THE FREE WILL BAPTIST HERITAGE SERIES

Transcrição

THE FREE WILL BAPTIST HERITAGE SERIES
Os Batistas Livres e a
Perseverança dos Santos
Comitê Histórico
da
Associação Nacional dos Batistas Livres (USA)
2006
(preparado por Robert E. Picirilli, PhD.)
1
OS BATISTAS LIVRES E A PERSEVERANÇA DOS SANTOS
The Historical Commission1
National Association of Free Will Baptists
2006
Todos os cristãos que vêm a Bíblia como a Palavra de Deus concordam nos essenciais da fé,
incluindo:

A natureza de Deus e seu universo criado;

A criação do homem à sua imagem;

A queda de Adão e Eva (e de toda a raça humana) em pecado;

A provisão de Deus para salvação, enviando Seu Filho para que se tornasse um de
nós, morresse na cruz e ressuscitasse dos mortos; e

Todos que exercem fé salvadora em Cristo são nascidos de novo pelo Espírito Santo
e tornam-se herdeiros da vida eterna.
Existem outras crenças em comum. Elas distinguem a comunidade cristã do secularismo, do
naturalismo e de outras religiões não cristãs.
No entanto, entre os diversos grupos cristãos existem diferenças com relação a alguns dos
detalhes. Cada denominação mantém algumas posições que não são idênticas às de todas
as outras denominações. Estas identificam e definem a sua herança especial. Uma destas
crenças é citada no capítulo 13 do Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres:
Há bases sólidas para se esperar que o indivíduo verdadeiramente regenerado
persevere até o fim e seja salvo, por meio do poder da graça divina, penhorada
para sustentação do mesmo. A obediência futura e a salvação final não estão
determinadas nem certas, posto que, mediante as fraquezas e as multiformes
tentações, o crente corre o perigo de cair, pelo que também é mister que vigie e
ore, a fim de que não venha a naufragar na fé e assim pereça.1
Este é um dos ensinos (“doutrinas”) que constituem a nossa herança característica. Ela
expressa o que poderíamos chamar de perseverança condicional, que serve para distinguir
os Batistas Livres dos cristãos que ensinam o que é popularmente conhecido como
“segurança eterna” ou “uma vez salvo, sempre salvo”.
1
Material preparado por Dr. Robert E. Picirilli e editado pelo Dr. Darrell Holley. Tradução de Kenneth Eagleton
e revisão de Rejane Eagleton.
2
CONTEXTO HISTÓRICO
O ponto de vista de que a perseverança é condicional tem uma longa tradição, tanto na
igreja cristã quanto entre os batistas.
Tradição na comunidade cristã
A doutrina da perseverança é comumente definida no contexto do debate histórico entre
“calvinistas” e “arminianos”.
O calvinismo é uma posição quanto à salvação que remonta a João Calvino (1.509-1.564).2
Podemos chama-la de salvação por eleição, pois os seres humanos não fazem nenhuma
contribuição. De acordo com os calvinistas, mesmo antes da criação, Deus predestinou
(elegeu) alguns para a salvação e o restante para a perdição. Ele enviou Jesus para morrer
apenas pelos eleitos e, durante a vida destes, Deus os regenera contra a vontade deles. Ele
ordenou que todos os eleitos necessariamente perseverem e sejam finalmente salvos.
O arminianismo, por outro lado, é uma posição quanto à salvação associada a Jacobus (Jacó
ou James) Arminius (Armínio) (1.560-1.609), que resistiu algumas das tendências
predestinatárias dos sucessores de Calvino.3 Também pode ser chamada de salvação pela
fé. Adotando esta posição, os batistas livres ensinam que Deus providenciou salvação para
todos os seres humanos através da obra propiciatória de Cristo e que convida todos à
salvação. Seu propósito eterno é salvar todos que aceitam este convite pela fé, tendo sido
capacitados pelo Espírito Santo a crer, apesar da depravação deles. Cada um é agente moral
livre, livre para receber ou rejeitar Cristo e, mesmo após a regeneração, continuar na fé ou
voltar para trás. Sua perseverança é, portanto, condicional.
