Dissertação Final Gilda

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Dissertação Final Gilda
1 INTRODUÇÃO
Não obstante a monocultura da soja seja, na atualidade, o maior produto do
agronegócio brasileiro, são inúmeros os impactos ambientais provenientes das práticas
que a circundam. Tais impactos são aqueles típicos das grandes monoculturas:
desmatamento, contaminação das águas, assoreamento dos rios e nascentes, perda de
biodiversidade e de solos, além de outros impactos indiretos causados, sobretudo, pela
construção de infra-estrutura de escoamento da produção, como portos, hidrovias,
ferrovias e rodovias.
O uso de agroquímicos (herbicidas, inseticidas e fungicidas) em
monoculturas de soja tem provocado inúmeros problemas de intoxicação em
trabalhadores rurais, em todo o país, além de contaminações dos compartimentos
ambientais (solo, ar, água), provocando, entre outras coisas, a diminuição da biota.
Além dos grandes volumes utilizados, a pulverização por aviões vem provocando a
contaminação de outras áreas, o que constitui ameaça aos pequenos produtores de
outros cultivos, à produção orgânica e à qualidade da água.
No Brasil, os biomas mais atingidos por estas práticas agrícolas são, nesta
ordem, os Cerrados e a Amazônia. No Cerrado Nordestino, o uso de agroquímicos tem
sido, inclusive, uma ameaça ao abastecimento público de água.
As mudanças climáticas, que têm em suas origens também o desmatamento
promovido pela expansão da monocultura, vêm trazendo dificuldades crescentes para a
continuidade da agricultura familiar. Soma-se a isto a tecnologia agrícola desenvolvida
nas últimas décadas, da semente às grandes máquinas, que está voltada para a produção
em áreas extensas e planas e também para a redução da mão-de-obra aplicada; assim,
torna-se cada vez mais precária a situação dos pequenos produtores nestas regiões.
No Maranhão, a rápida expansão da soja tem sido uma realidade, não
estando a população como um todo preparada para as mudanças nos cenários
econômico, social e ambiental. A região de Balsas, no sul do estado, começou a
produzir soja desde 1992 para o mercado externo, através do Corredor de Exportação
Norte (ZANCHIN, 2008). Deste ano até 2002, a produção de soja e outros grãos, como
o arroz e o milho, cresceu mais de 1700%. O sul do Maranhão, deste período em diante,
teve crescimento com taxas superiores a 20% ao ano. A crescente demanda
internacional por soja e os problemas com importadores decorrentes do plantio na
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região Amazônica proporcionaram uma explosão do cultivo nos estados do Maranhão,
Piauí e Tocantins, que passaram a ser conhecidos, nesse mercado, como "Mapito", e
mantêm a região como uma das mais promissoras do mundo para o avanço do grão
(BOUÇAS, 2008).
O presente estudo trata da problemática de uma, entre outras tantas
comunidades que sofrem com a desvalorização da vida no cerrado maranhense: A
região onde se situa a Comunidade de Sonhem. Teve como objetivo verificar o grau de
impactação sócio-ambiental provocado pela monocultura da soja, em uma região
agrícola próximo ao município de Loreto-MA, mediante investigação com aplicação de
questionários semi-estruturados, análises dos resíduos de agroquímicos para avaliar o
grau de contaminação do riacho Sonhem, de modo a fornecer subsídios para um melhor
uso desse recurso hídrico e reflexão acerca de sua recuperação paulatina.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O Ambiente aquático e a sua contaminação por agroquímicos
O amplo papel desempenhado pelos corpos hídricos faz com que grandes
áreas estejam conectadas, influenciando-se mutuamente. Esses corpos são mais que
simples veículos para essas áreas, alterando suas estruturas e modo de ação.
Ao atingirem o ambiente aquático, as substâncias oriundas das atividades
humanas estão sujeitas às mais variadas condições físico-químicas e biológicas, cujas
ações podem ou não transformá-las ao longo do tempo. O poder que um determinado
composto químico possui de causar algum efeito deletério depende, em primeiro lugar,
das suas características, mas também da atenuação ou do agravamento desse poder pelas
transformações devido às condições ambientais (TERRAVISTA, 2006).
Na natureza, a água nunca é pura, pois nela estão dissolvidos sais sólidos,
íons e gases. Não existe fonte de abastecimento de água que seja exatamente igual ao
seu fornecimento, variando com os distintos períodos sazonais, possibilitando originar
água com diferentes qualidades a cargo das estações do ano e do sistema de chuvas.
Dentro dessa complexa mistura, há uma coleção variada de vida vegetal e
animal, formando o fitoplâncton e o zooplâncton e dentro dessa gama de variadas
formas de vida, há organismos que dependem da água, inclusive para completar seu
ciclo de vida (como ocorre com os insetos). Enfim, a água é componente vital no
sistema de sustentação da vida na Terra e por isso deve ser preservada (BRANCO,
1997). Mas nem sempre isso acontece. A sua poluição impede a sobrevivência daqueles
seres, causando também graves conseqüências aos seres humanos. A água potável
própria para consumo humano deve ser incolor, insípida, inodora, sem a presença de
microorganismos patógenos à saúde e com teores de elementos contaminantes dentro
dos padrões permitidos (ZAMPIERON e VIEIRA, 2005).
Em relação à água, embora a agricultura seja apenas uma das inúmeras
fontes não-pontuais de poluição, geralmente é apontada como a maior contribuinte de
todas as categorias de poluentes (TOMITA e BEYRUTH, 2002).
A contaminação e a poluição da água indicam que um ou mais de seus usos
foram prejudicados, podendo atingir o homem de forma direta, pois ela é usada por este
para ser bebida, para tomar banho, para lavar roupas e utensílios e, principalmente, para
sua alimentação e dos animais domésticos (ROCHA, 1997). Além disso, abastece
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nossas cidades, sendo também utilizada nas indústrias e na irrigação de plantações.
Portanto, para a água se manter em condições de uso, deve-se evitar sua contaminação
por resíduos, sejam eles agrícolas (de natureza química ou orgânica), esgotos, resíduos
industriais, lixo ou sedimentos vindos da erosão (ZAMPIERON e VIEIRA, 2005).
A contaminação das águas superficiais por agroquímicos ocorre
instantaneamente, logo após a irrigação. Por exemplo, em cultivos feitos em campos
inundados, os herbicidas são empregados em vastas quantidades, sendo facilmente
conduzidos, nestas águas, no momento em que os campos são escoados. Também na
distribuição de águas por sulco, a água aplicada carreia, além de defensivos, fertilizantes
e sedimentos.
Os agroquímicos presentes em corpos d'água podem penetrar nos
organismos aquáticos através de diversas portas, e seu grau de acumulação depende do
tipo de cadeia alimentar, da disponibilidade e da persistência do contaminante na água
e, especialmente, de suas características físicas e químicas (TOMITA e BEYRUTH,
2002).
Os peixes e invertebrados podem acumular agroquímicos em concentrações
muito acima daquelas encontradas nas águas nas quais eles vivem, pois estes compostos
podem se ligar ao material particulado em suspensão e serem ingeridos pelos
organismos aquáticos, dentre outros processos (NIMMO et al., 1985).
Sobre a contaminação agrícola temos, no primeiro caso, os resíduos do uso
dos agroquímicos (comuns na agropecuária), que provêm de uma prática muitas vezes
desnecessária ou intensiva nos campos, enviando grandes quantidades de substâncias
tóxicas para os rios através das chuvas, o mesmo ocorrendo com a eliminação do
esterco de animais criados em pastagens. No segundo caso, há o uso de adubos, muitas
vezes exagerado, que acabam por ser carregados pelas chuvas aos rios locais,
acarretando o aumento de nutrientes nestes pontos; isso propicia a ocorrência de uma
explosão de bactérias decompositoras que consomem oxigênio, contribuindo ainda para
diminuir a concentração do mesmo na água, produzindo sulfeto de hidrogênio, um gás
de cheiro muito forte que, em grandes quantidades, é tóxico. Isso também afeta as
formas superiores de vida animal e vegetal, que utilizam o oxigênio na respiração, além
das bactérias aeróbicas, que seriam impedidas de decompor a matéria orgânica sem
deixar odores nocivos através do consumo de oxigênio (ZAMPIERON e VIEIRA,
2005).
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O destino de um agroquímico no ambiente depende, principalmente, dos
fatores do solo, das propriedades físico-químicas da molécula, das condições climáticas,
da atividade e especificidade da população microbiana, da cobertura vegetal, da dose e
da época de aplicação (ABEAS, 1983).
A deriva – movimento das gotículas do jato de produtos orgânicos tóxicos
para fora do alvo durante a pulverização – ocorrida durante o processo de aplicação dos
agroquímicos diminui a eficiência da aplicação, comprometendo a qualidade da flora e
da fauna nativas, assim como a qualidade da água local e de outras regiões, sem falar da
própria saúde do trabalhador rural e de comunidades vizinhas – contaminação indireta.
(NUNES e SANTOS, 2002).
Os agroquímicos podem entrar no ambiente aquático por diversas formas,
como evidenciado na Fig. 1. Eles podem ser transportados através do sistema aquático
por difusão nas correntes de água ou nos corpos dos organismos aquáticos. Alguns
destes produtos orgânicos tóxicos e/ou metabólitos podem também retornar à atmosfera
por volatilização. Dessa forma, fica comprovado que há uma interação contínua dos
agroquímicos entre sedimento e água, influenciada pelo movimento, turbulência e
temperatura desta. Tais fatores podem resultar, inclusive, no maior tempo de exposição
dos organismos aquáticos aos compostos tóxicos (NIMMO et al., 1985).
Os compostos são, então, direcionados a vários destinos, podendo até
atingir o sedimento, importante compartimento do meio aquático. A forma como o
agroquímico atinge o ambiente depende, em grande parte, das propriedades e da
dinâmica do solo. Portanto, esses compostos podem ser sorvidos por partículas do solo,
permanecerem dissolvidos na água presente no solo (DORES, 2000), sofrerem
volatilização, serem absorvidos por raízes ou organismos vivos, serem carreados por
águas de chuva, sofrerem decomposição biológica ou química, ou até mesmo
penetrarem no solo e contaminarem águas subterrâneas (MARQUES, 2001).
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Figura 1 - Movimento dos agroquímicos em ecossistemas aquáticos.
Fonte: NIMMO et al. (1985).
Os agroquímicos também podem contaminar o ambiente aquático por
ocorrência de acidentes em depósitos, durante o transporte desses produtos, ou ainda
por descarte inadequado de embalagens usadas.
Infelizmente, ainda são comuns as práticas absurdas e criminosas de
abastecer os tanques de pulverização, lavar os equipamentos, jogar as embalagens de
produto ou, até mesmo, lançar as sobras de calda (mistura de agroquímicos com água ou
outro veículo em concentração ideal para a pulverização) diretamente nos rios e
córregos (FAEP, 2007).
Dentre as características ambientais que mais influenciam a dinâmica dos
agroquímicos no ambiente, podemos citar: clima (temperatura ambiente, pluviosidade,
intensidade de luz solar e ventos); propriedades físico-químicas do solo (teor de matéria
orgânica e argila, pH, umidade, atividade biológica, compactação e cobertura vegetal) e
do meio aquático (pH, potencial de oxi-redução, ácidos húmicos dissolvidos,
particulados em suspensão, dentre outros); topografia da região em estudo;
características da biota local (fluxo de matéria e energia, atividades biológicas em geral
etc.) (DORES, 2000).
Altas temperaturas favorecem a volatilização e a desorção dos compostos
das partículas do solo. As chuvas podem provocar a deposição dos produtos presentes
na atmosfera e causar o carreamento superficial, quando os solos estão saturados, ou há
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percolação pela penetração da água da chuva. A intensidade, a duração e a quantidade
de chuva, bem como o momento da precipitação em relação à aplicação do produto,
influenciam a lixiviação e a infiltração no solo (LEONARD, 1989).
A poluição dos recursos hídricos é uma das principais conseqüências do uso
indiscriminado de agroquímicos na agricultura, pois a presença de substâncias químicas
tóxicas na água acarreta sérios problemas de contaminação da vida aquática e da
população que, direta ou indiretamente, dependem desse recurso natural para
sobrevivência, inclusive da água para consumo humano.
2.2 O solo e sua contaminação por agroquímicos
As características físico-químicas dos ambientes aquáticos determinam a
probabilidade de degradação de um dado composto e/ou seu destino em um
determinado ecossistema. O pH da água pode influenciar na decomposição do produto
tóxico (BARCELÓ e HENNION, 1997). Desse modo, determinados compostos, como a
maioria dos inseticidas carbamatos, podem sofrer hidrólise em valores de pH acima de
7,0.
Dependendo da forma de aplicação, o agroquímico usado na agricultura
pode ter diferentes destinos. As formas mais usadas são a aplicação direta no solo, a
pulverização através de trator, a pulverização manual ou a pulverização por avião. A
aplicação de agroquímicos com pulverizadores é o meio mais comum (HASSET e LEE,
1975). A deriva é um dos grandes problemas da aplicação por essa forma. Segundo
CHAIN (1995), em alguns casos, mais de 99,98% do ingrediente ativo é desperdiçado,
não sendo utilizado para o controle efetivo do problema fitosanitário a que foi
destinado. Logo, grande parte do produto tóxico pode não ter contato com o inseto-alvo,
sendo carreada ou percolada para outros locais, inclusive através do solo.
A quantidade do produto que está sendo lançada é muito importante na
distribuição do agroquímico no meio, que pode ser estudada pela freqüência,
intensidade e concentração do que está sendo aplicado. A formulação é citada como um
fator importante e significativo para carreamento e lixiviação dos compostos. Os pósmolháveis, por exemplo, são bastante suscetíveis ao transporte, e as formulações
líquidas podem ser transportadas de forma mais rápida que as granuladas (SOUSA et
al., 2000).
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Após a aplicação dos agroquímicos, uma fração significante destes
compostos atinge o solo. Uma vez no solo, os agroquímicos podem permanecer por
longos períodos, agregados aos componentes naturais deste ambiente, ou podem sofrer
modificações bióticas ou abióticas, levando à formação de novos produtos de
degradação, com toxicidades distintas, aumentando a variedade de contaminantes
presentes no solo.
O transporte de agroquímicos para o meio aquático, a partir do uso agrícola
depende, em grande parte, da dinâmica destes compostos no solo, uma vez que, além do
carreamento pela ação dos ventos, com posterior precipitação, a movimentação dos
produtos tóxicos, sobre e por meio do solo contribui de forma significativa para sua
chegada ao meio aquático (ISENSEE, 1991).
O solo é um sistema dinâmico, em constante evolução, que pode ser afetado
tanto por condições próprias do ambiente (material constituinte, clima, topografia,
organismos e tempo), quanto por ações diretas do homem, as quais são capazes de afetar
todas as condições do sistema. Em termos genéricos, o solo é formado por camadas
superpostas denominadas horizontes.
A lixiviação dos agroquímicos através do perfil dos solos pode ocasionar a
contaminação de lençóis freáticos (EDWARDS, 1973); portanto, além de afetar os
próprios cursos de águas superficiais, esses compostos podem alcançar os lençóis
freáticos, cuja descontaminação apresenta grande dificuldade. Certas práticas agrícolas
ligadas ao modelo de produção agrícola predominante, com o uso excessivo e
inadequado destes produtos tóxicos, a destruição da cobertura vegetal dos solos para
plantio, a não-preservação das matas ciliares e das vegetações protetoras de nascentes,
dentre outros fatores, são responsáveis por grande parte dos problemas com os recursos
hídricos (ROSA, 1998).
A movimentação do agroquímico do solo para a atmosfera, que pode
ocorrer por volatilização direta, co-vaporização com a água e associação ao material
particulado carregado pelo vento, é também importante para a distribuição destes
produtos no ambiente e também para a sua entrada no ambiente aquático por
precipitação o que, em geral, ocorre em local distante do ponto de emissão. O transporte
dos agroquímicos na atmosfera é considerável e pode ser uma das principais formas
através da qual estes produtos podem atingir os oceanos, rios ou lagos (HASSET e LEE,
1975).
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A composição do solo, em termos de porcentagem de matéria orgânica,
argila e areia, afetam a quantidade dos agroquímicos que podem ser adsorvidos ou
dissolvidos nele. Além disso, outras propriedades do solo tais como capacidade de troca
iônica e área superficial, podem influenciar na quantidade dos compostos a serem
adsorvidos.
Apesar da adsorção do agroquímico ao solo depender, não somente das
propriedades do solo, mas também das propriedades físico-químicas do princípio ativo,
de uma forma geral pode-se dizer que solos com altos teores de matéria orgânica e de
argila, que possuem componentes capazes de sorver tanto agroquímicos ionizados como
não-ionizados, hidro ou lipossolúveis, apresentam alto potencial de adsorção
(BARCELÓ e HENNION, 1997).
A composição do solo define, entre outras coisas, a sua capacidade de fixar
os contaminantes orgânicos. A capacidade produtiva do solo será, então, definida pelas
características físicas e químicas do solo, incluindo textura, estrutura, cor e
disponibilidade de constituintes nutritivos. Além de água e ar, o solo é formado pela
parte mineral, constituída pelos óxidos de silício, alumínio, ferro, titânio, cálcio,
magnésio, potássio e sódio, e pelo material orgânico. O material orgânico, formado
basicamente pela deposição e pela degradação de organismos vivos, situa-se
principalmente nas camadas superiores do solo, conferindo a este propriedades especiais
e uma coloração escura. A umidade do solo é outro fator importante na adsorção de um
produto tóxico às suas partículas uma vez que, quando seus poros são preenchidos com
água, esta pode facilitar a migração das moléculas dos agroquímicos hidrossolúveis para
fora do poro, permitindo sua solubilização na solução do solo, podendo ser assim mais
facilmente carreada (VALSARAJ e THIBODEAUX, 1992).
Um agroquímico pode ser totalmente degradado no solo, sendo os seus
produtos finais, o dióxido de carbono, a água, os sais minerais e as substâncias húmicas.
Pode também dar origem a novos compostos persistentes; um exemplo disso é a
transformação de aldrin em dieldrin, diretamente no solo. Embora uma parte dos
processos seja ocasionada por reações químicas, tais como as reações de oxidação, de
redução, de hidrólise e de fotólise, o mecanismo microbiano é geralmente o meio
principal para degradação do carbono e de outros nutrientes (GORING et al., 1975).
A topografia do terreno, associada à forma de manejo do solo (por exemplo,
terraceamento, curvas de nível, aração) tem grande influência sobre o carreamento
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superficial dos agroquímicos, seja em solução ou adsorvidos ao particulado (DORES,
2000).
