Criciúma Orgulho de Cidade - Câmara Municipal de Criciúma
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Criciúma Orgulho de Cidade - Câmara Municipal de Criciúma
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO CRICIÚMA, ORGULHO DE CIDADE! Fragmentos da História de seus 120 Anos 2000 Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 1 Fernanda, Felipe e Vittor (e para aqueles que, certamente, ainda virão). Se o avô não contasse, certamente vocês não tomariam conhecimento de passagens tão significativas da vida deste orgulho de cidade. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 2 Prefácio Este livro foi concebido no momento em que o desafio de radiofonizar fatos, gente e casos da História dos 120 anos de Criciúma, foi aceito. Era junho de 1999 e a proposta me fora feita pelo diretor da Rádio Eldorado, meu amigo, colega de comunicação e de Academia, José Adelor Lessa. No primeiro momento imaginei que escrever aquele capítulo diário, de três a quatro minutos, de segunda à sexta-feira, todas as semanas, até o dia 6 de janeiro de 2000, não fosse tão difícil. Só depois do primeiro mês é que senti o tamanho da empreitada. Ação! Já nos primeiros programetes, a satisfação do ouvinte e a correção – bendita seja a correção! – de algum texto, ora uma data, ora um nome, às vezes uma omissão. Foi ótimo! Assim, imediatamente fui corrigindo cada texto a ponto de, é bem provável, podermos tomar tudo quanto aqui está reproduzido como de quase absoluta fidelidade. Ela só não é cem por cento afirmada, haja vista que – e por que não? – às vezes a minha fantasia me logra. Este livro começa na página em que é aberto. Dividi seu conteúdo em capítulos nos quais agrupei, mais ou menos, o tema: assim, qualquer assunto ligado aos colonizadores está no capítulo da Colonização; aqueles da administração pública, no do Município; os estrambóticos, as biografias, cada um no seu capítulo e assim por diante. É evidente que não deu para esgotar a temática. Isto, todavia, estimula o prezado leitor a dar uma buscada no seu complemento. O texto reproduz, exatamente, o que foi radiofonizado, tanto na abertura quanto no fechamento; inclusive com a data em que foi ao ar. A única mudança, relativamente ao trabalho do Rádio, é que a ordem cronológica não foi respeitada. O agrupamento de assuntos assemelhados em capítulos diversos não permitiu aquela seqüência. Gratificou-me a atenção que foi dispensada pelos ouvintes da Eldorado o que foi sobejamente comprovado através de manifestações de tantas pessoas conhecidas e de desconhecidas que, não importando lugar ou circunstância, Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 3 abordavam aquilo que havia sido dito hoje, ontem, anteontem ou no mês passado. Incrível! Preciso fazer um registro: deixei para o final do trabalho radiofônico a referência a pessoas que, no meu entendimento, merecem ser mencionadas quando o assunto for a nossa História. Só que fui traído pelo próprio tempo. Falei de alguns; deixei de falar de tantos. Não me reportei, por exemplo, aos ex-prefeitos Altair Guidi, José Augusto Hülse e Eduardo Pinho Moreira, personagens tão importantes do nosso Município. E, no momento da constatação, a conclusão de que me obrigo a escrever o Volume II desta publicação, para contemplá-los (e a tantos que, lamentavelmente, não enriquecem esta edição). Este, posso afirmar, é um livro que foi escrito em pílulas: a cada dia uma dose. E, assim, foi montado. O entusiasmo que sempre me enche de vigor na feitura de um livro é imensurável nesta obra, pois – tenho certeza – temos aqui um texto que será lido, discutido e pesquisado na sala de aula. E então, com a responsabilidade de quem sabe que será lido por estudantes, o autor passa a sentir-se, ele também, parte integrante dos 120 anos de História de Criciúma, este Orgulho de Cidade! O autor. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 4 Apresentação A chegada dos imigrantes, as disputas políticas, a era do carvão, o avanço da cerâmica, o futebol, as conquistas e o cotidiano de um povo empreendedor. Estas são algumas das marcas da história de desbravamento, de luta, e aposta numa terra que se tornou um dos principais centros de Santa Catarina. Foram estes fatos que aguçaram a idéia de contar os 120 anos de colonização de Criciúma. A idéia virou realidade. A empreitada e a ousadia de contar acontecimentos, desvendando as nossas raízes e o nosso dia-a-dia até a porta do próximo milênio, ficaram por conta do jornalista Archimedes Naspolini Filho. Para vencer tal desafio ninguém melhor do que o Archimedes. Respaldado por sua larga experiência e conhecimento no estudo e, até mesmo como personagem desta história, ele conseguiu narrar e reunir o que existe de mais importante e curioso na nossa trajetória. O resultado do esforço da parceria com a Rádio Eldorado, que há 51 anos também faz e conta história, está aqui: um arquivo que nos permite, ao mesmo tempo, entender a vida dos homens que fizeram Criciúma e reviver as suas aventuras e empreendimentos. Este livro, certamente, vai servir para pesquisa de professores, estudantes, historiadores e para os criciumenses mais apaixonados pela certeza de que os 120 anos são apenas o começo de um sonho chamado Criciúma, este Orgulho de Cidade! José Adelor Lessa Diretor da Rádio Eldorado Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 5 SUMÁRIO PREFÁCIO APRESENTAÇÃO O PROJETO RADIOFÔNICO I – A COLONIZAÇÃO OS DESSBRAVADORES – I OS DESBRAVADORES – II AS LINHAS UM VEXAME ÍNDIO MATA COLONO ATAFONAS AS MÓS OS POLACOS CRESCIUMA OU CRICIÚMA? II – O MUNICÍPIO A INSTALAÇÃO BRIGA PELOS LIMITES ENCHENTE POSTURAS PRIMITIVAS O ORÇAMENTO TAXAS DE CEMITÉRIO PLANO DIRETOR OLARIA BRASÃO E BANDEIRA O HINO E O CORAL E O LIXO? HOSPITAL SÃO JOSÉ HOSPITAL SANTA CATARINA NOVA VENEZA IÇARA RIO MAINA EMANCIPADO? OS PASSOS DO PAÇO PAVIMENTAÇÃO O SEMÁFORO III – A IGREJA IGREJA, AONDE CONSTRUIR? CAPELA DA VILA DE SÃO JOSÉ Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 6 O SINO DO CORONEL PEDRO OS PROTESTANTES BENZER CASAS LUTERANOS? DO LADO DE FORA – I LUTERANOS? DO LADO DE FORA – II UM MAGNO CONGRESSO IV – O CARVÃO E O TREM E DESCOBRIU-SE O CARVÃO AS MINAS CONTRATO DO CARVÃO MORREU SOB O CARRO DE BOIS A PRÓSPERA A ESTRADA DE FERRO O TREM DAS SEIS A MARION V – A POLÍTICA A PRIMEIRA ELEIÇÃO MESAS ELEITORAIS DO GOLPE ÀS FIGUEIRAS UDENISTA OBEDECE PLANEJAMENTO A ELEIÇÃO DE NAPOLEÃO SEQÜESTRO MANDATOS CASSADOS E NÃO EMPOSSARAM O ROMEU VI – A COMUNICAÇÃO O TRANSPORTE O PRIMEIRO CAMINHÃO PINGUIM PRECURSOR OS JORNAIS O AEROPORTO TELEFONE ELDORADO, A PIONEIRA RÁDIO DIFUSORA TV CLUBE VII – ESCOLAS ESCOLAS ESCOLA DE LINHA ANTA SCAN Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 7 O COLÉGIO MARISTA MTM E SÃO BENTO E A DO COMÉRCIO? UNESC VIII – CLUBES, PRAÇAS & CIA. O SEIS DE JANEIRO A PRAÇA NEREU VENDER A PRAÇA? MAÇONARIA ROTARY CLUB ACIC O TIGRE UESC O SINDICATO IX - ESTRAMBÓTICOS E O GELO? SAFADINHO, O PREFEITO CAVALO CRESCIUMA OS JAGUNÇOS DO LEONEL – I OS JAGUNÇOS DO LEONEL – II DESASTRE AVIATÓRIO BRNZEDURA RACISMO A LADROEIRA DO TIDINHO OS FOLCLÓRICOS X – HOMENS E MULHERES E AS MULHERES? AS PARTEIRAS PROFESSORA SANTA, LENA. ALÉSSIO: BELAS MISSES FREDERICO MINATTO ERNESTO, O CORONEL HENRIQUE LAGE GABRIEL ARNS BERRETA& BEDENAGAS: OS MELHORES DELEGADO CABRA MACHO FRYDBERG & MENESES PEDRO BENETON: O CÓSO BALSINI, SARTORI & PEREZ Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 8 CASTORINO, O DAS LOTERIAS LUIZ, O PORTUGUÊS DR. BENEDITO DE FERREIRO A GOVERNADOR JUCA BALOD ADDO: COMO É BOM SER BOM! O DENTISTA LEANDRO BOIANOWSKI, MÉDICO DAS CRIANÇAS DIOMÍCIO, O CAPITÃO ARLINDO, DO LATIM A PREFEITO DE SAPATEIRO A EMPRESÁRIO ZAPPELINI, DO RETRATO ADAMASTOR, DO TECO-TECO MANIQUE BARRETO DE BARATA A PENICILINA – WILSON BARATA, PEDRO GUIDI, JOSÉ PIMENTEL, ESPERANDINO DAMIANI, JOÃO ZANETTE, NICOLAU DESTRI NAPOLEÃO, ZULCEMA PÓVOAS CARNEIRO, GIÁCOMO SONEGO NETO, ROMEU LOPES DE CARVALHO. DE BORBA A BÚRIGO – DONATILA BORBA, LUIZ BORTOLUZZI, CCÉSAR LODETTI, DONA EMILIA, SINVAL BOHERER, PADRE ESTANISLAU CISESKI, JOSÉ ROSALINO ZACCARON, WILMAR PEIXOTO, HONÓRIO BÚRIGO. DE GORINI A ZANATTA – DR. DINO GORINI, JORGE CECHINEL, FIDELIS BARATO, SEBASTIÃO NETO CAMPOS, SANTOS GUGLIELMI, NICO GUGLIELMI, ALCINO ZANATTA, JORGE ZANATTA, JAYME ANTÔNIO ZANATTA. XI – E MAIS ISTO HOTEL O RINCÃO A CADEIA ÁGUA DE PÃO & PADARIAS O CAFÉ DE TODO DIA E A CARNE? – I E A CARNE? – II ENERGIA ELÉTRICA IAPETC A BANDA CESACA – VELHA DE GUERRA NATAL REVELLION Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 9 XII – ORGULHO DE CIDADE ORGULHO DE CIDADE! XIII - BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA PREFÁCIO Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 10 Este livro foi concebido no momento em que o desafio de radiofonizar fatos, gente e causos da história dos 120 anos de Criciúma foi aceito. Era junho de 1999 e a proposta me fora feita pelo diretor da Rádio Eldorado, meu amigo, colega de comunicação e de Academia José Adelor Lessa. No primeiro momento imaginei que escrever aquele capítulo diário, de 3 a 4 minutos, de segunda a sexta-feira, todas as semanas, até o dia 06 de janeiro de 2000, não fosse tão difícil. Só depois do primeiro mês é que senti o tamanho da empreitada... Ação! Já nos primeiros programetes, a satisfação do ouvinte e a correção – bendita seja a correção – de algum texto: ora uma data, ora um nome, às vezes uma omissão. Foi ótimo. Assim, imediatamente fui corrigindo cada texto a ponto de, é bem provável, podermos tomar tudo quanto aqui está reproduzido como de quase absoluta fidelidade. Ela só não é cem por cento afirmada haja vista que – e por que não? – às vezes a minha fantasia me logrou. Este livro começa na página em que é aberto. Dividi seu conteúdo em capítulos nos quais agrupei, mais ou menos, o assunto: assim, qualquer assunto ligado aos colonizadores, está no capítulo da Colonização; aqueles da administração pública, no do Município; os estrambóticos, as biografias, cada um no seu capítulo e assim por diante. É evidente que não deu para esgotar o assunto. Isto, tadavia, estimula o prezado leitor a dar uma buscada no seu complemento. O texto reproduz exatamente o que foi radiofonizado, tanto na abertura quanto no fechamento; inclusive com a data em que foi ao ar. A única mudança, relativamente ao trabalho do Rádio, é que a ordem cronológica não foi respeitada. O agrupamento de assuntos assemelhados em capítulos diversos não permitiu aquela seqüência. Gratificou-me a atenção que foi dispensada pelos ouvintes da Eldorado o que foi sobejamente comprovado através de manifestações de tantas pessoas conhecidas – e de desconhecidas – que, não importando lugar ou circunstância, abordavam aquilo que havia sido dito hoje ou ontem, ou antes, de ontem ou no mês passado. Incrível! Este pode afirmar, é um livro que foi escrito em pílulas: a cada dia, uma dose. E assim montado. O entusiasmo que sempre me enche de vigor na feitura de um livro é incomensurável nesta obra, pois, tenho certeza, temos aqui um texto que será lido, discutido e pesquisado na sala de aula. E, com Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 11 a responsabilidade de quem sabe que será lido por estudantes, o autor passa a sentir-se, ele também, parte integrante dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! O PROJETO RADIOFÔNICO Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 12 A partir de hoje – e até o dia 06 de janeiro de 2000 – estarei ocupando este espaço radiofônico para contar alguma coisa relacionada com os 120 anos de Criciúma. Aspectos de sua colonização, do movimento emancipacionista, da sua história político-administrativa, dos homens públicos que gerou, do seu folclore, de sua gente... A sua potencialidade e o seu papel no contexto sócio-econômico macrorregional serão aqui abordados ainda que em rápidas pinceladas. Quero falar dos homens, dos fatos e das coisas que tiveram preponderância na história destes 120 anos de existência de Criciúma. Hei de fazer um grande esforço para utilizar uma linguagem bem clara e o máximo possível resumida, com dois objetivos: fazer-me entender e valorizar este lapso de tempo dentro da programação Eldorado. Que todos tiremos proveito e viva os 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 1º de julho, quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 13 I A COLONIZAÇÃO Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 14 OS DESBRAVADORES – I Festejemos e agradecemos. Um agradecimento especial aos pioneiros Giovanni Barbieri, viúvo, e sua filha Serafina; Lorenzo Benedet, sua esposa Regina e seus filhos Maria, Teresa, Pietro, Domênico, Antonio e Giuseppe; Paulo Benedet, viúvo; Pietro Benedet, sua esposa Apolônia e os filhos Antonia, Luigia, Giovanni, Caterina, Giovanni e Giaccomo; Domenico Casagrande e sua esposa Maria; Demétrio Dario, sua esposa Giovanna e os filhos Augusta, Giustina, Antonia, Maria, Giuseppe e Giovanni; Batista Daros, sua esposa Teresa e os filhos Maria, Cecília, Caterina, Giovanni e Salvatore; Paulo de Luca, viúvo, e os filhos Alberta, Rosa, Felice, Antonio, Celeste e Luigi; Antonio Martinello, sua esposa Pierina e os filhos Emilia e Giovanni; Antonio Meller, sua esposa Cristina e os filhos Caterina e Teresa; Santo Meller, sua esposa Maria e os filhos Inocente, Giuseppe e Giovanni; Andrea Milanese e esposa Antonia Fré; Giacomo Milanese, esposa Caterina Gobbo e os filhos Maria Antonia, Augusta Angela, Angela, Maria Teresa, Antonia, Andrea e Antonio; Giovanni Batta Milanese, sua esposa Giovanna Nadal e os filhos Francesco, Luigi e Giuseppe; Martin Milioli, sua esposa Serafina e os filhos Serena, Tranquilo, Casemiro e Giovanni; Angelo Netto, sua esposa Antonia e os filhos Maria, Luzzia, Domenico, Antonio e Giovanni; Domenico Ortolan, sua esposa Pascoa e os filhos Luzzia e Giovanni; Antonio Pavan, sua esposa Anna e os filhos Maria e Bortolo; Andrea Pizzetti, sua esposa Santina e os filhos Rosa e Francesco; Carlo Piazza, sua mulher Sabina e os filhos Roma, Giuseppe, Luigi, Amilcare e Ernesto; Giovanni Pierini, sua esposa Margherita e os filhos Teresa e Stefano; Giuseppe Scotti, sua esposa Petronilla e o filho Telesforo; Martin Scotti, sua esposa Maria e os filhos Delfina e Giovanni; Teresa Sonego, viúva, e os filhos Giacomo e Domenico; Giovanni Tomé, sua esposa Maria e os filhos Giaccomo e Batista; Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 15 Angelo Venzon, solteiro; Antonio Zanette, sua esposa Maria e o filho Luiggi; Giuseppe Zanette, sua esposa Luzzia e o filho Lorenzo; Batista Zanette, sua esposa Paulina e os filhos Maria, Giovanni e Gabriel. A estes todos, desbravadores da civilização que resultou nesta terra abençoada, as homenagens de todos os aqui nascidos ou aqui residentes certos de que, só podemos comemorar os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, porque vocês viveram e vieram. Obrigado imigrantes da primeira hora! Sem a sua coragem empreendedora, mas espelhando-nos na tenacidade de cada um de vocês, haveremos de não deixar a “peteca cair” e de levar esta cidade para o seu merecido lugar no cenário sócio-econômico de Santa Catarina e do Brasil. Criciúma dos 120 anos, por teus fundadores, por nós e por ti própria, tu és um orgulho de cidade! .......................................................................................................................................................................... Publicado dia 5 de janeiro - quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 16 OS DESBRAVADORES - II Comemoremos. Dia 06, depois de amanhã, fará 120 anos que um punhado destemido de italianos, originários no Norte daquele país e na busca do eldorado americano, deu início a este orgulho de cidade. Eram 22 troncos familiares, representados por 25 casais, 03 viúvos, 01 viúva, 01 solteiro adulto, 50 crianças do sexo masculino e 36 crianças do sexo feminino. Ao todo, a colônia era formada por 141 italianos. Deixaram o Porto de Gênova, no Mediterrâneo, a 11 de novembro de1879 e, depois de “trentasei giorni di machina i vapori” aportavam no Rio de Janeiro a 16 de dezembro daquele mesmo ano. Imediatamente fizeram a baldeação para outro “vapor” e agora o seu destino é a Ilha de Desterro, a nossa Florianópolis aonde chegariam dias mais tarde. Abrigados na Hospedaria do Imigrante – uma espécie de hotel que recebia gente de todo o tipo – planejaram a viagem marítima final ao Porto de Imbituba, feita em veleiro. Mais algumas milhas e desembarcam no ancoradouro da família Lage. Conferida a bagagem, embarcam num comboio da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina e seu destino, agora, é Pedras Grandes. Dali, no lombo de cavalos, em carroças e a pé, rumaram para Urussanga e, dessa, com o mesmo meio de transporte, por picada mato a dentro, vieram buscar a Colônia São José de Cresciuma, aonde chegaram no dia dos Reis Magos: 06 de Janeiro do ano da graça de 1880. Faz 120 anos. Festejemos, criciumenses... E, na festa, façamos uma pequena reflexão sobre os incomensuráveis sacrifícios vividos por aquelas mulheres, homens e crianças que, jogados à sorte, neste local onde temos plantada hoje a nossa cidade, enfrentaram todo tipo de adversidade para construir o nosso futuro. Pensemos, por exemplo, na saudade que aquela gente sentiu, do seu “modus vivendi” lá na Europa, do conforto que usufruíam no Velho Mundo, há tanto tempo civilizado e urbanizado. Pensemos naqueles que, sem sentença formalizada em juízo, foram condenados a viver no meio do mato, disputando espaço com aborígines e feras... Foi assim, há 120 anos... Cada um de nós temos o compromisso de reacender a chama, todos os dias, o ano inteiro. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 17 Quando pensarmos em crise, espelhemo-nos nos dias amargos dos nossos ancestrais que, em última análise, nem tinham alguém para reclamar de alguma coisa. Continuemos a construção. Continuemos a obra daqueles destemidos. Reaqueçamos o desejo deles de ver a velha Cresciuma como um centro propulsor do progresso de toda a Região. Nós temos este compromisso, com os imigrantes, com estes 120 anos de história, com Criciúma, com este orgulho de cidade! .......................................................................................................................................................................... Publicado dia 4 de janeiro - terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 18 AS LINHAS Havia, no centro da cidade, o marco zero que, além de ser o referencial para a aferição da altitude de qualquer local, era o referencial para medidas imobiliárias. Para esse mister, servia, também, o próprio leito do Rio Criciúma. Se observarmos com cuidado a formação dos lotes urbanos da cidade, constataremos que eles começam, sempre, de frente para o referido Rio. Mas, e nas colônias? Como medir as colônias, os alqueires de terra da zona rural? Para isso foi tomado o Rio Sangão, de um lado, e Cocal, de outro. Esses dois referenciais passaram a constituir o ponto de partida para algumas definições imobiliárias. A Mina do Toco, por exemplo, era a Segunda Linha Cocal; a Mina Naspolini, era a Terceira Linha Cocal. Já, para o outro lado da cidade, isto é, para a zona Leste, foram constituídas a Primeira, a Segunda, a Terceira e Quarta Linhas Sangão. Aquelas, com ponto referencial de partida, do núcleo Acioly de Vasconcelos, Cocal; estas, com ponto de partida do leito do Rio Sangão que, à época, era tão piscoso que, em determinados pontos permitia-se a pesca com redes. Essas Linhas coloniais e mais o Morro Albino, colonizado um pouco mais tarde, foram todas adquiridas pelas famílias Benedet, Biff, Bortolin, Bristot, Búrigo, Buzzanello, Casagrande, Cichella, Dagostin, Dalmolin, Dal-Pont, Dal-Toé, Darós, De Luca, Feltrin, Ghizzo, Magagnin, Martinello, Mazzuchello, Pazetto, Pavei, Pierini, Pizzetti, Possamai, Recco, Rosso, Tognon, Vittoretto e Zanette. Os Accordi, os Benfato, os Bonetto, os Deboit, Frasson Furlanetto, Giusti, Locatelli, Meller, Milanese, Minotto, Peruchi, Piucco, Rampinelli, Sartor, Savi Mondo, Serafim, Simoni e Sonego, também seriam proprietários de lotes ao longo dessas Linhas cujo referencial era o Rio Sangão. Assim, tendo de um lado Cocal, do outro o Rio Sangão e, ao centro o Rio Criciúma, a nossa velha Cresciuma fora toda loteada e desses lotes nasceriam as comunidades que hoje festejam os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 20 de dezembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 19 UM VEXAME Como já foi sobejamente informado, nossos primeiros colonizadores chegaram aqui em Criciúma no ano da graça de 1880. Atraídos por propaganda enganosa, venderam seus pertences (os que os possuíam), embarcaram num navio e, depois de 36 dias de navegação, aportaram no Brasil. Chegaram a Criciúma a 06 de janeiro e foram tomar conta do que já houveram adquirido lá na pátria européia. Sim, porque as colônias de terras adquiridas pelas famílias emigrantes o foram sobre uma planta genérica de localização de cada lote que lhes fora apresentada lá na Itália. Pagariam essas terras, em prestações anuais, independente da provável produção agrícola a que estavam programados. Em 1903 chegaria a última leva deles, constituída de 50 famílias aqui largadas pela companhia colonizadora. As pesquisas indicam que todos os colonizadores foram jogados à sorte e aqui esquecidos pelas forças administrativas da Nação. Se quisessem estradas, que as construíssem; se quisessem água, que fossem em busca dela; se quisessem remédios, que se socorressem das ervas que a mata atlântica oferecia em abundância; se quisessem notícia de parentes e amigos distribuídos em outras colônias, que fossem em busca, a cavalo ou a pé; se quisessem utensílios ou sementes, que fossem até Laguna – a cinco dias de viagem – para buscá-los... E isso ocorria não só com os italianos que vieram aqui para o Sul de Santa Catarina. Não. Também aqueles que foram em busca da riqueza lá no interior de São Paulo, por exemplo, tiveram a mesma sina; muitos daqueles, conforme registram livros que narram a história da imigração, retornaram à Itália na primeira oportunidade que aparecera para fazê-lo. Então, prezado ouvinte, quando nos reportarmos à saga dos colonizadores, tenhamos sempre presente esse extremo sacrifício daqueles que nos abriram o caminho: o desesperador estado de abandono a que foram condenados. Ah, e se não pagassem – religiosamente – as prestações provenientes da dívida contraída pela compra de suas terras, o fiscal do governo encarregado da cobrança ameaçava-lhes de desapropriação sumária, sem qualquer direito indenizatório. Um vexame... E este vexame também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade ........................................................................................................................... Publicado dia 4 de novembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 20 INDIO MATA COLONO Muito já foi dito sobre a penúria enfrentada pelos nossos antepassados, na tarefa de colonizar o solo que daria lugar a esta cidade monumental a que me refiro todos os dias como “um orgulho de cidade”. Já dissemos, inclusive, que esta terra era habitada por silvícolas, remanescentes de tribos carijós e animais silvestres que afugentavam o homem. Não faz muito tempo que ainda eram caçadas, não muito longe daqui, espécimes ferozes como onças e tigres. Quero falar, hoje, de um episódio altamente lamentável envolvendo um índio e um imigrante. Os Sonego serravam madeira, com serra manual num pequeno barraco que ficava localizado, hoje, nos fundos da Cesaca. Erram cavaletes altos, sobre os quais se distendiam as toras de madeira e os dois serradores, com o serrote topeador na posição vertical, serravam aqueles troncos. Os colonos extraíam árvores do mato que circundava a colônia de Cresciuma e as vendiam para os donos de serrarias e para serradores, dentre os quais, os Sonego. Naquele fim de tarde, ali estavam operando o topeador, transformando toras em taboas, os irmãos Giácomo e Domênico Sonego, Casemiro Milioli e Giácomo Thomé. De repente, Domênico cai gritando de dor. Um índio acertara-lhe o peito com uma certeira flecha disparada por seu arco. Estupefatos, Giácomo e os demais não sabiam se corriam atrás do bugre ou se acudiam Domênico que se contorcia de dor. Depois de pronunciadas todas as blasfêmias usuais para ocasiões como aquela, atenderam a razão e prestaram socorro ao Domênico que, todavia, não resistiria ao ferimento vindo a falecer. Adentraram a mata, no dia seguinte, em busca do índio assassino e o que encontraram foi uma criança índia, sozinha, numa choupana. Deixaram-na viva, embora o desejo de vingança aflorasse suas peles. Ali retornariam, mais tarde, em busca de índios adultos e, agora, só encontraram vestígios daquilo que fora a casa dos aborígenes: estes haviam partido não deixando rastro... E assim, conta-se mais uma interessante página dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 9 de novembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 21 ATAFONAS Assim que os primeiros colonos foram tomando conta da terra que adquiriram da Companhia Colonizadora, aqui na vila São José de Cresciuma, começaram a desenvolver a economia agropecuária: ao lado dos barracos que chamavam de casa, a criação de suínos, galinhas, cavalos e gado leiteiro. Nas roças, abertas com o desmatamento, o plantio de milho, de arroz, de feijão, de outros cereais e de verduras. A primeira farinha de milho era produzida em casa de cada colono, e feita em pilões de madeira nos quais se socava o cereal até virar pó. Atafona, só em Pedras Grandes e Urussanga... Indispensável na mesa dos italianos, a polenta exigia farinha de bom fabrico e Marcos Rovaris e Benjamin Bristot, já em meados deste século, construíram as suas: a de Marcos, num enorme galpão de múltiplo uso: era casa de moradia, era madeireira, era açougue; era fábrica de banha e passou a ser, também, uma atafona, a fábrica de farinha de milho. Estava localizada fora do centro da cidade: não tivesse sido desmanchada nós a veríamos ali aonde temos hoje o Hotel Roma, a HM... Na Santa Augusta, Arcângelo Meller tinha a sua atafona acoplada a uma serraria. Na Coloninha Zilli, a serraria e a atafona do Felix de Luca. Benjamim Bristot tinha a sua atafona aonde hoje temos o Crisul Hotel. Era acoplada a uma serraria e a uma ferraria e, pasmem, era movida a força hidráulica cuja água era proveniente do Rio Criciúma. Isto mesmo: dos fundos da casa de Henrique de Brida (hoje seria a loja de som do Benedet, da Henrique Lage) a água do Rio Criciúma era canalizada até um açude que fora construído no terreno que fica, hoje, no pátio de estacionamento dos ônibus da Empresa Santo Anjo da Guarda. Dessa lagoa o senhor Benjamim Bristot aproveitaria a água para mover a sua serraria e a sua atafona, ali ao lado, mas bem fora do centro da cidade... hoje entre os Hotéis Cavaller e Crisul. Lá na Linha Zilli (hoje Vila Zuleima) o Felix de Luca tinha a sua atafona; na Santa Augusta, o milho era moído na atafona de Arcanjo Meller. E viva a polenta, porco cane! Não é fantástica esta memória dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade? .......................................................................................................................... Publicado dia 24 de setembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 22 AS MÓS As mós. Ali na Praça do Imigrante, aquela pracinha triangular à entrada da Rua Seis de Janeiro, há um monumento aos nossos fundadores, constituído de duas mós suspensas por três esteios. Ali ele foi erguido no início dos anos 60, pelo Prefeito Arlindo Junkes que deu ouvidos a uma campanha, neste sentido, encetada pela União dos Estudantes de Grau Médio de Criciúma, a UESC, de saudosa memória. Aquelas primeiras mós são originárias lá do Rancho dos Bugres, município de Urussanga, onde foram afeiçoadas por encomenda de Benjamin Bristot para moer milho na sua atafona que ficava ali entre os Hotéis Cavaller e Crisul. As pedras do monumento são aquelas mesmas. De lá até aqui, elas vieram rolando, ou melhor, rodando já que são rodas. A pé. Numa picada dentro da selva. E olha que são 25 quilômetros... Quatro homens trouxeram as rodas até aqui: um pau foi colocado no furo central de cada pedra e, um de cada lado, foram rolando, rolando, rolando... É contado que levaram 29 dias para cobrir o trajeto. Nesse vigésimo nono dia, alcançaram o Morro da Bananeira, no seu cume. Trata-se do morro da Mina Brasil, divisório deste e do Bairro São Simão. Como viram que estavam muito próximos, cansados, encostaram as pedras, em pé, em uma árvore, desceram o morro e foram para casa. Retornariam no dia seguinte para continuar a caminhada e entregar as mós pro Seu Benjamim. Só que eles não contavam com São Pedro... À noite despencou uma tormenta da qual um dos raios atingiu exatamente a árvore que escorava as pedras. E estas, com a movimentação do tronco, deslocaram-se e empreenderam uma viagem sem comando. Ao invés de rolarem para cá, para o local no qual seriam utilizadas, rolaram para lá, indo parar na antiga Mina do Galo, uma grota... Cáspita e porco dio foram ouvidos aos berros. Mas não havia outro jeito; arregaçaram as mangas e, agora morro acima, lá foram às mós levadas até a atafona do Benjamim Bristot. Para os que vemos as pedras das mós da nossa velha atafona, ali na Praça do Imigrante, é difícil imaginar o sacrifício do seu transporte até nós. E isto também é parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 10 de dezembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 23 OS POLACOS A propaganda enganosa que se fez na Europa, na segunda metade do Século 19, relativamente ao Brasil do Sul, atingiu, também, a Polônia. Os pregões dos corretores das Companhias Colonizadoras conclamavam as famílias a despojarem-se de todos os seus bens e partirem para a terra prometida: o grande negócio é a América. Mas não diziam que a América a que se referiam era um pedaço de terra do Sul de Santa Catarina cuja comunicação com a civilização era feita por um caminho de tropeiros que descia a Serra em busca do litoral. Assim vieram os italianos, em 1880 e assim vieram, agora, os poloneses, em 1890. Uns e outros imaginavam estar emigrando para a Grande América do Norte de quem a Europa falava com certa inveja, dado o seu estupendo e florescente crescimento. A Cracóvia, a Pietronski e Varsóvia embarcavam 15 famílias que, seguindo o itinerário já feito pelos itálicos, depois de “trentasei giorni de màchina a pavore”, desembarcavam no Porto do Rio de Janeiro, faziam a baldeação para outro navio, viajaram até Florianópolis e, dali, uma nova navegação até Laguna. Da velha Laguna, até Jaguaruna, por mar e rio e, de Jaguaruna até Linha Batista, no lombo de cavalos, em cima de carroças e de carros de bois e a pé... Os Maciejewski, Langer, Opoczynski, Bialeki, Islazki, Kubaski, Zember, Zavadil, Strzalkowski, Bicowski, Kosztrzewski, Kuroski e Ptazinski com suas mulheres e filhos e os poucos pertences eram entregues ao “Deus dará”. O desespero quase tomou conta da leva; na sua unanimidade, queriam retornar e não assimilavam o brutal engano. Mas, voltar como? A solução foi encarar, corajosamente, o desafio que lhes estava sendo imposto. A fé em Deus e em São Casemiro fez com que dessem a volta e prometessem para si próprios que utilizariam a situação para plantar a sua colônia. E o fizeram, não sem sacrifícios; não sem desavenças entre si próprios; não sem desânimo; não sem muita saudade, incomensurável saudade de sua gente e de sua pátria, lá distante e, agora, inatingível... Com a fé já mencionada e a disposição própria dos poloneses, fundaram e construíram a sua Linha Batista, este pedaço extraordinário de nosso Município que, com as demais etnias festeja os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 26 de outubro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 24 CRESCIUMA OU CRICIÚMA? Afinal de contas, o nome certo é Cresciuma ou Criciúma? Desde a fundação, desde aquele seis de janeiro de 1880, a grafia certa do município seria Cresciuma, derivado de uma vegetação da família das gramíneas, aqui abundante. Assim foi escrito e ensinado o nome do nosso território. E olha que a tarefa não era das melhores para as professoras haja vista o “sc” do Cresciuma e a dúvida morfológica: é com ç? é com dois ss? É com c? Nos anos 40, as localidades mais desenvolvidas do Brasil – salvo exceções – eram aquelas servidas por ferrovia e nas quais houvesse uma estação para carga/descarga dos comboios. De Norte a Sul do país, era assim. Aí o governo quis disciplinar esses topônimos não permitindo que duas ou mais localidades tivessem o mesmo nome. Pelo Decreto-Lei 3.599, de 06 de setembro de 1941 que dispôs sobre a nomenclatura das estações ferroviárias do país determinou, no § 2º. do art. 1º “as estradas apresentarão, ainda, devidamente justificadas, sugestões acerca dos novos exames daquelas estações cujos designativos devam ser mudados em virtude das normas sistematizadoras desta lei”. Já em 1943, o Decreto-Lei nº 5.901, de 21 de outubro, dispunha sobre as normas nacionais para revisão qüinqüenal da divisão administrativa e judiciária do país. Seu artigo 11 era enfático: “A revisão da nomenclatura das estações ferroviárias será ultimada e efetivada em 1944, cabendo ao Conselho Nacional de Geografia ajustá-la à nova toponímia das cidades e vilas brasileiras”. Bom, esse tal de Conselho Nacional de Geografia foi extinto e dos documentos que, porventura, tenha produzido, não se sabe o paradeiro. O que temos de concreto é que, com base nos decretos mencionados, o Senhor Artur Souza, então nosso Gerente da Estação da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina, aproveitou uma reforma que fazia na estação e não teve dúvidas: trocou o nome Cresciuma por Criciúma. Se consultou autoridade superior ou não para fazê-lo, é outra questão. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 25 A conclusão é que, dali para frente, isto é, de 1944 para cá, paulatinamente, até o final dos anos 50, nosso território deixou de ser Cresciuma e passou a ser Criciúma. Não consta, em qualquer documento, que a nossa augusta Assembléia Legislativa do Estado tenha ratificado a mudança embora, à época, nosso parlamento estivesse fechado em função da Ditadura de Vargas. O que importa, na realidade, é que essa mudança também é fato concreto dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 6 de dezembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 26 II O MUNICÍPIO Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 27 A INSTALAÇÃO Busco, na edição nº 2, do Jornal “O Mineiro”, que circulou dia 15 de janeiro de 1926, a reportagem sobre a instalação do Município de Cresciuma. Segundo aquele quinzenário, a festa foi espetacular: as vias públicas da cidade com palmeiras que juntavam, entre si, fiadas de bandeirolas multicoloridas. Às dez horas e trinta minutos, a população foi à Estação Ferroviária para receber as autoridades que, embarcadas em comboio especial e expresso, a partir de Imbituba, prestigiariam o acontecimento. À frente, os membros da Comissão Organizadora: o superintendente Marcos Rovaris e os senhores Olympio Motta, Francisco Meller e Frederico Minatto. Recebidas as autoridades com os cumprimentos de estilo, todos desceram para a praça da vila, precedidos pela Banda Musical de Imbituba, que abrilhantaria todo o evento, numa cortesia do Sr. Álvaro Catão, superintendente daquele Município. Já no salão dos atos, formou-se a mesa das autoridades na qual tomariam assento o Sr. Álvaro Catão – que representava o Governador Pereira Oliveira, o Congresso Estadual e o Município de Imbituba; o Dr. João da Silva, Juiz da Comarca de Urussanga, à qual pertencia Cresciuma; representando o desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, o Dr. Ângelo Scarpa; o deputado Acácio Moreira, por si e representante do Secretário do Interior e Justiça; os superintendentes de Tubarão, Laguna e Urussanga; os presidentes dos Conselhos Municipais de Imbituba, Laguna, Tubarão, Urussanga e Araranguá; Leandro Crippa, representando o Vigário de Nova Veneza; Emílio Hülse, representando o Jornal “A Paz”, Antenor Moraes “O Imbituba” e Adolpho Campos “A Cidade”. Presente grande número de pessoas vindas de várias localidades e, evidentemente, do interior do Município que se instalava. Participavam daquela solenidade como seus paraninfos os nossos primeiros conselheiros: Pedro Benedet, que presidiu a sessão, Fábio Silva, Gabriel Arns, Olivério Nuernberg e Henrique Dal Sasso. Ato contínuo foi empossado o superintendente Marcos Rovaris que prestou o compromisso formal findo o qual o presidente Benedet declarou instalado o Município de Cresciuma. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 28 Naquele instante os sinos da matriz e das capelas foram ouvidos misturando seu som ao ruído do espocar de foguetes. A banda tocou. E a professora Albina Piazza seria ouvida como a oradora oficial da reunião de instalação. Falou, também, a menina Zanzi Silva, filha do conselheiro Fábio Thomaz da Silva; o conselheiro imbitubense Uggero Pitigliani, o jornalista Antenor Moraes e, em nome do Conselho Municipal cresciumense, o professor Adolpho Campos. Os discursos só terminariam com a palavra de Álvaro Catão que falou em seu nome e nos do Governador Pereira Oliveira e dos deputados do Congresso Estadual. A cerimônia foi encerrada ouvindo-se os alunos das escolas masculinas e femininas cantando os Hinos Nacional, da Bandeira e da Independência. Essa foi a primeira parte. A Segunda teria início às 14h00min horas e constava de um banquete que Cresciuma ofereceu aos dignitários e convidados especiais que prestigiaram a solenidade de instalação. Aí foram destacadas as presenças das mulheres: Madame Zita Catão, Sibélia Motta, Celestina Rovaris, Juracy Boscolli, Carmem Montenegro e a senhorita Savio Secco. O cardápio foi escolhido e preparado pelo “maitre” do Hotel do Comércio. Findo o banquete, foi iniciada a terceira parte do programa: afastaram as mesas do salão e foi iniciado o baile da emancipação. Todos dançaram; alguns porque dançarinos e outros porque ficaram em casa, lá na antiga sede do município... Lá pelas 17h00min horas formou-se outro préstito e todos foram levar as autoridades para a gare da Ferrovia Theresa Christina para a viagem de regresso. Estava instalado o Município de Cresciuma, cujos 120 anos de história prestam homenagem àqueles que o tornaram independente e plantaram a base de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 13 de dezembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 29 BRIGA PELOS LIMITES O art. 2º, da Lei nº 1.516, de 4 de novembro de 1925, daria muita dor de cabeça para as lideranças políticas de Criciúma, Araranguá e do governo do Estado. Essa lei é aquela que emancipa Criciúma de Araranguá e o artigo 2º é o que dá os limites do novel Município. Por esse dispositivo legal, o território de Cresciuma inicia na foz do Rio dos Porcos a rumo noroeste até encontrar o Rio Mãe Luzia... Isto quer dizer que Criciúma teria seu início Sul exatamente na localidade de Canjicas – hoje Hercílio Luz até encontrar a foz do Rio do Cedro (hoje Município de Meleiro). O Cel. João Fernandes, de Araranguá, um dos políticos mais fortes do Sul, protestou contra os tais limites não aceitando o referido traçado. Aí começou infindável rosário de reuniões, com políticos daqui e dali e com o Agrimensor João Sariu. O Cel. João Fernandes só compareceu à última, quando o assunto já estava esgotado; a todas as demais – e foram mais de uma dezena – prometia comparecer, mas não o fazia. Finalmente, no dia 10 de junho de 1926, o Presidente do Congresso Catarinense, Deputado Antônio Vicente Bulcão Vianna, baixava o Decreto 1.980 fixando novo traçado limítrofe entre Criciúma e Araranguá, fazendo retornar a paz entre os dois municípios. Nesse interregno a Escola de Canjicas e suas estradas ficaram sob a responsabilidade de Criciúma que não pôde cobrar os impostos ali gerados porque o Cel. João Fernandes não permitiu. Como se depreende, Hercílio Luz, comunidade ribeirinha ao Rio Araranguá, já fez parte do nosso território e isso também se insere nos 120 anos da história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 9 de setembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 30 ENCHENTE Era fevereiro de 1926. Instalada Criciúma não fazia, ainda, dois meses eis que conhece a sua primeira catástrofe, na condição de Município emancipado e dono do seu nariz: uma enchente sem precedentes abalou os alicerces da novel cidade. Documentalmente, trata-se da primeira enchente havida em nosso território. E o Chefe do Poder Executivo estava na Capital. Lá mesmo tomou conhecimento dos fatos já que, por despacho telegráfico, o Superintendente em exercício, Francisco Meller o cientificava da catástrofe: “Devido grande enchente tivemos enormes prejuízos nas vias públicas, como sejam, construção da ponte do Rio Sangão, ficando o tráfego completamente interrompido. Desabamento também, três pontes Rio Maina e dois pontilhões aqui. Urge providências”. Ao mesmo tempo, nosso Conselheiro Henrique Dal Sasso e o Fiscal Geral do Município Luiz Crippa, também remetiam telegrama ao Superintendente Marcos Rovaris, hospedado no Hotel América, em Florianópolis: “Atendendo justas reclamações povo, comunicamos-lhe péssimo estado nossas estradas. Pontes Sangão e outras destruídas pela inundação. Prejuízos avultados. Pedimos instruções satisfazer população”. Já no dia 5 de março de 1926, Haroldo Pederneiras, Diretor de Obras Públicas, expedia um telegrama para o nosso Superintende, afirmando: “Comunico-vos seguiu ontem sul estado em serviço inspeção estradas rodagem auxiliar esta diretoria Theodoro Brügmann a quem peço facilitar todos os meios alcance essa superintendência para bom desempenho missão foi incumbido.” As estradas foram reparadas, as pontes reconstruídas e as enchentes, bem estas perturbam nosso município desde 1926 e isto faz parte da história dos 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 24 de agosto – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 31 POSTURAS PRIMITIVAS Hoje volto no tempo, uma vez mais e vou centrar minha narração no ano de 1926, o primeiro de nossa terra município. Ao apagar as luzes daquele ano, o Prefeito Marcos Rovaris fazia editar a Lei Nº 2, com a qual os cresciumense passavam a ter o seu Código de Posturas. Esse Código, a exemplo do que já foi visto, por exemplo, com os orçamentos de Criciúma, contempla alguns dispositivos que merecem ser analisados. Por exemplo, o artigo 13 diz que é proibido, sob pena de multa de cinco mil réis: a) ter ou depositar nas ruas ou estradas, objetos que, pelo seu volume ou natureza, incomodem ou possam constituir perigo para o trânsito público; b) maltratar animais; c) transitar a cavalo pelos passeios das ruas; d) transitar pelos passeios das ruas com tabuleiros, caixões ou qualquer objeto que intercepte o trânsito público; e) correr a cavalo pelas ruas da vila ou povoações, exceto os agentes da força pública quando em objeto de serviço ou força maior; f) transitar com carro de bois cantando, dentro do perímetro urbano. Para os que espalharem pasquins, a multa será de 25 mil réis além da pena de processo de responsabilidade. O art. 16 proibia terminantemente o jogo de cartas, roletas, bichos, bacatella ou cartões e os demais jogos feitos a dinheiro ou valor que dele se tire proveito e a multa para o infrator era de 10 mil réis. Esse mesmo valor era a multa para quem desse tiros dentro do perímetro urbano da sede e de povoações além de oito dias de prisão e apreensão da arma. O uso de bomba explosiva para pesca era condenado com a multa de 20 mil réis. 15 mil réis seriam pagos por aqueles que escrevessem palavrões, riscassem ou pichassem paredes ou nelas colassem figuras desonestas. Ter um animal preso em estaca submetia o infrator à multa de quatro mil réis. 30 mil réis era a multa para quem conduzisse madeira pelos rios. Esse mergulho nas leis de ontem nos transporta a uma época diametralmente oposta a de hoje e nos faz muito bem poder avivar a memória de nossa gente contando estas particularidades dentro dos episódios marcantes dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 2 de novembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 32 O ORÇAMENTO É de 1937, o Decreto Nº 11, que fala do orçamento do município de Criciúma para o exercício de 1938. Trata-se de um dispositivo legal de alto significado para a administração pública e, mais ainda, para aqueles que, nos dias atuais, trabalham na área de assessoria técnica à gestão dos negócios públicos. A receita ordinária, por exemplo, contemplava o Imposto de Licença, o Territorial Urbano, o Predial Urbano, o Imposto sobre diversões públicas, o Cedular sobre a renda de imóveis rurais, o Imposto de Indústria e Profissão, o Imposto de Patente por renda de bebidas e fumo e o Imposto sobre serviços municipais. Os ingressos de recursos eram complementados com a cobrança da dívida ativa, os foros, a renda do cemitério, as multas por infrações de leis, as multas por mora de pagamentos e a taxa adicional de 10% para os Hospitais São José (daqui) e São Marcos (de Nova Veneza). O total previsto, da receita, para 1937, era de 141 contos de réis e igual importância era fixada como teto máximo da despesa para o mesmo período. Essa despesa era bem discriminada: começava com uma dotação para pagar o transporte dos vereadores, passava pelo pagamento da dívida do município num total de dez contos de réis e ia até o pagamento de auxílio ao indigente Antônio Marcílio. Nesse meio, encontram-se despesas para auxiliar leprosos que menciona, gratificação a delegado de polícia, remuneração do jardineiro... Se existe orçamento transparente, aquele, sem sombra de dúvidas o era. Nada de códigos indecifráveis, como nos dias de hoje. Naquele orçamento está estipulado o quanto ganha o secretário municipal, o fiscal do município, cada um dos professores... quanto se despenderá com a construção do Hospital Municipal e com aquele do distrito de Nova Veneza. Iguais peças, na administração moderna dos dias atuais, escondem, em códigos e nomenclaturas difíceis de serem decifrados os programas nos quais são gastos os dinheiros do contribuinte. E esta é mais uma lição que os primeiros legisladores transmitem para aqueles que, hoje, têm sobre si a responsabilidade da administração dos recursos públicos. E é uma bela página para ser lembrado nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ............................................................................................................ Publicado dia 28 de outubro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 33 TAXAS DE CEMITÉRIO? A propósito dessa discussão toda envolvendo a concessão do serviço de manutenção e direção de nossos cemitérios, faço um exercício de memória e convido o ouvinte a viajar no tempo comigo. No dia 11 de setembro de 1936 – faz, portanto, 63 anos – a Câmara Municipal de Criciúma aprovava o orçamento para o ano de 1937. A exemplo de hoje, aquela Lei de Meios, era constituída de uma parte puramente burocrática, na qual eram lidos os artigos disciplinadores das receitas e das despesas do exercício, e os seus anexos. Nesses anexos, diversas Tabelas dentre as quais a Tabela J, que falava dos cemitérios. Nessa Tabela J, estipulavam-se os valores das taxas que seriam cobradas para uso dos cemitérios: terreno para jazigo perpétuo, por metro quadrado, 20.000 réis; jazigo no muro (lembremo-nos de que, ao redor do cemitério havia um muro constituído de gavetas nas quais eram sepultados os defuntos de então)... se o jazigo fosse um desses, do muro, o pagamento seria de 50.000 réis; se o terreno fosse para jazigo, por cinco anos, o interessado pagaria 10.000 réis, por metro quadrado; a licença para colocação de grade (que era uma cerquinha) ou lápide sobre a sepultura dependia do pagamento de 5.000 réis; a licença para sepultamento de adulto importava no desembolso de 2.000 réis e de 1.000 réis para o sepultamento de menores. Era cobrada, ainda, por ano, a importância de 5.000 réis para as despesas de conservação de mausoléus quando adquiridos pelo prazo de cinco anos. Repito: isto faz parte da Tabela J, do Decreto Legislativo nº 11, de 11 de setembro de 1936, que aprovou o orçamento de Cresciuma para 1937. Como se vê, a cobrança do chão do cemitério para sepultar nossos defuntos, assim como a cobrança de taxas de manutenção, não são invenções dos dias atuais: remontam há 63 anos quando nossos antepassados já queriam cemitérios organizados e limpos para os seus predecessores. E viva a memória fúnebre destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 23 de setembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 34 PLANO DIRETOR? Quando qualquer um de nós pretende construir uma casa, uma garagem, um depósito, um edifício, seja lá o que for, recorre, imediatamente à necessidade de buscar a licença de construção junto à Prefeitura Municipal. Caso contrário a fiscalização poderá autuar o proprietário por estar erguendo uma construção clandestina. Essa obediência aos preceitos legais, especificamente sobre construções, nasceu em 1936. Um Decreto Legislativo, o de número 5, datado a 23 de junho daquele ano, dizia que “as construções a serem feitas no perímetro urbano desta Vila, deverão obedecer a um plano organizado pela Prefeitura, obedecendo ao alinhamento das ruas”. No artigo seguinte, mandava: “Nenhuma construção poderá ser feita dentro do perímetro urbano, sem que a planta seja previamente aprovada pela Prefeitura”. Outro artigo proibia qualquer reparo em prédio, sem licença da municipalidade. Possivelmente seria esse, o Decreto Legislativo nº 5, o embrionário de todo o complexo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município que, nos dias de hoje, é discutido por Arquitetos, Engenheiros, Paisagistas, Profissionais Liberais... Àquela época, as cabeças pensantes eram as dos Vereadores Artur Campos, Cincinato Naspolini, Francisco Meller, José Dandolini, Olivério Nuernberg, Procópio Lima e Silvino Rovaris. Sabem quantos formados? Nenhum. Mas já discutiam, aprovavam e editavam leis sábias como essa... Os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, devem muito a pessoas assim... ........................................................................................................................... Publicado dia 28 de setembro - terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 35 OLARIA A cidade crescia. Um mínimo de ordenamento era respeitado nesse crescimento. Havia até o marco Zero, ponto de partida para qualquer medição imobiliária que se pretendesse. Esse marco estava situado exatamente à frente da velha igrejinha, da Praça Nereu Ramos, hoje seria em frente à Casa da Cultura Neusa Nunes Vieira, momentaneamente ocupada pela CODEPLA. Aquele marco, repentinamente, não se sabe por que e por quem, desapareceu. Ficou, dele, apenas o retrato... Mas, eu dizia, a cidade crescia. Casas eram construídas e urgia que alguém se estabelecesse com a fábrica de tijolos. Um mais esperto fez uma olaria bem fora da cidade, no caminho que demandava à Primeira Linha; um segundo espertinho, seguiu-lhe a vocação... um terceiro achou que o negócio era bom e fez também a sua... De repente, o Bairro era uma sucessão de chaminés a expelir fumaça para todos os lados e tomou-lhe o nome: Olaria. Até os anos 50/60, toda a área hoje denominada e conhecida como Bairro São Luiz, era denominada de Bairro Olaria. Inclusive havia ali um time de futebol que participava da Liga Varzeana e que colheu inúmeros campeonatos da cidade. O Bairro Olaria, hoje Bairro São Luiz, foi o nosso primeiro “distrito industrial” e isto faz parte dos 120 anos de história deste orgulho de cidade... ........................................................................................................................... Publicado dia 28 de julho – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 36 BRASÃO & BANDEIRA Ao assumir o governo municipal, em janeiro de 1966, o engenheiro Ruy Hülse, que já houvera sido deputado estadual em duas legislaturas, presidente da Assembléia Legislativa e até Governador interino do nosso Estado, sentiu a necessidade de encontrar um símbolo que identificasse o Município de Criciúma. Mandou produzir, então, um brasão que, obedecidas as regras da heráldica, traduzisse a cultura e a economia locais. Nascia o nosso primeiro brasão de armas que consistia num escudo preto com dois martelos cruzados em seu meio, simbolizando a indústria da extração carbonífera. Uma particularidade importante deixou de ser observado pelo nosso ex Prefeito: submeter o brasão à consideração legislativa para tornar-se lei. Nelson Alexandrino, seu sucessor, aproveitando a passagem do desenhista Arcinoé Antônio Peixoto de Faria, especialista em heráldica e membro da Enciclopédia Heráldica Municipalista, encomendou-lhe um estudo para o desenho do nosso brasão de armas e para a nossa bandeira. É verdade, até1970, Criciúma não tinha bandeira... O heraldista, então, apresentou como propostas de nossos símbolos, o Brasão e a Bandeira que foram oficializados em 26 de novembro de 1970. Nosso brasão tem coroa, tem chaminés, tem escudo italiano, tem uma faixa ondulada representando o Rio Criciúma e menciona as datas do início de nossa colonização e aquela de nossa emancipação. Esse brasão é o que está bordado ao centro da nossa bandeira, esquartelada nas cores verde, vermelho e branca muito parecida com tantas outras bandeiras que o mesmo desenhista propôs para Municípios de colonização italiana. Entre a nossa e a de Nova Trento, por exemplo, as diferenças são mínimas e foram adotadas na mesma época. A propósito, hoje é Dia da Bandeira e a Nacional deve ser hasteada ao meio dia, com solenidade especial. Pelo menos é o que diz a lei. Também de símbolos foram bordados os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 19 de novembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 37 O HINO & O CORAL Em 1964, nosso Prefeito Arlindo Junkes atendia a um pedido do Presidente estadual do Partido Social Democrático – PSD – Dr. Renato Ramos da Silva e acolheu, na Secretaria Municipal de Educação, a Professora Gessy Cheren Stocco, da capital, e que, por motivos de ordem estritamente particulares, precisava trocar de ares. Essa cidadã trouxe consigo, além dos conhecimentos pedagógicos de que era dona, imenso currículo profissional logo posto em prática em nosso município. Incentivou a criação do ensino pré-primário e deu ênfase especial à área cultural, praticamente apagada em nosso meio. Celebrou um convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina que permitiu a presença do maestro José Acácio Santana entre nós durante seis meses, período no qual foi criada a nossa Associação Coral de Criciúma, essa instituição monumento vivo de nossa cultura que tanto orgulho tem nos transmitido em suas andanças por este Brasil de Deus, pela América e pela Europa... Num dos ensaios do Coral, o maestro solfejou as notas de uma composição musical que, segundo ele, poderia ser o Hino de Criciúma e desafiou Dona Gessy para a composição da letra. No dia seguinte o coral ensaiava música e letra do Hino de Criciúma, “nasceste menina, foi teu berço plasmado em carvão... aurora de uma nova e feliz geração” exatamente este que canta a glória destes 120 anos deste orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 7 de julho – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 38 E O LIXO? Paulo Preis era nosso Prefeito e a cidade já ostentava um feeling de cidade urbanizada: já tínhamos algumas ruas pavimentadas com paralelepípedos irregulares de granito, algumas vias públicas arborizadas, praças delineadas, uma área perimetral de residências bem definia, enfim... a cidade comportava certo conforto e exigia certo conforto. Uma das deficiências era o lixo (esse mesmo lixo deficiente dos dias atuais). As famílias produziam lixo e já não havia local que o comportasse. Era necessário depositar esse entulho em algum lugar. Muito bem: o lugar foi escolhido: a esquina da Rua Araranguá com a João Pessoa, bem fora da cidade. E como levar o lixo até lá? Não havia caminhão nem para transportar perita para o leito das estradas quanto mais para recolher o lixo!... Daí apareceu o seu Nico Beloli com uma frota de carroças tipo baú. Conversou com o Prefeito e recebeu dele a autorização para fazer a coleta do nosso lixo, com remuneração paga pelos cofres municipais. Assim nasceu o nosso primeiro serviço de coleta organizada do lixo que, dali prá frente, tem enfrentado inúmeros problemas e isto faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 30 de agosto – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 39 HOSPITAL SÃO JOSÉ A população era constituída de pessoas que, a exemplo de hoje, não eram imunes às doenças. E doenças mais ou menos sérias. Algumas obrigavam a internação do paciente. Para isso foi instalado o Hospital Municipal, às margens da Estrada de Ferro Dona Theresa Chistina, num prédio de propriedade da família do Conselheiro Fábio Silva, que, não tivesse sido derrubado, estaria aqui, ao lado da Rádio Eldorado. Mas aquele hospital demonstrou-se pequeno para o tamanho da cidade que crescia muito. Então o Prefeito Cincinato Naspolini reuniu o Conselho Municipal e propôs – e viu aprovada - a criação de uma taxa de 10% sobre o valor dos impostos pagos pelos contribuintes municipais, para a construção de um novo Hospital. Já no governo de Elias Angeloni, com a participação do governo do estado, administrado por Nereu Ramos, o Hospital São José foi construído sob a coordenação de uma comissão composta dos senhores Marcos Rovaris, Padre Pedro Baldoncini, Frederico Minatto, Addo Caldas Faraco e Cincinato Naspolini, este na condição de fiscal de obras. O terreno foi pago em nove anos, à proprietária viúva Clara de Luca. Em 1936 o Hospital foi inaugurado e sua administração entregue às Irmãs Escolares de Nossa Senhora. Daqueles primeiros leitos que atendiam nossos doentes de então, o São José foi sendo ampliado a ponto de hoje ser uma das mais importantes casas de saúde do Sul do Brasil, ajudando a escrever a história dos 120 anos da saúde de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 31 de agosto – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 40 HOSPITAL SANTA CATARINA 1960. Os médicos Manif Zacharias, Carlos Deslandes, João Conrado Leal, Naby Zacharias e Dino Gorini, reunem-se e resolvem fundar uma sociedade comercial para instalar um Hospital. A cidade, que já possuía dois dos melhores nosocômios de todo o Estado, o São José e o São João Batista, ganhava o Hospital Santa Catarina e o padrão do serviço médico-hospitalar ganharia novo conceito. Além desses profissionais da medicina, o Hospital contaria, ainda, com os serviços do cirurgião Anoar Zacharias, do pediatra Luiz Eduardo dos Santos e do clínico geral Antônio Osvaldo Teixeira de Freitas. Criciúma, com essa nova casa de saúde, passou a ser referencial da área em nossa macrorregião e para cá acorriam doentes e pacientes de todo tipo de moléstia já que, com e hospitais, era certo de se encontrar a cura para todos os males. Em 1966 o Santa Catarina foi absorvido pelo Hospital São João Batista e, mais tarde, transformado em Hospital Infantil. Mal das pernas, prestes a sucumbir de vez, permaneceu fechado durante um lapso de tempo e, hoje, reaberto, faz mais o papel de especialista em atendimento ambulatorial, administrado pelo Município. O Hospital Santa Catarina e, especialmente, os facultativos Manif Zacharias e Dino Gorini, são personagens que escreveram, com muita competência e sabedoria, algumas belas páginas destes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 20 de agosto – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 41 NOVA VENEZA Até junho de 1958, o território que hoje faz o Município de Nova Veneza, era parte integrante de Criciúma e, lá nos primeiros tempos, uma das vilas mais prósperas de toda a nossa Região. Seu núcleo foi desbravado graças à ação da Companhia Colonizadora Metropolitana que, em 1891, com a chegada dos primeiros imigrantes, se estendia desde os limites com o velho Araranguá (hoje Meleiro) até Lauro Muller e Urussanga, o que representa dizer que, da colônia de Nova Veneza faziam parte Nove Beluno (hoje Siderópolis) Treviso e Palermo. São seus fundadores os Napoli, Damiani, Moro, De Nez, Fontanella, Etumelino, Pazetto, Bratti, Mazzucco, Bianchini, Remor, Lazarin, Ghisleri, Levatti, Menegutti, Destro, Bilieri, Daminelli e Cunico. Em 1913, Nova Veneza era elevada a Distrito de Araranguá e José Canella nomeado seu primeiro Intendente. É preciso que recordemos de que todo o território que começa na divisa com o Rio Grande do Sul e vinha até os limites com Urussanga e Jaguaruna, pertencia ao Município de Araranguá que, agora, já tinha dois distritos ao Norte: Cresciuma e Nova Veneza. João Bortoluzzi seria conhecido como um dos mais prósperos comerciantes dali e de todo este pedaço do sul catarinense. Estabelecido com comércio e indústria mantinha laços comerciais com todo o litoral catarinense e com os grandes exportadores do Rio de Janeiro: para lá exportava carnes e derivados da suinocultura, utilizando-se do Porto de Laguna. Na política, João Bortoluzzi representava soberanamente o distrito e, nas eleições de 1925, para compor o Conselho Municipal de Cresciuma, foi eleito unanimemente para representar o distrito. Faleceu repentinamente, antes da posse que se deu a 1º de janeiro de 1926, com a instalação do nosso município. Nova Veneza, por muito tempo, foi o território mais cosmopolita da região, marchando, par-e-passo ao lado de Urussanga. Quando nem sequer se falava, por aqui, de restaurante e de hotel, por exemplo, Nova Veneza já possuía os seus o que fazia com que, habitualmente, quem necessitasse de pousada buscava a de Nova Veneza. É impossível deixar de falar de Nova Veneza, quando nos reportamos aos 120 de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 21 de outubro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 42 IÇARA Falemos de Içara, esse território filho de Criciúma que nos acolhe pelo menos durante três meses por ano: no veraneio, quando nosso endereço passa a ser o seu Balneário Rincão, uma faixa litorânea limítrofe com o poderoso Oceano Atlântico. Podemos afirmar que Içara começou com Urussanga Velha já que, conforme nos relata Elza de Mello Fernandes, no seu Içara, Nossa Terra Nossa Gente, Urussanga Velha é o seu lugar mais antigo do novel município. Fazia parte da sesmaria de João da Costa que se estendia desde o Rio Urussanga até a Barra Velha. Ali, no final do Século XVIII já eram exploradas a cultura da mandioca e da cana de açúcar cujos derivados, a farinha e a cachaça, eram exportados através de Garopaba para onde eram levados através de carros de bois. Consta que só em Urussanga Velha eram enterrados os defuntos até o início dos anos 900. Eram provenientes de toda a redondeza: desde Jaguaruna até Araranguá. Em 1815 há o registro da passagem do Bispo Dom José Coutinho por ali que tomou o maior susto com uma tempestade de areia. Quando foi criada a freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens (hoje Araranguá) fez-se constar, como membro da referida vila, a localidade de Urussanga Velha. Em 1880, quando Criciúma dava início à sua colonização, Urussanga Velha já contava com uma escola estadual e um dos seus habitantes, Salustiano Nunes de Mello, era seu inspetor de Quarteirão. A partir de 1892, com a criação do sexto distrito de Araranguá, denominado São José de Cresciuma, Urussanga Velha foi incorporado a este e, no ano de 1933, essa localidade era elevada a distrito de nosso Município. Quando se fala de Içara, é impossível não mencionar Urussanga Velha, a rigor a mais antiga povoação do nosso litoral. Assim como se deve mencionar Rio Acima, Esplanada, Pedreiras, Lagoa dos Esteves – com todo o seu charme – Barra Velha, Boa Vista, Rio dos Anjos, a velha Rua da Palha, Morro Bonito e São Rafael, Mineração, Barracão, o nosso tradicional e querido Balneário Rincão, Esperança, Linha Anta, Ronco Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 43 D’Água e Linha Três Ribeirões, certamente as vilas mais antigas desse município. Nos primeiros tempos, Içara era denominada de KM 47, referência que lhe impôs o prolongamento de Primeira Linha, fundada em 1919. São citadas como famílias pioneiras: Rovaris, Menegaro, Lodetto, Bonomo, Colle, Rizzieri, Valvassori, Piazzolli, Colonetti e ainda as Zilli, Pizzetti e De Luca. A Estrada de Ferro Dona Theresa Christina exerceria papel fundamental na formação de Içara. Em 1930, contavam-se ali, 30 casas, todas localizadas no centro da vila, mas, 14 anos depois, em 1944, já era elevada à categoria de distrito. Jorge Elias de Luca, Angelo Lodetti e Procópio Lima, são lembrados como os primeiros articuladores do processo de emancipação o que se daria a 20 de dezembro de 1961 com a instalação a 30 daqueles mesmos mês e ano. Seu primeiro prefeito foi o senhor Ascendino Pavei, empossado pelo juiz da Comarca Dr. Francisco May Filho que presidiu a cerimônia e que contou com Nelson Alexandrino como secretário. Em nome do município falaram o jornalista Ézio Lima e o Sr. João José de Freitas. Dali para cá, Içara foi só trabalho, sucesso e progresso e, hoje, no concerto dos municípios da Região Carbonífera, ostenta a segunda posição, só perdendo para o seu município-mãe: Criciúma. Essa Içara, filha mais velha, também faz parte da história dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 29 de dezembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 44 RIO MAINA EMANCIPADO? Ao final dos anos 50, os distritos de Nova Veneza e Içara reivindicaram suas respectivas emancipações e, sem grandes discussões, o direito à sua autogestão lhes foi outorgado pela Câmara de Criciúma, com o referendo da Assembléia Legislativa. Não se pode dizer o mesmo de Forquilhinha que abortou o movimento pelo menos em duas vezes, quando a lei já fora aprovada e que só conseguiu sua autodeterminação depois de ferrenha batalha desenvolvida por um punhado de seus aguerridos filhos, isto já no final dos anos 80. O que poucos sabemos é que em 1961, Rio Maina pleiteava sua emancipação levando à Câmara Municipal esse pleito. Não fosse a intervenção do Vereador Ernesto Bianchini Góes que argumentou contrariamente com farta sabedoria e o território criciumense, hoje, seria ainda menor do que já é. Da leitura da ata da sessão que discutiu o assunto, depreende-se que a causa principal para incitar os riomainenses à independência, era o descaso da administração municipal para com o distrito, desavenças dos ali habitantes com o intendente distrital e problemas de relacionamento com o delegado distrital de polícia. Não deixa de ser um fato curioso dos 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 11 de agosto – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 45 OS PASSOS DO PAÇO Por onde passou o Paço Municipal de Criciúma? Em 1925, quando o município – recém emancipado de Araranguá – era instalado, a sede da Prefeitura foi localizada na casa de Frederico Minatto, localizada na Praça Nereu Ramos, local onde temos hoje o Foto Zappelini. Ali funcionaram a tesouraria, a fiscalização e demais serviços burocráticos do novel município já que o Prefeito Marcos Rovaris despachava, mesmo, era de sua casa. Depois, a casa de Giácomo Thomé, na esquina da Rua Santo Antônio com a Avenida Getúlio Vargas, foi alugada para servir de Prefeitura e ali foram resolvidos os problemas do Município até 1946, quando Elias Angeloni construiu a sede própria do Paço, na Praça Nereu Ramos. Dali a sede do Poder Executivo foi levada, pelo Prefeito Nelson Alexandrino, para a Rua Anita Garibaldi, ocupando a torre central do Centro Municipal de Compras, conjunto arquitetônico construído pelo Prefeito Ruy Hülse. Em 1980, o Prefeito Altair Guidi transferiu a sede da administração municipal para o imponente edifício construído no Parque Centenário, antiga pista do aeroporto municipal Leoberto Leal, dando-lhe o nome de Paço Municipal Marcos Rovaris. Saber destes fatos faz parte da cultura esparramada nestes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 15 de julho – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 46 PAVIMENTAÇÃO Pavimentação e iluminação de vias públicas, segundo significativa parcela dos críticos de administração pública, são carros-chefes de uma boa gestão. O ano de 1947 foi generoso para os postulantes à cadeira de Prefeito de Criciúma. Tendo de desincompatibilizar-se para poder concorrer novamente à chefia do poder executivo, Addo Caldas Faraco renunciou ao mandato. Seus sucessores foram, pela ordem: Alfredo Bortoluzzi, João Carlos de Campos e Carlos Otaviano Seára, para um período inferior a um ano. Se pavimentar via pública é indício de um bom administrador, Carlos Otaviano Seára certamente ficará marcado pela história: a ele é creditado o início do calçamento a paralelepípedos regulares das ruas que circundavam o jardim da Praça Nereu Ramos. Dali o calçamento foi sendo esparramado para a periferia e, hoje, praticamente todo o município tem o leito de suas vias públicas pavimentadas. Ao Prefeito Nelson Alexandrino, que nos governou de 1970 a 1973, é creditado o período da pavimentação asfáltica já que no seu governo algumas ruas do Bairro Pio Correa foram asfaltadas. Diga-se, aliás, que, à época, nem a Capital do Estado asfaltava suas vias públicas... Não deixam de serem dois fatos curiosos que marcam os 120 de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 3 de agosto – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 47 O SEMÁFORO Heriberto Hülse era nosso Governador. Elias Adaime, nosso Secretário de Segurança Pública. Este era Deputado Federal eleito pelo PSD, mas que, em troca do cargo que ocupava, filiara-se à UDN. Era 1960, ano de eleições. Ninguém, por aqui, conhecia o Deputado Adaime, secretário da Segurança. A grande novidade nas grandes cidades era o semáforo, esse conjunto de faróis que, suspenso por fios ou fixado em postes, disciplina o trânsito de veículos e de pedestres nos centros urbanos. Em 1959 essas sinaleiras foram afixadas em Florianópolis, com extenso programa de educação pública já que ninguém nunca vira tal objeto. E o Deputado Elias Adaime, para se fazer conhecer em nosso meio, veio para Criciúma e mandou instalar o nosso primeiro semáforo. Estava dependurado por fios de metal, sobre o entroncamento das Ruas Pedro Benedet, Ruy Barbosa, Getúlio Vargas e Praça Nereu. Foi a glória; ver aqueles faróis acendendo e apagando, automaticamente, passou a ser atração turística. Veio a eleição e o deputado Elias ficou no vermelho... Esta foi uma das boas lições havidas nestes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade... ........................................................................................................................... Publicado dia 12 de julho – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 48 III A IGREJA Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 49 IGREJA: AONDE CONSTRUIR? Católicos e blasfemadores, os colonizadores precisavam erguer uma capela para os ofícios religiosos. A maioria morava ali no Santo Antônio os demais se dividiam entre a primeira Linha e os arredores aqui do centro. Ao ser discutido o local para erguer o pequeno templo, os de lá queriam a capela no Santo Antônio e os demais, aqui na praça. A discussão já tinha colecionado milhares de “Porco Dio”, quando um iluminado propôs: a capela oficial será aquela em cuja torre o sino tocar primeiro. E resolveram erguer as duas capelinhas: a do centro e a do Santo Antônio. E, em cada uma, uma torre lateral para o sino. Mãos à obra e as duas foram concluídas ao mesmo tempo só que, na hora de bater o sino, o dito cujo ali do Santo Antônio despencou sem badalar enquanto o da capela do centro bateu a primeira e uma porção de outras badaladas. Assim nasceu a primeira capela de Criciúma que, já no final do século mostrava-se insuficiente para acolher os fiéis. Decidiu-se, então, construir uma nova igreja, agora de alvenaria e, como dantes, novo debate sobre o local sobre o qual deveria ser erguida. Uns queriam o novo templo no pasto do João Targhetta onde hoje temos o Grupo Escolar Professor Lapagesse; outros não abriam mão do pasto do coronel Pedro Benedet, onde hoje temos a Fundação Cultural de Criciúma. Fez-se uma eleição, após uma missa dominical. Ganhou a facção que defendia o pasto do Targhetta. Ganhou mas não levou porque os opositores daquele local chegaram a incendiar paiol e, pasmem, assassinar um dos adversários. Daí surgiu um novo iluminado e perguntou para o povo: porque não construímos a igreja exatamente no centro entre os dois potreiros? Fez-se silêncio, um olhou pro outro que olhou pro um e, Porco Diolle, a questão estava resolvida. Cachaça, vinho, foguete e corrida de cavalo festejaram a harmonia entre os grupos e a localização definitiva da nova igreja de São José: exatamente onde está erguida hoje a Catedral Diocesana. A italianada era fogo, até para rezar... e isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 18 de outubro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 50 CAPELA DA VILA DE SÃO JOSÉ Nossos primeiros imigrantes, aqueles que fundaram nossa cidade nos idos de janeiro de 1880, embora de várias famílias, confessavam uma única religião: a Católica Apostólica Romana. Relativamente aos princípios religiosos, eram ortodoxos no seu cumprimento e não abriam mão dos costumes que a pátria-mãe lhes ensinara. As orações e os credos faziam parte do seu dia-a-dia. Tomaram como prioridade das prioridades, o seu próprio assentamento, com a construção de suas casas para moradias, o embrionário sistema viário e o trabalho agropecuário que lhes desse o sustento cotidiano. As orações comunitárias sucediam-se de casa em casa, ora aqui, ora ali, outras vezes acolá, especialmente a reza do terço, aos domingos, ao pôr do sol. Paralelamente a tudo isto, sedimentava-se entre eles a necessidade da construção da capela. E, no ano de 1899, era inaugurada a primeira capelinha da vila de São José de Cresciuma, erguida no terreno que hoje comporta a casa da cultura Neusa Nunes Vieira, à Praça Nereu Ramos. Ao lado da capelinha, de madeira, foi erguida uma torre, também de madeira, para o sino. Mais tarde, o templo seria levado para o outro lado da praça numa construção que, do projeto arquitetônico original, guarda as principais características apesar de inúmeras reformas e hoje é a Catedral Diocesana cujas torres apontam a Deus que tem sido generoso para conosco nestes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 26 de agosto – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 51 O SINO DO CORONEL PEDRO Por quem dobram os