revista de história - Agrupamento de Escolas de Rio Tinto Nº3

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revista de história - Agrupamento de Escolas de Rio Tinto Nº3
R E V I S TA D E
HISTÓRIA
Revista da Escola Secundáia de Rio Tinto
nº 5 , março 2013
APRESENTAÇÃO…
Contra ventos e marés cá estamos a apresentar mais uma Revista de História, da Escola Secundária
de Rio Tinto, a edição n.º 5.
Continuamos, como sempre, a acreditar nas virtualidades pedagógicas da pesquisa histórica, aqui
evidenciada, por docentes e discentes que, assim, continuam a manter viva mais esta iniciativa editorial da ESRT.
Concordamos plenamente com o sábio Cícero, quando este afirmava que «a História é testemunha
do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos!».
Sem história andaríamos perdidos, na contingência do tempo, sem sabermos que rumo deveríamos
tomar, quer nas nossas vidas individuais, quer no devir coletivo.
Nesta edição há excelentes artigos para serem lidos e refletidos. Contribuirão, estou certo, para
ficarmos a conhecer um pouco melhor alguns momentos, particularmente relevantes, da História,
desde a Antiguidade aos nossos dias.
Teremos oportunidade de conhecer um pouco melhor o que foi o papel da mulher na Roma Antiga;
qual a função das ordens religioso-militares que operaram no território português contra o Islão(?);
quem foi o primeiro português a demandar a China(?); porque é que os ingleses ocuparam a Madeira, na conjuntura das invasões napoleónicas (?); ou a recordar, a carismática figura do histórico
dirigente político que foi Álvaro Cunhal, nascido há cem anos; e ainda haverá tempo para evocar
o “lendário” soldado “Milhões” um dos heróis do trágico envolvimento de Portugal na 1.ª Guerra
Mundial.
O Coordenador da Revista de História,
Manuel Augusto Dias
SUMÁRIO
- A Mulher em Roma
- Os silêncios
- Inês de Castro
- As Ordens Militares no reinado de D. Afonso Henriques
- Um fim de ano dramático há 205 anos
- A reza que nos espera
- A vida política de Afonso Costa
- O último 5 de Outubro
- Portugal na 1.ª Guerra Mundial
- O soldado “milhões”
- Belmonte
- Jorge Álvares na China
- Turismo. Gerações passadas e futuras
- 1.as Jornadas de Turismo e Ambiente
- Recordando Álvaro Cunhal
- Sr. Presidente da República
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Revista de História da ESRT, n.º 5 – Ano letivo 2012/2013
Coordenador: Manuel Augusto Dias. Colaboraram neste número: Alberto Figueiredo, Alexandre Pinto,
Antonieta Alves, Antonino Jorge, António Folha, António Franco, Célia do Couto, Hugo Moreira, Jéssica
Ferreira, Luísa Batalha, Manuel Dias, Manuela Durão, Margarida Martins e Nazaré Alves
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A Mulher em Roma
Célia Pinto do Couto, autora de manuais de História, da Porto Editora
Do nascimento ao casamento
Roma, cidade e império, era “um clube de homens”. Homens a governavam, homens por ela combatiam,
homens nela labutavam, homens nela se destacavam pelos seus escritos e pensamentos. Onde estavam as
mulheres em Roma? Que lugar lhes competia na família e na sociedade?
Para começar, podemos dizer que cada romana era uma sobrevivente. Sobrevivente de um costume e
tradição que podia levar o pai a rejeitar o filho recém-nascido, simplesmente por ser do sexo feminino!
Ultrapassada esta barreira, a menina via ser-lhe colocada ao pescoço uma bula, espécie de medalhão com
amuletos que a protegeriam. Recebia, naturalmente, um nome, mas bem mais simples e curto que o de seus
irmãos rapazes. Enquanto estes ostentavam um praenomen (Marco, por exemplo), um nomen (Emílio, da
família Emília) e um cognomen (relacionado com uma característica física de um antepassado, por exemplo, Escauro, que significa “pé boto”), a menina chamar-se-ia simplesmente Emília, nome da família, não
tendo direito a um praenomen que a individualizasse. E, caso tivesse irmãs, todas se chamariam Emília:
Emília Maior, Emília Menor, ou Emília 1, Emília 2 e, assim, sucessivamente.
Sabemos que, nas famílias abastadas, a menina, como os restantes irmãos, era amamentada por amas escravas, provenientes do campo, que se acreditava serem mais saudáveis. Sabemos, também, que brincava com
bonecas, das quais se desfazia na véspera de casar, entregando-as aos Lares, os deuses da família e do lar. O
mesmo acontecia com a bula.
A idade média do casamento andava pelos treze, catorze anos e casos houve em que o matrimónio se celebrou aos doze anos, a idade mínima legal, aquela em que se julgava estarem as jovens já preparadas para se
tornarem mães. Arrepiamo-nos, certamente, mas lembremo-nos que a esperança de vida, para uma mulher,
não ultrapassava, então, os trinta anos, como irá acontecer, durante mais de um milénio, na história da civilização ocidental.
A mulher no casamento e na vida familiar
O casamento, em Roma, era uma união de interesse
para os pais da noiva e do noivo, que procuravam integrar-se em famílias abastadas e com prestígio político.
Em muitos contratos de casamento, o nome da noiva
nem sequer figurava, sinal de que ela pouco contava.
Poucas, certamente, terão tido voz ativa na escolha do
futuro marido…
Em princípio, a mulher casada ficava sob a autoridade
do cônjuge, sem capacidade de autonomia jurídica e financeira. Mas a tendência, durante o período imperial,
caminhou no sentido de o pai da noiva continuar como
seu tutor, representando-a legalmente e administrando
os seus bens. Augusto, a fim de incrementar a natalidade,
dispensou de tutela as mulheres nascidas livres que tivessem, pelo menos, três filhos.
O elevado poder que os pais detinham sobre as filhas
casadas pode ser avaliado pelo exemplo do próprio Augusto que não hesitou em obrigar sua filha Júlia a divorciar-se de Agripa, de quem estava grávida do 5.º filho
(!), para se consorciar com Tibério, o futuro imperador.
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Cerimónia de casamento, relevo de um sarcófago, século II
A celebração do matrimónio podia fazer-se através de uma cerimónia mais ou menos faustosa, com mais
ou menos convidados, em casa dos pais da noiva. Do casamento romano ficaram, para a posteridade, rituais
que nos são familiares ainda nos dias de hoje: o uso do véu (nubere, que significa pôr o véu, era o verbo
utilizado para expressar o ato de se casar); o uso do anel no dedo a que chamamos anelar, da mão esquerda,
que se acreditava estar diretamente ligado ao coração; a partilha de um bolo entre os noivos; o banquete para
os convidados; a entrada da noiva ao colo no novo lar.
Mas os Romanos, com o seu espírito prático, conceberam uma outra forma de se casarem, especialmente
conveniente para quem tinha escassas posses. Bastava que homem e mulher coabitassem durante um ano,
sem que a mulher se afastasse do lar por mais que três noites seguidas, para a união matrimonial se considerar legítima.
Casar-se significava assumir a condição de matrona, isto é, aquela que contraiu matrimónio. Da matrona
esperava-se uma conduta virtuosa e que desse à luz vários filhos, que dela fariam uma materfamilias respeitável e perpetuariam o nome da família e o património.
Em casa, as matronas superintendiam nas lides domésticas ou executavam-nas, na ausência de criadagem.
Educavam os filhos e acompanhavam o marido nas refeições, inclusive quando havia convidados. Uma situação bem mais simpática do que a verificada na Grécia antiga, em que as mulheres se viam relegadas para
o gineceu.
Sempre que saía à rua, a matrona deveria ir de cabeça coberta com o véu ou o capuz do manto. Casos houve
em que os maridos solicitaram o divórcio por a esposa se atrever a sair de cabeça descoberta! Beber vinho,
ser adúltera ou não dar descendência constituíram outros tantos motivos para os maridos repudiarem as
esposas.
Ao contrário das gregas, que quase não saiam de casa, as romanas dispunham de maior liberdade pessoal.
Frequentavam as termas, se bem que não se misturassem com os homens; assistiam, no anfiteatro, a combates de gladiadores e, no circo, a corridas de carros puxados por cavalos.
Embora não pudessem votar nem desempenhar cargos políticos ou servir nos exércitos, as romanas eram
consideradas cidadãs, algo absolutamente impensável na Atenas democrática do século V a. C. Competia-lhes educar e formar os futuros cidadãos, tarefa que, na Grécia, pertencia ao pai.
Ousadias no feminino
Apesar dos entraves à igualdade de género, Roma conheceu notáveis exemplos de emancipação e de ousadia por parte das mulheres.
Em 42 a. C., Hortênsia, uma jovem esclarecida, indignada com o
lançamento de um pesado imposto sobre 1500 mulheres das melhores famílias de Roma, promoveu uma manifestação em pleno
fórum, contestando a injustiça de uma lei que onerava o sexo
feminino, sem que, em troca, lhe reconhecesse o direito à participação na vida política! Foi, talvez, uma das primeiras manifestações contra os impostos dinamizada por mulheres e, naquele
caso, surtiu efeito, pois apenas 400 delas acabaram por pagar a
referida contribuição.
Outras mulheres romanas distinguiram-se pela sua sagacidade e
influência nos destinos de Roma. Lívia, a segunda mulher de Augusto, revelou-se uma eficaz mulher de negócios, administrando
com sucesso a fortuna pessoal e dispensando a intervenção do
seu tutor. Ambiciosa, conseguiu que o filho Tibério, que tivera
de um anterior matrimónio, chegasse a imperador, convencendo
Augusto a nomeá-lo como sucessor. Outras, ainda, fugiram ao
figurino da mulher recatada e submissa aos pais e maridos.
Materfamilias, fresco de Pompeia, século I
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Júlia, a filha de Augusto que casou com Tibério, não se conformou com o casamento de interesse a que o pai a forçou e, para escândalo da sociedade romana e desgosto do severo progenitor, entregou-se a uma vida desregrada com sucessivos amantes. Augusto
acabou por a banir da corte imperial, condenando-a ao desterro.
E que dizer das mulheres atletas que treinavam afincadamente nos
ginásios e das gladiadoras que combatiam as feras nos anfiteatros?
Afrontando preconceitos, críticas e maledicências e vencendo medos num mundo feito à medida dos homens, muitas foram as mulheres romanas que buscaram, nesse tempo longínquo, a afirmação
pessoal e o direito ao reconhecimento. Todas elas, com as suas ousadias, ajudaram a construir um percurso de liberdade e igualdade, ainda longe, para muitas das vindouras, de um destino feliz.
Mulheres atletas recebem a recompensa pela vitória em Jogos, mosaicos da Vila Romana de Casale, Sicília, século IV
Matrona, mármore, século II
Os silêncios
Silenciam-se das promessas os medos
Para o indecoroso esconder
Mas já não estacam o furor
Já labuta entre os dedos
A palavra a irromper
Nesse olhar que acolhe o desdém
Vai um sol que atrás do sonho corre
Desfraldando da nebulosa além
Um firmamento aberto à fantasia
Que do imaginário nunca morre
Nesta alameda sem caminho
Restam uns míseros temores
Cerzidos por atalhos de desnorte
Poucos ais para tamanhas dores
Como quem perdeu o norte
Um poema não é um sedimento
Deixado em ventre de mulher
Fecunda-se nas entranhas do destempo
Feito órfão na poeira da sorte
Como outra coisa qualquer
Celestina Imaginação
10/2012
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Inês de Castro
“Aquela que foi Rainha de Portugal depois de morta”
Jéssica Oliveira Ferreira, aluna do 11.º H
D. Inês de Castro, que nasceu na Galiza em 1320 ou 1325, foi uma nobre galega filha de D. Pedro Fernandes
de Castro, Mordomo-mor do rei D. Afonso XI de Castela, e de Aldonça Lourenço de Valadares, uma dama
portuguesa; e era ainda bisneta ilegítima de D. Sancho IV de Castela.
Inês de Castro entrou na História de Portugal aquando do casamento de D. Constança Manuel com D. Pedro I, por ser aia da noiva e foi nesta altura que conheceu o futuro rei português, por quem se apaixonou. O
romance foi criticado tanto pela Corte como pelo povo e sob pretexto da moralidade. D. Afonso IV, pai de D.
Pedro, também não aprovava a relação, não só por motivos de diplomacia com Castela mas também devido
às amizades profundas de D. Pedro com os irmãos de D. Inês. Apesar de toda esta oposição era conhecido
que Pedro e Inês mantinham o seu romance, embora D. Inês tenha sido exilada por D. Afonso IV no castelo
de Albuquerque, na fronteira castelhana.
Depois da morte de D. Constança, ao dar à luz o futuro rei D. Fernando I de Portugal, e contra a vontade
do pai, D. Pedro mandou D. Inês regressar do exílio e foi viver com a mesma, o que provocou um escândalo
na Corte e um grande desgosto para o rei D. Afonso IV. Fruto deste relacionamento nasceram quatro filhos:
Afonso (1346), Beatriz (1347), João (1349) e Dinis (1354).
Depois de viver alguns anos no norte do país, o casal decidiu regressar a Coimbra, ao Paço de Santa Clara,
e foi aqui que Inês viveu os seus últimos anos de vida, pois corriam boatos que o príncipe se tinha casado
secretamente com D. Inês e um acontecimento deste tipo trazia graves complicações políticas. Confrontado
com este facto e pressionado pelos seus conselheiros, o rei D. Afonso IV em 1355 aproveitou a ausência do
filho, numa excursão de caça, e enviou alguns homens para matar Inês, em Santa Clara. Entre eles encontram-se nomes como Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco.
Este feito revoltou D. Pedro contra D. Afonso IV, desavença que a rainha D. Beatriz ao intervir conseguiu
acalmar. Ao tornar-se rei em 1357, D. Pedro I legitimou os filhos que teve com D. Inês na declaração de
Cantanhede onde afirmou também que casou secretamente com D. Inês em 1354. De seguida, perseguiu os
assassinos de Inês fugidos em Castela conseguindo executar Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves (reza a lenda
que o rei mandou arrancar o coração de um pelo peito e de outro pelas costas enquanto se banqueteava). D.
Pedro I fez ainda aclamar D. Inês como rainha de Portugal, mesmo depois de esta estar morta.
D. Pedro mandou construir o seu túmulo e o de Inês lado a lado no mosteiro de Alcobaça onde estão sepultados ainda hoje com a diferença de que os túmulos já não se encontram lado a lado mas sim frente a frente.
