SINAL/IPEA - FECOMERCIO SP - 29/04/2010 - MANHÃ
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SINAL/IPEA - FECOMERCIO SP - 29/04/2010 - MANHÃ
SINAL/IPEA - FECOMERCIO SP - 29/04/2010 - MANHÃ SEMINÁRIO:"REGULAMENTAÇÃO DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO – DESENVOLVIMENTO E CIDADANIA” ABERTURA MESTRE DE CERIMÔNIAS – Bom dia. Sejam bem-vindos ao nosso evento “Regulamentação do Artigo 192 da Constituição Federal – Desenvolvimento e Cidadania”, organizado pelo Sinal Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central - e pelo Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O Sinal, presidido hoje pelo Sr. Sérgio da Luz Belsito, foi fundado em 28 de outubro de 1988, após a promulgação da Constituição Federal naquele ano, que possibilitou a sindicalização dos servidores públicos. Tem como objetivos a construção de um Banco Central a serviço da sociedade, a representação, a defesa dos direitos e a promoção dos interesses socioeconômicos e profissionais dos integrantes da categoria e das reivindicações de seus associados. Hoje conta com exatos seis mil filiados nas seções regionais de Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O trabalho do sindicato junto ao Congresso Nacional está voltado para as reformas administrativa e previdenciária e também para a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que trata da organização do sistema financeiro nacional e do Banco Central do Brasil. Participantes do Fórum das Carreiras Típicas de Estado, Fonacat, os funcionários do Banco Central são responsáveis pela formulação, promoção e fiscalização da política da moeda e do crédito, atividades exclusivas de Estado e sem correspondente, portanto, no setor privado. Já o Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, presidido por Márcio Pochmann, é uma fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, tendo como suas atividades principais pesquisas que fornecem suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiro. Os trabalhos do Ipea são disponibilizados para a sociedade por meio de inúmeras e regulares publicações e seminários, mais recentemente via programa semanal de TV em canal fechado. Tem como missão produzir, articular e disseminar conhecimento para aperfeiçoar as políticas públicas e contribuir para o planejamento do desenvolvimento brasileiro. Como é do conhecimento dos senhores, o artigo 192 determina que o sistema financeiro nacional deve promover o desenvolvimento equilibrado do país e servir aos interesses da coletividade. O Projeto 192 nasceu em cumprimento a uma decisão da categoria, implementada pelo Conselho Nacional do Sinal, Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central, e tem a finalidade de desenvolver estudos técnicos e efetuar ampla consulta, a fim de coletar subsídios relativos à regulamentação do artigo 192, tanto no âmbito interno do Banco Central quanto externamente na coletividade, para finalizar com a produção da proposta de projeto de lei da nova regulamentação do sistema financeiro nacional a ser levada ao Congresso Nacional. Justamente atendendo essa diretriz, efetuar ampla consulta a fim de coletar subsídios relativos à regulamentação do artigo 192, é que estamos realizando este seminário no dia de hoje e também amanhã. Registramos a participação neste seminário “Regulamentação do Artigo 192 da Constituição Federal – Desenvolvimento e Cidadania”, organizado pelo Sinal, Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central, e pelo Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, das seguintes entidades e instituições convidadas: o Banco Central do Brasil, BCB; a CGTB, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil; a CTB, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil; a CUT, Central Única dos Trabalhadores; a Força Sindical; a NCST, Nova Central Sindical de Trabalhadores; a UGT, União Geral dos Trabalhadores; o IDEC, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor; a IFC, International Finance Corporation; a CNA, Confederação Nacional da Agricultura; a CNC, Confederação Nacional do Comércio; a CNI, Confederação Nacional da Industria; o Ministério Público Federal, MPF; acadêmicos como o professor Belluzzo e parlamentares como o senador Antonio Carlos Magalhães Junior e o deputado João Dado. Nós também contaremos hoje com a ilustre presença do senador Antonio Carlos Magalhães Junior, a quem me referi há instantes, que irá integrar a mesa que vai discutir a visão de futuro do sistema financeiro nacional. Como os senhores sabem, serão quatro as mesas de debate: visão de futuro para o sistema financeiro nacional; o sistema financeiro e o desenvolvimento nacional; inclusão bancária e responsabilidade socioambiental do sistema financeiro; Banco Central – função de Estado, autonomia e controle social. As duas primeiras mesas, visão de futuro para o sistema financeiro nacional e o desenvolvimento nacional, serão realizadas no dia de hoje. Conforme a programação que os senhores receberam, haverá um intervalo entre os turnos da manhã e da tarde, durante o qual vamos oferecer aqui mesmo ao lado, onde os senhores tiveram o welcome coffee, um serviço de brunch. Os pronunciamentos e debates dos participantes serão gravados e disponibilizados posteriormente. O material reunido formará um livro a ser editado imediatamente após o evento e vídeos com ampla distribuição aos mais diversos segmentos sociais, com destaque para os meios de divulgação e comunicação, entidades e instituições e o próprio Congresso Nacional. O evento também está sendo transmitido ao vivo através da TV Sinal, na página do Sinal na internet, www.sinal.org.br, com livre acesso ao público, e também pela TV Bacen para os funcionários do Banco Central em suas respectivas estações de trabalho em todas as regionais do Bacen nas cidades de Belém no Pará, Fortaleza no Ceará, Recife em Pernambuco, Salvador na Bahia, Belo Horizonte em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba no Paraná e Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Neste seminário estará sendo lançada a edição especialíssima número 30 da revista Por Sinal, que traz como matéria de capa “Projeto 192, por um sistema financeiro cidadão” e ainda uma entrevista com a senadora argentina Maria Eugênia Stensoro, da Coalizão Cívica, para conhecer um pouco mais da experiência de independência do Banco Central argentino, que no início do ano enfrentou uma crise que resultou no afastamento do seu presidente. Estava prevista a presença do empresário Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e dos conselhos regionais do Sesc e do Senac, mas infelizmente não pôde comparecer porque está em reunião na CNC. Eu vou compor a mesa chamando o presidente nacional do Sinal, Dr. Sérgio da Luz Belsito. Sérgio da Luz Belsito, formado em Ciências Contábeis, com curso de especialização em auditoria pela USP, funcionário do Banco do Estado da Guanabara de 72 a 76, ingressou no Banco Central nesse ano de 76, trabalhou na área de fiscalização do mercado de capitais e financeiro, exercendo funções de inspetor, supervisor e chefe de fiscalização no Rio de Janeiro. Atuou como diretor do Banco de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, o BD Rio, em regime especial, de 1986 a 1987, como interventor e liquidante extrajudicial de empresas financeiras no período de 1983 a 1985 e como perito judicial e assistente de perito em processos de liquidações judiciais. No sindicato, como presidente nacional do Sinal, atuou no período de 2001 a 2004 e agora, a partir do ano passado. Eu peço uma salva de palmas ao Dr. Sérgio da Luz Belsito e peço que tome o seu lugar à mesa. O nosso presidente do Ipea, Márcio Pochmann, não pôde comparecer, mas indicou como seu representante o Dr. Milko Matijascic, que eu chamo para compor a mesa. Milko Matijascic possui graduação em economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestrado em ciência econômica pela Universidade Estadual de Campinas em 1991, doutorado em ciência econômica pela Universidade Estadual de Campinas em 1996 e curso técnico profissionalizante em Science e Economique Sociale pela Academia de Poitier, no ano de 1983. Atualmente é assessor técnico da presidência do Ipea, tem experiência na área de economia, com ênfase em economia do bem-estar social, atuando principalmente nos seguintes temas: previdência, fundo de pensão, seguridade, reforma do Estado, projeções econômico-financeiras e finanças públicas. Passo a palavra neste momento ao presidente do Sinal, Dr. Sérgio da Luz Belsito. SÉRGIO DA LUZ BELSITO – Bom dia a todos. Eu gostaria de agradecer a presença de todos aqui e gostaria também de saudar a todos que participam desse seminário, colaborando com as entidades que estão coordenando o evento,e também todos os colegas que estão presentes assistindo via TV Bacen e TV Sinal. Esse seminário faz parte de um projeto de consulta pública sobre a regulamentação do artigo 192. A Constituição Federal em seu artigo 192 ficou de ser regulamentada para que nós tivéssemos um sistema financeiro que fosse voltado para o desenvolvimento e para o equilíbrio social. Esse desenvolvimento e equilíbrio social buscase hoje a partir do momento em que nós vemos um consumo de massa sendo colocado e a necessidade de capilarização do sistema. É de extrema importância o debate a ser feito aqui, as contribuições que serão colocadas por todos que puderem se envolver com relação a esse seminário, que é na verdade uma audiência pública. O Sinal tem uma responsabilidade enorme com a sociedade no sentido de tentar fazer com que haja a regulamentação de uma forma que seja satisfatória aos interesses da sociedade e ao interesse público. Dessa maneira, eu acredito que todas as sugestões colocadas aqui serão de grande utilidade para que a gente possa refletir sobre a proposta que será encaminhada ao Congresso. Eu gostaria de agradecer a participação do Ipea, aqui na presença do Milko, uma entidade respeitada que tem feito parceria com o Sinal, no sentido de avançar em pesquisas e nos dar informações para que tenhamos elementos técnicos e de análise, elementos que possam fazer com que o trabalho a ser desenvolvido seja um trabalho bem fundamentado. Agradecemos ao Ipea pela colaboração e participação. Eu queria também saudar e agradecer à Fecomercio, na figura de seu presidente Abram Szajman, aqui representado pelo nosso colega Carlos Thadeu, que eu chamaria também para a composição dessa mesa de abertura. Para ser breve nessa abertura, passo a palavra ao Milko, representante do Ipea, e depois ao representante da Fecomercio. MILKO MATIJASCIC – Bom dia a todos. É com imensa satisfação que, por delegação honrosa do professor Márcio Pochmann, presidente do Ipea, venho aqui representá-lo num evento de tão grande importância. Como foi salientado, o Sinal representa os servidores do Banco Central, que possuem delegação única e não substituível para representar o Estado diante de políticas que são essenciais e fundamentais à sociedade. É nesse sentido que o Ipea está muito orgulhoso e honrado por assinar termos de entendimento com o Sinal para a promoção de debates sobre a reforma do sistema financeiro nacional , a fim de ter um sistema financeiro que possa apoiar o desenvolvimento e dar sustentação ao crescimento da economia brasileira, após um longo período em que tivemos a década perdida nos anos 80 e o que poderíamos chamar de uma década vazia ao longo dos anos 90, em que pouco foi feito para a construção do desenvolvimento brasileiro. Sem dúvida nenhuma, a ausência de crédito ou a sua timidez em termos de representação na economia brasileira foi um dos fatores que induziu essa economia a um crescimento muito modesto, quase semiestacionário. Hoje a recuperação do crédito, que muito nos alegra, certamente está entre os fatores que estão a acelerar o crescimento dessa economia. Representando os colegas do Ipea, quero dizer que é uma satisfação termos esse acordo operacional, porque o Ipea também é uma carreira típica de Estado e tem a função de pensar o desenvolvimento do Brasil no longo prazo, mas o Ipea precisa também de independência para avaliar as políticas públicas brasileiras, avaliá-las de forma isenta, nessa avaliação mostrar acertos e erros com total isenção e a partir de acertos e erros procurar caminhos. É normal que o governo ou determinados ministérios e órgãos importantes, como é o caso do próprio Banco Central, tenham as suas políticas ou, para brincar um pouco, tenham o seu plano A. Mas o papel do Ipea, diante também as turbulências internacionais e dos clamores da sociedade, é oferecer um