2006 SILVA, Walmir Barbosa da

Transcrição

2006 SILVA, Walmir Barbosa da
WALMIR BARBOSA DA SILVA
AS MOTIVAÇÕES PARA A FREQÜÊNCIA DO USUÁRIO NO
GRUPO DE ALCOOLISTAS DO CAPSad de DOURADOS
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CAMPO GRANDE
2006
WALMIR BARBOSA DA SILVA
AS MOTIVAÇÕES PARA A FREQÜÊNCIA DO USUÁRIO NO
GRUPO DE ALCOOLISTAS DO CAPSad de DOURADOS
Monografia apresentada como requisito final de
aprovação no Curso de Especialização em Saúde Mental
da Escola de Saúde Pública "Dr. Jorge David Nasser".
ORIENTADORA:Profa. MSc.Esteia Márcia Scandola
r.
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CAMPO GRANDE
2006
í)r. Sérgio :?Vr(mca
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L.
/
DEDICATÓRIA
In memorian ao meu tio Geraldo Baptista
Ferreira, que viveu em sobriedade e com a
solidariedade (1978-1993) com nossos amigos
de Alcoólicos Anônimos.
À minha família, em especial, à minha
companheira Hilda Maria Precheski, pelo
incentivo durante o curso, e que sempre me
ajudou muito na educação dos nossos filhos
Neilton e Vanilton.
A todos os companheiros do
Grupo
de
Alcoolista do CAPSad/Dourados, que muito
admiramospelo imenso espírito de luta diária,
evitando o beber problemático e/ou reduzindo
o seu beber, e se tomando mais humano com
seu semelhante.
AGRADECIMENTOS
À orientadora e canina Profa. MSc. Esteia
Márcia Scandola, pela reflexão e dedicação
durante na orientação deste trabalho.
Ao
Prof.
Paulo
Amarante,
por
ter
proporcionado confiança e segurança durcnite
a realização do Curso de Especialização em
Saúde Mental.
Aos profissionais, familiares e usuários do
CAPSad/Dourados, pela colaboração.
Aos participantes dos Alcoólicos Anônimos
(A.A.) de Dourados (MS), em especial ao
grupo dourados, que conheço e reconheço
desde 1978.
resumo
o presente trabalho monográfico tem, entre outros objetivos, principalmente analisar a
questão da motivação para a freqüência do alcoolista no CAPSad de Dourados. Para tanto,
desenvolve-se o estudo histórico do consumo de álcool, observando-se o conceito de
alcoolismo e alguns modelos de tratamento. Após isso, passa-se à compreensão da Saúde
Mental no Brasil, em Mato Grosso do Sul, em Dourados, além da problematização da atuação
tanto do CAPSad quanto da política de redução de danos, ambos bastante utilizados
modernamente na saúde pública nacional. Por fim, ao término do trabalho, há a análise da
motivação dos aJcoolistas no CAPSad de Dourados, com base nas entrevistas dos alcoolistas
freqüentadores.
PALAVRAS-CHAVE: ALCOOLISMO - MOTIVAÇÃO - CAPSad
ABSTRACT
The present monographic work has, among others objective, mainly to analyze the question of
the motivation for the frequency of the alcoolista in the CAPSad of Dourados. For in such a
way, the historical study ofthe alcohol consumption is developed, observing itselfthe concept
of alcoholism and some models of treatment. Afler this, transfers it the understanding of the
Mental Health in Brazil, in Mato Grosso do Sul ofthe South, in Golden, beyond the probaly
of the performance in such a way of the CAPSad how much of the politics of reduction of
damages, both sufficiently used modemly in the national public health. Finally, to the ending
of the work, it has the analysis of the motivation of the alcoolistas in the CAPSad of
Dourados, on the basis ofthe theory and in interviews ofthe alcoolistas freqüentadores.
KEY WORDS: ALCOHOLISM - MOTIVATION - CAPSad
SUMARIO
INTRODUÇÃO
07
CAPÍTULO I ALCOOLISMO: HISTÓRIA E CONCEITO
11
1.1 Evolução histórica do consumo alcoólico
11
1.1.1 Grécia e Roma
16
1.1.2 Antigo Egito
20
1.1.3 Judeus
21
1.1.4 Idade Média, álcool sob enfoque teológico-cristão
22
1.1.5 Idade Moderna
24
1.2 Conceito
29
CAPÍTULO n MODELOS DE TRATAMENTO LAICOS
37
2.1 Alcoólicos Anônimos(A.A.)
37
2.2 Modelo Minnesota
45
2.3 Amor Exigente na Família
51
2.4. Saúde Mental, uma história em construção
53
2.4.1 CAPSad e Redução de Danos
55
CAPÍTULO m SAÚDE MENTAL: MOTIVAÇÕES PARA A FREQÜÊNCIA
DOS ALCOOLISTAS NO CAPSad/DOURADOS
64
3.1 Alcoolismo: uma questão de saúde pública
65
3.2 Saúde Mental no Estado de Mato Grosso do Sul
65
3.2.1 Saúde Mental em Dourados
67
3.3 Histórico do CAPSad Dourados
71
3.4 Motivação dos alcoolistas no CAPSad de Dourados
74
CONSIDERAÇÕES FINAIS
82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
85
INTRODUÇÃO
Este trabalho procura reunir informações sobre o alcoolismo, para a compreensão dos
motivos que levam os alcoolistas a freqüentarem o CAPSad em Dourados-MS.
Sabe-se que a história da humanidade está permeada pelo consumo de álcool e, assim,
compreender as metodologias de tratamento é essencial para a diminuição dos problemas
psicosociais que o consumo exagerado e contínuo do álcool desencadeia tanto no plano
individual quanto coletivo.
Ao considerar que o alcoolismo estigmatiza, gera exclusões e preconceitos contra os
alcoolistas, afastando-os do convívio social, entende-se que o problema do álcool não tem
preferência sexual, étnica, de classe social, credo religioso, ou faixa etária. Nesse sentido, as
conseqüências espalham-se às mais diversas sociedades e merece a atenção principalmente
dos profissionais ligados à saúde pública.
Então, parte-se do pressuposto de que o alcoolismo é um mal social antigo, combatido
por diversos modelos de tratamento tradicionais, e que exige políticas públicas preventivas e
de caráter combativo, para a promoção da saúde mental.
Desse modo, didaticamente, optou-se por dividir este trabalho em três capítulos. O
primeiro trata de dois aspectos, a nosso ver, essenciais ao entendimento do alcoolismo;
história e conceito. Demonstra-se que a problemática do consumo do álcool marca a história
humana, desde a Grécia e Roma antigas até a Idade Moderna, e agravou-se com o
aparecimento do processo de destilação, que possibilitou o surgimento de novas bebidas
alcoólicas.
Além disso, o capítulo deixa claro que, embora o conceito de alcoolismo não seja
preciso, este pode ser considerado como uma patologia progressiva e fatal se não for tratada.
8
vez que classificado assim pela Organização Mundial de Saúde, além de representar uma
alteração emocional, um grave problema de saúde pública etc.
No segundo capítulo, essencialmente há a questão dos modelos de tratamento.
Comentam-se a respeito de alguns modelos de tratamento laicos: Alcoólicos Anônimos
(A.A.), Modelo Minnesota, Amor Exigente na Família, Saúde Mental, uma história em
construção, CAPSad e Redução de Danos.
A não-adesão aos tratamentos constitui-se um sério problema para todos os modelos e
que é possível de ser enfrentado. O conhecimento sobre os modelos tradicionais, propicia aos
profissionais de saúde, condições de avaliá-los adaptando-os às exigências específicas de cada
caso e usando dos conhecimentos que cada um oferece, municiar-se de condições para
melhorar a freqüência ao tratamento. A Saúde Mental no Brasil definitivamente a ser
abordada com a Reforma Psiquiátrica. É um processo de construção cujo CAPSad é uma das
principais alternativas governamentais, no que se refere aos dependentes de álcool e outras
drogas.
No terceiro e último capítulo, é discutida e delineada a atual história da Saúde Mental
no Mato Grosso do Sul e, em especial, na cidade de Dourados (passando-se pelos trabalhos
feitos com dependentes químicos neste município), para então tratar da redução de danos e
chegar, finalmente, à análise da motivação dos alcoolistas no CAPSad de Dourados.
Atualmente, no CAPSad têm registrados mais de 750 usuários^ de acordo com o
levantamento realizado entre 19 de maio de 2004 até o dia 19 de novembro de 2005, com
cadastrado de 705 prontuários. Deste total, fez-se em apenas 60 prontuários o Laudo Médico
para emissão de Autorização de Procedimento de Alto custo - APAC, ou seja, reconhecido
pelo Ministério da Saúde como em efetivo tratamento. Dentre esses 60 usuários^, temos; 19
'Número levantado no Livro Ata n.°01 do CAPSad/Dourados. com abertura e registro em 18 de maio de 2004.
"A APAC é emitida consoante Portaria n. 336/GM,de 19 de fevereiro de 2002.
tabagistas; 11 dependentes químicos de outras substâncias psicoativas (Maconha, Cocaína,
Mesclado Solvente, Crack, Pasta Base ou Nóia)e 30 dependentes químicos de álcool.
Espera-se, com o desenvolvimento do tema sugerido a este trabalho, conseguir
conhecer os alcoolistas que freqüentam o CAPSad em Dourados, e os fatores motivacionais
que levam ao tratamento, especialmente, participando dos gmpos de convivência existentes.
Dessa forma, considera-se conhecer aos antecedentes do processo de motivação, a
participação no grupo e o significado do CAPSad na vida dos cidadãos que são usuários deste
serviço de saúde, pode contribuir efetivamente para a melhoria do serviço do SUS.
Este trabalho foi realizado numa abordagem qualitativa através de entrevistas de seis
freqüentadores do grupo de alcoolistas do CAPSad.
As entrevistas foram coletadas individualmente, buscando conhecer a resposta do
impacto do CAPSad na vida dos alcoolistas e no seu reconhecimento, do processo saúde
doença e do significado do serviço de saúde na vida dessas pessoas.
O consumo de bebidas alcoólicas é antigo, ou seja, está ligado aos primórdios da
humanidade. Assim, beber moderada e esporadicamente faz parte dos costumes de diversas
sociedades, daí coloca Cook (1999, p. 23); "A cultura pode influenciar o padrão e contexto,
assim como a quantidade do consumo de álcool, e o padrão desse consumo pode,por sua vez,
ser um determinante importante dosproblemas com bebida
Neste contexto, poderá surgir o alcoolismo, o qual faço uma ressalva, pois muito se
buscou a respeito da história do álcool e do alcoolismo para desenvolver esta pesquisa, mas
ressaltamos que parte do histórico vem de sites da intemet e não se tem como paginar, apenas
mencionasse o endereço das páginas pesquisadas, por não ter numeração.
O alcoolismo pode ser considerado como um conjunto de problemas relacionados ao
t
consumo prolongado e excessivo do álcool. E entendido como a dependência de ingestão
excessiva e regular de bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências decorrentes, no que diz
10
respeito à noção de alcoolismo, desse modo Twerski(1987, p. 30)aponta; "Uma definição de
alcoolismo amplamente usada é que essa condição existe sempre que qualquer aspecto da
vida de uma pessoa — físico, emocional, social ou ocupacional — foi prejudicado como
resultado do álcool".
Por fim, como Vaillant (1999, p. 13) afirma: "[-.J a literatura especializada sobre
álcool está repleta de controvérsias; e controvérsia, uma vez não esclarecida, pode gerar e
deturpar defato a compreensão sobre o tema". Dai a atenção, em especial, à análise critica
das fontes. Sem estudos cientificos modernos, corre-se o risco de produzir um trabalho sem
grande relevância, em termos cientificos.
CAPÍTULO I
ALCOOLISMO:HISTÓRIA E CONCEITO
1.1 Evolução histórica do consumo alcoólico
Historicamente, o consumo do álcool pelo homem é muito antigo, tendo registro em
idade bastante remota, estando presente como hábitos nos costumes das mais diversas
sociedades e, conforme as evidências arqueológicas demonstram, o homem consome álcool
desde a pré-história, por isso:
Acredita-se que a bebida alcoólica teve origem na Pré-História, mais precisamente
durante o período Neolítico quando houve a aparição da agricultura e a invenção da
cerâmica. A partir de um processo de fermentação natural ocorrido há
aproximadamente 10.000 anos o ser humano passou a consumir e a atribuir
diferentes signi&cados ao uso do álcool. Os celtas, gregos, romanos, egípcios e
babilônios registraram de alguma forma o consumo e a produção de bebidas
alcoólicas.^
Chega-se a pensar que o álcool foi consumido no período Neolítico (exemplo: vinhos
de frutas vermelhas) em 6400 a.C, e mais além: "Segundo alguns registros arqueológicos, os
primeiros indícios do consumo de álcoolpelo ser humano datam de mais de oito mil anos
álcool através da história. Disponível em;•<http://www.cisa.org.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
^Histórico. Disponível em: <htttp://www.saude.terra.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
12
A história da humanidade está farta de registros sobre o uso do álcool, a sua produção
e o consumo está relacionado com a agricultura;
As mais antigas provas arqueológicas do uso das bebidas alcoólicas possuem quase
oito mil anos. Tal característica provavelmente associa-se ao feto da fermentação,
que transforma o açúcar em álcool, ocorrer espontaneamente nas frutas em contato
com o ar. Desta forma, a fabricação do vinho e da cerveja se desenvolve
simultaneamente a agricultura.^
Outro aspecto interessante, apontado por Bums (2006), é que a noção de álcool, por
exemplo, é facilmente encontrada em vários exemplos históricos:"O álcool e outras drogas
modificadoras do humor sempre estiveram presentes na história da humanidade. [...] A
arqueologia indica que esses produtos naturais têm feito parte da vida humatia desde cnties
da história documentada
Sendo assim, antigos povos utilizaram o álcool com fins medicinais, mas com
moderação e devida cautela para não transformarem um componente da saúde em algo
destruidor, neste sentido:
Documentos comprovam que entre os sumérios o vinho e a cerveja eram usados
com fins medicinais. De fato, sabe-se que a cerveja é nutritiva e tem forte ação
diixrética, podendo ser utilizada para expelir cálculos renais. Sabe-se também que os
açúcares da cerveja e do vinho possuem virtudes medicinais. A gücirrizina, por
exemplo, é utilizada, atualmente, para prolongar a vida de aidéticos e para tratar de
infecções nas vias digestivas e respiratórias.
Apesar dos benefícios, os médicos sumérios já afirmavam que as poções alcoólicas
devem ser utilizadas em pequenas doses, sob a pena de "perderem o poder curativo e
se transformarem em veneno"
Um dos fatos históricos importantes na mudança do perfil do uso de álcool, foi a
descoberta da destilação no século XVTI. Com isso, tomou-se possível produzir bebidas com
teor alcoólico maior do que as feitas apenas por fermentação.
história do álcool no mundo. Disponivel em: <http://www.facom.ufba.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
*14 história do álcool no mundo. Op. cit.
13
Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumo do álcool chegou a ser proibido, porém,
a chamada "Lei Seca" não obteve sucesso, como dissera Laranjeira(2003);
Basta lembrar que Benjamin Rush, um dos pais da psiquiatria americana foi ao
mesmo tempo um dos mentores do começo da resposta da sociedade americana em
relação ao álcool. Já no final do século XVÜT ele notava que mais de 35% dos
pacientes internados nos hospitais psiquiátricos americanos estavam lá devido ao
consumo excessivo de álcool. A sua sugestão para amenizar o problema já
contemplava medidas de controle ambiental como restrições ao número de pontos de
venda de álcool e controle do preço de bebidas. Essas idéias influenciaram
sobremaneira a resposta dessa sociedade e repercute até os dias de hoje.
O consumo de álcool sofre influência das atitudes desenvolvidas durante a infância e
adolescência dos indivíduos e, portanto, associadas aos padrões familiares e à influência
direta do meio social em que a pessoa se relaciona.
Como se verifica, cada sociedade possuiu certos padrões institucionalizados quanto ao
uso das bebidas alcoólicas, a variedade de formas de produção, motivos e oportunidades
construídas para a aceitação social das bebidas alcoólicas. Os estudos dos motivos que
referenciam os modos de beber não correspondem, necessariamente, a resultados precisos de
comportamentos socialmente estabelecidos, mas que melhor explicam a trajetória que leva a
pessoa ao alcoolismo, assim, segundo Souza(2006);
[...] a Síndrome de Dependência do Álcool tem o mesmo significado de Alcoolismo
crônico. Shuddt (1991), baseando-se nos estudos de Edwards, sugere uma
progressão de fatores/acontecimentos que permitiram construir mna "trajetória" da
pessoa em relação ao álcool [...].
Há consenso dos pesquisadores com esta trajetória, havendo, porém, divergências
quanto às faixas etárias de instalação dos eventos que variariam, principalmente, em
razão de fatores socioculturais(permissividade, disponibilidade e acesso).
Embora os estudos sobre o alcoolismo desde cedo passaram a preocupar a Medicina, a
sociedade costuma condenar os próprios costumes que implanta no decorrer dos séculos, por
isso Bums(2006) escreve; "Historiccanente, em iodo o mundo, o alcoólatrafoi tratado como
14
um criminoso ou doente mental. Somente no século XVIII o alcoolismo começou a ser
considerado como uma patologia distinta
Neste contexto, a ciência começou a evoluir e os estudos sobre o álcool. Com o tempo,
os tratamentos do alcoolismo estenderam-se dos países europeus rumo à América Latina, com
isto no Brasil passou a ganhar, esclarece Bums (2006), destaque a psicoterapia de origem
francesa:
Na Europa, a psicoterapia, especialmente a hipnose, foi usada no tratamento do
alcoolismo. Dado os fortes laços intelectuais do Brasil com a Europa,
piincipalmente com a França, essa tradição de tratar-se o alcoolismo com
psicoterapia predomina no Brasil de hoje, apesar de Freud nunca ter analisado um
alcoólatra.
Todavia, a forma e o modo do tratamento de alcoolistas no Brasil diferenciou-se dos
Estados Unidos, pais em que o assunto tomou-se tema de atuação religiosa e inclusive uma
das instituições mais responsáveis pelo tratamento dos alcoolistas no mundo, os Alcoólicos
Anônimos, conforme Bums(2006):
[,..] nos Estados Unidos, no final do século dezenove, o alcoolismo tomou-se um
problema religioso. Surgiram organizações de temperança [...] que pressionaram a
favor da interdição nacional, que ocorreu entre 1920 e 1933. Foi no vácuo da p6sinterdição, que muitos gnqpos religiosos continuaram a tratar o alcoolismo nos
Estados Unidos. Alcoólicos Anônimos nasceu nesse clima.
Nota-se que, em terras nacionais, apenas no século XX em diante ocorreram as
primeiras discussões sobre o alcoolismo, relata Bums (2006): "Aí temos uma divergência
histórica, importante para nossa compreensão do tratamento atual do alcoolismo no Brasil e
nos Estados Unidos
A conseqüência disso foi estender o problema ao campo das relações
de trabalho, sendo que atualmente o alcoolismo é uma das questões que se discute neste
campo. Vale lembrar, então, tal qual relata Buning et al(2004, p. 74), que:
15
As primeiras discussões associando o consumo excessivo do álcool ao ambiente de
trabalho, no Brasil, remetem-se ao final da década de 70 e inicio dos anos 80. Até
então, a questão era literalmente tratada à luz da lei, conforme a
Consolidação
das Leis do Trabalho(CLT)
A história do tratamento do alcoolismo, doença tao comum, mas de difícil
caracterização, pode contribuir para o esclarecimento das razões de divergências teóricas,
salienta Souza(2006):
Historicamente saúde e doença têm sido consideradas como categorias diferentes,
expressas em determinado momento pelo homem. Assim, na Grécia Antiga era
representada pela deusa Higéia e, posteriormente, em Roma, foi denominada de
Salus, significando bem estar.
