Acontece

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Acontece
Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras
Publicação dos alunos do 2º Semestre de Jornalismo - Ano III - Nº 41
QUEM É
FERRÉZ?
Pág. 8
Comunicador da periferia
em entrevista exclusiva
ao Acontece
O que os professores fazem
fora das salas de aula?
Fãs de jogos eletrônicos
Pág. 6
Pág. 7
Acontece - Ano III - N° 41 - Editorial
Como eu me informo?
Acontece
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretora: Esmeralda Rizzo
Coordenador de Jornalismo:
Vanderlei Dias de Souza
Expediente
Projeto Gráfico
Cauã Wingeter
Editor:
Ana Ignácio
Thâmara Kaoru
Diagramação
Lucas Riello
Revisão:
Lucas Riello
Nathália Duarte
Thâmara Kaoru
Reporteres:
Bruno Rios
Camila Milaré
Leonardo Vieira
Letícia M. Gouveia
Lucas Riello
Luciana Minami
Luiz Rocha
Mayara R. Campagna
Natalia Benitez
Paula Pereira Ab
Rafael Fonseca
Victor Amaro
Vinícius Bruno
Jornal Laboratório dos alunos
do segundo semestre do curso
de Jornalismo da Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
orientados pelo professor Edson
Capoano, jornalista, DRT/SP n°
46219-015192/2003-55
1ª Página: Arquivo pessoal
Fotografia de capa: Arquivo pessoal
Impressão
Gráfica Mackenzie
Tiragem dessa edição:
250 exemplares
Página Quando a questão é receber informação recorremos a jornais, revistas, TV
e rádio. Mas será que essas são as únicas maneiras para se manter informado?
Atualmente as mídias convencionais costumam ser ligadas com algum (ou alguns)
interesses políticos, financeiros e ideológicos de alguma empresa ou grupo determinado. Diante de tal situação, para sair dessa linha, existem as mídias alternativas.
Internet, rádios comunitárias e livres, jornais de baixa circulação, mensagens em metrôs, ônibus e por meio de tatuagens são alguns dos exemplos. Ah, e
tem também o trabalho do Ferréz, que por meio de seus livros traz à tona informações e questões importantes... função que as mídias convencionais exercem, ou
pelo menos deveriam exercer.
Descubra nesta edição quem é Ferréz e que tipo de trabalho ele realiza.
E também: a situação de carcereiros pós ataque do PCC de 2006; a tribo
dos amantes de vídeo game; a questão das cotas universitárias; os projetos que
os professores da Universidade realizam fora das salas de aula e a necessidade
ou não do diploma de jornalismo para comentar transmissões de esporte.
Boas descobertas a todos!
A primeira experiência!
Desde quando escolhi ser jornalista (e creio que não somente eu, mas
muitos de meus colegas), convivi com a expectativa e a dúvida de saber
como era, de fato, participar da formação de um jornal. Mal imaginava que,
já no primeiro ano de faculdade, poderia conviver com essa realidade,
que se materializou com o Jornal Acontece. É, este mesmo que você está
lendo agora!
Não tinha como não “entrar de cabeça” nessa disciplina que simula a nossa futura profissão. Houve uma participação ativa de praticamente
todos. Talvez por isso que no segundo semestre do ano passado tenham
sido feitos mais de 20 jornais, algo jamais visto antes. Édson, professor
que teve a difícil missão de acalmar nossa euforia, declarou em sua última
aula que gostou bastante do resultado e pôde ver de perto o desenvolvimento dos jornais que a cada número era aprimorado.
Além dos regulares, que cada classe realizava periodicamente,
foram veiculados jornais extras, cobrindo os mais variados eventos do Mackenzie. O que gerou elogios, inclusive, de diretores mackenzistas! O
ápice dos trabalhos chegou quando realizamos o Acontece Política, que
sumiu das prateleiras em algumas horas.
