Biografia José Fernandes Pedral Sampaio

Transcrição

Biografia José Fernandes Pedral Sampaio
Personalidades
Pedral Sampaio: o maior líder político de
Conquista do século XX
O octogenário Pedral Sampaio na sua fase
Ho Chi Minh, no início dos anos 2000
O relacionamento político dominado por interesses apenas particulares e familiares entra em crise. Em
1962, uma coalizão de partidos, com a presença de personalidades situadas tanto da esquerda do
processo, em sentido sociológico, quanto do centro e até mesmo da direita, despoja do mando
administrativo local um núcleo familiar exclusivista. José Fernandes Pedral Sampaio era o novo líder
emergente dessa coalizão.
Pedral em revista à então Guarda Municipal, meses
antes de ser preso em 1964
Líder político por mais de 20 anos, era neto do coronel José Fernandes de Oliveira, o poderoso
Coronel Gugé, também líder político por quase 20 anos. Nasceu na residência desse coronel, situada na
“Praça Barão do Rio Branco”, no dia 12 de setembro de 1925, sendo seu parteiro o médico Régis
Pacheco, que futuramente seria seu padrinho político.
Pedral (o menino da direita) aos sete anos de idade
Filho do engenheiro Sifredo Pedral Sampaio e de Dona Maria Fernandes Pedral Sampaio, foi ele
diplomado engenheiro civil no dia 11 de novembro de 1949 pela Escola Politécnica da Universidade da
Bahia. Depois de formado entrou para o SESP, na década de 50. Ao deixar o SESP fixou-se em Vitória
da Conquista a partir de 1954, com escritório de engenharia na Empresa “Construtora Prumo”. Como
engenheiro deixou suas marcas no Colégio Sacramentinas, no Clube Social Conquista etc.
Formatura de Engenharia de Pedral Sampaio
Casou-se em primeiras núpcias com a professora Maria Lícia, filha de João Francisco Moura Costa, da
alta sociedade de Ilhéus, no dia 1º de setembro de 1959 e, viuvando-se, contraiu segundo casamento
com sua cunhada, professora Zilda Moura Costa.
Pedral e Lícia, sua 1ª esposa
Lançou-se na política em 1958, quando perdeu as eleições de prefeito para o líder político da época:
Gerson Sales. Teve uma expressiva votação neste pleito e se credenciou como uma alternativa para a
oposição nas próximas eleições. Aquelas eleições culminavam um processo de divergências acentuadas
entre grupos. Já em 1954, não fora fácil ao grupo de Gerson Sales viabilizar a eleição de Edvaldo Flores.
Contra este se insurgiu mesmo uma parcela do PSD, que resolvera apoiar a candidatura de Nilton
Gonçalves, candidato com discurso populista. Foi a campanha do “Tostão contra o Milhão”, que tanto
marcou a década de 50 em Vitória da Conquista. O “Tostão” era Nilton Gonçalves e o “Milhão” era
Edvaldo Flores. Deu “Milhão”.
Propaganda política de Gerson Sales
Em 1958, Gerson Gusmão Sales, que havia sido prefeito, pretendeu voltar ao governo, sucedendo seu
correligionário Edvaldo Flores, e conseguiu. Em disputa contra José Fernandes Pedral Sampaio, Gerson
foi eleito prefeito de Vitória da Conquista. Então, Gerson já não estava mais no PSD. Candidatara-se pela
UDN. Pedral fora candidato pelo PSD. O resultado numérico das eleições demonstrara que Gerson Sales
ainda tinha muito peso eleitoral. Conseguira 7.320 votos, contra 5.432 de José Pedral. Mas a votação de
Pedral fora expressiva.
Régis Pacheco (no centro), o padrinho
político de Pedral Sampaio (o 2º da direita
para a esquerda)
A oposição foi retomando seu curso de crescimento. Na câmara, despontava Alberto Farias, vereador
que fazia uma oposição combativa. O jornal “O Conquistense” (título que antes pertencera à situação),
passou a ser veículo de aglutinação de forças. À medida que iam se aproximando as eleições de 1962, a
situação foi se complicando para Gerson Sales. Este e seu grupo optariam por tentar dividir a oposição.
Finalmente, o candidato apresentado pelas forças “gersistas” foi um vereador que houvera militado na
oposição: Jesus Gomes dos Santos, poeta. Sim, o poeta de “Maria Gabiraba” e da “Procissão”, poesias
que lhe causaram dor de cabeça durante as eleições, por seu conteúdo social.
