determinação da forma de reservatórios baseada nas curvas

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determinação da forma de reservatórios baseada nas curvas
DETERMINAÇÃO DA FORMA DE RESERVATÓRIOS BASEADA NAS
CURVAS HIPSOGRÁFICAS DE VOLUME X PROFUNDIDADE
José Nilson B. Campos 1 ; Luiz Sérgio V. Nascimento 2 e Ticiana M. de Carvalho Studart1
Resumo - O trabalho trata da classificação de uma amostra de reservatórios superficiais no Estado
do Ceará segundo os critérios propostos por Hånkanson, em 1981. Tal classificação baseia-se na
curva hipsográfica área vs. profundidade, dividindo os reservatórios em cinco classes: muito
convexo, convexo, ligeiramente convexo, linear e côncavo. Coletou-se inicialmente dados de 71
reservatórios que dispunham somente das curvas volume vs. profundidade. A partir de cada curva
volume vs. profundidade, obteve-se a curva profundidade vs. área através da relação rotineiramente
usada pelos técnicos do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), a qual
determina que o incremento em volume é igual ao incremento em profundidade vezes a área média
do lago. Com esta transformação, verificou-se a inconsistência em algumas curvas. Excluindo-se os
reservatórios inconsistentes, restaram 31 reservatórios para o estudo. Para facilitar futuras análises,
criou-se, a partir das curvas de Hånkanson, novos critérios para definição das classes baseados nas
curvas volume vs. profundidade. Observou-se que os reservatórios da amostra consistente
enquadraram-se nas seguintes classes: 18 ligeiramente convexos, 11 convexos e somente dois
reservatórios lineares.
Abstract - The present paper intends to make a classification of a sample of 71 reservoirs regarding
to their area vs. depth curves. The methodology is the one proposed in 1981 by Hånkanson, which
fits the hypsographic curves into the following fields: very convex, convex, slightly convex, linear
and concavous. Initially it was collected data from 71 reservoirs which volume vs. depth curves
were available. From each curve, it was obtained its depth vs. area curves, using a relation
commonly used by the technicians of DNOCS. With these transformations, it was verified an
inconsistency in the data of a lot of reservoirs, remaining only 31 of them which the data were
totally consistent. To facilitate future analysis, the classification of Hånkanson was transformed to
volume vs. depth curve. It was observed that, in the consistent sample, 18 were considered as
slightly convex, 11 as convex and only two reservoirs were considered as linear.
Palavras Chave: Reservatório; Curva Hipsográfica.
1
Professores do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará - Campos do Pici - Bloco 713 - Fone:
(85)288.9623 – Fax(85)288.9627 – e-mail: [email protected] e [email protected]
2
Estudante do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, Bolsista de Iniciação Científica do CNPq – e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Os reservatórios superficiais constituem-se em uma das principais obras hidráulicas do
Nordeste Brasileiro, já tendo sido construídos centenas deles de médio a grande porte e milhares
dos de pequeno porte. Muitas pesquisas em hidrologia têm sido executadas, formando um
substancial acervo de conhecimentos e conceitos em engenharia de reservatórios. Contudo, quando
o assunto é morfologia dos lagos, há poucos estudos realizados. Há também carência de um banco
de dados organizado com informações sobre a geometria dos açudes.
O presente artigo trabalha na área de morfologia e procura, a partir de uma amostra de açudes
no Ceará, conhecer as formas dos reservatórios do Estado, para posterior análise dos reservatórios
naturais e artificiais do Nordeste semi-árido.
Considerando-se que, em muitos casos, as curvas hipsográficas profundidade vs. volume são
as de mais fácil acesso, construiu-se um novo diagrama que permite classificar os reservatórios, nas
mesmas classes propostas por Hånkanson, utilizando-se, desta vez, as curvas profundidade vs.
volume.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento dos estudos, selecionou-se inicialmente uma amostra de 71
reservatórios situados no Estado do Ceará. Para a classificação dos reservatórios na forma proposta
por Hånkanson (citado por Sperling, 1999), seria necessário a obtenção da curva hipsográfica área
vs. profundidade.
Como se dispunha, na maioria dos casos da amostra selecionada, apenas da curva volume vs.
profundidade, sentiu-se a necessidade de se adaptar a classificação de Hånkanson, baseada nas
curvas área vs. profundidade (Figura 1), em outra, baseada nas curvas volume vs. profundidade, já
que esta também pode retratar com fidelidade a forma do reservatório. Tal transformação foi feita
baseada na Equação 1, rotineiramente utilizada pelos técnicos do Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas (DNOCS), órgão que construiu a maioria dos açudes da amostra.
ΔV = 1/2. Δh.(An + An-1)
(1)
Com a transformação, verificou-se a inconsistência nos dados de muitos reservatórios, uma
vez que, após a transformação, 40 deles apresentaram curvas inconsistentes com a realidade,
restando apenas 31 para análise. Formou-se então um subconjunto para analisar a classificação da
forma dos mesmos, com capacidades variando de 6,43 hm3 a 434,05 hm3 (Tabela 1).
