N.º 1 – Jan-Dez 2011 Ano XXIV, Vol. XXIV Sinfonia da Felicidade
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N.º 1 – Jan-Dez 2011 Ano XXIV, Vol. XXIV Sinfonia da Felicidade
Sinfonia da Felicidade -2009 – Foto de Jose Carlos Lima, Gab. de Comunicação e Relações Publicas do CHLN N.º 1 – Jan-Dez 2011 Ano XXIV, Vol. XXIV SUMÁRIO SUMÁRIO EDITORIAL Cirurgia e Música. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 ARTIGO ORIGINAL Estudo Prospectivo de Cifra 21-1 (C21) Efectuado em 779 Doentes com Carcinoma Pulmonar de Não Pequenas Células (CPNPC) em Estádios Avançados; uma Precoce e Eficaz Avaliação de Resposta e uma Arma Disponível na Reorientação Terapêutica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Tumores do Mediastino - Proposta de um Protocolo de Diagnóstico e seus Fundamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 TEMA ACTUALIZAÇÃO Considerações sobre o Síndrome de Klippel Trenaunay: um Síndrome ou um Conjunto de Malformações Vasculares?. . . . . . . 31 CENTROS E ESPECIALIDADES NO HPV A Unidade Universitária de Geriatria “ O Desafio de Assistência ao Doente Idoso”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Serviço Cirurgia Torácica do Hospital Pulido Valente – 12 anos de actividade (1 de Junho 1998- 15 de Julho 2010). . . . . . . . . . . 38 ESPAÇO DO ENFERMEIRO Via Subcutânea em Cuidados Paliativos: Teoria e Pratica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 O Acolhimento à Família na UCAPO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Apresentação do Instrumento de Colheita de Dados de Enfermagem dos Serviços de Internamento do CHLN, Polo Hospital Pulido Valente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 VNI-Um Caminho Alternativo na UCIR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 NORMAS DE DIAGNOSTICO E TERAPÊUTICA Normas da ESTS (European Society of Thoracic Surgeons) para o Estadiamento Ganglionar Pre-Operatório do CPNPC. . . . . . . 73 ORIENTAÇÕES / NORMAS DE DIAGNOSTICO E TERAPEUTICA Considerações Praticas sobre a Avaliação Pre-Operatória do Risco Cardíaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 3 FICHA TÉCNICA FICHA TÉCNICA Propriedade e Redacção Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE Hospital Pulido Valente, EPE Alameda das Linhas de Torres, 117 1769-001 LISBOA Tel.: 217 548 236 Fax: 217 548 215 E-mail: [email protected] Design Gráfico e Paginação Círculo Médico - Comunicação e Design Periodicidade Publicação Trimestral Depósito legal Nº 15193/87 ISSN 0870-8363 Registo de Imprensa nº 208416 Referenciada na “Embase Excerpta Médica” (DBASE) e na “PR Newswire Europe” Av. 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Pontes da Mata João Castaño João Cravino Luís Carreiro Luís Telo Madalena Ramos Maria Carmo Gouveia Maria José de Melo Menezes da Silva Paulo Costa R. Palma dos Reis Sandra Miguel Teresa Magalhães Godinho EDITORIAL Editorial Professora Doutora Maria Teresa Magalhães Godinho Directora do Departamento do Tórax-Centro Hospitalar Lisboa Norte No primeiro número deste ano de 2011 do European Journal of Cardio-thoracic Surgery, revista oficial das duas Sociedades europeias (EACTS e ESTS) dedicadas à Cirurgia Torácica, veio publicada a Alocução Presidencial proferida por Pascal Vouhé na 24ª reunião da EACTS, em Genebra 2010.1 Pascal Vouhé é cirurgião cardíaco pediatra no Hôpital des Enfants malades, em Paris. A alocução intitula-se “The Surgeon and the Musician” e é apresentada com um Prelúdio, três Andamentos e Coda. Baseando-se num artigo de H M Evans sobre as relações potenciais entre Medicina e Música, Pascal Vouhé pretende convencer-nos de que a Cirurgia também pode ser Música. O primeiro andamento é dedicado aos benefícios da utilização da música durante o acto cirúrgico quer para o doente – menos dor, stress e ansiedade - quer para os elementos da equipe cirúrgica – com melhoria da execução manual e da eficiência intelectual. No segundo andamento, o autor refere a existência de funções cognitivas comuns à execução musical e à realização cirúrgica, especulando sobre a possibilidade de o tocar um instrumento musical melhorar as capacidades cirúrgicas. No terceiro andamento (a Música como metáfora para a Cirurgia), considera-se o executante - músico ou cirurgião -, a prática – interpretação ou operação -, e o receptor – ouvinte ou doente. Pascal Vouhé pensa que a metáfora que relaciona a execução musical e a prática cirúrgica pode ajudar a seleccionar e treinar os jovens cirurgiões, melhorar a eficiência cirúrgica e acima de tudo a repor o doente como centro da prática cirúrgica. Na Coda, Pascal Vouhé explica que o seu propósito foi demonstrar que as relações entre Música e Cirurgia são múltiplas, íntimas, variadas e frutíferas e cita F. Nietzsche: “Sem música, a vida seria um erro”, parafraseando-o: “Sem Música, a Cirurgia seria um erro”. Ao ler este artigo, vieram-me logo à ideia as semelhanças que apresenta com a construção do livro do Prof. Jaime Celestino da Costa, publicado em 2001 e intitulado “Um certo Conceito da Medicina”, 2 que não posso deixar de aqui evocar. O conteúdo do livro é muito diferente do tema do artigo e também muito mais rico: não se limita às relações entre Cirurgia e Música, também abordadas, mas é uma autêntica auto-biografia, na medida em que nos revela um percurso mas sobretudo as ideias, as lutas, os projectos, as paixões de toda uma vida. A construção do livro é a de uma peça musical, com Prelúdio, Tema, Variações, Coda e Finale. No Prelúdio, o Professor Celestino da Costa descreve o meio em que nasceu e cresceu, as influências fundamentais. O Tema contém uma apresentação crítica da evolução do Ensino da medicina entre nós, da geração de 1911, à N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 5 EDITORIAL actualidade, com defesa dos princípios persistentemente defendidos: primado da formação sobre a informação, exigências dessa formação, necessidade de evolução e transformação constantes das Faculdades, obrigatoriedade da Investigação como Missão das Universidades, etc. Encontramos ainda aí os problemas de relacionamento Faculdade/Hospital, a defesa dos Hospitais Escolares, propostas de organização da Urgência, etc. As Variações são recordações das personalidades que o influenciaram: Pai, Mestre (Reynaldo dos Santos), Amigos. Na Fuga a três vozes, fala das suas duas outras paixões além da Cirurgia: a Música e a Arte Equestre, englobando-as todas como “artes de interpretação-execução” em Coda e Finale, que rematam o livro. É nos 3 últimos Capítulos (para além da construção geral da obra), que encontramos as afinidades com o artigo a que nos referimos de Pascal Vouhé; neles, o Professor evoca as semelhanças entre o exercício da Cirurgia e a execução musical instrumental (e também a Arte Equestre). Este livro não perdeu a sua actualidade e continua indispensável para pensar a Medicina em Portugal, além de nos proporcionar ao lê-lo um prazer indiscutível. Numa época em que o cariz humanístico da Medicina tende a desaparecer, submergido pelo teor científico e infelizmente sobretudo pelo aspecto técnico, em que o doente, baptizado de “cliente” deixou de estar no centro da nossa actividade, é refrescante ouvir ou ler textos em que a Medicina é considerada como um bem cultural 3 e se procura reforçar o elo que une Medicina e Humanidades, recordando o seu objectivo comum de compreensão da condição humana. 1.Pascal Vouhé. The Surgeon and the Musician. European Journal of Cardio-Thoracic Surgery, 39(1):1-5,2011. 2.Jaime Celestino da Costa. Um certo Conceito da Medicina. Gradiva, Lisboa, Junho 2001. 3.H Martyn Evans. Is medecine a “cultural good”? MJA 182(1):3-4, 2005 6 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 ESTUDO PROSPECTIVO DE CIFRA 21-1 (C21) Estudo prospectivo de cifra 21-1 (C21) efectuado em 779 doentes com carcinoma pulmonar de não pequenas células (CPNPC) em estádios avançados; Uma precoce e eficaz avaliação de resposta e uma arma disponível na reorientação terapêutica. A prospective study of CYFRA 21-1 (C21) in 779 patients (pts) with advanced non-small-cell lung cancer (NSCLC); a useful tool to measure response, to detect early chemotherapeutic (CT) failures and to take therapeutic decisions. Pedro Barradas1, Maria José Melo1, Margarida Cristóvão1, Agostinho Costa1, Paula Alve1, Ana Luísa Fragoso2 Resumo A importância da determinação sérica de marcadores tumorais na avaliação inicial do prognóstico da neoplasia pulmonar e na avaliação da evolução da doença é reconhecida à longa data. O cifra 21-1 (C21) tem-se revelado em vários estudos como dos mais sensíveis e específicos marcadores no CPNPC no que a estas avaliações respeita. O actual estudo tinha por objectivo principal comparar a importância prognóstica deste marcador tumoral em doentes com CPNPC e doença avançada, com outros factores de reconhecido peso prognóstico bem como a importância das suas variações pós-terapêuticas precoces no decurso da quimioterapia. Foi de facto possível concluir que, em conjunto com o status performance (SP), o valor do C21 inicial expresso através do seu logaritmo natural (log y1) é o factor com maior importância prognóstica na sobrevivência e que em doentes submetidos a tratamento citostático a variação do C21 após 2 ciclos está intimamente relacionada quer com a não progressão da doença (NP=resposta+estabilização) quer com a sobrevivência global. A diminuição mediana do C21 após 2 ciclos foi de 32,7% (log2/log1=-0,351). A conjugação entre o valor inicial e a sua variação após 2 ciclos (“hazard survival” - HS) efectuada por uma equação baseada na análise de sobrevivência global incluindo os principais factoresprognósticos pré e pós-terapêuticos (modelo de Cox), émais importante do que qualquer outro factor prognóstico na sobrevivência e o de maior e mais precoce valor preditivo de resposta, claramente superior àda resposta clínicahabitualmente utilizada (RECIST). Em 197 doentes foi possível avaliar a oscilação do marcador após um primeiro ciclo de quimioterapia, tendo-se concluído que um decréscimo ≥ 25% constitui uma ainda mais precoce medida de resposta igualmente correlacionada com a sobrevivência. Contudo como o número de doentes é significativamente menor e o estudo não estava desenhado inicialmente para essa avaliação, será necessário a efectivação de um estudo prospectivo de maior dimensão e especificamente desenhado com esse objectivo. Uma decisão terapêutica precoce é possível utilizando como referência o valor de HR combinando os valores pré e pós terapêuticos de cifra), incluindo uma suspensão terapêutica ou a mudança de esquema). Embora os dados sejam referentes apenas a um número reduzido de doentes, este estudo parece também indicar que uma alteração precoce para uma 2ª linha baseada no valor de HR parece produzir um significativo ganho de sobrevivência quando comparado com uma alteração de linha terapêutica baseada na avaliação clínica tradicional. Palavras-chave: Marcadores tumorais, cifra 21-1 (C21), Carcinoma pulmonar de não pequenas células (CPNPC), quimioterapia (QT) Abstract The importance of blood sample determinations of baseline serum tumour markersas assessment of prognosis of pulmonary neoplasm and their evaluation over the course of the disease are well recognized a long time ago. The value 21-1 (C21) has been revealed in several studies as one of the most sensitive and specific markers in CPNPC in which these evaluations concern. The current study aimed to compare the prognostic importance of C21 in patients with advanced disease and CPNPC with other factors of recognized prognostic weight as well as the importance of its early pos-treatment variations in the course of chemotherapy. Indeed it was possible to conclude that, in conjunction with the performance status (SP), the value of baseline C21 (log y1) is the strongest prognostic factor to survival 1. Unidade de Oncologia Pneumológica do Hospital Pulido Valente 2. Serviço de Patologia Clínica do Hospital Pulido Valente N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 7 ARTIGO ORIGINAL and that inpatients submitted to cytostatic treatment C21 variations after 2 cycles were closely related either to not disease progression (NP=OOR+SD) andoverall survival. The median decrease of C21 after 2 cycles was 32.7% (y2/y1=-0,351). The conjunction of the initial value and its variation after 2 cycles (hazard survival-HS) carried out by an equation based on the analysis of overall survival prognostic factors including major pre-and pos-treatment variables model (Cox), is more important than any other factor in the survival´s prognosis and alsothe earliest and more reliable predictive factor of response, clearly superior to that obtained through clinical response usually used (RECIST).In 197 patients wewere able to evaluate the oscillation of the marker after a first course of chemotherapy, and it was concluded that a decrease ≥ 25% is an even more early response measure also correlatedto overall survival. However as the number of patients is significantly smaller and the study was not designed initially for this evaluation, it will be necessary for a more exhaustive conclusion a larger prospective study specifically designed with that purpose. An early decision therapy is possible using as reference the value of HR (including suspension of therapy or the beginning of an alternate schema). Although data are referring only to a limited number of patients, this study seems also to indicate that an early amendment to a 2nd line based on the value of HR seems to produce a significant gain in survival when compared to the therapeutic line change based on clinical assessment. Key words: tumour markers, cyfra 21-1 (C21), non small cell lung cancer (NSCLC), chemotherapy (CT) ıı INTRODUÇÃO A metodologia tradicional (imagiológica - RECIST) para avaliação da resposta à terapêutica citostática no CPNPC necessita de ser complementada (2) porque: 1.O impacto de uma mais alta percentagem de respostas na sobrevivência é modesto (1) 2.Não existem diferenças significativas na sobrevivência entre doentes com resposta ou com doença estável (28,32) 3.Os métodos imagiológicos usados na avaliação de resposta à terapêutica citostática são relativamente caros e geralmente demoram mais tempo que o desejável Existe assim necessidade de melhorar ou acrescentar outras medidas de resposta intimamente relacionadas com a sobrevivência e que possam ser realizadas mais precocemente de forma a identificar tratamentos ineficazes. Isto ajudar-nos-ia a suspende-los mais precocemente e a implementar de modo mais célere novos esquemas citostáticos. Estas alterações terão no mínimo o mérito de diminuírem a morbilidade associada e os custos de tratamentos ineficazes. Idealmente a decisão acerca da terapêutica inicial deveria ser baseada em informação obtida por biologia molecular no momento do diagnóstico mas actualmente apenas num limitado número de tumores e somente em alguns centros é possível efectua-la. Uma actuação mais pragmática consiste em procurar alterações nos proteomas séricos inicialmente e após 1 ou 2 ciclos de quimioterapia. O Cifra 21-1 (C21) é um fragmento solúvel da citoqueratina 19 com um peso molecular de M 30000 que evidenciou em estudos realizados nos últimos 15 anos resultados muito promissores ao reflectir a actividade e dimensões do tumor e ao correlacionar-se intimamente com a sobrevivência. Alguns autores publicaram recentemente dados correlacionando fortemente alterações dos níveis séricos de cifra 21-1 (ou dos níveis do seu logaritmo natural) após o primeiro e segundo ciclos com a sobrevivência. Hanzaoui (26) efectuou uma comparação utilizando os valores brutos de cifra e os seus logaritmos naturais e concluiu que estes últimos se correlacionavam de forma mais estreita com a sobrevivência do que os primeiros. Mais recentemente Vollmer (53) efectuou um estudo com 58 doentes 8 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 em que usando o logaritmo natural pré-tratamento e após 1 ciclo de quimioterapia os correlacionou fortemente com a sobrevivência. No entanto, estes e outros estudos (54,56,57) são estudos piloto com um número limitado de pacientes. Estes promissores resultados necessitavam para ser validados de um estudo prospectivo com um poder estatístico superior, que nos propusemos realizar. Relatamos os resultados obtidos no estudo prospectivo que efectuámos em 779 doentes portadores de CPNPCem estádio avançado e submetidos a quimioterapia no período 2000-2009. ıı ANÁLISE ESTATÍSTICA Para avaliar se as alterações percentuais dos valores dos marcadores tumorais se correlacionavam com a resposta clínica à quimioterapia, usamos o modelo logístico (29). Naanálise unifactorial das diversas variáveis com eventual importância prognósticana sobrevivência usamos o”log-rank test”.O modelo de Cox foi usado para a análise multifactorial (30). Foram considerados todos os parâmetros para análise de sobrevivência. Para cada variável, o modelo de regressão de riscos proporcionais foi testado graficamente. Para relacionaros níveis de C21 pós-tratamentocom os de C21 pré-tratamento, usamos um teste t emparelhado, regressão linear e ANOVA quando indicado. Ao longo deste estudo, usamos o logaritmo natural dos valores séricos de C21 (log). Essa transformação produziu uma distribuição mais simétrica e quase normal dos dados e resíduos para qualquer dos testes(teste t, regressão linear e ANOVA). Uma correlação mais estreita foi obtida entre o logaritmo de C21 e a sobrevivência, embora de dimensão muito similar à obtida com os valores brutos.A diferença entre o logaritmo (y2 –C21 pós-tratamento) e (y1 –C21 pré-tratamento) pode ser vista como: log (y2) - log (y1) = log (y2/y1). Uma vez que o log (y2/y1) é o logaritmo de uma razão,as suas unidades não estão relacionados directamentecom as concentrações o que poderá constituir uma adicional vantagem (26,55). O tempo de sobrevivência e tempo até progressão (TTP) foram avaliados usando o método de Kaplan-Meyer e as diferenças entre as curvas de sobrevivência foram avaliadas de acordo com o “log-rank test”. ESTUDO PROSPECTIVO DE CIFRA 21-1 (C21) Todas as análises foram realizadas com recurso à utilização do programa de software “Statístics” ıı DOENTES E MÉTODOS Setecentos e setenta e nove doentes com CPNPC em estádios avançados (IIIA a IV) não previamente tratados foram incluídos neste estudo. Tratou-se de todos os doentes submetidos a tratamento citostático na Unidade de Oncologia Pneumológica deste hospital no período compreendido entre 2000 e 2009 com pelo menos doseamentos séricos de cifra 21-1 efectuados até 24 horas antes do 1º e 3º ciclos. Isto pressupôs que apenas foram incluídos doentes que completaram, no mínimo 2 ciclos de quimioterapia. Em 197 doentes foi possível efectuar doseamentos até 24 horas antes do início do 2º ciclo. Todos foram tratados com esquemas de quimioterapia convencional e a escolha específica de cada esquema citostático, embora baseada nos protocolos da unidade, foi variando ao longo do tempo. De facto, o nosso objectivo não era testar se as oscilações do C21 se relacionavam com algum tipo particular de tratamento mas avaliar como se comportavam como uma medida genérico de resposta. Todos os doentes apresentavam tumor mensurável ou avaliável através da aplicação do critério “RECIST”. Por isso, todos efectuaram TAC toraco-abdominal antes do 1º e 3º ciclos, excepto em 192 doentes (24.6%) em que tal só foi possível até 2 semanas de atraso. Radiografias de tórax e análises gerais foram efectuadas em todos os doentes antes de cada ciclo de quimioterapia. Sempre que justificado, outros exames (TAC CE, RMN, cintigrafia óssea, mediastinoscopia, PET, etc.) foram utilizados para mais completa avaliação da resposta. Os doseamentos séricos docifra 21-1 e dos restantes marcadores foi efectuado com recurso aos “kits” comercialmente utilizados no Serviço de Patologia Clínica do HPV. Os detalhes sobre as características dos doentes e do tumor bem como o esquema citostático utilizado estão disponíveis nos quadros I e II. ıı RESULTADOS Dos 779 doentes incluídos 16 apresentaram uma resposta completa, 231 resposta parcial, 382 estabilização e 150 progressão. Os valores basais de cifra 21-1 efectuados antes do início de quimioterapia oscilaram entre 0,1 e 512,8 ng/ml (mediana 4,9) e os valores imediatamente antes da data do 3º ciclo entre 0,1 e 439,1 (mediana 3,3). O intervalo médio entre as 2 determinações foi de 43,5 dias (limites 40 e 56). Os valores iniciais brutos de cifra 21-1 e os logaritmos de cifra correlacionaram-se positiva e significativamente com o “status performance” (p=0.0016 e p=0.0009, respectivamente) mas não apresentaram correlação significativa quer com o estádio (p=0.071 e p=0.056) quer com o tipo histológico (p=0,12 e p=0.10). Os decréscimos observados nos valores de cifra 21-1 não têm paralelo com as diminuições detectadas com os 2 restantes marcadores embora o declínio do CEA se apresente como estatisticamente significativo (p=0,0072) numa análise unifactorial (quadro III). Perde contudo esse significado numa análise multifactorial.Os valores de cifra iniciais e após o 2º ciclo correlacionaram-se estreitamente como documentado na figura 1, que evidencia em abcissas os logaritmos dos valores basais e em ordenadas os logaritmos dos valores pós-tratamento. A linha principal mostra onde os pontos deveriam cair se os 2 níveis de cifra fossem iguais; de facto a maioria dos pontos encontra-se acima desta linha evidenciando que o tratamento provocou uma queda nos valores de cifra 21-1, na maioria dos doentes (74,3%). De facto, o valor mediano do logaritmo (Y2/y1) foi de -0,351 um resultado significativamente diferente de 0 (p=0,00001). Este resultado implica que em média o valor de cifra após 2 ciclos de tratamento diminuiu 32.7% relativamente ao valor inicial. Contudo este decréscimo não se correlacionou significativamente quer com a resposta clínica (p=0.051) quer com o tratamento utilizado (p=0.212). Para a descrição do restante estudo designaremos o valor de log.(Y2/Y1) <-0,351 pelo seu equivalente de uma variação mediana negativa de 32,7% no valor de cifra sérico. A análise da sobrevivência leva-nos à constatação de outras importantes associações. O efeito prognóstico quer do valor inicial de cifra 21-1 quer da sua variação após 2 ciclos correlacionam-se de uma forma mais significativa com a sobrevivência que a resposta clínica e que o estadiamento (Figura 2,3,4,5). Nestas figuras apresentam-se as curvas de sobrevivência por estádio, por resposta clínica, por valor basal de cifra 21-1 e por queda do seu valor após quimioterapia., O quadro IV mostra os resultados obtidos na análise multifactorial incluindo o estádio, a resposta clínica, os valores basais de cifra 21-1 e a variação do cifra 21-1 após o tratamento. Neste caso usámos (log Y1) como uma variável contínua e a variação do cifra como uma variável binária (variação negativa> 32,7%=1; de outro modo igual a 0). Os estádios IIIA e IIIB foram unificados como III constituindo o IV a variável alternativa. Os resultados evidenciam que quer o estádio inicial quer a resposta clínica avaliada apóso 2º ciclo se relacionaram de forma estatisticamente menos significativa com a sobrevivência do que os valores basais de C21 e a sua oscilação após 2 ciclos. Incluindo igualmente o SP na análise do modelo de Cox,quer o nível basal de C21 (p=0,00002) quer a queda do C21 pós-quimioterapia (p=0,00019) apresentaram uma correlação mais estreita com a sobrevivência do que o SP o qual se relacionava igualmente com a sobrevivência (p=0,00026). No quadro V, os coeficientes para as 2 variáveis de C21 foram repescadas para um modelo que excluiu o estádio e a resposta clínica. Estes 2 coeficientes permitiram-nos calcular um HS combinando a informação prognóstica fornecida pelo valor basal de C21 log (y1) e pela queda de C21 (y2/y1) pós quimioterapia da seguinte forma: HS=0,77 x log (y1) – 1,26 x r, no qual r=1 se o decréscimo de C21 for> 32,7% ou 0 em caso inverso (quadro VI). Quando HS foi igual ou superior ao valor 0,342 a sobrevivência mediana foi muito baixa (6, 3 meses). Ao invés quando o HS era inferior a 0,342 a sobrevivência era claramente superior (16,5 meses (p <. 0000001). As taxas de sobrevivência a 1 ano (75% vs. 16%), 2 anos (37% vs. 3%) e a 3 anos (17% vs. 1%) expressam de forma ainda mais clara estas diferenças. (fig.6). As análises efectuadas relativamente aos 197 doentes com determinações de C21 efectuadas mais precocemente (antes do 2º ciclo) levam-nos a conclusões similares, com um significado N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 9 ARTIGO ORIGINAL estatístico sobreponível (quadros VII,VIII e IX e figuras 7,8,9,10). Embora pareça que ao cabo de 1 único ciclo é possível recolher resultados semelhantes (queda de C21 ≥ 25% no final do 1º ciclo sobrevivência mediana – 15,7 vs. 7,6 p <. 