O poeta Jesus Gomes dos Santos,
candidato gersista derrotado nas
eleições de 1962
Pedral era a expressão de transformações profundas por que passava Conquista. Já não era mais uma
cidade marcada exclusivamente pelo latifúndio. O urbano já predominava, o comerciante crescia,
cidadãos de outros municípios chegavam e se afirmavam, e Conquista ia se consolidando como um pólo
regional. Com a diversificação econômica e novos agentes sociais, a história começava a mudar. José
Fernandes Pedral Sampaio vencera o pleito com ampla margem de votos, considerando-se o número de
eleitores da época. Foram 2.384 votos de diferença em relação a Jesus Gomes dos Santos. Em 7 de
outubro de 1962, apoiado pelo PSD (Partido Social Democrático) de Régis Pacheco e MTR (Movimento
Trabalhista Renovador – de Fernando Ferrari), venceu facilmente seus adversários Jesus Gomes dos
Santos (da UDN), Hugo de Castro Lima (do PTB) e Jorge Stolz Dias (do PSP), obtendo votação superior
aos três candidatos juntos: Pedral Sampaio (7.051 votos), Jesus Gomes (4.677 votos), Hugo de Castro
(557 votos) e Jorge Stolz (96 votos). O médico Hugo de Castro Lima, apesar do grande prestígio que
gozava na cidade, não conseguiu ampliar sua candidatura, e Jorge Stolz Dias, que houvera sido
barulhento prefeito numa interinidade, não tinha expressão eleitoral suficiente.
A morte da professora Carmosine
serviu de plataforma política para o
Pedralismo
A morte da professora Carmosine Marques Pereira, assassinada em José Gonçalves, foi uma “bandeira
política” utilizada pelo Pedralismo para a vitória das eleições de 62, assim como o Getulismo fez com o
assassinato de João Pessoa na Paraíba, que levou Getúlio a transformar aquele fato em plataforma
política para a tomada do poder em 1930. A morte de Carmosine enfraqueceu o Gersismo (o pistoleiro
Zacarias, que matou a professora, foi contratado por um simpatizante de Gerson Sales). No velório da
professora Carmosine em José Gonçalves (terra de Jesus Gomes), perguntaram ao Padre
Palmeira:Padre, o Senhor está contra ou a favor de Jesus? O padre sorriu, olhou para Pedral e
respondeu com desdém: Estou com o pai, José (referindo-se a José Pedral).
Padre Palmeira (no centro discursando), o homem que
ensinou os conquistenses a fazer política. Ao seu lado,
à direita, três ex-prefeitos de Conquista: Orlando Leite,
Pedral Sampaio e Régis Pacheco; à sua esquerda,
segurando o microfone, o radialista J. Menezes e,
enxugando as lágrimas na extrema esquerda, o
professor Everardo Públio de Castro, o homem que
ensinou os conquistenses a pensar
O padre, aliás, ajudou na construção do Pedralismo e na vitória das eleições de 62, ao conseguir, através
de projeto de lei na Assembleia Legislativa, emancipar as chamadas broacas de Gerson (as cidades de
Cândido Sales, Barra do Choça, Caatiba, Anagé e Belo Campo) ainda em 1962. Uma “jogada” de
mestre. Por quê? Porque, nas eleições de 58, quando Pedral perdeu para Gerson Sales, ele venceu na
sede mas perdeu na Zona Rural. Então, o que era preciso fazer? Livrar-se dos “currais” eleitorais do
Gersismo. O distrito de Caatiba foi desmembrado pela Lei nº 1.401 de 1º de Abril de 1961. No dia 22 de
fevereiro de 1962 o distrito de Belo Campo foi emancipado pela Lei nº 1.623, formado por dois distritos:
Belo Campo (Sede) e Quaraçu. Vitória da Conquista perdia dois distritos de uma vez só. O distrito de
Anagé foi desmembrado através da Lei Estadual nº 1.656 de 5 de abril de 1962, e no dia 22 de junho de
1962 o distrito de Barra do Choça também alcança sua emancipação pela lei nº 1.694, um projeto
apresentado à Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista pelo vereador Alberto Farias. No mesmo
ano, em 5 de julho de 1962, o distrito de Quaraçu recebe sua emancipação político-administrativa.
Contudo, é eleito o nascente povoado denominado de Nova Conquista que tem seu nome alterado para
Cândido Sales, e passa a ser o distrito-sede do recém-criado município e, assim, Quaraçu perde sua
condição de distrito, passando para a condição de simples povoado.
