Criciúma Orgulho de Cidade - Câmara Municipal de Criciúma

Transcrição

Criciúma Orgulho de Cidade - Câmara Municipal de Criciúma
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO
CRICIÚMA,
ORGULHO
DE
CIDADE!
Fragmentos da
História de seus 120 Anos
2000
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 1
Fernanda, Felipe e Vittor
(e para aqueles que, certamente, ainda virão).
Se o avô não contasse,
certamente vocês não tomariam
conhecimento de passagens tão significativas
da vida deste orgulho de cidade.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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Prefácio
Este livro foi concebido no momento em que o desafio de radiofonizar fatos,
gente e casos da História dos 120 anos de Criciúma, foi aceito.
Era junho de 1999 e a proposta me fora feita pelo diretor da Rádio
Eldorado, meu amigo, colega de comunicação e de Academia, José Adelor
Lessa.
No primeiro momento imaginei que escrever aquele capítulo diário, de três
a quatro minutos, de segunda à sexta-feira, todas as semanas, até o dia 6 de
janeiro de 2000, não fosse tão difícil. Só depois do primeiro mês é que senti
o tamanho da empreitada.
Ação!
Já nos primeiros programetes, a satisfação do ouvinte e a correção –
bendita seja a correção! – de algum texto, ora uma data, ora um nome, às
vezes uma omissão. Foi ótimo! Assim, imediatamente fui corrigindo cada
texto a ponto de, é bem provável, podermos tomar tudo quanto aqui está
reproduzido como de quase absoluta fidelidade. Ela só não é cem por cento
afirmada, haja vista que – e por que não? – às vezes a minha fantasia me
logra.
Este livro começa na página em que é aberto.
Dividi seu conteúdo em capítulos nos quais agrupei, mais ou menos, o tema:
assim, qualquer assunto ligado aos colonizadores está no capítulo da
Colonização; aqueles da administração pública, no do Município; os
estrambóticos, as biografias, cada um no seu capítulo e assim por diante. É
evidente que não deu para esgotar a temática. Isto, todavia, estimula o
prezado leitor a dar uma buscada no seu complemento.
O texto reproduz, exatamente, o que foi radiofonizado, tanto na abertura
quanto no fechamento; inclusive com a data em que foi ao ar.
A única mudança, relativamente ao trabalho do Rádio, é que a ordem
cronológica não foi respeitada. O agrupamento de assuntos assemelhados
em capítulos diversos não permitiu aquela seqüência.
Gratificou-me a atenção que foi dispensada pelos ouvintes da Eldorado o
que foi sobejamente comprovado através de manifestações de tantas pessoas
conhecidas e de desconhecidas que, não importando lugar ou circunstância,
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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abordavam aquilo que havia sido dito hoje, ontem, anteontem ou no mês
passado. Incrível!
Preciso fazer um registro: deixei para o final do trabalho radiofônico a
referência a pessoas que, no meu entendimento, merecem ser mencionadas
quando o assunto for a nossa História.
Só que fui traído pelo próprio tempo.
Falei de alguns; deixei de falar de tantos.
Não me reportei, por exemplo, aos ex-prefeitos Altair Guidi, José Augusto
Hülse e Eduardo Pinho Moreira, personagens tão importantes do nosso
Município.
E, no momento da constatação, a conclusão de que me obrigo a escrever o
Volume II desta publicação, para contemplá-los (e a tantos que,
lamentavelmente, não enriquecem esta edição).
Este, posso afirmar, é um livro que foi escrito em pílulas: a cada dia uma
dose. E, assim, foi montado.
O entusiasmo que sempre me enche de vigor na feitura de um livro é
imensurável nesta obra, pois – tenho certeza – temos aqui um texto que será
lido, discutido e pesquisado na sala de aula.
E então, com a responsabilidade de quem sabe que será lido por estudantes,
o autor passa a sentir-se, ele também, parte integrante dos 120 anos de
História de Criciúma, este Orgulho de Cidade!
O autor.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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Apresentação
A chegada dos imigrantes, as disputas políticas, a era do carvão, o avanço
da cerâmica, o futebol, as conquistas e o cotidiano de um povo
empreendedor.
Estas são algumas das marcas da história de desbravamento, de luta, e
aposta numa terra que se tornou um dos principais centros de Santa
Catarina.
Foram estes fatos que aguçaram a idéia de contar os 120 anos de
colonização de Criciúma.
A idéia virou realidade.
A empreitada e a ousadia de contar acontecimentos, desvendando as nossas
raízes e o nosso dia-a-dia até a porta do próximo milênio, ficaram por conta
do jornalista Archimedes Naspolini Filho. Para vencer tal desafio ninguém
melhor do que o Archimedes.
Respaldado por sua larga experiência e conhecimento no estudo e, até
mesmo como personagem desta história, ele conseguiu narrar e reunir o que
existe de mais importante e curioso na nossa trajetória.
O resultado do esforço da parceria com a Rádio Eldorado, que há 51 anos
também faz e conta história, está aqui: um arquivo que nos permite, ao
mesmo tempo, entender a vida dos homens que fizeram Criciúma e reviver
as suas aventuras e empreendimentos.
Este livro, certamente, vai servir para pesquisa de professores, estudantes,
historiadores e para os criciumenses mais apaixonados pela certeza de que
os 120 anos são apenas o começo de um sonho chamado Criciúma, este
Orgulho de Cidade!
José Adelor Lessa
Diretor da Rádio Eldorado
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 5
SUMÁRIO
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
O PROJETO RADIOFÔNICO
I – A COLONIZAÇÃO
OS DESSBRAVADORES – I
OS DESBRAVADORES – II
AS LINHAS
UM VEXAME
ÍNDIO MATA COLONO
ATAFONAS
AS MÓS
OS POLACOS
CRESCIUMA OU CRICIÚMA?
II – O MUNICÍPIO
A INSTALAÇÃO
BRIGA PELOS LIMITES
ENCHENTE
POSTURAS PRIMITIVAS
O ORÇAMENTO
TAXAS DE CEMITÉRIO
PLANO DIRETOR
OLARIA
BRASÃO E BANDEIRA
O HINO E O CORAL
E O LIXO?
HOSPITAL SÃO JOSÉ
HOSPITAL SANTA CATARINA
NOVA VENEZA
IÇARA
RIO MAINA EMANCIPADO?
OS PASSOS DO PAÇO
PAVIMENTAÇÃO
O SEMÁFORO
III – A IGREJA
IGREJA, AONDE CONSTRUIR?
CAPELA DA VILA DE SÃO JOSÉ
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 6
O SINO DO CORONEL PEDRO
OS PROTESTANTES
BENZER CASAS
LUTERANOS? DO LADO DE FORA – I
LUTERANOS? DO LADO DE FORA – II
UM MAGNO CONGRESSO
IV – O CARVÃO E O TREM
E DESCOBRIU-SE O CARVÃO
AS MINAS
CONTRATO DO CARVÃO
MORREU SOB O CARRO DE BOIS
A PRÓSPERA
A ESTRADA DE FERRO
O TREM DAS SEIS
A MARION
V – A POLÍTICA
A PRIMEIRA ELEIÇÃO
MESAS ELEITORAIS
DO GOLPE ÀS FIGUEIRAS
UDENISTA OBEDECE
PLANEJAMENTO
A ELEIÇÃO DE NAPOLEÃO
SEQÜESTRO
MANDATOS CASSADOS
E NÃO EMPOSSARAM O ROMEU
VI – A COMUNICAÇÃO
O TRANSPORTE
O PRIMEIRO CAMINHÃO
PINGUIM PRECURSOR
OS JORNAIS
O AEROPORTO
TELEFONE
ELDORADO, A PIONEIRA
RÁDIO DIFUSORA
TV CLUBE
VII – ESCOLAS
ESCOLAS
ESCOLA DE LINHA ANTA
SCAN
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 7
O COLÉGIO MARISTA
MTM E SÃO BENTO
E A DO COMÉRCIO?
UNESC
VIII – CLUBES, PRAÇAS & CIA.
O SEIS DE JANEIRO
A PRAÇA NEREU
VENDER A PRAÇA?
MAÇONARIA
ROTARY CLUB
ACIC
O TIGRE
UESC
O SINDICATO
IX - ESTRAMBÓTICOS
E O GELO?
SAFADINHO, O PREFEITO
CAVALO CRESCIUMA
OS JAGUNÇOS DO LEONEL – I
OS JAGUNÇOS DO LEONEL – II
DESASTRE AVIATÓRIO
BRNZEDURA
RACISMO
A LADROEIRA DO TIDINHO
OS FOLCLÓRICOS
X – HOMENS E MULHERES
E AS MULHERES?
AS PARTEIRAS
PROFESSORA
SANTA, LENA. ALÉSSIO: BELAS MISSES
FREDERICO MINATTO
ERNESTO, O CORONEL
HENRIQUE LAGE
GABRIEL ARNS
BERRETA& BEDENAGAS: OS MELHORES
DELEGADO CABRA MACHO
FRYDBERG & MENESES
PEDRO BENETON: O CÓSO
BALSINI, SARTORI & PEREZ
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 8
CASTORINO, O DAS LOTERIAS
LUIZ, O PORTUGUÊS
DR. BENEDITO
DE FERREIRO A GOVERNADOR
JUCA BALOD
ADDO: COMO É BOM SER BOM!
O DENTISTA LEANDRO
BOIANOWSKI, MÉDICO DAS CRIANÇAS
DIOMÍCIO, O CAPITÃO
ARLINDO, DO LATIM A PREFEITO
DE SAPATEIRO A EMPRESÁRIO
ZAPPELINI, DO RETRATO
ADAMASTOR, DO TECO-TECO
MANIQUE BARRETO
DE BARATA A PENICILINA – WILSON BARATA, PEDRO GUIDI, JOSÉ
PIMENTEL, ESPERANDINO DAMIANI, JOÃO ZANETTE,
NICOLAU DESTRI NAPOLEÃO,
ZULCEMA PÓVOAS
CARNEIRO, GIÁCOMO SONEGO NETO, ROMEU LOPES DE
CARVALHO.
DE BORBA A BÚRIGO – DONATILA BORBA, LUIZ BORTOLUZZI,
CCÉSAR LODETTI, DONA EMILIA, SINVAL BOHERER, PADRE
ESTANISLAU CISESKI, JOSÉ ROSALINO ZACCARON, WILMAR
PEIXOTO, HONÓRIO BÚRIGO.
DE GORINI A ZANATTA – DR. DINO GORINI, JORGE CECHINEL,
FIDELIS BARATO, SEBASTIÃO NETO CAMPOS, SANTOS
GUGLIELMI, NICO GUGLIELMI, ALCINO ZANATTA, JORGE
ZANATTA, JAYME ANTÔNIO ZANATTA.
XI – E MAIS ISTO
HOTEL
O RINCÃO
A CADEIA
ÁGUA
DE PÃO & PADARIAS
O CAFÉ DE TODO DIA
E A CARNE? – I
E A CARNE? – II
ENERGIA ELÉTRICA
IAPETC
A BANDA
CESACA – VELHA DE GUERRA
NATAL
REVELLION
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 9
XII – ORGULHO DE CIDADE
ORGULHO DE CIDADE!
XIII - BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA
PREFÁCIO
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 10
Este livro foi concebido no momento em que o desafio de radiofonizar fatos,
gente e causos da história dos 120 anos de Criciúma foi aceito. Era junho
de 1999 e a proposta me fora feita pelo diretor da Rádio Eldorado, meu
amigo, colega de comunicação e de Academia José Adelor Lessa.
No primeiro momento imaginei que escrever aquele capítulo diário, de 3 a 4
minutos, de segunda a sexta-feira, todas as semanas, até o dia 06 de janeiro
de 2000, não fosse tão difícil. Só depois do primeiro mês é que senti o
tamanho da empreitada...
Ação!
Já nos primeiros programetes, a satisfação do ouvinte e a correção –
bendita seja a correção – de algum texto: ora uma data, ora um nome, às
vezes uma omissão. Foi ótimo. Assim, imediatamente fui corrigindo cada
texto a ponto de, é bem provável, podermos tomar tudo quanto aqui está
reproduzido como de quase absoluta fidelidade. Ela só não é cem por cento
afirmada haja vista que – e por que não? – às vezes a minha fantasia me
logrou.
Este livro começa na página em que é aberto. Dividi seu conteúdo em
capítulos nos quais agrupei, mais ou menos, o assunto: assim, qualquer
assunto ligado aos colonizadores, está no capítulo da Colonização; aqueles
da administração pública, no do Município; os estrambóticos, as biografias,
cada um no seu capítulo e assim por diante. É evidente que não deu para
esgotar o assunto. Isto, tadavia, estimula o prezado leitor a dar uma
buscada no seu complemento.
O texto reproduz exatamente o que foi radiofonizado, tanto na abertura
quanto no fechamento; inclusive com a data em que foi ao ar. A única
mudança, relativamente ao trabalho do Rádio, é que a ordem cronológica
não foi respeitada. O agrupamento de assuntos assemelhados em capítulos
diversos não permitiu aquela seqüência.
Gratificou-me a atenção que foi dispensada pelos ouvintes da Eldorado o
que foi sobejamente comprovado através de manifestações de tantas pessoas
conhecidas – e de desconhecidas – que, não importando lugar ou
circunstância, abordavam aquilo que havia sido dito hoje ou ontem, ou
antes, de ontem ou no mês passado. Incrível!
Este pode afirmar, é um livro que foi escrito em pílulas: a cada dia, uma
dose. E assim montado. O entusiasmo que sempre me enche de vigor na
feitura de um livro é incomensurável nesta obra, pois, tenho certeza, temos
aqui um texto que será lido, discutido e pesquisado na sala de aula. E, com
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 11
a responsabilidade de quem sabe que será lido por estudantes, o autor
passa a sentir-se, ele também, parte integrante dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
O PROJETO RADIOFÔNICO
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 12
A partir de hoje – e até o dia 06 de janeiro de 2000 – estarei ocupando este
espaço radiofônico para contar alguma coisa relacionada com os 120 anos
de Criciúma. Aspectos de sua colonização, do movimento emancipacionista,
da sua história político-administrativa, dos homens públicos que gerou, do
seu folclore, de sua gente...
A sua potencialidade e o seu papel no contexto sócio-econômico
macrorregional serão aqui abordados ainda que em rápidas pinceladas.
Quero falar dos homens, dos fatos e das coisas que tiveram preponderância
na história destes 120 anos de existência de Criciúma.
Hei de fazer um grande esforço para utilizar uma linguagem bem clara e o
máximo possível resumida, com dois objetivos: fazer-me entender e
valorizar este lapso de tempo dentro da programação Eldorado.
Que todos tiremos proveito e viva os 120 anos de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 1º de julho, quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 13
I
A COLONIZAÇÃO
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 14
OS DESBRAVADORES – I
Festejemos e agradecemos.
Um agradecimento especial aos pioneiros
Giovanni Barbieri, viúvo, e sua filha Serafina;
Lorenzo Benedet, sua esposa Regina e seus filhos Maria, Teresa, Pietro,
Domênico, Antonio e Giuseppe;
Paulo Benedet, viúvo;
Pietro Benedet, sua esposa Apolônia e os filhos Antonia, Luigia, Giovanni,
Caterina, Giovanni e Giaccomo;
Domenico Casagrande e sua esposa Maria;
Demétrio Dario, sua esposa Giovanna e os filhos Augusta, Giustina,
Antonia, Maria, Giuseppe e Giovanni;
Batista Daros, sua esposa Teresa e os filhos Maria, Cecília, Caterina,
Giovanni e Salvatore;
Paulo de Luca, viúvo, e os filhos Alberta, Rosa, Felice, Antonio, Celeste e
Luigi;
Antonio Martinello, sua esposa Pierina e os filhos Emilia e Giovanni;
Antonio Meller, sua esposa Cristina e os filhos Caterina e Teresa;
Santo Meller, sua esposa Maria e os filhos Inocente, Giuseppe e Giovanni;
Andrea Milanese e esposa Antonia Fré;
Giacomo Milanese, esposa Caterina Gobbo e os filhos Maria Antonia,
Augusta Angela, Angela, Maria Teresa, Antonia, Andrea e Antonio;
Giovanni Batta Milanese, sua esposa Giovanna Nadal e os filhos Francesco,
Luigi e Giuseppe;
Martin Milioli, sua esposa Serafina e os filhos Serena, Tranquilo, Casemiro
e Giovanni;
Angelo Netto, sua esposa Antonia e os filhos Maria, Luzzia, Domenico,
Antonio e Giovanni;
Domenico Ortolan, sua esposa Pascoa e os filhos Luzzia e Giovanni;
Antonio Pavan, sua esposa Anna e os filhos Maria e Bortolo;
Andrea Pizzetti, sua esposa Santina e os filhos Rosa e Francesco;
Carlo Piazza, sua mulher Sabina e os filhos Roma, Giuseppe, Luigi,
Amilcare e Ernesto;
Giovanni Pierini, sua esposa Margherita e os filhos Teresa e Stefano;
Giuseppe Scotti, sua esposa Petronilla e o filho Telesforo;
Martin Scotti, sua esposa Maria e os filhos Delfina e Giovanni;
Teresa Sonego, viúva, e os filhos Giacomo e Domenico;
Giovanni Tomé, sua esposa Maria e os filhos Giaccomo e Batista;
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 15
Angelo Venzon, solteiro;
Antonio Zanette, sua esposa Maria e o filho Luiggi;
Giuseppe Zanette, sua esposa Luzzia e o filho Lorenzo;
Batista Zanette, sua esposa Paulina e os filhos Maria, Giovanni e Gabriel.
A estes todos, desbravadores da civilização que resultou nesta terra
abençoada, as homenagens de todos os aqui nascidos ou aqui residentes
certos de que, só podemos comemorar os 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade, porque vocês viveram e vieram. Obrigado
imigrantes da primeira hora! Sem a sua coragem empreendedora, mas
espelhando-nos na tenacidade de cada um de vocês, haveremos de não
deixar a “peteca cair” e de levar esta cidade para o seu merecido lugar no
cenário sócio-econômico de Santa Catarina e do Brasil.
Criciúma dos 120 anos, por teus fundadores, por nós e por ti própria, tu és
um orgulho de cidade!
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Publicado dia 5 de janeiro - quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 16
OS DESBRAVADORES - II
Comemoremos. Dia 06, depois de amanhã, fará 120 anos que um punhado
destemido de italianos, originários no Norte daquele país e na busca do
eldorado americano, deu início a este orgulho de cidade.
Eram 22 troncos familiares, representados por 25 casais, 03 viúvos, 01
viúva, 01 solteiro adulto, 50 crianças do sexo masculino e 36 crianças do
sexo feminino. Ao todo, a colônia era formada por 141 italianos.
Deixaram o Porto de Gênova, no Mediterrâneo, a 11 de novembro de1879
e, depois de “trentasei giorni di machina i vapori” aportavam no Rio de
Janeiro a 16 de dezembro daquele mesmo ano. Imediatamente fizeram a
baldeação para outro “vapor” e agora o seu destino é a Ilha de Desterro, a
nossa Florianópolis aonde chegariam dias mais tarde. Abrigados na
Hospedaria do Imigrante – uma espécie de hotel que recebia gente de todo o
tipo – planejaram a viagem marítima final ao Porto de Imbituba, feita em
veleiro. Mais algumas milhas e desembarcam no ancoradouro da família
Lage.
Conferida a bagagem, embarcam num comboio da Estrada de Ferro Dona
Theresa Christina e seu destino, agora, é Pedras Grandes. Dali, no lombo
de cavalos, em carroças e a pé, rumaram para Urussanga e, dessa, com o
mesmo meio de transporte, por picada mato a dentro, vieram buscar a
Colônia São José de Cresciuma, aonde chegaram no dia dos Reis Magos:
06 de Janeiro do ano da graça de 1880. Faz 120 anos. Festejemos,
criciumenses... E, na festa, façamos uma pequena reflexão sobre os
incomensuráveis sacrifícios vividos por aquelas mulheres, homens e
crianças que, jogados à sorte, neste local onde temos plantada hoje a nossa
cidade, enfrentaram todo tipo de adversidade para construir o nosso futuro.
Pensemos, por exemplo, na saudade que aquela gente sentiu, do seu “modus
vivendi” lá na Europa, do conforto que usufruíam no Velho Mundo, há tanto
tempo civilizado e urbanizado. Pensemos naqueles que, sem sentença
formalizada em juízo, foram condenados a viver no meio do mato,
disputando espaço com aborígines e feras...
Foi assim, há 120 anos...
Cada um de nós temos o compromisso de reacender a chama, todos os dias,
o ano inteiro.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 17
Quando pensarmos em crise, espelhemo-nos nos dias amargos dos nossos
ancestrais que, em última análise, nem tinham alguém para reclamar de
alguma coisa.
Continuemos a construção.
Continuemos a obra daqueles destemidos. Reaqueçamos o desejo deles de
ver a velha Cresciuma como um centro propulsor do progresso de toda a
Região.
Nós temos este compromisso, com os imigrantes, com estes 120 anos de
história, com Criciúma, com este orgulho de cidade!
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Publicado dia 4 de janeiro - terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 18
AS LINHAS
Havia, no centro da cidade, o marco zero que, além de ser o referencial
para a aferição da altitude de qualquer local, era o referencial para
medidas imobiliárias. Para esse mister, servia, também, o próprio leito do
Rio Criciúma. Se observarmos com cuidado a formação dos lotes urbanos
da cidade, constataremos que eles começam, sempre, de frente para o
referido Rio.
Mas, e nas colônias? Como medir as colônias, os alqueires de terra da zona
rural?
Para isso foi tomado o Rio Sangão, de um lado, e Cocal, de outro. Esses
dois referenciais passaram a constituir o ponto de partida para algumas
definições imobiliárias. A Mina do Toco, por exemplo, era a Segunda Linha
Cocal; a Mina Naspolini, era a Terceira Linha Cocal. Já, para o outro lado
da cidade, isto é, para a zona Leste, foram constituídas a Primeira, a
Segunda, a Terceira e Quarta Linhas Sangão. Aquelas, com ponto
referencial de partida, do núcleo Acioly de Vasconcelos, Cocal; estas, com
ponto de partida do leito do Rio Sangão que, à época, era tão piscoso que,
em determinados pontos permitia-se a pesca com redes. Essas Linhas
coloniais e mais o Morro Albino, colonizado um pouco mais tarde, foram
todas adquiridas pelas famílias Benedet, Biff, Bortolin, Bristot, Búrigo,
Buzzanello, Casagrande, Cichella, Dagostin, Dalmolin, Dal-Pont, Dal-Toé,
Darós, De Luca, Feltrin, Ghizzo, Magagnin, Martinello, Mazzuchello,
Pazetto, Pavei, Pierini, Pizzetti, Possamai, Recco, Rosso, Tognon, Vittoretto
e Zanette. Os Accordi, os Benfato, os Bonetto, os Deboit, Frasson
Furlanetto, Giusti, Locatelli, Meller, Milanese, Minotto, Peruchi, Piucco,
Rampinelli, Sartor, Savi Mondo, Serafim, Simoni e Sonego, também seriam
proprietários de lotes ao longo dessas Linhas cujo referencial era o Rio
Sangão.
Assim, tendo de um lado Cocal, do outro o Rio Sangão e, ao centro o Rio
Criciúma, a nossa velha Cresciuma fora toda loteada e desses lotes
nasceriam as comunidades que hoje festejam os 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 20 de dezembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 19
UM VEXAME
Como já foi sobejamente informado, nossos primeiros colonizadores
chegaram aqui em Criciúma no ano da graça de 1880. Atraídos por
propaganda enganosa, venderam seus pertences (os que os possuíam),
embarcaram num navio e, depois de 36 dias de navegação, aportaram no
Brasil. Chegaram a Criciúma a 06 de janeiro e foram tomar conta do que já
houveram adquirido lá na pátria européia. Sim, porque as colônias de
terras adquiridas pelas famílias emigrantes o foram sobre uma planta
genérica de localização de cada lote que lhes fora apresentada lá na Itália.
Pagariam essas terras, em prestações anuais, independente da provável
produção agrícola a que estavam programados.
Em 1903 chegaria a última leva deles, constituída de 50 famílias aqui
largadas pela companhia colonizadora.
As pesquisas indicam que todos os colonizadores foram jogados à sorte e
aqui esquecidos pelas forças administrativas da Nação. Se quisessem
estradas, que as construíssem; se quisessem água, que fossem em busca
dela; se quisessem remédios, que se socorressem das ervas que a mata
atlântica oferecia em abundância; se quisessem notícia de parentes e
amigos distribuídos em outras colônias, que fossem em busca, a cavalo ou a
pé; se quisessem utensílios ou sementes, que fossem até Laguna – a cinco
dias de viagem – para buscá-los...
E isso ocorria não só com os italianos que vieram aqui para o Sul de Santa
Catarina. Não. Também aqueles que foram em busca da riqueza lá no
interior de São Paulo, por exemplo, tiveram a mesma sina; muitos daqueles,
conforme registram livros que narram a história da imigração, retornaram
à Itália na primeira oportunidade que aparecera para fazê-lo.
Então, prezado ouvinte, quando nos reportarmos à saga dos colonizadores,
tenhamos sempre presente esse extremo sacrifício daqueles que nos abriram
o caminho: o desesperador estado de abandono a que foram condenados.
Ah, e se não pagassem – religiosamente – as prestações provenientes da
dívida contraída pela compra de suas terras, o fiscal do governo
encarregado da cobrança ameaçava-lhes de desapropriação sumária, sem
qualquer direito indenizatório. Um vexame...
E este vexame também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade
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Publicado dia 4 de novembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 20
INDIO MATA COLONO
Muito já foi dito sobre a penúria enfrentada pelos nossos antepassados, na
tarefa de colonizar o solo que daria lugar a esta cidade monumental a que
me refiro todos os dias como “um orgulho de cidade”. Já dissemos,
inclusive, que esta terra era habitada por silvícolas, remanescentes de tribos
carijós e animais silvestres que afugentavam o homem. Não faz muito tempo
que ainda eram caçadas, não muito longe daqui, espécimes ferozes como
onças e tigres.
Quero falar, hoje, de um episódio altamente lamentável envolvendo um
índio e um imigrante.
Os Sonego serravam madeira, com serra manual num pequeno barraco que
ficava localizado, hoje, nos fundos da Cesaca. Erram cavaletes altos, sobre
os quais se distendiam as toras de madeira e os dois serradores, com o
serrote topeador na posição vertical, serravam aqueles troncos. Os colonos
extraíam árvores do mato que circundava a colônia de Cresciuma e as
vendiam para os donos de serrarias e para serradores, dentre os quais, os
Sonego.
Naquele fim de tarde, ali estavam operando o topeador, transformando
toras em taboas, os irmãos Giácomo e Domênico Sonego, Casemiro Milioli
e Giácomo Thomé.
De repente, Domênico cai gritando de dor. Um índio acertara-lhe o peito
com uma certeira flecha disparada por seu arco. Estupefatos, Giácomo e os
demais não sabiam se corriam atrás do bugre ou se acudiam Domênico que
se contorcia de dor. Depois de pronunciadas todas as blasfêmias usuais
para ocasiões como aquela, atenderam a razão e prestaram socorro ao
Domênico que, todavia, não resistiria ao ferimento vindo a falecer.
Adentraram a mata, no dia seguinte, em busca do índio assassino e o que
encontraram foi uma criança índia, sozinha, numa choupana. Deixaram-na
viva, embora o desejo de vingança aflorasse suas peles. Ali retornariam,
mais tarde, em busca de índios adultos e, agora, só encontraram vestígios
daquilo que fora a casa dos aborígenes: estes haviam partido não deixando
rastro...
E assim, conta-se mais uma interessante página dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 9 de novembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 21
ATAFONAS
Assim que os primeiros colonos foram tomando conta da terra que
adquiriram da Companhia Colonizadora, aqui na vila São José de
Cresciuma, começaram a desenvolver a economia agropecuária: ao lado
dos barracos que chamavam de casa, a criação de suínos, galinhas, cavalos
e gado leiteiro. Nas roças, abertas com o desmatamento, o plantio de milho,
de arroz, de feijão, de outros cereais e de verduras.
A primeira farinha de milho era produzida em casa de cada colono, e feita
em pilões de madeira nos quais se socava o cereal até virar pó. Atafona, só
em Pedras Grandes e Urussanga... Indispensável na mesa dos italianos, a
polenta exigia farinha de bom fabrico e Marcos Rovaris e Benjamin Bristot,
já em meados deste século, construíram as suas: a de Marcos, num enorme
galpão de múltiplo uso: era casa de moradia, era madeireira, era açougue;
era fábrica de banha e passou a ser, também, uma atafona, a fábrica de
farinha de milho. Estava localizada fora do centro da cidade: não tivesse
sido desmanchada nós a veríamos ali aonde temos hoje o Hotel Roma, a
HM... Na Santa Augusta, Arcângelo Meller tinha a sua atafona acoplada a
uma serraria. Na Coloninha Zilli, a serraria e a atafona do Felix de Luca.
Benjamim Bristot tinha a sua atafona aonde hoje temos o Crisul Hotel. Era
acoplada a uma serraria e a uma ferraria e, pasmem, era movida a força
hidráulica cuja água era proveniente do Rio Criciúma. Isto mesmo: dos
fundos da casa de Henrique de Brida (hoje seria a loja de som do Benedet,
da Henrique Lage) a água do Rio Criciúma era canalizada até um açude
que fora construído no terreno que fica, hoje, no pátio de estacionamento
dos ônibus da Empresa Santo Anjo da Guarda. Dessa lagoa o senhor
Benjamim Bristot aproveitaria a água para mover a sua serraria e a sua
atafona, ali ao lado, mas bem fora do centro da cidade... hoje entre os
Hotéis Cavaller e Crisul. Lá na Linha Zilli (hoje Vila Zuleima) o Felix de
Luca tinha a sua atafona; na Santa Augusta, o milho era moído na atafona
de Arcanjo Meller. E viva a polenta, porco cane!
Não é fantástica esta memória dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade?
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Publicado dia 24 de setembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 22
AS MÓS
As mós. Ali na Praça do Imigrante, aquela pracinha triangular à entrada da
Rua Seis de Janeiro, há um monumento aos nossos fundadores, constituído
de duas mós suspensas por três esteios. Ali ele foi erguido no início dos
anos 60, pelo Prefeito Arlindo Junkes que deu ouvidos a uma campanha,
neste sentido, encetada pela União dos Estudantes de Grau Médio de
Criciúma, a UESC, de saudosa memória.
Aquelas primeiras mós são originárias lá do Rancho dos Bugres, município
de Urussanga, onde foram afeiçoadas por encomenda de Benjamin Bristot
para moer milho na sua atafona que ficava ali entre os Hotéis Cavaller e
Crisul. As pedras do monumento são aquelas mesmas.
De lá até aqui, elas vieram rolando, ou melhor, rodando já que são rodas. A
pé. Numa picada dentro da selva. E olha que são 25 quilômetros... Quatro
homens trouxeram as rodas até aqui: um pau foi colocado no furo central
de cada pedra e, um de cada lado, foram rolando, rolando, rolando... É
contado que levaram 29 dias para cobrir o trajeto. Nesse vigésimo nono dia,
alcançaram o Morro da Bananeira, no seu cume. Trata-se do morro da
Mina Brasil, divisório deste e do Bairro São Simão. Como viram que
estavam muito próximos, cansados, encostaram as pedras, em pé, em uma
árvore, desceram o morro e foram para casa. Retornariam no dia seguinte
para continuar a caminhada e entregar as mós pro Seu Benjamim. Só que
eles não contavam com São Pedro... À noite despencou uma tormenta da
qual um dos raios atingiu exatamente a árvore que escorava as pedras. E
estas, com a movimentação do tronco, deslocaram-se e empreenderam uma
viagem sem comando. Ao invés de rolarem para cá, para o local no qual
seriam utilizadas, rolaram para lá, indo parar na antiga Mina do Galo, uma
grota... Cáspita e porco dio foram ouvidos aos berros. Mas não havia outro
jeito; arregaçaram as mangas e, agora morro acima, lá foram às mós
levadas até a atafona do Benjamim Bristot.
Para os que vemos as pedras das mós da nossa velha atafona, ali na Praça
do Imigrante, é difícil imaginar o sacrifício do seu transporte até nós. E isto
também é parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 10 de dezembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 23
OS POLACOS
A propaganda enganosa que se fez na Europa, na segunda metade do Século
19, relativamente ao Brasil do Sul, atingiu, também, a Polônia. Os pregões
dos corretores das Companhias Colonizadoras conclamavam as famílias a
despojarem-se de todos os seus bens e partirem para a terra prometida: o
grande negócio é a América. Mas não diziam que a América a que se
referiam era um pedaço de terra do Sul de Santa Catarina cuja
comunicação com a civilização era feita por um caminho de tropeiros que
descia a Serra em busca do litoral. Assim vieram os italianos, em 1880 e
assim vieram, agora, os poloneses, em 1890. Uns e outros imaginavam estar
emigrando para a Grande América do Norte de quem a Europa falava com
certa inveja, dado o seu estupendo e florescente crescimento.
A Cracóvia, a Pietronski e Varsóvia embarcavam 15 famílias que, seguindo
o itinerário já feito pelos itálicos, depois de “trentasei giorni de màchina a
pavore”, desembarcavam no Porto do Rio de Janeiro, faziam a baldeação
para outro navio, viajaram até Florianópolis e, dali, uma nova navegação
até Laguna. Da velha Laguna, até Jaguaruna, por mar e rio e, de
Jaguaruna até Linha Batista, no lombo de cavalos, em cima de carroças e
de carros de bois e a pé...
Os Maciejewski, Langer, Opoczynski, Bialeki, Islazki, Kubaski, Zember,
Zavadil, Strzalkowski, Bicowski, Kosztrzewski, Kuroski e Ptazinski com suas
mulheres e filhos e os poucos pertences eram entregues ao “Deus dará”. O
desespero quase tomou conta da leva; na sua unanimidade, queriam
retornar e não assimilavam o brutal engano. Mas, voltar como?
A solução foi encarar, corajosamente, o desafio que lhes estava sendo
imposto. A fé em Deus e em São Casemiro fez com que dessem a volta e
prometessem para si próprios que utilizariam a situação para plantar a sua
colônia.
E o fizeram, não sem sacrifícios; não sem desavenças entre si próprios; não
sem desânimo; não sem muita saudade, incomensurável saudade de sua
gente e de sua pátria, lá distante e, agora, inatingível... Com a fé já
mencionada e a disposição própria dos poloneses, fundaram e construíram
a sua Linha Batista, este pedaço extraordinário de nosso Município que,
com as demais etnias festeja os 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
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Publicado dia 26 de outubro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 24
CRESCIUMA OU CRICIÚMA?
Afinal de contas, o nome certo é Cresciuma ou Criciúma?
Desde a fundação, desde aquele seis de janeiro de 1880, a grafia certa do
município seria Cresciuma, derivado de uma vegetação da família das
gramíneas, aqui abundante.
Assim foi escrito e ensinado o nome do nosso território. E olha que a tarefa
não era das melhores para as professoras haja vista o “sc” do Cresciuma e
a dúvida morfológica: é com ç? é com dois ss? É com c?
Nos anos 40, as localidades mais desenvolvidas do Brasil – salvo exceções –
eram aquelas servidas por ferrovia e nas quais houvesse uma estação para
carga/descarga dos comboios. De Norte a Sul do país, era assim.
Aí o governo quis disciplinar esses topônimos não permitindo que duas ou
mais localidades tivessem o mesmo nome.
Pelo Decreto-Lei 3.599, de 06 de setembro de 1941 que dispôs sobre a
nomenclatura das estações ferroviárias do país determinou, no § 2º. do art.
1º “as estradas apresentarão, ainda, devidamente justificadas, sugestões
acerca dos novos exames daquelas estações cujos designativos devam ser
mudados em virtude das normas sistematizadoras desta lei”.
Já em 1943, o Decreto-Lei nº 5.901, de 21 de outubro, dispunha sobre as
normas nacionais para revisão qüinqüenal da divisão administrativa e
judiciária do país. Seu artigo 11 era enfático: “A revisão da nomenclatura
das estações ferroviárias será ultimada e efetivada em 1944, cabendo ao
Conselho Nacional de Geografia ajustá-la à nova toponímia das cidades e
vilas brasileiras”.
Bom, esse tal de Conselho Nacional de Geografia foi extinto e dos
documentos que, porventura, tenha produzido, não se sabe o paradeiro. O
que temos de concreto é que, com base nos decretos mencionados, o Senhor
Artur Souza, então nosso Gerente da Estação da Estrada de Ferro Dona
Theresa Christina, aproveitou uma reforma que fazia na estação e não teve
dúvidas: trocou o nome Cresciuma por Criciúma. Se consultou autoridade
superior ou não para fazê-lo, é outra questão.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 25
A conclusão é que, dali para frente, isto é, de 1944 para cá, paulatinamente,
até o final dos anos 50, nosso território deixou de ser Cresciuma e passou a
ser Criciúma.
Não consta, em qualquer documento, que a nossa augusta Assembléia
Legislativa do Estado tenha ratificado a mudança embora, à época, nosso
parlamento estivesse fechado em função da Ditadura de Vargas.
O que importa, na realidade, é que essa mudança também é fato concreto
dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 6 de dezembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 26
II
O MUNICÍPIO
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 27
A INSTALAÇÃO
Busco, na edição nº 2, do Jornal “O Mineiro”, que circulou dia 15 de
janeiro de 1926, a reportagem sobre a instalação do Município de
Cresciuma.
Segundo aquele quinzenário, a festa foi espetacular: as vias públicas da
cidade com palmeiras que juntavam, entre si, fiadas de bandeirolas
multicoloridas. Às dez horas e trinta minutos, a população foi à Estação
Ferroviária para receber as autoridades que, embarcadas em comboio
especial e expresso, a partir de Imbituba, prestigiariam o acontecimento. À
frente, os membros da Comissão Organizadora: o superintendente Marcos
Rovaris e os senhores Olympio Motta, Francisco Meller e Frederico
Minatto. Recebidas as autoridades com os cumprimentos de estilo, todos
desceram para a praça da vila, precedidos pela Banda Musical de Imbituba,
que abrilhantaria todo o evento, numa cortesia do Sr. Álvaro Catão,
superintendente daquele Município.
