boletim - SOBED-RJ

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boletim - SOBED-RJ
Rio de Janeiro, ano XX, abril de 2015, nº 191
BOLETIM
informativo
NOTÍCIAS
Reunião de maio ocorre no dia 4 e abordará Sedação em Endoscopia Digestiva
A diretoria da SOBED-RJ convida seus associados para a
reunião científica de maio da entidade a ser realizada no dia 4,
segunda-feira, a partir das 19h, no auditório da Casa de Saúde
São José, no Humaitá.
O evento contará com apresentação de caso clínico do
Hospital Federal de Ipanema e terá como palestra principal
Sedação em Endoscopia Digestiva: prática diária e situações
especiais, com os Dr. Gustavo Francisco de Souza e Mello,
médico endoscopista do Instituto Nacional do Câncer e membro
titular da SOBED-RJ, e o Dr. Guilherme Iso, membro da
SBA/SAERJ. A moderação ficará a cargo da Dra. Huang Ling Fang, médica do serviço de Gastroenterologia do HUCFF/UFRJ e
médica do serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Federal de Ipanema.
A Casa de Saúde São José fica na Rua Macedo Sobrinho, 21.
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ÓRGÃO INFORMATIVO SOBED-RJ Edição mensal
BOLETIM SOBED-RJ, ano XX, abril de 2015, nº 191
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ÍNDICE
página 1 NOTÍCIAS | REUNIÃO CIENTÍFICA DE MAIO página 2 PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA
página 3 CONDUTA ENDOSCÓPICA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
NÃO-VARICOSA E NÃO-ULCEROSA
página 7 CASO CLÍNICO DO MÊS
página 9 PRÓXIMOS EVENTOS
página 10 RESIDÊNCIA MÉDICA EM ENDOSCOPIA
PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA Dr. Ronaldo Taam
Insisto, mais uma vez, na necessidade de conscientização dos endoscopistas em se
filiarem à SOBED visando ao fortalecimento da sociedade. Ela atua como instrumento de
reivindicações da especialidade em suas diversas esferas, além dos programas e cursos de
aperfeiçoamento técnico-profissional. A palavra união perde a força de seu sentido quando
interesses diversos se contrapõem a um objetivo maior. Em função da redução de
patrocínios, nesse momento de incertezas econômicas do país, o maior número de
associados permitirá a manutenção das atividades da SOBED.
A SOBED Nacional está envidando esforços para disponibilizar benefícios aos seus
associados, como o acesso a diversos periódicos através do sistema RIMA e descontos especiais em atividades
científicas, como o programado para o curso de pós-graduação da ASGE durante a SBAD.
O nível de inadimplência da SOBED RJ é de 13,95%, considerando os últimos 2 anos, número semelhante
ao observado em nível nacional (14%). A inadimplência ocorre mais frequente com sócios aspirantes, embora
alguns titulares também estejam na lista. Situação pior é representada por endoscopistas que não são associados.
Torna-se necessário resgatar e cooptar esses colegas, convencendo-os de que reuniões científicas, boletins,
simpósios, congressos, consultoria econômica para cálculo de custos em endoscopia, assessoria jurídica, reuniões
frequentes com as operadoras da saúde suplementar, além de outras atividades, são realizadas pela sociedade em
prol de seus filiados. A participação das empresas patrocinadoras será menor esse ano e a previsão orçamentária
considerando as anuidades se mostra, no momento, como o caminho mais seguro.
O cotidiano atribulado muitas vezes nos impede de uma reflexão mais profunda ou participação mais
efetiva, porém é papel da diretoria agregar os endoscopistas.
Está programada para este mês uma reunião com a Unimed Rio para discutir as alterações impostas pela
cooperativa em virtude dos ajustes administrativos. Uma contraproposta com os valores dos procedimentos
endoscópicos mais frequentes foi enviada ao grupo UNIDAS e uma reunião deve ser realizada para acertos finais.
Os resultados dessas negociações com as operadoras serão informados aos associados.
