escola e comunidade integradas para a enlaçar cultura, currículo e

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escola e comunidade integradas para a enlaçar cultura, currículo e
ESCOLA E COMUNIDADE INTEGRADAS PARA A ENLAÇAR
CULTURA, CURRÍCULO E SABERES
Lucas Eduardo Menegazzo Nicodem1 - UNIP/SP
Maria Fatima Menegazzo Nicodem2 - UTFPR/MD
Grupo de Trabalho – Cultura, Currículo e Saberes
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este trabalho trata da importância de escola e comunidade estarem integradas para enlaçarem
a cultura, o currículo e os saberes, numa proposta que se propõe a tornar cada vez mais
humana e presenta a escola no interior da comunidade. Os resultados aqui relatados se
originam da proposição e realização de um Projeto de Extensão gratuito denominado “Cinema
e Leitura na Educação Infantil e no Ensino Fundamental”. Voltou-se a levar os docentes –
autores deste trabalho – e pesquisadores da área de cinema, música e literatura integrantes,
respectivamente do quadro discente de História da UNIP/SP e do quadro docente da UTFPR
instituição que opera com os Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, a estender os
conhecimentos a professores de duas escolas municipais do município de Medianeira/PR. São
essas: a Escola Municipal Jayme Canet e a Escola Municipal João Paulo II. Vem da ânsia
observada em pesquisa prévia no item em que 102, dos 120 participantes indicam a
importância da escola oferecer Projetos e Cursos de Extensão em vários níveis e áreas. Esses
dados nos levaram a elaborar uma proposta de ação que possibilitasse o atendimento a pelo
menos uma das expectativas ou necessidades observadas, visando a uma aproximação entre a
escola e a comunidade, de modo que se concretize uma ampliação da visibilidade da
instituição no local no qual ela se insere. A expectativa escolhida, dentre as seis constantes do
quadro (apresentado neste trabalho), foi a de oferecer projetos e cursos de extensão em vários
níveis e áreas. A escolha recaiu sobre elaborar um Projeto de Extensão denominado “Cinema
e Leitura na Educação Infantil e no Ensino Fundamental”, conforme já exposto anteriormente.
O uso das manifestações culturais de nossa sociedade como o cinema, o teatro, a literatura, as
artes plásticas, dança ou música, constituem bases fundamentais e elementares para o
processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-Chave: Integração Escola Comunidade. Extensão. Cinema e Literatura.
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Estudante de Licenciatura em História. UNIP, São Paulo/SP. E-mail: [email protected].
Doutora em Educação, UEM, Maringá/PR, Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E-mail:
[email protected].
2
ISSN 2176-1396
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Introdução
O presente trabalho se originou da proposição e realização de um Projeto de Extensão
gratuito denominado “Cinema e Leitura na Educação Infantil e no Ensino Fundamental”.
Volta-se a levar docente pesquisadora da área de cinema e literatura integrante do quadro da
UTFPR instituição que opera nos Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, a estender os
conhecimentos a professores de duas escolas municipais do município de Medianeira/PR. São
essas: a Escola Municipal Jayme Canet e a Escola Municipal João Paulo II.
Levando-se em consideração a Tabela 1, presente no documento de Projeto, do qual
constava o Relatório de Caracterização da Escola e da Comunidade, que se organiza a partir
de um questionário aplicado a 120 pessoas da comunidade circundante da instituição com a
qual foram colhidos os dados, priorizou-se a quinta expectativa para a qual registraram-se 102
respondentes.
Tabela 1 – Quanto às expectativas sobre a ação da UTFPR na comunidade
Áreas
Oferecer bons profissionais à indústria
Oferecer bons profissionais ao comércio
Oferecer oportunidade de avanços tecnológicos
Contribuir com a pesquisa científica em âmbito comunitário
Oferecer Projetos e Cursos de Extensão em vários níveis e áreas
Prestar serviços em nível de extensão universitária
Fonte: Dados colhidos pelos autores do trabalho, Março de 2014.
Respondentes
85
