SUBSTITUIÇÃO DE LARVAS FORRAGEIRAS POR ARTÊMIA
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SUBSTITUIÇÃO DE LARVAS FORRAGEIRAS POR ARTÊMIA
SUBSTITUIÇÃO DE LARVAS FORRAGEIRAS POR ARTÊMIA Artemia franciscana E RAÇÃO SECA NA ALIMENTAÇÃO DE PÓS-LARVAS DE JAÚ Paulicea luetkeni Ulisses Simon da Silveira*, Rafael Venâncio de Araújo, Edivânia da Conceição Pontes, Daniel Okamura, Felipe Guedes de Araújo, Priscila Vieira Rosa Logato e Rilke Tadeu Fonseca de Freitas *Departamento de Zootecnia da UFLA, Lavras, MG. E-mail: [email protected] Resumo Este trabalho foi desenvolvido na Estação de Piscicultura de Volta Grande da CEMIG em fevereiro de 2007. Foram utilizadas 348 pós-larvas de Jaú (Paulicea luetkeni) com quatro dias de vida, peso de 27,5 mg e comprimento de 1,22 cm, distribuídas em 12 caixas de fibra de vidro, contendo 29 pós-larvas de Jaú por caixa, oferecendo 3 tratamentos com 4 repetições, em um delineamento inteiramente casualizado. Os tratamentos oferecidos foram T1: Larvas forrageiras de Curimbatá numa densidade de 4 larvas por pós-larva de Jaú; T2: Artêmia salina adulta numa densidade de 4 organismos por pós-larva de Jaú e T3: Ração farelada semipurificada com 60% de farinha de Sardinha, 51% de proteína bruta e oferecida na proporção de 20% do peso vivo das pós-larvas de Jaú, por um período de 10 dias. Os desempenhos obtidos de Peso (g) de T1= 0,515 a, T2= 0,425 b e T3= 0,205 c, Comprimento (cm) de T1= 3,25 a, T2= 3,05 a e T3= 1,47 b e Sobrevivência (%) de T1= 67,2 a, T2= 40,5 b e T3= 15,2 c, demonstraram que o oferecimento da dieta seca em período precoce de vida não foi eficiente para produção de pós-larvas mas o uso de artêmia salina pode ser uma alternativa para produção em larga escala de alevinos de Jaú. Introdução O grande entrave a produção de alevinos nativos de alto valor comercial das bacias hidrográficas brasileiras está relacionado ao hábito alimentar na fase de pós-larva, ictiófago e com alto índice de canibalismo. Para a produção de grande numero de alevinos viáveis, com alta taxa de sobrevivência, tamanho uniforme e boa velocidade de crescimento é necessário o oferecimento no período inicial após o esgotamento do saco vitelínico, de larvas de peixes forrageiros de fácil reprodução e grande produtividade como as espécies curimbatá (Prochilodus sp) e piaussú (Leporinus sp.) para redução dos índices de canibalismo. Esta característica de manejo limita a produtividade das estações de piscicultura para a produção de alevinos, pois é necessária a coincidência na disponibilidade de matrizes e reprodutores da espécie forrageira com as gônadas maduras ao da espécie que se pretende produzir; desova coincidente da espécie forrageira ao da espécie carnívora, elevado custo das instalações com a duplicação de tanques e incubadoras adicionais para acondicionamento dos reprodutores e matrizes e reprodução da espécie forrageira, além do alto valor de compra de hipófise de carpas e curimbatás e hormônio sintético gonadotrofina HCG, que são necessários para indução à desova das espécies forrageiras reofílicas. As pesquisas atuais estão voltadas para a substituição da alimentação viva baseada na produção de larvas forrageiras por dietas alternativas, como a alimentação viva baseada na produção de plâncton selvagem ou de crustáceos como a Artêmia salina (Artemia franciscana) e na alimentação com ração balanceada seca e farelada, considerada a ideal por ser de fácil estocagem, excelente valor nutricional e disponível o ano inteiro. Sua limitação está na falta de atrativos físicos e químicos como movimento, colorido e palatabilizantes que estimulem a pós-larvas a consumirem a ração. Este experimento testou a substituição de larvas forrageiras de Curimbatá (Prochilodus sp.) por dietas alternativas como alimento vivo na forma de Artêmia salina (Artemia franciscana) adulta e alimentação artificial na forma de ração semi-purificada farelada com 60% de farinha de sardinha, 52% de proteína bruta