Já no salão dos atos, formou-se a mesa das autoridades na qual tomariam
assento o Sr. Álvaro Catão – que representava o Governador Pereira
Oliveira, o Congresso Estadual e o Município de Imbituba; o Dr. João da
Silva, Juiz da Comarca de Urussanga, à qual pertencia Cresciuma;
representando o desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do
Estado, o Dr. Ângelo Scarpa; o deputado Acácio Moreira, por si e
representante do Secretário do Interior e Justiça; os superintendentes de
Tubarão, Laguna e Urussanga; os presidentes dos Conselhos Municipais de
Imbituba, Laguna, Tubarão, Urussanga e Araranguá; Leandro Crippa,
representando o Vigário de Nova Veneza; Emílio Hülse, representando o
Jornal “A Paz”, Antenor Moraes “O Imbituba” e Adolpho Campos “A
Cidade”. Presente grande número de pessoas vindas de várias localidades
e, evidentemente, do interior do Município que se instalava.
Participavam daquela solenidade como seus paraninfos os nossos primeiros
conselheiros: Pedro Benedet, que presidiu a sessão, Fábio Silva, Gabriel
Arns, Olivério Nuernberg e Henrique Dal Sasso.
Ato contínuo foi empossado o superintendente Marcos Rovaris que prestou
o compromisso formal findo o qual o presidente Benedet declarou instalado
o Município de Cresciuma.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 28
Naquele instante os sinos da matriz e das capelas foram ouvidos misturando
seu som ao ruído do espocar de foguetes. A banda tocou. E a professora
Albina Piazza seria ouvida como a oradora oficial da reunião de instalação.
Falou, também, a menina Zanzi Silva, filha do conselheiro Fábio Thomaz da
Silva; o conselheiro imbitubense Uggero Pitigliani, o jornalista Antenor
Moraes e, em nome do Conselho Municipal cresciumense, o professor
Adolpho Campos. Os discursos só terminariam com a palavra de Álvaro
Catão que falou em seu nome e nos do Governador Pereira Oliveira e dos
deputados do Congresso Estadual.
A cerimônia foi encerrada ouvindo-se os alunos das escolas masculinas e
femininas cantando os Hinos Nacional, da Bandeira e da Independência.
Essa foi a primeira parte.
A Segunda teria início às 14h00min horas e constava de um banquete que
Cresciuma ofereceu aos dignitários e convidados especiais que prestigiaram
a solenidade de instalação. Aí foram destacadas as presenças das mulheres:
Madame Zita Catão, Sibélia Motta, Celestina Rovaris, Juracy Boscolli,
Carmem Montenegro e a senhorita Savio Secco. O cardápio foi escolhido e
preparado pelo “maitre” do Hotel do Comércio. Findo o banquete, foi
iniciada a terceira parte do programa: afastaram as mesas do salão e foi
iniciado o baile da emancipação. Todos dançaram; alguns porque
dançarinos e outros porque ficaram em casa, lá na antiga sede do
município...
Lá pelas 17h00min horas formou-se outro préstito e todos foram levar as
autoridades para a gare da Ferrovia Theresa Christina para a viagem de
regresso.
Estava instalado o Município de Cresciuma, cujos 120 anos de história
prestam homenagem àqueles que o tornaram independente e plantaram a
base de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 13 de dezembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 29
BRIGA PELOS LIMITES
O art. 2º, da Lei nº 1.516, de 4 de novembro de 1925, daria muita dor de
cabeça para as lideranças políticas de Criciúma, Araranguá e do governo
do Estado. Essa lei é aquela que emancipa Criciúma de Araranguá e o
artigo 2º é o que dá os limites do novel Município. Por esse dispositivo
legal, o território de Cresciuma inicia na foz do Rio dos Porcos a rumo
noroeste até encontrar o Rio Mãe Luzia... Isto quer dizer que Criciúma teria
seu início Sul exatamente na localidade de Canjicas – hoje Hercílio Luz até
encontrar a foz do Rio do Cedro (hoje Município de Meleiro). O Cel. João
Fernandes, de Araranguá, um dos políticos mais fortes do Sul, protestou
contra os tais limites não aceitando o referido traçado. Aí começou
infindável rosário de reuniões, com políticos daqui e dali e com o
Agrimensor João Sariu. O Cel. João Fernandes só compareceu à última,
quando o assunto já estava esgotado; a todas as demais – e foram mais de
uma dezena – prometia comparecer, mas não o fazia. Finalmente, no dia 10
de junho de 1926, o Presidente do Congresso Catarinense, Deputado
Antônio Vicente Bulcão Vianna, baixava o Decreto 1.980 fixando novo
traçado limítrofe entre Criciúma e Araranguá, fazendo retornar a paz entre
os dois municípios. Nesse interregno a Escola de Canjicas e suas estradas
ficaram sob a responsabilidade de Criciúma que não pôde cobrar os
impostos ali gerados porque o Cel. João Fernandes não permitiu.
Como se depreende, Hercílio Luz, comunidade ribeirinha ao Rio
Araranguá, já fez parte do nosso território e isso também se insere nos 120
anos da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 9 de setembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 30
ENCHENTE
Era fevereiro de 1926. Instalada Criciúma não fazia, ainda, dois meses eis
que conhece a sua primeira catástrofe, na condição de Município
emancipado e dono do seu nariz: uma enchente sem precedentes abalou os
alicerces da novel cidade. Documentalmente, trata-se da primeira enchente
havida em nosso território. E o Chefe do Poder Executivo estava na Capital.
Lá mesmo tomou conhecimento dos fatos já que, por despacho telegráfico, o
Superintendente em exercício, Francisco Meller o cientificava da catástrofe:
“Devido grande enchente tivemos enormes prejuízos nas vias públicas,
como sejam, construção da ponte do Rio Sangão, ficando o tráfego
completamente interrompido. Desabamento também, três pontes Rio Maina
e dois pontilhões aqui. Urge providências”.
Ao mesmo tempo, nosso Conselheiro Henrique Dal Sasso e o Fiscal Geral
do Município Luiz Crippa, também remetiam telegrama ao Superintendente
Marcos Rovaris, hospedado no Hotel América, em Florianópolis:
“Atendendo justas reclamações povo, comunicamos-lhe péssimo estado
nossas estradas. Pontes Sangão e outras destruídas pela inundação.
Prejuízos avultados. Pedimos instruções satisfazer população”.
Já no dia 5 de março de 1926, Haroldo Pederneiras, Diretor de Obras
Públicas, expedia um telegrama para o nosso Superintende, afirmando:
“Comunico-vos seguiu ontem sul estado em serviço inspeção estradas
rodagem auxiliar esta diretoria Theodoro Brügmann a quem peço facilitar
todos os meios alcance essa superintendência para bom desempenho missão
foi incumbido.”
As estradas foram reparadas, as pontes reconstruídas e as enchentes, bem
estas perturbam nosso município desde 1926 e isto faz parte da história dos
120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 24 de agosto – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 31
POSTURAS PRIMITIVAS
Hoje volto no tempo, uma vez mais e vou centrar minha narração no ano de
1926, o primeiro de nossa terra município. Ao apagar as luzes daquele ano,
o Prefeito Marcos Rovaris fazia editar a Lei Nº 2, com a qual os
cresciumense passavam a ter o seu Código de Posturas.
Esse Código, a exemplo do que já foi visto, por exemplo, com os orçamentos
de Criciúma, contempla alguns dispositivos que merecem ser analisados.
Por exemplo, o artigo 13 diz que é proibido, sob pena de multa de cinco mil
réis:
a) ter ou depositar nas ruas ou estradas, objetos que, pelo seu volume ou
natureza, incomodem ou possam constituir perigo para o trânsito público;
b) maltratar animais;
c) transitar a cavalo pelos passeios das ruas;
d) transitar pelos passeios das ruas com tabuleiros, caixões ou qualquer
objeto que intercepte o trânsito público;
e) correr a cavalo pelas ruas da vila ou povoações, exceto os agentes da
força pública quando em objeto de serviço ou força maior;
f) transitar com carro de bois cantando, dentro do perímetro urbano.
Para os que espalharem pasquins, a multa será de 25 mil réis além da pena
de processo de responsabilidade.
O art. 16 proibia terminantemente o jogo de cartas, roletas, bichos,
bacatella ou cartões e os demais jogos feitos a dinheiro ou valor que dele se
tire proveito e a multa para o infrator era de 10 mil réis. Esse mesmo valor
era a multa para quem desse tiros dentro do perímetro urbano da sede e de
povoações além de oito dias de prisão e apreensão da arma. O uso de
bomba explosiva para pesca era condenado com a multa de 20 mil réis. 15
mil réis seriam pagos por aqueles que escrevessem palavrões, riscassem ou
pichassem paredes ou nelas colassem figuras desonestas. Ter um animal
preso em estaca submetia o infrator à multa de quatro mil réis. 30 mil réis
era a multa para quem conduzisse madeira pelos rios.
Esse mergulho nas leis de ontem nos transporta a uma época
diametralmente oposta a de hoje e nos faz muito bem poder avivar a
memória de nossa gente contando estas particularidades dentro dos
episódios marcantes dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 2 de novembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 32
O ORÇAMENTO
É de 1937, o Decreto Nº 11, que fala do orçamento do município de
Criciúma para o exercício de 1938. Trata-se de um dispositivo legal de alto
significado para a administração pública e, mais ainda, para aqueles que,
nos dias atuais, trabalham na área de assessoria técnica à gestão dos
negócios públicos.
A receita ordinária, por exemplo, contemplava o Imposto de Licença, o
Territorial Urbano, o Predial Urbano, o Imposto sobre diversões públicas,
o Cedular sobre a renda de imóveis rurais, o Imposto de Indústria e
Profissão, o Imposto de Patente por renda de bebidas e fumo e o Imposto
sobre serviços municipais. Os ingressos de recursos eram complementados
com a cobrança da dívida ativa, os foros, a renda do cemitério, as multas
por infrações de leis, as multas por mora de pagamentos e a taxa adicional
de 10% para os Hospitais São José (daqui) e São Marcos (de Nova Veneza).
O total previsto, da receita, para 1937, era de 141 contos de réis e igual
importância era fixada como teto máximo da despesa para o mesmo
período. Essa despesa era bem discriminada: começava com uma dotação
para pagar o transporte dos vereadores, passava pelo pagamento da dívida
do município num total de dez contos de réis e ia até o pagamento de auxílio
ao indigente Antônio Marcílio. Nesse meio, encontram-se despesas para
auxiliar leprosos que menciona, gratificação a delegado de polícia,
remuneração do jardineiro...
Se existe orçamento transparente, aquele, sem sombra de dúvidas o era.
Nada de códigos indecifráveis, como nos dias de hoje. Naquele orçamento
está estipulado o quanto ganha o secretário municipal, o fiscal do
município, cada um dos professores... quanto se despenderá com a
construção do Hospital Municipal e com aquele do distrito de Nova Veneza.
Iguais peças, na administração moderna dos dias atuais, escondem, em
códigos e nomenclaturas difíceis de serem decifrados os programas nos
quais são gastos os dinheiros do contribuinte. E esta é mais uma lição que
os primeiros legisladores transmitem para aqueles que, hoje, têm sobre si a
responsabilidade da administração dos recursos públicos. E é uma bela
página para ser lembrado nos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 28 de outubro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 33
TAXAS DE CEMITÉRIO?
A propósito dessa discussão toda envolvendo a concessão do serviço de
manutenção e direção de nossos cemitérios, faço um exercício de memória e
convido o ouvinte a viajar no tempo comigo.
No dia 11 de setembro de 1936 – faz, portanto, 63 anos – a Câmara
Municipal de Criciúma aprovava o orçamento para o ano de 1937. A
exemplo de hoje, aquela Lei de Meios, era constituída de uma parte
puramente burocrática, na qual eram lidos os artigos disciplinadores das
receitas e das despesas do exercício, e os seus anexos. Nesses anexos,
diversas Tabelas dentre as quais a Tabela J, que falava dos cemitérios.
Nessa Tabela J, estipulavam-se os valores das taxas que seriam cobradas
para uso dos cemitérios: terreno para jazigo perpétuo, por metro quadrado,
20.000 réis; jazigo no muro (lembremo-nos de que, ao redor do cemitério
havia um muro constituído de gavetas nas quais eram sepultados os
defuntos de então)... se o jazigo fosse um desses, do muro, o pagamento
seria de 50.000 réis; se o terreno fosse para jazigo, por cinco anos, o
interessado pagaria 10.000 réis, por metro quadrado; a licença para
colocação de grade (que era uma cerquinha) ou lápide sobre a sepultura
dependia do pagamento de 5.000 réis; a licença para sepultamento de
adulto importava no desembolso de 2.000 réis e de 1.000 réis para o
sepultamento de menores. Era cobrada, ainda, por ano, a importância de
5.000 réis para as despesas de conservação de mausoléus quando
adquiridos pelo prazo de cinco anos.
Repito: isto faz parte da Tabela J, do Decreto Legislativo nº 11, de 11 de
setembro de 1936, que aprovou o orçamento de Cresciuma para 1937.
Como se vê, a cobrança do chão do cemitério para sepultar nossos defuntos,
assim como a cobrança de taxas de manutenção, não são invenções dos dias
atuais: remontam há 63 anos quando nossos antepassados já queriam
cemitérios organizados e limpos para os seus predecessores. E viva a
memória fúnebre destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade.
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Publicado dia 23 de setembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 34
PLANO DIRETOR?
Quando qualquer um de nós pretende construir uma casa, uma garagem,
um depósito, um edifício, seja lá o que for, recorre, imediatamente à
necessidade de buscar a licença de construção junto à Prefeitura Municipal.
Caso contrário a fiscalização poderá autuar o proprietário por estar
erguendo uma construção clandestina.
Essa obediência aos preceitos legais, especificamente sobre construções,
nasceu em 1936. Um Decreto Legislativo, o de número 5, datado a 23 de
junho daquele ano, dizia que “as construções a serem feitas no perímetro
urbano desta Vila, deverão obedecer a um plano organizado pela
Prefeitura, obedecendo ao alinhamento das ruas”. No artigo seguinte,
mandava: “Nenhuma construção poderá ser feita dentro do perímetro
urbano, sem que a planta seja previamente aprovada pela Prefeitura”.
Outro artigo proibia qualquer reparo em prédio, sem licença da
municipalidade.
Possivelmente seria esse, o Decreto Legislativo nº 5, o embrionário de todo
o complexo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município que,
nos dias de hoje, é discutido por Arquitetos, Engenheiros, Paisagistas,
Profissionais Liberais... Àquela época, as cabeças pensantes eram as dos
Vereadores Artur Campos, Cincinato Naspolini, Francisco Meller, José
Dandolini, Olivério Nuernberg, Procópio Lima e Silvino Rovaris. Sabem
quantos formados? Nenhum. Mas já discutiam, aprovavam e editavam leis
sábias como essa...
Os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, devem muito a
pessoas assim...
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Publicado dia 28 de setembro - terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 35
OLARIA
A cidade crescia. Um mínimo de ordenamento era respeitado nesse
crescimento. Havia até o marco Zero, ponto de partida para qualquer
medição imobiliária que se pretendesse. Esse marco estava situado
exatamente à frente da velha igrejinha, da Praça Nereu Ramos, hoje seria
em frente à Casa da Cultura Neusa Nunes Vieira, momentaneamente
ocupada pela CODEPLA.
Aquele marco, repentinamente, não se sabe por que e por quem,
desapareceu. Ficou, dele, apenas o retrato...
Mas, eu dizia, a cidade crescia. Casas eram construídas e urgia que alguém
se estabelecesse com a fábrica de tijolos. Um mais esperto fez uma olaria
bem fora da cidade, no caminho que demandava à Primeira Linha; um
segundo espertinho, seguiu-lhe a vocação... um terceiro achou que o
negócio era bom e fez também a sua... De repente, o Bairro era uma
sucessão de chaminés a expelir fumaça para todos os lados e tomou-lhe o
nome: Olaria. Até os anos 50/60, toda a área hoje denominada e conhecida
como Bairro São Luiz, era denominada de Bairro Olaria. Inclusive havia ali
um time de futebol que participava da Liga Varzeana e que colheu inúmeros
campeonatos da cidade. O Bairro Olaria, hoje Bairro São Luiz, foi o nosso
primeiro “distrito industrial” e isto faz parte dos 120 anos de história deste
orgulho de cidade...
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Publicado dia 28 de julho – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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BRASÃO & BANDEIRA
Ao assumir o governo municipal, em janeiro de 1966, o engenheiro Ruy
Hülse, que já houvera sido deputado estadual em duas legislaturas,
presidente da Assembléia Legislativa e até Governador interino do nosso
Estado, sentiu a necessidade de encontrar um símbolo que identificasse o
Município de Criciúma. Mandou produzir, então, um brasão que,
obedecidas as regras da heráldica, traduzisse a cultura e a economia locais.
Nascia o nosso primeiro brasão de armas que consistia num escudo preto
com dois martelos cruzados em seu meio, simbolizando a indústria da
extração carbonífera. Uma particularidade importante deixou de ser
observado pelo nosso ex Prefeito: submeter o brasão à consideração
legislativa para tornar-se lei.
Nelson Alexandrino, seu sucessor, aproveitando a passagem do desenhista
Arcinoé Antônio Peixoto de Faria, especialista em heráldica e membro da
Enciclopédia Heráldica Municipalista, encomendou-lhe um estudo para o
desenho do nosso brasão de armas e para a nossa bandeira. É verdade,
até1970, Criciúma não tinha bandeira...
O heraldista, então, apresentou como propostas de nossos símbolos, o
Brasão e a Bandeira que foram oficializados em 26 de novembro de 1970.
Nosso brasão tem coroa, tem chaminés, tem escudo italiano, tem uma faixa
ondulada representando o Rio Criciúma e menciona as datas do início de
nossa colonização e aquela de nossa emancipação. Esse brasão é o que está
bordado ao centro da nossa bandeira, esquartelada nas cores verde,
vermelho e branca muito parecida com tantas outras bandeiras que o
mesmo desenhista propôs para Municípios de colonização italiana. Entre a
nossa e a de Nova Trento, por exemplo, as diferenças são mínimas e foram
adotadas na mesma época.
A propósito, hoje é Dia da Bandeira e a Nacional deve ser hasteada ao meio
dia, com solenidade especial. Pelo menos é o que diz a lei.
Também de símbolos foram bordados os 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade.
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Publicado dia 19 de novembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 37
O HINO & O CORAL
Em 1964, nosso Prefeito Arlindo Junkes atendia a um pedido do Presidente
estadual do Partido Social Democrático – PSD – Dr. Renato Ramos da
Silva e acolheu, na Secretaria Municipal de Educação, a Professora Gessy
Cheren Stocco, da capital, e que, por motivos de ordem estritamente
particulares, precisava trocar de ares. Essa cidadã trouxe consigo, além dos
conhecimentos pedagógicos de que era dona, imenso currículo profissional
logo posto em prática em nosso município.
Incentivou a criação do ensino pré-primário e deu ênfase especial à área
cultural, praticamente apagada em nosso meio. Celebrou um convênio com
a Universidade Federal de Santa Catarina que permitiu a presença do
maestro José Acácio Santana entre nós durante seis meses, período no qual
foi criada a nossa Associação Coral de Criciúma, essa instituição
monumento vivo de nossa cultura que tanto orgulho tem nos transmitido em
suas andanças por este Brasil de Deus, pela América e pela Europa...
Num dos ensaios do Coral, o maestro solfejou as notas de uma composição
musical que, segundo ele, poderia ser o Hino de Criciúma e desafiou Dona
Gessy para a composição da letra. No dia seguinte o coral ensaiava música
e letra do Hino de Criciúma, “nasceste menina, foi teu berço plasmado em
carvão... aurora de uma nova e feliz geração” exatamente este que canta a
glória destes 120 anos deste orgulho de cidade!
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Publicado dia 7 de julho – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 38
E O LIXO?
Paulo Preis era nosso Prefeito e a cidade já ostentava um feeling de cidade
urbanizada: já tínhamos algumas ruas pavimentadas com paralelepípedos
irregulares de granito, algumas vias públicas arborizadas, praças
delineadas, uma área perimetral de residências bem definia, enfim... a
cidade comportava certo conforto e exigia certo conforto.
Uma das deficiências era o lixo (esse mesmo lixo deficiente dos dias atuais).
As famílias produziam lixo e já não havia local que o comportasse. Era
necessário depositar esse entulho em algum lugar. Muito bem: o lugar foi
escolhido: a esquina da Rua Araranguá com a João Pessoa, bem fora da
cidade. E como levar o lixo até lá? Não havia caminhão nem para
transportar perita para o leito das estradas quanto mais para recolher o
lixo!... Daí apareceu o seu Nico Beloli com uma frota de carroças tipo baú.
Conversou com o Prefeito e recebeu dele a autorização para fazer a coleta
do nosso lixo, com remuneração paga pelos cofres municipais. Assim
nasceu o nosso primeiro serviço de coleta organizada do lixo que, dali prá
frente, tem enfrentado inúmeros problemas e isto faz parte dos 120 anos de
história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 30 de agosto – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 39
HOSPITAL SÃO JOSÉ
A população era constituída de pessoas que, a exemplo de hoje, não eram
imunes às doenças. E doenças mais ou menos sérias. Algumas obrigavam a
internação do paciente. Para isso foi instalado o Hospital Municipal, às
margens da Estrada de Ferro Dona Theresa Chistina, num prédio de
propriedade da família do Conselheiro Fábio Silva, que, não tivesse sido
derrubado, estaria aqui, ao lado da Rádio Eldorado.
Mas aquele hospital demonstrou-se pequeno para o tamanho da cidade que
crescia muito. Então o Prefeito Cincinato Naspolini reuniu o Conselho
Municipal e propôs – e viu aprovada - a criação de uma taxa de 10% sobre
o valor dos impostos pagos pelos contribuintes municipais, para a
construção de um novo Hospital.
Já no governo de Elias Angeloni, com a participação do governo do estado,
administrado por Nereu Ramos, o Hospital São José foi construído sob a
coordenação de uma comissão composta dos senhores Marcos Rovaris,
Padre Pedro Baldoncini, Frederico Minatto, Addo Caldas Faraco e
Cincinato Naspolini, este na condição de fiscal de obras. O terreno foi pago
em nove anos, à proprietária viúva Clara de Luca. Em 1936 o Hospital foi
inaugurado e sua administração entregue às Irmãs Escolares de Nossa
Senhora. Daqueles primeiros leitos que atendiam nossos doentes de então, o
São José foi sendo ampliado a ponto de hoje ser uma das mais importantes
casas de saúde do Sul do Brasil, ajudando a escrever a história dos 120
anos da saúde de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 31 de agosto – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 40
HOSPITAL SANTA CATARINA
1960. Os médicos Manif Zacharias, Carlos Deslandes, João Conrado Leal,
Naby Zacharias e Dino Gorini, reunem-se e resolvem fundar uma sociedade
comercial para instalar um Hospital. A cidade, que já possuía dois dos
melhores nosocômios de todo o Estado, o São José e o São João Batista,
ganhava o Hospital Santa Catarina e o padrão do serviço médico-hospitalar
ganharia novo conceito.
Além desses profissionais da medicina, o Hospital contaria, ainda, com os
serviços do cirurgião Anoar Zacharias, do pediatra Luiz Eduardo dos
Santos e do clínico geral Antônio Osvaldo Teixeira de Freitas.
Criciúma, com essa nova casa de saúde, passou a ser referencial da área em
nossa macrorregião e para cá acorriam doentes e pacientes de todo tipo de
moléstia já que, com e hospitais, era certo de se encontrar a cura para todos
os males.
Em 1966 o Santa Catarina foi absorvido pelo Hospital São João Batista e,
mais tarde, transformado em Hospital Infantil. Mal das pernas, prestes a
sucumbir de vez, permaneceu fechado durante um lapso de tempo e, hoje,
reaberto, faz mais o papel de especialista em atendimento ambulatorial,
administrado pelo Município.
O Hospital Santa Catarina e, especialmente, os facultativos Manif
Zacharias e Dino Gorini, são personagens que escreveram, com muita
competência e sabedoria, algumas belas páginas destes 120 anos de
Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 20 de agosto – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 41
NOVA VENEZA
Até junho de 1958, o território que hoje faz o Município de Nova Veneza,
era parte integrante de Criciúma e, lá nos primeiros tempos, uma das vilas
mais prósperas de toda a nossa Região.
Seu núcleo foi desbravado graças à ação da Companhia Colonizadora
Metropolitana que, em 1891, com a chegada dos primeiros imigrantes, se
estendia desde os limites com o velho Araranguá (hoje Meleiro) até Lauro
Muller e Urussanga, o que representa dizer que, da colônia de Nova Veneza
faziam parte Nove Beluno (hoje Siderópolis) Treviso e Palermo. São seus
fundadores os Napoli, Damiani, Moro, De Nez, Fontanella, Etumelino,
Pazetto, Bratti, Mazzucco, Bianchini, Remor, Lazarin, Ghisleri, Levatti,
Menegutti, Destro, Bilieri, Daminelli e Cunico.
Em 1913, Nova Veneza era elevada a Distrito de Araranguá e José Canella
nomeado seu primeiro Intendente. É preciso que recordemos de que todo o
território que começa na divisa com o Rio Grande do Sul e vinha até os
limites com Urussanga e Jaguaruna, pertencia ao Município de Araranguá
que, agora, já tinha dois distritos ao Norte: Cresciuma e Nova Veneza.
João Bortoluzzi seria conhecido como um dos mais prósperos comerciantes
dali e de todo este pedaço do sul catarinense. Estabelecido com comércio e
indústria mantinha laços comerciais com todo o litoral catarinense e com os
grandes exportadores do Rio de Janeiro: para lá exportava carnes e
derivados da suinocultura, utilizando-se do Porto de Laguna. Na política,
João Bortoluzzi representava soberanamente o distrito e, nas eleições de
1925, para compor o Conselho Municipal de Cresciuma, foi eleito
unanimemente para representar o distrito. Faleceu repentinamente, antes da
posse que se deu a 1º de janeiro de 1926, com a instalação do nosso
município.
Nova Veneza, por muito tempo, foi o território mais cosmopolita da região,
marchando, par-e-passo ao lado de Urussanga.
Quando nem sequer se falava, por aqui, de restaurante e de hotel, por
exemplo, Nova Veneza já possuía os seus o que fazia com que,
habitualmente, quem necessitasse de pousada buscava a de Nova Veneza.
É impossível deixar de falar de Nova Veneza, quando nos reportamos aos
120 de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 21 de outubro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 42
IÇARA
Falemos de Içara, esse território filho de Criciúma que nos acolhe pelo
menos durante três meses por ano: no veraneio, quando nosso endereço
passa a ser o seu Balneário Rincão, uma faixa litorânea limítrofe com o
poderoso Oceano Atlântico.
Podemos afirmar que Içara começou com Urussanga Velha já que,
conforme nos relata Elza de Mello Fernandes, no seu Içara, Nossa Terra
Nossa Gente, Urussanga Velha é o seu lugar mais antigo do novel
município.
Fazia parte da sesmaria de João da Costa que se estendia desde o Rio
Urussanga até a Barra Velha. Ali, no final do Século XVIII já eram
exploradas a cultura da mandioca e da cana de açúcar cujos derivados, a
farinha e a cachaça, eram exportados através de Garopaba para onde eram
levados através de carros de bois. Consta que só em Urussanga Velha eram
enterrados os defuntos até o início dos anos 900. Eram provenientes de toda
a redondeza: desde Jaguaruna até Araranguá.
Em 1815 há o registro da passagem do Bispo Dom José Coutinho por ali
que tomou o maior susto com uma tempestade de areia.
Quando foi criada a freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens (hoje
Araranguá) fez-se constar, como membro da referida vila, a localidade de
Urussanga Velha. Em 1880, quando Criciúma dava início à sua
colonização, Urussanga Velha já contava com uma escola estadual e um
dos seus habitantes, Salustiano Nunes de Mello, era seu inspetor de
Quarteirão. A partir de 1892, com a criação do sexto distrito de Araranguá,
denominado São José de Cresciuma, Urussanga Velha foi incorporado a
este e, no ano de 1933, essa localidade era elevada a distrito de nosso
Município.
Quando se fala de Içara, é impossível não mencionar Urussanga Velha, a
rigor a mais antiga povoação do nosso litoral. Assim como se deve
mencionar Rio Acima, Esplanada, Pedreiras, Lagoa dos Esteves – com todo
o seu charme – Barra Velha, Boa Vista, Rio dos Anjos, a velha Rua da
Palha, Morro Bonito e São Rafael, Mineração, Barracão, o nosso
tradicional e querido Balneário Rincão, Esperança, Linha Anta, Ronco
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 43
D’Água e Linha Três Ribeirões, certamente as vilas mais antigas desse
município.
Nos primeiros tempos, Içara era denominada de KM 47, referência que lhe
impôs o prolongamento de Primeira Linha, fundada em 1919. São citadas
como famílias pioneiras: Rovaris, Menegaro, Lodetto, Bonomo, Colle,
Rizzieri, Valvassori, Piazzolli, Colonetti e ainda as Zilli, Pizzetti e De Luca.
A Estrada de Ferro Dona Theresa Christina exerceria papel fundamental na
formação de Içara. Em 1930, contavam-se ali, 30 casas, todas localizadas
no centro da vila, mas, 14 anos depois, em 1944, já era elevada à categoria
de distrito. Jorge Elias de Luca, Angelo Lodetti e Procópio Lima, são
lembrados como os primeiros articuladores do processo de emancipação o
que se daria a 20 de dezembro de 1961 com a instalação a 30 daqueles
mesmos mês e ano. Seu primeiro prefeito foi o senhor Ascendino Pavei,
empossado pelo juiz da Comarca Dr. Francisco May Filho que presidiu a
cerimônia e que contou com Nelson Alexandrino como secretário. Em nome
do município falaram o jornalista Ézio Lima e o Sr. João José de Freitas.
Dali para cá, Içara foi só trabalho, sucesso e progresso e, hoje, no concerto
dos municípios da Região Carbonífera, ostenta a segunda posição, só
perdendo para o seu município-mãe: Criciúma.
Essa Içara, filha mais velha, também faz parte da história dos 120 anos de
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 29 de dezembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 44
RIO MAINA EMANCIPADO?
Ao final dos anos 50, os distritos de Nova Veneza e Içara reivindicaram
suas respectivas emancipações e, sem grandes discussões, o direito à sua
autogestão lhes foi outorgado pela Câmara de Criciúma, com o referendo
da Assembléia Legislativa.
Não se pode dizer o mesmo de Forquilhinha que abortou o movimento pelo
menos em duas vezes, quando a lei já fora aprovada e que só conseguiu sua
autodeterminação depois de ferrenha batalha desenvolvida por um punhado
de seus aguerridos filhos, isto já no final dos anos 80.
O que poucos sabemos é que em 1961, Rio Maina pleiteava sua
emancipação levando à Câmara Municipal esse pleito. Não fosse a
intervenção do Vereador Ernesto Bianchini Góes que argumentou
contrariamente com farta sabedoria e o território criciumense, hoje, seria
ainda menor do que já é. Da leitura da ata da sessão que discutiu o assunto,
depreende-se que a causa principal para incitar os riomainenses à
independência, era o descaso da administração municipal para com o
distrito, desavenças dos ali habitantes com o intendente distrital e
problemas de relacionamento com o delegado distrital de polícia.
Não deixa de ser um fato curioso dos 120 anos de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 11 de agosto – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 45
OS PASSOS DO PAÇO
Por onde passou o Paço Municipal de Criciúma?
Em 1925, quando o município – recém emancipado de Araranguá – era
instalado, a sede da Prefeitura foi localizada na casa de Frederico Minatto,
localizada na Praça Nereu Ramos, local onde temos hoje o Foto Zappelini.
Ali funcionaram a tesouraria, a fiscalização e demais serviços burocráticos
do novel município já que o Prefeito Marcos Rovaris despachava, mesmo,
era de sua casa.
Depois, a casa de Giácomo Thomé, na esquina da Rua Santo Antônio com a
Avenida Getúlio Vargas, foi alugada para servir de Prefeitura e ali foram
resolvidos os problemas do Município até 1946, quando Elias Angeloni
construiu a sede própria do Paço, na Praça Nereu Ramos. Dali a sede do
Poder Executivo foi levada, pelo Prefeito Nelson Alexandrino, para a Rua
Anita Garibaldi, ocupando a torre central do Centro Municipal de
Compras, conjunto arquitetônico construído pelo Prefeito Ruy Hülse. Em
1980, o Prefeito Altair Guidi transferiu a sede da administração municipal
para o imponente edifício construído no Parque Centenário, antiga pista do
aeroporto municipal Leoberto Leal, dando-lhe o nome de Paço Municipal
Marcos Rovaris.
Saber destes fatos faz parte da cultura esparramada nestes 120 anos de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 15 de julho – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 46
PAVIMENTAÇÃO
Pavimentação e iluminação de vias públicas, segundo significativa parcela
dos críticos de administração pública, são carros-chefes de uma boa gestão.
O ano de 1947 foi generoso para os postulantes à cadeira de Prefeito de
Criciúma. Tendo de desincompatibilizar-se para poder concorrer
novamente à chefia do poder executivo, Addo Caldas Faraco renunciou ao
mandato. Seus sucessores foram, pela ordem: Alfredo Bortoluzzi, João
Carlos de Campos e Carlos Otaviano Seára, para um período inferior a um
ano.
Se pavimentar via pública é indício de um bom administrador, Carlos
Otaviano Seára certamente ficará marcado pela história: a ele é creditado o
início do calçamento a paralelepípedos regulares das ruas que circundavam
o jardim da Praça Nereu Ramos. Dali o calçamento foi sendo esparramado
para a periferia e, hoje, praticamente todo o município tem o leito de suas
vias públicas pavimentadas.
Ao Prefeito Nelson Alexandrino, que nos governou de 1970 a 1973, é
creditado o período da pavimentação asfáltica já que no seu governo
algumas ruas do Bairro Pio Correa foram asfaltadas. Diga-se, aliás, que, à
época, nem a Capital do Estado asfaltava suas vias públicas...
Não deixam de serem dois fatos curiosos que marcam os 120 de história de
Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 3 de agosto – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 47
O SEMÁFORO
Heriberto Hülse era nosso Governador. Elias Adaime, nosso Secretário de
Segurança Pública. Este era Deputado Federal eleito pelo PSD, mas que,
em troca do cargo que ocupava, filiara-se à UDN. Era 1960, ano de
eleições.
Ninguém, por aqui, conhecia o Deputado Adaime, secretário da Segurança.
A grande novidade nas grandes cidades era o semáforo, esse conjunto de
faróis que, suspenso por fios ou fixado em postes, disciplina o trânsito de
veículos e de pedestres nos centros urbanos. Em 1959 essas sinaleiras foram
afixadas em Florianópolis, com extenso programa de educação pública já
que ninguém nunca vira tal objeto.
E o Deputado Elias Adaime, para se fazer conhecer em nosso meio, veio
para Criciúma e mandou instalar o nosso primeiro semáforo. Estava
dependurado por fios de metal, sobre o entroncamento das Ruas Pedro
Benedet, Ruy Barbosa, Getúlio Vargas e Praça Nereu. Foi a glória; ver
aqueles faróis acendendo e apagando, automaticamente, passou a ser
atração turística. Veio a eleição e o deputado Elias ficou no vermelho...
Esta foi uma das boas lições havidas nestes 120 anos de Criciúma, este
orgulho de cidade...
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Publicado dia 12 de julho – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 48
III
A IGREJA
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 49
IGREJA: AONDE CONSTRUIR?
Católicos e blasfemadores, os colonizadores precisavam erguer uma capela
para os ofícios religiosos. A maioria morava ali no Santo Antônio os demais
se dividiam entre a primeira Linha e os arredores aqui do centro. Ao ser
discutido o local para erguer o pequeno templo, os de lá queriam a capela
no Santo Antônio e os demais, aqui na praça. A discussão já tinha
colecionado milhares de “Porco Dio”, quando um iluminado propôs: a
capela oficial será aquela em cuja torre o sino tocar primeiro. E resolveram
erguer as duas capelinhas: a do centro e a do Santo Antônio. E, em cada
uma, uma torre lateral para o sino. Mãos à obra e as duas foram concluídas
ao mesmo tempo só que, na hora de bater o sino, o dito cujo ali do Santo
Antônio despencou sem badalar enquanto o da capela do centro bateu a
primeira e uma porção de outras badaladas. Assim nasceu a primeira
capela de Criciúma que, já no final do século mostrava-se insuficiente para
acolher os fiéis. Decidiu-se, então, construir uma nova igreja, agora de
alvenaria e, como dantes, novo debate sobre o local sobre o qual deveria ser
erguida. Uns queriam o novo templo no pasto do João Targhetta onde hoje
temos o Grupo Escolar Professor Lapagesse; outros não abriam mão do
pasto do coronel Pedro Benedet, onde hoje temos a Fundação Cultural de
Criciúma. Fez-se uma eleição, após uma missa dominical. Ganhou a facção
que defendia o pasto do Targhetta. Ganhou mas não levou porque os
opositores daquele local chegaram a incendiar paiol e, pasmem, assassinar
um dos adversários. Daí surgiu um novo iluminado e perguntou para o
povo: porque não construímos a igreja exatamente no centro entre os dois
potreiros?
Fez-se silêncio, um olhou pro outro que olhou pro um e, Porco Diolle, a
questão estava resolvida. Cachaça, vinho, foguete e corrida de cavalo
festejaram a harmonia entre os grupos e a localização definitiva da nova
igreja de São José: exatamente onde está erguida hoje a Catedral
Diocesana.