000001) e portanto retirar todas as conclusões acima referidas, parece-nos prudente aguardar por um estudo com maior número de doentes. Nestes doentes foi igualmente possível combinar os valores de cifra basais com o seu declínio após 1 ciclo de quimioterapia e assim calcular um HS=0,89 X log. (y1) – 1,29 X r no qual r=1 se y2/y1> 25.5% e r=0 em caso contrário. Nestes casos quando o HS era igual ou inferior a 0,285 a sobrevivência mediana situava-se nos 16,3 meses sendo de 7,4 meses no caso de HS> 0,285 (p <0,000001). São valores em tudo idênticos aos observados após 2 ciclos de quimioterapia. Em 139 doentes em que não se assistiu a progressão clínica da doença após 2 ciclos de quimioterapia mas em que o HS foi superior a 0,342 e que foram submetidos a 2º linha de quimioterapia a sobrevivência mediana foi de 8,8 meses. Contudo nos 91 doentes em que a alteração de esquema citostático se efectivou mais tarde com base em critérios clínicos (progressão) a sobrevivência mediana foi de 7,3 meses vs. 12,2 meses para os 48 doentes em que a alteração terapêutica se baseou no valor do HS (p=0,000053) (figura 11). Contudoestas diferentes atitudes terapêuticas não foram previstas no estudo inicialmente desenhado e não foi efectuadaa necessária randomização dos dois grupos.Trata-se portanto de umaanálise retrospectiva de um subgrupo particular de doentes que,embora nos pareça não dever ser totalmente ignorada, necessita obviamente de validação posterior. ıı DISCUSSÃO Tal como descrito em estudos prévios (2, 5, 7, 9, 10, 11, 12, 15, 16, 19, 21, 22, 24, 35, 42) concluímos que os valores basais de cifra 21-1 se correlacionam intimamente com a sobrevivência, constituindo conjuntamente com o status performance os 2 mais importantes factores de prognóstico pré-terapêuticos. Concluímos igualmente que a variação do cifra 21-1 obtida com o tratamento citostático se relaciona com a sobrevivência constituindo um factor independente das restantes variáveis prognósticas pré-terapêuticos e pós-terapêuticos, incluindo o do seu valor basal, tal com recentemente outros autores tinham admitido em estudos de menor dimensão (44,45,50,51,53,54,55,56,57). Isto quer dizer que tanto o valor basal de cifra como a sua variação após 2 ciclos e, eventualmente após 1 ciclo de tratamento, tem valor prognóstico independente e estatisticamente muito significativo na sobrevivência global. Para além disso verificámos,de forma similar a outros (44,55), que a variação negativa superior a 32,7% após o 2º ciclo de quimioterapia e de 25% após o 1º ciclo se correlacionava de forma mais importante com a sobrevivência do que a avaliação da resposta clínica efectuada nos mesmos tempos. O valor sérico do cifra21-1 parece reflectir a massa tumoral e a sua actividade e uma precoce avaliação de resposta baseada na sua variação com os primeiros tratamentos, parece indicar de forma muito sensível a alteração destas características (32,49). É possível 10 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 concluir que o declínio do cifra 21-1 após um 2º ou mesmo um 1º ciclo de tratamento, constitui uma medida precoce de avaliação de resposta. O logaritmo natural da variação de C21 (y2/ y1) reflecte o efeito da terapêutica adoptada o que é claramente evidente pela sua queda de 0 para – 0,351 o que implica uma variação negativa mediana de 32,7%. Log. (y2/y1) difere da resposta clínica (RC+RP) uma vez que é determinado mais precocemente, não depende do exame imagiológico e correlaciona-se mais intimamente com a sobrevivência. Constitui também uma medida de resposta mais sensível uma vez que um valor inferior a - 0,351 se encontrou em mais de 50% dos doentes enquanto a resposta clínica apenas ocorreu em 31,7% dos casos. As quedas superiores a 32,7% ao cabo de 2 ciclos e a 25 % no fim do 1º ciclo obtidas neste estudo são relativamente similares aos encontrados por outros autores em estudos piloto e parecem validar os seus resultados (51,54,55,56,57). A utilização dos valores séricos de cifra como uma medida de avaliação precoce de resposta poderá contribuir para a persecução mais célere e com menor toxicidade de estudos de fase II com novos agentes citostáticos ou terapêuticas alvo, uma vez que estudos que incluam drogas não eficazes ou demasiado tóxicas podem ser fechadas mais precocemente. Os nossos resultados sugerem que a combinação de um HS utilizando os valores de cifra pré-terapêuticos e as oscilações pós-terapêuticas pode constituir uma mais-valia na decisão de continuar, suspender ou alterar a terapêutica. A combinação de um cifra inicial alto com um log (y2/y1) alto implicam que o HS será muito elevado o que sugere fortemente que a sobrevivência será tão baixa que, na ausência de uma alternativa terapêutica razoável para estes doentes, se considere apenas a continuação de terapêutica de suporte. Vollmer e col., Ardizzoni e col .e Nisman e col. Efectuaram estudos com um número reduzido de doentes e consideraram necessária uma validação dos seus resultados para que esta medida alternativa de resposta pudesse ser validada e utilizada na prática clínica. Pensamos que este estudo constitui essa validação e a sua utilização na prática clínica deverá ser implementada. Questões acerca do grau da precocidade na avaliação da resposta tumoral não ficam totalmente esclarecidas mas parece indiscutível que no final do 2º ciclo de tratamento se podem retirar conclusões decisivas. No final do 1º ciclo parece igualmente possível a avaliação de resposta mas para validar esta constatação é necessário um estudo especificamente orientado nesse sentido. No que respeita à alteração de terapêutica em doentes com um HS <0,342 (ao fim de 2 ciclos) eàs suas repercussões positivas na sobrevivência dos doentes quando comparada com o recurso ao RECIST, embora no nosso estudo os resultados apontem claramente nesse sentido, é essencial a efectivação de um estudo prospectivo e randomizado, desenhado especificamente com esses objectivos. O mesmo, com um maior grau de incerteza, se passa quando a resposta tumoral é avaliada e o respectivo HS é calculado no final do 1º ciclo de quimioterapia. Uma vez que o cifra21-1 reflecte apenas uma pequena fracção do proteoma sérico, é possível e provável que outras proteínas séricas solúveis possam acrescentar informações adicionais no que respeita à resposta e sobrevivência (3, 28, 31). ESTUDO PROSPECTIVO DE CIFRA 21-1 (C21) Características Género Masculino Feminino Idade média (limites) Grupo histológico Adenocarcinoma Epidermoide Indif/Grandes células Estadio IIIA IIIB IV Status performance 0 1 2 Perda de peso ≤ 10 % > 10% DHL Normal ≤ 450 UI Patológico > 450 UI NSE Normal ≤ 16,8 ng/ml Patológico > 16,8nmg/ml CEA Normal ≤ 9,8 ng/ml Patológico > 9,8 ng/ml Cifra 21-1 Normal ≤ 3,3 ng/ml Patológico > 3,3 ng/ml Número % 624 155 80,1 19,9 62,3 (30-85) 430 245 114 54,0 31,5 14,5 71 276 432 9,1 35,4 55,5 77 630 72 9,9 80,3 9,8 571 208 73,3 26,7 532 247 68,3 31,7 556 223 71,4 28,6 524 255 67,3 32,7 277 502 35,6 64,4 Quadro I Características dos doentes e do tumor Esquema de Quimioterapia Nº de doentes Carboplatina+Gemcitabina 256 Cisplatina+Gemcitabina 243 Carboplatina+Vinorelbina 108 Cisplatina+Vinorelbina 73 Vinorelbina em monoterapia 41 Cisplatina+Pemetred 16 Gemcitabina+Vinorelbina 13 Carboplatina+Paclitaxel 6 Outros 23 Quadro II Esquemas de quimioterapia utilizados N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 11 ARTIGO ORIGINAL Parâmetro NSE Basal (779) Após 2 ciclos (774) CEA Basal (779) Após 2 ciclos (778) Cifra 21-1 Basal (779) Após 2 ciclos (779) Mediana IQR % de oscilação p 13,9 12,0 10,7-18,1 10,3-16,0 -13,7 0,157 7,1 5,8 2,4-28,7 2,0-13,6 -18,3 0,0074 4,9 3,3 2,8-10,2 2,1-7,0 -32,7 <0.00001 Quadro III Valores iniciais e oscilação dos marcadores séricos após 2º ciclo de quimioterapia 3,0 Log (Post-treatment Cyfra) 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 -0,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 Log (Pre-treatment Cyfra) 2,0 2,5 95% confidence Figura 1 Correlação dos valores logaritmos de C21 basal e após segundo ciclo de quimioterapia. Em 74,3% dos casos y2 é inferior a y1 12 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 3,0 ESTUDO PROSPECTIVO DE CIFRA 21-1 (C21) Variável Idade ≤ 65 anos >65 anos Sexo Masculino Feminino Histologia Adenocarcinoma Epidermoide Ind./grandes células Estadio IIIA IIIB IV SP (ECOG) 0 1 2/3 CEA basal ≤ 9,8 ng/ml <9,8 ng/ml Cifra 21-1 basal ≤ 3,3 ng/nl >3,3 ng/ml Resposta (RECIST) Sim Não CEA resposta Sim Não Cifra 21-1 resposta Sim Não Número SM (meses) IC95% p 779 10,1 8,6-12,9 - 428 351 10,1 10,1 8,8-12,1 8,9-12,0 .942 624 155 9,8 11,8 7,1-12,1 7,9-14,9 0,050 420 245 114 10,4 9,8 8,5 8,7-12,6 7,0-12,2 6,9-11,1 .145 71 276 432 12,7 11,5 9,4 8,9-15,1 7,9-14,1 7,0-13,3 0,026 77 630 72 23,0 10,1 6,8 15,9-30,6 8,6-13,0 4,6-8,1 .000012 524 255 10,5 9,3 7,7-13,2 6,9-12,1 0,058 277 502 16,3 8,5 12,2-20,8 6,8-11,2 <0,000001 247 532 13,1 8,9 10,1-17,9 7,1-11,5 0,00059 252 527 12,9 9,1 9,0-16,1 7,3-11,6 0,0034 388 391 14,9 6,8 10,6-17,7 4,9-8,1 <0,00001 Quadro IV Análise unifactorial de principais factores prognósticos Pré-terapêuticos e pós 2º ciclo de quimioterapia. Coeficiente t EP p Estadio (III vs.IV) 0,21 2,60 0,08 0,81 Resposta (RECIST) Sim/Não 0,30 2,32 0,09 0,051 Log. (y1) 0,77 14,90 0,11 <.000001 >32,7% decréscimo no C21 -1,26 -13,16 0,10 <.00001 Quadro V Análise multifactorial de factores prognósticos na sobrevivência (modelo de Cox) Log mediano (y2/y1) = -0,351 = 32,7 % de variação negativa no Cifra 21-1 HS = 0,77 x log (y1) – 1,26 x r r=1 se decréscimo no Cifra ≥ 32,7 % de outro modo r=0 Quadro VI Cálculo do HS nos 779 doentes com doseamentos efectuados após o 2º ciclo N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 13 ARTIGO ORIGINAL 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 0,8 Log-rank test p=.0019 0,7 0,6 Mediam Survival Stage IIIA - 12,7 months Stage IIIB - 11,5 months Stage IV - 9,4 months 0,5 0,4 p=.026 0,3 0,2 71 pts 0,1 276 pts 432 pts 0,0 0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 IIIA IIIB IV 132 Time (months) Figura 2 Sobrevivência em função do estádio da doença 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 0,8 Log-rank test 0,7 p=.00019 0,6 Median Survival 0,5 OOR - 14,4 months Stable - 10,3 months Progression - 5,3 months 0,4 p<.00001 0,3 0,2 0,1 0,0 0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 Time (months) Figura 3 Sobrevivência em função da resposta (RECIST) obtida no final de 2 ciclos de quimioterapia 14 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 132 Stable Response Progression ESTUDO PROSPECTIVO DE CIFRA 21-1 (C21) Figura 4 Sobrevivência em função dos valores basais de cifra 21-1 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 Log-rank test 0,8 p<.000001 Median survival < 30% - 6,8 months ≥ 30% - 14,9 months 0,7 0,6 p<.000001 Survival-rates 0,5 1-year survival 2-year survival 3-year survival drop >=30% 67,9% 30,5% 13,8% drop < 30% 23,0% 9,3% 5,0% 0,4 0,3 391 pts 0,2 drop < 30% drop >=30% 0,1 388 pts 0,0 0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 Time (months) Figura 5 Sobrevivência em função da variação dos valores de cifra 21-1 após 2 ciclos de quimioterapia N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 15 ARTIGO ORIGINAL 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 0,8 Log-rank test 0,7 p<.0000001 Median survival 0,6 <=0,342 16,5 months > 0,342 6,3 months 0,5 0,4 p<.0000001 1-year survival 2-year survival 3-year survival 75,1% 15,9% HS <=0.342 0,3 389 pts 0,2 HS > 0.342 37,3% 17,1% 2,6% 1,0% p<.0000001 0,1 390 pts 0,0 0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 HS > 0,342 HS ≤ 0,342 Time (months) Figura 6 Sobrevivência em função do HS calculado combinando os valores basais de cifra e da oscilação após 2 ciclos de quimioterapia Parâmetro 16 Mediana IQR Variação p CEA Basal Após 1º ciclo de QT 5,8 4,8 2,7-22,5 2,3-15,6 -17,4 0,0045 NSE Basal Após 1 ciclo de QT 13,6 12,9 9,8-18,4 8,7-17,2 -5,1 0,368 Cifra 21-1 Basal Após 1 ciclo de QT 5,5 4,1 3,2-10,5 2,4-7,3 -25,5 .000018 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 ESTUDO PROSPECTIVO DE CIFRA 21-1 (C21) Quadro VII Variações medianas dos marcadores tumorais com 1 ciclo de quimioterapia 2,4 2,2 2,0 Log (Post-treatment Cyfra) 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 -0,2 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 Log (Pre-treatment Cyfra) 2,0 2,2 2,4 95% confidence Figura 7 Correlação dos valores logaritmos de C21 basal e após um ciclo de quimioterapia. Em 83,7% dos casos y2 é inferior a y1 Coeficiente t EP p Estadio (III vs.IV) 0,06 0,37 0,08 0,70 Resposta (RECIST) Sim/Não 0,39 - 2,32 0,09 0,019 Log. (y1) 0,88 6,10 0,11 <.000001 >32,7% decréscimo no C21 -1,29 -7,16 0,10 <.000001 Quadro VIII Modelo de Cox para análise multifactorial após 1 ciclo de QT (197 doentes) Log mediano (y2/y1)= -0,285 = 25,7% de variação negativa no cifra 21-1 HS = 0,88 x log(y1) – 1,29 x r r=1 se decréscimo no Cifra ≥ 25,5% de outro modo r=0 Quadro IX Cálculo do HS em 197 doentes com valores de cifra 21-1 doseados após o 1º ciclo de quimioterapia N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 17 ARTIGO ORIGINAL 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 0,8 0,7 Log-rank test 0,6 p<.00001 0,5 Median Survival 0,4 ≤ 3,3 - 17,4 months > 3,3 - 10,4 months 0,3 p<.00001 58 pts 0,2 139 pts 0,1 0,0 0 12 24 36 48 60 72 84 96 Baseline Cyfra <=3,3 Baseline Cyfra > 3,3 108 120 132 Time (months) Figura 8 Sobrevivência em função dos valores iniciais séricos de cifra 21-1 (197 doentes) 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 0,8 0,7 Log-rank test 0,6 p=.00015 0,5 Median Survival 0,4 ≥ 25% - 15,7 months < 25% - 6,3 months 120 pts p=<.00001 0,3 0,2 0,1 77 pts 0,0 0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 Time (months) Figura 9 Sobrevivência em função da oscilação dos valores séricos de cifra 21-1 após 1 ciclo de QT (197 doentes) 18 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Drop < 25% Drop >= 25% ESTUDO PROSPECTIVO DE CIFRA 21-1 (C21) 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 0,8 0,7 Log-rank Test 0,6 p<.000001 Median Survival 0,5 0,4 <= .342 - 16,3 months > .342 - 7,4 months 115 pts p<.000001 0,3 0,2 0,1 77 pts 0,0 0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 HS <=.342 HS >.342 120 Time (months) Figura 10 Sobrevivência em função dos valores de HS (197 doentes) Errata: Sobrevivência mediana HS ≤ .285 – 16,3 meses; HS > 0,285 – 7,4 meses 1,0 Cumulative Proportion Surviving 0,9 0,8 Log-rank test 0,7 t=5.09 p<.0000053 0,6 Median Survival (months) 0,5 Early 2nd line CT - 12,2 months Late 2nd line CT - 7,3 months p=.0034 0,4 0,3 0,2 2nd line CT according to marker response - 48 pts 0,1 0,0 2nd line CT according to imagiology - 91 pts 0 6 12 18 24 30 36 42 48 Late change Early change Time (months) Figura 11 Curva de sobrevivência em função de alterações do esquema de QT de acordo com resposta tumoral vs resposta clínica N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 19 ARTIGO ORIGINAL ıı REFERÊNCIAS 1. 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Os Internistas, os Pneumologistas, os próprios Cirurgiões torácicos têm em regra uma ideia vaga e imprecisa do diagnóstico destas situações, dos tipos de neoplasias mais frequentes e da sua distribuição, dos meios actuais de diagnóstico e das indicações terapêuticas. pedidos os exames mais úteis para o esclarecimento da sua patologia. O leque de exames complementares necessários a todos os doentes é, como veremos, restrito; a grande maioria só deverá ser requisitada orientada pelas hipóteses diagnósticas mais prováveis; o pedido indiscriminado de exames traduz-se por perda de tempo e gastos injustificados, sem benefício para o doente. E no entanto os Tumores do Mediastino já não são tão raros como há alguns anos: enquanto na década de 50-60 a proporção entre Tumores do Mediastino e Carcinoma brônquico era de 1 para 30, a relação actual na nossa experiência é de 1 para 4.Nos últimos anos, a Cirurgia dos Tumores do Mediastino (diagnóstica e terapêutica) constituiu cerca de 7% da nossa actividade operatória. É ainda de salientar que a percentagem de tumores malignos também tem vindo a aumentar, principalmente à custa de um acréscimo de tumores malignos situados no compartimento anterior do Mediastino, o que torna mais premente um diagnóstico precoce e exacto. Finalmente, acrescentemos que o desenvolvimento de novas terapêuticas, em Quimioterapia essencialmente, e a adopção de estratégias concertadas vieram alterar de modo significativo o prognóstico de doentes com Tumores malignos do Mediastino, justificando uma abordagem mais agressiva destes casos. Quadro 1 São estas as premissas que nos fizeram pensar na utilidade e necessidade de estabelecer um protocolo de diagnóstico destes Tumores e foram estas as razões que nos levaram a criar uma Consulta exclusivamente dedicada ao diagnóstico, orientação e seguimento dos doentes portadores de Tumores do Mediastino. Queremos frisar que, uma vez levantada a hipótese de Tumor do Mediastino, o doente deve, em nossa opinião, ser encaminhado para uma Consulta de Especialidade1, onde rapidamente lhe serão 1. Directora do serviço de Cirurgia Torácica do HPV, de Junho de 1998 a Julho 2010. 2. Directora do Departamento do Torax do CHLN, desde Julho 2010. 22 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Quadro 2 1. Pensamos que só no HPV/CHLN existe uma Consulta dedicada exclusivamente aos doentes portadores de Tumores do Mediastino, pelo que em alternativa os doentes poderão ser enviados para Consultas de Cirurgia Torácica ou eventualmente Pneumologia. TUMORES DO MEDIASTINO - PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO ıı FUNDAMENTOS DA MARCHA DIAGNÓSTICA E DO PROTOCOLO PROPOSTO. QUE DADOS ESPERAR DOS DIFERENTES EXAMES? O diagnóstico de tumor do Mediastino é antes de mais um diagnóstico imagiológico (Quadro 2). As hipóteses mais prováveis terão de ser depois “filtradas” pela idade e sexo do doente. Achegas complementares poderão ser fornecidas pelo quadro clínico e por valores laboratoriais. Quadro 3 ıı IMAGIOLOGIA O diagnóstico de Tumor do Mediastino baseia-se na detecção da imagem radiológica de uma massa mediastínica. Recordemos que se entende por Tumor do Mediastino toda a lesão ocupando espaço nessa região anatomo-topográfica, quer seja de natureza neoplásica quer não. A Radiografia simples do torax em dois planos perpendiculares - postero-anterior e perfil - é pois sempre o primeiro exame a ser realizado, e deve acompanhar o doente logo na primeira Consulta. Insistimos na necessidade do perfil: por vezes ainda nos aparecem doentes só com uma radiografia em postero-anterior, o que é manifestamente insuficiente. Que elementos nos fornece essa radiografia simples? Essencialmente e antes de mais, a localização do tumor não só no Mediastino, como em determinada zona do Mediastino. Desde pelo menos os trabalhos de Bariéty e Coury nos anos 50 (considerados durante muito tempo as grandes autoridades em Tumores do Mediastino), que se percebeu a utilidade de dividir o Mediastino em diferentes compartimentos, de modo a situar o tumor com mais precisão. Esta divisão tem variado ligeiramente ao longo do tempo e de autor para autor. A que utilizamos hoje correntemente e que é a adoptada por outros grupos cirúrgicos, reconhece a existência de 4 compartimentos: o Mediastino superior, situado acima de um plano fictício horizontal que passa pelo 4° disco intervertebral dorsal e pela base do manúbrio esternal, o Mediastino médio que compreende a zona do pericárdio, o Mediastino anterior situado à frente do pericárdio e o posterior atrás dele até às goteiras paravertebrais (Quadro 3). Apesar de algumas características da radiografia em PA nos permitirem suspeitar da localização de uma massa num destes compartimentos, o perfil é indispensável para fornecer uma ideia mais exacta. Como se constatou que cada tipo de tumores se situava preferencialmente num dos compartimentos referidos (Quadro 4), a existência de uma massa num deles aponta desde logo para um leque de hipóteses mais prováveis. Quadro 4 Na Radiografia simples do Torax, em PA, os tumores do Mediastino anterior projectam-se em regra no andar médio do torax. À direita apagam o contorno da aurícula direita e/ou da aorta ascendente, à esquerda poupam o botão aórtico. No perfil, ocupam o espaço habitualmente “vazio” retro-esternal. Os tumores do Mediastino posterior podem projectar-se a qualquer nível, do opérculo torácico ao diafragma. Não alteram os contornos cardíacos em P A e em perfil, projectam-se total ou parcialmente sobre a coluna vertebral, mas sempre atrás do contorno posterior do pericárdio. Os tumores do Mediastino médio sobrepõem-se em perfil à imagem cardíaca, quando baixos (os quistos ce1ómicos têm por localização clássica o ângulo cardio-frénico direito) ou ao hilo pulmonar e traqueia inferior quando mais altos (adenopatias, quistos broncogénicos por exemplo). A radiografia simples do torax fornece-nos ainda elementos quanto ao tamanho do tumor, aos seus contornos (esbatidos ou bem definidos, regulares ou não, etc.), a sua densidade (em comparação com tecidos e estruturas vizinhas - músculo, gordura, etc.), a sua homogeneidade ou heterogeneidade (lesões homogéneas ou pelo contrário, cavitadas, com calcificações, etc.). A existência de derrame pleural ou pericárdico, de lesões ósseas concomitantes, de metastização pulmonar é ainda facilmente detectável em radiografia simples. Quando, face a uma radiografia de torax, suspeitamos estar em presença de um tumor do Mediastino, devemos pedir uma tomografia axial computorizada (TAC) torácica (de preferência abrangendo o abdómen superior). N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 23 ARTIGO ORIGINAL A TAC permite: 1º Confirmar a situação do tumor. Na TAC os tumores do Mediastino anterior projectam-se na loca tímica ou entre o bordo anterior do coração, o pulmão e a parede anterior do torax. Os tumores do Mediastino posterior ocupam as goteiras para-vertebrais, ou pelo menos situam-se atrás do pericárdio e da carina. O Mediastino médio é mais difícil de definir na TAC: as suas lesões” projectam-se à frente, à direita ou à esquerda do coração quando baixas, são paratraqueais quando mais altas. 2º Mostrar com maior rigor as suas características, em especial no que respeita a densidade, existência de necrose ou calcificações, relações com as estruturas vitais vizinhas, presença de adenopatias, lesões ósseas, nódulos pulmonares, etc. 3º Dar-nos, graças aos elementos fornecidos, indicação quanto à extensão do tumor, presença de capsulação ou grau de invasão e portanto uma orientação preciosa quanto à probabilidade de se tratar de um tumor benigno ou maligno. A Ecografia é claramente inferior à TAC na avaliação das massas mediastínicas. O seu interesse nestes casos limita-se às situações que se acompanham de derrames concomitantes, em especial derrames pericárdicos, para apreciação do seu volume e da repercussão sobre as cavidades cardíacas. O recurso à Ressonância Magnética (RM) justifica-se quando existem dúvidas quanto ao grau de invasão do tumor, em especial face a suspeitas de invasão do canal raquidiano, nos tumores das goteiras. Para detecção e avaliação da extensão de uma eventual invasão vascular, a Angio-TAC substitui hoje com vantagem quanto a nós. A RM continua indicada nos doentes em que não é possível administrar contraste endovenoso iodado. Para além de nos fornecer imagens em planos diferentes (sagital, axial e coronal), a RM dá uma excelente informação anatómica (nas sequências ponderadas em TI com maior poder de resolução) e permite caracterizar alguns tipos de tecidos (nas sequências em T2). Os isótopos não têm papel diagnóstico corrente apesar de poderem confirmar alguns diagnósticos de tumores raros como é o caso do MIGB ou dos receptores da somatostatina nos Paragangliomas. A PET e em especial a PET-CT não têm aceitação generalizada para diagnóstico mas têm um papel a desempenhar no follow-up e na detecção de eventuais recidivas. Algumas hormonas como o ACTH no Carcinóide do Timo ou as Catecolaminas nos tumores do Simpático, comportam-se como “traçadores”. Outros elementos, em particular alguns enzimas, como a deshidrogenase láctica (DLH), funcionam como factores de prognóstico e para monitorização do tratamento. ıı CARACTERIZAÇÃO CITOLÓGICA E HISTOLÓGICA Um diagnóstico correcto (indispensável para uma terapêutica correcta) baseia-se na caracterização anatomo-patológica do tumor. Os meios de que dispomos para colher um fragmento do tumor são diversos e vão desde a punção-aspirativa com agulha fina à biopsia cirúrgica (inc1usivé à ressecção da massa tumoral) (Quadro 5). A primeira só permite um diagnóstico citológico e por esse motivo é raramente suficiente (em particular no diagnóstico diferencial entre Timomas e Linfomas). Não tem pois justificação a insistência em tentar obter um diagnóstico por este meio, antes mesmo de enviar o doente a um centro especializado. A biopsia transtorácica por trucut pode dar o diagnóstico mas fornece muito menos elementos do que as biopsias cirúrgicas. Para a biopsia cirúrgica, diversas vias podem ser utilizadas: mediastinotomia, videotoracoscopia, toracotomia. A mediastinoscopia, contrariamente ao que se pensa com alguma frequência, tem a sua principal indicação no diagnóstico de adenopatias mediastínicas e não no dos Tumores do Mediastino propriamente ditos. A escolha da via depende de vários factores – localização do tumor, suspeita de malignidade, de tumor “não cirúrgico”, etc. (Quadro 6). Nos tumores com indicação cirúrgica e ressecáveis, a caracterização poderá ser feita pelo estudo da peça operatória. Só nos tumores germinativos não seminomatosos com marcadores positivos é que é lícito dospensar a caracterização patológica antes de iniciar a terapêutica com Quimioterapia. O material colhido pode ser tratado de diversas maneiras. É importante saber que hoje na grande maioria das situações se torna necessário recorrer a técnicas sofisticadas, essencialmente à imuno-histoquímica, sendo portanto essencial poder dispor de um Laboratório especializado e devidamente apetrechado. ıı EXAMES LABORATORIAIS No soro, podem ser detectadas diversas substâncias cuja presença (ou aumento) permite reforçar determinada suspeita diagnóstica. Destas, só um pequeno número tem de momento interesse prático: é o caso da alfafetoproteína (AFP) e da fracção beta da gonadotrofina coriónica (βHCG),que funcionam como marcadores nos tumores germinativos malignos, com importância no diagnóstico, prognóstico e follow-up. 24 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Quadro 5 TUMORES DO MEDIASTINO - PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO A observação clínica do doente, sempre importante, será reveladora em alguns casos, como nos Bócios mergulhantes por exemplo. A observação torácica deverá procurar deformações, circulação colateral, lesões cutâneas, etc. além de alterações da percussão, transmissão de vibrações vocais, ruídos adventícios, ... ıı MARCHA DIAGNÓSTICA Quadro 6 ıı ASPECTOS CLÍNICOS. FORMAS DE APRESENTAÇÃO Um número importante de doentes, principalmente com tumores benignos, pode ser assintomático: na nossa experiência, 37% dos doentes eram assintomáticos, dos quais 93% eram portadores de tumores benignos. A lesão mediastínica descobre-se então numa radiografia de rastreio ou de rotina, realizada por qualquer outro motivo. Mais frequentemente contudo, o doente apresenta sintomas incaracterísticos, comuns a diversas patologias intra-torácicas: toracalgia, tosse, dispneia (por esta ordem nos nossos doentes), queixas essas que em regra motivam a realização de uma Radiografia do torax. Podem ser referidos igualmente sintomas gerais (febre, astenia, anorexia, emagrecimento) em tumores malignos e benignos. Os chamados Sindromas do Mediastino que traduzem a existência de compressão ou invasão de estruturas mediastínicas não são contudo apanágio dos tumores do Mediastino, podendo aparecer por exemplo nas neoplasias do Pulmão com metástases ganglionares mediastínicas ou com invasão directa de estruturas mediastínicas. O mais frequente destes sindromas é o Sindroma Cava superior que traduz invasão com ou sem trombose da veia cava superior, e que quando causado por um tumor do Mediastino aponta para um tumor invasivo do Mediastino anterior (Linfoma, Tumor Germinativo ou Timoma), apesar de poder surgir em tumores benignos de grande volume. De referir ainda a possibilidade de existência de doenças associadas típicas de alguns tipos de tumores; assim é sabido que 1/3 dos Timomas aparece associado a outras doenças, das quais a Miastenia Grave é a mais frequente e a mais citada. Mas tanto os Linfomas como os Tumores germinativos apresentam associações conhecidas com outras patologias. O sexo do doente e o grupo etário a que pertence podem igualmente fornecer-nos indicações quanto às hipóteses diagnósticas mais prováveis. Estes dados são particularmente relevantes nas grandes massas mediastínicas invasivas anteriores. Todo o doente com suspeita de ter um tumor do Mediastino deve ser encaminhado para uma Consulta da Especialidade. Deverá ser portador de uma Radiografia de Torax, PA e perfil e se possível de uma TAC torácica. Caso possua radiografias antigas, é de toda a conveniência trazê-las igualmente. Deverá ter feito os exames laboratoriais listados no Quadro. Será útil ainda que traga um ECG recente e Provas de Função Respiratória. Face aos dados destes exames, em especial no que respeita a localização e características do tumor, e tendo em conta o sexo e a idade do doente, a existência ou não de sintomatologia e as queixas referidas, serão postas as hipóteses mais prováveis e de acordo com estas, pedidos os restantes exames considerados necessários ao esclarecimento da situação e à orientação terapêutica mais adequada. Sob o ponto de vista prático, temos de “jogar” com a localização do tumor, as suas características imagiológicas a favor de benignidade ou de malignidade, o sexo e a idade do doente. Por exemplo, um tumor do Mediastino superior que provoque um desvio da traqueia, se revele na TAC por uma massa mais ou menos heterogénea, com lagos vasculares e possivelmente com algumas calcificações intra-tumorais, em posição pré-traqueal, afastando para a frente e para os lados os vasos supra-aórticos e o tronco braquiocefálico esquerdo, ou mesmo retro-traqueal, sobretudo se surgindo numa doente do sexo feminino, entre os 60 e os 70 anos, e especialmente se esta fôr obesa, é muito provável mente um Bócio mergulhante, mesmo que não se palpe massa cervical e que não haja antecedentes de Bócio cervical. A Cintigrafia da Tiroideia (com extensão abaixo da fúrcula esternal) pode ser útil mas não é indispensável, tanto mais que na nossa experiência só em 35% dos casos ela contrasta a porção subesternal. O doseamento das hormonas tiroideias é obrigatório e nos tumores volumosos com grande desvio da traqueia é aconselhável realizar uma fibroscopia para avaliação do grau de malácea da traqueia. Uma massa situada no Mediastino posterior, bem limitada e homogénea, tem grandes