Padre Palmeira e Pedral Sampaio, no dia em que
disseram que ele não posaria em Conquista. E ele
pousou…
Em Vitória da Conquista, as ideias de “Reformas de Base” de João Goulart alcançaram repercussão. Na
década de 60 eram aqui discutidas e se fizeram acompanhar de movimento mobilizador. Os bancários
realizaram greve. Os pedreiros fundaram seu sindicato. Os estudantes organizaram seus grêmios e
passou a haver certo movimento estudantil.
Iris Silveira entrega alguma coisa ao primeiro presidente
da Ditadura Militar, Humberto de Alencar Castelo
Branco
A polarização nacional repercutia em Vitória da Conquista e aqui se acentuou quando João Goulart
assinou o decreto da Reforma Agrária, tímida medida de desapropriação de áreas ao longo das rodovias
federais. A medida motivou muitos protestos e, em Vitória da Conquista, políticos de oposição a Jango e
fazendeiros reagiram. Ruy Medeiros registra a realização de uma grande reunião de fazendeiros no Cine
Conquista, cujo principal orador foi Íris Silveira. Bradavam contra João Goulart e suas propostas
reformistas. E, naturalmente, contra os comunistas. Os discursos dos oradores diziam mais que o
simples descontentamento com a reforma agrária trombeteada, apesar de tímida em sua proposta oficial.
Os derrotados nas eleições de 1962 ainda viviam o desconforto da derrota. Não a aceitavam. Parecialhes absurdo a perda do poder local. Na imprensa, com o jornal “O Sertanejo”, e na câmara, com os
vereadores da UDN e do PTB, desenvolviam a oposição, quer à administração local, quer às reformas
pretendidas.
Apesar do abraço, o vereador Gil Moreira participaria
ativamente da preparação do impeachment de Pedral
Em 1º de abril veio o golpe. Em Vitória da Conquista era chegada a hora da “desforra” (no dizer de Ruy
Medeiros). A quartelada era também uma oportunidade para a vindita. Os Gusmãos, derrotados pela
coligação liderada por Pedral Sampaio, começaram desde cedo a luta. Na Câmara Municipal, no trabalho
pró-ditadura e anti-Pedral, destacavam-se principalmente os vereadores Gil Moreira e Orlando Leite.
O caminho até maio foi difícil, mas aquele terrível mês de maio chegou. O golpe estimulou o
reacionarismo do jornal “O Sertanejo”, dirigido por Pedro Lopes, e dos vereadores da UDN e do PTB, que
falavam em “incorporar Vitória da Conquista aos fatos nacionais recentes”. Ou seja – para ser claro – o
golpe deve agir mais intensamente no município, é o que queriam dizer. Depois, abertamente, sugerem e
aprovam o convite para que aqui venha apurar fatos uma comissão dos “novos” senhores do poder. Além
do médico e vereador Gil Moreira e de Orlando Leite, destacavam-se, na agitação a favor da ditadura, os
edis Misael Marcílio e Virgílio Ferraz. Queriam o afastamento de Pedral e de vereadores ligados a ele,
como Péricles Gusmão Régis, que será morto.
Com essa visão, os vereadores pró-ditadura fizeram aprovar na Câmara Municipal uma proposição
convidando a 6ª Região Militar para uma visita ao município “para apuração de fatos”, sem especificar a
que fatos se referiam. E então desembarcou na cidade, no dia 5 de maio de 1964, a força-tarefa
repressiva comandada pelo capitão Antônio Bendochi Alves Filho, com seu ônibus do terror, estacionado
na Praça Rio Branco, no centro da cidade. A delação, que cresce nesses momentos, economizou
esforços do capitão.
Já no dia seguinte, 6 de maio, as prisões tiveram início, auxiliados pelo despudor da delação. Para um
ônibus, estacionado na praça Barão do Rio Branco, no centro da cidade, eram conduzidos os
prisioneiros. Dali foram levados às celas do Batalhão de Polícia (o ex-9º BPM), onde eram interrogados,
respondendo a IPM – Inquérito Policial Militar, sob supervisão do sr. Antônio Bendochi Alves Filho,
capitão do Exército.