A italianada era fogo, até para rezar... e isto também faz parte dos 120 anos
de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 18 de outubro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 50
CAPELA DA VILA DE
SÃO JOSÉ
Nossos primeiros imigrantes, aqueles que fundaram nossa cidade nos idos
de janeiro de 1880, embora de várias famílias, confessavam uma única
religião: a Católica Apostólica Romana. Relativamente aos princípios
religiosos, eram ortodoxos no seu cumprimento e não abriam mão dos
costumes que a pátria-mãe lhes ensinara. As orações e os credos faziam
parte do seu dia-a-dia. Tomaram como prioridade das prioridades, o seu
próprio assentamento, com a construção de suas casas para moradias, o
embrionário sistema viário e o trabalho agropecuário que lhes desse o
sustento cotidiano. As orações comunitárias sucediam-se de casa em casa,
ora aqui, ora ali, outras vezes acolá, especialmente a reza do terço, aos
domingos, ao pôr do sol. Paralelamente a tudo isto, sedimentava-se entre
eles a necessidade da construção da capela. E, no ano de 1899, era
inaugurada a primeira capelinha da vila de São José de Cresciuma, erguida
no terreno que hoje comporta a casa da cultura Neusa Nunes Vieira, à
Praça Nereu Ramos. Ao lado da capelinha, de madeira, foi erguida uma
torre, também de madeira, para o sino.
Mais tarde, o templo seria levado para o outro lado da praça numa
construção que, do projeto arquitetônico original, guarda as principais
características apesar de inúmeras reformas e hoje é a Catedral Diocesana
cujas torres apontam a Deus que tem sido generoso para conosco nestes
120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 26 de agosto – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 51
O SINO DO CORONEL PEDRO
Por quem dobram os sinos? Érico Veríssimo, o festejado autor dos pampas,
soube responder, na literatura de sua obra, a pergunta tão sugestiva.
Para avisar aos fiéis de que um determinado ato litúrgico está prestes a
acontecer, para comunicar que uma pessoa faleceu ou que o féretro de um
defunto está adentrando ao templo ou ainda para anunciar uma calamidade
qualquer, os sinos são batidos.
Nossa nova igreja estava pronta, em 1925, mas a torre principal ostentava
um sino de pequenas dimensões que, em decorrência, produzia um som de
pequeno alcance. Era preciso levar o som das badaladas pelo menos até a
Santa Augusta, insistiam nossos ancestrais.
Aí entrou novamente – como o fizera em tantas vezes – o Senhor Pedro
Benedet: Eu vou doar um novo sino para a nossa igreja. Aguardem que vou
à Itália encomendar um sino bem maior que este que está aí.
Lá na pátria-mãe, o sino foi encomendado à Fundição de Pietro Golbachini,
na localidade de Bassano Del Grappa.
Em 1927, o sino era erguido à torre principal na Igreja Matriz São José,
cabendo ao doador e padrinho, Pedro Benedet, puxar a corda para que a
comunidade ouvisse o seu mavioso som. Esse novo som ia bem além de
Santa Augusta, chegando a ser ouvido no Morro da Miséria, denominação
primitiva da localidade de Caravaggio.
Aquele sino daria o que falar, no início de 1999, quando – segundo o que se
apurou foi derretido,refundido e, posteriormente, erguido ao local de onde
nunca deveria ter descido.
Isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 6 de setembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 52
OS PROTESTANTES
Muito já se falou – e se fala – de como a Igreja Católica Apostólica Romana
entrou em Criciúma e o papel que desempenhou e desempenha no seu
processo evolutivo.
Pouco se sabe, todavia, da história dos evangélicos, esses cristãos que, ao
lado dos católicos romanos, têm prestado imensa folha de serviço ao social
de nossa gente.
Consta que, já em 1890, os luteranos faziam culto domiciliar na localidade
de Linha Anta, onde residiam alguns descendentes de alemães. Em 1935, a
Igreja Batista mantinha um pequeno templo entre nós, localizado numa
casinha velha na esquina fronteiriça à Retífica Nereu, onde hoje há uma
casa de jogos. Com muita dificuldade e muita discriminação, os batistas
recebiam orientação religiosa de pastores provenientes de outras cidades.
Dali o templo foi levado para a Operária Velha, mais ou menos em frente
ao Café Pinheirinho. Depois, para a Operária Nova; depois para a Rua
João Pessoa e, nos dias atuais, para os fundos da Padaria Brasil, sua sede
atual.
Em 1940, as famílias de Osvaldo e Artur Mayer faziam realizar cultos, em
suas próprias casas, professando a Igreja Luterana. Em 1942 Adalberto
Braglia, então coletor estadual liderava um grupo de famílias, dentre as
quais Aurélio Teixeira, Athilio Bristot e João Simão instalavam a Igreja
Evangélica Presbiteriana que hoje mantém o templo na Rua Henrique Lage.
A Assembléia de Deus chegaria aqui em 1943, construindo seu pequeno
templo no local aonde hoje temos a sede regional dessa denominação. E,
com a chegada da Assembléia de Deus, o evangelicismo se agigantou em
nosso território. Em pouco tempo, inúmeros templos dessa e de outras
igrejas evangélicas foram sendo construídos aqui e acolá a ponto de, com
segurança, nos dias atuais, contarem-se mais casas de oração dos
protestantes do que, propriamente, dos católicos romanos. Certa rivalidade
que não permitia dividir espaço entre estes e aqueles já não existe e, hoje,
católicos e evangélicos cantam os 120 anos da história cristã de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 1º de outubro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 53
BENZER CASAS
Colonizada a partir de 1880, por um grupo de famílias italianas, Criciúma
se caracterizava como uma vila de italianos católicos, apostólicos, romanos.
E, quem aqui chegasse e que não fosse fiel dessa religião, poderia até tentar
fazer alguma coisa, mas, com certeza, enfrentaria enormes dificuldades.
Ainda nos anos 50 era comum o padre sair de casa em casa, benzendo as
acomodações das famílias.
Essa benzedura não se resumia apenas ao lar, propriamente dito, mas se
estendia, também, aos estábulos, chiqueiros, galinheiros e quintais da
italianada...
Casa com água benta espargida estava defesa contra o diabo e doenças,
afirmavam.
Acreditavam, também, que Chiqueiro, galinheiro e estrebaria abençoados
com a água santa estariam imunes a pestes matadeiras.
Era, também, um de seus costumes, queimar alguns ramos bentos, durante
as trovoadas. Com essa prática, certamente a casa não seria atingida pelos
raios... (Os ramos eram aqueles provenientes do Domingo de Ramos).
Quando o padre da matriz não dava conta, vinham socorrê-lo os das
paróquias vizinhas. O Padre João Dominoni, por exemplo, de Cocal, numa
aranha puxada a cavalos, cumpria o périplo por vasta zona rural...
A Igreja Católica teve importante papel na sedimentação cristã destes 120
anos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 5 de julho – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 54
LUTERANO?
DO LADO DE FORA – I
Em 1925, quando adquiríamos nossa maioridade, falecia, repentinamente, o
primeiro engenheiro de mineração de nossa terra: Paulus Marcus, de
nacionalidade romena.
No dia 21 de maio daquele ano, estando profissionalmente em Urussanga,
foi acometido de um mal súbito e veio a falecer. E a sua morte criou o
primeiro grande problema do recém instalado Município de Cresciuma.
Nosso Cemitério – então localizado exatamente aonde temos hoje a Feira
Livre – era administrado pela Paróquia São José e, evidentemente, nele
eram sepultados os defuntos católicos, até porque não se conhecia a
profissão de outra fé em nosso meio.
Paulo Marcus era evangélico. Luterano.
E o vigário foi enfático: no nosso cemitério somente católicos.
E o que fazer com o corpo do defunto?
Um iluminado, cujo nome a história não preservou, apresentou a solução:
estender o tamanho do cemitério um pouco mais, deixando uma cerca no
seu meio: do lado de cá, os católicos; no de lá, isto é, do lado de fora, os
evangélicos...
E lá naquele lado foi sepultado o nosso engenheiro. E, a partir daí, todos os
evangélicos de qualquer religião e aqueles que tivessem morrido sem
receber o sacramento do batismo.
Esta é uma página fúnebre dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 2 de agosto – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 55
LUTEANO?
DO LADO DE FORA - II
A propósito do lamentável episódio relacionado com o sepultamento do
Engº. Paulo Marcus fora do cemitério, em maio de 1926, o Superintendente
Municipal, Marcos Rovaris, recebia, no dia 7 de julho daquele ano, o
seguinte telegrama: “Consta cemitério aí existem lugares separados para
sepultamento católicos e não católicos e como este fato atenta contra
constituição república que não reconhece nenhuma religião e estabelece
secularização cemitérios, peço me informeis o que há respeito, a fim
governo providenciar como deve cumprir. Cordiais Saudações, Ulysses
Costa, Secretário Justiça”. Marcos Rovaris chamou seus conselheiros e
transmitiu-lhes a preocupação do governo do estado relativamente àquele
lamentável fato e, no mesmo dia, respondeu àquele despacho nos seguintes
termos: “Respondendo vosso telegrama hoje datado temos a dizer único
cemitério Cresciuma é religioso, não pertence ao Município nem a
particular. Administrado pelo pároco local. População varias vezes tem
reclamado contra espírito religioso implantado tendo vista caso engenheiro
Paulo Marcos, só “por ser protestante está inumado em terreno separado
por uma cerca onde existe uma única sepultura em terreno não zelado.
Aguardamos providências a respeito. Saudações, Rovaris Superintendente”.
Aquele lamentável equívoco do Padre Ludovico Cocollo, como vimos,
transcendeu aos limites do município e preocupou as autoridades do
governo. Também de erros foram construídos estes 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade...
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Publicado dia 17 de agosto – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 56
UM MAGNO CONGRESSO
O formato da nossa catedral, até 1946, era diferente do atual: não havia as
duas capelas laterais nem o ádrio de entrada, sobre o qual as figuras dos
evangelistas.
Essas foram construídas em 1946, para aumentar as dimensões de nossa
então Igreja Matriz e para dar-lhe um aspecto de grandeza à altura do
evento que estava programado para aquele final de ano: de 25 a 29 de
dezembro daquele ano, Criciúma seria sede do Congresso Eucarístico
Diocesano. Recordemos que, primeiramente, a diocese a que pertencia a
nossa paróquia São José era a de Florianópolis, sob o comando do bispo
português Dom Joaquim Domingues de Oliveira. Nosso vigário era o Padre
Pedro Baldoncini e seu coadjutor o atual Monsenhor Agenor Neves
Marques que tomou sobre seus ombros a organização daquele conclave
eucarístico.
É daquela data a construção do monumento ao Mineiro, no centro do
jardim da Praça Nereu Ramos que continha, no seu topo, a estátua de
bronze de um mineiro para a qual serviu de modelo o operário da CBCA
Manoel Costa.
Numa das faces laterais do monumento, o escudo do Congresso Eucarístico
que, mais tarde, foi trasladado para um monólito na Praça do Congresso e
dali roubado e do qual não se teve mais notícias.
Numa outra face, a efígie do grande minerador Henrique Lage que, ao ser
derrubado o monumento, foi transportada para o novo construído na antiga
Praça da Imigração, ou Praça da Bandeira, à frente do Café São Paulo,
onde ainda pode ser vista.
Aquele Congresso, apesar de diocesano, teria repercussão nacional. Seu
pregador principal fora o Frei Beneditino Villas Boas, cuja oratória sacra
superlotava logradouros públicos.
O altar das celebrações estava montado no centro de uma praça constituída
por um banhadão que, por ter sediado o evento, passou a denominar-se
Praça do Congresso. O Departamento dos Correios e Telégrafos – nossa
atual Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos – editaria 50 mil selos
comemorativos e o Brasil inteiro acompanhou a sua programação.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 57
Podemos afirmar que, de tudo quanto se realizou em Criciúma, na primeira
metade do século que agoniza, o Congresso Eucarístico foi o grande
destaque.
Ah, em 1946 nosso município ainda era conhecido na grafia de Cresciuma...
E, por tê-lo sido, não pode ficar escondido dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 22 de novembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 58
IV
O CARVÃO
EO
TREM
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 59
E DESCOBRIU-SE O CARVÃO
O carvão mineral, que foi abundante em solo criciumense, foi descoberto
numa casualidade, no ano de 1893. Corria a notícia de que os envolvidos na
guerra dos maragatos e pica-paus, ali do Rio Grande do Sul, adentrariam o
solo catarinense e, ao passar por vilas como a de Cresciuma, confiscaria
burros e cavalos para atenderem aos seus “soldados”.
Essa notícia foi ouvida pelo senhor Giácomo Sonego que, com duas boas
mulas, fazia serviço de frete (com carroça), transportando produtos
hortigranjeiros e tecidos, de Pedras Grandes, Palmeira e Rancho dos
Bugres para os nossos colonizadores, assim como açúcar, farinha de
mandioca, galinhas, ovos e outros víveres para a população de Araranguá.
Perder essas mulas? perguntou-se o Sr. Giácomo, nem pensar. Abriu uma
picada mato a dentro e, a uns duzentos metros, se tanto, de sua casa,
preparou o novo habitat para os seus animais de carga.
Uma das providências foi cavar a terra em busca de uma pequena fonte de
água para ser bebida pelas mulas. Arrancou algumas pedras que desdenhou
por serem muito pretas, jogando-as ao léu.
Agora, comum local para esconder os animais, passou a trabalhar com
apenas uma mula cangada. A cada viagem fazia a troca. Se os pica-paus ou
maragatos roubassem, roubariam apenas um: o outro estava lá escondido.
E isto acabou ocorrendo: uma das mulas foi roubada pelos maragatos,
todavia, quando os larápios atravessavam Cocal, a mula desembestou e, a
galope, retornou ao potreiro do seu dono.
E as pedras?...
Bem, passada essa encrenca toda, o Sr. Giácomo Sonego derrubou o mato,
inclusive aquela porção na qual escondia suas mulas e, depois de recolhidas
as toras e varas mais grossas, ateou fogo na coivara.
E daí, senhores, descobria-se o nosso carvão mineral. No dia seguinte à
queimada, Seu Giácomo foi ver o local e, para sua surpresa, havia umas
pedras queimando, em brasa.
Foi um Deus nos acuda: “i sàssi bruza tutti” quer dizer: as pedras todas
queimam...
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 60
O Senhor Benjamim Bristot, então aprendiz de ferreiro do senhor Pedro
Genovez, lá de Pedrinhas, em Pedras Grandes, levou amostras das pedras e
fez o teste na fornalha daquela oficina: as pedras queimavam.
E que brasa!
Descobria-se, assim, por causa dos revolucionários Pica-Paus e Maragatos,
da terra gaúcha e das mulas do Senhor Giácomo Sonego, o carvão mineral
em solo cresciumense.
Era o ano de 1893 e este é um dos fatos mais marcantes dos 120 anos de
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 11 de novembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 61
AS MINAS
Vimos ontem que o carvão mineral foi descoberto em 1893, em terras do
Senhor Giácomo Sonego, num dos episódios mais casuais da história
econômica de nossa terra.
Aquelas pedras que "bruzavam", foram arrancadas do solo, pelo próprio
Giácomo, na intenção de cavar uma fonte de água para as mulas de sua
propriedade.
A localização dessa área é o Bairro Santo Antônio, lá atrás, conhecido de
nós como Mina Velha. Naquela local foi implantada a primeira mineração
de carvão de Criciúma: a mina Paulo de Frontin, da Companhia Brasileira
Carbonífera de Araranguá, a nossa prezada CBCA, já no ano de 1917.
Tomava este nome em homenagem ao seu diretor, o Dr. Paulo de Frontin
que, com os engenheiros Dr. Silva e Dr. Maurício, responsabilizavam-se
pela segurança das frentes de trabalho. Nessas frentes, estavam os nossos
primeiros mineiros, João Venzon, Alexandre Venzon, Antônio Zanette de
Lourenço e Caetano Sonego. As vagonetes já tinham o formato daquelas
que, mais tarde, seriam consagradas no transporte do minério, da frente de
produção até lá fora, onde o produto era embarcado para o consumo final.
Só que essas vagonetes eram puxadas por bois. Nessa época, a CBCA já
pertencia a Henrique Lage, conforme já vimos em edição anterior.
Depois a extração do carvão foi sendo implantada em outras áreas do
Município como o Pio Corrêa, a Mina Brasil, o Lote Seis, a Boa Vista, São
Marcos, Metropolitana, Rio Maina, Mina do Mato, Mina do Toco, Mina
Naspolini, Mina do Tunin, São Simão e Próspera.
Cada uma tomava um nome apropriado às próprias circunstâncias locais.
Assim, a Mina Velha receberia este nome por ser a mais velha dentre tantas
outras; a do Lote Seis, porque fora aberta no Lote Seis daquele Loteamento;
a da Metropolitana, em homenagem à Cia Colonizadora do mesmo nome; a
Mina do Mato, porque fora implantada no meio do mato ali existente.
“Onde está o fulano de tal? – Está lá na mina do mato” Onde está a
carroça? Está lá na mina do mato... E ficou Mina do Mato.
A do Tunin, por causa do Bepi Tunin, senhor José Guglielmi, pai do Sr.
Santos, e assim por diante...
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 62
Como vemos, é impossível deixar de falar de carvão, quando a proposta são
os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 12 de novembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 63
MORREU SOB
O CARRO DE BOIS
Mal começava a indústria da extração do carvão e os espertos já jogavam
seus tentáculos sobre a nossa gente.
Faço a leitura do primeiro contrato celebrado entre futuros mineradores e
os proprietários de áreas periféricas da cidade de Criciúma.
Prestem atenção:
Contrato público, irrevogável, que fazem José Piazza, Giácomo Thomé,
Batista Darós, Giácomo Sonego, Lúcia Ortolan, Viúva Milioli, Palamede e
Maria Milioli, Angelo Scotti, Luiz Pizzetti, Luz Cacciatori, Constante Milioli
e Benjamin Bristot, residentes em Criciúma, município de Araranguá,
estado de Santa Catarina, todos proprietários de terrenos situados neste
município e, de outra parte, o Dr. Paulo Lacombe, engenheiro, e Artur
Walson Sobrinho, negociante, residentes no Rio de janeiro, representados
pelo Coronel Emilio Blunn, residente em Florianópolis e substabelecido por
procuração ao Sr. Frederico Silva, residente em Florianópolis, por
procuração feita no tabelião Campos Júnior, de Florianópolis, registrada
no Livro de Notas nº 120, B e por eles foi dito que têm entre si, justo e
contratado o seguinte:
1º os primeiros contratantes, tendo seus terrenos livres e desembaraçados
de quaisquer ônus, concedem, ao segundo, o direito de por si e pela
companhia ou empresa que organizar, explorar as minas ou jazidas de
quaisquer minérios que contiver nos aludidos terrenos como especialidade e
de carvão;
2º os proprietários se obrigam a não criar embaraços de forma alguma
para as instalações necessárias ao trabalho de exploração de minérios das
minas;
3º o segundo contratante se obriga a pagar aos primeiros, dois e meio por
cento do carvão extraído, devendo os pagamentos ser semestrais;
4º este contrato vigorará durante o tempo todo em que o subsolo dos
terrenos contiver minérios;
5º o segundo contratante se obriga a dividir com os primeiros quaisquer
quantias que o governo o presentear;
6º esta cláusula determina o adiantamento do pagamento de um conto de
réis (1:000$000) aos proprietários dos terrenos e que a referida
importância será descontada das futuras percentagens sobre a extração do
carvão;
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 64
7º se o segundo contratante não fizer os pagamentos os primeiros
contratantes poderão assenhorar-se de todas as benfeitorias executadas por
aquele na respectiva propriedade;
8º se os primeiros contratantes não cumprirem este contrato estarão sujeitos
à multa de três contos de réis (3:000$000).
Serviram de testemunhas os senhores Cesar Benedet e Marcelo Lodetti.
Os analfabetos foram representados pelo Padre José Francisco Bertero,
vigário da paróquia São José.
Esse contrato foi celebrado no dia 19 de agosto de 1916 e é parte
documental dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 3 de dezembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 65
CONTRATO DO CARVÃO
Noutro dia, reportei-me, aqui, sobre a instalação do primeiro semáforo de
nossa cidade, numa esquina que, à época, com cruzamento de alta
densidade de trânsito, oferecia certo perigo aos que por ali trafegassem: era
a esquina da Cel. Marcos Rovaris, com a Rui Barbosa, Getúlio Vargas e
Praça Nereu. Isto ocorreu em 1959. Com e sem sinaleiras, o trânsito fazia,
fez e continua fazendo suas vítimas.
Uma delas – provavelmente a única do gênero – ocorreu em 1934. Um
acidente com um carro de bois tirou a vida de um homem de 39 anos. O
acidentado tinha como profissão, transportar carvão da boca da mina para
a estação de embarque da Estrada de Ferro Teresa Cristina. O carro de
bois era o veículo transportador do minério. Era assim que se fazia o
transporte do mineral para embarcá-lo na ferrovia.
Naquele 13 de Novembro, Gabriel Benedet carregou o seu carro de bois
com os mil quilos que o veículo comportava: uma tonelada! Deixou o páteo
da Mina Ouro Preto, de propriedade de Júlio Gaidzinski, ali aonde hoje
temos o Hospital São João Batista, e deu a partida chamando os bois pelos
nomes: Vamos Barroso, Vamos Estrelo... Os bois obedeceram e só pararam
na porteira do potreiro (aquilo tudo era um grande potreiro) quando o
Gabriel desceu do carro, abriu a porteira, mandou os bois atravessarem,
fechou a cancela e, a passos largos, tentou assomar o comando do carro, na
sua parte fronteiriça... Escorregou, caiu sob o carro e a roda direita passou
sobre seu corpo no sentido transversal, amassando o tórax e fraturando
costelas e antebraços. Era 17h00min horas e as 20h00min horas, internado
no São José – que já atendia os enfermos – falecia. Deixou viúva dona
Maria, filha do Cel. Pedro Benedet e a prole de nove filhos, o mais velho
com 14 anos de idade: Dolvino, Belmiro, Diva, Divo, Mario, Celina,
Estevão, Irene e Novelino.
Esse acidente fatal certamente é o único de que se tem notícia e,
provavelmente, teria sido o primeiro – ou um dos primeiros – da indústria
da extração do carvão em nosso meio. E isto também faz parte dos casos
raros ocorridos nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 14 de outubro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 66
A PRÓSPERA
Existia, em Urussanga, em 1917, a Cia. Carbonífera “A Colônia”, de
propriedade de Angiolino Nichelle, Atilio Cassol Bainha, Jorge da Cunha
Carneiro, Polydoro Bez Batti, Vitório Búrigo e o Engenheiro Paulo Marcus.
Seu capital era divido em ações e dividido, proporcionalmente, entre os
sócios. Os negócios ali não foram muito bem e, com o início da exploração
do carvão em solo criciumense, resolveram fechar o negócio em Urussanga
e trouxeram a Carbonífera para Criciúma. Aqui, ela tomaria o nome de
Sociedade Carbonífera Próspera Ltda. e à referida empresa entrariam os
novos sócios Vitório Búrigo, Pedro Benedet, Marcos Rovaris, Pacífico
Nunes, Frederico Minatto e Francisco Meller. Abriu suas galerias no atual
Bairro Próspera e operou a todo vapor sob a direção do engenheiro romeno
Paulo Marcus. Em 1924 a sociedade foi transferida para um grupo alemão
que, embora o florescente negócio da mineração carbonífera, deixaria a
mina parada durante vários anos. Júlio Gaidzinski e Jorge da Cunha
Carneiro resolveram, então, adquirir o seu controle patrimonial
transferindo-o, mais tarde, ao comendador José Martinelli e ao ex
Governador Irineu Bornhausen. Em 1953, Martinelli e Bornhausen
negociam a carbonífera com a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN que já vinha operando em Siderópolis. A CSN tinha grande interesse no
carvão mineral haja vista que, por determinação legal, os altos fornos
daquela Companhia, localizados na Usina de Volta Redonda, eram
obrigados a consumir o produto nacional extraído, à época, somente em
nossa Região. A CSN, então, alargou os negócios da extração buscando o
rico mineral em várias frentes do solo criciumense, dando grande impulso à
mineração. No governo Collor de Mello, a obrigatoriedade do consumo do
carvão nacional pelas grandes Usinas fabricantes do aço deixou de ser
exigida e a CSN pôs um basta no seu interesse em nosso produto. Logo em
seguida a Carbonífera Próspera seria privatizada e o resto da história é
conhecido de todos nós.
Assim, a Carbonífera Próspera fica inserida no contexto dos 120 anos de
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 18 de novembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 67
A ESTRADA DE FERRO
Em 1874, o Visconde de Barbacena recebia, do governo imperial, a
concessão para construir e explorar uma ferrovia no Sul de Santa Catarina
que a transferiu à empresa inglesa The Theresa Christina Railway
Company. Os ingleses fizeram o projeto da construção e o submeteram ao
imperador Pedro II que o aprovou e, em 1880 – exatamente quando nosso
chão foi colonizado – a estrada começou a ser construída. Já no ano de
1884, era inaugurada, ligando Imbituba a Lauro Muller, com um pequeno
ramal para a cidade de Laguna. Era a ferrovia do carvão.
Somente em 1917 – 33 anos depois – é que foi iniciado o ramal de Tubarão
à Barranca (Araranguá), passando por Criciúma. Em 1919, os trilhos
chegavam a Içara com o primeiro comboio recebendo carvão mineral das
minas de Paulo de Frontin (CBCA) que, até esse ano, era carregado em
carros de bois até Pontão, em Jaguaruna.
O transporte ordenado do nosso mineral até o porto de Laguna iniciou a
partir de 1918.
Finalmente, no dia 7 de setembro de 1923, o transporte de passageiros entre
Criciúma e Tubarão, era iniciado precariamente, só se solidificando, com
serviço de tarifas e horários pré estabelecidos, a partir de setembro de
1918. O tal de trem de passageiros fazia o itinerário, as Segunda, quartas e
sextas-feiras, saindo de Tubarão às 8,50h e chegando à nossa estação às
11h20min. Retornava as terças, quintas e sábados, partindo daqui às 5,10h
e chegando a Tubarão às 7h42min.
A nossa Teresa Cristina, como estamos vendo, carregou, nos seus comboios,
muito dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 7 de setembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 68
O TREM DAS SEIS
O trem das seis, ou melhor, o trem das 18horas. Era uma festa. Ele vinha de
Imbituba, passava por Laguna, Tubarão, Jaguaruna e Içara, apanhando
gente em todas essas e outras pequenas estações. Era o meio de transporte
da época. E, até, dava status viajar na primeira classe da Teresa Cristina.
Esse trem do horário, como era apelidado, esvaziava seus vagões de
passageiros às 6 horas da tarde ali na estação ferroviária.
Quando apontava no corte da Próspera, o maquinista acionava o apito
anunciando que o trem estava chegando. O comércio da cidade ouvia
aquele apito e, imediatamente, eram cerradas as portas e todo mundo subia
a Conselheiro João Zanette para assistir ao desembarque: uma festa! Nas
laterais fronteiriças ao prédio da Estação, os ônibus que demandavam a
todos os rincões do Município: estes aguardavam a chegada do “horário”
para, depois do desembarque, rumarem para seus destinos.
E olha que muita gente boa da cidade tomava banho, vestia roupa nova e se
perfumava para a hora do trem do horário.
Este é um saudoso momento dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
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Publicado dia 9 de agosto – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 69
A MARION
Os anos 50 surpreenderam nossa região com um boom no setor carbonífero.
Siderópolis dava amostras de que o apetite extrativo estava bem ao gosto do
paladar dos mineradores ali plantados. A Carbonífera Treviso adquiriu uma
máquina arrancadora de carvão a céu aberto que, à época, seria a maior do
mundo: na caçamba avassaladora do solo, cabia um caminhão FNM e isto
retratava o tamanho daquele instrumento.
Os vagões da Dona Theresa Christina transportaram a máquina, em peças
desmontadas que completaram a carga de alguns comboios. Menos a tal da
caçamba: seu tamanho era tão extraordinariamente grande que a largura
do túnel furado sob o morro de Siderópolis, não permitiu que assim ela lá
chegasse.
E daí, tiveram de retificar vários trechos da velha estrada que ligava
Criciúma a Siderópolis para permitir que aquele trambolho pudesse ser
transportado: a começar pelo sinuoso Morro do Bainha que, como de resto
praticamente toda a extensão da referida rodovia, recebeu significativo
melhoramento.
Foi assim que a Marion, maior máquina de extração mineral a céu aberto,
do mundo, chegou a Siderópolis.
Isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 27 de julho – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 70
A POLÍTICA
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 71
A PRIMEIRA ELEIÇÃO
Dia 6 de dezembro de 1925, ocorreu a primeira eleição política de
Cresciuma, então Município emancipado de Araranguá, mas ainda não
instalado.
A data fora determinada por decreto do Governador Pereira Oliveira.
Estavam inscritas para votar, 151 pessoas. O colégio eleitoral era pequeno
para o tamanho do Município que começava ao pé da Serra Geral e se
estendia até o Oceano Atlântico. Mas, há que se entender que só votavam os
homens alfabetizados. Desses 151 eleitores, nove deixaram de comparecer.
Os 142 restantes elegeram Marcos Rovaris, Superintendente, com Francisco
Meller e José Gaidzinski como seus suplentes.
Fábio Thomaz da Silva, Gabriel Arns, Henrique Dal Sasso, Olivério
Nüernberg e Pedro Benedet, eram eleitos nossos primeiros Conselheiros,
isto é, nossos primeiros Vereadores.
Não consta ter havido comício, compra de voto, “boca de urna”.
O exercício do mandato conferia singular honraria ao seu detentor.
A posse se deu a primeiro de janeiro de 1926, quando o Município foi
instalado e deu início à sua bela e fantástica trajetória.
Este é um belo pedaço dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho
de cidade.
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Publicado dia 4 de agosto – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 72
MESAS ELEITORAIS
Com a denominação de Conselho Municipal de Criciúma, o Poder
Legislativo de nossa terra esteve reunido, pela última vez, no dia 15 de
janeiro de 1930. Depois veio Getúlio Vargas com o Estado Novo e a
ditadura, e o nosso parlamento esteve fechado até 1946 quando reabriu com
o nome de Câmara de Vereadores.
Pois bem, naquela última reunião, do dia 15 de janeiro de 1930, nossos
conselheiros aprovaram a divisão do território municipal em quatro zonas
eleitorais, haja vista que, naquele ano, haveria eleições para uma série de
mandatos.
A sede do Município ficou com duas seções eleitorais: a primeira, com 330
eleitores, sob a responsabilidade de Heriberto Hülse, João Serafim Schmidt
e Roberto Meyer; a Segunda, com 300 eleitores, sob a responsabilidade de
Silvino Rovaris, Hércules Guimarães e Mansueto Costa;
Nova Veneza ganhava uma seção para seus 275 eleitores, sob o comando de
Alfredo Bortoluzzi, Henrique Dal Sasso e Estevan Nazário.
E Forquilhinha recebia a 4ª e última seção eleitoral, sob a responsabilidade
de Jacob Arns, Bernardo Kestering e Leonardo Steiner e nela deveriam
votar 220 eleitores.
Daquele insignificante número de 151 eleitores de 1925, agora já eram
cadastrados 1.125 em todo o Município. E este é um fato marcante dos 120
anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 10 de agosto – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 73
UM GOLPE (O PRIMEIRO)
De 1930 a 1933, foi nosso Superintendente (hoje Prefeito Municipal), o
senhor Cincinato Naspolini. Sua posse resultou de um golpe político-militar
encetado contra o prefeito legalmente eleito, Marcos Rovaris, na
madrugada de 18 de outubro de 1930, à frente o coronel Ernesto Lacombe,
chefe da revolução getulista no sul catarinense.
Nos três anos que ocupou a cadeira de Prefeito, Cincinato imprimiu um
governo de austeridade e de grandes realizações, dentre as quais se
destacam: construção do atual Grupo Escolar Professor Lapagesse; criação
e construção do Hospital São José; abertura da Avenida Getúlio Vargas e
da Rua João Pessoa; criação da Praça Nereu Ramos com a implantação do
jardim cuja simetria dos canteiros permanece inalterada até os dias atuais
e, curiosamente, a arborização da cidade com cinamomos. Na Praça Nereu.
três imensas figueiras dão sombra aos que ali comparecem todos os dias:
aquela da extremidade sul, em frente à chopparia, plantada pelo próprio
Cincinato; a do meio – em frente à Casa da Cultura – plantada pelo taxista
Emílio Serafim e, a da extremidade Norte, em frente aos escritórios da
Metropolitana, plantada por Hercílio Amante, numa das vezes que exerceu
o mandato de prefeito em substituição ao titular. Se o jardim da Praça
Nereu Ramos é um dos testemunhos vivos do governo de Cincinato
Naspolini, as figueiras setentonas atestam que aqui residem pessoas
amantes da natureza e respeitadoras do verde. E esta é uma passagem
muito salutar destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade.
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Publicado dia 19 de julho – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 74
UDENISTA OBEDECE
Desde os últimos meses de 1954 e em todos os primeiros de 1955, Santa
Catarina efervescia na discussão da sucessão de Irineu Bornhausen, nosso
Governador. A União Democrática Nacional, no poder, tinha no seu seio
alguns pretendentes à cadeira do “Velho Colono”, com destaque para os
deputados Vanderlei Júnior e Aroldo Carvalho. Mais para este do que,
propriamente, para aquele.
Todavia, as raposas udenistas – ouça-se Irineu, Heriberto Hülse, Paulo
Fontes, Clodorico Moreira, dentre outros – ensaivam uma coligação com o
Partido de Representação Popular, o PRP, com o seu jovem e brilhante
deputado, advogado e jornalista, Jorge Lacerda. E essas raposas sentiam
que todo o projeto poderia ser sacrificado se os interesses pessoais
sobrepujassem os interessem partidários esses sim, capazes de enfrentarem
o PSD – velho e aguerrido adversário e fazerem o sucessor.
De nossa cidade partiu a primeira manifestação de solidariedade aos
caciques do Partido: em Nota Oficial, o Diretório Municipal da UDN
comunicava aos seus correligionários que hipotecava solidariedade à
coligação com o PRP abraçando a candidatura de Jorge Lacerda ao
governo de Santa Catarina. Essa nota fora assinada dia 27 de maio de 1955
e levava as assinaturas de Osvaldo Hülse e Nicolau Destri Napoleão,
respectivamente, presidente e secretário do diretório municipal dos
udenistas.
Este é mais um fato que se colhe como exemplo de lealdade partidária às
decisões convencionais dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho
de cidade.
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Publicado dia 23 de julho - sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 75
PLANEJAMENTO
1960: resultado da coligação Social-Trabalhista, formada pelo Partido
Social Democrático e pelo Partido Trabalhista Brasileiro, ganha as eleições
para o comando do Paço Municipal, o advogado trabalhista, funcionário do
SESI, Nery Jesuino da Rosa. Derrotou Aldo Luz, da União Democrática
Nacional que contava com o apoio do Partido de Representação Popular, o
PRP.
Ao tomar posse do cargo, Dr. Nery pronunciou importante discurso nele
inserindo o seu plano de governo para os quatro anos que lhe estavam
reservados na chefia dos negócios públicos do Município. Duas delas ele
logo concretizou: um novo Cemitério Municipal (que é o atual, do Bairro
São Luiz) e a abertura do acesso sul à BR-59, hoje BR-101.
Recebeu críticas de todo lado: primeiro porque o Cemitério fora localizado
muito longe da cidade e, segundo, porque ninguém vai usar essa estrada de
maluco que liga nada a coisa nenhuma...
O tempo se encarregou de mostrar o quanto estava certo o nosso Prefeito.
Esses fatos sedimentam a necessidade de se planejar a administração
pública.
Que todos diremos proveito da lição e viva os 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 2 de julho, sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 76
A ELEIÇÃO DO NAPOLEÃO
Paulo Preis era nosso Prefeito, em 1955, quando renunciou ao mandato
para poder concorrer a uma cadeira de deputado estadual. Era março
daquele ano e seu período só terminaria em janeiro de 1956. Como mais da
metade do mandato já havia sido cumprido, a Câmara Municipal deveria
escolher seu sucessor para completar o referido mandato. A composição
partidária, na Câmara, era esta: cinco Vereadores do PSD, três da UDN,
um do PRP e um do PTB. A UDN e o PRP caminhavam sempre juntos como
também o faziam o PSD e o PTB. Era necessária maioria de dois terços
para eleger um prefeito indiretamente. O PSD com o PTB possuía esta
maioria, mas não se entendiam no nome do sucessor. O Petebista era o
presidente da edilidade, Auzenir Guimarães Carvalho que, trafegando pela
Cel. Pedro Benedet, ao passar de fronte à sede do Sindicato dos Mineiros
(hoje Lojas HM) avistou o advogado sindical Napoleão de Oliveira, um
carioca recém chegado à cidade. E perguntou: você aceita ser Prefeito de
Criciúma? À noite, o Dr. Napoleão de Oliveira – que nunca pensara em ser
alcaide de nossa terra – era eleito e empossado prefeito municipal para
cumprir o mandato de Paulo Preis. Era 15 de março de 1955 e nos
governou até 31 de janeiro de 1956. Não deixa de ser um fato curioso destes
120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 16 de julho – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 77
SEQÜESTRO
Haveria renovação dos cargos da Mesa Diretora da Câmara Municipal.
Como sempre acontece, o caldeirão político da cidade efervescia naquele
fevereiro de 1962. De um lado o hegemônico PSD certo de que faria
prevalecer o seu raposismo elegendo Nico Guglielmi Presidente. De outro,
a matreira UDN reunindo-se com Diomício Freitas para engenhar a derrota
do ferrenho adversário.
