- AESabesp
Transcrição
- AESabesp
Saneas Saneas é uma publicação técnica quadrimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp AESABESP DIRETORIA EXECUTIVA Eliana Kazue Irie Kitahara / Presidente Amauri Pollachi / Vice-Presidente Cecília Takahashi Votta / 1ª. Secretária Aram Kemechian / 2º. Secretário Choji Ohara / 1º. Tesoureiro Emiliano Stanislau de Mendonça / 2º. Tesoureiro DIRETORIA ADJUNTA Carlos Alberto de Carvalho / Diretor de Marketing Gilberto Alves Martins / Diretor Técnico Cultural Ivan Norberto Borghi / Diretor de Esportes Ivo Nicolielo Antunes Junior / Diretor de Pólos Hiroshi Ietsugu / Diretor de Pólos da RMSP Cecília Takahashi Votta / Diretor Social CONSELHO DELIBERATIVO Almiro Cassiano Filho, Cid Barbosa Lima Jr., Eduardo Augusto R. Bulhões, Getulio Martins, Gilberto Alves Martins, Ivo Nicolielo Antunes Junior, José Marcio Carioca, Luiz Yukishigue Narimatsu, Magali Scarpelini Mendes Pereira, Nelson Luiz Stábile, Nizar Qbar, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Viviana Marli N. Aquino Borges, Wagner Luis Bertoletto, Yazid Naked CONSELHO FISCAL Benedito Felipe Oliveira Costa, Luciomar Santos Werneck, Oto Elias Pinto FUNDO EDITORIAL EQUIPE RESPONSÁVEL PELA SANEAS Getúlio Martins (Coordenador) Américo Oliveira Sampaio, Andréa Ferreira Guzzon, Darcy B. Filho, Jairo Tardelli Filho, José Antônio de Oliveira Jesus, Luiz Carlos Helou, Maria Cristina G. Stefani, Paulo Ernesto Marques da Silva, Rodolfo Baroncelli Júnior, Silvio Leifert, Ullisses Cruz Andrade JORNALISTA RESPONSÁVEL Ana Holanda Mtb 26.775 ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA Formato Artes Gráficas ([email protected]) TIRAGEM: 2.500 exemplares AESABESP Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1 01327-002 - São Paulo, SP Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484 Fax (11) 3141 9041 www.aesabesp.com.br [email protected] SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 3 É o capital humano que garante a qualidade do produto 4 CARTAS 6 EDITORIAL PONTO DE VISTA 7 Companhias em busca da universalização dos serviços 8 O Projeto de Parceria Público Privada – PPP na visão da ASSEMAE P&D 11 Aplicação de traçadores radioativos na determinação de tempo de residência média (TRM) em digestores anaeróbios: Estudo do caso ETE Barueri MATÉRIA DE CAPA 16 Mudanças climáticas: efeitos globais e regionais ARTIGOS TÉCNICOS 21 Tendências Climáticas e Hidrológicas no Sudeste do Brasil: Caso da Bacia do Rio Paraíba do Sul 27 O potencial de utilização de lodo de tratamento de esgoto como redutor de poluentes atmosféricos na indústria cimenteira MEIO AMBIENTE 35 Programa Nacional de fomento a gestão ambiental, produção mais limpa e eco-eficiência – promoção da rede brasileira INOVAÇÃO 37 Secagem de lodo da ETA Taiaçupeba disposto na forma de leira em pátio coberto ENTREVISTA 41 O poder de consumo ao alcance das mãos EMPREENDIMENTOS E GESTÃO 44 Ganhar prêmio é conseqüência de gestão eficiente: experiência da Unidade de Negócio Leste da SABESP na RMSP PERSONAGENS DO SANEAMENTO 46 Paixão de pai para filho 48 RESENHAS 49 RECONHECIMENTO Capa: fotomontagem Carlos Guena 50 AESABESP APRESENTAÇÃO É o capital humano que garante a qualidade do produto A SABESP é uma das maiores empresas de saneamento do mundo, não só em quantidade de ligações de água e esgotos e em faturamento, mas também em ativos intelectuais, que garantem a qualidade do seu produto. A AESABESP se orgulha disso e tem procurado formas de mostrar isso à sociedade, aos nossos parceiros e até mesmo aos nossos associados, que ficam isolados em suas unidades de trabalho e não se dão conta do enorme potencial dessa rede fantástica de conhecimentos. Por isso, nesta edição, divulgamos resultados de pesquisas feitas por engenheiros da SABESP como, por exemplo, as relacionadas com o lodo proveniente de Estações de Tratamento de Água e de Esgotos, e eficiência de digestores, feitas pelos Engenheiros (as): PhD Luiz Carlos Helou, Iara Regina Soares Chao e Airton Checoni David e colaboradores. Apresentamos ainda, os resultados efetivos na melhoria da gestão da Unidade de Negócio Leste da RMSP proporcionados pelas ações da sua Equipe da Qualidade. O monitoramento da água bruta nos mananciais, por bóias, em tempo real, tem sido um aliado valioso para a manutenção da qualidade da água distribuída à população. Por trás dessa iniciativa inédita no mundo, está o Químico José Roberto Blum, objeto do nosso reconhecimento. Além disso, contamos histórias de pessoas que fazem o saneamento como o Engenheiro Silvio Leifer. Você também pode escrever a sua história e enviar para [email protected]. A possibilidade de racionamento do abastecimento de água na RMSP foi motivo de muita discussão, no final do ano passado. Na matéria de capa vários especialistas apontam as causas e possíveis soluções para essas crises, cada vez mais freqüentes. Especialmente na bacia do Paraíba do Sul, mostramos o resultado da pesquisa do Dr. José Antônio Marengo do INPE / CPTEC. O PL 2546/03, sobre Participação Público Privado – PPP, é outro assunto que certamente vai entrar na pauta das nossas discussões. Para aquecer o debate, solicitamos o ponto de vista dos presidentes da ABCON, ASSEMAE e AESBE. Estratégias para o desenvolvimento sustentável são assuntos da entrevista com o Engenheiro Hélio Mattar do Instituto Akatu e do artigo do Geógrafo Sérgio Travassos do Ministério do Meio Ambiente. A partir da próxima edição você, que não é sócio da AESABESP, poderá receber a revista SANEAS em sua casa, bastando preencher a ficha de adesão no endereço www.aesabesp.com. br. Vamos também continuar a oferecer espaço para publicidade do seu negócio em nossa revista, que é lida por mais de 1 200 engenheiros e enviada para universidades, bibliotecas e empresas de todo o Brasil e portanto, uma excelente oportunidade de propaganda. Aguardamos o ser contato pelo email: aesabesp@aesabesp. com.br. Finalmente fica o compromisso da Equipe do Fundo Editorial da AESABESP de preservar a qualidade da Revista SANEAS nesta nova linha editorial. Equipe do Fundo Editorial da AESABESP. Da esquerda para a direita: Tonico, Ana, Getúlio, Helou, Claudia, Darcy e Jairo. Também fazem parte da equipe: Andréa, Cristina, Sílvio e Paulo Ernesto. Saneas / abril 2004 – 3 Cartas E stamos comunicando a ocorrência de um erro no título do artigo na última revista SANEAS. O título correto seria: AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DO CLORO E DIÓXIDO DE CLORO NO TRATAMENTO DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO, conforme consta no documento anexo enviado pelo Prof Sidney. Paulo Fernando Fonseca Castagnari Engenheiro de Assistência Técnica/Vendas Carbocloro S.A. Indústrias Químicas Resposta: Registramos que realmente houve omissão das palavras “avaliação” e “cloro” no título do artigo publicado nas páginas 16 a 25, do volume 1, número 16 de dezembro de 2003. Um dos objetivos do artigo era avaliar o comportamento dos agentes oxidantes: cloro e dióxido de cloro, para aplicações específicas. R ecebemos proposta de parceria com a organização da VI FIMAI/VI SIMAI- 6ª Feira e Seminário Internacional de Meio Ambiente Industrial. Nesta edição estamos divulgando o evento em troca da inscrição de quatro associados da AESABESP para participação da Feira e Seminário. Os sócios da AESABESP interessados poderão se inscrever pelo endereço: aesabesps@aesbesp. com.br. O s artigos técnicos divulgados através da revista, principalmente quando existe interesse comercial de alguma empresa que, logicamente busca difundir os seus produtos, está dentro de um jogo de interesses que atende as partes, sem ferir nenhum princípio ético. Apesar de não ser uma revista da SABESP, de certa forma a representa, pois todos somos técnicos vinculados a ela. Gostaria de sugerir que se desse atenção para quando alguma empresa for divulgar seus produtos através de artigos técnicos, averiguar se os seus produtos realmente estão qualificados e aprovados pelas unidades técnicas da Cia. Faço essa observação porque numa matéria de tubos corrugados para esgotos da empresa Kanaflex, esta afirma que seus produtos estão qualificados pela SABESP, o que não é verdade. Um forte abraço Hiroshi Ietsugu Resposta: o artigo em referência “Tubos corrugados de dupla parede em PEAD para esgoto” foi publicado na edição de junho de 2002, nas páginas 17 a 20 da Revista SANEAS. Na página 18 o autor informa que as especificações estão em andamento na SABESP e na Associação Brasileira de Tubos e Sistemas Poliolefínicos – ABPE. Nas considerações finais, no entanto, o autor afirma que “... já foram realizados testes de campo em várias empresas do Brasil, das quais muitas já, formalmente, homologaram e estão utilizando o produto, dentre elas a SABESP ...”. O autor esclarece que, no caso da SABESP, foram feitos os testes de campo sem, no entanto, as devidas homologações. O grupo técnico da SABESP que trata do assunto ainda está concluindo a normatização interna para esse tipo de material. Caro Hiroshi, obrigado pela sua contribuição e oportunidade de esclarecimento dessa questão. 4 – Saneas / abril 2004 S ou estudante de Engenharia Ambiental e gostaria de receber as publicações SANEAS Nº 14 - O Saneamento e a Universalidade/ SANEAS Nº 13 - Mananciais. Os artigos apresentados pela Revista Saneas da Associação dos Engenheiros da Sabesp são atuais e representa uma boa oportunidade para ficarmos atualizados na área do saneamento. Gostaria de contribuir com artigos na revista Saneas. Faço parte de um grupo de pesquisa do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Departamento de Física – Laboratório de Plasmas e Processo (LPP), situado no Centro Técnico Aeroespacial (CTA), São José dos Campos, SP. Pesquisamos sobre a geração e inserção de ozônio (O3) em sistemas de tratamento de água (ETA) e efluentes (ETE). Aguardo retorno, e espero poder para essa revista que representa muito na área de saneamento básico. Obs: caso seja possível assinar ou receber as edições da revista me informe do procedimento. Danilo Augusto Faria Resposta: Caro Danilo, as publicações serão enviadas para o seu endereço. Aproveitamos para informar que a partir da edição de abril você poderá assinar a Revista SANEAS, preenchendo a ficha de adesão no endereço www.aesabesp.com.br. Os artigos técnicos podem ser enviados para o endereço aesabesp@aesabesp. com.br. Eles serão publicados mediante aprovação pelo Fundo Editorial da AESABESP. S ugiro lançar na Revista SANEAS um concurso de frases sobre o tema “Economize água”. Seguem diversas frases (destacamos duas): Tenha um pingo de consciência, economize água; Vamos cooperar na economia de água, abra o seu coração para entrar a cooperação. Osvaldo Silva. Santa Bárbara D´Oeste, São Paulo. Resposta: Caro Osvaldo, sua proposta está em discussão na equipe do Fundo Editorial. AGRADECIMENTOS Odair Marcos Faria; Carlos Alberto Rosito, Ana Lucia Frony, Carlos Magno, Eneas Salati, Fabio Feldman, Fábio Gonçalves, Helio Mattar, Pedro Leite da Silva Dias, José Antônio Marengo Envie seus comentários, críticas ou sugestões para o Conselho Editorial da revista Saneas [email protected] Saneas Solicitações de assinatura da revista Saneas deverão ser encaminhadas para a Associação dos Engenheiros da Sabesp no endereço eletrônico [email protected] Deverão constar nome, E-mail, endereço, CEP, cidade e estado do assinante. Valor: R$ 90,00 por 6 edições Saneas / abril 2004 – 5 P&D EDITORIAL Mudanças climáticas Eng. Eliana Kitahara Presidenta da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP) Os estudos sobre mudanças climáticas fazem projeções para um futuro distante, o que talvez justifique as dificuldades A percepção de mudanças ambientais globais está cada vez mais evidente.Muitos fatores estão contribuindo para isto. De um lado, o avanço tecnológico (radares, satélites e supercomputadores) e do outro a crescente interferência humana sobre os sistemas terrestres. A simples existência do homem já é suficiente para causar mudanças no planeta e a partir da revolução industrial, no século 18, o estrago tomou grandes proporções. As máquinas substituíram as ferramentas e os índices de poluição evoluíram. Segundo o National Research Council existem três mudanças globais: Mudanças no Equilíbrio Radioativo da Terra (efeito estufa), mudanças no Influxo de Radiação ultravioleta (buraco de Ozônio) e o desflorestamento e redução de nº de espécies vivas (biodiversidade). Sabemos que há complexas interdependências entre os sistemas ambientais, e as mudanças ambientais em uma parte da Terra podem ter efeito em outra. As respostas não são lineares e há grandes incertezas ao se prever as reações iniciais e os resultados finais. Porém, o que tudo isso tem a ver com o recurso hídrico? O suprimento global da água vai permanecer constante ou poderá sofrer em virtude das mudanças climáticas? Quem opera sistemas de recursos hídricos gostaria de saber exatamente quais seriam as vazões afluentes às represas, de forma a evitar tanto seu extravasamento quanto seu esvaziamento pleno. Na operação das represas sempre existirá uma componente de incerteza muito grande. Nesta edição, os artigos textualizam as opiniões de pesquisadores e especialistas em mudanças climáticas. Esses cientistas afirmam que em uma tempestade de suposições, as alterações climáticas, globais ou regionais são fatores a se considerar num gerenciamento mais eficaz dos recursos hídricos.Os textos traduzem a inquietação que reina entre estes profissionais que trabalham com modelos climáticos, que apontam, num ce- 6 – Saneas / abril 2004 nário de aquecimento global, que o regime de chuvas e circulação de águas podem mudar. O Departamento de agricultura dos Estados Unidos, analisando vários cenários de modelos globais de mudanças climáticas concluiu que, embora a disponibilidade de água global deve aumentar entre 6% a 12%, em algumas regiões a escassez de água poderá agravar. Em cerca de metade da área do mundo, as precipitações pluviométricas serão maiores que hoje, particularmente no norte da Índia, da Rússia e América do Norte, mas reduções significativas vão acontecer nas regiões em desenvolvimento nos dias atuais. Os estudos sobre mudanças climáticas fazem projeções para um futuro distante, o que talvez justifiquem a dificuldade que as pessoas tem em concientizar-se sobre a real dimensão do problema, seus efeitos e suas implicações. No nível atual de conhecimento da ciência meteorológica não são possíveis tais previsões em curto prazo. Muitos modelos matemáticos foram e estão sendo desenvolvidos, porém, não se encontram num ponto de evolução que possa permitir levantar predições regionais fundamentadas. A mudança do clima é uma ameaça para a humanidade, porém fazer alguma coisa para amenizar a situação parece ser caro, complicado e difícil. Inclusive não há consenso no que se refere à real necessidade de investimentos na área. Uma ação prioritária que é imprescindível e de extrema importância para a mudança do clima é a continuidade e compartilhamento de tecnologias e conhecimentos técnicos ambientalmente sadios. O mundo, o clima e todos os seres vivos pertencem a um sistema fechado. O que fazemos causa conseqüências que acabam voltando para nos afetar. As crianças de hoje e as gerações futuras devem aprender a ver o mundo de uma forma diferente da que ele tem sido visto pela maioria das pessoas ao longo do século 20. ■ PONTO DE VISTA Companhias em busca da universalização dos serviços N os últimos 30 anos, os serviços de saneamento básico no Brasil deram um grande salto. Enquanto a população dobrou, atingindo a marca de 140 milhões de habitantes, o abastecimento de água passou a atender mais 92 milhões de pessoas no mesmo período, número que corresponde à população do México. Além disso, mais de 66 milhões de brasileiros (ou um país como a Vitor Fernando Bertini Presidente da AESBE– Associação Turquia) passaram a contar com redes de esgotamento sanitário. das Empresas de Saneamento Esse crescimento se deve a um Básico Estaduais – e da CORSAN – Companhia Riograndense de modelo regionalizado e eficienSaneamento te na prestação dos serviços de saneamento. Empresas de âmbito estadual adotam um sistema de tarifa com subsídio cruzado, permitindo que municípios e sistemas mais capacitados viabilizem o acesso ao saneamento daqueles com menos condições financeiras. A gestão regionalizada do saneamento facilita também a entrada de financiamentos e a ampliação da capacitação técnica. A história do saneamento no Brasil mostra que, nos anos 70, o setor investia anualmente 0,34% do PIB. No final dos anos 80, as restrições macroeconômicas levaram a uma redução drástica nos investimentos. Nos anos 90, essa taxa caiu para 0,20% do PIB (com exceção de 1998, quando o investimento alcançou 0,38% do PIB). A partir de então, o modelo não sofreu nenhum tipo de adaptação para a regulação dos serviços. Segundo dados oficiais, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 178 bilhões para que, num prazo de 20 anos, o país todo fosse atendido pelos serviços de saneamento. Esse valor representa um investimento anual de R$ 9 bilhões (0,63% do PIB). Hoje, o Brasil investe 0,25% do PIB em saneamento. Os esforços dos governos e empresas estaduais de retomar os empréstimos em 2003 e 2004 podem elevar a taxa anual de investimentos nos próximos três anos para cerca de 0,35% do PIB. Um aumento significativo, mas ainda insuficiente diante das necessidades do setor. Embora o número de clientes das empresas que oferecem o serviço tenha crescido 25% nos últimos oito anos, o consumo médio por clien- te caiu 11%, causando uma diminuição das receitas de 9,6%. No mesmo período, a produtividade das empresas estaduais aumentou em 21%, seus custos totais subiram 64% e as despesas de operação e manutenção cresceram 48%, para uma variação do IGP-M de 101%. Neste cenário, as empresas estaduais investem atualmente 21% de seu faturamento, sendo que 17% com recursos próprios e financiados, ou seja, dependentes de seu caixa interno. O grande questionamento que se coloca é: como aumentar o volume de investimentos necessários para se cumprir a meta de universalização dos serviços de saneamento básico? Em primeiro lugar, é fundamental aumentar a oferta e disponibilidade de recursos para financiar a expansão dos serviços. Com relação à busca de eqüidade no acesso aos serviços, duas medidas são prioritárias: ampliar e aprimorar o uso dos recursos orçamentários, focalizando populações municípios e regiões mais pobres, e preservar a prática de subsídios cruzados por meio de tarifas regionais, com aprimoramento das tarifas sociais. O modelo regional de prestação dos serviços deve ser preservado, pois ele permite que se tire proveito das economias de escala, inclusive para financiamento dos investimentos. É o modelo que viabiliza as compensações sociais e territoriais e a integração de ações de saneamento ao manejo dos recursos hídricos. O aumento da eficiência depende da existência de marcos regulatórios claros, simples e estáveis, que, ao mesmo tempo, induzam à eficiência, garantam a eqüidade e estimulem os investimentos. A AESBE – Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais questiona se o setor público, sozinho, será capaz de realizar investimentos para a universalização almejada. Para aumentar a oferta de recursos, a capacidade de financiamento e a eficiência dos serviços, serão importantes as parcerias com o setor privado, tanto nas formas já utilizadas por empresas estaduais, como a Sabesp, como em outras inovadoras. A universalização e a obrigação de prestar serviços de saneamento adequados e eficientes à população permeiam o trabalho das empresas estaduais que têm o compromisso com o saneamento. ■ Saneas / abril 2004 – 7 PONTO DE VISTA O Projeto de Parceria Público Privada – PPP na visão da ASSEMAE A Parceria Público Privada – PPP - para o Setor Saneamento O Projeto de Lei (PLC 2.546/2003) que já foi aprovado pelo Plenário da Câmara dos Deputados e encaminhado para discussão no Senado, é uma proposta ampla do Governo Federal que se aplica à contratação nesta modalidade (PPP) aos órgãos da administração direta, aos fundos especiais, às autarquias, às fundações públicas, às empresas públicas, às sociedades de economia mista e demais Silvano Silvério da Costa entidades da União, Estados, Presidente da ASSEMAE e DireDistrito Federal e Municípios. tor de Manutenção e Operação São objeto de contratação do Serviço Autônomo de Água pela PPP, individual, conjunta e Esgotos de Guarulhos/SP ou concomitantemente em um mesmo projeto: i) a delegação, total ou parcial, da prestação ou exploração de serviço público, precedida ou não da execução de obra pública; ii) o desempenho de atividade de competência da administração pública, precedido ou não da execução de obra pública; iii) a execução de obra para a Administração Pública; e iv) a execução de obra para a sua alienação, locação ou arrendamento à administração