Nesses primeiros dias, tendo o ônibus da Praça Rio Branco como quartel-general e centro de triagem,
foram presos, entre outros, Aníbal Lopes Viana (jornalista e suplente de vereador), Franklin Ferraz Neto
(juiz trabalhista), Gilson Moura e Silva (radialista), Hugo de Castro Lima (médico), Ivo Vilaça Freire
d’Aguiar (funcionário público), José Fernandes Pedral Sampaio (engenheiro civil, prefeito), Péricles
Gusmão Régis (vereador), Raul Carlos de Andrade Ferraz (advogado), Reginaldo Santos (diretor do
jornal “O Combate”) e Vicente Quadros Silva Filho (radiotécnico).
Depois, foram presos Everardo Públio de Castro (professor) e seu filho Nudd David de Castro, Anfilófio
Pedral Sampaio (funcionário público e suplente de vereador) e Camilo de Jesus Lima (escritor e oficial do
Registro de Imóveis), este preso em Macarani e transportado para Vitória da Conquista. No próprio dia 6,
por determinação militar, a Câmara de Vereadores, em sessão extraordinária, cassou o mandato do
prefeito e empossou no cargo o presidente da Câmara, o vereador Orlando da Silva Leite, que seria
eleito formalmente, pela Câmara Municipal, prefeito, em junho, e completaria o mandato de Pedral até
abril de 1967. Nesse dia estava ausente da cidade o vereador Olavo Ramos e, de seu sítio no lugar
“Pedra Branca” onde se achava, dali fora conduzido num jeep militar, por soldados armados de
metralhadoras, para “falar com o Capitão Bendochi, no Quartel”. Os vereadores foram “convidados” a
comparecer às 13h ao Quartel da Polícia Militar para um entendimento secreto, com o Comandante. Até
um suplente de vereador, Flávio Santos, foi convocado para comparecer à sessão para fazer quórum
(dois terços) para que a Câmara pudesse deliberar. Antes das 20h daquele sombrio 6 de maio as duas
entradas da Rua Zeferino Correia, onde se localizava o prédio da Câmara de Vereadores, foram
fechadas (soldados armados de metralhadoras foram colocados nas duas esquinas e ninguém podia
passar sem permissão do Comando Militar).
Péricles Gusmão Régis, único
conquistense morto em Conquista no
Golpe de 64
Em 13 de maio de 1964, um dos presos, Péricles Gusmão Régis apareceu morto na cela onde fora
aprisionado. Sua morte não foi bem explicada e a informação oficial (que aparece em seu registro de
óbito) é a de suicídio. É possível que tenha sido assassinado. Um dos presos na época relata que ouvira
de um companheiro de cela a informação de que havia ocorrido luta corporal entre Péricles Gusmão
Régis e o capitão Bendochi Alves Filho. O primeiro parente a ver o corpo nu de Péricles estranhou a
grande quantidade de hematomas e de cortes e ficou com a impressão de que Péricles tenha sido
torturado, amarrado com fios metálicos finos que o cortaram quando tentara desvencilhar-se. Os cortes
teriam sido provocados pelo fio, e não pela lâmina de barbear encontrada na cela. O grande cortejo
fúnebre de Péricles Gusmão Régis não foi simples homenagem ao morto. Aí estava presente o profundo
sentido de protesto: protesto, pesar e homenagem.
Dentre os presos, Camillo de Jesus Lima, Franklin Ferraz Neto, José Pedral Sampaio, Raul Ferraz, entre
outros, foram transferidos para Salvador, onde permaneceram respondendo a IPM. Seriam liberados
depois, demorando mais o professor Everardo, que ficou onze meses e que seria o único formalmente
condenado por crime político, em razão do referido IPM, retornando anos depois à prisão. José Pedral
teve seus direitos políticos suspensos por 20 anos, quando da edição do Ato Institucional nº 2 pela
ditadura militar.
Pedral assumiu a prefeitura em 7 de abril de 1963 e governou o município até 6 de maio de 1964. Na sua
curta administração de 13 meses realizou as seguintes obras: construção de chafarizes no Alto Maron e
bairro de Olavo; calçamento da Rua do Triunfo; arborização e calçamento da Praça Sá Barreto; convênio
com a Coelba, transferindo a esta a antiga “Empresa Municipal de Energia Elétrica”; e calçamento da
Rua Plácido de Castro.
Inauguração do chafariz do bairro Alto Maron no dia 15
de agosto de 1963
Durante sua primeira gestão, Pedral transformou o prédio do antigo “Quartel de Polícia” na atual
Prefeitura, e comprou o sobrado de Manoel Fernandes dos Santos Silva (Maneca Santos),
transformando-o no “Fórum João Mangabeira” e Câmara de Vereadores, funcionando no mesmo prédio a
“Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho”.