Alonso-Femandez(1988)considera que saúde e doença são categorias fundamentais
para todos os ramos das Ciências Médicas. Enfatiza, entretanto, que apesar das
diferentes definições, nenhuma delas reflete totalmente a essência destes fenômenos.
Diante disso, é bom ressaltar que depois de surgir a destilação, com a Revolução
Industrial, tomando possível a produção em larga escala de bebidas com teor alcoólico mais
alto, no mundo inteiro os problemas com o alcoolismo aumentaram, comenta Souza (2006):
"[...] registrou-se um grande aumento na oferta deste tipo de bebida, contribuindo para um
maior consumo e, conseqüentemente, gerando um aumento no número de pessoas que
passaram a apresentar algum tipo de problema devido ao uso excessivo de álcool
Finalmente, em nosso pais, o consumo do álcool acompanhou a tendência
internacional, com isso: "Nos dias de hoje, é prática em muitasfamílias a "iniciação" das
crianças no consumo do álcool [...]. No Brasil, há uma grande diversidade de bebidas
alcoólicas, cc^la tipo com quantidade diferente de álcool em sua composição"P Então, o
problema nacional do alcoolismo é bem antigo, gerando diversos problemas sociais, e pode
ser considerado um dos piores do mundo, pois apresenta um quadro parecido àquele ocorrido
há anos nos Estados Unidos, como relatam Justo e Nascimento (2000), sobre a preocupação
com a bebida;
^Histórico. Op. cit.
16
O alcoolismo tem sido uma das maiores preocupações da saúde pública no mundo,
estando associado a diversos outros problemas como: mortes no trânsito,
desentendimentos familiares e afetivos, separação de casais, sendo, também,
companheiro inseparável de homicídios, espancamentos de crianças e mulheres,
deserção do trabalho, da escola, etc.
Igualmente acontece em outros países, o Brasil, também enfrenta os problemas sociais
causados pelo consumo indevido do álcool, sendo agravado pela elevação da produção e
comércio pós mercantilização de destilados.
1.1.1 Grécia e Roma
Nas ditas antigas "civilizações clássicas", houve o consumo do álcool, além da
utilização deste com fins medicinais. Sobretudo o vinho constitui-se em uma bebida bastante
ingerida e apreciada:
O solo e o clima na Grécia e em Roma eram especialmente ricos para o cultivo da
uva e do vinho. Os gregos e romanos também conheceram a fermentação do mel e
da cevada, mas o vinho era a bebida mais difundida nos dois impérios tendo
importância social, religiosa e medicamentosa.®
Precisamente é dificil saber onde o hábito de consumir vinho começou: "Não se pode
cq>ontar precisamente o local a época em que o vinhofoifeito pela primeira vez, do mesmo
modo que não sabemos quem foi o inventor da roda".^ Especialmente na Grécia, o vinho
esteve presente nas tradições. Inclusive às divindades o povo grego atribuía nomes ligados às
bebidas alcoólicas, e a ele:
[...] conseqüência da assimilação de costumes, hábitos e maneiras de pensar dos
gregos. O deus Dionisio, por exemplo, passou a se chamar Baco, as festas em honra
a essa divindade, as bacanais, agitaram, durante anos, as cidades mais ricas do
Império.'"
®0 álcool através da história. Op. cit.
^Alcoolismo. Disponível em: <httD://www.colegiosaofrancisco.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
10
história do álcool no mundo. Op. cit.
17
Com efeito, chegou o álcool a ser documentado o uso exagerado do álcool entre os
gregos, disserta Bums(2006): "A embriaguez é um tema invariável na história documentada.
Os excessos dos bacanais gregos e romanosforam censurados nos escritos do senador Plínio
e do médico Galeno". Segundo registros históricos, o hidromel aparece enquanto a primeira
bebida de caráter popular: "Na Grécia Antiga, a primeira bebida a se tomar popularfoi o
hidromel, obtido através dafermentação do mel diluído em água Seu reinado, no entanto,
durou pouco, sendo logo substituído pelo vinho dasparreiras locais".
De modo semelhante a outros povos, os gregos atribuíram ao vinho finalidades
religiosas, medicinais e hedonísticas. Na Grécia Antiga, o dramaturgo grego Euripides (484
a.C.-406 a.C.) registrou nas Bacantes duas grandes divindades gregas: "Dionísio", Deus do
vinho e da festa (Baco para os Romanos), e Deméter, deusa da agricultura, que fornece
alimentos sólidos para nutrir os homens. Porém, o povo grego foi cauteloso com o álcool em
certas ocasiões: "Apesar do vinho participar ativamente das celebrações sociais e religiosas
greco-romanas, o abuso de álcool e a embriagues alcoólicaJá eram severamente censurados
pelos dois povos". Os alcoolistas estavam sujeitos à pena de morte e às crianças havia a
proteção contra a ingestão do álcool, então registra Silva (2006): "Já na Grécia antiga, para
controlar o uso abusivo do vinho, Dracon instituiu a pena de morte para os ébrios e sefez
reconhecer o dever patriótico de proteção às crianças contra o vício do álcool (Século VII
AC)".
No plano mítico, documentos arqueológicos apontam que o vinho e a embriaguez
mística são constantes na Grécia arcaica (civilização Egeu-cretense) e serviram, em 1500 a.C.,
à formação da mitologia grega:
[...] um antigo relato conta, que numa das cidades-estado gregas, o casal considerado
mais belo pela coletividade era sacrificado anualmente. A moça e o rapaz desfilavam
' história do álcool no mundo. Op. cit.
álcool através da história. Op. cit.
18
nus pela cidade e por vários dias se embebedavam em honra à Dionísio. deus da
embriaguez. Após alguns dias, os adolescentes eram sacrificados em praça pública e
seus corpos e sangue eram espalhados pelos campos de cereais e troncos das
videiras, para impregná-los da alma e da energia daquele que era considerado o mais
belo casal humano.
Diferentemente, compreende-se que na Grécia Clássica o consumo do vinho ganhou
restrições, e as autoridades (principalmente as atenienses) não viam com "bons olhos" a
ingestão sem limites do álcool pelo povo grego:
Na Grécia clássica, o grande desenvolvimento das ciências, da filosofia e da política
impôs a moderação e o fim dos sacrificios humanos. Nessa época, o uso do vinho
passa a fazer parte dos hábitos de hospitalidade e da vida social grega. As bebedeiras
ficam reservadas a algumas ocasiões especiais.'''
Aliás, não eram apenas as autoridades gregas as responsáveis pela condenação do uso
do álcool, mas também alguns filósofos gregos: "[...] o abuso do álcool em Atenas
preocupava as autoridades da época clássica e era duramente criticado porfilósofos como
Sócrates e Platão"}^ Não se deve esquece, neste sentido, de Hipòcrates.
No Império Romano, a dominação dos "bárbaros" nos impostos (serviam para a
aquisição das bebidas alcoólicas): "Ao mesmo tempo, enquanto os exércitos romanos
saqueavam e dominavam outrospovos, exigindo [...]o pagamento de impostos, o povo latino
esquecia a sobriedade defendida pelos gregos e se entregava àsfestas" Houve o legado
ruim deixado pelos gregos(alto consumo do álcool, principalmente do vinho):
Introduzida na Península Itálica por colonizadores gregos, a viticultura romana foi
responsável pela substituição do vinho grego nas rotas de comércio da Antigüidade,
assim como, fez da exportação do vinho uma das mais lucrativas atividades do
Império, estando ao lado das conquistas militares e da administração das colônias.'^
história do álcool no mundo. Op. cit.
^"Id. Ibid.
^^Jd. Ibid.
^^Id. Ibid.
^'Id. Ibid.
19
A extensão do Império Romano levou o consumo do álcool a outros países e, com
isso, as grandes cidades começaram a apresentar problemas de alcoolismo: "Os romanos
foram [...] respotisáveis pela disseminaração de [...] técnicas de fabricação de vinho por
diversas regiões (Espanha, França, Grã-Bretanha e Alemanha). Nesse período, o alcoolismo
chegou a ser um problema social nas grandes cidades"}^
Nenhuma classe social escapou ao "império do álcool", porque desde os imperadores,
dos patrícios à plebe, a cerveja e o vinho foram usados em orgias à custa do Estado; "O
alcoolismo, na época do esplendor, afetou desde plebeus aos patrícios. O imperador
Caligula, por exemplo,ficoufamoso pelas orgias que promovia, distribuindo vinho e cerveja
ao povo as custas do erário público ".'®
Os impérios não são para sempre e, aos poucos, o Império Romano perdeu a força.
Então, o culto à sobriedade começou a caracterizar imperadores (exemplo: Marco Aurélio e
sucessores). A própria difusão do Cristianismo abriu espaço à concepção do controle de
bebidas alcoólicas. Mas sobriedade, porém, não salvou Roma da ruína econômica e da
decadência política(herdadas de excessos cometidos no passado).
Ao substituir as religiões "pagãs" gregas e romanas, o Cristianismo impôs moderação.
Apesar de não condenar o uso, condenou o excesso do álcool. A utilização equilibrada, por
sua vez, contou com o apoio do Evangelho Cristão, todavia os excessos continuavam:
"Embora os Evangelhos recomendem a moderação, era comum entre os cristãos primitivos,
festas e bebedeiras em honra de mártires considerados santos".
Diante disso, na antiga Grécia e no Império Romíino, vê-se o alcoolismo associado à
religião e à mitologia, com a produção (sobretudo do vinho) enquanto fonte de problemas
sociais, que marcam a história humana, independentemente do conhecimento científico e das
Ibid
Ibid.
^^Id. Ibid.
20
concepções ideológicas das sociedades, tendo eni vista formações socioeconômicas, distintas,
apresentarem alto consumo do álcool.
1.1.2 Antigo Egito
No antigo Egito, o álcool estava associado às cerimônias religiosas que serviram para
cultuar divindades. Os faraós egípcios, que comandaram durante milênios os povos do Nilo e
Eufrates utilizaram bebidas alcoólicas.
No antigo Egito, a embriaguez fazia parte dos ritos e cerimônias religiosas em
louvor a Osíris, deus protetor da agricultura. Na tumba de um faraó que morreu
aproximadamente há 5.000 anos constava o seguinte epitáfio: "Sua estada terrestre
foi devastada pelo vinho e pela cerveja, e o espirito lhe chamou antes que fosse
chamado".^'
Além disso, o Egito foi responsável pelas várias etapas que envolvem desde a
fabricação até o comércio de bebidas alcoólicas: "Os egípcios deixarcan documentado nos
papiros as etapas de fabricação, produção e comercialização da cerveja e do
v/>7Ao".^^Alegava-se que o consumo do álcool era devido ao uso terapêutico que a bebida
disponibilizava e "Eles também acreditavam que as bebidas fermentadas eliminavam os
germes e parasitas e deveriam ser usadas como medicamentos, especialmente na luta contra
os parasitasprovenientes das águas do Nilo"P
No entanto, os egípcios, por outro lado, chegaram a mencionar os perigos da
utilização do álcool, como demonstram evidencias arqueológicas:
[...] os egípcios alertavam sobre os perigos do uso do álcool. Vários textos
arqueológicos, escritos em hierógüfos, comprovam a existência de alcoólatras,
sendo que sua maior incidência vinculava-se ao consumo por parte de escravos e
camponeses pobres.^"
Álcool. Disponível em: <littp://crer-vip.org.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
22
O álcool através da história. Op. cit.
"Id. Ibid.
^">1 história do álcool no mundo. Op. cit.
21
1.1.3 Judeus
Assim como os egípcios os judeus conheceram o álcool. No período em que foram
escravos no Egito (antes da libertação de Maomé), este povo consumia bastante bebidas
alcoólicas. Mas com o tempo, a libertação do povo judeu esteve associada à abstinência do
uso do álcool:
Os judeus, provavelmente, conhecem o vinho durante seu cativeiro no Egito.
Enquanto escravos, o alcoolismo é uma constante em seu povo. Com a chegada de
Maomé e conseqüente libertação do Egito, os judeus atravessam o deserto,
alcançando a Terra Prometida, local onde edificaram a cidade de Jerusalém. Os
judeus, então,
a ser moderados no uso do vinho. Velhos patrrârcas, lideres de
algumas tribos, impõem à abstinência do álcool à sua família e a seus comandos.^^
Para os judeus, o álcool levou mulheres e homens a cometerem pecados gravíssimos,
tais como: incesto e assassinato. A hostilidade judaica em relação ao álcool inclusive chegou a
ser tema de episódios bíblico, conforme comprova passagem encontrada no Antigo
Testamento, no qual "O Livro dos Provérbios condena também 'o amor ao vinhodizendo
que ele pode levar os homens à pobreza e à aniquilação
Mais tarde, osjudeus foram dominados, em 586 a.C. pelos babilônicos. Sabe-se que os
babilônicos chegaram à ruína por causa do uso incorreto e desenfreado do álcool:
Nesse período, entretanto, os judeus observam à ruína da Babilônia devido ao abuso
generalizado de bebidas alcoólicas por parte do povo e do exército. Conta-se que os
persas atacaram e facilmente venceram, pois os babilônios estavam enliaquecidos
por uma noite de orgia coletiva.
Ibid.
-^Id. Ibid.
'^''id. Ibid
22
Mas os judeus conseguiram libertarem-se dos babilônicos e retomarem á região da
Palestina, mantiveram restrições ao álcool. "Com o retomo dosjudeus à Palestina, o vinho
voltou afazer parte de cerimônias e comemorações religiosas. Regras sobre o correto uso do
álcool, porém,foram copilados em livros sagrados, como o Talmute
1.1.4 Idade Média,álcool sob enfoque teológico-cristão
No Ocidente, a decadência do Império Romano trouxe o Cristianismo à condição de
religião oficial "Com o triunfo do cristianismo, os moimstérios passam a ser repositórios das
técnicas defermentação efabricação de vinho do mundo antigo".^
Ao iniciar a Idade Média, a cerveja, a cidra e o hidromel forma difundidas entre os
cristãos, por meio do contado do Cristianismo e outros povos: "No começo da Idade Média, o
contato com os celtas, germânicos e anglo-saxões diversificou as bebidas e difundiu entre os
cristãos a cerveja, a cidra e o hidromel
Tradicionalmente, os fiéis não admitem envolver-se com os horrores das gerras,
contudo são defensores do "uso moderado" do álcool, diz Silva (2006); "Deus também
tolerou as bebidas fermentadas". Dessa forma, o vinho e outras bebidas alcoólicas
representaram os hábitos e recursos alimentares dos tempos bíblicos. Considerando a falta das
técnicas de engarrafamento de sucos, sem geladeiras, sem conservantes como se tem
atualmente e sem embalagens apropriadas, os sucos e sumos ficavam sujeitos à fermentação,
ou seja, as bebidas naturalmente fermentadas eram, para os antigos, o único modo de se
estocar sucos. Dai o monopólio das bebidas alcoólicas pertencer ao Cristianismo, pois serviase vinho nas celebrações religiosas:
'^Id. Ibid.
-^Id. Ibid.
^Id. Ibid.
23
Além de produzir esta bebida para a celebração de missas, os conventos possuíam
extensas plantações de videiras e fabricavam vinho para troca-los por outias
mercadorias. [...J fórmulas de bebidas criadas na Antigüidade foram guardadas e
testadas nos monastérios. Durante quase 1300 anos as melhores vimcolas do mundo
pertenceram a ordens religiosas cristãs.
Ficaram famosos os vinhos franceses de Borgonha e Bordeaux, cidades de onde
saíram os champanhes das festas medievais: "Na França, os monges desenvolveram os
vinhos da Borgonha, de Bordeaux e muitos dos champanhes que alegravam as mesas dos
castelos dos senhores feudais"P Na América cristã, difundiu-se o álcool: "Os religiosos
cristãos tambémforam responsáveispela difuso do vinho nas Américas"
Assim como aconteceu na Antigüidade, os abusos e o vício passaram a ser lun
problema em muitas ordens religiosas. Autoridades eclesiásticas chegaram a
combater e punir monges alcoólatras, embora o vinho continuasse sendo servido nos
conventos.^
Se na Antigüidade os abusos geraram vício em grande escala, na Idade Média o
alcoolismo foi um problema em diversas ordens religiosas. O combate do álcool veio pela
punição das autoridades eclesiásticas, que combateram os monges alcoolistas, embora o vinho
fosse servido nos conventos, por isso coloca Souza(2006)que.
[...] apesar de o álcool ser conhecido desde os tempos mais remotos, lembrando
biblicamente e associado ao sexo e à luxúna, somente no Século XV111 o problema
foi objeto de maior atenção por parte da medicina, quando Benjamin Rush descreve
os seus efeitos no corpo e na mente humana, concebendo esta condição como
enfermidade.
As religiões em geral pregam contra o alcoolismo. Para muitos cristãos a Bíblia é o
referencial maior: "Ás referências bíblicas sobre bebidas alcoólicas são inúmeras"
Para
Silveira (1981), o Islamismo chega a condenar o uso indiscriminado do álcool, ao considerar
o álcool uma invenção diabólica:
história do álcool no mundo. Op. cit.
-^Id. Ibid.
^^Id. Ibid
""^Id. Ibid
^^Álcool. Disponível em: <http://crer-vip.org.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
24
O Alcorão, livro sagrado dos maomelanos, condena o uso de bebidas alcoólicas.
I^ome considerava o vinho como uma verdadeira invenção do diabo e, nas regiões
donunadas pelo íslamismo, as vinhas foram destruídas. Um verdadeiro maometano
não faz uso de bebidas alcoólicas, nem come carne de porco.(p. 20)
1,1.5 Idade Moderna
Do século XVin em diante, os relatos de viajantes dão conta de que os vários tipos de
bebidas e as mais diversas formas de beber são bem parecidos com as existentes hoje em dia.
No ano de 1618, por exemplo, um viajante inglês, Gynes Moryson, percebeu que os
conterrâneos e os franceses bebiam pouco em relação a outros povos,tais como; os escoceses,
alemães e irlandeses:
De 1600 a 1750 a Europa conheceu grande crescimento do consumo de cerveja,
vinho, destilados e hcores. As melhorias na agricultura, o aperfeiçoamento das
técnicas de femientaçâo e o desenvolvimento das destilarias com equipamentos cada
vez mais aprimorados foram em grande parte responsáveis pela disseminação dos
hábitos de beber em toda a Europa^®
Contribuiu-se, expressivamente, para o consumo do álcool as festas reais francesas e
de outros países, que aproveitaram o desenvolvimento das destilarias e o melhoramento das
técnicas de fermentação para as condenáveis "bebedeiras" e "orgias sexuais":
No século XVni eram freqüentes também,as festas nas cortes da França e de outros
países, as quais incluíam bebedeiras e orgias sexuais. A embriaguez passava a
ocorrer na população feminina. A exemplo do que ocorrera no clero e na
Antigüidade, o vício do álcool passou a ser o maior problema social da Europa.
Acidentes de trabalho eram constantes, assim como casos de loucura e
autodestniição.^'
Neste período, o gim foi o produto alcoólico mais produzido, principalmente na
Inglaterra, época na qual o rei britânico Guilherme III proibiu a importação de vinhos de
história do álcool no mundo. Op. cit.
^''Id. Ibid.