E o Acontece não para por aí, a cada semestre uma nova turma
vive sua primeira experiência!
Filipe A. Gonçalves é aluno do segundo semestre de jornalismo
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Acontece - Ano III - N° 41- Cidade
“O sistema penitenciário é vergonhoso”
Agente carcerário relata sua experiência durante os ataques do PCC, e quais são
as falhas no sistema prisional de São Paulo
LETÍCIA M. GOUVEIA E MAYARA R. CAMPAGNA
DIVULGAÇÃO (www.google.com.br)
“As cadeias em São
Paulo são sucatas e o
governo está mais
preocupado com a
quantidade do que com
a qualidade”.
W., agente penitenciário.
ta e respeito com os presos. “Ficamos em uma cela e para eles não
convêm nos tratar mal. Comecei a
me sentir mal e eles ficaram com
medo. Eu era uma bomba na mão
deles, por que se algo acontecesse
comigo, a situação ficaria pior. Para
eles era melhor que eu estivesse
fora de lá.”, declara o agente que
ficou preso 14 horas na rebelião.
Como medida de prevenção, a possibilidade de porte de armas fora
do horário de expediente foi colocada em debate, já que os agentes não possuem preparo para situações como as que ocorreram
Base da Polícia Militar atingida por
ataques do PCC
em maio e nem seguro de vida.
Segundo Rozalvo José da Silva, secretário do Sindicato dos Agentes
Penitenciários de São Paulo (SINDASP), o porte de armas é essencial para a segurança do funcionário. No entanto, o governo do estado
de São Paulo e a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) não
tomaram nenhum ato administrativo
palpável. “Nós estamos indignados com tal situação, com a inércia
da parte administrativa”, declara.
DIVULGAÇÃO
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Em maio de 2006, o estado de São Paulo foi alvo de uma série de ataques da facção criminosa
PCC (Primeiro Comando da Capital).
Dentre os mais atingidos estavam
aqueles que têm como função zelar pela segurança e os diretos dos
detentos, os agentes penitenciários,
vulgarmente chamados de carcereiros. Existem hoje cerca de 21 mil
agentes penitenciários trabalhando
com a média de 140 mil presos, divididos em 144 unidades prisionais.
W., agente penitenciário e
personagem principal desta matéria,
não quis se identificar por uma questão de prevenção. “Para mim segurança é ‘auto vigilância’ e conduta”,
afirma. O sistema penitenciário do
Estado de São Paulo possui falhas
graves. No presídio de Junqueirópolis, por exemplo, em um plantão
existem, no máximo, 50 guardas trabalhando em um local no qual a capacidade real é de 792 detentos. No
entanto, estão presas 1192 pessoas
atualmente. A superlotação dos presídios é uma das reivindicações feitas tanto por parte dos presos como
dos agentes. O 14º parágrafo do estatuto do PCC, revela claramente o
objetivo da organização, “a prioridade do Comando no momento é pressionar o Governo do estado de São
Paulo a desativar aquele Campo de
Concentração, ‘anexo’ à Casa de
Custódia e Tratamento de Taubaté”.
Segundo o agente, “as cadeias em São Paulo são sucatas e o
governo está mais preocupado com
a quantidade do que com a qualidade. Em ano de eleições não sabemos
como vai ficar, mas pelas pesquisas
nada vai mudar”. O sistema carcerário de São Paulo tem muito que melhorar “se você observar a situação
da organização das penitenciárias
no Paraná, notará a vergonha que é
o sistema de São Paulo. Aqui o contato com o preso é de 100%. Já lá, as
portas são automatizadas, inspirado
no sistema norte-americano, e o contato com o detento é menor.”, diz W.