plano B, um plano C, um plano D e que a sociedade possa discutir isso de maneira democrática e aberta. Então é com grande alegria que nós estamos estabelecendo hoje esse acordo operacional, vamos participar ativamente da discussão da reforma do sistema financeiro nacional e dotá-lo de melhores condições para atender a nossa população. Essas condições estão melhorando, é verdade. O Brasil hoje é reconhecido como, para usar a formulação do Economist, tendo sido um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair. É motivo de alegria. A regulamentação do sistema financeiro brasileiro é tida inclusive como uma forma de benchmark muitas vezes para o que se reflete em termos de regulamentação dos sistemas financeiros de outros países, nesse momento especificamente existe uma discussão muito importante nos Estados Unidos e uma discussão também importante dentro dos fóruns do G-20. Tudo isso é motivo de alegria, também é motivo de alegria que nós tenhamos uma inflação baixa e que tenhamos políticas monetárias, cambiais e fiscais que estejam operando de uma maneira relativamente equilibrada. Mas o nosso foco aqui não é tratar de política cambial, não é tratar de política monetária e muito menos de política fiscal, embora sejam temas importantes da agenda das duas instituições. A nossa preocupação aqui é tratar do sistema financeiro, da reforma do sistema financeira para fazer com que esse sistema financeiro possa prover crédito barato, inclusão bancária, meios para desenvolver esse país e tornar a vida dos nossos cidadãos mais próxima da vida que eles sonharam. Com isso encerro as minhas palavras e depois voltamos a conversar ao longo dos trabalhos. Muito obrigado. BELSITO – Obrigado, Milko, representando o professor Márcio. Eu gostaria de passar a palavra agora ao representante da Fecomercio, o nosso colega Carlos Thadeu. CARLOS THADEU DE FREITAS GOMES – Meu caro Sérgio, eu estou aqui representando a Fecomercio de São Paulo, a CNC e eu mesmo. Evidentemente é muito importante esse tipo de troca de ideias, porque a área de comércio principalmente é uma área que precisa de um sistema financeiro mais elástico, que financie mais o pequeno e médio e não somente o grande comerciante. É muito importante que ao longo desses dias nós possamos ter aqui alternativas para que os bancos emprestem mais para o setor real da economia e em condições mais favoráveis. É óbvio que isso vai depender de outras coisas, como a política monetária e cambial, mas não estão realmente hoje no palco aqui. O palco é mais uma tentativa de pensar o sistema financeiro ou repensá-lo, de tal maneira que ele cumpra a sua missão de alocar recursos dos poupadores para quem precisa, da maneira mais eficiente possível e não ter um sistema financeiro que não preencha essa função de intermediação. No caso brasileiro é difícil ter uma intermediação financeira desenvolvida, porque nós temos alguns erros do passado que ainda pesam bastante para que o Brasil não tenha ainda um sistema financeiro mais elástico do ponto de vista de concessão de crédito. Um dos pontos que eu levanto aqui é a necessidade de ter um mercado de reservas bancárias mais fácil, de tal maneira que o custo de oportunidade do dinheiro não seja tão alto assim para o sistema financeiro. Por exemplo, uma das explicações para o fato de que o Brasil foi menos atingido pela crise de um ano atrás é de que as nossas instituições financeiras não estavam muito alavancadas, enquanto que as instituições financeiras americanas e europeias estavam muito alavancadas. Alavancagem faz parte do sistema financeiro, sem alavancagem um banco não sobrevive. É óbvio que essa alavancagem tem que ser padronizada, mas alavancagem faz parte, senão um banco não consegue captar dinheiro e nem ganhar dinheiro na outra ponta, o spread vai ser muito pequeno. No caso brasileiro especificamente, a alavancagem é pequena pelo custo de oportunidade do dinheiro nos bancos é muito alto, eles podem aplicar a sobra de caixa do Banco Central e ter uma taxa de retorno muito atrativo, sem risco de crédito e sem risco de queda de preço. Comprar um papel hoje, uma LFT, não tem risco de queda de preço, não tem risco de crédito e taxas bastante elevadas. Aí a gente vai entrar no palco das discussões importantes para destravar um pouco o nosso sistema financeiro. Hoje os países mais adiantados têm excesso de reservas, o Banco Central americano colocou reservas no sistema, o Banco Central europeu também, esse excesso de reservas está sendo canalizado para os seus próprios bancos centrais a taxas baixas. O Banco Central americano hoje inclusive remodera as reservas bancárias excedentes, foi a maneira que ele encontrou de atrair mais recursos a custos mais baixos. Aqui no Brasil nós temos essa distorção que já vem de velhos tempos, nós não temos alternativas de ter um custo de dinheiro mais barato, como deveria ser. Então uma das grandes dificuldades nossas hoje é que o custo do dinheiro de curto prazo, de médio e longo tem uma diferença muito pequena. Há muita concentração no curtíssimo prazo e uma das necessidades é desbloquear isso. Aí a gente vai entrar na Constituição de 88, o artigo 164 diz que o Tesouro tem que ter conta no Banco Central, só no Brasil Central. Isso desequilibra o mercado de reservas bancárias, faz com que o Banco Central faça intervenções contínuas no mercado de reservas bancárias e essas intervenções levam a ele ter uma dependência maior do sistema financeiro para colocar títulos e pagar taxas muito elevadas, taxas que o Tesouro paga. Uma das coisas mais importantes numa tentativa de reformulação do sistema financeiro seria separar um pouco o Tesouro do Banco Central, o Tesouro ter conta em bancos comerciais e agir normalmente como agente econômico para que o Banco Central pudesse ter mais liberdade de ação e não fazer tantas intervenções no mercado bancário. Esse é um dos temas que eu vou tratar quando fizer aqui a minha apresentação, mas em qualquer sistema é importante olhar ambos os lados. Um excesso de regulamentação, como alguns querem fazer hoje, também é prejudicial a maior competitividade do sistema financeiro. É óbvio que hoje há uma assimetria no processo de regulação, quem regula tem informações que o regulado não tem, o regulado tem informações que quem regula não tem, o investidor tem poucas informações em relação às instituições financeiras. Então essa assimetria de informações é que leva as regulações serem tortuosas e difíceis. A oferta de regulação não é feita ao mercado, é feita pelas forças públicas, então há sempre uma componente de erro, já que não tem oferta de mercado de regulação. O excesso de regulação trava também as instituições financeiras, que precisam ter lucratividade, mas por sua vez a ausência total de regulação leva ao que levou recentemente. Os bancos centrais têm que olhar isso com certo carinho, porque aí vem de novo o trade off da independência do Banco Central e accountability, ou seja, os bancos centrais têm que ter um poder maior de tomar decisões, mas também têm que ser responsáveis pelas decisões que estão tomando. Aí vamos olhar os chamados recursos parafiscais, os bancos fiscais criam recursos fiscais à medida que podem emitir moeda sem autorização dos seus congressos. É o caso hoje dos Estados Unidos, que talvez hoje tenha um Banco Central que é muito mais impostador e comprador em última instância. MC – Dr. Carlos Thadeu, desculpe interromper essa magnífica exposição sua, mas o meu receio é que esvazie depois a sua conferência sobre o mesmo tema. Como trata-se apenas de uma sessão de abertura, eu pediria ao senhor para, por gentileza, ser breve. CARLOS THADEU – Só para terminar, vai ser bastante interessante nós termos alternativas para o sistema financeiro, dentro de um quadro em que possa olhar ambas as partes, a instituição financeira e o Banco Central da maneira mais equilibrada possível. Era isso, obrigado. BELSITO – Eu queria lembrar que o Dr. Carlos Thadeu estará conosco na parte da tarde. Pela eloquência e pela vontade, será um debate realmente muito bom. Eu convido todos a permanecem à tarde, valerá a pena essa participação. Nós temos aqui experiência acumulada sobre o mercado financeiro conjugado com a área de comércio, então é uma contribuição que nós daremos à tarde. Eu encerro essa abertura lembrando que estamos lançando também a Cartilha do sistema Financeiro Cidadão, numa linguagem popular, tentando mostrar à população de um modo geral as preocupações com o sistema e é também uma grande colaboração que se dá ao consumidor. MC – O Dr. Alexandre Wehby, diretor de comunicação do Sinal, me informa que nós teremos amanhã, com a presença do ministro Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, o lançamento especial da edição número 30 da revista Por Sinal. Particularmente, como jornalista e homem de comunicação, eu fico muito feliz ao ver uma revista chegar ao número 30. Que Deus me dê forças e saúde para que eu possa comemorar junto com vocês a edição número 300. Então amanhã teremos o lançamento, com a presença do ministro Henrique Meirelles, da edição número 30 da revista Por Sinal, desde já estão todos convidados. Agora vamos completar a mesa e dar início ao primeiro debate, cujo tema será a visão de futuro para o sistema financeiro nacional. Eu convido para se juntar à mesa sua excelência o senhor senador Antonio Carlos Magalhães Junior. O senador Antonio Carlos Magalhães Junior nasceu em Salvador em 1952, é empresário, é professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia nas disciplinas de finanças empresariais e mercado financeiro de capitais e é senador da República pelo Democratas da Bahia. No Senado Federal é membro titular da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e da Comissão de Assuntos Econômicos, importantes comissões permanentes daquela Casa legislativa e foro onde se encontra em discussão justamente o novo modelo do sistema financeiro nacional para o país, que contemple inclusive a autonomia do Banco Central do Brasil. Na Comissão de Constituição e Justiça, o senador Antonio Carlos Magalhães Junior foi responsável pelo parecer consolidando as proposições em tramitação que tratavam, entre outros assuntos correlatos, do sistema financeiro nacional, da autonomia e organização do Banco Central, do regime de cobrança de tarifas e da regulamentação das empresas administradoras de cartão de crédito. Eu chamo também para compor a mesa o Dr. Isaac Sidney, que neste ato representa o presidente do Banco Central, o ministro Henrique Meirelles. O Dr. Isaac Sidney é procurador do Banco Central, ocupou as funções de chefe de gabinete do procurador geral e chefe de gabinete do presidente. Atualmente Isaac Sidney ocupa o cargo de secretário executivo do Banco Central e, como eu já disse, representa nesta solenidade o nosso presidente do Banco Central, ministro Henrique Meirelles. Passo a palavra agora ao presidente do Sinal para coordenar os trabalhos deste primeiro debate. Muito obrigado. VISÃO DE FUTURO PARA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL BELSITO – Nós iniciamos então as temáticas para discussão desse primeiro painel sobre o futuro do sistema financeiro, a visão que cada órgão tem. Eu vou colocar algumas breves sugestões, um cardápio leve para discussão. São temas que vão ser colocados inclusive nos painéis durante a tarde de hoje e amanhã e a visão que o sindicato tem do Banco Central e da necessidade de estrutura do sistema financeiro. O sistema financeiro no Brasil tem evoluído e se sofisticado nos últimos anos, isso é fato. Temos hoje um dos melhores sistemas bancários, com mil liquidações feitas simultaneamente, um sistema efetivo de controle inquestionavelmente com toda a segurança. Isso é fruto também do trabalho conjunto do Banco Central, nós nem discutimos, isso é reconhecido mundialmente. Embora tenha incorporado o que há de melhor nessa tecnologia, ele carece ainda dessa legislação. Nós entendemos que ele precisa de uma legislação atualizada e a regulamentação do artigo 192 viria suprir essa lacuna. Ele precisa ter maior estímulo à poupança interna e ampliação do nível de investimento na economia, que o atual modelo hoje não permite. Eu particularmente acho que há um direcionamento muito cômodo dos recursos bancários para alocação de títulos da dívida ou coisas bem cômodas que dariam na verdade uma tranquilidade para o sistema, que pode ser usado na produção em escala maior. Com esse direcionamento, o sistema financeiro não vem desenvolvendo o país, não vem atendendo ao que determina a regulamentação do artigo 192 ou ao pressuposto de que precisa