Janelas Abertas (Uziel de Jesus)
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Janelas Abertas (Uziel de Jesus)
J a n e l a s a b e r t a s 1ª Edição Agosto- 2011 Above Publicações Vila Velha - ES Revisão Fernanda Rizzo Capa Melissa Roncete Diagramação Fabricio Trindade Ferreira Copyright © 2011 — Above Publicações 1ª edição ISBN — 978856308059-2 Todos os direitos reservados pela autor. É proibida a reprodução parcial ou total sem a permissão escrita do autor. www.aboveonline.com.br Este livro é dedicado a minha mãe, Vera Lúcia Campos Durso e ao meu pai, Braz Ferolla Durso (in memoriam). Ambos foram fundamentais na construção do meu pensar e na minha maneira de viver. Os textos presentes neste livro são, portanto, um reflexo direto do amor e da educação que recebi. dedIcaTóRIa Editor Responsável Uziel de Jesus 3 Janelas abertas ..............................................................9 Quem permanece na sua vida?................................11 Qual é o seu reflexo no espelho...............................14 Contra a ideia da força, a força das ideias .............17 O que nos faz feliz: o futuro nem sempre é o que imaginamos.................................................................21 Não espere para dar o seu melhor ..........................24 Das telas do cinema para a vida real.......................26 Mais Platão, menos Prozac: a filosofia aplicada ao cotidiano......................................................................29 Transforme o que era para ser ruim em uma nova oportunidade .............................................................33 Entendendo os porquês da Luana Piovani ...........36 Não viva a sua vida cheia de ressentimentos.........40 Vampiros sociais ........................................................43 Sou maior que meu corpo .......................................46 A evolução da razão .................................................48 Transpondo o imaginário..........................................51 A expressão corporal ................................................54 Quando menos é mais ..............................................57 O julgamento..............................................................60 Pontos zero de nossa vida .......................................63 As novas teorias do relacionamento.......................66 Desmedida: a falta de limites....................................70 Formas particulares de fuga ....................................73 SUMÁRIO Conteúdo 5 Escrever... Registrar em palavras algo, alguém, um sentimento, um pensamento, uma estória. Nada pode ser mais simples e complicado ao mesmo tempo. Crônicas são assim, têm isso tudo, são um reflexo da vida sob o ponto de vista de alguém, e quanto mais expostas, quanto mais sentidas, vividas, melhores.. Um cronista é um observador implacável. Mas para isso não se pode ter medo. Braz não tem. Em cada texto nos dá a impressão de que abre e rasga seu coração se for preciso para que entendamos os medos, amores, dores, enfim, a vida. Desde o primeiro momento que tive contato com suas palavras percebi que Braz tem a inquietude do artista, quer ir além, precisa conhecer mais e tem a necessidade de dividir o que descobre, o que vê. Aos olhos menos atentos pode parecer que ele nos fala do cotidiano de forma simples e quase convencional, mas entre as linhas que ele traça existem tantos romances, poesias e prosas quanto se pode imaginar. Fico feliz por ter sido escolhido para escrever algo sobre seu trabalho, por saber que motivei um artista, pois ele insiste em dizer que sou uma espécie de mestre. O que Braz não sabe é que na verdade eu é que aprendo com ele. Marco Rodrigo Aguiar da Silva Ator, músico e diretor da rede globo PREFÁCIO Reconheça o fracasso e passe por cima dele..........77 O lado escuro de ser conciso na comunicação......79 Como você sabe quando encontrou a pessoa certa para um relacionamento?..........................................82 A hora de saber deixar as coisas para trás .............85 Somos sete bilhões agora: estamos preparados para enfrentar o futuro? ....................................................88 O signo de Áries: impulsividade, exagero e paixão . ......................................................................................93 Por que existe saudade?.............................................97 Mulher: esse ser fantástico........................................99 Insensata esperança ................................................101 Não me leve .............................................................102 Perdoar.......................................................................103 Meu coração te espreita...........................................104 Convivência ..............................................................105 Palavras são só palavras...........................................107 Doce Realidade ........................................................109 Quantas vezes...........................................................110 O seu sorriso encanta .............................................111 Um sonho ainda presente ......................................112 Filme mudo...............................................................113 Distantes de nós.......................................................114 Valeu a pena? ...........................................................115 A fórmula do sucesso .............................................119 Brinde à Vida........................................................... 122 Portas fechadas.........................................................123 Hei, liberdade............................................................126 7 Janelas Abertas Toda vez que me pego preso a algum receio do passado, esqueço que a vida é dinâmica. Esqueço que as pessoas são diferentes e principalmente que existem vários finais diferentes para o filme da vida. Preso nesses receios, acabo por não acreditar na diversidade humana das pessoas. Tranco-me em receios e medos criados em um tempo que passou e não voltará. Crio o erro de julgar todos os atos da vida, como se fossem sempre iguais. Erro ainda por achar que as pessoas também são iguais. Quando estou cercado por um muro de concreto que eu mesmo construí, acabo por afastar as pessoas que estão ao meu redor. Perco experiências e situações mágicas da vida. Isolo-me dentro da solidão dos meus próprios receios. Deixo de saborear as energias positivas que o universo está tentando me enviar, pois insisto em morar nas experiências passadas. Esqueço do fundamental: que o passado é algo que já foi e não existe mais. Sim, sei que todos nós temos um passado, isso não se pode negar. Mas não devemos viver presos a ele. Devemos tirar desse tempo passado apenas o fundamental para o nosso crescimento pessoal. Não podemos viver no passado, esse tempo não nos é viável mais. Também não posso deixar de estar vivendo o presente, o agora, por pensar em construir um futuro. As pessoas que deixam tudo para o futuro, esquecem que esse tempo sempre estará distante. Tantas pessoas passam tanto tempo na vida se dedicando a pensar no futuro que este acaba por nunca chegar de verdade. As pessoas vivem pensando e se guardando para fazerem algo no futuro e simplesmente se esquecem CRÔNICAS Janelas abertas 9 No seriado Gossip Girl a personagem Serena Van Der Woodsen solta a seguinte frase: “Se eu tivesse de tirar da minha vida todos que já cometeram erros, não sobraria ninguém”. Se prestarmos atenção em todas as pessoas com as quais nós nos relacionamos ou já nos relacionamos, vamos verificar que isso é a mais pura verdade. Afinal errar, independente dos motivos, é algo inerente ao ser humano. Erramos para aprender, crescer e até mesmo para viver. Errar faz parte do nosso dia a dia. É interessante nesse seriado, como os personagens se interagem e sempre alguém falha com o outro. Contudo, a capacidade de eles se perdoarem é notória. Talvez por essa razão todas as tramas que são desenvolvidas no seriado fazem tanto sucesso. Nessas estórias, o perdão e a aceitação de um erro é sempre evidente. No fundo, gostamos de saber que o ser humano ainda é capaz de saber perdoar. Na vida real a coisa não é tão fácil assim. Achamos que o erro é sempre do outro. O mais interessante é que esquecemos que não são somente os outros que erram. Nós também erramos, e muito. A dificuldade de podermos nos analisar durante as ações da vida é que nos fazem imaginar que os outros sempre são os errados. Devemos lembrar que podemos ser aquele que erra na vida de outra pessoa e que não gostaríamos de ser excluídos da vida de ninguém. A lição que temos de aprender aqui é a de que precisamos Janelas Abertas Quem permanece na sua vida? CRÔNICAS Braz Campos Durso 10 de viver o presente. Estão se matando aos poucos no sentido literário da emoção. Acho um erro deixar o barco da vida navegar à mercê da maré. Afinal, se eu posso conduzir o barco para o que é o essencial no presente, por que devo esperar o barco achar seu próprio caminho no futuro? Construo o meu presente vivendo o hoje. Alimentando a cada instante a alma do meu corpo. Aprendendo a ser a cada dia uma pessoa que procura retribuir ao universo toda a energia positiva que me é enviada. Aprendo no presente que cada instante é fundamental na vida. Que cada ação é única. Que o momento é o essencial para dentro de segundos sermos nós mesmos. Que aquilo que pude viver agora ficará marcado para sempre dentro da minha história. Não posso viver sempre atrás do muro de concreto do passado, escondendo a minha vida e as muitas possibilidades que poderão existir apenas por ter criado e alimentado diversos receios. Isso não é precaução ou se reservar... isso é cometer o seu próprio suicídio de forma lenta e cruel, semelhante a tomar uma dose diária de veneno. Esse veneno pode matar a sua alegria, a sua essência e a sua liberdade. Prefiro sempre ter janelas abertas nesse muro que me separa de tudo que está ao meu redor. As janelas sempre abertas permitem o sol entrar e iluminar a minha vida. Através delas também posso olhar e aprender além de mim mesmo. Somente deixando as janelas abertas eu posso me permitir amar. Através destas poderá entrar a coisa que me é mais preciosa: o presente, o agora, o que posso ser e viver na plenitude. 11 e como tais, devemos ser capazes de querer sempre ir em direção do acerto e do bem comum. Se sou capaz de perceber meus erros e aceitar os erros dos outros, serei capaz de manter sempre todas as pessoas que erram próximas a mim, pois saberei perdoá-las e pedir desculpas. Perdoar, portanto, é de suma importância no convívio social. Agradeço sempre a Deus quando consigo ter a serenidade de perceber meus erros e a humildade de me desculpar por eles. Somente dessa forma posso seguir em frente em um amplo e saudável convívio social. É a única maneira com a qual posso ser honesto comigo mesmo. É a forma como poderei subir aos poucos cada um dos degraus da longa escada da jornada da vida. A todos que um dia eu cometi algum erro, aproveito para pedir minhas mais sinceras desculpas. Janelas Abertas Braz Campos Durso 12 perdoar para podermos sobreviver de modo coletivo na vida. Achar que o erro está do outro lado é muito fácil, e o que é pior, nem sempre é a verdade, nem sempre nos leva a uma solução. Termos consciência de que erramos também, e ter serenidade para saber que o erro pode ser nosso e não do outro é um privilégio daqueles que compreendem que a vida deve ser vivida de forma coletiva e que não somos melhores do que ninguém. Somente coletivamente poderemos ser maiores do que somos na realidade. Compartilhar da capacidade que cada pessoa do nosso convívio possui é altamente benéfico para a nossa evolução. Trabalhar a nossa humildade é um dos fundamentos da vida. Infelizmente, a forma como se conduz a educação das pessoas não prioriza esse importante ponto. Somos programados para ganhar e vencer. Dessa forma, não temos opção para reconhecer que podemos errar. O errar ficou estigmatizado como derrota e fomos educados para vencer. A ideologia do que é um vencedor é que deveria ser modificada. Deveríamos ter consciência de que reconhecer um erro, pedir desculpas ou qualquer outra ação visando a consertar uma falha não significa perder. Pelo contrário, pode significar o início da direção de uma harmonia social, fundamental para quem quer ser um vencedor. A humildade conduz ao sucesso. Perdoar e ser perdoado faz parte da vida. As pessoas que possuem o bem dentro delas sabem o quanto isso é importante. Dessa forma, temos sempre nosso círculo de amizade formado. Não ter ganância por poder social é também de suma importância. Não estamos disputando um posto político. Estamos nos relacionando como seres humanos, 13 14 A simbologia do espelho é algo bem interessante, devido à diversidade de significados que pode assumir. Desde instrumentos de reflexão do universo até o pensamento de si mesmo, passando também pelo narcisismo e sentidos ambíguos como verdade e mentira. Essa duplicidade de sentidos pode ser explicada pela distorção da imagem que vemos no espelho. Muitas vezes vemos o que queremos ver e não o que realmente deveríamos estar vendo. Os sentidos ambíguos vão mais além, representando desde a pureza e sinceridade devido à sua limpidez até a vaidade em formato pejorativo de um dos pecados mortais do homem. Existe um pensamento baseado no reflexo dos espelhos que é “Nada me mostras, a não ser o fundo, o mais profundo de mim”. Será que sabemos mesmo qual é o nosso mais profundo eu? Será que ao nos vermos refletidos no espelho podemos compreender o nosso real significado nessa vida? Vejo tantas pessoas apenas vendo seus semelhantes, que tenho certeza que esquecem de se observarem e fazerem uma autoanálise. Outras vezes procuram apenas se autocontemplar, esquecem que existe um universo ao seu redor. O mundo não é somente nós mesmos. Existe uma realidade maior acontecendo lá fora. Não podemos querer ser maiores do que a realidade da vida. Não podemos apenas nos ver no mundo. Não somos o único reflexo que a vida oferece ao espelho. Nossa importância também não está na nossa imagem, apesar de muitos viverem julgando pela aparência. Nossa real qualidade está naquilo que poucos podem enxergar e que talvez a maioria de nós nem consiga captar: a forma como pensamos e a maneira pela qual tomamos nossas decisões na vida. O grande cirurgião plástico Ivo Pitanguy, em uma entrevista intitulada “viver é mais complicado que morrer...”, de agosto de 2009, afirmou: “O sentido da beleza para mim é um sentido diferente, é o bem-estar da pessoa. Não há dúvida nenhuma de que a beleza se impõe, a beleza ocupa. Mas não sozinha. O belo e o bom se confundem, os dois são muito próximos. E o tipo de beleza que você admira não é necessariamente o tipo com o qual você quer conviver. Você convive com a beleza que transcende”. Podemos analisar isso naquela pessoa linda fisicamente, que não é necessariamente a pessoa com a qual teremos as maiores afinidades no dia a dia. Todos nós conhecemos pessoas que deixaram de viver com alguma pessoa linda para ser muito mais feliz com uma outra não tão bela fisicamente, mas muito mais bela emocionalmente. Trocaram a beleza física pela beleza que transcende. Mais uma prova da distorção da imagem no espelho da vida. Esse espelho muitas vezes mascara e distorce o que de melhor uma pessoa pode apresentar; afinal, bondade, caráter, emoção, ética, ainda não são representados através de uma imagem no espelho. Todos os dias, ao me levantar, procuro pensar em qual a imagem vou ver refletida ao olhar-me no espelho. Será a melhor imagem minha que estará ali formada? Terei a capacidade de saber aprender com Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso Qual é o seu reflexo no espelho 15 O doutor em filosofia da educação pela USP, José Sérgio Fonseca, na seção contraponto da revista Educação, ano 12, número 148, de agosto 2009, contou a história reproduzida a seguir, induzindonos a pensar sobre o assunto da força sobrepondo as ideias. Um tema muito forte e que merece uma análise na nossa vida e na nossa conduta ética no dia a dia. Em outubro de 1936, Miguel de Unamuno, então reitor da Universidade de Salamanca, encontravase em uma cerimônia ao lado do bispo de Salamanca, da mulher do ditador espanhol Francisco Franco e do general mutilado de guerra Millán Astray. Na audiência, falangistas gritavam periodicamente sua saudação fascista: “Viva a morte!”. A ela, Astray respondia com força e entusiasmo: “Viva a morte!”