A eleição marcada para o dia 6 de fevereiro. Dia 4 daquele mês, todavia,
desaparecem da cidade dos vereadores do PTB, fiel e constante aliado do
PSD. Ninguém sabia dizer do paradeiro de Abílio dos Santos e Lafayete
Borba. A UDN, embora quietinha, não conseguia fingir o seu entusiasmo
festivo. O PSD, varando madrugada na casa paroquial com o Padre
Estanislau, buscava uma explicação para o sumiço.
Chegou o dia da eleição. A Praça Nereu Ramos, em frente ao edifício da
Prefeitura, onde também funcionava a Câmara, apinhada de gente de todos
os cantos do Município. E eis que, exatamente na hora de começar os
trabalhos, estaciona uma camionete Rural Willis em frente à Prefeitura e
dela descem os dois desaparecidos Vereadores juntamente com José
Martinho Luiz que, quando do desaparecimento dos dois primeiros,
encontrava-se em Porto Alegre e que, mal chegado de retorno a Criciúma,
fora também levada para junto daqueles. Batem a eleição e o udenista
Wilmar Peixoto é eleito Presidente. Com os votos do Lafayete, do Abílio e
do José Martinho Luiz, primeiros políticos seqüestrados em nosso meio.
Naqueles dias, descansavam no Morro dos Conventos que, não por acaso,
era propriedade do Seu Diomício que, por acaso, era da UDN. Foi autor
intelectual do seqüestro, o também petebista e vereador Aryovaldo Huascar
Machado. Esse episódio ofereceu inúmeras lições aos políticos que
construíram e constróem estes 120 anos de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 8 de julho – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 78
MANDATOS CASSADOS
Cinqüenta dias depois de oficializado o golpe militar denominado
Revolução de Março de 1964, seus efeitos foram sentidos na carne pelos
políticos de Criciúma: uns porque foram cassados e outros por que tiveram
que cassar.
Quando a Câmara expede alguma determinação, o faz através de uma
Resolução que deve ser assinada pela Mesa, neste caso, pelos quatro
membros que a compõem, ou seja: o Presidente, o Vice, o 1º e o 2º
secretários. Não raras vezes ocorre de apenas o Presidente e o 1º secretário
subscrevê-la.
Isto não aconteceu na noite fria e triste de 20 de maio de 1964 quando a
Câmara Municipal de Criciúma, então composta por 11 senhores
Vereadores, baixou a Resolução nº 03/64. Aquele documento tomou as
assinaturas de nove dos seus integrantes já que os outros dois que não a
subscreveram foram o objeto direta da sua expedição: foram cassados.
O artigo primeiro daquele documento cassou os mandatos dos Vereadores
Abílio dos Santos e José Martinho Luiz, ambos da bancada do Partido
Trabalhista Brasileiro. O art. 2º dava conta da culpabilidade que estaria
consubstanciada em documentos fornecidos pelas Forças Armadas através
de Inquérito Policial Militar. Esse artigo segundo termina dizendo que tais
documentos imputando culpa aos dois cassados são parte integrante e
baixados pela mesma Resolução. Só que deles ninguém viu nem ouviu falar.
Esta é uma página melancólica dos belos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 22 de julho - quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 79
E NÃO EMPOSSARAM O ROMEU
Em 1964, cassados os mandatos dos vereadores Abilio dos Santos e José
Martinho Luiz, da bancada do PTB, foram chamados para ocupar suas
respectivas cadeiras, os suplentes João Antônio Nunes e Nilton Francisco
Rabello. Romeu Lopes de Carvalho – personagem de quem ainda haveremos
de nos ocupar nesta série de lembranças históricas – passou da condição de
3º para 1º suplente da bancada trabalhista.
Dois fatos de certa gravidade ocorriam na cidade; um deles envolvendo um
comerciante – que havia vendido leite do programa social americano
“Aliança para o Progresso” em seu estabelecimento; o outro, um vereador
que teria se locupletado de uma plantação de eucaliptos e de bananas de
área territorial pertencente ao Estado.
Nenhum dos vereadores encorajou-se para denunciar os referidos fatos,
conhecidos oficiosamente por toda a população. Romeu Lopes de Carvalho
foi à praça pública e afirmou que se ele estivesse no nosso parlamento
aquelas denúncias não passariam em branco.
Para testar a coragem do Romeu, o Vereador Nilton Francisco Rebello
pediu uma licença do mandato pelo prazo de 30 dias. E daí, senhores, o
suplente foi convocado e, antes mesmo de assumir já foi tratando de
alinhavar o tal discurso eivado de denúncias. Só que o Presidente da
Câmara resolveu que, naquele mês, a edilidade não se reuniria e só voltaria
a funcionar ao final da licença do Vereador licenciado. E foi o que
aconteceu. A Câmara permaneceu fechada nos 30 dias em que Rebello
esteve licenciado e Romeu Lopes de Carvalho não sentiu o sabor de
assomar a tribuna para pronunciar suas denúncias.
Não é apropriado para hoje, agosto 13, Sexta-feira, relembrar esse
inusitado fato dos 120 anos da história de Criciúma, este orgulho de
cidade?
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Publicado dia 13 de agosto – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 80
VI
A COMUNICAÇÃO
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 81
O TRANSPORTE
Segundo o que relatam esparsas notas reveladoras dos primeiros tempos, a
comunicação entre as vilas do Sul catarinense eram feitas a cavalo ou a pé,
em picadas abertas a foice e facão em meio à selva. Conspiravam contra
qualquer boa vontade de comunicar-se com amigos, o desconforto da
viagem e o perigo a que se estava exposto: não nos esqueçamos de que
nossos antepassados estavam colonizando uma área de terras habitada por
alguns índios remanescentes da grande civilização carijó e por animais
silvestres.
Os gêneros alimentícios eram buscados no porto de Laguna, numa viagem
que compreendia dois capítulos: um terrestre e outro fluvial-marítimo. No
primeiro, cangavam-se os animais – cavalos ou bois – e tomava-se a viagem
até Portão, à entrada da cidade de Jaguaruna. Ali, guardavam-se os
animais para o retorno e seguia-se a viagem até o Porto de Laguna por
meio de barcos, utilizando o rio que banha aquela cidade.
Esse trajeto era feito, também, para a exportação dos gêneros alimentícios
aqui produzidos ou industrializados, especialmente os derivados de suínos.
Carne salgada e banha procedentes da nossa colônia tinham mercado certo
no Rio de Janeiro para onde eram levadas pelo Vapor Max, da empresa de
Carlos Hoepcke.
O nosso carvão também seguia esta mesma rota: de carros de bois até
Portão e de canoa até Laguna. Cada carrada pesava uma tonelada e a
viagem era feita em três dias: a primeira noite era dormida em Morro da
Fumaça, a segunda na Rua do Fogo. No verão, o transporte era feito
apenas à noite, haja vista o intenso calor que, não raras vezes, matava os
animais.
Descendentes dessa brava gente que plantou a nossa cidade em cima de
tanto sacrifício, às vezes perguntamo-nos como isso tudo era possível! E
pensar que uma pista asfaltada, com duas mãos e acostamentos, já não
mais nos satisfaz na ligação entre nossas cidades, elas todas, na
macrorregião, alcançadas em, no máximo, uma hora...
Das picadas, dos caminhos, das pinguelas e pontilhões de ontem, brotaram
as estradas e rodovias de hoje pelas quais trafegam conscientes e
inconscientes descendentes de abnegadas famílias que, a partir de 1880,
vislumbraram o progresso de seus pósteros.
E isto também está inserido no contexto dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 25 de outubro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 82
O PRIMEIRO CAMINHÃO
Quantos veículos automotores temos em Criciúma, neste ano da graça de
1999? Milhares... Todos os dias são licenciados dezenas de veículos que
passam a somar a gigantesca frota que roda sobre o leito de nosso sistema
viário. E tudo começou em 1916, quando Marcos Rovaris, em sociedade
com Jacinto Tasso, adquiriu um caminhão Fiat para o transporte de
mercadorias em nossa região. Aquele primeiro veículo do município veio de
Laguna, guiado por Angelo Amboni, numa viagem que, só ele e Deus para
contarem, tal o tamanho das dificuldades.
Chegando a Primeira Linha, onde residia o Sr. Rovaris, constatou-se que o
caminhão fora comprado para ficar na garagem, haja vista que os caminhos
de carroças e de carros de bois não permitiam seu tráfego, tal a
buraqueira...
O que fez o Sr. Marcos?
Propôs ao governo do estado o seguinte negócio: eu abro as estradas para
o meu e para qualquer outro veículo automotor e o governo me transfere
áreas de terras devolutas na Zona do Pilão.
Negócio proposto, negócio aceito. Nós ganhamos nossas primeiras estradas
e o senhor Marcos Rovaris glebas de terras.
Ah, e aquele caminhão Fiat deve estar em Laguna, como peça do Museu
Anita Garibaldi, para o qual foi doado pela família do nosso exsuperintendente.
Não deixa de ser um fato inusitado destes 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 1º de setembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 83
PINGÜIM, PRECURSOR.
Esse movimento agigantado de perueiros que, em São Paulo, deixa
empresários dos transportes coletivos de cabelos em pé, não é novidade
para a nossa cidade.
No ano de 1960 – portanto há 39 anos – o empresário Auzenir Guimarães
Carvalho já havia descoberto o filão do micro transporte, quando fundou a
Empresa Pingüim, constituída de cinco kombis, o fantástico veículo
utilitário da Volkswagen que transportava até nove pessoas com custos
reduzidos para os padrões da época. Durante três anos, as kombis da
Pingüim levavam e traziam passageiros da Próspera ao Rio Maina,
atendendo também aqueles que residissem na Mina do Mato, no
Pinheirinho, na Boa Vista e na Operária. Funcionava no sistema de circular
e não parava. O dia inteiro e todos os dias estava ali, nas esburacadas e
enlameadas estradas da época, uma das kombis da Pingüim, transportando
nossa gente.
Depois a empresa foi vendida para terceiros e transformada na Expresso
Rio Maina que cobriu o mesmo trajeto com os tradicionais ônibus de nós
todos conhecidos.
Aquela iniciativa pioneira também faz parte dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 16 de agosto – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 84
OS JORNAIS
1926. O Município recém emancipado precisava de um órgão que, ainda na
condição de oficioso, transmitisse as notícias e registrasse a história para
aqui habitantes. Naquele 1º de janeiro do nosso primeiro ano de vida
independente, circulava a edição primeira do Jornal “O Mineiro” de
propriedade dos coronéis Marcos Rovaris e Pedro Benedet. Adolfo Campos,
então Professor estadual e secretário municipal, era o seu redator. Pelo
departamento financeiro do Jornal, respondia o Senhor Frederico Minatto
que, não por acaso, era também o tesoureiro do Município.
Aquele jornal, editado quinzenalmente, circulou durante todo o ano de 1926
e, não suportando a carga dos ônus para sua manutenção, fechou em
dezembro.
Depois dele veio o O Frege, também um quinzenário que se preocupava
muito com o social e a sátira. Registrava nascimentos, noivados e
casamentos e satirizava – às vezes com piadas de mau gosto, até – os
acontecimentos políticos daqui, da Região, da Capital e da República.
A 2 de maio de 1955, José Pimentel, nosso vanguardeiro das lides forenses,
fazia circular um semanário de nome Tribuna Criciumense.
Tantas foram as iniciativas assemelhadas antes dele que, desconfiada, a
população não deu muita fé no Jornal do Pimentel. Mas a Tribuna, aos
trancos e barrancos, foi tomando o seu espaço. Trocando de direção e de
proprietários atravessou todas as crises e contou a história de todos os
governos que o Município viu subir e descer desde aquele ano. A partir de
abril de 1999, avançou editorialmente, reequipou-se tecnicamente, e está aí,
circulando diariamente nas praças de Criciúma e das cidades vizinhas.
Decano da imprensa local, Tribuna Criciumense tornar-se-ia, ao longo de
seus 45 anos, o Jornal da Família desta cidade.
Depois do Tribuna Criciumense, outros vieram e tantos desapareceram. O
Jornal de Criciúma, por exemplo, ao tempo em que Nery Rosa fora Prefeito,
circulava semanalmente com opiniões bombásticas (sempre a favor daquele
dignitário). O Independente, também marcou época. O Jornal do Sul, há
mais de 20 anos circula todas as sextas-feiras.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 85
O precursor da imprensa diária, todavia, daqui e de todo grande Sul
catarinense, foi o Jornal Correio do Sudeste, de 1973. Este também tem uma
história bonita para ser contada. De crise em crise de sucessão em sucessão
acabou sendo chamado de Jornal da Manhã, esse importante veículo de
comunicação que granjeou o respeito e a admiração de todos nós.
O registro dos acontecimentos e, especialmente, de significativa parte dos
120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, está estampado
nos jornais que o tempo se acostumou a ler...
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Publicado dia 8 de dezembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 86
O AEROPORTO
No ano de 1952, era fundado o Aeroclube de Criciúma, uma entidade civil
que objetivava o estímulo à aviação em nosso município. Era seu Presidente
o senhor Gentil Luiz Vieira. Só que, não havia aeroporto. O teco-teco do
Adamastor Martins da Rocha – e outros que se aventurassem ao pousodecolagem – utilizavam um potreiro no Bairro São Luiz exatamente, hoje,
na via paralela à Av. Santos Dumont. Antes, já serviam para esse mistér, os
potreiros do Casagrande, mais ou menos onde hoje está construído o City
Club e o do Pio Correa, hoje leito da Rua Antônio de Luca.
Agora, com Aeroclube, subia a pressão para a construção do nosso
aeroporto. O local indicado ficava lá no Pinheirinho, bem fora do centro
urbano de Criciúma.
Paulo Preis, Prefeito Municipal, desapropriou extensa área e fez a
aquisição da propriedade que comportava duas vastas pistas: uma no
sentido Norte-Sul, que em seguida seria construída pelo Prefeito Addo
Caldas Faraco e outra, no sentido Leste-Oeste que, por não ter sido
construída deu seu lugar para o futuro Cemitério Municipal que Nery
Jesuino da Rosa construiria no início dos anos 60.
No dia 30 de junho de 1957, o aeroporto era inaugurado e, um ano depois,
tomaria o nome do deputado federal Leoberto Leal, falecido tragicamente
em desastre aéreo.
Uma procissão com o espetacular número de 101 veículos trasladou a
imagem de Nossa Senhora de Loretto, padroeira da aviação, da igreja
matriz São José até o bosque lateral da estação de passageiros (uma
casinha de madeira de apenas um cômodo) onde foi entronizada numa
pequena gruta de pedras.
Naquele dia, por volta das 10 horas, uma multidão calculada em 30 mil
pessoas via chegar, lá no horizonte, o Curtis Comander, de 36 lugares, da
pioneira Varig, trazendo as autoridades e alguns convidados especiais.
Aterrissado, dele desceriam dentre outros, o Governador Jorge Lacerda, o
Senador Carlos Gomes de Oliveira, o Presidente da Cia. Siderúrgica
Nacional Gal. Osvaldo Pinto da Veiga e o Deputado Estadual Ruy Hülse.
Um avião da FAB trouxe os bispos Dom Anselmo Pietrulla e Dom Gregório
Warmling além do ministro da Justiça, Dr. Nereu de Oliveira Ramos. Em
meio a muitos foguetes, muito churrasco, vinho e cerveja e um “sem
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 87
número” de políticos, era inaugurado o nosso primeiro aeroporto cujas
pistas, hoje, são tomadas pelos edifícios do Paço, do Teatro e do Ginásio
Municipais, assim como o novo Fórum da Comarca.
E isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho
de cidade!
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Publicado dia 22 de outubro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 88
TELEFONE
A tecnologia de ponta, colocada à nossa disposição todos os dias, a todo
instante, não permite sequer que tenhamos tempo de pensar nas possíveis
dificuldades atravessadas por nossos antepassados em todos os setores da
vida cotidiana.
Dentro desta ótica, falemos, por exemplo, da comunicação através do
telefone.
O prezado ouvinte se recorda de como Criciúma falava ao telefone até os
anos 60? E os nascidos há 20, 30 anos, já perguntaram como é que seus
pais e avós se comunicavam através do aparelho inventado por Graham
Bell?
A primeira telefônica criciumense foi instalada em 1930 e era um posto da
concessão de telefonia que o governo da República concedera à família de
Carlos Alberto Ganzo Fernandes, um espanhol domiciliado em Porto
Alegre.
O precário e o empírico deram-se as mãos e dessa união nasceu o serviço
telefônico local, instalado numa salinha de um prédio de propriedade do Sr.
Abílio Paulo, na Praça Nereu Ramos (hoje seria a Casa Leão).
Depois essa central foi levada para a Rua Seis de Janeiro, numa casinha
fronteiriça à residência do Senhor Júlio Gaidzinski. Mais tarde, voltaria
para a Praça Nereu Ramos, agora ocupando outra pequena sala do Edifício
Filhinho, também de propriedade do Senhor Abílio Paulo. Dali foi
transportada para o Marechal Floriano, aos fundos da Casa Ouro.
Operavam essa central, no início a Sra. Ondina Guedes, depois a Alaíde
Mello, depois Ivone Cascais e, mas tarde, a Sra. Malvina Heinzen que se
recorda disto tudo com muita saudade e melancolia. Cinqüenta aparelhos
telefônicos, todos movidos a manivela, conectavam essa central. Para falar
entre si ou com telefones fora da cidade, o interessado tirava o aparelho do
gancho, rodava a manivela, dona Malvina atendia e promovia a conexão
com o aparelho desejado. Se a ligação fosse para fora da cidade, não havia,
jamais, previsão de quanto tempo seria necessário para completar a
ligação. Falar com Florianópolis, por exemplo, levava – muitas vezes – dois
dias. É que Dona Malvina fazia um contacto com Tubarão, que acionava
Laguna, que acionava Imbituba, que acionava Florianópolis e, encontrado
desocupado o telefone desejado, fazia-se o mesmo trajeto de volta... Uma
verdadeira via crucis. Falar com São Paulo, só indo a Torres, onde havia
um posto do Cabo Submarino, explorado por ingleses.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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No final dos anos 60, um preposto da Família Ganzo propôs a troca da
central por uma mais moderna, porém já usada: era aquela que, até então,
atendia uma parte da cidade de Santos, em São Paulo. Para tanto, cada um
dos donos dos telefones existentes contribuiria com a importância de 50 mil
cruzeiros.
Wilson Barata, então Presidente da Associação Comercial e Industrial de
Criciúma, consultou seus pares e comunicou que a cidade não aceitava
aquela proposta e que se propunham, os criciumenses, a comprar aquele
serviço. E isto aconteceu. Era 1967 e criava-se a Cia. Telefônica
Criciumense que mudou a sede para a Av. Getúlio Vargas, ao lado dos
Correios.
Uma mesa central com capacidade para 1000 troncos foi instalada e,
agora, nossos telefones eram modernos: com disco. Todavia, naquele ano o
governo disciplinaria o serviço telefônico brasileiro estatizando tudo quanto
existia. Nossa recém formada Cia Telefônica foi absorvida pela Cotesc,
depois Telesc e o resto da história nós todos conhecemos...
A memória telefônica também ecoa nos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 11 de outubro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 90
ELDORADO, A PIONEIRA!
Em 1946, por iniciativa de Hercílio Amante, funcionário público municipal;
José de Patta. Médico e Cláudio Schüller, alto funcionário da Companhia
Siderúrgica Nacional, setor de Siderópolis, fundava-se a Voz de Cresciuma,
um serviço de alto-falantes cujo estúdio estava localizado no Edifício
Filhinho e as cornetas de som em postes especialmente erguidos para este
fim, no jardim da Praça Nereu Ramos. Era o embrião da Rádio Eldorado
que funcionou assim até 1948, quando se transformou na emissora que hoje
joga para o ar este comentário de sua história...
Seus primeiros locutores foram Cláudio Schüller, Luiz Napoleão e Irê
Guimarães, o hoje cartorário. Agora, já com prefíxo – ZYR-6 – passou a
funcionar no último piso do Edifício São Joaquim, altos do Café Rio. A
cerimônia de instalação se deu no dia 17 de novembro de 1948, nas
dependências do Clube Mampituba, esquina da Praça Nereu Ramos com a
Rua Seis de Janeiro. Nessa velha emissora João Sonego faria o primeiro
comentário esportivo da sua vida e o primeiro da empresa de comunicação.
Por ela passaram comunicadores de respeito como Cesar Machado,
Aryovaldo Machado, Ézio Lima, Antônio Luiz, Osmar Nunes, Kátia Broleis,
Sérgio Luciano, José Valério... Sebastião Pierri, escondido no pseudônimo
“Castro de Alencar” fazia, todos os dias, uma crônica sobre problemas
comunitários. Às 12 horas, era feito o Jornal Falado, no qual não se
permitia erro de locução. Às 18 horas, ao som da Ave Maria de Gunot, era
radiofonizada a Hora do Ângelus, seguida do Ecos do Folclore Brasileiro...
Odery Ramos sacudia o povo com o show R6...
É impossível falar dos 120 anos de história de Criciúma este orgulho de
cidade, sem reservar largo espaço para a Rádio Eldorado que festeja 51
anos de existência...
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Publicado dia 21 de setembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 91
RADIO DIFUSORA
Tudo quanto dissesse respeito à cidade e à região, era publicado pela Rádio
Eldorado que, à época, tinha o alcance do tamanho da cidade. Se os fatos
eram verdadeiros na sua essência, isto é outra conversa. Eles tinham o
dever de agradar politicamente aos detentores da emissora. E, então, a
oposição se organizou e, no dia 13 de agosto de 1962, Criciúma ouvia, pela
primeira vez – em caráter experimental – o som da Rádio Difusora, ZYT-52,
a “Emissora do Trabalhador”. A empresa fora constituída pelo Vice
Governador do Estado, Doutel de Andrade e pelo Deputado Estadual Ado
Vânio de Aquino Faraco. Instalou seus estúdios numa pequena casa da Rua
João Pessoa e ergueu seu transmissor no Bairro Boa Vista. Deu o que
falar...
A Eldorado pintava de azul, a Difusora de verde; o antagonismo era a
bandeira de uma e de outra...
Em 1963, participou da Cadeia da Legalidade, retransmitindo a
programação da Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro e da Farroupilha, de
Porto Alegre. Esta transmitia diretamente do gabinete do Governador
Brizola, no Palácio Piratini.
Em 1964, nem se esperou o primeiro de abril, foi no 31 de março: seus
transmissores foram lacrados e só sentiram o retorno da energia em 1965, a
1º de janeiro. Agora, sob um novo controle acionário no papel: Francisco
Arcanjo Grillo (leia-se Aderbal Ramos da Silva) e Antonio Guglielmi
Sobrinho. Este, como representante de uns vinte companheiros seus, todos
do PSD.
Fez o rádio mais popular que a Região conheceu, tomando o apelido
carinhoso de Difa.
Em 1977, seus estúdios e escritórios, localizados no andar superior da
Galeria Benjamin Bristot, foram devorados por um grande incêndio. Ficou
alguns dias fora do ar, mas, noutro endereço, agora sobre a Casa Imperial,
ainda na Praça Nereu Ramos, retornaria aos lares criciumenses.
O governo federal, logo em seguida, não renovaria a concessão e seus
transmissores calaram para sempre.
Isto também faz parte dos 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 26 de julho – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 92
TV CLUBE
No final dos anos 50 e, especialmente, nos primeiros da década
contestatória de 1960, o sinal da televisão chegava a Criciúma. Porto
Alegre à época, contava três estações de TV: a Piratini, dos Diários e
Emissoras Associados – TV Tupi; a TV Gaúcha – TV Globo e a TV
Difusora; esta, cuidando mais da grande Porto Alegre enquanto as outras
buscando o interior gaúcho e, pasmem, o território catarinense.
De repetidora em repetidora, o sinal foi trazido, primeiramente para
Siderópolis, a fim de atender os profissionais liberais que, originários do
Rio de Janeiro, trabalhavam nas grandes empresas de mineração ali
constituídas.
Pois bem: a repetidora estava ali, no Morro do Maracajá, e precisava de
manutenção, pois todo o dia apresentava problemas e, não raras vezes, o
que se recebia, em casa, era um chuvisco irritante que desligava todos os
aparelhos. Fez-se, então, um tal de TV Club, que cuidava dos interesses dos
proprietários de aparelhos de televisão. Como poucos contribuíam, a tal da
manutenção foi transferida para a administração pública municipal que,
não tendo nada com isto, passou a ser a responsável pela captação de som e
imagem daquelas estações.
Contada esta façanha hoje, parece alucinação, mas o fato retrata a
realidade daquela época, que não vai tão longínqua, e que marcou
profundamente nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade.
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Publicado dia 23 de agosto – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 93
VII
ESCOLAS
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 94
ESCOLAS
Continuo a manusear uma jóia preciosíssima de nossa história, um surrado
livro de assentamento de decretos legislativos, e me deparo com dois deles
que falam alto sobre a preocupação de nossos antepassados, relativamente
à educação.
Já dissemos, aqui e algures, que – dentre algumas pessoas ricas, lá do início
da nossa Criciúma – uma delas era Pedro Benedet. Hoje ele entra, também,
neste capítulo da nossa história.
É que em novembro de 1936, o Prefeito Municipal recebia autorização da
Câmara, para adquirir uma área de terra pertencente ao senhor Pedro
Benedet, com 30 metros de frente e 80 de fundos, situada na Rua Cel. Pedro
Benedet (a rua já tinha o seu nome), anexa ao terreno já adquirido e doado
ao governo do Estado para a construção do Grupo Escolar. Essa área,
conforme reza o artigo 2º, deverá ser doada também ao governo do Estado,
perfazendo, assim, uma área total de 80 metros por 80 metros exigida para
a tal construção.
Da leitura desse decreto têm-se duas certezas: a primeira: o local primitivo
do G. E. Professor Lapagesse era o atual imóvel que dá a sede da Fundação
Cultural de Criciúma, a antiga CPCAN, em frente à JUGASA; segundo: o
imóvel foi vendido pelo Sr. Pedro Benedet ao Município, que o doou ao
governo do Estado.
O segundo Decreto do livro a que me reportei é o de nº 22, de dezembro de
1936, que autoriza a vender o prédio onde funciona a cadeia pública do
distrito de Nova Veneza, para o senhor Dionísio Mondardo, pelo valor de
dois contos de réis e que esse dinheiro seria investido na construção do
Grupo Escolar daquele distrito.
Esse Decreto nos dá uma grande lição, de cunho eminentemente social:
vende-se uma cadeia que prende pessoas e, com o dinheiro apurado,
constrói-se uma escola que abre horizontes para o ser humano.
Repito: esses decretos são de 1936 e precisam ser enaltecidos na descrição
dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 1º de novembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 95
ESCOLA DE LINHA ANTA
Hoje vou falar de escola. Faz bem falar de escola. E quanto mais velha,
mais satisfação nos dá de falar sobre ela. A da qual vou me reportar, existe
há 101 anos; remonta ao início da nossa colonização e, a rigor, é um dos
primeiros estabelecimentos escolares oficiais existentes em nosso território.
Trata-se da Escola Mista de Linha Anta, criada dia 31 de maio de 1898. Sua
localização na Linha Anta ainda não foi justificada, em que pese o intenso
trabalho de busca do historiador Mário Beloli de quem busquei estas
informações. Porque Linha Anta?
Se a resposta fosse a de que ali existia um bom contingente de famílias e, em
decorrência, grande números de alunos, o fato de essa escola ter sido
fechada por falta de educandos, dois anos depois, desmentiria tal conceito.
Permaneceu fechada até 1920 quando, novamente, abriu suas portas para a
educação de meninas e rapazes por ali residentes.
No dia 18 de maio de 1922, aquela escola mista seria transferida para a
localidade de Santa Augusta e dali – ou das adjacências – não sairia nunca
mais. Nos anos de 1922 a 1925, as professoras Maria Câmara e Zuleima
Goldner seriam as responsáveis pelo sacerdócio do ensinar. A Professora
Laurinda Coelho dos Santos assumira a sua direção em 1925 e aquele
educandário seria a sede da aplicação do primeiro exame das escolas
estaduais do Município.
Hoje, a centenária escola mista estadual da Linha Anta, ensina a juventude
estudiosa da zona oeste de Criciúma, na localidade de Santa Luzia, e passou
a ser chamada de Escola Básica João Frassetto.
Evidentemente a Linha Anta foi transformada num belo pedaço urbanizado
de nosso município em conurbação com os de Içara e Morro da Fumaça e
possui, também, o seu educandário, no qual meninas e rapazes dividem os
espaços na busca do saber.
E isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho
de cidade!
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Publicado dia 26 de novembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 96
SCAN
Há alguns dias reportei-me ao Rotary Club que, fundado a 18 de abril de
1948, entregava à Criciúma, a 1º de setembro de 1949, a Sociedade
Cresciumense de Assistência aos Necessitados – a Scan.
Hoje quero falar dela e do Bairro da Juventude, entidades intrinsecamente
ligadas à história do nosso município. Qualquer foto dessas comunidades
mostra as três primeiras casas, de alvenaria, construídas pelo engenheiro
Jorge Frydberg e que se notabilizaram como o referencial da Scan. Uma
diretoria dirigia a entidade, sendo que seu primeiro presidente foi o doutor
José Pimentel, incansável na tarefa de tornar realidade aquele primitivo
projeto. Compunham com ele outras pessoas, não só do Rotary. Esses
diretores – e o próprio Rotary Club – queriam, todavia, que uma entidade
religiosa tomasse conta da sociedade eis que para colimar seus objetivos de
amparar menores abandonados, uma entidade religiosa, certamente, se
prestaria com mais afinco. Paralelamente, uma organização religiosa de
Padres, lá da cidade de Passos, no estado de Minas Gerais, consultava o
arcebispo metropolitano, Dom Joaquim Domingues de Oliveira, sobre a
possibilidade de se instalar em território barriga-verde com sua obra que
coincidia com o objetivo da Scan. Dom Joaquim fez contato com o vigário
da Paróquia São José, Padre Wilson Lauz Schimidt que fez contacto com o
Rotary Club e, em setembro de 1955, depois de intensa troca de
correspondências e de inúmeras visitas, os Padres Rogacionistas recebiam
os encargos do Bairro da Juventude. Em agosto daquele ano, o Governador
Irineu Bornhausen visitava o Bairro, inaugurando-o oficialmente e
empossando o seu primeiro diretor, Padre Paulo Petruzzellis. Reconhecido
de utilidade pública nas três esferas de governo, o Bairro da Juventude
estendeu o atendimento a diversos segmentos da educação formal. Celebrou
convênios com o Sesi e com o Senai e recebeu o acervo da escola industrial
que este último mantinha em Siderópolis quando lá cerrou suas portas. À
medida que o tempo passou, a entidade foi modernizando sua administração
até por imperativo da própria necessidade, pois, daqueles seis internos por
casa do ano de 1949, agora são mais de mil crianças e púberes que ali são
educados. Hoje a estrutura organizacional contempla a Assembléia Geral,
formada por 25 segmentos da sociedade civil; o Conselho Diretor,
composto de oito membros eleitos pela Assembléia Geral; o Conselho
Fiscal, integrado por três membros titulares e igual número de suplentes
também indicados pela Assembléia; e a diretoria Executiva designada pelo
Conselho Diretor.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 97
A comunidade, por entidades organizadas ou pessoas físicas, a Funabem e a
Fucabem, a Prefeitura Municipal, o governo do Estado e o da União são
inscritos como colaboradores permanentes da organização que, não
obstante tais auxílios, necessita, sempre, da colaboração dos criciumenses.
Seus primeiros internos foram os meninos Ciro José Galdino, Dino Guessi,
José Pedro Goulart, José Manoel Francisco e Lourival Cecílio Roque.
Tendo exercido a presidência do Conselho Diretor nas gestões 1985 a 1991
e de 1996 até agora, o empresário Algemiro Manique Barreto é o seu atual
presidente enquanto que a Educadora Silvia Zanette é a sua diretora
executiva.
Pelos milhares de crianças ali educadas ao longo destes 50 anos, a Scan,
entidade que antecedeu ao nosso festejado Bairro da Juventude, é partícipe
maiúsculo dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 14 de dezembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 98
O COLÉGIO MARISTA
Quando o calendário virou para a segunda metade deste século que está
morrendo, os criciumenses deram-se conta de que a cidade necessitava de
um ginásio escolar; afinal de contas, a população em idade escolar que
tivesse como arcar com o ônus dos estudos, deveria procurar o tal ginásio
em Tubarão, Laguna, Florianópolis ou Porto Alegre.
Como resultado de inúmeras reuniões, optou-se pela construção de um
Ginásio Municipal que tomaria o nome de Ginásio Municipal São José. O
município arcaria com parte dos investimentos e se responsabilizaria pela
construção do edifício escolar e os habitantes da cidade, através de
contribuições, tomariam sob seus ombros os custos restantes.
Foi impresso um bônus do tesouro municipal de Criciúma e uma comissão
foi vender tais papéis junto à população. Em poucos dias todos os títulos
haviam sido comprados e o dinheiro começou a ser empregado na
construção do tal Ginásio Municipal São José. Nesse meio tempo os
mineradores estavam trazendo os Irmãos Maristas para se estabelecerem no
Caravaggio, em Nova Veneza, e ali instalarem um colégio. Uma comissão
intermediou tudo e os maristas acabaram assumindo o tal de Ginásio
Municipal São José que é exatamente esse monumento à vida estudiosa de
Criciúma e da Região: o nosso Colégio Marista dos dias atuais.
Esta também é uma página colossal dos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 12 de agosto – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 99
MTM & SÃO BENTO
Estudar em ginásio, até 1955, só para filho de pais afortunados que
pudessem mandá-lo para Tubarão, Laguna, Florianópolis, Porto Alegre ou
Curitiba. No início dos anos 50, o Padre Estanislau Ciseski – que tantas
vezes é citado neste pedaço de história – tomou às mãos a tarefa de fazer
instalar aqui um colégio ginasial.
O apoio econômico buscou no Sindicato dos Mineradores, à frente Fidelis
Barato e Álvaro Catão; o apoio político, junto ao Deputado Federal
Joaquim Ramos; o pedagógico, junto às professoras Maria José Hülse
Lodetti e Zulcema Póvoas Carneiro. O terreno, recebeu por doação do
“Bá”, apelido de Manoel Gonçalves Farias, de saudosa memória.
Com esta retaguarda, o Padre Estanislau saiu à luta e, quando tudo parecia
que não chegaria ao objetivo, eis que a Irmã Anastácia Vasconcelos, da
Congregação religiosa das Pequenas Irmãs da Divina Providência, lá de
Belo Horizonte, acedia ao convite e vinha fazer instalar o Ginásio e Escola
Normal Madre Teresa Michel. Era setembro de 1955. Criciúma ganhava o
seu primeiro estabelecimento de ensino médio que, em dezembro de 1959 –
faz, portanto, 40 anos – formava sua primeira turma.
Já o Colégio São Bento fincou sua primeira estaca em 1945, quando
instalava a Casa da Criança Nossa Senhora de Fátima, o “Jardim” de hoje.
As Irmãs Escolares de Nossa Senhora, durante dois anos,
responsabilizaram-se pelo seu funcionamento e foram substituídas pelas da
Divina Providência que educaram, educam e haverão de continuar
educando significativa parcela de nossa juventude.
De outro lado, o Colégio Marista, mas este já foi objeto de nossas linhas
noutro capítulo deste trabalho.
História sem educação, não é história. E esses colégios estão marcadamente
vinculados aos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 9 de dezembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 100
E A DO COMÉRCIO?
1961. O Cine Milanez, então nossa principal casa de espetáculos, com
certeza um dos maiores auditórios da época, tinha sua capacidade de
assentos tomada pelos formandos, familiares, amigos e professores da
Escola Técnica de Comércio de Criciúma. Formava-se sua primeira turma.
Uma festa sem precedentes no cenário estudantil-cultural do município cujo
mercado de trabalho recebia algumas dezenas de profissionais da
Contabilidade.
Discursos, cumprimentos, abraços seguidos de um grande baile nos salões
da Sociedade Recreativa Mampituba, na Rua Seis de Janeiro.
Aquela foi uma escola de verdadeiros titãs, capitaneados pelos intelectuais
que faziam a assessoria superior da Carbonífera Próspera, de outras
carboníferas, de cerâmicas e bancos. A nata do universo dos profissionais
liberais era lente da Escola Técnica de Comércio, único estabelecimento de
ensino noturno que, funcionando nas dependências do G. E. Professor
Lapagesse, recebia alunos de todos os Municípios do grande Sul
catarinense.
Começou tão bem; descreveu um caminho tão retilíneo, apontava um Norte
tão seguro e, todavia, desapareceu assim ó!... Onde está a nossa Escola
Técnica de Comércio? Os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade, merecem uma resposta.
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Publicado dia 18 de agosto – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 101
UNESC
No início dos anos 60, o interior do Brasil começou a se organizar com
Fundações Universitárias que, criadas, instalavam escolas de nível superior
as quais, até esse tempo, só podiam ser freqüentadas nas cidades capitais de
estado.
Em Santa Catarina, o movimento pioneiro seria presenciado na cidade de
Blumenau, nossa então capital econômica. Lá seria fundada a Furb –
Fundação Universitária da Região de Blumenau que encheu de admiração
as demais cidades catarinenses e muitas espalhadas por este Brasil de Deus.
Em 1964, numa iniciativa do Prefeito Arlindo Junkes e com redação que lhe
fora dada pelo Secretário Geral da administração municipal, Adair Lima,
Criciúma criava uma faculdade de direito. Isto ocorreu quando foi
sancionada a Lei nº 459, de 26 de agosto daquele ano, aprovada pela
Câmara Municipal sem qualquer embaraço. Aquela escola não saiu do
papel. Jamais a faculdade de direito municipal foi instalada.
Naquele mesmo ano, era fundada, em nossa cidade, a Câmara Júnior,
Capítulo de uma entidade internacional que congrega homens de idade
compreendida entre 18 e 40 anos, portanto, uma entidade de homens jovens.
E a Câmara Júnior entendeu de lutar pela implantação de escolas de nível
superior. Juntamente com os demais clubes de serviço, foi fundada a
Associação para o Desenvolvimento Educacional de Criciúma – Adec – sob
a presidência do júnior advogado Helmuth Anton Schaarschimdt.