ser regulamentado. Essa não regulamentação, no nosso entendimento, está prejudicando e retardando o desenvolvimento nacional. São expectativas não atendidas da sociedade alguns requisitos como o equilíbrio regional, o desenvolvimento sustentado, a inclusão bancária em escala, a responsabilidade sócio-ambiental e a defesa do consumidor bancário. É visão do sindicato que, em que pese a regulamentação agora da defesa do consumidor para de uma certa forma iniciar esse processo, ainda não está perfeita. Aqui eu cito um caso de denúncias feitas ao sindicato há pouco tempo, com a confederação inclusive da área da agricultura, de que dentro do próprio sistema financeiro de entidades públicas existe uma pena perpétua para quem não pode pagar seus compromissos. Eu não sei se isso é extensivo ao sistema, mas nos foi denunciado que o Banco do Brasil mantém a restrição de operar com pessoas que tenham feito acordo antes que essas pessoas ou entidades tenham cumprido todas as regras do contrato que foi negociado. Isso para mim é uma situação complicada, que inclusive tem que ser apurada, estaria se aplicando pena perpétua àqueles que estejam devendo ao sistema financeiro. O Sinal sempre se preocupou com a questão do sistema financeiro, enfatizando o seu aprimoramento e a sua estrutura ideal. Também sempre esteve presente nessas nossas discussões a importância do modelo da autoridade reguladora, ou seja, o Banco Central ideal. É fundamental que, além do sistema financeiro, nós tenhamos um regulador que seja realmente independente, que não se submeta ao mercado e não se submeta ao governo de plantão. Nós precisamos de uma entidade ou de órgão que seja realmente um órgão regulador de Estado, não de governo. O diagnóstico a que chegamos é de que temos um sistema financeiro muito oligopolizado, regido por uma lei ultrapassada, a 4.595, bem anterior à Constituição. Portanto, a necessidade dessa imediata regulamentação. Nós já perdemos 22 anos e a gente não vê movimentos de que ela será feita imediatamente. Por isso o que a gente pretende é levantar aqui essa demanda e a conscientização de que esse artigo 192 tem que ser regulamentado. Ele tem que ser regulamentado de modo a estabelecer maior competitividade, fomentando meios alternativos de crédito e a elevação de seu nível. O nível de concessão de crédito hoje no Brasil é baixíssimo. O fortalecimento da atividade de fiscalização, com a sua permanência no Banco Central, também se apresenta como uma necessidade de reafirmação nessa regulamentação, porque nós temos correntes que até defendem que a fiscalização do Banco Central seja retirada. Ao ser retirada, a gente terá problemas sérios, como teve a Venezuela, que não conseguiu a tempo conjugar as informações para debelar uma situação de crise. Também achamos que a fiscalização do Banco Central deve ser fortalecida, ela deve ter um caráter não só orientador, mas também punitivo. Portanto, um sistema financeiro, saudável, competitivo e adaptado à sociedade de consumo de massa, que promova o acesso amplo ao crédito com capilaridade ampla - essa é a visão do Sinal com relação ao sistema financeiro do futuro. A ampliação do Conselho Monetário é o ponto de partida para essa mudança. Quando se fala em futuro, nós achamos que a composição do Conselho Monetário é o ponto de partida para a discussão. Sobre o modelo ideal do BC tem se falado muito em independência ou autonomia, é uma discussão polêmica, nós sabemos. Eu queria só reafirmar que os valores da solidez do sistema financeiro hoje, fruto também do trabalho da fiscalização do banco e da estabilidade da moeda, já são valores incorporados pela sociedade e deles a sociedade não abre mão, nós já nos acostumamos com um sistema sólido após aquelas crises e também já nos acostumamos com a estabilidade da moeda. Defendemos assim um Banco Central autônomo com controle social para assegurar os valores acima, ou seja, essa estabilidade do sistema e também da moeda. Esses valores, como eu disse, são difíceis de ser mantidos, então para que haja a manutenção desses valores há necessidade realmente de se ter um Banco Central autônomo e com mais força. Nós queremos aqui lançar inclusive a discussão de que esse Banco Central não pode ser um Banco Central que não tenha a sua autonomia financeira ou orçamentária, é preciso que ele tenha receitas próprias. É discutível também a alocação de recursos no Banco Central, quando se fala que estaria concorrendo com habitação e saúde, mas nós achamos que é perfeitamente possível o Banco Central ter o seu orçamento próprio com receitas próprias advindas desse trabalho de fiscalização e regulação do mercado financeiro. A autonomia administrativa também é um ponto fundamental. No Banco Central temos tido muita dificuldade, em que pese ter sido minimizada atualmente, no treinamento de mão de obra e na reposição de quadros. Teremos nos próximos dois anos a saída de dois mil servidores do Banco Central, formados na escola Bacen, cuja reposição não será feita imediatamente. Isso com certeza nos preocupa. Então são essas as questões que nós trazemos, essas questões vão ser colocadas em debate nesta mesa e nós gostaríamos de ampliar essa discussão para amadurecer essas ideias. MC – Presidente, eu gostaria de fazer um registro e dar uma informação antes dos conferencistas prosseguirem. Eu queria registrar a presença entre nós do deputado David Zaia, deputado estadual, segundo vice-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Ele está prestigiando este nosso evento e muito nos honra a presença de sua excelência o deputado David Zaia. Também quero lembrar às senhoras e aos senhores que ao final deste bloco da manhã nós teremos a assinatura de um acordo de cooperação técnica entre o Ipea e o Sinal, aproveitando inclusive a presença do senador Antonio Carlos Magalhães aqui para dar mais ênfase e importância a esse acordo. Muito obrigado, presidente, a palavra é sua. BELSITO – Dando prosseguimento, eu colocaria em primeiro plano para fazer sua exposição e dar sua saudação o nosso colega representante da diretoria do Banco Central, Isaac Sidney. É uma deferência especial, porque sabemos que ele tem outros compromissos, mas ele veio nos prestigiar e eu gostaria de liberá-lo mais rapidamente. ISAAC SIDNEY – Bom dia a todos. Cumprimento os integrantes da mesa, na pessoa do presidente Sérgio Belsito. Trago também a saudação especial a todos em nome da diretoria do Banco Central e em nome da presidência. Não havia como deixar de estar aqui presente representando a direção do Banco Central, já que essa temática é totalmente afeta à atuação do Banco Central do Brasil. O mandato que a Constituição Federal conferiu ao Banco Central perpassa todos esses aspectos que aqui serão abordados, de sorte que o Banco Central está inteiramente envolvido com esse assunto, sua direção e seu corpo funcional, assim como os colegas que aqui estão representando entidades. Então é motivo de honra e satisfação estarmos aqui para saudar a iniciativa dessa audiência pública, como o Sérgio há pouco mencionou. O Banco Central está imbuído, portanto, dessa responsabilidade, desse dever, estará sempre presente participando de debates, na medida da disponibilidade da agenda de seus dirigentes. Essa é uma semana em que houve uma concentração maior da agenda dos diretores em Brasília, daí por que não se mostrou possível a presença do presidente e dos diretores na abertura, mas se mostrará possível já amanhã no encerramento. A política de governança é uma atuação do Banco Central de não ter participações e aparições públicas entre a decisão do Copom e a ata. De qualquer sorte, dada a relevância e a magnitude dessas temáticas que serão aqui discutidas, o presidente Henrique Meirelles abriu sua agenda e de fato estamos com toda a expectativa de que ele possa estar aqui amanhã encerrando o evento. Nessa primeira abordagem, eu apenas trago uma mensagem da diretoria, de que, segundo a experiência internacional, um projeto ou uma lei que regulamente a atuação de um Banco Central deve fortalecer os fundamentos da boa governança de um ente público, boa governança essa baseada na autonomia, na transparência, na responsabilização e na integridade do mandato legal conferido ao Banco Central. A experiência bem-sucedida hoje no mundo inteiro é de termos bancos centrais com autonomia técnica e autonomia operacional, tendo como contrapartida a responsabilização, a transparência e a prestação de contas. Nesse sentido faz-se necessário o estabelecimento de objetivos explícitos quanto à atuação do Banco Central, a atuação da autoridade monetária e também concessão de instrumentos necessários para o cumprimento desse mandato legal, de forma a que a autoridade monetária na sua atuação regulatória e fiscalizadora possa ter clareza e efetividade no seu papel. Essa seria então a palavra inicial que eu trago, agradecendo pelo convite e saudando mais uma vez a iniciativa desse evento. BELSITO – Obrigado, Dr. Isaac. Passamos a palavra imediatamente ao representante do Ipea, substituindo aqui o seu presidente, novamente o Milko, por favor. MILKO – Novamente agradeço à Fecomercio por hospedar as atividades aqui, uma demanda do Ipea como coorganizadora do evento, essa gentileza da Fecomercio foi muito oportuna, porque nós estamos com boas condições de trabalho. A minha equipe preparou uma apresentação em Power Point para facilitar um pouquinho a exposição dos pontos de vista do Ipea e a visão de futuro para o sistema financeiro, na realidade bastante concentrada nos dados do Banco Central, que precisamos reconhecer de excelente qualidade e que muito contribuem para pensarmos um sistema financeiro mais sólido e mais atuante, principalmente junto às populações mais simples e mais humildes. Antes de tudo, quero agradecer também ao Vitor Araujo da nossa inspetoria de macroeconomia, que foi o mentor da elaboração de todo esse material, junto com Flávia Teixeira, que trabalha comigo na assessoria da presidência. É um trabalho de equipe que mostra que o Ipea está profundamente empenhado em retomar toda uma discussão do sistema financeiro e torná-la tão forte do ponto de vista institucional quanto é hoje uma discussão de política monetária, política cambial e política fiscal. Apenas como sumário da exposição, vou mostrar as principais características da financeirização da economia, logo a seguir os imperativos do financiamento de longo prazo e por último vamos deixar alguns desafios e reflexões. Na semana retrasada nós tivemos um grande encontro, cujo anfitrião foi o Ipea, o encontro dos BRICs. Foi um encontro de think tanks em Brasília, de instituições como a Academia de Ciências da China, a Academia de Ciências da Rússia, o Departamento de Políticas Públicas da Índia, para refletir sobre a grande importância que esses países adquirem. Logo na sequência tivemos um grande evento na Secretaria de Assuntos Estratégicos, à qual pertence o Ipea, para pensar junto com a União Europeia e os Estados Unidos as grandes questões de longo prazo. A novidade no mundo são os países emergentes. Hoje, se nós tomarmos esse bloco que são os BRICs, que até muitos podem dizer extremamente heterogêneo, um bloco de países que mais competem do que cooperam, mas do ponto de vista de regulamentação de sistemas financeiros nacionais e internacionais possuem muitos interesses em comum e atuam de maneira bastante unificada no G-20. Não é um bloco qualquer. Somados esses países, são economias que superam a União Europeia e superam os Estados Unidos. Hoje praticamente 50% do crescimento do mundo se explica pelo crescimento desse bloco, a China com uma preponderância nada desprezível e a Rússia enfrentando várias dificuldades. Mas o que é importante dizer é que nós temos um mundo reconfigurado, os vários países que apresentaram milagres nos últimos anos, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, nós poderíamos dizer que eram quase protetorados dos Estados Unidos, como foi o caso da Alemanha e do Japão, que de uma certa maneira foram ocupados depois da Segunda Guerra Mundial e foram utilizados no momento da Guerra Fria e da corrida armamentista. Hoje os novos grandes players não aparecem na mesma circunstância e isso está modificando muito rapidamente o mundo. Basta dizer que na perspectiva de pouco anos, em pouco mais de uma década, é provável que os países ditos emergentes ou em desenvolvimento vão ter uma participação de capital próxima de 50% do capital do FMI. É óbvio que isso vai mudar bastante a maneira de agir do sistema financeiro internacional. Então queremos mostrar apenas alguns dados da capitalização