalho. Conclusão A aplicação dos exercícios baseados no método isostretching associada à contração perineal influencia o aumento da força da musculatura do assoalho pélvico (MAP). REFERÊNCIAS ANTONIOLI, R. S.; SIMÕES, D. Abordagem fisioterapêutica nas disfunções sexuais femininas. Rev. Neurocienc., v. 18, n. 2, p.267-274, 2010. BARBOSA, A. M. P.; CARVALHO, L. R.; MARTINS, A. M. V. C.; CALDERON, I. M. P.; RUDGE, M. V. C. Efeito da via de parto sobre a força muscular do assoalho pélvico. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., v. 27, n. 11, p.677-82, 2005. BERNARDES, B. T.; RESENDE, A. P. M.; STUPP, L.; OLIVEIRA, E.; CASTRO, R. A.; ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 BELLA, Z. I. K. J.; GIRÃO, M. J. B. C.; SARTORI, M. G. F. 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Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 37 Artigo 4 Confiabilidade intra e interexaminador nas medidas de amplitude de movimento na articulação do joelho com flexímetro e goniômetro universal Intra and reliability measures in range of motion relationship with knee and fleximeter universal goniometer Bárbara Lucilla da Silva¹ Larissa de Mattos Guerreiro Teixeira² Naian Rafaeli Caetano Rostirolla³ Priscila Piekarski Sanches4 Cristiane Regina Gruber5 ¹Graduanda do 8º período do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Contato: [email protected] ²Graduanda do 8º período do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Contato: [email protected] ³Graduanda do 8º período do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Contato: [email protected] 4 Graduanda do 8º período do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Contato: [email protected] 5 Mestre em Engenharia Biomédica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Contato: [email protected] Conclusão: os resultados demonstraram que ambos os instrumentos apresentam alta confiabilidade intraexaminadores, no entanto, as medidas do flexímetro demonstraram maior confiabilidade interobservadores. Palavras-chave: goniômetro, flexímetro, interexaminador, intraexaminador, joelho, confiabilidade. RESUMO ABSTRACT A utilização de novos métodos de avaliação depende da verificação dos níveis de confiabilidade intra e interexaminadores, obtidos nas mesmas condições. The use of new assessment methods depend on whether the levels of intra-and inter, obtained under the same conditions. Objetivo: testar a confiabilidade intra e interexaminador nas medidas de amplitude de movimento na articulação do joelho com flexímetro e goniômetro universal. Métodos: durante a avaliação, o paciente foi posicionado em decúbito ventral, com os pés para fora da maca. Foi realizada a flexão de joelho, medindo-a com o goniômetro e o flexímetro três (3) vezes por dois (2) examinadores. Após uma semana, foi realizada a mesma medida com apenas um (1) avaliador, 38 tendo como resultado as medidas intra e interavaliadores. Objective: to test the intra-and inter in measures of range of motion in the knee joint with fleximeter and goniometer. Methods: during the evaluation, the pacient was positioned in ven decubitus with feet outside of the stretcher, and then made a knee flexion, which was measured with the fleximeter and the goniometer for three (3) times by each two (2) examiners. After a week, the same measure was made by just one (1) of the examiners, resulting in intra and interexaminator measures. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 Conclusion: The results showed that both instruments showed high intra-rater reliability, however fleximeter measurements showed greater interobserver reliability. Keywords: goniometer, fleximeter, intraexaminator, interexaminator, knee, reliability. Introdução O movimento é um elemento importante da vida, e restrições na sua quantidade ou qualidade podem levar a efeitos graves e marcantes sobre o bem-estar. (DURWARD et al., 2001). A avaliação da amplitude de movimento (ADM) tem sido amplamente utilizada para quantificar o déficit musculoesquelético das articulações (CHAVES et al., 2008). Tal parâmetro é utilizado num primeiro momento para avaliar e também acompanhar o tratamento fisioterapêutico. Portanto, esse procedimento faz parte da propedêutica e do prognóstico de um indivíduo (VENTURINI et al., 2006). Resumindo, é um importante componente na avaliação física, pois identifica as limitações articulares, permitindo aos profissionais acompanharem de modo quantitativo a eficácia das intervenções terapêuticas durante a reabilitação (BATISTA et al., 2006). Inúmeros recursos são utilizados para realizar a mensuração da amplitude do movimento, dentre eles, o goniômetro, o instrumento mais comumente utilizado na prática clínica (VENTURINI et al., 2006). Tal recurso apresenta algumas vantagens: é um instrumento barato, de fácil manuseio e as medidas são tomadas rapidamente. Por outro lado, existe uma possibilidade de erro nas medidas, devido à pega do aparelho e à visualização dos pontos-chave de referência (MARQUES, 2003). O flexímetro é um aparelho cujo objetivo inicial é mensurar a flexibilidade. No entanto, é muito utilizado para verificar a amplitude de movimento (ADM), apesar de sua confiabilidade ser questionada. (LUSTOSA, 2008). A utilização de novos métodos de avaliação depende da verificação dos níveis de confiabilidade intra e interexaminadores, obtidos nas mesmas condições. A confiabilidade intraexaminador consiste em medidas realizadas nas mesmas condições de avaliação em dois momentos diferentes. Já a confiabilidade interexaminador vincula-se à consistência das medidas realizadas por dois examinadores diferentes (PORTNEY & WATKINS, 2000, citado por VENTURI et al., 2006). O presente estudo propôs-se a testar a confiabilidade intra e interexaminador das medidas de amplitude de movimento de flexão do joelho realizadas com o goniômetro universal e o flexímetro. Metodologia Participaram deste estudo 38 sujeitos, maiores de 18 anos, estudantes do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco, Curitiba-PR. Foram excluídos aqueles que possuíssem qualquer doença articular de joelho e apresentassem dor no momento da avaliação, tivessem implantes metálicos na região a ser avaliada, sequelas neurológicas em MMII, história de cirurgia prévia em pelo menos 12 meses em MMII, apresentassem distúrbios musculares recentes em MMII, relatassem dor ao realizar o movimento de flexão de joelho e, por fim, que realizaram atividade física por um período de 24 horas antecedentes. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 39 Artigo 4 Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Dom Bosco, os alunos foram convidados a participar da pesquisa, e aqueles que se enquadravam no perfil dos sujeitos da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Todos os participantes responderam a uma ficha de avaliação onde foram coletados dados gerais, antecedentes pessoais para verificação de história de lesão nas articulações, e questionados se possuíam doenças associadas e se apresentavam dor, com a finalidade de caracterizar a amostra. Foram explicados todos os procedimentos, assim como as medidas e as vestimentas que seriam adequadas para a realização da avaliação. Os examinadores também foram previamente treinados para a padronização da mensuração, desde a fixação do flexímetro e do posicionamento dos braços do goniômetro universal, até os comandos que foram utilizados durante a avaliação. As medidas foram feitas por dois avaliadores (avaliador 1 e 2), sendo que ambos utilizaram o flexímetro e o goniômetro para as aferições. Após uma semana da primeria coleta, o sujeito da pesquisa retornou para nova aferição (avaliador 1), permitindo, dessa forma, a comparação interexaminadores. Para a coleta de dados, o sujeito foi posicionado em decúbito ventral sobre uma maca, os joelhos permaneceram apoiados e os tornozelos ficaram pendentes para fora. O membro inferior esquerdo foi mantido em posição neutra. As medidas foram repetidas três vezes consecutivas, sendo posteriormente realizada a mediana. A leitura dos graus obtidos foi feita pelo próprio examinador. Inicialmente, 40 foram realizadas as medidas de amplitude de movimento com um goniômetro universal. O movimento de flexão de joelho (0-140°) foi realizado com o indivíduo em decúbito ventral. De acordo com Norkin e White (1997), o braço fixo do goniômetro fica paralelo à superfície lateral do fêmur dirigido para o trocanter maior. Já o braço móvel ficou paralelo à face lateral da fíbula para o maléolo lateral, e o eixo sobre a linha articular da articulação do joelho. Então se realizou a flexão de joelho, obtendo-se assim a medida angular. Após a realização das medidas com o goniômetro, aconteceu então a mensuração com o flexímetro. Segundo Monteiro (2000), o posicionamento do flexímetro Sanny ocorreu da seguinte forma: o indivíduo posicionou-se em decúbito ventral na maca de forma que os joelhos ficaram apoiados na maca, com os tornozelos para fora. O flexímetro foi colocado com o mostrador voltado para a face lateral do tornozelo, para o avaliador. Fixou-se o zero na amplitude anatômica. Foi estabilizada a pelve, que não se movimentou, projetando uma hiperlordose da coluna lombar. Todos os movimentos foram realizados ativamente e até a amplitude máxima, os seguimentos proximais estiveram estabilizados pelos examinadores. O sujeito seguiu os comandos dos mesmos e pôde treinar o movimento uma vez antes de a medida ser feita. Analise estatística A análise de dados foi realizada utilizando o software R version 2.11.1 (2010-5-31). Os dados quantitativos foram descritos por meio das médias, como Medida de Tendência Central (média), desvio-padrão, medida de ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 dispersão. Foi aplicado o teste não paramétrico de Wilcoxon para identificar as diferenças entre duas amostras relacionadas. Para complementar, foi encontrado também o p-valor e considerado o nível de significância igual a 5% (p ≤ 0,05). diferença significativa quando comparados os goniômetros intraexaminador, e também intraexaminador quando comparados goniômetro X flexímetro, conforme observado na Tabela 2. Tabela 2: Tabela com os testes de Wilcoxon. Resultados Grupos A confiabilidade e a correlação das medidas da flexão de joelho realizadas com o goniômetro e o flexímetro foram analisadas por meio do coeficiente de correlação intraclasse (CCI). Essa confiabilidade pode ser considerada pequena com valores, baixa, moderada, alta e muito alta, de acordo com Jhonson e Gross (1997). Quando comparadas as variáveis métodos e examinadores no movimento de flexão de joelho, observando as médias e desvio-padrão apresentadas, nota-se que nos interexaminadores os valores para o aparelho flexímetro mantiveram-se mais similares do que com o goniômetro. Já entre o mesmo examinador notou-se diferença maior nas médias e desvio-padrão com o aparelho goniômetro do que com o aparelho flexímetro, conforme observado na Tabela 1. Tabela 1: Tabela de médias e desvio-padrão. Grupo Média ± DP Gon 1A Flex 1A Gon 2 Flex 2 Gon 1B Flex 1B 121,40 126,51 123,24 127,18 124,56 126,08 (12,21) (12,12) (8,00) (12,17) (8,76) (10,29) Fonte: Elaborado pelos pesquisadores. Para verificar diferenças estatisticamente significantes foi aplicado o teste não paramétrico de Wilcoxon, que demonstrou P-valor Grupo goniômetro 1A vs Grupo goniômetro 1B 0,01 Grupo goniômetro 1A vs Grupo goniômetro 2 0,20 Grupo flexímetro 1A vs Grupo flexímetro 1B 0,49 Grupo flexímetro 1A vs Grupo flexímetro 2 0,89 Grupo goniômetro 1A vs Grupo flexímetro 1A 0,00 Grupo goniômetro 2 vs Grupo flexímetro 2 0,00 Fonte: Elaborado pelos pesquisadores. Das 9 (nove) comparações verificadas por meio do teste de Wilcoxon e expostas na Tabela 2, 6 (seis) delas apresentaram p-valor não significativo. Quando comparados intraexaminador os grupos Goniômetro 1A e Goniômetro 1B, o p-valor de 0,0141 indicou uma diferença estatisticamente significativa entre os valores dessas variáveis, ou seja, rejeita-se H0 (hipótese nula). Verificando-se a média dos valores dessas variáveis, nota-se que o grupo Goniômetro 1A teve uma média de 121,40, enquanto