. Unamuno não se conteve em face da barbárie e proferiu o que viria a ser a sua última lição: “Conheceis-me bem e sabeis que sou incapaz de permanecer em silêncio. Por vezes ficar calado equivale a mentir. Porque o silêncio pode ser interpretado como consentimento... De um mutilado de guerra que careça da grandeza espiritual de Cervantes, é de se esperar que encontre terrível alívio vendo como se multiplicam a sua volta os mutilados”. Nesse preciso momento, Astray responde com um grito bárbaro e irracional: “Abaixo a inteligência! Viva a Janelas Abertas Contra a ideia da força, a força das ideias CRÔNICAS Braz Campos Durso 16 a imagem que estarei vendo? Conseguirei enxergar por meio da imagem tudo o que está representado verdadeiramente no meu olhar? Poderei aprender a captar o meu mais profundo eu ali dentro? Não sei ainda qual o meu verdadeiro e mais profundo eu que poderei ver refletido no espelho. Sigo caminhando nessa busca, sem saber qual a profundidade do que poderei encontrar. Só sei que não poderei deixar de me arriscar nessa aventura. A vida é um processo de crescimento e de autoconhecimento. Creio que quanto mais os anos passam, maior fica a minha capacidade de saber a real profundidade da minha imagem refletida. Já não tenho medo do que poderei ver. Sou aquilo que procurei aprender na vida com o somatório de todos os meus dias. Sou um somatório do que aprendi com meus pais, do que reparti com meus amigos e sou atualizado diariamente pelos meus alunos ao exercer a profissão de professor. Sou um verdadeiro processo de aprendizado. Ainda não estou pronto e isso me deixa feliz. Tenho mais espaço para continuar me vendo no espelho e curtir a descida rumo à profundidade do meu verdadeiro eu. Será que você já começou também a sua descoberta? Faça essa viagem agora se ainda não a fez. A cada dia que passa sua descoberta é mais prazerosa. Seja o que você realmente pode ser. Reflita a sua verdadeira essência. Nunca deixe se afastar na difícil jornada da vida do que você um dia soube que seria. Nosso reflexo pode ser modificado e pode sim ser modificado cada vez mais para melhor. Cresça, viva e reflita sempre o seu melhor para o universo. Reconheça o seu espaço e também o espaço dos outros reflexos na vida. Tudo deverá estar sempre em harmonia. Felicidade é uma questão de saber ser muito mais do que ter. 17 e dia, calor e frio, terra e mar, diversos exemplos estão aí para provarem. Saber conviver com as diferenças pessoais pode ser a maior virtude de um ser humano. Aceitar nosso amigo que gosta das mesmas coisas que nós, é muito fácil. Aceitar quem tem ideias diferentes é mais difícil. Contudo, não devemos nunca esquecer que é justamente nas ideias diferentes que poderemos ter algum tipo adicional de crescimento e conhecimento. Afinal, aprendemos com o que desconhecemos. Ter a humildade para aceitar todas as ideias e respeitar pensamentos divergentes é a maior força que um ser humano pode ter. A base da democracia é justamente respeitar o direito das pessoas de expressarem as suas opiniões, principalmente aquelas que não são iguais às nossas. Se eu aprendo a respeitar, dificilmente vou achar normal o uso da força. Se você possui uma ideia boa, tenha a certeza de que ela vai perdurar muito mais tempo do que qualquer opressão induzida pelo uso da força. O pensamento fica eternizado assim como as ideias que ele carrega consigo. A opressão pode até trazer algum resultado, mas a história vai se ocupar em sufocar seus efeitos. Finalizo com as sábias palavras escritas por Nietzsche em Humano, demasiadamente humano: “Por falta de tranquilidade e do prazer, nossa civilização se transformou em uma nova barbárie. Em nenhum outro tempo os ativos, isto é, os intranquilos, valeram tanto. Mas desde já o indivíduo que é tranquilo e constante de cabeça e coração tem o direito de acreditar que possui não apenas um bom temperamento, mas uma tal virtude, e que, ao preservá-la está realizando uma tarefa superior”. Que possamos, dentro de nossas constâncias e serenidade, Janelas Abertas Braz Campos Durso 18 morte!”. Os falangistas apontaram uma arma contra a cabeça de Unamuno que, não obstante, prosseguiu seu discurso: “Este é o templo da inteligência. Sou seu sumo sacerdote. Estais a profanar seu recinto sagrado. Vencereis porque vos sobra a força bruta. Mas não convencereis. Para convencer há de persuadir. E para persuadir seria necessário algo que vos falta: razão e direito na luta... Tenho dito”. Unamuno foi condenado à prisão domiciliar e algum tempo depois morreu. Utilizar da força nunca foi a melhor forma de se educar ou conquistar algo duradouro. A história nos mostra que as conquistas baseadas na força possuem duração limitada. O uso da força gera medo nas pessoas, não respeito. E sem respeito não se consegue prosperar. Você só prospera com ideias. Nietzsche já nos chamava a atenção para o fato de que a maneira mais fácil de corromper um jovem é ensiná-lo a ter mais respeito por aqueles que pensam igual do que por aqueles que pensam diferente. Não ensinar nossos jovens a aceitarem as diferenças é algo que pode levar ao preconceito e à discriminação. Pode causar consequências desastrosas para o futuro da humanidade. Diferente não quer dizer errado. As divergências propiciam o crescimento da humanidade. Muitas vezes, por não ensinarmos nossos jovens a dialogarem diante de situações divergentes, e por não estarem acostumados a respeitarem o lado oposto, a utilização da força bruta pode parecer uma opção. Contudo, não podemos esquecer que a força não gera e nunca vai gerar respeito. O ódio por diferenças raciais, religiosas, ou qualquer outro tipo de situação, deveria ser abolido da humanidade. O mundo é feito de opostos: noite 19 20 Apesar do título do livro, não se trata de um texto no estilo autoajuda, mas sim de um livro superinteligente com muitos ensinamentos sobre o cérebro humano (com destaque para o nosso lobo frontal e sua capacidade de imaginar). Acabei de ler esse livro na viagem que fiz do Rio de Janeiro para Brasília e a parte aqui comentada é a que achei mais interessante (provavelmente por causa de um momento particular, mas isso não interessa agora). Como o autor do livro O poder da inteligência emocional, Daniel Goleman diz: “Você terá muitas doses de alegria se tropeçar neste livro”. Então vamos aos comentários: No capítulo 7, O Bombardeiro do Tempo, no item: “A comparação e o PRESENTISMO”, o autor explica o porquê de adorarmos as coisas que acabamos de comprar há pouco tempo (vai me dizer que você nunca sonhou em comprar determinado objeto e logo depois de conseguir, perdeu todo o tesão?). O autor aborda o assunto contando uma situação de uma pessoa que, viajando pela França, encontra um casal da sua cidade e logo todos se tornam amigos íntimos. Isso ocorre porque se compararmos o casal da nossa cidade de origem a todos Janelas Abertas O que nos faz feliz: o futuro nem sempre é o que imaginamos CRÔNICAS Braz Campos Durso propagar nossas ideias, sem violentar o direito de nossos semelhantes. A força nunca vai superar a razão. A agressividade dói e corrói o coração. Nunca perca a sua razão, pois a força nunca vai superar a eternidade do pensar. 21 O problema todo está na repercussão que nossas atitudes feitas com base nessas comparações terão no nosso futuro. E cometemos esse mesmo “erro” constantemente (em parte por culpa do nosso lobo frontal muito ativo – leia imaginação fértil – e por tentar preencher o futuro com a nossa visão individualizada e única das coisas). Tudo pode se complicar ainda mais quando nos deixamos cair em uma teia de situações (entenda aqui o tal “dar corda” que as pessoas fazem) que nos influencia e nos leva a fazer as comparações baseadas exclusivamente no PRESENTISMO. Contudo, o mais surpreendente é que realizamos essas comparações baseadas no presentismo a todo instante, e não nos damos conta desse processo que acontece diariamente com nós mesmos. Tenho certeza que mesmo sabendo disso, teremos imensa dificuldade em analisar as coisas baseadas em análises que não ficam restritas apenas ao momento agora (PRESENTISMO). Para finalizar, as palavras que o autor usou de forma muito lúcida no fim do capítulo: “Quando não percebemos que as comparações que fazemos hoje não são as mesmas que faremos amanhã, subestimamos como é diferente o que vamos sentir no futuro daquilo que sentimos no presente”. Espero que esta pequena explanação tenha feito você pensar sobre algumas atitudes que tomamos no dia a dia (baseadas nas comparações do Presentismo) e principalmente que tenha despertado a vontade de ler o livro na sua íntegra (vale a pena mesmo), para aprender algumas curiosidades do nosso cérebro e principalmente do poder de imaginação do lobo frontal. Janelas Abertas Braz Campos Durso 22 aqueles franceses, que nos odeiam quando não tentamos falar a língua deles, o casal parece ser excepcionalmente caloroso e interessante. Até aqui tudo normal. Qual seria então o erro que ocorre? Provavelmente você não consegue pensar em nada de errado. Mas vamos continuar para que você possa perceber o que o autor quer dizer com a comparação e o PRESENTISMO. Um mês depois de voltar da França, a pessoa convida o casal para ir à sua casa. Aí então ela se surpreende ao descobrir que, se comparados aos seus amigos de sempre, o casal é tão chato (sim, o mesmo casal que na França lhe pareceu ser tão caloroso e interessante), que deveria ser agraciado com a cidadania francesa (pelo visto o autor não deve ter tido uma boa experiência na sua estada na França). O erro não ocorreu durante a viagem, quando ela se prestou a passear com os dois chatos (o casal que era tão caloroso e interessante), mas sim quando não percebeu que a comparação feita no presente (o casal é tão mais gentil do que o garçom do Le Grande Colbert) não seria a mesma que ela faria no futuro (o casal não é tão interessante quanto os meus amigos A e B). Isso ocorre porque fazemos comparações diferentes em momentos distintos - sem perceber - esclarecendo, em parte, algumas questões intrigantes que não fossem pelas circunstâncias, ficariam sem explicações. Quem nunca se perguntou: “Mas como eu fui me apaixonar por ela(e)?” “Como eu tive coragem de ficar com uma pessoa como ela(e)?” “Como pude ter sido tão burro(a) assim?” Com certeza, todos já se fizeram essas perguntas e a resposta é simples: fazemos comparações no PRESENTISMO. 23 24 Existem pessoas que ficam esperando por um determinado momento para poder dar o seu melhor. Será que isso é uma opção viável na vida? Penso que o tempo é algo que pode nos surpreender, deixando-nos muitas vezes sem uma segunda oportunidade. Tente se imaginar esperando para dizer o quanto gosta de uma pessoa e de repente essa pessoa morre antes que você possa dizer. Já pensou no ressentimento que isso poderia causar dentro do seu próprio peito? Já parou para refletir no que você sentiria se isso acontecesse na sua vida? Tente também imaginar quantas coisas você gostaria de ter feito com seus pais, mas, por medo ou por achar que não era ainda o momento, não o fez e quando quis fazer, já era tarde demais. Todos nós escutamos pessoas falando que à medida que os anos passam elas percebem com mais propriedade o valor dos pais e, consequentemente, a falta que eles fazem quando partem. Quantos não falam que gostariam de ter conversado mais e aprendido mais com seus pais? Essas situações servem para demonstrar que deixar o seu melhor para depois pode fazer o depois realmente ser tarde demais. Deixar de receber o melhor de alguém também pode trazer consequências desastrosas. Por não recebermos o melhor de nossos pais deixamos sábios aprendizados escaparem de nossa vida. Adiar o seu melhor, pode significar nunca dar o seu melhor para alguém. E se esse alguém for especial para você, o sentimento de remorso e culpa pode tomar conta da sua vida por muito tempo. Alguns até mesmo não conseguem superar essa situação e ficam aprisionados dentro do pensamento “mas eu podia ter...”. Viver conjugando os verbos no passado em muitas situações não resolve o problema. Se eu posso dar o meu melhor para as pessoas com as quais convivo, não encontro explicação lógica para que eu tenha de deixar esse meu melhor para depois. Devo procurar ser sempre o meu melhor para aqueles que convivem comigo. O primeiro ponto para dar o seu melhor é simplesmente ser você mesmo. Ser sincero para com os seus sentimentos. Ser sincero para com suas condutas. Eu não preciso ou devo me esconder, o tempo não permite brincadeiras de pique-esconde. Pode parecer fácil, mas dar o seu melhor não é algo assim tão simples. Ficamos cercados por pessoas que nos julgam fracos por demonstrarmos publicamente o que sentimos. Quantas vezes vejo filhos com vergonha de beijarem seus pais em público ou andarem de mãos dadas com eles pela rua. Alguns chegam a achar isso “careta”. Muitas famílias estão se desintegrando aos poucos, justamente porque seus membros têm vergonha de dar o seu melhor uns aos outros. Querer dar o seu melhor pode significar conviver em grupo. Saber respeitar o espaço de cada um. Respeito e convivência estão se tornando sentimentos cada vez mais raros entre as pessoas nos dias atuais. Estamos trocando o relacionamento real por condutas virtuais, mais fáceis de nos escondermos sem sermos ou darmos o nosso melhor naquele momento. Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso Não espere para dar o seu melhor 25 26 Acabei de reparar que quase todas as histórias que as pessoas vibram ao assistirem numa tela de cinema são aquelas nas quais os protagonistas são capazes de ficar juntos no final. Ficamos sentados aguardando o momento em que a história de vida dos personagens vai se cruzar de forma definitiva. Aguardamos ansiosos pelo instante em que todas as confusões, brigas e desencontros terão um final. Torcemos pelo “Final Feliz” dos casais ao término do filme. Percebi que desde as comédias até os dramas, o sentimento do telespectador é o mesmo: a torcida pelo amor e a busca pela felicidade atrelada ao relacionamento a dois. Talvez o significado real disso seja a dificuldade que as pessoas possuem nos dias atuais de serem capazes de se doarem. A magia do cinema é para muitas pessoas a última esperança de que a vida imaginária das telas também possa ser reproduzida no campo pessoal, na vida real. Muitas passam por decepções amorosas e acabam se fechando para novas oportunidades. Acovardam-se diante da possibilidade de amar novamente. Algumas se encontram nas brigas e desencontros assistidos nas telas, mas não têm coragem de dar o passo rumo a um final feliz. Como podem se imaginar felizes se estão se fechando? Como podem se ver em um final feliz se não conseguem deixar novas pessoas participarem da sua vida? Sempre ouvi dizer que a arte imita a vida, mas creio que em se tratando de amor a história não é bem essa. As pessoas, em vez de se doarem, estão se escondendo cada vez mais. Relacionar-se virou um jogo de estratégia mais difícil do que disputar um campeonato mundial de xadrez. As pessoas passam a analisar tanto suas “jogadas amorosas” que o ato de amar não é mais sincero. Amor é sentimento, não um jogo de estratégia. As pessoas deveriam amar para estarem vivas. Para poderem crescer. Mas, em vez disso, as pessoas estão se relacionando apenas por fraqueza. Para suprir uma necessidade pessoal egoísta. Estão amando pensando apenas em si próprias. Esse sentimento em que prevalece o único, no lugar do par, não pode ser considerado amor. Talvez, por essa razão, ao vermos nas telas as pessoas tendo a coragem de se desculparem, de se doarem, de irem em direção ao conjunto, isso nos faça vibrar, torcer e até nos permitir chorar de emoção. Afinal, ali na tela está o que gostaríamos de sermos capazes de fazer e que na grande maioria das vezes não temos coragem. Por que amar ficou tão difícil? O mundo está nos dando tanto conforto, melhorando tanto nossa qualidade de vida, e como estamos retribuindo? Estamos ficando cada vez mais mimados e egoístas. Querendo tudo apenas para nós mesmos. Esquecemos que respeito, doação, liberdade, confiança fazem parte do real sentimento de amar. O que vemos nas telas deveria nos servir de guia para a vida real. Sim, a vida real também pode ser maravilhosa como observada nas telas. A diferença é que ali existe o objetivo de querer ser dois, e na vida real estamos olhando apenas para nós mesmos. Não existe amor em um mundo onde só existe um. Deixe a pessoa amada entrar no seu mundo. Não tenha medo de tentar. Tentando você sempre poderá acertar. Estando fechado ou jogando, ou, pior ainda, sendo Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso Das telas do cinema para a vida real 27 28 A seguir, uma parte do livro de Lou Marinoff e comentários sobre o tema. Lou Marinoff (Ph.D e professor de filosofia no City College de Nova York) é o principal líder nos EUA de uma nova corrente de pensamento que retira a filosofia do seu castelo acadêmico e a devolve ao dia a dia, utilizando as obras dos maiores pensadores da história para ajudar as pessoas a resolverem seus próprios problemas. Segundo o autor, as terapias atuais não passam de “farmacologia neural”e são feitas prescrições para pessoas que precisam tão somente de uma discussão. Buda deixou o texto As Quatro Verdades Nobres, onde expõe um caminho importante para atravessar as provações mais árduas da vida, de modo que possam ser úteis às pessoas em circunstâncias extremamente penosas. A PRIMEIRA VERDADE é que a vida envolve sofrimento. A SEGUNDA é que o sofrimento é causado, não acontece por acaso. A TERCEIRA, que podemos descobrir a causa e romper a cadeia causal para impedir o sofrimento. Remova a causa e removerá o efeito. A QUARTA, e mais importante, é que devemos praticar para alcançar o fim explicado no terceiro ponto. Janelas Abertas Mais Platão, menos Prozac: a filosofia aplicada ao cotidiano CRÔNICAS Braz Campos Durso egoísta nos seus sentimentos, a certeza será sempre de erro. Não pode haver felicidade se você só consegue se enxergar. O mundo não foi feito apenas em função da sua existência. Aprenda a somar, em vez de dividir. Afirmo: isso é muito mais divertido em todos os sentidos da vida. Seja capaz de contribuir com sua parte. Isso fará a diferença no filme da sua vida. Pense nisso e construa o tão aguardado final feliz para seu mundo. 