199 PITHECIIDAE Chiropotes albinasus Cuxiú-da-cara

Transcrição

199 PITHECIIDAE Chiropotes albinasus Cuxiú-da-cara
199
PITHECIIDAE
Chiropotes albinasus
Pithecia irrorata
ATELIDAE
Alouatta nigerrima
Ateles chamek
CARNIVORA
CANIDAE
Atelocynus microtis
Cerdocyon thous
Speothos venaticus
PROCYONIDAE
Nasua nasua
Potos flavus
Procyon cancrivorus
MUSTELIDAE
Eira barbara
Galictis vittata
FELIDAE
Leopardus pardalis
Leopardus wiedii
Leopardus tigrinus
Cuxiú-da-carabranca
Parauacu
E
EN
I
I
I
E
LC
I
I
I
Guariba-preta
E
LC
I
D&
I
D&
I
Coatá-da-carapreta
E
EN
Cachorro-domato
Raposa
Cachorro-domato-vinagre
E
NT
I
I
I
E
E
LC
NT
I
I
I
I
I
I
Quati
Jupará
Guaxinim
E
E
E
LC
LC
LC
I
I
I
I
I
I
I
I
I
Irara
E
LC
I
I
D&
I
Furão
LC
E
E
E
LC
NT
VU
I
I
I
I
I
I
Panthera onca
Puma concolor
Puma yagouaroundi
Jaguatirica
Gato-maracajá
Gato-do-matopintado
Onça-pintada
Onça-vermelha
Gato-mourisco
VU
VU
E
NT
LC
LC
I
I
I
I
I
I
I
I
I
PERISSODACTYLA
TAPIRIDAE
Tapirus terrestris
Anta
E
VU
I
D&
I
I
Caititu
E
LC
E
NT
D&
I
D&
I
I
Queixada
D&
I
D&
I
Veado-vermelho
E
DD
D&
D&
D&
ARTIODACTYLA
TAYASSUIDAE
Pecari tajacu
Tayassu pecari
CERVIDAE
Mazama americana
I
200
Mazama nemorivaga
RODENTIA
ERETHIZONTIDAE
Coendou prehensilis
CUNICULIDAE
Cuniculus paca
DASYPROCTIDAE
Dasyprocta leporina
Veado-branco
E
LC
I
I
I
I
I
I
Coendu
E
LC
I
I
I
Paca
E
LC
I
I
I
Cotia-vermelha
E
LC
D&
I
D&
I
D&
I
Até o momento, não existem registros de espécies endêmicas e migratórias
de mamíferos de médio e grande porte nas glebas Mamuru e Arapiuns. No entanto,
foram registradas quatro espécies exóticas de mamíferos, Sus scrofa (porcodoméstico), Bos sp. (boi-doméstico), Canis familiaris (cachorro-doméstico), Equs
asinus (burro-doméstico) e Felis catus (gato-doméstico). Estas espécies são criadas
livremente pela população humana local, porém indivíduos pertencentes as três
primeiras espécies foram encontradas frequentando no interior da floresta de terra
firme e suas redondezas, durante a coleta de dados. A criação doméstica livre em
ambiente
natural
pode
ocasionar
competição
por
recursos
alimentares,
principalmente entre os ungulados nativos, artiodátilos (veados e porcos) e
perissodátilos (anta).
Outro grupo de espécies que podemos destacar na região das glebas seria o
das espécies de interesse para a atividade de turismo ecológico ou ecoturísmo. O
grupo alvo desta pesquisa, ou seja, as 41 espécies de mamíferos de médio e grande
porte podem ser consideradas importantes para o desenvolvimento da região, desde
que realizado sob monitoramento de especialistas, seguindo normas ambientais e o
plano de manejo da unidade de conservação, caso essa região demonstre possuir
vocação para tal. Desta forma, sugerimos o ecoturísmo como medida alternativa de
renda para a população humana local, em virtude das precárias condições
constatadas por nossa equipe durante as entrevistas.
Com relação às três áreas pesquisadas, Área 2 (Comunidade Jaratuba) foi a
que apresentou maior número de espécies de mamíferos de médio e grande porte
registrados de forma direta (11 avistamentos), seguido pela Área 1 (Comunidade
201
Vista Bela, 08 avist.) e Área 3 (Comunidade Cataueré, 09 avist.). Apenas a área 2
teve a observação direta de T. terrestris (anta), espécie vulnerável a extinção (IUCN
2009). Entretanto, as áreas 1 e 2 tiveram avistamentos de T. pecari (queixada),
espécie considerada quase ameaçada. Provavelmente, o sucesso de avistamentos
de espécies tenha se dado devido ao grau de conservação da floresta e a distância
entre os pontos amostrados em relação à localização da população humana.
Outra forma interessante de análise poderia ser a freqüência de registros de
rastros por ponto de coleta. A procura por rastros, principalmente pegadas, foi
potencializada em alguns locais propícios para o seu registro, tais como, areais,
barreiras e nas proximidades de poças ou pequenos cursos d’água. Como locais
com estas características variaram muito, tanto em quantidade quanto em tamanho,
entre os três pontos de coleta, o que poderá ocasionar viés de amostragem, optouse em utilizar essa informação apenas nas análises comparativas com o número de
animais avistados.
Considerações finais
Inventariar a mastofauna de médio e grande porte é uma tarefa bastante
árdua. Levantamento populacional sistemático e assistemático com procura ativa de
animais e vestígios, uso de câmeras fotográficas, estações de captura de vestígios e
entrevistas a população humana local, são os métodos mais comuns utilizados em
pesquisas de campo com um período curto de duração. O emprego de um único
método de coleta geralmente subestima a riqueza de espécies. Neste inventário,
foram utilizados dois métodos simples, de baixo custo, e que envolvem número
reduzido de participantes da equipe técnica.
FERRARI et al (1999) sugeriu que o esforço mínimo empregado por área de
amostragem seja superior a 50 km, e que seja realizado em duas campanhas, uma
na estação chuvosa e outra na seca. Durante a expedição de inventário nas glebas
Mamuru-Arapiuns, foram percorridos 43,5 km nos três pontos de coleta, esforço
inferior ao proposto pelos autores citados. Como o objetivo principal desta pesquisa
era fornecer informações básicas sobre a riqueza e composição de espécies, tais
objetivos foram alcançados e os resultados foram satisfatórios, em virtude da
202
utilização conjunta de procura ativa por mamíferos, por vestígios e entrevistas junto à
população humana local.
O conjunto da fauna inventariada apresentou-se constituído por seis ordens,
18 famílias, 41 gêneros e 39 espécies. Entre as espécies encontras na área de
estudo, quatro são consideradas vulneráveis, segundo listagem oficial de espécies
ameaçadas do Pará (SEMA 2007), Myrmecophaga tridactyla (tamanduá-bandeira),
Priodontes maximus (tatu-canastra), Panthera onca (onça-pintada) e Puma concolor
(onça-vermelha), e três em listagem internacional (IUCN 2009) tanto na categoria
“vulnerável”, P. maximus (tatu-canastra) e Tapirus terrestris (anta), quanto na
categoria “em perigo de extinção”, Chiropotes albinasus (cuxiú-da-cara-branca).