Pública. O PL prevê prazo de vigência do contrato compatível com a amortização dos investimentos realizados, limitado a trinta e cinco anos; que a contraprestação da Administração Pública nos contratos poderá ser feita por ordem bancária, cessão de créditos não tributários, outorga de direitos em face da Administração Pública, outorga de direitos sobre bens públicos e outros meios admitidos em lei; e como garantias prevê a instituição de fundos especiais desde que previstos em lei específica, a instituição de fundos fiduciários de inventivo à parceiras criados por instituições financeiras públicas. A contratação das PPPs deverá ser precedida de licitação na modalidade de concorrência com fases de pré-qualificação seguida de análise de propostas técnica e econômica. Nesta modalidade está prevista a possibilidade de adequação das propostas técnicas, a critério do 8 – Saneas / abril 2004 poder público, e oferecimento de novas propostas econômicas que será efetuada na ordem inversa da classificação resultante da apresentação da primeira proposta econômica. As propostas econômicas poderão abranger: o valor da tarifa a ser cobrada pela obra ou serviço; os pagamentos devidos pelo parceiro privado em razão da concessão ou permissão; a contraprestação da administração pública; as melhorias ou benfeitorias a serem realizadas no patrimônio público; e por fim as utilidades e benefícios a serem assegurados às populações alcançadas pelo contrato. Tal projeto foi gestado no Governo FHC por meio da KGPM, empresa consultora líder no mundo na assessoria a governos em projetos nesta modalidade e é uma iniciativa com propósito de estimular investimentos do setor privado na área de infra-estrutura. Por mais que se negue a nova modalidade PPP, nada mais é do que a indução à privatização, na medida em que cria todas as condições para que a iniciativa privada se incumba de atribuições do poder público (o projeto de lei estabelece como um dos objetos: “o desempenho de atividade de competência da administração pública, precedido ou não da execução de obra pública”), com facilitações e baixo risco, por meio das garantias. Para o setor saneamento é possível que haja um grande número de concessões totais ou parciais à iniciativa privada com o advento deste instrumento de contratação. A este respeito vale transcrever parte do texto de Ceci Vieira Juruá, circulado pela Internet no mês de fevereiro de 2004: “A leitura do inciso III art 2º (no PL aprovado na Câmara dos Deputados este inciso figurou com inciso II) permite supor que “Regular, legislar e policiar” são os únicos domínios de responsabilidade governamental aos quais ficam interditados os PPPs. Todos os demais campos de atividade estatal, que quer se trate da produção e comercialização de bens e serviços de natureza pública e coletiva, da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico, da defesa do meio ambiente, da conservação do patrimônio histórico e cultural, da representação externa dos interesses da Nação e do Estado, ficarão abertos Ponto de vista à contratação de parceria público-privada, nas quais tanto o financiamento quanto a responsabilidade pelo investimento e pela exploração incumbem ao parceiro privado (sic). O grau de abrangência que o projeto de lei concede aos PPPs é preocupante, do ponto de vista da economia política, pois abre a possibilidade de que sejam transferidas ao setor privado as principais decisões sobre investimentos governamentais, principalmente na ausência de um sistema de planejamento governamental capaz de sinalizar os objetivos da ação governamental e as prioridades de alocação dos recursos públicos no médio e longo prazos. Por isto, parece muito difícil crer que a parceria possa ser utilizada pelo governo para direcionar o investimento privado. Em nossa tradição o contrário é mais provável: as decisões de investimento ficarão por conta dos investidores privados que os selecionarão de acordo com seus critérios de poder de mercado e de maximização de lucros. Se a hipótese acima estiver correta, uma pergunta que se coloca prontamente é quanto aos novos rumos e à própria natureza substantiva das políticas daqui por diante. Dada a nova divisão de responsabilidades que emerge da parceria públio-privada, qual será o conteúdo e o formato das políticas públicas daqui por diante? Em primeiro lugar, é possível sinalizar o fato de que os contratos PPPs são funcionais ao abandono imediato dos objetivos de universalização dos serviços públicos e à focalização da ação governamental em programas assistenciais, destinados à população mais pobre e miserável, conforme as teses defendidas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional. Se esta expectativa se confirmar, os PPPs poderiam ser vistos como mais um instrumento de facilitação de uma mudança bastante anunciada há décadas e ainda não entendida totalmente na sua inserção histórica: a adoção efetiva e institucional de um Estado mínimo liberal, em substituição ao Estado previdenciário e social que, embora incompleto, foi o grande agente da inclusão social verificada entre as décadas de 1930 e 1970.... Em segundo lugar, esta nova divisão de responsabilidade poderia favorecer a configuração, na sociedade brasileira, de dois pólos de decisão bastante diferenciados quanto ao seu poder político e quanto à sua capacidade econômico-financeira: de um lado o mercado (direcionado pelo grande capital nacional e internacional), que deverá se incumbir do atendimento das demandas dos segmentos médios e ricos, e, de outro lado, o Estado provedor de programas assistenciais...” Importante analisar que o projeto aprovado no Plenário da Câmara dos Deputados da forma com está, facilitará o administrador público a contratar qualquer obra de curto ou longo prazo, sem utilizar a Lei de Licitações, o que permitirá também conceder a prestação dos serviços e no caso específico para o setor de saneamento, com um agravante: o administrador poderá fazê-lo sem consultar o legislativo, nem tão pouco a sociedade que é quem vai ter que pagar o ônus pela irresponsabilidade social do Prefeito. Nesse caso, a legislação em vigor, Lei 9.074/1995, no seu artigo segundo, exclui o saneamento básico e limpeza urbana da exigência de lei autorizativa e que fixe os termos para execução de obras e serviços públicos por meio de concessão e permissão. Salvo, os casos onde estiver prevista tal exigência na Lei orgânica do município. Essa exclusão na Lei 9.074/1995 foi de autoria do Governo FHC, que aproveitou ao estabelecer normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos de energia elétrica, incluiu misteriosamente um único artigo referindo-se ao saneamento e limpeza urbana para facilitar a privatização desses serviços. Já no projeto de parceria público-privada, está previsto nas disposições finais que se aplicam às parcerias público-privadas os dispostos nas Leis 8.666/1993, 8.987/1995 e na 9.074/1995, ora porque mais uma vez o saneamento básico e limpeza urbana ficaram excluídos da necessidade de lei autorizativa e que fixe os termos? A Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental na sua marcante atuação junto ao relator do PL, aos deputados da comissão especial que analisou o PL e outros deputados do PT, inclusive o líder da bancada do PT, apresentou sugestões de emendas ao projeto: uma para excluir o saneamento do PL e outras duas, caso não fosse aceita a primeira, a inclusão da exigência de lei autorizativa e que fixasse os termos e audiência pública, com justificativa, porém nenhuma das emendas foi incorporada ao parecer do relator e nem tão pouco, a emenda que excluiria o setor de saneamento do PL, apresentada pela Deputada Alice Portugal foi aprovada em Plenário. Seria obrigação do Governo resguardar o Saneas / abril 2004 – 9 Ponto de vista saneamento dos contratos de PPP, pois com o quadro vexatório que o Brasil possui neste setor, segundo o Atlas do IBGE, 102 milhões habitantes não têm acesso a esgoto, ou seja, sessenta por cento da população enquanto setenta e seis por cento têm acesso a distribuição de água e, localizam-se nas regiões mais pobres, Norte e Nordeste, as piores situações: população atendida com água – 51,9% e 63,9%, respectivamente e a população atendida com esgoto – 2,8% e 17,7%, respectivamente nas regiões. E, os registros informam número de mortes de crianças com menos de cinco anos, por diarréia, relacionada a o tratamento da água e às condições gerais de saneamento nos municípios: Pernambuco - 421, Bahia – 387, Ceará – 377, São Paulo – 331 e em Alagoas – 214. Com essa realidade, o setor privado terá interesse em investir nas localidades de baixa renda, onde está a população excluída dos serviços de saneamento? Não sai mais caro para o governo e para a população o privado investir, ainda que com recursos público, e só receber depois? A propósito é fundamental indagar. Quanto custará à população os serviços contratados na modalidade PPP? Neste sentido a ASSEMAE contratou um estudo econômico1 que procurou responder a resposta comparando uma proposta de contratação de obras no modelo BOT (Construção- Operação e Transferência) para coleta, tratamento e disposição final de esgotos para cidades de diversos portes populacionais (de 10.000 a 100.000 habitantes) com a contratação da mesma obra por autarquia municipal contraindo financiamento de fontes do tipo FGTS e BNDES. Neste estudo foram comparadas as despesas e as receitas ao longo do prazo de vigência do contrato (no caso específico 20 anos), trazidas ao valor presente e identificado o preço por metro cúbico de esgoto tratado. A conclusão que se tira da análise é que, o mesmo empreendimento sendo realizado pelo SAAE ou órgão público municipal, nas mesmas condições básicas (custos de operação/ manutenção, investimentos e taxa interna de retorno) e com financiamentos com recursos do FGTS, as tarifas requeridas serão cerca de 37% a 48% menores que as obtidas para a execução em regime de PPP/BOT. O que se constata é que a oportunidade da alocação do recurso por um ente privado para um empreendimento qualquer - e no saneamento não seria diferente - deve ser traduzi10 – Saneas / abril 2004 do em uma taxa de retorno no mínimo igual à aplicação em uma aplicação financeira. Esta taxa de retorno, da ordem de 20%, adicionada aos tributos inerentes de empresa privada: CSLL: 9% (órgão público imune), IRPJ: 15% + adicional de 10% (órgão público imune), PIS: 1,65% empresa privada (1% para órgão público), Cofins: 7,65% (órgão público imune), CPMF: 0,38% (órgão público imune) são responsáveis por este acréscimo na tarifa. Efetivamente o saneamento ambiental difere de outros setores de infra-estrutura básica tanto pela sua essencialidade à vida, quanto pela escassez dos recursos hídricos. Enquanto setores como energia e telefonia apresentam demanda de cerca de 20% para uso residencial e 80% para organizações econômicas, o perfil do setor de saneamento ambiental é inversamente proporcional, com característica estritamente social: a demanda residencial corresponde a 80% e a econômica a 20%. Denota-se a necessidade e responsabilidade do poder público em promover eqüitativamente a universalização dos serviços de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e a coleta dos resíduos sólidos. Sendo assim o espaço da parceria publica privada (PPP) neste segmento é no sentido da prestação de serviços complementares para os órgãos públicos gestores de saneamento. Os marcos regulatórios para outros setores de infra-estrutura, tais como para a matriz energética, transportes, telefonia, petróleo e outros diferem e não podem se aplicar ao setor de saneamento. Além disso, a PPP não trará para o setor saneamento recursos financeiros novos para aumentar a capacidade de investimento, que poderiam ajudar a universalizar os serviços, na medida em que os agentes privados tendem a tomar os recursos do FGTS e do BNDES para os seus empreendimentos, como já vem acontecendo aonde este tipo de parceria foi implementado. Por todos estes aspectos, a proposta da ASSEMAE e da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental é que o setor saneamento ambiental seja retirado da modalidade de contratação da PPP e neste sentido fazem gestões junto ao Governo Federal e agora ao Senado para que seja o setor seja excluído do Projeto de Lei. ■ Estudo: Análise Econômico-Financeira comparativa da Implantação de Sistemas de Tratamento de Esgoto PPP/BOT versus Execução Direta, elaborado por João Batista Peixoto em Janeiro de 2004. 1 PESQUISA E DESENVOLVIMENTO OPINIÃO Aplicação de traçadores radioativos na determinação de tempo de residência média (TRM) em digestores anaeróbios: Estudo do caso da ETE Barueri Pesquisa & Desenvolvimento Eng. PhD Luiz Carlos Helou - SABESP Tecna Cristiane da Silva Vitoreti - SABESP Enc. Fábio Alceu Akiyama de Moraes - SABESP Eng. Pedro Aoki – IPEN Resumo A baixa produção de gás nos digestores da ETE Barueri levou à hipótese de que pudesse haver zonas mortas por deficiência de homogeneização. Para a verificação desta hipótese foram realizados testes em escala real em dois digestores utilizando-se 131I , isótopo radioativo com meia vida de 8 dias. Estes testes levados a efeito graças ao convênio entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), produziram resultados que mostram um volume ativo de cerca de 85% do nominal. Objetivo O objetivo deste trabalho foi a determinação do tempo de residência média (TRM) e do nível de mistura dos digestores anaeróbios da Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri, através da injeção de traçador radioativo na tubulação de alimentação dos digestores. Introdução A planta analisada localiza-se no município de Barueri, na margem esquerda do rio Tietê em terreno limitado por este curso d’água e pela estrada de ferro da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A ETE Barueri trata os esgotos das regiões centro, oeste e parte da região sul do Município de São Paulo, além de receber contribuições dos Municípios de Barueri, Jandira, Itapevi, Carapicuíba, Osasco, Embu, Taboão da Serra e Itapecirica da Serra. O processo de tratamento é o de lodos ativados convencional. Atualmente a estação tem uma capacidade nominal de 9,5 m3/s e a vazão afluente média é de 7,0 m3/s. Este estudo procurou avaliar as condições de mistura dos digestores anaeróbios. A digestão anaeróbia junto com as operações unitárias de concentração de lodo (adensamento e flotação) compõe as unidades de tratamento da fase sólida. Segundo o projeto, os digestores foram concebidos de forma a operar hidraulicamente em regime de mistura completa e sob temperaturas, na faixa entre 32 oC e 35 oC. Tais condições permitem a utilização dos digestores como unidades de alta taxa de trabalho. A alimentação dos digestores efetua-se através de duas tubulações externas, uma de lodo adensado (D=200 mm) e outra de lodo flotado (D=200mm), que se interligam numa caixa de válvulas. Desta caixa deriva uma tubulação (D=200 mm) em direção aos digestores. Junto a cada digestor, a tubulação de entrada dividese em três outras, para a distribuição interna no corpo do digestor. O procedimento operacional de alimentação dos digestores é automático e temporizado e executa-se de forma exclusiva, isto é, a alimentação faz-se isoladamente em relação às outras unidades. Como existem 4 digestores, cada um deles é alimentado durante 20 minutos, ficando parada sua alimentação por uma hora, período no qual os demais são alimentados, cada um durante 20 minutos. Esta forma de alimentação visa a distribuição eqüitativa da vazão entre as unidades de digestão. Os digestores possuem seis saídas para extração de lodo, instaladas em níveis diferentes Saneas / abril 2004 – 11 Pesquisa & Desenvolvimento tato com o substrato. Essa agitação é fornecida pela aplicação de gás comprimido, extraído da cúpula do digestor, a uma profundidade que corresponde a 80% da coluna líquida máxima tomando como referência o centro do tanque. A injeção de gás se dá através de onze pontos igualmente distribuídos por uma circunferência de raio aproximado de 70% do raio da estrutura. Um décimo segundo ponto de aplicação de gás, está instalado sobre uma circunferência de raio 5,65m para atuar mais diretamente sobre a zona central do tanque. O tempo de residência médio, ou tempo de detenção hidráulico, é um parâmetro fundamental na avaliação do controle de processo operacional, pois está implicitamente ligado à produção de gás e à drenabilidade do lodo. Ou seja, com a diminuição da produção de gás, devido à redução da destruição de sólidos voláteis, haverá um aumento da concentração de sólidos voláteis afluindo aos processos de desidratação. Altas concentrações de sólidos voláteis são prejudiciais a drenabilidade do lodo, terminando por aumentar o tempo de ciclo e o volume de lodo desidratado. Fig. 1 (a) Cúpula do digestor (b) Vista geral do digestor de maneira que as quatro superiores destinemse à retirada do sobrenadante: a quinta, contada de cima para baixo, corresponde a sucção para recirculação e aquecimento de lodo; a sexta, e última destina-se à tomada de lodo na parte central e inferior do digestor. Todas essas saídas estão interligadas por meio de uma coluna vertical e outros circuitos característicos, de modo que permitem variar significativamente as alternativas de conexão entre os digestores, o poço de lodo digerido, as bombas de recirculação e as bombas de deslocamento positivo de um mesmo conjunto de tanques. O lodo contido em cada digestor deve ser agitado adequadamente de forma a manter os sólidos suspensos voláteis dispersos e homogeneizados na massa líquida para constante con12 – Saneas / abril 2004 Fundamentos Teóricos Tossey e Norton (1976), utilizando-se de modelos em escala real, concluíram que a alimentação perimetral de digestores pode aumentar a produção de gás em até 27% . Monteith, Hugh D., Stephenson, P. utilizaram fluoreto de sódio como traçador na avaliação do tempo de residência de digestores anaeróbios. Chapman, D. (1986) estudou a influência da potência de mistura e a freqüência de bombeamento de lodo bruto no grau de mistura para digestores anaeróbios de alta taxa, utilizando técnicas de traçadores. O digestor analisado combinava o lodo primário e o ativado. Seis tempos de residência foram obtidos injetando-se cloreto de lítio no digestor e medindose a concentração de lítio na linha entre os digestores primários e secundários. O resultado da experiência foi a determinação do volume ativo dos digestores. A seguir, apresentam-se algumas abordagens teóricas propostas: Método de Wolf e Resnick A curva de decaimento de um digestor de mistura completa submetido a um traçador conservativo pode ser matematicamente descrito como: Pesquisa & Desenvolvimento # = # ⋅ E − T 4 (1) Onde: C: é a concentração do traçador no tempo t C0: é a concentração do traçador no instante inicial (t=0) T: tempo de detenção teórico do digestor A equação acima pode ser rescrita como: −T # − # ⎛⎜ = ⎜ − E 4 # ⎝ ⎞ ⎟ (2) ⎟ ⎠ Assim, se o reator é completamente misturado e sem zonas mortas, a equação (2) mostra que se tem um recobrimento de 63% para um tempo de detenção (quando t=T). No caso de si incluir zonas mortas, a equação (1) pode ser escrita como: T − ⋅ # = E 4 − $ (3) # onde D é um percentual que representa as zonas mortas. A curva ln (C/C0) x t/T fornecerá o valor do volume morto do reator baseado na declividade da linha [1/(1-D)]. Método de Moneith e Stephenson Os autores propuseram para um constituinte conservativo para um digestor completamente misturado a seguinte equação: ⎡ T ⎛ 6 ⎞⎤ ⎜ ⎟ ⋅ # ⎛ 6 ⎞ ⎢⎣⎢ TOBS ⎜⎝ 6 ! ⎟⎠ ⎥⎦⎥ ⎟⎟ ⋅ E = ⎜⎜ # ⎝6! ⎠ (4) onde: V: volume nominal do digestor VA: volume ativo do digestor tobs: tempo de detenção hidráulico observado na zona de mistura O volume “morto” do digestor é calculado através do diferencial V-VA e, é definido como o volume no qual o digestor retém o traçador por um período superior ao tempo de retenção teórico. Plotando-se a curva ln (C/C0) x t obtém-se com a declividade o tempo de residência do digestor, enquanto o intercepto com o eixo das abscissas representa a porcentagem do volume ativo do digestor. Traçadores Radioativos Denomina-se traçador radioativo, ao radioisótopo produzido principalmente em reator nuclear que, ao ser incorporado ao meio em estudo, possibilita seu acompanhamento por meio de detetores de radiação. As principais vantagens dos traçadores radioativos em relação aos demais são: a) alta sensibilidade de detecção, permitindo diluições extremamente altas. Uma fração de peso pode marcar milhares de metros cúbicos de água b) possibilidade de medida in situ com utilização de equipamentos portáteis, quando se tratar de traçador emissor de radiação gama c) vida limitada do traçador, que pode ser escolhido de acordo com a duração prevista do ensaio. Esta característica permite que um ensaio possa ser repetido periodicamente, sem que uma aplicação exerça influência significativa