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As Ordens Militares no Reinado de
D. Afonso Henriques (1139 -1185)
Hugo Moreira,
Moreira, professo
professor
or de História
Introdução
No presente trabalho, tentamos fazer uma síntese da presença das Ordens Militares em Portugal, durante
o reinado de D. Afonso Henriques.
Desde a sua instalação até à morte do rei, passando pelas doações, cartas de foral e povoamento, assim
como todas as fortificações que possuíram e o papel que desempenharam durante o reinado do rei fundador
da Nação Portuguesa, todos os aspetos serão por nós abordados.
O que possuíam as Ordens Militares? Que papel desempenharam durante o reinado de D. Afonso Henriques? Que conflitos houve na relação monarca/ ordem militar? Estas e outras questões terão respostas no
presente trabalho.
As Ordens Militares e a Reconquista Portuguesa no Reinado de D. Afonso Henriques
O processo de Reconquista Portuguesa, encetado pela Nobreza Condal e, posteriormente, pela Monarquia
Portuguesa, não se pode separar da influência que as Ordens Religioso-militares tiveram em Portugal, nomeadamente a Ordem do Hospital, a Ordem do Templo, os Cavaleiros de Santiago (Ordem de Santiago), e
a Milícia de Évora (que veio a ser mais tarde a Ordem de Avis).
As Ordens do Templo e do Hospital, desempenham um papel primordial no reinado de Afonso Henriques
(1139-1185). A Ordem do Templo, foi responsável, nomeadamente no mestrado de Gualdim Pais, pelo
sucesso da política do reino, quer a nível de organização social do espaço, quer a nível militar, com as conquistas de Lisboa e Santarém, por exemplo.
A Ordem do Hospital e do Templo, atuaram mais durante o século XII, sendo que a primeira, só muito
mais tarde, já no reinado de D. Sancho I, filho de D. Afonso Henriques, teve um papel não só assistencial,
como é próprio da sua regra, mas também uma vertente militar forte. Quem olhar para os mapas possíveis
de Portugal no reinado d’O Conquistador, verifica que a influência das Ordens Religioso-militares se compadece com os bens e castelos que estavam na sua posse por ordem régia.
Como podemos verificar no presente trabalho, os domínios da Ordem do Templo e do Hospital, situamse a norte do reino, enquanto a Ordem de Avis e de Santiago têm o seu património situado mais a sul, Alto
Alentejo e Algarve, respetivamente, uma vez que a Reconquista Portuguesa terminou em 1249, no reinado
de D. Afonso III.
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A Ordem do Hospital no Reinado de Afonso Henriques
Não conhecemos nenhuma prova concreta que nos diga quando é que a Ordem do Hospital, começou por,
em território português, marcar a sua presença.
No entanto, desde muito cedo que esta Ordem acabou por estreitar laços com a monarquia portuguesa.
Temos um conjunto de fatores, quer internos quer externos, que nos explicam a situação desta mesma
Ordem.
Os fatores externos têm que ver com os mecanismos que são característicos da monarquia. O rei e o seu
reino estão interligados. A sua figura atua dentro das linhas de fronteira do mesmo. Contudo, para haver
reino têm que haver súbditos. É o rei que os supervisiona. Ora, os Hospitalários, eram também súbditos do
reino, pois estavam em território português por consentimento do rei. Embora a sociedade medieval seja
uma sociedade tripartida, mas que tem imensas clivagens, denotamos que este é o primeiro privilégio dado
aos Hospitalários. Este privilégio advém de que os membros da Ordem do Hospital são membros do clero, e
por inerência já estão inseridos na pirâmide social medieval (esta pirâmide social era constituída pelo Clero,
Nobreza e Povo. Como os membros da Ordem Militar do Hospital eram freires, estavam inseridos no grupo
social dos clérigos, embora com características diferentes do Clero restante, ou seja, os Hospitalários combatiam na guerra da Reconquista Peninsular, assim como nas Cruzadas). A sua categoria social era, portanto,
privilegiada e, de certo modo, ambígua.
Outro dos fatores externos reside no simples facto de até ao reinado do rei D. Afonso III, se encetar um
processo de conquista do território que viria a chamar-se Portugal. D. Afonso Henriques precisa destes homens para assegurar as linhas de fronteira a sul e na zona oriente do território. Esta é uma necessidade vital,
pois, o rei além de conquistar, precisa de povoar o território. Defesa e povoamento são fulcrais para qualquer
rei da Reconquista. Assim, o rei terá chamado à Corte o mestre da Ordem dos Templários; este e a sua ordem
aderiram prontamente aos projetos de D. Afonso Henriques.
No que concerne aos fatores internos, estes têm que ver com um dos pontos por nós já referidos em cima,
que é a relação que os membros desta ordem têm com os estratos nobilitados da sociedade (este fator fez
com que os contactos da Ordem, os círculos do poder régio fossem um meio de enorme importância). Esta
Ordem mantinha-se muito próxima da Cúria Papal, assim como do Sumo Pontífice.
O seu papel de defesa contra o Islão foi fundamental. Enquadramento eclesiástico e religioso, assim como
povoamento das zonas conquistadas foram papéis que estas ordens desempenharam (além destes fatores
internos temos o fator assistencial, que esta ordem se propôs a prestar no Condado Portucalense, e este que
é o fator fundacional da Ordem dos Hospitalários).
Estes fatores têm sempre pontos de convergência dos quais, alguns já exemplificamos no presente trabalho.
No entanto, houve momentos de hostilidade entre a Ordem e a monarquia.
A presença da Ordem dos Hospitalários em Portugal data de 1112. O Conde D. Henrique, pai do monarca
D. Afonso Henriques, já manifestou interesse por esta ordem aquando se propôs ir em peregrinação à Terra
Santa (esta viagem não se concretizou, pois o Papa Urbano II, opôs-se a D. Henrique, pois este tinha o processo da Reconquista em mãos. No entanto, não esqueçamos, que quando D. Henrique veio para o Condado
Portucalense, era um cruzado, e por esse motivo, pensamos que o ideal de Cruzada, aproximou este jovem
conde da Ordem dos Hospitalários.).
Assim que D. Afonso Henriques assumiu a administração do território, os Hospitalários já estavam presentes em território português (nomeadamente em Leça do Balio, cujo mosteiro lhes pertencia). No ano
de 1140, o rei deu carta de couto a D. Raimundo, procurador da Ordem dos Hospitalários. Nessa carta de
Couto estava designado todo o território de Leça do Balio, assim como o seu mosteiro (esta carta de couto,
tem também como objetivo primordial a defesa da linha do Mondego, que tanto preocupava D. Afonso
Henriques. A Batalha de Ourique (25 de julho de 1139), assim como a sua envolvência política e social, estão
inseridas neste contexto).
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Este gesto do monarca é visto pela historiografia portuguesa como uma atitude incontestada e marcante
(no que concerne ao favorecimento da Ordem dos Hospitalários, no que à implantação territorial diz respeito, assim como as iniciativas particulares várias, que vieram salientar a ação régia de D. Afonso Henriques).
No ano de 1157, nomeadamente em abril, D. Afonso Henriques renova a carta de couto que já tinha feito
aos Hospitalários, dezassete anos antes, assim como os privilégios que dela advinham (para que o leitor
possa perceber quais as verdadeiras intenções desta doação aos Hospitalários, referimos que a mesma teve
como consequência, a ajuda militar e assistencial prestada pelos Hospitalários, aquando do cerco e conquista da cidade de Lisboa, no ano de 1147, aos mouros).
D. Afonso Henriques fez doação aos Hospitalários das vilas de Sertã e Pedrógão Pequeno, no ano de 1174,
segundo consta no Foral Manuelino das mesmas vilas (este facto advém não só do facto de D. Afonso
Henriques ter uma certa empatia pela Ordem do Hospital, mas também, na nossa perspetiva, de esta o ter
ajudado na conquista de Lisboa).
Finalmente, na fase final do reinado de D. Afonso Henriques, quando D. Sancho, seu filho, já estava associado ao governo, esta doação foi reconfirmada (esta reconfirmação é claramente, em nosso entender, um
reforço do poder dado pelo rei aos Hospitalários, pois os próximos reinados, ainda, teriam que se preocupar
com a Reconquista, que só termina em meados do século XIII, no reinado de D. Afonso III).
A Ordem do Templo no Reinado de Afonso Henriques
Esta Ordem Religioso-militar tem os seus inícios em Portugal, já durante o reinado de D. Teresa, que estava à frente da governação do Condado Portucalense, após a morte em Astorga do seu marido, o Conde D.
Henrique.
D. Teresa, juntamente com o infante seu filho D. Afonso doou aos Templários, o Castelo de Soure, assim
como o território por este abrangido, que por si só era enorme (esta doação foi feita em vésperas da Batalha
de S. Mamede, que opôs os exércitos partidários de D. Afonso Henriques aos exércitos luso-galaicos de D.
Teresa, no ano de 1128).
Tal como a Ordem do Hospital, que tem as suas origens fundacionais no ano de 1112, a Ordem do Templo
era também uma ordem religioso-militar que obedecia à casa-mãe na Palestina.
Para que se conheçam referências concretas a esta Ordem é preciso que nos situemos nos anos 70, do século XII, ao mesmo tempo que se deteta a presença das Ordens Militares de origem peninsular, em Portugal.
A sua presença deve ser enquadrada na situação político-militar portuguesa do século XII. É nos finais
da década de sessenta deste século que se dá a Batalha de Badajoz (1169). Esta batalha assim como a forte
pressão almóada que se fazia sentir, teve como consequência uma doação para a Ordem dos Templários, em
Setembro do mesmo ano (ao assinar esta doação, D. Afonso Henriques, que já se auto-proclamava monarca,
fez com que os Templários ficassem com todas as terras que viessem a conquistar a sul do rio Tejo. Este
diploma não foi uma mera doação de terras, foi sim, e isso constatamos aquando a nossa análise de fontes,
um reforço da autoridade do monarca para com a ordem, mas também a preocupação que este tinha na formação da nação portuguesa, ou seja no combate contra os muçulmanos, e assim o consolidar de fronteiras
para sul. Com esta doação, os Templários tiveram um papel primordial na conquista do Alentejo).
Esta ordem optou por uma vertente militar mais ativa. Receberam um vasto património em território português, devido às suas lutas contra os muçulmanos. Como já referimos no presente trabalho, os Templários
tiveram a sua primeira doação no ano de 1128. Ao receberem o castelo de Soure, os Templários controlavam
um vastíssimo território, de onde fazia parte a antiga estrada romana Olisipo/Aeminium/ Bracara.
Assim que D. Afonso Henriques foi para a cidade de Coimbra com a família e a Corte e aí se estabeleceu,
houve uma viragem estratégica muito grande que afetou a Ordem do Templo. Sendo assim, D. Afonso
Henriques, com esta medida, quis afastar-se do norte senhorial e das famílias condais que o apoiavam, procurando assim mais autonomia para si e para o seu reino. No entretanto, os Templários foram-se tornando
os guardiães dos acessos à nova capital régia. Restauram o Castelo de Soure, e construíram os Castelos de
Ega e Pombal, sendo o último um castelo construído de raiz, a partir de 1156.
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Os muçulmanos atacaram Soure em 1144; foi uma derrota muitíssimo pesada para a Ordem do Templo
(esta horda muçulmana vinha de Santarém e por muito pouco não conseguiu destruir o Castelo de Soure.
Com esta invasão, é capturado Martinho de Soure, que morre mais tarde no cativeiro e conquista no reino
a fama de santo). Contudo esta batalha, não diminuiu a confiança do rei depositada nos freires Templários.
É também nesta época que os Templários se organizam internamente. Criam novos estatutos dentro da
Ordem como o cargo de Procurador da Ordem.
Para reafirmar a confiança na Ordem do Templo, Fernão Mendes de Bragança, da linhagem da família
condal dos Branganções, doou os Castelos de Penas Róias, Mogadouro e Longroiva, Com esta doação a Ordem passa a ter assim o seu segundo grande domínio em Portugal, só que desta feita em Trás-os-Montes e
na Beira (os templários asseguravam, assim, a fronteira a sul de Coimbra e com esta nova doação a fronteira
leste do reino).
As conquistas de Santarém e o Cerco de Lisboa, feitos em 1147, por volta da primavera, época das campanhas militares (o primeiro) e no verão (o segundo), foram feitos pelas tropas de D. Afonso Henriques, mas
também dos freires cavaleiros da Ordem do Templo (a conquista de Lisboa contou ainda, com o auxílio dos
Cruzados). A consequência da participação da Ordem do Templo na Conquista de Santarém foi mais uma
doação, que desta vez, incluía o célebre Eclesiástico de Santarém (esta doação gerou uma polémica, que se
prolongou doze anos).
O período Áureo da Ordem do templo em Portugal
Este é o período que corresponde ao longo Mestrado de Gualdim Pais em Portugal (1156-1197). Este
homem pertencia à linhagem dos Ramirões (por parte do pai) e dos Correias (por parte da mãe) e era de
origem nortenha. É um homem com um certo estatuto nobilitado na sua época (pois participou na segunda
Cruzada, que foi proclamada por S. Bernardo, no ano de 1146, partindo para a Terra Santa nos anos cinquenta do século XII).
No ano de 1156, fundou o Castelo de Pombal, obra que ficou concluída tês anos depois. Foi no ano de 1159
que se começou a construir o Castelo de Tomar, o chamado ex-líbris dos Templários.
É também neste mesmo ano que Gualdim Pais chega a acordo com o Bispo de Lisboa, Gilberto de Hastings, a propósito da questão sobre o Eclesiástico de Santarém, querela esta, que chega assim ao fim, após
doze anos.
É no decorrer deste ano, que D. Afonso Henriques faz doação do Castelo de Ceras a esta Ordem, devido
ao fim da querela entre a Igreja e os Templários, por causa do Eclesiástico de Santarém. O Castelo de Tomar,
que fica no interior deste território, é fundado no ano 1160, e a sua construção decorre durante nove anos.
Após a conclusão das obras em Tomar, o monarca faz uma confirmação do território de Tomar e todos os
seus domínios, fazendo com que a Ordem ficasse na posse do território de Ceras até ao vale do Tejo (com
esta doação, a Ordem do Templo fica na posse de mais dois castelos, os Castelos de Cardiga e do Zêzere,
controlando, como consequência, uma segunda via que dava acesso a Coimbra, que se apoiava na Ladeia).
Assim que as obras de construção deste novo castelo terminaram, a Ordem faz uma remodelação nos seus
castelos, erguendo assim Torres de Menagem em Pombal, Penas Róias e Longroiva. Restauram os castelos
de Cardiga, Zêzere, Monsanto e Idanha-a-Velha, assim como a reforma do Castelo de Soure, que passa agora
pela sua terceira fase de remodelação. Estes restauros advêm de duas causas:
- As pressões almóadas que se faziam sentir na década de setenta, do século XII;
- As reformas técnicas e militares que Gualdim Pais introduz nos castelos de Portugal, nomeadamente o
Alambor e a Torre de Menagem e a Hurdício.