29 comprou um iglu no polo norte ou sul e se isolou do restante do mundo. Estamos desenvolvendo uma característica em nossa espécie que não enxergo como verdadeira evolução. Na rua, fechamos nossos olhos para as pessoas passando fome, ou até mesmo para as pessoas que enfrentam algum tipo de dificuldade diária, como por exemplo, um pneu furado. Enxergamos apenas o que nos interessa no momento. Viramos escravos dos horários e do trabalho. Não raro, os pais não acompanham o crescimento e desenvolvimento de seus filhos, devido à famigerada falta de tempo. Esses fatos acabam fazendo com que pessoas de uma mesma família não se conheçam mais. E se dentro de uma mesma família já não é possível conhecer as pessoas na sua essência, imagina então conhecer uma pessoa estranha ao convívio familiar! Talvez por esses motivos os relacionamentos matrimoniais estejam dando tão errado entre pessoas nos dias atuais. Estamos tão habituados a fazer tudo tendo como direcionamento nossa visão “seletiva” que o ser humano está se tornando cada vez mais individualista e também frio, afinal não é a era GLACIAL que estamos vivendo hoje em dia? O que me deixa mais preocupado é que não estamos mais sabendo saborear as melhores coisas da vida e que nos são dadas de graça. Não temos mais tempo para olhar a paisagem, ouvir o som da natureza e, principalmente, aproveitar as amizades e nossa família. Dizer um simples bom-dia a um vizinho, dar um abraço em uma pessoa querida ou mesmo dizer te amo para a pessoa amada, viraram quase frases e atos obsoletos Janelas Abertas Braz Campos Durso 30 Segundo o pensamento budista, tudo que fazemos tem consequências, inclusive o nosso comportamento moral, embora não possamos dizer quanto tempo leva para uma consequência se manifestar ou que forma assumirá quando isso acontecer. Talvez não possamos escolher estar ou não em uma situação específica, mas temos escolhas quanto ao que fazer com a situação em que nos encontramos. Escolhemos entre o bem e o mal, e se fizermos boas escolhas, acontecerão boas coisas. Se fizermos más escolhas, coisas ruins acontecerão. Isso transfere parte da responsabilidade e do controle às pessoas. O budismo encara a existência como uma série de instantes, e o que acontece em um influência o que acontece no seguinte. É uma postura otimista e que exige mais responsabilidade pessoal. A ênfase está no desenvolvimento moral. Realmente é interessante a forma como as pessoas estão deixando o desenvolvimento moral de lado nas atividades diárias. Estamos nos acovardando atrás de máscaras de medicamentos, pois isso é muito mais fácil do que ter uma atividade reflexiva de nossos atos. Chego a pensar se hoje em dia o ser humano ainda consegue realmente pensar e refletir. Creio que na maioria das vezes nos movemos por influência da massificação cultural, independente do nível e forma de conteúdo que se possa denominar cultura nos dias atuais. Algo que realmente chama minha atenção é para o aquecimento global. Aquecimento esse apenas no clima, pois na vida diária dos seres humanos parece que estamos vivendo a maior era GLACIAL da história. Parece que cada pessoa 31 32 No discurso de formatura, na Universidade de Stanford, nos EUA, no ano de 2005, o CEO da Apple, Steve Jobs, conta-nos uma história sobre amor e perdas, relatando que em determinado momento de sua vida tudo parecia ruir. Ele foi mandando embora da empresa que simplesmente criara. Isso poderia representar o fundo do poço para muitos, mas para ele foi o início de uma trajetória de sucesso. Ele continuava amando o que fazia e isso fez o diferencial. Justamente por ter sido mandado embora ele fundou as empresas Next e Pixar, que criou o primeiro grande filme de animação por computador chamado “Toy Story” e que é hoje o estúdio de animação mais bem-sucedido do mundo. Essas empresas foram responsáveis pelos avanços que ele pôde ter na volta a Apple. Se não fosse essa nova tecnologia, a Apple não seria hoje o que é. E mais, talvez se ele tivesse permanecido na Apple não teria sido forçado a criar essa nova tecnologia e nada do que conhecemos hoje seria realidade, nem a Apple seria essa gigante da tecnologia. Após sua saída da Apple, Jobs também conheceu a mulher que se tornaria mais tarde sua esposa. Segundo ele, nada dessas coisas maravilhosas teriam sido possíveis se ele não tivesse sido mandado Janelas Abertas Transforme o que era para ser ruim em uma nova oportunidade CRÔNICAS Braz Campos Durso nesta era glacial. Às vezes, tudo é feito de forma impessoal, o que é pior ainda; afinal, não se deve brincar com sentimentos nesta vida. Talvez tudo isso esteja ocorrendo porque nos dias atuais não temos mais a preocupação de achar soluções para nossos problemas e também para explicar nossas atitudes. Não paramos para pensar antes de fazer. A preocupação moral tem ficado relegada a segundo ou até terceiro plano, infelizmente. Creio que somente através da prática da filosofia em nossa vida é que conseguiremos sair da era glacial humana. Devemos buscar o calor de observar o brilho no olhar de uma pessoa que acabamos de fazer feliz. Aproveitar cada momento com as pessoas que gostamos. Curtir até o simples respirar em silêncio lendo o que está escrito no olhar de uma pessoa. Priorizar o pessoal ao impessoal. Devemos e podemos. E isso pode ser muito fácil: basta querermos!!! 33 (no caso, a garota tê-lo abandonado). Enquanto a maioria iria remoer a perda da amada, Cazuza também enxergou a liberdade e as diversas realidades que isso pôde proporcionar. Às vezes, estamos tão cegos que nos esquecemos que as oportunidades estão aí para serem conquistadas. No exemplo da letra, outras pessoas existem, mas só estarão disponíveis se pararmos de ver a face da ex-amada. Viver preso ao passado nunca é uma opção que possibilita a liberdade da vida. Quem ainda está preso, nunca será capaz de dar um passo adiante e se reinventar. Aqueles que assassinam a própria vida com pesares do passado nunca vão viver na plenitude. Trancafiar-se no próprio mundo de sofrimento do passado não vai possibilitar a visão das novas realidades nem tampouco do tamanho da liberdade que a vida poderá nos permitir. Cazuza, nas suas letras, conseguia repassar alguns lições que muitos estudiosos não teriam capacidade. Cazuza soube de modo extraordinário repassar ensinamentos do como “ser feliz”, de como “viver o presente” de uma forma alto-astral, jovem, como nenhum outro foi capaz até então. Sempre falo que se você fizer a sua parte e gerar uma energia positiva o universo vai retribuir da mesma forma. Por essa razão, não devemos ocupar nossa mente com atitudes ruins e negativas. Isso não passa de uma verdadeira perda de tempo. A maturidade vem por sabermos que vamos cair, mas que não ficaremos no chão para sempre, pois só fica no chão quem realmente assim desejar. Saiba e acredite que você é capaz de se reinventar. Seja forte, seja você mesmo. Sua vida não é em vão, nem suas atitudes. O mundo está liberto para você crescer. Faça a sua parte, pois a vida já fez a dela. Janelas Abertas Braz Campos Durso 34 embora da empresa que criara e fundara. Se pensarmos, o que para muitos teria sido motivo suficiente para se achar no fundo do poço, para ele foi o ponto marcante da vida para novas oportunidades e a completa realização profissional e pessoal. A única coisa que o fez seguir adiante foi amar o que fazia. Temos de procurar fazer o que amamos, isso sempre nos dará forças para continuarmos. Quantos de nós não teriam se afundado numa crise existencial sem fim devido a acontecimentos profissionais semelhantes aos que ocorreram na vida de Steve Jobs? A maioria, creio eu, iria se afundar na depressão achando que a vida havia chegado ao fim. Muitos iriam passar o restante dos anos tentando achar algum culpado para o fato de ter sido mandado embora, esquecendo que às vezes também falhamos e temos de aprender a crescer com nossas falhas. Outros iriam assumir o papel de maior vítima do mundo e contariam uma triste história buscando causar comoção em seus pares. O que fez com que Steve Jobs desse a volta por cima foi justamente o fato de ter seguido adiante. De ter se reinventado. De ter acreditado que poderia fazer algo. De não ter se dado ao luxo de ser vencido pelos altos e baixos da vida. Ele acreditou e isso fez toda a diferença. Uma letra do disco Ideologia, de Cazuza, chamada Obrigado (por ter se mandado), encaixa-se neste contexto. Ela fala: “Obrigado por ter se mandado/ ter me condenado a tanta liberdade”, e em outro trecho continua: “Obrigado por ter se mandado/ ter me acordado para realidades/ das pessoas que eu já nem lembrava/ pareciam todas ter a sua cara”. São muito fortes essas partes da letra. Cazuza soube retratar as várias possibilidades que se abrem após um fato desagradável acontecer 35 36 Ser uma pessoa pública é algo definitivamente difícil para qualquer um. Sua vida pessoal passa a ser misturada com seu trabalho e com sua imagem. Aliado a tudo isso, ainda tem o que as pessoas querem que você seja. Ser o que todos querem que você seja não é uma tarefa fácil. Afinal, a pessoa pública não é um personagem fictício. Ela é real como todos nós. Ela também está em processo de crescimento. Tem desejos, anseios, sonhos, como qualquer pessoa normal. Ela também acerta e erra. Mais do que tudo, também merece ser respeitada. A pessoa pública se parece mais conosco do que podemos imaginar. Talvez uma das pessoas que mais tenham sofrido com isso seja a atriz Luana Piovani. Ela é a típica mulher brasileira: é forte, assertiva, e não se esconde na hora de emitir as suas opiniões. Talvez por ela ser tão humana e doce dentro daquele corpo de mulherão, as pessoas não consigam compreender quem realmente ela é. Essa incompreensão, contudo, não nos dá o direito de julgá-la. Devemos lembrar que o julgamento ocorre onde não existe compreensão e amor. Julgar uma pessoa que está exposta é fácil, saber respeitar seus direitos é mais difícil. É o que deve ser trabalhado por todos nós. Existe uma certa mídia no Brasil que adora invadir a privacidade das pessoas públicas, muitas vezes até em momentos de dificuldades. Essas pessoas têm sua vida revirada de forma às vezes desumanas. Na busca por notícias sensacionalistas, alguns simplesmente desrespeitam o que existe por detrás de uma pessoa pública: o sentimento. Esquecemos que todas as pessoas possuem um coração, que todos nós somos seres humanos de carne e osso. Alguma vez você já se colocou no lugar de uma dessas pessoas famosas em algum momento de sofrimento para pensar em como teria sido a sua reação diante da invasão da mídia? Provavelmente não, pois a posição por nós assumida de telespectadores do sofrimento alheio é muito confortável para nos permitir uma reflexão real sobre a condição humana. Às vezes, a mídia cria estereótipos que não condizem com a verdade. Nesse ponto, a imagem que muitas pessoas possuem de Luana Piovani não é a imagem real, e sim aquela vendida por uma parte da mídia. O maior erro das pessoas que criam dentro de si uma imagem desfavorável contra uma pessoa pública, como no caso da Luana por exemplo, é simplesmente, a partir de uma edição de ideias direcionadas em uma matéria, tentar fazer uma leitura completa da obra. Todos deveriam saber que isso é impossível de ser feito, mas na verdade passam a fazer e a acreditar em frases soltas muitas vezes deslocadas do contexto real. Torno a chamar a atenção para a necessidade de não nos permitirmos julgar alguém público apenas pelo impulso de uma informação muitas vezes maldosa e direcionada de uma determinada parte da mídia. É difícil entender o motivo de existirem pessoas que sentem prazer em destilar veneno por meio de palavras escritas, capazes de causar tanto mal ao Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso Entendendo os porquês da Luana Piovani 37 nós aprendermos a respeitar que existem pessoas que podem não agir ou pensar da mesma forma que pensamos. Isso não as torna, contudo, pessoas ruins ou merecedoras de qualquer outro adjetivo pejorativo. O fato de uma pessoa ser pública não nos permite brincarmos de julgar. Vamos nos permitir respeitar, isso transforma a vida em algo muito melhor. Janelas Abertas Braz Campos Durso 38 seu semelhante. Também tenho certeza que o universo nos devolve tudo o que doamos a ele. Todos aqueles que tentam vender uma imagem negativa da atriz Luana devem estar se remoendo dentro da sua própria maldade interior. Cada vez mais, essa mulher brasileira, que sempre batalhou para conseguir seus objetivos, está tendo mais sucesso e encontrando mecanismos para satisfazer suas vontades. Será que já paramos para pensarmos nos porquês da Luana? Devíamos saber que no mundo não existe apenas o nosso modo de pensar. No mundo existem várias formas de imaginar, interagir e viver. Permitir a divergência de expressão deveria ser a primeira coisa a se ensinar na escola. O respeito é a maior forma de amor de um ser humano pelo seu semelhante. Numa entrevista dada no programa Gabi, Luana citou uma expressão usada pelo saudoso Bussunda que quando era questionado sobre algum assunto polêmico falava “eu infelizmente não posso responder a sua pergunta porque me tornei uma pessoa pública e qualquer declaração que eu dê, perde um vínculo pessoal e se transforma numa coisa muito maior”. Seria muito fácil para ela usar essa mesma expressão toda vez que fosse solicitada a sua opinião sobre assuntos polêmicos. Contudo, ela prefere, pelo seu caráter e pela sua honestidade, exprimir suas opiniões. Deveríamos agradecer por existirem pessoas que se doam e dão a cara à tapa. A cultura deve ser feita por pessoas que expressam o que pensam. Deveríamos procurar entender os porquês de cada uma. Entender, em vez de julgar. Respeitar, em vez de julgar. Sim, opiniões não são regras nem verdades. São a forma como as pessoas livres podem expor o que acham sobre determinado assunto. Cabe a 39 40 É interessante como podemos ver pessoas que têm tudo para ser feliz e não o são. Elas só precisam acreditar nelas mesmas, mas acabam tão cheias de mágoas que não conseguem. Vejo constantemente pessoas que se ocupam em se dedicar ao ressentimento, fazendo dessa tarefa uma prática diária. Vivem encontrando uma desculpa para algo que não dá certo. Sentem raiva, ódio, rancor e querem sempre reclamar e brigar, como se essas atitudes e sentimentos fossem realmente mudar alguma coisa, o que não acontece. Nossa vida é tão curta, tão momentânea, e mesmo assim alguns passam a maior parte dela mergulhados em ressentimentos. Devemos procurar sempre seguir em frente. Levantar e ir adiante. Mesmo as pessoas que apresentam várias dificuldades na vida podem acreditar nelas mesmas e ser vencedoras. Muitas necessitam de um direcionamento na vida para seguirem em frente. Nesse ponto a religião pode ser um fator determinante. Não importa qual o tipo de religião, desde que o objetivo seja o de fazer o bem. A religião pode ser, em muitos casos, o início de um novo círculo de amizade, de um novo sentido na vida pessoal e profissional, uma verdadeira âncora de apoio para as pessoas que ainda não conseguem acreditar no seu próprio potencial de seguir em frente. Servem também para mostrar às pessoas que existem sofrimentos e perdas maiores. Mostram às pessoas que elas podem sim, ao contrário do que se pensa, ser solidárias e sinceras umas com as outras e se ajudar. Nesse sentido único, a religião pode se tornar um fator determinante na mudança de atitude das pessoas. Isso não quer dizer que pessoas que adotam algum tipo de religião não vão mais errar nem deixar de sentir algum tipo de ressentimento. Significa sim, que encontraram o apoio necessário para superar as barreiras que esses sentimentos podem causar ao ser humano. E tudo na nossa vida é um verdadeiro aprendizado. Aprender a superar esses sentimentos de raiva e ressentimento é uma das coisas mais fundamentais nos dias atuais. Vejo muitas pessoas morrendo aos poucos por guardarem rancor no coração. Pessoas envelhecem rapidamente por guardarem ressentimentos no coração. Essas pessoas se esquecem da transitoriedade da vida. Da rapidez dos momentos. Da brevidade da felicidade. Por tudo isso não conseguem aproveitar nada. São pessoas que carregam uma energia negativa. Não se sentem feliz, pois estão tão absorvidas pela inveja, raiva e qualquer outro sentimento ruim, que não conseguem adquirir espaço próprio. É como se não houvesse espaço para todos brilharem, cada qual com a sua intensidade de luz própria! Essas pessoas esquecem que esse espaço existe e está dentro de nós mesmos. Só depende de nós querer ir em frente e ser feliz. Definir o nosso trajeto e nossas conquistas e, lógico, batalhar por elas. Depende principalmente do desapego material. Esquecemos que amizade não se compra. Amor não se compra. Família não se compra. Caráter não se compra. Ideais de vida também não são comprados. Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso Não viva a sua vida cheia de ressentimentos 41 42 A música Vai a Luta de Cazuza tem uma parte que nos conduz para uma boa reflexão do relacionamento humano. O trecho a que me refiro é o seguinte: “O pessoal gosta de escrachar/de ver a gente por baixo/pra depois aconselhar/ dizer o que é certo e errado”. Acho isso de uma profundidade quase sublime. Uma verdadeira poesia sobre o que é o dia a dia do ser humano e a forma com a qual mantemos nossas relações sociais. As pessoas esperam que nos aconteça algum fato desarmônico no nosso cotidiano para depois vir, de modo cruel e vil, ditar todo o roteiro que deveríamos tomar na nossa vida. Acham-se no direito de saber o que é o melhor para nossa vida. Acham-se no direito de, a partir do seu ponto de vista, tentar traçar o nosso caminho, como se isso fosse normal. Depois do fato ocorrido a análise se torna fácil. Analisar o passado é fácil, assim como prever o futuro pode ser uma missão impossível. Essas pessoas não conseguem perder a chance de se mostrar superiores depois, fazendo uma análise da sua vida e de seus atos. Pior ainda quando pessoas ao nosso redor e do convívio pessoal, tentam nos “fazer a cabeça” apenas pelo seu próprio egoísmo. Escutamos no nosso dia a dia essas pessoas nos aconselhando a “não ligar quando no nosso coração desejamos telefonar para alguém”, “a não procurar quando gostaríamos de ir ao encontro de outra pessoa”. Se analisarmos a fundo esses “conselhos” poderemos perceber que essas pessoas não estão priorizando nossa felicidade Janelas Abertas Vampiros sociais CRÔNICAS Braz Campos Durso O tempo que passou e que não existirá mais também não se compra. Aceitar as coisas que não podemos mudar é uma grande sabedoria. Aceitar a diferença de momentos entre as pessoas é outra grande sabedoria. Aceitar que nosso coração deve ser uma moradia para coisas boas deveria ser uma filosofia de vida. Nosso órgão vital não deve ter espaço para rancor ou ressentimento. O espaço do coração deve ser ocupado em sua totalidade com o amor e sentimento de fazer o bem. Quanto mais eu valorizo as coisas que vivo e o meu dia a dia, maior a minha felicidade. 