Tabela 1. Características dos 31 reservatórios no Estado do Ceará utilizados para classificação segundo os
critérios de Hånkanson
Área da Bacia
Situação do
Capacidade
Hidrográfica
Rio/Riacho Barrado
3
Reservatório
(hm )
(Km2)
Açude
Município
Araras
Reriutaba
86,09
3.520,00
Existente
Acaraú
Arneiroz II
Arneiroz
190,00
2.168,79
Programado
Rio Jaguaribe
Atalho II
Jati
108,25
550,40
Existente
Dos Porcos
Bastiões
Assaré
136,70
2.012,65
Programado
Rio Bastiões
Bastiões
-
136,70
-
Existente
-
Benguê
Aiuaba
19,56
905,38
Programado
Rio Umbuzeiro
Berê
Jardins
8,21
1.401,93
Programado
Riacho Jardins
Canafístula
Iracema
13,12
58,38
Existente
Foice
Canoas
Assaré
69,25
575,40
Existente
Riacho São Miguel
Castela
-
2.462,76
-
Existente
-
Cipoaba
Morada Nova
17,25
372,60
Existente
Santa Rosa
Ema
Iracema
10,39
95,40
Existente
Bom Sucesso
Farias Brito
Farias Brito
197,60
1.231,78
Programado
Rio Cariús
Forquilha
Sobral
50,13
176,00
Existente
Oficina e Conceição
General Sampaio
General Sampaio
322,20
1.720,00
Existente
Curu
Goitá
-
51,90
-
Existente
-
Juca
Parambú
34,17
659,44
Programado
Riacho Jucá
Lima Campos
Icó
66,38
340,00
Existente
São João
Mamoeiro
Saboeiro
219,90
1.436,73
Programado
Riacho Conceição
Nobre
Senador Pompeu
22,09
18,10
Existente
Nobre
Pedras Brancas
Quixadá
434,05
1.787,00
Existente
Sitiá
Poço da Pedra
Campos Sales
50,00
800,00
Existente
Conceição
Pombas
Umari/Baixio
17,58
137,83
Programado
Riacho da Pombas
Prazeres
Barro
32,50
123,47
Existente
Das Cuncas
Tabela 1. Características dos 31 reservatórios no Estado do Ceará utilizados para classificação segundo os
critérios de Hånkanson (continuação)
Área da Bacia
Situação do
Capacidade
Hidrográfica
Rio/Riacho Barrado
3
Reservatório
(hm )
(Km2)
Açude
Município
Puiú
Arneiroz
24,50
827,22
Programado
Riacho Puiu
Quixeramobim
Quixeramobim
54,00
8.300,00
Existente
Quixeramobim
Rivaldo de Carvalho
Catarina
6,43
268,42
Existente
Condado
Rosário
Lavras da
Mangabeira
62,98
90,64
Existente
Riacho Rosário
Rosário
-
62,98
-
Existente
-
São José II
Piquet Carneiro
29,15
1.554,00
Existente
São Gonçalo
Trapia II
Pedra Branca
18,19
187,45
Existente
Riacho Cachoeira
Fonte: Ceará (1992)
Conforme proposto por Hånkanson (op.cit.), os reservatórios podem ser classificados em
Muito Convexo, Convexo, Ligeiramente Convexo, Linear e Côncavo de acordo com sua curva
hipsográfica área vs. profundidade. Criou-se, então, seis reservatórios hipotéticos, cada um
enquadrando-se à correspondente curva hipsográfica área vs. profundidade limítrofe de duas
classes, numeradas na Figura 1.
0
10
20
30
40
Área (%)
50
60
70
80
90
100
0
Curva 1
10
20
Profundidade (%)
30
40
50
M
to
ui
o
ex
nv
o
C
Curva 2
Curva 3
xo
ve
n
Co
te
en
m
ira
ge
Li
60
L
Co
o
ex
nv
Curva 5
r
ea
in
70
80
Curva 4
n
Co
vo
ca
Curva 6
90
100
Figura 1 – Determinação da forma de um lago (Fonte: Sperling, 1999)
Os reservatórios hipotéticos foram definidos conforme a Tabela 2.
Tabela 2 - Definição dos reservatórios hipotéticos
Curva
Reservatório Hipotético
Simbologia
1
Muito Convexo
MCx
2
Muito Convexo – Convexo
MCx – Cx
3
Convexo – Ligeiramente Convexo
Cx – LCx
4
Ligeiramente Convexo – Linear
LCx – L
5
Linear – Concavo
L – Cv
6
Côncavo
Cv
Criou-se então uma tabela com os dados apresentados no gráfico e, com esta, reconstituiu-se a
curva área vs. profundidade dos reservatórios hipotéticos apresentados, com o objetivo de construir
uma nova divisão, transformando a existente, em uma divisão baseada na curva volume vs.
profundidade.