Durante a rebelião em que foi refém,
W. afirma que sua integridade física
foi preservada devido à sua condu-
Super-lotação dos centros penitenciarios
Página Acontece - Ano III - N° 41 - Universidade
O preço de um universitário
Estudantes carentes recorrem à bolsas e financiamentos para ingressar no
ensino superior
CAMILA MILARÉ E LEONARDO VIEIRA
CA,ILA MILARÉ
Para a maioria dos jovens
em idade universitária, um dos
grandes desafios para ingressar
no ensino superior é a concorrência dos grandes vestibulares. Mas
outra preocupação é como irão fazer para pagar sua formação. A alternativa para aqueles estudantes
que possuem algum tipo de carência financeira é correr atrás de
uma bolsa ou de um financiamento.
No Mackenzie, as opções
de bolsas vão desde as tradicionais
àquelas que se conseguem junto às
atléticas de cada curso. Segundo
Rafael Santana, que fala em nome
da atlética de Arquitetura, esse tipo
de bolsa raramente chega a 100% e
antes era mais simples de se conseguir a ajuda, pois bastava jogar ou
treinar algum esporte. “Hoje, você
precisa comprovar sua renda para ter
uma bolsa, ser um atleta dedicado e
ter bom desempenho. São os treinadores quem indicarão quem vai conseguir a bolsa”. Outras alternativas
que o Mackenzie oferece são descontos dados para ex-alunos, para
irmãos e empresas conveniadas.
Os programas de iniciativa
do governo, como Prouni e FIES,
são outras opções. A diferença entre eles é que o primeiro dá bolsas
de estudo e o segundo é um financiamento, criado para substituir o
antigo crédito estudantil e não pode
ser conseguido junto ao Mackenzie.
A questão é que as pessoas ajudadas por esses programas apenas
solucionam um de seus problemas
(o pagamento das mensalidades)
mas existem outras exigências financeiras, como a compra de li-
O estudante Bruno Evangelista atribui ao Prouni a oportunidade de poder
estudar no Mackenzie
vros, transporte e alimentação.
O estudante Bruno Evangelista, beneficiário do Prouni, conta
com o dinheiro de seus pais, que é
na maioria das vezes contado, para
as despesas com ônibus e metrô.
Diz ter que muitas vezes pedir emprestados os livros de seus colegas
a fim de estudar para as provas.
Outra dificuldade para o aluno é a
realização de trabalhos. “Como não
tenho computador em casa e nem
sempre posso usar os computadores do Mackenzie, tenho que gastar
com Lan Houses ou usar computadores de amigos, já que fico impossibilitado de terminar os trabalhos em
casa, como muitos fazem”. Bruno
avalia que tais esforços são válidos,
Saiba mais:
Mackenzie: Interessados em bolsas podem procurar o Atendi-
mento Financeiro ao Aluno (AFA) das 10:00h as 20:00h ouatravés dos
telefones: (11) 3236-8634 / 3236-8635
Prouni: Candidatos podem se inscrever através do site do MEC:
http://www.mec.gov.br/prouni. O MEC também possui rede de parceiros que possibilitam o acesso à internet. O número 0800-616161 informa o lugar mais próximo de sua casa.
FIES: Caso a instituição de ensino desejada participe, será necessário solicitar o financiamento e preencher a ficha de inscrição pelo site
do FIES: http://fies.caixa.gov.br
Página porque se não fosse o Prouni, ele
não teria acesso ao ensino superior.
O ex-universitário da Unicid,
E.L.S optou pelo FIES, mas não jul-
“Onde pessoas
carentes vão conseguir
dois fiadores que
tenham renda superior
a duas vezes o valor da
mensalidade?”
Estudante da Unicid
ga o programa uma boa alternativa
para os estudantes carentes, por
ser muito burocrático. “Onde pessoas carentes vão conseguir dois
fiadores que tenham renda superior
a duas vezes o valor da mensalidade?”. Os problemas continuaram
mesmo depois de formado. “Tive
que pagar as outras parcelas, mas
eram muito maiores do que deveriam ser. Eu fui pagando as primeiras para não sujar o nome dos fiadores. Os extratos não eram nada
esclarecedores. Depois de ameaçar
entrar na justiça, a Caixa Econômica
foi rever; de 12 parcelas caiu pra 8”.
