Os agricultores da União Europeia e o mercado global de leite
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Os agricultores da União Europeia e o mercado global de leite
Edição 17 - Fevereiro de 2015 Os agricultores da União Europeia e o mercado global de leite Queda acentuada de preços de um lado. Planos de expansão da produção do outro. Os produtores de gado leiteiro da União Europeia esperavam aumentar a quantidade de leite produzido assim que as quotas forem abolidas, a partir de abril 2015. Seus objetivos, porém, poderão ser frustrados. Os produtores de leite europeus foram afetados por uma combinação de fatores: aumento da produção com o fim das quotas; autossuficiência da China no setor; e proibição das importações de lácteos pela Rússia. O mercado leiteiro mundial está particularmente tomado por excesso de oferta e pela queda nos preços. A China tem contribuído, e muito, para que os preços internacionais sofram reduções ainda maiores. Reflexo da alta oferta de leite - Na União Europeia o preço do leite cru teve uma desvalorização de 18%, em comparação com janeiro deste ano e o mesmo mês de 2013. Em países como a Estônia e a Lituânia a queda chegou a 37%, seguidos de Latvia com 32%. O único país que apresentou registro positivo foi Malta, aumento de 1%. A constante de preços baixos do leite começou no ano passado. Desde então houve o temor de uma forte crise no setor. Vários Estados-Membros do bloco têm feito apelos à Comissão Europeia no sentido de obter ajuda para repor as perdas. Um dos principais argumentos, até então, estava relacionado ao embargo russo. Desde agosto do ano passado que a Rússia proíbe a importação de certos produtos agrícolas europeus, como frutas, carnes e lácteos. O embargo causou danos também aos produtores de leito do bloco. Em 2013, 60% do leite e 48% do volume total de queijos consumidos pelos russos foram provenientes do exterior. feitos por Ministros do Chipre, Estônia, Irlanda, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Eslovênia e Hungria. Nos últimos doze meses, a variação nos preços dos lácteos levou a algumas chamadas para o desenvolvimento de mercados futuros, uma tentativa de ajudar os produtores a enfrentar a volatilidade. No curto prazo, segundo a Copa-Cogeca, representante dos produtores europeus, o principal desafio do setor é ampliar o mercado de exportação para tentar evitar a crise. As multas seriam recolhidas dos Estados-Membros sem juros, entre 2015, 2016 e 2017. De acordo com o projeto de implementação do regulamento, o primeiro pagamento anual seria feito em primeiro de outubro deste ano, o segundo antes de primeiro de outubro de 2016 e o terceiro antes de primeiro de outubro de 2017. No longo prazo, no entanto, a Copa-Cogeca também tem defendido junto à Comissão Europeia ser preciso superar a volatilidade do mercado, e, assim, garantir o bom funcionamento da cadeia de abastecimento de produtos lácteos e melhorar a renda dos produtores de leite. Por muito tempo a Comissão Europeia negou a possibilidade de uma crise no setor. O argumento era de que os produtores se adequariam à nova forma de produção, sem restrições, e encontrariam mercados para escoar a produção de leite e derivados. Agora, o discurso começa a mudar. O Comissário de Agricultura, Phil Hogan, já deu sinais de estar disposto a ajudar o setor: atendeu a um pedido do governo italiano para parcelar o pagamento sem juros e multas, caso as quotas do último ano de produção sejam ultrapassadas. Tendo em vista o fim do regime de quotas leiteiras em 31 de março de 2015, e à luz da crise no setor, o ministro da Agricultura e da Alimentação da Itália, Maurizio Martina, enviou uma carta ao Comissário. Pedidos semelhantes foram Produção de Leite União Europeia em 2013 Produção de leite e derivados - Em 2013, a União Europeia produziu aproximadamente 158,8 milhões de toneladas de leite. Desse total, 96,8% corresponderam a leite de vaca. Leite de ovelha, cabra e búfala representaram 3,2% da produção total. Entre 2012 e 2013, a produção de leite de vaca nas fazendas europeias aumentou em quase 1,7 milhão de toneladas. Em milhões de toneladas Leite de Vaca 153,8 Leite de Ovelha 2,7 Leite de Cabra 2,1 Leite de Búfala 0,2 Fonte: Eurostat Entenda o setor leiteiro europeu - O setor leiteiro da União