Em junho de 1968, a Adec instalava um seminário pró implantação do
ensino superior levando ao Prefeito Ruy Hülse um relatório circunstanciado
de tudo quanto ali fora proposto. Nesse documento, o destaque era a
proposta de o Município criar uma Fundação capaz de se encarregar do
ensino de 3º grau.
O Prefeito Ruy, depois de analisado e discutido aquele relatório, entendeu
de submeter à Câmara Municipal um projeto de lei com a proposta de
criação da Fundação Universitária de Criciúma, matéria que, também foi
aprovada pela edilidade sem qualquer objeção. Já no mês de setembro de
1968, nas dependências do Sindicato Nacional dos Mineradores, à época
instalado no pavimento superior do Banco Inco, ali na Praça Nereu Ramos
(hoje escritório das empresas Guglielmi), era feita a primeira reunião do
Conselho Curador da Fucri, por convocação do Prefeito Hülse.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 102
Lá estavam o Dr. Helmuth, o Profº. Wilson Barata, o advogado Ernesto
Bianchini Góes, o Profº. Carlos Augusto Borba, o vereador Algemiro
Manique Barreto e o economista João Carlos de Campos. Naquela reunião
foi eleita a primeira diretoria executiva da nossa Fundação que foi
constituída por Carlos Augusto Borba, como presidente e João Carlos
Campos, como secretário. O Conselho Técnico, formado por Carlos Antonio
Dal-Toé, Walmir Antonio Orsi e Francisco Gomes Balthazar, também
compareceu àquele evento.
Nascia, com aquela lei e com aquela reunião, o embrião da Universidade do
Extremo Sul de Santa Catarina, a Unesc, entidade vanguardeira da
formação intelectual da juventude regional que pesquisa e estuda a
performance dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 21 de dezembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 103
VIII
CLUBES, PRAÇAS & CIA.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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O SEIS DE JANEIRO
Os grandes acontecimentos sociais dos dias atuais são reservados para os
grandes clubes da cidade e do interior. Assim, Centros Comunitários,
Salões Paroquiais e Clubes Recreativos do interior bem como o City Club, o
União Mineira, o Criciúma Clube e o Mampituba se prestam para a
realização de eventos de confraternização praticamente todas as semanas.
No final do século passado e até boa parte deste que agoniza, as festas de
casamento eram feitas em barracões que eram armados ao lado da casa de
um dos nubentes. Todavia, desde a sua fundação,em 1926, os
acontecimentos de grande porte envolvendo o sócio-político da cidade
foram realizados no Clube Seis de Janeiro.
Era um casarão de madeira, de um só piso, erguido no local onde temos
hoje a Livraria Fátima, na Praça Nereu Ramos. No Seis de Janeiro eram
discutidas as diretrizes do Partido Republicano e do Liberal assim como
escolhidos os mesários das seções eleitorais dos pleitos realizados no
Município. No Seis de Janeiro recebia-se o Deputado Acácio Moreira que,
embora de Tubarão, defendia os nossos interesses na capital catarinense.
No Seis de Janeiro eram recebidos os políticos da época. Nereu Ramos, o
catarinense que presidiu o Brasil, foi recebido no Seis de Janeiro.
Evidentemente que o conforto que nossos salões oferecem nos dias atuais
sequer pode ser comparados ao velho Seis de Janeiro, mas que ele marcou
sua época e deixou saudades, não resta a menor dúvida. E isto mostra que,
também de recordações são construídos os 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 17 de setembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 105
A PRAÇA NEREU
Já afirmei, num dos capítulos desta série histórica, que a Praça Nereu
Ramos, antes de ser a Praça Nereu Ramos que todos conhecemos, foi,
preliminarmente, um largo cheio de coqueiros e palanques nos quais os
italianos, quando vinham ao centro, amarravam seus cavalos e
estacionavam suas aranhas, carros de bois e carroças.
Depois, foi transformada num campo de futebol onde, aos domingos, a
italianada jogava bola, um artefato que, via de regra, não era o de couro,
consagrado na disputa futebolística atual e, sim, a bexiga de um suíno
abatido em matadouro ou em casa mesmo, soprada até tomar o seu formato.
Em 1930, Cincinato Naspolini determinou a sua urbanização em forma de
jardim, com canteiros para flores e árvores distribuídas em todo o seu
perímetro.
Ela tomaria, também, a forma que a consagrou: o grande quadrado, ao
lado, um jardinzinho triangular. O grande, denominado de Etelvina Luz, em
homenagem à primeira dama de Santa Catarina, mulher de Hercílio Pedro
da Luz.
O triangular, denominado de Praça da Imigração e, mais tarde, Praça da
Bandeira. Hoje, o triangular fundiu-se com o quadrado e os dois pedaços
fazem o calçadão e, desde 1946, toda a praça homenageia o único
catarinense que chegou à Presidência da República: Nereu Ramos.
Até meados dos anos 1960, a Praça era o local da exposição: o cidadão que
comprasse uma bicicleta ou uma moto ficava dando voltas na Praça para
que todos o vissem pedalando um veículo novo; adolescente que aprendesse
a dirigir e que tivesse um pai proprietário de automóvel se exibia à
exaustão, volteando o jardim, estacionando o veículo ora aqui, ora ali, ora
acolá, mas sempre numa das laterais do logradouro. Moça que quisesse
arranjar namorado e rapaz que tivesse essa intenção ia passear na Praça.
Aos domingos, depois da missa das 10 horas ou após a missa das 19h, a
Praça ficava superlotada os rapazes estacionados, sempre em turma, e as
moças, dando voltas sobre a calçada, na prática do flerte precursor de uma
possível relação amorosa. Era assim, também, quando terminava a sessão
cinematográfica do Cine Rovaris, plantado bem ali no centro, ao lado do
futuro Della Giustina.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 106
Um político que se prezasse, não dispensava uma volta no jardim da Nereu:
era a maneira de avisar ao povo que ele estava entre nós: em questão de
horas o Município inteiro ficaria sabendo de sua passagem em nossa
cidade.
A Praça Nereu Ramos, desde os tempos em que fora um potreiro coberto de
coqueiros até os dias atuais, é o logradouro referencial de nossa gente e
não pode ficar ausente das grandes marcas dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 16 de novembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 107
VENDER A PRAÇA?
Segundo Pedro Milanez – de saudosa memória – em seu Fundamentos
Históricos de Criciúma, num determinado dia do ano de 1951, adentrava ao
Café São Paulo – então um dos dois pontos de encontro dos homens
grandes da cidade (o outro era o Café Rio) – e, alto e bom som, anunciava:
“Vou vender a Praça do Congresso. Acabei de desenhar um loteamento
para a Praça do Congresso. Quem quer comprar lotes da Praça do
Congresso?”.
Era o Senhor Júlio Gaidzinski.
Aquele logradouro deve este nome ao Congresso Eucarístico Diocesano ali
realizado no ano de 1946, cuja praça de eventos religiosos era nele
localizada. Aquele terreno era de propriedade do coronel Pedro Benedet e
fora desapropriado pelo Município só que o pagamento, aos herdeiros do
coronel, ainda não fora feito. O Senhor Júlio Gaidzinski, que era genro de
Pedro Benedet, ao anunciar o loteamento da Praça afirmava que falava em
nome de todos os demais herdeiros do Coronel. Mas deixava uma porta
aberta a novas negociações: dava o prazo de 30 dias para que o pagamento
fosse efetuado.
Ali mesmo, no Café São Paulo, boquiabertos, os presentes constituiriam
uma comissão para ir ali à prefeitura falar com o Prefeito Paulo Preis e
tentar impedir o loteamento daquela praça.
Paulo Preis foi categórico: Criciúma não tem dinheiro para fazer o
pagamento no corrente mês. A menos que algum de vocês empreste esse
dinheiro, perderemos a praça, arrematou Paulo Preis.
O Próprio Pedro, segundo seu livro, assumiu o compromisso do empréstimo
que se efetivou naquele dia mesmo e a indenização foi paga e a praça foi
salva. Ufa!...
No mês seguinte Paulo Preis tomaria emprestado da Caixa Econômica
Federal a importância de dois milhões de cruzeiros com os quais pagaria
aquele adiantamento feito por Pedro Milanez e as desapropriações do
Aeroporto do Pinheirinho.
Esta é mais um das extraordinárias páginas dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 5 de novembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 108
MAÇONARIA
Para falar sobre o assunto que me traz ao rádio, hoje, seria necessário, pelo
menos, uma iniciação aos mistérios e ministérios dos Grandes Orientes,
guias e mestres da confraria que conhecemos como Maçonaria.
Houve um tempo, quando Pio X governava a Igreja Católica Apostólica
Romana, que a Maçonaria – como entidade – e os maçons, por serem seus
membros, foram excomungados e sobre eles se encetaria uma das mais
odiosas campanhas discriminatórias. Isto corresponde tanto à verdade que
as crianças de minha geração fomos educados para, sequer, pisar a calçada
fronteiriça ao edifício da Loja que lhes servia de sede, no início da Rua
Desembargador Pedro Silva, um pouco antes da entrada do velho Cemitério
Municipal.
Nossa primeira Loja Maçônica, denominada Presidente Roosevelt Nº 2,
remonta a 15 de agosto de 1946. Em concorrida reunião, muitos
criciumenses - que já faziam parte de Lojas de outros municípios –
resolveram fundar a nossa Maçonaria. Nesse episódio foram marcantes as
palavras dos doutores João Sávio Siqueira, Henrique Chenaud e Maniff
Zacharias, assim como as do professor Marcílio Dias Santiago e a do
comerciante Max Finster. Naquele dia foi formada uma comissão de
fundação cuja constituição contemplou os nomes de: presidente, Dr.
Henrique Chenaud; vice-presidente, Telósfero Machado; 1º secretário,
Rodolfo da Rosa; 2º secretário, Dr. Maniff Zacharias; 1º tesoureiro, Max
Finster; 2º tesoureiro, professor Marcílio Dias Santiago; vogais, Attílio
Bainha, Ernesto Lacombe Filho e Hercílio Amante.
Dentre os 18 presentes destacam-se Porfírio Rovaris, Angelo Lacombe,
Ludovicco Piazza, Gelson Vieira e Agenor Faraco.
Desde 1946 até os dias presentes – agora com dois templos em nossa cidade
– a Maçonaria tem trabalhado em campanhas de filantropia, sempre no
anonimato. As relações atribuladas que marcaram os primeiros dias de sua
vida em nosso meio são diametralmente opostas àquelas do primeiro
momento e, de mãos dadas com todos os segmentos produtivos do social do
nosso município, a Maçonaria tem contribuído, de maneira destacada, para
o nosso desenvolvimento.
A discriminação faz parte do passado, a Maçonaria já disse para o quê
veio, e os maçons são parte viva dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
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Publicada dia 16 de dezembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 109
ROTARY CLUB
Até o final dos anos 70, os clubes de serviços implantados na comunidade
eram considerados como a terceira força do poder constituído do
município. Rotary e Lions Clubes impunham tanto respeito junto ao cidadão
comum que, não raras vezes, recebiam citação honorária antes mesmo de
algumas autoridades constituídas.
Tudo porque, não obstante o caráter de cada um dos seus integrantes, a
corporação, no seu todo, trabalhava incessantemente em prol da
comunidade.
As campanhas comunitárias lideradas por um e outro Clubes recebiam, de
pronto, a colaboração de toda a cidade.
Destaquemos o Rotary Clube, o mais antigo deles todos, fundado aqui em
18de abril de 1948. Uma de suas características é ter como membros, um
profissional de cada ramo de atividade obreira. Assim, naquele ano, para
dirigir a entidade, eram eleitos Presidente Sinval Rosário Bohrer, Vice
Presidente Artur Albino de Almeida Cirino. Na Secretaria, Roberto Bessa e
Wilson Barata; na Tesouraria, Francisco Corbetta e Agenor Faraco; o
protocolo ficou a cargo de José Pimentel e Carlos Otaviano Seára fora
eleito Diretor Sem Pasta.
Já em 1951, as esposas dos rotaryanos fundavam o Baú dos Pobres que, a
exemplo de entidades que hoje ainda operam em nosso meio, fazia
filantropia distribuindo bens e alimentos para famílias necessitadas.
O grande destaque das realizações encabeçadas pelo Rotary, todavia, é o
Bairro da Juventude, denominação atual dada à Sociedade Criciumense de
Auxílio aos Necessitados, a Scan. Isto ocorreu no ano de 1949 e ainda é
considerado um dos grandes marcos das atividades sócio-comunitárias de
nossa gente.
Com o apoio de todas as forças vivas do município, foi encetada uma
grande campanha para a construção das casas que abrigaram os primeiros
necessitados seguida de outra, também de grandes dimensões, em busca de
contribuintes contumazes da obra que fora abraçada pelos padres
Rogacionistas. Aí era costume ver-se, às portas das residências do
perímetro urbano da cidade, uma plaqueta de latão esmaltado com a
inscrição: “Contribuinte da Scan”, facilitando o trabalho dos cobradores
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 110
voluntários que faziam todo o trajeto do sistema viário de Criciúma em
busca dos donativos mensais.
Com uma folha de serviços prestados ao município altamente significativa,
o Rotary Club também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
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Publicado dia 24 de novembro – quarta –feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 111
ACIC
Um dos segmentos mais dinâmicos do progresso experimentado por nosso
município nos últimos 50 anos é o do comércio. Caixeiros Viajantes que nos
visitavam no final dos anos 30, transmitiam àqueles estabelecidos com
casas comerciais, as mudanças que o ramo dos negócios ia imprimindo.
Nossos comerciantes captavam, à medida do possível, tais notícias e,
respeitadas suas capacidades, iam modernizando o setor da nossa velha
Cresciuma.
Os responsáveis pela transação comercial do centro da cidade, que se viam
todos os dias nos cafés da praça, começaram a trocar idéias sobre a
necessidade de ser fundada uma Associação que, ao mesmo tempo em que
os representasse, cuidasse de seus interesses. Em pleno período de guerra –
a II Guerra Mundial – nascia a Associação Comercial de Criciúma. Era 18
de junho de 1944. Paralelamente, o setor industrial também deixava a mono
indústria da extração do carvão mineral e enveredava por outras
iniciativas. E isto é tão verdadeiro que, a 30 de setembro de 1951, aquela
entidade passou a ser chamada de Associação Comercial e Industrial de
Criciúma.
Foi seu primeiro presidente – e permaneceu no cargo até 1951 - o Senhor
Antônio Roque Júnior, da Casa Roque, estabelecida à esquina da
Conselheiro João Zanette com a Marechal Floriano. Depois vieram José
Pimentel, Wilson Barata, Antônio Caldeira Góes, Octacílio de Bem,
Domerval Zanatta, José Antônio Bongiollo, Jayme Antônio Zanatta e Carlos
Alberto Barata. Em 1993, foi seu presidente o empresário Guido José
Búrigo que entendeu de dedicar expediente exclusivo à entidade. Presidiu
até 1997, período no qual promoveu uma verdadeira revolução na
Associação.
Hoje, com a presidência às mãos do empresário Álvaro Roberto de Freitas
Arns, a Acic – como é conhecida – é a vanguardeira na defesa dos
interesses sócio empresariais de Criciúma, estendendo seus tentáculos aos
municípios vizinhos na visão macroeconômica de que o progresso dos que
nos circundam reflete-se de forma imediata em nosso meio.
Pelo que representou e representa para o município, a Associação
Comercial e Industrial de nossa terra também é parte integrante dos 120
anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 25 de novembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 112
O TIGRE
Hoje vou falar de futebol.
Pretendo falar do Criciúma Esporte Clube, o nosso “Tigre” velho de
guerra, que tantas paixões nos têm provocado.
Era igual a tantos até que - incrível! - conquistou um campeonato nacional:
a Copa Brasil, do ano de 1991. Aí, pensou que era o “tal” e, num processo
decadente, vai disputar a terceira divisão do futebol nacional no charmoso,
especial e histórico ano 2000.
Tudo começou em 1924, naquele 18 de maio, quando Abílio Paulo,
Heriberto Hülse, Hercílio Amante, Aníbal Milioli, Hércules Guimarães,
Francisco Meller, Adelpho Garbelotto, Basílio Romancini, Julio Gaidzinski,
Elias Angeloni, Otávio Minatto, Adolpho Colle e tantos outros, num total de
54 homens, fundavam, numa sala da Cooperativa Vitória, o Mampituba
Futebol Clube.
A rigor, foi o nosso primeiro clube de futebol. Esse clube, num futuro não
muito distante, seria transformado na Sociedade Recreativa Mampituba,
conhecida de todos nós. Dali pra frente seriam muitos os clubes de futebol
distribuídos no território criciumense.
23 anos depois, a 13 de maio de 1947, um grupo de jovens da cidade,
entende de fundar um clube de futebol. Foram eles: Antenor Longo, Anísio
Cardoso, Carlos Augusto Borba, Clemente Hertel, Eddie Barreiros Mello,
Hamilton Prates, Hercílio Guimarães, Homero V. Borba, Jacob Della
Giustina, João Antunes, João Batista Brígido, José Carlos Medeiros, Jurê
João Borba, Lédio Búrigo, Nelson João Garcia, Nicolau Destri Napoleão,
Pedro Canarin, Rui Passavante Rovaris, Salentino Ramos, Sinval Rosário
Boherer e Zélia Guimarães Machado. Nascia o Comerciário Esporte Clube
que, em 1978, sob a liderança do empresário Antenor Angeloni, trocava a
cor azul pelo amarelo, preto e branco e se transformaria nesse clube que
tantas glórias deu ao nosso povo.
Quando Abílio Paulo, lá nos anos 20, liderava a rapaziada para fundar o
Mampituba Futebol Clube, com toda certeza não ousou pensar que, um dia,
seus sucessores chegariam ao pódio no qual subiu o Criciúma Esporte
Clube. Mas, também se pode afirmar que, naqueles magros anos da década
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 113
de 1920, o Mampituba, reservadas as proporções, espargia emoções como o
faz o nosso “Tigre” contemporâneo cujos diretores não medem esforços
para sustentar sua grandeza.
É verdade que os tempos atuais são bicudos e projetam expectativas
sombrias. Mas, a tradição futebolística, que nasceu com o Mampituba,
temperada com os grandes Ouro Preto F. C., São Paulo F. C., E. C.
Metropol, Atlético Operário Futebol Clube, E. C. Próspera e Comerciário
Esporte Clube, representada hoje na garra desse grande Criciúma Esporte
Clube, haverá de ser honrada e o nosso “Tigre” resgatando o respeito de
que sempre foi merecedor.
É impossível deixar de falar dessa paixão, quando se fala dos 120 anos de
história de Criciúma, este Orgulho de Cidade!
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Publicado dia 17 de novembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 114
UESC
1958. Nosso carvão vivia mais uma de suas incontáveis crises. Na Praça
Nereu Ramos, no coreto que havia bem ao pé da figueira plantada pelo ex
prefeito Cincinato Naspolini, políticos, mineiros e estudantes acotovelavamse para participar do movimento “O Carvão é Nosso”. Discursos e mais
discursos, dentre os quais o de Nereu Guidi que representava a classe
estudantil que freqüentava bancos escolares em Curitiba, Florianópolis e
Porto Alegre. Aplaudido freneticamente, Nereu faria parte, dali pra frente,
da Comissão de Alto Nível que discutiria os problemas do carvão com as
autoridades da República.
Aquele discurso foi o embrionário da formação da Uesc – União dos
Estudantes Secundários de Criciúma, em 1959 e que tantos serviços prestou
à cidade até 1964, quando brutalmente foi obrigada a cerrar suas portas.
Das tantas e tão auspiciosas campanhas desencadeadas pela Uesc, salta à
memória, sempre, a criação do Curso Científico do Colégio Marista e a
Semana do Estudante comemorada anualmente com a participação de todos
os colégios.
Foi seu presidente, em 1959, Fúlvio Naspolini, depois, pela ordem: Olímpio
Vargas, Archimedes Naspolini Filho, Rodeval José Alves, Lúcio Nüernberg,
novamente Archimedes e, por último, Eno Steiner.
Pode-se afirmar que, enquanto viva, a Uesc foi referencial de organização
estudantil em Santa Catarina e, na cidade, raramente deixava de ser ouvida
em questões comunitárias.
Seu desaparecimento amordaçou a juventude estudiosa local que, depois
desse tempo, nunca mais se organizou como àquele tempo. Todas as
iniciativas nesse sentido têm sido efêmeras e não vingam. Pena!
Os estudantes, pela sua União de Estudantes, também fazem parte deste
orgulho de cidade que comemora os seus 120 anos...
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Publicado dia 9 de julho – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 115
O SINDICATO
Desde 1926, Criciúma e o Sul de Santa Catarina convivem com a ilustre
figura do mineiro, assim denominado aquele cidadão que trabalha na
indústria da extração do carvão mineral.
Lá no início, apenas aqueles das minas de Paulo de Frontin, depois CBCA;
mais tarde, os da Próspera e os das empreiteiras. De repente, milhares
deles, distribuídos em frentes de trabalho esparramadas em todos os
quadrantes do município.
Nos primeiros anos, as obrigações e deveres de parte a parte, entre o
mineiro e o minerador, eram ditados pela ética, pelo bem senso, pelos
costumes, pelo fio de bigode. Depois, especialmente na era Vargas, com o
advento das leis trabalhistas, o relacionamento foi ficando mais espaçado e
a distância entre um e outro foi encompridando. Uma entidade que cuidasse
dos interesses classistas foi introduzida no trabalhismo brasileiro: o
sindicato.
Era 1950. A 10 de dezembro daquele ano, tomava posse a primeira diretoria
do primeiro sindicato dos mineiros de Criciúma, recém-fundado, com
Galdino Amaral na presidência.
Dali, até o falecimento da extração mineral de carvão de pedra em
território criciumense, a história foi escrita de maneira diferente. Aquele
pacato sindicato nascido ao final de 1950 seria transformado numa das
mais respeitáveis e temíveis forças do operariado de nossa terra. Bastava o
anúncio da presença do Sindicato dos Mineiros para se mudar o curso de
um episódio qualquer quando não para, simplesmente, cancelá-lo. As greves
patrocinadas pelo Sindicato dos Mineiros tinham repercussão nacional.
Forças militares e para-militares eram transportadas para Criciúma antes e
durante o movimento paredista promovido por aquela entidade. A par de
garantir emprego e aumento salarial para seus sindicalizados e para a
própria categoria, o Sindicato impingia, também, em alguns casos, medo a
população que se via à mercê da entidade, especialmente no final dos anos
50 e início da década de 60.
Depois, por manobras político-patronais, o Sindicato foi fracionado com a
criação do de Rio Maina e a força foi reduzida. Hoje, o Sindicato dos
Mineiros de Criciúma – e os de toda a Região – vivem, praticamente, das
recordações do seu gigantismo de ontem.
É impossível deixar de inserir o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria
da Extração de Carvão, nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho
de cidade! .......................... Publicado dia 20 de outubro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 116
IX
ESTRAMBÓTICOS
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 117
E O GELO?
No elenco de atividades direcionadas à realização de um evento qualquer,
uma das preocupações que aflora, imediatamente, é a bebida e o gelo. Não
se admite o consumo de qualquer bebida que não seja gelada.
Mas... como é que era lá no início da nossa Criciúma, quando não havia
distribuidor de bebidas, geladeira, nem câmara frigorífica por aqui?
Frederico Minatto, como já se viu, tinha uma fábrica de cerveja, bem
doméstica, bem de Cresciuma. Mais tarde, Cincinato Naspolini fez a sua
fábrica, um pouco mais sofisticada, ali na Operária Velha. Antes, durante e
depois deles, todavia, a cerveja vinha de Joinville, da Antártica, em caixas
de 48 garrafas cada qual empalhada com palha de trigo ou de arroz.
Chegava aqui por via férrea e era descarregada na Estação da Paulo
Marcus.
A cachaça era fabricada pelos Zanette, Pavei, Dal Pont e Rosso, no Morro
Estêvão, no Morro Albino e na Mina do Toco. O Vinho vinha de Pedras
Grandes, Azambuja e Urussanga embora por aqui algumas famílias já o
fabricassem. E o gelo?
O gelo, prezado ouvinte, vinha de Laguna, onde era fabricado para o
consumo do porto pesqueiro. Era despachado para cá, em barras
acondicionadas em caixas ou barris e cobertas com grossas camadas de
serragem. O transporte também era o ferroviário e todos sabiam quando
haveria festa pelo número de caixas de gelo que o trem transportava... e, se
não fosse bem acondicionada no pó de serra, a barra se esvaia no próprio
trajeto deixando os festeiros a blasfemar...
Às vezes, foram gelados alguns dias dos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 16 de setembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 118
SAFADINHO, O PREFEITO.
Em setembro de 1936, Criciúma conheceria o Decreto Nº 14 cujas
características, hoje, merecem, no mínimo, alguma consideração.
Aquele diploma legal autorizava o Prefeito a contratar um médico para o
Município assim como fixava em duzentos mil réis mensais os seus
honorários. Dizia mais: aquele médico deveria ser diretor do Hospital São
José obrigando-se a conceder consultas a pessoas pobres assim como
responsabilizar-se pela prática de cirurgias se estas viessem a ser exigidas.
Relativamente a discriminar quem era pobre, para receber tais atenções do
médico municipal, o artigo primeiro daquele decreto determinava: “aqueles
que apresentarem um cartão visado pelo Prefeito Municipal”.
Tinha que ser... estava bom demais para os parâmetros do nosso cotidiano.
Todavia, vamos imaginar que a probidade e o caráter do Prefeito jamais
seriam questionados no que diz respeito às indicações que provavelmente
fazia ao facultativo do nosso São José...
No Brasil dos 500 anos, essa prática foi exercitada com despudorada
freqüência e aí estão, todos os dias, denúncias de apadrinhamento de
pessoas que não precisam, necessariamente, do auxílio público, em
detrimento de outras tantas que sucumbem em corredores de casas de saúde
porque, pobres, não têm acesso à medicina.
Como o final da década de 30 ainda não apresentava o cinturão de miséria
que hoje nos aflige já que havia trabalho para todos, fiquemos apenas com
a letra fria do decreto: apenas os doentes comprovadamente pobres eram
apresentados ao médico municipal por cartão do prefeito de nossa terra.
Esta não deixa de ser uma historinha safadinha dos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 29 de outubro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 119
CAVALO CRESCIUMA
Em 1835, quando nem se falava na Vila São José de Cresciuma, era criada
a Força Pública do Estado de Santa Catarina, constituída por regimentos
de cavalaria montada com três ramificações: a Cavalaria Florestal, a
Cavalaria Rural e a Cavalaria Urbana. Para ser policial daquela Força, o
interessado deveria possuir um animal eqüino e comprometer-se a cobrir as
despesas com a sua manutenção.
Como não havia veículo de tração motora, o policiamento era feito por
homens montados em animais.
Já na década de 1910, nossa Polícia Militar levava várias unidades para o
interior do Estado e, naturalmente, necessitava de animais – além daqueles
de propriedade dos próprios soldados.
Aí, fez-se uma campanha estadual para ampliar a tropa dos eqüinos, a qual
durou até 1930.
No dia 16 de março de 1926, nosso Superintendente Marcos Rovaris,
recebia um telegrama vazado nos seguintes termos: “De posse belo cavalo
oferecido por esse município tenho muito prazer agradecer-vos boa vontade
acolhimento meu pedido e conseqüente pressurosa realização. Cavalo
oferecido recebeu nome desse município. Cordiais Saudações, Comandante
Lopes”. Era o comandante da Polícia Militar de SC, Coronel Pedro Lopes
Vieira, agradecendo o cavalo que Criciúma ofertara à tropa da nossa
gloriosa Cavalaria Montada.
Este também é um fato inusitado dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 3 de setembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 120
OS JAGUNÇOS DO LEONEL - I
Havia uma jagunçada emboscando vilas em todo o Sul do Brasil. Eram os
jagunços remanescentes de grupos revolucionários, especialmente gaúchos
que, escorraçados pelo poderio militar, deixaram o país entrando
clandestinamente em território, da Argentina e do Paraguai e desses,
retornando para o Brasil para promover o caos.
Em novembro as forças rebeldes de Leonel Rocha entraram em território
catarinense, pela fronteira argentina causando terror por onde passavam e
vieram sediar-se no planalto serrano com alguns focos em Urubici e São
Joaquim. O clima era tenso e o medo tomava conta do litoral já que a
jagunçada prometia vir para cá pelas serras de São Bento Alto e Grão
Pará.
Nosso Superintendente, Marcos Rovaris, não se fez de rogado e,
imediatamente mandou o seguinte telegrama ao Governador Adolfo
Konder: Devido perigo eminente invasão revolucionários consulto se
conveniente dada falta de munição, dinamitar Serra São Bento evitando
invasão. Responda urgente.” O telegrama revelava que a população estava
indefesa e que, ainda que fosse para se ganhar tempo, dinamitar o caminho
dos tropeiros, na Serra de São Bento Alto, poderia ser uma boa alternativa.
O Governador responderia: “Não convém dinamitar a Serra e sim
guarnecê-la. Deputado Acácio Moreira seguirá amanhã para aí e resolver
como mais acertado for.”
Viram, como também de tensão foram construídos os 120 anos de história
de Criciúma, este orgulho de cidade?
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Publicado dia 13 de setembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 121
OS JAGUNÇOS DO LEONEL – II
Como vimos ontem, os jagunços de Leonel Rocha queriam entrar no litoral,
descendo pela Serra de são Bento Alto cujo território, em 1926, pertencia
ao Município de Criciúma. Marcos Rovaris quis dinamitar a serra e o
governador recomendou que não o fizesse. Os civis receberam armas das
Forças Armadas, através do Superintendente de Tubarão, Otto Fuershuette,
e uma guarnição foi cuidar especificamente da Serra. Isto era o final de
1926. Já no dia 8 de janeiro de 1927, Marcos Rovaris receberia este
telegrama de Adolfo Konder, nosso Governador: “Faço esta comunicação
de Bom Retiro onde em pessoa estou tomando medidas para intensificar
campanha perseguição revoltosos chefiados pelo caudilho Leonel Rocha.
No distrito de Urubici foram presos por um piquete, civil, organizado e
armado pelo governo do estado seis rebeldes entre quais três oficiais
inclusive Major Sonias Enéas chefe do estado maior de Leonel Rocha e seu
comando militar. Sonias Eneas era um verdadeiro chefe de coluna,
Secretário do General Izidoro Lopes. Os outros oficiais são majores Edgar
Bins e Alfredo Pimenta Gohne. Com a prisão seu comandante e principais
dirigentes coluna revolucionário dispersada podendo considerar-se o
movimento como definitivamente dominado. Estamos fazendo todas as
diligências para capturar caudilho Leonel Rocha e os remanescentes de
grupo destroçado limpando assim definitivamente território estado dos
bandoleiros que invadiram. Hoje retornarei capital levando oficiais e
praças prisioneiros. Congratulo-me Vossa Senhoria por mais essa notável
vitória das forças legais. Saudações, Adolfo Konder, Governador”. E daí a
paz retornaria no caminho dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 14 de setembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 122
DESASTRE AVIATÓRIO
Por algumas vezes já falei de aviões, aqui no espaço dos 120 anos de nossa
história. Hoje retorno ao assunto e, desta feira, para reportar-me a um
acidente havido em nosso território, em 1920, portanto, há 79 anos...
O avião era um hidroplano de fabricação italiana. Proveniente do Rio de
Janeiro descera, pela última vez, em Florianópolis e dali decolara com
destino a Buenos Aires. Pertencia ao Aeroclube do Brasil.
A tripulação era formada por Aliatar Martins e John Pinter, este de
nacionalidade inglesa.
Houve pane no motor daquela pequena aeronave e, avistando a Lagoa dos
Esteves, fizeram as manobras necessárias e nela desceram. Em solo, a
surpresa era geral: imagina só um avião descendo nos Esteves...
Às margens do lago, foram conduzidos à presença do Inspetor de
Quarteirão, Amaro Maurício Cardoso que hes ofereceu toda a ajuda
necessária para o conserto do avião. Nisto, aliás, tantos quantos por ali
residiam, foram solícitos.
Quando deram o aparelho por reparado, dispensaram os populares e, como
sempre, foram mover a manícula já que aquele tipo de avião não possuía
motor de arranque.
Não se sabe como, o avião não arrancou e, pior, os dois faleceram na
operação de fazê-lo arrancar.
No dia seguinte a notícia chegava a Araranguá e Bonifácio Sardinha,
comerciante e político local, distorcendo tudo, mandou avisar ao
Governador Hercílio Luz que os dois faleceram não em acidente, mas fruto
de homicídio. E mais: que os ribeirinhos da Lagoa eram os culpados pelas
mortes.
Aí, deu o diabo... Se não bastasse terem “matado” um aviador brasileiro
ainda tinham dado fim a um inglês...
A polícia, em grandes pelotões, originária de Florianópolis, viajando de
trem até Esplanada e a cavalo ou a pé até a Lagoa, buscava os assassinos...
O consulado inglês exigia uma explicação.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 123
Foi feita uma sessão espírita, na qual a alma de um deles teria comparecido
para afirmar que o matador era um tal de Severiano e que os corpos
estavam enterrados no quintal de sua casa.
Procurou-se o tal de Severiano que, ao ser encontrado, não bastasse ter
sido preso, teve o quintal de sua casa totalmente esburacado na procura dos
cadáveres... Nada se achou.
Quinze dias depois, apareceria boiando nas águas da Lagoa, o primeiro dos
corpos. O segundo boiaria no dia seguinte, próximo da aeronave que
flutuava sobre as serenas águas da Esteves...
Não é uma história de terror escondida nos 120 anos de Criciúma, este
orgulho de cidade?
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Publicado dia 3 de novembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 124
BENZEDURA
Em outra oportunidade já nos ocupamos da dificuldade de recursos médicos
na Colônia de São José de Cresciuma, como era denominado o nosso chão
nos primeiros tempos.
Essa dificuldade deu oportunidade a que algumas pessoas, em nome da
mediunidade ou simplesmente por curiosidade, enveredassem pelo caminho
da benzedura, criando orações e rituais para afastar maus olhados ou para
curar doenças. Com nove folhas de um arbusto muito comum dos potreiros,
de nome “aça peixe”, amontoadas à mão em forma de cruz, o paciente era
curado de cobrelo, por exemplo, com a reza “cobrelo brabo, te corto o rabo
e a cabeça pra ti morrer”. Enquanto era pronunciada a reza, as pontas das
folhas iam sendo cortadas com tesoura exatamente cobre o local da
infecção e, depois de uma novena de tal celebração, o tal do cobrelo
desaparecia.
Dona Jonas, ali do outro lado dos trilhos, era a mais famosa benzedeira
para esses casos. Sua casa localizava-se, mais ou menos à Rua Joaquim
Nabuco, aonde hoje temos um supermercado. À época, um grande potreiro
com uma grande cancela confeccionada de enormes varas de eucalipto...
E isto também fez parte da cultura dos primeiros anos de Criciúma, este
orgulho de cidade!
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Publicado dia 13 de julho – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 125
RACISMO
Os anos 30 encontraram Criciúma ainda uma vila pacata embora há cinco
anos sede de um município, com uma extensão territorial razoavelmente
grande: dele faziam parte os territórios de Nova Veneza, Içara e
Forquilhinha.
As poucas pessoas que habitavam nosso chão, ainda eram – praticamente
todas – italianas e/ou descendentes de italianos. Os poucos que não
tivessem essa origem marchavam com esses fosse qual fosse a direção.
Nesses anos 30, trabalha na cidade um inspetor escolar e professor de cor
negra, Agrícola Índio Guimarães, aqui chegado no início dos anos 20.
Bom, não é preciso dizer que era um caso seríssimo para os nossos
ancestrais, racistas como eles só...
Aos trancos e barrancos, com obstruções e má vontade de toda parte, o
Professor Agrícola viu-se obrigado a deixar Criciúma, retornando a
Florianópolis.
Esta é uma página melancólica dos 120 anos de nossa história. Ela serve
para mostrar que ninguém é superior a ninguém e que é necessário somar
os esforços de todos para a contínua a sagrada tarefa de construir o nosso
progresso. A propósito, Agrícola Índio Guimarães é nome de rua, no Bairro
Comerciário, quem sabe em desagravo deste orgulho de cidade.
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Publicado dia 20 de julho – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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A LADROEIRA DO TIDINHO
Doze anos depois de o nosso território estar sendo desbravado, eis que
começa a se organizar o nosso comércio. Até meados de 1900, os gêneros
eram trocados por gêneros e havia pouca transação envolvendo moeda.
Esse tipo de negócio estava reservado para os centros regionais de
Araranguá, Tubarão e Laguna. Mas, já no ano de 1901 eram contados os
armazéns de secos & molhados de Pedro Benedet, Frederico Minatto,
Antônio de Luca, João Targhetta, e outros...
Em 1920, nasceu o grande estabelecimento comercial: a Cooperativa
Vitória, uma sociedade por cotas envolvendo praticamente todos os chefes
de famílias da vila São José de Cresciuma. Localizava-se na esquina das
Ruas João Zanette com Marechal Floriano e atendia a toda a região.
Dez anos depois, outro grupo, agora de agricultores, fundava a Cooperativa
Agrícola, outro forte estabelecimento comercial que atendia a todos os
produtores rurais deste e de outros municípios. Funcionou sempre em
prédio próprio, na Rua Henrique Lage, onde hoje está estabelecida a União
Comercial.
Mas, merece destaque, pelo inusitado, um estabelecimento comercial que
deu o que falar, no início dos anos 40 e até cerrar suas portas, por volta de
1950: a Ladroeira do Tidinho. Era um armazém que vendia de tudo: desde
fumo de corda até seda para vestido. O que se imaginasse, a Ladroeira do
Tidinho vendia. Estava ali, na Conselheiro João Zanette, exatamente aonde
hoje temos o União Turismo Hotel. Seu proprietário era o lagunense
Erotides Prates que, ao fechar o estabelecimento, retornou à Terra de Anita
Garibaldi. A Ladroeira do Tidinho recebeu este nome em homenagem aos
preços que praticava: verdadeiros absurdos. Mas o pessoal ia lá e
comprava por dois motivos: eram produtos bons e o Tidinho uma simpatia...