O site da SOBED RJ dispõe de um canal de comunicação para sugestões e críticas. Convido os sócios a
realizarem o recadastramento.
GESTÃO 2014 - 2016
presidente RONALDO TAAM
vice-presidente LUIZ ARMANDO RODRIGUES VELLOSO
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1ª secretária LILIAN MACHADO SILVA
1º tesoureiro FLAVIO ABBY
2ª secretária PAULA PERUZZI ELIA
2º tesoureiro JOÃO CARLOS DE ALMEIDA SOARES
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CONDUTA ENDOSCÓPICA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA
ALTA NÃO-VARICOSA E NÃO-ULCEROSA
TJWA, Eric T.T.L.; HOLSTER, Lisanne I.;KUIPERS, Ernst J. Endoscopic Management of Nonvariceal,
Nonulcer Upper Gastrointestinal Bleeding. Gastroenterol Clin N Am, n.43, p.707-719, 2014.
INTRODUÇÃO
A c o n d u ta e n d o s c ó p i c a n a h e m o r ra g i a
digestiva consiste na terapia de injeção (com
epinefrina, cianocrilato ou outro agente
e s c l e ro s a n t e ) , t e ra p i a t é r m i c a , m o d a l i d a d e s
mecânicas como hemoclipes e over-the-scope-clips
e, mais recentemente, hemospray. Existem sólidas
evidências do seu uso tanto no sangramento
ulceroso quanto no varicoso, entretanto, para outras
modalidades, isso não é tão bem estabelecido. Esse
artigo aborda o tratamento endoscópico de causas
não-ulcerosas e não-varicosas na hemorragia
digestiva alta (HDA).
CAUSAS EROSIVAS DE HDA
Os anti-inflamatórios não esteroidais são a
principal causa de erosão induzida por droga. Eles
são responsáveis por petéquias hemorrágicas
intramucosa, erosões hemorrágicas superficiais,
ga st ro d u o d e n i te e u l c e ra ç ã o . E m u m e st u d o
endoscópico em 187 pacientes utilizando aspirina
em dose baixa por pelo menos três meses, com ou
sem agente gastroprotetores, foram observadas
erosões em 34 a 63% dos casos respectivamente.
Outras classes de drogas, são os inibidores
seletivos da recaptação da serotonina,
corticoesteróides, bifosfonatos, comprimidos de
potássio, alguns antibióticos (eritromicina, ácido
nalidíxico, sulfonamidas e derivados) e vários
agentes quimioterápicos.
Grandes hérnias de hiato podem resultar em
erosões lineares e ulcerações, chamadas de lesões
de Cameron, dentro do estômago, na impressão
diafragmática. Elas ocorrem predominantemente ao
longo da pequena curvatura, sendo geralmente
secundária à trauma mecânico e a dano ácido.
Ocorrem em aproximadamente 10 a 20% dos
pacientes com hérnia maior ou igual a 5,0cm.
Há muitas possibilidades para ocorrência de
êsofagogastroduodenite erosiva tais como consumo
excessivo de álcool, uso de drogas causadoras de
erosão (ver acima), refluxo gastroesofágico e
i n fe c c ç ã o p e l o H e l i c o b a c t e r p y l o r i . E r o s õ e s
gastroduodenais infrequentemente causam
sangramento significativo.
Conduta Endoscópica de Causas Erosivas de HDA
A endoscopia tem papel secundário. O
tratamento de escolha é a supressão ácida, levando à
cicatrização de mucosa e estabilização dos níveis de
h e m o g l o b i n a . Ev e n t u a l m e n t e , o t ra t a m e n t o
endoscópico é necessário. Uma abordagem
diferente pode ser o controle do sangramento com
Hemospray, que é um novo pó desenvolvido para o
tratamento da HDA, cujo mecanismo de ação seria a
absorção de líquidos no sítio de sangramento,
formando uma barreira adesiva e coesiva no local.