e 4.150 kcal no manejo de pós-larvas de Jaú ((Paulicea luetkeni). Introdução O Jaú é um peixe Teleósteo de grande porte, podendo ultrapassar 1,5 m de comprimento e alcançar até 150 kg de peso vivo, classificado como da ordem Siluriforme, família Pimelodidae, gênero Paulicea, espécie Paulicea luetkeni (Steindachner, 1875). Recentemente Silfvergrip (1992) citado por Britski (1999) argumentou que Paulicea é um sinônimo júnior de Zungaro (Bleeker, 1858). Devido à destruição das matas ciliares, assoreamento das calhas e construção de barragens para usinas hidrelétricas nas bacias dos rios Grandes e Paraná, esta espécie ficou vulnerável a extinção. Sua criação em cativeiro ainda é preliminar e este experimento procura embasamento para o manejo das pós-larvas desta espécie. Como para a maioria das espécies nativas brasileiras, poucas pesquisas foram desenvolvidas com a espécie, principalmente relacionados com a nutrição e suas exigências nutricionais. Experimentos com peixes nativos ictiófagos como o Dourado (Salminus brasiliensis), Pintado (Pseudoplatystoma sp.) e Surubim do Iguaçu (Steindachneridion sp.) tem demonstrado que outros organismos vivos como Plâncton selvagem (Brachionus plicatilis) e Artêmia salina (Artemia franciscana), produzidos intensivamente podem substituir com sucesso a dieta com larvas de peixes forrageiros no período inicial de pós-larvas (Schutz, 2003; Campagnolo, 2004; Feiden, 2005). O uso da ração comercial também foi testado com o dourado em experimento de Ribeiro (2005) como também o período de transição da dieta viva para ração seca por VejaOrellana et al. (2006). Estes autores observaram que o melhor período de introdução da dieta seca foi ao 7º dia de vida. O oferecimento de quimiotrativos foi testado por Oliveira & Cyrino (2004) para “black bass”, que observaram melhor resultados de crescimento, ganho de peso e conversão alimentar em ração formulada com FISHARON TM quando comparado contra produtos como silagem de peixe ou proteína solúvel de peixe. O grande desafio para esta espécie é a obtenção de uma alimentação de qualidade que possa atender as necessidades nutricionais das pós-larvas e redução do canibalismo como ocorre normalmente com o uso das larvas forrageiras (Radünz Neto, 1999). Material e Métodos Este experimento foi desenvolvido na Estação de Piscicultura da CEMIG de Volta Grande, localizada no município de Conceição das Alagoas em Minas Gerais, no mês de fevereiro de 2007. Foram utilizadas 348 pós-larvas de Jaú (Paulicea luetkeni) com quatro (4) dias de idade, peso inicial de 27,5 mg e comprimento de 1,22 cm, distribuídas em 12 caixas de fibra de vidro, com 30 litros de água cada uma e com uma população de 29 pós-larvas de Jaú por caixa. Foi utilizado 3 tratamentos, em uma freqüência de arraçoamento de 6 vezes ao dia (4 em 4 horas), por um período de 10 dias. Os tratamentos oferecidos eram constituídos de: T1: Larvas recém eclodidas de curimbatá (Prochilodus sp) em uma densidade de 4 larvas de curimbatá por pós-larva de Jaú em cada tratamento, T2: Organismos adultos de Artemia franciscana em uma concentração de 4 organismos por pós-larva de Jaú por tratamento, T3: Ração semi-purificada (Tabela 1) confeccionada com 60% de farinha de Sardinha, utilizada como quimioatrativo, com valor nutricional de 51% de proteína bruta e 4.150 quilocalorias oferecida em uma densidade de 20% do peso vivo das pós-larvas de Jaús por caixa. Tabela 1. Ingredientes da ração semi-purificada . Ingredientes % F.S . 60 Álbum. Gel. Cel. Óleo L. S. V.C. E F.B. BHT P.M. V. 18 7 3 8 2 0,175 1,5 0,025 0,30 *F.S.: Farinha de Sardinha, Álbum: Albumina, Gel: Gelatina, Cel.: Celulose, L.S.: Lecitina de Soja, V.C.E.: Vitamina C e E, F.B.: Fosfato Bicálcico, P.M. V.: Premix Mineral e Vitamínico. Como tratamento profilático, foi utilizado o antibiótico oxitetraciclina na dosagem diária de 25 mg/litro, diluído na água das caixas do experimento, manejo que foi demonstrado ser eficiente em trabalho anterior de Silveira et al. (2006) em experimento também com o Jaú e trabalho de Bransden (2005) com larvas de Striped Trumpeter alimentadas com Artêmia salina. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com três (3) tratamentos e quatro (4) repetições para determinação do desempenho (Comprimento, Peso e Sobrevivência) das pós-larvas de Jaú. As médias estatísticas foram obtidas através do programa estatístico SISVAR (UFLA). Resultados e Discussão Valores médios do efeito do tratamento sobre os Pesos, Comprimentos e taxas de Sobrevivência das pós-larvas de Jaú após dez (10) dias do tratamento (Tabela 2). Tabela 2. Valores médios de desempenho em relação aos referentes tratamentos. Variáveis Peso (g) Comprimento (cm) Sobrevivência (%) Tratamento 1 0,515a 3,25a 67,2a Tratamento 2 0,425b 3,05a 40,5b Tratamento 3 0,205c 1,47b 15,2c *Médias com as mesmas letras não diferem pelo teste de Tukey (P<0,05). Observou-se pelo teste de Tukey (P<0,05) que houve diferenças significativas nas taxas de ganho de peso e sobrevivência por efeito dos tratamentos, mas que para o efeito comprimentos das pós-larvas de Jaú não houve diferenças significativas entre os tratamentos com larvas forrageiras de Curimbatá ou organismos adultos de Artêmia salina, sendo ambos superiores ao tratamento com a dieta seca. Os gráficos com as equações de regressão sobre o Peso (Figura 1), Comprimento (Figura 2) e Sobrevivência (Figura 3) apresentados a seguir demonstraram sempre uma equação linear entre o efeito dos tratamentos e resultados de desempenho. Peso Jaú 0,6 Peso (g) 0,5 0,4 Peso 0,3 Linear (Peso) 0,2 0,1 0 0 1 2 3 4 y = -0,155x + 0,6917 R2 = 0,9446 Tratamentos Figura 1. Efeito dos tratamentos sobre o desempenho em peso das pós-larvas. Comprimento (Cm) Comprimento Jaú 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 Comprim Linear (Comprim) 0 1 2 3 4 Tratam entos y = -0,089x + 0,437 R2 = 0,8331 Figura 2. Efeito dos tratamentos sobre o desempenho em comprimento das pós-larvas. % Sobrevivência Sobrevivência Jaú 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Sobrev Linear (Sobrev) 0 1 2 Tratamentos 3 4 y = -0,26x + 0,9267 R2 = 0,9995 Figura 3. Efeito dos tratamentos sobre o desempenho em sobrevivência das pós-larvas. O baixo índice de sobrevivência de pós-larvas de Jaú tratadas com ração. observado neste experimento. é coincidente aos trabalhos de Qin et al (1997) e Feiden et al. (2005), que observaram 100% de mortalidade quando trataram snakehead (Channa striatus) e Surubim do Iguaçu (Steindachneridion sp.), respectivamente, com dieta seca. O uso de Artêmia salina, porém, apresentou boa taxa de sobrevivência, ao contrário de trabalho desenvolvido por Schütz (2003) que observou alta taxa de canibalismo quando tratou larvas de Dourado (Salminus brasiliensis) com náuplios de Artêmia, obtendo taxas de sobrevivência que variaram entre 2,17 e 5,33%, dependendo do manejo com fotoperíodo. Conclusão Os resultados de desempenho observados sobre o peso, comprimento e taxa de sobrevivência do jaú com os três tratamentos demonstraram que o uso de artêmia adulta foi viável para substituir a alimentação com o uso de larvas forrageiras, mas o uso de ração seca demonstrou ser ineficiente neste período inicial de vida das pós-larvas de Jaú. Concluímos ser possível à utilização de Artêmia salina (Artemia franciscana) na alimentação inicial de póslarvas e que a ração seca deve ter seu oferecimento iniciado em um momento posterior de vida dos Jaús, a ser determinado em um novo experimento. Agradecimento Apoio Financeiro IEF - Instituto Estadual de Florestas-MG. Referências BRANSDEN M. P., et al. Effect of dietary 22:6n-3 on growth, survival and tissue fatty acid profile of striped trumpeter (Latris lineata) larvae fed enriched Artemia. Aquaculture, v. 243, p. 331-344, 2005. BRITSKI, H. A. Peixes do Pantanal. Manual de Identificação. Corumbá: EMBRAPA-CPAP, 1999. 184 p. 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