As Torres de Menagem são construídas nos Castelos de Tomar, Soure, Almourol, Pombal, Penas Róias, Longroiva e Monsanto.
Por sua vez, o Alambor foi introduzido nos Castelos de Soure, Pombal, Lousã, Juromenha e Lisboa.
Resumindo, o que a Ordem dos Templários, em Portugal, possuía durante o século XII, era um património
muito vasto, que se concentrava nos seguintes territórios:
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- Os domínios que estavam localizados a Sul de Coimbra, e que eram dominados pela via romana e pela
Ladeia, e onde, por sua vez, se situavam os Castelos de Soure, Ega e Pombal, e também os Castelos de Cera,
Tomar, Almourol, Zêzere e Cardiga;
- Os domínios sobre o curso do Tejo e da fronteira a Leste do reino, onde se situavam os Castelos de Monsanto e Idanha-a-Velha, e da Herdade de Açafa e Rodão;
- Por fim, os domínios da fronteira leste de Trás-os-Montes e da Beira Interior, onde estão situados os
Castelos de Penas Róias, Mogadouro e Longroiva.
Assim sendo, podemos verificar que, esta Ordem tinha territórios de periferia e de fronteira, essencialmente a norte do Tejo. Uma vez que o reino tinha em finais do século XII, cerca de 200 fortificações, e a
Ordem do Templo possuía 10% do território, podemos concluir que o papel desta Ordem foi determinante,
não só em termos de conquista, mas também em termos de povoamento, uma vez que os territórios conquistados precisavam de pessoas para povoar e trabalhar a terra.
Mestres Templários no Reinado de D. Afonso Henriques:
Hugo de Payens (Huguens de Payns) (1118-1136)
Hugue, conde de Champagne
Rossal de Clairvaux
Geoffro de Bissor
André de Condemare
Archambaud de Saint-amande
Philippe de Milly (Philippus de Neapoli/de Nablus) (1169-1171)
Odo de St Amand|Odo (Eudes) de St Amand ou Odon de Saint-Chamand (1171-1179)
Arnaud de Toroge (Arnaldus de Turre Rubea/de Torroja) (1179-1184)
Gérard de Ridefort (1185-1189)
Mestres Portugueses no Reinado de D. Afonso Henriques:
Afonso Henriques, Irmão Templário (13.03.1129)
Guillaume Ricardo (1127 - 1139)
Hugues Martins (1139)
Hugues de Montoire (1143)
Pedro Arnaldo (1155 - 1158)
Gualdim Pais (1158 - 1195)
Castelos Templários no Reinado de D. Afonso Henriques:
Castelo de Soure (1128)
Castelo de Celorico da Beira
Castelo de Ranhados
Castelo de Longroiva (1145)
Castelo de Cera (1159)
Castelo de Tomar (1160)
Castelo de Torres Novas
Castelo de Seda (1160)
Castelo de Pombal (c. 1160)
Castelo de Mogadouro (1165)
Castelo de Belmonte
Castelo de Sabugal
Castelo de Sortelha
Castelo de Penamacor
Castelo de Monsanto (1165)
Castelo de Salvaterra do Extremo
Castelo de Segura
Castelo de Rosmaninhal (1165)
Castelo de Penas Róias (1166)
Castelo de Almourol (1171)
Castelo do Zêzere (1174)
Castelo de Idanha-a-Nova (1187)
10
A Ordem de Avis no Reinado de D. Afonso Henriques
A Ordem de Avis, é uma ordem de filiação Cisterciense, que foi criada na década de 70, do século XII, a
mando de D. Afonso Henriques. Esta Ordem Religioso-militar, teve como primeiro nome Milícia de Évora.
Uma vez que, o foral de Évora data do ano de 1166, assim como o primeiro documento do cartório de Avis
do ano de 1176, poderemos supor que foi muito perto desta data que foi criada a Ordem de Avis.
O primeiro objetivo desta Ordem Religioso-militar, ordenado pelo monarca, era defender a cidade de
Évora. Esta ordem surgirá então, desde logo, com uma matriz militar muito forte.
O primeiro mestre da Ordem de Avis foi um dos membros da família de Lanhoso, D. Gonçalo Viegas
(este membro da família dos Lanhoso, já foi pretor de Lisboa e da Estremadura, antes de ser nomeado pelo
monarca Mestre da Ordem. Morreu em 1195, na Batalha de Alarcos). Esta Ordem Religioso-militar cedo
caiu nas boas graças do primeiro monarca português. No ano de 1176, recebera património fora da área
geográfica de Évora. Em abril, desse ano, recebera o Castelo de Coruche, assim como diversos bens em
Santarém e na cidade-berço da Ordem.
Este castelo controlava o maior ponto de passagem da região, ou seja, a estrada que fazia ligação desde
Santarém a Évora.
A primeira sede da Ordem situava-se no Alcácer Velho, do monarca D. Afonso Henriques.
Antes da sua morte, em 1185, o monarca deixou em testamento dez mil morabitinos, para que os cavaleiros da Ordem de Avis, pudessem estruturar as suas defesas em Évora.
Depois da morte do Conquistador, os membros da Ordem ainda receberam os Castelos de Alcanede, a vila
de Alpedriz e o Castelo de Juromenha, e caso o viessem a conquistar, o Castelo de Benavente (importante
nos acessos de Santarém a Lisboa), o Castelo de Mafra e a Vila de Avis, onde ergueram castelo e povoaram
a dita vila.
Património da Ordem de Avis no reinado de D. Afonso Henriques
O património desta Ordem está concentrado, sobretudo no Alto Alentejo, zona originária da Ordem. Os
castelos, que no presente trabalho podemos nomear são:
Castelo de Alcanede;
Vila de Alpedriz;
Castelo de Mafra;
Castelo de Benavente;
Castelo de Coruche;
Castelo de Seda;
Castelo de Alter Pedroso;
Castelo de Avis;
Castelo de Veiros;
Castelo de Juromenha;
Castelo de Alandroal;
Castelo de Évora;
Castelo de Noudar;
Castelo de Paderne;
Castelo de Albufeira;
Castelo de Évora
11
A Ordem de Santiago no reinado de D. Afonso Henriques
Ordem Religioso-militar de matriz hispânica, a Ordem dos Cavaleiros de Santiago, teve as suas origens em
Portugal na década de 70, do século XII.
A primeira notícia que temos a propósito da Ordem de Santiago em Portugal data do ano de 1172, em julho, quando D. Pedro Fernandes vem para o reino português. Mal chega a terras lusas, este homem, recebe
doação do rei da vila da Arruda (nas pessoas do Mestre e Conde D. Rodrigo, assim como de todos os seus
sucessores), os seus termos e direitos régios. O monarca faz uma segunda doação a D. Pedro, mas desta vez,
foi-lhe doado o Castelo de Monsanto, junto à terra de Idanha, no sul do reino. O castelo foi entregue ao
conde e Mestre Rodrigo. Umas das importantes condições pelas quais foi doado o Castelo de Monsanto (D.
Afonso Henriques concede à localidade de Monsanto, carta de foral em abril de 1174. Contudo, em 11731174, os cavaleiros da referida Ordem, tiveram que abandonar o Castelo de Monsanto e o seu termo, devido
às invasões almóadas que se verificaram no reino), foi que o seu mando, seja sempre do conde e não de outra
pessoa, assim como o Castelo pertence ao rei que suceder a D. Afonso Henriques, seja na paz ou na guerra.
Ou seja, a fortaleza portuguesa, embora seja da Ordem de Santiago, que obedece por sua vez a Úcles, que
está situada no reino de Leão, com estas condições impostas pelo rei, é leal a Portugal. Com isto, o monarca
quer mostrar que exerce a sua autoridade no território que é Portugal, mas também sabe os problemas que
pode ter com Leão, se a Ordem de Santiago não for fiel a si.
O Castelo de Abrantes, assim como o seu termo, fica sob jurisdição da Ordem de Santiago, em setembro de
1173. Este castelo é uma fortificação de enorme importância, pois situa-se na rota dos castelos da linha do
Tejo, importante baluarte de defesa contra as invasões muçulmanas. Mais uma vez, este castelo é entregue a
D. Rodrigo, conde e Mestre da Ordem luso-leonesa.
Os Castelos de Alcácer e Almada também constituem doações feitas pelo monarca português, e está na
sequência lógica das doações que os monarcas de Castela e Leão fizeram em terras vizinhas.
Como se pode concluir, em afirmações já feitas no presente trabalho, a Ordem de Santiago ficou a cargo da
defesa da linha do Tejo contra as invasões almóadas.
Os Castelos de Alcácer, Almada, Arruda e Abrantes, supostamente devem-se ter conservado na Ordem de
Santiago, conforme bula papal de 1175, e uma bula posterior, de Alexandre III, do ano de 1180.
Depois de 1175, é bem plausível, que os santiaguistas portugueses, tenham tentado voltar para os seus
domínios que estavam abandonados. Conseguiram para muitos, mas para Monsanto, não.
A Bula de 26 de julho de 1180, veio pôr cobro e termo aos conflitos que existiam com o monarca e os santiaguistas, devido às condições de lealdade que este lhes impôs.
Depois da bula papal de 1180, a ordem nunca mais se recompôs e o seu poder no reino foi decaindo, embora D. Rodrigo, Mestre da Ordem de Santiago, ainda gozasse da simpatia do rei e da sua fidelidade.
No entanto, os conflitos com a Ordem nunca foram esquecidos em vida do rei, nem mesmo com a bula.
Em conclusão, o trabalho que aqui apresentamos teve por base a origem das Ordens Religioso-militares
presentes em Portugal, no reinado do rei fundador, D. Afonso Henriques.
O trabalho que findamos e que apresentamos, teve como objetivo elaborar um esboço de cada Ordem,
quer fosse Templo, Hospital, Avis ou Santiago, desde a sua institucionalização em terras lusas, até à morte
do Conquistador.
Tentamos mostrar qual foi o papel que cada ordem religioso-militar desempenhou em tão extenso reinado,
quais foram os seus mestres, que papel tiveram na Reconquista, que doações foram feitas pelo rei, quais os
conflitos advindos das mesmas doações, de que maneira povoaram a terra que lhes foi dada e, finalmente,
que legado deixaram em Portugal.
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2001.
Um fim de ano dramático há 205 anos
Invasão francesa em Portugal e ocupação inglesa na
Madeira
Há 205 anos, os portugueses tinham todas as razões para ainda se sentirem em pior maré do que aquela que
hoje nos envolve. Os franceses invasores estavam cá há um mês (desde novembro), tinha o mesmo tempo
a fuga da Família Real e da Corte para o Rio de Janeiro (Brasil) e, praticamente, em simultâneo, os nossos
aliados ingleses vieram apoderar-se de Portugal, com o argumento de virem defender o império português,
correspondendo ao apelo de ajuda da casa reinante portuguesa.
Mas o mais grave de tudo foi a segunda ocupação britânica da Ilha da Madeira. Sem qualquer aviso prévio
às autoridades portuguesas, na véspera de Natal de 1807, uma esquadra britânica aportou ao Funchal e apoderou-se da Ilha, pelos vistos jogando na antecipação estratégica à presumida investida napoleónica naquele
arquipélago atlântico. Já no início do Verão de 1801 havia sucedido algo muito semelhante.
A esquadra inglesa que ancorou na capital madeirense, naquele dia 24 de dezembro de 1807, era comandada pelo almirante Samuel Hood, e compunha-se de 4 naus, 4 fragatas e 16 navios de transporte, transportava
2 regimentos de infantaria (cerca de 2 mil soldados) mais duas companhias de artilharia, sob o comando do
nosso, mais tarde, bem conhecido general Beresford (terá sido durante a sua permanência de pouco mais de
meio ano na Madeira que este general britânico aprendeu a falar português).
Feito o desembarque, sem qualquer reação por parte da presença militar portuguesa naquele arquipélago, o
general inglês dirigiu-se, de imediato, ao Governador português na Ilha, o Capitão-general Pedro Fagundes
Bacelar de Antas e Meneses, que intimou a entregar-lhe o Arquipélago, e este não que não viu como resistir,
acabou por capitular. Logo no 1.º artigo do Auto de Capitulação, assinado a 26 de dezembro de 1807, pode
ler-se o seguinte: «A Ilha da Madeira e suas dependências serão entregues aos comandantes das forças de sua
majestade britânica para serem conservadas e governadas por sua dita majestade com os mesmos direitos,
privilégios e jurisdições com que até agora as gozou a coroa de Portugal». No dia 30 de dezembro seguinte,
Beresford fez uma Proclamação à população madeirense, obrigando-a a reconhecer como seu legítimo rei,
o monarca inglês, Jorge III.
Esta ocorrência causou grande surpresa e consternação, quer no Reino, quer na Corte, no Rio de Janeiro,
que mandatou o representante diplomático de Portugal em Londres, Domingos António de Sousa Coutinho, para fazer todos os esforços no sentido da devolução do Arquipélago a Portugal.
Graças ao seu talento e prometendo à coroa britânica que Portugal aceitaria em troca da restituição da
administração da Madeira às autoridades civis portuguesas, a entrega da superintendência de todos os assuntos militares a Beresford, Londres assentiu na devolução de toda a administração civil do território madeirense aos portugueses (Tratado de Restituição da Madeira, assinado em Londres, a 16 de março de 1808),
reassumindo, assim, 4 meses depois (finais de abril de 1808), Pedro Meneses as suas funções de Governador
da Madeira, voltando à sua residência oficial no Palácio de S. Lourenço, donde havia sido despojado por
Beresford que aí passou a residir, e onde fez hastear a bandeira do Reino Unido, bem como em todas as fortalezas da Ilha. Os ingleses ocuparam ainda o Convento da Encarnação e o Quartel do Colégio.
Enquanto Beresford ocupou o Palácio de S. Lourenço, resolveu fazer algumas obras de “beneficiação” que
modificaram a estrutura do edifício, fazendo desaparecer o último piso da residência, ao altear a altura das
salas de receção.
O Forte de S. José, no outro lado do porto do Funchal, foi o quartel-general da ocupação britânica e, mais
tarde, serviu-lhes também de cadeia.
13
Vista da baixa e porto do Funchal
Mas a presença militar britânica foi uma
realidade no Arquipélago Madeirense até
3 de outubro de 1814. Em 17 de agosto de
1808, Beresford segue para Lisboa, levando
consigo apenas metade dos soldados ingleses. Os restantes só saíram da Madeira,
na sequência da assinatura do Tratado de
Paz, entre a Inglaterra e a França, em setembro de 1814.