25
origem francesa e do brandy. Estimulou-se a produção doméstica do gim doméstico em
destilarias locais de pequeno porte.
O século XVm termina e o próximo século é o século das mudanças trazidas pela
Revolução Industrial. O uso em excesso do álcool passa a ser visto por alguns como
"desordem" ou "doença". Como se sabe, a Revolução Industrial aumentou o consumo do
álcool no mundo todo.
Afinal, as máquinas a vapor passaram a produzir número maior de manufaturados em
um ritmo antes nunca observado. Não foram poucos os produtos que se tomaram com um
preço mais ameno, e as fábricas passaram a fomentar empregos, ampliando-se tanto a
distribuição quanto o consumo de bebidas alcoólicas:
Durante esta fase, era comum os patrões fornecerem bebidas de graça aos seus
empregados, para deixá-los mais contentes e faT-^r o trabalho render. Alguns ricos
patrões britânicos chegaram a afirmar que "a bebida era útil para caiar a boca dos
operários rebeldes e eliminar os homens mais fiacos e imoderados numa época de
excesso de mão de obra"^®.
A bebida que serviu para "calar as massas" no século seguinte será alvo de estudos. Os
cientistas queriam compreender as diferenças entre as bebidas fermentadas e as destiladas,
especialmente no caso do vinho.
Nem o século XX iniciou e o consumo de bebidas alcoólicas ganhou fortes opositores.
Alguns países, na onda do combate à droga do álcool, sem sucesso, proibiram a produção e a
venda de bebidas com teor alcoólico:
No começo do século XX, o abuso generalizado do álcool nas grandes cidades da
Europa e das Américas provocou a reação de religiosos, médicos e estadistas, a qual
culminou na proibição da manufatura e da venda de bebidas alcoólicas era países
como os Estados Unidos, Finlândia, Bélgica, Islândia, Noruega, Grã-Bretanha e
Rússia.^'
Id. Ibid
^'^Jd Ibid
27
Estas foram surpreendidas por decisões judiciais de vanguarda, que determinaram a
reintegração de trabalhadores demitidos devido ao alcoolismo, afirma Duarte {apud
BUMNG,2004, p. 74);
As primeiras discussões associando o consumo excessivo do álcool ao ambiente de
trabalho, no Brasil, remetem-se ao final da década de 70 e início dos anos 80. Até
então, a questão era literalmente tratada á luz da lei, conforme a ainda vigente
Consolidação das Leis do Trabalho(CLD que em seu artigo 482, item f, diz que:
"constituem justa causa para rescisão de contrato pelo empregador, embriaguez
habitual ou em serviço".
Nos dias atuais, os tribunais brasileiros julgam que nenhum empregado pode ser
despedido pelo fato de estar doente, porque há a defesa da concepção terapêutica, na qual se
resgata identidade e a auto-estima do alcoolista, diminuindo o uso do álcool, então Karam
(2006) escreve:
O tratamento passa por um resgate da identidade profissional da pessoa. Por isso,
a necessidade de reformulação das instituições, resgatando o exercício da
cidadania no local de trabalho. A cidadania vista como um processo pleno e a ser
exercida em qualquer lugar e em tempo integral.
Segundo decisões do Judiciário, o empregado só é demitido após não querer participar
do tratamento oferecido pela empresa, deste que avisado e alertado com antecedência disso:
EMBRIAGUEZ. DESPEDIDA SUMÁRIA. Estando o láborista acometido de
Síndrome de Dependência do Álcool, com sucessivos encaminhamentos ao INSS e
tratamentos em clínicas especializadas, se mostra injusta a despedida sumária, por
embriaguez e perda de confiança, ainda mais sem prova de exame de dosagem
alcoólica e tratando-se de empregado com mais de quinze anos na empresa e uma
única punição disciplinar datada de sete anos atrás. Despedida que se anula,
convertendo-a em despedida sem justa causa, inexistindo amparo legal à pretendida
reintegração.''^
JUSTA CAUSA. EMBRIAGUEZ. GRAVIDADE. O passado funcional do
reclamante, reputado bom empregado, sem punições disciplinares anteriores, nos
termos da testemunha da própria ré, induz ao entendimento de que merecia maior
precaução da empresa na aplicação da pena máxima, que não possibilitou sua
43trt 2® Reg., no RO hl" 02960271623, ac. da 4® T. n.° 02970546226, rei. Juiz Ricardo César Alonso
HespanhoJ,julgado em 14/10/1997, in DJ-SP de 24/10/1997.
29
2004, p. 74) comenta que são: "Implementados, principalmente em multinacionais e grandes
empresas estatais, estes programas voltavam a atenção à identificação e ao tratamento de
empregados dependentes crônicos do álcool".
Portanto, para Buning (2004, p. 75), os últimos anos do século XX apresentaram
novas demandas a respeito do tratamento de alcoolistas no campo do trabalho: "A década de
90 trouxe à discussão o conceito de risco para a associação do consumo de álcool e outras
drogas com o desempenho de determinadasJunções no trabalho. [...]As discussões quanto à
ética e segurança, por certo continuarão em pauta".
Dessa forma, na Idade Moderna o alcoolismo saiu dos primórdios da Revolução
Industrial rumo às quebras das barreiras do preconceito, precisando as empresas se adaptar a
políticas de prevenção do uso de álcool e auxilio aos empregados alcoolistas. Às vezes, um
meio ambiente de trabalho insalubre pode produzir alcoolistas. Então, quando usado sem a
devida cautela o álcool produz a dependência. Esta, por sua vez, diminui a produtividade no
trabalho e é capaz de mudar o relacionamento do alcoolista com os amigos e a família.
1.2 Conceito
O conceito de "alcoolismo" não é pacífico nas teorias, pois destaca Vaillant(1999, p.
13): "[■••] Cl literatura especializada sobre álcool está repleta de controvérsias; e
controvérsia, uma vez não esclarecida, pode gerar e deturpar de fato a compreensão sobre o
tema". Para Twerski (1987), o conceito em si é menos importante do que saber a
incompatibilidade humana frente ao uso demasiado do álcool: "Naprática real, a semântica é
de pouca importância. O importante é que a pessoa afetada com um padrão de beber
destrutivo deve estar consciente de que o álcool e seu sistema psicofisiológico são
incompatíveis" (TWERSKI, 1987, p. 24). Apenas compreendendo como teorias e a
30
Organização Mundial de Saúde definem o termo é possível denileá-lo melhor no campo
conceituai.
Sabe-se que o álcool é uma palavra de origem árabe e quer dizer "coisa sutil",
"enganadora", vez que:"O álcool etílico ou etanol, encontrado em todas as bebidas com teor
alcoólico, é uma droga psicotrópica, licita, que sati^az temporariamente uma necessidade de
euforia, proporcionando um alivio temporário de tensões psicológicas ou fisica^^
É uma
droga e doença, tendo em vista que os alcoolistas são mal vistos nas famílias e perante a
I sociedade, que os condena a, ao mesmo tempo, é vítima de transtornos mentais e, para Jorge
(2006): "O álcool é uma droga como a heroina, a cocaina e o crack [...]Porque vicia, altera
o estado mental da pessoa que o utiliza, levando-a a atos insensatos, muitas vezes violentos.
\
Pior, causa maisproblemas àfamília e à sociedade
I
Nesse sentido, o alcoolismo é considerado uma patologia que afeta grande parte da
população mundial. Não faz nenhuma distinção de cor, raça, condição social e sexo, e,
segundo Johnson (1992, p. 11): "O alcoolismo é uma doença fatal, cem por cento fatal.
Ninguém sobrevive ao alcoolismo não controlado
Além disso, na ótica de Gitlow e Peyser
(1991, p. 15), o alcoolista é uma pessoa que não pode voltar a beber, porque o alcoolismo é
uma doença progressiva, incurável e que só leva a conseqüências sociais desastrosas: "[...] é
uma doença caracterizada pela ingestão repetitiva e compulsiva [...] de maneira tal a
resultar na interferência em algum aspecto da vida do paciente, seja ele a saúde, o estado
civil, a carreira, os relacionamentos interpessoais, ou outras adaptações necessárias".
A concepção de alcoolismo como doença tem sido difundida principalmente entre os
serviços de saúde e entre os próprios usuários desses serviços, criando, para os alcoolistas,
uma auto-compreensão de seu estado de saúde, conforme afirma um dos entrevistados:
^.Alcoolismo. Disponível em: <httD://www.cenpre.fiirg.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
31
Tanto o é [doença] que se sabe por onde eu passei que o álcool é uma doença (...) é
uma doença, lenta e progressiva, ela não tem fim, né, não tem cura."(MARCOS.43
anos). Entrevistado no CAPSad,em 10-02-06
Em outras palavras, vê-se que o alcoolismo representa uma doença progressiva, porém
tratável, e potencialmente fatal se não tratada: "O alcoolismo é uma doença incurável, de
determinação fatal e progressiva até mesmo em períodos de abstinência, entretanto, tem
tratamento. Afeta a saúdefísica, o bem estar emocional e o comportamento do indivíduo".'^
Afeta boa camada da sociedade e é uma patologia, como diz Lopes (1986, p. 13): "[■■.]
doença progressiva, incurável e fatal se o alcoolista não parar de beber. Pode ser detida,
mas se não ofor levará [...] às doençasfísicas, à loucura ou à morte prematura [...]".
Historicamente, o conceito de alcoolismo aparece no século XVm, com a crescente
produção e comercialização do álcool destilado, por causa da Revolução Industrial. Dois
teóricos merecem destaque: Benjamin Rush e Thomas Trotter. Rush foi um médico
psiquiatra, norte-americano, responsável pela famosa frase: "Beber inicia num ato de
liberdade, caminhapara o hábito e, finalmente, afunda na necessidade". Trotter, por sua vez,
tratou primeiramente o alcoolismo enquanto uma doença. Para Vaillant (1999, p. 19):
"Quanto à concepção do alcoolismo como doença, assinale-se que, desde Trotter, na
Inglaterra, e Magnus Huss, na Suécia, já no início do século XIX descrevia-se o consumo
excessivo de álcool".
Ainda, não se pode esquecer de mencionar Magnus Huss, cujo destaque é devido à
introdução do conceito de "alcoolismo crônico", estado de intoxicação onde o alcoolista
apresentava sintomas físicos, psiquiátricos ou mistos. Nas palavras de Souza (2006):
Em 1849, Magnus Huss [...], "cunha" a designação Alcoolismo, não se referindo à
ingestão excessiva de bebida, mas sim, às conseqüências somáticas decorrentes de
tal prática e os efeitos nocivos que a ingestão crônica proporcionava. Apesar disso, a
ingestão do álcool ainda continuou a ser considerada como vício ou fi^queza de
caráter.
Alcoolismo. Disponível em; <httD://www.alcoolismo.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
48
32
Tal representação perdurou por décadas, até que a Organização Mundial da Saúde
(OMS)passou a considerar o alcoolismo como uma patologia e, mais recentemente,
a Síndrome da Dependência do Álcool (SDA), idealizada por Edwards & Gross
(1976), como elemento básico para seu diagnóstico
Após a segunda metade do século seguinte, o sistema de classificação sofre alterações
I e leva em conta os problemas com o uso do álcool e outras drogas que não envolviam adicção
ou dependência, dada a necessidade de critérios científicos, (janhou força o trabalho de
Jellinek, clássico trabalho sobre alcoolismo, que exerceu influência na evolução histórica do
conceito, lembrando Vaillant(1999, p. 20)que:
Em 1956, a Associação Médica Americana declarou formalmente que o alcoolismo
era uma doença. Em 1960,esta concepção passou a ser mais aceita no mundo inteiro
com a publicação de The disease concept of alcoholism, de Jellinek, considerada
obra clássica sobre o tema. O alcoolismo encontra-se, portanto, classificado pela
CID, na sua décima revisão, no capítulo referente, no capítulo referente aos
transtomos mentais e de comportamento.
Jellinek assegura que a tolerância é quando se usa cada vez mais o álcool para exercer
um efeito idêntico, ou diminuição do efeito deste por meio de doses anteriormente tomadas; e
por síndrome de abstinência um quadro de desconfijrto físico e/ou psíquico se houver
diminuição ou suspensão do consumo.
Em estudos científicos, Jellinek diferenciou os transtomos alcoólicos dos que
envolviam um evidente processo de dependência e nos sem dependência. Porém, tão-somente
com o DSM-III e a CID-8 introduziram-se os transtomos por uso de substâncias sem
dependência, sendo que: "Em 1948, a Organização Mundial de Saúde inclui o alcoolismo
propriamente dito como um item diferenciado da intoxicação alcoólica ou de psicoses
alcoólicas, na Classificação Internacional de Doenças/CID".^^
^Id. ibid., p. 20.
A CID-8 trouxe a adicção ao álcool enquanto um estado de dependência físico-
emocional com tempos de consumo pesados e incontroláveis, havendo a compulsão pela
bebida e o surgimento dos sintomas de abstinência se cessado o consumo, afinal:
Alcoolismo é a dependência do indivíduo ao álcool, considerada doença pela
Organização Mundial da Saúde. O uso constante, descontrolado e progressivo de
bebidas alcoólicas pode comprometer seriamente o bom funcionamento do
organismo, levando a conseqüências irreversíveis.^"
Então, demais padrões patológicos de beber(exemplos: o beber episódico e excessivo)
distinguiam-se da adicção devido à ausência tanto da compulsão quanto da abstinência.
Aliados a isso, em 1976, Grifith Edwards e Milton Gross propõem a Síndrome de
Dependência do Álcool(SDA), e, com efeito, Souza(2006) diz:
A Síndrome da Dependência do Álcool tratado como alcoolismo crônico, deve ser
entendida como sendo iima gradação - primeiramente com o início da ingestão de
bebidas até chegar a nma situação de dependência,num período que varia entre 5-10
anos - e caracterizada como um grupo ínter-relacionado de sintomas cognitivos,
comportamentais e fisiológicos. Por outro lado, as incapacidades relacionadas ao
álcool consistem em disfúnções físicas, psicológicas e sociais, que advém direta ou
indiretamente ao uso excessivo da bebida e a dependência
Tal síndrome consegue demonstra que é possível considerar dois tipos de quadros
clínicos: os diversos quadros clínicos que decorrem das complicações somáticas ou condições
associadas (exemplos: cirroses hepáticas, infecções pulmonares, epilepsia etc.), e aqueles que
são fhíto da ingestão excessiva e a dependência propriamente. Como se verifica, o alcoolismo
está ligado a inúmeros problemas sociais, e, com efeito, afirmam Justo e Nascimento(2000):
O alcoolismo tem sido uma das maiores preocupações da saúde pública no mundo,
estando associado a diversos outros problemas como: mortes no trânsito,
desentendimentos familiares e [...], sendo, também, companheiro inseparável de
homicídios, espancamentos de crianças e mulheres, deserção do trabalho, da escola,
etc.
50
Alcoolismo. Disponível em: <http://vyww.mimsterio.saude.bvs.br> AcessO em: 10 fev. 2006.
34
Aliás, o consumo excessivo e prolongado do álcool, que internacionalmente preocupa
as autoridades de saúde pública, é capaz de levar os alcoolistas a quadros bastante diferentes,
com cursos irregulares e prognóstico variável, dificultando o reconhecimento e a aceitação do
alcoolismo como patologia:
O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e
prolongado do álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e regular de
bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências [...J. O alcoolismo é, [...j um conjunto
de diagnósticos. Dentro do alcooUsmo existe a dependência, a abstinência, o abuso
(uso excessivo, porém não continuado),intoxicação por álcool (embriaguez).^'
O alcoolismo, para Souza (2006), é doença e afeta as pessoas, individual e
coletivamente. "O alcoolismo é uma das patologias que mais afligem indivíduos e
coletividades, pelas suas particularidades f..]é tão antigo quanto o próprio homem
Atualmente, o alto consumo do álcool seja um dos principais problemas sociais, dessa forma,
comenta Jorge (2006): "O alcoolismo é um dos principais problemas da nossa sociedade".
Para Bums(2006),o conceito de alcoolismo não é algo pacífico:
A definição de alcoolismo é cercada de controvérsia. "Beber a ponto de prejudicar-
se" é uma norma prática sensata e comum, mas costuma ser difícU determinar a
disíunçâo real que varia com a quantidade, a proporção, o propósito e as
circunstâncias práticas.
Embora a compreensão do conceito de alcoolismo sofra interferências cientificas,
culturais, sòcio-políticas, religiosas etc., as evidências e as pesquisas desenvolvidas a respeito
do assunto dão ênfase também a aspectos emocionais de quem não se intoxica facilmente com
o álcool e é levado à condição de alcoolista, como disserta Varella(2006):
Alcoolismo:
transtornos
relacionados
por
semelhança
<http;//\vww.psicosite.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
ou
classificação.
Disp)oitível
em;
35
Do ponto de vista médico, o alcoolismo é uma doença crônica, com aspectos
comportamentais e socioeconômicos, caracterizada pelo consumo compulsivo de
álcool, na qual o usuário se toma progressivamente tolerante á intoxicação
produzida pela droga e desenvolve sinais e sintomas de abstinência, quando a
mesma é retirada.
Tanto o alcoolismo tem haver com o lado emocional do indivíduo que, por vezes, é
considerado uma "[...] a dependênciafísica e psicológica do álcool [...] doença primária,
progressiva e crônica, caracterizada por uma contínua compulsão a beber"
Organização
Mundial de Saúde defende a idéia, ao atribuir ao alcoolismo os enfoques físicos, mentais e
espirituais; "Segundo a Organização Mundial de Saúde, o alcoolismo é uma doençafísica,
espiritual e mental.
As conseqüências do uso inadequado de bebidas alcoólicas são variadas (perda de
apetite, deficiência vitaminica, cansaço constante, hipertensão arterial, impotência sexual,
dores de cabeça, etc.): "O alcoolismo é uma doença crônica, caracterizada pelo consumo
incontrolado de bebida alcoólica, que interfere na saúde física e mental da pessoa, com
drásticas conseqüências em sua vida social,familiar eprofissional".^^
Nesta perspectiva, portanto, o alcoolismo é uma intoxicação aguda ou crônica
desencadeada pelo uso abusivo do álcool e constitui um problema de saúde pública quando
altera ou debilita o lado físico e o mental da pessoa: "[...] é uma sindrome da dependência
(conjunto de sintomas) conseqüente ao uso excessivo e prolongado do etanol, caracterizei
por evolução típica e seqüelas específicas".^^
Tendo em vista que, também, o alcoolismo é a "doença da negação", pode-se dizer
que, em fase de tratamento, quem se considerar auto-sufíciente está mais propicio a abandonálo, isto é o que afirmou um dos entrevistados neste trabalho:
^^Alcoolismo. Disponível em: <http://www.climcavitoriacom.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
^^Alcoolismo. DispomVel em: <http.7/www.santaIuciacom.br>. Acesso em; 10fev. 2006.
Alcoolismo. Disponível em: <http://www.lmcx.cora.br>. Acesso em; 10 fev. 2006.
Alcoolismo. Disponível em: <http://www.cenpre.furg.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
"A minha opinião (...] não só no tratamento, né, mas quando a motivação por
alguma coisa, né. No nosso caso específico, é a pessoa se achar auto-suficiente, né.
Ela é... Ela acha quejá deu os primeiros passos e quejá pode se equilibrar sozinha."