Tradição entre os batistas
Que a perseverança é condicional tem sido a crença de muitos batistas desde o início. Na
Inglaterra, no início do século dezessete, uma pequena igreja separou-se da Igreja da
Inglaterra (Igreja Anglicana) e fugiram, liderados por John Smyth e Thomas Helwys,
buscando refúgio na Holanda, onde encontraram ideais comuns entre os seguidores de
Arminius. Em 1.612 retornaram à Inglaterra e estabeleceram a primeira igreja batista em
solo inglês. Eles se identificaram como Igreja Batista “Geral” devido à crença em uma
expiação “geral” para toda a humanidade.
A Confissão de Fé de 1.660 dos batistas gerais contém uma declaração extensa sobre a
perseverança, referindo-se a “verdadeiros crentes, ramos da videira Cristo” que “podem,
por falta de atenção, se desviar... e se tornar galhos secos, jogados ao fogo e queimados”.4
Desde então até agora existem grupos batistas arminianos, usando vários nomes, que
3
afirmam que é possível a uma pessoa regenerada dar as costas a Cristo e se perder.
História Batista Livre
Os batistas gerais ingleses estavam entre os primeiros colonos da América antes do final do
século dezessete. Em 1.727 um pastor chamado Paul Palmer organizou a primeira igreja
Batista Livre na América (até onde se sabe) no leste da Carolina do Norte (Estados Unidos).
Esta igreja se identificava com os batistas gerais ingleses e adotaram a Confissão de 1.660
mencionada acima.5 Com o tempo seus sucessores adotaram o apelido de chacota que lhes
foi dado: “free-willers” (os do livre arbítrio).
Estes primeiros Batistas Livres (ou Batistas do Livre Arbítrio) se espalharam gradativamente
pelos estados do sul do país. Na realidade, vários grupos batistas com crenças semelhantes
surgiram espontaneamente em diversos locais. Em 1.780, por exemplo, Benjamin Randall
estabeleceu a igreja Batista Livre em New Durham, estado de New Hampshire, e este
movimento se espalhou rapidamente na direção oeste do país (mas incorporou-se aos
Batistas do Norte em 1.910-1.911). No oeste do estado da Carolina do Norte e leste do
Tennessee, os fundadores da Associação das Igrejas Batistas Livres (1.850) aparentemente
“não sabiam que existiam outros grupos em qualquer parte do mundo com crenças
semelhantes e nome idêntico”.6 Existiam outros grupos também, inclusive alguns Separate
Baptists (Batistas Separados) que se tornaram Batistas Livres.7 Todos estes defendiam que a
perseverança é condicional.
A história das declarações formais sobre perseverança entre os Batistas Livres é
interessante. Além da citação já feita do Manual, temos estes exemplos:
“Todos os crentes em Cristo que pela graça perseveram em santidade até o fim de suas
vidas, têm a promessa da salvação eterna”.8
“Cremos que todos os cristãos devem perseverar na graça e ser fiéis até o fim para que
herdem a vida eterna: pois, bem aventurados são os que cumprem os seus mandamentos
para que tenham direito à arvore da vida e entrem pelos portões da cidade”.9
“Cremos que o cristão fiel nunca cairá da graça; no entanto, cremos na agência moral do
homem, depois da justificação, e que existe a possibilidade de cair no pecado e no final se
perder.10
Quer seja de forma positiva ou negativa, declarado especificamente ou subentendido, o
significado é óbvio: a perseverança não é garantida incondicionalmente e a possibilidade de
“cair da graça” (Gl. 5:4) existe.