Para a transformação da curva área vs. profundidade em volume vs. profundidade utilizou-se a
Equação 1, criando, assim, a curva desejada. Os volumes da curva foram multiplicados por uma
constante, definida pela Equação 2:
C = Kr/Krh
(2)
onde Kr representa a capacidade do reservatório real e Krh, a do reservatório hipotético. Esta
deformação foi feita para se conservar a capacidade do reservatório.
A nova classificação baseada na curva hipsográfica volume x profundidade foi apresentada
também na forma de gráfico, como mostra a Figura 2. Para a construção desta figura foram
utilizados os dados provenientes da amostra dos 31 reservatórios, sendo possível, assim, a
representação de uma maior quantidade de pontos, aumentando a precisão dos resultados.
.
0
10
20
30
Volume (%)
40
50
60
70
80
90
100
0
10
20
Profundidade (%)
30
40
50
60
nv
Co
o
ex
xo
ve
ito
on
u
o
C
M
ex
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nv
me
Co
a
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L ig
r
ea
L in
o
av
nc
o
C
70
80
90
100
Figura 2 – Curvas para a classificação de Hånkanson das formas dos reservatórios a partir das
curvas hipsográficas profundidade x volume.
RESULTADOS
De posse do gráfico para a classificação dos reservatórios com base na curva hipsográfica
volume vs. profundidade (Figura 2), procedeu-se o enquadramento dos 31 reservatórios da amostra
em suas respectivas classificações. Os resultados obtidos foram expressos em forma de tabela e
gráfico, no intuito de sintetizar as informações. A Tabela 3 representa o conjunto de reservatórios
analisados com suas respectivas classificações.
Tabela 3. Classificações do reservatórios de acordo com a metodologia proposta
Reservatório
Forma do Lago
Reservatório
Forma do Lago
Araras
Convexo
Juca
Linear
Arneiroz II
Ligeiramente Convexo
Lima Campos
Ligeiramente Convexo
Atalho II
Ligeiramente Convexo
Mamoeiro
Ligeiramente Convexo
Bastiões
Ligeiramente Convexo
Nobre
Ligeiramente Convexo
Bastiões
Ligeiramente Convexo
Pedras Brancas
Convexo
Benguê
Ligeiramente Convexo
Poço da Pedra
Linear
Berê
Convexo
Pombas
Ligeiramente Convexo
Canafístula
Ligeiramente Convexo
Prazeres
Convexo
Tabela 3. Classificações do reservatórios de acordo com a metodologia proposta (continuação)
Reservatório
Forma do Lago
Reservatório
Forma do Lago
Canoas
Convexo
Puiú
Ligeiramente Convexo
Castela
Convexo
Quixeramobim
Ligeiramente Convexo
Cipoaba
Ligeiramente Convexo
Rivaldo de Carvalho
Ligeiramente Convexo
Ema
Ligeiramente Convexo
Rosário
Convexo
Farias Brito
Ligeiramente Convexo
Rosário
Convexo
Forquilha
Convexo
São José II
Convexo
General Sampaio
Convexo
Trapia II
Ligeiramente Convexo
Goitá
Ligeiramente Convexo
-
-
A classificação dos reservatórios da amostra também pode ser apresentada em forma de
gráfico, facilitando, assim, a noção da representação de cada classe na amostra total (Figura 3)
Ligeiramente Convexo
Convexo
Linear
Figura 3 – Representação gráfica da classificação dos reservatórios estudados.
CONCLUSÕES
O presente trabalho classificou uma amostra de reservatórios do Estado do Ceará segundo os
critérios propostos por Hånkanson (op.cit.). A amostra inicial era formada por 71 reservatórios do
Estado do Ceará. Procedeu-se, inicialmente, uma análise de consistência entre volume e área. Da
amostra de 71 reservatórios, 40 apresentaram algum tipo de inconsistência e foram descartados para
fins de classificação.
A maior facilidade de se obter a curva hipsográfica volume vs. profundidade em relação à
curva área vs. profundidade foi a principal motivação para que se construísse novas curvas de
classificação adaptadas de Hånkanson, a partir das curvas cota vs.volume.
Os resultados mostraram que os reservatórios da amostra se enquadraram nas seguintes
classes: 18 ligeiramente convexos; 11 convexos e 2 lineares. Não houve registro de reservatórios
côncavos.
Estudos adicionais continuam sendo desenvolvidos pelo Grupo de Recursos Híricos do
Departamento de Engenharia Hidráulica da Universidade Federal do Ceará, no sentido ampliar
significativamente o tamanho da amostra e a aprofundar a análise. Estudos também estão sendo
desenvolvidos para estimar como a forma do reservatório interfere na estimativa da vazão
regularizada, ao se substituir as curvas hipsográficas verdadeiras por equações matemáticas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEARÁ. (1992). Plano Estadual de Recursos Hídricos. Secretaria de Recursos Hídricos do
Estado do Ceará.
SPERLING, E.V. (1999). Morfologia de Lagos e Represas. DESA/UFMG, Belo Horizonte, MG.

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