(Marcos, 43 anos). Entrevistado no CAPSad,em 10-02-06
Diante do exposto, o alcoolismo assume a condição de uma das doenças sociais mais
graves que o mundo enfrenta; "O alcoolismo social é umaforma de dependência crônica
aceita e praticada pela maioria dos adultos nas sociedades modernas e o alcoolismo agudo e
crônico se constituem na principal forma de toxicomania da espécie humana na
atualidade
Trata-se, enfim, a nosso ver, o alcoolismo de um dos maiores paradoxos da saúde
pública, porque boa parte da população tem conhecimento que o álcool das bebidas alcoólicas
é uma droga e provoca dependência, geralmente com conseqüências sérias(em muitos casos
levando o alcoolista à morte), todavia existe quem o consome e, pior, incentiva o vicio.
^Alcoolismo. Disponível em: <http://www.cafeesaude.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
CAPITULO II
MODELOS DE TRATAMENTO LAICOS
2.1 Alcoólicos Anônimos(A.A.)
O A.A. é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham experiências,
forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem
do alcoolismo, por isso Silveira(1981, p. 188) escreve; "ALCOÓLICOS ANÔNIMOS(A.A.):
O^onstitui-se num movimento ou irmandade fundada em 1935 por dois alcoólatras que em
poucos anos se impuseram com um eficiente meio de conseguir a reabilitação de
^alcoólatras".
Em 10 de junho de 1935, o A.A. foi fiindado, quando o Dr. Bob Smith (médico
cirurgião), usa pela última vez uma bebida alcoólica, em Akron, Ohio-EUA, com o encontro
Bill Wilson (corretor da Bolsa de Valores de Nova Iorque). Um fato importante é que
^mbos haviam sido desacreditados pela Ciência Médica, por causa do alcoolismo, como
Apontam Justo e Nascimento (2004):
38
[...] por alguma razão até ali não bem compreendida, conseguiam ficar sem beber
durante bons períodos depois que passavam algum tempo conversando e
compartilhando seus problemas. Após passar por uma verdadeira """experiência
espirituar e experimentar "fortes sentimentos de triunfo, paz e serenidade'"'',
segundo depoimento do próprio corretor, ele decidiu trabalhar para que outros
alcoólicos se beneficiassem (...]; ele viu que, ao falar para outros alcoólicos, "sentiase re\>iíaIizado'", conseguindo manter-se sóbrio.
Por mais incrível que pareça, deste dia em diante até o dia de morrer (quinze anos
depois) Smith manteve-se firme e não ingeriu sequer uma única gota de álcool. Mesmo antes
de se conhecerem, os dois haviam estabelecido contato com o Grupo Oxford (sociedade
composta, na maior parte, de pessoas não alcoólicas), que sugeria a aplicação de valores
espirituais universais diários. Dr. Samuel Shoemaker, grande clérigo episcopal, era dirigente
do Grupo Oxford da América. Levou aos alcoolistas a influência espiritual, juntamente com
ajuda de Ebby T., Bill (velho amigo). Este último manteve a sobriedade, e estava em
recuperação, e trabalhava com outros alcoólicos. Todavia, os outros alcoolistas não tinham
parado de beber. Na época, Dr. Bob pertencia ao Grupo Oxford e não havia alcançado a
sobriedade, contudo;
Quando [...] se conheceram, o encontro produziu no Dr. Bob um efeito imediato.
Desta vez encontrava-se em contato direto com um companheiro alcoólico que havia
conseguido deixar de beber. BilI insiRtia que o alcoolismo era uma doença da mente,
das emoções e do corpo. Esse importantíssimo fato fora-lhe comunicado pelo Dr.
William D. Silkworth, do Hospital Towns, de Nova Iorque, instituição em que Bill
fora internado várias vezes. "Aptesar de médico, o Dr. Bob não tivera conhecimento
de que o alcoolismo era uma doença. Bob acabou convencido pelas idéias
contundentes de Bill e logo alcançou sua sobriedade, e mmca mais voltou a beber"
Após o encontro, Dr. Bob Smith e Bill Wilson iniciaram um trabalho com alcoolistas
internados no Hospital Municipal de Akron. Com efeito, logo dispuseram um dos tratados à
sobriedade. Embora ainda não existisse a atual denominação "Alcoólicos Anônimos", os três
constituíram o primeiro Grupo de A.A..
história deA,A. Disponível em: <http://www.aa.org.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
39
Fundou-se no outono de 1935 o segundo Grupo em Nova Iorque. Em 1939, chegou a
vez do terceiro Grupo em Cleveland: "Em principio de 1939, a Irmandade publicou seu livro
de texto básico [...]. Nesse livro, escrito por Bill, expunha-se afilosofia e os métodos de A.A.,
a essência dos quais se encontram agora nos bem conhecidos Doze Passos de recuperação
[...].
Passaram-se apenas quatro anos e os três grupos deixaram sóbrias 100 indivíduos.
Sinteticamente, conforme a obra "Alcoólatras Anônimos atingem a maioridade: uma
breve história de A. A."(1991, p. VII-X), os acontecimentos significativos na história de A.A.
foram: a) 10 de junho de 1935: Dr. Bob ingere o último gole de álcool e o A.A. é fundado; b)
Dezembro de 1938: os "Doze Passos" são escritos (grifo nosso); c) Dezembro de 1939:
primeiro grupo de A.A. em instituição para doentes mentais, no Hospital Estadual Rockland,
em New York; d) 1942: primeiro grupo de A A em uma prisão é implantado em San Quentin,
na Califórnia; e) 1946: as "Doze Tradições" de A.A. são formuladas e publicadas pela
primeira vez (grifo nosso); Ç 1949: a Associação Psiquiátrica Americana reconhece A.A.; g)
Em junho de 1953 publica-se o livro Doze passos e doze tradições.
O programa dos A.A. acontece basicamente seguindo-se os "Doze Passos", as "Doze
Tradições" e os"Os Doze Conceitos", os passos são:
Doze Passos
1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o
domínio sobre nossas vidas.
2. Viemos acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à
sanidade.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus na forma
em que o concebíamos.
4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser hninaTin a
natureza exata de nossas falhas.
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos
de caráter.
7. Hiumldemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
8. Fizemos tuna relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos
dispusemos a reparar os danos a elas causados.
58
'Jd. Jbid
40
9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que
possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o
admitíamos prontamente.
11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente
com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua
vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos
transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as
nossas atividades.^^
Para entender os "Doze Passos", as "Doze Tradições" e os "Os Doze Conceitos" do
A.A., é preciso compreendê-los em três etapas. Primeiramente, referente aos "Doze Passos",
fica claro que a esfera de liberdade e responsabilidade tem papel relevante. Porque o tempo
todo é reforçado, por meio de práticas e estratégias, a necessidade de assumir a
responsabilidade em relação à vida (escolha do destino). É necessário que não se confunda a
liberdade com o excesso de culpa, aliás, narra Mota(2004, p. 66); "O programa de A.A. não
tem como objetivo a formação de 'santos', mas, simplesmente, busca promover uma
melhoria na qualidade de vida daquele que se recupera do alcoolismo".
Em segundo lugar, o A.A é organizado em "Doze Tradições", que incluem o
anonimato, a posição política e uma organização estruturada sem hierarquias. Varia-se quanto
à adesão do alcoolista às tradições. Aceitas pela irmandade e aprovadas plenamente na
Convenção Internacional de Cleveland, Ohio, em 1950 as Doze "Doze Tradições" são
adotadas enquanto base de ampliação das relações internas e públicas da irmandade. As
"Doze Tradições" não são um sistema de franquia, com multas e punições para os
desobedientes, mas, por outro lado, assegura Mota(2004, p. 95-96),
"[...] têm como uma meta a perpetuação dos serviços de A.A. com base na
humildade, sendo esta virtude uma das mais incentivadas em sua literatura, e sem a
qual dificilmente qualquer membro poderá obter uma sobriedade mais feliz e
duradoura".
Eis abaixo as tradições do A.A.:
'Doze passos. Disponível em:•<http://www.hospitalgeral.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
59
41
Doze Tradições
1. Nosso bem-estar cxjmum deve estar em primeiro lugar, a reabilitação individual
depende da unidade de A,A.
2. Somente uma autoridade preside, em última análise, o nosso propósito comiun um Deus amantíssimo, que se manifesta em nossa consciência coletiva. Nossos
lideres são apenas servidores de confiança; não têm poderes para governar.
3. Para ser membro de A.A.,o único requisito é o desejo de parar de beber.
4. Cada grupo deve ser autônomo, salvo em assuntos que digam respeito a outros
grupos ou ao A.A.em seu conjunto.
5. Cada grupo é animado de um úiúco propósito primordial - o de transmitir sua
mensagem ao alcoólico que ainda sofre.
6. Nenhum gmpo de A.A. deverá jamais sancionar, financiar ou emprestar o nome
de A.A. a qualquer sociedade parecida ou empreendimento alheio à Irmandade, para
que problemas de dinheiro, propriedade e prestigio não nos afastem de nosso
objetivo primordial.
7. Todos os grupos de A.A. deverão ser absolutamente auto-suficientes, rejeitando
quaisquer doações de fora.
8. Alcoólicos Anônimos deverá manter-se sempre não profissional, embora nossos
centros de serviço possam contratar funcionários egiecializados.
9. A.A. jamais deverá organizar-se como tal; podemos, porém, criar juntas ou
comitês de serviço diretamente responsáveis perante aqueles a quem prestam
serviços.
10. Alcoólicos Anônimos não opina sobre questões alheias à Irmandade; portanto o
nome de A.A.jamais deverá aparecer em controvérsias públicas.
11. Nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez da promoção;
cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal na imprensa, no rádio e em filmes.
12. O anonimato é o alicerce espiritual das nossas Tradições, lembrando-nos sempre
da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades.®'
Agora, em terceiro lugar, em relação aos "Os Doze Conceitos", pode-se dizer que
tratam de assegurar aos grupos de A.A. responsabilidade final e a autoridade dos serviços
mundiais, e os grupos têm autoridade de operação e das Conferências de A.A.(reconhecem a
responsabilidade administrativa primária dos associados) e dos serviços de auxílio, bem como
direito de decisão da liderança efetiva. Nos A.A. a participação garantirá a harmonia, sendo
assegurados direitos de apelação e petição para a proteção das minorias. Os associados têm o
direito legal, mas os direitos da Conferência são tradicionais. Eles têm plena autoridade para
gerenciar a rotina dos Centros e Comitês executivos do A.A.
Os "Os Doze Conceitos" ainda pregam que a boa liderança pessoal em todos do
tratamento é uma necessidade. Mundialmente, os associados assumem a liderança primária.
Há uma dupla gerência imprópria e a responsabilidade pelo serviço é equilibrada por quem
60
'Doze tradições. Disponível em: <htq>://www.ho^italgeral.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
42
for cuidadosamente determinado. Compõe-se o Escritório Mundial de Serviço de membros da
equipe e comitês executivos. As Garantias Gerais da Conferência, Artigo 12 do Estatuto dão o
fundamento espiritual para os serviços mundiais do A„A., pois, conforme lembra Silveira
(1981, p. 188),
Concluímos que os A.A. consideram o alcoolismo uma doença incurável e
progressiva e de fim fiital. Não obstante, eles crêem que o alcoolismo pode ser
detido quando se deseja ou se toma uma decisão de abster-se somente 24 horas, mas
que estcis 24 horas devem ser renovadas cada dia, indefinidamente.
No Brasil, a história do A A passou por diferentes momentos. Inicialmente, em 1945,
o norte-americano, Bob Valentine, membro viajante do A.A, amigo de Bill W., de passagem
pelo Rio de Janeiro, conhece Lyim Goodale, levando-o à sobriedade por meio da aplicação de
fundamentos do A.A. Então, logo depois da volta de Bob aos Estados Unidos, Goodale
tomou-se o único contato do A.A no País.
Em 1946, Herbert L Daugherty, que conheceu o A.A. em Chicago-EUA. Na época,
veio ao Brasil a trabalho e escreveu ao A.A. solicitando contatos. Pretendendo formar um
Grupo de A.A. em terras brasileiras e de continuar em sobriedade, Daugherty continuou
durante o ano comunicando-se com o A A. dos Estados Unidos.
Iniciou-se o A.A. no Brasil em 1947®'; "[...] se pode afirmar é que esse Grupo
inicialmente eraformado por norte-americanos a serviço no Rio de Janeiro e que o idioma
das reuniões, sediadas nas casas ou apartamentos dos companheiros, era o inglês"
Em
julho desde ano, Herbert percebeu a existência de um outro AA. carioca e panfletos
®'Em 22 de setembro de 1977, aconteceu a primeira reunião de A.A., do Grupo de Dourados, na Rua Coronel
Ponciano(em irente ao atual Hospital São Luís)em Dourados-MS, me sala cedida pela Igreja Nossa Senhora de
Fátima (na qual ainda ocorrem reuniões), e o grupo mudou-se para outra rua e com outro nome, chama-se
"Grupo Nossa Senhora de Fátima". Este se localiza no mesmo quarteirão, porém na Avenida Weimar Gonçalves
Torres. O Grupo Dourados do A.A. tem reuniões na sala n.° 31 do Terminal Rodoviário, e conta com mais dois
grupos ativos (Grupo Felicidade e Grupo Santa Maria), e ainda um novo grapo em fase de estruturação,
localizado ao lado da Igreja Cátólica do Jardim Flórida.(Du seja, em Dourados-MS, existem quatro grupos, mas
um deles encontra-se em fase inicial.
^'Alcoólicos anônimos no Brasil: aspectos históricos de A.A. no Brasil - dificil começo. Disponível em:
<http://http;//\vww.aabrasilportugal.org^. Acesso em: 10 fev. 2006.
43
espanhóis. Em outubro, o A.A. norte-americano expressa felicidade pelo inicio do primeiro
Grupo de A.A. brasileiro, que, conforme registro em documento,foi inaugurado no dia 05 de
setembro.
No Rio de Janeiro, em 1948, Herbert encontra-se com Harold, anglo-brasileiro
alcoolista considerado um caso perdido. Na conversa, Herbert contou-lhe sobre como evitar o
primeiro gole, além do plano das 24 horas de sobriedade e melhoria na vida pessoa ao deixar
o alcoolismo. Solicitou que colocasse em prática e ao parar de beber buscasse traduzir ao
máximo do folheto do A.A.
Em 1949, o primeiro folheto do A A nacional começou a ser impresso e distribuído.
Em junho, ao retomar dos EUA, Herbert constatou que havia um gmpo com 12 membros
reunidos, regularmente, às segundas-feiras, em uma pequena sala localizada na Associação
Cristã de Moços do Rio de Janeiro. Após diversas denominações, o grupo recebeu o seguinte
nome: "Grupo Rio de Janeiro de A.A." Em vez de Herbert, a norte-americana Eleanor passou
a traduzir o material do A.A.
Em 1952, os serviços brasileiros começaram a se desenvolver. Ao mesmo tempo, em
08 de dezembro, registraram-se os primeiros estatutos do A.A. no Brasil. Foi fundado o
Grupo Central do Brasil, que centralizou as atividades do A.A.. Instituiu-se a Sacola da
Sétima Tradição do A.A. Em seguida, em 1968, havia 88 grupos de A.A..
Fundou-se, em 1969, o Centro de Distribuição de Literatura A.A. para o Brasil
(CLAAB). Publicou-se o "Livro Azul" do A.A. propiciando-se o intercâmbio oficial entre os
grupos existentes e também o cadastramento juntamente ao CLAAB.
Em 29 de fevereiro 1975 fundou-se a JUNAAB, para afirmar a maioridade, unidade e
continuidade dos grupos de A.A. no Brasil(existiam mais de 500):
A JUNAAB publica a Revista VIVÊNCIA, a revista bimestral de A.A., atualmente
com tiragem de 10 mil exemplares. Através de seus Comitês, também produz fitas
44
de áudio e vídeo, publicações com informações de serviços, boletins informativos e
cartazes, entre outros.®
Então, distribuíram-se melhor os encargos executivos, com desmembramento das
funções. Com efeito, deu-se maior eficiência à execução de serviços e ao atendimento da
correspondência. O A.A. foi constituído na forma de sociedade civil, sem fins lucrativos, com
o Fórum em São Paulo-SP, segundo Francisco (2006, p. 27-28); "De 1969 a 1976 continuou
a expansão. No decorrer deste período, em 1974,foi programado o Primeiro Encontro de
A.A., denominado CONCLAVE (na realidade, consideramos este a Primeira CONVENÇÃO
NACIONAL)".
Em 1983, durante a Vn Conferência de Serviços Gerais em São Paulo, foram eleitos
os Primeiros Custódios do Brasil, cuja posse aconteceu na Vm Conferência, em Blumenau SC.
De 1985 em diante, tomou-se forte o movimento pela implantação de uma revista
brasileira de A.A., por isso na 2" Reunião de Serviços Nacionais, elegeu-se uma diretoria
autorizada a editar, experimentalmente, a primeira edição da Revista Brasileira de A.A.. No
mês de novembro, venderam-se 5.000 exemplares da revista. O Comitê de Literatura da Junta
denominou-a de "Vivência". A revista ganharia a sistemática de distribuição em 1986(60%
para Centrais/Intergmpais, 25% para o Comitê de Área e 15% para a JUNAAB).
Interessante notar-se que em 1988 o A.A. Brasileiro apadrinhou alguns países
africanos, tais quais; Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe,
por terem como oficial a Língua Portuguesa. Só quatro anos depois a "Vivência" passou a
apresentar edição bimestral.
63
A estrutura de serviços gerais nos EUA/Canadá e no Brasil. Disponível em: <http://vvTvw.aa-areasp.org.br>.
Acesso em; 10 fev. 2006.
45
O A.A. Brasileiro assumiu compromissos de apadrinhamento de países aMcanos
como Angola, Moçambique, Guiné, Bissau, Cabo Verde, Sâo Tomé e Príncipe,
segundo relatou nosso Delegado à RSM. Esclareceu também que quanto a Portugal
o trabalho está se desenvolvendo a contento e que, de acordo com informes do
CLAAB,já adquiriram mais literatura do que nove de nossas Áreas."
Finalmente, é bom registrar que atualmente, para entrar em um A.A. nacional, a única
condição exigida é o desejo de o alcooiista parar de beber. Não existem taxas ou mensalidades
ou taxas. Não há uma religião em especifico, tomada de posição política. O A.A. é
organização ou instituição de caráter auto-suficiente em que os membros sóbrios proctiram
ajudar outros alcoolistas alcançar a sobriedade.
2.2 Modelo Minnesota
Nos anos 50, século XX, os Estados Unidos havia um número de alcoolistas grande,
de maneira que o modelo médico de saúde tradicional (Psiquiatria e/ou Psicanálise) não
conseguia responder ao problema social do alcoolismo, tal qual destaca Freire (2006);
"Realizavam muitas tentativas de internação, tratamentos e desintoxicação, mas a pessoa
saía, recaia e voltava".
Por isso, os profissionais da saúde (os médicos, psiquiatras, psicólogos, assistentes
sociais, entre outros) ajudavam-se, mas sem grandes resultados, então, nasceu o modelo
Minnesota, comenta Filho Cunha (2006): "Baseado no conceito de doença difundido pelos
Alcoólicos Anônimos e posteriormente adaptado e caracterizado pelo modelo médico
Como se vê, o modelo Minnesota é de origem norte-americana. Nasceu no século XX.
Espalhou-se por todo o mundo devido aos resultados que tem obtido, com isso diz Freire
(2006): "Minnesota nasceu nos EUA por volta de 50 anos, no Estado de Minnesota, tendo
sido implantado em váriospaíses com enorme sucesso
^Alcoólicos anônimos no Brasil: aspectos históricos de A.A. no Brasil - difícil começo. Disponível em:
<http.7/bttp.//www.aabrasilportugal.org'i>. Acessoem: lOfev. 2006.