probabilidades de ser um tumor neurogénico, qualquer que seja a idade e o sexo do doente. Trata-se essencialmente de tumores das baínhas nervosas (neurilemomas ou neurofibromas), mas na criança e adulto jovem aparecem com alguma frequência ganglioneuromas. A hipótese diagnóstica de tumor de origem nervosa do Mediastino posterior obriga ao despiste de prolongamento intra-raquidiano: assim se a T AC mostrar um alargamento de um buraco de conjugação, é necessário pedir uma Ressonância Magnética para confirmação e planeamento da tactica cirúrgica (abordagem mista neuro-cirúrgica e torácica). N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 25 ARTIGO ORIGINAL Nas lesões bem limitadas, para-esofágicas, quísticas, é de pensar em malformações derivadas do intestino primitivo (quistos broncogénicos, quistos esofágicos). Um tumor invasivo desse compartimento se na criança corresponde em regra a um neuroblastoma, poderá no adulto ser um schwanoma maligno, um sarcoma, outro tumor mesenquimatoso maligno, que só uma biópsia cirúrgica irá caracterizar. Face a um tumor do Mediastino médio, homogéneo, bem limitado e de densidade hídrica, particularmente se situado no ângulo cardio-frénico direito, a primeira hipótese é de quisto seroso (pleuro-pericárdico). Se a lesão for quística, mas de parede mais espessa, conteúdo líquido mais denso, poderemos estar em presença de um quisto traqueo- ou broncogénico. Qualquer destas situações tem indicação cirúrgica, variando apenas a via de abordagem, de acordo com o diagnóstico mais provável e a preferência do Cirurgião. As massas homogéneas sólidas são em regra causadas por adenopatias conglomeradas cuja excisão (ou biopsia cirúrgica) é necessária para mostrar se trata de um Linfoma (Doença de Hodgkin ou Linfoma não Hodgkin) ou por exemplo de uma Doença de Castleman. Os tumores de características benignas do Mediastino anterior mais frequentes são os Timomas “benignos” (não invasivos) e os Teratomas. Estes últimos aparecem em ambos os sexos e em qualquer idade (mais contudo’ na 3” década de vida), são frequentemente assintomáticos mas podem dar sintomas de compressão. Traduzem-se por massas heterogéneas com zonas quísticas, bem limitadas, situadas na loca tímica (diagnóstico diferencial com Quistos do Timo). Quanto aos Timomas, aparecem essencialmente nas mulheres depois dos 50 anos, e quando “benignos” são bem limitados, de contornos nítidos, homogéneos, sem necrose ou calcifícações. A associação com Miastenia grave ou com outra doença auto-imune é praticamente patognomónica desta patologia. A descoberta de um tumor invasivo do Mediastino anterior, implica o diagnóstico diferencial entre Linfoma (Doença de Hogdkin ou Linfoma não Hodgkin), Tumor Germinativo Maligno e Timoma invasivo/Carcinoma do Timo. É importante ter em mente que os Tumores Germinativos malignos são praticamente exclusivos do sexo masculino, nas 3a e 4a décadas, e que um tumor invasivo do Mediastino anterior numa jovem é muito mais provavelmente um Linfoma do que um Timoma. Uma vez feito o diagnóstico, importa nos casos de tumores malignos ou com características invasivas, proceder ao estadiamento, antes de iniciar qualquer terapêutica Esta poderá ser médica ou cirúrgica, consoante a natureza da lesão, mas muito frequentemente combinada. Deverá ser orientada por um grupo multidisciplinar habituado a lidar com estas situações. ıı CONCLUSÕES Baseados na experiência adquirida ao longo de cerca de 30 anos durante os quais temos lidado com este tipo de doentes, pareceu-nos importante delinear uma estratégia de diagnóstico e terapêutica destas situações, que aperfeiçoámos progressivamente. Pensamos que os esquemas propostos permitem sem perda de tempo e de recursos chegar a um diagnóstico e a partir daí iniciar a terapêutica mais adequada para cada caso (Quadros 7 a 15). Estes aspectos são particularmente importantes quando estamos face a uma lesão maligna, mas mesmo nos tumores benignos, uma má condução do caso pode originar complicações graves. Diagnóstico Dos Tumores Do Mediastino Exames essenciais (todos os doentes) Radiografia de torax em 2 planos perpendiculares (PA e perfil) TAC torácica Análises laboratoriais (ver Quadro) ECG PFR Quadro 7 Tumores do Mediastino Exames laboratoriais: Rotinas Hemograma completo com plaquetas Ureia e Glicémia Ionograma Transaminases Fosfatase alcalina LDH E ainda Ant HBs e HIV 1 e 2 Quadro 8 Diagnóstico Dos Tumores Do Mediastino Outros exames (de acordo com localização do tumor e hipótese diagnóstica mais provável) Tumor do Mediastino superior : se suspeita de Bócio Mergulhante : Fibrobroncoscopia, Cintigrafia da Tiroideia, Provas de Função Tiroideia. Tumor do Mediastino anterior, com características invasivas : se doente do sexo masculino, com 40 anos ou menos: doseamento da αFP e βHCG. Para avaliação da ressecabilidade : RM Tumor do Mediastino anterior com MG (Timoma): EMG, Prova de Tensilon. Tumor do Mediastino anterior com Sindroma de Cushing : doseamento do ácido 5--hidroxi-indolacético na urina, e corticosteróides no sangue. Tumor do Mediastino com crises hipertensivas. Muito vascularizado (TAC) (paraganglioma?): Ressonância magnética. Cintigrafia com MIBG ou anti-receptores da somatostatina. Tumor do Mediastino posterior com alargamento de um (ou mais) buraco de conjugação : Ressonância magnética do Mediastino posterior e coluna vertebral dorsal. Tumor invasivo do Mediastino Posterior na criança. Doseamento das catecolaminas no sangue e dos ácidos vanil e homo-vanil mandélicos na urina (neuroblastoma?) Quadro 9 26 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 TUMORES DO MEDIASTINO - PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO FLUXOGRAMAS DIAGNÓSTICOS QUADRO 10 QUADRO 11 N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 27 ARTIGO ORIGINAL QUADRO 12 QUADRO 13 28 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 TUMORES DO MEDIASTINO - PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO QUADRO 14 QUADRO 15 N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 29 ARTIGO ORIGINAL QUADRO 16 ıı BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA 1. Tumores do Mediastino. Monografia editada pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, 1999. 2. Doenças do Mediastino. In Tratado de Pneumologia. Sociedade Portuguesa de Pneumologia, M.J. Marques Gomes e Renato Sotto Mayor ed., Permanyer, Lisboa 2003 3. Tumores do Mediastino. In Atlas de Pneumologia, Sociedade Portuguesa de Pneumologia. A. Segorbe Luis e Renato Sotto Mayor, ed. Permanyer,Lisboa, 2009. 30 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 CONSIDERAÇÕES SOBRE O SÍNDROME DE KLIPPEL TRENAUNAY Considerações sobre o síndrome de Klippel Trenaunay: um síndrome ou um conjunto de malformações vasculares? J Pereira Albino 1 Resumo O autor iniciou em 2000, ainda no Hospital de Sta Marta, uma consulta de malformações vasculares congénitas, que foi extrapolada para o Hospital de Pulido Valente-CHLN, e onde continua a observar múltiplos doentes com este tipo de patologia sobretudo localizada a nível dos membros. O síndrome de Klippel Trenaunay, que foi descrito como um conjunto de anomalias constituídas pela presença de uma malformação angiomatosa cutânea (mancha “vinho do Porto”), associada a varizes e a gigantismo dos membros, é sem dúvida das malformações que mais frequentemente tem de tratar, pelo que, considerou que seria útil proceder a uma revisão atual deste quadro. Após analisar os vários componentes em causa, conclui que a situação é devida a um conjunto de malformações, que vão desde o componente cutâneo, ao componente venoso e linfático e claro, ao componente ósseo, que origina o quadro dismórfico incapacitante em que a abordagem multidisciplinar é fundamental para um bom resultado final. Abstract The author began in 2000, still in the St Marta Hospital a consultation of congenital vascular malformations, that was extrapolated to the Hospital Pulido Valente-CHLN and where he continues to see multiple patients with this type of pathology mainly located to the members.The Klippel Trenaunay Syndrome, which was described as a set of anomalies constituted by the presence of a cutaneous angiomatous malformation (port wine stain), varicose veins and gigantism of the limbs, is undoubtedly the most common malformations that he is call to treat. So he thought that it would be useful to undertake an actual review of this pathology. After analyzing the various components in question concludes that the situation is undoubtedly a set of malformations ranging from cutaneous component, to the component venous and lymphatic and clear the component osseous, that causes the bone dimorphic disabling, and that is essential a multidisciplinary approach to a good end result. O síndrome de Klippel Trenaunay(SKT )é caracterizado por uma tríada – lesão cutânea habitualmente designada por “mancha de vinho do Porto” (que aparece em média em 98% dos casos), varizes (72% dos casos) e hipertrofia óssea e das partes moles (67% dos casos) e que envolve normalmente uma só extremidade. A presença de duas destas alterações é suficiente para considerarmos que estamos em presença de um SKT.(1) (Fig 1, 2, 3) Apesar da associação entre hipertrofia de um membro, nevos e varizes dos membros inferiores, já ter sido descrita em 1869 por Trélat e Monod, ela só ficou perfeitamente esclarecida e documentada pela descrição, e considerações feitas, por Maurice Klippel e Paul Trenaunay em 1900, sobre dois casos clínicos, que designaram de “naevus vasculosus osteo hypertrophicus”(2). Mais tarde foi aceite que o síndrome (conjunto de sinais e sintomas típicos de uma doença e relacionados com uma mesma patologia), ficaria com o nome destes autores. Klippel e Trenaunay desde logo admitiram que poderiam existir várias formas desta tríade, desde formas muito exuberantes, a outras mais frustres em que poderia existir por exemplo nevos sem hipertrofia e sem varizes, ou hipertrofia com nevos e sem varizes, 1. Serviço de Cirurgia Vascular II do CHLN- Hospital de Pulido Valente N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 31 TEMA ACTUALIZAÇÃO Figura 1 Varizes do Pé o que estabeleceu logo alguma confusão em torno deste síndrome e da sua associação com outras malformações . Estávamos no entanto numa altura em que o diagnostico era sobretudo baseado na semiologia e em poucos dados objectivos. Em 1907, Parkes Weber descreve a existência de vários casos semelhantes, onde detectou a existência de fistulas arterio venosas. Desde essa altura, e praticamente até à atualidade, muito se tem descrito sobre a existência ou não de fistulas arterio venosas (desde micro fistulas a macro fistulas), tendo sido adoptado por muitos autores, que na presença da tríada clássica o síndrome deveria ser designado de síndrome de Klippel Trenaunay Weber, ficando o termo Parkes Weber unicamente quando se identificava a existência de fistulas arterio venosas.(3)(4)(5) Nos anos subsequentes, muitos foram os autores que abordaram este tema, sobretudo com o advento das técnicas de imagens, nomeadamente a flebografia e a arteriografia, destacando-se pela importância os nomes de Servelle e Triquecoste e de Martorell (6)que na década de 40, descreveram e analisaram longas séries de casos em que pela primeira vez foi abordada a probabilidade de este síndrome ter um componente linfático.(3) O primeiro autor que definitivamente colocou em causa a existência de uma síndrome e achou que estaríamos perante um conjunto de malformações foi E. Malan, que no seu livro sobre malformações vasculares (Angiodisplasias – como ele achava que corretamente se deveria chamar a estes quadros), em 1974, admite que o SKT poderia ser muito variado, ter múltiplos componentes fistulosos ( de pequena ou marcada atividade), que contudo tinham na sua opinião, pouca expressão. Para E. Malan o principal componente deste síndrome eram as anomalias venosas, que condicionariam um quadro de estase, que levaria posteriormente às outras alterações nomeadamente ao gigantismo dos membros.(3) Mas, com o andar dos anos, muitas outras observações foram realizadas que vieram a esclarecer mais precisamente toda esta entidade. Assim, este síndrome, apesar de normalmente aparecer isoladamente numa extremidade, pode ser bilateral, pode envolver um braço e uma perna ou claro, todo um hemicorpo que pode ter gigantismo ou não.(1) 32 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Figura 2 SKT –Varizes e Malformação cutanea A mancha cutânea é sem duvida a anomalia que mais frequentemente aparece na altura do nascimento. Normalmente, fonte de grande preocupação, é muito habitualmente confundida com a existência de um hemangioma cutâneo. Hoje em dia, com as técnicas ecográficas a destrinça é fácil, na medida em que, os padrões do hemangioma ( tumor vascular com vasos que alimentam o tumor e que se definem muito bem com o ecodoppler), são fáceis de destrinçar do padrão venoso, que se encontra frequentemente nestes quadros. Contudo e para termos uma ideia da variabilidade da patologia em causa é necessário perceber que num estudo de Servelle, na década de 50, a mancha só apareceu em 34% dos 614 doentes que examinou e que tinham um padrão típico do síndrome.(7) Na década de 80, a etiologia da mancha cutânea que aparece neste síndrome, teve uma definição mais precisa com os trabalhos de Viljoen e col., que histologicamente definiram que este padrão cutâneo era constituído na maioria das vezes por vasos telangiectasicos dilatados da derme superior, que podiam ter uma distribuição através dos dermatomas.(8)(9) Assim, a mancha cutânea que encontramos neste quadro é efetivamente uma malformação capilar cutânea e não, um tumor como muitas vezes foi interpretado. Desde há alguns anos que sabemos que as varizes que normalmente acompanham o quadro, (aparecem em 72% a 100% dos doentes com SKT) são um componente fundamental neste tipo de malformação. A maioria dos quadros apresenta varizes e uma aplasia ou hipoplasia do sistema venoso profundo, fazendo-se a circulação através de um sistema marginal, que não é mais do que a persistência de veias embrionárias nomeadamente as que acompanham o nervo ciático. Durante anos pensou-se que estas varizes nunca deveriam ser tratadas, na medida em que essa situação levaria invariavelmente a um compromisso venoso importante, uma flegmasia, que terminaria em amputação.(1) Contudo, as novas técnicas de imagem (angio RM e angio Tac) e os avanços nos estudos flebograficos que foram sendo CONSIDERAÇÕES SOBRE O SÍNDROME DE KLIPPEL TRENAUNAY Figura 3 Malformação cutanea da coxa Figura 4 Hipertrofia do membro inferior esquerdo com linfedema aperfeiçoadas e adaptados a este tipo de patologia, vieram demonstrar, sobretudo desde os trabalhos de Belov(10) na década de 80, que as verdadeiras agenesias são muito raras. O que existe são normalmente hipoplasias do sistema venoso profundo. (11) (12)(10)(13). hipertrofia e deformação do membro afectado. Até hoje, e apesar de haver muitas teorias sobre o assunto, ainda não foi descoberta a causa desta alteração nem quais os factores que a ela estão associados. Sabe-se no entanto, que o padrão genético existente pode ser determinante no aparecimento desta situação, assim como a existência ou não de componente linfático. Ning-Fei Liu (21)demonstrou muito recentemente e através da RM, que a maioria dos doentes com SKT apresentam um componente linfático, sendo ele responsável pelo alargamento dos membros em volume. (21)(22) A importância desta descoberta está relacionada com outra, de que, nestas circunstâncias a ablação da rede venosa dependente da veia marginal pode efetivamente levar a um alargamento do sistema venoso profundo, que diminuirá a estase, e evitará a progressão do síndrome, sobretudo no que diz respeito ao à hipertrofia dos membros. Tal descoberta, que se deve também aos trabalhos de Belov e Loose, colocou a opção cirúrgica como uma prioridade, sobretudo quando as alterações ósseas são detectadas muito precocemente em idade.(10)(14) Outros aspectos encontrados frequentemente nestes doentes são os aneurismas venosos ou dilatações muito marcadas da árvore venosa profunda ou da rede marginal, que são devidas a bridas segmentares que originam, por efeito mecânico, o aparecimento deste tipo de patologia dilatante do sistema venoso. Este quadro venoso pode originar múltiplas complicações, que vão desde os quadros de dermatite de estase e úlcera (raros), a situações de hemorragia ou de trombose, sendo fonte de tromboembolismo pulmonar (aparece em 22% dos doentes com SKT) (15)(16)(17). É hoje do conhecimento médico, que associado a estas anomalias, muitos doentes tem alterações da coagulação, devendo ser monitorizados sistematicamente os D dimeros( que frequentemente aparecem elevados) e utilizar na terapêutica, quer antiagregantes quer anticoagulantes, afim de evitar estas complicações major.(18) O componente linfático, em nossa opinião, agrava consideravelmente o quadro devido ás múltiplas erisipelas que origina, pelo que é fundamental uma profilaxia adequada sobretudo durante a infância. Fig. 4,5,6 O aumento do crescimento não está perfeitamente esclarecido, mas ele pode manifestar-se de forma segmentar ( dedos, pé) ou global a nível dos membros afectados levando a dismorfia considerável. Normalmente a diferença entre membros encontrada aos 12 anos de idade, é aquela que vai estar presente na vida. Ou seja, admite-se hoje que após esta idade o crescimento do membro afectado praticamente está estagnado. O problema é que muitas vezes a diferença entre os membros é da ordem dos 10/12 cm, o que leva invariavelmente a escolioses marcadas e que necessitarão de correção ortopédica. (7) Classicamente sabe-se que o doente que apresenta uma malformação poderá ter outras idênticas ou do mesmo género, a outros níveis. Também é frequente que ás alterações de um membro esteja associada a existência de alterações em outros órgãos, nomeadamente pleura, baço, fígado bexiga e cólon sendo relativamente frequente a existência de episódios de hematuria ou de hematoquesias.(19)(20) Assim, é frequente a concomitância de anomalias linfáticas na face (nomeadamente a nível da parótida), ou de anomalias a nível cerebral, que devem ser pesquisadas e corrigidas. É relativamente frequente, que alguns doentes com SKT apresentem malformações do tipo Chiari I, ou seja, alongamento do cerebelo e deslocamento caudal das amígdalas cerebelosas, que normalmente é assintomática na infância, mas que causa quadros de cefaleias e paralisias periféricas na adolescência e que tem de ser corrigida. (23)(24)(25) Sem dúvida, a situação mais angustiante e que mais preocupação acarreta ao doente e aos familiares deste tipo de pacientes é a Em conclusão, podemos dizer pelo que afirmámos que, o SKT não é mais que uma associação de várias malformações – capilar, N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 33 TEMA ACTUALIZAÇÃO Figura 5 SKT com marcado componente linfático Figura 6 SKT Sem hipertrofia do membro venosa, linfática, óssea- podendo ainda ter envolvimento visceral e anomalias da coagulação. É um quadro multidisciplinar que deve ser encarado a nosso ver de forma pouco agressiva, devendo as intervenções cirúrgicas/endovasculares serem bem planeadas, discutindo com a família e o doente as vantagens das mesmas, de forma a evitar complicações major, que podem ter consequências irreversíveis. Klippel-Trenaunay syndrome: initial experience. J Vasc Interv Radiol 2010 May;21(5):685–689. 13.Mavili E, Ozturk M, Akcali Y, Donmez H, Yikilmaz A, Tokmak TT, Ozcan N. Direct CT venography for evaluation of the lower extremity venous anomalies of Klippel-Trenaunay Syndrome. AJR Am J Roentgenol 2009 Jun.;192(6):W311–6. 14.St B, Loose D. Vascular malformations. Periodica Angiologica; 1989. 15.Beier UH, Schmidt ML, Hast H, Kecskes S, Valentino LA. Control of disseminated intravascular coagulation in Klippel-Trenaunay-Weber syndrome using enoxaparin and recombinant activated factor VIIa: a case report. J Med Case Reports 2010;4:92. 16.Rodríguez-Mañero M, Aguado L, Redondo P. Pulmonary arterial hypertension in patients with slow-flow vascular malformations. Arch Dermatol 2010 Dec.;146(12):1347–1352. 17.Douma RA, Oduber CEU, Gerdes VEA, van Delden OM, van Eck-Smit BLF, Meijers JCM, van Beers EJ, Bouma BJ, van der Horst CMAM, Bresser P. Chronic pulmonary embolism in Klippel-Trenaunay syndrome. J. Am. Acad. Dermatol. 2011 May; 18.Redondo P, Aguado L, Marquina M, Paramo JA, Sierra A, Sánchez-Ibarrola A, Martínez-Cuesta A, Cabrera J. Angiogenic and prothrombotic markers in extensive slow-flow vascular malformations: implications for antiangiogenic/antithrombotic strategies. Br. J. Dermatol. 2010 Feb.;162(2):350–356. 19.Karakayali F, Basaran C, Soy EA, Karakus S, Yabanoglu H, Moray G, Haberal M. Spontaneous spleen rupture and rectus sheath hematoma in a patient with Klippel-Trenaunay syndrome: report of a case. Surg. Today 2010;40(2):154–157. 20.Wang Z-K, Wang F-Y, Zhu R-M, Liu J. Klippel-Trenaunay syndrome with gastrointestinal bleeding, splenic hemangiomas and left inferior vena cava. World J. Gastroenterol. 2010 Mar.;16(12):1548–1552. 21.Liu N-F, Lu Q, Yan Z-X. Lymphatic malformation is a common component of Klippel-Trenaunay syndrome. J. Vasc. Surg. 2010 Dec.;52(6):1557–1563. 22.Liu N-F, Lu Q, Liu P-A, Wu X-F, Wang B-S. Comparison of radionuclide lymphoscintigraphy and dynamic magnetic resonance lymphangiography for investigating extremity lymphoedema. Br J Surg 2010 Mar.;97(3):359–365. 23.Star A, Fuller CE, Landas SK. Intracranial aneurysms in klippel-trenaunay/ weber syndromes: case report. Neurosurgery 2010 May;66(5):E1027–8; discussion E1028. 24.Simas A, Matos C, Lopes da Silva R, Brotas V, Teófilo E, Albino JP. Epithelioid Angiosarcoma in a Patient with Klippel-Trénaunay-Weber Syndrome: An Unexpected Response to Therapy. Case Rep Oncol 2010;3(2):148–153. 25.Van Gompel JJ, Griessenauer CJ, Scheithauer BW, Amrami KK, Spinner RJ. Vascular malformations, rare causes of sciatic neuropathy: a case series. Neurosurgery 2010 Oct.;67(4):1133–42; discussion 1142. Agradecimento: O autor agradece a todos os elementos que com ele têm colaborado ao longo dos anos no diagnóstico e tratamento dos doentes com esta patologia, que apesar de rara, causa grande incapacidade e repercussão social. ıı BIBLIOGRAFIA 1. Villavicencio JL. Hemangiomas and Vascular Malformations: An Atlas of Diagnosis and Treatment. 1st ed. Springer; 2009. 2. Klippel M. Du noevus variquex oste-hypertrophic. Arch Gen Med; 1900. 3. Malan E. Malan and Tradito (1974) Vascular malformations: Angiodysplasias). 1974; 4. Malan E. History and different clinical aspects of arteriovenous communications. J Cardiovasc Surg (Torino) 1972 Aug.;13(5):491–494. 5. Degni M, Gerson L, Ishikava K, Malan E, Martorell F, Mayall RC, Merlen J, Mian E, Mishima Y, Pratesi F, Salleras V, Zannini G. [Classification of vascular diseases of the limbs]. Minerva Cardioangiol 1973 Feb.;21(2):162–167. 6. Servelle M. Klippel and Trenaunay’s syndrome. 768 operated cases. [no date]; 7. Kihiczak GG, Meine JG, Schwartz RA, Janniger CK. Klippel-Trenaunay syndrome: a multisystem disorder possibly resulting from a pathogenic gene for vascular and tissue overgrowth. Int. J. Dermatol. 2006 Aug.;45(8):883–890. 8. Viljoen D, Saxe N, Pearn J, Beighton P. The cutaneous manifestations of the Klippel-Trenaunay-Weber syndrome. Clin. Exp. Dermatol. 1987 Jan.;12(1):12–17. 9. Viljoen DL. Klippel-Trenaunay-Weber syndrome (angio-osteohypertrophy syndrome). J. Med. Genet. 1988 Apr.;25(4):250–252. 10.Belov S. Surgical treatment of congenital predominantly venous defects In: Belov S, Loose DA, Weber J. Vascular Malformations”. EinhornPresse Verlag; 1989. 11.Bastarrika G, Redondo P. Indirect MR venography for evaluation and therapy planning of patients with Klippel-Trenaunay syndrome. AJR Am J Roentgenol 2010 Feb.;194(2):W244–5. 12.Alomari AI. Diversion venography--a modified technique in 34 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 A UNIDADE UNIVERSITARIA DE GERIATRIA O Desafio da Assistência ao Doente Idoso A Unidade Universitária de Geriatria - Faculdade de Medicina de Lisboa/Centro Hospitalar de Lisboa Norte João Gorjão Clara1 Em 2050, em Portugal, 1milhão de portugueses terá mais de 80 anos e 32% terão 65 ou mais anos de idade. Neste momento a idade média dos doentes internados nos Serviços de Medicina dos hospitais portugueses é de 76 a 78 anos. Mais de um quarto dos doentes assistidos nos Centros de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo são idosos. O envelhecimento da população criou problemas novos aos serviços de saúde e aos médicos. Os médicos viram-se confrontados não só com doentes envelhecidos mas, por esta razão, com particularidades muito próprias que os tornavam diferentes e habitualmente muito complexos. Os doentes idosos são portadores de múltiplas morbilidades, algumas delas crónicas e tomam muitos medicamentos. Grande parte das suas doenças manifestam-se de modo diferente do que vem nos tratados de Medicina Interna, que abordam as doenças em doentes não idosos. Estes factos, já assinalados por um dos vultos mais destacados da medicina do século XIX, Jean–Martin Charcot (1825-1893), fizeram nascer a Geriatria, palavra inventada por um médico Norte Americano, Ignatz Nacher, em 1909. Geriatria pode definir-se, de modo sucinto, como o ramo da medicina que se ocupa da saúde, nos aspectos clínicos, sociais, preventivos e curativos das doenças no envelhecimento. A Geriatria constituiu-se como especialidade e é reconhecida: na Áustria, na Alemanha, na Bélgica, na Dinamarca, em Espanha, na Finlândia, em França, na Holanda, na Irlanda, na Itália, na Suécia e no Reino Unido. Não está reconhecida na Grécia e em Portugal. O ensino da geriatria é apoiado pela Organização Mundial de Saúde que inclusivé define um conjunto de 15 temas de geriatria que nenhum médico deve desconhecer ao terminar a sua graduação. O ensino d a Geriatria existe em todas as Escolas Médicas destes países europeus: Bélgica, Finlândia, França, Islândia, Noruega, Suécia e em proporções variáveis nas Faculdades de Medicina da Itália, da Suíça, da Holanda, da Inglaterra, da Espanha, da Dinamarca e da Alemanha. Os doentes geriátricos, não todos os doentes idosos, necessitam de internamento em espaço hospitalar apropriado, vocacionado para a sua assistência. Nasceram assim as Unidades de Geriatria. A primeira Unidade de Geriatria foi criada em Inglaterra, em 1948, por Marjory Warren que também inventou o “Comprehensive Geriatric Assessment”a primeira Avaliação Geriátrica Global, aquando da fundação do National Health Service. As Unidades de Geriatria, expandem-se depois por quase toda a Europa e por todo o Mundo.A avaliação do seu funcionamento revela que as Unidades de Geriatria conseguem diminuir o tempo médio de internamento, a recuperação funcional do doente idoso, a recuperação cognitiva, a redução do número de doentes que são enviados para lares após a alta hospitalar, a mortalidade e os gastos com a assistência, quando comparada com os convencionais serviços de Medicina Interna. Estes resultados são a justificação para que a UNECE (United Nations Comission for Europe) durante a Ministerial Conference of Ageing, em Berlim, em 2002, aconselhe a implementação de Unidades de Geriatria por toda a Comunidade Europeia. Na Faculdade de Medicina de Lisboa, em 6 de Janeiro de 2010, a Geriatria começou a ser ensinada como disciplina obrigatória, na graduação dos alunos de medicina. Em 7 de Novembro de 2010 foi fundada a Unidade Universitária de Geriatria (UUG), da Faculdade de Medicina de Lisboa-Centro Hospitalar de Lisboa Norte. Ainda sem espaço físico de internamento, a UUG criou a primeira consulta hospitalar de Geriatria a 3 de Março de 2011 que tem o objectivo geral de optimizar a assistência ao doente idoso na comunidade onde se insere o CHLN-HPV com a intervenção de uma equipa multidisciplinar constituída por médicos e enfermeiros com diferenciação em Geriatria, assistente social, auxiliares de acção médica, farmacêutico, fisioterapeuta, nutricionista/dietista e psicólogo. 