mundial, as barras em vermelho mostram a capitalização dos países emergentes e as barras em amarelo a das economias desenvolvidas, apenas para mostrar que os emergentes partiram em 2005 de uma posição relativamente modesta e em 2009, a despeito da crise, estão já numa posição bastante importante. A participação dos países emergentes nos mercados já chegou, pouco antes da crise, a superar em termos do PIB a dos países mais desenvolvidos. Pouco antes da crise nós já vemos uma participação no mercado mais importante em países emergentes do que em países industrializados. Isso nunca foi muito importante nessas economias e houve essa modificação bastante fundamental nos últimos tempos, que muda muito o aspecto do sistema financeiro internacional. Apenas para mostrar o movimento de algumas bolsas, podemos verificar a Bolsa da Xangai como sendo bastante proeminente, as bolsas da Índia com grande volume de transações e a nossa Bovespa com participação de destaque em conjunto com a nossa BM&F, ou seja, a capitalização de mercado de países emergentes é cada vez mais importante. Embora ela se concentre no foco asiático, o Brasil se apresenta de maneira bastante importante, secundado pelo México. Comparado com o de países desenvolvidos, ainda é um nível de capitalização modesto, mas não um nível de capitalização desprezível, apenas para comparar algumas das bolsas mais importantes. Na capitalização de mercado Brasil versus países emergentes, vemos novamente a Índia e a China numa posição importante, mas o Brasil também numa posição de destaques. Ou seja, quando vamos lidar com sistemas financeiros avançados e sofisticados, temos que dizer que o Brasil hoje já é do ponto de vista de mercado uma bolsa sofisticada e que trabalha com níveis de capitalização bastante importantes. Essa realidade é talvez a primeira realidade que precisa ser considerada no momento em que se discute a reforma do sistema financeiro nacional. Nós estamos diante de uma nova realidade de mercados muito mais ativos, muito mais abrangentes, em que o sistema financeiro deixa de estar muito condicionado pelo Estado e pelas condicionantes envolvidas na dívida pública para atuar de maneira mais rápida e mais ativa junto a esses mercados. Novamente em relação a algumas bolsas, em termos de negociação, as diferenças com relação à China e países desenvolvidos são maiores, ou seja, o volume negociado no dia a dia ainda é um volume um pouco menor do que os níveis de capitalização apresentados, o que não significa que não esteja em evolução. Mas um sistema financeiro renovado pode fazer com que esse volume de negócios seja mais ativo e um volume de negócios mais ativo certamente torna a economia brasileira mais competitiva e mais atuante do ponto de vista dos serviços, o que nos parece muito importante sob esse prisma. Em termos de valores negociados, o total negociado em relação ao PIB ainda é um total mais modesto, mas francamente crescendo mais rápido e já adquirindo dimensões importantes. Algumas das bolsas mais comercializadas, apenas a título de exemplo, e a relação crédito-PIB no Brasil. Infelizmente, nós não conseguimos um bom dado comparativo internacional, o que nós estamos vendo é que o Brasil se aproxima em termos da relação crédito-PIB da marca de 50% e vem crescendo francamente desde 2002 nesse sentido, o que é um dado importante, recuperando o que havia aí antes de 1994 e inclusive ultrapassando. Ainda são marcas modestas, embora não tenhamos dados mais atualizados. Houve uma expansão de mais de 70% nos últimos dez anos e essa expansão é absolutamente fundamental para dar sustentação ao crescimento continuado da economia brasileira. Ou seja, nós precisamos reforçar esse movimento de crescimento e precisamos fazer com que esse movimento se aproxime de alguns dos países mais desenvolvidos e não por isso menos regulamentados. Se verificarmos os patamares da Alemanha ou dos Estados Unidos, são patamares muito mais elevados. Pode-se dizer que esses países estavam muito mais alavancados e estiveram muito mais sujeitos à crise, mas quando consideramos outros países que cresceram de maneira mais rápida nos últimos tempos, como é o caso dos Tigres Asiáticos, verificamos uma presença muito importante do crédito. Portanto, existe muito a fazer do ponto de vista do crédito, já que o crédito parece ter um papel fundamental para melhorar os níveis de formalização da economia brasileira. Crédito mais barato e mais abundante certamente é uma forma de formalização da economia e de melhoria das relações de trabalho. Agora vamos passar para como está configurado o sistema financeiro brasileiro. Se considerarmos as 20 maiores instituições, nós sempre tivemos um sistema bastante concentrado, o que não chega a ser uma grande novidade nem do ponto de vista mundial. Se partirmos de 2000, nós tínhamos um pouco mais de 78% dos 20 maiores bancos em termos de market share, hoje ultrapassar o patamar de 92%, ou seja, é um sistema bastante concentrado. Mesmo a abertura dos anos 90 não significou maiores níveis de competição. Isso no mínimo deve servir como um elemento de reflexão antes de propugnarmos ou de simplesmente repetirmos algumas políticas adotadas em outros países sem considerar o contexto brasileiro. Outro ponto bastante importante é que o total de bancos diminuiu bastante e teve uma diminuição expressiva em termos de bancos públicos, a diminuição também foi expressiva em termos dos bancos privados nacionais e os bancos privados nacionais com capital estrangeiro também uma redução em termos de número de instituições. Os bancos de capital estrangeiros foram os que mais cresceram na economia brasileira no período mais recente, embora também já tenha mostrado uma inflexão. Ou seja, a economia vem mostrando um certo movimento de concentração. Não vou fazer um julgamento a priori, mas precisamos refletir sobre esse ponto, se essa concentração ajuda ou é lesiva ao interesse brasileiro, eu acho que é um ponto importante para as nossas reflexões. A distribuição de depósitos bancários do ponto de vista regional. Uma das questões que se pensou ao fazer uma abertura maior do mercado ao longo da década de 90, uma década vazia para o desenvolvimento econômico, era de que essa abertura estimularia a desconcentração regional no Brasil. Claramente, em dados que se alongam por pouco mais de uma década, nós verificamos que isso não é verdade. Se somarmos a região sudeste à região sul, a concentração é avassaladora, as outras regiões praticamente não existem. Podemos dizer que o norte e centrooeste são regiões pouco populosas, mas isso não é verdade para o nordeste. Então nós precisamos pensar em novas formas de atendimento bancário, de inclusão bancária para essas populações. Eu não tenho um tempo muito vasto aqui, mas acho que em outros eventos com o desdobramento da parceria do Ipea com o Sinal poderemos convidar colegas de outros ministérios e poderemos ouvir histórias verdadeiramente dramáticas, principalmente em termos de pagamento de Bolsa Família e esse tipo de situação, mas vamos seguir adiante. A relação média de agências bancárias por grandes regiões, a região norte tem a média de população por agência elevada, no nordeste um dado bastante preocupante e dados muito menores no sudeste e no sul, mas se formos comparar com outros países o número de habitantes por agência ainda é bastante grande. Podemos dizer com uma certa propriedade que hoje as tecnologias de automação bancária e de internet podem substituir o atendimento em agência, mas nós temos que matizar, já que os nossos níveis de escolaridade, além de ainda permanecerem relativamente baixos, são de má qualidade. Então o que nós verificamos muitas vezes é que essa população precisa de uma assistência. Em que pese que o correspondente bancário exerça uma importante função e que deve ser elogiado ao máximo, o correspondente bancário não pode substituir o atendimento bancário especializado. Apenas para caricaturar um pouco a situação, nós vemos que o padeiro faz as funções do correspondente bancário em algumas cidades do país. É elogiável que o faça, mas ele mistura a contabilidade da padaria com a contabilidade bancária. Enfim, nós temos situações verdadeiramente desesperadoras desse ponto de vista e é preciso que o poder público reaja, porque o Ipea enxerga a inclusão bancária e o serviço bancário como um atendimento de política pública da mesma importância que o saneamento ou serviços de telecomunicações. É uma necessidade pública e precisamos pensar em conjunto nesse ponto de vista. Apenas para trazer uma comparação entre Estados, em termos de distribuição de agências, temos a verificar uma enorme concentração nas 27 capitais do país e 478 municípios ainda sem agência bancária no país. Precisamos refletir sobre a questão. É claro que podemos pensar em substitutos, mas temos que considerar as carências do nosso país, isso é um drama inclusive para os programas sociais do governo. Evoluiu bastante. Em 1980 era uma agência a cada 653 quilômetros quadrados, esse número se reduz a 425, após ter subido um pouco até os anos 2000 e vem diminuindo novamente, mas ainda nos parece um desafio para levar a inclusão bancária a essa população. A distribuição de agências por banco e origem do capital. Novamente os bancos públicos representam ainda 40% das agências do país, embora representem 9% das instituições. Ainda representam um papel importante e representavam um papel ainda mais importante quando havia os bancos estaduais. Os bancos privados cobrem uma parte ainda importante, mas certamente muito concentrados nas capitais, os nacionais com participação estrangeira também e os bancos estrangeiros acabaram se limitando a certos nichos, que um professor meu brincava dizendo que eram boutiques financeiras que apresentam produtos extremamente sofisticados, mas destinados a um público muito restrito. É importante numa economia que se sofistica, principalmente num mercado de capitais como o nosso, mas de qualquer maneira insuficiente para atender as grandes necessidades existentes ao longo do território nacional. Agora nós estamos fazendo um esforço no Ipea para transformar o Ipea Geodata, que talvez seja a maior referência dos indicadores do Brasil, o Ipea Geodata vai procurar mostrar esses dados por municípios, onde existem verdadeiros desertos do ponto de vista do atendimento. Pretendemos apresentar esse dado bancário já no nosso próximo projeto anuários da presença do Estado no Brasil e como ela se dá em municípios em relação à população. Em mais dois ou três meses teremos dados bastante precisos desse ponto de vista do número de habitantes por agência e número de agências por 100 mil habitantes, numa configuração de indicador bastante clássica e bastante semelhante aos comparativos internacionais. Como eu disse, em dois ou três meses nós vamos estar apresentando isso por municípios ou pelo menos por mesorregiões. Esse instrumento geográfico é muito importante para que o Executivo e o Congresso Nacional possam estabelecer políticas mais adequadas para o atendimento das nossas populações que precisam muito do serviço bancário. Apenas a guisa de conclusão, o acesso bancário no Brasil está em condições boa por 100 mil habitantes em relação a alguns países, mas em condições bastante inferiores a alguns países desenvolvidos, ou seja, o desenvolvimento requer maior presença bancária. Eu acho que esse dado é bastante contundente desse ponto de vista. Em termos de desafios e reflexões, eu acho que nesse momento em que estamos a pensar a reforma do sistema financeiro nós temos que pensar com muita clareza também como é vai ser a reforma do sistema financeiro internacional. Precisamos atuar de maneira mais decidida. Hoje vários dos regulamentos existentes do ponto de vista do sistema financeiro internacional não são próprios para o interesse nacional do Brasil, algumas coisas podem e devem ser modificadas. Alguns regulamentos inibem uma determinada atuação bancária, como não inibiram em outros países que promoveram seu processo de desenvolvimento. Nós não estamos dizendo que não precisa haver melhor regulação bancária ou que não é preciso uma mudança do sistema financeiro nacional, eu acho que o Brasil tem tido uma presença bastante importante desse ponto de vista. Mas precisamos ter uma discussão mais sóbria, mais tranquila e ainda mais presente do que a atual na reforma do sistema financeiro internacional. A segunda questão é o desafio de fazer com que os bancos tenham uma presença maior no crédito, seja para a pessoa física, seja para a pessoa jurídica, bem como reduzir spread. Eu acho que uma