SiwaateiMBÂSÃúa-E
Dr.Sér0io Arouca
46
Sabe-se que, primeiramente, o modelo Minnesota de tratamento oferecido a
alcoolistas, nascido entre 1948-50, começou a ser implantado porDr. Nelson Bradiey, médico
psiquiatra canadiano e diretor de Serviço de Psiquiatria do Willmar State Hospital, em
Minnesota, estendendo-se mundialmente devido aos resultados.
E importante lembrar que o Minnesota faz parte do pragmatismo norte-americano, em
que se combinam elementosjá existentes, aponta Filho Cunha(2006); "Tal como outros actos
criativos, a originalidade do modelo não está em criar novos elementos mas emjustapô-los e
associá-los segundo uma nova visão. O modelo é um exemplo clássico do pragmatismo
americcmo
Ao longo da história, o Minnesota coloca-se, como informa Freire (2006), enquanto
um modelo que privilegia a ação, sobretudo espiritual do indivíduo: "f—J a atualização (no
sentido de transformar em ação) [...] espiritualidade no sentido mais horizontal,
tran^ormando os sáberes [...] em ajuda àquele que sofre, mim clima de humildade,
solidariedade e compartilhamento".
Com efeito, passados dez anos da implantação, o Minnesota conseguiu ser entendido
ao tratamento de outros tipos de drogas, então Filho Cunha(2006)relata: "Na década de 60 e
sob a direção do Dr. Dan Anderson, pela Fundação Hazelden, igualmente no Minnesota, que
aperfeiçoou este modelo e alargou o âmbito da ma aplicação, incluindo outras drogas para
além do álcool".
Encontraram-se vários conhecimentos, que, logicamente, levaram o Minnesota à
complexidade, por exemplo, estendendo-se às substâncias psicoativas (além do álcool),
tratando da dependência tanto com as drogas ilegais quanto legais (exemplo: os fármacos),
além de incluir comorbidades, assim "O modelo também trata Distúrbios do Comportamento
47
Alimentar (Obesidade, Anorexia e Bulimia), assim como o Jogo, porque dependência,física
ou não, é sempre um Distúrbio Emocional e do Comportamento"
Em 1982, chega o Miimesota ao nosso País. No início, tinha uma linguagem muito
estranha ("Poder Superior", "Primeiro Passo", "só por hoje", "impotência diante do álcool"
®tc.). O Minnesota abalou a Medicina brasileira, mas, ao mesmo tempo, despertou uma
curiosidade intensa e opiniões equivocadas, para ver realmente se a nova proposta funcionava;
O próprio John Burns (1998) que trouxe o Modelo Minnesota para o Brasil em 1982
percebeu que [...],já naquela época, estava literaliiado eforjado num molde administrativo e
terapêutico para satisfazer às companhias de seguro
Basicamente, entende-se que o Minnesota é um método de tratamento realizado por
diversos profissionais e de áreas distintas do saber humano, cabendo bem a afirmação de
Freire (2006): "Creio que este modelo, acima de tudo, respeita a visão holística do ser
humano como ser bio-psico-sócio-espiritual, errfatizando o sócio-espiritual tão esquecido em
nossa sociedade individualista e materialista".
Para tanto, há uma equipe multidisciplinar formada por: assistentes sociais, médicos,
psicólogos, enfermeiros, consultor de alcoolismo (leigo, mas com formação técnica na área),
dentre outros, pois o Minnesota, escreve Freire(2006):
Trata-se de um modelo multidisciplinar, que utiliza profissionais de diversas áreas
bem como "conselheiros leigos", e visa, sobretudo, a integração dessas diferentes
abordagens num clima de humildade, pois é complicado trabalhar com profissionais
de áreas diferentes.
Interessante no método é que todos os profissionais (inclusive quem trabalha na
cozinha, limpeza, administração etc.) percebem um espirito de vida altamente espiritualizada
desses com os alcoolistas, dai que: "Este é um dos modelos entre vários que se pode falar.
^^Modelo minnesota Disponível em: <www.valedospinheiros.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
^O modelo minnesota. Dispomvel em; <www.viIaserenasp.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
48
ilustrando a questão da espiritualidade e o encontro com a psicologia" Uma espiritualidade
vivenciada na troca de experiências cotidianas:
num clima amoroso, de aceitação
mútua, descobrem que não estão sozinhos, que outros já passaram por sofrimentos
semelhantes e hoje estão vivendo a vida deforma integral, com todas as suas dificuldades
inerentes, sem drogas".^
Em outros termos, por meio da partilha o alcoolista aprende com os outros do grupo e
do espaço onde há o Minnesota a identificar e a lidar construtivamente com as emoções e os
sentimentos. Daí implica em evitar as emoções destrutivas advindas do uso e abuso de
substâncias psicoativas, em geral, disserta Filho Cunha(2006):
A base do tratamento é a abstinência completa.
O foco do desenvolvimento do tratamento é a mudança de estilo de vida,
A manutenção do tratamento dep)ende de uma adequada socialização. Assim
a reabilitação depende do apoio de sistemas naturais como a família, amigos e
gnqjos de ajuda-mútua
Tanto os profissionais como os clientes colaboram no sentido de definirem o
caminho da recuperação.
■/
O tratamento primário é de curta duração e intensivo e o tratamento global é
de longo prazo.
•/
O tratamento foca-se numa intervenção que prevê um processo continuo que
engloba o conceito de recuperação e não a cura imediata após a intervenção
terminada.
Diante do exposto, é evidente que não há nada de original sobre o Minnesota quanto
ao tratamento do alcoolismo. Porque quase todos os itens acima descritos são utilizados,
emprestados ou adaptados, a partir do saber produzido em outros métodos. Exemplo disso é
que no método estudado aqui dá-se ao alcoolista a aquisição de uma consciência, até então
inexistente, das implicações da doença e, assim, maior responsabilidade em relação à
recuperação.
Sabendo-se que o alcoolismo é uma doença progressiva (caso não controlada),
fundada na relação disfuncional do alcoolista com o álcool, o Minnesota prega a recuperação
Ibid.
^^Id. Ibid
49
no aprendizado do relacionamento amoroso consigo mesmo e com o próximo, como diz
Freire (2006):
Um novo sentimento de perdoar-se e aceitar-se começa a espalhar e circular. É como
se o coração... estivesse aumentando sua influência. Aspectos sombrios da
personalidade continuam com seu peso negativo, mas agora dentro de um contexto
de luna "estória" mais ampla, o mito de si mesmo, e o começo de um sentimento de
que eu sou como eu devo ser.
Dessa forma, Freire (2006) comenta que a relação grupai é essencial à recuperação,
sendo que: "Com o tempo as equipes chegaram à conclusão de que o elemento maisforte
dessa abordagem eram exatamente os grupos informais de dependentes químicos".
Demonstram-se aos alcoolistas que não estão sozinhos em busca da sobriedade, mas que,
embora sejam diferentes uns dos outros, formam uma identidade coletiva, é como Freire
(2006) aduz: "A culpa, a vergonha, o sentimento de excepcionalidade que existia antes, vai se
reduzindo, pois são todos dependentes químicos, e muitosjá parados há algum tempo
Por outro lado, não existe um consenso entre os profissionais da satide em relação à
eficiência dos grupos de ajuda mútua em tratamento de alcoolistas, na visão de Mota(2004, p.
114):
Apesar de diversos grupos de ajuda mútua já terem obtido certo reconhecimento
junto à comunidade científlca e de seu programa ser utilizado por clínicas
especializadas e por empresas sob a denominação de Modelo Minessota, alguns
profissionais de saúde mantêm reservas quanto à sua abordagem terapêutica.
Sendo assim, a abordagem terapêutica do trabalho em grupo desperta tanto a adesão
quanto o temor. Indiferentemente à problemática colocada, geralmente no Mirmesota, por
exemplo. Freire(2006) diz:
O processo, baseado no conceito de dependência química como um fenômeno biopsico-sócio-espiritual, é ancorado numa dinâmica essencialmente grupai na qual os
residentes (clientes ou pacientes) compartilham entre si suas histórias e dificuldades,
aprendendo a identificar suas emoções, valores e atitudes antes distorcidos pela
droga.
50
Os entendimentos expostos possibilitam deduzir que as técnicas terapêuticas de
intervenção levam o alcoolista e a família dele à procur ajuda de um profissional para se tratar
e entrar em recuperação, posto que o Minnesota:
Objetiva ensinar o dependente e a sua família a modificar as suas atitudes através de
um método que assenta nos princípios dos grupos de auto-ajuda, grupos de
sentimentos, terapia racional-emotiva, psicologia transacional, palestras, filmes
didáticos e terapias indi\iduais.®
Quer-se tomar o alcoolista em alguém útil e produtivo por meio da abstinência do
álcool e mudança de vida. A equipe multidisciplinar, anteriormente mencionada neste
trabalho, contribui nesse sentido. Por último, não se deve negar e esquecer, ainda, a influência
exercida pelo A.A. no tratamento Miimesota, tendo em vista que se baseia nos "Doze Passos"
dos A.A.
Assim, o Minnesota tem índole humanista e prega a total abstinência de substâncias
que possam, necessariamente, provocar alterações no humor e, enfim, no comportamento dos
indivíduos. Conforme Freire (2006): "Está baseado nafilosofia dos "Doze Passos" dos A. A.,
sendo um modelo psicoterápico de origem humanista cujo objetivo é a abstinência total do
consumo de substânciaspsicoativas
Verifica-se que, logo, o Minnesota é uma tentativa de integração de várias técnicas
psicológicas dos A.A.. Devido às inúmeras recuperações atingidas, o modelo aqui apresentado
é um dos mais eficazes à dependência química.
Todavia, o Minnesota não é a resposta pronta e acabada para tratar dependências
químicas tal qual é o alcoolismo. Antes é um método em que não é possível prever os
resultados, posto que dependam da experiência de cada alcoolista, embora o Minnesota
encontra-se atualmente bastante divulgado no cenário nacional, segundo Vaissman (2006, p.
63):
69
Modelo minnesota. Disponível em: <www.valedospinheiros.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
51
Minnesota, representado pela OrganÍ2ação Vila Serena, que possui um apoio
importante da Câmara de Comércio Americana no Brasil, tendo sido reproduzido
através do sistema de fianquía em algumas cidades brasileiras, como Rio de Janeiro,
São Paulo e Salvador.
Pelo exposto, conclui-se que o modelo Minnesota é firuto de leituras didáticas,
psicoterapias cognitivo-comportamentais, princípios dos A.A., literatura e trabalhos
psicopedagógicos, que atuam no sentido da recuperação do dependente químico (que pode ou
não ser um alcoolista).
Por sua vez, essa não é facilmente descrita. Pois, na maior parte dos casos, dependerá
demasiadamente das características pessoais dos componentes do ambiente terapêutico. O
modelo, conseqüentemente, continua a causar polêmicas, havendo quem o apóia e, ao
contrário, quem o condena.
O modelo Miimesota é multidisciplinar. Procura em aceitação e ajuda mútua
demonstrar aos dependentes químicos que não estão sozinhos e outras pessoas passaram pelas
mesmas experiências conseguiram livrar-se do álcool e outras drogas.
2.3 Amor Exigente na Famflia
Dentre os modelos de tratamento, o Amor-Exigente(AE)representa uma organização,
sem fins lucrativos, que realiza um trabalho com a família e educadores, para promover a
recuperação de alcoolistas e outros tipos de dependentes químicos. Trata-se de um modelo
que parte de alguns princípios básicos:
a) Primeiro Princípio: "Ninguém dá o que não tem"; b) Segundo princípio. "Os pais
também são gente"; c) Terceiro princípio: "Os recursos dos pais são limitados"; d) Quarto
princípio: "Pais e filhos não são iguais"; e)Quinto princípio:"A futilidade da culpa"; f) Sexto
princípio: "O comportamento dos pais afeta os filhos, e o comportamento dos filhos afeta os
52
pais"; g) Sétimo princípio: "É preciso tomar atitude"; h) Oitavo princípio: "Administrar as
crises"; i) Nono princípio: "Ter um grupo de apoio"; j) Décimo princípio: "Exigir a
cooperação dos filhos"; k) Décimo primeiro princípio: "A necessidade da disciplina"; 1)
Décimo segundo princípio:"Amar é saber ser firme, saber dizer não".
Nascido nos anos 60 do século XX, o AE é uma proposta comportamental, com a
intenção de resolver os problemas e sofrimentos.Em outros termos, como diz Menezes(2004,
p. 22), o AE não se restringe apenas à solução dos conflitos, mas ao apoio à família e aos
demais ao redor do dependente:
[...] pai e mãe têm de ser um só, uma unidade, na orientação dos filhos. Os pais
podem ter idéias diferentes, podem até brigar para fazer prevalecer seu
posicionamento. Mas uma vez decidido o caminho, os dois devem unir-se e, na
fi^nte dos filhos, devem ser um só, conduzindo, orientando,educando.
Nesse sentido, o desenvolve uma postura da família diante da situação ocasionada pelo
dependente químico. Desse modo, o AE é contra a redução de danos. Defende que os
impostos sejam utilizados para promover a educação, a saúde e progresso em geral, mas não
propiciar a continuidade do abuso das substâncias tóxicas:
O Amor-Exigente se posiciona a favor de uma vida criativa e uma sociedade
motivada que permita o crescimento de nossos filhos. Queremos jovens capazes de
resistir aos apelos imediatistas e destrutivos; jovens crescendo com valores éticos,
morais e cidadania consciente, pois são esses os verdadeiros valores que formam
países dinâmicos e talentosos.
Sendo assim, o AE é contrário à política de redução de danos, principalmente se servir
de desculpa aos dependentes químicos que não conseguem dar prosseguimento ao tratamento.
Na concepção do Amor Exigente, este é um movimento organizado e que veio para ficar.
70,
o que o AEpensa sobre redução de danos. Disponível em: <http://vvTvw.amorexigente.org.br/>. Acesso em: 10
fev. 2006.
53
porque une, ajuda e protege as relações interpessoais, cada dia ganhando mais adeptos em
busca da sobriedade e qualidade de vida.
2.4. Saúde Mental, uma história em construção
Com o processo de redemocratização e a crise do regime militar, na década de 70,
iniciou-se nesse período também a Reforma Psiquiátrica, tendo como marco o ano de 1977.
Neste período, foi constatado, no Brasil, cerca de 200 mil internações desnecessárias, que,
segundo o movimento da reforma psiquiátrica é possível afirmar que; serviços nunca foram
realizados; pacientes que não existiam e medicamentos que nunca chegaram ao destino dos
beneficiários.
Ainda neste mesmo ano aconteceu o congresso na Cidade de Camboriú — SC, tendo
sido palco de várias denúncias como o ocorrido em Jurujuba em Niterói — RJ e no Hospício
de Barbacena — Minas Gerais. Este último, considerado um dos manicômios mais violento e
trágico do país, tendo como símbolo os maus tratos e a média de 60 mortes por mês de
pacientes internados.
Pode-se afirmar que a I Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada de 25 a 28
de junho de 1987, foi um dos marcos do conflito sobre os modelos de atenção em saúde
mental. Com seus impasses centrados no modelo hospitalocêntrico e no médico psiquiatra, a
crítica instalou-se por considerar ineficaz para os usuários e onerosos para os cofres públicos,
como também não respeitando os direitos dos usuários dessas unidades.
O II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental
aconteceu em Bauru - SP, instituindo o dia 18 de maio como o Dia Nacional da Luta
Antimanicomial. Em 1988, por meio das conquistas sociais da organização da classe
trabalhadora, além dos partidos políticos poderem ser registrados, a sociedade conquista
54
também a nova Constituição Federal que estabeleceu que a saúde é um direito de todos e
dever do estado.
Em 1992, ocorre a n Conferência Nacional de Saúde Mental, que trouxe avanços mais
significativos, dentro da implantação do SUS aprovado em 1990, delineando um novo modelo
assistencial.
O Ministério da Saúde visando regulamentar o novo modelo de política de saúde
mental edita diferentes documentos visando organizar e disciplinar o atendimento como:
a) portarias n®. 189, de 19 de novembro de 1991, que define seu financiamento das
ações de Saúde Mental.
b) portaria n°. 224, de 29 de janeiro de 1992, que regulamenta o financiamento de
todos os serviços de saúde Mental, para todas as pessoas com transtornos mentais.
Cabe ressaltar que antes mesmo da Reforma Psiquiátrica já haviam novos Serviços de
Atenção Psicossocial, como o CAPS Professor Luiz da Rocha Cerqueira, da Rua Itapeva em
São Paulo e a Associação Franco Basaglia (1987). Essas experiências foram importantes para
o desenvolvimento de um novo modelo de atendimento.
No final dos anos 80 e início da década de 90, surgiram outros serviços de atenção
psicossocial tais como: Rádio e TV TAM, Associação Franco Rotelli, Centros de
Convivência, Hospitais-Dia e SOS Saúde Mental.
Outros avanços no processo da Reforma Psiquiatra é a Lei n.® 9.867 de 10 de
novembro de 1999 das Cooperativas sociais de iniciativa do deputado Paulo Delgado que
dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas sociais, visando à integração
sociais dos cidadãos.
A Assistência Psiquiátrica no Brasil, historicamente está vinculada ao regime de
internação Psiquiátrica de isolamento com a vida real, como conseqüência Amarante (1995, p.
87)assegura:
55
No Brasil, a Reforma Psiquiátrica é um processo que surge mais concreta e.
principalmente, a partir da conjuntura da redemocratiza^o. em fins da década de 70.
Tem como fundamentos apenas uma crítica conjuntural ao subsístema nacional de
saúde mental, mas também e - principalmente - uma critica estrutural ao saber e as
instituições psiquiátricas clássicas, dentro de toda a movimentação político-social
que caracteriza a conjuntura de redemocratização.
O modo de pensar a loucura se modificou ao longo dos séculos de acordo com valores,
cultura e avanços na Medicina e principalmente, pela organização dos trabalhadores em Satíde
Mental. A loucura adquire então a posição de doença mental.
Durante muito tempo os "loucos" pessoas que ociosamente andam pelas ruas, tais
como mendigos, órfãos, marginais, alcoolistas, são recolhidos em diversas instituições,
permanecendo por muito tempo e muitas vezes até a cessação da vida, então, como indica
Amarante (1996, p. 15):
No contexto atual de consolidação democrática no País, a luta pela cidadama e uma
luta geral, compartilhada por amplos setores da sociedade civü, tomada a partir de
várias questões - a cidadania (fas mulheres, crianças, negros, povos da floresta,
dentre outras embora tenha características e eq)ecificidades quanto ao doente
mental.
Dessa forma, é necessário que se compreenda a Saúde Mental em virtude da luta pela
redemocratização brasileira. Considerando que a loucura é uma doença mental, pode-se
chegar à conclusão de que os modelos de tratamento são construções culturais e passíveis de
alterações temporais, sendo preciso o devido respeito ao direito universal de acesso à saúde.
2.4.1 CAPSad e Redução de Danos
A Legislação em Saúde Mental prevê que as cidades brasileiras com mais de 70 mil
habitantes poderão implantar Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras
drogas/CAPSad.
56
O CAPSad atende indivíduos com transtomos decorrentes do uso ou abuso de álcool e
outras drogas em vários níveis de tratamento (atendimento intensivo ou semi-intensivo ou não
intensivo). Os CAPS constituem a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica,
segundo o ex-Ministro da Saúde Humberto Costa.