Acontece - Ano III - N° 41- Comunicação
Uma questão “diplomática”
Projeto de lei sobre a exigência de diploma para jornalistas gera discussão em
meio acadêmico
RAFAEL FONSECA E VINÍCIUS BRUNO
VINÍCIUS BRUNO
“[Walter] Casagrande é
o melhor comentarista
de futebol do Brasil e
não é formado
em jornalismo”
Benjamim Back
“Um ginecologista
homem não precisa ter
dado à luz para saber
como é dar à luz. Portanto eu não preciso ter
jogado futebol para saber
como se joga”
Oscar Roberto Godói
VINÍCIUS BRUNO
Depois de inúmeros trâmites
na justiça e aprovação em diversas
comissões na Câmara dos Deputados, o projeto de lei do deputado
Pastor Amarildo (PSC-TO), que previa a ampliação das funções exclusivas dos jornalistas de 11 para 23, foi
vetado pelo presidente Lula em 2006,
ou seja, mais tarefas de mídia só poderiam ser exercidos por diplomados.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), representada pelo presidente Sérgio Murillo, argumenta que
a atual legislação é “muito antiga”
(1969) e que precisa de uma atualização para preservar a profissão.
Dentre essas novas funções dos
quais se exigiria diploma, estão inclusas atividades de fotógrafo, locutor,
cinegrafista, arquivista, ilustrador e,
uma das mais discutidas e questionadas, a de comentarista de futebol.
Oscar Roberto Godói, exárbitro da FIFA e comentarista da
TV Record, formado em jornalismo,
defende a proposta de lei e a valorização do diploma: “Essa valorização
só seria possível exigindo que os
profissionais, para exercer a atividade, realmente tivessem o diploma”,
sustenta. Segundo Godói, aumentam muito o número de “convidados”
a comentar futebol e isso diminui as
oportunidades de trabalho para jornalistas formados. Perguntado sobre quem entende mais de futebol,
disse: “No Brasil, todos entendem
ou pensem que entendem de futebol”. Entretanto, para ele, quem se
dedicar aos estudos entenderá os
detalhes do futebol. “Um homem ginecologista não precisa ter dado à
luz para saber como é dar na luz.
Então, eu não preciso ter jogado
futebol para saber como se joga.”
O ex-Mackenzista Benjamin Back que é colunista do diário
Lance! e comentarista do programa
Estádio 97, não acredita na necessidade do diploma de jornalista. Formado em economia, Back defende
que o bom comentarista é aquele
que consegue ser “diferenciado”.
Benjamim está no ramo jornalístico
há seis anos: “Caí de pára-quedas.
Sempre conheci muita gente nos
bastidores do futebol e eu patrocinava o programa, aí me chamaram pra
participar”. No entanto, ele diz não
estar “tirando emprego de ninguém.
Não me considero menos jornalista
do que um cara formado”. Para ele,
os melhores comentaristas de futebol são Walter Casa Grande, que
não é formado e Juca Kfouri, sociólogo. Apesar de considerar dispensável, Back não é contra a faculdade
de jornalismo, ao contrário, afirma
até o desejo de um dia cursa-la.
O coordenador de Jornalismo do Mackenzie, Vanderlei Dias,
observa que é necessário uma defesa da utilização do diploma, mas reconhece que a lei discutida continha
exageros que poderiam ser reavaliados: “O mercado faz a seleção dos
bons profissionais. Não vejo problema em ver um ex-jogador comentar
um jogo.” Dias ainda adverte: “Os alunos devem exigir e fiscalizar a qualidade de cada curso de jornalismo.”