Há muito que se conhece a especial “simpatia” dos ingleses pela “Pérola do Atlântico” e esta presença militar inglesa na
Ilha da Madeira durante 7 anos, acabou
por ter as suas repercussões até aos nossos dias, quer no número de apelidos britânicos ainda em uso,
sobretudo em famílias da elite madeirense, quer no peso da comunidade britânica na economia madeirense, quer ainda em alguns vocábulos e no número de turistas ingleses que ali afluem regularmente.
M.A.D.
Agrilhoes
A reza que nos espera...
Na efervescência da vida que ferve e arrefece
Que junto à lareira os sonhos adormece
E que o pranto e o atavio esmorece
O profeta - custe o que custar...
Arrebanha a multidão
Fazendo profecias vãs
Contribui p’ra confusão
Em nós corre um rio com freio
Como pêndulo de enleio
Em lugar feito de anseio
Dá a uns tramando a outros
A todos serve mentindo
Promete o céu e fingindo
Nesta terra que é de poucos
Dos céus emanam sem demora
Por entre o raiar da aurora
Os chilros em paz sonora
Falta um sorriso que a Deus afague
Como quem enorme pena pague
Sem deixar rasto nem enfade
Porque se esgota a memória
E o tempo passa ligeiro
Brota já o desfiladeiro
Deste tempo sem glória
Já os céus partiram desta terra
Já não voltam os cantares da serra
Já me sinto prisioneiro desta guerra
Vai enfim continuar
Sem ideias certamente
Ao caos iremos parar
Levados por sua gente...
Celestina Imaginação
10/2012
A. Franco, 2012
14
Vida política de Afonso Costa
Margarida Martins, aluna do 11.º H
Afonso Costa (1871 – 1937)
Afonso Costa (Seia, 1871 – Paris, 1937), um dos vultos mais distintos da 1ª República portuguesa, iniciou a sua vida política em
Coimbra, aquando da crise do Ultimato Inglês. Foi no âmbito das
concessões à Inglaterra, que Afonso Costa, espírito intelectual e revolucionário, com um desmesurado orgulho lusitano, vexado pela
atitude do governo português, emergiu no mapa político de Portugal, fazendo parte da “geração absolutamente ativa” do republicanismo.
A 5 de outubro de 1910, Portugal foi invadido por um vento de
profunda mudança. A Monarquia tinha, enfim, caído e a República,
vingado. É formado um Governo Provisório chefiado por Teófilo
Braga. A Afonso Costa foi entregue a pasta da Justiça. A despeito
de ser uma pasta discreta, a habilidade e destreza de Afonso Costa,
bem como as medidas que colocou em prática, fizeram-no sobressair como uma das personalidades mais importantes desse Governo. Foi logo em 1911 que decretou a Lei
da Separação da Igreja e do Estado. A obrigatoriedade do Registo Civil, a Expulsão das ordens religiosas e
Nacionalização dos seus bens, o fim da instrução religiosa no ensino público, a Legalização do Divórcio,
a proibição das procissões fora do perímetro das igrejas e a proibição do uso das vestes religiosas fora dos
templos, valeram também a Afonso Costa a alcunha de “mata-frades”, por querer aniquilar a religião em
Portugal, que foi severamente criticado por parte do Papa Pio X.
Encabeçando o Partido Democrático, herdeiro direto do extinto Partido Republicano, Afonso Costa
chegou a Chefe do Governo e Ministro das Finanças faz agora um século (1913-1914, 1915-1916 e 1917).
Durante o seu primeiro governo, conseguiu equilibrar as contas do país e diminuir o défice orçamental, chegando a registar-se um pequeno superavit. Tal feito, até aos nossos dias, só viria a ser conseguido também
por António de Oliveira Salazar, mas este manteve-se no poder quase até ao fim da sua vida.
A entrada de Portugal na 1.ª Guerra Mundial foi talvez o fator que mais influenciou o fim da 1ª República,
e em muito se ficou a dever a Afonso Costa. Este defendia a participação de Portugal neste grande conflito,
pois vislumbrava não só a garantia da manutenção da posse das colónias africanas, como também a afirmação e legitimidade, interna e externa, do novo regime republicano.
Em Dezembro de 1917, aquando do regresso de Afonso Costa de Paris, onde participara numa conferência
de governos aliados, deu-se o golpe sidonista, que impôs a ditadura. Ao estadista republicano português não
restou outra opção senão exilar-se em França, não voltando a desempenhar cargos políticos em Portugal.
No entanto, em 1919, já após o assassinato de Sidónio Pais, chefiou a delegação portuguesa na Conferência
de Paz realizada em Paris e, em 1920, foi nomeado representante de Portugal à primeira Assembleia da Sociedade das Nações.
Faleceu no exílio, em Paris, no ano de 1937. Lá, criou a Liga de Defesa da República com o propósito de combater a Ditadura Militar, então vigente em Portugal.
Durante a sua carreira política, muitas foram as dificuldades com que se deparou. No entanto, sendo um
homem de convicções, sempre lutou para que os princípios da República prosperassem e provocassem uma
profunda mudança no nosso país, ainda muito enraizado nos valores ditados pela religião. O seu ódio à Igreja e as medidas anticlericais que tomou são vistas como algumas das razões que mais contribuíram para a
instabilidade política da 1ª República, estando na origem da cisão do Partido Republicano, dos protestos anti
afonsistas e do aumento da agitação popular. De facto, ao longo da sua carreira, Afonso Costa foi ganhando
inimigos e opositores e, em 1915, na gare do Porto, um estudante tentou, sem sucesso, alvejá-lo.
15
Aqueles que o admiram e ainda ouvem na sua imaginação aqueles brados tão determinados e radicais “Por muitos menos crimes do que os cometidos por D. Carlos I, rolou no cadafalso, em França, a cabeça de
Luís XVI” - recordam que, logo em 1897, pelas ruas cinzentas e sérias do Porto, proferindo discursos com tamanha motivação e ardor, se distinguiu como um dos oradores mais fluentes, persuasivos e apaixonados da
época, tendo sido, desde então, considerado um dos mais valiosos vultos do Partido Republicano Português.
Sítios consultados na internet (disponíveis em 11-1-2013):
http://blogs.asa.pt/sinaisdahistoria/files/2009/04/biografia-afonso-costa.pdf
http://www.citi.pt/cultura/historia/personalidades/afonso_costa/govprov.html
http://www.citi.pt/cultura/historia/personalidades/afonso_costa/jacobi3.html
http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/pesquisa?pesquisa=Afonso%20Costa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Costa
O último 5 de Outubro
A comemoração “envergonhada”
Manuel Augusto Dias, docente da ESRT
5 de Outubro de 2012 – fica para a história o
içar da Bandeira com os castelos para baixo…
Ainda está bem viva na nossa memória a celebração
festiva do Centenário da República, há apenas dois
anos, que ficou marcado por iniciativas que tiveram
lugar um pouco por todo o país, independentemente
da cor política de cada município. Bem dentro do
espírito republicano, de há 102 anos atrás, o povo
foi chamado à festa e participou, porque a vitória
de 1910, só foi possível por ter representado a união
de praticamente todo o povo, esperançado em melhores dias para os portugueses e para a sua Pátria,
sobretudo quando os monárquicos quiseram voltar
ao poder, com as violentas incursões de Paiva Couceiro ou a dramática Monarquia do Norte.
O triunfo da Revolução não foi fácil e estima-se
que morreram nos confrontos de 4 e 5 de outubro
de 1910 cerca de 200 pessoas. A sua iniciativa ficou
a dever-se, conjuntamente, ao Partido Republicano, à Carbonária e à Maçonaria. Entre os operacionais da
Rotunda, o destaque vai para o Comissário Naval Machado Santos, considerado, por isso mesmo, o “pai da
República” que está para o “5 de Outubro” como Salgueiro Maia esteve para o “25 de Abril”.
A decisão de se dar início à Revolução foi tomada cerca das 20 horas do dia 3 de outubro, quando José
Relvas se dirigiu, com cerca de 50 revolucionários, militares e civis, à Rua da Esperança, 106, 3.º andar, não
muito longe da atual Praça do Município. Reunidos em casa do advogado republicano Eusébio Leão, ficou
decidido começar a Revolução à 1 hora da madrugada de 4 de outubro. Cândido dos Reis terá afirmado: “A
Revolução ou se faz esta noite ou não se faz!». A Comissão de Resistência reuniu-se nessa mesma noite no
Centro de S. Carlos, e ficou definitivamente resolvido que a Revolução se iniciasse no dia 4 de outubro à uma
da madrugada.
E depois, apesar de alguns momentos de hesitação, a verdade é que a Revolução se fez e o povo português
veio para a rua, regozijar-se com o êxito, confirmado na manhã do dia 5 de outubro, quando o novo regime
foi solenemente proclamado por José Relvas à multidão que se juntou na Praça do Município, em Lisboa. Em
quase todos os outros concelhos do país, nos dias seguintes, se repetiu a proclamação da República sempre
com a presença de muito povo e manifestações de alegria e de festa.
16
É por tudo isto que as últimas decisões do poder político acerca da comemoração do 5 de Outubro são uma
vergonha.
A primeira decisão crítica foi a de abolir este feriado nacional. O atual regime é uma República, a Bandeira
e o Hino nacionais nasceram com ela; o povo não pode esquecer que a República significou a politização
do povo, ou seja, a chamada do povo à co-responsabilidade da gestão da “coisa pública”. Mas se alguns portugueses mantêm o gosto pela folclórica monarquia, também para esses, como para todos os portugueses,
o 5 de Outubro, mas de 1143, é data importante porque marca o início oficial da portugalidade, com a assinatura do Tratada de Zamora, entre D. Afonso VII e, seu primo, D. Afonso Henriques. Assim, o 5 de Outubro é duplamente importante para a memória coletiva do povo português! Como se pode terminar com
o feriado do dia 5 de Outubro, um dia tão importante para a História da nossa Pátria? Porque não se há-de
continuar a lembrar festivamente a data do Tratado de Zamora, que marca o início de Portugal como Reino
independente? Porque não se há-de festejar, com o povo, o triunfo da República?
A última decisão errada foi comemorar o “último” 5 de Outubro, ainda como feriado nacional, às escondidas do povo, no “Pátio da Galé”, um novo espaço nos corredores do poder, junto ao Terreiro do Paço! O 5
de Outubro e a República significam que numa democracia é o povo, previamente instruído e politizado no
seu todo, que detém o poder, não aqueles em quem ele delega temporariamente esse poder.
No último 5 de Outubro que começou com humilhação de se hastear a Bandeira Nacional às avessas,
quando o povo tanto precisava de “falar” com os seus políticos, foi-lhe vedado o poder de dar opinião, de
transmitir recados diretos aos seus governantes, de dizer que começa a chegar o momento de dizer basta.
Basta de aumentar impostos, basta de continuar a privilegiar os poderosos, é tempo de refletir sobre a situação real que já é dramática para muitos. O povo português é o “melhor do mundo”, é verdade, mas também
já é tempo de que o povo mereça dizer o mesmo dos seus políticos!
Gatunagem
G
atunagem
Maiss m
eia hora?
meia
Dizi
zia-me um certo ancião
Dizia-me
Num
m café da minha aldeia
Tem
m cuidado com o ladrão
Não
o te metas nessa teia
Lembro-m
-me da boa intenção
Lembro-me
Dum tal Go
Gonçalves de Vasco chama
mado
chamado
Pedir para a Nação
Um dia do nosso salário
Ao b
bolso me qu
querem ir
Unss malandros bem vestidos
os
Bota
tam leis estão-se a rir
Botam
Ao vver-nos todos despidos
Ai Jesus est
ste comuna
este
A ditadura
ra vai trazer
Hoje sem q
qualquer amargura
O Poder vo
volta-o a fazer
Ai JJesus vem-me salvar
Os lladrões andam à solta
Os ssubsídios vão levar
Cres
escendo em mim a revolta
ta
Crescendo
Espante-se
se o Zé-povinho
Que temia o comunismo
Hoje pia bem
em baixinho
Ai vergonh
nha e despotismo!
vergonha
Vou
u buscar a minha arma
A el
eles vou atirar
Metr
tralho mais meia hora
Metralho
Para
ra eles eu barrar
À Po
Polícia fui narrar
Esta
ta história comovente
Diss
sseram-me então a chorar
Disseram-me
És rroubado como a gente
Feitas as ec
economias
Dá para ve
verr com grande lata
Trabalhamo
mos mais uns dias
Trabalhamos
Por causa de
deste acrobata
Ai C
Camões nós já p
perdemos
Tuaa força
rç de conquista
qu
Eles
es roubam – nós ge
gememoss
Já tee perdemos de vista
Afinal tant
ntaa ironia
tanta
Em condena
nar o vilão
condenar
O Vasco co
com um só dia
Ou quinze dias p'ro Catão?
Ai C
Camões falta-me o engenho
ho
Da ditosa pá
pátria tua
Já n
não sou mais marinheiro
Tuaa gente vive nua.
Celestina Im
Imaginação
A. F
Franco
17
10/2011
PORTUGAL NA 1.ª GUERRA MUNDIAL
Recordando um antigo combatente…
Alexandre Jorge Julião Pinto, aluno do 9.º E
A primeira guerra Mundial tocou diretamente a minha família. O meu bisavô Gaspar Ribeiro combateu na
1.ª Guerra Mundial e isso ditou a história da minha família…
Portugal entrou nesta guerra para defender as suas colónias em África, cobiçadas pelas potências estrangeiras, para auxiliar a nossa Aliada, a Inglaterra, e para obter prestígio para o novo regime republicano, implantado em 1910. Embora oficialmente Portugal só tenha entrado na Guerra em 9 de março de 1917, as nossas
tropas já combatiam em África desde agosto de 1914.
O soldado Gaspar Ribeiro terá ido num dos Primeiros contingentes (outubro ou novembro de 1914), para
reforço da guarnição portuguesa em Angola. Partiram de Lisboa, comandados pelo Capitão-tenente Coriolano da Costa, devido a incidentes graves com tropas alemãs na fronteira.
Com a entrada oficial de Portugal na guerra, as tropas portuguesas em África são reorganizadas. Voltam ao
país e são integradas no CEP. O meu bisavô também regressou…
É no Porto que a minha bisavó conhece o seu Gaspar, moço de Lousada, prestes a partir para combater em
França. O namoro ficou apalavrado, pois a Rosa só tinha quinze anos e sabia-se lá se ele ia voltar… Voltou…
De que foi Cego, devido ao gás de mostarda de que foi vítima na guerra e com alguns estilhaços numa
perna. Conseguiu recuperar a visão, mas o veneno do gás estava dentro dele, roubando-lhe a juventude e a
saúde e destruindo-lhe lentamente os pulmões.
