Salinidade na emergência de plântulas de duas espécies de
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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 Volume 8 - Número 2 - 2º Semestre 2008 Salinidade na emergência de plântulas de duas espécies de gramas ornamentais Ruchele Marchiori Coan1; Márkilla Zunete Beckmann-Cavalcante2; Ítalo Herbert Lucena Cavalcante2; Kathia Fernandes Lopes Pivetta3 RESUMO A necessidade de estudar espécies de gramados para utilização em campos de golfe está crescendo, principalmente no que se refere ao uso de efluentes ou água de qualidade inferior na irrigação. Mediante a importância da água nos campos de golfe, objetivou-se estudar os efeitos da salinidade da água de irrigação no processo germinativo de sementes de grama Bermudas Mirage Grass (G1) e Lolium perenne L. (G2), aos níveis de condutividade elétrica adicionados à água destilada 0,016; 3,0; 6,0; 9,0 e 12 dS m-1 em blocos inteiramente casualizados com quatro repetições de 100 sementes cada. Foram avaliados a emergência (E) e o índice de velocidade de emergência (IVE) de plântulas. Houve influência da salinidade da água de irrigação sobre a E e IVE. A percentagem de emergência máxima foi de 31,5% e 80,6% para as espécies G1 e G2, respectivamente, obtida com uma condutividade elétrica da água de irrigação correspondente a 6,0 dS m-1. Os níveis salinos até 6,0 dS m-1 não restringem a emergência e IVE das plântulas. Palavras-chave: emergência de plântulas, qualidade da água, campos de golfe, grama. Salinity on seedlings emergence of two ornamental grass species ABSTRACT The need to study grass species for golf courses is increasing, especially in relation of the use of effluent or other low quality waters for irrigation. According to the importance of water to golf courses, the objective of this work was to evaluate the effects of salinity of irrigation water in the germination process of Bermudas Mirage Grass (G1) and Lolium perenne L. (G2) seeds under electrical conductivity levels added to destilled water 0.016; 3.0; 6.0; 9.0 and 12.0 dS m-1 in completely randomized blocks design with four repetitions of 100 seeds each. Emergence (E) and emergence speed index (ESI) of seedlings were evaluated. The salinity of irrigation water affected the E and ESI. The maximum emergence was 31.5% and 80.6% for species G1 and G2 respectivelly, obtained with 6.0 dS m-1. The salinity levels until 6.0 dS m-1 did not restrict the emergence and emergence speed index. Keywords: seedling emergence, water quality, golf course, grass. 86 1 INTRODUÇÃO O golfe é uma atividade desportiva de grande importância mundial. No Brasil, a modalidade está em franco desenvolvimento e se constitui em uma contribuição à dinamização econômica de alguns setores do país. Como qualquer outra atividade, o golfe pode gerar impactos ambientais negativos, necessitando-se adotar um processo mais sustentável. A quantidade de água potável consumida pelos campos de golfe é um dos fatores mais agravantes, e tem recebido críticas das organizações ambientais, bem como o alto consumo de fertilizantes e produtos fitossanitários (Kjelgren et al., 2000). Caracterizando-se a água como o principal insumo e tendência de escassez deste recurso natural, é evidente e necessária a adoção de novas tecnologias que visem a menor utilização de água de boa qualidade (CEa < 0,75 dSm-1), conforme Ayers & Westcot (1999). Esta problemática também é reportada em algumas regiões dos Estados Unidos onde há restrições no uso de água de boa qualidade para irrigação de campos de golfe (California State Water Resources, 1993). Conseqüentemente, fontes de águas secundárias estão sendo amplamente utilizadas para irrigar extensas áreas com gramados, como o aproveitamento de água do mar, em zonas litorâneas (Murdoch, 1987; McCarty & Dudeck, 1993). Porém, a qualidade da água está diretamente relacionada aos perigos que exerce sobre o depauperamento dos solos (Freitas et al., 2007), no crescimento e produtividade das plantas (Rhoades, 1972; Lacerda et al., 1998; Cavalcante, 