Quando usado como monoterapia primária, a taxa de
h e m o s t a s i a i m e d i a t a é d e 8 5 % c o m t a xa d e
ressangramento em sete dias de 15%. Quando usado
como terapia de resgate, após falhas de métodos
tradicionais, a hemostasia inicial é de 100%, com
ressangramento em 25%, refletindo a natureza
refratárias dessas lesões. Causas de HDA nãoulcerosa e não-varicosa incluem esofagite, gastrite
e/ou duodenite erosiva, lesões de Dieulafoy, ectasia
vascular gástrica antral (GAVE) e lesões de MalloryWeiss. O uso de antirombóticos não influencia no
sucesso da terapia com Hemospray.
HDA CAUSADA POR ANOMALIAS VASCULARES
As causas mais comuns são angiodisplasias,
lesão de Dieulafoy e GAVE. Embora não seja uma
verdadeira anomalia, mas um resultado de uma
congestão, a gastropatia hipertensiva portal é
classificada na mesma categoria das lesões
vasculares.
Angiodisplasia
Angiodisplasia é definida como uma lesão
vascular bem delimitada dentro da mucosa, com
típica aparência avermelhada, com superfície plana
ou discretamente elevada. É geralmente adquirida,
mas sua etiologia exata é incerta. São
frequentemente múltiplas e vistas no cólon, mas que
também podem acometer estômago e intestino
delgado, incluindo o duodeno. Pacientes podem
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apresentar anemia ferropriva crônica, assim como
quadro agudo de sangramento gastrointestinal (GI)
com melena e, mais raramente, hematêmese.
Lesão de Dieulafoy
Lesões de Dieulafoy ocorrem mais
comumente no estômago proximal, ao longo da
pequena curvatura, podendo ser identificadas no
esôfago, intestino delgado e cólon. Consiste numa
artéria tortuosa e dilatada, que se projeta através da
mucosa e pode causar hemorragia GI maciça pela
erosão da artéria. Acredita-se que seja causada por
uma combinação de fatores, como o estiramento da
parede vascular durante os movimentos
peristálticos e pela erosão da parede causada pela
digestão péptica. Correspondem a 1 a 6% dos casos
de HDA não-varicosa.
Ectasia Vascular Gástrica Antral
GAVE é endoscopicamente reconhecida
como um padrão linear de listras avermelhadas no
antro, separadas por mucosa normal. Tem sido
a s s o c i a d a a c o n d i ç õ e s a u to i m u n e s d i ve rs a s ,
insuficiência renal e transplante de medula óssea.
G AV E t a m b é m é c h a m a d a d e “e s t ô m a g o e m
melancia” (watermelon stomach) e é confundida
frequentemente com gastropatia hipertensiva
p o r ta l . E m b o ra a G AV E s e j a i n t i m a m e n te
relacionada à hipertensão portal, ela pode ocorrer
mesmo na sua ausência e geralmente não responde
aos tratamentos que reduzem a pressão portal.
Gastropatia Hipertensiva Portal
A gastropatia hipertensiva portal ou
gastropatia congestiva portal, corresponde a
c a p i l a r e s d i l a t a d o s d a m u c o s a gá s t r i c a s e m
inflamação. É observada apenas em paciente com
hipertensão portal. Quando presentes no intestino
d e l ga d o e n o c ó l o n , é c h a m a d a e n t e ro p a t i a
hipertensiva portal e colopatia hipertensiva portal.
O grau de hipertensão portal necessário para o
desenvolvimento de gastropatia hipertensiva portal
permanece controverso. O sangramento nessas
condições é geralmente lento, difuso e “em lençol” ,
podendo ser agudo e até mesmo maciço.
Conduta Endoscópica Nas Anomalias Vasculares e
Gastropatia Hipertensiva Portal
O tratamento endoscópico atual no
sangramento das angiodisplasias consiste na terapia
de coagulação. Embora as taxas de sucesso sejam
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altas, alguns paciente podem apresentar anemia
recorrente ou sangramento evidente. Em caso de
sangramento no intestino delgado, sessões
repetidas de coagulação com plasma de argônio
(APC) por via enteroscópica demonstrou ser um
método factível e bem sucedido.