E os republicanos portugueses, infelizmente, não se mostraram generosos com os seus soldados que tanto
haviam sofrido. Doentes ou mutilados, foram esquecidos. A muitos só restou pedir esmola… São os excombatentes que se organizam para ajudarem os seus antigos camaradas de armas, num espírito de associativismo mutualista. Em 29 de janeiro de 1924, pela Portaria n.º 3888, é oficializada a Liga com o nome Liga
dos Combatentes da Grande Guerra.
Gaspar Ribeiro, 1892-1930
(foto tirada em França)
O soldado Gaspar Ribeiro teve uma lenta recuperação. Não voltou para a sua terra. Arranjou
trabalho como jardineiro numa casa em Gaia.
18
Entretanto, voltou a ver a sua Rosa e em 1924 casaram. Só em 1927, após a queda da 1ª República, teve
direito a uma Pensão de Sangue para poder sustentar
a família. Morreu em 1930.
A Rosa ficou sozinha aos vinte e oito anos…A
minha bisavó ficou viúva com duas meninas, de seis
anos e de onze meses respetivamente. Uma vez que
a minha bisavó tinha meios de subsistência e dada a
tenra idade da filha mais nova, a opção não foi a sua
entrada na Casa dos Filhos dos Soldados, fundada
em 1917, pela Junta Patriótica do Norte. Apenas a
irmã da minha avó esteve nessa instituição dos seis aos nove anos. A partir dessa altura a Liga dos Combatentes nomeou um tutor legal, o Tenente Graça e, à morte deste, o Capitão Sampaio, encarregados de zelar
pela educação e o bem-estar das duas meninas. Foram esses militares as figuras “paternas” que conheceram.
Estes acontecimentos vieram a mudar drasticamente a história da minha família.
O Soldado “milhões”
Homenagem de uma conterrânea
Maria Antonieta Alves, docente da ESRT
“Lá vem o grande Milhões!
Só por milagre está vivo,
Pois matou mais alemães
Do que os buracos de um crivo”!
[Refrão populacheiro, entoado, às vezes, como um hino]
19
Ainda hoje trago nos ouvidos este refrão de ocasião que ouvi desde a minha mais tenra idade.
Os meus pais, meus avós e toda a vila de Murça, falam com orgulho do homem (com um certo ar patusco),
que exibia ao peito um montão de medalhas e outros galardões, em atos públicos, onde comparecia a convite
das autoridades do distrito de Vila Real.
Esta é a minha pequena homenagem a um herói que soube dar aos alemães, na guerra de 1914, uma daquelas batidas de ficar na história. Falou-se e fala-se nele, volvidos que são os muitos anos sobre o fim da guerra,
com profundo respeito e galhardia. Grande Milhões! Quem foi o Soldado Milhões?
Aníbal Augusto Milhais, o “Herói Milhões”, nasceu a 9 de julho de 1895 em Valongo (hoje Valongo de Milhais, devido ao nome do herói da terra), concelho de Murça, e morreu a 3 de junho de 1970.
Filho de simples e honestos agricultores para quem o amanho das terras era o único meio de subsistência,
Aníbal Milhais mostrou desde cedo ser um rijo transmontano, malgrado a sua origem humilde: fora criado
de servir antes de ser militar.
Perante a obrigação de cumprir o serviço militar, este homem de “palmo e meio”, foi assentar praça em
Bragança, passando de seguida para o Regimento de Infantaria 9, em Chaves, onde mostrou ser exímio especialista no manejo de metralhadoras.
A participação de soldados portugueses nas frentes de batalha em França, durante a 1ª Grande Guerra,
fez com que ele tivesse que rumar a terras gaulesas no dia 23 de maio de 1917, tendo sido integrado na 3.ª
Companhia do 1.º Batalhão.
Alexandre Parafita (do livro “Retalhos deste povo”) retrata assim o soldado Milhões – “dizia-se que embora se tratasse de um homem pequenino, para quem a míngua de corpo não impediu que, na Batalha de
“La Lys”, revelasse bravura e notoriedade reconhecidas pelo próprio inimigo. Aos que, então, não deixaram
de considerar de proeza esporádica e acidental a ação do soldado Milhões, logo este respondeu, três meses
após, com provas indubitáveis de heroicidade em “Huit Maisons”, ao salvar toda a sua guarnição, constituída
por portugueses e escoceses. Tal resultaria na sua condecoração com a Ordem de Torre e Espada, a Cruz de
Guerra de Primeira Classe e a Cruz de Leopoldo da Bélgica.”
Segundo João Luís Teixeira (do livro “Murça – História, Gentes e Tradições”), é “num ambiente tétrico que
surge a manhã duvidosa de 9 de abril de 1918. Aníbal Milhais sentiu a vida em perigo, enquanto ao seu lado
iam tombando nas trincheiras os corpos de companheiros que juntamente lutavam em “terras de ninguém”.
Após a infantaria alemã ter inundado de fogo e sangue os verdejantes campos de LA LYS, … o Milhais possuidor de um perspicaz sentido de inacreditável perícia, conseguiu sobreviver no meio do moribundo batalhão lusitano. Valeu-lhe a sua bravura e coragem para que de metralhadora ao ombro conseguisse dizimar
em pleno vale, milhares de inimigos, protegendo simultaneamente a retirada de muitos e desfalecidos companheiros”. Foi perante esta tal bravura que o seu comandante Ferreira do Amaral, o abraçou exclamando:
”tens o nome de Milhais mas vales Milhões”!
Para João Fragulho (nome de “guerra” de João Lopes Parafita – avô materno do escritor Alexandre Parafita,
companheiro do Herói Milhões): - É de soldados assim que a Nação precisa!
Partida de tropas portuguesas para França
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Monumento ao Herói Milhões, em Murça
Conclusão
Regressado a Portugal, durante longos tempos, jamais pararam as manifestações de carinho e reconhecimento, tanto
que a grande maioria das cidades portuguesas o quis honrar publicamente. E, claro, Murça.
Embora não ostentasse galões – fez-se e morreu apenas
como um soldado.
Ganhara, todavia, o direito de ser recebido com todas as
honras; em qualquer guarnição onde entrasse os militares
batiam-lhe a “pala” como se tratasse de um oficial. Diziase, até, entre os soldados da época, que o “soldado Milhões
valia, para efeitos de continência, tanto como um major”.
Os seus filhos estudaram de graça - esta foi a recompensa
do Estado.
O meu avô paterno foi um dos seus grandes amigos – que
honra para mim!
Belmonte
um exemplo feliz de articulação entre história e património
Alberto de Figueiredo, docente da ESRT
Belmonte é uma vila situada na região da Serra da Estrela, localizada no panorâmico Monte da Esperança,
com o rio Zêzere a seus pés e a meio caminho entre dois núcleos urbanos importantes da região, Covilhã e
Guarda. Está integrada no projeto das “Aldeias Históricas” e possui alguns pontos de interesse que vamos
procurar desvendar nesta curta abordagem.
Esta localidade teve foral em 1199 no tempo de D. Sancho I. O seu castelo, juntamente com os castelos
de Sortelha e Vila de Touro, formaram até à assinatura do Tratado de Alcanices (1297), a linha defensiva
do Alto Côa, apoiada na retaguarda pela muralha natural da Serra da Estrela e pelo Vale do rio Zêzere. A
povoação permaneceu com a sua função de defesa pois situava-se num ponto estratégico nas rotas entre o
norte interior e o sul. Na história de Belmonte vai entrar desde tempos recuados a família dos Cabrais, ligada à defesa do seu castelo. Em 1466 é nomeado Fernão Cabral como Alcaide-mor do castelo de Belmonte.
Ainda hoje esta ligação confere à povoação uma aura mítica, pois este nobre ligado à administração régia
de D. Afonso V vai ser pai de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil. O grande navegador vai por
isso nascer aqui e, segundo reza a lenda, orou no Convento de Nossa Senhora da Esperança, hoje Pousada
de Belmonte, antes da célebre viagem. Esta imagem (de Nossa Senhora da Esperança) que hoje se encontra
na Igreja Matriz de Belmonte terá acompanhado os descobridores na pioneira viagem. As cabras do brasão
da família surgem ainda em diversos monumentos da vila, o que atestará a sua importância a nível local e,
de certo modo, nacional.
O castelo, um exemplar de arquitetura românico-gótica funcionou, assim como residência senhorial; desse
tempo resta ainda uma janela manuelina e os balcões. Nos nossos dias aqui existe um anfiteatro ao ar livre e
algumas salas-museu. No largo terreiro do castelo, podemos observar a Igreja de Santiago e a capela anexa,
onde se aloja o Panteão dos Cabrais. Embora o famoso descobridor esteja sepultado na Igreja da Graça em
Santarém, aqui jazem muitos membros da sua família. As restantes capelas são: a capela de Santo António
(séc. XVI) e a capela do Calvário (séc. XIX). A cruz de madeira de Pau Santo do Brasil (réplica da que foi
mandada levantar por Cabral na primeira missa celebrada no Brasil), foi uma oferta dos anos 50 do presidente brasileiro, Jucelino Kubichek de Oliveira.
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Belmonte – vista aérea Pousada de Belmonte
Convento de Nossa Senhora da Esperança
Em relação à presença judaica em Belmonte, esta remontará ao século XII. Com a expulsão dos judeus
de Espanha em 1492, pelos Reis Católicos, Fernando e Isabel esta comunidade terá aumentado. Em 1496,
D. Manuel I decreta a expulsão e a posterior conversão forçada ao catolicismo, seguindo-se uma série de
perseguições e a permanência de uma comunidade cripto-judaica, que sobreviveu ao longo dos séculos,
mantendo os seus rituais e tradições, muito adaptados ao contexto local. Em 1989 foi oficialmente criada
a comunidade judaica de Belmonte, cuja sinagoga foi inaugurada em 1997. Atualmente é uma das raras
presenças no interior português de Judeus, cujo Rabi para facilitar a comunicação, costuma ser brasileiro.
Foi Samuel Schwarz, um engenheiro de minas polaco, de ascendência judaica que trabalhou em Belmonte
a explorar os recursos mineiros do volfrâmio, nos anos quarenta do século XX, que descobriu e divulgou
ao mundo este grupo de pessoas com características tão especiais, ligada desde sempre ao comércio. Assim, publicou a obra, "Cristãos-Novos em Portugal no Século XX", em 1925, como separata da revista "Arqueologia e História", da Associação dos Arqueólogos Portugueses, onde aborda a situação dos judeus de
Belmonte.
Nos arredores de Belmonte encontramos a Torre de Centum Cellas cuja utilização tem sido encarada de
forma polémica pelos investigadores. Terá sido uma torre de vigia no tempo dos templários, uma hospedaria nos caminhos entre o norte e o sul e, anteriormente, uma estrutura que enquadrava uma villa romana.
As escavações na Estação Arqueológica Romana de Centum Cellas, mostram que esta antiga villa do século
I d.C. esteve ligada à exploração agrícola e mineira da região. Além da altiva construção denominada Torre
que se conserva ainda, constituída por enormes silhares graníticos, propositadamente feitos para encaixarem uns nos outros, a escavação também pôs à vista a planta dos restantes edifícios e as suas diferentes
fases de construção.
Castelo de Belmonte – janela manuelina
Torre Centum Cellas
22
Graças ao seu passado riquíssimo Belmonte possui hoje um conjunto de equipamentos culturais, dos quais
se destacam, o Museu dos Descobrimentos no Paço dos Cabrais, com um centro interpretativo “À Descoberta do Novo Mundo”. Este edifício de arquitetura maneirista terá sido construído no século XVIII; o
Museu Judaico de Belmonte, Centro de Estudos Judaicos Adriano Vasco Rodrigues, com o nome de um
eminente historiador egitaniense, o Ecomuseu do Zêzere, na Tulha dos Cabrais (construída no século XVII
ou XVIII) com um roteiro geomorfológico da região; o Museu do Azeite, no Lagar de Belmonte e o “Centro
de Interpretação Caminhos da Fé”, na Igreja de Santiago. Perto da vila foi recentemente descoberta a Villa
Romana da Fórnea.
Igualmente o cantautor Zeca Afonso está ligado a Belmonte, pois aqui viveu algum tempo com familiares.
Com esta breve resenha pretendemos dar uma panorâmica muito breve sobre a história de Belmonte, aquilo que o visitante poderá contemplar nesta Vila quando a percorrer e, sobretudo, mostrar um exemplo
feliz de articulação entre história e património, na promoção do turismo da região do interior, mostrando
uma terra viva e dinâmica num contexto de crise internacional.
Referências bibliográficas:
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_Schwarz [12 de fevereiro de 2013]
- http://www.cm-belmonte.pt/Turismoportugues/locaisdeinteresse.html [13 de fevereiro de 2013]
- Carta do Lazer das Aldeias Históricas de Portugal, Roteiro de Sortelha (2000), INATEL, Diário de Notícias,
PPDR.
Há quinhentos anos o português Jorge Álvares chegou à China levantando o Padrão de Sua Majestade na ilha de Tamau
Luísa Batalha, docente da ESRT
A China e os seus produtos fascinavam a imaginação europeia
desde a viagem de Marco Pólo no século XIII e, em particular, a imaginação portuguesa desde que Vasco da Gama chegara de Calecute
com peças de porcelana para a corte de Lisboa. D. Manuel I mandou
pesquisar: «[…] perguntarees pelos chyns e de que partes vêem e de
cam longe […] e se sam mercadores riquos e se sam fracos, se guerreiros e se teem armas ou artilharia.»
A efeméride teve corpo em Malaca no ano de 1513 quando Afonso
de Albuquerque estabeleceu relações com os capitães de alguns juncos chineses que ali haviam ido comerciar, obtendo assim a confirmação da existência dessa raça e de que a viagem de Marco Pólo não
era afinal tão fantasiosa como se cria. Nesse ano Rui de Brito, o então
capitão de Malaca, enviou Jorge Álvares à descoberta de tudo o que
pudesse sobre os chins, tentando ainda, se possível, estabelecer com eles contactos comerciais.
Álvares ancorou em Tamão, atual Lin-Tin, sendo o primeiro português a atingir as terras do Celeste Império, levantando aí um padrão, segundo diz Jorge Albuquerque (sobrinho de Afonso de Albuquerque) em
carta ao rei: « […] o outro hé Jorge Álvares, que vos fiz escrivão, por ser homem suficiente para isso e vos
ter […] em outras cousas, como na ida da China, em que foi […] feitor de um junco de Vossa Alteza, e ser
o primeiro homem que pôs marco por Vossa Alteza.»