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) estima que cada hectare
cultivado no país perde, em média, 25 toneladas de solo por hectare, o que significa uma
perda anual de cerca de um bilhão de toneladas ou, aproximadamente, um centímetro da
camada superficial do solo. Mesmo com o atual sistema de plantio direto (sem aração)
há perda de solo, ainda que seja menor que no sistema tradicional de grade – com
aração. Segundo o estudo Uso de instrumentos econômicos para defesa do Bioma
Cerrado, de Maurício Gallinkin, o plantio direto causa perdas de cerca de 40% em
relação ao sistema de aragem (ISA, 2003).
Além disso, no sistema de monocultura, a baixa rotatividade exige a
aplicação de maiores quantidades de insumos agrícolas para manter a fertilidade do
solo. Uma pesquisa do IAC, de 1997, mostra que cerca de 10 milhões de toneladas de
fertilizantes foram utilizados nos 40 milhões de hectares cultivados com grãos no país.
Considerando que a aplicação desses insumos se dá principalmente sobre as camadas
superficiais do solo, a erosão acarreta também perdas de fertilizantes, o que pode levar à
contaminação de águas superficiais (ISA, 2003).
Outro impacto desse sistema de cultivo é a perda de diversidade biológica e a
ruptura do equilíbrio natural existente entre a mata e o solo, visto que exige
desmatamentos em larga escala. Nas condições do clima tropical, são necessárias
centenas de anos para a formação de um centímetro de solo bem estruturado. Segundo o
Relatório do ISA, os processos erosivos que ocorrem nos solos são tanto mais intensos
quanto maior for a ruptura entre o equilíbrio existente no ambiente, em particular entre
solos e organismos que evoluíram a partir de relações independentes. As atividades
antrópicas, portanto, quando realizadas nessa amplitude e em um curto espaço de
tempo, exercem grande impacto sobre o ambiente, pois acontecem em velocidade muito
maior do que os processos evolutivos dos organismos e de formação dos solos, que são
bastante lentos.
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2.3 Parâmetros físico-químicos dos agroquímicos
No momento em que o agroquímico atinge os campos, a molécula do
composto poderá:
• Ser volatilizada;
• Ser retirada pelas partículas sólidas presentes na água ou por
constituintes do solo (adsorção/desorção);
• Ser transportada através do solo (lixívia), ou ainda
• Sofrer degradação biótica (biodegradação) ou abiótica (fotodegração,
hidrólise).
A intensidade que o agroquímico sofrerá tais processos dependerá das suas
propriedades físico-químicas, das propriedades do solo alagado e das condições
ambientais (NUNES e SANTOS, 2002),
A seguir, serão listadas algumas das propriedades mais comuns dos
agroquímicos, que são fundamentais para o entendimento do seu comportamento nos
compartimentos ambientais.
2.3.1 Solubilidade em água
Os agroquímicos têm sido estudados e considerados, em sua maioria, como
potencialmente tóxicos ao homem, aos mamíferos, aos invertebrados e ao meio
ambiente (NUNES, 1999). Como mencionado anteriormente, podem alcançar os
ambientes
aquáticos,
prejudicar
a
biota,
interferir
na
cadeia
alimentar
e,
conseqüentemente, prejudicar a saúde humana (O’NEIL, 1993). Os agroquímicos
modernos, em particular os inseticidas organofosforados, carbamatos e piretróides, não
apresentam o mesmo comportamento que os organoclorados, que se acumulam em
gorduras. São primariamente transformados, em sistemas aquáticos, tendo baixo
potencial de bioacumulação.
RAO et al. (1985) incorporaram funções de degradação de agroquímicos em
expressões de tempo de transporte para produzir o fator de atenuação (AF). Este fator
consiste na relação entre a massa do agroquímico entrando na água subterrânea a
alguma distância abaixo da superfície do solo e a massa do composto químico aplicado
à superfície. Calculando índices relativos de mobilidade, JURY et al. (1984) utilizaram
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profundidade arbitrária de 10 cm, enquanto que RAO et al. (1985) usaram a distância
aproximadamente real até a água subterrânea.
Sabe-se que o potencial de lixiviação de um determinado agroquímico é
proporcional a sua solubilidade em água. Neste sentido, foi realizado um trabalho para
avaliar o potencial de lixiviação de dezenove produtos químicos empregados em
agricultura irrigada intensiva na Região de Guaíra, Estado de São Paulo. Dentre os
compostos estudados, os mais solúveis foram os que apresentaram os maiores
potenciais de lixiviação (solubilidade em água maior que 350 mL/L) (SPADOTTO,
2002).
Outro trabalho realizado em duas regiões brasileiras – Sudeste e Nordeste –
com o objetivo de determinar a interação do agroquímico 2,4-diclorofenoxiacético (2,4 D) e do pentaclorofenol (PCP), em água, de diferentes composições químicas, na
presença das substâncias húmicas dissolvidas, comprovou que a presença da matéria
orgânica influência diretamente no processo de adsorção, e reflete na eficiência da ação
dos agroquímicos. Geralmente, a maioria das interações que ocorrem entre os
compostos está relacionada com a presença da matéria orgânica disponível. Supõem-se,
então, que águas com maiores quantidades de matéria orgânica poderão reter mais
facilmente os agrotóxicos, quando comparada às águas pobres em matéria orgânica.
Essa maior retenção faz com que haja uma menor disponibilidade dos compostos no
ambiente aquático (MORAES et al., 2004).
Os herbicidas costumam apresentar persistências ainda menores em
ambientes naturais, se comparados com os inseticidas. Entretanto, devido à sua elevada
solubilidade em água, são frequentes os casos de transporte e contaminação dos
ambientes aquáticos, por exemplo, por herbicidas pertencentes às classes dos herbicidas
ácidos fenoxiacéticos e fenoxibenzóicos (NUNES e SANTOS, 2002).
2.3.2 Volatilização ou evaporação
Certamente, quanto maior o tempo de contato do agroquímico com a
atmosfera, maior será a probabilidade de que uma parte do composto seja volatilizada,
antes de atingir diretamente determinada cultura. A tendência de volatilização de um
agroquímico segue, em especial, suas propriedades físico-químicas, incluindo a pressão
de vapor e a sua solubilidade. No caso de formulações de agroquímicos, muitas vezes o
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produto comercial contém substâncias que influenciam a solubilidade e a dispersão dos
produtos tóxicos, podendo resultar em um comportamento um pouco diferente do que
inicialmente era esperado para o composto. Estes fatores, associados às condições
climáticas, interferem diretamente na volatilização do composto ainda na atmosfera
(ABDULLAH et al., 1997).
2.3.3 Hidrólise
Considerando que o ambiente aquático é uma matriz complexa, o estudo do
processo de hidrólise torna-se extremamente complicado, mas nem por isso menos
importante. No processo de hidrólise, a molécula do agroquímico tende a sofrer
dissociação, o que favorece posteriormente sua reação com outras espécies também
dissociadas (GORING et al., 1975). O pH do meio, quer seja do solo ou da água, e o
próprio pH em que ocorre a dissociação do composto, irão influenciar diretamente na
tendência de hidrólise do composto.
2.3.4 Oxi-redução
Muitas substâncias têm facilidade de mudar de estado de oxi-redução,
quando em presença de outras espécies. Para moléculas de agroquímicos, este é outro
processo que depende diretamente das condições do meio. Em geral, pode-se dizer que
em ambientes com presença de oxigênio, os compostos orgânicos têm forte tendência a
oxidar-se. Em solos que são alagados para cultivos específicos (por exemplo, arroz),
durante os longos períodos que permanecem submersos, o oxigênio dissolvido na água
ou retido no solo é consumido e o solo vai-se tornando predominantemente reduzido,
adquirindo uma coloração cinza escura. Os íons ferro e manganês, presentes no solo,
são reduzidos, podendo movimentar-se por difusão, atingindo a camada oxigenada na
superfície do solo, onde são oxidados e precipitados juntamente com a sílica e o fosfato.
Dessa forma, a superfície do solo apresenta uma camada oxidada mais superficial, uma
zona onde estão as raízes das plantas de arroz e logo a zona em que o ferro e o
manganês estão oxidados. Em alguns tipos de solos, a perda de íons ferro da superfície
causa o deslocamento de cátions para fora da zona reduzida (processo denominado
“ferrólise”). Quando o solo é drenado e seco, o ferro é reoxidado e novamente
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precipitado. Nestas condições, o íon predominantemente é o H+, resultado da
acidificação do solo e da desintegração da argila (GORING et al., 1975).
Em resumo, dependendo das condições do meio, as moléculas de alguns
agroquímicos podem sofrer processos de oxi-redução, resultando em produtos de
degradação até mais tóxicos que o seu precursor.
2.3.5 Degradação por microrganismos
Existe uma enorme variedade de microrganismos, em ambientes aquáticos
ou terrestres, capazes de interagir com materiais orgânicos, quer sejam estes naturais ou
antropogênicos. Assim, microrganismos tendem a influenciar diretamente na
transformação de muitos agroquímicos. Além de numerosos e de rápida proliferação, de
acordo com as condições do ambiente, os microrganismos também têm grande
capacidade de adaptação. Por este motivo, muitas vezes, compostos tóxicos que em
princípio não eram facilmente transformados pelos microrganismos, com a aplicação
constante destes antropogênicos, passam a servir também como fonte alimentar. De
fato, a biorremediação, atualmente bastante em voga, baseia-se nesta capacidade de
transformar composto que, depois de atingirem seu intento, precisam ter seu excesso
eliminado. O processo costuma ser eficiente e economicamente viável. Entretanto, uma
questão deve ser considerada: em geral, os microrganismos não são habitantes naturais
daquele ambiente a ser tratado e, com o tempo, podem formar uma comunidade muito
numerosa, de difícil controle e/ou eliminação (DORES e LAMINICA-FREIRE, 1999).
Um agroquímico pode atuar em duas vias na microflora: de um lado, ele
pode influenciar os microrganismos responsáveis por sua degradação, e essa ação pode
também se estender aos organismos envolvidos na degradação de outras substâncias. De
um outro, o agroquímico pode atuar também como um substrato para a microflora do
solo. Na verdade, sua degradação pode suprir certos organismos com carbono, energia e
algumas vezes o nitrogênio necessário para o seu crescimento. Em qualquer caso, a
conseqüência mais importante desses dois aspectos reside, essencialmente, na
degradação do produto tóxico (SIMON-SYLVESTRE e FOURNIER, 1979).
A inibição do crescimento da população microbiana ou de segmentos da
mesma vai determinar a persistência do produto no solo, visto que a mineralização ou
completa degradação é quase sempre uma atividade microbiana.
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A fertilidade do solo depende não apenas da constituição física e do teor de
nutrientes, mas também da intensidade do processo biológico que nele ocorre. A urease
é a enzima que catalisa a hidrólise da uréia para dióxido de carbono (CO2) e amônio
(NH4), sendo produzida por um grande número de microrganismos, principalmente
bactérias. A distribuição da urease e os fatores que a influenciam tem importância
relevante, em vista do uso da uréia na agricultura como fertilizante, e um dos fatores
que podem influenciar a atividade desta enzima no solo é o uso crescente de
agroquímicos.
Entre os agroquímicos mais importantes para a agricultura estão incluídos
os fungicidas, os herbicidas, os inseticidas e os nematicidas. Todos esses produtos
exercem influência sobre os microrganismos existentes no solo e sobre suas atividades.
REED et al. (1990) encontraram relação com a atividade urease no solo com a
degradação dos inseticidas carbofuran e ethoprohos. Solos que apresentavam alta
atividade da urease mostraram velocidade maior da degradação de ambos os inseticidas.
2.3.6 Lixiviação
A capacidade de um agroquímico ser lixiviado é relevante, devido à
possibilidade de contaminação de fontes de águas superficiais e também subterrâneas.
Essa capacidade é determinada, preliminarmente, por avaliação teórica das
características físico-químicas dos compostos aplicados, bem como das propriedades do
solo (NUNES e SANTOS, 2002).
Em geral, quando moléculas dos agroquímicos sofrem lixiviação à
superfície do solo, estas podem atingir águas superficiais e, mediante interferências
drásticas no ciclo das águas, contaminarem também as águas subterrâneas.
Por meio da Fig. 2 pode-se observar melhor o movimento dos compostos
químicos nos distintos compartimentos ambientais.
27
Figura 2 - Movimento dos agroquímicos nos compartimentos ambientais.
Fonte: NUNES e SANTOS (2002).
2.4 Intoxicação por agroquímicos
2.4.1 Aspectos epidemiológicos, toxicológicos e clínicos das intoxicações por
agroquímicos
2.4.1.1 Principais usos, formas de entrada e população exposta
Calcula-se que, atualmente, são aplicadas aproximadamente 1.500
substâncias diferentes com ação agroquímica (ingredientes ativos) em todo o mundo. A
partir destas, são produzidas numerosas misturas (formulações) com outros ingredientes
ativos ou com dissolventes, emulsificantes, etc., os quais variam de país para país
28
e, também, de tempos em tempos. O Brasil, segundo país a consumir agroquímicos,
ficando atrás somente dos Estados Unidos, é um dos poucos países da América Latina a
determinar limites máximos de resíduos de agroquímicos nos alimentos, de acordo com
condições próprias de clima, solo e cultivo (GAZETA MERCANTIL/GAZETA DO
BRASIL, 2006). Nosso país está entre os maiores consumidores de agroquímicos no
mundo, sendo que seu uso tem aumentado muito além do crescimento da área agrícola
nos últimos trinta anos (SPADOTTO et al.,1996). A maior utilização desses produtos é
na agricultura, especialmente nos sistemas de monocultura, e neste caso em grandes
extensões. São também utilizados na saúde pública, para eliminação e controle de
vetores transmissores de enfermidades endêmicas, no tratamento de madeira para
construção, no armazenamento de grãos e sementes, na produção de flores, para
combate a piolho e outros parasitas, na pecuária, etc.
Os agroquímicos entram no organismo através da pele, por inalação ou por
ingestão. Portanto, há necessidade da prevenção de intoxicações pelos trabalhadores
rurais, através do uso de equipamentos de proteção individual (EPI’s) que são, no
mínimo: máscara com filtro, óculos para produtos químicos, luvas de plástico
compridas, avental plástico e botas de borracha. Várias destas substâncias tóxicas são
cancerígenas e mutagênicas, portanto, mulheres grávidas devem ser afastadas do
trabalho com agroquímicos (GARCIA, 1996).
Além da exposição ocupacional, a contaminação ambiental coloca em risco
de intoxicação outros grupos populacionais. Merecem destaque as famílias dos
agricultores e a exposição decorrente da utilização de domissanitários. Finalmente, é
bom registrar que toda a população tem possibilidade de intoxicar-se, principalmente
através da ingestão de água e/ou alimentos contaminados.
Pode-se dizer que os efeitos dos agroquímicos sobre a saúde não dizem
respeito apenas aos trabalhadores expostos, mas à população em geral, pois a unidade
produtiva não afeta apenas o trabalhador, mas contamina o ambiente e repercute sobre o
conjunto social (RUEG, 1991).
29
2.4.1.2 Efeitos sobre a saúde
Convém lembrar que, independente da classe química do agroquímico, se
menos tóxico ou menos persistente ou não, estes produtos devem ser sempre
considerados venenos. É por esse motivo que, nos seus rótulos, deve estar contido o
símbolo da morte (FERREIRA, 1993).
Os agroquímicos podem determinar três tipos de intoxicação: aguda,
subaguda e crônica: (NUNES e SANTOS, 2002).
• Intoxicação aguda – é aquela na qual os sintomas surgem rapidamente,
algumas horas após a exposição excessiva, por curto período, a produtos
extremamente ou altamente tóxicos. Pode ocorrer de forma leve,
moderada ou grave, dependendo da quantidade de veneno absorvido. Os
sinais e sintomas são nítidos e objetivos.
• Intoxicação subaguda – ocorre por exposição moderada ou pequena a
produtos altamente tóxicos ou medianamente tóxicos e tem aparecimento
mais lento. Os sintomas são subjetivos e vagos, tais como dor de cabeça,
fraqueza, mal-estar, dor de estômago e sonolência, entre outros.
• Intoxicação crônica – caracteriza-se por surgimento tardio, em meses
ou anos, por exposição pequena ou moderada a produtos tóxicos ou a
múltiplos produtos, acarretando danos irreversíveis, do tipo paralisias e
neoplasias.
Essas intoxicações não são reflexos de uma relação simples entre o produto e
o indivíduo exposto. Vários fatores participam da determinação das mesmas, dentre
eles: características químicas e toxicológicas do produto, fatores relativos ao indivíduo
exposto (sexo, idade, estado nutricional e de saúde, etc.), condições de exposição e
condições gerais do trabalho (CHEDIACK, 1982).
A classe toxicológica de um agroquímico está diretamente relacionada com
a dose letal média do composto numa dada formulação, podendo um determinado
composto estar enquadrado em diferentes classes toxicológicas, dependendo da
formulação em que se encontra.
30
2.5 Classificação dos agroquímicos e sua toxidade
A seguir, serão classificados os agroquímicos mais utilizados na agricultura
moderna, segundo as principais famílias.
2.5.1 Inseticidas organoclorados
Os inseticidas organoclorados foram muito utilizados na agricultura, porém
seu emprego tem sido progressivamente restringido ou mesmo proibido, por serem de
lenta degradação, com capacidade de acumulação no meio ambiente (podem resistir até
30 anos no solo) e em seres vivos, contaminando o homem, diretamente ou por meio da
cadeia alimentar.
São compostos à base de carbono, com radicais de cloro, em geral derivados
do clorobenzeno, do ciclohexano ou do ciclodieno (BRITO et al., 2001). No Brasil, seu
uso foi limitado pela Portaria 329 de 02/09/85, do Ministério da Agricultura, permitindo
sua utilização somente no controle a formigas (Aldrin) e em campanhas de saúde
pública (DDT e BHC). Em 1986, o DDT (dicloro-difeniltricloroetil) foi completamente
banido,
por
ser
altamente
tóxico,
cumulativo
e
persistente
no
ambiente
(INTERNATIONAL LIFE SCIENCE INSTITUTE, 1995).
O emprego dos inseticidas organoclorados, nas últimas décadas, tem produzido
acumulação de resíduos tóxicos em vários ecossistemas em todo mundo. A
concentração destes compostos tem alcançado níveis tóxicos em vários organismos
terrestres, como pássaros e mamíferos, assim como em organismos aquáticos. Os
resíduos dos organoclorados têm-se tornado parte intrínseca dos ciclos biológicos,
geológicos e químicos da Terra, e têm sido detectados no ar, na água, no solo, nas
plantas, nos invertebrados marinhos, e mesmo na neve e em pingüins da Antártica e do
Ártico, onde eles não são empregados (LI et al., 2003).