Nas lesões de Dieulafoy, o tratamento
endoscópico com hemoclipe ou ligadura elástica,
consegue atingir hemostasia em 90% dos casos.
O tratamento de escolha para tratamento ativo ou
recorrente secundário a GAVE são sessões repetidas
de APC. Publicações mais recentes têm sugerido que
o tratamento com ligadura elástica resultaria em um
m e n o r n ú m e ro d e s e s s õ e s n e c e s s á r i a s p a ra
controlar o sangramento e uma menor taxa de
recorrência quando comparado ao tratamento com
APC.
Em relação à gastropatia hipertensiva portal,
n ã o h á te ra p i a e n d o s c ó p i c a e sta b e l e c i d a . O
tratamento consiste em reduzir a pressão venosa
portal pelo uso de β bloqueadores não-seletivos,
drogas vasoativas e/ou shunt portossistêmico intrahepático (TIPS).
SANGRAMENTO EM LESÕES NEOPLÁSICAS
Lesões neoplásicas (tanto primárias quanto
metastáticas) do trato digestivo alto correspondem
a 2 e 8% dos casos de HDA, sendo o adenocarcinoma
gástrico o mais prevalente entre os pacientes que se
apresentam com HDA.
Conduta Endoscópica no Tratamento de Neoplasias
Sangrantes
A terapia endoscópica convencional não
costuma ser efetiva, pois os tumores estão além do
alcance dos métodos térmicos ou mecânicos em
virtude de sua complexa angiogênese. A conduta
endoscópica foi estudada em 42 pacientes com
câncer GI primário. Em aproximadamente metade
dos pacientes, HDA grave foi a primeira manifestação
da doença, e a maioria se apresentava em estágio
avançado com grandes massas tumorais ulceradas. A
hemostasia endoscópica só foi conseguida nos casos
menos avançados e não difusos.
A radioterapia e a embolização transarterial
( TA E ) f o r a m p o r l o n g o t e m p o o t r a t a m e n t o
alternativo para controle do sangramento nestes
casos. A radioterapia tem um efeito demorado e
t a n t o e s t a c o m o a e m b o l i z a ç ã o t e m e fe i t o s
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transitórios.
O uso do Hemospray têm sido cada vez mais
p re co n i za d o s n o t rata m e nto e n d o s có p i co d e
sangramentos neoplásicos em virtude de sua
capacidade em parar hemorragias difusas. Em duas
séries de casos, do Canadá e da França, incluindo 10
pacientes, o uso do Hemospray na hemorragia
neoplásica esofagiana, gástrica e pancreática
demonstrou resultados promissores a curto prazo.
N o s d o i s e st u d o s , a h e m o sta s i a i m e d i ata fo i
alcançada em 100% dos pacientes e a taxa de
ressangramento depois de três dias foi de 20%. Tendo
em vista que o Hemospray pode ser administrado por
v i a e n d o s c ó p i c a , j á n o p r i m e i ro exa m e , i s s o
representa uma modalidade rápida e efetiva de
tratamento na fase aguda do sangramento em
pacientes oncológicos.
HDA CAUSADA POR TRAUMA
Laceração de Mallory-Weiss
A laceração de Mallory-Weiss é uma causa
comum de HDA, apresentando-se tipicamente como
hematêmese depois de episódios de vômitos sem
sangue. É definida como uma laceração de mucosa na
junção esôfago-gástrica ou no cárdia, usualmente
causada por esforço para vomitar ou por vômitos
vigorosos. Várias fatores tem sido associado, como
consumo de álcool, uso de aspirina e cumarínicos,
paroxismos de tosse, gravidez, levantamento de
peso, esforço, trauma abdominal fechado, lavagem
d e c ó l o n e r e s s u s c i t a ç ã o c a r d i o p u l m o n a r. O
sangramento é normalmente pequeno.