43 na sua cabeça dizendo que você está sempre certo; afinal, ninguém nesta vida está 100% certo. Amigo de verdade é aquele capaz de entendê-lo, de querer a sua verdadeira felicidade e aceitar que a distância não significa o fim. Amigo que é amigo é assim. Cuidado com quem está do seu lado. Amizade não se constrói baseada em interesses de momento. Amizade não aceita intrigas e invejas. Amizade é bem querer, não apenas querer. Pense nisso e procure analisar com mais profundidade as pessoas que estão do seu lado. Existem muitos vampiros “profissionais” sugando a sua energia positiva, não deixe isso prejudicar o seu dia a dia nem sua busca pela felicidade. Também se policie para você não estar sendo um vampiro para seus amigos. Respeite sempre a liberdade das pessoas, ela é fundamental. Nunca dite as regras para aqueles do seu convívio baseado no que você quer. Lembre-se, a vida se constrói caminhando de diversas formas e todas podem levar aonde se deseja chegar. Respeite as diversidades e liberte-se do seu egoísmo. Janelas Abertas Braz Campos Durso 44 e sim o próprio egoísmo delas. Afinal, se você não ligar nem procurar outra pessoa, poderá deixá-la sozinha, ilhada, sem a sua companhia. Essas atitudes não são baseadas no seu bem-estar. São baseadas no sentimento de posse e na carência pessoal destes ditos “nossos amigos”. Alguns poderiam até achar essa atitude decorrente do ciúme, mas a influência pode ser tão cruel para a sua felicidade que eu prefiro chamar esse tipo de atitude de possessividade egoísta. Poucos dos que estão ao nosso lado sabem entender e respeitar a felicidade alheia. São incapazes de ficar feliz ao verem o outro feliz. Muitos podem pensar que essa felicidade significa o seu próprio fracasso; afinal, se a pessoa está feliz, ela também deveria estar e, na maioria das vezes, isso não ocorre; afinal, cada um de nós se encontra num estágio diferente nesse universo. Talvez as pessoas passem tanto tempo remoendo o fato de o outro estar feliz que não conseguem ser felizes, ou pior, não enxergam o que poderia levá-las à felicidade. Sim, sei que é difícil descobrirmos quais são as pessoas que estão do nosso lado, que atuam como vampiros sugando todas as nossas possibilidades de sermos felizes e nossa energia positiva. Normalmente elas nos submetem a uma esfera de relacionamento que pensamos tratar-se de uma amizade verdadeira. Sempre digo: o amigo é aquele que quer o melhor para você e não o que quer que o seu melhor seja o mais confortável para ele. Amigo não deseja sugar sua energia e suas possibilidades de felicidade. Amigo não vai deixar algo acontecer para depois fingir que já sabia, vir com falsos moralismos e culpá-lo sem nenhuma compreensão dos seus atos. Amigo também não precisa passar a mão 45 46 O jornalista americano Charles Fletcher Lummis brilhantemente disse que ele era maior do que qualquer coisa que pudesse acontecer com ele. Que todas as coisas: tristeza, desgraça e sofrimento, estavam além da sua porta. Dizia que estava dentro de sua casa e que possuía a chave. Devemos, quando qualquer dificuldade nos abater, lembrar desse pensamento. Todas essas coisas que achamos “ruins” estão do nosso lado de fora. Basta não deixarmos entrar no nosso interior. Sim, é muito difícil evitar que isso aconteça. Mas também temos de lembrar que todas as dificuldades podem abrir um novo mundo para nós. Podem liberar a nossa capacidade de superação. Basta querermos dar o primeiro passo rumo à superação. Muito do nosso sofrimento vem da nossa incapacidade de admitirmos nossas fraquezas. É tão difícil admitir que temos de mudar (afinal nos achamos sempre tão perfeitos!), que erramos (sim, nós também erramos), e procurar trabalhar a nossa humildade (já reparou o bloqueio que sentimos quando temos de procurar alguém para pedir desculpas?). Todos esses pontos de aceitação são necessários antes de podermos dar esse passo adiante. Todos nós já passamos por diversos momentos em que pensamos que o mundo iria desabar nas nossas costas. Que tudo parecia ter chegado a um ponto sem volta. Que não teríamos mais força para continuar. Qual não é a nossa surpresa quando olhamos para trás e verificamos que tivemos como seguir adiante e deixamos essas mesmas dificuldades fora da nossa porta. Não deixamos que elas entrassem e se apoderassem da nossa casa. A maior dificuldade é que para cada situação desconfortável teremos de procurar a solução. Não existe uma regra padrão para seguirmos. Os caminhos são diferentes para cada pessoa. A luz no fim do túnel pode se manifestar de diversas formas. O importante é saber que para nossas dificuldades, a vida não apresenta uma padronização de solução. Muitos se perdem justamente por não saberem aceitar a existência de diversos caminhos, cada qual individualizado nessa vida para propiciar uma solução. Nenhuma receita de vida poderá ser aplicada à sua dor. Cabe a você enxergar a saída. Aceitar esse momento. Saber ceder. Dar o primeiro passo rumo à solução do problema. Precisamos trabalhar a nossa humildade de forma mais realista. Se não percebemos que precisamos mudar, reinventar-nos, não conseguiremos enxergar as opções que a estrada da vida nos propicia para seguir adiante. Todas essas dificuldades que a vida nos impõe não existem dentro de nós. Estão do lado de fora da nossa casa. Basta sabermos que estamos seguros e que possuímos a chave da porta. Não vamos deixar nada disso entrar e se apoderar de toda a nossa vida. As dificuldades são barreiras que podem nos atrapalhar de irmos adiante, mas não podem ser um fator determinante para que fiquemos parados na vida. Nosso destino é seguir em frente. O aprendizado nos espera. A cada dia há uma nova descoberta na vida. A cada momento um novo aprendizado interior. E tudo isso é possível porque possuímos a chave da nossa vida. Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso Sou maior que meu corpo 47 48 Um dos capítulos do livro “Não espere pelo epitáfio... provocações filosóficas”, de Mário Sergio Cortella, me fez refletir muito. Principalmente pelo assunto abordado: a razão. Cortella faz duas citações maravilhosas nesse capítulo para nos despertar a reflexão sobre a razão. Uma delas é de Romain-Roland: “A razão é um sol impiedoso; ela ilumina, mas cega”. Às vezes ficamos tão centrados na nossa razão que perdemos o lado sentimental. Acho a emoção muito importante para se levar a vida a um sentido mais amplo. Não tem como fazer as coisas sem sentimento. Talvez por essa razão eu admire tanto os artistas. Já fiz muitas coisas na minha vida priorizando a razão. Consegui muitos dos meus objetivos, mas às vezes me pego pensando como teria sido o fim de várias histórias na minha vida se o meu lado emocional tivesse se sobressaído. Provavelmente nunca terei essas respostas, mas hoje sei que o momento de dar espaço para a emoção pode representar muito e ser até mesmo o fator determinante do processo de crescimento. A outra citação é de G.B. Shaw “o homem razoável se adapta ao mundo; o homem que não é razoável se obstina a tentar fazer com que o mundo se lhe adapte”. Segundo o filósofo Cortella qualquer progresso, portanto, depende do homem, que não é razoável. Não ser razoável pode ser muitas vezes interpretado como um ato de rebeldia ou loucura. Mas já dizia o grande músico Arnaldo Baptista “mas louco é quem me diz que não é feliz... eu sou feliz”. Sábias palavras que foram eternizadas para sempre na história da música brasileira. A busca pela felicidade não deve ser encarada como um ato de loucura. Se normalmente as pessoas têm medo de serem felizes, isso não significa que você não deva tentar ser. Se alguma situação já fez alguém se arrepender de um ato parecido, não quer dizer que esse ato vai repercutir da mesma forma. As pessoas, os locais e as situações são diferentes, a forma de agrupar tudo isso é diferente. O seu mundo e o seu pensar também são diferentes. Muitos pensam: “Ah...fui querer ser romântico e não me dei bem”. Esse fato não quer dizer que devemos agir de forma fria e insensível ou que devemos ser guiados apenas pela razão nos nossos envolvimentos. Sempre falo que relacionamento não é uma equação racional. Relacionamento é uma chance de nos reinventarmos na busca da felicidade. É a nova chance que temos de viver novas situações na vida, de nos doarmos para aprendermos a curtir a felicidade da outra pessoa. Relacionamento é não ser racional. Razão não combina com emoção. Uma palavra se sobrepõe à outra. Não se deve ficar pensando, quando se quer comprar um buquê de flores para mandar para a pessoa amada. Devemos ser apenas coração. Devemos nos permitir voar em direção à felicidade, revolucionar nossos atos, de modo que os olhos brilhem e a face expresse um sorriso de felicidade. Devemos, portanto, não priorizar a vida somente por atos racionais. No que Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso A evolução da razão 49 50 A transição do que pensamos para o que realmente ocorre é muitas vezes algo cruel. Nossa mente tem a brilhante capacidade de nos levar a lugares e situações que provavelmente nunca vão existir na nossa trajetória sem que seja necessário batalharmos para que se torne real. Será então um erro sonharmos e deixarmos por alguns momentos esse imaginário ser algo vívido na nossa história? A essa pergunta cada um deve pesar e procurar sua própria resposta. Sei apenas que no mundo imaginário que criamos, muitas vezes podemos ter fugas necessárias para o tão imprescindível seguir adiante na vida. O mundo imaginário também pode se tornar real se tivermos força e determinação suficiente para que isso ocorra. Dos nossos sonhos imaginários podemos traçar metas para que possam se tornar reais. Embora acredite que a maioria dos sonhos sejam irreais, penso que uma pequena parte possa vir sim, com esforço e dedicação, a se tornar possíveis. Não é fácil, mas nada nesta vida o é, portanto, saber que demandará determinação é o primeiro passo rumo à essa transposição do imaginário para o real. Muitos param no meio do caminho. Outros acham loucura tentar realizar seus sonhos. Mas uma pequena parte, na qual acho que me incluo, prefere tentar e lutar para torná-los possíveis. O mundo é feito para os que sonham e não têm medo de tentar. Certa vez, Maria Evangelina Monerat me disse que é preferível ficarmos vermelhos uma vez Janelas Abertas Transpondo o imaginário CRÔNICAS Braz Campos Durso diz respeito ao campo do amor, devemos querer tremer sempre que passarmos perto da pessoa amada. Devemos permitir não saber como agir ou o que fazer quando nos encontrarmos com a pessoa amada. Devemos nos permitir recomeçar sempre na busca pela felicidade. Devemos nos permitir amar sempre. Razão é importante, mas posso afirmar: no amor não é fundamental!!!! 51 altos e baixos, e você precisa aprender isso. Alguns podem até ter desistido de aprender devido a um tombo. Mas você, que continuou tentando e aprendeu a andar de bicicleta, sabe o quanto isso é bom. Pequenos obstáculos não devem nos deter. Caímos porque podemos levantar, agora deixar de tentar não nos possibilitará, na maioria das vezes, outra chance. A história é dinâmica. O tempo segue sempre em frente, assim como a vida. O primeiro passo para não fazer pode começar com um simples adiamento. Seja sempre determinado nos seus objetivos. Sonhe e tente realizar suas ambições. A felicidade existe para os que doam sua vida ao desafio. Janelas Abertas Braz Campos Durso 52 do que amarelo para o resto da vida. É a mais pura verdade. Muitos preferem a comodidade de uma vida sem emoção e sonhos, simplesmente por terem medo de lutar para que estes possam se tornar realidade. Eu prefiro os desafios da vida, mesmo que não possa vencê-los sempre. Contudo, para mim, uma única vitória alcançada será muito mais útil e importante do que passar uma vida inteira preso ao conformismo da mediocridade. Existe chance de dar errado? Sim sempre, e provavelmente algumas vezes isso acontecerá. Mas se eu não tentar, nunca saberei se iria dar certo. Tentando, tenho certeza de que não passarei meus dias pensando: “Mas...” e “se...”. Esses pensamentos para mim significam uma derrota e um fracasso muito maiores do que uma tentativa que não deu certo. Pensar que você poderia, significa que o medo superou suas forças e o fez ficar imóvel diante das diversas possibilidades que a vida estaria lhe proporcionando. Cair não é vergonha, mas ter medo de ir em frente, isso sim é vergonhoso. A mediocridade oriunda da comodidade é algo lastimável na vida de um ser humano. Talvez a diferença entre você e aquela pessoa que conseguiu um objetivo seja justamente essa: o medo de tentar. O que uma pessoa sonha, outra será capaz de realizar. Não deixe ninguém realizar seus sonhos, realize-os você mesmo. Não tenha medo de tentar. Não tenha medo de cair. Lembre-se de quando estava aprendendo a andar de bicicleta. Alguns tombos aconteceram. Alguns machucados podem ter aparecido no seu corpo. Mas nada disso foi suficiente para impedir que você aprendesse. Essas quedas e machucados na verdade fizeram parte do seu processo de aprendizado. A vida é cíclica, com 53 54 O corpo é responsável por 55% da mensagem, o tom de voz por 38% e as palavras por apenas 7% - reportagem da revista Men’s Health “Sim, você pode ler...” Nesse mesmo seguimento temos também o seriado LIE TO ME (se você ainda não assistiu, não fique de fora: é um seriado muito bom), que trata desse assunto de forma interessante durante uma investigação criminal. Se o nosso corpo é responsável por 55% da mensagem, por que então as pessoas não valorizam esse ponto durante uma conversa? Nos dias atuais passamos a valorizar a comunicação virtual, o que segundo o texto da revista indica que apenas 7% da mensagem é transmitida dessa forma. Talvez por essa razão, tenhamos tantas dúvidas no que lemos no msn, nos chats, no google talk ou qualquer outro tipo de programa de mensagem instantânea. Passando a nos comunicar dessa forma, estamos dando liberdade para o lobo frontal do cérebro fazer diversas suposições sobre o que foi lido. Afinal, você pode estar brincando ao escrever determinada mensagem, mas a pessoa que vai ler não verá a sua expressão facial para saber disso e, se levar a sério a brincadeira, as consequências podem ser desastrosas. Tenho colegas que se iludiram em conversas via computador pensando que a outra pessoa estava apaixonada e na verdade não havia sentimento nenhum, apenas interpretações equivocadas. Por outras vezes, pensa-se que alguém está com raiva, quando na verdade também não existe tal sentimento. Tudo culpa da falta da expressão facial, o que possibilita o lobo frontal de entrar em ação novamente. Não sou contra esse tipo de mecanismo de comunicação, afinal, essas tecnologias são muito úteis também, principalmente para unir pessoas que estão longe, mas devemos saber limitar o seu uso a um patamar que não atropele a relação humana. É impressionante como as pessoas estão fugindo do olho no olho durante suas conversas. Casais discutem sem se olharem nos olhos. Profissionais atendem pacientes sem nem mesmo olhar sua fisionomia. Para mim, esse tipo de atitude demonstra a frieza com que as pessoas estão se acostumando. Gritando em favor da individualidade, na verdade, estão regredindo como pessoas, como seres humanos. Por mais fantástica que a tecnologia possa ser, ela nunca vai reproduzir os sentimentos que podemos perceber ao vivo, pessoalmente, durante uma conversa. Antes, eu não reparava tanto nas expressões faciais nem procurava enxergar um significado para cada uma delas. Atualmente, procuro observar as feições das pessoas. Surpreendo-me cada vez que consigo ler uma informação antes de a pessoa deixá-la clara com sua fala. Isso tem feito com que eu fique observando mais, em vez de tomar qualquer outra atitude. Talvez essa dificuldade de reparar tenha a ver com o fato de estarmos deixando as coisas simples de lado. A pressa Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso A expressão corporal 55 56 Vamos começar fazendo você usar a sua imaginação. Digamos que você está diante de um tabuleiro de xadrez. Existe algo que você não consiga ver? Não. Mas é garantido que você vença o jogo? Não, porque você não pode ver o que o outro sujeito está pensando. Ficamos aprisionados no mundo atual, cercados de tantas informações, que ao querer saber de tudo, acabamos inertes. Nunca se poderá saber tudo. Quanto mais aprendemos, mais chegamos à conclusão que ainda falta muito para sabermos tudo nesta vida. Nem todas as informações adicionais são necessárias para se chegar a uma vitória ou realizar alguns dos nossos objetivos nesta vida. Às vezes, fugir das rígidas regras, permitindo-se novos caminhos, pode representar esse diferencial e determinar o seu sucesso, tanto profissional como pessoal. Se você não souber todas as informações, vai usar o seu discernimento para fazer suas escolhas. Isso possibilitará que o seu lado criativo possa se manifestar. Nesse ponto, você terá uma certeza: terá começado a viver realmente. Nossa capacidade de sermos criativos é muito grande, quase infinita. Vamos então aproveitá-la ao máximo. Ela existe. Está viva dentro de nós. Vamos deixá-la se manifestar. Lembre-se sempre do pensamento de Goethe, que afirma que ideias ousadas são como as peças de um jogo de xadrez que se movimentam para a frente; podem ser comidas, mas podem começar um jogo vitorioso. Na vida, nunca teremos Janelas Abertas Quando menos é mais CRÔNICAS Braz Campos Durso está nos consumindo cada vez mais. Estou em um momento de parar um pouco, de deixar as coisas simples acontecerem e reparar cada detalhe desta simplicidade. Repensar é necessário, assim como saber parar. Esse sou EU hoje: parado, reparando na sua expressão corporal. 57 A sábia Clarice Lispector já falava: “O difícil é ser simples”. Ela estava coberta de razão. Vamos procurar simplificar o nosso pensar. A máxima aqui é quando menos é mais. Janelas Abertas Braz Campos Durso 58 a certeza se vamos ganhar ou não, mas temos a certeza de que devemos tentar, pois só dessa forma podemos ter a chance de vencer. Muitas pessoas esperam por tantas respostas antes de tomarem uma decisão que simplesmente não saem do lugar. Devemos ter plena convicção de que a incerteza faz parte da vida. Saber lidar com ela é uma das etapas fundamentais rumo à realização de nossos objetivos. Se você se envolver demais na produção de informações, vai se afogar e se dispersar nos dados. Sobrecarregar nossa mente com muitas informações dificulta a identificação de qual a melhor decisão a tomar, em vez de facilitar. Para tomar decisões de sucesso, precisamos editar. Por mais incoerente que possa parecer, simplificar o processamento das informações ajuda a termos certeza. Quanto mais informações você acrescentar sem real necessidade, mais vai dificultar a atuação de seu cérebro. As pessoas injetam informações extras numa equação já superlotada que estão construindo em sua cabeça, ficando tudo ainda mais confuso. Todos nós já passamos pela situação de termos de resolver uma questão em determinado teste e optamos por uma letra no gabarito. Depois, ao voltarmos na questão e ficarmos pensando novamente nas diversas informações ali presentes, acabamos mudando a opção da resposta. O que frequentemente acontece nessas situações? Na grande maioria das vezes, quando conferimos o gabarito do teste, passamos raiva ao verificar que tínhamos acertado anteriormente e que na última hora mudamos para a opção errada. Devemos lembrar da frase de Goethe de que quem pensa muito, nem sempre escolhe o melhor. Isso é a mais pura verdade. 