4
BASE BÍBLICA
À citação anterior do Manual no início deste panfleto, há várias referências bíblicas para a
possibilidade de apostasia: 1 Crônicas 28:9; 2 Crônicas 15:2; Ezequiel 33:18; Mateus 24:13;
João 15:6; Atos 1:25; 1 Coríntios 9:27; 10:12; 1 Timóteo 1:19; Hebreus 6:4-6; 12:15; 2 Pedro
1:10; 2:20, 21 e Apocalipse 2:4; 22:19. Duas destas referências são discutidas aqui.11
Hebreus 6:4-6
O livro mais importante do Novo Testamento sobre este tema é Hebreus, que contém cinco
passagens principais de advertência contra a deserção da fé tecidas ao longo do livro (2:1-4;
3:7-4:11; 6:1-12; 10:19-39; 12:12-17). “A apostasia da fé, voluntária, de alguns” é “o
problema específico para o qual a carta está sendo escrita”.12 Bem ao centro destas
passagens está 6:4-6 que, traduzida literalmente, diz:
Pois é impossível para aqueles que foram uma vez por todas iluminados e que
experimentaram da dádiva divina gratuita e que se tornaram participantes do
Espírito Santo e que experimentaram da boa palavra de Deus e dos poderes do
mundo vindouro e que decaíram que sejam renovados outra vez ao
arrependimento eles crucificam novamente para si mesmo o Filho de Deus e o
expõem à vergonha pública.
As pessoas aqui descritas são identificadas por cinco clausulas coordenativas:
experimentaram quatro coisas positivas e depois “decaíram”. As outras passagens de
advertência confirmam e desenvolvem este sentido.
Aqueles que resistem à possibilidade de apostasia pessoal geralmente “respondem” de duas
maneiras. Alguns dizem que a passagem é hipotética, mas a quinta cláusula (“que
decaíram”) é exatamente paralela às primeiras quatro. As pessoas descritas
experimentaram todas as cinco coisas. Outros dizem que as frases não descrevem um
cristão genuíno, mas as quatro frases anteriores oferecem uma das melhores descrições
encontradas no Novo Testamento sobre o que é tornar-se um cristão. É interessante notar
que os dois argumentos se anulam mutuamente!
2 Pedro 2:18-22
Nesta carta, o perigo da apostasia é mencionado explicitamente no início (1:8, 9) e no final
(3:17). O tema da carta é a importância do crescimento espiritual como um fortalecimento
contra o falso ensino e a apostasia.
Em 2:18-22 Pedro menciona primeiramente as tentativas dos falsos mestres em desviar os
cristãos (versículos 18 e 19) e depois fala da apostasia que promovem (versículos 20 e 21).
5
As pessoas mencionadas tiveram claramente uma experiência cristã genuína: escaparam
das contaminações do mundo “mediante o conhecimento [salvador] do Salvador e Senhor
Jesus Cristo” pelo qual conheceram “o caminho da justiça”. Apesar disto, alguns que se
converteram “se deixam enredar de novo e são vencidos”, pela corrupção foram
convencidos a “volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora
dado”.
O perigo é sério: “tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora
nunca tivessem conhecido o caminho da justiça”, referindo-se obviamente à impossibilidade
mencionada em Hebreus 6:6. Os provérbios inseridos no final, sobre um cão doente e uma
porca lavada, ilustram a folia total de se abandonar Deus depois de tê-lo conhecido.
Juntamente com estas, há muitas outras passagens (listadas acima) que advertem o cristão
da apostasia ou que o relembram a perseverar na fé. Calvinistas cuidadosos explicam que
tais advertências “são instrumentais em manter os crentes no caminho da perseverança”.13
No entanto, se apressam a acrescentar que a apostasia não é uma possibilidade real.14 Não
se pode deixar de duvidar da efetividade destas passagens se vistas sob este prisma.
Qualquer advertência, compensada pela garantia de que o perigo não é real, é
imediatamente negada!
RESPONDENDO AOS ARGUMENTOS
Aqueles que resistem à possibilidade de apostasia oferecem mais objeções do que o que
pode ser tratado em um pequeno panfleto. Os que vêm a seguir são os mais importantes.
Argumentando de dentro do sistema
Calvinistas convictos geralmente baseiam seus argumentos em seu sistema teológico como
um todo. Dizem: Deus escolheu incondicionalmente os eleitos, enviou Jesus para morrer
apenas por eles e os regenerou contra a vontade deles; portanto, Deus certamente
garantirá a sua perseverança.
No entanto, o próprio sistema é falho. A Bíblia ensina que Jesus morreu por todos e que
todos são convidados a colocar sua fé nele e ser salvo. Sendo a salvação condicional, a
perseverança na salvação também é condicional.