1. Coordenador da Unidade Universitária de Geriatria - Faculdade de Medicina de Lisboa/Centro Hospitalar de Lisboa Norte N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 35 CENTROS E ESPECIALIDADES NO HPV São objectivos específicos da Unidade Universitária de Geriatria (UUG): Integrar a UUG na Rede Geriátrica Nacional que urge implementar e desenvolver no nosso país. A sua integração na cultura do CHLN-HPV, criando uma identidade organizacional, permitindo ao hospital desenvolver novas actividades de boas práticas de prevenção da doença e estratégias de promoção do envelhecimento saudável e activo. Estabelecer parcerias com várias entidades a fim de ajustar as necessidades dos idosos às novas realidades sociais e familiares que acompanham o envelhecimento individual e demográfico. Criar o apoio domiciliário ao idoso com a finalidade de melhorar as suas qualidades de vida e autonomia, evitar acidentes domésticos, ajudando-o a permanecer independente e activo no seu próprio ambiente. Reduzir a procura dos Serviços de Urgência e a frequência de reinternamento hospitalar. Integrar o Dia Mundial do Idoso no Programa de Dias Comemorativos Nacionais e Internacionais relativos à saúde. Colaborar como Conselheira na assistência aos doentes idosos internados nos diferentes serviços do CHLN-HPV. Participar activamente, com outras entidades oficiais e privadas, em actividades relativas ao Ano Europeu do Envelhecimento Activo - 2012. Divulgar, a nível nacional, como se organiza a Consulta de Geriatria assim como os seus objectivos e os resultados da sua actividade. Organizar, em parceria com outras entidades, as comemorações do Dia Nacional do Idoso. Colaborar como Conselheira na construção de novas unidades hospitalares, no sentido de as adaptar às necessidades e à realidade do doente idoso. Sensibilizar a opinião pública, os decisores políticos e outras partes interessadas para a importância do envelhecimento activo e para a necessidade de explorar outras formas de assistência ao idoso. Complementar o ensino universitário de Geriatria e Gerontologia, na sua componente prática, na Faculdade de Medicina e nas Escolas de Enfermagem de Lisboa. Implementar a formação em Geriatria dos Clínicos Gerais dos Centros de Saúde da área de intervenção do Centro Hospitalar de Lisboa Norte. Desenvolver a formação na área da Geriatria e da Gerontologia, participando em acções de formação e projectos de investigação a realizar em Portugal e no estrangeiro. Colaborar e estimular um conjunto de actividades, também inovadoras, de apoio a organizações científicas que visam a educação do idoso, reconhecendo o seu valor, integrando-o socialmente, preparando-o para o envelhecimento activo. Divulgar o desenvolvimento e as actividades deste projecto na Newsletter do CHLN. 36 Construir uma rede com entidades congéneres nacionais e internacionais, com particular destaque para a Espanha e o Brasil, visando a partilha de informação, conhecimento e investigação nesta área. BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Colaborar com a rádio e a televisão em programas dedicados à temática do envelhecimento nas suas vertentes de saúde e sociais. A UUG pretende a curto prazo dispor de espaço físico para internamento, para poder concretizar parte dos objectivos que se enunciaram como: pólo de apoio a doentes idosos internados no CHLN, formação prática de futuros médicos e enfermeiros, optimização da assistência médica a doentes agudos, com redução directa e indirecta dos encargos com a saúde dos mais velhos, dos mais doentes e dos mais desprotegidos. São todos estes projectos inovadores e que entendemos de grande relevância, que se descrevem com pormenor na candidatura da Unidade Universitária de Geriatria ao Prémio Hospital do Futuro. A UNIDADE UNIVERSITARIA DE GERIATRIA THE GERIATRIC CARE IN PORTUGAL GERIATRIC UNIVERSITY UNIT / CENTRO HOSPITALAR LISBOA NORTE J. Gorjão Clara, MD,PhD; Sílvia Matias, Nurse; Ana Matias, Pharmacist; Ana Rita Amaro, Physiotherapist; Cândida Romão, Nurse; Paula Ricardo, Social Worker The recognition of the importance of the Geriatric Medicine in Portugal has been a slow and a hard process. In spite of the difficulties we have given the first step developing a pioneer Geriatric Outpatient Clinic and other related projects. We hope that our work can help others in the same situation. The Geriatric Outpatient Clinic Objective: This poster aims to inform how we organised the first Geriatric Outpatient Clinic in Portugal and how it works. Patients Inclusion Criteria: Age 65 years old or over; Independent seniors presenting several co-morbidities which makes it difficult to be evaluated and followed in primary health care networks; with mental and physical deterioration for unknown cause; with motor functional temporal incapacity potentially recoverable; with fecal or urinary incontinence after exclusion of common causes (urinary infection, fecal impactation…); with recurrent falls (at least 5 in the last 6 months); with social problems that interfere with health care. Geriatrician Nutritionist/Dietian How it Works: First the patient is informed of what is a Geriatric Outpatient Clinic and its goals. Then begins the intervention of the various team members. Pharmacist GERIATRIC TEAM Psychologist Nurse Social Worker Physiotherapist Geriatric Assessment The beginning of the process takes place by the nurse, who evaluates different anthropometric data such as weight, height, blood pressure, heart rate, and applies the following geriatric assesment: Katz Index -evaluation of independence for the basic activities of daily living; Lawton Instrumental Activities of Daily Living Scale (IADL), Lawton & Brody Mini Mental State Examination (MMSE) - evaluation of cognitive status; Geriatric Depression Scale, Sheik JI and Yesavage JA, - mood state evaluation Mini Nutritional Assessment Screening (MNA) - nutritional evaluation. Then the patient goes to the Rehabilitation Department to be assessed by a Physiotherapist which applies the Functional Walking Test, Holden MK, and the Tinetti Test for balance and gait. Finally the patient is observed by a Geriatrician in collaboration with a Pharmacist whose intervention support is based on Beers Criteria, adapted to the Portuguese population, on the Start (Screening Tool to Alert Doctors to the Right Treatment) and Stopp (Screening Tool of Older Persons Potentially Prescriptions) Criteria, the Zahn Criteria and the MAI (Medication Appropriateness Index). On the next visit the patient is enquired by a Social Worker, using the Apgar Scale to evaluate family support and the Gijón Scale for the social and family assessment. If in the MMSE test the patient has cognitive impairment is sent to a Psychologist or Psychiatrist. The patient goes to the Nutricionist/Dietitian if malnutricion is detected in the MNA screening. Projects under development: - Home visit intervention - Protocols with primary health care to teach Geriatric Care to General Pratitioners and with institutions dealing with education, research and care for the elderly, in Portugal and in other countries N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 37 CENTROS E ESPECIALIDADES NO HPV Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Pulido Valente 12 anos de actividade (1 de Junho 1998 – 15 de Julho 2010) Maria Teresa Magalhães Godinho1 ıı INTRODUÇÃO O Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Pulido Valente fez parte durante muitos anos do Departamento de Pneumologia, até que em Fevereiro de 2002 passou a integrar o Departamento de Cirurgia recém-criado. A organização do Hospital SA suprimiu os Departamentos, que foram repostos após a transformação do Hospital em EPE, e o Serviço de Cirurgia Torácica voltou a estar incluído no Departamento de Cirurgia. Em 2008, foi constituído o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, agregando o Hospital de Santa Maria (HSM) e o Hospital de Pulido Valente (HPV). No Regulamento posteriormente elaborado, o Serviço de Cirurgia Torácica do HPV passava a pertencer ao Departamento de Tórax, juntamente com o Serviço de Cirurgia Cardio-Torácica do HSM, a Pneumologia I (HSM) e II (HPV), a Cardiologia I (HSM) e a Cardiologia II (HPV). De 1 de Junho de 1998 a 15 de Julho de 2010, dirigi o Serviço de Cirurgia Torácica do HPV. Em 15 de Julho de 2010, fui nomeada Directora do Departamento do Tórax. Deixei a Direcção do Serviço de Cirurgia Torácica que perdeu o seu estatuto de Serviço, passando a ser considerado uma Unidade agregada ao Serviço de Cirurgia Cardio-Torácica e orientada por um Coordenador. Neste ponto de viragem da minha vida e da Cirurgia torácica no HPV, penso que deve ser feita uma reflexão sobre os anos que se passaram. Assumi a Direcção do Serviço de Cirurgia Torácica, em 1 de Junho de 1998, por aposentação do anterior Director - Doutor Luiz Leite de Noronha -, e cerca de 11 anos e meio após nos transferirmos do Hospital de Santa Maria para o Hospital de Pulido Valente (Janeiro de 1987), na sequência do convite feito a Luiz Leite de Noronha para vir dirigir o Serviço. Recebi um Serviço muito diferente daquele que tínhamos encontrado à nossa chegada. Em Janeiro de 1987, as instalações ocupadas pelo Serviço estavam muito degradadas, o grupo de trabalho estava desmotivado, a rentabilidade era baixa. Em Junho de 1998, já ocupávamos as actuais instalações (as terceiras desde 1987), o Serviço estava em pleno desenvolvimento. O número de intervenções tinha passado de 180 em 1986 para 433 em 1997 e as Consultas Externas de 700-800 para 2763 nesse mesmo ano. Baixara drasticamente a demora média, inicialmente de 18,8 dias, para 6,5 dias em 1997, a taxa de ocupação rondava os 65%, a mortalidade fora de 0,4% nos 3 últimos anos. Continuávamos contudo a operar num Bloco completamente obsoleto, em condições que ainda se agravaram nos primeiros anos da minha Direcção, com progressiva redução das salas utilizáveis e dos tempos operatórios, provocando uma quebra do nosso movimento cirúrgico, que culminaria em 2002, antes de, graças à entrada em funcionamento do novo Bloco Operatório, podermos retomar em pleno a nossa actividade. ıı INSTALAÇÕES E ORGÂNICA DO SERVIÇO O Serviço de Cirurgia Torácica encontra-se actualmente nas instalações para que nos mudámos em 1997-98, e que correspondiam à antiga Cardiologia. Sofreram apenas algumas pequenas obras de melhoramento (Unidade Intermédia, Sala de Pensos, etc.) que só mais tarde incluiriam a zona de gabinetes. A lotação do Serviço é de 23 camas (22 distribuídas por 4 salas e 1 quarto isolado). O Serviço dispõe de uma Unidade de cuidados pós-operatórios (dita Unidade Intermédia) de 5 camas monitorizadas e com Unidade Central na sala de Enfermagem. No que respeita a Recursos Humanos médicos, o Serviço tinha em Junho de 1998, 1 Chefe de Serviço (eu), 6 assistentes Hospitalares graduados e 3 Assistentes eventuais. Foram abertos Concursos para Chefes de Serviço (em 1998 e novamente em 2006) e para Assistentes (1999). Contudo ao longo dos anos, saíram 5 cirurgiões “feitos” 1. Cirurgião Torácico, Directora do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Pulido Valente (1998-2010); Directora do Departamento do Tórax do CHLN; Professora Associada com Agregação, convidada da FCM da UNL. 38 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 SERVIÇO DE CIRURGIA TORÁCICA DO HOSPITAL DE PULIDO VALENTE (um para outro Hospital e 4 por reforma) e no início de 2010, um jovem cirurgião foi para o estrangeiro. Encontravam-se assim no serviço, em Julho de 2010, 1 Chefe de Serviço (eu própria), três Assistentes Graduados, um Assistente eventual, e uma especialista contratada. Havia ainda 2 internos do Complementar a trabalhar connosco. único serviço em Portugal dedicado exclusivamente ao diagnóstico e tratamento das doenças cirúrgicas não cardíacas do tórax. Relativamente ao número de enfermeiros, havia em 1998 15 enfermeiros (1 Enfermeira chefe, 1 Especialista, e 13 enfermeiros de escala dos quais 6 graduados) e em 2010, dispúnhamos de 16 enfermeiros (incluindo o Enfermeiro Chefe). • Vídeo-toracoscopia e Cirurgia Assistida por vídeo-toracoscopia, em que fomos pioneiros em Portugal. Esta via é utilizada essencialmente no tratamento dos pneumotoraces, no diagnóstico e tratamento de derrames pleurais recidivantes, em biopsias pulmonares e pleurais, estadiamento do Cancro do pulmão e do mesotelioma maligno da pleura, diagnóstico e tratamento do nódulo pulmonar solitário, simpaticotomia torácica (na hiperhidrose palmar). A Reabilitação funcional respiratória estava em 98 confiada a um dos enfermeiros, passando posteriormente a ser da responsabilidade de duas Fisioterapeutas adstritas ao Serviço. Existe apenas uma Secretária de Unidade (duas durante uma breve fase). Completam o “staff” do Serviço 10 a 12 Auxiliares de Acção Médica. No fim do período em análise, o Serviço dispunha no Bloco Operatório central de uma sala 30 horas por semana, repartidas de segunda a quinta-feira. Os doentes após a intervenção passam todos pela UCAPO (Unidade de Cuidados Anestésicos e Pós-operatórios), onde permanecem um número variável de horas. Actualmente são na maioria dos casos transferidos para a nossa Unidade no próprio dia. Se em 1998 tínhamos 5 períodos de Consulta (4 de Cirurgia Torácica geral e 1 de Tumores do Mediastino, Consulta criada em 1997), em Janeiro de 2010 eram 10 de Cirurgia Torácica geral e 1 dedicado aos doentes portadores de Tumores do Mediastino. É sobre o Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Pulido Valente durante os 12 anos da minha Direcção (entre 1 de Junho 1998 e 15 de Julho de 2010) que iremos falar. ıı MISSÃO DO SERVIÇO Afirmámos como missão para o Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Pulido Valente o diagnóstico e tratamento cirúrgico dos doentes portadores de doenças torácicas não cardíacas, de acordo com a melhor prática à luz dos conhecimentos actuais, e segundo os princípios éticos e de qualidade. Empenhámo-nos no desenvolvimento da Especialidade e na introdução de novas tecnologias e técnicas que melhorassem essa prática e na transmissão de conhecimentos aos mais novos no âmbito do ensino pré e pós-graduado. ıı ÂMBITO DE ACTUAÇÃO E ÁREA DE INFLUÊNCIA A patologia abrangida inclui todas as doenças não cardíacas do tórax, passíveis de tratamento cirúrgico: patologia da parede torácica, do diafragma, pleural, pulmonar, traqueo-brônquica, mediastínica e eventualmente esofágica. À excepção da Transplantação pulmonar, realizam-se no Serviço todos os actos cirúrgicos de diagnóstico e terapêutica de Cirurgia Torácica Geral. Saliente-se (aspecto relevante) que se trata do O Serviço adquiriu durante estes anos particular experiência em: • Diagnóstico e tratamento dos Tumores do Mediastino • Tratamento do Cancro do pulmão • Tratamento das metástases pulmonares. No que respeita a área de influência, o Serviço recebe essencialmente doentes de todo o sul do País (incluindo Ribatejo) e Ilhas, além da região de Lisboa. Recebemos também esporadicamente doentes vindos de países africanos de língua portuguesa. Esta “rede” foi por nós construída ao longo dos anos, graças à actuação e contactos dos médicos do Serviço e ao prestígio adquirido e tem como suporte importante os médicos que fizeram estágios no nosso Serviço. ıı ACTIVIDADE ASSISTENCIAL REALIZADA NOS ÚLTIMOS 12 ANOS (1 DE JUNHO 1998 - 15 JULHO 2010) Consideraremos sucessivamente a Actividade operatória desenvolvida - focando as suas diversas características -, o Internamento com seus indicadores, e as Consultas. ACTIVIDADE OPERATÓRIA Entre 1 de Janeiro de 1998 e 15 de Julho de 2010, foram realizadas 5966 intervenções, cuja distribuição anual está representada na Figura 1. De 1 de Junho 1998 a 15 de Julho de 2010, foram contabilizadas 5759. Algumas destas intervenções cirúrgicas foram realizadas em regime adicional, para suprir à falta de disponibilidade horária dos cirurgiões e para cumprir tempos de espera, apesar de não me parecer esta a melhor solução. Assim foram operados neste regime 46 doentes em 2008 (9% das intervenções), 58 em 2009 (10%) e 27 doentes em 2010 (até 15 de Julho) (10%). Tradicionalmente, as listas de espera de Cirurgia torácica geral nunca são muito grandes, essencialmente devido à preponderância de doenças neoplásicas que evidentemente não se compadecem com esperas muito demoradas. No quadro seguinte, assinalam-se os dados das listas de espera nos últimos 3 anos. A distribuição por diferentes tipos de intervenção, mostra um predomínio claro da Cirurgia de Ressecção pulmonar (quase 60% das Cirurgias realizadas) (Figura 2). A Cirurgia do Mediastino ocupa o segundo lugar. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 39 CENTROS E ESPECIALIDADES NO HPV 600 500 400 300 200 100 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Figura 1 Número de intervenções realizadas entre 1998 e 15 de Julho de 2010. De 1998 a 2002, nota-se uma redução do número de intervenções devido ao agravamento progressivo das condições no B.O. A partir de 2003, graças à entrada em funcionamento do novo B.O., a nossa actividade retoma o seu crescimento, mantendo-se o número de intervenções acima das 500 anuais até 2009. Em 2010, apenas contabilizámos as intervenções até 15 de Julho, ou seja praticamente as do 1º semestre. 30-06-2008 31-12-2008 30-06-2009 31-12-2009 30-06-2010 42 52 63 75 90 54,00 84,00 42,00 75,00 57,00 Nº inscritos Mediana tempo espera (dias) Quadro 1 Listas de espera em Cirurgia Torácica, 2008-2010 4% 3% Quanto às intervenções que incluímos na Cirurgia do Mediastino, a discriminação está representada no gráfico da Figura 4. 4% 58% 13% 18% Cir.Pulmonar Cir.Mediastino Parede e Diafragma Cir.Pleura Simpático Outros Figura 2 Tipos de intervenções realizadas (distribuição por grandes grupos) entre 1 de Junho 1998 e 15 de Julho 2010. A Figura 3 mostra a importância relativa das diferentes ressecções pulmonares. Assinale-se ainda que as Toracotomias exploradoras/diagnósticas representaram apenas 4% das intervenções de Cirurgia Pulmonar. 40 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Num total de 1026 intervenções executadas de 1 de Junho 98 até 15 de Julho de 2010, 540 corresponderam a Mediastinoscopias para Estadiamento do Cancro do Pulmão ou para diagnóstico de adenopatias mediastínicas (Sarcoidose, Tuberculose, etc.), enquanto 389 correspondem a Cirurgia dos Tumores do Mediastino (diagnóstica e curativa) e a Cirurgia não tumoral do Timo (Timectomias por Miastenia Grave, Hiperplasia). As intervenções referidas como da Tiroideia (58) referem-se evidentemente a Cirurgia de tiroideias endotorácicas (Bócios Mergulhants e Ectópicos, neoplasias em tiroideia endotorácica). À Cirurgia de drenagem pericárdica (38), realizada habitualmente como urgência ou urgência diferida, agregámos um caso de drenagem do Mediastino, para resolução de mediastinite purulenta pós amigdalite. Voltaremos a falar da Cirurgia dos Tumores do Mediastino mais adiante, a propósito das patologias em que temos particular experiência. INTERNAMENTO – VOLUME DE DOENTES Em 2010, apenas contabilizámos o número de doentes saídos até 15 de Julho, ou seja 306, Figura 5. O número total de doentes saídos em 2010 foi de 566. SERVIÇO DE CIRURGIA TORÁCICA DO HOSPITAL DE PULIDO VALENTE 7% 4% 8% 6% 4% 52% 25% 4% 34% 47% 9% Mediastinoscopias Mediastinotomias anteriores Pneumectomias Res.segmentares/atípicas Outras biópsias Ressecção de tumores Toract.expl/diagn. Lobectomias e bilobectomias Cirurgia Tiroideia Drenagem/janela pericárdica/mediastino Biópsias pulmonares Figura 3 Tipos e percentagens relativas de ressecções pulmonares e toracotomias exploradoras ou diagnósticas (em lesões pulmonares). Figura 4 Cirurgia do Mediastino. 700 600 500 400 300 200 100 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Figura 5 Doentes saídos. Consideram-se apenas os números a partir de 2003, dado que antes de 2003, os cálculos eram feitos de modo diferente. Caracterização do Internamento Os dados referidos no Quadro 2 são dados oficiais, fornecidos pelo Gabinete de Planeamento e Informação de Gestão do HPV/CHLN, à excepção das Complicações. As diferenças introduzidas nas sucessivas edições da Tabela Nacional de Grupos de Diagnóstico Homogéneo (GDH) explicam em parte a variação do Case-mix, e contrariamente às aparências não houve descida da complexidade dos casos tratados ao longo destes anos. O GDH mais frequente está desde sempre relacionado com os Procedimentos torácicos major. Inicialmente estes casos estavam englobados no GDH 75, mas actualmente distribuem-se pelo 538 (que representa 47% dos GDH dos nossos doentes), 539, 75, 76 e 77. Se quisermos aprofundar um pouco mais a caracterização dos nossos doentes, verificamos que há um predomínio nítido do sexo masculino (nos últimos 3 anos e meio do período em análise, houve 37,6% de doentes do sexo feminino, percentagem que se cifrou quase sempre nos 35-36% excepto em 2008, em que ultrapassou os 42%), e que a idade média desses doentes é de 53,3 anos. A admissão é quase exclusivamente programada (2,3% de admissões urgentes), as altas são em 96,7% dos casos dadas para o domicílio. Os episódios codificados como “médicos” correspondem a 20%, a demora média foi de 7,80 dias, com uma demora média pré-operatória de 1,6 dias. A taxa bruta de mortalidade foi 0,7%, a de complicações 6,4% (sem complicações “sentinela”) e a de re-admissões 0,7%. O Peso médio é de 1,8821 e o peso relativo de 1,0466. Estes dados foram elaborados pela Iametrics, a partir da análise de 2007 altas, ocorridas no Serviço, entre 1 Janeiro 2007 a 30 Junho 2010. A média de diagnósticos por alta é de 3,6. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 41 CENTROS E ESPECIALIDADES NO HPV 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010**** Doentes saídos 457 566 533 549 578 559 638 306 Taxa ocupação nd nd nd 59,1% 59,9% 55,3% 60% 60,4% Demora Média* nd nd nd 7,4 7,1 7,1 7,04 8,90 Taxa reinterna-mento** nd Case-mix nd nd 2% 2.8% 1,6% 1,3% 1,0% 3,6 3,4 3,29 2,69 1,98 2,04 2,01 Mortalidade 0,7% 1,4% 3% 0,2% 0,5% 0,9% 0,8% 0,7% Complicações*** 10,5% 7,6% 7,3% 7,8% 5,5% 7% 5,5% 7,4% *Sem transferências. **Inferior a 72 horas. ***Dados fornecidos pela IASIST. ****Dados a 15 de Julho 2010 Quadro 2 Dados gerais do Internamento, de 2003 a 2010. 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Figura 6 Evolução do número anual de Consultas entre 1998 e 15 de Julho 2010. Consultando os nossos dados anteriores, verificamos que houve um aumento substancial do número de doentes e do número de operações, com um decréscimo apreciável da demora média (menos 2 dias de 2003 – 10,7 dias – para Junho 2010 – 8,7 dias), com redução da demora média pré-operatória estabilizada nos 1 a 2 dias. Os parâmetros de qualidade – taxas de mortalidade, complicações, readmissões – mantiveram-se praticamente aos mesmos níveis desde o início, com mortalidade inferior a 1%, complicações cerca de 7% e menos de 15 de readmissões nas primeiras 72 horas. Estes dados e a sua constância (ou melhoria) associados à complexidade das intervenções realizadas são garante e testemunho da qualidade dos cuidados prestados. CONSULTAS Repartem-se entre Consultas de Cirurgia Torácica geral e Consultas de Tumores do Mediastino e entre Consultas de primeira vez e Consultas subsequentes, que correspondem na sua grande maioria a Consultas de follow-up dos doentes operados. O número de Consultas começou a subir a partir de 2004, para se situar claramente acima das 3000 Consultas anuais a partir de 2007, acompanhando-se da subida concomitante da percentagem relativa de primeiras Consultas, em relação aos anos anteriores. 42 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Diga-se contudo que não é possível equiparar primeiras Consultas a novos doentes, face à variação no conceito administrativo de Primeiras Consultas. A Consulta dedicada aos doentes portadores de Tumores do Mediastino teve início em Abril de 1997. São vistos por ano cerca de 200 doentes e as suas características fizeram objecto de um artigo publicado no Boletim do HPV em 2009 (Consulta de Tumores do Mediastino 1997-2007). Em 2008, foram realizadas 224 Consultas (das quais 54 primeiras) e em 2009, 234, das quais 46 primeiras. Em 2010, 128 Consultas até 15 de Julho, das quais 27 primeiras (209 no total do ano com 28 primeiras). PRINCIPAIS ASPECTOS CLÍNICOS DA ACTIVIDADE ASSISTENCIAL Os tipos de patologias por nós tratadas com mais frequência e os tipos de intervenções realizadas têm sofrido alguma variação, acompanhando por um lado o crescimento ou retrocesso de algumas doenças (Cancro do Pulmão em detrimento de supurações pulmonares por exemplo), por outro a evolução das diferentes técnicas e indicações terapêuticas. Como ficou dito atrás, temos adquirido especial experiência em alguns campos da Cirurgia Torácica Geral (não cardíaca). Gostaríamos de tecer mais uns comentários sobre estes pontos. SERVIÇO DE CIRURGIA TORÁCICA DO HOSPITAL DE PULIDO VALENTE 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Figura 7 Evolução da percentagem anual de primeiras consultas entre 1998 e 15 de Julho de 2010. 9 15 3 2 10 92 36 3 19 28 Neo PP Metast pulm Supurções P Tum Mediast Pneumotorax Enfisema bolhoso 15 15 Pat pleura Dça pulm difusa Adenopa med não neopl Lesões pde Tuberculose Outras Figura 8 Patologias tratadas em 2006. As Neoplasias primitivas do Pulmão representam nesse ano, 28% e as metástases pulmonares mais 5%. 11% dos doentes tinham tumores do Mediastino. Figura 9 Patologias tratadas de 1 Janeiro 2010 a 15 de Julho 2010. Ao analisarmos os gráficos em que discriminámos os tipos de Patologia tratadas mais frequentes, sobressaem desde logo algumas doenças. A Cirurgia do Cancro do Pulmão que de há muito representa a maior percentagem de doentes por nós tratados, desde sempre despertou o nosso interesse. A acção do Cirurgião pode ser terapêutica (curativa ou paliativa como nos derrames pleurais neoplásicos), ou apenas diagnóstica como nas mediastinoscopias e muitas videotoracoscopias. As ressecções têm-se tornado por um lado mais extensas (englobando parede, vias aéreas, vasos), por outro é frequente recorrer a artifícios como as broncoplastias para poupar parênquima. O Estadiamento correcto pré-operatório (TC, PET, EBUS, mediastinoscopia) tem constituído preocupação constante como também o estadiamento intra-operatório, com o esvaziamento ganglionar mediastínico. Procuramos seguir as indicações e normas publicadas pelas Sociedades Europeias. Os primeiros casos por nós tratados de neoplasias do pulmão após quimioterapia de indução datam já do início de 1989 e foram apresentados em 1990. Desde então, entraram nas nossas opções de rotina. Os gráficos das Figura 8 e 9 confirmam que a proporção de lesões malignas tem aumentado nestes últimos anos. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 43 CENTROS E ESPECIALIDADES NO HPV De referir ainda que progressivamente a Cirurgia Pulmonar oncológica tem também vindo a incluir além dos tumores primitivos do pulmão, cada vez maior número de metástases pulmonares de tumores com outra origem. Outro campo abordado na Cirurgia Torácica oncológica foi o do tratamento cirúrgico dos mesoteliomas malignos da pleura. Animados pelos trabalhos de David Sugarbaker sobre a terapêutica multimodal dos mesoteliomas e coincidindo com um número crescente de doentes com esse diagnóstico a quem até então havia muito pouco a oferecer, pretendemos implementar no Serviço o tratamento dessas situações, do diagnóstico até à terapêutica, numa abordagem que tinha forçosamente de ser multidisciplinar. Fizemos algumas apresentações sobre o tema e em 2005 o Serviço subsidiou a ida de 2 dos cirurgiões a Boston, para se familiarizarem com o processo, tendo-se desde então operado diversos doentes. Devido ao meu interesse e ao meu empenho pessoal, o Serviço tornou-se no País referência para o diagnóstico e tratamento dos Tumores do Mediastino. A eles dedicámos grande parte dos nossos trabalhos de investigação e reunimos uma casuística pessoal e institucional importante, reconhecida além fronteiras, e que está na origem de muitos convites para conferências, palestras, etc. e também de publicações. Foi sobretudo a abordagem dos tumores malignos do Mediastino anterior que despertou a nossa atenção. Preocupámo-nos em obter um diagnóstico mais afinado, um estadiamento mais completo e uma terapêutica mais correcta, melhorando o prognóstico destes doentes. Salientemos que começámos em 1995 a fazer Cirurgia dos Timomas pós-quimioterapia em estádios localmente avançados e realizámos no inìcio de 2010 as primeiras cirurgias alargadas em casos de Timomas com infiltração ou implantação pleural extensa. Muito menos frequentes que os Timomas e de prognóstico muito mais fechado são os Tumores germinativos malignos. Com terapêutica multimodal, conseguimos contudo melhorar a sobrevida destes doentes e mesmo obter algumas”curas”. O Serviço de Cirurgia Torácica foi pioneiro em Videotoracoscopia, abordagem que se iniciou ainda sob a Direcção de Luiz Leite de Noronha (378 intervenções realizadas entre Abril de 1992 e Abril de 1998) e que viria a ter grande desenvolvimento no tratamento dos pneumotoraces, dos derrames pleurais neoplásicos para pleurodese, no diagnóstico de lesões pulmonares difusas, na ressecção de lesões benignas e ainda na realização de simpaticotomias para tratamento da hiperhidrose. Os Cirurgiões do Serviço mostraram-se sempre interessados na aplicação de novas técnicas e utilização de novo instrumental. Damos como exemplo a correcção de deformações torácicas pela técnica de Nuss ou a familiarização com o material idealizado por Jean-Marie Whilms para correcção ou reconstrução da parede torácica. Outros procedimentos cirúrgicos como a Cirurgia de Redução de Volume e a Cirurgia da Traqueia não tiveram o desenvolvimento esperado. A primeira pelo número reduzido de doentes seleccionados para tratamento cirúrgico e ausência de um programa completo de acompanhamento de doentes com DPOC. A segunda, limitada às ressecções por estenose e tentada em colaboração com um cirurgião dedicado a cirurgia do pescoço, pelas complicações, reintervenções e longos internamentos que a caracterizaram; de referir aliás que nunca se tratou de lesões francamente intra-torácicas, mas sim da transição cervico-torácica. ıı ENSINO PRÉ E PÓS-GRADUADO. INVESTIGAÇÃO O número de Internos que pediram para estagiarem no nosso Serviço por períodos mais ou menos longos cifrou-se nos 10 a 12 por ano, entre Internos de Pneumologia, de Cirurgia geral ou de outras Especialidades cirúrgicas, com as proveniências mais diversas (7 em 2008, 11 em 2009 e 6 no primeiro semestre de 2010). Quanto ao Ensino pré-graduado, o Serviço manteve-se afiliado à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, graças ao facto de eu ser Professora Associada de Cirurgia nessa Faculdade e Regente do 6º Ano de Cirurgia (Estágio). Assim e par além de terem palestras proferidas por mim e por elementos por mim designados, os alunos durante este período frequentaram o Serviço cada um durante uma semana, para terem a possibilidade de contactar especialidades diferentes. Não existe contudo no Serviço nenhum outro elemento com carreira académica ou ligado ao Ensino Superior. Durante este período, dei também a todas as turmas de Pneumologia do 5º ano da FCM, uma palestra sobre Tumores do Mediastino. Além do Ensino e a ele intimamente ligada, a investigação é uma prática importante num Hospital que se quer Universitário. Não é porém fácil e só os mais interessados se dedicam a pesquisas em regra relacionadas com temas clínicos. ıı TRABALHOS PUBLICADOS1 ARTIGOS EM REVISTAS Maria Teresa Magalhães Godinho. Abordagem diagnóstica e orientação terapêutica nos tumores do Timo. Boletim do HPV 2:47-58, 1998. Maria Teresa Magalhães Godinho. Cirurgia da Tuberculose Multirresistente (texto da Conferência proferida no XIV Congresso de Pneumologia). Rev Port Pneumologia V(1): 35-50, 1999. Maria Teresa Magalhães Godinho. Tumores invasivos do Mediastino anterior (texto da Lição de Agregação). Rev Port Pneumologia V (3): 267-311, 1999. Maria Teresa Magalhães Godinho. Tumor residual na margem de ressecção brônquica em doentes operados por neoplasia do pulmão. Boletim do HPV XII (4) : 145-153, 1999. Maria Teresa Magalhães Godinho. A Cirurgia torácica nos últimos 100 anos. Mundo Médico, 12 a 15 Novembro 2000. Maria Teresa Magalhães Godinho, João Paulo Fernandes, Madalena Ramos, Emílio Moreira, Francisco Félix. Linfoma B Difuso de 1. Durante o período em análise, ou seja 1 de Junho 1998 a 15 de Julho de 2010. Apenas fazemos aqui referência a trabalhos publicados. As apresentações orais poderão ser encontradas nos curricula individuais dos diferentes elementos do Serviço. 44 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 SERVIÇO DE CIRURGIA TORÁCICA DO HOSPITAL DE PULIDO VALENTE Grandes Células Esclerosante do Mediastino. Rev Port Pneumologia VII (2) : 125-137, 2001. A P Marques, J Raposo, I Mendes, L Quaresma, A Severino, J Leitão, A Mouro. Esplancnicectomia por vídeo-toracoscopia no controlo da dor por pancreatite crónica. Rev Port CCTV, vol.8 (nº21):23-25,2001. MT Magalhães Godinho. Relações da Cirurgia Geral com a Cirurgia Torácica. Rev Port CCTV X(1): 13-15, 2003. (Texto da participação na Sessão “As relações contemporâneas da Cirurgia Geral com as diversas especialidades cirúrgicas:educação e formação profissional” realizada no VIII Congresso Internacional da SPCCTV, Outubro-Novembro 2002. Maria Teresa Magalhães Godinho. Cirurgia alargada do CPNPC. Vale a pena? Boletim do Hospital de Pulido Valente, XVI : 129, 2003. MA Fonseca, J Castaño, F Medeiros, AC Nunes, MT Magalhães Godinho, J Martins Pisco. Pneumonias intersticiais idiopáticas (I) Considerações gerais e Pneumonia intersticial de tipo usual. Acta Radiológica Portuguesa, XV, nº60, 23-26,2003. MA Fonseca, J Castaño, F Medeiros, AC Nunes, MT Magalhães Godinho, J Martins Pisco. Pneumonias intersticiais idiopáticas (II) - As Pneumonias de tipo não usual. Acta Radiológica Portuguesa, XV, nº60, 27-31, 2003. MT Magalhães Godinho. Relações da Cirurgia Geral com a Cirurgia Torácica. Rev Port CCTV X (1): 13-15, 2003 Isilda Mendes. A Cirurgia das Metástases Pulmonares. Boletim do Hospital de Pulido Valente, XVIII: 31-33, 2005. Maria Teresa Magalhães Godinho. Avanços e desafios na abordagem cirúrgica da patologia pulmonar. Boletim do Hospital de Pulido Valente, XVIII (nº2/3): 49-55, 2005. MT Magalhães Godinho, F Félix, C Rodrigues. Neurinoma gigante do Mediastino anterior. Imagem comentada. Boletim do Hospital de Pulido Valente, XVIII (nº4):128-129, 2005. MT Magalhães Godinho. Consulta de Tumores do Mediastino. Dez anos de funcionamento (1997-2007).Boletim do HPV, nº1, 24-27, Janeiro-Dezembro 2009. MT Magalhães Godinho. O que foi o projecto GIFIE. Boletim do HPV nº1, 28-34, Janeiro-Dezembro 2009. MT Magalhães Godinho, Francisco Félix, Ulisses Brito, João Luís Raposo de Almeida,Madalena Ramos. Criptococoma Mediastínico. Caso Clínico. Boletim do HPV nº1, 28-34, Janeiro-Dezembro 2009. Maria Teresa Magalhães Godinho. In Tratado de Pneumologia, MJ Marques Gomes e Renato Sotto Mayor ed., Permanyer, Lisboa 2003. Capítulo Traumatismos Torácicos (editora e autora). Maria Teresa Magalhães Godinho. In Tratado de Pneumologia, M.João Marques Gomes e Renato Sotto Mayor ed., Permanyer, Lisboa 2003. Capítulo Doenças do Mediastino (editora e autora). Luiz Leite de Noronha e Maria Teresa Magalhães Godinho. In Tratado de Pneumologia, M.João Marques Gomes e Renato Sotto Mayor ed., Permanyer, Lisboa 2003. Colaboração no Capítulo Doenças da Pleura. Maria Teresa Magalhães Godinho. In Cirurgia. Patologia e Clínica (2ª edição). C Alves Pereira e Joaquim Henriques ed. MC Graw Hill, Lisboa 2006. Capítulo Traumatismos torácicos (pp .313-320) Maria Teresa Magalhães Godinho. In Cirurgia. Patologia e Clínica (2ª edição). C Alves Pereira e Joaquim Henriques ed. MC Graw Hill, Lisboa 2006. Capítulo Neoplasias do Pulmão (pp 321-328) Maria Teresa Magalhães Godinho. In Cirurgia. Patologia e Clínica (2ª edição). C Alves Pereira e Joaquim Henriques ed. MC Graw Hill, Lisboa 2006. Capítulo Mediastino (pp 329-336) Maria Teresa Magalhães Godinho. In Cirurgia. Patologia e Clínica (2ª edição). C Alves Pereira e Joaquim Henriques ed. MC Graw Hill, Lisboa 2006. Capítulo Supurações pulmonares cirúrgicas (pp 337-341) Maria Teresa Magalhães Godinho. In Atlas de Pneumologia, A. Segorbe Luís e R. Sotto Mayor ed., (SPP), Permanyer, Portugal, 2009. Tumores do Mediastino. João Bernardo e Isilda Mendes. In Atlas de Pneumologia, A. Segorbe Luís e R. Sotto Mayor ed., (SPP), Permanyer, Portuga, 2009. Cirurgia Torácica. NORMAS DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO PUBLICADAS Normas de tratamento do Pneumotórax Espontâneo. Boletim do Hospital de Pulido Valente, XVIII: 121-122, 2005. EDITORIAIS EM REVISTAS MT Magalhães Godinho. Boletim Informativo da Faculdade de Ciências Médicas, Nova Medicina, nº 8 a 11, 2001-2002. MT Magalhães Godinho. In Memoriam. Prof. Jaime Celestino da Costa (16/09/1915 – 02/02/2010). Revista da SPCCTV, nº1, Janeiro 2011. MT Magalhães Godinho. Editorial. Boletim do HPV. XVI nº2, pg. 5354, Abril-Junho 2003. MONOGRAFIAS E CAPÍTULOS EM LIVROS DE TEXTO MT Magalhães Godinho. Internatos. Nova Medicina, ano IX nº14, Outubro/Dezembro 2004. Maria Teresa Magalhães Godinho. Capítulos Traumatismos torácicos, Mediastino e Tumores do Pulmão in Alves Pereira ed. Cirurgia - Patologia e Clínica, McGraw Hill, Lisboa, 1998. Maria Teresa Magalhães Godinho. Tumores do Mediastino (Monografia ed. pela SPP). 1999. Maria Teresa Magalhães Godinho e Luiz Leite de Noronha. Cirurgia da Tuberculose, in A Tuberculose na viragem do milénio, ed. Jaime Pina, LIDEL, 2000. MT Magalhães Godinho. Hospitais SA. Nova Medicina, ano IX nº13, Julho/Setembro 2004. MT Magalhães Godinho. Editorial. Boletim do HPV XVIII, nº2/3, pg 47, Junho-Agosto 2005. MT Magalhães Godinho. Especialização, Resultados e Qualidade de Cuidados prestados. Editorial Boletim do HPV XXII, nº1, pg. 5-6, Jan-Dez 2009. MT Magalhães Godinho. “Desdobramento” da Cirurgia Cardio-Torácica. Editorial. Boletim HPV, XXIII, nº1, pg 5,Jan-Dez 2010. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 45 CENTROS E ESPECIALIDADES NO HPV ıı ORGANIZAÇÃO DE REUNIÕES CIENTÍFICAS 7º Simpósio de Actualização em Cirurgia Torácica, em Abril de 1998. Os temas tratados foram: Cancro do Pulmão, Tumores do Timo, Problemas éticos da decisão terapêutica em Oncologia. 8º Simpósio de Actualização em Cirurgia Torácica, subordinado ao Tema Problemas, Dificuldades e Complicações em Cirurgia Torácica, em 24 e 25 Junho de 1999. 9º Simpósio de Actualização em Cirurgia Torácica, cujos temas foram Cancro do Pulmão. Mesoteliomas da Pleura, realizado em 9 e 10 de Maio de 2002. Reunião de Pneumologistas do HPV, Dezembro 2003, em conjunto com a Unidade de Técnicas do Departamento de Pneumologia do HPV. Curso de Patologia Torácica Maio de 2010, em conjunto com os Serviços de Anatomia Patológica e Pneumologia do HPV. ıı CONCLUSÕES Estes anos não foram anos de tranquilidade. Começámos a dirigir um Serviço independente, inserido de modo muito liberal num Departamento de Pneumologia. Dois anos depois criava-se o Departamento de Cirurgia que englobava o Serviço, ambos dirigidos por mim. O Hospital de Pulido Valente era então um Hospital autónomo, público, dirigido pelo Prof. Ramiro Ávila e afiliado à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. O Hospital herdeiro do Sanatório do Lumiar tinha evidentemente muitos condicionalismos e problemas alem de instalações vetustas, mas sofreu melhoramentos importantes. Quando tomei conta do Serviço, ele estava já instalado na antiga Cardiologia. O Bloco Operatório era ainda o primitivo, cada vez com mais problemas, que se reflectiram na nossa actividade inicial. Em 2002, contudo, ficou pronto o Bloco Novo, com muito mais potencialidades, e iniciou-se também a construção do Edifício Escolar na cerca do Hospital. Em 2003, o Hospital foi transformado em Hospital SA, mudou a Administração e todo o modo de gestão. Depois de uma fase em que se receou pela própria existência do Hospital, este renasceu, em grande parte graças à entrada em funcionamento do Bloco Novo e ao acréscimo da actividade cirúrgica que proporcionou. Em 2005, nova mudança com passagem a EPE, novamente receios de desactivação do hospital. Finalmente, a partir de Março 2008, o Hospital de Pulido Valente passa a integrar o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, e ocorrem algumas alterações e várias adaptações. Em 2009, nota-se novamente grande actividade no Hospital e início de vários melhoramentos. Mas os períodos de bonança e desenvolvimento nunca foram longos e a crise nacional actual já se faz sentir. 46 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Nestes anos, deram-se várias modificações na gestão do Hospital e dos Serviços, e os Directores que faziam antes um acompanhamento quase exclusivamente clínico viram-se chamados cada vez mais a encarar problemas de produção, recursos, etc. O desenvolvimento da Informática e a introdução de uma série de aplicações veio facilitar muito esse trabalho, mas não teve paralelo na organização clínica, ou seja os indicadores de que dispomos referem-se a produção, produtividade, eficiência, por vezes qualidade, mas não traduzem os aspectos clínicos. Não foi introduzida uma aplicação que permita trabalhar esses dados. A própria codificação dos diagnósticos e intervenções é por vezes vaga e deixa perder muitos elementos, não permitindo facilmente pesquisas clínicas. Outro aspecto é a mudança das mentalidades, com um conceito da Medicina diferente, mais técnica e menos humanista, e uma perda de valores. A Medicina para muitos deixou de ser uma Missão para ser um emprego. Os doentes passaram a clientes, e as reivindicações dos médicos e outros profissionais hospitalares revestem as características de qualquer grupo sindicalizado. A extinção progressiva dos lugares do Quadro do Hospital, o desaparecimento de uma carreira com diversos graus e provas para os conquistar, a não existência de um sistema de avaliação que venha colmatar esta ausência, a substituição dos Concursos de entrada por contratos de trabalho negociados com pouca interferência dos Directores de Serviço, tendem a alterar as relações entre os elementos do Serviço e abolir hierarquias baseadas em competência e experiência. Se a investigação básica e translacional veio tornar a Medicina mais Científica, o desenvolvimento de novas técnicas e instrumental, quer com fins diagnósticos quer com fins terapêuticos, tornou-a muito mais tecnicista e encareceu-a sobremaneira. Outra consequência foi o distanciamento do médico e do doente, que passou a ser visto através de exames e computadores, reduzindo-se ao mínimo o contacto físico. Muitos cirurgiões apenas se preocupam com o número de doentes operados, não têm tempo nem vocação ou aptidão para discutirem os problemas e os diagnósticos, reflectirem sobre os casos e aprenderem com a experiência e inclusivé com os erros cometidos. Assim a produção científica é escassa, de pouco fôlego, e é difícil captá-los para uma carreira académica e ainda mais para projectos de investigação, o que faria todo o sentido num Centro Hospitalar com as características do CHLN. Finalmente não deixa de ser irónico constatar que é quando, como cirurgiões torácicos gerais, vemos satisfeita a nossa pretensão de longa data da separação das Especialidades Torácica e Cardíaca, que o Serviço de Cirurgia Torácica do HPV, durante anos referência nacional da Cirurgia Torácica Geral, é “despromovido”, reduzido a Unidade, com uma sobrevivência periclitante. VIA SUBCUTÂNEA EM CUIDADOS PALIATIVOS: TEORIA E PRÁTICA VIA SUBCUTÂNEA EM CUIDADOS PALIATIVOS: TEORIA E PRÁTICA Subcutaneous Medication in Palliative Care: Theory and Practice Belchior, Alexandra1; Calixto, Diana2; Duarte, Rita3; Oliveira, Maria João4; Palma, Dora5 Resumo No contexto dos cuidados a pessoas portadoras de doenças crónicas e evolutivas, os cuidados devem ser direccionados no sentido da promoção da qualidade de vida e de um eficaz controlo sintomático. Quando já não é possível o recurso à via oral, a administração de terapêutica por via subcutânea surge como uma alternativa vantajosa e de excelência. Neste artigo procurou-se sintetizar os aspectos principais para a utilização desta via, passando pelas indicações, vantagens e desvantagens, procedimentos e cuidados inerentes. É ainda apresentado um quadro síntese da terapêutica subcutânea, descrevendo-se indicações terapêuticas, dosagens, diluições e outras informações. Palavras-chave: Cuidados Paliativos, Via Subcutânea Abstract In the context of caring for people with chronic and developmental illnesses, care must be taken towards improving quality of life and effective symptomatic control. When the use of oral administration is no longer possible, subcutaneous therapy is an advantageous and excellent alternative. In this article it was aimed to synthesize the main aspects in the use of these means, going through indications, advantages and disadvantages, procedures and related care. It is also presented a summary table of subcutaneous therapy, describing therapeutic indications, dosages, dilutions and other information. Keywords: Palliative Care, Subcutaneous Therapy ıı INTRODUÇÃO investimento na qualidade de vida, centrando-se na pessoa e não directamente na doença. Actualmente, somos confrontados nos nossos serviços de saúde com um crescente número de pessoas portadoras de doenças crónicas evolutivas e/ou avançadas. Este facto resulta não só de conquistas associadas a uma melhoria das condições de higiene e saúde das populações, assim como de alterações a nível da estrutura e dinâmicas familiares.1,2 Estas pessoas frequentemente têm internamentos prolongados, com necessidades no contexto do De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os Cuidados Paliativos visam melhorar a qualidade de vida das pessoas e seus familiares no contexto de doenças crónicas e progressivas, investindo na prevenção e alívio do sofrimento através de um controlo sintomático rigoroso, assim como de outras alterações do foro psicológico, social e espiritual.3 1. Enfermeira Graduada do Hospital Pulido Valente – Medicina 3C, Pós-Graduação em Cuidados Paliativos 2. Enfermeira do Hospital Pulido Valente – Medicina 3C 3. Enfermeira do Hospital Pulido Valente – Pneumologia II 4. Enfermeira do Hospital Pulido Valente – Medicina 3C 5. Enfermeira Graduada do Hospital Pulido Valente – Medicina 3C, Mestre em Saúde Pública, Pós-Graduação em Cuidados Paliativos N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 47 ESPAÇO DO ENFERMEIRO Como acima referido, o controlo de sintomas é de grande importância para garantir a qualidade de vida do doente e, consequentemente, da sua família. Contudo, as necessidades destas pessoas nem sempre são respondidas, em parte devido ao facto que muitas vezes são internadas e acompanhadas em serviços não especializados em Cuidados Paliativos, como referenciado no Programa Nacional de Cuidados Paliativos.4 No controlo sintomático, a administração de terapêutica por via oral é a via preferencial por ser a de menor desconforto, devido à facilidade de administração, entre outras vantagens. Contudo, com a evolução das doenças e do aumento da debilidade dos doentes, verifica-se uma diminuição da capacidade de ingestão oral e da absorção gastrointestinal, assim como outras complicações que inviabilizam esta via de administração.5,6 A via subcutânea surge como uma alternativa viável e segura. Esta é uma técnica que é utilizada desde o início do século XX, onde há referência à administração de terapêutica no contexto pediátrico. Caiu em desuso nas décadas de 40 e 50 principalmente devido a uma utilização indevida desta via, nomeadamente a administração de volumes elevados de soluções em locais desadequados e à administração simultânea de soluções hipertónicas resultando em colapso circulatório e morte. É redescoberta no presente com o aumento de conhecimentos nesta área e com o desenvolvimento dos Cuidados Paliativos.7 ıı A VIA SUBCUTÂNEA Ao falar-se de via subcutânea, de terapêutica subcutânea ou de hipodermoclise, pretende-se referir à administração de terapêutica e fluidos no tecido subcutâneo através de uma agulha tipo butterfly.7 ıı INDICAÇÕES A decisão de optar por esta via tem por base um conjunto de indicações, tais como: incapacidade de deglutição (por debilidade, obstrução local, disfagia, estado de agonia e confusional), existência de náuseas ou vómitos, má absorção gastrointestinal, patologias que inviabilizem a via oral (ex.: fístula traqueo-esofágica) e como forma de conservar a autonomia do doente.8,9 ıı CONTRA-INDICAÇÕES As contra-indicações para a utilização desta via são poucas, mas devem ser tidas em conta pelos profissionais de saúde, nomeadamente a presença de anasarca ou de hemorragia aguda profusa, por condicionarem ou mesmo inviabilizarem a absorção da terapêutica. Incompatibilidades medicamentosas e infecções recorrentes nos locais de inserção da agulha são outras das contra-indicações conhecidas.8,9 48 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 ıı VANTAGENS E DESVANTAGENS Esta técnica apresenta inúmeras vantagens por ser pouco invasiva e de baixo custo, com reduzidos efeitos secundários, permitindo um maior grau de conforto e autonomia da parte do doente e família/cuidador. Por outro lado, permite uma absorção lenta e constante dos fármacos contribuindo para um controlo rigoroso dos sintomas, resultando numa eficácia que é comprovada por diversos estudos científicos. As desvantagens estão associadas a uma limitação na diversidade e volume dos fármacos passíveis de ser administrados por esta via, ou então relacionados com a existência de raras complicações: exteriorização acidental da agulha e alterações cutâneas (inflamação ou irritação no local de inserção, hemorragia ligeira e prurido). 8,9 ıı FACTORES QUE INFLUENCIAM A ABSORÇÃO DOS FÁRMACOS A via subcutânea apresenta uma capacidade de absorção semelhante ao da via intramuscular, mas com menor desconforto local associado. A biodisponibilidade, definida como a quantidade de fármaco activo que chega aos tecidos para produzir um determinado efeito, é semelhante à da via endovenosa. Comparativamente com a via oral, o início de acção é similar (cerca de 15 a 30 minutos). A absorção dos fármacos pode ser influenciada pelo fluxo sanguíneo na zona. A aplicação de calor no local de punção e a massagem contribuem para um aumento da absorção. Pelo contrário, a aplicação de frio ou a injecção de adrenalina reduzem a mesma. As características das soluções administradas, neutras ou isotónicas, também são factores que influenciam a absorção.7,9 ıı TÉCNICA DE PUNÇÃO A técnica consiste na introdução de uma agulha tipo butterfly no tecido subcutâneo. Os locais adequados para a sua inserção são: região abdominal, face anterior do tórax, deltóide e face anterior e lateral das coxas.10 Há que ter atenção na escolha do local de punção, sendo contra-indicada nos seguintes locais: pregas cutâneas ou tecido mamário, local de tumor, linfedema ou edema, ascite, proeminências ósseas, zonas já irradiadas ou submetidas a cirurgias, e locais de lesão/infecção.10 O material para a punção consiste em: • Solução alcoólica; • Luvas e compressas limpas; • Agulha butterfly de calibre 23 a 25G; • Penso transparente; • Obturador. VIA SUBCUTÂNEA EM CUIDADOS PALIATIVOS: TEORIA E PRÁTICA ıı TERAPÊUTICA DISPONÍVEL POR VIA SUBCUTÂNEA E COMPATIBILIDADES O número de fármacos passíveis de ser administrados por via subcutânea ainda é limitado, contudo assistimos a um desenvolvimento crescente relativamente à investigação científica nesta área. Nos serviços de internamento não especializados em Cuidados Paliativos, os profissionais de saúde confrontam-se ainda com falta de informação organizada e experiência sobre esta temática, dificultando a sua adequada utilização e a sua divulgação. Neste contexto, procurámos elaborar um quadro que sintetizasse algumas das informações que considerámos pertinentes para uma boa prática, com base em bibliografia fundamentada em estudos científicos e na experiência profissional de alguns elementos da equipa.8,9,10,11 Pretende-se que este seja um instrumento de rápida consulta, facilitando o planeamento dos cuidados (Quadro na página seguinte). ıı CUIDADOS DE ENFERMAGEM Figura 1 Locais de punção Fonte: NHS, Greater Glasgow Primary Care Palliative Care Team, 2008.10 O procedimento é simples, e segue os passos que passamos a descrever: 1.Explicar os procedimentos ao utente/família; 2.Fazer higiene das mãos e calçar luvas; 3.Escolher o local de punção e preparar a área da pele, procedendo à sua desinfecção; 4.Fazer prega na pele no local a puncionar, inserindo a agulha num ângulo de 45o, no sentido da periferia para o centro, com o bisel para cima e depois rodar para baixo (de modo a que a solução possa perfundir para o tecido subcutâneo e não para a epiderme); 5.Fixar a agulha com um penso transparente; 6.No caso de ser acesso exclusivo para terapêutica pontual conectar obturador, não para manter o acesso “heparinizado” mas porque funciona como filtro bactericida.10 Se ao puncionar houver refluxo de sangue, é necessário remover a agulha e puncionar noutro local. Relativamente ao local de punção existem alguns cuidados a ter em conta, nomeadamente com vista ao máximo conforto do doente. Como referido anteriormente, há que proceder a uma vigilância rigorosa identificando precocemente sinais de alterações cutâneas que impliquem a substituição da agulha (ex: edema acentuado, rubor, endurecimento do local, etc.). Sempre que não existam estes sinais a agulha pode permanecer até 7 dias, sem necessidade de substituição. É importante fazer uma rotação dos locais de punção, tendo o cuidado de deixar um espaço de pelo menos 5 cm do anterior local puncionado. No caso de doentes independentes com acesso subcutâneo localizado na região abdominal, é aconselhável ter o cuidado que a agulha esteja posicionada na horizontal de modo a que se a pessoa se inclinar para a frente, esta não se introduza mais profundamente nos tecidos, podendo provocar dor. No caso de pessoas com agitação psicomotora/confusão deve-se optar por puncionar nas coxas, por ser um local de difícil acesso. Actualmente, já existem no mercado sistemas tipo abocath para utilização por via subcutânea, e que permitem a retracção e remoção da agulha, reduzindo assim o risco de picada acidental e de dor. É de referenciar que não é necessário expurgar o prolongamento da butterfly, uma vez que apenas comporta cerca de 1mm de ar e que a sua introdução aquando da primeira administração de terapêutica não provoca dor ou outras complicações. Por outro lado, é importante administrar cerca de 1ml de soro fisiológico após as administrações de bólus de medicação de modo a ter a certeza que esta se encontra em absorção no tecido subcutâneo, e não no prolongamento da butterfly. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 49 ESPAÇO DO ENFERMEIRO Fármaco/Solução Indicação - Estertor Dose Solvente Observações Butilescopolamina - Vómitos - 60-180mg/24h (administração directa) - Não é compatível com a metoclopramida - 1g 12/12h Diluir em 4cc de lidocaína, no máximo - Pode causar dor no local de administração Ceftriaxone (ampola para administração intramuscular) - Dor - Diminuição de secreções purulentas associadas a infecção respiratória e halitose Em perfusão contínua: Cetamina - Dor (origem neuropática) (Ketalar – 500mg/10ml) 100 a 150mg/24h; pode aumentar progressivamente a dose (100mg/dia) até máximo de 2,4g/24h) Cetorolac (Toradol – 10mg/1ml) - Dor intensa (antiinflamatório não esteróide) - 30 a 90mg/24h Cloreto de potássio - Hipocaliémia - Até 40meq/24h Cloreto de sódio 0,9% - Hidratação (Soro fisiológico) a)Aumento da pressão intracraneana Dexametasona b)Redução de edema peritumoral c)Dispneia d)Náuseas e vómitos e)Estimulante do apetite f )Compressão medular Dextrose 5% em NaCl - Hidratação/Hipoglicémia - Até 1500cc/24h a)4 a 20mg/24h b)4 a 40mg/24h (infusão contínua) c)8 a 24mg/24h d)8 a 20mg/24h e)2 a 6mg/24h f )16 a 32mg/24h (ver cloreto de sódio) Diclofenac - Dor (principalmente dor óssea) - 75 a 150mg/24h Fenobarbital - Confusão/convulsões - 90 a 200mg/24h (em perfusão) Fentanil - Dor Furosemida - Dispneia devido a congestão pulmonar Granisetron - Edemas - Náuseas e vómitos Haloperidol - Náuseas e vómitos - Alucinações e agitação - Náuseas e vómitos complexos - 100 a 1000µg/24h (raramente 2000µg) - 20 a 40mg - 3 a 9mg/24h - 2,5 a 30mg/24h - Anti-emético: 5-25mg/24h Levomepromazina (Nozinan – 25mg/1ml) - Agitação/delirium terminal - Sedação: 25-200mg/24h - Convulsões 50 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 NaCl 0,9% - Monitorizar a frequência respiratória e cardíaca nas primeiras 2h após início de terapêutica - Rotação do local de punção para evitar necrose NaCl 0,9% - Pode ser nefrotóxico (± 4/5cc) - Administrar isolado 20meq em cada 500cc de soro ______________________ ______________ Administração directa ou em perfusão NaCl 0,9% ou Água para injectáveis ______________ NaCl 0,9% (± 5/6cc) Água para injectáveis (directo ou em perfusão) NaCl 0,9% (directo ou em perfusão) - Iniciar perfusão a 20cc/h e se tolerar pode-se aumentar o volume - Evitar deltóides devido ao volume - Incompatível com a maioria das drogas - Pode induzir insónia (não administrar depois das 17h) - Doses elevadas podem provocar “psicose dos corticóides” - Pode provocar irritação na pele no momento da administração (ver cloreto de sódio) - Pode ser irritante e interagir com outros medicamentos - Não administrar com outros medicamentos ______________________ - Não administrar com soluções dextrosadas ou midazolam NaCl 0,9% 50ml de NaCl 0,9% - Perfundir em 10’ a dose de 3mg Água para injectáveis (pode - Pode ser administrado em precipitar com bólus NaCl 0,9%) (directo ou em - Pode ser irritante e causar perfusão) reacção no local NaCl 0,9% - Hipotensor Água para - Semi-vida longa injectáveis VIA SUBCUTÂNEA EM CUIDADOS PALIATIVOS: TEORIA E PRÁTICA Fármaco/Solução Indicação Dose Metoclopramida - Náuseas e vómitos - 20 a 120mg/24h a) Ansiedade a) 5 a 10mg/24h b) Espasmos b) 5 a 20mg/24h c) Convulsões c) 20 a 30mg/24h d) Delirium terminal d) 20 a 80mg/24h Midazolam Solvente (directo ou diluído) Observações - Atenção a efeitos extra-piramidais NaCl 0,9% - Administração lenta ou diluir - Ao fim de alguns dias pode haver tolerância ao fármaco, podendo ser necessário aumentar a dose para atingir o mesmo efeito NaCl 0,9% - Sem uso prévio: 5 a 10mg/24h Morfina - Dor - ½ da dose oral - Dispneia Água para - 10mg/ml directo é bem tolerado e pode injectáveis ser administrado a cada 4 horas - Diarreia Octreótido Ondasetron a)Reduzir secreções gastrointestinais, a)300 a 600µg/24h motilidade gástrica e (até 1500µg) vómitos/diarreia intensos b)250 a 750µg/24h b)Oclusão gástrica ou c)50 a 1500µg/24h intestinal c)Diarreia intratável - Náuseas e vómitos por causas químicas - 8 a 24mg/24h NaCl 0,9% - Atenção a sinais de toxicidade por opiáceos - Provoca obstipação - Pode ser irritante: diluir o máximo NaCl 0,9% - Atenção a incompatibilidade com outras drogas - Não é indicado para náuseas NaCl 0,9% (directo) Ranitidina - Protector gástrico - 50 a 300mg/24h Água para injectáveis Salbutamol - Broncodilatador - 0,5mg (bólus) _____________ Tenoxicam (Tilcotil – 20mg/2ml) - Dor (anti-inflamatório) - 20mg 12/12h Tramadol - Dor - 60 a 600mg/dia NaCl 0,9% (± 20cc) NaCl 0,9% - Diluir em 100cc de NaCl 0,9% por ser hipotensor - Administração lenta por ser doloroso - Compatível com midazolam e morfina ______________________ - Administração lenta por ser doloroso - Risco de hemorragia e pode agravar a função renal - Pode provocar náuseas (associar a metoclopramida) Quadro 1 Terapêutica subcutânea em Cuidados Paliativos É importante ter presente que a existência de um ligeiro seroma no local de inserção da agulha é um facto natural de acontecer e que, com a administração de alguns medicamentos, tais como a dexametasona, pode-se observar um ligeiro rubor que reverte ao fim de algum tempo. Preferencialmente, devem ser evitados bólus superiores a 2 ml devido a permitir uma absorção do medicamento com o mínimo de desconforto para o doente. Não é aconselhável a administração de mais de 3 fármacos pelo mesmo acesso subcutâneo, pois poderá interferir com a sua eficácia. Nesta situação pode-se justificar a colocação de mais do que um acesso. Na administração de soros por esta via (até 1500cc/dia) deve-se privilegiar as regiões torácicas e abdominais, pois são as que apresentam uma maior capacidade de absorção. Medicamentos tais como a cloropromazina e o diazepam não podem ser administrados por esta via por risco de necrose tecidular.8 ıı CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho nasceu de muitas dúvidas sentidas por nós e por outros profissionais de saúde. A falta de divulgação de informação devidamente fundamentada nesta área pode dificultar uma melhoria dos cuidados prestados a pessoas com doenças crónicas e/ ou avançadas. Com vista a uma prestação de cuidados que visa a excelência, a via subcutânea surge como um precioso recurso. A sua fácil aplicabilidade e manutenção em contexto hospitalar e domiciliar, as vantagens que traz para o doente e cuidadores e, não esquecendo, os baixos custos que implica, justificam um desenvolvimento cada vez maior de conhecimentos e de investigação científica nesta área. Assume assim especial importância a introdução de acções de formação e de sessões práticas sobre a administração de terapêutica por via subcutânea, nos serviços de saúde que prestam cuidados a pessoas que possam beneficiar da mesma. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 51 ESPAÇO DO ENFERMEIRO ıı BIBLIOGRAFIA 1. WORLD HEALTH ORGANIZATION – Active Ageing: a policy Framework. Madrid: World Health Organization, 2002. 2. PICKARD, L. et al. – Relying on informal care in the new century? Informal care for elderly people in England to 2031. Ageing and Society, 20 (2000) 745-772. 3. WORLD HEALTH ORGANIZATION – National cancer control programmes: policies and managerial guidelines. 2ª ed. Geneva: World Health Organization, 2002. Disponível em: http://www.who.int/cancer/media/en/408.pdf 4. PORTUGAL. DGS – Programa Nacional de Cuidados Paliativos: Despacho Ministerial de 15-06-2004. Lisboa: Direcção-Geral da Saúde, 2004. 5. TWYCROSS, R. – Cuidados Paliativos. Lisboa: Climepsi Editores, 2001. 6. BARBOSA, A.; NETO, I., ed. lit. – Manual de Cuidados Paliativos. Lisboa: Núcleo de Cuidados Paliativos, Centro de Bioética da Faculdade de Medicina de Lisboa, 2006. 7. GRENCHO, L. – A Via Subcutânea: Uma alternativa para a administração terapêutica. Nursing, Janeiro (2008) 14-19. 8. FERREIRA, K., SANTOS, A. C. – Hipodermoclise e Administração de Medicamentos por via subcutânea: uma Técnica do Passado com Futuro. Prática Hospitalar, ano XI: 65 (Set. /Out 2009) 109-114. 9. NETO, ISABEL G. – Utilização da via subcutânea na prática clínica. Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Vol.15:4 (Out. /Dez 2008) 277-283. 10.NHS, GREATER GLASGOW PRIMARY CARE PALLIATIVE CARE TEAM – Guidelines for the Use of Subcutaneous Medications in Palliative Care for Adults – Primary Care and Hospices. NHS Greater Glasgow and Clyde, 2008. Disponível em: http://www.palliativecareglasgow.info/ Professional%20resources/subcut_guidelines_primary_care_140109. pdf 11.NHS, LOTHIAN – Palliative Care Guidelines: Subcutaneous medication. NHS Lothian, January 2009. Disponível em: http://www.palliativecareguidelines.scot.nhs.uk/documents/sc%20medication.pdf 52 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 O ACOLHIMENTO À FAMÍLIA NA UCAPO O ACOLHIMENTO À FAMÍLIA NA UCAPO WELCOME THE FAMILY IN UCAPO Reis, Paula 1; Reis, Rute 1 Resumo Ao longo dos tempos, tem-se verificado uma evolução nas características e na dinâmica do recobro, que possibilitou a visita aos doentes internados nestas unidades. A presença da família/pessoa significativa é fundamental tanto para o doente, pois dá-lhe suporte nas suas necessidades físicas e emocionais, bem como para a equipa de enfermagem, uma vez que é esta quem melhor o conhece, tornando-se um elo de ligação crucial com os profissionais na prática de cuidados. A hospitalização do doente é vista como uma crise na dinâmica familiar, pois estes passam por sentimentos de solidão, de ansiedade, insegurança... Como enfermeiros é elementar acolhermos e sabermos cuidar desta família, tornando menos penosa a situação do doente/família/pessoa significativa e proporcionando um rápido restabelecimento. A necessidade de realizar este trabalho surgiu pela partilha de experiências do dia-a-dia na nossa unidade ao verificarmos que a visita familiar trazia benefícios quer para o doente, quer para a família e equipa multidisciplinar. Este documento tem como objectivo dar a conhecer aos outros profissionais a dinâmica das visitas familiares na UCAPO (Unidade de Cuidados Anestésicos e Pós-Operatórios). Para isso realizámos uma pesquisa bibliográfica intensiva, em que analisámos vários estudos que comprovam a importância e o benefício da visita no recobro/internamento. Também considerámos pertinente incluir no trabalho a descrição do percurso peri-operatório, bem como algumas das características da UCAPO. Com este artigo pretendemos dar ênfase à importância de acolher a família, cuidá-la, dar-lhe espaço e mostrar disponibilidade para que esta exponha as suas dúvidas, exprima os seus sentimentos e emoções, salientando que não é suficiente proporcionar apenas a visita do familiar na UCAPO. Palavras-chave: família/pessoa significativa; UCAPO; visita; doente Abstract Over the years, there has been an evolution in the character and dynamic of recovery, which allowed the visit to hospitalized patients in these units. The presence of family/significant person is fundamental both for the patient, because it gives him support in their physical and emotional needs, and for the team of nursing, since it is this one who knows best the patient and become a crucial link with the profissionals in the practice of care. The patient hospitalization is seen as a crisis in family dynamics, as they go through feelings of loneliness, anxiety, insecurity... As nurses is necessary to welcome and know care of this family, making less painful the patient/family/ significant person situation and providing a quick recovery. The need to carry out this work came from the sharing of experiences of day-to-day in our unit, where we saw that the family visit brought benefits to the patient, family and multidisciplinary team. The aim of this document is to show to other professionals the dynamics of family visits in UCAPO (Unidade de Cuidados Anestésicos e Pós-Operatórios). For that we made an intensive literature research, where we analyzed several studies that prove the importance and benefit of the visit in recovery/internment. We also considered relevant to include in the work a description of the peri-operative course, as well some the characteristics of UCAPO. With this article we intend to emphasize the importance of welcoming the family, take care of it, give him space and show willingness to expose their questions, express their feelings and emotions, stressing that it is not sufficient to provide only the visit of family in UCAPO. Key-words: family/significant person; UCAPO; visit; patient 1. Licenciada em Enfermagem, enfermeira generalista da UCAPO no CHLN – HPV N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 53 ESPAÇO DO ENFERMEIRO É do conhecimento geral que os hospitais são estruturas de grandes dimensões, com inúmeros e complexos serviços. Para que estes funcionem correctamente, existem princípios que todos devemos respeitar, evitando que se transformem em ambientes desordenados e sem fio condutor I. Antigamente, os recobros eram unidades fechadas, onde não era permitido à família visitar o doente. Características como: a curta estadia nestes serviços; a apertada vigilância que o doente requer; os recobros serem maioritariamente anestésicos e fazerem parte do Bloco Operatório; bem como grande parte dos doentes não se recordar das visitas devido aos efeitos dos fármacos anestésicos, e também por serem poucos os estudos que demonstrassem haver benefícios da visita II III IV, foram motivos para não haver permissão das visitas nestas unidades. Ao longo dos anos, o recobro foi-se tornando numa unidade mais diferenciada recebendo, também, doentes de cuidados intensivos. Este factor possibilitou que fossem permitidas visitas no recobro. Pois além destes doentes, os que tinham sido operados que permaneciam mais de 24 horas e também as crianças que eram operadas, começaram a ter oportunidade de ver a família/pessoa significativa II. Actualmente, com o avanço das técnicas de anestesia, com os anestésicos utilizados e com estudos que demonstraram haver benefício tanto para o doente como para a família, já são permitidas visitas a todos os doentes no pós-operatório, sem excepções II III IV . Estas visitas são realizadas: num espaço – o recobro – na altura mais apropriada para o doente, família e equipa clínica; de forma a manter a confidencialidade do doente e com o intuito de permitir que a visita seja uma experiência benéfica para todos os intervenientes IV. Segundo Rabiais I, “A família é o espaço onde nasce, cresce e se desenvolve a vida e como tal é a célula vital da sociedade”. Torna-se, assim, importante que os enfermeiros saibam acolher a família como elemento integrante da equipa multidisciplinar, privilegiando o período de visita V. A família além de dar apoio ao doente, também pode oferecer as informações necessárias para um cuidado mais personalizado, pois, ninguém melhor do que a mesma conhece e descodifica os gostos e expressões do doente VI. Durante o internamento hospitalar, a família e o doente vivenciam uma experiência stressante I. A família é abandonada na sua solidão enquanto aguarda ansiosamente informações sobre o estado de saúde do seu familiar VII. Na carta de direitos e deveres do doente internado VIII, no ponto 13, vem referenciado que o apoio de familiares e amigos deve ser facilitado e incentivado com a finalidade de tornar menos penosa a situação do doente e proporcionar um rápido restabelecimento. Silva VI reforça esta ideia, afirmando que “(…) a presença da família é muito importante para aliviar a ansiedade, o desconforto e a insegurança (…)” (p. 424). No entanto, é importante que os enfermeiros não cuidem apenas do doente mas também da família IX, pois para que esta “cumpra o seu papel de dar suporte à situação vivenciada pelo paciente, também precisa de suporte nas suas necessidades físicas e emocionais, como uma conversa esclarecedora, uma cadeira extra para que o familiar possa ficar tocando seu ente querido (…)” X (p. 425). Aquando a visita familiar aos doentes do recobro, o enfermeiro tem um papel fundamental no seu acolhimento. De acordo com Mendes VII, “Estamos perante uma sociedade cada vez mais exigente e cada vez mais informada dos seus direitos, pelo que não devemos descurar as necessidades sentidas, pois cuidando bem dos clientes e dos familiares estamos a contribuir não só para os cuidados de excelência como também para a construção da nossa identidade profissional dando visibilidade ao que fazemos melhor – CUIDAR” (p.19). É assim importante que o profissional de saúde acompanhe o familiar até ao leito do doente, explicando a realidade que este vai encontrar: um ambiente humano e físico desconhecido, com tecnologia complexa e numerosa I III XI X. O que vem ao encontro do estudo exploratório-descritivo realizado por Matsuda XII a 25 visitantes de uma UTI – adulto de um Hospital Universitário situado na região noroeste do Estado do Paraná, chegou à conclusão que é importante acompanhar os familiares até ao leito, criar oportunidades de fazer perguntas e dar informações a respeito do estado geral do doente. No estudo exploratório e de campo realizado por Inaba, Silva e Teles X a 13 familiares de pacientes internados na UTI do Hospital Universitário da USP pode-se verificar que a comunicação entre familiar e enfermeiro é fulcral para aliviar a ansiedade e stress vivenciado pela família. Para tal, é necessário conversar, esclarecer dúvidas e transmitir informações claras e objectivas sobre os equipamentos, sondas, cateteres e drenos existentes no doente. Para além de informar e esclarecer, é de igual importância deixar o familiar/pessoa significativa falar, olhar nos seus olhos e demonstrar interesse e atenção no que este tem para dizer. Como enfermeiros devemos escutar activamente, pois perceber o que a família sente através das palavras e gestos é o melhor caminho para saber apoiar XVIII XIX. Da nossa experiência profissional e pesquisa bibliográfica efectuada verificámos a presença de sentimentos de ansiedade, desconforto e desconhecimento sentidos pela família. Considerámos pertinente realizar um trabalho sobre esta temática, com o intuito de melhorar a segurança tanto ao doente como à família. Sulivan III vem ao encontro da nossa necessidade ao referir que “A brochure can be developed and given to the patients and families (…) that provide information to patients explaining the purpose of the PACU” 1 (p. 30). Por existir nesta unidade, uma sala para acompanhantes/ visitas de apoio à UCAPO/Bloco Operatório – optámos também, por realizar um poster. O poster tem como objectivo dar a conhecer à família o percurso peri-operatório do doente e a dinâmica da UCAPO. 1. “Um panfleto pode ser desenvolvido e entregue aos doentes e família (…) este fornece informação aos doentes explicando os objectivos da PACU” 54 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 O ACOLHIMENTO À FAMÍLIA NA UCAPO ıı PERCURSO PERI-OPERATÓRIO DO DOENTE ENFERMARIA O doente vem de um dos vários serviços do hospital acompanhado pelo seu enfermeiro responsável para ser operado. BLOCO OPERATÓRIO (BO) De seguida, irá para a zona de transfer onde será transferido para o espaço reservado ao BO sendo acolhido por um enfermeiro desse serviço, que o acompanhará até à sala onde se irá realizar a cirurgia. O tempo no BO varia de doente para doente e de tipo de cirurgia para tipo de cirurgia. Uma vez terminada a cirurgia o doente volta à zona de transfer para ser recebido e acolhido por um enfermeiro da UCAPO. UCAPO A UCAPO é uma unidade composta por 10 camas por onde passam os doentes submetidos a cirurgia. Caracteriza-se por equipamentos e tecnologia adequada, que permitem estabilizar o doente de modo a despistar precocemente complicações pós-anestésicas e pós-operatórias. O tempo que o doente permanece nesta unidade varia consoante diferentes factores, entre eles, a dor, os sinais vitais, o estado de consciência, o tipo de cirurgia, etc. Esta unidade é caracterizada por ter um horário de visitas alargado, onde é possível acolher duas visitas por doente, num curto período entre as 17h e as 20h. Contudo, e se o serviço assim o permitir são abertas excepções, de modo a possibilitar a presença da pessoa significativa junto do doente. Por vezes a entrada do familiar não é possível quando este o deseja, este factor depende de algumas características do serviço, pelo que o familiar deverá sempre questionar o enfermeiro responsável pelo doente antes da visita. ıı BIBLIOGRAFIA: 1. RABIAIS, Isabel – Saber ser…Implica acompanhar. Acedido a: 18, Fevereiro, 2008 em www.esesvp.com/revista6_artigo.html 2. TULLER, Shirley [et al] – Patient, visitor, and nurse evaluation of visitation for adult postanesthesia care unit patients. “Journal of Perianesthesia Nursing”. 12:6 (Dez. 1997) 402-412. 3. SULLIVAN, Ellen – Family visitation in PACU. “Journal of Perianesthesia Nursing”. 16:1 (Fev. 2001) 29-30. 4. ASPAN – A position statement on visitation in phase I level of care. “Journal of Perianesthesia Nursing”. 18:5 (Out. 2003) 303-304. 5. DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE, Circular Normativa nº 4/DSPCS de 28/01/00 6. SILVA, MJP - Humanização em UTI. In: Cintra, Nishide, Nunes - Assistência de enfermagem ao paciente critico. São Paulo: Atheneu, 2000 p. 1-11 7. MENDES, Odete - A Solidão da Espera. “Percursos” 6 (Out./Dez. 2007) 16-19 8. MINISTÉRIO DA SAÚDE – Carta dos direitos do doente internado. Ministério da saúde, Direcção Geral da Saúde. Lisboa, 2004. 9. MARTINS, Rosário; VIEGAS, Laura – O cuidar de pessoas no hospital: Que lugar para as famílias. “Newsletter do hospital Nª Srª do Rosário, SA”. 3 (Abril, 2005) 6-7. 10.INABA, Luciana Cintra: SILVA; Maria Júlia Pães da; TELLES, Sandra Cristina Ribeiro – Paciente critico e comunicação: visão de familiares sobre sua adequação pela equipe de enfermagem. “Revista Escola Enfermagem USP” 39:4 (2005) 423-429. 11.FILHO, Wilson [et al] – As manifestações de ansiedade em familiares de pacientes internados em unidades de terapia intensiva gerais. “Fam. Saúde Desenvolvimento”. 6:2 (Mai/Agos, 2004) 100-109. 12.MATSUDA, Laura et al – A comunicação verbal da equipe de enfermagem de uma UTI – adulto durante o processo de visita; perspectiva dos visitantes. 2003. Acedido a 18, Fevereiro, 2008 em http://www.proceedings.scielo.br/pdf/sibracen/n8v1/v1a047.pdf. 13.http://www.perfil.com.pt/equal/e/cap04/09cap04.htm. Acedido a 05, Agosto, 2010. 14.http://algunsanosdepois.blogspot.com/2007/09/escuta-activa.html. Acedido a 05, Agosto, 2010. Também poderá receber informações do doente através do contacto telefónico directamente com a nossa unidade. Para tal deverá contactar das 9h às 21h para o número 217 548 363. A transferência do doente da UCAPO para a enfermaria/serviço de origem ocorre após a estabilização dos parâmetros hemodinâmicos deste. Esta é da responsabilidade do anestesista que se encontra de urgência na UCAPO e/ou do médico do doente. Após dada a alta pelo anestesista/médico do doente referenciada em diário clínico, o enfermeiro da UCAPO responsável pelo doente providencia a sua transferência para o serviço. O doente regressa ao serviço acompanhado pelo enfermeiro responsável. Não é suficiente proporcionar apenas a visita do familiar na UCAPO, é necessário acolhê-lo, cuidá-lo, dar-lhe espaço e mostrar disponibilidade para que este exponha as suas dúvidas, conseguindo assim observar-lhe reacções, comportamentos e entender-lhe as emoções. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 55 ESPAÇO DO ENFERMEIRO Apresentação do Instrumento de Colheita de Dados de Enfermagem dos Serviços de Internamento do CHLN, Pólo Hospital de Pulido Valente, EPE Ana Cunha 1, Filipa Aguiar 2, Manuela Henriques 3, Matilde Godinho 4, Noémia Melo 5, Paula Ferreira 6 e Vanda Janeiro 7 Ao longo dos anos, os enfermeiros têm-se preocupado em melhorar a sua capacidade de observar, analisar e compreender a melhor forma de dar resposta às necessidades dos utentes/famílias. O processo de enfermagem “ (…) desenvolvido para ampliar estas capacidades essenciais, é uma abordagem do género resolução de problemas, baseada no método científico” (ROSS, 2005). Este deve ser aplicado pelos enfermeiros, durante a prestação de cuidados a indivíduos, famílias, grupos ou comunidades, como defende a mesma autora. O enfermeiro tem o papel de decidir, qual a informação necessária para a identificação dos problemas relevantes. A fase da colheita de dados, tão necessária para cuidar da pessoa e agir em circunstâncias propícias a uma acção eficaz, como defende (Hesbeen, 2001), deve ser feita de forma objectiva e dirigida às reais necessidades da pessoa, evitando questões desnecessárias e supérfluas. Assim, o enfermeiro tem oportunidade de interagir com o doente/família e proceder a uma avaliação integrada no seu contexto, podendo mesmo, utilizar o instrumento de colheita de dados, de forma mais individualizada. Em Outubro de 2006 (terceira fase), tendo em conta as especificidades dos diversos serviços e preconizando-se a implementação da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), elaboraram-se então, dois novos instrumentos de colheita de dados, de preenchimento rápido, com opções de escolha múltipla e que se adaptassem a todos os serviços do hospital. Um dos instrumentos aproximava-se mais da linguagem CIPE, comparativamente ao outro. Em Setembro de 2006, com o objectivo de reformular/uniformizar o instrumento de colheita de dados utilizado no Hospital Pulido Valente, foi constituído o grupo de trabalho, nomeado pela Srª Enfermeira Directora e coordenado pela Srª Enfermeira Matilde Godinho (responsável pelo Departamento de Medicina). O instrumento que mais se aproximava da linguagem CIPE foi aprovado pela Direcção de Enfermagem em Outubro de 2007. Apresenta-se neste artigo o percurso efectuado para a sua reformulação, bem como a versão final e o respectivo guião orientador, que pretende facilitar o seu preenchimento. Numa primeira fase (Setembro 2006), procedeu-se à pesquisa de alguns instrumentos utilizados nos diversos serviços do Hospital de Pulido Valente, bem como de outras instituições da área de Lisboa, efectuando-se uma análise reflexiva (segunda fase), procurando identificar a informação necessária para a prestação de cuidados, em cada serviço. Dado que no hospital está implementado, no processo do doente, um impresso para registo de sinais vitais, não foi incluído o registo dos mesmos neste instrumento. A colheita de dados não se esgota no momento da admissão do doente. Esta pode e deve ser complementada, posteriormente, com dados fornecidos pelo doente e/ou pessoa significativa, que sejam pertinentes e contribuam para um planeamento/prestação de cuidados individualizados e também, numa perspectiva de planeamento de alta. Foram seleccionados serviços, em cada departamento, para testar o instrumento (Medicina IIIA – piso 0, Cirurgia Geral e Digestiva, Pneumologia 3 e Unidade de Cuidados Intensivos de Pneumologia), no período de 7 de Abril a 7 de Maio de 2008. Em simultâneo, obtiveram-se opiniões e sugestões por parte das equipas envolvidas que contribuíram para melhorar e complementar a versão final e respectivo guião, que apresentamos em seguida. O enfermeiro deve procurar, em todo o acto profissional, a excelência do exercício e este grupo de trabalho espera ter dado um contributo, através da elaboração deste instrumento, optimizando assim, o processo de colheita de dados. 1. Enfermeira Graduada da UCIR, Pn2. 2. Enfermeira Pn4. 3. Enfermeira Especialista Med IIIA. 4. Enfermeira Chefe Med IIIA. 5. Enfermeira Especialista Cirurgia Torácica. 