S í n d ro m e d e B o e r h a ave e O u t ra s C a u s a s d e
Perfuração Transmural
A síndrome de Boerhaave é a ruptura do
esôfago causada pelo aumento rápido na pressão
intraluminal no esôfago distal, associada à pressão
int rato rá c ia n egat iva ,ca u s a d a p o r esfo rço o u
v ô m i t o . O u t ra s c a u s a s i n c l u e m m a n i p u l a ç ã o
cirúrgica e endoscópica e impactação de corpo
estranho. Em alguns casos, o sangramento pode
estar acompanhando a sintomatologia.
Lesões Cáusticas e Ingestão de Corpo Estranho
A ingestão de corpo estranho e de substâncias
tóxicas pode ser acidental ou intencional. A ingestão
de álcali forte resulta em necrose de liquefação, a
qual é associada à profunda lesão tecidual podendo
levar à perfuração acompanhada de sangramento.
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Agentes ácidos levam a necrose de coagulação, que é
mais superficial, com a extensão da injúria mais
limitada. Pode ocorrer sangramento em virtude de
ulcerações difusas. Hemorragia grave é, entretanto,
rara. Merecem destaques a ingestão de baterias e de
ímãs levando a vazamento e lesão por adesão,
podendo cursar com ulceração local e perfuração. A
hemorragia é uma complicação frequente depois da
ingestão de corpo estranho e é consequência da
adesão local ou da perfuração da mucosa,
ocasionalmente com formação de fístula para um
vaso adjacente.
Conduta endoscópica na hemorragia póstraumática
Na maioria dos casos de lesões de MalloryWeiss, o sangramento cessa espontaneamente. Uma
menor parte dos casos requer tratamento
endoscópico. Numa série de casos franceses de 218
pacientes com sangramento por lesão de MalloryWeiss, 56 (26%) apresentaram sangramento ativo à
e n d o s c o p i a . Vá r i o s e s t u d o s i n v e s t i g a r a m o
tratamento endoscópico ideal. Em um estudo
randomizado com 63 pacientes submetidos a
tratamento de suporte ou a tratamento
endoscópico, a taxa de ressangramento foi maior no
primeiro grupo, quando comparado aos pacientes
tratados com injeção endoscópica de epinefrina (25
vs 6%). Injeção de epinefrina, hemoclipe e ligadura
elástica foram equivalentes para atingir a
hemostasia primária. Taxa de ressangramento após a
ligadura elástica e hemoclipe foram similares num
estudo randomizado coreano (6-10%), mas
significativamente mais baixos após ligadura
elástica num estudo realizado na França (0%vs18%).
Não se sabe se a prescrição de inibidores de bomba
de prótons consegue acelerar a cicatrização.
O sistema “bear-claw” ou over-the-scopeclip é um novo tipo de clipe destinado a fechar
grandes defeitos luminais do TGI, os quais podem ser
espontâneos, como na síndrome de Boerhaave, ou
iatrogênicos como após a dissecção endoscópica de
submucosa ou deiscência de anastomose cirúrgica.
Até o momento, as evidências quanto ao seu uso vem
apenas de série de casos, mas espera-se que o overthe-scope-clip seja promissor em substituir a terapia
cirúrgica convencional para lesões traumáticas. A
colocação endoscópica de uma prótese metálica
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auto-expansível (SEMS) pode ser considerada na
síndrome de Boerhaave. As próteses necessitam ser
removidas em até 6 semanas após sua colocação,
porque um tempo maior dificulta a sua retirada.
Quando a perfuração persiste após a retirada da
mesma, a colocação de uma nova prótese deve ser
considerada.
No caso de leões cáusticas, a terapia
endoscópica é limitada. A colocação profilática de
uma prótese de forma a prevenir a formação de
estenose está sob investigação.
HEMORRAGIA DE ORIGEM HEPATOPANCREÁTICA
Hemobilia
Hemobilia ou sangramento do trato
hepatobiliar é uma rara causa de HDA. As causas
incluem biópsia hepática, colangiografia
percutânea, colecistectomia, endoscopia biliar com
biópsia ou colocação de próteses e tumores biliares
ou hepáticos. Numa revisão de 222 casos de
hemobilia, 65% eram iatrogênicas, com trauma
acidental contando com apenas 6%. Em raros casos, o
sangramento pode ocorrer em virtude de fístula
entre o sistema porta e a veia hepática, o que pode
levar ao rápido desenvolvimento de icterícia. Na
maioria dos casos, esses sangramentos são autolimitados e não requerem intervenção outra que não
prevenir a obstrução biliar devido à formação de
coágulos.