Mais especificamente, as publicações do Ministério da Saúde, tais como; ''''Saúde
mental no SUS: os centros de atenção psicossocial" (Brasil (c), 2004), como um CAPSad
pode cuidar de usuário de álcool e outras drogas; "'Política do Ministério da Saúde para
Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas" (Brasil (d), 2004), panorama
nacional e diretrizes para a política de atenção integral; "Relatório Final da III Conferência
Nacional de Saúde MentaF (Brasil (b), 2002), que relata a atenção aos usuários de álcool e
outras drogas; Legislação em Saúde Mental: 1990-2004"(Brasil(a), 2004).
Além da Declaração de Caracas que trata da legislação federal, estaduais, portarias,
resoluções, decretos, por fim, da publicação de álcool e redução de danos de 2004, que se
refere à redução de danos no Brasil.
Para os usuários cujo principal problema é o uso prejudicial de álcool e outras drogas
passam a existir, a partir do 2002, os CAPSad.
Outros tipos de CAPS, destinados (crianças e adultos) a pacientes com transtomos
mentais severos e pertinentes tais como: CAPS I; CAPS II; CAPS III e CAPSi. Algumas
atribuições dos CAPS: acolhimento, atenção diária, organização da demanda e da rede,
articulação da rede, com a básica de saúde.
Rede e quantitativo de CAPS no Brasil, segundo Paulo Roberto Armda de Macedo Consultor OPAS/OMS, até setembro 2005. CAPS I - 240; CAPS n - 245; CAPS m - 30;
CAPSi - 52 e CAPSad - 92, totalizando ao todo 658 CAPS espalhados em quase todos os
Estados Brasileiro, e que respeitam, evidentemente, as orientações sobre Saúde Mental do
Ministério da Saúde, tendo em vista que a Portaria do Ministério da Saúde GB/MS n.° 1.842,
57
de 3 de outubro de 2001, alterou a data de realização da m Conferência Nacional de Saúde
Mental(DOU de 4/10/01, MS).
Além disso, outra Portaria (GB/MS n.® 1.844, de 3 de outubro de 2001), aprovou o
Regimento Interno da IQ Conferência Nacional de Saúde Mental(DOU de 4/10/01, MS), que
chegou a debater e decidir a respeito do CAPSad em todo o País.
Em Mato Grosso do Sul, temos 7 CAPS, ao todo (até setembro de 2005), para
responder aos desafios da política para álcool e outras drogas. Dentre outros, o desafio está na
magnitude do problema, nas concepções teóricas ideológicas de conflitos, baixo acesso ao
tratamento, o desafio da mudança do modelo assistencial, as questões das drogas e a Reforma
Psiquiatra. Há algumas estratégias de atenção o usuário de álcool e outras drogas tais como.
a) Reversão para um modelo assistencial que reduza a exclusão e a falta de cuidados,
evitando internações desnecessárias;
b)Integração da rede especializada á rede assistencial em saúde mental, aos hospitais
gerais, a rede básica e a rede de suporte social;
c)Expansão e consolidação da rede de CAPSad;
d) Adoção da política da redução de danos;
e) Priorização de Cursos sobre álcool e outras drogas no programa de formação
permanente para a reforma psiquiátrica;
f) Treinamento em habilidades sociais;
g) Grupo multifamiliares.
No mesmo sentido, realizou-se a Dl Conferência Nacional de Saúde Mental, entre os
dias 11 a 15 de dezembro de 2001, que tinha dentre os objetivos "[■■•] (Abater temas
relevantes para o campo da Saúde Mental, avaliar o processo da Reforma Psiquiátrica e
58
definir estratégias para siia efetivação com Acesso, Qualidade, Humanização e Controle
Social".'^
Na III Conferência Nacional de Saúde Mental'^ foram aprovados: a reorganização do
modelo assistencial de atenção aos alcoolistas dependentes químicos de outras drogas e
propostas de tratamento para as políticas públicas municipais(de prevenção e tratamento). Por
sua vez, os Municípios ficam agora apoiados e normatizados pelo Ministério da Saúde, pois
Macedo (2006) afirma: "A concepção dos CAPS contempla, deforma inconteste: [...] - As
deliberações ocorridas na III Conferência Nacional de Saúde Mental (Brasília, 2001),
constantes em seu relatóriofinal
Entre as decisões retiradas na in Conferência Nacional de Saúde Mental, foram
contempladas nas políticas e nos planos municipais de Saúde Mental a criação, organização e
implementação de serviços básicos e especializados de referência, com eficiência para atender
alcoolistas e outros tipos de dependentes químicos.
Além disso, a III Conferência Nacional de Saúde Mental garantiu o desenvolvimento
de grupos (de acolhimento e encaminhamento aos serviços especializados) nas unidades
básicas de saúde, nos três níveis governamentais, vinculando-se o programa de atenção aos
alcoolistas e usuários de outras drogas à Coordenação da Saúde Mental, respeitando-se os
direitos humanos e os princípios e diretrizes do SUS e da Reforma Psiquiátrica. Com efeito, o
tratamento do alcoolismo e outras drogas não se reduziram à problemática exclusiva da saúde,
contudo também da assistência social. Então, criou-se uma rede de serviços de atenção aos
usuários de álcool e outras drogas integrada à rede do SUS, evitando-se a internação em
hospitais psiquiátricos e clínicas destinadas à internação.
"//7 Conferência Nacional de Saúde Mental. Disponível em: <3ittp://www.ábrasco.org.br>. Acesso em: 10 fe\".
2006.
'^BRASIL. Relatório final da III Conferência Nacional de Saúde Mental. Brasília: Conselho Nacional de
Saúde/Ministério da Saúde, 2004.
59
Não se pode esquecer que a EI Conferência Nacional de Saúde Mental previu "[...] a
criação defónms e de ações intersetoricàs para discussão e implementação de uma política
abrangente
Decorre-se que a Conferência, também garante:
a) a promoção de fóruns regionais a respeito do uso abusivo de drogas, para traçar uma
política de Saúde Mental específica sobre a questão, pela Coordenação de Saúde de Mental do
Ministério da Saúde;
b) a rede básica de saúde como porta de entrada (respeitando-se os níveis de
complexidade), para os usuários de álcool e outras drogas;
c) a proibição que os leitos psiquiátricos de serviços conveniados sejam utilizados na
internação de usuários de álcool e outras drogas;
d) o controle, a fiscalização e a delimitação da ação das comunidades terapêuticas,
com participação efetiva da vigilância sanitária, pelo SUS;
e) a implantação de serviços de atendimento em Saúde Mental, para os usuários de
álcool e outras drogas(até mesmo tabagismo, nas cidades-pòlo e sedes de microrregiões).
Por fim, a m Conferência Nacional de Saúde Mental trouxe uma abordagem
inovadora ao tratamento do alcoolismo e outras drogas, por meio da diminuição de custos a
saúde, sócio-econômicos, porque buscou:
Garantir que atenção aos usuários de álcool e outros drogas adote estratégias de
redução de danos. E,também, implantar o programa de redução de danos — PRD em todos os municípios, promovendo o envolvimento da comunidade, visando
prevenir, e redu2dr a transmissão de DST/AIDS.'''
No Brasil, a redução de danos é a abordagem preventiva oficial pela qual é combatida
a Aids, e o Ministério da Saúde pretende expandi-la à prevenção e ao tratamento de usuários
'^BRASIL. Relatório final da III Conferência Nacional de Saúde Mental. Brasília: Conselho Nacional de
Saúde/Ministério da Saúde. 2004.
''^Id. Ibid., p. 61.
60
do álcool e outras drogas. Para Stronach (2004, p. 31), a redução de danos representa uma
política pública:
A Associação Internacional de Redução de Danos(IHRA) define redução de danos
como "políticas e programas que tentam principalmente reduzir, para os usuários de
drogas, suas famítias e comunidades, as conseqüências negativas relacionadas á
saúde, a aspectos sociais e econômicos decorrentes de substância que alteraram o
temperamento".
No Brasil, há a iniciativa govemamental de manter políticas voltadas à redução de
danos na Saúde enquanto parte da estratégia da Política Nacional de Drogas. Com isso,
protege-se e preserva-se a saúde dos usuários de álcool e outras drogas, porque, bem como
afirmou um dos entrevistados:
"Porque desde a primeira vez que eu participei, eu vi que eu diminuí a bebida e
assisti as palestras do CAPSad também e eu já participei de muitas dificuldades
também".(João, 44 anos)
Atualmente, há diferenças fundamentais entre a redução de danos e o tratamento
tradicional de drogas, conforme a tabela abaixo, proposta por Marques(2004):
DISTINÇÕES ENTRE POLÍTICAS DE CONTROLE
DO USO PREJUDICIAL DE DROGAS
Política baseada na redução de danos
Política de drogas tradicional
1. Aceita a inevitábilidade do uso de drogas na
1. Considera que é possível chegar a uma sociedade
sociedade
sem drogas
2. Objetivo principal é reduzir conseqüências 2. Objetivo principal é uma sociedade sem drogas
adversas do consumo
3. Considera os usuários de drogas como 3. Considera os usuários de drogas como marginais
membros da sociedade, almejando reintegrá-los
frente à sociedade, aceitáveis desde que livre das
drogas
61
4. Implementa suas ações com paiticipação 4. As atividades são planejadas por autoridades
relevante da população-alvo
governamentais, eventualmente com contribuições
de segmentos da sociedade
5. EnfaÜ2a
a importância da cooperação 5. Há predomínio das ações Jinidicas e policiais,
interseioiial entre instiniições do âmbitojurídico com menor participação da saúde
e da saúde, entre outras
6. Enfatiza a prevenção e o tratamento dos 6. En&tiza a eliminação de toda oferta de drogas,
usuários de drogas, fazendo com que as com tolerância zero em relação aos usuários
atividades de repressão se restiinjam ao tráfico
7. Incluí drogas líticas com o álcool e o tabaco
7. Restringe-se às drogas ilícitas
8. Dá preferência à utilização de terminologia 8. Dá preferência à utilização de terminologia
neutra, não-pejorativa e científica
veemente e valoiativa
Na realidade, a redução de danos é uma metodologia de tratamento que propõe
alterações continuas no consumo do álcool. Reconhece que tais mudanças do padrão de
consumo ocorrerão de forma gradual. Assim, serve a redução de danos para possibilitar o
alcoolista a atingir inicialmente os mais próximos e depois os distantes ou difíceis de ser
alcançados. A redução de danos propõe o uso de bebida alcoólica de baixo teor alcoólico, para
deixar o indivíduo menos alcoolizado ao beber, é uma estratégia de controle de conseqüências
advindas do consumo do álcool: "[...]é uma estratégia de saúde pública que busca controlar
possíveis conseqüências adversas ao consumo de psicoativos [...]- sem, necessariamente,
interromper esse uso, e buscando inclusão social e cidadania para usuários de drogas"."
Ao utilizar princípios de Redução de danos de forma criativa e democrática o
terapeuta reforça aproximações sucessivas ao novo comportamento (exemplos: beber menos,
com mais vagareza e de barriga cheia, reduzindo a embriaguez), procurando diminuir os
riscos, por que: "Grande parte de usuários de drogas quefaz uso problemático não consegue
75
Redução de danos saúde e cidadania. Disponível em:<http://w'ww.netpsi.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2006.
62
ou não quer parar de usá-las. Essaspessoas encontram nosProgramas de Redução de Danos
quem as aceita e oriente, de modo a evitar conseqüências maisgraves do uso
O que leva um dos entrevistados continuar freqüentando o CAPSad:
"Tanto o é que se sabe por onde eu passei que o álcool é uma doença, o alcoolismo é
uma doença, lenta e progressiva, ela nâo tem fim, não tem cura. Não tem porque se
eu parei tomando um litro de pinga, uma suposição, se eu retomar eu não vou
retomar tomando um litro de pinga e um pouco mais".(Marcos,43 anos)
Sabe-se que o consumo descontrolado e contínuo do álcool pode ocasionar diversos
problemas de saúde ao ser humano: cirrose hepática, Delirium tremens, ataque cardíaco,
hipertensão, perda da memória etc. A problemática estende-se e o álcool é o responsável por
outros males sociais, assim: "Grande parte dos acidentes automobilísticos, acidentes de
trabalho, assassinatos, suicídios, violênciafamiliar e vários outros problemas sociais estão
relacionados ao uso do álcool".
Por outro lado, há quem critique e não acredite na eficácia da redução de danos,
alegando que proporciona condições favoráveis ao consumo, mas o certo é que: Os
Programas de Redução de Danos não incentivam o uso nem distribuem drogas. A
distribuição de material preventivo visa a proteção à saúde". Então, o Brasil mantém a
redução de danos na Política Nacional de Drogas, para garantir as condições para que as
pessoas façam escolhas responsáveis e autônomas para prevenir crianças, jovens e
adolescentes em relação ao uso indevido de álcool e demais drogas ao limitar a transmissão da
Aids e outros problemas sociais, constituindo-se em um tratamento de acesso universal e
gratuito.
'^Id. Ibid
'Pode causar. Disponível em; <http://w\vw.diganaoasdrogas.com.br>. Acessoem; 10 fev. 2006.
Redução de demos saúde e cidadania. Disponível em: <http://www.netpsi.com.br>. Acesso em: 10fev. 2006.
63
Tanto é que um dos entrevistados relacionou o que chama a atenção ao tratamento dos
alcoolistas no CAPSad,com a seguinte opinião:
"Chama a atenção, porque eles precisam, procuram para o tratamento. Por que é
uma oportunidade vir. A família fala, aconselha.. Porque para o cidadão a saúde é
importante em primeiro lugar''.(Qdo,55 anos)
A redução de danos é uma proposta governamental de saúde pública que visa a
redução dos agravos à saúde coletiva, estabelecendo estratégias de criação de um Pais
saudável e longe dos excessos referentes às drogas, nas palavras de Vaissman (2006), ajuda a
"[•••] promover a saúde das pessoas de uma coletividade através da comunicação
intersetorial e, principalmente, dar ênfase às ações educativas para a popidação, deforma
contextualizada, naquele dado momento".
Em síntese, a redução de danos é uma excelente metodologia de tratamento do
alcoolismo e outras drogas. Necessita ser estendida não só àqueles usuários de drogas
injetáveis, mas também aos de outras drogas(principalmente das drogas legais como o tabaco
e o álcool). Com efeito, deve perder espaço nas políticas públicas a crença em uma sociedade
livre de drogas, as drogas se associam culturalmente aos costumes.
Afinal, em nosso país e em todo o mundo, o álcool encontra quem se sinta levado a
consumi-lo. A nova política do Ministério da Saúde, dessa forma, encara as drogas partindo
de novos paradigmas sobre a forma de estender a prática e aperfeiçoar a redução de danos aos
programas de prevenção e tratamento desenvolvidos em postos de saúde, em escolas, locais
de trabalho, centros comunitários e centros de tratamento de álcool e outras drogas.
CAPITULO III
SAÚDE MENTAL: MOTIVAÇÕES PARA A FREQÜÊNCIA DOS
ALCOOLISTAS NO CAPSad/DOURADOS
3.1 Alcoolismo: uma questão de saúde pública
O problema do uso indiscriminado do álcool, constatado nos últimos anos, ganhou
proporções tão graves que hoje é um dos desafios maiores da saúde pública no Brasil,
conforme afirmação do próprio Ministério da Saúde, na "Política do Ministério da Saúde
para Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras drogas"(2004, p. 16), o problema do
consumo do álcool é algo mundial. Nessa mesma linha, defende Vaissman (2004, p. 19): "O
alcoolismo é considerado mundialmente um problema de saúde pública, tamanha a
prevalência do consumo de álcool da populaçãojovem e adulta". Assim também menciona
Mota(2004, p. 23-24):
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% de toda
população mundial adulta é dependente de álcool. A cada dez pessoas que iniciam
no prazer de tomar um bom aperítivo, uma delas virá a se tomar um alcoólatra: uma
típica roleta-russa.
65
Dentre as obras disponíveis, algumas são essenciais aos trabalhos de natureza
acadêmica cuja temática envolva o alcoolismo como:"O drama do alcoolismo" (1981), de
Silveira; "Alcoolismo" (1991), de Glitow e Peyser; "Alcoolismo no trabalho" (2004), de
Vaissman;"Álcool e redução de danos: uma abordagem inovadora para países em transição"
(2004), organizado por Buning et al\ "Saúde mental no SUS: os centros de atenção
psicossocial" (2004), publicada pelo Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria de
Atenção à Saúde, entre outras.
Como o alcoolismo é um conjunto de diagnósticos e, dentre estes estão a dependência,
a abstinência, o abuso (uso excessivo, mas não continuado) e a embriaguez, é necessário
definição precisa sobre o tema. Glitow e Peyser(1991, p. 15)evidenciam que:
Alcoolismo é uma doença caracterizada pela ingestão repetitiva e compulsiva de
quaisquer drogas sedativas, o etanol representando apenas uma deste grupo, de
maneira tal a resultar na intóferência em algum aspecto na vida do paciente, seja ele
a saúde, o estado civil, a carreira, os relacionamentos interpessoais, ou outras
adaptações sociais necessárias.
3.2 Saúde Mental no Estado de Mato Grosso do Sul
As ações em Saúde Mental no Estado de Mato Grosso do Sul(MS), ocorrem desde a
divisão do Estado de Mato Grosso(MT). Na década de 70, do século passado, acompanhando
uma tendência nacional, foi realizado um treinamento para a interiorização das ações em
Saúde Mental, que visava a assegurar o atendimento e acompanhamento dos pacientes com
doenças mentais mesmo nas cidades em que não havia a oferta desses serviços.
66
Até então, as atividades se constituíam no Ambulatório da Dinsam (Divisão Nacional
de Saúde Mental), no atendimento aos pacientes internados no Sanatório Mato Grosso, e
Hospital Adauto Botelho^'.
Com a divisão do MT, o MS teve como única opção de intemação dos pacientes
psiquiátricos o Sanatório Mato Grosso, hoje Hospital Nosso Lar, e que era insuficiente para a
demanda, permanecendo constantemente com a sua capacidade esgotada fazendo com que os
pacientes que necessitassem intemação fossem conduzidos ou para Cuiabá ou hospitais
paulistas, tal qual esclarece Borges (2006): "No ano de 1966, em janeiro, ela inaugura o
Sanatório Mato Grosso, hoje Hospital Nosso Lar, criado para atendimento dos doentes
mentais, e referência no Estado nesta especialidade
A Coordenadoria do Programa de Saúde Mental(PSM)em Mato Grosso do Sul teve
grande importância nacional, posto que a rede assistencial não possuía grandes asilos (na
realidade, nenhum) e, portanto, pode trabalhar de acordo com a nova demanda nacional, por
meio da capacitação da rede de saúde e envolvendo outras políticas sociais, especialmente a
educação.
Por meio da criação do Curso de Medicina da Universidade Federal do Estado do
Mato Grosso (UFMT), em 1969, e atualmente UFMS, a criação do Curso de Psicologia em
1975, houve melhores condições de discussão da necessidade da criação de outros
equipamentos capazes de minimizar as necessidades relacionadas à assistência ao doente
mental.
Assim, nestas décadas verificamos algumas iniciativas que por falta de incentivo, de
reconhecimento por parte das autoridades constituídas, terminaram tendo vida curta, mas
mostrando que é possível e necessário a manutenção destas iniciativas.
O Sanatório Mato Grosso,com sede em Campo Grande,tem sua inauguração no ano de 1966,constituindo-se
em um dos únicos centros de atendimento em saúde mental do estado do Mato Grosso e depois de Mato Grosso
do Sul, até a abertura do ambulatório da Santa Casa. Em Cuiabá, o Hospital Adauto Botelho, data da década de
40 a sua inauguração.