Página Acontece - Ano III - N° 41 - Mackenzie
Seus professores são mais interessantes do que você imagina
Conheça as múltiplas façanhas de nossos educadores, que vão muito além do
Bê-a-bá
PAULA PEREIRA AB
Você acha que a vida
dos professores está apenas na
sala de aula? Saiba que temos
no corpo docente do Mackenzie,
desde árbitro de futebol a integrante do Movimento Sem-teto.
A professora de História
Rosana Schwartz, faz parte do Movimento Sem-teto e atua como colaboradora em trabalhos de formação
para a cidadania. Ela diz que a importância deste trabalho é investigar
e questionar problemas relacionados
com a urbanização: “a luta pela moradia é também a luta pela cidadania
e direito à vida”. Rosana fala da omissão dos jornais que não relatam as
dívidas com impostos dos proprietários dos edifícios abandonados, que
poderiam ser destinados para fins
sociais. Explica também que a estratégia de ocupação dos Sem-teto
é além de tudo, de denúncia. E finaliza: “enquanto o problema da moradia popular existir e não for compreendido, continuarei colaborando”.
Já o professor Zeca, árbitro
da Federação Paulista de Futebol por
7 anos, não exerce mais a profissão
devido às suas atividades docentes.
Ele declara que desde a infância se
interessava por futebol e ser árbitro
foi uma maneira de participar desse universo, além de poder viajar
por todo estado. O professor revela
que já foi agredido por um jogador
a quem havia dado cartão vermelho,
“ele me atingiu com um pontapé no
joelho”. Zeca comenta que as lições
que obteve na arbitragem são úteis
PAULA PEREIRA
como docente e vice-versa: “temos
que lidar com sentimentos e reações
humanas, disciplina e respeito às regras. As decisões finais são dadas
pelo árbitro e pelo professor, podendo ou não ser mal-interpretadas”.
Alexandre Jubran, especialista em Desenho Industrial, trabalha
com quadrinhos há 14 anos para algumas editoras como Abril, Mithos,
e como free-lance para Dynamic e
Marvel nos EUA. Desde 1997 dedica-se à colorização digital. Ele conta
que se envolveu com esse projeto
pois engloba o que mais o interessa:
quadrinhos, tecnologia e arte. “Em
um mercado dinâmico, o fato mais
interessante é não ficar estagnado”.
Especialista em História,
Denise Paes dá aulas na U.A.T.U.
(Universidade Aberta do Tempo
Útil), que atende principalmente ao
público da terceira idade. “É um curso de extensão, onde as pessoas
procuram aprender pelo prazer de
novas descobertas e de conhecimentos para enriquecer suas vidas”,
explica Denise. Ela confessa reali-
“Digo a eles [alunos] que
vou imitar o Zagallo: vão
ter que me engolir”
Denise Paes,
professora do Mackenzie
zar o trabalho com a maior alegria
e brinca, “digo a eles que vou imitar o Zagalo: vão ter de me engolir”.
Daniel Benitez nascido em
Cuba, ministrou por três anos aulas
de Karatê como voluntário, e afirma
que dar aulas de disciplina técnica
ou esportiva significa crescimento
constante e que não era só ensinada a parte técnica, mas também
princípios éticos, equilíbrio, tolerância e respeito. Benitez completa dizendo que “o retorno é muito
confortante. Saber que com aquela
ajuda as crianças seriam melhores cidadãos, me fazia satisfeito”.
Página Entrevista na íntegra com o
professor Zeca no Acontece Digital
Acontece - Ano III - N° 41 - Comportamento
Antes do Game Over
O ambiente dos jogos evolui paralelo ao tipo de jogo
LUCAS RIELLO, LUIZ ROCHA E VICTOR AMARO
Pac-man. Ragnarok. �������
Street�
Fighter. Counter Strike. O entretenimento com jogos eletrônicos em espaço público são populares nos Estados Unidos desde a década de 30.
Com o tempo, a evolução tecnológica alcançou-os e alçou-os a um lugar
inesperado: do simples elevar de uma
alavanca caçando algumas fichas
em cassinos até as comunidades
virtuais de jogos em rede mundial.