nos ensaios subsequentes. d) um mesmo traçador pode ser empregado em várias formas químicas, sem que se modifique a sensibilidade medida. Determinação do tempo médio de residência com traçadores radioativos Considerando-se um digestor qualquer, com vazão constante de entrada e saída, determinase o tempo médio de residência como se segue: Na seção de entrada, injeta-se uma solução radioativa, de forma pontual, com meia-vida e atividades conhecidas; em seguida, inicia-se o monitoramento na seção de saída por meio de dzNN -0%0*0%0 -0%0 WBJQBSBPEJHFTUPS dzNN 7 NBOÙNFUSP *0%0 7 7 «(6" 7 Fig. 2 Esquema de injeção de Iodo radioativo Saneas / abril 2004 – 13 Pesquisa & Desenvolvimento traçador e do ambiente (background, ou BG). A contagem líquida é a diferença entre o valor do registro e o BG. Em decorrência do fenômeno do decaimento radioativo que ocorre no período entre a injeção e a detecção do traçador, corrige-se a contagem líquida por meio de um fator maior que um, de acordo com a equação do decaimento. Este fator dependerá da meia-vida do radioisótopo e do intervalo de tempo decorrido entre a injeção e a detecção. Os pontos obtidos são lançados em um gráfico concentração x tempo. O tempo médio de residência é calculado a partir do centro de massa da curva concentração x tempo extrapolada. Fig. 4 (a) Injeção do Iodo Fig. 4(b) Posição da sonda de medição um sistema de detecção de radiação, com a finalidade de registrar a radiação emitida pelo traçador, em termos de contagens por minuto, que pode então ser correlacionada com a concentração deste elemento. O sistema de detecção da radiação emitida pelo radioisótopo, consiste em uma sonda e um espectrômetro que processa e registra os sinais recebidos. A unidade de medida dos registros é a contagem por intervalo de tempo. Esse intervalo é fixado em função da duração prevista para o ensaio, sendo usual utilizar-se de um ou dois minutos quando se tratar de aplicações de curta duração, da ordem de horas. Cada registro obtido representa o efeito combinado das radiações provenientes do 14 – Saneas / abril 2004 Materiais e Métodos Ensaio no Digestor anaeróbio 2C Equipamentos O sistema de detecção da radiação utilizado, é composto por um espectrômetro monocanal Minekim modelo 9502 e uma sonda cintiladora gama de NaI (TI) de duas polegadas de diâmetro. A unidade analisadora permite dois modos de operação: integral e janela. No modo integral, o discriminador inferior atua entre 5mV e 8000mV em passos de 1mV. No modo janela, o discriminador inferior atua entre 5mV e 8000mV, com o superior entre 1 e 999mV acima do inferior. A fonte cintiladora gama utiliza um detetor de iodeto de sódio ativado com tálio de duas polegadas de altura, acoplado opticamente a uma fotomultiplicadora em uma unidade selada. O pré-amplificador e o detetor são montados em um conjunto hermeticamente fechado em aço inoxidável. O cabo elétrico que interliga esse conjunto com o espectrômetro tem cerca de 100 m de comprimento, suficiente para a maioria dos trabalhos de aplicações de radioisótopos. O traçador escolhido para o ensaio foi o radioisótopo iodo 131, na forma química NaI. O iodo 131 tem meia-vida de aproximadamente 8 dias, sendo altamente conveniente para a maioria dos trabalhos de determinações de tempos médios de residência, devido à flexibilidade dos tempos de duração dos trabalhos que podem variar de horas a semanas. Para as campanhas, utilizaram-se atividades da ordem de 110 mCi em cada uma das aplicações. Instalou-se na tubulação de entrada do digestor 2C um dispositivo injetor composto por um tubo de aço galvanizado de ¾”, duas válvulas de fechamento rápido e um manômetro Pesquisa & Desenvolvimento Após a última etapa (d), deixava-se o registro aberto por cerca de cinco minutos para que o fluxo de água efetivamente introduzisse o traçador no digestor Durante os testes uma sonda cintiladora gama foi posicionada na seção de saída do digestor (válvula telescópica), devidamente fixada para evitar choques mecânicos. O espectrômetro monocanal foi instalado em local protegido de intempéries, na sala dos digestores. As medições eram registradas de minuto em minuto, iniciando-se sempre alguns minutos antes da injeção do traçador. Dessa maneira, obtiveram-se os valores da contagem e do background. Resultados obtidos Com os dados coletados elaborou-se uma curva de concentração x tempo, onde o tempo de detenção do digestor 2C é o centro de massa da figura. O gráfico abaixo mostra o procedimento adotado. Comparando-se o TRM obtido com o valor teórico do tempo de detenção hidráulico, dado pela relação entre o volume do digestor e a vazão de alimentação, obtém-se a porcentagem de zonas mortas existentes no digestor. Para a época do ensaio, a vazão de alimentação correspondia a cerca de 6 L/s (518,4 m3/d) e o volume do digestor é de 10.500 m3, o que fornece um tempo de detenção hidráulico teórico de 20,2 dias. Comparado com o TRM obtido, de 17 dias, verifica-se um aproveitamento de 85% do volume nominal do digestor. Isto #ONCENTRA ÎOX4EMPO #ONCENTRA ÎOM#I, diferencial. Uma das extremidades do tubo foi acoplada à tubulação de entrada do digestor, e a outra à uma linha de alimentação de água; o manômetro foi instalado entre uma das válvulas e a tubulação de alimentação do digestor, de forma a se conhecer a pressão existente em seu interior, mantendo-se o restante do tubo isolado. Desta maneira, foi possível introduzir o traçador em uma câmara intermediária que, por sua vez, ficava isolada da linha de alimentação de água por meio da outra válvula. (Fig. 2). As injeções de traçador obedeceram a seqüência: a) as válvulas do lado do digestor e da alimentação de água eram mantidas fechadas b) introduzia-se o traçador na câmara c) abria-se a válvula do lado do digestor d) abria-se a válvula da linha de alimentação de água para realizar a injeção 42-DIAS 4EMPOD Fig. 5 – Curva concentração x Tempo para obtenção de TRM implica em zonas mortas da ordem de 15%, o que não justifica a baixa produção de gás. Futuros desenvolvimentos Para a confirmação dos resultados obtidos seria necessário repetir o procedimento adotado para os demais digestores da ETE Barueri. Este tipo de ensaio pode ser aliado a uma política operacional de se drenar e limpar digestores cujo volume de zonas mortas ultrapasse um determinado valor, que deverá ser avaliado. Bibliografia SABESP-HIDROSERVICE, Programa de Controle Operacional – ERQ Barueri Descrição das Instalações e Processo, Tomo 6, 1988 IPEN - Determinação da Distribuição de Tempo de Residência nos Digestores 1A e 2C da Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri – Sabesp, Convênio Sabesp 031/95 –A Outubro de 2001 CHAPMAN D., Anaerobic Sludge Digester Tracer Studies to Asses Alternative Mixer Configurations – Environment Canada, Wastewater Technology Centre, Burlington, Ontario. MONTEITH, H. STEPHENSON J., Mixing Efficiencies in full-scale anaerobic digester by tracer methods, Journal WPCF, Volume 53, No 1, 1981 OSEY D. e J.W. NORTON, Effective Digester Mixing Using Minimum Horsepower, WPCF, Minn, 1976 NOLASCO D. A et al. How often should we clean our anaerobic digesters? Optimizing mixing and performance using tracer and sampling techniques. 2000. ■ Saneas / abril 2004 – 15 CAPA Mudanças climáticas: efeitos globais e regionais Pesquisadores se debruçam em descobrir se o que acontece no clima de outros continentes pode ter influência com a menor ou maior quantidade de chuvas por aqui. A ciência dá aval às diversas alterações ao redor do globo, mas ainda pouco se sabe o quanto esta interação nos diz respeito. Nesta tempestade de suposições, uma afirmativa é certa: as alterações climáticas, globais ou regionais, são fatores a se considerar num gerenciamento mais eficaz dos recursos hídricos. Resta saber como. C onseqüência das mudanças climáticas globais, como o aumento da temperatura nos oceanos, o derretimento das geleiras, ondas de calor na Europa, são assuntos tão comuns nas manchetes dos jornais quanto as alterações regionais (temporais na cidade de São Paulo, a diminuição do nível de água nos reservatórios hídricos, o furacão que assolou o litoral de Santa Catarina e a alteração do regime de chuva provocada pelo efeito El Nino). Há muito, a metereologia e a climatologia deixaram os meios acadêmicos para fazer parte do debate cotidiano de pessoas comuns. O motivo óbvio disso é que as alterações cli16 – Saneas / abril 2004 máticas têm efeito no dia-a-dia de cada um, seja pela constante inundação das vias públicas, provocada pelos temporais, ou pela possibilidade de racionamento, fruto da escassez de água nos reservatórios. Mas, afinal, o que o aquecimento geral tem a ver com a falta de água na torneira de casa? “A precipitação total do planeta é uma consequência das mudanças climáticas gerais. Mas não dá para afirmar que o fato de ter chovido mais ou menos em São Paulo é um efeito global”, acredita Eneas Salati, diretor técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e especialista em mudanças climáticas. Cientistas concordam Matéria de Capa que as alterações mundiais são um fato inegável, mas ainda não existem provas suficientes ou volume de pesquisa capaz de arriscar a relação entre global e regional. O certo é que entender ambas é o único caminho para reduzir seus impactos no cotidiano. Um mundo em evolução – Quando entrou em vigor a Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, o primeiro tratado internacional contra a mudança climática, estabelecido em 1994, cientistas lançaram prognósticos catastróficos, como o derretimento das geleiras, inundações e outros graves eventos metereológicos. Dez anos depois, a emissão de gases causadores do efeito estufa (veja boxe “O efeito estufa e seus impactos”) continua com força total e os últimos informes científicos mostram que o aquecimento planetário está aumentando. Só para se ter uma idéia, as emissões de gases causadores do efeito estufa, que levam ao aquecimento, entre os quais o principal é o dióxido de carbono (CO2), aumentaram 11% na última década. E se prevê que aumentarão outros 50% nos próximos quinze anos. O Protocolo de Kyoto, tratado aprovado em 1997 que complementa a Convenção, ainda não entrou em vigor, embora até agora seja o único instrumento internacional que estabelece metas específicas para 38 países industriais. Essas metas supõem a redução das emissões de gases que causam o efeito estufa desses países a volumes 5% inferiores aos de 1990, com prazo máximo até 2012. O anterior governo dos Estados Unidos, do presidente Bill Clinton (19932001), assinou o Protocolo. Mas seu sucessor, George W. Bush, retirou a assinatura americana –apesar de o país ser responsável por 25% das emissões desses gases no mundo. A Rússia, que inicialmente manifestou intenção de ratificar o Protocolo, agora se mostra indecisa. Assim, o Acordo, que deve ser ratificado por países cujas emissões somem mais de 55% das calculadas em 1999, permanece no papel. O debate sobre a questão é uma necessidade, afinal a elevação da aumento da temperatura mundial, constatada no século passado, foi causada pelas emissões artificiais-- queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás. “Nos últimos 150 anos, a concentração de CO2 só aumentou na atmosfera. Atualmente, são emitidos, por ano, oito bilhões de toneladas de carbono no ar”, acrescenta Eneas Salati. E os estudos feitos nos últimos dez anos indicam que a tendência ao aquecimento continua. O Efeito Estufa e seus impactos A radiação solar de onda curta penetra na atmosfera, aquecendo a superfície da terra. Parte desta radiação é absorvida e parte é refletida de volta para a atmosfera. A parcela absorvida produz aquecimento na superfície que emite radiação de onda longa (radiação térmica) que pode ser absorvida pelos gases encontrados na atmosfera, como o vapor d’água e o dióxido de carbono (CO2). A absorção desta radiação de onda longa aquece a atmosfera, aumentando a temperatura da superfície. Este é o tal efeito estufa, um processo natural do globo. Se não houvesse este efeito na atmosfera da Terra, a temperatura da superfície seria 33°C mais fria. A potencial modificação climática é resultante do aquecimento adicional da atmosfera devido ao aumento de gases produzido pelas atividades humanas e animal, além dos processos naturais já existentes. Os principais gases que contribuem para isso são o dióxido de carbono (CO2), o metano, o óxido de nitrogênio e o CFC (clorofluor-carbono). Assim, é provável que o aumento dos gases do efeito estufa esteja relacionado com o aumento de temperatura dos últimos 50 anos. E, de acordo com o painel IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, grupo de apoio das Nações Unidas sobre assuntos da atmosfera), entre as consequências disso está: a temperatura média do globo poderá elevar de 1,4 a 5,8°C até o ano de 2100, e o nível do mar de 9 a 88 cm. Fonte: Impacto da variabilidade climática e do uso dos recursos hídricos”, Carlos Tucci O efeito estufa 40- Uma parte da radiação solar é refletida pela Terra e pela atmosfera Uma parte da radiação infravermelha passa através da atmosfera, mas outra parte é absorvida e redirecionada pelos gases do efeito estufa. O resultado é o aquecimento da superfície e da baixa atmosfera A radiação solar passa através da atmosfera limpa "5.04'&3" 5&33" A maior parte da radiação solar é absolvida pela superfície da Terra e provoca seu aquecimento Radiação infravermelha é emitida a partir da superfície da Terra Saneas / abril 2004 – 17 Matéria de Capa O meio ambiente e as políticas públicas e privadas Empresas de água – Trecho do livro “Impacto da variabilidade climática e do uso dos recursos hídricos”, do professor Carlos Tucci, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostra parte deste cenário. Nele, Tucci, aponta que a grande fragilidade dos sistemas de abastecimento urbanos está relacionada com a falta de monitoramento por parte da maioria das companhias de abastecimento e da disponibilidade hídrica dos mananciais, que fica sujeita a variabilidade interanual e ao racionamento --além da falta de gestão integrada das bacias e investimento em redução de perdas (por vazamento) na rede de distribuição de água. A mesma opinião é compartilhada por pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Astronomia, da USP. No capítulo sobre ‘abastecimento urbano’, Tucci conclui: “Estas companhias (de abastecimento) geralmente estão focadas no tratamento da água e de alguma forma no tratamento de esgoto e geralmente não tratam de conhecer a disponibilidade do seu insumo básico que é água. Este cenário gera maiores incertezas a sustentabilidade da quantidade e qualidade da água de abastecimento, já que qualquer anomalia maior sobre o sistema hídrico poderá gerar impactos significativos. Observouse, em extensa região do país, aumento na vazão depois dos anos 70. Considerando-se que, grande parte das séries hidrológicas utilizadas no planejamento de novas instalações --quando existem-- iniciaram após esta data, é provável que grande parte dos sistemas de abastecimento podem estar sub-dimensionados para disponibilidades registradas anteriores deste período. O Rio Grande do Sul é um exemplo desta situação, já que a década de 40 foi muito seca e são poucas as séries que englobam este período. Dimensionando reservatórios com série que não considera a década de 40, o reservatório pode estar subdimensionado em 50%. Repetindo-se uma estiagem prolongada, a economia do Estado ficará comprometida”. Poder público -- Não dá para dizer que o assunto mudanças climáticas foi negligenciado pelo governo. Em junho de 2000, foi criado o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso. O objetivo do Fórum é promover a conscientização e mobilização da sociedade para a discussão e tomada de posição sobre os 18 – Saneas / abril 2004 problemas decorrentes da mudança do clima por gases do efeito estufa e também sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (acordo internacional sobre metas de redução de emissão de CO2). O então secretário executivo do Fórum, o ambientalista Fábio Feldman, dá sua opinião sobre a questão: “A educação ambiental, nesse momento, precisa começar com os tomadores de decisão. Os trabalhos sobre mudanças climáticas eram vistos com muita desconfiança há 20 anos. Os cientistas que falaram pela primeira vez na destruição da camada de ozônio pelo cloroflúorcarbono (CFC) foram praticamente desqualificados pela comunidade científica, na época. E, depois de alguns anos, ganharam o prêmio Nobel de química exatamente pela coragem de enfrentar a comunidade científica. O déficit maior que temos é o do poder publico. Veja os mananciais. O grande responsável pela ocupação dos mananciais foi o poder público porque não fiscalizou. Temos que ter políticas públicas mais bem elaboradas e mais pró-ativas. E mudanças de visão, de mentalidade da sociedade para novas políticas públicas. O grande desafio da área de meio ambiente é que estamos sempre contra o relógio. Até que se tenha algum resultado, demora uns 25 anos. No Brasil, também temos um problema que é associar planejamento a um regime autoritário. É preciso perceber que temos que agir hoje para evitar algo dramático daqui a cem anos. Mas o Brasil não tem esta visão”. A parte que cabe a sociedade – Mais do que uma lição a ser aprendida, economizar água ou energia elétrica será uma prioridade nos próximos anos. E isso começa dentro de casa. “As pessoas continuam a limpar as calçadas com mangueiras e jatos de água. Isso é um desperdício e um crime ecológico”, acredita o pesquisador do INPE, José Antônio Marengo. Seja pelas mudanças globais ou pelas alterações climáticas regionais, a constatação é que a água dos reservatórios não é suficiente para as necessidades atuais do homem –da agricultura às indústria. Se a culpa também não é das chuvas, então é preciso aprender a viver sem desperdício. Do currículo escolar ao exemplo de casa, o padrão deve ser mais do que economizar água. É aprender a usar de maneira racional e com coerência. “Se tivéssemos ensinado isso as crianças de ontem, talvez o jovem de hoje já estivesse reescrevendo a nossa história”, acredita Feldman. Matéria de Capa O Departamento de Defesa americano emitiu, no início deste ano, uma advertência segundo a qual o aquecimento do planeta, se ocorrer de forma abrupta, fará supor um colapso catastrófico para a segurança internacional. Como conseqüência, o Pentágono prevê guerras por alimento, água e energia. No ano passado, a Europa já sentiu a repercussão disso: 2003 foi um ano quente e tanto. Acredita-se que parte disso seja resultado da migração da corrente do Golfo (a corrente do Golfo margeia a América do Norte e se dirige em direção a Europa). Calcula-se que cerca de 15 mil pessoas morreram, apenas na França, devido aos extremos da temperatura, em combinação com a poluição, enquanto a agricultura do continente sofreu perdas de 12,5 bilhões de dólares. Mais perto de casa – “Do ponto de vista global temos a certeza que vão acontecer mudan- ças, como a elevação da temperatura. O problema é saber o que vai acontecer em cada região do planeta”. A frase é do pesquisador Pedro Leite da Silva Dias, professor do Departamento de Metereologia, Modelagem Numérica do Clima e Previsão do Tempo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), e traduz a inquietação que reina entre especialistas da área. Para tentar prever essas alterações –e suas conseqüências– os pesquisadores trabalham com modelos climáticos, suposições que levam em conta fatores como as condições da atmosfera, dos oceanos e da biosfera. O pesquisador José Antônio Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é da mesma opinião. “As projeções de modelos climáticos apontam, num cenário de aquecimento global, que o regime de chuvas e circulação de águas podem mudar. Com isso, gran- São Paulo tem alterações climáticas particulares M ais do que mudanças globais, a cidade de São Paulo sofre alterações climáticas particulares, típicas de uma cidade com alta taxa de impermeabilização. “No último século, a cidade sofreu um aquecimento de 1,2°C”, conta Fábio Gonçalves, professor de metereologia física do IAG. O aumento foi 50% maior que o registrado na cidade de Nova York (EUA) no mesmo período (0,8°C). Outro fato, interessante é que a capital não é mais merecedora do título de ‘cidade da garoa’. “O clima está mudando nas microregiões de São Paulo. A partir de 1950, a devastação da Mata Atlântica e sua substituição pelo asfalto favoreceram a formação das ilhas de calor”, conta Carlos Magno, metereologista da Climatempo. De acordo com Magno, isso causou um maior aquecimento na metrópole e uma alteração do padrão de chuvas: da garoa para as tempestades mais intensas. A solução para o problema poderia estar em trazer mais vegetação para a cidade. O Plano Diretor prevê o aumento de áreas verdes nos fundos de vale e ao longo de rios e córregos, com os parques lineares (áreas verdes construídas as margens dos córregos, ao longo de regiões urbanas). Mas ainda não há nenhum parque linear concluído. Outra ferramenta importante é a nova lei de zoneamento, que ainda está em discussão na Câmara. Ela aumenta a porção de área verde por empreendimento imobiliário de 5% para 15%. Nos planos diretores regionais, o percentual chega a 30% nos mananciais. Saneas / abril 2004 – 19 Matéria de Capa des áreas de florestas poderiam ficar mais secas e regiões mais secas se tornariam mais úmidas”, acrescenta. Muitos desses modelos apontam, por exemplo, para uma diminuição nas chuvas na região da Amazônia. “Isso teria impacto nos reservatórios hídricos porque afetaria o aporte de água para as regiões vizinhas”, exemplifica Pedro Dias. E mais: o aquecimento causaria, nas próximas cinco décadas, alterações na própria sustentabilidade da floresta amazônica. Outro produto desta elevação global da temperatura, explicam os especialistas, é a mudança do nível do mar. De acordo com Pedro Dias, as estimativas mais otimistas falam em 30 a 50 cm nos próximos cem anos. “30 cm já causaria alterações significativas na nossa costa”, constata o professor do IAG Pedro Dias. A erosão costeira pode trazer problemas para os portos e para as cidades localizadas próximas ao mar que, ocasionalmente, teriam pedaços de terra invadidas pela água salgada. Chove sem parar – Falta de água na Ama- zônia, excesso de chuva no resto do Brasil. Esta é outra constatação. Toda a região do norte da Argentina, Sul do Brasil e boa parte do Sudeste e Centro-oeste brasileiro (região da Bacia do Prata) tiveram mudanças significativas de precipitação (comportamento pluvial) dos anos de 1970 para cá. “Temos uns 15 centros a mais de chuva nesta área, atualmente, do que há 30 anos.”, conta Pedro Dias. Ou seja, está chovendo mais. Outro ponto, ao se comparar a década de 50 com a de 90, os cientistas se deram conta que a estação seca ficou mais curta. E mais: nesses últimos 30 anos, aconteceram mais chuvas no inverno, época em que não há tanta precipitação no Sudeste e Centro-oeste do país, de acordo com o IAG. No entanto, os especialistas acreditam que as oscilações do regime pluviométrico na região da Bacia do Prata têm causas naturais –ainda não é uma manifestação da mudança global– e relacionados a variabilidade natural do clima. Na contramão deste cenário, outro esboço se mostra: o efeito antropogênico, que são alte- Ilhas de calor E xiste uma corrente que defende que poderia chover menos nas regiões dos mananciais. E a explicação estaria nas chamadas ‘ilhas de calor’, formadas pelo excesso de asfalto e prédios altos na cidade das metrópoles. Em São Paulo, por exemplo, as ilhas de calor estão exatamente na rota da brisa marítima que traz a umidade, essencial para fazer chover. O ar úmido entra na região metropolitana pelo sudeste, mas não costuma ir muito longe porque encontra, na fronteira entre as regiões central e leste da capital, temperaturas que, no verão, chegam a ser 5°C superiores às registradas nos mananciais. Com isso, a cidade ‘rouba’ as chuvas que poderiam cair nesta região – apesar de existir um sistema de drenagem na região metropolitana de São Paulo (sistema de Reversão do Rio Pinheiros) que conduz esta água para os mananciais. !215%.4% #)$!$% 6.*%"%&%0."3 20 – Saneas / abril 2004 Matéria de Capa Mananciais para abastecimento público: o problema vai além das chuvas A superexploração dos mananciais, a competição pelo uso público e a ausência de preservação ambiental é apontada por pesquisadores como a maior responsável pela situação dos reservatórios das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste brasileiras –e não a falta de chuvas, já que a média histórica vem aumentando nos últimos anos. “Em janeiro e fevereiro deste ano, choveu mais do que em 2003, em São Paulo. Não está chovendo menos”, sentencia a metereologista Ana Lucia Frony, da empresa Climatempo. Em contraposição, dados sobre os níveis de armazenamento das represas que abastecem as hidrelétricas destes locais, divulgados pela Eletropaulo, mostram que, desde 1998, o nível total de armazenamento vem caindo numa proporção de mais de 10% ao ano, no período de cheias, passando de mais de 80%, em março de 1998, para 58,5%, em março de 2000. Em 2001, no mês de março - que é o pico anual de armazenamento-, esse índice era de apenas 34%. A rações provocadas pelo homem. Talvez sejam essas oscilações, por exemplo, e não o vai-evem das chuvas, o vilão pela queda no nível dos reservatórios de água. Os especialistas acreditam que, provavelmente, uma causa de peso para este problema não seja a falta de chuvas, mas o aumento do uso de água pela agricultura, indústria e até pela superexploração dos mananciais (veja boxe “Mananciais: o problema vai além das chuvas”). Uma amostra disso pode ser constatada no trabalho “Tendências Hidrológicas da Bacia do rio Paraíba do Sul”, do pesquisador do INPE, José Antônio Marengo. Em seu estudo, Marengo verificou, ao fazer uma análise estatística sistemática em séries pluviométricas e fluviométricas, a tendência negativa nas vazões. Na conclusão do trabalho, o pesquisador sugere que o uso da água para abastecimento, geração de energia e desvio de rios para utilização na agricultura podem ser os responsáveis pelas quedas sistemáticas nas vazões e não uma mudança climática do regime de chuva na bacia. O que fazer então? Esperar que chova mais não parece ser o conclusão mais direta é que o baixo nível das represas é conseqüência de uma demanda maior do que a oferta possível de água. Uma política de uso racional para os mananciais, somada às medidas de preservação ambiental, poderia aliviar o problema. melhor caminho a seguir. O pesquisador Pedro Dias sugere uma resposta para a questão: investir num melhor gerenciamento dos recursos hídricos, em políticas e educação ambiental. “Temos de nos preparar para cenários críticos, do ponto de vista de gerenciamento, e usar como exemplo as situações de chuva nas piores décadas, como as dos anos 50, e verificar como o sistema suporta. E, sem esquecer, que em cima dessas variabilidades naturais, é preciso levar em conta o impacto das mudanças globais”, finaliza Pedro Dias. Afinal, uma coisa pode levar a outra. ■ SAIBA MAIS http://www.forumclimabr.org.br/ http://www.cptec.inpe.br/ http://www.mct.gov.br/clima http://www.greenpeace.org.br http://www.fbds.org.br http://www.ambiente.sp.gov.br/proclima/proclima.htm Saneas / abril 2004 – 21 ARTIGOS TÉCNICOS P&D Tendências Climáticas e Hidrológicas no Sudeste do Brasil: Caso da Bacia do Rio Paraíba do Sul José A. Marengo Introdução O aumento da população mundial e o comprometimento cada vez maior dos corpos d’água faz com que a escassez desse recurso vital torne-se, não apenas o cenário de um futuro sombrio, mas uma ameaça cada vez mais presente. O rio Paraíba do Sul, ao atravessar os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, é utilizado para fins domésticos e industriais, não só como fonte de abastecimento mas também como receptor de efluentes. No seu curso natural, o rio Paraíba do Sul, em território paulista, é ladeado pelas Serras do Mar e Mantiqueira. Após sua formação pela união dos rios Paraitinga e Paraibuna, passa por todo o Vale do Paraíba e adentra o estado do Rio de Janeiro, onde deságua no Oceano Atlântico, em São João da Barra, depois de ter percorrido 1.180 km. Esta bacia abrange uma das mais desenvolvidas áreas industriais do País, cuja rede de drenagem ocupa uma área de aproximadamente 55.500 km2 em três dos Estados mais importantes do país (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), arrecada cerca de 10% do PIB nacional e já assume um papel de destaque na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. As águas do Rio Paraíba do Sul abastecem em torno de 15 milhões de pessoas, 87% das quais residentes em região metropolitana. Além do abastecimento domiciliar da população residente na bacia, as águas do Paraíba do Sul constituem o principal manancial de abastecimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, atendendo a uma população de mais de 8 milhões de habitantes. A importância política e econômica da bacia do Rio Paraíba do Sul no contexto nacional vem exigindo ações do Governo e a mobilização de diversos setores da sociedade para a recuperação dessa bacia que tem registrado tendências decrescentes nas vazões do rio em vários postos no canal principal desde Paraibuna até Campos. Entre possíveis causas desta redução sistemática nas vazões e cotas do Paraíba do Sul temos: (a) efeitos antropogênicos de uso da água para abastecimento e geração de energia com a construção de barragens e açudes, (b) desvio de rios para usos na agricultura e que pode aumentar a evaporação, (c) mudanças no uso da terra que pode afetar vazões, (d) mudanças gradativas no canal do rio devido à sedimentação e deposição de sedimentos que podem não ter sido considerados no momento de calcular vazões usando a curva chave, e (e) mudanças gradativas no regime e distribuição de chuvas na bacia decorrentes de mudanças climáticas regionais. Situação atual Estudos prévios sobre tendências nas séries hidrológicas do rio Paraíba do Sul desenvolvidos pelo CPTEC em 1998 mostraram tendências negativas nas cotas do rio Paraíba do Sul no posto fluviométrico de Campos, porém, naquela época, não foi feita uma análise da variabilidade ou tendência em outros postos fluviomêtricos no canal principal do rio, nem uma análise da variabilidade de longo prazo da chuva na bacia. Já nos finais de 2003 o CPTEC elaborou um artigo científico com estudos e análises das séries de chuva e vazão em vários postos hidrometeorológicos na bacia do Paraíba do Sul desde 1920, com a finalidade de identificar tendências hidrometeorológicas, e associá-las a mudanças observadas nas vazões do Rio Paraíba do Sul com tendências nas chuvas, ou com efeitos antropogênicos de regularização das vazões e/ou mudanças no uso da terra. Alguns resultados desse relatório serão apresentados neste artigo. O clima da bacia hidrográfica do Paraíba do Sul é caracterizado como subtropical quente, com temperatura média anual oscilando entre 18ºC e 24ºC. As máximas precipitações ocorrem nas cabeceiras mineiras da bacia e nos pontos mais altos das serras do Mar e Manti- CPTEC/INPE, Rodovia Dutra km. 40, 12630-000 Cahoeira Paulista, São Paulo 22 – Saneas / abril 2004 Artigos Técnicos EQ + − −− −− −− 5S 10S Figura 1 Tendências em vazões (A) e chuva (B) em alguns Rios e bacias na América do Sul. Tendências positivas ou negativas aparecem com +/– não significativas, e encerradas em círculo se as tendências são estatisticamente significativas. + + + ++ + + − +− + 15S A - VAZÕES 20S 90W 85W 80W 75W 70W 65W +− + EQ ++ + ++ ++++ ++ 5S 60W 55W 50W + + + − + 10S 45W 40W 35W 30W + +−+ + + −+++ ++ + + + +−−++++ + + + + + + + + +− + + 15S B - CHUVAS 20S 90W 85W 80W 75W 70W 65W queira, chegando a valores de 2250 mm/ano. O período de verão é caracterizado como chuvoso com precipitação acumulada entre 200 e 250 mm/mês, nos meses com máxima precipitação (dezembro e janeiro), enquanto que no inverno temos o intervalo entre os meses de maio a julho o período mais seco, com precipitação acumulada inferior a 50 mm/mês. O ciclo anual das vazões/cotas em vários postos a longo do Rio Paraíba do Sul mostra que a estação de cheias acontece no período de dezembromarço e com máximos em janeiro-fevereiro. Uma análise das séries mensais de chuva e vazão e/ou cotas do banco de dados do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo), e da ANA durante o periodo 1920-2000. As tendências nas séries de chuva e vazões foram determinadas, segundo o teste de Mann-Kendall, muito usado em estudos de tendências hidrológicas nos Estados 60W 55W 50W 45W 40W 35W 30W Unidos, Europa e na América do Sul. Uma análise de auto-correlação é também feita para saber se a série hidrológica pode estar “poluída” devido a regulação humana, o que pode afetar a série e gerar tendências positivas ou negativas “artificiais”. O que é que as vazões e chuvas na bacia mostram até hoje? Um fato que merece ser mencionado é a crise energética que assolou as regiões sudeste e nordeste, em que as chuvas no verão 2000/2001 foram inferiores a 50% da média histórica, e o volume útil dos principais reservatórios hidroenergéticos chegou à 15%. O fato das chuvas do período chuvoso 2002/2003 terem se iniciado durante as primeiras semanas de novembro evitou o tão anunciado “apagão”. Este ano anormalmente seco não foi associado a algum fenômeno El Nino nem mudanças de uso da terra (desmatamento), foi uma anomalia na circulaSaneas / abril 2004 – 23 Artigos Técnicos 2ESENDE 0INDAMONHANGUABA #0AULISTA 'UARATINGUETÉ - ) . ! 3 ' %2 ! ) 3 0ARAÓBADO3UL #AMPOS0ONTE-UNICIPAL #AMPOS 0ONTE-UNICIPAL 0ARAÓBADO3UL 2 ) / $ % * ! . %) 2 / 2ESENDE 3² / 0! 5 ,/ #0AULISTA 'UARATINGUETÉ 0INDAMONHANGUABA Figura 2 - Variabilidade de longo termo das vazões (m³/s) e cota (cm) do Rio Paraíba de Sul durante o período dezembro– fevereiro em postos de São Paulo e Rio de Janeiro, durante o período 1930-2000. A linha pontilhada em cada painel mostra a tendência linear das vazões no período observado. ção meteorológica regional que não permitiu a entrada das frentes frias durante o verão de 2001, e este verão foi mais seco que o normal. Situações similares aconteceram anteriormente, e não tiveram tanto impacto. O problema não foi tanto a falta de chuva, mais a redução no volume útil dos reservatórios devido ao consumo elevado de água para satisfação das necessidades humanas, especialmente o uso de energia elétrica que foi elevado pois um verão seco é quente, e o uso de ar condicionado consume muita energia. Pode-se lembrar que depois das medidas de racionamento e o sistema de multas na conta de energia para aqueles que ultrapassaram um limite de consumo chegouse a estabilizar o volume útil dos reservatórios, especialmente nas regiões Sudeste e Nordeste. Devemos indicar que este fenômeno não foi associado a efeito humano algum e foi devido à variabilidade natural do clima, e não é um indicador de que o clima está mudando nem que todos os verões na região serão secos. Estudos em outras regiões do mundo também usaram vazões de rios como indicadores 24 – Saneas / abril 2004 da variabilidade climática em várias regiões do mundo, pois muitas vezes os registros de rios são mais contínuos e completos que as séries de chuva na bacia. Estes estudos baseados nos registros hidrológicos não mostram tendências climáticas que podem ser atribuídas ou que indiquem mudança climática global. Um caso extremo de mudança climática em tempos modernos, talvez iniciada devido à uma anomalia da atmosfera e amplificada pelo efeito humano foi a seca da região do Sahel, no semiárido da África. Desde meados de 1950 a chuva diminuiu até chegar a 0 mm e começou uma seca que até hoje persiste. No plano regional, alguns estudos mostram mudanças no regime de chuva em escalas interdecadais, com períodos de 20-30 anos relativamente secos seguidos de períodos relativamente úmidos. Isto foi identificado na Amazônia e no Sul de Brasil e Norte da Argentina. Neste último, as chuvas e vazões aumentaram significativamente desde meados da década de 1970, tanto que na Amazônia do Norte a ten- Artigos Técnicos cotas e vazões desses rios indicando que a suposta queda nestas vazões estejam associadas a possíveis efeitos da regularização e não a quedas sistemáticas na chuva da bacia. Este efeito foi mais notável nas vazões do Rio São Francisco registradas em Juazeiro. dência foi oposta, ou seja, reduções na chuva desde décadas de 1970. Porém, essas mudanças são devidas às variações naturais nos padrões de circulação atmosférica regional e não devidas ao desmatamento nem ao aumento na concentração de gases do efeito estufa, segundo estudos das equipes do trabalho do CPTEC e da Universidade de Buenos Aires. Na América do Sul, estudos de tendências nas vazões e chuvas foram feitos para Amazônia, Nordeste, Argentina, Uruguai e Peru (Figura 1). A chuva e vazão de rios da Amazônia apresentam tendências positivas (ainda que não sejam estatisticamente significativas). Para os Rios Paraíba do Sul, São Francisco e Piracicaba as séries apresentaram alta auto-correlação, o que muitas vezes acontece em bacias com grande capacidade de armazenamento de água no solo ou com regularização devida a estruturas hidráulicas. Assim, os estudos preliminares feitos em 1998 mostraram tendências negativas nas #ACHOEIRA0AULISTA Existe ou não indicações que o rio Paraíba do Sul está ficando mais seco? Existe ao longo da Bacia do Paraíba do Sul um grande número de postos fluviométricos, entretanto, é importante destacar que vários postos apresentam falhas em seus registros, alguns foram desativados e outros começaram a ser operacionalizado recentemente. Desta forma, ressalta-se a grande dificuldade em identificar tendências hidrometeorológicas baseadas unicamente em séries de vazões ou cotas dos rios. A Figura 2 mostra as séries mensais de vazões e cotas em vários postos na bacia do Paraíba do Sul no estado de São Paulo e Rio de 0INDAMONHANGUABA "ARRA-ANSA 0ONTE!LTA 2ESENDE #A¥APAVA 'UARAREMA 2IODAS&LORES - ) . ! 3 ' %2 ! ) 3 2IODAS&LORES 2 ) / $ % * ! . %) 2 / 3ÎO,UIZDE0ARAITINGA 3² / 0! 5 ,/ 2ESENDE "ARRA-ANSA #ACHOEIRA0AULISTA 0INDAMONHANGUABA #A APAVA 3ÎO,UIZDO0ARAITINGA 0ONTE!LTA 'UARAREMA Figura 3 - Variabilidade de longo termo da chuva (mm/mês) em alguns postos da bacia do Rio Paraíba de Sul durante os meses de dezembro a fevereiro, entre os anos de 1920 até 2000. A linha contínua em cada painel mostra a tendência linear das vazões no período observado. Saneas / abril 2004 – 25 Artigos Técnicos Janeiro. Observam-se períodos com falhas na informação, após 1970, em Tremembé e Queluz, e desde 1980, em Cruzeiro, e depois 1955 em Cardoso Moreira. De maneira geral, não se observa tendência nas séries analisadas, com exceção do posto de Campos (Figura 2), que mostrou uma tendência negativa, estatisticamente significativa. Registros hidrometeorológicos da bacia do Rio Paraíba do Sul desde a década de 1920 foram analisados com a finalidade de detectar e explicar as tendências observadas nas vazões e/ ou cotas, e associá-las a causas naturais ou efeitos antropogênicos. Uma análise pontual da chuva em alguns postos pluviométricos na bacia alta e média nos estados de SP e RJ (Figura 3) confirma que não há tendências significativas positivas ou negativas durante a estação chuvosa dezembro-fevereiro na bacia durante o período da análise (1930-2000). Em escalas de tempo interanual observa-se períodos de vazões extremas em anos que podem ser caracterizados como extremos, a exemplo de 1955 (ano seco) e 1967-68 (anos chuvosos). Esta variabilidade não parece associada diretamente ao impacto de fenômeno El Niño, a exemplo dos rios da Região Norte ou Sul do país. O abastecimento de água para população, para o uso industrial e geração elétrica dependem das vazões do rio. Portanto, se estas tendências negativas são reais, então estaríamos frente a uma grave crise hidrológica nos anos futuros, como aconteceu em 2001, ficando na dúvida se esta tendência seria associada a diminuição gradativa das chuvas na bacia ou a fatores antropogênicos. É importante considerar que tendências crescentes ou decrescentes nas vazões e/ou cotas de rios durante a estação chuvosa podem ser também explicadas por influências humanas. Um aumento na capacidade de armazenamento ou perdas devidas à irrigação podem também explicar as tendências observadas, e podem também gerar uma correlação serial grande, de modo a afetar os resultados do teste de Mann-Kendall. Por outro lado, os registros de chuva geralmente apresentam baixa correlação serial, e não afetam os resultados do teste de Mann-Kendall. Desta forma, este teste pode ser aplicado nas séries de chuva para confirmar os resultados obtidos através da análise das tendências nas vazões e/ou cotas do Rio Paraíba do Sul. A principal conclusão do presente estudo é que as vazões do Rio Paraíba do Sul, observa26 – Saneas / abril 2004 das em postos fluviométricos de SP e RJ, mostram uma tendência negativa durante os últimos 50 anos. Não se observa, em longo prazo, uma tendência significativa nas séries de chuva, no mesmo período, em postos pluviométricos localizados na bacia, que poçam explicar estas tendência negativas nas vazões e cotas do Paraíba do Sul. Uma análise de tendências e testes de autocorrelação mostram uma correlação serial alta entre dois anos consecutivos em vários postos fluviométricos, podendo isto sugerir importantes efeitos na operação do sistema ou no armazenamento de um ano para outro e gerar tendências negativas que não são naturais. Desta forma, as tendências negativas nas vazões sugere um possível impacto da influência humana (na forma de gerenciamento dos recursos hídricos, a geração de energia, os esgotos lançados no rio, a irrigação e o crescimento populacional) como