67
As Conferências de Saúde realizadas no Estado de Mato Grosso do Sul, com a
temática da saúde mental, constituíram-se em espaços importantes de articulação e pressão
social para implantação da rede de atenção. Cite-se como exemplo A IP e IIP. Conferências
Estaduais de saúde mental . No processo seguinte, ocorreram as implantações dos CAPS na
capital e municípios do interior^'.
3.2.1 Saúde Mental em Dourados
Em 1987 ocorreu a implantação do Centro de Orientação e Aconselhamento - COA
entidade responsável pelo trabalho com os dependentes químicos e seus familiares.
Primeiramente funcionou como um programa sem vínculo público ou privado recebendo
subsídios de ambos, com muitos parceiros no programa.
O espaço físico era uma residência onde o dependente químico e seus familiares
tinham uma acolhida e a retaguarda que lhes faltava pela mptura nas relações afetivas, sociais
e profissionais que a dependência acarreta no ser humano.
A prevenção era realizada com familiares dos dependentes, independente do mesmo
aceitar ou não o tratamento, capacitação de multiplicadores de prevenção ao uso indevido de
drogas aos grupos interessados.
No COA eram realizados psicoterapia individual, gmpal, gmpo de esclarecimento com
familiares e usuários em potencial, reforço escolar, prevenção com crianças e adolescentes,
filhos de dependentes, trabalho com co-dependente, encaminhados a recursos da comunidade,
internações hospitalares e/ou em clinicas especializadas, capacitação para o trabalho através
II Conferência Estadual de Saúde Mental, realizada na Escola de Saúde Pública de Campo Grande (MS), no
período de 11 e 12 709/92 e, III Conferência de Saúde Mental, realizada em Campo Grmide, nos dias 31 de
outubro e I de novembro de 2001
Aquidauana, Bela Vista, Corumbá,Dourados, Nova Andradina,Paranalba e Ponta Porã.
68
de cursos profissionalizantes existentes no município e inserção no trabalho. Para aqueles que
retomavam o trabalho era oferecido atendimento noturno.
Antes de 1989 o serviço público não tinha médicos especializados em Saúde Mental.
Médicos generalistas atendiam os casos de transtomos mentais que procuravam os postos de
saúde. Os casos mais graves eram encaminhados sempre para outras cidades como Paranaíba,
Presidente Prudente-SP, Campo Grande, Maringá-PR e Marechal Cândido Rondon-PR, que
contavam com manicômios, o que pode ser confirmado pela fala de um dos usuários do
CAPSad:
"Só freqüentei o "Nosso Lar" em Campo Grande. Fui inteinado lá 45 dias". (João,
44 anos)
O que expressa um usuário que freqüentou outros lugares para parar de beber:
"Eu estive internado na Fazenda da Esperança, que fica aqiii em Rio Brilh^te. Na
fazenda, eu fiquei 15 meses. Eu tive em Paranaíba, com o pastor Felipe. Lá eu não
tenho assim uma previsão de quanto tempo eu fiquei. Eu acredito que quase dois
meses. Eu não fiquei dois meses. Eu tive em Canqx) Grande, na "Fazendmha'
também. Lá fiquei, lá eu fiquei 90 dias"(Marcos,43 anos)
Na volta do usuário da internação, este trazia a receita, que o médico generalista, da
rede básica, continuava prescrevendo até a próxima crise e a próxima intemação. Em caso de
cronificação ou agravamento, o retomo para a cidade de origem mostrava-se inadequado
devido à falta de serviços especializados para o atendimento. Em caso de retomo, não havia
no serviço público, local de referência para o atendimento pós- intemação, sendo acolhidos,
em muitos casos, pelos Alcoólicos Anônimos.
Com a Constituição Federal de 1988 e as discussões nacionais em tomo da criação do
Sistema Único de Saúde - SUS, vários serviços começam a ser implantados nos municípios,
sejam eles de gestão estadual, federal ou municipal. Em Mato Grosso do Sul, em 1989, houve
um concurso público estadual para o setor saúde e, dentro do desenho da rede de pública, no
69
se referiu ao Centro de Saúde Tipo A, a exigência foi da constituição de equipe
n^ultidisciplinar®" e, tinha como atribuição o atendimento de referência, especialmente no
^^tendimento em saúde mental de Dourados.
A presença de equipe multiprofissional impulsionou as discussões de saúde mental,
realizando em 1992, o primeiro encontro de equipe multiprofissional de Saúde Mental®^,
tendo como objetivo principal a sensibilização dos profissionais da área e dos governantes
locais. O resultado foi a constituição de uma equipe de trabalho e assessoria para que se
elaborasse um piano de Saúde Mental para Dourados®'^, o que acaba ocorrendo em agosto do
mesmo ano, contemplando os diferentes níveis de complexidade do sistema, ou seja, havia o
envolvimento da rede pública na atenção extra-hospitalar, no nível primário, tendo vários
postos de saúde com atendimento psicológico individual para adultos e crianças e
atendimentos em grupos terapêuticos e de orientação para gestantes, escolas, famílias. O
Centro de Saúde completava a rede fazendo a referência para os casos mais complexos e que
não eram de internação hospitalar.
A partir de 1993 o COA foi inserido na Secretaria Municipal de Saúde. Após a
inserção do programa na rede municipal ocorreu uma queda na qualidade do trabalho por falta
de recursos materiais e humanos.
Em 1996, com a mudança de gestor municipal, houve a demissão de todos os
psicólogos dos postos de saúde, ficando apenas os concursados, em número de três, um
assistente social e um psiquiatra. Reduziu-se, dessa forma, o Plano Municipal ao atendimento
no Centro de Saúde, sendo que as ações de promoção e prevenção foram relegadas em
detrimento da demanda para atendimentos individuais. Mesmo mudando de sede e
Em Dourados o concurso previu vaga para psiquiatra, assistente social, psicólogo e enfermeiro, além dos
profissionais de nivel médios e técnicos.
Realizado no Serviço Nacional da Indústria, nos dias 3 e 4 de fevereiro de 1992,em Dourados.
^ Mesmo reconhecendo que o plano municipal destinava-se ao município de Dourados, o seu entorno, além de
fazer-se presente, passou a referenciar o centro de saúde para o atendimento aos demais usuários dos outros
municípios que eram "portadores de transtornos mentais".
70
implantação do Centro de Orientação e Aconselhamento - COA, com a inclusão de outros
profissionais, a demanda para atendimento estava sempre em evidência devido às filas,
especialmente de crianças.
Em 1997 foi elaborado um plano para reativação do COA que passou a fazer parte da
Unidade de Saúde Mental®'.
Em 2000, devido ao remanejamento dos serviços de Saúde do município, o COA foi
desativado. Conseqüentemente as atividades não puderam ter continuidade, concentrando-se
apenas na figura de dois profissionais®^, que atuam na área do tratamento na Unidade de
Saúde Mental, atualmente CAPS n Psiquiátrico.
Com a nova política de saúde mental no âmbito do SUS, ocorreu a implantação do
Centro de Atenção Psicossocial - CAPS n em Dourados, com a missão de atender, inclusive,
os municípios da região, conforme oficialmente no site da Prefeitura explicita:
Os trabalhos de tratamento de saúde mental realizados nos CAPS (Centros de
Atenção Psicossocial) de Dourados foram consagrados pela região como referência
para implantação de novos centros no Estado. Depois de sediar com sucesso o
primeiro encontro estadual de profissionais de CAPS no final do ano passado, agora
a cidade recebe visitas de representantes das prefeituras da região que v®n^ ^
Dourados conhecer de perto o desenvolvimento do programa de saúde mental .
A paitir de julho de 2003 o atendimento ao dependente químico passa a ser realizado
no Posto de Assistência Médica(PAM), a nível ambulatorial, é oferecido atendimento médico
psiquiátrico, atendimento psicológico em grupo e atendimento do Serviço social.
O novo modelo assistencial, mesmo baseado nos debates da Reforma Psiquiátrica,
colocando o CAPS na centralidade do atendimento, não significa a existência de uma rede de
atendimento articulada em todos os níveis, especialmente na promoção da saúde e prevenção
Reativado em 18 de abril de 1997,ao lado do Centro Social Urbano do Jardim Água Boa de Dourados.
Ambos com formação em Pedagogia e experiência com dependentes químicos em Dourados.
Dourados
é
referência
regional
no
tatamento
<Iittp.//www.dourados.nis.gov.br>. Acesso em; 14 fev. 2006.
de
saúde
mental.
Disponível
em:
71
ao uso abusivo de drogas. Como afirma o Diário Oficial da Prefeitura Municipal de Dourados
(2006):
A rede de tratamento de saúde mental de Dourados é composta pelo Ambulatório de
Saúde Mental [...]; pela Residência Terapêutica; pelo atendimento de urgência e
emergência no Hospital Evangélico; pelos leitos para internação de curta
permanência no Hospital Universitário; pela Farmácia do programa de Saúde Mental
que disponibiliza medicamentos pata o uso controlado das pessoas em tratamento e
por dois CAPS, um para pacientes psiquiátricos e outro para usuários de álcool e
drogas®*.
3.3 Histórico do CAPSad de Dourados
Dentre as formas de tratamento existentes, o Sistema Único de Saúde, implantou, no
Brasil, os Centros de Atenção Psicossocial(CAPS), e mais recentemente a especialidade para
Álcool e Drogas denominados CAPSad.
Nos CAPSad, os usuários são assistidos em regime de atenção diária, ambulatorial
com procedimentos individuais e/ou coletivos e fundamentalmente, com a decisão de
freqüência ao tratamento por parte do dependente químico.
O atendimento se faz aos adolescentes e adultos, de ambos os sexos, usuános e/ou
dependentes de drogas, (lícitas e ilícitas), bem como aos seus acompanhantes seja seus
familiares ou responsáveis ao tratamento.
A cidade de Dourados é o segundo município em população do Estado de Mato
Grosso do Sul(MS), tendo aproximadamente 183 mil habitantes, tendo como característica a
população tradicional composta por índios de diferentes etnias e com predominância dos
guaranis, com aproximadamente 12 mil índios em duas aldeias. O Município está enquadrado
^^Dourados
é
referência regional no üatamento de saúde mental. Disponível
<hííp;//www.dourados.ms.gov.br>. Acesso em: 14fev. 2006.
em:
72
no SUS na gestão plena do sistema e tem a decisão e organização dos serviços discutida e
aprovada pelo Conselho Municipal de Saúde.
A área de abrangência do município de Dourados, distritos e região, com 34 cidades
que pertencem ao território, sendo que atualmente, somente 2 (duas) cidades vizinhas,
Douradinha e Itaporã, estão com dependentes químicos de álcool em tratamento no CAPSad.
O Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPSad) foi fundado em 18 de
maio de 2004 em Dourados-MS, com um Serviço para atendimento de usuários com
transtornos decorrentes do uso e dependência de substancias psicoativas; "É um serviço
criado como substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos que afastam por longos
períodos do convívio social aqueles que na verdade necessitam somente de um tratamento de
saúde
Um dos entrevistados relata como a sociedade douradense que necessitava de
atendimento, recebeu o novo serviço de saúde, ou seja, com naturalidade:
''Já que é recente, é uma clínica nova. Informaram o meu irmão que tinha o
tratamento, então eu cheguei e vim no CAPS e iniciei o tratamento".(Cido,55 anos)
O CAPSad, iniciou-se com seu projeto Técnico de Fundação com a proposta de
funcionar diariamente (de segunda a sexta-feira), em regime ambulatorial e no horário
comercial.
O atendimento se faz aos adolescentes e adultos, de ambos os sexos, usuários e/ou
dependentes de drogas, (licitas e ilícitas), bem como aos seus acompanhantes seja seus
familiares ou responsáveis ao tratamento.
Conforme o Projeto Técnico de fundação da criação do CAPSad, os objetivos gerais
são:
89
Saúde Mental em Dourados, novos tempos!!!. Disponível em: <http://www.dourados.ins.gov.br>. Acesso
em; 14fev. 2006.
73
a) Prestar atendimento em Saúde mental, na modalidade de assistência Ambulatorial e
Hospitalar (atendimento de desintoxicação) aos dependentes químicos;
b) Capacitar indivíduo e família a prevenir ou superar dificuldades e minimizar seus
problemas de modo a conseguir satisfação pessoal e reintegração sócio-familiar,
c) Promover um programa específico de prevenção ao uso indevido de drogas nos
campos de educação e saúde;
d) Fazer parcerias entre órgãos públicos e organizações não-govemamentais, com
atendimento em rede, para melhorar o acolhimento aos usuários.
Para maior eficácia e eficiência se fez necessário um espaço físico e equipamentos
adequados devido às características dos usuários, e também com condições de realizar
trabalhos produtivos e equipe composta de técnicos comprometidos e identificados. Para
organização do referido trabalho, convocou-se uma equipe técnica'", além de um espaço
físico, ou seja, um imóvel alugado para dar continuidade aos trabalhos junto aos dependentes
químicos de Dourados, distritos e cidades da região. Muito embora o atendimento seja
extensivo aos outros municípios, esses não garantem a presença para o atendimento, como
afirma um dos entrevistados, quando se refere aos motivos de suas falta ao tratamento:
"Quando eu falto? Muitas vezes eu não Mo,já faltei uma ou duas vezes aqui
porque não tem condição de vir de cano, não consegue vaga. E naquela cidade não
tem serviço ainda. Eu gostaria muito de um fiisca velho, porque é carro para toda
vida. Eu viria. Não faltaria não".(João,44 anos)
^^Coordenador, médico. Psicólogo, Assistente Social, Terapeuta Ocupacional, Pedagogo, enfermeiro, e aiLxiliar
de Enfermagem.
74
3.4 Motivação dos alcoolistas no CÁPSad de Dourados
Especificamente, no que se refere à motivação para as freqüências dos alcoolistas do
CAPSad de Dourados, enfatiza-se que a resposta do alcoolista ao tratamento sofre a influência
da motivação.
A motivação, conforme Vieira (1981), geralmente tem raízes no indivíduo, no espaço
externo e na própria situação social e em determinada época na qual se participa de algo em
comunidade;
[...] sendo o impulso básico para a participação em qualquer atividade ou processo
de ação, principalmente em trabalhos comunitários, devendo ser cultivada durante
todo o seu desenvolvimento, por ser um dos principais fatores de sua realimentação.
(VIEIRA, 1981, p. 102)
Na ótica de Oliveira (2000), a motivação é entendida no campo das atitudes:
A motivação pode ser entendida, numa visão abrangente, não como algo que a
pessoa "tem ou não tem", mas como algo que a pessoa pode fazer, existindo várias
maneiras de auxíliá-Ias a se moverem em direção ao reconhecimento do seu
problema e ação efetiva para a mudança.(OLIVEIRA,2000, p. 178)
Como se verifica, a motivação implica em mudança e varia de um caso para outro,
segundo as influências externas, tal qual diz Figlie (1999, p. 18):"A motivação é um estágio
de prontidão para a mudança que pode flutuar de tona situação para outra, sofrendo
influência defatores externos. Estaflutuação determina os diferentes estágios de mudança
Para um dos entrevistados a motivação está relacionada à idéia de poder decidir por si:
"A minha opinião, não só no tratamento^ mas quando a motivação é por alguma
coisa. No nosso caso específico, é a pessoa se achar auto-suficiente. Ela acha quejá
deu os primeiros passos e quejá pode se equiUbrar sozinha".(Marcos,43 anos)
75
A motivação pode surgir nele próprio, por estar situada nos desejos, nas necessidades,
direções ou metas, como escreve Assis (2006): "Fatores externos ou extrinsecos podem
suplementar positiva ou negativamente esta motivação" que, conforme o entrevistado
exemplifica com a sua vida:
"Foi uma cunhada minha que me trouxe aqui. Eu não queria pedir ajuda, achava que
não precisava de ajuda. Aí ela conversou comigo e me trouxe no CAPS. Ai eu vi que
eu precisava disso al mesmo. O meu irmão trouxe nós". (Alemão,50 anos)
"A minha pasta até hoje eu não consegui recuperar. Meu coordenador me deu outra
pasta. Ele saiu. E ele me trouxe aqui para a casa [o CAPSad], e eu entrei aqui.. E
aqui no CAPS tava na hora do lanche de manhã". (Antonio,59 anos)
As motivações apresentadas pelos entrevistados não originaram necessariamente na
decisão de parar de beber, mas estão relacionadas ao grupo de convivência. São as diferentes
formas de motivações extrinsecas: familiares, amigos, supervisores no trabalho e mesmo a
chegada no CAPS, conforme reforça outro entrevistado:
"Eu sou um cara que acho que a minha atitude e a minha vida, eu achei que tava
muito perdido, eu vim aqui no CAPS uma vez, e acho que com umas três palavras
que eu ouvi aqui dessa companheiiada, é que eu resolvi participar". (Bem-te-vi, 52
anos)
A idéia central apresentada refere-se ao estar com outro na chegada e o ato de chegar.
Assim, mesmo com o encaminhamento profissional de outra unidade, é o ato da acolhida que
demanda o continuar, como afirma um dos entrevistados:
"Fim encaminhado pelo médico que cuidava demais, eu sempre precisei de ajuda.
Mas fazia tempo que era pra ter vindo. Até que um dia de tanto que eu fiquei
interessado, eu pensei"Eu vou" e acabei vindo. Mas se fosse pelas próprias pernas,
sozinho eu não vinha não, lá de Douradina,do posto de saúde".(João 44 anos)
Alguns até disseram que as regras do CAPSad poderiam ser mais incisivas:
76
"Se eu quiser parar de beber, tenho que seguir o CAPS aqui. Não, eu acho que
deveria ser até um pouco mais rígidas". (Alemão,50 anos)
Em outras situações, há pessoas que vêem encaminhados pela comunidade, não
necessariamente tendo passado e acreditado em outros profissionais de saúde, mas
reconhecem o seu problema como sendo igual a outro:
"Eu cheguei ao CAPS através de companheiros. Companheiros meus que vinham e
eu dei sorte para entrar aqui. Foram eles que me âlaiam. Apesar de que tinha uma
mulher lá perto de casa, eu até me esqueci o nome dela, e ela tinha um filho, sabe,
que vinha fezer um tratamento no CAPS,ai através dela..."(Bem-te-vi,52 anos)
Muito embora os homens cheguem, ao CAPSad, na sua grande maioria, após alguns
anos de ingestão alcoólica, a maioria começou a beber muito cedo e, por isso por estarem com
uma patologia já cronificada, devido às seqüelas deixadas durante muitos anos e vivenciando
os sintomas, acabam estando mais acessíveis aos encaminhamentos, como afirma um dos
usuários que iniciou a ingestão bebida alcoólica desde criança.
"Desde os dois anos o meu padrastojá me dava um copo de cachaça.É com certeza.
Foi com o padrasto. Depois da minha infância até a minha adolescência o meu
padrasto me enchia e na época eram aqueles barris de madeira de 100 litros. Levava
daqui da cidade para a fazenda E o meu trabalho era engarrafar, passar para a
garrafa. Eu não tinha controle, bebía e trabalhava desde criança". (Antonio, 59
anos)
"Eu acredito que fortemente mesmo, assim de chegar no fundo do poço, igual eu
cheguei... Que dizer, que eu realmente fui morar na rua depois, uns 10 anos. Certo.