59 60 Constantemente as pessoas julgam. Parece ser algo nato do ser humano: julgar seu semelhante. Julgamos com tanta ênfase que esquecemos que podemos nos tornar réus e sermos julgados também. Existem diversas formas de se julgar, mas, invariavelmente, acabamos por julgar algo em alguém. O julgamento do aspecto físico é talvez o que causa maior frustração, tanto para quem é julgado como para quem julga. Quem é julgado porque fica exposto a comentários maldosos e quem julga porque pode cometer erros e equívocos imperdoáveis. Recentemente num programa de talentos da televisão britânica (reality show Britain’s Got Talent) tivemos uma prova disso. Uma das participantes, a candidata Susan Margaret Boyle, que externamente não se enquadrava no perfil de beleza, foi vítima do JULGAMENTO. Antes de abrir a boca e soltar uma voz maravilhosa ela foi ridicularizada pelos jurados do programa. Mas, como tudo na vida, quando fazemos um prejulgamento acabamos por ter uma surpresa depois. E com esta candidata não foi diferente, fazendo com que ela chegasse à final do reality show. Não consigo entender por que o ser humano tem essa necessidade de julgar. Julgamos com tanta veemência que esquecemos que erramos também. Já cansei de prejulgar alguém e me arrepender depois. Na verdade, aprendi que antes de julgar temos de dar tempo para entender cada pessoa e principalmente saber respeitar as diferenças. Apenas por alguém não pensar da mesma forma que eu, não quer dizer que essa pessoa esteja errada e que mereça ser julgada. Quem garante que na verdade não é ela a correta e eu o errado? Quantas vezes, também, uma pessoa que é considerada “feia” não se torna a principal companhia e aquela que mais nos entende? Nessas horas não é melhor nos perguntar se o importante é o julgamento do aspecto físico ou o caráter e a amizade? Acho que caráter e amizade sobrepõem em valor qualquer beleza física. De que adianta o físico se o conteúdo é vazio? Lembro de ter lido uma vez uma crônica na internet em que uma menina entra numa loja de animal e se apaixona por um cachorrinho que tem um defeito na perna. Ela fala para o vendedor que vai querer levar aquele pequeno animal com o defeito e o dono da loja responde que ela não deveria escolher aquele e sim outro animal, pois aquele apresentava um defeito. Mais uma vez vemos como as pessoas julgam pelo físico (no caso o dono da loja). Nessa hora a criança fala que quer aquele mesmo, pois como ela também tem um defeito na perna, aquele animal vai ser perfeito e eles vão andar na mesma marcha. Acho maravilhosa essa crônica, pois ela valoriza o significado do interior dos seres vivos. Essa lição de moral serve de alerta para entendermos a forma como nós, seres humanos, estamos conduzindo os relacionamentos nos dias de hoje: valorizando apenas o físico. Essa forma de agir e pensar faz com que relacionamentos com pessoas incríveis sejam perdidos. Quantas amizades sinceras não entram na nossa vida por culpa do modo como agimos? Antes de julgarmos alguém devemos sempre nos perguntar se estamos dando tempo suficiente Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso O julgamento 61 62 É fácil conceber e começar projetos. Fazemos isso todo dia ao acordar. Estamos sempre envolvidos em algum projeto que sonhamos anteriormente. Nossas conquistas podem ser sempre do tamanho da imensidão de nossos sonhos. Difícil é mantê-los sem que se degradem com o passar do tempo. Difícil é manter a nossa integridade, a nossa essência diante de tanta mutação que ocorre ao nosso redor. Difícil é aceitar que podem existir vários pontos zeros em nossa vida. Várias etapas marcadas por um novo reinício. Tente responder quais os projetos que você está fazendo para a sua vida hoje. Esses projetos são os mesmos que você fazia ontem? São os projetos que irá querer fazer amanhã? Será capaz de levá-los adiante? Temos de nos lembrar que não dependemos apenas de nós mesmos na realização dos nossos projetos pessoais. O mundo é dinâmico e está repleto de pessoas, todas elas em constante evolução. Mudar é algo inerente ao planeta em que vivemos. Inerente das pessoas com quem convivemos. Os interesses mudam e com as mudanças as pessoas se vão. Sábio é aquele que consegue reconhecer isso e sabe se reinventar. A cada novo dia podemos deparar com um novo ponto zero na nossa vida. Não devemos encarar esses novos pontos zeros como algo ruim e sim como novas chances de irmos em frente. Recomeçar é uma bênção diante de tantos que preferem ficar pelo caminho. Thiago Melo já falava de forma sábia: “Não tenho um caminho novo. Janelas Abertas Pontos zero de nossa vida CRÔNICAS Braz Campos Durso para conhecermos o interior dessa pessoa. Provavelmente não estaremos dando tempo suficiente para isso. Portanto, devemos escutar mais, entender mais, respeitar mais, ajudar mais e julgar menos. Dessa forma seremos mais felizes e faremos a todos do nosso convívio felizes. Antes de julgar, vamos aprender a aceitar as diferenças. O diferente não precisa ser julgado (lembre-se, o diferente pode ser você). O exterior é apenas uma casca. Para ver o interior precisa-se de tempo. Para se aprender leva-se tempo. Então, para que correr? 63 que um projeto humano é um ato coletivo. É feito de pessoas. É feito por pessoas em contínua aprendizagem. Tal como no mito de sísifo, a continuidade de um projeto dependerá da capacidade de cada um e de todos os participantes serem capazes de recomeçar. Numa efetiva cooperação, na recíproca aceitação das diferenças – omnia in unum – e sem deixar de interrogar as evidências... Janelas Abertas Braz Campos Durso 64 O que tenho de novo é o jeito de caminhar”. Vamos então nos permitir esses novos modos de caminhar durante o trajeto da nossa vida. Durante os novos pontos zeros que teremos pela frente. Devo saber mudar os rumos do meu projeto de vida sempre que necessário. Devo saber apenas onde quero ir; pois o caminho a seguir pode ser repleto de novas oportunidades. Mudar a direção não significa desistir de seu projeto. Pode significar apenas uma inversão de prioridade. Afinal, você é humano e está em crescimento. Tudo está sendo modificado ao seu redor. Não seja apenas um espectador dessas transformações. Seja um ser atuante. Invista em você e no seu crescimento. Tire as raízes da sola de seus pés e comece a se movimentar também. Não aceite os términos. Passe a enxergá-los como ponto zero na sua vida. O momento de iniciar algo novo. Algo que possa deixá-lo mais satisfeito. Procure ter talento para a vida. Talento para se reinventar sempre que necessário for. Não se deixe preso ao passado. Viva o que importa, que é o agora. Não se perca em lástimas pelo que não existe. Prenda-se nas esperanças do novo e nas oportunidades que você poderá ter pela frente. Quando surgir o momento de um novo ponto zero temos de estar preparados para seguirmos. Ter medo do desconhecido e do que poderá ser criado por um novo projeto não é algo útil na vida. Arriscar na busca pelo crescimento é essencial. Einstein já falava: “Entre as dificuldades se esconde a oportunidade”. Não se entregue às barreiras que surgirem na sua vida. Atrás do obstáculo pode ser encontrado o caminho da vitória. Seu novo, e por que não melhor, projeto ainda pode estar por vir. Procure ir em frente sempre. José Pacheco, educador e escritor, deixou claro 65 66 Quando se fala em relacionamento, a única certeza é que em algum momento teremos algumas divergências entre o casal. Isso na vida é mais que natural. A forma como o ser humano se relaciona é algo que propicia um duelo, ou melhor dizendo, uma luta pelo poder. Isso não é diferente em um relacionamento, em que não temos certeza do que poderá acontecer, mas podemos minimizar os riscos de ferir nosso coração ou entrar em um ciclo de deterioração emocional. Para que isso não ocorra os pesquisadores das relações pessoais observaram as novas teorias do amor, se assim podemos chamá-las. Tenho medo de expor regras, pois acredito sempre que a emoção é mais forte que a razão quando pensamos em amor. A afirmação de que um casal feliz nunca discute deve ser revista. Ninguém gosta de casais melosos demais. Não discutir pode representar a falta de abordar assuntos importantes durante a convivência a dois. Não discutir assuntos importantes não quer dizer que eles simplesmente não existem. Pode significar que estamos protelando até um momento em que várias coisas vêm à tona ao mesmo tempo. Quando isso ocorrer, pode ser tão forte a ponto de desestabilizar permanentemente um relacionamento. Nunca devemos deixar o copo transbordar nem devemos tentar retirar a água de uma só vez quando está cheio. Dá muito menos trabalho fazer essa tarefa aos poucos. Isso também ocorre no dia a dia. Conversar e tentar esclarecer pontos importantes, aos poucos, pode ser muito mais coerente do que tentar resolver várias coisas ao mesmo tempo. Quanto mais coisas, mais confuso o nosso raciocínio, e com isso maior a chance de acharmos tudo complicado e chato e colocarmos tudo a perder. Palavras arremessadas de forma inadequada podem quebrar o vibro que recobre o coração. Se você não pensa em quebrar esse vidro nunca atire a primeira pedra, pois se ela for atirada, uma certeza é óbvia: o vidro será quebrado. Tirar a proteção do coração pode fazê-lo ficar frio. Pode deixar a razão aparecer para ocupar aquele espaço tão especial que existia anteriormente naquele local. Não tenho nada contra a razão, apenas acho que nos relacionamentos ela faz com que nos tornemos menos acessíveis e menos dispostos a ceder em prol do bem conjunto. Na razão passamos a ponderar vendo apenas o nosso lado. Ver apenas um lado torna a coisa toda egoísta. E ser egoísta em um relacionamento é decretar o fim do mesmo. A partir do momento que você não é mais uma pessoa disposta a ceder, saiba que não será mais capaz de amar. Também não adianta discutir demais se você não transformar tudo que foi dialogado em atitudes procurando solucionar os pontos-chave. Sem essa atitude tudo fica sem uma razão para ter sido ou ocorrido. Procurar apenas por beleza é outra faca de dois gumes. A atração física pode acelerar, mas não necessariamente vai significar a manutenção de uma relação. Afinidades nas coisas que gostamos ou fazemos é que são fundamentais. Não posso ser apaixonado por música e estar envolvido por uma pessoa que detesta Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso As novas teorias do relacionamento 67 dúvidas. Sei apenas que sendo eu mesmo, estarei disposto a permitir que alguém conviva comigo ao meu lado. O meu melhor sempre será visível. Está disposta a me aceitar? Se estiver, venha para o meu mundo. Deixo as portas e janelas sempre abertas para a vida e, consequentemente, para a felicidade. Janelas Abertas Braz Campos Durso 68 música. Cuidado maior devemos ter se a pessoa diz que está mudando por nossa causa. Uma coisa que tenho plena convicção é que a essência de ninguém é modificada baseada apenas na palavra de que “eu irei mudar por você”. Essa mudança transitória pode até ocorrer por um determinado tempo, mas um dia as necessidades essenciais da pessoa voltam à tona. Se uma pessoa adora uma determinada coisa, ela não pode simplesmente falar um dia que não vai mais gostar. As coisas não são nem funcionam assim na vida. No campo do amor a razão não consegue falar mais alto. Devemos, em vez disso, gostar da forma como a outra pessoa é e gosta de ser. Se você consegue isso já tem um grande passo em direção a um relacionamento estável. Quanto mais afinidade tiverem, maior a chance de ambos curtirem o tempo que vão passar juntos. Programas devem ser prazerosos em um relacionamento. Ninguém muda o seu verdadeiro eu. Isso não quer dizer que eu não acredite que as pessoas podem errar e procurar acertar depois. Ou que ninguém merece e pode ter uma segunda chance. Acredito apenas que em se tratando de relacionamento, essas coisas não são fáceis de acontecer. E sabe o porquê? Porque a razão nunca consegue sobrepor a emoção. Atração física não quer dizer dedicação ou carinho para com outra pessoa. Físico não é emoção. Físico não é a fatia maior de uma relação amorosa verdadeira. Também sei que não se deve brincar com os sentimentos de ninguém. E de uma coisa eu sei: devo, desde o início, ser eu mesmo em um relacionamento se quero dar certo com alguém. Se não me aceitar como sou, não procure ser minha. Sei de todos os meus defeitos, mas minhas qualidades também existem. Vou errar e acertar, disso não tenho 69 70 Muitas pessoas sonham conseguir fama. Será que ser famoso é realmente uma necessidade ou um objetivo de vida? Devemos nos perguntar primeiro o porquê de querermos ser famosos. Creio que muitos vão responder que é pelo status, dinheiro, poder, enfim, coisas materiais. Caímos aqui numa ilusão de que os bens materiais estão associados ao bem-estar e à felicidade. Conheço muitas famílias que possuem tanto poder e fama, mas que são cercadas de tragédias ou infelicidades afetivas. Esquecemos que a felicidade não depende de bens materiais, mas sim do que sentimos em nosso coração, de sabermos valorizar as pequenas coisas da vida e que estas não dependem de nenhum bem material. Quanto maior a nossa capacidade de desapego, maior nossa chance de ser feliz. A maior armadilha da fama vem do que as pessoas envoltas por ela acabam fazendo: cometendo excessos e se achando superiores a todo mundo. Um psicanalista argentino radicado no Brasil chamado Alberto Godim, na reportagem da revista Isto É “A Fama Mata”, de 1 julho, alerta para o fato de os famosos viverem em um estado de paranoia. Segundo ele, “o paranoico acha que todo mundo está olhando para ele. O famoso tem de lidar com isso na vida real; de fato está todo mundo olhando para ele. Isso causa o afastamento do comum e acentua o narcisismo, o que acaba levando à solidão e, consequentemente, à busca por suportes: drogas, álcool e remédios para a frustração por ter de lidar com a insignificância humana.” Todo esse pensamento do psicanalista realmente nos leva a refletir sobre a busca pela fama e poder. Se pensarmos bem, a clássica frase “dinheiro não é tudo” neste contexto parece ter a sua fundamentação mor. O sociólogo Muniz Sodré, nessa reportagem, chama a atenção para o fato de a morte acabar sendo o limite para quem vive uma vida sem limites. E isso pode facilmente ser observado, pois normalmente os famosos acabam por terem mortes trágicas e muitos ainda jovens. Acabamos por transformar em mitos pessoas que filosoficamente e espiritualmente são vazias. Passamos a idolatrar pessoas não pelo seu caráter ou por sua capacidade de fazer o bem, mas sim pela sua capacidade de ser cada vez mais excêntrica. Ocorre uma grande inversão de valores morais na sociedade na hora da criação de mitos. O autor do livro O autoengano, professor Eduardo Gianetti, explora a tese de que o caminho do excesso extravasa as fronteiras da nossa condição mortal, agride a ordem divina ou natural das coisas e, por tudo isso, não termina bem. As pessoas absorvidas pela condição de celebridade acabam por se colocar acima de tudo e de todos. Esquecem que existe algo maior que nos rege. Esquecem que nossa missão terrena deve ser baseada em fazer o bem. Esquecem que o importante é sermos nós mesmos. É necessário saber reconhecer nossas limitações. Saber respeitar os espaços das diferentes pessoas. Entender que sempre existirão estágios diferentes e momentos diferentes entre nossos semelhantes e que nem por isso deixaremos de ser felizes e de ter nosso espaço. Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso Desmedida: a falta de limites 71 Tenho a minha forma peculiar de pensar e refletir sobre vários acontecimentos que percebo e tenho a possibilidade de vivenciar ao meu redor. Apesar dessa minha forma sui generis de poder ver e analisar a vida, também apresento diversas falhas, receios, medos, ansiedades, angústias como qualquer pessoa normal. Talvez meu grande diferencial seja como processo todos esses acontecimentos. Sou sempre muito mais emoção. Gosto de viver intensamente todas as coisas que me propiciam estar e sentir-me vivo. O agora sempre é o palco da minha vida. Não tenho vergonha de ser humano. Não tenho medo de amar. Não me arrependo dos meus tombos. Estou sempre disposto a tentar. Não me escondo diante de novos desafios que podem aparecer. Sei que posso me reerguer e seguir sempre adiante, independente do que tenha me ocorrido. Aprendi que o processo de crescimento se dá dessa maneira. Sei que só posso ser eu mesmo sendo honesto antes de qualquer coisa com a forma como acho ser correta nas tomadas das decisões da vida. Posso errar, mas procuro ter a humildade de me desculpar e me corrigir. Não sou perfeito, muito pelo contrário. Nesta vida, enquanto houver espaço para aprender e crescer, estarei sempre me reinventando e me aperfeiçoando. Tenho consciência que o meu nirvana hoje ainda Janelas Abertas Formas particulares de fuga CRÔNICAS Braz Campos Durso 72 A grande maioria acaba confundindo o que é buscar espaço com a fama. Confundem reconhecimento profissional e pessoal com poder. Nada disso deveria ser fundamental em uma vida harmoniosa. Tudo isso deveria ser uma trajetória normal. Posso conseguir reconhecimento profissional cada vez que um paciente, por exemplo, gosta de como é tratado de forma humana. Posso conseguir o reconhecimento pessoal cada vez que dou um abraço em algum membro da família ou ajudo alguém, mesmo que desconhecido. Para conseguir esses reconhecimentos, não preciso depender de ninguém, mas sim da minha paz interior. Esse tipo de reconhecimento vem com a satisfação própria. Eu mesmo tenho de me realizar com o que fiz e não depender de um reconhecimento de alguém. Para eu ter esses reconhecimentos, eu não preciso ser famoso. Nenhuma excentricidade é necessária para ser feliz. O grande valor das coisas está justamente na sua simplicidade. Demorei a perceber isso, mas quando o fiz consegui estar em paz comigo mesmo e seguir meu caminho. Aprendi que mais importante do que fama e poder é ter amigos ao nosso lado. A solidão só existe para quem se torna vazio por dentro. Aprendi que mais importante do que ser um excêntrico, é procurar fazer o bem. Mais importante do que querer ser, é saber respeitar os semelhantes. Fundamental, acima de tudo, é ter em Deus uma referência primordial e fazer do bem a nossa meta. 73 dispostos a seguir adiante. Olhar para baixo ou para cima pensando que ainda falta