Pedral inaugurando o sistema de água em 1963
Pedral, em sua curta administração em 1963, promoveu ainda a ampliação da Praça da Bandeira com
desapropriações e pavimentações, dando-lhe o nome de “Praça Dino Correia” (onde foi construído o
Conjunto Comercial do Mercadão na administração de Fernando Spínola).
Ampliação da Praça da Bandeira em 24 de Novembro
de 1963
Por fim, Pedral ainda promoveu, nos treze meses de sua primeira administração, as seguintes
realizações: complementação da pavimentação da Lauro de Freitas e acostamento da Avenida Régis
Pacheco, adquiriu para o Município o galpão da S.T.E.R. (Serviços de Terraplanagem de Estradas e
Rodagens), empresa que asfaltou a Rio-Bahia no início dos anos 60 no trecho entre Cândido Sales e
Vitória da Conquista, lá instalando o almoxarifado da Prefeitura (hoje DESERG), entre outras realizações.
Pedral nos anos 60, quando foi cassado
pelos militares
Foi cassado na quartelada de 1964, tendo seus direitos políticos suspensos por 10 anos, prorrogados por
mais 10. Mas, 1982, após cumprir 20 anos de suspensão, candidatou-se pela legenda 1 do PMDB e,
disputando o cargo de prefeito com Sebastião Castro, Ruy Medeiros e Margarida Oliveira, foi eleito por
maioria dos votos no dia 15 de novembro, consolidando sua liderança política em Conquista.
Comício de Pedral nas eleições de 1982
Voltou em 82 como herói e fez uma das melhores administrações da história político-administrativa desta
cidade. Tomou posse no dia 31 de janeiro de 1983. As obras de infraestrutura que fez, Conquista usa até
hoje. Tocador de obras, os equipamentos que hoje servem à população (como as feiras do Ceasa e do
bairro Brasil, o terminal de ônibus da Lauro de Freitas, entre tantos outros), o credenciou como o maior
líder político de Conquista no século XX.
Construção do Terminal de Ônibus da Lauro de Freitas
Aliás, sua liderança consolidou-se a partir da segunda metade da década de 70, quando conseguiu
eleger Raul Ferraz em 1976, que prepararia seu retorno em 1982. No entanto, o antigo MDB que elegeu
Jadiel em 1972 não era o mesmo em 1982. Era um PMDB “rachado”, tanto é que Pedral venceu as
eleições de 1982 de outro peemedebista, Sebastião Castro, que já tinha sido derrotado por Raul Ferraz
em 1976.
Concentração pública em 23 de setembro de 1982
no CSU – Centro Social Urbano, no bairro Bateias
Havia uma dissidência no seio da “trincheira”: de um lado, o Pedralismo de Raul e J. Pedral (só para ficar
nas figuras de ponta); do outro, o Jadielismo de Sebastião Castro, do próprio Jadiel Matos e de Elquisson
Soares. O cisma se deu em 76, quando Tião rompeu com Pedral, pois este apoiara Raul para as eleições
municipais. E depois de sua cassação, cada eleição era como se Pedral pudesse escolher quem iria “no
seu lugar”.
Grupo de Pedral em 1975 (da esquerda para a direita):
Eduardo Khouri, Joaquim Correia de Melo, Humberto
Flores (dono da Variante), Pedral Sampaio e Dermeval
Fonseca
Na década de 80 tornou-se o maior líder político de Conquista até então, ao coordenar a campanha
política de Waldir Pires para o Governo do Estado em 1986, derrotando o candidato de Antônio Carlos
Magalhães, Josaphat Marinho. Em 1987 assumiu a Secretaria Estadual dos Transportes.
Campanha de Waldir Pires para governador em 1986
Nesse momento o Pedralismo atingia seu auge, mas logo veio a primeira frustração de Pedral pós-82,
com Waldir Pires, que, no curto mandato de Governador só se preocupou em fazer caixa e, quando
Pedral achava que iria colocar em prática seus projetos para a Bahia, viu-se decepcionado com a atitude
de Waldir ao deixar o Governo do Estado nas mãos de Nilo Coelho, que, de plano, o “engessou” e, em
seguida, o exonerou da Secretaria de Transportes.
Campanha de Murilo Mármore para prefeito em 1988
Retornou à Prefeitura em 1988 para fazer seu sucessor, Murilo Mármore, então presidente da Emurc –
Empresa Municipal de Urbanização de Conquista, que administrou o município até 31 de dezembro de
1992.