série de mecanismos pode e deve ser pensada para atender melhor a nossa população. É importante repetir que o desenvolvimento sustentado em níveis elevados, como vimos na China e na Índia nas últimas décadas e que desejamos retomar para o Brasil, não será possível sem um sistema de crédito competitivo e bem capilarizado. Acho que essas questões são bastante importantes e o papel do Banco Central é absolutamente fundamental para ultrapassarmos essa barreira. E por último entender que os bancos prestam um enorme serviço, é um negócio bem rentável e consolidado no Brasil, mas ainda está a dever um pouco em termos de atendimento para as populações mais pobres e mais humildes. Quando nós conseguirmos atingir esse interior profundo do Brasil (o Ipea também está ajudando a montar um evento sobre bancos comunitários), poderemos ver profundas revoluções nesse país, que são importantes inclusive do ponto de vista de uma ocupação racional do território brasileiro e de promover o progresso dessas comunidades. Evita inclusive esses níveis fortes de migração que em certas áreas ainda existem no Brasil, que venha a aumentar o problema de metropolização da pobreza e das dificuldades enfrentadas pelas políticas públicas. Os temas são muitos, os expositores são da mais alta qualidade e eu acho que teremos condições de ao longo dos debates retomar vários desses temas. Agradeço pela atenção. BELSITO – Passo a palavra agora ao excelentíssimo senhor senador da República Antonio Carlos Magalhães Junior, que vai falar sobre o encaminhamento no Congresso. Gostaria de ressaltar aqui a sensibilidade política que nós encontramos no senador, mostrando claramente o desejo de participação. A gente tinha sempre uma dificuldade no Congresso, já que quando se fala em regulamentação dos artigos 09 e 10 são propostos sempre projetos minimalistas, sempre por ocasião da mudança de governo e nós encontramos dessa vez uma proposta mais avançada. Não é a proposta que nós queremos, mas ela já avança um pouco mais. Eu acredito que, como nós encontramos as portas abertas lá no gabinete do senador, ainda tenhamos algumas intersecções no sentido de atuar e fazer algo mais. Então eu queria só ressaltar a importância dada ao tema pelo senador na consolidação dos seus projetos. Por favor, senador. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES JUNIOR – Bom dia a todos. Eu quero saudar o presidente do Sinal, Sérgio Belsito, e os representantes da Fecomercio, do Ipea e do Banco Central. Na verdade com o projeto que nós fomos responsáveis na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, conseguimos aproválo na primeira comissão e ele agora foi para a Comissão de Assuntos Econômicos, a minha intenção era dar o ponto de partida para consolidar os projetos existentes e agora na Comissão de Assuntos Econômico ele ser robustecido, já que o momento é próprio para que a gente debata na Comissão de Assuntos Econômicos. Mas a minha proposta maior foi não deixar morrer o projeto. Então eu fiz a consolidação, fiz um substitutivo, juntei seis projetos num só e esse projeto passou a ser o ponto de partida para que nós possamos a partir de agora enriquecer esse projeto, modificá-lo. Não há nenhuma razão para não modificá-lo com a participação da sociedade nos seus diversos segmentos. Inclusive o próprio Sinal pode ter uma participação ativa. O relator do projeto na Comissão de Assuntos Econômicos é o senador Francisco Dornelles, que também é favorável ao fortalecimento do sistema, é favorável à autonomia do Banco Central. Portanto, nós temos também um relator importante e temos a oportunidade de debater de forma mais profunda esse projeto. A minha preocupação não foi de dar o projeto como pronto e acabado, simplesmente sistematizar o emaranhado de legislação que tinha lá rolando na Comissão de Constituição e Justiça e dar um formato inicial para que nós possamos então a partir de agora discutir esse assunto com profundidade. Portanto, exatamente neste momento nós temos a oportunidade de fazer um grande benefício ao país regulamentando o artigo 192, formulando a legislação do sistema financeiro e trazendo a autonomia do Banco Central. Por que um Banco Central autônomo? Dentre os fundamentos teóricos da autonomia de um Banco Central, o mais influente aponta a existência de um viés inflacionário decorrente de uma falta de credibilidade da política monetária, que surge da existência de vários objetivos a nortearem a ação de um Banco Central, alguns dos quais incompatíveis com o controle da inflação. No momento em que outros interesses podem chegar ao Banco Central, interesses inclusive políticos, nós obviamente distorceremos os objetivos de política monetária. Portanto, é preciso impermeabilizar o Banco Central e evitar que essas injunções de várias naturezas, inclusive políticas, venham a prejudicar o controle da inflação. Por que um Banco Central autônomo, novamente? A solução adotada por vários países de um Banco Central independente caracteriza essa independência por mandato fixo dos seus dirigentes e por mecanismos de prestação de contas à sociedade. Tem gerado bons resultados ao despolitizar a atuação do Banco Central e alongar os horizontes para a condução da política monetária, ambos fatores de redução de incertezas na economia. Vocês lembram da época do ex-presidente Armínio Fraga, que inclusive participou dos debates lá no Senado Federal. Nós fizemos uma discussão envolvendo o presidente Henrique Meirelles, o ex-presidente Armínio Fraga, o expresidente Loyola, o ex-ministro Mailson, fizemos debates extremamente importantes que contribuíram para o projeto e agora temos novas oportunidades de fazer. Por que um Banco Central autônomo? Perseguir a estabilidade de preços e tomar as decisões necessárias no justo momento em que são exigidas podem ser muitas vezes medidas duras ou pouco populares. Pressupõem um arcabouço legal que garanta restrições a demissões de dirigentes do Banco Central, mandatos fixos e escalonados. Há necessidade da reserva legal. Por que a autonomia informal não serve? Porque autonomia tutelada não é autonomia. Não é autônomo um Banco Central cuja liberdade de ação é apenas concedida, mesmo que amplamente, pelo Poder Executivo. É o caso que nós temos hoje, isso pode ser retirado a qualquer momento, podia ser cassado a qualquer tempo, sob qualquer pretexto ou circunstância política. Tampouco é integralmente autônomo um banco que dispõe sobre instrumentos, mas não sobre seus objetivos. O banco tem os instrumentos de política monetária, mas se ele não puder fixar os objetivos, isso fará com que as influências do governo acabem atingindo esses objetivos. Portanto, não é usar livremente os instrumentos, é fixar os objetivos de política monetária. Não é autonomia parcial, como se isso fosse possível, o que nós temos hoje é autonomia concedida informalmente, que mantém pairando uma indesejável insegurança jurídica sobre a economia de um país, sutil nos momentos de bonança, mas que pode ser fatal em situações de crise, quando se espera agilidade, independência e descortínio da autoridade monetária. Eu fui relator na Comissão de Constituição e Justiça de projetos que regulamentavam o artigo 192 e, como eu disse a vocês, eu sistematizei esses projetos e apresentei um substitutivo, que foi aprovado por um acordo de lideranças. Inclusive nós convencemos as lideranças do governo a aprová-lo como ponto de partida, não como um projeto acabado. Exatamente essa foi a justificativa que nós da oposição demos, porque os projetos iniciais eram de autoria do senador Arthur Virgílio, também da oposição. Então nós mostramos ao governo que isso é o ponto de partida para a discussão e não um projeto acabado. Com isso fizemos um acordo de liderança, conseguimos aprovar o projeto na comissão e passamos para a outra comissão, que é a Comissão de Assuntos Econômicos. Então vamos fazer algumas considerações sobre o que foi aprovado, para que vocês tenham uma ideia de como está esse projeto e como ele pode ser eventualmente modificado. A ideia era criar um Conselho Financeiro Nacional, só que a iniciativa de criação do conselho não pode ser do Legislativo, tem que ser do Executivo. O que é que eu fiz? Eu simplesmente nesse momento mudei o nome do conselho financeiro, não alterei a composição, porque não pode ser de iniciativa do Poder Legislativo. O Poder Executivo, sim, poderia tomar a iniciativa de modificar a estrutura do atual Conselho Monetário, que seria o Conselho Financeiro. Então foram mantidos os três membros com mandato de quatro anos e também a comissão de recursos do sistema financeiro. Outra colocação que nós acolhemos do senador Arthur Virgílio foi colocar como membros não votantes o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e o presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Eles não têm direito a voto, participarão das reuniões. Também cria uma parte de fiscalização a ser paga pelas instituições do sistema financeiro ao Banco Central, com o objetivo de custear as atividades de fiscalização e supervisão do sistema financeiro. É uma das reivindicações que o presidente colocou aqui com justa razão. São mantidas as atuais funções do Banco Central, instituição responsável pela formulação e execução das políticas monetária e cambial e pela fiscalização das instituições financeiras. O projeto define como objetivo principal do Banco Central a defesa da estabilidade de preços. O projeto original previa a redução do número de membros da diretoria, de nove para seis. Mantivemos a composição atual. Criamos sistemática de fiscalização pelo Congresso Nacional sobre a implementação e execução das políticas monetária e cambial, o que proporcionará maior transparência e legitimidade à condução dessas políticas. Justiça seja feita, desde a gestão Armínio Fraga há uma interação maior do Banco Central com o Congresso, mas isso também está informal e o que nós queremos é formalizar essa relação. Acreditamos firmemente que a autonomia do Banco Central fortalece a instituições e as decisões que precisar tomar para alcançar metas de inflação com menor sacrifício em termos de taxa de juros. O projeto propõe que os diretores do banco sejam nomeados pelo presidente da República, com mandatos renováveis de quatro anos, deixando seus mandatos apenas por vontade própria ou iniciativa do presidente da República, devidamente justificada e aprovada pelo Senado. Ou seja, atualmente nós temos a aprovação da nomeação, agora seria aprovação da nomeação e aprovação da demissão também. Se houvesse um motivo político ou uma situação que não fosse justificável, o Congresso poderia recusar a demissão. Para reforçar a autonomia, os mandatos do presidente da República e da diretoria do Banco Central não devem ser coincidentes. Por isso propusemos que o primeiro mandato da diretoria do Banco Central termine durante o andamento da legislatura federal seguinte. Propomos um limite de participação acionária de membros da diretoria do Banco Central e seus parentes até segundo grau em instituições financeiras até em 1% do valor do capital da instituição, para evitar vinculações maiores da direção do Banco Central com participações em instituições financeiras. Sobre instituições financeiras, são privativas das instituições financeiras as atividades de intermediação dos mercados financeiros. Isso já existe, mas é só para reforçar e aí entram as administradoras de cartão de crédito, porque na verdade elas são instituições financeiras. Então não há sentido em que elas não sejam controladas pelo Banco Central. Portanto, a novidade aí é exatamente a inserção das administradoras de cartão de crédito. A concessão de licença para instituições financeiras que trabalhem exclusivamente na oferta de empréstimos e não captem recursos no país passará a ser feita por processo simplificado. Instituições financeiras somente poderão realizar operações com recursos de natureza fiscal e orçamentária após comprovado o efetivo ingresso dos recursos fiscais alocados. Diferentemente do projeto original que determinava que a disponibilidade de caixa do poder federal fosse depositada em qualquer instituição financeira federal, mantivemos a norma de que os referidos recursos continuem sendo depositados no Banco Central. Também fizemos alterações no sistema de garantia de depósitos e aplicações, criando o fundo de garantia de depósitos em substituição ao fundo garantidor de crédito. Para avançar em que? Possibilidade de diferenciação da contribuição para o fundo de acordo com os riscos incorridos pelas instituições financeiras, possibilidade do fundo financiar reestruturações