Argumentos que provêm das Escrituras
1. Passagens bíblicas que fazem promessas aos crentes. Em João 10:27-29 Jesus diz: “Eu
lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”. Mas
6
a promessa é para as ovelhas de Cristo; enquanto alguém for cristão, é uma das ovelhas
de Cristo e possui a vida eterna. João 3:36 diz essencialmente a mesma coisa: “quem crê
no Filho tem a vida eterna”; mas a promessa se aplica apenas enquanto durar a crença.
Se o crente abandonar a fé, deixa de ser ovelha de Cristo.
É útil comparar João 5:24 (“quem ouve a minha palavra e crê... não entra em juízo”) com
João 3:36 (“aquele que não crê... não verá a vida” - ACF). Se o primeiro prova que
alguém que é presentemente um crente não pode subsequentemente se tornar um
descrente, então o último provará que alguém que presentemente não é crente não
pode subsequentemente se tornar um crente – o que é totalmente falso. Todas as
promessas parecidas, sejam elas positivas ou negativas, dependem da continuação da fé
ou da crença.
2. As passagens bíblicas que estão focadas na fidelidade de Deus em realizar a obra que
começou. Filipenses 1:6, por exemplo, expressa a confiança inspirada de Paulo de que
“aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”.
Compare 2 Tessalonicenses 3:3 com 2 Timóteo 1:12 e 4:18.
Mais uma vez, estas passagens bíblicas são dirigidas aos que creem e que são
asseguradas da fidelidade de Deus para continuar a obra em suas vidas – contanto que
continuem sendo seus filhos na fé. Não devemos esquecer Hebreus 10:38: “o meu justo
viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma”.
3. Passagens bíblicas que afirmam que Deus é aquele que nos guarda. 1 Pedro 1:5, por
exemplo: “que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação
preparada para revelar-se no último tempo”. O próprio texto deixa claro que o crente é
guardado por Deus, mas que assim o são mediante a fé. Se a salvação é condicionada à
fé, a continuação na salvação também é condicionada à fé contínua.
Argumentos lógicos
Diversos argumentos “lógicos” podem ser usados para argumentar contra a possibilidade da
apostasia.15 Entre eles temos:
Ao que nasceu de novo não é possível “desnascer”.
Deus não perdoa e depois retira o seu perdão.
Deus ama seus filhos e não permitirá que se percam.
Aquele que é nascido de novo nunca terá o desejo de deixar a Deus.
Se fosse possível retirar alguém do corpo de Cristo, o corpo seria mutilado.
Um filho nunca deixa de ser filho, independentemente do que faça.
7
Alguns destes “argumentos” dependem de analogia com as coisas físicas ou com a
experiência humana e não resistem ao exame minucioso da Bíblia. Por exemplo, o “corpo”
de Cristo não pode ser mutilado da mesma forma que não é “deformado” antes da
conversão de uma pessoa. O fato de não poder “desnascer” não anula o fato de que é
possível “morrer” espiritualmente.
Ezequiel 33:12-13 serve para nos repreender por chegarmos a conclusões demasiadamente
apressadas sobre o que Deus “não faria”. Apesar de crermos que uma pessoa convertida
não se afastaria facilmente de Deus, Adão e Eva fizeram exatamente isto – e sem uma
natureza depravada!
A questão mais importante, no final das contas, é se a Bíblia ensina que a salvação é
condicional. Cremos que ela o ensina claramente.
ELEMENTOS IMPORTANTES DA
DOUTRINA DA PERSEVERANÇA CONDICIONAL
Os Batistas Livres geralmente concordam nos aspectos mais importantes deste tema.
O relacionamento entre fé e obras
A salvação é pela graça por meio da fé e não pelas obras. Apoiamos sem reservas esta
ênfase bíblica. A fé salvadora é estender mãos vazias para receber vida eterna como um
dom (presente) de Deus. Salvação pela fé significa que deliberadamente nos recusamos a
oferecer nossas obras a Deus como base de nossa salvação. Não somos salvos pela fé e
guardados pelas obras.