Europeia opera no âmbito de quotas leiteiras, introduzidas em 1984, para resolver os problemas dos excedentes de produção. O sistema de quotas termina em primeiro de abril deste ano. Cada Estado-Membro da UE tem duas quotas, uma para entregas às centrais leiteiras e outra para vendas diretas. Os dados de produção de leite são usados para sinalização de desequilíbrios no mercado. Quando as quotas nacionais são ultrapassadas, imposições suplementares e multas são repassadas aos Estado-Membros da UE. Originalmente, a regulamentação era para ser executada até 1989, mas foi prorrogada por diversas vezes e, agora, vai durar até 31 de março deste ano. 2 Edição 17 - Fevereiro de 2015 Informativo União Europeia Em 2013, Alemanha, França e Irlanda foram os países com maior produção de leite de vaca em fazendas europeias. Assim distribuídos: 7,9 milhões de toneladas foram produzidas em Bayern (Alemanha); 5,3 milhões na Bretanha (França) e outros 4,5 milhões na Irlanda do Leste. No mesmo período, os Estados Unidos produziram 91 milhões de toneladas de leite; a Nova Zelândia fechou a produção de 2013 com 20,1 milhões de toneladas de leite; e a Austrália pouco mais de 9 milhões de toneladas, se- gundo dados do Observatório do Leite da Comissão Europeia. No mesmo ano, o Brasil produziu 35 milhões de toneladas, segundo dados da Embrapa. Na campanha 2012/2013, a quota de fornecimento de leite foi fixada em 152,6 milhões de toneladas para os 28 Países Membros da UE. Desse total, perto de 141,2 milhões de toneladas de leite de vaca foram recolhidas pelas centrais leiteiras também sob o regime de quota. Quantidade de leite cru utilizado O leite entregue às centrais leiteiras foi transformado em uma série de produtos frescos e derivados lácteos. Pouco mais de 68 milhões de toneladas de leite cru foram usadas para produzir 9,3 milhões de toneladas de queijo em 2013. Outras 31,5 milhões de toneladas de leite cru foram transformadas em leite para o consumo e 19,3 milhões de toneladas de leite cru foram convertidos em 2,1 milhões de toneladas de leite em pó. Além disso, 41 milhões de toneladas de leite integral foram usadas para produzir 2,1 milhões de toneladas de manteiga. Produto final 31,5 leite cru 31,5 leite para consumo 19,3 leite cru 2,1 leite em pó 68 de leite cru 9,3 de queijo 41 leite cru 2,1 de manteiga Fonte: Eurostat. Quantidade de referência: milhões de toneladas Origem da carne em alimentos processados pode se tornar obrigatória na Europa Uma decisão do Parlamento Europeu está movimentando a Europa. Os deputados aprovaram uma resolução considerada polêmica no início de fevereiro. A resolução pede que a Comissão Europeia crie uma proposta legislativa obrigando a indústria alimentícia divulgar a origem da carne usada em alimentos processados. A exigência valeria para lasanhas, salsichas, pizzas, frango, nuggets, entre outros. As opiniões ficaram bastante divididas entre os integrantes da União Europeia. Uma corrente defende mais informação na indústria de alimentos. Dados da própria Comissão Europeia demonstram que nove em cada dez cidadãos pedem mais transparência. O setor industrial alimentício, por outro lado, alega que 90% das empresas produtoras desse tipo de comida são de pequeno e médio porte, prevendo aumento de 50% nos custos no caso da aplicação da obrigatoriedade das informações. Em dezembro de 2013, a Comissão fez uma estimativa e concluiu que o aumento de preço poderia variar entre 15% e 50% se a rotulagem de origem obrigatória for introduzida. Esses dados, contudo, foram contestados pela Associação de Consumidores Franceses, que prevê um aumento de apenas 0,67%. O tema começou a ser discutido em 2013, quando inspetores de segurança alimentar irlandeses e britânicos encontraram vestígios de DNA de carne de cavalo em lasanhas, hambúrgueres e outras refeições prontas. Desde então, os legisladores euro- peus têm sido pressionados a exigir rastreabilidade da carne processada. Nos supermercados e açougues, a carne processada representa entre 30% e 50% de todo o consumo nos países europeus. Atualmente, a carne bovina in natura é a única sujeita à rotulagem de origem obrigatória. Esta medida foi introduzida em 2002, em resposta ao surto da doença da vaca louca e exige informações como lugar de nascimento do animal, de