Sintomas de hemobilia podem ser variados. A
tríade clássica de icterícia, cólica biliar e HDA
evidente foi observada em 22% dos pacientes. A
colangiografia endoscópica retrógrada é útil para
confirmar o diagnóstico e estabelecer a causa
subjacente. Ela também pode auxiliar a manter o
clearance no trato biliar, através da colocação de
prótese, prevenindo o risco de obstrução. Em raros
casos, a lesão da veia hepática pode estabelecer uma
conexão entre ela e a árvore biliar e, ao invés de
hemobilia, leva a fluxo contrário de bile para a veia.
Tamanha bilemia pode levar ao surgimento evidente
e agudo de icterícia. Nesse caso, a prótese biliar pode
reverter o fluxo, levando a rápida redução da icterícia
e permitindo o fechamento da fístula.
Hemosuccus Pancreaticus
Hemosuccus pancreaticus é causado por
sangramento originado no pâncreas, ducto
pancreático e estruturas adjacentes como a conexão
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da artéria esplênica com o duto pancreático.
Hemosuccus é mais frequentemente causado por
um pseudoaneurisma pancreático resultante de um
quadro de pancreatite aguda ou crônica.
Normalmente envolve a erosão da artéria esplênica
levando a a hemorragia para dentro do ducto
pancreático. As complicações mais frequentes são
melena, hematoquezia, hematêmese e
epigastralgia. Os pacientes podem desenvolver
sintomas de náuseas e vômitos, perda de peso e
icterícia , quando o sangramento também levar à
obstrução do ducto biliar comum. Em um estudo
observacional incluindo 31 pacientes com
hemosuccus pancreático, em 50% deles foi
observado sangue à EDA.
Conduta Endoscópica da Hemobilia e do
Hemosuccus Pancreático
C o m o a h e m o b i l i a é g e ra l m e n t e a u t o limitada, o papel da endoscopia se resume à
colocação de próteses para promover o clearance da
via biliar. Para o hemosuccus também não há um
papel importante da endoscopia. Em 50% dos casos,
a embolização arterial seletiva é bem sucedida, ao
passo que a cirurgia é frequentemente necessária
em situações de emergência ou em casos de falha de
tratamento pela TAE.
MISCLE NIA
Em raros casos, a HDA pode ser causada por
vasculite de grandes ou pequenos vasos. As lesões
são tipicamente tópicas, afetando áreas bem
delimitadas, ainda que ocorram em vários lugares. A
biópsia endoscópica pode demonstrar ulceração e
inflamação, mas são geralmente insuficientes para
demonstrar a vasculite subjacente. O diagnóstico da
doença de base é mandatório. O tratamento inicial é
normalmente feito com corticosteroides e
imunossuprossores, bem como inibidores da bomba
de prótons em pacientes com lesões GI altas.
A isquemia gástrica aguda é rara já que o
estômago possui uma rica rede vascular. Entretanto,
o seu reconhecimento é importante, porque a
progressão para necrose pode levar à ulceração, com
complicações como sangramento, perfuração e
sepse. Isso também pode ocorrer em caso de
estenose do tronco celíaco, com circulação colateral
insuficiente. HDA secundária à isquemia tem sido
relatada em poucos casos.
Conduta Endoscópica
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Esse tipo de sangramento impede uma terapia
endoscópica bem sucedida pois, sendo um
sangramento difuso, há dificuldade em terapias-alvo
como hemoclipe, ligadura elástica e terapia térmica.
A terapia com hemospray está sob investigação, com
relatos bem sucedidos. O tratamento da doença de
base é o principal tratamento.