societárias de instituições financeiras insolventes, de forma que o custo desse tipo de intervenção deixa de ser do Banco Central. Para melhorar o projeto, retiramos a menção ao valor máximo garantido pelo depositante, foi delegado ao conselho financeiro. Tornamos obrigatória a consideração dos riscos na definição de contribuição do fundo e eliminamos referência à liquidação judicial, de modo que as instituições financeiras continuem sob o regime da liquidação extrajudicial. Penalidades aplicáveis ao sistema. Estamos fazendo a autonomia do Banco Central e reformulação da Lei 4.595, aí chega nas penalidades. O projeto avança em relação à 4.595, pois relaciona o valor máximo da multa ao valor das operações irregulares. O projeto original definia o prazo de prescrição das infrações em oito anos, optamos pelo prazo prescricional de dez anos definido pelo Código Civil. O projeto estabelecia dez anos para inabilitação para o cargo de administrador, optamos por manter a possibilidade de inabilitação permanente. O projeto suspendia as penas de advertência e multa a partir da apresentação do recurso contra decisão do Banco Central, decidimos eliminar essa suspensão, pois ela criava incentivos à apresentação de recurso como forma de protelar a imposição das penas. Disposições gerais. Define o prazo de cinco anos para o ajuste das instituições financeiras públicas à vedação de realização de operações de crédito com pessoas a ela ligadas. Prevê a necessidade de decreto do presidente da República transferindo para outros órgãos as atuais funções do Banco Central, porque nós não podemos fazer isso, não é da nossa competência, então deixa claro que é do presidente da República. As normas ditadas pelo Conselho Monetário continuam válidas, desde que não entrem em contradição com as normas e disposições legais. O Banco Central deverá comunicar às autoridades competentes qualquer ato lesivo ao patrimônio de instituição financeira pública e a prática de qualquer ato irregular envolvendo recursos públicos. Revoga a Lei 4.595, já que passa a ser livre de plano do sistema financeiro, e dá 180 dias da promulgação da lei para as adaptações e ajustes que devam ser feitos em obediência ao que está previsto no projeto. Considerações finais. A aparente autonomia experimentada nos últimos anos pelo Banco Central é resultado da competência de seus dirigentes. Quero ressaltar que tanto na gestão Armínio como na gestão Henrique Meirelles realmente nós tivemos atuação exemplar do Banco Central, utilizando de forma correta e precisa a autonomia informal que lhe foi dada. Realmente é de elogiar a gestão Armínio, onde nós tivemos a gestão das metas de inflação, tivemos a instalação do Copom e depois com Henrique Meirelles tivemos a manutenção dessa política com rigoroso controle da política monetária e também atuação do Banco Central na crise. Isso nos dá a esperança de que possamos consolidar isso, transformando essa autonomia informal em autonomia formal. Ainda há muito a percorrer para que se torne realidade a autonomia do Banco Central obtida por intermédio de uma garantia legal. A proposta de autonomia, como eu disse, foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e está agora sob os cuidados do senador Francisco Dornelles na Comissão de Assuntos Econômicos. É o momento de nós trabalharmos para aperfeiçoar a proposta. Se eu tentasse ouvir todo mundo, essa proposta ia acabar levando mais um ano e ia morrer. Então eu fiz um esforço político de consolidar o que já tinha sido feito, com as melhorias que nós pudemos colocar e que não seriam tão polêmicas para aprovação. Agora deixamos que na Comissão de Assuntos Econômicos esse assunto seja debatido amplamente e há espaço para isso. Portanto, eu conclamo a todos vocês que participem dessa discussão. Como sou membro da comissão, estarei participando também dela. Acho que agora chegou a oportunidade de nós efetivamente regulamentarmos o artigo 192 e darmos autonomia ao Banco Central. Dotar o Banco Central de autonomia garantida por lei deve ser o objetivo a ser alcançado por qualquer país moderno que pretenda ser competitivo e sólido economicamente. Obrigado. BELSITO – Obrigado, senador. Eu pergunto se há algum questionamento ou alguma pergunta sobre as apresentações. Então passaremos a fazer comentários. Você quer comentar? Eu sei que você gosta de comentar. (risos) CARLOS THADEU – Vamos tentar fazer alguns comentários rápidos. Senador, no seu projeto realmente o senhor consegue agregar muitas coisas e é realmente o início de um processo. Todo processo tem um início e eu acho que esse início é muito importante. Eu parto do pressuposto de que o Banco Central tem que ter autonomia formal legal, porque inclusive num processo de transição política como nós estamos vivendo hoje, se ele tivesse essa independência formal, ficaria muito mais fácil o Banco Central conduzir a política monetária sem ruído, sem incertezas, porque as regras do jogo iriam continuar no próximo governo, quem quer que fosse o presidente. À medida que as regras do jogo não mudam, não há expectativa de mudança porque mudou o presidente da República, isso dá mais confiabilidade ao sistema e diminui o chamado prêmio de risco da economia. É por isso que as transições políticas são mais saudáveis e fazem menos ruídos aonde os bancos centrais têm autonomia, porque eles podem tomar uma série de decisões sem estar sob aquela premência política. Evidentemente, autonomia para mim não é só dar mandato à diretoria do Banco Central, envolve outras coisas, como falou o senador muito bem. Um dos pontos que eu acho importante é que o sistema financeiro não seja um fim em si mesmo, é um meio para se desenvolver a economia brasileira. Então o sistema tem que estar forte, saudável, robusto para que ele empreste bastante e tenha regras simples e transparentes. Nós não podemos ter regras complexas, senão aumenta o custo do sistema financeiro substancialmente. Como também temos que ter muito cuidado nessa parte maior de regulação, porque sempre tem arbitragens regulatórias que o mercado financeiro faz, é natural que ele faça isso. Ele vive de arbitragem, o que é natural. Por exemplo, eu toquei aqui no problema da alavancagem, o nosso sistema financeiro é pouco alavancado vis-à-vis o resto do mundo, não só porque as regras do Banco Central aqui são mais prudenciais como também as alternativas para o sistema financeiro aqui são enormes. Eles podem comprar títulos públicos, são obrigados a comprar às vezes porque não tem alternativa e tem uma remuneração excelente, então não precisam estar emprestando para o setor real da economia. O dinheiro não queima nas mãos dos bancos, eu costumo dizer isso. Quando ele queima, tem que sair emprestando rápido. Como ele não queima, tem um tomador de última instância ou tem um doador de última instância que paga uma taxa de retorno muito elevada, isso gera uma distorção nos mercados financeiros, que já vem de um longo tempo, vem desde a criação do mercado aberto e foi acentuada na medida em que o Banco Central começou a ser o único que recebia e recebe recursos do Tesouro. O Tesouro é o maior arrecadador e maior gastador da economia, o maior agente econômico. Pega o mercado de reservas bancárias, que tem que estar equilibrado diariamente, quem poupa precisa mandar dinheiro para quem gastar, então esse equilíbrio é muito importante. Por exemplo, um depósito compulsório cria um desequilíbrio no mercado de reservas bancárias, tira o dinheiro do sistema e fica guardado no Banco Central. Por isso os bancos centrais hoje em todo o mundo não utilizam mais depósitos compulsórios para ter o mercado de reserva bancária funcionando normalmente e os bancos centrais não façam intervenções contínuas em seus mercados. Fazem às vezes para dar sinais, mas não são intervenções constantes. Hoje o Banco Central americano é um grande interventor do mercado porque precisa colocar recursos no mercado. Inclusive outro ponto muito importante que eu queria tocar aqui é que houve uma mudança na criação do FED, em 91 houve um amendment permitindo que o Banco Central americano desse liquidez em momentos não usuais ao sistema financeiro, aceitando como garantia não só títulos públicos como outros títulos. Isso é muito importante do ponto de vista de crise de liquidez, como já vimos no ano passado, tivemos uma crise enorme. Se o Banco Central americano não tivesse esse poder, provavelmente teríamos hoje a economia americana caindo em recessão muito mais forte do que teve, porque ele teve esse poder de dar recursos ao mercado, pegar garantia de títulos privados. Isso é a verdadeira independência do Banco Central. É óbvio que ele vai ter que mostrar porque fez isso, como é que ele aceitou tal título como lastro. Evidentemente, na prática é muito difícil você saber, ao dar recursos, se aquele crédito é bom ou ruim, porque é difícil mensurar hoje. Por isso uma das soluções do sistema financeiro é ter uma dosagem de capital maior, porque não consegue precificar o risco com precisão. Por exemplo, um banco brasileiro hoje que empresta para um banco russo, como é que vai saber o risco desse banco russo, qual o mutuário dele? Se esse banco quebrar, atrapalha o banco brasileiro. A chamada globalização interferiu muito nessa ideia de risco do sistema bancário. Voltando ao sistema brasileiro, eu acho que um dos passos importantes seria nós termos um mercado de reservas bancárias mais fácil e um para isso um dos pontos muito importantes é que o Tesouro tenha contas nos bancos comerciais. Apesar de a Constituição de 88 no artigo 164 ter tido que o Banco Central é o único que vai receber dinheiro do Tesouro Nacional, por sua vez ela colocou que o Banco Central não pode financiar o Tesouro, nem direta e nem indiretamente. Mas o que acontece? À medida que o Banco Central deposita o final dos recursos do Tesouro, falta reserva no sistema, porque esse dinheiro sai do sistema e vai para os cofres do Banco Central, o Banco Central vai lá e dá dinheiro, é o chamado over sold. Então ele está financiando o mercado, indiretamente está financiando, porque não tem alternativa, senão o mercado quebra. Hoje no Brasil os mercados de reservas bancárias são muito dependentes das intervenções do Banco Central por causa dessas anomalias, compulsório muito alto, conta única no Tesouro Nacional. À medida que essas anomalias diminuam, os bancos vão ficar com o dinheiro nos seus cofres, o dinheiro vai ficar financiando e não necessariamente vai ficar depositado no Banco Central, o que vai diminuir as intervenções do Banco Central no mercado aberto e consequentemente o Tesouro será o grande balizador das taxas e dos títulos públicos, não somente o Banco Central ao fixar a taxa Selic, a meta. Hoje nós temos realmente essa grande dificuldade de ter o dinheiro de curto prazo, que vale praticamente o mesmo que o dinheiro de médio e longo prazo, devido à indexação desses títulos à taxa Selic. Isso é muito importante para os bancos voltarem a financiar o setor privado no Brasil. Fora isso, senador, eu acho que o seu projeto está muito bom e vale a pena ampliar realmente a discussão sobre isso. Por isso estamos aqui hoje e espero que o seminário continue com mais debates. ANTONIO CARLOS – Eu agradeço ao Dr. Carlos Thadeu a menção ao nosso trabalho. Obrigado. BELSITO – Eu queria só lembrar a experiência do Dr. Carlos Thadeu na área de política monetária, inclusive da dívida pública, colega nosso que tem ampla experiência e comprovada aplicação de tese inclusive. Eu faria uma pergunta ao senador sobre uma dúvida que nós tivemos. O projeto contempla uma das nossas questões, que seria a criação da taxa de fiscalização. Sabemos que existe uma rejeição muito grande do sistema financeiro a essa taxa de fiscalização, mas na nossa opinião ela tem que ser cobrada, assim como a própria CVM já cobra. Seria sobre serviços prestados pelo Banco Central e asseguraria de uma certa forma a receita que o banco necessita para tocar suas atividades. Mas eu gostaria de saber se no projeto a intenção era somente fazer a cobrança da taxa ou transformar realmente o Banco Central e dar ao Banco Central uma autonomia orçamentária. ANTONIO CARLOS – Na verdade seria o embrião dessa autonomia, porque receita é o passo primeiro para autonomia orçamentária, nós podemos evoluir para a autonomia orçamentária. Então é o primeiro passo, receita própria é o primeiro passo para autonomia orçamentária. Acho que podemos evoluir nessa linha. Como eu disse, ainda não tive condição de fazer tudo, inclusive tinha sugestões do próprio sistema financeiro que eu acabei preferindo não