Os organoclorados são relativamente inertes, e sua alta estabilidade está
relacionada às ligações carbono-cloro (RISSATO et al., 2004) Estes compostos são
muito estudados, devido à alta toxicidade, baixa biodegradabilidade e biossolubilidade
em tecido lipídico (LANÇAS et al., 1996), podendo persistir por 15 a 20 anos no solo, e
parte destes serem arrastados pelas chuvas (por lixiviação) para o interior dos cursos de
água, que também recebem estes compostos através de efluentes industriais, de esgotos,
31
de sedimentos, da atmosfera e por contaminação direta durante a aplicação. Assim,
tanto as águas de mananciais de rios e represas que abastecem as populações, quanto os
peixes que se alimentam de materiais retirados do fundo desses locais podem apresentar
concentração de organoclorados, mesmo anos após cessar a aplicação dos produtos
(BRANCO, 1988).
A avaliação de efeitos cumulativos de produtos químicos em ecossistemas
aquáticos tem sido realizada em laboratório, utilizando testes agudos (dose letal LC50) e
crônicos (fator de bioconcentração, BCF), de acordo com LANÇAS et al. (1997).
Pesquisas demonstraram que o fator de bioconcentração para compostos lipofílicos, tais
como os organoclorados, apresentam valores mais elevados em organismos que ocupam
níveis tróficos maiores (STEVENS et al., 2003).
Apesar de parte destes micropoluentes acumularem-se ao longo da cadeia
alimentar, grande parte ainda permanece na água, podendo contaminá-la, tornando-a
imprópria para o consumo (WILES et al., 1994). Agroquímicos organoclorados em
água potável podem aumentar os riscos de ocorrências de câncer, bem como causar
danos aos sistemas nervoso, cardíaco, endócrino e reprodutivo (READ, 1987).
Como as águas superficiais são fontes vitais de água potável, a qualidade da
água tem recebido considerável atenção nas legislações ambientais. Por exemplo, a
União Européia (EEUU) preconiza que a concentração de agroquímicos individuais em
água potável não deve exceder 0,1 µg/L e de agroquímicos totais, no máximo de 0,5
µg/L (BARCELÓ e HENNION, 1997). Os níveis máximos de contaminantes (MCL)
têm sido estabelecidos pela Agência Americana de Proteção Ambiental (US-EPA) para
muitos produtos tóxicos, incluindo os organoclorados (RISSATO et al., 2004).
Os inseticidas organoclorados agem como estimulantes do Sistema Nervoso
Central (SNC); em altas doses, são indutores das enzimas microssômicas hepáticas. São
armazenados no tecido adiposo, em equilíbrio dinâmico com a absorção. Como
manifestações crônicas, destacam-se neuropatias periféricas, inclusive com paralisias;
discrasias sanguíneas diversas, inclusive aplasia medular; lesões hepáticas com
alterações das transaminases e da fosfatase alcalina; lesões renais; arritmias cardíacas;
dermatoses, como cloracne, além de derrame pleural (FUNDAÇÃO OSWALDO
CRUZ, 1993).
Publicado em 1962, o livro Primavera Silenciosa (Silent Spring), de Rachel
Carson, foi a primeira obra a detalhar os efeitos adversos da utilização dos agroquímicos
32
e inseticidas químicos sintéticos, iniciando o debate acerca das implicações da atividade
humana sobre o ambiente e o custo ambiental dessa contaminação para toda a
sociedade. A autora advertia para o fato de que a utilização destes compostos para
controlar insetos e doenças estava interferindo nas defesas naturais do próprio ambiente,
e acrescentava: “Nós permitimos que esses produtos químicos fossem utilizados com
pouca ou nenhuma pesquisa prévia sobre seu efeito no solo, na água, nos animais
selvagens e sobre o próprio homem”. A mensagem era diretamente dirigida para o uso
indiscriminado do DDT: barato e fácil de fazer, foi aclamado como o inseticida
universal e tornou-se o mais amplamente utilizado entre os produtos químicos sintéticos
da época, antes que seus efeitos ambientais tivessem sido intensivamente estudados
(SILVA, 2006).
Hoje, o que se observa em todo o mundo, e principalmente nos trópicos,
onde o DDT foi intensivamente utilizado, não só na agricultura, mas também no
combate às doenças tropicais, é que é difícil encontrar um solo que não possua resíduos
deste pesticida. Há quem afirme que, nas três últimas gerações, ainda será possível
encontrar resíduos desse composto no sangue humano.
Em casos de inalação dos organoclorados, podem ocorrer sintomas
específicos, como tosse, rouquidão, irritação de garganta, coriza, dificuldade
respiratória, hipertensão arterial, pneumonia por irritação química, edema pulmonar. Em
casos de intoxicação aguda, por atuarem no sistema nervoso central, impedindo a
transmissão nervosa normal, podem ocorrer estimulação do sistema nervoso central e
hiperirritabilidade, cefaléia (que não cede aos analgésicos comuns), sensação de
cansaço, mal estar, náuseas e vertigens com confusão mental passageira e transpiração
fria, redução da sensibilidade (língua, lábio, face, mãos), contrações musculares
involuntárias, perdas de apetite e peso, tremores, lesões hepáticas e renais, crise
convulsiva, coma (NUNES e RIBEIRO, 1999).
33
2.5.2 Inseticidas organofosforados
Nas últimas décadas, os inseticidas organofosforados vêm substituindo os
organoclorados, que foram banidos para o uso na agricultura na maioria dos países, por
apresentarem menor persistência no ambiente que os clorados (TOMLIM, 1994). Eles
estão inclusos na classe dos inseticidas de elevada toxidade; são compostos inibidores
das enzimas colinesterases, responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos,
através da hidrólise de acetilcolina, seu substrato natural.
Existem duas categorias de enzimas colinesterases: a acetilcolinesterase
(colinesterase verdadeira), que é encontrada nos eritrócitos, no pulmão e no tecido
nervoso, e a colinesterase sérica, sintetizada no fígado, também chamada de
pseudocolinesterase.
A inibição dessas enzimas, pelos organofosforados, provoca
acúmulo da acetilcolina, levando às sinapses e à morte dos insetos. Nos mamíferos, o
efeito tóxico é o mesmo (NUNES, 1999).
Quando inalados, os inseticidas organofosforados causam dificuldades
respiratórias, sangramento ou corizas nasais, tosse e crises asmáticas. Problemas de
pele, náuseas, dores abdominais e de cabeça, confusões mentais, entre outros efeitos,
também costumam ser observados. Entretanto, os piores efeitos são percebidos no
sistema nervoso central, devido à já mencionada inativação parcial ou total da enzima
colinesterase; como conseqüência, problemas de coordenação motora, contrações
musculares involuntárias, psicoses, paralisias das extremidades e dos músculos,
convulsões e até coma podem ser observados (NUNES, 1999).
Entre as propriedades físico-químicas mais comuns dos organofosforados,
destacam-se a sua elevada pressão de vapor (2,0 mPa) e sua solubilidade em solventes
orgânicos medianamente polares. No ambiente, os inseticidas organofosforados
degradam-se por hidrólise, oxidação ou fotólise. O pH e a temperatura atuam
diretamente na degradação desses produtos tóxicos em ambientes aquáticos (NUNES,
1999).
O inseticida organofosforado denominado paraquat também tem sido muito
empregado no controle de plantas oportunistas e insetos nas lavouras brasileiras. A
absorção oral do paraquat no homem corresponde a cerca de 10% da dose administrada
(GOLDFRANK et al., 1994). A distribuição do paraquat no organismo humano ocorre
de maneira uniforme por todos os tecidos, com maior concentração especialmente nos
34
rins, no fígado, nos pulmões, no baço, no pâncreas, no cérebro e nos músculos. Larini
(1999) apresenta um exemplo clássico de distribuição do paraquat em mg/g no
organismo humano, através do relato de três casos fatais de ingestão de
aproximadamente 100 ml do produto comercial contendo 5 % do princípio ativo.
2.5.3 Inseticidas carbamatos
Os carbamatos são também inibidores das colinesterases, sendo absorvidos
pela pele, por ingestão ou por inalação. Diferentemente dos organofoforados, os
carbamatos são inibidores reversíveis das colinesterases, porém as intoxicações podem
ser igualmente graves (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1996).
Os carbamatos são, em geral, pouco persistentes no ambiente, podendo ser
transformados por degradação microbiológica ou por processos de hidrólise, embora
tais processos dependam bastante das condições do ambiente. Por exemplo, para o
inseticida carbaril, o tempo de meia-vida no solo é de 7 dias sem condições aeróbicas,
mas pode subir para 28 dias se for usado em ambientes aeróbios (NUNES e RIBEIRO,
1999).
Alguns carbamatos também podem ser usados como fungicidas, e sua
toxicidade aguda depende diretamente dos teores a que são expostos os organismos. Se
as quantidades são baixas, os efeitos observados incluem dificuldade respiratória e
excesso de salivação. Entretanto, altas doses resultam em vômitos, náuseas, descontrole
na defecação e urina, espasmos musculares, convulsões e até morte, causada pela
paralisia dos músculos respiratórios. Os carbamatos, em geral, são bem mais perigosos
para a vida aquática que os inseticidas piretróides (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 1996).
Estes compostos podem sofrer reações químicas e biológicas (oxidação,
hidrólise, fotólise etc.) e são convertidos em produtos de degradação ou metabólitos,
que podem ser tão ou mais tóxicos que os compostos iniciais. Em alguns casos, podem
ocorrer interações entre o princípio ativo precursor e seus produtos de degradação. Isto
acontece com o carbofuran, onde a presença do metabólito 3-hidroxicarbofuran
favorece sua hidrólise em meios anaeróbios (NUNES, 1999).
O fungicida carbendazim enquadra-se também na classe dos carbamatos.
Devido ao uso intenso de carbendazim, esse fungicida tornou-se um poluente muito
35
persistente no solo e na água. Os estudos de degradação e dos efeitos toxicológicos não
são focados somente no desaparecimento do carbendazim, mas também nos produtos
intermediários que definem o real impacto ambiental dos poluentes. Tais estudos são
importantes para o isolamento e caracterização de microrganismos capazes de degradar
o fungicida, e também para o desenvolvimento de processos abióticos (fotodegradação)
a serem utilizados no tratamento de água e solo poluídos (COUTINHO et al., 2006).
2.5.4 Inseticidas piretróides
São compostos sintéticos que apresentam estruturas semelhantes à piretrina,
substância existente nas flores do Chrysanthemum cinerariaefolium (Pyrethrum
asteraceae). A alta atividade inseticida dos piretróides possibilita seu emprego em
pequenas dosagens. A sua elevada seletividade tem permitido o aparecimento de novos
produtos de origem sintética, inclusive mais estáveis à luz e menos voláteis que os de
origem natural, propiciando uma grande difusão desses inseticidas para uso
domissanitário ou para a agropecuária. São facilmente absorvidos pelo trato digestivo,
pelas vias respiratórias e por via cutânea. Sendo pouco tóxicos, do ponto de vista agudo,
são, porém, irritantes para os olhos e mucosas e, principalmente, hipersensibilizantes,
causando tanto alergias de pele como asma brônquica. Seu uso abusivo nos ambientes
domésticos vem causando incremento dos casos de alergia, tanto em crianças como em
adultos. Em doses muito altas, podem ocasionar neuropatias, por agir na bainha de
mielina, desorganizando-a, além de promover ruptura de axônios (BRITO et al., 2001).
Os inseticidas piretróides são estimulantes do SNC. Em doses altas, podem
produzir lesões duradouras permanentes no Sistema Nervoso Periférico. Possuem
capacidade de produzir alergias respiratórias e dérmicas.
2.5.5 Herbicidas clorofenoxiácidos
Esse grupo de agroquímicos tem tido utilização crescente na agricultura nas
duas últimas décadas. Os herbicidas substituem a mão de obra na capina, diminuindo,
conseqüentemente, o nível de emprego na zona rural. Os compostos clorofenoxiácidos
constituem importante classe de herbicidas, e seu consumo mundial, em crescimento
constante, leva a grandes possibilidades de contaminação de solos, água e alimentos por
seus resíduos e metabólitos fenólicos (SANTOS et al., 2000).
36
A maioria dos herbicidas deste grupo são altamente sistêmicos. Provocam
alterações no balanço hormonal e na síntese protéica. Normalmente apresentam longo
tempo de atividade residual no solo e na água, persistindo por vários meses no
ambiente, por não serem facilmente degradados por via microbiológica. Contudo, esses
herbicidas degradam-se facilmente em água e também por ação da luz solar (ANVISA,
2005).
O principal representante desse grupo é o 2,4-D (2,4-diclorofenoxiacético),
que é amplamente utilizado no país, principalmente em pastagens e em plantações de
cana-de-açúcar, para combate a ervas de folhas largas. É fortemente absorvido pela
pele, por ingestão e inalação, podendo produzir neurite periférica e diabetes transitória
no período da exposição (AMARANTE JR. et al., 2001). Seu principal produto de
degradação é o 2,4,5-T, e o produto comercial conhecido como “Tordon”, é, na verdade,
uma mistura de 2,4-D e 2,4,5-T.
2.6 Uso de agroquímicos por classe
Na agricultura mecanizada, em que os valores de produção são altos, o uso
de substâncias químicas diversas é indispensável no controle de ervas oportunistas,
doenças e insetos, ou mesmo na interferência nos seguimentos funcionais das plantas,
com vistas à tecnificação da cultura.
Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US-EPA,
1991), existem atualmente 600 ingredientes ativos, usados em uma grande variedade de
formulados comerciais. Estes formulados, muitas vezes contendo mais de um
ingrediente ativo, resultam na existência de 45.000 a 50.000 diferentes produtos, com
enorme potencial poluente, desde o momento em que são fabricados, nas instalações
industriais, quando são usados na agricultura e até no momento em que sofrem
combustão.
Ainda que a maior quantidade desses agroquímicos seja aplicada na
agricultura (Foto 1, Anexo 1), o uso indiscriminado desses venenos ocorre também nos
mais distintos ambientes, tais como: residências, jardins, parques, supermercados, áreas
hospitalares, campos de esporte, rodovias, estradas de ferro, durante campanhas
sanitárias (Foto 2, Anexo 1), próximo a instalações de redes elétricas e em áreas
industriais, só para fornecer alguns exemplos.
37
A Fig. 3 apresenta a distribuição, por uso das classes dos agroquímicos, em
todo mundo. Percebe-se que os herbicidas são os produtos mais usados na agricultura,
seguidos dos inseticidas e, por último, os fungicidas.
Casa e
Jardins
100%
80%
60%
40%
20%
0%
H
er
d
ci
bi
Industrial,
Comercial,
Governo
Agricultura
as
se
In
t
d
ici
as
n
Fu
gi
s
da
ci
ro
ut
O
s
Figura 3 – Uso dos agroquímicos nos diferentes setores da sociedade.
Fonte: NUNES e SANTOS, 2002.
Estima-se que milhões de agricultores são intoxicados anualmente no
mundo, e mais de 20 mil morrem em conseqüência da exposição a agrotóxicos, a
maioria em países em desenvolvimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990).
A falta de legislação e de controle do uso adequado destes produtos e o baixo nível de
informação dos trabalhadores quanto aos riscos a que estão expostos são as principais
causas destas ocorrências (ECOBICHON , 2001).
No Brasil, 26.164 casos de intoxicação provocados por agroquímicos no
campo ocorreram entre 1997 e 2001, correspondendo a 7,0% do total de intoxicações
notificadas no período (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 1993). No Mato Grosso do
Sul, ocorreram 1355 casos de intoxicações devido ao uso de agroquímicos, no período
de 1992-2002 (PIRES et al., 2005).
É necessário todo o cuidado, no que diz respeito à compra, ao transporte, ao
armazenamento e à aplicação desses produtos, porque se forem mal manipulados,
podem causar graves danos ao ambiente e ao ser humano.
Segundo a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, que foi regulamentada pelo
Decreto nº 98.816, de 11 de janeiro de 1990, os agroquímicos agrupam-se em 4 classes
toxicológicas que são representadas na Tab. 1. A Agência de Proteção Ambiental dos
38
EUA (US-EPA) classifica os agroquímicos segundo seu grau de toxicidade, em
Pesticidas de Uso Geral (GUP) e Pesticidas de Uso Restrito (RUP), definindo, assim,
quais dos agroquímicos apresentam maiores problemas de toxicidade. Além desta
divisão mais genérica, outra classificação mais detalhada é feita, baseada na possível
toxicidade aguda para seres humanos, avaliada por testes feitos com diversas espécies
de animais, ou para o contato do produto tóxico com a pele ou olhos (servindo para
avaliar o risco durante a aplicação) ou ainda avaliada pela possibilidade de
contaminação ambiental e riscos ecológicos (Tab.1). Desta forma, os agroquímicos
podem ser organizados em classes, segundo seu potencial de toxicidade.
Deve-se
lembrar, entretanto, que esta classificação baseia-se na toxicidade aguda, ou seja, em
concentrações diretamente aplicadas a partir das quais observa-se a morte da metade da
população da espécie (LD50 ou LC50). Entretanto, a toxicidade crônica, que implica no
estudo dos efeitos tóxicos a longo prazo, é bem mais complicada e, neste caso, estudos
mais detalhados precisam ser feitos.
Tabela 1 - Classes de toxicidade dos agroquímicos segundo a Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos (US-EPA)
Classe
Definição
Especificação no rótulo do
produto
I
Altamente tóxico
Perigo-Veneno
II
Moderadamente
tóxico
Alerta quanto ao uso
III
Levemente tóxico
Cautela no uso
IV
Praticamente
não-tóxico
-
Características da toxicidade aguda
observada em animais
LD50 oral: 0-50 mg/kg
LD50 dérmica: 0-200 mg/kg
LC50 inalação: 0-0,2 mg/kg
Irritação nos olhos/pele: severa
LD50 oral: > 50-500 mg/kg
LD50 dérmica: > 200-2000 mg/kg
LC50 inalação: > 0,2-2 mg/kg
Irritação nos olhos/pele: moderada
LD50 oral: 500-5000 mg/kg
LD50 dérmica: > 2000-20.000 mg/kg
LC50 inalação: > 2-20 mg/kg
Irritação nos olhos/pele: leve
LD50 oral: > 5000 mg/kg
LD50 dérmica: > 20.000 mg/kg
LC50 inalação: > 20 mg/kg
Irritação nos olhos/pele: nenhuma
Fonte: NUNES e SANTOS (2002).