A Ladroeira do Tidinho fez por merecer sua inscrição no folclore dos 120
anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 8 de setembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 127
OS FOLCLÓRICOS
Qualquer cidade, por mais pacata que possa ser, possui seus vultos que, de
alguma forma, a comunidade consagra.
Lá pra traz, ficou o Ataualpa que a cidade conheceu como Atuarpa, um
alcoólatra mal vestido que chegava às casas do perímetro urbano e, a troco
da comida e algumas moedas para a cachaça, picava lenha para os fogões
das grã-finas... O Fausto, que cantava e dava três pulinhos, no pátio da
Estação Ferroviária...
Tivemos o Bahia, um homem de cor que vendia bilhetes de loteria, dono de
uma inseparável conjuntivite...
Tivemos o Jardineiro, um homem forte que amedrontava crianças e púberes
que o encontrassem ao longo das ruas...
Tivemos o Nego João, que o Fiobo Minatto – este um dos mais famosos do
reino do folclore local – jurava que comeria em conserva...
O Fiobo, de nome Fiovo, só em ser chamado de Fiobo, já iniciava uma
briga. Foi preso seis vezes e teve contra si 26 processos. Temido, odiado,
era o terror das crianças. “Ou tu paras de chorar ou vou chamar o Fiobo”
e, pronto, o choro terminava...
Tivemos a Dona Lúcia, mais conhecida como Lúcia Papuda, que morava
num casebre bem na esquina da João Pessoa com a Henrique Lage, onde
hoje há um edifício semi acabado...
O Bateria, de nome da mais fina casta monárquica: Jovito Thiago Álvaro de
Campos;
O Vardivino que vivia com uma trouxinha às costas, suspensa sempre por
um pedaço de pau que mais se assemelhava a um fueiro de carro de bois...
O Catolé, naquela sua vestimenta nordestina, fazendo um tipo que, de longe,
se fazia distinguir por qualquer vidente.
O Coringa e o Mozart e o Burriquete, este sim, ainda nas retinas de quase
toda a população, personagem diuturno de nossas ruas e praças... Ruas,
praças e o pátio da Estação que conheceram bem o Fausto que cantava e
dava três pulinhos...
Cada um ao seu modo e ao seu tempo, eles todos, um a um, escreveram –
como não?! – um pedaço dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 9 de agosto – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 128
X
HOMENS & MULHERES
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 129
E AS MULHERES?
E as mulheres? Que papel desempenharam as mulheres, nestes 120 anos de
história?
Pois é, as mulheres...
Atrevo-me a afirmar, sem consulta a qualquer bibliografia, que, lá no início,
nos anos 80 do século passado, elas foram a alavanca que deu coragem à
italianada que, desesperada com o “status qüo” da colonização, já pensava
até em abandonar tudo e voltar para a Itália ou emigrar para a Argentina.
Imaginemos só, o colono voltando da mata, onde fazia a derrubada, ou da
plantação de milho ou de feijão, desesperado pela perspectiva até sombria
do dia de amanhã... Não fosse a palavra da mulher, transmitindo-lhe
otimismo e “garantindo” que o futuro é dadivoso, e tudo partiria para o
caos, tal o desânimo daqueles desbravadores...
Nas primeiras empreitadas, ela ombreou par-e-passo com o homem. É
verdade que a história só fala dele. Mas é fácil ler nas entrelinhas que, se
não fosse ela, o sucesso alcançado na colonização não seria contabilizado
da maneira como o foi. Ela cuidava dos afazeres domésticos, do quintal, do
jardim... Ela encontrava tempo, ainda, para ajudar o marido na roça, para
ensinar doutrina para as crianças, para ensinar corte-e-costura para as
filhas. Para as festas, o marido convidava os comensais e era ela quem
cuidava da casa e da comida. E haja comida...
Depois vieram os tempos da mineração do carvão. Aos homens competia ir
arrancar, no subsolo, o negro mineral representado que, sempre, vinha para
a luz do dia misturado a impurezas minerais. Novamente entrava ela, a
mulher, para fazer a escolha do mineral: com um martelete à mão, sem
calçar luvas, vestindo avental ou sem ele, ali estava ela passando pedra por
pedra, separando o carvão da perita.
Aí veio o tempo contemporâneo e novamente encontramos a mulher
exercendo papel preponderante no nosso dia-a-dia: como dona de casa,
como educadora, como funcionária, como profissional liberal, na prestação
de um rosário de serviços ao próximo, particularmente, e à comunidade,
como um todo.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 130
Com a enxada nas mãos, capinando para o plantio ou fazendo a polenta e o
feijão-com-arroz de ontem e dos dias de hoje; de professora a parteira; de
catadora de papel à empresária; de faxineira a motorista; de balconista a
médica, sempre contribuindo com o processo produtivo de nossa gente, a
mulher, sem esquecer a sua feminilidade e o papel de mãe e esposa,
escreveu com caligrafia de ouro os 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
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Publicado dia 17 de dezembro – sexta – feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 131
AS PARTEIRAS
Nos primeiros tempos, a visita de um médico era motivo para festa: a falta
de meios de comunicações, especialmente estradas, impedia que os
facultativos de Laguna e Tubarão – à época os nossos maiores centros
urbanos – chegassem até nós, com freqüência. E olha que as doenças
graçavam...
A necessidade de mão de obra para desbravar nosso chão, fez com que
todos os chefes de família planejassem o tamanho de seus respectivos
rebanhos em, pelo menos, uma dezena de filhos.
E os partos?
Bom, se a “bolsa rompesse” durante a visita de um doutor, este se
encarregaria desse mistér. Caso contrário, cabia às mulheres mais idosas a
tarefa de aparar os italianinhos...
Essa prática de se desenvolveu até, pelo menos, os anos 60 e era comum
cada localidade ter a sua parteira. Era a dona Úrsula, a dona Emília, a
dona Maria Zanette, a dona Irma, a Valentina, a Lúcia, a Estácia, a
Josephina, a Amália, a Marieta, a dona Luiza Becke... enfim, um batalhão
de valorosas mulheres, cada uma se encarregando de todos os afazeres
desse sagrado ofício, contribuindo para a feiura dos 120 anos de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 6 de julho – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 132
PROFESSORA
Hoje é o dia do Professor. Ah se não fosse o professor!... Que fale a Dona
Iria Zandomênego de Luca, que a tantos educou para a vida...
Nossos colonizadores chegaram aqui em 1880. Do grupo, faziam parte
crianças e jovens que, como ocorre nos dias de hoje aqui e em todo o
mundo, necessitam estudar. E daí? Estudar o quê, quando e aonde?
Duas notícias nos foram transmitidas ao longo dos tempos: a primeira dá
conta de que os mais afortunados, culturalmente, tomaram para si os
sagrados encargos de ensinar e que isto era feito nas próprias casas dos
italianos ou na capela de São José; a segunda é a de que o governo italiano,
através do consulado, pagava professores e fornecia material didático aos
educandos.
Em 1895, o Governador Hercílio Luz nomeava o professor Hector
Bernhardt para ministrar aulas aos colonizadores. Foi ele, então, Hector
Bernhardt, o nosso primeiro professor. Já a primeira escola só viria no ano
seguinte, em 1892 contando com a participação de Giacinta Cóccolo,
Fermo Antéa, João Batista Targhetta. Giovanni Zanette, Davide Carlesse e
Luiza Gregorini. Em 1902, o Jornal La Pátria, editado em Urussanga,
estampava um anúncio, em italiano que, traduzido para o português dizia
ter recebido a relação das escolas da região, dentre as quais a de
Cresciuma e a de Primeira Linha-Cresciuma. Na da sede, 29 alunos
masculinos e 22 femininos e na de Primeira Linha, 24 meninos e 20 meninas
perfazendo um total de 130 alunos matriculados.
Em 15 de março de 1932, O Interventor Federal Ptolomeu Assis Brasil
baixava o Decreto nº 261, com o qual criava o Grupo Escolar Professor
Lapagesse, um estabelecimento escolar misto que seria instalado a 21 de
maio de 1933, sob a direção do Professor Silvio Berendt e tendo como
primeiras professoras Albina Piazza, Maria Piazza e Adélia Pacheco. O
velho Lapagesse foi erguido no local da antiga igreja de São José, na Praça
Nereu Ramos, exatamente no local onde temos hoje a Casa da Cultura. Nos
anos 40 foi transferido para o moderno estabelecimento que enriquece a
Rua Marechal Floriano onde educa significativa parcela da juventude de
nossa região.
Sustentáculo da base do progresso de qualquer nação, a educação – e o
professor – tem lugar de destaque dos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade.
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Publicado dia 15 de outubro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 133
SANTA, LENA, ALÉSSIO:
BELAS MISSES
Nossa primeira investida na escolha da mulher mais bonita do município
remonta a 1920. É provável que, mesmo antes dessa data, nossos
antepassados já escolhiam – se não pública, mas com certeza
reservadamente – a mais bela cresciumense. O registro da escolha da mais
bela mulher de Criciúma está estampado no Jornal “A Imprensa” de
Orleans, edição de 11 de julho daquele ano. A escolha era feita por voto
subscrito em recorte do próprio jornal e para ele endereçado pelo leitor.
Evidentemente que o veredicto merece reparos, todavia a escolha era
formalizada. E foi eleita, com 26 votos, Santa Amante, como a nossa
primeira Miss.
Mais tarde, em 1955,Criciúma conheceu a sua grande Miss, Valquíria Luz,
hoje senhora Hélio Souza. Já na década de 1970, quando o concurso tomou
volume, Criciúma teve reconhecido destaque junto ao concerto da beleza
feminina catarinense. Marilena Vieira e Maria Hermínia Aléssio, depois de
escolhidas em disputado certame local, receberam o cetro de mais bela
catarinense em concurso estadual realizado em Blumenau e foram defender
a mulher de Santa Catarina no Miss Brasil em Brasília...
Algemiro Manique Barreto chegou a editar uma lei municipal, quando
Prefeito, instituindo oficialmente o concurso de Miss Criciúma, que deixou
de ser realizado.
Faço este registro para mostrar que, nos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade, merece sempre ser destacada a graça e a beleza da
mulher criciumense.
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Publicado dia 22 de setembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 134
FREDERICO MINATTO
O personagem de hoje veio da Itália, onde nasceu em 1863. Trata-se de
Frederico Minatto. Imigrou com 13 anos de idade e foi morar, com sua
família, na localidade de Pedras Grandes.
Aos 15 anos casava-se, em Tubarão, com Narcisa Dandolini e dessa união
nasceriam Galdina Minatto Cechinel, Julia Minatto Minotto, Fiobo Minatto,
Enerino Minatto, Lina Minatto Rabelo, Maria Teresa Minatto Beneton e
Otávio Minatto. Migrou para Criciúma em 1892, aqui se estabelecendo com
fábrica de banha, uma cervejaria e um estabelecimento comercial – um
armazém de secos e molhados. Um dos primeiros mineradores de carvão de
toda a região explorou o mineral na Mina Brasil. Foi subdelegado e
delegado de polícia. Na emancipação do município, exerceu papel
importante. Oferecendo um prédio de sua propriedade para instalar os
serviços burocráticos da Prefeitura, na Praça Nereu Ramos. Na primeira
legislatura, exerceu o cargo de tesoureiro do Município. Foi presidente do
Partido Liberal, uma das grandes forças partidárias da velha república.
Foi, sem dúvidas, um dos mais poderosos da velha Criciúma, respeitado
pela sua reconhecida inteligência e pelo seu patrimônio econômico.
Faleceu a 9 de setembro de 1958, contando 95 anos de idade.
Frederico Minatto escreveu, com caligrafia clara e letras maiúsculas, um
pedaço dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 25 de agosto – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 135
ERNESTO, O CORONEL
Hoje falo de outro grande vulto de nossa história. Em poucas linhas tento
retratar o perfil biográfico de Ernesto Lacombe, gaúcho de Jaguarão, onde
nasceu a 29 de junho de 1879.
Descendia de franceses, pela ascendência paterna e de argentinos, pela
materna.
Era casado com a uruguaia Elvira Coirolo, com quem teve os filhos Mário,
Ernesto, Carlos Alberto, Elvira Clementina, Angelo, Rute e Rubens.
A juventude, além dos estudos, ele a viveu trabalhando como tipógrafo e
redator do único jornal da sua terra, de propriedade de seu progenitor. No
início do Século XX, dono de invulgar espírito aventureiro, deixou a pacata
Jaguarão e se tornou caixeiro-viajante, percorrendo cidades, vilas e
freguesias do Rio Grande do Sul e de parte de Santa Catarina além de
incursões em solos uruguaios, argentinos e paraguaios. Já em 1911,
ajudava a fundar a União dos Caixeiros Viajantes do Rio Grande do Sul,
uma das mais fortes associações do gênero de todo o território nacional.
Logo depois, iria se estabelecer em Cruz Alta com agropecuária,
destacando-se a industrialização de cereais como milho e arroz. Entrou de
cabeça na política, em 1923, ombreando com Assis Brasil, contra Borges de
Medeiros, numa luta eleitoral que eclodiria a “revolução sangrenta de 23”
da qual seria protagonista.
Em 1924, veio para Santa Catarina, fixando residência em Tubarão, com
charqueada e plantio de arroz, na Fazenda Revoredo, conhecida de todos os
que trafegam pela BR-101.
Convidado por Osvaldo Aranha, Batista Luzardo e Lindolfo Collor, dirigiu
a campanha da Aliança Liberal em todo o Sul de Santa Catarina, a favor de
Getúlio Vargas. Era 1929. Adquiriu máquinas impressoras em Porto Alegre
e fundou, em Tubarão, o Jornal “O Liberal”.
Na Revolução de 1930, foi declarado Governador Civil e Militar de todo o
Sul Catarinense e administrou os negócios políticos da Região, diretamente
de Jaguaruna. Embora plenipotenciário, por designação direta do caudilho
Getúlio Vargas, não fez uso de poder discricionário em seu proveito ou no
dos seus liderados.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 136
Ernesto Lacombe foi o mentor da substituição do Prefeito Marcos Rovaris
por Cincinato Naspolini, assim como de outros alcaides que, na Região,
foram substituídos por políticos identificados com os postulados da
Revolução de 30.
Ernesto Lacombe, pai do farmacêutico Dr. Ernesto e do médico Dr. Ângelo,
de todos aqui conhecidos, também é parte integrante dos 120 anos de
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
E.T.: Assim como Marcos Rovaris e Pedro Benedet, Ernesto Lacombe nunca
foi Coronel das Forças Armadas. Recebiam esta designação pelo poder que
exerciam.
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Publicado dia10 de novembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 137
HENRIQUE LAGE
Nosso personagem de hoje tem estreita ligação com nossa cidade. Nasceu
no Rio de Janeiro a 14 de março de 1881 e faleceu nessa mesma cidade em
1941. Portanto, estaria praticamente com a mesma idade de Criciúma, isto
é, 119 anos.
Falo de Henrique Lage que, jovem, trabalhou em estaleiros na Inglaterra,
para onde o mandara seu pai a fim de que estudasse engenharia naval,
curso que completaria na Suíça. Falecido seu pai, retornaria ao Brasil e
assumiria, com os irmãos mais velhos, a Cia. Nacional de Navegação
Costeira e todos os demais negócios da família. Esses irmãos seriam vítima
da Gripe Espanhola e morreriam em 1918, quando Henrique Lage daria
imenso impulso à empresa que, agora, era sua juntamente com outras da
família, dentre as quais as minas de carvão de Lauro Muller, em Santa
Catarina. Elaborou audacioso projeto para intensificar a extração do
carvão e assumiu o controle da Cia Brasileira Carbonífera de Araranguá e
da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina que era administrada pela
própria CBCA. Adquiriu novas locomotivas e vagões dando um impulso
violento no setor carbonífero.
Construiu o Porto de Imbituba, possibilitando que os navios da sua empresa
atracassem para transportar o minério do carvão, já que, em Laguna, só
atracavam pequenas embarcações.
São de Henrique Lage as primeiras vilas operárias construídas aqui e em
Lauro Muller, todas constituídas de pequenas casas de madeira e, dentre
outros equipamentos, pelo menos um campo de futebol.
É dele o pioneirismo cerâmico de toda a nossa região, pois foi ele que
construiu a primeira cerâmica de louça sanitária e azulejos: a de Imbituba
cidade da qual foi Prefeito Municipal.
Homenageado com o patronato de uma das principais vias públicas de
nossa cidade, não podemos esquecer-nos de Henrique Lage quando falamos
dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 27 de outubro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 138
GABRIEL ARNS
Nosso personagem, de hoje, é natural de São Martinho, aqui no Sul do
Estado, onde nasceu em 1890, portanto, 10 anos depois do início da nossa
colonização. Aos 22 anos, veio para o município de Criciúma, fixando
residência na vila de Forquilhinha, um minúsculo povoado habitado por
alemães e seus descendentes. Era professor e tanto se dedicava às
atividades agropecuárias quanto às educacionais não demorando para
presidir a União Escolar daquela localidade. Dotado de singular
inteligência era dono de uma cultura invejável. Estes predicados fizeram-no
liderar a comunidade e tornar-se uma das pessoas a quem as lideranças de
Criciúma dedicavam especial atenção e respeito.
No processo emancipatório de Criciúma, do município de Araranguá,
desempenhou papel preponderante. Sua indicação para ser um dos nossos
primeiros cinco conselheiros, isto é, Vereadores, atesta a sua capacidade de
liderança comunitária. Pertenceu a dois partidos políticos: ao Partido
Republicano, até a ditadura de Vargas, quando todos os partidos existentes
foram extintos e, na redemocratização brasileira, em 1946, a União
Democrática Nacional, da qual foi fundador.
Estou falando de alguns traços biográficos de um dos mais ilustres homens
da nossa Criciúma: Gabriel Arns, que era casado com dona Helena Steiner
e de cuja união nasceram o Heriberto (que se tornou Frei Crisóstomo);
Irma, Osvaldo, Olívia (que se tornaria Irmã Gabriela). Paulo (que seria
príncipe da Igreja na condição de Cardeal Arcebispo), Otília, Laura (que se
tornaria Irmã Helena), Hilda, (que se tornaria Irmã Hilda), Felipe, Max
José, Ida, Bertoldo (que há poucos anos partiu para a eternidade), Zilda e
Zélia. 14 ao todo.
Foi candidato a Prefeito de Criciúma, em 1954,não logrando êxito naquela
eleição.
Em 1962, Gabriel Arns recebia, merecidamente, o título honorífico de
cidadão honorário de Criciúma e a Rodovia que liga este ao Município de
Forquilhinha foi batizada com o seu nome.
Como vemos, honrados homens ajudaram a fazer os 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 29 de setembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 139
BERRETA E BEDENAGAS:
OS MELHORES
Naquele tempo, o rapaz deixava a puberdade e, auto proclamando-se
Homem, comprava um chapéu e saia por aí, com a cabeça coberta,
mostrando que era adulto... Já pensou?! Em casa de muitos filhos homens,
os cabides enfileiravam-se nas salas já que para cada chapéu, um cabide
pontiagudo de parede...
E quando o chapéu sujava? O desespero tomava conta do dono haja vista
que o feltro com que eram fabricados os chapéus se deformava todo se não
lavado com muita técnica. Aí entrava o Senhor Álvaro Beretta, com a sua
oficina de lavar e passar chapéu, ali no lado da Casa das Gaitas, na Rua
Henrique Lage. Magro, muito católico, ligava o rádio num volume
insuportável (era meio surdo) e ficava ali, com um ferro enorme, a lavar e
passar o chapéu dos homens grandes da cidade.
E para engomar camisas e ternos de linho? Ah... aí era com as irmãs
Bedenagas, apelido carinhoso das manas Dilma, Dirce e Zenaide
Machado, então residentes próximas do restaurante do Berto Mundi, porém
no outro lado da rua, também na Henrique Lage. A cidade levava camisas e
ternos para elas engomarem, tarefa que desempenhavam com altíssima
capacidade. Noivo que se prezasse, usava a roupa da festa matrimonial
engomada pelas irmãs Bedenaga.
Dentro deste assunto, merece citação a nossa primeira lavanderia
industrial, de propriedade de Dona Liduina Silvestre. Era conhecida como
Lavanderia Real e, nos anos 60 foi transferida para Maria Rovaris Meller
que se ocupou com lavação até 1976 e, dali para cá, tantas outras foram se
estabelecendo para lavar a roupa de tanta gente que todos os dias faz
acontecer os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 6 de outubro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 140
DELEGADO CABRA MACHO
Nos 120 anos de Criciúma, tivemos algumas autoridades carismáticas que
marcaram época. Por exemplo: o Cabo João. Refiro-me ao Senhor João
Bittencourt, chefe de bem-quista família de nosso meio que, policial,
atingira o grau de Cabo e, nessa função, exerceu seu papel de guardião do
bem estar da população durante vários e seguidos anos. Ele se impunha
pela própria presença.
No final dos anos 50 e nos primeiros da década de 60, tivemos aqui o
Capitão Neri Clito Vieira, falecido há poucos meses, na condição de
Coronel reformado da Policia Militar de SC. O Capitão Nery, notabilizouse pela prática da máquina zero na cabeça do marginal. O indivíduo que
fosse levado preso à delegacia de Criciúma, saia de lá com a cabeça rapada
pra que todos que o vissem soubessem tratar-se de um marginal...
Já nos anos 60, nosso delegado foi o Dr. Velloso, Helvídio de Castro
Velloso Filho. Era baixinho, mas baixinho mesmo, raquítico e surdo.
Bacharel em direito. Falava fino. Mas se impunha, à ponta dos pés, para
passar o maior sermão do mundo sobre os marginais que lhe atravessassem
o dia... De tantos, certamente o Dr. Velloso terá sido o mais autoritário,
quem sabe para compensar as condições físicas de seu diminuto corpo.
Cada um deles, com certeza, escreveu um pedaço dos 120 anos de história
de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 6 de agosto – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 141
FRYDBERG & MENEZES
Recém formado em engenharia e aceitando uma boa proposta de trabalho
que lhe oferecera a Carbonífera Próspera, descobre Criciúma, em 1939, o
senhor Jorge Frydberg que deixou para traz a sua Porto Alegre...
Jovem idealista cheio de gás e coragem apostou no futuro desta cidade e
entendeu de aqui realizar o seu projeto de vida.
Já nos primeiros anos de 1940, tendo como sócio seu futuro cunhado Mário
da Cunha Carneiro, fundou a Construtora Cresciumense Ltda., a rigor a
primeira empresa do ramo da construção civil de nossa cidade.
A Construtora Cresciumense foi a responsável pelos primeiros grandes
projetos arquitetônicos da Criciúma dos anos 40 e 50 tendo exercido
importante papel no planejamento urbano da capital do carvão.
Já no ano de 1942, em plena II Guerra Mundial, chega à nossa cidade
Moacyr Jardim de Menezes, lagunense de nascimento, mas feito nosso
cidadão honorário em 1984. Já veio para trabalhar na mineração: começou
na São Marcos e logo foi convocado para a Próspera, onde se aposentaria.
Fundou e dirigiu a Escola Técnica de Comércio na qual foi professor de
matemática. Casado com Verônica Barbosa de Menezes presenteou
Criciúma com uma prole de oito filhos. Politicamente, fez parte do diretório
municipal do Partido Social Democrático que o conduziu à Câmara
Municipal – vereador – em duas legislaturas.
Jorge Frydberg e Moacyr Jardim de Menezes são marcas fundamentais do
processo desenvolvimentista destes 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 5 de agosto – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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PEDRO BENETTON, O CÓSO
Nosso personagem de hoje, partiu para a eternidade em 1972. Oitenta anos
antes, ele nascia em Cocal do Sul. Ainda jovem, notabilizou-se como feitor
de estradas e sob seus ombros residiu a responsabilidade da construção da
estrada de ferro que liga Bento Gonçalves a Caxias do Sul. Os operários ele
os recrutava por aqui mesmo e o seu transporte e o deles, até o canteiro de
obras, era feito a pé.
Numa das viagens, saiu cedo de Cocal e, ao passar pela venda de Frederico
Minatto, ficou encantado pela beleza da balconista de nome Maria Teresa.
Fez a viagem pensando naquela mulher e não tardou em retornar para
propor namoro àquela jovem. Logo em seguida, casavam-se. Passou a
trabalhar na fábrica de banha do sogro. Montou o seu próprio negócio, um
armazém, na Operária Velha, que, ato contínuo, deixava sob os cuidados da
mulher e foi prestar serviços para o sogro na mina de carvão que este
possuía na localidade de Lote Seis. Fechada a mina do sogro, fundou, com
os cunhados Eunerino e Otávio Minatto e João Cechinel, uma mina de
carvão no terreno acima do Criciúma Clube, sob a denominação de
Empreitada João Cechinel, vendendo o carvão para a CBCA. Em 1940, foi
minerar no Rio Maina, em seis frentes de trabalho: tanto de subsolo como a
céu aberto. Já em 1942, com a participação de uma centena de colonos
residentes no Distrito, e tendo ao lado Luiz Lazzarin, fundava a Carbonífera
Catarinense, essa mesma que hoje ainda minera em nossa região.
Ao fazer, a pé, todos os dias, o trajeto entre a boca de mina e o escritório,
recolhia, do chão, as pedras de carvão que se desprendiam das carroçarias
dos caminhões transportadores. Chegava ao escritório com um monte de
pedras ao colo praticando a aula da economia e do anti desperdício. A todo
chamava de “cosa” ou “coso”. Para mexer com ele, amigos mais íntimos,
falavam: “O cóso, vá buscar aquela cosa e leva lá pro cosinho...”
Esse era Pedro Beneton, um dos esteios da economia carbonífera que
também ajudou a construir os 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
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Publicado dia 20 de setembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 143
BALSINI, SARTORI & PEREZ
Evidentemente que, desde os primeiros tempos, sempre houve o cuidado
médico com a população que colonizou a nossa terra. Com freqüência
altamente irregular, sujeita às condições climáticas, um médico deslocavase de Laguna ou de Tubarão ou de Araranguá e vinha atender os primeiros
habitantes do nosso Município.
Mais tarde, os profissionais da saúde radicaram-se em nosso meio e
tomaram a peito o cuidado com os nossos antepassados.
Três deles, aqui chegados ainda na primeira metade do século que agoniza,
tiveram papel importantíssimo junto às famílias aqui residentes: o Dr. José
Tarquino Balsini, o Dr. Olavo de Assis Sartori e o Dr. Raymundo Perez.
Abraçaram a clínica geral e transformaram-se nos médicos familiares. O
paciente não ia ao médico; este é que ia visitar o paciente. Aliás, mesmo
sem paciente, lá ia esse médico visitar a tala família haja vista que entendia
ser esta uma de suas tarefas. Embora não formalizado, havia um
compromisso entre o médico e a família, saudável prática que o
modernismo dos tempos atuais aboliu do nosso meio.
Este é um fato pitoresco dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho
de cidade.
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Publicado dia 29 de julho – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 144
CASTORINO, O DAS LOTERIAS
Primeiro de junho de 1968: falecia Manoel João Crispin, conhecido de
todos pelo apelido de Nego Castorino. De estatura mediana e cabelos
esbranquiçados, uma das figuras mais populares e respeitadas da Criciúma
de então.
Nasceu ali na Urussanga Velha, em 1917, quando aquele chão ainda
pertencia ao nosso Município para cuja sede se transferiu em 1933, para
trabalhar na CBCA, como faziam todos os moços que quisessem amealhar
algum dinheirinho bom em pouco tempo. Ali trabalhou até se aposentar, em
1951, e ali desenvolveu, preliminarmente, o emprego de mineiro e, depois,
de engraxador das vagonetas de carvão que transportavam o mineral do
subsolo para as caixas de embarque à boca das minas. Gostava de pescar e
curtia muito a pesca com caniço. Jogava a isca à água e, se o peixe
demorasse a fisgá-la, puxava-a de volta, dava-lhe duas, três cuspidelas e
fazia retornar, provocando espanto e risadas dos que com ele pescavam...
Aposentado, tomou sob os ombros todos os encargos do São Paulo F. C.,
um clube varzeano que tinha nele o presidente, o técnico, o roupeiro, o
tesoureiro, o dono da bola e fazia seus jogos no campo que havia em frente
à Transportadora Manique ou naquele dos fundos da Padaria do Cantídio
Ramos, tudo ali na Operária.
Mas o Castorino notabilizou-se, mesmo, foi na venda de bilhetes de loteria,
tanto a do Estado como a Federal. E fazendo filhos, pois, casado com Dona
Maria Pereira Crispin, constituiu uma família de 12 filhos. Ufa!...
Seria uma falha não inserir Manoel João Crispin, o Castorino, no contexto
dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 19 de agosto – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 145
LUIZ, O PORTUGUÊS
O Brasil vivia conflitos internos de alta tensão política. O governo central
não conseguia a hegemonia político-administrativa da nação e os
governadores dos estados também digladiavam entre si na busca de
privilégios para as unidades federadas que governavam.
Circulou no Rio de Janeiro, então nossa capital federal, a notícia de que
tropas do Rio Grande do Sul invadiriam o território catarinense, pelo Sul do
Estado, em duas frentes: o litoral e a serra.
A pedido de Nereu Ramos, nosso Governador, tropas do exército sediadas
no Rio de Janeiro, vieram para cá, acantonando-se em Tubarão e na Costa
da Serra, em Criciúma. Era junho de 1937. Da tropa que ficou em
Criciúma, faziam parte dois soldados que teriam importante papel a
cumprir em nosso meio: Luiz Ramirez e Adamastor Martins da Rocha. Aqui
permaneceram até novembro daquele ano quando, logo depois de
retornarem ao quartel na capital federal, deram baixa e para cá
retornaram. Adamastor, como enfermeiro da Carbonífera Próspera e Luiz
Ramirez, como motorista da Mina de carvão de João Cechinel, onde
trabalhou até 1941. Nesse ano, Luiz Ramirez – ou Luiz Português – como a
cidade o conheceu, estabeleceu-se com um carro de praça, ou seja, o
serviço de taxi. Foi o nosso primeiro taxista e, nessa profissão, era o homem
que ia levar e ia buscar dinheiro, em Porto Alegre, em malas de viagem;
acompanhava profissionais liberais; transportava políticos... Luiz
Português, nascido em Portugal, que faleceu prematuramente em 1972, era
um arquivo rodante: sabia tudo de todos e mantinha a lealdade e
sobriedade como dever ético da profissão. Com Érico Becker constituiu uma
frota de “carros de praça” distribuídos nos pontos da Praça Nereu Ramos.
Fez história e confunde-se com a própria história de Criciúma, este orgulho
de cidade...
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Publicado dia 27 de agosto – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 146
ROUBARAM O SEU AUGUSTO
No ano de 1956, o personagem de hoje teve sua casa assaltada por um
estranho ladrão: este, utilizando-se de uma vela, ateou fogo em duas varetas
da veneziana de uma janela do quarto de hóspedes, cômodo invariavelmente
pouco utilizado em qualquer das residências de então e entrou. Passo a
passo, foi até ao quarto dele roubando um único objeto: o paletó do nosso
personagem. Com cuidado, tomou aquela vestimenta e, pela mesma janela,
fugiu do local.
No dia que precedera àquela noite, o Município tinha recebido a cota parte
do Imposto Único Sobre Minerais (o tal royalty sobre o carvão) que, na
imaginação do ladrãozinho, estava disponível no cofre da Prefeitura. É que
o personagem de quem falo era o tesoureiro do Paço: Augusto João
Firmino, nascido em Braço do Norte em 1915 e falecido em Imaruí, em
1990. E o ladrão queria, mesmo, era as chaves da Prefeitura e,
evidentemente, do cofre.
Seu Augusto veio para a nossa cidade em 1942 assumindo, de pronto, os
afazeres de tesoureiro municipal, a convite do Prefeito Elias Angeloni,
permanecendo no cargo até 1965, quando se aposentou. Nesse ano, instalou
a Churrascaria Brasília, na Rua Seis de Janeiro, ao lado do Cine Milanez.
Tentou a política, pelo velho PSD, mas não logrou êxito numa candidatura
a Vereador. Ajudou a fundar o Centro Cultural José de Alencar e presidiu
a Banda Musical Cruzeiro do Sul. Pai da Stella, do Thalésio, do Thales e do
Thelmo, era casado com dona Maria Loly Ribeiro. Seus restos repousam na
cidade de Imaruí onde viveu seus últimos dias. Ah, sobre o roubo: no final
do expediente daquele dia, seu Augusto deixou as chaves com a auxiliar de
tesouraria, Jacira Fernandes e o ladrãozinho deu com os burros n'água...
Augusto João Firmino, o velho tesoureiro da nossa Prefeitura Municipal,
também escreveu parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho
de cidade!
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Publicado dia 2 de setembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 147
DR. BENEDITO
Nosso personagem, desta sexta-feira, veio lá do Piauí, nascido em União,
em 1910.
Depois de larga folha de serviços prestados em diversos organismos de
alguns Estados do Norte e no Nordeste, veio para Criciúma, nos anos 50,
para ser o advogado do Sindicato dos Mineradores onde prestou serviços
até 1994.
Entendia de filatelia, de sindicalismo, de escotismo, de história, de lazer...
Enfim, era um polivalente de uma simpatia e cultura incríveis capazes de
cativar pessoas de todos os níveis sociais.
De estatura baixa, meio gordinho, cabelos ondulados e baixinhos, cabeça
chata, de tez morena, era o protótipo do nordestino. Invariavelmente uma
surrada pasta que aparentava carregar relativo peso em livros e papéis,
ilustrava o sovaco, sempre, com – no mínimo – um exemplar de jornal.
Sentava-se num banco da Praça Nereu e, em minutos, era rodeado de
amigos e admiradores que tinham na sua pessoa um professor, um
conselheiro...
Ajudou a fundar a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, lá em
Pernambuco, tornando-se o seu primeiro presidente e trouxe a iniciativa
para cá, instalando o Vinte e Nove de Julho, estabelecimento de ensino de 2º
grau que, embora particular, não cobrava anuidade de seus alunos. Foi
Professor da Escola Técnica de Comércio, de vários colégios e da UNESC,
nos seus primeiros anos de vida.
Faleceu em março de 1994 e seus restos repousam no cemitério municipal
de Criciúma.
Falei do advogado Benedito Narciso da Rocha, o Dr. Benedito, personagem
indispensável no contexto dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 10 de setembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 148
DE FERREIRO A GOVERNADOR
Hoje vamos falar de uma das pessoas mais proeminentes do cenário
político-empresarial de nossa terra.
Nosso personagem veio de Tubarão, onde nasceu a 30 de abril de 1902 e
naquela cidade seria balconista e ajudante de ferreiro, ajudando a seu pai
na respectiva oficina.
Álvaro Catão o conheceria e, por sua expressa recomendação, a CBCA o
contrataria, com salário de 90 mil réis. Era 1924 e fazia um ano que
contraíra núpcias com Dona Lucília Corrêa. Sua tarefa, na mineração, era
a de apontador, na qual ficaria pouquíssimo tempo, dali levado para os
escritórios da empresa. Revelou-se um dos mais respeitados funcionários da
empresa, especialmente pela gente humilde que arrancava o carvão do
subsolo.
Nas crises do carvão – e estas eram tantas – quando as mineradoras
atrasavam os pagamentos dos operários, lá ia ele, em nome do empregador,
dialogar com os mineiros prometendo-lhes saldar os compromissos nos
primeiros ingressos de dinheiro.
Cumpria religiosamente tais promessas e, também por estas causas, crescia
a respeitabilidade que lhe devotavam seus subordinados. Nessa época, a
CBCA inventou um tal de bodegão que era um VALE com o qual era
possível adquirir gêneros de toda ordem em armazéns de secos e molhados
que proliferavam em cada vila operária. Esses bodegões, que passaram a
ser moeda corrente em todo o território criciumense – e até fora dos limites
geográficos do Município – sempre foram honrados pela empresa,
representada por nosso personagem.
Essa sociabilidade com o próximo o recrutou para a militância política,
inicialmente no Partido Republicano e, passada a turbulência da ditadura
de Vargas, na União Democrática Nacional, a UDN, de cujo Diretório
estadual chegou a ser Presidente. Em 1934, era conduzido à Assembléia
Legislativa, como Deputado Estadual. No governo de Irineu Bornhausen, de
1954 a 1957, ocupou a importante Secretaria da Fazenda.
Foi candidato a vice-governador, na chapa de Jorge Lacerda, perdendo a
eleição para o pessedista José Miranda Ramos. (Nessa época, o eleitor
podia votar num candidato a vice-governador de chapa oposta a do
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 149
governador). Ramos era do PSD.
Mas a Justiça, acatando recurso da UDN, anulou o pleito havido em Major
Vieira, Itapiranga, Capinzal, Tangará e Descanso fazendo neles realizar
novas eleições. E daí, nosso personagem foi eleito com a diferença de 512
votos.
Já no governo, com Jorge Lacerda, assumiria o cargo de governador de
Santa Catarina, a 16 de junho de 1958, quando o titular morreria em
desastre aviatório. E governou Santa Catarina até 31 de janeiro de 1961,
quando entregou a administração estadual a Celso Ramos.
É pai do engenheiro José Correa Hülse, de saudosa memória e de Ruy
Hülse, ex-deputado e ex-prefeito de nossa cidade, hoje presidente do
Sindicato da Indústria da Extração do carvão de Santa Catarina.
Falei de Heriberto Hülse, a quem a mineração de carvão, Criciúma e o
Estado de Santa Catarina muito devem.
Heriberto Hülse, falecido em 1972, é personagem maiúsculo dos 120 anos
de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 15 de novembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 150
JUCA BALOD
É comum, hoje, a gente fazer uma viagem qualquer alugando um veículo
numa das centenas de locadoras espalhadas pelas cidades de maior porte
do País e do mundo. Mas, você já se perguntou como é que era essa
encrenca há algum tempo?