criação e do abate. A obrigatoriedade passa a valer para todos os tipos de carne a partir de abril próximo, inclusive para as carnes importadas. Os eurodeputados argumentaram que esses rótulos de origem devem ser estendidos também à carne processada. Revisão do quadro financeiro plurianual pode garantir € 8,5 bilhões em programas de desenvolvimento rural Os Ministros das Finanças da União Europeia deram luz verde para a revisão do Quadro Financeiro Plurianual durante a reunião do Conselho. Eles abriram caminho para que € 8,7 bilhões do Fundo de Desenvolvimento Rural não gastos no ano passado sejam transferidos para os exercícios de 2015 e 2016. Dessa forma, € 4,35 bilhões serão transferidos para este ano e a outra metade para 2016. A transferência vai garantir o financiamento de programas de desenvolvimento rural que não puderam ser concluídos em 2014. Informativo União Europeia 3 Edição 17 - Fevereiro de 2015 Phil Hogan pede agilidade dos deputados europeus para a simplificação da PAC O Comissário de Agricultura da Comissão Europeia, Phil Hogan, decidiu colocar pressão sobre os deputados do Parlamento Europeu para que eles apresentem um parecer sobre a simplificação da Política Agricola Comum (PAC). Em uma carta enviada ao presidente do Comitê de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento, deputado Czesaw Siekierski, Hogan solicitou que as contribuições preliminares fossem entregues até 13 de março deste ano. A razão para esse pedido é simples. Hogan quer que os agro-deputados apresentem suas ideias e propostas para a simplificação da PAC na próxima reunião do comitê. Os esforços para simplificar a Política Agrícola Comum estão baseados no atual quadro político. O resultado da revisão legislativa pode ajudar a moldar o debate sobre a simplificação, além de acrescentar propostas concretas para que as mudanças sejam apresentadas. Comissão Europeia estabelece princípios regulamentares de cooperação para o TTIP Desde outubro do ano passado a Comissão Europeia tornou público os documentos relativos ao Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), agora chegou às mãos dos cidadãos interessados no acordo o projeto de texto legal de um capítulo sobre a cooperação regulamentar geral. O documento foi apresentado aos Estados Unidos na última rodada de negociações do Acordo, realizada em fevereiro em Bruxelas. O documento propõe os princípios e alguns mecanismos de cooperação regulamentar a serem seguidos pelos dois lados do Atlântico. De acordo com o texto, a União Europeia e os Estados Unidos devem publicar anualmente uma lista de atos normativos, além de fornecer informações sobre os objetivos da cooperação bilateral, de forma a identificar o impacto sobre o comércio internacional ou sobre os investimentos. Caberia, ainda, a ambos os lados fornecer detalhes do planejamento sobre processo legislativo, assim como examinar como a outra parte abordou ou planeja resolver um problema específico por intermédio de regulamentação, como parte da avaliação do impacto disso para a lei planejada. A Comissão também estabelece no texto que ambas as partes devem acordar sobre a cooperação em áreas de interesse comum, no que diz respeito à troca de informação científica e técnica relevante. O mecanismo de cooperação ainda incluiria a designação de um órgão de cooperação regulamentar, que ficaria encarregado de elaborar e publicar um programa anual de cooperação; acompanhar a aplicação das disposições do capítulo relativo à cooperação regulamentar; e preparar iniciativas conjuntas de instrumentos regulatórios internacionais. Oito capítulos, que abrangem a cooperação regulamentar em áreas específicas, como produtos químicos, cosméticos, têxteis e produtos farmacêuticos, devem ser incluídos no TTIP. Esses capítulos detalham os objetivos e a compreensão sobre cada setor no contexto do Acordo. O do- cumento destaca a oportunidade para avaliação dos reguladores de ambos os lados e, ao mesmo tempo, a troca de informações no setor químico. Uma das possibilidades, por exemplo, é relativa aos filtros UV existentes em cosméticos. Enquanto a Comissão publica mais documentos, como parte de seu compromisso com a transparência no TTIP, os Estados Unidos não planejam seguir o exemplo. De acordo com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, o