Merecendo também destaque M. tridactyla (tamanduá-bandeira), Atelocynus microtis
(cachorro-do-mato), Speothos venaticus (cachorro-do-mato-vinagre), Leopardus
wiedii (gato-maracajá), P. onca (onça-pintada) e Tayassu pecari (queixada), pois as
referidas espécies encontram-se na categoria “quase ameaçada” (IUCN 2009).
A ocorrência expressiva da fauna de mamíferos de médio e grande porte e a
existência de elementos de interesse para a conservação regional agregam à região
relevante valor natural. No entanto, a extração seletiva de madeira, a criação
doméstica, a atividade de caça de subsistência, e até mesmo a para fins
econômicos, comprometem a integridade da floresta e a manutenção dos recursos
naturais para as gerações futuras. Desta forma, levando em consideração o exposto
acima, a região de estudo possui vocação para criação de unidades de conservação
de uso sustentável, nas categorias Reserva Extrativista (RESEX) ou Reserva de
Fauna (RESFA).
Neste contexto, recomendamos para as glebas em questão programa de
monitoramento da fauna silvestre cinegética, da atividade de caça empregada pela
população humana local, como também, da criação doméstica de suínos, bovinos e
eqüinos. Sugerimos também programa de educação ambiental, além de novas
expedições científicas à região de estudo, para conhecimento de outros pontos de
amostragem e dos mesmos pontos atendidos neste estudo, mas no período
chuvoso.
203
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210
ANEXOS (MAMÍFEROS TERRESTRES)
Anexo H - 1. Listagem dos espécimes coletados na expedição de inventário de
mamíferos terrestres no interflúvio Mamuru-Arapiuns e seus respectivos números de
tombo após serem depositados no acervo da Coleção Científica de Mastozoologia do
Museu Paraense Emílio Goeldi.
DIDELPHIMORPHIA
Marmosa murina: MPEG 41030.
PILOSA
Dasypus kappleri: MPEG 41036; Dasypus novemcinctus: MPEG 41050 a 41063,
41073, 41075, 41076 e 41096; Priodontes maximus: MPEG 41042.
PRIMATES
Alouatta nigerrima: MEPG 41092.
CARNIVORA
Leopardus pardalis: MPEG 41038 e 41078; Leopardus wiedii: MPEG 41093;
Panthera onca: MPEG 41077.
PERISSODACTYLA
Tapirus terrestris: MPEG 41074.
ARTIODACTYLA
Pecari tajacu: MPEG 41052, 41058, 41064, 41065, 41068, 41069, 41085 e 41095;
Tayassu pecari: MPEG 41031, 41033, 41035, 41037, 41040, 41044, 41045 a 41049,
41053 a 41057, 41059 a 41061, 41066, 41067, 41070 a 41072 e 41094; Sus scrofa
domestica: MPEG 41034; Mazama americana: MPEG 41043, 41079 a 41084, 41086
a 41095.
RODENTIA
Neacomys sp.: MPEG 41028 e 41029; Cuniculus paca: MPEG 41032 e 41039;
Dasyprocta leporina: MPEG; Lonchothrix emiliae: MPEG 41041.
211
Anexo H - 2. Vista parcial de um dos areais comumente encontrado na estrada
principal da Área 2.
Anexo H - 3. Vista parcial de um local de passagem de Tayassu pecari (queixada) na
estrada principal da Área 2.
212
Anexo H - 4. Fezes de Panthera onca (onça-pintada) na estrada principal da Área 2.
Anexo H - 5. Rastro de Tapirus terestris (anta) na estrada principal da Área 2.
213
Anexo H - 6. Pesquisadora entrevistando morador local acompanhado por seus filhos
e netos na Área 1.
Anexo H - 7. Técnico triando os exemplares doados pela população local durante as
entrevistas nos três pontos de coleta.
214
Anexo H - 8. Dois filhotes de Pecari tajacu (cateto) criados juntos com os animais
domésticos.
Anexo H - 9. Um indivíduo adulto de Dasypus novemcinctus (tatu-preto) avistado
durante o levantamento de mamíferos de médio e grande porte no período noturno
na Área 2.
215
Anexo H - 10. Vista dorsal (a cima) e ventral (a baixo) da pata anterior esquerda de
uma fêmea adulta de Panthera onca (onça-pintada) doada pela população local na
Área 1.
216
QUIROPTEROFAUNA DA REGIÃO DO INTERFLÚVIO MAMURU-ARAPIUNS
Dr. Luís Reginaldo Ribeiro Rodrigues; [email protected];
Eloiza Soares Araujo (graduanda Biologia); Universidade Federal do Oeste do
Pará (UFOPA); eloí[email protected]
Introdução
A Ordem Chiroptera é a segunda maior ordem da classe Mammalia, com
mais de 1.000 espécies em duas subordens: Megachiroptera (com uma família,
Pteropodidae) e Microchiroptera (com 17 famílias). A quiropterofauna da região
Neotropical é representada por nove famílias, 82 gêneros e mais de 280
espécies.
No Brasil, a ordem corresponde a 40% da diversidade total de
mamíferos, com aproximadamente 64 gêneros e 167 espécies (REIS et al,
2007). Estima-se que a mastofauna amazônica apresenta mais de 311
espécies, sendo representadas principalmente por morcegos e roedores
(SILVA et al, 2001).
Os morcegos são diversos e abundantes e desempenham inúmeros
papéis na regulação dos ecossistemas tropicais, pois sua notável diversidade
de adaptações morfológicas e hábitos alimentares lhes permite a utilização dos
mais variados nichos, em complexa relação de interdependência com o meio
(MIRETZKI, 2003). A ecologia alimentar de morcegos provê informações
extremamente úteis para o entendimento dos mecanismos de partilha de
recursos que regulam as relações tróficas, e que são responsáveis pela alta
diversidade deste grupo nas regiões tropicais (PASSOS et al, 2003). À medida
que partilham os recursos, em especial os alimentares, os quirópteros
influenciam a dinâmica dos ecossistemas naturais, agindo como dispersores de
sementes, polinizadores e reguladores de populações animais. Além disso,
este grupo pode ser útil como indicador de alteração no ambiente, na
identificação dos processos biológicos envolvidos na perda ou transformação
do habitat natural (BIANCONI et al 2004).
Nos trópicos, os morcegos que se alimentam de frutas e néctar
desempenham um papel vital na sobrevivência das florestas pluviais. Ao
comerem as frutas, os morcegos espalham suas sementes, à medida que
217
voam e fazem a digestão. Os morcegos que se alimentam de néctar polinizam
muitas plantas de valor nutritivo ou econômico. Muitas plantas que produzem
frutos de importância na agricultura, como caju, figo, banana, manga e outras,
dependem dos morcegos para polinização e dispersão de suas sementes. A
dispersão
de
sementes
por
morcegos
frugívoros
contribui
para
o
estabelecimento de muitas espécies de plantas pioneiras, auxiliando os
mecanismos de regeneração e sucessão secundária em áreas tropicais
(PASSOS et a,. 2003).
Base de informação
A área de estudo, conjunto de glebas região Mamuru-Arapiuns, situa-se
na ecoregião do interflúvio Madeira-Tapajós. De acordo com os resultados do
Seminário Consulta Macapá 1999, o interflúvio Madeira-Tapajós concentra
áreas de extrema importância para o estudo e conservação da biodiversidade
(CAPOBIANCO et al, 2001). Esta região é considerada uma das áreas de mais
alta diversidade de espécies de mamíferos do Neotrópico, apresentando alguns
endemismos, especialmente de primatas (HERSHKOVITZ, 1977; VIVO, 1988,
1991; MITTERMEIER et al, 1992; SILVA JÚNIOR & NORONHA, 1998;
ROOSMALEN et al, 2000, 2002).