39
2.7 Cultivo mecanizado soja
2.7.1 Origem e produtividade da cultura de soja
A Soja (Glycine max) é uma cultura anual pertencente à família Fabaceae,
das leguminosas, como o feijão, a ervilha e a lentilha. É originária da Ásia, nordeste da
China. Começou a ser cultivada na América do Sul em maior proporção na década de
60, e os produtores latinos mais importantes nesse período – Brasil e Argentina –
tornaram-se sérios concorrentes do líder do mercado, os Estados Unidos
(ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006). A Foto 3 (Anexo 1) evidencia a soja sob
diversas formas.
As variedades modernas chegam a um metro de altura, num ciclo de
desenvolvimento de 90 a 120 dias. De todas as culturas, a soja é a que fornece a maior
quantidade de proteínas por hectare, (cerca de 1 ton). A Fig. 4 apresenta a composição
nutricional dos grãos de soja.
14%
3%
40%
18%
Proteinas
Carboidratos
Gorduras
Fibras
25%
Agua
Figura 4 – Composição nutricional do grão de soja.
Fonte: Articulação Soja Holanda (2006).
A produtividade dessa cultura varia entre 1,5 a 3 toneladas por hectare. Em
condições normais, o rendimento de grãos varia de 2.200 a 3.000 kg/ha-1 (MIRANDA
et al., 1998). As plantas de soja formam uma relação simbiótica com a bactéria do
gênero Rhizobium e fixam o nitrogênio absorvido do ar, exigindo uma quantidade
relativamente pequena de adubação nitrogenada.
40
O preço histórico da soja em grão situa-se em torno de 200 dólares/ton. É
cultivada tanto em pequena escala (agricultura familiar) quanto em grande escala
(propriedades mecanizadas). A safra é armazenada de maneira centralizada em grandes
silos.
2.7.2 Utilidades da soja
Como já observado na fig 4, a soja é uma boa fonte de proteínas, sendo
muito utilizada na alimentação humana e de animais, em grãos ou industrializada para a
produção de óleo de cozinha, ração animal, massas para tortas, pães, leite, queijos, e até
como substituta da carne (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
O óleo de soja é o óleo vegetal mais consumido no mundo, mas a maior
parte da soja produzida mundialmente é utilizada para ração animal. O farelo de soja e
os grãos de soja torrados são excelentes para fabricação de ração animal para aves,
suínos, gado de corte e leiteiro.
Nos últimos anos, o consumo de soja sofreu um grande aumento em todo o
Planeta, de aproximadamente 100 milhões de ton em 1990, para mais de 200 milhões de
ton em 2005. Este crescimento foi causado pelo aumento mundial no consumo de carne
e pela crescente participação da soja nas rações animais, especialmente na Europa e na
Ásia (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006). A Fig. 5 demonstra como na
Holanda, por exemplo, a maior parte da soja que entra é processada para a fabricação de
ração animal, em especial para suínos.
Mundo (223 milhoes ton)
14%
Holanda (3,7 milhoes ton)
20%
3%
3%
Alimento
Raçao animal
66%
Alimento
94%
Industria
Raçao animal
Industria
Figura 5 - Consumo de soja no mundo e na Holanda.
Fonte: Articulação Soja Holanda (2006).
41
Na década de 90, ocorreu um grande aumento na demanda de soja na União
Européia, devido à proibição no uso de farinha de ossos como integrante da ração
animal – Epidemia da “vaca louca”. O crescimento populacional e a prosperidade
registrada em alguns países estimularam o consumo desse vegetal. A população
mundial dobrou entre 1950 – 2000, enquanto a produção de carne quintuplicou
(ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
Estima-se que, em 2050, nove bilhões de pessoas habitarão o planeta e a
produção atual de carnes, de 233 bilhões kg/ano, dobrará novamente. A tendência de
aumento no consumo de carne é bem visível numa nação soberana e emergente como a
China. Em seis anos, o consumo de carne pelos chineses aumentou mais de 85% e,
como conseqüência, de país exportador, passou a ser o maior importador de grãos de
soja (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
Como evidenciado na Fig. 6, a maior parte da soja importada pela Europa é
processada para produzir ração animal. Cerca da metade da soja é importada em grão. O
grão que sofre o crushing, resulta em 79% de farelo de soja, 18% de óleo de soja bruto e
3% de fibras (cascas); a outra parte chega na forma de farelo (farinha de soja ou pellets).
Ao ser refinado, o óleo de soja bruto produz óleo de soja e lecitina, emulsificante muito
utilizado em indústrias alimentícias (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
3%
18%
Farelo de soja
Oleo de soja
Fibra de soja
79%
Figura 6 – Produtos derivados do esmagamento de soja (Crushing).
Fonte: Articulação Soja Holanda (2006).
42
2.7.3 A soja na América do Sul
Como já mencionado, a soja é originária da Ásia (nordeste da China), mas
após a 2ª Guerra Mundial os Estados Unidos alcançaram, rapidamente, o posto de maior
produtor dessa cultura. A partir dos anos 60, a produção de soja se expandiu na América
do Sul e, nos últimos tempos, de maneira explosiva, devido à crescente demanda de
carnes e ovos na Europa e Ásia Oriental. O Brasil e a Argentina já se mostram como
grandes competidores dos Estados Unidos. A produção mundial de soja entre 20052006 foi de 233 milhões de toneladas (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
A maior parte da soja produzida na América do Sul é exportada,
principalmente para a Europa. A Holanda é o maior importador do produto com 11
milhões de ton de grão e farelo; destes, 3,7 milhões de ton são consumidos neste país e
o resto em países próximos. A China é o 2º maior importador. De out/2003 até set/2004,
a Argentina exportou 94% de sua produção total, 78% da qual na forma de farelo de
soja e óleo. Nesta mesma época, o Brasil exportou 76% da produção total; destes, 46%
na forma de farelo de soja (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
No sul do Maranhão, a região de Balsas, começou a produzir soja desde
1992 para o mercado externo e desse período em diante a expansão da cultura é
evidenciada em nível nacional e mundial.
A partir da safra 2000/01 a área plantada de soja nos Estados do Maranhão,
Piauí e Tocantins cresceu 96,2%, de 430 mil para 834,9 mil hectares na atual safra,
conforme a Companhia Nacional de Abastecimento, CONAB (BOUÇAS, 2008).
Para especialistas, além da questão ambiental, a melhoria logística – com a
conclusão das obras nos portos Ponta da Madeira e São Luís – e o crescimento
da economia no Norte e Nordeste estimularam a expansão de área com soja nos três
estados e, assim, a instalação de indústrias na região, como Bunge, Cargill, Agrenco e
Grupo Algar. A maior parte dos investimentos realizados e projetos em fase de estudos
concentra-se no Maranhão. O Porto de Itaqui (MA) está a seis dias de navegação mais
perto da Europa que qualquer outro porto do país, e o custo de frete é menor em função
da distância entre Centro-Oeste e Maranhão, e da opção de uso da malha ferroviária.
A Agrenco investiu US$ 10 milhões nos últimos três anos em silos para
armazenar soja em Balsas (MA) e agora estuda investir US$ 150 milhões em um
43
complexo no Maranhão voltado para o esmagamento de soja e a produção de biodiesel
e de etanol, utilizando grãos produzidos no Maranhão, Tocantins, Piauí e norte do Mato
Grosso (BOUÇAS, 2008).
A empresa ABC Inco, do Grupo Algar, investiu R$ 220 milhões em um
complexo industrial em Porto Franco (MA), com capacidade para processar 650 mil
toneladas de soja por ano e que começa a operar em abril fará investimentos em
terminais no porto de Itaqui e em uma usina de biodiesel, entre 2007 e 2008. Em 2003,
a Bunge investiu R$ 420 milhões em uma usina de esmagamento em Uruçuí (PI), com
capacidade para processar 2,2 mil toneladas de soja por dia. Segundo a diretoria da
empresa, a escolha deveu-se à proximidade com o porto de Itaqui (BOUÇAS, 2008).
2.7.4 O crescimento da soja enquanto produto de exportação
No Brasil e na Argentina, produtores mais importantes da América do Sul, o
cultivo de soja começou na década de 60. No Brasil, a soja era cultivada, principalmente
nos estados do sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e, na Argentina, em
pequena escala nas províncias do norte. Naquela época, o plantio era feito em rotação
com outras culturas. No início dos anos 70, a demanda por culturas oleaginosas e ricas
em proteínas cresceu instantaneamente, devido em grande parte às frustrações de safra
do amendoim nos países da região do Sahel, na África, ao declínio nas safras dos
Estados Unidos e ao aumento da demanda de soja da União Soviética
(ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
Em decorrência disso, os governos argentino e brasileiro estimularam seus
agricultores a cultivar a soja. A superfície ocupada na Argentina e no Brasil, em 1976,
passou de 6,8 milhões de hectares para 36,7 milhões de hectares em 2005, proporcional
a dez vezes a área da Holanda. Os países vizinhos – Paraguai e Bolívia – também
observaram na soja uma oportunidade econômica. A demanda continuou e, em 15 anos,
a soja passou a ser o principal produto de exportação para estes quatro países
(ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
As exigências do mercado fizeram com que investimentos em infra-estrutura
fossem mais marcantes e os produtores brasileiros que tinham fácil acesso a crédito com
juros subsidiados puderam financiar a abertura de novas terras para cultivo no Cerrado
44
e aquisição de máquinas, adubos químicos e agroquímicos. Assim, a monocultura
(cultivo mecanizado de soja), tornou-se um dos setores mais importantes da Agricultura
na América do Sul. No Maranhão, a expansão dessa cultura teve início na década de 80.
Grandes empresas agroindustriais, o comércio e os governos nacionais
tiraram proveito da demanda no exterior. Através de investimentos em melhoramento
genético, a produtividade por hectare cresceu e a planta subtropical foi adaptada às
condições edafoclimáticas regionais, possibilitando que a área cultivada se difundisse
até as regiões tropicais da Bolívia e do Brasil, de forma que, no Brasil, as
produtividades iniciais de 30 sacas por hectare saltaram para 50 sacas por volta do
quinto ano e para 60 sacas próximo ao décimo (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA,
2006).
O reconhecimento desse fato leva a inferir que a produtividade média
brasileira, que já é a maior do mundo, deverá continuar crescendo de modo acelerado
nos próximos anos (FNP, 2002).
Na Argentina, em 1996, a multinacional Monsanto, introduziu a soja
geneticamente manipulada (transgênica), a chamada soja “RoundUp Ready” que é
resistente ao herbicida RoundUp (glifosato) também produzido pela multinacional.
No final do século 20, ocorreu em toda a América do Sul uma crise
econômica. Sobre pressão de organismos internacionais, como o Fundo Monetário
Internacional (FMI), os países sul-americanos optaram por um modelo agrícola
exportador, o que possibilitaria o pagamento da considerável dívida externa. A soja
passou a desempenhar um papel fundamental neste modelo econômico.
2.7.5 As conseqüências negativas do cultivo da soja
Sendo uma planta susceptível aos danos provocados por insetos, doenças e
plantas oportunistas, a cultura da soja acaba necessitando da aplicação em larga escala,
de agroquímicos, para manter a produtividade. Como a demanda do mercado exige
maior produtividade, o cultivo da soja acarreta sérios problemas ambientais
(desmatamento, erosão, degradação do solo) e sociais (conflitos agrários, violação dos
direitos humanos – grilagem, trabalho escravo, pobreza, êxodo rural), contribuindo para
a destruição dos ecossistemas.
45
2.7.5.1 Problemas ambientais
O desmatamento, em decorrência do avanço da sojicultura, que atinge
especialmente as áreas de cerrado e florestas, tem sido hoje uma das principais causas
de perda de biodiversidade. De modo geral, o desmatamento na América do Sul é duas
vezes maior do que a média mundial, e os países produtores de soja são os que
apresentam porcentagens ainda maiores (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
Quando a expansão da soja ocorre em regiões que já praticam a agricultura e a pecuária,
a soja desloca estas atividades para as regiões vizinhas. A Fig. A (Anexo 2) mostra o
processo de expansão ocorrido com a cultura da soja, na América do Sul, no período de
1995-2003; as setas indicam a tendência da expansão.
Ecossistemas naturais, como savanas e florestas, retêm água na vegetação e
no solo. Sem vegetação, o sistema fica desequilibrado e o solo mais propenso à erosão,
perdendo instantaneamente sua fertilidade (Foto 4, Anexo 1).
Em decorrência do plantio de soja, a taxa de evaporação é quadruplicada,
quando comparada com a vegetação nativa; o solo se aquece e perde umidade mais
rapidamente, tornando a região com baixa umidade relativa do ar e com altas
temperaturas. Além disso, ocorre um rebaixamento do lençol freático e a seca das
nascentes d’água. Rios e barragens são assoreados com os sedimentos transportados
pela água, tendo impacto negativo sobre a vida aquática e a navegabilidade dos rios; os
agroquímicos são levados pela água das chuvas até os rios, comprometendo não
somente os seres aquáticos, mas a saúde do homem e de outros animais que fazem parte
desse ambiente (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
Por meio da Fig. 7 verificam-se as várias formas de entrada dos
agroquímicos no ambiente, com ênfase na contaminação dos lençóis freáticos.
46
Figura 7 - Evaporação excessiva, lixiviação de insumos e contaminação do solo.
Fonte: NUNES (1999).
2.7.5.2 Problemas sociais
Os latifundiários e as grandes empresas, na ganância de obter mais terras,
por meio de, por exemplo, desmatamento ilegal e apropriação das terras, utilizam
documentos falsos – grilagem – provocando, regularmente, violentos conflitos com
comunidades locais e povos tradicionais. Muitas das vezes, os grandes produtores de
soja invadem também áreas de preservação ambiental e reservas indígenas, visto que os
órgãos governamentais responsáveis pela vigilância e fiscalização quase não dispõem de
recursos humanos e infraestrutura suficiente para realizar o controle no uso da terra, ou
são facilmente manipulados, agindo contra o patrimônio público e a Natureza. No
período entre 1997-2002, em todo o Brasil, o número de conflitos agrários aumentou
cerca de 12%, ocasionando trágicas mortes (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA,
2006).
Nos desmatamentos para implantação de novas lavouras de soja, as
condições de trabalho são as piores possíveis. Os trabalhadores são mal remunerados, as
condições de alojamento são precárias e não há assistência médica. Também ocorre o
chamado “trabalho escravo moderno”, onde os trabalhadores são obrigados a trabalhar
47
para pagar os adiantamentos recebidos na forma de transporte, vestuário, alimentos,
bebidas e cigarros.
Devido ao elevado grau de modernização na agricultura, cada vez menos
agricultores cultivam cada vez mais terras; isto contribui para que ocorra uma
diminuição significativa na população rural e, como conseqüência, aumento da
população urbana. Uma propriedade moderna de plantio de soja ocupa de mil a 10 mil
hectares, com algumas chegando a 50 mil hectares. Quanto maior a área, menor o custo
por hectare, ocorrerá menos entradas no sistema e pouca necessidade de mão-de-obra,
muitas vezes mais barata. Com o uso de tratores, colhedeiras e aplicação de agroquímicos via aérea, gera-se de um a dois empregos a cada 400 hectares
(ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
Os problemas sociais também são gerados em nível agroindustrial. Quando a
multinacional Bunge construiu sua indústria de processamento de soja no município de
Uruçuí/PI, por exemplo, prometeu que o empreendimento geraria 500 empregos diretos
e 10 mil indiretos. Na realidade, foram gerados apenas 70, principalmente técnicos e
engenheiros que chegaram de outras regiões do país. A população regional só teve
oportunidade de empregos temporários e não-especializados, na fase de implantação do
agronegócio (afirmação feita por Daniel Rocha, membro da comunidade Sonhem
Fazenda) próxima à região de Balsas-MA.
Em contrapartida, na agricultura familiar, os mesmos 400 hectares geram
trabalho para 80 pessoas no Norte do Brasil. A soja também substitui produtos que
precisam de muita mão-de-obra, como o algodão e a cana-de-açúcar. Como a soja é um
produto de exportação, principalmente na sua forma bruta, o setor apresenta também um
número reduzido de empregos na indústria de processamento. Além disso, devido à
isenção de impostos, aqui no Brasil, para produtos deste tipo, a soja não traz benefícios
para os governos locais (ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA, 2006).
Por causa desses inúmeros problemas, o quadro social é preocupante. Com
número de empregos reduzido na zona rural, ela se esvazia; o crescente número de
migrantes de baixa escolaridade que vão para a zona urbana, onde têm pouca ou
nenhuma oportunidade de emprego, tem levado à pobreza, ao aumento da criminalidade
e à prostituição, principalmente nos grandes centros.
48
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Aspectos gerais da região de estudo
O povoado de Sonhem localiza-se a 120 km do município de Loreto, ao sul
do Maranhão, região que se encontra em uma zona de cerrado, sendo área de prioridade
para preservação desde 2002 pelo PNUD – Plano das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Fig. 8).
O acesso ao povoado, no sentido Loreto-Sonhem, dá-se por caminhos e
ramais, cortando o cerrado, e, no sentido Balsas-Sonhem, através da BR 324, que liga
Balsas a Uruçuí/PI.
Figura 8 - Áreas pertencentes ao Bioma Cerrado e Pantanal, consideradas prioritárias
para o Desenvolvimento Sócio-Econômico.
49
É uma região típica do cerrado maranhense, recortada por riachos e rios que
deságuam nos rios Paranaíba e Balsas. Em função das terras dessa região estarem entre
estas duas bacias, tornou-se comum chamá-las de “Ilha de Balsas”. O relevo é marcado
por chapadões e chapadas, onde estão as nascentes (Anexo 1, foto 5) desses riachos,
inclusive do riacho Sonhem, que dá nome ao povoado (JORNAL VEREDAS, 2004).
Nas chapadas, bem próximos aos corpos d´água, estão implantados projetos
de monocultivos de grãos, financiados por empresas agroindustriais como Cargil e
Bunge, que vêm multiplicando suas ações no cultivo de monoculturas pelas chapadas
brasileiras. Há muito, a região vem sentindo os resultados devastadores dessas
monoculturas, principalmente a de soja. Uma extensa variedade de espécies de plantas
e animais nativos tem sido perdida, em função dos desmatamentos e do uso intensivo de
agroquímicos. O resultado tem sido uma grande devastação e a degradação ambiental
afetando de forma decisiva a população local.
O Riacho Sonhem possui uma extensão de aproximadamente 45 km, desde a
sua nascente, no município de Loreto, até a sua Foz, no Rio Parnaíba. Estima-se que os
grandes empreendimentos agrícolas na zona acima do riacho têm provocado
consideráveis impactos na biota aquática, e provavelmente danos à saúde humana.