o grupo Goniômetro 1B apresentou uma média de 124,56, estatisticamente maior que aquela. A comparação dos grupos Goniômetro 1A e Flexímetro 1A apresentou um p-valor de 0,0003, ou seja, rejeita-se H0, existindo, portanto, diferença estatisticamente significativa entre os valores destas variáveis. Ao se analisar os valores médios destas ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 41 Artigo 4 variáveis em comparação, percebe-se que o grupo Goniômetro 1A teve uma média de 121,40, enquanto o grupo Flexímetro 1A apresentou uma média de 126,51, estatisticamente maior que aquela. Outra comparação estatisticamente significativa foi observada na comparação entre os grupos Goniômetro 2 e Flexímetro 2, pois o p-valor resultante foi de 0,0013, ou seja, rejeita-se H0, o que representa diferença estatisticamente significativa. Ao se analisar os valores médios dessas variáveis, percebe-se que o grupo Goniômetro 2 teve uma média de 123,24, enquanto o grupo Flexímetro 2 apresentou uma média de 127,18, estatisticamente maior que aquela. Na tabela 3 a seguir, demonstra-se o coeficiente de correlação intraclasse (CCI). A confiabilidade foi considerada pequena com valores até 0,25, baixa (0,26-0,49), moderada (0,50-0,69), alta (0,70-0,89) e muito alta (acima de 0,90), de acordo com os valores de referência descritos por Jhonson e Gross (1997). Tabela 3: Coeficiente de correlação intraclasse. GRUPO CCI Intraexaminador goniômetro 0,77 (alta) Intraexaminador flexímetro 0,74 (alta) Interexaminador goniômetro 0,68 (moderada) Interexaminador flexímetro 0,90 (muito alta) Fonte: Elaborada pelos pesquisadores Discussão Segundo Rothstein (1988), a confiabilidade intraexaminador normalmente se apresenta mais significativa do que a confiabilidade interexaminador, já que é mais fácil reproduzir os procedimentos quando apenas um examinador os realiza. 42 Já neste estudo, quando comparado o goniômetro em dois momentos diferentes por um mesmo avaliador, chegou-se a um resultado significativo. Isso demonstra que quando o indivíduo é avaliado em situações diferentes, mesmo havendo uma padronização, podem ocorrer divergências nas medidas devido a posicionamento, erro de leitura e estado físico do paciente. O presente trabalho optou pela realização de avaliações em momentos diferentes do cronograma da pesquisa (uma semana de intervalo), sugerindo que existe maior probabilidade de diferença no resultado. Lustosa et al. (2008) verificaram em estudo 27 indivíduos com restrição de ADM em cotovelo e joelho. Estes foram avaliados por um único examinador por meio do goniômetro e do flexímetro. Concluíram que há boa confiabilidade entre as medidas intraexaminador nos dois instrumentos, porém o goniômetro mostrou ser mais confiável e fidedigno. Corroborando com o autor citado, a confiabilidade intraexaminador mostrou-se alta para os aparelhos testados, porém, no presente estudo, o flexímetro apresentou ser mais confiável e fidedigno do que o goniômetro. Uma das prováveis causas é que o goniômetro, apesar de ter baixo custo e ser o mais utilizado atualmente, na prática não é 100% fidedigno tanto do posicionamento do paciente quanto da colocação do aparelho no mesmo, segundo Ekstrand (1982); Elveru (1988) e Miler (1985) pelas mínimas alterações do posicionamento do indivíduo e possíveis deslocamentos da pele do avaliado, o que pode levar ao deslocamento do eixo do goniômetro da proeminência óssea de referência, bem como devido à leitura dos graus que se mostra subjetiva. Para Marques ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 (2003) e Santos et al. (2007), que explanam o mesmo pensamento, a medida goniométrica sofre influência pela experiência prévia do examinador, pela qualidade do goniômetro, pelas diversificadas patologias e pelo fato de o procedimento ser feito por movimento passivo ou ativo. Santos et al. (2011) descrevem que a diferença entre as medidas goniométricas pode se dar por erros no manuseio do instrumento, nível de cooperação do paciente ou habilidade do examinador. Eles ainda ressaltam a existência de pontos a serem vistos, como o erro introduzido pelo examinador, o qual precisa localizar visualmente a estrutura anatômica que será utilizada como referência para determinação da posição dos braços do equipamento. Por fim, Santos et al. (2011) descrevem outro aspecto relacionado aos valores encontrados: o goniômetro não pode ser fixado no corpo do indivíduo, pois isso ocasiona pequenas oscilações no posicionamento, interferindo assim na reprodutibilidade das medidas. Já o flexímetro apresenta um posicionamento exato no tornozelo à aferição na articulação do joelho, por meio de uma fixação por velcro, deixando o aparelho mais estável no segmento corporal do mesmo. A angulação se mostra mais confiável no flexímetro, pois o aparelho mensura de 1 em 1 grau, sendo mais objetivo. Concordando, Barbosa, Filgueira e Santana (2009) complementam que o Flexímetro Sanny® possui um sistema pendular gravitacional, é portátil, possui uma cinta de fixação, auxiliando assim o avaliador, que, dessa forma, fica com as mãos livres. Esses mesmos autores descrevem que esse aparelho apresenta maior praticidade, precisão e confiabilidade nas leituras das medidas angulares, pois sua escala varia de 1 em 1 grau, porém, possui custo elevado em relação a outros métodos de avaliação e não é recomendado para mensuração da ADM de pequenas articulações. Quando verificado o goniômetro com dois avaliadores diferentes, nota-se que a confiabilidade foi moderada, com p-valor de 0,2041, não havendo diferença significativa. Assim como na avaliação interexaminador, com o flexímetro não ocorreu diferença significativa com o p-valor de 0,8956 devido ao posicionamento padrão em que o indivíduo se encontrava no momento da mensuração. Durante a realização dos testes, o voluntário posicionou-se em decúbito ventral com os pés posicionados para fora da maca. Há um grande risco de compensações, revelando encurtamentos musculares que possam interferir na ADM, uma vez que muitos dos indivíduos apresentavam algum encurtamento