sinos? Érico Veríssimo, o festejado autor dos pampas, soube responder, na literatura de sua obra, a pergunta tão sugestiva. Para avisar aos fiéis de que um determinado ato litúrgico está prestes a acontecer, para comunicar que uma pessoa faleceu ou que o féretro de um defunto está adentrando ao templo ou ainda para anunciar uma calamidade qualquer, os sinos são batidos. Nossa nova igreja estava pronta, em 1925, mas a torre principal ostentava um sino de pequenas dimensões que, em decorrência, produzia um som de pequeno alcance. Era preciso levar o som das badaladas pelo menos até a Santa Augusta, insistiam nossos ancestrais. Aí entrou novamente – como o fizera em tantas vezes – o Senhor Pedro Benedet: Eu vou doar um novo sino para a nossa igreja. Aguardem que vou à Itália encomendar um sino bem maior que este que está aí. Lá na pátria-mãe, o sino foi encomendado à Fundição de Pietro Golbachini, na localidade de Bassano Del Grappa. Em 1927, o sino era erguido à torre principal na Igreja Matriz São José, cabendo ao doador e padrinho, Pedro Benedet, puxar a corda para que a comunidade ouvisse o seu mavioso som. Esse novo som ia bem além de Santa Augusta, chegando a ser ouvido no Morro da Miséria, denominação primitiva da localidade de Caravaggio. Aquele sino daria o que falar, no início de 1999, quando – segundo o que se apurou foi derretido,refundido e, posteriormente, erguido ao local de onde nunca deveria ter descido. Isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 6 de setembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 52 OS PROTESTANTES Muito já se falou – e se fala – de como a Igreja Católica Apostólica Romana entrou em Criciúma e o papel que desempenhou e desempenha no seu processo evolutivo. Pouco se sabe, todavia, da história dos evangélicos, esses cristãos que, ao lado dos católicos romanos, têm prestado imensa folha de serviço ao social de nossa gente. Consta que, já em 1890, os luteranos faziam culto domiciliar na localidade de Linha Anta, onde residiam alguns descendentes de alemães. Em 1935, a Igreja Batista mantinha um pequeno templo entre nós, localizado numa casinha velha na esquina fronteiriça à Retífica Nereu, onde hoje há uma casa de jogos. Com muita dificuldade e muita discriminação, os batistas recebiam orientação religiosa de pastores provenientes de outras cidades. Dali o templo foi levado para a Operária Velha, mais ou menos em frente ao Café Pinheirinho. Depois, para a Operária Nova; depois para a Rua João Pessoa e, nos dias atuais, para os fundos da Padaria Brasil, sua sede atual. Em 1940, as famílias de Osvaldo e Artur Mayer faziam realizar cultos, em suas próprias casas, professando a Igreja Luterana. Em 1942 Adalberto Braglia, então coletor estadual liderava um grupo de famílias, dentre as quais Aurélio Teixeira, Athilio Bristot e João Simão instalavam a Igreja Evangélica Presbiteriana que hoje mantém o templo na Rua Henrique Lage. A Assembléia de Deus chegaria aqui em 1943, construindo seu pequeno templo no local aonde hoje temos a sede regional dessa denominação. E, com a chegada da Assembléia de Deus, o evangelicismo se agigantou em nosso território. Em pouco tempo, inúmeros templos dessa e de outras igrejas evangélicas foram sendo construídos aqui e acolá a ponto de, com segurança, nos dias atuais, contarem-se mais casas de oração dos protestantes do que, propriamente, dos católicos romanos. Certa rivalidade que não permitia dividir espaço entre estes e aqueles já não existe e, hoje, católicos e evangélicos cantam os 120 anos da história cristã de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 1º de outubro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 53 BENZER CASAS Colonizada a partir de 1880, por um grupo de famílias italianas, Criciúma se caracterizava como uma vila de italianos católicos, apostólicos, romanos. E, quem aqui chegasse e que não fosse fiel dessa religião, poderia até tentar fazer alguma coisa, mas, com certeza, enfrentaria enormes dificuldades. Ainda nos anos 50 era comum o padre sair de casa em casa, benzendo as acomodações das famílias. Essa benzedura não se resumia apenas ao lar, propriamente dito, mas se estendia, também, aos estábulos, chiqueiros, galinheiros e quintais da italianada... Casa com água benta espargida estava defesa contra o diabo e doenças, afirmavam. Acreditavam, também, que Chiqueiro, galinheiro e estrebaria abençoados com a água santa estariam imunes a pestes matadeiras. Era, também, um de seus costumes, queimar alguns ramos bentos, durante as trovoadas. Com essa prática, certamente a casa não seria atingida pelos raios... (Os ramos eram aqueles provenientes do Domingo de Ramos). Quando o padre da matriz não dava conta, vinham socorrê-lo os das paróquias vizinhas. O Padre João Dominoni, por exemplo, de Cocal, numa aranha puxada a cavalos, cumpria o périplo por vasta zona rural... A Igreja Católica teve importante papel na sedimentação cristã destes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 5 de julho – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 54 LUTERANO? DO LADO DE FORA – I Em 1925, quando adquiríamos nossa maioridade, falecia, repentinamente, o primeiro engenheiro de mineração de nossa terra: Paulus Marcus, de nacionalidade romena. No dia 21 de maio daquele ano, estando profissionalmente em Urussanga, foi acometido de um mal súbito e veio a falecer. E a sua morte criou o primeiro grande problema do recém instalado Município de Cresciuma. Nosso Cemitério – então localizado exatamente aonde temos hoje a Feira Livre – era administrado pela Paróquia São José e, evidentemente, nele eram sepultados os defuntos católicos, até porque não se conhecia a profissão de outra fé em nosso meio. Paulo Marcus era evangélico. Luterano. E o vigário foi enfático: no nosso cemitério somente católicos. E o que fazer com o corpo do defunto? Um iluminado, cujo nome a história não preservou, apresentou a solução: estender o tamanho do cemitério um pouco mais, deixando uma cerca no seu meio: do lado de cá, os católicos; no de lá, isto é, do lado de fora, os evangélicos... E lá naquele lado foi sepultado o nosso engenheiro. E, a partir daí, todos os evangélicos de qualquer religião e aqueles que tivessem morrido sem receber o sacramento do batismo. Esta é uma página fúnebre dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 2 de agosto – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 55 LUTEANO? DO LADO DE FORA - II A propósito do lamentável episódio relacionado com o sepultamento do Engº. Paulo Marcus fora do cemitério, em maio de 1926, o Superintendente Municipal, Marcos Rovaris, recebia, no dia 7 de julho daquele ano, o seguinte telegrama: “Consta cemitério aí existem lugares separados para sepultamento católicos e não católicos e como este fato atenta contra constituição república que não reconhece nenhuma religião e estabelece secularização cemitérios, peço me informeis o que há respeito, a fim governo providenciar como deve cumprir. Cordiais Saudações, Ulysses Costa, Secretário Justiça”. Marcos Rovaris chamou seus conselheiros e transmitiu-lhes a preocupação do governo do estado relativamente àquele lamentável fato e, no mesmo dia, respondeu àquele despacho nos seguintes termos: “Respondendo vosso telegrama hoje datado temos a dizer único cemitério Cresciuma é religioso, não pertence ao Município nem a particular. Administrado pelo pároco local. População varias vezes tem reclamado contra espírito religioso implantado tendo vista caso engenheiro Paulo Marcos, só “por ser protestante está inumado em terreno separado por uma cerca onde existe uma única sepultura em terreno não zelado. Aguardamos providências a respeito. Saudações, Rovaris Superintendente”. Aquele lamentável equívoco do Padre Ludovico Cocollo, como vimos, transcendeu aos limites do município e preocupou as autoridades do governo. Também de erros foram construídos estes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade... ............................................................................................................................................................................ Publicado dia 17 de agosto – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 56 UM MAGNO CONGRESSO O formato da nossa catedral, até 1946, era diferente do atual: não havia as duas capelas laterais nem o ádrio de entrada, sobre o qual as figuras dos evangelistas. Essas foram construídas em 1946, para aumentar as dimensões de nossa então Igreja Matriz e para dar-lhe um aspecto de grandeza à altura do evento que estava programado para aquele final de ano: de 25 a 29 de dezembro daquele ano, Criciúma seria sede do Congresso Eucarístico Diocesano. Recordemos que, primeiramente, a diocese a que pertencia a nossa paróquia São José era a de Florianópolis, sob o comando do bispo português Dom Joaquim Domingues de Oliveira. Nosso vigário era o Padre Pedro Baldoncini e seu coadjutor o atual Monsenhor Agenor Neves Marques que tomou sobre seus ombros a organização daquele conclave eucarístico. É daquela data a construção do monumento ao Mineiro, no centro do jardim da Praça Nereu Ramos que continha, no seu topo, a estátua de bronze de um mineiro para a qual serviu de modelo o operário da CBCA Manoel Costa. Numa das faces laterais do monumento, o escudo do Congresso Eucarístico que, mais tarde, foi trasladado para um monólito na Praça do Congresso e dali roubado e do qual não se teve mais notícias. Numa outra face, a efígie do grande minerador Henrique Lage que, ao ser derrubado o monumento, foi transportada para o novo construído na antiga Praça da Imigração, ou Praça da Bandeira, à frente do Café São Paulo, onde ainda pode ser vista. Aquele Congresso, apesar de diocesano, teria repercussão nacional. Seu pregador principal fora o Frei Beneditino Villas Boas, cuja oratória sacra superlotava logradouros públicos. O altar das celebrações estava montado no centro de uma praça constituída por um banhadão que, por ter sediado o evento, passou a denominar-se Praça do Congresso. O Departamento dos Correios e Telégrafos – nossa atual Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos – editaria 50 mil selos comemorativos e o Brasil inteiro acompanhou a sua programação. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 57 Podemos afirmar que, de tudo quanto se realizou em Criciúma, na primeira metade do século que agoniza, o Congresso Eucarístico foi o grande destaque. Ah, em 1946 nosso município ainda era conhecido na grafia de Cresciuma... E, por tê-lo sido, não pode ficar escondido dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 22 de novembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 58 IV O CARVÃO EO TREM Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 59 E DESCOBRIU-SE O CARVÃO O carvão mineral, que foi abundante em solo criciumense, foi descoberto numa casualidade, no ano de 1893. Corria a notícia de que os envolvidos na guerra dos maragatos e pica-paus, ali do Rio Grande do Sul, adentrariam o solo catarinense e, ao passar por vilas como a de Cresciuma, confiscaria burros e cavalos para atenderem aos seus “soldados”. Essa notícia foi ouvida pelo senhor Giácomo Sonego que, com duas boas mulas, fazia serviço de frete (com carroça), transportando produtos hortigranjeiros e tecidos, de Pedras Grandes, Palmeira e Rancho dos Bugres para os nossos colonizadores, assim como açúcar, farinha de mandioca, galinhas, ovos e outros víveres para a população de Araranguá. Perder essas mulas? perguntou-se o Sr. Giácomo, nem pensar. Abriu uma picada mato a dentro e, a uns duzentos metros, se tanto, de sua casa, preparou o novo habitat para os seus animais de carga. Uma das providências foi cavar a terra em busca de uma pequena fonte de água para ser bebida pelas mulas. Arrancou algumas pedras que desdenhou por serem muito pretas, jogando-as ao léu. Agora, comum local para esconder os animais, passou a trabalhar com apenas uma mula cangada. A cada viagem fazia a troca. Se os pica-paus ou maragatos roubassem, roubariam apenas um: o outro estava lá escondido. E isto acabou ocorrendo: uma das mulas foi roubada pelos maragatos, todavia, quando os larápios atravessavam Cocal, a mula desembestou e, a galope, retornou ao potreiro do seu dono. E as pedras?... Bem, passada essa encrenca toda, o Sr. Giácomo Sonego derrubou o mato, inclusive aquela porção na qual escondia suas mulas e, depois de recolhidas as toras e varas mais grossas, ateou fogo na coivara. E daí, senhores, descobria-se o nosso carvão mineral. No dia seguinte à queimada, Seu Giácomo foi ver o local e, para sua surpresa, havia umas pedras queimando, em brasa. Foi um Deus nos acuda: “i sàssi bruza tutti” quer dizer: as pedras todas queimam... Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 60 O Senhor Benjamim Bristot, então aprendiz de ferreiro do senhor Pedro Genovez, lá de Pedrinhas, em Pedras Grandes, levou amostras das pedras e fez o teste na fornalha daquela oficina: as pedras queimavam. E que brasa! Descobria-se, assim, por causa dos revolucionários Pica-Paus e Maragatos, da terra gaúcha e das mulas do Senhor Giácomo Sonego, o carvão mineral em solo cresciumense. Era o ano de 1893 e este é um dos fatos mais marcantes dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 11 de novembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 61 AS MINAS Vimos ontem que o carvão mineral foi descoberto em 1893, em terras do Senhor Giácomo Sonego, num dos episódios mais casuais da história econômica de nossa terra. Aquelas pedras que "bruzavam", foram arrancadas do solo, pelo próprio Giácomo, na intenção de cavar uma fonte de água para as mulas de sua propriedade. A localização dessa área é o Bairro Santo Antônio, lá atrás, conhecido de nós como Mina Velha. Naquela local foi implantada a primeira mineração de carvão de Criciúma: a mina Paulo de Frontin, da Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá, a nossa prezada CBCA, já no ano de 1917. Tomava este nome em homenagem ao seu diretor, o Dr. Paulo de Frontin que, com os engenheiros Dr. Silva e Dr. Maurício, responsabilizavam-se pela segurança das frentes de trabalho. Nessas frentes, estavam os nossos primeiros mineiros, João Venzon, Alexandre Venzon, Antônio Zanette de Lourenço e Caetano Sonego. As vagonetes já tinham o formato daquelas que, mais tarde, seriam consagradas no transporte do minério, da frente de produção até lá fora, onde o produto era embarcado para o consumo final. Só que essas vagonetes eram puxadas por bois. Nessa época, a CBCA já pertencia a Henrique Lage, conforme já vimos em edição anterior. Depois a extração do carvão foi sendo implantada em outras áreas do Município como o Pio Corrêa, a Mina Brasil, o Lote Seis, a Boa Vista, São Marcos, Metropolitana, Rio Maina, Mina do Mato, Mina do Toco, Mina Naspolini, Mina do Tunin, São Simão e Próspera. Cada uma tomava um nome apropriado às próprias circunstâncias locais. Assim, a Mina Velha receberia este nome por ser a mais velha dentre tantas outras; a do Lote Seis, porque fora aberta no Lote Seis daquele Loteamento; a da Metropolitana, em homenagem à Cia Colonizadora do mesmo nome; a Mina do Mato, porque fora implantada no meio do mato ali existente. “Onde está o fulano de tal? – Está lá na mina do mato” Onde está a carroça? Está lá na mina do mato... E ficou Mina do Mato. A do Tunin, por causa do Bepi Tunin, senhor José Guglielmi, pai do Sr. Santos, e assim por diante... Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 62 Como vemos, é impossível deixar de falar de carvão, quando a proposta são os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ......................................................................................................................... Publicado dia 12 de novembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 63 MORREU SOB O CARRO DE BOIS Mal começava a indústria da extração do carvão e os espertos já jogavam seus tentáculos sobre a nossa gente. Faço a leitura do primeiro contrato celebrado entre futuros mineradores e os proprietários de áreas periféricas da cidade de Criciúma. Prestem atenção: Contrato público, irrevogável, que fazem José Piazza, Giácomo Thomé, Batista Darós, Giácomo Sonego, Lúcia Ortolan, Viúva Milioli, Palamede e Maria Milioli, Angelo Scotti, Luiz Pizzetti, Luz Cacciatori, Constante Milioli e Benjamin Bristot, residentes em Criciúma, município de Araranguá, estado de Santa Catarina, todos proprietários de terrenos situados neste município e, de outra parte, o Dr. Paulo Lacombe, engenheiro, e Artur Walson Sobrinho, negociante, residentes no Rio de janeiro, representados pelo Coronel Emilio Blunn, residente em Florianópolis e substabelecido por procuração ao Sr. Frederico Silva, residente em Florianópolis, por procuração feita no tabelião Campos Júnior, de Florianópolis, registrada no Livro de Notas nº 120, B e por eles foi dito que têm entre si, justo e contratado o seguinte: 1º os primeiros contratantes, tendo seus terrenos livres e desembaraçados de quaisquer ônus, concedem, ao segundo, o direito de por si e pela companhia ou empresa que organizar, explorar as minas ou jazidas de quaisquer minérios que contiver nos aludidos terrenos como especialidade e de carvão; 2º os proprietários se obrigam a não criar embaraços de forma alguma para as instalações necessárias ao trabalho de exploração de minérios das minas; 3º o segundo contratante se obriga a pagar aos primeiros, dois e meio por cento do carvão extraído, devendo os pagamentos ser semestrais; 4º este contrato vigorará durante o tempo todo em que o subsolo dos terrenos contiver minérios; 5º o segundo contratante se obriga a dividir com os primeiros quaisquer quantias que o governo o presentear; 6º esta cláusula determina o adiantamento do pagamento de um conto de réis (1:000$000) aos proprietários dos terrenos e que a referida importância será descontada das futuras percentagens sobre a extração do carvão; Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 64 7º se o segundo contratante não fizer os pagamentos os primeiros contratantes poderão assenhorar-se de todas as benfeitorias executadas por aquele na respectiva propriedade; 8º se os primeiros contratantes não cumprirem este contrato estarão sujeitos à multa de três contos de réis (3:000$000). Serviram de testemunhas os senhores Cesar Benedet e Marcelo Lodetti. Os analfabetos foram representados pelo Padre José Francisco Bertero, vigário da paróquia São José. Esse contrato foi celebrado no dia 19 de agosto de 1916 e é parte documental dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 3 de dezembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 65 CONTRATO DO CARVÃO Noutro dia, reportei-me, aqui, sobre a instalação do primeiro semáforo de nossa cidade, numa esquina que, à época, com cruzamento de alta densidade de trânsito, oferecia certo perigo aos que por ali trafegassem: era a esquina da Cel. Marcos Rovaris, com a Rui Barbosa, Getúlio Vargas e Praça Nereu. Isto ocorreu em 1959. Com e sem sinaleiras, o trânsito fazia, fez e continua fazendo suas vítimas. Uma delas – provavelmente a única do gênero – ocorreu em 1934. Um acidente com um carro de bois tirou a vida de um homem de 39 anos. O acidentado tinha como profissão, transportar carvão da boca da mina para a estação de embarque da Estrada de Ferro Teresa Cristina. O carro de bois era o veículo transportador do minério. Era assim que se fazia o transporte do mineral para embarcá-lo na ferrovia. Naquele 13 de Novembro, Gabriel Benedet carregou o seu carro de bois com os mil quilos que o veículo comportava: uma tonelada! Deixou o páteo da Mina Ouro Preto, de propriedade de Júlio Gaidzinski, ali aonde hoje temos o Hospital São João Batista, e deu a partida chamando os bois pelos nomes: Vamos Barroso, Vamos Estrelo... Os bois obedeceram e só pararam na porteira do potreiro (aquilo tudo era um grande potreiro) quando o Gabriel desceu do carro, abriu a porteira, mandou os bois atravessarem, fechou a cancela e, a passos largos, tentou assomar o comando do carro, na sua parte fronteiriça... Escorregou, caiu sob o carro e a roda direita passou sobre seu corpo no sentido transversal, amassando o tórax e fraturando costelas e antebraços. Era 17h00min horas e as 20h00min horas, internado no São José – que já atendia os enfermos – falecia. Deixou viúva dona Maria, filha do Cel. Pedro Benedet e a prole de nove filhos, o mais velho com 14 anos de idade: Dolvino, Belmiro, Diva, Divo, Mario, Celina, Estevão, Irene e Novelino. Esse acidente fatal certamente é o único de que se tem notícia e, provavelmente, teria sido o primeiro – ou um dos primeiros – da indústria da extração do carvão em nosso meio. E isto também faz parte dos casos raros ocorridos nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 14 de outubro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 66 A PRÓSPERA Existia, em Urussanga, em 1917, a Cia. Carbonífera “A Colônia”, de propriedade de Angiolino Nichelle, Atilio Cassol Bainha, Jorge da Cunha Carneiro, Polydoro Bez Batti, Vitório Búrigo e o Engenheiro Paulo Marcus. Seu capital era divido em ações e dividido, proporcionalmente, entre os sócios. Os negócios ali não foram muito bem e, com o início da exploração do carvão em solo criciumense, resolveram fechar o negócio em Urussanga e trouxeram a Carbonífera para Criciúma. Aqui, ela tomaria o nome de Sociedade Carbonífera Próspera Ltda. e à referida empresa entrariam os novos sócios Vitório Búrigo, Pedro Benedet, Marcos Rovaris, Pacífico Nunes, Frederico Minatto e Francisco Meller. Abriu suas galerias no atual Bairro Próspera e operou a todo vapor sob a direção do engenheiro romeno Paulo Marcus. Em 1924 a sociedade foi transferida para um grupo alemão que, embora o florescente negócio da mineração carbonífera, deixaria a mina parada durante vários anos. Júlio Gaidzinski e Jorge da Cunha Carneiro resolveram, então, adquirir o seu controle patrimonial transferindo-o, mais tarde, ao comendador José Martinelli e ao ex Governador Irineu Bornhausen. Em 1953, Martinelli e Bornhausen negociam a carbonífera com a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN que já vinha operando em Siderópolis. A CSN tinha grande interesse no carvão mineral haja vista que, por determinação legal, os altos fornos daquela Companhia, localizados na Usina de Volta Redonda, eram obrigados a consumir o produto nacional extraído, à época, somente em nossa Região. A CSN, então, alargou os negócios da extração buscando o rico mineral em várias frentes do solo criciumense, dando grande impulso à mineração. No governo Collor de Mello, a obrigatoriedade do consumo do carvão nacional pelas grandes Usinas fabricantes do aço deixou de ser exigida e a CSN pôs um basta no seu interesse em nosso produto. Logo em seguida a Carbonífera Próspera seria privatizada e o resto da história é conhecido de todos nós. Assim, a Carbonífera Próspera fica inserida no contexto dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 18 de novembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 67 A ESTRADA DE FERRO Em 1874, o Visconde de Barbacena recebia, do governo imperial, a concessão para construir e explorar uma ferrovia no Sul de Santa Catarina que a transferiu à empresa inglesa The Theresa Christina Railway Company. Os ingleses fizeram o projeto da construção e o submeteram ao imperador Pedro II que o aprovou e, em 1880 – exatamente quando nosso chão foi colonizado – a estrada começou a ser construída. Já no ano de 1884, era inaugurada, ligando Imbituba a Lauro Muller, com um pequeno ramal para a cidade de Laguna. Era a ferrovia do carvão. Somente em 1917 – 33 anos depois – é que foi iniciado o ramal de Tubarão à Barranca (Araranguá), passando por Criciúma. Em 1919, os trilhos chegavam a Içara com o primeiro comboio recebendo carvão mineral das minas de Paulo de Frontin (CBCA) que, até esse ano, era carregado em carros de bois até Pontão, em Jaguaruna. O transporte ordenado do nosso mineral até o porto de Laguna iniciou a partir de 1918. Finalmente, no dia 7 de setembro de 1923, o transporte de passageiros entre Criciúma e Tubarão, era iniciado precariamente, só se solidificando, com serviço de tarifas e horários pré estabelecidos, a partir de setembro de 1918. O tal de trem de passageiros fazia o itinerário, as Segunda, quartas e sextas-feiras, saindo de Tubarão às 8,50h e chegando à nossa estação às 11h20min. Retornava as terças, quintas e sábados, partindo daqui às 5,10h e chegando a Tubarão às 7h42min. A nossa Teresa Cristina, como estamos vendo, carregou, nos seus comboios, muito dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 7 de setembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 68 O TREM DAS SEIS O trem das seis, ou melhor, o trem das 18horas. Era uma festa. Ele vinha de Imbituba, passava por Laguna, Tubarão, Jaguaruna e Içara, apanhando gente em todas essas e outras pequenas estações. Era o meio de transporte da época. E, até, dava status viajar na primeira classe da Teresa Cristina. Esse trem do horário, como era apelidado, esvaziava seus vagões de passageiros às 6 horas da tarde ali na estação ferroviária. Quando apontava no corte da Próspera, o maquinista acionava o apito anunciando que o trem estava chegando. O comércio da cidade ouvia aquele apito e, imediatamente, eram cerradas as portas e todo mundo subia a Conselheiro João Zanette para assistir ao desembarque: uma festa! Nas laterais fronteiriças ao prédio da Estação, os ônibus que demandavam a todos os rincões do Município: estes aguardavam a chegada do “horário” para, depois do desembarque, rumarem para seus destinos. E olha que muita gente boa da cidade tomava banho, vestia roupa nova e se perfumava para a hora do trem do horário. Este é um saudoso momento dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 9 de agosto – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 69 A MARION Os anos 50 surpreenderam nossa região com um boom no setor carbonífero. Siderópolis dava amostras de que o apetite extrativo estava bem ao gosto do paladar dos mineradores ali plantados. A Carbonífera Treviso adquiriu uma máquina arrancadora de carvão a céu aberto que, à época, seria a maior do mundo: na caçamba avassaladora do solo, cabia um caminhão FNM e isto retratava o tamanho daquele instrumento. Os vagões da Dona Theresa Christina transportaram a máquina, em peças desmontadas que completaram a carga de alguns comboios. Menos a tal da caçamba: seu tamanho era tão extraordinariamente grande que a largura do túnel furado sob o morro de Siderópolis, não permitiu que assim ela lá chegasse. E daí, tiveram de retificar vários trechos da velha estrada que ligava Criciúma a Siderópolis para permitir que aquele trambolho pudesse ser transportado: a começar pelo sinuoso Morro do Bainha que, como de resto praticamente toda a extensão da referida rodovia, recebeu significativo melhoramento. Foi assim que a Marion, maior máquina de extração mineral a céu aberto, do mundo, chegou a Siderópolis. Isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 27 de julho – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 70 A POLÍTICA Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 71 A PRIMEIRA ELEIÇÃO Dia 6 de dezembro de 1925, ocorreu a primeira eleição política de Cresciuma, então Município emancipado de Araranguá, mas ainda não instalado. A data fora determinada por decreto do Governador Pereira Oliveira. Estavam inscritas para votar, 151 pessoas. O colégio eleitoral era pequeno para o tamanho do Município que começava ao pé da Serra Geral e se estendia até o Oceano Atlântico. Mas, há que se entender que só votavam os homens alfabetizados. Desses 151 eleitores, nove deixaram de comparecer. Os 142 restantes elegeram Marcos Rovaris, Superintendente, com Francisco Meller e José Gaidzinski como seus suplentes. Fábio Thomaz da Silva, Gabriel Arns, Henrique Dal Sasso, Olivério Nüernberg e Pedro Benedet, eram eleitos nossos primeiros Conselheiros, isto é, nossos primeiros Vereadores. Não consta ter havido comício, compra de voto, “boca de urna”. O exercício do mandato conferia singular honraria ao seu detentor. A posse se deu a primeiro de janeiro de 1926, quando o Município foi instalado e deu início à sua bela e fantástica trajetória. Este é um belo pedaço dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 4 de agosto – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 72 MESAS ELEITORAIS Com a denominação de Conselho Municipal de Criciúma, o Poder Legislativo de nossa terra esteve reunido, pela última vez, no dia 15 de janeiro de 1930. Depois veio Getúlio Vargas com o Estado Novo e a ditadura, e o nosso parlamento esteve fechado até 1946 quando reabriu com o nome de Câmara de Vereadores. Pois bem, naquela última reunião, do dia 15 de janeiro de 1930, nossos conselheiros aprovaram a divisão do território municipal em quatro zonas eleitorais, haja vista que, naquele ano, haveria eleições para uma série de mandatos. A sede do Município ficou com duas seções eleitorais: a primeira, com 330 eleitores, sob a responsabilidade de Heriberto Hülse, João Serafim Schmidt e Roberto Meyer; a Segunda, com 300 eleitores, sob a responsabilidade de Silvino Rovaris, Hércules Guimarães e Mansueto Costa; Nova Veneza ganhava uma seção para seus 275 eleitores, sob o comando de Alfredo Bortoluzzi, Henrique Dal Sasso e Estevan Nazário. E Forquilhinha recebia a 4ª e última seção eleitoral, sob a responsabilidade de Jacob Arns, Bernardo Kestering e Leonardo Steiner e nela deveriam votar 220 eleitores. Daquele insignificante número de 151 eleitores de 1925, agora já eram cadastrados 1.125 em todo o Município. E este é um fato marcante dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 10 de agosto – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 73 UM GOLPE (O PRIMEIRO) De 1930 a 1933, foi nosso Superintendente (hoje Prefeito Municipal), o senhor Cincinato Naspolini. Sua posse resultou de um golpe político-militar encetado contra o prefeito legalmente eleito, Marcos Rovaris, na madrugada de 18 de outubro de 1930, à frente o coronel Ernesto Lacombe, chefe da revolução getulista no sul catarinense. Nos três anos que ocupou a cadeira de Prefeito, Cincinato imprimiu um governo de austeridade e de grandes realizações, dentre as quais se destacam: construção do atual Grupo Escolar Professor Lapagesse; criação e construção do Hospital São José; abertura da Avenida Getúlio Vargas e da Rua João Pessoa; criação da Praça Nereu Ramos com a implantação do jardim cuja simetria dos canteiros permanece inalterada até os dias atuais e, curiosamente, a arborização da cidade com cinamomos. Na Praça Nereu. três imensas figueiras dão sombra aos que ali comparecem todos os dias: aquela da extremidade sul, em frente à chopparia, plantada pelo próprio Cincinato; a do meio – em frente à Casa da Cultura – plantada pelo taxista Emílio Serafim e, a da extremidade Norte, em frente aos escritórios da Metropolitana, plantada por Hercílio Amante, numa das vezes que exerceu o mandato de prefeito em substituição ao titular. Se o jardim da Praça Nereu Ramos é um dos testemunhos vivos do governo de Cincinato Naspolini, as figueiras setentonas atestam que aqui residem pessoas amantes da natureza e respeitadoras do verde. E esta é uma passagem muito salutar destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 19 de julho – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 74 UDENISTA OBEDECE Desde os últimos meses de 1954 e em todos os primeiros de 1955, Santa Catarina efervescia na discussão da sucessão de Irineu Bornhausen, nosso Governador. A União Democrática Nacional, no poder, tinha no seu seio alguns pretendentes à cadeira do “Velho Colono”, com destaque para os deputados Vanderlei Júnior e Aroldo Carvalho. Mais para este do que, propriamente, para aquele. Todavia, as raposas udenistas – ouça-se Irineu, Heriberto Hülse, Paulo Fontes, Clodorico Moreira, dentre outros – ensaivam uma coligação com o Partido de Representação Popular, o PRP, com o seu jovem e brilhante deputado, advogado e jornalista, Jorge Lacerda. E essas raposas sentiam que todo o projeto poderia ser sacrificado se os interesses pessoais sobrepujassem os interessem partidários esses sim, capazes de enfrentarem o PSD – velho e aguerrido adversário e fazerem o sucessor. De nossa cidade partiu a primeira manifestação de solidariedade aos caciques do Partido: em Nota Oficial, o Diretório Municipal da UDN comunicava aos seus correligionários que hipotecava solidariedade à coligação com o PRP abraçando a candidatura de Jorge Lacerda ao governo de Santa Catarina. Essa nota fora assinada dia 27 de maio de 1955 e levava as assinaturas de Osvaldo Hülse e Nicolau Destri Napoleão, respectivamente, presidente e secretário do diretório municipal dos udenistas. Este é mais um fato que se colhe como exemplo de lealdade partidária às decisões convencionais dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 23 de julho - sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 75 PLANEJAMENTO 1960: resultado da coligação Social-Trabalhista, formada pelo Partido Social Democrático e pelo Partido Trabalhista Brasileiro, ganha as eleições para o comando do Paço Municipal, o advogado trabalhista, funcionário do SESI, Nery Jesuino da Rosa. Derrotou Aldo Luz, da União Democrática Nacional que contava com o apoio do Partido de Representação Popular, o PRP. Ao tomar posse do cargo, Dr. Nery pronunciou importante discurso nele inserindo o seu plano de governo para os quatro anos que lhe estavam reservados na chefia dos negócios públicos do Município. Duas delas ele logo concretizou: um novo Cemitério Municipal (que é o atual, do Bairro São Luiz) e a abertura do acesso sul à BR-59, hoje BR-101. Recebeu críticas de todo lado: primeiro porque o Cemitério fora localizado muito longe da cidade e, segundo, porque ninguém vai usar essa estrada de maluco que liga nada a coisa nenhuma... O tempo se encarregou de mostrar o quanto estava certo o nosso Prefeito. Esses fatos sedimentam a necessidade de se planejar a administração pública. Que todos diremos proveito da lição e viva os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 2 de julho, sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 76 A ELEIÇÃO DO NAPOLEÃO Paulo Preis era nosso Prefeito, em 1955, quando renunciou ao mandato para poder concorrer a uma cadeira de deputado estadual. Era março daquele ano e seu período só terminaria em janeiro de 1956. Como mais da metade do mandato já havia sido cumprido, a Câmara Municipal deveria escolher seu sucessor para completar o referido mandato. A composição partidária, na Câmara, era esta: cinco Vereadores do PSD, três da UDN, um do PRP e um do PTB. A UDN e o PRP caminhavam sempre juntos como também o faziam o PSD e o PTB. Era necessária maioria de dois terços para eleger um prefeito indiretamente. O PSD com o PTB possuía esta maioria, mas não se entendiam no nome do sucessor. O Petebista era o presidente da edilidade, Auzenir Guimarães Carvalho que, trafegando pela Cel. Pedro Benedet, ao passar de fronte à sede do Sindicato dos Mineiros (hoje Lojas HM) avistou o advogado sindical Napoleão de Oliveira, um carioca recém chegado à cidade. E perguntou: você aceita ser Prefeito de Criciúma? À noite, o Dr. Napoleão de Oliveira – que nunca pensara em ser alcaide de nossa terra – era eleito e empossado prefeito municipal para cumprir o mandato de Paulo Preis. Era 15 de março de 1955 e nos governou até 31 de janeiro de 1956. Não deixa de ser um fato curioso destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 16 de julho – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 77 SEQÜESTRO Haveria renovação dos cargos da Mesa Diretora da Câmara Municipal. Como sempre acontece, o caldeirão político da cidade efervescia naquele fevereiro de 1962. De um lado o hegemônico PSD certo de que faria prevalecer o seu raposismo elegendo Nico Guglielmi Presidente. De outro, a matreira UDN reunindo-se com Diomício Freitas para engenhar a derrota do ferrenho adversário. A eleição marcada para o dia 6 de fevereiro. Dia 4 daquele mês, todavia, desaparecem da cidade dos vereadores do PTB, fiel e constante aliado do PSD. Ninguém sabia dizer do paradeiro de Abílio dos Santos e Lafayete Borba. A UDN, embora quietinha, não conseguia fingir o seu entusiasmo festivo. O PSD, varando madrugada na casa paroquial com o Padre Estanislau, buscava uma explicação para o sumiço. Chegou o dia da eleição. A Praça Nereu Ramos, em frente ao edifício da Prefeitura, onde também funcionava a Câmara, apinhada de gente de todos os cantos do Município. E eis que, exatamente na hora de começar os trabalhos, estaciona uma camionete Rural Willis em frente à Prefeitura e dela descem os dois desaparecidos Vereadores juntamente com José Martinho Luiz que, quando do desaparecimento dos dois primeiros, encontrava-se em Porto Alegre e que, mal chegado de retorno a Criciúma, fora também levada para junto daqueles. Batem a eleição e o udenista Wilmar Peixoto é eleito Presidente. Com os votos do Lafayete, do Abílio e do José Martinho Luiz, primeiros políticos seqüestrados em nosso meio. Naqueles dias, descansavam no Morro dos Conventos que, não por acaso, era propriedade do Seu Diomício que, por acaso, era da UDN. Foi autor intelectual do seqüestro, o também petebista e vereador Aryovaldo Huascar Machado. Esse episódio ofereceu inúmeras lições aos políticos que construíram e constróem estes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 