Pedral e Murilo, juntos em 88
No dia 1º de janeiro de 1993 Pedral Sampaio assumiu a Prefeitura pela terceira vez após derrotar seu exaliado Raul Ferraz, nas eleições de 1992.
Pedral nos anos 80, quando se tornou uma espécie de
líder-mito
E o que contribuiu para a construção deste líder-mito? O impacto do golpe civil-militar em Vitória da
Conquista em 1964, que provocou a cassação do então prefeito José Fernandes Pedral Sampaio, a
prisão de vários cidadãos e em especial a morte de Péricles Gusmão; tudo isso contribuiu fortemente
para a construção de uma imagem vitimizada do grupo político local preterido após o golpe.
Pedral e Elquisson, dois políticos que enfrentaram a
Ditadura Militar
A eleição de Jadiel Matos (MDB) à prefeitura em 1972 (com o apoio logístico de Pedral); a eleição do
sucessor (Raul Ferraz); o retorno de José Pedral (PMDB) ao executivo municipal em 1982; a eleição de
novo sucessor (Murilo Mármore – PMDB); a eleição de deputados estaduais na segunda metade da
década de 70 (Jadiel Matos e Elquisson Soares); a eleição de deputados federais (Elquisson Soares e
Raul Ferraz) e por fim a participação ativa na campanha e eleição de Waldir Pires em 1986 deram ao
grupo político afastado do poder municipal em 1964 – rotulado ao cabo do processo apresentado de
pedralista – a áurea de núcleo oposicionista com traços de esquerda democrática e à pólis sertaneja o de
“bastião da resistência democrática”, “trincheira democrática” da Bahia. Imagem construída ao longo de
mais de duas décadas, difundida e usada como justificadora para o exercício do poder.
Pedral, líder político do século XX
O Pedralismo tinha até logomarca: Pedral fez sua carreira política assinando J. Pedral. Em 1987 criou-se
outra marca: Pedral Sampaio. Tinha até marchinha:anda, anda, vem Pedral…
Pedral nos anos 90,
quando capitulou a ACM
e maculou sua história
À leitura tradicional do discurso oficial da Vitória da Conquista “bastião da resistência democrática”, sede
de um grupo oposicionista de esquerda democrática, se contrapõe de forma ainda dispersa em diferentes
estudos o germe da negação. A democrática oposição conquistense revelou o seu perfil conservador
quando checada em seus interesses no pleito eleitoral de 1992, praticamente em bloco (houve raras e
honrosas exceções).
Pedral e ACM juntos nos anos 90
O Pedralismo firmou aliança com o grupo liderado em âmbito estadual por Antônio Carlos Magalhães,
egresso da Arena/PDS, aliado/representante regional do Regime Militar, decepcionando a cidade que
estigmatizou esta atitude de “cooptação ao Carlismo” e a imprensa de “capitulação de Pedral”, uma vez
que ambos sempre se divergiram e agora (1990) se convergiram. E para quê? Para nada. ACM não
ajudou Pedral. Pelo contrário, o abandonara. Aí veio sua 2ª decepção.
Toninho Cruzes, Pedral Sampaio, Raul Ferraz e
Guilherme Menezes no debate da Câmara de
Vereadores em 1992. Apesar de Sampaio ter saído
vitorioso nas eleições municipais deste ano, esse
momento histórico foi o marco de sua aterrissagem
política e decolagem de Menezes
Fez (entre 1993 e 1996) a pior administração da história político-administrativa de Conquista (salários do
funcionalismo atrasados, fornecedores sem receber, lixo a recolher, entre outras mazelas mais),
completamente diferente de sua administração anterior, quando construiu a maioria dos equipamentos
que está aí até hoje na cidade, abrindo espaço para a chegada de Guilherme Menezes, o líder político de
Conquista na primeira década do século XXI.
Pedral Sampaio, que já esteve na vitrine da política da
Bahia, hoje se encontra no ostracismo. Na foto, com
Tancredo Neves e o então deputado estadual Luiz
Nova
De lenda para o ostracismo, apesar da tentativa em 2002 para deputado estadual (já tinha tentando para
deputado federal em 1990, sem êxito). Era figura de proa do PMDB baiano; hoje, esquecido pelas
próprias lideranças que ajudou a construir. Pedral virou-se contra a história e a história virou-se contra
Pedral, Sua aliança com ACM, para muitos historiadores, rasgou sua trajetória de resistência…
Pedral e Zica, sua 2ª esposa

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