possíveis causas para estas tendências e não a uma mudança climática do regime de chuva na bacia. É muito difícil de distinguir tendências climáticas induzidas por fatores naturais daquelas devidas à ação humana. Porém, os resultados deste estudo apontam para fatores não-climáticos (uma possível ação antropogênica de regulação e uso intensivo de água) como causa das tendências hidrológicas negativas observadas nos postos fluviométricos da bacia desde 1920-30. Uma limitação deste estudo é que as séries de vazão e chuva não foram suficientemente longas para detectar algum sinal climático acima do ruído ou “background noise” da variação interna do clima. Ainda que as séries de vazões apresentem limitações para identificar mudanças climáticas, elas são apropriadas pois representam uma importante integração das mudanças do clima regional e da ação antropogênica. Finalmente, o estudo é limitado à bacia do Rio Paraíba do Sul, e as conclusões não podem se generalizar para todos os reservatórios paulistas. Para uma melhor análise das tendências climáticas na região dos mananciais, precisa-se de informação de chuva contínua, em séries longas de tempo nesta seção das bacias. Nossos estudos ficam limitados devido a acesso restrito a informação meteorológica. Confiamos no futuro que o DAEE, INMET e a SABESP podem nos ajudar a acessar informação hidrológica e assim trabalhando em conjunto podemos ter uma melhor visão sobre o estado atual dos reservatórios paulistas. ■ ARTIGOS TÉCNICOS O potencial de utilização de lodo de tratamento de esgoto como redutor de poluentes atmosféricos na indústria cimenteira Iara Regina Soares Chao � João Jayme Iess � RESUMO O presente trabalho surge de um estudo de pesquisa desenvolvido entre técnicos da SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo em parceria com a VOTORANTIM CIMENTOS, para o enfrentamento do problema da disposição adequada de lodos, oriundos das Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), da SABESP, na Região Metropolitana de São Paulo (cerca de 320 ton./dia), e a perspectiva de crescimento futuro destes volumes, o que implica em maior necessidade de implantação de aterros exclusivos, com custos de aquisição, operação e transporte. O co-processamento elimina a formação de passivos ambientais e pode representar redução de custos de destinação final para a SABESP, e um significativo ganho ambiental para a sociedade do Estado de São Paulo. No co-processamento estes resíduos se transformam em recursos, pela reutilização dos mesmos como insumo adicionado ao clínquer, e consequentemente recai na potencial redução de custos energéticos e de matéria prima para a indústria, e podem propiciar ainda redução de poluentes atmosféricos na fabricação de cimento portland. O princípio básico, é a reação química que ocorre, devido ao ambiente óxido do forno, em contato com a amônia do lodo alterando a forma NOx para a forma de nitrogênio gasoso N2, que é um gás inerte, não poluente. Os resultados dos testes podem agregar valor ao lodo de esgoto, transformando-o da categoria de resíduo para matéria prima, sendo assim um estudo de muito interesse para ambos os lados. Artigos Técnicos PALAVRAS-CHAVE: co-processamento, lodo de esgoto, remoção de NOx, fornos de cimenteiras, poluição atmosférica, controle de poluição. Introdução A Indústria Cimenteira é um mercado com grande potencial para absorver o lodo produzido nas estações de tratamento de esgotos, com reais benefícios econômicos, financeiros e ambientais, tanto para as empresas de saneamento básico, como para a indústria cimenteira e faz parte de uma visão sistêmica, de valorização de um modelo de desenvolvimento sustentável, considerados na política do Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável - WBCSD O lodo desidratado (úmido) na indústria de cimento pode ser usado como redutor de emissão atmosférica causado pelos óxidos de nitrogê- nio (NOx), formados durante o processo de combustão, um dos principais agentes precursores do “mau ozônio”, um gás poluente e tóxico aos seres vivos. O principio básico é a reação química que ocorre devido ao ambiente óxido do forno em contato com amônia do lodo desidratado que atua como reagente de redução alterando a forma NOx para a forma de nitrogênio gasoso N2, que é um gás inerte, não poluente. Este processo de controle de poluentes pode ser obtido por injeção de amônia nos fornos, ou por uma injeção de lodos de esgotos (na forma úmida) que fornece a amônia necessária para a reação. Esta tecnologia de injeção de lodo úmido nos � Engenheira Civil; mestranda em hidráulica e saneamento pela Universidade de São Paulo - USP com especialização em Engenharia de Controle de Poluição pela Faculdade de Saúde Pública da USP; Engenheira da Divisão de Operação Barueri da Unidade de Negócio de Tratamento de Esgotos da Diretoria de Produção da SABESP. Av. 1º de Maio s/n.º - Vila Nova Aldeinha – Barueri- CEP: 06440-230 - Brasil - Telefone: (11) 4133 -3455 – E- mail: [email protected] � Engenheiro Químico; com especialização em Processos e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE-UFRJ . Engenheiro Sênior da Diretoria Técnica da VOTORANTIM CIMENTOS Rodovia PR 092. 1303 Abranches -CEP 82.130-570, Curitiba PR - Brasil. Telefone (41)-355-1175, E- mail :[email protected] Saneas / abril 2004 – 27 Artigos Técnicos FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE CLÍNQUER Silos Mina Forno e Torre de Ciclones Pré-homogeneização Moagem de Cru Pré-britagem Expedição cimento Moagem de carvão Moagem cimento fornos como fonte de amônia, conforme relatado pela EPA (1), em relatório de avaliação do sistema implantado na cimenteira Mitsubishi, acarretou uma diminuição significativa de emissões de praticamente todos os poluentes, sendo que a redução de NOX variou de 36 a 50%; as emissões de CO permaneceram abaixo de 500 ppm, e o forno também reduziu seu consumo de combustível em 5%. O teor de água do lodo, produz ainda, efeitos secundários benéficos pois quando injetado a altas temperaturas do forno, promove um resfriamento e uniformização da chama, o que potencializa a redução dos poluentes (2). No co-processamento estes resíduos se transformam em recursos, pela reutilização dos mesmos como insumo adicionado ao clínquer, e consequentemente recai na potencial redução de custos energéticos e de matéria prima para a indústria. Objetivos Este trabalho tem por objetivo avaliar o potencial de utilização de lodo de esgoto da ETE Barueri na indústria de fabricação de cimento portland, visando a redução de poluentes atmosféricos gerados nos fornos de produção de clínquer. Metodologia O trabalho foi desenvolvido em diversas etapas interdependentes e parcialmente sobrepostas abrangendo trabalhos de pesquisa bibliográfica, visitas e entrevistas técnicas de forma 28 – Saneas / abril 2004 Estoque clínquer a avaliar as possibilidades de desenvolvimento de uma pesquisa brasileira, baseada nas experiências de países como E.U.A (1), (2), (4) e Japão (11) de forma a conjugar um caso industrial a um trabalho acadêmico. A metodologia adotada consistiu em ampliar o levantamento bibliográfico de forma a obter o maior número de informações e relatos tanto sobre a tecnologia de injeção de lodo em fornos de cimenteira, quanto em relação ao entendimento das reações químicas envolvidas visando avaliar as possibilidades de continuidade de desenvolvimento desta pesquisa para aplicação na RMSP. Para o desenvolvimento desta etapa, foram pesquisados os principais componentes de interesse para a produção de cimento, e as implicações possíveis dos componentes do lodo sobre o processo. Na Segunda etapa, levantouse informações gerais sobre o parque cimenteiro nacional, aspectos técnicos e questões relativas a logística do envio de lodo. Iniciou-se a terceira etapa que abrangeu a fase de contatos técnicos e visitas para conhecimento, apresentação do estudo, troca de informações e a partir da demonstração de interesse por parte das cimenteiras, foi desenvolvido um trabalho de envolvimento das partes, que se caracterizou no envio da maior quantidade possível de informações sobre a tecnologia, e sobre as características do lodo. Foram enviados laudos de análises de caracterização do lodo, amostras da torta úmida e dos pellets para avaliação de equipes de processo de duas cimenteiras, localizadas no Estado de São Paulo: Companhia Artigos Técnicos de Cimento Ribeirão do Grupo Tupi e Cimento Rio Branco do Grupo Votorantim. Quadro 1 – Composição química dos principais componentes Valores médios - teor em massa (%) Lodo Lodo Cimento EUA Barueri Portland 14,4 a 57,7 19,75 18,48 SiO2 (anidrido silícico) 2,6 a 24,4 5,44 2,75 Fe2O3 (óxido de ferro) 4,6 a 22,1 12,69 4,44 Al2O3 (óxido de alumínio) MgO (óxido de magnésio) 0,8 a 2,2 1,75 6,5 0,1 a 0,7 0,11 0,31 Na2O (óxido de sódio) 0,07 a 0,7 0,55 0,75 K2O (óxido de potássio) 0,01 a 3,4 0,05 SO3 (anidrido sulfúrico) 4,0 Composição Química Características do lodo de esgoto A alternativa de utilização de lodos de estações de tratamento de esgotos como matériaprima na indústria cimenteira é uma prática que já vem sendo adotada em vários países por sua composição química essencialmente constituída por óxidos de cal, óxidos de sílica, óxidos de alumínio e óxidos de ferro, constituintes principais do processo de fabricação de cimento. Apresenta-se a título comparativo, no Quadro 1, informações resumidas sobre as principais características químicas de um cimento portland comparadas as características de lodos de esgotos provenientes de sistema bioló- gico de tratamento de diferentes procedências – EUA / BRASIL. Resultados de estudos feitos com o lodo de tratamento de esgoto proveniente da cidade de Londrina, apresentou valores de reatividade pozolânica superiores a 650 mg CaO/g, ou seja, características pozolânicas bem acima do limite estabelecido de 300 mg CaO/g, para ser classificado como insumo pozolânico de boa qualidade.(13),(14) O conjunto dos resultados obtidos na caracterização dos lodos da ETE Barueri, conforme Diagrama de pozolanicidade ilustrado a seguir, mostram que em virtude de seu teor de argilas, o lodo de estação de tratamento de esgotos apre- )SOTERMADESOLUBILIDADEDE#A/( Aª#EMPRESEN ADEÉLCALIS 4EORDE#A/NASOLU ÎOCOMAPASTADECIMENTOMMOL#A/, Descrição geral do processo industrial As matérias primas utilizadas na produção de cimento constituem-se basicamente em carbonato de cálcio, sílica, alumínio e ferro. O carbonato de cálcio obtido em jazidas naturais de pedra cálcarea constitui-se em 70 a 80% da matéria prima utilizada para a produção de cimento, devido ao fato de ter uma baixa concentração de sílica, alumínio e ferro, implica na adição de outros materiais como aditivos complementares para suprir a baixa concentração destes componentes do processo. Estas adições, são outras matérias primas que, misturadas ao clínquer na fase de moagem, permitem a fabricação dos diversos tipos de cimento portland disponíveis no mercado. São o gesso, as escórias de alto forno, os materiais carbonáticos e os materiais pozolânicos. As adições podem variar de um tipo de cimento para outro e são principalmente elas que definem os diferentes tipos de cimento. O fluxograma do processo de fabricação de cimento se dá através da moagem e mistura de pedra calcária (carbonato de cálcio) e adição de outros materiais contendo silício, alumínio e óxidos de ferro como aditivos complementares para suprir a baixa concentração destes componentes do processo. O material misturado é aquecido a temperaturas extremamente altas em um forno rotativo onde os compostos reagem a partir da queima a 1450ºC; os produtos saem como um material nodular chamado clínquer, que é o principal componente do cimento, trata-se de um ligante hidráulico, que é então resfriado e moído com pequenas porções de gesso e aditivos para produzir o cimento, conforme ilustrado no Fluxograma de Processo. #)-%.4/.²/0/:/,®-)#/ #)-%.4/0/:/,®-)#/ !LCALINIDADETOTALDASOLU ÎOEMCONTATOCOMAPASTADECIMENTOMMOL/(, Figura 1 – Diagrama de pozolanicidade do lodo da ETE Barueri Saneas / abril 2004 – 29 Artigos Técnicos TABELA 1 – COMPARATIVO DO POTENCIAL ENERGÉTICO Biossólidos Unidade de medida Potencial Energético Torta (teor de umidade de 70%) Poder Calorífico Superior (PSC) 3105 kcal/kg Poder Calorífico Inferior (PSI) 2866 kcal/kg Poder Calorífico Superior (PSC) 3990 kcal/kg* Poder Calorífico Inferior (PSI) 3070 kcal/kg* Pellets (teor de umidade de 10%) senta reatividade pozolânica após sua ativação por queima. (Fonte:Ensaio nº21532 ABCP de 06 de agosto de 2002) Do ponto de vista energético, o lodo do tratamento de esgoto é classificado como um resíduo de baixo poder energético porém, pode se manter em combustão pois possui Poder Calorífico Inferior (PCI) maior que 2500 kcal/kg. Aspectos legais do co-processamento As normas e procedimentos para utilização de resíduos em fornos de produção de clínquer, considera a utilização desta tecnologia para resíduos que atendam a um dos seguintes critérios; a) Reaproveitamento de energia: “...seu poder calorífico inferior na base seca deverá ser superior a 2.775kcal/kg...” (8) b) Reaproveitamento de matéria prima:”...são contemplados os mineralizadores que facilitem as reações de clinquerização tais como: Zn, Ba, F, fosfatos, etc...“(8) Apesar da legislação não prever a utilização de resíduos como redutor de poluição, o lodo do tratamento de esgoto se enquadra nos dois critérios exigidos para o licenciamento de atividades de reaproveitamento de resíduos sólidos em fornos de produção de clínquer. Localização geográfica das indústrias cimenteiras, mercado e logística de envio de lodo Para a definição do cenário de atuação, foram locadas sobre o mapa da malha ferroviária as indústrias cimenteiras do Estado de São Paulo localizadas num raio de no máximo 300 km das estações de tratamento de esgotos da RMSP. Foram selecionadas duas grandes indústrias ; Cimento Ribeirão pertencente ao Grupo Tupy, e Cimento Rio Branco - fábrica de Salto de Pirapora pertencente ao Grupo Votorantim localizadas a 250 km e 130 km da ETE Barueri, respectivamente. Verificou-se que apesar da Companhia de Cimento Ribeirão ser a única licenciada am30 – Saneas / abril 2004 bientalmente pela CETESB para co-processamento de resíduos, não atendia o requisito fundamental para a injeção de lodo que é o de ter pré calcinador.(4) , a Cimento Rio Branco do Grupo Votorantim, possui duas indústrias com pré calcinador na região de Sorocaba, região com altos índices de ozônio de baixa altitude, o que reforça ainda mais o interesse por tecnologias de remoção de NOx . As duas plantas, estão em processo de licenciamento junto a CETESB, para recebimento de resíduos. A unidade de Salto de Pirapora , Fazenda Maria Paula, tem capacidade de 5.000 t/dia de clínquer, e a unidade Fazenda Santa Helena, tem capacidade de produção de 3.000 t/dia de clínquer. Em relação a logística de envio do lodo úmido, as duas unidades envolvidas distam aproximadamente 130 km e são favorecidas logisticamente por rede ferroviária integrada o que reduz custos e facilita o escoamento do lodo. Contatos realizados coma gerencia de Novos Negócios da FERROBAN propôs o carregamento dos vagões no período noturno, o que possibilita o carregamento direto nos vagões sem necessidade de ramal próprio na estação de Barueri. O custo estimado para o frete gira em torno de R$ 6,00 / tonelada para o percurso entre a estação de tratamento de esgotos de Barueri e a indústria cimenteira Rio Branco, no Distrito de Votorã na cidade de Votorantim. Efeitos dos principais poluentes atmosféricos gerados na indústria cimenteira sobre a saúde pública e o meio ambiente Além de extrair recursos naturais, a produção de clínquer também gera poluição atmosférica: poeira, ozônio, NOx, CO2, metais pesados, e outros gases importantes no efeito estufa e chuva ácida, e ganham cada vez mais importância uma vez que os gases da combustão podem poluir de modo significativo o meio ambiente. Entre as principais formas de poluição atmosférica nocivas ao homem e ao meio ambiente pela indústria cimenteira as emissões dos óxidos de nitrogênio (NOx) de processos de combustão têm-se tornado, recentemente, um motivo de preocupação, pois e responsável direta ou indiretamente pela formação dos três maiores impactos ambientais globais: chuva ácida, smog fotoquímico e efeito estufa. (9) Chuva Ácida: constituída pelo SO2, NOx e HCl, age no meio ambiente sob a forma de chuva, O Artigos Técnicos dióxido nitroso (NO2) se encontra presente na atmosfera ao se dissolver na água , produz ácido nítrico (HNO3) ou ácido nitroso (HNO2) produzindo a chuva ácida, e pode propiciar ainda, eutrofização de corpos de água devido ainda a carga de nitratos decorrentes destas reações de dissolução do NO2 em água. Poluição Fotoquímica: Os óxidos de nitrogênio (NOx) são precursores de ozônio de baixa altitude, um dos poluentes mais nocivos à saúde, e o principal componente da névoa fotoquímica mais conhecido como smog. O ozônio não é emitido diretamente no ar, e o resultado de uma reação química envolvendo substâncias primárias como o dióxido de nitrogênio e os hidrocarbonetos para a formação do smog fotoquímico. Efeito Estufa: Produzido pela combinação de dióxido nitroso (NO2), ozônio (O3), CFC, dióxido de carbono (CO2), metano (CH4). O ozônio não é emitido diretamente mas gerado através das reações químicas entre poluentes primários, como o monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos voláteis na atmosfera. O ozônio além dos impactos a saúde pública possui a característica de retenção da radiação infravermelhas, tendo como conseqüência o aquecimento na baixa camada da atmosfera terrestre. Óxidos de nitrogênio (NOx): Os óxidos de nitrogênio (NOx) são poluentes gasosos formados nos processos de combustão e se constituem-se em uma família de sete compostos. Durante o processo de combustão, 95% do NOx se apresenta na forma de óxido nítrico (NO). Quando liberados para a atmosfera a maior parte é convertida a NO2 que é confirmadamente a forma mais predominante de óxidos de nitrogênio (NOx) na atmosfera, e a mais abundante nas áreas urbanas gerada por atividades antropogênicas (2), (9) O dióxido nitroso (NO2) afeta o crescimento e induz a lesões em plantas mais sensíveis e reage com os hidrocarbonetos e o ozônio (O3) em presença de luz solar, produzindo smog e certos compostos que afetam a saude pública. Os óxidos de nitrogênio produzem irritações das vias respiratórias, provocam aumento da sensibilidade à asma e à bronquite, redução das funções pulmonares e aumento da susceptibilidade a infecções viróticas. (9) Ozônio (O3): Também conhecido como mau ozônio* é formado na atmosfera pelo NOx e Hidrocarbonetos em contato com a luz solar, sendo comum sua incidência nos dias de grande insolação. (O bom ozônio é formado naturalmente na alta atmosfera, isto é, a pelo menos 25 quilômetros da superfície terrestre e possui efeito benéfico sobre a vida terrestre porque filtra as radiações solares ultravioletas (raios UV)). O Ozônio (O3) e um gás incolor, inodoro nas concentrações ambientais e o principal componente da névoa fotoquímica mais conhecido como smog. Composto muito ativo quimicamente. Não é emitido diretamente à atmosfera, sendo produzido fotoquimicamente pela radiação solar sobre os NOx e compostos orgânicos voláteis (VOCs). Em relação a saúde pública causam irritação nos olhos e vias respiratórias, diminuição da capacidade pulmonar. Danos às colheitas, à vegetação natural, plantações agrícolas; plantas ornamentais são associados ao seu alto poder oxidante. (9) Hidrocarbonetos: Os hidrocarbonetos, combustíveis parcialmente queimados ou não queimados, são emitidos durante o processo de queima dos fornos. Podem ser cancerígenos - caso do benzeno - e causam irritação dos olhos, tosse e sonolência. Causam, também, danos ao meio ambiente, participando de reações com os NOx na atmosfera, sob a incidência da luz solar, formando agentes fotoquímicos com o ozônio. Metais Pesados: Os metais pesados são definidos conceitualmente, como o grupo de metais com densidade específica maior ou igual a 5g cm-3, ou numero atômico maior que 20. Esse grupo inclui os metais da tabela periódica da série de metais de transição IIIB, IVB, VB, VIB e os metais do grupo dos metais alcalinos terrosos da série IIA. Porém, o termo “metais pesados” é freqüentemente aplicado aos elementos metálicos que por suas características de toxicidade representam potenciais riscos a saúde humana e ao meio ambiente, como é o caso dos metais leves como alumínio e berílio e metalóides como arsênio, selênio e antimônio. (3) Quando absorvidos pelo organismo, são dificilmente eliminados gerando uma acumulação progressiva na cadeia trófica devido às suas características de não degradabilidade, constituindo-se em um risco sua incorporação ao meio ambiente. Esta incorporação pode ser efetuada pela liberação contínua de pequenas quantidades desses poluentes