TCC14 - Faculdade de Biomedicina
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA NATIELLE FERREIRA RABELO ELETROFISIOLOGIA BÁSICA DA ATIVIDADE EPILEPTIFORME INDUZIDA PELO CUNANIOL BELÉM 2011 NATIELLE FERREIRA RABELO ELETROFISIOLOGIA BÁSICA DA ATIVIDADE EPILEPTIFORME INDUZIDA PELO CUNANIOL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina Orientador: Prof. Dr. Manoel da Silva Filho BELÉM 2011 NATIELLE FERREIRA RABELO ELETROFISIOLOGIA BÁSICA DA ATIVIDADE EPILEPTIFORME INDUZIDA PELO CUNANIOL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, aprovado com o conceito _____________________. Belém – PA, 14 de dezembro de 2011 Banca examinadora: _________________________ Prof. Dr. Manoel da Silva Filho ICB – UFPA Orientador _________________________ Prof. Msc. Moysés Hamoy ICB – UFPA _________________________ Prof. Dr. Anderson Raiol Rodrigues ICS – UFPA _________________________ Profª Drª Silene Lima ICB – UFPA i Dubium sapientiae initium A dúvida é o início do conhecimento René Descartes ii AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer ao Professor Manoel da Silva Filho, pelos ensinamentos, pela paciência e por nos ajudar a enxergar todos os dias os desafios e a satisfação de fazer ciência. Por ser mais que nosso mestre, ser nosso amigo, nosso exemplo de profissional. Aos meus colegas do Laboratório de Biofísica Celular, em especial ao Daniel Valle Vasconcelos Santos, pela ajuda na organização deste trabalho, pelas críticas sempre construtivas e pelos momentos de alegria que são sempre importantes. Ao Laboratório de Neuroquímica, em especial aos professores Moysés Hamoy e José Luiz Martins do Nascimento, por gentilmente ceder parte do material que foi usado nos experimentos e pelas sugestões. A todos que ajudaram por meio de sugestões e críticas a progressão deste trabalho. Ao programa PIBIC/CNPq e a PROEX/UFPA, pelo apoio financeiro que recebi durante a graduação. Às minhas amigas Ellen, Lays e Isadora, pela convivência, por tantas alegrias e pelo apoio durante o curso. Nossos dias ficarão guardados para sempre! Aos meus amigos Pedro e Silvana, pelo incentivo e paciência, incondicionais. À minha querida avó Cleide, que com seu apoio surpreendente e seus conselhos, me ajudou a ficar firme durante os obstáculos que enfrentei nos últimos anos da graduação. Agradeço a minha mãe Josicleide Ferreira Rabelo, que do seu modo me incentivou, me apoiou e me ensinou muito. Agradeço ao meu pai Antonio Evani Rabelo, pelo exemplo, pelos valores que hoje me orgulho de seguir, por sempre me ajudar e por ficar ao meu lado mesmo não concordando ou entendendo meus motivos e escolhas e à minha irmã Michaelle, luz da minha alegria, minha cúmplice. A distância e a saudade nunca vão ser maiores que o meu amor por vocês. iii SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS..........................................................................................iv LISTA DE ABREVIATURAS...............................................................................v RESUMO............................................................................................................vi 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................1 1.1. OBJETIVO GERAL...................................................................................2 1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.....................................................................2 2. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................3 2.1. ANIMAIS...................................................................................................3 2.2. CIRURGIA PARA IMPLANTAÇÃO DOS ELETRODOS...........................3 2.3. DROGAS..................................................................................................4 2.4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL........................................................4 2.5. ANÁLISE DOS REGISTROS ELETROFISIOLÓGICOS OBTIDOS.........5 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................6 3.1 ELETROFISIOLOGIA....................................................................................6 3.2. SISTEMA DE PRÉ-AMPLIFICAÇÃO COM GANHO VARIÁVEL................11 4. CONCLUSÃO................................................................................................13 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................14 iv LISTA DE FIGURAS Figura 1. Cirurgia para a implantação de eletrodos subdurais ....................................4 Figura 2. Ilustração diagramática do sistema para a aquisição de dados...................5 Figura 3. Registro eletrofisiológico onde é possível observar a alteração de amplitude dos potenciais de ação (B), (escala em microvolts), em função do tempo (A), (escala em milisegundos) durante a atividade epileptiforme.................................6 Figura 4. Gráfico demonstrando a variação de amplitude dos disparos durante um registro eletrofisiológico com duração de aproximadamente 1 hora. As setas indicam a ocorrências das salvas de potenciais........................................................................7 Figura 5. A contagem do número de impulsos durante um registro eletrofisiológico após a aplicação do cunaniol com duração de aproximadamente 1 hora..............................................................................................................................8 Figura 6. Gráfico demonstrando freqüência média em Hertz dos impulsos durante seis ciclos diferentes de salvas observados em um registro eletrofisiológico após a aplicação do cunaniol...................................................................................................9 Figura 7. Gráfico demonstrando a freqüência do ECG em dois momentos do registro eletrofisiológico após a aplicação de cunaniol. (A) Freqüência em um intervalo sem a presença de salvas. (B) Freqüência em um intervalo com a presença de salvas.........................................................................................................................10 Figura 8. Desenho esquemático do sistema experimental de registro no hipocampo. (1) Vista frontal. (2) Vista lateral. 2A – Amplificador de instrumentação (INA 333); 2B – Conectores; 2C – Pino de referência; 2D – Parafuso de fixação; 2E – Passa fio; 2F – Blindagem. 3) Circuito impresso do amplificador. 4) Circuito impresso de conexão dos eletrodos..............................................................................................................11 v LISTA DE ABREVIATURAS µV - microvolts ECG - Eletrocardiograma EEG - Eletro encefalograma ELT - Epilepsia do Lobo Temporal g - grama GABA – Ácido Gama Amino Butírico Hz - hertz Kg – kilograma mg - miligrama ml – mililitro mm - milímetro ms - milissegundo PTZ - Pentilenotetrazol s- segundo SNC – Sistema Nervoso Central 1 1. INTRODUÇÃO A epilepsia é uma das principais desordens neurológicas, com ampla distribuição, chegando a afetar cerca 1-2 % da população mundial, estimando-se que mais de 50 milhões de pessoas no mundo apresentem algum tipo desse transtorno (Browne & Holmes, 2001). As epilepsias caracterizam-se por alterações crônicas, recorrentes e paroxísticas na função das áreas corticais e subcorticais envolvidas (Costa et al., 1992). O evento mais dramático de alguns quadros de epilepsia é a crise epiléptica, estando associada à atividade hipersincrônica e repetitiva de um grupamento neuronal do córtex cerebral e estruturas hipocampais, cuja distribuição anatômica e duração de sua atividade determinam a natureza da crise (Avanzini & Franceschetti, 2003). O estudo das bases eletrofisiológicas e moleculares dos processos associados à gênese da atividade bioelétrica anormal no tecido humano epiléptico é um dos grandes avanços científicos na epileptologia moderna (Sanabria et al., 2000). Em geral, crises epilépticas podem ser geradas por um desequilíbrio entre a excitação e a inibição neuronal, onde glutamato e GABA assumem um papel importante. Neste contexto, há a hipótese de que pode haver um aumento na ativação da via que utiliza o glutamato e/ou uma diminuição na via que utiliza o GABA como neurotransmissor (Morimoto et al., 2004). Posteriormente, foi verificado que os padrões de descargas elétricas aconteciam em “surtos” ou “salvas” (bursts) e que esse fenômeno estava presente no neocórtex epileptogênico humano (Wyler et al., 1982). A pesquisa das epilepsias, por motivos éticos, depende da utilização de modelos animais (Carvalho, 2007). Para melhor entender os mecanismos envolvidos no início de uma crise epileptiforme, na epileptogênese e nas crises recorrentes espontâneas; e, ainda, para investigar novas opções de tratamentos, diversos modelos experimentais que mimetizam diferentes aspectos dos processos epilépticos têm sido desenvolvidos (França et al., 2010). Cada modelo apresenta características próprias quanto à expressão motora, eletroencefalografia e resposta a diferentes agentes antiepilépticos. (Carvalho, 2007). Muitos desses modelos já são bem caracterizados e estudados, como o 2 modelo do eletrochoque máximo (Merrit & Putnam, 1938), o modelo do pentilenotetrazol – PTZ (Prupura & Monteagudo, 1960), o modelo induzido pela picrotoxina (Turski et al., 1985), o modelo induzido pela pilocarpina (Turski et al, 1983), pelo ácido caínico (Cavalheiro et al., 1982; Fisher & Alger, 1984) e o uso de modelos genéticos de epilepsias, como nas crises audiogênicas em camundongos (Loscher & Schmidt, 1988). O acetato de cunaniol e o cunaniol são substâncias extraídas das folhas de Clibadium sylvestre, que possuem atividade no sistema nervoso central (SNC) promovendo excitabilidade em vários graus (Hamoy, 2011), sendo capaz de desencadear status epilepticus em ratos albinos wistar, quando administrado por via intraperitoneal (Hamoy, 2002). Nesse sentido, a utilização do modelo de epilepsia generalizada induzida pelo cunaniol, também conhecida popularmente como cunambi, e a avaliação da atividade eletrofisiológica traz uma nova ferramenta para a possível elucidação dos seus mecanismos de ação e futuras comparações com os modelos experimentais existentes. 1.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a atividade epileptiforme produzida pela administração de cunaniol através do registro eletrofisiológico cortical. 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Registrar a atividade eletrofisiológica cortical subseqüente à indução química; • Verificar possíveis alterações da frequência da atividade elétrica. • Propor um novo sistema para o registro in vivo de atividades epileptiformes. 3 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 ANIMAIS Foram utilizados 10 ratos da raça Wistar, machos e fêmeas, pesando entre 200 a 290 g, provenientes do Biotério da Universidade Federal do Pará, com acesso à água e alimentação ad libitum. Durante a realização dos experimentos, cada animal, foi inicialmente controle de si mesmo. Os experimentos realizados neste trabalho fazem parte de um projeto submetido e aprovado pelo comitê de ética sob o parecer: BIO024-10. 2.2. CIRURGIA PARA IMPLANTAÇÃO DOS ELETRODOS Os animais foram submetidos à cirurgia para a implantação de eletrodos subdurais (Figura 1). Para isso, os mesmos foram profundamente anestesiados com uma solução de 10% de cloridrato de cetamina na dose de 50 mg/Kg (5 mg/100 g de peso vivo) e 2% de cloridrato de xilazina na dose de 5 mg/Kg via intraperitoneal. Em seguida, os animais foram presos em um segurador de cabeça (Model 900, David Kopf Instruments, Elmo Street Tujunga, California 91042, USA) para o ato cirúrgico de exposição do crânio. Os eletrodos construídos em aço inoxidável foram implantados através de furos feitos com auxílio de uma broca