Escuta só: em 1942, um descendente de lituanos chegou à nossa cidade e,
esperto, resolveu ganhar o pão de cada dia, alugando bicicletas. Instalouse, primeiramente, na Rua Seis de Janeiro, numa casinha que foi
desmanchada para a construção da agência do Banco Nacional do
Comércio, recentemente também destruída, onde hoje é o pátio do Banco
Meridional. Era o Senhor Victor Henrique Balod, com a sua Casa das
Bicicletas. O ano, repito, era 1942, portanto faz 57 anos.
Dali ele levou o seu comércio para a Henrique Lage, inicialmente para uma
casinha que ficava em frente à Casa Globo (hoje Casa Benedet) e, mais
tarde, para o endereço onde hoje a Dona Ana e o Wilson ainda
comercializam esse tradicional veículo, a bicicleta. O aluguel era para
passeios e para viagens. Rapazes alugavam uma bicicleta para ir namorar,
ou para fazer grau com as garotas da época. Outros alugavam o veículo
para ir visitar parentes em Laguna, em Orleans, em Tubarão em Araranguá.
Muitos para Nova Veneza... Seu Juca, como era conhecido, tinha um
caderno no qual anotava o nome e o endereço da pessoa locatária e a
marca e a placa da bicicleta e estamos conversados. O preço variou de um
mil réis a dois mil réis por hora. Havia mais de 50 bicicletas para locação
e, nos finais de semana ou vésperas de festejos religiosos, todas eram
locadas. Se o cara não devolvesse a tal bicicleta em 24h, seu Juca ia à
Delegacia e prestava queixa. Às vezes, lá saia seu Juca atras de uma
bicicleta que, pelo registro do empréstimo, deveria estar em Maracajá, por
exemplo. Perdia um ou dois dias atrás do veículo que, nem sempre, era
encontrado. Aliás, dona Ana conta que 14 delas não mais foram devolvidas.
Quem acostuma alugar carro, nem imagina que aqui se alugou muita
bicicleta e isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 30 de setembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 151
ADDO: COMO É BOM SER BOM!
Hoje vou falar do único cidadão que administrou Criciúma em três
mandatos: Addo Caldas Faraco.
Fluminense da imperial cidade de Petrópolis, nascido em 15 de junho de
1905, seu Addo aportou em nossa cidade em 1934 na condição de Agente do
Departamento dos Correios e Telégrafos, do qual era funcionário. A
agência tinha sua sede na Rua Henrique Lage, à frente do prédio da
Cooperativa Agrícola, mais tarde União Comercial Sociedade Anônima. Ali
trabalhou até se aposentar, em 1945.
Nesse ano, mercê de sua amizade com a elite governante do Estado, foi
nomeado Prefeito Municipal por ato do interventor federal de Santa
Catarina, seu amigo Dr. Nereu Ramos.
Gostava de política e era talhado para os misteres da política: meio
gordinho, bonachão, muito simpático, não tinha inimigos.
Os adversários políticos respeitavam-no. Nasceu para a política no velho
Partido Liberal e foi fundador do diretório municipal do seu PSD – Partido
Social Democrático. Nessa agremiação – e sempre coligado com o Partido
Trabalhista Brasileiro – o PTB - - seria candidato mais três vezes ao Paço
Municipal. Ganhou em 1947 e em 1955.
Perdeu, para o udenista Ruy Hülse, a pugna eleitoral de 1965.
Governou sempre de maneira empírica até porque, à sua época, o
dicionário do administrador ainda não contemplava o verbete
“planejamento”. O coração sempre falou mais forte e, a cada
pronunciamento, repetia: como é bom ser bom! frase de efeito que seria
levada à sua última morada como seu epitáfio.
Liderou muitas comissões empresariais, especialmente as do setor
carbonífero. Com os empresários encetava viagens ao Rio de Janeiro, nossa
capital federal e, com as autoridades da República, discutia em pé de
igualdade na defesa do nosso mineral. Ganhou notoriedade quando discutiu
com o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, no Palácio do Catete
defendendo o ouro negro extraído de nossas galerias.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 152
Antes de Juscelino, também o lendário estadista Getúlio Vargas recebera
Addo Faraco e os mineradores criciumenses para um debate acerca do
nosso “ouro negro”.
É dele a criação do slogan que deu referencial à nossa cidade: orgulhava-se
em afirmar que Criciúma era a Capital do Carvão, cidade do presente e do
futuro. Emocionado, chorou, a 23 de junho de 1971, quando a Câmara
Municipal outorgou-lhe o título honorífico de Cidadão Honorário de
Criciúma. “O povo reconheceu o meu trabalho”, afirmou.
Addo Caldas Faraco, falecido a 16 de dezembro de 1982, é um dos artífices
dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 23 de novembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 153
O DENTISTA LEANDRO
E na hipótese de dor de dente? Como agiam nossos antepassados?
Sim, porque humanos e dotados de dentaduras, é líquido e certo que, num
determinado momento – ou para ser mais preciso: numa determinada noite
– pelo menos um dente doeu em cada uma das bocas dos nossos ancestrais.
E daí?
Pois olha: não há registro de como a dor era estancada nos primeiros
tempos. Imagina-se que a Companhia Colonizadora deixava, em cada casa,
alguns comprimidos ou vidros de remédios para amenizar a diabólica dor
de dentes. Odontólogo formado, nem imaginar: nem aqui nem por aqui...
Havia os práticos, certamente, em Tubarão, em Laguna, talvez em
Araranguá. Mas, por aqui... Já pensou, o prezado ouvinte, no suplício a que
estavam condenados nossos antepassados que tinham de conviver com a
terrível dor de dente sabendo que o dentista mais próximo estava a dois/três
dias de viagem?
Em 1929, de passagem por aqui, onde permaneceu durante 30 dias, o
italiano Amadeo de Mattaeis, dentista formado, atendeu precariamente aos
casos mais urgentes que a ele se apresentaram.
Em 1933, Seu Leandro Martignago, contando 35 anos de idade, dava início
ao seu ofício de dentista, depois de Ter obtido, no Departamento de Saúde
Pública, em Florianópolis, licença para trabalhar como Dentista Prático
Licenciado. O Senhor Leandro, casado com Rachele Ferraro Martignago –
mas de nós todos conhecida como Dona Natália – pai da Dirce, do
Henrique Dauro e do Décio, foi, a rigor, o nosso primeiro dentista. Seu
primeiro gabinete dentário funcionou numa pequena sala da Cooperativa
Vitória e, depois, foi levado para a sua própria casa onde ele atendeu até
1960. Depois vieram o Abraão Martignago – irmão do Leandro -, o Nilo
Sbruzzi, o Olivério Nuernberg, o Alexandre Herculano de Freitas e a
centena de outros ilustres odontólogos que, hoje, em consultórios ou
clínicas cuidam da saúde da boca de nossa gente e festejam com largos
sorrisos os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 12 de outubro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 154
BOIANOWSKI,
MÉDICO DAS CRIANÇAS
Ao falar dos cuidados médicos dispensados á população pelos facultativos
Balsini, Sartori e Perez, não se pode cometer injustiça deixando de falar de
um dos pediatras a quem Criciúma e – de resto - toda a região devem muito.
Até o final dos anos 50, início da década de 60, Criciúma ostentava um dos
mais altos índices de mortalidade infantil do Brasil. Salvo engano, perdia
apenas para Lauro Muller que, em Guatá, mantinha o pico de tal
mortandade.
Todo o dia morria criança; aliás, todos os dias morriam crianças, no plural.
As escolas sacrificavam, pelo menos, um período para que seus alunos
acompanhassem os enterros. No final dos anos 50, chegava a Criciúma o
pediatra David Luiz Boianowski que revolucionou o quadro pediátrico
local. Foi a campo, estudou as causas, desenvolveu projetos sanitaristas e,
praticamente, acabou com aquele deprimente quadro de, todos os dias,
sepultarmos nossas crianças.
Ficou conosco uns dez anos e, chamado pelo Ministério da Saúde, foi
trabalhar com o governo federal, em Brasília.
Esta é mais uma das belas páginas destes 120 anos de Criciúma, este
orgulho de cidade.
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Publicado dia 30 de julho – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 155
DIOMÍCIO, O CAPITÃO
Meu personagem de hoje é natural de Pindotiba, comunidade do interior de
Orleans, onde nasceu a 19 de abril de 1911. Teve ali sua infância que viveu
igualzinho a de outros meninos de sua idade: ia para a escola, jogava
futebol, caçava passarinhos... enfim, uma vida normal para a normalidade
daquele povoado.
Com os pais, veio para Criciúma e, agora, contava 13 anos de idade.
Madrugou no trabalho ao ser contratado como telegrafista da Estrada de
Ferro Dona Theresa Christina. Naquela ferrovia faria carreira nos 17 anos
a ela prestando serviços e dela desligando-se na condição de Agente de
Estação de Primeira Classe.
Eram de primeira classe, em 1941, as estações de Araranguá, Criciúma,
Tubarão, Laguna e Imbituba. Havia também as de segunda e de terceira
classes. Faço o registro para atestar que o nosso personagem galgou todos
os postos até chegar à gerência de estação de 1º classe...
Ao deixar o quadro de empregados da Ferrovia, ele o fez para ir trabalhar
com o carvão mineral que, altamente valorizado pelos problemas
enfrentados pelos países produtores desse minério durante a II Guerra
Mundial, anunciava-se como o negócio do momento. Juntou-se a Santos
Guglielmi e ingressou nos negócios de extração da hulha negra na
Carbonífera Caeté Ltda. já na condição de sócio gerente. Daquela primeira
mina vieram outras tantas ao longo dos tempos, sempre em sociedade com o
seu velho companheiro Guglielmi.
Essa sociedade duraria até os anos 60 quando os dois, agora com suas
respectivas proles amadurecidas, resolveram desfazer a sociedade e cada
qual foi cuidar dos seus interesses.
Nascia, ali, um dos mais sólidos conglomerados industriais da nossa Região
tendo como logomarca identificadora uma locomotiva. Na linha de frente,
uma cerâmica.
Uma moderna cerâmica que conquistaria um mercado de incomensuráveis
dimensões.
Daquela primeira, nasceriam outras e outras, aqui e noutras unidades
federadas.
Nascia, também, no setor das comunicações, uma estação de televisão, com
programação local e, depois, afiliada à TV Bandeirantes, fazendo parte da
grande rede nacional comunicativa. Na política, disse não ao conformismo
da sua UDN de votar em candidatos que não tinham a mínima vinculação
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 156
com a região e o povo o elegeu Deputado Federal num dos pleitos mais
memoráveis que a história eleitoral nos conta.
Como o ouvinte já deve ter detectado, falo de Diomício Freitas,
prematuramente falecido em 1981, depois de um violento desastre
rodoviário ocorrido na BR-101, proximidades de Imbituba.
Casado com Agripina Francioni, falecida em 1994. Seu Diomício, como era
conhecido, é cidadão honorário de Criciúma, homenagem que a Câmara lhe
prestou in memoriam e patrono do Aeroporto Regional de Forquilhinha, ao
qual empresta o nome.
É impossível deixar de dedicar espaço e páginas a Diomício Freitas, o
nosso primeiro capitão de indústrias, quando falamos dos 120 anos de
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 8 de novembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 157
ARLINDO,
DO LATIM À PREFEITURA
Ele recém deixara os estudos para ser ordenado sacerdote e a Casa
Paroquial o abrigaria para a execução de um dos projetos mais velozes da
vida política local.
Falo de Arlindo Junkes, Professor, Maestro, Comerciante e Político.
Natural de São Bonifácio, interior de Nova Veneza, quando aquilo tudo
pertencia ao território de Criciúma, onde nasceu a 23 de agosto de 1934.
Estudou em Forquilhinha, em São Ludgero, em Brusque e em São Leopoldo.
Às vésperas da ordenação sacerdotal, deixou os estudos eclesiásticos e
retornou ao seu chão.
O Vigário de Criciúma, Padre Estanislau Ciseski, o recrutou para ser
Professor dos colégios Madre Teresa Michel e São Bento em cuja cátedra
revelou-se um dos mais festejados professores da época especialmente do
latim.
Paralelamente, instalaria, nos fundos da Igreja Matriz São José, em salas
que houveram sido parte da antiga Casa Paroquial, um pequeno comércio
de artigos religiosos como castiçais, imagens, santinhos, paramentos para
ofícios religiosos, bíblias e livros sacros e outros objetos do gênero o qual
foi denominado de Livraria Fátima, anos mais tarde transferida para outros
locais já sob a direção de um de seus irmãos maternos.
O Padre Estanislau era um dos mentores intelectuais da vida política local.
Embora sem filiação era reconhecido militante do Partido Social
Democrático que jamais tomou qualquer decisão sem ouví-lo previamente.
O Prefeito era o Dr. Nery Jesuino da Rosa, do PTB, que o PSD “teve de
engolir” haja vista ter sido cláusula do acordo celebrado às eleições para o
governo de Santa Catarina: a eleição de Celso Ramos/Doutel de Andrade.
Articulou-se, então, a renúncia do Dr. Nery. Estando por consumar-se tal
gesto, perguntou-se: e quem será o substituto? (À época não havia a figura
do vice-prefeito).
E o Padre Ciseski respondeu: o Arlindo, agora já eleito Vereador e
Secretário da Câmara. Como o substituto do Prefeito, dentro dos postulados
legais, seria o Presidente da Câmara, esse renunciou, a edilidade elegeu
Arlindo para presidi-la, este assumiu, leu a carta-renúncia e auto
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 158
proclamou-se empossado no cargo. Governou de 1963 a 1966 entregando
as rédeas da administração municipal a Ruy Hülse.
Nenhum homem público contemporâneo teve vida política tão ascendente e
veloz como o Professor Arlindo Junkes que, prematuramente, faleceu a 19
de novembro de 1985.
Reconhecido o seu trabalho, não pode ficar ausente da narração dos 120
anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 29 de novembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 159
MILO, O OUSADO
Meu personagem de hoje era natural de Cocal, quando essa cidade fazia
parte de Urussanga, onde nasceu a 20 de setembro de 1912. Ele comparece
aqui nesta narrativa histórica haja vista a sua direta participação no
processo desenvolvimentista do nosso município.
Nos primeiros tempos, foi sapateiro, peão de estradas, confeiteiro, latoeiro,
baleiro e balconista de armazém.
Quem teve a oportunidade de conhecê-lo na condição de empresário – e que
empresário! – chega a duvidar que esse homem tenha batido prego em sola
de sapato numa oficina de consertos; tenha amassado farinha com fermento
para a elaboração de receitas culinárias numa padaria; tenha amassado
lata e aplicado arrebites em canecos de folhas de flandres; tenha trabalhado
atrás de um balcão, vendendo artigos de vestuário e gêneros alimentícios.
Pois que creiam: ele fez tudo isto antes de ser o industrial dono de um dos
impérios cerâmicos mais respeitados do mundo: falo, evidentemente, de
Maximiliano Gaidzinski, conhecido como o seu Milo.
Polaco de nascimento, filho de imigrante polonês, contraiu núpcias com
Octávia, a filha do Gílio Búrigo, que era filho de imigrantes italianos,
conhecido pelo devotamento ao trabalho. Os filhos vieram e o casal teve de
dar conta da empreitada. Um dia seu Milo foi trabalhar na Cerâmica Santa
Catarina, a Cesaca, na condição de seu diretor técnico.
Paralelamente, em Cocal, uma Cerâmica era instalada através de uma
grande sociedade de cotistas e, malgrado o esforço para que desse
resultado, abriu falência.
Aí falou a esperteza do comerciante que, acostumado a negociar em tantos
outros ramos de negócio, vislumbrou a possibilidade de fazer aquela fábrica
de azulejos dar certo.
Elaborou uma proposta, falou com os cotistas da massa falida e tomou o
pulso daquela indústria.
Derrubou um pedaço, ampliou galpões, adquiriu maquinaria, chamou os
filhos para assumirem com ele a encrenca e mandou ver. E viu. Trocou o
nome: agora aquela indústria seria conhecida como Eliane, nome da filha
caçula.
Era 1960.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 160
Nascia o conglomerado industrial constituído por várias unidades fabrís do
complexo cerâmico de revestimento de consagração mundial.
Umas em Cocal, outras em Criciúma, algumas fora do território
catarinense.
Todas produzindo e gerando riqueza que, através de investimentos locais,
refletiam-se no dia-a-dia do setor sócio-econômico de Criciúma.
Houve uma época em que os profissionais liberais de ponta que habitavam
nossa cidade eram todos funcionários do complexo Eliane que, por outro
lado, não media esforços para, sempre, se valer da melhor mão de obra do
mercado.
Daí, ser impossível deixar de falar de Maximiliano Gaidzinski, o seu Milo,
na narrativa dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 30 de dezembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 161
ZAPPELINI, DO RETRATO
Azambuja, hoje distrito do Município de Pedras Grandes, foi, no passado,
berço de significativa parcela de pessoas que, ali nascidas, viriam residir
em Criciúma, participando do processo desenvolvimentista deste território.
Assim ocorreu, por exemplo, com o casal Faustino Zappelini e Amélia
Felipe Zappelini os mais notáveis fotógrafos da cidade. Seu Faustino, de
saudosa memória, nascido a 19 de dezembro de 1911 e dona Amélia a 14 de
junho de 1914. Tiveram ali a infância e ali viveram a puberdade e a
juventude. Namoraram, como tantos o fizeram, e foram ao altar jurar amor
e fidelidade para o resto da vida. Aos 14 anos, seu Faustino aprendeu o
ofício do retrato e dele jamais se afastaria ao longo de sua vida. No final da
década de 30, com família constituída, trocam a pacata Azambuja pela
cidade de Criciúma, município novo do Sul catarinense, mas que, a olhos
vistos, demonstra que se transformará em grande cidade. Construiu, aqui, o
primeiro estúdio profissional para fotografias e passaram, os dois, a
fotografar tudo e todos da velha Crescúma: as minas de carvão e os
mineiros, os sacerdotes, as procissões, os batizados e os casamentos; festas
de primeira comunhão e defuntos antes do sepultamento (como era
corriqueiro).
As dificuldades de material para o estúdio eram supridas com o
fornecimento de colegas seus estabelecidos em Tubarão e Porto Alegre. E
foram fotografando.
Fotografaram a vida como poucos e documentaram esta cidade como
ninguém. Afora os retratos da primeira hora que levam a assinatura do
João Sbruzzi, a rigor nosso primeiro fotógrafo, tudo o mais que conhecemos
da história fotográfica desta terra deve-se à Dona Amélia e Seu Faustino,
ele nosso cidadão honorário desde 22 de novembro de 1996.
Da união matrimonial de Faustino e Amélia nasceram o Zeferino, que todos
conhecemos por Osmar, o Valdir, o Atair, a Zilda, a Zaida, a Maria de
Lourdes e o Sérgio. Como os pais, todos ligados à arte da fotografia e que
continuam a documentar nossa cidade, nossos costumes e nossa gente.
É impossível deixar de falar de Dona Amélia e do Seu Faustino Zappelini
quando nos reportarmos aos 120 anos de história de Criciúma. Este orgulho
de cidade tem sua história documentada pelo ilustre casal.
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Publicado dia 7 de dezembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 162
ADAMASTOR, DO TECO-TECO
Nosso personagem de hoje nasceu há 83 anos em Alegrete, no Rio Grande
do Sul, e nessa melhor idade está aí, fazendo o serviço de bancos e
administrando o escritório do seu empreendimento comercial.
Veio para Criciúma em 1937, cinco meses antes de instalada a Ditadura do
Presidente Vargas.
Aqui chegou, proveniente do Rio de Janeiro, onde servia o Exército
Nacional e por determinação deste, haja vista pedido de forças militares
que fizera às Forças Armadas o Governador Nereu Ramos.
Fazia parte do pelotão encarregado de cuidar da saúde dos aquartelados e
dos aqui residentes. Enquanto os soldados instalavam-se num potreiro que
começava ali no Banco Bradesco e se estendia até a Retífica Nereu, o
serviço de saúde era instalado no porão da Cooperativa Agrícola Ltda.
Em novembro daquele mesmo ano, retornaria ao Rio e pediria baixa do
Exército, para se tornar enfermeiro da Carbonífera Próspera, por convite
de seus diretores Jorge da Cunha Carneiro e Júlio Gaidzinski.
Ali permaneceria por apenas dois meses já que fora convocado para prestar
serviços na Farmácia São José, instalada em 1933, à época um dos três
únicos estabelecimentos farmacêuticos da cidade: eram a Farmácia do
Senhor Nicolau Machado, a de Carlos Pinto Sampaio e a São José, de dona
Luiza Becker. (A pioneira, da senhora Jacinta Piazza, já havia sido
fechada). Em 1938, contraiu núpcias com Rute, filha da dona da farmácia.
Desde jovem quis ser aviador.
Tentou a escola de aviação do Rio onde foi reprovado no exame de vistas
embora três meses após o exame oftalmológico tenha sido campeão de um
campeonato de tiro.
Aprendeu a voar no aeroclube de São Paulo.
Em 1947 comprava seu primeiro avião, um Piper que tomaria o prefixo PPSP.
Era um flamante teco-teco que tinha hangar e pousava na pista de pasto do
Pio Correa, hoje a pista de rolamento da Rua Antônio de Luca. (Mais tarde
esse campo de pouso foi transferido para o Bairro Olaria – hoje São Luiz –
exatamente onde hoje temos a Rua Carlos Pinto Sampaio, paralela à Av.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 163
Santos Dumont). Esse avião tinha apenas dois lugares: o do piloto e o de
um passageiro.
Depois, trocou por outro, aí sim, com três lugares: o dele e mais dois; e foi
nesse que prestou incomensurável serviço à Criciúma e à região:
transportava doentes para grandes centros e fazia o itinerário CriciúmaFlorianópolis e Criciúma-Porto Alegre transportando Prefeitos e
empresários do carvão.
Farmacêutico, na condição de Oficial de Farmácia, desde 1935, Adamastor
Martins da Rocha, o nosso personagem desta sexta-feira, é testemunha vivo
da história dos 120 anos de Criciúma que ajudou a escrever em terra e no
ar: quem não conhece uma história do teco-teco do Adamastor ligada à
Criciúma, este orgulho de cidade?
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Publicado dia 8 de outubro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 164
MANIQUE BARRETO
Quando a proposta é falar de gente que fez a história de uma nação, de um
território, de uma cidade, há que se fazer o registro daqueles que, de uma
ou de outra forma contribuíram para que essa história pudesse ser contada.
Nesse contexto, falo, hoje, de mais um ex-prefeito. De um grande exprefeito. Reporto-me a Algemiro Manique Barreto que, aos 19 anos de idade
transferiu-se de São Bento Baixo, distrito de Nova Veneza, para vir morar
na sede do Município. Lá ele nasceu no dia 11 de julho de 1929.
Alfaiate de profissão veio trabalhar nesse ofício, costurando ternos para
aqueles que, à época, faziam a história da cidade.
E foi conhecendo gente.
E foi se relacionando.
E foi dando dimensões maiores aos seus afazeres.
E montou um comércio de tecidos.
Daqui a pouco era industrial, cerealista, transportador.
Ousou e, mercê de seu trabalho, deu-se muito bem.
No Lions, ao qual devotou parcela significativa de sua vida, fez de tudo:
desde membro de equipe até governador de Distrito.
No Bairro da Juventude, sociedade caritativa que sempre mereceu sua
atenção e seu devotamento, mostrou-se empreendedor a ponto de não
largar, em qualquer hipótese, o comando do Conselho de Administração
que, há vários anos, tem sobre seus ombros as responsabilidades do
comando.
Muito conversador, deixou fluir o seu lado político e fez parte da primeira
geração da Arena – Aliança Renovadora Nacional – à qual se filiou em
1965 exatamente no momento de sua criação.
Por ela seria candidato a Vereador, em 1966, recebendo uma das maiores
votações da história eleitoral do município.
Presidiu a Câmara.
Foi candidato a Prefeito, formando com Fidelis Bach a vitoriosa chapa do
pleito de 1972. Governou Criciúma de 1973 a 1977.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 165
No comando das ações administrativas, revelou-se um amante de nossa
cidade.
Dentre tantos e arrojados projetos, arrancou os trilhos da Estrada de Ferro
e, no traçado da antiga ferrovia, rasgou a via axial da cidade, a nossa
Centenário, referencial de uma época.
Instalou dois distritos industriais e foi buscar empresas para neles serem
instaladas.
A unidade do glorioso Exército Nacional é de sua responsabilidade. Para
sediar (pela primeira vez em Criciúma) os Jogos Abertos de Santa Catarina,
construiu a Vila Olímpica, no Morro da Televisão.
Fez erguer os primeiros Centros Comunitários nos bairros periféricos da
cidade.
Deixou o Município e candidatou-se a deputado estadual indo formar a
Assembléia Legislativa do Estado.
Depois de tantos serviços prestados à cidade, quis retornar tanto à
Prefeitura quanto à Assembléia, mas, daí, o eleitor – que, via de regra,
perde a memória – não correspondeu.
Então foi cuidar da sua Transportadora, do seu Lions Club e do seu Bairro
da Juventude, onde emprega todas as forças dos seus jovens setenta anos.
Algemiro Manique Barreto, indubitavelmente, é destaque de qualquer
narrativa dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 2 de dezembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 166
DE BARATA A PINICILINA
Há umas pessoas que, sempre acometidas de uma série infindável de
afazeres, não se furtam a assumir compromissos que a comunidade lhes
impõe.
Nesse contexto, Criciúma tem um débito muito grande como, por exemplo:
Wilson Fernandes Lopes Freire Barata, o Professor Wilson Barata que,
natural de Belém do Pará, veio trabalhar em nosso território lá pelos anos
30. Não se conhece uma iniciativa de peso, tomada por qualquer segmento
sócio-econômico local que não tenha se socorrido no eminente Professor...
Pedro Guidi, dono de uma simplicidade franciscana. Filho do imigrante
Angelo, surdo igual a ele. Seu Pedro, antes de ser o pai do Nereu e do
Nelson, profissionais de respeito do nosso meio, era pau-pra-toda-obra da
Prefeitura Municipal, ao tempo do velho PSD. Era motorista e operador de
equipamento rodoviário. Nas horas vagas, vereava e só não se eternizou na
Câmara Municipal, porque se enjoou da vida pública...
José Pimentel, um dos primeiros advogados da cidade. Capixaba, veio,
gostou e ficou. Falava alto, com um trejeito que o caracterizou
sobremaneira: enquanto falava, puxava as calças com ambas as mãos,
como se essas estivessem caindo. Respeitabilíssimo nas lides forenses,
gostava da UDN que o fez Vereador...
Esperandino Damiani, o seu Ouro. Só que todos o conhecíamos como o seu
ORO, sem o U. Dono da Casa Ouro, um dos estabelecimentos mais
tradicionais da velha Cresciuma e da moderna Criciúma dos nossos dias.
No Lions, clube de serviço que amou como a um filho, fez de tudo. E sempre
cuidou da tesouraria de todas as entidades por onde passou, mercê da sua
honestidade inquestionável...
João Zanette, esse cidadão octogenário que extrai carvão desde os tempos
de mocidade. Seu João é uma das testemunhas vivas da implantação do
nosso município: contava 15 anos quando Cresciuma foi instalada em 1926.
Bonachão, sábio na humildade que o caracteriza, gosta de bater papo
especialmente sobre as histórias do carvão e de Criciúma. Hoje, além de
extrair carvão, planta e colhe maracujá e outras frutas tropicais em escala
industrial.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 167
Nicolau Destri Napoleão, Professor e Inspetor Escolar. Ao tempo em que a
sala de aula se caracterizava pela presença da professora, ele rasgou o
preconceito e demonstrou, com a sua cultura invulgar, que a arte científica
do ensinar não discrimina sexo. Da UDN foi diretoriano e por ela
compareceria à Câmara Municipal na condição de Vereador. Quis ser
nosso Prefeito, mas a conjuntura política daquele momento não lhe foi
favorável.
Zulcema Póvoas Carneiro, a florianopolitana que veio conhecer seu futuro
marido aqui em Criciúma e daqui nunca mais saiu. Em 1941 fundou o seu
colégio particular, o Póvoas Carneiro que, lamentavelmente, cerrou suas
portas em 1962.
Giácomo Sonego Neto. Quando se fala no “seu Jáqui”, como era
conhecido, imediatamente se associa a Cooperativa Agrícola. É que ele foi
um dos seus fundadores e, enquanto ela existiu, a ela sempre emprestou seus
serviços profissionais. De trato muito simpático, atrás de óculos de fundo de
garrafa, com a dona Percebia, a octogenária Bia, educou sua prole de três
filhos homens (o Mário, o Mauro e o Moacir) o primeiro deles político de
acreditado lastro do mundo partidário criciumense.
Romeu Lopes de Carvalho, conhecido como o Penicilina, em função da
profissão de enfermeiro na qual se aposentaria no Iaptec. Pedalando uma
surrada bicicleta e sempre portando um não menos surrado guarda-chuva,
lutava pelos direitos do cidadão, especialmente aqueles menos favorecidos,
tarefa na qual – não raras vezes – era tomado até como um “chato”...
E ficaria aqui a descrever tantos e tantos homens e mulheres que, sempre
muito ocupados, nunca se furtaram – como já afirmei – a dispensar algum
tempo a favor da comunidade.
À sua maneira, eles também ajudaram na construção dos 120 anos de
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 22 de dezembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 168
DE BORBA A BÚRIGO
Ainda na temática de ontem, prossigo falando de ilustres figuras do nosso
cotidiano que nunca se esconderam na hora de ajudar a nossa comunidade.
Hoje, falo, por exemplo, de Donatila Borba, cujo nome batizou a nossa
Biblioteca Pública Municipal. Donatila, no apoio às causas estudantis, no
rastro da poesia de cuja coletânea o “Bem-Te-Vi” sempre sobressaiu...
Donatila, mãe do Lafaiete, o político da família; do Jurê, o seresteiro dos
Borbas e do professor Carlos Augusto, da Escola Técnica de Comércio, do
Conselho Curador da Fucri, fundador do Comerciário Esporte Clube, do
Lions Club.
Falo, ainda, de Luiz Bortoluzzi, filho do poderoso João, um dos mais
prósperos comerciantes da Nova Veneza de ontem, de onde veio, depois de
concluir o curso de farmácia, para abrir a São Luiz, de tanto sucesso e tanta
saudade...
Quero reportar-me à Dona Emília, cujo sobrenome já foi apagado, mas que
era uma das mais competentes parteiras que aparavam crianças na
Criciúma dos anos 40 e 50...
Quero falar do Sinval Bohrer, aquele gaúcho que se revelou um verdadeiro
“gentleman”, postado ali na frente da Loja Renner, elegantemente vestido,
com chapéu à cabeça, cumprimentando a todos que por ali passassem e,
quase sempre, chamando o transeunte pelo nome. O Sinval vereador,
presidente da Câmara, prefeito interino... Presidente da Liga Católica Jesus
Maria José...
E por falar da Liga, como posso deixar de falar do Padre Estanislau, uma
das lideranças públicas mais injustiçadas dos nossos dias?! Um vigário que
dedicou tanto para o município que, em troca, nem uma ruela qualquer
batizou com o seu nome. O Padre Polaco, temido e respeitado por gregos,
troianos e etruscos, marcou época...
Quero falar, também, do José Rosalino Zaccaron, da Padaria Brasil, um
homem de educação até rústica que deixou a Linha Torrens e aqui veio se
estabelecer com uma das padarias mais respeitadas do seu tempo.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 169
Hoje quero espaço para falar do Otávio de Luca, ali da Mina do Mato, líder
inconteste de todo aquele Bairro ao tempo das minas da CBCA...
Hoje quero falar do Wilmar Peixoto, itajaiense de nascimento, mas
criciumense por opção, responsável pela designação de Rua Itajaí, aquela
via pública hoje corredor do anel viário de nossa cidade. Careca, gordinho,
de sorriso fácil, mas sempre transmitindo muita confiança daquilo que
falava e naquilo que fazia...
Neste capítulo não posso deixar de falar do Arthur Souza, alto, gordo,
bigodudo, às vezes sisudo e às vezes bonachão, dependendo do momento e
do lugar. Do seu Arthur, gerente da Estação Ferroviária e um dos mais fiéis
escudeiros do político Diomício Freitas, de quem privava estreita amizade.
Quero falar de Honório Búrigo, ah, o Honório, da Casa Nova, depois da
Casa Honório Búrigo, com aquela mão toda atravessada, tentando fazer um
gesto obsceno do qual a turma ria não tanto pela obscenidade, mas, mais,
pela figura resultante daquela tentativa...
Essas pessoas, somadas àquelas de quem me reportei ontem, não podem
ficar no anonimato, quando falamos dos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 23 de dezembro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 170
DE GORINI A GUGLIELMI
Volto, hoje, a mencionar nomes de algumas pessoas que, sem desmerecer
outras tantas que tanto fizeram por nós, merecem a citação do escriba no
momento da rememoração dos 120 anos de nossa história.
Do Dr. Dino Gorini que clinicou em Nova Veneza e aqui em Criciúma. Um
médico diferente, simpático, altruísta, cumpridor rígido do juramento que a
Faculdade lhe impôs tendo na cura do doente o objeto direto do seu
sacerdócio e, só depois, o vil metal...
Jorge Cechinel, vindo ali do Morro da Fumaça, empreendedor, trabalhador,
dono de uma gana enorme de querer vencer na vida...
Fidelis Barato, que deixou sua Jaraguá do Sul para vir para cá a fim de ser
o guarda livros da empresa que, mais tarde, o teria como co-proprietário e
presidente. O Fidelis político, vereador e presidente da Câmara e do
partido, sempre calçando meias brancas e sobre o qual era imposto o
epíteto de “panos quentes” haja vista sempre propor água fria em qualquer
fogueira...
O Sebastião Neto Campos, da Cpcan e da CBCA. Da primeira sabe-se de
uma investida sua que o deixou terrivelmente frustrado: a água era
distribuída à população pela Cpcan que pedia ao consumidor que fizesse
economia porque o líquido era escasso. Ao dirigir-se ao trabalho, passando
em frente à casa do Goulart, ali na esquina da Pedro Benedet com a Fiúza
da Rocha, ele viu o fabricante de vinagre lavando uma camionetinha, na
rua. Não falou nada. Foi à Cpcan e, de picareta em punho, voltou ao “local
do crime” para cortar a água do senhor Goulart. Caiu do cavalo: a água
que lavava o veículo era de um poço que o proprietário mantinha no fundo
do seu quintal.
Na CBCA, Sebastião chamava a todos de “moço”. Carrancudo, jamais
esboçou um sorriso, até que a política o convocou para a disputa eleitoral.
Aí, se transformou. De “Tião Medonho” como o chamavam, passou a ser o
Dr. Sebastião...
Quero mencionar, também, a veneranda Irmã Norberta, da nossa
Forquilhinha, educadora dos segundo e terceiro tempos, responsável pela
educação formal de tantas inteligentes cabeças de toda a nossa região.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 171
Santos Guglielmi, por exemplo, um obstinado pelo sucesso. Na sua
concepção elegeu o patrimônio como objeto do seu projeto de vida. E, na
busca da realização do seu ideal, esparramou empresas que distribuíram
empregos que repartiram rendas que movimentaram a vida da cidade.
Nico Guglielmi, irmão do Santos, com o nome do seu tio Antonio, cerealista,
pecuarista e político, notabilizou-se nesta última função de onde partiria
prematuramente para a eternidade...
Enfim, esta terra é rica nas pessoas que a fizeram e que ela fez, cada um
contribuindo, à sua maneira, para que as gerações atual e futuras tivessem
o conforto que aqui já se apresenta.
Não fosse o concurso de cada uma e das tantas que não é possível serem
citadas e, com certeza, a realidade seria outra.
Por isso a justiça é resgatada e essas pessoas recebem a nossa homenagem
na dissertação dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 27 de dezembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 172
XI
E MAIS ISTO
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 173
HOTEL
E se alguém necessitasse de hotel? Aonde pousar? perguntava o viajante de
primeira viagem que aqui não conhecia ninguém...
Nosso primeiro escrivão, João Batista Targhetta, desenhou a resposta: fez
de uma casa existente no mesmo local aonde temos hoje o Hotel Brasil, o
seu hotel: simples, mas muito limpo e acolhedor. E pertinho da Estação do
Trem, o que não deixava de ser um atrativo.
Em 1918, Manoel Amante, Seu Maneca, deixou Laguna e veio estabelecerse aqui na cidade, também com o ramo de Hotel. O seu tomou o nome de
Hotel Criciúma e foi instalado numa casa de alvenaria, de propriedade de
Marcelo Lodetti, no local aonde temos, hoje, o estacionamento da loja
Koerich, na Praça Nereu Ramos.
O Hotel do Targhetta, mais tarde foi transferido para Vantero Margotti que
o reformou dando-lhe um aspecto de verdadeiro Hotel assim permanecendo
até bem pouco tempo. O nome inicial era Hotel Targhetta; depois, Hotel
Margotti. Durante a II Guerra Mundial, numa patriotada não sabe de quem,
a parede do hotel foi pichada sugerindo que o nome italiano desse lugar ao
nome de Brasil o que, imediatamente, foi absorvido por Vantero. Daí o hotel
tomaria o nome que, até os dias de hoje, denomina aquele que foi o primeiro
hotel de Criciúma. Já a Alberto Savi Mundi é atribuída a instalação de um
dos nossos primeiros restaurantes para o público. Ficava na Rua Henrique
Lage, hoje esquina com a Henrique Lodetti. A sopa do Berto Mundi, dos
domingos, fazia sucesso...