Recentemente, o Fórum Carajás iniciou o “Projeto Sonhem”, cujo objetivo principal é a
recuperação do rio e o desenvolvimento de uma consciência ecológica na comunidade
jovem. Este Projeto tem apoio do ISPN (Instituto Sociedade População e Natureza),
mediante do Programa de Pequenos Projetos (PPP), programa do Fundo para o Meio
Ambiente Mundial (GEF) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) que concede pequenas doações a organizações não-governamentais e de base
comunitária para atividades que abordem as áreas focais e os programas operacionais do
GEF e que, ao mesmo tempo, resultem na melhoria da qualidade de vida das populações
envolvidas. O PPP focaliza as interrelações entre grupos locais e seu meio ambiente e a
promoção de meios sustentáveis de vida (JORNAL VEREDAS, 2004).
Durante as missões de estudo em campo, foram avaliados os fatores
ambientais, na região, decorrentes do avanço da monocultura de soja.
50
3.2 Pesquisas de campo
A pesquisa foi fundamentada em cinco etapas, denominadas “missões de
campo”, realizadas durante o período de set/2006 a Jul/2007, em diferentes períodos
sazonais, e com duração total de 3 a 4 dias cada. Em cada missão, foi feito o
levantamento dos agroquímicos mais utilizados nas localidades visitadas no Sonhem
(Sonhem Buritirana, Sonhem Santa Maria, Sonhem Palmeira, Sonhem Fazenda,
Sonhem Vargem Grande e Sonhem Trindade), que se localizam no município de
Loreto-MA.
Também foram levantados dados referentes ao uso e ocupação do solo, às
práticas agrícolas utilizadas pela população, incluindo-se, no estudo, informações
colhidas junto às organizações não-governamentais, como o Fórum Carajás. Os
levantamentos foram feitos na forma de questionários e avaliações, traçando-se, após
tabulação dos resultados, o perfil qualitativo e quantitativo da área e da população em
estudo.
Nos domicílios e propriedades, foram realizadas entrevistas e aplicado um
questionário semi-estruturado (Anexo 3), constituído de uma série ordenada de
perguntas. Os questionários foram preenchidos no local visitado, tendo sido aplicados
em uma população amostral de 35 pessoas, com o objetivo principal de realizar o
levantamento de informações relacionadas à aplicação dos agroquímicos entre as
famílias de agricultores pertencentes às populações ribeirinhas que trabalham com
algum tipo de cultivo agrícola, além de verificar a situação sócio-econômica destas
famílias.
Por ocasião de missões de campo, foram realizadas coletas das águas do
Riacho Sonhem, em especial na época da aplicação dos agroquímicos pré-emergentes
(herbicidas) e inseticidas (Anexo 1, Foto 6).
51
3.3 Coletas de amostras de água do riacho Sonhem
As amostras de água do Riacho Sonhem foram coletadas em cinco etapas,
em sete pontos de coleta. A primeira coleta aconteceu no mês de set/2006; a segunda,
em nov/2006; a terceira, a quarta e a quinta, nos meses de jan, abr e jul/2007,
respectivamente.
Amostras contendo 350 mL de água foram coletadas em diferentes
profundidades – na superfície e a ½ profundidade – em sete pontos, em frascos âmbar.
Após a coleta, as amostras foram conservadas sob refrigeração até antes da análise dos
resíduos de pesticidas. Os pontos de amostragem foram definidos em função da sua
proximidade com áreas agrícolas (Tab. 2). A Fig. 9 representa a bacia do nordeste, o
estado do Maranhão, o município de Loreto (sul do estado), destacando a região onde se
encontra a comunidade de Sonhem, com indicação dos pontos de coleta de água.
Tabela 2. Pontos de amostragem para coletas de água no Riacho Sonhem
Loreto (Comunidade Sonhem) - 2006-2007
Ponto
A (Juarez)
B (Pedro)
C (Cabral)
D (Graça)
E (Ranúbio)
F (Aldenir)
G (Maria)
Descrição da área
Coberta por vegetação variada, incluindo
mangueiras, bananeiras e plantas nativas.
Área relativamente larga do riacho, com menos
profundidade.
Foz do riacho. Um dos pontos mais estreitos do
riacho, contudo, de maior profundidade.
Área larga do riacho contém mangueiras próximas
ao riacho.
Área bem larga do riacho, coberta por grandes
mangueiras.
Vegetação com buritis, abacateiros, mangueiras e
plantio de hortaliças.
Nascente do riacho. Apresenta plantação de
mandioca, milho, goiabeiras, mangueiras e
hortaliças.
Proximidade com:
Residência e plantações
Plantações de mandioca, babaçu
e hortaliças
Plantações de mandioca, feijão e
milho.
Quintal da residência
Residência
Residência
Rodovia
004
Uruçui/PI)
(Balsas
–
Obs: Os nomes próprios, entre parênteses, correspondem às pessoas que residem em área próxima ao ponto de coleta de água do
Riacho Sonhem.
52
Figura 9 - Mapa da região investigada, com pontos de amostragem destacados.
Fonte: Google (www.google.com.br/maps)
3.4 Metodologias analíticas para determinação dos resíduos de agroquímicos
As análises dos resíduos de agroquímicos foram feitas no Núcleo de Análise
de Resíduos de Pesticidas – NARP/UFMA e no Laboratório BIOMEM da Universidade
de Perpignan, França. Para análise dos compostos em estudo e seus principais produtos
de degradação, foram previamente estabelecidas as condições analíticas.
O preparo das amostras foi realizado no Laboratório do NARP – Núcleo de
Análises de Resíduos de Pesticidas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Este preparo consistiu na extração dos agroquímicos, seguida da pré-concentração dos
extratos, para que os princípios ativos atingissem os limites de detecção dos testes de
ELISA.
Para extração dos inseticidas carbamatos, organofosforados, organoclorados
e piretróides, nas amostras de águas, foram empregados procedimentos já otimizados no
NARP (NUNES, 2005). Em alguns casos, foram utilizados Kits de ELISA (Enzymelinked sorbent Assay), específicos para determinados grupos de agroquímicos, ou para
um único princípio ativo, em substituição às análises cromatográficas (NUNES, 2005).
53
A Tab. 3 fornece informações sobre os tipos de ELISA utilizados para análises das
amostras.
Os compostos analisados foram selecionados, não só em função da
disponibilidade de kits no laboratório, mas também em função da possibilidade de
ocorrência de resíduos dos agroquímicos, de acordo com informações prévias, obtidas
durante as coletas e os trabalhos de campo (Tab. 3). Os níveis de sensibilidade dos Kits
foram adequados para as análises, uma vez que se procurou selecionar sistemas
analíticos com limites de detecção abaixo de 0,1 µg.L-1 (0,1 ppb), que é o valor máximo
de resíduo estabelecido pela legislação internacional para resíduos de agroquímicos
individuais (BARCELÓ e HENNION, 1997).
54
Tabela 3. Informações sobre os Kits de ELISA utilizados para análises das amostras de água
Identificação
do Kit*
EP-001
EP-014
EP-021
Pesticida ou grupo de
pesticidas analisado
Acetanilidas (grupo de
herbicidas sistêmicos
seletivos)
Inseticidas inibidores da
enzima
acetilcolinesterase
(carbamatos e
organofosforados)
Inseticidas
organoclorados (nãosistêmicos, como
ciclodienos e DDT)
EP-012
Piretróides sintéticos
EP-003
Triazinas (herbicidas
sistêmicos seletivos)
EP-026
Benomil/Carbendazim
(fungicidas sistêmicos)
EP-023
Paraquat (herbicida de
contato não-seletivo)
EP-025
Paration (inseticida
organofosforado)
EP-019
Isoproturon (herbicida
sistêmico seletivo)
EP-002
Aldicarb (inseticida
sistêmico, acaricida e
nematicida)
EP-004
Clorpirifós (inseticida
organofosforado, nãosistêmico)
Tipo de ensaio
Faixa de
trabalho
(µg.L-1)
Limite de
detecção
(µg.L-1)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
0,04 – 1,0
0,03
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios)
0,2 - 50
0,1
10 - 20
6
-
0,5
0,04 - 4
0,01
50 - 100
40
0,02 – 1,0
0,01
0,04 – 4,0
0,023
0,05 – 2,0
0,005
3 - 100
2,6
0,3 – 6,0
0,3
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
Imunoensaio ELISA (kit
contendo placas com
micro-orifícios cobertos
com anticorpos)
* Empresa: EnviroLogix® (Portland, Maine, EUA).
55
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Resgate da história do uso de agroquímico na região estudada
Até alguns anos, a presença de agroquímicos na água era de difícil
verificação, não só pela falta de bibliografia, mas de pesquisas que avaliassem a sua
contaminação. Agora, elas já podem e estão sendo realizadas em laboratórios
específicos.
Até o ano de 2006, ainda não existia um levantamento sobre a presença de
substâncias químicas no riacho Sonhem, por exemplo. Mas sempre existiu a
preocupação, por parte dos moradores, com a possibilidade de contaminação da água e
dos peixes por resíduos trazidos das fazendas. O que muitos moradores vêm
constatando, ao longo dos anos, é que houve uma diminuição no número de peixes do
rio, bem como de animais (rãs, pererecas, salamandras), e que a água tem sofrido sérias
alterações na sua turbidez e, provavelmente, nas suas características físico-químicas,
alterações estas que podem estar em alguns pontos, associados ao assoreamento dos
cursos d'água.
Neste estudo, vários relatos de ribeirinhos e agricultores foram coletados e
registrados, de forma a demonstrar, a partir do discurso da Comunidade, a perda da
biodiversidade provocada pela “moderna” agricultura ali praticada.
4.2 Perfil do informante
Foram aplicados 35 questionários semi-estruturados, em uma população
amostral consistindo de moradores dos povoados de Sonhem (Sonhem Buritirana,
Sonhem Palmeira, Sonhem Santa Maria, Sonhem Fazenda, Sonhem Vargem Grande e
Sonhem Trindade) como mostra a Tab. 4. A grande maioria dos informantes (40%) está
localizada no povoado de Sonhem Fazenda, local onde está a maior concentração de
moradias com melhor via de acesso, seguido do Sonhem Buritirana, que concentra
22,9% dos informantes.
56
Tabela 4 - Distribuição dos moradores da população amostral por povoado
Povoado
Sonhem Fazenda
Sonhem Buritirana
Sonhem Palmeira
Sonhem Trindade
Sonhem Trindade
Sonhem V. Grande
Numero de
Pessoas/Povoado
% em Relaçao à Amostra
Total
14
08
05
05
02
01
40%
22,9%
14,3%
14,3%
5,7%
2,9%
As faixas de idade das pessoas que participaram das entrevistas na amostra
foram distribuídas em intervalos de 15 anos, da seguinte forma: faixa 1 (20 a 35 anos),
faixa 2 (36 a 50 anos), faixa 3 (51 a 65 anos), faixa 4 (66 a 79 anos) e faixa 5 (idade
acima de 79 anos). Fazendo-se a relação entre o sexo e a idade da população amostral,
constatou-se que esta foi constituída, em sua maioria, de indivíduos do sexo masculino
(Tab. 5), onde a faixa 3 de idade vem se sobressair, associada ao sexo masculino, em
um percentual de 22,9%. A baixa presença de mulheres na amostra indica o pouco
acesso que se teve às pessoas do sexo feminino, pois as entrevistas eram feitas à medida
que se encontravam os agricultores no campo, nos ramais ou nas estradas.
Tabela 5 - Relação entre a idade e o sexo da população amostral entrevistada
Contage
m total
%
Faixa 1
(20-35
Anos)
Faixa 2
(36-50
Anos)
Faixa 3
(51-65
Anos)
1
2,9%
5
4
11,4%
7
3
8,6%
8
0
0%
6
0
0%
1
8
22,9%
33
14,2%
20%
22,9%
17,1%
2,9%
77,1%
Feminino
Masculino
Da população estudada, cerca de
brancos; 100%
Faixa 4
(66-79
Anos)
Faixa 5
(Acima de
79 anos)
Total
89% são constituídos de indivíduos
tem ensino fundamental incompleto e, quando alguém consegue
concluir o ensino fundamental, em geral vai cursar o ensino médio nas cidades
próximas, como Loreto, Balsas e Ribeiro Gonçalves (PI). Quase que em sua totalidade
(97% dos entrevistados) são nativos da região, e 3%, embora não sejam nativos,
residem há mais de 5 anos no local.
Observou-se que as famílias entrevistadas possuem baixa escolaridade,
conseqüentemente com um poder econômico baixo. Existe um prédio escolar na
57
Comunidade que em muito facilitaria a educação das crianças e jovens em todo o
processo ensino-aprendizagem, mas, infelizmente, encontra-se desativado e em total
abandono. Sem formação para sua inclusão no mercado de trabalho, as práticas
agrícolas, embora precárias e com equipamentos obsoletos, tornaram-se fonte de renda
principal e/ou alternativa para os jovens da região. Portanto, a roça é o único meio de
sobrevivência. Tais práticas são herdadas dos pais, aumentando, significativamente, o
nível de analfabetismo entre os jovens, com maior incidência para os homens, já que
não há um programa de alfabetização para os trabalhadores rurais na região que obedeça
aos horários de trabalho e aos períodos de safra/entresafra.
Outro dado alarmante relaciona-se com a falta de saneamento básico na
região. Cerca de 97% das famílias ribeirinhas entrevistadas bebem diretamente a água
do Riacho Sonhem, sem nenhum tipo de tratamento. Somente em três das residências
constatou-se a presença de poço do tipo cacimbão. Em todos os povoados visitados, os
moradores não utilizam sequer filtro, salvo em três moradias, sendo a água colocada em
tinas de barro e, às vezes, coada com pano. Assim, além da contaminação com resíduos
de agroquímicos, também devem estar presentes na água diversos tipos de
microrganismos patogênicos.
Em relação à alimentação utilizada, a grande maioria alimenta-se
principalmente de algumas espécies de peixes do riacho, tais como: traíra (Hoplias
malabaricus), piau (Leporinus sp.), cascudo (Rhinelepis aspera), mandi (Duopalatinus
emarginatus), piaba (Anchoviella vaillanti), dentre outras, que infelizmente pouco a
pouco vem desaparecendo do riacho. Contudo, algumas famílias criam aves, bodes ou
têm algumas poucas cabeças de gado para retirada de leite. Vez por outra, sacrificam
um desses animais e vendem a carne entre os moradores vizinhos.
4.3 Caracterização do sistema de produção agrícola regional
A principal ocupação no local é a roça, e o sistema de produção é o
tradicional, cultivando-se principalmente o arroz, o feijão, o
milho
e a
mandioca, além da batata doce, da abóbora, da melância e de algumas hortaliças. O
arroz e o feijão são plantados por todos, em uma área pequena (menor que um hectare),
sendo a produção destinada para consumo próprio.
58
A falta de assistência técnica no local é sentida, mas a comunidade já teve a
presença de dirigentes sindicais, técnicos de instituições de apoio – Fórum Carajás e
Associação Camponesa (ACA) – e outros setores da sociedade, para troca de
informações, mediante encontros e oficinas locais. O objetivo era estudar técnicas
alternativas de uso dos recursos locais (utilização de plantas repelentes nas hortas e nas
roças, além de formação de um banco de sementes naturais) e formas mais sustentáveis
de exploração, como o extrativismo, principalmente do coco babaçu, podendo ser
aproveitado na fabricação de óleo, carvão, ração para gado, trabalhos artesanais, etc.
Destaca-se também a cultura nativa do buriti. Além disso, a região possui uma ampla
variedade de plantas medicinais e frutas regionais que poderiam vir a ser fonte de renda
para inúmeras famílias, desde que um projeto para instalação de uma agroindústria fosse
instalado na região.
Os meses em que os agricultores mais plantam vão de dezembro a janeiro.
De acordo com os entrevistados, após os esclarecimentos quanto às técnicas mais
corretas na preparação do terreno para o plantio (capina, evitando-se a queimada), os
moradores se reúnem quando um agricultor vai plantar e, através de um mutirão, fazem
todo o trabalho sem o uso de herbicidas. Segundo os entrevistados, desde o ano de 2004
-2005, não se utilizam mais agroquímicos nas plantações, exceção feita a um produtor
que vive próximo à rodovia e nascente do riacho Sonhem, que vez por outra faz uso de
agroquimicos, em especial os herbicidas Propanil (nome comercial: Agripec) e 2,4-D
(nome comercial: Tordon).
O propanil e o 2,4-D são compostos que apresentam, respectivamente,
elevado e médio potencial de lixiviação, com propensão à contaminação de águas
superficiais; assim sendo, não é de se estranhar que possam ser encontrados resíduos
desses princípios ativos nas águas do Riacho Sonhem, já que são aplicados em plantios
de soja nas fazendas próximas à comunidade de Sonhem. Contudo, este pequeno
agricultor ainda teima em usar herbicidas, mesmo participando de todas as reuniões e
encontros dos moradores da região, até mesmo em Loreto e em Balsas.
Alguns dos trabalhadores entrevistados mencionaram que, no início da
implantação das grandes fazendas de soja, na ilusão de emprego, foram trabalhar nas
propriedades e, que, por ocasião da aplicação de agroquímicos, sem uso de equipamento
de proteção individual (EPI’s) adequados, sentiram vários sintomas de intoxicação.
Mencionaram, ainda, que conhecem ou sabem de outras pessoas que também sentiram
59
os mesmos sintomas. Na época, poucos sabiam que essas substâncias provocavam
doenças e danos aos ecossistemas ou aos seres vivos, em decorrência do uso incorreto.
Também, poucos foram os trabalhadores que procuraram um posto de saúde quando
acometidos por alguns dos sintomas mais comuns, como dores de cabeça, náuseas, etc.,
preferindo tratar-se com remédios caseiros, e, muitas vezes, sequer desconfiaram que
tais sintomas pudessem estar associados às intoxicações por agroquímicos.
Somente, um dos entrevistados, um agricultor de 30 anos, afirmou que no
trabalho em uma das fazendas de plantação de soja sentiu tontura, dor de cabeça,
vômitos, necessitando ficar internado durante 3 dias, retornando ao hospital após 24
horas, por ainda não se encontrar em boas condições físicas.
Infelizmente, estes fatos, embora verdadeiros, não nos permitem ter
estatísticas confiáveis a respeito dos casos de intoxicação por agroquímicos na região,
uma vez que não existe no estado do Maranhão um serviço integrado com os hospitais,
clínicas e postos de saúde, para notificação aos organismos estaduais de controle (por
exemplo, a Vigilância Sanitária Estadual) sobre os casos de intoxicação e morte por
agroquímicos.