64
91
98
102
76
Esses dados nos levaram a elaborar uma proposta de ação que possibilitasse o
atendimento a pelo menos uma das expectativas ou necessidades observadas, visando a uma
aproximação entre a escola e a comunidade, de modo que se concretize uma ampliação da
visibilidade da instituição no local no qual ela se insere. A expectativa escolhida, dentre as
seis constantes do quadro, foi a de oferecer projetos e cursos de extensão em vários níveis e
áreas. A escolha recaiu sobre elaborar um Projeto de Extensão denominado “Cinema e Leitura
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental”, conforme já exposto anteriormente. O uso
das manifestações culturais de nossa sociedade como o cinema, o teatro, a literatura, as artes
plásticas, a dança ou a música, constituem bases fundamentais e elementares para o processo
de ensino-aprendizagem. No planejamento e na execução das atividades pedagógicas, a
inclusão da produção artística e cultural reforça as possibilidades de aprendizado. O cinema,
especificamente, cria situações lúdicas através de diálogos, interpretação dos atores, figurinos,
cenários, locações, músicas, efeitos sonoros, efeitos visuais que podem ser explorados em
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projetos interdisciplinares e atividades integradas, com muita riqueza, abrindo espaço para
debates e mexendo com a sensibilidade dos alunos. Quando a atividade é planejada, e existe
um estudo sobre o potencial pedagógico do título escolhido, percebemos que o uso do cinema
na sala de aula reforça a capacidade de argumentação; melhora o vocabulário; desenvolve a
imaginação e facilita a compreensão de temáticas que, por vezes, podem ser bastante
complexas e difíceis de abordar em sala de aula. Ao abrir espaço para debates e comparações,
o professor permite que o aluno exponha sua visão da obra mobilizando, não apenas a razão e
o intelecto, mas também as emoções, o que é, sem dúvida, bastante importante para que ele se
envolva e tenha mais disposição para aprender. Objetivou-se com este trabalho apresentar a
cinematografia como importante estratégia no incentivo ao desenvolvimento de hábitos de
leitura; refletir sobre concepções teóricas sobre o uso da cinematografia como recurso visual
nos processos de ensino e aprendizagem; e utilizar obras cinematográficas diversas,
exemplificando formas de uso didático das mesmas.
Referencial Teórico
Aspectos da integração escola e comunidade
Assumpção (2005) afirma que o ensino no Brasil está experimentando transformações
profundas. Reformas nacionais, juntamente com iniciativas de âmbito estadual e municipal
estão alterando as práticas pedagógicas e a organização escolar, na tentativa de dar eficácia à
escola e universalizar o seu acesso. Vem-se reconhecendo amplamente que a educação é um
elemento fundamental no desenvolvimento social e econômico e que o ensino no Brasil –
especialmente aquele oferecido por setores públicos – é insatisfatório diante dos padrões
internacionais, tanto na sua quantidade, quanto na qualidade.
Bordenave (1994) propõe que a escola pública, antes encerrada em si mesma e voltada
quase que exclusivamente ao ensino de crianças e adolescentes, está procurando ser fiel e
participativa em dois sentidos: o da participação da comunidade escolar e da participação da
escola na comunidade.
O ideal, segundo Assumpção (2005), seria que a comunidade, por meio das lideranças
e organizações populares passassem a compartilhar com os educadores a responsabilidade
pela educação. A democratização da escola, a integração escola-comunidade, um novo e mais
humano relacionamento entre professores e alunos, conteúdos, métodos e recursos mais
apropriados, só poderão tornar-se realidade na medida em que os poderes públicos, os
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educadores e os alunos, e os diversos segmentos sociais passarem a adotar efetivamente uma
nova filosofia da educação.
A educação, como prática que capacita o indivíduo a viver de forma autônoma e
madura na sociedade, convivendo de igual para igual com seus semelhantes, precisa deixar de
ser tratada como um serviço de segunda categoria de importância subalterna, para tornar-se