Antes dos jogos serem virtuais, jogava-se mecanicamente.
Eram máquinas de Pinball e caçaníquel que possibilitavam a um único
jogador testar sua sorte e habilidade
contra a máquina. Depois que começou a se pesquisar em universidades americanas a possibilidade de
os jogadores interagirem com o destino do jogo, criou-se a virtualidade.
A chegada de jogos de luta
permitiu a disputa entre os jogadores
e a criação de grupos que competiam
entre si, conhecidos como gangs de
fliperama. A imagem desses ambientes ficou marcada pelas brigas e uso
de drogas. “A polícia passava aqui
na frente quase que semanalmente
pra ver se não tinha ninguém fumando alguma coisa. Era ruim para os
negócios”, disse Tiago Eduardo, que
trabalhava na Scorpion Games &
Fliperamas. Com o tempo, as casas
de fliperama foram se deslocando
para a periferia e becos da cidade.
Os jogos mudaram de perfil, tornando-se interativos, transformando a participação do jogador
não em uma mera disputa, mas em
LUCAS RIELLO
uma experiência de relacionamento virtual em
comunidades em rede.
Nesse contexto surge a
Lan House como um lugar de reunião de jogadores caracterizada pelos
vários computadores em
rede,
ar-condicionado,
poltronas confortáveis e
fones de ouvido. O público diverte-se pagando
por hora, tendo acesso
à internet, jogos e aos
demais serviços que o Máquinas de fliperama dividem espaço com
estabelecimento oferece. banheiro e caixas de cerveja
“Aqui a gente joga em
clãs. Reunimos uns amigos e fica- U$100.000,00. Jogar video-game se
mos, às vezes, o dia todo e de ma- tornou profissão. E pensar que tudo,
drugada jogando contra outros clãs de fato, começou há muito tempo,
de outras lan”, afirmou Fabio Mol- quando pesquisadores do Massa������
nar, que participa de campeonatos chussetts��������������������������
Institute Of Technology,
de Counter Strike pela Central Lan, o MIT, desenvolveram o jogo Tênis
em Vargem Grande Paulista, na re- para Dois, feito para computador e
gião metropolitana de São Paulo. custava cerca de 120.000 dólares.
Nós oferecemos produtos e
serviços de qualidade, sempre fis“As casas de fliperama
calizados. Além dos computadores
eram cheias de
e registros que são caros, uns jogos
são de um servidor – um preço; oubandidos. Agora tenho
tros jogos são de outros servidores
uma lan, muito mais
– outros preços. Por isso temos que
cobrar a hora, para cobrir os gastos”,
organizada e limpa”
diz Tiago Mendes, proprietário de
Eduardo Pereira
uma lan house. A diferença de gasto
entre a casa de fliperama e as lan,
esse investimento entre os registros
DESVENDANDO CHEATS, O
de jogos e a compra de placas de
SEGREDOS DOS JOGOS
arcade, muitas vezes piratas, tra
Começou com a desaduz a declaração de Eduardo Pereira, dono de lan house.
vença entre os produtores de
“As casas de fliperama
jogos e os executivos da emeram cheias de bandipresa Atari. Os executivos obdos. Tinha gente bebenrigaram os desenvolvedores
do e fumando. Por isso
a retirarem seus nomes dos
preferi ter uma locadora
de video-game, coisa
créditos, deixando só os dos
mais séria. Agora tenho
chefes. Contrariados, esses
uma lan, ainda mais
fazedores de jogos criavam cóorganizada e limpa”.
digos que quando acionados,
Os clãs, difemostravam seus nomes e carrente das gangs, participam de torneios em
gos na empresa. Através dessa
campeonatos
muniniciativa, hoje tem-se diverdiais que chegam a dar
sas revistas de games e dicas.