No ano seguinte à viagem de Jorge Álvares foi enviada uma segunda missão e outras se seguiram, pois os
portugueses tudo fizeram para estabelecer um entreposto comercial na China, apesar da oposição do Itau
(mandarim local). Os portugueses só puseram pé em terra firme 40 anos depois.
Numa das suas explorações comerciais, Álvares é ferido, em 1522, e a seu pedido enterrado junto do padrão que erguera, disso nos dá testemunho o historiador João de Barros na sua Terceira Década: «[…] e foi
enterrado ao pé do padrão de pedra com as armas deste reino, que ele mesmo Jorge Álvares ali pusera um
ano antes que Rafael Perestrelo fosse àquelas partes […]».
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manhã que tarda
taarda
OA
Amanhã
Ela existe!
Ela
Bate já à po
porta a primavera
Por entre as frestas do desespero
Assentam-se
Assentam-s
-se os estridentes ais
A irromper
er ávidos de esperança
Naufragado
dos na escuridão da vida
da
Naufragados
b
juvenil e graciosa
És bela,
bo
Noss teus olhos há mística bondade
Refle
flexos da tua alma – claridade!
clarid
idade!
Reflexos
Quee sempre há-de luzir na minha
mente
mi
Ning
nguém ousa erradicar-te
Ninguém
Vive
ves aconchegada na miséria
ia
Vives
Todo
dos te olham com desdém
m
Todos
Mass te abraçam na angústia
E carentes
como tu, te compreendem.
ca
compr
preendem.
Porque as to
tormentas amargam
Cavalga já o medo das trevas
prende das bocas famintas
famin
intas
Que se despr
desprende
das ideias cansadas
No breu da
Incendeiam
am-se os gritos pungentes
pungente
tes
Incendeiam-se
Em choross de desejos calados
Na silhuetaa das sombras paradas
És um
u exemplo de humildade
de
Vive
ves da penúria e da esmola
la
Vives
o invejas o que não tens
Não
olh
lhares
Mass choras a distância dos olhares
de gente…
Há dores d
os céus terrenos
Senhor dos
ffug
ugidia pousa por perto
A Páscoa fugidia
Trôpega no advento definhado
da dia abres-te para mais almas
al
Cada
d todos e ninguém te dá a mão
És de
Abai
aixo de ti vive a miséria mais pobre que tu, oh
h
Abaixo
pobr
breza!
pobreza!
afi ainda tens o ar para respirar.
r
E afinal
ar o Inverno destes dias
Vem cerrar
es
Levantar ass simples almas carentes
in
Dum sol incandescente
que tardaa
F
A. Franco
3/20
2010
3/2010
Celestin
ina Imaginação
Celestina
TURISMO. Gerações Passadas e Futuras
Breves notas sobre a história do turismo
Antonino Jorge, professor de História
Síntese da comunicação apresentada nas 1.as. Jornadas de Turismo e Ambiente da ESRT, 24 e 25 de Janeiro de 2013, em que
procurou entrecruzar um pouco a história do turismo com as preocupações ambientais.
O Dicionário Houaiss define Turismo como «ação ou efeito de viajar, basicamente com fins de entretenimento e eventualmente outras (por ex. culturais)». Ainda segundo o mesmo autor, confirmando José Pedro
Machado no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, etimologicamente a palavra deriva do inglês
Tourism (1811).
Se é certo que o termo é o do século XIX, o turismo, em sentido lato, mergulha as suas raízes em tempos
bem remotos.
Cerca de 4000 a.C. os Babilónios, no afã de expandir o seu império, realizaram inúmeras viagens, facilitadas pelas estradas construídas para circulação das tropas. Há notícias sobre viagens ao Egipto para visitar
as pirâmides em 3000 a.C. A viagem da rainha de Sabá (Etiópia/Iémen), no séc. X a.C, que se deslocou a Jerusalém para a visitar o rei Salomão, é considerado um dos momentos iniciais da atividade turística (Bíblia,
I Livro dos Reis, 10, 1-13).
24
Edward Hopper, Compartimento C, 1938
Por razões económicas, os Fenícios foram grandes viajantes. Na Grécia antiga, a deslocação de pessoas para consultar os Oráculos ou os Mistérios (Delfos, Elêusis…), ir ao
Teatro e para a participar ou assistir aos Jogos, nomeadamente de Olímpia, constituem momentos em que religião,
lazer e desporto servem de motivação para viagens que já
não são apenas individuais mas coletivas. O geógrafo e historiador grego Heródoto (484 a.C.? – 425 a. C.) viajou pela
Grécia, Fenícia, Egipto e Mar Morto.
Em Roma, sucedeu o mesmo para as pessoas assistirem ao
teatro, aos espetáculos circenses (corridas, lutas de gladiadores…), irem às Termas (Caracala), deslocarem-se para
as suas «Villas» de férias ou cidades de veraneio e prazer
como Capri, Pompeia ou Herculano. Os romanos, ao deslocarem-se para banhos medicinais nas cidades do litoral,
iniciam cerca de 500 a.C., a talassoterapia (uma espécie de
primeiros SPAS). O ambiente da “Pax Romana” (29 a.C. a
180 d. C.), a construção da imensa rede viária e hospedarias
(início da hotelaria…) facilitariam essas deslocações interrompidas com a crise e decadência do Império.(1)
Passados os tempos agitados da crise e queda do Império, das invasões bárbaras e formação dos reinos
Bárbaros e duma certa recessão económica, (re)inicia-se um novo tipo de viagens: as Peregrinações aos lugares Santos: Jerusalém (Santo Sepulcro – séc. II/IV d.C.), Roma (a partir de VI d.C., daqui deriva a palavra
«romeiro»), Jerusalém, Meca e Santiago de Compostela (a partir de 814). Peregrinações a estes lugares e
outros, que foram surgindo, continuam a efetuar-se em todo o mundo, aliando turismo religioso com lazer
/ motivos menos espirituais (paisagem, arte, gastronomia, …).(2)
Entre os sécs. XI e XIV, as Cruzadas com motivações militares e religiosas, haveriam também de dinamizar
as viagens e o comércio ao mesmo tempo que a melhoria das estradas e dos meios de transporte facilita a
circulação de comerciantes, monges errantes, estudantes, trovadores, peregrinos e mendigos.
As viagens de Marco Pólo, entre 1271 e 1295 (24 anos e 24.000 Kms, tendo chegado à China).(3) precederam as viagens de descobrimento de portugueses, espanhóis, holandeses, ingleses e franceses, num misto
de aventura e sobretudo negócio, despertando curiosidade e interesse pelas grandes viagens.(4)
As grandes «embaixadas» enviadas a Roma ou Paris, por exemplo, foram episódios relevantes da época
moderna.(5) Por esta altura, a Lisboa chegavam também «desvairadas gentes de desvairados lugares», sobretudo para realizar negócios.
Viajar era na época do Renascimento (sécs. XV/XVI) uma oportunidade para ver obras humanas, contactar novas gentes, adquirir mais conhecimentos e aprender outras línguas. O grande filósofo e ensaísta
francês Montaigne (1533/1592) escrevia A viagem forma os jovens.
Nos sécs. XVII/XVIII houve melhorias nos transportes, surgindo as primeiras linhas regulares de diligência para transporte de correio e passageiros (Frankfurt – Paris e Londres – Oxford) e, aprofunda-se a dimensão educativa e cultural do turismo, discutem-se os seus benefícios e malefícios, Lord Shaftesbury assinala
o seu potencial económico e David Low inaugura em 1774 em Convent Garden o primeiro Hotel Familiar.
Nos sécs. XVII/XVIII, nos países europeus, surge o hábito de mandar os jovens aristocratas fazer o «Grand
Tour»(6), viagem de por países europeus a fim de completar a formação e adquirir novas experiências.
Roma, Paris, Florença, Atenas, Cairo, Constantinopla…eram destinos privilegiados. Estas viagens, que conjugavam os aspetos lúdicos com os pedagógicos e permitiam contactar com novas gentes e novos costumes,
visitar monumentos, aprender outras línguas e até adquirir obras de arte, foram-se generalizando também
à burguesia em ascensão. O «GRAND TOUR», cujo apogeu se verifica entre 1750/1760, constitui assim um
marco importante na emergência do turismo moderno ao promover o prazer das viagens como experiência
pessoal de lazer e enriquecimento pessoal. A Revolução Francesa e as Invasões Napoleónicas haveriam de
interromper este hábito.
25
Progressivamente o termo “turismo” vai sendo adotado por outros países para caracterizar as viagens sem
fins lucrativos com objetivos de lazer, descanso, diversão, tratamento de saúde (ex. termas de Bath – Inglaterra), satisfação da curiosidade cultural e do desejo de conhecer novos países, gentes e costumes. Os ideais
românticos e culturais do XIX aprofundarão também estes aspetos.
******
A revolução industrial (XVIII/XIX), trouxe profundas alterações à paisagem (lembre-se a Inglaterra Verde
versus Inglaterra Negra), provocou o êxodo do campo para as cidades e o impacto que teve em termos
económicos e tecnológicos, sobretudo em termos dos transportes (comboio, barcos-a-vapor…), foi decisivo
no impulso do fenómeno turístico: em 1830 inaugura-se a linha Liverpool-Manchester, no mesmo ano
surge o 1º. vagão-cama de George Pullman e em 1883 foi inaugurado o Expresso do Oriente. Por outro
lado, as lutas operárias que conduziram à separação do tempo de trabalho e não-trabalho, foram libertando
também os trabalhadores para descanso e atividades de lazer.(7)
Estas mudanças de cariz tecnológico e social foram acompanhadas de mudanças organizacionais: em 1841
Thomas Cook organiza uma viagem de comboio entre Leicester e Lougborough, para levar um grupo de 570
participantes a um encontro médico (1ª. viagem agenciada); em 1846 organiza uma viagem Londres – Escócia para 800 pessoas, com guias turísticos (início da excursão organizada ou pacote turístico); em 1851 promove e organiza um «pacote de férias» para a 1ª Feira Industrial Mundial no Crystal Palace de Londres;(8)
a partir de 1856 organiza «pacotes» para a Europa. O mesmo Thomas Cook cria o que poderemos chamar
a 1.ª agência de viagens (Thomas Cook & Son - 1851) e torna-se o 1.º operador turístico, organiza viagens a
baixo preço (Europa, EEUU- 1866, Egito e Terra Santa – 1869, volta ao mundo em 222 dias - 1872), fornece
guias aos visitantes (1846), criou o voucher de hotel (1867), etc.
Na 2.ª metade do séc. XIX, Henry Wells e William Fargo criam a agência American Express e o sistema
de travel-check. Em 1898 Cesar Ritz, cria o novo conceito de Hotel com quartos de banho individuais, etc.
No séc. XIX ainda viagens dos naturalistas (John Mawe, Spix e Martius, Auguste De Saint-Hilaire…) e
descobridores (Serpa Pinto 1846/1900, por exemplo) por motivos científicos e político-económicos, e as
viagens dos românticos. As melhorias da segurança, salubridade e alfabetização crescente incentivarão o
turismo, incluindo das mulheres que passam a acompanhar mais regularmente os maridos.
******
A I Guerra Mundial veio interromper o desenvolvimento turístico. Entre a I e a II Guerra, realiza-se a
1.ª viagem aérea turística entre Paris e Londres (1919), organiza-se um 1.º Congresso de Associações de
Turismo em Haia, de onde sairia a União Internacional de Organizações Oficiais de Turismo, e o turismo
sofre um impulso nos EUA com a chamada «era da prosperidade». Em 1929 abre-se a primeira free shop no
aeroporto de Amesterdão. Por sua vez, o desenvolvimento do automóvel, entre 1920 e 1940, vem estimular a
liberdade de viajar. O turismo desenvolve-se também como resultado de novas conquistas dos movimentos
sociais/operários (recorde-se, por exemplo, o direito a férias anuais pagas, estabelecido em França em 1936
pelo governo da Frente Popular de Léon Blum e o estabelecido na convenção n.º 52 da OIT de que, após 1
ano de trabalho haveria direito a pelo menos 6 dias de férias pagas). O chamado turismo de massa inicia-se
neste primeiro pós-guerra.
Este desenvolvimento, interrompido durante o novo conflito mundial, renasce e ganha nova dinâmica no
pós-guerra devido ao longo período de estabilidade política, desenvolvimento económico (EUA, Europa,
Alemanha, Japão...) e bem-estar social (lembrem-se os «30 gloriosos»), ao desenvolvimento da aviação comercial (em 1945 é fundada a IATA – International Air Transport Association; em 1949 é vendido o 1.º Pacote
aéreo; e em 1958 realizam-se já mais viagens aéreas que marítimas) e às novas conquistas no mundo do trabalho que se traduziram na semana inglesa de 5 dias e férias obrigatórias como marca de cidadania.(9) Em
1956 realiza-se em Berna o I Congresso de Turismo Social que insiste nas férias remuneradas e impulsiona a
criação de agências turísticas que na década de 1960 vendem «pacotes» para o Norte da Europa, Alemanha,
Reino Unido e Costa do Mediterrâneo.
O mundo ocidental americaniza-se (como evidencia Pascal Guinard em «A Invasão Americana»), os destinos turísticos diversificam-se e o turismo massifica-se, obrigando ao aparecimento de mais agências, ao
crescimento das companhias aéreas, à diversificação de atrativas cadeias de Hotéis e oferta de serviços cada
vez mais sedutores e personalizados. Sobretudo, a partir de meados de 70, o turismo mundializa-se como
a criação da OMT em 1974 demonstra. Em 1972 foi criado o Interrail, facilitando as viagens e turismo a
milhões de jovens, com enormes reflexos na cultura e nas mentalidades.
26
Os nefastos impactos do turismo de massas das décadas de 70 e 80 do século passado, no ambiente, na paisagem, no urbanismo, na arquitetura e nas comunidades dos destinos turísticos mais solicitados deu início às
preocupações com a poluição gerada por esta atividade.(10)
A partir da década de 90 do século passado e no nosso século o turismo torna-se fundamental na agenda
económica de muitos países. Assiste-se, por isso, a uma diversificação de propostas e experiências turísticas
para públicos diferentes (religioso, cultural, aventura, rural, gastronómico, negócios e eventos, saúde, académico, ecoturismo… e até o espacial!). Verificam-se também alterações organizacionais que a internet e o
comércio eletrónico provocaram. Constata-se, ainda, uma crescente tomada de consciência ecológica.