Mas também prontamente afirmamos a necessidade da obediência do crente. Os “Artigos
de Fé” no Manual citam três “condições” para a salvação: arrependimento, fé e “a contínua
fé e obediência até a morte”.16 Arrependimento e fé iniciais não são suficientes em si
mesmos; é necessário perseverar na fé e no tipo de obediência cristã que demonstra esta fé
para usufruir da salvação final.
Isto não é contraditório com a salvação por meio da fé somente. O que fazemos é evidência
necessária de nossa fé. Tiago 2:14-26 afirma que “fé sem obras é morta”. Somos justificados
somente pela fé, mas a verdadeira fé resulta em obediência.
8
A natureza da segurança
Temos segurança e uma esperança confiante da salvação presente e final. A declaração
batista livre inicia com estas palavras: “Há bases sólidas para se esperar que o indivíduo
verdadeiramente regenerado persevere até o fim e seja salvo”. Os calvinistas
frequentemente alegam que os que creem em perseverança condicional não podem ter
verdadeira segurança. Na verdade, a base da nossa segurança é a mesma que a deles: a
obra completa de Cristo e o Espírito que vive no interior e “testifica com o nosso espírito
que somos filhos de Deus” (Romanos 8:16).
A Bíblia, no entanto, não dá segurança de salvação a uma pessoa cuja vida é caracterizada
por um comportamento pecaminoso. Veja 1 João 3:4-10: “todo aquele que não pratica
justiça não procede de Deus” (v. 10). Todos aqueles que nasceram de Deus e permanecem
nele não vivem na prática do pecado (1 João 3:6, 9). Apesar de não afirmarmos a perfeição
sem pecado nesta vida, os batistas livres sentem calafrios quando alguns que pregam a
“segurança eterna” tentam dar segurança de salvação àqueles cujas vidas continuam a
evidenciar um padrão de desobediência. O acréscimo de 1.969 ao Manual diz que “toda
pessoa que esteja vivendo conscientemente na prática de pecados... deve ser considerada
perdida”.17
No entanto, o nosso ponto de vista não justifica a falta de segurança ou confiança de uma
pessoa na sua condição diante de Deus: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que
tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (1 João 5:13).
Aqueles que constantemente temem que possam acidentalmente “perder” a sua salvação
ou que pensam estar constantemente “dentro” e “fora” da salvação aparentemente
ancoraram sua fé em si mesmos e em sua conduta, mas não em Cristo.
A seriedade da apostasia
A apostasia é uma possibilidade real e séria. As passagens bíblicas citadas deixam claro que
“naufragar na fé” (1 Timóteo 1:19) ou “decair da graça” (Gálatas 5:4) é algo sobre o qual
todos os crentes devem ser advertidos. O abandono da fé salvadora e virar as costas para
Deus é possível (Hebreus 3:12).
Entre os batistas livres existem pontos de vista levemente divergentes sobre as situações
que não chegam à apostasia, geralmente conhecido como “se desviar”. Este panfleto não se
propõe a tratar estas diferenças,18 mas os batistas livres não creem que as pessoas possam
“nascer de novo” repetidas vezes. A salvação não é um relacionamento no qual se pode
entrar e sair à vontade.
9
Todos concordam que a apostasia final, como mencionada em Hebreus 6:6 e 2 Pedro 2:21, é
algo realmente sério. Neste contexto, uma declaração de fé batista livre de 1.876 inclui a
seguinte frase: “Cremos... que uma vez que alguém se torna participante do ESPÍRITO
SANTO, se decair da graça, é impossível ser renovado ao arrependimento ou ser restaurado
ao favor de Deus”.19
Sem dúvida tal apóstata não sentirá o desejo de se arrepender. Esta séria possibilidade
significa que os cristãos precisam ser exortados e precisam se cuidar para confirmar sua
vocação e eleição (2 Pedro 1:10). Por esta razão, o próximo seguimento adverte do perigo
dos caminhos que levam à apostasia.