para o meio ambiente, principalmente através da ação dos Saneas / abril 2004 – 31 Artigos Técnicos ventos e das chuvas que contaminam as águas subterrâneas e superficiais. Essa situação pode levar a produzir efeitos crônicos no homem por ingestão e/ou inalação através da incorporação dessas substâncias tóxicas e sua posterior acumulação no organismo e que, atingindo certos níveis iniciam sua ação deletéria, podendo atingir níveis letais, comprometendo portanto a saúde pública e o meio ambiente. Estado da Arte A experiência mais divulgada no meio técnico sobre a utilização de lodo em fornos de cimenteiras com a finalidade de redução de emissão de poluentes atmosféricos, refere-se ao trabalho realizado entre Departamento de Esgotos do Distrito de Los Angeles, através de um convênio de parceria com a Cimenteira Mitsubishi no Estado da Califórnia, reportado em relatório específico. (4) O lodo enviado para a cimenteira é proveniente de uma das maiores estações de tratamento de esgotos americana, Joint Water Pollution Control Plant - JWPCP, localizada na cidade de Carson. Em JWPCP é processado o lodo gerado de esgoto desta estação com mais o lodo proveniente de seis estações de tratamento de água, totalizando 1.250 toneladas úmidas por dia. Deste total, são enviados 500 toneladas por semana de lodo com teor de umidade variando de 70 a 84% de água para a indústria cimenteira Mitsubishi Cement Corporation no Vale de Lucerne, em Cushenbury distante cerca de 200 km da estação de tratamento de esgotos, que adquiriu a tecnologia de injeção de biossólidos, com o objetivo de reduzir o NOX que foi formado no forno. (4) Na planta de Cushenbury, o forno é abastecido com uma mistura de carvão (85 por cento) e pneus (15 por cento). A planta começou a utilizar pneus como combustível com dois objetivos; economia energética e redução de NOx devido a melhoria do processo de combustão. Esta tecnologia de injeção de lodo úmido nos fornos como fonte de amônia, conforme relatado pela EPA(1), em relatório de avaliação do sistema implantado na cimenteira Mitsubishi, acarretou uma diminuição significativa de emissões de praticamente todos os poluentes, sendo que a redução de NOX variou de 36 a 50%; as emissões de monóxido de carbono (CO) permaneceram abaixo de 500 ppm, e o forno também reduziu seu consumo de combustível em 5%. (1), (4) Outra experiência similar levantada na pes32 – Saneas / abril 2004 quisa, ocorreu em Tagawa, no Japão, onde o processo foi testado com lodo peletizado e lodo desidratado na indústria ASO Cement Co. Ltd., que tem capacidade para 1000 kg/hora de lodo desidratado e 210 kg/h de pellets de lodo seco. Constatou – se também nesta experiência, redução de emissão de poluentes, e ausência de odores, mas o autor não apresenta laudos de análises que confirmem essa constatação (11). É importante ressaltar que para o objetivo de remoção de NOx, o lodo a ser inserido, necessariamente precisa ser o lodo úmido (apenas desidratado). Essa utilização só é aplicável a fornos com pré aquecedor e pré calcinador, porque o lodo precisa ser injetado na câmara de mistura do fluxo de gás do pré calcinador, onde a câmara de mistura oferece os benefícios de tempo de residência e de temperatura apropriada bem como alta eficiência de mistura. Sendo esta a única restrição técnica para a utilização de lodo úmido. A indústria cimenteira interessada nessa aplicação deve ser provida de um pré calcinador (equipamento existente na maioria das indústrias cimenteiras modernizadas), além da instalação do equipamento de injeção de biossólidos, que é um equipamento patenteado. Tecnologias de redução de NOx O controle das emissões dos óxidos de nitrogênio provenientes da combustão em fontes fixas resultam na aplicação de tecnologias de controle e redução para o NOx, de modo a atender os limites de emissão de poluentes na atmosfera e mantê-los em níveis aceitáveis, as principais são: - Redução Catalítica Seletiva (SCR, Seletive Catalitic Reduction); - Redução Seletiva Não Catalítica (SNCR, Seletive Non-Catalitic Reduction); - Combustor Seco de Baixo NOx (DLN, Dry Low NOx); - Injeção de Água ou Vapor (WI, Water Injection, or, SI, Steam Injection); e - Recirculação dos Gases de Escape (FGR, Flue Gas Recirculation). Destacam-se ainda o Enriquecimento do Ar de Combustão, a Mudança de Combustível para um outro alternativo e, o Controle da Temperatura de Chama.(9) Dentre estas alternativas a absorção de NOx é uma das mais utilizadas no controle de poluição ; SCN - redução seletivo - catalítica e a SCNR - redução seletivo não-catalítica ambas Artigos Técnicos são tecnologias de controle de pós combustão, baseadas na redução química de óxidos de nitrogênio NOx a nitrogênio molecular N2 e vapor de água. Este processo envolve a injeção de uma mistura aquosa do agente redutor ainda na câmara de combustão. Neste sistema são usados amônia ou uréia como redutor. A amônia desloca (reduz) o oxigênio do óxido de nitrogênio formando água e nitrogênio puro, um gás inerte e inofensivo ao ser humano. A diferença primordial entre as tecnologias é que, a SCR utiliza um catalizador para aumentar a eficiência de remoção de NOx que permite que o processo ocorra a baixas temperaturas. As tecnologias podem ser utilizadas em separado ou em combinação com outras tecnologias de controle de NOx. .(9) Este processo de controle de poluentes, sistema SNCR , pode ser obtido por injeção de amônia nos fornos, ou por uma injeção de lodos de esgotos (na forma úmida) que fornece a amônia necessária para a reação. .(1), (2), (4) Potencial do lodo como redutor de emissão de poluentes O lodo desidratado (úmido) na indústria de cimento pode ser usado como redutor de emissão atmosférica. O princípio básico é a utilização da amônia do lodo desidratado como reagente de redução da forma nitrogenada NOx para a forma de nitrogênio gasoso N2, que é sua forma inerte. (4) O ambiente óxido do forno em contato com o nitrogênio orgânico constituinte do lodo atua como um agente de redução não catalítica (Sistema SNCR). A reação química que expressa o fenômeno que ocorre no ambiente óxido do forno em contato com a amônia do lodo é a seguinte: NOx + NH3 (amônia) + O2 N2+ H2O A utilização de lodo úmido de estações de tratamento de esgoto como fonte de amônia, é aplicável a fornos com pre-aquecedor/pre-calcinador e se constitui na única restrição técnica para essa aplicação, pois a instalação do equipamento de injeção de biossólidos, (equipamento patenteado denominado tecnologia BSI - Biosolids Injetion) precisa ser injetado na câmara de mistura do fluxo de gás do pré - calcinador, devido à alta eficiência de mistura, e temperatura apropriada. (4) O teor de água do lodo, produz ainda, efeitos secundários benéficos pois quando injeta- Quadro 2 – resultados dos testes de eficiência de Remoção de Poluentes perigosos com a utilização de lodo de esgoto (4) Sem biossólidos POLICLORADOS DIBENZO – p - DIOXINAS TCDD(Total Tetracloro 3,80 X 10 -8 dibenzo– p -dioxinas) Total PeCDD(Pentacloro 1,11 X 10 -8 dibenzo– p -dioxinas) Total HxCDD(Total 8,87 X 10 -8 hexacloro dibenzo– p -dioxinas) Total HpCDD(Heptacloro 5,10 X 10 -8 dibenzo– p -dioxinas) OCDD(Octacloro 5,84 X 10 -8 dibenzo– p -dioxinas) Com biossólidos Eficiência de remoção de poluentes, com biossólidos 7,89 X 10 -9 79% redução 1,70 X 10 -9 85% redução 1,78 X 10 -9 80% redução 1,82 X 10 -9 64% redução 2,39 X 10 -9 59% redução 5,59 X 10 -8 98.5% redução 4,42 X 10 -9 99% redução 6,41 X 10 -10 99% redução 1,96 X 10 -10 94% redução 9,30 X 10 -11 73% redução 6,15 X 10 -5 6,58 X 10 -5 2,62 X 10 -3 5,71 X 10 -6 6,98 X 10 -5 4,99 X 10 -4 9,32 X 10 -2 6,82 X 10 -4 3,61 X 10 -5 7,68 X 10 -4 3,05 X 10 -4 <2,12 X 10 -5 5,58 X 10 -5 <1,14 X 10 -3 5,35 X 10 -6 7,15 X 10 -5 1,96 X 10 -4 1,10 X 10 -4 4,68 X 10 -4 3,11 X 10 -4 3,32 X 10 -4 2,55 X 10 -4 >66% redução 15% redução >56% redução 6% redução 2% aumento 61% redução 99,9% redução 31% redução 14% redução 57% redução 16% redução HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS Benzeno 2,53 X 10 -2 Formaldeído 2,45 X 10 -2 Acetaldeído 3,61 X 10 -5 Hidrogen cloride 2.68 X 10 -1 Naftaleno 3,50 X 10 -3 2 – metilnaftaleno 2,78 X 10 -4 Acenaftaleno 1,05 X 10 -3 Acenafteno 3,31 X 10 -5 Fluorene 1,49 X 10 -4 Fenatreno 1,85 X 10 -3 Antraceno 6,73 X 10 -4 Flurranteno 1,38 X 10 -3 Pireno 6,01 X 10 -4 Benzo-a-antraceno 3,64 X 10 -5 Criseno 1,28 X 10 -4 Benzo-b-fluoranteno 1,05 X 10 -3 Benzo-k-fluoranteno 2,49 X 10 -6 Benzo-a-pireno 6,27 X 10 -7 Benzo-e-pireno 6,30 X 10 -6 1,42 X 10 -2 9,97 X 10 -3 3,11 X 10 -4 2,99 X 10 -1 3,57X 10 -3 3,36 X 10 -4 2.68 X 10 -4 2.65 X 10 -5 8,58 X 10 -5 9,70 X 10 -4 4,70 X 10 -5 1,14 X 10 -4 5,56 X 10 -5 2,81 X 10 -6 4,96 X 10 -6 2,49 X 10 -6 <5,40 X 10 -7 <7,90 X 10 -7 1,24 X 10 -6 44% redução 59% redução 30% redução 12% aumento 2% aumento 21% aumento 75% redução 20% redução 42% redução 48% redução 93% redução 92% redução 91% redução 92% redução 96% redução 71% redução >78% redução >21% redução 80% redução POLICLORADOS DIBENZO FURANOS Total TCDF(Tetracloro 3,60 X 10 -6 dibenzofuranos) Total PeCDF(Pentacloro 5,38 X 10 -7 dibenzofuranos) Total HxCDF(Total 4,42 X 10 -8 hexacloro dibenzofuranos) Total HpCDF(Heptacloro 3,04 X 10 -9 dibenzofuranos) OCDF(Octacloro 3,40 X 10 -10 dibenzofuranos) TRAÇO DE METAIS Cromo total Arsênio Bário Cádmio Cobre Chumbo Manganês Mercúrio Níquel Tálio Zinco Saneas / abril 2004 – 33 Artigos Técnicos do a altas temperaturas do forno, promove um resfriamento e uniformização da chama, o que potencializa a redução dos poluentes. (9) O Quadro 2 apresentado a seguir, mostra os resultados dos testes de eficiência desenvolvidos pela indústria cimenteira Mitsubishi (4) Recomendações Apesar dos grandes benefícios da aplicação de lodo das ETE’s para a indústria cimenteira, esta utilização introduz novos controles adicionais para evitar problemas de redução de produtividade de clínquer e problemas de manutenção decorrentes nos equipamentos que efetuam o co-processamento, portanto há necessidade de testes visando a obtenção de parâmetros operacionais que subsidiarão o desenvolvimento do projeto de recebimento de lodo de tratamento de esgoto em uma indústria cimenteira. Os principais parâmetros de interesse a serem obtidos em testes experimentais são: • Avaliar qual a melhor taxa de utilização da torta úmida, em função dos testes de queima, de tal forma que não haja impacto ambiental e não seja afetada a qualidade do clínquer produzido pelo forno; • Avaliar a redução de poluição atmosférica após a introdução dos biossólidos • Elaborar o RFT - Relatório Técnico Final para suportar a obtenção de eventual licença de co-processamento junto aos órgãos ambientais, e também avaliar o impacto da utilização desde lodo em termos de: • Avaliar a estabilidade operacional do Forno; • Avaliar Impacto sobre a qualidade do clínquer; • Avaliar Impacto ambiental de tal atividade (emissões atmosféricas, lixiviação do resíduo, etc.); • Avaliar o impacto da taxa de queima do lodo sobre o consumo térmico do Forno. Serão necessários investimentos de equipamentos para controle operacional e acompanhamento nas oscilações na produção, além de equipamentos mecânicos para lançamento do lodo nos fornos, aquisição de equipamento patenteado, além de áreas para armazenagem e estocagem do lodo. Referências bibliográficas 1. U.S Environmental Protection Agency. Alternative Control Techniques Document NOx Emis34 – Saneas / abril 2004 sions from Cement Manufacturing , EPA – 453/ R-94004. Research Triangle Park, NC. March, 1994. Disponível em: http://www.epa.gov/ttncatc1/dir1/cement.pdf. Acesso em 01/09/2003. 2. U.S Environmental Protection Agency. NOx Control Technologies for the Cement Industry – Final Report – EPA Contract nº 68-D98-026, Work Assignment nº 2-28,. Research Triangle Park, NC. September 2000. 3. Lester , JOHN N. Heavy metals in wastewater and sludge treatment process, vol II, Treatment and Disposal ,ed. CRC press, Boca Raton, Flórida, 1987. 4. Kahn Robert; Hill Penny “An Uncommon Use”, Water Environment & Technology pp. 44-49 May, 1998. 5. ABCP – “Tendências e experiências do co-processamento de resíduos em fornos de produção de clínquer”, Workshop Internacional, São Paulo Dez, 1998. 6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT - Cimento portland composto; NBR 11.578. Rio de Janeiro, 1991.5p 7. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT - Resíduos Sólidos – Classificação; NBR 10.004.Rio de Janeiro, 1987. 8. SMA/CETESB – Procedimento para utilização de resíduos em fornos de produção de clínquer. Documentos Câmaras Ambientais. 73p.São Paulo, Janeiro/1998. 9. EPA – BOLETIM TÉCNICO – EPA – 456F00-002-Óxidos de Nitrogênio (NOx) Porque e como se controlan? Disponível em: http:// www.epa.gov/ttncatc1/dir1/fnoxdocs.pdf Acessado em :01/09/2003 10.CHIRONNA, R. J.; ALTSHULER, B. Chemical Aspects of NOx Scrubbing. Pollution Engineering, p.32-36, April 1999. 11.Osaka, T “ Sewage can make Portland cement: A new technolog for ultimate reuse of sewage sludge” Water Science and Technology , vol 41 n. 8 pp 93 - 98, 2000. 12.Abstract,”NOx Removal from cement kilns”, Applied Catalysis B: Environmental vol 8 issue2, p 20-21, April, 1996. Disponível em: http://www. sciencedirect.com/science/journal/09263373 Acessado em : 03/10/2003. 13.MORALES, G. & DANTAS, F. A. S. (1995) Verificação e avaliação da reatividade pozolânica da cinza de lodo de esgoto da cidade de Londrina. Bol. Téc. EPUSP, BT/PCC/146, Dep. Eng. Civil, 38p. 14.MORALES, G. (1989) Caracterização do agregado leve obtido a partir do lodo de esgoto na cidade de Londrina. Dissert. Mestr. EPUSP. 123p. ■ MEIO AMBIENTE Programa Nacional de fomento a gestão ambiental produção mais limpa e eco-eficiência – promoção da rede brasileira Sérgio Travassos Geógrafo, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento na Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos do Ministério do Meio Ambiente; Coordenador técnico do projeto Competitividade e Meio Ambiente – MERCOSUL e Secretário Executivo do Comitê Gestor de Produção mais Limpa - MMA O s Recursos Naturais constituem a base dos três pilares do desenvolvimento sustentável: o econômico, o social e o ambiental. A forma como estes recursos são utilizados, além de poder constituir uma ameaça a ecossistemas ou até mesmo a vida humana, pode ameaçar o desenvolvimento econômico e social futuro. Com o crescimento e a diversificação das atividades produtivas e o conseqüente aumento do consumo de matéria prima tornou-se necessário um controle sobre a geração, tratamento e disposição dos resíduos gerados. Muito se fala em escassez de recursos, porém entendemos os impactos ambientais causados pelo uso de recursos não renováveis, como metais, minerais e combustíveis fósseis mais inquietantes. A aplicação de novas práticas e a adaptação das já existentes, a fim de alcançar a dissociação necessária entre o impacto ambiental da utilização dos recursos e o crescimento econômico é um processo de longo prazo. Empresas, consumidores e instituições precisam adotar padrões de produção e consumo com impactos menos hostis. Neste sentido o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente -UNEP lançou, em 1989 o conceito de Produção Limpa. Tal conceito significa a aplicação contínua de uma estratégia preventiva ambiental integrada aplicada a processos, produtos e serviços para aumentar a eco-eficiência e reduzir riscos à saúde humana e ao meio ambiente, aplicando-se a: • Processos de produção: economia de energia e de matéria-prima, eliminação de materiais tóxicos e redução da quantidade e toxicidade de emissões e resíduos; • Produtos: minimização de impactos negativos ao longo do ciclo de vida dos produtos, desde a extração da matéria-prima até a sua disposição final; • Serviços: incorporação de conceitos ambientais na prestação dos serviços. A Produção mais Limpa (P+L), como atualmente é denominada, requer mudanças de comportamentos, avaliações de opções tecnológicas e adoção de políticas públicas para o meio ambiente buscando responsabilidade no gerenciamento ambiental. Seu principio básico é eliminar a poluição durante o processo de produção e não mais ao final como é usualmente adotado. Afinal os resíduos gerados consumiram matéria-prima e insumos como água e energia, portanto dinheiro. Pode-se dizer que P+L está voltada para um melhor desempenho industrial, através da utilização das melhores práticas ambientais, da melhor tecnologia disponível e pelo qual se atinge competitividade e qualidade ambiental satisfatória pelo aumento da eficiência do processo. Diante dessas premissas, as estratégias de produção com economia de água, energia e matéria prima e a adoção de um sistema integrado de gestão ambiental garantem a competitividade no mercado, possibilitam a redução de custos de produção, geram lucro, promovem a imagem da empresa e a colocação de seus produtos em mercados mais exigentes e competitivos. Nas discussões que o Ministério do Meio Ambiente vem acompanhando nas diversas esferas, pôde-se observar que o assunto vem Saneas / abril 2004 – 35 Meio Ambiente Empregados do complexo Ponte Pequena da SABESP coletam material reciclável sendo desenvolvido de maneira tímida e pulverizada nos diferentes setores, tanto produtivo, como de fomento ou regulador. Constatado isso, a Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos – MMA se propôs, enquanto entidade representante do Governo Federal, a liderar um movimento integrado, entre diversos setores, visando a formulação de uma Política Nacional de Fomento a Produção mais Limpa. Neste sentido a SQA/MMA está promovendo, numa ação conjunta com o Projeto Competitividade e Meio Ambiente do MERCOSUL, Fóruns de discussão público-privados nas cinco regiões político-administrativas do país – considerandos as diversidades regionais – envolvendo o universo empresarial brasileiro, órgãos ambientais, agências de desenvolvimento e entidades de pesquisa, com o propósito de buscar contribuições para o desenho e implementação de estratégias de fomento na formação de uma Rede Brasileira de Produção mais Limpa e Eco-eficiência. Ainda no sentido de promover ações voltadas para a adoção de práticas mais limpas no sistema produtivo nacional o MMA instituiu, através da Portaria 454/03, o Comitê Gestor de P+L, envolvendo diferentes órgãos de governo (BNDES e Ministérios: do Meio Ambiente; das Cidades; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; da Ciência e Tecnologia, das Minas e Energia e da Fazenda) e entidades ligadas ao setor Produtivo (CNI, SENAI, SEBRAE e CEBDS) entre outros, responsável por elaborar uma estratégia de desenvolvimento sustentável. Este Comitê tem a pretensão de ser um foro 36 – Saneas / abril 2004 de discussão para receber demandas e elaborar propostas de ações de mobilização, sensibilização e capacitação. É também dentro deste Comitê que vai ser discutida uma proposta de uma Política Nacional. É importante salientar que entidades e setores não contemplados na criação do CGPL também são importantes nas atividades do referido Comitê, podendo enviar sugestões e solicitar sua participação. Entendemos que uma Política Nacional de Fomento a Produção mais Limpa implica em convergência das políticas: ambiental, econômica, social, educacional, tecnológica e industrial. E que a efetiva aplicação requer instrumentos econômicos, fiscais, financeiros e creditícios, mas principalmente passa pelo envolvimento / comprometimento dos diferentes atores. Para tanto o MMA está buscando os parceiros que se fazem necessários para a viabilização deste processo, seja nas esferas de governo ou na iniciativa privada. Também é proposta da SQA, utilizando-se do poder de compras do governo, a discussão de um programa de compras verdes (priorização de produtos e serviços ambientalmente sustentáveis) quando da elaboração de editais pelo governo federal. Se por um lado você recompensa o empresário ambientalmente responsável, por outro é uma forma de promover o consumo responsável e o respeito aos limites da biosfera no fornecimento de matériaprima e na capacidade de assimilar dejetos e resíduos. É importante ressaltar que as técnicas de produção mais limpa representam uma melhoria continua no processo visando tornar a atividade produtiva cada vez menos danosa ao meio ambiente. As metodologias propostas não se baseiam somente em inovação tecnológica, muitas vezes se dão com uma simples mudança do procedimento operacional ou da forma de gestão das empresas. A adoção destas metodologias são mais fáceis de serem aceitas pelas empresas, pois normalmente representam menores custos, preservando projetos originais e patentes. No sentido de clarear a visão de como, quando e onde os processos produtivos e produtos impactam o meio ambiente, novos instrumentos de avaliação estão sendo desenvolvidos e aplicados. Está sob análise a factibilidade dos ganhos ambientais conjugados com ganhos econômicos, pois só assim teremos as