Com relação ao conhecimento da diversidade de quirópteros, a região
do interflúvio Madeira-Tapajós ainda permanece pouco explorada. Uma
compilação da lista de espécies com provável ocorrência na área de estudo foi
obtida a partir das obras de EISENBERG & REDFORD (1999) e EMMONS &
FEER (1999) (Anexo I - 1).
Esforço de amostragem para o grupo e adequação dos métodos de coleta
As coletas de morcegos foram realizadas com o uso de redes de
neblina, tamanho 10 x 2.5m, instaladas ao nível do solo, de modo a interceptar
possíveis rotas de vôo dos animais. Esporadicamente, uma rede era suspensa
até uma altura de cerca de 15m, e uma coleta ocasional em abrigo também foi
efetuada. O uso de redes de neblina é um método consagrado em estudos de
levantamento da quiropterofauna, porém, é importante destacar que esta
metodologia favorece a amostragem de morcegos da família Phyllostomidae,
218
principalmente quando instaladas no estrato do sub-bosque (Voss & Emmons,
1998; Sampaio et al, 2003). Morcegos insetívoros das famílias Vespertilionidae
e Molossidae normalmente forrageiam nos estratos mais altos da floresta ou
acima do dossel, dificultando ou impossibilitando sua captura em redes ao nível
do solo. Como a família Phyllostomidae representa o grupo mais diversificado
da quiropterofauna neotropical, o método utilizado deve registrar um grande
número de espécies em pouco tempo, o que é desejável num estudo de
levantamento rápido.
O estudo foi conduzido em três áreas ao longo do Rio Mamuru. O
esforço de coleta não pôde ser padronizado entre as áreas em virtude de
problemas de natureza logística, principalmente com relação ao transporte e
acesso aos pontos de coleta, e pelos diferentes níveis de antropização dos
pontos selecionados. Na área 3 (estrada da Petrobrás), por onde se iniciou o
levantamento, foi empregado um esforço amostral de 346 redeXhoras,
resultando em 56 capturas. Na área 2, empregou-se 208 redeXhoras que
resultou em 19 capturas, e na área 1 o esforço foi de 102 redeXhoras,
resultando em 11 capturas, totalizando um esforço amostral de 656 redeXhoras
e 86 capturas representativas de 17 espécies.
Composição e riqueza de espécies por localidade e tipo de ambiente
Os morcegos representam o grupo mais abundante e diversificado de
mamíferos nas florestas neotropicais (VOSS & EMMONS, 1996; MARINHOFILHO & SAZIMA, 1998). Os fatores que determinam a composição da
quiropterofauna
de
um
determinado
local
ainda
são
pobremente
compreendidos. Entretanto, sabe-se que fatores históricos de colonização e
fatores locais, como a disponibilidade de alimentos e abrigos, a competição por
estes recursos e o grau de alteração do habitat são importantes elementos que
influenciam a riqueza local (MEDELLIN et al, 2000; BERNARD et al, 2001).
No presente estudo, foram registradas 17 espécies de morcegos
representativas de duas famílias: Phyllostomidae e Emballonuridae (Tabela I 1). Como esperado, a Família Phyllostomidae possui maior representatividade
numérica (n=85, 16 espécies). Dentro deste grupo, foram registradas espécies
219
das subfamílias Phyllostominae, Carolliinae e Stenodermatinae. A espécie
Carollia perspicillata apresentou absoluta dominância com 47.67% dos
registros, seguida por Artibeus obscurus com 8,14% (Figura I - 1). Estas
espécies foram as únicas registradas regularmente nas três áreas amostrais. A
espécie Rhynchonycteris naso foi o único embalonurídeo registrado.
Na amostra obtida, podemos verificar representantes de várias guildas
alimentares,
tais
como
os
frugívoros
(subfamílias
Carollinae
e
Stenodermatinae), insetívoros aéreos (R. naso, Macrophyllum macrophyllum),
insetívoros
de
folhagem
(Tonatia
saurophila,
Glyphonycteris
daviesi),
carnívoros (Trachops cirrhosus) e onívoros (Phyllostomus discolor).
As áreas 2 e 3 foram as que apresentaram maior riqueza, com dez e
doze espécies respectivamente. Embora este resultado esteja associado ao
maior esforço amostral empregado nestas duas áreas, é interessante destacar
que a composição de espécies variou significativamente entre elas. Na área 2,
vemos uma predominância de espécies da subfamília Phyllostominae,
enquanto na área 3 predominam os morcegos stenodermatíneos (Tabela I - 2).
Esta variação pode ser mais bem explicada por diferença na estrutura
vegetacional entre as duas áreas. Na área 3, os morcegos foram coletados em
três diferentes habitats: mata primária alterada, mata secundária próximo à
margem do rio e área peridomiciliar. Todavia, a maioria dos registros foi obtida
na mata secundária. Vários estudos têm demonstrado que espécies de
morcegos
frugívoros
generalistas
das
subfamílias
Stenodermatinae
e
Carolliinae tendem a elevar seus níveis de abundancia em reposta à alteração
ambiental. Alguns autores sugerem que A. lituratus e C. perspicillata possuem
uma maior eficiência na adaptação aos processos de fragmentação e/ou
modificação do hábitat (BROSSET
ET AL,
1996; ESTRADA & COATES-
ESTRADA, 2002). Por isso, estas espécies são freqüentemente encontradas
em elevada abundancia em áreas alteradas (MULLER & REIS, 1992;
MIRETZKI & MARGARIDO, 1999, PEDRO
ET AL,
2001). Uma possível
explicação para a abundância dessas espécies em ambientes alterados pode
estar relacionada com sua capacidade de utilizar vários estratos da vegetação,
beneficiando-se das diversas oportunidades ecológicas disponíveis nos
220
ambientes modificados pelo homem (ESTRADA & COATES-ESTRADA, 2002;
BIANCONI ET AL, 2004).
Figura I - 1: Abundância relativa das espécies de morcegos da região do Rio
Mamuru, Pará, no mês de setembro de 2009.
O fato da área 2 ser mais rica em filostomíneos também esta
correlacionado com a estrutura da vegetação. Nesta localidade o ponto de
coleta ficou situado numa área de mata primária alta, localizada a cerca de
10km da margem do rio. A presença de várias espécies da subfamília
Phyllostominae nesta área pode ser considerada um indicador de integridade
ambiental, pois este grupo exige complexas interações ecológicas com outros
animais e plantas, sendo por isso sensível à perturbação do hábitat
(MEDELLIN et al, 2000). Por outro lado, a degradação ambiental provocada
pela extração de madeira foi claramente percebida nesta localidade (Figura I 2). Portanto, o mesmo resultado poderia ser interpretado como indicativo de
uma parcela da fauna remanescente da comunidade original pré-alteração.
Muitos estudos têm demonstrado que as comunidades de morcegos
221
neotropicais são fortemente afetadas por alterações do habitat e um resultado
comum disso é a perda de espécies raras e/ou especializadas e o aumento da
abundância de algumas espécies generalistas (FENTON, et al, 1992;
SIMMONS & VOSS, 1998; MEDELLIN et al, 2000; SAMPAIO, et al, 2003;
WILLIG et al, 2007).