O conceito «Desenvolvimento Sustentável» surge em 1987 com a publicação do Relatório Brundland Our
Common Future e refletia a urgência de garantir as necessidades do presente sem hipotecar o futuro.
Dez anos depois, L. France, considerava que o desenvolvimento do turismo sustentável devia ser: ecologicamente suportável e economicamente viável; distribuir equitativamente os benefícios; observar os princípios
éticos e ser socialmente aceite; integrar todos os aspetos do ambiente, considerando a sua diversidade e,
nomeadamente, as áreas mais frágeis e sua capacidade de resistência; garantir a preservação do património
cultural e natural e dos valores locais, envolvendo todos os atores; garantir satisfação do turista e direcionar
também o seu comportamento para a conservação do ambiente e respeito pelas culturas locais; integrar-se
na economia local e promover a qualidade de vida das comunidades locais (desenvolvimento económico e
social); ter um planeamento e gestão responsáveis e aplicar princípios da sustentabilidade a todos os componentes (transportes, instalações, saneamento, uso de energia, etc); fazer um marketing responsável (ética dos negócios); monitorizar a atividade turística para garantir princípios e critérios de sustentabilidade.
Deste modo garantir-se-ia a conservação do meio-ambiente, a inclusão social, a autenticidade cultural, a
qualidade de serviços e capacidade de gestão local.
Em 1999 a OMT define o Turismo Sustentável como «a atividade que satisfaz as necessidades dos turistas
e as necessidades socioeconómicas das regiões recetoras, enquanto a integridade cultural, a integridade dos
ambientes naturais e a diversidade biológica são mantidas para o futuro».
A mesma organização, em 2003, acentuava a necessidade desenvolver um turismo sustentável nas dimensões ambiente, económica, sociocultural e, acrescentamos, político-institucional.(11)
Para isso, o Turismo e os projetos turísticos terão que ser planificados a longo prazo, por equipas multidisciplinares, incluindo a colaboração de arquitetos, urbanistas e geógrafos / sociólogos, garantindo critérios de
qualidade e sustentabilidade, prevenindo ou corrigindo os problemas de carácter ambiental e outros.
O Turismo (de lazer) não deve também ser «guetizado» mas ser diversificado (nas tipologias e nas geografias), alimentar-se e alimentar a vida local (sem asseptização física, cultural e vivencial), evidenciar fatores
de qualidade, identidade, exclusividade, autenticidade…aliando património (natural e construído), história
e cultura na sua aceção mais ampla (arte, música, dança, folclore, gastronomia, artesanato, ritos, festas, paisagem rural e agricultura…).(12)
Estas vertentes e dinâmicas devem, entre nós, ser estrategicamente dinamizadas a nível nacional, regional
e local, procurando cada região ou município potenciar articuladamente aquilo que melhor os define ou
caracteriza: a história, o património, as vivências, a animação cultural e social, a autenticidade…
Nesta situação de crise ou «enrascadela» (como dizia Luiz Furlan, ministro brasileiro) será o turismo propício à inovação e exportação? Sim se for inovador, promover e respeitar critérios citados, se aproveitar e restaurar recursos existentes (mosteiros, fortes, solares, etc), se aliar qualidade/bom preço, se prestar serviços
de qualidade com cortesia e simpatia que a formação profissional tem vindo a permitir.
A trilogia de futuro será, certamente, turismo + ambiente sustentável + cultura!
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Notas
1.Há também vários relatos de viagens na China antiga. Chang Chien, por exemplo, no ano 138
a.C., viajou pela Pérsia e Síria.
2.Há notícias das 1.as peregrinações cristãs no séc.II e que tinham origens no judaísmo. Destaque para as feitas: à cidade Santa
de David para as festas dos pães ázimos (Êxodo, 14-17 – séc. XV a.C.), do Pentecostes e dos Tabernáculos (Deuteronómio 16, 16séc. XV a. C). Com o édito de Milão de Constantino (312) as peregrinações a Jerusalém e Roma, numa mescla de curiosidade e
devoção). Em 326 Eusébio de Cesareia publicou o 1.º Guia de peregrinos. Há notícia de um peregrino anónimo de Bordéus. A 1.ª
peregrinação célebre foi a de Sta. Helena em 328,tinha 80 anos (peregrinação ou ato de política imperial). Outras damas romanas
lhe seguiram o exemplo (Santa Paula, Santa Fabíola, Egéria monja galega 381-384…). Citem-se outras peregrinações: Abydos no
Egito (1300 a.C.), Maha Kumbh Mela ou Benarés (Shiva) – Índia, Chichén Itzá e Atitlán (Maias – México), Qoyllur Rity (culto do
Sol - Peru), Stonehenge (Ingalterra) ou Externsteine (Alemanha), Shikoku (Japão), etc. Destaque-se ainda a peregrinação católica
ao Santuário de Gadalupe – México, que se realiza desde XVI (2.ª maior depois de Vaticano)…
3. Já antes, em 1160, Benjamim de Tudela, judeu de Saragoça, viajara pela Europa, Pérsia e Índia.
4. Recorde-se a primeira viagem à volta do mundo por Fernão de Magalhães (1519-1522).
5. Ficaram famosas as luxuosas embaixadas do nosso rei D. Manuel I… José Saramago(1922/2010), em a Viagem do Elefante
(2008), efabula sobre a viagem, entre Lisboa e Viena, de um elefante oferecido por D. João III (1502/1557) ao primo Maximiliano
da Áustria).
6. O Grande Tour, iniciou-se em França onde os jovens aristocratas estudavam língua, dança, equitação e desenho e depois
viajavam a Itália para estudar escultura e apreciar música e arte, regressando pela Alemanha, Suíça e Países Baixos. A expressão
«faire le grand tour» vulgariza-se na Inglaterra do séc. XVIII para designar as viagens dos jovens aristocratas que começaram a ser
denominados turistas (do françês tour, 1643).
7. As idas à praia eram incentivadas até como forma de evitar a frequência dos pubs e elevado consumo de bebidas.
8. As viagens às primeiras Grandes Exposições Universais (Londres 1851, Paris 1855, Londres 1862,… Porto 1865…), além do
desenvolvimento científico e técnico e dos negócios, também estimularão o Turismo.
9. Evidentemente que a generalização destes direitos será lenta. Em 1958 no bem divertido filme «O meu tio» de Jacques Tati,
enviado compulsivamente para férias ainda pergunta «o que são férias?».
10. Muitos ecologistas referem a sua filiação na obra Walden ou a vida nos Bosques de David Henri Toreau (1817/1862) editada
pela primeira vez em 1852. Em Portugal foi editada pela Antígona (2.ª ed. 2009) que também editou do mesmo autor Caminhada
(1.ª ed. 2012). Contudo, a emergência das preocupações ecologistas nos anos 70 é especialmente motivada pela crise petrolífera
de 1973 e manifesta-se nas reflexões do Clube de Roma e publicação das obras Os limites do Crescimento (1972) de Dennis e
Donnela Meadows, Small is Beautiful (1973) de E.F. Hamilton e Design for the Real World: Human Ecology and Social Change
(1971) de Victor Papanek.
11. Pergunte-se: O tradicional turismo de massas será compatível com estas diferentes dimensões? Como gerar riqueza através
do turismo sem agredir o meio ambiente e as comunidades locais? Que dizer das urbanizações de obscuros licenciamentos, dos
«mamarrachos que se foram construindo ou megaprojetos ao abandono (vide a propósito Expresso de 19.01.2013)? De que modo
o turismo pode estimular o desenvolvimento regional e local e promover a inclusão social?
12. Infelizmente, muitas vezes, o turismo de massa tem contribuído para a degradação dos recursos naturais, a subversão ou até
morte de culturas e atividades tradicionais, a deterioração do património, a bastardização do artesanato, a especulação imobiliária, etc, etc.
Bibliografia básica
ALMEIDA, Isabel Duarte de e ABRANJA, Nuno Alexandre, «Turismo e Sustentabilidade», in Cogitur. Journal of Turism Studies,
nº. 2, 2009
FERNANDEZ, Luis Fuster, Historia General del Turismo de Massa, Alianza Editorial, Madrid, 1999
MOURA, Anna K. Cavalcante e GARCIA, Loreley Gomes, «Políticas de Turismo e Sustentabilidade…», in CULTUR – Revista de
Cultura e Turismo, nº. 3, Junho, 2009
PIRES, Eliane Cristine Raab, As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura, Ed. Instituto Politécnico de Bragança, Bragança, 2004
Sítios da internet (consultados em Janeiro 2013): http://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo, http://turisticos.wordpress.com/historiado-turismo/, http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=d65dd65d-6538-48a2-b4b5-a95f4149a0d4&edition=114
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1.as JORNADAS
DE TURISMO E AMBIENTE
DA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO
Nazaré Alves, docente da ESRT
Nos dias 24 e 25 de janeiro realizaram-se, no auditório da Escola Secundária de Rio Tinto, as 1.asJORNADAS DE TURISMO E AMBIENTE organizadas pelos cursos profissionais Técnico de Turismo e Técnico de
Gestão do Ambiente. Estiveram presentes na sessão de abertura o Dr. Fernando Paulo, Vereador do Pelouro
da Cultura e Educação da Câmara Municipal de Gondomar, o Dr. Belmiro Ribeiro, Diretor do Centro de
Formação Júlio Resende e a Dr.ª Luísa Pereira, Presidente da CAP do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto
nº 3.
Iniciados os trabalhos constantes de um programa ambicioso foram então abordadas, pelos oradores, de
uma forma reflexiva, as seguintes temáticas:
1.º PAINEL - 24 DE JANEIRO DE 2013 – 9.00
TURISMO E AMBIENTE: A COOPERAÇÃO COMO O CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE
DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL - PERSPETIVAS
A Dr.ª Deolinda Pinto, em representação da autarquia, referiu o papel determinante da Câmara Municipal, na construção de um futuro sustentável o qual passa, necessariamente, pela proteção do ambiente e
redundará necessariamente no desenvolvimento turístico da região. Foram salientadas as potencialidades
e património de Gondomar como o Rio Douro; espaços naturais e praias; património artístico; património
construído; artesanato. Ficou demonstrado que um desenvolvimento sustentado passa sempre pela exigência de cooperação empresarial e institucional sendo imprescindível uma colaboração entre todos os atores
regionais. “Na essência de Gondomar está o nosso presente o nosso passado e o nosso futuro… Gondomar
vive das suas tradições, do que é genuíno, fugindo à massificação… o orgulho de Gondomar é a melhor forma de promoção do turismo… A regata junto à Ribeira de Abade, os barcos valboeiros e os saveiros, a festa
do sável e da lampreia assim como a filigrana (com o rendilhado das peças) são a essência de Gondomar
constituindo o orgulho das suas gentes” – disse a Dr.ª Deolinda Pinto.
De seguida, o Dr. Alfredo Barbosa – Jornalista, docente e consultor do ensino universitário, diretor do
novo jornal (semanário impresso e diário digital), denominado "Ponto Norte" referiu como condição sine
qua non para o desenvolvimento regional, o saber receber e o saber estar dos cidadãos de uma região/país,
salientando os contributos que, na perspetiva de um jornalista, são a essência do desenvolvimento turístico
e ambiental, conceitos que, defende, estarem inegavelmente interligados. De salientar a importância que um
jornal regional poderá ter no desenvolvimento turístico e ambiental de uma região, quer pelos conteúdos,
quer pelos alertas que poderá despertar nas suas gentes. O fator proximidade constitui-se como mais-valia e
motor de desenvolvimento. Dirigindo-se ao auditório, e em especial aos alunos dos dois cursos profissionais,
alertou para a importância da «busca do conhecimento pois só esta pode gerar desenvolvimento… Só pelo
conhecimento podemos inovar e sermos melhores. Façam pelo Norte o que os políticos não estão a fazer...»,
acrescentou. O “Ponto Norte” terá esta missão de ser gerador de conhecimento e logo de desenvolvimento.
Tomando a palavra o Dr. Alexandre – CEO da iClio (history for the new media) referiu o contributo das
Novas Tecnologias da Informação e Comunicação como ferramentas catalisadoras da promoção e desenvolvimento do turismo local e regional. O património turístico ao sabor de um touch num IPad ou Iphone
ou android. Apresentou o “Just in time tourist”, uma aplicação disponível para telemóveis, vocacionada para
pessoas que estejam num aeroporto ou num hotel, por exemplo, e que tenham algum tempo livre. Através
da sua utilização o utilizador é guiado pela aplicação que funciona como um guia turístico de bolso que lhe
vai falando dos locais históricos e culturais da cidade. Esta aplicação está ao serviço do turismo e dos agentes
turísticos apresentando-se, não como alternativa aos guias e técnicos de turismo mas como instrumento de
divulgação e promoção turística das localidades das cidades das regiões.
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De seguida, o Dr. Carlos Ferreira – Administrador Delegado pelo produto Turismo de Natureza do Porto
e Norte de Portugal explicitou o papel desempenhado pelo organismo público que representa na promoção
do Turismo do Porto e Região Norte de Portugal salientando a importância da preservação dos recursos
naturais da região e da potenciação dos recursos gastronómicos, enológicos e paisagísticos que, de forma
excelente, a representam. A função desempenhada pela instituição é a de mediar ações, públicas ou privadas, empreendedoras nas áreas do turismo e do ambiente nesta região.
Não obstante as várias perspetivas todos os oradores foram unânimes quanto à necessidade de fazer intervir por diversas vias as pessoas, com as suas tradições. A cooperação como o Caminho para a Sustentabilidade do Desenvolvimento Regional deverá ser mais do que um rumo, um Norte…Será de aproveitar as
tecnologias existentes e fazê-las funcionar emparelhadamente com os recursos humanos existentes realçando-se a ambivalência entre tecnologia e pessoas no desenvolvimento do turismo de cada região. A cultura
e as gentes de cada local farão o resto…
2.º PAINEL – 24 DE JANEIRO DE 2013 – 14.30
GESTÃO HOTELEIRA E GESTÃO AMBIENTAL
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS DE MATERIAIS UTILIZÁVEIS NA HOTELARIA
A Dr.ª CARLA ROCHA – Diretora Comercial do ”Viriato Hotel Concept” abordou o Tema: Práticas
sustentáveis de materiais utilizáveis na Hotelaria (Mobiliário de Hotelaria): Uma empresa de mobiliário
Hoteleiro, Móveis Viriato, explica as suas boas práticas de investigação e desenvolvimento na aplicação de
soluções inovadoras na Industria do mobiliário hoteleiro. Visão, missão e liderança no setor do mobiliário
hoteleiro de mãos dadas com a produção sustentável - De facto uma empresa previdente quanto à sustentabilidade dos recursos.