6. Enfermeira Especialista Med IIIB. 7. Enfermeira Graduada Cirurgia Geral/Digestiva 56 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 APRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM Etiqueta De Identificação do doente HOSPITAL DE PULIDO VALENTE, EPE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO PESSOAL Nome pelo qual gosta de ser chamado: ________________ Idade: __________ Morada:_________________________________________ Telefone:________ Habilitações literárias:______________________ Profissão:_______________ Crenças religiosas: __________________________ Apoio religioso: Sim Não Pessoa referência ____________________________Parentesco_____________ Contacto: _____________Morada: ____________________________________ 1.1 Situação sócio-familiar Vive com _______________________ Cuidador Principal __________________ Grau de Parentesco:________ Contacto ___________________ Situação familiar indicadora de problemas Sim Situação profissional indicadora de problemas Sim Responsável pela prestação de cuidados a terceiros Sim Não Não Não Obs._______________________________________________________ 1.2 Rede de apoio Centro de Saúde:_______________________________________ Médico Família:__________________ Enfermeiro de Referência:___________ ____ Apoio domiciliário Não � Sim Tipo: Enfermagem �______________ Entidade __________________ Social �____________________ Entidade __________________ 2. DADOS DE ADMISSÃO Data de internamento: ____________ Hora _______ Internamento através de: Urgência Hosp. Dia� Consulta Transferência Outro ____________ Chegou de: Maca� Cadeira de rodas� A pé Proveniência: Casa� Lar� Outro __________ Motivo de Internamento: ____________________________________________ Diagnóstico Médico: _______________________________________________ História da Doença Actual: _______________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 57 ESPAÇO DO ENFERMEIRO 3. ANTECEDENTES PESSOAIS Doenças _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Intervenções Cirúrgicas _____________________________________________________________________ Medicação Habitual: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Vigilância de saúde Não Sim� Local _____________________ Internamento Anterior Sim� Não _____________________________________________________________________ Alergias: Desconhece� Sim __________________________________ Estilos de vida/ Comportamentos aditivos Tabaco Ex-Fumador � Álcool Não ingere desde _________ Estupefacientes Não consome desde __________ Carga tabágica __________ (UMA) desde há __________ Quantidade_____________ Desde _____ Tipo __________________ Desde _____ Obs___________________________________________________________________ 4. COMUNICAÇÃO Audição Visão Fala Normal� Diminuída� Bilateral� Direita� Esquerda� Nula� Prótese _____________ Normal� Diminuída� Bilateral� Direita� Esquerda� Nula� Prótese______________ Normal� Disartria� Afasia� Dislexia � Discurso lentificado � Outro � ____________ Obs___________________________________________________________________ 58 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 APRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM 5. ESTADO DE CONSCIÊNCIA Inconsciente Score Glasgow ____ Orientado Escala Glasgow ABERTURA OCULAR Consciente Desorientado RESPOSTA MOTORA Tempo Espaço Pessoa Outros RESPOSTA VERBAL Confusão Agitação Sonolência Hipoactividade Sedado Score Ramsay___ 4- voluntária 3- a ordens 2- à dor 1- sem resposta 6- a ordens 5- localizadora 4- de fuga 3- flexão 2- extensão 1- sem resposta 5- orientada 4- confusa 3- delirante 2- initelegível 1- se resposta Escala Ramsay 1234567- doente ansioso/inquieto ou agitado doente colaborante, orientado e tranquilo doente que só responde a ordens doente com resposta activa doente com resposta lenta doente sem resposta Obs___________________________________________________________________ 89- doente sem resposta 6. AUTO CONHECIMENTO: EMOÇÃO Calmo Ansiedade Agressividade Humor Instável Reduzida [ ] Moderada [ ] Elevada [ ] Muito Elevada [ ] Reduzida [ ] Moderada [ ] Elevada [ ] Muito Elevada [ ] Reduzida [ ] Moderada [ ] Elevada [ ] Muito Elevada [ ] Obs___________________________________________________________________ 7. ACTIVIDADE MOTORA Independente � Dependente desde: _____________ Ajuda total � Ajuda parcial Recursos: Bengala � Andarilho � Canadianas � Tripé � Cadeira de rodas � Transferência Mobilização na cama Marcha Transferência Mobilização na cama Obs___________________________________________________________________ N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 59 ESPAÇO DO ENFERMEIRO 8. TEGUMENTOS Características da pele: Hidratada � Desidratada � Corada � Pálida � Cianosada � Ictérica � Sem alterações da integridade cutânea � Alterações da integridade cutânea � Feridas traumáticas Escoriação � Local_________________ Contusão � Local_________________ Laceração � Local_________________ Queimadura � Grau___ Local_________________ Necrose � Local__________________ Feridas cirúrgicas Sutura � Dreno � Local __________________ Data: _______ Local _________________ Tipo:___________ Data: _______ Outras feridas � Úlceras Venosa Arterial Pressão Local ____________________________________________ � � � Grau____ Local__________________________________ Local__________________________________ Local__________________________________ Obs___________________________________________________________________ Características das mucosas: Hidratadas � Desidratadas � Coradas � Descoradas � Cianosadas � Ictéricas � Obs___________________________________________________________________ 9. RESPIRAÇÃO Tórax: Escoliose� Cifose� Cifoscoliose� Tórax em barril� Altura desigual dos ombros� Respiração: Profunda� Superficial� Características: Abdominal� Tosse Não Sim� Mista� Características: Produtiva Seca� Expectoração Não Sim� 60 Torácica� Características: Mucosa � Purulenta � Hemática � BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 APRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM Dispneia Não Sim� Características: Repouso Funcional� Ortopneia� Outros sinais de dificuldade respiratória: Adejo nasal Tiragem� Cansaço fácil� Outros____________________ Ventilação assistida: Oxigenoterapia � Débito_________ Sonda nasal � Óculos nasais � Máscara � OLD � Débito ___________ Sonda nasal � Óculos nasais � Máscara � Nº horas/dia _____ Ventilação (não invasiva): CPAP BiPAP� Parâmetros _____________________________________ Máscara nasal � Máscara facial � Entubação traqueal � Tubo nº____ Nível_______ Traqueostomia � Cânula nº____ Colocado a __________ Colocada a __________ Obs________________________________________________________________ 10. CIRCULAÇÃO Edemas � Generalizados � Membros Inf � Membros Sup � Palpebrais � Articulares � Maleolares � Função vascular deficiente � Localização _______________________________ Engurgitamento jugular � Obs_________________________________________________________________ 11. ALIMENTAÇÃO Independente � Dependente Reduzido [ ] Moderado [ ] Elevado [ ] Muito Elevado [ ] Peso ____ Kg Altura ______cm Nº Refeições/dia___________ Tipo de dieta________________________________________ Alimentos que não gosta _____________________________________________ Intolerância _____________________________________ Sonda Gástrica Nasal � Oral � Nº ____ Tipo _______ colocada a _____________ Sonda de Gastrostomia � nº ____ colocada a _____________ Alterações: Anorexia� Náuseas � Vómitos � Disfagia � tipo _______________ Mastigação � Disgeusia � Outro � _____________ N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 61 ESPAÇO DO ENFERMEIRO Prótese Dentária Não � Sim � Superior � Inferior � _______________________ Obs___________________________________________________________________ 12. ELIMINAÇÃO 12.1 VESICAL Continente � Hábitos urinários ______________________ Características da urina ______________ Incontinente � Alterações: De esforço � De urgência � Refluxa � Fralda � Dispositivo urinário � Drenagem supra-púbica � Estoma Não� Sim � _______________________ Cateter vesical nº___tipo___________colocado a__________ Anúria � Disúria � Polaquiúria � Outro � ____________ Obs___________________________________________________________________ 12.2 INTESTINAL Continente � Incontinente � Hábitos intestinais __________________Utiliza laxantes Não � Sim � Quais_____________ Características das fezes _________________________________ Última dejecção ________________________________ Estomas Alterações: Não � Sim � Tipo_________________ desde ______________ Obstipação � Diarreia � Obs___________________________________________________________________ 13. SONO e REPOUSO Sem alterações � Insónias � Dificuldade em adormecer � Indutores do sono � Quais________________________________________________ Obs___________________________________________________________________ 62 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 APRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM 14. AUTOCUIDADO 14.1 HIGIENE Independente � Dependente � Reduzido [ ] Moderado [ ] Elevado [ ] Muito Elevado [ ] Banho Geral �_________________ Banho Parcial �__________________ Higiene corporal Cuidada � Descuidada � Higiene oral Cuidada � Descuidada � 14.2 VESTUÁRIO Vestir-se Independente � Despir-se Independente � Dependente � Dependente � Reduzido [ ] Moderado [ ] Elevado [ ] Muito Elevado [ ] Reduzido [ ] Moderado [ ] Elevado [ ] Muito Elevado [ ] Obs___________________________________________________________________ Data____________ Enfº________________________ N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 63 ESPAÇO DO ENFERMEIRO ıı GUIA DE PREENCHIMENTO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM O objectivo principal da colheita de dados inicial de Enfermagem é fornecer dados sobre as actividades de vida e a situação de saúde à entrada do doente no serviço para a identificação de diagnósticos de enfermagem afim de elaborar o plano de cuidados a estabelecer. A reformulação da folha de colheita de dados teve como propósitos colmatar falhas identificadas na anterior e a uniformizar o instrumento de colheita de dados de enfermagem em todos os serviços de internamento do HPV,EPE. Tendo em conta o previsível processo de implementação da CIPE, foi utilizada alguma linguagem preconizada nessa classificação. Foi elaborada para preenchimento rápido com opções de escolha múltipla devendo ser escolhida a mais adequada e reporta-se ao momento da entrada do doente no serviço. Pode, no entanto, ser complementada posteriormente com dados fornecidos por familiares e pessoas significativas sobre hábitos de vida do doente que influem nos cuidados de enfermagem e no planeamento de alta a estabelecer. No caso de doentes com reinternamentos próximos, a colheita inicial é passível de ser reutilizada (especialmente os dados de identificação e admissão e os antecedentes pessoais) quando os dados colhidos são validados e complementados com o diário de entrada de enfermagem. Os sinais vitais (incluindo a dor) devem ser avaliados e registados em folha própria existente no Hospital pelo que não estão contemplados neste instrumento. Para os dados indicados na folha susceptíveis de causar maiores dúvidas, foi criado este guião. Em cada item há espaço para observações para acrescentar ou destacar o que não está contemplado na escolha múltipla. Sugere-se a apresentação das diferentes Escalas utilizadas (Glasgow, Ramsay e Braden) nesta fase inicial na folha a ser testada. Posteriormente devem ficar apenas no Guião de preenchimento. 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO PESSOAL Engloba a informação relativa à identificação do doente. Nas Habilitações Literárias é contemplada não só a escolaridade mas também se o doente sabe ler e escrever. A Pessoa de referência é a pessoa próxima do doente a quem são dadas e solicitadas as informações mais relevantes do estado de saúde do doente. Colocar o nome, o grau de parentesco, o contacto e a morada dessa pessoa. 1.1 Situação sócio-familiar Espaço onde é discriminada a situação social e familiar do doente. É identificado o Cuidador principal como a pessoa que cuida 64 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 habitualmente do doente quando este já tem necessidades especiais antes do internamento, a ligação familiar ou outra que tem com o doente e o seu contacto telefónico. A Situação familiar indicadora de problemas quando existem conflitos familiares ou falta de recursos humanos e/ou monetários para dar apoio ao doente. A Situação profissional indicadora de problemas quando o doente se encontra numa situação profissional precária como o desemprego ou o risco de perder o emprego. Quando o próprio doente é prestador de cuidados a terceiros que ficam numa situação de falta de apoio pelo internamento do doente. No espaço para Observações devem ser descritas as situações e indicadas as necessidades de referenciar o doente para a Assistente Social ou outro técnico da equipa de saúde que colabore na minimização e/ou resolução do problema do doente. 1.2 Rede de apoio Indicação dos dados que permitem iniciar um planeamento de alta e referenciação do doente. Preencher o nome do Centro de Saúde onde o doente está inscrito e verificar se corresponde à área de residência. Identificar o Médico de família e o Enfermeiro de referência do Centro de Saúde. Relativamente ao Apoio Domiciliário há que identificar e diferenciar o tipo de auxílio recebido (de cuidados de enfermagem ou de cuidados sociais como a higiene e a alimentação, quando são efectuados por auxiliares, a limpeza da casa, etc) e qual a instituição que o concede. 2. DADOS DE ADMISSÃO Informação da data e hora de internamento no serviço e sobre a forma como o doente chegou. Afim de perceber o percurso do doente na doença actual é contemplado espaço para a descrição da mesma. 3. ANTECEDENTES PESSOAIS Preencher este item com dados relativos à história clínica do doente e hábitos tabágicos, alcoólicos e/ou de uso de substâncias estupefacientes. Na medicação habitual do doente sempre que possível deve ser referida a frequência e a dosagem de cada medicamento, bem como a hora de administração. Na vigilância de saúde referir se o doente é seguido em consulta habitual discrimnando o local. Indicar os internamentos anteriores ou pelo menos o mais recente e/ou mais relevante para a situação actual. Identificar a existência de alergias discriminando o tipo (medicamentosas, alimentares, etc). APRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM Nos estilos de vida, a carga tabagista é expressa em unidades maço ano (UMA) UMA = (NCxNA)+(NC1xNA1)+(NC2xNA2)+ ….. NC = Numero de unidades que fuma; NA = Numero de anos durante os quais fumou o valor acima referido; (NC1xNA1)+(NC2xNA2)+Etc = Se não fumou sempre o mesmo numero de unidades: Confusão: compromisso da memória com desorientação em relação ao tempo, local ou pessoa, desorientação, discurso incoerente, agitação, ausência do sentido de direcção. Agitação: excitação psicomotora sem objectivo, actividade incessante, andar sem parar, descarga de tensão nervosa associada com ansiedade, medo ou stress mental. Sonolência: torpor pernicioso, adormecimento não natural. Hipoactividade: diminuição anormal da actividade física do corpo, movimento lento, rigidez muscular, máscara facial; pode estar associada a doenças neurológicas ou mentais. 0,25 unidades = 5 cigarros/dia; 0,5 unidades = 10 cigarros/dia: 0,75 unidades = 15 cigarros/dia; Para doentes que efectuaram sedação antes de chegar ao serviço ou têm perfusão contínua de sedação (o que ocorre principalmente em unidades de cuidados intensivos) deve ser avaliada o Score de sedação de Ramsay. 1 unidade = 20 cigarros/dia; (um maço de tabaco); 1,25 unidades = 25 cigarros/dia; 1,5 unidades = 30 cigarros/dia, 1,75 unidades = 35 cigarros/dia; 2 unidades = 40 cigarros dia; (dois maços de tabaco); AUTO-CONHECIMENTO: EMOÇÃO etc Informação sobre o estado emocional do doente. Escolher as opções adequadas. Exemplo: Um Utente fumou durante 20 anos. Nos primeiros 5 anos fumava 10 cigarros/dia e depois passou a fumar 20 cigarros dia. A carga tabagista dele é de 17,5 UMA. NC = 0,5 unidades NA = 5 anos NC1 = 1 unidade NA1 = 15 anos (0,5x5)+(1x15)= 17,5 Os hábitos alcoólicos devem quantificados em mililitros. A utilização de estupefacientes refere a uso de substâncias ilícitas. É excluída deste item a utilização de estupefacientes para controlo da dor, prescritos pelo médico (deverão ser incluídos na medicação do doente). COMUNICAÇÃO Escolher a opção que se adequa à condição do doente. Deve ser identificada a utilização de próteses. ESTADO DE CONSCIÊNCIA Engloba a informação relativa ao estado de consciência do doente. Escolher as opções adequadas. Em doentes conscientes deve ser referido se está orientado ou desorientado identificando os itens em que o doente está desorientado. No caso de doentes inconscientes deve ser determinado o Score de coma de Glasgow. Cada Score corresponde a um índice de gravidade: Score de Glasgow Índice de gravidade 13-15 10-12 7-9 4-6 3 0 1 2 3 4 Os estados de consciência foram qualificados segundo a terminologia CIPE, cujas definições estão em baixo descritas, no sentido de optimizar o preenchimento da folha de colheita de dados: Estados de emoção como ansiedade, agressividade, humor instável são quantificados segundo a terminologia da CIPE entre o grau reduzido a muito elevado: Ansiedade: sentimento de ameaça, perigo ou infelicidade sem causa conhecida, acompanhados de pânico, diminuição da auto-segurança, aumento da tensão muscular e do pulso, pele pálida, aumento da transpiração, suor na palma das mãos, pupilas dilatadas e voz trémula; Agressividade: comportamentos de ataque, combativos e destrutivos frente a outros; Humor instável (Personalidade lábil): conjunto de traços e atitudes que evoluem rapidamente, instáveis, sujeitos a mudanças, acompanhados de tendência e alterações emocionais e oscilações temperamentais; Os estados de emoção foram qualificados e quantificados segundo a terminologia da CIPE entre o grau reduzido a muito elevado, no qual o primeiro se refere à classificação da manifestação dessa característica como ligeira, podendo evoluir para mediana (grau moderado), substancial (grau elevado) e sendo o último grau classificado como extremo (grau muito elevado). ACTIVIDADE MOTORA Informação sobre a capacidade de mobilização e deslocação do doente. Escolher as opções adequadas. Os recursos são os auxiliares de marcha utilizados pelo doente. TEGUMENTOS Informação sobre as características da pele e mucosas e identificação de alterações existentes. Escolher as opções adequadas. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 65 ESPAÇO DO ENFERMEIRO Feridas traumáticas: solução de continuidade inesperada de tecido na superfície do corpo associada a lesão mecânica devido a agressão ou acidente; lesão irregular na pele, mucosa ou tecido doloroso e magoado, drenagem e perda de soro e sangue; associada a tecido pouco limpo, sujo ou infectado. Úlcera arterial: lesão circunscrita semelhante a uma cratera, situada no calcanhar, maléolos ou dedos do pé, pele em torno da ferida pálida ou púrpura escura, úlcera serosa com zonas de necrose amarelas e pretas, exposição de tendões secos, pés frios, forte dor na ferida e dor ao andar e em repouso, associada a insuficiência arterial. Escoriação: abrasão do tecido da superfície do corpo, pequenas áreas hemorrágicas, pele dolorosa e magoada até ficar com uma crosta sero-sanguinolenta; associada a lesão física por traumatismo, a fricção contra uma superfície dura ou a queimaduras químicas. (CIPE: 2005) Úlcera de pressão: inflamação ou ferida sobre as proeminências ósseas devido a compressão e fricção da pele entre o osso e a superfície subjacente, em que os estádios são graduados segundo a gravidade: Contusão: equimose que lesa o tecido exterior da superfície corporal e o que lhe está subjacente, lesão tecidular em forma de estrela irregular, alteração da coloração da pele exterior que evolui do preto e azul para verde e amarelo, associado a agressão física como soco ou queda. (CIPE:2005) Laceração: rasgadura irregular associada a lesão intensa dos tecidos que chega a ameaçar a vida com perda de sangue e soro, e com risco de choque. (CIPE:2005) Queimadura: ruptura e perda da camada exterior do tecido da superfície do corpo ou das camadas mais profundas, devida a lesões pelo calor resultantes de exposição a agentes térmicos, químicos, eléctricos ou radioactivos. Os estádios são graduados de acordo com a gravidade: 1º Grau – lesão superficial com a pele afectada e vermelha e dor na ferida devido à afecção das terminações nervosas superficiais; 2º Grau – profunda lesão do tecido, pele vermelha ou branca com bolhas ou vesículas e dor na ferida; 3º Grau – destruição do tecido com pele castanha, branca ou preta, perda de sensação e de dor devido a lesões dos nervos. Necrose: morte tecidular associada a um processo local inflamatório, infeccioso ou maligno, ou a lesão mecânica dos tecidos. Feridas cirúrgicas: corte de tecido produzido por um instrumento cirúrgico cortante, de modo a criar uma abertura num espaço do corpo ou num órgão, produzindo drenagem de soro e sangue, que se espera que seja limpa, isto é, sem mostrar quaisquer sinais de inflamação ou pus. Outras feridas: espaço para colocar e descrever outro tipo de feridas não contempladas nas anteriores, nomeadamente feridas de pé diabético. Úlceras: Úlcera venosa: lesão circunscrita semelhante a uma cratera, situada acima do maléolo da perna, edema em torno da ferida, pele seca em torno da ferida, com descamação acastanhada, lipodermatosclerose, atrofia da pele, exantema, dor e dor na ferida, associada a insuficiência venosa crónica, lesão dos retalhos venosos e diminuição do retornos do sangue venoso dos membros inferiores para o tronco. 66 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Grau I – eritema não reversível com alívio da pressão; calor, tumefação e edema. Sem solução de continuidade; Grau II – perda total da epiderme e parcial da derme (escoriação, abrasão, flictena); Grau III –perda total da epiderme e derme, pode ter tecido necrosado; Grau IV –perda total da derme e epiderme, associada a extensa destruição: necrose tecidular ou lesão do musculo, osso ou cápsula articular. RESPIRAÇÃO Informação sobre a respiração do doente. Escolher as opções que mais se adequam ao momento de admissão do doente. O item oxigenoterapia refere-se ao momento de admissão do doente no serviço. Quando o doente faz OLD (oxigénio de longa duração) deve ser referido indicando o débito, o número de horas por dia e o dispositivo utilizado. Quando o doente faz ventilação não invasiva deve ser referido o tipo de ventilador utilizado: CPAP (Ventilador de Pressão Aérea Positiva Expiratória) ou BiPAP (Ventilador de Pressão Aérea Positiva Binível, com uma Pressão Inspiratoria IPAP e uma Pressão Expiratória EPAP) discriminando os parâmetros do ventilador e o tipo de máscara utilizado. 10. CIRCULAÇÃO Informação que pode alertar para problemas circulatórios do doente. Escolher as opções adequadas. 11. ALIMENTAÇÃO Informação sobre os hábitos alimentares do doente e possíveis alterações dos mesmos. O grau de dependência na alimentação foi quantificado segundo a terminologia da CIPE e pode variar desde: Reduzido: situação em que o doente depende de alguém ou de alguma coisa para ajuda ou suporte e a manifestação das características clínicas relevantes que lhe estão associadas é considerada ligeira; por exemplo o doente só necessita que lhe coloquem os alimentos à disposição, ou que lhe cortem a fruta. APRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS DE ENFERMAGEM Moderado: se o conjunto de características de dependência é considerado mediano, ou seja, se o doente necessita de ajuda para a maior parte das actividades incluídas no item autocuidado; por exemplo consegue comer a sopa, mas não consegue comer o prato sem ajuda. Elevado: situação em que o doente se encontra dependente e a manifestação das características clínicas que estão associadas é considerada substancial, havendo necessidade de ajuda para a totalidade das actividades contempladas no item autocuidado, e no qual existe apenas o mínimo de colaboração; Muito elevado: conjunto de características de dependência consideradas extremas; o doente é totalmente dependente e não colabora nas actividades contempladas neste item (por exemplo o caso de doentes que têm sonda gástrica). Nos alimentos que não gosta estão relacionados com as preferências do doente descriminando-os dos alimentos que o doente não tolera. Quando o doente tem sonda gástrica indicar se é via nasal ou via oral (mais frequente em doentes de cuidados intensivos), identificando o tipo de sonda pois este condiciona a data de mudança. Quando o doente tem sonda de gastrostomia, erradamente conhecida por PEG, nomenclatura referente à técnica de colocação Percutaneous Endoscopic Gastrostomy, deve ser identificado o número e a data da sua colocação. Nas alterações passíveis de se identificar surge a disgeusia, falta de sabor dos alimentos, muitas vezes associada à quimioterapia, por alterações nas papilas gustativas. 14. AUTOCUIDADO Informação sobre os hábitos de higiene e vestuário do doente. Escolher as opções adequadas. Nos itens banho geral e banho parcial deve ser referida a frequência dos mesmos. Os graus de dependência no autocuidado: higiene e vestuário foram quantificados segundo a terminologia da CIPE e podem variar desde: Reduzido: situação em que o doente depende de alguém ou de alguma coisa para ajuda ou suporte e a manifestação das características clínicas relevantes que lhe estão associadas é considerada ligeira; Moderado: se o conjunto de características de dependência é considerado mediano, ou seja, se o doente necessita de ajuda para a maior parte das actividades incluídas no item autocuidado; Elevado: situação em que o doente se encontra dependente e a manifestação das características clínicas que estão associadas é considerada substancial, havendo necessidade de ajuda para a totalidade das actividades contempladas no item autocuidado, e no qual existe apenas o mínimo de colaboração, como por exemplo abrir a boca para efectuar higiene oral; Muito elevado: conjunto de características de dependência consideradas extremas; o doente é totalmente dependente e não colabora nas actividades contempladas neste item (por exemplo o caso de doentes inconscientes). Nas observações poderão ser registadas as necessidades de apoio ao doente. 12. ELIMINAÇÃO Informação sobre os hábitos vesicais e intestinais do doente. Escolher as opções adequadas. Nos hábitos urinários e hábitos intestinais podem ser referidas o número de micções e dejecções diárias do doente. Tentar saber a data da última dejecção. Utilizando terminologia CIPE, designa-se a incontinência reflexa como a incontinência de refluxo. Quando o doente tem um estoma há que identificar o tipo de estoma e quando foi feito. 13. SONO E REPOUSO Informação sobre os hábitos de sono e repouso. Escolher as opções adequadas. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 67 ESPAÇO DO ENFERMEIRO VNI – Um Caminho Alternativo na UCIR Ana Margarida Nuno 1, Catarina Marques 1, Pedro Fernandes 2; Vítor Vaz Pinto 2 Resumo PA ventilação não invasiva (VNI) é um método de ventilação mecânica sem recurso à invasão da via aérea. Esta técnica tem sido utilizada de forma crescente em situações de insuficiência respiratória aguda e crónica agudizada. Será realizado neste artigo uma revisão bibliográfica relativa às indicações, vantagens e limitações desta técnica em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), seguido da apresentação da casuísta dos anos 2007/08 relativa à utilização de VNI na Unidade de Cuidados Intensivos Respiratórios (UCIR) do serviço de Pneumologia II - CHLN. Será, também, analisado o caso de um doente admitido na UCIR, estabelecendo-se os diagnósticos de enfermagem especificamente relacionados com a VNI e intervenções efectuadas. Este estudo de caso demonstra que uma correcta e precoce aplicação da VNI permite a diminuição do tempo de internamento, diminuição da mortalidade e comorbilidades, evitando complicações resultantes da aplicação de ventilação mecânica invasiva. Palavras-chave: Ventilação Não Invasiva; Diagnósticos Enfermagem, Unidade de Cuidados Intensivos Respiratórios. Abstract Noninvasive ventilation (NIV) is a mechanical ventilation method used without airway invasion. This technique has been used increasingly in situations of acute and chronic respiratory failure. It will be developed in this study a literature review about indications, benefits and limitations of this technique in intensive care units (ICU), followed by the presentation of the 2007/08 data about the use of NIV in the Respiratory Intensive Care Unit – UCIR (Pneumology II – CHLN). It will be also examined the case of a patient admitted to the UCIR, establishing nursing diagnoses specifically related to NIV. This case study shows that a correct and early application of NIV reduces the stay length, decreases mortality and comorbidities, avoiding complications resulting from the application of invasive mechanical ventilation. Keywords: Non Invasive Ventilation; Nursing Diagnoses, Respiratory Intensive Care Unit ıı DESENVOLVIMENTO Define-se VNI, como um método que fornece pressão positiva às vias aéreas, aumentando a pressão alveolar e suprindo as necessidades do fluxo aéreo do doente, sem recurso à via aérea artificial. Esta pode realizar-se com recurso a diversos interfaces, através do qual o ventilador fornece um fluxo de ar que pode ser enriquecido com oxigénio.1 1. Enfermeiras Nível 1, do CHLN, HPV 2. Enfermeiro Graduado do CHLN, HPV 68 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 A VNI, por pressão positiva, foi inicialmente utilizada como complemento ao tratamento da Síndrome Obstrutiva de Apneia do Sono, na década de 80. Actualmente é também usada em muitas situações de insuficiência respiratória crónica e/ou crónica agudizada. A VNI é uma forma de ventilação segura e eficaz, necessitando, no entanto, de uma selecção adequada de doentes. É uma técnica mais confortável para o doente (preserva a fala, a deglutição e os mecanismos de defesa das vias aéreas superiores), VIA SUBCUTÂNEA EM CUIDADOS PALIATIVOS: TEORIA E PRÁTICA fácil de instituir e de interromper, podendo ser usada de forma intermitente. Permite a redução do trabalho respiratório, a melhoria ou estabilização das trocas gasosas e do status hemodinâmico. Evitam-se assim complicações relacionadas com a colocação de uma via aérea artificial, sedação e ventilação mecânica invasiva. Existe, portanto, um menor risco de infecção nosocomial, do tempo de internamento em UCI, do tempo de internamento hospitalar, dos custos associados e da mortalidade.