Que eu passei a... Agora bebendo, como se diz socialmente, estas coisas, eu tenho
isto desde dos 17 para os 18 anos, que eu já insiro bebida alcoólica". (Marcos, 43
anos)
Chegada ao CAPSad ocorre geralmente com familiares, como declara um dos
entrevistados:
"Informaram o meu irmão que tinha o tratamento, então eu cheguei e vim no CAPS
e iniciei o tratamento. Foi o meu irmão que me encaminhou na situação que eu
tava". (CidoSSanos)
77
Encaminhamento ao CAPSad ocorrem através de informação por intermédio de
médicos, com casos restritos por demanda espontânea, às vezes, até os próprios usuários
ajudam na divulgação;
"E a gente vai ver, o que puder encaminhar para cá, pedir para participar aqui. Que
aqui é um lugar que acho que essa terapia não tem lugar melhor não". (João, 44
anos)
Diversos entrevistados alegaram que continuam freqüentando as atividades propostas
pelo CAPSad por causa da participação no gmpo de alcoolistas, que fortalece pessoalmente
"carrega a bateria", como dizem no jargão dos entrevistados do grupo de alcoolista em
tratamento, como demonstram os depoimentos:
"É porque daí eu gostei do próprio companheirismo daqui. A amizade dos
companheiros e, para mim,como que se diz, é aqui que eu venho "carregar a minha
bateria".(Antônio,59 anos)
"É. Para se fortalecer. Recarregar a bateria, a força".(Alemão,50 anos)
"Quer dizer, enfim, as próprias conversas, o próprio bate-papo é que fortalece até a
própria amizade". (Marcos 43 anos)
"E aqui através dos companheiros, ouvindo, falando, a gente sempre tem aquela
força". (Antônio,59 anos)
"Eu aqui, eu tive algumas oportunidades de trabalhar nas oficinas de cerâmica. Nas
oficinas de cerâmica. Eu participei das atividades que eram os passeios, muito
interessantes. Passeios, com algumas exposições. No Parque. Fomos a algumas
exposições também ali também no Parque dos Ipês. Juntamente com o pessoal.
Enfim,fizemos vários passeios". (Marcos,43 anos)
Os usuários do CAPSad, também tem a oportunidade de participarem além do grupo
de alcoolistas a freqüentarem outras atividades tais como: marcenarias, passeios, caminhadas,
música, pintura, curso de biscuit etc. Assim expressam os entrevistados:
"Olha,faço de tudo. Marcenaria, música,todas as pinturas. E o grupo de alcoolistas.
Eu gosto muito do gmpo. Porque é uma grande satisfação. Aí a gente pega, ouvindo
os outros, a gente aprende muito". (Alemão,50 anos)
78
"Nós temos marcenaria. Reuniões. Caminhadas para todos os lados, para a cidade,
nas praças... Gostei. Realmente foi bom para os nossos problemas de fadiga. É uma
satisfação que o paciente tem. Terapia, caminhada... Oficinas, isso só traz ajuda no
CAPS. Têm me ajudado bem. É. Exatamente. Correto. A participação foi muito boa
nós, para mim principalmente. Então, tenho que aproveitar ao máximo a
oportunidade para nós sair, para nós é importante. Vivia na rua,com fome.É.Há um
ano e quatro meses atrás. Tinha lugar, mas procurava mais a turma da bebida e não
ficava. Posava na rua". (Gdo,55 anos)
"Aqui no CAPS eu vi muita coisa boa para mim e para outros companheiro. Porque
as conversa nossas aqui é bastante bonita. Apesar de que a gente faz marcenaria,
música. Eu sou o cara se eu pudesse eu vinha aqui todo o dia. Todos os dias.
Principalmente, o grupo dos nossos companheiros alcoolistas". (Bem-te-vi, 52
anos)
Por outro lado, há quem diz continuar no CAPSad devido a manutenção do bom
relacionamento com as pessoas
"Eu, aqui no CAPS, eu tive a oportunidade faz tempo de conversar com bastante
companheiros. E eu admiro que muita gente que vem aqui e falar que está
recuperando. Isso aí eu acho que é muito bonito e dou apoio". (Bem-te-vi,52 anos)
"Porque eu gostei da forma como o CAPS trata as pessoas aqui É todo mundo
igual, não tem ninguém mais autoritário do que o outro. E é uma tranqüilidade total
aqui. É o primeiro lugar e me dei bem aqui".(Alemão,50 anos)
Os entrevistados afirmaram terem conhecido e freqüentado anteriormente outras
Instituições para conseguir parar de beber:
"Eu acho que como eu já conheci os outros lugares, porque aqui é um lugar onde a
pessoa é bem tratada". (João,44 anos)
"Fazenda da Esperança ela me deu uma base muito grande, me deu um tempo bom
para refletir, para mim saber... (...) Só que quando talvez eu tenha saído de lá, que
sai muito afoito. Eu não consegui compreender. Até você entender, quer dizer, até
você entender o que é o alcoolismo, não é do dia para a noite. Quer dizer, você paga
um preço muito caro para ter que admitir que o álcool é droga... Enquanto você não
admitir que você é impotente perante o álcool... O álcool é um inimigo, enquanto
você não admitir e falar"Nâol Eu não posso com ele". (Marcos,43 anos)
Por outro lado, alguns usuários não passaram por outros locais de tratamento.
Conforme um entrevistado, o que leva os alcoolistas a freqüentarem o CAPSad é o tratamento
oferecido pela equipe:
79
'Aünal,eu tenho pessoas por mim,não estou sozinho". (Marcos,43 anos)
O beber socialmente, para muitos usuários do grupo de alcoolista do CAPSad,
acreditam que não seja possível, muitos estão tentando ficar totalmente sem ingerir a bebida
alcoólica, pelo motivo das recaídas Já ocorrida em suas vidas.
"Aí o meu pessoal, a minha âmília, lembrou de religião, tá. É... Fui me envolvendo
com a religião e nesse meio de tempo eu, os companheiros, irmãos, bebiam
socialmente nas festas, nas festinhas de âmílias assim. E eu resolvi experimentar..E
aí veio a recaída. E essa recaída foi um pesadelo. Foi difícil, foram dois anos de
recaída. Foi difícil".(Antonio,59 anos)
Sendo que um dos entrevistados faz referencia ao relacionamento quanto a equipe do
CAPSad
"É o tratamento, o pessoal que trabalha aí é muito bom aqui. De todo o pessoal aqui,
não dá para escolher ninguém, que todo o pessoal é especial aqui, viu".(Alemão,50
anos)
Além disso, muitos entrevistados afirmaram o que chama a atenção deles no CAPSad
é o tratamento oferecido aos alcoolistas; outros, o próprio controle do alcoolismo por parte do
e
,olista.
alcoí
Descobriu-se que se que a ausência ao CAPSad, ocorre por diversos motivos tais
cotno: o exercício profissional após um dia estressante de trabalho, falta de tempo devido o
cafS^ horária do seu trabalho e inclusive por possuir ou não conseguir meios de locomoção,
principalmente que vem de outra cidade da região da grande Dourados, como expressa
os
entrevistados:
"Devido à canseira. Acontece algum imprevisto. Às vezes, eu vou correr atrás de
uma cobrança, um depósito, no horário comercial... E a gente acaba atrasando,já
chega em casa quase 8 horas[20 horas]. De manhã,tem às vezes que tem reunião na
empresa com os ftmcionários no mesmo dia".(Antonio,59 anos).
80
"Quando eu falto? Muitas vezes eu não falto, já faltei uma ou duas vezes aqui
porque não tem condição de vir de carro, não consegue vaga". (João, 44 anos)
De outro lado existem os problemas de saúde advindo, consequentemente do resultado
deixado pelo uso indevido da bebida alcoólica, como fala um dos entrevistados.
"Apesar de que isso é falta de organização porque o CAPS fornece a caiteirinha com
os horários, tudo. Mas, às vezes, você acontece que esquece de onde a carteirinha
está, para você se atualizar. Isso acontece muito. São seqüelas (...)Que eu realmente,
quando eu fui internado desta vez,eu tinha perdido por completo a memória mesmo.
Eu fiii trabalhar em uma fazmda. Não lembro que fazenda. Não lembro quando me
trou.xeram. Eu sei que me contanL.. eu desapareci no meio da âzenda e foram me
^rhar dentfo de uma valeta".(Marcos,43 anos)
Por isso, espera-se que o CAPSad amplie o número de pessoas atendidas e melhore
cada vez mais o atendimento.
"Espero do jeito que tá, [...], porque a gente trabalhado aqui. no momento atual.,
fazendo muitas coisas maravilhosas né... os coordenadores sempre bons. Estão
muito bem."(Cido, 55 anos)
"Eu... A minha expectativa é de que É... Como vamos dizer assim, que o CAPS
continue é... buscando sempre mais, mais o espaço dele também. Para que ele possa
é... ajudar tratar mais pessoas, possa abrir mais... Porque o camarada que bebe, o
alcoolista, ele não tem limites".(Marcos,43 anos)
"Eu espero que seja o atendimento cada vez mais melhor. O atendimento aqui é
para falar a verdade. E a gente vai ver, o que puder encaminhar paia cá, pedir para
participar aqui. Que aqui é um lugar que acho que essa terapia não tem lugar melhor
não. Pelo que já passei nos outros lugares..."(João, 44 anos)
Em geral, constata-se que as pessoas nSo sabem o porquê dos outros abandonarem o
tratamento no CAPSad. Colocam diversas opiniões, sendo uma delas a falta de um amigo, de
apoio familiarMuitos esta enfrentado ^culdades igual eu; ou outros também, talvez, não
tenham apoio da faimlia. Ninguém dá força. Não acha um amigo que dá uma mão
entendeu? Acaba desistindo e não se tratando,vai até a morte."(João,44 anos)
"Na minha opinião, não sei o que leva a pessoa a parar de vir. Com certeza, devido
ao álcool, a beber".(Antonio, 59 anos)
81
"É... Muitas das vezes é falta de cabeça. É que adoece a cabeça e vai muito da
conduta da pessoa. Se eu quiser parar de beber, tenho que seguir o CAPS aqui".
(Alemão,50 anos)
"A pessoa fica acanhada e com vergonha. Tem gente que não quer estar
participando..."(Cido 55 anos)
"Muitos, cada um tem uma desculpa. Muitos está enfi^ntando dificuldades igual eu;
ou outros também,talvez, não tenham apoio da família. Ninguém dá força. Não acha
um amigo que dá uma mão, entendeu? Acaba desistindo e não se tratando, vai até a
morte. Tenho um companheiro meu que faleceu por causa disso. Fazia tratamento
no A.A. e depois não quis mais, acabou morrendo."(João,44 anos)
"Na
opinião eu acho que elas têm o problemas igual eu. Olha, eu não sei.
Porque é o seguinte: muitas vezes, a gente conhece muitos companheiros da gente
bebem e não procuram o tratamento e nem ouvem a gente. E nem se tratam. Eu
acho que muita gente que eu conheço,eu acho que tem muita gente também que não
tem aggim um contato, um contato com o outro. Não procuram a comunidade... Não
procura... Está muito isolado. É. Não consegue. Existe muita gente lá que eu tenho
certeza que não tem assim aquela cabeça para vim no CAPS porque não entende".
(Bem-te-vi,52 anos)
Dessa forma, é possível entender que a motivação corresponde no CAPSad à
abundância de influência do alcoolista para efetuar mudança na situação do alcoolismo e na
própria vida pessoal. Isto envolve e requer o reconhecimento de alguma necessidade ou
problema ou seja, a admissão do problema com o consumo do álcool. Tal reconhecimento
leva imediatamente à aceitação da mudança de hábito do "beber problema" e estabelece um
jtiodo de responsabilidade especifico do CAPSad (local em que e o grupo terapêutico
alcoolista participa, por exemplo, das oficinas terapêuticas e dos "passeios".) frente ao
atendimento aos dependentes de álcool e drogas diferentes.
Semanalmente, conforme provam os relatos das entrevistas, os indivíduos do grupo de
alcoolistas do CAPSad de Dourados-MS, se reúnem para compartilham sentim.n...,
esperanças, desesperanças e pensamentos ou experiências pessoais, conforme pode-se
observar em algumas opiniões de um entrevistado em relação aos encontros;
É aquilo que eu... eu sempre digo: é exatamente é onde eu posso me fortalecer (...)
E realmente aquilo tudo que eu falo aqui dentro e levado a sério (...)Porque eu vejo
que eu não estou sozinho".(Marcos,43 anos).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que a história humana está associada ao consumo do álcool e nas diferentes
épocas e sociedades os homens utilizaram as bebidas alcoólicas, quer com fins terapêuticos
ou, pior, simplesmente uma droga. Nesse sentido, a política da redução de danos do
Ministério da Saúde (MS), compreende a importância de diminuir o consumo diante dos
inúmeros problemas sociais que o consumo do álcool desencadeia se for continuo e
desenfreado. Por isso, se faz necessários que os profissionais tenham permanente incentivo
em capacitação, cursos de extensão, especialização para todos trabalhadores da saúde mental.
Portanto pretende atuar na promoção, prevenção e tratamento do alcoolismo e acompanhar a
evolução das políticas públicas nacionais de drogas, para reduzir enormes perdas e prejuízos
dos usuários e cofres públicos.
Referente ao conceito de alcoolismo, percebeu-se que não é consensual, embora
comumente carregue a noção de uma patologia progressiva e incurável, porém tratável, além
de ser incompatível com o sistema psicofisiológico humano, altera o estado mental,
comportamental e emocional do alcoolista, e capaz de assumir um papel destmtivo se não
consumido de forma adequada.
A enorme variedade dos tratamentos para o alcoolismo e de outras substâncias
psicoativas decorre da evolução conceituai, por ser a etiologia da dependência
^ultidimensional. Desse modo. o trabalho ainda disserta a respeito de modelos de tratamento
laicos Pois nâo há uma única metodologia de tratamento perfeita e efetiva para todos os
Jgpendentes químicos. Existem vários modelos de tratamento que podem abrir as portas ao
desafio de contribuir para a recuperação de alcoolistas.
Com efeito, o oferecimento das metodologias de tratamento específicas e apropriadas
consegue melhorar visivelmente os resultados. Um aspecto essencial é que existe correlação
83
entre motivação e gravidade da doença, posto que os CAPSad de Dourados definiram quanto
ao consumo, à dependência, à personalidade, à força interior, à compreensão do grupo, entre
outros. Não são poucos os que afirmaram a liberdade de expressão, de carrega suas baterias
e de não estar sozinhos.
Portanto, muitas coisas influenciam a motivação à freqüência dos alcoolistas no
CAPSad de Dourados-MS para se conseguir adotar um único padrão desejável de
comportamento. Deve-se, então, considerar e estudar a motivação enquanto conjunto de
fatores: a atuação dos profissionais do CAPSad (médico, assistente social, terapeuta
ocupacional, pedagogo e psicólogo, dentre outros), o próprio dependente químico, a qualidade
da relação entre o profissional e o alcoolista, o grupo de alcoolistas, a prescrição, a
organização, os ambientes físicos e psicológicos do serviço,o ambiente extemo.
Ainda ressaltamos que na ÜI Conferência Nacional de Saúde Mental, foram
aprovados' a reorganização do modelo assistencial de atenção aos alcoolistas dependentes
químicos de outras drogas e propostas de tratamento para as políticas públicas municipais.
Atualmente a redução de danos é a abordagem preventiva oficial para a prevenção e ao
tratamento de usuários de álcool e outras drogas.
Dessa forma, os resultados alcançados pelo CAPSad são detemunados, em parte, pelos
fatores mencionados do processo de tratamento, características dos problemas e interação
entre os fatores. Por outro lado, o alcoolismo continua "camuflado" no especo social sob o
^anto do socialmente aceitável, com a venda permitida do álcool indiscriminadamente
(.^tggrante do processo cultural humano).
Assim, este trabalho traz conhecimentos e, por isso, aproxima o leitor da experiência
ixiotivacional dos alcoolistas do CAPSad Dourados. A metodologia proposta pelo Ministério
da Saúde prevê o tratamento, amenizando ou ainda reduzindo danos, para o alcoolista viver de
forma melhor consigo mesmo e com as pessoas da sua rede social, seja familiares, amigos.
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entre motivação e gravidade da doença, posto que os CAPSad de Dourados definiram quanto
ao consumo, à dependência, à personalidade, à força interior, à compreensão do grupo, entre
outros. Não são poucos os que afirmaram a liberdade de expressão, de carrega suas baterias
e de não estar sozinhos.
Portanto, muitas coisas influenciam a motivação à fi-eqüência dos alcoolistas no
CAPSad de Dourados-MS para se conseguir adotar um único padrão desejável de
comportamento. Deve-se, então, considerar e estudar a motivação enquanto conjunto de
fatores: a atuação dos profissionais do CAPSad (médico, assistente social, terapeuta
ocupacional, pedagogo e psicólogo, dentre outros), o próprio dependente químico, a qualidade
da relação entre o profissional e o alcoolista, o gmpo de alcoolistas, a prescrição, a
organização, os ambientes físicos e psicológicos do serviço, o ambiente externo.
Ainda ressaltamos que na in Conferência Nacional de Saúde Mental, foram
aprovados* a reorganização do modelo assistencial de atenção aos alcoolistas dependentes
uímicos de outras drogas e propostas de tratamento para as políticas públicas municipais.
Atualmente a redução de danos é a abordagem preventiva oficial para a prevenção e ao
tratamento de usuários de álcool e outras drogas.
Dessa forma, os resultados alcançados pelo CAPSad são determinados, em parte, pelos
fatores mencionados do processo de tratamento, características dos problemas e interação
entre os fatores. Por outro lado, o alcoolismo continua "camuflado" no especo social sob o
manto do socialmente aceitável, com a venda permitida do álcool indiscriminadamente
^ tegrante do processo cultural humano).
Assim, este trabalho traz conhecimentos e, por isso, aproxima o leitor da experiência
niotivacional dos alcoolistas do CAPSad Dourados. A metodologia proposta pelo Ministério
da Saúde prevê o tratamento, amenizando ou ainda reduzindo danos, para o alcoolista viver de
forma melhor consigo mesmo e com as pessoas da sua rede social, seja familiares, amigos.
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empregador, entre outros, e a política de Saúde Mental, vai neste sentido, possibilitando a
redução das internações por motivos de alcoolismo em Hospitais Psiquiátricos do MS.
Outro fator a ser considerado entre os usuários alcoolistas, é a disposição de espírito
de participar no CAPSad, no qual exige esforço, energia, tempo e talvez dinheiro. Quando a
decisão sobre esse assunto é expressa por um alcoolista, este se sente motivado a pedir ajuda,
opinião e, principalmente, a atenção na acolhida que lhe é oferecida neste espaço de saúde
pública, em particular no CAPSad de Dourados.
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Carta de Aprovação
A minfta assinatura neste documento, atesta que o protocoCo n" 696 do
(Pesquisador WaCmir <Bar6osa da SiCva intitulado "As motivações para afreqüência do
usuário no grupo de aCcooRsta do CAPSad de (Dourados" e o seu termo de
Consentimento Livro e t^cCarecido, foram revisados por este comitê e aprovados em
reunião Ordinária no dia 3 de aSriCde 2006, encontrando-se de acordo com as resoCuções
normativas tCo3Hinistério<CíSaúdè.
fPf^f OdÍit^inenteClM.^t^
çoOrSnãdó^ Conritê dkética em (Pesquisa da VTMS
Cojngo Çrande,4 de aôriCde 2006.
Comitê de É6ca da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
http://www.DropD.ufms.br/bioetica/ceo/
[email protected]
fone 0XX67 345-7187