condições necessárias ao desenvolvimento sustentável. ■ INOVAÇÃO Secagem de lodo da ETA Taiaçupeba disposto na forma de leira em pátio coberto Airton Checoni David � Claudia Mota Santos � Figura 1 - Leira de lodo da ETA Taiaçupeba no início do processo de secagem. Introdução O sistema de produção de água da Sabesp para o abastecimento público da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) gera cerca de 100 toneladas de lodo por dia, em base seca. Isso equivale a 500 toneladas por dia de torta de lodo com teor de sólidos de 20%. O custo de disposição final desse lodo em aterros sanitários de classe 2 varia de R$ 60 a R$ 100 por tonelada, e os custos de transporte variam de R$ 10 a R$ 15 por tonelada de lodo transportado a distâncias de até 30 km. Assim, a disposição final dessas 500 toneladas diárias de lodo resultará num custo médio diário da ordem de R$ 50 mil. A utilização de lodo de ETA para cobertura de células de aterros sanitários e para incorporação na argila para fabricação de tijolos � Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da USP. Especialização em Engenharia em Saúde Pública e Ambiental pela FSP-USP. Mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP. Engenheiro da Superintendência Técnica. � Química Industrial pela Faculdade Oswaldo Cruz, Especialização em Engenharia de Saneamento Básico e Ambiental pela FSP-USP. Química da Divisão do Sistema Alto Tietê. Saneas / abril 2004 – 37 Inovação são alternativas de uso benéfico que estão sendo estudadas pela Sabesp, através da Superintendência Técnica e da Unidade de Negócio de Produção de Água, e que podem ser viabilizadas. Entretanto, uma das dificuldades para essas utilizações é a excessiva umidade da torta de lodo, entre 70 e 80%, obtida nos sistemas de desidratação de lodo normalmente empregados nas ETAs. A redução da umidade do lodo, ou seja, a sua secagem para se obter teor de sólidos em torno de 50% poderá contribuir significativamente para a viabilização dessas aplicações. Mesmo que essas aplicações não sejam viabilizadas, a elevação do teor de sólidos de 20 para 50%, que implica redução para 200 toneladas diárias da quantidade total para disposição final, resultará em uma economia de 60% nas despesas com disposição em aterros sanitários. Com o objetivo de observar o comportamento da secagem do lodo através de exposição ao ar ambiente em pátio coberto e verificar sua perda natural de umidade com o levantamento da curva de velocidade de secagem, a unidade de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da Sabesp realizou este experimento nas dependências da Companhia de Saneamento de Jundiaí (CSJ) que forneceu a infra-estrutura e o apoio técnico necessários para sua realização. Metodologia A metodologia do experimento consistiu na disposição de 30 toneladas de lodo da ETA Taiaçupeba no pátio coberto da ETE Jundiaí para secagem natural, da mesma forma como é feito para o próprio lodo da ETE, que é disposto no pátio em forma de leiras e revolvido diariamente para, em seguida, ser destinado à agricultura. O lodo utilizado neste experimento foi gerado na ETA Taiaçupeba, desidratado no filtro prensa de placas nos dias 7, 8 e 9 de maio de 2003 e transportado para a ETE Jundiaí por caminhão de caçamba nas mesmas datas. Foram enviados 3 caminhões de lodo; o primeiro com 11,45 toneladas com teor de sólidos de 22,9%, o segundo com 10,29 toneladas com teor de sólidos de 19,2%, e o terceiro com 8,52 toneladas com teor de sólidos de 15,5%. O total de lodo enviado foi de 30,26 toneladas e o teor de sólidos da mistura dos três lotes, medido no dia 09 de maio de 2003, na ETE Jundiaí, foi de 20,3%. A velocidade de secagem de um sólido é o 38 – Saneas / abril 2004 fluxo de massa de umidade que deixa este sólido por unidade de área de exposição ao meio de seca e por unidade de tempo. Assim, quanto mais esparramado ficar o material, mais rapidamente ele irá secar. Entretanto, devido à utilização do equipamento de revolvimento da CSJ, sem alteração de seu formato ou modo de operação, estabeleceu-se que o formato da pilha de lodo seria o de leira, ou seja, uma pilha contínua de seção transversal aproximadamente triangular. A figura 1 mostra a leira formada com o lodo proveniente da ETA Taiaçupeba e o equipamento de revolvimento utilizado. O equipamento de revolvimento do lodo, denominado compostador de resíduos orgânicos, foi fabricado pela Civemasa Implementos Agrícolas Ltda. Trata-se de um equipamento dotado de um cilindro horizontal giratório com pás fixadas radialmente no corpo do cilindro em posições inclinadas para a sua parte central. À medida que o cilindro gira horizontalmente movendo-se contra a pilha de lodo, as pás batem no material movimentando-o para a parte central, formando uma pilha contínua de seção triangular. O conjunto montado sobre pneus é movimentado por trator agrícola que se desloca paralelamente à leira formada. O formato e o tamanho da leira de lodo resultante da operação de revolvimento dependem da forma e do modo de operação do equipamento. As dimensões da leira (de 2,00 a 3,20 m de largura por 0,80 a 1,30 m de altura) variam ao longo do processo de secagem; à medida que o material seca, o tamanho da leira diminui. Neste experimento, o revolvimento do lodo foi feito a cada dois ou três dias. Após cada operação de revolvimento foram colhidas amostras para análise do teor de sólidos. Essas análises foram feitas na própria ETE Jundiaí, através de medidor do tipo balança, e no laboratório da ETE Barueri, através de secagem em estufa. Após atingir o teor de sólidos de 60% deu-se por encerrada a experiência de secagem, encerrando-se a coleta de amostras para análise de sólidos. O lodo foi, então, encaminhado para o aterro sanitário Sítio São João, da Limpurb, em São Paulo, para os testes de utilização como cobertura de células do próprio aterro. Apresentação e discussão dos resultados O início do processo de secagem ocorreu de forma bastante lenta na leira. Nos primeiros dias, o lodo ainda com a consistência de barro, Inovação começava a perder a umidade da superfície do monte, porém seu interior encapsulado permanecia muito úmido. A movimentação do equipamento de revolvimento foi bastante dificultada devido a essa consistência do lodo, ainda muito úmido. A secagem do lodo na leira deu-se de forma não-uniforme. Devido ao formato do equipamento de revolvimento e seu modo operacional, formaram-se basicamente três regiões na leira, com evolução distinta do processo de secagem. Na primeira região, ou seja, a parte mais alta da leira que era periodicamente revolvida, de onde foram retiradas as amostras para as análises do teor de sólidos, a evolução da secagem foi aquela apresentada no gráfico da figura 2. Na segunda região, formada pela base da leira, que estava fora do alcance das pás do revolvedor e que ficou encapsulada, a evolução da secagem ocorreu mais lentamente. Na terceira região, formada pelo lodo revolvido e esparramado pelas bordas da leira, a evolução de secagem ocorreu de forma bem mais rápida. Nessa região, o teor de sólidos medido após 27 dias foi de 66%, atingindo 81% após 56 dias de exposição. Com os valores do teor de sólidos medido, construiu-se um gráfico, que foi aqui denominado curva de secagem. Esse gráfico, apresentado na figura 2, mostra a variação do teor de sólidos ao longo do tempo para as condições deste experimento, ou seja, lodo exposto ao ar na forma de leira. À medida que o lodo começa a perder umidade, a superfície do monte encolhe, apresentando fissuras superficiais. Essas fissuras aumentam de tamanho e se aprofundam com o passar do tempo, aumentando assim a área de exposição do material ao ar ambiente. Com isso, a velocidade de secagem também aumenta e a curva de secagem tende a crescer. À medida que o processo de secagem evolui, formam-se torrões de lodo que são quebrados em pequenos grânulos pela ação do revolvimento. Esses grânulos vão se tornando porosos e a umidade ainda presente nos interstícios começa a ter dificuldade para sair. Nesse ponto a velocidade de secagem tende a diminuir. Embora não se tenha medido as temperaturas e umidades do ar ambiente durante o período de teste, foi possível observar que as condições climáticas foram bastante favoráveis à secagem. A predominância foi de dias ensolarados, secos e relativamente quentes para a época do ano; não houve ocorrência de chuvas no período (maio a julho de 2003). O equipamento de revolvimento de lodo utilizado na CSJ foi adaptado para o revolvimento e a formação de leiras de forma a satisfazer as condições operacionais e as características finais requeridas para o lodo, segundo as necessidades da CSJ, que são a redução da umidade e do nível de organismos patogênicos para posterior aplicação na agricultura. Para tanto, não é necessário que o Figura 2 Evolução do teor de sólidos do lodo da ETA Taiaçupeba. $VSWBEFTFDBHFN Saneas / abril 2004 – 39 Inovação teor de sólidos seja superior a 35%. Para os lodos de ETAs da Sabesp, pretendese obter teores de sólidos superiores a 35% e da forma mais rápida possível. Para isso, a exposição do material de forma mais esparramada deverá ser mais eficiente que a exposição em forma de leira. Os parâmetros operacionais a serem definidos para se obter a melhor eficiência na secagem natural de lodo são a espessura da camada de exposição e a freqüência de revolvimento. Considerando-se espessura média da camada de 20 cm e tempo de secagem de 30 dias, nas condições deste experimento, a área necessária para um pátio de secagem de lodo para a ETA Taiaçupeba é de aproximadamente 10 mil metros quadrados e seu custo de implantação da ordem de R$ 300 mil, o que se paga em menos de um ano. Conclusões • O lodo da ETA Taiaçupeba submetido ao processo de secagem natural, conforme realizado pela CSJ para os lodos da ETE Jundiaí, ou seja, disposto na forma de leira em pátio coberto, com revolvimento periódico, teve sua umidade reduzida de 80% para 40% num período de dois meses. Figura 3 Leira de lodo durante o processo de secagem. 40 – Saneas / abril 2004 • As porções de lodo que ficaram mais esparramadas secaram bem mais rapidamente que as porções amontoadas na leira. A umidade foi reduzida para menos de 35% em um período inferior a um mês. • A adoção de processo similar ao utilizado na ETE Jundiaí para secagem do lodo de ETA requer adaptação do equipamento de revolvimento, de modo a dispor o lodo de uma forma mais esparramada, uma vez que, nesse caso, o objetivo seria apenas a sua secagem. • Após esse processo de secagem, ainda com umidade entre 30 e 40%, o lodo ficou na forma de pequenos grânulos, duros e com bastante porosidade, com tamanhos variáveis, desde pelotas de cerca de 1 centímetro até pequenos grãos de menos de 1 milímetro de diâmetro médio. Agradecimentos especiais à Companhia de Saneamento de Jundiaí pelo fornecimento da infraestrutura para o experimento, ao engº Américo O. Sampaio pelos contatos iniciais, à equipe técnica da ETE Barueri pelas análises de sólidos e à equipe técnica da ETA Taiaçupeba pelo apoio logístico. ■ ENTREVISTA OPINIÃO O poder de consumo ao alcance das mãos Entrevista E ngenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Helio Mattar trabalhou por duas décadas como executivo em empresas nacionais e multinacionais. Inquieto, ele sempre se preocupou com as relações entre as empresas, a sociedade e o papel de cada um de nós. Foi com esse pensamento que Mattar participou da elaboração do Instituto Ethos e Responsabilidade Social, do qual é membro do Conselho Diretor, além de ter sido diretor presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, de 2000 a 2003. Há três anos, ele teve outra idéia inovadora: criar um instituto para elaborar estudos e colocar a questão do consumo em debate. Assim nasceu o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, do qual Helio Mattar é o atual diretor presidente. As idéias do Instituto caminham a passos largos. E isso se justifica: o conceito de consumo consciente é um assunto atual e que diz respeito a todas as esferas da sociedade. O que é o conceito de consumo consciente? Nós definimos o consumo consciente como um processo de escolha que equilibra o consumo e a sustentabilidade do planeta. O consumidor consciente é aquele que, ao consumir produtos, serviços ou recursos naturais, leva em conta as suas necessidades pessoais, as possibilidades do meio ambiente e a justiça social. Na prática, isso significa que eu não vou deixar de consumir, mas pensar no impacto do meu consumo. Eu preciso usar água no meu dia-a-dia, por exemplo. Mas eu sei que água é um recurso finito, que custa caro captá-la e tratá-la para que chegue com boa qualidade à minha casa. Então, vou utilizá-la com parcimônia, evitando banhos demorados ou escovando os dentes com a torneira fechada. Ao comprar um produto, vou prestar atenção à embalagem para ver se é reciclável, e depois não vou jogá-la no lixo, mas separá-la para a coleta seletiva. Na hora da compra, devo pensar na empresa que fabricou aquele produto. Será que polui o ambiente, será que emprega trabalho infantil? Eu vou procurar comprar produtos de empresas que não façam isso e que tenham ações benéficas à sociedade. Saneas / abril 2004 – 41 Entrevista O consumidor brasileiro é consciente? países nos quais podemos nos espelhar? Uma parte dos consumidores brasileiros é consciente e a tendência é a de que esse número seja cada vez maior. Verificamos isso com uma pesquisa que acabamos de lançar: “Descobrindo o Consumidor Consciente: uma Nova Visão da Realidade Brasileira”. Pela primeira vez, foi analisada estatisticamente a população Acho que ter uma pesquisa sobre o consumo consciente já é estar na frente dos outros países... A pesquisa é inédita no mundo. Eu já procurei, mas nunca encontrei, nenhum trabalho que segmentasse o mercado consumidor de acordo com o grau de consciência no consumo. Assim, dá para fazer essa comparação baseado em números. Quanto ao nosso atual patamar, acho que o consumidor brasileiro, depois de treze anos convivendo com o Código de Defesa do Consumidor, já percebeu que tem direitos e que a empresa deve respeitálos. Mas o Akatu acredita em outro paradigma: o de valorizar a empresa pelo que ela faz de positivo, não apenas denunciar o negativo. Temos vários exemplos nos Estados Unidos e na Europa de boicotes a empresas que empregaram trabalho infantil ou tinham práticas racistas na contratação de funcionários. Mas achamos que o consumidor deve ir além disso e passar a valorizar as ações positivas das empresas. Se ficarmos procurando defeitos, sempre vamos encontrar, porque ninguém — nenhum indivíduo e nenhuma empresa — é perfeito. No entanto, se fizermos apenas isso, as empresas vão reparar os erros apontados e ficar apenas nisso. Se valorizarmos os aspectos positivos, podemos esperar que as empresas evoluam cada vez mais nesse sentido. O poder de transformar o mundo também se revela quando escolhemos produtos ou serviços. Se eu lamento a destruição de florestas, posso ter duas atitudes: continuar lamentando ou prestar atenção aos produtos de madeira que eu compro brasileira segundo seu grau de consciência no consumo. Para isso, realizamos um amplo levantamento de valores e comportamentos relacionados ao consumo consciente. Com estes dados, fizemos uma pesquisa piloto e a partir de seus resultados selecionamos treze comportamentos que refletem essa consciência no ato do consumo, seja de produtos, serviços ou recursos naturais. São comportamentos como fechar a torneira ao escovar os dentes, apagar a luz ao sair de um ambiente, ler um rótulo atentamente antes da compra e separar o lixo para reciclagem. O consumidor consciente foi classificado como aquele que adota de onze a treze desses comportamentos. A pesquisa indicou que 6% dos consumidores brasileiros são conscientes. À primeira vista, parece um número pequeno. Mas quando ao analisar os resultados mais de perto, vemos uma boa notícia. O grupo que vem logo depois dos conscientes, que chamamos de comprometidos, é bem grande: são 37% dos consumidores e eles adotam entre 8 e 10 dos comportamentos listados. Eles estão a um passo de perceber o seu poder de consumidor cidadão e acreditamos que em pouco tempo vão chegar lá. Em que patamar está o Brasil quando o assunto é consumo consciente? Existem outros 42 – Saneas / abril 2004 Como o consumidor pode construir um mundo melhor por meio de seu poder de escolha? O consumidor consciente pode mudar o mundo em pequenos e cotidianos gestos. Ele sabe que suas atitudes individuais têm uma importância grande a longo prazo, ou quando um grande número de pessoas faz o mesmo que ele. Veja o exemplo do desperdício de alimentos. O Brasil desperdiça todo ano 14 milhões de toneladas de frutas, hortaliças e grãos, e cerca de 20% dessa perda ocorre durante o preparo dos alimentos. Uma família brasileira joga fora em média 500 gramas de comida por dia. Parece pouco, mas ao final de um ano, foram para o lixo 180 quilos de alimento. Se um milhão de famílias decidisse reduzir o desperdício à metade, as 90 mil toneladas de comida economizadas em um ano seriam suficientes para matar a Entrevista fome de 260 mil pessoas nesse mesmo tempo. Se todas as famílias brasileiras fizessem isso, haveria mais alimentos disponíveis no país, provavelmente a preços mais baixos, o que permitiria a mais pessoas ter acesso a eles. Portanto, diminuir o problema da fome ou da desnutrição no Brasil também está nas mãos de cada cidadão. Esse poder de transformar o mundo também se revela quando escolhemos produtos ou serviços. Se eu lamento a destruição de florestas, posso ter duas atitudes: continuar lamentando ou prestar atenção aos produtos de madeira que eu compro. Eles têm o selo do FSC, que garante que aquela madeira não foi extraída ilegalmente? Se eu preferir produtos que tenham o selo, estarei claramente escolhendo uma empresa que respeita a sustentabilidade ambiental, e dizendo às outras que extraem madeira ilegalmente que não as quero na minha sociedade. Esse é o poder transformador do consumidor consciente. O senhor acha que existe uma tendência de as empresas se adequarem aos moldes de um consumo consciente como medida competitiva de mercado? Não é só um fator de competitividade, mas de sobrevivência. Antes, bastava à empresa fabricar um bom produto e vendê-lo a um bom preço para ser competitiva. Mas à medida em que os impactos da produção e das relações das empresas com a sociedade foram sendo percebidos, os consumidores passaram a exigir uma nova postura das empresas. Hoje, já não se admite que uma fábrica polua um rio. Ou que uma empresa não tenha um serviço de atendimento ao consumidor. Isso já é o esperado e quem não fizer assim, dificilmente vai sobreviver no mercado. A prática da Responsabilidade Social Empresarial - que reflete a preocupação das empresas em ir além de apenas cumprir suas obrigações e objetivos econômicos - pode ser vista hoje como um fator de diferenciação e portanto de vantagem competitiva. Mas a tendência é que a consciência dos consumidores cresça cada vez mais. Então, o que hoje pode ser visto como exceção deve virar regra daqui a alguns anos. Neste sentido, a responsabilidade social das empresas é um fator não apenas de competitividade, mas de sustentabilidade, de sobrevivência da empresa e de suas marcas a longo prazo. Muitas empresas têm feito sua parte no Brasil? Sim, cada vez mais. Está claro que a responsabilidade social não é moda, mas uma prática já incorporada à realidade das empresas. Basta olhar um dado para perceber isso: o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social tem quase 800 empresas associadas, cujo faturamento é equivalente a 30% do PIB brasileiro. Muitas empresas já publicam relatórios e balanços sociais. O fato de o Instituto Akatu ser apoiado por cerca de 30 empresas também é muito significativo, pois elas estão empenhadas em ajudar a disseminar no Brasil a consciência no consumo. Isto certamente significa que são empresas que vêem o consumidor consciente como um aliado e não como uma ameaça. Além da conscientização de cada um, existem políticas públicas que podem ajudar neste processo? Sim. Os governos federal, estadual ou municipal podem fazer muito, em diversas áreas. Em janeiro, por exemplo, a prefeitura de São Paulo criou um programa de incentivo à agricultura urbana na periferia da cidade, com o objetivo de combater a fome e gerar emprego e renda nessas regiões. A idéia é produzir e vender os alimentos localmente. Além dos ganhos sociais, há também os ambientais, pois quan- A tendência é que a consciência dos consumidores cresça cada vez mais. Nesse sentido, a responsabilidade social das empresas é um fator não apenas de competitividade, mas de sustentabilidade, de sobrevivência da empresa e de suas marcas a longo prazo to menos transporte se usa, menos combustível é gasto e menor poluição é gerada. Há uma iniciativa na Amazônia, que envolveu governo federal e estaduais, para