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Reflexao1
Posicionamento do Cliente Cirúrgico
Reflexão 1 – Posicionamentos Cirúrgicos…uma arte e uma ciência
“Posicionar um doente para uma cirurgia é uma arte e uma ciência e, é também,
um dos factores que intervêm no sucesso da cirurgia. É uma actividade pluridisciplinar
que envolve a participação do enfermeiro, do cirurgião, do anestesista e do auxiliar de
acção médica” (AESOP, 2006, p. 71). Esta citação evidencia a complexidade associada ao
posicionamento cirúrgico e a necessidade de envolvimento de toda a equipa de
profissionais presentes na sala operatória para essa acção. O posicionamento, segundo a
AESOP (2006) é “(…) a capacidade de colocar, mover, manter o corpo numa posição
que permita a melhor exposição cirúrgica e um mínimo de compromisso das funções
fisiológicas” (p.72). O tipo de posicionamento cirúrgico é variável de acordo com a técnica
e abordagem cirúrgica e é escolhido pelo cirurgião com o acordo do anestesista. Por vezes,
podem ser realizadas algumas adaptações nos posicionamentos de acordo com certas
características dos doentes, como o peso, a idade, limitações osteoarticulares. O
posicionamento cirúrgico é uma acção dependente de enfermagem, um acto prescrito pelo
anestesista e cirurgião, só podendo ser iniciado com o consentimento do anestesista
(AESOP 2006).
O enfermeiro perioperatório necessita de conhecer a história do doente que está a
cuidar, identificando as suas especificidades (história cirúrgica anterior, existência de
lesões, limitações articulares, presenças de próteses cirúrgicas), iniciando-se essa recolha
de informação na visita pré-operatória de enfermagem.
Do mesmo modo, o enfermeiro perioperatório deve compreender a anatomia e
fisiologia da pessoa e as influências da anestesia nessas duas dimensões. A anestesia pode
influenciar o sistema cardiovascular, provocando hipotensão durante o posicionamento e
do mesmo modo pode limitar as compressões diafragmáticas, conduzindo a alterações do
padrão ventilatório do doente (AESOP, 2006). O sistema músculo-esquelético, devido à
administração de relaxantes musculares, fica mais susceptível à ocorrência de lesões
articulares (AESOP, 2006). Compete também ao enfermeiro perioperatório elaborar uma
planificação de todo o processo de posicionamento cirúrgico eficiente e coordenada,
através da selecção dos equipamentos essenciais ao posicionamento e reconhecendo que
esta tarefa exige um verdadeiro trabalho de equipa entre os vários profissionais (Fuller,
2009).
Segundo a AESOP (2006) o posicionamento cirúrgico tem como principais
objectivos “(…) providenciar uma óptima exposição e acesso ao local da cirurgia; manter
o alinhamento corporal; permitir óptima função respiratória e circulatória; permitir um
acesso fácil para administração de fluídos, fármacos e agentes anestésicos; não
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comprometer as estruturas neuromusculares e vasculares e nem a integridade cutânea;
permitir o máximo conforto ao doente, promovendo o seu bem-estar e a sua segurança;
permitir conforto à equipa cirúrgica.” (p. 72).