colocar nesse momento e deixar o debate para a outra comissão, senão talvez não conseguíssemos aprovar o projeto na primeira e então ele morreria sem dúvida, porque morre quando passa de legislatura e não é aprovado em nenhuma comissão. Então eu tive receio de que, como tinha só um ano, se nós continuássemos com esse projeto sem aprovar na Comissão de Constituição e Justiça, ele poderia morrer. A minha proposição foi fazer uma negociação política rápida para tentar aprová-lo, como conseguimos, e agora na Comissão de Assuntos Econômicos temos todo o tempo do mundo, ele agora não morre mais. Ele foi aprovado na primeira comissão, pode ficar tramitando o tempo que precisar. Agora teremos tempo à vontade para discutir e eu acho que está no momento de a gente trabalhar junto ao senador Dornelles, que é de fácil acesso. Eu me comprometo inclusive a ser um elo de ligação entre o Sinal e o senador Francisco Dornelles, nós podemos levar sugestões para ele e ele pode incorporar essas sugestões ao projeto. BELSITO – Obrigado. Algumas perguntas feitas pelos presentes serão remetidas para que os palestrantes respondam, mas temos ainda algum tempo e eu faço a primeira pergunta ao representante do Ipea e também ao senador Antonio Carlos Magalhães Junior. O princípio da justiça repousa sobre a necessidade de se tratar diferentemente os desiguais. Nesse sentido, a democratização dos serviços financeiros não está a requerer um marco normativo específico para as microfinanças? Essa pergunta vem do nosso colega Idalvo Toscano e é endereçada ao representante do Ipea e ao senador. MILKO – Eu concordo, acho que precisa não só de um marco normativo específico como possivelmente de políticas públicas específicas. O marco normativo seria talvez criar mecanismos de estímulo para a instalação de serviços bancários. Serviços bancários não precisa ser necessariamente agências, acho que nós temos que ser realistas, estamos numa era de telecomunicações avançadas e no Ipea nós estamos discutindo uma ideia de um agente de microfinanças ou de microsseguros em muitas localidades do país. O que seria isso? Seria emprestar um pouco da experiência que nós tivemos com os agentes comunitários de saúde, formar alguém da comunidade em questões básicas de microfinanças, microsseguros e técnica bancária, para que essas pessoas, dentro das suas comunidades, saibam oportunidades de negócios e transmiti-las aos grandes centros. Todos os grandes bancos poderiam participar disso de maneira comum. O desenho da proposta ainda não está totalmente feito, mas seria obter instrumentos de crédito, seguros ou mecanismos de depósitos, coisas do tipo, promovendo a concorrência, ou seja, esse agente atua procurando condições junto a todos os bancos e os bancos à distância podem competir oferecendo as melhores condições possíveis para essas pessoas nessas comunidades. Nós precisamos da inovação, precisamos usar melhor a tecnologia a nosso favor e precisamos de um marco regulatório também, ou seja, que uma parte das reservas que existem hoje na economia e no sistema bancário possa ser utilizada para promover o desenvolvimento principalmente dessas pequenas localidades ou de áreas e setores que sejam de interesse estratégico para o Brasil. Nós fizemos isso no passado, cometemos erros, mas também fomos bem-sucedidos em várias áreas. Se temos hoje algumas das empresas campeãs mundiais, elas são campeãs porque o Estado brasileiro e a sociedade brasileira tiveram a visão de dar o estímulo necessário no tempo certo. ANTONIO CARLOS – Eu concordo com a colocação do companheiro e também com a posição do representante do Ipea. Acho que há necessidade de um marco regulatório específico, porque a atividade de microfinanças é específica. A legislação do sistema financeiro não vai conseguir enxergar com profundidade o microempresário ou as regiões mais longínquas do país, então é preciso realmente um marco regulatório que contemple incentivos e dê abertura para que os recursos cheguem aos menores e aos que estão mais distantes. Eu concordo com ambas as posições. BELSITO – Obrigado. Pergunta da Alzira Morais ao senador. O Conselho Monetário Nacional possui composição enxuta, na qual participam os principais das políticas macroeconômicas. Essa composição que permite a coordenação das políticas monetária e fiscal seria mais adequada que uma composição mais ampla, na qual a diversidade de interesses pode prejudicar o processo decisório, principalmente em situação de crise sistêmica? ANTONIO CARLOS – Eu tenho uma posição que pode até ser antagônica. Sou favorável à manutenção do atual sistema, a participação do ministro da Fazenda, do ministro do Planejamento e do presidente do Banco Central. No momento em que se abre demais, como foi no passado a composição do Conselho, o que acontece? Torna-se um palanque, muita gente vai lá, fala, discute e não vota, porque no final das contas o governo tem maioria e aprova exatamente aquilo que é do interesse do governo. Então eu acho que ele perde a característica técnica e vai para uma característica mais política. Na minha opinião, não seria o foro adequado para estar se travando debate político, então sou favorável à manutenção. A atribuição do Congresso não é de modificar essa estrutura, mas mesmo que pudesse modificar eu não modificaria. BELSITO – O nosso colega do Banco Central gostaria de fazer uma manifestação a respeito do tema. ISAAC SIDNEY – De fato essa questão da composição do Conselho Monetário Nacional é um tema que sempre visita a temática da regulamentação do artigo 192. Eu trago aqui uma posição mais de caráter pessoal, todas as abordagens institucionais ficarão a cargo do presidente amanhã, mas eu comungo dessa colocação do senador em relação a uma composição mais ampla. A experiência que o Banco Central compondo o Conselho Nacional vivenciou nos últimos anos, antes da redução da composição, tendo na composição uma representatividade maior, não se mostrou muito positiva, exatamente porque nós temos aí uma instância que é decisória, não é uma instância consultiva, não é um fórum de debates, e muitas das vezes o processo de decisão se tornou confuso, prejudicando o encaminhamento intempestivo de assuntos relevantes e assuntos urgentes. Nós temos temáticas a cargo do Conselho Monetário Nacional que são muito técnicas e requerem discussões num nível de maior detalhe. Uma ampliação dessa discussão tem espaço sim, mas não do ponto de vista decisório, para isso nós temos outros fóruns institucionalmente criados, como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que é integrado por representantes da sociedade, empresários e trabalhadores do Estado. De sorte, senador, que eu comungo com a sua opinião, mas é claro que o debate existe para isso. Do ponto de vista legal o Congresso Nacional de fato não teria competência para alterar essa composição por se tratar de um órgão do Poder Executivo, necessitando que a iniciativa, portanto, seja do presidente da República. Mas, enfim, como estamos no debate, é apenas uma colocação de ordem pessoal para contribuir com a discussão. BELSITO – Obrigado. O Milko está com uma pergunta que eu passei. MILKO – É uma pergunta da Fátima Tosin, do Banco Central. Ela diz que houve uma redução do número de bancos públicos, ela pergunta se houve uma redução em termos de participação dos seus ativos e se, já que os bancos públicos também estão concentrando, precisamos pensar em instituições financeiras alternativas aos bancos nas regiões mais pobres. Acho que isso me permite voltar um pouquinho à questão anterior. Nós temos que lembrar que tem uma série de questões aí que se imbricam. Hoje o sistema financeiro brasileiro integra os chamados acordos de Basileia, então os bancos públicos também não podem agir de forma indiscriminada sem respeitar as normas que ali estão contidas, algumas dessas normas claramente limitam a ação de bancos públicos ou mesmo a ação do setor público nesse sentido. Quando o Ipea se manifesta dizendo que precisamos repensar o sistema financeiro nacional, é também admitir que, se Basileia foi positiva em vários sentidos, ela hoje inibe e retira determinados instrumentos que foram importantes para países capitalistas hoje pujantes, como os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão, que se desenvolveram com um forte apoio do seu sistema bancário. Sim, acho que temos que pensar em soluções alternativas e temos que contar com a tecnologia. Eu sou representante do Ipea junto ao Federal Reserve Bank e antes de atuar no Ipea era consultor do Federal Reserve Bank. Eles têm uma série de bancos comunitários. Embora o sistema de regulação do Federal Reserve seja inferior ao nosso e estejam ainda discutindo se vai haver um ou mais reguladores e se o regulado pode escolher o seu regulador, o que no mínimo arranca sorrisos aqui da plateia, esse é um assunto já tranquilamente resolvido aqui no sistema financeiro brasileiro, por outro lado desenvolveram um sistema de bancos comunitários, um sistema de atendimento comunitário muito superior ao nosso. Acho que nós temos que aprender com eles nesse ponto de vista e pensar em alternativas. Por exemplo, o México tem um programa que usa celular. Aqui no Brasil, celular, banda larga, esse tipo de coisa me parece às vezes muito complicado, principalmente devido aos perfis educacionais da população, o brasileiro precisa entender mais de microfinanças e microsseguros. Resumindo, eu acho que precisamos de instituições alternativas e formas de atendimento que não sejam concorrenciais com os bancos, formas que complementem a atuação bancária e que possam atender a essa população mais simples. Nós precisamos formar essas populações locais para que elas possam utilizar esses programas de maneira inteligente. BELSITO – Uma pergunta ao senador Antonio Carlos. O Fábio do Ipea pergunta: o atual estágio de maturidade do sistema financeiro comporta um BC autônomo, não corremos o risco de livrá-lo das interferências políticas e vê-lo capturado pelos agentes financeiros privados? ANTONIO CARLOS – Não. A autonomia do Banco Central, no momento em que ela se dá em relação ao governo, se dá também em relação ao sistema financeiro. Os membros do Banco Central que têm mandato com salvaguardas estão protegidos de um lado e do outro, estão protegidos de interferências governamentais e de interferências do setor privado financeiro, porque as pressões que eles possam fazer não levariam à demissão desses diretores. Portanto, se tiverem salvaguardas, eu acho que eles estão protegidos dos dois lados. BELSITO – Outra pergunta mais ou menos nessa linha, feita pelo Leonardo. Ele pergunta: vossa excelência considera legítima uma situação em que um governo democraticamente eleito sinta-se impedido de orientar e conduzir as políticas monetária e cambial, em função de um Banco Central cuja diretoria não é eleita? ANTONIO CARLOS – Eu não vejo problema no momento em que a política monetária obedece às linhas gerais de política econômica do país. O governo traça a política econômica e o Banco Central traça a política monetária. Eles não podem ir em direções opostas, as direções são as mesmas, a política monetária é um pedaço da política econômica. Portanto, a política monetária vai estar de acordo com a política global traçada pelo governo. O que não pode haver é interferência na condução da política monetária no momento em que ela esteja lincada com a política econômica, não pode haver interferência na política monetária, isso tem que ser blindado. Mas eu não vejo nenhuma condição de que isso venha a prejudicar os interesses maiores da política econômica do governo. Elas não podem estar em conflito, a política monetária tem que ser blindada para que interesses outros não venham tirá-la dos seus objetivos de seguir a política econômica. BELSITO – Ainda para o senador. Em que medida o projeto atual contribui para o fomento ao financiamento de longo prazo no Brasil? Pergunta da Flávia. ANTONIO CARLOS – A autonomia do Banco Central contribui para o controle da inflação. O controle da inflação é exatamente o que vai fazer com que os instrumentos de financiamento de longo prazo apareçam. Quando houver mais estabilidade e mais previsibilidade em relação à inflação, nós teremos condições de fazer um balizamento mais adequado dos juros reais e, portanto, teremos instrumentos de captação de mais longo prazo que possibilitem também financiamento de longo prazo, além da estimulação do mercado de capitais, que também está lincado a essas mesmas condições. A previsibilidade de inflação e a facilidade no manejo de juros reais vão contribuir não só para