odontológica (141RF-HP025, Meisinger, South Tucson Way, Suite 130 Centennial, Colorado 80112, USA) presa a uma furadeira (Model 1474 High Speed Stereotaxic Drill, David Kopf Instrumnts, Elmo Street Tujunga, California 91042, USA). A posição dos eletrodos: Bregma 0,96 mm, latero-lateral ± 2 mm, correspondentes ao córtex motor do rato, foi dada com o auxílio de um atlas neuroanatômico (Paxinos & Watson, 1998) e alcançada com o auxílio dos eixos de coordenadas do aparelho estereotáxico. Os eletrodos foram fixados com resina acrílica composta de líquido acrílico (monômero de metil metacrilato, um produto composto de acetona, ácido cianídrico e álcool metílico) e pó de acrílico (polímero de metilacrilato). Os dois devem ser misturados em proporções apropriadas para se obter a viscosidade desejada para implante. Estes foram soldados em um conector, que também foi fixado pelo mesmo 4 processo. Também foram inseridos micro parafusos no crânio para evitar que a resina soltasse. Após, foi feita assepsia e aplicação de antiinflamatório flunixin meglumine (Banamine®) e antibiótico enrofloxacina (Flotril® 2,5%) no local da incisão. A B C Figura 1 Cirurgia para implantação de eletrodos subdurais. (A) Incisão para exposição do crânio. (B) Limpeza e retirada da gordura. (C) Fixação dos parafusos no crânio (seta branca). Adaptado de Cota, 2007. 2.3. DROGAS Para indução das convulsões foi utilizado o extrato hexânico das folhas de Clibadium sylvestre nas concentrações de 10 mg/ml de acetato de cunaniol e cunaniol isolado na concentração de 5 mg/ml. O extrato foi, então, dissolvido em 0,1% de Tween 20 (Sigma-Aldrich Brasil Ltda. São Paulo, SP, Brasil) e solução salina a 0,9%. Os compostos foram cedidos pelo Laboratório de Neuroquímica da UFPA. 2.4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Após 72 horas da cirurgia, os animais foram anestesiados com éter dietílico (Sigma-Aldrich Brasil Ltda. São Paulo, SP, Brasil) e submetidos ao processo de traqueostomia, sendo o tubo traqueal previamente lubrificado com o anestésico Cloridrato de Lidocaína (Xylocaína®), em seguida foi aplicado o miorrelaxante Galamina (Flaxedil®), para que o animal permanecesse imóvel. Foi mantida a ventilação mecânica durante o experimento. Após esse procedimento foram 5 aplicadas doses intraperitoneais do extrato (2,92 mg/Kg). Segundo Hamoy (2002), esta foi a dose-resposta efetiva mediana para o cunaniol, em ratos. Para a aquisição dos registros foi utilizado um amplificador diferencial com alta impedância de entrada (ISO-80, WPI, World Precision Instruments Germany, Berlin, Germany), conectado a um condicionador de sinais (CyberAmp 320, Axon Instruments, Molecular Devices, Av. Marquês de São Vicente, 121 Barra Funda São Paulo, SP, Brazil), e um digitalizador (Digidata 1200, Axon Instruments). Foi utilizado um software especializado para a digitalização e armazenamento dos dados em disco rígido (Clampex 8, Axon Instruments). Conversor A/D B A C Figura 2. Procedimento para a aquisição dos dados. A) Rato posicionado no estereotáxico com o implante (notar que à fotografia foi adicionado o desenho do implante); B) Sistema de registro e conversão; C) Sistema de armazenagem e análise dos dados. 2.5. ANÁLISE DOS REGISTROS ELETROFISIOLÓGICOS OBTIDOS Os dados foram posteriormente analisados utilizando o software pClamp 10, através do aplicativo Clampfit 10 (Molecular Devices, USA) que possibilitou a caracterização do domínio da freqüência das ondas cerebrais e a inspeção visual dos padrões ondulatórios. 