Os riscos associados ao posicionamento cirúrgico podem variar de acordo com as
características do próprio doente e com o tipo de cirurgia a que vai ser submetido. Assim,
evidencio, na tabela seguinte, os factores de risco e as respectivas lesões que o enfermeiro
perioperatório deve conhecer, para conseguir planear a sua acção zelando pela segurança
Características dos doentes
Insuficiente Cárdio-vascular
as
Crianças
Respiratórias
Alterações
Alterações
Riscos
Hemodinâmic
do doente (AESOP, 2006):
Posicionamento Cirúrgico
/Tipo de Cirurgia
Posição de declive ou próclive
Utilização de rolos de suporte
Terapia com corticóides
Situação de pneumoperitoneu
Insuficiente Respiratório
Crianças
Cirurgia Torácica
Cirurgia abdominal
Terapia com corticóides
Posição de declive
Posição de ventral
Alterações cutâneas
Obesidade
Desnutrição
Artrite
Diabetes
Cirurgias de longa duração
Posicionamento pouco fisiológico
Prematuridade
Hipotrófico
nervosas
vasculares
osteoarticulares
Lesões
Lesões
Lesões
Malformações diversas
Obesidade
Desnutrição
Cirurgias de longa duração
Posicionamentos com grandes estiramentos
Artrite
Cirurgias de longa duração
Alcoolismo
Posicionamentos: ginecológico, genupeitoral,
Diabetes
lateral, declive, próclive, com rolo
Portador de prótese vascular
abdominotorácico
Idoso
Artrite
Posicionamento ginecológico
Se necessitar de ser mobilizado durante a
Portador de próteses
cirurgia
Com patologia osteoarticular
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Existem também riscos gerais associados aos posicionamentos e para os quais a
AESOP (2006) definiu as seguintes intervenções de enfermagem:
Riscos
Origem
Manifestações
Hemodinâmicas
Respiratórias
Lesões Osteoarticulares
Lesões Nervosas
Alterações
Perturbações
Tipo de Anestesia
Hipotensão
Patologia Associada
Diminuição do débito
Terapêutica anestésica
cardíaco
Presença de garrotes
Diminuição do retorno
pneumáticos
venoso
Arrefecimento
Tipo de Anestesia
Hipo/hiperventilação
Terapêutica anestésica
Estiramento dos nervos
Consoante as áreas
Compressão do cubital
lesadas:
do
plexo
garrote
pneumático.
Monitorização intensiva do doente.
Impedir
* Parestesia
* Impotência funcional
Desrespeito pela anatomia
Hiperextensão dos membros
Dor no pós-operatório
Queda ou má movimentação
Luxação e/ou fractura
durante a transferência
Lesões ou fracturas das
Extremidades dos membros
extremidades
do
eléctrodo
neutro
da
electrocirurgia
Derramamento de líquidos
Isolamento inadequado do
doente
sudorese
da
Evitar a queda dos membros aquando
das manobras de posicionamento.
Providenciar
o
n.º
de
pessoas
necessárias para o posicionamento;
Apoiar as articulações durante as
manobras do posicionamento;
marquesa.
marquesa
incorrecta
directo
Fixar correctamente o doente à
entalados nas articulações da
Colocação
contacto
Nunca deixar o doente sozinho;
própria do doente
pontos de apoio
o
superfície corporal com a marquesa;
Compressão do mediano
Compressão ao nível dos
Lesões Cutâneas
do
membros;
* Dor
aumentada
Monitorização
Respeitar a posição fisiológica dos
braquial
com
vitais;
Atelectasia
Arrefecimento
Doente
Monitorização intensiva dos sinais
Dispneia
Patologia associada
Compressão
Acções de Enfermagem
Rubor, seguido de escara
nos calcanhares, mãos,
omoplatas,
sacro,
cotovelos e nuca
Queimadura no local de
colocação do eléctrodo
neutro
Maceração
cutânea,
queimadura e/ou flictena
Utilizar suportes de gel em todas as
áreas de pressão;
Monitorizar a electricidade estática
do tampo da marquesa;
Limpar
todos
os
líquidos
derramados;
Colocar o eléctrodo neutro de acordo
com os critérios de segurança;
Isolar o doente de qualquer contacto
metálico.
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Temperatura
Alterações de
Alterações das funções:
cardiovascular,
Arrefecimento
respiratória,
Monitorizar a temperatura corporal;
renal,
Manter o doente coberto;
neurológica,
Utilizar
meios
hematológica e aumento
durante a cirurgia.
de
aquecimento
do risco de infecção
Oculares
Lesões
Proteger
Secura da córnea
Úlceras da córnea
Olhos abertos
Ferida da córnea
córnea
com
pomada
oftálmica;
Manter as pálpebras fechada;
Utilizar suportes de gel para o
decúbito ventral.
Os posicionamentos cirúrgicos podem ser diversos e cada um tem especificidades
próprias e factores de risco associados, que assumem particular relevância para o
planeamento dos cuidados de enfermagem perioperatórios.
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