RESUMO
Embora a úlcera péptica e as varizes
gastroesofágicas continuem sendo as causas mais
comuns de HDA, 25 a 50% se deve a outras causas. A
endoscopia é o pilar para o diagnóstico desses
sangramentos, assim como no tratamento de grande
parte deles. O tratamento endoscópico faz uso das
mesmas modalidades utilizadas para o tratamento
da úlcera péptica e das varizes. O uso de novas
modalidades como o hemospray, SEMS e o over-thescope-clips vêm se expandido e, algumas vezes,
substituindo outras modalidades de tratamento.
Traduzido do original em inglês por Dra.
Yolanda Tolentino, Dra. Priscila Pollo, Dr.
Rodrigo Dias e Dra. Viviane Fittipaldi
CASO CLÍNICO DO MÊS
Dra. Priscila Pollo, Dr. Rodrigo Dias, Dra. Viviane Fittipaldi e Dra. Yolanda Faia
Paciente, masculino, de 61 anos, hipertenso, é admitido no hospital com relato de dois episódios de
hematêmese.
À endoscopia digestiva alta, evidencia-se uma protuberância vascular, envolta por mucosa normal, com
sangramento em jato. Opta-se, então, pela injeção de 6 ml de solução de adrenalina na diluição de 1:20.000,
seguida de colocação de um hemoclipe, com parada total do sangramento. O paciente evoluiu bem clinicamente,
tendo alta hospitalar sem novos episódios de hemorragia.
O Dieulafoy corresponde a uma artéria da submucosa que acaba exposta na superfície mucosa do trato
digestório. Sua apresentação clínica geralmente se dá com sangramento intermitente e repercussão
hemodinâmica. Pode ser encontrado por todo o trato, porém, sua localização mais comum é na porção proximal
do estômago. Diversas modalidades terapêuticas estão disponíveis: banda elástica, hemoclipe, injeção de
adrenalina, cianoacrilato, eletrocauterização, heater probe. Não há, ainda, um método terapêutico preferível,
todavia, está provado que a injeção de adrenalina, como monoterapia, apresenta altos índices de
ressangramento.
Imagem 1 sangramento arterial em jato
Imagem 2 aspecto endoscópico após injeção de
solução de adrenalina e colocação de hemoclipe
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PRÓXIMOS EVENTOS
15-16
MAI
16-19
MAI
21-23
MAI
28-30
MAI
4-6
JUN
8
I CONGRESO INTERNACIONAL E INTERDISCIPLINARIO ARGENTINO DE DISFAGIA Y TRASTORNOS
DEGLUTORIOS DE LA PREVENCION A LA RECUPERACION
LOCAL Universidad Cattolica Argentina (UCA), Puerto Madero, Buenos Aires, Argentina
INFORMAÇÕES www.congresodisfagia.com
DIGESTIVE DISEASE WEEK - DDW 2015
LOCAL Washington, EUA
INFORMAÇÕES www.ow.ly/GRXaj
CONGRESSO SUDESTE DE VIDEOCIRURGIA
LOCAL Vila Galé, Angra dos Reis, RJ
INFORMAÇÕES www.videocirurgiasudeste.com.br
TEL/FAX: (21) 2215-4476 [email protected]
GASTROMINAS 2015
LOCAL Associação Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.
INFORMAÇÕES www.gastrominas2015.com.br
11º CONGRESSO INTERNACIONAL DE CÂNCER GÁSTRICO
LOCAL World Trade Center São Paulo, Brooklin Novo, São Paulo, SP.
INFORMAÇÕES www.11igcc.com.br | [email protected]
TEL/FAX: (11) 3061-1495
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PATROCINADORES RIO
RESIDÊNCIA MÉDICA EM ENDOSCOPIA
CREDENCIAMENTO PELO MEC NO RIO DE JANEIRO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
GAFFRÉE E GUINLE
ENDEREÇO
Rua Mariz e Barros, 775, Tijuca, Rio de
Janeiro, RJ. CEP - 20270-004.
CONTATOS
(21) 2264-5844
[email protected]
RESPONSÁVEIS
Luis Gustavo Périssé
Ronaldo Taam
INSTITUTO NACIONAL
DO CÂNCER (INCA)
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