fomentar instrumentos de dívida no sistema financeiro como no próprio mercado de capitais também estimularão o lançamento de ações. A consolidação do sistema financeiro contribui sem dúvida para o financiamento de longo prazo no país. BELSITO – Uma pergunta que é de interesse do projeto, cuja matéria foi aprovada agora na comissão, feita pelo Denílson. Nessa semana a Comissão de Assuntos Econômicos aprovou o substitutivo de sua autoria sobre as empresas técnicas. Quais as inovações que esse texto aprovado traz? ANTONIO CARLOS – Na verdade, factory foi outro trabalho duro que nós tivemos que desenvolver lá, porque envolvia muitos interesses e o próprio governo, com toda a razão, quis também colocar alguns pontos regulatórios. A ideia era criar um marco regulatório para o factory, porque hoje você cria uma empresa de factory, registra na Junta e faz o que você quer, cobre agiotam, cobre lavagem de dinheiro, cobre troca de cheques. Existe uma distorção absoluta em relação ao mecanismo de factory, que na verdade é principalmente a compra e venda de recebíveis. Portanto, a ideia é justamente central no objetivo do factory e permitir a punição de forma dura dos infratores. A pedido do governo, nós colocamos que tem que haver uma comprovação de idoneidade econômico-financeira prévia. O governo vai ter que colocar um órgão para acompanhar o sistema, não é da competência do Banco Central. O próprio Banco Central se exime disso e com toda a razão, porque é uma negociação comercial, não é uma negociação financeira, o factory não é instituição financeira. O tratamento tributário também foi dado. Basicamente foi definir a atividade do factory, até para facilitar a punição dos infratores, as questões legais incluem a parte de quem vai fiscalizar, a parte de punição e a parte tributária. Esses quatro pontos foram os pontos básicos do substitutivo que eu apresentei e foi aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos, vai agora para plenário e depois volta para a Câmara dos Deputados. BELSITO – Outra pergunta ao senador, de Maria de Fátima. Ela afirma que as funções do BC deveriam ser determinadas por lei. Portanto, não faz sentido que suas funções possam ser transferidas para outros órgãos por meio de decreto presidencial. Não deveríamos colocar como objetivo do BC, além de manter a estabilidade da moeda, também promover a eficiência do sistema financeiro nacional? ANTONIO CARLOS – Quando se fala da transferência de atribuições do Banco Central, o que não foi contemplado na lei como função do Banco Central o governo vai redistribuir para outros órgãos. A questão é essa. A ênfase principal do Banco Central é à estabilidade da moeda, mas o Banco Central tem funções acessórias. Inclusive esse foi um debate que foi feito lá dentro: o Banco Central deve ser puro de política monetária ou deve continuar tomando conta da política cambial e do sistema financeiro? Nós fomos francamente favoráveis a que o Banco Central continuasse não só com política monetária como com política cambial e com fiscalização, normatização e regulação do sistema financeiro. Portanto, havia discussões em relação ao Banco Central puro, eu acho que não é o modelo para nós. Por que termos outro órgão para fiscalizar o sistema financeiro? Olha o que aconteceu nos Estados Unidos, a pulverização do controle levou à crise. A concentração dessa área no Banco Central é fundamental. BELSITO – A pergunta de um colega é se seria intenção do seu projeto abranger as autonomias, autonomia política, financeira, administrativa, orçamentária. Qual delas o senhor acha que claramente estaria embutida? ANTONIO CARLOS – O projeto centra muito na autonomia operacional, traduzida de forma legal. Porém a criação daquela taxa de fiscalização já é um início que pode gerar também a autonomia orçamentária, que eu acho que é importante. Nós podemos evoluir para isso na Comissão de Assuntos Econômicos, o primeiro passo foi dado com a criação da receita, eu sou favorável inclusive a isso. Nós não tivemos tempo de nos debruçar sobre várias sugestões que apareceram na última hora, porque temíamos a não votação do projeto, mas o projeto não está pronto e acabado, ele está aberto a aperfeiçoamentos. Provavelmente eu ainda farei até emendas ao próprio projeto. Eu temia a não votação, por isso não esperei mais tempo para analisar certas sugestões de emendas, mas estou propenso a apresentar emendas ao próprio projeto. BELSITO – Miguel pergunta sobre a independência e autonomia total do BC se estivéssemos em outra conjuntura, como a do passado recente, já que sempre tivemos as maiores taxas de juros do mundo. Com essa proposta o BC brasileiro, a título de manter sob controle a inflação, poderia fazê-lo a despeito da sociedade e do governo de plantão? Ele teria todos os instrumentos para isso? ANTONIO CARLOS – Sim. A diretoria do Banco Central tem o poder de fixar a taxa de juros dentro das necessidades da política monetária. Portanto, eu não tenho nenhuma dúvida disso. Agora, para que a política monetária funcione da forma mais adequada é preciso que o governo do outro lado contribua com a gestão da política fiscal, não adianta apertar a política monetária e o governo afrouxar a política fiscal. A nossa taxa de juros está contaminada no longo pelo componente fiscal negativo. Nós deveríamos ter a taxa de juros que temos? Sim, porque temos uma contaminação fiscal que vem lá de trás. Para eliminar essa contaminação fiscal é necessário que se faça um compromisso de governo no sentido de zerar o déficit nominal num certo prazo. No momento em que a política monetária estiver mais acomodada, nós poderemos então eliminar o efeito fiscal negativo do passado. É claro que a política monetária só pode funcionar bem se a política fiscal colaborar. BELSITO – Eu sei que o senhor está cansado de responder, mas é a última pergunta. ANTONIO CARLOS – Pode perguntar, eu vim aqui para debater. BELSITO – O projeto apresentado por vossa excelência prevê alguma restrição de atuação dos dirigentes egressos do Banco Central no sistema financeiro? Há alguma restrição a uma certa promiscuidade entre o órgão regulador e fiscalizador e seus fiscalizados? O prazo de quarentena será mantido? ANTONIO CARLOS – Não há previsão de modificação no modelo de quarentena, esse modelo ficou mantido. É claro que nós podemos rediscutir esse assunto. Se vierem sugestões no sentido de aumentar o prazo para que ex-dirigentes do Banco Central possam assumir posições na iniciativa privada no sistema financeiro, isso pode ser verificado. O projeto não prevê modificações na regra atual, porém é um assunto que poderá ser discutido agora na tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos. BELSITO – Eu disse que era a última, mas chegaram mais duas. ANTONIO CARLOS – Estou pronto para responder. BELSITO – É sinal de que realmente a demanda é grande pelo tema. Qual a possibilidade de continuidade do projeto mediante o quadro político atual, há chance de ele prosperar e ser aprovado ou vai ficar nas gavetas? ANTONIO CARLOS – Eu tenho receio de que ele seja pelo menos mantido em banho-maria. O relator eu tenho certeza de que vai tentar tocar para frente. Eu recebi esse projeto em 2007, levei pouco mais de dois anos para conseguir que fosse votado numa comissão, há idas e vindas, fizemos audiências públicas, recebemos sugestões e eu sabia que havia dificuldades, inclusive porque o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos era o senador Mercadante e ele tinha muitas dúvidas, achava que não era necessário. Mas nós conseguimos costurar um acordo, que acabou o próprio Mercadante aceitando, no sentido de que é um primeiro passo. O projeto não está pronto, eu sistematizei o que tinha de projeto solto lá, coloquei num projeto só e agora vamos discutir esse projeto, vamos melhorar. Eu tenho receio de que na hora H de votar o governo possa não colocá-lo na pauta, isso pode acontecer, mas eu acho que a sociedade, o próprio sistema financeiro e os órgãos de regulação podem fazer pressão para que isso seja aprovado. É claro que o governo prefere deixar a carta na manga, se precisar um dia desvirtuar a autonomia informal. Eu tenho receio, mas acho que se a gente lutar, brigar por isso, podemos conseguir aprová-lo, mas não no curto prazo, no longo prazo, já que ainda vai para a Câmara dos Deputados. BELSITO – É a última pergunta mesmo. Estabilidade de preços e defesa do poder de compra, a combinação dessas obrigações do Banco Central com o crescimento econômico e de produtividade poderia conduzir a maior concentração de riqueza. Nesse sentido, não seria insuficiente o seu projeto para asseverar os pressupostos constitucionais do artigo 192? ANTONIO CARLOS – Política monetária é uma área específica, nós temos que entender que a política monetária está no contexto da política econômica, voltando àquela mesma pergunta anterior. Através de outras áreas da política econômica, da política de renda, da política fiscal, nós temos outros instrumentos. A política monetária tem foco específico. O planejamento governamental deve atingir as outras áreas também. No Brasil a política monetária ficou por muito tempo sozinha brigando contra a inflação, enquanto a política fiscal estava absolutamente à deriva. Isso não pode acontecer. Então, para que nós tenhamos a busca do desenvolvimento econômico, temos que fazer com que todas as áreas de política econômica atuem em conjunto, a política monetária não pode ser responsável por tudo que acontece no país, como foi no passado. Por isso estou pedindo a política fiscal responsável a partir do próximo governo, para que a política monetária funcione dentro do seu campo e seja eficiente. BELSITO – Obrigado. MC – Nós havíamos anunciado que vamos assinar um acordo de cooperação entre o Ipea e o Sinal. Esse evento vai acontecer nesse momento, a assinatura inclusive conta com a benção da própria presença do senador, já é sinal de que é uma benção, no caso não é celestial, é “senatorial”, a esse acordo de cooperação técnica. Em seguida à assinatura desse acordo de cooperação técnica entre o Ipea e o sinal, o coordenador dos trabalhos desta manhã fará a entrega aos nossos convidados e palestrantes de um cartão de aço escovado, como homenagem e um agradecimento muito particular pela participação de cada um deles neste encontro conosco. BELSITO – Eu queria lembrar que o acordo veio pré-assinado pelo Dr. Márcio e nós demos aqui a assinatura final. Eu só queria definir esse convênio como um grande avanço para nós do sindicato, um reconhecimento de qualidade do serviço que temos prestados e apostamos muito nesse convênio, no sentido de que a gente possa efetivamente unir esforços para avançar com esse projeto e principalmente fazer com que a sociedade seja atendida por essa parceria. Agradeço a consideração dada ao Sinal pelo seu presidente, que entendeu perfeitamente e nos acolheu com todo carinho, respeito e também nos colocou tudo à disposição para a colaboração neste evento e em eventos futuros. Agradeço então ao Milko pela assinatura do acordo. MILKO – É recíproco, para o Ipea é muito importante. Os servidores representados pelo Sinal e do Ipea, nós somos das carreiras típicas de Estado e nessa condição de carreira típica precisamos pensar numa forma democrática de atuar. O Ipea desde o final de 2007 vem fazendo um grande movimento de trabalhar com redes, essas redes envolvem o setor produtivo, o mundo acadêmico, as universidades, inclusive o sistema bancário e o sistema bancário internacional. Acho que a assinatura do convênio com o Sinal hoje é um ponto muito importante, decisivo para que se consolide uma discussão sobre reformas do sistema financeiro e o seu papel para o desenvolvimento. Então é um ponto que o Ipea considera chave para discutirmos a sociedade que o Brasil precisa para as próximas décadas. BELSITO – Obrigado. Eu gostaria de agradecer a todos os presentes, gostaria de trazer o agradecimento de todos aqueles que estão trabalhando na viabilização deste evento. Sabemos da dificuldade e dos problemas encontrados, mas ele tem sido um bom exemplo do resultado da dedicação. Agradeço ao Isaac, representando a diretoria do Banco Central, agradeço ao Milko, representando o Ipea, ao Dr. Carlos Thadeu e ao excelentíssimo senador que muito tem colaborado para que a gente tenha inserção nesse projeto junto ao Congresso. Vou fazer a entrega da lembrança de participação no evento. Muito obrigado pela participação. Eu considero então essa parte da manhã encerrada e espero todos à tarde para que a gente possa complementar o dia de hoje. (Final – Parte da Manhã do dia 29/04/2010)