Atenção: Caminhos à para a apostasia
Uma obra histórica batista livre resume: “Os Batistas Livres afirmam que há um perigo,
portanto uma possibilidade, de decair e se perder e que todo cristão deve estar de
sobreaviso contra a apostasia”.20
1. Ensino falso. Doutrina que não é bíblica é um dos caminhos que mais comumente
conduz à apostasia dentro da comunidade cristã. A doutrina liberal e as seitas são
especialmente perigosas. Ambas assumem formas diversas e podem levar os crentes a
colocarem sua fé em outro lugar. Paulo advertiu: “se alguém vos prega evangelho que vá
além daquele que recebestes, seja anátema” (maldito) (Gálatas 1:9)!
Quando Cristo, o próprio Filho de Deus, é transformado pelos liberais em um grande
mestre, porém meramente humano, que morreu como mártir e não ressuscitou dos
mortos, a fé em sua obra redentora se torna impossível. Quando uma seita nega a
realidade do pecado ou a divindade ou humanidade de Cristo, o evangelho é modificado
de tal forma que a fé bíblica se transforma em algo diferente.
2. Brincar com o pecado. Não temos suficientemente medo do pecado. De acordo com
Romanos 6, os que se batizaram como cristãos professaram que assumiram uma nova
vida de obediência e serviço a Deus. Portanto, não devemos permitir que o pecado reine
sobre nós.
Se brincarmos com o pecado e tolerarmos um pouco de iniquidade aqui e ali, ele pode
rapidamente se tornar o nosso senhor. Ninguém pode servir a dois senhores (Mateus
6:24). Se permitirmos que o pecado tome conta, podemos nos tornar desencorajados e
tentados a descartar nossa primeira fé em Cristo (1 Timóteo 5:12). O Manual cita que
“mediante as fraquezas e as multiformes tentações, o crente corre o perigo de cair”. O
perigo é real. Envolver-se com o pecado abre as portas para uma terrível possibilidade.
10
Aqueles que procuram separar a fé do arrependimento (e, portanto, das obras)
aumentam este perigo. É comum ouvir pessoas justificarem sua transgressão dizendo:
“Afinal de contas, a salvação é pela fé e não pelas obras”, ou “estou sob a graça e não
sob a lei”, ou ainda “Jesus é meu Salvador, não meu Senhor”. Tais atitudes antibíblicas
nutrem a indiferença ao pecado; mas, com o pecado não se brinca.
3. Negligenciar o desenvolvimento espiritual. Segunda Pedro tem muito a dizer sobre a
possibilidade de se fazer naufrágio da fé. Resumindo, a única forma segura de evitar a
apostasia é “crescer na graça”. Em 1:5-11, Pedro conclama seus leitores a acrescentar à
fé outras virtudes cristãs como evidência de seu crescimento espiritual. Ele adverte que
aquele que não o faz corre o perigo de se esquecer de que foi purificado de seus
pecados do passado (e, por implicação, de retornar a eles). Ele conclui: “amados,
prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo
erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e
no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 3:17-18).
Deus graciosamente providencia aos crentes todo o necessário para progredir
espiritualmente (2 Pedro 1:3) como a oração, a Palavra de Deus e a reunião sistemática
na igreja para adoração, a pregação e as ordenanças. Os calvinistas cuidadosos
concordam com várias declarações de fé Batistas Livres que afirmam: “Cremos que as
boas obras são o fruto da fé salvadora e que ao se utilizar os meios de graça (e não pelos
meios de graça) a vida eterna é prometida ao ser humano”.21
CONCLUSÃO
Os Batistas Livres creem que a salvação é por meio da fé. Neste aspecto, são
semelhantes a muitos outros cristãos: metodistas, nazarenos, a maior parte dos grupos
Holiness e pentecostais, Igreja de Cristo, vários grupos de menonitas e Irmãos e alguns
batistas (por exemplo, Batistas Gerais e Batistas Separados). Todos estes compartilham
da visão de que a apostasia pessoal é possível e que os crentes precisam ser advertidos
para que não abandonem a Cristo e se percam.
Os Batistas Livres divergem da maioria dos Presbiterianos ou Reformados, como
também de alguns outros batistas, especialmente os Batistas Meridionais (da
Convenção) e os Batistas Independentes (muitos destes nem são calvinistas).