8 de julho – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 78 MANDATOS CASSADOS Cinqüenta dias depois de oficializado o golpe militar denominado Revolução de Março de 1964, seus efeitos foram sentidos na carne pelos políticos de Criciúma: uns porque foram cassados e outros por que tiveram que cassar. Quando a Câmara expede alguma determinação, o faz através de uma Resolução que deve ser assinada pela Mesa, neste caso, pelos quatro membros que a compõem, ou seja: o Presidente, o Vice, o 1º e o 2º secretários. Não raras vezes ocorre de apenas o Presidente e o 1º secretário subscrevê-la. Isto não aconteceu na noite fria e triste de 20 de maio de 1964 quando a Câmara Municipal de Criciúma, então composta por 11 senhores Vereadores, baixou a Resolução nº 03/64. Aquele documento tomou as assinaturas de nove dos seus integrantes já que os outros dois que não a subscreveram foram o objeto direta da sua expedição: foram cassados. O artigo primeiro daquele documento cassou os mandatos dos Vereadores Abílio dos Santos e José Martinho Luiz, ambos da bancada do Partido Trabalhista Brasileiro. O art. 2º dava conta da culpabilidade que estaria consubstanciada em documentos fornecidos pelas Forças Armadas através de Inquérito Policial Militar. Esse artigo segundo termina dizendo que tais documentos imputando culpa aos dois cassados são parte integrante e baixados pela mesma Resolução. Só que deles ninguém viu nem ouviu falar. Esta é uma página melancólica dos belos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 22 de julho - quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 79 E NÃO EMPOSSARAM O ROMEU Em 1964, cassados os mandatos dos vereadores Abilio dos Santos e José Martinho Luiz, da bancada do PTB, foram chamados para ocupar suas respectivas cadeiras, os suplentes João Antônio Nunes e Nilton Francisco Rabello. Romeu Lopes de Carvalho – personagem de quem ainda haveremos de nos ocupar nesta série de lembranças históricas – passou da condição de 3º para 1º suplente da bancada trabalhista. Dois fatos de certa gravidade ocorriam na cidade; um deles envolvendo um comerciante – que havia vendido leite do programa social americano “Aliança para o Progresso” em seu estabelecimento; o outro, um vereador que teria se locupletado de uma plantação de eucaliptos e de bananas de área territorial pertencente ao Estado. Nenhum dos vereadores encorajou-se para denunciar os referidos fatos, conhecidos oficiosamente por toda a população. Romeu Lopes de Carvalho foi à praça pública e afirmou que se ele estivesse no nosso parlamento aquelas denúncias não passariam em branco. Para testar a coragem do Romeu, o Vereador Nilton Francisco Rebello pediu uma licença do mandato pelo prazo de 30 dias. E daí, senhores, o suplente foi convocado e, antes mesmo de assumir já foi tratando de alinhavar o tal discurso eivado de denúncias. Só que o Presidente da Câmara resolveu que, naquele mês, a edilidade não se reuniria e só voltaria a funcionar ao final da licença do Vereador licenciado. E foi o que aconteceu. A Câmara permaneceu fechada nos 30 dias em que Rebello esteve licenciado e Romeu Lopes de Carvalho não sentiu o sabor de assomar a tribuna para pronunciar suas denúncias. Não é apropriado para hoje, agosto 13, Sexta-feira, relembrar esse inusitado fato dos 120 anos da história de Criciúma, este orgulho de cidade? ........................................................................................................................... Publicado dia 13 de agosto – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 80 VI A COMUNICAÇÃO Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 81 O TRANSPORTE Segundo o que relatam esparsas notas reveladoras dos primeiros tempos, a comunicação entre as vilas do Sul catarinense eram feitas a cavalo ou a pé, em picadas abertas a foice e facão em meio à selva. Conspiravam contra qualquer boa vontade de comunicar-se com amigos, o desconforto da viagem e o perigo a que se estava exposto: não nos esqueçamos de que nossos antepassados estavam colonizando uma área de terras habitada por alguns índios remanescentes da grande civilização carijó e por animais silvestres. Os gêneros alimentícios eram buscados no porto de Laguna, numa viagem que compreendia dois capítulos: um terrestre e outro fluvial-marítimo. No primeiro, cangavam-se os animais – cavalos ou bois – e tomava-se a viagem até Portão, à entrada da cidade de Jaguaruna. Ali, guardavam-se os animais para o retorno e seguia-se a viagem até o Porto de Laguna por meio de barcos, utilizando o rio que banha aquela cidade. Esse trajeto era feito, também, para a exportação dos gêneros alimentícios aqui produzidos ou industrializados, especialmente os derivados de suínos. Carne salgada e banha procedentes da nossa colônia tinham mercado certo no Rio de Janeiro para onde eram levadas pelo Vapor Max, da empresa de Carlos Hoepcke. O nosso carvão também seguia esta mesma rota: de carros de bois até Portão e de canoa até Laguna. Cada carrada pesava uma tonelada e a viagem era feita em três dias: a primeira noite era dormida em Morro da Fumaça, a segunda na Rua do Fogo. No verão, o transporte era feito apenas à noite, haja vista o intenso calor que, não raras vezes, matava os animais. Descendentes dessa brava gente que plantou a nossa cidade em cima de tanto sacrifício, às vezes perguntamo-nos como isso tudo era possível! E pensar que uma pista asfaltada, com duas mãos e acostamentos, já não mais nos satisfaz na ligação entre nossas cidades, elas todas, na macrorregião, alcançadas em, no máximo, uma hora... Das picadas, dos caminhos, das pinguelas e pontilhões de ontem, brotaram as estradas e rodovias de hoje pelas quais trafegam conscientes e inconscientes descendentes de abnegadas famílias que, a partir de 1880, vislumbraram o progresso de seus pósteros. E isto também está inserido no contexto dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! .......................................................................................................................... Publicado dia 25 de outubro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 82 O PRIMEIRO CAMINHÃO Quantos veículos automotores temos em Criciúma, neste ano da graça de 1999? Milhares... Todos os dias são licenciados dezenas de veículos que passam a somar a gigantesca frota que roda sobre o leito de nosso sistema viário. E tudo começou em 1916, quando Marcos Rovaris, em sociedade com Jacinto Tasso, adquiriu um caminhão Fiat para o transporte de mercadorias em nossa região. Aquele primeiro veículo do município veio de Laguna, guiado por Angelo Amboni, numa viagem que, só ele e Deus para contarem, tal o tamanho das dificuldades. Chegando a Primeira Linha, onde residia o Sr. Rovaris, constatou-se que o caminhão fora comprado para ficar na garagem, haja vista que os caminhos de carroças e de carros de bois não permitiam seu tráfego, tal a buraqueira... O que fez o Sr. Marcos? Propôs ao governo do estado o seguinte negócio: eu abro as estradas para o meu e para qualquer outro veículo automotor e o governo me transfere áreas de terras devolutas na Zona do Pilão. Negócio proposto, negócio aceito. Nós ganhamos nossas primeiras estradas e o senhor Marcos Rovaris glebas de terras. Ah, e aquele caminhão Fiat deve estar em Laguna, como peça do Museu Anita Garibaldi, para o qual foi doado pela família do nosso exsuperintendente. Não deixa de ser um fato inusitado destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 1º de setembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 83 PINGÜIM, PRECURSOR. Esse movimento agigantado de perueiros que, em São Paulo, deixa empresários dos transportes coletivos de cabelos em pé, não é novidade para a nossa cidade. No ano de 1960 – portanto há 39 anos – o empresário Auzenir Guimarães Carvalho já havia descoberto o filão do micro transporte, quando fundou a Empresa Pingüim, constituída de cinco kombis, o fantástico veículo utilitário da Volkswagen que transportava até nove pessoas com custos reduzidos para os padrões da época. Durante três anos, as kombis da Pingüim levavam e traziam passageiros da Próspera ao Rio Maina, atendendo também aqueles que residissem na Mina do Mato, no Pinheirinho, na Boa Vista e na Operária. Funcionava no sistema de circular e não parava. O dia inteiro e todos os dias estava ali, nas esburacadas e enlameadas estradas da época, uma das kombis da Pingüim, transportando nossa gente. Depois a empresa foi vendida para terceiros e transformada na Expresso Rio Maina que cobriu o mesmo trajeto com os tradicionais ônibus de nós todos conhecidos. Aquela iniciativa pioneira também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 16 de agosto – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 84 OS JORNAIS 1926. O Município recém emancipado precisava de um órgão que, ainda na condição de oficioso, transmitisse as notícias e registrasse a história para aqui habitantes. Naquele 1º de janeiro do nosso primeiro ano de vida independente, circulava a edição primeira do Jornal “O Mineiro” de propriedade dos coronéis Marcos Rovaris e Pedro Benedet. Adolfo Campos, então Professor estadual e secretário municipal, era o seu redator. Pelo departamento financeiro do Jornal, respondia o Senhor Frederico Minatto que, não por acaso, era também o tesoureiro do Município. Aquele jornal, editado quinzenalmente, circulou durante todo o ano de 1926 e, não suportando a carga dos ônus para sua manutenção, fechou em dezembro. Depois dele veio o O Frege, também um quinzenário que se preocupava muito com o social e a sátira. Registrava nascimentos, noivados e casamentos e satirizava – às vezes com piadas de mau gosto, até – os acontecimentos políticos daqui, da Região, da Capital e da República. A 2 de maio de 1955, José Pimentel, nosso vanguardeiro das lides forenses, fazia circular um semanário de nome Tribuna Criciumense. Tantas foram as iniciativas assemelhadas antes dele que, desconfiada, a população não deu muita fé no Jornal do Pimentel. Mas a Tribuna, aos trancos e barrancos, foi tomando o seu espaço. Trocando de direção e de proprietários atravessou todas as crises e contou a história de todos os governos que o Município viu subir e descer desde aquele ano. A partir de abril de 1999, avançou editorialmente, reequipou-se tecnicamente, e está aí, circulando diariamente nas praças de Criciúma e das cidades vizinhas. Decano da imprensa local, Tribuna Criciumense tornar-se-ia, ao longo de seus 45 anos, o Jornal da Família desta cidade. Depois do Tribuna Criciumense, outros vieram e tantos desapareceram. O Jornal de Criciúma, por exemplo, ao tempo em que Nery Rosa fora Prefeito, circulava semanalmente com opiniões bombásticas (sempre a favor daquele dignitário). O Independente, também marcou época. O Jornal do Sul, há mais de 20 anos circula todas as sextas-feiras. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 85 O precursor da imprensa diária, todavia, daqui e de todo grande Sul catarinense, foi o Jornal Correio do Sudeste, de 1973. Este também tem uma história bonita para ser contada. De crise em crise de sucessão em sucessão acabou sendo chamado de Jornal da Manhã, esse importante veículo de comunicação que granjeou o respeito e a admiração de todos nós. O registro dos acontecimentos e, especialmente, de significativa parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, está estampado nos jornais que o tempo se acostumou a ler... ........................................................................................................................... Publicado dia 8 de dezembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 86 O AEROPORTO No ano de 1952, era fundado o Aeroclube de Criciúma, uma entidade civil que objetivava o estímulo à aviação em nosso município. Era seu Presidente o senhor Gentil Luiz Vieira. Só que, não havia aeroporto. O teco-teco do Adamastor Martins da Rocha – e outros que se aventurassem ao pousodecolagem – utilizavam um potreiro no Bairro São Luiz exatamente, hoje, na via paralela à Av. Santos Dumont. Antes, já serviam para esse mistér, os potreiros do Casagrande, mais ou menos onde hoje está construído o City Club e o do Pio Correa, hoje leito da Rua Antônio de Luca. Agora, com Aeroclube, subia a pressão para a construção do nosso aeroporto. O local indicado ficava lá no Pinheirinho, bem fora do centro urbano de Criciúma. Paulo Preis, Prefeito Municipal, desapropriou extensa área e fez a aquisição da propriedade que comportava duas vastas pistas: uma no sentido Norte-Sul, que em seguida seria construída pelo Prefeito Addo Caldas Faraco e outra, no sentido Leste-Oeste que, por não ter sido construída deu seu lugar para o futuro Cemitério Municipal que Nery Jesuino da Rosa construiria no início dos anos 60. No dia 30 de junho de 1957, o aeroporto era inaugurado e, um ano depois, tomaria o nome do deputado federal Leoberto Leal, falecido tragicamente em desastre aéreo. Uma procissão com o espetacular número de 101 veículos trasladou a imagem de Nossa Senhora de Loretto, padroeira da aviação, da igreja matriz São José até o bosque lateral da estação de passageiros (uma casinha de madeira de apenas um cômodo) onde foi entronizada numa pequena gruta de pedras. Naquele dia, por volta das 10 horas, uma multidão calculada em 30 mil pessoas via chegar, lá no horizonte, o Curtis Comander, de 36 lugares, da pioneira Varig, trazendo as autoridades e alguns convidados especiais. Aterrissado, dele desceriam dentre outros, o Governador Jorge Lacerda, o Senador Carlos Gomes de Oliveira, o Presidente da Cia. Siderúrgica Nacional Gal. Osvaldo Pinto da Veiga e o Deputado Estadual Ruy Hülse. Um avião da FAB trouxe os bispos Dom Anselmo Pietrulla e Dom Gregório Warmling além do ministro da Justiça, Dr. Nereu de Oliveira Ramos. Em meio a muitos foguetes, muito churrasco, vinho e cerveja e um “sem Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 87 número” de políticos, era inaugurado o nosso primeiro aeroporto cujas pistas, hoje, são tomadas pelos edifícios do Paço, do Teatro e do Ginásio Municipais, assim como o novo Fórum da Comarca. E isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 22 de outubro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 88 TELEFONE A tecnologia de ponta, colocada à nossa disposição todos os dias, a todo instante, não permite sequer que tenhamos tempo de pensar nas possíveis dificuldades atravessadas por nossos antepassados em todos os setores da vida cotidiana. Dentro desta ótica, falemos, por exemplo, da comunicação através do telefone. O prezado ouvinte se recorda de como Criciúma falava ao telefone até os anos 60? E os nascidos há 20, 30 anos, já perguntaram como é que seus pais e avós se comunicavam através do aparelho inventado por Graham Bell? A primeira telefônica criciumense foi instalada em 1930 e era um posto da concessão de telefonia que o governo da República concedera à família de Carlos Alberto Ganzo Fernandes, um espanhol domiciliado em Porto Alegre. O precário e o empírico deram-se as mãos e dessa união nasceu o serviço telefônico local, instalado numa salinha de um prédio de propriedade do Sr. Abílio Paulo, na Praça Nereu Ramos (hoje seria a Casa Leão). Depois essa central foi levada para a Rua Seis de Janeiro, numa casinha fronteiriça à residência do Senhor Júlio Gaidzinski. Mais tarde, voltaria para a Praça Nereu Ramos, agora ocupando outra pequena sala do Edifício Filhinho, também de propriedade do Senhor Abílio Paulo. Dali foi transportada para o Marechal Floriano, aos fundos da Casa Ouro. Operavam essa central, no início a Sra. Ondina Guedes, depois a Alaíde Mello, depois Ivone Cascais e, mas tarde, a Sra. Malvina Heinzen que se recorda disto tudo com muita saudade e melancolia. Cinqüenta aparelhos telefônicos, todos movidos a manivela, conectavam essa central. Para falar entre si ou com telefones fora da cidade, o interessado tirava o aparelho do gancho, rodava a manivela, dona Malvina atendia e promovia a conexão com o aparelho desejado. Se a ligação fosse para fora da cidade, não havia, jamais, previsão de quanto tempo seria necessário para completar a ligação. Falar com Florianópolis, por exemplo, levava – muitas vezes – dois dias. É que Dona Malvina fazia um contacto com Tubarão, que acionava Laguna, que acionava Imbituba, que acionava Florianópolis e, encontrado desocupado o telefone desejado, fazia-se o mesmo trajeto de volta... Uma verdadeira via crucis. Falar com São Paulo, só indo a Torres, onde havia um posto do Cabo Submarino, explorado por ingleses. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 89 No final dos anos 60, um preposto da Família Ganzo propôs a troca da central por uma mais moderna, porém já usada: era aquela que, até então, atendia uma parte da cidade de Santos, em São Paulo. Para tanto, cada um dos donos dos telefones existentes contribuiria com a importância de 50 mil cruzeiros. Wilson Barata, então Presidente da Associação Comercial e Industrial de Criciúma, consultou seus pares e comunicou que a cidade não aceitava aquela proposta e que se propunham, os criciumenses, a comprar aquele serviço. E isto aconteceu. Era 1967 e criava-se a Cia. Telefônica Criciumense que mudou a sede para a Av. Getúlio Vargas, ao lado dos Correios. Uma mesa central com capacidade para 1000 troncos foi instalada e, agora, nossos telefones eram modernos: com disco. Todavia, naquele ano o governo disciplinaria o serviço telefônico brasileiro estatizando tudo quanto existia. Nossa recém formada Cia Telefônica foi absorvida pela Cotesc, depois Telesc e o resto da história nós todos conhecemos... A memória telefônica também ecoa nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 11 de outubro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 90 ELDORADO, A PIONEIRA! Em 1946, por iniciativa de Hercílio Amante, funcionário público municipal; José de Patta. Médico e Cláudio Schüller, alto funcionário da Companhia Siderúrgica Nacional, setor de Siderópolis, fundava-se a Voz de Cresciuma, um serviço de alto-falantes cujo estúdio estava localizado no Edifício Filhinho e as cornetas de som em postes especialmente erguidos para este fim, no jardim da Praça Nereu Ramos. Era o embrião da Rádio Eldorado que funcionou assim até 1948, quando se transformou na emissora que hoje joga para o ar este comentário de sua história... Seus primeiros locutores foram Cláudio Schüller, Luiz Napoleão e Irê Guimarães, o hoje cartorário. Agora, já com prefíxo – ZYR-6 – passou a funcionar no último piso do Edifício São Joaquim, altos do Café Rio. A cerimônia de instalação se deu no dia 17 de novembro de 1948, nas dependências do Clube Mampituba, esquina da Praça Nereu Ramos com a Rua Seis de Janeiro. Nessa velha emissora João Sonego faria o primeiro comentário esportivo da sua vida e o primeiro da empresa de comunicação. Por ela passaram comunicadores de respeito como Cesar Machado, Aryovaldo Machado, Ézio Lima, Antônio Luiz, Osmar Nunes, Kátia Broleis, Sérgio Luciano, José Valério... Sebastião Pierri, escondido no pseudônimo “Castro de Alencar” fazia, todos os dias, uma crônica sobre problemas comunitários. Às 12 horas, era feito o Jornal Falado, no qual não se permitia erro de locução. Às 18 horas, ao som da Ave Maria de Gunot, era radiofonizada a Hora do Ângelus, seguida do Ecos do Folclore Brasileiro... Odery Ramos sacudia o povo com o show R6... É impossível falar dos 120 anos de história de Criciúma este orgulho de cidade, sem reservar largo espaço para a Rádio Eldorado que festeja 51 anos de existência... ........................................................................................................................... Publicado dia 21 de setembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 91 RADIO DIFUSORA Tudo quanto dissesse respeito à cidade e à região, era publicado pela Rádio Eldorado que, à época, tinha o alcance do tamanho da cidade. Se os fatos eram verdadeiros na sua essência, isto é outra conversa. Eles tinham o dever de agradar politicamente aos detentores da emissora. E, então, a oposição se organizou e, no dia 13 de agosto de 1962, Criciúma ouvia, pela primeira vez – em caráter experimental – o som da Rádio Difusora, ZYT-52, a “Emissora do Trabalhador”. A empresa fora constituída pelo Vice Governador do Estado, Doutel de Andrade e pelo Deputado Estadual Ado Vânio de Aquino Faraco. Instalou seus estúdios numa pequena casa da Rua João Pessoa e ergueu seu transmissor no Bairro Boa Vista. Deu o que falar... A Eldorado pintava de azul, a Difusora de verde; o antagonismo era a bandeira de uma e de outra... Em 1963, participou da Cadeia da Legalidade, retransmitindo a programação da Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro e da Farroupilha, de Porto Alegre. Esta transmitia diretamente do gabinete do Governador Brizola, no Palácio Piratini. Em 1964, nem se esperou o primeiro de abril, foi no 31 de março: seus transmissores foram lacrados e só sentiram o retorno da energia em 1965, a 1º de janeiro. Agora, sob um novo controle acionário no papel: Francisco Arcanjo Grillo (leia-se Aderbal Ramos da Silva) e Antonio Guglielmi Sobrinho. Este, como representante de uns vinte companheiros seus, todos do PSD. Fez o rádio mais popular que a Região conheceu, tomando o apelido carinhoso de Difa. Em 1977, seus estúdios e escritórios, localizados no andar superior da Galeria Benjamin Bristot, foram devorados por um grande incêndio. Ficou alguns dias fora do ar, mas, noutro endereço, agora sobre a Casa Imperial, ainda na Praça Nereu Ramos, retornaria aos lares criciumenses. O governo federal, logo em seguida, não renovaria a concessão e seus transmissores calaram para sempre. Isto também faz parte dos 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 26 de julho – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 92 TV CLUBE No final dos anos 50 e, especialmente, nos primeiros da década contestatória de 1960, o sinal da televisão chegava a Criciúma. Porto Alegre à época, contava três estações de TV: a Piratini, dos Diários e Emissoras Associados – TV Tupi; a TV Gaúcha – TV Globo e a TV Difusora; esta, cuidando mais da grande Porto Alegre enquanto as outras buscando o interior gaúcho e, pasmem, o território catarinense. De repetidora em repetidora, o sinal foi trazido, primeiramente para Siderópolis, a fim de atender os profissionais liberais que, originários do Rio de Janeiro, trabalhavam nas grandes empresas de mineração ali constituídas. Pois bem: a repetidora estava ali, no Morro do Maracajá, e precisava de manutenção, pois todo o dia apresentava problemas e, não raras vezes, o que se recebia, em casa, era um chuvisco irritante que desligava todos os aparelhos. Fez-se, então, um tal de TV Club, que cuidava dos interesses dos proprietários de aparelhos de televisão. Como poucos contribuíam, a tal da manutenção foi transferida para a administração pública municipal que, não tendo nada com isto, passou a ser a responsável pela captação de som e imagem daquelas estações. Contada esta façanha hoje, parece alucinação, mas o fato retrata a realidade daquela época, que não vai tão longínqua, e que marcou profundamente nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 23 de agosto – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 93 VII ESCOLAS Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 94 ESCOLAS Continuo a manusear uma jóia preciosíssima de nossa história, um surrado livro de assentamento de decretos legislativos, e me deparo com dois deles que falam alto sobre a preocupação de nossos antepassados, relativamente à educação. Já dissemos, aqui e algures, que – dentre algumas pessoas ricas, lá do início da nossa Criciúma – uma delas era Pedro Benedet. Hoje ele entra, também, neste capítulo da nossa história. É que em novembro de 1936, o Prefeito Municipal recebia autorização da Câmara, para adquirir uma área de terra pertencente ao senhor Pedro Benedet, com 30 metros de frente e 80 de fundos, situada na Rua Cel. Pedro Benedet (a rua já tinha o seu nome), anexa ao terreno já adquirido e doado ao governo do Estado para a construção do Grupo Escolar. Essa área, conforme reza o artigo 2º, deverá ser doada também ao governo do Estado, perfazendo, assim, uma área total de 80 metros por 80 metros exigida para a tal construção. Da leitura desse decreto têm-se duas certezas: a primeira: o local primitivo do G. E. Professor Lapagesse era o atual imóvel que dá a sede da Fundação Cultural de Criciúma, a antiga CPCAN, em frente à JUGASA; segundo: o imóvel foi vendido pelo Sr. Pedro Benedet ao Município, que o doou ao governo do Estado. O segundo Decreto do livro a que me reportei é o de nº 22, de dezembro de 1936, que autoriza a vender o prédio onde funciona a cadeia pública do distrito de Nova Veneza, para o senhor Dionísio Mondardo, pelo valor de dois contos de réis e que esse dinheiro seria investido na construção do Grupo Escolar daquele distrito. Esse Decreto nos dá uma grande lição, de cunho eminentemente social: vende-se uma cadeia que prende pessoas e, com o dinheiro apurado, constrói-se uma escola que abre horizontes para o ser humano. Repito: esses decretos são de 1936 e precisam ser enaltecidos na descrição dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 1º de novembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 95 ESCOLA DE LINHA ANTA Hoje vou falar de escola. Faz bem falar de escola. E quanto mais velha, mais satisfação nos dá de falar sobre ela. A da qual vou me reportar, existe há 101 anos; remonta ao início da nossa colonização e, a rigor, é um dos primeiros estabelecimentos escolares oficiais existentes em nosso território. Trata-se da Escola Mista de Linha Anta, criada dia 31 de maio de 1898. Sua localização na Linha Anta ainda não foi justificada, em que pese o intenso trabalho de busca do historiador Mário Beloli de quem busquei estas informações. Porque Linha Anta? Se a resposta fosse a de que ali existia um bom contingente de famílias e, em decorrência, grande números de alunos, o fato de essa escola ter sido fechada por falta de educandos, dois anos depois, desmentiria tal conceito. Permaneceu fechada até 1920 quando, novamente, abriu suas portas para a educação de meninas e rapazes por ali residentes. No dia 18 de maio de 1922, aquela escola mista seria transferida para a localidade de Santa Augusta e dali – ou das adjacências – não sairia nunca mais. Nos anos de 1922 a 1925, as professoras Maria Câmara e Zuleima Goldner seriam as responsáveis pelo sacerdócio do ensinar. A Professora Laurinda Coelho dos Santos assumira a sua direção em 1925 e aquele educandário seria a sede da aplicação do primeiro exame das escolas estaduais do Município. Hoje, a centenária escola mista estadual da Linha Anta, ensina a juventude estudiosa da zona oeste de Criciúma, na localidade de Santa Luzia, e passou a ser chamada de Escola Básica João Frassetto. Evidentemente a Linha Anta foi transformada num belo pedaço urbanizado de nosso município em conurbação com os de Içara e Morro da Fumaça e possui, também, o seu educandário, no qual meninas e rapazes dividem os espaços na busca do saber. E isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 26 de novembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 96 SCAN Há alguns dias reportei-me ao Rotary Club que, fundado a 18 de abril de 1948, entregava à Criciúma, a 1º de setembro de 1949, a Sociedade Cresciumense de Assistência aos Necessitados – a Scan. Hoje quero falar dela e do Bairro da Juventude, entidades intrinsecamente ligadas à história do nosso município. Qualquer foto dessas comunidades mostra as três primeiras casas, de alvenaria, construídas pelo engenheiro Jorge Frydberg e que se notabilizaram como o referencial da Scan. Uma diretoria dirigia a entidade, sendo que seu primeiro presidente foi o doutor José Pimentel, incansável na tarefa de tornar realidade aquele primitivo projeto. Compunham com ele outras pessoas, não só do Rotary. Esses diretores – e o próprio Rotary Club – queriam, todavia, que uma entidade religiosa tomasse conta da sociedade eis que para colimar seus objetivos de amparar menores abandonados, uma entidade religiosa, certamente, se prestaria com mais afinco. Paralelamente, uma organização religiosa de Padres, lá da cidade de Passos, no estado de Minas Gerais, consultava o arcebispo metropolitano, Dom Joaquim Domingues de Oliveira, sobre a possibilidade de se instalar em território barriga-verde com sua obra que coincidia com o objetivo da Scan. Dom Joaquim fez contato com o vigário da Paróquia São José, Padre Wilson Lauz Schimidt que fez contacto com o Rotary Club e, em setembro de 1955, depois de intensa troca de correspondências e de inúmeras visitas, os Padres Rogacionistas recebiam os encargos do Bairro da Juventude. Em agosto daquele ano, o Governador Irineu Bornhausen visitava o Bairro, inaugurando-o oficialmente e empossando o seu primeiro diretor, Padre Paulo Petruzzellis. Reconhecido de utilidade pública nas três esferas de governo, o Bairro da Juventude estendeu o atendimento a diversos segmentos da educação formal. Celebrou convênios com o Sesi e com o Senai e recebeu o acervo da escola industrial que este último mantinha em Siderópolis quando lá cerrou suas portas. À medida que o tempo passou, a entidade foi modernizando sua administração até por imperativo da própria necessidade, pois, daqueles seis internos por casa do ano de 1949, agora são mais de mil crianças e púberes que ali são educados. Hoje a estrutura organizacional contempla a Assembléia Geral, formada por 25 segmentos da sociedade civil; o Conselho Diretor, composto de oito membros eleitos pela Assembléia Geral; o Conselho Fiscal, integrado por três membros titulares e igual número de suplentes também indicados pela Assembléia; e a diretoria Executiva designada pelo Conselho Diretor. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 97 A comunidade, por entidades organizadas ou pessoas físicas, a Funabem e a Fucabem, a Prefeitura Municipal, o governo do Estado e o da União são inscritos como colaboradores permanentes da organização que, não obstante tais auxílios, necessita, sempre, da colaboração dos criciumenses. Seus primeiros internos foram os meninos Ciro José Galdino, Dino Guessi, José Pedro Goulart, José Manoel Francisco e Lourival Cecílio Roque. Tendo exercido a presidência do Conselho Diretor nas gestões 1985 a 1991 e de 1996 até agora, o empresário Algemiro Manique Barreto é o seu atual presidente enquanto que a Educadora Silvia Zanette é a sua diretora executiva. Pelos milhares de crianças ali educadas ao longo destes 50 anos, a Scan, entidade que antecedeu ao nosso festejado Bairro da Juventude, é partícipe maiúsculo dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 14 de dezembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 98 O COLÉGIO MARISTA Quando o calendário virou para a segunda metade deste século que está morrendo, os criciumenses deram-se conta de que a cidade necessitava de um ginásio escolar; afinal de contas, a população em idade escolar que tivesse como arcar com o ônus dos estudos, deveria procurar o tal ginásio em Tubarão, Laguna, Florianópolis ou Porto Alegre. Como resultado de inúmeras reuniões, optou-se pela construção de um Ginásio Municipal que tomaria o nome de Ginásio Municipal São José. O município arcaria com parte dos investimentos e se responsabilizaria pela construção do edifício escolar e os habitantes da cidade, através de contribuições, tomariam sob seus ombros os custos restantes. Foi impresso um bônus do tesouro municipal de Criciúma e uma comissão foi vender tais papéis junto à população. Em poucos dias todos os títulos haviam sido comprados e o dinheiro começou a ser empregado na construção do tal Ginásio Municipal São José. Nesse meio tempo os mineradores estavam trazendo os Irmãos Maristas para se estabelecerem no Caravaggio, em Nova Veneza, e ali instalarem um colégio. Uma comissão intermediou tudo e os maristas acabaram assumindo o tal de Ginásio Municipal São José que é exatamente esse monumento à vida estudiosa de Criciúma e da Região: o nosso Colégio Marista dos dias atuais. Esta também é uma página colossal dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 12 de agosto – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 99 MTM & SÃO BENTO Estudar em ginásio, até 1955, só para filho de pais afortunados que pudessem mandá-lo para Tubarão, Laguna, Florianópolis, Porto Alegre ou Curitiba. No início dos anos 50, o Padre Estanislau Ciseski – que tantas vezes é citado neste pedaço de história – tomou às mãos a tarefa de fazer instalar aqui um colégio ginasial. O apoio econômico buscou no Sindicato dos Mineradores, à frente Fidelis Barato e Álvaro Catão; o apoio político, junto ao Deputado Federal Joaquim Ramos; o pedagógico, junto às professoras Maria José Hülse Lodetti e Zulcema Póvoas Carneiro. O terreno, recebeu por doação do “Bá”, apelido de Manoel Gonçalves Farias, de saudosa memória. Com esta retaguarda, o Padre Estanislau saiu à luta e, quando tudo parecia que não chegaria ao objetivo, eis que a Irmã Anastácia Vasconcelos, da Congregação religiosa das Pequenas Irmãs da Divina Providência, lá de Belo Horizonte, acedia ao convite e vinha fazer instalar o Ginásio e Escola Normal Madre Teresa Michel. Era setembro de 1955. Criciúma ganhava o seu primeiro estabelecimento de ensino médio que, em dezembro de 1959 – faz, portanto, 40 anos – formava sua primeira turma. Já o Colégio São Bento fincou sua primeira estaca em 1945, quando instalava a Casa da Criança Nossa Senhora de Fátima, o “Jardim” de hoje. As Irmãs Escolares de Nossa Senhora, durante dois anos, responsabilizaram-se pelo seu funcionamento e foram substituídas pelas da Divina Providência que educaram, educam e haverão de continuar educando significativa parcela de nossa juventude. De outro lado, o Colégio Marista, mas este já foi objeto de nossas linhas noutro capítulo deste trabalho. História sem educação, não é história. E esses colégios estão marcadamente vinculados aos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 9 de dezembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 100 E A DO COMÉRCIO? 1961. O Cine Milanez, então nossa principal casa de espetáculos, com certeza um dos maiores auditórios da época, tinha sua capacidade de assentos tomada pelos formandos, familiares, amigos e professores da Escola Técnica de Comércio de Criciúma. Formava-se sua primeira turma. Uma festa sem precedentes no cenário estudantil-cultural do município cujo mercado de trabalho recebia algumas dezenas de profissionais da Contabilidade. Discursos, cumprimentos, abraços seguidos de um grande baile nos salões da Sociedade Recreativa Mampituba, na Rua Seis de Janeiro. Aquela foi uma escola de verdadeiros titãs, capitaneados pelos intelectuais que faziam a assessoria superior da Carbonífera Próspera, de outras carboníferas, de cerâmicas e bancos. A nata do universo dos profissionais liberais era lente da Escola Técnica de Comércio, único estabelecimento de ensino noturno que, funcionando nas dependências do G. E. Professor Lapagesse, recebia alunos de todos os Municípios do grande Sul catarinense. Começou tão bem; descreveu um caminho tão retilíneo, apontava um Norte tão seguro e, todavia, desapareceu assim ó!... Onde está a nossa Escola Técnica de Comércio? Os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, merecem uma resposta. ........................................................................................................................... Publicado dia 18 de agosto – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 101 UNESC No início dos anos 60, o interior do Brasil começou a se organizar com Fundações Universitárias que, criadas, instalavam escolas de nível superior as quais, até esse tempo, só podiam ser freqüentadas nas cidades capitais de estado. Em Santa Catarina, o movimento pioneiro seria presenciado na cidade de Blumenau, nossa então capital econômica. Lá seria fundada a Furb – Fundação Universitária da Região de Blumenau que encheu de admiração as demais cidades catarinenses e muitas espalhadas por este Brasil de Deus. Em 1964, numa iniciativa do Prefeito Arlindo Junkes e com redação que lhe fora dada pelo Secretário Geral da administração municipal, Adair Lima, Criciúma criava uma faculdade de direito. Isto ocorreu quando foi sancionada a Lei nº 459, de 26 de agosto daquele ano, aprovada pela Câmara Municipal sem qualquer embaraço. Aquela escola não saiu do papel. Jamais a faculdade de direito municipal foi instalada. Naquele mesmo ano, era fundada, em nossa cidade, a Câmara Júnior, Capítulo de uma entidade internacional que congrega homens de idade compreendida entre 18 e 40 anos, portanto, uma entidade de homens jovens. E a Câmara Júnior entendeu de lutar pela implantação de escolas de nível superior. Juntamente com os demais clubes de serviço, foi fundada a Associação para o Desenvolvimento Educacional de Criciúma – Adec – sob a presidência do júnior advogado Helmuth Anton Schaarschimdt. Em junho de 1968, a Adec instalava um seminário pró implantação do ensino superior levando ao Prefeito Ruy Hülse um relatório circunstanciado de tudo quanto ali fora proposto. Nesse documento, o destaque era a proposta de o Município criar uma Fundação capaz de se encarregar do ensino de 3º grau. O Prefeito Ruy, depois de analisado e discutido aquele relatório, entendeu de submeter à Câmara Municipal um projeto de lei com a proposta de criação da Fundação Universitária de Criciúma, matéria que, também foi aprovada pela edilidade sem qualquer objeção. Já no mês de setembro de 1968, nas dependências do Sindicato Nacional dos Mineradores, à época instalado no pavimento superior do Banco Inco, ali na Praça Nereu Ramos (hoje escritório das empresas Guglielmi), era feita a primeira reunião do Conselho Curador da Fucri, por convocação do Prefeito Hülse. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 102 Lá estavam o Dr. Helmuth, o Profº. Wilson Barata, o advogado Ernesto Bianchini Góes, o Profº. Carlos Augusto Borba, o vereador Algemiro Manique Barreto e o economista João Carlos de Campos. Naquela reunião foi eleita a primeira diretoria executiva da nossa Fundação que foi constituída por Carlos Augusto Borba, como presidente e João Carlos Campos, como secretário. O Conselho Técnico, formado por Carlos Antonio Dal-Toé, Walmir Antonio Orsi e Francisco Gomes Balthazar, também compareceu àquele evento. Nascia, com aquela lei e com aquela reunião, o embrião da Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina, a Unesc, entidade vanguardeira da formação intelectual da juventude regional que pesquisa e estuda a performance dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 21 de dezembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 103 VIII CLUBES, PRAÇAS & CIA. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 104 O SEIS DE JANEIRO Os grandes acontecimentos sociais dos dias atuais são reservados para os grandes clubes da cidade e do interior. Assim, Centros Comunitários, Salões Paroquiais e Clubes Recreativos do interior bem como o City Club, o União Mineira, o Criciúma Clube e o Mampituba se prestam para a realização de eventos de confraternização praticamente todas as semanas. No final do século passado e até boa parte deste que agoniza, as festas de casamento eram feitas em barracões que eram armados ao lado da casa de um dos nubentes. Todavia, desde a sua fundação,em 1926, os acontecimentos de grande porte envolvendo o sócio-político da cidade foram realizados no Clube Seis de Janeiro. Era um casarão de madeira, de um só piso, erguido no local onde temos hoje a Livraria Fátima, na Praça Nereu Ramos. No Seis de Janeiro eram discutidas as diretrizes do Partido Republicano e do Liberal assim como escolhidos os mesários das seções eleitorais dos pleitos realizados no Município. No Seis de Janeiro recebia-se o Deputado Acácio Moreira que, embora de Tubarão, defendia os nossos interesses na capital catarinense. No Seis de Janeiro eram recebidos os políticos da época. Nereu Ramos, o catarinense que presidiu o Brasil, foi recebido no Seis de Janeiro. Evidentemente que o conforto que nossos salões oferecem nos dias atuais sequer pode ser comparados ao velho Seis de Janeiro, mas que ele marcou sua época e deixou saudades, não resta a menor dúvida. E isto mostra que, também de recordações são construídos os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 17 de setembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 105 A PRAÇA NEREU Já afirmei, num dos capítulos desta série histórica, que a Praça Nereu Ramos, antes de ser a Praça Nereu Ramos que todos conhecemos, foi, preliminarmente, um largo cheio de coqueiros e palanques nos quais os italianos, quando vinham ao centro, amarravam seus cavalos e estacionavam suas aranhas, carros de bois e carroças. Depois, foi transformada num campo de futebol onde, aos domingos, a italianada jogava bola, um artefato que, via de regra, não era o de couro, consagrado na disputa futebolística atual e, sim, a bexiga de um suíno abatido em matadouro ou em casa mesmo, soprada até tomar o seu formato. Em 1930, Cincinato Naspolini determinou a sua urbanização em forma de jardim, com canteiros para flores e árvores distribuídas em todo o seu perímetro. Ela tomaria, também, a forma que a consagrou: o grande quadrado, ao lado, um jardinzinho triangular. O grande, denominado de Etelvina Luz, em homenagem à primeira dama de Santa Catarina, mulher de Hercílio Pedro da Luz. O triangular, denominado de Praça da Imigração e, mais tarde, Praça da Bandeira. Hoje, o triangular fundiu-se com o quadrado e os dois pedaços fazem o calçadão e, desde 1946, toda a praça homenageia o único catarinense que chegou à Presidência da República: Nereu Ramos. Até meados dos anos 1960, a Praça era o local da exposição: o cidadão que comprasse uma bicicleta ou uma moto ficava dando voltas na Praça para que todos o vissem pedalando um veículo novo; adolescente que aprendesse a dirigir e que tivesse um pai proprietário de automóvel se exibia à exaustão, volteando o jardim, estacionando o veículo ora aqui, ora ali, ora acolá, mas sempre numa das laterais do logradouro. Moça que quisesse arranjar namorado e rapaz que tivesse essa intenção ia passear na Praça. Aos domingos, depois da missa das 10 horas ou após a missa das 19h, a Praça ficava superlotada os rapazes estacionados, sempre em turma, e as moças, dando voltas sobre a calçada, na prática do flerte precursor de uma possível relação amorosa. Era assim, também, quando terminava a sessão cinematográfica do Cine Rovaris, plantado bem ali no centro, ao lado do futuro Della Giustina. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 106 Um político que se prezasse, não dispensava uma volta no jardim da Nereu: era a maneira de avisar ao povo que ele estava entre nós: em questão de horas o Município inteiro ficaria sabendo de sua passagem em nossa cidade. A Praça Nereu Ramos, desde os tempos em que fora um potreiro coberto de coqueiros até os dias atuais, é o logradouro referencial de nossa gente e não pode ficar ausente das grandes marcas dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 16 de novembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 107 VENDER A PRAÇA? Segundo Pedro Milanez – de saudosa memória – em seu Fundamentos Históricos de Criciúma, num determinado dia do ano de 1951, adentrava ao Café São Paulo – então um dos dois pontos de encontro dos homens grandes da cidade (o outro era o Café Rio) – e, alto e bom som, anunciava: “Vou vender a Praça do Congresso. Acabei de desenhar um loteamento para a Praça do Congresso. Quem quer comprar lotes da Praça do Congresso?”. Era o Senhor Júlio Gaidzinski. Aquele logradouro deve este nome ao Congresso Eucarístico Diocesano ali realizado no ano de 1946, cuja praça de eventos religiosos era nele localizada. Aquele terreno era de propriedade do coronel Pedro Benedet e fora desapropriado pelo Município só que o pagamento, aos herdeiros do coronel, ainda não fora feito. O Senhor Júlio Gaidzinski, que era genro de Pedro Benedet, ao anunciar o loteamento da Praça afirmava que falava em nome de todos os demais herdeiros do Coronel. Mas deixava uma porta aberta a novas negociações: dava o prazo de 30 dias para que o pagamento fosse efetuado. Ali mesmo, no Café São Paulo, boquiabertos, os presentes constituiriam uma comissão para ir ali à prefeitura falar com o Prefeito Paulo Preis e tentar impedir o loteamento daquela praça. Paulo Preis foi categórico: Criciúma não tem dinheiro para fazer o pagamento no corrente mês. A menos que algum de vocês empreste esse dinheiro, perderemos a praça, arrematou Paulo Preis. O Próprio Pedro, segundo seu livro, assumiu o compromisso do empréstimo que se efetivou naquele dia mesmo e a indenização foi paga e a praça foi salva. Ufa!... No mês seguinte Paulo Preis tomaria emprestado da Caixa Econômica Federal a importância de dois milhões de cruzeiros com os quais pagaria aquele adiantamento feito por Pedro Milanez e as desapropriações do Aeroporto do Pinheirinho. Esta é mais um das extraordinárias páginas dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 5 de novembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 108 MAÇONARIA Para falar sobre o assunto que me traz ao rádio, hoje, seria necessário, pelo menos, uma iniciação aos mistérios e ministérios dos Grandes Orientes, guias e mestres da confraria que conhecemos como Maçonaria. Houve um tempo, quando Pio X governava a Igreja Católica Apostólica Romana, que a Maçonaria – como entidade – e os maçons, por serem seus membros, foram excomungados e sobre eles se encetaria uma das mais odiosas campanhas discriminatórias. Isto corresponde tanto à verdade que as crianças de minha geração fomos educados para, sequer, pisar a calçada fronteiriça ao edifício da Loja que lhes servia de sede, no início da Rua Desembargador Pedro Silva, um pouco antes da entrada do velho Cemitério Municipal. Nossa primeira Loja Maçônica, denominada Presidente Roosevelt Nº 2, remonta a 15 de agosto de 1946. Em concorrida reunião, muitos criciumenses - que já faziam parte de Lojas de outros municípios – resolveram fundar a nossa Maçonaria. Nesse episódio foram marcantes as palavras dos doutores João Sávio Siqueira, Henrique Chenaud e Maniff Zacharias, assim como as do professor Marcílio Dias Santiago e a do comerciante Max Finster. Naquele dia foi formada uma comissão de fundação cuja constituição contemplou os nomes de: presidente, Dr. Henrique Chenaud; vice-presidente, Telósfero Machado; 1º secretário, Rodolfo da Rosa; 2º secretário, Dr. Maniff Zacharias; 1º tesoureiro, Max Finster; 2º tesoureiro, professor Marcílio Dias Santiago; vogais, Attílio Bainha, Ernesto Lacombe Filho e Hercílio Amante. Dentre os 18 presentes destacam-se Porfírio Rovaris, Angelo Lacombe, Ludovicco Piazza, Gelson Vieira e Agenor Faraco. Desde 1946 até os dias presentes – agora com dois templos em nossa cidade – a Maçonaria tem trabalhado em campanhas de filantropia, sempre no anonimato. As relações atribuladas que marcaram os primeiros dias de sua vida em nosso meio são diametralmente opostas àquelas do primeiro momento e, de mãos dadas com todos os segmentos produtivos do social do nosso município, a Maçonaria tem contribuído, de maneira destacada, para o nosso desenvolvimento. A discriminação faz parte do passado, a Maçonaria já disse para o quê veio, e os maçons são parte viva dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ............................................................................................................ Publicada dia 16 de dezembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 109 ROTARY CLUB Até o final dos anos 70, os clubes de serviços implantados na comunidade eram considerados como a terceira força do poder constituído do município. Rotary e Lions Clubes impunham tanto respeito junto ao cidadão comum que, não raras vezes, recebiam citação honorária antes mesmo de algumas autoridades constituídas. Tudo porque, não obstante o caráter de cada um dos seus integrantes, a corporação, no seu todo, trabalhava incessantemente em prol da comunidade. As campanhas comunitárias lideradas por um e outro Clubes recebiam, de pronto, a colaboração de toda a cidade. Destaquemos o Rotary Clube, o mais antigo deles todos, fundado aqui em 18de abril de 1948. Uma de suas características é ter como membros, um profissional de cada ramo de atividade obreira. Assim, naquele ano, para dirigir a entidade, eram eleitos Presidente Sinval Rosário Bohrer, Vice Presidente Artur Albino de Almeida Cirino. Na Secretaria, Roberto Bessa e Wilson Barata; na Tesouraria, Francisco Corbetta e Agenor Faraco; o protocolo ficou a cargo de José Pimentel e Carlos Otaviano Seára fora eleito Diretor Sem Pasta. Já em 1951, as esposas dos rotaryanos fundavam o Baú dos Pobres que, a exemplo de entidades que hoje ainda operam em nosso meio, fazia filantropia distribuindo bens e alimentos para famílias necessitadas. O grande destaque das realizações encabeçadas pelo Rotary, todavia, é o Bairro da Juventude, denominação atual dada à Sociedade Criciumense de Auxílio aos Necessitados, a Scan. Isto ocorreu no ano de 1949 e ainda é considerado um dos grandes marcos das atividades sócio-comunitárias de nossa gente. Com o apoio de todas as forças vivas do município, foi encetada uma grande campanha para a construção das casas que abrigaram os primeiros necessitados seguida de outra, também de grandes dimensões, em busca de contribuintes contumazes da obra que fora abraçada pelos padres Rogacionistas. Aí era costume ver-se, às portas das residências do perímetro urbano da cidade, uma plaqueta de latão esmaltado com a inscrição: “Contribuinte da Scan”, facilitando o trabalho dos cobradores Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 110 voluntários que faziam todo o trajeto do sistema viário de Criciúma em busca dos donativos mensais. Com uma folha de serviços prestados ao município altamente significativa, o Rotary Club também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 24 de novembro – quarta –feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 111 ACIC Um dos segmentos mais dinâmicos do progresso experimentado por nosso município nos últimos 50 anos é o do comércio. Caixeiros Viajantes que nos visitavam no final dos anos 30, transmitiam àqueles estabelecidos com casas comerciais, as mudanças que o ramo dos negócios ia imprimindo. Nossos comerciantes captavam, à medida do possível, tais notícias e, respeitadas suas capacidades, iam modernizando o setor da nossa velha Cresciuma. Os responsáveis pela transação comercial do centro da cidade, que se viam todos os dias nos cafés da praça, começaram a trocar idéias sobre a necessidade de ser fundada uma Associação que, ao mesmo tempo em que os representasse, cuidasse de seus interesses. Em pleno período de guerra – a II Guerra Mundial – nascia a Associação Comercial de Criciúma. Era 18 de junho de 1944. Paralelamente, o setor industrial também deixava a mono indústria da extração do carvão mineral e enveredava por outras iniciativas. E isto é tão verdadeiro que, a 30 de setembro de 1951, aquela entidade passou a ser chamada de Associação Comercial e Industrial de Criciúma. Foi seu primeiro presidente – e permaneceu no cargo até 1951 - o Senhor Antônio Roque Júnior, da Casa Roque, estabelecida à esquina da Conselheiro João Zanette com a Marechal Floriano. Depois vieram José Pimentel, Wilson Barata, Antônio Caldeira Góes, Octacílio de Bem, Domerval Zanatta, José Antônio Bongiollo, Jayme Antônio Zanatta e Carlos Alberto Barata. Em 1993, foi seu presidente o empresário Guido José Búrigo que entendeu de dedicar expediente exclusivo à entidade. Presidiu até 1997, período no qual promoveu uma verdadeira revolução na Associação. Hoje, com a presidência às mãos do empresário Álvaro Roberto de Freitas Arns, a Acic – como é conhecida – é a vanguardeira na defesa dos interesses sócio empresariais de Criciúma, estendendo seus tentáculos aos municípios vizinhos na visão macroeconômica de que o progresso dos que nos circundam reflete-se de forma imediata em nosso meio. Pelo que representou e representa para o município, a Associação Comercial e Industrial de nossa terra também é parte integrante dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 25 de novembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 112 O TIGRE Hoje vou falar de futebol. Pretendo falar do Criciúma Esporte Clube, o nosso “Tigre” velho de guerra, que tantas paixões nos têm provocado. Era igual a tantos até que - incrível! - conquistou um campeonato nacional: a Copa Brasil, do ano de 1991. Aí, pensou que era o “tal” e, num processo decadente, vai disputar a terceira divisão do futebol nacional no charmoso, especial e histórico ano 2000. Tudo começou em 1924, naquele 18 de maio, quando Abílio Paulo, Heriberto Hülse, Hercílio Amante, Aníbal Milioli, Hércules Guimarães, Francisco Meller, Adelpho Garbelotto, Basílio Romancini, Julio Gaidzinski, Elias Angeloni, Otávio Minatto, Adolpho Colle e tantos outros, num total de 54 homens, fundavam, numa sala da Cooperativa Vitória, o Mampituba Futebol Clube. A rigor, foi o nosso primeiro clube de futebol. Esse clube, num futuro não muito distante, seria transformado na Sociedade Recreativa Mampituba, conhecida de todos nós. Dali pra frente seriam muitos os clubes de futebol distribuídos no território criciumense. 23 anos depois, a 13 de maio de 1947, um grupo de jovens da cidade, entende de fundar um clube de futebol. Foram eles: Antenor Longo, Anísio Cardoso, Carlos Augusto Borba, Clemente Hertel, Eddie Barreiros Mello, Hamilton Prates, Hercílio Guimarães, Homero V. Borba, Jacob Della Giustina, João Antunes, João Batista Brígido, José Carlos Medeiros, Jurê João Borba, Lédio Búrigo, Nelson João Garcia, Nicolau Destri Napoleão, Pedro Canarin, Rui Passavante Rovaris, Salentino Ramos, Sinval Rosário Boherer e Zélia Guimarães Machado. Nascia o Comerciário Esporte Clube que, em 1978, sob a liderança do empresário Antenor Angeloni, trocava a cor azul pelo amarelo, preto e branco e se transformaria nesse clube que tantas glórias deu ao nosso povo. Quando Abílio Paulo, lá nos anos 20, liderava a rapaziada para fundar o Mampituba Futebol Clube, com toda certeza não ousou pensar que, um dia, seus sucessores chegariam ao pódio no qual subiu o Criciúma Esporte Clube. Mas, também se pode afirmar que, naqueles magros anos da década Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 113 de 1920, o Mampituba, reservadas as proporções, espargia emoções como o faz o nosso “Tigre” contemporâneo cujos diretores não medem esforços para sustentar sua grandeza. É verdade que os tempos atuais são bicudos e projetam expectativas sombrias. Mas, a tradição futebolística, que nasceu com o Mampituba, temperada com os grandes Ouro Preto F. C., São Paulo F. C., E. C. Metropol, Atlético Operário Futebol Clube, E. C. Próspera e Comerciário Esporte Clube, representada hoje na garra desse grande Criciúma Esporte Clube, haverá de ser honrada e o nosso “Tigre” resgatando o respeito de que sempre foi merecedor. É impossível deixar de falar dessa paixão, quando se fala dos 120 anos de história de Criciúma, este Orgulho de Cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 17 de novembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 114 UESC 1958. Nosso carvão vivia mais uma de suas incontáveis crises. Na Praça Nereu Ramos, no coreto que havia bem ao pé da figueira plantada pelo ex prefeito Cincinato Naspolini, políticos, mineiros e estudantes acotovelavamse para participar do movimento “O Carvão é Nosso”. Discursos e mais discursos, dentre os quais o de Nereu Guidi que representava a classe estudantil que freqüentava bancos escolares em Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Aplaudido freneticamente, Nereu faria parte, dali pra frente, da Comissão de Alto Nível que discutiria os problemas do carvão com as autoridades da República. Aquele discurso foi o embrionário da formação da Uesc – União dos Estudantes Secundários de Criciúma, em 1959 e que tantos serviços prestou à cidade até 1964, quando brutalmente foi obrigada a cerrar suas portas. Das tantas e tão auspiciosas campanhas desencadeadas pela Uesc, salta à memória, sempre, a criação do Curso Científico do Colégio Marista e a Semana do Estudante comemorada anualmente com a participação de todos os colégios. Foi seu presidente, em 1959, Fúlvio Naspolini, depois, pela ordem: Olímpio Vargas, Archimedes Naspolini Filho, Rodeval José Alves, Lúcio Nüernberg, novamente Archimedes e, por último, Eno Steiner. Pode-se afirmar que, enquanto viva, a Uesc foi referencial de organização estudantil em Santa Catarina e, na cidade, raramente deixava de ser ouvida em questões comunitárias. Seu desaparecimento amordaçou a juventude estudiosa local que, depois desse tempo, nunca mais se organizou como àquele tempo. Todas as iniciativas nesse sentido têm sido efêmeras e não vingam. Pena! Os estudantes, pela sua União de Estudantes, também fazem parte deste orgulho de cidade que comemora os seus 120 anos... ........................................................................................................................... Publicado dia 9 de julho – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 115 O SINDICATO Desde 1926, Criciúma e o Sul de Santa Catarina convivem com a ilustre figura do mineiro, assim denominado aquele cidadão que trabalha na indústria da extração do carvão mineral. Lá no início, apenas aqueles das minas de Paulo de Frontin, depois CBCA; mais tarde, os da Próspera e os das empreiteiras. De repente, milhares deles, distribuídos em frentes de trabalho esparramadas em todos os quadrantes do município. Nos primeiros anos, as obrigações e deveres de parte a parte, entre o mineiro e o minerador, eram ditados pela ética, pelo bem senso, pelos costumes, pelo fio de bigode. Depois, especialmente na era Vargas, com o advento das leis trabalhistas, o relacionamento foi ficando mais espaçado e a distância entre um e outro foi encompridando. Uma entidade que cuidasse dos interesses classistas foi introduzida no trabalhismo brasileiro: o sindicato. Era 1950. A 10 de dezembro daquele ano, tomava posse a primeira diretoria do primeiro sindicato dos mineiros de Criciúma, recém-fundado, com Galdino Amaral na presidência. Dali, até o falecimento da extração mineral de carvão de pedra em território criciumense, a história foi escrita de maneira diferente. Aquele pacato sindicato nascido ao final de 1950 seria transformado numa das mais respeitáveis e temíveis forças do operariado de nossa terra. Bastava o anúncio da presença do Sindicato dos Mineiros para se mudar o curso de um episódio qualquer quando não para, simplesmente, cancelá-lo. As greves patrocinadas pelo Sindicato dos Mineiros tinham repercussão nacional. Forças militares e para-militares eram transportadas para Criciúma antes e durante o movimento paredista promovido por aquela entidade. A par de garantir emprego e aumento salarial para seus sindicalizados e para a própria categoria, o Sindicato impingia, também, em alguns casos, medo a população que se via à mercê da entidade, especialmente no final dos anos 50 e início da década de 60. Depois, por manobras político-patronais, o Sindicato foi fracionado com a criação do de Rio Maina e a força foi reduzida. Hoje, o Sindicato dos Mineiros de Criciúma – e os de toda a Região – vivem, praticamente, das recordações do seu gigantismo de ontem. É impossível deixar de inserir o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração de Carvão, nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! .......................... Publicado dia 20 de outubro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 116 IX ESTRAMBÓTICOS Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 117 E O GELO? No elenco de atividades direcionadas à realização de um evento qualquer, uma das preocupações que aflora, imediatamente, é a bebida e o gelo. Não se admite o consumo de qualquer bebida que não seja gelada. Mas... como é que era lá no início da nossa Criciúma, quando não havia distribuidor de bebidas, geladeira, nem câmara frigorífica por aqui? Frederico Minatto, como já se viu, tinha uma fábrica de cerveja, bem doméstica, bem de Cresciuma. Mais tarde, Cincinato Naspolini fez a sua fábrica, um pouco mais sofisticada, ali na Operária Velha. Antes, durante e depois deles, todavia, a cerveja vinha de Joinville, da Antártica, em caixas de 48 garrafas cada qual empalhada com palha de trigo ou de arroz. Chegava aqui por via férrea e era descarregada na Estação da Paulo Marcus. A cachaça era fabricada pelos Zanette, Pavei, Dal Pont e Rosso, no Morro Estêvão, no Morro Albino e na Mina do Toco. O Vinho vinha de Pedras Grandes, Azambuja e Urussanga embora por aqui algumas famílias já o fabricassem. E o gelo? O gelo, prezado ouvinte, vinha de Laguna, onde era fabricado para o consumo do porto pesqueiro. Era despachado para cá, em barras acondicionadas em caixas ou barris e cobertas com grossas camadas de serragem. O transporte também era o ferroviário e todos sabiam quando haveria festa pelo número de caixas de gelo que o trem transportava... e, se não fosse bem acondicionada no pó de serra, a barra se esvaia no próprio trajeto deixando os festeiros a blasfemar... Às vezes, foram gelados alguns dias dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 16 de setembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 118 SAFADINHO, O PREFEITO. Em setembro de 1936, Criciúma conheceria o Decreto Nº 14 cujas características, hoje, merecem, no mínimo, alguma consideração. Aquele diploma legal autorizava o Prefeito a contratar um médico para o Município assim como fixava em duzentos mil réis mensais os seus honorários. Dizia mais: aquele médico deveria ser diretor do Hospital São José obrigando-se a conceder consultas a pessoas pobres assim como responsabilizar-se pela prática de cirurgias se estas viessem a ser exigidas. Relativamente a discriminar quem era pobre, para receber tais atenções do médico municipal, o artigo primeiro daquele decreto determinava: “aqueles que apresentarem um cartão visado pelo Prefeito Municipal”. Tinha que ser... estava bom demais para os parâmetros do nosso cotidiano. Todavia, vamos imaginar que a probidade e o caráter do Prefeito jamais seriam questionados no que diz respeito às indicações que provavelmente fazia ao facultativo do nosso São José... No Brasil dos 500 anos, essa prática foi exercitada com despudorada freqüência e aí estão, todos os dias, denúncias de apadrinhamento de pessoas que não precisam, necessariamente, do auxílio público, em detrimento de outras tantas que sucumbem em corredores de casas de saúde porque, pobres, não têm acesso à medicina. Como o final da década de 30 ainda não apresentava o cinturão de miséria que hoje nos aflige já que havia trabalho para todos, fiquemos apenas com a letra fria do decreto: apenas os doentes comprovadamente pobres eram apresentados ao médico municipal por cartão do prefeito de nossa terra. Esta não deixa de ser uma historinha safadinha dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 29 de outubro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 119 CAVALO CRESCIUMA Em 1835, quando nem se falava na Vila São José de Cresciuma, era criada a Força Pública do Estado de Santa Catarina, constituída por regimentos de cavalaria montada com três ramificações: a Cavalaria Florestal, a Cavalaria Rural e a Cavalaria Urbana. Para ser policial daquela Força, o interessado deveria possuir um animal eqüino e comprometer-se a cobrir as despesas com a sua manutenção. Como não havia veículo de tração motora, o policiamento era feito por homens montados em animais. Já na década de 1910, nossa Polícia Militar levava várias unidades para o interior do Estado e, naturalmente, necessitava de animais – além daqueles de propriedade dos próprios soldados. Aí, fez-se uma campanha estadual para ampliar a tropa dos eqüinos, a qual durou até 1930. No dia 16 de março de 1926, nosso Superintendente Marcos Rovaris, recebia um telegrama vazado nos seguintes termos: “De posse belo cavalo oferecido por esse município tenho muito prazer agradecer-vos boa vontade acolhimento meu pedido e conseqüente pressurosa realização. Cavalo oferecido recebeu nome desse município. Cordiais Saudações, Comandante Lopes”. Era o comandante da Polícia Militar de SC, Coronel Pedro Lopes Vieira, agradecendo o cavalo que Criciúma ofertara à tropa da nossa gloriosa Cavalaria Montada. Este também é um fato inusitado dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 3 de setembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 120 OS JAGUNÇOS DO LEONEL - I Havia uma jagunçada emboscando vilas em todo o Sul do Brasil. Eram os jagunços remanescentes de grupos revolucionários, especialmente gaúchos que, escorraçados pelo poderio militar, deixaram o país entrando clandestinamente em território, da Argentina e do Paraguai e desses, retornando para o Brasil para promover o caos. Em novembro as forças rebeldes de Leonel Rocha entraram em território catarinense, pela fronteira argentina causando terror por onde passavam e vieram sediar-se no planalto serrano com alguns focos em Urubici e São Joaquim. O clima era tenso e o medo tomava conta do litoral já que a jagunçada prometia vir para cá pelas serras de São Bento Alto e Grão Pará. Nosso Superintendente, Marcos Rovaris, não se fez de rogado e, imediatamente mandou o seguinte telegrama ao Governador Adolfo Konder: Devido perigo eminente invasão revolucionários consulto se conveniente dada falta de munição, dinamitar Serra São Bento evitando invasão. Responda urgente.” O telegrama revelava que a população estava indefesa e que, ainda que fosse para se ganhar tempo, dinamitar o caminho dos tropeiros, na Serra de São Bento Alto, poderia ser uma boa alternativa. O Governador responderia: “Não convém dinamitar a Serra e sim guarnecê-la. Deputado Acácio Moreira seguirá amanhã para aí e resolver como mais acertado for.” Viram, como também de tensão foram construídos os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade? ........................................................................................................................... Publicado dia 13 de setembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 121 OS JAGUNÇOS DO LEONEL – II Como vimos ontem, os jagunços de Leonel Rocha queriam entrar no litoral, descendo pela Serra de são Bento Alto cujo território, em 1926, pertencia ao Município de Criciúma. Marcos Rovaris quis dinamitar a serra e o governador recomendou que não o fizesse. Os civis receberam armas das Forças Armadas, através do Superintendente de Tubarão, Otto Fuershuette, e uma guarnição foi cuidar especificamente da Serra. Isto era o final de 1926. Já no dia 8 de janeiro de 1927, Marcos Rovaris receberia este telegrama de Adolfo Konder, nosso Governador: “Faço esta comunicação de Bom Retiro onde em pessoa estou tomando medidas para intensificar campanha perseguição revoltosos chefiados pelo caudilho Leonel Rocha. No distrito de Urubici foram presos por um piquete, civil, organizado e armado pelo governo do estado seis rebeldes entre quais três oficiais inclusive Major Sonias Enéas chefe do estado maior de Leonel Rocha e seu comando militar. Sonias Eneas era um verdadeiro chefe de coluna, Secretário do General Izidoro Lopes. Os outros oficiais são majores Edgar Bins e Alfredo Pimenta Gohne. Com a prisão seu comandante e principais dirigentes coluna revolucionário dispersada podendo considerar-se o movimento como definitivamente dominado. Estamos fazendo todas as diligências para capturar caudilho Leonel Rocha e os remanescentes de grupo destroçado limpando assim definitivamente território estado dos bandoleiros que invadiram. Hoje retornarei capital levando oficiais e praças prisioneiros. Congratulo-me Vossa Senhoria por mais essa notável vitória das forças legais. Saudações, Adolfo Konder, Governador”. E daí a paz retornaria no caminho dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 14 de setembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 122 DESASTRE AVIATÓRIO Por algumas vezes já falei de aviões, aqui no espaço dos 120 anos de nossa história. Hoje retorno ao assunto e, desta feira, para reportar-me a um acidente havido em nosso território, em 1920, portanto, há 79 anos... O avião era um hidroplano de fabricação italiana. Proveniente do Rio de Janeiro descera, pela última vez, em Florianópolis e dali decolara com destino a Buenos Aires. Pertencia ao Aeroclube do Brasil. A tripulação era formada por Aliatar Martins e John Pinter, este de nacionalidade inglesa. Houve pane no motor daquela pequena aeronave e, avistando a Lagoa dos Esteves, fizeram as manobras necessárias e nela desceram. Em solo, a surpresa era geral: imagina só um avião descendo nos Esteves... Às margens do lago, foram conduzidos à presença do Inspetor de Quarteirão, Amaro Maurício Cardoso que hes ofereceu toda a ajuda necessária para o conserto do avião. Nisto, aliás, tantos quantos por ali residiam, foram solícitos. Quando deram o aparelho por reparado, dispensaram os populares e, como sempre, foram mover a manícula já que aquele tipo de avião não possuía motor de arranque. Não se sabe como, o avião não arrancou e, pior, os dois faleceram na operação de fazê-lo arrancar. No dia seguinte a notícia chegava a Araranguá e Bonifácio Sardinha, comerciante e político local, distorcendo tudo, mandou avisar ao Governador Hercílio Luz que os dois faleceram não em acidente, mas fruto de homicídio. E mais: que os ribeirinhos da Lagoa eram os culpados pelas mortes. Aí, deu o diabo... Se não bastasse terem “matado” um aviador brasileiro ainda tinham dado fim a um inglês... A polícia, em grandes pelotões, originária de Florianópolis, viajando de trem até Esplanada e a cavalo ou a pé até a Lagoa, buscava os assassinos... O consulado inglês exigia uma explicação. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 123 Foi feita uma sessão espírita, na qual a alma de um deles teria comparecido para afirmar que o matador era um tal de Severiano e que os corpos estavam enterrados no quintal de sua casa. Procurou-se o tal de Severiano que, ao ser encontrado, não bastasse ter sido preso, teve o quintal de sua casa totalmente esburacado na procura dos cadáveres... Nada se achou. Quinze dias depois, apareceria boiando nas águas da Lagoa, o primeiro dos corpos. O segundo boiaria no dia seguinte, próximo da aeronave que flutuava sobre as serenas águas da Esteves... Não é uma história de terror escondida nos 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade? ........................................................................................................................... Publicado dia 3 de novembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 124 BENZEDURA Em outra oportunidade já nos ocupamos da dificuldade de recursos médicos na Colônia de São José de Cresciuma, como era denominado o nosso chão nos primeiros tempos. Essa dificuldade deu oportunidade a que algumas pessoas, em nome da mediunidade ou simplesmente por curiosidade, enveredassem pelo caminho da benzedura, criando orações e rituais para afastar maus olhados ou para curar doenças. Com nove folhas de um arbusto muito comum dos potreiros, de nome “aça peixe”, amontoadas à mão em forma de cruz, o paciente era curado de cobrelo, por exemplo, com a reza “cobrelo brabo, te corto o rabo e a cabeça pra ti morrer”. Enquanto era pronunciada a reza, as pontas das folhas iam sendo cortadas com tesoura exatamente cobre o local da infecção e, depois de uma novena de tal celebração, o tal do cobrelo desaparecia. Dona Jonas, ali do outro lado dos trilhos, era a mais famosa benzedeira para esses casos. Sua casa localizava-se, mais ou menos à Rua Joaquim Nabuco, aonde hoje temos um supermercado. À época, um grande potreiro com uma grande cancela confeccionada de enormes varas de eucalipto... E isto também fez parte da cultura dos primeiros anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 13 de julho – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 125 RACISMO Os anos 30 encontraram Criciúma ainda uma vila pacata embora há cinco anos sede de um município, com uma extensão territorial razoavelmente grande: dele faziam parte os territórios de Nova Veneza, Içara e Forquilhinha. As poucas pessoas que habitavam nosso chão, ainda eram – praticamente todas – italianas e/ou descendentes de italianos. Os poucos que não tivessem essa origem marchavam com esses fosse qual fosse a direção. Nesses anos 30, trabalha na cidade um inspetor escolar e professor de cor negra, Agrícola Índio Guimarães, aqui chegado no início dos anos 20. Bom, não é preciso dizer que era um caso seríssimo para os nossos ancestrais, racistas como eles só... Aos trancos e barrancos, com obstruções e má vontade de toda parte, o Professor Agrícola viu-se obrigado a deixar Criciúma, retornando a Florianópolis. Esta é uma página melancólica dos 120 anos de nossa história. Ela serve para mostrar que ninguém é superior a ninguém e que é necessário somar os esforços de todos para a contínua a sagrada tarefa de construir o nosso progresso. A propósito, Agrícola Índio Guimarães é nome de rua, no Bairro Comerciário, quem sabe em desagravo deste orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 20 de julho – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 126 A LADROEIRA DO TIDINHO Doze anos depois de o nosso território estar sendo desbravado, eis que começa a se organizar o nosso comércio. Até meados de 1900, os gêneros eram trocados por gêneros e havia pouca transação envolvendo moeda. Esse tipo de negócio estava reservado para os centros regionais de Araranguá, Tubarão e Laguna. Mas, já no ano de 1901 eram contados os armazéns de secos & molhados de Pedro Benedet, Frederico Minatto, Antônio de Luca, João Targhetta, e outros... Em 1920, nasceu o grande estabelecimento comercial: a Cooperativa Vitória, uma sociedade por cotas envolvendo praticamente todos os chefes de famílias da vila São José de Cresciuma. Localizava-se na esquina das Ruas João Zanette com Marechal Floriano e atendia a toda a região. Dez anos depois, outro grupo, agora de agricultores, fundava a Cooperativa Agrícola, outro forte estabelecimento comercial que atendia a todos os produtores rurais deste e de outros municípios. Funcionou sempre em prédio próprio, na Rua Henrique Lage, onde hoje está estabelecida a União Comercial. Mas, merece destaque, pelo inusitado, um estabelecimento comercial que deu o que falar, no início dos anos 40 e até cerrar suas portas, por volta de 1950: a Ladroeira do Tidinho. Era um armazém que vendia de tudo: desde fumo de corda até seda para vestido. O que se imaginasse, a Ladroeira do Tidinho vendia. Estava ali, na Conselheiro João Zanette, exatamente aonde hoje temos o União Turismo Hotel. Seu proprietário era o lagunense Erotides Prates que, ao fechar o estabelecimento, retornou à Terra de Anita Garibaldi. A Ladroeira do Tidinho recebeu este nome em homenagem aos preços que praticava: verdadeiros absurdos. Mas o pessoal ia lá e comprava por dois motivos: eram produtos bons e o Tidinho uma simpatia... A Ladroeira do Tidinho fez por merecer sua inscrição no folclore dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 8 de setembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 127 OS FOLCLÓRICOS Qualquer cidade, por mais pacata que possa ser, possui seus vultos que, de alguma forma, a comunidade consagra. Lá pra traz, ficou o Ataualpa que a cidade conheceu como Atuarpa, um alcoólatra mal vestido que chegava às casas do perímetro urbano e, a troco da comida e algumas moedas para a cachaça, picava lenha para os fogões das grã-finas... O Fausto, que cantava e dava três pulinhos, no pátio da Estação Ferroviária... Tivemos o Bahia, um homem de cor que vendia bilhetes de loteria, dono de uma inseparável conjuntivite... Tivemos o Jardineiro, um homem forte que amedrontava crianças e púberes que o encontrassem ao longo das ruas... Tivemos o Nego João, que o Fiobo Minatto – este um dos mais famosos do reino do folclore local – jurava que comeria em conserva... O Fiobo, de nome Fiovo, só em ser chamado de Fiobo, já iniciava uma briga. Foi preso seis vezes e teve contra si 26 processos. Temido, odiado, era o terror das crianças. “Ou tu paras de chorar ou vou chamar o Fiobo” e, pronto, o choro terminava... Tivemos a Dona Lúcia, mais conhecida como Lúcia Papuda, que morava num casebre bem na esquina da João Pessoa com a Henrique Lage, onde hoje há um edifício semi acabado... O Bateria, de nome da mais fina casta monárquica: Jovito Thiago Álvaro de Campos; O Vardivino que vivia com uma trouxinha às costas, suspensa sempre por um pedaço de pau que mais se assemelhava a um fueiro de carro de bois... O Catolé, naquela sua vestimenta nordestina, fazendo um tipo que, de longe, se fazia distinguir por qualquer vidente. O Coringa e o Mozart e o Burriquete, este sim, ainda nas retinas de quase toda a população, personagem diuturno de nossas ruas e praças... Ruas, praças e o pátio da Estação que conheceram bem o Fausto que cantava e dava três pulinhos... Cada um ao seu modo e ao seu tempo, eles todos, um a um, escreveram – como não?! – um pedaço dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 9 de agosto – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 128 X HOMENS & MULHERES Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 129 E AS MULHERES? E as mulheres? Que papel desempenharam as mulheres, nestes 120 anos de história? Pois é, as mulheres... Atrevo-me a afirmar, sem consulta a qualquer bibliografia, que, lá no início, nos anos 80 do século passado, elas foram a alavanca que deu coragem à italianada que, desesperada com o “status qüo” da colonização, já pensava até em abandonar tudo e voltar para a Itália ou emigrar para a Argentina. Imaginemos só, o colono voltando da mata, onde fazia a derrubada, ou da plantação de milho ou de feijão, desesperado pela perspectiva até sombria do dia de amanhã... Não fosse a palavra da mulher, transmitindo-lhe otimismo e “garantindo” que o futuro é dadivoso, e tudo partiria para o caos, tal o desânimo daqueles desbravadores... Nas primeiras empreitadas, ela ombreou par-e-passo com o homem. É verdade que a história só fala dele. Mas é fácil ler nas entrelinhas que, se não fosse ela, o sucesso alcançado na colonização não seria contabilizado da maneira como o foi. Ela cuidava dos afazeres domésticos, do quintal, do jardim... Ela encontrava tempo, ainda, para ajudar o marido na roça, para ensinar doutrina para as crianças, para ensinar corte-e-costura para as filhas. Para as festas, o marido convidava os comensais e era ela quem cuidava da casa e da comida. E haja comida... Depois vieram os tempos da mineração do carvão. Aos homens competia ir arrancar, no subsolo, o negro mineral representado que, sempre, vinha para a luz do dia misturado a impurezas minerais. Novamente entrava ela, a mulher, para fazer a escolha do mineral: com um martelete à mão, sem calçar luvas, vestindo avental ou sem ele, ali estava ela passando pedra por pedra, separando o carvão da perita. Aí veio o tempo contemporâneo e novamente encontramos a mulher exercendo papel preponderante no nosso dia-a-dia: como dona de casa, como educadora, como funcionária, como profissional liberal, na prestação de um rosário de serviços ao próximo, particularmente, e à comunidade, como um todo. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 130 Com a enxada nas mãos, capinando para o plantio ou fazendo a polenta e o feijão-com-arroz de ontem e dos dias de hoje; de professora a parteira; de catadora de papel à empresária; de faxineira a motorista; de balconista a médica, sempre contribuindo com o processo produtivo de nossa gente, a mulher, sem esquecer a sua feminilidade e o papel de mãe e esposa, escreveu com caligrafia de ouro os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 17 de dezembro – sexta – feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 131 AS PARTEIRAS Nos primeiros tempos, a visita de um médico era motivo para festa: a falta de meios de comunicações, especialmente estradas, impedia que os facultativos de Laguna e Tubarão – à época os nossos maiores centros urbanos – chegassem até nós, com freqüência. E olha que as doenças graçavam... A necessidade de mão de obra para desbravar nosso chão, fez com que todos os chefes de família planejassem o tamanho de seus respectivos rebanhos em, pelo menos, uma dezena de filhos. E os partos? Bom, se a “bolsa rompesse” durante a visita de um doutor, este se encarregaria desse mistér. Caso contrário, cabia às mulheres mais idosas a tarefa de aparar os italianinhos... Essa prática de se desenvolveu até, pelo menos, os anos 60 e era comum cada localidade ter a sua parteira. Era a dona Úrsula, a dona Emília, a dona Maria Zanette, a dona Irma, a Valentina, a Lúcia, a Estácia, a Josephina, a Amália, a Marieta, a dona Luiza Becke... enfim, um batalhão de valorosas mulheres, cada uma se encarregando de todos os afazeres desse sagrado ofício, contribuindo para a feiura dos 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 6 de julho – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 132 PROFESSORA Hoje é o dia do Professor. Ah se não fosse o professor!... Que fale a Dona Iria Zandomênego de Luca, que a tantos educou para a vida... Nossos colonizadores chegaram aqui em 1880. Do grupo, faziam parte crianças e jovens que, como ocorre nos dias de hoje aqui e em todo o mundo, necessitam estudar. E daí? Estudar o quê, quando e aonde? Duas notícias nos foram transmitidas ao longo dos tempos: a primeira dá conta de que os mais afortunados, culturalmente, tomaram para si os sagrados encargos de ensinar e que isto era feito nas próprias casas dos italianos ou na capela de São José; a segunda é a de que o governo italiano, através do consulado, pagava professores e fornecia material didático aos educandos. Em 1895, o Governador Hercílio Luz nomeava o professor Hector Bernhardt para ministrar aulas aos colonizadores. Foi ele, então, Hector Bernhardt, o nosso primeiro professor. Já a primeira escola só viria no ano seguinte, em 1892 contando com a participação de Giacinta Cóccolo, Fermo Antéa, João Batista Targhetta. Giovanni Zanette, Davide Carlesse e Luiza Gregorini. Em 1902, o Jornal La Pátria, editado em Urussanga, estampava um anúncio, em italiano que, traduzido para o português dizia ter recebido a relação das escolas da região, dentre as quais a de Cresciuma e a de Primeira Linha-Cresciuma. Na da sede, 29 alunos masculinos e 22 femininos e na de Primeira Linha, 24 meninos e 20 meninas perfazendo um total de 130 alunos matriculados. Em 15 de março de 1932, O Interventor Federal Ptolomeu Assis Brasil baixava o Decreto nº 261, com o qual criava o Grupo Escolar Professor Lapagesse, um estabelecimento escolar misto que seria instalado a 21 de maio de 1933, sob a direção do Professor Silvio Berendt e tendo como primeiras professoras Albina Piazza, Maria Piazza e Adélia Pacheco. O velho Lapagesse foi erguido no local da antiga igreja de São José, na Praça Nereu Ramos, exatamente no local onde temos hoje a Casa da Cultura. Nos anos 40 foi transferido para o moderno estabelecimento que enriquece a Rua Marechal Floriano onde educa significativa parcela da juventude de nossa região. Sustentáculo da base do progresso de qualquer nação, a educação – e o professor – tem lugar de destaque dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 15 de outubro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 133 SANTA, LENA, ALÉSSIO: BELAS MISSES Nossa primeira investida na escolha da mulher mais bonita do município remonta a 1920. É provável que, mesmo antes dessa data, nossos antepassados já escolhiam – se não pública, mas com certeza reservadamente – a mais bela cresciumense. O registro da escolha da mais bela mulher de Criciúma está estampado no Jornal “A Imprensa” de Orleans, edição de 11 de julho daquele ano. A escolha era feita por voto subscrito em recorte do próprio jornal e para ele endereçado pelo leitor. Evidentemente que o veredicto merece reparos, todavia a escolha era formalizada. E foi eleita, com 26 votos, Santa Amante, como a nossa primeira Miss. Mais tarde, em 1955,Criciúma conheceu a sua grande Miss, Valquíria Luz, hoje senhora Hélio Souza. Já na década de 1970, quando o concurso tomou volume, Criciúma teve reconhecido destaque junto ao concerto da beleza feminina catarinense. Marilena Vieira e Maria Hermínia Aléssio, depois de escolhidas em disputado certame local, receberam o cetro de mais bela catarinense em concurso estadual realizado em Blumenau e foram defender a mulher de Santa Catarina no Miss Brasil em Brasília... Algemiro Manique Barreto chegou a editar uma lei municipal, quando Prefeito, instituindo oficialmente o concurso de Miss Criciúma, que deixou de ser realizado. Faço este registro para mostrar que, nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, merece sempre ser destacada a graça e a beleza da mulher criciumense. ........................................................................................................................... Publicado dia 22 de setembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 134 FREDERICO MINATTO O personagem de hoje veio da Itália, onde nasceu em 1863. Trata-se de Frederico Minatto. Imigrou com 13 anos de idade e foi morar, com sua família, na localidade de Pedras Grandes. Aos 15 anos casava-se, em Tubarão, com Narcisa Dandolini e dessa união nasceriam Galdina Minatto Cechinel, Julia Minatto Minotto, Fiobo Minatto, Enerino Minatto, Lina Minatto Rabelo, Maria Teresa Minatto Beneton e Otávio Minatto. Migrou para Criciúma em 1892, aqui se estabelecendo com fábrica de banha, uma cervejaria e um estabelecimento comercial – um armazém de secos e molhados. Um dos primeiros mineradores de carvão de toda a região explorou o mineral na Mina Brasil. Foi subdelegado e delegado de polícia. Na emancipação do município, exerceu papel importante. Oferecendo um prédio de sua propriedade para instalar os serviços burocráticos da Prefeitura, na Praça Nereu Ramos. Na primeira legislatura, exerceu o cargo de tesoureiro do Município. Foi presidente do Partido Liberal, uma das grandes forças partidárias da velha república. Foi, sem dúvidas, um dos mais poderosos da velha Criciúma, respeitado pela sua reconhecida inteligência e pelo seu patrimônio econômico. Faleceu a 9 de setembro de 1958, contando 95 anos de idade. Frederico Minatto escreveu, com caligrafia clara e letras maiúsculas, um pedaço dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 25 de agosto – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 135 ERNESTO, O CORONEL Hoje falo de outro grande vulto de nossa história. Em poucas linhas tento retratar o perfil biográfico de Ernesto Lacombe, gaúcho de Jaguarão, onde nasceu a 29 de junho de 1879. Descendia de franceses, pela ascendência paterna e de argentinos, pela materna. Era casado com a uruguaia Elvira Coirolo, com quem teve os filhos Mário, Ernesto, Carlos Alberto, Elvira Clementina, Angelo, Rute e Rubens. A juventude, além dos estudos, ele a viveu trabalhando como tipógrafo e redator do único jornal da sua terra, de propriedade de seu progenitor. No início do Século XX, dono de invulgar espírito aventureiro, deixou a pacata Jaguarão e se tornou caixeiro-viajante, percorrendo cidades, vilas e freguesias do Rio Grande do Sul e de parte de Santa Catarina além de incursões em solos uruguaios, argentinos e paraguaios. Já em 1911, ajudava a fundar a União dos Caixeiros Viajantes do Rio Grande do Sul, uma das mais fortes associações do gênero de todo o território nacional. Logo depois, iria se estabelecer em Cruz Alta com agropecuária, destacando-se a industrialização de cereais como milho e arroz. Entrou de cabeça na política, em 1923, ombreando com Assis Brasil, contra Borges de Medeiros, numa luta eleitoral que eclodiria a “revolução sangrenta de 23” da qual seria protagonista. Em 1924, veio para Santa Catarina, fixando residência em Tubarão, com charqueada e plantio de arroz, na Fazenda Revoredo, conhecida de todos os que trafegam pela BR-101. Convidado por Osvaldo Aranha, Batista Luzardo e Lindolfo Collor, dirigiu a campanha da Aliança Liberal em todo o Sul de Santa Catarina, a favor de Getúlio Vargas. Era 1929. Adquiriu máquinas impressoras em Porto Alegre e fundou, em Tubarão, o Jornal “O Liberal”. Na Revolução de 1930, foi declarado Governador Civil e Militar de todo o Sul Catarinense e administrou os negócios políticos da Região, diretamente de Jaguaruna. Embora plenipotenciário, por designação direta do caudilho Getúlio Vargas, não fez uso de poder discricionário em seu proveito ou no dos seus liderados. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 136 Ernesto Lacombe foi o mentor da substituição do Prefeito Marcos Rovaris por Cincinato Naspolini, assim como de outros alcaides que, na Região, foram substituídos por políticos identificados com os postulados da Revolução de 30. Ernesto Lacombe, pai do farmacêutico Dr. Ernesto e do médico Dr. Ângelo, de todos aqui conhecidos, também é parte integrante dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! E.T.: Assim como Marcos Rovaris e Pedro Benedet, Ernesto Lacombe nunca foi Coronel das Forças Armadas. Recebiam esta designação pelo poder que exerciam. ........................................................................................................................... Publicado dia10 de novembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 137 HENRIQUE LAGE Nosso personagem de hoje tem estreita ligação com nossa cidade. Nasceu no Rio de Janeiro a 14 de março de 1881 e faleceu nessa mesma cidade em 1941. Portanto, estaria praticamente com a mesma idade de Criciúma, isto é, 119 anos. Falo de Henrique Lage que, jovem, trabalhou em estaleiros na Inglaterra, para onde o mandara seu pai a fim de que estudasse engenharia naval, curso que completaria na Suíça. Falecido seu pai, retornaria ao Brasil e assumiria, com os irmãos mais velhos, a Cia. Nacional de Navegação Costeira e todos os demais negócios da família. Esses irmãos seriam vítima da Gripe Espanhola e morreriam em 1918, quando Henrique Lage daria imenso impulso à empresa que, agora, era sua juntamente com outras da família, dentre as quais as minas de carvão de Lauro Muller, em Santa Catarina. Elaborou audacioso projeto para intensificar a extração do carvão e assumiu o controle da Cia Brasileira Carbonífera de Araranguá e da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina que era administrada pela própria CBCA. Adquiriu novas locomotivas e vagões dando um impulso violento no setor carbonífero. Construiu o Porto de Imbituba, possibilitando que os navios da sua empresa atracassem para transportar o minério do carvão, já que, em Laguna, só atracavam pequenas embarcações. São de Henrique Lage as primeiras vilas operárias construídas aqui e em Lauro Muller, todas constituídas de pequenas casas de madeira e, dentre outros equipamentos, pelo menos um campo de futebol. É dele o pioneirismo cerâmico de toda a nossa região, pois foi ele que construiu a primeira cerâmica de louça sanitária e azulejos: a de Imbituba cidade da qual foi Prefeito Municipal. Homenageado com o patronato de uma das principais vias públicas de nossa cidade, não podemos esquecer-nos de Henrique Lage quando falamos dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 27 de outubro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 138 GABRIEL ARNS Nosso personagem, de hoje, é natural de São Martinho, aqui no Sul do Estado, onde nasceu em 1890, portanto, 10 anos depois do início da nossa colonização. Aos 22 anos, veio para o município de Criciúma, fixando residência na vila de Forquilhinha, um minúsculo povoado habitado por alemães e seus descendentes. Era professor e tanto se dedicava às atividades agropecuárias quanto às educacionais não demorando para presidir a União Escolar daquela localidade. Dotado de singular inteligência era dono de uma cultura invejável. Estes predicados fizeram-no liderar a comunidade e tornar-se uma das pessoas a quem as lideranças de Criciúma dedicavam especial atenção e respeito. No processo emancipatório de Criciúma, do município de Araranguá, desempenhou papel preponderante. Sua indicação para ser um dos nossos primeiros cinco conselheiros, isto é, Vereadores, atesta a sua capacidade de liderança comunitária. Pertenceu a dois partidos políticos: ao Partido Republicano, até a ditadura de Vargas, quando todos os partidos existentes foram extintos e, na redemocratização brasileira, em 1946, a União Democrática Nacional, da qual foi fundador. Estou falando de alguns traços biográficos de um dos mais ilustres homens da nossa Criciúma: Gabriel Arns, que era casado com dona Helena Steiner e de cuja união nasceram o Heriberto (que se tornou Frei Crisóstomo); Irma, Osvaldo, Olívia (que se tornaria Irmã Gabriela). Paulo (que seria príncipe da Igreja na condição de Cardeal Arcebispo), Otília, Laura (que se tornaria Irmã Helena), Hilda, (que se tornaria Irmã Hilda), Felipe, Max José, Ida, Bertoldo (que há poucos anos partiu para a eternidade), Zilda e Zélia. 14 ao todo. Foi candidato a Prefeito de Criciúma, em 1954,não logrando êxito naquela eleição. Em 1962, Gabriel Arns recebia, merecidamente, o título honorífico de cidadão honorário de Criciúma e a Rodovia que liga este ao Município de Forquilhinha foi batizada com o seu nome. Como vemos, honrados homens ajudaram a fazer os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 29 de setembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 139 BERRETA E BEDENAGAS: OS MELHORES Naquele tempo, o rapaz deixava a puberdade e, auto proclamando-se Homem, comprava um chapéu e saia por aí, com a cabeça coberta, mostrando que era adulto... Já pensou?! Em casa de muitos filhos homens, os cabides enfileiravam-se nas salas já que para cada chapéu, um cabide pontiagudo de parede... E quando o chapéu sujava? O desespero tomava conta do dono haja vista que o feltro com que eram fabricados os chapéus se deformava todo se não lavado com muita técnica. Aí entrava o Senhor Álvaro Beretta, com a sua oficina de lavar e passar chapéu, ali no lado da Casa das Gaitas, na Rua Henrique Lage. Magro, muito católico, ligava o rádio num volume insuportável (era meio surdo) e ficava ali, com um ferro enorme, a lavar e passar o chapéu dos homens grandes da cidade. E para engomar camisas e ternos de linho? Ah... aí era com as irmãs Bedenagas, apelido carinhoso das manas Dilma, Dirce e Zenaide Machado, então residentes próximas do restaurante do Berto Mundi, porém no outro lado da rua, também na Henrique Lage. A cidade levava camisas e ternos para elas engomarem, tarefa que desempenhavam com altíssima capacidade. Noivo que se prezasse, usava a roupa da festa matrimonial engomada pelas irmãs Bedenaga. Dentro deste assunto, merece citação a nossa primeira lavanderia industrial, de propriedade de Dona Liduina Silvestre. Era conhecida como Lavanderia Real e, nos anos 60 foi transferida para Maria Rovaris Meller que se ocupou com lavação até 1976 e, dali para cá, tantas outras foram se estabelecendo para lavar a roupa de tanta gente que todos os dias faz acontecer os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 6 de outubro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 140 DELEGADO CABRA MACHO Nos 120 anos de Criciúma, tivemos algumas autoridades carismáticas que marcaram época. Por exemplo: o Cabo João. Refiro-me ao Senhor João Bittencourt, chefe de bem-quista família de nosso meio que, policial, atingira o grau de Cabo e, nessa função, exerceu seu papel de guardião do bem estar da população durante vários e seguidos anos. Ele se impunha pela própria presença. No final dos anos 50 e nos primeiros da década de 60, tivemos aqui o Capitão Neri Clito Vieira, falecido há poucos meses, na condição de Coronel reformado da Policia Militar de SC. O Capitão Nery, notabilizouse pela prática da máquina zero na cabeça do marginal. O indivíduo que fosse levado preso à delegacia de Criciúma, saia de lá com a cabeça rapada pra que todos que o vissem soubessem tratar-se de um marginal... Já nos anos 60, nosso delegado foi o Dr. Velloso, Helvídio de Castro Velloso Filho. Era baixinho, mas baixinho mesmo, raquítico e surdo. Bacharel em direito. Falava fino. Mas se impunha, à ponta dos pés, para passar o maior sermão do mundo sobre os marginais que lhe atravessassem o dia... De tantos, certamente o Dr. Velloso terá sido o mais autoritário, quem sabe para compensar as condições físicas de seu diminuto corpo. Cada um deles, com certeza, escreveu um pedaço dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 6 de agosto – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 141 FRYDBERG & MENEZES Recém formado em engenharia e aceitando uma boa proposta de trabalho que lhe oferecera a Carbonífera Próspera, descobre Criciúma, em 1939, o senhor Jorge Frydberg que deixou para traz a sua Porto Alegre... Jovem idealista cheio de gás e coragem apostou no futuro desta cidade e entendeu de aqui realizar o seu projeto de vida. Já nos primeiros anos de 1940, tendo como sócio seu futuro cunhado Mário da Cunha Carneiro, fundou a Construtora Cresciumense Ltda., a rigor a primeira empresa do ramo da construção civil de nossa cidade. A Construtora Cresciumense foi a responsável pelos primeiros grandes projetos arquitetônicos da Criciúma dos anos 40 e 50 tendo exercido importante papel no planejamento urbano da capital do carvão. Já no ano de 1942, em plena II Guerra Mundial, chega à nossa cidade Moacyr Jardim de Menezes, lagunense de nascimento, mas feito nosso cidadão honorário em 1984. Já veio para trabalhar na mineração: começou na São Marcos e logo foi convocado para a Próspera, onde se aposentaria. Fundou e dirigiu a Escola Técnica de Comércio na qual foi professor de matemática. Casado com Verônica Barbosa de Menezes presenteou Criciúma com uma prole de oito filhos. Politicamente, fez parte do diretório municipal do Partido Social Democrático que o conduziu à Câmara Municipal – vereador – em duas legislaturas. Jorge Frydberg e Moacyr Jardim de Menezes são marcas fundamentais do processo desenvolvimentista destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 5 de agosto – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 142 PEDRO BENETTON, O CÓSO Nosso personagem de hoje, partiu para a eternidade em 1972. Oitenta anos antes, ele nascia em Cocal do Sul. Ainda jovem, notabilizou-se como feitor de estradas e sob seus ombros residiu a responsabilidade da construção da estrada de ferro que liga Bento Gonçalves a Caxias do Sul. Os operários ele os recrutava por aqui mesmo e o seu transporte e o deles, até o canteiro de obras, era feito a pé. Numa das viagens, saiu cedo de Cocal e, ao passar pela venda de Frederico Minatto, ficou encantado pela beleza da balconista de nome Maria Teresa. Fez a viagem pensando naquela mulher e não tardou em retornar para propor namoro àquela jovem. Logo em seguida, casavam-se. Passou a trabalhar na fábrica de banha do sogro. Montou o seu próprio negócio, um armazém, na Operária Velha, que, ato contínuo, deixava sob os cuidados da mulher e foi prestar serviços para o sogro na mina de carvão que este possuía na localidade de Lote Seis. Fechada a mina do sogro, fundou, com os cunhados Eunerino e Otávio Minatto e João Cechinel, uma mina de carvão no terreno acima do Criciúma Clube, sob a denominação de Empreitada João Cechinel, vendendo o carvão para a CBCA. Em 1940, foi minerar no Rio Maina, em seis frentes de trabalho: tanto de subsolo como a céu aberto. Já em 1942, com a participação de uma centena de colonos residentes no Distrito, e tendo ao lado Luiz Lazzarin, fundava a Carbonífera Catarinense, essa mesma que hoje ainda minera em nossa região. Ao fazer, a pé, todos os dias, o trajeto entre a boca de mina e o escritório, recolhia, do chão, as pedras de carvão que se desprendiam das carroçarias dos caminhões transportadores. Chegava ao escritório com um monte de pedras ao colo praticando a aula da economia e do anti desperdício. A todo chamava de “cosa” ou “coso”. Para mexer com ele, amigos mais íntimos, falavam: “O cóso, vá buscar aquela cosa e leva lá pro cosinho...” Esse era Pedro Beneton, um dos esteios da economia carbonífera que também ajudou a construir os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 20 de setembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 143 BALSINI, SARTORI & PEREZ Evidentemente que, desde os primeiros tempos, sempre houve o cuidado médico com a população que colonizou a nossa terra. Com freqüência altamente irregular, sujeita às condições climáticas, um médico deslocavase de Laguna ou de Tubarão ou de Araranguá e vinha atender os primeiros habitantes do nosso Município. Mais tarde, os profissionais da saúde radicaram-se em nosso meio e tomaram a peito o cuidado com os nossos antepassados. Três deles, aqui chegados ainda na primeira metade do século que agoniza, tiveram papel importantíssimo junto às famílias aqui residentes: o Dr. José Tarquino Balsini, o Dr. Olavo de Assis Sartori e o Dr. Raymundo Perez. Abraçaram a clínica geral e transformaram-se nos médicos familiares. O paciente não ia ao médico; este é que ia visitar o paciente. Aliás, mesmo sem paciente, lá ia esse médico visitar a tala família haja vista que entendia ser esta uma de suas tarefas. Embora não formalizado, havia um compromisso entre o médico e a família, saudável prática que o modernismo dos tempos atuais aboliu do nosso meio. Este é um fato pitoresco dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 29 de julho – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 144 CASTORINO, O DAS LOTERIAS Primeiro de junho de 1968: falecia Manoel João Crispin, conhecido de todos pelo apelido de Nego Castorino. De estatura mediana e cabelos esbranquiçados, uma das figuras mais populares e respeitadas da Criciúma de então. Nasceu ali na Urussanga Velha, em 1917, quando aquele chão ainda pertencia ao nosso Município para cuja sede se transferiu em 1933, para trabalhar na CBCA, como faziam todos os moços que quisessem amealhar algum dinheirinho bom em pouco tempo. Ali trabalhou até se aposentar, em 1951, e ali desenvolveu, preliminarmente, o emprego de mineiro e, depois, de engraxador das vagonetas de carvão que transportavam o mineral do subsolo para as caixas de embarque à boca das minas. Gostava de pescar e curtia muito a pesca com caniço. Jogava a isca à água e, se o peixe demorasse a fisgá-la, puxava-a de volta, dava-lhe duas, três cuspidelas e fazia retornar, provocando espanto e risadas dos que com ele pescavam... Aposentado, tomou sob os ombros todos os encargos do São Paulo F. C., um clube varzeano que tinha nele o presidente, o técnico, o roupeiro, o tesoureiro, o dono da bola e fazia seus jogos no campo que havia em frente à Transportadora Manique ou naquele dos fundos da Padaria do Cantídio Ramos, tudo ali na Operária. Mas o Castorino notabilizou-se, mesmo, foi na venda de bilhetes de loteria, tanto a do Estado como a Federal. E fazendo filhos, pois, casado com Dona Maria Pereira Crispin, constituiu uma família de 12 filhos. Ufa!... Seria uma falha não inserir Manoel João Crispin, o Castorino, no contexto dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 19 de agosto – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 145 LUIZ, O PORTUGUÊS O Brasil vivia conflitos internos de alta tensão política. O governo central não conseguia a hegemonia político-administrativa da nação e os governadores dos estados também digladiavam entre si na busca de privilégios para as unidades federadas que governavam. Circulou no Rio de Janeiro, então nossa capital federal, a notícia de que tropas do Rio Grande do Sul invadiriam o território catarinense, pelo Sul do Estado, em duas frentes: o litoral e a serra. A pedido de Nereu Ramos, nosso Governador, tropas do exército sediadas no Rio de Janeiro, vieram para cá, acantonando-se em Tubarão e na Costa da Serra, em Criciúma. Era junho de 1937. Da tropa que ficou em Criciúma, faziam parte dois soldados que teriam importante papel a cumprir em nosso meio: Luiz Ramirez e Adamastor Martins da Rocha. Aqui permaneceram até novembro daquele ano quando, logo depois de retornarem ao quartel na capital federal, deram baixa e para cá retornaram. Adamastor, como enfermeiro da Carbonífera Próspera e Luiz Ramirez, como motorista da Mina de carvão de João Cechinel, onde trabalhou até 1941. Nesse ano, Luiz Ramirez – ou Luiz Português – como a cidade o conheceu, estabeleceu-se com um carro de praça, ou seja, o serviço de taxi. Foi o nosso primeiro taxista e, nessa profissão, era o homem que ia levar e ia buscar dinheiro, em Porto Alegre, em malas de viagem; acompanhava profissionais liberais; transportava políticos... Luiz Português, nascido em Portugal, que faleceu prematuramente em 1972, era um arquivo rodante: sabia tudo de todos e mantinha a lealdade e sobriedade como dever ético da profissão. Com Érico Becker constituiu uma frota de “carros de praça” distribuídos nos pontos da Praça Nereu Ramos. Fez história e confunde-se com a própria história de Criciúma, este orgulho de cidade... ........................................................................................................................... Publicado dia 27 de agosto – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 146 ROUBARAM O SEU AUGUSTO No ano de 1956, o personagem de hoje teve sua casa assaltada por um estranho ladrão: este, utilizando-se de uma vela, ateou fogo em duas varetas da veneziana de uma janela do quarto de hóspedes, cômodo invariavelmente pouco utilizado em qualquer das residências de então e entrou. Passo a passo, foi até ao quarto dele roubando um único objeto: o paletó do nosso personagem. Com cuidado, tomou aquela vestimenta e, pela mesma janela, fugiu do local. No dia que precedera àquela noite, o Município tinha recebido a cota parte do Imposto Único Sobre Minerais (o tal royalty sobre o carvão) que, na imaginação do ladrãozinho, estava disponível no cofre da Prefeitura. É que o personagem de quem falo era o tesoureiro do Paço: Augusto João Firmino, nascido em Braço do Norte em 1915 e falecido em Imaruí, em 1990. E o ladrão queria, mesmo, era as chaves da Prefeitura e, evidentemente, do cofre. Seu Augusto veio para a nossa cidade em 1942 assumindo, de pronto, os afazeres de tesoureiro municipal, a convite do Prefeito Elias Angeloni, permanecendo no cargo até 1965, quando se aposentou. Nesse ano, instalou a Churrascaria Brasília, na Rua Seis de Janeiro, ao lado do Cine Milanez. Tentou a política, pelo velho PSD, mas não logrou êxito numa candidatura a Vereador. Ajudou a fundar o Centro Cultural José de Alencar e presidiu a Banda Musical Cruzeiro do Sul. Pai da Stella, do Thalésio, do Thales e do Thelmo, era casado com dona Maria Loly Ribeiro. Seus restos repousam na cidade de Imaruí onde viveu seus últimos dias. Ah, sobre o roubo: no final do expediente daquele dia, seu Augusto deixou as chaves com a auxiliar de tesouraria, Jacira Fernandes e o ladrãozinho deu com os burros n'água... Augusto João Firmino, o velho tesoureiro da nossa Prefeitura Municipal, também escreveu parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 2 de setembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 147 DR. BENEDITO Nosso personagem, desta sexta-feira, veio lá do Piauí, nascido em União, em 1910. Depois de larga folha de serviços prestados em diversos organismos de alguns Estados do Norte e no Nordeste, veio para Criciúma, nos anos 50, para ser o advogado do Sindicato dos Mineradores onde prestou serviços até 1994. Entendia de filatelia, de sindicalismo, de escotismo, de história, de lazer... Enfim, era um polivalente de uma simpatia e cultura incríveis capazes de cativar pessoas de todos os níveis sociais. De estatura baixa, meio gordinho, cabelos ondulados e baixinhos, cabeça chata, de tez morena, era o protótipo do nordestino. Invariavelmente uma surrada pasta que aparentava carregar relativo peso em livros e papéis, ilustrava o sovaco, sempre, com – no mínimo – um exemplar de jornal. Sentava-se num banco da Praça Nereu e, em minutos, era rodeado de amigos e admiradores que tinham na sua pessoa um professor, um conselheiro... Ajudou a fundar a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, lá em Pernambuco, tornando-se o seu primeiro presidente e trouxe a iniciativa para cá, instalando o Vinte e Nove de Julho, estabelecimento de ensino de 2º grau que, embora particular, não cobrava anuidade de seus alunos. Foi Professor da Escola Técnica de Comércio, de vários colégios e da UNESC, nos seus primeiros anos de vida. Faleceu em março de 1994 e seus restos repousam no cemitério municipal de Criciúma. Falei do advogado Benedito Narciso da Rocha, o Dr. Benedito, personagem indispensável no contexto dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 10 de setembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 148 DE FERREIRO A GOVERNADOR Hoje vamos falar de uma das pessoas mais proeminentes do cenário político-empresarial de nossa terra. Nosso personagem veio de Tubarão, onde nasceu a 30 de abril de 1902 e naquela cidade seria balconista e ajudante de ferreiro, ajudando a seu pai na respectiva oficina. Álvaro Catão o conheceria e, por sua expressa recomendação, a CBCA o contrataria, com salário de 90 mil réis. Era 1924 e fazia um ano que contraíra núpcias com Dona Lucília Corrêa. Sua tarefa, na mineração, era a de apontador, na qual ficaria pouquíssimo tempo, dali levado para os escritórios da empresa. Revelou-se um dos mais respeitados funcionários da empresa, especialmente pela gente humilde que arrancava o carvão do subsolo. Nas crises do carvão – e estas eram tantas – quando as mineradoras atrasavam os pagamentos dos operários, lá ia ele, em nome do empregador, dialogar com os mineiros prometendo-lhes saldar os compromissos nos primeiros ingressos de dinheiro. Cumpria religiosamente tais promessas e, também por estas causas, crescia a respeitabilidade que lhe devotavam seus subordinados. Nessa época, a CBCA inventou um tal de bodegão que era um VALE com o qual era possível adquirir gêneros de toda ordem em armazéns de secos e molhados que proliferavam em cada vila operária. Esses bodegões, que passaram a ser moeda corrente em todo o território criciumense – e até fora dos limites geográficos do Município – sempre foram honrados pela empresa, representada por nosso personagem. Essa sociabilidade com o próximo o recrutou para a militância política, inicialmente no Partido Republicano e, passada a turbulência da ditadura de Vargas, na União Democrática Nacional, a UDN, de cujo Diretório estadual chegou a ser Presidente. Em 1934, era conduzido à Assembléia Legislativa, como Deputado Estadual. No governo de Irineu Bornhausen, de 1954 a 1957, ocupou a importante Secretaria da Fazenda. Foi candidato a vice-governador, na chapa de Jorge Lacerda, perdendo a eleição para o pessedista José Miranda Ramos. (Nessa época, o eleitor podia votar num candidato a vice-governador de chapa oposta a do Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 149 governador). Ramos era do PSD. Mas a Justiça, acatando recurso da UDN, anulou o pleito havido em Major Vieira, Itapiranga, Capinzal, Tangará e Descanso fazendo neles realizar novas eleições. E daí, nosso personagem foi eleito com a diferença de 512 votos. Já no governo, com Jorge Lacerda, assumiria o cargo de governador de Santa Catarina, a 16 de junho de 1958, quando o titular morreria em desastre aviatório. E governou Santa Catarina até 31 de janeiro de 1961, quando entregou a administração estadual a Celso Ramos. É pai do engenheiro José Correa Hülse, de saudosa memória e de Ruy Hülse, ex-deputado e ex-prefeito de nossa cidade, hoje presidente do Sindicato da Indústria da Extração do carvão de Santa Catarina. Falei de Heriberto Hülse, a quem a mineração de carvão, Criciúma e o Estado de Santa Catarina muito devem. Heriberto Hülse, falecido em 1972, é personagem maiúsculo dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 15 de novembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 150 JUCA BALOD É comum, hoje, a gente fazer uma viagem qualquer alugando um veículo numa das centenas de locadoras espalhadas pelas cidades de maior porte do País e do mundo. Mas, você já se perguntou como é que era essa encrenca há algum tempo? Escuta só: em 1942, um descendente de lituanos chegou à nossa cidade e, esperto, resolveu ganhar o pão de cada dia, alugando bicicletas. Instalouse, primeiramente, na Rua Seis de Janeiro, numa casinha que foi desmanchada para a construção da agência do Banco Nacional do Comércio, recentemente também destruída, onde hoje é o pátio do Banco Meridional. Era o Senhor Victor Henrique Balod, com a sua Casa das Bicicletas. O ano, repito, era 1942, portanto faz 57 anos. Dali ele levou o seu comércio para a Henrique Lage, inicialmente para uma casinha que ficava em frente à Casa Globo (hoje Casa Benedet) e, mais tarde, para o endereço onde hoje a Dona Ana e o Wilson ainda comercializam esse tradicional veículo, a bicicleta. O aluguel era para passeios e para viagens. Rapazes alugavam uma bicicleta para ir namorar, ou para fazer grau com as garotas da época. Outros alugavam o veículo para ir visitar parentes em Laguna, em Orleans, em Tubarão em Araranguá. Muitos para Nova Veneza... Seu Juca, como era conhecido, tinha um caderno no qual anotava o nome e o endereço da pessoa locatária e a marca e a placa da bicicleta e estamos conversados. O preço variou de um mil réis a dois mil réis por hora. Havia mais de 50 bicicletas para locação e, nos finais de semana ou vésperas de festejos religiosos, todas eram locadas. Se o cara não devolvesse a tal bicicleta em 24h, seu Juca ia à Delegacia e prestava queixa. Às vezes, lá saia seu Juca atras de uma bicicleta que, pelo registro do empréstimo, deveria estar em Maracajá, por exemplo. Perdia um ou dois dias atrás do veículo que, nem sempre, era encontrado. Aliás, dona Ana conta que 14 delas não mais foram devolvidas. Quem acostuma alugar carro, nem imagina que aqui se alugou muita bicicleta e isto também faz parte dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 30 de setembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 151 ADDO: COMO É BOM SER BOM! Hoje vou falar do único cidadão que administrou Criciúma em três mandatos: Addo Caldas Faraco. Fluminense da imperial cidade de Petrópolis, nascido em 15 de junho de 1905, seu Addo aportou em nossa cidade em 1934 na condição de Agente do Departamento dos Correios e Telégrafos, do qual era funcionário. A agência tinha sua sede na Rua Henrique Lage, à frente do prédio da Cooperativa Agrícola, mais tarde União Comercial Sociedade Anônima. Ali trabalhou até se aposentar, em 1945. Nesse ano, mercê de sua amizade com a elite governante do Estado, foi nomeado Prefeito Municipal por ato do interventor federal de Santa Catarina, seu amigo Dr. Nereu Ramos. Gostava de política e era talhado para os misteres da política: meio gordinho, bonachão, muito simpático, não tinha inimigos. Os adversários políticos respeitavam-no. Nasceu para a política no velho Partido Liberal e foi fundador do diretório municipal do seu PSD – Partido Social Democrático. Nessa agremiação – e sempre coligado com o Partido Trabalhista Brasileiro – o PTB - - seria candidato mais três vezes ao Paço Municipal. Ganhou em 1947 e em 1955. Perdeu, para o udenista Ruy Hülse, a pugna eleitoral de 1965. Governou sempre de maneira empírica até porque, à sua época, o dicionário do administrador ainda não contemplava o verbete “planejamento”. O coração sempre falou mais forte e, a cada pronunciamento, repetia: como é bom ser bom! frase de efeito que seria levada à sua última morada como seu epitáfio. Liderou muitas comissões empresariais, especialmente as do setor carbonífero. Com os empresários encetava viagens ao Rio de Janeiro, nossa capital federal e, com as autoridades da República, discutia em pé de igualdade na defesa do nosso mineral. Ganhou notoriedade quando discutiu com o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, no Palácio do Catete defendendo o ouro negro extraído de nossas galerias. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 152 Antes de Juscelino, também o lendário estadista Getúlio Vargas recebera Addo Faraco e os mineradores criciumenses para um debate acerca do nosso “ouro negro”. É dele a criação do slogan que deu referencial à nossa cidade: orgulhava-se em afirmar que Criciúma era a Capital do Carvão, cidade do presente e do futuro. Emocionado, chorou, a 23 de junho de 1971, quando a Câmara Municipal outorgou-lhe o título honorífico de Cidadão Honorário de Criciúma. “O povo reconheceu o meu trabalho”, afirmou. Addo Caldas Faraco, falecido a 16 de dezembro de 1982, é um dos artífices dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 23 de novembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 153 O DENTISTA LEANDRO E na hipótese de dor de dente? Como agiam nossos antepassados? Sim, porque humanos e dotados de dentaduras, é líquido e certo que, num determinado momento – ou para ser mais preciso: numa determinada noite – pelo menos um dente doeu em cada uma das bocas dos nossos ancestrais. E daí? Pois olha: não há registro de como a dor era estancada nos primeiros tempos. Imagina-se que a Companhia Colonizadora deixava, em cada casa, alguns comprimidos ou vidros de remédios para amenizar a diabólica dor de dentes. Odontólogo formado, nem imaginar: nem aqui nem por aqui... Havia os práticos, certamente, em Tubarão, em Laguna, talvez em Araranguá. Mas, por aqui... Já pensou, o prezado ouvinte, no suplício a que estavam condenados nossos antepassados que tinham de conviver com a terrível dor de dente sabendo que o dentista mais próximo estava a dois/três dias de viagem? Em 1929, de passagem por aqui, onde permaneceu durante 30 dias, o italiano Amadeo de Mattaeis, dentista formado, atendeu precariamente aos casos mais urgentes que a ele se apresentaram. Em 1933, Seu Leandro Martignago, contando 35 anos de idade, dava início ao seu ofício de dentista, depois de Ter obtido, no Departamento de Saúde Pública, em Florianópolis, licença para trabalhar como Dentista Prático Licenciado. O Senhor Leandro, casado com Rachele Ferraro Martignago – mas de nós todos conhecida como Dona Natália – pai da Dirce, do Henrique Dauro e do Décio, foi, a rigor, o nosso primeiro dentista. Seu primeiro gabinete dentário funcionou numa pequena sala da Cooperativa Vitória e, depois, foi levado para a sua própria casa onde ele atendeu até 1960. Depois vieram o Abraão Martignago – irmão do Leandro -, o Nilo Sbruzzi, o Olivério Nuernberg, o Alexandre Herculano de Freitas e a centena de outros ilustres odontólogos que, hoje, em consultórios ou clínicas cuidam da saúde da boca de nossa gente e festejam com largos sorrisos os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 12 de outubro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 154 BOIANOWSKI, MÉDICO DAS CRIANÇAS Ao falar dos cuidados médicos dispensados á população pelos facultativos Balsini, Sartori e Perez, não se pode cometer injustiça deixando de falar de um dos pediatras a quem Criciúma e – de resto - toda a região devem muito. Até o final dos anos 50, início da década de 60, Criciúma ostentava um dos mais altos índices de mortalidade infantil do Brasil. Salvo engano, perdia apenas para Lauro Muller que, em Guatá, mantinha o pico de tal mortandade. Todo o dia morria criança; aliás, todos os dias morriam crianças, no plural. As escolas sacrificavam, pelo menos, um período para que seus alunos acompanhassem os enterros. No final dos anos 50, chegava a Criciúma o pediatra David Luiz Boianowski que revolucionou o quadro pediátrico local. Foi a campo, estudou as causas, desenvolveu projetos sanitaristas e, praticamente, acabou com aquele deprimente quadro de, todos os dias, sepultarmos nossas crianças. Ficou conosco uns dez anos e, chamado pelo Ministério da Saúde, foi trabalhar com o governo federal, em Brasília. Esta é mais uma das belas páginas destes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 30 de julho – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 155 DIOMÍCIO, O CAPITÃO Meu personagem de hoje é natural de Pindotiba, comunidade do interior de Orleans, onde nasceu a 19 de abril de 1911. Teve ali sua infância que viveu igualzinho a de outros meninos de sua idade: ia para a escola, jogava futebol, caçava passarinhos... enfim, uma vida normal para a normalidade daquele povoado. Com os pais, veio para Criciúma e, agora, contava 13 anos de idade. Madrugou no trabalho ao ser contratado como telegrafista da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina. Naquela ferrovia faria carreira nos 17 anos a ela prestando serviços e dela desligando-se na condição de Agente de Estação de Primeira Classe. Eram de primeira classe, em 1941, as estações de Araranguá, Criciúma, Tubarão, Laguna e Imbituba. Havia também as de segunda e de terceira classes. Faço o registro para atestar que o nosso personagem galgou todos os postos até chegar à gerência de estação de 1º classe... Ao deixar o quadro de empregados da Ferrovia, ele o fez para ir trabalhar com o carvão mineral que, altamente valorizado pelos problemas enfrentados pelos países produtores desse minério durante a II Guerra Mundial, anunciava-se como o negócio do momento. Juntou-se a Santos Guglielmi e ingressou nos negócios de extração da hulha negra na Carbonífera Caeté Ltda. já na condição de sócio gerente. Daquela primeira mina vieram outras tantas ao longo dos tempos, sempre em sociedade com o seu velho companheiro Guglielmi. Essa sociedade duraria até os anos 60 quando os dois, agora com suas respectivas proles amadurecidas, resolveram desfazer a sociedade e cada qual foi cuidar dos seus interesses. Nascia, ali, um dos mais sólidos conglomerados industriais da nossa Região tendo como logomarca identificadora uma locomotiva. Na linha de frente, uma cerâmica. Uma moderna cerâmica que conquistaria um mercado de incomensuráveis dimensões. Daquela primeira, nasceriam outras e outras, aqui e noutras unidades federadas. Nascia, também, no setor das comunicações, uma estação de televisão, com programação local e, depois, afiliada à TV Bandeirantes, fazendo parte da grande rede nacional comunicativa. Na política, disse não ao conformismo da sua UDN de votar em candidatos que não tinham a mínima vinculação Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 156 com a região e o povo o elegeu Deputado Federal num dos pleitos mais memoráveis que a história eleitoral nos conta. Como o ouvinte já deve ter detectado, falo de Diomício Freitas, prematuramente falecido em 1981, depois de um violento desastre rodoviário ocorrido na BR-101, proximidades de Imbituba. Casado com Agripina Francioni, falecida em 1994. Seu Diomício, como era conhecido, é cidadão honorário de Criciúma, homenagem que a Câmara lhe prestou in memoriam e patrono do Aeroporto Regional de Forquilhinha, ao qual empresta o nome. É impossível deixar de dedicar espaço e páginas a Diomício Freitas, o nosso primeiro capitão de indústrias, quando falamos dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 8 de novembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 157 ARLINDO, DO LATIM À PREFEITURA Ele recém deixara os estudos para ser ordenado sacerdote e a Casa Paroquial o abrigaria para a execução de um dos projetos mais velozes da vida política local. Falo de Arlindo Junkes, Professor, Maestro, Comerciante e Político. Natural de São Bonifácio, interior de Nova Veneza, quando aquilo tudo pertencia ao território de Criciúma, onde nasceu a 23 de agosto de 1934. Estudou em Forquilhinha, em São Ludgero, em Brusque e em São Leopoldo. Às vésperas da ordenação sacerdotal, deixou os estudos eclesiásticos e retornou ao seu chão. O Vigário de Criciúma, Padre Estanislau Ciseski, o recrutou para ser Professor dos colégios Madre Teresa Michel e São Bento em cuja cátedra revelou-se um dos mais festejados professores da época especialmente do latim. Paralelamente, instalaria, nos fundos da Igreja Matriz São José, em salas que houveram sido parte da antiga Casa Paroquial, um pequeno comércio de artigos religiosos como castiçais, imagens, santinhos, paramentos para ofícios religiosos, bíblias e livros sacros e outros objetos do gênero o qual foi denominado de Livraria Fátima, anos mais tarde transferida para outros locais já sob a direção de um de seus irmãos maternos. O Padre Estanislau era um dos mentores intelectuais da vida política local. Embora sem filiação era reconhecido militante do Partido Social Democrático que jamais tomou qualquer decisão sem ouví-lo previamente. O Prefeito era o Dr. Nery Jesuino da Rosa, do PTB, que o PSD “teve de engolir” haja vista ter sido cláusula do acordo celebrado às eleições para o governo de Santa Catarina: a eleição de Celso Ramos/Doutel de Andrade. Articulou-se, então, a renúncia do Dr. Nery. Estando por consumar-se tal gesto, perguntou-se: e quem será o substituto? (À época não havia a figura do vice-prefeito). E o Padre Ciseski respondeu: o Arlindo, agora já eleito Vereador e Secretário da Câmara. Como o substituto do Prefeito, dentro dos postulados legais, seria o Presidente da Câmara, esse renunciou, a edilidade elegeu Arlindo para presidi-la, este assumiu, leu a carta-renúncia e auto Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 158 proclamou-se empossado no cargo. Governou de 1963 a 1966 entregando as rédeas da administração municipal a Ruy Hülse. Nenhum homem público contemporâneo teve vida política tão ascendente e veloz como o Professor Arlindo Junkes que, prematuramente, faleceu a 19 de novembro de 1985. Reconhecido o seu trabalho, não pode ficar ausente da narração dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 29 de novembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 159 MILO, O OUSADO Meu personagem de hoje era natural de Cocal, quando essa cidade fazia parte de Urussanga, onde nasceu a 20 de setembro de 1912. Ele comparece aqui nesta narrativa histórica haja vista a sua direta participação no processo desenvolvimentista do nosso município. Nos primeiros tempos, foi sapateiro, peão de estradas, confeiteiro, latoeiro, baleiro e balconista de armazém. Quem teve a oportunidade de conhecê-lo na condição de empresário – e que empresário! – chega a duvidar que esse homem tenha batido prego em sola de sapato numa oficina de consertos; tenha amassado farinha com fermento para a elaboração de receitas culinárias numa padaria; tenha amassado lata e aplicado arrebites em canecos de folhas de flandres; tenha trabalhado atrás de um balcão, vendendo artigos de vestuário e gêneros alimentícios. Pois que creiam: ele fez tudo isto antes de ser o industrial dono de um dos impérios cerâmicos mais respeitados do mundo: falo, evidentemente, de Maximiliano Gaidzinski, conhecido como o seu Milo. Polaco de nascimento, filho de imigrante polonês, contraiu núpcias com Octávia, a filha do Gílio Búrigo, que era filho de imigrantes italianos, conhecido pelo devotamento ao trabalho. Os filhos vieram e o casal teve de dar conta da empreitada. Um dia seu Milo foi trabalhar na Cerâmica Santa Catarina, a Cesaca, na condição de seu diretor técnico. Paralelamente, em Cocal, uma Cerâmica era instalada através de uma grande sociedade de cotistas e, malgrado o esforço para que desse resultado, abriu falência. Aí falou a esperteza do comerciante que, acostumado a negociar em tantos outros ramos de negócio, vislumbrou a possibilidade de fazer aquela fábrica de azulejos dar certo. Elaborou uma proposta, falou com os cotistas da massa falida e tomou o pulso daquela indústria. Derrubou um pedaço, ampliou galpões, adquiriu maquinaria, chamou os filhos para assumirem com ele a encrenca e mandou ver. E viu. Trocou o nome: agora aquela indústria seria conhecida como Eliane, nome da filha caçula. Era 1960. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 160 Nascia o conglomerado industrial constituído por várias unidades fabrís do complexo cerâmico de revestimento de consagração mundial. Umas em Cocal, outras em Criciúma, algumas fora do território catarinense. Todas produzindo e gerando riqueza que, através de investimentos locais, refletiam-se no dia-a-dia do setor sócio-econômico de Criciúma. Houve uma época em que os profissionais liberais de ponta que habitavam nossa cidade eram todos funcionários do complexo Eliane que, por outro lado, não media esforços para, sempre, se valer da melhor mão de obra do mercado. Daí, ser impossível deixar de falar de Maximiliano Gaidzinski, o seu Milo, na narrativa dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 30 de dezembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 161 ZAPPELINI, DO RETRATO Azambuja, hoje distrito do Município de Pedras Grandes, foi, no passado, berço de significativa parcela de pessoas que, ali nascidas, viriam residir em Criciúma, participando do processo desenvolvimentista deste território. Assim ocorreu, por exemplo, com o casal Faustino Zappelini e Amélia Felipe Zappelini os mais notáveis fotógrafos da cidade. Seu Faustino, de saudosa memória, nascido a 19 de dezembro de 1911 e dona Amélia a 14 de junho de 1914. Tiveram ali a infância e ali viveram a puberdade e a juventude. Namoraram, como tantos o fizeram, e foram ao altar jurar amor e fidelidade para o resto da vida. Aos 14 anos, seu Faustino aprendeu o ofício do retrato e dele jamais se afastaria ao longo de sua vida. No final da década de 30, com família constituída, trocam a pacata Azambuja pela cidade de Criciúma, município novo do Sul catarinense, mas que, a olhos vistos, demonstra que se transformará em grande cidade. Construiu, aqui, o primeiro estúdio profissional para fotografias e passaram, os dois, a fotografar tudo e todos da velha Crescúma: as minas de carvão e os mineiros, os sacerdotes, as procissões, os batizados e os casamentos; festas de primeira comunhão e defuntos antes do sepultamento (como era corriqueiro). As dificuldades de material para o estúdio eram supridas com o fornecimento de colegas seus estabelecidos em Tubarão e Porto Alegre. E foram fotografando. Fotografaram a vida como poucos e documentaram esta cidade como ninguém. Afora os retratos da primeira hora que levam a assinatura do João Sbruzzi, a rigor nosso primeiro fotógrafo, tudo o mais que conhecemos da história fotográfica desta terra deve-se à Dona Amélia e Seu Faustino, ele nosso cidadão honorário desde 22 de novembro de 1996. Da união matrimonial de Faustino e Amélia nasceram o Zeferino, que todos conhecemos por Osmar, o Valdir, o Atair, a Zilda, a Zaida, a Maria de Lourdes e o Sérgio. Como os pais, todos ligados à arte da fotografia e que continuam a documentar nossa cidade, nossos costumes e nossa gente. É impossível deixar de falar de Dona Amélia e do Seu Faustino Zappelini quando nos reportarmos aos 120 anos de história de Criciúma. Este orgulho de cidade tem sua história documentada pelo ilustre casal. ........................................................................................................................... Publicado dia 7 de dezembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 162 ADAMASTOR, DO TECO-TECO Nosso personagem de hoje nasceu há 83 anos em Alegrete, no Rio Grande do Sul, e nessa melhor idade está aí, fazendo o serviço de bancos e administrando o escritório do seu empreendimento comercial. Veio para Criciúma em 1937, cinco meses antes de instalada a Ditadura do Presidente Vargas. Aqui chegou, proveniente do Rio de Janeiro, onde servia o Exército Nacional e por determinação deste, haja vista pedido de forças militares que fizera às Forças Armadas o Governador Nereu Ramos. Fazia parte do pelotão encarregado de cuidar da saúde dos aquartelados e dos aqui residentes. Enquanto os soldados instalavam-se num potreiro que começava ali no Banco Bradesco e se estendia até a Retífica Nereu, o serviço de saúde era instalado no porão da Cooperativa Agrícola Ltda. Em novembro daquele mesmo ano, retornaria ao Rio e pediria baixa do Exército, para se tornar enfermeiro da Carbonífera Próspera, por convite de seus diretores Jorge da Cunha Carneiro e Júlio Gaidzinski. Ali permaneceria por apenas dois meses já que fora convocado para prestar serviços na Farmácia São José, instalada em 1933, à época um dos três únicos estabelecimentos farmacêuticos da cidade: eram a Farmácia do Senhor Nicolau Machado, a de Carlos Pinto Sampaio e a São José, de dona Luiza Becker. (A pioneira, da senhora Jacinta Piazza, já havia sido fechada). Em 1938, contraiu núpcias com Rute, filha da dona da farmácia. Desde jovem quis ser aviador. Tentou a escola de aviação do Rio onde foi reprovado no exame de vistas embora três meses após o exame oftalmológico tenha sido campeão de um campeonato de tiro. Aprendeu a voar no aeroclube de São Paulo. Em 1947 comprava seu primeiro avião, um Piper que tomaria o prefixo PPSP. Era um flamante teco-teco que tinha hangar e pousava na pista de pasto do Pio Correa, hoje a pista de rolamento da Rua Antônio de Luca. (Mais tarde esse campo de pouso foi transferido para o Bairro Olaria – hoje São Luiz – exatamente onde hoje temos a Rua Carlos Pinto Sampaio, paralela à Av. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 163 Santos Dumont). Esse avião tinha apenas dois lugares: o do piloto e o de um passageiro. Depois, trocou por outro, aí sim, com três lugares: o dele e mais dois; e foi nesse que prestou incomensurável serviço à Criciúma e à região: transportava doentes para grandes centros e fazia o itinerário CriciúmaFlorianópolis e Criciúma-Porto Alegre transportando Prefeitos e empresários do carvão. Farmacêutico, na condição de Oficial de Farmácia, desde 1935, Adamastor Martins da Rocha, o nosso personagem desta sexta-feira, é testemunha vivo da história dos 120 anos de Criciúma que ajudou a escrever em terra e no ar: quem não conhece uma história do teco-teco do Adamastor ligada à Criciúma, este orgulho de cidade? .......................................................................................................................... Publicado dia 8 de outubro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 164 MANIQUE BARRETO Quando a proposta é falar de gente que fez a história de uma nação, de um território, de uma cidade, há que se fazer o registro daqueles que, de uma ou de outra forma contribuíram para que essa história pudesse ser contada. Nesse contexto, falo, hoje, de mais um ex-prefeito. De um grande exprefeito. Reporto-me a Algemiro Manique Barreto que, aos 19 anos de idade transferiu-se de São Bento Baixo, distrito de Nova Veneza, para vir morar na sede do Município. Lá ele nasceu no dia 11 de julho de 1929. Alfaiate de profissão veio trabalhar nesse ofício, costurando ternos para aqueles que, à época, faziam a história da cidade. E foi conhecendo gente. E foi se relacionando. E foi dando dimensões maiores aos seus afazeres. E montou um comércio de tecidos. Daqui a pouco era industrial, cerealista, transportador. Ousou e, mercê de seu trabalho, deu-se muito bem. No Lions, ao qual devotou parcela significativa de sua vida, fez de tudo: desde membro de equipe até governador de Distrito. No Bairro da Juventude, sociedade caritativa que sempre mereceu sua atenção e seu devotamento, mostrou-se empreendedor a ponto de não largar, em qualquer hipótese, o comando do Conselho de Administração que, há vários anos, tem sobre seus ombros as responsabilidades do comando. Muito conversador, deixou fluir o seu lado político e fez parte da primeira geração da Arena – Aliança Renovadora Nacional – à qual se filiou em 1965 exatamente no momento de sua criação. Por ela seria candidato a Vereador, em 1966, recebendo uma das maiores votações da história eleitoral do município. Presidiu a Câmara. Foi candidato a Prefeito, formando com Fidelis Bach a vitoriosa chapa do pleito de 1972. Governou Criciúma de 1973 a 1977. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 165 No comando das ações administrativas, revelou-se um amante de nossa cidade. Dentre tantos e arrojados projetos, arrancou os trilhos da Estrada de Ferro e, no traçado da antiga ferrovia, rasgou a via axial da cidade, a nossa Centenário, referencial de uma época. Instalou dois distritos industriais e foi buscar empresas para neles serem instaladas. A unidade do glorioso Exército Nacional é de sua responsabilidade. Para sediar (pela primeira vez em Criciúma) os Jogos Abertos de Santa Catarina, construiu a Vila Olímpica, no Morro da Televisão. Fez erguer os primeiros Centros Comunitários nos bairros periféricos da cidade. Deixou o Município e candidatou-se a deputado estadual indo formar a Assembléia Legislativa do Estado. Depois de tantos serviços prestados à cidade, quis retornar tanto à Prefeitura quanto à Assembléia, mas, daí, o eleitor – que, via de regra, perde a memória – não correspondeu. Então foi cuidar da sua Transportadora, do seu Lions Club e do seu Bairro da Juventude, onde emprega todas as forças dos seus jovens setenta anos. Algemiro Manique Barreto, indubitavelmente, é destaque de qualquer narrativa dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 2 de dezembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 166 DE BARATA A PINICILINA Há umas pessoas que, sempre acometidas de uma série infindável de afazeres, não se furtam a assumir compromissos que a comunidade lhes impõe. Nesse contexto, Criciúma tem um débito muito grande como, por exemplo: Wilson Fernandes Lopes Freire Barata, o Professor Wilson Barata que, natural de Belém do Pará, veio trabalhar em nosso território lá pelos anos 30. Não se conhece uma iniciativa de peso, tomada por qualquer segmento sócio-econômico local que não tenha se socorrido no eminente Professor... Pedro Guidi, dono de uma simplicidade franciscana. Filho do imigrante Angelo, surdo igual a ele. Seu Pedro, antes de ser o pai do Nereu e do Nelson, profissionais de respeito do nosso meio, era pau-pra-toda-obra da Prefeitura Municipal, ao tempo do velho PSD. Era motorista e operador de equipamento rodoviário. Nas horas vagas, vereava e só não se eternizou na Câmara Municipal, porque se enjoou da vida pública... José Pimentel, um dos primeiros advogados da cidade. Capixaba, veio, gostou e ficou. Falava alto, com um trejeito que o caracterizou sobremaneira: enquanto falava, puxava as calças com ambas as mãos, como se essas estivessem caindo. Respeitabilíssimo nas lides forenses, gostava da UDN que o fez Vereador... Esperandino Damiani, o seu Ouro. Só que todos o conhecíamos como o seu ORO, sem o U. Dono da Casa Ouro, um dos estabelecimentos mais tradicionais da velha Cresciuma e da moderna Criciúma dos nossos dias. No Lions, clube de serviço que amou como a um filho, fez de tudo. E sempre cuidou da tesouraria de todas as entidades por onde passou, mercê da sua honestidade inquestionável... João Zanette, esse cidadão octogenário que extrai carvão desde os tempos de mocidade. Seu João é uma das testemunhas vivas da implantação do nosso município: contava 15 anos quando Cresciuma foi instalada em 1926. Bonachão, sábio na humildade que o caracteriza, gosta de bater papo especialmente sobre as histórias do carvão e de Criciúma. Hoje, além de extrair carvão, planta e colhe maracujá e outras frutas tropicais em escala industrial. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 167 Nicolau Destri Napoleão, Professor e Inspetor Escolar. Ao tempo em que a sala de aula se caracterizava pela presença da professora, ele rasgou o preconceito e demonstrou, com a sua cultura invulgar, que a arte científica do ensinar não discrimina sexo. Da UDN foi diretoriano e por ela compareceria à Câmara Municipal na condição de Vereador. Quis ser nosso Prefeito, mas a conjuntura política daquele momento não lhe foi favorável. Zulcema Póvoas Carneiro, a florianopolitana que veio conhecer seu futuro marido aqui em Criciúma e daqui nunca mais saiu. Em 1941 fundou o seu colégio particular, o Póvoas Carneiro que, lamentavelmente, cerrou suas portas em 1962. Giácomo Sonego Neto. Quando se fala no “seu Jáqui”, como era conhecido, imediatamente se associa a Cooperativa Agrícola. É que ele foi um dos seus fundadores e, enquanto ela existiu, a ela sempre emprestou seus serviços profissionais. De trato muito simpático, atrás de óculos de fundo de garrafa, com a dona Percebia, a octogenária Bia, educou sua prole de três filhos homens (o Mário, o Mauro e o Moacir) o primeiro deles político de acreditado lastro do mundo partidário criciumense. Romeu Lopes de Carvalho, conhecido como o Penicilina, em função da profissão de enfermeiro na qual se aposentaria no Iaptec. Pedalando uma surrada bicicleta e sempre portando um não menos surrado guarda-chuva, lutava pelos direitos do cidadão, especialmente aqueles menos favorecidos, tarefa na qual – não raras vezes – era tomado até como um “chato”... E ficaria aqui a descrever tantos e tantos homens e mulheres que, sempre muito ocupados, nunca se furtaram – como já afirmei – a dispensar algum tempo a favor da comunidade. À sua maneira, eles também ajudaram na construção dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 22 de dezembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 168 DE BORBA A BÚRIGO Ainda na temática de ontem, prossigo falando de ilustres figuras do nosso cotidiano que nunca se esconderam na hora de ajudar a nossa comunidade. Hoje, falo, por exemplo, de Donatila Borba, cujo nome batizou a nossa Biblioteca Pública Municipal. Donatila, no apoio às causas estudantis, no rastro da poesia de cuja coletânea o “Bem-Te-Vi” sempre sobressaiu... Donatila, mãe do Lafaiete, o político da família; do Jurê, o seresteiro dos Borbas e do professor Carlos Augusto, da Escola Técnica de Comércio, do Conselho Curador da Fucri, fundador do Comerciário Esporte Clube, do Lions Club. Falo, ainda, de Luiz Bortoluzzi, filho do poderoso João, um dos mais prósperos comerciantes da Nova Veneza de ontem, de onde veio, depois de concluir o curso de farmácia, para abrir a São Luiz, de tanto sucesso e tanta saudade... Quero reportar-me à Dona Emília, cujo sobrenome já foi apagado, mas que era uma das mais competentes parteiras que aparavam crianças na Criciúma dos anos 40 e 50... Quero falar do Sinval Bohrer, aquele gaúcho que se revelou um verdadeiro “gentleman”, postado ali na frente da Loja Renner, elegantemente vestido, com chapéu à cabeça, cumprimentando a todos que por ali passassem e, quase sempre, chamando o transeunte pelo nome. O Sinval vereador, presidente da Câmara, prefeito interino... Presidente da Liga Católica Jesus Maria José... E por falar da Liga, como posso deixar de falar do Padre Estanislau, uma das lideranças públicas mais injustiçadas dos nossos dias?! Um vigário que dedicou tanto para o município que, em troca, nem uma ruela qualquer batizou com o seu nome. O Padre Polaco, temido e respeitado por gregos, troianos e etruscos, marcou época... Quero falar, também, do José Rosalino Zaccaron, da Padaria Brasil, um homem de educação até rústica que deixou a Linha Torrens e aqui veio se estabelecer com uma das padarias mais respeitadas do seu tempo. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 169 Hoje quero espaço para falar do Otávio de Luca, ali da Mina do Mato, líder inconteste de todo aquele Bairro ao tempo das minas da CBCA... Hoje quero falar do Wilmar Peixoto, itajaiense de nascimento, mas criciumense por opção, responsável pela designação de Rua Itajaí, aquela via pública hoje corredor do anel viário de nossa cidade. Careca, gordinho, de sorriso fácil, mas sempre transmitindo muita confiança daquilo que falava e naquilo que fazia... Neste capítulo não posso deixar de falar do Arthur Souza, alto, gordo, bigodudo, às vezes sisudo e às vezes bonachão, dependendo do momento e do lugar. Do seu Arthur, gerente da Estação Ferroviária e um dos mais fiéis escudeiros do político Diomício Freitas, de quem privava estreita amizade. Quero falar de Honório Búrigo, ah, o Honório, da Casa Nova, depois da Casa Honório Búrigo, com aquela mão toda atravessada, tentando fazer um gesto obsceno do qual a turma ria não tanto pela obscenidade, mas, mais, pela figura resultante daquela tentativa... Essas pessoas, somadas àquelas de quem me reportei ontem, não podem ficar no anonimato, quando falamos dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 23 de dezembro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 170 DE GORINI A GUGLIELMI Volto, hoje, a mencionar nomes de algumas pessoas que, sem desmerecer outras tantas que tanto fizeram por nós, merecem a citação do escriba no momento da rememoração dos 120 anos de nossa história. Do Dr. Dino Gorini que clinicou em Nova Veneza e aqui em Criciúma. Um médico diferente, simpático, altruísta, cumpridor rígido do juramento que a Faculdade lhe impôs tendo na cura do doente o objeto direto do seu sacerdócio e, só depois, o vil metal... Jorge Cechinel, vindo ali do Morro da Fumaça, empreendedor, trabalhador, dono de uma gana enorme de querer vencer na vida... Fidelis Barato, que deixou sua Jaraguá do Sul para vir para cá a fim de ser o guarda livros da empresa que, mais tarde, o teria como co-proprietário e presidente. O Fidelis político, vereador e presidente da Câmara e do partido, sempre calçando meias brancas e sobre o qual era imposto o epíteto de “panos quentes” haja vista sempre propor água fria em qualquer fogueira... O Sebastião Neto Campos, da Cpcan e da CBCA. Da primeira sabe-se de uma investida sua que o deixou terrivelmente frustrado: a água era distribuída à população pela Cpcan que pedia ao consumidor que fizesse economia porque o líquido era escasso. Ao dirigir-se ao trabalho, passando em frente à casa do Goulart, ali na esquina da Pedro Benedet com a Fiúza da Rocha, ele viu o fabricante de vinagre lavando uma camionetinha, na rua. Não falou nada. Foi à Cpcan e, de picareta em punho, voltou ao “local do crime” para cortar a água do senhor Goulart. Caiu do cavalo: a água que lavava o veículo era de um poço que o proprietário mantinha no fundo do seu quintal. Na CBCA, Sebastião chamava a todos de “moço”. Carrancudo, jamais esboçou um sorriso, até que a política o convocou para a disputa eleitoral. Aí, se transformou. De “Tião Medonho” como o chamavam, passou a ser o Dr. Sebastião... Quero mencionar, também, a veneranda Irmã Norberta, da nossa Forquilhinha, educadora dos segundo e terceiro tempos, responsável pela educação formal de tantas inteligentes cabeças de toda a nossa região. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 171 Santos Guglielmi, por exemplo, um obstinado pelo sucesso. Na sua concepção elegeu o patrimônio como objeto do seu projeto de vida. E, na busca da realização do seu ideal, esparramou empresas que distribuíram empregos que repartiram rendas que movimentaram a vida da cidade. Nico Guglielmi, irmão do Santos, com o nome do seu tio Antonio, cerealista, pecuarista e político, notabilizou-se nesta última função de onde partiria prematuramente para a eternidade... Enfim, esta terra é rica nas pessoas que a fizeram e que ela fez, cada um contribuindo, à sua maneira, para que as gerações atual e futuras tivessem o conforto que aqui já se apresenta. Não fosse o concurso de cada uma e das tantas que não é possível serem citadas e, com certeza, a realidade seria outra. Por isso a justiça é resgatada e essas pessoas recebem a nossa homenagem na dissertação dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 27 de dezembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 172 XI E MAIS ISTO Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 173 HOTEL E se alguém necessitasse de hotel? Aonde pousar? perguntava o viajante de primeira viagem que aqui não conhecia ninguém... Nosso primeiro escrivão, João Batista Targhetta, desenhou a resposta: fez de uma casa existente no mesmo local aonde temos hoje o Hotel Brasil, o seu hotel: simples, mas muito limpo e acolhedor. E pertinho da Estação do Trem, o que não deixava de ser um atrativo. Em 1918, Manoel Amante, Seu Maneca, deixou Laguna e veio estabelecerse aqui na cidade, também com o ramo de Hotel. O seu tomou o nome de Hotel Criciúma e foi instalado numa casa de alvenaria, de propriedade de Marcelo Lodetti, no local aonde temos, hoje, o estacionamento da loja Koerich, na Praça Nereu Ramos. O Hotel do Targhetta, mais tarde foi transferido para Vantero Margotti que o reformou dando-lhe um aspecto de verdadeiro Hotel assim permanecendo até bem pouco tempo. O nome inicial era Hotel Targhetta; depois, Hotel Margotti. Durante a II Guerra Mundial, numa patriotada não sabe de quem, a parede do hotel foi pichada sugerindo que o nome italiano desse lugar ao nome de Brasil o que, imediatamente, foi absorvido por Vantero. Daí o hotel tomaria o nome que, até os dias de hoje, denomina aquele que foi o primeiro hotel de Criciúma. Já a Alberto Savi Mundi é atribuída a instalação de um dos nossos primeiros restaurantes para o público. Ficava na Rua Henrique Lage, hoje esquina com a Henrique Lodetti. A sopa do Berto Mundi, dos domingos, fazia sucesso... E estas passagens também são inseridas nos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 5 de outubro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 174 O RINCÃO Por volta de 1930, os abastados da cidade chegaram ao litoral: descobriram a Praia do Rincão. Toda aquela faixa litorânea fazia parte do Município de Criciúma e para lá foi aberto um caminho capaz de permitir aos cresciumenses o acesso ao mar. Já em 1932, quatro modestas casinhas davam início à urbanização do nosso principal balneário. Eram as casas de praia de Marcos Rovaris, Cincinato Naspolini, Bepi Tunin (ou José Guglielmi) e do dono da sesmaria, Gervásio Teixeira. As quatro enfileiravam-se na artéria hoje conhecida como a Rua da Igrejinha Velha. Logo em seguida, por volta de 1935, já eram contadas as casas de Julio Gaidzinski, Vitório Búrigo, Abílio Paulo, Heriberto Hülse, Jorge Carneiro, Jacó Cruz, Júlio Teixeira, Santos Guglielmi, Vital do Pântano e Diomício Freitas. Era o início da nossa Praia do Rincão, hoje um dos mais bem aparelhados balneários de nosso Estado e intrinsecamente ligada à história destes 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 14 de julho – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 175 A CADEIA Ainda no início dos anos 50, os marginais da cidade eram guardados na cadeia pública da Av. Getúlio Vargas. A tal cadeia estava localizada exatamente aonde temos, hoje, a Telesc. Praticamente uma quadra para ela. Era uma casa de madeira, comum, sem pintura, mal tratada pelo tempo... Ao seu redor, uma plantação enorme de moranguinho silvestre que cobria todo o terreno. Pois é! ali já era praticamente fora do perímetro urbano da cidade de Criciúma. Freqüentavam aquela casa, ladrões de galinhas e os desordeiros de bailes e domingueiras, especialmente destas. Domingueira era o baile que se fazia aos domingos, com início aí pelas 15/16horas. Especialmente os destas haja vista que começavam a beber no Sábado e aí... Fatos pitorescos ocorridos em bailes eram conhecidos na velha cadeia: uma moça que negasse par, isto é, que não quisesse dançar com um determinado sujeito, poderia acabar na delegacia: se entrasse no salão da dança era para dançar e não podia se recusar, sob qualquer motivo. Depois, a cadeia foi levada para a Rua João Pessoa, num edifício imponente, com várias celas gradeadas e com as repartições burocráticas bem definidas. Ali permaneceu até a década de 7o quando foi transferida para a Santa Augusta e dali para cá todos conhecemos seus altos e baixos. A trajetória de nossa cadeia pública também faz parte dos 120 anos de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 21 de julho –quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 176 ÁGUA Água! Pois é, água... Estamos fechando o milênio e este orgulho de cidade! pede água. O precioso líquido está em falta. Lá atrás, nos primeiros tempos, nosso lençol freático era rico. Havia água em quantidade e com qualidade. Cada residência, ao ser construída, só era dada como pronta, para receber seu morador, depois que o poço desse água. Cada casa tinha o seu poço, aos fundos da residência ou mesmo a ela acoplado ou, até, dentro dela própria. Na Praça Nereu Ramos, a uns 15 passos da Galeria Benjamin Bristot, havia também o poço da cidade, com uma bomba manual que trazia água para copos, canecas ou baldes, para o ser humano e para os eqüinos já que naquele logradouro eram amarrados os cavalos “para andar a la messa, vero?”