muito para se chegar não vai resolver nada. Temos de ter a determinação para nos superarmos para ir rumo aos objetivos traçados. Sempre podemos vencer, desde que estejamos dispostos a pagar o preço necessário. Nenhuma batalha é vencida sem treinamento e dedicação. O que o leigo chama de sorte, o vitorioso chama de esforço. Para quem está capacitado o sucesso vai acontecer. Essa fuga, muitas vezes, a qual me permito ter, propicia o tempo necessário para recompor-me e liberar novamente toda a emoção sufocada dentro do meu peito. Sempre tomo cuidado para nas perdas e nos tombos da vida não transformar todo o sentimento de bem que sinto em sentimento ruim. É muito difícil, mas sempre conduzo minha vida procurando evitar que essa transformação sentimental possa ocorrer. Para mim, o afastamento propicia a cura. É o remédio para não deixar que algo mesquinho da minha parte possa aflorar. Nesses momentos, em que a nossa energia pode não ser tão positiva, devemos saber parar, respirar e voltar a seguir sempre dentro da nossa essência. Buscar o bem, tanto o nosso, como das pessoas que estão ao nosso redor, é sempre a melhor opção. Sei que é difícil, não tenho dúvida, mas também é verdade que é a única solução que podemos encontrar rumo à felicidade. Quando perceber que estou longe, não me ache perdido. Estou apenas trancado no meu próprio universo aguardando o momento certo. Manter uma essência de troca de energias positivas com o universo é algo que procuro sempre fazer. Sei que de uma forma ou de outra, toda a energia que destinamos ao universo será voltada para nós mesmos. Janelas Abertas Braz Campos Durso 74 não seja possível, pois ainda estou aprendendo. Minha busca pelo nirvana pode até mesmo ser utópica, mas é a direção que sigo no trajeto da vida. Muitas vezes, fico recolhido no meu próprio mundo e na minha forma de pensar. Nem todos podem ou devem compreender esse meu espírito. Talvez seja uma das maneiras de fugir de algo que não me trouxe felicidade ou me arremeteu a uma situação de desconforto. Sim, minha vida como a de qualquer um de vocês, apresenta altos e baixos. Sou um ser errante na procura do acerto. Sei que nos momentos de baixa preciso ter a força necessária para poder subir novamente. A vida é cíclica nesse sentido. Aprendi que na nossa trajetória encontraremos diversas montanhas. Não posso me cansar apenas por olhar em direção ao cume da mesma, enquanto estou lá embaixo. Muito menos me sentir derrotado ao verificar que a escalada rumo ao topo vai ser árdua e complicada. Procuro sempre agradecer por ter forças novamente para subir aliado à capacidade da livre escolha do caminho mais adequado. O nosso livre-arbítrio é uma benção dada por Deus. Por meio dele, podemos subir montanhas de diversas formas e isso torna o desafio da vida e das montanhas presentes durante nossa jornada algo maravilhoso e desafiador. Podemos nos reinventar a cada necessidade de uma nova escalada. As diversas opções com as quais deparamos antes de escolhermos como subir rumo ao topo da montanha é algo que depende apenas do que somos e do que pensamos. Podemos escolher caminhos mais duros e árduos de se escalar, mas sempre teremos a capacidade de superarmos esses desafios e chegarmos ao topo. A nossa força é sempre superior, desde que estejamos 75 76 Um diálogo do seriado House, no início da sexta temporada, chamou minha atenção. O médico que estava cuidando do dr. Gregory House perguntou para ele: “Por que ele valoriza mais os seus fracassos do que as conquistas”, e o dr. House respondeu: “As conquistas só duram até alguém as estragarem, já os fracassos duram pra sempre”. Nesse momento, o médico soltou a lição para o dr. House: “Reconheça o fracasso e passe por cima dele”. Concordo plenamente com essa afirmação. Devemos superar nossos fracassos. Não podemos deixar a nossa vida ser direcionada pelos fracassos. Devemos aprender a cair e a levantar. Na verdade, acho até que não exista fracasso na vida. Tudo pode ser uma questão de interpretar um momento determinado da vida. Não posso admitir uma pessoa que deixa sua vida passar como um passageiro que observa uma viagem pela janela, apenas porque algo não saiu da forma como ele planejou. Não podemos deixar uma dor tomar conta de todo o nosso corpo. Não podemos deixar nossa mente ser controlada pela ideia de uma derrota, afinal, o sucesso está logo ali na frente... basta irmos buscá-lo. A trajetória da vida é muito curta e o tempo é precioso demais para ser desperdiçado com uma situação considerada como fracasso. Não podemos olhar com tanta ênfase e nos apegar a uma Janelas Abertas Reconheça o fracasso e passe por cima dele CRÔNICAS Braz Campos Durso Se despendo uma energia positiva, algo bom vai retornar como feedback pelo universo. Quando uma porta se fecha não fique se lastimando. Faça a sua parte. Siga em frente. Continue sempre agindo de forma correta. Em breve, o universo fará a sua parte também, e tudo estará resolvido. Saiba esperar, controle a ansiedade que existe dentro de si. A minha forma é me retirando e afastando. Esse tempo faz e propicia a minha cura. Sempre sigo adiante depois. Ainda tenho muitas montanhas para escalar e esses desafios me motivam cada vez mais. Esse sou eu: humano, com falhas, mas dotado de uma vontade enorme de seguir adiante de forma assertiva. 77 A concisão é uma virtude em jogo na era eletrônica e seu espaço sem limites. Ser conciso é fundamental, mas não podemos esquecer o pensamento de Aristóteles de que com as mesmas letras se pode compor uma tragédia e uma comédia. A maior dificuldade que vejo no resumo da escrita é justamente de capacitar um espaço para a imaginação. O leitor sempre poderá, na falta de uma explicação mais lógica, fazer a sua interpretação. Toda interpretação reflete um lado de espírito pelo qual alguém está atravessando. Uma pessoa apaixonada pode pensar que todas as palavras são provas de amor ou indícios de um amor presente. O contrário também é verdadeiro, uma pessoa que está carente ou deprimida pode achar nas palavras que lê algum motivo para se afundar ainda mais na tristeza. Nem sempre o que lemos é realmente o que se quis dizer. Essa é a grande dificuldade do resumo das ideias em poucas palavras. A comunicação fica afetada. Todos nós já percebemos isso ao termos alguma resposta dada via e-mail ou pensamento postado no twitter, interpretado de forma diferente do real significado para nós. Talvez diante das novas tecnologias e restrições impostas por elas aliado à falta de tempo das pessoas, usar miniconversas, minirrespostas possa ser uma realidade. Não concordo, contudo, que essa Janelas Abertas O lado escuro de ser conciso na comunicação CRÔNICAS Braz Campos Durso 78 situação desfavorável, pois dessa forma deixaremos passar por nós várias situações favoráveis. Devemos sempre estar seguindo adiante, procurando fazer o nosso próprio caminho. Devemos sempre encontrar forças para nos reinventarmos o tempo todo. Quando alguém achar que você perdeu, simplesmente mostre que o jogo não acabou ainda e que você vai ganhar. Acredite em si mesmo. Temos de ser fortes e determinados; afinal, sucesso só vem antes de trabalho no dicionário. Devemos entender que a vida não é feita apenas de realizações. Não podemos ser mimados e egoístas a ponto de acharmos que tudo tem de ser à nossa maneira e no momento em que queremos. Aceitar essa forma de pensar e saber da importância de se dedicar aos seus objetivos elimina os fracassos da vida. Devemos saber que podemos simplesmente passar por cima de qualquer obstáculo que encontrarmos pelo caminho. Somos capazes, desde que estejamos dispostos a isso. Todo caminho possui uma encruzilhada, só temos de escolher qual direção seguir. Se não gostarmos de um caminho, simplesmente podemos voltar e seguir por outro. Ninguém pode definir para onde você deve ir. Apenas o seu coração. Carregar dentro do seu coração o bem e acreditar em Deus fará você tomar sempre as decisões corretas na vida. E a principal decisão é justamente a de reconhecer seus fracassos e passar por cima deles. Então, mãos à obra. Comece a construir agora o seu futuro repleto de sucessos, pois você já sabe que pode passar por cima dos seus fracassos. 79 é que ao me tornar conciso, passo a depender da capacidade da outra pessoa interpretar também de modo conciso o que lhe foi transmitido. A partir do momento que as pessoas passam a ler menos, obviamente a sua capacidade de interpretação também fica alterada. Quanto mais limitado meu raciocínio, maior a minha dificuldade de interpretação. Maior a chance de “viajar” nas ideias transmitidas naquilo que será lido. Isso pode mudar muitos acontecimentos. Pode fazer você sonhar e cair. Na dúvida, procure dedicar o seu tempo para estar e falar pessoalmente com seus semelhantes. Não se esqueça de que o seu tempo deve ser destinado ao ser humano e não às máquinas. Ambiente de trabalho nunca será um ambiente social completo. Sua habilidade de se socializar é fundamental. Muito do que acontecerá de bom na sua vida está associado à sua capacidade de manter relações pessoais. Nunca tenha medo de parar e se dedicar a uma pessoa. Lembre-se: você é dono do seu próprio tempo e assim pode determinar as suas prioridades. Seja sempre social. Janelas Abertas Braz Campos Durso 80 forma de comunicação seja a melhor. Deveríamos buscar tempo para as pessoas e não nos adequarmos à falta dele. Vejo um futuro no qual as pessoas cada vez mais terão dificuldades nas relações. Se eu não tenho tempo para o meu semelhante eu não posso me relacionar de forma adequada. Nada contra a necessidade de trabalho, mas daí a nos tornarmos reféns do trabalho na nossa vida não acho adequado. Meu tempo mais precioso deve ser gasto com as pessoas e não com papéis ou máquinas. O ser humano precisa de contato, precisa se manifestar, expressar seus sentimentos. Nada disso é possível se você não se dedicar às pessoas que gosta e que convivem com você. Atualmente, muitas famílias nem se encontram mais. Os horários que saem de casa, que fazem as refeições e que se recolhem para dormir são diferentes. Muitas vezes nem nos fins de semana conseguem se reunir, pois até as formas de lazer não são as mesmas. Cada vez menos temos tempo para as pessoas que convivemos. Alguns se tornam reféns do trabalho e, consequentemente, de suas máquinas. Passam mais tempo diante dos computadores do que com as pessoas que gostam. Chegam ao absurdo de usarem as ferramentas de minitextos para se comunicarem dentro da própria casa. O impessoal está imperando cada vez mais em nossa vida. Tenho de ter cuidado ao restringir o uso das palavras para não restringir o meu contato com as pessoas. O meu sentimento não pode ser suprido apenas por meio do virtual. O contato físico, o calor de um abraço, o sentimento de um beijo, uma longa carta de amor... nada disso será superado por ferramentas com limitação de caracteres. A maior dificuldade na comunicação rápida 81 Normalmente estamos sempre buscando uma pessoa que nos complete, tornando assim nossa vida mais feliz. A grande pergunta que fica é: “Como ter a certeza de que conseguimos encontrar essa pessoa?”. Infelizmente nunca teremos. Não existe nenhum indício de que isso possa vir a se concretizar de verdade, até porque na vida nem sempre a lógica prevalece. Quantas e quantas vezes não vemos uma pessoa responsável se envolver com uma irresponsável? Isso ocorre porque não conseguimos controlar o que move o ser humano: o sentimento. Por essa razão, às vezes, fala-se que o amor é cego. Na verdade, ele não é cego, é sincero. Amar não é combinar 1+1 = 2. Amar é aprender. E vamos aprender com o que não sabemos, ou seja, com o diferente. Lógico que algumas afinidades são necessárias, mas estas apenas permitem que o relacionamento dê certo. Na verdade, todos os relacionamentos dão certo, nem que por um curto período de tempo (como disse Jabor numa crônica). Mas naquele período deram certo e valeram a pena. E o melhor: sempre saímos de relacionamentos anteriores com uma maior bagagem de aprendizado do que quando entramos neles. Só por isso qualquer relacionamento já vale a pena, minimizando quaisquer riscos decorrentes do mesmo. Quando percebi isso, passei a me entregar de peito aberto a qualquer oportunidade de me relacionar. Afinal, relacionar-se é sentir e aprender. Uma combinação maravilhosa. Essa combinação nos faz nos sentirmos vivos. Acredito que não devemos pensar no relacionamento como um jogo, no qual temos de pensar antes de movermos qualquer peça no tabuleiro. Já pensei assim por um tempo (e me arrependi), mas atualmente tenho certeza de que devemos deixar o sentimento nos dominar. Não devemos jogar, pois em um jogo alguém ganha e alguém perde. Para um relacionamento dar certo, deve existir equilíbrio e harmonia. Ninguém deve ganhar. Lembre-se do ditado: sorte no jogo, azar no amor. Na verdade, devemos saber ceder mais do que ganhar. No relacionamento estamos querendo perder (ceder) para ganhar. Ganhar o crescimento da pessoa amada. Ser irredutível em questões amorosas só pode demonstrar que a pessoa não está preparada para amar. O egoísmo não faz parte do amor verdadeiro. Se eu apenas penso em mim, não estou preparado para pensar no outro. Relacionamento é feito para que a pessoa amada possa se sentir protegida. Que ela sinta que tem seu apoio, que mesmo no escuro poderá encontrar a sua mão para apoiá-la. Quando me falam que devemos ir devagar no início de um relacionamento, eu discordo. Como ir devagar? Afinal, ninguém até hoje soube precisar qual a verdadeira velocidade do amor. Como frear Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso 82 Como você sabe quando encontrou a pessoa certa para um relacionamento? 83 84 Tem uma música que o Oswaldo Montenegro canta chamada A lista. Essa letra é legal porque dá o real sentido das coisas nessa vida, ou seja, a constante evolução. Essa evolução acaba por significar mudar, o que para muita gente pode ser uma coisa temível só de se pensar. Mas não tem como fugir. Nossa vida está sempre em constante transformação e as mudanças são necessárias. Não conheço ninguém que se mantém o mesmo durante toda a vida. Estamos sempre procurando evoluir, melhorar e conseguir novas coisas. Isso tudo acaba se traduzindo em MUDANÇA. E mudar significa deixar para trás algumas coisas que achamos que seriam imutáveis. Quem nunca achou que seria feliz para sempre ao lado de uma namorada e algum tempo depois vê que a vida continua e está até melhor com outra pessoa que talvez nunca pensasse que estaria junto? E aquela pessoa com quem ele achou que passaria toda a sua vida e que hoje simplesmente não faz mais parte de nenhum momento atual? Isso se traduz em MUDANÇA e, lógico, as perdas a ela associada. Mas o que pode ser mais complicado é quando você percebe que precisa dessa mudança e tem de fazer coisas contra o seu coração, justamente por saber que a evolução rumo ao futuro será mais importante para você. E evoluir rumo ao futuro sólido Janelas Abertas A hora de saber deixar as coisas para trás CRÔNICAS Braz Campos Durso se o que importa não é o tempo, e sim a intensidade do momento? Esperar até ter certeza pode significar o fracasso do relacionamento. Afinal, essa certeza pode nunca vir. Para mim o que importa é a vontade de querer estar perto. De compartilhar meus momentos com outra pessoa. Isso já é o suficiente para eu saber que encontrei a pessoa com a qual devo me relacionar. Se valerá a pena? Não saberei se não tentar. Por esse motivo prefiro arriscar. Tenho apenas uma certeza, quando estou disposto a arriscar: aprenderei um pouco mais. 85 e principalmente PERDOAR. Devemos saber que somos imperfeitos e que erramos constantemente. Mas é importante apesar de tudo, termos consciência da constante evolução e das mudanças. E direcionar tudo isso rumo ao nosso futuro sólido. Chega de deixar as coisas acontecerem ao nosso redor de forma aleatória. Devemos tomar o rumo das situações e sermos HUMANOS. Devemos principalmente acreditar que é hora de deixar alguma coisa ou alguém para trás e seguir em frente. Chega do passado... Viva o seu PRESENTE. Se irei sofrer ou não, isso já não me importa. Sei que essa é a minha hora. Você sabe quando é a sua? Janelas Abertas Braz Campos Durso 86 significa muitas vezes deixar para trás alguém que algum dia nos fez tremer, fez nosso coração bater mais forte, fez nosso corpo experimentar algo totalmente diferente, nos fez sentir um carinho muito grande e sincero. Mas, ao mesmo tempo, nos fez enxergar o momento de deixar tudo para trás para procurar ser feliz. E posso ser sincero, como é DIFÍCIL saber que temos de deixar alguma pessoa para trás para seguirmos em frente. Talvez seja uma das decisões mais difíceis que tomamos em nossa vida, pois irá repercutir em vários aspectos no nosso futuro. Mas é uma decisão que temos de tomar e invariavelmente a tomamos. O mais importante é saber que mesmo com alguma dor decorrente das decisões, elas existem para que possamos crescer e principalmente seguir em frente. Devemos acreditar sempre nas coisas boas e nos bons sentimentos das pessoas que nos cercam. Para cada sentimento desprezado por alguém, existirá sempre outra porta aberta esperando ser trespassada para permitir esse sentimento sincero ser colhido de forma natural. Muitas pessoas não conseguem ser felizes (independente de estarem com alguém ou não) justamente pelo fato de estarem sempre jogando, sempre envolvidos numa brincadeira com a coisa mais pura e brilhante da humanidade que é o SENTIMENTO. Nunca devemos brincar com isso em hipótese alguma. Valorizar os sentimentos das pessoas é essencial para idealizarmos um futuro construído com respeito e AMOR. Por isso, acho que devemos pensar muito antes de lidarmos de forma inadequada com o sentimento de alguma pessoa. Devemos nos esforçar sempre para compreender as diferenças, respeitar 87 Qual o futuro que nos espera? Fiz essa pergunta após ler a reportagem de capa da revista Época com o título: “Agora somos sete bilhões nosso planeta aguenta?”