6 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. ELETROFISIOLOGIA Figura 3. Alteração de amplitude dos potenciais de ação (B), em função do tempo (A), demonstrando a atividade epileptiforme durante uma crise. O destaque (retângulo vermeho) mostra uma descarga de disparos em salvas de potenciais. A seta em vermelho indica o início das alterações. A aplicação de cunaniol na dose de 2,92 mg/Kg via intraperitoneal é capaz de causar alterações nos traçados registrados no córtex motor de ratos, com aumento da amplitude e freqüência no registro, com curto período de latência para o aparecimentos das alterações (Hamoy, 2011). Nos experimentos a aplicação ocorreu 10 minutos antes do início do registro (Figura 3). Os registros nos animais variaram de 1 a 4 horas e em todos foi possível observar as alterações no eletroencefalograma - EEG. Visualmente as alterações obedeciam a padrões cíclicos com descargas em salvas. 7 Na variação de amplitude dos registros obtidos, observou-se a presença de um padrão temporal entre os intervalos. Entre períodos de aproximadamente 7 minutos havia atividade neuronal com pequenas alterações de freqüência e amplitude, seguidos por grandes alterações (presença de salvas) desses dois parâmetros (Figura 4). Esses intervalos de aumento abrupto na atividade epileptiforme podem ser considerados como cíclicos. Figura 4. A variação de amplitude dos disparos durante um registro eletrofisiológico com duração de aproximadamente 1 hora. As setas indicam a ocorrências dos bursts, que ocorreram com intervalos de aproximadamente 7 minutos entre eles. 8 Figura 5. A contagem do número de impulsos durante um registro eletrofisiológico após a aplicação do cunaniol com duração de aproximadamente 1 hora. Notar a elevação do número de contagens após o primeiro ciclo, justificado pelo aumento na frequência. 9 Figura 6. A freqüência média em Hertz dos impulsos durante seis ciclos diferentes de bursts observados em um registro eletrofisiológico após a aplicação do cunaniol. Notar que após o primeiro ciclo há um aumento significativo da frequência dos bursts. No modelo convulsivante induzido pelo cunaniol podem ser observados cinco padrões seqüenciais de ondas no traçado do EEG. Os padrões variam de: I pequenas alterações, ainda próximas ao traçado basal, porém, com aumento de amplitude; II - registros de alta freqüência, indicando elevada excitabilidade; III registros de baixa freqüência e amplitude elevada; IV – aumento da freqüência e manutenção da amplitude; V – diminuição da freqüência e aumento gradativo da amplitude. Os padrões confirmam que os registros de alta freqüência estão intercalados com os de baixa freqüência. Os tempos de latência variam, sendo os padrões I e II os que mais se repetem (Hamoy et al., 2009). 10 Figura 7. A freqüência do ECG em dois momentos do registro eletrofisiológico após a aplicação de cunaniol. (A) Freqüência em um intervalo sem a presença de bursts. (B) Freqüência em um intervalo com a presença de bursts. As barras de erro representam desvio padrão. Durante os experimentos, houve uma alteração visualmente perceptível nos registros do eletrocardiograma – ECG que estava sendo simultaneamente obtidos com o EEG. Observou-se a presença de bradicardia ao mesmo tempo em que ocorriam as salvas. Essa alteração também obedeceu a um padrão cíclico, nos intervalos entre as salvas de disparo, a freqüência cardíaca retornava ao valor basal. Foi feita, então, uma comparação da freqüência do ECG em dois momentos: durante a bradicardia (simultâneo a uma salva) e durante os intervalos sem alteração. A análise das freqüências não mostrou diferenças significativas (p > 0,05), apesar da clara identificação visual das alterações no registro. Na literatura existem estudos relatando bradicardia como manifestação epiléptica (Constantin et al,1990; Healy et al, 1995). Porém, a freqüência de arritmia cardíaca como manifestação epiléptica não é bem determinada (Jorge et al, 2000). 11 3.2. SISTEMA PARA O REGISTRO IN VIVO DE ATIVIDADES EPILEPTIFORMES Neste trabalho de conclusão de curso foi desenvolvido um sistema para registrar a atividade elétrica durante as crises epileptiformes induzidas por substâncias isoladas das folhas da planta Clibadium sylvestre no hipocampo de ratos in vivo (Figura 8). O sistema prevê o implante de um amplificador de instrumentação de alta impedância de entrada e baixo ruído elétrico na emergência dos eletrodos. Além disso, novos eletrodos foram dimensionados para ter acesso diretamente ao hipocampo com o mínimo de danos. 