2000). Dentre as, cerca de, 10.000 espécies que constituem a família, poucas são as espécies amplamente utilizadas nos gramados de campos de golfe. Elas são selecionadas em função de sua compatibilidade ambiental (consumo de água, de nutrientes e de controle fitossanitário) e as suas características funcionais (resistência ao pisoteio, a pragas e aos fatores climáticos). Os impactos ambientais negativos podem ser minimizados através da seleção adequada das espécies a serem utilizadas nas diferentes condições edafoclimáticas (Nicora & Rugolo, 1987). Estudos que envolvam determinação de níveis salinos considerados não deletérios ao processo germinativo de sementes de gramas ganham relevância porque tendem a possibilitar a utilização de águas com elevadas condutividades elétricas, reduzindo os custos de manutenção. Neste sentido, objetivou-se estudar os efeitos da salinidade da água de irrigação no processo germinativo de sementes de grama Bermudas Mirage Grass e Lolium perenne L. 2 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em condições de abrigo telado, no Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Jaboticabal, São Paulo. Nesse ambiente a temperatura média ambiente foi de 25 °C. O substrato utilizado foi areia lavada e esterilizada em estufa a 105 ºC, por três horas, colocadas em copos plásticos. As sementes de grama Bermudas Mirage Grass e Lolium perenne L., foram colocadas sobre uma camada uniforme de areia umedecida, a 60% da capacidade de campo e comprimidas sobre a superfície da mesma. O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados, com tratamentos distribuídos em esquema fatorial 2 x 5, referentes as espécies de grama (G1 - grama Bermudas Mirage Grass; G2 - grama Lolium perenne L.), e aos níveis de salinidade, dada pela condutividade elétrica, na água de irrigação (CEa): 0,016; 3,0; 6,0; 9,0 e 12,0 dS m-1 com quatro repetições. A unidade experimental foi composta de um copo plástico no qual foram semeadas 100 sementes. As irrigações foram feitas diariamente com cada tipo de água obtido a partir da adição de NaCl diluído em água destilada contendo inicialmente com CEa 0,016 dS m-1. O teor de umidade das sementes no momento da instalação do experimento estava em torno de 10,13%, determinado pelo método de estufa a 105 °C ± 3 °C, durante 24 horas, conforme recomendações de Brasil (1992). Foram realizadas leituras diárias, registrando-se a emergência (E) de plântulas. O critério de emergência das sementes adotado foi quando as plântulas apresentavam parte aérea com tamanho maior ou igual a 5 mm. O índice de velocidade de emergência (IVE) foi 87 calculado de acordo com Maguire (1962), pela fórmula IVE = N1/D1 + N2/D2 + ... + Nn/Dn, onde: IVE = índice de velocidade de emergência de plântulas; N = número de plântulas emergidas e computadas da primeira a última contagem; D = número de dias da semeadura da primeira a última contagem. Os resultados de emergência, expressos em porcentagem foram transformados previamente em arco seno √x/100 por não apresentarem distribuição homocedástica de acordo com o teste de Barlett. Os dados foram submetidos à análise de variância para verificação de efeitos estatísticos dos fatores isolados e da interação entre ambos. As médias referentes ao fator espécies de gramas foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,01) no software Assistat 7.5 Beta (Silva, 2008); os relativos aos níveis de salinidade na água de irrigação por regressão polinomial no software Sigmaplot (SPSS, 2000) e correlação simples entre emergência e IVE, conforme Ferreira (2000). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelos resultados da análise de variância apresentados na Tabela 1, observam-se diferenças significativas entre as espécies de gramas para as variáveis dependentes estudadas. Entre os níveis de salinidade da água de irrigação medida a partir da condutividade elétrica também houve efeito estatístico significativo. A interação espécies de gramas x salinidade da água de irrigação exerceu efeitos significativos entre as variáveis estudadas, evidenciando que há interdependência da salinidade sobre o processo germinativo de sementes de gramas ornamentais. Tabela 1 - Emergência de plântulas (E) e índice de velocidade de emergência (IVE) de sementes em função de espécies de grama (Bermudas Mirage Grass e Lolium perenne L.) e da salinidade da água de irrigação (CEa). Jaboticabal, SP. Causa de variação Espécies de grama (EG) (valor “F”) E _____ % IVE _____ ____ ---____ 656,13** 959,22** G1 - Bermudas Mirage Grass 24,29 b 2,59 b G2 - Lolium perenne L. 68,29 a DMS 3,53 0,58 17,54** 15,99** 3,25* 2,93* CEa (valor “F”) Interação EG x CEa C.V. (%) 11,74 11,31 a 12,82 * e ** = significativo ao nível de 5 e 1% de probabilidade, respectivamente; DMS = diferença mínima significativa; C.V. = coeficiente de variação; CEa = salinidade da água de irrigação. A melhor porcentagem de emergência foi obtida pela espécie G2 (L. perenne L.) quando comparada com a espécie G1 (Bermuda Grass Mirage) (Tabela 1). Os dados de emergência de plântulas ajustaram-se mais adequadamente ao modelo quadrático de distribuição, com aumento do primeiro (0,016 dS m-1) para o terceiro (6,0 dS m-1) nível salino da água seguido de progressiva redução com o incremento da salinidade da água de irrigação, independente da espécie estudada (Figura 2). Para a espécie G1 a porcentagem de emergência máxima foi de 31,5% enquanto a espécie G2 apresentou 80,6%, ambas referentes à condutividade elétrica da água de irrigação correspondente a 6,0 dS m-1 ocorrendo uma queda da emergência na CEa 12,0 dS m-1 de 72,7% e 26,7% para as espécies G1 e G2, respectivamente. Resultados semelhantes foram constatados também por Cavalcante et al. (2002) ao avaliarem a germinação de sementes de maracujazeiro amarelo e Pereira (2000) em sementes de goiabeira tratadas com água salina. 88 salinidade da água na CEa 9,0 e 12 dS m-1 (Figura 2). Para ambas as espécies, o IVG mostrou-se crescente até o tratamento irrigado com água de 6,0 dS m-1, quando apresentou o maior resultado, com IVE de 3,8 e 13,4 para G1 e G2, respectivamente, decrescendo a partir deste ponto. Estes resultados evidenciam que nesta CEa o processo de germinação foi alcançado em menor tempo para as espécies estudadas, o que não ocorreu nas demais condições, principalmente nos tratamentos de CEa maiores que 6,0 dS m-1, indicando a interferência na velocidade de germinação, sendo necessário mais tempo para que todas as sementes germinem. Foi registrada correlação positiva e significativa (P<0,01; R=0,99) entre o IVE e a porcentagem de emergência indicando relação direta entre as respectivas variáveis. Para Myers & Couper (1989), o aumento da condutividade elétrica da solução salina, provocou decréscimo linear na germinação de sementes para ambas as espécies Puccinellia ciliata e L. perenne, respectivamente. Os resultados evidenciam efeitos depressivos da salinidade na fase de emergência de plântulas. O aumento do conteúdo salino do solo, provocado pelos sais da água, reduz o potencial osmótico, reflete-se na diminuição da absorção de água e compromete os processos fisiológicos das plantas (Kashem et al., 2000). Quanto à velocidade de emergência das plântulas avaliada pelo IVE, também se destaca a espécie G2 com os melhores resultados (Tabela 1) e apresentando a mesma distribuição da emergência, indicando que a emergência assim como a velocidade com que se dá o processo é negativamente influenciada pela 35 90 A 30 B 80 Emergência (%) Emergência (%) 25 20 15 70 60 10 50 2 2 E = 26,69 + 2,69x - 0,34x 2 R = 0,96** 5 E = 60,67 + 5,38x - 0,46x 2 R = 0,85** 0 40 0.0 3.0 6.0 9.0 12.0 15.0 0.0 Condutividade elétrica da água (CEa - dS m-1) 3.0 6.0 9.0 12.0 15.0 Condutividade elétrica da água (CEa - dS m-1) Figura 1 - Emergência de plântulas de grama Bermudas Mirage Grass (A) e Lolium perenne L. (B), em função da condutividade elétrica da água de irrigação (CEa). Jaboticabal, SP. 14.0 5.0 A B 13.0 4.0 12.0 3.0 IVE IVE 11.0 10.0 2.0 9.0 1.0 IVE = 2,91 + 0,40x - 0,05x 2 R = 0,96** 2 8.0 2 0.0 IVE = 9,95 + 0,93x - 0,08x 2 R = 0,86** 7.0 0.0 3.0 6.0 9.0 12.0 Condutividade elétrica da água (CEa - dS m-1) 15.0 0.0 3.0 6.0 9.0 12.0 15.0 Condutividade elétrica da água (CEa - dS m-1) Figura 2 - Índice de velocidade de emergência (IVE) de plântulas de grama Bermudas Mirage Grass (A) e Lolium perenne L. (B), em função da condutividade elétrica da água de irrigação (CEa). Jaboticabal, SP. 89 A emergência de plântulas de Bermuda Grass Mirage e L. perenne L. com o passar do tempo apresentou o mesmo comportamento independente do nível de salinidade da água de irrigação (Figura 3). Registra-se início de emergência aos sete dias após a semeadura em todos os níveis salinos das águas, com o percentual de emergência maior que 50% somente para a espécie G2 nos níveis de 3,0; 6,0 e 9,0 dS m-1 com percentuais de emergência, respectivamente 50,25, 71,25 e 52,25%, já a espécie G1 não apresentou em nenhum nível de CEa emergência superior a 50%. Essa situação expressa que ao longo do tempo, registra-o decréscimo na emergência, refletindo-se na perda de viabilidade das sementes sem a dependência do nível de salinidade da água. Myers & Couper (1989), constataram que após o início da germinação das espécies de grama Puccinellia ciliata e L. perenne aos 7 dias, após a semeadura ocorrem perdas de germinação em substrato irrigado com solução salina. 50 60 CEa = 0,0 dS m-1 -1 CEa = 3,0 dS m 50 G1 G2 40 G1 G2 Emergência (%) Emergência (%) 40 30 20 10 30 20 10 0 0 6 7 8 9 10 11 12 6 7 8 9 10 11 12 Dias após a semeadura Dias após a semeadura 80 60 CEa = 9,0 dS m-1 -1 CEa = 6,0 dS m 50 G1 G2 60 G1 G2 Emergência (%) Emergência (%) 40 40 20 30 20 10 0 0 6 7 8 9 10 11 12 6 7 8 Dias após a semeadura 9 10 11 12 Dias após a semeadura 50 CEa = 12 dS m-1 G1 G2 Emergância (%) 40 30 20 10 0 6 7 8 9 10 11 12 Dias após a semeadura Figura 3 - Emergência de plântulas de grama Bermudas Mirage Grass (G1) e Lolium perenne L. (G2), em função da condutividade elétrica da água de irrigação (CEa) a partir dos sete dias após a semeadura. Jaboticabal, SP. 90 Pelos resultados expostos, observa-se que a salinidade da água de irrigação superior a 6,0 dS m-1 afetou a emergência de plântulas e o IVE. Segundo Cavalcante (2000), o excesso de sais nos solos, nas águas de irrigação e em soluções nutritivas, inibe o processo de germinação de sementes, crescimento e desenvolvimento das plantas, absorção de água e nutrientes, queda na produtividade e qualidade dos produtos. Os sais da água de irrigação retardam e, às vezes, até inibem o processo germinativo das sementes de grande parte das plantas cultivadas, sendo as respostas das mais variadas formas, como obstáculo ao crescimento do eixo embrionário pela baixa mobilidade de reservas das sementes (Parida & Das, 2005) e o impedimento físico devido à queda da pressão osmótica da solução, que induz menor absorção de água e maior concentração salina (Strogonov, 1962; Munns, 2002), resultando em desequilíbrio nos processos fisiológicos e metabólicos das plantas. De acordo com Richards (1954), Rhoades (1972) e Ayers & Westcot (1999) água de irrigação ou da solução com condutividade elétrica acima de 3,0 dS m-1 são classificadas como C4, isto é, concentração de sais maior que 1920 mg NaCl L-1 e oferecem altos riscos potenciais às plantas, como a germinação de sementes e também aos solos (Ayers & Westcot, 1999; Cavalcante, 2000). No entanto, a possibilidade de início de ajustamento osmótico, de determinado órgão de uma planta, não deve ser descartada. Ele pode gradativamente iniciar um processo de tolerância específico a determinada fonte de sais e, no futuro, possa desenvolver mecanismos que lhe permita sobreviver aos efeitos de um complexo salino (Alshammary et al., 2004; Parida & Das, 2005). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALSHAMMARY, S.F.; QIAN, Y.L.; WALLNER, S.J. Growth response of four turfgrass species to salinity. Agricultural Water Management, v. 66, 2004, p. 97-11. AYERS, R. S.; WESTCOT, D. W. A qualidade da água na agricultura. 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