E estas passagens também são inseridas nos 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 5 de outubro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 174
O RINCÃO
Por volta de 1930, os abastados da cidade chegaram ao litoral:
descobriram a Praia do Rincão. Toda aquela faixa litorânea fazia parte do
Município de Criciúma e para lá foi aberto um caminho capaz de permitir
aos cresciumenses o acesso ao mar. Já em 1932, quatro modestas casinhas
davam início à urbanização do nosso principal balneário. Eram as casas de
praia de Marcos Rovaris, Cincinato Naspolini, Bepi Tunin (ou José
Guglielmi) e do dono da sesmaria, Gervásio Teixeira. As quatro
enfileiravam-se na artéria hoje conhecida como a Rua da Igrejinha Velha.
Logo em seguida, por volta de 1935, já eram contadas as casas de Julio
Gaidzinski, Vitório Búrigo, Abílio Paulo, Heriberto Hülse, Jorge Carneiro,
Jacó Cruz, Júlio Teixeira, Santos Guglielmi, Vital do Pântano e Diomício
Freitas. Era o início da nossa Praia do Rincão, hoje um dos mais bem
aparelhados balneários de nosso Estado e intrinsecamente ligada à história
destes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 14 de julho – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 175
A CADEIA
Ainda no início dos anos 50, os marginais da cidade eram guardados na
cadeia pública da Av. Getúlio Vargas. A tal cadeia estava localizada
exatamente aonde temos, hoje, a Telesc. Praticamente uma quadra para ela.
Era uma casa de madeira, comum, sem pintura, mal tratada pelo tempo...
Ao seu redor, uma plantação enorme de moranguinho silvestre que cobria
todo o terreno. Pois é! ali já era praticamente fora do perímetro urbano da
cidade de Criciúma.
Freqüentavam aquela casa, ladrões de galinhas e os desordeiros de bailes e
domingueiras, especialmente destas. Domingueira era o baile que se fazia
aos domingos, com início aí pelas 15/16horas. Especialmente os destas haja
vista que começavam a beber no Sábado e aí...
Fatos pitorescos ocorridos em bailes eram conhecidos na velha cadeia: uma
moça que negasse par, isto é, que não quisesse dançar com um determinado
sujeito, poderia acabar na delegacia: se entrasse no salão da dança era
para dançar e não podia se recusar, sob qualquer motivo.
Depois, a cadeia foi levada para a Rua João Pessoa, num edifício
imponente, com várias celas gradeadas e com as repartições burocráticas
bem definidas. Ali permaneceu até a década de 7o quando foi transferida
para a Santa Augusta e dali para cá todos conhecemos seus altos e baixos.
A trajetória de nossa cadeia pública também faz parte dos 120 anos de
Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 21 de julho –quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 176
ÁGUA
Água! Pois é, água...
Estamos fechando o milênio e este orgulho de cidade! pede água. O
precioso líquido está em falta.
Lá atrás, nos primeiros tempos, nosso lençol freático era rico. Havia água
em quantidade e com qualidade.
Cada residência, ao ser construída, só era dada como pronta, para receber
seu morador, depois que o poço desse água.
Cada casa tinha o seu poço, aos fundos da residência ou mesmo a ela
acoplado ou, até, dentro dela própria.
Na Praça Nereu Ramos, a uns 15 passos da Galeria Benjamin Bristot, havia
também o poço da cidade, com uma bomba manual que trazia água para
copos, canecas ou baldes, para o ser humano e para os eqüinos já que
naquele logradouro eram amarrados os cavalos “para andar a la messa,
vero?”.
No início dos anos 1930, por iniciativa dos senhores Abílio Paulo, Elias
Angeloni, Frederico Minatto, Pedro Beneton, Pedro Benedet e outros
residentes ao redor da Praça, suas respectivas residências conheceram o
conforto da água encanada que era trazida em finos canos de ferro, de uma
nascente localizada no bosque aonde temos hoje o Hospital São João
Batista, então propriedade do senhor Angelo Benedet.
Em 1923, os empregados do Departamento Nacional de Produção Mineral
fizeram ver àquele organismo que suas residências, localizadas ao redor da
Praça do Congresso, precisavam receber água encanada.
O Plano do Carvão, então, canalizou água do Rio São Bento, lá no interior
do distrito de Nova Veneza, trazendo-a até nossa cidade. Assim, nascia o
primeiro serviço de distribuição de água à cidade de Criciúma que, já a
essa altura, tinha todo o seu solo comprometido pela extração do carvão
mineral.
E continuava a faltar água.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 177
Em 1965, o Prefeito Ruy Hülse encampou o serviço de captação, tratamento
e distribuição de água da Comissão do Plano do Carvão Nacional e criou o
Samae, um serviço autônomo municipal para cuidar do setor.
Logo em seguida, todavia, o Estado, através do DAE – Departamento de
Água e Esgoto – absorvia o Samae e tomava para si a responsabilidade da
água de Criciúma que, no governo de Colombo Salles, passou à
responsabilidade da Casan.
Cpcan, Samae, DAE, Casan... As siglas mudam e dançam no tempo
entupindo ouvidos e canos e o criciumense pedindo socorro, implorando
água.
E olha que faz tempo!
Água mole em pedra dura...
Este, sem dúvida, é um capítulo que poderia ficar fora da história dos 120
anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 7 de outubro – quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 178
DE PÃO & PADARIAS
O pão nosso de cada dia... o pão nosso... De onde vinha o pão que
alimentava nossos antepassados?
Bom, é fácil imaginar que, lá no início, o pão era fabricado pela dona de
casa na sua própria casa: sustentado por quatro pequenos pilares de
madeira mesmo, o colono fazia um chão de terra, dentro de casa, sobre o
qual ateava fogo; aí a dona de casa fazia a massa do pão, enrolava em folha
de bananeira e o enterrava nas cinzas daquele fogo. O calor dessas cinzas
assava o pão. Depois vieram os fogões de lenha com forninho, que se
prestavam para esse mister. Quando não havia o forninho na cozinha, era
construído o forno de rua, de tijolos, com uma boca quadrada de, mais ou
menos, 40 por 40 cm e um suspiro... enchia-se esse forno de lenha, ateavase fogo e, quando os tijolos mostrassem uma cor prateada era o sinal de que
a caloria para assar pães, galinhas e roscas, estava no ponto. Limpava-se o
forno e, no lugar das brasas, os pães. Fechavam-se o suspiro e a boca e,
dali a 40 minutos, se tanto, tudo assadinho. Só que esta tarefa dava uma
mão de obra do cão! reclamavam as donas de casa. Em1930, dona Inez
Damiani, num gesto ousado para a época, instalou a primeira padaria
industrial da cidade. Ficava ali, na Paulo Marcus, no local onde hoje
começa a Galeria Cavaller. Foi um sucesso! Todos buscavam comer o pão
de fora, querendo assim dizer que o pão não era o de casa... Em seguida,
seu João Gomes construiria a sua padaria, com uma série de imensos
fornos, na propriedade que faz esquina das Ruas Lauro Müller e João
Pessoa. Em 1940, nascia a Padaria do Bá - como era conhecido o senhor
Manoel Gonçalves de Farias - de incomensurável sucesso, localizada numa
pequena casa – ainda de pé – no início da Rua Henrique Lage. “Tem pão,
Bá?!” foi uma expressão que tomou conta dos criciumenses. Em seguida o
José Rosalino Zaccaron montava a Padaria Brasil e dali para cá as
padarias foram sendo instaladas e o pão nosso de cada dia cada vez mais
perto de nossas casas.
Carroças tipo baú, com compartimento bem fechado e levando um balaio de
higiene duvidosa ao lado do padeiro, transportavam o pão da padaria até
as vilas da cidade... Pão D’água, Pão de Bico, Pão de Rala, Pão de Sopa
(ou de avião), Biscoito Duro (bota duro nisso!), rosca...
Não só de suor, mas também com muito pão (Tem Pão Bá?!) foram
mastigados estes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 4 de outubro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 179
O CAFÉ DE TODO DIA
Café, bebida indispensável na vida cotidiana do brasileiro. Poderíamos
dizer, até, da vida cotidiana do cidadão de todas as partes do mundo. E
como é que esse indispensável produto chegava à mesa dos nossos
primeiros habitantes? Bom, no início, como de resto tudo quanto se
consumia, vinha das cidades de Laguna e Tubarão. Mais tarde, consta que
tanto o Sr. Marcos Rovaris, como o Sr. Pedro Benedet e o Sr. Frederico
Minatto, andaram fabricando café, empiricamente, e vendendo aos aqui
residentes...
Nos anos 30, Henrique Lodetti montou a sua fábrica de café, o Café
Criciúma, localizando sua unidade fabril ali aonde tivemos até bem pouco
tempo a Justi Bebidas Ltda. Aquela fábrica era tocada pelo Antônio
“Roleta” Lodetti e atendeu a todos os consumidores da cidade e da região.
Depois, por volta de 1940, o Sr. José Contin Portella, juntamente com
alguns amigos, compraram a fábrica do Lodetti e rotularam o produto de
Café Portella. Outros fundaram a fábrica de Café Solima que acabou sendo
transferida para Imbituba. Na Mãe Luzia, por volta de 1945, havia o Café
Guzzatti... No ano de 1946, José Borges de Souza fundou a fábrica de Café
Borges. Fez sucesso! Estava localizada ali na João Pessoa e a cada
torrefação o olfato dos criciumenses era aguçado pelo aroma forte de um
café que fez época. A cidade torcia para que o vento soprasse para aquele
lado, na hora de encerrar a torrefação, para que aquele cheirinho chegasse
até suas residências. Era uma festa! E durou até 1975. Em 1957, Benjamin
Búrigo e Henrique Manfredini, instalaram o Café Pinheirinho, outro
produto que faz a mesa dos criciumenses. Manfredini trouxera
equipamentos de uma fábrica que possuíra em Meleiro e com o Búrigo,
nascia o Café Pinheirinho de todos nós conhecido... Mais tarde vieram os
Scremin, ressuscitando o Café Criciúma que alargou os limites geográficos
locais e levou o produto para toda a macrorregião.
E assim, fica constatado que essa bebida fantástica chamada café, tem
muito a ver com os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
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Publicado dia 15 de setembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 180
E A CARNE? - I
A carne é fraca, nos ensinam as sagradas escrituras. Vero?
Que nada! Sem suas proteínas...
A propósito, como é que era o fornecimento de carne à população, lá nos
primeiros anos?
Bom, cada proprietário, ao construir a sua casa, já construía, também, os
apêndices nos quais instalava o galinheiro, o chiqueiro e as estrebarias. Ao
eleger um galináceo para a mesa, confinava o condenado a uma vigília de
depuração, em caponeira, na qual não tinha mais contato com a galinhada.
Alguns dias depois, estava pronto para o abate...
Com o suíno, o processo era o mesmo. A porcada viva solta, mas quando
era eleito um leitão para o abate, este era confinado ao chiqueiro dali
saindo para morrer. Com a vaca, não se tinha qualquer outro cuidado a não
ser, de olho, eleger aquela que aparentasse estar em condições de saúde
apropriada para o carneio.
Esse abate era feito em casa mesmo: a galinha tinha suas pernas amarradas
e presas a um sarrafo de cerca e ali sua cabeça era degolada... O suíno
tinha suas patas amarradas entre si e, numa mesa, o matador enterrava-lhe
uma faca à altura do coração e estamos conversados. Com a vaca – ou o
boi? – o processo era parecido: o animal era preso a uma árvore, de
preferência frondosa – para aproveitar bem a sua sombra – e ali recebia a
facada mortal que atingia certeiramente o seu coração. Depois, era fazer o
esquartejamento: este pedaço vai para fulano, este para sicrano, isto é para
o salame, isto é para morcilha, isto é para sabão...
Ali em Nova Veneza, João Bortoluzzi, com seus irmãos, possuíam o seu
frigorífico, uma sofisticação para aqueles anos; o mesmo ocorreria por
aqui, com o frigorífico do Marcos Rovaris. Contratos de fornecimento
desses produtos para os grandes centros do País deixavam os aqui
residentes a “ver navios”: o negócio era mesmo abater domesticamente
para o consumo familiar.
Até que, em 1927, a Cooperativa Agrícola resolveu construir o seu
frigorífico para a venda à população. Disto vou me ocupar no espaço do dia
de amanhã.
Também de carne foram construídos os 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade!
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Publicado dia 30 de novembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 181
E A CARNE – II
Como afirmava ontem, falaremos hoje do Frigorífico construído pela
Cooperativa Agrícola Ltda., entidade que congregava os produtores rurais
de todo o Município.
Era o ano de 1927, quando ela foi constituída e localizada ali na Rua
Henrique Lage, na casa que acabara de ser construída pelo Roberto Mayer,
de quem foi adquirida.
Lá atrás, o comércio de banha: comprava banha de todos os que quisessem
vender e depois revendia para quem quisesse comprar. Era o tal Sindicato
da Banha, apelido de origem desconhecida que nada tem a ver com as
organizações sindicais da era moderna.
O negócio mostrou-se tão promissor que os cooperados entenderam de
construir um frigorífico. Preliminarmente, para o abate de porcos e o
fabrico de banha. Mais tarde, para o abate também de bovinos.
Em qualquer dos casos, o objetivo era a venda da carne à população.
E construíram o frigorífico bem longe da cidade para evitar o mau cheiro às
residências familiares e para que estes fossem preservados de ouvir os
possíveis gritos dos animais agonizantes: ergueram a construção lá fora, na
hoje Rua São José, aquele prédio imenso em frente ao INPS.
Também não se sabe a razão, chamaram-no popularmente de Sindicato da
carne embora fosse batizado de Frigorífico Santa Catarina. E matou muitos
suínos e muitos bovinos; e vendeu muita carne, num processo que, hoje,
seria denunciado de pronto à Vigilância Sanitária: a carne nem era
embrulhada: era jogada diretamente na bolsa feita de pano de saca de
açúcar ou cesta de arame que o comprador apresentava ao balconista...
No final dos anos 1950, fecharia suas portas reabrindo no início dos anos
60, sob o comando de Mário Luz e Jorge Cechinel e contando, como sócios,
dentre outros Valdemar Loch, Angelo Amboni, Mário Crippa, Albino
Mondardo e Luiz Philippe.
A Família Teixeira, de Urussanga, acabava de vir residir aqui e todos os
homens daquela casa foram chamados a trabalhar no Sindicato. As quatro
da madrugada, já estavam lá, fornecendo carne para o Pedro Bolan, do
Bairro Vinte; Pedro Madeira, da Boa Vista; Seu Juca, do Santo Antônio, o
Marcolino, do Bainha, o Otávio de Luca, da Mina do Mato, o Dal Pont, da
Mina Brasil e outros tantos que compravam no atacado para revenderem
nos balcões de seus armazéns.
Dos Teixeira, ali trabalharam o Seu Hercílio, que era o comandante, o
Antenor, o Valnei e o Alcides, verdadeiros craques no corte de carne.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 182
Havia, ainda, o Mário Barbosa, o Aceir, o Sebastião, a Dona Nair, o seu
Nuto, a dona Cedinha, o seu Oliveira, a Goretti e o Orlando. Aos sábados,
quando seria processada a faxina da semana para deixar matadouro e
açougue nos trinques, vinha a pobreza enfileirar-se para ganhar cabeça de
porco, fressura, serros, ossinhos do pernil, paleta, coração, carne picada e
outras miudezas que eram transportados em ganchos ou sacolas de pano.
O Sindicato da Carne, de saudosa memória, fabricava charque, salame com
carne de suíno e de bovino misturada, linguicinha, torresmo.
A banha era da marca Bloco de Gelo e o sabão tinha duas marcas: o
Xavante e o Guarani.
Era uma festa... E ficou na saudade destes 120 anos de história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 1ºde dezembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 183
ENERGIA ELÉTRICA
Já faltou energia elétrica aí na sua residência? Pois é: e você já parou um
instantinho para perguntar como é que era, lá no início da nossa cidade,
quando não havia energia elétrica?
Querosene, gasolina e óleo diesel davam as cartas. Lamparinas de todos os
tamanhos (nas quais era embebido um cadarço em querosene)
responsabilizavam-se pela iluminação das casas: cada uma tinha um
número razoável daquele utensílio que, a par de iluminar, soltava uma
fumaça espessa e preta que deixava o nariz do iluminado completamente
sujo e os olhos avermelhados... O forro das casas, então!...
O óleo e a gasolina eram destinados à força motriz. Todo esse combustível
era adquirido em galões ou barris e sua procedência era o Porto de Laguna
e a Carlos Hoepecke S. A., um dos mais expressivos estabelecimentos
comerciais do Brasil, daquela época.
Em 1915, Marcos Rovaris instalou um locomóvel que se encarregou de
iluminar as noites públicas das festas da Igreja São José e umas seis
residências aqui do centro. Não cobrava pelo consumo. Benjamim Bristot
produzia energia com as suas engenhocas de fazer farinha e serrar madeira
e também distribuiu energia para uma meia dúzia de residências. Em 1936,
o Município “abria concorrência para a concessão do direito de
exclusividade do fornecimento de força motriz e iluminação elétrica para a
sede do município”. Foi aí que entrou o francês Dr. Charles Frederic Pitê,
que montou uma usina a diesel, localizada mais ou menos na esquina da
Getúlio Vargas com a São José. Distribuía energia para quem quisesse, mas
cobrava pelo consumo. Mais tarde a Próspera montou o seu grande
locomóvel com energia termoelétrica da qual resta, hoje, a Chaminé que
conta a história. Depois veio a Cia Força e Luz de Criciúma que, já nos
anos 70, foi absorvida pela CELESC que, hoje, é a responsável pela
distribuição de energia elétrica para todo o Município.
Houve dias apagados, mas a maioria dos 120 anos de história de Criciúma,
este orgulho de cidade, foram bem iluminados...
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Publicado dia 27 de setembro – segunda-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 184
IAPTEC
O serviço previdenciário, até os governos militares, era prestado por
Institutos próprios de determinadas categorias. Assim, tínhamos o IAPB,
que era o Instituto dos Bancários; o IAPC, que era o dos comerciários; o
IAPI, que era o dos industriários; o IAPTC – que se popularizou com o
apelido de Iaptec – que era o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Trabalhadores em Transporte de Carga.
De todos, este era o mais forte em nosso meio, haja vista que abrigava os
ferroviários, os motoristas e mineiros da indústria da mineração. Não se
sabe o porquê, mas o mineiro, que poderia ser incluído no IAPI, o dos
industriários, já que trabalhava na indústria, era ligado ao Iaptec. Este foi
aqui instalado em 1947 e teria papel importante no cenário sócio-político
local.
Seu primeiro agente foi o senhor Ado Vânio de Aquino Faraco cuja
sucessão contemplou as seguintes pessoas: Humberto Dietrich, Ademir
Pereira de Abreu, Ari Belém Wildner, Valfredo Ramos, novamente Vânio
Faraco, Valmor Nagel, Eny Hülse, novamente Valmor Nagel, Nilton
Francisco Rebello, novamente Valmor Nagel, Sílvio Veloso, Argemiro
Santana e Armando Bettiol. Em 1962, nosso Iaptec assumia a condição de
Agência Especial, um privilégio que distinguia apenas três municípios do
Brasil: Nova Lima, Santos e Criciúma.
Em 1965, no governo Castello Branco, toda a previdência foi unificada e,
como todos os demais institutos, o Iaptec também desapareceria. Nascia,
agora, o Instituto Nacional de Previdência Social, o conhecido INPS que,
aqui, foi instalado sob a direção do advogado Ivo Hekert.
Assim como o Iaptec, que deixou saudades, também desapareceria, e não se
sabe a razão, a Agência Municipal de Estatística, um dos organismos mais
sérios montados no Município.
Ela remonta a 1942 e tinha sob seus encargos a tarefa de apontar todos os
indicadores do território municipal.
Assim, quando o contribuinte quisesse saber, por exemplo, qual fora a
arrecadação de tributos de anos anteriores, consultava a Agência e obtinha
ali a resposta.
Pedro Ferreira foi o seu primeiro encarregado, substituído por Valter
Piazza que veio de Florianópolis especialmente para assumir o serviço e,
depois do Piazza, Dozolina Rovaris. Aí a Agência Municipal de Estatística
sucumbiria. Por quê?
Também de indagações são feitos os 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade! Publicado dia 15 de dezembro – quarta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 185
A BANDA
As festas religiosas sempre reivindicavam a presença de música. E tinha de
ser música ao vivo porque o som mecânico só viria bem mais tarde, com
vitrolas e radiolas que, sem potência, eram restritas a pequenos ambientes...
Nessas festas, invariavelmente a atração era a Banda Musical. Se, da
programação constasse a presença, por exemplo, da Banda Lyra de
Tubarão, ou a de Jaguaruna ou a de Laguna ou a de Imaruí, podia se
contabilizar sucesso antecipadamente.
Ao lado da igreja montava-se um palco sobre o qual a banda se postava e,
ao seu redor, o público disputava lugar...
Em 1924, fundava-se aqui a nossa primeira banda: Banda Musical Etelvina
Luz, nome dado em homenagem à primeira dama, mulher do governador
Hercílio Pedro da Luz. A falta de recursos financeiros e de músicos, fê-la
desaparecer logo em seguida. Em 1932, o Maestro Êmoni Mattei fundava a
Banda Musical Sete de Setembro que durou 10 anos os últimos dos quais
sob a regência do maestro José Andrade.
O Brasil precisava equipar melhor a sua força aérea.
Vivíamos os inseguros anos da II Guerra Mundial.
Em todo o território nacional fora feita uma campanha para angariar
recursos para a aviação brasileira.
O criciumense acorreu com tanto entusiasmo àquela campanha que a cota
estipulada estourou em 10 mil contos de réis que, o Prefeito Elias Angeloni
resolveu destinar para a fundação de uma Banda Musical.
Era novembro de 1942: nascia a Banda Musical Cruzeiro do Sul, a nossa
gloriosa Cruzeiro do Sul que, transformada em Orquestra Sinfônica,
abrilhanta eventos culturais da Criciúma deste final de século.
Dentre outros, foram seus fundadores os senhores José Parente, Abdon
Alexandrino, Moisés Aguiar, Ernesto Lacombe Filho, Gilberto Machado
Vieira, Pedro Milanez, Addo Caldas Faraco e, como se viu, o Prefeito Elias
Angeloni. Zezinho Aguiar e Ernesto Lacombe Filho foram a Porto Alegre e
adquiriram todos os instrumentos, sob a orientação do maestro Raul
Madalena.
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 186
E daí, haja festa e haja Banda.
No território do município e acentuadamente fora dele, lá estava a furiosa
Banda Cruzeiro do Sul emprestando seu brilho às festas.
De 1943 até 1984, foi seu maestro o inesquecível Jacó Victório, um dos mais
lúcidos compositores de dobrados que a música conhece.
Os acordes da Banda Musical Cruzeiro do Sul, velha de guerra, também
abrilhantam os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade.
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Publicado dia 19 de outubro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 187
CESACA
VELHA DE GUERRA
A primeira cerâmica do estado de Santa Catarina data de 1919, era de
propriedade da Família Lage e continua fabricando cerâmica de
revestimento até os dias de hoje: é a Cerâmica Imbituba, localizada na
cidade do mesmo nome.
Em outubro de 1947, um grupo de criciumenses, entendeu de também
montar uma fábrica de artefatos de cerâmica em geral: nascia a pioneira
indústria cerâmica desta Região: a Cerâmica Santa Catarina Ltda., de nós
todos conhecida como Cesaca. Um dos seus cotistas era o italiano Alfredo
Del Priori que, ceramista na Itália e na indústria de Imbituba, garantiria o
sucesso técnico da nossa Cerâmica. Além de Del Priori, com cotas no valor
de 100 mil cruzeiros, participavam: com 250 mil: Júlio Gaidzinski e o Dr.
José Tarquino Balsini; com 150 mil: José Pedro Philipi e Archimedes
Naspolini (meu pai); com 100 mil cruzeiros: Mansueto Costa e Octávio
Minatto; e, com 50 mil cruzeiros: Elias Angeloni, Sinval Boherer, Jorge
Savi, Abelardo Sheidt, Maximiliano Gaidzinski, Luiz Lazzarin, Victório
Búrigo, Jorge Cechinel, José Passos de Motta e Ada Gaidzinski. Esse
capital, assim distribuído, perfazia um total de um milhão e seiscentos mil
cruzeiros. A fábrica era constituída por um galpão no sentido da Rua Anita
Garibaldi, mais tarde transformado no pavilhão industrial que lhe deu
frente para a referida artéria, mas que corre pela Rua Araranguá. Além de
azulejos, a Cesaaca produzia louça e, num certo fechamento de balanço,
presenteou a cada acionista com uma xícara personalizada com o seu nome,
o que causou verdadeiro frisson no meio empresarial local.
No final dos anos 50, foi constituída a Cerâmica Cocal Ltda. que, mal das
pernas, viria a abrir falência e sua massa foi adquirida por Maximiliano
Gaidzinski que a transformaria na Cerâmica Eliane. Era 1960. Na década
de 70, Diomício Freitas, num ousado projeto para a época, constituiria a
Cecrisa que passou a ser referencial cerâmico regional dando impulso
vertiginoso à economia criciumense.
Se for verdadeiro que Imbituba foi a precursora regional, que a Cesaca foi
a pioneira local, que a Eliane é resultado da tenacidade de um homem
destemido chamado Maximiliano Gaidzinski, também é verdadeiro que a
realidade cerâmica passou a ser outra com a implantação da Cecrisa e suas
unidades fabris.
E isto tudo faz parte do contexto dos 120 anos de história de Criciúma, este
orgulho de cidade! ............................................ Publicado dia 28 de dezembro – terça-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 188
NATAL
É natal. Natal de Jesu Bambino. Vivo, de carne e osso, Ele estaria
festejando, na noite de hoje, 1.999 anos de idade. Glorificado, esse
aniversário Ele está fazendo e nós comemorando.
Se, ao invés do Oriente, Jesus Cristo tivesse nos dado a honra da
naturalidade, certamente Maria e José seria um casal de mineiros – ela
escolhedora de carvão – residentes numa vila operária qualquer da
periferia da cidade...
Com certeza, o recenseamento judaico que levou o casal para Belém, seria
substituído por um recadastramento eleitoral ou de CPF a que estaríamos
todos sujeitos e que fizera com que Maria e José deixassem sua casa,
viessem até o centro da cidade e, na volta, a pé, a hora do parto se
apresentasse...
Se Ele tivesse nascido aqui em Criciúma, certamente Maria e José, ao invés
de uma estrebaria, teriam procurado uma embocadura de mina, velha,
abandonada e esquecida e, ao invés de uma manjedoura, o resto de uma
vagonete de carvão, toda quebrada, já sem os eixos e rodas...
Naquelas condições, Maria teria dado à luz o seu primogênito que fora
aparado pelo próprio marido, o mineiro José que o deitaria naquele resto
da vagoneta...
Seriam descobertos por dois ou três mineiros que, tendo se distraído,
perderam a condução da mineradora e agora estão indo para o trabalho a
pé...
Não haveria burrinho, nem vaca, nem carneirinhos... serviriam de
testemunhas os lagartos, as corujas, os morcegos, os pirilampos, sapos e
rãs, animais tão comuns em galerias abandonadas...
Lá do Oriente não viriam os Reis Magos, mas, aqui da redondeza, os
Prefeitos de Siderópolis, de Nova Veneza e de Içara, que trariam, como
presentes, não ouro, incenso e mirra, mas, uma caderneta de poupança, um
seguro de vida e uma bolsa de estudos...
Naquele ambiente dominava o cheiro ocre do esquecimento misturado com
o azedo do gás proveniente dos rejeitos depositados no solo além daquele
forte da combustão peritosa, da ponta de pedra localizada ali à frente, e
que, certamente, ocasionará complicações no sistema respiratório de Jesu
Bambino...
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 189
Se Jesus tivesse nascido por aqui, sua infância seria tomada por
brincadeiras num campo desgramado de peladas futebolísticas, com bola
feita de pano ou de bexiga de porco... estudaria numa escola isolada com
caderninhos simples, nada de espiral... vestiria roupinha simples e com
remendos, bem assim como a gente está acostumado a ver na simplicidade
da vida cotidiana dos que vivem à periferia urbana...
Mas, isto tudo é devaneio.
Dão-se asas à imaginação e colhe-se esse tipo de resultados.
Bem que poderia ser verdadeiro...
Voltando à realidade, é nosso desejo que todos tenham um Feliz Natal como
o desejaram, entre si, naquele primeiro Natal, o de 1880 quando, há quase
um ano longe da pátria-mãe, nossos imigrantes festejavam o primeiro Natal
no Brasil, em Santa Catarina, aqui em Criciúma.
Sem os apelos consumistas dos dias de hoje quando o que menos conta é o
aniversário de Jesu Bambino.
A paz é atingível.
A prosperidade, também.
Basta que as queiramos, como as quiseram nossos precursores, os
fundadores de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 24 de dezembro – sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 190
REVELLION
Acabou o ano. 1999 agoniza e, daqui a horas, fará parte da história. Para
alguns, uma história coberta de alegrias, de momentos bons, de
prosperidade, de vitórias. Para outros, nem tanto: dissabores, desavenças,
desemprego, cheque devolvido, sei lá... um ano ruim.
O que interessa, todavia, é que estamos vivos. Vivos e sadios para festejar o
revellion que escancara as portas para o charme especial do 2000, último
ano do Século XX, último do milênio e, aí sim, daqui a um ano, festejando o
adeus de um século altamente generoso e o desvendamento do XXI, o século
da esperança.
Faz cem anos que os nossos ancestrais, os fundadores da nossa cidade,
viveram momentos assemelhados. É bem provável que eles tenham ido ali
ao mato, cortado alguns pés de palmito e, com estes, enfeitado aqueles
projetos de ruas, mais tarde consagrados como a Marcos Rovaris, a João
Zanette e a Paulo Marcus, além da Praça Nereu Ramos. É quase certo que
as mulheres e as crianças tenham amarrado fiadas de bandeirolas criadas
com o corte de folhas de papel de embrulho, de alguns jornais e até de
algumas revistas velhas...
Pode-se afirmar que, no momento da transição do 1899 para o 1900, os
sinos da Igreja tenham repicado e o espocar de uma ou outra bombinha
tenha sido ouvido...
Com absoluta certeza podemos registrar que houve muito vinho, muito pão
e muita cachaça, ah! isto é absolutamente certo. Devem ter começado a
beber ali pelas 18h00min horas – sem esta de horário de verão – e só
pararam quando as pernas não mais os suportavam. Mas você queria o
quê? À época, isso já era um luxo.
A sanfona dava o tom e o Mérica Mérica, o Belle Scarpete, o La Colombina
e o Santa Luccia foram sendo reprisados durante a noite inteira... Houve
muito abraço, houve muito beijo, os cumprimentos sucederam-se, os olhos
expulsaram muitas lágrimas: umas de alegria, outras de melancolia, muitas
de esperança, tantas de saudade...
Mutatis mutandis, é como hoje, neste reveillon do ano da graça de 1999,
com uma diferença: o conforto. Embora eles não tivessem acesso a conforto
e nem imaginassem o que estes cem anos dariam de presente à humanidade,
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
Página 191
em matéria de bem estar, a festa de hoje é diametralmente melhor. As
comunicações nos aproximam instantaneamente não importando distância.
A televisão nos mostra o mundo inteiro no momento do acontecimento.
Essa tal palavra “saudade” já está quase em desuso...
De lá, a lição que tiramos para o dia de hoje, é a da compreensão.
O mundo deles era diferente, claro que era.
Mas, a compreensão foi a riqueza maior que aqueles abnegados de ontem
transmitiram às gerações que vêm se sucedendo desde então.
Que todos tiremos o máximo de proveito das coisas boas do agonizante
1999 e que a prosperidade seja a tônica no último ano do Século XX. Feliz
2000 a todos os que querem o bem de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 31 de dezembro –sexta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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XII
ORGULHO DE CIDADE
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ORGULHO DE CIDADE!
Olá amigos!
Aqui estamos, vocês e eu, para o último capítulo de uma série de 136 que,
iniciada dia 1º de julho de 1999, é concluída no dia de hoje, comemorativo
aos 120 anos de fundação deste orgulho de cidade!
Valeu, pela pesquisa, pelas entrevistas, pelos depoimentos, pelo estudo, pela
história – em si.
Mercê daqueles primeiros homens e daquelas primeiras mulheres do 6 de
janeiro de 1880, cá estamos, gente de todas as camadas sociais,
professando inúmeros credos religiosos, militando em dezenas de
agremiações partidárias, confessando amor ao Criciúma Esporte Clube,
preto e amarelo, e a tantos outros clubes de futebol que vestem camisas de
todas as cores, alguns residindo na zona rural e muitos no centro da cidade,
alguns muito ricos, muitos remediados e uma maioria pobre, todos
festejando esta significativa data.
A Criciúma da primeira hora, denominada Cresciuma, pequena,
desconfortável, interiorana, impondo incomensuráveis sacrifícios aos seus
primeiros habitantes...
A Criciúma atônita do fim do Século XIX, quando era descoberto o carvão
mineral que aflorava em seu solo e, já nos primeiros anos do Século XX era
extraído em escala industrial...
A Criciúma da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina que a rasgou de
ponta a ponta no sentido Norte-Sul, dando-lhe status de cidade e
contribuindo decisivamente para o seu progresso...
A Criciúma de 1925 quando, por seus filhos mais ilustres, promoveu sua
emancipação de Araranguá, tornando-se uma nova unidade políticoadministrativa do estado barriga-verde...
A Criciúma que, no rastro da Revolução de 1930, admirada e sem forças
para esboçar qualquer reação, assistiu ao primeiro golpe político impetrada
contra um seu mandatário...
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A Criciúma da diversificação industrial iniciada nos idos anos 40 e
sedimentada na década de 70, quando viu – até meio assustada – o carvão
dando seu lugar para a indústria cerâmica, para o complexo de confecções,
para a indústria do plástico e a da química...
A Criciúma dos velhos tempos em que se ensinava em italiano, alicerce para
a sua futura Universidade, realidade palpável dos dias atuais...
A Criciúma do primitivo Conselho Municipal, fechado no Estado Novo e
reaberto em 1946 com a designação de Câmara de Vereadores, estuário da
discussão dos magnos problemas comunitários...
A Criciúma, de Rovaris a Meller, administrada – sempre – com garra e
espírito público, passando por Naspolini, Angeloni, Amante, Faraco,
Bortoluzzi, Campos, Seára, Lazzarin, Preis, Boherer, Oliveira, Rosa,
Junkes, Hülse, Alexandrino, Sonego, Manique, Back, Guidi, Hülse, Alves,
Uggioni, Moreira e Antonelli cada um, a seu modo, escrevendo um pedaço
da história, com maior ou menor aceitação popular...
Esta Criciúma que se nega a baixar a cabeça, que não aceita o desânimo,
que tem suas forças redobradas cada vez que lhe imputam uma fraqueza...
Esta Criciúma, mestra e mãe de tantos que em seu solo nasceram e nele
vieram buscar sua casa...
Esta Criciúma, cujo berço foi plasmado em carvão e hoje é uma aurora
vibrante de uma nova e feliz geração, é, sem sombra de dúvidas, um
ORGULHO DE CIDADE!
Obrigado amigos!
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Publicado dia 6 de janeiro - quinta-feira
Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I
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BIBLIOGRAFIA
Pronto: já é 2000.
A comemoração dos 120 anos está às portas.
Estamos na reta final do nosso trabalho. Diariamente, mais ou menos neste
horário, a Eldorado colocou no ar um pequeno capítulo de uma empolgante
história que revelou, num linguajar o mais acessível possível, aspectos
diferentes da história de nossa cidade.
Desde 1º de julho, uma vinheta com os acordes do Hino de Criciúma
anunciou – e anuncia – que aqui compareço para reportar-me ao assunto.
E tanta gente me pergunta: “Mas Archimedes, aonde vais buscar tantas
informações?” É verdade: para escrever estas linhas, há que haver uma
bibliografia rica a ser consultada.
Minhas fontes de informações vieram de todos os lados, de gente de muitas
origens. Umas delas, porque viveram alguns episódios, outras porque
ouviram falar deles, umas terceiras indicando quem pudesse deles saber.
Dessas, é impossível nominar: certamente seria omitido algum nome, o que
se tornaria imperdoável. Registro, contudo, os textos e as pessoas que, mais
acentuadamente foram abordadas para este mistér:
do saudoso Pedro Milanez, o seu livro Fundamentos Históricos de
Criciúma; Criciúma, Amor e Trabalho, obra editada pela municipalidade,
na gestão de Algemiro Manique Barreto, sob a direção editorial de José
Pimentel e Mário Beloli; Imigração Italiana, do Mons. Agenor Neves
Marques; do Jornal da Manhã, cem artigos publicados por mim e pelo
historiador Mário Beloli; Criciúma 70 Anos, de minha autoria; Os
Governantes de Santa Catarina, de Carlos Humberto Corrêa; da Câmara
Municipal de Criciúma, seu arquivo morto e, especialmente, os livros de
assentamentos de atas, de leis, de decretos...
No dia 6 de janeiro, comemorativo ao aniversário do município, o livro
“CRICIÚMA, ORGULHO DE CIDADE – Fragmentos da História de seus
120 Anos” estará sendo pré-lançado ao público, oficialmente.
Será no calçadão da Praia do Rincão, ao lado do Supermercado Angeloni, a
partir das 20h00min horas.
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Você que me honrou com a audição desde 1º de julho é meu convidado à
Noite de Autógrafos no pré-lançamento dessa obra que reputo da maior
importância para o ensino de nossa história.
De resto, cabe-me agradecer à direção da emissora, nas pessoas do Lessa e
do Ricardo, do operador do estúdio de gravação, Rogério, que me aturou
este tempo todo, aos patrocinadores que acreditaram nesta proposta e me
honraram com a chancela publicitária de cada edição, aos informantes que
tanto contribuíram com subsídios para tantos capítulos e, especialmente, um
agradecimento especial a você que me ouviu, que discutiu, que concordou,
que discordou, que propagou, que esperou o capítulo de amanhã... você foi
o objeto direto disto tudo.
Obrigado!
E viva os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 3 de janeiro - segunda-feira
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