Os indicadores clínicos (bioindicadores), tais como, morbidade genérica e
especifica (sinais/sintomas de diferentes sistemas do corpo humano), avaliações clínicas
(pruridos, dermatoses de mãos e pés, cloracne, conjuntivite química, coriza, irritação
nasal, tosse, etc.), distúrbios neurológicos (tonturas logo após as aplicações, náuseas,
irritabilidade, distúrbio no sono, etc.) e sintomas de intoxicações agudas, relacionados
às exposições a agroquímicos, quando devidamente identificados e notificados,
serviriam para mapear, no Estado, as regiões onde os casos de intoxicações com estes
venenos são mais freqüentes, locais estes que carecem de rápida interferência por parte
do poder público.
No Brasil, a portaria nº 020/CONAMA, de 18.06.86, estabelece limites
máximos de contaminantes em águas dependendo de seu destino; sendo que, dentre
estes, estão alguns pesticidas organoclorados, organofosforados e carbamatos. A
Resolução 36/GM de 19.01.90 do Ministério da Saúde (Padrão de Potabilidade de Água
Destinada ao Abastecimento de Populações Humanas) estabelece limites de pesticidas
em águas destinadas ao consumo humano. No entanto, estas legislações não
contemplam a maioria dos pesticidas em uso atualmente, como por exemplo: inseticidas
piretróides e a maioria dos herbicidas. É importante enfatizar que existe, ainda hoje,
60
muita controvérsia com relação aos efeitos tóxicos crônicos dos pesticidas para o ser
humano, principalmente quando consumidos em baixas doses ao longo de toda uma
vida. Isto indica a necessidade de desenvolver estudos sobre a presença de resíduos no
ambiente e seus efeitos sobre a saúde (DORES e LAMONICA-FREIRE, 2001).
Na maioria dos estados do Brasil, estudos epidemiológicos e toxicológicos,
relacionados com o uso dos agroquímicos já vêm sendo conduzidos, devido aos
crescentes casos de intoxicação. Assim, programas de vigilância epidemiológica em
intoxicações por agroquímicos já estão sendo desenvolvidos na maioria dos estados das
regiões Sul e do Sudeste, e já se pode verificar, nestes estados, grande melhoria, no
tocante às políticas públicas voltadas para o controle dos resíduos de agroquímicos no
ambiente e nos alimentos, e a paulatina eliminação das intoxicações, por meio de
medidas educativas.
No Maranhão, lamentavelmente ainda não se tem nenhum programa deste
tipo implantado e em funcionamento, e a desinformação geral não possibilita a
implementação de medidas similares.
No caso do município de Loreto, onde se encontra o Riacho Sonhem, não
foi feito nenhum levantamento de dados clínicos no hospital municipal, que constatem
casos de intoxicação direta ou intoxicação progressiva, mas com certeza se tivessem
feito, o resultado seria positivo e a causa provável da ocorrência seria o inadequado uso
de agroquímicos, ou mesmo do consumo de água ou alimentos contaminados.
Com relação ao atendimento médico e hospitalar, é oportuno comentar que,
na maioria dos casos de acidentes, doenças de qualquer natureza e parto, grande parte
dos moradores de Sonhem procura atendimento em Ribeiro Gonçalves/PI, por achar
mais facilidade e melhor qualidade dos serviços.
Logo que ocorreu a implantação das grandes fazendas de soja na região, não
havia acompanhamento de nenhum órgão oficial, no sentido de prestar algum tipo de
orientação aos agricultores, com relação às técnicas de plantio e ao uso adequado de
agroquímicos. Hoje, já existe um precário acompanhamento de órgãos do estado, mas
com remota fiscalização.
As práticas agrícolas, principalmente das grandes fazendas, têm sido as
principais responsáveis pelos impactos no meio aquático, com conseqüente diminuição
da biota. Isso se pode afirmar em função de não haver outras atividades de elevado
potencial poluidor na região, como por exemplo, indústrias ou mineradoras. Os próprios
61
moradores locais já perceberam que, ao longo dos anos, a paisagem do Riacho Sonhem
vem mudando com relação à quantidade e à qualidade dos peixes; todos os
entrevistados mencionaram o desaparecimento ou a diminuição de algumas espécies de
peixes, tais como traíra, cascudo, mandi e piaba.
Dos pequenos agricultores entrevistados, 100% responderam que não
utilizam agroquímicos; 95% reconheceram ser uma prática criminosa plantar nas
margens dos rios, mas o fazem; 99% ainda criam animais (bode, gado bovino), que se
alimentam das plantas nativas das matas ciliares, e apenas 1 (um) agricultor ainda utiliza
agroquímicos.
Com relação ao destino das embalagens dos agrotóxicos, pode-se constatar,
através das conversas com os moradores, que, quando estes usavam os produtos,
queimavam as embalagens ou as enterravam a certa profundidade. Segundo relatam,
costumavam usar uma quantidade muito pequena de agroquímicos. Convém mencionar
que a queima de polímeros contendo cloro (como é o caso da maioria dessas
embalagens), leva à formação de dioxinas, substâncias gasosas de maior toxicidade já
produzidas pelo homem.
Este tipo de problema não acontece com os grandes produtores, pois estes
aplicam os produtos químicos em elevadas quantidades, sendo feita na maioria das
vezes à aplicação aérea. Neste caso, a contaminação é direta, sendo favorecida pelos
ventos e pelas precipitações pluviométricas. É significativa, portanto, a contaminação
do solo, das águas superficiais e até subterrâneas. Não foi investigado o destino final
das embalagens dos produtos usados pelos grandes agricultores na região, mas vale
destacar que a pulverização aérea tem provocado um sério problema de contaminação
dos solos e do ar, não só pelo lixo gerado, mas também pela presença dos restos dos
princípios ativos que sempre ficam dentro dos próprios frascos; as embalagens plásticas
levam dezenas de anos para se decompor, e a água das chuvas pode carrear os resíduos
de agroquímicos para o rio, podendo atingir o lençol freático mais próximo. Ao longo
do tempo, um impacto, que a princípio pode ser considerado de abrangência pontual,
pode vir a tornar-se regional ou mesmo global, devido ao volume de poluentes
atmosféricos gerados.
Com relação ao armazenamento dos recipientes de agroquímicos, a maioria
dos entrevistados (95%) afirmou que, quando usava os produtos, guardava os frascos
cheios dentro da sua própria casa. Uma pequena fração dos pequenos trabalhadores
62
rurais entrevistados (5%) disse utilizar seus quintais para armazenamento dos produtos.
Embora poucos armazenem os agroquímicos na sua casa, ainda assim é preocupante,
pois práticas dessa natureza têm levado a graves casos de envenenamento de crianças e
animais, e até mesmo casos de suicídios, já que não há controle de saída, nem da
quantidade estocada, nem da forma de armazenamento. Nenhum dos entrevistados
afirmou utilizar as embalagens vazias para armazenar alimentos, prática ainda comum
em algumas regiões maranhenses, o que demonstrou a total falta de informação, sobre a
toxicologia desses produtos.
Os grandes produtores não se dispuseram a nos receber nem a responder os
questionários.
4.4 Resultados das análises de agroquímicos nas amostras de água do riacho
Sonhem
No mês de setembro, como esperado, os resultados quanto à presença de
agroquímicos nas amostras de água deram negativos, porque os grandes produtores de
soja, nessa época, ainda não tinham jogado o “secante” (herbicida pré-emergente), como
falam os moradores de Sonhem. O solo estava um pouco coberto com milheto, mas,
mesmo assim dava pra visualizar bem o processo avançado de erosão e desertificação
na região.
Nas demais amostras coletadas, nos meses de nov/2006 e jan/2007,
esperava-se encontrar resíduos de alguns princípios ativos, porque algumas das fazendas
já tinham aplicado herbicidas, através de aplicações aéreas, o mesmo acontecendo para
o mês de jul /2007, como se pode verificar na Tab. 6.
63
Tabela 6 - Resultados das análises das águas do Riacho Sonhem, em relação aos princípios
ativos dos agroquímicos investigados. Loreto (Comunidade de Sonhem), 2006-2007
PONTO
DE
COLETA
AMOSTRAGEM/PESTICIDAS
ENCONTRADOS/CONCENTRAÇÃO
1 (set/2006)
Todos os testes
negativos
2 (nov/2006)
Todos os testes
negativos
3 (jan/2007)
Teste positivo
para o inseticida
paraquat
(> 0,1 µg.L-1)
4 (abr/2007)
Todos os testes
negativos
5 (jul/2007)
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Teste positivo
para
acetanilidas,
como por
exemplo o
herbicida
propanil
(> 0,05 µgL-1)
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Teste positivo
para inibidores
de acetilcolinesterase, como
carbamatos e
organofosforados (~ 0,05
µg.L-1)
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Não analisado –
amostra perdida
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
Teste positivo
p/ inibidores
de acetilcolinesterase,
c/ carbamatos
e organofosforados
(~ 0,05 µg.L-1)
F
Todos os testes
negativos
Teste positivo
para inseticidas
organoclorados
(ciclodienos e
DDT, em conc.
> 50 µg.L-1)
Teste positivo
para 2,4-D
(herbicida 2,4ácido
diclorofenoxiacético)
(> 0,05 µg.L-1)
Teste positivo
para 2,4-D
(herbicida 2,4ácido
diclorofenoxiacético)
(> 0,05 µg.L-1)
Teste positivo
para inibidores
de acetilcolinesterase, como
carbamatos e
organofosforados
(0,2 µg.L-1)
Todos os testes
negativos
Teste positivo
2,4-D (herbicida
2,4-ácido
diclorofenoxiacético)
G
Teste positivo
para
benomil/carbend
azim (> 80
µg.L-1)
Teste positivo
para 2,4-D
(herbicida 2,4ácido
diclorofenoxiacético)
(> 0,05 µg.L-1)
Teste positivo
para 2,4-D
(herbicida 2,4ácido
diclorofenoxiacético)
(> 0,05 µg.L-1)
Todos os testes
negativos
Todos os testes
negativos
A
B
C
D
E
Cerca de 68,6% das amostras analisadas apresentaram resultados negativos
para os testes realizados com os kits de Elisa. Tais amostras foram, então, descartadas
para futuras determinações dos teores de agroquímicos por cromatografia, método mais
laborioso e caro.
64
Alguns kits de imunoensaios apenas forneceram a indicação quanto à
ausência ou presença de determinadas classes de compostos, como foi o caso dos
agroquímicos inibidores de enzimas colinesterases (carbamatos e organofosforados),
dos inseticidas dos grupos dos organoclorados e piretróides, dos herbicidas do grupo das
triazinas e das acetanilidas. Em alguns casos, os resultados fornecidos pelos kits foram
apresentados por uma faixa de concentração, dentro da qual o produto tóxico pode estar
presente na amostra de água analisada.
Somente as amostras E, F e G, nos períodos de amostragem (jan., abr. e
jul/2007), apresentaram resíduos de agroquímicos em níveis significantes (acima dos
limites de detecção dos métodos). Na amostra G, por exemplo, ainda na primeira
amostragem, foi detectada a presença do fungicida benomil/carbendazim. Somente para
exemplificar, o benomil, que foi encontrado em elevada concentração no referido ponto
de amostragem, é um fungicida que possui toxicidade relativamente elevada para
peixes, com LD50 de 5-50 mg/kg, e pode comprometer de forma drástica a fauna
aquática. Este composto apresenta, ainda, alta toxicidade para mamíferos (LD50 de 10
mg/kg para ratos). Além disso, o benomil apresenta média persistência no ambiente DT50 de 0,08 (na água) e 0,8 (no solo), transformando-se, rapidamente, em seu principal
produto de degradação, o carbendazim, daí a razão pela qual o método ELISA detecta a
mistura dos dois compostos.
Este resultado poderia levar a um indício de utilização de agroquímicos por
parte do morador mais próximo da nascente do riacho. O agricultor, entretanto, afirma
não usar nenhum produto químico em sua lavoura, mostrando-se sempre contra essa
prática, por ocasião das reuniões da comunidade em busca de soluções para seus
problemas. Contudo, há que se considerar também a possibilidade de lixiviamento de
resíduos desse fungicida, através da água que é carreada horizontalmente pelos solos, e
até mesmo através da água da chuva, que cai após evaporação de gotículas de aerosol
contendo o produto. Não se descarta, ainda, a possibilidade de utilização dos fungicidas,
para preservação das sementes que ficam armazenadas nas grandes propriedades onde
atualmente se planta a soja. A exudação dos silos e sementeiras, aliada ao inadequado
manejo durante as aplicações do fungicida e lavagens dos utensílios, pode ter provocado
a contaminação do solo, por esse produto, com conseqüente carreamento superficial
para as águas do riacho, que se encontra em uma zona mais baixa. Uma vez no ambiente
aquático, a mobilidade das moléculas dos agroquímicos pode ser bastante elevada, o que
65
explica a sua detecção em pontos bem distantes do ponto de aplicação, de acordo com
Marques (2001).
O carbendazim é um fungicida sistêmico de largo espectro, sendo utilizado
no tratamento de frutas e vegetais. Pertence ao grupo dos benzimidazóis.
Quimicamente, carbendazim é o 2-metoxicarbonilamino-benzimidazol (MBC), e se
constitui o principal produto de degradação do benomil em solução aquosa. Quando
aplicado ao solo, o benomil rapidamente se converte em carbendazim, e esta
transformação é influenciada pelo tipo de solo, pela temperatura e pela esterilização do
solo, o que sugere estarem os microrganismos envolvidos na decomposição desse
produto (ZAMBOLIM et al., 1989).
Os residentes mais próximos dos pontos E e F reclamam bastante da água,
nos períodos em que são lançados os herbicidas nas grandes fazendas próximas à
rodovia, pois sentem coceira no corpo, após o banho. Os ribeirinhos notaram, ainda, o
desaparecimento de certas espécies de rãs que se aglomeravam perto de suas casas,
sobretudo no período das chuvas. Uma moradora próxima do ponto F relata que os pés
de abacate da sua propriedade morreram todos, e que os mesmos ficavam localizados
nas margens do riacho. A mesma desconfia ser em decorrência de aplicação aérea dos
herbicidas pelos grandes fazendeiros de soja. Agora, como construíram um poço, não
usam mais dessa água para beber e cozinhar, mas usam para lavar roupas e utensílios
domésticos, como também para agüar as hortaliças (Anexo 1, Foto 7).
Todos esses relatos evidenciam de que forma os grandes projetos de plantio
de soja vêm impactando os agroecossistemas, os ecosssistemas aquáticos e a saúde da
população local. Somente a redução da biota já se constitui em um importante indicador
biológico da contaminação por esses xenobióticos.
A contaminação da água por agroquímicos pode ocorrer de duas formas:
através do lençol freático ou pelo escoamento superficial da água, isto é, a lixiviação.
No Cerrado, onde predominam as areias quartzozas (altamente suscetíveis à erosão e à
lixiviação), a chuva carrega as camadas mais superficiais do solo, e com elas os resíduos
químicos, diretamente para dentro dos rios. Na região onde nasce o rio Sonhem, esse
tipo de solo está presente. Já nas áreas de floresta de transição, onde predominam os
solos do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo – que são muito ácidos, profundos e de boa
drenagem – a chuva leva os agroquímicos para dentro do solo, onde ficam acumulados
nas águas subterrâneas do lençol freático.
66
A história do uso dos agroquímicos na região de Loreto, mais precisamente
no município de Sonhem, foi reconstruída a partir de informações fornecidas pelos
próprios ribeirinhos, alguns dos quais utilizaram herbicidas na década de 90, por não
conhecerem os efeitos nocivos destes produtos químicos para os seres vivos e para o
meio ambiente. Também foram levantados dados históricos e sócio-econômicos do
município.
Até o início do ano 2000, não se tinha ainda uma consciência sobre os males
provocados pelo uso indiscriminado dos agroquímicos. Depois de um trabalho realizado
no período de janeiro de 2005 a agosto de 2006, pelo Fórum Carajás, com o apoio do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Loreto e outros parceiros, criou-se, na região,
uma nova consciência e atitude negativa quanto ao uso dessas substâncias.
Em um estudo realizado no Parque Turístico do Alto Ribeira (PETAR),
localizado no Vale do Ribeira (São Paulo), ELFVENDAHL (2000) analisou amostras
de água, sedimento e peixe no período das chuvas, em janeiro de 2000, e seus resultados
indicaram que a fauna e a flora do PETAR estavam expostas a diferentes agroquímicos
e vinham tendo sua população diminuída ano após ano. Estes agroquímicos
encontravam-se dissolvidos na água ou adsorvidos no sedimento, sendo que, dos vinte
compostos detectados, sete eram considerados altamente tóxicos para peixes e outros
organismos aquáticos, e os demais, moderadamente tóxicos.
No riacho Sonhem, alguns dos resíduos encontrados dissolvidos na água são
considerados altamente tóxicos – carbamatos, organoclorados e organofosforados –
entre eles, o benomil/carbendazim e o DDT, altamente tóxico, cumulativo e persistente
no ambiente. Já o 2,4 D é um herbicida que apresenta longo tempo de atividade residual
no solo por não serem degradados via microbiológica; no entanto, degrada-se facilmente
em água e pela ação da luz solar.
Fatos como estes nos lembram outro tema importante na história desses
produtos: a sua toxicologia (estudo dos efeitos tóxicos dos compostos químicos para os
seres humanos). Esta teve início com a verificação da letalidade para um indivíduo de
forma aguda (capacidade de provocar a morte num curto prazo de tempo). Atualmente,
a toxicologia já se preocupa com a letalidade crônica e com as alterações sobre sistemas
do corpo, tais como os sistemas nervoso, cardiovascular, excretório, reprodutivo, entre
outros, a médio e longo prazos. Também já existe a preocupação com alterações em
nível celular (tumores). Futuramente, é provável que seja enfocado também o nível
67
molecular e até energético do metabolismo humano. Isso significa o reconhecimento,
por parte da comunidade científica, que os agroquímicos não agem mais sobre o
indivíduo, seus órgãos e sistemas, mas sobre suas células e o interior destas, em suas
organelas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).