. A revolução industrial deveria marcar o início de um novo período geológico, batizado, em homenagem ao homo sapiens, de Antropoceno. A Era dos Humanos. Passamos a ter mais alimentos. O avanço da medicina, propiciando uma melhor saúde à população com a introdução das vacinas e antibióticos, aumentou a expectativa de vida. Isso propiciou um aumento considerável na população mundial com projeções conservadoras das Nações Unidas de sermos 8 bilhões em 2025, e chegarmos a 9 bilhões em 2043. A grande preocupação despertada por esse aumento populacional tão expressivo é poder garantir aos humanos condições dignas de vida e acesso aos bens de consumo. Essa preocupação é real, visto que descontando os desertos, as altas montanhas e as calotas polares, a humanidade se apropriou de dois terços das terras aráveis do planeta. O terço restante é o último refúgio de milhões de espécies animais e vegetais ameaçados de extinção. O que fazer então para conseguir garantir essas condições ao ser humano no futuro? Brincarmos de Deus e eliminarmos o espaço das outras espécies pode trazer consequências que nós mesmos desconhecemos. Quais as alterações de dizimar a biodiversidade do planeta? Essa resposta não possuímos, mas podemos prever baseados nas mudanças climáticas pelas quais nosso planeta tem passado nos últimos tempos. Estamos na pressa de nos desenvolvermos, minando as reservas do nosso planeta. Talvez por essa razão exista tantos filmes de ficção imaginando a descoberta de outros planetas, onde o ser humano poderá sobreviver. Talvez já estejamos prevendo que teremos de achar outro lugar para a humanidade viver se continuarmos a minar a energia do planeta terra. No futuro, ou a população dos países ricos mudará seus hábitos alimentares passando a aderir a uma dieta vegetariana, ou a área mundial de terras aráveis precisará crescer 50%. Para ter uma noção, a reportagem apresenta um dado muito curioso: 1 hectare de terra rende 45 quilos de soja. Mas a mesma área só produz 2,5 quilos de carne. Isso demonstra claramente o porquê da necessidade da mudança alimentar a qual a população deverá passar no futuro. A grande dificuldade é que a partir do momento que você passa a usufruir determinado padrão de vida, raramente consegue voltar a um padrão inferior sem que isso traga alguma consequência. Basta nos imaginarmos sem poder saborear um churrasco, por exemplo. Imagine não ter mais algum tipo de carne na sua refeição diária. Muitos acham inimaginável, mas isso poderá ser Janelas Abertas CRÔNICAS Braz Campos Durso 88 Somos sete bilhões agora: estamos preparados para enfrentar o futuro? 89 consciente o nosso futuro no planeta Terra. Talvez por morarmos num país tão rico de recursos naturais como o Brasil, não conseguimos perceber como esses recursos são escassos no restante do mundo. Talvez os filmes de ficção possam se tornar a mais cruel realidade num futuro não tão distante assim. Talvez o momento em que o que vemos nas telas do cinema possa ser o que vamos viver no dia a dia não seja tão ficcional assim. Estamos preparados para que a espécie humana possa ter continuidade na Terra? Acredito que dentro do nosso egoísmo não estamos pensando no futuro. Afinal, o nosso hoje está muito confortável. Estamos utilizando a energia para nosso divertimento. Nossa alimentação está rica e variável. Os avanços tecnológicos estão nos propiciando conforto nunca antes visto. Talvez, o nosso maior erro como seres humanos seja nos fecharmos no nosso egoísmo material. Afinal, se está bom para mim por que devo me preocupar com outras pessoas ou outros lugares do planeta? Esquecemos que tudo gira de modo ordenado e que os desastres podem ser em grande escala, afetando de forma inimaginável todo o planeta. Os antropólogos Cochran e Harpending observaram que a evolução humana também se acelerou nos últimos 10 mil anos. Ela acontece 100 vezes mais rápido. Atualmente, o que conta numa civilização tecnológica é o cérebro. Qual mãe não sonha ter filhos inteligentes? Vivemos o primeiro momento na história em que o cérebro se tornou mais sexy que os músculos. Segundo a reportagem, se esse padrão persistir em meia dúzia de séculos, seremos todos gênios. Tomara que isso seja verdade e que os novos gênios possam saber preservar o planeta. Que eles possam encontrar mecanismos de Janelas Abertas Braz Campos Durso 90 uma realidade não muito distante. Estaremos, contudo, preparados para esse sacrifício alimentar? Não vejo nenhum tipo de preparação sendo direcionada nesse sentido. Talvez seja mais fácil estarmos nesse momento fechando nossos olhos, imaginando que esse futuro não vai acontecer ou não vai nos atingir. Mero engano a que estamos nos submetendo. Mas não é apenas os alimentos que estarão escassos. A água é outro item que chama a atenção. Teremos de passar pelo desafio de produzir comida para mais três bilhões de humanos usando menos água que hoje. Voltando aos dados da reportagem: um ser humano precisa de 2 a 5 litros de água por dia. Para produzir 1 quilo de grãos, usa-se de 500 a 2.000 litros. Para produzir 1 quilo de carne, consome-se até 15.000 litros. Mais um ponto que mostra a necessidade da mudança alimentar pela qual teremos de passar. A produção de carne também consome mais água. Nesse ponto, nós, brasileiros, podemos nos sentir privilegiados. Dos grandes produtores, somos os único que ainda têm água em abundância. Mas não será suficiente, contudo, para abastecermos o mundo todo. Muitos países já estão começando, mesmo tendo a capacidade de produzir, a importar alimentos. Isso faz com que a sua reserva natural seja preservada. Mais uma vez os países ricos estão se favorecendo do poder econômico para manterem suas reservas naturais. Temos uma falsa ilusão de acharmos que estamos evoluindo ao exportamos mais grãos, carnes e outros produtos. Será que estamos mesmo evoluindo ou estamos exportando as nossas reservas naturais a preço baixo e acabando com as mesmas de forma acelerada? Será que nosso planeta está sendo preparado para se renovar? Creio que não estamos ainda discutindo de forma 91 92 Áries é o primeiro signo astrológico do zodíaco, situado entre Peixes e Touro, e associado à constelação de Áries. Seu símbolo é um carneiro. Forma, com Leão e Sagitário, a triplicidade dos signos do Fogo. É também um dos quatro signos cardinais, juntamente com Câncer, Libra e Capricórnio. Sou do mês de abril e, portanto, sou um típico ariano. Várias coisas que são descritas para esse signo se encaixam no que sou e penso e, principalmente, nas minhas atitudes. Os estudiosos desse signo definem os arianos em relação aos contatos sociais como “aqueles que costumam ser honestos e diretos em suas relações pessoais. São bons amigos de seus amigos, ainda que, às vezes, sejam irritantes e possam ferir a sensibilidade dos demais”. Sempre defendo meus amigos e acho a lealdade da amizade fundamental. A única coisa que importa na vida é poder fazer e manter as amizades que construímos pelo caminho. Sou capaz de me doar de diversas formas em prol dos meus amigos, e isso me faz muito bem. Essa lealdade às amizades faz parte do meu caráter. Para mim, amigo é amigo e isso é tudo. Janelas Abertas O signo de Áries: impulsividade, exagero e paixão CRÔNICAS Braz Campos Durso salvar as reservas naturais e toda a biodiversidade existente aqui. No mundo tudo se completa e não somos os únicos que merecem viver! Todos os seres vivos devem ser preservados. Cada um possui uma função nesse ciclo vital. Apesar desse cenário crítico que se aproxima e parece querer se tornar realidade num futuro não tão distante, devemos lembrar que somos humanos e que conforme Paramahansa Yogananda: “Jamais se deve desistir da esperança de melhorar”. “Os arianos costumam ter uma libido alta e amam com grande paixão. Tanto que, às vezes, equivocam-se em suas primeiras relações e lhes custa ser 93 94 “O ariano é uma pessoa cheia de energia e entusiasmo. Pioneiro e aventureiro, lhe encantam as metas, a liberdade e as ideias novas.” Sinto-me totalmente assim, sempre necessito de novos desafios, pois a rotina, profissionalmente falando, acaba me sufocando. As mudanças me atraem e revigoram a minha vida. O novo é fascinante. As oportunidades existentes são enormes para os que como eu estão abertos aos desafios da vida. Minha mente não consegue se adequar à mesmice e à falta de novos aprendizados. Alguma coisa tem de me motivar para que eu possa estar e ser feliz. No meu caso, a remuneração financeira não é fator determinante para o que eu queira fazer. A alegria do fazer é o que importa. Preciso me sentir bem para que possa continuar. Preciso da liberdade para poder criar. “Os arianos são impulsivos e, às vezes, têm pouca paciência. Tendem a se arriscar muito.” Em uma entrevista ao programa do Jô Soares, no ano de 1998, Cazuza comentou sobre o fato de ser do signo de Áries: “Eu sou muito passional, eu sou ariano, e Áries não pensa muito, é um signo meio burro,em vez de abrir a porta, ele chuta...”. Incrível, pensei por um momento que era eu quem estava sendo descrito naquela entrevista. Sou muito passional. Posso até me prejudicar, mas é a forma como costumo agir. Vivo a vida intensamente, dentro da minha essência e sinceramente. Estou tão satisfeito assim que não pretendo mudar. A minha vida é movida pelo agora. Prefiro a intensidade a quantidade. Acho melhor viver pouco tempo bem aproveitado do que viver muitos anos contemplados pela inércia. Não sei o dia de amanhã, mas tenho o tempo agora ao meu dispor, para construir a minha vida e a minha felicidade, isso sim é essencial e talvez me motive a ser intenso. A madrugada é para os arianos o período mais perfeito para libertar as ideias. Tenho descoberto recentemente o quanto a madrugada é fértil e produtiva. Ela liberta o meu pensar e a minha capacidade de reflexão. Muito do que tenho produzido é fruto da lucidez que tenho nesse período. Novamente Cazuza, em uma entrevista dada à Rede Manchete, em 1986, relatou que também só tinha inspiração para trabalhar nas suas letras durante a madrugada. Esse período do dia é essencial para nós, arianos. O signo influencia como somos e a forma como vivemos. Eu, como bom ariano, sou totalmente transparente, sincero e intenso. Não sei brincar de jogar nem sou de fazer tipo. A minha forma de ser é essa e isso me basta, pronto. Não posso ser outro apenas para agradar alguém. Em toda ilusão, existe um sonho e uma decepção. Basta escolher o Janelas Abertas Braz Campos Durso fiel ou encontrar o amor de sua vida”. Sempre vivo as minhas relações de forma intensa e no tempo presente. Não sei nem penso no dia de amanhã, muito menos estou aprisionado em um passado. Vivo os relacionamentos amorosos no agora. Quando uma paixão não dá certo, não fico triste, pois tenho para mim que vivi aqueles momentos da forma mais intensa que meu coração poderia almejar. Esses momentos amorosos que tenho guardado na memória são sempre preciosos. Em cada um dos relacionamentos que tive, aprendi alguma coisa, e muito do que sou hoje tem grande influência das pessoas que passaram pela minha vida. Sou sempre grato a todas elas por terem me proporcionado tanto aprendizado quanto gostaria ou poderia ter. 95 96 Você já parou para pensar por que existe o sentimento de saudade nos seres vivos? Digo seres vivos porque os animais também sentem saudade. Existem vários filmes e histórias de animais que ficam esperando por seus donos quando eles já partiram desta vida. Saudade é, portanto, um sentimento inerente de quem está vivo. Saudade é a falta que faz. Saudade é um espaço sem resposta no coração. Saudade é maior do que nós mesmos. Saudade não se explica por si só. Saudade se sente. Pensei bastante e pude concluir que saudade existe para sabermos dar valor durante a presença. Deixar para depois alguma atitude diante de alguém nunca foi uma das opções mais sensatas. Se você não demonstrar no agora, pode não poder demonstrar no depois. Aproveite ao máximo o agora, só ele pode minimizar a saudade quando você, por fim, puder perceber a falta, que muitas vezes é a noção exata de que recebemos mais do que demos a alguém. É a certeza de que estamos em dívida sentimental. A saudade pode significar que estamos carentes emocionalmente. Muitas vezes, achamos que damos mais, quando na verdade estamos recebendo muito mais conforto. Pensamos que damos, quando na verdade recebemos. A ausência causada pela morte é o maior exemplo de que sentimos carência. Achamo-nos fortes quando, na verdade, somos emocionalmente fracos. Janelas Abertas Por que existe saudade? CRÔNICAS Braz Campos Durso caminho ideal dentro da sua ilusão. Seja feliz, seja louco, seja você mesmo sempre! Essa é a minha dica. 97 98 Sorte do homem que consegue respeitar uma mulher. Esse ser mágico que nós, homens, não conseguimos captar a plenitude da alma, tamanha a imensidão da beleza ali guardada. Conhecer o íntimo de uma mulher talvez seja a tarefa mais difícil enfrentada pelo homem. As mulheres, por serem totalmente diferentes do universo masculino, possuem uma espécie de vida própria. O pensamento dessas belas criaturas jamais poderá ser entendido pelo homem em sua máxima concepção, visto a capacidade ímpar de elas se reinventarem diante das dificuldades impostas pela vida, aliado a uma forma própria de amar. As mulheres são únicas nesse sentido e, como tais, devem ser valorizadas pelo homem de verdade. São divinas por natureza e capazes de entender o que é a vida no seu sentido mais humano. Elas cedem o corpo para gerar dentro de si um novo indivíduo, fruto do amor entre um homem e uma mulher. A mulher aceita desde o início se doar em prol do amor. Talvez por esse motivo não exista no mundo um sentimento mais real do que aquele que a mãe sente por seu filho. Ela já começou esse amor pelo filho se doando e o protegendo dentro do seu próprio corpo. Talvez seja esse o único AMOR VERDADEIRO que exista no fim de toda a história. As mulheres amam de um modo totalmente diferente da forma como nós homens imaginamos. Elas conseguem amar no sentido mais amplo da Janelas Abertas Mulher: esse ser fantástico CRÔNICAS Braz Campos Durso Saudade significa também ausência. Ausência porque na saudade percebemos que deveríamos ter feito algo que não fizemos. Saudade existe para sabermos que nosso coração é algo maior do que nós mesmos e que precisa ser habitado por outras pessoas. Saudade existe para derrubar nossos muros de concreto diante da vida e nos permitir nos entregar à emoção. Saudade existe para nos permitir viver. Quando sentimos saudades, muitas vezes nos pegamos a chorar. É uma manifestação comum nas pessoas saudosas. Alguns acham o choro uma forma desesperada de manifestar essa ausência. Outros, consideram as lágrimas a verdadeira expressão da dor. William P. Young, autor de A cabana, nos diz para jamais desconsiderarmos a maravilha das nossas lágrimas. Elas podem ser águas curativas e uma fonte de alegria. Algumas vezes são as melhores palavras que o coração pode falar. Penso que as lágrimas são o ponto de vista do nosso coração. Externam nos olhos a falta que faz ao coração. Se faz falta e causa saudade, quer dizer que existe dentro de nós mesmos. Está dentro do coração. Quer dizer que existe um sentimento. Existe uma emoção. Estamos vivos e por esse motivo a saudade me faz acreditar em viver. 99 Não há jogos de palavras Para poder acalmar Insensata esperança Que na mente tranquila Repousa em serena lembrança Janelas Abertas Na distância só existe o pensar Na ausência do tempo Faz-se o silêncio Fere-se em pensamentos Sem possibilidade de escapar POESIAS Insensata esperança Braz Campos Durso palavra amor. Desde o início, elas se doam e se entregam de forma única ao sentimento mais puro e belo da humanidade: o amor. O coração da mulher é mais honesto do que o coração dos homens. A pureza do sentimento de uma mulher é único no mundo. Talvez a maioria de nós, homens, morrerá sem conseguir vislumbrar toda a real beleza que repousa nesse ser chamado mulher. Sorte do homem que consegue entender tudo isso e sabe valorizar bem como se entregar a uma só mulher. Esse ser mágico que nos fascina tanto é único, assim como devemos ser para elas. Somente o homem que se dedica apenas a uma única mulher, poderá ter a chance de conhecer a sua real beleza. Poderá usufruir na íntegra sua verdadeira essência feminina. Quantidade não é sinal de qualidade. A variação não permitirá que nós, homens, consigamos a completa visualização do que em apenas uma única mulher poderemos contemplar e achar: o verdadeiro amor. 100 101 Você ainda nem descobriu Toda a força do amor Nem sabe ao menos Reconhecer qual o valor Momentos fecundos Calados em seu coração Aprisionados dentro De uma única canção Por isso não me leve Aonde não possa desejar Desafios nascidos Nas incertezas do pensar Perdoar Saber doar Ficar sem ar Olhando o mar Perdoar Ou mesmo esperar Sem medo de errar Na certeza de encontrar Perdoar Sinônimo de chorar Pode o coração até parar Perdoar Pode a alma transformar Sua vida modificar O verdadeiro caminho retomar Perdoar Saber doar Seu próximo respeitar Em Deus acreditar Janelas Abertas POESIAS Braz Campos Durso Não caminhe por caminhos Que o destino não nos levará Não permita-me te encontrar Onde não mais possa te tocar Perdoar POESIAS Não me leve Perdoar Só pode significar Amar 102 103 104 Acho que estou Dentro de um sonho A realidade não pode ser Assim tão perfeita Da visão ao toque Da sua pele aveludada No meu peito Meu coração te espreita Convivência: Um somatório De paciência, cumplicidade Lealdade e amizade Ou significa conhecimento Segurança ou mesmo bonança? Convivência: Na esperança de certezas Na maioria das vezes Encontramos surpresas Convivência: Acreditamos representar Os ideais de dois Contudo pode mascarar O egoísmo de apenas um Convivência: Valorizando-a tanto assim Esquecemos da verdadeira Natureza do ser humano Repleta de pensamentos e vontades Em detrimento de uma Consistente felicidade Janelas Abertas Não sei o que é Mas a saudade existe e é real Não sei onde vai chegar Mas me faz em você pensar Convivência POESIAS POESIAS Braz Campos Durso Meu coração te espreita 105 Braz Campos Durso Convivência: Fica aqui uma indagação Será ela o mais importante Para sermos realmente felizes Durante todo e qualquer instante? Acredito plenamente que não Posso até não ter a razão 106 Palavras expressam Através de textos Sentimentos Mesmo quando Não existe mais Sentimento Nas palavras Que foram expressas Deixam, contudo, Registrado Pensamentos Relacionamentos Sentimentos Que não se encontram mais Nas palavras que podemos ler Às vezes não conseguimos perceber Que mal cabe no papel Seu significado real Janelas Abertas Convivência: Buscamos a experiência Mas será esta uma confiável Fonte de referência Para