CIRCUITO DOS RESÍDUOS
Tomando a palavra a Eng.ª Carla Fernandes – Representante da Lipor explicou a Política da LIPOR e os
seus contributos estratégicos na prevenção de resíduos e na utilização sustentável dos recursos naturais
importantes no desenvolvimento turístico e sustentabilidade ambiental. Salientou a Operação Restauração
5 estrelas, aplicada a restaurantes cantinas e similares com circuitos de recolha seletiva dos resíduos biológicos e orgânicos em todos os municípios associados à LIPOR. Foi referido o serviço Ecofone que inclui 43
hotéis e em que é feita a recolha combinada de resíduos multimateriais. A LIPOR fornece aos hotéis aderentes do serviço Ecofone a formação inerente à separação de resíduos e às melhores práticas que logicamente verão certificadas as suas boas práticas ambientais.
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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E TURISMO
A Engª Patrícia Neto, Representante da Quercus, realçou o papel da Quercus na defesa de uma política ambiental na hotelaria e no turismo como alavanca do desenvolvimento racional e equilibrado. A Importância
das Boas Práticas ambientais foi a mensagem, o Ecoturismo a temática de fundo. Assim, apelou ao consumo
sustentável dos consumidores, sublinhou o poder que todos nós, enquanto consumidores, temos quando
fazemos opções de compra. Sem bom ambiente e boas práticas não há turismo.
DR. Paulo Lopes – Owner da “Oficina da natureza” Green Walks, abordou a temática, Percursos de natureza no Norte de Portugal. A empresa de animação turística que representa, começou por trabalhar o território de Ponte de Lima, Viana do Castelo, Parque Nacional do Gerês, atendendo às potencialidades dessa
zona em termos de natureza, mar e rio, gastronomia e património. O projeto evoluiu sendo atualmente
uma empresa integradora de uma oferta turística regional. Partiu do princípio de que Portugal tem recursos
turísticos excecionais sendo muito procurado por estrangeiros.
3º PAINEL – 25 DE JANEIRO - 9.30
TURISMO NA REGIÃO
O Dr. Antonino Jorge – Professor de História abordou o tema “Turismo – História do turismo – viagens”.
Neste domínio o professor referiu a importância e os marcos históricos turísticos aliados às viagens pelo
mundo. Falar de viagens é falar de peregrinações e de cruzadas - refere. «Atendendo à importância que o turismo tem vindo a assumir é necessário que cada local potencie as suas valências». Portugal tem um extenso
património e a cidade do Porto é um dos pontos de referência turística no nosso país, salientou. O turismo é a
atividade económica mais rentável há que preservar o património a cultura, a diversidade das regiões os seus
costumes e tradições. No Porto não podemos esquecer que temos muitos alunos Erasmus, é a cidade que tem
mais alunos estrangeiros que divulgam e publicitam da melhor forma o nosso país. Será um filão a explorar
este turismo educativo dado que irão voltar um dia e trarão familiares. “A viagem forma jovens” acrescenta.
É necessário que os locais e as regiões andem de mãos dadas na promoção do país potenciando o património
cultural existente sustentado
pelo bem receber que nos
carateriza.
Hélder Pacheco, Professor
Universitário e Historiador.
Falou-nos sobre “A cidade
enquanto Património – Para
uma Politica de Turismo”. Os
problemas da cidade, para o
professor são essencialmente
três, a saber: desindustrialização, ou seja, as cidades
perdem unidades industriais,
provocando uma diminuição/perda de milhares de postos de trabalho; descomercialização, neologismo que
significa a perda de comércio e despovoamento da cidade, por desaparecimento do comércio e indústria.
Estes três problemas que se têm vindo a verificar desde 1950, devem-se, segundo Hélder Pacheco, à incompetência e aos erros de gestão dos sucessivos governantes.
Perante esta radiografia “é possível sair do buraco em que as cidades estão metidas”? – Questiona o professor. Responde de seguida: “Algumas, em situação mais difícil, saíram, nomeadamente a cidade de Manchester ou Bilbao”.
“O Porto integra-se no conceito de cidade em crise, dado ter-se desindustrializado, ter perdido comércio
e ter perdido população”. O que fazer então? É necessário, de acordo com o professor Hélder Pacheco, «…
elaborar uma estratégia que permita sair da crise, regenerar a cidade e inverter o processo. Essa estratégia
deverá ser uma estratégia de intervenção massiva no capítulo da reabilitação urbana da baixa do Porto;
deverá passar pela transformação do Porto num grande Pólo de atração turística, assim como deverá ser
uma estratégia que faça do Porto um pólo internacional do ponto de vista científico e tecnológico – a Universidade do Porto terá aqui um papel importante. Todas estas estratégias criarão emprego e quanto mais
qualificado for o emprego melhor».
31
«Urge fazer da cidade do Porto uma cidade impetuosa em matéria de atração turística. Impõe-se substituir
o velho operário, analfabeto mas que foi fantástico, pelo operário qualificado – técnicos de turismo e agentes
turísticos» - sublinhou.
De seguida, o Sr. Eng.º Rui Quelhas - Vereador na C. M. Gondomar, Administrador do Porto Vivo, SRU
– Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa Portuense S.A, abordou o tema “A reabilitação e o Turismo
Patrimonial”. As cidades assumem já uma importância muito significativa. Em 2010 50% das pessoas do
mundo inteiro viviam nas cidades e pela análise feita este número irá aumentar significativamente pelo que
há que potencializar todo o seu património. Há muito a fazer no domínio da reabilitação urbana. O Porto, à
semelhança de outras grandes cidades, tem de ser competitivo e tem elementos que o tornam competitivo,
como sejam o rio Douro, os hotéis, a sua história e cultura, as suas gentes o seu património arquitetónico.
Ora, a reabilitação urbana, sendo um processo lento, terá a retoma do investimento num prazo de quatro
a cinco anos. Mas esta reabilitação/investimento é essencial. É que a cidade do Porto pode ser a capital do
turismo nacional. Considera o Sr. Eng.º que «é necessário casar muito bem o património arquitetónico do
Porto com o rio Douro e com o aeroporto do Porto. (…) As cidades aeroportuárias são muito importantes»
acrescenta – as cidades não vivem sem aeroportos». O turismo no Porto tem todas as potencialidades para
continuar a crescer…
4º PAINEL - 14.30
UM OLHAR SOBRE A REGIÃO…
Desafios e visões diferenciadas na perspetiva de repórter fotográfico e de um jornalista.
Dr. FERNANDO MARTINS – Jornalista, referiu que é repórter quem consegue criar sentimentos em diferido. Um jornalista em reportagem quando enfrenta um desafio parece insensível, mas o repórter sofre em
diferido, quando escreve. Notícia, diz a certa altura, é diferente de reportagem. «Quando o jornalista escreve
uma notícia leva os acontecimentos até ao leitor. Quando o jornalista faz uma reportagem leva o leitor até
aos acontecimentos».
RUBEN MÁLIA - Repórter Fotográfico Freelance, IPA - International Photography Awards 2010 -Honorable Mention in Travel/Tourism - Desafios de um repórter fotográfico na região - «O mais gratificante
é passar para a fotografia os cheiros e as emoções». Aquele que consegue fotografar emoções passou uma
mensagem.
CONCURSO DE FOTOGRAFIA
Procedeu-se à atribuição de prémios aos alunos concorrentes. Estiveram quarenta fotografias a concurso.
No 1.º escalão venceu o Jardim de Infância “Entre cancelas” que nos presenteou com belíssimas fotografias.
No 2.º escalão venceu o aluno do ensino básico João Bernardo sousa e no 3.º escalão foi vencedora a aluna
Ana Marques.
O coro da escola Secundária de Rio Tinto – Agrupamento de Escolas de Rio Tinto n.º 3 encantou os alunos
que, embevecidos, ouviram as canções clássicas interpretadas pelos seus professores e funcionários, um momento de cultura que registaram com prazer, admiração e que certamente recordarão no futuro.
As jornadas pautaram-se pela excelência dos oradores e pela postura assertiva dos alunos dos cursos. Parabéns ao público-alvo das mesmas. Agradece-se a todos os que participaram e colaboraram.
Abaiixo as Métricas
Métricaas
Abaixo
q maçada obedecer (a quem?)
qu
Ai que
- Aos
Ao ditames sem senso de alguém
a
cen
ensura
Quee nos deixa o castigo da censura
ven
enham com regras p'ró soneto
so
Não me venham
Não espartilhem
espart
rtilhem o pensar deste poeta
Porque ele é pássaro de gaiola aberta
abe
berta
Voa sem peias,
sem amarras, sem decreto
pe
m saber a razão para este erguer
er
Sem
Escr
crevo para sempre sem temer
teme
mer
Escrevo
ma qualquer folha branca
ca em clausura
Numa
Desatem o escriturar desta canetaa
Libertem-se
Libertem-s
-se as palavras do cativeiro
cativei
eiro
Abram-se as
a métricas ao cancioneiro
cancione
neiro
estreita
tar o caminhar dessa meta
m
Sem estreitar
Cele
lestina Imaginação
Celestina
Abri
ril 2012
Abril
32
Recordando Álvaro Cunhal
No centenário do seu nascimento
Manuela Durão, docente da ESRT
2013 é o ano do centenário do nascimento de Álvaro
Cunhal, figura incontornável da política portuguesa
do século XX.
‘Homem de cultura integral’, a vida e obra confundem-se nas suas múltiplas dimensões, consubstanciada numa produção teórica que cruza as áreas da
política, da sociedade, da história, da economia, da
cultura, da literatura e das artes plásticas.
Álvaro Barreirinhas Cunhal nasceu na freguesia
da Sé Nova em Coimbra, no dia 10 de novembro
de 1913. Viveu a sua infância em Seia, mas mudouse, aos onze anos, com a família, para Lisboa, onde
concluiu o ensino secundário. Com dezassete anos,
ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa e filia-se
no PCP, iniciando uma atividade política que jamais
abandonaria até ao fim da vida. Em 1934, é eleito
pelos estudantes de Lisboa representante no Senado
Universitário e em 1936 integra o Comité Central
do PCP, viajando para o país vizinho onde vive os
primeiros meses da guerra civil espanhola.
Em 1940-1941, participou ativamente na reorganização do Partido Comunista Português, destacandose como dirigente político e partidário.
Ao longo da vida, é preso diversas vezes: 1937, 1940
e 1949. Esta última passagem pelo cárcere durou onze
anos, dos quais oito em total isolamento. Em 1960,
protagonizou a conhecida fuga do Forte de Peniche, que teve repercussões muito positivas ao nível da vida
interna do Partido, uma vez que resgatou alguns quadros destacados para as suas fileiras. Em 1961 é eleito
Secretário-geral do PCP, cargo que ocupará até 1992. Depois de alguns anos a viver na clandestinidade, regressa a Portugal após o derrube do regime fascista a 25 de abril de 1974. Foi Ministro sem pasta dos I, II, III
e IV governos provisórios e eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e à Assembleia da República
em todas as eleições legislativas até 1992. Neste ano deixou o lugar de Secretário-geral do PCP, sendo eleito
pelo Comité Central para o cargo de Presidente do Conselho Nacional do Partido.
A sua intervenção política e ideológica passou ainda pela atividade jornalística, tendo colaborado, ao longo
da década de 30, do século passado, com diversos jornais e revistas, tais como "O Diabo"; "Sol Nascente";
"Seara Nova"; "Vértice"; nas publicações clandestinas do PCP, "Avante" e "Militante”; e pela intensa produção
de uma obra teórica e política de estudo, análise e reflexão sobre a realidade do país e as práticas do Partido.
A par da sua atividade política e ideológica, assume uma faceta literária e artística de relevo. Os anos da
prisão revelaram-se um período de intensa leitura e produção criativa. Datam destes anos as séries “desenhos da prisão”, a tradução e ilustração da obra “Rei Lear”, de William Shakespeare, a produção de obra
teórica de caráter social e estético, como “As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média”, “Contribuição para o Estudo da Questão Agrária” e “Cinco notas sobre forma e conteúdo”, respetivamente. São
ainda deste período algumas das suas obras de ficção mais conhecidas, como “Até Amanhã, Camaradas” e
“Cinco Dias, Cinco Noites”, posteriormente adaptadas à televisão e ao cinema, escritas sob o pseudónimo
de Manuel Tiago. Podemos acrescentar a estes títulos “A Estrela de Seis Pontas”, “A Casa de Eulália” e “Fronteiras” como obras maiores de Álvaro Cunhal.
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Desenho de Álvaro
Cunhal (feito na prisão)
[edições Avante]
A produção ficcional de Álvaro Cunhal é um prolongamento da sua visão de dirigente comunista, ligado
à luta e aspirações operárias, uma vez que as personagens dos seus romances e desenhos são fundamentalmente trabalhadores em luta contra a exploração e opressão.
Personalidade controversa e polémica da vida nacional, amado por muitos, odiado por tantos outros, por
todos reconhecido como grande intelectual e homem de coerência ideológica que orientou toda a sua vida
pelos valores comunistas. Acreditava que “A alegria de viver e lutar vem da profunda convicção de que é
justa, empolgante e invencível a causa porque lutamos” (O partido com Paredes de Vidro, 1985).
Álvaro Cunhal, a quem apelidaram de homem de “singular personalidade intelectual” morreu a 13 de
junho de 2005, em Lisboa.
“…quando o sol começou a aproximar-se do horizonte, e os vales se diluíram em penumbras, e os cabeços e rebolos estenderam as sombras, e o ar começou a pesar de humidade e
frio, então, sobranceira, a serra ganhou subitamente nova grandeza, como que olhando os
intrusos com hostilidade” (Cinco Dias, Cinco Noites, 1994).
Sr. Pr
residente da República...
Presidente
Ouvi algué
alguém
uém dizer sem pudor
Que nos iam
ia roubar os subsídio
ios
subsídios
Senhor P
Presidente
Desminta
ta este rumor
Poupe-nos
Poupe-no
nos nos suicídios
Sou reform
rmado barato
reformado
Trabalheii a vida inteira
E também
ém à guerra fui
Defender
er os interesses deste espaço
esp
spaço
Agora já sem trincheira
Preciso do seu abraço
Dos li
limites já passámos
Já nem
em temos que comer
Ao seu
eu poder imploramos
Não nos deixe apodrecer
políticos
Os pol
olíticos mentem, mentem
m
Fazem
m tudo ao contrário
Noss
ssas dores eles não sentem
Nossas
Torn
rnam-nos a vida um calvári
rio
Tornam-nos
calvário
Conto
Cont
nto com a sua mestria
Para dos ladrões nos livrar
Dobr
brar esta maioria
Dobrar
E os reformados honrar.
A. F
Franco
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