222
Tabela I - 1: Lista das espécies de morcegos com os respectivos valores de abundância e ocorrência registrados na área do rio
Mamuru-Arapiuns.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Taxon
Família Phyllostomidae
Subfamília Phyllostominae
Macrophylum macrophylum
Phyllostomus discolor
Phyllostomus elongatus
Trachops cirrhosus
Tonatia saurophila
Glyphonycteris daviesi
Trinycteris nicefori
Subfamília Carolliinae
Carollia perspicillata
Rhinophylla pumilio
Subfamília Stenodermatinae
Artibeus lituratus
Artibeus obscurus
Artibeus gnomus
Sturnira lilium
Sturnira tilde
Uroderma magnirostrum
Vampyressa bidens
Família Emballonuridae
Rynchonycteris naso
Totais
macho
femea
n
Ab. Rel.(%)
A1
A2
A3
2
1
4
1
0
1
0
4
0
1
0
1
0
1
6
1
5
1
1
1
1
6,98
1,16
5,81
1,16
1,16
1,16
1,16
-
+
+
+
+
+
+
+
+
-
18
2
23
4
41
6
47,67
6,98
+
-
+
+
+
+
4
1
3
0
0
0
1
2
6
0
2
1
2
0
6
7
3
2
1
2
1
6,98
8,14
3,49
2,33
1,16
2,33
1,16
+
+
-
+
+
+
+
+
+
+
+
+
-
1
0
1
1,16
-
-
+
39
47
86
100,00
223
Figura I - 2: Clareira em mata primária da Área 2, evidência da retirada de
madeira.
Distribuição das espécies de interesse para conservação
A legislação brasileira inclui cinco espécies de morcegos na lista
vermelha de espécies ameaçadas: Lonchophylla bokermanni, Lonchophylla
dekeyseri, Platyrrhinus recifinus, Lasiurus ebenus, Myotis ruber (MMA, 2003).
Estas espécies não ocorrem no bioma Amazônia.
Embora ainda não existam dados sistematizados, muitos pesquisadores
concordam que há um declínio nas populações de algumas espécies de
morcegos, e que a inclusão de cinco espécies na lista vermelha é uma
subestimativa que pode ser interpretada como conseqüência do pouco
conhecimento disponível sobre a quiropterofauna brasileira (REIS et al, 2007).
Das espécies encontradas na região do Rio Mamuru (Tabela I - 1),
destacam-se Glyphonycteris daviesi e Vampyressa bidens como prioritárias
para conservação na área. Glyphonycteris daviesi somente tem sido capturada
em habitats de floresta úmida madura em altitudes de 0-500m (Figura I - 3) e
224
pouco se conhece da sua historia natural e papel ecológico (GARDNER, 2007).
Vampyressa bidens tem distribuição restrita ao bioma Amazônia (Figura I - 4),
onde foi registrada em diferentes habitats de florestas primárias, matas
secundárias, clareiras e cerrado amazônico. Da mesma forma pouco se
conhece sobre a história natural desta espécie, que consta na lista IUCN
(2006) como quase ameaçada de extinção.
Figura I - 3. Distribuição de Glyphonycteris daviesi. Os pontos indicam
localidades marginais (Gardner, 2007)
Figura I - 4: Distribuição de Vampyressa bidens. Os pontos indicam localidades
marginais (Gardner, 2007)
225
Indicação de espécies prioritárias para monitoramento
Dentre as espécies que foram registradas na área de estudo podemos
destacar C. perspicillata e A. obscurus e/ou A. lituratus como prioritárias para
futuros programas de monitoramento ambiental na área. Tais espécies são
naturalmente abundantes nas comunidades locais de quirópteros, são de fácil
identificação taxonômica e sensíveis à perturbação ambiental, o que pode ser
medido monitorando-se os níveis de abundância. Espécies do gênero
Glyphonycteris e Trinycteris também devem ser monitoradas, pois seu declínio
poderá evidenciar o aumento do nível de degradação ambiental e/ou processos
de extinção local.
Nível de amostragem por ambiente e por localidade
No presente estudo foram amostradas três localidades e três tipos de
ambientes: mata primária alterada, mata secundária e área peridomiciliar.
Empregou-se um esforço total de 656 rede.horas que resultou em 86 capturas
representativas de 17 espécies e duas famílias.
No estado do Pará estima-se a ocorrência de 116 espécies, enquanto
que, no Amazonas estima-se 109 espécies (Erica M. Sampaio, Com. Pess. In
MARTINS et al, 2006). Os resultados obtidos na região do Rio Mamuru, no
presente estudo, representam uma fração da quiropterofauna local, por isso,
entendemos que o nível de amostragem obtido ainda não é satisfatório para
uma análise profunda da comunidade de quirópteros desta região. Podemos
sugerir, com base na experiência profissional da equipe e com apoio da
literatura pertinente que devem ocorrer na área de estudo muitas espécies de
morcegos que não foram registradas neste levantamento.
Localidades e ambientes prioritários para novos estudos
A área 2, ambiente de mata primária alterada deve ser priorizada para
novos estudos. Nesta área a floresta é dominada por árvores altas que formam
uma copa elevada e vários estratos abaixo do dossel. Embora tenhamos
detectado indícios evidentes de degradação ambiental pela retirada de
madeira, foi neste sítio que registramos o maior número de morcegos
filostomíneos, cuja presença indica ambientes em bom estado de conservação.
226
Suficiência da informação existente, expectativas e recomendações de estudo
O baixo número de espécies registrado poderia ser interpretado
inicialmente como conseqüência da natureza do trabalho (levantamento rápido)
ou do esforço amostral empregado. Para efeito de comparação, em
levantamentos rápidos em quatro localidades do Amapá, menores esforços
foram aplicados resultando em maiores números de riqueza (MARTINS et al,
2006). Porém, naquele mesmo estudo, observou-se que a localidade Reserva
de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru (RDSI), que recebeu o
segundo maior esforço (438.5 rede.horas) resultou no menor número de
capturas (121) e de espécies (19). Este resultado que foi explicado pelo efeito
da sazonalidade (via regime de chuvas), visto que o levantamento na RDSI
ocorreu no final de novembro, coincidindo com o período seco. Da mesma
forma, os resultados obtidos na região do Rio Mamuru podem ter sido
influenciados pelo período das coletas, que ocorreram no final de setembro
(período seco). Vale ressaltar que grande extensão das margens do Rio
Mamuru é ocupada por fazendas de criação de gado e, durante a expedição,
testemunhamos vários focos de queimadas com produção de fumaça que, por
vezes, encobria a margem do rio ou pairava sobre as águas no final da tarde.
Também não descartamos a influência do ciclo lunar, pois a fase de lua cheia
ocorreu durante as noites de coleta.
Recomenda-se a replicação do estudo durante a próxima estação
chuvosa. Espera-se com isso o aumento do número de espécies registradas na
área, o que possibilitará maior clareza sobre a composição da quiropterofauna
local e dos impactos provocados pela alteração ambiental na região MamuruArapiuns. Os dados adicionais também serão úteis para a melhor definição das
estratégias de uso, manejo e conservação da biodiversidade local, incluindo-se
aqui a possível escolha de uma área destinada para constituir uma unidade de
conservação.