que poderia interferir nesse posicionamento, bem como alterações posturais, por exemplo, a hiperlordose, que alterava assim a posição do indivíduo. Para o paciente realizar a flexão de joelho, foi enfatizada, por meio de comando verbal, a flexão máxima do segmento. Entretanto, muitos voluntários não realizaram a flexão ao máximo em todas as mensurações, o que pode interferir nos resultados encontrados e causar diferenças entre eles. Conclusão O objetivo do estudo foi alcançado ao se observar a alta confiabilidade intraexaminadores na medida da amplitude do movimento de flexão do joelho, verificada tanto na medição ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 43 Artigo 4 realizada com o goniômetro quanto com o flexímetro. Em relação à confiabilidade interexaminadores, pôde-se verificar que o flexímetro apresentou confiabilidade muito alta, enquanto o goniômetro mostrou confiabilidade moderada. As mensurações dos valores de amplitude de movimento sofreram influência dos examinadores, que apesar de serem treinados para realizar avaliação, apresentaram diferenças, pois a reavaliação não foi realizada no mesmo dia, bem como a postura e encurtamento apresentados pelo paciente, e a não realização da flexão máxima muitas vezes que solicitada. O flexímetro é beneficiado neste estudo, pois é fixado no indivíduo. Esse fato faz com que não haja alterações na manipulação do instrumento, fornecendo um resultado mais fidedigno que o goniômetro, que apresenta uma haste móvel e examinador dependente. Conclui-se que, apesar de o flexímetro ser um instrumento utilizado principalmente na mensuração de flexibilidade, sua confiabilidade é suficiente e garante consistência nos dados para a aferição da amplitude de movimento, tanto na prática clínica quanto em pesquisas. BARBOSA, M. M.; FILGUEIRRA, V. L. S.; SANTANTA, L. A. Estudo comparativo entre o goniômetro universal e o flexímetro Sanny na mensuração da flexão passiva da articulação do cotovelo. Fisioterapia Brasil, v. 10, n. 3, maio-jun. 2009. BATISTA, L, H.; CAMARGO, P. R.; AIELLO, G. V.; OISHI, J.; SALVINI, T. F. Avaliação da amplitude articular do joelho: correlação entre as medidas realizadas com o goniômetro universal e no dinamômetro isocinético. Revista Brasileira de Fisioterapia. São Carlos, v. 10, n. 2, 2006. BERTOLLA, F.; BARONI, B. M.; LEAL JUNIOR, E. C. P.; OLTRAMARI, J. D. Efeito de um programa de treinamento utilizando o método Pilates na flexibilidade de atletas juvenis de futsal. 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Introdução 44 à biomecânica para análise do movimento humano: descrição e aplicação dos métodos de Medição. Brazilian Journal of Physical Therapy, São Paulo, v .3, n. 2, p. 41-54, 1999. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 amplitude de movimento cervical em crianças. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 12, n. 4, 2008. DURWARD, B. R., et al. Movimento funcional humano: mensuração e análise. 1. ed. São Paulo: Manole, 2001. GAJDOSK, R. L.; BOHANNON, R. W. Clinical measurement of range of motion review of goniometry emphasizing realiability and validity. Physical Therapy Montana. v. 67, n. 12, p. 1867-1872, dec. 1987. IUNES, D. H.; CASTRO, F. A.; SALGADO, H. S.; MOURA, I. C.; OLIVEIRA, A. S.; BEVILAQUA-GROSSI, D. Confiabilidade intra e nterexaminadores e repetibilidade da avaliação postural pela fotogrametria. Rev. Bras. Fisioter. v. 9, n. 3, p. 327-334, 2005. JHONSON L. C.; GROSS, M. T. 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Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 Efeitos dos exercícios de estabilização lombar de core comparado aos exercícios da série de Willians sobre a dor e funcionalidade em adultos jovens com lombalgia crônica: ensaio clínico randomizado Effects of core lumbar stabilization exercises compared with willians exercises series on the pain and function in adults with chronic low back pain: a randomized clinical trial Julianna Pires Francisco1 Karina Helena Zorek1 Mônica Basuc1 Maria Laura Calado Assunção2 Conclusão: os exercícios de Core e de Willians melhoram a dor e a função na lombalgia crônica. 2 Fisioterapeuta, Faculdade Dom Bosco. Fisioterapeuta, docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Palavras-chave: lombalgia, estabilização lombar, Core, Willians. RESUMO ABSTRACT Introdução: lombalgia é uma experiência sensorial localizada entre o último arco costal e a prega glútea, incidindo em 80% da população. Introduction: low back pain is a sensory experience, located between the last rib and the gluteal fold focusing on 80% of the population. Objetivos: analisar os efeitos dos exercícios de estabilização lombar de Core comparados aos exercícios da série de Willians sobre a dor e funcionalidade em adultos jovens. Objectives: analyse the effects of Core lumbar stabilization exercises compared with With Willians’ exercises series on pain and function in young adults with low back pain. Métodos: 31 sujeitos foram divididos em dois grupos, tratamento (Core) e controle (Willians). A Escala Visual Analógica (EVA) e o Questionário de Roland Morris foram aplicados no início e final do tratamento para avaliar dor e funcionalidade. Methodos: 31 subjects were divided in two groups, the treatment group (Core) and the control group (Williams). The Visual Analogue Scale (VAS) and the Roland Morris Questionnaire were administered at the beginning and end of treatment to assess pain and function. 1 Resultados: ambos os grupos obtiveram melhora da funcionalidade e da dor, porém, quando comparados, não houve diferença significante para os mesmos desfechos. Results: both groups improved functionality and pain, however when compared, no significant difference for the same outcomes. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 47 Artigo 5 Conclusion: core exercises and exercises Willians improved pain and function in subjects with chronic low back pain. Keywords: low back pain, lumbar stabilization, Core, Willians. Introdução A dor lombar está entre 70% das aflições mais comuns relatadas pelas pessoas em nível epidêmico mundial, apenas perde para os resfriados, segundo Samir et al. (2009, p. 2). Os autores Manchikanti et al. (2010, p. 125) apontam estudos recentes que demonstram o aumento da prevalência da dor crônica lombar, afirmando que há um aumento global de 162% em um intervalo de 14 anos de pesquisa, e que o aumento da dor lombar crônica anual é de 11,6%. Segundo Briganó et al. (2005, p. 76), a lombalgia decorre de um distúrbio musculoesquelético, tendo como principal sintoma a dor, que é provocada pela alteração extensiva e contrátil do tecido conjuntivo, a qual aumenta a pressão intramuscular. O aparecimento do feedback neural crônico é o prolongamento do comportamento da dor na coluna lombar. (HURLEY et al., 2009, p. 3-5). Segundo Briganó et al. (2005, p. 76), o mecanismo fisiopatológico mais aceitável para a relação da dor com o movimento do tecido conjuntivo advém da fibrose tecidual posterior à inflamação deste tecido. Dessa forma, os movimentos do paciente estarão limitados pela ação da fibrose instalada durante a cronicidade da lesão (LANGEVIN et al., 2009, p. 1,10-12). A atenuação anormal da descarga de forças sobre as estruturas lombares, que acomodam a maior parte da sustentação do peso corporal, irritam os terminais nervosos do tecido 48 conjuntivo muscular, o qual está envolto pela fáscia tóraco-lombar. Essa irritação dos músculos tônicos posturais gera uma resposta compensatória a essa disfunção da cinemática postural, causando uma facilitação que pode ser o encurtamento ou a hipertonicidade muscular. (CANAVAN, 2001, p. 147, 176). A precipitação e perpetuação desses desequilíbrios correspondem à gravidade das incapacidades subsequentes do indivíduo, como o aparecimento de pontos gatilho, deformação dos ligamentos e degeneração das articulações, ocasionando instabilidade óssea, respostas somáticas viscerais e alterações vasculares locais. (PRENTICE, 2004, p. 576). A Fisioterapia utiliza toda sua gama de recursos terapêuticos na tentativa de atuar de maneira resolutiva sobre a lombalgia, no entanto, ainda faltam evidências que demonstrem quais são as intervenções mais efetivas nesta abordagem, o que justifica sobremaneira novas investigações na área. O complexo de CORE é composto por 29 pares de músculos, que incluem os oblíquos, os transversos do abdômen, multifídos, reto abdominal, glúteos, quadrado lombar e assoalho pélvico. (SHENOY, 2010, p. 3). O fortalecimento dos músculos que constituem o “centro” é chamado de treinamento de estabilização central, o qual promove um regime preventivo e terapêutico, desenvolvendo o controle muscular necessário para manter uma estabilidade funcional e diminuir a incidência de lesões e desconfortos no complexo lombo-pélvico. (REINEHR et al., 2008, p. 123). Segundo Sullivan apud Santos (2010, p. 98), o programa de estabilização central é indicado ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 para várias lesões, dentre as quais é possível citar as lombalgias crônicas, as discopatias, as artroses, as alterações posturais importantes, e para a preparação de atletas de alto nível, síndrome cruzada, processo traumático, e situações que levam a desequilíbrio biomecânico da coluna lombar. O atraso na resposta dos músculos do tronco tem grande potencial para provocar instabilidade central, aumentando o risco para lombalgia crônica. Para Shenoy et al. (2010, pp.03,04), o treinamento do complexo de Core atua no funcionamento integral das estruturas lombopélvicas e de quadril, intervindo com uma estabilização dinâmica dos músculos. A corrente cinética dessa região terá um trabalho de força muscular sinergicamente diminuída. A eficiência neuromuscular no controle postural se dá pela estabilização pelo método de CORE no fortalecimento toracolombar, na pressão intra-abdominal e no mecanismo de ação hidráulica por có-contração muscular, tornando a aplicação desse método uma alternativa de exercícios positiva para as dores crônicas. De acordo com Deliberato (2007, p. 207), no início de 1950, Paul Willians, ortopedista de Dallas, desenvolveu um programa de exercícios na posição deitada para pacientes que apresentavam dor nas costas. Willians considerava que as dores poderiam ser adequadamente tratadas se os músculos flexores do tronco fossem fortalecidos, o que levaria secundariamente à redução do ângulo lombossacral. Esses exercícios tinham por objetivo alcançar equilíbrio muscular geral partindo do equilíbrio lombopélvico e abdominal, desenvolver força muscular e flexibilidade para evitar sintomatologia dolorosa na coluna vertebral, principalmente na região lombar. Consistiam em manter um padrão de posicionamentos corporais e movimentos adequados, promover a conscientização postural, alargar o forame intervertebral e a articulação facetaria para diminuir a compressão nervosa e diminuir a fixação posterior excessiva da região lombossacra. Segundo o mesmo autor, esses exercícios eram indicados na presença de lombalgias e dorsalgias e alterações posturais lombopélvicas, para pacientes que apresentavam fraqueza na musculatura abdominal ou glútea, encurtamentos adaptativos dos flexores de quadril ou dos paravertebrais lombares. Os mesmos exercícios deveriam ser evitados por pacientes que apresentassem instabilidade estrutural na coluna vertebral, processos infecciosos ou tumores nas vértebras, fase aguda de prolapso não cirúrgico do núcleo do disco intervertebral nas regiões torácicas baixa e lombar. (DELIBERATO, 2007, p. 207). O presente estudo procura comparar os efeitos dos exercícios de estabilização de Core com os exercícios de Willians sobre a dor e a funcionalidade em indivíduos jovens com lombalgia crônica. Material e metodologia A pesquisa foi divulgada nas salas de aula do curso de Fisioterapia e nos editais da Faculdade Dom Bosco, com contato telefônico das pesquisadoras. A pesquisa foi realizada com acadêmicos matriculados em 2011 no curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco, de ambos os sexos e maiores de 18 anos. Um total de 43 sujeitos aceitou participar do estudo. Destes, 5 não se