Neste particular, há que se considerar a contaminação humana através dos
alimentos que ingere, além da água. Neste sentido, vários trabalhos já enfocaram a
contaminação humana e de animais por resíduos de agroquímicos provocadas por água
e alimentos contaminados, como é o caso da pesquisa realizada por Caldas e Souza
(2000), onde é apresentada, com muita propriedade, uma breve avaliação do risco
crônico da ingestão de resíduos de agroquímicos na dieta brasileira. Este trabalho
mostra que a IDTM (Ingestão Diária Máxima Teórica) ultrapassou a IDA (Ingestão
Diária Aceitável) (%IDA>100) em pelo menos uma região metropolitana brasileira para
23 pesticidas. Os 16 compostos que apresentaram maior %IDA são pertencentes à
classe dos inseticidas organofosforados, sendo o paration metílico o composto cuja
ingestão excedeu o parâmetro toxicológico (%IDAN = 9.300). O arroz, o feijão, as frutas
cítricas e o tomate foram os alimentos que mais contribuíram para a ingestão. Dos
compostos que apresentaram maior risco, apenas 6 (seis) são registrados, como
recomenda o Decreto 98.816/90 do Ministério da Agricultura, que dispõe sobre o uso de
agroquímicos no país. Isto mostra que esta problemática não é só municipal, ou mesmo
regional: é de ordem nacional.
No Maranhão, o Núcleo de Análise de Resíduos de Pesticidas
(NARP/UFMA) analisou, em 2001, amostras de hortaliças produzidas em 6 (seis) dos
dezessete pólos de produção da Ilha de São Luís (MA), e constatou que algumas
culturas (pimentão, tomate e coentro) apresentaram índices elevados dos compostos
metamidofós e paration metílico, ambos inseticidas organofosforados. Para o caso do
coentro, onde foi verificada a presença do metamidofós, este composto sequer está
liberado para proteção dessa cultura (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO
ABASTECIMENTO, 1991).
Atualmente, é praticamente inquestionável que o sistema de produção
convencional de alimentos tem deixado resíduos de agroquímicos em níveis
preocupantes para a saúde pública. Um Programa de Pesquisa realizada pela ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em 2002, em parceria com a Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz), mostrou que 22,17% de frutas, verduras e legumes,
68
produzidos em sistema convencional e vendidos em supermercados em quatro Estados
(São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco) apresentavam irregularidades graves,
ou seja, com níveis de agroquímicos acima do limite permitido pela legislação,
evidenciando, ainda, a presença de produtos não-autorizados, devido à sua alta
toxicidade. O Programa recolheu 1.278 amostras de hortifrutigranjeiros, entre eles
alface, banana, batata, cenoura, laranja, maçã, mamão, morango e tomate. Do total das
amostras, cerca de 81,2% continham algum resíduo tóxico (FOLHA, 2002).
Outros estudos mais prolongados, realizados no Paraná, apontam para uma
realidade semelhante. Entre 1987 e 1992, foram analisadas 523 amostras de
hortifrutigranjeiros, sendo que 155 (29,63%) apresentaram resíduos de agroquímicos
(ZANDONÁ e ZAPPIA, 1993). A continuação do estudo foi realizada entre 1993 e
1999, quando STERTZ e seus colaboradores (2000) apresentaram o resultado de um
trabalho de monitoramento de 485 amostras, que constatou a contaminação por
agroquímicos em 22,89% das amostras de hortifrutigranjeiros.
Recentemente, a imprensa nacional noticiou que a ANVISA, através do seu
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA), evidenciou que algumas
culturas, como alface e tomate, apresentaram alarmantes índices de contaminação. Para
o tomate, por exemplo, cerca de 45% das amostras analisadas continham resíduos,
sendo que, destas, 70% acima dos limites recomendados. O mais alarmante da pesquisa
foi constatar que 14 (quatorze) dos pesticidas detectados não estavam liberados para uso
na proteção da cultura.
Apesar dos dados demonstrarem um quadro preocupante, há poucas
pesquisas conclusivas no Brasil que demonstrem os perigos do uso de alimentos
contaminados por agroquímicos pelos seres humanos, as amostras analisadas ainda são
poucas em relação ao quadro. Porém, segundo médicos sanitaristas (BLECHER, 1998),
a médio e longo prazos, quem consome alimentos com resíduos destes produtos
químicos pode apresentar problemas hepáticos (cirroses) e distúrbios do sistema
nervoso central. Casos de câncer de mama e de próstata também têm sido associados à
presença desses compostos nos alimentos e na água. O risco vai depender da quantidade
do agroquímico acumulada e das características do organismo de cada pessoa.
Em São Luís, ainda não existe um programa para monitoramento
permanente dos resíduos de agroquímicos em amostras ambientais e de alimentos. Uma
parceria entre a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e a Secretaria da Saúde, através
69
da Vigilância Sanitária Estadual, poderia resultar na origem desse Programa, que
certamente traria muitas respostas às constantes indagações de gestores públicos e da
Comunidade em geral. Atualmente, não se tem idéia a cerca da qualidade da água e dos
alimentos que se consome no Estado do Maranhão, no tocante à presença de resíduos
desses venenos. Porém, esse fato mostra a realidade de quase todas as regiões
agricultáveis do Maranhão, onde se observa o uso indiscriminado de agroquímicos,
sofrendo de doenças ou mesmo sendo levadas à morte, sem registro documentado em
hospitais, que demonstrem que a intoxicação foi provocada por uso ou ingestão de
produtos tóxicos.
Os moradores da Comunidade de Sonhem sentem-se prejudicados pelo
grande número de fazendeiros, monocultores que os circunvizinham - Fazenda Rio
Verde; Fazenda Assis; Fazendas Caçula I, II e III, Fazenda Lagoa Grande (50 mil ha);
Fazenda Iguaçu (600 ha); Fazenda Amora (100 ha), dentre outras. Essas fazendas estão
localizadas às margens da Rodovia 324, que liga Balsas a Uruçuí (PI) (Anexo 1, Fotos 8
e 9). Ao cultivar a soja, os produtores lançam produtos químicos na fase de preparo do
solo, a fim de eliminar as plantas oportunistas e combater as pragas e/ou doenças.
Por meio da Fig. 10 pode-se observar o ciclo de desenvolvimento da soja,
tendo-se idéia do manejo utilizado, bem como da necessidade de grande quantidade de
insumos agrícolas no cultivo dessa leguminosa e a Tab. 7, especifica os principais
produtos químicos usados no controle de ervas oportunistas e no desenvolvimento da
planta.
70
Figura 10 - Estádios fenológicos da cultura da soja.
Fonte: STOLLER (1997).
É importante conhecer os efeitos nocivos ao homem e demais mamíferos que
os agroquímicos frequentemente ocasionam, haja vista que são muitas das vezes
utilizados de forma exagerada e incorreta, comprometendo a saúde humana, de outros
animais e a qualidade do ambiente. Na Tab. 8, estão destacados alguns dos
agroquímicos que vêm sendo utilizados na região e seus efeitos toxicológicos. Convém
mencionar, aqui, que não só os grandes agricultores estão contribuindo para a
contaminação dos ecossistemas e dos alimentos, mas também alguns dos pequenos
produtores, embora em magnitude milhares de vezes menor, dado o pequeno volume de
venenos aplicados por estes.
71
Tabela 7 - Principais agroquímicos utilizados durante o ciclo da cultura da soja
Pré-Plantio
Manejo
Fungicidas
Inseticidas
Tratamento de
Semente
Thiram
Tolyfluanid
Fludioxonil
Carbendazim
Carboxin
Thiabendazole
Fungicidas
Fipronil
Pós-Plantio
Pré-Emergente
(Estádio VE a R5)
(Estádio R1 a R6)
Inseticidas
Herbicidas
2,4-D
Flumioxazin
Acaricidas
Herbicidas
Trifluralin
Metalocloro
Flumetsulam
Imazaquim
Pendimethalin
Lactofen
Fomesafen
Clorimuron etílico
Imazetapir
Fomesafen
Acaricidas
Lambdacyhalothrin
Diflubenzuron
Triflumuron
Monocrotofos
Metamidofos
Endosulfan
Acephate
Clorpirifos
Carbendazim
T. metilico
Tebuconazole
Difenoconazole
Azoxystrobin
(Estádio R8)
Diquat
Paraquat
Fonte: STOLLER (1997).
Foi detectada, em algumas amostras, a presença de inseticidas inibidores da
enzima acetilcolinesterase, que é o caso dos inseticidas carbamatos e organofosforados.
Porém, as concentrações nas amostras de água estão em níveis que não podem ser
considerados alarmantes, com exceção do ponto F (terceira coleta), que apresentou teor
superior a 0,2 µg/L para esta classe de agroquímicos. Vale lembrar que a legislação
internacional estabelece limite de tolerância de 0,5 µg/L para todos os agroquímicos,
incluindo estes compostos inibidores de colinesterases, limite acima do qual já
começam a aparecer os efeitos nocivos à vida (EPA,1991). De fato, na região, alguns
agricultores ainda lançam mão dos inseticidas paration, metil paration, malation e
metamidofós (todos da classe dos organofosforados) para controle de insetos. O
problema é que as práticas de aplicação, em geral obsoletas e sem a adequada
orientação, faz com que alguns pequenos agricultores (carentes de informação básica)
72
apliquem mais do produto do que é recomendado. Além disso, há que considerar a
grande contribuição dos resíduos provenientes das grandes propriedades agrícolas da
região.
Tabela 8 - Efeitos tóxicos a mamíferos, provocados por diversos agroquímicos, incluindo
alguns investigados neste trabalho
Composto
Nome comercial
Culturas alvo
Efeitos tóxicos aos
mamíferos
Alacloro
(H)
Lasso, Alanex, Satocloro
Atrazina
(H)
Atrex,Atranex, Maizina,
Primextra
Benomil/ Carbendazin
(F)
Derosol®, BomCarbozol
200PW, Delsene®.
Milho, amendoim, soja, Carcinógeno, possivelmente
cana-de-açúcar.
mutagênico, rompedor
endócrino, tóxico a órgãos e
olhos.
Milho, banana, café,
Carcinógeno, mutagênico,
cana-de-açúcar, etc.
rompedor endócrino e
imunotóxico.
Frutas e vegetais em
Dermatites de contato,
geral
distúrbios hepáticos e renais.
BHC [gama HCH]
(I)
2,4-D
(H)
Lintoz, Steward
(saúde pública)
DDT
(I)
Vetrazin, Neporex
Tordon (quando misturado
com o picloram)
Rhothane
DDT
Dinoseb
(F)
Premerge, Aretit
Endrin
(I)
Nendrin, endrina
Lindano
(H)
Lorox, Afalon, Linex,
Linnet, Linurex, Siolcid
Malation
(I)
Carcinógeno, mutagênico,
tóxico a órgãos e fetos.
Vegetais, batata, arroz. Carcinógeno, teratogênico,
rompedor endócrino e tóxico
aos órgãos.
Mutagênico, rompedor
endócrino e possivelmente
carcinógeno
(saúde pública)
Carcinógeno, mutagênico,
tóxico a fetos e embriões,
rompedor endócrino, tóxico
aos órgãos e imunotóxico.
Plantas oportunistas, Teratogênico e causador de
macieira, soja, milho. esterilidade feminina.
Café, amendoim
algodão, cana-deaçúcar.
Possivelmente carcinógeno,
neurotóxico e teratogênico.
Aspargos, batata, soja, Carcinógeno, possivelmente
milho, algodão, açúcar, teratogênico, danos
banana, café.
testiculares, neurotóxico,
imunotóxico, danos
hormonais, rompedor
endócrino, danos aos ossos.
Celthion, Fyfanon, Malatox, Batata, algodão.
Possivelmente teratogênico e
Malixol, MLT
mutagênico, danos aos olhos,
inflamação gastrointestinal
,úlceras, rompedor endócrino,
causa neuropatias.
73
Tabela 8 - cont.
Composto
Nome comercial
Culturas alvo
Efeitos tóxicos aos
mamíferos
Metamidafos
(I)
Clorpirifos 480 CE
Soja, milho
Distúrbios neurológicos e
digestivos: irritabilidade,
tremores de membros,
tonturas, náuseas,vômitos.
Tremores membros superiores
e inferiores, distúrbios neurais,
náuseas, irritabilidade.
Metil Paration
(I)
Folidol 600 CE
Folisuper 600 BR
Bravik 600 CE
Frutas (caju, abacaxi,
manga), soja e milho
Paraquat
(H)
Gramoxone 200
Moderadamente perigoso via
oral, levemente irritante p/
pele, olhos e altamente tóxico
p/ os pulmões.
Paration
(I)
Alaclor e atrazina
Rhodiathoz 50
Taro- “batata dos
trópicos”-, algodão,
dendezeiro, citros,
milho, chá e
biocombustível.
Frutas (cajueiro
abacaxi, manga), soja e
milho
Propanil
(H)
Alaclor e atrazina
Atrazina atanor
Propanil 360
Propanil milenia
Arroz irrigado
Irritações na pele, olhos e
mucosas, depressão do SNC,
incoordenação, perda
reflexos, cianose e
metahemoglobinemia.
Tremores membros superiores
e inferiores, distúrbios neurais,
náuseas, irritabilidade.
I= inseticida; H= herbicida; F = fungicida.
Fonte: NUNES e SANTOS (2002).
Os inseticidas inibidores de colinesterase são responsáveis por graves
síndromes neurológicas em trabalhadores rurais, e até mesmo pelos principais casos de
suicídio já registrados no campo. Eles provocam sérias alterações em nível de sistema
nervoso central, modificando o comportamento humano, muitas vezes de maneira
irreversível.
O herbicida ácido 2,4-D aparece em várias amostras, sobretudo nos pontos
de coleta F e G. Neste trabalho, também o seu produto de degradação, o 2,4,5-T foi
investigado. O herbicida 2,4-D tem sido largamente utilizado no preparo do terreno,
para exterminar as plantas oportunistas antes do plantio da soja. Este produto tem
elevada mobilidade no compartimento ambiental aquático, e pode contaminar locais até
mesmo distantes do seu ponto de aplicação. Os agroquímicos, em geral, comprometem
a fauna e a flora dos ecossistemas, levando à morte muitos anfíbios e répteis, tais como
rãs, sapos, lagartos e salamandras, além de diversas espécies de peixes (piau, corró,
74
piaba, cascudo e traíra, etc.), contribuindo para o desequilíbrio na cadeia alimentar dos
distintos ambientes ecológicos.
No ponto A de coleta, detectou-se resíduo do agroquímico paraquat, em
jan/2007. Falando dos aspectos toxicocinéticos do paraquat, sabe-se que a sua absorção
ocorre principalmente por vias oral, dérmica e respiratória, e esta última,
especialmente em indivíduos que trabalham na aplicação dos produtos.
Infelizmente, não foi possível, no presente trabalho, realizar a análise do
princípio ativo glifosato (herbicida), cujo produto comercial é conhecido como Roundup. Este agroquímico tem sido amplamente utilizado em áreas de plantio de soja, mas a
análise é dificultada pela sua elevada solubilidade em água, o que impede a sua extração
da água por solventes orgânicos comuns.
Por ser muito solúvel na água, o glifosato encontra-se em compartimentos
aquáticos e sofre elevada absorção pelos organismos vivos. Assim, são freqüentes os
casos de transporte e contaminação dos ambientes aquáticos, por exemplo, por este
herbicida e por outros compostos pertencentes às classes dos herbicidas ácidos
fenoxiacéticos e fenoxibenzóicos.
O herbicida propanil foi detectado no mês de nov/2006, nas proximidades da
propriedade do Sr. Ranúbio. Tal agroquímico possui toxidade II - moderadamente
tóxico, com potencial para irritar os olhos e a pele. É moderadamente tóxico para as
aves e para uma vasta gama de espécies aquáticas, podendo vir a ser altamente tóxico
para algumas espécies de peixes. Porém, isto não indica que o composto seja capaz de
se concentrar nos organismos aquáticos. Contudo, o propanil pode ser altamente
fitotóxico, quando misturado com carbamatos ou organofosforados (POTTER et al.,
1990). Isto é particularmente preocupante, pois sendo fitotóxico, pode ocasionar a
redução do fitoplâncton e, assim, diminuir a quantidade de crustáceos e peixes que se
alimentam do fitoplâncton. Isto, então, pode dar inicio ao desequilíbrio em toda a cadeia
alimentar.
75
4.5 Impactos dos projetos de soja na região: A visão dos ribeirinhos
O cultivo da soja tem ameaçado, de forma intensiva, o cerrado maranhense.
Este é um cenário que foi constatado logo durante a primeira visita à área em estudo,
por meio de entrevistas, estudos, fotos e pesquisas. Tal cenário a população ribeirinha
de Sonhem conhece muito bem. Faz parte do cotidiano dessa gente do cerrado
maranhense, seja para quem vê as alterações nos rios, seja para quem transita pelas
áreas de entorno e observa, de perto, a veloz modificação da paisagem. Infelizmente, as
lavouras de soja tornaram-se uma realidade ameaçadora na região.
"Estamos muito preocupados, não só pelo desmatamento, mas
por causa do riacho, que é fonte de vida para todos nós,
principalmente para quem não possui poço e que usa a água
para tudo: cozinhar, lavar, tomar banho, matar a sede dos animais,
etc. Antigamente, a gente tinha muitos peixes, rãs. Hoje,
nenhuma rã pula mais sobre nós ao estarmos
aqui sentados próximo ao riacho; não tem mais peixes e os pés
de abacate morreram na beira do riacho,
que agora mais parece um córrego na época da seca".
(Francisco Rocha, morador antigo e pai do Daniel
Rocha representante da comunidade de Sonhem)
Hoje, na faixa dos 60 anos, Sr. Francisco só lamenta, e dedica-se a esclarecer
aos visitantes sobre os prejuízos incalculáveis em relação à flora e à fauna ameaçados.
Ao visitar outras famílias da região, em algumas delas, a conversa não é tão
simples, especialmente quando se pergunta sobre métodos e orientações de plantio, e
quando se fala do uso de agroquímicos.
"Sabemos que os grandes produtores de soja tiram a
mata toda. Eles plantam (soja) até a beira da rodovia
(BR 324). Eles fazem umas grandes valas
nas laterais da rodovia em direção ao baixão e
quando vem a chuva e/ou enxurrada, carrega tudo pro riacho,
inclusive animais que por acaso subam para a área dos donos de fazenda”.
(Daniel Rocha, ribeirinho)
A afirmação de Daniel Rocha mostra que é real a necessidade de se tomar
medidas urgentes de preservação dessas extensas áreas utilizadas pelos grandes
76
produtores de soja, no sentido de amenizar os impactos ambientais gerados pelo uso
inadequado e predatório da terra e dos recursos naturais e, também, aos reflexos que
essas técnicas inadequadas provocam sobre as famílias da comunidade de Sonhem.