227
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230
Anexo I - I
Lista de espécies de morcegos cuja ocorrência é prevista para a área de
estudo na região dos rios Mamuru-Arapiuns, baseada em (Emmons & Feer,
1997; Eisenberg & Redford, 1999).
Família
Emballonuridae
Gênero
Rhynchonycteris
Saccopteryx
Cormura
Peropteryx
Centronycteris
Diclidurus
Noctilionidae
Noctilio
Phyllostomidae
Micronycteris
Glyphonycteris
Trinycteris*
Lonchorrhina
Macrophyllum
Tonatia
Lophostoma
Phyllostomidae
Mimon
Phyllostomus
Phylloderma
Trachops
Glossophaga
Lionycteris
Espécie
R. naso
S. bilineata
S. canescens
S. gymnura
S. leptura
C. brevirostris
P. leucoptera
P. macrotis
C. maximiliani
D. albus
D. scutatus
N. albiventris
N. leporinus
M. brachyotis
M. megalotis
M. minuta
M. schmidtorum
G. sylvestris
G. daviesi
T. nicefori
L. aurita
M. macrophyllum
T. saurophila
L. brasiliense
L. silvicolum
M. crenulatum
P. discolor
P. elongatus
P. hastatus
P. latifolius
P. stenops
T. cirrhosus
G. soricina
L. spurrelli
Confirmado
+
+
+
+
+
+
+
+
+
-
231
Lonchophylla
Choeroniscus
Carollia
Rhinophylla
Sturnira
Uroderma
Platyrrhinus
Vampyrodes
Vampyressa
Chiroderma
Mesophylla
Artibeus
Phyllostomidae
Artibeus
Furipteridae
Thyropteridae
Ametrida
Desmodus
Diaemus
Furipterus
Thyroptera
Vespertilionidae
Myotis
Eptesicus
Rhogeessa
L. thomasi
C. intermedius
C. minor
C. brevicauda
C. perspicillata
C. castanea
R. fischerae
R. pumilio
S. lilium
S. tildae
U. bilobatum
U. magnirostrum
P. helleri
V. caracccioli
V. bidens
C. trinitatum
C. villosum
M. macconnelli
A. andersoni
A. cinereus
A. concolor
A. glaucus
A. gnomus
A. lituratus
A. planirostris
A. obscurus
A. fimbriatus
A. centurio
D. rotundus
D. youngi
F. horrens
T. discifera
T. tricolor
M. albescens
M. nigricans
M. riparius
M. simus
E. brasiliensis
E. furinalis
R. tumida
+
+
+
+
+
+
+
+
-
232
Lasiurus
Molossidae
Molossops
Nyctinomops
Molossidae
Eumops
Eumops
Molossus
L. boreales
L. ega
M. abrasus
M. mattogrossensis
M. planirostris
M. temminckii
N. aurispinosus
N. laticaudatus
N. macrotis
E. auripendulus
E. bonariensis
E. glaucinus
E. perotis
M. ater
M. molossus
-
233
Anexo I - 2
Fotos de morcegos da região do rio Mamuru-Arapiuns
Carollia perspicillata
Artibeus gnomus
Rhynchonycteris naso
Glyphonycteris daviesi
234
Trinycteris nicefori
Macrophyllum macrophyllum
Sturnira lilium
234
MAMIFEROS AQUÁTICOS DO RIO MAMURU
António Miguel Borregana Miguéis, Ph.D; Universidade Federal do Oeste do
Pará (UFOPA); [email protected];
Raidel Reis dos Santos, Biólogo
Introdução
Das cinco espécies de mamíferos aquáticos Sotalia fluviatilis (tucuxi),
Inia geoffrensis (boto rosa), Lontra longicaudis (lontra), Pteronura brasiliensis
(ariranha) e Trichechus inunguis (peixe-boi da Amazônia) que ocorrem na bacia
Amazônica, uma destas espécies é considerada pela IUCN (2009) como
“ameaçada de extinção (ariranha), outra como “vulnerável à extinção” (peixeboi) e três como “insuficientemente conhecidas” (boto, lontra e tucuxi). Na
região deste estudo, no Rio Mamuru, não existem quaisquer informações
científicas sobre o atual estado de conservação das populações dessas
espécies, bem como sobre o seu uso para o comércio, sustento e/ou
subsistência pelos moradores locais.
Peixe Boi da Amazônia
Atualmente considerado vulnerável à extinção em conseqüência da caça
indiscriminada para a comercialização de seu couro e carne (ROSAS, 1994), o
peixe boi foi outrora muito abundante em toda a bacia Amazônica sendo então
possível
avistar
grupos
com
numerosos
indivíduos
em
épocas
de
acasalamento (NUNES PEREIRA, 1944). Dados revelam que na região do
Mamuru, há 20 anos atrás, era comum a prática de caça intensiva de todos
estes animais para comercialização de suas peles para o exterior (MIGUÉIS,
com. pess.). Hoje, são protegidos por três instrumentos da legislação brasileira.
No entanto, ainda existe uma pressão de caça ao longo de toda sua
distribuição, principalmente direcionada para subsistência. Uma das maiores
dificuldades no estudo e monitoramento destes animais é precisamente a sua
observação. Dadas as suas característica tímidas, é praticamente impossível
detectar quando e onde o animal irá boiar, daí que se torna difícil a obtenção
de informações sobre sua biologia, demografia e estado de conservação, tendo
235
que se recorrer a entrevistas de ribeirinhos ou comunitários de modo a obter
informações sobre estes animais.
Ariranha e Lontra
Tal como o peixe boi, também as ariranhas e lontras foram alvo de caça
desmedida e sua pele exportada para a confecção de diversos produtos de alta
costura em vários países (CARTER & ROSAS, 1997).
Dado o seu comportamento tímido e dificuldade de observação, são
raros os estudos efetuados sobre a biologia e acompanhamento destes
animais, fato pelo qual a IUCN atribui o status de conservação como
“insuficientemente conhecidas”. Em relação à presença destes animais na
região do Rio Mamuru não existem estudos sobre a área.
Boto e Tucuxi
Entre as espécies de mamíferos aquáticos encontrados nos rios
Amazônicos, estão as duas únicas espécies de cetáceos de água doce, o botorosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis). Estas duas espécies
encontram-se no topo da cadeia alimentar e estão entre os maiores predadores
nos sistemas aquáticos da bacia Amazônica. Por serem hábeis no meio
aquático, conseguem explorar diversos habitats e possuem uma dieta
diversificada que inclui mais de 68 espécies de peixes. Dessa forma, atuam
como reguladoras das populações de peixes, mantendo-as em equilíbrio,
podendo ser consideradas indicadores visíveis da densidade de peixes (JUNK
& DA SILVA, 1999). Por ser possível a sua observação durante o ano inteiro,
estas duas espécies de mamíferos aquáticos estão sendo acompanhadas e
monitoradas com o fim de avaliar a fidelidade de habitat na reserva Biológica
do Rio Trombetas (MIGUÉIS, no prelo).