Isto significa que levamos a sério as advertências do Novo Testamento quanto à
apostasia e o seu apelo a perseverar na fé. Uma de nossas associações tem
tradicionalmente concluído o seu artigo concernente à perseverança com a observação
11
de que mesmo depois de sua conversão, “o ser humano é sempre objeto apropriado de
admoestação e exortação”.22 Nas palavras do Manual, devemos advertir os crentes para
que “vigiem e orem”.
1
Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 3ª edição, Missão Batista Livre do Brasil, 2008.
Doravante grafado como Manual.
2
Para mais informações sobre Calvino e o calvinismo, consultar o Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja
Cristã, Walter A. Elwell, Editor, Edições Vida Nova.
3
Para mais informações sobre Arminius e o arminianismo, veja a obra acima.
4
W. J. McGlothlin, Baptist Confessions of Faith (Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1911),
117. A Confissão também pode ser encontrada em J. Matthew Pinson, A Free Will Baptist Handbook
(Nashville: Randall House, 1998), 131-142.
5
O sogro de Palmer, Benjamin Laker, deixou para ele em herança uma cópia da obra de Thomas Grantham,
Christianismus Primitivus, uma obra teológica influente entre os Batistas Gerais. Veja Pinson, Handbook.
6
Paul Woolsey, God, a Hundred Years and a Free Will Baptist Family (Chuckey, TN: The Union Association
of Free Will Baptists, 1949), 4. Os primeiros capítulos desta obra contam a história do fundador da Associação
Tow River.
7
Veja Albert W. Wardin, Jr., Tennessee Baptists (Nashville: Executive Board of the Tennessee Baptist
Convention, 1999), 113, 114; Robert E. Picirilli, History of Tennessee Free Will Baptists (Nashville: Historical
Commission of the Tennessee State Association of Free Will Baptists, 1985), 27-29.
8
Manual, p. 31.
9
Minutes of the Thirty-ninth Annual Session of the Roberts McGee Association of Free Will Baptists
(Oklahoma, 1939), 13.
10
Minutes of the Thirty-third Annual Convention [of the Cumberland Association] of Free Will Baptists
(Tennessee, 1876), 11.
11
Para uma apresentação mais completa dos argumentos a favor da possibilidade de apostasia, veja Four Views
on Eternal Security, J. Matthew Pinson, editor (Grand Rapids: Zondervan, 2002), especialmente o capítulo
escrito pelo batista livre, Stephen M. Ashby, "A Reformed Arminian View," 137-187; e Robert E. Picirilli,
Grace, Faith, Free Will (Nashville: Randall House, 2002), 183-233.
12
Grant R. Osborne, "Soteriology in the Epistle to the Hebrews," Grace Unlimited, Clark Pinnock, editor
(Minneapolis: Bethany Fellowship, 1975), 146.
13
Louis Berkhof, Systematic Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1949), 548.
14
Compare W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology (Grand Rapids: Zondervan reprint, n.d.), 557.
15
Muitos destes somente serão usados por aqueles que podem ser chamados (sem vexame) de “sub-calvinistas”,
indicando que são menos do que totalmente calvinistas. Tipicamente concordam com os arminianos na maioria
das doutrinas básicas quanto à salvação, menos na perseverança condicional.
16
Manual, p. 30.
17
Manual, p. 21.
18
Alguns batistas livres pendem mais para a visão “arminio-wesleyana” definida por J. Steven Harper em Four
Views on Eternal Security, ed. J. Matthew Pinson (Grand Rapids: Zondervan, 2002).
19
Ata, Cumberland Association (1876), 11, 12.
20
T. F. Harrison e J. M. Barfield, History of the Free Will Baptists of North Carolina (W. E. Moye, n.d.), 134.
21
An Abstract of the Former Articles of Faith Confessed by the Original Baptist Church Holding the Doctrine
of General Provision..." (New Bern, N.C., 1884), 7.
22
Minutes of the Seventeenth Annual Session of the Mount Moriah Free-Will Baptist Association (Alabama,
1874), 7.