com o passar da idade Mantermos a nossa felicidade? Palavras são só palavras POESIAS Convivência: Até onde poderemos ir Num jogo de palavras Existe até o ato de mentir E como fica a dignidade Na busca dessa tal felicidade? Apesar dessa ambiguidade Fugindo totalmente da realidade Somente palavras existem Às vezes, contam a verdade Outras, simplesmente mentem 107 Doce Realidade Aprisionam-se os pensamentos Além da fútil imaginação Vidas transformadas Realizações decodificadas Braz Campos Durso Oh! Doce realidade Não mascare sua identidade Expulse da vida a dor Permita fluir sempre o amor Janelas Abertas Oh! Doce realidade Que por hora transpõe a serenidade Muito além de qualquer verdade Cativa com pura simplicidade POESIAS Libertando meus pensamentos Brincando com meus sentimentos Percorro, assim, novos caminhos Afinal, não há o que compreender Palavras são só palavras 108 109 110 Sua marca mais profunda Na sua face está impressa É seu sorriso encantador Que fascina e faz sonhar Sem nem entender o porquê Você consegue surpreender Como posso me perder Simplesmente ao te ver Não há como explicar O que você pode causar Sonho ou receio Medo ou desejo Sim, seu sorriso encanta Vai além do olhar Mostra um desejo intenso De uma mulher perspicaz Sobretudo capaz de amar Janelas Abertas Quantas vezes tive medo de amar e me entregar de verdade a quem jurava me amar Quantas vezes escutei palavras fortes no meu ouvido, respirações aceleradas coladas ao meu corpo, e mesmo assim tive medo de me entregar Quantas vezes deixei o pensamento fluir para bem longe enquanto o que deveria fazer era dizer apenas uma sentença: EU TE AMO! Quantas vezes por fraqueza preferi fugir a lutar por você Quantas vezes relutei em escrever o que escrevo por não ter maturidade para entender o que sentia Quantas vezes me deixei levar por comentários, em vez de escutar meu coração Quantas vezes relutei em aceitar que encontrei por não acreditar que era você Quantas vezes agi quando devia pensar e pensei quando deveria agir Quantas vezes joguei xadrez num tabuleiro de emoções e te pus em xeque-mate Quantas vezes fiz perguntas sabendo que não poderia entender suas respostas Quantas vezes precisarei acordar para entender que um dia você partiu, e que poderia ter te impedido dizendo apenas: EU TE AMO! O seu sorriso encanta POESIAS POESIAS Braz Campos Durso Quantas vezes 111 112 Mas na alma existe uma certeza Que a chama pode reacender Ao imaginar aquele sonho resplandecente No peito se torna presente Atravessa a porta da vida Caminhando sem medo e receio Existe ainda muita emoção De permeio no seu coração Naquela noite você Apareceu Entrou tão de repente Pela porta da frente Minha vida virou Um filme mudo Não existem cenas Ninguém me entende O balcão do bar É a casa das emoções O uísque desce Calando o coração Baby, você chegou Baby, você se foi Baby, eu nem sei seu nome E eu aqui ainda estou... Janelas Abertas O tempo pode passar E a distância pode corromper Diversas expectativas Que não puderem viver Filme mudo POESIAS POESIAS Braz Campos Durso Um sonho ainda presente 113 Distantes de nós Percorremos caminhos Não sabemos Aonde ir Olhamos ao redor e não nos enxergamos Não estamos Mais ali O tempo passou E não mais voltou Na ausência do amor Restou a dor Sentimentos são palavras Ditas por ninguém Se distantes do olhar Perde-se a razão Seguimos juntos presos Na mesma canção Capturados na essência Não temos transparência Subversão emocional ou Sobrevivência existencial Seremos solitários Verdadeiros otários Cade a razão Vazio mundo cão Percebo que a vida que levamos é grandemente marcada por 3 coisas básicas: pensamentos, emoções e ações. Básicas, porque são inerentes ao ser humano; mas não necessariamente simples. Temos nossas próprias razões para fazermos nossas escolhas, e estas estão ligadas à nossa complexidade única. Criamos uma rotina, um método de vida, às vezes baseado nas necessidades do momento, às vezes como reação a algo do passado. Às vezes sentimos a necessidade da mudança, uma nova forma de encarar a vida, uma perspectiva diferente e renovada. Creio que (quase) todo ser humano um dia passa por isso; Questionamos e imaginamos infinitas possibilidades de como nossa vida poderia ser se fizéssemos escolhas diferentes. Para alguns é apenas uma fase, para outros uma eterna busca. Quanto mais analiso a vida e o comportamento das pessoas, mais sinto que deveríamos analisar menos o que não podemos mudar e sim viver mais o que nos cabe explorar. Mas como nos livrar de intensas emoções e pensamentos desnecessários ao nosso desenvolvimento? Como aceitar acontecimentos que a vida traz sem questionar por quê? 114 POESIAS Braz Campos Durso (BRAZ CAMPOS DURSO) (Renata Lima) Janelas Abertas Valeu a pena? PARTICIPAÇÕES DISTANTES DE NÓS 115 aprendizado, paixões inesquecíveis; realizações que nos dão força, perdas que nos permitem nos encontrar. Em cada experiência, em cada gesto, em cada palavra, mostramos quem somos. Expressamos o eu individualista, não acabado, não pronto... Um “eu” a ser lapidado, explorado, expressado de muitas outras formas; infinitas formas. A liberdade que buscamos está dentro de nós. Nossa reação a cada acontecimento depende da pessoa que queremos ser. Há tanto a se buscar; tanto a se ensinar; tanto a se aprender; tantos para se amar. Em cada dia há uma oportunidade de tentarmos mais uma vez; De ir além dos padrões atuais, dos limites impostos. Em cada dia está a chama que precisa ser mantida acesa. As desculpas que criamos para não irmos em busca do que achamos ser importante e fascinante, são nossas principais barreiras. Obviamente, nem todos os nossos sonhos se tornam reais; talvez estejamos querendo algo que não é para acontecer (ainda). Mas nem por isso devemos desistir e estagnar. As coisas se transformam, o mundo se transforma, a gente se transforma. Podemos adaptar, podemos criar, podemos encontrar formas de fazer aquilo que nos dá alegria na alma, por mais simples que isso seja. No dia a dia ninguém precisa estar feliz o tempo todo. Um pouco de tristeza também nos faz mais Janelas Abertas Braz Campos Durso 116 Como aceitar que algo especial se acabou? Infelizmente só o tempo e as experiências para nos fazer aprender. Felizmente, somos livres para aprender ao nosso modo, nos limites que definimos para nós mesmos. Penso que a vida, com seu mais puro denodo nos preenche com o todo necessário para se viver. Que não sejamos simplesmente o que esperam de nós. Que não sejamos sujeitos a etiquetas com vagas definições. Que a liberdade mais pura e real nos permita ser nós mesmos nas infinitas possibilidades que a vida nos apresenta. Encanta-me, às vezes, poder perceber o extraodinário em cada fase de nossa vida. Cada um tem sua história, cada um se expressa de uma forma, cada um passa por dificuldades e conquistas em sua jornada. Seres de carne, alma e ardor se encontram, se satisfazem, se ensinam, se enaltecem, se completam. Corpos que se tocam, carinhos trocados, palavras sublimes, olhares profundos, beijos ardentes, amores incondicionais. Há uma força invisível que, muitas vezes, não percebemos, não entendemos. A emoção não julgada, não dilarcerada, a liberdade do ser; A expressão do que somos, a cada momento, sem culpa, sem medo, sem competição. Simplesmente ser... Essa é a beleza da alma. Encontramos desafios, situações desconfortáveis, injustiças talvez incompreensíveis; desapontamentos, dúvidas, dor, perdas, quedas... Mas também encontramos compreensão, gentileza, algumas certezas, pessoas insubstituíveis, 117 118 (Lisa Curvelo) A literatura de autoajuda toma cada vez mais espaço nas livrarias, nos computadores, nas bolsas e cabeceiras das pessoas. Houve um tempo em que autoajuda era para malucos, maníacos-depressivos, gente fraca e sem amigos para conversar. Se bem que pensando bem talvez ainda seja, porque fizeram questão de colocar uns codinomes mais aceitáveis e menos taxativos como autoaperfeiçoamento, autoaprimoramento e o mais elegante que temos até agora, o desenvolvimento pessoal. No fim é tudo autoajuda. O que acontece é que as pessoas estão buscando fórmulas, métodos e sistemas para atingirem seu objetivo final, que é o da realização pessoal, como já dizia Maslow e sua pirâmide da hierarquia das necessidades humanas. A Pirâmide de Maslow. Só que essa realização pessoal não está em objetos, posses e outras pessoas como muitos equivocademente pensam. Marido, filho, Ferrari e cargos executivos não significam realização pessoal. Realização pessoal é também um outro termo elegante que inventaram, mas no fundo o que todo mundo busca é uma boa autoestima e paz de espírito. Casamo-nos, temos filhos, compramos iates, vamos à academia e à igreja para no fim termos amor-próprio e paz de espírito. Só que, apesar dessa maior busca pelo autoaprimoramento, não vemos as pessoas sendo mais felizes de acordo com o número de livros de Janelas Abertas A fórmula do sucesso PARTICIPAÇÕES Braz Campos Durso fortes, nos faz crescer como ser humano. Mas que a tristeza seja temporária e não deixemos que ela nos defina. Que ela seja uma forma de reflexão e nos faça perceber que ainda há caminhos a serem explorados, pois a vida continua; e independente de qual seja a razão de estarmos aqui, que possamos ver de tudo isso como crescimento e sigamos com esperança a jornada que cabe a cada um de nós viver. Se um dia você se pegar questionando se algo valeu a pena, lembre-se dessa frase do grande poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. 119 que faça os preguiçosos de repente sentirem vontade de malhar, mas quando se tem que botar um biquini e ir à praia, a preguiça vai logo embora e sua segunda casa vira a academia. Quantas vezes uma mulher só começa a cuidar de sua saúde e vitalidade quando nasce o primeiro neto, porque agora ela quer poder brincar com ele quando ele crescer. Essas pessoas não leram livros ou fizeram cursos, elas simplesmente foram automotivadas por um desejo ardente. Então da próxima vez que eu quiser emagrecer eu não vou mais querer saber sobre a última dieta da moda ou pílula revolucionária. Também não vou confundir mais a minha cabeça lendo fórmulas mirabolantes do sucesso da vida de outras pessoas. Agora eu vou olhar para dentro. Eu vou conhecer os desejos autênticos do meu coração e trocar o uso da força de vontade por uma motivação intrínseca. Eu sei que quando estamos vivendo a conquista de um desejo autêntico do coração, o trabalho vira prazer, a antecipação da meta já nos faz sentir prazer no aqui e agora. Para que eu quero emagrecer? Hoje eu não preciso, mas quando eu precisar, a qualidade da resposta a essa pergunta será a chave da certeza do meu sucesso. Janelas Abertas Braz Campos Durso 120 autoajuda que leem. Se repararmos bem, cada autor ou guru tem sua própria história de sucesso, depoimentos de seguidores que copiaram sua fórmula e também obtiveram sucesso, e muitos deles condenam as outras fórmulas dos outros autores, que por sua vez também possuem sua própria história de sucesso e seus seguidores com depoimentos emocionantes do quanto sua vida mudou para melhor. Que confusão. É igual dieta e religião. Cada um diz uma coisa e o que não faltam são evidências para apoiar suas respectivas convicções e seguidores satisfeitos. Aí chega eu e você, tentamos as duzentas dietas infalíveis, os cem métodos de enriquecer, as trezentas receitas de como aumentar nossa autoestima e seguimos passo a passo os cinquenta métodos de como melhorar nosso relacionamento, somente para ver que entramos numa corrida de rato. Aquela rodinha que se corre, corre mas não se sai do lugar. E os tantos depoimentos e casos impossíveis que foram solucionados? Pois é, não é de se estranhar que tanta autoajuda assim em vez de ajudar acaba por nos fazer sentir um fracasso. Mas por que somente algumas pessoas conseguem emagrecer, ficar ricas, mudar de comportamento e atingir metas com facilidade? Elas são melhores que as outras? Talvez elas realmente tenham algo que as outras não têm, mas eu não diria que sejam neurônios ou sorte, eu diria motivação. Sim, um motivo em ação, ou uma motivação se preferir. Por que quando estamos apaixonados fazemos coisas que normalmente não faríamos? Por que nos meses de janeiro e fevereiro as academias enchem mais? Por que quando estamos envolvidos em um projeto pessoal prazeroso, dormimos e nos alimentamos pouco, sem chamar isso de sacrifício? Não há nada de místico em janeiro 121 122 Acorde… E pense em alguém que você ama Ainda que esse alguém não o ame tanto assim Porque mesmo o sol insistindo em não aparecer Contemple a beleza de um céu nublado Brinde, baile, dance e cante Brinde a vida Baile com alegria Dance com amor E cante, cante sua canção E mesmo que nunca a tenha escrito Cante mesmo assim Toque a sua música, ou a música de alguém Porque a música é um brinde à vida É a alegria do baile É o motivo da dança É o amor tocado e cantado dentro de nós (Raul Carneiro Filho) José saiu de casa muito cedo. A mulher e os três filhos ainda dormiam nos dois cômodos que fez nos fundos da casa de sua sogra. Sem tempo e zelo para o café ralo e puro, caminhou apressado rumo ao ponto da única linha de coletivos que serve sua comunidade. O bruto veio atrasado, lotado e malcuidado. Tarifado pela ida e pela volta por meio dia de serviço que José nem tem. Horas intermináveis, com fumaça e buraco, pigarros e bocejos. Parecia uma coreografia mal ensaiada com bailarinos como ele. Fim do primeiro trecho, numa Central do Brasil muito longe de ser “róliude”. José entre centenas, milhares talvez, de outros josés, manés e bonés. As portas fechadas por preocupação, o dia começando lá fora e a cidade descobrindo seus sons e sonhos urbanos. Camelôs e prostitutas; menores abandonados; ladrões e trabalhadores; todos em um mesmo fundo de tela. Vários josés, centenas de marias, outros tantos anônimos, disputando uma corrida sem chegada, sem pódio, sem nada. José confere o recorte de jornal: “Temos vagas”. Sonha novamente, pensa na mulher, nos filhos, na cachaça e no farto almoço. Na marmita, abobrinha frita e carne de pescoço. Mais lotação, mais condução, mais confusão. De novo lotado, de novo mais caro, José sacudindo rumo ao endereço Janelas Abertas (Daniel Benvindo de Carvalho) Portas fechadas PARTICIPAÇÕES PARTICIPAÇÕES Braz Campos Durso BRINDE À VIDA 123 abordado por um PM fardado, os documentos mostrados, a dúvida, o esculacho, o desrespeito, a vergonha e a porta fechada. José pensa no bairro, na rua, na vila. Lembra do barro, do mato, dos ratos. Imagina ambulância, hospital, doutor, vacina, saneamento, escola, condução, jornal, prefeito e polícia no seu bairro distante, feudo de traficante. Ri sozinho do dengo, do Mengo e da vida. Vasculha a memória, se lembra de um sorriso que deu na infância, doce lembrança no sal da avenida cinzenta que mantém portas fechadas. Porta aberta, José se assanha, se apressa e se apresenta para o mestre de obras que tem emprego e afilhado, José chegou tarde. Porta fechada. Mais uma na cara. José desde cedo na rua, procurando trabalho, não quer ser bandido, não quer sem mendigo, não quer ver seus filhos chorando ou no crime, quer trabalho e cidadania, quer respeito e cafuné na nuca. José chora pra dentro, soluça escondido. Seis da tarde, hora de ir embora, gente com pressa andando ligeiro, esse é o Rio de Janeiro. Na volta pra casa, o pensamento distante, a promessa quebrada, um guarda safado, um bandido estirado, dois ônibus lotados, os últimos trocados, o santo xingado, sua rua esburacada, sem poste, sem ambulância, sem segurança, um cachorro enjoado lhe morde o calçado, José chuta o bicho para o lado. Nesse instante surge a vizinha: “Não chuta o cachorro, José, violência não!” José nem responde. Não tem nem por onde. Em casa, porta fechada. Janelas Abertas Braz Campos Durso 124 recortado, malcortado. No ônibus, um grito, um susto, um assalto, um beijo, um pastor e duas putas. Um motorista rude, um cobrador sem alma, um ponto final longe da calçada. Desce José, com o papelzinho na mão e uma esperança na cabeça. Fosse ele um cineasta do cinema novo, faria um daqueles filmes que não são compreendidos. Desembola o papel e confirma o endereço. “Há Vagas”. José sorri, mas nem percebe. Tempo não tem, mas lhe deram. Porta fechada. Reabre depois, quando o chefe quiser. José vê a obra, João olha as horas, caminha na calçada para o tempo passar, mas a fome não passa. Espera na banca, lendo manchetes com outros josés, algumas marias: Palestinos e atentados, Congo e campos da morte, Grécia e desespero, dólar despenca, demissão de metalúrgicos, assassinatos de sem-terra, mandantes absolvidos, explosões de bueiros, topetes e jogadores de futebol, frutas e mulheres, impunidade, crime organizado e polícia desorganizada, seca malvada, chuvas ingratas, padres pedófilos e comunistas ungidos, políticos canalhas e descuido ou descaso, maracutaias e deputados, besteiras e mulheres peladas. Os sons da rua, uma rua do Centro, ambulância e pedintes, freadas e discussão, vitrines e ofertas, estudantes e secretárias, gravatas e apertos. José confere a porta fechada, fila de dez, 12 talvez. Mais uma vez, a porta fechada se abre para o aviso – “ficha só depois do almoço! – procurem o dotô!”, que vai ver, nem se formou, mas é doutor. José ganhou tempo sem pedir, pensa na mulher, pensa nos meninos, dois na escola sem professor, um com a avó. A mulher na lida, na luta, faxinando o sustento em casas vizinhas. Lembrou da promessa: “Só volto empregado!” Perdeu meio dia, mas não a marmita. Almoça sentado, é 125 126 Serás mesmo tu, o caminho? Fizeste-me esquecer de ter saudades é verdade... E hoje livre, sou também sozinho Libertaste-me da dor devo saber Mas o que tu não sabes É quanta saudade eu tenho desse doer Dai-me força, liberdade para ser livre Diga-me como é que se vive sob teus devaneios Se é que tu existes por favor, diga-me a que vieste É liberdade... como te quis, e como não te quero mais Hoje, lhe peço: Deixa-me em paz Aliás, Mudarei teu nome ao me livrar dessa ilusão Passarei chamar-te solidão! Se liberdade é quem livra Livrai-me então, liberdade de ser livre Livrai-me de ser só e de ser só, ser teu refém Livrai-me de todo o mal, Amém! Janelas Abertas (Ludmilla abreu) PARTICIPAÇÕES PARTICIPAÇÕES Braz Campos Durso Hei, liberdade 127 Above Publicações Publicando Sonhos! FONE - (27) 4105-3374 [email protected] www.aboveonline.com.br