Materiais e Métodos
Áreas de Estudo
Os pontos de coleta da expedição encontram-se distribuídos na área da
Gleba Nova Olinda II, no interflúvio Mamuru-Arapiuns, oeste do Pará. A área da
236
gleba divide-se entre os municípios de Juruti e Aveiro e os sítios de estudo
apresentam as seguintes coordenadas:
- BASE 1 (Juruti): Vista Bela (03º07’00.0’’S – 56º35’06.7’’O);
- BASE 2 (Juruti): Jaratuba (03º11’32.6’’S – 56º34’51.4’’O)
- BASE 3 (Aveiro): Estrada da Petrobrás, Cataueré (03º24’30.4’’S –
56º24’16.5’’O).
Periodo da Expedição
A expedição teve duração 15 dias (19 de setembro a 05 de outubro de
2009). As coletas foram iniciadas na Base 3 e finalizadas na Base 1.O tempo
efetivo de coleta de campo foi de 12 dias assim distribuídos:
- BASE 3 (Estrada da Petrobrás): 22 a 26 de setembro de 2009
- BASE 2 (Jaratuba): 27 a 29 de setembro de 2009
- BASE 1 (Vista Bela): 30 de setembro a 03 de outubro de 2009
Coleta de Dados
Os dados coletados referentes a todos os mamíferos aquáticos foram
realizados a partir de saídas de voadeira e/ou barco rabeta ao redor dos pontos
atrás referidos. No total, foram realizadas 18 saídas de campo. O número de
saídas foi definido em função de restrições de tempo, condições climáticas e
logísticas, bem como para manter uma estimativa confiável. Em geral, estipulase que um número amostral de 13 a 14 saídas de campo seja o mínimo para
se obter um esforço amostral para garantir uma amostragem representativa de
cada população e deste modo dispor de estimativas acuradas para trabalho de
manejo.
Peixe-Boi da Amazônia
Para o levantamento da presença destes animais, foram efetuadas
entrevistas informais com diversos ribeirinhos e caçadores, de modo a
conhecer melhor a área de estudo, bem como a posição geográfica do habitat
dos animais. A partir das entrevistas, foram realizadas varias saídas em um
bote rabeta com motor Honda 5.5 HP e, por vezes, quando necessário, numa
237
canoa de madeira sem motor aos locais indicados pelos entrevistados, de
modo a comprovar a ocorrência desses animais.
Ariranha e Lontra
A partir das entrevistas, foram realizadas varias saídas em canoa de
madeira aos locais indicados pelos entrevistados de modo a comprovar a
observação e existência desses animais. Além desse esforço de observação,
foram também realizadas outras saídas para inspeção de igapós e barrancos
de terra firme para localização de tocas, paragens, abrigos e outros vestígios,
como pegadas e presença de fezes de ariranhas e/ou lontras, bem como coleta
de fezes. Quando os relatos dos ribeirinhos indicavam que certo local tinha tido
a presença recente desses animais, o local era monitorado durante o inicio da
manhã e final da tarde de modo a surpreender os animais durante as suas
atividades diurnas.
Boto e Tucuxi
Para o levantamento destes animais, foram realizadas diversas saídas
de campo em voadeira de 5m de comprimento, com motor Suzuki 15 HP,
quando as condições climáticas eram favoráveis (quando não chovia forte, ou
quando as ondas do rio não ultrapassavam mais de 15 cm). Os dados foram
obtidos utilizando o método de coleta Ad. Libitum (ALTMANN,1974). Foram
realizados deslocamentos em direção sul e norte do rio, aleatoriamente, até
que se encontrassem animais. Em um caderno de campo registrava-se data,
horários de observação, posição gps dos animais, condições do vento e do rio
para navegação. Registrava-se também a reação dos animais à embarcação,
grau de coesão do grupo (quando mais de um individuo) e seu comportamento.
Resultados
O trabalho de campo foi concluído no tempo previsto para este estudo
(13 dias), tendo sido registrados avistamentos diretos no ambiente natural de
peixe boi, lontras, botos e tucuxis. Não foi possível avistar ariranhas. No total, o
238
esforço de observação foi igual a 97 horas e 17 minutos (Tabela J - 1), tendo
sido percorrida grande parte da região aquática em torno das áreas de estudo.
Foram igualmente efetuadas diversas incursões por terra, adentro na mata,
junto com as equipes de amostragem de aves e aranhas, para recolher
informações sobre a existência de lontras e/ou ariranhas em igarapés isolados
no meio da floresta. Para ajudar na busca de animais como peixe boi, ariranhas
e lontras foram efetuadas ao todo 12 entrevistas (Área 1=5: Área 2=4 e
Área3=3) junto de ribeirinhos e moradores comunitários locais. Todas as
pessoas entrevistadas eram conhecedoras e caçadoras de todos os animais
em estudo e todas elas confirmaram a presença e abundancia local dessas
espécies durante todo o ano.
Tabela J - 1. Esforço de observação e coleta total de dados entre dos dias
22/09/2009 e 3/10/2009. (Legenda: IN ESF OBS= Inicio esforço de observação,
FM ESF OBS = Fim de esforço de observação, TP OBS Dia =Tempo de
observação diário)
DATA
IN ESF OBS
FM ESF OBS
22/9/2009
23/9/2009
23/9/2009
24/9/2009
24/9/2009
25/9/2009
25/9/2009
26/9/2009
26/9/2009
27/9/2009
27/9/2009
28/9/2009
28/9/2009
29/9/2009
29/9/2009
30/9/2009
1/10/2009
2/10/2009
3/10/2009
TOTAL
18:41
07:40
14:34
09:12
15:28
08:01
17:05
05:00
14:30
07:38
16:27
07:00
16:30
05:00
10:00
06:00
06:00
06:30
05:30
19:00
12:30
18:40
12:55
19:46
12:02
18:45
13:00
19:00
12:30
19:30
16:00
19:31
06:00
19:38
10:00
19:30
19:01
07:45
TP OBS Dia
00:19
04:50
04:06
03:43
04:18
04:01
01:40
08:00
04:30
04:52
03:03
09:00
03:01
01:00
09:38
04:00
13:30
12:31
02:15
98 h 17 m
239
Peixe-Boi da Amazônia
Em geral, todos os entrevistados referiram que os animais aparecem em
bandos de 2 a 3 animais. No entanto, por vezes aparecem em bandos de 10
indivíduos, quando em época de cheia. Ainda de acordo com os entrevistados,
foi possível verificar que o peixe-boi é ainda utilizado como recurso alimentar
pela maioria das populações ribeirinhas e indígenas visitadas, principalmente
para subsistência. Um dos entrevistados na Área 1 (Figura J - 1) referiu que há
20 anos a caça era intensa e que existiam muitos caçadores de peixe-boi. Essa
caça era tão farta que favorecia tanto a subsistência bem como a venda em
mercados dos centros urbanos mais próximos.
Figura J - 1. O líder da equipe do grupo de mamíferos aquáticos realizando
entrevistas a diversos caçadores e ribeirinhos.
Durante a investigação dos locais mais propícios à observação de peixeboi, tivemos a ocasião de registrar a ocorrência de dois indivíduos nas Áreas 1
e 2 (Tabela J - 2).
240
Ariranhas e Lontras
As entrevistas com os ribeirinhos e caçadores demonstraram que todas
as áreas são bastante propicias para a ocorrência destas duas espécies.