lançamento do mandato de negociação da Comissão, em outubro do ano passado, e os demais documentos do TTIP publicados, têm feito pouco no sentido de reduzir a oposição de organizações da sociedade civil para o acordo comercial. De fato, na semana em que as negociações ocorreram em Bruxelas, mais de 150 Organizações Não Governamentais (ONGs) publicaram uma declaração conjunta pedindo à Comissão que retirasse a cooperação regulamentar do TTIP. Essa teria sido uma reação a uma versão vazada do capítulo regulamentar da proposta de cooperação. Zona do euro fecha 2014 com superávit de € 194,8 bilhões A Zona do Euro, formada por países que utilizam a moeda, fechou 2014 com saldo positivo na balança comercial, totalizando superávit de 22%. No ano passado foi registrado excedente de € 194,8 bilhões, na comparação com os € 152,3 bilhões de 2013. Os dados foram liberados em fevereiro pelo Eurostat, o escritório estatístico da União Europeia. Já o total do bloco, o EU-28, registrou superávit de € 24,2 bilhões em 2014, menor do que os € 51,8 bilhões de 2013. O escritório também divulgou os resultados das exportações dentro do bloco de janeiro a novembro 2014, 4 Edição 17 - Fevereiro de 2015 Informativo União Europeia em comparação com o mesmo período de 2013. As vendas externas para a China, por exemplo, aumentaram 11% nos primeiros 11 meses de 2014, em relação ao mesmo período do ano anterior. Houve incremento, também, de 8%, nas exportações para a Coréia do Sul e de 6% para os Estados Unidos. Coréia do Sul, China e Turquia foram os países que mais importaram da União Europeia entre janeiro e novembro do ano passado. O aumento foi de 8% para Coréia do Sul e China e outros 7% para a Turquia. O Brasil aparece na lista do Eurostat, mas entre os países cujas exporta- ções e importações diminuíram no ano passado, entre janeiro e novembro de 2013. As quedas mais notáveis foram registradas nas exportações para a Suíça (-18%), Rússia (-13%), e Brasil (-8%). As importações provenientes da Rússia tiveram queda de 10%, seguida da Noruega (-7%), e Brasil (-6%). Acordo de equivalência para produtos orgânicos Desde fevereiro deste ano os países que integram a União Europeia e a Coreia do Sul podem comercializar produtos orgânicos processados e certificados sem complicações. Isto é possível devido à assinatura de um acordo de equivalência sobre o comércio orgânico, em janeiro, entre a Comissão Europeia e a Coreia do Sul. Na prática, o acordo elimina a exigência de dois certificados separados, taxas adicionais e inspeções. O serviço de gerenciamento de produtos agrícolas coreano estabeleceu um certificado específico para os produtos orgâni- cos exportados. Esse certificado deve ser assinado por um organismo de certificação ou autoridade da União Europeia. Ao reduzir a burocracia, especialmente para pequenos e médios empresários, a expectativa é de que o acordo não só facilite a exportação de processados orgânicos, mas estimule também o crescimento e a geração de empregos nas empresas europeias. O setor de orgânicos é um dos mais produtivos e dinâmicos da agricultu- ra europeia, tendo registrado taxa de crescimento em torno de 9% ao ano. São 200 mil agricultores que ocupam 5% da área agrícola utilizada na Europa. Na Coreia do Sul é um mercado em crescimento importante. O acordo abrange todos os produtos alimentícios processados com pelo menos 95% de ingredientes orgânicos. Poderão ser exportados itens como cereais, produtos lácteos, carnes, azeite, preparações alimentícias e comida para bebê, dentre outros, como mostra a tabela abaixo. Alimentos incluídos na lista Cereais Mistura de produtos como nozes, frutas secas e legumes congelados Produtos processados de origem animal, tais como queijos, carnes curadas, costeletas de porco, salsichas e bacon Alimentos para bebês e fórmulas infantis Produtos processados, pasteurizados, incluindo leite e sucos de frutas Café, chá e condimentos Mel Chocolates Vinho, cerveja e bebidas INFORMATIVO UNIÃO EUROPEIA é elaborado mensalmente pelo Escritório de Representação da CNA em Bruxelas, Bélgica. Reprodução permitida desde que citada a fonte. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL SGAN - Quadra 601 - Módulo K CEP: 70.830-021 Brasília/DF (61) 2109-1419 | [email protected]