Além dos jogos, a qualidade das lans é medida prêmios superiores a
pelos seus equipamentos e serviços extras
LUCAS RIELLO
Página Acontece - Ano III - N°41 - Perfil
Da periferia ao reconhecimento nacional
O escritor Ferréz fala sobre seus trabalhos e seu projeto social
BRUNO RIOS, LUCIANA MINAMI E NATALIA BENITEZ
Página Ferrez com seu novo livro, “O Amanhecer Esmeralda”
mulher. Mas, graças a Deus é um
livro muito bem aceito. Recebo cartas de professores que o adoram
e, até, recomendam [aos alunos].
Como surgiu a 1Dasul
(usina cultural voltada à comunidade do Capão Redondo que
possui selo musical próprio e
grife de moda, a Irmandade)?
Eu tive a idéia de montar
um movimento cultural, que juntasse os artistas da periferia. Então
a gente pegou pessoas do bairro que fazem roupa e ela é vendida aqui também. O logotipo é
“Nada mais que respeito”. A marca
tem sete anos, o pessoal compra
e graças a Deus deu tudo certo.
E seus projetos futuros?
Bom, a HQ Os inimigos não
mandam flores foi a primeira de uma
trilogia. Agora vou lançar o segundo
(Central do crime original) e depois
o último que é o final da vingança.
Como você vê a imprensa
brasileira?
Em relação a essa nova
geração, eu tenho uma crítica:
é ruim porque a velha geração
não trabalha mais nas redações.
Eles contratam os novos pois é
mais barato, não tem mais aquele mito do repórter velho com o
novo. Eu acho que isso faz falta.
“Em relação à nova
geração da imprensa
brasileira, tenho uma
crítica: não existe
mais o repórter velho
com o novo. Acho
que isso faz falta.”
ARQUIVO PESSOAL
Como você começou
a se interessar por literatura ?
Acho que a primeira identificação que eu tive foi com os gibis. Depois teve um determinado momento
da minha vida que eu comecei a ler
livros mais sérios, me dediquei mais
e falei: “É isso aqui que quero fazer”.
Como você virou cronista
da
Caros
Amigos?
Quando eu lancei o Capão
Pecado, eles me chamaram para
fazer uma matéria. Depois a Marina
Amaral (editora da Caros Amigos)
me ligou e pediu um texto. A repercussão foi muito boa, ela pediu outro
e eu brinquei que poderíamos fazer
um contrato. Fiquei lá por cinco anos.
E por que você saiu?
Acho que tudo na vida tem
um prazo e eu estava afim de descobrir coisas novas. Também foi por
motivos de ideologia, é muita ideologia por metro quadrado. Mas eu
adoro a revista e a acho a melhor
do país, não é porque eu saí não
(risos), mas a revista é boa mesmo.
Você escreveu “Amanhecer Esmeralda”, livro voltado para as crianças da periferia. Como foi a aceitação?
É meu segundo livro mais
vendido, acredita? Pensava que
não iria vender nada por ser infantil, voltado para a criança negra e
ARQUIVO PESSOAL
Seu nome é Reginaldo Ferreira da Silva, mas gosta de ser chamado de Ferréz, uma homenagem
a duas personalidades históricas do
Brasil: Virgulino Ferreira, “Ferre” e
Zumbi dos Palmares, “Z”. Nascido
em Capão Redondo, uma das regiões mais violentas da cidade de
São Paulo, que registra de cerca de
86.39 assassinatos a cada grupo de
100.000 habitantes, número muito
acima da média nacional. Apesar da
vida difícil, Ferréz acumula seis livros
em seu currículo. Entre obras de variados gêneros, está Capão Pecado,
que o projetou nacionalmente. Com
os especiais “Literatura Marginal”,
ele ganhou em 2001 o prêmio da
Associação Paulista dos Críticos de
Arte (APCA). Confira agora a entrevista que Ferréz cedeu ao Acontece.
Leia a entrevista de Ferrez na
íntegra no Acontece Digital