A fala tranqüila, a mansidão, a ponderação, a confiança que Daniel deixa
transparecer, fazem dele não só um líder comunitário respeitado, mas um sábio, capaz
de mediar conflitos entre as famílias que ali habitam. Ele conta que, até agora, o único
contato com os grandes produtores deu-se ainda no início de 2000, mais
especificamente com o proprietário da Fazenda Santa Helena, uma das propriedades
mais próximas e que mais prejudicam a pequena Comunidade de Sonhem. Na ocasião,
expôs suas preocupações em relação ao avanço das plantações de soja; o fazendeiro
ouviu suas argumentações, mas de lá para cá, no entanto, não ocorreram mudanças
positivas. Os demais produtores possuem cães de raça que protegem e afastam os
visitantes indesejáveis.
Em março do ano passado, ocorreu a morte de cerca de aproximadamente 60
peixes – traíra, piau, corró, piaba, dentre outros, que apareceram na beira do riacho,
provavelmente intoxicados após a colocação do “secante” na Fazenda Santa Helena.
Além disso, muitos animais que compõem a fauna daquele cerrado, tais
como cutia, tatu, pacas, seriema, além de diversas e muitas plantas nativas (pequi –
utilizado na alimentação, como planta medicinal e na fabricação de sabão - tiúba, juriti,
cipó, jatobá de vaqueiro, buriti, sem falar dos babaçuais), têm desaparecido ou vêm-se
tornando cada vez mais rara.
Para muitos ribeirinhos, a atual frente de expansão da soja caracteriza-se
como o momento mais crítico, nos últimos anos. Eles relatam que, antes de existirem os
plantios de soja, quando havia apenas os projetos de colonização, não havia contato ou
grandes problemas com os donos de fazendas. As notícias de que a soja ia chegar
primeiro ao município de Balsas começaram a circular entre as populações vizinhas há
mais ou menos 10 anos, coincidindo com a instalação das grandes empresas que
comercializam grãos (Bunge e Cargill) (Anexo 1, Foto 10).
"Na região do sul do Maranhão só se falava em uma hidrovia
(a Hidrovia Balsas – Uruçuí/PI); agora, a história
já aconteceu e juntamente com ela, enormes estragos”.
(Daniel Rocha, ribeirinho)
77
Muitos agricultores locais, entusiasmados e em busca de vida melhor, foram
trabalhar nas grandes propriedades, tendo sido explorados financeiramente, pois sua
força de trabalho foi necessária somente no início dos grandes projetos, como mão-deobra barata. Como já relatado, alguns até apresentaram quadros seríssimos de
intoxicação devido ao manuseio incorreto dos agroquímicos, sem os EPI’s. O agricultor
Haroldo Gomes, que trabalhou seis dias em uma fazenda, disse ter sofrido de tonturas,
dor de cabeça, vômitos, desmaio, tendo sido internado por mais de três dias. Semanas
após, com a persistência de alguns sintomas, teve de retornar para o Hospital em
Ribeiro Gonçalves/PI, onde permaneceu em tratamento. Este agricultor não mais
retornou aos trabalhos nas grandes fazendas de soja.
4.5.1 As inquietações sem resposta e a atual organização da comunidade
Não é a primeira vez que as inquietações dos moradores de Sonhem não
encontram ressonância. Por diversas vezes, esses agricultores e líderes tentaram falar
com autoridades da região. Sem sucesso.
Durante o período de jan/2005 a ago/2006, foram estabelecidos contatos
mais freqüentes com representantes de diversas entidades, preocupadas com as questões
ambientais. Por iniciativa do Fórum Carajás, através do Projeto Sonhem, estes
agricultores têm tido, pelo menos, a oportunidade de expor as suas inquietações. Mais
ainda não existem políticas públicas para conter a degradação ambiental e a iminente
destruição dos ecossistemas.
Durante o período citado, a comunidade Sonhem e outras comunidades do
município de Loreto, a organização executora, alguns parceiros e apoiadores realizaram
visitas, oficinas, seminários, estudos e deram inicio a algumas pesquisas na
Comunidade. Esta teve constantes visitas de técnicos, agrônomos, e alguns
representantes da CPT (Comissão de Pastoral da Terra), interessados em esclarecer aos
moradores dessa região as preocupações quanto ao estado crítico em que se encontra o
bioma em que vivem, incluindo o Riacho Sonhem, e o quão necessário torna-se
incentivar a recuperação das matas ciliares. Para tal recuperação, a comunidade já conta
com um pequeno viveiro de mudas, conseguidas com o auxílio do Fórum Carajás e
outras entidades como o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), o Sindicato de
Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Loreto (STTR-LORETO), o Centro de
78
Educação e Cultura do Trabalhador Rural do Maranhão (CENTRU) e a Comissão
Pastoral da Terra (CPT) de Balsas. Na atualidade, a comunidade aguarda mais apoio e
assistência técnica para orientar os pequenos produtores de Sonhem a realizarem o
replantio. O difícil e ainda inatingível tem sido sensibilizar os grandes produtores
quanto aos malefícios das suas práticas.
Os moradores de Sonhem não estão preocupados à toa. Quando se substitui a
vegetação natural do cerrado por lavouras de soja, o quadro de impactos altera-se
substancialmente. O uso de produtos químicos, por exemplo, provoca alterações na
qualidade da água do rio, sendo esta a principal preocupação do povo da região.
Para formar as culturas de soja, os métodos utilizados pelos fazendeiros vão
desde a supressão total da vegetação de uma grande área, até a eliminação da mata ciliar
que protege as margens dos rios da erosão. Tudo isso para aproveitar mais espaço e,
consequentemente, produzir mais, obtendo “melhores resultados e mais lucros”. O que
se sabe é que, desde a década de 1970, a perda de floresta, de cerrados e,
principalmente, a destruição das matas ciliares deram início a um processo intenso de
assoreamento de muitos córregos e nascentes que formam o rio Parnaíba, além da
erosão de extensas porções de terra. Devido a isso, gradativamente, o homem foi
substituindo o boi, que já era altamente impactante, pela soja.
Essa substituição pode ser explicada por várias razões: queda de
produtividade da pecuária, devido à degradação do solo; disponibilidade maior de
crédito; facilidade de manejo do cultivo; maiores produtividade e rentabilidade do
cultivo da soja, etc. O preço das sacas de soja é determinado pelo mercado
internacional, pela bolsa de Chicago, pelo mercado interno e pela cotação do dólar. Em
set/2003, o valor da saca (com 60 kg) estava em torno de R$ 34,00 (ou US$ 11); em
fev/2004, 19 dólares; em mar/2005, caiu para 10 dólares (LOPES, 2005). Durante a
safra 2005, as cotações da soja mantiveram-se em um patamar acima da média histórica
na Bolsa de Chicago (FRANÇA, 2005). Atualmente, a saca de soja foi negociada a R$
29,50 no mercado de lotes de Passo Fundo (RS). Em Cascavel (PR), o preço ficou em
R$ 29,00, enquanto que em Rondonópolis (RO) houve operações a R$ 25,50 (JORNAL
A TRIBUNA, 2008).
A elevada mecanização da soja é responsável pela baixa oferta de empregos.
A Fig. B, (Anexo 2) mostra as regiões, no Maranhão, onde a mecanização agrícola é
mais
expressiva.
A intensificação do uso da tecnologia na região de Balsas é
79
considerada alta, o que provoca a diminuição da oferta de empregos. Da mesma forma,
não se está mais preocupado com a produção em larga escala de outras culturas, como o
feijão e o arroz, cuja produção, no Maranhão, caiu cerca de 60% nos últimos 20 anos.
Isso sem contar com as hortaliças: a maior parte das hortaliças consumidas em nosso
estado vem de outros estados. As figuras C e D (Anexo 2) demonstram a elevada
produção de soja na região estudada, em detrimento à baixa produção de feijão, por
exemplo. Um estudo feito pela Embrapa, em 1999, evidencia uma preocupante mudança
da cultura agrícola no estado, que, contrariando as expectativas do governo e das
comunidades, não tem alavancado o seu crescimento econômico, nem gerado razoável
número de empregos diretos e indiretos.
Paradoxalmente, nas regiões onde a soja tem sido produzida em larga escala,
o sistema educacional local não melhorou e o número de analfabetos não caiu; o número
de escolas não aumentou, o sistema de saúde continua ineficiente (os grandes
produtores do Sul, muitas vezes, constroem, dentro de suas próprias propriedades,
escolas para seus filhos e possuem seus próprios agentes de saúde); a economia local
não melhorou (os grandes proprietários enviam boa parte do capital produzido pela soja
para o sul do país e alguns, ainda, quando viajam, trazem produtos alimentícios de lá,
praticamente não consumindo nada da produção local); o êxodo rural e a prostituição
aumentaram, e a miséria social aumentou.
5 CONCLUSÃO
Ao analisar os resultados obtidos, verificam-se muitas situações que
merecem ser enfocadas e discutidas, por serem motivo de preocupações em um futuro
bastante próximo. A problemática ambiental do município de Loreto, mais precisamente
na comunidade de Sonhem, decorre de vários processos, que vão desde práticas
agrícolas inadequadas, até o processo, sem nenhum planejamento, de ocupação e uso do
solo ao longo do curso do riacho.
As análises químicas realizadas indicaram que as águas do riacho Sonhem
encontram-se contaminadas e impróprias para o consumo humano, especialmente em
alguns pontos onde foram detectadas maiores concentrações de alguns agroquímicos, a
80
maioria dos quais classificados como altamente tóxicos para mamíferos e organismos
aquáticos.
Apesar de muitas mudanças paisagísticas na região, constatou-se que a mata
ciliar do riacho Sonhem encontra-se ainda em estado de conservação relativamente
bom, na maioria dos locais visitados. Em alguns pontos, contudo, sua vegetação original
foi totalmente substituída pela agricultura de subsistência e por árvores frutíferas.
A população presente na comunidade de Sonhem desenvolve sua atividade
econômica por meio do cultivo de arroz, milho, feijão e mandioca, agricultura de
subsistência e, portanto, participam do setor primário da economia brasileira. Percebeuse que a comunidade trabalha de forma organizada e que agora já está mais consciente
quanto à preservação dos recursos naturais, resultado da participação em diversos
fóruns, seminários, oficinas e palestras realizadas por entidades preocupadas com as
questões ambientais. No entanto, os ribeirinhos estão sozinhos em sua luta inglória
contra a devastação do seu espaço. Infelizmente, ainda falta na região, como em tantas
outras do nosso estado, políticas públicas voltadas para o pequeno agricultor e seus
familiares. Políticas estas que visem a solucionar ou a minimizar os problemas sócioambientais marcantes na comunidade, tais como: saneamento básico (totalmente
ausente) e serviços de saúde: atendimentos médico, odontológico e hospitalar (precários
e/ou inexistentes no município), além de educação e orientação agrícola aos jovens
lavradores (falta de política extensionista).
É urgente e indispensável, também, que práticas conservacionistas sejam
implementadas na comunidade de Sonhem, no trecho compreendido entre a nascente e a
foz do riacho, visando a diminuir os problemas ambientais e a alcançar a
sustentabilidade daquele recurso hídrico.
Sabe-se que a educação é a base para que uma população torne-se consciente
de seus direitos e deveres, e independente nos âmbitos político, econômico e social. Na
comunidade de Sonhem, esta situação está aquém da ideal. É preciso que os órgãos
governamentais tenham a preocupação de implementar programas que venham, por
exemplo, a diminuir as taxas de analfabetismo, que ainda é muito alta na região. Sabese que, no Brasil, a taxa de analfabetismo varia de acordo com a região a ser focada,
evidenciando a desigualdade social brasileira.
Mesmo que o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha
lançado o Programa Brasil Alfabetizado, infelizmente as medidas educacionais ainda
81
não chegaram a todos os povoados brasileiros, em especial nas regiões norte-nordeste,
impossibilitando que muitos jovens possam ser alfabetizados e adequadamente
conscientizados principalmente no tocante à preservação ambiental. Contudo, esse é um
reflexo das péssimas administrações municipais, e da falta de fiscalização por parte dos
governos.
Torna-se indispensável, ainda, a reinstalação da escola e do posto médico
local, além da construção de outros, como forma de minimizar os problemas em relação
à permanência dos alunos na escola e diminuir os esforços no deslocamento de doentes
para as cidades mais próximas, contribuindo para a permanência dos moradores no seu
município.
Pretende-se voltar à região estudada, a fim de informar os moradores de
Sonhem os resultados obtidos após análises químicas das amostras de águas do riacho
que abastece a comunidade, com o intuito de levar novas informações acerca dos
perigos do uso de agroquímicos, esclarecendo sobre os efeitos maléficos de tais
produtos e em quais pontos foram detectados. Pretende-se, ainda, propor um manejo
adequado do solo e conscientizar a população sobre os perigos da erosão e do
assoreamento. Também, os atores interessados em preservação ambiental que atuam no
Fórum Carajás, terão acesso aos resultados obtidos neste trabalho, mediante posterior
visita à sua sede em São Luís – MA.
Acredita-se que a Comunidade de Sonhem tenha interesse em realizar mais
estudos e discussões a respeito dos impactos sofridos pelos distintos ecossistemas na
área em questão e do manejo adequado dos recursos naturais, e dessa forma adquirir
conhecimentos sobre técnicas de preservação para fazer intervenções agroecológicas e
para tal, torna-se necessário:
•
Participação nos encontros com representantes do Sindicato de Trabalhadores
Rurais, entidades governamentais e não governamentais, de modo a discutir e
traçar um plano de manejo sustentável que miniminize os impactos sócioambientais na região, garantindo condições de vida para todos;
•
Mobilização do sindicato dos trabalhadores rurais, dos representantes de órgãos
interessados em preservação ambiental e moradores para planejamentos de
ações concretas que promovam aproveitamento dos recursos naturais e
educação ambiental, em especial, para os jovens;
82
•
Solicitação por parte de representantes da Comunidade, aos órgãos públicos
especializados, de técnicos de localidades mais próximas visando apoio,
incentivo e assistência aos trabalhadores rurais, e, conseqüente fortalecimento
da agricultura familiar;
•
Promoção da saúde e educação com reinstalação do posto de saúde e da escola,
presentes na comunidade, viabilizando melhor qualidade de vida;
•
Maior atuação dos órgãos públicos da região para que estabeleçam limites nas
atividades agroeconômicas, de forma a respeitar o meio ambiente, em especial
as áreas de proteção ambiental;
•
Adoção de políticas públicas urgentes por parte das autoridades municipais, no
que diz respeito à habitação, saneamento, saúde e educação de forma a oferecer
um pouco de tranqüilidade e melhor qualidade de vida aos ribeirinhos.
É necessário estar ciente que mudanças serão pertinentes e que todos os
envolvidos no cenário deverão participar e cooperar na busca de soluções que atenuem
os impactos sócio-ambientais na região.
83
REFERÊNCIAS
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AMARANTE Jr., O. P. de; SANTOS, T. C. R. dos; RIBEIRO, M. L. Revisão das
propriedades, usos e legislação do ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D). Cad. Pesq.,
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.
91
ANEXO 1
FOTOS RELACIONADAS COM O TEMA “AGROQUÍMICOS E SOJA”
Foto 1. Aplicação aérea de agroquímicos.
Fonte: http://www.tiosam.com/enciclopedia/?q=Pesticida&action=edit&section=4.
Foto 2. Campanhas sanitárias de eliminação de mosquitos.
Fonte: NUNES e SANTOS (2002).
92
Foto 3. Uma planta de soja (Glycine max), vagens secas e grãos de soja.
Fonte: Articulação Soja Holanda (2006).
Foto 4. Erosão em um trecho da BR 324 (liga Balsas a Uruçuí/PI).
Fonte: Fórum Carajás (2005).
93
Foto 5. Riacho Sonhem: uma das nascentes na comunidade.
Fonte: Fórum Carajás (2005).
Foto 6. Coleta de água no ponto C, na comunidade de Sonhem.
Fonte: Pesquisa de campo ( abr/2007).
94
Foto 7. Ponto de coleta F, local com resíduos de agroquímicos em níveis significantes.
Fonte: Pesquisa de campo (abr/2007).
Foto 8. Fazenda Santa Helena preparada para plantio de soja – Rodovia 324 (MA).
Fonte: Fórum Carajás (2006).
95
Foto 9. Extensa área desprotegida após colheita da soja – Rodovia 324 (MA).
Fonte: Pesquisa de campo (abr/2007).
Foto 10. Empresa Bunge - armazenamento/beneficiamento de grãos de soja. Rodovia
324 (MA).
Fonte: Pesquisa de campo (abr/2007).
96
ANEXO 2
FIGURAS RELACIONADAS AO TEMA “AGROQUÍMICOS E SOJA”
Figura A. Representação da expansão da área de plantio de soja na América do Sul
1995-2003.
Fonte: Articulação Soja Holanda (2006).
.
97
Figura B. Alta Tecnologia Observada na Monocultura de Soja -1996.
Fonte: Zoneamento Geográfico e Sócio-Ambiental do estado do Maranhão (Home Page do Governo do
Estado do Maranhão).
98
Figura C. Produção de Soja no Maranhão - 1999.
Fonte: Zoneamento Geográfico e Sócio-Ambiental do estado do Maranhão (Home Page do Governo do
Estado do Maranhão).
99
Figura D. Produção de Feijão no Maranhão -1999.
Fonte: Zoneamento Geográfico e Sócio-Ambiental do estado do Maranhão (Home Page do Governo do
Estado do Maranhão).
100
ANEXO 3
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOLOGIA
CURSO DE MESTRADO EM AGROECOLOGIA
DADOS GERAIS
1- Município:
2- Nome da Comunidade:
3- Data:
DADOS DO AGRICULTOR
4-Nome do agricultor:
5-Data de Nascimento:
6-Idade:
7-Sexo:
8-Grau de Instrução:
RESIDÊNCIA
9-Localidade:
10-Ponto de Referência:
USO DE AGROTÓXICOS
11- Produtos usados:
12-Freqüência de uso:
( )Raramente
( )Constantemente
( )Esporadicamente
( ) Nunca
13-Modo de aplicação:
( )Pulverização com pistola ( ) Jogando no solo
( ) usando trator
( ) outros
14- Cultura /lavoura em que os agrotóxicos foram usados:
15- Local de compra do produto:
16- Houve orientação no uso do produto?
Sim ( )
Não ( )
17- Já ocorreu algum caso de intoxicação ao manusear o produto?
18- Em caso afirmativo, como se deu o contato com o agrotóxico?
( ) pele ( ) aspiração ( ) ingestão
19- Tempo de exposição no contato direto
101
20-Utiliza equipamentos de proteção individual (EPI’s) durante os trabalhos no campo?
Sim ( )
Não ( )
21-Se SIM, quais EPI’s?
22-Qual o destino das embalagens vazias?
23- Onde é feita a lavagem dos equipamentos de aplicação dos agroquímicos?
24- Outras informações:
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................
.
Responsável pelo preenchimento do questionário
102

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