um setor prioritário, pois da seriedade com que for tratada e dos recursos que dispuser
dependerá, em grande parte a superação dos graves desafios enfrentados pelo país.
Aspectos do projeto de extensão
Antes de tudo é preciso dizer que a ação docente não ocorre desvinculada de um
sistema que envolve sujeitos e objetos. Sujeito, ele/a próprio/a; sujeitos, seus/suas alunos/as.
Ensinar e aprender são ações que fazem parte desse sistema vital da educação. Mas a
propósito deste estudo, como articular o ensino da literatura, o incentivo à leitura dos
clássicos e o uso da mídia cinematográfica como estratégia para instigar as duas primeiras?
Para chegar a essa articulação, propõe-se a olhar para cada etapa em particular com o intuito
de entender o macro processo da ação docente.
Literatura, o primeiro ponto: “literatura é, e não pode ser outra coisa, senão uma
espécie de extensão e de aplicação de certas propriedades da linguagem.” (TODOROV,
[1964-69], 2011, p.53). A afirmação da existência do elo entre literatura e linguagem é
sustentada pelo fato de ser uma obra de arte não verbal. A linguagem é aqui definida como
matéria do poeta ou da obra:
a literatura goza, como se vê, de um estatuto particularmente privilegiado no seio
das atividades semióticas. Ela tem a linguagem ao mesmo tempo ponto de partida e
como ponto de chegada; ela lhe fornece tanto sua configuração abstrata quanto sua
matéria perceptível, é ao mesmo tempo mediadora e mediatizada. A literatura se
revela, portanto, não só como o primeiro campo que se pode estudar a partir da
linguagem, mas também como o primeiro cujo conhecimento possa lançar uma nova
luz sobre as propriedades da própria linguagem. (TODOROV, [1964-69], 2011,
p.54).
Assevera ainda Todorov ([1964-69], 2011) que essa posição particular da literatura
determina nossa relação com a linguística. É evidente que, tratando da linguagem, não temos
o direito de ignorar o acumulado por essa ciência. A narrativa literária apresenta uma palavra
mediatizada e não imediata e que sofre, além disso, os “constrangimentos da ficção”
(TODOROV, [1964-69], 2011). Este autor afirma ainda que é preciso tratar a literatura como
literatura. Há o apelo de uma volta à literatura, nos estudos literários, que conserva toda a sua
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atualidade. Todorov (2010) sublinha que o traço distintico da literatura, nesta análise, é a
ficcionalidade, da mesma forma que enfatiza a distinção entre o uso literário e não literário da
linguagem. Em suma, “o texto literário resulta de uma vontade de comunicação.”
(CENTENO, 1986, p.34)
Mas e a leitura? Como se define neste contexto da existência da literatura? Colomer e
Camps (2011) operam com uma concepção de leitura que se afina plenamente aos objetivos
desta análise: ler é entender um texto. Afirmam que de acordo com os pressupostos
estabelecidos sobre a língua escrita, a descrição atual da leitura realiza-se no interior do marco
teórico geral que explica como os seres humanos interpretam a realidade, como processam a
informação, segundo o uso muito difundido da comparação entre esses processos mentais e os
processos informáticos.
E essas mídias cinematográficas? Como se articulam nesse conjunto ‘literaturaleitura-cinema’? Primeiro é preciso definir. ‘Mídia’ é o plural de ‘medium’. No singular
significa ‘meio’, ‘veículo’, ‘canal’. Conforme Melo e Tosta (2008), mais do que dicionarizar,
os brasileiros estabelecem com a mídia uma relação ‘macunaímica’, porque a mídia tem
relação com a indústria de bens simbólicos. Afirmam esses autores que a mídia enquanto
sistema é acionada por redes tecnológicas. Cinema e avanços tecnológicos geram as mídias
cinematográficas. Finalmente, elas se inserem na sala de aula com o intuito de aliarem-se às
práticas pedagógicas em todas as disciplinas.
Resultados e Discussões
Quanto ao método para colocar em prática o Projeto de Extensão preconizado por este
trabalho, adotou-se a seguinte trajetória: planejar as oficinas do Projeto para um semestre,
com 4 horas semanais. As oficinas, com esta finalidade, privilegiaram as seguintes
concepções:

Filme como sensibilização - Um bom filme é de grande valor pedagógico para
introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivação para novos
temas. Isso facilitará o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto.

Filme como ilustração - Muitas vezes, ajuda a contextualizar o que se aborda em
aula, a compor cenários desconhecidos dos alunos. Pode trazer para a sala de aula
realidades distantes dos alunos como a Amazônia ou a África. A vida se aproxima
da escola por meio dele.
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
Filme como simulação - É uma ilustração mais sofisticada. Pode simular
experiências de ciências que seriam perigosas em laboratório ou que exigiriam
muito tempo e recursos. Os variados recursos em 3D se apresentam como
incríveis simuladores de realidades, tornando o estudo de determinados assuntos
ainda mais fascinante.

Filme como objeto de estudo - Aquele que aborda determinado assunto, de
forma direta ou indireta. De forma direta, quando informa sobre um tema
específico, orientando a sua interpretação. De forma indireta, quando mostra um
tema, permitindo abordagens múltiplas, interdisciplinares.

Filme como produção - Como documentação, registro de eventos, de aulas, de
estudos do meio, de experiências, de entrevistas, depoimentos. Isto facilita o
trabalho do professor e dos alunos. O professor deve poder documentar o que é
mais importante para o seu trabalho, ter o seu próprio material de vídeo.

Filme como expressão - Uma nova forma de comunicação, adaptada à
sensibilidade dos alunos. Os alunos gostam e sabem fazer vídeos. A escola precisa
incentivar, o máximo possível, a criação de pesquisas em vídeo pelos alunos. A
produção em vídeo tem uma dimensão moderna e lúdica. Moderna, como um
meio contemporâneo, novo e que integra linguagens. Lúdica, pela miniaturização
da câmera, que permite brincar com a realidade, levá-la junto para qualquer lugar.
Depois da realização das oficinas previstas neste projeto de extensão, as professoras
responderam a um questionário, levando em consideração todos os tópicos conceituais aqui
expostos, a respeito do uso do cinema na escola, cujos resultados reservamos para um
próximo trabalho.
Considerações Finais
Em função dos objetivos propostos, almejou-se que a aplicação do projeto de extensão
que visa à integração entre a instituição educacional e duas escolas municipais da
comunidade, pudesse contribuir com os conhecimentos oriundos de pesquisas na área em que
se propõe a atuar com os saberes: cinema como estratégia para o ensino de leitura.
Esperou-se que os/as professores/as atingissem o próprio objetivo de entender a
cinematografia como estratégia valiosa para o ensino das diversas disciplinas e conteúdos.
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Que saibam discernir as diversas possibilidades de uso do filme em sala de aula. E nossas
expectativas se confirmaram.
Quando a atividade é planejada, e propõe a integração escola-comunidade, há muitos
benefícios que emergem do trabalho. No caso deste projeto, exercitar o uso do cinema por
professores em suas salas de aula: melhora o vocabulário; desenvolve a imaginação e facilita
a compreensão de temáticas que, por vezes, podem ser bastante complexas e difíceis de
abordar em sala de aula. Ao abrir espaço para debates e comparações, o professor permite que
o aluno exponha sua visão da obra mobilizando, não apenas a razão e o intelecto, mas também
as emoções, o que é, sem dúvida, bastante importante para que ele se envolva e tenha mais
disposição para aprender. Em função dos objetivos propostos, visando à integração entre a
instituição educacional e duas escolas municipais da comunidade, pode-se contribuir com os
conhecimentos oriundos de pesquisas na área em que se propõe a atuar com os saberes:
cinema como estratégia para o ensino de leitura.
O principal aspecto motivador do oferecimento do projeto apontado por esta proposta
ancorou-se no uso de mídias cinematográficas como estratégias para o ensino de literatura
brasileira e como uma possibilidade de visualizar a tradução intersemiótica das mídias
impressas. A obra literária e a produção cinematográfica continuam atualizando seu direito de
ocupar o espaço nos fazeres docentes e nas aprendizagens discentes.
REFERÊNCIAS
ASSUMPÇÃO, Tania Mara Testaí. Reflexões sobre a escola e sua relação com a
comunidade: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Educação). UDESC, Joinville,
2005.
BORDENAVE, Juan. E. D. O que é participação? São Paulo: Brasiliense, 1994.
CENTENO, Yanes Kalinka. A Alquimia do Amor. Lisboa: Regra do Jogo, 1986.
COLOMER, Teresa; CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Tradução
Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, [2002], 2011.
MELO, José Marques de.; TOSTA, Sandra Pereira. Mídia & Educação. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2008.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. Tradução: Leyla
Perrone-Moisés. São Paulo, SP: Martins Fontes, [1982], 2010.
______. As estruturas narrativas. Tradução: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Perspectiva,
[1964-1969], 2011.

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