desenvolver um preservativo usando látex nativo da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. Uma fábrica será construída lá e a produção deverá substituir parte dos preservativos importados que são distribuídos gratuitamente pelo Sistema Nacional da Saúde. Isso mostra como as políticas públicas podem contribuir com o consumidor consciente no momento de suas escolhas, promover o desenvolvimento sustentável, gerar renda localmente e ainda contribuir para a redução das despesas do governo. ■ Saneas / abril 2004 – 43 EMPREENDIMENTO & GESTÃO Ganhar prêmio é conseqüência de gestão eficiente: experiência da Unidade de Negócio Leste da SABESP na RMSP Maria das Graças Ferreira Luciomar Santos Werneck A Equipe responsável pelos resultados e prêmios obtidos pela Superintendência Leste da Região Metropolitana de São Paulo adoção do modelo dos critérios do Prêmio ABES de Qualidade em 1998 foi o primeiro passo da Unidade de Negócio Leste da SABESP em busca da excelência na gestão. A proposta da Consultoria Interna era buscar ferramentas capazes de contribuir para que a unidade caminhasse na direção da visão 2005 (Até 2005 ser reconhecida como a melhor empresa de saneamento ambiental). O resultado dessa adoção, escolhida em consenso entre a alta administração da Unidade de Negócio e gerentes, permitiu que direcionássemos nosso foco para a melhoria da gestão e nos fez entender a importância da visão de futuro. Paralelamente à implantação dos macroprocessos redesenhados, fomos também nos voltando para a qualidade da gestão. Até então estavam sendo aplicados os Fundamentos de Excelência, Visão de Futuro, Liderança e Constância 44 – Saneas / abril 2004 de Propósito e Abordagem por Processos. Desde 1998, os critérios de excelência vêm contribuindo para a revisão de paradigmas, reformulação e aperfeiçoamento de processos, maior valorização das pessoas, total atenção às partes interessadas, mudanças de comportamento, tendo como referencial as melhores empresas do mundo. Toda essa reviravolta, embora muito pequena se comparada aos dias de hoje, contribuiu para que em 1999 fôssemos reconhecidos pela ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária, como “empresa destaque”. A avaliação externa realizada por examinadores extremamente qualificados, aliada ao diagnóstico que recebemos da ABES, contribuiu para que direcionássemos o nosso foco para os fatores críticos e oportunidades de melhoria. Este diagnóstico contribuiu para a im- Empreendimento & Gestão Fig. 1 – Pesquisa de Satisfação de Clientes Indicador que consta do Painel de Bordo (BSC) da Unidade de Negócio Leste e é aferido sistematicamente através de pesquisa da área de Marketing. plementação do planejamento estratégico da Unidade de Negócio, tendo como referenciais a nossa missão e a nossa visão. Um dos processos priorizados, por exemplo, desde 1999, é o processo de relações com os clientes e um dos indicadores mais significativos tem sido a satisfação do cliente. A implantação dos Escritórios Regionais, e a implementação do Projeto TACE (Técnico de Atendimento Comercial Externo), contribuíram para a ampliação do atendimento, levando a SABESP até a casa do cliente. Tudo isto, aliado a atividades de treinamentos técnicos e comportamentais de todos os profissionais envolvidos provocaram a elevação do índice de satisfação do cliente, de 76.8% em 1999 para 89,60% em 2003. O aperfeiçoamento da gestão permeia toda a Unidade, sendo que o maior desafio tem sido o envolvimento dos 1200 colaboradores na manutenção do projetos implantados. Na visão do então gerente do Departamento Comercial Wady Roberto Bon, a Multifuncionalidade, um dos projetos desenvolvidos, foi um dos melhores ganhos daquela área. Neste momento percebe-se que mais alguns Fundamentos de Excelência se solidificam na UN Leste, como o Foco no Cliente e no Mercado, Valorização das Pessoas, Foco nos Resultados, Inovação e Agilidade. Nos anos de 2000, 2001 e 2003 a Unidade Leste foi reconhecida com os prêmios PNQS Nível I, PPQG Medalha de Prata, e Medalha de Ouro e Troféu Governador de Estado respectivamente. Vale ressaltar que as certificações ISO 9000, ISO 14001, suas manutenções, o Programa 5S e alguns programas sociais como o Mãos Solidárias e o Educar Leste (convênio com a ONG Educafro) contribuíram para o atingimento do fundamento Responsabilidade Social e Ética. A partir de 2000 a Unidade Leste passou a ser benchmark para as demais unidades da SABESP e pode contribuir para nível de excelência comum hoje em todas a unidades da Diretoria Metropolitana. Na seqüência relacionamos alguns índices que tiveram ganhos efetivos pela UN Leste ao adotar os Critérios de Excelência: melhoria no nível de satisfação da força de trabalho; no nível de satisfação dos clientes; redução de despesas; aumento nas horas de capacitação; melhoria no desempenho dos fornecedores de materiais e equipamentos; aumento das instalações automatizadas; aumento na produtividade; aumento de participação da sociedade nos eventos; diminuição do tempo médio de atendimento a desobstrução de ramais domiciliares de esgoto e aumento da força de trabalho com acesso a microcomputadores dentre outros. O grande desafio que temos a frente é o estudo do diagnóstico atual, a calibração dos nossos indicadores para a melhoria da gestão, tendo como referencial os critérios de excelência da FPNQ – Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade. ■ Saneas / abril 2004 – 45 PERSONAGENS DO SANEAMENTO Paixão de pai para filho Silvio Leifert � Horácio e Sílvio Leifert: uma história de duas gerações “M eu pai entrou para a área do saneamento no ano de 1948. Foi trabalhar como engenheiro da antiga repartição de águas e esgotos. Por isso, me considero a segunda geração na área. A Repartição de Águas e Esgotos (RAE) era ligada a Secretaria de Viação e Obras Públicas. Desde pequeno, eu acompanhava meu pai na obras. Lembro que a repartição funcionava em um prédio que ficava no centro de São Paulo, na rua Riachuelo. Além de outras áreas, meu pai, o senhor Horácio Leifert, hoje com 77 anos, trabalhou na Comissão Especial de Obras Novas, no DAE, ao lado do dr. Paiva Castro, que foi o responsável pela concepção e implantação do Sistema Juqueri, hoje Cantareira. Depois, ele foi da equipe do Brigadeiro Faria Lima (o da avenida), quando foi Secretário de Viação e Obras Públicas, principalmente em assuntos ligados ao Saneamento. Meu pai trabalhou também no RAE/DAE/SAEC, nas áreas de construção e operação. Ele seguiu como superintendente de obras e, quando a Sabesp nasceu, em 1973, foi trabalhar no departamento comercial, na Superintendência Comercial (em 1973, fundem-se as empresas e autarquias de abastecimento e coleta de esgotos em São Paulo em uma única empresa, a Sabesp, que passa a ter responsabilidade de implementar o Plano Nacional de Saneamento, estabelecido pelo governo federal). E foi no departamento comercial da Sabesp que meu pai ficou até 1983, quando se aposentou. Acabei seguindo a mesma trilha de meu pai e fiz engenharia no Mackenzie. Entrei na Sabesp, como estagiário, em 1976. Fui para a área de construções, onde acabei fazendo carreira -apenas em março de 2003, sai deste setor. Na época, eu ficava no escritório da Coordenação de Obras, na área da Estação de Esgoto Leopoldina. Desta unidade, segui para as obras da zona sul de São Paulo. Era muito interessante porque lá não tinha escritório a gente ficava, literalmente no canteiro de obras. Quando precisávamos fazer reunião era no meio da obra. A construção de um escritório só aconteceu em 1977. Esta foi uma grande obra, uma das maiores da zona sul. Naquela época trabalhei inicialmente nas obras de Ligações Domiciliares de Água (mais de 35 mil executadas), onde tive grande aprendizado. Só para se ter uma � Silvio Leifert é engenheiro da Sabesp há 26 anos. E esta é só uma pequena, mas importante parte de sua trajetória na Sabesp. Ele ainda tem muitos outros ‘causos’ para contar. 46 – Saneas / abril 2004 Personagens do Saneamento idéia, o lugar era tão ermo, que só tinha mato. E a gente era obrigado a comer em botecos, encarando todo tipo de comida. Em 1977, passei a estagiar nas obras de Reservatórios do Capão Redondo Morumbi, Interlagos e Pirajussara. No reservatório do Capão Redondo, introduzimos uma tecnologia chamada “forma deslizante”: um macaco hidráulico puxava a fôrma com concreto. Fizemos a concretagem de um reservatório em 26 horas. Foi recorde. Acompanhei a construção do reservatório do Autódromo de Interlagos (com 35 metros de altura). Lembro que teve um dia que, durante o período da concretagem, o engenheiro Kazuo Sonohara, passou na obra às 6h30 da manhã para verificar se estavam todos trabalhando –ele adorava fazer isso. E se não tinha ninguém trabalhando, era bronca na certa. Esse reservatório, foi feito em sete dias e seis noites. Um ano depois, fui admitido como engenheiro na Sabesp (1978) e iniciei minha carreira profissional na obra do Capão Redondo. Eram dois reservatórios circulares e um elevado de 50 metros de altura. Lembro, que era meu primeiro dia como engenheiro efetivo e, exatamente neste dia, chovia muito. Mesmo com todo aquele aguaceiro, precisei acompanhar a concretagem no topo da torre. E se isso já não bastasse, teve um momento que estava no escritório e bem na hora que fui atender ao telefone, caiu um raio. Levei um choque na orelha. Pensei: ‘comecei bem’. Outro trabalho que lembro como um desafio foi o do reservatório do Morumbi. A obra ficava no topo da avenida Giovanni Gronchi. Não tinha nada por lá. Só mato. No lugar onde foi construído o reservatório tinha um único prédio, que não recebia água encanada. Este reservatório só deu problema durante a construção e merecia uma atenção especial porque era o mais importante da zona sul. Fui o 14º engenheiro a assumir a obra, mas o último. Uma parte deste reservatório é suspensa e daí a razão de tantos problemas na construção. No dia que, finalmente, fomos fazer o teste para começar o enchimento com água, descobrimos que a válvula estava com defeito. Paramos tudo, trocamos a válvula... até que deu certo. Lembro que foram anos na Sabesp, em que as pessoas tinham muita capacidade de empreendedorismo. Tem uma cena que não me esqueço: Enzo Ferrari, então engenheiro e responsável por uma empreitada no Alto da Boa Vista, no topo da obra de um decantador, com um megafone da mão. Ele, baixinho e gordi- nho, não parava de gritar e dar ordens. Me lembro também de uma vez que o engenheiro Sylvio Passarelli, dono da construtora Passarelli, estava visitando uma obra. Ele era neurótico por manter todos com equipamento de segurança. De repente, ele viu uma pessoa sem capacete. Ele, então, pegou uma pedra e jogou muito próxima da cabeça do desavisado e gritou ‘da próxima vez eu acerto’. Foi uma época boa, de muitas lembranças e muitas obras também. Mas tenho certeza que devo todo este meu entusiasmo ao pai e aos anos em que ele me levava aos canteiros de obras, quando São Paulo e sua rede de água e esgoto ainda estava sendo formada.” ■ * A cada edição de Saneas vamos contar histórias de pessoas e acontecimentos relacionados ao saneamento no país. O conselho editorial desta publicação está aberto a ouvir a sua versão. Para isso, entre em contato com Saneas pelo e-mail [email protected]. Concretagem de reservatório de água ao pôr do sol Saneas / abril 2004 – 47 Resenhas Resenhas A ciência em evolução De tese de mestrado à livro Um belo livro, De Arquimedes a Einstein – A Face Oculta da invenção científica, Pierre Thuillier, Jorge Zahar Editor, que trata de maneira envolvente a evolução da história da ciência, sempre a colocando no contexto da época. Uma mistura bem temperada entre o início da civilização, quando o conhecimento era considerado “sagrado”, protegido por tabus e os métodos empíricos ou experimentais criados por Galileu e que deram origem ao método científico usado até hoje. O autor não se esquece de Leonardo Da Vinci, que aliou ciência e arte passando pela engenharia. Foi com a ciência que lançou as bases da perspectiva, que utilizou em suas obras artísticas. Suas observações científicas a respeito dos vórtices que estudou em uma ponte sobre o rio Arno, em Florença, serviram no final do século XX, para a invenção de um novo método de medição de vazões. Por fim, um livro que lança bases para a discussão científica, questionando, por exemplo, se uma teoria pode ser completamente objetiva. Até hoje, apesar dos esforços dos físicos, ainda não se unificou a ciência de Newton à de Einstein. Luiz Carlos Helou Uma trilogia, A Ditadura Envergonhada, A Ditadura Escancarada e A Ditadura Derrotada de Elio Gaspari, Companhia das Letras, que nos conta, de maneira histórica, didática e até mesmo cruel, o triste período que abrange desde o golpe militar de 1964 até o governo do general Geisel. Gaspari conta que iria escrever uma dissertação de mestrado no “Wilson Center for International Scholars”, mas como todo aluno de pós-graduação, viu que seu prazo iria se esgotar antes mesmo de terminar a pesquisa. Por sugestão do seu orientador, ele resolveu publicar o texto em forma de livro. Nós, leitores, agradecemos a sugestão de seu orientador! Como engenheiros, podemos garimpar no texto, episódios envolvendo alguns colegas nossos, como Luiz Carlos Prestes, cujas notas obtidas no Colégio Militar até hoje nunca foram superadas, Carlos Marighela, outro engenheiro que resistiu e foi assassinado pela repressão, Rubens Paiva, colega que foi deputado do antigo MDB, e desaparecido nos porões da ditadura após bárbaras torturas. Para escrever o livro, Gaspari realizou intermináveis horas de entrevistas com o general Geisel, e seu fiel escudeiro Heitor Aquino FerPor um mundo melhor reira e pesquisas exaustivas nos documentos da BiblioteHá duas maneiras de salvar o mundo. Destruindo o ser ca do Congresso Americano. humano, assim as outras espécies teriam alguma chance. Ou, Todo fato descrito é rigorosalvando o ser humano, mostrando como ele pode obter os samente referenciado, não bens de que necessita sem destruir o planeta. É isso que Ismadeixando margens a paixões el mostra (Meu Ismael: O fenômeno continua, Daniel Quin, e interpretações. Editora Peirópolis) à sua aluna de 12 anos, que tinha um deEnfim, uma leitura obrisejo sincero de salvar o mundo. gatória para quem gosta de A surpresa, na ficção, fica por conta desse professor fantásHistória e para que nunca tico, que por meio do diálogo nos ajuda a ver coisas e soluções que estão debaixo do nos esqueçamos desse triste nosso nariz, mas que não conseguimos enxergar, porque a Mãe Cultura não deixa. período de chumbo e coturCom a produção de alimentos em excesso, pela humanidade, surgiu a necessidade no. É pena que Elio Gaspari de gerenciamento dos armazéns, da guarda dos alimentos e da execução de diversas não seja tão rápido para estarefas, quando bastava pegar os alimentos que estavam disponíveis, antes da “civilizacrever quanto a trama exige. ção”. Os segredos de como viver não estão em outros planetas, eles estão entre nossos Elio ainda nos deve os voluvizinhos das outras espécies. Basta olhar como eles desfrutam de segurança por toda a mes da era Figueiredo. De vida, com vivem sem medo e praticam a solidariedade. acordo com o autor a obra Daniel Quinn oferece, com esta obra, uma boa oportunidade para revisão dos completa será composta por nossos valores, bem como dos paradigmas do nosso modelo de desenvolvimento. 5 volumes. Um livro para ser lido em um fim de semana e ser lembrado por toda a vida. Getúlio Martins, consultor e ex-engenheiro da Sabesp. 48 – Saneas / abril 2004 Luiz Carlos Helou Reconhecimento Reconhecimento José Roberto Coppini Blum N o final do século XIX começaram a ser construídos os primeiros sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário no Brasil. A água captada era distribuída à população sem adição de produtos químicos porque a ação antrópica ainda não tinha chegado até os mananciais. Na primeira década do século passado o cloro começou a ser utilizado para desinfecção e a seguir, outros produtos químicos foram sendo incorporados para o tratamento da água, como: sulfato de alumínio, cloreto férrico, cal, etc. Nos serviços de água e esgoto os especialistas em química passaram a ser requisitados em face da complexidade das análises que aumentava na mesma proporção do grau de poluição das águas dos mananciais. Na SABESP não foi diferente. Se a empresa possui atualmente um padrão invejável de controle da qualidade da água foi por causa de pessoas de visão que permitiram chegar ao domínio da tecnologia de ponta neste setor. Uma dessas pessoas foi o químico José Roberto Coppini Blum, que começou a trabalhar na SABESP em 1978, como Técnico de Controle Sanitário, no antigo Departamento de Controle Sanitário da Região Metropolitana de São Paulo. Os municípios do Interior, nessa época, não possuíam unidades de controle sanitário e coube aos técnicos desse Departamento a organização da estrutura e capacitação dos profissionais em mais de 300 localidades, que passaram a ser atendidas pela Sabesp. Quando deixou a empresa no final de 1999, o Blum era gerente do mesmo departamento onde começara a trabalhar. O reconhecimento da AESABESP se deve à sua dedicação à empresa e ao exemplo de valorização do trabalho em equipe. Segundo ele, todo o conhecimento que adquiriu e as realizações que ajudou a se concretizar se devem ao trabalho em equipe. Blum lembra dos gerentes do departamento que antes dele ajudaram a construir o padrão atual de excelência do setor na empresa: Pedro Mancuso, Luiz Henrique Horta de Macedo, Monitoramento de água bruta em tempo real Rodolfo da Costa e O químico José Roberto Coppini Blum Silva, e Adilson Masini. As atividades de monitoramento, segundo o nosso homenageado, não podem ser dissociadas da análise dos dados e do controle das ações corretivas e preventivas para manutenção da qualidade da água, dentro ou acima dos padrões estabelecidos pelas portarias do Ministério da Saúde. Maria Cristina Giovanetti Stefani, que foi Superintendente de Planejamento e Apoio da então Diretoria Metropolitana de Produção da RMSP (1996-2000), lembra a importância da participação do Blum e da sua equipe no constante aprimoramento do sistema de controle da qualidade da água na Sabesp incluindo capacitação de profissionais, aquisição e implementação de novos equipamentos e tecnologias, destacando-se, dentre outras, a implementação das análises do laboratório de compostos orgânicos, análise de toxinas de algas e a implantação do sistema de monitoramento de água bruta, em tempo real, com utilização de bóias, como mostra a foto abaixo. Trata-se de um sistema inédito no mundo, que foi especificado pela equipe do Blum e está em funcionamento nos reservatórios Billings, Rio Grande, Guarapiranga e Alto Tietê. Pode parecer pouco, mas dificilmente a SABESP entregaria água nas torneiras, com a qualidade atual, não fosse essa iniciativa em se antecipar aos problemas e propor medidas preventivas para manutenção da qualidade da água em uma região altamente exposta a riscos de poluição e contaminação dos seus mananciais. Atualmente o químico José Roberto Coppini Blum é consultor no setor de reúso e qualidade da água e assim, continua a prestar importante serviço à nossa comunidade global. ■ Saneas / abril 2004 – 49 AESABESP FENASAN 2004 é sucesso em vendas: área reservada para expositores já é 100% maior que a do ano passado Programação do XV Encontro Técnico AESABESP reunirá novidades vindas de todo país, além de experiências internacionais. Parte da equipe de organização do XV Encontro Técnico e da FENASAN 2004, que é coordenada pelo Diretor Técnico Cultural Gilberto Martins e pela Presidenta da AESABESP Eliana Kitahara, respectivamente, o primeiro e a quarta da esquerda para a direita M ais de 12 mil pessoas deverão visitar o XV Encontro Técnico AESABESP e a FENASAN 2004, que acontece entre 30/8 e 1º/9, no Pavilhão Branco do EXPO CENTER NORTE, em São Paulo. O evento é um sucesso em vendas: a área já reservada para esta edição é 100% maior que no mesmo período do ano passado. A FENASAN 2004 - Feira Nacional de Materiais e Equipamentos para Saneamento terá mais de 100 expositores, entre empresas brasileiras, multinacionais e entidades do setor. Diversas companhias, como Edra, Amitech Brazil Tubos S/A, Tejofran e Saint-Gobain, por 50 – Saneas / abril 2004 exemplo, já confirmaram presença no evento, que tem apoio da Sabesp e da Secretaria de Recursos Hídricos. “Entre as empresas que têm interesse no evento destacam-se as companhias que precisam investir em saneamento, como as dos setores: químico, de papel e celulose, bebidas e de alimentos, por exemplo”, adianta Gilberto Alves Martins, diretor da AESABESP responsável pela coordenação do evento. “Vamos debater o meio ambiente, a questão da saúde pública, o tratamento de água e esgoto, além da gestão do saneamento”, antecipa Eliana Irie Kitahara, presidente da AESABESP. ■