Todos, em geral, referiram que é possível avistar bandos de 5 a 6 lontras. Já os
bandos de ariranhas referiram ser mais difíceis de observar. Porém, também
referiram ocorrer em todas as áreas de estudo. Por outro lado, de acordo com
as entrevistas realizadas, a lontra utiliza uma maior diversidade de habitats,
ocorrendo também em igapós e regiões de várzea. Revelaram que, no
passado, havia uma atividade de caça muito grande, especialmente de
ariranha, não para subsistência, dado que sua carne, além de ter o cheiro forte
(vulgarmente chamado pelos ribeirinhos de “pitiú”), não é comestível. Por isso,
a carne é descartada e apenas o couro é utilizado para venda.
Um fato importante a referir é acerca da interação destes animais com
as pescarias. Em 75% das entrevistas, foi relatado que animais morrem nas
redes de pesca por emalhamento. Em um mês, na Área 1, aproximadamente
10 mustelídeos ficam emalhados em redes de pesca. No decorrer da
expedição, foi registrada a presença de variadas pegadas de lontras num
barranco próximo a margem do rio na Área 3, e duas lontras na Área 2, uma
com focinho verde e outra com focinho meio amarelado (Figura J - 2). Não
foram observadas ariranhas durante todo o período de estudo.
Figura J - 2. Pegada de Lontra em zona de barranco na Área 3.
241
Boto e Tucuxi
As entrevistas com os ribeirinhos apontam as três áreas de estudo como
áreas de grande incidência e ocorrência de ambas as espécies de cetáceos
durante todo o ano. Todos eles se referiram a conflitos advindos das interações
desses animais com as pescarias e pode-se confirmar a morte acidental de um
cetáceo por emalhamento in loco durante o período da expedição, na Área 2.
Esse animal era uma fêmea tucuxi de 1,53m de comprimento e foi morta por
asfixia quando emalhada durante a madrugada do dia 26/09/2009, numa rede
monofilamento 36, destinada a pescar o peixe filhote (Figura J - 3).
Figura J - 3. À esquerda, o líder da equipa, com a pesquisadora Nancy Lo,
coletando amostras do tucuxi morto por emalhamento, foto à direita.
Já na Área 1, uma fêmea do gênero Inia, de 1,64 m de comprimento,
acompanhada de sua cria recém-nascida, de cerca 60 cm de comprimento, foi
morta intencionalmente, à facada de acordo com o relato do próprio matador e
seu patrão (Figura J - 4).
242
Figura J - 4. Líder da equipa (à esquerda), guia de campo (no meio)
falando com o matador de boto (à direita) junto ao Inia geoffrensis (boto
rosa) morto com duas facadas.
Segundo os relatos dos entrevistados as mortes intencionais de botos
são bastante comuns em todas as três áreas de estudo. Cerca de 40% dos
entrevistados referiu que, por vezes, matam botos para extrair sua banha, seus
órgãos sexuais e visuais (os olhos do boto) para fins afrodisíacos pessoais. De
acordo com os entrevistados, o modo como fazem a extração da banha é a
seguinte: após cercarem o animal na água, este é emalhado e trazido para
terra. Uma vez em terra, com o auxílio de uma faca matam o animal golpeando
o corpo do animal por baixo de cada nadadeira ventral. Em pouco mais de um
minuto, o animal morre. De imediato, retiram todo o couro, que cortam em
pedaços pequenos e colocam tudo numa panela, junto com água no fogo até
ferver. Lentamente, dizem, a água vai secando e, por fim, fica só a banha e o
couro na panela. Finalmente, a banha é inserida dentro de garrafas de
capacidade de 1 litro (Figura J - 5) sendo estas depois levadas para os centros
urbanos (Parintins-AM, Juruti-PA, Santarém-PA, Belém-PA e Manaus-AM),
onde são vendidas por valores entre R$20,00 a R$25,00 por garrafa (ou litro).
243
Os entrevistados referiram ainda que a banha serve como medicamento
tradicional, sendo usada freqüentemente como purgante (vermífero) e bastante
usada para curar o “mal de ponta”, uma doença causada por uma larva que se
instala dentro do chifre do gado e que gradualmente vai destruindo o seu
interior. O modo de uso nos animais infestados é colocar a banha na boca ou
no nariz do animal que está doente. Revelaram que serve também como
preventivo e cura para as gripes humanas, tendo o doente apenas de tomar
uma colher de café de banha todos os dias de manhã.
Figura J - 5. Garrafa de um litro de banha de boto confeccionada
pelo matador do boto na Área 1.
Durante o estudo, podemos avistar vários cetáceos em todas as áreas,
que se apresentavam solitários ou em grupos (Tabela J - 2). O tamanho de
grupo mais freqüente, tanto de boto (n=13 avistagens), quanto de tucuxi (n=3
avistagens), foi de um indivíduo (n=8; n=0), seguido por grupos de três (n=2;
n=0) e de dois indivíduos (n=1; n=0), respectivamente. Grupos com cinco ou
mais indivíduos foram bastante raros (n=1) para ambas espécies.
244
Tabela J - 2. Esforço de coleta de observação e informações diárias sobre os
mamíferos aquáticos nas áreas de estudo.
Data
Hora
Inicio
22/9/200
9
23/9/200
9
23/9/200
9
23/9/200
9
23/9/200
9
23/9/200
9
24/9/200
9
24/9/200
9
24/9/200
9
24/9/200
9
25/9/200
9
25/9/200
9
25/9/200
9
25/9/200
9
28/9/200
9
29/9/200
9
29/9/200
9
29/9/200
9
2/10/200
9
3/10/200
9
18:42
08:07
09:11
10:20
16:43
18:10
09:13
10:02
12:14
19:26
08:30
10:32
11:14
18:36
16:32
05:05
10:32
12:30
18:02
06:20
Hor
a
fim
18:5
0
08:1
4
09:2
1
10:3
2
16:5
2
18:2
7
09:2
1
10:2
2
12:4
1
19:3
4
08:4
1
10:4
5
11:4
5
18:4
2
17:1
5
06:0
0
10:3
5
13:3
0
18:3
2
06:3
5
Área
Local
POSIÇÃO GPS
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
3
03
2
03
2
03
2
03
2
03
1
03
1
03
Grau, Min., Seg.
54.
05
24
0
6
24
26.
05
22
8
6
24
12.
05
20
1
6
24
58.
05
25
6
6
24
29.
05
20
0
6
24
55.
05
23
8
6
24
50.
05
24
4
6
24
27.
05
26
3
6
25
00.
05
26
0
6
24
15.
05
20
8
6
26
25.
05
19
5
6
26
30.
05
19
1
6
27
47.
05
20
6
6
24
48.
05
24
5
6
11
32.
05
34
6
6
11
32.
05
34
6
6
13
16.
05
34
2
6
16
15.
05
34
6
6
07
00.
05
35
0
6
08
03.
05
34
3
6
24
13.
5
53.
5
20.
8
56.
4
17.
2
48.
1
22.
6
50.
1
02.
8
08.
3
02.
1
03.
5
41.
5
22.
0
51.
4
51.
4
37.
4
35.
1
06.
7
07.