. No início dos anos 1930, por iniciativa dos senhores Abílio Paulo, Elias Angeloni, Frederico Minatto, Pedro Beneton, Pedro Benedet e outros residentes ao redor da Praça, suas respectivas residências conheceram o conforto da água encanada que era trazida em finos canos de ferro, de uma nascente localizada no bosque aonde temos hoje o Hospital São João Batista, então propriedade do senhor Angelo Benedet. Em 1923, os empregados do Departamento Nacional de Produção Mineral fizeram ver àquele organismo que suas residências, localizadas ao redor da Praça do Congresso, precisavam receber água encanada. O Plano do Carvão, então, canalizou água do Rio São Bento, lá no interior do distrito de Nova Veneza, trazendo-a até nossa cidade. Assim, nascia o primeiro serviço de distribuição de água à cidade de Criciúma que, já a essa altura, tinha todo o seu solo comprometido pela extração do carvão mineral. E continuava a faltar água. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 177 Em 1965, o Prefeito Ruy Hülse encampou o serviço de captação, tratamento e distribuição de água da Comissão do Plano do Carvão Nacional e criou o Samae, um serviço autônomo municipal para cuidar do setor. Logo em seguida, todavia, o Estado, através do DAE – Departamento de Água e Esgoto – absorvia o Samae e tomava para si a responsabilidade da água de Criciúma que, no governo de Colombo Salles, passou à responsabilidade da Casan. Cpcan, Samae, DAE, Casan... As siglas mudam e dançam no tempo entupindo ouvidos e canos e o criciumense pedindo socorro, implorando água. E olha que faz tempo! Água mole em pedra dura... Este, sem dúvida, é um capítulo que poderia ficar fora da história dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 7 de outubro – quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 178 DE PÃO & PADARIAS O pão nosso de cada dia... o pão nosso... De onde vinha o pão que alimentava nossos antepassados? Bom, é fácil imaginar que, lá no início, o pão era fabricado pela dona de casa na sua própria casa: sustentado por quatro pequenos pilares de madeira mesmo, o colono fazia um chão de terra, dentro de casa, sobre o qual ateava fogo; aí a dona de casa fazia a massa do pão, enrolava em folha de bananeira e o enterrava nas cinzas daquele fogo. O calor dessas cinzas assava o pão. Depois vieram os fogões de lenha com forninho, que se prestavam para esse mister. Quando não havia o forninho na cozinha, era construído o forno de rua, de tijolos, com uma boca quadrada de, mais ou menos, 40 por 40 cm e um suspiro... enchia-se esse forno de lenha, ateavase fogo e, quando os tijolos mostrassem uma cor prateada era o sinal de que a caloria para assar pães, galinhas e roscas, estava no ponto. Limpava-se o forno e, no lugar das brasas, os pães. Fechavam-se o suspiro e a boca e, dali a 40 minutos, se tanto, tudo assadinho. Só que esta tarefa dava uma mão de obra do cão! reclamavam as donas de casa. Em1930, dona Inez Damiani, num gesto ousado para a época, instalou a primeira padaria industrial da cidade. Ficava ali, na Paulo Marcus, no local onde hoje começa a Galeria Cavaller. Foi um sucesso! Todos buscavam comer o pão de fora, querendo assim dizer que o pão não era o de casa... Em seguida, seu João Gomes construiria a sua padaria, com uma série de imensos fornos, na propriedade que faz esquina das Ruas Lauro Müller e João Pessoa. Em 1940, nascia a Padaria do Bá - como era conhecido o senhor Manoel Gonçalves de Farias - de incomensurável sucesso, localizada numa pequena casa – ainda de pé – no início da Rua Henrique Lage. “Tem pão, Bá?!” foi uma expressão que tomou conta dos criciumenses. Em seguida o José Rosalino Zaccaron montava a Padaria Brasil e dali para cá as padarias foram sendo instaladas e o pão nosso de cada dia cada vez mais perto de nossas casas. Carroças tipo baú, com compartimento bem fechado e levando um balaio de higiene duvidosa ao lado do padeiro, transportavam o pão da padaria até as vilas da cidade... Pão D’água, Pão de Bico, Pão de Rala, Pão de Sopa (ou de avião), Biscoito Duro (bota duro nisso!), rosca... Não só de suor, mas também com muito pão (Tem Pão Bá?!) foram mastigados estes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 4 de outubro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 179 O CAFÉ DE TODO DIA Café, bebida indispensável na vida cotidiana do brasileiro. Poderíamos dizer, até, da vida cotidiana do cidadão de todas as partes do mundo. E como é que esse indispensável produto chegava à mesa dos nossos primeiros habitantes? Bom, no início, como de resto tudo quanto se consumia, vinha das cidades de Laguna e Tubarão. Mais tarde, consta que tanto o Sr. Marcos Rovaris, como o Sr. Pedro Benedet e o Sr. Frederico Minatto, andaram fabricando café, empiricamente, e vendendo aos aqui residentes... Nos anos 30, Henrique Lodetti montou a sua fábrica de café, o Café Criciúma, localizando sua unidade fabril ali aonde tivemos até bem pouco tempo a Justi Bebidas Ltda. Aquela fábrica era tocada pelo Antônio “Roleta” Lodetti e atendeu a todos os consumidores da cidade e da região. Depois, por volta de 1940, o Sr. José Contin Portella, juntamente com alguns amigos, compraram a fábrica do Lodetti e rotularam o produto de Café Portella. Outros fundaram a fábrica de Café Solima que acabou sendo transferida para Imbituba. Na Mãe Luzia, por volta de 1945, havia o Café Guzzatti... No ano de 1946, José Borges de Souza fundou a fábrica de Café Borges. Fez sucesso! Estava localizada ali na João Pessoa e a cada torrefação o olfato dos criciumenses era aguçado pelo aroma forte de um café que fez época. A cidade torcia para que o vento soprasse para aquele lado, na hora de encerrar a torrefação, para que aquele cheirinho chegasse até suas residências. Era uma festa! E durou até 1975. Em 1957, Benjamin Búrigo e Henrique Manfredini, instalaram o Café Pinheirinho, outro produto que faz a mesa dos criciumenses. Manfredini trouxera equipamentos de uma fábrica que possuíra em Meleiro e com o Búrigo, nascia o Café Pinheirinho de todos nós conhecido... Mais tarde vieram os Scremin, ressuscitando o Café Criciúma que alargou os limites geográficos locais e levou o produto para toda a macrorregião. E assim, fica constatado que essa bebida fantástica chamada café, tem muito a ver com os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 15 de setembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 180 E A CARNE? - I A carne é fraca, nos ensinam as sagradas escrituras. Vero? Que nada! Sem suas proteínas... A propósito, como é que era o fornecimento de carne à população, lá nos primeiros anos? Bom, cada proprietário, ao construir a sua casa, já construía, também, os apêndices nos quais instalava o galinheiro, o chiqueiro e as estrebarias. Ao eleger um galináceo para a mesa, confinava o condenado a uma vigília de depuração, em caponeira, na qual não tinha mais contato com a galinhada. Alguns dias depois, estava pronto para o abate... Com o suíno, o processo era o mesmo. A porcada viva solta, mas quando era eleito um leitão para o abate, este era confinado ao chiqueiro dali saindo para morrer. Com a vaca, não se tinha qualquer outro cuidado a não ser, de olho, eleger aquela que aparentasse estar em condições de saúde apropriada para o carneio. Esse abate era feito em casa mesmo: a galinha tinha suas pernas amarradas e presas a um sarrafo de cerca e ali sua cabeça era degolada... O suíno tinha suas patas amarradas entre si e, numa mesa, o matador enterrava-lhe uma faca à altura do coração e estamos conversados. Com a vaca – ou o boi? – o processo era parecido: o animal era preso a uma árvore, de preferência frondosa – para aproveitar bem a sua sombra – e ali recebia a facada mortal que atingia certeiramente o seu coração. Depois, era fazer o esquartejamento: este pedaço vai para fulano, este para sicrano, isto é para o salame, isto é para morcilha, isto é para sabão... Ali em Nova Veneza, João Bortoluzzi, com seus irmãos, possuíam o seu frigorífico, uma sofisticação para aqueles anos; o mesmo ocorreria por aqui, com o frigorífico do Marcos Rovaris. Contratos de fornecimento desses produtos para os grandes centros do País deixavam os aqui residentes a “ver navios”: o negócio era mesmo abater domesticamente para o consumo familiar. Até que, em 1927, a Cooperativa Agrícola resolveu construir o seu frigorífico para a venda à população. Disto vou me ocupar no espaço do dia de amanhã. Também de carne foram construídos os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 30 de novembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 181 E A CARNE – II Como afirmava ontem, falaremos hoje do Frigorífico construído pela Cooperativa Agrícola Ltda., entidade que congregava os produtores rurais de todo o Município. Era o ano de 1927, quando ela foi constituída e localizada ali na Rua Henrique Lage, na casa que acabara de ser construída pelo Roberto Mayer, de quem foi adquirida. Lá atrás, o comércio de banha: comprava banha de todos os que quisessem vender e depois revendia para quem quisesse comprar. Era o tal Sindicato da Banha, apelido de origem desconhecida que nada tem a ver com as organizações sindicais da era moderna. O negócio mostrou-se tão promissor que os cooperados entenderam de construir um frigorífico. Preliminarmente, para o abate de porcos e o fabrico de banha. Mais tarde, para o abate também de bovinos. Em qualquer dos casos, o objetivo era a venda da carne à população. E construíram o frigorífico bem longe da cidade para evitar o mau cheiro às residências familiares e para que estes fossem preservados de ouvir os possíveis gritos dos animais agonizantes: ergueram a construção lá fora, na hoje Rua São José, aquele prédio imenso em frente ao INPS. Também não se sabe a razão, chamaram-no popularmente de Sindicato da carne embora fosse batizado de Frigorífico Santa Catarina. E matou muitos suínos e muitos bovinos; e vendeu muita carne, num processo que, hoje, seria denunciado de pronto à Vigilância Sanitária: a carne nem era embrulhada: era jogada diretamente na bolsa feita de pano de saca de açúcar ou cesta de arame que o comprador apresentava ao balconista... No final dos anos 1950, fecharia suas portas reabrindo no início dos anos 60, sob o comando de Mário Luz e Jorge Cechinel e contando, como sócios, dentre outros Valdemar Loch, Angelo Amboni, Mário Crippa, Albino Mondardo e Luiz Philippe. A Família Teixeira, de Urussanga, acabava de vir residir aqui e todos os homens daquela casa foram chamados a trabalhar no Sindicato. As quatro da madrugada, já estavam lá, fornecendo carne para o Pedro Bolan, do Bairro Vinte; Pedro Madeira, da Boa Vista; Seu Juca, do Santo Antônio, o Marcolino, do Bainha, o Otávio de Luca, da Mina do Mato, o Dal Pont, da Mina Brasil e outros tantos que compravam no atacado para revenderem nos balcões de seus armazéns. Dos Teixeira, ali trabalharam o Seu Hercílio, que era o comandante, o Antenor, o Valnei e o Alcides, verdadeiros craques no corte de carne. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 182 Havia, ainda, o Mário Barbosa, o Aceir, o Sebastião, a Dona Nair, o seu Nuto, a dona Cedinha, o seu Oliveira, a Goretti e o Orlando. Aos sábados, quando seria processada a faxina da semana para deixar matadouro e açougue nos trinques, vinha a pobreza enfileirar-se para ganhar cabeça de porco, fressura, serros, ossinhos do pernil, paleta, coração, carne picada e outras miudezas que eram transportados em ganchos ou sacolas de pano. O Sindicato da Carne, de saudosa memória, fabricava charque, salame com carne de suíno e de bovino misturada, linguicinha, torresmo. A banha era da marca Bloco de Gelo e o sabão tinha duas marcas: o Xavante e o Guarani. Era uma festa... E ficou na saudade destes 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 1ºde dezembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 183 ENERGIA ELÉTRICA Já faltou energia elétrica aí na sua residência? Pois é: e você já parou um instantinho para perguntar como é que era, lá no início da nossa cidade, quando não havia energia elétrica? Querosene, gasolina e óleo diesel davam as cartas. Lamparinas de todos os tamanhos (nas quais era embebido um cadarço em querosene) responsabilizavam-se pela iluminação das casas: cada uma tinha um número razoável daquele utensílio que, a par de iluminar, soltava uma fumaça espessa e preta que deixava o nariz do iluminado completamente sujo e os olhos avermelhados... O forro das casas, então!... O óleo e a gasolina eram destinados à força motriz. Todo esse combustível era adquirido em galões ou barris e sua procedência era o Porto de Laguna e a Carlos Hoepecke S. A., um dos mais expressivos estabelecimentos comerciais do Brasil, daquela época. Em 1915, Marcos Rovaris instalou um locomóvel que se encarregou de iluminar as noites públicas das festas da Igreja São José e umas seis residências aqui do centro. Não cobrava pelo consumo. Benjamim Bristot produzia energia com as suas engenhocas de fazer farinha e serrar madeira e também distribuiu energia para uma meia dúzia de residências. Em 1936, o Município “abria concorrência para a concessão do direito de exclusividade do fornecimento de força motriz e iluminação elétrica para a sede do município”. Foi aí que entrou o francês Dr. Charles Frederic Pitê, que montou uma usina a diesel, localizada mais ou menos na esquina da Getúlio Vargas com a São José. Distribuía energia para quem quisesse, mas cobrava pelo consumo. Mais tarde a Próspera montou o seu grande locomóvel com energia termoelétrica da qual resta, hoje, a Chaminé que conta a história. Depois veio a Cia Força e Luz de Criciúma que, já nos anos 70, foi absorvida pela CELESC que, hoje, é a responsável pela distribuição de energia elétrica para todo o Município. Houve dias apagados, mas a maioria dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade, foram bem iluminados... ........................................................................................................................... Publicado dia 27 de setembro – segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 184 IAPTEC O serviço previdenciário, até os governos militares, era prestado por Institutos próprios de determinadas categorias. Assim, tínhamos o IAPB, que era o Instituto dos Bancários; o IAPC, que era o dos comerciários; o IAPI, que era o dos industriários; o IAPTC – que se popularizou com o apelido de Iaptec – que era o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Trabalhadores em Transporte de Carga. De todos, este era o mais forte em nosso meio, haja vista que abrigava os ferroviários, os motoristas e mineiros da indústria da mineração. Não se sabe o porquê, mas o mineiro, que poderia ser incluído no IAPI, o dos industriários, já que trabalhava na indústria, era ligado ao Iaptec. Este foi aqui instalado em 1947 e teria papel importante no cenário sócio-político local. Seu primeiro agente foi o senhor Ado Vânio de Aquino Faraco cuja sucessão contemplou as seguintes pessoas: Humberto Dietrich, Ademir Pereira de Abreu, Ari Belém Wildner, Valfredo Ramos, novamente Vânio Faraco, Valmor Nagel, Eny Hülse, novamente Valmor Nagel, Nilton Francisco Rebello, novamente Valmor Nagel, Sílvio Veloso, Argemiro Santana e Armando Bettiol. Em 1962, nosso Iaptec assumia a condição de Agência Especial, um privilégio que distinguia apenas três municípios do Brasil: Nova Lima, Santos e Criciúma. Em 1965, no governo Castello Branco, toda a previdência foi unificada e, como todos os demais institutos, o Iaptec também desapareceria. Nascia, agora, o Instituto Nacional de Previdência Social, o conhecido INPS que, aqui, foi instalado sob a direção do advogado Ivo Hekert. Assim como o Iaptec, que deixou saudades, também desapareceria, e não se sabe a razão, a Agência Municipal de Estatística, um dos organismos mais sérios montados no Município. Ela remonta a 1942 e tinha sob seus encargos a tarefa de apontar todos os indicadores do território municipal. Assim, quando o contribuinte quisesse saber, por exemplo, qual fora a arrecadação de tributos de anos anteriores, consultava a Agência e obtinha ali a resposta. Pedro Ferreira foi o seu primeiro encarregado, substituído por Valter Piazza que veio de Florianópolis especialmente para assumir o serviço e, depois do Piazza, Dozolina Rovaris. Aí a Agência Municipal de Estatística sucumbiria. Por quê? Também de indagações são feitos os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! Publicado dia 15 de dezembro – quarta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 185 A BANDA As festas religiosas sempre reivindicavam a presença de música. E tinha de ser música ao vivo porque o som mecânico só viria bem mais tarde, com vitrolas e radiolas que, sem potência, eram restritas a pequenos ambientes... Nessas festas, invariavelmente a atração era a Banda Musical. Se, da programação constasse a presença, por exemplo, da Banda Lyra de Tubarão, ou a de Jaguaruna ou a de Laguna ou a de Imaruí, podia se contabilizar sucesso antecipadamente. Ao lado da igreja montava-se um palco sobre o qual a banda se postava e, ao seu redor, o público disputava lugar... Em 1924, fundava-se aqui a nossa primeira banda: Banda Musical Etelvina Luz, nome dado em homenagem à primeira dama, mulher do governador Hercílio Pedro da Luz. A falta de recursos financeiros e de músicos, fê-la desaparecer logo em seguida. Em 1932, o Maestro Êmoni Mattei fundava a Banda Musical Sete de Setembro que durou 10 anos os últimos dos quais sob a regência do maestro José Andrade. O Brasil precisava equipar melhor a sua força aérea. Vivíamos os inseguros anos da II Guerra Mundial. Em todo o território nacional fora feita uma campanha para angariar recursos para a aviação brasileira. O criciumense acorreu com tanto entusiasmo àquela campanha que a cota estipulada estourou em 10 mil contos de réis que, o Prefeito Elias Angeloni resolveu destinar para a fundação de uma Banda Musical. Era novembro de 1942: nascia a Banda Musical Cruzeiro do Sul, a nossa gloriosa Cruzeiro do Sul que, transformada em Orquestra Sinfônica, abrilhanta eventos culturais da Criciúma deste final de século. Dentre outros, foram seus fundadores os senhores José Parente, Abdon Alexandrino, Moisés Aguiar, Ernesto Lacombe Filho, Gilberto Machado Vieira, Pedro Milanez, Addo Caldas Faraco e, como se viu, o Prefeito Elias Angeloni. Zezinho Aguiar e Ernesto Lacombe Filho foram a Porto Alegre e adquiriram todos os instrumentos, sob a orientação do maestro Raul Madalena. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 186 E daí, haja festa e haja Banda. No território do município e acentuadamente fora dele, lá estava a furiosa Banda Cruzeiro do Sul emprestando seu brilho às festas. De 1943 até 1984, foi seu maestro o inesquecível Jacó Victório, um dos mais lúcidos compositores de dobrados que a música conhece. Os acordes da Banda Musical Cruzeiro do Sul, velha de guerra, também abrilhantam os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade. ........................................................................................................................... Publicado dia 19 de outubro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 187 CESACA VELHA DE GUERRA A primeira cerâmica do estado de Santa Catarina data de 1919, era de propriedade da Família Lage e continua fabricando cerâmica de revestimento até os dias de hoje: é a Cerâmica Imbituba, localizada na cidade do mesmo nome. Em outubro de 1947, um grupo de criciumenses, entendeu de também montar uma fábrica de artefatos de cerâmica em geral: nascia a pioneira indústria cerâmica desta Região: a Cerâmica Santa Catarina Ltda., de nós todos conhecida como Cesaca. Um dos seus cotistas era o italiano Alfredo Del Priori que, ceramista na Itália e na indústria de Imbituba, garantiria o sucesso técnico da nossa Cerâmica. Além de Del Priori, com cotas no valor de 100 mil cruzeiros, participavam: com 250 mil: Júlio Gaidzinski e o Dr. José Tarquino Balsini; com 150 mil: José Pedro Philipi e Archimedes Naspolini (meu pai); com 100 mil cruzeiros: Mansueto Costa e Octávio Minatto; e, com 50 mil cruzeiros: Elias Angeloni, Sinval Boherer, Jorge Savi, Abelardo Sheidt, Maximiliano Gaidzinski, Luiz Lazzarin, Victório Búrigo, Jorge Cechinel, José Passos de Motta e Ada Gaidzinski. Esse capital, assim distribuído, perfazia um total de um milhão e seiscentos mil cruzeiros. A fábrica era constituída por um galpão no sentido da Rua Anita Garibaldi, mais tarde transformado no pavilhão industrial que lhe deu frente para a referida artéria, mas que corre pela Rua Araranguá. Além de azulejos, a Cesaaca produzia louça e, num certo fechamento de balanço, presenteou a cada acionista com uma xícara personalizada com o seu nome, o que causou verdadeiro frisson no meio empresarial local. No final dos anos 50, foi constituída a Cerâmica Cocal Ltda. que, mal das pernas, viria a abrir falência e sua massa foi adquirida por Maximiliano Gaidzinski que a transformaria na Cerâmica Eliane. Era 1960. Na década de 70, Diomício Freitas, num ousado projeto para a época, constituiria a Cecrisa que passou a ser referencial cerâmico regional dando impulso vertiginoso à economia criciumense. Se for verdadeiro que Imbituba foi a precursora regional, que a Cesaca foi a pioneira local, que a Eliane é resultado da tenacidade de um homem destemido chamado Maximiliano Gaidzinski, também é verdadeiro que a realidade cerâmica passou a ser outra com a implantação da Cecrisa e suas unidades fabris. E isto tudo faz parte do contexto dos 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ............................................ Publicado dia 28 de dezembro – terça-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 188 NATAL É natal. Natal de Jesu Bambino. Vivo, de carne e osso, Ele estaria festejando, na noite de hoje, 1.999 anos de idade. Glorificado, esse aniversário Ele está fazendo e nós comemorando. Se, ao invés do Oriente, Jesus Cristo tivesse nos dado a honra da naturalidade, certamente Maria e José seria um casal de mineiros – ela escolhedora de carvão – residentes numa vila operária qualquer da periferia da cidade... Com certeza, o recenseamento judaico que levou o casal para Belém, seria substituído por um recadastramento eleitoral ou de CPF a que estaríamos todos sujeitos e que fizera com que Maria e José deixassem sua casa, viessem até o centro da cidade e, na volta, a pé, a hora do parto se apresentasse... Se Ele tivesse nascido aqui em Criciúma, certamente Maria e José, ao invés de uma estrebaria, teriam procurado uma embocadura de mina, velha, abandonada e esquecida e, ao invés de uma manjedoura, o resto de uma vagonete de carvão, toda quebrada, já sem os eixos e rodas... Naquelas condições, Maria teria dado à luz o seu primogênito que fora aparado pelo próprio marido, o mineiro José que o deitaria naquele resto da vagoneta... Seriam descobertos por dois ou três mineiros que, tendo se distraído, perderam a condução da mineradora e agora estão indo para o trabalho a pé... Não haveria burrinho, nem vaca, nem carneirinhos... serviriam de testemunhas os lagartos, as corujas, os morcegos, os pirilampos, sapos e rãs, animais tão comuns em galerias abandonadas... Lá do Oriente não viriam os Reis Magos, mas, aqui da redondeza, os Prefeitos de Siderópolis, de Nova Veneza e de Içara, que trariam, como presentes, não ouro, incenso e mirra, mas, uma caderneta de poupança, um seguro de vida e uma bolsa de estudos... Naquele ambiente dominava o cheiro ocre do esquecimento misturado com o azedo do gás proveniente dos rejeitos depositados no solo além daquele forte da combustão peritosa, da ponta de pedra localizada ali à frente, e que, certamente, ocasionará complicações no sistema respiratório de Jesu Bambino... Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 189 Se Jesus tivesse nascido por aqui, sua infância seria tomada por brincadeiras num campo desgramado de peladas futebolísticas, com bola feita de pano ou de bexiga de porco... estudaria numa escola isolada com caderninhos simples, nada de espiral... vestiria roupinha simples e com remendos, bem assim como a gente está acostumado a ver na simplicidade da vida cotidiana dos que vivem à periferia urbana... Mas, isto tudo é devaneio. Dão-se asas à imaginação e colhe-se esse tipo de resultados. Bem que poderia ser verdadeiro... Voltando à realidade, é nosso desejo que todos tenham um Feliz Natal como o desejaram, entre si, naquele primeiro Natal, o de 1880 quando, há quase um ano longe da pátria-mãe, nossos imigrantes festejavam o primeiro Natal no Brasil, em Santa Catarina, aqui em Criciúma. Sem os apelos consumistas dos dias de hoje quando o que menos conta é o aniversário de Jesu Bambino. A paz é atingível. A prosperidade, também. Basta que as queiramos, como as quiseram nossos precursores, os fundadores de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 24 de dezembro – sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 190 REVELLION Acabou o ano. 1999 agoniza e, daqui a horas, fará parte da história. Para alguns, uma história coberta de alegrias, de momentos bons, de prosperidade, de vitórias. Para outros, nem tanto: dissabores, desavenças, desemprego, cheque devolvido, sei lá... um ano ruim. O que interessa, todavia, é que estamos vivos. Vivos e sadios para festejar o revellion que escancara as portas para o charme especial do 2000, último ano do Século XX, último do milênio e, aí sim, daqui a um ano, festejando o adeus de um século altamente generoso e o desvendamento do XXI, o século da esperança. Faz cem anos que os nossos ancestrais, os fundadores da nossa cidade, viveram momentos assemelhados. É bem provável que eles tenham ido ali ao mato, cortado alguns pés de palmito e, com estes, enfeitado aqueles projetos de ruas, mais tarde consagrados como a Marcos Rovaris, a João Zanette e a Paulo Marcus, além da Praça Nereu Ramos. É quase certo que as mulheres e as crianças tenham amarrado fiadas de bandeirolas criadas com o corte de folhas de papel de embrulho, de alguns jornais e até de algumas revistas velhas... Pode-se afirmar que, no momento da transição do 1899 para o 1900, os sinos da Igreja tenham repicado e o espocar de uma ou outra bombinha tenha sido ouvido... Com absoluta certeza podemos registrar que houve muito vinho, muito pão e muita cachaça, ah! isto é absolutamente certo. Devem ter começado a beber ali pelas 18h00min horas – sem esta de horário de verão – e só pararam quando as pernas não mais os suportavam. Mas você queria o quê? À época, isso já era um luxo. A sanfona dava o tom e o Mérica Mérica, o Belle Scarpete, o La Colombina e o Santa Luccia foram sendo reprisados durante a noite inteira... Houve muito abraço, houve muito beijo, os cumprimentos sucederam-se, os olhos expulsaram muitas lágrimas: umas de alegria, outras de melancolia, muitas de esperança, tantas de saudade... Mutatis mutandis, é como hoje, neste reveillon do ano da graça de 1999, com uma diferença: o conforto. Embora eles não tivessem acesso a conforto e nem imaginassem o que estes cem anos dariam de presente à humanidade, Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 191 em matéria de bem estar, a festa de hoje é diametralmente melhor. As comunicações nos aproximam instantaneamente não importando distância. A televisão nos mostra o mundo inteiro no momento do acontecimento. Essa tal palavra “saudade” já está quase em desuso... De lá, a lição que tiramos para o dia de hoje, é a da compreensão. O mundo deles era diferente, claro que era. Mas, a compreensão foi a riqueza maior que aqueles abnegados de ontem transmitiram às gerações que vêm se sucedendo desde então. Que todos tiremos o máximo de proveito das coisas boas do agonizante 1999 e que a prosperidade seja a tônica no último ano do Século XX. Feliz 2000 a todos os que querem o bem de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 31 de dezembro –sexta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 192 XII ORGULHO DE CIDADE Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 193 ORGULHO DE CIDADE! Olá amigos! Aqui estamos, vocês e eu, para o último capítulo de uma série de 136 que, iniciada dia 1º de julho de 1999, é concluída no dia de hoje, comemorativo aos 120 anos de fundação deste orgulho de cidade! Valeu, pela pesquisa, pelas entrevistas, pelos depoimentos, pelo estudo, pela história – em si. Mercê daqueles primeiros homens e daquelas primeiras mulheres do 6 de janeiro de 1880, cá estamos, gente de todas as camadas sociais, professando inúmeros credos religiosos, militando em dezenas de agremiações partidárias, confessando amor ao Criciúma Esporte Clube, preto e amarelo, e a tantos outros clubes de futebol que vestem camisas de todas as cores, alguns residindo na zona rural e muitos no centro da cidade, alguns muito ricos, muitos remediados e uma maioria pobre, todos festejando esta significativa data. A Criciúma da primeira hora, denominada Cresciuma, pequena, desconfortável, interiorana, impondo incomensuráveis sacrifícios aos seus primeiros habitantes... A Criciúma atônita do fim do Século XIX, quando era descoberto o carvão mineral que aflorava em seu solo e, já nos primeiros anos do Século XX era extraído em escala industrial... A Criciúma da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina que a rasgou de ponta a ponta no sentido Norte-Sul, dando-lhe status de cidade e contribuindo decisivamente para o seu progresso... A Criciúma de 1925 quando, por seus filhos mais ilustres, promoveu sua emancipação de Araranguá, tornando-se uma nova unidade políticoadministrativa do estado barriga-verde... A Criciúma que, no rastro da Revolução de 1930, admirada e sem forças para esboçar qualquer reação, assistiu ao primeiro golpe político impetrada contra um seu mandatário... Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 194 A Criciúma da diversificação industrial iniciada nos idos anos 40 e sedimentada na década de 70, quando viu – até meio assustada – o carvão dando seu lugar para a indústria cerâmica, para o complexo de confecções, para a indústria do plástico e a da química... A Criciúma dos velhos tempos em que se ensinava em italiano, alicerce para a sua futura Universidade, realidade palpável dos dias atuais... A Criciúma do primitivo Conselho Municipal, fechado no Estado Novo e reaberto em 1946 com a designação de Câmara de Vereadores, estuário da discussão dos magnos problemas comunitários... A Criciúma, de Rovaris a Meller, administrada – sempre – com garra e espírito público, passando por Naspolini, Angeloni, Amante, Faraco, Bortoluzzi, Campos, Seára, Lazzarin, Preis, Boherer, Oliveira, Rosa, Junkes, Hülse, Alexandrino, Sonego, Manique, Back, Guidi, Hülse, Alves, Uggioni, Moreira e Antonelli cada um, a seu modo, escrevendo um pedaço da história, com maior ou menor aceitação popular... Esta Criciúma que se nega a baixar a cabeça, que não aceita o desânimo, que tem suas forças redobradas cada vez que lhe imputam uma fraqueza... Esta Criciúma, mestra e mãe de tantos que em seu solo nasceram e nele vieram buscar sua casa... Esta Criciúma, cujo berço foi plasmado em carvão e hoje é uma aurora vibrante de uma nova e feliz geração, é, sem sombra de dúvidas, um ORGULHO DE CIDADE! Obrigado amigos! ........................................................................................................................... Publicado dia 6 de janeiro - quinta-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 195 BIBLIOGRAFIA Pronto: já é 2000. A comemoração dos 120 anos está às portas. Estamos na reta final do nosso trabalho. Diariamente, mais ou menos neste horário, a Eldorado colocou no ar um pequeno capítulo de uma empolgante história que revelou, num linguajar o mais acessível possível, aspectos diferentes da história de nossa cidade. Desde 1º de julho, uma vinheta com os acordes do Hino de Criciúma anunciou – e anuncia – que aqui compareço para reportar-me ao assunto. E tanta gente me pergunta: “Mas Archimedes, aonde vais buscar tantas informações?” É verdade: para escrever estas linhas, há que haver uma bibliografia rica a ser consultada. Minhas fontes de informações vieram de todos os lados, de gente de muitas origens. Umas delas, porque viveram alguns episódios, outras porque ouviram falar deles, umas terceiras indicando quem pudesse deles saber. Dessas, é impossível nominar: certamente seria omitido algum nome, o que se tornaria imperdoável. Registro, contudo, os textos e as pessoas que, mais acentuadamente foram abordadas para este mistér: do saudoso Pedro Milanez, o seu livro Fundamentos Históricos de Criciúma; Criciúma, Amor e Trabalho, obra editada pela municipalidade, na gestão de Algemiro Manique Barreto, sob a direção editorial de José Pimentel e Mário Beloli; Imigração Italiana, do Mons. Agenor Neves Marques; do Jornal da Manhã, cem artigos publicados por mim e pelo historiador Mário Beloli; Criciúma 70 Anos, de minha autoria; Os Governantes de Santa Catarina, de Carlos Humberto Corrêa; da Câmara Municipal de Criciúma, seu arquivo morto e, especialmente, os livros de assentamentos de atas, de leis, de decretos... No dia 6 de janeiro, comemorativo ao aniversário do município, o livro “CRICIÚMA, ORGULHO DE CIDADE – Fragmentos da História de seus 120 Anos” estará sendo pré-lançado ao público, oficialmente. Será no calçadão da Praia do Rincão, ao lado do Supermercado Angeloni, a partir das 20h00min horas. Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 196 Você que me honrou com a audição desde 1º de julho é meu convidado à Noite de Autógrafos no pré-lançamento dessa obra que reputo da maior importância para o ensino de nossa história. De resto, cabe-me agradecer à direção da emissora, nas pessoas do Lessa e do Ricardo, do operador do estúdio de gravação, Rogério, que me aturou este tempo todo, aos patrocinadores que acreditaram nesta proposta e me honraram com a chancela publicitária de cada edição, aos informantes que tanto contribuíram com subsídios para tantos capítulos e, especialmente, um agradecimento especial a você que me ouviu, que discutiu, que concordou, que discordou, que propagou, que esperou o capítulo de amanhã... você foi o objeto direto disto tudo. Obrigado! E viva os 120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade! ........................................................................................................................... Publicado dia 3 de janeiro - segunda-feira Archimedes Naspolini Filho – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE – 2000 – VOL. I Página 197