1 2 E A D F B C 3 4 A Figura 8. Desenho esquemático do sistema de registro. (1) Vista frontal. (2) Vista lateral. 2A – Amplificador de instrumentação (INA 333); 2B – Conectores; 2C – Pino de referência; 2D – Parafuso de fixação; 2E – Passa fio; 2F – Blindagem. 3) Circuito impresso do amplificador. 4) Circuito impresso de conexão dos eletrodos. 12 A análise das propriedades in vivo do tecido epiléptico apresenta vantagens e limitações. Em primeiro lugar, o registro da atividade eletrofisiológica do tecido epiléptico conectado na complexa circuitaria do cérebro como um todo, permite-nos ter indícios para definir se determinada área é realmente a zona epileptogênica ou coincidentemente ictogênica. Da mesma maneira, nos auxilia na caracterização dos padrões interictais ou ictais de determinados tipos de patologias ou de lesões epileptogênicas (Sanabria et al, 2000 ). Ao longo da história, os modelos experimentais permitiram um grande avanço no conhecimento dos mecanismos básicos das epilepsias e muitas drogas antiepilépticas foram desenvolvidas a partir de tais modelos (Silva & Cavalheiro, 2003). Para que um modelo experimental seja classificado como um modelo de epilepsia ele deve preencher os seguintes requisitos: demonstrar a presença de atividade epileptiforme nos registros eletroencefalográficos e clinicamente apresentar uma atividade semelhante àquelas observadas durante uma crise epiléptica (Mello et al, 1986). Estudos têm mostrado que a formação hipocampal participa ativamente na gênese das descargas interictais e ictais atuando como foco epileptogênico na epilepsia do lobo temporal - ELT (Kilpatrick et al, 1997). Esse tipo de epilepsia é o mais freqüente, ocorrendo em aproximadamente 40-50% de todos os pacientes com epilepsia (Costa et al, 1998), por isso o interesse e a necessidade de se aplicar e estudar o comportamento dos modelos experimentais nessa região cerebral. Na literatura é possível encontrar uma variedade de sistemas para o registro eletrofisiológico no hipocampo, similares ao que foi mostrado nesse trabalho. Esses sistemas permitem o estudo das propriedades eletrofisiológicas in vivo em regiões mais profundas do cérebro. A contribuição do novo modelo proposto será a minimização dos danos ao tecido e um aumento na resistência do sistema, visto que em condições de crises epilépticas em que o animal não está anestesiado, o implante pode ser danificado. A utilização desse sistema em trabalhos futuros poderá permitir a correlação temporal das alterações comportamentais com as eletrofisiológicas utilizando o cunaniol como modelo convulsivante. 13 4. CONCLUSÃO • O cunaniol é capaz de produzir atividades elétricas que se assemelham as epileptiformes encontradas em outras substâncias que produzem convulsões; • Aparentemente as atividades apresentam certo grau de regularidades, porém mais experimentos devem ser realizados para confirmar os achados preliminares; • Observou-se concomitantemente às atividades epileptiformes, mudanças na freqüência do ECG, indicando que o cunaniol também pode agir no sistema de controle da atividade cardíaca. 14 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AVANZINI G, FRANCESCHETTI S. Cellular biology of epileptogenesis. The Lancet: Neurology, 2: 33-42, 2003. BROWNE T.R. & HOLMES G.L. Epilepsy. New England Journal Medicine, 344: 1145-1151. 2001. CARVALHO, L.E.D. Participação dos Receptores Gabaa no Potencial Excitatório Pós Sináptico em Hipocampo e Amígdala de Ratos Wistar Audiogênicos (War). Dissertação de mestrado. Belo horizonte. Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. p. 5. CAVALHEIRO, E. A., RICHIE, D. 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