(3) No entanto, existem limitações associadas a esta técnica. É premente ponderar todas elas antes de iniciar a técnica, destacamos: a colaboração do doente, capacidade deste eliminar secreções, a fuga de ar em redor do interface, a inconstante administração de volumes o que poderá tornar a VNI mais lenta na correcção das alterações gasimétricas. (2) A VNI deve ser aplicada preferencialmente em unidades de ventilação não invasiva e UCI, dependendo do estado de consciência e gravidade clínica do doente. No entanto, mais importante que o local onde se realiza a VNI, é a experiência e a disponibilidade dos profissionais que a aplicam, quer na preparação do doente, no apoio, informação e controlo da ansiedade, gestão e conhecimento do material e monitorização de diversos indicadores ao longo da técnica.(3) A monitorização do doente, efectuada pelo enfermeiro, tem como finalidade determinar se os objectivos da técnica estão a ser atingidos. Destacam-se como indicadores para monitorização: os parâmetros programados no ventilador e efectuados pelo doente, frequência respiratória e saturação de O2, uso dos músculos acessórios, volumes e fugas de ar, conforto e colaboração do doente, assim como capacidade de eliminar secreções. O estado da pele, estado nutricional, administração de substâncias vasoactivas e parâmetros hemodinâmicos, são também aspectos a monitorizar durante a realização de VNI. Relativamente ao equipamento e material necessário para realização da técnica, destaca-se, além de uma escolha adequada do ventilador face às necessidades do doente, o interface que melhor se adapte ao doente e que permita optimizar a ventilação. As máscaras devem ser de material confortável e leve para diminuir o risco de irritação e lesão pela pressão exercida sobre a pele, devem ser transparentes para permitir a visualização e monitorização de secreções ou vómito, caso ocorram. Os interfaces para VNI utilizados na UCIR são as máscaras oronasais de gel ou silicone, máscara facial total e esporadicamente máscaras nasais e helmet. As complicações mais frequentes relacionadas com a VNI são: distensão abdominal, irritação ocular e úlcera de pressão. Destas, a úlcera de pressão é aquela que mais pode condicionar a tolerância ao interface e consequente manutenção da VNI. Esta complicação pode ser minimizada através da utilização de placas hidrocolóides nas zonas de pressão do interface, redução da tensão do sistema de fixação, aplicação de creme hidratante durante os períodos de repouso, com máscara de O2 convencional. Actualmente muitas são as indicações para aplicação da VNI, no entanto, è importante salientar que esta técnica apresenta uma forte evidência de sucesso no Edema Pulmonar Agudo Cardiogénico e na exacerbação da DPOC. (4) ıı CARACTERIZAÇÃO DA VNI NA UCIR Com o objectivo de enquadrar a realização de VNI na UCIR, foi realizada uma análise relativa aos anos 2007/08, dos doentes admitidos na UCIR que foram submetidos a VNI. No período compreendido entre Janeiro de 2007 e Dezembro de 2008, foram admitidos na UCIR 194 doentes, 68 dos quais, ou seja 35% foram submetidos a VNI. Destes 57 doentes (44,1%), tinham como diagnóstico de admissão DPOC agudizada e 16 (2 %) dos doentes apresentavam pneumonia. Do total de doentes que realizaram VNI, 58,8% foram casos de sucesso. Os doentes admitidos com DPOC agudizado que efectuaram VNI apresentam uma taxa de sucesso semelhante. No momento da transferência, 27,8% dos doentes saíram sob oxigenoterapia e 72,2% sob VNI, após estabilização clínica e com parâmetros ajustados. Neste grupo de doentes, a idade média de internamento foi de 71 anos, sendo que o número de horas médias diárias de VNI foi de 11,3 horas. De referir ainda que a maioria dos doentes admitidos (63,3 %) realizaram VNI durante 2 a 5 dias do seu internamento. O interface mais utilizado, num total de 127 dias de VNI analisados, foi a máscara oronasal (77,8%), seguido da máscara facial total (12,8%) e foi utilizada a máscara nasal em 9,4% das situações. No que diz respeito aos ventiladores, o mais utilizado foi o ventilador Respironics Vision® (43,8%), seguido do ventilador Viasys Avea® em 26,9% dos casos. Nos 127 dias de VNI analisados, num total de 68 doentes submetidos a VNI no período de 2007/08, destaca-se que 33,3% dos doentes não apresentaram qualquer complicação relacionadas com a VNI. Relativamente às úlceras de pressão, complicação mais determinante no sucesso da VNI, 23,5% (16 doentes) apresentaram úlceras de pressão, a referir que 25% (4 doentes) destas eram prévias ao internamento na UCIR. À data da alta da UCIR, 4 doentes apresentavam cicatrização total da lesão nasal. Do grupo de doentes submetidos a VNI, foi seleccionado um doente com o objectivo de exemplificar os cuidados de enfermagem específicos prestados em contexto de VNI, de forma, a garantir a eficácia da técnica e consequentemente a melhoria clínica do doente. ESTUDO DE CASO Trata-se de um doente do sexo masculino; raça caucasiana; 76 anos; sem hábitos tabágicos conhecidos. Tem como antecedentes pessoais DPOC com indicação para OLD e VNI nocturna no domicílio, HTA, hiperuricémia e status pós AVC. Recorre ao serviço de urgência por dispneia, tosse com expectoração, sem febre com acidose respiratória (pH 7.22, paCO2 84, paO2 51, HCO3 26) iniciando VNI ainda no serviço de urgência. No dia seguinte é internado no serviço de pneumologia, mantendo-se sob VNI. Após 4 dias de internamento é admitido na UCIR, por exacerbação da DPOC com Insuficiência Respiratória Aguda, com N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 69 ESPAÇO DO ENFERMEIRO necessidade de VNI contínua e eventual necessidade de ventilação mecânica invasiva, por alterações gasimétricas graves (pH 7.25, paCO2 110, paO2 64, HCO3- 35). À entrada na UCIR: neurologicamente com GCS 15; hemodinamicamente estável; com aporte de O2 por óculos nasais a 3l/m com Sat O2 85-90%, foi mantida VNI e procedeu-se a diversos ajustes de interfaces e parâmetros ventilatórios de acordo com a evolução do quadro clínico e valores gasimétricos. Tendo em conta o Processo de Enfermagem, delineou-se um Plano de Cuidados com os diagnósticos de enfermagem Diagnóstico de Enfermagem Resultado esperado Intervenções de Enfermagem Padrão respiratório ineficaz R/c: - Desequilíbrio da V/Q - Assincronia doente/ ventilador - Alteração racio O2/ CO2 Manifestado por: - Alterações gasimétricas (hipercapnia) - Taquipneia - Dispneia a pequenos esforços Que o doente - Explicar e motivar o apresente doente para aceitação um padrão da VNI; respiratório - Encorajar e incentivar eficaz o doente a comunicar o desconforto e dificuldades; especificamente relacionados com a VNI, formulados de acordo com formato PES, e segundo a terminologia NANDA. Foram planeadas intervenções e resultados esperados, e consequente avaliação/justificação das mesmas. Nesse sentido de forma a ir de encontro ao objectivo deste artigo, foi destacado do plano de cuidados elaborado para o doente, os diagnósticos de enfermagem: Padrão respiratório ineficaz e Alteração da integridade cutânea. Para facilitar a compreensão do quadro relativo ao Plano de Cuidados de Enfermagem e uma vez que estes respeitam uma ordem cronológica, optou-se por não mencionar as datas das intervenções. Justificação Avaliação - Permite uma melhor adaptação do doente à técnica - Doente colaborante, com aceitação e adaptação à VNI - Monitorizar estado de - O estado de consciência, consciência do doente; estabilidade hemodinâmica - Monitorizar e e adaptação ventilatória são registar parâmetros requisitos para o sucesso hemodinâmicos; da VNI - Promover adaptação do doente à VNI; - Monitorizar e - Permite um registo registar parâmetros evolutivo do doente ventilatórios, padrão respiratório e adaptação ventilatória - Manter VNI durante a - Diminui o cansaço prestação de cuidados associado ao esforço, (mobilizações e higiene) promovendo a participação do doente nos cuidados - Colaborar no ajuste do - Promover a sincronia ventilador/interface doente/ventilador que melhor se adapte à condição do doente: - Monitorizar o regime de - Promover o recrutamento pressões programadas alveolar, a melhoria da (IPAP/EPAP) do oxigenação, diminuir o ventilador, de forma, trabalho respiratório e a que estas sejam reinalação de CO2 no asseguradas circuito 70 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 - GCS 15; - Hemodinâmicamente estável; - Doente adaptado à VNI - Doente tolera mobilizações e cuidados de higiene, sob VNI - Alterado ventilador para Respironics ST-D30 (IPAP 18, EPAP 5) e interface para mascara facial total. Apresenta melhoria do padrão respiratório mas sem tradução gasimétrica, mantendo hipercapnia de 88 mmHg - Doente adaptado á VNI, a cumprir as pressões programadas VIA SUBCUTÂNEA EM CUIDADOS PALIATIVOS: TEORIA E PRÁTICA Diagnóstico de Enfermagem Resultado esperado Intervenções de Enfermagem Justificação Avaliação - Alterar interface para Máscara Oronasal de silicone - Assegurar uma ventilação - Doente adaptado, apresentando mais eficaz e diminuir as melhoria do volume corrente fugas em redor do interface, expiratório, com diminuição das após cicatrização da úlcera fugas em redor do interface; de pressão do septo nasal - Promover adaptação - Para programação da alta do - Após reavaliação gasimetrica do doente ao ventilador doente; apresenta PaCO2 de 60 mmHg; domiciliário (Resmed ® VAP III) - À data da alta doente estabilizado a realizar VNI, 3h no período da manhã, 3h à tarde e período nocturno, alternando com O2 por ON. Quadro 1 Plano de cuidados de Enfermagem, relativo ao diagnóstico de enfermagem: Padrão Respiratório Ineficaz Diagnóstico de Enfermagem Resultado esperado Intervenções de Enfermagem Compromisso da integridade cutânea Que o doente readquira a integridade cutânea - Aplicar placa de HC -Prevenção de lesões nas zonas de pressão cutâneas na zona de do interface e aplicação pressão do interface; de creme hidratante na face; - Vigiar integridade cutânea nas zonas de pressão do interface - Alternar períodos de - Permite alívio da pressão VNI com períodos com optimização da curtos com ON para perfusão tecidular alimentação, hidratação e higiene oral -Ajustar arnez do - O ventilador tem interface de forma capacidade de compensar permissiva, sem ajustar fugas moderadas, o que em demasia. permite aliviar a pressão exercida pelo interface, garantindo a eficácia da ventilação - Alterar interface para - Promoção do conforto do - Interface bem tolerado pelo Máscara Facial Total; doente por úlcera de grau II doente no septo nasal - Sem outras lesões faciais, tendo apresentado melhoria evolutiva da úlcera do dorso do nariz R/C - Interface/Longos períodos de VNI Manifestado por: - Ulcera de Pressão Grau II no dorso nasal Justificação Avaliação Quadro 2 Plano de cuidados de Enfermagem, relativo ao diagnóstico de enfermagem: Compromisso da integridade cutânea O doente foi transferido após 13 dias de internamento na UCIR. Na transferência o doente tem indicação para VNI durante o período nocturno, com IPAP 22, EPAP 6, FR 16, e O2 a 4 l/min, que alterna com ON a 2 L/min. Gasimetricamente com pH 7,40, PaCO2 64 mmHg, PaO2 83mmHg, HCO3- 39 e SpO2 96%. O doente esteve internado durante 35 dias, com 35 dias de VNI, esteve 4 dias em enfermaria de pneumologia, 13 dias na UCIR. Após transferência permaneceu mais 18 dias na Unidade de Cuidados Intermédios. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 71 ESPAÇO DO ENFERMEIRO ıı CONCLUSÃO ıı BIBLIOGRAFIA Como foi já referido, são factores determinantes em VNI: a experiência da equipa; a selecção adequada de doentes; a cooperação/educação do doente; a escolha/adaptação do ventilador e respectiva interface e uma monitorização hemodinâmica e ventilatória adequada. (3) 1. FELGUEIRAS, Joana [et al.] – Ventilação Não Invasiva numa Unidade de Cuidados Intermédios. Medicina Interna. Vol 13, nº2, Abril, Junho 2006 Os doentes com exacerbação do DPOC, com falência respiratória ligeira a moderada (pH 7,30 a 7,35) apresentam boa resposta à instituição da VNI. No entanto, mesmo os que apresentam falência respiratória mais grave e repercussões marcadas no pH (pH <7,25) podem obter benefícios com esta técnica, necessitando, no entanto, de uma vigilância muito mais apertada, visto que, nestes casos a taxa de falência é mais elevada. (3) O caso analisado demonstra que num doente com DPOC agudizado, mesmo com acidose respiratória grave, a correcta e precoce aplicação da VNI permite uma diminuição do tempo de internamento, diminuição da morbilidade e da mortalidade. Desta forma, para o sucesso da técnica, é premente que a equipa de enfermagem tenha formação específica sobre a mesma, modalidades ventilatórias, indicações, aplicações, vantagens e suas limitações. 72 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 2. FERREIRA, Susana [et al.] – Ventilação não invasiva. Revista Português de Pneumologia. Vol XV , nº 4, Julho/ Agosto 2009 3. INTERNATIONAL CONSENSUS Conference in Intensive Care medicine: Noninvasive positive pressure ventilation in acute respiratory failure. Intensive Care Medicine (2001).112-125. 4. MCCLENLLAND, Marc [et al.] – Noninvasive positive pressure ventilation in acute respiratory failure. UpToDate (2005). 5. Mehta S, Hill NS. State of the Art – Noninvasive Ventilation. Am J Respir Crit Care Med 2001;163:540-577 6. Bristh Thoracic Societs Standards of Care Commitlee - Noninvasive Ventilation in Acute Respiratory Failure.2002;57:192-211. 7. Kacmarek R.M.- “Noninvasive Positive-Pressure Ventilation:The Little Things Do Make the Difference!”. Respir Care 2003; 48 (10): 919-92 NORMAS DA ESTS PARA O ESTADIAMENTO GANGLIONAR PRÉ-OPERATÓRIO DO CPNPC. Normas da ESTS (European Society of Thoracic Surgeons) para o Estadiamento ganglionar pré-operatório do CPNPC. Maria Teresa Magalhães Godinho1 Em 2007, a ESTS (European Society of Thoracic Surgeons)publicou as normas de estadiamento ganglionar pré-operatório no CPNPC (Cancro do Pulmão não pequenas células)1. Estas “guidelines” correspondem às conclusões dos trabalhos dum grupo de estudos da ESTS e foram amplamente divulgadas e discutidas pelos seus membros. No número de Agosto deste ano do European Journal of Cardiothoracic Surgery, vem publicado um artigo2 que aprecia a validade destas normas no estadiamento de 168 doentes com CPNPC potencialmente operável. As conclusões do estudo validam as “guidelines” da ESTS para o estadiamento ganglionar pré-operatório do CPNPC. Isto apesar do estudo em questão apresentar algumas limitações como a não descrição da técnica de esvaziamento ganglionar intra-operatório nem a indicação da sua extensão, além da utilização da mediastinoscopia como único meio invasivo de estadiamento pré-operatório. ıı REFERÊNCIAS 1. De Leyn P, Lardinois D, Van Scil P,Rami-Porta R, Passlick B, Zielinski M, Waller D, Lerut T, Weder W. ESTS guidelines for preoperativelymph node staging for non-smal cell lung cancer. Eur J Cardiothoracic Surg 2007;32:1-8. 2. Gunluoglu M, Melek H, Medetoglu B, Demir A, Kara H, Dincer S. The validity of preoperative lymhp node staging guidelines of European society of Thoracic Surgeons in non-small cell lung cancer patients. Eur J Cardiothoracic Surg 2011;40: 287-90. 3. De Leyn P. Clinical value of ESTS guidelines on preoperative lymph node staging for NSCLC (editorial). Eur J Cardiothoracic Surg 2011;40: 280-1. No comentário que faz ao artigo,3 Paul de Leyn, um dos autores das normas de 2007, recorda que dispomos hoje de técnicas menos invasivas do que a mediastinoscopia para obter a histologia dos gânglios mediastínicos, como a TBNA-EBUS e a FNA-EUS, e por isso recomenda que a mediastinoscopia seja reservada para o re-estadiamento. Recordemos a este propósito os algoritmos propostos pela ESTS para o Estadiamento ganglionar pré-operatório do CPNPC (Fig.1 e 2). 1. Cirurgião Torácico, Directora do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Pulido Valente (1998-2010); Directora do Departamento do Tórax do CHLN; Professora Associada com Agregação, convidada da FCM da UNL. N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 73 ORIENTAÇÕES / NORMAS DE DIAGNOSTICO E TERAPEUTICA CT Negativa (N0) a Positiva (N2-N3) b Tratamento Cirúrgico Confirmação histológica c Mediastinoscopia Negativa Positiva EBUS/EUS d Negativa Tratamento Multimodal Figura 1 Algoritmo proposto pela ESTS para o Estadiamento ganglionar mediastínico, sem PET. a – o estadiamento invasivo só não é necessário nos tumores escamosos T1N0. b – em todos os outros casos, é necessário excluir metástases ganglionares por mediastinoscopia. c – técnicas endoscópicas podem ser primeira opção. d – mediastinoscopia indicada pelo seu alto valor preditivo negativo (VPN) 74 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 Positiva NORMAS DA ESTS PARA O ESTADIAMENTO GANGLIONAR PRÉ-OPERATÓRIO DO CPNPC. PET ou PET-CT Negativa (N0) Positiva (N2-N3) a Tratamento Cirúrgico Confirmação histológica b Mediastinoscopia Negativa EBUS/EUS c Positiva Negativa Positiva Tratamento Multimodal Figura 2 Algoritmo proposto pela ESTS para o estadiamento ganglionar mediastínico no CPNPC, quando há PET ou PET/CT. a – tumores centrais, com baixo uptake de FDG, N> ou = 1,6 cm, e/ou PET com N1. b – possível como primeira opção c – mediastinoscopia indicada por alto VPN N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 75 ORIENTAÇÕES / NORMAS DE DIAGNOSTICO E TERAPEUTICA Considerações práticas sobre a avaliação pré-operatória do risco cardíaco Practical consideration on the preoperative evaluation of cardiac risk Milan Satendra1, António Arsénio2, Roberto Palma Reis3 ıı INTRODUÇÃO As complicações cardiovasculares são causas importantes de morbilidade e de mortalidade em cirurgia. A incidência de morte cardíaca varia entre 0,5% e 1,5% após uma cirurgia major, e a taxa de complicações cardíacas não-fatais varia entre 2,0% e 3.5%. Entre os métodos utilizados para identificar os doentes susceptíveis a eventos cardiovasculares estão a avaliação clínica e exames cardíacos complementares não invasivos. Actualmente, a avaliação pré-operatória recomendada é a que foi proposta, em 2009, pela Sociedade Europeia de Cardiologia. Este trabalho tem como objectivo sistematizar, de uma forma simplificada, a abordagem a estes doentes à luz destas normas europeias. ıı ABORDAGEM AVALIAR URGÊNCIA DO PROCEDIMENTO CIRÚRGICO Em primeiro lugar deve ser avaliada a urgência do procedimento cirúrgico. Em caso emergentes a avaliação cardíaca não irá mudar o curso e o resultado da intervenção, mas pode influenciar a gestão dos factores de risco cardíacos no período pós-operatório imediato. CLARIFICAR DOENÇA CARDÍACA INSTÁVEL Perante sinais de doença cardíaca instável, tais como: • enfarte do miocárdio recente (últimos 30 dias) ou isquémia residual • angina de peito instável • insuficiência cardíaca aguda • arritmia cardíaca significativa • ou doença valvular cardíaca sintomática a situação clínica do doente deve ser clarificada e tratada de forma apropriada antes da cirurgia, podendo levar ao seu cancelamento ou atraso. DETERMINAR O RISCO CIRÚRGICO Determinar o risco cirúrgico para eventos cardíacos (morte cardíaca ou enfarte agudo do miocárdio) nos 30 dias após a cirurgia. Se o risco for baixo, é improvável que os resultados de exames pre-operatórios alterem a gestão clínica do doente e é recomendado prosseguir com o procedimento cirúrgico Tabela 1. AVALIAR CAPACIDADE FUNCIONAL A avaliação da capacidade funcional é um passo importante na avaliação pré-operatória do risco cardíaco. A capacidade funcional é mensurável pelos equivalentes metabólicos (METs). Nos doentes com capacidade funcional elevada, o prognóstico é excelente, mesmo na presença de cardiopatia isquémica ou factores de risco cardíacos. Um doente com capacidade funcional reduzida (<4 METs, não conseguir subir dois lances de escadas ou fazer uma curta corrida) está associado a uma maior incidência de eventos cardíacos no pós-operatório. Quando a capacidade funcional é reduzida ou desconhecida, a presença e o número de factores de risco cardíacos em relação ao risco da cirurgia vai determinar a estratificação do risco pré-operatório e a gestão clínica peri-operatória. 1. Interno do complementar de Cardiologia, Serviço de Cardiologia II – Hospital Pulido Valente EPE, Centro Hospitalar Lisboa Norte. 2. Assistente Graduado Hospitalar de Cardiologia, Serviço de Cardiologia II, Hospital Pulido Valente EPE, Centro Hospitalar Lisboa Norte 3. Director do serviço de Cardiologia, Serviço de Cardiologia II, Hospital Pulido Valente EPE, Centro Hospitalar Lisboa Norte 76 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS SOBRE A AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA DO RISCO CARDÍACO Baixo risco (<1%) Mama Dentária Endócrina Oftalmológica Ginecológica Reconstrutiva Ortopédica minor (joelho) Urológica minor Risco intermédio (1-5%) Abdominal Carotídea Angioplastia artéria periférica Reparação de aneurisma endovascular Cirurgia cabeça e pescoço Neurológica/Ortopédica major (anca e coluna) Transplante pulmonar / renal / hepático Urológico major Alto risco (>5%) Cirurgia aórtica ou vascular major Cirurgia vascular periférica Tabela 1 Estratificação do risco cardiovascular para cirurgias não cardíacas EXAMES PRÉ-OPERATÓRIOS ANTIAGREGAÇÃO E ANTICOAGULAÇÃO ORAL Nas cirurgias de risco intermédio ou superior, é recomendado o electrocardiograma pré-operatório nos doentes que apresentem um ou mais dos seguintes factores de risco cardíacos. A interrupção de antigregantes plaquetários em doentes com cardiopatia isquémica está associada a um risco três vezes superior de eventos cardíacos no pós-operatório. Assim, apenas deve ser considerada nos doentes em quem a hemostase é difícil de controlar durante a cirurgia e quando o risco hemorrágico é superior ao benefício cardíaco. Considera-se um procedimento cirúrgico de alto risco hemorrágico quando não se consegue fazer compressão da hemorragia. Nos doentes em que se requere a interrupção temporária da antigregação plaquetária, recomenda-se a sua interrupção por pelo menos 5 dias e, de preferência até 10 dias, antes do procedimento cirúrgico. A terapêutica pode ser retomada após 24 horas (ou na manhã seguinte) após a cirurgia, quando há hemostase adequada. Nos doentes em necessidade de um procedimento cirúrgico urgente, com potencial risco de vida por hemorragia excessiva intra-operatório, a transfusão de plaquetas ou a administração de outros agentes pro-hemostáticos é recomendada. Nas cirurgias de alto risco, é recomendada a realização de testes de isquémia não-invasivos nos doentes que apresentem mais de 3 dos seguintes factores de risco cardíacos. • Factores de risco cardíacos: • Angina de peito • Enfarte agudo do miocárdio • Insuficiência Cardíaca • Acidente vascular cerebral ou isquémico transitório • Disfunção renal (creatinina sérica >2 mg/dL ou clearance de creatinina < 60mL/min) • Diabetes mellitus sob insulinoterapia Electrocardiograma pré-operatório Classe Nível I B Deve ser considerado em doentes com factores de risco e agendados para cirurgia de baixo risco IIa B Pode ser considerado em doentes sem factores de risco e agendados para cirurgia de risco intermediário IIb B Não recomendados em doentes sem factores de risco e agendados para cirurgia de baixo risco III B Recomendado em doentes com factores de risco e agendados para cirurgia de risco intermediário ou alto Ecocardiograma trans-torácico em repouso Classe Nível Deve ser considerado para avaliação da função ventricular esquerda em doentes agendados para cirurgia de alto risco IIa C Não recomendado em doentes sem factores de risco e agendados para cirurgia de risco baixo ou intermediário III B Classe Nível I C Pode ser considerado em doentes com ≤3 factores de risco e agendados para cirurgia de alto risco IIb B Pode ser considerado em doentes agendados para cirurgia de risco intermédio IIb C Não recomendados em doentes agendados para cirurgia de baixo risco baixo III C Testes de isquémia Recomendado em doentes com ≥3 factores de risco e agendados para cirurgia de alto risco Tabelas 2, 3 e 4 Recomendações para a realização de testes de isquémia não-invasivos pré-operatórios N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011 | BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE 77 ORIENTAÇÕES / NORMAS DE DIAGNOSTICO E TERAPEUTICA Baixo risco tromboembólico / baixo risco hemorrágico Continuar terapêutica anticoagulante com o INR em níveis terapêuticos Baixo risco tromboembólico / alto risco hemorrágico Descontinuar terapêutica anticoagulante 5 dias antes do procedimento Iniciar heparina de baixo peso molecular (HBPM) em dose profilática ou heparina não fraccionada (HNF) um dia após interrupção de acenocumarol e dois dias após interrupção de varfarina. Administrar a última dose de HBPM pelo menos 12 horas antes do procedimento ou suspender HNF até 4 horas antes da cirurgia De acordo com o estado hemostático, retomar HBPM ou HNF na dose pré-operatória 1 a 2 dias (pelo menos 12 horas) após o procedimento. Retomar a terapêutica anticoagulante 1 a 2 dias após procedimento na dose pré-operatória + 50% aumento da dose durante dois dias consecutivos HBPM ou HNF deve ser mantida até que o INR retorne aos níveis terapêuticos Alto risco tromboembólico Descontinuar terapêutica anticoagulante 5 dias antes do procedimento Iniciar heparina de baixo peso molecular (HBPM) duas vezes por dia ou heparina não fraccionada (HNF) um dia após interrupção de acenocumarol e dois dias após interrupção de varfarina. Administrar a última dose de HBPM pelo menos 12 horas antes do procedimento ou suspender HNF até 4 horas antes da cirurgia De acordo com o estado hemostático do doente, retomar HBPM ou HNF na dose pré-operatória 1 a 2 dias (pelo menos 12 horas) após o procedimento. Retomar a terapêutica anticoagulante 1 a 2 dias após procedimento na dose pré-operatória + 50% aumento da dose durante dois dias consecutivos HBPM ou HNF deve ser mantida até que o INR retorne aos níveis terapêuticos Tabelas 5, 6 e 7 Recomendações para a gestão da anticoagulação no peri-operatório A anticoagulação oral está associada a aumento de risco de hemorragia durante o procedimento cirúrgico. Em alguns doentes, o risco é suplantado pelo benefício (ex: válvulas cardíacas mecânicas, fibrilhação auricular) e a terapêutica anticoagulante deve ser mantida ou modificada. ıı LEITURA RECOMENDADA 1. Poldermans D, Bax JJ, Boersma E, et al. Guidelines for pre-operative cardiac risk assessment and perioperative cardiac management in non-cardiac surgery. Eur Heart J. 2009; 30(22):2769-812. 78 BOLETIM HOSPITAL PULIDO VALENTE | N.º 1 – JANEIRO A DEZEMBRO 2011