3
Espécie
n
Rio
Inia geoffrensis
2
Rio
Inia geoffrensis
1
Rio
Inia geoffrensis
3
Lago
Inia geoffrensis
4
Rio
Inia geoffrensis
1
Rio
Inia geoffrensis
1
Rio
Inia geoffrensis
1
Ressaca
Inia geoffrensis
3
Ressaca
Inia geoffrensis
7
Rio
Inia geoffrensis
1
Rio
Inia geoffrensis
2
Rio
Trichechus inunguis
1
Ressaca
Lontra longicaudis
1
Rio
Inia geoffrensis
1
Rio
Sotalia fluviatilis
12
Rio
Inia geoffrensis
1
Rio
Sotalia fluviatilis
3
Rio
Lontra longicaudis
2
Rio
Sotalia fluviatilis
4
Cabeceira
Trichechus inunguis
1
Discussão
Os dados obtidos a partir deste trabalho confirmam parcialmente os
dados provenientes das entrevistas efetuadas. Com a exceção de ariranhas,
foram avistados peixe boi, lontras, botos e tucuxis. Neste sentido, dos dados
obtidos das amostragens, e das entrevistas efetuadas, pode-se considerar que
o local deva ser de extrema importância para futuros estudos de ecologia e
conservação de espécies de mamíferos aquáticos.
Durante esta expedição, toda a área amostrada no rio Mamuru revelou
ter altíssimo potencial para estudos biológicos e ecológicos de mamíferos
aquáticos. Já há vários anos, que a voz de diferentes autores relatava a
245
necessidade de se criarem áreas protegidas juntamente com programas de
conscientização e educação ambiental, com o apoio do amazônida como uma
solução para a conservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia
(AYRES & BEST, 1979; ROSAS et al,1991). Neste sentido, a criação de uma
Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) no Rio Mamuru, utilizando os
conhecimentos dos moradores da região e integrando com os trabalhos de
pesquisa e conservação, não somente garantiria a conservação das espécies,
como também poderia proporcionar melhoria da qualidade de vida destes
moradores, que no caso dos mamíferos aquáticos, poderão utilizar como se
disse atrás como recurso potencial turístico.
Referências bibliográficas
ALTMANN, J. 1974. Observational study of behavior: sampling methods.
Behavior 49:227-267.
AYRES, J.M.; BEST, R. 1979. Estratégias para a conservação da fauna
amazônica. Acta Amazonica, supl. 9(4): 81-110.
IUCN 2009. IUCN Red List of Threatened Animals. IUCN, Gland, Switzerland
http://www.iucnredlist.org/
JUNK, W. J.; DA SILVA, V. M. F. 1999. Mammals, reptiles and amphibians. In:
Junk, W.J. (ed). The Central Amazon Floodplain. Ecology of a Pulsing
System. Springer Ecological Studies Vol. 126, p. 409-417.
NUNES-PEREIRA, 1944. O peixe-boi da Amazônia. Boletim do Ministério da
Agricultura, Rio de Janeiro, 33(5):21-95.
ROSAS, F.C.W. 1994. Biology, Conservation and Status of the Amazonian
Manatee Trichechus inunguis. Mammal Review, 24 (2): 49-59.
ROSAS, F.C.W.; Colares, E.P.; Colares, I.G.; da Silva, V.M.F. 1991 Mamíferos
Aquáticos da Amazônia Brasileira. In: A.L. Val; R. Figliuolo & E. Feldberg
(Eds).
Bases
Científicas
para
Estratégias
de
Preservação
e
Desenvolvimento da Amazônia: Fatos e Perspectivas, Vol.I. Inpa.
Manaus. p. 405-411.
246
5. Considerações finais
Além da extraordinária importância sócio-econômica, a região do
interflúvio Mamuru-Arapiuns é de grande interesse científico no tocante à
biodiversidade.
Uma
prova
dessa
afirmativa,
anterior
ao
presente
DIAGNÓSTICO, diz respeito à indicação de duas áreas situadas naquele
interflúvio como de extremamente alta importância biológica e prioridade de
ação, no mais recente relatório sobre “áreas prioritárias para conservação, uso
sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade brasileira” (áreas AM
185 Cachoeira do Aruã, e AM 189 Aruã; MMA, 2007). Os dados levantados
neste DIAGNÓSTICO, ainda que preliminares, corroboram essa expectativa.
Embora os números de espécies sejam ainda baixos (Tabela 1), as estimativas
de diversidade obtidas para alguns grupos taxonômicos projetam valores
consideravelmente elevados. Mesmo a riqueza observada de espécies de
vespas sociais é excepcionalmente alta (61 espécies !), considerados os
parcos dez dias efetivos de campo. Em nenhum outro local da Amazônia
encontrou-se número tão elevado de espécies, em tão pouco tempo.
Como indicadores da importância faunística da região, podemos ainda
destacar: registros de pelo menos dois aracnídeos de interesse médico, o
escorpião preto Tityus paraensis Kraepelin, 1896 e a aranha armadeira
Phoneutria reidyi; algumas espécies de dípteros vetores de malária e
leishmaniose; espécies de peixes da família Lebiasinidae, de interesse
comercial para fins ornamentais, com destaque para o gênero Nannostomus,
conhecido vulgarmente como peixe-lápis. Também merece destaque a espécie
Carnegiella strigata (Gasteropelecidae), com registro de dois indivíduos em
igarapé da Área 3 (região do Rio Cataueré). Ainda entre os peixes, o gênero
Hyphessobrycon
(Characidae)
merece
indicação
de
prioridade
para
monitoramento. Este gênero está inserido na normativa Nº5 do Ministério do
Meio Ambiente (2004), com 3 espécies consideradas criticamente em perigo
nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Dentre a fauna
herpetológica, Scinax rostratus foi registrado pela primeira vez no território
brasileiro. Vários registros foram feitos de espécies de aves endêmicas e/ou
sob algum grau de ameaça, bem como de mamíferos.
247
É necessário reafirmar a necessidade de um esforço adicional
considerável de estudos de campo para melhor conhecer a fauna do Rio
Mamuru. Para os táxons de vertebrados, por exemplo, a partir do exame da
Tabela 1, fica evidente a deficiência das coletas, especialmente para morcegos
e pequenos mamíferos não voadores, bem como peixes, aves e serpentes.
Uma recomendação geral a fazer aqui, portanto, é de que novos e mais
prolongados estudos sejam feitos na região, com a necessária urgência, para
aumentar o conhecimento da biodiversidade, conhecer os efeitos estacionais
sobre a fauna e acompanhar as flutuações de populações de espécies-alvo,
especialmente aquelas sob ameaça, com restrição de distribuição, ou sob
pressão específica de caça pelas populações humanas.
Tabela 1. Números comparativos da fauna de vertebrados no Rio Mamuru e
algumas outras localidades amazônicas (retirados de George et al, 1988;
CNEC, 2005; MPEG/LEME, 2009; MPEG, 2005).
MAMURU
PARNA
Amazonia
MAMÍFEROS
2
17
9
10
3
2
12
1
4
58
6
37
12
10
1
15
2
13
1
4
101
97
11
38
18
10
1
23
15
1
5
122
AVES
168
387
376
575
PEIXES
79
325
275
18 (6)
18
52
43
102 (65)
58
TAXON
MARSUPIAIS
MORCEGOS
PRIMATAS
EDENTADOS
LAGOMORFO
ROEDORES
CETÁCEOS
CARNÍVOROS
PERISSODÁCTILO
S
ARTIODÁCTILOS
RÉPTEIS
(SERPENTES)
ANFIBIOS
JURUTI
Alcoa
CARAJAS
248
6. Referências bibliográficas
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