enquadraram nos critérios de inclusão e exclusão, que eram residir em ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 49 Artigo 5 Curitiba ou Região Metropolitana; assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; concordar em participar da pesquisa; ser aluno do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco; ter mais de 18 anos de idade; ter queixa de lombalgia acima de 12 semanas. Excluíram-se pessoas que tivessem qualquer cardiopatia ou sequela neurológica; já tivessem realizado procedimento cirúrgico em qualquer segmento da coluna vertebral; estivessem realizando tratamento fisioterapêutico concomitante com a pesquisa; tivessem duas faltas seguidas durante o decorrer do tratamento. Dos 38 avaliados inicialmente, 7 desistiram, restando 31 sujeitos participantes e concluintes, 15 do grupo G1 e 16 do grupo G2. Os sujeitos foram informados sobre as condições da pesquisa e aceitaram os Termos do Consentimento Livre e Esclarecido. A divisão dos grupos foi randomizada por meio de sorteio de papéis dobrados que continham a sigla G1 ou G2, sendo que G1 foi submetido ao protocolo dos exercícios de estabilização lombar de CORE e G2 à série de Willians. Ambos foram aplicados por seis semanas numa frequência de duas vezes semanais. Grupo G1 – Grupo tratamento O protocolo de exercícios de estabilização lombar foi baseado nos princípios de Core, considerando-se a contração simultânea dos músculos lombopélvicos. O protocolo foi elaborado tomando-se como base os exercícios citados por Fredericson e Moore (2005, p. 28 e 29); Stevens et al. (2006, p. 3 e 4) e “The 11+” (FIFA, 2007). A sequência de exercícios deverá ser realizada considerando-se o grau de dificuldade de cada 50 sujeito, iniciando sempre com os exercícios básicos e de nível 1. A progressão para os demais níveis deverá ocorrer sempre que o nível 1 for executado com facilidade pelo sujeito. O protocolo foi aplicado durante quatro semanas, numa frequência de duas vezes por semana. Foram realizadas três repetições de cada exercício, que foi sustentado por 20 a 30 segundos, conforme o protocolo do “The 11+” (FIFA, 2007). O protocolo encontra-se no ANEXO C. Grupo G2 – Grupo controle O grupo 2 realizou o protocolo de exercícios da Série de Willians, que é um regime de procedimentos que, de acordo com Deliberato (2007, p. 207), visa ao fortalecimento dos flexores do tronco. O mesmo autor afirma que esses exercícios evitam a sintomatologia dolorosa da coluna lombar, pois atuam com o objetivo de alcançar o equilíbrio entre força muscular e flexibilidade lombopélvica e abdominal. Esse padrão de exercícios, segundo o mesmo autor, induz o paciente a uma consciência corporal durante a sua prática e reduz o ângulo lombossacral. Dessa maneira, alarga também os forames intervertebrais das articulações facetárias, diminuindo a compressão nervosa e a fixação excessiva da região lombossacra. Com base nos princípios dessa série de exercícios, os pacientes receberam a intervenção terapêutica com frequência de duas vezes semanais, por 30 minutos, durante quatro semanas. Todos os exercícios da série foram realizados. Cada exercício foi mantido por 5 segundos, período ao longo do qual os pacientes realizaram expiração com a ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 resistência de freno labial durante a contração. Cada posição foi repetida 10 vezes, com uma pequena pausa entre elas. Esse protocolo de exercícios foi elaborado conforme a descrição de Deliberato (2007, p. 207, 209, 210, 211, 212) e encontra-se no Anexo D. A avaliação e a reavaliação foram realizadas por um examinador cego, sendo este um membro do grupo de pesquisa treinado que utilizou como instrumentos uma ficha de avaliação da coluna lombar elaborada pelo grupo com base na literatura; instrumento de avaliação de incapacidade específico para dor lombar; Questionário Roland-Morris, recomendado para uma população geral em um espectro de baixa incapacidade, versão traduzida para o português (Nusbaum et al, 2001); Escala Numérica de Dor referenciada na obra de Coghill (1996, apud MARQUES PASQUAL, 2007, p. 17), que consiste em uma reta de 10 cm de comprimento com números de zero a dez, na qual há indicação no extremo esquerdo de “ausência da dor” e, no extremo direito, de “dor insuportável”. Quanto maior o escore, maior a intensidade da dor. Objetivouse com isso avaliar os sujeitos no início e ao final do procedimento. Analise estatística A análise estatística foi feita com o software SPSS. Foi realizada a estatística descritiva dos dados e comparados os resultados (variáveis quantitativas) dos dois instrumentos medidos. O nível de significância utilizado foi de 95% (p < 0,05), sendo analisados os resultados para cada grupo utilizando-se o teste não paramétrico para amostras comparadas de Wilcoxon. A comparação entre as variáveis entre os dois grupos obedeceu ao mesmo nível de significância e foi realizada com o teste U de Mann-Whitney. Resultados As tabelas 1 e 2 exibem os dados do teste não paramétrico de Wilcoxon para as amostras estabelecidas, tendo um índice de significância de 5%, para o grupo tratamento (G1) e grupo controle (G2), respectivamente. Tabela 1: Distribuição dos valores para o grupo CORE Variáveis Pré Pós Valor p Dor (EVA) 5,13 (1,55) 1,8 (1,66) < 0,01 Funcionalidade (Rolland Morris) 16,81 (4,78) 5,75 (5,29) < 0,01 Fonte: Dados da pesquisa Tabela 2: Distribuição dos valores para o grupo Willians Variáveis Pré Pós Valor p Dor (EVA) 5,94 (1,53) 2,69 (1,74) < 0,01 Funcionalidade (Rolland Morris) 13,56 (6,01) 7,25 (4,27) < 0,01 Fonte: Dados da pesquisa A Figura 1 demonstra o resultado da comparação entre os grupos G1 e G2 quanto à dor e à funcionalidade. Não houve diferença significativa entre os grupos, embora a função dos indivíduos alocados no grupo tratamento (G1) tenha obtido melhor resultado em relação ao grupo controle (G2). ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 51 Artigo 5 Figura 1: Análise comparativa entre os grupos G1 e G2 Fonte: Dados da pesquisa Discussão O objetivo deste estudo foi comparar melhora da dor e da funcionalidade em indivíduos com lombalgia crônica quando tratados por seis semanas com um protocolo de exercícios de Core ou com um protocolo de exercícios da série de Willians. Embora ambos tenham apresentado resultados estatisticamente significantes para as duas variáveis aferidas, o grupo que realizou a sequência de Core obteve melhores resultados quando avaliado pelo questionário de Rolland Morris, indicando melhora funcional mais eficaz quando comparado ao grupo que realizou os exercícios da série de Willians. A perda amostral observada nesta pesquisa, em que seis indivíduos abandonaram o protocolo após o início, corrobora com os achados de Dishman apud Geisser (1991), que relata que cerca de 50% das pessoas que participam de exercícios supervisionados por um profissional abandonam o tratamento dentro de seis meses. Segundo França (2009, p. 4), no que concerne à cinesioterapia, o fortalecimento do tronco tem mostrado redução significativa nas incapacidades funcionais e na dor lombar crônica. Alguns protocolos fortalecem 52 isoladamente os músculos extensores, ao passo que os outros trabalham flexores e extensores de tronco conjuntamente e ambos enfocam como alvo principal os músculos superficiais do tronco, tal como se vê na Série de Willians. Nos estudos desse mesmo autor, o grupo que realizou o fortalecimento superficial dos músculos do tronco obteve queda marcante do quadro álgico, com ganho relativo de 55% na Escala Visual Analógica e de 48% no Questionário Mc Gill. O programa de exercícios nesse grupo teve como alvo principal os músculos retoabdominais, oblíquos internos e externos, paravertebrais lombares, que, supostamente mais fortes após o programa, minimizaram a compressão nos tecidos acometidos, facilitando a recuperação funcional e diminuindo a dor. De acordo com Ferreira apud França et al. (2009) e Hodges et al. (2004), pacientes que manifestam dor lombar crônica têm insuficiente velocidade de contração do músculo transverso abdominal, e essa contração, quando solicitada, é realizada tardiamente. Eletromiografias demonstram capacidade reduzida de depressão da parede abdominal pela população que apresenta dor lombar crônica. Hodges apud França (1996) identificou que a atrofia do músculo multífidio lombar favorece a instabilidade muscular e predisposição para a recorrência da dor. De acordo com o mesmo estudo, as pessoas com dor lombar apresentam o transverso do abdome com queda da capacidade de antecipação, dessa maneira, a função do músculo para proteção segmentar da coluna é prejudicada. Jemett (2003, p. 91) comparou a eficácia do treinamento típico de força com contrações concêntricas e excêntricas da musculatura ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 lombar com outro protocolo de exercícios que realizava exercícios isométricos em posição estática e verificou que os exercícios isométricos que enfocam a extensão lombar agem mais sobre os multífidos do que os exercícios de concêntricos e excêntricos. O mesmo autor, ao citar os estudos de Hides et al. (1994), afirma que a dor lombar pode ser provocada pela atrofia do músculo multífido. Essa atrofia desenvolve um quadro sintomático doloroso tão rápido que pode acontecer em até 24 horas. Rantanen et al. (1993, apud Jemett 2003, p. 91) mostram que a atrofia dos multífidos pode surgir por simples desuso ou fraqueza. Durante e Vasconcelos (2009, p. 86), ao citar os estudos de Ferreira e Hodges (2004), afirmam que os sintomas da dor lombar também podem decorrer da eficiência insuficiente da atividade do músculo transverso abdominal. Os autores correlacionam a dor ao comportamento da musculatura de oblíquo interno e externo do abdômen, que apresentam alteração do sinal eletromiográfico, evidenciando um desequilíbrio de forças. França et al. (2010, p. 7) demonstraram que o fortalecimento e a estabilização segmentar dos músculos lombares e abdominais obteve bons resultados em relação à dor e funcionalidade dos participantes, chegando a 99% de melhorias na escala analógica visual (EVA). Os autores compararam a eficácia dos exercícios de estabilização lombar, cujo enfoque era nos músculos transverso do abdômen e multífidio, e o fortalecimento da musculatura superficial do tronco focado no reto abdominal, oblíquo interno, oblíquo externo e eretores da espinha, além da capacidade de ativação do músculo transverso do abdome em indivíduos com dor lombar crônica. Os resultados do estudo mostraram que ambos os tratamentos foram eficazes no alívio da dor e na diminuição da incapacidade funcional dos indivíduos com dor lombar crônica, mas que apenas os exercícios de estabilização foram capazes de melhorar a resposta do músculo transverso do abdômen. Esse achado pode justificar o melhor desempenho dos exercícios de Core na funcionalidade lombar encontrados na presente pesquisa. Dannels et al. (2001, p. 2) mostram que os músculos multífidos podem fornecer a estabilização segmentar da coluna lombar por meio de movimentos fisiológicos que promovem efetivo controle muscular. Os autores relatam ainda que 80% dos pacientes que apresentam dores lombares têm fraqueza de multífidio. Conforme os estudos de Macedo et al. (2008, p. 2), as abordagens fisioterapêuticas que não enfocam a estabilidade da coluna vertebral e o controle postural podem prolongar e impedir a recuperação da dor lombar. Referem que a aprendizagem motora atua no intuito de reestabelecer o controle normal da musculatura profunda da coluna e de todo o sistema musculoesquelético do tronco durante as tarefas funcionais. Esse programa, segundo o autor, é baseado nas abordagens relatadas por Richardson et al. (1999), O’Sullivan et al. (1997) e Moseley (2002), que enfatizam os exercícios lombopélvicos como estratégia básica para alívio das dores lombares na ativação da musculatura mais profunda do tronco, como transverso abdominal, multífido, músculos do assoalho pélvico e diafragma. França et al. (2010, p. 5) citam Bergmark (1989), que relata que a musculatura profunda está diretamente envolvida com as articulações ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência 53 Artigo 5 e sua função é estabilizar os segmentos evitando os micromovimentos articulares. Os músculos superficiais, de acordo o mesmo estudo, estabilizam secundariamente a medula espinhal e auxiliam minimizando as forças de compressão; esse conjunto de músculos superficiais e profundos atuam em um sistema de controle sobre os movimentos axiais e contribuem estabilizando de maneira segmentar as estruturas. A melhora da função alcançada com os exercícios de Core pode estar relacionada à melhora mecânica garantida pela tonificação dos músculos lombopélvicos profundos, em especial os multífidos e o transverso do abdômen. Diferenças amostrais devem ser consideradas. Contudo, tenha havido homogeneidade em dados demográficos como idade e relação peso e altura, o mesmo não se confirmou em relação ao gênero, o que pode ter influenciado os resultados obtidos. As limitações da pesquisa foram a diferença amostral de gêneros e a falta de medição da atividade muscular durante a realização dos exercícios. Um modelo biomecânico que pudesse medir a força e a ativação da musculatura seria um dado cinemático importante para determinar com segurança e propriedade se as cargas impostas e os movimentos estão adequados aos tecidos em sofrimento. Sugere-se que novas investigações sejam feitas envolvendo amostras maiores, monitoramento a longo prazo e medição de dados cinemáticos. Conclusão Os resultados mostraram que ambos os procedimentos melhoraram significativamente as duas variáveis estudadas, entretanto, 54 os exercícios de estabilização lombar de Core obtiveram melhores resultados na funcionalidade, avaliada pelo questionário de Rolland Morris. 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Dependendo dos pareceres recebidos, os autores poderão ser solicitados a fazer ajustes, ainda sujeitos à aprovação. Uma vez aceito, o texto será submetido à edição, podendo haver novamente solicitação de ajustes formais. Responsabilidade e ética O conteúdo e as opiniões expressas são de inteira responsabilidade dos autores. Artigos de pesquisa envolvendo sujeitos humanos devem indicar expressa aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da instituição responsável. Pesquisas referentes a animais precisam da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Animais. Formato e conteúdo Os textos deverão ser digitados em Word 972003, em tamanho A4, com espaçamento de linhas duplo e fonte 12 tipo Times New Roman. Exige-se o formato ABNT em todo o texto. Página de rosto – deve conter: a) título do trabalho e sua versão para o inglês; 58 b) nome completo dos autores com indicação da titulação acadêmica e inserção institucional, nome do departamento, curso ou laboratório dessa instituição, acompanhado de endereço completo, incluindo cidade, estado e país; c) título condensado (máximo de 50 caracteres) – running title; d) endereços eletrônico e postal do autor principal; e) indicação de órgão financiador de parte ou todo do projeto de estudo, se for o caso. Resumo – deve permitir visão panorâmica do trabalho, conter no máximo 250 palavras e versão em inglês. Para os artigos originais, o resumo deve ser estruturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Unitermos ou palavras-chave – máximo de seis, relacionados após o resumo e o sumário. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br). Estrutura do texto • Editoriais – a convite do editor, sob tema específico, devem conter no máximo duas mil palavras. • Artigos originais – devem conter estruturalmente as partes introdução, objetivos, métodos, resultados, discussão e conclusão. São contribuições destinadas a divulgar resultados de pesquisa original inédita, passíveis de ser replicadas e/ou generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora, conter o máximo de cinco mil palavras; tabelas e figuras não podem exceder a sete. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 4, n. 2, julho/dezembro 2013 | Revista Fisioterapia em Evidência • Relato de caso – com a mesma estrutura dos artigos originais – no máximo mil e quinhentas palavras e três tabelas. Recomenda-se não citar iniciais do paciente. • Artigos de revisão – compreende avaliações críticas e ordenadas da literatura sobre determinado assunto, devendo conter objetivo (por que a revisão da literatura foi realizada, indicando se ela enfatiza algum fator em especial), fonte de dados (critérios de seleção de artigos e métodos de extração e avaliação da qualidade das informações), síntese dos dados (principais resultados quantitativos e/ou qualitativos da pesquisa) e conclusões (com as respectivas aplicações). Incluem-se os procedimentos adotados e a delimitação do tema. A extensão limita-se a três mil palavras. • Cartas ao editor – comentários, discussões e críticas a artigos publicados recentemente nesta revista, relatos de pesquisas originais ou achados científicos significativos. Extensão limítrofe de mil palavras. Referências As referências devem seguir o modelo da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). Veja exemplos: DAHER, S.; MATTAR, R.; SASS, N. Doença hipertensiva específica da gravidez: aspectos imunológicos. In: Sass N, Camano L, Moron AF, editores. Hipertensão arterial e nefropatias na gravidez. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 45-56. BLIDDAL, H.; HELLESEN, C.; DITLEVSEN, P.; ASSELBERGHS, J.; LYAGER, L. Soft-laser therapy of rheumatoid arthritis. Scand. J. Rheumatol. 1987. 16(4):225-8. HERZOG NETO, G.; CURI, R. L. N. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev. Bras. Oftalmol. [periódico eletrônico]. 2003 [citado 2006 jul. 22];62(1):[cerca de 5 p.]. Disponível em: <www.sboportal.org.br>. FREIRE, M. Exercícios aeróbicos e lombalgia [dissertação]. São Paulo: Disciplina de Reumatologia, Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, 2000. SACCO, I.C.N.; COSTA, P.H.L.; DENADAI, R.C.; AMADIO, A.C. Avaliação biomecânica de parâmetros antropométricos e dinâmicos durante a marcha em crianças obesas. 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